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6 de fevereiro a 8 de março de 2020

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EXPRESSAR CONEXÕES

E nfrentar questões candentes é uma vocação que o tea-tro mantém desde suas origens, trazendo à luz contradi-ções veladas, reavivando espectros que desestabilizam

a coesão de uma dada sociedade. Nos últimos anos, as con-sequências da herança escravista para as relações contem-porâneas voltaram a ocupar a centralidade de discussões no país – e as artes cênicas têm voz ativa nesse debate.

A relevância da temática advém do modo como pode ser per-cebida no cotidiano, por meio de modos de pensar e com-portamentos aos quais convencionou-se denominar racismo estrutural; desse modo, ela transcende círculos especializados e mobiliza diversos grupos sociais. A proliferação de discur-sos a respeito dessa condição torna complexa a empreitada de artistas que buscam enfoques ao mesmo tempo potentes e instigantes.

A peça Embarque Imediato propõe uma abordagem peculiar para o assunto. Protagonizada por Antonio Pitanga e seu fi-lho Rocco (além da participação em vídeo de sua outra filha, Camila Pitanga), a montagem centra-se no encontro – um dos elementos constituintes do teatro – entre dois homens negros com suas respectivas histórias de vida, num ambiente que re-trata aspectos emblemáticos da contemporaneidade.

Além do destaque dado aos marcadores sociais dos perso-nagens, relacionados à etnia, faixa etária, lugar de origem e ocupação, o espetáculo se vale da atmosfera impessoal do aeroporto para explorar dicotomias que oscilam entre vigilân-cia e empatia, padronização e diferença, tradição e moderni-dade. Ao se deixar atravessar por alguns dos mais sensíveis dilemas atuais, Embarque Imediato dá amplitude sociocultural a seu projeto artístico.

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Afinal, arte e realidade estabelecem jogos de mútuos reflexos, que serão mais férteis quando forem maiores as possibilidades de releitura por parte dos públicos. Propor uma política cultural que acolha tais expressões significa reiterar que a criatividade pode ser pensada como ferramenta de leitura e intervenção nas coisas do mundo. Significa, ademais, sugerir que os ci-dadãos fazem parte dessas dinâmicas, como espectadores e como inventores de outros futuros.

DANILO SANTOS DE MIRANDA DIRETOR DO SESC SÃO PAULO

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E mbarque Imediato narra o encontro entre um jovem

negro doutorando brasileiro e um senhor africano, em uma sala de aeroporto internacional, onde ambos encontram ‑se retidos por problemas com seus passaportes durante uma conexão de voo. Confinados (ou encarcerados) na sala de segurança do aeroporto, esse encontro fará com que as duas personagens tenham acesso a informações que vão mudar para sempre suas vidas.

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A IDENTIDADE EM TRÂNSITO (ou QUANDO OS ASSUNTOS DEIXAM DE SER PRIVADOS)

U m dos grandes desafios do teatro é tornar do outro um assunto que é nosso. Para além da consciência de que somos um na multidão, entendemos que guar-

damos a multidão em nós. Embarque Imediato sobrevoa esse desafio! Partiu de um fato real vivido por mim em uma sala de aeroporto. A diferença é que no encontro no mundo real prático, o diálogo entre mim (afro-brasileiro) e um africano (aquela eter-na dúvida ocidental: de qual África falamos?) se deu no plano mágico do silêncio ocular... olhos que se conversavam. Nesta encenação (que é um exercício generoso de compartilhamento de experiência vivida pelo autor) transformamos o silêncio em palavras-enunciados que investigam a atualmente (tão) discuti-da identidade. O que seria ela? A perdemos? A encontramos? Esteve sempre com a gente nos nossos bolsos ocidentais? Quando eu reafirmo a minha identidade, eu excluo a do outro? E este assunto lhe diz respeito como espectador?

Vivemos a eterna necessidade de tornar concreta a nossa identidade... ainda que esta seja fluxo vulnerável... transitório... itinerante! A identidade mobiliza-se ainda que a confinamos em números... saberes... gêneros... palavras e territórios. Esse diálogo (entre o Cidadão 01 e o Cidadão 02) tenta dar uma pausa no nosso tempo ocidental para resgatarmos a fluidez saudável de nossa identidade que se mantém em movimento contínuo de mudanças. Talvez essa perspectiva seja uma fer-ramenta que contemple o desafio teatral de tornar seu... um assunto que é meu. Ou, tornar meu... um assunto que é seu! O fato é que ela (a identidade) convoca a sua atenção (espec-tador-leitor) para que assim possamos entender que no fundo somos todos... um só!

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E nesse jogo cênico-identitário, gostaria de agradecer as iden-tidades convocadas para este drama-debate: Antônio Pitanga e seus 80 anos de vida em movimento, Rocco Pitanga, Camila Pitanga, Marcio Meirelles, Fernanda Bezerra, Bárbara Barbará, Erick Saboya, Irma Vidal, Fernando Philbert, Rafael Grilo, Gabriel Franco, Heitor Dantas, Mônica Santana, Bia Sampaio, Gisele Machado e tantas outras identidades que ofertaram suas bri-lhantes habilidades para esse momento de pausa do nosso co-tidiano... e de viagem confinada de nossas personagens.

E afinal de contas... esse assunto é meu... ou é seu?

POR ALDRI ANUNCIAÇÃO, DRAMATURGO

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M e sinto muito honrado como artista em estrear o espetáculo Embarque

Imediato no Sesc Consolação.

Uma montagem na qual atuo com meus filhos Rocco e Camila Pitanga, e que aborda temas importantíssimos como a Diáspora, o tempo, o respeito e a história do nosso povo. No auge dos meus 80 anos, subir ao palco com um texto do dramaturgo Aldri Anunciação e sob a direção cuidadosa e provocativa de Marcio Meirelles é um presente dos deuses do teatro.

O Sesc é um dos espaços mais importantes que fomenta a arte e a cultura, de forma democrática e acessível para um público ávido por produções de qualidade.

ANTÔNIO PITANGA, ATOR

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C hegar ao ensaio e ter um monumento da cultura bra-sileira em sua frente, na marca inicial da peça, com o texto na mão pronto para começar o trabalho, é

preciso ter, para saber o que é. Antônio Pitanga – com sua energia ancestral de monumento de 80 anos e muito mais da história do mundo em movimento e seu olhar sábio e sem sa-ber pra onde – nos mostra a cada dia o que é um ator, o que é o teatro, por que estamos num palco, porque estamos no mundo. Ainda que estas perguntas continuem irrespondíveis. É o que é o teatro em essência.

Rocco Pitanga é Antônio ontem e amanhã e o tempo tem outro sentido nesse encontro entre ator e ator, pai e filho, diáspora e outra diáspora – identidades – encontro de beleza e talento e trabalho e busca e busca e busca de sentidos e respostas para perguntas que não as têm. É o que é também o teatro.

Camila Pitanga é uma imagem uma voz uma atitude de mu-lher negra no mundo transformando tudo que toca em atitude voz beleza imagens e questões. E isso é o que teatro é.

O texto projeto proposta de Aldri me deu a possibilidade de jun-tar essa família num espetáculo que fala de identidades e bus-cas e perdas e do momento em que o mundo velho atravessa enquanto um novo mundo luta pra nascer – e este é o momento dos monstros que Gramsci anunciou e vivemos – fazer este te-atro que estamos fazendo de corpos unidos os cinco com Jar-bas, Philbert, Edu, Erick, Bárbara, Chico, Goya, Heitor, Ramon, Fernanda, Kennia, Jessica, Irma, Poliana, a Universidade LIVRE do Teatro Vila Velha, Rafael, Gabriel e todos os outros anjos e arcanjos e orixás. É uma rebelião contra esses monstros que surgem neste momento que atravessamos enquanto ajudamos um mundo novo nascer. Isto é o que teatro é.

MARCIO MEIRELLES, DIRETOR

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P ara pessoas negras, sobretudo no Brasil, o reconhe-cimento em vida é algo infelizmente raro. O apaga-mento de saberes, trabalhos e demais contribuições

que constituem muitas vezes as bases fundantes obedece a um projeto colonial de desconstituir e branquear a memória deste país. Não se conta quem foi Dandara, quem foi Luísa Mahin, quem foi Luiz Gama, quem foram os precursores do samba e do axé, entre tantos outros exemplos. Por isso, ter uma pessoa negra reconhecida é algo que preenche o cora-ção de alegria.

Nascido em Salvador, Antônio Luiz Sampaio assumiu o nome Antônio Pitanga após o sucesso de “Bahia de Todos os Santos”, quando interpretou um malandro que levava esse nome e, as-sim conhecido, marcou seu nome no rol dos maiores atores brasileiros de todos os tempos.

“São 80 anos de vida, são 80 anos de muitas conquistas, mui-tas vitórias, muitas superações”, afirma Camila Pitanga, espe-cialmente à coluna* – filha e atriz que, ao lado do irmão Rocco Pitanga, dá continuidade ao legado do pai nos palcos de teatro e nas telas da televisão brasileira.

Confinados na sala de segurança do aeroporto, esse encontro fará com que as duas personagens tenham acesso a informa-ções que vão mudar para sempre suas vidas.

Um pouco da história de Antônio Pitanga pode ser conhecida no longa documental “Pitanga”, dirigido por Camila e Beto Brant. Tive a oportunidade de assistir quando estreou nos cinemas.

O filme traz sua linha do tempo, passando por seus trabalhos e inspirações no Teatro Experimental do Negro, idealizado pelo grande pensador brasileiro Abdias do Nascimento e com atu-ação de Ruth de Souza, histórica atriz que nos deixou esse ano (2019). Também fala de sua participação no cinema novo, quando seu protagonismo na atuação ficou marcado na histó-ria, assim como sua relação com o diretor Glauber Rocha, e de suas atuações em novelas e em tantas histórias nos mais de 60 anos de carreira de muito pioneirismo.

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O filme costura essa história e dramas políticos, como o exílio em razão da ditadura de 1964, com a movimentada vida amo-rosa daquele que viveu o romance e vive intensamente a vida.

Mais do que o reconhecimento a um grande nome da cultura brasileira, honrar o trabalho de Pitanga nos palcos e nas telas serve de inspiração a tantas outras pessoas que buscam refe-rências negras ao se aventurar na arte da atuação. Há de se estudar muito, sem dúvidas, sobretudo quando se busca um trabalho consistente, mas saber as trilhas desbravadas pelos mais velhos e aprender com suas caminhadas é um saber ancestral fundamental. “Quando um negro vai à frente e con-quista um espaço, ele pode servir de farol para muitos outros se mirarem. A mesma coisa acontece com as mulheres”, afir-ma Camila à coluna.

Camila conta que seu pai mantém a jovialidade característica de sua trajetória, um travesso octogenário que segue em ple-no vigor encantando os palcos: “Meu pai teve um protagonis-mo muito importante no cinema, que resvalou para a política e está aí: aos 80 anos em pleno vigor e fazendo peça de teatro, cinema, série... E está mais jovem do que muitos, até mesmo do que eu”, diz Camila.

Camila Pitanga define o pai como um grande capoeirista, aque-le que soube gingar na vida. Sempre digo que a capoeira é uma das melhores metáforas da vida. Tem horas que é preciso gin-gar, em outras, atacar.

Em algumas, a gente se defende. Os senhores de engenho jul-gavam que se tratava de uma dança, mas os negros sempre souberam que era luta. Nesse sentido, penso que Camila de-fine o pai de forma brilhante e inspiradora. Aquele que soube dançar de modo revolucionário e segue, com seu carisma e ta-lento, convidando muitos a dançar também.

DJAMILA RIBEIRO *Texto publicado no jornal Folha de S. Paulo

em 22 de dezembro de 2019

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FICHA TÉCNICA

Elenco: Antônio Pitanga, Rocco Pitanga, Camila Pitanga (voz e vídeo) e Aderbal Freire Filho (voz)Texto: Aldri AnunciaçãoDireção: Marcio MeirellesCodireção: Fernando PhilbertAssistência de direção: Bárbara Barbará e Edu CoutinhoMúsica: Jarbas BittencourtCenário: Erick SaboyaAssistência de cenografia: Jessica MarquesChefe de cenotecnia: Adriano PassosCenotecnicos: Cassio Tomate, Bruno Matos e George SantanaAssistentes de cenotecnia: Fabio Francois e Romildo AlvesMontagem cenário: Claudio Figurino: Chico Peres Costureira: Isabel de AlmeidaAssistente de figurino: Ana SabackRoupa do cidadão 02 (Antônio Pitanga): Goya LopesDesenho de luz: Irma VidalOperação de luz: Pâmola CidrackRoteiro dos vídeos, captura de imagens na internet, edição, mapeamento e operação de vídeo: Rafael GriloOperação de som e projeção: Rafael EmerichFotos: Leto CarvalhoAssessoria de imprensa: Bia Sampaio Direção de produção: Fernanda BezerraIdealização: Mare Produções Culturais e Melanina Acentuada

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Embarque Imediato6/2 a 8/3 de 2020 (exceto 21 e 22/2)Quintas a sábados, às 21h. Domingos, às 18h.Teatro Anchieta Duração: 60 min.

Sesc ConsolaçãoRua Dr. Vila Nova, 24501222-020 São Paulo - SP

Higienópolis-MackenzieTel: (11) 3234-3000

/ sescconsolacao

sescsp.org.br/consolacao