7_Gigante Adamastor_prosa

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  • 8/7/2019 7_Gigante Adamastor_prosa

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    O Gigante Adamastor

    Episdio narrado por Vasco da Gama ao rei de Melinde na 1. pessoa

    Passaram-se cinco dias de navegao calma quando, de repente, numa noite, uma nuvemescura nos aparece. Vinha to carregada, que ficmos cheios de medo. Tanto, que pedi ajuda

    a Deus. Mal comeara a rezar, quando se nos apresenta a nossos olhos uma figura enorme,gigantesca e horrenda. Tinha o rosto carregado, a barba esqulida, os olhos encovados, a corterrena e plida; toda a postura era medonha e m.Tinha os cabelos cheios de terra ecrespos; os dentes eram amarelos e a boca negra. Alm disso, falou-nos em tom de vozhorrendo e grosso/que pareceu sair do mar profundo. Por isso ficmos, eu e todos,arrepiados.E disse em tom irado:- gente ousada, j que, ultrapassando os limites proibidos, ousas navegar nos meus mares,que nunca foram sulcados por nenhum humano, e vens ver os segredos escondidos danatureza e do mar, o que vedado aos humanos, ouve os castigos que reservo para o vosso

    atrevimento. Sabe que, daqui para a frente, todas as naus que fizerem esta viagem me terocomo inimigo e eu farei com que haja naufrgios, perdies de toda a sorte/que omenor mal de todos seja a morte.

    Ser o caso da primeira armada que por aqui passar depois da vossa frota (a armada dePedro lvares Cabral). Hei-de vingar-me de Bartolomeu Dias, que foi quem primeiro medescobriu, fazendo-o naufragar aqui mesmo. O mesmo vai suceder a Dom Francisco deAlmeida, primeiro vice-rei da ndia, que aqui morrer, no seu regresso ptria. E ser o casode Manuel de Sousa Seplveda, que naufragar por estes stios, com sua mulher amantssimae com os filhos. Antes de morrerem abraados, vero morrer com grande sofrimento os seusfilhos, gerados de tanto amor, e sero sujeitos a maus-tratos pelos negros indgenas.

    Mais ia a dizer o monstro horrendo, quando, de p, o interpelei, perguntando, sem mostrarreceio:- Quem s tu? que esse estupendo corpo, certo me tem maravilhado!

    E ento algo de estranho se passou. Dando um espantoso e grande brado, respondeu-me,com voz amarga, como se a pergunta o tivesse magoado:- Eu sou o Cabo que vs chamais de Tormentrio ou das Tormentas, desconhecido dosgrandes gegrafos antigos. Aqui termino toda a costa africana. Fui um dos Gigantes quedefrontaram os deuses do Olimpo, em guerra sangrenta. O meu nome Adamastor e andeina luta contra o meu deus: Jpiter e, depois tornei-me capito do mar. No entanto, apaixonei-me por Ttis, a princesa das guas, e por ela desprezei todas as restantes deusas.

    Aconteceu um dia em que a vi nua na praia, acompanhada das Nereidas. A partir da senti-meirremediavelmente preso. Tendo conscincia de que seria difcil alcan-la, dado que soumuito feio, decidi tom-la pela fora das armas e fiz saber isto a Dris, sua me, para que elapudesse convenc-la a aceitar-me. Dris foi ento falar com ela e ela respondeu-lhe: - Qualser o amor bastante de ninfa, que sustente o de um Gigante? No entanto, eu vouencontrar uma maneira de evitar a guerra, sem ficar prejudicada ou desonrada.Fiquei convencido e, ingenuamente, desisti da guerra. Numa noite, prometida por Dris,aparece-me o gesto lindo da branca Ttis, nica, despida. Corro como louco paraela, procurando abraar aquela que era vida deste corpo e beijando-lhe as faces e oscabelos.

    Mas, eu nem sei como cont-lo, achei-me abraado, no minha amada, mas a um duromonte, frente a um penedo, e eu prprio transformado em penedo!- Ninfa, a mais formosa do Oceano,/j que minha presena no te agrada,/que tecustava ter-me neste engano,/ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada?

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    Por esta altura j todos os meus irmos tinham sido vencidos e transformados em montes etambm eu comecei a sentir que me transformava neste Cabo.Mas o que mais me di ainda que, por mais dobradas mgoas, /me anda Ttis cer-cando destas guas.

    Assim contava o Gigante e, chorando, afastou-se de ns. Eu ento fiz uma prece a Deus,pedindo-lhe que as profecias do Adamastor se no viessem a verificar.

    Amlia Pinto Pais

    1 Parte

    O episdio do Adamastor situa-se no canto V (estrofes 37 a 60)

    1. L as primeiras estrofes do episdio do Adamastor:

    37

    Porm j cinco Sis eram passados

    Que dali nos partramos, cortando

    Os mares nunca d'outrem navegados,Prosperamente os ventos assoprando,

    Quando ua noite, estando descuidados

    Na cortadora proa vigiando,

    Ua nuvem que os ares escurece,

    Sobre nossas cabeas aparece.

    39

    No acabava, quando ua figura

    Se nos mostra no ar, robusta e vlida,

    De disforme e grandssima estatura;O rosto carregado, a barba esqulida,

    Os olhos encovados, e a postura

    Medonha e m e a cor terrena e plida;

    Cheios de terra e crespos os cabelos,

    A boca negra, os dentes amarelos.38

    To temerosa vinha e carregada,

    Que ps nos coraes um grande medo;Bramindo, o negro mar de longe brada,

    Como se desse em vo nalgum rochedo.

    - Potestade (disse) sublimada:

    Que ameao divino ou que segredo

    Este clima e este mar nos apresenta,

    Que mor cousa parece que tormenta?

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    To grande era de membros que bem

    possoCertificar-te que este era o segundo

    De Rodes estranhssimo Colosso,

    Que um dos sete milagres foi do mundo.

    Cum tom de voz nos fala, horrendo e

    grosso,

    Que pareceu sair do mar profundo.

    Arrepiam-se as carnes e o cabelo,

    A mi e a todos, s de ouvi-lo e v-lo!

    1. Completa o quadro com os elementos que descrevem o Adamastor, nos espaos

    correspondentes:

    DESCRIO ADAMASTORELEMENTOS OBSERVADOS CARACTERSTICAS

    figura ___________________ e vlida_____________________ disforme e _________________ ____________________ carregadobarba _________________________

    olhos _________________________ ________________________ medonha e m________________________ _____________________ e plidacabelos cheios de terra e ________________________

    ________________________ negra

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    dentes ______________________________ membros ______________________________

    estranhssimotom de voz ______________________ e __________________

    2 parte

    1. Aps a audio da segunda parte deste episdio e auxiliando-te da parfrase do

    mesmo, responde s seguintes questes:

    1.1. Identifica se as afirmaes que se seguem so Verdadeiras ou Falsas.

    O narrador deste episdio Lus de Cames.

    O objectivo da primeira parte do discurso do Gigante comover os portugueses com asua triste histria.

    O Adamastor d informaes aos portugueses sobre o caminho martimo para a ndia.

    O Adamastor profetiza o naufrgio e morte da famlia Seplveda.

    O Adamastor simboliza a oposio da natureza, as tempestades, os naufrgios.

    O narrador deste episdio Vasco da Gama.

    2. Indica as figuras de estilo presentes nos versos:

    Arrepiam-se as carnes e o

    cabeloA mim e a todos, s de ouvi-lo e

    v-lo.

    Apstrofe

    Abraados, as almas soltaro

    Da fermosa e misrrima priso

    Hiprbole

    E disse: gente ousada,

    mais que quantas

    Eufemismo

    Ou fosse monte, nuvem, sonho

    ou nada?

    Gradao

    3. Assinala a hiptese correcta:

    O Adamastor considera os portugueses

    ambiciosos e mesquinhos.

    corajosos e audaciosos

    Vasco da Gama supera

    o medo e parte sem dar importncia

    ao gigante.

    o medo e enfrenta o gigante.

    O gigante profetiza

    mortes e naufrgios para todos osque se atreverem a ultrapassar o cabo

    O Adamastor muda de atitude porque

    reconhece o valor dos portugueses

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    o fracasso total da viagem dos

    portugueses

    porque interpelado por Vasco daGama que o faz lembrar a sua tristeza econdio.

    4. Faz corresponder os principais momentos da histria amorosa do gigante Adamastor srespectivas passagens do texto.

    Paixo do Adamastor por

    Ttis

    De medo a Deusa ento

    por mi lhe falaInterveno de Dris S por amar das guas a

    Princesa.Rejeio de Ttis J que minha presena

    no te agrada.Transformao do Gigante

    num rochedo

    Converte-se-me a carne

    em terra dura.Atitude provocadora da

    ninfa

    Me anda Ththys

    cercando destas guas.

    5. Atenta no verso Bramindo o negro mar de longe brada (est. 38) e assinala com V

    (verdadeira) ou F (falsa) as seguintes afirmaes:

    Predominam as sensaes auditivas que sugerem o rudo do mar.

    A figura de estilo que se evidencia a aliterao em r e dos sons nasais m e n.

    Verifica-se uma aliterao do d, traduzindo o rudo das ondas.

    6. Integra este episdio no plano da narrativa correspondente:

    Plano da Viagem

    Plano da Histria de Portugal

    Plano do Maravilhoso

    Plano das Intervenes do Poeta

    7. Este episdio constitudo por 5 momentos fundamentais. Com base na parfrase e naaudio do mesmo, atribui um ttulo a cada um desses momentos.

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