44381972 Manual de Mergulho Completo

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  • MANUAL DE MERGULHO

  • APRESENTAO

    Em nosso mundo, continuamos a afirmar que o nico universo interno ainda

    no conquistado, continua a ser o subaqutico, a ltima fronteira acessvel ao

    homem comum.

    Muitos poucos humanos tornar-se-o astronautas para explorar o universo

    exterior, entretanto milhes podero sagrar-se aventureiros desbravadores de

    novos horizontes, visando um mundo sempre novo de luzes e cores

    desconhecidas, de silncio nunca antes alcanado, de vida intensa e

    maravilhosa, adentrando neste incrvel universo subaqutico, que apresenta-se

    inesgotvel pelas incontveis mutaes de tudo o que dele acontece.

  • INDICEASSUNTOS PGINA

  • TEORIA I

    1. HISTRIA DO MERGULHO - O MERGULHO NA ANTIGUIDADE

    O homem sempre deparou-se com o mar. Todas as vezes que alguma civilizao estendeu seu domnios at onde fosse territorialmente possvel, esbarrou no mar. Rios e outros cursos de gua jamais representaram hiatos significativos na seqncia da expanso. O oceano, entretanto, interrompeu migraes e expanses por perodos seculares. At que a necessidade aumentasse, obrigando o homem a solucionar novos problemas de sobrevivncia, ele permaneceu em terra.

    A prova est, que os povos que possuam grandes extenses territoriais no fizeram fama como navegadores. J, ao contrrio, os "ilhados" ou moradores de pennsulas, com o aumento da populao, foram obrigados a descobrir

  • novas terras, e essas terras sempre estiveram alm dos limites do horizonte martimo.

    Mas, quanto a mergulhar, parece que sempre existiram pessoas ou pequenos grupos que, apesar de todos os mistrios, atreviam-se a submergir, com gua nos olhos e no nariz, indo direto "ao fundo do mar", de onde traziam ou faziam alguma coisa, para espanto e admirao de seus parentes e amigos.

    "Esses mergulhadores primitivos eram, ao mesmo tempo, prticos e msticos." Conta-se que um sumeriano chamado Gilgams (heri e mergulhador), encontrou e perdeu uma alga marinha que proporcionava vida eterna... Em portos do Mediterrneo, nas guas quentes do Golfo Prsico e em diversas ilhas espalhadas pela antiga Oceania o homem mergulhava. H indcios seguros disso. De experimento em experimento, "aperfeioaram o mergulho nu, alcanando profundidades de 50 a 60 metros".

    Embora as referencias sobre Gilgams datem de mais de 4000 anos, a atividade de mergulho antiga e mais bem registrada parece ser (na opinio de Cousteau) a dos gregos, como recolhedores de esponjas. Esta atividade teria sido descrita, inclusive, por Aristteles, onde enaltecia a qualidade das esponjas para serem colocadas sob as pesadas armaduras dos soldados de ento.

    Ornamentos em paredes, compostos de madreprola, datados de mais de 4500 anos, so um testemunho da atividade de mergulho, de alguma forma.

    Outras referncias citando atividades militares de Alexandre, com o emprego de mergulhadores, constam da histria antiga. Embora no saibamos at que profundidade alcanaram, o historiador grego Tucdides nos relata que os espartanos tambm usaram mergulhadores para enviar suprimentos, passando pelo bloqueio que os navios atenienses impuseram a ilha de Sfaktiria.

    No Japo, a atividade das mulheres pescadoras de ostras data de mais de 1500 anos. Comeam aos onze anos de idade e algumas mergulham at os sessenta anos.

    De qualquer maneira, durante milnios, o ato de mergulhar no sofreu modificaes importantes (novas tcnicas). No comeo do sculo XX, entretanto, com o advento da tecnologia e dos experimentos de fisiologia hiperbrica, a atividade de mergulho apresentou um desenvolvimento vertiginoso, se constituindo, hoje, numa prtica das mais seguras e interessantes para o homem moderno.

    No obstante o nvel de sofisticao que o mergulho atingiu hoje em dia, povos mergulhadores ainda o praticam tal qual o faziam nos primrdios de sua histria. Os pescadores de prolas do arquiplago de Tuamoto, no Pacfico Sul, so um exemplo disso. "O ritual do mergulho" iniciado com uma orao em que pedem proteo contra tubares e morias. Depois, tratam de se hiperoxigenar, em geral assobiando baixo e com respiraes rpidas e profundas.

  • Depois o mergulhador prende no dedo do p uma corda com um peso na extremidade. O peso jogado no mar, puxando o mergulhador, os ps na frente, com pouco ou nenhum esforo de sua parte. Suas nicas ferramentas so uma luva grossa, que protege a mo contra cortes e arranhes, e um cesto para coleta. O mergulhador faz em mdia quarenta mergulhos por dia, variando de trinta a quarenta metros, para recolher de 150 a 200 ostras.

    Essa prtica antiga, continuada nos dias de hoje, nos confirma a idia de que foi a necessidade econmica, a sobrevivncia, o estimulo para que o homem mergulhasse. Hoje a atividade mais difundida o mergulho de lazer e possvel a qualquer pessoa com condies normais de sade. Mas quando o homem nele iniciou-se, era para poucos e por questo de sobrevivncia.

    2. OS POLINSIOS E O MERGULHO EM APNIA

    O ciclo da navegaes e descobertas traz muitas referncias interessantes em seus dirios de bordo e em suas cartas. Uma delas diz respeito ao encontro dos portugueses com os povos da polinsia, os quais causam admirao aos descobridores pelo fato de ser um povo de mergulhadores.

    Habitantes de ilhas vulcnicas, com solo pouco produtivo, a pesca era a maior fonte de alimentao deste povo. Por questo de sobrevivncia, o polinsio foi "flagrado" mergulhando em seu cotidiano. Ora, isso causou grande admirao aos europeus, gente de muita roupa e com muitas lendas sobre os mistrios do mar. Fazendo uso de dois pedaos de bambu unidos entre si e ajustados contra a face do mergulhador, o polinsio mergulhava de p. A gua invadia o bambu at uma certa altura e ali estacionava, permitindo que fosse mantido um pequeno intervalo com ar, onde o ajuste da viso se fazia com bastante nitidez embora com outras restries de rea. E mergulhava em respirao suspensa, em apnia.

    Mais tarde os nativos adaptaram escamas de tartaruga (extremamente polidas) as extremidades da "mascara", tornando possvel o mergulho com a cabea para baixo. Nesta prtica atingiram tanta maestria que chegavam, no raramente, aos 40 metros de profundidade. Os mergulhadores que realizavam apnias de mais de 2 minutos eram a maioria. Obviamente, devem ter acontecido acidentes, mas seu percentual no deveria ser de tal monta, posto que o mergulho se expandiu cada vez mais entre os polinsios e os demais povos da Oceania.

    Portanto podemos afirmar que os polinsios desenvolveram e so os precursores da arte de mergulhar com assiduidade e no cotidiano. Foram e so, at hoje, um povo mergulhador.

    3. O CORPO HUMANO E O MERGULHO EM APNIA

    Certamente, quando os polinsios comearam a mergulhar em apnia (apnia = suspenso voluntria da respirao) desconheciam quase tudo que hoje

  • sabemos sobre as leis que regem a fisiologia humana em ambiente hiperbrico. E no entanto mergulharam. Por que? Como conseguiram?

    A resposta simples: foi devido ao fato do corpo humano ter sido feito com amplas possibilidades para o mergulho, isto : at certa intensidade de ambiente hiperbrico (aumento de presso) a mquina fisiolgica se ajusta automaticamente.

    Na verdade, o espectro de possibilidades oferecido pela Natureza ao ser humano vai alm dos limites da terra seca, sendo o mergulho uma prtica de coisas normais no universo de ambientes em que o organismo ainda tem bom funcionamento.

    No fosse isso verdade, o homem no mergulharia a menos que j tivesse dominado grande tecnologia que viesse a compensar sua incapacidade orgnica. Saltar de pra-quedas ou voar so um exemplo desta afirmao. No entanto, povos totalmente desconhecedores de qualquer cincia tecnolgica atingiram profundidades de mais de 30 metros (4 atm). Foi porque o corpo humano estava "calculado" para tambm funcionar ali.

    Portanto, ao mergulharmos, ao ministrarmos um curso de mergulho devemos estar cientes de que no estamos fazendo nada de excepcional e a habilidade que estamos propiciando possvel a qualquer pessoa com condies normais de sade. A seguir veremos o porque desta afirmao.

    3.1. A PRESSO E SEU EFEITOS

    Ora, como sabemos, vivemos sob o peso de uma camada de ar. O peso deste ar se distribui sobre nosso corpo com o valor de 1 quilograma fora por cada centmetro quadrado da rea que apresentamos. (Este valor um valor de presso, que tem como frmula, sempre, fora/rea.)

    Ao valor numrico acima apresentado como sendo a presso do ar sobre nosso corpo, chamamos de "uma Atmosfera de presso". Portanto, todo o ar existente no mundo exerce sobre ns a presso de 1 atm = 14,7 psi (libra) = 1 bar.

    Embora haja uma pequena diferena, para efeito de entendimento podemos dizer que cada 10 metros de gua salgada (do mar) propicia um aumento de presso de mais 1 Atm. Isto , a cada 10 metros a presso aumenta de mais 1 Atm. Aos 10 metros de profundidade o mergulhador estar sob a presso hidrosttica (s a presso da gua) de 1 atm e, ao mesmo tempo, sob a presso absoluta de 2 atm (a presso da gua + a presso do ar que existe sobre a gua).

  • a) LEI DE BOYLE E MARIOTTE

    Esta uma das leis mais importantes do mergulho e vem nos explicar a relao de variao entre presso e volume. De uma maneira simples ela nos diz que: o volume de um gs varia de maneira inversa a variao da presso a qual est submetido. (Conforme animao mostrada na pgina anterior)

    nvel do mar, Prof. = 0 metro

    5 lit------------ presso = 1 atm

    10 metros de profundidade 2,5 lit------------ presso = 2 atm

    O exemplo anterior nos ilustra como isso acontece. Imaginemos uma bola de ar com um volume de 5 litros teve seu volume reduzido pela metade, quando a presso a qual estava exposta duplicou de valor. Ateno: no houve perda de ar. O que ocorreu foi que as molculas desse gs se agruparam por fora da presso, dando, como conseqncia, uma diminuio do volume ocupado.

    Naturalmente, o gs aumentou de densidade (maior nmero de molculas por centmetro cbico). Esta outra concluso da Lei de Boyle e Mariotte, que nos

  • diz tambm que a densidade varia diretamente proporcional a variao da presso.

    No exemplo anterior, quando a bola retornar ao nvel zero ela assumir novamente o mesmo volume que possua (5 litros).

    Este trabalho de reduzir-se e voltar ao volume normal aps o mergulho, os pulmes realizam silenciosamente, sem que sintamos, quando submergimos em apnia. Foi por isso que ser humano conseguiu mergulhar. Este era o segredo que o polinsio usufrua, sem saber. Todos ns possumos esta adaptao automtica e imperceptvel da caixa pulmonar.

    b) PASCAL

    A presso exercida sobre um ponto qualquer de um fludo, se transmite em todas as direes com igual intensidade.

    c) LIMITES DO MERGULHO EM APNIA PARA AS PESSOAS, EM GERAL

    Para que possamos bem entender este conceito, precisamos saber, primeiro, que ns jamais conseguimos esvaziar totalmente os pulmes. Quando exalamos tudo, sempre ficamos com um "volume residual" que, didaticamente, vamos considerar como sendo de 1 litro. Esse ar residual o responsvel pela manuteno da menor presso interna possvel nos pulmes.

  • Considerando que a nossa capacidade pulmonar seja de 5 litros (para efeito de segurana de clculo).

    Profun- presso Volumedidade (em atm) Pulmonar

    (em l)------------------------------------------0 m 1 5

    10 m 2 2,5

    20 m 3 1,66

    30 m 4 1,25

    40 m 5 1

    Ao atingirmos a profundidade de 40 metros, num mergulho em apnia, nosso volume pulmonar estar igual ao valor do volume do ar residual. Como dissemos anteriormente, este valor de 1 litros o que oferece a menor presso interna para que as paredes pulmonares no venham a se fechar contra si mesmas. Um valor menor que esse ocasionaria um grave acidente que chamamos de barotrauma pulmonar total. E se ultrapassarmos os quarenta metros, em apnia, isso pode ocorrer. Portanto, podemos dizer que, para o ser humano, de uma maneira geral, o limite de profundidade/segurana recomendada para essa modalidade seria na faixa dos 35 metros.(bar, baro = presso, trauma = leso, machucado, barotrauma = leso por efeito da presso)

    d) SISTEMA DE IMERSO PROFUNDA DOS MAMFEROS

    Voc j deve ter ouvido falar ou lido sobre o fato do homem ter atingido, em apnia, profundidades maiores do que os 40 metros. Realmente, o recorde, hoje, est na faixa dos 120 metros. Ocorre que estes mergulhadores possuem funcionando em seus organismo um processo que se encontra latente, hibernado, nas demais pessoas. O chamado sistema de imerso profunda dos mamferos.

    Para simplificar, diramos que esse processo funciona da seguinte maneira: ao ser atingida a profundidade dos 40 metros (portanto, na faixa onde se daria o barotrauma pulmonar total), por algumas razes de diferena de presso entre o interior do pulmo e a pleura comea a haver um fluxo de sangue para o

  • interior dos alvolos. O sangue um liquido, e os lquidos so incompressveis. Esta incompressibilidade sustenta o esmagamento que se daria na caixa pulmonar e o mergulhador, ento, ultrapassa a profundidade crtica e vai em busca do recorde.

    Muitas pessoa que jamais mergulharam podem ter, ativos em seus organismos, este processo; muitas que mergulham a vida toda no o tem. Mas todos ns o temos, pelo menos em estado latente.

    e) BAROTRAUMA PULMONAR TOTAL EM APNIA RASA.

    Tudo que falamos at agora, diz respeito a apnia inspiratria, isto , aquela onde o mergulhador inicia com os pulmes cheios. Nesse caso o volume mnimo s seria atingido por volta dos 40 metros de profundidade. Entretanto, caso j se iniciasse o mergulho com os pulmes em volume reduzido (apnia expiratria = exalou o ar e mergulhou), o volume mnimo (1 litro) seria atingido bem antes dos 40 metros. Num mergulho a partir do pulmo vazio, podem ocorrer graves problemas j aos 5 metros de profundidade (barotrauma pulmonar total, de acordo com a lei de Boyle). Soltar o ar durante o mergulho em apnia, dependendo da profundidade onde se est, pode criar um quadro semelhante ao que ocorreria numa profundidade de 40 metros. Portanto, no recomendado soltar-se o ar num mergulho em apnia. O correto tomar o ar normalmente, mergulhar, permanecer e voltar sem soltar o ar.

    Obs.: Temos conhecimento de caso em que um pescador subaqutico (em apnia) foi vitima do acidente acima comentado. Estava a 15 metros de profundidade e soltou um pouco de ar para aliviar a presso do CO2. Imediatamente o volume restante reduziu-se a menos de 1 litro. Foi fatal.

    3.2. O AR QUE RESPIRAMOS E O CICLO RESPIRATRIO

    Inicialmente, para efeito de mergulhos, devemos saber que o ar que respiramos (quer seja quando inspiramos antes de uma apnia, quer seja quando o respiramos comprimido no equipamento autnomo) se compe de 80% de nitrognio e 20% de oxignio. Isto , o ar natural.

    Na verdade existem tambm alguns pequenos traos de gazes raros nessa mistura, mas de propores desprezveis. Portanto podemos considerar o ar conforme a composio citada acima.

    Sob a presso de 1 atm, portanto ao nvel do mar, o nitrognio no assimilado com relevncia (exceo para os que moram e/ou vem de locais elevados para o nvel do mar). Neste caso ele tem apenas a funo carregadora. Transporta o oxignio e traz de volta o Dixido de Carbono produzido pelo metabolismo orgnico (CO2).Nossa respirao regulada, em intensidade e velocidade, pelas variaes das presses parciais desses dois gazes em nosso organismo (presso parcial de

  • oxignio ppO2; presso parcial de dixido de carbono = ppCO2). Para uma compreenso mais rpida do fenmeno, sensores nervosos do corpo levam ao controle do crebro os nveis da duas presses parciais as quais nos referimos acima. O oxignio "viaja" no sangue, transportado pela hemoglobina, sendo que apenas uma quantidade muito pequena deste gs se dissolve no plasma. J o CO2 tem no plasma o seu meio de transporte.

    ideal que o corpo humano funcione com doses muito pequenas de CO2, uma vez que esse gs um produto residual do organismo. Quando a ppCO2 aumenta e a ppO2 diminui, a velocidade da respirao se acelera para compensar este desequilbrio. Entretanto a diminuio do nvel de oxignio, se bem que tenha participao no acionamento deste "estimulo" respiratrio, no se compara a influencia que o aumento da ppCO2 exerce na "necessidade" de respirar. Embora o mecanismo da respirao seja um processo complexo e ainda no esclarecido de todo, sabe-se que o grande estimulo da continuidade respiratria no o decrscimo da ppO2, e sim a elevao da ppCO2.

    a) VOLUMES PULMONARES

    Volume Corrente = a quantidade de ar que participa de um ciclo respiratrio completo (inspirao e expirao). Varia de 0,5 a 1 litro de ar.

    Reserva Inspiratria = o mximo da quantidade de ar que podemos inspirar a mais. Pode ultrapassar a marca dos 3 litros.

    Reserva Expiratria = o mximo de ar que podemos expirar a mais.

    Capacidade Vital = a quantidade mxima de ar que podemos movimentar por nossa vontade. Vai desde uma inspirao mxima a uma expirao mxima. Sendo aproximadamente da ordem de 5 litros e de 4 litros, no homem e na mulher, respectivamente.

  • Ar Residual = aquele volume de ar que sempre permanece no pulmo e do qual no dispomos possibilidades de exalar. da ordem de 1 litro de ar.

    Capacidade Pulmonar Total = a soma do volume da capacidade vital + o volume do ar residual.

    Obs.: como voc j percebeu, o volume da capacidade pulmonar total ser da ordem de 6 litros. Entretanto, para efeito de segurana do mergulho em apnia, interessante consider-lo como sendo de 5 litros, limitando-se a 40 metros a mxima profundidade desta modalidade para o corpo humano em fisiologia no excepcional, conforme explanado em 3.1.b e 3.1.c.

    b) O PROCESSO DA RESPIRAO

    As entradas naturais do ar no corpo so a boca e o nariz. Passando pela vlvula da garganta (glote, que est aberta) vai, via traquia, direto aos pulmes. A traquia composta por anis circulares cartilaginosos que se abrem para esta passagem e que se fecham quando existe material estranho. Neste percurso, o ar filtrado, ajustado temperatura e recebe a umidade necessria. Prosseguindo, passa pelos brnquios, que so as ramificaes da via respiratria em direo a cada pulmo. Essas ramificaes se dividem ainda mais, at que o ar passe por tubos extremamente finos (bronquolos) que terminam em pequenas bolsas membranosas (alvolos).

    ao nvel dos alvolos que se faz a troca gasosa entre o sangue e os componentes do ar.

    A superfcie alveolar, em sua extenso plana, pode ultrapassar a rea de 70 metros quadrados, apresentando mais de 600 milhes de alvolos que absorvem mais de 250 ml de oxignio e liberam 200 ml de dixido de carbono. Para que o ar entre nos pulmes necessrio uma presso interna menor do que a atmosfrica. Isso se obtm pela ao do diafragma e dos msculos abdominais que, atuando, modificam a forma do pulmo, criando esse gradiente de presso. Ocorre ento a inspirao. Quando esses msculos se relaxam, no processo inverso, temos a expirao.

  • c) A COMPOSIO DO AR ALVEOLAR

    Ao entrar nos pulmes, o ar inspirado entra em contato com o ar residual que se alojava nos alvolos. O ar inspirado, tomado da natureza, possui uma composio percentual de gases diferente da que compe o ar residual, uma vez que esse ltimo est "adulterado" pela influencia que o metabolismo pulmonar exerce sobre ele. de grande importncia a existncia desse ar, uma vez que ele recebe o ar puro e o adapta s condies reinantes no pulmo naquele momento. Para se ter uma idia disso, se a ppO2 no ar atmosfrico da ordem de 20%, no interior dos alvolos cai para 15%. Com a ppCO2 ocorre o contrrio, uma vez que sendo praticamente insignificante no ar atmosfrico, no interior do alvolo pode chegar a valores em torno de 5%. Esta diferena para menos e para mais no percentual existente no alvolo, em relao ao oxignio e ao dixido de carbono, respectivamente, deve-se a dois motivos que assim resumiramos:

    1) Menor presso parcial de oxignio: devida ao constante fornecimento deste gs para o sangue. 2) Maior presso parcial de dixido de carbono: recebimento constante deste gs, proveniente do metabolismo do organismo.

    d) VENTILAO PULMONAR E A IMPORTNCIA DO CO2

    A este processo como um todo, conforme o que acima foi descrito, chamamos de ventilao. Ventilao, portanto, o mecanismo de troca entre o ar que entra nos pulmes e o ar que dele sai. A velocidade com que esse processo se repete regulada pelos teores de mais ou menos oxignio ou gs carbnico no sangue arterial. Entretanto, o aumento da presso parcial de CO2 o estimulo preponderante.

    Alm da importante participao que este gs exerce na ventilao, outras manifestaes tambm lhe so atribudas, quando em excesso ou em carncia.

  • Ao acmulo demasiado de CO2 no organismo, chamamos de hipercapnia. Neste caso a respirao torna-se curta e a sensao de fadiga marcante. Pode haver sonolncia, nuseas, espasmos musculares e at inconscincia.

    A falta de CO2, por sua vez, chama-se hipocapnia e pode apresentar tremores musculares, contraes, tonturas e inconscincia.

    e) CO2 E OS "ESPAOS MORTOS" DO CORPO E DO EQUIPAMENTO

    Nem todo o ar que passa pelas vias areas participa logo da ventilao. A rea da boca, nariz, garganta e mesmo dentro dos brnquios, que ficaram cheias pela expirao anterior, isto , o ar j usado, quem primeiro voltar aos pulmes. Obviamente este ar possui maior concentrao de CO2. Estas reas de ar "repetido" so chamadas de espaos mortos.

    Respirando rapidamente, se respira o ar que est nos espaos mortos e, portanto, se realiza uma ventilao insuficiente, o que aumenta o nvel de dixido de carbono no sangue. Em conseqncia, o indicado (quer seja no snorkel, quer seja com o equipamento autnomo) uma respirao funda e tranqila. Assim se obtm uma boa ventilao.

    A vlvula reguladora e o snorkel so acrscimos do espao morto e contm ar da expirao anterior. Devem ser usados conforme recomendado, pois de maneira errada podem provocar (no caso do snorkel) uma intoxicao por CO2. Quanto ao equipamento autnomo, em virtude da maior densidade da gua (resistncia ao exalar) e da maior densidade do ar que, comprimido passa pela mangueira (resistncia ao inspirar), existe sempre "ar usado". Portanto, tornamos a recomendar: respire lenta e profundamente.

    3.3. BAROTRAUMAS E OUTROS EFEITOS DA PRESSO

    De acordo com a Lei de Boyle e Mariotte, todo espao em que existir algum tipo de gs no corpo ou equipamento do mergulhador, sofre sempre uma variao de volume em razo inversa a variao que houver ocorrido na presso circundante (no caso, provocada pelo aumento ou pela diminuio da profundidade).

    Quanto ao que ocorre nos pulmes, no mergulho em apnia, j descrevemos em 3.1.a. Vejamos agora o que acontece em outros compartimentos com ar.

    a) BAROTRAUMA FACIAL OU DE MSCARA

    J nos referimos anteriormente ao significado da palavra barotrauma como sendo uma leso causada pela presso em sua variaes. Dentro de uma mscara de mergulho tambm existe ar que sofre variaes durante o aumento da profundidade, reduzindo-se em volume. Esta reduo tende a provocar uma suco na pele da face do mergulhador, ao mesmo tempo em que a mascara se achata.

  • A figura ao lado representa o que ocorreria com a mascara de quem descesse indefinidamente. Com a diminuio constante do volume do ar interior, a suco, em alguma profundidade, chegaria a retirar os olhos das orbitas, caso no fosse realizada a compensao. O fato de alagar e desalagar a mscara durante o mergulho j propicia esta compensao. Mesmo sem reparar, a maioria dos mergulhadores em equipamento autnomo exala um pouco de ar pelo nariz durante o mergulho, o que por si mesmo j uma compensao.

    Em termos prticos o que se verifica em relao a este barotrauma, o mergulhador voltar com a testa bastante marcada pelo movimento da mscara, mas sem nem ao menos ter sentido qualquer coisa. Por vezes pode ocorrer algum pequeno sangramento no nariz, devido ao rompimento de algum vaso, ocasionado pela suco da mscara. Geralmente, ao tirar a mscara aps o mergulho, alertado pelos companheiros o novato se assusta pensando ter sido vitima de alguma coisa sria. Cabe ao instrutor tranqiliza-lo, explicando que o esquecimento da compensao da mscara teria sido a causa disso, mas que logo em seguida o efeito cessar.

    A referencia relativa ao deslocamento das rbitas oculares mais um dado para compreenso do fenmeno. Isso seria o barotrauma no grau mximo e importaria, at que ocorresse, numa verdadeira prova de resistncia a dor.

    culos de natao no permitem que se faa a compensao. No so feitos para o mergulho.

    A figura abaixo representa o que ocorreria com a mscara de quem descesse indefinidamente. Com a diminuio constante do volume do ar interior, a suco, em alguma profundidade, chegaria a retirar os olhos das rbitas, caso no fosse realizada a compensao. O fato de alagar e desalagar a mscara durante o mergulho j propicia esta compensao. Mesmo sem reparar, a maioria dos mergulhadores em equipamento autnomo exala um pouco de ar pelo nariz durante o mergulho, o que por si mesmo j uma compensao.

  • Em termos prticos o que se verifica em relao a este barotrauma, o mergulhador voltar com a testa bastante marcada pelo movimento da mscara, mas sem nem ao menos ter sentido qualquer coisa. Por vezes pode ocorrer algum pequeno sangramento no nariz, devido ao rompimento de algum vaso, ocasionado pela suco da mscara. Geralmente, ao tirar a mscara aps o mergulho, alertado pelos companheiros o novato se assusta pensando ter sido vtima de alguma coisa sria. Cabe ao instrutor tranqiliza-lo, explicando que o esquecimento da compensao da mscara teria sido a causa disso, mas que logo em seguida o efeito cessar.A referncia relativa ao deslocamento das rbitas oculares mais um dado para compreenso do fenmeno. Isso seria o barotrauma no grau mximo e importaria, at que ocorresse, numa verdadeira prova de resistncia a dor.culos de natao no permitem que se faa a compensao. No so feitos para o mergulho.

  • b) OS OUVIDOS E A PRESSO HIDROSTTICA

    O esquema a cima representa uma situao em que o tmpano est em posio de equilbrio, uma vez que as presses internas e externas, sobre ele, esto equalizadas. A figura 5 demonstra, de uma forma esquemtica e simplificada a equiparao de presses no ouvido mdio e no ouvido externo. No ouvido, a presso hidrosttica da profundidade exerce uma compresso em uma pequena membrana (porta de entrada) situada entre o ouvido externo (em contato direto com a gua) e o ouvido mdio (no interior do crnio). O ouvido externo traz a presso do ambiente, que deve ser igualada a presso interna do ouvido mdio, sob pena do tmpano passar a ser projetado cada vez mais para dentro, at atingir seu rompimento.

    Trompa de Eustquio (atualmente chamada de Tuba Auditiva):

    Se nos no tivssemos uma comunicao entre as vias areas que vem da boca e o ouvido mdio, o mergulho seria algo impossvel para a espcie humano devido a total impossibilidade de equalizarmos as presses externas e internas do ouvido. Ao conduto que permite esta equalizao por parte do mergulhador, chamamos de Trompa de Eustquio.

    As finalidades da Trompa de Eustquio, em nosso organismo, so basicamente trs:a) Drenagem: o esvaziamento permanente do ouvido mdio (secrees etc.) via faringe.b) Equipressiva: mantm uma ventilao constante.c) Abertura: durante o dia, em situao normal, permite abertura na freqncia de uma por minuto. Durante o sono, na freqncia de cinco por minuto.

    Na verdade essas aberturas so pequenas compensaes de presso, que mantm o tmpano na sua posio de equilbrio.

  • Participando deste contexto de obteno da "boa posio" do tmpano, existe tambm um fluido no ouvido mdio que poder a ser acionado, conforme mais abaixo falaremos.

    Ao iniciar-se um mergulho, inicia-se imediatamente a diferena de presses entre o ouvido externo e o mdio. Se isto no for compensado, o tmpano realizar uma introflexo em direo ao interior do ouvido mdio. Este movimento ser cada vez mais doloroso e chegaria, caso o mergulhador estivesse realizando um "desafio a dor", ao ponto do rompimento do tmpano.

    Devemos esclarecer bem um conceito: no existe o caso do mergulhador "estar mergulhando e furar o tmpano". Uma vez equalizado em determinada profundidade, no h necessidade de mais compensaes na mesma profundidade. Os leigos costumam sempre relatar a estria". Isso folclrico.

    Alm do mais, para que chegasse ao ponto de um rompimento, a dor anterior seria tanta que apenas um louco continuaria a descer sob tamanho sofrimento. A verdade que, sem a equalizao dos tmpanos o mergulhador no passa de 1,80 metros de gua em condies confortveis. A presso incomoda e logo pode aparecer a primeira sensao de desconforto, generalizada por toda a cabea e uma crescente compresso em um ou nos dois ouvidos. Lembre-se: barotraumas no acontecem como acontece o estouro do pneu de algum automvel que num segundo de minuto, antes do furo, est em perfeitas condies; um segundo depois est totalmente perdido. O barotrauma geralmente avisa que est querendo acontecer.

    c) BAROTRAUMA TIMPNICO

    A figura esquematiza uma hiptese de barotrauma do ouvido mdio, desta vez ocasionado por uma obstruo na Trompa de Eustquio. Geralmente alguma secreo a causadora. Pode se dar em um ou nos dois ouvidos. Num

  • mergulho em apnia, onde se cai rapidamente e no se dispe de tempo para perder, a compensao perfeita e instantnea fundamental. No sendo conseguida, o mergulho interrompido.

    Com ar comprimido, quando ento dispomos de tempo, a no compensao pode ser resolvida diminuindo-se a profundidade e tentando-se novamente realiz-la.

    d) COMPENSAO DO TMPANO E A MANOBRA DE VALSALVA

    Para se compensar os tmpanos temos que equalizar os espaos areos que existem no sistema auditivo. Isso se consegue pela abertura da Trompa de Eustquio e a conseqente passagem de ar, da garganta ao ouvido mdio.

    O mtodo mais conhecido de realizar-se isso, no mergulho, a chamada Manobra de Valsalva (o nome em homenagem ao um cientista que, no sculo XVII, a demonstrou). Tal manobra consiste em forar, levemente, o ar da garganta para o ouvido mdio, depois que as trompas estiverem abertas. Para abri-las o mergulhador comprime o nariz e fora o ar para sair por ele. Como as vias areas do nariz Esto fechadas pela Presso dos dedos do mergulhador e no sendo permitido que fuja pela boca, o ar no tem outro caminho que no seja subir, abrindo a trompa e indo para o ouvido mdio, onde o tmpano passa a ser "compensado". Isso deve ser feito suavemente, sem super-presso. Desde que as trompas estejam liberadas, a compensao ser uma conseqncia natural.

    Como as trompas so fechadas na garganta, a deglutio tem a propriedade de abri-las.Portanto engolir em seco durante a descida tambm pode propiciar a compensao timpnica. Mas nem todos mergulhadores a obtm desta maneira, embora hajam pessoas com extraordinria facilidade de equalizar nestas condies.Experincias vividas no ano de 1989 conduzimos a um teste de cmara um grupo de mergulhadores que ia resgatar um alvo militar, com probabilidades de terem que realizar mergulhos em torno dos 40 metros. Como a operao seria com ar comprimido, foram submetidos a teste de tolerncia a narcose. Nesta ocasio a cmara "aprofundou" to rpido que nem tive tempo de intercalar compensaes. Fomos direto ao fundo sem que eu pudesse ao menos aliviar a manobra de Valsalva. Um dos mergulhadores da equipe no levou o dedo ao nariz nem uma vez sequer. Desceu engolindo em seco, direto, no obstante a velocidade com que fomos "submergindo". Foi um belo exemplo de liberao das Trompas de Eustquio, pelo processo da deglutio, dando, como conseqncia, a permanente compensao timpnica.Num outro prolongamento do ouvido mdio, interiorizando-se para dentro do crnio, temos o ouvido interno, do qual aqui nos interessa saber que: - possui um fluido que nivelado nos d as referencias de equilbrio (no labirinto e canais).

  • - quando o tmpano no compensado e com a finalidade de diminuir o volume do ouvido mdio, liberado fluido para dentro da cavidade deste ltimo, como uma tentativa do organismo para equalizar a presso. Quando isso ocorre, o mergulhador, interrompendo o mergulho ou mesmo tendo conseguido compensar a posteriori, sente como se houvesse gua no ouvido, podendo permanecer com uma sensao dolorosa por algum tempo. Obviamente, deve suspender toda a atividade sub, at que consulte um mdico e realize o tratamento indicado.

    Se este processo (de liberao do fluido) no tiver tempo de ser executado pelo organismo, como atenuao de um problema de no equalizao (geralmente proveniente de uma descida muito rpida, como o salto de uma ponte realizado por um leigo), a tendncia ser o rompimento do tmpano.

    Rompimento do Tmpano: caracterizado por dor muito forte, acompanhada de sangramento. Quando a gua tem acesso ao interior do ouvido, o mergulhador perde a noo de referncia, podendo ter dificuldades em achar o caminho da superfcie. Se no for socorrido, existem possibilidades de ficar vagando a meia gua. Em tese, esta desorientao espacial permaneceria at que a gua fria fosse aquecida no interior do ouvido. Se consideramos porm que essa "espera" s seria realizada por um excepcional mergulhador, devemos tambm considerar que um mergulhador deste nvel no seria vtima de um acidente desta natureza, tpico do desconhecimento da fisiologia do mergulho.

    e) QUADRO CLNICO DE BAROTRAUMA TIMPNICO

    Sinais e Sintomas: Dor ostomastide presente, aliviando pela interrupo do mergulho ou ruptura do tmpano. Presena de zumbido sangramento pelo ouvido ou fossas nasais.

    Forma leve: irritao no conduto auditivo e membrana timpnica. Evoluo em menos de uma semana.

    Forma moderada: inflamao, bolhas e sufases hemorrgicas (vermelho no conduto auditivo).

    Forma grave: Ruptura da membrana do tmpano e / ou sangramento no conduto auditivo.

    f) VERTIGEM ALTERNOBRICA

    a dificuldade de equilibrar as presses em um ou ambos ou ouvidos e, mesmo com o tmpano ntegro, haver tonteiras, vertigens e nuseas. uma desorientao duradoura, que pode ter suas mais graves conseqncias quando em mergulho livre, ocasionando o afogamento.

    g) BAROTRAUMA DO OUVIDO EXTERNO

  • "Se o mergulhador usa um gorro de neoprene muito justo ou quando existe uma rolha de cerume obstruindo por completo o conduto auditivo, forma-se, na descida, uma cmara area isolada no conduto auditivo. A presso dos tecidos circunjacentes e do ar na rinofaringe certamente acompanha a presso ambiente. Se a Trompa de Eustquio est permevel, essa presso se transmite para o Ouvido Mdio e, consequentemente, a presso no Ouvido Externo vai se tornando relativamente mais baixa que a dos tecidos circunjacentes e Ouvido Mdio, como se adaptssemos uma bomba de suco no Ouvido Externo. Ocorre o abaulamento da membrana timpnica para fora e surgem edemas e sufuses hemorrgicas no conduto auditivo, podendo evoluir para exudao capilar e hemorragia franca. Quanto a membrana do tmpano, ultrapassando seu limite de distensibilidade, poder romper-se. Esse quadro denominado Barotrauma do Ouvido Externo. (DEns-300 Manual de Medicina Sub - Ministrio da Marinha / 1976).

    Ateno: Jamais use tampes de plstico ou de outro material qualquer para proteger os ouvidos da penetrao da gua, durante mergulhos. Dependendo da profundidade, os tampes podem adentrar no conduto auditivo, chegando at a furar o tmpano.

    h) TIPOS DE TROMPA DE EUSTQUIO

    Conforme j verificamos, a trompa de eustquio fundamental no equilbrio de presses. Ao se realizar uma compensao alguns mergulhadores encontram mais ou menos facilidades para equalizar. Entre outras causas, o tipo da forma da Trompa pode ser a varivel decisiva.

    TIPO I - RETILNEO: o mais comum. 48% dos mergulhadores possuem este tipo. o ideal para o mergulho.TIPO II - ANGULAR: encontrado em 30% dos mergulhadores. considerado regular em relao a facilidade de equalizar presses (Manobra de Valsalva).

    TIPO III - SINUOSO: felizmente sua ocorrncia mnima, pertencendo a apenas 2% dos mergulhadores pesquisados. um tipo muito desfavorvel para se conseguir a compensao.

    Obs.: Num curso de 1o. grau, para evitar que algum aluno j se considere possuidor do ltimo tipo mencionado e fique temeroso, este assunto no deve ser abordado. Entretanto o instrutor deve estar sempre atento a esta possibilidade de ocorrncia ( assunto obrigatrio num curso de 2o. grau).

    i) BAROTRAUMA SINUSAL

  • Os "sinus" da face (espaos areos rgidos e "ocos") se comunicam com a faringe por condutos pequenos. Isto permite o equilbrio da presso no interior da face. O ideal que o ar flua normalmente por este caminho, como acontece quase sempre. A Manobra de Valsalva tambm realiza isto. No caso de haver qualquer obstruo, a compensao no ser possvel nos "sinus" e a dor e o desconforto logo se instalaro interrompendo o mergulho. um barotrauma caracterstico de descida, podendo algumas vezes ocorrer na subida, devido ao ar comprimido expandido. Naturalmente, desde que os sinus estejam desobstrudos, nada disso acontecer. H estreita relao entre a obstruo da fossas nasais e o fechamento dos condutos para os sinus.

    Fazer uso de descongestionante pode produzir um efeito imediato que, desbloqueando o caminho do ar, permita o mergulho. Entretanto a possibilidade do efeito do remdio ser interrompido durante o mergulho pode se concretizar e consumar-se numa subida meio dolorosa.Este um caso que tambm propicia algum sangramento aps o mergulho, aparecendo nas fossas nasais. Diferentemente do pequeno sangramento que ocorre por compresso da mscara (quando esta no compensada), este sangramento vem acompanhado de sensao dolorosa. Tendo o problema ocorrido na subida, provvel que haja ar expandido no sinus. Um descongestionante recomendado para permitir que este ar seja aliviado.

    Ateno: sob qualquer indcio de barotrauma sinusal, o mergulhador deve retornar logo a superfcie. No dever voltar a mergulhar at estar restabelecido, sob pena de se instalar um processo crnico de difcil tratamento.

    j) BAROTRAUMA DENTAL

  • um barotrauma de rara incidncia, no tendo suas causas seguramente definidas. Presume-se que isso ocorra devido a pequenas bolhas gasosas que estariam no "interior da polpa dentria ou em tecidos moles adjacente". Esta regio, no tendo comunicao com o exterior, j possuiria uma presso levemente negativa que se agravaria durante a descida.

    Este barotrauma, quando ocorre, se faz predominantemente em dentes recentemente tratados ou em tratamento. Num mergulhador desavisado, pode ter, como conseqncia da forte dor que apresenta, uma subida precipitada de graves resultados.

    l) BAROTRAUMA CUTNEO OU DA ROUPA

    certamente o mais benigno dos barotraumas. A roupa mal ajustada propicia a formao de dobras entre o neoprene e a pele, que funcionam como espaos mortos que no podem ser equalizados. Ao retornar do mergulho nada se sente, entretanto a pele poder apresentar pequenas manchas vermelhas nessas regies. Logo em seguida desaparecem.

    3.4. DISTRIBUIO PERCENTUAL DE BAROTRAUMAS

    BAROTRAUMA %Timpnico 71,62 %Dental 1,35 %Sinusal 19,60 %Facial 4,06 %Torxico 3,37 %FONTE: casustica da BACS (Marinha do Brasil)

    3.5 FLUTUABILIDADE E COTA DE EQUILBRIO

    a) ARQUIMEDES E A LEI DO EMPUXO

    Como todos ns sabemos, alguns objetos, alguns materiais flutuam e outros no. Isso se deve a uma lei fsica que foi postulada por Arquimedes, filsofo grego que teria percebido a razo deste fenmeno quando tomava um banho de banheira, h mais de 2000 anos. De uma maneira mais simplificada, diramos que descobriu e formulou a lei do empuxo. Esta Lei nos diz que:

    Todo corpo submerso em um liquido recebe, deste liquido (de baixo para cima) uma fora igual ao peso do volume de liquido que o corpo teria deslocado para a entrar.

  • A capacidade de flutuar mais ou menos e a diferena entre afundar e permanecer a tona, um resultado da relao entre o peso do corpo e o peso do volume do liquido deslocado. Um tijolo de madeira flutua e um tijolo de barro, das mesmas dimenses, afunda. Ambos deslocam a mesma quantidade de gua, portanto recebem o mesmo valor de sustentao no sentido contrrio. Ocorre que, no caso do tijolo de madeira, o peso do corpo menor do que este valor. Isto , o empuxo superior ao peso real do tijolo.No caso do tijolo de barro, o empuxo inferior ao peso real do tijolo.

    No primeiro caso temos uma flutuabilidade positiva. O corpo retorna superfcie. No segundo caso temos uma flutuabilidade negativa. O corpo afunda. No caso de haver igualdade entre estes dois valores (o empuxo e o peso) o corpo fica em equilbrio e temos o caso de flutuabilidade nula.

    b) PESO APARENTE

    exatamente o peso que o objeto "aparenta" ter, depois de ter seu peso real "atenuado" pelo empuxo. Resumiramos que:

    1) Peso real maior que o empuxo = flutuabilidade negativa.

    2) Peso real menor que o empuxo = flutuabilidade positiva. 3) Peso real igual ao empuxo = flutuabilidade nula, equilbrio.

    c) APLICAES NO MERGULHO LIVRE

    Observao: no exemplo que se segue, ilustrado pela figura, estamos considerando o mergulhador com o lastro suficiente para compensar a flutuabilidade de peas do equipamento, tais como o neoprene.

    Desta forma, estamos considerando o mergulho como se o corpo estivesse totalmente livre de qualquer acrscimo de lastro que no fosse seu prprio peso.

  • Ao iniciar a descida, o mergulhador recebe o empuxo no sentido contrrio do seu movimento. A tendncia leva-lo para cima; portanto tem o movimento de descida dificultado. Tudo isso porque o volume de gua que ele desloca pesa mais do que o peso do corpo.

    Na medida em que vai aprofundando, devido a compresso e reduo de volume deslocado (o neoprene torna-se mais fino, o pulmo e o abdomen se retraem etc.), o empuxo vai diminuindo mas o peso continua o mesmo. Cada vez h menos resistncia descida.

    Nas imediaes dos 9 a 10 metros o empuxo torna-se igual ao peso real. Ento, toda resistncia cessa e o corpo fica em equilbrio. A partir da, a tendncia ser, cada vez mais, a facilidade de afundar, como se fosse uma queda.

    Ao voltar de um mergulho mais profundo, o mergulhador tem que se esforar para subir at atingir a profundidade de sua "cota de equilbrio" (de 9 a 10 metros). Depois dela o empuxo facilitar a subida.

    d) CINTO DE LASTRO E COTA DE EQUILBRIO

    Esta profundidade que convencionamos chamar de cota de equilbrio sofre pequenas variaes em profundidade, devido a constituio orgnica de cada pessoa (quantidade de adiposidade, peso dos ossos etc.). Mesmo assim fica

  • na faixa dos 9 metros, mais ou menos. Entretanto, se o mergulhador colocar peso adicional que venha a alterar sua flutuabilidade natural, a cota de equilbrio poder subir muito. No mergulho livre o acrscimo de dois Kg de lastro poder trazer a cota para menos de 3 metros de profundidade. Isto perigoso, pois quer dizer que, a partir da, a tendncia do mergulhador ser sempre a de cair para o fundo.

    Para retornar de um mergulho de 10 metros ele tem que usar sua impulso, continuadamente at os trs metros. Se parar, volta novamente para baixo. Subir esta extenso de gua, sem descanso, acumulando cada vez mais dixido de carbono pelo esforo em se deslocar com flutuabilidade negativa. Se obteve vantagens para descer, paga esta facilidade com um risco maior na hora da subida.

    3.6. "APAGAMENTO" E OUTRAS SNCOPES DO MERGULHO LIVRE

    Ateno: observe, nos tipos de acidente explanados neste tpico, a importncia da cota de equilbrio como fator de segurana.

    a) HIPERVENTILAO E COTA DE EQUILBRIO

    Uma hiperventilao exagerada e uma cota de equilbrio adulterada tem sido a causa de diversos acidentes no mergulho livre e, particularmente, na pesca subaqutica.

    Consiste, a hiperventilao, numa srie de rpidas inspiraes e expiraes que teriam como resultado a elevao da presso parcial de oxignio no sangue. Em conseqncia propiciaria um maior tempo de apnia para o mergulho a seguir. Realmente, se consegue esta elevao do teor de oxignio. Mas se produz, em conseqncia, outro fenmeno: a queda da presso parcial do dixido de carbono. Como a cada inspirao (na tcnica de hiperventilao) obriga tambm a uma expirao, se perde mais CO 2 do que a quantidade que se ganha em oxignio.

    Iniciando-se o mergulho com um percentual baixo de dixido de carbono, vai demorar mais para que o sistema que aciona a necessidade de respirar (vide 3.2. deste Compndio) entre em funcionamento. O mergulhador desavisado, vendo que seu tempo de apnia melhora, considera ser devido ao acrscimo de oxignio que, hiperventilando, obteve. Na verdade muito mais devido ao baixo nvel de dixido de carbono.

    Embora o CO2 ainda no tenha subido o suficiente para desencadear a necessidade de respirar e o coerente fim daquela apnia, pode acontecer que o O2 tenha chegado a nveis munimos. Ento, o mergulhador "apaga" sem ter tido falta de ar.

    A partir da, duas hipteses podem ocorrer:

  • 1) O Apagamento se deu acima da cota de equilbrio.

    Neste caso a glote se fecha e o mergulhador no bebe gua. A flutuabilidade positiva leva o corpo, com velocidade crescente, para a superfcie. Ao receber a primeira ventilada de ar fresco, so grandes as probabilidades do mergulhador acordar, tossindo, engasgado, porm vivo e tendo adquirido um ensinamento do qual jamais se esquecer.

    2) O Apagamento se deu abaixo da cota de equilbrio.

    Neste caso a glote tambm se fecha e o mergulhador no bebe gua. A flutuabilidade, agora negativa, levar o corpo para o fundo. Embora inconsciente, a taxa de CO2 continua subindo no sangue. Em dado momento desta descida ou mesmo j tendo chegado ao fundo, o estmulo para respirar torna-se compulsivo, devido as altas taxas de CO2 existentes no organismo (apesar de estar inconsciente, o mergulhador continua em apnia). Ento, movimentos espasmdicos e caractersticos da nsia de respirar foram a abertura da glote e o corpo comea a "respirar gua". o inicio do afogamento.

    Por estar abaixo da cota de equilbrio, a tendncia ser cada vez ir mais para o fundo. A menos que seja resgatado por um companheiro nesse primeiros minutos, as probabilidades de jamais ser encontrado so quase totais.

    b) SNCOPE POR FALTA DE OXIGNIO

    Acidente tpico de pesca subaqutica, tendo j vitimado diversos mergulhadores, em sua maioria possuindo formao incompleta, sem maiores esclarecimentos como os que devem ser propiciados num curso de mergulho. Nesta modalidade de acidente podemos diferir duas particularidades:

    1) O ACIDENTE OCORRE DURANTE A SUBIDA:

    O mergulhador inspira e inicia-se o mergulho. No momento em que toma o ar e entra em apnia (posio 1) a Presso atmosfrica , naturalmente, de 1 atm e a Presso parcial de oxignio no sangue de 20%.

    Na medida em que vai afundando a Presso total aumenta e a parcial tambm, embora percentualmente o oxignio esteja sendo consumido (posio 2).

    Na posio 3, aos 10 metros, a Presso total de 2 atm e a parcial pode estar em torno de 0,36 atm, mas o percentual de oxignio no sangue de 18%.

    Tomando posio, um pouco mais abaixo dos 10 m, o mergulhador prepara-se para o tiro. Sente-se bem. Capricha na pontaria e espera. Sente-se com flego e julga ser isso devido as corridas que tem executado diariamente. Na verdade o que est ocorrendo que seu sistema de irrigao sangnea est pressionado pela profundidade (Dalton). Ento, apesar do oxignio estar baixando, a difuso do gs continua, como uma fraca intensidade de gua circulando fortemente numa mangueira de fino dimetro. Ento, apesar do percentual de oxignio estar baixando, o "estreitamento da mangueira" por

  • onde o sangue circula fornece uma "compresso" para que o oxignio seja distribudo ao crebro.

    Na posio 5, j subindo e passando pelos 10 metros, a Presso parcial do oxignio pode ser de 0,2 atm, mas percentualmente j pode ser de 10% e o crebro continua irrigado.

    Na posio 6, diminuindo ainda mais a profundidade, passando por uma cota em que a Presso total seja de 1,2 atm, os condutos do sangue oxigenado retornam ao seus dimetros normais e, agora, no possuem mais compresso para fazer circular uma percentagem de, digamos, 8% de oxignio. Ento, o mergulhador "apaga" por falta de oxignio.

    Se o percentual de oxignio descer ao nvel de 8%, ocorre o desmaio. devido a este processo que os mergulhadores se sentem bem na profundidade, mesmo consumindo oxignio. O problema na volta.

    Este acidente, conforme descrito e ilustrado, tem afinidade com os dias de guas muito claras. Nessas ocasies o apnesta sente-se mais a vontade para aprofundar. As guas claras iludem a noo de profundidade e apenas na subida que o mergulhador percebe que "ainda falta chegar onde j devia ter chegado".

    Uma boa tcnica para se livrar deste acidente respeitar seu tempo de apnia, em qualquer profundidade. Se for necessrio um mergulho mais fundo, tenha certeza de que esteja sendo observado por algum capaz de intervir a seu favor. devido a freqncia deste acidente nas guas claras, que a gua muito azul chamada, na gria da pesca sub, de "gua azul-caixo".

    Experincias Vividas:

    No tempo em que praticvamos pesca sub, passamos, juntamente com nosso companheiro, um dia inteiro de mergulhos alm dos 15 metros, em guas excepcionais. Era um mergulho cada um, sempre sob as vistas do outro, que tambm tinha condies de aquacidade para intervir. Chegando no cais, ao entardecer, soubemos de acidente fatal que se dera numa ilha prxima: um mergulhador ensinava a um iniciante. Demostrou um mergulho e... apagou. E o jovem no tinha condies de intervir...

  • 2) O ACIDENTE OCORRE AINDA NO FUNDO:

    um Apagamento que ocorre aps o mergulhador ter sido fartamente advertido pelo seu organismo de que era hora de ventilar. Geralmente se d momentos antes de um tiro ou mesmo logo aps ele. (este o motivo por que sempre se conta de algum que morreu e foi encontrado com um peixe fisgado no arpo). A causa parece ser a emoo; parece ser adrenalina que "disfararia" a verdadeira situao do nvel de oxignio no sangue. Na verdade a causa a imprudncia, a superavaliao ou a dificuldade de abrir mo de um peixe quase capturado... em suma, a imaturidade.

    Isso ocorre da seguinte maneira:

    O pescador tem um peixe quase em posio de tiro, o qual, segundos antes, se movimenta e passa a oferecer uma rea menor para a visada. Aos poucos, lentamente, comea a oferecer, novamente, uma melhor posio. Ento, o pescador espera que o peixe se coloque em situao favorvel...

    Nesse espao de tempo, o mergulhador j sentiu vontade de respirar... mas procura se conter, uma vez que basta mais um pouco apenas para atirar. A emoo grande. O peixe, uma "pea" respeitvel. O homem no quer perd-la. Se subir para respirar, provavelmente no o encontrar de novo. Ento, usa de tudo que sabe para poder "agentar", permanecendo at o tiro e, com esta finalidade, o mergulhador chega mesmo a soltar um pouco de ar para se aliviar da presso que o CO2 faz no comando de "respirar". E sente melhoras. E permanece. O nvel de oxignio j mnimo. A taxa de dixido de carbono compulsivamente alta. Mas a emoo e o desejo so ainda maiores. Ento, finalmente, atira. V que acertou e corre ao arpo para garantir a ferrada. Apaga, mas sentiu muita falta de ar antes disso.

  • c) INTOXICAO POR GS CARBNICO

    Causada pelo ventilao insuficiente.

    Retornando de um mergulho onde permaneceu o mximo que poderia ficar, o mergulhador tem pressa de voltar ao fundo. Algo ocorre que, de acordo com seu julgamento de prioridades, lhe parece fundamental mergulhar imediatamente. Desalaga o snorkel, respira e mergulha. Geralmente um peixe j arpoado e entocado no qual o pescador "trabalha".

    Aps uma srie de mergulhos desta natureza, onde a ventilao foi deficiente, pode ocorrer um incio de intoxicao por CO2, provocando tonteiras e at algum desmaio.

    ATENO: ao retornar de um mergulho em apnia, apenas execute o prximo quando seu corao j estiver normalizado em freqncias cardacas. Isto propiciado o tempo de respiraes suficientes para o esvaziamento da taxa de dixido de carbono acumulado em razo do mergulho realizado.

    Duas ou trs respiraes, calmas e profundas, tero sido uma boa ventilao antes do mergulho.

    4. PRTICA DE SNORKEL NO CURSO DE MERGULHO AUTNOMO

    Toda experincia dos instrutores, juntamente com o cabedal de possibilidades e facilidades que o equipamento de mergulho autnomo oferece, visam, basicamente, dois objetivos:

    a realizao de uma aprendizagem gradual, confortvel e direcionada.

    a segurana indispensvel pratica da atividade.

  • Nas consideraes que este tpico desenvolve, vamos nos ater segurana.4.1. A PEA MAIS IMPORTANTE DO EQUIPAMENTO

    Numa poca em que as coisas rapidamente ficam ultrapassadas, bem como alternativas tcnicas (que at bem pouco no eram cogitadas) so acrescentadas ao equipamento do mergulhador e catalogadas como primordiais, o snorkel parece ter sido a pea que menos aperfeioamentos teria apresentado.Realmente, tudo que se venha acrescentar a este pequeno conduto de ar, logo se transforma em mais uma seo a oferecer possibilidades de vazamentos e panes. H que se admitir que, se existe alguma coisa definitivamente perfeita em meio a parafernlia de acessrios que, atualmente, transformam o mergulhador "consumista" numa verdadeira rvore de Natal sub, esta "coisa" o snorkel.

    muito importante a prtica do snorkel nos curso de 1 grau. No se pode considerar que o snorkel s faa parte de um curso de mergulho livre. Acreditamos ainda mais; estamos convencidos ser esta a pea mais importante do equipamento. O domnio desta tcnica garantir a vida em situaes inmeras. Ao trmino de um mergulho j assistimos muitas coisas acontecerem, dificultando o retorno embarcao. At mesmo um colete equilibrador, no qual o mergulhador moderno deposita ilimitada confiana, pode furar ou apresentar pane, entretanto um snorkel sempre oferecer lealmente seus servios.

    A prtica tem demonstrado que, no mergulho com ar comprimido, uma vez que o aluno passe a acreditar no equipamento de respirao, rarssimas vezes ocorre qualquer problema sob a gua. Primeiramente, porque o aluno se descontrai e, ento, realiza as tcnicas de deslocamento e respirao de maneira calma e correta, normalizando totalmente sua ventilao; por fim, devido ao alto grau de confiabilidade que o material hiperbrico atingiu, raramente se apresenta alguma pane de funcionamento.

    As probabilidades da ocorrncia de qualquer problema incidiro na rea de superfcie, aps o mergulho, no retorno embarcao. Quaisquer que forem as caractersticas do incidente, (pane de equipamento ou pane emocional) a utilizao correta do snorkel ser de grande auxlio para superar o problema ou mesmo para esperar, na superfcie, vista dos demais, o socorro necessrio.

    A prtica do snorkel (geralmente chamada "pratica de apnia") de carter obrigatrio nos cursos de formao 1 grau (ar comprimido), segundo orientao da CBPDS para todas as Escolas do Sistema Oficial de Mergulho.

    EXPERINCIA REALIZADACom a finalidade de corroborar as afirmaes evidenciadas no tpico anterior, esta Direo Tcnica realizou, dentro de todas as normas de segurana previsveis, a seguinte experincia:

  • TESE: estar sob a gua uma atividade extremamente fcil, desde que o mergulhador tenha adquirido confiana no suprimento de ar. Mesmo uma pessoa que no saiba nadar, mas estando informada e sendo capacitada a executar as compensaes necessrias, pode permanecer em profundidade considervel, com estabilidade emocional aprecivel.Consegue, no fundo, a sobrevivncia que no conseguiria na superfcie.

    Local do evento: Ilha Rasa, aproximadamente 8,5 milhas da barra da Baia da Guanabara, RJ.

    Participantes: Este Diretor Tcnico e mais dois instrutores da CBPDS/CMAS (na gua). Grupo de apoio (a bordo).

    Participante Principal: Sra. Rosilene Barbosa Shimomura (36 anos).

    profisso: professora.

    Nvel de natao: nenhum (nunca aprendeu a nadar)

    Ano: 1993

    DESENVOLVIMENTO: aps dominar as tcnicas mnimas de compensao timpnica e sendo considerada como estabilizada emocionalmente foi levada at os 22 metros de profundidade, onde demonstrou confiana e pediu para ter as mos liberadas do apoio que os instrutores lhe forneciam. Posteriormente foi conduzida ao nvel dos dez metros onde, fascinada pelas condies de visibilidade das guas e da vida marinha, permaneceu at o final do mergulho.

    Sendo considerado o tempo como encerrado, subiu superfcie imitando o movimento de nadadeiras dos instrutores. Subiu por conta prpria, pelo seus prprios movimentos, ladeada pela nossa equipe que controlava a velocidade de subida.

    To bem saiu-se no mergulho que custvamos a crer tratar-se de algum que, absolutamente, no nadava.

    Chegando superfcie e sendo solicitada a trocar a reguladora pelo snorkel, no teve (como era j esperado) condies de se manter tona, bem como perdeu toda a coordenao de movimentos. Amparada pelo grupo, foi conduzida para embarcao em perfeitas condies de sade e a experincia foi dada como encerrada.

    4.2. AQUACIDADE

    A facilidade com que o mergulhador domina o seu centro de gravidade nos diversos movimentos, sob e sobre a gua, denominada aquacidade. Disto, o mnimo que pode obter (se por ventura nada ainda conseguiu neste sentido), num curso de 1 Grau, a manter-se na tona respirando pelo snorkel. A conquista desta possibilidade ser garantia de sua segurana em todos os aspectos das diferentes modalidades de mergulho.

  • A caa subaqutica e a prtica da apnia foram sempre a grande escola deste atributo bsico de um mergulhador confivel.

    No pretendemos que isso seja alcanado num curso de mergulho. Exigimos, sim, que isso seja iniciado; que seja evidenciada esta necessidade; que seja incutido na mentalidade dos alunos a urgncia em se conseguir nveis cada vez maiores de aquacidade, mesmo depois do curso realizado. necessrio incentiva-los a prtica das mais diversas atividades com o snorkel, para, a qualquer momento, estarem em condies de realizar mergulhos autnomos com segurana.

    Lembre-se: por mais confivel que seja um colete equilibrador, o mergulhador s estar acima dos nveis mnimos de segurana se puder, equipado completamente, permanecer tranqilo na superfcie, apenas "dependurado" no snorkel.

    5. OUTROS EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO CURSO DE MERGULHO LIVRE

    5.1. A MSCARA DE MERGULHO E A VISO SUBAQUTICA.

    O presente trabalho, como no incio foi evidenciado, destina-se aos instrutores.

    Portanto no vamos aqui explicar quais so as caractersticas de uma boa mscara de mergulho. Apenas vamos relembrar determinados conceitos, posto que as perguntas dos alunos so sempre as mesmas, no importando em qual Estado do Brasil estejamos.

    Quando olhamos para alguma coisa, fora da gua, a luz passa pelo ar e penetra no nosso olho. Na vista, temos um liquido de densidade muito semelhante a da gua do mar. A diferena de densidade entre o ar e o liquido que mencionamos, faz com que a luz seja refratada ao entrar no olho. E essa luz refratada cai ento na retina e ns enxergamos o objeto com perfeio.

    De olhos abertos, debaixo d'gua, esta diferena de densidade deixa de existir. A refrao torna-se mnima e, em conseqncia, tudo parece desfocado. Ora, ento precisamos do ar para podermos focalizar. E inventamos um "colcho de ar" que vem a ser a mscara de mergulho.

    Ocorre que, ao inventarmos a mscara de mergulho, para mantermos o ar na frente dos olhos, fomos obrigados a separar as duas densidades (da gua e do ar) com um pedao de vidro. Logicamente, a separao de densidades no ficou perfeita como aquela existente entre o ar e o liquido que possumos na vista. O "corpo estranho" adicionado entre as duas superfcies provoca, pela separao ar/gua, uma refrao da luz. Est ao atravessar ambientes fisicamente diferentes, passa a ampliar tudo, em torno dos 30%.

    Entre outras distores ocasionadas pelo indispensvel vidro, resta-nos saber que s teremos uma viso no distorcida numa pequena faixa perpendicular ao

  • plano da mscara. A viso lateral no posiciona as coisas onde realmente se encontram. Para enxerg-las deve-se movimentar a cabea, procurando colocar o objeto do nosso interesse bem a frente da mscara.

    Como um todo, a viso perifrica proporcionada por uma mscara de mergulho inferior a 80 graus.

    5.2. NADADEIRAS

    Sobre este equipamento julgamos ser importante fazer a observao de que todo iniciante deveria t-las do tamanho menor. A suspenso provocada pelo movimento desordenado das nadadeiras muito prejudicial s formas de vida que permanecem rente ao fundo. Os corais so as maiores vtimas, tendo em vista que toda areia levantada acaba por se depositar sobre eles. Esta prtica imperita, na mesma regio, termina por intoxic-los. muito importante que o mergulhador seja capaz de dominar seus movimentos de impulso com suavidade, tocando no fundo apenas por opo e com conscincia.

    Este trabalho no uma propaganda comercial de qualquer fabricante. Estamos portanto liberados para afirmar que, embora quase todas as ofertas do mercado sejam de nadadeiras com comprimento avantajado, as melhores para um aluno de mergulho sero sempre as de tamanho normal. Desde a facilidade de manejo at a preservao ecolgica.

    6. A LUZ E O MAR

    6.1. A VIDA E A LUZ

    "O mar compreende camadas de gua, transparente ou turvas, de temperatura e salinidade diferente, em que partculas mortas podem permanecer em suspenso, em que criaturas planctnicas podem lutar por suas minsculas vidas.

    As camadas sobem e descem constantemente, sob a influncia do sol. Por toda parte, no oceano aberto, ao amanhecer, trilhes de toneladas de criaturas afundam da superfcie para a zona de crepsculo, centenas de metros abaixo, como se estivessem assustadas com a luz.

    Depois do por do sol, toda essa incontvel multido retorna superfcie. Essa gigantesca migrao vertical, a pulsao do oceano, desencadeada somente pela luz, a luz que me da vida atravs da fotossntese, a luz que a fabricante do nosso oxignio, a luz arquiteta da beleza." (J. YVES COUSTEAU).

    a) FATORES PRINCIPAIS DE VARIAO DA VISIBILIDADE

    A luz que penetra no mar possui todas as cores conhecidas, reunidas sob a forma que costumamos chamar de espectro luminoso. Quando essa luz, como um todo, penetra na superfcie, encontra, como campo de propagao, um meio oitocentas vezes mais denso. Isto , a gua do mar. Nesse momento,

  • alm de diminuir sua velocidade (de 300.000 para 225.000 km/s) os raios de luz so absorvidos e refratados pelas molculas da gua, bem como pelas partculas de areia, sal e outras suspenses. Ricocheteando em cada uma desses "empecilhos" a luz prossegue em sua penetrao at que toda sua energia seja absorvida.

    Esse processo de absoro e disperso que determina o alcance e a intensidade da visibilidade. Obviamente, no mar aberto, desde que a gua possua menos suspenses, a luz s ser absorvida em maiores profundidades. Da as excelentes visibilidades que se pode obter.

    b) POR QUE O AZUL PERMANECE?

    Cada cor do espectro luminoso possui um comprimento de onda diferente. Quanto menor o comprimento de onda de uma cor, mais rpida ela ser absorvida pelos componentes da massa d'gua. O azul a cor de maior comprimento de onda, portanto a que mais se demora para ser absorvida. Aos 8 metros prof., quase toda luz vermelha (que poderia ser captada pelo olho humano) j foi absorvida. Ento, alguma coisa que conhecamos como vermelho passa a ter, para nossa percepo, outra colorao.

    Entre as cores que se destacam no mar, o amarelo seria a ltima a permanecer chamando a nossa ateno. At os 20 metros, ainda "amarelo". Depois absorvido.

    Em tese e no mar aberto, abaixo dos 30 metros a colorao geral ser o azul, uma vez que as demais cores, por possurem menor comprimento de onda, j tero sido absorvidas.

    Quando isso no ocorre no mar largo ou quando nos referimos a guas mais prximas do litoral, a causa da presena de uma outra tonalidade dominante (verde, azul esverdeado, cinza etc.) a presena de determinadas partculas, gua doce (barrenta), proliferao e morte de diatomceas (componentes do plancton) ou mesmo a poluio.

  • 7. A ESCOLA DE MERGULHO E A PESCA SUBAQUTICA.

    Embora o mergulho de lazer, comumente chamado de turismo subaqutico, possua uma finalidade totalmente diversa daquela que motiva o pescador subaqutico, nosso desejo que um instrutor de mergulho autnomo CBPDS/CMAS considere alguns tpicos que podem interessar de perto sua Escola.

    a) notrio que, nos estados onde a praia de fcil acesso, grande nmero dos alunos que se matriculam em cursos de mergulho com equipamento autnomo, praticavam pesca sub. O fator mais forte que teria motivado o ingresso do aluno na escola do ar comprimido, bem provavelmente, foi a descoberta do mar atravs da pesca submarina.b) considervel o nmero de alunos que, aps o curso de mergulho, tambm pretendem obter iniciao em pesca sub.c) Durante um curso de mergulho, quando o assunto permite ou mesmo aps as aulas, comum que alunos faam perguntas que envolvam a pesca sub. Algumas dessas perguntas se revestem de um questionamento tico em relao a um procedimento ecolgico. Outras j so mais direcionadas a pescaria propriamente dita.d) Acaba de ser lanado pela CMAS a carteira de pescador subaqutico formado por Escola Oficial do Sistema. Brevemente a CBPDS passa a emitir este certificado, juntamente com o envio de programas de curso para as Escolas interessadas. Trata-se, pois, de mais uma opo de mercado destinado s Escolas de Mergulho.

    7.1. A PESCA SUB ANTI ECOLGICA?

  • O fato do homem capturar peixes e deles se alimentar to antigo quanto o mundo e sempre se constituiu num ato de sobrevivncia. Diramos que o que caracterizaria um comportamento anti-ecolgico ou depredador no o fato de capturar peixes, mas sim a forma como se realiza esta captura.

    A pesca de cerco ou de arrasto responsvel por quase 70% da pescaria do mundo. O restante, praticamente 30%, vem da pesca de linha de fundo. Repare que estas percentagens se revestem de uma conotao de pesca profissional. Portanto estamos falando de milhares e de milhes de toneladas de pescado.

    Para que se tenha uma idia mais exata, com a finalidade de formao de opinio, saiba que uma traineira pode vir com mais de 30 toneladas de peixe por dia. E se possvel, ela pesca todos os dias a e quantos barcos destes ou maiores existem sobre as guas dos oceanos?

    Ocorre entretanto, que a rede e o anzol no tem a aparncia de armas, mas o so. A rede e o anzol tem se prestado a muitas melodias e inspirado vrios poetas... que cantam o mar e os pescadores...

    Ocorre que quando um dos pescadores um praticante de pesca sub, ele no carrega rede nem anzol. Seu equipamento de captura tem a aparncia de uma arma. Ento, ele pode ser estereotipado como um "destruidor". Mas o pescador que menos pesca. Se consegue pescar um dia, talvez s pesque novamente no prximo ms. Se capturar, aps estafante dia de mergulhos, 10 Kg de peixe, sente-se feliz. E tem mais: come seus peixes.

    Como o mergulho em apnia cansativo e como a arma s tem um tiro, o pescador mais consciente que existe. Escolhe muito. o nico que pode escolher...

    Num lance de rede tudo pode vir: peixes adultos, filhotes e o mais grave: ovos aos milhares que estavam nas guas e se fixam nas escamas do cardume capturado. Isso o que compromete a gerao futura. Isto jamais ocorre na Pesca Sub. Pelo contrrio, quando um excelente mergulhador vai fundo e captura um peixe maior, tem a certeza de que capturou apenas um peixe e, se o tamanho for avantajado, tem tambm mais uma certeza: a de que aquele peixe j reproduziu muito no mar.

    Ento, pelas diversas condicionantes que limitam as condies de permissibilidade para um dia de pesca (temperatura e visibilidade das guas, condies do mar etc.) pelo exerccio descontnuo desta atividade, pelo baixo rendimento obtido quando comparado a qualquer outro esforo de pesca, pela possibilidade de seleo visual do peixe... certamente seria a pescaria que menos se prestaria a ser cogitada como anti-ecolgica... Mas como este tipo de pescador (amante do mar, certamente) carrega consigo, para baixo d'gua, um equipamento de captura de pescado que, realmente, tem a aparncia daquilo que verdadeiramente , parece ser o destruidor dos oceanos... o perturbador de toda a vida subaqutica, o dizimador das espcies. Certamente um juzo precipitado.

  • 7.2. EM HARMONIA COM O MAR

    Em qualquer tipo de atividade subaqutica o praticante deve entender o meio no qual a exercita. Deve saber respeitar de forma sincera, no interferindo naquilo que no sua finalidade. Em desequilbrio, prejudicando o meio no qual vivenciam a experincia, esto, no nosso entender:

    1) o mergulhador em ar comprimido que em tudo toca, retira do lugar, examina e prossegue. 2) o mergulhador em ar comprimido prejudicado em aquacidade ou mal lastrado, que se desgoverna e bate com garrafa em pedras ou corais.3) o mergulhador em ar comprimido que levanta areia e lama com o movimento desordenado ou acelerado das nadadeiras. 4) o pescador sub, em apnia, incapaz de uma identificao seletiva de fauna, tentando capturar tudo que parecer ser peixe.5) o pescador sub, em ar comprimido, desportivamente pescando, com ou sem conhecimento seletivo de fauna.

    Aqui nos referimos desarmonia, enfocando apenas a situao do mergulhador. Se fossemos nos reportar a outras prticas nocivas, unicamente relativas a tipos de pescaria, longa seria a nossa lista. A explorao comercial do pescado, juntamente com o despejo sistemtico de toda ordem de resduos e detritos produzidos pela nossa prpria forma de vida que so os grandes viles desta histria.

    A conscientizao a nvel intimo tarefa difcil, tantos so os interesses a justificarem procedimento anti-ecolgico. Escola de Mergulho interessa um mar saudvel: interessam peixes de vrias espcies para a visualizao, para o deslumbramento daquelas pessoas que levamos para baixo d'gua.

    Como Escola de Mergulho no podemos reduzir a matana das baleias ainda praticada por algumas naes. O uso indiscriminado da rede, de cerco ou arrasto, praticado em algum local do mar, fora de nossas vistas, tambm fato sem controle. A propaganda veiculada pela mdia, em favor da ecologia e da mudana de alguns hbitos, atinge, no nosso entender, justamente aqueles que no se constituem em agentes causadores do malefcio. Quanto ao pescador inculto, se no lhe dada outra alternativa de sobrevivncia, a necessidade sempre fala mais alto do que a tica. Quanto aos capitais investidos na rea de captura, estes no tem outra lgica que no a da remunerao. Naturalmente algumas providncias governamentais tem atenuado, at onde isto possvel, esse estado da coisas. Mas ainda pouco e, com o tempo, todos pagaro a imprudncia cometida: os que pescam e os que no pescam.

    Na verdade numeroso o grupo de ecologistas que se alimentam do pescado. Provavelmente pescam de forma correta e consciente, ou ento esperam que algum faa isso por eles.

  • a) COERNCIA E INCOERNCIA

    Temos assistido, inmeras vezes, participantes de passeios de mergulho e excurses diversas apresentarem extremos cuidados em sua interveno na vida subaqutica. Na volta, no restaurante do clube, comum pedirem algum tipo de peixe como refeio. lgico: esto beira mar (ou de um rio ou lago), e se presume que o pescado, ali, seja saudvel.

    Mas fica a pergunta: de que forma imaginam que aquele peixe veio parar no seu prato? obviamente algum o pescou. Mas parece que na hora da fome no se questiona a forma como isso ocorreu. J que so grandes os cuidados em relao a preservao, melhor seria que at nesses detalhes permanecessem os procedimentos de zelo para com a natureza.Nos parece, tambm incoerente, o instrutor de mergulho que tece consideraes desairosas em relao a Pesca Subaqutica, quando ele mesmo faz uso do pescado como meio de alimentao. Talvez tambm se esquea que o carro chefe do mergulho no Brasil (que em conseqncia acabou por propiciar todo o esquema atual da qual sua Escola faz parte) foi a Pesca Subaqutica.

    Nos pareceria mais coerente que, caso a Escola pudesse, ao contrrio de denegrir esta atividade (o que no vai impedir nenhum dos que esto interessados em permanecer no interesse), tomasse, ela prpria, a iniciativa de ensinar e disciplinar conscincias quanto a forma correta desta modalidade de apnia.

    A experincia nos mostra que o jovem, quando interessado nisso, busca por todos os meios a oportunidade de praticar. Se a prtica inevitvel, em benefcio dele e em benefcio dos peixes no temos dvidas que melhor seria se contasse com uma filosofia de ensino neste sentido, corrigindo deturpaes de conceitos, podando necessidades exibicionistas e, principalmente conscientizando o pescador sobre a grande responsabilidade que adquire, em relao a escolha que far antes do tiro, bem como quanto ao destino que dar ao rendimento de sua pescaria.

    Isto traria ainda mais algum benefcio: a diminuio dos acidentes por arma de pesca sub ou por diversos tipos de Apagamento. Para os peixes que tem seu habitat sobre os bancos de coral, a certeza de sobrevivncia para frades, labros, baiacus, salemas, pequenos budies, barbeiros, sargentos, tartarugas etc., que jamais seriam alvejados por um pescador bem formado.

    b) UMA QUESTO DE OPO

    Com a introduo de mais este curso, dentre outros regulados pela CBPDS/CMAS, amplia-se o espectro de alternativas que podem ser oferecidas por Escolas de Mergulho. Ministrar ou no um curso desta natureza uma opo interna da Escola. Caso decida-se por isso, h que saber no ser possvel a improvisao. No se contando com pessoal experiente e com considervel maturidade didtica, um curso dessa natureza pode apenas ser

  • uma oferta de risco. Tal prtica evidenciaria a irresponsabilidade da pretenso no fundamentada, em momento de tardia autocrtica.

    Entretanto, possuindo a Escola, pessoal capacitado a este ensino, o mesmo pode ser ministrado.

    Dependendo da dinmica como for desenvolvido, um curso desta especializao pode ser muito mais preservador da vida marinha do que se possa imaginar.

    Indubitavelmente o mais grave desse servio que se pode prestar ao litoral brasileiro abandon-lo inexperincia e impetuosidade de jovens que, sem a mnima disciplina ecolgica, lanam-se "s aventuras da pesca subaqutica". Propor-se qualquer tipo de proibio generalizada seria, no mnimo ingenuidade; no mximo, demagogia. Tal medida alm de inqua, se revestiria de um carter discriminatrio, que no resistiria primeira contestao: por que proibir-se a pesca sub, de rendimento insignificante no seu todo, e permitir-se a pesca de milhares de toneladas dirias?

    A Escola de Mergulho no pode controlar a traineira "galhuda" que, com sua rede de arrasto a reboque, fora das vistas de quem de direito, passa o pente fino no leito da plataforma. E depois despeja a mistura no convs, seleciona e joga morto no mar o que no lhe convm. Mas pode ensinar a um pescador sub que "aquela tartaruga grande" lutou muito para chegar a tal tamanho no oceano e, portanto, deve ser respeitada e seguir. Pode ensina-lo a no se apoiar nos corais, antes de atirar, buscando outros tipos de sustentao e pode orienta-lo a pescar em seu proveito aquilo que seria o mais lgico, preservando, de maneira inegocivel, a vida marinha das regies do coral, constituda de peixes mais lento, em transio para bentnicos, que so as verdadeiras "aves coloridas" do mar (que at, por coincidncia, os piores para alimentao).

    c) UMA NORMA DE CONDUTA A BORDO

    Caso a Escola opte ou j tenha optado por entrar neste segmento do ensino de atividades subaquticas, certas normas de conduta tem que ser imperiosamente cumpridas, quando das sadas para o mar A saber:

    1) No local onde se realiza excurses de mergulho de lazer (ar comprimido ou apnia), no se pratica pesca sub. Nem antes, nem depois. 2) Embarcao que notoriamente viaja levando excursionistas para mergulho com ar comprimido, no deve ostentar armamento da pesca sub.3) vedada, dentro da filosofia CBPDS e sob a orientao da comisso Nacional de Instrutores de Mergulho, a prtica de pesca sub com ar comprimido, quer seja em equipamento autnomo ou semi autnomo. Toda e qualquer atividade desta natureza, se caracterizada como programada ou supervisionada por Escola do Sistema Nacional de Ensino, torna seus responsveis passveis de descredenciamento perante a CBPDS/CMAS.4) Durante um curso desta natureza, toda prtica relativa ao ajuste do tiro de caa ser sempre realizada contra alvos artificiais, na piscina ou no mar. Apenas

  • por ocasio do encerramento do curso ser programada (respeitada toda a legislao concernente a este aspecto) uma sada visando a pescaria propriamente dita.

    8. A ORGANIZAO DO MERGULHO AMADOR NO BRASIL E NO MUNDO

    Antes mesmo das atividades subaquticas, sob o aspecto profissional-militar, desenvolverem-se em nosso pas, o mergulho j havia sido introduzido no Brasil em 1947 (logo aps a Segunda Guerra Mundial) quando os pilotos comerciais Joo Jos Bracony e Paulo Lefevre, juntamente com outros interessados como Andr Semam e Jean Manzon, adquiriram excedentes de guerra na Europa e os introduziram no pas, dando incio a Pesca Subaqutica, praticada em apnia.

    Aps esta fase inicial em que o mergulho era praticado utilizando-se material excedente de guerra, o esporte comeou a difundir-se, j contando com um pequeno nmero de adeptos.

    Todo o material era estrangeiro e seu custo bastante elevado, o que veio retardar o desenvolvimento do esporte da Pesca Subaqutica, ainda recm-nascida, trazendo-lhe tambm a fama de "esporte de rico".

    Apesar de tudo, com os meios de difuso, rdio, cinema, televiso e jornais dando ampla cobertura, sua popularidade crescia dia a dia, despertando o interesse de todos brasileiros, oficializando-se a atividade em 1958 como esporte de competio no mundo, com a fundao, em Mnaco, da CMAS, da qual participou tambm o Cmte. Jacques Yves Cousteau.

    Com o desenvolvimento do mergulho, impulsionado pelo segmento amador-desportivo no mundo, a partir de 1973 comearam a surgir no Brasil as " Escolas de Formao de Mergulhadores ", primeiramente ensinando mergulho livre e Pesca subaqutica: seguidamente evoluindo para o mergulho com ar comprimido.

    A primeira Escola de Mergulho a funcionar regularmente, inclusive com licena de interdio de rea martima para essa finalidade, concedida pela Marinha, foi no Rio de Janeiro, no bairro da Urca, com o nome de "CCS". Este nome mais tarde foi modificado para "CBD", (Clube Barracuda de Desportos), o qual ministrou aulas para civis e muitos aspirantes da Escola Naval e CEFAN, tendo como instrutor mais destacado o Dr. Eduardo Paim Bracony, filho de um dos pioneiros do mergulho em nosso pas. tambm interessante ressaltar ser ele o portador do brevet CMAS n. M3-OOOO1, ou seja: o primeiro Instrutor no grau mximo internacional a ser expedido oficialmente para um mergulhador brasileiro, o que ocorreu em 1980.

    Com a fundao da CBPDS (Confederao Brasileira de Pesca e Desportos Subaquticos), nica Entidade brasileira a poder ser filiada a CMAS segundo norma internacional, a Escola de Mergulho acima citada obteve a matrcula internacional n. 001 por nosso pas. Em seguida a CBPDS passou a estruturar o chamado "Sistema Brasileiro de Ensino de Mergulho", o qual obrigado a

  • seguir os programas internacionalmente estabelecidos pela CMAS, com os quais so compatveis os adotados pela Marinha Brasileira.

    O Certificado Militar tem validade em todo o territrio nacional brasileiro; entretanto, sendo a atividade de mergulho no meio civil internacional regida por normas prprias emanadas da Entidade de direo Mundial do Mergulho (CMAS), assim reconhecida pela UNESCO, COMIT INTERNACIONAL OLIMPICO, IUCN, GAIFS, OWG e outras entidades oficiais, hoje exigido em todo o mundo que o mergulhador em atividade de lazer (que no seja ao militar ou trabalho profissional) seja habilitado com um brevet. Seja aqui ressaltado, entretanto, que o nico brevet a ter validade internacional e a ser considerado oficial o conhecido como "Double-Face" (por ter um lado relativo matrcula mundial e outro alusivo Confederao do pas de origem). No caso do Brasil a CBPDS que se constitui em Entidade Federal de Direo dos Desportos da Pesca e Subaquticos em geral, abrangendo segmentos tcnicos, cientficos e desportivos.

    Assim, para que um certificado emitido no Brasil seja considerado valido, necessariamente tem de ser conhecido como "Double-Face CBPDS/CMAS", tanto para Mergulhadores quanto para Instrutores.

    Existem vrias firmas comerciais, notadamente estrangeiras, que para no revelarem sua verdadeira natureza jurdica - FIRMA COMERCIAL - mascaram-se, iludindo o grande pblico civil, ao auto-intitularem-se de "certificadoras". Sob essa alegao ministram cursos particulares sem nenhum valor, dando, aos incautos que atraem, vistosas carteirinhas que intitulam "brevet" (como se realmente o fossem), afirmando terem reconhecimento internacional. Na realidade no possuem esse status. O que ocorre que, sendo firmas comerciais que concedem franquias, firmas comerciais franquiadas existentes em alguns pases aceitam esses cartes como se validade tivessem, o que j no pode ocorrer por parte de instituies oficiais.

    O crescente mercado do mergulho amador que vem se impondo como um dos mais atraentes do turismo nutico em nosso pas, origina diversas oportunidades laborais para aqueles que, antes, somente encontravam campo na exaustiva faina do mergulho profissional, principalmente afeto prospeco petrolfera e as reas ligadas a servios de recuperao subaqutica e obras.

    Os Mergulhadores que logram atingir a instrutoria, para tal cumprem a escala seguinte: Mergulhador 01 estrela, Mergulhador 02 estrelas, Mergulhador 03 estrelas, Instrutor 1,2 e 3 estrelas, consoante os critrios internacionais CBPDS/CMAS. Atingida a instrutoria, tais mergulhadores passam a ter aberto um leque de opes para a atividade civil subaqutica, onde podem trabalhar, no Brasil, sempre atravs de Escolas Oficiais CBPDS/CMAS, cuja rede, que inclui as chamadas "Operadoras de Turismo Subaqutico", j de longe a maior do continente americano. Nosso pas, por levantamento oficial de 1994, esta colocado como o sexto do mundo (entre mais de 100 pases) na formao de verdadeiros mergulhadores, que so aqueles que portam o brevet Double-Face.

  • Indubitavelmente a CMAS foi a pioneira do ensino civil do mergulho e, hoje, possui a maior rede de Escolas e Operadoras do mundo. Qualquer informao em contrrio no passa de propaganda enganosa, promovida por firmas comerciais estrangeiras, uma vez que, j em 1989, a CMAS possua mais de 10.000.000 (dez milhes) de mergulhadores ativos, portadores de seu brevet, disseminados pelos quatro cantos do mundo.

  • TEORIA II

    1. O MERGULHO COM AR COMPRIMIDO

    1.1 Histrico do Mergulho com Ar Comprimido

    Permanecer embaixo d'gua por um tempo indeterminado parece ter sido o sonho de todos aqueles que se compraziam na apnia. Podemos imaginar, numa poca de tecnologia praticamente nula, tal qual era na antigidade, a falta completa de conhecimentos que fossem capazes de materializar este ideal.

    Os objetivos que despertavam este interesse certamente no se dirigiam para o lazer. Somos inclinados a pensar que reis e governantes, caso pudessem e soubessem permanecer respirando sob as guas, tratariam imediatamente de procurar todos os tesouros e valores que, muitas vezes, a vista dos prprios olhos, submergiam em naufrgios comerciais ou guerreiros.

    Nas antigas pocas, sendo por todos sabido que tal proposta era impossvel ao ser humano, a imaginao e a fantasia tomavam o lugar da tecnologia e sempre se conseguia alguma razo mgica para se iniciar contos ou odissias em que o heri dispunha de possibilidades de praticar suas faanhas sob o mar.

    Importa nisso descobrirmos que, por baixo de todo "pensamento mgico" de ento, ficava evidenciada esta aspirao da humanidade.

    1.1.a) DA FANTASIA TECNOLOGIA A partir do perodo conhecido como Renascena (onde o gnio de diversos notveis estudiosos e artistas evidenciou-se) que vamos observar os primeiros rudimentos do domnio tecnolgico de ento ser empregado em funo do mergulho. No obstante a Lei de Boyle ter sido enunciada, pela primeira vez, no ano de 1660, a maioria dos projetos antigos era fantasiosa demais. Uma vez postos comprovao, geralmente no funcionavam, encerrando-se com frustraes e at acidentes letais para o "mergulhador de prova".

    Em 1669, partindo do j conhecido (desde a antigidade mais remota) "sino de mergulho", Denis Papin descobriu um sistema que era capaz de fornecer ar fresco para o interior deste, em fluxo contnuo. Isso prolongava consideravelmente a permanncia de um mergulhador no interior do sino e, por conseguinte, sob a gua.

    Tal fato se constituiu num grande salto e revolucionou as tcnicas de mergulho, tendo sido adotado com freqncia, at recentemente, sob a forma de escafandria, que nada mais era do que o sino de mergulho colocado em volta

  • da cabea do mergulhador e com fluxo contnuo de ar, fornecido a partir da superfcie.

    A seqncia de inventos, desde 1669, foi vasta e ingnua muitas vezes. Na tentativa de obterem notoriedade, alguns inventores apresentavam resultados que, hoje sabemos, jamais poderiam ter sido obtidos.

    Em 1715, um ingls chamado John Lethbridge projetou um "tanque" de couro, onde o mergulhador se deitava mas tinha a possibilidade de deixar os braos para fora. O dispositivo era baixado por um cabo. O inventor dizia j ter descido nesse tanque lacrado profundidades superiores a 10 braas (prximo dos 20 metros), por mais de 100 vezes. No havia suprimento de ar... Provavelmente o inventor tambm deve ter se confundido ao relatar os resultados.

    Em 1865, Benoit Rouquayrol e Auguste Denayrouze, idealizaram e construram um engenho que permitia ao mergulhador levar uma pequena quantidade de ar comprimido, nas costas. Este pequeno reservatrio estava conectado superfcie por meio de uma mangueira de ar que partia de um compressor. Isso tinha por finalidade manter o pequeno tanque cheio, enquanto durasse o mergulho.Como tal equipamento permitia que o mergulhador se desligasse da mangueira de ar que o mantinha cone