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SEBASTIO AUGUSTO CORRA JOS RICARDO DE MELO MENEZES
ESTRESSE E TRABALHO
SOCIEDADE UNIVERSITRIA ESTCIO DE S ASSOCIAO MDICA DE MATO GROSSO DO SUL
1o CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO
CAMPO GRANDE, MS, MARO DE 2002
SEBASTIO AUGUSTO CORRA JOS RICARDO DE MELO MENEZES
ESTRESSE E TRABALHO
Monografia apresentada como requisito parcial concluso do curso de ps-graduao em Medicina do Trabalho, para obteno do ttulo de especialista em Medicina do Trabalho, no curso de ps-graduao em Medicina do Trabalho, Faculdade Estcio de S Santa Catarina. Orientadora: Frida Maciel Pagliosa.
SOCIEDADE UNIVERSITRIA ESTCIO DE S ASSOCIAO MDICA DE MATO GROSSO DO SUL
1o CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO
CAMPO GRANDE, MS, MARO DE 2002
CORRA, Sebastio Augusto; MENEZES, Jos Ricardo de Melo. Estresse e trabalho. Campo Grande, MS, 2002.
60p.
Monografia apresentada como requisito parcial concluso do curso de ps-
graduao em Medicina do Trabalho, para obteno do ttulo de especialista em Medicina do Trabalho, no curso de ps-graduao em Medicina do Trabalho, Faculdade Estcio de S Santa Catarina.
1. Medicina do trabalho. 2. Competncia. 3. Sentimento
SEBASTIO AUGUSTO CORRA JOS RICARDO DE MELO MENEZES
ESTRESSE E TRABALHO
CAMPO GRANDE, MS, MARO DE 2002
PARECER: ___________________________________________________________________
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CONCEITO: ______________________ __________________________ __________________________ Sebastio Ivone Vieira Ivo Medeiros Reis
Presidente Membro __________________________ __________________________ Frida Maciel Pagliosa Jorge da Rocha Gomes
Membro Membro
DEDICATRIA
A minha esposa Ftima, meus filhos Fabiana, Marcelo e Fbio e aos meus
netos Luiz Carlos e Jos Augusto.
Sebastio
DEDICATRIA
A minha esposa Maria Cristina, pelo amor, carinho e compreenso das
longas horas ausentes em detrimento de uma maior convivncia entre ns.
Aos meus filhos Jos e Juliana, por reviverem a cada dia a alegria em meu
corao.
Ao meu pai Jos de Azevedo Menezes (in memorian), mdico, por ter me
ensinado o respeito, a dedicao para com o ser humano e os limites a serem
respeitados por mim e por todos.
A minha me Maria Luiza, por me ensinar a viver, no apenas existir.
Jos Ricardo
AGRADECIMENTOS
A minha esposa e secretria Ftima, pelo estmulo nas pesquisas e que
digitou e redigitou o texto, inmeras vezes, sem reclamar do acrscimo no trabalho e
sem fazer greve de carinho e ternura.
Aos professores da Faculdade de Pedagogia de Costa Rica, pela
consultoria, sugestes e crticas construtivas.
Aos colegas do curso, em especial Jos Ricardo de Melo Menezes, parceiro
de trabalho, que com muito companheirismo suportou a minha presena no decorrer
desta monografia.
A Deus, fonte infinita de perdo e amor, que mantm a chama viva da F
em meu corao.
Sebastio
AGRADECIMENTOS
A Deus, voz da minha conscincia, por me dar coragem e determinao
para concluir mais uma etapa em minha vida.
Aos professores, pela oportunidade dada ao meu crescimento pessoal e
profissional.
Aos colegas do curso, pelos momentos de convivncia em harmonia, e, em
especial, ao Sebastio, companheiro deste trabalho.
Jos Ricardo
Muitos acreditam que o oposto do medo a coragem. Eu acredito e prego que o oposto do medo a F. Esta mesma F que me faz vencer obstculos e as adversidades da minha vida.
Sebastio Augusto Corra
ESTRESSE E TRABALHO
RESUMO
Esta Monografia trata do estresse negativo ou distresse, discutindo alguns aspectos referentes a essa sndrome. Com essa finalidade, so abordados a conceituao do estresse, sua incidncia, fisiopatologia, fatores ligados organizao social, relao com outras enfermidades. Enfatizando o ambiente laboral, destacam-se as relaes entre o estresse e o trabalho, tais como: as relaes empresa-pessoa, os fatores estressantes no ambiente de trabalho, ligaes com a atividade profissional, o tratamento e preveno do estresse no trabalho. Estresse um padro de resposta definido, claro e eletroqumico no corpo humano, de ordem fsica ou emocional, a agentes estressores que quebram a homeostase interna do organismo, exigindo alguma adaptao. Os sintomas acarretados pela seqncia de alteraes qumicas so distribudos nas fases de alerta, de resistncia e de exausto. O estresse vem afetando um nmero crescente de trabalhadores em todo o mundo. uma sndrome com grande diversidade de fatores causais, muitos deles associados vida moderna, de difcil diagnstico e tratamento, mas com mltiplas formas de preveno, as quais dependem da aplicao efetiva da legislao em vigor, alm de mudanas efetivas no estilo de vida, evitando-se a sobrecarga de trabalho, a vida sedentria e determinados hbitos de consumo. Trata-se de uma reviso bibliogrfica, cujos dados e informaes foram obtidos em livros e artigos cientficos publicados em revistas da rea e consultados em bibliotecas e via Internet.
Palavras-chave: competncia, trabalho, sentimento, estresse, distresse, doena
ocupacional.
STRESS AND WORK
ABSTRACT
This monograph is about the negative stress or distress, discussing some aspects concerning this syndrome. On this purpose the conception of the stress, its incidence, phisiopatology, factors related to social organization, relationship with otherillnesses are approached. Emphasizing the working atmosphere, the relationships between stress and work stand out such as: the relationship company-person, the stressful factors at working environment, connections with the professional activity, the treatment and prevention of the stress at work. Stress is a clear and electrochemical defined pattern answer in the human body, from physical or emotional order, to stressing agents which break the internal homeostasis of the organism, demanding some adaptation. The symptoms brought on by the sequence of chemistry alterations are distributed in the phases of readiness, resistance and exhaustion. The stress is affecting a growing number of workers all over the world. It is a syndrome with great diversity of causal factors, many of them associated to modern life. It's a difficult diagnosis and treatment, but with multiple prevention forms, which depend on the effective application of the actual legislation, in addiction to effective changes in lifestyle, avoiding excessive work, the sedentary life and certain consuming habits. This is a bibliographical revision, which data and information were gotten from books and scientific articles published in magazines concerning this subject and consulted at libraries and on the Internet.
Word-key: competence, work, feeling, stress, distress, occupational disease
SUMRIO
INTRODUO........................................................................................................... 1 REVISO DE LITERATURA....................................................................................... 3
1 CONCEITO........................................................................................................ 3 2 INCIDNCIA...................................................................................................... 5 3 FISIOPATOLOGIA DO ESTRESSE .................................................................. 7 4 ESTRESSE E SOCIEDADE ............................................................................ 15 5 RELAO ENTRE ESTRESSE E DOENAS ................................................ 18
5.1 ALTERAES NO SISTEMA IMUNOLGICO....................................... 19 5.2 DOENAS DIGESTIVAS ........................................................................ 21 5.3 CNCER ................................................................................................. 22 5.4 DEPAUPERAO DAS GLNDULAS SUPRA-RENAIS........................ 23 5.5 DOENAS CARDACAS ......................................................................... 24 5.6 INFECES............................................................................................ 25 5.7 OUTRAS DOENAS............................................................................... 26
6 RELAO ENTRE O ESTRESSE E O TRABALHO ....................................... 27 6.1 AS RELAES EMPRESA-PESSOA..................................................... 27 6.2 FATORES ESTRESSANTES NO AMBIENTE OCUPACIONAL ............. 29 6.3 ESTRESSE E ATIVIDADE PROFISSIONAL........................................... 32
7 TRATAMENTO E PREVENO DO ESTRESSE NO TRABALHO ................ 35 7.1 TRATAMENTO........................................................................................ 35 7.2 ASPECTOS PREVENTIVOS................................................................... 37
7.2.1 ATENO INDIVIDUAL................................................................. 38 7.2.2 MEDIDAS ORGANIZACIONAIS .................................................... 39
7.3 A LEGISLAO DE CONTROLE E PREVENO DO ESTRESSE NO TRABALHO ............................................................................................... 39
CONCLUSES E RECOMENDAES ................................................................... 55 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................... 57 ANEXO - Teste de auto-avaliao sobre reao aguda ao estresse........................ 60
LISTA DE ILUSTRAES
FIGURAS FIGURA 1 Esquema da reao fisiolgica do organismo humano ao estresse. ................................................................................................ 8 FIGURA 2 - Distribuio percentual dos diversos tipos de desajustamento como causa do estresse. ...................................................................... 17 QUADROS QUADRO 1 Reaes causadas pelo estresse baixo, ideal e alto............................ 5 QUADRO 2 - Exemplos de distrbios psicossomticos............................................ 15
LISTA DE SIGLAS
ACTH............... Hormnio adrenocorticotrpico CAT ................. Comunicao de Acidentes do Trabalho CIPA ................ Comisso Interna de Preveno de Acidentes CLT .................. Consolidao das Leis do Trabalho CRF.................... Fator estimulador da liberao da corticotrofina EPI ................... Equipamento de Proteo Individual NR.................... Norma Regulamentadora ONU................. Organizao das Naes Unidas OMS................. Organizao Mundial de Sade PCMSO............ Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional PPRA ............... Programa de Preveno de Riscos Ambientais SEESMT .......... Servios Especializados de Segurana e Medicina do Trabalho SUS ................. Sistema nico de Sade
INTRODUO
Estresse um conjunto de reaes do corpo e da mente, em resposta a
variados estmulos de ordem fsica ou emocional. Ainda que atualmente esta
expresso j faa parte do vocabulrio de uso comum pela populao, com um
significado adverso para a sade, o estresse no implica necessariamente em
morbidez, podendo at ter valor teraputico, como no caso do esporte, por exemplo.
No trabalho, possvel at que um certo nvel de estresse permita o melhor
funcionamento das organizaes, desafiando e mobilizando os trabalhadores. Esse
o estresse positivo ou eustresse.
Esta Monografia trata do estresse negativo ou distresse, que, nesse sentido
e em estgios mais avanados, reconhecido como doena pela Organizao
Mundial de Sade (OMS).
O estresse negativo tem afetado um nmero crescente de trabalhadores em
todo o mundo, causando, alm de sofrimento fsico e mental, prejuzos financeiros
tambm crescentes s empresas e ao sistema de previdncia e seguridade social.
Estudos mdicos vm confirmando a importncia do estresse nas doenas do
corao, de pele, gastrintestinais, neurolgicas e em distrbios ligados ao sistema
imunolgico e emocional. Por outro lado, segundo aponta MASCI (1997), o custo
direto e indireto desse estresse negativo estimado em 200 a 300 bilhes de
dlares ao ano nos Estados Unidos; no Reino Unido, algo em torno de 30 milhes
de dias de trabalho so perdidos por conta do estresse, o equivalente a 17 % de
todas as faltas no trabalho; no Japo ocorrem em torno de 10 mil mortes por ano
pelo excesso de trabalho.
Nesta Monografia, so discutidos alguns aspectos relacionados com essa
importante sndrome. Com essa finalidade, foram levantados, na literatura
especializada, os principais aspectos relacionados com conceituao do estresse,
2
sua incidncia, fisiopatologia, fatores ligados organizao social, relao com
outras enfermidades. Enfatizando o ambiente laboral, so abordados alguns
aspectos considerados importantes das relaes entre o estresse e o trabalho, tais
como: as relaes empresa-pessoa, os fatores estressantes no ambiente de
trabalho, ligaes com a atividade profissional, o tratamento e preveno do
estresse no trabalho.
3
REVISO DE LITERATURA
1 CONCEITO
Estresse , de acordo com VIEIRA (informao verbal)1,
Um estado em que ocorre um desgaste emocional da mquina humana e/ou comprometimento da habilidade do indivduo, basicamente decorrente de uma incapacidade crnica do organismo de tolerar, superar, ou se adaptar s exigncias de natureza psicolgica existentes em seu ambiente de vida.
A palavra estresse origina-se do termo ingls stressors. Na rea da sade,
conforme registra LIPP (1996), foi o endocrinologista austraco Hans Selye2 que a
utilizou pela primeira vez, em 1936, com base em observaes que vinha fazendo
desde a dcada de vinte, quando passou a identificar sintomas semelhantes
hipertenso, falta de apetite, desnimo e fadiga em pacientes que sofriam de
diferentes doenas, sintomas estes que no decorriam de tais doenas, e que
muitas vezes apareciam em pessoas que no estavam doentes. Isto chamou a
ateno de Selye, que denominou tais sintomas de sndrome de estar enfermo
(VILLALOBOS, 1999).
Selye considerou que vrias enfermidades desconhecidas, como as
cardacas, a hipertenso arterial e os transtornos emocionais ou mentais eram
1VIEIRA, Sebastio Ivone. Reforo do suporte psquico. 2001. (Contedo ministrado no 1 Curso de Especializao de Medicina do Trabalho, em Campo Grande, MS). 2Hans Selye graduou-se como mdico e posteriormente fez doutorado em qumica orgnica. Transferiu-se para a Universidade John Hopkins em Baltimore, EUA, para realizar ps-doutorado cuja segunda metade foi realizada em Montreal, Canad, na Escola de Medicina da Universidade McGill, onde desenvolveu seus famosos experimentos de exerccio fsico extenuante, com ratas de laboratrio que confirmaram a elevao dos hormnios suprarrenais (ACTH, adrenalina e noradrenalina), a atrofia do sistema linftico e a presena de lceras gstricas. Ao conjunto dessas alteraes orgnicas, o Dr.Selye denominou "estresse biolgico" (VILLALOBOS,1990).
4
resultantes de mudanas fisiolgicas decorrentes e um estresse prolongado nos
rgos, cujas alteraes poderiam estar predeterminadas gentica ou
constitucionalmente. Ao continuar com suas investigaes, verificou que no
somente os agentes fsicos nocivos atuando diretamente sobre o organismo animal
so produtores de estresse. Alm destes, no caso do homem, as demandas de
carter social e as ameaas do ambiente do indivduo que requerem capacidade de
adaptao provocam o transtorno do estresse. A partir da, o estresse tem envolvido
em seu estudo a participao de vrias disciplinas mdicas, biolgicas e
psicolgicas com a aplicao de tecnologias diversas e avanadas.
Estresse no doena em seu conceito clssico, porque no mostra sinais
nem sintomas, e o prprio indivduo, na maioria das vezes, no sabe que sua sade
est abalada (SANTOS, 1995). Trata-se, como afirma LIPP (1998, p.10-20), de
um desgaste geral do organismo [...] causado pelas alteraes psicofisiolgicas que ocorrem quando a pessoa se v forada a enfrentar uma situao que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo a faa imensamente feliz.
Segundo CABRAL et al. (1997), qualquer estmulo capaz de provocar o
aparecimento de um conjunto de respostas orgnicas, mentais, psicolgicas e/ou
comportamentais, relacionadas com mudanas fisiolgicas, padres estereotipados,
que acabam resultando em hiperfuno da glndula supra-renal e do sistema
nervoso autnomo simptico, chama-se estressor. Essas respostas em princpio tm
como objetivo adaptar o indivduo nova situao, gerada pelo estmulo estressor, e
o conjunto delas, assumindo um tempo considervel, chamado de estresse. O
estado de estresse est ento relacionado com a resposta de adaptao.
LIPP (1996) classifica os agentes estressores em: biognicos ou
automaticamente estressantes (frio, fome, dor); psicossociais, que adquirem a
capacidade de estressar uma pessoa em decorrncia de sua histria de vida;
externos, que resultam de eventos ou condies externas que afetam o organismo e
independem, muitas vezes, do mundo interno da pessoa; internos, que so
determinados completamente pelo prprio indivduo.
5
O Quadro 1 apresenta as reaes desencadeadas pelo estresse, segundo
MASCI (2001). Observa-se que, em doses adequadas, o estresse um fator de
motivao. Quando abaixo de um certo nvel provoca tdio e disperso. Quando
acima de certos nveis, provoca ansiedade e cansao. E quando em doses ideais, a
sensao de se sentir desafiado, com "garra".
QUADRO 1 Reaes causadas pelo estresse baixo, ideal e alto.
Discriminao Baixo estresse Estresse ideal
(eustresse) Alto estresse
(distresse)
Ateno dispersa alta forada
Motivao baixssima alta flutuante
Realizao pessoal baixa alta baixa
Sentimentos tdio desafio ansiedade/depresso
Esforo grande pequeno grande
FONTE: MASCI, Cyro. A hora da virada: enfrentando os desafios da vida com equilbrio e serenidade. So Paulo: Saraiva, 2001.
2 INCIDNCIA
As primeiras constataes do estresse emocional foram relatadas em 1943,
quando ento se comprovou um aumento da excreo urinria dos hormnios da
supra-renal em pilotos e instrutores aeronuticos em vos simulados. Alguns anos
antes essas alteraes j haviam sido suspeitadas em competidores de natao
momentos antes das provas (BALLONE, 2001).
Segundo MASCI (2001), o estresse e os transtornos de ansiedade so
extraordinariamente freqentes, estimando-se que 25% de toda a populao
experimenta seus sintomas pelo menos uma vez na vida. No Estado de So Paulo,
estima-se que os transtornos de ansiedade afetem algo em torno de 18% da
populao.
O mesmo autor informa que nos Estados Unidos, aproximadamente 90 %
das pessoas adultas j experimentaram altos nveis de estresse, sendo que quase
metade dessas afirmam enfrentarem os altos nveis de estresse pelo menos uma a
6
duas vezes por semana. Estima-se tambm que 60% a 80 % dos acidentes de
trabalho, nesse pas, esto relacionados com o estresse. Segundo observado em
ESTRESSE... (1997), nos Estados Unidos, grande parte das doenas que levam
morte originada no estresse. Com o acelerado processo de urbanizao que vem
ocorrendo no Brasil nos ltimos anos, razovel supor que o pas esteja trilhando
caminho semelhante.
A incidncia do estresse no limitada pela idade, raa, sexo e situao
socioeconmica. Todavia, so menos vulnerveis as pessoas que se abrem a
mudanas, as mais tolerantes e aquelas que esto sempre muito envolvidas com o
que fazem, de acordo com LIPP (1998).
ALBRECHT (1990, p.11) adverte para o fato de que o estresse
tem-se expandido ininterruptamente e afeta um nmero cada vez maior de pessoas, com conseqncias cada vez mais graves. Est atingindo propores epidmicas, apesar de no ser transmitida por qualquer bactria ou outro microrganismo conhecido. A gama dos sintomas to ampla que deixa perplexo o observador leigo e faz voltar aos livros os mdicos. Os sintomas vo desde os ligeiros incmodos at a morte, desde as dores de cabea at os ataques cardacos, da indigesto ao colapso, da fadiga alta presso arterial e o colapso dos rgos, da dermatite s lceras hemorrgicas. Essa doena est tendo um elevado custo em termos de sade e bem-estar emocional humanos.
No Brasil, de acordo com LIPP (1996), diversos estudos tm revelado um
alto nvel de estresse em determinadas camadas da populao, tais como policiais
militares, professores e bancrios. A mesma autora revela ainda que um
levantamento realizado no Centro Psicolgico de Controle do Stress de Campinas
mostrou que cerca de 70% dos que procuram atendimento, seja tratamento ou
profilaxia, fazem parte da classe gerencial. Em relao a esse fato, ela adverte
(LIPP, op. cit., p.301):
Este dado pode refletir uma maior incidncia de stress nessa populao, mas tambm pode estar relacionado a uma maior conscientizao da problemtica por parte de indivduos que tm amplo contato com o exterior e adquiriram uma maior familiaridade
7
com o conceito do stress. De um modo ou de outro, ateno deve ser dispensada a essa classe ocupacional.
A elevada incidncia do estresse em todo o mundo, segundo informa
MASCI (2001), levou a ONU, em 1992, a chamar o estresse de "a doena do sculo
20". Recentemente, a OMS descreveu o estresse como a maior epidemia mundial
dos ltimos cem anos.
3 FISIOPATOLOGIA DO ESTRESSE
O estresse produz certas modificaes na estrutura e na composio
qumica do corpo, que podem ser avaliadas. Algumas dessas modificaes so
manifestaes das reaes de adaptao do corpo, seu mecanismo de defesa
contra o estressor; outras j so sintomas de leso.
Segundo observa MASCI (2001), todas as vezes que se enfrentam desafios,
que o crebro, independentemente da vontade do indivduo, encara a situao como
potencialmente perigosa, o organismo se prepara para lutar ou fugir da situao.
ALBRECHT (1990) chama a ateno para o fato de que o estresse se refere
a um padro de resposta definido, claro e eletroqumico no corpo humano, aos
agentes estressores. Estes quebram a homeostase interna do organismo, exigindo
alguma adaptao.
A Figura 1 apresenta esquematicamente as reaes fisiolgicas ao
estresse, segundo SABBATINI (1998).
Segundo BALLONE (2001), o hipotlamo, contguo com a hipfise, secreta
substncias conhecidas por neuro-hormnios, como o caso, entre outros, da
dopamina, da norepinefrina e do fator liberador da corticotrofina (CRF), stio cerebral
responsvel pelo conjunto de respostas orgnicas aos agentes estressores. Uma
das principais aes da hipfise durante o estresse se faz sentir nas glndulas
supra-renais.
8
FIGURA 1 Esquema da reao fisiolgica do organismo humano ao estresse.
FONTE: SABBATINI, Renato M. E. O estresse: o que e como combat-lo? Palestra ministrada na EMBRAPA/ CNPTIA, out., 1998. Disponvel em: Acesso em: 12 set. 2001.
O hipotlamo, produzindo o CRF, estimula a hipfise para aumentar a
produo do (ACTH), o qual, por sua vez, promove o aumento na liberao dos
hormnios da supra-renal, que so os corticides e as catecolaminas. Estes so de
fundamental importncia na resposta fisiolgica ao estresse. O aumento na
produo desses hormnios pelas supra-renais o principal indicador biolgico da
resposta ao estresse.
Os nveis aumentados de corticides influenciam o sistema imunolgico
inibindo a resposta inflamatria, afetando essencialmente a funo das clulas T.
Temporariamente esta inibio da imunologia parece ser benfica, tendo em vista
diminuir a intensidade das reaes inflamatrias aos agentes de estresse.
Alm dos corticides (cortisona) e catecolaminas (adrenalina) das supra-
renais, outros hormnios participam da revoluo orgnica do estresse. O ACTH, a
vasopressina, a prolactina, o hormnio somatotrfico (GH), o hormnio estimulador
da tireide (TSH), que so hipofisrios, tambm atuam sobre o sistema imunolgico
9
por meio de receptores especficos nas clulas linfides. Para compreender melhor
os mecanismos hormonais do estresse, importante saber que esses hormnios
so tambm produzidos, em pequenas quantidades, por linfcitos.
Outras substncias produzidas por linfcitos e que participam ativamente
das reaes de estresse so as linfocinas e monocinas. Tais substncias so
secretadas por clulas linfides e macrfagos, e so dotadas da capacidade de
amplificar a inflamao produzida pelas reaes imunolgicas. Algumas dessas
linfocinas e monocinas podem influenciar glndulas na liberao de alguns
hormnios, como o caso da Interleucina 1, que volta a estimular a hipfise na
liberao de ACTH.
Diversos outros produtos inflamatrios, como prostaglandinas, leucotrienos,
tromboxanes, e outros, produzidos nas mais variadas clulas, linfides ou no,
desempenham alguma influncia sobre o sistema imunolgico. Eles atuam sobre os
linfcitos T e macrfagos, estimulando-os ou inibindo-os na reao ao estresse.
Alm desses hormnios e neuro-hormnios produzidos pelas supra-renais,
linfcitos e hipotlamo, acredita-se, atualmente, no importante papel dos
neuropeptdeos na regulao, transmisso e execuo das aes do sistema
nervoso. So protenas liberadas a partir de terminaes nervosas em diversos
rgos, incluindo o hipotlamo, e tambm por clulas linfides.
Alguns desses peptdeos, como a betaendorfina, a encefalinametionina, a
substncia P, o peptdeo intestinal vasoativo e a somatomedina, dependendo de
determinadas condies, parecem inibir ou estimular clulas linfides diversas,
participantes do processo de resposta ao estresse.
A par das atribuies dos hormnios, neuro-hormnio e neuropeptdeos no
desenvolvimento das reaes de adaptao do estresse, ressalta-se a capital
importncia do Sistema Nervoso Autnomo (Simptico e Parassimptico) sobre o
sistema imunolgico. Um dos indicadores dessa atuao a contrao da cpsula
do bao (Sistema Nervoso Simptico) durante o estresse.
Observou-se tambm um aumento de liberao do ACTH pela hipfise,
como resultado da ao de hormnios tmicos (timosina, timopoietina, timopentina).
Em timos de ratos detectou-se a presena de CRF, fator este que age sobre a
10
hipfise estimulando-a para a secreo de ACTH. Este ACTH, por sua vez,
essencial na resposta ao estresse por atuar sobre as glndulas supra-renais.
Esse longo processo bioqumico manifesta-se, inicialmente, de modo
semelhante nos diferentes indivduos, com o aparecimento de taquicardia, sudorese
excessiva, tenso muscular, boca seca e a sensao de estar alerta. S depois as
reaes se diferenciam, conforme a predisposio gentica de cada um, e os
acidentes ou doenas de que foi vtima (LIPP,1998).
Tradicionalmente, os sintomas acarretados pela seqncia de alteraes
qumicas so distribudos em trs fases: a fase de alerta, a fase de resistncia e a
fase de exausto (ALBRECHT, 1990).
? Fase de alerta ou alarme
Inicia-se com o contato da pessoa com o agente estressor, quando
experimenta diversas sensaes que s vezes no so identificadas como estresse.
o momento em que o organismo se prepara para a luta ou fuga, ocorrendo,
conseqentemente, a quebra da homeostase.
Com essa finalidade, a ativao do Sistema Nervoso Simptico (SNS)
produz reaes muito teis: os msculos ficam mais irrigados, reforando o tnus e
tornando a sua ao mais imediata e eficiente; o fgado transforma glicognio em
glicose, necessria em maior quantidade; a respirao fica mais rpida e intensa,
aumentando a quantidade de oxignio no sangue, para que msculos e crebro
possam queimar a glicose; o corao bate com mais fora e mais depressa,
enviando uma grande quantidade de sangue para as partes do corpo que dele
precisam; a cabea passa a receber uma maior quantidade de sangue e a atividade
eltrica do crebro aumenta medida que ele vai otimizando seu processo de
controle consciente dos atos do corpo; agua-se a audio; as pupilas dilatam-se,
tornando a viso mais sensvel. Em suma, resume ALBRECHT (op.cit., p.58):
A reao de estresse uma mobilizao qumica coordenada de todo o corpo humano para atender s exigncias da luta de vida ou morte ou de uma rpida fuga da situao. A intensidade da reao de estresse depende da percepo, pelo crebro, da gravidade da situao.
11
A principal ao do estresse um desequilbrio interno que ocorre em
decorrncia da ao exacerbada do Sistema Nervoso Simptico e da desacelerao
do Sistema Nervoso Parassimptico (SNP) nos momentos de tenso. LIPP e
ROCHA (1996) resumem dizendo que esse perodo se caracteriza por grande
atividade do sistema nervoso simptico, onde h uma hiperventilao, taquicardia e
um aumento da presso arterial.
Isto faz com que a pessoa entre no estado de prontido ou alerta, a fim de
que possa lidar com essa situao; uma defesa necessria e automtica do corpo.
Nesse momento, o organismo passa a perder seu equilbrio interno, na medida em
que se prepara para enfrentar situaes em relao s quais necessita se adaptar.
As sensaes experimentadas so desagradveis, porm so necessrias para que
o organismo possa reagir, o que de fundamental importncia para a sobrevivncia
do indivduo.
Essa sndrome de reao um processo completamente normal do corpo.
Todas as pessoas j passaram por esta fase. comum que elas a experimentem
todos os dias, no se constituindo em motivo para preocupao, pois o organismo
est preparado para lidar com tal emergncia, desde que no ultrapasse as suas
habilidades de adaptaes. Para lidar com o estresse, de grande importncia
saber usar a fora gerada por ele a favor do prprio organismo. Contudo,
fundamental reconhecer quando o estresse se torna excessivo, para que se possa
lutar ou fugir da fonte que o desencadeia no dia-a-dia. Quando o estresse tem
durao curta, a adrenalina eliminada com a finalidade de produzir um equilbrio
da homeostase. Nesse caso, a pessoa sai da fase de alerta sem complicaes para
o seu bem-estar.
Os sintomas iniciais do estresse so fceis de serem identificados: mos
suadas, taquicardia, acidez do estmago, falta de apetite ou dor de cabea. No
entanto, LIPP e ROCHA (op. cit.) alertam para o fato de que alguns sintomas so to
sutis que passam despercebidos, como, o desinteresse por atividades cotidianas, o
relacionamento difcil com as outras pessoas, a sensao de isolamento emocional e
a de estar doente sem que haja algum distrbio fsico.
Em resumo, como refere SANTOS (1995), a fase de alarme ou alerta um
perodo muito rpido de orientao e identificao do perigo, no qual o corpo est se
preparando para a reao propriamente dita, isto , para a prxima fase.
12
O mesmo autor apresenta um teste de auto-avaliao sobre a reao aguda
ao estresse em sua primeira fase (Anexo, p. 60). Trata-se de uma lista onde se inclui
uma srie de sintomas absolutamente normais. O problema s acontece quando
esses sintomas tm forte intensidade e no so facilmente explicveis, como os
sintomas que se relacionam diretamente com algum acontecimento traumtico,
como um assalto ou tentativa de estupro.
? Fase de resistncia
Ocorre quando o indivduo tenta se adaptar situao em que vive,
procurando restabelecer um equilbrio interno e, assim, recuperar-se do desequilbrio
sofrido na fase de alarme ou alerta. Alguns dos sintomas iniciais desaparecem. Essa
fase de adaptao, o organismo requer muita energia para ser utilizada em outras
funes vitais. Surgem, ento, sinais desgastantes, como cansao excessivo e
esquecimentos freqentes. A maioria das pessoas passa por esses sintomas.
Quando o indivduo consegue resistir, adaptando-se situao ou eliminando os
agentes estressores, o organismo se reequilibra e ocorre a recuperao. Porm,
quando o indivduo no consegue resistir, no atingindo uma harmonia interna para
equilibrar as foras, o processo ento pode resultar no incio da terceira fase.
Segundo LIPP e ROCHA (op. cit.), essa fase ocorre quando o estressor se
prolonga por perodos longos ou quando sua dimenso muito grande. Em questo
de minutos pode-se passar da fase de alarme ou alerta para a fase de resistncia. O
indivduo tenta se adaptar instintivamente ao que passa por meio de reservas de
energia adaptativas que possui. Se elas forem suficientes, os sintomas da fase de
alarme ou alerta desaparecem e o indivduo volta ao normal. Pode ser uma iluso,
porque se o estressor continuar presente, as reservas utilizadas podem acabar, pois
a energia adaptativa limitada.
Cada indivduo possui uma quantidade especfica de energia adaptativa,
uma fora em cada momento. Esta energia limitada pode ser reposta ou refeita com
o uso de tcnicas de controle do estresse, ou com o passar do tempo; se no o for,
chegar ao fim.
Existem trs sintomas que demonstram quando as reservas de energia
adaptativa da pessoa esto praticamente no fim: falta de memria, sensao
generalizada de mal-estar e dvidas quanto a si prprio. Durante um perodo de
13
estresse muito intenso ou prolongado, o indivduo pode no perceber todos os
sintomas usuais; porm, a identificao de um dos trs sintomas mencionados, deve
sempre levar desconfiana de que se esteja na fase adiantada do estresse, a fase
de resistncia. O indivduo torna-se mais propenso a doenas, podendo aparecer
herpes, constantes resfriados e muitas infeces.
Conforme adverte SANTOS (op. cit.), esta fase pode durar anos, com a
adaptao do organismo nova situao.
Existem, segundo MASCI (2001), quatro tipos de alarme, todos
representando mudanas no modo habitual de viver de cada um e que em geral
indicam que j se est na segunda fase do estresse. Normalmente, todos so
acionados, mas um deles em geral destaca-se mais. So eles: reaes emocionais;
mudanas de comportamento; distrbios da concentrao e raciocnio; alteraes
fisiolgicas psicossomticas.
No alarme das reaes emocionais, as mudanas emocionais podem ser de
dois gneros: para o lado da agitao ou para o lado da apatia. A agitao se
manifesta por uma certa irritao e eventualmente maior cinismo. Parece preocupar-
se demais e por pequenos motivos a pessoa fica nervosa, explode com facilidade, a
pacincia vai a zero. A ansiedade (expectativa de que algo de ruim vai acontecer)
freqente e afeta especialmente o sono.
Ou ento o indivduo comea a se sentir incapaz, um intil na vida. A
tristeza passa a ser dominante no seu humor, podendo ocorrer vrios episdios de
choro por um motivo pequeno, ou mesmo sem motivo algum. Costuma haver
diminuio do apetite sexual, com fracassos de desempenho que geram mais
ansiedade e depresso. O cansao parece vir com mais facilidade. A pessoa
procura no falar com outras, mesmo porque parece que no tem o que falar. Sente-
se cada vez mais desiludida.
Na maioria das vezes h uma mistura da agitao e da apatia, quando o
estado de esprito, ora se apresenta com euforia e um excesso de energia, ora com
tristeza e melancolia. O alarme das mudanas de comportamento o
correspondente externo das emoes. Pode ser que o indivduo no esteja sentindo
mais apatia ou mais agitao, mas pessoas de sua confiana vo lhe mostrar sua
alterao de comportamento. Para o lado da apatia, parece haver uma lentificao
14
dos movimentos, a coordenao motora fica comprometida e pequenos acidentes,
como tropear na escada ou derrubar objetos, podem se tornar freqentes.
A maior parte das pessoas parece ficar com um nvel de atividade mais
acelerado, falando abruptamente e num tom mais alto, com movimentos globais
mais rpidos. Tambm freqente a mudana de certos hbitos, como os de
alimentao, em geral para o lado do excesso, inclusive de bebidas alcolicas.
No um tipo de comportamento isolado que aponta o estresse. O que
importa so mudanas no padro de comportamento. essa mudana que constitui
o alarme de que algo pode no estar bem.
No alarme de distrbios de concentrao e raciocnio, s vezes a
produtividade pode aumentar. Parece que o raciocnio e a concentrao ficam
melhores. a fase eustresse, o estresse positivo. A presso e o desafio parecem
funcionar como oxignio puro no motor combusto. O que mais perturba so as
alteraes que pioram a produtividade. O raciocnio s vezes parece estar
acelerado, s vezes fica lento, mas em geral parece ficar confuso. A lgica parece
desaparecer, havendo tendncia a adiar decises. H tambm dificuldade em
estabelecer prioridades. A memria costuma ficar diminuda, com esquecimentos
freqentes. No para algum fato desagradvel da vida, que seria normal e saudvel,
mas fatos do cotidiano comuns, como nmeros de telefone, datas, compromissos.
No alarme das alteraes fisiolgicas, h dois grupos principais de
sintomas: os musculares e os vegetativos. Os sintomas musculares incluem tenso
muscular que mantm os dentes cerrados ou rangendo, dores nas costas
(especialmente nos ombros e nuca), dores de cabea (em geral como um capacete),
sensao de peso nas pernas e braos.
J os sintomas vegetativos incluem episdios de diarria, suores frios,
sensao de calor intercalada com frio, mos geladas, transpirao abundante,
aumento do nmero de batimentos cardacos, respirao rpida e curta, m
digesto. Em outras palavras, comea-se a ter crises mais freqentes dos sintomas
da primeira fase.
? Fase de exausto
Depois de utilizada toda a energia adaptativa, o indivduo entra na fase de
exausto, onde alguns dos sintomas iniciais reaparecem e outros comeam a se
15
desenvolver. Esta fase torna-se problemtica, pois o estresse se torna intenso e no
possui mais reservas de energia adaptativa. Trata-se de uma fase perigosa,
segundo LIPP e NOVAES (1998), porque alguns dos sintomas da primeira fase
aparecem mais agravados, alm de um maior comprometimento fsico na forma de
doenas.
De acordo com MASCI (2001), na terceira fase do estresse, a resistncia do
organismo costuma estar bastante baixa e so comuns infeces repetitivas. Alm
disso, podem ocorrer as doenas psicossomticas. O Quadro 2 apresenta uma
relao desses distrbios.
QUADRO 2 - Exemplos de distrbios psicossomticos.
Sistema Enfermidades
Pele Eczemas, psorase, urticria, acne
Msculos Contrao crnica, cefalia tensional
Cardiovascular Hipertenso arterial, arteriosclerose, infarto
Respiratrio Asma brnquica, dispnia ansiosa
Gastrointestinal Gastrite, lcera, diarria, constipao
Emocional Ansiedade, depresso e equivalentes FONTE: MASCI, Cyro. A hora da virada: enfrentando os desafios da vida com equilbrio e serenidade. So Paulo: Saraiva, 2001.
4 ESTRESSE E SOCIEDADE
O processo cultural formado pelas prticas e significados partilhados nos
grupos sociais, e que permanecem no tempo. Uma cultura adquire conformao e
carter especficos graas coerncia de suas instituies sociais, as quais
garantem sua continuidade. Por meio da cultura, a realidade vai sendo construda e
reconstruda.
Porm, o homem no apenas o produtor da cultura. Esta interfere no
biolgico, produzindo respostas psicossomticas, as quais sofrem influncias
diferentes em cada cultura. Os processos psicossociais so constitudos, em parte,
por percepes e atitudes dos indivduos e, em parte, por elementos culturais que
16
direcionam os vnculos. Por exemplo, os critrios especficos sobre sade, doena,
trabalho so constitudos pela cultura e transformados pelos indivduos. A cultura
edificada a partir do meio ambiente, que corresponde ao mundo externo e
realidade imediata. Tal realidade decorrente da vida cotidiana e subjetivamente
dotada de sentido para os homens, na medida em que forma um mundo coerente.
Assim, as caractersticas da cultura representam potencialidades adaptativas e
estressoras.
Como exemplos de aspectos culturais estressantes, incluem-se o uso
acentuado de tabus, a saturao de valores, a instabilidade de modelos culturais, a
privao de vida social e a rigidez de normas. As pessoas julgam ter livre arbtrio
para suas escolhas e se esquecem do controle que a cultura imprime sobre seus
comportamentos. Tal controle muitas vezes j est to introjetado que passa
imperceptvel em algumas situaes. E o estresse ocorre sem que o indivduo
perceba a sua gnese cultural.
O estresse est estreitamente relacionado com o modo como a sociedade
est organizada, cabendo a cada um se controlar, pela reduo do nmero de
exposies agresso (PAULA, 2000). A sociedade ocidental, caracterizada pela
industrializao, pelo consumo e pela concorrncia, especifica os tipos de relaes
que sero mantidas e as exigncias que devero ser cumpridas, gerando condies
mais ou menos estressantes de trabalho, das estruturas familiar e social.
O estresse surge quando a pessoa julga no estar sendo capaz de cumprir
as exigncias sociais, sentindo que seu papel social est ameaado. Ento, o
organismo reage de modo a dominar as exigncias que lhe so impostas.
Entretanto, no mundo moderno, no socialmente aceitvel que o estresse cumpra
sua funo natural de preparar o indivduo para a fuga ou para a luta. Tal reao
seria considerada inadequada do ponto de vista da adaptao dos seres humanos
ante um mundo cheio de conflitos e de pseudo-harmonia. Portanto, o homem, ao
confrontar-se com um estmulo estressor no trabalho, impedido de manifestar
reao, ficando prisioneiro da agresso ou do medo, e obrigado a aparentar um
comportamento emocional ou motor incongruente com sua real situao
neuroendcrina. Se durar tempo suficiente essa situao de discrepncia entre a
reao apresentada e o estado fisiolgico real, ocorrer um elevado desgaste do
organismo, o que pode conduzir a doenas.
17
Assim, o estresse vincula-se com os desajustamentos do indivduo em
relao ao grupo social, famlia, ao trabalho e consigo mesmo. Como mostrada
na Figura 2, a distribuio percentual desses desajustamentos como causa do
desencadeamento do estresse so: desajustamento social 29,4%; desajustamento
consigo mesmo 28,4%; desajustamento familiar 25,7% e desajustamento com o
trabalho 15%.
Confirmando a capacidade dos estmulos psicossociais caractersticos da
vida moderna de desencadear o estresse, observou-se na urina o aumento da
secreo de catecolaminas durante o perodo de exames de estudantes nas
universidades.
FIGURA 2 - Distribuio percentual dos diversos tipos de desajustamento como causa do estresse.
Fonte: VIEIRA, Sebastio Ivone. Reforo do suporte psquico. 2001. (Contedo ministrado no 1 Curso de Especializao de Medicina do Trabalho, em Campo Grande, MS).
O desenvolvimento acelerado nas reas de tecnologia um produtor de
estresse potencial de grande monta. O fenmeno do consumo atinge todas as
classes econmicas nunca visto na histria humana. A fim de manter o poder
aquisitivo para o consumo, o ser humano muitas vezes extrapola na competio e na
25,7%28,4%
29,4%1,5%
15%Desajustamentosocial
Desajustamentoconsigo mesmo
Desajustamentofamiliar
Desajustamento como trabalho
Outros
18
tentativa de mais ganhar e possuir mais. Assim, a qualidade de vida confundida
com a quantidade. Esse processo tem repercusses para a qualidade de vida do ser
humano, pois aspectos importantes da sade e do viver so relegados categoria
de baixa prioridade.
O modo de perceber e reagir aos acontecimentos que determina a reao
final do indivduo nas situaes de vida. Isto sugere que no a situao em si que
leva ao estresse, mas a reao que se tem a ela e o modo de perceb-la. Portanto,
difcil manter o equilbrio no mundo atual, e o bem-estar do organismo fica de lado
diante das aspiraes de crescimento individual, que acaba sendo absorvido pelo
trabalho.
5 RELAO ENTRE ESTRESSE E DOENAS
O estresse no apenas uma manifestao psicolgica; produz alteraes
no organismo. Nos Estados Unidos, as estatsticas mostram que, no mnimo, 70%
das pessoas que procuram atendimento mdico tm problemas de estresse.
LIPP e ROCHA (op. cit.) destacam que, aps ultrapassar as reservas
adaptativas que a pessoa possui, e ela entrar na fase de exausto, h uma quebra
do organismo com um grande desequilbrio; a partir da associa-se uma srie de
doenas (Quadro 2), como: hipertenso arterial, psorase, lceras, gengivites,
depresso, ansiedade, problemas sexuais, infarto e at morte sbita.
Quando atinge esse nvel de estresse, muito difcil sair dele sozinho,
havendo geralmente necessidade de um tratamento especializado, que dura
normalmente seis meses ou mais tempo, incluindo uma combinao mdica e
psicolgica, de especialistas em estresse. Como nessa fase existe um
comprometimento fsico, preciso ajuda mdica, pois h necessidade de a pessoa
aprender a lidar com o estresse que possui, e como se prevenir contra sua
reincidncia.
19
5.1 ALTERAES NO SISTEMA IMUNOLGICO
Segundo registra BALLONE (2001), entre 1970 e 1990 foram muito
expressivos os experimentos de laboratrio que tentavam comprovar a relao entre
Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Imunolgico. Nessas duas dcadas
chegou-se a constatar o despovoamento celular do timo em ratos, por induo de
leses no hipotlamo. Tambm se demonstrou que leses destrutivas no hipotlamo
dorsal levavam supresso da resposta de anticorpos. Isso tudo sugeria que o
hipotlamo seria uma espcie de base de integrao entre os sistemas nervoso e
imunolgico na resposta ao estresse.
A partir de 1990 constatou-se tambm que alteraes ocorridas na hipfise
poderiam determinar modificaes imunolgicas, visto que a extirpao dessa
glndula ou mesmo seu bloqueio farmacolgico impedia a resposta imunolgica no
animal de laboratrio.
A resposta imune ao estresse d-se por uma ao conjunta entre o sistema
nervoso, sistema endcrino e sistema imunolgico. Por excesso de intensidade ou
durao do estresse pode surgir alguma doena atrelada a qualquer desses
sistemas.
Uma alterao precoce que se observa durante o estresse o aumento nos
nveis dos hormnios corticoesterides (cortisona) secretados pelas supra-renais.
Parece que esses nveis se acham em proporo inversa eficcia dos mecanismos
de adaptao, isto , nos casos com mecanismos adaptativos adequados os nveis
no so muito elevados, mas, no caso de pessoas deprimidas, com severas
dificuldades adaptativas, esses nveis so maiores.
A glndula supra-renal parece ter um desempenho mais ou menos seletivo
no estresse. Em estados de agresso, enquanto a crtex secreta cortisona, a
medula da glndula tambm participa, liberando norepinefrina (noradrenalina). Nas
situaes estressoras de tenso e ansiedade, a liberao medular privilegia a
epinefrina (adrenalina).
Experimentos em 1976 constataram em macacos submetidos a estresse um
aumento dos nveis de 17 hidroxicorticides, catecolaminas (epinefrina e
norepinefrina), hormnio estimulador da tireide e hormnio do crescimento,
20
enquanto se observava um decrscimo dos hormnios sexuais, invertendo-se essa
situao medida que o animal se recuperava.
As catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) afetam as reaes
imunolgicas, seja por reao fisiolgica, como a contrao do bao, seja por
estmulo celular por meio de receptores especficos (adrenrgicos) na membrana
celular. O certo que o aumento das catecolaminas inibe as respostas de
anticorpos.
As catecolaminas podem ter sua liberao condicionada a fatores
neuropsicolgicos. Num estudo clssico, desenvolveu-se experimentalmente a
supresso da funo imunolgica pelo uso de imunossupressor (ciclofosfamida),
associado a uma bebida contendo substncia de gosto muito particular e forte
(sacarina). Essa supresso podia repetir-se quando era administrada apenas a
bebida com sacarina, caracterizando, portanto, uma supresso imunolgica por meio
de condicionamento biolgico, j que a sacarina no imunossupressora.
Assim, as clulas do sistema imunolgico encontram-se sob uma complexa
rede de influncia dos sistemas nervoso e endcrino. Seus mediadores
(neurotransmissores e hormnios diversos) atuam sinergicamente com outros
produtos linfocitrios, de macrfagos e molculas de produtos inflamatrios na
regulao de suas aes.
Experincias dessa natureza, segundo BALLONE (2001), sugerem grande
variedade de hipteses sobre a influncia das emoes na imunidade. Pergunta ele:
Ser a crena no remdio to importante quanto o prprio remdio? Ser que isso ajuda a explicar o efeito dos placebos e da medicina alternativa? Seriam essas hipteses, capazes de estabelecer relaes entre os estados de nimo positivos e o aumento da sobrevida de pacientes portadores de AIDS, ou de cncer?
O sistema imunolgico parece explicar as interaes entre os fenmenos
psicossociais aos quais as pessoas esto submetidas e importantssimas reas de
patologia humana como, por exemplo, as doenas de auto-imunes (auto-agresso),
infecciosas e neoplsicas.
21
Ao prolongar-se, de acordo com LIPP (1998), o estresse afeta o sistema
imunolgico, porque as glndulas linfticas do timo (glndula situada na parte
inferior do pescoo e que participa ativamente do sistema imunolgico) so
prejudicadas, assim como as clulas dos gnglios linfticos. Em conseqncia, as
clulas brancas diminuem seu nmero e o organismo sujeita-se a vrias infeces e
doenas.
5.2 DOENAS DIGESTIVAS
CABRAL et al. (1997) lembram que o sistema gastrintestinal
especialmente sensvel ao estresse. A perda de apetite um dos seus primeiros
sintomas, por causa da paralisao do trato gastrintestinal sob ao simptica, e
pode ser seguido por vmitos, constipao e diarria, no caso de bloqueios
emocionais. Sinais de irritao e perturbao dos rgos digestivos podem ocorrer
em qualquer tipo de estresse emocional.
Sabe-se que as lceras gstricas so registradas com maior freqncia em
pessoas que so desajustadas em seu trabalho e que sofrem de tenso e frustrao
constantes. J foi demonstrado, de acordo com os autores mencionados, que
pacientes sob estresse secretam uma quantidade considervel de hormnios
digestivos ppticos na sua urina, o que indica que os hormnios do estresse
aumentam a produo de enzimas ppticas, isto , a lcera parece ser produzida
com o aumento do fluxo dos sucos cidos, causado pelas tenses emocionais, no
estmago, que se encontra desprotegido do muco protetor secretado em estado de
homeostase, sob ao do sistema nervoso autnomo parassimptico. A conexo
entre distrbio emocional, secreo gstrica e lceras est bem documentada.
CABRAL et al. (op. cit.) registram, ainda, que estudos de lceras em
macacos mostraram que, aparentemente, tenso emocional provoca lceras se seu
perodo coincide com algum ritmo natural do sistema gastrintestinal, na sua fase de
bloqueio. O experimento realizado colocava dois macacos em "cadeiras restritivas"
individuais e tentava-se condicion-los a evitar um choque eltrico pressionando
uma alavanca. Somente o macaco "executivo" poderia evitar que ele e o outro
macaco "controle" no recebessem choque eltrico. O macaco "controle" diante de
22
uma alavanca falsa no apresentou nenhum sinal de lcera, j o macaco "executivo"
depois de certo tempo de experimento morreu, tendo a autpsia revelado grandes
lceras no duodeno. Este macaco era o nico que estava sob tenso emocional
diante da alavanca que poderia evitar os choques eltricos. O ritmo mais eficiente
para produzir lcera foi o de seis horas.
5.3 CNCER
Conforme registrado por CABRAL et al. (op. cit.), o cncer surge como uma
indicao de problemas em outras reas da vida da pessoa, agravados ou
compostos de uma srie de estresses que surgem de seis a dezoito meses antes de
aparecer a doena. Foi observado que as pessoas reagiram a esses estresses com
um sentimento de falta de esperana, desespero, desistindo de lutar por uma vida
melhor. Acredita-se que essa reao emocional dispara um conjunto de reaes
fisiolgicas que suprimem as defesas naturais do corpo, tornando-o suscetvel
produo de clulas anormais, por causa de um desequilbrio profundo mental,
hormonal, orgnico e psicolgico. Hoje est comprovada uma ligao evidente entre
estresse e cncer, ligao to forte que possvel predizer a doena baseando-se
na quantidade de estresse sofrida pelas pessoas na vida cotidiana.
Descobertas recentes sugerem, segundo os autores mencionados, que
efeitos do estresse emocional, ao deprimir o sistema imunolgico, abalam as
defesas naturais contra o cncer e outras enfermidades.
Foi desenvolvida uma lista com valores numricos de todos os
acontecimentos estressantes da vida de uma pessoa, chegando-se, assim,
quantidade de estresse que ela estaria sofrendo. Ao se observar esta lista, notam-se
itens que todos acham estressantes, mas percebe-se tambm, curiosamente,
sucessos pessoais excepcionais, normalmente considerados como sendo
experincias agradveis.
Foi observado que essas experincias, aparentemente agradveis, so as
que implicam em mudanas de hbitos, na maneira de as pessoas se relacionarem
entre si e em suas auto-imagens. Mesmo sendo experincias positivas, podem exigir
23
um grau profundo de introspeco, podendo causar o aparecimento de conflitos
emocionais no solucionados. O ponto principal , portanto, a necessidade de
adaptao mudana, seja ela positiva ou negativa.
Estresse tambm varia de pessoa para pessoa. Cada um vai agir de uma
forma diferente diante das situaes. Assim, fica claro que fatores de natureza
psicossocial podem modificar a resistncia a um nmero de doenas infecciosas e
cancerosas. Muitas pessoas no ficam doentes mesmo quando recebem grandes
cargas de estresse. necessrio examinar a reao especfica de cada pessoa ao
fator estressante.
Torna-se claro que nveis elevados de estresse emocional aumentam a
suscetibilidade a doenas. O estresse crnico resulta na supresso do sistema
imunolgico, o que por sua vez cria uma maior suscetibilidade doena,
especialmente o cncer. O estresse emocional realimenta o desequilbrio emocional.
Esse desequilbrio pode vir a aumentar a produo de clulas anormais no momento
em que o corpo se encontra menos capacitado a destru-las.
A personalidade individual tambm um forte diferenciador entre as
pessoas que tm maior ou menor suscetibilidade a doenas. A maneira como cada
pessoa reage s tenses dirias origina-se de hbitos e ditada pelas suas
convices ntimas sobre quem , quem deveria ser e a maneira como o mundo e as
outras pessoas deveriam ser. Existem indcios de que diferentes tomadas de
posio em relao vida, em geral, podem estar associadas com certas doenas.
5.4 DEPAUPERAO DAS GLNDULAS SUPRA-RENAIS
Segundo LIPP (1998), se o estresse for muito severo, acarretar o aumento
do crtex das glndulas supra-renais. Em decorrncia, elas comeam a produzir
corticosterides em excesso, principalmente a cortisona, os hormnios responsveis
pela reao do estresse. Produzindo corticosterides, as glndulas utilizam uma
grande quantidade de lipdios (essenciais aos hormnios corticosterides),
depauperando-se. Quando o estresse aumenta, aumenta tambm o crtex das
glndulas supra-renais, aumentando, conseqentemente, a depauperao dessas
24
glndulas, o que contribui para o envelhecimento precoce da pessoa, pois elas so
imprescindveis para a homeostase do corpo, isto , um equilbrio para que haja um
bom funcionamento no nosso organismo.
5.5 DOENAS CARDACAS
WARREN e TOLL (1998) referem que diversas pesquisas realizadas tm
relacionado o estresse com as doenas cardacas. Mesmo no sendo a nica causa,
o estresse pode diminuir a resistncia de forma que o indivduo fique mais
vulnervel.
Para BERNIK (2001), o estresse pode ser um matador silencioso, por
atingir, principalmente, as coronrias. Se ocorrerem ativaes repetidas e crnicas
do sistema nervoso autnomo, numa pessoa que tenha problemas de leso da
camada interna das artrias coronrias (arteriosclerose), provocadas por fumo, m
alimentao, obesidade ou colesterol elevado, e outros, podem ocorrer muitos
problemas, tais como:
a) uma diminuio do fluxo sangneo adequado para manter a
oxigenao dos tecidos musculares cardacos (miocrdio), levando a
uma isquemia do miocrdio. A adrenalina causada pelo estresse agrava
o problema de quem j possui dimetros reduzidos por placas,
resultando em morte, que acompanha as pessoas em um estresse
agudo;
b) outros como a ruptura da parede dos vasos enfraquecidos pela placa
arteriosclertica e a trombose. Se a pessoa possui um pequeno
cogulo, pode desencadear-se uma coagulao, levando morte. Com
um nvel elevado de adrenalina, ocorrem alteraes irregulares no ritmo
cardaco, as chamadas arritmias (batedeiras), diminuindo o fluxo de
sangue no sistema cardiovascular, provocado pelos cogulos (trombas);
com o aumento desse fluxo sangneo causado pela adrenalina, os
cogulos podem desencadear uma trombose (obstruo completa dos
vasos coronarianos).
25
H evidncias de possveis efeitos do estresse na presso arterial elevada,
isto tanto no normotenso quanto nas pessoas com hipertenso arterial,
principalmente quando interage com outros fatores de risco para a hipertenso.
COOPER (1990) e LIPP e ROCHA (1996) enfatizam esse fator como um dos que
afetam a presso arterial da pessoa sujeita hipertenso arterial. Essa relao j
est hoje evidenciada por vrias pesquisas realizadas, as quais indicam que existe
uma conexo inequvoca entre estresse e hipertenso. Considera-se o estresse hoje
como um fator de risco real para a enfermidade.
Conforme j mencionado, o Sistema Nervoso Simptico o responsvel
pelo preparo do organismo para entrar em ao em momentos de estresse, quando
ele aumenta a presso arterial para tornar possvel ao corpo lidar com aquilo que
dele se exige. O estresse um dos fatores que podem causar a hipertenso porque
ele estimula o SNS, produzindo uma constrio dos vasos sangneos e
aumentando, portanto, a resistncia perifrica. O estresse no seu mecanismo tende
a afetar tambm o ritmo cardaco e a quantidade de sangue expelido pelo corao a
cada batimento (dbito cardaco). A variao no dbito cardaco ou resistncia
perifrica suficiente para alterar a presso arterial. Isso tudo acontece por causa
da necessidade do sistema circulatrio enviar maior quantidade de sangue para o
crebro e msculos, quando h necessidade de o organismo reagir nas situaes
estressantes.
5.6 INFECES
Conforme lembra BALLONE (2001), uma das mais importantes funes do
equilbrio do organismo (homeostasia) proteg-lo das agresses infecciosas, isto
, impedir a multiplicao de agentes infecciosos e a formao de colnias em seu
interior, bem como proporcionar resistncia s infeces.
Como mecanismos inespecficos desse sistema de defesa existem as
barreiras naturais, compostas de pele e clios, presena de cidos nas superfcies,
substncias inibidoras da proliferao dos germes nos humores e outros. Os
mecanismos especficos das defesas esto representados por um combate muito
mais eficaz conduzido pelo sistema imunolgico.
26
Os anticorpos do sistema imunolgico, por exemplo, facilitam extremamente
a atrao, a aderncia e a fagocitose dos germes invasores pelas clulas brancas e
pelos macrfagos, participando tambm da neutralizao de partculas virais
circulantes. Graas participao celular da resposta imunolgica, as clulas
infectadas por vrus ou por outros parasitas intracelulares podem ser destrudas e
isso se d s custas das clulas chamadas linfcitos.
O estresse desempenha importante papel no sistema imunolgico, inibindo
ou estimulando seus componentes, isto , aumentando a morbidade e mortalidade,
por excesso ou por falta desses mecanismos.
5.7 OUTRAS DOENAS
BERNIK (2001) relaciona os seguintes distrbios neurovegetativos
decorrentes do estresse: quadro de astenia (fraqueza ou fadiga); tenses
musculares elevadas seguidas de cibras; formao de fibralgias musculares, com o
aparecimento de ndulos dolorosos, principalmente nos msculos dos ombros e das
costas; tremores; sudorese excessiva; cefalias tensionais, provocadas por tenses
psquicas; enxaqueca; lombalgias e braquialgias (dores nas costas, ombros e
braos); hipertenso arterial; palpitaes e batedeiras; colopatias (distrbios da
absoro e da contrao do intestino grosso) e dores urinrias sem sinais de
infeco.
Com a intensa ativao patolgica do estresse, h um aumento da
concentrao do sangue e do contedo de plaquetas (clulas responsveis pela
coagulao sangnea), alterao do nvel de cortisol, das catecolaminas urinrias e
dos hormnios hipofisrios e sexuais; h tambm um aumento da glicemia (acar
no sangue) e do colesterol.
O estresse pode tambm causar alguns sintomas na forma de reaes
psicolgicas e psiquitricas, como irritabilidade, fraqueza, nervosismo, medos,
ruminao de idias, exacerbao dos atos falhos e obsessivos, alm dos rituais
compulsivos, com aumento da sensibilidade e da angstia. Sendo assim, as
provocaes e discusses so mais freqentes. Na depresso, pode haver com
27
muita freqncia uma queda ou aumento do apetite, alteraes do sono,
irritabilidade, apatia, torpor afetivo, perda do interesse e do desempenho sexual.
6 RELAO ENTRE O ESTRESSE E O TRABALHO
O estresse ocupacional o conjunto de fenmenos que se sucedem no
organismo do trabalhador com a participao dos agentes estressantes lesivos
derivados diretamente do trabalho ou por motivo deste, e que podem afetar a sade
do trabalhador (VILLALOBOS, 1999).
6.1 AS RELAES EMPRESA-PESSOA
Toda empresa um conjunto sociocultural organizado para a realizao de
servios e implica num sistema de redes, status e papis. A coordenao das
atividades possibilitada pela diviso do trabalho, hierarquia, autoridade e
responsabilidade. Tais atividades visam satisfao das necessidades
organizacionais, mas dependem da eficincia dos indivduos.
Na cultura empresarial, o indivduo visto de forma incompleta, apenas com
habilidades especficas para a realizao de tarefas. Assim, durante a relao
indivduo-empresa, h uma ciso do comportamento: de um lado a fora de trabalho
com subordinao s regras da empresa; de outro, o vivenciar, as emoes, a vida
individual.
O processo de firmar contrato de trabalho caracteriza-se por acatar as
normas, valores e procedimentos comuns e coletivamente aceitos naquela
organizao. "O homem organizacional", no dizer de VILLALOBOS (op. cit.) leva
toda sua potencialidade psquica, fsica, social, mental, bem como suas
caractersticas anatmicas, fisiolgicas e sensitivas, para o espao da empresa.
O contrato psicolgico de trabalho caracteriza-se por um conjunto de
expectativas que se estabelecem entre o indivduo e a empresa a respeito das
responsabilidades, remunerao, benefcios e outros. Este um fator decisivo no
28
processo de adaptao do indivduo na empresa e que, no entanto, geralmente
proposto por esta em forma de modelos estatsticos e limitados, visando a um
enquadramento homogneo ao cargo ou funo. Tais expectativas e proposies
informais ficam encobertas e s emergem em momentos de crise ou intervenes
especficas, em programas de mudana organizacional, referentes s respostas
psicossomticas. A empresa tradicional no pretende adaptar o trabalho para o
homem e sim este para o trabalho, criando-se um hiato cada vez maior entre eles no
exigente mundo contemporneo.
O grupo de trabalho gera redes de influncias derivadas da cooperao,
competio e outras e redes de afetos entre as pessoas com as quais se convive.
Para a estabilidade dinmica do grupo deve haver equilbrio. Deve existir
reciprocidade no grupo. uma expectativa constante. Se a regra de trabalho na
empresa no parar a produo, quando ocorre essa quebra em funo de doena,
estabelece-se uma suspenso da reciprocidade. Portanto, a relao empresa-
pessoa ser mais ou menos conflituosa quanto maiores forem as diferenas de
expectativas rgidas entre a empresa e o empregado.
Mesmo diante desses dados, o aparecimento de problemas no indivduo
ainda pouco previsto antes do vnculo empregatcio. A vida moderna, as condies
atuais do trabalho, a cobrana da produtividade e qualidade total tornam o trabalho
cada vez mais estressante e insensvel s condies humanas. A maioria das
empresas coloca a produo como o mais importante, como o objetivo que deve ser
cumprido a qualquer preo. Os trabalhadores sacrificam finais de semana, feriados e
fazem hora-extra para conseguir concluir a demanda das empresas, sem
recompensa adequada. Isto gera um nvel muito grande de ansiedade no
trabalhador, pois ele se v privado de seu lazer, de sua vida familiar, de seu
descanso, para dar conta do trabalho. Como conseqncia h um aumento no
ndice de doenas psicossomticas relacionadas com o trabalho.
O homem no pode ser colocado no mesmo patamar que as mquinas para
execuo do trabalho. O lazer e o descanso so primordiais para a manuteno da
qualidade de vida e da sade.
29
6.2 FATORES ESTRESSANTES NO AMBIENTE OCUPACIONAL
Segundo VILLALOBOS (1999), os fatores psicossociais no trabalho
representam o conjunto de percepes e experincias do trabalhador, alguns de
carter individual, outros se referindo a expectativas econmicas ou de
desenvolvimento pessoal e outros s relaes humanas e seus aspectos
emocionais.
As atuais tendncias na promoo da seguridade e higiene no trabalho
incluem no somente os riscos fsicos, qumicos e biolgicos dos ambientes laborais,
mas tambm os diversos e mltiplos fatores psicossociais inerentes empresa e a
maneira como influem no bem-estar fsico e mental do trabalhador.
Por um lado, tais fatores consistem em interaes entre o trabalho, seu
meio ambiente laboral, a satisfao laboral e as condies da organizao e, por
outro lado, as caractersticas pessoais do trabalhador, suas necessidades, sua
cultura, suas experincias e sua percepo de mundo.
Os principais fatores psicossociais geradores de estresse presentes no meio
ambiente do trabalho envolvem aspectos de organizao, administrao e sistemas
de trabalho e a qualidade das relaes humanas. Por isso, o clima organizacional de
uma empresa vincula-se no somente a sua estrutura e s condies de vida da
coletividade do trabalho, como tambm a seu contexto histrico com seu conjunto de
problemas demogrficos, econmicos e sociais. Assim, o crescimento econmico da
empresa, o progresso tcnico, o aumento da produtividade e a estabilidade da
organizao dependem tambm dos meios de produo, das condies de trabalho,
dos estilos de vida, do nvel de sade e bem-estar de seus trabalhadores.
Na atualidade, produzem-se aceleradas mudanas tecnolgicas nas formas
de produo que afetam, conseqentemente, os trabalhadores em suas rotinas de
trabalho, modificando seu entorno laboral e aumentando o aparecimento ou o
desenvolvimento de enfermidades crnicas pelo estresse.
Outros fatores externos ao local de trabalho, porm que guardam estreita
relao com as preocupaes do trabalhador, derivam-se de suas circunstncias
familiares ou de sua vida privada, de seus elementos culturais, sua nutrio, suas
facilidades de transporte, a moradia, a sade e a segurana no emprego.
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VILLALOBOS (op. cit.) relaciona como mais freqentes os seguintes fatores
psicossociais condicionantes da presena de estresse laboral:
a) desempenho profissional:
- trabalho de alto grau de dificuldade;
- trabalho com grande demanda de ateno;
- atividades de grande responsabilidade;
- funes contraditrias;
- criatividade e iniciativa restringidas;
- exigncia de decises complexas;
- mudanas tecnolgicas intempestivas;
- ausncia de plano de vida laboral;
- ameaa de demandas laborais;
b) direo:
- liderana inadequada;
- m utilizao das habilidades do trabalhador;
- m delegao de responsabilidades;
- relaes laborais ambivalentes;
- manipulao e coao do trabalhador;
- motivao deficiente;
- falta de capacitao e desenvolvimento do pessoal;
- carncia de reconhecimento;
- ausncia de incentivos;
- remunerao no eqitativa;
- promoes laborais aleatrias;
c) organizao e funo:
- prticas administrativas inapropriadas;
31
- atribuies ambguas;
- desinformao e rumores;
- conflito de autoridade;
- trabalho burocrtico;
- planejamento deficiente;
- superviso punitiva;
d) tarefas e atividades:
- cargas de trabalho excessivas;
- autonomia laboral deficiente;
- ritmo de trabalho apressado;
- exigncias excessivas de desempenho;
- atividades laborais mltiplas;
- rotinas de trabalho obsessivo;
- competio excessiva, desleal ou destrutiva;
- trabalho montono ou rotineiro;
- pouca satisfao laboral;
e) meio ambiente de trabalho:
- condies fsicas laborais inadequadas;
- espao fsico restringido;
- exposio a risco fsico constante;
- ambiente laboral conflitivo;
- trabalho no solidrio;
- menosprezo ou desprezo ao trabalhador;
f) jornada laboral:
- rotao de turnos;
- jornadas de trabalho excessivas;
- durao indefinida da jornada;
- atividade fsica corporal excessiva;
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g) empresa e contexto social:
- polticas instveis da empresa;
- ausncia de corporativismo;
- falta de suporte jurdico pela empresa;
- interveno e ao sindical;
- salrio insuficiente;
- falta de segurana no emprego;
- subemprego ou desemprego na comunidade;
- opes de emprego e mercado laboral.
6.3 ESTRESSE E ATIVIDADE PROFISSIONAL
Na prtica mdica, ao observar a incidncia das enfermidades derivadas do
estresse, evidente a associao entre algumas profisses em particular e o grau
de estresse que de maneira geral apresentam grupos de trabalhadores de
determinado tipo de ocupao, como:
a) trabalho apressado: operrios em linhas de produo mecanizadas;
cirurgies; artesos;
b) perigo constante: policiais, mineradores, soldados, bombeiros; alpinistas,
pra-quedistas, boxeadores, toureiros;
c) risco de vida: pessoal de aeronavegao civil e militar; motoristas
urbanos;
d) confinamento: trabalhadores petroleiros em plataformas marinhas;
marinheiros; vigilantes, guardas; pessoal de centros nucleares ou de
investigao; mdicos, enfermeiros;
e) alta responsabilidade: mdicos; polticos; outros;
f) risco econmico: gerentes; contadores; agentes de bolsa de valores;
executivos financeiros.
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Segundo EROSA (2001), so condies estressantes no ambiente laboral:
sobrecarga de trabalho; excesso ou falta de trabalho; rapidez em realizar a tarefa;
necessidade de tomar decises; fadiga, por esforo fsico importante (viagens longas
e numerosas); excessivo nmero de horas de trabalho e mudanas no trabalho.
A sobrecarga de trabalho, tanto em termos das dificuldades da tarefa, como
no que se refere ao trabalho excessivo, tem relacionado diretamente as horas de
trabalho e a morte causada por enfermidade coronria. A sobrecarga de trabalho
tambm est relacionada, significativamente, com uma srie de sintomas de
estresse: consumo de lcool, absentismo laboral, baixa motivao no trabalho, baixa
auto-estima, tenso no trabalho, percepo de ameaa, alto nvel de colesterol,
incremento da taxa cardaca e aumento de consumo de cigarros.
O estresse pode ser desencadeado tambm quando no se dispe de uma
adequada informao laboral, responsabilidade ou falta de clareza sobre os
objetivos associados ao posto de trabalho. Tambm pode acontecer que exista uma
demanda de responsabilidade por parte dos companheiros, sem haver-se facultado
para tal ou, pelo contrrio, que exista essa faculdade e no se desempenhe. Esta
situao representa para o trabalhador menor satisfao no trabalho, maior tenso e
baixa auto-estima. Por outro lado, os trabalhadores com responsabilidade sobre
outras pessoas tm um maior nmero de interaes de estresse, como o caso de
diretores que com certa freqncia tm de assistir reunies ou devem cumprir
demasiados compromissos de trabalho. Essas pessoas encontram-se relacionadas
com a conduta do fumar, podem ter maior presso diastlica e altos nveis de
colesterol.
Existem outros estressores relacionados com as funes do trabalhador que
podem gerar estresse, afetando fundamentalmente os nveis intermedirios, como:
indivduo que conta com insuficiente responsabilidade; falta de participao na
tomada de decises; falta de apoio por parte da direo e mudanas tecnolgicas s
quais tem de se adaptar.
Merece ainda destaque o estresse produzido por inadequadas relaes
interpessoais. Quando existem relaes pobres e h pouca confiana, produzem-se
freqentemente, comunicaes insuficientes que originam tenses psicolgicas e
sentimentos de insatisfao no trabalho. Nesse sentido, ao considerar as relaes
com os superiores pode haver favoritismos que provocam uma tenso e presso no
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trabalho. Pelo contrrio, as relaes com os subordinados so com freqncia
fontes de estresse para os diretores, ao tratar de conseguir maior produtividade. As
relaes entre companheiros podem trazer diversas situaes estressantes:
rivalidades, falta de apoio em situaes difceis, atribuio de culpas por erros ou
problemas, inclusive uma total falta de relaes.
Quanto ao desenvolvimento da carreira profissional, h tambm vrias
situaes causadoras de estresse. Geralmente, o trabalhador espera ir ascendendo
nos diversos postos que existem em sua organizao, isto , tende a melhorar no
s no aspecto econmico, mas tambm aspirando a postos de maior
responsabilidade ou qualificao, desenvolvendo uma carreira profissional. por
isso que quando as expectativas so frustradas, aparecem tenses ou fatores
estressantes, como: falta de segurana no trabalho; incongruncia ou falta de
eqidade na promoo insuficiente ou excessiva; conscincia de haver alcanado o
prprio teto.
Quando um executivo de meia idade experimenta que est alcanando seu
prprio teto e pode ser substitudo por outros companheiros mais jovens e com mais
preparo, aparecem tenses, conflitos, ansiedades, insatisfaes e temores em
relao ao seu status profissional.
O estresse produzido pela estrutura e clima organizacional est relacionado
com as seguintes situaes: falta de participao nos processos de tomada de
decises; sentir-se estranho na prpria organizao; inadequada poltica de direo;
falta de autonomia no trabalho e estreita superviso do trabalho.
O estresse produzido pela prpria organizao apresenta os seguintes
fatores de risco para a sade: consumo de lcool, como forma de escape, nimo
deprimido, baixa auto-estima, pouca satisfao no trabalho, inteno de abandonar
o trabalho e absentismo laboral. Assim tambm em numerosos estudos realizados, a
falta de participao produz insatisfao no trabalho e incrementos de riscos de
enfermidade fsica e mental.
No contexto laboral experimentam-se outros sintomas estressantes que
no so de carter quantitativo nem qualitativo; mas ocorrem quando as habilidades
da pessoa so incongruentes, com a tarefa ou o entorno laboral. No obstante,
deve-se ter em conta que em situaes similares as pessoas reagem de forma
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diferente. Assim, quando se produz uma tenso de sobrecarga de trabalho,
enquanto que uma pessoa pode reorganizar eficazmente a tarefa, aprender novas
formas, buscar ajuda, outra, incapaz de superar tal tenso, pode responder em
longo prazo com enfermidades coronrias, depressivas e outras.
7 TRATAMENTO E PREVENO DO ESTRESSE NO TRABALHO
7.1 TRATAMENTO
O diagnstico do estresse baseia-se nas seguintes etapas:
a) anamnese;
b) questionrio dos fatores de contexto;
c) identificao e vulnerabilidade;
d) anlise das estatsticas do servio de sade ocupacional (absentismo
geral, absentismo por doena, por acidente do trabalho e atendimento no
ambulatrio mdico).
O estresse pode ser medido pelas variaes da freqncia cardaca,
monitoramento da presso sangnea ou da freqncia respiratria, avaliao do
gasto energtico, medio da produtividade, registro estatstico da fadiga,
eletroencefalograma e medio dos nveis sangneos de catecolaminas, assim
como por meio da quantificao de outros neurotransmissores por
espectrofotometria, fluorometria, cromatografia, radioistopos ou procedimentos
enzimticos.
Segundo VILLALOBOS (1997), seria quase impossvel, e alm disso muito
custoso, medir o estresse laboral nos trabalhadores utilizando determinaes
qumicas quantitativas de laboratrio ou de avaliaes clnicas do dano orgnico
produzido pelo estresse, por isso se empregam outros tipos de instrumento mais
viveis cuja validade e confiabilidade tm sido devidamente comprovadas. Tais
tcnicas de medio do estresse incluem diversas escalas, como a auditoria do
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estresse de Boston, o inventrio de estados de angstia de Spielberg Gorsuch e
Lushene, o questionrio LES de T. H. Holmes e R. H. Rahe, a valorao do estresse
de Adam e outros instrumentos similares que tornam possvel a quantificao do
estresse e seus efeitos sobre os trabalhadores.
MASCI (2001) apresenta uma relao de recomendaes de tratamento
para cada uma das fases de desenvolvimento do estresse.
? Fase de alarme
Fazer pequenas pausas no trabalho, com um pequeno exerccio de
relaxamento a cada 60 ou, no mximo, 90 minutos.
Exemplo de exerccio de relaxamento: respirar profunda e lentamente,
inspirando somente pelo nariz, segurando o ar por 5 a 7 segundos, e soltando o ar o
mais lentamente que conseguir pela boca. Repetir por trs vezes. Na seqncia,
contrair os msculos do corpo, mantendo contrado por cinco segundos, e soltando
abruptamente. Repetir por mais trs vezes.
Na impossibilidade de frias regulares, procurar reservar algumas horas do
dia para diverso, longe de preocupaes.
Procurar algum para conversar e desabafar. No guardar todos os
problemas para si prprio.
Diminuir o perfeccionismo, evitando falar consigo mesmo em termos de
devo fazer isso ou aquilo. Preferir a expresso eu prefiro, ou eu quero fazer isso
ou aquilo.
No ficar muito tempo sem comer. Nunca sair de casa sem um caf da
manh no mnimo razovel.
Comear um programa de atividade fsica imediatamente.
Procurar organizar o prprio dia com no mnimo uma lista de coisas a fazer
(e telefonemas a dar) que dever ser revista pela manh e no final da tarde.
Reservar alguns minutos do dia para introspeco.
Ajudar algum (atividades filantrpicas so comprovadamente um fator de
aumento de auto-estima e diminuio do estresse).
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Evitar estimulantes como cafena (caf e bebidas com cola), assim como
energticos rpidos (bebidas para atletas).
? Fase de resistncia
Utilizar todas as sugestes da primeira fase, mas idealmente procurar
auxlio profissional. muito provvel que seja necessrio um programa de
recuperao.
? Fase de exausto
Procurar auxlio profissional. Dever ser um programa que contemple todos
os aspectos do estresse (e no apenas os sintomas). em geral um programa lento
e gradual, mas os resultados costumam compensar.
7.2 ASPECTOS PREVENTIVOS
VILLALOBOS (1999) recomenda que o tratamento das enfermidades por
causa do estresse laboral dever sempre se dirigir a erradic-lo por meio do controle
dos fatores ou de suas foras causais. O critrio geral que pretende curar a
enfermidade de maneira isolada mediante tratamento paliativo das alteraes
emocionais ou reparao das leses orgnicas sumamente simplista, limitado e
pouco racional. Assim, o tratamento contra o estresse dever ser preventivo e
conseguido por aes necessrias para modificar os processos causais.
A preveno e ateno do estresse laboral constituem um grande desafio,
os critrios para combat-lo devero ser organizacionais e pessoais. Os mdicos do
trabalho e profissionais afins devem vigiar seus pacientes e quando for possvel a
toda a organizao com o objetivo de manejar o estresse de forma efetiva, ainda
que a participao da equipe de sade para efetuar mudanas substanciais com
freqncia mais difcil, pois os gerentes e empregadores geralmente buscam
resolver o problema dos trabalhadores de forma individual, porm recusam a
interveno na origem do problema quando isso implica a necessidade de
mudanas no local de trabalho, pela possvel separao entre o lucro econmico e o
bem-estar dos trabalhadores.
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O mdico deve buscar antecipar a situao e aplicar medidas profilticas
efetivas. A preveno primria um objetivo primordial. As aes eficazes tm
demonstrado xito econmico nas empresas, ao melhorar o estado de nimo e o
bem-estar dos trabalhadores, diminuindo as enfermidades, reduzindo o
absentesmo, elevando a produtividade e melhorando substancialmente o
desempenho e a qualidade do trabalho.
7.2.1 ATENO INDIVIDUAL
Para VILLALOBOS (1999), os programas de ateno individual nos locais
de trabalho contemplam a difuso de informaes sobre o estresse, suas causas e a
forma de controle, por meio da educao para a sade dos trabalhadores, para que
eles desenvolvam habilidades pessoais que lhes permitam reduzir o problema. Se
emplea la distribucin de trpticos, carteles, conferencias, videos, etc.
A idia principal consiste em identificar os agentes causais do estresse e
deles conscientizar ao trabalhador, mostrar a este as possibilidades de soluo da
situao, ou o manejo inteligente do estresse para poder atuar em conseqncia e
combat-lo.
importante melhorar os hbitos do trabalhador, a alimentao adequada,
exerccio fsico moderado, gradual e progressivo, ritmos de sono adequados,
propiciar as atividades recreativas, diminuir as adies e evitar a vida sedentria.
Alm disso, so de grande utilidade as chamadas tcnicas de ateno que
consistem de mtodos para ajudar os trabalhadores a resolver suas reaes
fisiolgicas e psicolgicas, com estratgias para reduzir o estresse no ambiente
laboral. Consistem de exerccios de relaxamento, autotreinamento,
biorretroestimulao, exerccios respiratrios, auto-estima, meditao e ioga.
Complementarmente, ensina-se o uso de estratgias para a administrao
do tempo, priorizao de problemas, desenvolvimento da capacidade de
planejamento, tcnicas de negociao; assim como exercitar habilidades para a
tomada de decises, soluo de conflitos, conduta assertiva, manejo do tempo e em
geral o desenvolvimento de melhores relaes humanas.
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7.2.2 MEDIDAS ORGANIZACIONAIS
VILLALOBOS (1999) afirma que no manejo coletivo dos fatores causais do
estresse, o critrio predominante consiste em reduzir ao mximo as situaes
geradoras de situaes tensionais dentro da empresa ou organizao. As aes
especficas dirigem-se para as caractersticas de estrutura da organizao, estilos de
comunicao, processos de formulao de decises, cultura corporativa, funes de
trabalho, ambiente fsico e mtodos de seleo e capacitao do pessoal.
importante considerar as melhoras fsicas, ergonmicas, de segurana e
de higiene do entorno laboral nos centros de trabalho, pois tm particular relevncia
para os trabalhadores ao representar a preocupao real e o esforo patente da
empresa por melhorar o bem-estar de seus empregados.
As medidas de mudana da organizao perseguem a reestruturao dos
processos e tarefas, que permita desenvolver as capacidades do trabalha