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7ª Promotoria de Justiça de Goiânia Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 1 de 46 CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DA FAZENDA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA - ESTADO DE GOIÁS. URGENTE Distribuição por dependência Processo nº 397052-50.2014.8.09.0051 (201403970526) AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - Linhas de Transmissão de energia elétrica - Licenciamento ambiental: obrigatoriedade de observação de legislação e normas técnicas específicas - Possibilidade de danos à saúde humana por ocorrência de poluição eletromagnética - Princípio Ambiental Constitucional da Precaução - Exercício do Poder de Polícia - Embargo e Interdição de obra ambientalmente licenciada em desacordo com legislação e normas técnicas específicas. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora de Justiça que ao final assina, titular da 7ª Promotoria de Justiça de Goiânia, com atuação em matéria ambiental e urbanística, no uso de suas atribuições legais e institucionais e com fundamento nos artigos 1º, inciso IV, 5º e 21, da Lei nº 7.347/1985 (Lei de Ação Civil Pública), artigo 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei nº 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), artigos 127 e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, vem propor na forma da legislação civil e processual em vigor, a presente Ação Civil Pública Ambiental em face de :

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Meio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo

Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 1 de 46 CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DA FAZENDA

MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA - ESTADO DE GOIÁS.

U R G E N T E

Distribuição por dependência

Processo nº 397052-50.2014.8.09.0051 (201403970526)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - Linhas de

Transmissão de energia elétrica -

Licenciamento ambiental: obrigatoriedade

de observação de legislação e normas

técnicas específicas - Possibilidade de danos

à saúde humana por ocorrência de poluição

eletromagnética - Princípio Ambiental

Constitucional da Precaução - Exercício do

Poder de Polícia - Embargo e Interdição de

obra ambientalmente licenciada em

desacordo com legislação e normas técnicas

específicas.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora de

Justiça que ao final assina, titular da 7ª Promotoria de Justiça de Goiânia, com

atuação em matéria ambiental e urbanística, no uso de suas atribuições legais e

institucionais e com fundamento nos artigos 1º, inciso IV, 5º e 21, da Lei nº 7.347/1985

(Lei de Ação Civil Pública), artigo 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei nº 8.625/1993 (Lei

Orgânica Nacional do Ministério Público), artigos 127 e 129, incisos II e III, da

Constituição Federal, vem propor na forma da legislação civil e processual em

vigor, a presente

Ação Civil Pública Ambiental

em face de :

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Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Q.A-06 L.15-24, Sala 147, Jardim Goiás. p. 2 de 46 CEP 74805-100, Goiânia, Goiás. Telefone: (62) 3243-8460

MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público interno,

representado por seu Prefeito, instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito na Av.

do Cerrado, nº 999, Quadra APM-9, Park Lozandes, nesta Capital; por meio de seu

órgão ambiental, AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE (AMMA), pessoa jurídica

de direito público interno, representada por seu Presidente, sediada na Rua 75, esq.

c/ Rua 66, nº 137, Centro, nesta Capital; e

CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D), sociedade de economia mista por

ações, constituída como subsidiária integral da Companhia Celg de Participações

(CELGPAR), inscrita no CNPJ sob o nº 01.543.032/0001-04, com sede na Rua 2,

Quadra A-37, nº 505, Edifício Gileno Godói, Bairro Jardim Goiás, CEP 74805-180, na

cidade de Goiânia, capital do Estado de Goiás; pelos fatos e fundamentos a seguir

expostos.

I. DOS FATOS

Chegou ao conhecimento desta 7ª Promotoria de Justiça, especializada

na defesa do meio ambiente, patrimônio histórico e cultural e urbanismo,

informações acerca de possíveis irregularidades técnicas relativas às obras de

implantação da Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico),

em razão de sua instalação ao longo de algumas vias públicas da Capital, como as

denominadas Av. Contorno Sul (Parque Anhanguera, Jardim Atlântico e Vila Boa),

Av. Madrid (Jardim Europa e Setor Faiçalville), Av. Nadra Bufaiçal (Setor Faiçalville),

Av. Montreal, Av. Francisco de Faria (Setor Santa Rita), Av. Pres. JK, Av. Viena, Av.

São Luiz e Rua Ilda Faria Lemos.

Estas informações foram encaminhadas por populares, moradores

próximos e limítrofes à linha a ser instalada, bem como por transeuntes do local –

conforme mensagens eletrônicas e abaixo-assinado (cópias anexas) –, que alegam

que a Ré CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D) não estaria seguindo legislação e

normas técnicas específicas, diretrizes técnicas próprias, no tocante à designação

de faixa de segurança, inclusive.

Com efeito, instaurou-se investigação preliminar – Procedimento

Preparatório nº 043/2014, protocolo 201400383657 (cópias dos principais

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documentos anexadas) – a fim de verificar a ocorrência das noticiadas

irregularidades, no bojo do qual expediu-se requisição ministerial à Ré AGÊNCIA

MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE (AMMA) objetivando que esta informasse acerca da

regularidade de retirada de espécimes arbóreos ao longo das mencionadas vias

públicas, com o fim de possibilitar a instalação da citada linha de transmissão.

Porém, até a propositura da presente ação este órgão ambiental não se dignou a

atender tal solicitação.

No curso do referido Procedimento Preparatório, aportou aos autos

respectivos cópia incompleta do licenciamento ambiental da Linha de Transmissão

em questão, o qual abrangeria não só a questão relativa à retirada de espécimes

arbóreos, mas também outras questões de ordem técnica e ambiental

(encadernação anexa). Na mesma oportunidade, também foram entregues o

Plano de Gestão Ambiental (PGA) e o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV)

referentes ao empreendimento (encadernação anexada), todos apensados.

Ainda assim, considerando a inércia do órgão ambiental municipal em

atender oficialmente a requisição ministerial desta Especializada, optou-se por

solicitar laudo pericial à Coordenação de Apoio Técnico Pericial (CATEP), órgão

integrante desta Instituição.

Contudo, em razão da urgência do caso, foi proposta perante este Juízo

ação cautelar inominada com o objetivo de suspender a execução das obras de

instalação da mencionada Linha de Transmissão enquanto perdurassem as dúvidas

lançadas com as informações de possíveis irregularidades técnicas de cunho

ambiental. Nesta ação, foi proferida decisão liminar em 24/10/2014 e levada à

efeito em 27/10/2014, uma vez restando incontroverso os requisitos para sua

concessão, ante à impossibilidade de se aguardar a conclusão daquela lide, uma

vez que as obras foram iniciadas na primeira semana do mês de outubro e

avançava a passos largos.

As obras permaneceram paralisadas por curto espaço de tempo,

considerando que a referida ordem liminar foi suspensa por decisão monocrática

inaldita altera parte, proferida em sede de Agravo de Instrumento manejado pela

Requerida CELG D (protocolo nº 201494025396, cópia em anexo. Doc. 07).

Neste sentido, indispensável salientar que referida ação tem como

fundamento o princípio constitucional ambiental da precaução e como lastro os

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requisitos para concessão de ordem liminar (fumus boni iuris e periculum in mora),

que deverão ser respeitados em função de seus pedidos e enquanto perdurarem as

dúvidas relativas à possível ocorrência de danos [1] à saúde humana (por uso de

espaços públicos e privados pela coletividade nas proximidades da Linha de

Transmissão, sujeitando as pessoas à incidência de campos elétrico e magnético

dela emanados) e [2] ao meio ambiente local (preservação ambiental de Áreas de

Preservação Permanente [APP], como afloramento de nascentes do Córrego

Macambira, e minimização de danos paisagísticos, considerando a retirada de

espécimes arbóreas típicas do bioma Cerrado [Ipês, Flamboyants etc.] que

compunham a arborização urbana do local).

É evidente que a instalação da Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE

Carajás (Campinas – Atlântico) é obra de suma importância para a melhoria da

qualidade dos serviços de distribuição de energia elétrica prestados pela Requerida

CELG D na Capital.

Neste ponto cabe um esclarecimento incisivo a fim de desmistificar a

imagem que se pode querer fazer da atuação deste Requerente no presente caso:

a presente ação civil pública proposta não questiona a utilidade pública e não

situa este autor em oposição à importância da obra em questão, mas indaga a

possibilidade de sua inadequação à realidade ambiental e urbanística, incluindo a

possibilidade de danos à saúde humana, especialmente considerando o traçado

escolhido para instalação da referida Linha de Transmissão.

Contudo, a partir dos documentos que indicam o planejamento do

empreendimento pela Requerida CELG D – Plano de Gestão Ambiental (PGA) (Doc.

03) –, resta claro que esta não avaliou adequadamente as rotas opcionais de

locação da Linha de Transmissão e que o traçado escolhido seria o de menor

impacto econômico financeiro, isto sob uma visão ampla.

Acrescente-se a informação de que os projetos apresentados em 2008

ao órgão ambiental municipal (AMMA) foram realizados nos idos de 2007, quando o

cenário de ocupação do território era bem diferente do atual. Hoje, a situação

atual implica na necessária adequação e complementação das análises técnicas

outrora realizadas, em especial consideração à realidade fática atual, que é

resultado de intensas modificações e ocupações (adensamento urbano) da região

ao longo da última década (vide rota escolhida, marcada em vermelho, às fls. 12-

14, do Procedimento Preparatório. Doc. 01).

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Não bastasse tais questões negativas acima aventadas, também

noticiou-se a possibilidade de irregularidades quanto à altura dos cabos

energizados e o respectivo distanciamento de imóveis residenciais (casas e

sobrados), situação que poderá propiciar a uma elevada exposição humana aos

efeitos negativos da poluição eletromagnética inerente à transmissão de energia,

uma vez que a condução de elevada voltagem – 138kV é igual a 138.000V, o que

equivale a mais de 657 vezes a voltagem realmente disponível (210V) aos

consumidores, lembrando que a mencionada Linha de Transmissão transportará 2x

(duas vezes) essa voltagem, ou seja, haverá a emanação de campos elétricos e

magnéticos em função de 276.000V (!) – traz efeitos negativos1 como limitação de

campo elétrico, rádio interferência (RI), TV interferência (TVI), ruído audível (RA) e o

conhecido “Efeito Corona”, este capaz de liberar gases tóxicos, inclusive, além de

irradiações características capazes de causar danos à saúde humana.

Excelência, é imperioso ressaltar a ocorrência de intenso clamor social,

uma vez que a população há muito instalada à margem da futura Linha de

Transmissão em questão teme – e com razão – os efeitos negativos da obra,

especialmente quanto aos efeitos da poluição eletromagnética sobre a saúde

humana – muitos ainda desconhecidos – e ao prejuízo certo na segurança e,

consequente, incolumidade física dos transeuntes e residentes próximos. Ademais,

este clamor social foi registrado pela imprensa escrita e áudio-visual ao longo da

discussão da matéria na mencionada ação cautelar inominada em trâmite neste r.

Juízo.

Pois bem, as obras de instalação da Linha de Transmissão em comento

foram iniciadas, paralisadas por decisão liminar proferida na ação cautelar referida,

e retomadas em razão de ordem de 2ª instância. Uma vez concluída a instalação

da LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico) que, cumpre ressaltar, possui mais

de 8,5km (oito quilômetros e quinhentos metros) de extensão, seu desfazimento e

refazimento – seja por adequação ou por alteração de traçado – pode ser tão

oneroso à Requerida CELG D quanto as indenizações porventura devidas à

população eventualmente prejudicada.

Cumpre salientar, ainda, que o objetivo da presente ação civil pública

não é outro senão prevenir prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente, em que

pese tal intenção ter a possibilidade de redundar em economia financeira à

1 (CELG. Documentos Técnicos) Estudos Elétricos de Interferência – Regime Normal – LTCA-09-01. p.2/17 (Doc. 03).

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Requerida CELG D.

Portanto, frisa-se que a suscitação de discussão técnico-jurídica não tem

o fim de atravancar o desenvolvimento e as necessárias melhorias na prestação de

serviço de interesse público. Este não é – nunca foi e não será – o objetivo do

Requerente MINISTÉRIO PÚBLICO.

Por essa razão o MINISTÉRIO PÚBLICO socorre-se ao Poder Judiciário para

que determine a IMEDIATA SUSPENSÃO DAS OBRAS de instalação da Linha de

Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico), bem como determine à

Requerida AMMA que apresente cópia integral dos procedimentos de

licenciamento relativos à totalidade da Linha de Transmissão em questão, tanto

para análise de sua regularidade pelo órgão técnico do Ministério Público quanto

para dirimir possíveis dúvidas deste Juízo, tudo como ao final se requer.

I.I. Da retirada de espécimes arbóreos e da abrangência da [1] investigação civil

anterior perante a 81ª Promotoria de Justiça da Capital e da [2] ação civil

pública proposta pelo Grupo Ecológico Guardiões do Verde (ONG)

Objetivando elidir de imediato qualquer argumentação no sentido de

que a matéria questionada na presente ação estaria superada por análise anterior

em sede de investigação civil administrativa operada pela 81ª Promotoria de

Justiça da Capital e de ação civil pública manejada por ONG ambientalista, bem

como no sentido de que as obras de instalação da Linha de Transmissão LT 2x 138kV

SE Carajás (Campinas – Atlântico) tiveram início com estudos e licenciamento

ambiental, com estrita observância dos imperativos legais, aduzimos o seguinte.

Em relação à atuação da 81ª Promotoria de Justiça da Capital, temos,

contudo, que existiram sim questionamentos anteriores restritos à retirada de

palmeiras imperiais e ao traçado da rede de alta tensão especificamente no trecho

situado ao longo da Av. Contorno Sul, no Parque Anhanguera I, nesta Capital.

Neste diapasão foi a argumentação expendida na “Informação Técnica

013/2013”2 (fls. 15-17 do Procedimento Preparatório. Doc. 01), que balizou o

encerramento da atuação anterior da 81ª Promotoria de Justiça da Capital, como

2 Documento técnico apresentado em resposta à solicitação da 81ª Promotoria de Justiça da Capital,

quando da realização de investigação anterior.

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de fato o Promotor de Justiça titular daquela aduziu por meio de despacho3

exarado no Procedimento Preparatório desta 7ª Promotoria de Justiça da Capital4,

dizendo que

“(...) o objeto do inquérito que tramitou e foi arquivado perante a 81ª

Promotoria de Justiça, há mais de 6 (seis) meses, referiu-se à extirpação de

palmeiras e traçado da rede de alta tensão na Av. Contorno Sul, no Parque

Anhanguera I, inexistindo análise da questão, inclusive, sobre o aspecto da

eventual interferência eletromagnética em outros logradouros, como no

caso objeto do presente procedimento, devendo, salvo melhor

entendimento, diante da impossibilidade de reabertura do procedimento

arquivado há mais de 6 (seis) meses e ampliação do seu objeto para

inclusão de novos logradouros (Av. Madri, no Jardim Europa; e Av. Nadra

Bufaiçal, no Setor Faiçalville) a questão ser enfrentada pela própria

promotoria remetente (...), reafirmando-se, no entanto, que não foram

analisadas no procedimento que tramitou na 81ª Promotoria de Justiça, as

questões do traçado da rede de alta tensão, as distâncias mínimas de

segurança e eventuais intercorrências decorrentes das interferências

eletromagnéticas nas ruas e endereços referidos e objeto do presente

procedimento, tendo sido a questão exaurida em relação ao traçado da Av.

Contorno Sul.” (Grifamos)

Do mesmo modo ocorre em relação ao objeto da ação civil pública

(protocolo nº 201201218548) proposta pelo Grupo Ecológico Guardiões do Verde

(ONG), de sorte que a ação cautelar inominada proposta pela 7ª Promotoria de

Justiça da Capital – e, por consequência, a presente ação civil pública ambiental

dela decorrente – também é mais abrangente que a atuação da citada entidade

ambientalista, como também o é em relação à atuação anterior da 81ª Promotoria

de Justiça da Capital.

Assim, não há qualquer possibilidade, por mais remota que seja, de se

considerar que a questão teria sido ampla ou totalmente questionada no âmbito

da defesa dos interesses difusos operada pelo Requerente MINISTÉRIO PÚBLICO, por

meio de qualquer de suas Promotorias de Justiça com atribuição em defesa do

meio ambiente e urbanismo, ou mesmo por associação legitimada, no âmbito

judicial, como autoriza a Lei da Ação Civil Pública5 neste último caso.

É imprescindível, neste momento, ressaltar que a população que será

diretamente atingida pela operação da Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE

3 “Despacho 444/2014”, da 81ª Promotoria de Justiça de Goiânia, exarado em 11/10/2014 (fls. 57-58, do

Procedimento Preparatório. Doc. 01). 4 Procedimento Preparatório nº 043/2014, protocolo nº 201400383657, que segue em anexo. 5 Lei nº 7.347/1985, artigo 5º, inciso V.

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Carajás (Campinas – Atlântico) não foi convocada para participar de qualquer

audiência pública sobre esta obra. Neste sentido, a comunidade provocou a

realização de um debate prévio com a Requerida CELG D, o que ocorreu em

04/11/2014, conforme noticiado pela imprensa.

Ademais, as questões levantadas na Ação Cautelar Inominada proposta

pelo Requerente MINISTÉRIO PÚBLICO revelam grave desrespeito ao ordenamento

jurídico pertinente à preservação do meio ambiente e, por consequência, da

saúde humana.

Acionar todo o aparato judicial disponível neste momento foi uma

escolha em respeito às notícias fundamentadas trazidas por cidadãos aviltados em

seu direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, enquanto “bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, cuja defesa e

preservação para as presentes e futuras gerações são obrigações impostas “ao

Poder Público e à coletividade”6, lembrando que tais obrigações, especialmente no

que pertine à preservação, também recaem sobre o Poder Judiciário, por integrar o

Poder Público consagrado na Carta Magna.

As notícias mencionadas tanto são fundamentadas que, perante a ação

cautelar inominada antecessora da presente ação, seguiu petição do Requerente

MINISTÉRIO PÚBLICO (fls. 162-164, do Procedimento Preparatório) informando a

elaboração de documento técnico intitulado “LAUDO SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA

LINHA DE TRANSMISSÃO DE ALTA TENSÃO S/E CARAJÁS – S/E ATLÂNTICO GOIÂNIA-

GO”, da lavra do Engenheiro Eletricista, Engenheiro de Segurança do Trabalho,

Gestor e Auditor Ambiental e, também, Perito Judicial, Sr. Nassim Taleb, elaborado

em 27/10/2014 (fls. 133-143, do Procedimento Preparatório), em que atesta vários

problemas em relação à possível má escolha do local para instalação da Linha de

Transmissão em comento.

Assim, frise-se: o objeto sob discussão na ação cautelar e na presente

ação civil pública não se restringe à retirada de espécimes arbóreos há muito

plantados ao longo das vias públicas onde a Agravante CELG D deseja instalar a

Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico).

Vai, sim, muito além de meros danos paisagísticos por retirada de

palmeiras imperiais, ou ambientais e paisagísticos pela eliminação de espécimes 6 CF, 225, caput.

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típicos do bioma Cerrado (Ipês, Flamboyants etc.), pois aqui estamos a tratar da

iminente potencialidade de prejuízos ao meio ambiente urbano e de danos à saúde

humana de todos que permanecerem e/ou transitarem próximos à Linha de

Transmissão.

Neste sentido tem sido as manifestações de cidadãos nos autos da

investigação civil preliminar no âmbito do Ministério Público do Estado de Goiás.

E, repise-se, o objeto da investigação desencadeada em Procedimento

Preparatório pela 7ª Promotoria de Justiça da Capital – como comprovam os

documentos anexos –, da ação cautelar preparatória anteriormente proposta e da

presente ação civil pública ultrapassam largamente os objetivos da ação civil

pública intentada pela mencionada ONG ambientalista e das investigações

anteriores manejadas pela 81ª Promotoria de Justiça da Capital. Isto é fato

inconteste.

I.II. Da avaliação insuficiente dos demais traçados indicados no Plano de Gestão

Ambiental (PGA) para locação da Linha de Transmissão objeto da lide

Fazendo-se remissão ao “Plano de Gestão Ambiental - PGA” apontamos

as seguintes inconsistências relativas à escolha inapropriada do traçado para

instalação da Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico),

identificado como “Opção IB”.

Observe-se que a Requerida CELG D, já nos estudos ambientais da obra,

especificamente em relação ao meio biótico, evidencia a predileção por

determinado percurso para instalação da Linha de Transmissão,

independentemente de estudos aprofundados das demais opções. Assim são os

dizeres constantes do PGA elaborado pela recorrente em maio de 2008:

“6.2.2.2. Traçado da Opção IB

(...) Diferentemente aos outros traçados fez-se um diagnóstico mais

detalhado desta opção.” (Negrito no original, sublinhado nosso).

Veja-se e compare-se a extensão da análise da “Opção IB” em relação

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aos traçados “Opção IA”, “Opção II” e “Opção III”, especialmente considerando a

disposição prevista para a faixa de segurança, conforme determina a legislação

específica e normas técnicas correspondentes.

Para melhor ilustrar, imagens de satélite atuais7 demonstram a rota

escolhida – linha em vermelho – e outras duas rotas possíveis – linhas em azul e em

verde (fls. 12-14, do Procedimento Preparatório. Doc. 01).

O mesmo tendencionismo se repete quando da análise do uso e

ocupação na área de influência do empreendimento. Veja o item “6.2.2.2. Traçado

da Opção IB”, no mencionado PGA.

Mais adiante, no item “7.3.1.3. Análise comparativa das opções”, nos

causou surpresa o fato da “Opção IA” obter a melhor pontuação ponderada na

comparação entre os traçados e não a opção elegida pela Requerida CELG D.

Por fim, quanto ao mencionado PGA do empreendimento, verifica-se

junto ao tópico “8. PROPOSIÇÕES DE MEDIDAS MITIGADORAS” a ausência de

medidas mitigadoras indispensáveis com relação ao controle de possível poluição

por emanação de campos elétricos e magnéticos, o que torna o trabalho técnico

apresentado ao órgão ambiental licenciador – Requerida AGÊNCIA MUNICIPAL DO

MEIO AMBIENTE – carecedor de fundamentação, situação que interfere

negativamente na emissão da Licença Ambiental de Instalação, maculando-a de

nulidade, bem como na futura Licença Ambiental de Operação.

Não bastasse tais incongruências, com o início das obras de instalação

da mencionada Linha de Transmissão os operários descobriram – pasmem, é esse

mesmo o termo adequado – a existência de uma adutora de água potável de

responsabilidade da empresa Saneamento de Goiás S.A. (SANEAGO) – (fotografias

em anexo. Doc. 06), o que tecnicamente pode inviabilizar por completo a

execução da obra no local, haja vista que a existência de equipamentos públicos

desta natureza são incompatíveis com a instalação de Linhas de Transmissão.

A piorar a situação de irregularidade ambiental da Linha de Transmissão

LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico) está, também, a tentativa de

instalação de torres em pontos onde há a ocorrência de afloramento de nascente

do Córrego Macambira – portanto Área de Preservação Permanente (APP) -

7 Fonte: Software “Google earth”.

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(fotografias em anexo. Doc. 06) –, como já devidamente noticiado a este Juízo nos

autos da ação cautelar inominada (fls. 162-164 do Procedimento Preparatório. Doc.

01).

Ora Meritíssimo, diante de tantos argumentos e contra-argumentos, das

informações técnico-científicas que solapam parte considerável dos estudos

técnicos da recorrente, das informações de graves prejuízos ambientais e da

possibilidade de danos irreversíveis à saúde das pessoas direta e indiretamente

influenciadas pelas emanações dos campos elétricos e magnéticos provenientes

desta Linha de Transmissão, resta mais que notável que a Requerida CELG D primou

sua escolha de traçado considerando basicamente critérios técnicos que melhor

favorecessem a viabilidade e sustentabilidade financeira da execução e operação

do empreendimento!

Em momento algum foi dada a devida importância aos preceitos

ambientais, conservacionistas e de precaução com objetivo a não causar danos

ao meio ambiente e à saúde humana! Em momento algum a população

diretamente atingida foi chamada a tomar ciência e opinar acerca da instalação

desta Linha de Transmissão!

Portanto, mais clara que a iluminação artificial propiciada pelo

fornecimento de energia elétrica pela recorrente aos gabinetes de tantos quantos

tenham conhecimento da ação cautelar inominada, da presente ação civil

pública e da demanda em si, são as intenções notadamente econômico-

financeiras demonstradas pela Requerida CELG D, em detrimento da pretensão do

Requerente MINISTÉRIO PÚBLICO, este sim a primar pela devida sustentabilidade

ambiental de empreendimentos de utilidade pública como o que aqui se pretende

levar a cabo a todo custo!

I.III. Da possibilidade de ocorrência de poluição por emanação de campos

elétricos e magnéticos e da irregularidade na delimitação da faixa de

segurança ao longo da Linha de Transmissão

Este ponto será breve, em respeito ao que será adiantado acerca da

observação incompleta das normas técnicas por parte da Requerida CELG D e dos

Requeridos MUNICÍPIO DE GOIÂNIA e AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE,

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lançado adiante no tópico “II. DO DIREITO”, posto que despiciendo repisar a

argumentação técnico-científica ali esposada.

Contudo, reitera-se a convicção de que a Requerida CELG D,

especificamente no caso da projeção e instalação da Linha de Transmissão LT 2x

138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico), não se baseou em análise criteriosa e

aprofundada de todas as variáveis técnico-científicas tidas como indispensáveis à

atividade a que se propõe, aqui em relação à possibilidade de ocorrência de

poluição elétrica e magnética e seus efeitos negativos ao meio ambiente e à saúde

humana.

E, mesmo considerando que assim tivesse agido – uma vez que parte

considerável do rigor técnico necessário ao caso não restou demonstrado em

nenhum momento no Plano de Gestão Ambiental (PGA) do empreendimento (Doc.

03) –, ainda restaria por cumprir a fase de análise das ditas variáveis para efeito de

comprovação de não ocorrência de poluição por emanação de campos elétricos

e magnéticos quando do comissionamento da obra, ou seja, antes de colocar em

operação a Linha de Transmissão em questão.

Portanto, a Requerida CELG D somente poderá atestar a não ocorrência

de poluição por emanação de campos elétricos e magnéticos – em níveis

prejudiciais à saúde – após realizados testes em número suficiente, de forma a

descartar a possibilidade de danos ambientais e ao ser humano, tanto na fase de

comissionamento quanto após a operação da Linha de Transmissão.

Em relação à delimitação das medidas da faixa de segurança, de igual

modo, não carece maiores comentários de ordem técnico-científica, posto que já

constam do tópico “II. DO DIREITO”.

Contudo, cumpre observar que a “Licença Ambiental de Instalação nº

033/2014” (fls. 286. Doc. 02), emitida pela Requerida AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO

AMBIENTE (AMMA) – em que pese este órgão ambiental municipal não ter, ao que

tudo indica, procedido à devida análise dos requisitos técnicos mínimos a viabilizar

o licenciamento de obra tão específica –, obriga a Requerida CELG D a cumprir

toda a legislação ambiental pertinente ao caso, bem como o “Relatório de Vistoria

Técnica 281/2009”, datado de 26/11/2009 e da lavra do mesmo órgão ambiental,

faz referência a faixa de segurança como sendo a “área de servidão da CELG,

onde passa a linha de transmissão (...) faixa de 17,00 metros, à direita e à esquerda

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a partir do eixo central desta linha.” (sic, grifamos).

Oportuno, ainda, frisar que há indícios suficientes de que a Requerida

CELG D teria cometido significativos equívocos técnicos por ocasião da elaboração

do projeto, especialmente pela razão de que o planejamento e execução de tal

obra se arrasta desde meados deste século, bem como as notícias de possível

utilização de materiais com especificações diversas das constantes do projeto

licenciado.

I.IV. Por fim, breve comentário acerca da incongruência em suspender decisão

liminar em ação cautelar inominada predecessora, uma vez atendidos os

requisitos para sua concessão

Como já salientado, o objeto da ação cautelar c/c pedido liminar,

predecessora à presente ação civil pública, proposta em desfavor dos mesmos ora

Requeridos, não é outro senão defender e assegurar a eficácia de um direito da

coletividade, consubstanciado na proteção ao meio ambiente sadio e equilibrado,

especificamente pela não ocorrência de poluição eletromagnética e outras formas

de degradação ambiental ao longo do traçado escolhido para instalação da

Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico).

Assim, sua finalidade é alcançar um ato de precaução promovido pelo

Poder Judiciário, no qual o magistrado pode deferir ordem para suspensão de obras

quando houver manifesta gravidade, quando for claramente comprovado um risco

de lesão de qualquer natureza, ou na hipótese de ser demonstrada a existência de

motivo justo, amparado legalmente.

E assim ocorreu com a decisão liminar proferida pela MM. Juíza

Plantonista na Comarca da Capital, Dra. Suelenita Soares Correia, no plantão

forense do dia 27/10/2014, e devidamente mantida por este MM. Juiz Titular da 3ª

Vara da Fazenda Pública Municipal (extrato anexo. Doc. 07).

Neste aspecto, em que pese a análise do Desor. Relator quando da

prolação da decisão monocrática que suspendeu os efeitos de ordem liminar

exarada por Juízo de 1ª instância (cópia em anexo. Doc. 07), temos no presente

caso a avaliação e concordância de dois magistrados no tocante ao deferimento

e manutenção daquela mencionada decisão liminar, a qual determinou tão

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somente a imediata suspensão das obras de instalação da Linha de Transmissão LT

2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico) especificamente nos trechos em que a

faixa de segurança esteja em medida inferior a 8 (oito) metros para cada lado do

eixo da linha, conforme norma editada pela própria Requerida CELG D.

Assim, a argumentação lançada pelo Requerente MINISTÉRIO PÚBLICO

ao propor a referida ação cautelar inominada é suficiente à sua natureza e

demonstra, cabalmente, a presença da urgência e a existência de normas jurídicas

a embasar os pedidos nela insculpidos.

E, agora, no mesmo sentido, temos que permanece a urgência e o

direito a ensejar a tutela liminar ora pretendida na presente ação civil pública

ambiental, que objetiva, entre outras providências, a simples compatibilização da

pretensão da Requerida CELG D com a legislação ambiental aplicável ao caso,

como ao final se requer.

II. DO DIREITO

No ordenamento jurídico pátrio, desde o espírito da Carta Magna até a

legislação ambiental mais específica, vige o Princípio da Precaução, que

estabelece a vedação de intervenções no meio ambiente, salvo se houver a

certeza que as alterações não causaram reações adversas, já que nem sempre a

ciência pode oferecer à sociedade respostas conclusivas sobre a inocuidade de

determinados procedimentos.

Por fim, ressalte-se que um dos principais instrumentos do princípio da

precaução é o estudo prévio de impacto ambiental, expressamente referido no

inciso IV do artigo 225 da Constituição Federal, por meio do qual devem ser

estimados os riscos que tragam as instalações de obras ou atividades

potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. O fato

desse importante instrumento ser obrigatoriamente público demonstra que o

princípio da precaução é afeto não só a determinadas camadas sociais, mas à

toda sociedade.

Neste sentido, nossa Constituição Federal, em capítulo específico,

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disciplina que:

DO MEIO AMBIENTE

Artigo 225 - Todos têm direito ao ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial á sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presente e futuras gerações.

IV - Exigir na forma da lei, para instalação de obra ou atividade

potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,

estudo prévio de impacto ambiental, a que se da publicidade.

Acerca do licenciamento ambiental e de estudos de impacto de

vizinhança, a Lei nº 7.347/1985 é clara ao estabelecer que:

Art. 8º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades

competentes as certidões e informações que julgar necessárias, a serem

fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil,

ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões,

informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá

ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada

certidão ou informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta

desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.

(...)

Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três)

anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do

Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados

técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo

Ministério Público.

Já a norma técnica8 produzida diretamente pela Requerida CELG D traz

definições claras aplicáveis ao caso:

4.4 FAIXA DE SEGURANÇA - É a faixa de terra ao longo do eixo da linha

aérea de subtransmissão e transmissão, necessária para garantir seu bom

8 ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA PARA LIMITAÇÃO DO USO DE FAIXA DE LINHAS DE SUBTRANSMISSÃO E TRANSMISSÃO DA

CELG PAR - 69 kV, 138 kV E 230 kV – LTP-AA1.039/00 (fls. 82-94V. Doc. 01).

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desempenho, a segurança das instalações e de terceiros.

4.5 LARGURA FAIXA DE SEGURANÇA - É o espaço de terra transversal ao eixo

da linha de subtransmissão e transmissão e determinado em função de suas

características elétricas e mecânicas, necessário para garantir o bom

desempenho da linha, sua inspeção, manutenção e a segurança das

instalações e de terceiros.

4.6 DISTÂNCIA DE SEGURANÇA - É o afastamento mínimo do condutor e seus

acessórios energizados a quaisquer partes, energizadas ou não, da própria

linha e ao solo ou a obstáculos próximos à linha, conforme prescrições da

NBR 5422.

(...)

5 LARGURA DA FAIXA SEGURANÇA

(...)

5.4 Deverá ser considerada uma faixa adicional, caso seja constatada a

presença de plantações de elevado porte, lavouras de cana de açúcar,

açudes transversais à linha ou edificações que possam prejudicar a

operação ou a manutenção da LT.

(...)

6 LIMITAÇÃO DO USO DA FAIXA DE PASSAGEM

(...)

6.2 Nas áreas urbanas as restrições de uso e ocupação são mais rígidas,

principalmente pelo fato de que a maior densidade populacional nos

grandes centros urbanos potencializa a exposição de indivíduos a condições

de riscos indesejáveis, sendo priorizadas a segurança e as condições

operativas adequadas da instalação.

(...)

6.4 As restrições não são aplicáveis apenas à região dos cabos energizados,

mas estendem-se à largura total da faixa de passagem da linha, a qual

varia dependendo da classe de tensão.

(...)

7.3.2 Para o caso de uma única linha, deverão ser construídas ruas marginais

à LT separadas por um canteiro central, sem passeio. Na classe de tensão de

69 kV o canteiro deverá ter no mínimo 12 metros de largura, 6 metros para

cada lado do eixo da LT. Para 138 kV, o canteiro central deverá ter no

mínimo 16 metros de largura, 8 metros para cada lado do eixo da LT.

(...)

7.3.4 Para o caso de linhas na tensão de 138 kV, após análise técnica

específica, poderá ser permitida pela CELG PAR a construção de ruas

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marginais à LT dentro da faixa, desde que separadas por um canteiro central

de no mínimo 12 metros de largura (6 m para cada lado do eixo da LT), sem

passeio.

(...)

7.3.17 Nos pontos de deflexão da linha, onde ocorrer cruzamentos de ruas,

o canteiro deverá possuir uma dimensão mínima de 18 metros. Neste caso,

deverá ser construída uma rotatória com raio mínimo de 9 m. – (Negrito

no original, sublinhamos)

Já de forma um tanto diversa, norma técnica emitida pela empresa CPFL

Energia9, que engloba a Companhia Paulista de Força e Luz e a Companhia

Piratininga de Força e Luz, ambas atuantes no Estado de São Paulo, dispõe que:

5.1. Largura da faixa de servidão e segurança

É determinada em função das características civis, elétricas e mecânicas da

LT, visando garantir a operação, inspeção e manutenção da linha, além da

perfeita segurança das instalações e de terceiros.

Nos casos mais comuns, as faixas de servidão e segurança das LTs da CPFL

têm a largura mínima de 30 metros, 15 metros para cada lado do eixo, para

as linhas de 69, 88 e 138 kV e a largura mínima de 20 metros, 10 metros para

cada lado do eixo, para as linhas de 34,5 kV.

(...)

Caso, na fase de projeto, seja constatada a necessidade de faixa adicional,

pela presença de plantações de elevado porte ou edificações que venham

a prejudicar a operação ou a manutenção da LT, a largura da faixa prevista

junto à ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, deve abranger estes

obstáculos. – (Negrito no original, sublinhamos)

Caracteriza-se assim a necessidade de intervenção do Poder Judiciário,

aplicando a legislação retro e permitindo que o Ministério Público averigue a notícia

de fato relativa à eventual irregularidade na instalação das obras de instalação da

Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico).

9 “Ocupação de Faisa de Linha de Transmissão”, instrução nº 22, versão 1.11, que trata de Orientação

Técnica aplicável em Linhas de Transmissão, publicada em 28/08/2007. (Doc. 09)

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II.I. Das leis e normas aplicáveis ao caso e do conhecimento técnico e científico

não observados

Meritíssimo Juiz, como já salientado, a potencialidade do dano ora

investigado pela 7ª Promotoria de Justiça, tratada inicialmente na ação cautelar

inominada, diz respeito aos riscos de tráfego ou permanência de seres humanos sob

a faixa de segurança da Linha de Transmissão em comento devido à propagação

de campos elétricos e magnéticos no tempo em níveis superiores ao permitido em

normas técnicas aplicáveis ao caso por força de lei e, por consequência, em

índices superiores aos indicados como seguros para exposição humana, bem como

em razão da possibilidade – ainda que remota – de acidentes de grandes

proporções e de graves consequências no caso de rompimento de cabos

energizados em alta voltagem (276.000 V, equivalente a mais de 1.300 vezes a

voltagem disponível em uma tomada elétrica residencial).

Portanto, a discussão principal, em contraponto a qualquer

argumentação a favor de maior viabilidade econômica e suposto menor prejuízo

“paisagístico”, é inerente à segurança e à saúde dos cidadãos que estarão sob a

influência das emanações elétricas e magnéticas da Linha de Transmissão LT 2x

138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico) e sob a potencialidade de danos de

grandes proporções – com possíveis perdas humanas, inclusive – por acidentes que

possam provocar o rompimento de cabos energizados.

Neste sentido, estabelece a Lei nº 11.934/2009, que dispõe sobre limites à

exposição humana a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos:

Art. 1º Esta Lei estabelece limites à exposição humana a campos elétricos,

magnéticos e eletromagnéticos, associados ao funcionamento de estações

transmissoras de radiocomunicação, de terminais de usuário e de sistemas

de energia elétrica nas faixas de frequências até 300 GHz (trezentos

gigahertz), visando a garantir a proteção da saúde e do meio ambiente.

Parágrafo único. Estão sujeitos às obrigações estabelecidas por esta Lei as

prestadoras de serviço que se utilizarem de estações transmissoras de

radiocomunicação, os fornecedores de terminais de usuário comercializados

no País e as concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviços de

energia elétrica.

Art. 2º Os limites estabelecidos nesta Lei referem-se à exposição:

I - da população em geral aos campos elétricos, magnéticos e

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eletromagnéticos; e

II - de trabalhadores aos campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos

em razão de seu trabalho.

Art. 3º Para os fins desta Lei, são adotadas as seguintes definições:

I - área crítica: área localizada até 50 (cinqüenta) metros de hospitais,

clínicas, escolas, creches e asilos;

II - campos elétricos e magnéticos: campos de energia independentes um

do outro, criados por voltagem ou diferença de potencial elétrico (campo

elétrico) ou por corrente elétrica (campo magnético), associados à geração,

transmissão, distribuição e uso de energia elétrica;

III - campos eletromagnéticos: campo radiante em que as componentes de

campo elétrico e magnético são dependentes entre si, capazes de percorrer

grandes distâncias; para efeitos práticos, são associados a sistemas de

comunicação;

IV – (omissis);

V - sistema de energia elétrica: conjunto de estruturas, fios e cabos

condutores de energia, isoladores, transformadores, subestações e seus

equipamentos, aparelhos, dispositivos e demais meios e equipamentos

destinados aos serviços de geração, transmissão, distribuição e ao uso de

energia elétrica;

VI - exposição: situação em que pessoas estão expostas a campos elétricos,

magnéticos ou eletromagnéticos, ou estão sujeitas a correntes de contato ou

induzidas, associadas a campos elétricos, magnéticos ou eletromagnéticos;

VII a XI – (omissis);

XII - relatório de conformidade: documento elaborado e assinado por

entidade competente, reconhecida pelo respectivo órgão regulador federal,

contendo a memória de cálculo ou os resultados das medições utilizadas,

com os métodos empregados, se for o caso, para demonstrar o atendimento

aos limites de exposição;

XIII - taxa de absorção específica - SAR: medida dosimétrica utilizada para

estimar a absorção de energia pelos tecidos do corpo;

XIV e XV – (omissis).

Art. 4º Para garantir a proteção da saúde e do meio ambiente em todo o

território brasileiro, serão adotados os limites recomendados pela

Organização Mundial de Saúde - OMS para a exposição ocupacional e da

população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos

gerados por estações transmissoras de radiocomunicação, por terminais de

usuário e por sistemas de energia elétrica que operam na faixa até 300 GHz.

Parágrafo único. Enquanto não forem estabelecidas novas recomendações

pela Organização Mundial de Saúde, serão adotados os limites da Comissão

Internacional de Proteção Contra Radiação Não Ionizante - ICNIRP,

recomendados pela Organização Mundial de Saúde.

(...)

Art. 15. Cabe ao órgão regulador federal de serviços de energia elétrica

adotar as seguintes providências:

I - editar regulamentação sobre os métodos de avaliação e os

procedimentos necessários para verificação do nível de campo elétrico e

magnético, na fase de comissionamento e autorização de operação de

sistemas de transmissão de energia elétrica, e sobre os casos e condições de

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medição destinada à verificação do atendimento dos limites estabelecidos

por esta Lei;

II e III – (omissis).

Art. 16. Os concessionários de serviços de transmissão de energia elétrica

deverão, na fase de autorização e comissionamento de novo sistema de

transmissão de energia ou sempre que houver alteração nas características

vigentes dos sistemas de transmissão, realizar medições dos níveis de campo

elétrico e magnético ou apresentar relatório de cálculos efetuados com

metodologia consagrada e verificação de conformidade, conforme

estabelecido pela normatização metodológica vigente. – (Grifamos)

Primeiramente, em atenção ao dispõe o parágrafo único do artigo 4º da

lei federal acima transcrita, tem-se que a proteção à saúde e ao meio ambiente

em todo o território brasileiro deverá ser garantida observando-se e adotando-se os

limites recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a exposição

humana a campos elétricos e magnéticos gerados por sistemas de energia elétrica

que operam em qualquer faixa de frequência no intervalo de 0 a 300 GHz.

Obtemperou o legislador, ainda, que no caso do mencionado

organismos mundial não estabelecer novas recomendações, serão adotados os

limites preconizados pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não

Ionizante (ICNIRP)10, isto por própria recomendação da Organização Mundial de

Saúde (OMS).

Veja Excelência que é nítida a preocupação do legislador com a

precaução inerente aos possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente,

especialmente considerando a natureza da comissão internacional ligada à

matéria, pois está-se aqui a sopesar as indicações de uma comissão supranacional

especializada em proteção contra radiação não-ionizante que inclui em suas

atividades a determinação de limites de exposição aos campos elétricos e

magnéticos.

Somente a título de informação, a Comissão Internacional de Proteção

Contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP) é uma organização científica, sem fins

lucrativos e independente. Foi fundada em 1992 pela Associação Internacional de

Proteção Contra Radiações (IRPA)11 , com a qual mantém relações estreitas, e está

10 “International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP)”, disponível em

<http://www.icnirp.org/>. 11 “International Radiation Protection Association (IRPA)”, disponível em < http://www.irpa.net/>.

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sediada na Alemanha.

A missão da ICNIRP é apresentar e avaliar os conhecimentos científicos e

os resultados recentes para fornecer orientações sobre proteção de radiação não-

ionizante, produzindo comentários acerca do conhecimento científico atual, bem

como diretrizes que resumem sua avaliação.

A ICNIRP é composta por uma comissão principal – cujos membros

mantém-se vinculados por no máximo 14 (catorze) anos, com o objetivo de garantir

a eficiência e a isenção de seus estudos e trabalhos –, e por quatro comissões

permanentes – com até 8 (oito) membros integrando as áreas de epidemiologia,

biologia e medicina, física e dosimetria e radiação óptica. Os seus membros são

cientistas empregados geralmente por universidades ou agências de proteção

contra radiação, porém, não representam interesses específicos do seu país de

origem, nem do seu instituto e não podem ser empregados por empresas

comerciais.

Assim, considerando a especificidade e isenção de seu trabalho, as

autoridades nacionais em mais de 50 (cinquenta) países e autoridades da União

Europeia adotaram as diretrizes do ICNIRP, e as traduziu para o seu próprio quadro

regulamentar sobre a proteção da população e dos trabalhadores contra os efeitos

adversos para a saúde causados pela exposição à radiação não-ionizante.

E, do mesmo modo procedeu o Brasil, ao editar a Lei nº 11.934/2009

(cópia em anexo. Doc. 09), que estabelece como regra a utilização dos parâmetros

estabelecidos pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não

Ionizante (ICNIRP) e convalidados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Portanto, é diante deste panorama acerca da adoção de normas e

índices internacionais no estabelecimento de limites à exposição humana a

campos elétricos e magnéticos que se faz, a seguir, duas afirmações:

1º) O órgão nacional regulador das atividades de geração e distribuição

de energia elétrica – Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) – tem editado

normas menos protetivas à saúde humana e ao meio ambiente – a exemplo da

Resolução Normativa ANEEL nº 398/2010 (Doc. 09) – e, neste sentido, em desacordo

com legislação superior que determina a observância de valores e índices

estabelecidos pela Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não

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Ionizante (ICNIRP)12, os quais são referendados pela Organização Mundial da Saúde

(OMS)13 – (Doc. 09); e

2º) A Requerida CELG D – como tantas outras empresas públicas e

privadas do País – tem se valido dessa inconsistência normativa para, também,

legislar em causa própria, por meio de suas normas técnicas internas, o que termina

por menosprezar estudos técnicos atualizados e de ponta, além de outros

indicadores de boas práticas para instalação de Linhas de Transmissão14 (Doc. 08).

Explica-se:

Em relação ao 1º item acima, partindo de consulta aos sítios na internet

da Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP) e

da Organização Mundial da Saúde (OMS)15, o primeiro indica os organismos e

instituições que acatam suas diretrizes, mencionando a Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL) somente em relação à regulação de limites para

emanação de campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos de alta

frequência (faixa compreendida entre 900 MHz e 2,45 GHz, utilizada por telefonia

móvel e fornos de micro-ondas, por exemplo).

Ou seja, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) não é

mencionada pela ICNIRP como entidade reguladora de limites para emanação de

campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos de baixa frequência (faixas de 50

Hz e 60 Hz, utilizada pelas Linhas de Transmissão).

Neste ponto, resta a dúvida: a ICNIRP não reconheceria a própria ANEEL

em si como entidade reguladora de limites para emanação de campos elétricos,

magnéticos e eletromagnéticos de baixa frequência (faixas de 50 Hz e 60 Hz) OU

não reconhece os parâmetros por esta fixados neste caso com a Resolução

Normativa nº 398/2010 ?

Insta salientar, ainda, que os parâmetros estabelecidos pela ANEEL não

seguem os fixados pela OMS, uma vez que esta se limita à frequência de 50 Hz e o

órgão brasileiro trata, de forma extremamente autônoma, também da frequência

12 “ICNIRP GUIDELINES For Limiting Exposure To Time-Varying Electric And Magnetic Fields (1 Hz – 100

kHz)” 13 Lei nº 11.934/2010, artigo 4º. 14 Neste sentido, confiram artigo de especialista e dissertação de mestrado anexados. 15 Respectivamente <http://www.icnirp.org/> e <http://www.who.int/>.

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de 60 Hz.

Observe-se, inclusive, que a tal pretexto a ANEEL alterou a resolução

normativa indicada ampliando os limites do Campo Magnético (medido em µT),

como pode ser comprovado pelo quadro apresentado junto ao artigo 3º da

referida norma.

Outra alteração negativa substancial na mencionada resolução

normativa da ANEEL foi a retirada da exigência deste órgão regulador em relação

à obrigação dos “agentes de transmissão” de enviarem o memorial de cálculo ou o

relatório das medições dos campos elétrico e magnéticos até o final da fase de

comissionamento16, o que quer dizer que os “agentes de transmissão” ficaram

isentos da obrigação de apresentar dados referentes à fase de instalação e de

testes da Linha de Transmissão.

Ou seja, enquanto a Constituição Federal, a Lei nº 11.934/2009 e

organismos internacionais especializados compactuam pela aplicação do princípio

ambiental da precaução, a Requerida CELG D, seguindo normativas próprias e da

ANEEL17, busca a todo custo desviar-se ao cumprimento de tal princípio – que tem

origem em tratados internacionais do qual o Brasil é signatário –, incorre em grave

desprezo ao zelo do legislador pátrio (Constituinte, inclusive) com o meio ambiente

sadio e equilibrado para as presentes e futuras gerações.

Portanto, ao regular critérios não estabelecidos pela mencionada

comissão internacional ou pela OMS, a ANEEL chama para si a total

responsabilidade pelo regramento da matéria. E do mesmo modo age a Requerida

CELG D ao também legislar em causa própria, quando estabelece, de forma

deliberada, critérios incompletos para avaliação e delimitação de faixa de

segurança para Linhas de Transmissão, como analisamos a seguir.

Acerca do 2º item, tomando-se por base estudos científicos avançados

já mencionados18 (Doc. 08), temos como condição imperiosa que a largura da

16 Resolução Normativa ANEEL nº 398/2010, artigo 5º, caput. (Doc. 09) 17 Em que pese determinação específica da ANEEL dirigida à CELG D para observância da legislação

e regulamentos específicos, contida no artigo 5º, da Resolução Autorizativa nº 2.155/2009, o qual

“Declara de utilidade pública, para fins de instituição de servidão administrativa, em favor da CELG

Distribuição S.A., as áreas de terra necessárias à passagem da linha de transmissão Carajás – Atlântico

– Campinas, na tensão nominal de 138 kV, localizada no Estado de Goiás.” (fls. 152). 18 Dissertação de mestrado intitulada “DETERMINAÇÃO DA LARGURA DE FAIXA DE SEGURANÇA DE

LINHAS DE TRANSMISSÃO: UM ESTUDO PARAMÉTRICO”, datada de dezembro de 2012.

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faixa de segurança deve ser delimitada observando-se a influência de diferentes

parâmetros de linhas de transmissão (altura da estrutura, tipo do cabo

condutor, relação de vão de peso e vão de vento, comprimento da mísula,

disposição dos cabos condutores (vertical, horizontal ou triangular), tipo de linha,

número de circuitos, número de condutores por fase e flecha do cabo

condutor) para que possa exercer sua função em elevado nível de eficiência.

Do mesmo modo, devem ser considerados os efeitos do campo

elétrico, do campo magnético, do ruído audível, da rádio interferência e do

balanço dos cabos condutores.

Assim, diante de estudos técnicos que embasam as diretrizes da

Comissão Internacional de Proteção Contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP), temos

que a observação criteriosa destes requisitos apontam a ocorrência de

comportamentos diferentes para obtenção da largura de faixa de segurança

para cada nível de tensão de Linha de Transmissão.

Ou seja, a faixa de segurança poderá sim variar em largura desde que

observados TODOS os parâmetros acima mencionados, posto que cientificamente

reconhecidos e adotados pela ICNIRP e pela OMS.

Ainda neste ponto em particular, cumpre observar, a título de exemplo, a

norma interna da empresa CPFL Energia, no “Manual de Orientação Técnica para

Linhas de Transmissão” define que “nos casos mais comuns, as faixas de servidão e

segurança das LTs da CPFL têm a largura mínima de 30 metros, 15 metros para cada

lado do eixo, para as linhas de 69, 88 e 138 kV e a largura mínima de 20 metros, 10

metros para cada lado do eixo, para as linhas de 34,5 kV.”19 (Doc. 09).

Em regra, a faixa mínima de servidão e segurança deverá ser de 30

(trinta) metros, sendo 15 (quinze) metros para cada lado. Assim, não precisa ser um

profundo conhecedor da matéria para confirmar que a instalação da Linha de

Transmissão de Classe 138 kV, em circuito duplo (2x), não pode ser no local

escolhido pela Empresa e referendado pelo Municipio.

Conduto, repisa-se que como pode ser verificado pelas imagens

constantes da presente, as linhas aéreas, em fase de implementação, causam um

19 CPFL Energia. Orientação Técnica. Linhas de Transmissão. Ocupação de Faixa de Linha de

Transmissão. (p. 4). Disponível em: < https://pt.scribd.com/doc/66678250/Ocupacao-de-Faixa-de-

Linha-de-Transmissao-GED-22-28-08-2007>. Acesso em: 25 novembro 2014.

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impacto visual e estético em todo o trecho por onde passa, fazendo com que se

perca a beleza da cidade, sem contar com o perigo a que estão expostas as

pessoas que circulam em locais próximos à faixa de segurança.

Em outras palavras, mesmo com alternativa locacional que não traria

impactos para os moradores, mesmo com a possibilidade de instalação das linhas

subterrâneas, mesmo com a possibilidade de indenizar e usar uma área sem

transtornos para a população, a opção foi ignorar a dignidade da pessoa humana,

desrespeitar a função social da cidade de garantir lazer, moradia, trabalho e

circulação.

Neste particular, vale ressaltar que o adensamento deve ser proporcional

a infraestrutura, logo, os moradores daquele local tem direito às vias pública com

tamanho proporcional a ocupação, arborização, praças de lazer, qualidade de

vida. Cada morador quando adquiriu seu imóvel naqueles bairros, o fizeram pelos

benefícios quanto a qualidade do ambiente ali encontrado. De uma hora para

outra, a rua foi reduzida, um poste imenso foi colocado em frente as suas casas,

com impacto paisagístico direto, sem contar com os reflexos destes para a saúde

humana.

Entretanto, isto não foi considerado pelo poder público municipal no

processo de aprovação, bem como, não foi levado em consideração pela

concessionária.

Desta forma, face a inércia da Requerida CELG D e dos Requeridos

MUNICÍPIO e AMMA quanto a violação de direitos intangíveis da comunidade dos

bairros atingidos pelos mais de 8,5 km (oito quilômetros e meio) de Linha de

Transmissão, não resta alternativa a esta Promotora de Justiça a não ser, promover

a presente demanda, com o objetivo de assegurar que as condições ambientais e

de segurança sejam garantidas antes do funcionamento da rede de energia

elétrica.

Por fim, a encerrar este tópico sobre a delimitação da largura da faixa de

segurança, não é demais frisar a imprescindibilidade na observância do princípio

ambiental-constitucional da precaução, especialmente considerando o traçado

escolhido pela Requerida CELG D, situado em vias públicas urbanas densamente

povoadas por residências uni e plurifamiliares, estabelecimentos comerciais e

espaços de lazer.

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Tal recomendação se faz tendo-se por base a percepção – que se pode

atribuir a qualquer leigo na matéria, inclusive – de que resta claro que a medida

estabelecida pela Requerida CELG D para a faixa de segurança da Linha de

Transmissão em questão não atende a sua premissa de segurança de fato, pois há a

real possibilidade de fluxo crescente de pessoas e veículos sobre a mesma, bem

como imediatamente abaixo da Linha de Transmissão, ou seja, mesmo que a

possibilidade de um cabo de energia se romper e cair sobre um transeunte seja

pequena, os danos são mortais e com claras – e elevadas – chances de

propagação do dano por choque elétrico no entorno, bem como risco de incêndio

de grandes proporções.

II.II. Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e de Vizinhança

(EIV/RIV) insuficientes pela inobservância de leis, normas e conhecimentos

técnico e científico aplicáveis ao caso.

Possibilidade de anulação do processo de licenciamento ambiental.

O estudo de impacto ambiental (EIA), como tem sido apontado pela

doutrina especializada, é, sem dúvida nenhuma, um dos principais intrumentos da

ação administrativa destinados à preservação e à conservação do meio ambiente.

Isso porque o EIA implica a obrigação de levar em consideração o meio ambiente

antes da tomada de decisões e antes da realização de obras, atividades e

empreendimentos que possam ter repercussões importantes sobre a qualidade

ambiental20.

De acordo com a disciplina constitucional da matéria, constante do

artigo 225, § 1º, inciso IV, da Constituição Federal, o EIA é um dos mecanismos

indispensáveis à garantia da efetividade do direito de todos ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado – direito humano fundamental – de exigência

obrigatória antes da realização de obras e atividades potencialmente causadoras

de significativa degradação ambiental.

Inicialmente, depreende-se que o Estudo Prévio de Impacto Ambiental

(EIA) consiste minuciosa pesquisa técnica realizado por equipe multidisciplinar

independente, custeada pelo empreendedor, para analisar a viabilidade da obra

20 BENJAMIN, Antonio Herman V. Estudo prévio de Impacto Ambiental. p. 13 e 76.

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ou atividade, os impactos positivos e negativos advindos e as medidas necessárias

para minimizar eventual degradação, sempre considerando as alternativas

locacionais e tecnológicas disponíveis.

Segundo as premissas constitucionais, legais e normativas, é instrumento

concretizador da Política Nacional do Meio Ambiente indispensável para obras e

empreendimentos causadores de significativa degradação do meio ambiente.

Ao que se dessume da cópia do procedimento de licenciamento da

obra, tanto a Requerida AMMA quanto a Requerida CELG D não observaram o

conteúdo mínimo obrigatório para a elaboração dos Estudos e Relatórios de

Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e de Vizinhança (EIV/RIV) referentes à Linha de

Transmissão em discussão, situação que possibilita a invalidação de todo o processo

de licenciamento já concluído e, por via de consequência, da instalação, entrada

em operação e do prosseguimento da obra ou atividade licenciada, como bem

ensina o jurista Álvaro Luiz Valery MIRRA21.

Conforme leciona Paulo de Bessa ANTUNES22, nos casos de atividades ou

instalações, potencial ou efetivamente causadoras de significativa poluição ou

degradação ambiental, qualquer licença cuja concessão não tenha sido

precedida de Estudo de impacto ambiental é nula de pleno direito, cabendo ao

Poder Judiciário declarar tal nulidade, se provocado por parte legitimamente

interessada.

Neste sentido, segue a jurisprudência:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DANOS AO MEIO AMBIENTE - FALTA DE ESTUDO DE

IMPACTO AMBIENTAL - INDISPENSABILIDADE DESTE. Se a área constitui local de

relevante interesse ambiental e abrangida em diretrizes especiais,

qualquer licença para nela construir deve ser precedida de estudo

prévio de impacto ambiental, e a falta deste acarreta sua nulidade

(dela, licença). Dada sua indispensabilidade, o estudo de impacto

ambiental não constitui mera formalidade que possa ser postergada. A

alegada irreversibilidade da situação fática no local da construção

legalmente desautorizada (edificação de diversos prédios pelo infrator),

não tem o condão de esvaziar o objeto da ação civil pública. MULTA

DIÁRIA - SEU CARÁTER COMPENSATÓRIO OU COMINATÓRIO - LIMITE DELA

(MULTA) NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER OU NÃO FAZER - INEXISTÊNCIA DE

LIMITAÇÃO NA MULTA DECORRENTE DE DETERMINAÇÃO EM TÍTULO

JUDICIAL. Quando o réu é condenado ao pagamento de multa diária

estabelecida em cláusula penal pactuada pelas partes, há a limitação a

21 Ação Civil Pública e a Reparação do Dano ao Meio Ambiente. 2.ed. São Paulo : Juarez de Oliveira,

2004. (p. 69) 22 Direito ambiental. 16.ed. São Paulo : Atlas, 2014.

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que se refere o art. 920 do Código Civil (o de 1916), em face do seu

caráter compensatório. Todavia, quando a multa, ao invés de ter sido

pactuada em contrato (título extrajudicial), é imposta em título judicial

(sentença), com o escopo de assegurar a efetividade do processo, isto

é, o cumprimento da obrigação, inexiste essa limitação, dado o seu

caráter cominatório (e não compensatório), regendo-se, então, pelo art.

644 do vigente Estatuto Instrumentário Civil, e devida sem limite, até

que o devedor a satisfaça (ela, obrigação). (TJMG- 1.0000.00.274059-5,

Desembargador Relator: Hyparco Immesi, 17/08/2004).

TRF4 - APELAÇÃO CIVEL: AC 27658 SC 2003.04.01.027658-1

Relator(a): EDGARD ANTÔNIO LIPPMANN JÚNIOR

Julgamento: 13/12/2006

Órgão Julgador: QUARTA TURMA

Publicação: D.E. 21/02/2007

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. NULIDADE DAS LICENÇAS AMBIENTAIS. AUSÊNCIA DE

PRÉVIO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E DE RELATÓRIO DE IMPACTO

SOBRE O MEIO AMBIENTE. EXECUÇÃO DA SENTENÇA. DIVULGAÇÃO.

A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas

efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do

meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo

relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), sem os quais

revelam-se nulas a Licença Ambiental Prévia e a Licença Ambiental de

instalação, expedidas pela FATMA. Suspende-se, temporariamente, a sua

execução do projeto até que elaborado o EIA/RIMA, instrumento técnico-

científico capaz de definir, mensurar e corrigir as possíveis causas e

efeitos do empreendimento em questão sobre o ambiente. Cabe ao

Ministério Público atuar exclusivamente na execução da sentença

relativa a presente ACP, tendo em vista que a incumbência de

fiscalização está a cargo de órgãos e autoridades competentes,

afastado o pedido de submissão do projeto à fiscalização do Parquet. É

suficiente a intimação das partes do conteúdo da decisão proferida

nesta ACP e desnecessária a divulgação em órgãos de imprensa.

Posto isto, é imperativo reconhecer que no processo administrativo de

licenciamento não houve fundamentação suficiente pela Requerida AMMA para o

afastamento do significativo dano ambiental proporcionado pela instalação da

Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico), que vai

atravessar diversos bairros da Capital, correspondente a aproximadamente 8,5 km

(oito quilômetros e meio) de extensão.

Por consequência, é praticamente certo que houve avaliação

equivocada, bem como dispensa do necessário detalhamento de questões

técnicas omissas nos Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental porventura

apresentados. Ademais, como já mencionado, houve a indevida supressão dos

espaços de deliberação democrática, razão pela qual a Licença Prévia e a

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Licença de Instalação devem ser anuladas ou suspensos os seus efeitos até a

complementação ou realização dos estudos, com dados mais aprofundados e

pertinentes com relação aos aspectos ambientais, urbanisticos, a saúde e a

paisagem.

Assim, estabelece o artigo 182, § 1º, da Constituição Federal:

CAPÍTULO II DA POLÍTICA URBANA

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder

Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo

ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o

bem- estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para

cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política

de desenvolvimento e de expansão urbana. – (Grifamos)

E a Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) apresenta, dentre outras, as

diretrizes da política urbana:

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento

das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as

seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à

terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana,

ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as

presentes e futuras gerações;

II a V – (omissis)

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:

a) (omissis);

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) a e) (omissis);

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

g) a poluição e a degradação ambiental;

h) (omissis).

VII e VIII – (omissis);

IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de

urbanização;

X e XI – (omissis);

XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e

construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e

arqueológico;

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XIII a XVII - (omissis). – (Grifamos)

A partir desta perspectiva constitucional e legal, houve a edição do

Plano Diretor Municipal de Goiânia (Lei Municipal nº 171/2007), que adotara a

principiologia vertida nos seguintes comandos normativos:

TÍTULO I

DA POLÍTICA URBANA

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS

Art. 1º (omissis).

Art. 2º A Política Urbana do Município de Goiânia sustentar-se-á nos princípios

da igualdade, oportunidade, transformação e qualidade, tendo por

objetivo o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da

propriedade urbana, garantindo à população a requalificação do território

do Município e uma cidade mais justa e sustentável.

Parágrafo único. Para efeito dos princípios estabelecidos no caput são

adotadas as seguintes definições:

I a IV – (omissis);

V – função social da cidade – como o uso racional e adequado da

propriedade urbana, dos recursos naturais e preservação do meio ambiente.

Art. 3º A política urbana será implementada observadas as disposições

previstas na Lei Federal nº 10.257, de 10 de junho de 2001 – Estatuto da

Cidade e § 1º do art. 157 – Lei Orgânica do Município de Goiânia, de

forma a atender as garantias fundamentais aprovadas no 1º Congresso da

Cidade de Goiânia e na 2ª Conferência da Cidade de Goiânia,

assegurando:

I – o direito à cidade sustentável, compatibilizando o crescimento

econômico com a proteção ambiental, o respeito à biodiversidade e a

sociodiversidade;

II – o direito à moradia digna;

III – a função social da cidade e da propriedade urbana;

IV – a gestão democrática e controle social;

V a VII – (omissis).

Art. 4º O Plano Diretor, instrumento da Política Urbana, incorpora o

enfoque ambiental de planejamento na definição do modelo de

desenvolvimento do Município, devendo compatibilizar-se com os planos

regionais e setoriais complementares.

(...)

PARTE III

TÍTULO I

DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO

(...)

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Art. 174. O planejamento urbano dar-se-á mediante objetivos que visam:

I – (omissis);

II – assegurar a compatibilidade entre o disposto no Plano Diretor e os

planos e programas de órgãos federais e estaduais com atuação no

Município, de acordo com o art. 166, da Lei Orgânica Municipal;

III – adequar as diretrizes setoriais, inclusive as constantes de programas

de concessionárias de serviços públicos, ao disposto no Plano Diretor;

IV a VIII – (omissis). – (Grifamos)

Neste sentido, guarda registrar as ponderadas lições do Prof. José Afonso

da SILVA23 acerca do objeto da tutela ambiental, absolutamente pertinentes com

relação à questão urbanística:

O objeto de tutela jurídica não é tanto o meio ambiente considerado nos

seus elementos constitutivos. O QUE O DIREITO VISA A PROTEGER É A

QUALIDADE DO MEIO AMBIENTE EM FUNÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA. Pode-

se dizer que há dois objetos de tutela, no caso: UM, IMEDIATO, QUE É

QUALIDADE DO MEIO AMBIENTE; E OUTRO MEDIATO, QUE É A SAÚDE, O

BEM-ESTAR E A SEGURANÇA DA POPULAÇÃO, QUE SE VEM SINTETIZANDO

NA EXPRESSÃO ‘QUALIDADE DE VIDA’. – (Destacamos e grifamos)

No caso em comento, verifica-se que a instalação da Linha de

Transmissão em questão apresenta contraste intransponível com as normas

urbanísticas vigentes, notadamente no que pertine à observância do objetivo

constitucional de respeito à função social da cidade e ao atendimento às diretrizes

gerais de preservação do patrimônio histórico, cultural e paisagístico, além da

gestão democrática da cidade.

Nesta seara, cumpre salientar que para o empreendimento não foram

realizados Estudos Prévios de Impacto de Vizinhança (EIV) e Ambienal (EIA),

relevantes instrumentos de realização da política urbana exigido na Lei nº

10.257/2001:

Seção XII

Do estudo de impacto de vizinhança

Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou

públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio

de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de

construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público

23 Direito Ambiental Constitucional. 8.ed. São Paulo : Malheiros, 2010, p. 81.

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municipal.

Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e

negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da

população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no

mínimo, das seguintes questões:

I – adensamento populacional;

II – equipamentos urbanos e comunitários;

III – uso e ocupação do solo;

IV – valorização imobiliária;

V e VI – (omissis);

VII – paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.

Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos documentos integrantes do EIV,

que ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder

Público municipal, por qualquer interessado.

Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de

estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da

legislação ambiental. – (Grifamos)

Ainda sobre a importância do EIV e do EIA para a tutela do meio

ambiente e da própria dignidade humana, é oportuno trazer à colação as

seguintes observações de Celso Antonio Pacheco FIORILLO24:

MAIS IMPORTANTE INSTRUMENTO DE ATUAÇÃO NO MEIO AMBIENTE

ARTIFICIAL NA PERSPECTIVA DE ASSEGURAR A DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA (ART. 1º, III, DA CF), O ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA (EIV)

TEM COMO OBJETIVO COMPATIBILIZAR A ORDEM ECONÔMICA DO

CAPITALISMO (ART. 1º, IV, E ART. 170 DA CF) EM FACE DOS VALORES

FUNDAMENTAIS LIGADOS ÀS NECESSIDADES DE BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS JUSTAMENTE EM DECORRÊNCIA DO

TRINÔMIO VIDA-TRABALHO-CONSUMO. O EIV SEGUE NECESSARIAMENTE OS

CRITÉRIOS IMPOSTOS PELO ART. 225, § 1º, IV, DA CF, O QUE TRADUZ EM

INSTRUMENTO DE NATUREZA JURÍDICA CONSTITUCIONAL. Daí ser

despicienda por inconstitucional a primeira parte do art. 36 do Estatuto

da Cidade, que condiciona os empreendimentos e atividades privados

ou públicos sujeitos à ‘lei municipal’, posto que a exigência do estudo

se estabelece, ainda que na forma da lei, para qualquer instalação de

obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

degradação ambiental. – (Destacamos e grifamos)

Assim, conclui-se que a obra da Linha de Transmissão de

responsabilidade da Requerida CELG D, para permanecer no local pretendido,

deve contemplar no seu EIA/RIMA comprovação irrefutável de que não trará

24 Estatuto da Cidade Comentado. 3 ed. São Paulo : RT, 2008, p. 118.

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malefícios à saúde humana e, portanto, não causará danos ambientais de

impossível ou improvável mitigação em qualquer sentido, mormente os princípios

ambientais da precaução e da prevenção (de aplicação incondicional na seara

ambiental e urbanística), ainda que as obras estejam em curso.

Além do mais, resta manifesta a violação ao princípio da gestão

democrática da cidade, expresso no Estatuto da Cidade, como já vimos acima.

II.III. Discussão acerca dos danos potenciais à saúde

A Requerida CELG D deveria ser a primeira a adotar todas as medidas de

segurança para proteção da integridade física do cidadão e do meio ambiente,

quando determina a instalação de qualquer tipo de rede de energia elétrica, isto

por que a exposição à eletricidade é perigosa por si só e implica em risco iminente

de morte.

Neste caso o perigo está presente em dois fenômenos resultantes da

passagem da corrente elétrica pelo corpo humano. Primeiramente quando

essa corrente tem um valor muito alto (na faixa de dezenas de ampéres) ela

tem a capacidade de queimar os tecidos do corpo humano. Outro aspecto

é que a corrente elétrica, mesmo com um valor pequeno (50mA) passando

pelo coração pode provocar uma parada cardíca através de arritmia.25

Estudos recentes indicam inúmeras doenças passíveis de serem causadas

pelos campos eletromagnéticos26, que são:

1- Leucemia em adultos e crianças;

2- Câncer no cérebro de adultos e crianças;

3- Câncer de mama em homens e mulheres;

4- Campos eletromagnéticos como agentes cercinogênico de amplo

25 QUEIROZ, Levi Góes de. Análise Regulatória para distribuição de energia na rede primária em áreas

urbanas. Dissertação de Mestrado. Universidade de Salvador. Disponível em: <http://tede.unifacs.br/

tde_busca/arquivo.php?codArquivo=209>. Acesso em: 21 novembro 2014. 26 BOITEUX, Elza Antonia P. C. Poluição Eletromagnética e Meio Ambiente – o principio da precaução.

Editora Sergio Antonio Fabris. p.42.

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espectro para todas as espécies de câncer;

5- Aborto espontâneo;

6- Outras disfunções da reprodução ou do desenvolvimento;

7- Esclerose lateral amiotrófica (doença de Lou Gehrig);

8- Mal de Alzheimer;

9- Infarto agudo do miocardio;

10- Suicidio;

11- Outras consequências nocivas à saúde, diversas do câncer

(depressão, sensibilidade à eletricidade).

Trata-se, como visto de proteção de bens intangíveis para o ser humano,

ou seja, a vida, a saúde e a qualidade do meio ambiente em que vive. Aliás, a

própria Lei das Sociedades por Ações já determinava que a atividade empresarial

deve respeitar os interesses da comunidade em que a empresa atua (Lei nº

6.404/1976, artigo 116, parágrafo único).

Outro aspecto, que deve ser lembrado é que o direito à saúde se

sobrepõe ao direito de distribuir energia da forma mais lucrativa para o fornecedor.

Assim, a complexidade e as incertezas do conhecimento científico

devem ser consideradas nos processos de tomada de decisão político-técnicos

voltados para o estabelecimento da regulação de parâmetros ambientais e do

trabalho, que visem à proteção à vida e à saúde. Torna-se imperativo que as

políticas públicas se voltem para essas questões e se utilizem de princípios éticos e

precaucionários diante dessas incertezas, dialogando respeitosamente com outros

saberes e culturas.27

Nesse sentido é necessário desenvolver e aprofundar teorias e técnicas

que auxiliem o entendimento das influências do meio ambiente na saúde e

forneçam subsídios para a formulação de respostas apropriadas do ponto de vista

da Saúde Pública e, dessa forma, possibilitem intervenções consistentes e efetivas

27 Carta da Saude Ambiental. Belém do Pará 2010. I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental. Disponível

em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/upload/d/Carta_de_Belem.pdf>. Acesso em: 25 novembro 2014.

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através de abordagens integradoras e globalizantes. A práxis nos compromete a

lutar por Políticas Públicas que assegurem o direito à saúde e ao ambiente

saudável, para o qual uma nova concepção de Ciência e Tecnologia tem papel

fundamental.28

Neste caso, adota-se o princípio ambiental constitucional da precaução

para evitar riscos potenciais, que não podem ser determinados com precisão, mas

que é suficiente para tutelar a proteção do cidadão.

Este princípio vem sendo adotado, cada vez mais, nas decisões judiciais,

especialmente nos países integrantes da União Européia. Nossos tribunais vêm

acompanhamendo essa tendência, cada vez mais, orientando-se pela precaução

na defesa da integridade do meio ambiente.29

Os cientistas revelam, em dados comparativos, que a radiação

decorrente da energia elétrica distribuida no Brasil é maior do que em países como

Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Holanda, senão vejamos:

Radiação admitida pela ICNIRP e medida nos EUA (níveis máximos):

ICNIRP

100 µT

EUA

0,38 µT

Diferença

250 vezes menor

ICNIRP

100 µT

Alemanha

0,1 µT

Diferença

1.000 vezes menor

ICNIRP

100 µT

Holanda

20 µT

Diferença

5 vezes menor

ICNIRP

100 µT

Inglaterra

0,01 µT e 0,02 µT

Diferença

1.000 vezes menor

ICNIRP Suécia Diferença

28 Idem. 29 BOITEUX, Elza Antonia P. C. Idem. p.26.

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100 µT 0,2 µT 500 vezes menor

Pelos dados coletados vê-se que a União Européia admite a existência

de danos à saúde decorrentes da exposição a campos eletromagnéticos,

adotando os limites máximos recomendados pela ICNIRP, sendo que vários países,

como os já listados, impõem normas mais retritivas em beneficio da população.

Neste particular, vale citar o caso de pedido de ampliação de uma linha

de transmissão de energia elétrica solicitado pela companhia Xcel Energy que foi

apresentado a cidade de Sunfish Lake. Segundo consta, os moradores foram

convocados para a audência pública (que se desenvolveu em várias etapas,

tendo sido produzido provas tanto pela Companhia como pelos moradores) pela

imprensa e por carta. A oposição ao projeto fundou-se em três argumentos

principais:

1- Desvalorização das propriedades próximas da linha de transmissão,

que restou provada pelos depoimentos;

2- Potenciais efeitos negativos à saúde (avaliados conforme dados

cientificos disponíveis à época), em razão dos campo

eletromagnéticos, tendo sido provada a elevada incidência de

câncer entre moradores próximos à área de domínio de 50 pés;

3- Ausência de demonstração da necessidade do projeto, que foi

considerada provada, especialmente em razão da inconsistência

revelada pelos representantes da companhia.

Como era de se esperar, diferente do que se processou no âmbito

administrativo do Municipio de Goiânia, o Conselho da cidade de Sunfish Lake

rejeitou, em 05 de fevereiro de 2002, o pedido de ampliação da linha de

transmissão proposta pela empresa.30

Associado ao não conhecimento de todos os danos potenciais à saúde

humana decorrentes da instalação das redes, cumpre registrar que no Brasil,

30 QUEIROZ, Levi Góes de. Idem. p.96.

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segundo a ABRADEE31, cerca de 400 pessoas morrem por ano vítimas de acidentes

com linhas primárias (muitas do próprio setor elétrico). Esse é um aspecto intangível

e que não contempla os interesses econômicos dos atuais grupos controladores das

concessões. Por isso a regulação nesse aspecto é justificada e urgente.

II.IV. Do parecer técnico32 específico para o caso

Ainda no bojo do Procedimento Preparatório instaurado por esta

Promotoria de Justiça Especializada, solicitou-se à Coordenação de Apoio Técnico

Pericial (CATEP), do Ministério Público do Estado de Goiás, por meio de sua Unidade

Técnica em Engenharia (fls. 61-62 e 114-115, do Procedimento Preparatório. Doc.

01), uma análise dos riscos inerentes à Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás

(Campinas – Atlântico).

Como resposta, foi apresentada a “Informação Técnica 036/2014”,

elaborada em 21/11/2014, em que analisa os riscos em potencial relacionados à

referida Linha de Transmissão (fls. 41-51. Doc. 05).

Este documento, eminentemente técnico, analisou uma série de outros

documentos, normas e informações técnicas de órgãos e instituições extremamente

especializadas na matéria (ICNIRP, OMS, ANEEL, ONS), além de estudos

aprofundados pertinentes (dissertações de mestrados e teses de doutorados).

Tratou especificamente acerca das distâncias de segurança, dos cálculos para a

faixa de segurança e dos campos elétrico e magnético.

Interessantíssimo ressaltar neste estudo que, ainda que a faixa de

segurança seja calculada como quer a Requerida CELG D, segundo suas normas

próprias, tanto no trecho tido por esta como “regular” quanto na parte em que a

Linha de Transmissão será instalada praticamente sobre residências e praça pública

adjacente à Rua Francisco de Faria, a área mínima necessária para configurá-la

com todas as suas propriedades de “segurança”, em ambos os casos estão

incluídos “trechos onde ocorre fluxo rotineiro de veículos (trechos de vias) e ainda

de pessoas (trecho de calçadas). Ou seja, além da possibilidade dos transeuntes

31 Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. Disponível em <http://www.abradee.com.

br/>. Acesso em: 18 novembro 2014. 32 Informação Técnica nº 036/2014, elaborada em 21/11/2014 pela Unidade Técnica de Engenharia, da

Coordenação de Apoio Técnico Pericial (CATEP), do Ministério Público do Estado de Goiás, em análise

dos Riscos em Linha de Transmissão 138kV SE Carajás (Campinas-Atlântico) – (fls. 41-51. Doc. 05).

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passarem por debaixo da linha de transmissão há ainda a condição da presença

frequente de veículos e pessoas dentro da faixa de segurança ao longo do seu

traçado (...)” (fls. 43-44. Doc. 05).

Ora Excelência, tal situação é inadmissível considerando as finalidades

mais básicas de qualquer faixa de segurança instituída para Linhas de Transmissão

em qualquer lugar deste País!

Observe-se que as figuras numeradas de 1 a 8 (fls. 44-48. Doc. 05)

demonstram claramente a projeção da faixa de segurança instituída segundo as

normas utilizadas pela Requerida CELG D e em nenhum ponto ela cumpre com sua

finalidade, especialmente considerando a traçada por norma desta mesma

requerida!

Ao final, o perito em engenharia civil signatário da informação técnica

resume que:

A presença da linha de transmissão analisada (...) gera receio sobre seus

efeitos potencialmente deletérios à saúde humana, danos amteriais e

ambientais.

(...) Uma dessas fragilidades se refere a delimitação da faixa de segurança,

(...) em nenhum dos trechos das faixas de segurança há a restrição de

acesso, pelo contrário, em sua grande maioria contempla espaços de

trânsito frequente de pessoas e veículos, confrontando com o princípio da

precaução informado no documento da OMS33.

(...) Sendo assim, o mais recomendado seria adotar uma estratégia

preventiva citada no documento da ONS34. – (Grifamos)

Portanto, resta mais que patente o equívoco em que opera a Requerida

CELG D ao projetar e instalar a Linha de Transmissão objeto da presente ação civil

pública ambiental.

III. DA ANTECIPAÇÃO LIMINAR DA TUTELA

A insuficiência do EIA/RIMA e do EIV/RIV, e por consequência, a ausência

de seleção adequada de alternativa de traçado da Linha de Transmissão LT 2x

138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico) – isto a partir de critérios que levem em

33 Organização Mundial da Saúde. 34 Operador Nacional do Sistema Elétrico.

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consideração variáveis comuns a este tipo de empreendimento, tais como: [1]

interferências em núcleos urbanos e rurais; [2] proximidades de unidades de

conservação; [3] intervenção em área de supressão de vegetação nativa; [4]

obstáculos naturais e de dificil transposição; [5] interferências em edificações e

outros tipos de benfeitorias; [6] interferências advindas de projetos ou mesmo de

implantação de outros empreendimentos, posterior à conclusão do estudo; [7]

interferências em aeroportos; [8] presença de infraestrutura de apoio logístico

durante a construção e manutenção do empreendimento; [9] terrenos

desfavoráveis as fundações; [10] cursos d’água atravessados; [11] viabilidade

técnico-econômica; entre outros –, ensejam a suspensão das licenças até que

ocorra a devida regularização destas faltas, para que a comunidade que sofre

com a instalação desta nova linha de transmissão de energia elétrica de alta

voltagem, tenha a indispensável possibilidade de obter o conhecimento necessário

sobre a obra, bem como a certeza de que tal empreendimento não venha a

prejudicar, de forma alguma, a saúde e a segurança das comunidades há muito

instaladas nas adjacências.

Vê-se, claramente, a falta de conhecimento por parte da comunidade,

sobre a motivação da obra e os possíveis danos ambientais, paisagísticos,

urbanísticos e a saúde.

Sabe-se que tais danos são, atualmente, de fácil e certa resolução,

bastando apenas uma ação proativa por parte da Requerida CELG D, entretanto,

nada foi feito até o presente momento, expondo as comunidades às inseguranças

de toda ordem, considerando que a incidência por tempo prolongado de fatores

maléficos a saúde e a segurança dos habitantes dessas comunidades afetados

pela obra, poderá resultar sim, em danos de difícil e incerta resolução, o que

justifica o receio de ineficácia do provimento final, impondo, desta forma, a

concessão liminar da tutela ora postulada, inaldita altera parte, não havendo

necessidade de justificação prévia, eis que os fatos descritos estão patenteados

pelo Procedimento Preparatório que segue anexo, tudo conforme autoriza o artigo

461, § 3º, do Código de Processo Civil.

A propósito, acerca da possibilidade de antecipação dos efeitos da

tutela nas ações que tenham por objeto o cumprimento de obrigações de fazer ou

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não fazer, Ernane Fidélis dos SANTOS35 leciona:

A medida satisfativa pleiteada pode ser antecipada. Para tanto, basta que

o autor a requeira, demonstrando a relevância dos fundamentos e

justificando o receio de ineficácia da medida, se não concedida (art. 461, §

3º). Fundamentos relevantes são os que indicam não a existência

antecipada do direito, mas a possibilidade de que venha a ser reconhecido.

(...)

Ineficácia não se confunde com o possível desconforto que possa ocorrer

com a demora, mas com a própria frustração do que vier a ser determinado.

Se a indústria, que está reproduzindo poluição prejudicial ao vizinho, não for

imediatamente sustada, causará, naturalmente, os danos reclamados.

Portanto, deve a Requerida CELG D ser compelida a não prosseguir na

instalação da Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico),

até que estudos e relatórios (EIA/RIMA e EIV/RIV) completos sobre a melhor

viabilidade de outros traçados possíveis sejam realizados e discutidos com as

comunidades envolvidas e com a Requerida AMMA, esta na qualidade de órgão

ambiental licenciador.

Neste sentido, encontram-se presentes os requisitos para antecipação da

tutela, a saber o “fumus boni juris” e o “periculum in mora”, conforme adiante

exposto.

O “fumus boni juris” resta demonstrado na argumentação jurídica

exposta e o “periculum in mora” estampa-se na possibilidade da instalação da

referida Linha de Transmissão em total desconformidade com os preceitos que

regulam a proteção ao meio ambiente – princípio ambiental constitucional da

precaução –, o que culminará na conclusão da obra sem que seja possível aferir a

potencialidade de danos à saúde humana, à segurança de terceiros e a

regularidade do licenciamento concedido.

Em razão disso, faz-se necessária a concessão da liminar para suspender

as obras em questão, até que se possa constatar sua regularidade e adequação à

legislação ambiental e urbanística e normas técnicas pertinentes.

35 Novos perfis do processo civil brasileiro. 1.ed. p.27-28 e 76.

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IV. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, e no anseio de preservar o meio ambiente e a saúde

e a segurança da população, REQUER o Ministério Público, em sede de

antecipação da tutela:

1) Em relação a Requerida CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D), seja

compelida, inaudita altera parte e por força do artigo 461, § 3º, do Código de

Processo Civil, c/c artigo 19, da Lei nº 7.347/1985, a:

1.1) paralisar as obras de instalação da “Linha de Transmissão LT 2x

138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico)”;

1.2) não colocar em operação a referida Linha de Transmissão;

1.3) elaborar novo Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), no prazo

de 30 (trinta) dias – ou em outro que Vossa Excelência entender

melhor –, a partir da ciência do Termo de Referência elaborado

pelos órgãos competentes do Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA;

1.4) elaborar novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA), no prazo de

30 (trinta) dias – ou em outro que Vossa Excelência entender

melhor –, a partir da ciência do Termo de Referência elaborado

pelos órgãos competentes do Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA;

1.5) a pagar multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a

título de astreinte, no caso de descumprimento de qualquer das

obrigações estabelecidas nos itens acima, que deverá ser

revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente (FMMA);

2) Em relação a Requerida AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE

(AMMA), seja compelida, inaudita altera parte e por força do artigo 461, § 3º, do

Código de Processo Civil, c/c artigo 19, da Lei nº 7.347/1985, a:

2.1) suspender as licenças prévia e de instalação concedidas à

Requerida CELG D, em função das consequências definitivas que

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poderão advir, assegurando a apresentação do EIA/RIMA e, via

de consequência, as análises das alternativas locacionais,

definição dos traçados possíveis, definição das áreas de

influência, diagnóstico ambiental e os respectivos impactos

ambientais;

2.2) a pagar multa diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a

título de astreinte, no caso de descumprimento de qualquer das

obrigações estabelecidas nos itens acima, que deverá ser

revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente (FMMA);

3) Em relação ao Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, seja compelido,

inaudita altera parte e por força do artigo 461, § 3º, do Código de Processo Civil,

c/c artigo 19, da Lei nº 7.347/1985, a:

3.1) suspender as demais autorizações e licenças urbanísticas

concedidas por seus órgãos à Requerida CELG D,

especificamente no que for atinente à instalação da “Linha de

Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico)” em

função das consequências definitivas que poderão advir com a

conclusão das obras;

3.2) a pagar multa diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a

título de astreinte, no caso de descumprimento de qualquer das

obrigações estabelecidas nos itens acima, que deverá ser

revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente (FMMA);

4) Deferida a medida liminar, e com o intuito de verificar-se eventual

desobediência à determinação judicial, REQUER seja determinado ao Senhor Oficial

de Justiça a constatação do seu cumprimento integral, observando-se que em

relação ao item “1.1)” a verificação deverá ser periódica, ao que se sugere seja, no

mínimo, semanal.

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No mérito, REQUER o Ministério Público do Estado de Goiás, após regular

instrução, sejam julgados procedentes os pedidos para:

5) Em relação a Requerida CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D), condená-la

à obrigação de não fazer consubstanciada em não dar prosseguimento as obras,

bem como, não operacionalizar a rede elétrica objeto desta ação, arbitrando

multa diária não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), aplicável na forma do artigo

84, §§ 4º e 5º, do Código de Defesa do Consumidor, c/c artigo 21, da Lei da Ação

Civil Pública, valor a ser revertido para Fundo Municipal do Meio Ambiente (FMMA);

6) condenar a Requerida CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D) nas medidas

equivalentes tais como:

6.1) Seleção de alternativa locacional com menor interferência em

núcleos urbanos;

6.2) Se a alternativa locacional, indicada no EIA-RIMA permanecer no

traçado atual, utilização de tecnologias como redes subterrâneas,

nos trechos mais adensados em que não seja possível implementar

a faixa de segurança em medida mínima exigida pelas normativas

técnicas e legais mais restritivas;

6.3) Se não for possível a utilização de tecnologia como redes

subterrâneas, a remoção de residências, com a consequente

realocação das famílias e a justa indenização.

7) condenar a Requerida CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D) na obrigação

de fazer consubstanciada na elaboração de novos Estudos e Relatórios de Impacto

de Vizinhança (EIV/RIV) e Ambiental (EIA/RIMA), na forma exigida pela legislação

pertinente, a partir da ciência do Termo de Referência elaborado pelos órgãos

competentes do Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, arbitrando multa diária não

inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), aplicável na forma do artigo 84, §§ 4º e 5º, do

Código de Defesa do Consumidor, c/c artigo 21, da Lei da Ação Civil Pública, valor

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a ser revertido para o Fundo Municipal do Meio Ambiente (FMMA);

8) declarar a nulidade da Licença Prévia e da Licença de Instalação,

expedidas pela Requerida AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE (AMMA), em

decorrência da ausência de fundamentação suficiente na análise dos estudos de

impacto de vizinhança (EIV) e ambiental (EIA) e seus respectivos relatórios (RIV e

RIMA), notadamente pela desconsideração dos aspectos urbanístico e paisagístico

da região e pela potencialidade de danos à saúde humana e à segurança de

terceiros;

9) condenar o Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA na obrigação de fazer

consubstanciada em, no prazo de 30 (trinta) dias, elaborar Termo de Referência

para elaboração de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) pela Requerida CELG

DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D), arbitrando multa diária não inferior a R$ 10.000,00 (dez

mil reais), aplicável na forma do artigo 84, §§ 4º e 5º, do Código de Defesa do

Consumidor, c/c artigo 21, da Lei da Ação Civil Pública, inclusive em relação aos

agentes políticos e servidores públicos, valor a ser revertido para o Fundo Municipal

do Meio Ambiente (FMMA);

10) condenar o Requerido MUNICÍPIO DE GOIÂNIA na obrigação de fazer

consubstanciada em suspender a eficácia de licenças, alvarás, autorizações e

qualquer outro ato administrativo expedido por seus órgãos com relação à

instalação da “Linha de Transmissão LT 2x 138kV SE Carajás (Campinas – Atlântico)”,

notadamente o Alvará de Construção ou outra autorização congênere, em razão

da manifesta ilegalidade, porquanto, sua expedição fica condicionada à

elaboração prévia dos Estudos de Impacto de Vizinhança (EIV) e Ambiental (EIA);

11) condenar os Requeridos MUNICÍPIO DE GOIÂNIA e AGÊNCIA

MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE (AMMA) à obrigação de fazer consubstanciada em

observar a Lei Municipal nº 171/2007 (Plano Diretor Municipal), bem como toda a

legislação específica pertinente ao caso, para análise dos Estudos de Impacto de

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Vizinhança (EIV) e Ambiental (EIA) a serem apresentados pela Requerida CELG

DISTRIBUIÇÃO S.A. (CELG D), com a submissão ao Conselho do Plano Diretor

Municipal, arbitrando multa diária não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais),

aplicável na forma do artigo 84, §§ 4º e 5º, do Código de Defesa do Consumidor,

c/c artigo 21, da Lei da Ação Civil Pública, inclusive em relação aos agentes

políticos e servidores públicos, valor a ser revertido para o Fundo Municipal do Meio

Ambiente (FMMA);

Procedimentalmente, REQUER o Ministério Público do Estado de Goiás,

ainda:

12) sejam os requeridos citados para apresentarem resposta, na forma,

no prazo e sob as penas da lei, permitindo-se ao Senhor Oficial de Justiça utilizar-se

da exceção prevista no artigo 172, § 2º, do Código de Processo Civil;

13) seja dispensado o pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18, da Lei nº 7.347/1985,

aplicado subsidiariamente;

14) sejam as intimações do autor feitas pessoalmente, dado o disposto no

artigo 236, § 2º, do Código de Processo Civil;

15) sejam confirmadas e deferidas as medidas liminares pleiteadas nos

itens “1)”, “2)” e “3)” da presente peça exordial;

16) a produção de todas as provas admitidas em Direito, notadamente

documental, depoimento pessoal dos requeridos, sob pena de confissão, oitiva de

testemunhas, realização de perícias e inspeções judiciais;

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17) a condenação dos requeridos ao pagamento das custas processuais

e eventuais honorários de assistente técnico e perito judicial.

Observando as determinações da legislação processual, dá-se à causa o

valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

Goiânia, 19 de outubro de 2014.

Alice de Almeida Freire

Promotora de Justiça