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10 especial bioativo Plástico biodegradável: uma alterna Fernando Olivera Hugo Araújo Quinhentos bilhões. Um número gran- de, mas ainda inferior ao de sacolas plás- cas produzidas anualmente. Cada uma leva mais de cem anos para se decompor. Neste ritmo de produção, a longo prazo, a Terra terá um acúmulo imenso de sacos pláscos. As alternavas para resolver este problema ainda são pouco claras, mas se baseiam principalmente no uso de sacolas biodegradáveis e sacolas reulizá- veis - ou ecobags. Maria Filomena Rodrigues, pesquisado- ra do Instuto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), explica que a sacola, para ser biode- gradável, obrigatoriamente “deve ser de- composta por bactérias”. Esta sacola, que é uma mistura de plásco e amido, tem um tempo de decomposição muito me- nor ao dos sacos pláscos comuns: cerca de 18 meses. A pesquisadora atualmente desenvolve um estudo de produção de pláscos bio- degradáveis, a parr de bactérias e açúcar (obdo da cana-de-açúcar). É o modelo de sacola sustentável. As fontes são reno- váveis e o processo de decomposição dei- xa como resíduos apenas gás carbônico e água. No entanto, a aceitação das sacolas bio- degradáveis pelo mercado encontra um grande obstáculo: o alto custo de produ-

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  • 10 especial bioativo

    Plstico biodegradvel: uma alternativa eficaz e sustentvel

    Fernando Olivera Hugo Arajo

    Quinhentos bilhes. Um nmero gran-de, mas ainda inferior ao de sacolas pls-ticas produzidas anualmente. Cada uma leva mais de cem anos para se decompor. Neste ritmo de produo, a longo prazo, a Terra ter um acmulo imenso de sacos plsticos. As alternativas para resolver este problema ainda so pouco claras, mas se baseiam principalmente no uso de sacolas biodegradveis e sacolas reutiliz-veis - ou ecobags.

    Maria Filomena Rodrigues, pesquisado-ra do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT), explica que a sacola, para ser biode-

    gradvel, obrigatoriamente deve ser de-composta por bactrias. Esta sacola, que uma mistura de plstico e amido, tem um tempo de decomposio muito me-nor ao dos sacos plsticos comuns: cerca de 18 meses.

    A pesquisadora atualmente desenvolve um estudo de produo de plsticos bio-degradveis, a partir de bactrias e acar (obtido da cana-de-acar). o modelo de sacola sustentvel. As fontes so reno-vveis e o processo de decomposio dei-xa como resduos apenas gs carbnico e gua.

    No entanto, a aceitao das sacolas bio-degradveis pelo mercado encontra um grande obstculo: o alto custo de produ-

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    o. A estudiosa afirma que o novo proce-dimento, alm de alterar todo o processo de fabricao atual, j que a indstria no possui ainda os equipamentos adequa-dos, seria mais custoso. O grande proble-ma este: conseguir materiais competiti-vos, completa.

    O uso de sacolas reutilizveis outra opo que se tornou popular. comum observar ecobags feitas de maneira arte-sanal, ou estilizadas com frases que pre-gam a sustentabilidade. Assim como as sacolas biodegradveis, as ecobags so itens utilizados por quem deseja escapar do excesso de sacos plsticos

    Neste contexto qual delas traria um be-nefcio maior ao meio ambiente? Maria

    Filomena Rodrigues afirma que ambas tm seu espao. A biodegradvel deveria ser usada principalmente nas situaes de compras espordicas, no planejadas. As compras do dia-a-dia poderiam ser perfeitamente feitas com a retornvel, diz.

    No entanto, a pesquisadora destaca um ponto essencial na questo das sacolas plsticas: o consumo consciente. Para ela, no adianta usar a [sacola] retornvel e ficar jogando fora o tempo todo. Deste modo, o material acumulado apenas seria substitudo por outro. A questo central repensar as pequenas aes cotidianas. Pode-se estocar sacolas e reutiliz-las, di-minuindo, por consequncia, a produo.

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  • Aps o uso e descarte, o plstico biode-gradvel no agride a natureza, algo mui-to diferente do que ocorre com o pls-tico derivado do petrleo. Ao invs de acumular-se nos aterros sanitrios, lixes e terrenos baldios, o material decompe--se pela ao de bactrias em pouco tem-po. Desse processo, so liberados gs carbnico e gua, que sero novamente absorvidos pela cana-de-acar durante a fotossntese, reiniciando o ciclo.

    O dilema dos supermercadosAbolir ou no abolir? Essa foi a grande po-lmica do ano envolvendo as sacolinhas plsticas, distribudas gratuitamente nos supermercados do estado de So Paulo. Alguns municpios do interior paulista, como Piracicaba e Sorocaba, j adotaram medidas restritivas desde 2011, mas uma deciso estadual s foi efetivada este ano. De 04/03 at 28/06, um acordo en-tre a Associao Paulista de Supermerca-dos (Apas) e o Governo do Estado vetou a distribuio das sacolinhas nas principais redes de varejo.

    Durante esse perodo, algumas alter-nativas como bolsas reutilizveis, biode-gradveis e caixas de papelo estiveram disposio do consumidor. Alguns es-tabelecimentos tambm substituram as sacolinhas convencionais pelas oxibiode-gradveis. Esse novo modelo de sacolas composto de polmeros normais com aditivos naturais, como o amido de milho, que aceleram a quebra de ligaes qumi-cas das molculas.

    uma soluo sustentvel Garrafas, brinquedos, sacolas e tantas outras centenas de objetos do dia-a-dia so derivados do petrleo. Na indstria petroqumica, uma parte desse recurso no-renovvel destinada produo de diferentes polmeros, como o plsti-co das sacolinhas. Malevel, resistente e verstil, o material faz parte do cotidiano e passa despercebido at virar um grave problema. Nos depsitos de lixo e no am-biente, o plstico pode demorar dezenas, at centenas de anos no processo natural de decomposio.

    A reciclagem uma das solues mais eficazes para o problema, gerando no s mais matria-prima para a indstria de polmeros, como tambm empregos e renda. Outra sada para o acmulo de lixo, no to eficaz, a incinerao: o plstico queimado em grandes fornos, liberan-do grande quantidade de gases poluentes atmosfera. Desse modo, pode-se at produzir energia em usinas termeltricas, entretanto a um alto custo para o meio ambiente.

    Ao contrrio do plstico comum, o pls-tico biodegradvel, como o pesquisado por Maria Filomena, segue um ciclo sus-tentvel. A matria-prima para sua pro-duo o acar derivado da cana-de--acar, recurso renovvel, de baixo custo e abundante no Brasil. Atravs da bios-sntese, bactrias especiais metabolizam o substrato orgnico da cana e produzem os polmeros que sero utilizados como material plstico.

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  • Entretanto, a conscientizao no durou muito tempo. Com pouco mais de 3 me-ses de veto, uma deciso da Primeira Vara Central da capital paulista obrigou gran-des redes de supermercados a oferecer novamente as sacolas plsticas de graa. Enquanto o consumidor se adaptava s alternativas, o apelo ambiental crescia, demonstrando uma necessidade no s ecolgica, mas tambm social.

    No dia 08/08, em recorrncia da deci-so anterior, o Tribunal de Justia do Es-tado de So Paulo deliberou que a partir do dia 15/09 os supermercados no dis-

    tribuiram mais sacolas gratuitamente. Alm disso, tero tambm de oferecer uma alternativa de sacola reutilizvel pelo preo de R$ 0,59 at o dia 15/04 de 2013. Porm, em 12/09, em informao divul-gado pela Apas, essa deciso foi retirada e as sacolas continuaro a ser oferecidas sem se nenhum custo at o dia 15/10.

    O saco ainda vai pro lixoBasta ir s compras para constatar: vive-mos uma cultura do plstico. Armazenan-do frutas e legumes, embalando os mais diferentes produtos, carregando as com-pras, ele est presente, exercendo mil e umas utilidades. Material barato, seu uso acompanhou as demandas de uma socie-dade industrial que preza pela eficincia do consumo.

    So muitas as solues apontadas para os problemas do uso excessivo de plsti-co. Entretanto, uma questo ainda per-manece irresoluta. Comumente, as saco-las tambm so usadas no descarte do lixo domstico. Mesmo suspensa a distri-buio destas nos supermercados, sacos plsticos ainda so usados para acomoda-o dos resduos.

    Questionada sobre as alternativas de descarte, Maria Filomena Rodrigues diz que existem formas de melhorar e redu-zir o consumo destas sacolas de lixo, fa-zendo a reciclagem de outros materiais. A pesquisadora afirma ainda que, com pontos de coleta e depsito de material reciclvel, seria possvel diminuir tanto o volume de lixo quanto o uso de sacolas.

    Existem alternativas sacola plstica, e cabe ao consumidor fazer uma escolha consciente

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