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FUNDAMENTOS EDIDÁTICA DA

ALFABETIZAÇÃO I

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

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Waldeck OrnelasRoberto Frederico MerhyReinaldo de Oliveira BorbaAndré portnoiRonaldo CostaJane FreireJean Carlo NeroneRomulo Augusto MerhyOsmane ChavesJoão Jacomel

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♦ PRODUÇÃO ACADÊMICA ♦

Gerente de Ensino ♦ Jane FreireAutor (a) ♦ Maria das Graças Cardoso MouraSupervisão ♦ Ana Paula AmorimCoordenação de Curso ♦ Tatiane Lucena

♦ PRODUÇÃO TÉCNICA ♦

Revisão Final ♦ Carlos Magno

Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,Ederson Paixão, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior,Israel Dantas, Lucas do Vale e Marcus BacelarEditoração ♦ Fabio José Pereira GonçalvesIlustração ♦ Fabio José Pereira Gonçalves, FranciscoFrança JúniorImagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource

EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

07○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

07○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O ESTUDO DA ALFABETIZAÇÃO: ASPECTOS LINGÜÍSTICO,PSICOLÓGICO, PSICOLINGÜÍSTICO E SOCIAL

OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: ANÁLISE NUMA PERSPECTIVA

CRÍTICA E REFLEXIVA

AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE ALFABETIZAÇÃO

A Produção Social e a Caracterização da Língua Escrita

O Nosso Sistema de Escrita: sua Natureza e a Aquisição da LínguaMaterna pela Criança

Alfabetização e Letramento: Refletindo Conceitos

Os Estudos de Emília Ferreiro: a Psicogênese da Língua Escrita

11○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

(Re) visitando os Métodos de Alfabetização

Método Sintético e Método Analítico: da Parte para o Todo

Estimulando a Compreensão da Base Alfabética

Por que as Crianças Trocam Letras ao Escrever?

21○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

23○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

27○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

29○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

13○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

15○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ANÁLISE REFLEXIVA DA LEITURA, ESCRITA ECONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO NO PROCESSO

INICIAL DE ESCOLARIZAÇÃO: A ALFABETIZAÇÃO 31○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PRÁTICAS DISCURSIVAS NAS CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO

O Processo de Alfabetização: Apropriação de Muitas Linguagens

Alfabetização e Produção de Textos: Construindo Saberes

31○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

33○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

A Escolha dos Textos para Classe de Alfabetização: a Pesquisado Professor

O Universo da Sala de Aula de Alfabetização: o AmbienteAlfabetizador

ATIVIDADES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS NA ALFABETIZAÇÃO:ENSINAR A LER E A ESCREVER

Alfabetização: Pensando nos Textos de Uso Diário

Sugestões Didáticas para Melhorar a CompetênciaTextual e a Expressão Oral: a Prática Pedagógica

O Processo de Alfabetização e as Intervenções doProfessor: o Trabalho com a Produção de Texto Escrito

Aprender a Gostar de Ler

Atividade Orientada

Glossário

Referências Bibliográficas

40○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

41○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

42○ ○

48○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

52○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

57○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

58○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

35○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

37○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Caro (a) aluno (a):

“Quem me chamou,Quem vai querer voltar pro ninho

Redescobrir seu lugar”1

É com satisfação que apresento este Módulo Impresso, acolhendo reflexõesvoltadas para a disciplina Fundamentos e Didática da Alfabetização aos meus futuroscolegas de profissão, ávidos em “redescobrir seu lugar” na história da educação, nossahistória.

Mudam os tempos, mudam as pessoas. Diversifica-se, também, o tipo de leitorprojetado pela sociedade e cultivado pela escola. Reconhece-se que até o final da SegundaGuerra Mundial, mais da metade da população brasileira era não escolarizada (analfabeta)e vivia predominantemente na zona rural. Estes cidadãos, embora não tivessem direito avoto, apenas o fato de saber assinar o nome dava-lhe o direito de tirar o título de eleitor.

A partir dos anos 50, observou-se o crescimento das taxas de urbanização eindustrialização, o que gerou aumento da matrícula de crianças nas escolas. No entanto,os índices de analfabetismo permaneceram elevados, principalmente nas áreas rurais.Ações do governo federal viabilizaram várias campanhas de alfabetização para crianças ejovens adultos, cujo objetivo maior era simplesmente ensinar a decifrar palavras e frasessimples, mas a produção contínua de analfabetos, causada por sistemas escolaresinadequados e condições sociais de extrema desigualdade, não cessou. Onde fica, então,o convite de reaprender a sonhar? Será que esta “história não tem fim?”

Chegamos ao século XXI com cerca de vinte milhões de analfabetos. Outrostantos cidadãos também são acolhidos neste número, aqueles que possuem apenasrudimentos de leitura e escrita. É possível garantir que os trabalhadores que exercem asfunções mais modestas tenham condições de ler e entender avisos, ordens e instruções?Quem se responsabiliza pelas funções qualificadas? Quem é o trabalhador capaz de usara leitura e a escrita para obter e transmitir informações, para comunicar-se, para registrarfatos? Precisamos começar pela criança para que não tenhamos mais adultos nestasituação.

Alfabetizar uma criança só é possível quando o educador penetra em sua alma. Ea porta de entrada da alma da criança é a fantasia. É preciso desenvolver a pedagogia daimaginação, possibilitando à criança o gosto de aprender através do “brincar de viver”.

Eis, então, um convite para você, aluno (a): é preciso “reaprender a sonhar”,acreditando em nossa capacidade de educar, de formar leitores críticos. Isto só é possívelquando ainda temos esperança, quando dizemos sim, “cada vez que o mundo diz não”.

Seja bem vindo (a)! Os textos apresentados neste Material Impresso não podemser vistos como “Cartilha”: trata-se de um plano de trabalho que o (a) auxiliará a compreendero processo de alfabetização, valorizando a experiência da criança, apresentando a leiturae a escrita como práticas culturais cotidianas, processo que não pode ser mecânico.

O que posso dizer para finalizar esta mensagem? Retornar para Guilherme Arantese lhe informar

“... Hoje eu sou felizE quero ver feliz

Quem andar comigoVem!

Agora é brincar de viver...”

Professora Maria das Graças Cardoso Moura

Apresentação da disciplina

1 Guilherme Arantes, Música Brincar de Viver.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

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AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE

ALFABETIZAÇÃO

O ESTUDO DA ALFABETIZAÇÃO: ASPECTOS LINGÜÍSTICO,PSICOLÓGICO, PSICOLINGÜÍSTICO E SOCIAL

A Produção Social e a Caracterização da Língua Escrita

Finalidade: compreender os aspectos básicos do sistema de escrita da línguaportuguesa relacionados à alfabetização, quais sejam: relação entre as letras e os sons dafala e regularidades relacionadas à morfologia das palavras e as origens e convençõesortográficas.

Aspectos Lingüísticos

Língua Escrita: Como Caracterizá-la?

Para caracterizar a língua escrita, é necessário apontar três aspectos consideradosessenciais:

Vamos compreender cada um desses aspectos:

A partir dos meados da década de 1980, a prática pedagógica na alfabetizaçãosofreu a influência da abordagem construtivista na psicologia cognitiva. Informações acercado desenvolvimento da língua escrita pela criança têm chegado aos professoresalfabetizadores, deixando-os, muitas vezes, confusos e ansiosos em relação à sua própriaprática. Será que não posso mais ensinar porque a criança e o jovem adulto têm condiçõesde descobrirem a escrita sozinhos? Devo corrigir o aluno? Como planejar atividades paraalfabetização? São comuns hoje entre os professores estes questionamentos. Neste texto,adaptado de Lúcia Lins Browne Rego (1998), partiremos da análise do conhecimento daLíngua a ser compreendido pelo alfabetizando, considerando as pesquisas e experiênciasbem sucedidas sobre a construção da base alfabética e observando as suas implicaçõespedagógicas.

1º É preciso refletir sobre a natureza da Língua Portuguesa,nosso sistema de escrita, isto é, o que representam as marcasregistradas no papel;

2º É necessário considerar que a língua escrita se manifestaatravés de seus usos, envolvendo diferentes convenções lingüísticas.

3º É preciso compreender que a língua que lemos é diferentedaquela que ouvimos e falamos e temos que levar sempre em contaum interlocutor ausente e, por vezes, imaginário.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

A Natureza do Nosso Sistema de Escrita. Qual é?

É alfabética a nossa escrita, isto é: cada letra representa as unidades mínimas desom identificadas nas palavras. Por exemplo, para escrever a palavra “casa” precisamosde quatro letras porque nesta palavra são identificados quatro sons [k-a-z-a]. Hoje, para aspessoas alfabetizadas, tudo isso parece óbvio. No entanto, a história conta que foramnecessários muitos anos para que surgisse na Grécia o sistema de escrita alfabética.

Para entender em que consiste a natureza deste sistema de escrita, é necessáriocompará-lo a outros sistemas.

Existia uma forma muito antiga de escrita cujos sinais gráficos representam objetos.A forma mais primitiva é a escrita pictográfica, ou seja, os caracteres são os pictogramas,espécies de desenhos dos objetos representados. Como exemplo, na antiga escrita egípcia,o pictograma para o peixe era o seguinte:

A Língua Escrita Manifesta-se Através de Seus Usos

É possível reconhecer na escrita acima o desenho do peixe, o que lhe poderia serconsiderado universal. Este caráter universal da escrita pictográfica, no entanto, foi muitopassageiro. Logo começaram a produzir sinais gráficos mais estabilizados e arbitráriosque não tinham semelhança com o que se pretendia representar. Assim, surgiu as chamadasescritas ideográficas, isto é, representavam a idéia de quem queria registrar umamensagem. Na medida em que os símbolos gráficos deixavam de ser uma imitação maispróxima do objeto representado, estes símbolos tornaram-se convenções. Na escrita egípciaconvencionou-se, por exemplo, que peixe passaria a ser representado pelo seguinteideograma:

Pictograma peixe

Ideogramaegípcio dopeixe

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É possível observar uma simplificação do traçado, tornando-se necessário pertencerà cultura egípcia para saber o que esta representação visual significa.

Esta escrita ideográfica persiste até osdias atuais entre chineses e japoneses.

Saiba mais...

Nos dedicamos, até agora, aos sistemas de escrita que se preocuparam em registraro significado das palavras e não ao aspecto sonoro da mesma. O primeiro passo no sentidode uma escrita representativa dos aspectos sonoros da palavra foi a utilização de ideogramasou logogramas com valor fonético. Se a escrita tivesse os seguintes ideogramas,

poderíamos combiná-los para a escrita de uma terceira palavra:

Observe que nessa combinação, estes ideogramas não estão representandosignificados, mas dois segmentos sonoros dentro da palavra soldado. Partindo desteenfoque (forma sonora das palavras) o homem inventou a escrita silábica.

A língua que lemos é diferente daquela que ouvimos e falamos

Vimos que cada ideograma representa o valor sonoro daconsoante. Estes ideogramas correspondiam a significadosde palavras iniciadas com as consoantes cujos valoressonoros passaram a representar. Desta escrita lexical/silábica dos egípcios, os fenícios, povo a que se atribui a

origem do alfabeto, extraíram os símbolos queformaram um silabário constituído por grafias quecorrespondem às consoantes, cabendo aos gregos(herdeiros do alfabeto dos fenícios), introduzir,também, a representação das vogais.

☺ ☺ ☺ ☺ ☺

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização IAs escritas alfabéticas são complexas. A idéia de cada letra

representando um determinado som sofre uma série de restrições ortográficas.Em muitos contextos, percebe-se que uma letra pode passar a adquirir um

valor sonoro diferente.

Por exemplo, a letra “s” tem o valor sonororegularmente atribuído à letra “z” quando se encontraentre duas vogais (a palavra “casa”). Para recuperar oseu valor sonoro original, teríamos que utilizar a grafia“ss”. Algumas pessoas não sabem quando devem usarç, ss, c ou sc para representar o som [s], a não ser queestejam familiarizados com a grafia da palavra quequerem escrever.

Saiba mais...

Pode-se concluir que a compreensão da natureza do sistema de escrita e o domínioda ortografia não constituem tarefas simples. Um sistema de escrita pode ser de diversasnaturezas e estas formas de representação não são fiéis ao princípio que deu origem.

Após a leitura do texto, indique três (03) aspectos dossistemas de escrita da Língua Portuguesa que você compreendeque são importantes para o processo de alfabetização de crianças.

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Para Ler e Compreender

Desenvolvimento da Língua Escrita2

Sabe-se, que para aprender a escrever, a criança terá de lidar com dois processos deaprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita da língua – o que a escritarepresenta e como – e o das características da linguagem que se usa para escrever. Aaprendizagem da linguagem escrita está intrinsecamente associada ao contato com os textosdiversos, para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e às práticas deescrita, para que possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente.

A observação e a análise das produções escritas das crianças revelam que elastomam consciência, gradativamente, das características formais dessa linguagem. Constata-se que, desde muito pequenas, as crianças podem usar o lápis e o papel para imprimirmarcas, imitando a escrita dos mais velhos, assim como utilizam-se de livros, revistas, jornais,gibis, rótulos etc. para “ler” o que está escrito. Não é raro observar-se crianças muito pequenos,que têm contato com material escrito, folhear um livro e emitir sons e fazer gestos como seestivesse lendo.

Para refletir...

2 Texto extraído do RCN de EducaçãoInfantil. Volume 3.

Podemos afirmar que, numa escrita alfabética, as letrasrepresentam as unidades mínimas da palavra, os FONEMAS. A palavra“casa” que numa escrita silábica se comporia apenas de duas unidadesgráficas, numa escrita alfabética passa a possuir quatro.

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Com base nestas informações, que tipo de atividade vocêconsidera adequada para alfabetizar crianças? Cite duas e justifiquea sua resposta.

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O Nosso Sistema de Escrita: sua Natureza e a Aquisição daLíngua Materna pela Criança

Finalidade: Compreender a natureza do sistema de escrita da Língua Portuguesa ecomo a criança em processo alfabetizatório entende esta língua.

Aspecto Psicolingüístico

Os Sistemas de Escrita surgiram para servir a um objetivo específico: o de preservarinformações relativas à agricultura e ao comércio das sociedades primitivas. Nas sociedadesmodernas, os usos da língua escrita se multiplicaram, tornando-se ummeio essencial de acumulação e de transmissão de informações e deconhecimentos, desempenhando um papel central no processo deeducação formal do indivíduo.

O homem é envolvido por uma escrita que serve a umamultiplicidade de propósitos e que tem o seu léxico e a suaestrutura gramatical afetados pelos fins a que serve e aspessoas a que se destina. O estilo de um texto escrito muda emfunção dos usos sociais que envolvem a língua escrita.

Conclui-se que, se a língua escrita varia em função dos seus usos, de sua finalidadee da pessoa a que se destina, então o domínio da língua escrita, por parte de um determinadoindivíduo, ser social, refletirá sempre as experiências deste indivíduo com o meio específicode comunicação próprio da sociedade em que se vive.

Escrevemos uma carta e uma receita do mesmo jeito? Como escrevemos uma carta?Apresentamo-nos a uma pessoa específica, iniciando o texto com uma data, saudando apessoa a quem destinamos a mensagem. Depois, relatamos as nossas notícias para, porfim, apresentamos as despedidas. Não podemos deixar de nos identificar.

Como escrevemos uma receita? Começamos indicando o nome do prato, e não hámenção ao destinatário da mensagem. Depois, enumeremos os ingredientes para, ao final,explicar o modo de fazer. Usamos a pessoa verbal “eu” neste tipo de texto? Não. Umacarta, no entanto, quando se destina a uma pessoa íntima, será escrita de maneira informal,mas se o destinatário é alguém que ocupa algum cargo importante, é preciso selecionarum estilo mais formal de escrita.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Observando situações de fala e escrita de um mesmo texto, é possívelverificar suas diferenças. Nestas situações tornam-se mais salientes aquelasdiferenças que resultam das distinções entre a modalidade oral e a escrita.Veja, por exemplo, uma história contada e observe a sua versão escrita,comparando-as. Esta história de Chapeuzinho Vermelho foi contada por umaprofessora aos seus alunos:

As expressões que identifiquem a presença do interlocutor como“né” e “não é” marcam a presença da oralidade nesta história. Pode-se

salientar, ainda, a forma como os enunciados são fragmentadosatravés das pausas assinaladas no texto pelas reticências e atravésdas interrupções que mostram o curso do pensamento,demonstrando que está em construção, em ação. Veja a repetição,a redundância, recursos lexicais como “tá” em vez de “está” e ouso do “aí”. São traços característicos de um texto produzidooralmente na presença de um interlocutor, marcas eliminadasquando o texto é escrito, que pressupõe um interlocutor ausente.O texto escrito é um texto mais cuidadoso do ponto de vistagramatical.

O mesmo conteúdo transmitido no trecho acima, seapresentado por escrito, teria a seguinte característica:

A versão escrita do trecho da história deChapeuzinho Vermelho tem uma outra organização gramatical:

as interrupções e as repetições desnecessárias forameliminadas; os marcadores da presença do interlocutor e uso

Era uma vez uma menina tão doce e meiga que todosgostavam dela. A avó, então, a adorava, e não sabia mais quepresente dar a criança para agradá-la. Um dia ela presenteou-acom um chapeuzinho de veludo vermelho. O chapeuzinho agradoutanto a menina e ficou tão bem nela, que ela queria ficar com eleo tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como ChapeuzinhoVermelho.

“Era uma vez, assim vai começar a linda historinha que euagora vou contar...

Era uma vez uma menina linda de olhos bem grandes e azuis.O nome dela era Chapeuzinho Vermelho. Bonito nome, não é? Vocêsconhecem alguém que tenha este nome? Chapeuzinho tinha família,morava numa casa que ficava bem no meio da floresta.... Ela tinhapai, mãe, avó. Ela era muito pobre, e ajudava muito sua mãe emcasa. Quem ajuda a mamãe em casa aqui? Pois é, aí esta meninaajudava... ela era muito boazinha e obediente. Um dia, quando seupai saiu para caçar, a mãe chamou: Chapeuzinho? ...Por que seráque ela tinha este nome? Será que era porque usava um capuz azul?Mas olhem... ela tem um chapeuzinho vermelho em sua cabeça... aía mãe disse para ela: Chapeuzinho... vá na casa de sua vovó levaresta cesta com bastante comida porque ela está doente e não podefazer nada para comer.”.

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Na Antiguidade grega, berço de alguns dos mais importantes textosproduzidos pela humanidade, o autor era quem compunha e ditava para serescrito pelo escriba; a colaboração do escriba era transformar os enunciadosem marcas gráficas que lhes davam a permanência, uma tarefa menor, eesses artífices pouco contribuíram para a grandeza da filosofia ou do teatrogrego.

A compreensão atual da relação entre a aquisição das capacidades deredigir e grafar rompe com a crença arraigada de que o domínio do bê-á-báseja pré-requisito para o início do ensino de língua e nos mostra que essesdois processos de aprendizagem podem e devem ocorrer de forma simultânea.Um diz respeito à aprendizagem da escrita alfabética e o outro se refere àaprendizagem da linguagem que se usa para escrever.

Você concorda com esta afirmação? Que relação você estabelece comeste texto adaptado do PCN de Língua Portuguesa: Ensino de primeira à quartasérie (1999), e o texto do Conteúdo 2, A natureza do nosso sistema de escrita e aaquisição da língua materna pela criança?

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Para refletir...

Alfabetização e Letramento: Refletindo Conceitos

A ALFABETIZAÇÃO pode ser entendida:

A perspectiva é que a alfabetização é algo que chega a um fim, e pode, portanto, serdescrita sob a forma de objetivos instrucionais.

1. Como um processo de aquisição individual de habilidadesrequeridas para a leitura e escrita;

2. Como um processo de representação de objetos diversos, denaturezas diferentes.

de palavras como “tá” e “aí” também desapareceram, dando lugar a um outro estilo delinguagem.

Não fizemos uma análise completa das diferenças existentes entre escrita e fala,mas esperamos que tenha sido suficiente para você se dar conta de que a passagem daoralidade para a escrita é uma tarefa complexa que envolve três aspectos fundamentais:

1) a compreensão da natureza do nosso sistema de escrita;2) o entendimento da funcionalidade do sistema de escrita;3) a aquisição de um novo estilo de linguagem.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

O LETRAMENTO pode ser entendido:

Letramento é um fenômeno de cunho social e salienta as características sócio-históricas ao se adquirir um sistema de escrita por um grupo social. Ele é o resultado daação de ensinar e/ou de aprender a ler e escrever, denota estado ou condição em que umindivíduo ou sociedade obtém como resultado de ter-se “apoderado” de um sistema degrafia.

A língua escrita é um sistema derelações, com dois processos:

ler e escrever.Na aprendizagem destes processos, a

criança percorre longo caminho, passandopor estágios evolutivos de elaboração,descritos por Ferreiro e Teberosky (1991).

Saiba mais...

O sucesso na alfabetização exige atransformação da escola em “ambientealfabetizador”, rico em estímulos que provoquematos de leitura e escrita, permitam compreender ofuncionamento da língua escrita, possibilitem aapropriação de seu uso social e forneçamelementos que desafiam o sujeito a pensar sobrea língua escrita.

Dicas para construir uma situação significativa de aprendizagemnas classes de letramento:

1) investigar as práticas sociais que fazem parte do cotidiano da criança,adequando-as à sala de aula e aos conteúdos a serem trabalhados;

2) planejar suas ações visando ensinar para que serve a linguagemescrita e como a criança poderá utilizá-la;

3) desenvolver junto à criança, através da leitura, interpretação eprodução de diferentes gêneros de textos, habilidades de leitura e escrita quefuncionem dentro da sociedade;

4) incentivar a criança a praticar socialmente a leitura e a escrita, deforma criativa, descobridora, crítica, autônoma e ativa, já que a linguagem é

1. Como o ato de ler e escrever que deve começara partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o

mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Atémesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo,depois revelaram o mundo e, a seguir, escreveram as palavras.

2. Como um fenômeno de cunho social, salientando ascaracterísticas sócio-históricas ao se adquirir um sistema de escritapor um grupo social. Ele é o resultado da ação de ensinar e/ou deaprender a ler e escrever, e denota estado ou condição em que umindivíduo ou sociedade obtém como resultado de ter-se “apoderado”de um sistema de grafia.

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Emília Ferreiro

As investigações no campo da psicologia e da psicolingüística têm contribuído parademonstrar que a criança é um ser que pensa e que constrói ativamente o seu conhecimentodo mundo e da língua. Pode-se destacar que uma das contribuições mais importantes quea pesquisa nesta área tem oferecido ao educador consiste em indicar os estágiospercorridos pela criança e as hipóteses que formula antes de atingir a concepção que oadulto tem do mundo de objetos que o rodeiam.

interação e, como tal, requer a participação transformadora dos sujeitos sociaisque a utilizam;

5) recognição, por parte do educador, implicando, assim, oreconhecimento daquilo que o educando já possui de conhecimento empírico,e respeitar, acima de tudo, esse conhecimento;

6) não ser julgativo, mas desenvolver uma metodologia avaliativa comcerta sensibilidade, atentando-se para a pluralidade de vozes, a variedadede discursos e linguagens diferentes;

7) avaliar de forma individual, levando em consideração aspeculiaridades de cada indivíduo;

8) trabalhar a percepção de seu próprio valor e promover a auto-estimae a alegria de conviver e cooperar;

9) ativar mais do que o intelecto em um ambiente de aprendizagem,ser professor-aprendiz tanto quanto os seus educandos;

10) reconhecer a importância do letramento, e abandonar os métodosde aprendizado repetitivo, baseados na descontextualização.

Os Estudos de Emília Ferreiro: a Psicogênese da Língua Escrita

Aspectos Psicolingüístico, Psicológico e Social

Na década de 80, a pesquisadora argentina Emília Ferreirocontribuiu para que ocorresse o avanço científico no que diz respeitoà compreensão do processo de aquisição de escritas alfabéticaspelas crianças, tomando por base os estudos desenvolvidos porJean Piaget. Ferreiro demonstrou, de forma contundente, queas crianças constroem várias concepções de escrita antesde atingirem a compreensão do adulto já alfabetizado acercado nosso sistema de escrita, comprovando que existemformas simples de identificarmos as idéias da criança sobrea escrita, necessitando, para tanto, interpretar os “erros” queelas costumam fazer quando escrevem e lêem.

No primeiro ano escolar, Emília Ferreiro identificoumarcas da língua compreendida pela criança da seguinteforma: o primeiro “problema” que a criança precisa resolverao ser apresentada ao nosso sistema é o de diferenciar aescrita do desenho, pois, para a criança, escrever e desenharsão semelhantes, para ela os objetos podem serrepresentados através do desenho. Veja a semelhança dasescritas mais antigas (pictográficas), que utilizava como

Saiba mais...

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

símbolos gráficos o desenho e a escrita da criançaque também considera a idéia de que podemos“escrever desenhando”. O exemplo abaixo ilustracomo uma criança escreveu as palavras que foramditadas para ela:3

3REGO, L. L. B. (1988)A Literatura Infanti l: Uma NovaPerspectiva da Alfabetização a Pré-Escola, São Paulo: FTD

Para que a criança entenda a natureza da escrita alfabética, ela precisa compreenderpara que escrevemos e como utilizamos as letras. Usar letras significa que a criança entendeuo que elas letras representam? Claro que não!

Segundo Rego (1996), as crianças consideram que para uma escrever uma palavracuja imagem é grande, como “elefante”, é preciso escrever uma porção de letras porque oelefante é um animal grande. Já a palavra “formiga”, escrevem com poucas letras, já que aformiga é bem pequenininha. Este processo é chamado de Realismo Nominal( a criança vêo objeto e não a sua representação gráfica).Também nesta fase, a criança pensa em escreverpalavras que significam coisas diferentes com números e combinações de letrasdiversificadas. A criança, do seu jeito, usa os aspectos formais da escrita, ou seja, busca aquantidade e a variedade de letras para mudar o significado sem se preocupar com arelação existente entre as letras e os aspectos sonoros das palavras. Nos dois exemplosseguintes estão caracterizados os recursos utilizados pela criança durante esta fase:

A criança, quandocomeça a compreenderque a escrita buscarelação com a seqüênciade sons da fala, inicia-se

no estágio que Ferreiro concluiu comoo de fonetização da escrita. O que significa

fonetizar a escrita? A fonetização da escrita começa de forma processual, quando a evoluçãoda escrita da criança chega ao momento em que a quantidade de letras que ela utiliza paracada palavra coincide, sistematicamente, com o número de sílabas da palavra. A criança,nesta fase, pode escrever palavras com correspondências quantitativas e qualitativas. Équantitativa quando a criança utiliza o número de letras correspondentes ao número de

Escrita do nome dacriança

Escrita da palavra“bola”

12CSHJR 12CSHJR 12CSHJR 12CSHJR 12CSHJR (escrita do nome próprio: ao diferenciarletra de número, utiliza quantas letras achar necessário paraescrever, sem preocupação com a sua pauta sonora)

Utiliza desenhos ourabiscos, também chamadosde garatujas

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BNCA BNCA BNCA BNCA BNCA ( para boneca)

Vale lembrar que o alfabeto teve origem nainvenção do silabário e é importante destacar quesobrevivem os sistemas de escrita silábico como, porexemplo, a escrita dos japoneses.

Saiba mais...

Compreender a natureza alfabética do nossosistema de escrita envolve diversos aspectos. Entenderque apenas usa-se apenas uma letra para representarcada sílaba não é suficiente. Esta compreensão acontecegradualmente e na evolução da fase silábica para a fasealfabética, a criança produz uma escrita ainda estranhapara os adultos, incompleta, pois ela é parte alfabética eparte silábica como no exemplo abaixo:

A pesquisa de Ferreiro e colaboradores contribuiu para compreender que as escritasinfantis compreendidas como indicadoras de “patologia”, são etapas de um processoevolutivo próprio de cada criança, até conseguirem entender como funciona o nosso sistemaalfabético de escrita.

sílabas de cada palavra (Silábico quantitativoou sem valor sonoro). É qualitativa quando usauma letra para cada sílaba, comcorrespondência sonora (silábico qualitativo oucom valor sonoro).

O que estas escritas silábicas significam,segundo Emília Ferreiro? Representam amudança, a evolução da concepção que acriança tem em relação à escrita: concebe aescrita como representando sílabas.

MAOMAOMAOMAOMAO – para macaco (silábico qualitativoou silábico com valor sonoro)

OEI OEI OEI OEI OEI – para macaco (silábico quantitativoou silábico sem valor sonoro)

PANLA PANLA PANLA PANLA PANLA (para panela)

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!É preciso interpretar esse desenvolvimento da

mesma forma que incentivamos e interpretamos asprimeiras tentativas das crianças quando começam a falar:“aga”, ao invés de água; “mamã”, ao invés de mamãe etc.Esta forma é aceita em determinada fases dodesenvolvimento da linguagem. Por que não compreenderque a escrita envolve também fase de desenvolvimento?

O processo de desenvolvimento da escrita não se encerra com a compreensão deque a escrita alfabética representa as unidades mínimas de sons de uma palavra. Quandoa criança escreve alfabeticamente, inicialmente, ela ainda comete muitos “erros” ortográficos,uma vez que escreve como fala e ignora todas as regras convencionais de uma supostaregularidade alfabética. Erros como “tumati” para a palavra “tomate” em crianças recémalfabetizadas demonstram que ainda desconhecem o princípio ortográfico segundo o qual“o” átono final tem som de “i”. Pode omitir, também, o “n” em palavras como “canto”, “tanto”e escrever “cato”, “tato”. Neste caso, ela atribui ao “n” apenas o valor sonoro que tem aopreceder a vogal (natal). Também escreve “sangue” como “sange”. Isso acontece porque acriança regulariza o princípio alfabético e ignora todas as regras que determinam exceções.

Não é de se estranhar que a criançaassim proceda, pois, enquanto serpensante, ela busca gerar hipótesespara resolver seus problemas,mesmo que estas venhamposteriormente a seremcontrariadas pelos fatos. Se umacriança aprendesse a ler e aescrever simplesmentememorizando a grafia de cadapalavra, estes erros, que são muitofreqüentes nas escritas iniciais dascrianças, não ocorreriam. É preciso queo professor aprenda a perceber alógica que está por trás do erro. Oprofessor que percebe esta lógicacomeça a criar condições de desafiose de atividades de sala de aula quelevem a criança a compreender osprincípios que regem a nossaortografia alfabética.

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[ ]Agora é hora de

TRABALHAR

Questão Questão Questão Questão Questão 11111Um Novo ABC

“... a preguiça é a chave da pobreza”, afirmava-se ali. Queespécie de chave seria aquela? Aos 6 anos, eu e os meus companheirosde infelicidade escolar, quase todos pobres, não conhecíamos a pobrezapelo nome e tínhamos poucas chaves, de gavetas, de armários e deportas. Chave de pobreza para uma criança de 6 anos é terrível.” 4

Graciliano Ramos refere-se ao processo de alfabetização.A partir dos textos lidos, qual a concepção que você tem sobre a“chave” para abrir a porta do processo de reconhecimento dapalavra escrita na alfabetização?

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4 RAMOS, Gracilinao. Um novo ABC.In: Linhas Tortas. São Paulo: MartinsFontes, 1962.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Questão Questão Questão Questão Questão 22222Nossas escolas, hoje, estão, de fato, alfabetizando ou letrando?

Justifique a sua resposta.

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Questão Questão Questão Questão Questão 33333Escreva V para a alternativa verdadeira e F para a falsa:

a) ( ) A escrita e a leitura são práticas sociais em que as crianças, ao imitarem osadultos, fazem uso dessa prática. Isto recebe o nome de letramento, ao contrário daalfabetização, que corresponde à aquisição da língua escrita de modo mecânico,desconsiderando as práticas sociais das quais os alunos fazem parte.

b) ( ) Não estão em jogo, no processo de letramento, os conhecimentos relacionadosao uso e função da língua escrita.

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OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: ANÁLISE

NUMA PERSPECTIVA CRÍTICA E REFLEXIVA

(Re)visitando os Métodos de Alfabetização

Finalidade: Relacionar as diversas concepções e métodos de alfabetização aosseus pressupostos, aprofundando o conhecimento sobre a natureza das atividades dealfabetização pautadas na reflexão sobre a língua e sobre propostas metodológicas deresolução de problemas.

Como você aprendeu a ler? Foi difícil? Lembra da professora? Lembra da cartilha?

Ana Maria Machado, em suas memórias, contaque aprendeu a ler muito cedo, decifrando jornais, coma ajuda de algum adulto que lhe ensinava os sons dasletras, sem muita sistematização. Ia juntandopedaços de informação e, finalmente, leu, paraespanto da sua professora do jardim. Seria ummilagre?!

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No livro Infância, as recordações de Graciliano Ramos (1953) começam pela imagemdo pai, que tentou ensiná-lo ameaçando, gritando, apanhando. A cartilha que ele usava erafeia e mal impressa, um folheto de papel de qualidade ruim, que rasgava-se entre os seusdedos. Observe o que ele informa quando conseguiu aprender as primeiras letras e descobriuque o sofrimento não tinha acabado:

Enfim consegui familiarizar-me com as letras quase todas. Aí meexibiram outras vinte e cinco, diferentes das primeiras e com os mesmosnomes delas. Atordoamento, preguiça, desespero, vontade de acabar-me. Veio o terceiro alfabeto, veio o quarto, e a confusão se estabeleceu,um horror de qüiproquós. Quatro sinais com uma só denominação. Seme habituassem às maiúsculas, deixando as minúsculas para mais tarde,talvez não me embrutecesse. Jogaram-me simultaneamente maldades,grandes e pequenas, impressas e manuscritas. Um inferno... (Ramos, 1953,p. 102).

Boas memórias da alfabetização são as deBartolomeu Campos de Queirós, que mais deuma vez, em encontros e seminários deprofessores, falou com saudade sobre Lili,

personagem do livro em que aprendeu a ler.Para ele “Lili foi a minha primeira namorada”.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Estes breves relatos nos fornecem pistas sobre o algumas criançaspensam e sentem – o menino Graciliano e outras – que ficam sem compreenderos símbolos miúdos, impressos em preto e branco, marcas que os adultospensam que contém palavras e histórias. Comoacontece este processo? Como funciona?Para as crianças, não faz sentido estetipo de atividade, mas os pais, aprofessora, a escola exigem que

elas aprendam a ler com este processo baseadona cópia, na repetição, na soletração,adivinhação, até aprenderem a ler.

Diversas teorias de aprendizagempreocupam-se em explicar como a criançaaprende:

a) por associação ( behaviorismo, estímulo-resposta);b) pela ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento (construtivismo);c) pela interação do aprendiz com o objeto do conhecimento intermediado por outros sujeitos

(sociointeracionismo).

Essas teorias ora embasam, ora condenam certos métodos e técnicas dealfabetização. O fracasso escolar é um fenômeno social? Este fracasso, antigo e persistenteno Brasil, é uma questão de métodos?

Desde a década de 80, Carvalho (1987), através de suas pesquisas sobrealfabetização, observou um conjunto de fatores escolares e extra-escolares que podem serindicadores do processo de evasão e repetência, afetando as classes de alfabetização ede primeira série.

Fatores como as condições inadequadas de ensino; turmas numerosas; jornadaescolar insuficiente, falta de formação continuada das professoras, métodos mal aplicadose interpretados, desinteressante, ausência de biblioteca e salas de leitura, dentre outros,podem ser determinantes desse fracasso.

Os fatores extra-escolares, conhecidos como sociais, são decorrentes de questõesfamiliares: ingresso na escola tardiamente, freqüência irregular, ausência de livros e jornais,pais analfabetos.

Considerar esses fatores isoladamente não é adequado para justificar as dificuldadespelas quais o aluno passa, uma vez que existem fracassos sociologicamente previsíveis,assim como existem meninos e meninas pobres, de famílias nãoescolarizadas, estudando em escolas sem qualidade, que aprendema ler e a escrever na primeira série.

A questão da metodologia não é mais o ponto central ou maisimportante na área da alfabetização, e sim quem se propõe aalfabetizar, qual a teoria respalda a prática. Percebe-se que nãoexiste um método milagroso plenamente eficaz para todos. Nãoexiste uma receita para isso. É importante destacar a importânciado domínio da prática, por meio da qual as professorasalfabetizadoras modificam, enriquecem o que aprenderam noestudo teórico, valendo-se não só da experiência, mas,sobretudo, da observação.

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Método (do latim methodu), significa caminho para chegara um fim. Durante muito tempo, discutiu-se quais métodos seriammais eficientes, se os sintéticos (que partem da letra, da relaçãoletra-som, ou da sílaba, para chegar à palavra), ou os analíticosou globais (que têm como ponto de partida unidades maiores dalíngua, como conto, a oração ou a frase).

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Método Sintético e Método Analítico: da Parte para o Todo

Como escolher um método?

Magda Soares (1991), através de pesquisasrealizadas no Brasil, demonstrou que nas décadasde ‘70 e ‘80 a produção de conhecimento voltadopara as metodologias de alfabetização foidecrescendo. Segundo Borges (1998), pode-seindicar duas explicações para justificar odesinteresse científico em relação às

metodologias: a) os métodos tradicionais(analíticos ou sintéticos) não alfabetizaram ogrande número de alunos que chegavam às

escolas; b) a intensa divulgação das idéias deEmilia Ferreiro. O foco de como ensinar a ler e aescrever saiu do foco de como o professor ensinapara questão de como a criança aprende, gerandomudanças importantes nas pesquisas e nos temastratados pelos teóricos.

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Pode-se informar que pesquisas e publicações sobre métodos foram relegadas asegundo plano, tornando-se ausentes da produção científica a partir dos anos 90.

Nas condições concretas da escola brasileira, quando uma professora vai escolherum método, Cardoso-Martins (2003) propõe que busque responder às seguintes questões:

· Qual é a concepção da leitura, de leitor que sustenta ométodo?

· Os objetivos de alfabetizar e letrar, a preocupação emensinar o código alfabético é tão presente quanto o objetivo dedesenvolver a compreensão da leitura?

· São sistematizados os conhecimentos sobre as relaçõesentre letras e sons?

· Há motivação para gostar de ler?· O método, a sua fundamentação, é conhecida e faz

sentido?· As etapas ou procedimentos de aplicação são coerentes?· O material didático é adequado? Acessível?· O método foi experimentado com êxito em um número

significativo de turmas, em contextos escolares diferentes?

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

As repostas, sendo satisfatórias, possibilitam que o método escolhido(se bem aplicado) proporcione bons resultados.

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Os métodos sintéticos são: soletração,

silabação e métodos fônicos.Os métodos analíticos são: palavração,

sentenciação e método de contos.

Juntar as Letras: Soletração

Quando daria por um daqueles duros bancos onde me sentava,nas mãos a Carta do ABC, a cartilha de soletrar, separar vogais econsoantes. Repassar folha por folha, gaguejando as lições numaprendizado demorado e tardio. Afinal, vencer é mudar de livro (CoraCoralina).

A “Carta do ABC” apresentada a Cora Coralina, no começono século XXI, ainda faz parte das lembranças de infância de muitosprofessores. São métodos que caracterizam um tempo em quegrande parte da população era analfabeta e a soletração não buscavaa compreensão do texto, nem formar leitores, uma vez que sótrabalhava com palavras soltas. Parafraseando Cora Coralina, leituracompreensiva ficava para segundo plano, “afinal, vencer é mudar delivro”.

Há indícios de que o método continua em uso no início doséculo XXI, pois o livreto Método ABC: Ensino prático paraaprender a ler (sem indicação de autor ou data) ainda pode serencontrado em papelarias do interior do Brasil.

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O Ba-be-bi-bo-bu : do Método Alfabético para o Método Silábico

O método sintético de silabação ainda continua em uso, mesmo com as pesquisasrealizadas por Emília Ferreiro, tanto nas cidades quanto no interior, por ser consideradofácil de aplicar. Porém, nem todos os alunos, jovens, adultos ou crianças, se mostram capazesde entender o mecanismo da combinatória das sílabas, o mecanismos de codificação edecodificação, o apelo excessivo à memória e não à compreensão, o que gera poucacapacidade de motivar os alunos para a leitura e a escrita. A ordem de apresentação dosconteúdos é, ainda, hoje seguida: primeiro, são apresentadas as cinco letras querepresentam as vogais, em seguida, osditongos, as sílabas formadas com asletras v, p, b, f, d, t, l, j, m, n. As dificuldadesortográficas aparecerem do meio para o fimdo processo alfabetizatório, incluindo osdígrafos, as sílabas terminadas por consoantese as letras g, c, z, s e x.

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Assim como ocorre na soletração, o método silábico separa os processos dealfabetização e letramento, assumindo o pressuposto de que a compreensão da leituravem depois da aprendizagem do processo de decodificação.

Métodos Fônicos

O método fônico, ao ser aplicado pelo professor, investe na dimensão sonora dalíngua, isto é, para o fato de que as palavras, além de terem um ou mais significados, sãoformadas por sons, denominados fonemas, unidades mínimas de sons da fala, representadosna escrita pelas letras do alfabeto.

O método ensina o aluno a produzir oralmente os sons representados pelas letras euni-los para formar as palavras. O método inicia o processo com palavras curtas, formadaspor apenas dois sons representados por duas letras. Em seguida, estudam-se palavras detrês letras ou mais. A preocupação é ensinar a decodificar os sons da língua, na leitura; e acodificá-los, na escrita.

Método da Abelhinha

Alzira S. Brasil da Silva, Lúcia Marques Pinheiroe Risoleta Ferreira Cardoso, educadoras com amplaexperiência de ensino e de pesquisa, são as autoras estemétodo que foi experimentado na Escola Guatemala, nacidade do Rio de Janeiro, em 1965. Essa escola foi criadapor Anísio Teixeira, vista como um centro de referência parainovações pedagógicas e recebia apoio do Instituto Nacionalde Pesquisas Educacionais (Inep).

O método da Abelhinha apresenta histórias cujos personagens estão associados aletras e sons.

Os sons são apresentados como “barulhos” que ocorrem, o mesmo acontecendocom a reunião de dois sons em sílabas. Da reunião de dois sons, a criança passa a três, evai lendo palavras cada vez mais extensas; depois expressões, sentenças e historinhas(SILVA et al., s/d, p. 7).

A personagem abelhinha, nome do método, tem o corpo em forma de uma (em letra cursiva) e apresenta o som aaaaa (a vogal é prolongada para facilitaro reconhecimento); a letra i é representada pelo tronco de um índio, outropersonagem de histórias, e assim por diante. Os personagens são desenhadospara sugerir o todo ou partes das formas estilizadas das letras. Há, portanto,uma associação de três elementos: personagem – forma da letra – som da letra(fonema). Alfabetização se faz por síntese ou fusão dos sons para formar apalavra.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

A emissão correta e habilidade para distinguir sons parecidos sãopreocupações das autoras, que recomendam:

Use recursos para levar as crianças a distinguirem sons parecidos:observar o movimento dos lábios e da língua para pronunciar esses sons;emiti-los isoladamente ou em palavras por eles iniciadas. Observe que o tparece estalar; o p lembra a pipa batendo na árvore (pan); o b é o barulhinhoda água quando ferve (SILVA, s/d, p. 33).

A Casinha Feliz

O método Casinha Feliz foi criado pela pedagogaIracema Meireles (1984), na década de 50. Tem uma longatrajetória de aplicação em escolas públicas e particularese ainda está em uso.

A autora acreditava na aprendizagem por meio dojogo, propondo que a sala de aula fosse um espaço para criatividade e a livre expressãodas crianças e começou a “personalizar as letras” e associá-las a figuras do universo infantil.

Iracema Meireles disse que ocorreu uma mudança importante quando:

[...] observando as turmas que se alfabetizavam, notou que as crianças adoravam as históriase as letras/personagens, e esqueciam frases e palavras se ficavam alguns dias sem vê-las. Passoua contar as histórias em função de apresentar as letras. Foi uma ousadia para a época (MEIRELES,2000, p. 258).

Meireles (ibid) buscava facilitar a aprendizagem de novas combinações de letras,mas não comungava com as estratégias de memorização próprias da soletração e silabação.As letras são apresentadas como personagem de uma história: papai (p), mamãe (m),nenê (n) e ratinho (r). O recurso didático, de boa qualidade, agradava, mas não era funcionalporque as crianças decoravam as combinações de consoantes com vogais, como se fazna soletração (MEIRELES, 2000). A base do método era associar a forma da letra a umapersonagem o qual, por sua vez, representava determinado som.

Segundo Iracema Meireles, a história central de A Casinha Feliz (1999) pode ser“modificada à vontade e até substituída”. O essencial é que conduza à figura-fonema capazde fazer sempre, se for consoante, o imprescindível barulhinho. Tudo mais é jogo, édramatização, atividade criadora (MEIRELES, 2000, p. 34).

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Na aplicação dos métodos fônicos, a maior dificuldade técnica é tentar articular o

som das consoantes isoladas, pois, de fato, elas só ganham sons quando estãoacompanhadas de uma vogal. Existem algumas consoantes, como o /f/ e o /v/, que podemser prolongadas com certa facilidade, dando a impressão que fundem som as vogais queas acompanham. Mas não é o caso da maioria das outras que só são ouvidas claramentequando acompanhadas das vogais.

Um cuidado que deve ser observado na aplicação dos métodos fônicos decorreda própria natureza do Português, língua alfabética na qual uma letra pode representardiferentes sons conforme a posição que ocupa na palavra, assim como um som pode serrepresentado por mais de uma letra, segundo a posição. Assim, não basta ensinar o somda letra em posição inicial da palavra, mas é preciso mostrar os sons que as letras têmem posição inicial, medial (no meio) ou final da sílaba. (CARVALHO, 2005, p.122)

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A professora Taís planejou, para o início do ano letivo, na sua classe dealfabetização, o ensino do alfabeto. Para isso, resolveu apresentar uma letra porsemana e sempre que ia revisar a letra da semana anterior, percebia que os alunosjá haviam esquecido a letra estudada. Então, a professora Taís decidiu conversarcom a colega Maria, também professora de alfabetização. Maria disse a Taís que elatrabalha com seus alunos apresentando todas as letras do alfabeto, de uma só vez, afim de que as crianças possam relacioná-las, de modo significativo, e que surta efeito.As crianças, além de reconhecerem a representação gráfica das letras, tambémidentificam o som que ela representa.

:: Avalie a prática das duas professoras. Qual é a que vocêconsidera mais adequada? Como você ensinaria o alfabeto aos seusalunos?

:: Pontue, após a leitura do texto, aspectos que você consideraimportantes para o processo de alfabetização de crianças.

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Para refletir...

Estimulando a Compreensão da Base Alfabética

Já sabemos o longo caminho a ser percorrido pela criança quando tenta compreendera natureza do sistema de escrita que lhe estamos ensinando. Como respeitar o modo depensar do aluno e contribuir para que ele caminhe na direção da compreensão do nossosistema de escrita?

É óbvio que, se a criança pensa que a escrita representa diretamente o significadodas palavras, precisamos reconhecer formas de estimulá-la, desafiando-a para descobrir anatureza alfabética do nosso sistema de escrita.

Reconhece-se que a criança que vive em ambientes letrados, normalmente seinteressa pela escrita e chega à escola com idéias bastante avançadas em relação aoprocesso alfabetizatório: a escrita do seu próprio nome, o nome do pai, da mãe, do irmão,até dos amigos que dão grande impulso para as descobertas infantis.

Será que está faltando alguma coisa? Em situações informais, os adultos são muitosensíveis às dificuldades motoras das crianças, preferindo inicialmente usar as letrasmaiúsculas de imprensa, pois estas são de traçados mais fácil que as cursivas.

Esta prática é interessante para que o professor estruture situações de sala de aula,em que as crianças sejam encorajadas, desafiadas a escrever os nomes de seu interessee compare as suas escritas com as dos adultos e com as escritas de outras crianças.

Além desta pratica informal, algum tipo de sistematização que chame a atenção dascrianças para a natureza do nosso sistema de escrita é de grande ajuda, num momento emque se está querendo que a criança deixe de pensar na escrita como representação direta

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

de significados e passe a perceber a relação que existe entre as letras e ascadeia sonora das palavras.

É preciso descobrir formas mais provocativas de levar as crianças também a perceberque existem as inconsistências ortográficas, gerando situações atividades que mostrem,por exemplo, o valor sonoro do “s” e do “r” intervocálicos e de outras regras ortográficas.

Entender o princípio alfabético e das suas convenções ortográficas constitui umadas dimensões envolvidas nesta complexa aquisição. A língua escrita tem várias funçõesrelacionadas a determinadas convenções. É necessário considerar o que as crianças podemconhecer sobre esta funcionalidade e sobre as convenções lingüísticas dela decorrentes.

Reduzir o ensino da leitura e da escrita apenas à compreensão do sistema alfabéticode escrita significa deixar de lado informações igualmente relevantes para a criança, poisque sentido faz escrevermos palavras e frases se esta escrita não encerra em si um valorcomunicativo? A criança aprende a falar porque a fala tem funções comunicativas vitaispara ela, mas nem sempre estamos alerta para isto quando ensinamos as crianças aescrever.

Alguns estudos têm demonstrado que as crianças expostas a atividade de leitura eescrita no seu dia-a-dia tornam-se sensíveis às variações lingüísticas envolvidas no uso daescrita.

Estudos desenvolvidos por Carvalho (2005, p. 126) demonstram que

Numa classe de pré-alfabetização de uma escola particular observamos que algumascrianças já conseguem antecipar o conteúdo de vários tipos de texto. Ao perguntar para umacriança o que estava escrito no jornal ela respondeu:

“Aumentou o preço do feijão, macarrão, arroz, do leite, do pão e de muitas outras coisas”.

Embora não seja leitora, esta criança já demonstra uma noção do tipo de informação queaparece escrita no jornal. Esta mesma criança, diante de um envelope contendo uma carta, fingiuler o seguinte:

“Querido papai, eu quero lhe ver amanhã porque eu vou viajar e eu vou mandar um beijãopara você”.

Pode-se demonstrar isto de uma forma mais direta para a criança quandocategorizamos as palavras através de suas sílabas ou de seus sons. Perceber que aspalavras “pato, papel e parafuso” compartilham entre si o mesmo segmento sonoro-pa- pode não ser tão óbvio para uma criança que está que está começando a aprendera ler. As crianças tendem inicialmente a perceber as relações entre significados.Assim, uma criança pode pensar que a palavra “pato” parece com a palavra “bico”porque pato tem bico não se aperceber para a semelhança entre “pato, papel eparafuso” simplesmente porque estas palavras apenas estão relacionadas a que serefere ao som e esse é um aspecto da relação entre palavras para o qual uma boaparte das crianças não está atenta de início. No entanto, esta é uma habilidadecrucial quando se trata de compreender escritas alfabéticas e que pode serestimuladas no dia-a-dia da sala de aula. (CARVALHO, 2005, p. 123)

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Temos também observado que crianças pequenas produzem rabiscos aos quais atribuem ovalor de uma carta fazendo de conta que estão lendo estes rabiscos e produzindo textos como:

“Querida mamãe um beijo bem grande para você, minha querida, meu amor da minha vida.Mamãe tem um desenho para você em cima da carta”.

Já diante de livros de história, esta mesma criança tenta reproduzir o texto da história.Tudo isto nos mostra que algumas crianças, mesmo antes de aprender a ler e escrever, já estãoaptas a produzir textos que refletem um domínio rudimentar das características da linguagem queusamos para diferentes tipos de texto.

Percebe-se que se a alfabetização ficar apenas restrita aos textos artificiais dascartilhas, o alfabetizando que não tem oportunidade de interagir com textos em seu ambientede família, termina apenas por aprender a utilizar uma escrita totalmente alheia aos seususos na sociedade. Muitas crianças que são alfabetizadas desta maneira reproduzem asfrases típicas de cartilha quando são solicitadas a produzir uma história.

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!A leitura e a escrita precisam ter significado funcional na vida

das crianças. Necessário se faz transformar o processo alfabetizatório,baseado no treinamento perceptual e motor, período que precede aalfabetização e ao treinamento de correspondências grafo-fônicas, numambiente letrado no sentido funcional do termo.

Por que as Crianças Trocam Letras ao Escrever?5

Quando os alunos estão aprendendo as convenções do sistema alfabético, é comumalguns cometerem trocas entre P e B, T e D, F e V. Essas trocas ocorrem devido ao fatodesses sons serem muito parecidos em sua realização no aparelho fonador e, por isso, aoescrever, surgem dificuldades em diferenciá-los. Tecnicamente, esse grupo de letras (P/B,V/F, T/D) é chamado de “pares mínimos”. Esses sons são produzidos expelindo-se o ar domesmo modo, do mesmo ponto de articulação, diferindo apenas porque em um (exemplo,o/b/), as cordas vocais vibram, enquanto no outro som (exemplo, o/p/) elas não vibram.

A maioria dos alunos que apresenta tal dificuldade na escrita, não tem problemasem compreender ou falar as palavras com esses mesmos sons. Isto é, ao ouvirem, por

5 Texto elaborado por Patrícia Waltiack,assessora pedagógica da EditoraPositivo. Material impresso.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

exemplo, alguém falar “pote”, não a confundem com “bote”, assim como, aose expressarem oralmente, articulam bem uma e outra palavra.

Para a maioria desses alunos, a questão parece residir na dificuldadede analisar fonologicamente os segmentos sonoros na hora em que estãoescrevendo.

Assim, pode-se oportunizar ao aluno atividades que o ajudem a realizaressa análise. Ao fazer comparações com as diferentes formas de escrita(FACA e VACA, por exemplo) e ao evidenciar as correspondências letra-som,

o aluno se dará conta de que, em nosso sistema de escrita, existe uma única e definida letrapara notar o som em questão.

Desta forma, fica evidente a necessidade de promoção do desenvolvimento daconsciência fonológica, ou seja, o aluno deve aprimorar sua capacidade para distinguir ofonema na cadeia da fala (o som) para poder escrever ou para transformar as combinaçõesdos sinais gráficos em seus correspondentes significados.

[ ]Agora é hora de

TRABALHAR

Questão Questão Questão Questão Questão 11111Consideramos uma criança alfabetizada quando reconstrói o sistema lingüístico de

maneira a representar a língua a partir de relações grafema-fonema. O que o professoralfabetizador pode planejar como atividade que funcione como boa situação deaprendizagem referentes à relação da língua falada com a escrita?

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PRÁTICAS DISCURSIVAS NAS CLASSES DE

ALFABETIZAÇÃO

O Processo de Alfabetização: Apropriação de MuitasLinguagens

ANÁLISE REFLEXIVA DA LEITURA,ESCRITA E CONSTRUÇÃO DO

PENSAMENTO NO PROCESSO INICIAL DE

ESCOLARIZAÇÃO: A ALFABETIZAÇÃO

A leitura e a escrita fazem parte do dia-a-dia da sala de aulaa partir da pré-escola. Se as crianças ainda não são leitoras, épossível que a própria professora leia para elas e que escute asleituras de faz-de-conta das crianças. Caso as crianças ainda nãoescrevam, é interessante que aceitemos as interpretações que elasdão aos seus próprios rabiscos. Estas pseudos-leituras e estaspseudos-escritas são processos iniciais naturais das futuras leiturase das futuras escritas.

Para refletir...

Quando a professora descobre quais são os tipos de texto que mais interessam àscrianças, lendo estes textos e estimulando-as a lerem e a escreverem, ela está contribuindonão só para motivar o aluno para aprender a ler e a escrever, mas também fornecendo-lhesos modelos dos estilos de linguagens peculiares a vários tipos de texto. Recentemente, areescrita e a releitura de textos lidos previamente em sala de aula pelo professor tem sidouma atividade amplamente utilizada em escolas que seguem uma orientação construtivista.

Sabemos que muitas crianças que vão para o exterior terminam por aprender a se comunicarnuma segunda língua, simplesmente porque têm oportunidade de usar esta língua em contextocomunicativos. Um fato que tem chamado a nossa atenção, como a de outros pesquisadores, é quecrianças regularmente expostas à leitura de certos tipos de texto podem possuir idéias bastanteavançadas em relação à língua que aparece em determinados textos. Os nossos estudos têmenfocado principalmente as histórias infantis, mas nada impede que esse fenômeno também ocorraem relação a outros tipos de texto. O nosso primeiro exemplo envolve duas crianças que estãofazendo de conta que lêem um livro. O livro pretensamente lido é O Fogo no Céu (de Mary Françae Eliardo França, Editora Ática) e o texto contido no livro é o seguinte:

“O bode falou para o rato: O céu pegou fogo!“O bode falou para o rato: O céu pegou fogo!“O bode falou para o rato: O céu pegou fogo!“O bode falou para o rato: O céu pegou fogo!“O bode falou para o rato: O céu pegou fogo!O rato falou para a pata: O céu pegou fogo!O rato falou para a pata: O céu pegou fogo!O rato falou para a pata: O céu pegou fogo!O rato falou para a pata: O céu pegou fogo!O rato falou para a pata: O céu pegou fogo!A pata falou para o galo: O céu pegou fogo!A pata falou para o galo: O céu pegou fogo!A pata falou para o galo: O céu pegou fogo!A pata falou para o galo: O céu pegou fogo!A pata falou para o galo: O céu pegou fogo!Fugiu o rato, fugiu o galo, fugiu a pata. Fugiu o bode.Fugiu o rato, fugiu o galo, fugiu a pata. Fugiu o bode.Fugiu o rato, fugiu o galo, fugiu a pata. Fugiu o bode.Fugiu o rato, fugiu o galo, fugiu a pata. Fugiu o bode.Fugiu o rato, fugiu o galo, fugiu a pata. Fugiu o bode.O bode viu a coruja e falou: Foge coruja! O céu pegou fogo e o fogo vai cair na mata!O bode viu a coruja e falou: Foge coruja! O céu pegou fogo e o fogo vai cair na mata!O bode viu a coruja e falou: Foge coruja! O céu pegou fogo e o fogo vai cair na mata!O bode viu a coruja e falou: Foge coruja! O céu pegou fogo e o fogo vai cair na mata!O bode viu a coruja e falou: Foge coruja! O céu pegou fogo e o fogo vai cair na mata!A coruja viu o céu e falou: O fogo é um balão de São João!A coruja viu o céu e falou: O fogo é um balão de São João!A coruja viu o céu e falou: O fogo é um balão de São João!A coruja viu o céu e falou: O fogo é um balão de São João!A coruja viu o céu e falou: O fogo é um balão de São João!

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

O bode falou: um balão de São João? Vamos apagar o balão?O bode falou: um balão de São João? Vamos apagar o balão?O bode falou: um balão de São João? Vamos apagar o balão?O bode falou: um balão de São João? Vamos apagar o balão?O bode falou: um balão de São João? Vamos apagar o balão?O fogo não pode pegar na mata.O fogo não pode pegar na mata.O fogo não pode pegar na mata.O fogo não pode pegar na mata.O fogo não pode pegar na mata.O balão caiu, O bode apagou o fogo e pendurou o balão. E todos deram viva aO balão caiu, O bode apagou o fogo e pendurou o balão. E todos deram viva aO balão caiu, O bode apagou o fogo e pendurou o balão. E todos deram viva aO balão caiu, O bode apagou o fogo e pendurou o balão. E todos deram viva aO balão caiu, O bode apagou o fogo e pendurou o balão. E todos deram viva a

São João”..São João”..São João”..São João”..São João”..

O texto produzido pela primeira criança, Lucilene, ao fazer de conta que liao livro “O Fogo no Céu” foi o seguinte;

“O bode disse para o rato: O céu pegou fogo!“O bode disse para o rato: O céu pegou fogo!“O bode disse para o rato: O céu pegou fogo!“O bode disse para o rato: O céu pegou fogo!“O bode disse para o rato: O céu pegou fogo!O rato disse para a pata: O céu pegou fogo!O rato disse para a pata: O céu pegou fogo!O rato disse para a pata: O céu pegou fogo!O rato disse para a pata: O céu pegou fogo!O rato disse para a pata: O céu pegou fogo!

A pata disse para o galo: O céu pegou fogo!A pata disse para o galo: O céu pegou fogo!A pata disse para o galo: O céu pegou fogo!A pata disse para o galo: O céu pegou fogo!A pata disse para o galo: O céu pegou fogo!O rato fugiu, O galo fugiu, O bode fugiu.O rato fugiu, O galo fugiu, O bode fugiu.O rato fugiu, O galo fugiu, O bode fugiu.O rato fugiu, O galo fugiu, O bode fugiu.O rato fugiu, O galo fugiu, O bode fugiu.O bode encontrou a coruja e disse: Foge coruja! O céu pegou fogo!O bode encontrou a coruja e disse: Foge coruja! O céu pegou fogo!O bode encontrou a coruja e disse: Foge coruja! O céu pegou fogo!O bode encontrou a coruja e disse: Foge coruja! O céu pegou fogo!O bode encontrou a coruja e disse: Foge coruja! O céu pegou fogo!A coruja disse: É um balão de São João!A coruja disse: É um balão de São João!A coruja disse: É um balão de São João!A coruja disse: É um balão de São João!A coruja disse: É um balão de São João!Vamos apagar o balão?Vamos apagar o balão?Vamos apagar o balão?Vamos apagar o balão?Vamos apagar o balão?Apagaram o fogo e deram viva a São João”.Apagaram o fogo e deram viva a São João”.Apagaram o fogo e deram viva a São João”.Apagaram o fogo e deram viva a São João”.Apagaram o fogo e deram viva a São João”.

Já a reprodução do texto do livro “O Fogo no Céu” feita por uma outra criança, Fernanda,da mesma classe de Lucilene, foi a seguinte:

“Aí o rato viu o bode e falou com o bode. Aí o rato falou para a pata: O céu pegou fogo!“Aí o rato viu o bode e falou com o bode. Aí o rato falou para a pata: O céu pegou fogo!“Aí o rato viu o bode e falou com o bode. Aí o rato falou para a pata: O céu pegou fogo!“Aí o rato viu o bode e falou com o bode. Aí o rato falou para a pata: O céu pegou fogo!“Aí o rato viu o bode e falou com o bode. Aí o rato falou para a pata: O céu pegou fogo!Correu o rato, correu a pata, correu o bode.Correu o rato, correu a pata, correu o bode.Correu o rato, correu a pata, correu o bode.Correu o rato, correu a pata, correu o bode.Correu o rato, correu a pata, correu o bode.Aí o bode falou para a pata: o céu pegou fogo.Aí o bode falou para a pata: o céu pegou fogo.Aí o bode falou para a pata: o céu pegou fogo.Aí o bode falou para a pata: o céu pegou fogo.Aí o bode falou para a pata: o céu pegou fogo.Bora apagar o fogo de São João ? Aí deu viva a São João.”Bora apagar o fogo de São João ? Aí deu viva a São João.”Bora apagar o fogo de São João ? Aí deu viva a São João.”Bora apagar o fogo de São João ? Aí deu viva a São João.”Bora apagar o fogo de São João ? Aí deu viva a São João.”(BAJARD, 2002, p. 35)(BAJARD, 2002, p. 35)(BAJARD, 2002, p. 35)(BAJARD, 2002, p. 35)(BAJARD, 2002, p. 35)

Lucilene conhece o texto do livro, ela faz uma reprodução mais fiel ao estilo do livro.Já Fernanda reproduz o texto num estilo mais próximo da linguagem oral usando expressão“Aí” e outras também coloquiais como “bora”. Lucilene demonstra maior familiaridade como estilo de linguagem do livro exemplificado.

Exemplos como estes sevem para ilustrar um fenômeno já explorado por algunspesquisadores: crianças que desde cedo são expostas e exploram textos escritos têmdesempenho superior em leitura e produção de textos. Uma exposição precoce à leitura eà escrita na escola é, sobretudo, importante para aquelas crianças que, em casa, têm poucaoportunidade de interagir com estes tipos de texto.

A alfabetização não é apenas um processo de aquisição de leitura e escrita, discussãojá superada. A compreensão da alfabetização como processo de apropriação de diferenteslinguagens (escrita, matemática, das ciências, das artes e do movimento - teatro e dança,sem esquecer as mídias interativas), terá como finalidade as concepções de conhecimento,de aprendizagem e do desenvolvimento pelo qual as crianças fazem as suas conquistas.

A alfabetização constitui-se, então, numa atividade interativa, interdiscursiva deapropriação de diferentes linguagens produzidas culturalmente. Dentre elas, situa-se a escritacomo um artefato presente em todas as atividades das sociedades letradas, e, portanto,buscada pelo escritor até mesmo como uma forma de inserção social, um posicionamentogrupal ou ainda uma demarcação territorial. Segundo Braslavsky (2000, p. 34), é necessário,

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deste modo, compreender que , no processo de alfabetização, o convívio com a linguagemescrita deve ser atividade real e significativa, na qual as crianças interagem com diferentesconhecimentos, com o professor, sua intencionalidade e a linguagem escrita em suasdiferentes manifestações.

Essas diferentes manifestações se referem ora aos estilos, ora às técnicas, ora àspossibilidades de ambas. Para aprender a ler e escrever, é necessário que o aluno sinta asala de aula como um lugar onde as razões para ler (e escrever) são intensamentevivenciadas. A escrita só irá ganhar esses contornos se o professor, desde muito cedo,começar a abordá-los. A escrita infantil tem sabor de utilidades:

· para produzir uma receita, esta precisa se pautar em degustação;· para escrever uma carta ao prefeito da cidade, essa carta necessita ser endereçada a ele;

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Com o crescimento da produção, cresce também o nível de

cobrança em relação a ela. O que não é permitido aqui é deixar a criança,diante da impossibilidade de execução, traduzir essa comoincompetência pessoal. Em relação à escrita, sempre há umapossibilidade de o escritor resolver o impasse, ou o problema encontrado,no entanto, da mesma maneira, isso acontecerá com o domínio e àspossibilidades reais do aluno. Em relação ao aluno, a impossibilidade émomentânea. Lembramos que o nosso trabalho de ensino-aprendizagemé sempre com o possível e não com o limitado.

Com base na leitura do texto, elabore duassituações de aprendizagem na alfabetização,contemplando os conteúdos abordados.

Para refletir...

Alfabetização e Produção de Textos: Construindo Saberes

Como trabalhar com textos na alfabetização? Se a criança não sabe ainda ler palavrassimples, poderá ler uma história? E possível alfabetizar sem ensinar as letras uma a uma?

A alfabetização a partir de histórias, orações ou frases tem sido praticada com êxitohá muitas décadas. Por acreditar que trabalhar com pequenos textos naturais - sejamhistórias, noticias, poemas etc., é uma possibilidade interessante, apresentaremos algumassugestões.

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Para aprender a ler é preciso conhecer as letras e os

sons que representam, com sentido, compreender o que estáescrito. Os textos poderão ser favoráveis para enfocar estasduas facetas da aprendizagem: a alfabetização e oletramento.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

O que é um texto?

A raiz da palavra texto é a mesma da palavra tecer. O texto é um “tecido”feito com palavras, assim como o pano é um tecido de fios. Sabemos que fiossoltos não formam um tecido, assim como palavras soltas, desconexas, semum sentido que as aproxime, não formam um texto.

Um texto pode ser curto ou longo: uma frase ou uma oração queexpressa um significado completo podem ser um texto. Assim, um texto é

mais do que a soma de palavras e frases. Então, uma lista de frases estereotipadas dascartilhas do tipo O boi baba, A baba bebe, O ovo é da ave, etc. não podem ser caracterizarcomo um texto.

As pessoas que falam determinada língua reconhecem e produzem textos nessalíngua, distinguem os que fazem dos que não fa-zem sentido. Uma passagem que é incoerenteou absurda causa um estranha-mento nos ouvintes ou nos leitores. Para compreender esaber produzir textos, as pessoas possuem uma competência lingüística denominadacompetência textual. As crianças pequenas possuem essa capacidade, que pode sermelhorada por meio de exercícios e atividades orais e escritas.

Trabalhando com Textos Escritos: Escrever para Aprender

Observe estes dois textos. O primeiro retrata as lições encontradas nas cartilhas(frase isoladas, colocadas em seqüência, sem título). Não retrata língua viva que falamos ouescrevemos, tem o único o propósito de exercitar a criança, de treiná-la na aprendizagemde palavras com as letras z, m, b e i.

O texto 2, apesar de simples, faz sentido, é compreensível, transmite uma idéia, estáescrito de acordo com as convenções da escrita do Português, diferente do texto cartilhesco.

Os recursos usados pelo autor para evitar repetições de palavras precisam serdestacados: o pronome ela e o substantivo garota referem-se a Chapeuzinho Vermelho. Amãe de Chapeuzinho, o texto diz sua mãe.

Quanta coisa é preciso saber para compreender uma pequena história! Entendemoso sentido global do texto devido a nossa experiência anterior com a língua oral e escrita etambém ao nosso conhecimento do mundo. Assim, aprendemos que nas histórias de fadasos animais falam e aceitamos essa convenção, por isso não nos surpreende que o loboconverse com Chapeuzinho.

Oferecer situações significativas para a criança aprender a ler e, principalmente,despertar o desejo, a vontade de ler é o propósito de todo professor alfabetizador, alternativa

Texto n. 1Zazá é uma menina.Zazá é uma menina bonita.Zazá mora na Ilha.

Texto n. 2Chapeuzinho VermelhoEra uma vez urna menina chamada Chapeuzinho

Vermelho. Um dia, sua mãe mandou que ela levasse umacesta cheia de coisas gostosas para a vovó. A garota foi e nocaminho encon­trou o lobo.

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melhor do que oferecer à criança desenhos prontos para colorir e/ou pontinhos para unir ecriar um clima de interesse e receptividade em relação a leitura e a escrita. Para isso, aprofessora precisa ter à mão livros infantis, jornais, revistas, muito material escrito, de todotipo, para olhar, manipular, manusear, adivinhar. A criança que folheia livros e revistas acabase perguntando: o que isso quer dizer?

Ao observar livros infantis, as crianças inventam histórias inspiradas nas ilustrações.Criam narrativas para si mesmas e para os colegas. As histórias narradas pela professorae pelos alunos também tem um grande papel na educação da criança: elas alimentam aimaginação e o sonho, melhoram a expressão verbal, aguçam a curiosidade, criam amorpelos personagens, pelas palavras, pelos livros.

Ao ouvir as histórias em voz alta, as crianças aprendem aos poucos sobre sintaxe (aforma pela qual as frases são organizadas para fazer sentido) e o léxico ou vocabulário dalíngua escrita. Isso vai ajudá-las a aprender a reconhecer de ouvido as normas lingüísticasque regem a escrita, mesmo que ainda não saibam empregá-las. O domínio da escrita éum aprendizado de longa duração que começa na alfabetização e se estende por muitosanos.

A professora Joana acredita que para alfabetizar as criançasprecisa fazer com que elas aprendessem as letras e seu somcorrespondente. Então, resolveu apresentar a família silábica ba-be-bi-bo-bu durante uma semana. Ao acabar este período, percebeuque as crianças não compreendiam que ao mudar uma letra dasílaba, necessariamente, o fonema alterava-se. Observou que ascrianças não atribuíam significado às sílabas trabalhadas.

Reflita sobre a estratégia utilizada pelaprofessora e proponha uma alternativa metodológicapara o alcance da aprendizagem esperada.

Para refletir...

A escolha dos Textos para a Classe de Alfabetização: a Pesquisado(a) Professor(a)

A escolha dos textos

Qual texto escolher para as s crianças?

O tema e os significados do texto escolhido são decisivos no momento de começaro ensino sistemático da leitura.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Para crianças de 6 anos, no início da alfabetização, cheias decuriosidade e disposição para aprender, há muitas escolhas: histórias,poemas, trava-línguas, canções de roda.

Já as crianças grandes, que já passaram por vários métodos e cartilhas,pode-se conversar sobre a vida deles, o que fazem fora, da escola, setrabalham, do que gostam etc. É possível, também, ler uma noticia sobre futebol,uma letra de rap ou de uma canção, umapiada, um anúncio, ou um bilhete,

oferecendo às crianças, jovens e adultos, a certezade que estão avançando, aprendendo coisas novas,até porque a maioria já passou por muitasexperiências frustrantes e já conhece os nomes dasletras, além de algumas palavras simples ou sílabas.Deve ser aflitivo para essas crianças teremsempre a sensação de começar do zero,portanto é bom escolher um texto diferente,usado na vida social, que seja umanovidade para elas.

Pode-se trabalhar com os textos das próprias crianças?

Para qualquer tipo de turma, textos orais produzidos pelas crianças e escri-tos pelo(a)professor(a) também podem servir de ponto de partida para o trabalho de alfabetização,adaptados para atenderem as normas da língua escrita, pois aquilo que se fala raramentepode ser escrito tal qual o que se escreve. As modificações necessárias precisam serapontadas para as crianças, explicando o que foi mudado e por que.

Estudar o Texto. Por onde começar?

É possível escrever o texto no quadro de giz, numa cartolina grande ou num bloco.Não pode ser esquecida a leitura fluente e a conversa com a turma sobre o texto. O quesignifica o que foi lido? O que compreenderam? Esse diálogo deve dar margem a que ascrianças se manifestem livremente, de forma organizada.

Pode-se fazer, em seguida, a leitura didática,apontando as palavras com o dedo ou com umarégua, mostrando os espaços em branco entreas palavras, dando uma noção importante deque os espaços marcam os limites gráficosdas palavras, onde começam e acabam.Mostrar aos a diferença entre a linguagemfalada e a linguagem escrita.

Depois da leitura didática, tornar arepetir a leitura fluente. A partir desse ponto,é hora de brincar de ler.

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6 Galhardo, 1979, p.15.

Os Sons das Letras: Como Mostrá-los?

Aprender a ler representa compreender que as letras indicam sons, que a mesmaletra pode representar mais de um som de acordo com o contexto e o mesmo som pode serrepresentado por mais de uma letra. Não se trata de uma questão de adivinhação da criança,é conhecimento sistemático, que tem que ser passado por uma pessoa que conheça ocódigo alfabético.

Para ensinar o código, não devemos confundir as crianças, apresentando-lhes frasesou textos cartilhescos, com palavras começadas pela mesma letra - do tipo vovô deu o ovoda ave6 - só para fixar o som e a escrita da letra. Se as leituras iniciais forem desinteressantese cansativas, há o risco de as crianças acharem que a leitura não serve para nada.

Quando é que os alunos vão começar a ler “de verdade”?

Os alunos estarão lendo quando forem capazes de perceber como as letras funcionampara representar os sons da língua e, ao mesmo tempo, possam entender o que diz o texto.Pode-se sistematizar o ensino da leitura e da escrita, começando pelo texto natural,significativo (e não por um texto cartilhesco) e caminhar gradativamente na direção doconhecimento de palavras, silabas, letras e regras ortográficas.

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Com o crescimento da produção, cresce também o nível de

cobrança em relação a ela. O que não é permitido aqui é deixar acriança, diante da impossibilidade de execução, traduzir essa comoincompetência pessoal. Em relação à escrita, sempre há umapossibilidade de o escritor resolver o impasse, ou o problemaencontrado, no entanto, da mesma maneira, isso acontecerá com odomínio e às possibilidades reais do aluno. Em relação ao aluno, aimpossibilidade é momentânea. Lembramos que o nosso trabalhode ensino-aprendizagem é sempre com o possível e não com olimitado.

O Universo da Sala de Aula de Alfabetização: o AmbienteAlfabetizador

A sala de aula é o espaço de aprendizagem privilegiado, notadamente para aquelesque não possuem, em seu ambiente familiar, situações comunicativas de aprendizagemem que os alunos possam fazer uso significativo da leitura e da escrita. Pesquisas realizadasapontam que a escrita foi e é infinitamente menos estudada e, por conseqüência, menosabordada que a leitura. Em se tratando de alfabetização, a situação é ainda mais agravante:

Chega mais perto e contempla as palavras.Chega mais perto e contempla as palavras.Chega mais perto e contempla as palavras.Chega mais perto e contempla as palavras.Chega mais perto e contempla as palavras.Cada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra e teCada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra e teCada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra e teCada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra e teCada uma tem mil faces secretas sobre a face neutra e te

pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhepergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhepergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhepergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhepergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhederes: trouxeste a chave?deres: trouxeste a chave?deres: trouxeste a chave?deres: trouxeste a chave?deres: trouxeste a chave?

Carlos Drummont de Andrade

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

poucos pesquisadores, estudiosos, professores participaram da dinâmicadessas salas de aulas e menos ainda são os trabalhos de pesquisasefetivamente construídos neste espaço.

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!É de suma importância compreender o universo

da sala de aula na classe de alfabetização. Estacompreensão determina avanço necessário paraconstruir o tão sonhado leitor, o tão desejado escritore o mais esperado pesquisador.

No tocante à escrita, é importante compreender que ela funciona através de umprocesso cognitivo e lingüístico, não-motor e mecânico. É possível compreender o objetivoda escola e do professor quando busca a alfabetização transformadora, contextualizada,capaz de possibilitar uma série de construções de saberes a partir dela. Todos nósaprendemos a escrever escrevendo, e isso é fato, apesar de todas as dificuldadesemergentes. Será que um método de alfabetização nesses moldes nunca terá sucesso? Éo método que possibilita o maior controle por parte do professor sobre a aprendizagem doaluno? O silábico ou o fonético?

Hoje compreende-se que é preciso ter receio de começar o processo dealfabetização sem modelo. Convidar os alunos a fazerem escritas livres é necessário. Deixá-los levantar hipóteses, tentar de uma forma ou de outra a registrar espontaneamente comocompreendem a escrita provocará a idéia de que eles já podem escrever. É um grande

Alfabetizar pelo processo silábico traz a falsa idéia de organização ede controle sobre o que se está transmitindo e o que se recebe, um avançoquantificado. Trata-se de uma aprendizagem aparente, superficial,enganadora. Muitos já alfabetizaram utilizando este método e nada aconteceu,pelo contrário, todos saíram lendo e escrevendo. Não é deste processo queestamos tratando: estamos falando de um processo de alfabetização eficaz,capaz de possibilitar outras ações ao alfabetizado além da mera decodificação,como por exemplo, leituras contextualizadas e críticas, intertextualidade,escritas significativas e questionamentos constantes.

Se estamos considerando que a alfabetização é um processolingüístico e cognitivo, devemos, antes de qualquer coisa, nãoesquecer que ela não se dará de forma igual para todos. Será preciso

considerar o tempo de cada indivíduo. Será necessário esperar o tempo do aflorare esse vai depender de uma série de critérios a serem usados diariamente. A criançadeve ser estimulada ao processo de alfabetização. As necessidades da leitura e daescrita precisam ser criadas não só na sala de aula. A criança precisa perceber quesomente através da escrita e da leitura será possível determinadas ações na vida.Quando ela for colocada naturalmente na presença de fatores que cobrem delaisso, certamente o despertar começará e aí o trabalho meio que milagrosamente,para alguns, porque a questão cerebral é assim mesmo, dá-se. Esperar, e enquantoespera, estimular é uma das melhores atuações do grande alfabetizador. O estímulocumpre um papel primaz neste instante. É ele quem vai abrindo caminho. É elequem vai criando meio que vagarosamente vai suprir esta necessidade. É ele quemvai conquistando de forma marota e sedutora o futuro usuário. (TEIXEIRA, 2001)

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avanço, muito importante no começo. Neste momento será possível perceber que eleslêem as coisas que normalmente não estão escritas, mas será também possível perceberque há uma certa similaridade com as quantidades de falsos traços com sonsverdadeiros.(TEIXEIRA, 2001, p. 35)

A família, em casa, poderá compartilhar este novo comportamento, através dabrincadeira. As crianças, através do brincar, narram aquilo que executa. É como se houvesseum narrador constantemente acompanhado a brincadeira. A diferença é que o narrador é opróprio brincador. Estas tentativas marcam o uso da linguagem formal como instrumento deorganização da vida cotidiana. É o momento que o fio narrativo vai tomando corpo e acriança começa a perceber que suas ações podem ser antecipadas pela fala. Mais tardeela irá perceber que sua fala pode resgatar suas ações e mais, pode-se registrar tanto asfalas como as ações. (ibid, p.36)

[ ]Agora é hora de

TRABALHAR

Questão Questão Questão Questão Questão 11111O que você acha que deve fazer parte do ambiente

alfabetizador? Justifique a sua resposta______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Em seguida, a escrita pode ser apresentada a partir do modelo, respeitandoos primeiros traços realizados pelas crianças. Aos poucos, o professor apresentaránovos registros, desafiando e estimulando o aluno, criando um estado denecessidade de saber quais são as formas corretas para o uso de cada fonema. Ea história continua. E as perguntas também! Como se escreve isto? E aquilo?

Vygotsky (1991,p. 145) exemplifica e ratifica a ação:A criança, em um primeiro momento, a fala acompanha

a ação. Ao mesmo tempo em que está brincando de carrinho,por exemplo, ela vai narrando:... estou indo para BR e, aqui temuma curva... Em um segundo momento, a fala se antecipa a ação(regula a ação): e tem uma ponte quebrada na frente, vou terque frear... E, em terceiro momento ela se interioriza,transformando-se em fala interior ou pensamento, o qual continuaa regular a atividade, ou seja, a criança brinca de carrinho semter a necessidade de exteriorizar seu pensamento.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

ATIVIDADES DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS NA

ALFABETIZAÇÃO: ENSINAR A LER E AESCREVER

Alfabetização: Pensando nos Textos de Uso Diário

O primeiro texto desenvolvido apresentado para a criança é o narrativo. Comotrabalhar com outros textos? Se o nosso desejo é formar uma criança produtora de texto, énecessário que ela conheça e escreva vários tipos de textos. Precisa, então, conhecê-los.

Estamos produzindo textos para quê? Esta pergunta sempre é feita pela criança.Textos informativos, relatórios, parlendas devem ser construídos e reconstruídos pelascrianças o tempo todo, mas precisa ser indicado o motivo, a necessidade dessa produção.

Uma boa experiência nesse sentido é possível estabelecer já noprimeiro contato com as crianças. Normalmente as primeiras semanas detrabalho em salas de alfabetização são marcadas por atividades deexploração e de construção coletiva. Essas atividades são permeadas deum objetivo que é sondar em que pé está o envolvimento da criança com aporção de atividades, entre elas e a escrita. Com atividades ligadas a umaexpectativa da criança em relação ao que ela inicia, o professor podeperfeitamente cumprir vários objetivos, em relação à escrita. Uma sugestãoé logo após uma conversa na roda, definir com os alunos quais são as coisasque já esperam acontecer na escola e, portanto, na sala de aula. Haverámuitas participações, mas haverá, também, aluno pouco à vontade de fazerisso. Respeite o tempo e o espaço da criança. Com aqueles que sugerirame/ou apresentaram uma série de respostas, estabeleça um certoapontamento. Liste, registre com o acompanhamento deles, tudo aquilo quedisseram e tome sempre o cuidado de localizar na oralidade onde está àsugestão do aluno e o autor. Esse primeiro contato já pode desencadear osobjetivos que a escrita deve ter em uma sala de aula de alfabetização:tomar a escrita intrínseca das atividades da criança. (TEIXEIRA, 2001, p. 113)

O texto informativo, o texto filosófico, o texto poético e o texto técnico, dentreoutros, precisam acompanhar a prática docente diariamente. O mundo que cerca acriança é feito efetivamente deles, assim, são deles os objetos que devem ocupar anossa sala de aula. Dessa maneira, a fuga dele é o mais costumeiro por aí. Quandoisso acontece, perde o aluno porque foi limitado ou impedido do acesso, que muitasvezes virá somente mais tarde ou talvez nem virá; e perde o professor porque deixouuma ótima oportunidade de aprender para trás. Me refiro, principalmente aos textosem mídia interativas. Qual é o professor que nunca se deparou com uma incapacidadequase generalizada de lidar com jogos de vídeo game? A situação é às vezesvexatória. Não há o que se fazer quando não se sabe algo a não ser buscar por ele.A criança, muitas vezes já detentora dessa habilidade, pode perfeitamente participarde um processo misto de educação. Misto compreendido pela participação doprofessor e do aluno. Há uma boa quantidade de trabalhos em que o professor podedividir as glórias do ensino com o aluno. Isso seguramente torna mais rico o processode posse dessas coisas todas, no entanto, é importante lembrar que o referencialinicial, sobre a condução do processo e em que situações ele irá acontecer, precisaser constante na ideologia ou filosofia que embasa a relação aluno-professor-escola.(TEIXEIRA, 2001, p.112)

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O ato de alfabetizar, nesta perspectiva, está longe de ser reduzida às letrascombinadas em códigos fonéticos-fonológicos, morfológicos e sintáticos. É o próprio alunoque é o autor de seu texto. Esta ação leva tempo, nem a escrita nem a leitura são merosexercícios sobre a escrita e a fala dos outros, mas formulação lenta e contínua da própriacriança, e isso tudo só será possível por meio de ações.

Observações Importantes do Trabalho com Textos na Alfabetização

Sugestões Didáticas para Melhorar a Competência Textual e aExpressão Oral: a Prática Pedagógica

1) O texto construído através de paráfrase:pedir ao aluno que diga a mesma coisa de um outro

jei-to: reconte uma história, contada pelaprofessora, com suas próprias palavras.

2) A elaboração de resumo: sugerir resumosorais de uma história, uma noticia. Ensinar que noresumo destaca-se aquilo que é considerado mais

importante, o que realmente não pode faltar. Acriança que ainda não escreve, resumirá apenas

oralmente e a professora escreverá o que foi dito, no quadro.

3) A produção de um texto a partir de um título dado: reconto dehistórias co-nhecidas como histórias de fadas, lendas, fábulas podem ser usados para iniciar aatividade, trocando-os, inventando-os.

4) A classificação dos diversos tipos de texto: apresentar um texto e informar de que tipo detexto se trata (uma narrativa, uma poesia, um texto didático, uma noticia jornalística, um anúncio,uma receita). Como escrevemos cada um?

· O título precisa ser trabalhado. Precisa ser um bom título!

· A figura ou o desenho é um atrativo visual. Estas imagens tambémpossuem ações, palavras, vocabulário, verbos e auxiliares intrínsecos. Alémdisso, os objetos e as figuras instigam, faz refletir, dá pistas, orientam.

· Observar o uso de letra maiúscula, estilo imprensa, na hora doregistro do texto.

· Recortar do jornal essas letras com traços trabalhados ou grifos éuma boa situação de aprendizagem.

· A criança pode mudar títulos que não goste ou não concorda, ouinventar um título mais criativo.

· Observar a relação existente entre contexto-texto-conteúdo, as fotos,imagens, narração ou informações e outros. A criança, principalmente aquelaque ainda não lê, decifra o escrito pela imagem.

· Todo o trabalho com textos precisa ser contextualizado. A música,a leitura, o filme, pode ser uma entrada interessante para a produção queserá feita mais tarde.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

O Processo de Alfabetização e as Intervenções do Professor:Trabalho com Produção de Texto Escrito7

Sabemos que as crianças passam por um longo processo de construção de línguaescrita e que aprendem a escrever na forma convencional só depois de esgotarem aspossibilidades de suas hipóteses iniciais. Portanto, o trabalho com a produção de textoescrito, na 1ª série, deve existir desde o primeiro dia de aula.

5) As brincadeiras com palavras: criar histórias a partir de palavras.Exemplo: uma criança diz a palavra pai; e outra, a palavra mãe. A professorapode começar a história e deixar o resto em suspense, por exemplo:

Em seguida, os alunos deverão continuar a história.

Sempre que eu vejo meu pai, eu meSempre que eu vejo meu pai, eu meSempre que eu vejo meu pai, eu meSempre que eu vejo meu pai, eu meSempre que eu vejo meu pai, eu melembro da minha mãe. Um belo dia, minhalembro da minha mãe. Um belo dia, minhalembro da minha mãe. Um belo dia, minhalembro da minha mãe. Um belo dia, minhalembro da minha mãe. Um belo dia, minha

mãe fez um bolo para...mãe fez um bolo para...mãe fez um bolo para...mãe fez um bolo para...mãe fez um bolo para...

7 Texto adaptado de Esther Pillar Grossi,pesquisadora do GEEMPA

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!O papel do professor é o promover

oportunidades de escrita desvinculadas da ansiedadegeradas pelo erro. Este deve ser encarado como umdos indícios das concepções infantis de escrita.

Portanto, não há erro. O que existe é autilização de uma hipótese de escrita que não éconvencional.

Procedimento Metodológicos para o Encaminhamento da ProduçãoEscrita Individual

A partir das situações já sugeridas para a produção escrita de textos, todos escrevem,cada um à sua maneira. No entanto, em relação ao texto silábico-alfabético ou alfabético,existe um trabalho específico de reestruturação.

Situações que podem desencadearuma escrita de texto:

Histórias contadas e/ou lidas; Fatos do cotidiano; Fatos históricos: comemorações; Conversas informais; Dramatizações; Jogos e brincadeiras; Desenhos; Poesias, quadrilhas e rimas; Musicas; Histórias em seqüência

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Procedimentos metodológicos para encaminhar a produção coletiva

Discussão oral com o grupo classe para que haja consenso sobre “oque” deve ser escrito;

Registro feito pelo professor, na lousa ou em papel manilha, que ficaráexposto e será guardado posteriormente. Neste momento é preciso sensibilidade ecuidado para ser fiel ao texto proposto pelas crianças;

Leitura do texto produzido, pelo professor e pelos alunos; Atividades de leitura a partir do texto: “brincar de ler”; Atividades de escrita a partir do texto mimeografado:

Alunos pré-silábicos

- Circular ou marcar letras iguais ao seu nome e/ou de outras palavrassignificativas já trabalhadas;

- Circular ou marcar letra inicial ou final do seu nome ou dos seus colegas;- Circular ou marcar palavras inteiras;- Pintar intervalos entre as palavras;- Classificar palavras pelo número de letras registrando-as;- Copiar palavras inteiras;- Completar letras que faltam;- Pesquisar em outros materiais, letras iguais;- Classificar palavras pala letra inicial registrando-as;- Copiar uma frase do texto escolhido, escolhido pela criança ou pelo

professor;- Contar o número de letras de uma frase;- Contar palavras de uma frase onde os intervalos tenham sido marcados

Alunos silábicos

- Ênfase nas atividades com as letras iniciais de palavras significativas;- Ditado de iniciais, onde o aluno marca a letra inicial no texto mimeografado;- Ditado de iniciais de palavras do texto, com registro no caderno;- Análise oral do número de sílabas de palavras do texto;- Listar palavras com a mesma sílaba inicial: “Lá vem a barquinha carregada

de...”- Todas as atividades sugeridas para o nível pré-silábico também podem ser

utilizadas com os silábicos.

Alunos silábicos-alfabéticos e alfabéticos

- Ordenar frases do texto;- Completar as frases;- Completar sílabas e letras de palavras;- Dividir palavras em sílabas;- Formar palavras a partir de sílabas do texto.

Listar do conjunto de textos produzidos pelas crianças, os tipos de errosmais comuns tanto em relação à estrutura textual, como aqueles que se referem aortografia (escrita fonética, trocas de letras, omissões, etc);

Priorizar um aspecto para ser trabalhado de cada vez; Compor um texto hipotético com escrita de vários alunos ou escolher um

dos textos da classe onde apareça a dificuldade a ser trabalhada; Escrever um texto na lousa com a transcrição correspondente; Propor atividades diversificadas que sejam adequadas ao trabalho de

cada dificuldade.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

TRABALHO COM LEITURAS

Se ler é atribuir significado, qualquer criança, antes mesmo de estaralfabetizada é capaz de ler.Portanto, é essencial o trabalho de leitura sobretextos com sentido para a criança em situações onde a leitura seja funcional,pois só se pode aprender a ler, lendo.

Leitura para os Alunos Pré-silábicos e Silábicos

Os alunos pré-silábicos precisam assistir e participar de atos de leitura que ajudema descobrir que a escrita e a fala se relacionam.

Leitura de texto cujo sentido seja conhecido previamente pela criança

- Leitura de músicas;- Leitura de quadras e rimas;- Leitura de cantigas de roda;- Leitura de parlendas e outras brincadeiras faladas;- Brincar de ler sobre embalagens logotipos e rótulos: out-doors, jingles

(música de propaganda); textos coletivos produzidos pela classe;- Participar de atos de leitura feitos pelo professor: histórias de fadas, de

aventuras, lendas, etc.- Ler por imitação sobre o mesmo suporte dado pelo professor (exemplo:

livros da coleção Gato e Rato da ed. Ática).

Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Atenção!Tanto os alunos pré-silábicos como também os silábicos

devem ter oportunidade de manusear materiais escritos maisestruturados, como livros, revistas e jornais, buscando ler de formacomo conseguirem.

Alunos alfabéticos

Os alunos alfabéticos se beneficiará com as atividades arroladas anteriormente, alémde poder fazer uso pleno dos mais diversificados tipos de suporte de texto, como, por exemplo:jornais, revistas em quadrinhos, livros de histórias, etc.

A leitura destes textos estruturados oferecerá o material de composição necessáriopara que a criança chegue a escrever de forma convencional, descobrindo as exigências enecessidades da linguagem escrita.

TRABALHO COM PALAVRAS INTEIRAS E SIGNIFICATIVAS

A – Situações que Podem Desencadear a Escolha de Palavras Significativas

Fatos do cotidiano; Conversas informais; Jogos e brincadeiras;

B – Procedimentos Metodológicos para Encaminhar o Trabalho com Palavras

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Alunos Pré-silábicos

O desafio a ser proposto nas atividades deve dar oportunidade para que o alunopré-silábico descubra que o que se fala pode ser escrito.

Escolha de palavras a partir de uma situação vivenciada que correspondaao interesse da maioria da classe;

Proposta pelo professor para que cada criança escreva a palavra escolhidaà sua maneira. Isto pode ser feito na lousa, para que se oportunize a discussãoquanto à forma escrita da palavra. Neste momento, no entanto, a preocupação nãodeve ser com a escrita convencional, mas sim com as escritas decorrentes dasdiferentes hipóteses infantis. Esta mesma atividade pode ser feito no caderno de ouem folhas avulsas. O objetivo é ainda incentivar a criança a escrever do seu modo ecoletar material que permita analisar o nível em que se encontra cada criança. Searquivada em pasta única, por criança e datada, será possível delinear o perfilevolutivo do processo de cada aluno. Neste arquivo só devem ficar as escritasespontâneas.

Atividades com a Palavra Escrita de Forma Convencional

Com nomes próprios

Crachás- Distribuição;- Escolha do seu crachá, reconhecendo-o entre os demais;- Jogos do tipo arremesso de bola, bingo de nomes, agrupamento

dos crachás por letras finais, iniciais e por número de letras, quebra-cabeças,jogos de desafio para a descoberta de outros nomes da classe.

Chamada- Assinar a lista de freqüência (folhas mimeografadas para usar

uma por dia);- Retirar de um suporte (cartaz de pregas, flanelógrafo, etc.) seu

nome.

Com outras palavras significativas- Construção de cartaz da palavra;- Com cartões de palavras:

Comparar cartões com desenho;Comparar cartões com letras iniciais;Agrupar cartões com letra inicial;Agrupar cartões pelo número de letras.

A partir de material xerocado ou mimeografado- Circular, marcar e/ou xerocar:

Letras iguais ao seu nome e/ou palavras significativas játrabalhadas;

Letras iguais a da palavra em outras palavras ou texto- Contar o número de palavras, registrando ao lado marcas ou

numerais correspondentes ao número de letras;- Listar conjunto de palavras com o mesmo número de letras;- Completar letras que faltam;- Pesquisar em outros materiais (textos impressos) letras e/ou

palavras iguais;- Listar palavras ao número de letras- “Tesouro de palavras” individual ou por grupos

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Estas atividades arroladas podem ser trabalhadas no caderno ou emfolhas avulsas.

Alunos Silábicos

O desafio a ser proposto nas atividades, deve dar oportunidade para que o alunosilábico descubra que seu tipo de escrita não pode ser interpretado por outros leitores damesma forma que ele o faz.

Todas as atividades anteriormente citadas para o nível pré-silábico podem serpropostas também para estes alunos, priorizando:

A hipótese silábica representa um momento muito forte e delicado para a criança.Apesar da existência da informação da sílaba na classe, é possível que nem todos a assinem.Portanto, o professor deve ter uma atitude receptiva e não de cobrança.

Com alunos silábicos quantitativos, sem valor sonoro (escrevem uma marca paracada emissão), além das atividades já indicadas, é necessário trabalhar com outras quefavoreçam a descoberta de que a sílaba, em geral, é escrita com mais de uma letra:

Completar palavras quando falta a letra inicial; Escrever palavras, dado a letra inicial; Ligar desenhos a 1ª letra da palavra correspondente Ditados de iniciais: marcando em textos, registrando apenas

a letra inicial de palavras significativas; Ditado de palavras cujas escritas silábicas sejam

semelhantes. Ex. bala, bola, bule, bela, etc. (para a criança silábicacom a hipótese de valor sonoro nas consoantes, provavelmente usara amesma gráfica – b e l – para todas as palavras); maleta, saleta, capeta,etc (para a criança silábica que sustenta a hipótese de valor sonoro nasvogais, que provavelmente usara a grafia – a, e, a – para todas aspalavras).

Ditado convencional de palavras de palavras inteiras entredois alunos, favorecendo as discussões sobre a forma de escrever aspalavras;

Ditado realizado pelo professor utilizando:- Quaisquer palavras significativas;- Palavras que tenham, entre si, relação de significados (ex.

flores, frutos, animais, alimentos de cada refeição, peças de vestuário,material utilizado na classe, brinquedos, etc.);

- Palavras com o mesmo som inicial;- Palavras iniciadas com a mesma letra.

Atividades orais que favoreçam a consciência da sílabafalada:

- Encontrar rimas para cada nome próprio da classe e/oucantar “trava-línguas”;

- Analisar o número de sílabas das palavras;- Corresponder sons e gestos, palmas, em determinadas

sílabas.

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- Dividir palavras anteriormente trabalhadas usando cartões;- Antecipar a divisão da palavra escrita pela divisão oral;- Distribuir cartões com uma palavra escrita para os alunos da classe;- Propor que cada criança divida a palavra onde ela imagina que corresponda

à divisão oral.

Alunos Silábico-alfabéticos e Alfabéticos

O desafio a ser proposto nas atividades deve dar oportunidade para que o que oaluno alfabético descubra que a escrita convencional não é tão fonética quanto ele imagina,ou seja, não escreve exatamente como se fala.

Todas as atividades citadas para os alunos pré-silábicos e silábicos podem serdesenvolvidas também com estes alunos, enfatizando-se:

Atividades e jogos com palavras faltando letras em algumas sílabas,principalmente aquelas que possuem mais de duas letras;

Reestruturação de textos através de análise lingüística.

IV – TRABALHO COM LETRAS DO ALFABETO

Este trabalho tem como suporte o manuseio do material concreto, através de letrasmoveis recortadas de plástico, madeira, borracha, lixa, cartolina, etc.

Atividades com a forma e a posição das letras- Classificar as letras segundo diferentes critérios: nº de hastes, nº de

aberturas, partes fechadas, partes curvas, segmentos retilíneos (retas), cantos(ângulos), seriar letras em diferentes posições, ex.

Atividades com letras em palavras significativas- Analisar nomes próprios e/ou palavras significativas segundo o número

de letras;- Classificar nomes próprios e outras palavras pelo número de letras;- Pescaria de letras: pescar uma letra que deve ser colocadas sobre um

nome que a contenha;- Quebra-cabeças: pareando desenho e letra inicial correspondente e

pareando desenho, inicial e letra correspondente;- Bingo de letras.

Alunos silábicos

Todas as atividades citadas os alunos pré-silábicos podem ser desenvolvidastambém com estes alunos, acrescidas das seguintes sugestões:

Dicionário:- Listar letras do alfabeto, com espaços correspondentes onde a criança

escreve palavras iniciadas com cada letra;- Grampear folhas com seqüência de letras: a criança escreve uma palavra

iniciada com o desenho correspondente. Alfabeto ilustrado: um grupo de crianças recebe um painel com quadrados

grandes, com uma letra do alfabeto em cada um; entrega-se também um conjuntode objetos ou de figuras que deverão ser colocados em cada quadradocorrespondente, em seguida faz-se o registro na lousa ou cadernos.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

Alunos alfabéticos

As atividades anteriores também poderão ser oferecidas para osalfabéticos. O objetivo principal do trabalho com letras para o aluno alfabéticoé ajudá-lo a se aproximar da escrita convencional, principalmente em relaçãoàs sílabas compostas de mais de duas letras.

Aprender a Gostar de Ler8

Algumas pessoas criam gosto pela leitura pelo exemplo dos familiares, outras, porinfluência de professores ou por circunstâncias fortuitas de suas histórias de vida. No entanto,a formação de leitores em grande escala, via es-cola, só ocorrera se houver uma política deleitura, traduzida na adequada formação de professores-leitores, na oferta abundante debons e variados materiais escritos, e na instalação de bibliotecas e salas de leitura bemequipadas, dinamizadas por bibliotecários. Será que nossas escolas chegarão lá?

Não se ensina a gostar de ler por decreto, ou por imposição, nem se forma letradospor meio de exercícios de leitura e gramática rigidamente controlados. Para formar indivíduosletrados, a escola tem que desenvolver um trabalho gradual e contínuo. A formação doprofessor precisa acompanhar esse processo.

Há muitas formas de ler, conforme os objetivos do leitor, a situação em que ocorre aleitura, o local, o tempo disponível, o material a ser lido etc. Além da leitura integral do texto,incentivada e mesmo exigida pela escola, os leito-res experientes praticam outrasmodalidades de leitura: a seletiva, para rápida consulta de informações; o passar os olhosnuma revista; a leitura descompromissada em que o leitor salta as páginas (de um romance,por exemplo) que não lhe interessam, a leitura deslinearizada do jornal, a leitura detalhadae pausada para fins de estudo, dentre outras.

A leitura seletiva é uma estratégia do leitor que tem a intenção de não ler tudo. E aforma de ler que julga pertinente para suas necessidades, numa dada situação. Isto quedizer que ele procura alguma coisa enquanto lê. A leitura sele-tiva não e ensinada na escola,mas os alunos terminam por desenvolvê-la intuitivamente, ao procurar respostas para umquestionário, por exemplo.

O gosto pela leitura pode ser cultivado desde a alfabetização. Atividades de leiturabem selecionadas mostram aos alunos que eles se alfabetizam para aprender, para divertir-se, e para fins práticos, como ler um cartaz, um aviso. Essa sensibilização deve seracompanhada de atividades de leitura livre, não guiada. As diferentes hipóteses de leitura(memorização de texto, adivinhação do que pode estar escrito, invenção de história a partirda gravura) podem ser feitas desde muito cedo. A criança vai se enganar, compreendermal, não im-porta, diz o autor. O importante é o que ela faz para entender bem.

É possível destaca as condições de êxito da aprendizagem:

1) Valorizar a oralidade da criança e sua cultura fora de escola, quenão deve ser encarada como uma subcultura.

2) Formar um ambiente favorável à leitura e à escrita na escola,principalmente quando há desigualdades sociais. Organizar os cantos deleitura para atividades não guiadas, valorizar as situações espontâneas deleitura.

3) Lembrar que a escrita não e a transcrição do oral. Para a criançaque começa a escrever, essa é uma das maiores dificuldades, pois aprendera escrever não se resume a aprender a escrever o que se diz. Aliás, o que sediz espontaneamente, quando é transcrito, parece extremamente cansativoe desagradável de ler. Alguns tentam, erradamente, ensinar a criança falar

8SMITH, Frank. Leitura Significativa.Porto Alegre: ArtMed, 1999. Extraído naíntegra.

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como se escreve, ou a escrever como se fala. É preciso lidar com duas ordensdiferentes, a da língua escrita e a da língua oral.

Letramento escolar

Para certas crianças, um problema de atraso ou insucesso na alfabetização logo setransforma numa dificuldade grave que as conduz a turmas diferenciadas, batizadas comnomes diferentes ao longo das décadas: turmas de repetentes, de renitentes, classes deadaptação, classes de atrasados especiais, turmas de aceleração, turmas de progressãoetc. A possibilidade de retomar o fluxo normal da escolaridade, depois de ter feito partedessas turmas, é remota, pois, se por um lado os alunos “fracos” sentem-se diminuídos edesmotivados, as professoras que os recebem são muitas vezes inexperientes, recém-chegadas à profissão.

Um outro problema e o dos alunos que, mal ou bem, vencem a barreira daalfabetização inicial, mas não tem contatos suficientes com a escrita para se tomaremletrados, não ganham fluência, sentem aversão pela leitura. Suas dificuldades refletem-seem outras áreas do currículo. Forma-se um ciclo vicioso: a criança não lê ou não compreendeo que lê, e não melhora na leitura porque ninguém a ajuda a superar essa dificuldade.

Quais os caminhos de que dispõe a escola para melhorar o processo de formaçãode leitores? Por que crianças com inteligência absolutamente normal desenvolvem umarelação penosa com a escrita? O que podemos espe-rar, em matéria de letramento, deuma pessoa que freqüentou o ensino fundamental durante oito anos?

Para alfabetizar, letrando, deve haver um trabalho intencional de sensibilização, pormeio de atividades especificas de comunicação, por exemplo: escrever para alguém quenão está presente (bilhetes, correspondência escolar), contar uma história por escrito, produzirum jornal escolar, um cartaz, etc. Assim a escrita passa a ter função social.

Na etapa de sensibilização, a criança deve ser ajudada para compreender asexigências das variações da escrita, de acordo com o gênero de texto, o leitor potencial, osobjetivos do autor, etc.

Sugerimos alguns tipos de textos, de uso corrente na vida social, que devem sertrabalhados ao longo do ensino fundamental, em diferentes projetos e em diferentesmomentos:

1) Narrativas (histórias de autoria conhecida, ou não; contos de fadas; his-tóriasdo folclore, lendas; histórias de vida; “casos” da vida cotidiana).

2) Listas (de compras, de coisas a fazer, de heróis favoritos, de personagens, demeninos e meninas, de brincadeiras, etc.).

3) Poemas (para serem aprendidos de cor, para serem recitados ou lidossilenciosamente).

4) Receitas de cozinha (receitas simples e econômicas podem eventualmenteser preparadas na escola).

5) Quadrinhos (crianças não só lêem, mas produzem suas próprias histórias).6) Bilhetes, cartas e telegramas.7) Convites (para festas escolares, exposições, reuniões de pais).8) Cartazes, textos de propaganda (para promover campanhas).9) Agendas e diários (textos de natureza intima).10) Textos didáticos (de Português, Matemática, Estudos Sociais, Ciências etc.).11) Reportagens (sobre o que esta ocorrendo na escola, no bairro, na cidade).12) Relatórios de visitas ou de pesquisa.13) Documentos da vida cotidiana (cheques, requerimentos, certidões,

formulários, etc.).14) Bulas (de remédios de uso comum).15) Normas e instruções (como montar um brinquedo, organizar um jogo, etc.).

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

O que se pode observar em cada tipo de texto

Aspectos a Ressaltar Quando se Apresenta um Texto aos Alunos

· O autor: nem todos os textos têm autoria declarada. Nosjornais, por exemplo, apenas uma parte dos escritos são assinados.No caso de textos que possuem um autor declarado (como é o casoda maioria dos livros), interessa saber quem é ele, quando e ondeescreve ou escreveu, o que se sabe sobre suas idéias, a quem sedirige etc.

· Os objetivos do autor: um texto pode ser escrito para informar,dar notícias, distrair, fazer rir, argumentar, convencer, discutir umproblema, narrar um acontecimento, expressar idéias, vender umproduto, apresentar propostas etc. O que sabemos sobre a intençãodo autor (ou autores) ao escrever o texto que estamos examinando?

· O assunto: em certos casos, e preciso conhecer algo sobre oassunto do qual o texto trata para poder compreendê-lo.

· O título: existe um título? Se existe, o que o título nos permiteprever sobre o conteúdo do texto?

· O gênero: trata-se de um artigo, uma crônica, umareportagem, um poema, uma carta ou o que? Cada um desses gênerosde texto tem suas próprias convenções. O que sabemos sobre o gêneroem questão? A organização do texto é muito importante. O que éque faz com que uma seqüência de frases forme um texto? Na maioriados casos de dificuldades de leitura, a criança compreende cada fraseisoladamente, mas não o texto. A escola não ensina como o texto éelaborado.

Tornar-se letrado, ou formar-se leitor, é aprender sobre autores, seus modos de pensar,intenções, interlocutores, idéias e valores; é aprender sobre gêneros, sobre a forma pelaqual os textos se organizam, a partir do título, obedecendo convenções, e desdobrando-separágrafo por parágrafo para exprimir idéias. E, principalmente, aprender a dialogar comos autores, refletindo sobre o que eles nos dizem e comparando as suas com as nossaspróprias idéias.

· A situação social em que o texto foi ou será usado: umacarta ou bilhete; um convite; um artigo ou uma reportagem, umrequerimento, uma certidão, uma lista, etc. aparecem em contextossociais diferentes.

· O local ou locais em que o texto foi ou será encontrado:na rua, na escola, no jornal, no mercado, no tribunal, na televisão,etc.

· A “silhueta” do texto. As formas gráficas de uma receitade cozinha, de um poema, de uma lista são diferentes.

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[ ]Agora é hora de

TRABALHARQuestão Questão Questão Questão Questão 11111Proponha uma atividade significativa para o aprendizado da leitura e da escrita,

preenchendo a ficha a seguir:

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

Tipo de atividade(leitura e escrita ou leitura ou escrita)

Objetivo

Duração

Intervenções(como você apresentará a atividade ao aluno)

Avaliação(como vai avaliar o aluno)

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

AtividadeAtividadeAtividadeAtividadeAtividade

OrientadaOrientadaOrientadaOrientadaOrientada

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 11111Chegou a hora de sistematizarmos saberes! Para tanto, acompanhe a leitura do

fragmento abaixo. Ele trará, à guisa de reflexão, alguns conceitos muito importantesdiscutidos ao longo de nosso curso. Retomá-los agora é mais do que preciso, pois nestemomento, vamos ressignificar tudo que vimos e vamos trabalhar na construção de nossamatriz analítica, que indicaremos logo a seguir. Mãos à obra e sucesso!

Alfabetização, escrita e letramento

Conforme Magda Soares no livro Letramento – um tema em três gêneros (1998)aprender a ler e a escrever é algo diverso do que se entende por apropriação da escrita.Isto por que aprender a ler e a escrever implica na aquisição de uma tecnologia e implica,ainda, na tarefa de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita. Constitui-se,então, como resultado da alfabetização, realizada como ação de ensinar a ler e a escrever.Apropriar-se da escrita tem outra acepção: é tornar a escrita “própria”. Em outras palavras,é assumi-la como sua “propriedade”. Ela é resultado do letramento, definido como ação deensinar e aprender as práticas sociais de leitura e de escrita.

Fica claro, assim, que um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduoletrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é não só aquele quesabe ler e escrever, mas aquele que responde adequadamente às demandas sociais daleitura e da escrita.

Depois da leitura deste fragmento elucidativo, você construirá uma MATRIZANALÍTICA, estabelecendo comparações entre os seguintes conceitos próprios daalfabetização:

Esta atividade deverá ser realizada em grupo de, no máximo, 05pessoas. Será necessária a consulta do material impresso e também do AVA

para que a sua produção seja, de fato, bastante proveitosa!

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Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 22222Sabemos como o papel do professor é importantíssimo no processo de ensino-

aprendizagem. Quando pensamos, então, no professor alfabetizador percebemos o quantoeste papel adquire contornos ainda mais delicados, se levamos principalmente emconsideração demandas, expectativas e necessidades dos alfabetizandos envolvidos.Reflita, agora, sobre a natureza da postura deste professor e mergulhe nesta próximaatividade, que deverá ser realizada em dupla. Vamos lá!!!

Simularemos uma situação de ENTREVISTA: você será um (a) professor (a)alfabetizador (a) que está, no momento, assumindo uma classe de alfabetização.Seu colega será o entrevistador, repórter de uma conhecida revista de educação, edará a seguinte informação:

Professor (a), as crianças constroem idéias sobre como as palavras são escritas e de comoa leitura acontece na fase inicial da escolarização. Observa-se que parte importante e poucoconhecida das investigações sobre a aquisição da escrita refere-se ao que poderíamos chamar“hipóteses de leitura”, legitimando a idéia de que as crianças constroem sobre o que está ou nãoconstruído graficamente, em um texto escrito, e o que pode ser lido. As crianças, antes daaprendizagem de leitura e escrita, constroem hipóteses, idéias, dúvidas que parecem estranhasaos olhos dos adultos alfabetizadores.

Após esta informação, você, no papel de entrevistado, responderá as questõespor ele formuladas e anotará as respostas em seu caderno. Depois vocês invertemos papéis.

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Fundamentos eDidática da

Alfabetização I

11111..... Você acredita que é possível às crianças construírem hipóteses a

respeito da leitura, assim como fazem com a escrita? Justifique.

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.2.2.2.2. Quais idéias sobre a leitura você acredita que as crianças têm antes de ler e

escrever convencionalmente?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.3.3.3.3. Analise a situação abaixo:

“João, menino de 5 anos, olhando um carrinho de brinquedo, aponta para as letras impressasnum adesivo do carrinho e diz: ‘neste desenho tá escrito carrinho’. O texto na verdade diz ‘ônibus’”.

O que leva João a pensar que está escrito “carrinho”?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 33333Caro (a) aluno (a):

Depois de tudo que vimos ao longo do nosso material impresso e amparados nas atividadesrealizadas até então, é possível perceber que, para a escola, a escrita é “um sistema de signos queexpressam sons individuais da fala” (Gelb, 1976) e que isto é passado para a criança com prioridade;tudo acontecendo de modo muito evidente. No entanto, não é isto que ocorre, já que, inicialmente,toda criança segue em outra direção, ou seja, para ela a escrita é um outro modo de desenhar ascoisas.

Nesta atividade, vamos analisar diferentes etapas da construção da escrita de algunsalunos. Tente identificar, de forma analítica, as fases em que se encontram as escritas decrianças, indicadas a seguir. Observem atenciosamente cada uma das amostras e façaseu comentário!!!

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a )

b )

56

Fundamentos eDidática da

Alfabetização I c )

d )

57

ALFABETIZAÇÃO – processo de aquisição individual de habilidadesrequeridas para a leitura e escrita. Processo de representação de objetosdiversos, de naturezas diferentes.

LETRAMENTO – ato de ler e escrever que deve começar a partir deuma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os sereshumanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os sereshumanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguirescreveram as palavras.

LINGÜÍSTICA – estudo científico da linguagem humana.

MÉTODO – caminho para chegar a um fim. Os métodos existentes sãosintéticos e analíticos.

PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA – pesquisa realizada por EmíliaFerreiro e colaboradores. Contribuiu para compreender que as escritas infantiscompreendidas como indicadoras de “patologia”, são etapas de um processoevolutivo próprio de cada criança, até conseguirem entender como funciona onosso sistema alfabético de escrita

PSICOLINGÜÍSTICA – estudo das relações e conexões entre alinguagem e a mente. Busca explicações sobre a aquisição da linguagem pelascrianças.

PSICOLOGIA – ciência que estuda o comportamento humano e dosprocessos psíquicos.

REALISMO NOMINAL – processo em que as crianças consideram quepara uma escrever uma palavra cuja imagem é grande, como “elefante”, é precisoescrever uma porção de letras porque o elefante é um animal grande. Já apalavra “formiga”, escrevem com poucas letras, já que a formiga é bempequenininha. A criança vê o objeto e não a sua representação gráfica.

GlossárioGlossárioGlossárioGlossárioGlossário

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Alfabetização I

BAJARD, Élie. Caminhos da Escrita: espaços de aprendizagem. São Paulo:Cortez, 2002.

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FTC - EaDFaculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância

Democratizando a Educação.www.ftc.br/ead