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ABORDAGEM SISTÊMICA - O Exemplo da Terapia Comunitária Mauro Elias Mendonça Enquanto o saber das medicinas tradicionais e populares possui vários milênios de história, tendo sua raiz na cultura, a medicina científica flexneriana dominante na atualidade é uma jovem secular. A perspectiva dos determinantes do processo saúde-doença, neste modelo biomédico, obedece a uma lógica mecanicista e linear de causalidade (culpabilidade) biológica, focando-se no diagnóstico e tratamento da doença no indivíduo e priorizando os recursos tecnológicos industrializados (equipamentos e medicamentos) de forma padronizada, sem considerar o contexto 1. Nas últimas décadas, um novo paradigma tem contribuído para o surgimento de abordagens do processo saúde-doença de orientação sistêmica2, por meio do entendimento da inter-relação entre seus múltiplos determinantes na promoção da saúde e em todo o cuidado integral, colaborando na mudança da formação e exercício das profissões de saúde e do modelo de atenção numa perspectiva biopsicossocial, de forma democraticamente includente e participativa. A Terapia Comunitária é uma estratégia de cuidado de base sistêmica realizada em grupo com o objetivo de promover e proteger a saúde e auxiliar na recuperação do sofrimento emocional, mental, relacional, social e físico. É um espaço de partilha e comunhão de experiências de vida, saberes, desafios, dificuldades, sofrimentos, dores, conflitos, problemas, auto-soluções e aprendizagens. Ela enfatiza o acolhimento, a autonomia, a competência, a co- responsabilidade, a autoestima, a autoconfiança, a identidade cultural e os vínculos . Apoiada na construção de redes sociais solidárias, a Terapia Comunitária (TC) valoriza o saber e a competência das pessoas, famílias e comunidades, combinando o saber científico (que vem das escolas) com o saber popular (que vem das experiências de vida em família e comunidade e da herança cultural) na construção do saber político (da consciência e intervenção cidadã). Pela integração de saberes e experiências que promove, recebe a denominação de Terapia Comunitária Integrativa (TCI) e sendo de orientação sistêmica, também é chamada de Terapia Comunitária Sistêmica (TCS) ou Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa (TCSI).

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ABORDAGEM SISTÊMICA - O Exemplo da Terapia Comunitária

Mauro Elias Mendonça

Enquanto o saber das medicinas tradicionais e populares possui váriosmilênios de história, tendo sua raiz na cultura, a medicina científica flexnerianadominante na atualidade é uma jovem secular.

A perspectiva dos determinantes do processo saúde-doença, neste modelobiomédico, obedece a uma lógica mecanicista e linear de causalidade(culpabilidade) biológica, focando-se no diagnóstico e tratamento da doença noindivíduo e priorizando os recursos tecnológicos industrializados (equipamentos emedicamentos) de forma padronizada, sem considerar o contexto 1.

Nas últimas décadas, um novo paradigma tem contribuído para o surgimento

de abordagens do processo saúde-doença de orientação sistêmica2, por meio doentendimento da inter-relação entre seus múltiplos determinantes na promoção dasaúde e em todo o cuidado integral, colaborando na mudança da formação eexercício das profissões de saúde e do modelo de atenção numa perspectivabiopsicossocial, de forma democraticamente includente e participativa.

A Terapia Comunitária é uma estratégia de cuidado de base sistêmicarealizada em grupo com o objetivo de promover e proteger a saúde e auxiliar narecuperação do sofrimento emocional, mental, relacional, social e físico. É umespaço de partilha e comunhão de experiências de vida, saberes, desafios,dificuldades, sofrimentos, dores, conflitos, problemas, auto-soluções eaprendizagens. Ela enfatiza o acolhimento, a autonomia, a competência, a co-responsabilidade, a autoestima, a autoconfiança, a identidade cultural e os vínculos

.

Apoiada na construção de redes sociais solidárias, a Terapia Comunitária(TC) valoriza o saber e a competência das pessoas, famílias e comunidades,combinando o saber científico (que vem das escolas) com o saber popular (que vemdas experiências de vida em família e comunidade e da herança cultural) naconstrução do saber político (da consciência e intervenção cidadã). Pela integraçãode saberes e experiências que promove, recebe a denominação de TerapiaComunitária Integrativa (TCI) e sendo de orientação sistêmica, também é chamadade Terapia Comunitária Sistêmica (TCS) ou Terapia Comunitária SistêmicaIntegrativa (TCSI).

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A TC foi sistematizada a partir de 1987, no nordeste do Brasil, por meio de umprojeto de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), na ComunidadeQuatro Varas da Favela do Pirambu em Fortaleza-Ceará, pelo psiquiatra,antropólogo, terapeuta sistêmico de família e professor do Departamento de SaúdeComunitária da UFC, Prof. Dr. Adalberto de Paula Barreto, com ajuda de seuirmão, Dr. José Airton Barreto, advogado dos Direitos Humanos, a partir das

demandas e do protagonismo da própria comunidade e do apoio de diferentesatores.

A partir da experiência, a metodologia da Terapia Comunitária foi seestruturando e ganhando suporte teórico e organizacional para sustentá-la.Adalberto habitualmente repete que a TC, muito mais do que fruto de inspiração, éresultado de muita transpiração.

Nas palavras de Barreto3 a Terapia Comunitária:

... permite construir redes sociais solidárias depromoção da vida e mobilizar os recursos e as

competências dos indivíduos, das famílias e dascomunidades. Procura suscitar a dimensãoterapêutica do próprio grupo valorizando a herançacultural dos nossos antepassados indígenas,africanos, europeus e orientais, bem como o saberproduzido pela experiência de vida de cada um".

A seguir descrevemos os princípios teóricos da TC, todos de orientaçãosistêmica: pensamento sistêmico, comunicação humana, resiliência, antropologiacultural e pedagogia de Paulo Freire.

PENSAMENTO SISTÊMICO

O pensamento sistêmico é o eixo teórico central da Terapia Comunitária. Ateoria geral dos sistemas2 aborda o ser ou a situação em relação ao contexto,compreendendo os fenômenos e acontecimentos em relação a uma realidade maior,tendo a visão do todo (totalidade) como referência. Segundo o biólogo Ludwig VonBertalanffy (1901-1972): sistema é um conjunto de elementos interdependentes, eminteração ou inter-relação, que constituem uma unidade funcional, onde o todo é

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mais que a soma das partes, produzindo qualidades particulares nesta união, dentro de uma realidade complexa maior2.

Tudo que existe no universo faz parte de um sistema: átomo, molécula,célula, respiração, circulação, digestão, corpo humano, família, escola, comunidade,

bairro, cidade, estado, país, continente, planeta terra, sistema solar, via láctea.Outros exemplos de sistemas são: sistema de saúde, ensino, economia, política, etc.Todo sistema faz parte de uma realidade maior (um supra-sistema) e é formado porunidades menores (subsistemas). Num sistema familiar composto por pais e filhos, pai e mãe formam um subsistema parental, por exemplo.

São algumas características de um sistema: a) totalidade ecomplementaridade todo-parte, b) composição por afinidade e finalidade, c)capacidade de auto-regulação, proteção e transformação, d) determinação circular,e) crise como oportunidade de mudança.

Segundo a visão sistêmica, estamos todos interligados numa teia universal. Ocampo da saúde, nas últimas décadas, muito tem aplicado do pensamento sistêmiconas abordagens de pessoas, famílias e comunidades, dentre elas a TerapiaComunitária. Na abordagem sistêmica, são faces indivisíveis da realidade: saúde-doença, promoção-recuperação, corpo-mente, biologia-psicologia, anatomia-fisiologia, pessoa-família, comunidade-sociedade, energia-matéria, partícula-onda,teoria-prática, subjetivo-objetivo, quantitativo-qualitativo. Nesta perspectiva temos nasaúde a reconstrução do modelo onde mente-corpo-relações constituem uma tríadeunitária, um sistema de base sensório-emocional.

A Família como um sistema

A família pode ser entendida enquanto um sistema com uma identidadeprópria e um campo de energia coletiva (familiar). Formada por relacionamentos,que inicialmente se referem a homem-mulher (pais) e que em seguida permitemvárias possibilidades de composição, ela é a base estruturante, o continente quepermite à criança poder crescer, desenvolver e tornar-se a melhor pessoa que ela éem sua essência humana, contribuindo para uma cultura de realização, satisfação,felicidade e paz. O amor entre seus membros é o movimento fluido e pulsátil maduroque alimenta a saúde no sistema familiar humano. Ele nasce do preenchimento doque é pleno e abundante com uma predisposição para ser repassado adiante. Assimcomo a família é o que dá suficiente segurança aos seus membros, ela depende deprincípios ordenadores que lhe dê continência para cumprir esta missão de cuidado4.

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Na perspectiva sistêmica, o amor é o trem da vida, o que dá sentido a nossacondição humana, mas para fluir precisa de limites essenciais que podem serexpressos como os trilhos da caminhada, organizando e ordenando o fluxo nadireção saudável, segundo princípios ético-humanísticos de verdade, equidade,justiça e autonomia. Os trilhos do amor são direitos universais básicos apreendidosem estudos e observações por cientistas, educadores e terapeutas de diferentes

disciplinas em muito tempo de experiência em diferentes continentes e culturas.Segundo Hellinger, o amor e seus direitos ordenadores se complementam4.

Direitos humanos sistêmicos: o que promove a saúde nos sistemashumanos

Os direitos humanos sistêmicos são princípios transculturais que facilitam ofluxo do amor e da saúde nos diversos sistemas humanos (pessoa, família,comunidade, sociedade e toda e qualquer organização ou instituição humana),constituindo-se numa verdadeira carta universal de direitos humanos. Em síntese

identificamos dois campos opostos e complementares (o direito de ser semelhantee o de ser diferente) que podem ser descritos em três direitos básicos interligados: pertencimento (com ordem de precedência), equilíbrio entre dar e receber (comreciprocidade e equidade) e o direito de cumprir o seu próprio destino (comindependência, autonomia e liberdade). Estes direitos estão descritos e comentadoscom foco nas dinâmicas familiares, porém podem ser entendidos e aplicados nosdemais cenários humanos, lembrando-se que os principais conflitos sociais nascemnos padrões familiares que podem se reproduzir nas demais áreas e relações davida, como trabalho, escola e comunidade.

I. O direito de ser semelhante: pertencimento e precedência

O primeiro grande direito a ser conquistado pelo ser humano é o pertencimento(direito de existir, fazer parte, ser acolhido e vincular-se). Refere-se inicialmente aodireito que cada membro da família atual ou ancestral tem de ocupar o seu lugar no sistema, sendo aceito, incluído e enxergado por si e pelos outros com a origem ehistória que possui, do jeito que é, sem esquecimento ou exclusão. Também serefere a emoções e fatos importantes.

A ordem do tempo de chegada no sistema, denominado precedência, representauma particularidade no direito de pertença. Quem foi introduzido primeiro no tempo 

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e no espaço do sistema tem precedência com relação aos demais; uma vez que,precedeu, veio primeiro ou a priori, tem prioridade sobre os demais: pais em relaçãoaos filhos, filhos mais velhos e mais novos, filhos de um relacionamento anterior emrelação ao novo cônjuge e nova prole. Já na sucessão dos sistemas, a família atual

passa a ter precedência com relação à família de origem.

II. Equilíbrio justo entre dar e receber: reciprocidade e equidade

Um segundo direito humano se refere ao equilíbrio justo entre dar e receber. Paramembros do sistema que ocupem o mesmo nível (exemplo relação pai-mãe, casal,irmãos gêmeos, primos da mesma faixa etária e amigos) é a necessidade de haveruma reciprocidade solidária. Nas relações de funções de níveis diferentes, oequilíbrio se dá na forma de quem chegou primeiro e tem mais, tem a função maiorde dar para quem chegou depois, tem menos e por isto mais recebem, promovendo

a equidade (pais e filhos, irmãos mais velhos e mais novos) no fluxo deresponsabilidade dentro do sistema.

III. O direito de ser diferente (destino próprio): independência, autonomia,liberdade e responsabilidade

O direito de cumprir o próprio destino, conquistando independência, autonomia,liberdade e responsabilidade é uma das três principais ordenações da saúdehumana. Cada membro no sistema tem o direito de ocupar o seu lugar no ciclo davida e cumprir o próprio caminho singular, autêntico e original de individuação,reconhecendo, aceitando, transpondo e transgredindo os trágicos destinos dos

familiares atuais e ancestrais. É o direito de ser verdadeiro, sincero, honesto eespontâneo. Ninguém tem o direito de assumir ou adotar o lugar, o peso, a cruz ouo destino de outro.

Principais causas de sofrimento sistêmico na família: o amor queadoece

Quando os direitos sistêmicos referidos não são respeitados e promovidos,surgem dinâmicas ocultas (inconscientes) nas relações que necessitam serreveladas para restabelecer o fluxo saudável. A compreensão do que estásistemicamente fora de ordem, ou seja, do direito não respeitado (que esteveausente, foi perdido substituído ou atuado por meio de abuso ou violência); dos

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padrões e estratégias adaptativos disfuncionais resultantes destes fatos (sofrimentosou situações problemas) e ainda dos recursos e competências disponíveis napessoa e no sistema, pode facilitar movimentos de restituição da ordem sistêmica(soluções reparadoras), o que na roda de TC é estimulado.

Desta forma, há muitas dinâmicas ocultas envolvidas no sofrimento humanoque podem ser expressas no corpo (somatização), na mente (sofrimento psíquico) ediretamente nas relações (conflitos). Por trás dos sintomas, podemos encontrarsentidos e significados a serem decodificados. É como se no inconsciente a criançainterior só visse a dor do sistema de origem, dos pais e ancestrais, o que osdificultou em serem felizes e repassarem o amor incondicional saudável e pleno.Tentando curá-los, a pessoa pode manter-se apegada ao passado, sem liberdadepara ir em frente. Inclui-se aqui a autopunição por sentimento de culpa (Minhaculpa: o que deixei de fazer para que eles não fossem felizes e eu não merecesse oamor saudável e incondicional? ou O que fiz para provocar e merecer o sofrimentodo amor doente?).

Assim, o sintoma ou problema pode representar uma disfunção nas relaçõesdo sistema familiar, em um dos três direitos: algo ou alguém que uma pessoa nafamília não consegue enxergar, aceitar ou integrar no lugar e ordem de precedência(pessoa, dor, sofrimento, doença, morte, perda, separação, emoção, etc.), a falta deum equilíbrio justo no fluxo do dar e receber (por inversão ou iniqüidade na ordem) ea tentativa de acompanhar ou substituir o destino de alguém na tentativa de salvá-lo,identificando-se com o destino trágico (por afinidade, atração).

Qualquer grau de impedimento ou injustiça por meio de negação, exclusão,esquecimento, abandono, rejeição, desprezo ou intolerância, poderá levar aomovimento no sistema para tentar reparar esta perda de direito de pertencimentoou

equidade, denunciando como um grito de alerta e buscando restaurar uma ordemfamiliar de ocupação reconciliadora e justa.

Uma fidelidade cega ou lealdade oculta pode ocorrer por adoção (cópia) ourebelião (anti-cópia) de padrões de sofrimento dos antecessores ou pares.

A adoção ou cópia de padrões (ser igual) pode dar-se por simbiose ouacompanhamento (Assim como você eu...; Eu sigo você; Eu acompanho você) oupor substituição (Antes que você..., eu; Em vez de você..., eu; Melhor eu quevocê).

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A rebeldia ou anti-cópia é a cópia dos padrões ao avesso (ser o oposto):Serei o contrário de você!; Diga o que quer que eu seja para eu não ser. Tambémmantém padrão de apego e tentativa de chamar atenção para cura e salvação dosistema (Eu faço isto por você).

Tanto ser a cópia ou anti-cópia afasta a pessoa de seu verdadeiro eu. Fazer

pelos pais (agradar ou desagradar) como um rebelde ou reacionário, significa deixarde fazer o que sente que é justo e verdadeiro para sua felicidade e a felicidadecoletiva, aceitando os pais como eles são, tomando o que deram de bom e deixandocom eles seus conflitos, padrões e destinos, tornando-se um revolucionário: nemigual, nem o contrário, mas semelhante e diferente.

A função da terapia sistêmica é ajudar a revelar as dinâmicas invisíveis portrás dos sintomas, bem como os recursos e competências disponíveis, facilitando arestauração da saúde nos sistemas, com a consciência de que todos nós fazemosparte do problema e parte da solução e ainda de que apesar de sermos todosresponsáveis, ninguém tem culpa.

Na TC, a visão sistêmica está presente em toda a sua ordenação, orientandoo terapeuta nas perguntas durante a contextualização e a problematização, bemcomo na conotação de aprendizagem durante a finalização, contribuindo comestímulos de luz sobre as situações-problemas e suas múltiplas possíveis soluções.

Este pilar teórico central da TC está presente nos demais princípios descritosa seguir, possuindo todos eles uma raiz sistêmica.

TEORIA DA COMUNICAÇÃO

A comunicação é o que dá forma à existência humana. A base da relaçãohumana é a comunicação; é ela que nos revela quem somos: Homem, decifra-te oute devoro! Viver é conviver! Dizia Chacrinha, José Abelardo Barbosa de Medeiros(1917-1988), o Velho Guerreiro da comunicação do rádio e da TV brasileira:Quem não se comunica se trumbica! 

A comunicação humana é um processo que envolve a troca de humanidade(sensações, emoções, experiências, pensamentos, atitudes, valores, cultura, vida).De acordo com Paul Watzlawick (1921-2007), psicólogo e filósofo que desenvolveuuma teoria da comunicação de origem sistêmica em parceria com Gregory Bateson(1904-1980), existem cinco axiomas básicos da comunicação humana5. Seus

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postulados podem ser entendidos à luz do que já foi descrito sobre o pensamentosistêmico, conforme relacionados e comentados.

I. É impossível não se comunicar: todo comportamento é comunicação. Todo

comportamento físico, mental ou relacional tem sentido, significado, porquê,intenção, motivação, finalidade, que sempre revela uma informação, um dizer algo;sempre comunica alguma coisa, nada é por acaso: seja passivo ou ativo, direto ouindireto, verbal ou não verbal, claro ou oculto, manifesto ou latente, conscienteouinconsciente. Toda atitude, manifestação (sinal ou sintoma) é uma forma (tem valor)de comunicação (de mensagem): quando a mente mente ou a boca cala, o corpofala por somatização (dor de cabeça, garganta ou estômago, hipertensão),sofrimento mental (ansiedade, depressão, alcoolismo, crack) ou conflito relacional,(abandono, violência, ciúme, traição, separação). Não existe um nãocomportamento, mesmo na negação.

II. Toda comunicação tem dois componentes estruturantes: conteúdo erelação (emissor- receptor). O conteúdo ou relato é a informação emitida (dados),o significado básico das palavras e gestos enviados. A relação é dialógica, dialéticae circular interativa, determina o como (instrução) a comunicação deve serentendida e considerada, estimulando um comportamento. O limite (continência) é acondição para o expressar e o compartilhar, é o que revela a existência do ser: ooutro é o meu espelho, meu revelador. São asserções da comunicação: É assimque eu vejo... É assim que eu me vejo... É assim que eu te vejo... É assim que euvejo que você me vê!, etc. E questões: Como você vê... me vê... te vê? A respostaou ressonância na relação se dá por confirmação, rejeição ou denegação

(indiferença). A falta (abandono) ou abuso (presença para não expressão verdadeiraou para falsa expressão) promovem sofrimento.

III. A pontuação organiza as sequências dos eventos: toda comunicaçãodepende da pontuação. A natureza da relação e a qualidade do diálogo dependemda clareza e disponibilidade de aceitação na pontuação da sequência de trocas decomportamentos entre os comunicantes, da consciência mútua do padrão deinteração ou contrato acordado na relação e das regras de convivência firmadas co-responsavelmente. Sempre que necessário (conflito, impasse, discordância ou

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dúvida), um novo diálogo pode ocorrer e um novo acordo (novo ponto de partida)pode ser firmado. Pontuar pode evitar confusão, acusação e culpabilidade: Cadaum faz parte do problema e faz parte da solução.

IV. Toda comunicação tem dois tipos de expressão ou linguagem: verbal e nãoverbal.

A comunicação verbal (ou escrita) se refere ao conteúdo explícito como palavras efrases, é tudo o que é dito ou falado (escrito ou digitado): o que eu falo. É um ladoda comunicação predominantemente lógica, literal, digital, mais ligada ao intelecto(mente=pensar). Já a comunicação não verbal ou corporal se refere ao conteúdoimplícito na linguagem corporal, no tom de voz, sons, silêncio, pausa, expressão,movimento, estrutura, postura, atitude, emoções; é a forma e o jeito como é dito:como eu falo e faço. É uma face da comunicação predominantemente analógica,figurativa, gestual, mais ligada ao emocional (corpo=sentir). O verbal e o corporal

podem estar unidos (integridade, inteireza,coerência, congruência ecorrespondência) ou separados (ambiguidade, dicotomia, discordância,ambivalência, paradoxal, dupla mensagem, incoerência). E assim: Quando a bocacala, o corpo fala! Quando a boca fala, o corpo sara! 

V. A comunicação pode ser de interação simétrica ou complementar:semelhança e diferença. A interação simétrica é baseada na semelhança, o queaumenta o sentimento de pertença e inclusão, ampliando a intimidade. Pode-se porsemelhança admirar de verdade, se espelhar e desenvolver valores humanos narelação, como solidariedade, tolerância, honestidade e humildade. Pode-se adotarpor imitação ou igualdade padrões negativos, tipo autoritarismo, violência,

vítimização e submissão. É possível copiar falsamente padrões semelhantes paraagradar ou desagradar. Pode-se ainda entrar numa disputa: quem é o melhor ouo pior: bate-rebate, ping-pong, toma lá dá cá, bateu-levou (revide, vingança,revanche). A interação complementar se baseia na diferença, originalidade,independência, autonomia e liberdade, o que confere maturidade à relação. Pode-seser diferente e complementar, onde um é pobre naquilo que o outro é rico:interdependência recíproca, parceria com definição clara e acordada de funções epapéis. É possível ser rebelde para parecer diferente (Si hay gobierno soy contra, sino hay soy contra también!), bem como, por outro lado, pode-se usar o argumento

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da diferença para ficar passivo, submisso e dependente ou no controle: Um é opingo do i do outro na relação. É possível desenvolver o lado saudável das duasformas de interação e ainda perceber a possibilidade de síntese entre elas. Nanatureza nada se cria tudo se copia; mas toda cópia é autêntica e original,porque na verdade, ninguém copia igual!

A clareza na comunicação é fundamental para a função do terapeuta. Elafacilita o acolhimento, com a definição da TC e das regras, a celebração, explicaçãodas dinâmicas e fases, perguntas e restituição, com uso de palavras compreendidaspor todos, pontuando o que foi dito e deixando espaço para esclarecer dúvidas: Medeixa ver se entendi, se eu estiver correto, por favor, me confirme, senão mecorrija ou me complemente:.... O terapeuta, assim, ajuda o outro a identificar aemoção na situação e sua parte de responsabilidade, por exemplo: O que é quevocê sente diante de..., Quando acontece isto sua atitude é..., Seu sofrimento épor que..., Você está querendo nos dizer que..., Você está falando que...? 

Na etapa de confirmação, o terapeuta valoriza a expressão, a experiência eas soluções partilhadas, do tipo: Agora nós vamos falar do que aprendemos, as

lições que tiramos com as experiências aqui contadas, o que estamos levando doque foi dito:.. Eu quero agradecer... , dizer obrigado... Eu aprendi com você como éimportante na vida ....

Três expressões, quando verdadeiras, fazem a diferença na comunicação:

Eu sinto muito! 

Obrigado! 

Por favor! 

RESILIÊNCIA

Além do saber que emerge nas escolas e academias, existe outra importantefonte de saber que vem da experiência pessoal em família e comunidade. Segundodiversas tradições culturais, são duas as principais formas de aprender: pelo prazer(positivo) e pela dor (negativo).

A resiliência, conceito derivado da física e aplicado à condição humana,refere-se à capacidade de se adaptar a situações adversas sem perder asqualidades essenciais, somado à arte de transformar criativamente toda a energia

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envolvida na situação-problema traumática, crítica, estressante e dolorosa emaprendizagem e superação6. Ela é o tesouro da experiência.

Esse processo humano revela a competência que vem da experiência devida, a habilidade de superar a dificuldade, o crescimento que vem dosofrimento, o aprendizado que surge do vivenciado: Nas corredeiras e nas

quedas, o rio revela sua força. 

A habilidade de atravessar as adversidades (situações dolorosas) e tirar omelhor proveito dela, na linguagem poética de Rubem Alves é a transformação deferidas em pérolas: uma ostra que não foi ferida, uma ostra feliz não faz pérola7. Aspérolas são respostas às agressões sofridas. Muitas mudanças só ocorrem emmomentos de crise, sob muita pressão.

Nas estradas da vida, as pedras no caminho podem ser vistas comoobstáculos a serem transpostos que se revertem em lições de vida aprendidas, overdadeiro caminho das pedras. Algumas pedras brutas podem servir de alicerce(construir a casa sobre a rocha) e outras podem ser lapidadas, formando uma jóia

preciosa no tesouro acumulado no fundo do baú da vida. Nossa experiência é anossa bagagem que trazemos na mala da vida.

Na Terapia Comunitária, o foco é na problematização: você faz parte doproblema e faz parte da solução. O objetivo da TC é ajudar a perceber, identificar,reconhecer, nomear e apropriar da maior fonte de saber, aprendizado, força,recursos, habilidades, capacidades e competências. Qual é a sua força? Queexperiência te capacitou? O que aprendeu com a experiência? Como aprendeu?

A resiliência rompe com a crença da causalidade linear fatalista que afirmaque toda carência produz dependência, toda violência gera violência. Quando acarência produz competência e quando a violência gera competência, temos apresença da resiliência: a experiência gera competência.

Há muitos anos atrás, num período de muita dificuldade, um sonho simples erevelador me ocorreu: montes de estrumes tomando conta de tudo e uma linda florbrotando no meio das fezes. Compreendi que das merdas podemos fazer osestercos que fertilizam o solo e então se produz flores e frutos. Lembrei-me que naminha infância eu via muito um fenômeno parecido (flores) junto aos excrementosdos animais, que por vezes eram utilizados como adubo orgânico nos jardins,pomares, hortas e plantações. Resiliência é quando a merda vira esterco.

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Assim como a pessoa desenvolve seus recursos, a família, a comunidade e acultura também encontram suas estratégias de enfrentamento de problemas econflitos. Numa experiência na África tive contato com uma realidade curiosa pormeio de uma antropóloga com experiência em trabalho para organismosinternacionais: uma família vivendo a dor da perda de um ente querido mortodurante uma briga com outro jovem solteiro, partilha o sofrimento com o choro

coletivo e em seguida reúne as jovens solteiras da família, juntando aquelas que sevoluntariam na reparação da dor. A família que sofre a perda procura a família doque tirou a vida e compartilha a dor. Nossas famílias estão ligadas pela dor e pelosofrimento de uma perda. Um filho de vocês tirou a vida de um filho nosso. Pararepararmos a perda propomos que ele escolha uma destas mulheres para esposa.Uma vida foi perdida, uma vida será reposta: ele se torna um de nós. Perdemos ummembro e ganhamos outro. Ninguém de nós nutrirá desejo de vingança por um denós. Assim nossas famílias passam a estar unidas pelo amor e pelo casamento, nãomais pela dor e pelo sofrimento. Juntos irão gerar uma nova vida, uma nova criança,um novo filho. Um exemplo diferente de superação no continente de NelsonMandela.

Resiliência é, portanto, um conceito sistêmico. Todo sistema possui acapacidade de se autoproteger, auto-regular e autotransformar. As crises se tornamoportunidades de superação. Focamos no lado cheio do copo para lidar com o ladovazio. O encontro entre luz e sombra é a luz iluminando a escuridão. Se focássemosno lado vazio, seria só vitimização, culpabilização, reclamação e fatalismo, ouvingança.

Uma vez que nem toda ação humana é resiliente e nem toda resiliência éconsciente, cabe ao terapeuta comunitário facilitar o processo de resiliência bemcomo da conscientização da sua existência.

Ao tecer o fio da vida numa teia maior, um vínculo saudável de apoio,

incentivo e estímulo, muitas vezes é simbolizado por um olhar, um toque, uma mãoamiga, um gesto amoroso, uma palavra ou frase de conforto, acolhimento, respeito,aceitação e esperança. Esta presença na vida faz a diferença. É como uma luz nofim do túnel, uma vivência de prazer em meio à dor: significa muito! Uma escutaempática ajuda na elaboração dos problemas emocionais.

Com que e com quem você pôde, pode e poderá contar em sua história devida? O que ou quem enxergou sua luz ou serviu de espelho para refleti-la, ajudou a

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reconhecer suas virtudes e qualidades, seus dons e talentos. Quem acreditou emvocê, no seu valor? Qual sua fonte de inspiração e alimento? O que te motiva? Deonde vem a sua força?

As próprias experiências de sofrimento pessoal e familiar nos capacitam a nosidentificarmos com o sentimento do outro por sensibilidade, compaixão e

reconhecimento nas rodas de Terapia Comunitária: Eu só reconheço o queconheço! 

É assim que se procede também com o cuidador: se vivi a dor no cuidado,aprendi e tornei-me um cuidador3:

... o gemido de outrora que se torna voz interiorque vocaciona para uma prática solidária, sobretudo,para amenizar aquilo que já foi vivenciado... ocuidador com sua ação resgata a própria história.

É importante a consciência para evitar apenas o reativo.

Portanto, como profissional do cuidado em saúde, cuidando do outro eu cuidode mim mesmo, trato de curar a minha própria história. Quando consciente, acolhocom alegria, prazer e satisfação (salário afetivo), aceitando o convite para umaatitude transformadora da realidade, sem esforço sacrificante para cumprir a jornadae receber os proventos econômicos (salário financeiro). A qualidade da dorvivenciada pode predispor a qualidade do talento desenvolvido.

O terapeuta comunitário é um jardineiro fiel que procura e encontra flores empântanos e desertos: Que vejo flores em você! Ele é também um garimpeiro

insistente na busca de tesouros de pedras preciosas escondidas: pérolas,diamantes, brilhantes... Mergulha na escuridão ao encontro de fachos, feixes e raiosde luz. O terapeuta desenvolve a arte de facilitar a tradução, a decodificação e re-significação da experiência, identifica as faíscas e chamas do fogo da transformaçãoproduzido pelo atrito traumático das pedras que foram atiradas. Ele busca aessência luminosa por trás da aparência.

ANTROPOLOGIA CULTURAL

O ser humano é um ser social, só existe em relação, em sociedade8, estandoligado a grupos organizados. A antropologia é o estudo do homem, sendo a sua

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vertente cultural, o estudo da cultura humana, suas origens, desenvolvimento erelações. A cultura revela o aparecimento do ser humano no processo evolutivo doplaneta, um ser capaz de refletir sobre sua existência e sua prática, criando osimbólico. Nesta perspectiva, rompe-se com a dicotomia natureza e cultura, onde acultura é uma espécie de natureza humana construída historicamente. A história éo ponto de partida de toda compreensão da realidade humana.

A cultura representa a totalidade de padrões apreendidos e desenvolvidospelo ser humano: conhecimentos, comportamentos, habilidades, atitudes, valores,crenças, linguagem, rituais, arte, religião, política, justiça, economia, alimentação,moradia, costumes, enfim, toda ação do homem como membro de uma sociedadena sua vida cotidiana. Toda atividade humana é plena de sentido e significado,satisfazendo alguma função vital. A cultura é o elemento de referência fundamentalna construção da identidade pessoal e do grupo.

Este princípio teórico antropológico-cultural da Terapia Comunitária estáincluído também nos seus demais pilares teóricos que resgatam o saber daexperiência e a comunicação humana. A valorização e o respeito a esta diversidade,

em seus diferentes grupos, permite ampliar o arsenal de possibilidades para abordaros problemas em busca de superações plurais e contextualizadas.

A cultura possui um recurso cumulativo (conservador), onde asmodificações desenvolvidas por uma geração passam à geração seguinte,transgeracionalmente. Outra característica da cultura é o recurso adaptativo(transformador): o ser humano modifica sua realidade, incluindo hábitos ecostumes, via cultura, muito mais rapidamente que via mudanças biológicasevolutivas. Temos na cultura a raiz de nossa identidade cultural e pessoal, pormeioda pertinência (inclusão) e da mudança (liberdade), dialeticamente complementares,na qual podemos ser culturalmente semelhantes e pessoalmente diferentes.

O Brasil, país de grande amplitude territorial é um espaço cheio dediversidade cultural, construída por meio de suas múltiplas raízes e suamiscigenação: o índio, o africano, o europeu e o oriental. Darcy Ribeiro (1922-1997),antropólogo e escritor brasileiro dizia que o maior patrimônio do Brasil é o brasileiro.Afirmou que carregamos nossa contradição histórica em nossa carne, por umlado o suplício dos índios e negros massacrados e por outro a mão do torturadoreuropeu9. Aprendi sobre isto na pele e no coração com o povo Krahô nos anos 80,

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numa imersão com um antropólogo, onde me conheci mais humano dentro de nossahistória.

Na perspectiva da antropologia cultural, uma cultura não pode julgar-semelhor ou pior, menos ou mais desenvolvida que outra baseada em seuspróprios valores. A diversidade cultural é fonte de riqueza de experiências e

saberes passados de geração em geração e construídos em relação. O métodoetnográfico de Bronislaw Malinowski (1884-1942) adicionou à antropologia acompreensão da representação da ação, procurando desvendar os significados dosfenômenos culturais, inaugurando sua nova abordagem com a publicação em 1922da experiência com os trobriandeses em Argonautas do Pacífico Ocidental10.

O terapeuta comunitário, assim como o antropólogo etnográfico, não serestringindo à pesquisa de gabinete, vai a campo, não para simplesmente relatardescritivamente a experiência, mas se interessa curiosamente pela correlação dosacontecimentos da vida cotidiana, suas motivações e emoções mobilizadas,participando vivencialmente (observador participante) e procurando ampliar suacompreensão dos fatos sociais, com respeito à diversidade de saberes e

representações.

PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE

A pedagogia de ação reflexão de Paulo Freire (1921-1997) é o eixo axialteórico brasileiro e a base metodológica da TC. O método desenvolvido por ele éde visão sistêmica, de base sócio-histórica e antropológico-cultural, centrado nacomunicação humana, incitando a resiliência. Assim, pode-se dizer que é a raizteórico-metodológica da Terapia Comunitária.

Educador de vasta leitura e experiência humanística, muito influenciado pelopensamento histórico e dialético, participou do processo de consciência crítica ereflexiva sobre a concepção bancária da educação, utilizada como principalinstrumento de dominação e exclusão. Em 1967, Freire11 critica e confronta o carátermassificador desta pedagogia (educão) baseada na transmissão, depósito oudoação de conhecimento fluindo daqueles que supostamente sabem (sabidos,capazes e cultos absolutos) aos que supostamente não sabem (ignorantes,incapazes e incultos absolutos) de maneira descontextualizada da realidade dosúltimos:

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 Na verdade, somente com muita paciência épossível tolerar, após as durezas de um dia detrabalho ou de um dia sem trabalho, lições... quefalam de Evas e de uvas a homens que às vezesconhecem poucas Evas e nunca comeram uvas.Eva viu a uva. 

O compromisso de Freire com ideais libertários e emancipatórios, em defesada verdade, justiça, democracia, humildade e do amor estão explícitos em suasobras literárias traduzidas em vários idiomas, dentre elas: Educação como prática daLiberdade (1967), Pedagogia do Oprimido (1970), Pedagogia da Esperança (1992) ePedagogia da Autonomia (1996).

Em sua metodologia dialética de aprendizagem conscientizadora, baseada nocontexto, inicial e amplamente utilizada no processo de alfabetização, expandida aos 

demais níveis de ensino, Freire12 revela com simplicidade sua concepçãoproblematizadora e dialógica na superação da contradição hierárquica da relaçãoeducador-educando:

Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a simesmo, os homens se educam entre si,mediatizados pelo mundo. 

Ao alfabetizar de maneira contextualizada, este método leva em consideraçãoo universo cultural do alfabetizando, investigando o seu cotidiano (palavrasgeradoras) e desta forma o aprendiz se percebe testemunha e personagem dahistória que é autor. As palavras, com seus códigos e significados, são expressas,problematizadas e decodificadas. Aprendendo a ler o mundo com o outro, o aprendi

zse encontra, aprende a ler a si mesmo e a escrever sua própria história. A palavraajuda o ser humano a ser humano, onde a linguagem se torna cultura.

Assim, educar é conscientizar-se, conscientização esta que propicia perceberas contradições da realidade humana e pensar a existência, tornando-se sujeito deseu mundo, com opção de escolha, poder de decisão e responsabilização sobre suavida e da coletividade.

A problematização é a arte de perguntar. A pergunta é o pretexto pedagógicoque por meio da provocação gera dúvida, desconstruindo certezas e verdades

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absolutas e suscitando o homem a totalizar-se, construindo novas síntesesprovisórias: da reflexão à aprendizagem.

Baseado em princípios sistêmicos de inclusão, justiça, independência,autonomia e liberdade, a abordagem freireana de ação-reflexão coloca a verdadeiraeducação como valioso recurso contra a exclusão, a opressão, a dominação, a

injustiça e todo tipo de sectarismo dogmático, fanático ou ativista de qualquersuposto saber bem como do fatalismo pessimista.

Em um pequeno manual onde define suas concepções de educação, Freire13sintetiza seu legado referindo que ensinar requer, dentre outros atributos: respeitoaos saberes e à autonomia do educando, humildade, tolerância, generosidade,curiosidade e a confiança de que mudar é possível.

Outro ingrediente necessário no processo de aprendizagem, junto com aalegria é a esperança, o oposto do medo, incluindo-se aí o medo do novo, damudança. Em seu livro que consta a esperança como título14 ele fala sobre a

importância da força da raiva na mobilização do processo de mudança e discorresobre o fato de que embora sozinha a esperança não garanta a mudança, sem ela amudança se torna impossível.

Com o tempo aprendi algo diante do medo: se correr o bicho pega, se ficaro bicho come, se encarar o bicho some!

O homem foi feito para se comunicar com os outros, sendo a palavraconsciente geradora de uma transformação radical do homem e da sociedade, deforma permanente e inacabada. Segundo Freire12, em dos livros favoritos de minha mãe, pedagoga, ao ser libertado o oprimido na relação, também o é o opressor:

Ninguém liberta ninguém, ninguém se libertasozinho: os homens se libertam em comunhão. 

As premissas de Paulo Freire na educação são diretamente aplicáveis aoprocesso saúde-doença, aproximando o educador e o cuidador. Seu métodoinfluenciou a saúde comunitária e a educação popular em saúde em vários paísesnos diversos continentes.

O cuidador tem como principal recurso a relação de cuidado, que nada mais édo que uma relação de aprendizagem. A anamnese (a+amnésia) é um conviteproblematizador para encarar a amnésia. Para Hipócrates tratava-se de facilitar, por meio da pergunta, o outro recordar do que ele já sabe, porém se esqueceu: lembre-se de quem é você e qual é a sua história!

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A relação terapêutica é um encontro pedagógico de reciprocidade onde nãoexiste saber mais ou saber menos, saber maior ou saber menor, mas diferentessaberes, pois: Ninguém ignora tudo, ninguém tudo sabe11. A pedagogiasistêmica de Paulo Freire, enraizada na relação de comunicação, convida o homema ocupar seu lugar consciente, ativo e resiliente no ciclo da vida, construindosua

identidade pessoal e cultural.

Como foi dito, além de sua substancial colaboração teórico-conceitual naTerapia Comunitária, Freire tem uma central e direta contribuição na metodologia daTC com o princípio da problematização presente em todas as fases dahorizontalidade circular da roda: do acolhimento includente e a escolhaparticipativa do tema, passando pela contextualização e problematização até aconotação de aprendizagem no círculo ritualístico de encerramento.

Em todos os capítulos da obra principal da TC percebemos a grandeinfluência deste outro nordestino, Paulo Freire, na concepção deste trabalho. Temosum simples exemplo quando Barreto3 diz:

Todos se tornam co-responsáveis na busca desoluções e superação dos desafios do quotidiano.Estimula a participação como requisito fundamentalpara dinamizar as relações sociais promovendo aconscientização e estimulando o grupo através dodiálogo e da reflexão, a tomar iniciativas e seragente de sua própria transformação.

Ainda que possua seus cinco princípios teóricos, entre eles a pedagogiafreireana, bem como sua dinâmica própria, a Terapia Comunitária recebe

contribuições de outras abordagens de orientação sistêmica como as teorias epráticas psico-corporais com base analítica em Freud, Reich e Lowen15, além dedemais possibilidades de integração teórico-metodológica que muito contribuem coma formação e a prática vivencial do terapeuta comunitário.

Passamos a descrever em seguida a metodologia da TC, onde pode-seperceber os pilares teóricos presentes nos seus diversos procedimentos e etapas.

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A TERAPIA COMUNITÁRIA E A ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Com o apoio da Pastoral da Saúde17 da Secretaria Nacional de Políticassobre Drogas3 e do Ministério da Saúde, acelerado pela criação da Associação

Brasileira de Terapia Comunitária, houve uma grande expansão da TC em nívelnacional, ganhando também o mundo a partir da Europa, América Latina e África.

No Brasil, apesar da TC estar presente em diversas políticas e serviçospúblicos de saúde (saúde mental, humanização, centros de saúde, centros deatenção psicossocial, maternidades e hospitais), educação (escolas euniversidades), assistência social, segurança pública (justiça terapêutica e sistemaprisional), grupos de auto-ajuda, igrejas e outros espaços sociais nas diversascomunidades e instituições, é na Atenção Primária à Saúde (APS) que sua forçaestá concentrada, havendo ainda inúmeras semelhanças entre ambas as propostas.

Um grande desafio para o médico de família e comunidade, bem como para a

equipe de APS é a verdadeira integralidade no território por meio dodesenvolvimento de estratégias para cada pessoa, contextualizada em sua família,em seu círculo de relações interpessoais e na cultura local, inserida na sociedademaior.

A TC pode ampliar os recursos de compreensão e intervenção das equipesde profissionais da APS, interferindo diretamente nos determinantes psicossociais,com qualificação da promoção e proteção da saúde das pessoas afiliadas à unidade,ampliando ainda o rol de procedimentos para a recuperação e reabilitação.

A realização das rodas de terapia aumenta a consciência dos principaisproblemas e recursos da comunidade, funcionando como potencializador da

vigilância em saúde no território, facilitando o planejamento local e a avaliação doserviço a partir do diagnóstico realizado para além da unidade de saúde.

A possibilidade do uso da TC como acolhimento da demanda espontânea poratendimeneto na unidade de saúde, junto com a clientela encaminhada, podediminuir a fila de espera, promovendo maior eficiência do serviço.

A presença de abordagens sistêmicas, como a TC, na porta de entrada dosistema de saúde, permite evitar as repetidas e irresolutas consultas com ogeneralista, a fragmentação mecanicista e a peregrinação por especialistas, osexcessos de exames, incluindo os checkups repetidos, exagerados edesnecessários, que retiram o foco da complexidade sistêmica.

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Outra demanda desprovida de atenção à saúde são os portadores desofrimentos mentais, particularmente os transtornos considerados não graves, cujarede atual de atenção à saúde mental não acolhe e fica geralmente sem qualquertipo de cuidado ou frequenta as unidades de saúde para repetição ininterrupta depsicofármacos, sem acesso garantido a uma avaliação médica mais específica paraa pessoa e às abordagens psicoterápicas.

Em 2010, na IV Conferência Nacional de Saúde Mental - Intersetorial, aTerapia Comunitária foi reconhecida como importante estratégia de saúde mental naatenção básica, sendo eleita como uma prioridade nacional, citada mais de umadezena de vezes em seu relatório final18.

A consequência da implantação, consolidação e expansão da TC na APS é apossível diminuição da hipermedicalicalização dos sintomas psicossomatizados, dosconflitos relacionais e das iniqüidades sociais.

A horizontalidade no apoio da pessoa na família e na comunidade resgatandoos vínculos saudáveis e toda a rede de apoio social, com suas experiências, facilita

o empoderamento das pessoas e a competência cultural no processo de co-responsabilização, onde a equipe e a unidade de APS se enraízam na teia solidáriade cuidado integral de forma duradoura e abrangente, articulada com os demaisdispositivos sociais.

Apesar de possuir sua metodologia específica, os recursos teórico-metodológicos da Terapia Comunitária podem ser aplicados em sua inteireza nasrodas, mas também parcialmente, em todo e qualquer procedimento de promoção,de diagnóstico ou terapêutico no cuidado integral à saúde da pessoa, da família e dacomunidade, melhorando o ambiente e as relações de trabalho na APS, contribuindona mudança do modelo de ensino e atenção em saúde.

A TC tem se mostrado um excelente recurso para promover saúde e lidar com

o sofrimento humano emocional, psíquico, corporal ou relacional, decorrente doestresse, da intolerância, da exclusão social, da pobreza e da violência que atingempessoas, famílias e comunidades em nosso país e no mundo, predispondo asomatização, o sofrimento psíquico e conflitos familiares, comunitários e sociais.

A Terapia Comunitária faz parte dos recursos promotores da cultura de paz,saúde, prazer, alegria e felicidade coletiva, por meio da inclusão, do respeito àsdiferenças, da comunhão, autonomia, liberdade e co-responsabilidade, doacolhimento, vínculo, solidariedade e não violência, contribuindo para que as

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pessoas se tornem a cada dia melhores pessoas para si e para os outros e que esteplaneta seja um lugar melhor, mais humano e justo para se viver e conviver.

REFERÊNCIAS

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