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CURSO DE DIREITO
ANTÔNIO ALMEIDA LIRA JÚNIOR
A BALÍSTICA FORENSE E SUA REALIZAÇÃO NO ESTADO DO
CEARÁ
Fortaleza 2010
1
ANTÔNIO ALMEIDA LIRA JÚNIOR
A BALÍSTICA FORENSE E SUA REALIZAÇÃO NO ESTADO DO
CEARÁ
Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade 7 de Setembro, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Professor orientador: Prof. Ms. Victor Hugo Medeiros de Alencar.
Fortaleza 2010
2
ANTÔNIO ALMEIDA LIRA JÚNIOR
A BALÍSTICA FORENSE E SUA REALIZAÇÃO NO ESTADO DO
CEARÁ
Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade 7 de Setembro, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel. Data de Aprovação: Fortaleza, 21 de junho de 2010. BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Prof. Ms. Victor Hugo Medeiros de Alencar Orientador ___________________________________________________________ Prof. Ms. Alécio Saraiva Diniz Membro ___________________________________________________________ Prof. Ms. Rafael Gonçalves Mota Membro
3
A minha família, que sempre me incentivou para a conquista deste sonho. Em especial a minha mãe, Darci de Vasconcelos Lira, e ao meu pai, Antônio Almeida Lira, pilares e referências de minha vida.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado, todos os dias, força,
coragem e determinação para que eu pudesse enfrentar esse magnífico caminho da
vida.
Ao meu professor e orientador, Victor Hugo Medeiros Alencar, que, com
sua paciência e sabedoria, me apresentou e me ensinou sobre esse fantástico
mundo da Balística Forense.
Ao professor Pedro Jairo, grande Mestre, a quem devo, sem dúvidas,
parte desta caminhada.
Aos membros da banca, professor Alécio Diniz e professor Rafael
Gonçalves Mota, por quem tive a honra de ser apresentado ao Direito Penal.
Ao meu grande amigo Nacélio Gondim, policial competente da COTAM,
que sempre nos orgulha com seu trabalho e determinação.
À Dra. Luciana Canito, Perita chefe do Núcleo de Balística do estado do
Ceará, na qual colaborou brilhantemente com este trabalho.
À coordenação do curso de Direito e aos demais professores, em quem a
disciplina e a competência sempre estiveram presentes.
Aos grandes amigos da sala 23, com quem tive o prazer de compartilhar
parte de minha vida. Exemplos de companheirismo!
5
Todos gostariam de ter um mapa da mina para a felicidade. Só que isso não existe. Mas temos pistas e ferramentas para penetrar no território da emoção, desenvolver nossa inteligência e aprender a superar nossas dificuldades.
Augusto Cury
6
RESUMO
LIRA JÚNIOR, Antônio Almeida. A balística forense e sua realização no estado do Ceará. Fortaleza, 2010. Monografia – Curso de Direito, Faculdade 7 de Setembro - FA7.
Este trabalho objetivou estudar a Balística Forense como fundamental meio de prova para a Justiça nos crimes praticados por armas de fogo, com destaque para os tipos de armas existentes, os efeitos que provocam e o modo como se identifica a autoria do disparo pela arma, munições e resíduos deixados pelo tiro. Mais especificamente, propôs-se a verificar como está sendo realizada a perícia de Balística no estado do Ceará e a estrutura física e funcional de que dispõe para o atendimento aos pedidos de exames pela autoridade policial e o poder judiciário, identificando as consequências de um pedido mal elaborado para o inquérito ou processo criminal. Adotou-se como metodologia para a concretização desses objetivos a realização de um estudo exploratório-descritivo, de natureza qualitativa, em duas fases: na primeira, buscou-se coletar, mediante a realização de uma pesquisa bibliográfica e documental na literatura, legislação e doutrina já produzida sobre a temática, os dados necessários à construção de um referencial teórico consistente; na segunda, inseriu-se no campo objeto deste estudo para buscar, in loco, informações que trouxessem luz aos questionamentos propostos, mediante a aplicação de uma entrevista com o profissional responsável pelo Núcleo de Balística do estado do Ceará. Concluiu-se pela presença cada vez mais inexpressiva do exame de microcomparação balística como meio de prova nos processos criminais em razão da falta de recursos humanos, materiais e infraestrutura adequada para a sua realização nos moldes exigidos pela legislação, situação agravada quando se leva em conta que o número de homicídios por arma de fogo, no estado, cresce significativamente a cada dia. Palavras-chave: balística forense – armas de fogo – meios de prova – perícia – criminalística – medicina legal.
.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 09
1 BALÍSTICA FORENSE, ARMAS DE FOGO E OS COMPONENTES
DE UMA MUNIÇÃO...............................................................................
11
1.1 CONCEITO DE BALÍSTICA FORENSE................................................ 11
1.2 DIVISÕES DA BALÍSTICA FORENSE.................................................. 12
1.3 CONCEITO DE ARMA........................................................................... 13
1.4 CONCEITO DE ARMA DE FOGO......................................................... 14
1.5 CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ARMAS DE FOGO............................. 14
1.6 COMPONENTES DE UMA MUNIÇÃO.................................................. 23
1.6.1 Estojo..................................................................................................... 24
1.6.2 Espoleta................................................................................................. 25
1.6.3 Pólvora................................................................................................... 26
1.6.4 Projétil.................................................................................................... 27
2 LESÕES E EFEITOS PRODUZIDOS PELO DISPARO DE ARMA DE
FOGO....................................................................................................
29
2.1 ORIFÍCIO DE ENTRADA....................................................................... 29
2.1.1 Orla de contusão................................................................................... 32
2.1.2 Orla de enxugo...................................................................................... 32
2.1.3 Orla de equimose.................................................................................. 32
2.1.4 Zona de chama ou queimadura............................................................. 33
2.1.5 Zona de esfumaçamento ou falsa tatuagem......................................... 34
2.1.6 Zona de tatuagem.................................................................................. 35
2.2 TRAJETO.............................................................................................. 36
2.3 ORIFÍCIO DE SAÍDA............................................................................. 39
2.4 DISTÂNCIAS DO TIRO......................................................................... 41
2.4.1 Tiro encostado....................................................................................... 42
2.4.2 Tiro a curta distância............................................................................. 43
2.4.3 Tiro distante........................................................................................... 45
3 A PERÍCIA FORENSE NA INTERLIGAÇÃO ENTRE A ARMA E O
CRIME...................................................................................................
46
3.1 A PERÍCIA FORENSE COMO MEIO DE PROVA................................. 46
8
3.2 IDENTIFICAÇÃO DO ATIRADOR PELOS RESÍDUOS DO TIRO........ 49
3.3 IDENTIFICAÇÃO DA ARMA DE FOGO PELOS COMPONENTES DA
MUNIÇÃO..............................................................................................
51
4 A JUSTIÇA E A BALÍSTICA FORENSE NO ESTADO DO CEARÁ...... 54
4.1 O LAUDO PERICIAL DE BALÍSTICA FORENSE................................. 54
4.2 ESTRUTURA DA PERÍCIA FORENSE NO ESTADO DO CEARÁ....... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 63
APÊNDICE........................................................................................................... 67
APÊNDICE A - Entrevista com a Dra Luciana Canito, Perita chefe do Núcleo
de Balística da Perícia Forense do estado do Ceará (PEFOCE)........................
68
9
INTRODUÇÃO
A violência, no Brasil, vem crescendo de maneira significativa a cada dia.
Frequentemente, telejornais noticiam homicídios praticados sob os mais variados
tipos e formas, produzindo uma sensação de insegurança na sociedade, como um
todo, e descrédito na polícia e no poder judiciário.
No estado do Ceará a situação não é diferente. A título de ilustração, de
acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS)
(HOMICÍDIOS..., 2010), o número de homicídios no período de janeiro a março de
2010 (794) cresceu 52,9% em relação ao mesmo período de 2009 (mais de 519).
Segundo matéria publicada pelo jornal O Povo em 28 de maio de 2010
(HOMICÍDIOS..., 2010), uma pesquisa realizada pelas Nações Unidas denuncia que
92,5% da população cearense consideram que a violência cresceu ultimamente,
revelando que as políticas adotadas pelo poder público não estão conseguindo
barrar o avanço criminal.
Em relação aos homicídios à bala, verifica-se que o acesso cada vez mais
fácil à arma de fogo associado à disputa acirrada entre traficantes pelos pontos de
comercialização de drogas vem ceifando dezenas de vidas a cada semana no
estado. Somente no final de semana do período do dia 22 de maio de 2010 á meia
noite do dia 23 de maio de 2010, das 18 pessoas mortas, vítimas da violência na
grande Fortaleza, 14 o foram por armas de fogo, sendo lavrado o auto de prisão em
flagrante em apenas dois deles. (HOMICÍDIOS..., 2010)
O número de apreensões de armas de fogo na região metropolitana de
Fortaleza no ano de 2008 teve um aumento de 30% em relação a 2007, sugerindo,
assim, a falta de eficiência das políticas públicas adotadas para uma possível
diminuição da crescente violência no estado. (CEARÁ..., 2009)
Diante desses calamitosos números, a sociedade pede uma solução
rápida e eficiente das autoridades competentes, assim como a devida punição para
os culpados. Mas, para que se possa chegar a uma punição eficiente representativa
da justiça que se deseja seja efetivada há que se dispor de provas irrefutáveis, o que
apenas uma perícia bem equipada e bem realizada poderá proporcionar.
Para a Justiça, a Balística Forense desempenha um importante papel na
elucidação dos crimes praticados com o emprego de armas de fogo, fornecendo os
10
meios de convencimento acerca da autoria do disparo e de sua origem, identificando
se a arma daquele acusado expeliu ou não o projétil que veio a provocar a morte da
vítima, oferecendo provas suficientes para que a Justiça venha a absolver ou
condenar aquele acusado com segurança.
A Balística Forense compreende o estudo bastante detalhado das armas
de fogo, assim como de suas munições e das lesões e características provocadas
pelo tiro, sempre que houver relação direta ou indireta com alguma infração penal,
visando sempre esclarecer e provar sua ocorrência. Neste trabalho, pretende-se
discorrer não apenas sobre o que vem a ser arma de fogo, mas também acerca de
todo o percurso trilhado pelo projétil desde a saída da boca do cano da arma até a
sua identificação com a arma que o disparou, e os efeitos que produziu em seu
percurso. Pretende-se, ainda, verificar como está sendo realizada essa perícia no
estado do Ceará e a estrutura física e funcional de que dispõe, destacando-se as
qualidades e defeitos deste importante instituto pericial chamado Balística Forense.
11
1 BALÍSTICA FORENSE, ARMAS DE FOGO E OS COMPONENTES DE UMA
MUNIÇÃO
Aqui neste primeiro capítulo aborda-se a Balística Forense, discorrendo-
se sobre seu conceito, divisões e classificações, como também sobre armas de fogo
e munições, cujas particularidades serão descritas na continuidade.
1.1 CONCEITO DE BALÍSTICA FORENSE
Aduz Domingos Tocchetto (2006, p. 03) que:
Balística Forense é uma disciplina, integrante da criminalística, que estuda as armas de fogo, sua munição e os efeitos dos tiros por elas produzidos, sempre que tiverem uma relação direta ou indireta com infrações penais, visando esclarecer e provar sua ocorrência.
Por meio dos exames, das perícias, a Balística Forense não só visa
provar as infrações penais cometidas com o emprego de arma de fogo, mas
também, e principalmente, esclarecer a maneira como ocorreram tais infrações. A
Balística Forense possui um conteúdo eminentemente técnico, mas com uma
finalidade jurídica e penal, motivo pelo qual recebe a denominação de forense.
A Balística Forense assume um valor um tanto especial no meio jurídico,
porquanto, além de servir como meio de prova, decide, em muitos casos, a
condenação ou absolvição de um determinado acusado que cometeu infração penal
com arma de fogo.
Vinda da Medicina Legal, situada no capítulo da Traumatologia Forense, a
Balística Forense passou, posteriormente, a se desenvolver dentro da criminalística,
integrando, atualmente, o conteúdo dessas duas ciências.
Nesse sentido, Armando Hermes Ribeiro Samico explica que:
A Criminalística, a mais nova, como ciência de aplicação, que a medicina legal, herdou da mais anciana, o mesmo método de conduta, as mesmas normas deontológicas, o mesmo interesse de servir e o mesmo amor a justiça. A par disso, formulou através dos tempos suas regras específicas, técnicas e táticas, buscando contribuir para o estabelecimento da verdade, em suas funções de auxiliar a justiça.
12
Ao longo dos anos, a Balística Forense atingiu uma extensão e
complexidade tais que justificam o seu tratamento como disciplina autônoma, tanto
nos conteúdos, quanto nos métodos de investigação e de pesquisa.
1.2 DIVISÕES DA BALÍSTICA FORENSE
Para Tocchetto (2006), a Balística Forense é uma ciência que estuda as
armas de fogo, o alcance e a direção dos projéteis por elas expelidos, e os efeitos
produzidos, podendo ser dividida em Balística interna, Balística externa e Balística
dos efeitos. A Balística interna ou interior é a parte da Balística que estuda toda a
estrutura, os mecanismos e o funcionamento da arma de fogo, as técnicas de tiros,
os efeitos da detonação da espoleta e da deflagração da pólvora dos cartuchos, até
a saída do projétil da boca do cano da arma. A balística interna, além de estudar a
arma e seus mecanismos, analisa também o tipo de metal utilizado em sua
construção e sua resistência às pressões desenvolvidas em razão do tiro.
Rabello (1982) revela que, quando efetuado um disparo, ocorre no
cartucho a combustão da pólvora, uma reação química que gera, quase
instantaneamente, uma grande quantidade de gases, em alta temperatura. A força
expansiva destes gases fornecerá energia suficiente para que o projétil seja
expelido. A balística externa ou balística exterior estuda a trajetória do projétil desde
a sua saída da boca do cano da arma até a parada final. Analisa as condições do
movimento, a forma do projétil, a velocidade inicial, a massa, a resistência do ar e a
ação gravitacional. A balística externa é muito utilizada na área militar, pois lá se
analisa o ângulo do tiro, o alcance útil, o alcance máximo ou real e o alcance com
precisão, em detalhes, por seus interesses estratégicos.
Rabello (1982) ainda aduz que a Balística dos efeitos, também chamada
de Balística terminal, estuda os efeitos produzidos pelo projétil desde que abandona
a boca do cano até atingir o alvo, contemplando, nesse trajeto, possíveis ricochetes,
perfurações, impactos e lesões externas ou internas nos corpos atingidos como
objetos de estudo. Ocorre que, quando o alvo atingido por um projétil for um ser
humano, o estudo dos efeitos nele produzidos, em especial as lesões traumáticas,
levará a Balística Forense a se relacionar de forma direta com a Medicina Legal. Os
vestígios materiais extrínsecos ao ser humano são objetos de estudo da Balística
13
dos efeitos, enquanto os intrínsecos são analisados e estudados pela Medicina
Legal.
1.3 CONCEITO DE ARMA
Conforme discorre Domingos Tocchetto (2006, p. 1), “Arma é todo objeto
que pode aumentar a capacidade de ataque ou defesa do homem.”
Para o mesmo autor (TOCCHETTO, 2006), toda arma tem por objetivo
principal aumentar a capacidade de ataque ou defesa do indivíduo que a porta.
Alguns objetos são feitos pelo homem com a finalidade específica de serem usados
como arma, caso em que recebem a denominação de armas próprias. Outros
objetos, no entanto, que podem ser usados por indivíduos para matar e ferir seus
semelhantes. são fabricados pelo homem não com o intuito e finalidade de serem
usados como armas, de aumentar sua capacidade de ataque ou defesa, mas como
utensílios, de uso doméstico ou industrial, para facilitar a sua vida. É o caso do
martelo, do machado e da foice, só para citar alguns exemplos, que recebem a
denominação de armas impróprias. Há que se mencionar, por pertinência, o hábito
de algumas pessoas de carregarem, no interior de seus veículos, uma chave de
fenda, com a finalidade de utilizá-la para defesa ou ataque, considerada, devido á
forma de sua utilização por essas pessoas, não mais como arma imprópria, e sim,
arma própria.
Tocchetto (2006) ainda explica que as armas próprias compreendem duas
categorias: armas manuais e armas de arremesso. As manuais, como o nome já
indica, necessitam da força manual do indivíduo para o seu funcionamento, mais
precisamente, do prolongamento do braço, sendo usadas no combate corpo a corpo.
Pode-se mencionar como exemplos de armas manuais o punhal, a espada e a
grande maioria das armas brancas, ou seja, qualquer objeto simples constituído por
ponta ou lâminas, servido para defesa ou ataque. Já as armas de arremesso são
aquelas cujos efeitos, ora como expelidoras de projéteis, ora atuando elas próprias
como projéteis, são produzidos a distância de quem as utiliza. Integram esse último
grupo o dardo e a granada de mão, lançados diretamente pela mão do atirador,
motivo pelo qual são consideradas como armas de arremesso simples. As armas de
arremesso complexo, quando produzidas para expelir projéteis, são compostas de
14
um aparelho arremessador, tais como as pistolas, revólveres, fuzis, metralhadoras,
espingardas e carabinas.
Pode-se ainda classificar as armas, de acordo com as lesões que
produzem, em cortantes, perfurocortantes, cortocontundentes, perfurantes,
contundentes e perfurocontundentes. Para o estudo da Balística Forense vai
interessar as armas classificadas como perfurocontundentes, em cujas lesões,
provocadas por objeto perfurocontundente, ocorrem a perfuração e a ruptura dos
tecidos, com ou sem laceração e esmagamento, típicas dos efeitos produzidos pelos
projéteis de arma de fogo.
1.4 CONCEITO DE ARMA DE FOGO
Rabello (1982) ensina que as armas de fogo são armas de arremesso
complexo que, para expelir seus projéteis, utilizam a força expansiva dos gases
resultante da combustão da pólvora. Seu funcionamento, a princípio, não depende
da força física do homem.
Para França (2008, p. 72), as armas de fogo:
São peças constituídas de um ou dois canos, abertos numa das extremidades e parcialmente fechados na parte de trás, por onde se coloca o projétil, o qual é lançado a distância através da força expansiva dos gases pela combustão de determinada quantidade de pólvora.
Neste mesmo raciocínio, Rabello (1982) demonstra que são considerados
elementos essenciais de uma arma de fogo o aparelho arremessador, ou seja, a
arma propriamente dita, e a carga de projeção que, no caso, são a pólvora e o
projétil, integrando, na maioria dos casos, o cartucho. A combustão da carga de
projeção dará origem aos gases que, expandindo-se, irão produzir pressão contra a
base do projétil, expelindo-o através do cano e o lançando ao espaço, para que
venha a produzir os efeitos desejados por quem o disparou, a distância.
1.5 CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS ARMAS DE FOGO
Vários autores já tentaram estabelecer uma classificação das armas de
fogo, sem muito sucesso, porquanto deparam sempre com um problema comum em
15
qualquer tipo de classificação: a dificuldade para se estabelecer os critérios a serem
adotados. Tais critérios, na classificação das armas de fogo, terão que estar
intrinsecamente relacionados às próprias armas para serem elementos específicos e
diferenciadores, não vindo a consistir uma mera divisão empírica, mas uma
classificação corretamente técnica que possua, além disso, valor prático.
Rabello (1982), ciente das dificuldades mencionadas, fundamenta-se em
cinco critérios específicos e diferenciadores, independentes entre si, para
estabelecer sua classificação dessas armas: alma do cano; sistema de
carregamento; sistema de inflamação; funcionamento e, por fim, mobilidade e uso.
Em sua classificação, o autor seguiu, nos quatro primeiros critérios, uma
ordem cronológica de acordo com a evolução da arma de fogo. Assim, se as armas
de fogo foram consequência da invenção da pólvora, sua evolução esteve sempre
atrelada a ela. (RABELLO, 1982)
Na classificação das armas de fogo quanto à alma do cano, leva-se em
conta o fato de que são fabricadas a partir de um cilindro, constituído em aço,
usinado, perfurado longitudinalmente, em sua região mediana, por uma broca. Caso
esse cano, após ser perfurado, venha a ser calibrado e depois polido, estar-se-á
diante de um cano de alma lisa. As armas que se utilizam desse cano são
classificadas como armas de alma lisa. (Figura 1.1)
Figura 1.1: Cano de alma lisa Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
A grande maioria das espingardas é dotada de cano com alma lisa,
podendo apresentar, ou não, um estrangulamento próximo à boca do cano,
denominado choque. Esse estrangulamento serve para um melhor agrupamento dos
16
projéteis, visto que esses tendem a se expandirem conforme se distanciam da boca
do cano da arma. Os tipos de choque podem ser visualizados na Figura 1.2.
Figura 1.2: Tipos de chokes Fonte: PROVAS..., 2009.
De acordo com Tocchetto (2006), existem tipos de canos sobre os quais,
depois de confeccionados, podem ser insculpidos, mediante uma ou mais brocas
especiais, sulcos paralelos ou helicoidais, denominados de raias, razão pela qual as
armas com esse tipo de cano classificam-se como armas de fogo de alma raiada. A
razão de existirem, segundo Cavalcanti (1996), está em que, quando ocorre um
disparo de arma de fogo, em média, nas armas curtas, o projétil sai da boca do cano
da arma com uma velocidade aproximada de 310 m/s, necessitando girar em torno
de seu próprio eixo para que mantenha sua estabilidade e trajetória; esse
movimento giratório é impresso pelas raias.
Pode-se citar como exemplos dessas armas revolveres, pistolas,
submetralhadoras, rifles, carabinas e fuzis. Há também as armas de alma mista, que
possuem tanto cano de alma lisa quanto cano de alma raiada, como o modelo
Apache, marca Rossi, com dois canos sobrepostos, o superior de calibre 22 (cano
raiado) e o inferior, de calibre 36 (de alma lisa).
17
Rabello (1982) informa que os raiamentos das armas de fogo são
projetados e fabricados de acordo com os critérios estabelecidos por cada
fabricante, em especial quanto ao número, orientação, se para a direita ou para a
esquerda (dextrogira ou sinistrogira), largura, profundidade e ângulo de inclinação. A
quantidade de raias mais utilizadas por esses fabricantes é a de cinco ou seis, no
entanto, existem canos também com quatro, sete, oito, nove, dez e doze raias. A
indústria Forja Taurus S.A. produz, simultaneamente, armas com quatro, cinco ou
seis raias. A Taurus fabrica o revólver calibre .30, Carbine, com quatro raias;
revólveres calibres .32, S&WL, .38, Special, .357, Magnum e .44, Magnum, com
cinco raias; e o restante dos calibres das pistolas, revólveres, rifles, carabinas e
submetralhadoras, com seis raias, estes últimos sempre orientados dextrogiramente.
O que predomina na orientação das raias das armas curtas e longas é o dextrogiro,
isso é, o giro no sentido horário. Há indústrias que também fabricam armas cujas
raias são sinistrogira, ou seja, giram no sentido anti-horário. (Figuras 1.3 e 1.4)
Figura 1.3: Cano de alma raiada Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
Figura 1.4: Orientação das raias Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
ORIENTAÇÃO DESTROGIRA: Sentido de giro horário ou para a direita.
ORIENTAÇÃO SINISTROGIRA: Sentido de giro anti-horário ou para a esquerda.
18
Na classificação quanto ao sistema de carregamento, Tocchetto (2006)
ensina que o ato de municiar consiste na introdução de munição, feita por um
indivíduo, nas câmaras do tambor de um revolver ou no pente de uma pistola, assim,
podemos dizer que esta arma está municiada. Mas quando um indivíduo faz o
carregamento, ou seja, põe carga, coloca cartucho ou munição na câmara de
combustão de um revolver ou no pente de uma pistola que, ao acionar o gatilho,
vem a disparar, pode-se dizer que esta está carregada. Vale ressaltar que nem
sempre uma arma municiada estará, ao mesmo tempo, carregada.
Rabello (1982) lembra que, nas primeiras armas de fogo, fixas ou
portáteis, o carregamento era bastante demorado. Nas armas de antecarga, o
carregamento era feito pela extremidade anterior do cano (boca), sendo necessário
grande mobilidade e uso de instrumento para que pudesse ser realizado. Era comum
o uso de uma vareta para socar a pólvora e o restante da carga. Esse tipo de arma
caiu em desuso, no Brasil, sendo atualmente fabricada somente artesanalmente em
alguns estados, sobretudo para utilização na caça, principalmente na região
nordeste. (Figura 1.5)
Figura 1.5: Arma de antecarga Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
Com a invenção do cartucho, cilindro metálico contendo, em seu interior,
a espoleta (carga de inflamação), a pólvora (carga de detonação) e o projétil,
surgiram as armas de retrocarga (Figura 1.6). Nelas, o cartucho é colocado na
câmara, localizada na parte posterior do cano. Nos revólveres, ficam alojados nas
câmaras do tambor e, na maioria das pistolas, no carregador ou pente. Ao longo do
tempo, as armas de alma lisa e de antecarga foram, aos poucos, substituídas por
armas de alma raiada e de retrocarga. (RABELLO, 1982)
19
Figura 1.6: Arma de retrocarga Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
Na classificação quanto ao sistema de inflamação, observa-se toda a
evolução histórica do sistema de inflamação das armas de fogo. O primeiro sistema
utilizado nas primeiras armas de fogo foi o sistema de inflamação por mecha,
bastante complexo e perigoso, pelo risco de queimaduras que podia acarretar para o
atirador. Com essas particularidades, foi substituído pelo sistema de inflamação por
atrito, mediante a utilização do fecho de miquelete ou do fecho de roda, ambos
obsoletos, na atualidade. Rabello (1982) comenta que, com o surgimento do
cartucho, o sistema de inflamação acompanhou a evolução da pólvora. As primeiras
armas utilizavam a pólvora preta, mistura manual de salitre, enxofre e carvão. Para
que pudesse inflamar, era necessária a “comunicação” do fogo diretamente com a
mistura (pólvora), motivo pelo qual aquelas armas eram dotadas de inflamação por
mecha. O sistema por atrito surgiu para que, com o aproveitamento das faíscas
produzidas pelo contato da ponta do sílex (pedra de fogo) contra uma peça
serrilhada, viesse a inflamar a pólvora por um orifício aberto no cano. (Figuras 1.7 e
1.8)
Figura 1.7: Sistema de inflamação por mecha Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
20
Figura 1.8: Sistema de inflamação por atrito Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
Tocchetto (2006) comenta que o surgimento de certas substâncias, como
fulminato de mercúrio, clorato de potássio e estifinato de chumbo, de inflamação
instantânea, possibilitou a sua colocação em cápsulas de espoletamento, originando
o sistema de inflamação por percussão. Logo após, vieram às pólvoras de base
química, de nitrocelulose ou nitroglicerina, com o que surgiram às armas de
repetição: não automáticas, semiautomáticas e automáticas.
Garcia (2000) classifica as armas de fogo de percussão em extrínsecas,
armas exclusivamente portáteis de antecarga e de percussão nas quais a cápsula
de espoletamento fica na parte externa, de forma isolada, sobre um pequeno tubo
saliente chamado de chaminé, que se comunica por um ouvido com a pólvora (carga
de projeção) contida no interior do cano. A cápsula de espoletamento é detonada
por meio da ação do percussor, que comprime a espoleta contra um tubo de salitre.
Nos dias de hoje, o uso dessas armas é bastante restrito, tendo em vista que a
maioria das armas produzidas é de percussão intrínseca, mais práticas e de fácil
manejo. A munição utilizada é constituída por cartuchos, em que se encontram
embutidos a cápsula de espoletamento ou espoleta. (Figura 1.9)
Figura 1.9: Sistema de inflamação por percussão Fonte: CLASSIFICAÇÃO..., 2009.
21
Em relação aos tipos de cartucho utilizados, Rabello (1982) ensina que
podem as armas ser classificadas em armas de percussão central e de percussão
radial. As armas de percussão central comportam a espoleta no centro do cartucho,
no culote ou base metálica do cartucho. Já as de percussão radial, anelar ou
periférica não possuem espoleta, e a carga de inflamação, que corresponderia à
espoleta, fica alojada em anel, no interior da orla oca do próprio culote do estojo.
Para Rabello (1982), a percussão pode ser direta ou indireta. Quando o
percussor, ou percutor, é o próprio cão, ou nesse está montado, podendo ser fixo ou
móvel, está-se diante da percussão direta. Será indireta quando o percutor for uma
peça retrátil, inerte, apenas acionada pelo impacto do cão, por ocasião do tiro.
O sistema de inflamação por contato elétrico só é utilizado nas bazucas e
em peças de artilharia, assim como na detonação de algum artefato.
Quanto ao sistema de funcionamento, Tocchetto (2006) revela que as
armas podem ser de tiro unitário e de repetição. As primeiras se subdividem em
armas de tiro unitário simples e de tiro unitário múltiplo. Quando uma arma comporta
somente uma carga para um único disparo, necessitando, para seu próximo tiro, que
lhe seja extraído o estojo e introduzida nova carga, manualmente, diz-se que se está
diante de uma arma de tiro unitário simples, como no caso das espingardas de um
cano e das pistolas de tiro unitário. As de tiro unitário múltiplo são compostas por
dois ou mais canos com suas câmaras independentes, servidas, cada uma, por seu
mecanismo de disparo também independente, mesmo em armas que possuem
monogatilho. Funcionam como se fossem duas ou mais armas de tiro unitário
simples montadas em uma só estrutura, denominada de coronha. Nesse caso, pode-
se citar como exemplo a espingarda de dois canos, paralelos ou sobrepostos.
Armas de repetição, por sua vez, são aquelas que comportam carga para
dois ou mais tiros, de carregamento mecânico, podendo possuir dois ou mais canos.
Distinguem-se das armas de tiro unitário múltiplo, pois mesmo providas de dois ou
mais canos, o mecanismo de disparo é um só. (RABELLO, 1982)
As armas de repetição podem ser divididas em não automáticas,
semiautomáticas e automáticas. Não automáticas são aquelas em que os
mecanismos de repetição e de disparo dependem exclusivamente da força muscular
do atirador, como no caso dos revólveres e das carabinas. Nas armas de repetição
semiautomáticas, a força do atirador somente é necessária para o acionamento do
mecanismo de disparo, pois, logo após o primeiro tiro, o sistema de carregamento se
22
aproveita dos gases gerados pela combustão da pólvora para alimentar a arma
novamente. Nesse caso, se enquadra a maioria das pistolas. Por fim, diz-se que as
armas são de repetição automática quando tanto o mecanismo de disparo como o
mecanismo de repetição são acionados pela força expansiva dos gases gerados
pela combustão da pólvora. No caso das armas semiautomáticas, o tiro é
intermitente, ao contrário do que ocorre com a arma automática, que dispõe da
opção do tiro intermitente, do tiro de rajada e do tiro contínuo. (TOCCHETTO, 2006)
Em relação à mobilidade e ao uso, com o passar do tempo as armas de
fogo foram evoluindo também em tamanho. Antigamente, eram tão grandes e
complexas que era necessário mais de uma pessoa para a sua operacionalização.
Nos dias de hoje, a grande maioria das armas é individual, ou seja, um só indivíduo
tem condições de operá-las devido à redução e à modernização dos materiais
utilizados em sua fabricação. (RABELLO, 1982)
Quanto ao uso, para o mesmo autor, podem ser classificadas em armas
de fogo individual e coletivo. Uma arma de fogo será de uso coletivo quando sua
operação, em benefício do grupo, requerer dois ou mais indivíduos, como ocorre
com os canhões. Quando, porém, for utilizada apenas por um indivíduo, essa arma
de fogo é individual.
Quanto à mobilidade, Tocchetto (2006) ensina que classificam-se em
quatro grupos: fixas, móveis, semiportáteis e portáteis. As armas serão fixas quando
estiverem presas em um determinado local, podendo se mover apenas vertical ou
horizontalmente. Como exemplo, tem-se a metralhadora antiaérea e os canhões. As
armas móveis são aquelas que somente poderão ser transportadas de um local para
outro por tração animal, motora ou motriz. Já as semiportáteis dividem-se entre arma
e suporte (morteiro de infantaria e metralhadora pesada), podendo ser deslocadas,
com maior facilidade, por dois ou mais homens, por exemplo. Por último, as armas
portáteis são aquelas facilmente conduzidas por um único indivíduo. Dividem-se em
armas curtas e armas longas. As armas curtas são operadas normalmente por uma
ou duas mãos, não necessitando do apoio no ombro. É uma arma de maior
facilidade de porte e condução, visto seu tamanho reduzido, ao contrário da arma
longa, cuja operação requer o uso das duas mãos e o apoio no ombro. Essa arma
não é utilizada para porte, visto seu tamanho e dificuldade de transporte.
Diante do exposto, não se pode deixar de referir a uma arma de fogo que
não é considerada como tal por usuários e fabricantes, mas que pode ser utilizada
23
para cometer crimes: a ferramenta utilizada na construção civil, nos calibres .22, .32
e .38, para a fixação de pinos em concreto armado e chapas de aço. Uma vez que
os pinos disparados por essa ferramenta têm a capacidade de penetrar em concreto
e aço, o mesmo ocorre no corpo humano, com bastante facilidade. Essa ferramenta
é chamada de fincapinos, e sua comercialização (tanto da ferramenta quanto do
cartucho) é livre de regulamentação e fiscalização.
1.6 COMPONENTES DE UMA MUNIÇÃO
Grande é a variedade de cartuchos que existem no mercado. Cada um
tem suas particularidades quanto à forma, tamanho, poder de disparo e outros.
Em seu livro, Ferreira (1948, p. 189) comenta com precisão a diferença
entre os cartuchos:
Os cartuchos se diferem em forma; tamanho; comprimento; peso; diâmetro; qualidade e quantidade da carga de pólvora; número, forma, peso e natureza do diâmetro dos projéteis; o modo de percussão e a inscrição. A inscrição é abreviada e compreende o nome do fabricante, sua marca comercial, calibre e o tipo da arma a que se destina.
Segundo Tocchetto (2006), o cartucho é uma unidade de munição das
armas de fogo de retrocarga. O primeiro, de Lefaucheux, foi patenteado em 1836,
tendo sofrido, até hoje, várias modificações em relação a sua estrutura e
composição. Atualmente, dividem-se em dois grupos: das almas raiadas, cuja
percussão poderá ser central ou radial, e para armas de alma lisa, em que a
percussão será central. Os cartuchos das armas que possuem o cano raiado, cuja
percussão é central, detêm os seguintes elementos: estojo, cápsula da espoleta com
sua mistura iniciadora (carga de inflamação) ou espoleta, pólvora ou carga de
projeção e, por fim, projétil. A maioria das espingardas, de almas, em sua maioria,
lisas, especialmente as do calibre 12, pode conter em sua munição um único projétil,
chamado de balote, cuja venda é absolutamente restrita devido ao seu alto poder de
impacto/perfuração, podendo transfixar até mesmo a estrutura de alguns carros de
valores. Regra geral, a munição das espingardas detém vários chumbos (projéteis)
de diversos tamanhos, uma bucha e, por vezes, discos de papelão. (Figura 1.10)
24
COMPONENTES:
1 - Estojo.
2 - Espoleta.
3 - Carga de projeção.
4 - Projétil.
Figura 1.10: Componentes de uma munição Fonte: ARMAS..., 2009.
1.6.1 Estojo
Ferreira (1948) revela que nas armas raiadas, os estojos são fabricados
em metal, sem exceção; os estojos das armas de alma lisa podem ser fabricados
inteiramente em metal ou somente sua base, tendo o restante do tubo constituído de
cartão plástico. O estojo é o componente externo do cartucho que tem maior
dimensão, a quem compete dar a dimensão da câmara ou das câmaras de
combustão de uma arma em que for utilizado o calibre nominal.
Para Rabello (1982), as dimensões do estojo, determinadas por seus
comprimentos, diâmetro médio e forma, definirão a capacidade de carga de um
cartucho. Geralmente são fabricados em latão ou cobre, sendo o latão, uma liga de
cobre e zinco, o preferido na fabricação.
Segundo Ferreira (1948), o estojo é cilíndrico ou levemente cônico nos
cartuchos de munição das armas raiadas. Pode ser liso ou estrangulado em sua
região anterior, com gargalo. O estojo cônico tem por finalidade facilitar a extração
da câmara em que estiver alojado, como no caso, por exemplo, das pistolas
semiautomáticas em que, após cada disparo, o projétil é projetado ao alvo e o estojo
é extraído pela garra do extrator para fora da arma, recebendo a câmara um novo
cartucho, pronto para um novo disparo. Os estojos do tipo garrafa são mais
calibrosos do que os projéteis, razão pela qual têm sua região anterior estrangulada
em gargalo. Esse tipo de estojo é geralmente utilizado em cartuchos de grande
potência, encontrados em armas de pequeno calibre e grande potência como os
fuzis, mosquetões, rifles, carabinas e algumas pistolas.
25
Ferreira (1948) ainda ensina que a boca do estojo compreende a parte
superior aberta, na qual é engastado o projétil, que pode ter parte aparente ou não,
dependendo do tipo de munição. Na base do estojo, o chamado culote, contém um
orifício circular para que seja alojada a espoleta ou a cápsula de espoletamento, que
se comunica com o interior do estojo, onde fica a pólvora (carga de projeção), por
um ou dois orifícios. No centro desse orifício poderá haver uma bigorna, cuja função
consiste em, no momento da percussão, receber a compressão da cápsula de
espoletamento, iniciando, assim sua inflamação. O estojo ora citado pertence ao
cartucho do tipo fogo central, em que a espoleta é inserida no orifício circular do
próprio estojo. Existe também o cartucho de fogo circular ou radial, que não possui
espoleta, consequentemente, não possui alojamento para ela. (Figura 1.11)
Figura 1.11: Tipos de estojo Fonte: ARMAS..., 2009.
1.6.2 Espoleta
Tocchetto (2006) ensina que a espoleta consiste em uma pequena
cápsula em forma de um pequeno cubo que tem por função armazenar a mistura
iniciadora, ou seja, a carga de inflamação, para que venha, no momento do disparo,
iniciar a queima da carga de projeção (pólvora). A espoleta pode estar montada no
alojamento no centro do culote do estojo (cartucho de fogo central) ou pode ser
parte integrante do estojo, como no caso dos cartuchos de fogo circular ou radial.
Nesse último caso, tem-se como exemplo os cartuchos de calibre .22 Long Rifle
(.22LR), que não possui cápsula de espoletamento, mas a mistura iniciadora se aloja
na própria orla oca do estojo, em contato direto com a pólvora (carga de projeção).
(Figura 1.12)
26
Figura 1.12: Espoleta de uma munição Fonte: ARMAS..., 2009.
De acordo com Fávero (1991), no momento do disparo a ponta do
percutor da arma (cão) choca-se violentamente contra a cápsula de espoletamento
contra a bigorna do estojo. Com esse esmagamento, a mistura é detonada e assim
produz chamas de alto poder calorífico e de alta pressão, que passam dos orifícios
para a carga de projeção (pólvora) dando início a sua combustão. A pólvora em
combustão produz um grande volume de gases, fazendo com que o projétil seja
expelido através do cano da arma. Além de expelir o projétil, os gases ainda irão
impulsionar o estojo para trás, violentamente, contra a culatra da arma, deixando
sulcos microscópicos da culatra no estojo, servindo, assim, para um futuro exame de
balística (micro comparação).
1.6.3 Pólvora
Segundo Rabello (1982), a pólvora é um combustível sólido, granular,
que, quando entra em combustão, produz quase que instantaneamente uma grande
quantidade de energia calorífica e um grande volume de gases, para que possa
expelir o projétil sem que seja necessária a presença de oxigênio do exterior, pois
seus próprios componentes possuem o oxigênio necessário para a devida
detonação. Com isso, pode-se dizer que a pólvora é o componente ativo do
cartucho. Existem dois tipos de pólvoras: a pólvora preta, ou pólvora com fumaça, e
a pólvora branca ou piroxilada, conhecida também como pólvora sem fumaça ou
pólvora química.
Garcia (2000) explica que a pólvora mais antiga é a pólvora preta, mistura
de salitre, carvão vegetal e enxofre em proporções variáveis. Ao queimar-se, tanto
em espaço livre quanto confinado, produz uma grande quantidade de fumaça.
27
Devido a essa característica, a pólvora preta também é conhecida como pólvora com
fumaça.
Rabello (1982) explica que, em época mais recente, surgiu a chamada
pólvora branca ou sem fumaça, conhecida também como pólvora química. Este tipo
consiste em um ingrediente ativo, a nitrocelulose, menos sensível às variações de
temperatura.
1.6.4 Projétil
Projétil é a parte da munição, instrumento perfurocontundente, expelida
pela força dos gases resultante da detonação da pólvora com o fim de atingir um
determinado alvo.
De acordo com Gomes (1987, p. 559): Os principais movimentos do projétil são os de propulsão ou de deslocamento para frente, que resultam da força expansiva dos gases da pólvora, e o de rotação, que lhe é comunicado pelas ranhuras do cano da arma, visando a vencer a resistência do ar.
Segundo Tocchetto (2006), o projétil pode ser constituído por apenas um
elemento (projétil único) ou por vários (projétil múltiplo). Em regra geral, os cartuchos
de fogo central ou fogo circular são carregados com um único projétil, que poderá
ser, dependendo do tipo e da finalidade da munição, alojado total ou parcialmente no
interior do estojo. É o caso das munições das pistolas, revólveres e algumas
espingardas. Vale ressaltar que os projéteis múltiplos, quando disparados, saem da
boca do cano da arma todos agrupados, e depois começam a separar-se, atingindo
uma área de projeção bem maior, denominada rosa do tiro.
Para Fávero (1991), o que determina a velocidade inicial do projétil é o
tipo de arma, a quantidade de carga de projeção e seu formato, pois quanto maior
for sua velocidade, maior será sua força viva. Ao sair da boca do cano de uma arma,
o projétil poderá encontrar, em sua trajetória, diversos obstáculos, podendo sofrer
uma série de modificações, dentre as quais as mais importantes são: deformação,
esmagamento, fragmentação e desvio de direção. Mesmo que um projétil não atinja
nenhum obstáculo, poderá ele se deformar naturalmente, pois quando a velocidade
ultrapassa certo limite (variável para cada tipo de projétil), a energia cinética do
projétil decresce, podendo desorganizá-lo. (Figura 1.13)
28
Figura 1.13: Detalhamento de um projétil de arma de fogo Fonte: ARMAS..., 2009.
A - OGIVA - Favorece as propriedades balísticas concernentes à resistência do ar.
1 - Anel de Vedamento - Área onde o estojo engasta o projétil.
B - CORPO CILÍNDRICO - Favorece as propriedades balísticas concernentes a arma.
2 - Sulco Serrilhado - Depósito de lubrificante sólido.
3 - Anel de Forçamento - Adere fortemente no raiamento.
C - BASE - Área de aplicação dos gases.
4 - Côncavo da Base - Amplia a área de aplicação dos gases.
29
2 LESÕES E CARACTERÍSTICAS PRODUZIDAS PELO DISPARO DE ARMA DE
FOGO
Devido à mobilidade e ao fácil manuseio, à facilidade com que são
encontradas no mercado clandestino e também aos fatores econômicos, as armas
de fogo curtas são as mais utilizadas pelos criminosos, razão pela qual este trabalho
irá ater-se à análise dos efeitos do tiro produzido por essas armas.
Para Tocchetto (2006), as lesões provocadas por uma arma de fogo
sempre estarão ligadas à munição e à arma utilizada. Com o surgimento de novas
tecnologias produzidas pelas indústrias bélicas, as armas de fogo estão cada vez
mais perfeitas quanto ao ajuste de peças e à utilização de acessórios, como, por
exemplo, os compensadores de recuo e os silenciadores. Isso implica diretamente a
redução do nível de ruído produzido por um disparo, assim como dos resíduos do
tiro expelidos pela boca do cano da arma. Outro fator relevante é o emprego de
cartuchos carregados com projéteis de alta energia, expansivos ou expansivos
fragmentáveis, que inevitavelmente implica o surgimento de lesões com
características diferentes das descritas nos livros de Balística Forense e Medicina
Legal.
França (2008) explica que, ao atingir um corpo humano, os projéteis de
arma de fogo são verdadeiros instrumentos perfurocontundentes produzindo lesões
com características muito peculiares, constantes, quase sempre, de orifício de
entrada, trajeto percorrido, orifício de saída e zonas, que irão depender da distância
da qual o tiro for efetuado. Com a ajuda da Balística e da Medicina Legal, pode-se
estabelecer, em muitos casos, a que distância o disparo foi efetuado.
2.1 ORIFÍCIO DE ENTRADA
O orifício de entrada, também chamado por alguns autores de ferimento
de entrada, poderá ser resultante de tiro encostado, a curta distância ou a distância.
Segundo Gomes (2004), o projétil de arma de fogo comum, como um
objeto perfurocontundente, irá atuar de forma circular sobre a superfície onde sua
ponta romba penetra. No corpo humano, o primeiro plano será a epiderme, depois a
derme. Devido à ação contundente, a epiderme é arrancada, formando-se, com isso,
a chamada orla de escoriação ao redor do orifício de entrada. Devido a sua maior
30
elasticidade, a derme só irá se romper quando o limite dessa elasticidade for
ultrapassado. É devido a esse fato que o orifício de entrada é menor que o calibre do
projétil. O projétil rompe a derme com bastante esforço, levando consigo impurezas
que estavam no cano da arma. Assim, forma-se uma orla chamada de orla de
enxugo, que recebe essa denominação porque é como se o projétil se enxugasse na
derme, transferindo para ela sujeiras como pólvora, material de oxidação do cano,
óleo de limpeza da arma e outros possíveis materiais. (Figura 2.1)
Figura 2.1: Lesão de entrada de projétil de arma de fogo calibre 38 Fonte: Lesões..., 2010r.
Para Croce e Croce Júnior (1998, p. 230), o projétil exerce ação
perfurocontundente, produzindo, na grande maioria das vezes:
Orifício de entrada aparentemente circular, redondo (tiro perpendicular), oval, linear ou em fenda (tiro inclinado ou em região abaulada), lembrando lesão determinada por instrumento perfurante, pois não atuando os gases e demais elementos da munição, o
projétil limitasse a afastar as fibras cutâneas, sem seccioná-las.
Complementando tal raciocínio, Cavalcanti (1996) explica que o orifício de
entrada apresenta as seguintes características: bordas invertidas, orifício geralmente
menor que o de saída, apresentando duas orlas de contusão e enxugo, aqui não
importando a que distância o tiro foi dado; quando for a curta distância, poderá
possuir três zonas, de tatuagem, esfumaçamento e chamuscamento (queimadura).
O autor aqui também revela que a “curta distância” é o cone de impurezas que
atinge o alvo, que, no caso em análise, é a pele.
Gomes (2004) alerta para possíveis casos em que haja modificação do
orifício de entrada, o que ocorre, na maioria das vezes, quando o indivíduo atingido
usava roupa de textura grossa. Ao passar pelo tecido grosso, ou até mesmo quando
atinge um material resistente no bolso dessa roupa, o projétil poderá empurrá-lo para
31
dentro do ferimento, ampliando a orla de escoriação, tornando-a irregular. Caso
semelhante ocorre quando esse disparo penetrar em regiões de dobras naturais,
pescoço, axila, cotovelo e outros. Ao passar por essas regiões, o projétil raspará os
dois lados da pele antes de penetrar na linha de sua união. (Figura 2.2)
Figura 2.2: Lesão de entrada de projétil de arma de fogo calibre 38 à distância, sob a blusa Fonte: Lesões..., 2010.
França (2008) aduz para outro tipo de orifício de entrada, esse bastante
particular, causado por projéteis de alta energia. Esses projéteis atingem
velocidades superiores a 750 mt/seg, causando uma verdadeira destruição dos
tecidos, ossos e músculos, deixando à mostra regiões ou estruturas mais profundas,
com orifícios muito maiores do que os projéteis. O túnel da lesão é formado por uma
vasta laceração de tecidos, mostrando, às vezes, materiais de estruturas vizinhas.
(Figura 2.3)
Figura 2.3: Orifício de entrada e saída produzido por projétil de alta energia (fuzil 7.62) Fonte: Lesões..., 2010.
32
Já os orifícios de entrada provocados por projéteis múltiplos podem
produzir um único ou vários ferimentos com características que irão depender dos
elementos que compõem a carga ou da distância em que o disparo foi efetuado.
2.1.1 Orla de contusão
Segundo Gomes (2004), quando um projétil é disparado por uma arma de
fogo e atinge a pele de um indivíduo, o primeiro plano que ultrapassa é a epiderme,
seguido da derme. Quando a epiderme é arrancada pela ação contundente do
projétil, forma-se ao redor desse ferimento de entrada uma orla de coloração escura,
chamada de orla de contusão. Essa orla estará presente não importa a que distância
foi efetuado o disparo, tornado-se mais nítida quanto mais próximo for o tiro.
Apresenta-se na forma circular quando o disparo for efetuado perpendicularmente
sobre a pele, e ovulada, nos disparos oblíquos.
2.1.2 Orla de enxugo
Para França (2008), a orla de enxugo, ou orla de limpeza, é uma das
características exclusivas do orifício de entrada. Isso se dá pelo fato de as sujidades
do projétil ficarem retidas na pele da vítima durante sua passagem. Com isso, forma-
se essa orla, composta de graxa, sarro de pólvora e outros materiais.
Croce e Croce Júnior (1998, p. 231) explicam que, regra geral:
A orla de enxugo é de cor escura e produzida pelo movimento rotatório do projétil disparado por arma raiada, por adaptação da bala às margens do orifício de entrada enxugando-a dos resíduos de pólvora, graxa, sarro da arma, fragmentos de indumentária etc.
A orla de enxugo estará presente em qualquer distância do disparo,
sendo menos frequente nos tiros encostados. A orla de enxugo obedece ao mesmo
princípio da orla de contusão quanto à caracterização do orifício de entrada, de
formato circular nos disparos perpendiculares à pele, e ovular nos tiros oblíquos.
2.1.3 Orla de equimose
Para França (2008), a zona de equimose estará presente tanto nos
33
disparos efetuados a curta distância quanto nos distantes. Essa mancha de
coloração violácia que se forma ao redor do ferimento de entrada do projétil decorre
da ruptura de capilares, vênulas e arteríolas atingidos pelo projétil. Somente com a
presença da zona de equimose não se pode determinar a que distância da vítima o
tiro foi efetuado, muito menos a direção do disparo. Serve, entretanto, para concluir
se a lesão foi causada quando a vítima estava viva.
2.1.4 Zona de chama ou queimadura
Fávero (1991) define que a zona de chama, também chamada de zona de
queimadura ou zona de chamuscamento, é o resultado dos gases superaquecidos e
inflamados da queima da pólvora em contato com o corpo da vítima, produzindo a
queimadura da pele da região, dos pelos ou até mesmo das vestes da vítima. Essa
zona circunda o orifício de entrada e pode ser percebida nos tiros encostados ou
muito próximos. Ao atingir regiões com pelos e cabelos, haverá a sua crespação,
diferentemente de quando a região atingida for um tecido, no qual podem aparecer
pequenas regiões queimadas. (Figura 2.4)
Figura 2.4: Lesão produzida por entrada de projétil de arma de fogo. Disparo a curta distância (queima roupa). Presença de tatuagem excêntrica, disparo oblíquo Fonte: Lesões..., 2010b.
Tocchetto (2006) ensina que diferença bastante considerável ocorre na
zona de chama nos tiros efetuados com pólvora preta (com fumaça), em que a
quantidade de resíduos sólidos expelidos ainda incandescentes é bastante elevada.
Foi devido a esse motivo que se originou a expressão “tiro à queima-roupa”. Essa
zona será menos intensa quando se utilizar a pólvora química (sem fumaça).
34
França (2008) revela que nos tiros à queima-roupa existe a chamada
zona de compressão de gases. Devido à elasticidade da pele que volta ao normal,
somente é vista nos primeiros instantes no vivo, pois se mostra como uma
depressão da pele em virtude da ação mecânica dos gases que seguem o projétil.
Para Tocchetto (2006: p. 249), “A zona de chama serve para o
diagnóstico do orifício de entrada, da distância e direção do tiro, da quantidade de
carga (pólvora) e do ambiente em que foi realizado o tiro”, razão pela qual é de suma
importância que o médico legista a identifique.
2.1.5 Zona de esfumaçamento ou falsa tatuagem
A zona de esfumaçamento é a zona na qual a fuligem, oriunda da queima
da pólvora, fica depositada ao redor do orifício de entrada. De acordo com Carvalho,
Bruno e Segre (1965, p. 102), a zona de esfumaçamento:
É formada pela deposição da fumaça resultante da combustão da pólvora e terá colorido correspondente à natureza dos produtos químicos empregados para a composição da pólvora, após sua combustão.
Tocchetto (2006) informa que essa zona é formada por resíduos finos e
impalpáveis, sendo facilmente removíveis do orifício de entrada, com uma simples
lavagem. Por essa razão, essa área é também conhecida como zona de tatuagem
falsa, pois a fuligem não fica incrustada na pele da vítima. (Figura 2.5)
Figura 2.5: Lesão produzida por entrada de projétil de arma de fogo. Disparo a curta distância. Esfumaçamento Fonte: Lesões..., 2010e.
Dispõe ainda o autor que, nos disparos perpendiculares, dependendo da
35
distância, a forma dessa zona não se apresentará circular, e sim estrelada ou
ovulada. Sua coloração irá depender do colorido da pólvora e da forma do
residuograma, cujas dimensões e grau de concentração irão determinar os
elementos fundamentais para se chegar a qual direção e distância o tiro foi efetuado
em relação à vítima.
Gomes (2004) ressalta, com bastante importância, que a zona de
esfumaçamento estará presente nos disparos a curta distância. Ocorre que, se o
local atingido estiver coberto por algum tipo de vestimenta, as características do
esfumaçamento ficarão total ou parcialmente retidas na roupa, podendo não ser
percebidas ao redor do orifício de entrada.
2.1.5 Zona de tatuagem
Para Cavalcanti (1996), a zona de tatuagem poderá ser determinada
como falsa ou verdadeira. A zona, quando falsa, é facilmente removida com uma
simples lavagem. Já na verdadeira, os grãos de pólvora ficam incrustados na pele da
vítima, somente sendo retirados por meio de cirurgia plástica. (Figura 2.6)
Fávero (1991, p. 296), assim nos diz:
Essa zona é produzida pelos grânulos de pólvora, queimada ou não que, partindo com o projétil, percutem o contorno do orifício de entrada e se incrustam mais ou menos profundamente na região atingida.
Figura 2.6: Lesão produzida por entrada de projétil de arma de fogo. Disparo a curta distância. Zona de tatuagem Fonte: Lesões..., 2010c.
França (2008) ensina que o halo ou a zona de tatuagem será mais ou
menos arredondado nos tiros perpendiculares, ou de forma crescente, nos
36
inclinados. Nos disparos inclinados, a zona de tatuagem será menos extensa do
lado do ângulo menor de inclinação da arma, e mais intensa do lado de maior
ângulo. Ressalta ainda o autor que a zona de tatuagem é um sinal indiscutível de
disparo a curta distância.
Poderá a perícia determinar a distância exata do disparo fazendo vários
disparos de prova com a mesma arma e o mesmo tipo de munição até chegar a um
halo de mesmo diâmetro que o original. Isso orienta os peritos quanto à posição da
vítima e do autor do disparo. Ocorre que, se a arma dispuser de silenciador ou
compensador de recuo, tanto a zona de esfumaçamento, quanto as zonas de
queimadura e de tatuagem, vêm a sofrer significativas alterações quanto às suas
características.
Tocchetto (2006) explica que os compensadores de recuo são, na maioria
das vezes, localizados em ambos os lados da massa de mira, orifícios produzidos no
cano da arma com a finalidade de permitir uma saída controlada dos gases que
impulsionam o projétil, obtendo, dessa forma, um recuo de cerca de 25% e 30%
menor nos revólveres calibre .38 Special, e de aproximadamente 50%, para
revólveres calibre .357 Magnum e .44. Essa redução confere ao atirador, no
momento do tiro, a possibilidade de uma retomada mais rápida da visada (mira),
permitindo-lhe, assim, efetuar os próximos disparos com maior eficiência de acerto
de alvo.
Quando um disparo é efetuado em uma arma que possui compensador
de recuo, ao invés de os gases e partículas serem projetados para frente, como
ocorre nas armas comuns, em grande parte são projetados para cima através dos
furos do compensador de recuo, fazendo com que o formato do residuograma se
modifique completamente, em especial nos tiros encostados. Já nos tiros a curta
distância, essa modificação pode não ser significativa. Esse residuograma pode
assumir várias formas, de leque, similar a um semicírculo ou de chifres de animal,
dependendo do modelo e marca da arma utilizada.
2.2 TRAJETO
Croce e Croce Júnior (1998) explicam que, ao sair da boca do cano da
arma, o projétil encontra-se com o corpo humano com bastante velocidade e energia
suficiente para penetrar e deixar seu caminho. O trajeto (Figura 2.7) não é nada mais
37
que o segmento percorrido pelo projétil no interior de um determinado corpo, um
pouco diferente da trajetória, que é o percurso percorrido desde a saída da boca do
cano da arma até o seu caminho final. Compete à Medicina Legal o seu exame,
análise e interpretação, pois, em caso de dúvida, a autoridade competente deverá
formular quesitos ao médico legista que realizou a necrópsia, para, com isso, sanar
as dúvidas questionadas.
Para Gomes (2004, p. 200):
Trajeto é a lesão em forma de túnel que une a entrada ao ponto de repouso ou de saída do projétil. Ao longo do trajeto, os tecidos são rompidos de modo semelhante ao que acontece com a pele, diferindo o resultado lesional de acordo com sua textura. Forma-se um espaço real de forma aproximadamente tubular preenchido por sangue e resto de tecidos lacerados.
Figura 2.7: Orifício de entrada e saída de um projétil calibre 38, onde podemos observar o trajeto percorrido Fonte: Lesões..., 2010g.
Gomes (2004) aduz que, no caso dos projéteis mais comuns da maioria
das armas de uso civil, com velocidade por volta de 300 mt/seg, a onda de pressão
provocada pela passagem do projétil tem pouca influência no ferimento produzido,
pois não atinge os tecidos imediatamente vizinhos ao trajeto. Isso se verifica, ao
contrário, quando se trata de projéteis de alta energia, daqueles que atingem
velocidades superiores a 750 mt/seg, que provocam uma onda de pressão que
influencia os tecidos vizinhos, chegando a “rasgá-los” durante seu caminho,
modificando significativamente as características do ferimento, como se pode
perceber na Figura 2.8.
38
Figura 2.8: Trajeto de um projétil de Fuzil 223. Nota-se que o orifício de entrada está acima do joelho, um pouco menos lacerado Fonte: Lesões..., 2010l.
Segundo Gomes (2004), quando o projétil atravessa um corpo, vindo a
transfixá-lo, logo se poderia imaginar uma linha reta ligando o orifício de entrada com
o orifício de saída. Mas ocorre que os trajetos dessas feridas são dos tipos mais
variados. Vão desde linhas retas até curvas criando ângulos dos mais inesperados.
Tudo isso irá depender de vários fatores como: distância do tiro, ângulo de
penetração e região do corpo atingida. Na grande maioria dos casos, os desvios
mais acentuados são provocados pela colisão do projétil com as estruturas ósseas,
forçando-os a desviar.
Tocchetto (2006) explica que, dependendo da região atingida, não
encontrando o projétil resistência maior nos tecidos e tendo energia suficiente para
transfixar o corpo, pode-se extrair seu trajeto traçando uma linha reta entre o orifício
de entrada e o orifício de saída. Nos casos em que o projétil encontra uma
resistência mais dura, como um osso ou tendão, por exemplo, chegando a
ricochetear, mudar de direção, esse percurso poderá ser bastante alterado. Nesse
caso, a linha que representa o trajeto não poderá ser uma reta, pois deverá partir do
orifício de entrada, passar pelo ponto do desvio ou ricochete e ir até o orifício de
saída, formando, assim, um ângulo.
Para Cavalcanti (1996), a verdadeira trajetória depende da posição do
atirador e da vítima no momento do disparo. E será de suma importância que o
médico legista, durante uma necrópsia, determine que trajeto o projétil percorreu e
sua trajetória, para com isso determinar em que posição estava a vítima no momento
do disparo. Isso dará aos peritos fundamentos importantes para que possa concluir
se a vítima praticou suicídio, se foi um homicídio sem chance de defesa ou acidente.
(Figura 2.9)
39
Figura 2.9: Guia de trajeto de projétil de arma de fogo Fonte: Lesões..., 2010i.
Gomes (2004) atenta para o fato de uma possível fragmentação do
projétil, ou seja, o próprio projétil poderá se dividir em vários pedaços e ampliar a
área da lesão. Tal fragmentação poderá ser provocada pelo impacto do projétil em
um osso ou até mesmo por sua baixa consistência, daí, poderá o médico legista
deparar com um ou vários trajetos. Grande dificuldade será para o médico legista
determinar o trajeto de uma vítima quando alvejada com vários disparos, porquanto,
na maioria dos casos, os ângulos se cruzam impossibilitando, por vezes, determinar
uma avaliação precisa, sendo o mais aconselhado mapear os orifícios de entrada e
os orifícios de saída antes de se iniciar a autópsia.
Caso um projétil fique retido no corpo da vítima, terá que ser retirado o
mais delicadamente possível, pois a identificação da arma poderá ser feita por meio
de exames feitos no próprio projétil. Não deverá ser retirado com instrumentos
metálicos e nem ser rastreado com sonda feita de metal, pois isso alteraria suas
características, fazendo com que o exame de balística viesse a se tornar duvidoso.
2.3 ORIFÍCIO DE SAÍDA
Quando um determinado projétil possui energia suficiente para transfixar
um determinado corpo, irá deixar um orifício de saída maior do que o de entrada,
irregular, com bordas dilaceradas e reviradas para fora, ou seja, evertidas.
Segundo França (2008, p.100):
40
Orifício de saída, também chamado de lesão de saída, são as feridas produzidas por projéteis de arma de fogo que, tem forma irregular, bordas reviradas para fora, maior sangramento e não apresenta orla de escoriação nem halo de enxugo e nem a presença dos elementos químicos resultantes da decomposição da pólvora.
França (2008) ensina que o orifício de saída consiste em feridas
irregulares em forma de fenda ou desgarro, cujo diâmetro será maior que o do
orifício de entrada, pois o projétil nunca sairá da mesma forma que entrou. Como a
ação do projétil se processa ao contrário da que se verifica na entrada, de dentro
para fora, o orifício de saída tem as bordas irregulares e reviradas para fora,
possuindo um maior diâmetro, o que faz com que essa área possua um maior
sangramento devido a um maior fluxo sanguíneo. Nesse tipo de ferimento não há de
se encontrar halo de enxugo, pois toda impureza do projétil ficou retida durante a
passagem pelo corpo. Também não se irá encontrar nenhum vestígio de
decomposição da pólvora, visto que esta ficará no orifício de entrada ou um pouco
no trajeto, quando o disparo for encostado. (Figura 2.10)
Figura 2.10: Orifício de saída de projétil de arma de fogo por calibre 38 Fonte: Lesões..., 2010j.
Devido a sua alta energia, quando um projétil atinge um determinado
corpo vem a se deformar, sofrendo aumento em sua ponta romba, um ligeiro
achatamento na ponta do projétil. Isso aumenta o diâmetro do trajeto e ainda um
pouco mais no orifício de saída. Vale ressaltar que isso se dá nos projéteis de baixa
energia, pois há casos curiosos de projéteis de alta energia que, quando transfixam
dois corpos, pode o orifício de entrada do segundo atingido ser maior do que o
orifício de saída, em face de o projétil sofrer uma rotação de até 90º, reencontrando-
se, assim, com seu verdadeiro eixo. (Figura 2.11)
41
Figura 2.11: Orifícios de entrada e saída produzidos por projétil de alta energia, em dois corpos Fonte: Tocchetto, 2006, p. 264.
Gomes (2004) revela a possibilidade de tanto o orifício de saída quanto o
de entrada possuírem bordas evertidas, nos casos de tiros efetuados na cabeça da
vítima devido à hipertensão intracraniana e à eliminação de tecidos lacerados por
ambos.
Já Tocchetto (2006) conduz para uma possível situação em que se pode
deparar com um orifício de entrada e dois ou mais de saída. Isso ocorre quando o
projétil, ao bater em um osso, por exemplo, se fragmenta e cada pedaço em que se
dividiu produzirá seu próprio orifício de saída, assim como pode ocorrer, também,
com o fragmento do osso.
Para Fávero (1991, p. 304), “o orifício de saída é produzido pelo projétil
propriamente dito, isoladamente ou reforçado por corpos outros que a ele se
juntarem no decorrer do trajeto (vestes, botões, ossos, dentes)”.
2.4 DISTÂNCIAS DO TIRO
Tocchetto (2006, p. 256) explica que:
Por meios de exames das lesões produzidas por armas de fogo (projéteis e chumbos) e do estudo dos resíduos dos tiros encontrados junto às lesões, nas vestes da vítima ou no alvo, pode-se determinar a distância do tiro, o orifício de entrada e de saída, sua direção, trajetória e trajeto.
Quando ocorre um disparo, a quantidade de resíduos e a lesão provocada
sempre irão depender da distância entre a boca do cano da arma e a vítima. Essa
distância será calculada diante dos efeitos provocados pelo tiro, seja esse primário
ou secundário. Os efeitos primários serão aqueles provocados pela própria ação
perfurocontundente do projétil, ou seja, pela ação mecânica. Já os efeitos
42
secundários são aqueles provocados pelos gases provenientes da queima da
pólvora, pelos resíduos em combustão e até mesmo por pequenas partículas do
projétil.
Tocchetto (2006) mostra que, diante dos efeitos primários e secundários,
pode-se classificar o tiro como encostado, a curta distância e distantes, como se
verá a seguir.
2.4.1 Tiro encostado
Tocchetto (2006) explica que o tiro encostado (Figura 2.12) é aquele em
que o agressor apoia a boca do cano da arma no corpo da vítima, fazendo com que
a lesão seja provocada tanto pela ação perfurocontundente do projétil, quanto pela
ação dos gases em alta energia oriundos da detonação da pólvora.
Nos tiros encostados, o projétil penetra juntamente com os gases
superaquecidos resultantes da queima da pólvora, produzindo um orifício de entrada
com forma irregular e de diâmetro maior que o projétil. Isso ocorre devido à vedação
que é criada entre a pele da vítima e a boca do cano da arma, pois, no momento do
disparo, parte dos gases em alta energia escapa por essa vedação, fazendo com
que a pele seja rasgada em torno do orifício de entrada.
Nesse tipo de tiro, ao redor do ferimento de entrada nota-se uma
creptação gasosa da tela subcutânea proveniente da infiltração dos gases. Aqui não
se encontra área de esfumaçamento, muito menos zona de tatuagem, pois todos os
elementos da detonação irão penetrar juntamente com o projétil e, por isso, suas
vertentes mostram-se enegrecidas e desgarradas, com aspecto de cratera de mina.
Nos disparos efetuados em estruturas ósseas como costelas, crânio e escápulas,
pode-se encontrar um halo fuliginoso na lâmina externa do osso referente ao orifício
de entrada (sinal de Benassi). Também se pode deparar com uma “impressão”, na
pele da vítima, deixada pela boca do cano da arma e da massa de mira, ou da guia
da mola recuperadora, que tanto pode ser pela ação contundente como pelo
aquecimento dessas peças (sinal de Werkgaertner). (FRANÇA, 2008)
43
Figura 2.12: Disparo de arma de fogo encostado. Câmara de mina de Hofmann e sinal de Benassi Fonte: Lesões..., 2010k.
Para Gisbert Calabuig (2004), será de suma importância para um seguro
diagnóstico de tiro encostado encontrar a presença de carboxiemoglobina no sangue
do ferimento, assim como de nitratos da pólvora, nitritos de sua degradação e
enxofre decorrente da combustão da pólvora.
Sobre os novos conceitos de distância de tiro e de ferimentos de entrada
em tiros próximos, França (2008, p. 104) ensina que:
As armas que apresentam compensadores de recuo alteram profundamente o formato do residuograma e deixam de apresentar os formatos habituais nos tiros encostados ou bem próximos ao alvo. Assim, por exemplo, os ferimentos em „boca de mina‟ nos tiros encostados não são encontrados quando as armas que os deflagram apresentam os compensadores de recuo, isso em virtude da dispersão dos gases pelos furos da extremidade distal do cano da arma.
2.4.2 Tiro a curta distância
França (2008, p. 95) explica que:
Os ferimentos de entrada nos tiros a curta distância podem mostrar: forma arredondada ou ovular, orla de escoriação, bordas invertidas, halo de enxugo, halo de tatuagem, orla de esfumaçamento, zona de queimadura, aréola equimótica e zona de compressão de gases.
Pode-se dizer que o tiro foi efetuado a curta distância quando se
encontra, no orifício de entrada, além do ferimento provocado pelo projétil, lesões
provocadas pelos gases, resíduos de combustão ou semicombustão da pólvora
expelidos pelo cano da arma. Quando, nesse tipo de ferimento, além das zonas de
esfumaçamento e de tatuagem encontra-se também pelos e cabelos chamuscados,
44
crestados, e/ou roupas e pele queimada, esse tiro será chamado de tiro à queima
roupa.
Gomes (2004) mostra que, quando efetuado um disparo, cria-se na frente
da boca do cano da arma um cone de explosão, composto de gases superaquecidos
(chama), resíduos da combustão (fuligem) e grãos de pólvora incombusta ou em
combustão. Ocorre que, ao longo do trajeto, esses elementos vão desaparecendo
conforme a distância entre a boca do cano da arma e a vítima. O elemento que tem
o menor alcance é a chama, que vem a queimar as vestes, pelos ou pele da vítima.
Por seguinte vem a fuligem, que pode se depositar na vítima causando a zona de
esfumaçamento, cuja orla terá uma cor acinzentada mais ou menos escura, variando
de acordo com a pólvora utilizada, bastando uma simples lavagem para sua retirada.
Já os grãos de pólvora que estão ou não em combustão terão o maior alcance. Eles
conseguem atingir o corpo da vítima de forma a atravessar a epiderme e ficarem
incrustados na derme, formando, assim, a zona de tatuagem, que pode vir a se
constituir na única prova de que o tiro foi efetuado a curta distância. Não se pode
jamais esquecer que as orlas características dos tiros a curta distância (zona de
esfumaçamento e de tatuagem) poderão estar presentes somente nas vestes da
vítima, podendo não ser percebidas ao redor do orifício de entrada. (Figura 2.13)
Figura 2.13: Disparo de arma de fogo a curta distância Fonte: Lesões..., 2010q.
França (2008) aduz que para esse tipo de tiro não existe uma distância
exata entre a boca do cano da arma e o alvo, sendo o conceito de tiro a curta
distância eminentemente prático, se admitindo até quando se evidenciarem os
efeitos secundários.
45
2.4.3 Tiro distante
Tocchetto (2006, p. 263) esclarece que:
Tiro distante ou à distância é aquele desferido contra alvo situado dentro dos limites da região espacial varrida por grãos de pólvora comburida ou incombusta e por fragmentos do projétil (chumbo ou latão) expelidos pelo cano da arma, ou somente pelo projétil.
Quando um disparo é feito por uma arma curta a uma distância
aproximada de 50 cm, os pontos de tatuagem já são poucos e bastante esparsos,
indo até por volta de 70 cm a 80 cm, mas cessando por volta de 1 m. Será muito raro
tais características ultrapassarem essa distância, mas caso ocorra, a tatuagem será
formada apenas por fragmentos do projétil. Se formar com esses fragmentos uma
zona de tatuagem, estar-se-á diante dos efeitos secundários do tiro distante. (Figura
2.14)
Figura 2.14: Disparo de arma de fogo a distância Fonte: Lesões..., 2010m.
Tocchetto (2006) explica que o diâmetro da zona de tatuagem cresce
continuamente até a distância em que os grãos da pólvora incombusta não tenham
mais resistência, vindo a cair antes mesmo de atingir o alvo.
Cavalcanti (1996) acrescenta que nos tiros distantes, o orifício de entrada
apresenta bordas invertidas, assim como no tiro a curta distância, geralmente menor
que o orifício de saída, orla de contusão e enxugo e auréola equimótica. Ocorre que,
se o tiro for dado na perpendicular, a forma do orifício de entrada será circular,
assumindo a forma ovular quando o tiro por dado inclinado.
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3 A PERÍCIA FORENSE NA INTERLIGAÇÃO ENTRE A ARMA E O CRIME
Neste capítulo, aborda-se a perícia forense como meio de prova de forma
genérica, passando-se, posteriormente, para a perícia de Balística quanto à
identificação do indivíduo pelos resíduos deixados pelo tiro e também pelos
componentes da munição.
3.1 A PERÍCIA FORENSE COMO MEIO DE PROVA
Perícia é um exame realizado por pessoas especializadas em
determinada matéria e área para ser útil em determinado caso como meio de prova,
para instruir os julgados.
Para Nogueira (2000, p. 197), em regra geral perícia é:
[....] determinada pela autoridade policial (art. 6°, VII) na fase de inquérito, pois quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Em locais de crime onde exista arma de fogo, Dorea (2006, p.111) aduz
para a seguinte situação:
Existindo a(s) arma(s) no local, uma atenção especial deverá ser dada a ela(s), anotando, segundo seu tipo, os dados a seguir relacionados, bem como estabelecer detalhadamente sua posição em relação ao corpo da vítima. A distância da arma, em relação à vítima, o tipo de carga e sua localização nas câmaras do tambor (tratando-se de revólver) poderão levar a uma diagnose diferencial entre homicídio, suicídio e acidente (tiro acidental).
Nogueira (2000) explica que a perícia terá que ser realizada o mais rápido
possível, com base no princípio da imediatidade, pois, com o passar do tempo, os
vestígios latentes podem desaparecer, prejudicando a apuração dos fatos. Quando
houver, a perícia poderá ser realizada por peritos oficiais e, na falta desses, por duas
pessoas que tenham diploma de curso superior, preferencialmente na área.
Sobre o assunto, o Código de Processo Penal brasileiro, em seu art. 159,
preceitua que:
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Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Complementando tal raciocínio, Dorea (2006) explica que a perícia é
formalizada por meio de um laudo pericial, uma exposição minuciosa dos fatos
observados pelos peritos e de suas conclusões. Este laudo tem um valor inegável,
48
pois se constitui em uma prova técnica indispensável para a livre convicção do
magistrado. Após sua apreciação, o juiz terá total liberdade para aceitá-lo ou rejeitá-
lo, em parte ou no todo, conforme art. 182 do Código de Processo Penal, sendo
necessário, no entanto, que justifique as razões pelas quais não seguiu o parecer
dos peritos.
O perito não é funcionário do Ministério Público, nem advogado de
defesa. Quanto a sua função, Gomes (2004, p. 29) preceitua que:
O perito não defende nem acusa. Sua função limita-se a verificar o fato, indicando a causa que o motivou. No exercício de sua alta missão, pode preceder a todas as indagações que julgar necessárias, devendo consignar, com imparcialidade exemplar, todas as circunstâncias, sejam ou não favoráveis ao acusado. Expondo sua opinião específica, o perito age livremente, é senhor da sua vontade, das suas convicções, não podendo ser coagido por ninguém, nem pelo juiz, nem pela própria polícia, no sentido de chegar a conclusão preestabelecidas. Caso sinta-se pressionado e sem liberdade para realizar de modo adequado o exame, o perito deve recusar-se a fazê-lo, mesmo que sua recusa o exponha a possíveis e injustas sanções administrativas.
Para Gomes (2004), embora o perito tenha fé pública, a fiscalização
dessa perícia é muito bem-vinda. Como se trata de um ser humano, o perito é
passível de erro, que poderá ser evitado por meio de medidas acauteladoras que
impeçam falhas de qualquer natureza. Com isso, o processo penal sugere que haja
dois peritos, um perito relator e outro revisor do laudo (art. 159 do Código de
Processo Penal), funcionando, assim, como uma confirmação do laudo.
Continuando com tal raciocínio, Gomes (2004, p. 30) ainda aduz, no caso
de divergência entre os peritos, que:
Na hipótese de haver divergência entre os dois peritos, cada qual fará seu laudo e ambos serão submetidos à autoridade que solicitará a perícia. Esta, após a leitura de ambos, poderá designar um terceiro perito, oficial ou não, ao qual encaminhará os laudos discrepantes. Na eventualidade de ser estabelecida terceira posição diferente das precedentes, a autoridade poderá determinar a realização de um novo exame, desconsiderando o que já tiver sido feito.
Quando determinado crime deixar algum tipo de vestígio, o exame de
corpo de delito terá que ser realizado. Esse exame é uma modalidade de perícia
voltada para a captação de vestígios deixados pelo crime, podendo ser direto ou
indireto.
Sobre esse assunto Nogueira (2000, p. 198) explica que:
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Pode ser direto, se depende de inspeção ocular sobre os elementos sensíveis que permaneceram atestando a prática delituosa, ou indireto, quando se forma por depoimentos testemunhais acerca da materialidade do fato e de suas circunstâncias.
Nogueira (2000) ainda mostra que no processo penal todas as provas têm
valor relativo, inclusive a prova pericial, devendo, assim, o magistrado, examiná-las
em conjunto e não separadamente.
Para Tocchetto (2006), quando um crime é praticado por arma de fogo, a
balística é um importante meio de prova, visto que estuda detalhadamente não só os
mecanismos da arma de fogo, mas também os efeitos do tiro, direção e trajeto dos
projéteis. Com o exame de balística, vários problemas jurídicos poderão ser
solucionados, como se a lesão foi mortal (produzida em vida) ou pós-mortal (delito
impossível); a natureza do fato (suicídio, homicídio ou acidente); a identificação da
arma de fogo e a distância e direção do tiro, todos esses visando à autoria do
disparo. São vários os tipos de crimes em que a arma de fogo poderá ser
empregada, como por exemplo, no homicídio, latrocínio, lesão corporal e outros.
Assim, pode-se dizer que a Balística Forense anda lado a lado com a justiça, pois
seus métodos e técnicas permitirão identificar o verdadeiro autor daquele disparo,
fornecendo subsídios para que a justiça condene ou absolva determinado acusado.
3.2 IDENTIFICAÇÃO DO ATIRADOR PELOS RESÍDUOS DO TIRO
Gomes (2004) revela que quando ocorre um disparo, o atirador recebe
parte da descarga dos gases que escapa da câmara de combustão por pequenas
fendas, variando de uma arma para outra. O principal ponto de fuga desses gases,
no caso das pistolas, será pela janela de ejeção e a culatra. Já nos revólveres, o
ponto será entre o tambor e a antecâmara do cano. Nos cartuchos em que se utiliza
chumbo nu, ou seja, somente chumbo, poderão ser projetadas, através dos gases,
partículas desse metal sobre a pele do atirador. A região das mãos mais atingidas
pelo esfumaçamento será a região radial e dorsal do indicador e entre o dedo
indicador e o polegar. Aqui, o autor destaca o caso de suicídio, em que terão que ser
examinadas as duas mãos da vítima, pois há casos em que a vítima produz o
disparo com os dois polegares no gatilho, fazendo com que os resíduos do tiro se
propaguem pelas duas mãos. Vale ainda ressaltar que é preciso não confundir esse
tipo de impregnação com o decorrente de luta da vítima contra o agressor pela
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posse da arma, pois durante essa luta, ocorrendo um disparo, os resíduos irão se
propagar tanto pelas mãos da vítima quanto do agressor. (Figura 3.1)
Figura 3.1: Momento exato de um disparo por arma de fogo Fonte: ARMAS..., 2009.
Sobre as principais formas de se colher material para a pesquisa dos
resíduos, Gomes (2004, p. 206) descreve que:
Uma é precária e consiste em esfregar um algodão limpo ou lenço de papel sobre a região suspeita. Outra é o processo de Iturrioz, conhecido também como prova da parafina. Esta prova consiste em fundir uma quantidade adequada de parafina limpa em água quente e utilizá-la assim que começar a se solidificar para fazer moldes das regiões suspeitas da mão do suposto atirador. O operador deve utilizar luvas limpas para evitar contaminação da parafina. Uma vez feitos os moldes, eles devem ser tornados planos enquanto a parafina não endurece muito e colocados em envelopes lacrados e identificados. As peças de parafina devem ser examinadas em microscópio para localização de pontos suspeitos sobre os quais se pinga o reagente de Lunge (solução de difenilamina em ácido sulfúrico). A reação tem por finalidade revelar agentes oxidantes, no caso os nitratos provenientes da queima da escorva e da carga propelente. Quando positiva, produz uma cor azulada que dura pouco tempo e não pode ser repetida. A adição do reagente e a observação devem ser feitas em exames microscópios de pequeno a médio aumento.
A respeito desse meio de prova, Gomes (2004) preconiza seu abandono
por não haver uma especificidade para a pólvora, podendo resultar em falsos
positivos ou falsos negativos. A reação poderá dar resultados positivos naqueles que
fizeram uso de arma de fogo (atiraram) nos três a cinco dias anteriores ao exame.
Ressalta ainda o autor que nesse tipo de exame não se pode provar que o acusado
deu o tiro fatal. Com isso, orienta o autor que, ao invés de se utilizar o reativo de
Lunger, deve-se optar pelo rodizonato de sódio para se pesquisar resíduos de
51
chumbo, que podem provir tanto do projétil, quanto da mistura que forma a escorva
(cápsula). Ressalta o autor que, aqui, a especificidade é para o chumbo.
Seguindo tal raciocínio, França (2008, p. 105) conta que:
Durante o I Seminário Nacional de Balística Forense, realizado de 20 a 25 de outubro de 1996, na cidade de Porto Alegre, tendo-se levado em conta os novos fundamentos técnicos aplicáveis à balística forense e considerando-se: I) que os chamados exames de recenticidade do tiro não se revestem de idoneidade, por não definirem data nem período provável de tiro de arma de fogo; lI) a especificidade dos reagentes disponíveis, a não garantia de que as espécies químicas liberadas da munição durante o tiro se depositam na mão do atirador, assim como a comprovada ineficiência dos meios disponíveis das pré-faladas espécies e as suas origens, não se podem valorar estes exames sob critérios técnico-científicos irrefragáveis; IlI) que os exames de resíduos de tiro nas armas de fogo e nas mãos, vestes e objetos de suspeitos podem ser feitos pelo uso das técnicas de rodizonato de sódio, absorção atômica e, de preferência, por microscópio eletrônico de varredura, devendo ser excluída, definitivamente, a prova de parafina (difenilamina sulfúrica); IV) que a presença ou ausência de resíduos compatíveis com os pro-venientes do tiro, na mão do suspeito, não pode ser usada como úni-co elemento de vinculação com a ocorrência, não devendo ser utili-zada para diagnóstico diferencial entre suicídio e homicídio; V) que a determinação da distância de tiro, tendo em vista a diversidade de configurações de canos e acessórios produtores de distintas configurações morfológicas de residuogramas, não poderá ser realizada se não se utilizar da mesma arma e de munição com a mesma especificidade das utilizadas no fato gerador de exame: Recomendaram-se: a) que os exames mencionados no item I sejam considerados obsoletos; b) que os exames referidos nos itens III e IV sejam realizados conforme proposto, devendo as autoridades competentes providenciar a qualificação dos profissionais e fornecer os equipamentos necessários para a realização de tais exames; e c) que o contido no item V deva ser considerado apenas de orientação.
3.3 A IDENTIFICAÇÃO DA ARMA DE FOGO PELOS COMPONENTES DA
MUNIÇÃO
Quando em um determinado local de crime não se possa encontrar a
arma de fogo utilizada, tampouco apreendê-la com o suspeito, ainda assim será
possível fazer uma determinação genérica do seu tipo, com base no recolhimento
dos projéteis do corpo da vítima ou de estojos e projéteis deixados na cena do crime.
Para Fávero (1991), quando se recolhe projéteis do corpo da vítima,
pode-se chegar, de imediato, não só ao calibre da arma, mas ao conhecimento
acerca de se houve o uso de mais de um tipo de arma de fogo no crime, bastando,
52
para isso, encontrar projéteis de diferentes calibres ou composições. De posse do
projétil recolhido, os peritos irão examinar, sempre verificando e catalogando, seu
peso, composição, raiamento, deformações, estriações laterais finas e formato. A
composição irá mostrar o material do qual o projétil foi constituído, chumbo nu,
encamisado ou cobre, por exemplo. Isso servirá para que os peritos verifiquem a
possibilidade de existência de mais de uma arma de fogo utilizada no crime, pois,
poderão deparar com vários projéteis de mesmo calibre, mas de composições
diferentes. Já o raiamento irá demonstrar para os peritos o sentido de rotação
daquela estria, permitindo-lhes realizar uma correspondência com a arma suspeita
(arma incriminada). A individualização da arma só ocorre quando se analisa de
forma microscópica as estriações finas deixadas pelos cheios da raiação no corpo
do projétil e suas deformações.
Fávero (1991, p. 308), explica que a estriação lateral fina:
É produzida pelas saliências e reentrâncias que a alma do cano apresenta e passíveis de serem moldadas nas faces laterais do projétil, ao passar, este é forçado pelo interior do cano onde receberá também as raias.
Segundo Gomes (2004), para que se possa identificar a arma da qual
saiu àquele projétil, primeiramente será necessário que o perito criminal tenha posse
tanto da arma de fogo utilizada no crime (arma incriminada), quanto do projétil
encontrado no local de crime ou no corpo da vítima (projétil incriminado). Assim, o
perito irá realizar vários disparos com a arma incriminada, com cartuchos idênticos
aos do projétil recolhido. Após esses disparos (tiros de prova), recolhem-se os
projéteis disparados com a arma incriminada e, um a um, são comparados com o
projétil incriminado, verificando-se a estriação fina deixada pelos cheios da raiação
no corpo do projétil recolhido com a dos projéteis disparados pela arma suspeita.
Essa comparação é feita por meio de um microscópio comparador, equipamento que
visualiza e compara as ranhuras de um estojo padrão, por exemplo, com o
incriminado, afirmando, em caso de coincidência, que o estojo incriminado saiu
daquela arma em exame. (Figura 3.2)
53
Figura 3.2: Exame de microcomparação Fonte: ARMAS..., 2009.
Fávero (1991) explica que o amassado deixado pelo pino percutor (cão da
arma) na espoleta também servirá para micro comparação, logicamente quando se
dispuser de estojos recolhidos no local do crime. Ressalta ainda o autor que o estojo
também servirá para exame de micro comparação, visto que quando ocorre um
disparo, a base do estojo bate violentamente na culatra da arma, fazendo gravações
de seus relevos, que poderão também ser examinados ao microscópio.
Para Tocchetto (2006), nos cartuchos de fogo circular, em que o calibre
mais utilizado é o .22, por não serem providos de espoleta ou cápsula de
espoletamento, a marca de percussão estará sempre na periferia da base do culote,
razão pela qual é denominada de marca de percussão radial ou periférica. Assim, as
microestrias poderão aparecer somente na marca da percussão, ou na base do
culote. Para os cartuchos de fogo central, por possuírem espoleta, os elementos
usados no exame microcomparativo podem estar presentes tanto no fundo da marca
da percussão, como na superfície externa da espoleta, produzidos pelo impacto
daquele contra a superfície da culatra.
Nos estojos provenientes de armas automáticas e semiautomáticas,
Garcia (2000) informa que, além dos elementos já expostos acima, pode-se utilizar,
para a identificação individual da arma, as marcas do extrator e do ejetor no culote
dos estojos. No momento do disparo, nesse tipo de arma, o estojo é violentamente
descartado pela janela de ejeção da arma e um novo cartucho é reposto. Isso faz
com que o extrator e o ejetor deixem suas marcas no estojo, que poderá ser
examinado.
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4 A JUSTIÇA E A BALÍSTICA FORENSE NO ESTADO DO CEARÁ
Neste quarto capítulo, descreve-se o conteúdo e a formalidade de um
laudo pericial de Balística forense para, com isso, verificar-se como está sendo
realizado esse laudo no estado do Ceará, levando-se em consideração a estrutura
física e funcional ofertada pelo estado.
4.1 O LAUDO PERICIAL DE BALÍSTICA FORENSE
Tocchetto (2006) ensina que o laudo pericial é um instrumento de suma
importância tanto para o inquérito policial, quanto para um determinado processo
judicial.
Para Dorea (2006, p. 26):
O laudo pericial poderá, dada a sua importância, ser peça principal e fundamental para condenar ou inocentar um réu. Daí decorre nossa grande responsabilidade em realizar um trabalho bem feito, buscando utilizar todas as ferramentas científicas que a ciência dispõe e, ao mesmo tempo, exigir dos administradores as condições de trabalho adequadas, especialmente no aporte de equipamentos e materiais necessários aos exames periciais.
Tocchetto (2006) continua dizendo que, na área da balística forense, para
que se possa ter sucesso quanto aos resultados, depende-se, e muito, da forma
como foi realizado o exame do local do fato (local de crime). Na ocorrência de um
crime, esse local terá que ser preservado ao máximo até a chegada dos peritos, com
o fim de proteger os materiais relacionados com o crime para que não sejam
modificados ou alterados por curiosos, familiares, ou até mesmo pelo próprio
criminoso, podendo vir a prejudicar definitivamente qualquer outro exame pericial
posterior. Os médicos legistas irão realizar os exames no cadáver, colhendo dados
que irão colaborar de forma significativa para o sucesso na elaboração do laudo
pericial de balística forense. O projétil que atingiu a vítima terá que ser retirado e
preservado com o máximo de cuidado para que não venha a sofrer qualquer
deformação. Quando preso a um osso, é preferível cortar o osso e enviar o projétil
junto para o exame de balística do que tentar retirá-lo com uma pinça ou qualquer
outro instrumento de metal.
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Dorea (2006) explica que os Institutos de Criminalística de cada Estado
possuem suas normas internas no tocante à elaboração de laudos periciais. Como
se trata de um trabalho científico, técnico, deverá ter um mínimo de estrutura lógica,
coerente, nítida de qualquer trabalho dessa espécie.
O Código de Processo Penal brasileiro, em seu art. 160, aduz que:
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Tocchetto (2006) explica que o laudo pericial nada mais é do que o
trabalho escrito pelos peritos ao examinarem vestígios deixados em uma infração
penal, sempre que requisitados por alguma autoridade. Ressalta o autor, que
somente o perito irá realizar um exame de corpo de delito, quando determinada
infração penal deixar vestígios, ou se houver requisição da autoridade competente,
conforme art. 158 do Código de Processo Penal pátrio.
Seguindo tal raciocínio, o art. 6º do mesmo diploma preceitua que:
Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por 2 (duas) testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII – determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
56
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Para Tocchetto (2006), ao solicitar uma determinada perícia, a autoridade
competente terá que desenvolver seus quesitos o mais claro, técnico, objetivo,
preciso e conciso possível. Quesitos impertinentes, confusos e desnecessários
deverão ser evitados. Isso só irá causar dúvidas posteriores quanto ao laudo
elaborado.
Seguindo com tal explicação, Tocchetto (2006) mostra a estrutura básica
de um laudo de balística forense, que deverá conter, no mínimo, os seguintes itens:
1. Introdução ou preâmbulo; 2. Descrição dos materiais recebidos para exame; 3. Exames periciais realizados; 4. Conclusão e resposta aos quesitos; 5. Fecho; 6. Anexos.
Para Rabello (1982), isso não significa que o perito estará restrito a esse
número e espécies de itens, podendo introduzir mais itens conforme a necessidade
do caso ou a forma de explicação e exposição do laudo, como histórico do fato,
discussão e outros. Normalmente, o preâmbulo conterá data e local onde foi
realizado o exame; nome de quem determinou a realização do exame e da
instituição na qual está sendo realizado; nome da autoridade que fez a solicitação,
material a ser examinado e objeto do exame.
Tocchetto (2006) ensina que o item que relata a descrição do material
recebido para exame é mais complexo devido ao maior número de informações nele
contido. Os materiais enviados para exame de balística com maior frequência são
armas, estojos, cartuchos e projéteis. Quanto às armas, terão que ser logo descritas
pelo tipo (revólver, pistola, fuzil etc.), em seguida, pela marca (Rossi, Taurus, Imbel
etc., sempre indicando o local de gravação), e, posteriormente, pelo modelo, calibre,
número de série (indicando o local de gravação) e número de montagem. O perito
criminal também terá que informar que material foi utilizado na fabricação dessa
arma, se aço inox, aço carbono, titânio e outros, assim como seu acabamento
externo (niquelado, cromado, oxidado).
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Para os estojos e cartuchos, Dorea (2006) explica que o perito terá que
identificar qual calibre nominal, marca, tipo de material utilizado na sua fabricação
(latão, alumínio, papelão, plástico), sistema de percussão (radial ou central), assim
como o número de marcas deixadas pelo percutor (cão) da arma na espoleta.
Ressalta o autor que, para os cartuchos, o projétil terá que ser descrito quanto ao
tipo (ogival, ponta oca e outros) e constituição (chumbo nu, cobre e outros).
Já os projéteis terão que ser bem detalhados de modo a serem
identificados por qualquer pessoa somente por sua descrição. O perito fará o
detalhamento descrevendo o calibre nominal do projétil, massa e dimensão, marca
(quando possível), se industrial ou de recarga e número e orientação das raias. Caso
esteja deformado, terá que informar o tipo de deformação e sua extensão. Se houver
algum tipo de material preso ao projétil (tecidos, sangue, tinta etc.), deve ser
identificado, mencionando-se em qual região do projétil foi encontrado, removido e
acondicionado para que possa ser devolvido junto com o projétil. O projétil terá que
ser identificado quanto a sua origem, se foi retirado do corpo da vítima, do local do
crime ou adjacências, quando possível. É de suma importância que todo material
enviado para exame seja fotografado no estado em que for recebido pelos peritos.
(TOCCHETTO, 2006)
Ainda para Tocchetto (2006), o mais importante item do laudo pericial de
balística forense se refere aos exames periciais realizados, merecendo, aqui, uma
atenção especial dos peritos. Aqui o perito irá relacionar e descrever todos os
exames realizados nos materiais enviados para análise. Esses exames só poderão
ser efetuados quando solicitados pela autoridade competente. Mesmo seguindo
essa regra, será prudente que o perito, quando receber uma arma de fogo, realize o
teste de funcionamento (eficiência) dessa, tendo em vista o disposto no art.175 do
Código de Processo Penal, que assim estabelece: “Art. 175. Serão sujeitos a exame
os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se verificar a
natureza e a eficiência.” Para que se possa recolher o estojo ou o projétil padrão, o
perito terá que efetuar alguns disparos, podendo, nesse momento, já aproveitar para
realizar o teste de eficiência da arma.
Quanto à conclusão e/ou respostas aos quesitos, Tocchetto (2006) revela
que o perito poderá fornecer, em seu laudo de balística forense, uma ou mais
conclusões quando a autoridade solicitante do exame não formular qualquer quesito,
ou quando identificado ou questionado algum fato relevante não requisitado pela
58
autoridade. Os quesitos terão que ser respondidos individualmente na ordem em
que foram formulados, com respostas claras, precisas, objetivas e tecnicamente
fundamentadas. Quando houver alguma falta de material que possa impossibilitar a
resposta para aquele quesito, será respondida somente com o termo “prejudicado”.
O fecho nada mais é que o encerramento do laudo pelo perito, Rabello
(1982) informa que esse fechamento varia em função das normas e critérios das
instituições que emitem o laudo. Deverá ser feito referência ao número de páginas
que contém, ao tipo e à quantidade de anexos (desenhos, fotografia), ao local e data
em que foi elaborado e ao nome e ao cargo ou qualificação do perito que o assina.
Gomes (2004) lembra que os achados no laudo pericial devem ser
descritos em linguagem técnica, mas acessível à autoridade solicitante, sempre
levando em conta que a pessoa que irá ter acesso a ele é leiga naquele campo. A
não observância desse pequeno detalhe poderá trazer prejuízos para a justiça,
ensejando a solicitação, pela autoridade, de esclarecimentos adicionais aos peritos
por meio de quesitos escritos ou de viva voz, após convocá-los para audiência. Em
ambas as hipóteses haverá atraso nos trâmites processuais.
Por fim, o anexo é composto por fotografias, desenhos, esquemas ou
outras ilustrações que visem facilitar a compreensão desse laudo pela autoridade
solicitante.
4.2 A ESTRUTURA DA PERÍCIA FORENSE NO ESTADO DO CEARÁ E SUA
ATUAÇÃO E FUNCIONALIDADE
A Perícia Forense do Ceará (PEFOCE) é o Departamento Técnico-
Científico do estado do Ceará que tem como função coordenar as atividades
desenvolvidas pelas perícias criminais do Estado, por intermédio dos seus
respectivos órgãos. A Polícia Científica do Ceará é diretamente subordinada à
Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS), e
trabalha em estrita relação com as demais polícias estaduais. Essa polícia
administra três órgãos: o Instituto de Criminalística (IC); o Instituto de Identificação
(II) e o Instituto Médico Legal (IML). (WIKIPEDIA, 2010)
A Polícia Científica tem como papel especializado a produção de prova
técnica, também chamada de prova pericial, utilizando-se da análise de vestígios
produzidos e/ou deixados durante a prática do crime. Essa polícia, atualmente, é
59
desvinculada da Polícia Civil, ao contrário do que ocorria antigamente, quando as
perícias eram de competência das Polícias Civis. (WIKIPEDIA, 2010)
O Instituto de Criminalística, dirigido por Peritos Criminais, realiza exames
periciais, pesquisas e experiências no campo da Criminalística (informática,
engenharia, reconstituições, balística, documentoscopia, impressões latentes,
disparo, ambiental, fonética etc.), levantamentos topofotográficos e papiloscópicos
nos locais de crime e em sinistros envolvendo patrimônio público. Tem como função
auxiliar a Justiça, fornecendo provas técnicas sobre locais, coisas, objetos,
instrumentos e pessoas para a instrução de processos criminais. (WIKIPEDIA, 2010)
Quanto ao funcionamento da Criminalística no estado do Ceará, no
campo da perícia de Balística Forense somente duas peritas realizam os laudos
periciais para todo o Estado. Não há espaço suficiente para que os profissionais
efetuem disparos com armas de fogo apreendidas. A sala tem por volta de 4m de
cumprimento por 2,5 mt de largura, e é nesta sala que os tiros são realizados em
montantes de algodão, que, às vezes, pegam fogo. (Apêndice A)
Os exames são realizados em armas apreendidas de civis - assaltantes,
traficantes, homicidas e outros -, e em projéteis retirados de corpos necropsiados
pelo Instituto Médico Legal de Fortaleza, e, raramente, por outros núcleos, como
Juazeiro do Norte, Quixeramobim, Canindé, Barbalha e Iguatu, todos do interior do
estado. (Apêndice A)
O IML de Fortaleza geralmente envia para o Núcleo de Balística do
Estado do Ceará, no final de cada mês, todos os projéteis retirados de corpos
necropsiados durante aquele determinado período, acondicionados em saquinhos
plásticos com uma numeração dada pelo próprio IML, que identifica de que vítima o
projétil foi retirado. Somente quando há um crime de grande repercussão o IML
envia todos os projéteis que lá contém, mais o projétil daquele crime, e, no fim do
mês, envia o restante. (Apêndice A)
Todos esses projéteis teriam que ser examinados. O perito teria que
descrever todas as suas características quanto ao peso, medida, calibre, número de
raias e outros, o que não acontece, na prática, em razão do reduzido número de
peritos. Desse modo, só serão periciados aqueles que foram solicitados pela
autoridade competente. Para que se possa ter uma ideia, são realizados mais de
cem laudos semanalmente somente de ocorrências da região metropolitana de
Fortaleza, em cuja maioria esmagadora a autoridade competente só solicita o de
60
teste de eficiência da arma. Como já dito anteriormente, os projéteis de outros
núcleos ficam guardados e não são periciados, só vindo a sê-lo se o crime for de
grande repercussão, ou a pedido da autoridade competente. Em outros estados,
como no Pará, por exemplo, os peritos não perdem tempo em realizar o teste de
eficiência da arma, que fica a cargo de armeiros da Polícia Militar, apenas o
fiscalizam. Infelizmente, a deficiência não existe só no estado do Ceará, mas em
todo o Brasil, pois só existem 60 peritos especializados em microcomparação
Balística para atender a uma demanda que está crescendo a cada ano. (Apêndice
A)
Diante dessa deficiência, não se poderia deixar de encontrar, na sala do
núcleo, um amontoado de armas espalhadas por todos os lados. São armas de
todos os tipos e calibres que ficam aguardando vários dias para serem periciadas. O
estado não fornece aos peritos meios e equipamentos suficientes para que possam
progredir em seus exames. Faltam aparelhos de microcomparação, peritos, e,
principalmente, espaço, para que o profissional possa efetuar seu trabalho bem feito.
(Apêndice A)
Por fim, a falta de conhecimento da maioria das autoridades competentes
para a solicitação desse tipo de exame contribui e muito para o andamento do
processo criminal. Não são comuns solicitações realizadas por delegados de polícia
e juízes chegarem ao Núcleo de Balística de forma incorreta. Os casos mais comuns
ocorrem quando essas autoridades enviam material diverso do informado, por
exemplo, enviam uma munição e dizem estar enviando projéteis intactos para o
exame de microcomparação Balística. O perito, diante de um caso desses, nada
poderá fazer se não enviar um ofício para a autoridade explicando em que consiste
uma munição, um projétil, um estojo, para que a solicitação seja refeita. Isso atrasa e
muito o andamento do inquérito policial e do processo, consequentemente, fazendo
com que a Justiça fique ainda mais morosa.
61
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho acadêmico procurou abordar a Perícia de Balística Forense
no que tange a sua realização no estado do Ceará, com o intuito de dar a conhecer,
ao operador do Direito e aos interessados, de modo geral, a importância do tema
que, por ser bastante técnico e produzir consequências jurídicas, torna-se um tanto
prejudicial quando “aplicado” de forma equivocada por esse operador.
A Balística Forense é um universo de conhecimentos que leva o
pesquisador a se embriagar com sua riqueza de detalhes e conteúdo, do qual este
trabalho recortou somente aqueles ligados à Justiça diante de crimes praticados com
o emprego de arma de fogo.
A realização deste trabalho permitiu adentrar um pouco esse universo que
envolve as armas de fogo, munições e fenômenos causados pelo tiro, sobretudo
para perceber que cada disparo deixa sua identidade e características próprias,
fornecendo, dessa forma, aos peritos, os fundamentos relevantes para a elaboração
do laudo pericial, que poderá ser usado pelo Poder Judiciário tanto para condenar
quanto para absolver determinado acusado.
Descobriu-se, também, que, para se dispor de uma perícia de Balística
Forense com qualidade, o estado terá que investir em infraestrutura, equipamentos e
profissionais suficientes para o atendimento à demanda crescente de um estado
como o Ceará, em que a quantidade de homicídios a bala e bastante numerosa. Viu-
se, também, que em pouco adiantará uma boa estrutura, bons equipamentos e
profissionais suficientes se a autoridade competente que solicita esse tipo de perícia
não tiver conhecimento suficiente da matéria para solicitar um laudo de forma clara e
precisa.
Em relação à realização dessa perícia no estado do Ceará, conclui-se que
a unidade federativa não oferece os meios suficientes para que os peritos possam
elaborar seu trabalho de forma célere e eficiente. A quantidade de peritos é bastante
reduzida, dois para todo o estado; só dispõem de um equipamento para realizar o
exame de microcomparação balística; e o espaço é bastante reduzido para a
quantidade de armas e projéteis que chegam diariamente de todo o estado. Como
se não bastasse, os projéteis dos núcleos de Iguatu, Juazeiro, Canindé e Sobral não
são encaminhados para exames, ficam guardados em seus respectivos órgãos sem
serem examinados, só vindo a sê-lo quando se tratar de projétil de um crime de
62
bastante repercussão, revelando, dessa forma, um verdadeiro descaso quanto à
investigação desses crimes. Por fim, viu-se que as autoridades competentes para a
solicitação desses exames, de modo geral, não possuem conhecimentos técnicos
suficientes para solicitar o laudo nos moldes como deve ser feito, o que, de acordo
com a Dra. Luciana Canito, Perita chefe do Núcleo de Balística do Estado do Ceará,
em entrevista concedida a este pesquisador (Apêndice A), atrasa por demais o
andamento de determinado processo provocando, ao mesmo tempo, a redução nas
solicitações do exame de microcomparação Balística, importantíssimo meio de prova
cada vez menos levado ao processo criminal.
Assim, o estado terá que investir urgentemente em mais peritos e
equipamentos para a elaboração dessa perícia, porquanto, a cada dia, o número de
homicídios de arma de fogo vem aumentando de forma bastante significativa. Outra
questão que merece destaque é a capacitação do profissional do direito, visto que
em algumas faculdades, a cadeira de Criminalística não é obrigatória, provocando
um desconhecimento generalizado acerca dessa matéria que vem refletir
diretamente no andamento e na qualidade de determinado processo.
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APÊNDICE
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APÊNDICE A – Entrevista com a Dra Luciana Canito, Perita chefe do Núcleo de
Balística da Perícia Forense do estado do Ceará (PEFOCE)
Entrevista com a Dra Luciana Canito, Perita Chefe do Núcleo de Balística
da Perícia Forense do Estado do Ceará – PEFOCE, realizada às 10h00min do dia 3
de maio de 2010, na sede do órgão, situado à Avenida Heráclito Graça nº 600,
Fortaleza, Ceará.
1) Na área da perícia de Balística Forense, quantos peritos trabalham
para abranger todo o Estado do Ceará?
R. Somos somente duas peritas para todo o Estado do Ceará. Aqui,
elaboramos tanto os exames da região metropolitana de Fortaleza, quanto para todo
o interior do Estado.
2) Estamos vendo aqui (sala do instituto de Balística) diversas armas
de variados tipos. Todas essas armas são vindas de civis, ou tem de militares
também?
R. Todas essas armas são de civis comuns, nada aqui é de policial.
Todas as armas que você está vendo aqui são armas de assaltantes a banco,
homicidas, e outros. Essas armas são apreendidas e trazidas para cá para que
possam ficar à disposição do delegado e para que possam ser examinadas
conforme inquérito policial.
3) Em relação aos projéteis para serem examinados, como se dá sua
vinda para este instituto? E quem os fornece?
R. O IML envia, geralmente no final de cada mês, todos os projéteis
retirados de corpos necropsiados durante aquele período. Agora, quando há algum
crime de grande repercussão, o IML envia todos os que têm lá, mais o projétil
daquele crime, e, no fim do mês, envia o restante. Veja essa pasta contendo cerca
de 1.000 projéteis retirados de cadáveres do ano de 2009 e meados de 2010. Todos
eles foram enviados pelo IML de Fortaleza. Veja que eles vêm acondicionados em
sacos plásticos contendo um papel com número de identificação correspondente a
vítima de foi retirado. Assim, de posse da arma e do projétil enviado, poderemos
efetuar o disparo padrão e realizar o exame de microcomparação.
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4) Todos esses projéteis terão que ser examinados?
R. Pela quantidade de peritos não há condições de todos os projéteis
serem examinados. Se fosse em um estado em que houvesse mais peritos, teriam
que ser todos examinados. Teria que dizer as características de cada um como:
peso, medida, calibre, número de raias e outros.
5) Vimos que o projétil retirado do corpo da vítima pelo IML de
Fortaleza vem acondicionado em um saco plástico contendo também um
número de identificação. Como você faz para saber de qual vítima veio aquele
projétil?
R. Para saber de qual vítima foi retirado esse projétil, é necessário que
eu, diante do número que se encontra dentro do saco plástico no qual veio o projétil,
vá ao ofício e olhe quem foi a vítima. Isso eu acho um verdadeiro absurdo. O núcleo
de Quixeramobim é muito mais organizado do que o de Fortaleza. Os envelopes que
vêm de lá são bem detalhados. Ao invés de só conter o número de identificação,
como é o caso de Fortaleza, o projétil vem acompanhado de uma folha de
detalhamento informando: nome da vítima, sexo, data e hora de entrada do corpo
para necrópsia, número do ofício e outros. Com isso, o trabalho do perito torna-se
bem mais fácil e rápido, pois o laudo que irá para a delegacia de polícia chega bem
mais completo e mais rápido. Quando, por exemplo, um delegado de polícia manda
a arma para que possamos fazer o exame de microcomparação Balística,
primeiramente tem que procurar o projétil que foi retirado do corpo da vítima,
examiná-lo, ver o calibre, dimensão, ver se confere com a arma apreendida, pois
não pode primeiramente elaborar qualquer tipo de laudo sem antes passar as
informações do projétil retirado.
6) Quantos laudos são elaborados durante a semana?
R. São muitos! Em torno de uns 100 laudos somente da região
metropolitana de Fortaleza. Mas não dá conta! Não tem jeito! São mais de 100
testes de armas por semana! A esmagadora maioria desses laudos é somente para
teste de eficiência da arma, devido previsão legal em que consta que toda arma
apreendida terá que ser submetida ao teste de sua eficiência. Só para se ter uma
idéia, os projéteis retirados de cadáveres nos outros núcleos, como os de Juazeiro,
Sobral, Canindé e iguatu, ficam nos respectivos locais, guardados, só! E não fazem
exame! Vou te dar um exemplo; em 2008 teve um crime de repercussão em Juazeiro
do Norte, agora você imagine quantos crimes têm em Juazeiro do Norte! Muitos!
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Você “todo dia” abre o jornal e vê homicídios. Mas, no período de um ano, só me
pediram três exames de microcomparação. E o restante? Não é investigado! Isso aí
é que foi pedido o exame! A maior parte dos delegados manda somente fazer o
teste de eficiência da arma, só pra ver se a arma funciona ou não funciona. Só isso!
Só pelo fato de estar previsto em lei. A microcomparação, que é o forte da Balística,
não é solicitada! Tem estado do Brasil, como o Pará, em que não se perde tempo
com perícia para fazer o teste de eficiência da arma. O perito fica só fiscalizando.
Quem faz esse teste são armeiros da Polícia Militar. Colocam os armeiros da polícia
e às vezes armeiros do exército. Lá eles trabalham em conjunto. Eles estão quase
sempre à disposição do instituto de criminalística. Os peritos de balísticas só irão se
deslocar para acompanhar os peritos do local quando houver algum tipo de
repercussão, como foi na morte do PC Farias, por exemplo.
7) Essa deficiência é em todo o País?
R. Essa deficiência não é só aqui não, é em todo o Brasil! A gente faz
cursos em diversos Estados, e em todos o pessoal reclama. No Brasil, só existem 60
peritos especializados em microcomparação Balística. Só 60! Agora, imagine
quantos crimes são praticados diariamente com emprego de arma de fogo no Brasil
e a desproporção com o número reduzido de peritos. Como podemos ter uma
investigação “completa” e uma Justiça célere?
8) Estamos vendo a situação calamitosa aqui, quase caótica do
trabalho. Esses laudos periciais quando prontos, irão desaguar em um
processo judicial penal que vai para o tribunal do júri, na forma de um laudo
pericial. A deficiência, a “desorganização” aqui, comprometeria um laudo
desses, a ponto de a defesa alegar alguma inconsistência?
R. Não, não! Em relação à “desorganização” não porque isso a gente não
tem espaço, mas sabemos de tudo! E tudo aqui é bem organizado. Já foi reclamado
a respeito dessa situação, mas se você me perguntar onde está qualquer laudo aqui,
eu sei onde ele está. Como também a arma tal, sei onde ela está. Inclusive temos
fiscalização! O material é bem acondicionado e a gente trabalha de forma
organizada. O Ministério Público vem sempre por aqui fiscalizar. O problema é a
falta de espaço e o reduzido número de peritos.
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9) Diante de tal situação, isso poderia prejudicar em que? Em uma
demora processual?
R. Demora em tudo! Quanto à qualidade do exame, o problema é a gente
não ter tanto tempo hábil para fazer o exame como a gente gostaria de fazer. E
também não podemos nos ater somente a um exame. Porque é uma série! E é
cobrança em cima de cobrança!
10) O que seria necessário para que possamos pelo menos aliviar tal
situação?
R. A gente teria que ter mais espaço, um para o perito na área de
microcomparação, como também para outra perita. Aqui, por exemplo, a Zilmar
(perita adjunta da Forense do Ceará) nunca pode se dedicar, pois nunca teve tempo
pra isso! Por quê? Porque só somos nós duas! E uma tem que fazer uma coisa e
outra fazer outra. Pergunte a qualquer perito do Brasil que ele vai lhe responder que
exame de microcomparação é coisa muito séria! Eu não podia ficar aqui com
servidores terceirizados dentro de minha sala, não! Isso é um crime, o que o governo
do estado está cometendo. Existe o segredo de justiça!
11) Em relação ao segredo de Justiça, isso pode ser alegado quanto
à “segurança” desse laudo?
R. Agora isso pode ser alegado! Porque eu e ela fazemos o laudo, mas
qual a segurança que eu tenho de um laudo que tem relatório? Que atualmente o
Governo do Estado coloca agentes terceirizados para digitar? Que, hoje em dia,
além de eu não poder mais digitar meu laudo, tem agora um setor de impressão. Por
exemplo, o caso da base aérea (Crime ocorrido no dia 10 de setembro de 2004 na
Base Aérea de Fortaleza), aquele caso estava em segredo de justiça! Trabalhamos
dia e noite! Comentávamos nem nomes, nem nada. Era o laudo “tal”. Nem com
família! O pessoal perguntava e a gente dizia não sei, não passou por mim, sempre
assim, sigilo total. A gente entregou esse laudo numa sexta feira à noite para a
nossa diretora da época. Passamos 15 dias trabalhando em cima desse laudo, não
tinha vazado nada, deixamos o resultado para a última hora para concluir o laudo,
com fotografias e tudo, entregamos a diretora. Ela disse que na segunda-feira o juiz
já sabia do resultado. Agora ,como vazou? Da gente não foi! Só se foi de lá!
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12) Luciana, como é feito o procedimento na prática desde a
solicitação pelo delegado de polícia?
R. Primeiramente, tem que haver interesse do delegado. Geralmente
quando não foi encontrada nenhuma arma no local, eles nos pedem para identificar
qual o calibre do projétil que foi retirado do corpo da vítima. Daí, examinamos só o
projétil. Examinamos, pesamos, medimos e verificamos suas características. Com
isso, o delegado segue com sua investigação. Se houver uma arma, ele poderá
solicitar o exame de microcomparação balística. No caso de duas ou mais armas de
calibres diferentes, eles nos enviam, e logo fazemos a identificação do calibre, para
que possamos de imediato descartar as armas cujo calibre seja diferente. O
delegado solicita o exame de acordo com a sua investigação. E outra coisa! Eu só
faço o que eles pedem! Se o delegado me pede somente para fazer o teste de
eficiência da arma, e veio um projétil, eu só vou fazer o teste de eficiência da arma.
Tem um projétil e uma arma do mesmo calibre, e ele não me pede o exame de
microcomparação balística, eu não vou fazer o exame.
13) Por qual motivo você não “prossegue” com o detalhamento
desses exames?
R. Primeiro porque não sei qual investigação o delegado está fazendo. Eu
não sei se aquele projétil tem a ver com a arma que ele enviou. Então não posso
pegar por minha conta e fazer qualquer tipo de exame. Só faço o que ele pede! Isso
aí é a própria estrutura da instituição, a própria associação brasileira de criminalística
que nos dá essa orientação. Não é uma coisa nossa.
14) Pode-se dizer que o instituto de Balística do Ceará dispõe de
meios suficientes para realizar um bom laudo pericial?
R. O Estado não nos dá meios para fazer uma perícia bem feita, mas
tentamos fazer o máximo. Queria em um laudo demorar o máximo que pudesse. Ter
tempo para examinar. Quando em uma arma faltar alguma numeração, por exemplo,
puder mandar para o laboratório para resgatar essa numeração. Fazer o
levantamento completo. A vontade do perito é sempre fazer o trabalho completo. O
problema é que aqui não nos dão condições. Isso é em nível de Brasil.
15) Você nos falou a respeito do pedido que o delegado faz. Em
relação ao fato de o tema Balística Forense ser um tanto técnico, e algumas
faculdades não terem a cadeira de Criminalística, como os pedidos de exames,
no modo geral, chegam pra você, de um delegado ou juiz, por exemplo?
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R. Têm delegados que pedem o exame de “prestabilidade” da arma, pra
ver se a arma presta ou não presta. Eu acho muito engraçado! Tem vários tipos de
“pedidos”. Agora esses novatos (delegados) são mais inteligentes, quando ocorre
um crime e tem que solicitar exame, eles ligam pra cá e perguntam qual exame
poderão solicitar. Daí eles me contam mais ou menos o crime ocorrido e eu explico
os exames que cabem diante do caso. Um dia um delegado nos solicitou da
seguinte forma: estou enviando cinco projéteis intactos para exame de
microcomparação balística. Quando vi, ele tinha me enviado cinco cartuchos. Como
é que vou examinar a microcomparação Balística? Está entendendo? Daí, temos
que explicar ao delegado que não recebemos projéteis. Com isso, tenho que fazer
um demonstrativo, explicando o que é cartucho, projétil... Tenho que dar uma aula
no laudo. E dizer, ao final, que o que recebemos não foram projéteis intactos, e sim,
cartuchos intactos. E que não pode ser feito o exame de microcomparação, pois não
tem o raiamento... Como não bastasse, tem juiz mandando, e não são poucos,
cartuchos intactos para que possamos ver se o cartucho “presta ou não presta”,
funciona ou não. E o pior! Não podemos usar o cartucho! Tem que devolver inteiro.
Como é que vou examinar um cartucho e devolvê-lo intacto? Só posso examinar se
eu dispará-lo. E agora? Como explicar ao juiz isso tudo? Em relação à disciplina de
Criminalística, a gente está brigando muito por isso, inclusive sou professora de
Criminalística da Academia de Polícia do Estado do Ceará. E isso é uma coisa em
que a gente vê bastante deficiência. Criminalística é uma ciência. E como se não
bastasse, o Governo do estado do Ceará foi o único que retirou esse nome.
Antigamente, era Instituto de Criminalística, hoje é Pericia Forense (PEFOCE).
16) O fato de o Estado do Ceará ter modificado o nome para Perícia
Criminal, o que isso reflete para a sociedade?
R. Até a Polícia Federal tem seu Instituto Nacional de Criminalística, e o
Ceará não tem mais nada com o nome de Criminalística. Isso quer dizer que com o
tempo esse nome irá “morrer”. Porque as pessoas não vão ter conhecimento. Pelo
menos antigamente as pessoas ligavam esse nome ao IML. E agora? Pericia
Criminal. O nosso cargo era perito criminalístico, não interessa muito o nome do
cargo, mas a instituição cresce muito. Pois em todo o mundo a Criminalística é
conhecida.