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99º Dia Mundial Do Migrante E Refugiado · Juvenil da Igreja, agendado para 11 e 12 de janeiro em Fátima, vai contar com a intervenção de João César das Neves, “reconhecido

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04 – Editorial: José Tolentino Mendonça06 – Foto da semana07 – Citações08 – Nacional12 – Igreja Local14 – Espaço Ecclesia16 – Opinião: D. António Marcelino

20 – A semana de… Luís Filipe Santos22 – Internacional26 – JMJ Rio 201327 – Por estes dias…28 – Dossier34 – Entrevista: Teresa Tito Morais40 – Cinema42 – Multimédia44 – Estante46 – História: 50 anos da Fraternidade VerbumDei48 – 50 Anos do Vaticano II50 – Agenda52 – Ecclesia nos Media53 – Fundação AIS54 – Liturgia56 – Opinião: João Meneses58 – Opinião: João Sá Pessoa

Foto da capa: Aeroporto de Lisboa (ANA)Foto da contra-capa: Refugiados acompanhados

pelo Alto Comissariado da ONU (UNHCR.org)

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99º Dia Mundial Do Migrante E Refugiado

Direito a (não) emigrar

Realismo e esperançanestes tempos que vivemos... os que pensam direito e se empenham emsoluções válidas, têm o dever de congregaresforços e de inserir, no projeto nacional, umclima de esperança. (D. António Marcelino) [ver+] Mapa negro dos conflitos mundiaisBento recebeu Corpo Diplomático Santa Sé[ver+] Óscares da internet para 2012O que de melhor se produziu em 2012 na granderede mundial. [ver+] 2013 em perspetivaSe no século XX se desvaneceu a utopiasocialista, no século XXI desvanecer-se-á autopia liberal.(João Wengorovius Meneses) [ver+]

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A esperança ativa

José Tolentino MendonçaDiretor do SecretariadoNacional da Pastoral daCultura

É verdade que todos os paraísos são paraísosperdidos? A julgar pela aparência todas ashistórias, até a história bíblica, nos garante quesim. De facto, no livro do Génesis, o primeirocasal humano acaba lançado para fora doparaíso, depois de uma breve e atrapalhadapermanência. E as portas do paraíso ficaminterditas aos humanos. Contudo, a linguagemsimbólica e a natureza teológica daquele relatoexigem uma atenção a investimentos de sentidoque se podem sintetizar assim: o tempo dasalvação não é narrado como nostalgia de umaépoca de ouro passada, mas, o que se procuraafirmar é que, através de vicissitudes econtradições, o tempo não deixa de avançar parauma plenitude. De certa forma, o homemdescobre que está fora do paraíso para quepossa encaminhar-se para ele. A expulsão bíblicanão é, portanto, uma perda, mas o primeiro, emisterioso, passo para o caminho da promessa. O que não se escamoteiam são as tensões edesvios que o homem vai introduzindo.Reconhecer, porém, que mundo e a história nãosão propriamente lugares paradisíacos não nosdeve fazer cair os braços, nem desesperar.No território ambíguo que se abre, na irresoluçãoque nos caracteriza a nós próprios, os crentessão chamados a identificar (e a imaginar) novaspossibilidades.

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Que ensina a sabedoria bíblica aosnossos tempos conturbados?Ensina, sem dúvida, que aesperança é mais importante de quea saudade; e que a promessahumilde que, quotidianamente, noscoloca a caminho é bem maispreciosa que os paraísos que nosdeixam parados a olhar para trás.Na magnífica encíclica sobre aEsperança, e que podia bem servir-nos de mapa nas horas desofrimento

e de incerteza, escreve o PapaBento XVI: “A esperança em sentidocristão é sempre esperança tambémpara os outros. E é esperança ativa,que nos faz lutar para que as coisasnão caminhem para o «fimperverso». É esperança ativaprecisamente também no sentido demantermos o mundo aberto a Deus.Somente assim, ela permanecetambém uma esperançaverdadeiramente humana”.

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©Lusa

Encontro de Bento XVI com membros do corpo diplomático,

Vaticano, 07.01.2013

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‘A União Europeia precisa derepresentantes clarividentes equalificados para realizar asopções difíceis que sãonecessárias a fim de sanar a suaeconomia e colocar bases sólidaspara o seu progresso. Sozinhos,alguns países talvez caminhassemmais rápido; mas, juntos, todoschegarão certamente maislonge!’ - Bento XVI, audiência aocorpo diplomático no Vaticano,07.01.2013 ‘Nós não estamos a iniciar umciclo vicioso de que nãoconseguimos sair, mas apenas avislumbrar a saída de umperíodo difícil que estamos acompletar’ – Pedro Passos Coelho,primeiro-ministro português,residência oficial de São Bento, emLisboa, 06.01.2013

‘O aumento do salário mínimo é[…] uma questão elementar dejustiça. É uma exigência docombate à pobreza, parasalvaguardar as pessoas que seveem privadas de exercer a suaplena cidadania e dignidade’ -«Uma questão de justiça e dedireitos humanos» - jornal‘Público’, 04.01.2013 'Estamos já na área daquiloque é o atentado aos DireitosHumanos' - Eugénio Fonseca,presidente da CáritasPortuguesa, em reaçãoa relatório do FMI compropostas para a reformado Estado - Renascença,09.01.2013

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Igreja reafirmacompromisso contra a pedofilia

© Lusa

O porta-voz da Conferência EpiscopalPortuguesa (CEP) destacou os “passos muitoconcretos” na luta contra a pedofilia que aIgreja Católica tem vindo a promover, no país,para a “erradicação” destes casos. O padreManuel Morujão reagia em comunicadoenviado à Agência ECCLESIA às acusaçõesdirigidas pela Rede de Cuidadores, através dopresidente da associação, o psiquiatra Álvarode Carvalho, segundo o qual os responsáveiscatólicos estão a “enterrar a cabeça na areia”no que diz respeito ao abuso sexual demenores por membros do clero.Segundo o secretário da CEP, têm sido “postosem prática os necessários meios para acorreção de possíveis comportamentos emesmo a erradicação do seu seio de pessoasque mantenham atitudes incompatíveis com asua missão na Igreja”.Este responsável lamenta que o comunicadoda Rede de Cuidadores tenha colocado emquestão “o empenho da Igreja Católica naerradicação da pedofilia do seu seio”. “AIgreja, mais uma vez, manifesta a sua totaldisponibilidade para acertar a verdade relativaa eventuais abusos, recordando que compete,a cada bispo na sua diocese, aresponsabilidade de pôr em prática asdiretrizes da Conferência Episcopal:

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reconhecer a verdade, apoiar aseventuais vítimas, colaborar com asautoridades, procurar todos osmeios para superar tão graveproblema”, pode ler-se.A nota do Secretariado Geral daCEP confirma que o D. Jorge Ortiga,arcebispo de Braga, manteve umencontro com os responsáveis daRede de Cuidadores a a 22 demarço de 2011, A Conferência EpiscopalPortuguesa divulgou em abril de2012 um conjunto de diretrizespara o tratamento de eventuaiscasos de abusos sexual demenores, ocorridos na IgrejaCatólica, destacando anecessidade de colaboração comautoridades civis. “Cada pessoajurídica canónica cooperará com asociedade e com as respetivasautoridades civis”, assinalam osbispos, que pedem “transparênciae prontidão” na resposta àsautoridades competentes parasalvaguardar “os direitos daspessoas, incluindo o seu bomnome e o princípio da presunçãode inocência”.

altura em que ocupava apresidência do organismo máximodo episcopado católico.A Igreja, acrescenta o padre ManuelMorujão, reconhece o “importantepapel” da Rede de Cuidadores nasociedade portuguesa e “manifestanovamente a sua disponibilidade emcolaborar com todas as instituiçõesque tenham como missão protegeros menores de todos e quaisquerabusos”Na terça-feira, em Fátima, o porta-voz reiterou não ter conhecimentode quaisquer casos de abusossexuais de menores no seio daIgreja, a não ser “pela comunicaçãosocial”, e declarou que “todas aspessoas ou instâncias que velampara ajudar a Igreja a purificar-sesão bem-vindas”.Esta preocupação, sublinhou, deveestender-se “à sociedade, àsfamílias” e a todas as instituiçõesque acolhem crianças.Para o secretário da CEP, o“assunto é demasiado sério” paraser transformado “num show”mediático, pelo que é necessárioaliar a verdade à “discrição”. “Tudoisto deve ser encarado com grandeserenidade”, apelou.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Casa-Museu vai evocar Madre Rita emViseu A obraprocede àreconstruçãoda casa ondenasceu emorreu aMadre Rita,fundadoraInstitutoJesus MariaJosé, atravésda Paróquiade Ranhados ecom o apoioda CâmaraMunicipal

O bispo de Viseu presidiu este domingo à bênção daprimeira pedra da ‘Casa da Memória’ que vai evocar abeata portuguesa Rita Amada de Jesus (1848-1913),falecida há 100 anos, a 6 de janeiro. “É uma alegriamuito grande para o bispo e para toda a nossa Igrejade Viseu que, hoje e aqui, tenha sido oficialmenteiniciada uma obra para guardar e fomentar a memóriade tão ilustre filha desta terra. Como é muitodesejável, também, que seja fomentada a suaespiritualidade e desenvolvido e dado a conhecer oseu carisma”, disse D. Ilídio Leandro, na homilia damissa a que presidiu em Ribafeita, Concelho de Viseu,terra natal da religiosa beatificada em maio de 2006.O prelado deixou votos de que esta obra possa ser"o centro de irradiação da mensagem de Beata RitaAmada de Jesus". LER MAIS

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Padre Manuel Morujão

CEPO porta-voz da Conferência EpiscopalPortuguesa afirmou em Fátima que aatual crise económica e social no paísexige um reforço do diálogo, lamentandoas “graves dificuldades em criarconsensos”. “Dialogar é um verbourgente”, declarou o padre ManuelMorujão. JovensO próximo Conselho Nacional de PastoralJuvenil da Igreja, agendado para 11 e 12de janeiro em Fátima, vai contar com aintervenção de João César das Neves,“reconhecido economista católico”. ODepartamento Nacional da PastoralJuvenil, dirigido pelo padre EduardoNovo, convidou o docente universitáriopara proporcionar aos participantes “umanova forma de ver a economia e arelacionar com a juventude, à luz doEvangelho”. AlgarveA Diocese do Algarve realiza este sábadoa jornada anual de Pastoral Litúrgica,dedicada ao tema “A Liturgia, escola daFé cristã”. Esta atividade promovida peloDepartamento da Pastoral Litúrgica daDiocese do Algarve, vai decorrer noCentro Pastoral de Ferragudo.

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Rão Kyao

D. António Couto

FranciscanosO músico português Rão Kyao lançou umCD com “melodias franciscanas”, a conviteda Ordem dos Frades Menores, emPortugal. O provincial da OrdemFranciscana, padre Vítor Melícias,apresenta o álbum, enviado à AgênciaECCLESIA, como uma forma de associar a“arte sublime e a profunda espiritualidadede Rão Kyao” às “melodias, letras e amística a que a alma franciscana foi dandoforma”. GuardaAs jornadas de formação do clero daDiocese da Guarda vão ter como tema areceção do II Concílio do Vaticano nadiocese e realizam-se nos próximos dias 23e 24. Os trabalhos vão decorrer noSeminário da Guarda e contam, noprimeiro dia, com a presença de D. ManuelLinda, bispo auxiliar de Braga, que falarásobre “A árvore do Concílio Vaticano II”. LamegoA Diocese de Lamego celebra, dia 20deste mês, o seu padroeiro principal, SãoSebastião, com uma celebração na Sé quemarca também o primeiro ano de D.António Couto neste território eclesial.

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Credo – Síntese da Fé Cristã

A partir do desafio de Bento XVI para que, ao longo dopresente ano pastoral, os cristãos aprofundem asrazões da sua fé, o programa de rádio da Ecclesia,transmitido de segunda a sexta-feira na Antena 1,propôs ao jesuíta António Vaz Pinto, folhear o seuúltimo livro «Credo – Síntese da Fé Cristã».A publicação, esclarece o autor, “não tem qualquerpretensão a ser exaustiva ou definitiva”, mas sim “umresumo e uma introdução” ao Credo, esse“«documento» essencial da fé cristã” que, assume osacerdote, sempre o fascinou.O livro é, por isso, uma “viagem dos «credos» antigosaos atuais” e um “comentário” para que o homem dehoje o atualize na sua vida.O atual rito litúrgico latino, explica o jesuíta, utiliza oCredo Niceno-Constantinopolitano, de 351, sendo este“o mais completo e universal”, uma vez que é aceitepor católicos, protestantes e ortodoxos.Esta fórmula, síntese da fé cristã, tem a marca do seutempo: “a linguagem é do século IV”, refere o autor,que encontra termos presentes no Credo que nãoestão na Bíblia, mas, “são fruto da tradição da Igrejaque importa manter”.

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O Credo é “uma viagem pelarevelação”, indica o sacerdote, quelamenta que a grande maioria doscristãos participantes na eucaristia oreze mas não entenda o seusignificado.“Quando se diz «creio em Deus,creio em Jesus Cristo», significa quetenho uma relação pessoal deconhecimento e confiança e a fé éconfiança”.Para António Vaz Pinto a vida socialorganizada “assenta em fórmulas”necessárias ao homem para viver,mas, o Credo “não é algo banal”,sendo necessário “perceber ocompromisso que se assumequando se reza”.“A fé é a resposta do homem, feitaem liberdade, à revelação de Deus,que é descrita no AntigoTestamento. Há, depois, ummomento da História, em que o filhode Deus nasce e comunicacom o homem. É necessárioperceber toda esta tradição paradepois se dizer «sim, adiro a isto»”.Este passo final, “concretizado no«Ámen», completa o compromissodo homem”.A fórmula do Credo compreendequatro «Creio»: em Deus, em JesusCristo, no Espírito Santo, que são“entidades divinas”, e na Igreja, queé o espaço onde o cristão vive,onde

participa dos sacramentos”, onde a“a fé nasce e cresce”, ou seja,“onde a vida do homem acontece”.“O caminho de santificação dohomem é feito na Igreja”, assinala opadre António Vaz Pinto.Ao longo do Ano da Fé, que seestende até novembro, o Papa pedeque cada cristão aprofunde a suafé, “e que a compreenda melhor,para que possa transmitir a outrosesta Boa Nova e o Credo é uma boanova”.

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Realismo e esperançanestes tempos que vivemos

D. António Marcelino

Um homem com grande experiência de uma vidacom dificuldades, deixou dito de si próprio: “ Seiviver na abundância e na privação, na saúde ena doença, nos aplausos e nos apupos, porqueeu sei em Quem acredito.” Foi Paulo, o Apóstolo,cuja história é conhecida. A sua palavra podeservir de estímulo a todos, cristãos ou não. Aforça capaz de dar sentido positivo à vida do diaa dia, está ao alcance de todos. Vai dentro decada um. Só ela é determinante, em confrontocom tudo aquilo que pode condicionar.Está a começar um novo Ano. Os profetas quequerem determinar o futuro do país e que nãodesligam do passado, falam sempre e só dedesgraças. Agora, até de desgraças agravadas.A ninguém se pedem palavras de uma euforiabarata nos momentos difíceis. Mas não se podeaceitar que haja quem apague as luzes daesperança, canonize dificuldades e dê largas àstrevas.As pessoas nascem com capacidade naturalpara andarem com os pés no chão e paraolharem em frente e para o alto. O realismo e aesperança podem casar-se em qualquer tempo,para que um futuro humano se possa projetar,tendo em conta a memória, por vezes dolorosa,do passado vivido e a consciência esclarecida dopresente. Porém, nem

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passado, nem presente sãoeternos. São apenas tempo quepaga o tributo ao tempo. Só o futuroque não tem horizonte que o limite,também não dá direito a alguém queponha termo ao sonho que faz viver.Li há dias, ao passar na rua,estampada num caixote do lixo, estaadvertência bem atual, ainda que,no caso, publicitária: “ Se olhassempre o mundo pela mesmajanela, vês sempre o mesmohorizonte”. Não falta gente assim,que, quando tem púlpito einfluência, polui a vida dos outros eos fecha a horizontes novos.Em plena guerra mundial, Pio XII,incitava à esperança, dizendo que omaior de todos os males dasociedade é perder a esperança. Enão hesitou em dizer aos cristãosdesse tempo, que a falta deesperança era o maior pecado dahumanidade. Sessenta anos depois,porque os tempos não melhorarammuito, Bento XVI não se cansa deinsistir na mesma ideia.Não se pode pensar em paz, embem estar, em desenvolvimentosocial, em justiça, em colaboraçãomútua, em

diálogo conclusivo, se quem se devecomprometer na tarefa de oconseguir, estiver de asas cortadase olhos vedados ao transcendente,de onde vem a luz e a força daesperança que não ilude. Oscrentes, quando falam deesperança, orientam a sua fé para oreconhecimento de um Deusomnipotente, misericordioso efidelíssimo às suas promessas. Daíesperam força para não desistir,para lutar, para se abrir àcolaboração com todos os queprocuram caminhos novos, para nãover apenas as dificuldades, mastambém as oportunidades.O povo simples, determinado asolucionar os seus problemas, aindaque graves, não perde a esperança.Conta com Deus e com os outros edispõe-se a não se negar a nadaque o leve conseguir os seusobjetivos de vida. É, então, quemostra a sua força interior, a suadecisão em começar de novo.Respeitá-lo é, também, aprenderdele. Uma observação objetiva doque se passa entre nós, vêmultiplicado o número dos que falam

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Quem governa esqueceque isolar-seempobrece sempre mais

do povo e fazem dele número paraas reivindicações sociais. Muitosdos que têm garantido trabalho esalário interessa-lhes o povo paraconquistar mais, em favor deinteresses pessoais e de grupo, semprestar atenção à vida dura, que foisempre a vida do povo que merecetal nome.Certamente ninguém pensará queesta reflexão pretende fechar osolhos à realidade do país e à açãodos governantes. Vêm-secometendo erros comconsequências graves e tomandodecisões que a todos parecemmenos certas. Talvez porque quemgoverna se esquece que isolar-seempobrece sempre mais.Nunca é fácil governar quando asforças de oposição, pensam, acimade tudo, em conquistar o poder, e agente que governa vê nosopositores apenas inimigos. Aqui,porém, os que pensam direito e seempenham em soluções válidas, têmo dever de congregar esforços e deinserir, no projeto nacional, um climade esperança, que não fecha olhosà realidade, mas também a nãodeixa abafar por profecias dedesgraça.

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Missão Jubilar Diocese de Aveiro

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Um vendaval chamado 2013

Luís Filipe SantosAgência ECCLESIA

Alguém lhe chamou «mini encíclica» e, naverdade, a mensagem de Bento XVI para o DiaMundial da Paz é um autêntico manual dereceitas para combater a crise que o mundoenfrenta. Um documento que, segundo MárioSoares, aponta “de forma direta e concisa” asraízes da crise atual: “capitalismo financeirodesregrado”, “mentalidade egoísta”.Para a resolução de qualquer problema, averificação das causas é o primeiro passo nadescoberta de soluções. De forma clarividente,Bento XVI pede um “novo modelo dedesenvolvimento e de economia”. No fundo,condena o modelo vigente que aumenta o fossoentre pobres e ricos. Uma lição magistral,baseada na Doutrina Social da Igreja, que ospolíticos portugueses deveriam colocar no topodas prioridades para governar a nação. O filósofo grego Aristóteles disse que «Acomunidade politicamente mais perfeita é aquelaem que a classe média está no poder eultrapassa em número as duas outras». Seráque, a forma de atuar dos governantes destepaís já absorveu esta máxima? Receio que adesignação «classe média» desapareça do léxicoportuguês. Com um Orçamento Estado (OE)pautado pelas regras do exterior e esfomeado, arealidade empresarial e familiar vai falecerlentamente. Os antibióticos não vão curar adoença, apenas colocar letras no epitáfio.

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‘O grito’ (1893), Edvard Munch-Galeria Nacional, Oslo Ao visualizar a pintura de EdvardMunch, o «Grito», acredito quemuitos portugueses sintam a suaalma no croma e expressão daqueleser humano. Sentem que a estradada vida que projetaram tem a cor dofogo. Esse incêndio dos impostosque, como disse o político JohnGarland Pollard (1871-1937), “éarte de depenar o ganso fazendo-ogritar o menos possível e obtendo amaior quantidade de penas”.O povo português tem uma devoçãoespecial por São Sebastião, mártir

cristão do século III, mas não desejao martírio de uma ‘troika’ que afogaa população e de um governo quelança setas sanguinárias. Errar éhumano… No entanto, errarconsecutivamente nas previsõesdeficitárias parece obra de ‘hackers’de rosto tapado e que sãoincapazes de transmitir a verdade. Em junho, os bispos portugueses,nas suas jornadas pastorais, vãorefletir – com a ajuda de peritos naárea – sobre «A organização dasociedade à luz da Doutrina Socialda Igreja». Louvo esta iniciativa eacredito que nesses dias, de formaprudente e pragmática, a hierarquiada Igreja Católica seja capaz dedizer em uníssono: É preciso alteraros modos de atuar dos cidadãos edos governantes. Ainda faltam alguns meses – talvezseja tarde para muitas famílias queperderam a esperança do amanhã–, mas vale a pena esperar. Esteano, as rajadas de vento serãofortes e farão estragos nas célulasportuguesas, todavia acredito quevale a pena ser lusitano e nãoperder a esperança que o amanhãserá melhor que a agonia do hoje.

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Mapa negro dos conflitos mundiais

Bento XVI recebeu esta segunda-feira os representantes diplomáticosacreditados junto da Santa Sé, notradicional encontro de ano novo,durante o qual passou em revista asprincipais situações de conflito etensão a nível internacional, queaqui se elencam: Médio OrienteSíria‘Penso, antes de mais nada, naSíria, dilacerada por contínuosmassacres e palco de imensossofrimentos para a população civil.Renovo o meu apelo para que sedeponham as armas e possa, omais rápido possível, prevalecer umdiálogo construtivo para acabar comum conflito que, se perdurar, nãoconhecerá vencedores mas apenasderrotados, deixando em campoatrás de si apenas ruínas’. Israel e Palestina‘Que israelitas e palestinianos, como apoio da comunidadeinternacional, se empenhem por

chegar a uma convivência pacíficano contexto de dois Estados’. Iraque“O meu pensamento detém-se naamada população do Iraque, paralhe desejar que percorra o caminhoda reconciliação a fim de chegar àansiada estabilidade’. ÁfricaNorte‘É prioritária a cooperação de todosos componentes da sociedade,devendo ser garantida a cada umdeles a plena cidadania, a liberdadede professar publicamente a suareligião e a possibilidade decontribuir para o bem comum’. Nigéria‘A Nigéria vê-se palco de atentadosterroristas que ceifam vítimas,sobretudo entre os fiéis cristãosreunidos em oração, como se o ódioquisesse transformar templos deoração e de paz em centros depavor e dissensão’.

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Imagem de Hafez al-Assad, pai do presidente sírio Bashar al-Assad, encontrada juntode soldado morto © Lusa

Mali‘Também o Mali se vê dilaceradopela violência e sofre uma profundacrise institucional e social, que devemerecer um eficaz empenho dacomunidade internacional’. República Centro-Africana‘Espero que as conversaçõesanunciadas para os próximos diastragam a estabilidade e poupem àpopulação reviver as tribulações daguerra civil’. República Democrática doCongo‘No leste da República Democráticado Congo recrudesceram asviolências,

forçando muitas pessoas aabandonar as suas casas, aspróprias famílias e ambientes devida’. Europa‘Se é uma preocupação o índicediferencial entre as taxasfinanceiras, deveriam suscitarindignação as crescentes diferençasentre poucos, cada vez mais ricos, emuitos, irremediavelmente pobres’. América Latina‘Construir a paz significa educar osindivíduos para combaterem acorrupção, a criminalidade, aprodução e o tráfico da droga, bemcomo para evitar divisões e tensões’.

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21.º Dia Mundial dos Doentes

«Não é oevitar osofrimento, afuga dianteda dor quecura ohomem, masa capacidadede aceitar atribulação enelaamadurecer»( Encíclica Spesalvi , 37)

Bento XVI convidou as comunidades católicas a“intensificar o serviço da caridade”, em particular juntodos doentes, evocando o exemplo de Madre Teresa deCalcutá (1910-1997). “A Beata Teresa de Calcutácomeçava sempre o seu dia encontrando Jesus naEucaristia e depois saía pelas estradas com o rosáriona mão para encontrar e servir o Senhor presente nosenfermos, especialmente naqueles que não são«queridos, nem amados, nem assistidos»”, refere oPapa, na sua mensagem para o 21.º Dia Mundial doDoente, divulgada pelo Vaticano.A celebração, instituída por João Paulo II em 1992, éassinalada anualmente pela Igreja Católica a 11 defevereiro, na festa litúrgica de Nossa Senhora deLourdes, data que marca as aparições a BernardetteSoubirous, em 1858. LER MAIS

Bênção dos Doentes, Fátima, 13.05.2010©Santuário de Fátima

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Em defesa da vida

“Em váriospaíses,mesmo detradiçãocristã, procurou-seintroduzir ouampliarlegislações quedespenalizam oaborto"Bento XVI

Bento XVI alertou no Vaticano para a necessidade dedefender a “dignidade transcendente da pessoa”,condenando o aborto, eutanásia e as tentativas deredefinir o “momento da conceção”. “O aborto direto,ou seja, querido como fim ou como meio, égravemente contrário à lei moral. Ao dizer isto, aIgreja Católica não pretende faltar de compreensãoe benevolência nomeadamente para com a mãe;trata-se, antes, de velar para que a lei não altere,injustamente, o equilíbrio entre o igual direito à vidaque possuem tanto a mãe como o filho”, disse, noencontro de ano novo com os representantesdiplomáticos acreditados na Santa Sé.O Papa reafirmou o compromisso da Igreja Católicano “respeito pela vida humana, em todas as suasfases” e disse ser “fonte de preocupação a recentesentença da Corte Interamericana dos Direitos doHomem relativa à fecundação ‘in vitro’, que redefinearbitrariamente o momento da conceção e debilita adefesa da vida”.

© Lusa

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Banda sonora

O primeiro CDtem comohino a cançãooficial daperegrinaçãoda cruz daJMJ - "NovaGeração", dopadre Zezinho,scj

A Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e editorascatólicas do país prepararam três álbuns musicaispara preparar a próxima Jornada Mundial daJuventude, que vai decorrer no Rio de Janeiro.O primeiro CD, ‘No peito eu levo uma Cruz’, lançadopela Codimuc, inclui 13 músicas de autores católicos eo segundo inclui 11 hinos das edições anteriores daJMJ, traduzidas para português e com novos arranjos.Além dos hinos, o segundo álbum da JMJ, ‘Jovens emCanção’, da Canção Nova, inclui faixas-bónus inéditas,‘Ide ao mundo’ e ‘Novo amanhã’ -, inspiradas no temada JMJ Rio-2013, ‘Ide e fazei discípulos entre todas asnações’ (Mt 28,19).O terceiro inclui 13 músicas escolhidas após concursolançado pela Codumic, através da internet(http://www.codimuc.com.br/cd3/) e tem título eminglês: ‘Jesus is the rock’ (Jesus é a rocha).

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→ A Igreja assinala este domingo o 99.º Dia Mundialdo Migrante e do Refugiado. “Fé e esperança formamum binómio indivisível no coração de muitos migrantes,dado que neles existe o desejo de uma vida melhor,frequentemente unido ao intento de ultrapassar o‘desespero’ de um futuro impossível de construir”,escreve Bento XVI na mensagem para a ocasião. → Faz esta sexta-feira 10 anos que George Ryan,governador do estado norte-americano do Illinois,comutou a pena de 167 condenados à morte. Ocastigo capital está previsto na legislação de quase 60países, verificando-se a tendência para a suaabolição. Em 2011 houve “milhares” de execuções,segundo a Amnistia Internacional. → A semana abre sob a evocação do Beato Gonçalode Amarante, que os católicos assinalam hoje. Nascidocerca do ano 1200 em Tagilde, Guimarães, peregrinouna Terra Santa e, ao regressar a Portugal, entregou-se à vida eremítica, para mais tarde ingressar nosDominicanos. → Na quarta-feira os católicos recordam Santo Antão,o “pai” dos anacoretas, isto é, daqueles que vivem emsolidão contemplativa. Veio ao mundo na segundametade do século III, no Egito. Após distribuir aherança pelos pobres retirou-se para o deserto, ondeinspirou numerosos discípulos e artistas, queretrataram as suas tentações.

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Emigrar? Não é para nós!

Raquel e Miguel Mariano vivem em Macedo deCavaleiros e têm um negócio próprio que nasceu deum sonho de voltar à terra natal. Emigrar não fez partedos planos deste casal que valorizou a família comobase da felicidade.Raquel, natural de Angola, era professora, mas ficoudesempregada. Casada com Miguel, natural deLisboa, embarcou na aventura de ir e viverem nacapital."No início não foi nada fácil, porque o Miguel tinhahorários de trabalho muito diferentes e longos e sófolgava à segunda-feira. Eu, sem grandes amigos emLisboa, sentia-me um pouco perdida, quase como umaemigrante", confessa Raquel, de 45 anos, aoprograma ECCLESIA na Antena 1 da rádio públicaportuguesa.O Miguel tinha uma marisqueira, em conjunto com ospais, e o negócio corria bem até que, com a criseeconómica, começaram a aparecer algumasdificuldades.

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A Raquel continuava desempregadae o casal questionou o futuro."Fui aliciado algumas vezes para irpara Angola e lá abrir umamarisqueira, uma vez que estavapor dentro do ramo. Equacioneimuito, não dormi muitas noites atédar uma resposta, foi difícil porque,por um lado estava o dinheiro quepodia ganhar, por outro a famíliaque deixava...", desabafa MiguelMariano."Emigrar? Não era para nós...Acreditamos sempre e continuamosa acreditar que devíamos ficar juntodos nossos pais e foi aí quecomeçou a ideia de voltar àsorigens", acrescenta Raquel.Depois de estarem 4 anos a viverem Lisboa o casal Mariano voltou apensar em Macedo de Cavaleiros,em Trás-os-Montes, a cidade nataldos pais de Miguel e de toda a vidade Raquel. Miguel convenceu aindaa que os pais os acompanhassem epudessem também abrandar o ritmode uma vida de trabalho."Pensámos em nós, no que poderiaser o nosso futuro como casal evimos que em Trás-os-Montes, juntodos meus pais e sogros poderíamoster outras oportunidades", diziaRaquel Mariano.Os pais de Raquel necessitam de

cuidados e ter a filha por pertotornou-se um conforto. Nestemomento o casal Mariano está há 9meses na cidade de Macedo deCavaleiros e têm uma marisqueira.“De forma estratégica a marisqueiraabre de quinta a domingo e látrabalhamos naqueles dias. Osoutros dias são passados atrabalhar na terra dos meus pais”,explicava Raquel.Os dias, segundo dizem, ganharamqualidade de vida e sentem que têmmais tempo para estar e viver emcasal. A emigração foi posta de ladoe, com a família por perto, Raquel eMiguel, ganham uma nova força queos empurra para a felicidade.“Sonhamos juntos e estamos felizesaqui! Pensamos mesmo num novopasso na nossa vida, ter um filho vaiser o culminar da felicidade!”,conclui Raquel.

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Pelo direito a não emigrar

© Lusa

A Igreja Católica celebra estedomingo o 99.º Dia Mundial doMigrante e Refugiado, marcado esteano pela mensagem de Bento XVI,na qual o Papa defende aimportância de reafirmar, no atualcontexto sociopolítico, o direito a“não emigrar”, isto é, a tercondições para permanecer na“própria terra”. “Hoje vemos quemuitas migrações são consequênciada precariedade económica, dacarência dos bens essenciais, decalamidades naturais, de guerras edesordens sociais”, escreve.

A mensagem, intitulada ‘Migrações:peregrinação de fé e de esperança’,dá destaque à questão da imigraçãoilegal que pode levar ao tráfico eexploração de pessoas, com maiorrisco para as mulheres e crianças.“Uma gestão regulamentada dosfluxos migratórios – que não sereduza ao encerramento herméticodas fronteiras – poderia pelo menoslimitar o perigo de muitos migrantesacabarem vítimas dos referidostráficos”, indica Bento XVI.

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O Papa pede intervenções nospaíses de origem e “programasorgânicos dos fluxos de entradalegal” nos destinos migratórios,apelando a uma “maiordisponibilidade para considerar oscasos individuais que requeremintervenções de proteçãohumanitária bem como de asilopolítico”.A mensagem destaca, por outrolado, a importância de promoveruma visão positiva sobre asmigrações e encorajar os que saemda sua terra a contribuir parao bem-estar dos países de chegada“com suas competênciasprofissionais, o seu patrimóniosociocultural e também com o seutestemunho de fé”.Bento XVI diz que a Igreja devepromover as intervenções deacolhimento que “favorecem eacompanham uma inserção integraldos migrantes, requerentes de asilo erefugiados”, evitando “o risco domero assistencialismo”.“Aqueles que emigram trazemconsigo sentimentos de confiança ede esperança que animam e alentama procura de melhores oportunidadesde vida, mas eles não procuramapenas a melhoria da sua condiçãoeconómica, social ou política”, precisa.

Os direitos, efeitos edificuldades da novaemigração estarão emdebate no próximoEncontro Nacional dePromotores Socio-Pastorais das Migrações.Promovido pela ObraCatólica das Migrações,Agência Ecclesia eCáritas Portuguesa,realiza-se nos dias 11 a13 de janeiro, em Fátima,na Casa de NossaSenhora do Carmo.“Após tantos anos dereflexão sobre asproblemáticasrelacionadas com aimigração, somos agoraimpelidos a pensar nosdesafios que se colocama Portugal face à vagafortíssima de emigraçãoque atravessa o nossopaís”, afirmam osresponsáveis pelaorganização desteencontro.

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Quando emigrar é inevitável

“Nunca cresci a pensar que tinha deemigrar” mas essa escolha tornou-seinevitável porque “não há outramaneira de pensar”: é com estaspalavras que Inês Lopes, recém-licenciada em enfermagem, assumea partida para a Irlanda, onde vaiprestar cuidados na área dageriatria.Aos 22 anos não tem perspetivas deemprego em Portugal e está convictade que o envio de currículos “não vaidar em nada”, pelo que tomou umadecisão: “Tenho é que mexer-me efazer pela vida”.Alguns dos colegas que, como ela,terminaram a formação em julho,optam por “dar um ano de esperançaa Portugal”, na expectativa que surjauma oportunidade de trabalho. Aescolha desagrada a Inês Lopes,que não quer “ficar em casa adeprimir”.A maioria dos colegas de cursopreferiu ir para o exterior,especialmente Inglaterra, até porqueno campo da enfermagem “é crucialcontinuar a colocar as competênciasem prática, para não as perder”.

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Inês Lopes manifesta perplexidadepelo que considera um desperdíciode recursos por parte do Estado.“Dado que o nosso país aposta emnós e gasta muito dinheiro na nossaformação, não só com aescolaridade obrigatória mastambém com os quatro anos delicenciatura, era de esperar quehouvesse oportunidade para todosretribuírem ao país a aposta emnós. A verdade é que,aparentemente, passa-se ocontrário: somos maltratados eparece que nos querem mandarembora, em vez de nos agarrarem”,observa.Os outros países agradecem: “Diz-se que a formação dos enfermeirosportugueses é muito completa, queestamos mais preparados quandoterminamos o curso e que temos umrol de competências muito maior doque as proporcionadas nos locaispara onde vamos trabalhar”. “Sesomos assim tão bons, por que éque o nosso país não nosaproveita?”, questiona, emdeclarações à ECCLESIA.Diminuir o financiamento e manter onível de serviço é uma equaçãoimpraticável: “O Governo quercortar cada vez mais [na despesapública] e

Somos maltratadose parece que nos queremmandar embora quer que façamos o mesmo trabalhocom a mesma qualidade eexcelência com menos enfermeiros”,o que é impossível, “por maior queseja o esforço”.É com “alguns medos,preocupações e inseguranças” queInês olha para o país dos trevos,onde vai ter oportunidade de iniciara carreira e alcançar“independência financeira epessoal”.Nos Escuteiros, que com o seu“companheirismo” e “entreajuda”contribuíram para escolherenfermagem, Inês Lopes habituou-se a conhecer outros povos eculturas mas sabia que o regressoera uma questão de dias. Quandochegar à Irlanda não sabe quandoreencontrará Portugal.

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Refugiados emPortugalprecisamde esperança

Teresa Tito Morais é o rosto maisvisível do Conselho Português paraos Refugiados, constituído em 20 desetembro de 1991, que acompanhaquem foge de perseguiçõesmotivadas por questões raciais,religiosas, étnicas, políticas e gravesviolações dos Direitos Humanos. Umtrabalho ainda pouco visível emPortugal, mergulhado numa criseque pode retirar esperança a quemaqui procura um novo começo. © (OC/Agência ECCLESIA)

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Segundo o Alto Comissariado dasNações Unidas para os Refugiados(ACNUR), dirigido pelo portuguêsAntónio Guterres, havia em 31 dedezembro de 2011 mais de 26milhões de deslocados internos emtodo o mundo, enquanto o númerode refugiados formalmentereconhecidos pela Convenção deGenebra de 1951 (pessoas queatravessaram fronteirasinternacionais) era de 15,2 milhões.Uma realidade que é acompanhadacom particular atenção por TeresaTito Morais, presidente da direçãodo Conselho Português para osRefugiados (CPR), uma organizaçãoque acolhe e apoia estas pessoas,para além de sensibilizar osgovernantes e uma opinião públicaque não vive esta tragédia humanacom a mesma intensidade queoutras zonas do mundo.As principais atividades do CPRdividem-se entre a sede, em Chelas(Lisboa), onde funciona o Centro deAcolhimento para CriançasRefugiadas, e o Centro deAcolhimento para Refugiados naBobadela (Loures). Uma ação quese tem consolidado, ao longo dosanos, mas que é agora ameaçadapelas sombras da crise económica esocial do país.

Agência ECCLESIA (AE) – Comocarateriza o seu trabalho com estapopulação, que acompanha há maisde duas décadas?Teresa Tito Morais (TTM) – É umaopção de vida, um posicionamentoperante os novos desafios que secolocam a toda a humanidade. Fuiganhando, aos poucos, uminteresse particular pelaproblemática das migrações e, muitoparticularmente, pelos dramas evivências que estas pessoas trazemdentro delas, para as quais épreciso encontrar soluções. Sempreme considerei uma cidadã do mundoe o próprio facto de ter vivido naSuíça como refugiada levou a queestivesse mais aberta a estasquestões. Por isso, quandoregressei a Portugal, quis ajudar acriar uma cultura do refugiado, comcondições para que as pessoas quevinham em busca de proteçãointernacional pudessem aqui vivercom segurança, com liberdade etambém com oportunidades. Foiassim que se proporcionou quetivesse levado esta instituição [CPR]para a frente.

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AE – A situação destas pessoas ébem entendida pela sociedadeportuguesa?TTM – Ainda há um caminho muitogrande a fazer, porque permaneceuma certa confusão entre oimigrante económico e o refugiado:de uma maneira geral, o grandepúblico não entende toda estadiferenciação e sensibilidade.Penso, no entanto, que houve umpercurso importante junto

das autoridades competentes, dosparceiros.Este não é, de facto, um problemasimples, porque temosna imigração pessoas comnecessidades muito particulares equestões que - não estandodiretamente ligadas à definição doque é um refugiado - as impedem deregressar livremente ao país deorigem.

(Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas – OC/Agência ECCLESIA)

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Os refugiados estão numa situaçãoextrema, porque não foi umadecisão pensada, foram forçados afugir do país. Essas condicionantesdeterminam uma situação muitotraumatizante, emocionalmente,porque eles vêm com medo, commuita insegurança, e depois essemedo permanece nos primeirostempos em que estão num país deacolhimento. São pessoasextremamente vulneráveis eprecisam de uma atenção especial,não podem ser tratados comoelementos estatísticos. AE – Como avalia a ação da UniãoEuropeia neste campo?TTM – A Europa é um continenteque recebe menos pedidos de asilodo que outros (cerca de 400 mil noúltimo ano) e fechou-se bastante aoacolhimento dos refugiados, porcausa dos seus própriosmecanismos internos, que nãofavorecem uma integração plena.Refiro-me particularmente asituações que se vivem na Gréciaou na Itália, onde há pressõesmigratórias muito fortes.Por outro lado, os problemaseconómicos e financeiros que se

Há um descontentamentogeneralizado que nãopodemos ignorar vivem atualmente não criam umterreno favorável a receberrefugiados. Eles também não sesentem satisfeitos e eu soutestemunha de que os refugiadosem Portugal não estão satisfeitos,há um descontentamentogeneralizado que não podemosignorar. AE – A crise económica no paíspode agravar essa situação?TTM – Pode e agrava, porque amaior felicidade para um refugiado étornar-se independente. Aocontrário do que a opinião públicamuitas vezes pode pensar, osrefugiados não pretendem serapoiados indefinidamente e viver àcusta do país que lhes deu asilo.Eles pretendem é ter condiçõespara que possam exercer ascompetências que trazem ouadquiriram, oportunidades válidasde trabalho, contribuindo para odesenvolvimento do país que osacolheu.

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AE – O arrastar da indefinição dofuturo dos refugiados é umadificuldade acrescida para quemtrabalha com eles em Portugal?TTM – Sem dúvida. Nós, de facto,estamos a adaptar-nos a uma novarealidade, porque os centros devemser transitórios, não um local ondeas pessoas vivam anos e anos a fio.O Centro é uma primeira etapa, umafase que prepara a pessoa para asua integração na vida ativa, nomercado de trabalho, na escola,para que se torne autossuficiente.Tem de haver uma parceria muitopróxima e consequente com outrasentidades que estão envolvidas noprocesso de asilo para que estatramitação se faça de formaharmoniosa e válida.No final de 2011 começou adesenhar-se um grande fosso entreas estruturas que acompanhavamos refugiados, particularmente aSegurança Social e a Santa Casada Misericórdia de Lisboa, e o CPR,que se viu confrontado com aspessoas que já cá estavam há maistempo e com novas entradas.

A partir de dezembro de 2012,começou-se a colaborar com estasinstituições e a experimentar novoscaminhos para a integração dosrequerentes de asilo comautorização de residência provisória,que passam por umadescentralização, noutros pontos dopaís onde possa haver maisoportunidades de trabalho. É umaexperiência, acredito que não sejamá: Lisboa e seus arredores,também o Porto, estão muitosaturados com uma população àprocura de trabalho. Talvez estadescentralização possa serbenéfica, embora haja um trabalho afazer junto de distritos que nãoconhecem nada da problemática evão acolher os refugiados comoimigrantes. Há um trabalho deformação muito estimulante para anossa organização, que vai poderlevar a outros pontos do país anossa mensagem, o nossoconhecimento.Eu diria, no entanto, que esta novasolução de descentralização deveser acompanhada por uma vontademuito grande de ouvir o requerentede asilo e de respeitar as suasaspirações.

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Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas – CPR

AE – O que seria necessário paraque Portugal pudesse acolher maisrefugiados, dado que o númerocontinua a ser modesto?TTM – Em 2012 não chegamos aos300 refugiados e não foi preenchidaa quota de reinstalação (30pessoas), portanto continuamosainda a ser um país com poucosrefugiados. Isso não tem a ver sócom infraestruturas: nós temos umproblema grave de sustentabilidadeda Segurança Social e temostambém outros atores que estãodiretamente relacionados com osCentros de Emprego e de formaçãoque não funcionam da melhormaneira. Depois, a nível da saúdehá

refugiados com necessidadesmédicas especiais e as taxasmoderadores continuam a ser muitoelevadas.Numa perspetiva interministerial, háquestões que têm de ser melhorconduzidas de maneira aproporcionar maior envolvimentodas estruturas administrativas numaprimeira fase, eu diria no primeiroano, em que estas pessoas chegame se querem integrar no nosso país.Os portugueses, por outro lado, sãoextremamente generosos, têm umcoração aberto. Embora tenhacomeçado a entrevista por dizer queme considero uma cidadã domundo, tenho um grande orgulhoem ser portuguesa.

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Guia para um final feliz

A vida tranquila de Pat acabou nodia em que descobriu que a mulhero traía. O estado de infelicidade edepressão leva-o a interromper acarreira de professor e aointernamento numa clínicapsiquiátrica.Oito meses passados, instala-se emcasa dos pais, ainda poucoconvictos da sua total recuperação.No entanto,

Pat, que continua a seracompanhado por um especialistaque lhe diagnostica bipolaridade e osujeita a forte medicação, estáplenamente convicto de que oexercício físico e uma atitudepositiva para com a vida serão osmelhores meios para enfrentar osseus problemas.Ao conhecer Tiffany, uma mulheratraente que sofreu igualmente dedepressão após a morte do maridoe leva agora uma vida bastantedesorganizada, a afinidade entre osdois, que começa pela entusiásticapartilha de nomes de ansiolíticos eantidepressivos, torna-se cada vezmais abrangente e clara.Reconstruir duas vidasamachucadas não será fácil, masPat não desiste das suas premissaspositivas na forma como encara avida e esta nova relação...Construir de forma consistente umaobra que se debruce sobre um dosmaiores e mais comuns problemasque afligem a nossa sociedade - acapacidade de lidar com a perda, a

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ausência e a frustração – está longede ser uma tarefa fácil. Mas foi aque assumiu o realizador David O.Russell ao propor-sesimultaneamente retratar, convidar àreflexão e divertir os espetadorescom a adaptação do romance“Silver Linings Playbook” deMatthew Quick (2008) ao cinema.Num estilo ágil e mais descontraídodo que profundo, “Guia para umFinal Feliz”, cujo título adotado emportuguês perverte pela fracaacuidade o original – transformandouma simples sugestão de otimismopara com o inesperado numpretenso ‘livro de instruções parauma felicidade garantida’ -, é umasimpática abordagem à forma comolidamos com os nossos problemas.Do ímpeto de evasão à procura dospaliativos mais imediatos, do

desmoronamento à reconstrução darelação a dois, da dúvida e dopessimismo à convicção e àesperança em melhores dias, tudocomeçando no princípio de que é dedentro de nós que parte a solução,eis umfilme que de forma suave é capaz detocar questões importantes quefazem parte do nosso dia-a-dia –questões nossas ou dos que nosrodeiam.No início da ronda anual depremiações americanas, “Guia paraum Final Feliz” consta já de umalonga lista de galardões, incluindo anomeação aos Golden Globes nascategorias de Melhor Filme, MelhorArgumento e Melhor Ator e Atrizprincipais (Bradley Cooper eJennifer Lawrence).

Margarida Ataíde

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Óscares da internet em 2012

photoseed.com

Virada a página de mais um ano, propomosesta semana um olhar ao que de melhor seproduziu em 2012 na grande rede mundial.Como tal, vamo-nos basear nos “óscares dainternet”, os “webby awards”(http://www.webbyawards.com). São osprémios anuais entregues pela AcademiaInternacional de Arte Digital e Ciência para oque de melhor se produz para a internet(sítios da internet, publicidade interativa,vídeos online e conteúdos para dispositivosmóveis). Naturalmente que neste espaçoiremos somente olhar para algumaspropostas que foram considerados osmelhores sítios da internet do ano passado,nas diferentes categorias.Ativismo: http://www.counterspill.org - um sítioque promove a sensibilização sobre oimpacto dos desastres produzidos no planetapelas energias não renováveis.Arte – http://photoseed.com - representa umregisto on-line de fotografia com objetivossimples: beleza, verdade e diversão paratodos os que visitam.Celebridades / fãs:http://www.omusicawards.com – sítio daresponsabilidade da MTV dedicadointeiramente à promoção e divulgação dosprémios “O Music Awards”.

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Instituições culturais: http://rememberme.ushmm.org –página do museu memorial doholocausto dos Estados Unidos.Educação: www.khanacademy.org - Aacademia Khan é uma organizaçãoem missão. Com o objetivo de mudara educação para melhor,proporcionando uma educação declasse mundial, livre para qualquerum e em qualquer lugar.Família: www.babycenter.com – é “avoz das mães do século XXI”, umapágina com mais de 50 milhões devisitas anuais, inteiramente dedicadaà família.Página de entrada: www.visitnorway.com/360/geiranger/ -

página turística de promoção daNoruega.Melhor sítio ao nível da navegaçãoe grafismo: www.beetle.com – sítiocomercial do automóvel VolkswagenBeetle.Somente a título de curiosidade,sabe quais foram os termos maispesquisados no Google em Portugalno ano de 2012? Aqui vai por ordemdecrescente: Euro2012, Casa dossegredos, Pingo Doce, Rock In Rio,Ídolos, Avenida Brasil, Sara Norte,Whitney Houston, Jogos Olímpicos2012 e Luciana Abreu.

Fernando Cassola Marques

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Deus, Dinheiro e Consciência

Nós, o monge e gestor, jáconversamos há muito um com ooutro. Uma palestra constituiu oponto de partida para este diálogo.Estávamos sentados frente a frentee as questões que nos colocámoseram: Os valores da economiaainda contam hoje em dia? Quantode um homem é que está dentro deum monge? O que é que um gestortem de tomar em consideração?Que importância damos ao dinheiroe ao lucro? Na altura, não pudemosdesenvolver mais este tema, mastivemos a oportunidade de trocaralgumas ideias desde então.Por um lado, temos Anselm Grün,monge beneditino da Abadia deMünsterschwarzach situada perto deWürzburg, autor de inúmeros livrossobre a espiritualidade e livros deajuda pessoal. Homem espiritual,que enquanto administrador domosteiro é responsável pelodesenvolvimento económico e pelasfinanças duma comunidade de 300monges e funcionários, à qualpertencem 20 oficinas artesanais emuitos hectares de terra cultivável.

Do outro lado, encontra-se JochenZeitz, um homem cosmopolita edesde há 17 anos diretor da Puma,uma empresa de artigos desportivoscotada na bolsa, cuja sede se situaem Herzogenaurauch, em terras doestado franco. A marca desportivaPuma tem representação a nívelinternacional, com mais de 9000trabalhadores diretamente naempresa e dá emprego a mais de150 000, apenas nas suas fábricas.Temos consciência de que asmissões e os objetivos das nossasorganizações são muito divergentes.Mas queremos proteger o ambiente,melhorar a sociedade, e ter umefeito sustentável, não só nasnossas “empresas”, mas tambémpara além delas. Enquanto gestorestemos de aprender a gerir semprejudicar o homem e o ambiente.Enquanto pessoas espirituais,procuramos caminhos para nóspróprios e para uma comunidademelhor, sem perder de vista aperspetiva de uma boa gestão.Queremos alcançar sobretudo umobjetivo: o de melhorar o meio quenos rodeia.

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Dois líderes extraordinários vindosde mundos completamentediferentes – o da clausura e o dagestão de topo – encontram-se parauma conversa. São eles:• O padre Anselm Grün – umsacerdote conhecidointernacionalmente, responsávelpela administração financeira daAbadia beneditina deMünsterschwarzach, na Alemanha• Jochen Zeitz – o mais jovem diretordo Conselho de Administração dumaempresa alemã cotada em bolsa. Hámais de 17 anos que dirige osdestinos da Puma – empresa deartigos de desportoO monge beneditino e o altoexecutivo conversam sobre temasfundamentais do nosso mundo, quesão sempre atuais e dizem respeitoa todos nós: o êxito e aresponsabilidade, a economia e obem-estar, a cultura e os valores.Falam sobre Deus, dinheiro econsciência. Ambos têm uma visãoconjunta para um mundo melhor. Eambos estão a caminho deconcretizar esta visão!Deus, Dinheiro e Consciência é umlivro estimulante, que mostra não sóa perspetiva pessoal e asexperiências do monge e do gestor,mas incita também a criarmos ummundo melhor, no qual valha a penaviver.

Diálogo entre um monge e umgestor(Editora - Paulinas) «O que mais importa émanter, num tempo e numespaço de desânimo,quando não de desespero,acesa a esperança e firmea determinação deacreditar num mundomelhor.»Marcelo Rebelo de Sousa,prefácio

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50 anos da Fraternidade Verbum Dei

Jaime Bonet e João Paulo II www.verbumdei.org

A Verbum Dei foi fundada em 17 de janeiro de1963 por Jaime Bonet, nascido em 1926, mas énecessário retroceder a 1940 para entender asua origem.Foi então, que o jovem Jaime Bonet, numaoração simples e pessoal, descobre aexistência de Deus e se sentiu chamado aanunciar o seu amor a todas as pessoas.Nos anos anteriores à sua ordenação, o jovemJaime dedicou-se à oração e pregação daPalavra de Deus a todo o tipo de pessoas,desde os ciganos dos bairros periféricos dePalma até aos seus companheiros do ColégioMaior onde estudou Teologia. Depois deordenado e através de exercícios espirituais edos Encontros, deu origem a um movimentoapostólico em Maiorca.Neste intenso ambiente apostólico, o padreJaime deu origem a várias escolas deevangelização, onde grupos de leigos, jovens eadultos, recebiam formação para anunciar aPalavra de Deus. Muitos grupos de leigosdestas escolas, ofereciam-se para anunciar oEvangelho, acompanhando o anúncio de umvivo testemunho evangélico e espírito deoração.Em 1963, um grupo de raparigas pertencentesàs escolas de evangelização, pediram ao padreJaime a possibilidade de se consagrarem porcompleto ao estilo de vida evangelizador

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que este suscitava com a suapregação: dedicação ao anúncio doEvangelho através da oração e doministério da Palavra.Este primeiro grupo de raparigasvivia em comunidade, com o nomede "Missionárias Diocesanas daPalavra de Deus". Em 17 de janeirode 1963, quando o ConcílioVaticano II ainda estava no seuinício, receberam a aprovação de D.Enciso Viana: nascia a Verbum Dei.O arcebispo de Madrid, cardealAngel Suqía, aprovou a 25 dejaneiro de 1993 os ramos demissionárias e missionárias comoInstitutos Religiosos. Pouco tempodepois, a 29 de maio de 1993, eraaprovado o

estatuto de associação pública defiéis ‘Casais e outros leigosmissionários Verbum Dei’ e a 30 demaio foi aprovado o estatuto deFederação da Fraternidade EclesialVerbum Dei.O fundador solicitou à Santa Sé umaaprovação com um estatuto quereunisse os três ramos daFraternidade numa mesma e únicaestrutura de vida consagrada. OPapa João Paulo II deu o seuconsentimento para que sedeclarasse a FraternidadeMissionária Verbum Dei como umaúnica fraternidade de VidaConsagrada e assim foi ratificadapela Santa Sé com decreto deaprovação pontifícia de 15 de abrilde 2000.

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D. Serafim Ferreira e Silvadefende um novo concílio

O bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, D.Serafim Ferreira e Silva, assume-se como defensorde um “novo concílio” nos próximos tempos edeseja também que “haja uma renovaçãopermanente da Igreja que é a mesma, mas que temde se contextualizar no espaço e no tempo”.A mensagem que o II Concílio do Vaticano trouxe aomundo e à Igreja “não está esgotada” porque“ultrapassa o tempo para fora do tempo”, masaconselha a uma “renovação, visto que há culturasdiferentes”, sublinhou.Ordenado sacerdote em julho de 1954, D. SerafimFerreira e Silva estudou também em Roma (Itália) eacompanhou “todo o percurso do pré-concílio,durante o concílio e pós-concílio” e acrescenta queaté escreveu “alguns artigos” e “um livro” sobreeste acontecimento da Igreja.Ao recordar estes tempos e os “50 anos destacaminhada” - o prelado – nascido em junho de 1930e natural da Diocese do Porto (Maia) – realça quepede “a Deus que haja – não apressadamente, massem demora – um novo concílio”. No entanto,acrescenta o bispo emérito de Leiria-Fátima, oespírito conciliar deve “permanecer e desenvolver”.No início do II Concílio do Vaticano (outubro de1962), Portugal vivia numa “ditadura”, “com falta deliberdade”, “muita censura” e com “grande

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atividade da Polícia chamada PIDE”,disse à Agência ECCLESIA.Quando se deu a abertura do IIConcílio do Vaticano (11 de outubrode 1962), o bispo emérito estava emPortugal, mas foi a Roma – onde seencontrava o então bispo do Porto,D. António Ferreira Gomes –, tendo“a honra de entrar na aula conciliar”.E adianta que viveu “intensamente”este acontecimento convocado peloPapa João XXIII.No diálogo que teve com D. AntónioFerreira Gomes (na altura exiladoem Espanha), D. Serafim Ferreira eSilva

DiálogoO Concílio Vaticano II, iluminado pela encíclica programática de PauloVI ‘Ecclesiam suam’ (1964), foi oconcílio do diálogo, destacando-se,de entre os seus documentos aconstituição ‘Gaudium et Spes’(diálogo Igreja/mundo), o decreto‘Ad gentes’ (missões) e asdeclarações ‘Unitatis redintegratio’(ecumenismo) e ‘Nostra aetate’(diálogo inter-religioso).(Cf. Enciclopédia Católica Popular)

recorda os “diálogos e as notíciasdadas” pelo bispo do Porto.O prelado – recebeu a ordenaçãoepiscopal em 1979, na Basílica doSameiro (Braga) – confidenciou àAgência ECCLESIA que lheapresentou “alguns votos” e ele foi“cumpridor” dos seus desejos, mas“era umaunidade no meio de umapluralidade”.D. Sebastião Soares de Resende(bispo da Beira - Moçambique) e D.António Ferreira Gomes (bispo doPorto, mas exilado) foram os bisposportugueses que tiveramintervenções na primeira sessão doII Concílio do Vaticano que“marcaram a palavra pelomagistério”.D. Serafim Ferreira e Silva sublinhaque o “mais fácil de fazer foi colocarem prática as alterações litúrgicas”e “as alterações canónicas”. Aonível das dificuldades, o prelado citaa “adaptação bíblica da «VerbumDei», uma constituição que mantémtoda a atualidade”, enquanto outrostextos “envelheceram”.Para o prelado, “a «Gaudium etSpes», o documento sobre ascomunicações sociais e a«Sacrosanctum Concilium»precisam de ser novamentereescritos”, visto que “o mundo sealterou muito”.Textos do Concílio Vaticano II

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Janeiro 2013 Dia 12* Coimbra - Igreja de São José(21h30m) - Concerto com o CoroSinfónico Inês de Castro. * Vaticano - Visita do PríncipeAlberto e sua esposa (Charlene) aBento XVI.* Fátima - Encontro nacional dafamília salesiana.* Lisboa - Museu Nacional doAzulejo* Lisboa - Mosteiro de Santa Maria(Monjas Dominicanas) - Conferência «O tempo e os temposda vida. Falar da Fé a partir denós» por Fr. Mateus Peres. * Fátima - Acção de formação sobre«Cooperação para odesenvolvimento» promovida pelaFundação Fé e Cooperação (FEC)(12 e 13)* Algarve - Centro Pastoral deFerragudo - Jornadas de PastoralLitúrgica. (12 e 13)* Lisboa - Turcifal (CentroDiocesano de Espiritualidade)-Curso geral de catequistaspromovido pelo setor da catequesedo Patriarcado de Lisboa. (12 a 26)

* Lisboa - Paróquia de Santa Mariae São Miguel de Sintra - Curso geralde catequistas promovido pelo setorda catequese do Patriarcado deLisboa. (12 a 26) Dia 13* Dia Mundial do Migrante eRefugiado e Mensagem de BentoXVI. * Lisboa - Escola Superior deEnfermagem São Vicente Paulo -Encontro sobre «A Fé comunicadaem alegria» pelo padre VítorMelícias. * Fátima - Basílica de NossaSenhora do Rosário (16 horas) -Conferência sobre «Testemunhar afidelidade de Deus: onde aconfiança vacila» pelo padre TonyNeves, provincial da Congregaçãodo Espírito Santo. * Viana do Castelo - Geraz do Lima -Bênção/inauguração dos novosvitrais colocados na igreja paroquialde Santa Leocádia para assinalar omilenário da fundação da Paróquiade Santa Leocádia.

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Dia 14* Lisboa - Palácio de Belém - Encerramento (início a 14 dedezembro) da exposição de Natal «Eum Filho nos foi dado» consagradaaos tesouros artísticos do BaixoAlentejo. * Aveiro - Conselho Episcopal.* Fátima - Reunião da ComissãoEpiscopal da Mobilidade Humana ePastoral Social.* Lisboa - Auditório da Escola deHotelaria e Turismo de Lisboa(21h30m) - Sessão sobre «Como seacredita?» do ciclo «Em que crêquem crê» promovido pela Paróquiade Santa Isabel. *Fátima - Encontro da Associaçãode Reitores de Santuários dePortugal (14 e 15)* Coimbra - Seminário (Salão deSão Tomás) - Semana de formaçãopara o clero sobre «A NovaEvangelização nas Paróquias»orientado pelo bispo de Toulon-Fréjus (França), D. DominiqueRey. (14 a 17)* Açores - Núcleo de Santa Bárbarado Museu Carlos Machado - Curso«Artes Decorativas e o Sagrado emPortugal» promovido peloSecretariado da Pastoral da Culturada Diocese de Angra. (14 a 18)

Dia 15* Comemoração do Dia da CNIS.* Porto - Instituto dos Vinhos doDouro e do Porto - Encerramento daexposição do escultor JoséRodrigues «Para um altar». * Aveiro - Travassô - Festejos dosSantos Mártires de Marrocos queterá como pregador o padre JoãoLourenço, diretor da Faculdade deTeologia da UCP. (15 e 16)

Dia 16* Guarda - Seminário Maior -Assembleia geral do Instituto«Comunhão e Partilha» e assembleia geral da FundaçãoNun´Álvares com a presença de D.Manuel Felício.* Lisboa - UCP (Sala de Exposiçõesda Biblioteca João Paulo II) - Workshop sobre «O Problema doFacto Religioso no Mundo Antigo»promovido pelo Centro de Estudosde História Religiosa. (16 e 17)

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Ecclesia nos media

RTP2 - 09h30Domingo, dia 13 - Emigrar ou não emigrar? Umaopção com diferentes respostas. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 14 - Entrevista ao padre RuiPedro: Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.Terça-feira, dia 15 - Informação e rubrica sobreos 50 anos do Concílio Vaticano II com o padreAntónio Vaz PintoQuarta-feira, dia 16 - Informação e rubrica sobreDoutrina Social da Igreja com José CordeiroQuinta-feira, dia 17 - Informação e rubrica sobreHistória da Igreja com D. Manuel ClementeSexta-feira, dia 18 - Apresentação da liturgiadominical com cónego António Rego e padreVitor Gonçalves Antena 1Domingo, 06h00 - Dia do Migrante e RefugiadoSegunda a sexta-feira, 22h45 - Experiências deecumenismo em Taizé. OutrosRTP, Domingo, 10:00 - Transmissão da missaTVI, Domingo, 11:00 - Transmissão da missaRR, Domingo, 10:00 - "Dia do Senhor"; 11H00 - Transmissão da missa; 23H30 - Ventos e Marés;segunda a sexta, 18h30 - Terço

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Missão de reconciliarO refugiado é quase sempre alguémderrotado. Pelo menosprovisoriamente. Não está ondequer. Não escolheu aquele localpara viver, aqueles vizinhos, arestrição de liberdade.A Fundação AIS tem também comomissão ajudar os refugiados.É assimdesde o princípio. Mais do queajudar, a Obra sonhada pelo padreWerenfried van Straaten procurareconciliar. Foi assim que tudocomeçou quando o padreWerenfried pediu ajuda para salvarmilhões de alemães no final da IIGuerra Mundial, que não tinhamnada para comer, vestir ou ondeabrigar-se. Já não eram mais osinimigos de ontem: eram

farrapos humanos que viviam umatragédia.Começou assim a lenda do padreToucinho. É esse o legado daFundação AIS nos dias de hoje. Acada 5 minutos um cristão éassassinado por causa da sua fé."O direito à liberdade religiosafundamenta-se na própria dignidadeda pessoa humana", sublinhavaBento XVI na sua mensagem para oDia Mundial da Paz. Semreconciliação, não há paz. Sem pazhaverá sempre uma multidão deescorraçados que vagueiam pelomundo, sem casa, sem pátria, semfuturo. Com medo.

Departamento de InformaçãoFundação AIS (info@fundacao-

ais.pt www.fundacao-ais.pt)

Padre Werenfried com refugiados na Faixa de Gaza (AIS)

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Ano C – Festa do Batismo do Senhor

A cena do Batismo de Jesus, nesta Festa do Batismodo Senhor que encerra o tempo de Natal, revelaessencialmente que Jesus é o Filho de Deus, enviadopelo Pai ao mundo a fim de cumprir um projeto delibertação em favor dos homens. Jesus obedece aoPai e cumpre o seu plano salvador, vem ao encontrodos homens, solidariza-se com eles, assume as suasfragilidades, caminha com eles, refaz a comunhãoentre Deus e os homens que o pecado haviainterrompido e conduz os homens ao encontro da vidaem plenitude. Da atividade de Jesus, só poderáresultar uma nova criação, uma nova humanidade.«Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus deNazaré, que passou fazendo o bem e curando todosos que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deusestava com Ele», eis uma densa descrição da vida emissão de Cristo na segunda leitura.«Hoje, Cristo é iluminado: entremos também nós noesplendor da sua luz. Hoje, Cristo é batizado:desçamos com Ele à água, para podermos subir comEle à glória». Estas são palavras interpeladoras deSão Gregório de Nazianzo no ofício de leitura de hoje,convidando-nos a entrar na vida em Cristo, que“passou pelo mundo fazendo o bem”, na bela definiçãodos Atos dos Apóstolos, e a testemunhar o seu amornos quotidianos da nossa existência, para que asalvação que Deus oferece chegue a todos os povosda terra.

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Celebramos esta Festa em contextodo Ano da Fé. Logo a abrir a CartaApostólica orientadora para esteano, Bento XVI diz que atravessar aPorta da Fé, sempre aberta paranós, implica embrenhar-se numcaminho que dura a vida inteira. Esalienta que esse caminho teminício com o Batismo, que introduzna vida de comunhão com Deus enos permite a entrada na sua Igreja.Retomemos palavras do Evangelho:«O céu abriu-se… O Espírito Santodesceu sobre Jesus… Do céu fez-seouvir uma voz: Tu és o meu Filhomuito amado: em Ti pus toda aminhacomplacência». O que aconteceuem Jesus deve acontecer em cadaum de nós. Batizados em Cristo eenxertados no Espírito Santo,escutamos a mesma voz do Pai: «Tués o meu filho amado, tu és a minhafilha amada! Eu estou contigo, em tipus toda a minha ternura!» Esta vozfala-nos sempre: recorda-nos anossa dignidade de filhos e filhas deDeus. Iluminados em Cristo,sejamos luz, ternura, bondade emisericórdia para quem vamosencontrando nos

Batismo de Cristo (1181), altar deVerdum - Abadia de Klosterneuburg,Áustria caminhos da vida. E que sejamcaminhos de fé, sempre no amor deDeus derramado nos nossoscorações.

Manuel Barbosawww.dehonianos.org

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2013 em perspetiva

João WengoroviusMeneses

Se no século XX se desvaneceu a utopiasocialista, no século XXI desvanecer-se-á autopia liberal. Infelizmente, as desventuras de umsistema financeiro mal regulado que, em 2008,estiveram na génese da atual crise económica esocial, constituíram mais uma trágicademonstração dos perigos de deixar a condiçãohumana entregue a si própria. Ou seja, se, porum lado, o projeto de sociedade coletivista e de“Estado máximo” se revelou “anti natura” ecerceador do talento, da criatividade e dainiciativa, por outro, o projeto liberal de “Estadomínimo”, libertário e individualista, revela-seprodutor de desigualdades e desequilíbrioshumanos, sociais, económicos e ambientaisinjustos e insustentáveis.Se os seres humanos fossem anjos, certamenteambos os modelos de sociedade seriam viáveis.Porém, como não são, só nos resta comosolução uma verdadeira social-democracia,assente simultaneamente no papel do Estado, nainiciativa empresarial de mercado, na sociedadecivil auto-organizada, e na ética individual –domínio no qual a Igreja tem um papel decisivo.Aliás, a evolução dos últimos séculos, desde logoao nível dos direitos humanos e sociais,dificilmente encontrará noutro modelo deorganização política melhor defesa econtinuidade. Vem isto a propósito do atualGoverno português, de perfil dogmático e

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© Lusa

liberal, e das perspetivas para 2013.Se, por um lado, é fundamentalassegurar o equilíbrio das contaspúblicas, o acesso ao crédito, umEstado mais eficiente, e que oinvestimento público é inteligente emultiplicador da riqueza, por outro, aintenção anunciada, desde o inícioda legislatura, de “ir além da troika”arrisca tornar-se numa fatalidadepara o país. Portugal (e as própriasmetas estabelecidas pela troika)dificilmente resistirá à asfixia daclasse média e do investimento, aoêxodo massivo de talento para oestrangeiro e à deterioraçãoacentuada do Estado-providência. Éverdade que, historicamente, o paíssempre se debateu com a questãoda sua viabilidade. Mas, emparticular neste momento, serianecessário um primeiro-ministro comoutro tipo

de espessura, que percebesse aimportância da esperança, docrescimento económico, dosconsensos políticos, de serenegociar com a troika e,sobretudo, sempre disponível parase adaptar a novas circunstâncias epara aprender com os erros. O quenos vale é que, no meio (e àmargem) da atuação do governo, háexemplos, cada vez mais globais eeloquentes, de portuguesesempreendedores de sucesso, denovas iniciativas de participaçãocívica, e de modos de vidaalternativos. Apesar de silenciosos,é nestes exemplos que reside ofuturo do país. Por isso, o meuconselho para 2013 é que osprocuremos com atenção – porque,como disse recentemente Bento XVI,«se cai uma árvore, faz muito ruído,mas se mil flores se abrem,acontece no maior dos silêncios.»

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2013 – Um ano para os cidadãos

Luiz Sá PessoaChefe da Representaçãoda Comissão Europeia emPortugal (interino)

A União Europeia (UE) designou o ano de 2013como o Ano Europeu dos Cidadãos. Os cerca de500 milhões de cidadãos dos 27 Estadosmembros que compõem a UE merecem-no porcompleto. O Prémio Nobel da Paz atribuído àUnião Europeia é-lhes também dedicado.Os cidadãos estiveram desde sempre no cernedo projeto europeu. Foi em seu nome que oprojeto europeu nasceu e tem sido para eles queUE tem trabalhado ao longo destes 60 anos. Oano de 2013 é assim uma excelente ocasiãopara lembrarmos as conquistas e os desafiossuperados pelos europeus, mas também é umaoportunidade para ouvirmos as suaspreocupações e angústias. Isto é especialmenteimportante e relevante no atual contexto de criseeconómica e de alguma descrença no projetoeuropeu. O Ano Europeu vai promover em todosos 27 Estados-membros um debate com oscidadãos sobre como deve ser a futura UniãoEuropeia e as reformas necessárias paramelhorar o seu dia a dia.As instituições europeias não querem, nempodem estar encerradas numa torre de marfim.Queremos estar no terreno para dar voz à vozdos cidadãos. Mas para que possamos ouvir,para que possamos escutar e registar, oscidadãos têm de ser ativos, têm de se envolverna discussão e no debate dos temas europeus.

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Têm de ser exigentes. Têm que seexpressar e participar ativamentenas eleições para o ParlamentoEuropeu (as próximas serão em2014), porque são os deputadosque elegerem que vão defender osseus interesses. Todos somos cidadãos não só donosso próprio país, mas também daUnião Europeia. Além dos direitosde que gozamos no nosso país deorigem, temos outros direitos,garantidos pelos tratados da UE epela Carta dos DireitosFundamentais da UE. Vinte anosdepois da consagração dacidadania europeia no Tratado deMaastricht, a UE quer reforçar estesmesmos direitos. 2013 será assimum ano para proporcionar aoscidadãos um melhor conhecimentodos seus direitos de forma a levar aque estes os possam exercer ereivindicar na plenitude. Oscidadãos conquistaram a liberdadede circulação: podem estudar,trabalhar, viver ou reformarem-senum outro Estado membro da UE.Viram os seus diplomas académicose profissionais reconhecidos, têmacesso a um cartão europeu deseguro de doença, têm comprasfacilitadas pela internet com os seusdireitos de consumidoresassegurados,

têm preços de roaming mais baixos,têm os seus direitos reforçadosenquanto eventuais arguidos emprocessos crimes. Têm acesso a umconjunto de redes de informaçãoque lhes podem informar sobretodos os seus direitos. Mas haverácertamente mais a fazer.A consagração de 2013 como AnoEuropeu dos Cidadãos é assim aocasião para, em conjunto,definirmos outros projetos e outrasmedidas. Como tem referido a Vice-Presidente Viviane RedingComissária da UE responsável pelaJustiça e pela Cidadania, "échegada a altura de refletirmossobre onde nos encontramos esobre o que o futuro nos podetrazer»..Os debates sobre o que falta fazervão decorrer em toda a União aolongo de 2013. Em Portugal, oprimeiro evento terá lugar em 22 defevereiro, em Coimbra. A cidade vaiacolher um grande debate quecontará com a presença da Vice-presidente Viviane Reding. AComissária Europeia estará emCoimbra para responder a todos asperguntas e dúvidas num espaço deverdadeiro diálogo de viva voz entreas instituições europeias e oscidadãos. Não deixe de fazer ouviros seus anseios e a sua voz naEuropa.

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Basta-me morrerno meu país

aí ser enterradadissolver-me e aí

reduzir-me a nadaressuscitar erva

na sua terraressuscitar flor

que uma criança crescidano meu país arrancará

basta-me estar no regaçode minha pátria

estar perto dela como umpunhado de poesia

um raminho de relvauma flor

Fadwa Tuqan

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