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V I G Í L I A D E N A TA L 419 | A MENSAGEM | 3 Vigília de Natal “Acolher a vida de Deus, irradiar a Luz em abundância” OBJECTIVOS - Proporcionar às comunidades onde não é possível realizar a Missa do Galo uma Vigília que reúna a comunidade para celebrar o cumprimento das promessas fei- tas por Deus ao seu povo. - Em tempo de euforia e festa, como é a celebração do Natal, oferecer um momento de recolhimento e interioridade que faça des- cobrir o verdadeiro sentido da alegria cristã. - Reler a história da humanidade à luz da história de um povo no qual Deus se fez sempre presente. - Ajudar a perceber que a descoberta da “luz para o futuro” é feita na memória de um passado rico de sinais da presença de Deus no mundo. - Desafiar à Missão, a irradiar a Luz em abundância, a contagiar os ambientes com a ale- gria própria de quem se sente amado por Deus. INTERVENIENTES E DESTINATáRIOS - Catequistas, catequizandos, pais dos catequizandos, todos os que se sentem co- munidade… - Os vários grupos de catequese podem construir convites para entregar em espe- cial àqueles que não têm por hábito envol- ver-se na vida da comunidade. - Convidar um dos adolescentes da co- munidade a representar a personagem de “explorador”. - Convidar os pais dos catequizandos a assumirem as personagens bíblicas que in- tervêm na vigília. - Convidar uma família da comunidade a representar a Sagrada Família AMBIENTE - Deve-se procurar criar um ambien- te verdadeiramente acolhedor capaz de convidar ao recolhimento e à interiorida- de. Reduzir um pouco a luz pode ajudar a criar esse ambiente acolhedor. A música ambiente pode também ajudar. - Procurar dar um lugar de destaque ao símbolo da Dinâmica de Advento, acen- dendo todas as velas da coroa de Advento. O QUE PREPARAR - Música ambiente - Roupas e adereços para as persona- gens bíblicas - Arca e rolo com o Prólogo Joanino - Cânticos - os cânticos propostos podem ser encontrados em: http://www.taize.fr/pt_article10329.html

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V I G Í L I A D E N A T A L419 | A MENSAGEM | 3

Vigília de Natal“Acolher a vida de Deus, irradiar a Luz em abundância”ObjectivOs

- Proporcionar às comunidades onde não é possível realizar a Missa do Galo uma Vigília que reúna a comunidade para celebrar o cumprimento das promessas fei-tas por Deus ao seu povo.

- Em tempo de euforia e festa, como é a celebração do Natal, oferecer um momento de recolhimento e interioridade que faça des-cobrir o verdadeiro sentido da alegria cristã.

- Reler a história da humanidade à luz da história de um povo no qual Deus se fez sempre presente.

- Ajudar a perceber que a descoberta da “luz para o futuro” é feita na memória de um passado rico de sinais da presença de Deus no mundo.

-Desafiar à Missão, a irradiar a Luz emabundância, a contagiar os ambientes com a ale-gria própria de quem se sente amado por Deus.

intervenientes e destinatáriOs

- Catequistas, catequizandos, pais dos catequizandos, todos os que se sentem co-munidade…

- Os vários grupos de catequese podem construir convites para entregar em espe-cial àqueles que não têm por hábito envol-ver-se na vida da comunidade.

- Convidar um dos adolescentes da co-

munidade a representar a personagem de “explorador”.

- Convidar os pais dos catequizandos a assumirem as personagens bíblicas que in-tervêm na vigília.

- Convidar uma família da comunidade a representar a Sagrada Família

ambiente - Deve-se procurar criar um ambien-

te verdadeiramente acolhedor capaz de convidar ao recolhimento e à interiorida-de. Reduzir um pouco a luz pode ajudar a criar esse ambiente acolhedor. A música ambiente pode também ajudar.

- Procurar dar um lugar de destaque ao símbolo da Dinâmica de Advento, acen-dendo todas as velas da coroa de Advento.

O que preparar

- Música ambiente- Roupas e adereços para as persona-

gens bíblicas- Arca e rolo com o Prólogo Joanino- Cânticos - os cânticos propostos podem

ser encontrados em:http://www.taize.fr/pt_article10329.html

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V I G Í L I A D E N A T A L

Introdução

Catequista 1

Catequista 2

Catequista 3

SIlênCIo(músicaambiente)

Explorador(abrindo o baú)

(Sugerimos que esta introdução seja lida de forma lenta e pausada por três catequistas. Pode ser acompanhada por música ambiente.)

Há uma história muito bonita, escrita por um Judeu, sobrevivente do holocausto e que recebeu o prémio Nobel da paz em 1986. Esta história, que queremos hoje aqui contar, está escrita no livro “As portas da floresta”:Quando o grande Rabbi Israel Baal Shem-Tov via a desgraça a ameaçar os judeus, cos-tumava dirigir-se a um determinado lugar na floresta para meditar. Quando lá chega-va, acendia uma luz e dizia uma oração apropriada; o milagre realizava-se e a desgraça afastava-se. Mais tarde, quando a desgraça voltava a ameaçar, o seu célebre discípulo, Magid de Mezeritch, dirigia-se para o mesmo lugar, na floresta, e dizia: «Senhor do uni-verso, escuta! Não sei acender a luz, mas ainda sou capaz de dizer a oração». E o milagre realizava-se outra vez. Mais tarde ainda, Rabbi Moshe-Leib de Sassov, para salvar uma vez mais o seu povo, dirigia-se para a floresta e dizia: «Não sei acender a luz, não sei a oração, mas sei o lugar e isto será suficiente». Era suficiente, e o milagre voltava a realizar-se. Aconteceu depois vir a desgraça sobre Rabbi Israel de Rizhin. Este sentou-se na sua cadeira de braços, pôs a cabeça entre as mãos, e falou a Deus: «Já nem sequer sei encontrar o lugar na floresta. Tudo o que posso fazer é contar a história, e isto deve ser suficiente». E era suficiente.

Esta história de Elie Wiesel falava da realização fácil de um milagre que tinha a ver apenas com saber um lugar, acender uma luz, dizer uma oração. Mas falava também de como, pouco a pouco, de geração em geração, se foi perdendo sucessivamente a ciência de acender a luz, de dizer a oração, de saber o lugar, tendo ficado apenas a história que se contava. E o certo é que bastava contar a história para que o milagre se repetisse.

Esta história pode aplicar-se ao Natal que já bate à nossa porta. Todos fazemos uma festa em nossa casa, montamos um presépio ou colocamos uma árvore iluminada à janela ou no jardim, fazemos muitas compras, gastamos muito dinheiro, oferecemos e recebemos muitas prendas, e por toda a parte há mais música e luz. Mas, se já não sabemos o lugar, nem acender a luz, nem dizer a oração, parece-me agora que uma parte significativa da nossa geração também já nem sequer sabe a história ou rapidamente a começa a esquecer.

(Em silêncio e ao som de música ambiente entra agora uma personagem que designamos de “explorador”. Será esta personagem que nos fará mergulhar na história que nesta noite queremos contar.)

Cada vez que abrimos um baú espalham-se como brisa suave e agradável uma imensidão de recordações e memórias que nos enchem o coração.Palavras, imagens, anseios e sonhos guardam em si o maior tesouro que alguma vez a humanidade recebeu. Vivemos como carvões apagados suspirando pela fonte da luz, a fonte da nossa origem. Movemo-nos colubrejantes pela vida como cegos que tocam tudo em seu redor. E tropeça-mos nos obstáculos do caminho, agarrando-os com avidez na esperança de que sejam a luz… porque na verdade, já não a conhecemos, já não nos recordamos dela. Hoje, trazemos à memória a história dessa luz, para que de novo ilumine a nossa vida e encha de raios de luminosidade cada recanto obscuro da nossa vida.

CântICo Na nossa escuridão acende, Senhor a tua luz de amor, a tua luz de amor!Na nossa escuridão acende, Senhor a tua luz de amor, a tua luz de amor!

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V I G Í L I A D E N A T A L

SIlênCIo(música ambiente)

Profeta Isaías

(Entra o profeta Isaías)

“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;habitavam numa terra de sombras,mas uma luz brilhou sobre eles.Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo;alegram-se diante de ticomo os que se alegram no tempo da colheita,como se regozijam os que repartem os despojos.Pois Tu quebraste o seu jugo pesado,a vara que lhe feria o ombroe o bastão do seu capataz,como na jornada de Madian.Porque a bota que pisa o solo com arrogânciae a capa empapada em sangueserão queimadas e serão pasto das chamas.Porquanto um menino nasceu para nós,um filho nos foi dado;tem a soberania sobre os seus ombros,e o seu nome é:Conselheiro-Admirável, Deus herói,Pai-Eterno, Príncipe da paz.Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites,sobre o trono de David e sobre o seu reino.Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça,desde agora e para sempre.Assim fará o amor ardente do Senhor do universo.”

Explorador

Profeta Isaías

Explorador

Profeta Isaías

Explorador

Profeta Isaías

Explorador

Profeta Isaías

Homem de palavras sábias quem és tu?

Eu sou o profeta Isaías. Sou o grande profeta de Jerusalém. O Meu nome significa “Deus salva”!

De onde vens tu, ó Profeta Isaías?

Os meus escritos na Bíblia atravessam três épocas diferentes: antes, durante e depois do exílio do Povo de Deus.

Que fizeste tu, ó grande profeta?

Eu anunciei a vinda da luz, a vinda do Messias e apresentei-o como um servo. No tempo do exílio eu anunciei e a libertação do Povo e o seu regresso à terra dos seus antepassados. Depois do exílio trouxe a confiança ao povo para este se reinstalar na Terra que lhe tinha sido prometida.

Profeta Isaías que nos dizes hoje?

Rompei em brados de alegria, porque aproximam-se os pés do mensageiro da Paz. Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria, porque do tronco de Jessé saiu um ramo e um rebento brotou das suas raízes. As espadas convertem-se em relhas de arado e as lanças em foices. Jamais alguma nação lançará a espada contra a outra. Vinde, caminhemos à luz do Senhor.

(Retira-se o profeta Isaías)

CântICo Senhor Jesus Tu és luz do mundo, dissipa as trevas que me querem falar.Senhor Jesus Tu és luz da minha alama: saiba eu acolher o teu amor.

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V I G Í L I A D E N A T A L

SIlênCIo(música ambiente)

João Baptista

(Entra João Baptista)

“Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus.Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão.O machado já está posto à raiz das árvores.Por isso, toda a árvore que não dá frutoserá cortada e lançada ao fogo.Eu baptizo-vos com água,para vos levar ao arrependimento.Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eue não sou digno de levar as suas sandálias.Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo.Tem a pá na sua mão:há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro.Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga.”

Explorador

João Baptista

Explorador

João Baptista

Explorador

João Baptista

Explorador

João Baptista

Homem de palavras duras, quem és tu?

Eu sou João, o Baptista. Sou filho de Zacarias, sacerdote do templo de Jerusalém e de Isabel, parente de Maria, a mãe de Jesus. Vivo no deserto de Judá, nas margens do Rio Jordão e anuncio a proximidade do juízo de Deus.

Que fazes tu, João baptista?

Eu sou o percursor, sou aquele que prepara o caminho do Senhor. Prego um baptismo de conversão para o perdão dos pecados.

Que nos dizes tu, homem sábio?

Eu baptizo com água mas há-de chegar aquele, de quem eu não sou digno de desatar as suas sandálias. Ele baptizará no fogo do Espírito Santo. Preparai o caminho do Senhor. Endireitai as suas veredas. Todo o vale será aterrado, toda a montanha e colina serão aplanadas; as estradas curvas ficarão rectas e os caminhos esburacados serão nivelados. E todo o homem verá a salvação de Deus.

Que devemos fazer João Baptista?

Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem. E quem tiver comida faça a mesma coisa.

(Retira-se João Baptista)

CântICo De noite iremos em busca da fonte de água viva.Só nos guia a nossa sede, só nossa sede nos guia.

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V I G Í L I A D E N A T A L

SIlênCIo(música ambiente)

Maria

(Entra Maria)

«A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.Santo é o seu nome.A sua misericórdia se estende de geração em geraçãosobre aqueles que o temem.Manifestou o poder do seu braçoe dispersou os soberbos.Derrubou os poderosos de seus tronose exaltou os humildes.Aos famintos encheu de bense aos ricos despediu de mãos vazias.Acolheu a Israel, seu servo,lembrado da sua misericórdia,como tinha prometido a nossos pais,a Abraão e à sua descendência, para sempre.»

Explorador

Maria

Explorador

Maria

Explorador

Maria

Explorador

Maria

Explorador

Maria

Mulher, quem és tu?

Eu sou Maria, a mãe de Jesus e a esposa de José, o carpinteiro. Os meus pais são Ana e Joaquim.

De onde vens tu Maria?

Eu vivi há mais de dois mil anos em Nazaré, na Galileia. O meu filho, Jesus, nasceu em Belém na Judeia aquando o recenseamento que o Imperador César Augusto ordenara. Como José era da tribo de David, tivemos que ir a Belém para nos recensearmos. Nessa viagem nasceu Jesus.

Que fizeste tu Maria?

Como todas as mulheres do meu país eu cuidava da casa, tomava conta do meu filho e rezava ao meu Senhor, o Deus de Abraão e David. Depois de José ter morrido, eu acompanhava Jesus e os seus discípulos juntamente com todas as outras mulheres que os seguiam. Depois da morte de Jesus foi João, o discípulo que Jesus amava, que me acolheu em sua casa.

Como fizeste tudo isso, Maria?

Simplesmente confiei-me ao Senhor, para que em mim se fizesse a sua vontade. Fui uma humilde serva que acolheu a vontade de Deus.

Que nos dizes hoje Maria?

Fazei tudo o que vos disser Jesus. Ele é a Palavra viva de Deus, a Palavra encarnada. Nas suas palavras é-nos revelada a vontade de Deus. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

(Sai Maria)

CântICo Magnificat, magnificat, magnificat anima mea Dominum.Magnificat, magnificat, magnificat anima mea Dominum.

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V I G Í L I A D E N A T A L

SIlênCIo(músicaambiente)

(O Explorador retira da arca um rolo. Abre-o e lê o seguinte texto. Enquanto lê entram Maria, José e Jesus que formam assim o quadro do presépio.)

No princípio era o Verboe o Verbo estava com Deuse o Verbo era Deus.No princípio, Ele estava com Deus.Tudo se fez por meio d’Elee sem Ele nada foi feito.N’Ele estava a vidae a vida era a luz dos homens.A luz brilha nas trevase as trevas não a receberam.Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.Veio como testemunha,para dar testemunho da luz.O Verbo era a luz verdadeira,que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.Estava no mundoe o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu.Veio para o que era seue os seus não O receberam.Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome,lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.Estes não nasceram do sangue,nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,mas de Deus.E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.Nós vimos a sua glória,glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito,cheio de graça e de verdade.João dá testemunho d’Ele, exclamando:«Era deste que eu dizia:‘O que vem depois de mim passou à minha frente,porque existia antes de mim’».Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemosgraça sobre graça.Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés,a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.A Deus, nunca ninguém O viu.O Filho Unigénito, que está no seio do Pai,é que O deu a conhecer. (Jo 1,1-18)

leitor 1

leitor 2

leitor 1

leitor 2

leitor 3

leitor 4

leitor 1

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leitor 1

leitor 2

Explorador

Um menino foi dado ao povo e montou tenda entre eles.Ao acercarem-se dele para o conhecer, experimentaram algo singular que nunca tinham senti-do até então. E julgavam que ele era diferente: “Este menino é diferente!”

Até mesmo os seus pais se interrogaram, porque ele não agia como os demais. À medida que crescia, afigurava-se-lhes cada vez mais misterioso. A sua linguagem era nova: “Ama… vem…”; e que surpreendentes os gestos!

Ninguém ficara indiferente. Todos se perturbaram. A sua presença ferira aquele silêncio de morte que os afogava há séculos. Finalmente surgira um resplendor, um imenso clarão!

Um dia, quando jovem, alguém ousou perguntar-lhe:

- Qual é o significado da vida?

- Vou responder-vos retorquiu.

E tirando do bolso um pequeno espelho do tamanho de uma moeda, começou a brincar com ele, encantando todos pelo modo como orientava a luz e reflectia nos sítios mais recônditos que nunca tinham visto a claridade.

Lentamente foram percebendo o sentido deste gesto: Cada um, como um espelho, pode enviar a luz da verdade, da fraternidade, da alegria e da paz, e dissipar as trevas dos corações das pessoas.

Ficava claro para todos o significado da vida: “ser luz para os outros”.

Neste momento, o jovem transfigurou-se e ficou iluminado como chama incandescente. E todos os confins do mundo puderam ver que… que o jovem era a Luz.

A missão é a porta da rua que se abre. É o irmão que nos estende a mão, o toxicodependente que precisa de ajuda. O olhar do executivo que vive na sua arrogância e na sua ambição. A mis-são é o nu que precisa de ser vestido, o velho que chora, o menino que tem fome. A missão é o pai, a mãe, o irmão. A missão é a vida!Vamos. Revistamo-nos das armas da luz. A todos os recantos de escuridão levemos a claridade. Partamos sem medos nem condições. Vamos. O mundo não pode esperar mais.

(sai o explorador)

CântICoS Ao som de cânticos de Natal, a celebração pode terminar, convidando-se todos os presentes a adorar o “menino”.

André Emanuel Coelho Paróquia de Parada de Todeia

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C O M O F A Z E R

Encenação para Adolecentes ou Jovens(Quatro jovens, com os olhos vendados, estão espalhados pelo local da encenação. No meio deles um jovem que representa o Homem. Entre as personagens encontra-se um globo. Música ambiente.)

Homem: Triste é a noite em que adormeço. Escuro é o dia em que me levanto. Árduas são as horas do meu desespero e da minha solidão.

Procurei-Te em todos os caminhos e em todas as ruas: não Te encontrei. Abri as minhas mãos para as examinar e não vi nelas o Teu nome gravado. Chorei, gemi, lamentei-me e em todos os meus gritos não encontrei o Teu eco.

Percorro as horas do meu desassossego e em nenhuma delas encontrei o Teu consolo. Quebrei todos os meus ossos, abri as minhas entranhas e não me queimei com

o fogo do Teu amor a arder em mim. Perscrutei os meus segredos e os lugares mais recônditos do meu coração e

não me cruzei contigo nas avenidas da minha intimidade. Não sei mais onde procurar-Te. Estou seco, as minhas folhas caíram e não tenho frutos para oferecer.

(Música ambiente)

Leitor 1: A noite veio e escureceu a alma dos homens, mergulhando-os num mar de sombras e mentira.

Leitor 2: Tudo é trevas, tudo é sombra, tudo é confusão.

Leitor 1: A noite vendou-lhes os olhos, tapou-lhes os ouvidos, tornou os seus corações insen-síveis. As suas mãos são áridas, perderam a capacidade de tocar a frescura da vida.

Em Missão

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C O M O F A Z E R

Leitor 2: Tudo é trevas, tudo é sombra, tudo é confusão.

Leitor 1: Vivem como carvões apagados, suspirando pela fonte da luz, a fonte da sua origem. Procuram-na e não a encontram. Estão cegos. Não vêem nada. Vivem aos encontrões, tropeçam na vida, permitem-se não ver o evidente.

Leitor 2: Tudo é trevas, tudo é sombra, tudo é confusão.

(De olhos vendados, os quatro jovens comportam-se como cegos, apalpando o que encontram ao seu redor. Como que tropeçando no globo, um dos jovens faz o globo aproximar-se do homem que o observa e acolhe.)

Leitor 3: O Mais importante não é que me encontres, que me descubras, que fales de mim com sabedoria. O mais importante não é que me ames com todas as forças do teu coração. O mais importante é que saibas que eu estou de braços abertos para que me encontres. O mais importante é que não duvides que eu estou pre-sente no meio do mundo. O mais importante é que saibas reconhecer a minha presença em tantos caminhos da tua vida, em tantas estradas da humanidade. O mundo é o lugar do meu repouso. Em todos os continentes, em todos os países encontrar-me-ás.

(Na apresentação de cada continente aproxi-mam-se do globo três jovens vestidos da cor de cada continente. Trazem com eles uma faixa que vão estender desde o globo até ao local ondevãoficar.Nofimdasapresentaçõestere-mos um circulo colorido á volta do globo)

Verde – ÁfricaVermelho – AméricaAmarelo – ÂsiaAzul – OceaniaBranco – Europa

Leitor 4: Com mais de 900 milhões de habitantes e 54 países independentes, África apresenta-se como um continente rico de valores, mas oprimido pelas guerras e pelas violências. É o mais pobre de todos os continentes, onde problemas como a subnutrição, analfabetismo e baixa expectativa de vida são bem reais.

Leitor 3: Estou em África e chamo-te: Chamo-te a partir de tantas barrigas esfomeadas, da menina órfã que vagueia à procura de alimento e da mulher desesperada quenãotemoquedaraosseusfilhos.Chamo-teapartirdoscamposderefu-giados e das vítimas dos horrores da guerra. Grito e clamo de dentro de tantos becos de corrupção, mentira e ganância! Estou aqui! Não me vês? Não me ouves? Não me sentes?

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C O M O F A Z E R

Leitor 5: Conhecido como o “novo mundo”, o Continente Americano reúne 902 mi-lhões de habitantes distribuídos por 35 países. Terra de muito entusiasmo, ideais e convicções é o símbolo da força e do poder do homem. No entanto, na América latina, por trás da riqueza e do luxo, esconde-se a miséria e o sofrimento daqueles que lutam por um pedaço de terra, ou são explorados no seu trabalho.

Leitor 3: Estou na América e chamo-te: Chamo-te a partir da grande cidade de Nova York e das grandes favelas do Rio de Janeiro. Chamo-te a partir de tantas gargantas ressequidas de tanto gritar por um bocado de terra e a partir do olhar de tantas mulheres que prostituem a sua vida em troca de pão. Grito e clamo de dentro de tantas misérias e horrores. Estou aqui! Não me vês? Não me ouves? Não me sentes?

Leitor 4: Com mais de 60 por cento da população mundial, o continente Asiático é a terra das grandes religiões. A diversidade de etnias, culturas e religiões associa-seaosinúmerosconflitosexistentesportodoocontinentesobretudonoMédioOriente, na China e na Coreia. Apesar de alguns viverem no luxo e na osten-tação a pobreza é uma marca muito forte deste continente.

Leitor 3: Estou na Ásia e chamo-te: Chamo-te a partir das margens do lago de Tiberíades e da praça de Tianamen. Chamo-te do interior das prisões e das salas de execu-ção. Chamo-te a partir do deserto e do desespero de tantas mulheres mergulha-dasnosanguedosseusfilhos.Chamo-tepelosomdostirosepeladordosquesão escravizados na indústria. Grito e clamo de dentro das ruínas da destruição de mais um Tsunami. Estou aqui! Não me vês? Não me ouves? Não me sentes?

Leitor 5: Terra de muitas ilhas, de muitos povos, belezas e encantos, a Oceania, o no-víssimo mundo é o continente mais pequeno em população mas com uma natureza muito rica e bela. Os seus longos lagos, as suas montanhas, planaltos, desertos e o gelo da Antárctida fazem deste continente uma amostra da beleza presente em todo o mundo.

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C O M O F A Z E R

Leitor 3: Estou na Oceania e chamo-te: Mesmo dos ventos frios da Antárctida e do longo MonteCuraleuchamo-te.Porentreosturistasdasilhasdopacíficoedossem-abrigode Sidney eu chamo-te. Estou aqui! Não me vês? Não me ouves? Não me sentes?

Leitor 4: Berço da cultura ocidental, a Europa constituída por 50 países representa 25 por cento da população Mundial. Mergulhado numa profunda crise econó-mica e de valores espirituais este continente parece ter-se esquecido das suas raízes e das suas origens.

Leitor 3: Estou na Europa e chamo-te. Chamo-te a partir dos bancos desta igreja onde te encontras sentado. Chamo-te das praças das grandes capitais europeias, dosbairrosondesetraficadrogaedosserviçosdefronteirasondeesperama entrada tantos sonhos e projectos. De dentro dos quartos de hospital, onde aguardam a morte tantos velhos, eu chamo-te. Estou aqui! Não me vês? Não me ouves? Não me sentes?

(Como quem anuncia a verdade, o Homem destapa as vendas dos quatro jovens. Estes recebem a luz comportando-se como alguém que olha o mundo pela primeira vez.)

Homem: A missão é a porta da rua que se abre. É o irmão que nos estende a mão, o toxicodependente que precisa de ajuda. O olhar do executivo que vive na sua arrogância e na sua ambição. A missão é o nu que precisa de ser vestido, o velho que chora, o menino que tem fome. A missão é o pai, a mãe, o irmão.

(Começam a sair em direcção à porta principal) A missão é a vida! Vamos. Revistamo-nos das armas da luz. A todos os recantos de escuridão

levemos a claridade. Partamos sem medos nem condições. Vamos. O mundo não pode esperar mais.

(Todos os intervenientes abandonam o local da encenação seguindo o Homem; a porta é fechada com estrondo)

André Emanuel CoelhoParóquia de Parada de Todeia

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P A R A U M A C A T E Q U E S E R E N O V A D A

Catequese Lugar de Magnificat e Conversão

Diariamente os discípulos são convo-cados e enviados a anunciar o Evangelho, a fazer “memória” do acontecimento da salvação, a viver na dinâmica do Reino e a celebrar o dom de Deus a favor do ho-mem, Jesus Cristo. Para a Igreja do Por-to, o chamamento à missão ganhou uma tonalidade particular na Missão 2010, que provoca e convoca para a urgência de uma evangelização “nova no seu ardor, nos seus métodos e expressões” 1.

Como missão ao serviço da Palavra no processo de Evangelização a catequese é chamadaaescutarosdesafiosdaIgrejaeaestar atenta aos apelos das crianças, jovens e adultos que se dispõem a realizar uma caminhada de Iniciação à Vida na Fé.

Recorda-se que, de forma especial a par-tir de meados do século XX, a questão cate-quética viu surgir um grande movimento de renovação. Hoje, atendendo à realidade ecle-sial, catequética e à complexidade do contex-to sociocultural, o processo de renovação em curso tornou-se mais urgente. A missão 2010 é uma oportunidade única para discernir: que diz o Espírito à catequese no Porto?

Para olhar a realidade e a partir dela

abrir caminhos, o SDEC e os Assessores da Catequese lançaram desde Junho 2010 um inquérito aos Párocos e aos catequistas. Aguarda-se com expectativa a respostas de todos. Conhecer e perscrutar a realidade permitir-nos-á ver e analisar as luzes e som-bras da “iniciação à vida na fé” na Diocese do Porto e pensar o seu presente e futuro. Como afirmaCatechesi Tradendae: “A renovaçãoda catequese é um dom do Espírito Santo concedido à Igreja nos dias de hoje” (nº3).

Além dos inquéritos, ao longo dos últi-mos anos, através da Revista A Mensagem o SDEC tem oferecido alguns textos de re-flexãoedesafiadosospárocosecatequistasa levarem para as reuniões a preocupação da missão catequética.

Para dar continuidade a este processo, tendo em conta o tempo de graça que re-presenta a Missão 2010, oferecemos alguns pontosdereflexãoeumapequenabiblio-grafia que poderão ser utilizados comoponto de partida para encontros à volta da realidade catequética.

Estando a catequese no coração da Igre-ja, não podemos deixar passar ao lado este tempo de graça.

1 Expressão de João Paulo II, em 1983, no Haiti.

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P A R A U M A C A T E Q U E S E R E N O V A D A

1. AlgumAs AfirmAções / questões pArA reflectir

pensar as dificuldades e as pOssi-bilidades da transmissãO da fé nO mundO de hOje

Hoje, porém, a transmissão da fé encon-tra dificuldades e levanta questões. Pareceverificar-semenosaberturaàfétantodapartedas crianças e adolescentes como dos jovens e adultos. De facto, das crianças e adolescentes que frequentam a catequese, muitos não ad-quirem o sentido da presença e da amizade de Deus e de Jesus Cristo. Por isso, não assimilam nem o hábito nem o gosto pela oração ou pela Eucaristia. Falta-lhes em geral uma relação vi-vida com Deus e uma leitura da vida humana à luz desta relação. Também entre os adultos, afastados ou descrentes, parece mais difícil a transmissão da fé. As dificuldades crescentesna adesão ao Evangelho estão certamente re-lacionadas com as profundas transformações sócio-culturais que caracterizam um mundo novo. O modelo tradicional da comunicação da fé foi posto em causa no seio de uma so-ciedade pluralista, pluricultural, plurireligiosa e secularizada. (…) Estamos diante de uma mudança profunda, em alguns aspectos inédi-ta em relação ao passado, que exige ser reco-nhecida e interpretada com urgência e lucidez. (Para que acreditem e tenham vida – CEP)

percursOs diferenciadOs –catequese de adultOs

Durante muito tempo consideraram-se as crianças como os destinatários privilegiados de catequese. Hoje esta actividade pastoral deve dirigir-se a todas as idades, pois todas as idades precisam de ser evangelizadas (Cf DGC 33). Na verdade, em todas as fases etárias en-contramos muitas pessoas que necessitam de uma catequese de iniciação que proporcione uma formação cristã de base e garanta uma aprendizagem de toda a vida cristã centrada na conversão e no seguimento de Jesus Cristo (Cf DGC 67). Como referem vários documentos do Magistério, muitos nascidos em países cris-tãos e baptizados na infância, encontram-se na situação de quase catecúmenos (Cf CT 44; E in E 46-47). (Para que acreditem e tenham vida – CEP)

desenvOlver O actO catequéticO cOmO iniciaçãO à vida na fé

« (…) A Iniciação consiste na incorporação gradual e progressiva no mistério de Cristo e da Igreja, através dos três sacramentos da ini-ciaçãocristã–Baptismo,ConfirmaçãoeEu-caristia – e da aprendizagem e treino nas várias dimensões da fé: conhecimento do essencial do mistério cristão; celebração da fé na Eucaris-tia e nos sacramentos; união com o Senhor na oração; prática do Evangelho na caridade e no serviço.» (Para que acreditem e tenham vida – CEP)

realizar O actO catequéticO cOmO missãO evangelizadOra

«… a catequese, no contexto da nova evan-gelização, deve revestir algumas característi-cas, tais como:

- Adoptar um carácter missionário procu-rando assegurar a adesão à fé. Para isso precisa de ir ao encontro da vida real dos catequizan-dos e de ter em conta as suas questões e expe-riências de modo a responder-lhes.

- Centrar-se no kerigma, ou seja, na pessoa de Jesus Cristo Ressuscitado e no Seu mistério de salvação. Jesus Cristo deve ser apresentado como Boa Nova, fonte de esperança e de senti-do para a vida humana e para as questões das pessoas e da sociedade.

- Convidar constantemente a uma atitude de conversão ao Senhor em ordem ao cresci-mento na santidade pessoal e ao compromisso com o testemunho do Evangelho no mundo.» (Para que acreditem e tenham vida – CEP)

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intrOduzir na catequese um prO-cessO de primeirO anúnciO dO evangelhO

«Aespecificidadedacatequese,distintadoprimeiro anúncio do Evangelho que suscita conversão, visa o duplo objectivo de fazer ama-durecer a fé inicial e de educar o verdadeiro dis-cípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e sistemático da Pessoa e da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo (49).

Na prática, porém, a catequese, mantendo embora esta ordem normal, deve ter em conta quemuitasvezesnão severificouaprimeiraevangelização. Certo número de crianças bap-tizadas na primeira infância chegam à cate-quese paroquial sem terem recebido qualquer outra iniciação na fé, e sem terem ainda uma adesão explícita e pessoal a Jesus Cristo; têm somente a capacidade para acreditar que lhes foi conferida pelo Baptismo e pela presença do Espírito Santo. Os preconceitos do meio familiar pouco cristão, o espírito positivista da educação seguida, bem cedo geram nes-sascriançascertonúmerodedificuldades.Eaestas há que juntar ainda outras crianças, não baptizadas, para as quais os respectivos pais só tardiamente aceitam a educação religiosa: por motivos de ordem prática, a fase da sua for-mação catecumenal dar-se-á, frequentemente e em grande parte, no decurso da catequese ordinária. Depois, sucede também que nu-merosos pré-adolescentes e adolescentes, que foram baptizados e receberam uma catequese sistemática e os Sacramentos, permanecem ainda por longo tempo hesitantes em compro-meter toda a sua vida com Jesus Cristo, quan-do acontece mesmo que procuram esquivar-se a uma formação religiosa em nome da liberda-de.Porfim,osprópriosadultosnãoestãolivresdas tentações da dúvida ou do abandono da fé, especialmentesobinfluênciadomeioambien-te incrédulo. Tudo isto equivale a dizer que a «catequese» muitas vezes há-de ter a preocu-pação, não só de alimentar e esclarecer a fé, mas também de a avivar incessantemente com a ajuda da graça, de lhe abrir os corações, de converter e preparar aqueles que ainda estão no limiar da fé para uma adesão global a Je-sus Cristo. Tal cuidado ditará, pelo menos em parte, o tom, a linguagem e o método da cate-quese». (Catechesi Tradendae nº 19)

O catecumenadO mOdelO inspira-dOr de tOda a catequese

«O modelo escolar da catequese, concebi-do como aprendizagem, seguindo os ritmos da escolarização, já não está adaptado. Muitas crianças e jovens nem mesmo acompanham a catequese com a prática da experiência religio-sa, devido à ruptura entre a família e a comu-nidade crente.

Toda a catequese deve inserir-se no ritmo da nova evangelização, deve fazer parte do proces-so de iniciação cristã, começando por descobrir a riqueza dos três sacramentos: o Baptismo, a ConfirmaçãoeaEucaristia.Issosignificaumcaminhoapercorrer,dedescobertaedefide-lidade, na alegria de experimentar uma vida nova. Isso só pode fazer-se em comunidade, em grupo que caminha em conjunto, onde se descobre ao mesmo tempo Cristo e a sua Igre-ja, onde se experimenta a exigência do amor, a força da comunhão, e a alegria de começar a viver uma vida nova, fonte de uma nova compreensão de todas as realidades da vida. O ritmo catecumenal é o mais indicado para a catequese,ondepaisefilhosdevemaprenderater momentos em que fazem em conjunto esse caminho. O Catequista ganha a dimensão do pastor que conduz o seu rebanho às fontes da vida.» Comunicação do Sr. Cardeal D. José Policarpo, no congresso da Equipa Europeia de catequese, em 2008

dar um espaçO central à palavra

«A catequese há-de beber sempre o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus, transmitida na Tradição e na Sagrada Escri-tura, porque “a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito inviolável da Palavra deDeus, confiado à Igreja”. (CT nº 27) Ela é espaço privilegiado de anúncio do Evangelho como Boa Notícia e desenvolvi-mento da capacidade de interioridade, como atitude de acolhimento à Palavra.

A Exortação Apostólica “A Igreja na Eu-ropa” manifesta e revela quanto a Iniciação Cristã está ao serviço do “Evangelho da Espe-rança”. O Papa João Paulo II, ao recolher as linhas fundamentais da Assembleia Sinodal, estrutura a sua exortação numa perspectiva

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claramente iniciatória. Em ordem a propor “OEvangelhodaesperançaconfiadoàIgrejado Novo Milénio” (capítulo II), o Papa subli-nha a urgência e a necessidade de Anunciar, Celebrar e Servir o Evangelho da Esperança (respectivamente capítulos III, IV e V). Trata-se, portanto, de fazer “nascer de novo”, de ini-ciar de novo à fé, de re-evangelizar.

reflectir cOm as cOmunidades a natureza e a respOnsabilidade catequética das mesmas

“(…) É a comunidade cristã que é “cate-quizante” porque esta é a sua missão (DGC, 220). O Directório diz explicitamente que “a comunidade cristã é a origem, o lugar e a meta da catequese” (DGC, 254).

«A comunidade cristã é o sujeito, o ambiente e a meta da catequese. Na verdade, a vida cristã é um facto comunitário, recebe-se, aprende-se e vive-se na Igreja, mistério de comunhão. Na vida das comunidades, a fé cristã torna-se um acontecimento vivido e actual, incarnado em pessoas, testemunhado em gestos e formas de viver. Nas actividades eclesiais da comunidade, que realizam a missão pastoral global, a Palavra de Deus alcança a sua plena realização como Palavra proclamada no anúncio do evangelho, celebrada na liturgia e praticada no serviço fra-terno da caridade. A comunidade cristã apre-senta, deste modo, um testemunho vivido da fé no qual a catequese encontra a sua base de apoio.» (Para que acreditem e tenham vida – CEP)

«A catequese é uma responsabilidade de toda a comunidade cristã. A iniciação cristã «não deve ser obra só dos catequistas ou sacerdotes, masdetodaacomunidadedosfiéis.»CT 16 A própria educação permanente da fé é uma ques-

tão que cabe a toda a comunidade. A cateque-se é, portanto, uma acção educativa realizada a partir da responsabilidade própria de cada membro da comunidade, num contexto ou cli-macomunitárioricoderelações,afimdequeos catecúmenos e os catequizandos se insiram activamente na vida da comunidade.» DGC 220

integrar a família nO percursO catequéticO

A acção educativa dos pais, «que é a um tempo humana e religiosa, é um «verdadeiro ministério» FC 38, por meio do qual se transmi-te e se irradia o Evangelho, a tal ponto que a própria vida de família se torna itinerário de fé eescoladevidacristã.Àmedidaqueosfilhoscrescem, o intercâmbio torna-se recíproco e, «num diálogo catequético deste tipo, cada um recebe e dá alguma coisa CT68» DGC 227

«É necessário que a comunidade cristã preste uma atenção especial aos pais. Deve ajuda-los a assumirem a tarefa, hoje especial-mentedelicada,deeducarosfilhosnafé,pormeio de contactos pessoais, encontros, cursos, e também mediante uma catequese para adul-tos, dirigida concretamente aos pais.» DGC 228

Oferecer aOs catequistas uma fOrmaçãO que prepare para res-pOnder aOs desafiOs actuais

«(…) trata-se de formar catequistas para as necessidades evangelizadoras deste momen-to histórico, com os seus valores, desafios esombras. São necessários catequistas dotados de uma profunda fé, de uma clara identidade cristã e eclesial e de uma profunda sensibilida-de social, para enfrentarem esta tarefa. Todo e qualquer projecto formativo deve ter em con-sideração estes aspectos.

Também se deve ter presente nesta formação o conceito de catequese que a Igreja hoje apre-senta. Trata-se de formar catequistas, para que sejam capazes de transmitir, não apenas um en-sino, mas também uma formação cristã integral, desenvolvendo «tarefas de iniciação, de educação e de ensino». Dito por outras palavras: são neces-sários catequistas que sejam, ao mesmo tempo, mestres, educadores e testemunhas.» DGC 237

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2. sugestão de Alguns textos Apoio

a. textOs dO magistériOs

Concílio Vaticano IIOs Documentos produzidos pelo Concílio,

com relevância para a Catequese:- Constituição“ASagradaLiturgia”;- Constituição dogmática “A Igreja”;- Decreto “O Múnus Pastoral dos Bispos

na Igreja”;- Declaração “A educação cristã”;- Constituição dogmática “A Revelação

Divina”;- Decreto “O apostolado dos leigos”- Decreto “A actividade missionária da

Igreja”- Decreto “O ministério e a vida dos sacer-

dotes”;- Constituição Pastoral “A Igreja no mun-

do actual”

Evangelii NuntiandiO Evangelho aos homens de hoje, 1975Dedicada à “evangelização do mundo mo-

derno”

Catechesi Tradendae“Catequese para hoje”, 1979Resume, actualiza e amplia as conclusões

da IV Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos de 1977;

Catecismo Da Igreja Católica«Afinalidadedestecatecismoéapresentar

uma exposição orgânica e sintética do conte-údo essencial e fundamental da doutrina ca-tólica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do Concílio Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja».

Directório Geral Da CatequeseDocumento publicado pela Congregação

do Clero, em 1997;Apresenta o nuclear e fundamental sobre a

catequese (em 5 partes):1) Catequese na missão da Igreja2) Mensagem evangélica e Catecismo da Igreja

Católica como texto de referência3) A catequese como exercício duma pedagogia4) Destinatários, diferentes idades, diversas si-

tuações e contextos;5) Formação de catequistas, lugares de cate-

quese, organismos responsáveis

Para Que Acreditem E Tenham Vida Documento publicado pela Conferência

episcopal Portuguesa em 2005, apresenta a análise da realidade actual e orientações para catequese em Portugal.

b. textOs de reflexãO sObre a ca-tequese editadOs pelO sdec na revista a mensagem

Nº386 - O futuro da catequeseNº388 - Caminhos para a interioridade Nº391 - Evangelização e catequese – Catequese

de Iniciação Nº391 - Espiritualidade do catequistaNº394 - Exame de consciência apostólica Nº398 - A relação Humana efectiva e afectiva

–umdesafiocatequéticoNº399 - Anunciar na alegria o Deus que Vem Nº400 - Educar para a vocação Nº402 - Para uma Fé adulta Nº403 - O catecumenado modelo inspirador de

toda a catequeseNº404 - Carta do Sr. Bispo D. Manuel, aos ca-

tequistas

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“a catequese, sendo comunicação da revelação divina, inspira-se radicalmente na pedagogia de deus, como ela se manifesta em cristo e na igreja, acolhe os seus parâmetros constitutivos e, guiada pelo espírito santo, faz uma sábia sínte-se da mesma, favorecendo assim uma verdadeira experiência de fé, um encontro filial com deus.” (DGC143) que queremos dizer quando falamos de pedagogia de deus?

U M D E S A F I O A P E N S A R O A C T O C A T E Q U É T I C O

“Aprouve a Deus, na sua bondade infinita e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e tornar conhe-cido o mistério da sua vontade, por meio do qual os homens, através de Cristo, Verbo Incarnado, têm acesso ao Pai, no Espírito Santo e n’Ele se tornam participantes da natureza divina. Por consequên-cia, em virtude desta revelação, Deus invisível, na abundância do seu amor, fala aos homens como amigos e dialoga com eles, para os convidar à co-munhão com Ele e nela os receber” 2.

1. deus revela-se cOmO aquele que se quer cOmunicar a si mesmO para admitir à cOmu-nhãO cOm ele e tOrná-lO par-ticipante da sua natureza

O desígnio da revelação não é a comuni-cação de qualquer verdade teórica ou abs-tracta, mas é o encontro entre Deus, que vem em busca do homem e o homem, que

procura um sentido para a vida e responde a Deus pela fé3. “Revelando-se a Si mes-mo, Deus quer tornar os homens capazes deLheresponderem,deOconheceremede O amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes de fazer”4.

Este desígnio divino “comporta uma par-ticular “pedagogia divina”: Deus comunica-se gradualmente ao homem e prepara-o, por etapas, para receber a Revelação sobrenatu-ral que faz de Si e que vai culminar na pessoa e missão do Verbo encarnado, Jesus Cristo”5.

1.1. as etapas da revelaçãO

A Criação – “«Deus, criando e conser-vando todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens um testemunho perene de Si mesmo na criação»6. Deus dá-se a conhecer às criaturas desde a origem do criado. Na criação, o “homem é o evento duma livre,

A pedagogia de Deus modelo da pedagogiacatequética“a catequese, sendo comunicação da revelação divina, inspira-se radicalmente na pedagogia de deus, como ela se manifesta em cristo e na igreja, acolhe os seus parâmetros constitutivos e, guiada pelo espírito santo, faz uma sábia sínte-se da mesma, favorecendo assim uma verdadeira experiência de fé, um encontro filial com deus.” (DGC143) que queremos dizer quando falamos de pedagogia de deus?

i. A pedAgogiA do dom

2 DV, 23 CatIC, 142: “Pela fé, o homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá assentimento a Deus que Revela”.4 Ibidem, 52.5 Ibidem, 536 DV, 3

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gratuita e indulgente auto-comunicação de Deus”7.Istoquersignificarque“Deus,na sua realidade mais autêntica, torna-se o constitutivo mais íntimo do homem. Trata-se, pois, duma auto-comunicação ontológica de Deus”8. Dito de modo mais simples: “Desejar a Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que não se cansa de procurar”9. Desde as origens, o homem é convidado à comunhão e “relação íntima e vital”10 com Deus.

A revelação de Deus na criação apa-rece elaborada como um drama em que Deus é o actor do primeiro acto: é o Deus criador frente à sua obra. Neste primeiro acto, o homem entende-se como criatu-ra que conhece e reconhece o criador. O homem recebe o seu ser daquele de quem provém. O segundo acto tem como actor o homem e corresponde fundamentalmente à não correspondência do homem às pos-sibilidades oferecidas por Deus. O homem, por esta sua opção, aparece como essência paradoxal, existência fracassada, homem em oposição. No terceiro acto reentra de novo Deus como resposta de justiça, situa-da entre o respeito pela opção do homem e a oferta gratuita da salvação11.

A História da Salvação – A história da salvação é o exercício desta pedago-gia da justiça de Deus que se desenvolve na história como origem, como promessa, aliança e cumprimento (em Jesus Cristo).

O Catecismo da Igreja Católica, ao apresentar as etapas da revelação enume-

ra-as assim: testemunho que Deus dá de si mesmo na criação (nº 54); promessa da redenção depois do pecado dos nossos pri-meiros pais (nº 55); a economia da aliança com Noé” (nº 57-58); a eleição de Abraão e dos patriarcas (nº 59-61); a constituição do povo de Israel, como “o povo dos “primo-génitos” na fé de Abraão” (nº 63); os pro-fetas, através dos quais “Deus forma o seu povo na esperança da salvação, na expec-tativa duma aliança nova e eterna, destina-da a todos os homens, e que será gravada nos corações” (nº 64).

A história é o lugar que Deus elege para encetarodiálogosalvíficocomohomem– na história e pela história, Deus solicita ao homem uma resposta que é “obediência da fé”12,afimdeotornarparticipantedodinamismo da sua vida.

Jesus Cristo, “mediador e plenitu-de de toda a revelação”13 – A Revelação de Deus à humanidade (revelação progres-siva e por etapas, feita de acontecimentos e palavras e através de mediadores vários14) culmina em Jesus Cristo, mediador e pleni-tude de toda a Revelação.

O Directório Geral da Catequese, citando o nº 4 da Dei Verbum, sublinha com ênfase que “Jesus Cristo, com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com pa-lavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito da verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a Revelação15.

Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, é a “Palavra única, perfeita e inultrapassável do Pai”16, “o acontecimento decisivo para o qual convergem todos os acontecimentos da história da salvação”17. Assim, “depois

7 RAHNER, Karl – Curso fundamental sobre la fe – introducción al concepto de cristrianismo. Herder, Barcelona, 1989, 147.8 Ibidem, 1489 CatIC, 27. Veja-se também o DGC, 36: “A pessoa humana, que por sua natureza e vocação é «capaz de descobrir Deus» quando ouve a mensagem das cria-

turas,podeatingiracertezadaexistênciadeDeuscomocausaefimdetudo”.10 GS, 1.11 Cf. FRIES, Heinrich – Accion y palavra de Dios en la historia de la salvacion. In: Mysterium Salutis – Manual de Teologia como história de la salvacion (vol. I). Ediciones Cris-

tiandad. Madrid, 1992, 228-234.12 O nº 144 do CatIC explicita o que obedecer na fé: “Obedecer (“ob-audire”) na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a

própria verdade”.13 DV, 2.14 DGC, 38.15 DGC, 40 e DV, 4, na linha de Heb 1, 1-2. 16 CatIC, 65.17 DGC, 40.

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d’Ele, não haverá outra revelação”18.A Pedagogia da Encarnação, levada a

cabo por Jesus Cristo, solicita ao homem uma resposta numa “dupla dimensão: “a entregaconfianteaDeuseaadesãoamo-rosa a tudo aquilo que Ele nos revelou”19. «Crer» tem, pois, uma dupla referência: à pessoa e à verdade; à verdade, pela confiança na pessoa que a testemunha” 20. Em Jesus Cristo, a Pedagogia de Deus diz-se em plenitude.

1.2. características da pedagO-gia dO dOm da revelaçãO

O nº 139 do Directório Geral da Cateque-se caracteriza com cuidada precisão a pedago-gia do dom da revelação ao longo da história.

Na Escritura, e “por analogia com os costumes humanos e segundo as categorias culturais do tempo, Deus é visto”21:

- Como um Pai misericordioso. Na cultura bíblica, Deus é chamado Pai en-quanto criador do mundo e em razão da Aliança e do domdaLei.Também é “oPai dos pobres”, do órfão e da viúva, pos-tos sob a sua protecção amorosa22. «Deus trata-vos como filhos; e qual é o filho aquem o seu pai não corrige?»23.

- Como um mestre e um sábio, edu-cador genial e providente que faz dos acontecimentos da vida e da história lições de sabedoria e acolhe e se adapta às diversas idades, contextos e situações vitais 24. Entre-ga ao Seu povo palavras de salvação para serem transmitidas de geração em geração; educa, advertindo com a recordação do prémio e do castigo; “torna formativas as próprias provas e sofrimentos”25.

- Como um Deus libertador, que se relaciona pessoal e concretamente com o

ser humano – indivíduo e comunidade – na condição existencial em que se encon-tra, e lhe oferece a libertação e salvação, livrando-o dos laços do mal, chamando-o a Si com vínculos de amor e refazendo per-manentemente a sua dignidade26, faz com que ele “cresça progressiva e pacientemen-te, até à maturidade de filho livre, fiel eobediente à Sua palavra”27.

Em síntese, e segundo o Directório Geral da Catequese, “este desígnio providen-cial do Pai, revelado plenamente em Jesus Cristo, realiza-se com a força do Espírito Santo. E com-porta: a revelação de Deus, da sua «verdade profunda», do seu «segredo», da verdadeira vocação e dignidade da pessoa humana; a oferta da sal-vação a toda a humanidade, como dom da graça e da misericórdia de Deus, que implica a libertação do mal, do pecado e da morte; o cha-mamento definitivo para reunir todos os filhos dispersos na família de Deus, realizando assim a união fraterna entre as pessoas” 28.

18 CatIC, 73. Os nº 66 e 67 explicitam bem este tema ao esclarecer com peculiar clareza que “apesar de a Revelação ter acabado, não quer dizer que esteja completamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos” (nº 66). E acrescenta, no nº 67: “A fé cristã não pode aceitar “revelações” que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação de que Cristo é o acabamento”.

19 DGC, 54.20 CatIC, 177.21 DGC, 139.22 CatIC, 238. O nº 239 acrescenta: “Ao designar Deus com o nome de “Pai”, a linguagem da fé sugere particularmente dois aspectos: que Deus é a primeira

origemdetudoeautoridadetranscendente,e,aomesmotempo,queébondadeesolicitudeamorosaparacomtodososseusfilhos”.23 Heb 12,7.24 Cf. DGC, 139.25 DGC, 139.26 Veja-se como Jesus caracteriza o Pai na Parábola do Filho Pródigo.27 DGC, 139.28 DGC, 37.

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Para entender a auto-comunicação de Deus ao homem é decisivo compreender que o da-dor é em si mesmo o dom, que o dador se entrega à criatura e enquanto tal se constitui como a sua consumação e acabamento29. Esta revelação é absolutamente gratuita e livre e, por conseguinte, indevida – é “o mila-gre indevido do livre amor de Deus”.

Na verdade, quando Deus se auto-co-munica, tornando os homens capazes de O conhecer e amar, abre e inicia para a hu-manidade o caminho da sua plenitude ou realização. “A revelação implica, por isso, a unidade profunda e indissolúvel entre o acontecimento da entrega de Deus e a sal-vação do homem, entre a manifestação de Si e do seu projecto de salvação e o cumpri-mento da vida verdadeira no ser humano”30.

O Directório Geral da Catequese, inter-pretandofielmenteonº13daDei Verbum, afirma: “Querendo falar à humanidade como a amigos, Deus manifesta a Sua pedagogia, de modo particular, adaptando, com solícita providência, a Sua Palavra à nossa condição terrena” 31.

1. O planO “da revelaçãO” encar-nada

Esta condescendência de Deus obedece a um “plano de revelação”. Deus revela-se ao homem mediante acções e palavras32 quetêmoseucumeefimemJesusCristo,Filho encarnado do Pai.

Na verdade, realizando a Sua missão de re-dentor, no âmbito do processo da «pedagogia deDeus»,comaperfeiçãoeaeficáciaintrín-secas à novidade da Sua pessoa, Jesus, através das Suas palavras, sinais e obras, ao longo de toda a Sua breve mas intensa vida, manifestou de modo absoluto a radicalidade da condes-

cendência de Deus. A Palavra fez-se carne. A Pedagogia de Deus é agora dom absoluto em Jesus Cristo e pedagogia encarnada.

A Pedagogia de Jesus continua e desenvolve aPedagogiadeDeus,“comaperfeiçãoeaefi-cácia intrínsecas à novidade da Sua pessoa”33. “Toda a vida de Cristo é revelação do Pai: nas suas palavras e actos, nos seus silêncios e sofri-mentos, na maneira de ser e de falar”34.

As linhas fundamentais desta Peda-gogia encarnada são35:

- “o anúncio genuíno do Reino de Deus, como boa nova da verdade e da consolação do Pai”36; chegada a plenitu-dedostempos,“Cristo,afimdecumpriravontade do Pai, deu começo na terra ao Rei-no dos Céus” (LG3). Ora a vontade do Pai é “elevar os homens à participação da vida divina” (LG2) E fá-lo reunindo os homens em torno de seu Filho, Jesus Cristo”37.

Jesus anunciou “uma nova e definitivaintervenção de Deus, com um poder trans-formador tão grande e até mesmo superior ao que utilizou na criação do mundo”38; anunciou e revelou que “Deus não é um ser distante e inacessível, duma potência anónima e longínqua”, mas sim o Pai”39.

- “o acolhimento do outro, em par-ticular do pobre, da criança, do peca-dor, como pessoa amada e querida por Deus”40; Jesus anuncia que o Reino é uma Boa Notícia para os pobres, que declara como bem-aventurados e a quem faz sentir a especial predilecção do Pai, que se dignou revelar-lhes o que é oculto aos sábios e inte-ligentes; Jesus partilha a vida do pobre, so-frendo e experimentando a fome, a sede e a nudez;mais:“identifica-secomospobresdetoda a espécie, e faz do amor para com eles a condição para a entrada no seu Reino”41.

ii. A pedAgogiA dA encArnAção

29 RAHNER, K., Curso fundamental, 152.30 DELCAMPO,Manuel–Transmisión de la fe y iniciación cristiana. In: Actualidad catequetica 42, 327.31 DGC, 146.32 Cf. DGC, 38: “Este plano da revelação realiza-se por meio de acções e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que: as obras realizadas por Deus na história da salvação

manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, proclamam as obras e esclarecem o mistério nelas contido.33 DGC, 140.34 CatIC, 516.35 As linhas fundamentais da Pedagogia de Jesus desenvolvem-se no DGC, nos nº 101-102 e 140.36 DGC, 140.37 CatIC, 541.38 DGC, 101.39 Ibidem, 102.40 DGC, 140.41 Ibidem, 544.

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U M D E S A F I O A P E N S A R O A C T O C A T E Q U É T I C O

Jesus, por palavras e actos, acolhe, convive e convida para a mesa do Reino os pecado-res, mostrando-lhes a misericórdia sem limi-tes que o Pai lhes dedica e a imensa alegria de Deus pela conversão do pecador42.

- “um estilo de amor delicado e forte, que livra do mal e promove a vida”43; Jesus é apresentado como porta-voz do aco-lhimento e da misericórdia, como encarna-ção do Deus com entranhas de misericórdia.

“Jesus ensina, ao mesmo tempo, que Deus oferece, com o Seu Reino, o dom da salvação integral; Ele liberta do pecado, in-troduz na comunhão com o Pai, concede afiliaçãodivinaeprometeavidaeterna,vencendo a morte” 44.

Jesus acompanha a sua palavra com nu-merosos “milagres, prodígios e sinais” (Act 2, 22). “Os sinais realizados por Jesus testemunham que o Pai O enviou”45. A libertação do mal e a promoção da vida pretendem sobretudo resti-tuiraohomemasuavocaçãodefilhodeDeus46.

- “o convite premente a uma condu-ta amparada pela fé em Deus, pela es-perança do reino e pela caridade para com o próximo”47; toda a vida e ministé-riodeJesuséumdesafioàconfiançaabsolu-ta em Deus, pela conversão e pelo exercício da caridade, feita, por Cristo, mandamento e “mandamento novo”48.

- “a utilização de todos os recursos da comunicação interpessoal, como a palavra, o silêncio, a metáfora, a ima-gem, o exemplo e diferentes sinais, como faziam os profetas bíblicos”49; todos estes elementos se encontram nas pará-bolas, traço característico do ensino de Jesus e que são, para o homem, como uma espécie de espelho que permanentemente o interpe-la,questionaedesafiaaagir50; embora se situe na linha dos profetas bíblicos, Jesus inaugura uma forma nova de ensinar que cativa e atrai.

Esta novidade caracteriza-se por: uma

profundidade religiosa, que faz com que o que diz de Deus Pai seja fresco e se entenda; mensagem provocadora, que anuncia uma grande notícia e denuncia as atitudes tortas; mensagem que se liga à vida e aos acontecimentos comuns da vida das pessoas; as coisas difíceis de Deus são narradas e ditas com simplicidade…

2. uma pedagOgia iniciática

Jesus iniciou os seus discípulos na Peda-gogiadeDeus.Esta iniciaçãoverifica-senocuidado que dedicou à formação dos Doze, apresentando-se-lhes como único “Mestre que revela Deus à humanidade e revela a pes-soa humana a si mesma”51. Através de toda a sua vida, Jesus, Mestre e amigo paciente e fiel,ensinou-lhes os mistérios de Deus, estimulando-os “com perguntas oportunas”, explicando-lhes, de maneira aprofundada, aquilo que anunciava à multidão; introdu-ziu-os na comunhão íntima com o Pai, pela oração; possibilitou-lhes a experiência de viver quotidianamente os valores que lhes anunciava; iniciou-os à missão quan-do promoveu uma jornada missionária; pro-meteu e enviou o Espírito para os guiar à verdade total52.

Jesus Cristo é, no dizer de João Paulo II, na Catechesi Tradendae, “o Mestre que salva, santifica e guia, que está vivo, quefala, desperta, comove, corrige, julga, per-doa e caminha todos os dias connosco pelos caminhos da história; o Mestre que vem e que há-de vir na glória”53.

Na verdade, Jesus inicia os seus discípu-losnaconfissãodafén’Ele,nacelebraçãoda sua vida e no exercício dos valores do Reino e sobretudo comunica-lhes, pela for-ça e acção do Espírito Santo, a Pedagogia dos sinais do Reino.

42 Cf.Lc15,7eMt26,28.Cf.CatIC,54543 DGC, 140.44 Ibidem, 102.45 CatIC, 548.46 Cf. CatIC, 549.47 DGC, 150.48 CatIC, 1824.49 DGC, 140.50 Cf. CatIC, 546. “Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no coração das parábolas”.51 DGC, 137.52 Veja-se a este propósito o CatIC, nº 787: “Desde o princípio, Jesus associou os discípulos à sua vida. Revelou-lhes o mistério do Reino; deu-lhes parte na sua

missão, na sua alegria e nos seus sofrimentos. Jesus fala duma comunhão ainda mais íntima entre Ele e os que O seguem: “Permanecei em Mim, como Eu em vós (…). Eu sou a cepa, vós os ramos” (Jo 15, 4-5). E anuncia uma comunhão misteriosa e real entre o seu próprio Corpo e o nosso: “quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6, 56)”.

53 CT, 9.

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U M D E S A F I O A P E N S A R O A C T O C A T E Q U É T I C O

“Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2, 4).

“Para cumprir este desígnio salvífico, Jesus Cristo instituiu a Igreja com fundamento nos após-tolos e, derramando sobre eles o Espírito Santo, enviou-os a pregar o Evangelho a todo o mundo. Os apóstolos executaram fielmente este mandato com palavras, com obras e por escrito” 54.

Desde o princípio, a Igreja tem vivido a sua missão como continuidade visível e actual da pedagogia do Pai e do Filho. Ela, «sendo nossa Mãe, é também educadora da nossa fé»55. Por aquilo que é, anuncia e celebra, realiza e permanece sempre como o lugar vital, indispensável e primário do desígniosalvíficodeDeus56.

A Pedagogia de Deus, traduz-se na Igre-ja, sob a acção do Espírito Santo, através do testemunho daqueles que aceitaram o desafiodeprofessar,celebrar,vivererezara fé em Deus que se revela como salvador, em Cristo Jesus; através de todas as formas de evangelização, catequese e iniciação cristã; através da guarda e defesa da inte-gridade do depósito da fé57.

A Pedagogia da Igreja, sob a acção do Espírito Santo, continua, desenvolve vital-mente e manifesta a Pedagogia de Deus, encarnada em Jesus Cristo. Assim, “pode dizer-se que a pedagogia de Deus está completa, quando o discípulo atinge «o estado de homem perfeito, à medida da es-tatura da plenitude de Cristo» (Ef 4, 13)” 58.

iii. A pedAgogiA dA igreJA soB A Acção do espÍrito sAnto

A Pedagogia de Deus que se manifesta como dom na revelação e na história da salvação, torna-se pedagogia encarnada em Jesus Cristo, o Filho de Deus, e peda-gogia dos sinais, na Igreja, sob a acção do Espírito Santo.

Esta Pedagogia total de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, configura a catequese,porque, sendo esta comunicação da reve- lação divina, inspira-se radicalmente na pedagogia de Deus, como ela se manifesta em Cristo e na Igreja”59. A acção catequé-tica da Igreja, guiada pelo Espírito Santo, acolhe os “parâmetros constitutivos”60 da Pedagogia de Deus e “faz uma sábia sín-tese da mesma, favorecendo assim uma verdadeira experiência de fé, um encontro filialcomDeus” 61.

SDEC – Porto

conclusão

54 DGC, 43.55 CatIC, 169.56 Cf. DGC, 141. 57 Cf. Ibidem.58 Ibidem. 59 Ibidem, 143.60 Ibidem.61 Ibidem.