39
1 5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento ... · Plano Telesecundaria da Guatemala e a necessidade do próximo passo ... O uso de Tecnologia da Informação e ... Desde

Embed Size (px)

Citation preview

1

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

2

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Contenidos Prefácio ......................................................................................................................................... 3

Introdução ..................................................................................................................................... 4

Educação e TIC ............................................................................................................................... 7

Quadro Conceitual e Operacional para a Integração das TIC com a Educação .................................................... 10

Educação e as TIC na América Latina ............................................................................................ 12

Implementação das TIC na Educação ........................................................................................ 19

Chile implementa tablets no primário ...................................................................................... 20

Equador divulga informações escolares por meio do Portal Educar .......................................... 22

El Salvador opta pela modalidade um a um na Educação e nas TICs ......................................... 24

Plano Telesecundaria da Guatemala e a necessidade do próximo passo ................................... 26

Escolas do México devem melhorar o desempenho das TIC, segundo OCDE ............................. 29

Estudantes brasileiros preferem dispositivos móveis ao acessarem a Internet .................................................... 31

Nicarágua conta com primeiro centro de software gratuito...................................................... 33

Soluções para a desigualdade digital e geracional na educação ................................................ 33

Olhando para o futuro… ............................................................................................................... 36

Exclusão de responsabilidade ....................................................................................................... 38

3

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

PREFÁCIO

A América Latina é uma região onde realidades convergem em um espaço abrangente e diversificado que inclui diversos setores da sociedade. Os próximos desafios para a região incluem a redução das desigualdades não somente em termos de desenvolvimento econômico, mas também em outras áreas como a saúde, a educação, a segurança pública, a estabilidade democrática, entre outros.

Dentro desses objetivos também encontramos a adoção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Este é um trabalho horizontal que requer a convergência de diferentes setores para aumentar e melhorar a qualidade de vida dos latino-americanos.

Foi nesse contexto, especialmente em relação à utilização de redes de banda larga sem fio, que nasceu a BrechCero.com, um blog da 5G Américas que divulga e apoia a visibilidade dessas iniciativas. Nesse espaço de livre acesso, analisamos como melhorar a vida das pessoas por meio de iniciativas, serviços e tendências tecnológicas. Analistas e profissionais do setor também participam por meio de colunas e entrevistas.

A BrechaCero.com também oferece uma série de documentos que abordam temas específicos. Esses documentos analisam a convergência das TIC para fomentar o desenvolvimento em diferentes setores verticais, tornando-se uma ferramenta de consulta permanente.

4

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

INTRODUÇÃO

A América Latina conta com uma série de características comuns entre os diferentes países da região. Em geral, os países da região são classificados como nações emergentes. Por essa razão, existem grandes desafios em diferentes áreas da sociedade, inclusive a educação, especialmente a universalização dos níveis básicos de ensino e acesso ao ensino superior.

Na área de educação, o grande desafio da América Latina é de oferecer igualdade em termos de oportunidades educacionais. Este ponto ainda é um desafio para os países da região, principalmente a dificuldade de reduzir as desigualdades em relação ao acesso a uma educação de qualidade. Além disso, as diferenças socioeconômicas também influenciam o acesso a e conclusão de cada um dos níveis escolares.

Existe um consenso quase unânime que a educação contribui para melhorar o desenvolvimento dos países e os padrões de vida de seus habitantes, especialmente com a globalização e os novos padrões de produção, onde acesso à informação e ao conhecimento é cada vez mais importante. A educação também é considerada um meio para reduzir as desigualdades, melhorar a integração em países multiculturais e fortalecer as democracias.

Neste cenário, o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como ferramenta educacional é baseado na ideia de que essas tecnologias podem ajudar a superar os desafios do setor de educação. O objetivo é reduzir as desigualdades digitais, promover a modernização do processo de aprendizagem e criar mais oportunidades para os alunos. A integração dessas tecnologias no processo educacional tem como objetivo garantir um desenvolvimento social mais inclusivo.

5

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

A educação é uma das metas estabelecidas pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) na Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2020. Neste caso, a UNDP tem como meta "assegurar uma educação equitativa, inclusiva e de qualidade que também apresenta oportunidades de aprendizagem para todos durante a vida inteira"1. Observamos que, em 2015, a taxa de escolarização global atingiu 91% nas regiões em desenvolvimento enquanto o número de crianças que não frequentam a escola caiu pela metade.

De acordo com a PNUD, certas regiões precisam de mais trabalho para desenvolver o sistema educacional, como o Oeste e Norte da África, onde os conflitos armados aumentaram a proporção de crianças que não frequentam a escola. Na África subsaariana, avanços notáveis no número de matrículas foram registrados em escolas primárias em todas as regiões em desenvolvimento (crescendo de 52% em 1990 para 78% em 2012), mas ainda existem grandes disparidades, especialmente entre áreas rurais e urbanas.

Na América Latina, desde 1990 houve um grande avanço em inclusão em educação infantil para uma grande porcentagem da população. Segundo a CEPAL, a região deve atingir os objetivos do milênio previstos para 2015. A agência destaca que o acesso à educação aumentou em todas as camadas da sociedade, especialmente acesso ao nível básico, quase universal na região. Mesmo assim, a maioria dos países dessa região ainda enfrentam os desafios de garantir um acesso igual para todos e de melhorar a qualidade do ensino e a eficiência educacional.

As TIC foram implementadas na educação de maneiras diferentes em países distintos. Abordagens variam desde a implantação de programas com foco no indivíduo, com a distribuição de notebooks, netbooks ou tablets para os alunos, passando pela conectividade nas escolas e a criação de conteúdo específico, e até implementações mais básicas, como a criação de departamentos de TIC nas escolas.

O desenvolvimento regional das TIC melhorou a qualidade da educação não somente com um número maior de ferramentas para auxiliar os estudantes no desenvolvimento de suas competências e habilidades cognitivas, mas também para os processos administrativos. A inclusão da tecnologia garante uma maior agilidade em questões institucionais e acadêmicas que fazem parte do sistema educacional, 1 In “Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável” Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/undp/es/home/sdgoverview/post-2015-development-agenda/goal-4.html

6

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

agilizando desde o processo de matricular os alunos até a produção de relatórios sobre seu desempenho, entre muitos outros exemplos.

Nesses casos, é importante ressaltar a conectividade em diferentes centros educacionais. Nesse sentido, o uso de banda larga sem fio, que pode ser uma forma alternativa de conectividade em áreas mais remotas, aumenta o alcance dos programas a nível nacional. No entanto, para a evolução positiva desse tipo de iniciativa, os Estados devem criar condições favoráveis para essas tecnologias e incentivar seu desenvolvimento, não somente aumentando o espectro disponível, mas também simplificando as regras para implementação de redes.

È importante observar que a educação foi incluída em vários programas de conectividade regionais durante a última década. Em geral, esses programas são relacionados a planos com foco individual, apoiados pela conectividade das escolas. Em alguns casos, essas iniciativas foram apoiadas por projetos mais ambiciosos que incluem a produção de conteúdo especifico. Também existem outros aplicativos destinados a formar parte de um ecossistema educacional.

Os projetos individualizados são dedicados principalmente a dispositivos móveis e são desenvolvidas através de tablets e smartphones. Isso representa um desafio para vários governos da região, especialmente em termos de disponibilidade massificada destes dispositivos. Segundo dados da Ovum divulgados pela 5G Americas, a América Latina avançou muito na adoção de serviços móveis, e em 2015 contou com 706 milhões de linhas móveis, das quais 377 milhões de acessos eram de banda larga (323 milhões HSPA e 54 milhões LTE).

A Ovum também prevê a mesma tendência de crescimento regional no futuro e informa que em 2020, a região deve atingir 696 milhões de acessos. As linhas móveis representam uma grande oportunidade para implementar aplicativos educacionais.

7

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

EDUCAÇÃO E TIC

O uso de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) como componente da Educação apresenta vários desafios, desde a inclusão de tecnologias para finalidades administrativas até a capacidade de oferecer ensino à distância, passando por iniciativas de ampliar a conectividade e o número de dispositivos em salas de aula.

Nesse cenário, observamos que a maioria dos países já possui alguma iniciativa relacionada à TIC e Educação. No entanto, é importante implementar planos onde os vários projetos em cada país podem convergir para garantir um aproveitamento mais eficiente.

Também são relevantes as iniciativas realizadas por Universidades, ou seja, aquelas desenvolvidas sem o envolvimento do poder executivo, onde é possível experimentar com as TIC. Nesse ambiente, a adoção de iniciativas do setor privado permite aumentar o número de alternativas que combinam novas tecnologias com a educação.

Desde o início do novo milênio, migramos de uma "sociedade industrial" para uma "sociedade da informação". Agora, os países que apoiam a criação e disseminação de conhecimento terão mais espaço para o desenvolvimento. Em outras palavras, a educação é essencial para aumentar a competitividade nacional, mesmo que seja necessário ir além do sistema formal de ensino para gerar conteúdo educacional que seja relevante durante a maior parte da vida dos cidadãos.

Assim, as TIC são a chave para reformular a educação e atender às necessidades da sociedade, seja para reduzir as desigualdades socioeconômicas ou no sistema educacional. Ou seja, as TIC podem ser o motor dos sistemas de ensino, oferecendo oportunidades de formação e aprendizagem universais, especialmente para grupos marginalizados por questões econômicas, geográficas ou por outras deficiências.

Ao contrário dos métodos tradicionais de ensino, a educação baseada em TIC é muito mais flexível e se adapta às necessidades de um grupo maior de pessoas. Ou seja, ela representa uma grande oportunidade para corrigir um déficit histórico de educação tradicional, além de criar um sistema mais igualitário para todos os níveis sociais.

8

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

De acordo com a UNESCO2, as TIC podem aumentar muito as oportunidades de aprendizagem para uma parcela maior e mais diversa da população. Elas também ajudam a eliminar barreiras culturais, geográficas e sociais, além de melhorar os processos de ensino e aprendizagem, reforçar a qualidade da educação e aprimorar a gestão institucional.

A educação é essencial para enfrentar as mudanças sociais que a revolução tecnológica desencadeou, por que essa revolução mudou radicalmente as relações humanas. Conforme dito anteriormente, acesso ao conhecimento e a capacidade de produzi-lo são fatores essenciais para países emergentes.

Além disso, essas mudanças afetam diretamente a geração mais jovem, os chamados nativos digitais, que criaram novas formas de comunicação, entretenimento e socialização, obrigando as instituições a se atualizarem e deixar para trás os paradigmas do século XIX.

Neste cenário, é importante adaptar a educação às exigências da revolução digital. Este é um passo necessário para cada país no processo de se adaptar às mudanças nos processos de produção. A convergência das TIC com a educação é fundamental para preparar o cidadão a enfrentar uma nova etapa na matriz produtiva.

Nesse ponto, ao tentar criar uma educação que atenda às exigências da sociedade de hoje é importante superar o academicismo enciclopédico. Ou seja, além de incorporar as TIC, os planos educacionais também devem ajustar sua metodologia e abordagem, tanto para os alunos quanto para os professores.

Nesse ambiente, o desafio dos órgãos estaduais responsáveis pelo desenvolvimento de políticas educacionais está ligado não só à incorporação de novas tecnologias, mas também à sua articulação coerente, além da necessidade de preparar seus professores para a adoção de novas tecnologias e a expansão do espaço de ensino.

De um modo geral, as atuais políticas públicas relacionadas às TIC e à educação pretendem reduzir as desigualdades digitais e aumentar a inclusão de diferentes camadas da sociedade. Ou seja, a adoção das TIC tem como objetivo levar os conceitos da sociedade do conhecimento ao maior número de alunos possível.

2 Em “Medição das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na Educação. Manual do usuario”. UNESCO http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001883/188309s.pdf

9

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

De acordo com a UNESCO3, para a efetiva integração das TIC com os sistemas nacionais de educação, precisamos de uma combinação apropriada de medidas operacionais e políticas. A organização enumera uma série de considerações que devem ser levadas em conta:

- Metas claras e apoio das autoridades nacionais para a utilização das TIC na educação.

- Incentivos e apoio para instituições de educação, incentivando a aquisição de recursos TIC, especialmente o financiamento de matérias, redução de impostos sobre dispositivos TIC e promoção de desenvolvimento.

- Adaptar a grade curricular à conteúdos TIC, adquirindo métodos e softwares educacionais.

- Incluir temas relacionados às TIC na formação de professores ou o uso da tecnologia aplicada em outras áreas. Criar programas de atividades e cursos para professores, auxiliando a adaptação das práticas de ensino para incluir as TIC.

- Uma legislação flexível, que permite planejar o acesso de alunos e professores às TIC.

- Criar um sistema de avaliação e projeto de monitoramento, a fim de avaliar os resultados e avanços, detectando e corrigindo deficiências.

3 Em “Medição das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na Educação. Manual do usuario”. UNESCO http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001883/188309s.pdf

10

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

QUADRO CONCEITUAL E OPERACIONAL PARA A INTEGRAÇÃO DAS TIC COM A EDUCAÇÃO

Fonte: UNESCO

É importante lembrar que esses projetos requerem grandes investimentos do governo. Isso requer controles baseados em uma metodologia comprovada que aumenta a transparência administrativa e gera indicadores confiáveis.

De qualquer forma, os planos nacionais de educação e de TIC não são a única alternativa. Existem outros canais onde as novas tecnologias estão ganhando importância na área da educação; em geral, são projetos desenvolvidos por autarquias do Estado como as Universidades, baseadas principalmente nos COMA (Cursos Online Massivos e Abertos) ou, do inglês, MOOC (Massive Open Online Courses).

11

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Esses são cursos abertos, que não requerem a conclusão das etapas escolares necessárias para acessar um curso universitário e não exigem conhecimentos prévios.

Nesse contexto, o conceito On-line se refere a acesso a cursos através da Internet, que apresenta dois aspectos importantes: em primeiro lugar, esse tipo de curso oferece horários flexíveis e, em segundo lugar, apresenta flexibilidade geográfica, ou seja, você pode acessar os cursos de qualquer lugar do mundo onde existe uma conexão com a Internet. Finalmente, esse tipo de curso é massivo por que é um curso universitário que pode atender um número limitado de alunos.

Este novo modelo de educação representa um novo paradigma. Trata-se de uma nova forma de ensino que muda radicalmente o foco inicial deste tipo de curso. Esse tipo de curso já é comum em países desenvolvidos, mas ainda precisa ser desenvolvida em mercados emergentes.

Este tipo de curso também cria a possibilidade de ensinar usando tecnologias móveis. A proliferação de redes LTE permite acessar esses cursos não apenas através de computadores domésticos, mas também em smartphones e outros dispositivos, que seria uma forma de flexibilizar acesso a esses cursos na região.

Da mesma forma, as redes de banda larga sem fio podem oferecer acesso à Internet para escolas em áreas rurais e devem fazer parte de qualquer plano que pretende oferecer acesso à Internet para as escolas.

Em outras palavras, quando os governos estabelecem planos para oferecer acesso à banda larga nas escolas, é importante ter planos específicos não somente para a Educação e as TIC, mas também para a implementação de redes de telecomunicações, criando as condições necessárias para a adoção desse tipo de tecnologia. Ou seja, é importante oferecer o espectro recomendado pela UIT para o desenvolvimento de serviços de banda larga móvel (total de 1300 MHz até 2020).

Nesse passo, a regulamentação também deve facilitar a implantação de redes sem fio. A decisão política de implementar as TICs como ferramenta educacional não deve ser limitar a um único plano macro para o setor, mas deve incluir a colaboração de vários setores do Estado para ampliar o acesso à Internet, facilitar a criação de redes e aumentar a penetração de dispositivos.

Essa abordagem é ainda mais importante quando lembramos que, de acordo com a UNESCO, "a cobertura de redes móveis robustas é quase universal (…). Isso significa

12

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

que os estudantes que talvez não tenham acesso a uma educação de alta qualidade ou nem tem acesso a uma escola, ainda podem usar seu celular”. A organização também disse que "longe de substituir os professores e salas de aula com a tecnologia (…) os telefones móveis devem ser usados para melhorar a eficácia e a eficiência"4.

EDUCAÇÃO E AS TIC NA AMÉRICA LATINA

A adoção de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como ferramentas de educação na América Latina é principalmente uma consequência de políticas públicas. Essas iniciativas fizeram parte de projetos desenvolvidos em âmbito federal, estadual ou municipal.

Em geral, esses programas frequentemente fazem parte de projetos desenvolvidos pelo setor de educação. As primeiras experiências apareceram entre o final dos anos 80 e o início dos anos 90 do século passado, com o objetivo de implementar uma infraestrutura capaz de realizar mudanças e melhorar as instituições de ensino, mais especificamente criando uma sala com um ou mais computadores.

No início do século XXI, os principais mercados da América Latina adotaram planos para aumentar a penetração da banda larga. Nessas iniciativas, o Estado era o principal ator, criando infraestrutura ou facilitando projetos do setor privado. Uma das metas desses planos era a implantação de planos de tele-educação, muitas vezes incluída de maneira explícita, de acordo com o gráfico publicado pela CEPAL5.

4 Em “Ativando a Aprendizagem Móvel: Temas Globais”. Por Mark West. Em UNESCO http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002164/216451s.pdf 5 Em “Os direitos da infância na era da Internet América Latina e as novas tecnologias”. Por María Isabel Pavez. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/37049/S1420497_es.pdf?sequence=1

13

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Este tipo de investimento era considerado essencial para iniciar a introdução das TIC como ferramenta educacional. A experiência mostrou que acesso à infraestrutura deve ser acompanhado por políticas regulamentando o uso dessa infraestrutura e sua aplicação pedagógica, sua sustentabilidade e a produção de conteúdo. Nesse cenário, os ministérios responsáveis pela implementação desses planos criaram políticas com uma abrangência além da educação, ou seja, para a utilização da tecnologia na comunidade em geral, ampliando seu raio de aplicação e aumentando o espaço de ensino.

Em outras palavras, um dos principais objetivos de incorporar as TIC na educação foi de reduzir a desigualdade digital. A escola foi o ponto de partida para a adoção de políticas com a intenção de evitar a polarização no acesso à tecnologia. Ou seja, a escola é o ponto de partida para eliminar várias das desigualdades que existem na América Latina.

Exemplos incluem o Projeto de Conectividade Educacional de Informática Básica para o Aprendizado Online (CEIBAL), do Uruguai. Iniciando em 2007, a proposta foi de dar um laptop a cada aluno do país, como parte de uma política abrangente de incorporar a tecnologia digital não somente nas escolas, mas em outras áreas também. Nesse contexto, a proposta teve objetivos sociais além dos fins educacionais.

O projeto é emblemático da inclusão das TIC na América Latina. Do ponto de vista educacional, a inclusão da tecnologia deve fazer parte de uma proposta pedagógica e, dessa maneira, a distribuição de dispositivos tinha como meta aumentar o espaço

14

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

onde a escola poderia atuar. O objetivo do plano de distribuir computadores é de oferecer oportunidades iguais para todos os alunos.

A experiência da CEIBAL foi replicada em outros países da região que optaram pelo modelo conhecido como One Laptop per Child, de acordo com o gráfico a seguir, elaborado pelo CEPAL6. O objetivo desse tipo de iniciativa é de disponibilizar dispositivos para crianças que, dessa maneira, podem se familiarizar com a tecnologia e criar novas oportunidades para sua inserção no novo sistema de produção.

Mas, apesar de criar oportunidades para as instituições de ensino de realizar trabalhos e reduzir desigualdades, mesmo fora de sua área de atuação normal, os planos baseados apenas no provisionamento de infraestrutura e serviços foram insuficientes. Por essa razão, estratégias foram adotadas para ajudar as escolas a aproveitarem mais da tecnologia no desenvolvimento de competências, especialmente nas faixas de renda mais baixas da população.

A penetração das TIC aumentou com a implementação de infraestrutura de acesso para as escolas e as possibilidades de integração entre a escola e o resto da comunidade, mas, também é importante estabelecer regras para realizar o potencial dessa situação. Em outras palavras, o simples fato de oferecer acesso à rede não

6 Em “Os direitos da infância na era da Internet América Latina e as novas tecnologias”. Por María Isabel Pavez. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/37049/S1420497_es.pdf?sequence=1

15

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

garante que esse acesso será utilizado para fins educacionais, produtivos ou para aumentar a competitividade.

Na América Latina, a Internet é usada principalmente para acessar as redes sociais, em todos os setores da sociedade7. A América Latina também usa a Internet para acessar as redes sociais mais de que qualquer outra região do mundo.

Mas, a América Latina também usa a Internet muito mais de qualquer outra região para a educação. Esses dados são positivos e devemos aproveitar do potencial das redes sociais como parte das estratégias educacionais.

Entre as iniciativas da CEPAL para reduzir as diferentes dimensões de desigualdade digital na América Latina e no Caribe, destaca-se a importância de incentivar o uso integral da tecnologia entre os estudantes8. Para a agência, as TIC devem contribuir para melhorar a competitividade no país. Além disso, para garantir que a adoção das TIC como ferramenta de ensino cria novas oportunidades, é necessário desenvolver

7 Em “Os direitos da infância na era da Internet América Latina e as novas tecnologias”. Por María Isabel Pavez. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/37049/S1420497_es.pdf?sequence=1 8 Em “Principais determinantes da integração das TIC com a educação. O caso do Plano CEIBAL do Uruguai”. Por Daniela Trucco e Andrés Espejo. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/6191/S2013304_es.pdf?sequence=1

16

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

habilidades mais funcionais e especializadas, conhecer os critérios de seleção e saber usar a grande quantidade de informações disponível na Internet.

Essa é uma tarefa do corpo docente, que deve orientar e acompanhar a aprendizagem realizada através da tecnologia. Uma dos aspectos mais importantes desse tipo de plano é a formação e preparação de professores, que devem estar aptos a aproveitar de tudo que as ferramentas têm a oferecer.

Segundo a CEPAL, é essencial não somente a alfabetização digital do corpo docente, mas também garantir que cada professor consegue usar a tecnologia de maneira inovadora durante o processo de ensino9.

De acordo com a CEPAL10, os professores devem saber como as TIC podem potencializar o conhecimento de suas matérias e ajudar o aluno. Nesse sentido, é importante manter uma formação específica para os professores, ajudando-os a entender essas novas tecnologias.

9 Em “Principais determinantes da integração das TIC com a educação. O caso do Plano CEIBAL do Uruguai”. Por Daniela Trucco e Andrés Espejo. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/6191/S2013304_es.pdf?sequence=1 10 Em “A integração das tecnologias digitais nas escolas da América Latina e do Caribe. Uma visão multidimensional”. Por Guillermo Sunkel, Daniela Trucco e Andrés Espejo. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/21681/S2013023_es.pdf?sequence=1

17

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

De acordo com a tabela acima, ainda falta muito trabalho nessa região para educar os professores no uso das TIC. É importante manter planos para formar professores em sua fase formativa, e renovar seus conhecimentos usando cursos de aperfeiçoamento. Além disso, é importante criar um coordenador em cada instituição de ensino para estabelecer um diálogo entre gestores, professores e as novas tecnologias. Este é um papel importante para aumentar o aproveitamento das TIC pelas instituições de ensino.

Um dos pontos mais importantes de qualquer estratégia de Educação e TIC é a geração de conteúdo educacional. Esse conteúdo é essencial para ajudar o professor a migrar do livro para a tela, atualizando suas práticas educacionais. Neste contexto, as pessoas responsáveis pelas políticas educacionais deveriam incluir a criação de material produzido especialmente para reprodução com essas novas tecnologias.

Entre as alternativas para disponibilizar esse tipo de material, os mais importantes são os portais educacionais. Esses portais estão apoiando educadores desde o início do século XXI, e espalharam-se por todos os principais países da região entre 2000 e 2008. Esses portais evoluíram na medida em que cada país ficou mais digital, atualizando seu conteúdo. Hoje, esses portais já estão aproveitando do conceito da Web 2.0, onde o foco é o usuário e a interatividade11.

11 Em “A integração das tecnologias digitais nas escolas da América Latina e do Caribe. Uma visão multidimensional”. Por Guillermo Sunkel, Daniela Trucco e Andrés Espejo. Em http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/21681/S2013023_es.pdf?sequence=1

18

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Estes portais têm materiais atualizados para todos os membros da comunidade educacional, embora geralmente sejam mais usados por professores como apoio para matérias temáticas em suas aulas. As políticas de educação deveriam priorizar a atualização contínua desses conteúdos, criando portais mais abrangentes que acompanham os avanços tecnológicos. Por isso, é importante que esses portais sejam dinâmicos e escaláveis.

Para implementar esse tipo de política de Educação e TIC de maneira eficaz, é essencial criar incentivos para o setor privado. Uma abordagem focada apenas no Estado raramente é suficiente para a aplicação universal dessas estratégias. Neste contexto, é importante criar políticas que viabilizem a interação de vários setores - além do setor de educação - para implementar a infraestrutura necessária, formar o corpo docente, fornecer dispositivos e gerar conteúdo.

Também é importante criar as condições necessárias para implementar a infraestrutura necessária, facilitando a instalação de redes e também disponibilizando o espectro necessário. Este último ponto é importante para garantir a cobertura da

19

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

banda larga sem fio, que hoje oferece tecnologias capazes de oferecer a maior cobertura ao menor custo possível.

Entre outros incentivos para fortalecer as políticas de inclusão digital no sistema educacional, os governos devem reduzir os obstáculos fiscais que limitam acesso aos dispositivos. É importante garantir a disponibilidade de dispositivos a preços acessíveis para reduzir a desigualdade digital, já que as redes precisam de terminais para aproveitar de sua cobertura.

A redução de impostos sobre terminais, incluindo smartphones, e políticas que facilitam o acesso ao espectro são peças importantes em qualquer estratégia de aprendizado móvel. Observamos que, na América Latina, essas políticas ainda estão em um estágio embrionário, com algumas experiências específicas desenvolvidas em pequena escala na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Paraguai.

No entanto, de acordo com um documento publicado pela UNESCO, a "aprendizagem móvel tem o potencial de atender necessidades educacionais específicas da América Latina, aumentara a alfabetização e as competências da educação básica em populações vulneráveis, além de melhorar a gestão administrativa de sistemas educacionais"12. Também observamos que as próximas políticas e programas de aprendizagem móvel devem focar nos principais problemas educacionais na região, especialmente em populações específicas de acordo com seu nível socioeconômico.

A UNESCO notou que o desenvolvimento da banda larga móvel aumentou consideravelmente as oportunidades de aprendizagem móvel e a quantidade das experiências e iniciativas de aprendizagem móvel pode crescer muito nos próximos anos. Neste sentido, os smartphones devem desempenhar um papel importante em políticas baseadas em "traga sua própria tecnologia" (BYOT).

IMPLEMENTAÇÃO DAS TIC NA EDUCAÇÃO

A América Latina apresenta vários exemplos do desenvolvimento de TIC educacionais, desde a distribuição de netbooks para estudantes, até a conectividade das escolas, distribuição de conteúdo e a criação de portais específicos. Esses exemplos podem ser observados em vários casos regionais.

12 Em “Ativando a Aprendizagem Móvel. Iniciativas ilustrativas e implicações políticas”. Por María Teresa Lugo y Sebastián Schurmann. UNESCO. Em http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002160/216080s.pdf

20

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

A seguir, o Brecha Cero apresenta uma série de exemplos que mostram os mais variados usos das TIC na educação, além de artigos que refletem as principais discussões do setor:

CHILE IMPLEMENTA TABLETS NO PRIMÁRIO

Por meio de seu programa Enlaces, o Ministério da Educação do Chile desenvolveu o projeto Tablet para Educação Primária. O objetivo é fornecer tablets para crianças do primeiro nível de transição (NT1, crianças até 4 anos), segundo nível (NT2, até 5 anos) e 1ª série em escolas municipais (6 anos). Os dispositivos devem incentivar práticas de ensino inovadoras.

A estratégia desse projeto educacional é de complementar e apoiar as experiências de aprendizagem que promovem as habilidades de raciocínio lógico-matemático. Outro objetivo é aumentar a autonomia dos alunos. Algumas das metas dessa iniciativa são de promover a inclusão e igualdade no acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC) entre as crianças, além de servir como apoio para educadores no ensino de matemática.

O uso de tablets é a primeira exposição de crianças não só às TIC, mas também ao mundo móvel. O dispositivo apresenta uma lógica intuitiva similar aos smartphones, facilitando a adaptação futura da criança. Isto é uma iniciativa que não só permite educar o aluno, mas também familiarizar o aluno com novas tecnologias, especialmente tecnologias móveis.

O projeto teve duas experiências anteriores, a primeira era um projeto pré-piloto realizado em 2012, e um projeto piloto de 2013. Este último procurou melhorar a prática de ensino, inclusive aspectos como as necessidades de coordenação das instituições de ensino até o treinamento dos responsáveis pedagógicos.

Em 2014, o projeto foi implementado nas regiões municipais IV, V, VI, VIII e IX com pelo menos um curso no primeiro nível de transição (NT1), um no segundo nível (NT2) e um curso de educação básica do primeiro ano, onde cada curso deveria contar com pelo menos 27 alunos. As instituições também precisavam oferecer um professor e um técnico para acompanhar as crianças menores.

O desafio para os próximos anos será de fornecer conectividade para o programa e aumentar a familiaridade das crianças com as TIC, especialmente com a Internet. Neste contexto, é importante notar que o Chile é um mercado com forte

21

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

desenvolvimento de tecnologias de acesso, onde os quatro operadores móveis do mercado dispõem de redes LTE.

Ao implementar o uso de tablets com crianças, cada professor recebe diretrizes específicas de ensino. Para crianças menores, a proposta é implementar um sistema rotativo usando estações de trabalho onde os estudantes interagem com materiais educacionais e tablets. A estratégia sugerida é focada na resolução de problemas e leva em conta os diferentes ritmos de aprendizagem, assim como conhecimentos prévios.

Nessa situação, os tablets são equipados com aplicativos especialmente selecionados para os trabalhos realizados durante o projeto. Além disso, cada instituição participante no projeto recebe 27 tablets, 9 para cada um dos níveis envolvidos, e dispositivos de recarga e armazenamento.

O ensino da matemática é baseado em uma proposta do Ministério da Educação para promover o desenvolvimento de propostas pedagógicas didáticas que fortalecem a educação pública. Além disso, o curso pretende promover o desenvolvimento do raciocínio matemático e a construção e significado de conhecimentos.

A iniciativa do governo chileno aborda uma questão importante: o foco em crianças no primário. Assim, a adoção das TIC na fase inicial da educação prepara o aluno para o futuro. Lembramos também que essas experiências são realizadas com nativos digitais, ou seja, o processo de adoção dessas novas ferramentas é mais tranquilo.

Outro aspecto importante é a inclusão de profissionais para auxiliar o professor com as tarefas realizadas em tablets. Vale ressaltar que um dos principais desafios deste tipo de plano é a adaptação do professor às novas tecnologias. Para lidar com isso, o plano inclui orientação educacional e pessoal destinado exclusivamente a apoiar o professor.

A possibilidade de conectar crianças e professores em diferentes instituições, criando ambientes de colaboração que avançam o ensino, é uma das oportunidades que o programa poderia incorporar no futuro. Isso abriria espaço para inúmeras atividades conjuntas, criando maiores vantagens educacionais. Além disso, a inclusão de tecnologias sem fio permite atualizar os materiais de forma mais dinâmica.

Em seu segundo ano, o objetivo do projeto Enlaces é de introduzir as crianças às TIC. Embora a proposta seja interessante do ponto de vista educacional, a inclusão de

22

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

acesso à Internet aumentaria a possibilidade de interação entre escolas diferentes. Isso iria melhorar a experiência dos alunos, aprofundando suas interações com novas tecnologias.

EQUADOR DIVULGA INFORMAÇÕES ESCOLARES POR MEIO DO PORTAL EDUCAR

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) podem ter aplicações distintas dentro do mesmo ambiente educacional, desde ceder dispositivos a alunos e professores, até promover a conectividade entre escolas, implementar cursos online e desenvolver conteúdo.

As TIC podem ajudar a educação, facilitando o intercâmbio de informações dentro da comunidade pedagógica. A interatividade entre diretores, professores, alunos e pais pode ser uma ferramenta muito poderosa para melhorar os resultados de políticas educacionais. Desta forma, os gestores podem rapidamente anunciar suas intenções educacionais, os professores teriam uma comunicação mais integrada, os alunos podem rever as suas tarefas e avaliações e os pais podem acessar informações para controlar o que fazem seus filhos na escola.

O portal Educar Equador tem como objetivo fortalecer o desempenho do corpo docente dentro das instituições educacionais. Em sua primeira etapa, o portal pretende capacitar e sensibilizar os professores que trabalham com uma carga horária completa. Os professores receberam um netbook, um modem de Internet sem fio com 1 Gb mensais, um mouse, cadeado de segurança e uma mochila para seus documentos, avaliações, etc.

A inclusão de tecnologias de acesso à Internet sem fio é uma oportunidade interessante, por que o professor consegue se manter conectado fora da instituição onde ministra suas aulas. Essa flexibilidade também funciona como incentivo para manter contato com o resto da comunidade educacional fora do horário escolar, reforçando seu vínculo com alunos e pais.

O plano inclui uma segunda etapa, criando um ambiente social na plataforma onde será possível interagir com estudantes e, depois, com seus representantes legais ou famílias. A plataforma deve alcançar toda a comunidade educacional de cada uma das escolas, facilitando o acesso aos históricos de ensino de cada aluno.

23

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Através destas ferramentas, o portal pretende facilitar a fiscalização e controle da gestão educacional. Esse tipo de portal apoia a melhoria contínua da qualidade educacional, criando registros escolares de simples acesso e permitindo o monitoramento periódico do progresso do aluno. O portal também aumenta as competências dos professores e estimula o aprendizado ativado pelas TIC.

Para levar o projeto adiante, o Ministério da Educação do Equador está registrando unidades educacionais a nível nacional e distribuindo credenciais de login a cada membro da comunidade educacional. Este processo é gradual: primeiro, serão incluídos os gestores, depois os, professores, os estudantes e, finalmente, o resto da comunidade.

Através do portal, o professor pode registrar as notas, a frequência, o comportamento e as tarefas dos alunos. Além disso, os educadores terão acesso a ferramentas tecnológicas como salas de bate-papo, blogs, avaliações online, registro de currículos e atividades científicas, criando opções adicionais para a preparação de aulas. Essa iniciativa é acompanhada por um processo permanente de aumentar os recursos pedagógicos e tecnológicos disponíveis em sala de aula.

Para as autoridades escolares, o projeto oferece a oportunidade de gerar documentos institucionais de planejamento educacional. Entre outras tarefas, é possível registrar a distribuição de professores e suas cargas horárias, rever boletins gerais, criar o calendário escolar e enviar comunicados aos professores, estudantes e famílias. Essa etapa do programa também tem como meta a redução gradual do consumo de papel pela administração escolar e, em paralelo, garantir acesso mais rápido às informações.

Por outro lado, o aluno pode verificar suas tarefas e avaliações através da plataforma, além de interagirem com colegas, baixar materiais de aula e visualizar as tarefas de cada disciplina. Além disso, os pais ou responsáveis podem participar da comunidade educacional, consultando relatórios de avaliação, e receber informativos escolares e solicitar consultas com professores.

Uma das maneiras de aumentar o alcance dessas iniciativas é usando aplicativos para dispositivos móveis, especialmente smartphones. Dessa forma, você pode chegar a uma parcela maior da população e, de acordo com a Agência de Regulação e Controle das Telecomunicações (ARCOTEL), o mercado contava com 14 milhões de linhas móveis em março de 2016, representando uma penetração de 86.8%. Desse total,

24

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

cerca de 6.4 milhões também podem acessar serviços de Internet móvel. Isso confirma que os serviços de telefonia móvel são uma alternativa importante para penetração no mercado.

De qualquer forma, o portal não deixa de ser um avanço importante para a democratização da informação educacional. O portal é um canal adicional para acessar e compartilhar informações dentro da comunidade escolar, ajudando a estreitar os laços e diálogos entre diferentes agentes. Além de aumentar a transparência dos conteúdos, a plataforma deve melhorar a qualidade do ensino e facilitar o controle não só pelo corpo docente, mas também pela família do aluno.

EL SALVADOR OPTA PELA MODALIDADE UM A UM NA EDUCAÇÃO E NAS TICS

Os vários programas para inclusão as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na América Latina também apresentam diferentes abordagens, desde a distribuição de notebooks para alunos até abordagens mais complexas, que incluem a conectividade e conteúdos exclusivos.

O programa adotado em El Salvador chama-se "Um Filho, Uma Filha, Um Computador". O governo federal assumiu o compromisso de garantir que todas as crianças e jovens de escolas públicas, em zonas rurais e urbanas, teriam acesso à ciência e tecnologia. O objetivo é igualar o acesso em áreas rurais e urbanas e eliminar desigualdades, independente de onde o aluno mora ou estuda.

O programa é uma das prioridades estratégicas do “Plano de Desenvolvimento Quinquenal 2014-2019: El Salvador produtivo, educado e seguro". Uma das prioridades do plano é de garantir uma educação com inclusão social e sem desigualdades.

Desta maneira, procura-se reduzir as desigualdades digitais e promover a igualdade de oportunidades no acesso a e no uso intensivo e criativo das TIC. Nesse contexto, o primeiro passo é a distribuição de dispositivos de informática a cada uma das crianças da rede pública de ensino. O plano também inclui a distribuição de dispositivos para professores.

Além de reduzir a desigualdade digital, o programa também é um canal para melhorar a qualidade da educação de estudantes da rede pública, e proporcionar

25

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

ambientes de aprendizagem onde é possível desenvolver habilidades ligadas às TIC e criar mais oportunidades de trabalho.

Um ponto chave do programa é a ênfase no treinamento dos docentes, equipando os professores com uma ferramenta que permite inovar em suas práticas pedagógicas. O treinamento para professores é um ponto importante do programa, já que experiências internacionais mostram que o treinamento das pessoas responsáveis pela educação é fundamental para o êxito do programa.

O dispositivo entregue aos alunos foi batizado de Lempitas. Os dispositivos foram entregues ao Ministério da Educação de El Salvador (MINED) pela fundação ALBA no mês de outubro, 2013. Nessa fase, o governo recebeu 4,194 computadores portáteis que foram utilizados para realizar a Fase I, beneficiando 133 centros educacionais, ou seja, um total de 72,497 estudantes e 2,439 professores.

A Fase II do plano foi realizada no primeiro trimestre de 2015. Na época, a Fundação ALBA fez uma segunda doação de 6,500 computadores. Essa doação serviu para levar adiante o Programa Presidencial Um Filho, Uma Filha, Um Computador, que tem como meta distribuir um total de 50,000 dispositivos em 2015 e beneficiar 84,398 estudantes e 2,738 professores em 571 escolas.

A iniciativa também inclui outros projetos, alguns que contam com a participação do Governo da República da China. Um dos projetos tinha duas fases, a primeira chamada "Diminuindo a Desigualdade do Conhecimento (CBC-Trifinio)", que beneficiou as escolas dos municípios de Metapán, Santa Rosa Guachuipilín, Agua Caliente, La Palma, Citalá y San Ignacio, e foi realizada entre Outubro de 2011 e Dezembro de 2013. A segunda fase, "Diminuindo a Desigualdade do Conhecimento (CBC - San Miguel/Ahuachaoán) foi realizada entre Julho de 2012 e Dezembro de 2014. A terceira fase, em 2016, deve incluir os departamentos de Cabañas, Cuscatlán, La Unión e Cabañas, onde serão distribuídos computadores, kits de robótica, projetores, UPS, acessórios elétricos e móveis.

Até maio de 2016, o programa para distribuir um computador portátil a cada criança em El Salvador contou com 20,974 equipamentos entregues. Esses equipamentos foram distribuídos para 781 estabelecimentos de ensino, dos quais 476 eram em áreas rurais e 305 em áreas urbanas. Estas escolas representam 391,744 alunos matriculados e 33,158 docentes. De acordo com os dados do programa, até maio de 2016, 7,476 professores de 800 centros educacionais diferentes foram treinados.

26

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Do ponto de vista da conectividade, cada escola pública deve contar com uma conexão à Internet para fins educacionais, contratado de um provedor local. Para isso, o MINED terá o apoio da Superintendência Geral de Eletricidade e Telecomunicações (SIGET), para projetar, instalar e operar uma rede de telecomunicações que permita ligar todas as escolas públicas a um centro de gestão de redes, onde os servidores de acesso ao conteúdo educacional e softwares estarão localizados.

A banda larga sem fio representa uma oportunidade para esse tipo de programa focado em zonas rurais, especialmente através da LTE que, de acordo com as bandas de frequência utilizadas, oferece um alto nível de cobertura a um custo menor. Nesse sentido, a colaboração do Estado é fundamental para facilitar a licitação das faixas de espectro necessárias para a implantação da banda larga sem fio. Neste tipo de iniciativa, é importante garantir a coordenação entre o setor público e privado, facilitando a instalação de redes que fornecem conectividade para diversos fins, incluindo a educação.

Na modalidade um por um, as iniciativas de inclusão das TIC representam uma grande oportunidade para reduzir a desigualdade digital, mas é muito importante não se limitar simplesmente à distribuição de notebooks. A iniciativa de El Salvador também deve incluir treinamento para professores e períodos de avaliação. Ao mesmo tempo, a conectividade das escolas pode multiplicar os efeitos do programa, oferecendo acesso á Internet para um número muito maior de jovens e é aqui que a banda larga sem fio pode desempenhar um papel fundamental.

PLANO TELESECUNDARIA DA GUATEMALA E A NECESSIDADE DO PRÓXIMO PASSO

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) são ferramentas de desenvolvimento que podem suprir várias necessidades no ambiente educacional. Por esta razão, vários países da América Latina e do Caribe passaram anos implementando essas tecnologias. No caso da Guatemala, o plano Telesecundaria começou em 2003, após 5 anos de testes. No entanto, os avanços tecnológicos devem aumentar a eficiência do plano no futuro.

A Telesecundaria foi implementada pelo Ministério da Educação da Guatemala para educar jovens do ensino médio e jovens que vivem em comunidades onde não

27

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

existem instituições de ensino médio, ou não existe cobertura adequada do sistema educacional. O programa tem um único professor que é responsável pelo processo de ensino em todos os cursos, com o apoio de mídia audiovisual.

A ideia inicial do programa surgiu de um acordo para educação a distância celebrado pelo Ministério da Educação Pública do México e o Ministério da Educação da Guatemala, em 1996. O programa foi criado através do Acordo Ministerial No. 39-98 de março, 1998, e contou com uma fase-piloto de 5 anos. O modelo foi consolidado em dezembro de 2003 com a criação dos Institutos Nacionais de Educação Básica Telesecundária. Em 2014, 3,200 professores e mais de 1,646 escolas em toda a Guatemala participavam do projeto.

Um dos principais objetivos do programa é de atender a demanda para o Ensino Básico em áreas rurais onde, por questões geográficas e econômicas, não existem instituições regulares ou técnicas. Por outro lado, o programa também foi concebido para equipar professores e estudantes com recursos educacionais modernos e desenvolver um processo de interatividade múltipla, com treinamentos e assistência técnica, e sistemas de fiscalização e monitoramento.

Para fazer parte do programa, a escola deve ser localizada a uma distância de pelo menos 5 km de outra instituição de ensino e ter uma população estudantil de pelo menos 25 estudantes. Os estudantes que se encaixam no perfil devem provar que completaram o ensino básico e tenham pelo menos 12 anos de idade. Além disso, a comunidade deve contar com uma escola primária que ofereça todos os níveis completos.

O projeto conta com uma metodologia específica com uma série de atividades sequenciais realizadas em sessões de 50 minutos. Estas atividades são coordenadas por um professor encarregado de executar as propostas de trabalho para cada um dos materiais de apoio. Este material inclui uma enciclopédia, um guia de estudos e material audiovisual.

Ao ser implementado, o plano Telesecundaria tinha características inovadoras, aproveitando das opções tecnológicas disponíveis na época em que foi lançado. Métodos audiovisuais funcionaram como material de apoio, permitindo que um único professor fosse capaz de administrar várias matérias e orientar os alunos, e o plano aumentou o número de jovens cursando o ensino médio.

28

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

No entanto, o avanço das TIC já trouxe outros benefícios para os educadores e os alunos. A evolução tecnológica não só permite o uso de vídeo como ferramenta de ensino, mas também para interação remota entre alunos e professores. Esta alternativa é muito importante para enriquecer o conteúdo usado pelos alunos.

Nesse contexto, as tecnologias de acesso a banda larga sem fio representam uma grande oportunidade para a transmissão de vídeos em zonas rurais, que são isoladas dos grandes centros urbanos. De acordo com dados publicados pela 5G Americas, em dezembro de 2015, o mercado de Guatemala contava com duas redes LTE ativas. Por meio de diferentes serviços móveis, é possível oferecer acesso simultâneo a vários estudantes.

Com essa tecnologia, um só professor pode ensinar várias salas de aula simultaneamente. Esse tipo de sistema, uma das plataformas de maior sucesso em termos de tele-educação, é de grande importância para alcançar faixas específicas da população onde não existe um grande número de professores habilitados.

A implementação desse sistema requer um trabalho conjunto dos setores público e privado para oferecer acesso banda larga sem fio em áreas privadas. Para aproveitar das redes que já existem no mercado, é importante que o Estado faça o esforço necessário para fornecer terminais adequados às instituições de ensino.

Dessa maneira, é muito importante criar uma figura capaz de administrar a implementação técnica ao lado da implementação educacional. Em outras palavras, essa seria uma pessoa responsável pela resolução de todos os problemas que os professores podem enfrentar ao utilizar essas tecnologias, e pela coordenação do trabalho cotidiano. Não devemos esquecer a criação de conteúdo, adaptado não só para o currículo de cada um dos níveis escolares, mas também para criar oportunidades de interatividade.

Concluindo, o projeto Telesecundaria da Guatemala pode continuar sendo uma experiência interessante e se transformar em uma nova experiência com o surgimento de novas tecnologias. Com a incorporação dessas novas tecnologias, será possível desenvolver a educação e preparar o aluno para os desafios do futuro.

29

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

ESCOLAS DO MÉXICO DEVEM MELHORAR O DESEMPENHO DAS TIC, SEGUNDO OCDE

A implementação de tecnologias da informação (TIC) nas escolas do México não foi suficiente para melhorar os parâmetros educacionais. Essa foi a conclusão de um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), analisando dados do relatório PISA de 2012 de diversos países do mundo inteiro.

O relatório de Estudantes, Computadores e Aprendizagem mostra que o investimento em novas tecnologias educacionais nem sempre é refletido pelos resultados de testes realizados durante a última década. O relatório sugere que, além da tecnologia, é importante ter uma base sólida de educação tradicional.

O relatório também revela que 96% dos estudantes de 15 anos dos países OCDE tem um computador em casa, mas apenas 72% disseram que usem o computador – incluindo portáteis, como notebooks ou tablets - na escola. Nesse sentido, a organização explicou que ainda há muito a ser feito para utilizar as TIC de maneira mais eficaz como ferramenta educacional.

De qualquer modo, o estudo alega que escolas equipadas com dispositivos eletrônicos e conexão com a Internet fizeram uma diferença positiva, ainda que não muito significativa, nos resultados das provas do PISA. Nesse ponto de vista, dentro da América Latina, as tecnologias sem fio poderiam representar uma grande diferencial, aumentando a conectividade em instituições educacional, principalmente em zonas rurais e remotas.

No caso do México, apenas 58% dos alunos possuíam um computador em casa até o final de 2012, colocando o país entre os piores dentro do âmbito da OCDE. Mesmo assim, esse número é muito maior que os 9% divulgado no relatório anterior, de 2009. Entre os estudantes favorecidos (aqueles entre os top 25% em termos de nível socioeconômico), 86% teriam uma conexão com a Internet em casa. Os estudantes favorecidos passam mais de duas horas por dia na Internet, número similar a seus pares em outros países OCDE.

O relatório mostra que aproximadamente 61% dos alunos mexicanos usam computadores na escola. Além disso, mais da metade (53%) dos estudantes carentes no México tinha acesso a computadores na escola, mas não em casa; e entre todos os

30

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

estudantes do México, aproximadamente um em cada três (30,4%) somente tinha acesso à Internet na escola.

O relatório da OCDE revela uma informação interessante, que, em termos de uso de computadores no ensino médio, o México apresenta uma média superiora outros países da OCDE. O relatório também mostra que os estudantes que dizem usar computadores com frequência durante suas aulas de matemática tiveram notas menores, em média, durante as avaliações de matemática aplicadas pela PISA, comparados com os alunos que não utilizam computadores nessa matéria.

A diferença aumenta em áreas rurais, onde apenas um terço (32%) dos estudantes no México tinham acesso à Internet. Enquanto mais de 90% das escolas estão localizadas em áreas urbanas, os outros 10% encontram-se em condições desfavoráveis que pode ser prejudicial no futuro. As condições nas zonas rurais são um sinal de alerta, por que aproximadamente 15% dos estudantes mexicanos com 15 anos frequentam escolas rurais e apenas 11% delas tinham acesso à Internet em casa até 2012. Assim, as tecnologias de banda larga móvel seriam uma alternativa viável para a inclusão destes alunos.

O relatório destaca a importância de oferecer treinamento aos professores e prepará-los para integrar a tecnologia com o ensino. Por esse motivo, é importante implementar um plano de estudo de habilidades digitais e competências pedagógicas na formação de professores; além de contar com professores predispostos e melhor preparados para práticas como o trabalho em grupo, aprendizado individual e trabalho por projeto, que são as práticas que mais oferecem oportunidades de utilizar recursos digitais.

Finalmente, refletindo a maioria dos países, as diferenças entre os estudantes favorecidos e desfavorecidos em termos de acesso a computadores e à Internet em casa diminuíram entre 2009 e 2012. No entanto, quando examinamos como os estudantes usam seu tempo online, as diferenças socioeconômicas tradicionais persistem: em todos os países, é muito mais provável que os alunos favorecidos passarão seu tempo lendo notícias ou obtendo informações uteis.

31

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

ESTUDANTES BRASILEIROS PREFEREM DISPOSITIVOS MÓVEIS AO ACESSAREM A INTERNET

A pesquisa Educação TIC é realizada no Brasil desde 2010 e busca avaliar a infraestrutura das tecnologias da informação e comunicação (TIC) em escolas públicas e privadas de áreas urbanas, e aplicar essas avaliações nos processos educacionais. A pesquisa está alinhada com a metodologia proposta nas recomendações de InfoDev do Banco Mundial e o estudo Sites 2006 (Second Information Technology in Education Study), da Associação Internacional de Avaliação do Progresso Educacional (IEEA). A pesquisa também recebeu o patrocínio institucional do Ministério da Educação, da UNESCO, do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e especialistas ligados a organizações não governamentais e aos principais centros acadêmicos.

De acordo com dados da pesquisa TIC Educação 2014, 87% dos estudantes no Brasil estudam em escolas públicas urbanas. Deste total, 79% tem acesso a telefones móveis, ainda que apenas 41% usam a rede escolar, apesar do principal meio de acesso ser sua própria casa.

O estudo caracteriza um internauta como uma pessoa que acessa a Internet pelo menos três vezes por semana. A pesquisa coletou dados de 930 escolas entre setembro de 2014 e março de 2015. Foram entrevistados 930 gestores, 881 coordenadores pedagógicos, 1,770 professores e 9,532 alunos.

Em termos de acesso à Internet por dispositivos móveis no Brasil, em outubro de 2015 o mercado tinha 273,79 milhões de linhas, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). Desse total, cerca de 165,2 milhões eram dispositivos de banda larga móvel de terceira geração e 20,4 milhões de LTE. Em outras palavras, mais da metade das linhas de telefonia móvel no mercado brasileiro podem acessar a banda larga móvel.

Além disso, as TIC Educação 2014 destaca que o Brasil tem professores que gostariam de usar recursos digitais em suas aulas e usar a Internet para fins educacionais, embora nem sempre a infraestrutura e treinamento necessários. Para 30% dos professores de escolas públicas, o principal local para usar as TIC é dentro da sala de aula para realizar atividades com os alunos.

A pesquisa também revela que 93% das escolas (92% de escolas públicas e 97% de escolas privadas) em áreas urbanas tem acesso a Internet. Em termos de equipamentos em escolas, a proporção de instituições com computadores móveis

32

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

também está crescendo, ou seja, 79% das escolas púbicas possuíam equipamentos de informática em 2014 contra 73% em 2013.

Ao mesmo tempo, uma das principais barreiras é a velocidade de conexão nas escolas. Em 2014, 41% das escolas públicas que tinham uma conexão à Internet contavam com uma conexão de até 2 Mbps e em 2013, elas representavam 50% de todas as instituições. Este índice é mais positivo em escolas particulares, onde 81% das conexões são acima de 2 Mbps.

A maioria dos professores de escolas públicas disse que eles mesmos aprenderam a usar computadores e a Internet (67%), enquanto 57% disseram que em algum momento fizeram um curso de formação específico em TIC. Entre aqueles que realizaram os cursos, 74% foram cursos pagos e 29% aproveitaram de treinamentos gratuitos realizados pelo Ministério da Educação - a porcentagem dos professores que fizeram cursos de ambos os tipos não foi divulgada.

Outro destaque da pesquisa é o crescimento de dispositivos móveis com acesso à internet entre professores. Conhecido como BYOD (do inglês, bring your own device), este fenômeno se espalhou entre os professores da rede pública, onde 64% utilizam seu próprio dispositivo móvel para acessar a Internet, comparado com 36% em 2013.

Além disso, os resultados mostram que muitos professores usam recursos educacionais digitais para preparar aulas ou atividades com os alunos. De acordo com o estudo, esse índice revela um interesse crescente na utilização das TIC, com 82% dos professores da rede pública produzindo conteúdo para suas aulas usando novas tecnologias. Enquanto isso, 28% de professores da rede pública usam a Internet para publicar ou compartilhar seu próprio conteúdo com alunos: um aumento de sete pontos percentuais em relação à edição de 2013.

A pesquisa Educação TIC 2014 mostra o acesso a e uso das TIC entre professores e alunos de escolas públicas e privadas do ensino médio e básico no Brasil. É importante ressaltar que as pesquisas TIC, realizadas pela Cetic.br, são acompanhadas por um grupo de especialistas, cuja contribuição durante as fases de planejamento e análise oferece maior legitimidade ao processo e mais transparência.

O relatório Educação TIC é realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação Ponto BR (NIC.br).

33

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

NICARÁGUA CONTA COM PRIMEIRO CENTRO DE SOFTWARE GRATUITO

A Nicarágua tem um novo centro de software gratuito para a criação de aplicativos educacionais e trabalhar na melhoria contínua dos processos de aprendizagem do Programa Educacional "Um Computador Por Criança". A iniciativa é dirigida pela FUNDECYT-PCTEX, a Agência de Extremadura para a Cooperação Internacional (AEXCID) e a Fundação Zamora Terán.

O projeto foi implementado para transferir recursos educacionais desenvolvidos em Extremadura, e formar professores. Este último ponto é muito importante para a tele-educação, uma vez que, conforme explicado nesse artigo, um dos pontos que precisam de mais atenção é a coordenação e apoio para os professores.

No entanto, a iniciativa não está focada em simplesmente replicar as melhores práticas internacionais do mercado, mas também em desenvolver outros projetos tecnológicos inovadores que atendam às necessidades educacionais da Nicarágua, especificamente o desenvolvimento de software educacional e melhoria e inovação baseadas em softwares gratuitos. Esse tipo de implementação é importante para adaptar as tecnologias de informação e comunicação a questões educacionais e culturais específicas da Nicarágua.

Este tipo de programa já foi implementado em 20 países ao redor do mundo. Os aplicativos desenvolvidos na Nicarágua devem beneficiar 224.000 pessoas, entre crianças, famílias, professores e diretores de escolas.

SOLUÇÕES PARA A DESIGUALDADE DIGITAL E GERACIONAL NA EDUCAÇÃO

Uma das discussões que sobressaem em um ambiente educacional no momento de implementar tecnologias da informação e comunicação (TIC) diz respeito à adaptação das instituições de ensino e educação para uma geração que cresceu com a tecnologia. Esta foi a questão em pauta durante a Primeira Jornada de Educação Digital "Ensinando Nativos Digitais".

O encontro foi realizado na Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA), em Buenos Aires, com discussões sobre os desafios educacionais de uma nova geração de estudantes. Hoje, nativos digitais são a maioria em todos os níveis de ensino, e isso alterou a conduta de alunos e professores ao abordar diferentes interesses,

34

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

capacidades multitarefa e sensibilidades diferentes, que exigem novos paradigmas educacionais.

Embora a diferença entre gerações seja uma questão importante para todas as camadas da sociedade, áreas vulneráveis apresentaram mais preocupação em ter uma conexão confiável e segura. Assim, a desigualdade tecnológica em termos de conectividade ainda é um obstáculo, principalmente em áreas distantes dos grandes centros urbanos. Mesmo dentro das cidades, as favelas sofrem dificuldades para conseguirem conexões. Nesse contexto, a LTE é como uma alternativa para reduzir a desigualdade de conectividade em áreas rurais e vulneráveis. Alguns espectros de frequência, como a faixa de 700 MHz, permitem cobrir grandes áreas, beneficiando áreas distantes dos centros urbanos.

O problema não é apenas uma consideração para os níveis socioeconômicos mais altos, onde o uso de smartphones é uma questão a ser considerada pelos professores, mas também entre os segmentos de menor poder aquisitivo, em que a tecnologia cria desigualdades entre alunos e professores. Essa questão foi o tema principal do painel "Desafios da educação na era digital", onde o moderador Dr. Jorge Ratto, Secretário da Academia Nacional de Educação, destacou a necessidade de redefinir o papel do professor e do aluno e propor um novo conceito de pedagogia. Ele também enfatizou a necessidade de promover a alfabetização e a cultura digital.

Nesta pauta, Dario Pulfer, diretor da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) na Argentina, salientou a necessidade de propor uma educação que mantém a alfabetização original e incorpora a digitalização e o ensino audiovisual. Ele ressaltou que isso não colocaria dois mundos diferentes frente a frente, mas seria uma forma de encontrar sua coexistência. Ele também observou que a escola tem como objetivo integrar novas realidades e não se opor a elas.

Coincidentemente, Gabriela Azar, diretora de Educação do UCA, disse que a realidade dos alunos mudou e a educação não se adaptou aos novos tempos. Também enfatizou que é fundamental que estas mudanças sejam refletidas pela escola, que faz parte de sua missão institucional. No entanto, ela ressaltou que na Argentina, a existência de uma lei que apoie legalmente a digitalização da educação é um marco positivo. Considera-se uma vantagem para o futuro contar com um quadro jurídico favorável.

35

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

Essas considerações sobre a inclusão digital estavam focadas em experiências de áreas urbanas e, principalmente, com alunos de classe média ou alta. Em contrapartida, Guillermo Buitrago, presidente do Conselho Arquidiocesano de Educação Católica (JAEC), apresentou uma experiência realizada em Córdoba (província mediterrânea da Argentina) durante o ano de 2009 envolvendo setores vulneráveis

Ele descreveu a situação das instituições educacionais, onde existia apenas 1 computador - do fim do século passado - para cada 4 alunos. Além disso, ele explicou que os processos de educação digital estavam descontextualizados, e quem era responsável pelas TIC não era um professor.

Buitrago explicou o processo que implementou, que foi o primeiro passo para a digitalização das escolas. Ele explicou que o trabalho inicial era de reforçar o tema e as necessidades em conversas com as equipes de administração educacional, onde fez uma proposta de adaptação, mostrando várias experiências aplicadas em todo o país. Nesse sentido, ele explicou que os administradores devem ser investidos nos projetos para conseguir avanços nessa área.

Outra recomendação foi a criação de escalas. Ele explicou a importância do trabalho integrado de instituições diferentes para realizar compras conjuntas e reduzir o custo final dos equipamentos. O próximo passo foi a criação de uma plataforma educacional própria, que deve ser rápida e oferecer várias opções.

Buitrago também observou que esse tipo de projeto requer uma pessoa para assumir a função de coordenador digital de cada instituição. Sua principal responsabilidade seria de coordenar os docentes e administradores e obter o treinamento necessário para replicar esse treinamento entre os professores e alunos.

O papel do coordenador digital foi debatido por Buitrago e os outros participantes, concluindo que esse seria um posto de grande importância para manter o relacionamento entre os administradores da instituição e os professores. Ele também ressaltou a importância do coordenador na superação das várias dificuldades cotidianas que os professores enfrentariam com os alunos. Por último, ele destacou a necessidade de contar com uma conexão segura e confiável para criar a melhor experiência possível para os alunos em relação às TIC.

36

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

A conectividade foi colocada como um dos principais obstáculos para as experiências em zonas urbanas de poder aquisitivo alto e médio e em zonas mais carentes. Neste contexto, os participantes concluíram que as dificuldades de reduzir as desigualdades humanas podem ser resultado da relutância dos professores, administradores ou dos próprios alunos, mas o tema da conectividade apareceu com uma maior ênfase nas zonas vulneráveis.

Como se pode observar, existem desigualdades mais complicadas de remediar que outras. A melhor solução para a desigualdade cultural entre gerações nativas e migrantes digitais é o tempo e a mudança de hábitos desses últimos. No entanto, outras desigualdades como a conectividade podem ter soluções mais rápidas com a adoção de tecnologias já disponíveis no mercado.

OLHANDO PARA O FUTURO…

Todos os países da América Latina estão implementando iniciativas para a convergência das TIC com a educação. Essas iniciativas envolvem diferentes níveis e setores da comunidade educacional. Em termos gerais, esses projetos incluem a construção de infraestrutura, a criação de políticas para cada aluno e, em menor extensão, a criação de conteúdo educacional.

O cenário inicial nessa região mostra sinais positivos para o futuro, não somente em função do conjunto de propostas para o setor educacional, mas também por que os próprios Estados incluíram a tele-educação como parte de seus planos nacionais de conectividade. Muito trabalho também está sendo realizado para preparar os docentes para essas novas tecnologias, embora os resultados variam muito de um país para outro.

A participação do setor privado é importante para manter os serviços e criar conteúdos que atendem a esse tipo de iniciativa. Esses fatores são ainda mais importantes por que, em termos gerais, os Estados estão focados na conectividade e a disponibilidade de dispositivos, deixando espaço para o desenvolvimento de aplicativos e conteúdo. Esse setor também desempenha um papel importante nos serviços de conectividade. Mesmo assim, o êxito depende de uma maior colaboração entre o setor educacional e o setor de TIC com a implementação de políticas em comum.

37

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

A criação de políticas para a inclusão das TIC como parte da educação deve considerar a realidade do setor de telecomunicações. Nesse sentido, é importante criar incentivos para melhorar a conectividade, principalmente facilitando acesso ao espectro de radiofrequências onde as tecnologias de banda larga móvel podem ser utilizadas para ampliar a cobertura de maneira mais rápida e eficiente. Desse ponto de vista, acesso mais fácil a espectro seria uma estratégia para melhorar a qualidade da banda larga móvel.

Do outro lado, as autoridades devem levar em conta as tendências recentes de BYOD e seu potencial de realizar esse tipo de plano, com políticas que apoiam a comercialização de novos dispositivos, como smartphones. A inclusão de dispositivos é um fator central para o sucesso de qualquer projeto que pretende reduzir a desigualdade digital.

Um alto nível de penetração desse tipo de terminal, ao lado de um mercado crescente de banda larga móvel, seriam um forte incentivo para o desenvolvimento de aplicativos focados em educação. Isso iria apoiar não somente o conteúdo educacional, mas também outros setores relacionados, aumentando a geração de renda no país e o nível de emprego.

Em outras palavras, além dos planos de tele-educação, os estados também precisam incentivar o setor privado a participar das iniciativas de tele-educação. Nesse sentido, é importante dar um salto de qualidade não somente em termos de conectividade, mas também na criação de aplicativos e conteúdo para o setor.

Em suma, os planos dos governos da América Latina para combinar as TIC e a educação representam uma oportunidade de crescimento para o setor. Os governos devem ser dispostos a aceitar o apoio e investimento do setor privado, criando condições para a implementação de redes e serviços de telecomunicações, especialmente redes sem fio, para sustentar o crescimento desses programas.

38

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016

EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE

O conteúdo deste documento reflete a pesquisa, análise e conclusões da 5G Americas e podem não representar as opiniões e/ou pontos de vista individuais particulares das empresas membro do grupo 5G Americas.

A 5G Americas proporciona este documento, assim como toda a informação contida nele, para propósitos meramente informativos, a ser usado sob seu próprio risco. A 5G Americas não assume responsabilidade por erros ou omissões deste documento. O documento atual está sujeito à revisão ou término a qualquer momento, sem aviso prévio.

A 5G Americas não oferece qualquer representação ou garantia (expressa ou implícita) em relação ao presente documento. Por meio deste, a 5G Americas não se responsabiliza por qualquer alteração ou modificação neste documento que represente um dano direto, indireto, punitivo, especial, incidental, consequente ou exemplar que pode ocorrer em função do uso deste documento ou a informação nele contido.

© Copyright 2016 5G Americas

39

5G Americas Série de Estudos TIC para o Desenvolvimento: Tele-educação na América Latina novembro de 2016