17
SALÃO NOBRE MARÇO 2018 Serões Musicais no Palácio da Pena MUSICAL EVENINGS AT THE PALACE OF PENA 4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON 09|10 | 21:00 Cruzando o Atlântico: a música entre Portugal e o Brasil, da chegada da corte aos alvores do modernismo Queremos saber a sua opinião https://tinyurl.com/SMUS2018

4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH … · FRANCISCO DE SÁ NORONHA (1820-1881) • Coplas de Frederico, “Eis-me, afinal, em casa de meu pai! ”, de Os Noivos

  • Upload
    hadien

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

SALÃO NOBRE

MARÇO 2018

SerõesMusicaisno Palácio da PenaMUSICAL EVENINGS AT THE PALACE OF PENA

4.ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 4TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON

09|10 | 21:00

Cruzando o Atlântico: a música entre Portugal e o Brasil, da chegada da corte aos alvores do modernismo

Queremos saber a sua opiniãohttps://tinyurl.com/SMUS2018

PROGRAMA

LUÍS CÂNDIDO FURTADO COELHO (1831-1900)

• “Elisa” – Recitativo de salão

ALBERTO NEPOMUCENO (1864-1920)

• “Philomèle”, op. 18 n.º 2 • “Coração Triste”, op. 18 n.º 1

ARTHUR NAPOLEÃO (1843-1925)

• Couplets de Zizi• Ma pensée

FRANCISCO DE SÁ NORONHA (1820-1881)

• Ária de Vasco, “Ah, deh riedi al doce amplesso”, de Beatrice di Portogallo• Ária de Alda, “Sotto a quet’ombre… De miei verd’anni”, de Tagir

CARLOS GOMES (1836-1896)

• Dueto de Colette e do Conde, “Aux champs, nous avons pour usage”, de Une Nuit au Château

INTERVALO

Mariana Castello-Branco sopranoDora Rodrigues sopranoDiogo Oliveira barítono João Paulo Santos piano

PSM

L | L

uís

Dua

rte

FRANCISCO DE SÁ NORONHA (1820-1881)

• Coplas de Frederico, “Eis-me, afinal, em casa de meu pai! ”, de Os Noivos• Dueto de Josefina e Natividade, “Conheci dois namorados”, de O Califa da Rua do Sabão• Valsa de Leonor, “Que situação!”, de Os Noivos• Canção de Pedro, “O vinho, o amor e as canções”, de O Anel de Prata• Tango “Amor Tem Fogo”, de A Princesa dos Cajueiros

BRASÍLIO ITIBERÊ DA CUNHA (1846-1913)

• A Sertaneja, op. 15

ERNESTO NAZARETH (1863-1934)

• “Beija-Flor”

DARIUS MILHAUD (1892-1974)

• “Tango des Fratellini”, op.58c, de Le Boeuf sur le Toit• op.58c, de Le Boeuf sur le Toit

MOZART CAMARGO GUARNIERI (1907-1993)

De Cinco Poemas de Alice:• “E agora...só me resta a minha voz”• “Recolhi no meu coração a tua voz”

HEITOR VILLA-LOBOS (1887-1959)

De Guia Prático:• “Nesta Rua”• “Samba-lelê”

CHIQUINHA GONZAGA (1847-1935)

De Pomadas e Farofas: Couplets da Eletricidade• Couplets de Vaselina• “O Vinho, Paraty e a Cerveja”• “Trabalho, Lavoura e Indústria”

ADVERTÊNCIASPor favor, mantenha o seu telemóvel desligado durante o espetáculo.A captação não autorizada de imagens não é permitida no decorrer do espetáculo.

PSM

L | L

uís

Dua

rte

Na sequência da instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro (1807) e mesmo depois da independência (1822), as relações musicais entre Portugal e o Brasil foram intensas. Depois do contingente de músicos que se fixou no Rio para fazer face às necessidades da corte, o fluxo manteve-se durante todo o século, sentindo-se sempre mais na direcção Portugal-Brasil do que na inversa. O dinamismo do novo país era particularmente atractivo para os músicos portugueses, confinados ao limitado meio musical nacional. E se esses músicos levavam consigo competências que remetiam sobretudo para os modelos operáticos e sacros de origem italiana – sendo Marcos Portugal o exemplo mais destacado – a verdade é que o intercâmbio musical entre as duas margens do Atlântico, vinha já muito de trás, nomeadamente na exportação de música doméstica do Brasil para Portugal. Já na década de 1780, William Beckford comentara: “Quem nunca ouviu falar em modinhas ignora as mais voluptuosas e feiticeiras melodias que jamais existiram desde o tempo dos sibaritas. São lânguidos e interrompidos compassos, como se o fôlego nos faltasse por excesso e enlevo e a alma anelasse despedir-se do corpo...”. E danças de negros do Brasil, como o fado e o lundum, com os seus ritmos sincopados, surgem documentadas em Portugal desde os primeiros anos de oitocentos.Depois da independência, o anti-lusitanismo que invadiu a sociedade brasileira, não foi suficiente para travar este intercâmbio. O português Francisco de Sá Noronha, que emigrou para o Rio e cruzou cinco vezes o Atlântico, ilustra bem a situação. Em finais dos anos 1850, encabeçou – com o apoio de membros da colónia de emigrantes lusos – o projecto de criação de uma ópera nacional portuguesa, idealizada a partir da experiência brasileira da Imperial Academia de Música e Ópera Nacional (1857). No final da vida, faria sucesso com operetas sobre textos do dramaturgo brasileiro Artur Azevedo (1855-1908) que satirizavam o establishment carioca e o mundo das fazendas cafeeiras. Também o pianista portuense Artur Napoleão (1843-1925), criança prodígio que viajara e fora aplaudido pela Europa e América do Norte, apostou a partir da década de 1860 num negócio de edição musical que contribuiu significativamente para a divulgação da música brasileira e foi um dos impulsionadores dos modernos padrões da vida musical europeia no Rio, incluindo a difusão da obra de Beethoven. Todavia, para os jovens brasileiros, o fascínio da Europa exercia-se sobretudo através de Itália e de Paris, dado o sucesso da ópera,

PSM

L | L

uís

Dua

rte

da opereta e de outros géneros na capital federal, bem como noutras cidades, sobretudo do litoral. A relação com Portugal nem sempre é directa mas, até 1889, beneficiou da estreita relação entre as famílias reais dos dois países. Assim, Carlos Gomes (1836-1896) – o mais notável caso de afirmação de um compositor brasileiro na Europa, com o sucesso de Il Guarany (1870) – chegou a Lisboa em 1863, recomendado pelo imperador ao rei D. Fernando, e conviveu com António Feliciano de Castilho, autor do texto que servira de base à sua primeira ópera A noite do castelo (1861). Cabe aqui mencionar o actor e músico português Furtado Coelho (1831-1900), introdutor do teatro realista no Rio mas também cultor do chamado “recitativo”, uma peça de salão eminentemente romântica que associava poesia declamada e música; “Elisa”, sobre poema de Bulhão Pato (1828-1912), é um exemplo relevante. Na década de 1860, o Rio assiste à chegada triunfal da opereta francesa, que passaria rapidamente a ser adaptada aos costumes e gostos locais. Formado no Conservatório de Paris, Henrique Alves de Mesquita (1830-1906) veio dirigir as orquestras dos teatros Alcazar Lírico e Fenix Dramática, montando, a partir de 1869, inúmeras operetas em colaboração com compositores e empresários portugueses. Celebrizou-se através do “tango brasileiro”, um tipo de habanera, de forte pendor sensual, que passou a ser indispensável nas operetas cariocas. Paralelamente, surge um género instrumental baseado na síntese de danças de salão europeias com ritmos afro-brasileiros: o choro. Obterá grande aceitação e inspirará Chiquinha Gonzaga (1847-1935), que a par de vários dos compositores aqui abordados, será uma das suas primeiras cultoras. Exemplo ímpar de transgressão do domínio patriarcal, quer na vida conjugal e sexual burguesa, quer no campo profissional da composição e direcção de orquestra, Portugal foi para ela um refúgio, inclusive em termos amorosos. Em Lisboa, colaboraria com empresários, escritores e atores, portugueses e brasileiros, na composição de revistas e operetas, devendo-se-lhe também a divulgação do “maxixe” – outra dança sincopada de raiz afrodescendente.No decurso do século, as reivindicações nacionalistas brasileiras – a princípio relativamente difusas e ligadas aos ideais românticos – tornam-se mais efectivas. Surgem então tentativas elaboradas de incorporar canções tradicionais em géneros canónicos europeus, como

encontramos na rapsódia A Sertaneja (1869) do diplomata e músico Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913). Já os compositores Alberto Nepomuceno (1864-1920) e Ernesto Nazareth (1863-1934), nascidos com um ano de diferença, podem ser vistos como as duas faces de uma mesma moeda: o primeiro seguiu para a Europa e afirmou-se como o pai do nacionalismo brasileiro; o segundo, confinado à vida musical do Rio, fez dos géneros de salão a base da sua obra, podendo ser visto como um Chopin tropical. Com a emergência do modernismo, outras cidades se afirmam no panorama musical brasileiro. O marco da “Semana de 22”, em São Paulo, acentuou as aspirações à criação de uma música brasileira, não obstante a preservação do cosmopolitismo em certos círculos. Chegado em 1917, o compositor francês Darius Milhaud (1892-1974) entusiasma-se com a música de Ernesto Nazareth e trava conhecimento com o jovem Villa-Lobos (1887-1959). Obras como Le boeuf sur le toit e Saudades do Brasil contribuiriam para que as sonoridades da música popular urbana carioca se difundissem na Europa. A “Semana de 22” e o seu ideólogo Mário de Andrade seriam também referências centrais para Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993), compositor já nascido em pleno século XX.No período entre guerras, o afastamento acentuou-se e, em 1955, Fernando Lopes-Graça confessava em O Comércio do Porto que “Nas nossas correspondências com músicos brasileiros, [...] com frequência abordamos a questão das relações musicais entre as duas pátrias irmãs para chegarmos à lamentável conclusão de que nem os portugueses conhecem nada da música brasileira, nem os brasileiros têm notícia alguma da música portuguesa, ou, pior do que isso: que o que nós conhecemos da música do Brasil se reduz ao samba, e que o que eles, os nossos irmãos de além-Atlântico, conhecem da música de Portugal, se limita ao fado.”. Num momento em que as relações entre Portugal e Brasil são de novo dinâmicas e profícuas, abrangendo muitas e variadas manifestações musicais, este programa visa contribuir para uma redescoberta da riqueza do seu passado.

Luísa Cymbron

TEXTOS DAS PEÇAS CANTADAS

“ELISA”Furtado Coelho (1831-1900)Recitação de salão, poema de Bulhão Pato

Era no outono, quando a imagem tuaÀ luz da lua sedutora vi,Lembras-te ainda nessa noite – ElisaQue doce brisa suspirava ali?...

Toda de branco, em tua fronte belaRosa singela se enlaçava então;Vi-te, e perdido de te ver buscavaSe me apartava da gentil visão…

Oh! que era em balde! quanto mais te viaMais me perdia – delirante amor! – Mágicas falas proferiste incertaToda coberta de infantil rubor…

Trémulo, ansioso, quis pedir-te um beijoLouco desejo que fugir te vi…Viste-me, triste – para mim voltaste,Não me falaste - mas eu bem ouvi.

Tíbia, arrobada de perfume, a brisa,Lembras-te Elisa, suspirava então…Tu nos meus braços reclinaste a fronteE meigamente me disseste não!

“PHILOMÈLE”, op.18 n.º2Alberto Nepomuceno (1864-1920), Texto de Raymundo Corrêa

Gorjeia flébeis amores,Sobre o lago, a ave canora;Sobre o lago chove a aurora,Da espessa ramada, flores…

As notas desse hino ardenteVoam, revoam, suaves;Omo um doudo bando de aves,Vão pelo ar transparente…

Rola em ondas a harmoniaPelo outeiro, pela vargemTorrentes de ouro se espargem No azul; o sol irradia.

Só se escuta o passarinho.Silêncio! É muda a folhagem;Baixinho cicia a aragem,A água sussurra baixinho…

Os países de onde veioChora o clima e as primaveras.Quantas douradas quimerasPalpitam no seu gorjeio!

O espaço em torno ressoa…E enquanto saudoso trinaVoa uma ave de rapina…Sobre ele um milhafre voa.

A inocência aos pés do crimeAssim sorri descuidosaSem pressentir a maldosa garra,Que presto a comprime.

Nemrod! a inocência salvaE impede o crime execrando.Tu que as selvas perlustrandoVives desde o romper da alva.

“CORAÇÃO TRISTE”, op.18 n.º1Alberto Nepomuceno (1864-1920)Texto de Machado de Assis

No arvoredo sussurra o vendaval do outono,Deita as folhas á terras, onde não há florir.E eu contemplo sem pena esse triste abandono;Só eu as vi nascer, vejo-as só eu cair.

Como a escura montanha, esguia e pavorosaFaz, quando o sol descamba, o vale anoitecer,A montanha da alma, a tristeza amorosa,Também de ignota sombra enche todo o meu ser.

Transforma o frio inverno a água em pedra,Mas torna a pedra em água um raio de verão;Vem, ó sol, assume o trono teu na altura,Vê se podes fundir o meu triste coração.

COUPLETS DE ZIZIArthur Napoleão (1843-1925)

Vous souvient-il encore…De ce jour de printempsOù soudain une averseTomba des cieux bâillants ?

Je passais par la plaineEn courant au hasard.Sous les fureurs du ventLa pluie fouettait mes joues.

Lembrai-vos, ainda,Desse dia de primaveraEm que a chuva repentinaCaiu dos céus entreabertos?

Passava eu pela planícieCorrendo, sem destino,Sob a fúria do vento,A chuva fustigando minha face.

Et je rêvais de vousLorsque je vous aperçus.Egaré comme moi,Comprenant ma détresseVous rattrapiez mes pas.

Alors une grosse ombrelle Nous abrita tous deuxEt sous ce toit légerNos cœurs vite réchauffésSe taisaient en émoiEcoutant la cadenceDes gouttes sur la voieNous parlant d’espéranceEt d’amour partagé,Tandis que sur les présPassaient les âmes des fleurs !

E sonhava convosco,Quando vos vi surgir.Perdido, como eu,Compreendendo o meu temor,Vínheis ao meu encontro.

Então, uma grande coberturaNos abrigou, aos dois,E, sob esse leve teto,Os corações subitamente aquecidosEmudeceram, comovidosEscutando a cadênciaDas gotas no chãoQue falavam de esperançaE de amor partilhado,Enquanto que nos pradosPassavam as almas das flores!

Oh deh riede al dolce amplessoDell’amico tuo fedel;Vieni, ah vien, giammai concessoNon fu gloria e amor dal ciel!Per colei che tanto adori,Per colei che piange invan,Ti prepara nuovi alloriGià dei posteri la man,Ah perchè di gloria il sertoSol bastar non debbe a te!No, giammai non è desertoL’ uom che fama ha ognor con se. Deh ti scorda ogn’altro affetto,Sol la gloria serba in cor;E vedrai che nel tuo pettoTroverai virtù maggior.

Vem, amigo, num abraçoDe amizade santa e puraAprender que o Céu ao génioNega amor, nega a ventura.Em troca do amor ardenteQue, triste, choras em vão,Te aponta da glória a sendaDa posteridade a mão.Da glória bastar-te deveAstro de vívida luz.Não sucumba a alma enlevadaQue o génio ampara e conduz.Esquece o pérfido afeto,À glória presta homenagem.E sentirás que em teu peitoMaior renasce a coragem.

Tradução: João Paulo Santos

ÁRIA DE VASCOde Beatrice di PortogalloFrancisco de Sá Noronha (1820-1881)Libreto de Reinaldo Carlos Montoro

Sotto a quest’ombre, ai fulgidiRaggi del sol nascose,Oh come appien rivivereMi sento al primo dì!O di profumi eletti, aure amorose!Quante nel sen versateOnde di gigli e rose!Odo dell’acque ondoseIl grato mormorar.Tutto qui gioia e voluttade spira,O Carlo! vieni! Non tardar, ben mio!Divider l’estasi del cor desio.

De’ miei verd’anniL’età beata,A me rimembraQuest’aura grata,Que’ fior gentiliD’alma fragranzaM’approno il coreAlla speranza;E al dolce aromaPuro, che aspiro,Sento che t’amo!T’amo! deliro!

Debaixo desta sombra de raios fúlgidosDo sol que vem rompendo,Oh! como inteira renascer parece Minh’alma à luz dos meus primeiros dias!Ao doce influxo destas auras tépidas,E dos perfumes à embriaguez que mataMeus seios s’entumescem.Aqui da água que plácida serpenteia,Me é grato ouvir o murmurar dulcíssi-mo.Tudo é prazer e tudo a amar convida…Carlos…meu Carlos! porque tardas tanto!...Destas delícias vem gozar o encanto!

Sonhos douradosDa minha infânciaTrazei-me ó flores,D’alma fragrância;Dai-me um sorrisoNesta saudade,Meigas esp’rançasDa flórea idade!E do doce aromaPuro, que respiro,Sinto que te amo!Amo-te! Deliro!

Tradução: João Paulo Santos

ÁRIA DE ALDAde TagirFrancisco de Sá Noronha (1820-1881)Libreto de Francisco de Sá Noronha, António Correia e Ernesto Pinto de Almeida

DUETO DE LEONOR E INÊSde A noite do CasteloCarlos Gomes (1836-1896)Libreto de A. J. Fernandes dos Reis

LEONOROh, como é linda e mimosa,Mas, Henrique, por mim assim te expores…Vamos, beija minha mãoEm paga do teu mimoMas sê prudente, amigo,De medo ainda tremo!

INÊSSenhora, minha filha,Ao aposento recolhei-vos;O sono há de acalmar-vos.

LEONOROh como é lindo o meu esposo!...Vede: Henrique dorme ali;Gentil sonho vaporosoSonha, vede, ele sorri!Não, não foi por mim traídoQuem tal disse lhe mentiu…Oh! dileto meu querido! INÊSPobre filha! Deus eterno!Ah! senhora ouvi, vos rogo!

Meia-noite! É tarde!Ao aposento recolhei-vos,Eu vos rogo, vinde…

LEONORSilêncio!... Ele não tarda!...

INÊSOh céus!

LEONORVem, Fernando…Vem querido, junto a mim Passarás gostosas horasTé que o dia surja alfim.

INÊSAh! Senhora arrependidaOra a Deus peço perdãoPor haver-vos ajudadoEm vossa fatal paixão,Eu devera ao senhor Conde,Tudo, tudo declarar.

LEONORAh, Inês, te peço, basta!Não me venhas magoar,Quero estar risonha, alegre.Sou feliz!

Não ouviste passos? Não?É Fernando! Que alegria!...Já me inunda o coração!

Ah! deixai-me!Vem Fernando receber!O primeiro objeto eu sejaQue ele entrando possa ver!

DUETO DE COLETTE E DO CONDEde Une Nuit au ChâteauHenriques Alves de Mesquita (1830-1906)Libreto de Paul de Kock

COLETTEAux champs nous avons pour usageDe bien employer notre temps ;Et les petits soins du ménageEn remplissant tous les moments.

Puis, quand chaqu’ chose est terminée,Le soir nous nous rassemblonsEt les travaux de la journéeFont trouver le plaisir plus doux

J’avons aussi pour habitudeD’nous aimer tous de bien bon cœurEt j’mettons not’ unique étudeA nous aider dans le malheur.Si quelqu’un est dans la misère,J’ partageons c’que j’avonsEt le bien que l’on a pu faireSait rendre le plaisir plus doux.

LE COMTEQuoi ! point de bals, point d’amourettes ?

COLETTELe soir nous dansons sous l’ormeau.

LE COMTEPoint de bijoux, point de toilette ?

COLETTEV’là la plus belle du hameau.

LE COMTEVotre récit me rend plus sage,Ah ! je conçois qu’auprès de vousOn peut, même dans un village,Goûter le bonheur le plus doux.

COLETTENos campos temos por costumeInvestir muito do nosso tempo;E os pequenos cuidados da lide caseiraOcupam todos os nossos momentos.

Depois, quando tudo está terminado,À noite, juntamo-nosE os afazeres do diaTornam esse prazer mais doce.

Temos, também, por hábitoAmarmo-nos do fundo do coraçãoE dedicamos o nosso único estudoA apoiarmo-nos na infelicidade.Se alguém está na miséria,Repartimos o que temosE o bem que assim fazemosTorna esse prazer mais doce.

O CONDEComo? Nada de bailes, nada de namoriscos?

COLETTEÀ noite, dançamos sob o ulmeiro.

O CONDENada de joias? Nada de toilettes?

COLETTEEis a mais bela da aldeia.

O CONDEO que me conta torna-me mais sábio,Ah! compreendo como, junto a vós,É possível, ainda que numa aldeia, Saborear a mais doce felicidade.

Eis-me, afinal, em casa de meu pai! Em júbilo nadar tudo aqui vai!

Não quis esperar as férias, Mais tempo esperar não quis; Promessas não são pilhérias, E então daquelas que eu fiz! O prometido Diz que é devido; Rifão sagaz; Quero com jeito, Mas com respeito, Voltar atrás...

Promessa de casamento Eu fiz à linda Leonor! Maldito seja o momento Em que jurei ter-lhe amor! Pois tal promessa Muito depressa Roubou-me a paz; Quero com jeito, Mas com respeito, Voltar atrás!

COPLAS DE FREDERICOde Os NoivosFrancisco de Sá Noronha (1820-1881)Libreto de Artur Azevedo

Conheci dois namoradosCada qual o mais discreto,Quem os via tão chegados,Invejava aquele afeto.

A trocarem mil carinhos,Pareciam dois pombinhosE até diziam Que assim faziam:

Ru, ru, ru cu tu cu.Gentil pombinha,Hás de ser minha,Hás de ser meu.

Mas depois de bem casados,Adeus minhas encomendas,Eram só por seus pecadosDiscussões e mil contendas.

Dele um murro,Dela um socoNão ficava sem ter troco,E não diziam, Já não faziamMuito nem pouco:

Ru, ru, ru cu tu cu.Gentil pombinha,Hás de ser minha,Hás de ser meu.

DUETO DE JOSEFINA E NATIVIDADEde O Califa da Rua do SabãoFrancisco de Sá Noronha (1820-1881)Libreto de Artur Azevedo

Que situação!O direito não ter de acusá-lo,Duplo perdãoDeve ser de nós ambos regalo.Tremendo estouPois não sei se faremos as pazesQuem me mandouEterno amor jurar a dois rapazes!

Eu tremo,Soluço choro,Soluço gemo,Pois que o adoroCom tanto extremo de amor Que se perdesse fortuna tanta,Ó Virgem Santa,Talvez morresse de dor.Esta triste aventura,Que aliás faz rir,De lição porventuraPoderá servir.

VALSA DE LEONORde Os NoivosFrancisco de Sá Noronha (1820-1881)Libreto de Artur Azevedo

O vinho, o amor e as canções,Rejuvenescem corações,O amor é o bálsamo da vida,O vinho é o bálsamo da bola,E uma canção gemida à viola,O amor desperta a toda, a toda a brida.

Eis porque eu amo e bebo assim,Eis porque eu canto horas sem fim.

CANÇÃO DE PEDROde O Anel de PrataFrancisco de Sá Noronha (1820-1881)Adaptação portuguesa do libreto de Jules Barbier e Léon Battu

Amor tem fogo,Tem fogo amor;Tem fogo intenso,Devorador!Põe-nos em jogoO coração,Nosso bom senso,Nossa razão!E lavra,Palavra!Sem descansar;ComeçaDepressa,Custa a acabar...

TANGO “AMOR TEM FOGO”de A Princesa dos Cajueiros Francisco de Sá Noronha (1820-1881)Libreto de Artur Azevedo

Ai quem me dera, quem me deraSer um lindo beija-flor,Para pousar um momentoNos teus lábios, meu amor!

Era para mim grande gozo,Minha bela jardineira,(Como eu seria ditoso!)Te beijar dessa maneira.

Se acaso te avistoFico alegre, fico mudo…É porque meu coraçãoBaste forte e para tudo

“BEIJA-FLOR”Texto e Música de Ernesto Nazareth (1863-1934)

Vamos folgar,Vamos, vamos gozar,Que o dia de hoje É só para brincar!

Deixa-me bela, eu te peço,Qual um feliz beija-florEm tua fresca boquinhaSegredar o meu amor.

Deixa-me, flor das campinas,Ser o feliz jardineiro,E entre as flores mais finasDar-te o lugar primeiro.

“E AGORA…SÓ ME RESTA A MINHA VOZ”Só me resta a minha voz… faze por ouvi-la!Ela irá avisar-te do meu abrigo,Porque só tu, mesmo de muito longe,Sabes entender meu pensamento.

“RECOLHI DO MEU CORAÇÃO A TUA VOZ”Recolhi no meu coração a tua vozE fiz por não ouvir nenhum outro rumor.Dispersos pelo mundo,Quis que a tua imagem fosse todas as imagensE afastei da minha alma todas as memóriasPara diluir-me na luz da tua presença.

CINCO POEMAS DE ALICEMozart Camargo Guarnieri (1907-1993)Textos de Alice Camargo Guarnieri

Quem há que não conheçaA electricidade?De mim descende a luz,De mim rebenta a vida.

Governo terra e céus,Animo a Humanidade;O Universo inteiro Eu tenho por guarida,

Os astros que se libramNo curvo firmamentoAo meu aceno vibramQual vibra o pensamento!

De mim tudo dependeEm toda a Natureza!Em mim de Deus resplendeA fulgida grandeza.

São estes os meus filhosPor ora, neste mundo;Refulge nos seus brilhosO brilho meu fecundo.

TODOSDas invenções modernas de real valorPor certo que seremos a fina florNo cedo das luzes eis-nos enfim,Na fronta, bem na fronta, assim assim

COUPLETS DA ELETRICIDADE,de Pomadas e FarofasChiquinha Gonzaga (1847-1935)Texto de Frederico Cardozo de Menezes

VASELINASou por todos adorada,Desejada sou enfim!Sou mocinha de massadaSem pomada, eu sou assim.

TODOSPerfumada, salerosa,Tão gentil, igual não há!A menina vaselinaEi-la aqui, ela cá está!

VASELINASirvo ao rosto mais formosoPara o cabelo perfumada;Sirvo mesmo para o leproso,Para a solteira, para a casada.

Sendo fria, eu me derreto,Escorrego se é preciso…Em toda a parte me meto,Tenho, é certo, pouco siso…

COUPLETS DE VASELINA,de Pomadas e FarofasChiquinha Gonzaga (1847-1935)Textos de Frederico Cardozo de Menezes

VINHOEu sou o vinho!

PARATYSou Paraty!

CERVEJASou a cerveja, marca Brabante!

“O VINHO, PARATY E A CERVEJA”,de Pomadas e FarofasChiquinha Gonzaga (1847-1935)Textos de Frederico Cardozo de Menezes

JUNTOSNinguém nos pode arresistir,Pra nós há sempre algum marchante!

VINHOTodos me queremVerde do Minho,Puro, sem água eu sou,Eu sou o vinho!

PARATYChova ou não chova bebido eu souParatyzinho nunca negou!

CERVEJAParda e branquinhaSempre espumanteSou a cervejaMarca Barbante!

OS TRÊSEis os três ingredientesTodos eles excelentesPra pomada fabricar.

Cada qual é mais lampeiro,Cada qual é mais brejeiroEm aqui se apresentar.

Cada qual tem serventia,Todos, todos têm valiaPra pomada fabricar!

De mistura agarradinhosTodos eles mexidinhosDão pomada de espantar!

“TRABALHO, LAVOURA E INDÚSTRIA”,de Pomadas e FarofasChiquinha Gonzaga (1847-1935)Texto de Frederico Cardozo de Menezes

MARIANA CASTELLO-BRANCO (soprano)Nasceu em Lisboa e iniciou os seus estudos musicais aos 6 anos na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo, em Linda-a-Velha. Em 2004 ingressou na Escola de Música do Conservatório Nacional na classe de canto da professora Manuela de Sá, com quem concluiu o curso complementar de canto com distinção. Como aluna da escola efetuou masterclasses com os maestros João Paulo Santos e Armando Vidal e trabalhou frequentemente sob a orientação do pianista José Manuel Brandão. Frequentou o Early Music Summer Course em Tomar, onde estudou com Jill Feldman.Continuou a sua formação no Flanders Opera Studio em Gent (Bélgica), sob a direção de Ronny Lauwers. Como membro do estúdio trabalhou com maestros como Pietro Rizzo e Yannis Pouspourikas; cantores como Sir Thomas Allen e Susan Waters; pianistas como Malcolm Martineau; e, ainda, diretores como Guy Joosten. Atualmente, colabora frequentemente com o maestro Nicolas Achten e o seu grupo Scherzi Musicali.As suas performances operáticas incluem papéis como 2nd niece (“Peter Grimes”, de B. Britten/ TNSC); Pamina (“A flauta mágica”, de Mozart/ Flanders Opera Studio); 2nd woman-1st witch (“Dido e Eneias”, de Purcell); Diane (“Acteón”, de Charpentier/ Flanders Opera Studio); Romy Shneider (“Romy”, de Joris Blanckaert/ Flanders Opera Studio); Serpina (“La serva padrona”, de Pergolesi/ Teatro da Trindade); La princesse (“L’enfant et les sortilèges”, de M. Ravel/ TNSC); Servilia (“La Clemenza di Tito”, de Mozart /Orquestra Metropolitana). Com o Teatro Nacional de São Carlos estreou-se como solista no “Requiem” de Fauré, em 2012. Colaborou também na produção “Dialogues des Carmelites” de F. Poulenc, em 2016, sob direção do maestro João Paulo Santos e encenação de Luís Miguel Sintra.

DORA RODRIGUES(soprano)Diplomou-se no Conservatório Gulbenkian de Braga, na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo com Oliveira Lopes, na Côte d’Azur com Ileana Cotrubas, em Itália com Enza Ferrari, no Liceo Musicale Manzato, e em Espanha com Elisabete Matos, tendo integrado também o European Opera Center.Apresentou-se em várias salas, entre as quais, o Teatro Nacional de São Carlos, Teatro de Modena e Ferrara, Teatro Real de Madrid, Teatro de La Maestranza, Liverpool Philharmonic Hall, St. David’s Hall, Casa da Música, Liverpool Hope University, Teatro Aberto, Teatro da Cornucópia, Fundação Calouste Gulbenkian, Salle Jean Eudes, Pavillon des Arts de Ste-Adèle, Salle Claude Champagne (Canadá), Kastel De Clee (Bélgica) Teatro Toti dal Monte Treviso, Teatro del Buonumore (Florença), Opera Narodowa (Varsóvia) e em St. John’s Smith Square (Londres).

PSM

L | L

uís

Dua

rte

Destacam-se algumas gravações discográficas, nomeadamente “D. Chisciotte” Garcia/Almaviva; Royal Liverpool Philharmonic “Il Segreto di Susanna” Wolf-Ferrari/Avie Records; European Union Youth Orchestra/The Classical Recording Company; Opera Premium/Universal Music; Compositores do Porto do Séc. XX/Fermata. Participou no lançamento da série “Os Maias” pela Rede Globo no Rio de Janeiro e no Festival Les Jeunes Ambassadeur (Montreal). Integra o L’Effetto Ensemble, com o guitarrista Rui Gama. Cantou com Josep Carreras em 2003 e em 2012, sob a direção de Ferreira Lobo e David Gimenez. Recebeu o Prémio “Ribeiro da Fonte” pelo Ministério da Cultura e a Medalha de Mérito do Município de Braga.

DIOGO OLIVEIRA(barítono)Nascido em Lisboa, frequentou o Curso de Canto da Escola de Música do Conservatório Nacional na classe de José Carlos Xavier. Participou em cursos de aperfeiçoamento com Sarah Walker, Rudolph Knoll, Low Siew-Tuan e Ernesto Palácio.Estreou-se no papel de Marullo (“Rigoletto”), sob a direção de Manuel Ivo Cruz. Interpretou Masetto (“Don Giovanni”), Figaro (“As bodas de Fígaro”), sob a direção de José Ferreira Lobo, Papageno (“A flauta mágica”), sob as direções de José Manuel Araújo e Kodo Yamagishi, Tom (“The Little Sweep”) e Gil (“Il Segreto di Susanna”) sob a direção de Kodo Yamagishi, Mordomo do AR (“Pino do Verão”), Comandante da Fragata (“Orquídea Branca”), João Maradão (“O Salto”) e Doido Rei Clown (“A Morte do Palhaço”), sob a direção de Jorge Salgueiro, e Conde de Fricandó (“As Damas Trocadas”), Uberto (“La Serva Padrona”), Chibante (“A Vingança da Cigana”), Pieroto (“Basculho de Chaminé”) e Alonzo (“A Saloia Namorada”), sob a direção de Armando Vidal. Desempenhou ainda o papel de Phantom em “O Fantasma da Ópera”, em digressão por toda a Alemanha onde cantou em mais de 100 salas, sob as direções de Dalibor Tuz e Petr Chromčák.Atuou nas mais reconhecidas salas e festivais europeus, nomeadamente no Teatro Nacional de São Carlos, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Centro Cultural de Belém, no Teatro del Canal, no Teatro Real de Madrid, no Auditório da Universidade Carlos III, no Festival “Printemps des Arts” e no Festival de Woodhouse (Londres).Em 2005 foi vencedor do primeiro prémio do Concurso Nacional de Canto Luísa Todi.

JOÃO PAULO SANTOS (piano)Nascido em Lisboa em 1959, concluiu o curso superior de Piano no Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou ainda com Helena Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Paris com Aldo Ciccolini (1979-84). A sua carreira atravessa os últimos 40 anos da história do Teatro Nacional de São Carlos, onde principiou como correpetidor (1976). Seguiu-se o cargo de Maestro Titular do Coro (1990-2004); desempenha atualmente as funções de Diretor de Estudos Musicais e Diretor Musical de Cena. Estreou-se na direção musical em 1990 com “The Bear” (W. Walton), encenada por Luís Miguel Cintra para a RTP. Tem dirigido óperas para crianças (“Menotti”, “Britten”, ”Henze” e “Respighi”), musicais (“Sondheim”), concertos e óperas nas principais salas nacionais. Estreou em Portugal, entre outras, as óperas “Renard” (Stravinski), “Hanjo” (Hosokawa), “Pollicino” (Henze), “Albert Herring” (Britten), “Neues vom Tage” (Hindemith), “Le Vin Herbé” (Martin) e “The English Cat” (Henze) cuja direção musical ganhou o Prémio Acarte 2000. Destacam-se ainda as estreias absolutas que fez de obras de Chagas Rosa, Pinho Vargas, Eurico Carrapatoso e Clotilde Rosa. A recuperação e reposição do património musical nacional ocupam um lugar significativo na sua carreira, sendo responsável pelas áreas de investigação, edição e interpretação de obras dos séculos XIX e XX. São exemplos as óperas “Serrana”, “Dona Branca”, “Lauriane” e “O espadachim do outeiro”, que já foram encenadas no Teatro Nacional de São Carlos e no Centro Cultural Olga Cadaval. Fez inúmeras gravações para a RTP e gravou discos com um repertório diverso. Colabora como consultor ou na direção musical em espetáculos de prosa encenados por João Lourenço e Luís Miguel Cintra.

PSM

L | L

uís

Dua

rte

Organização | Organization Media partner

www.parquesdesintra.pt

BrevementeJulho