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7. Texto, discurso e argumentação – Parte 1 Teorias do Texto: Enunciação, Discurso e Texto 1º semestre de 2016 Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP) [email protected]

7. Texto, discurso e argumentação Parte 1

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7. Texto, discurso e argumentação –Parte 1

Teorias do Texto: Enunciação, Discurso e Texto

1º semestre de 2016

Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (FFLCH-USP)

[email protected]

Page 2: 7. Texto, discurso e argumentação Parte 1

Introdução às teorias sobre argumentação e retórica

Fiorin (2015: 9)

“Todo discurso tem uma dimensão argumentativa. Alguns se apresentam comoexplicitamente argumentativos (por exemplo, o discurso político, o discursopublicitário), enquanto outros não se apresentam como tal (por exemplo, odiscurso didático, o discurso romanesco, o discurso lírico). No entanto, todos sãoargumentativos: de um lado, porque o modo de funcionamento real do discurso éo dialogismo; de outro, porque sempre o enunciador pretende que suas posiçõessejam acolhidas, que ele mesmo seja aceito, que o enunciatário faça dele uma boaimagem [...] os discursos são sempre o espaço privilegiado entre vozes sociais, oque significa que são precipuamente o lugar da contradição, ou seja, daargumentação [...]”

Breton (2003: 101)

“A argumentação não tem a pretensão de dizer a verdade dos fatos, mas departilhar uma narrativa provisória para fazer que dela derive uma convicção”.

Page 3: 7. Texto, discurso e argumentação Parte 1

Introdução às teorias sobre argumentação e retórica

Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996: 4, itálicos dos autores) afirmam que o objeto de uma teoria daargumentação é “o estudo das técnicas discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dosespíritos às teses que se lhes apresentam ao assentimento”.

Reboul (2004) define a retórica como a arte de persuadir pelo discurso.

Para Meyer (2007), Breton (2003), dentre outros, deve-se distinguir Retórica de Argumentação. Grossomodo,

1. A Retórica estaria mais associada às técnicas que levam mais à persuasão do que ao convencimento,independente da legitimidade do raciocínio discursivamente (im)posto;

2. A Argumentação deveria ser pautada por critérios éticos, raciocínios legítimos, estando mais associadaao convencimento do que à persuasão.

Convencer = levar a crer x Persuadir = levar a fazer

Para Reboul (2004), trata-se de uma distinção irrelevante no domínio retórico-argumentativo, pois persuadirsem convencer recai, de alguma forma, no campo da violência. Como sempre, há controvérsias...

Seriam, então, tais fronteiras fantasiosas, utópicas, idealistas? Ou não?

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Introdução às teorias sobre argumentação e retórica

Também devemos distinguir o domínio demonstrativo do domínio argumentativo.

1. O raciocínio demonstrativo pretende-se universal; trabalha com o necessário,com saberes e raciocínios que devem se impor pela verdade de suas premissase conclusões. Para os estudiosos da área, consiste, especialmente, no domíniodas Ciências Exatas e Naturais corrente de pensamento cartesiana.

2. O raciocínio argumentativo pretende-se local; trabalha no domínio doverossímil, com crenças e raciocínios embasados em valores e conhecimentospartilhados e esperados. Para os estudiosos, consiste, especialmente, nodomínio das Ciências Humanas, das práticas cotidianas e de distintas esferas,como o jornalismo, a publicidade, a religião, dentre outras.

Novamente, cabe a pergunta: temos fronteiras, de fato, discretas aqui? É possívelfalar em algum domínio plenamente demonstrativo?

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Introdução às teorias sobre argumentação e retórica

Perspectivas:

1. Formais: Tipos de raciocínio (indução, dedução); silogismo; entimema

Aristóteles; Peirce; Fiorin.

2. Estruturais: Modelo Toulmin; RST Toulin; Toulin, Rieke & Janik; Grácio; Mann& Thompson.

3. Discursivas, interacionais e/ou comunicativas: ethos, pathos, logos; esquemasargumentativos; falácias Perelman & Olbrechts-Tyteca; Reboul; Breton;Meyer; van Eemeren; Amossy; Fiorin; Alejandra Vitale.

4. Argumentação no Ensino e/ou Ensino de Argumentação: discussão e debate.

No Brasil, escrevem sobre argumentação: Lineide Mosca; Zilda Aquino; MariaAdélia Mauro; Fiorin; Isabel Azevedo; Eduardo Piris; Paulo R. Gonçalves-Segundo;Soraya Pacífico; Maria Beatriz Decat; Gustavo Ximenes; Emília Mendes; Vanda Elias;Moisés Olímpio Ferreira; dentre outros.

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Dedução e Indução; Silogismo e Entimema

1. Dedução: raciocínio que vai do geral ao particular. Parte de regras, a partirdas quais se justificam ou legitimam associações e casos específicos. Suafunção não é gerar conhecimentos novos, mas mostrar que as regras e ossaberes vigentes ainda são válidos e se aplicam. Está na ordem donecessário – mais para a demonstração que para a argumentação. Hácontrovérsias...

Ímãs atraem ferro. X é ímã. Logo, X atrai ferro.

2. Indução: raciocínio que vai do particular ao geral. A partir de uma amostrade fenômenos, infere-se uma lei geral. No fundo, consiste em umaatividade de generalização que pode ser, posteriormente, testada. Induçõestendem a aumentar nosso conjunto de conhecimentos sobre a realidade.

X, Y, Z e W atraem ferro. X, Y, Z e W são ímãs. Logo, ímãs atraem ferro.

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Dedução e Indução; Silogismo e Entimema

1. Dedução: raciocínio que vai do geral ao particular. Parte de regras, a partir dasquais se justificam ou legitimam associações e casos específicos. Sua função nãoé gerar conhecimentos novos, mas mostrar que as regras e os saberes vigentesainda são válidos e se aplicam. Está na ordem do necessário – mais para ademonstração que para a argumentação. Há controvérsias...

Silogismo: esquema de raciocínio dedutivo composto de três proposições - duaspremissas (a maior e a menor) e uma conclusão – e três termos – o maior, o médio eo menor, categorizados segundo a extensão das entidades/conjuntos.

Silogismo clássico

Todo macaco é mamífero. <Premissa Maior>

Anacreonte é um macaco. <Premissa Menor>

Logo, Anacreonte é um mamífero. <Conclusão>

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Dedução e Indução; Silogismo e Entimema - exercíciosEntimema: também consiste em um raciocínio que vai do geral para o específico. Para Fiorin (2015),eles são retóricos por excelência, especialmente ao considerarmos a visão 2. Há duas visões aindaem Aristóteles:

a. Visão 1: consiste em um silogismo no qual uma das premissas se encontra subentendida.

Maria tem leite.

Logo, ela deu à luz.

[Subentende-se: Toda mulher que tem leite deu à luz]

b. Visão 2: consiste em um silogismo no qual as premissas não são necessárias, maspossíveis, prováveis. Logo, a conclusão não é verdadeira, mas verossímil.

Todos os professores são trabalhadores.

João é professor.

Logo, João é trabalhador.

Ou (COMBO: 1 + 2)

Paulo Maluf estudou na Poli.

Logo, ele é um bom engenheiro.

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Dedução e Indução; Silogismo e Entimema

Silogismo: esquema de raciocínio dedutivo composto de três proposições -duas premissas (a maior e a menor) e uma conclusão – e três termos – o maior,o médio e o menor.

Silogismo – ou entimema? – (“da humildade”, claro!)

Todo professor da USP é um bom pesquisador. <Premissa Maior>

Paulo é professor da USP. <Premissa Menor>

Logo, Paulo é um bom pesquisador. <Conclusão>

E se...?

Todos professor da USP é um bom pesquisador.

Paulo é um bom pesquisador.

Logo, Paulo é professor da USP.

<Não rola. Fere a regra 3>

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Dedução e Indução; Silogismo e EntimemaSilogismo: esquema de raciocínio dedutivo composto de três proposições - duas premissas (a maiore a menor) e uma conclusão – e três termos – o maior, o médio e o menor.

Silogismo (“da humildade”, claro!)

Todo professor da USP é um bom pesquisador. <Premissa Maior>

Paulo é professor da USP. <Premissa Menor>

Logo, Paulo é um bom pesquisador. <Conclusão>

Regras (Fiorin, 2015: 49)

1. Todo silogismo tem somente três termos: o maior, o médio e o menor.

2. Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas.

3. A conclusão não deve conter o termo médio.

4. O termo médio deve ser tomado – pelo menos, uma vez – universalmente.

5. De duas premissas negativas nada se pode concluir.

6. De duas premissas afirmativas não se pode tirar uma conclusão negativa.

7. A conclusão segue sempre a parte mais fraca.

8. De duas premissas particulares nada se pode concluir.

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Dedução e Indução; Silogismo e Entimema - exercícios

Quais silogismos funcionam? Por que sim? Por que não?

1. Todo urso polar é branco. James é um urso polar. Logo, James é branco.

2. Todo urso polar é branco. James é branco. Logo, James é um urso polar.

3. Todas os mamíferos têm pelos. Os mamíferos são animais. Logo, os animais têm pelos.

4. Professores da USP não são bonzinhos. Paulo não é bonzinho. Logo, Paulo é professor da USP.

5. Alguns artistas não são geniais. Todos os artistas são pessoas criativas. Logo, algumas pessoas criativas não são geniais.

6. Caio é aluno da USP. Caio é dedicado. Logo, todo aluno USP é dedicado.

7. Todos os filósofos são racionais. Nenhum brasileiro é filósofo. Logo, nenhum brasileiro é racional.

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O modelo argumentativo de Stephen Toulmin

Dados Logo, Qualificação [Alegação](D) (Q) (A)

já que a menos queapesar de que

Garantia Refutação(W) (R)

por conta de

Apoio(B)

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O modelo argumentativo de Stephen Toulmina. Dados (D): Os Dados consistem nos “fatos aos quais recorremos como fundamentos para a

alegação” (Toulmin, 2006: 140); em outros termos, trata-se de “declarações que especificam fatosparticulares sobre uma situação” (Toulmin, Rieke e Janik, 1984: 37), aceitas como verdadeiras pordeterminados grupos sociais, constituindo-se, portanto, no ponto de partida para que umaalegação seja proposta.

b. Alegação (C): Alegações podem ser definidas como “asserções apresentadas publicamente para aaceitação geral”, o que implica “haver ‘razões’ subjacentes para que se possa mostrar que são‘bem fundamentadas’ e, portanto, passíveis de ser aceitas de modo geral”.

c. Garantia (W): Garantias são proposições gerais que estabelecem raciocínios hipotéticos quepermitem legitimar o passo de D para C.

d. Apoio (B): Apoios são considerações de suporte, de caráter campo-dependente, que tornamexplícito o conjunto de experiências e de conhecimentos que nos permite confiar na garantia.

e. Refutação (R): Refutações são “tipos de circunstâncias excepcionais que, em casos específicos,podem refutar as suposições criadas pela garantia” (Toulmin, 2006: 153). Entretanto, a Refutaçãopode também se aplicar a outros componentes do modelo, como D e B. O que parece defini-la é apossibilidade de minar a força do argumento como um todo, invalidando, parcial ou totalmente, aAlegação.

f. Qualificação (Q): A Qualificação refere-se ao grau de comprometimento ou validação autoralsobre a Alegação, tendo em vista a força de convencimento da garantia para estabelecer o vínculoD-C.

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Análise de Dados

César Tralli – O senhor concorda com o presidente Lula quando ele diz que o mensalão não existiu?

Fernando Haddad – Eu penso que o presidente Lula está fazendo referência a um aspecto que é a questão da coalizão da base aliada,ele está fazendo referência a esse aspecto especificamente. Porque, na visão dele, não é razoável imaginar que um parlamentar do PTprecisasse receber recursos para votar com o governo. Essa é a consideração que ele faz.

Fonte: Entrevista concedida por Fernando Haddad, no jornal SPTV, transmitido pela Rede Globo (22.09.2012).

Endereço da página:

http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2012/noticia/2012/09/fernando-haddad-do-pt-e-entrevistado-pelo-sptv.html

Page 15: 7. Texto, discurso e argumentação Parte 1

Análise de Dados – Sugestão de Análise

D1:

Membros do PT já

integram a coalizão

da base aliada do

governo

W1: já que

<Membros da base

aliada do governo

votam, via de

regra, a favor

deste>

R: a menos que Q [C1]:

Não é razoável/é

improvável [que um

parlamentar desse

partido precise receber

recursos para votar a

favor do governo]

B1: por conta de <favorecer governabilidade, permanência no

poder, aprovação de projetos, etc.> : MCI/domínio POLÍTICA

D2 = C1:

É improvável que

membros da base

aliada precisem

receber recursos para

votar a favor do

governo

W2: já que

<Apenas membros

de partidos de

oposição teriam

razões para exigir

dinheiro para votar

com o governo>

R: a menos que Q [C2]:

Modalidade categórica

vigente na pergunta de

CT.

[O mensalão não

existiu].

B2: por conta de <todo o conhecimento prévio que se tem

sobre a conjuntura política, alianças, dissensões e interesses

partidários> : MCI/domínio POLÍTICA

Notações:[ ] = conteúdo qualificado da alegação; < > = conteúdo implícito de qualquer elemento do modelo;Fonte Normal = formulado por CT; Itálico = formulado por FH.

Page 16: 7. Texto, discurso e argumentação Parte 1

Análise de Dados – exercícios 1. Não acredito que o rolezinho ameace o mundo idealizado dos shoppings. Mas hoje, infelizmente, uma aglomeração, mesmo legítima, commais de 50 pessoas, sofre com a infiltração de "black blocs", arruaceiros e pivetes. Então há de se preservar as instituições, o comércio e aspessoas.Fonte: Carta do leitor, Folha de S. Paulo, A3, 27 jan. 2014.

2. Tais como são, os 'rolezinhos' atentam contra direitos coletivosMAURO RODRIGUES PENTEADOESPECIAL PARA A FOLHA (14.01.2014)

Por mais que nos solidarizemos com nossa juventude humilde que busca espaços para se relacionar e dar vazão ao seu amor e alegria, não épossível apoiá-la nessa onda recente de "rolezinhos" marcados em shoppings centers e outros locais privados com destinação específica.É triste a ausência de opção de lazer para nossos jovens de camadas mais pobres. No entanto, os "rolezinhos", tais como vêm sendo marcados,atentam contra os direitos individuais e coletivos assegurados pela Constituição Federal.Isso sem falar no direito também constitucionalmente garantido à propriedade e à livre iniciativa (arts. 1º, inc. IV, 5º, "caput" e 170). Daíporque estão corretas as liminares concedidas pelo Judiciário aos shoppings - que estabeleceram multa aos participantes.

Endereço da página:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/147663-tais-como-sao-os-rolezinhos-atentam-contra-direitos-coletivos.shtml

3. Tralli: O senhor lançou o projeto da Nova Luz em 2005. Só que, de lá para cá, pouca coisa avançou. Alguns prédios foram demolidos, asituação do crack ainda é muito preocupante, o consumo da droga se espalhou pela cidade. O projeto da Nova Luz fracassou?

Serra: Não. O projeto da Nova Luz não fracassou. O projeto da Nova Luz se revelou muito difícil, porque tem problemas legais, problemas legaisde aprovar lei, de mudança, porque é uma coisa muito radical que você tem que fazer lá. No final, eles chegaram a uma fórmula. Agora, outrascoisas andaram, por exemplo, a Praça Roosevelt já vai ser inaugurada. Então você tem uma desigualdade no andamento das coisas que às vezesacontecem por questões burocráticas, legais, do Ministério Público, do Tribunal de Contas, etc., às vezes difíceis de serem mostradas. Mas oimportante é que se avançou muito no caso do bairro da Luz, já vai se chegar agora ao leilão e eu creio que, eu sendo eleito, na Prefeitura euvou poder entregar.

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O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)

Para Meyer (2007: 25), “A Retórica é a negociação da diferença entre os indivíduos sobre uma questão dada”. Nessesentido, o autor examina os três componentes retóricos fundamentais – ethos, pathos e logos – a partir dessa concepção.

Ethos e seus desdobramentos

O ethos representa a imagem de si, o caráter, a personalidade, comportamento, as escolhas de vida e os fins do orador.Nesse sentido, o orador é tomado como alguém que deve ser capaz de responder às perguntas que suscitam debate e quesão aquilo sobre o que negociamos.

A autoridade do orador é conferida pelas virtudes morais, pela boa conduta e pela confiança no orador. “O ethos é o pontofinal do questionamento” (MEYER, 2007: 35, itálicos do autor).

Meyer propõe pensar em dois ethé: um ethos efetivo, relativo ao que ele é para si mesmo, e um ethos projetivo, aquiloque ele é para o auditório, um ethos imaginado pelo outro, ao qual ele se adapta. Assim, defende o autor, o bom orador éaquele que, consciente dessa defasagem, consegue fazer coincidir o ethos projetivo no efetivo, criando a ilusão de que éaquilo que o auditório acredita.

NÃO SE DEVE CONFUNDIR ETHOS COM FACE, IDENTIDADE, AUTOR OU PERSONALIDADE.

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O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)

Maingueneau (2011) examina esta questão de forma mais complexa, pensando na relação entre o ethos, a prática social(cena englobante), o gênero discursivo (cena genérica) e a cenografia (tom de uma dada posição). Para o autor, devemospensar em um ethos pré-discursivo, que envolve nosso conhecimento sobre o orador e os estereótipos circulantes acercade sua categoria, e um ethos discursivo, construído na/durante a atividade discursiva, ratificando ou retificando visõesprévias do orador, contribuindo para a manutenção ou para deterioração de sua credibilidade.

O ethos discursivo, por sua vez, deve ser entendido tanto em termos do ethos dito, que envolvem referências diretas aoenunciador, a sua autorrepresentação no discurso, quanto em termos do ethos mostrado, que é inferido do seu modo desemiotizar, o que envolve o modo de falar, de vestir-se, de comportar-se. Tanto o ethos dito quanto o mostrado passam aintegrar um repertório cultural mais amplo sobre o orador e, por extensão, a seu grupo, podendo constituir-se como fontede novos estereótipos (representações defasadas largamente aceitas).

Ethos

Ethos pré-discursivo Ethos discursivo

Ethos dito Ethos mostrado

Estereótipos

Adaptado deMaingueneau (2011:83).

Para maiores detalhessobre ethos, ler:AMOSSY, Ruth (org.)Imagens de si nodiscurso: a construçãodo ethos. São Paulo:Contexto, 2011.

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O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)

Miss Mossoró – Ethos Efetivo x Ethos Projetivo

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O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)

Pathos e seus desdobramentos

“O pathos é o conjunto de valores implícitos das respostas fora de questão, que alimentam indagações que umindivíduo considera como pertinentes” (MEYER, 2007: 39, itálicos do autor). É daqui que se extraem ashierarquias de valores e do que é preferível do ponto de vista do auditório.

Assim, o pathos engloba:

“1. as perguntas do auditório;2. as emoções que ele experimenta diante dessas perguntas e suas respostas;3. os valores que justificam a seus olhos essas respostas a essas perguntas” (MEYER, 2007: 40,

negrito meu).

A paixão, como resposta, é julgamento sobre aquilo que está em questão, sendo um poderoso reservatóriopara mobilizar o auditório em favor de uma tese. Ele, pode, então: 1. aderir; 2. recusar resposta; 3. completarrespostas; 4. modificar respostas; 5. permanecer silencioso, o que pode denotar: a. aprovação; b. reprovação; ec. desinteresse.

O autor também propõe pensar sobre um pathos efetivo, os valores, as questões e as crenças que o auditório,sempre compósito, de fato, possui; e sobre um pathos projetivo, ou seja, a construção que o orador faz de seuauditório – de seus valores, crenças e questões – a fim de projetar um ethos condizente e elaborar umaargumentação – logos – que viabilize o ato de convencimento/persuasão. O bom orador seria aquele que fazaproximar, o máximo possível, o pathos projetivo do efetivo.

Page 21: 7. Texto, discurso e argumentação Parte 1

O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)

O grande ditador – A mobilização do pathos

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O ethos, o pathos e o logos – componentes retóricos (Meyer; Amossy; Maingueneau)

Logos

O logos consiste na dimensão da esquematização e da construção daargumentação propriamente dita, ou seja, dos tipos de raciocínio mobilizadospara a execução dos objetivos de convencimento e persuasão.

A partir de agora, o foco do curso estará no logos. Relações com o ethos e opathos serão tecidas quando pertinente.