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Daniel Trento do Nascimento e Maria Augusta Almeida Bursztyn Revista do Serviço Público Brasília 62 (2): 185-208 Abr/Jun 2011 185 RSP Descentralização da gestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meio ambiente no sul catarinense Daniel Trento do Nascimento e Maria Augusta Almeida Bursztyn Introdução A questão ambiental passou a fazer parte da vida dos municípios brasileiros com maior ênfase a partir da Constituição Federal de 1988, como se observa, de forma geral, no Artigo 225, em que o meio ambiente é definido como bem de uso comum do povo, sendo responsabilidade do poder público e da sociedade a sua manutenção. De forma específica, o Artigo 23 deixa claras as competências comuns da União, dos estados, do distrito federal e dos municípios para, entre outras coisas, promoverem a proteção do meio ambiente, o combate à poluição, a preservação das florestas, da fauna e da flora. Embora muitos problemas ambientais extrapolem a territorialidade dos municípios em termos de efeitos, mecanismos, dispersão e responsabilidades, é inegável que o município é o ente administrativo da federação onde os problemas ambientais estão mais próximos da vida do cidadão, cabendo à administração municipal a responsabilidade pela tomada de decisão e execução da gestão ambiental no âmbito local.

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Daniel Trento do Nascimento e Maria Augusta Almeida Bursztyn

Revista do Serviço Público Brasília 62 (2): 185-208 Abr/Jun 2011 185

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Descentralização da gestãoambiental: análise do processo

de criação de organizaçõesmunicipais de meio ambiente no

sul catarinense

Daniel Trento do Nascimento eMaria Augusta Almeida Bursztyn

Introdução

A questão ambiental passou a fazer parte da vida dos municípios brasileiros

com maior ênfase a partir da Constituição Federal de 1988, como se observa,

de forma geral, no Artigo 225, em que o meio ambiente é definido como bem

de uso comum do povo, sendo responsabilidade do poder público e da sociedade

a sua manutenção. De forma específica, o Artigo 23 deixa claras as competências

comuns da União, dos estados, do distrito federal e dos municípios para, entre

outras coisas, promoverem a proteção do meio ambiente, o combate à poluição,

a preservação das florestas, da fauna e da flora.

Embora muitos problemas ambientais extrapolem a territorialidade dos

municípios em termos de efeitos, mecanismos, dispersão e responsabilidades, é

inegável que o município é o ente administrativo da federação onde os problemas

ambientais estão mais próximos da vida do cidadão, cabendo à administração

municipal a responsabilidade pela tomada de decisão e execução da gestão

ambiental no âmbito local.

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Na busca de soluções para os pro-blemas estruturais e institucionais dapolítica ambiental brasileira, um dospressupostos mais fortes nos meiosacadêmico, político e governamental temsido a necessidade de descentralização dapolítica e gestão ambiental. Entretanto, sãopoucos os estudos que buscam avaliar areal efetividade desses processos no Brasil.

Como mencionam Scardua e Bursztyn(2003), entre os diversos desafios para agestão ambiental municipal está a descen-tralização. Pois à medida que os instru-mentos de gestão ambiental federal vãosendo implementados, os estados tendema seguir as diretrizes; porém, essas práticasainda não encontram a mesma facilidadede ocorrer nos municípios.

Assim, é cada vez mais importante queos municípios tenham capacidade de orga-

nizarem seu sistema de gestão ambiental e,além disso, tenham uma estrutura capaz deimplementar a política ambiental compessoal capacitado, equipamentos apro-priados e recursos financeiros.

Ao se comparar dados relacionados àestrutura dos municípios para gestãoambiental, registrados em 2002 (MUNIC –IBGE, 2002), com a situação encontradaem 2008 (MUNIC – IBGE, 2008), verifica-

se que existe um crescimento no processode estruturação da gestão ambiental noâmbito municipal.

Na Tabela 1 se observa que houve au-mento no número de municípios que apre-sentam o setor de meio ambiente sendo tra-tado por algum órgão (SMMA). Numavisão geral, incluindo as secretarias onde aquestão de meio ambiente é tratada de for-ma compartilhada com outro setor, houveum crescimento de mais de 20% em 6 anos.

Quando se considera apenas secretariasmunicipais que tratam a área ambiental deforma exclusiva (SMMA exclusiva), oaumento foi de 7%. No que diz respeito àexistência de conselhos municipais de meioambiente (CMMA), constata-se que houveaumento de aproximadamente 13% nonúmero de municípios com conselhoscriados.

Diante desse cenário, uma das questõesque surgem está relacionada às razões quemovem os municípios para a institucio-nalização da área ambiental. Nesse sentido,procurou-se com este estudo investigarqual o motivo principal que tem levado osmunicípios a criarem organizações muni-cipais de meio ambiente.

Para tanto, foram selecionados muni-cípios da região sul catarinense, pois é uma

Ano da pesquisa 2002 2008

Nº municípios 5.560 % 5.564 %

SMMA 1.752 31.51 3.078 55.32

SMMA exclusiva 326 5.86 706 12.69

CMMA 1.895 34.08 2.650 47.63

Tabela 1: Evolução da estrutura de gestão ambiental municipal (2002 - 2008)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em MUNIC (IBGE, 2002) e MUNIC (IBGE, 2008)

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região que, além de apresentar um processorecente de criação de organizações locaisde meio ambiente, tem a peculiaridade deapresentar grande maioria dos municípiosadotando forma jurídica de fundaçõespúblicas municipais.

Dessa maneira, definiu-se comoobjetivo de pesquisa identificar os fatoresdeterminantes para o processo de criaçãodas fundações municipais de meioambiente no sul catarinense. Comometodologia, foram realizadas entrevistasestruturadas e semiestruturadas com atoreslocais importantes, bem como aplicadosquestionários aos gestores do órgãoambiental dos municípios.

A pesquisa se apoiou em dados estatís-ticos secundários (MUNIC, IBGE, PNUD) edados primários produzidos com osquestionários aplicados aos municípios. Nototal, foram selecionados 10 municípios eforam entrevistados1 os responsáveis pelosetor ambiental, podendo ser secretário,presidente ou superintendente – no casode fundações –, diretores e assessores –quando departamentos de meio ambiente.

Descentralização da gestãoambiental

A descentralização das políticaspúblicas ambientais é vista como uma dasalternativas aos problemas e desafios queos municípios enfrentam na área ambiental.A descentralização pode ser de naturezaintergovernamental, intragovernamental ouinterinstitucional, funcional ou espacial.Entre algumas alternativas para a descen-tralização das políticas públicas, podem serdestacadas a estadualização, a municipa-lização, a regionalização e a privatização.

Para Teixeira e Santana (1995), adescentralização impõe-se como umaestratégia de primeira importância para

reverter a tendência altamente centrali-zadora do modelo de gestão vigente.Porém, não basta apenas descentralizar;concomitantemente faz-se necessária umanova integração como estratégia paragarantir a articulação vertical e horizontalentre os diversos níveis de fluxos dentroda administração pública. Os autores citamoutros aspectos que são essenciais paraatingir descentralização e integração:

a) fortalecimento da delegação dacompetência executiva aos diversos níveisda administração, transferindo-a, quandodevido, para os estados, municípios, ins-tâncias setoriais, instituições da adminis-tração indireta etc.;

b) descentralização das estruturasfiscalizadoras fazendo com que as atividadesde fiscalização e controle permeiem

“A questãoambientalpassou a fazerparte da vidados municípiosbrasileiros commaior ênfase apartir daConstituiçãoFederal de1988...”

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organicamente a rede administrativa,tornando a função fiscalizadora maispróxima da fonte de execução da atividadecorrespondente e, portanto, da população;

c) consequente apoio aos órgãos compoderes descentralizados como câmaraslegislativas, grupos executivos de projetoslocais, organizações sociais distritais e debairros entre outras, para que exerçam ativi-dades administrativas e fiscalizadoras deprocessos e projetos.

A competência municipal para licenciaratividades com potencial poluidor é apenaspara as atividades com impacto local, ouaquelas especificadas por lei ou convêniocomo sujeitas de delegação do estado parao município. As competências para olicenciamento são definidas de acordocom a abrangência dos impactos: dois oumais estados (IBAMA); dois ou mais municí-pios (Órgão Estadual de Meio Ambiente –OEMA); local (órgão municipal responsávelpela gestão ambiental ou Oema), caso omunicípio ainda não esteja habilitadopara tal.

Um entrave à descentralização é a faltade capacidade institucional de algunsestados e muitos municípios. Muitoembora existiram algumas tentativas dedescentralização antes, foi só após ademocratização que começou a existir umarevisão no papel do Estado brasileiro, e opoder local passou a ganhar destaque nocontexto federativo.

Kliksberg (2000) apud Scardua eBursztyn (2003) afirma que os dois riscosprincipais da descentralização na áreaambiental são: as grandes diferenças entreos municípios; e controle da sociedade localpelas oligarquias locais.

De acordo com os mesmos autores,as experiências brasileiras recentes dedescentralização de políticas públicas nãopermitem vislumbrar um cenário muito

otimista, pois o padrão histórico de capturado Estado no âmbito local por práticasperniciosas (clientelismo e patrimonialismo,por exemplo) ainda está muito arraigadona cultura política do país.

Além disso, é importante observar oargumento de Azevedo, Pasquis e Bursztyn(2007), de que a descentralização na áreaambiental está sendo forçada de cima parabaixo, sem a observação das capacidadesde governança das esferas estaduais emunicipais. Como consequência, na opiniãodos autores, a descentralização estariasendo apenas transferência de responsabi-lidades sem recursos em vez de umcompartilhamento de competências.

Novaes (2007) segue o mesmo racio-cínio, como se observa:

Se o governo federal não tem estru-tura para um licenciamento e monito-ramento competentes, como será como governo estadual e/ou municipal,muito menos provido de recursos,muito mais sujeito a pressões dospoderes político e econômico locais?Embora a descentralização seja teorica-mente desejável, na prática os pro-blemas têm se verificado em todas aspartes do país onde ela ocorre. Naverdade, parece muito mais um“repasse do mico” que qualquer outracoisa (NOVAES, 2007, p. A2).

Purcell e Chirstopher (2005) argumen-tam que nem sempre a tomada de decisãono ambiente local é benéfica socialmente eecologicamente. Para os autores, as escalassão socialmente construídas por meio dedisputas políticas. Um arranjo escalar emque os recursos ou decisões são contro-lados localmente não garante que serãoecologicamente ou socialmente mais justosque outro arranjo, seja regional, nacional

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ou global; já que os resultados de umarranjo são dependentes da agenda políticadaqueles que são os responsáveis pela suaimplementação.

Por outro lado, se percebe que adescentralização vem ocorrendo efirmando-se como uma tendência a seracentuada nos próximos anos. Parece umcaminho sem volta, como se observa nosdados do IBGE (MUNIC), que vemmostrando um aumento ano a ano nonúmero de municípios que passam aestruturar-se para a gestão ambiental. Nessesentido, é válido citar o papel que asComissões Tripartites têm desempenhadonos estados.

A Comissão Tripartite foi criada parafortalecer o processo de descentralizaçãoda política e gestão ambiental no Brasil, eé um instrumento que visa construirespaços de diálogo entre os entes federadosem busca de uma gestão compartilhadana área ambiental. Foi criada pela portariado Ministério do Meio Ambiente (MMA)nº189, de março de 2001, e é formadapelo MMA, pela Associação Brasileira deEntidades Estaduais de Meio Ambiente(ABEMA) e pela Associação Nacional deMunicípios e Meio Ambiente (ANAMMA).

Gestão ambiental municipal

A gestão ambiental municipal é umprocesso político-administrativo que com-pete ao poder público local (Executivo eLegislativo) implementar, formular eavaliar políticas ambientais, com a partici-pação da sociedade, visando assegurarqualidade ambiental e qualidade de vidaaos cidadãos (PHILIPPI JR, 2007).

Como instrumentos de gestãoambiental municipal podem ser citados osseguintes: plano diretor; código de obras;lei de uso e ocupação do solo; lei de

parcelamento do solo; código de posturasurbanas; zoneamento ambiental; estatutoda cidade; licenciamento ambiental; alvaráde localização e funcionamento de ativi-dades; agenda 21; educação ambiental;entre outros.

Importante componente da gestãoambiental municipal é o órgão executivomunicipal de meio ambiente. Não é neces-sário que seja criada uma secretaria ou umdepartamento específico para tratar daquestão ambiental, pois, desde que sejadefinido por lei, qualquer outro órgão daestrutura administrativa da prefeituramunicipal pode executar as funções degestão ambiental.

Os eixos estruturais para a política e agestão ambiental municipal são os queseguem: democratização da gestãoambiental; controle social, transparência eacesso à informação; articulação dogoverno local com as demais esferas degoverno; corresponsabilidade; princípio dasubsidiaridade; compromisso comparti-lhado com os Objetivos do Milênio, comdestaque para o objetivo 7 – garantir asustentabilidade ambiental (MARCATO eRIBEIRO, 2002).

A estrutura de gestão da política muni-cipal de meio ambiente, assim como apolítica nacional, deve ser constituída porum conselho municipal de meio ambiente(órgão superior) e um órgão executivode meio ambiente (órgão central),podendo este ser compartilhado comoutro setor e órgãos seccionais (outrosórgãos da administração municipal,fundações, autarquias, etc.). Em comple-mento, para a viabilização da políticamunicipal de meio ambiente, os municí-pios podem criar um fundo municipal demeio ambiente (SOUZA et al., 2003).

De acordo com Souza et al. (2003), asmaiores dificuldades das administrações

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municipais na implementação da políticamunicipal de meio ambiente são:inadequação dos instrumentos à estruturade gestão; falta de integração; baixacapacitação técnica e falta de recursosfinanceiros.

Fundações públicas

Como nesta pesquisa um dos objetosde análise são as fundações municipais demeio ambiente, é fundamental entender asprincipais características desse tipo de orga-nização.

A administração pública pode ser divi-dida em duas partes: a) administraçãodireta, composta por órgãos ligadosdiretamente ao órgão executivo centralcomo, p. ex., ministérios (União), secretarias(estados ou municípios); b) administraçãoindireta, que possui maior autonomia emrelação ao órgão executivo central e podeser dividida em: autarquias, fundaçõespúblicas, empresas públicas e empresas deeconomia mista.

As fundações públicas podem serdefinidas como entidades dotadas depersonalidade jurídica de direito público,sem fins lucrativos, criadas por meio deautorização legislativa (lei específica eregulamentada por decreto) para odesenvolvimento de atividades de interessepúblico, como educação, cultura e pesquisa(FGV, 2008).

Dallari (1995) define fundação comosendo a vinculação de um patrimônio adeterminado fim, atribuindo-lhe perso-nalidade jurídica. De acordo com o mes-mo autor, tem sido comum no Brasilapontar as fundações como solução óti-ma para problemas relacionados à defi-ciência de recursos, à falta de flexibilida-de e à necessidade de independênciapolítica.

A fundação pode assinar contra-tos, pode ser proprietária e receberdoações, pode mover ações judici-ais, podendo, em síntese, agir comose fosse uma empresa legalmenteconstituída. Além disso, fica sujeitaao cumprimento de obrigações,como o pagamento de impostos eo respeito aos compromissos quetiver assumido com terceiros; fican-do, ainda, sujeita a algumas regraslegais que só se aplicam às fundações,como o controle permanente peloMinistério Público (DALLARI, 1995).

Em 1916, o Código Civil consideravaas fundações como pessoas jurídicas dedireito privado, assim como as sociedadescivis, científicas, as associações de utilidadepública, as sociedades mercantis e ospartidos políticos.

As fundações criadas pelo poderpúblico no Brasil surgiram há mais de 60anos, mas por um bom tempo houvequestionamento e resistência do diretobrasileiro que, mesmo sendo instituídaspelo poder público, considerava as funda-ções com personalidade jurídica de direitoprivado. Entretanto, hoje já são aceitascomo sendo de direito público e seufuncionamento é muito parecido com odas autarquias (DALLARI, 1995).

Silva et al. (2009) identificam trêscorrentes para caracterizar as fundações. Aprimeira, mais antiga, defende a naturezaprivatística de todas as fundações instituídaspelo poder público; ou seja, o fato de ser oEstado o instituidor não faz com que essaentidade deixe de ser de direito privado.Essa era a opinião clássica de Meirelles(1990), para quem constituíam umacontradictio in terminis expressões comoautarquias fundacionais ou fundaçõespúblicas.

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A segunda corrente, minoritária,defende que, após a promulgação daConstituição de 1988, o poder públicosomente poderia instituir fundações dedireito público. E, por fim, a corrente maisaceita e adotada pelo Supremo TribunalFederal (STF) defende que as fundaçõespúblicas de natureza de direito público sãocaracterizadas como verdadeiras autarquias,razão porque são denominadas, algumasvezes, de fundações autárquicas ouautarquias fundacionais.

Em relação às aparentes vantagens dasfundações, Dallari (1995) menciona quetanto a prometida flexibilidade adminis-trativa quanto a liberdade para celebrarcontratos de gestão foram restringidas pelaConstituição de 1988. De acordo com oArtigo 37, todos os componentes da admi-nistração pública estão sujeitos às mesmasregras, como se observa no caput doArtigo: “A administração pública direta eindireta de qualquer dos Poderes da União,dos estados, do distrito federal e dosmunicípios obedecerá aos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e eficiência”.

No que tange à mística de que afundação pode ser uma fonte milagrosade recursos, Dallari (1995) é enfático aomencionar que “é ilusória a imagem dafundação como fonte milagrosa derecursos. Como regra, a fundação deveráser instituída com base num patrimôniorentável, capaz de produzir o suficientepara atingir os objetivos pretendidos”.

Além disso, no inciso XIX do mesmoartigo, tem-se que somente por lei espe-cífica poderá ser criada autarquia e autori-zada a instituição de empresa pública, desociedade de economia mista e defundação, cabendo à lei complementar,neste último caso, definir as áreas de suaatuação.

As fundações de meio ambientee a descentralização da gestãoambiental em Santa Catarina

O próprio órgão executor da políticaambiental no Estado de Santa Catarina éuma fundação: a Fundação do MeioAmbiente (FATMA). A Fatma é uma fun-dação pública, vinculada à Secretaria deEstado do Desenvolvimento EconômicoSustentável (SDS), entidade de caráter

científico, sem fins lucrativos, instituída pelodecreto no 662, de 30 de julho de 1975.Sua jurisdição abrange todo o territóriocatarinense e, em conformidade com oartigo no 66, da lei no 9.831, de 17 de feve-reiro de 1995, tem por objetivo: a) executarprojetos específicos, incluídos os depesquisa científica e tecnológica, de defesae preservação ecológica; b) fiscalizar,

“A descentra-lização das polí-ticas públicasambientais évista como umadas alternativasaos problemase desafios queos municípiosenfrentam naárea ambiental.”

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acompanhar e controlar os níveis depoluição urbana e rural; c) participar naanálise das potencialidades dos recursosnaturais com vistas ao seu aproveitamentoracional; d) promover a execução deprogramas visando a criação e adminis-tração de parques e reservas florestais; e)executar as atividades de fiscalização dapesca, por delegação do governo federal.

O processo de descentralização dagestão ambiental no estado é coordenadoprincipalmente pelo programa de munici-palização conduzido pela Fatma. Algumascidades como Blumenau e Joinville jápossuem órgãos municipais de gestãoambiental há mais de 20 anos. Aliás, aFundação Municipal de Meio Ambiente deBlumenau (Faema) foi o segundo órgãoambiental municipal a ser criado no país,em 1977.

Vários municípios têm criado seusórgãos municipais de meio ambiente emSanta Catarina, principalmente após o ano2000. Esse fenômeno se verifica forte-mente na região sul do estado, onde váriosmunicípios acabaram de criar seus órgãosmunicipais ou estão em fase de criação.

Nesse processo, além dos municípiosse estruturarem para fazer a gestãoambiental, alguns deles têm se habilitadopara dar procedimento ao licenciamentoambiental de atividades de impacto local.Um dos instrumentos que a Fatma temutilizado para apoiar os municípios são osconvênios de cooperação técnica einstitucional. A base do processo demunicipalização da gestão ambiental noestado é a lei no 9.638/81, que dispõe, en-tre outras coisas, sobre os diversos instru-mentos da Política Nacional do MeioAmbiente.

Em conjunto com a referida lei, adescentralização da gestão ambiental mu-nicipal em Santa Catarina fundamenta-se

também em outras leis, decretos e reso-luções federais e estaduais2.

De acordo com o Art. 1o do decretoestadual no 620, de 27 de agosto de 2003,o Programa de Descentralização das Açõesde Gestão Ambiental no Estado de SantaCatarina tem, entre outros, os seguintesobjetivos: a descentralização e gestãoambiental compartilhada nos municípiosdo estado; agilidade e otimização do pro-cesso de licenciamento ambiental;delegação do licenciamento de atividadesde impacto ambiental local aos municípioshabilitados; e fomento à criação eimplementação de instituições municipaisde meio ambiente.

Como instrumentos para a descen-tralização, o Programa de Descentralizaçãodas Ações de Gestão Ambiental no Estadode Santa Catarina adota os seguintes:

a) a celebração de convênio de coope-ração técnica e institucional entre a SDS, aFatma, os municípios, as instituições dasociedade civil e demais órgãos da admi-nistração pública estadual;

b) o programa contínuo de capaci-tação, sob responsabilidade da SDS,objetivando formar e atualizar os servi-dores municipais para atuação nasatividades de gestão ambiental;

c) a criação e o fortalecimento dosconselhos municipais de meio ambiente,paritários e representativos, e dos fundosmunicipais de meio ambiente;

d) fomento à elaboração e implemen-tação de legislação municipal de meio am-biente, das políticas municipais de meioambiente nos municípios conveniados, coma cooperação técnica da Fatma e da SDS;

e) a definição das atividades deimpacto ambiental e de critérios para oexercício da competência do licenciamentoambiental municipal, por meio de resolu-ção aprovada pelo Consema.

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Os municípios do Estado de SantaCatarina que passam a licenciar as atividadesde impacto local dispõem como base aresolução 02/2006 do Consema, queestabelece as atividades de impacto localpara fins do exercício da competência dolicenciamento ambiental municipal, bemcomo os critérios necessários para olicenciamento por meio de convênio, dasatividades potencialmente poluidorasprevistas em listagem aprovada peloConsema.

De acordo com o Art. 4o da mesmaresolução (02/2006), para requerer ahabilitação o município deverá ter osseguintes pré-requisitos aprovados:

a) Comprovação de implementaçãodo conselho municipal de meio ambiente,com caráter deliberativo, e composto deforma paritária entre as instituiçõesgovernamentais e não governamentais;

b) Decreto municipal declarando onível de complexidade em que o muni-cípio fará o licenciamento ambientalmunicipal;

c) Declaração do prefeito de queassume o compromisso de manter emseus quadros servidores públicos na con-dição de técnicos legalmente habilitadose com anotação de responsabilidade téc-nica (ART) ou de função técnica (AFT),para apreciarem os aspectos técnicos sobanálise.

Ao exigir uma estrutura mínima comservidores públicos na condição detécnicos legalmente habilitados, não seestabelece conjuntamente a necessidade deum órgão exclusivo para tratar de meioambiente. Ao celebrar os convênios decooperação técnica, o que se exige é a neces-sidade de órgão técnico-administrativo daestrutura do órgão municipal competentecom atribuições específicas ou comparti-lhadas na área de meio ambiente, dotado

de corpo técnico multidisciplinar,legalmente habilitado com anotação deresponsabilidade técnica ou de funçãotécnica, para análise e avaliações deimpactos ambientais.

Entretanto, o que se observa é que agrande maioria dos municípios habilitados3

para licenciar possue um órgão exclusivoe um fato interessante é que quase todossão fundações municipais de meioambiente, com uma única exceção, comose observa no Quadro 1 a seguir.

Sabe-se que a causa da opção pelafigura jurídica de fundação pública podeter vários motivos, entre os quais, comovisto em Dallari (1995), podem estar maiorautonomia do órgão executivo central,melhor fonte de recursos financeiros, emaior flexibilidade.

É importante lembrar que, para omunicípio iniciar o processo delicenciamento ambiental, existem váriosrequisitos a serem atendidos como, p. ex.,a existência de conselho de meio ambienteparitário e deliberativo, política de meioambiente local, entre outros instrumentos.Estes só podem ser instituídos na formade lei, o que vem a configurar uma forçamaior à presente pesquisa, pois não está seanalisando apenas a criação do órgãomunicipal de meio ambiente, mas tambémleis e regulamentos necessários para aimplementação da gestão ambiental noâmbito local.

Caracterização dos municípiosestudados

Os municípios selecionados para estaanálise pertencem à região sul de SantaCatarina e foram selecionados por jápossuírem ou estarem em vias de criaçãodo seu órgão municipal de meio ambiente.A região sul catarinense possui uma área

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total de 9.709,247 km² e uma populaçãode aproximadamente 925.177 habitantes(IBGE, 2010).

Dos municípios analisados, a grandemaioria é pertencente à microrregião daAssociação dos Municípios da RegiãoCarbonífera (Amrec): Criciúma, Cocal doSul, Forquilhinha, Içara, Lauro Müller,Morro da Fumaça e Urussanga. Da regiãoda Associação dos Municípios da Regiãode Laguna (Amurel) foram selecionadosdois municípios: Tubarão e Sangão. A úni-ca exceção é do Município de Itapema,que faz parte da região do Vale do Itajaí.

Entretanto, devido ao acesso dopesquisador aos gestores ambientais domunicípio e à relevância da experiência deItapema com a gestão ambiental municipal,procurou-se também inserir este municípiona análise.

A seguir apresenta-se o mapa doEstado de Santa Catarina com detalhe paraos municípios selecionados.

É válido ressaltar que a região de estudoé grande produtora de carvão mineral,atividade que gerou um passivo enormedevido à degradação, dando origem aodecreto presidencial no 85.206/80,

Quadro 1: Municípios catarinenses habilitados para realizar licenciamento dasatividades de impacto local

Municípios Órgão municipal de meio ambiente – ano de criação

Blumenau Fundação Municipal de Meio Ambiente (Faema) - 1977

Joinvile Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema) - 1990

São José Fundação Municipal do Meio Ambiente e Agricultura Pedra Branca - 1997

Itajaí Fundação Municipal do Meio Ambiente de Itajaí - 2000

Itapema Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (FAACI) - 2001

Içara Fundação do Meio Ambiente do Município de Içara (Fundai) - 2002

Palhoça Fundação Municipal do Meio Ambiente de Palhoça - 2003

Xanxerê Secretaria Municipal de Políticas Ambientais - 2003

Jaraguá do Sul Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama) - 2005

Laguna Fundação Lagunense do Meio Ambiente - 2006

Lauro Müller Fundação Municipal do Meio Ambiente de Lauro Muller – entre 2006 e 2008

Orleans Fundação Ambiental Municipal de Orleans (Famor) - 2007

Forquilhinha Fundação Ambiental Municipal de Forquilhinha - 2007

Criciúma Fundação Municipal de Meio Ambiente de Criciúma (FAMCRI) - 2008

Cocal do Sul Fundação Municipal de Meio Ambiente (Fundac) - 2009

Morro da Fumaça Fundação de Meio Ambiente do Morro da Fumaça (Fumaf) - 2009

Fonte: Fatma, 2009

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considerando a região carbonífera comoa “14a área crítica para efeitos de con-trole de poluição e conservação do meioambiente” no Brasil. Além disso, em2000 foi publicado no Diário Oficial daUnião a criação do Comitê Gestor para aRecuperação Ambiental da Bacia Carboníferade Santa Catarina junto ao Ministério doMeio Ambiente (MMA), com o objeti-vo de articular, coordenar e supervisio-nar as ações para a recuperaçãoambiental da região carbonífera do Es-tado de Santa Catarina.

Outro dado importante a respeitodos municípios estudados se relacionacom suas bacias hidrográficas. A maiorparte dos municípios analisados pertence

à Bacia do Rio Urussanga, uma das maispoluídas do Brasil devido aos rejeitos docarvão.

Visto isso, pode-se ter uma noção daimportância e responsabilidade dos ór-gãos locais para a gestão ambiental, ten-do em vista a cultura econômica regionalbaseada na exploração intensa de recur-sos naturais.

Dos municípios selecionados,Criciúma, Cocal do Sul, Forquilhinha,Içara, Lauro Müller, Morro da Fumaça eItapema já celebraram convênio de coo-peração técnica e institucional com o ór-gão estadual para proceder aolicenciamento ambiental das atividades deimpacto local. (Figura 1).

Figura 1: Mapa de Santa Catarina com destaque para os municípios estudados

Fonte: Adaptado de Abreu, 2009 e IBGE, 2009a.

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Em relação aos principais desafiospara a gestão ambiental na região,de acordo com Scheibe et al. (2006), alguns pontos importantes a serem obser-vados são:

a) A importância da preservação dasflorestas para que se mantenham osrecursos hídricos e não venham a sedesencadear processos erosivos de ca-ráter catastrófico. Nesse sentido, ésugerida a implantação de uma APA(Área de Proteção Ambiental) em todaa encosta da Serra Geral na região sulcatarinense;

b) A necessidade de projetos deadequação do manejo agrícola, visandocontrolar a erosão e aumentar a produ-tividade;

c) A importância de se incentivar asilvicultura e a fruticultura;

d) A necessidade de se estabelecerpadrões de uso adequado das áreas costeiras;

e) A urgência na regulamentação douso do solo urbano,via planos diretores; e

f) Áreas de mineração: há necessidadede planos de recuperação das áreas jámineradas e, urgentemente, de monito-ramento efetivo das atividades em curso,a fim de evitar a continuidade dosprocessos de degradação ambiental. Paraas áreas de mineração do carvão, deve serimplementado um zoneamento ambientale diretrizes específicas, visando administraros conflitos e racionalizar o uso dosrecursos hídricos regionais. (Tabela 2).

Análise dos dados da pesquisa

Neste tópico são apresentados osdados primários obtidos por meio deentrevistas e aplicação de questionários atodos os gestores ambientais dos muni-cípios selecionados. A pesquisa foi feita nosmeses de junho e julho de 2009.

Fontes: *Área e estimativa populacional (IBGE, 2010); **Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005 (IBGE, 2007); ***Ranking do IDH-M dos municípios do Brasil (PNUD, 2000); ****Governo doEstado de Santa Catarina (2009).

Tabela 2: Características socioeconômicas dos municípios estudados

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No Gráfico 1 é apresentada a formajurídica do órgão encarregado da gestãoambiental no município e no quadro 2 édetalhado o tempo de existência do órgãode gestão ambiental em cada um dosmunicípios estudados.

Como pode ser observado, mais dametade dos municípios analisados possuemcomo órgão responsável pela área ambientaluma fundação pública. Nota-se também quemais de 50% delas existem há menos de dois

anos, o que configura um processo recentede fortalecimento e institucionalização dagestão ambiental na região estudada.

No que diz respeito ao motivo princi-pal para a criação do órgão, a maioria dosentrevistados afirmou que a necessidadede maior agilidade no licenciamento foi aprincipal causa da criação. Tambématribuíram tal criação a uma maior preocu-pação do Executivo municipal para coma temática ambiental.

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

Gráfico 1: Órgão encarregado da gestão ambiental municipal

Quadro 2: Tempo de existência do órgão municipal de meio ambiente

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

Há quanto tempo possui órgão executivo Municípiosde gestão ambiental

Em fase de criação Sangão, Tubarão e Urussanga

Menos de 2 anos Criciúma, Cocal do Sul, Forquilhinha, LauroMüller, Morro da Fumaça

Mais de 5 anos Içara e Itapema

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Essa necessidade de maior agilidadedeixa claro que a lentidão e a sobrecargado órgão estadual têm sido uma dasprincipais causas para a criação do órgãomunicipal de meio ambiente. É importantenotar que apenas um município comentousobre influência do programa estadual demunicipalização da gestão ambiental, e ummunicípio afirmou ter sofrido influênciadas boas práticas de outros municípios,bem como aumento das reclamações dasociedade, mostrando que um dos fatoresdeterminantes para a decisão local foi aineficiência do órgão estadual. (Gráfico 2).

Em relação ao motivo pelo qual osmunicípios têm optado pela figura jurídicadas fundações públicas em vez de secretariamunicipal de meio ambiente, obteve-seo resultado conforme mostrado noGráfico 3.

Observa-se que a grande maioria(80%) dos municípios estudados que temoptado por fundação, atribui isso à neces-sidade de maior autonomia e indepen-dência do órgão executivo central domunicípio. Por outro lado, é importanteressaltar que, para que o município possase habilitar a licenciar, é necessário queatenda alguns requisitos como a criação deinstrumentos legais importantes paraimplementar a gestão ambiental. Dessaforma, se observa que na grande maioriados municípios o órgão ambiental foi criadoem conjunto com outro instrumento.

Verifica-se assim que essa exigêncialegal é um fator importante que contribuipara a qualificação do processo deinstitucionalização de estruturas que favo-recem a governança local e a gestãoambiental. (Quadro 3).

Outro ponto abordado na pesquisarelaciona-se ao processo de discussão juntoà Câmara de Vereadores para a criação doórgão e dos instrumentos legais

relacionados, visto que, como se tratam deleis municipais, necessitam ser submetidasao órgão legislativo do município.

Dos municípios que responderam aoquestionário, metade afirmou que os projetosde lei foram aprovados sem problemas(Içara, Forquilhinha e Urussanga) e outrametade afirmou ter sido um processo muitodebatido e questionado (Criciúma, Cocal doSul e Sangão4). (Gráfico 4).

No que diz respeito ao relacionamentodos órgãos municipais de meio ambientecom os demais órgãos componentes doSisnama, pertencentes às outras esferas(federal e estadual), identificou-se que osórgãos estaduais com função de executar apolítica ambiental são instituições com asquais os municípios mantêm melhor relacio-namento (Fatma e Polícia Ambiental).

No que diz respeito ao relacionamentocom o órgão estadual responsável pelaformulação da política ambiental estadual(SDS), 40% dos municípios entrevistadosalegaram não ter contato. O mesmoocorreu com o Ministério do MeioAmbiente, Ibama e ICMBio; ou seja, osórgãos municipais têm pouco contato,como se observa na Tabela 3.

Quando perguntados sobre quem maiscontribuiu no processo de criação doórgão municipal, verificou-se que o órgãoresponsável pela execução da políticaambiental no estado (Fatma) foi o maiscitado, com 42%. Nesse ponto, embora amaioria dos municípios tenha atribuído àineficiência do órgão estadual o principalmotivo para criar o órgão municipal demeio ambiente, percebe-se que para suaimplementação o apoio do órgão estadualfoi importante.

Esse dado não chega a ser umacontradição, pois a ineficiência alegadapelos municípios está relacionada principal-mente ao tempo demandado para os

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Gráfico 2: Motivo principal para criação do órgão municipal de meio ambiente

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

Gráfico 3: Motivo da escolha de Fundação em vez de Secretaria Municipal deMeio Ambiente

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

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Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

*Não se aplica devido ao fato de estarem em processo de criação (Sangão e Tubarão) ou não foi informadono questionário (Itapema).

Quadro 3: Instrumentos criados conjuntamente com a Fundação

Gráfico 4: Processo de discussão junto à Câmara de Vereadores

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

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processos de licenciamento ambiental e asobrecarga de trabalho; enquanto que oapoio para os municípios está ligado àassinatura de convênio e outras questõesadministrativas, e a orientações e consultassobre como o município deve proceder.

Antes do início da pesquisa, imaginava-se que a troca de experiências e infor-mações entre os municípios era um fatorimportante, mas apenas dois municípiosalegaram esse motivo como o que maiscontribuiu para a criação do seu órgãomunicipal de meio ambiente. (Gráfico 5).

Por fim, de forma a compreendermelhor as necessidades atuais dos órgãosmunicipais de meio ambiente estudados,perguntou-se qual era a maior necessidadepara que se tivesse melhor funcionamentodo órgão. Como resultado, verificou-seque as maiores necessidades estão relacio-nadas com mais recursos financeiros erecursos operacionais, como carros eequipamentos para o desenvolvimento dasatividades. (Gráfico 6)

Nesse ponto, verifica-se que um dosmotivos alegados para a criação dasfundações públicas, ou seja, ter maiorcapacidade de captação de recursos, não

tem sido confirmado na prática, corrobo-rando com os argumentos de Dallari(1995), ao afirmar que, embora asfundações tenham maior autonomia paracaptação de recursos, essa vantagem temsido superestimada no momento de suacriação.

Considerações finais

Um dos principais obstáculos para aaplicabilidade dos instrumentos de gestãoambiental é a fragilidade do arcabouçoinstitucional. Apesar de já em curso há quasetrês décadas, o processo de institucionalizaçãodas políticas ambientais no Brasil ainda éproblemático (BURSZTYN, 2006).

Se, por um lado, a institucionalizaçãoda gestão ambiental é importante,também é preciso reconhecer que apenasinstitucionalizar (criar leis, decretos,regulamentos, organizações) não definiráa qualidade da gestão ambiental local, quedepende de outros fatores como trans-parência, existência de governança local,comportamento cíclico das políticaspúblicas, clientelismo, corrupção, patrimo-nialismo, entre outros.

Tabela 3: Relacionamento do órgão municipal de meio ambiente com os demaisintegrantes do Sisnama

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo 2009 e adaptado de NASCIMENTO, 2010.

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Gráfico 5: Entes que mais contribuíram para a criação do órgão municipal demeio ambiente

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

Gráfico 6: Maior necessidade do órgão municipal de meio ambiente

Fonte: Dados coletados na pesquisa de campo, 2009.

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Como apresentado na introduçãodeste trabalho, foi identificado umprocesso de crescimento do número demunicípios com secretarias de meioambiente e conselhos municipais nosúltimos anos no Brasil. Assim, a fim deverificar alguns dos motivos que têmlevado os municípios a institucionalizarema área ambiental, foi elaborado um estudosobre a criação das fundações municipaisde meio ambiente na região sul de SantaCatarina.

Com esta pesquisa foi possívelperceber que a necessidade de maior agili-dade nos processos de licenciamentoambiental não é exclusividade de grandesempreendimentos, mais comumente divul-gados na mídia, mas também uma neces-sidade dos empreendedores locais. Foijustamente esse um dos principais fatoresque tem contribuído para que o municípiopasse a organizar sua estrutura para a gestãoambiental local e consequentemente parapoder proceder ao licenciamento de ativi-dades de impacto local.

Para definir as atividades de impactolocal em Santa Catarina, o órgão estadualde meio ambiente, com base no Consema,optou por adotar uma listagem detalhada,levando em consideração o potencialpoluidor e de degradação (do solo, água ear), bem como o porte do empreendi-mento nas mais variadas atividades.

Também verificou-se nesta pesquisaque a criação do órgão municipal de meioambiente, na maioria dos municípios estu-dados, se deu em função da sobrecargade trabalho e lentidão na emissão delicenças do órgão estadual e da necessidadede agilizar os processos de licenciamentoque, de uma certa forma, entravam oestabelecimento de novos empreendi-mentos nos municípios. Em contraste, éimportante notar que apenas um município

reconheceu alguma influência do programaestadual de municipalização da gestãoambiental do órgão estadual.

Percebe-se assim que a descentra-lização da gestão ambiental é um processocomplexo e que depende de vários fatores,e não exclusivamente de um programa ouuma política de descentralização. Apesarda importância de programas de descen-tralização, identificou-se que, ao menos naregião estudada, o fator mais decisivo paraa criação dos órgãos locais de meioambiente foi a pressão dos empreen-dedores locais por processos mais ágeis.

A criação das organizações locais demeio ambiente é importante. Mas aindaexiste um desafio que é a estruturaçãodesses entes para poder operar com a agili-dade e qualidade esperadas. Como vistono levantamento de dados junto aosmunicípios estudados, as maiores necessi-dades das organizações locais recém-criadas têm sido justamente obtenção derecursos operacionais como carros eequipamentos, além de recursos financeirose capacitação técnica.

Além disso, na habilitação do muni-cípio para o licenciamento ambiental há aexigência de emprego de alguns instru-mentos como conselho de meio ambientee fundo municipal de meio ambiente.Assim, sabendo que a existência dessesinstrumentos é um pressuposto funda-mental para a governança ambiental,observou-se que essa exigência legal foifator importante para que as fundações nãofossem criadas sem o amparo de instru-mentos que fortalecem a institucionalizaçãoda gestão ambiental no âmbito local.

Por outro lado, é importante reco-nhecer que nem sempre a criação formaldesses instrumentos (Conselho Municipalde Meio Ambiente e Fundo Municipal deMeio Ambiente, por exemplo) significa

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processo mais transparente e efetivo paraa gestão ambiental local, visto que não éraro encontrar conselhos com poucaatividade e fundos desativados, servidoapenas como peça figurativa para atenderas exigências legais.

Por fim, diante da grandeza e diversi-dade regional brasileira, é difícil identificarquais são os fatores e forças determinantespara a institucionalização da gestãoambiental no âmbito municipal. Sabe-seque não existe um padrão único. Noentanto, a verificação de diversas realidadesé um esforço importante para formar uma

base de compreensão e, a partir disso, con-tribuir para a formulação de políticaspúblicas e tomada de decisão, seja noâmbito federal, estadual ou municipal.

Nesse sentido, este trabalho procurouapresentar a realidade sul catarinense carac-terizada pelo surgimento de fundaçõesmunicipais que funcionam como figurasprincipais para a área de meio ambiente.Um dos principais motivos para criaçãode tais entidades se deve à necessidade deprocessos mais ágeis.

(Artigo recebido em dezembro de 2010. Versãofinal em setembro de 2011).

Notas

1 Foram entrevistadas 15 pessoas de 10 prefeituras e aplicados questionários aos gestoresambientais de cada um dos municípios. Lista de entrevistados: Mirna Murialdo (Consema/SC);Carlos Alberto Cardoso (Cocal do Sul); Sandra Maria de Souza (Cocal do Sul); Adilson Machiavelli(Itapema); Edson Alano (Urussanga); Juliana Turazzi (urussanga); Patricia Mazzon (Urussanga);Ricardo Lino (Içara); Hellen de Souza (Lauro Muller); Julio Cesar Colombo (Criciuma); JoelmaTezza (Criciuma); Paulo Naspolini (Morro da Fumaça); Rui Cesar Rufino (Tubarão); Marco AntônioRemor (Sangão); Edson Tele Campos (Florianópolis).

2 Leis Federais: Art. 23, incisos VI e VII, que trata da competência comum da União, dosestados, do distrito federal e dos municípios para proteger o meio ambiente e combater a poluiçãoem qualquer de suas formas, bem como para preservar as florestas, a fauna e a flora; Art. 225 daConstituição Federal, que enfatiza que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equili-brado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poderpúblico e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações;Artigos 6o e 9o da lei federal no 6.938, de 31/08/81, que tratam da estruturação e órgãos integrantesdo Sisnama (Art.6o), bem como dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (Art. 9o);Art. 22 da lei federal no 4.771, de 15/09/65, onde afirma que a União, diretamente, através do órgãoexecutivo específico ou em convênio com os estados e municípios, fiscalizará a aplicação das normasdo Código Florestal; Decreto federal no 750, de 10/02/93, que dispõe sobre o corte, a exploração ea supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração de Mata Atlân-tica; Medida provisória no 2.166, de 24/08/2001, que traz alterações no Código Florestal e dispõesobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR); Resolução Conama no 237/97, quetrata sobre o licenciamento ambiental. Leis Estaduais: Artigos 181 e 182 da Constituição Estadual,que reafirma o art. 225 da C. F. e apresenta as atribuições constitucionais do estado na defesa do meioambiente; Art. 7o da lei complementar no 284 de 28/02/2005, que trata das atribuições dos secre-tários de Estado; Lei estadual no 5.793, de 16/10/80, que dispõe sobre a proteção e melhoria daqualidade ambiental e dá outras providências; Art. 120, do decreto estadual no 14.250 de 05/06/81,que define que a Fatma poderá celebrar convênios com órgãos dos governos federal, estadual e

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municipal com vistas à execução e fiscalização de serviços, na forma da legislação vigente; Decretoestadual no 5.835, de 24/10/2002, que regulamenta o parágrafo único do art. 20 da lei no 10.472; leino 10.720 de 13 de janeiro de 1998, que dispõe sobre a realização de auditorias ambientais; Protocolode intenções firmado em 05/06/95, entre o estado, a Fatma, a Polícia Militar do Estado de SantaCatarina e a Federação Catarinense das Associações de Municípios (Fecam); Resolução conjunta01/95, firmada em 05/04/95, entre o Ibama, o estado de Santa Catarina, através da Secretaria deDesenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (SDM), atual SDS, e a Fatma; Portaria Interinstitucionalno 01, de 04/06/96, firmada entre o estado de Santa Catarina através da SDM, o Ibama e a Fatma;Resolução 01/2004 do Consema, que define as atividades potencialmente poluidoras, por meio delistagem, e os critérios para o exercício da competência do licenciamento ambiental municipal; Reso-lução 02/2006 do Consema, que define as atividades de impacto local para fins do exercício dacompetência do licenciamento ambiental municipal; Decreto estadual no 3.973 de 4 de fevereiro de2002, que aprova o Regimento Interno do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema);Decreto estadual no 620 de 27 de agosto de 2003, que institui o Programa de Descentralização dasAções de Gestão Ambiental no Estado de Santa Catarina, e dá outras providências.

3 Após a realização desta pesquisa, os seguintes municípios criaram suas fundações muni-cipais de meio ambiente: Biguaçu (Famabi), Araranguá (Fama) e Urussanga (Famur).

4 O município de Sangão ainda está em fase de construção tanto da Fundação Municipal deMeio Ambiente, quanto de outros instrumentos e isso já tem gerado muita discussão junto àCâmara de Vereadores.

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Resumo – Resumen – Abstract

Descentralização da gestão ambiental: análise do processo de criação de organizaçõesmunicipais de meio ambiente no sul catarinenseDaniel Trento do Nascimento e Maria Augusta Almeida Bursztyn

Esta pesquisa está inserida na temática da descentralização da gestão ambiental no Brasil e tratade analisar os principais motivos que têm levado os municípios a institucionalizarem a área ambientalno âmbito local. Para tanto, foram selecionados municípios da região sul catarinense, tendo em vistao processo recente de criação de órgãos locais de gestão ambiental e também a peculiaridade de agrande maioria desses municípios estarem optando pelo estabelecimento de fundações públicasmunicipais de meio ambiente. Como resultado da investigação, se percebeu que um dos fatoresprincipais para a criação de organizações municipais de gestão ambiental tem sido a necessidade demaior agilidade nos processos de licenciamento ambiental. Em relação à opção pela figura jurídicadas fundações, o principal argumento dos municípios tem sido a maior autonomia e independênciaem relação ao Executivo municipal para a execução de suas ações.

Palavras-chave: descentralização; gestão ambiental municipal; fundações públicas.

Descentralización de la gestión ambiental: análisis del proceso de creación deorganizaciones ambientales municipales en el sur de Santa CatarinaDaniel Trento do Nascimento y Maria Augusta Almeida Bursztyn

Esta investigación científica se inserta en el tema de la descentralización de la gestión ambientalen Brasil y busca analizar las principales razones que han llevado los municipios a la institucionalizacióndel sector de medio ambiente a nivel local. Con tal fin, se seleccionaron las ciudades del sur de SantaCatarina, teniendo en vista el reciente proceso de creación de organizaciones de gestión ambientallocal y también por tener la peculiaridad de que la gran mayoría de estos municipios están optandopor la creación de fundaciones públicas municipales. Como resultado de la investigación, se diocuenta de que uno de los factores mas importantes para la creación de organizaciones ambientalesmunicipales ha sido la necesidad de una mayor agilidad en los procesos de licenciamiento ambiental.En relación a la elección de la forma jurídica de fundaciones, el principal argumento de los municipiosha sido la mayor autonomía e independencia del Ejecutivo municipal para llevar a cabo sus acciones.

Palabras clave: descentralización; gestión ambiental municipal; fundaciones públicas.

Environmental management decentralization: analysis of the creation process ofmunicipal environmental organizations in southern Santa CatarinaDaniel Trento do Nascimento and Maria Augusta Almeida Bursztyn

This research is inserted in the subject of environmental management decentralization in Braziland tries to analyze the main reasons that has led municipalities to institutionalize the environmentalsector at local level. Therefore, it was selected municipalities in the South of Santa Catarina based onits recent process of creation of local environmental management organizations and also the peculiaritythat the vast majority of the studied municipalities are opting for the establishment of municipalpublic environmental foundations. As a result of the investigation, it was realized that one of themain factors for the creation of municipal environmental organizations has been the need tospeedup the processes of environmental licensing. Regarding the choice public foundations as legalform, the main argument of the municipalities has been the higher autonomy and independencefrom the municipal executive central power to carry out their actions.

Keywords: decentralization; municipal environmental management; public foundations.

Page 24: 6 Descentralização da gestão ambiental · Gestão ambiental municipal A gestão ambiental municipal é um processo político-administrativo que com-pete ao poder público local

Descentralização da gestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meio ambiente no sul catarinense

Revista do Serviço Público Brasília 62 (2): 185-208 Abr/Jun 2011208

RSP

Daniel Trento do NascimentoMestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Especialista em Gestão Local eServiços Públicos pela Ryukoku University do Japão e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidadede Brasília (UnB). Atualmente é Técnico Especialista do Ministério do Meio Ambiente.Contato: [email protected]

Maria Augusta Almeida BursztynEngenheira Civil pela Universidade de Brasília (UnB), com especialização em Engenharia Sanitária e Ambientalpela École Nationale de la Santé Publique na França; Doutorado em Ciências da Água pela Université de Paris VIe Pós-Doutorado em Avaliação Ambiental na École de Hautes Études en Sciences Sociales da França. Atualmenteé professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB).Contato: [email protected]