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19 Qual é para si a definição de obra de arte? Como exemplos de obras de arte temos esculturas, pinturas, poemas, arquitectura, filmes, música, dança, entre outros. Uma obra de arte provoca em nós algo de novo ou mágico, faz-nos sentir horror ou paixão, vontade de tocar ou arrepio, com vontade de desviar o olhar -de alguma forma, a obra fala connosco. Sabia que o que vemos na obra é somente aquilo que queremos ver? A nossa percepção é altamente influenciada pelos nossos desejos e aspirações pessoais, tal como podemos comprovar nas ilusões provocadas por figuras ambíguas. Isto é, se ao mostrarmos a imagem desta página a alguém e estivermos a ensinar a ver uma mulher nova, a imagem relativa à mulher velha não será percebida. Lemos e vemos, nas diferentes partes da imagem, o que aprendemos a decifrar. Deste modo, podemos referir que espelhamos sempre as nossas vivências e aprendizagens no que vemos. Assim, é de referir que tanto na arte como no processo psicoterapêutico se manifestam a capacidade humana de perceber, de configurar as relações consigo mesmo, com os outros e com o mundo. O momento de fazer arte funciona como um canal que leva o individuo ao seu mundo interno, manifestando conteúdos para a consciência. Neste processo, através da arte, sentimentos e experiências, tomam uma forma concreta. Este produto artístico surge como um espelho, onde o individuo se identifica, reflecte, descobre, elabora os seus significados e os integra na consciência. Através da arte, podemos trabalhar situações de vida que não foram devidamente elaboradas. Além disso, fazer e vivenciar arte promove o relaxamento, diminuindo o nível de ansiedade, impaciência e angústia. Quando uma pessoa é confrontada a fazer algo que considera não ter condições para o fazer, isto gera uma experiência de ansiedade, sendo os comportamentos resultantes desorganizados. Isto faz com que se evite, de todas as formas possíveis, a exposição face a situações que geram ansiedade. Os sentimentos evocados repercutem-se na voz, na respiração e na postura; o corpo e as palavras entram em ressonância. Culturalmente, as expressões do corpo, bem como das emoções, são censuradas e estritamente filtradas. Desde a infância que nos proíbem de manifestar abertamente a raiva, o medo, a tristeza, a dor, o por Cláudia Almeida www.oficinadepsicologia.com http://www.facebook.com/oficinadepsicologia Prancha de Gestalt: o que vê na imagem - uma jovem ou uma velha?

A Arte como Terapia

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Qual é para si a definição de obra de arte? Como exemplos de obras de arte temos esculturas, pinturas, poemas, arquitectura, filmes, música, dança, entre outros. (...)

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Page 1: A Arte como Terapia

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Qual é para si a definição

de obra de arte?

Como exemplos de obras de arte

temos esculturas, pinturas, poemas,

arquitectura, filmes, música, dança,

entre outros.

Uma obra de arte provoca em nós

algo de novo ou mágico,

faz-nos sentir horror ou

paixão, vontade de tocar

ou arrepio, com vontade de

desviar o olhar -de alguma

forma, a obra fala

connosco.

Sabia que o que vemos na

obra é somente aquilo que

queremos ver?

A nossa percepção é

altamente influenciada

pelos nossos desejos e

aspirações pessoais, tal

como podemos comprovar

nas ilusões provocadas por

figuras ambíguas. Isto é, se

ao mostrarmos a imagem desta

página a alguém e estivermos a

ensinar a ver uma mulher nova, a

imagem relativa à mulher velha não

será percebida. Lemos e vemos, nas

diferentes partes da imagem, o que aprendemos a decifrar.

Deste modo, podemos referir que espelhamos sempre as

nossas vivências e aprendizagens no que vemos. Assim, é de

referir que tanto na arte como no processo psicoterapêutico

se manifestam a capacidade humana de perceber, de

configurar as relações consigo mesmo, com os outros e com o

mundo.

O momento de fazer arte funciona como um canal que leva o

individuo ao seu mundo interno, manifestando conteúdos para

a consciência. Neste processo, através da arte, sentimentos e

experiências, tomam uma forma concreta. Este produto

artístico surge como um espelho, onde o individuo se

identifica, reflecte, descobre, elabora

os seus significados e os integra na

consciência. Através da arte, podemos

trabalhar situações de vida que não

foram devidamente elaboradas. Além

disso, fazer e vivenciar arte promove o

relaxamento, diminuindo o nível de

ansiedade, impaciência e angústia.

Quando uma pessoa é confrontada a

fazer algo que considera não ter

condições para o fazer, isto gera uma

experiência de ansiedade, sendo os

comportamentos resultantes

desorganizados. Isto faz com que se

evite, de todas as formas possíveis, a

exposição face a situações que geram

ansiedade. Os sentimentos evocados

repercutem-se na voz, na respiração e na postura; o corpo e as

palavras entram em ressonância. Culturalmente, as expressões

do corpo, bem como das emoções, são censuradas e

estritamente filtradas. Desde a infância que nos proíbem de

manifestar abertamente a raiva, o medo, a tristeza, a dor, o

por Cláudia Almeida www.oficinadepsicologia.com http://www.facebook.com/oficinadepsicologia

Prancha de Gestalt: o que vê na imagem - uma jovem ou uma velha?

Page 2: A Arte como Terapia

ciúme; proíbem-nos de gritar na

alegria e chorar na tristeza… é a

inibição da emoção, assim como a

inibição da acção que alimentam a

presença de doenças

psicossomáticas e sociais.

Um dos conceitos associados à arte é

a criatividade. Esta torna-se fulcral no

processo de auto-regulação (forma

como a pessoa interage com o

mundo, respeitando a sua natureza

individual). Tal como refere o

psicoterapeuta Zinker, criar é uma

necessidade básica, tal como respirar

ou comer - “Somos impelidos a criar”

(Zinker, 2007, p.21). Assim, podemos

referir que a criatividade e a saúde

são funções que andam juntas.

Na infância as crianças são quase

sempre criativas através das suas

brincadeiras, nas personagens

fantasiosas que criam, na relação que

estabelecem com os objectos.

Associada a esta criatividade surge a

curiosidade, reflectida nas perguntas

que fazem sobre como funciona tudo

o que as rodeia: aqui as coisas são e

as pessoas sentem. Na idade adulta,

se perdermos este recurso, passamos

a comportarmo-nos segundo as regras morais e socias -

passamos a levar a vida muito “a sério”, perdemos a

espontaneidade e, naturalmente, o potencial criativo

desvanece-se.

Vivemos tempos de medo, ansiedades e muito stress. O medo

paralisa o processo criativo, mas a arte pode ser curativa e

também uma saída eficaz para quem está paralisado diante do

medo.

Neste sentido, proponho que esteja atento ao que se passa

no seu corpo. Ouça o que ele lhe diz, perceba o que ele lhe

mostra - aprenda a sentir. Através do movimento corporal,

através da dança, recorrendo a música ou sons, é possível

libertar não só sensações, mas também emoções, ideias,

desejos e sentimentos. A expressão corporal abre caminhos e

possibilita a representação de um mundo imaginário.

A música pode funcionar como um apoio ao equilíbrio

emocional -tem a capacidade de actuar sobre o corpo humano,

modificando o seu padrão emocional e vibracional. Pode

mobilizar emoções fortes, provocar sensação de bem-estar,

prazer e reduzir os níveis de ansiedade, promovendo o

relaxamento e o aumento da auto-estima. A pintura, por

exemplo, proporciona uma maior fluidez das emoções e dos

sentimentos, o que confere ao sujeito um grande valor na

expansão da sensibilidade e da afectividade.

Assim, e uma vez que criar é algo vital ao ser humano, e o ser

criativo é um modo de ser que nos é peculiar, porque não

começarmos a criar? Dance, ouça música, crie sons, pinte,

escreva, … crie para se tornar cada vez mais saudável.

(http://www.periodicodecrecimientopersonal.com/wp-content/uploads/2011/03/arte-terapia-lupus02.jpg)

Toe Socking, um quadro de Veronika Nagy

Page 3: A Arte como Terapia

(sugerido pela Dra. Cláudia Almeida)

Toda obra nasce de uma emoção que no artista se traduz em sentimento. E nesse sentimento que o impele a criar.

Kandinsky

A Mandala é uma actividade criada por Jung, pai da psicologia analítica, e

pretende representar simbolicamente a psique humana. Esta actividade pode

ajudar no processo de autodesenvolvimento e de harmonização do seu mundo

interno, assim como de libertação da ansiedade e de resolução dos problemas

actuais da vida.

O desafio que propomos pretende estimular a expressividade, espontaneidade,

comunicação e principalmente o trabalho com o potencial humano de

criatividade. Deste modo, pretendemos que projecte de seus conteúdos internos,

através de pensamentos, emoções e sentimentos vivenciados actualmente

pintando a Mandala que se encontra na página seguinte. É importante que no

momento de criação da sua mandala esteja num local tranquilo, sem

interferências externas, em silêncio ou com uma música de relaxamento.

Quando a mandala estiver pronta, coloque-a a sua frente para poder vê-la na

totalidade, sem forçar muito o olhar, relaxe os olhos e tente perceber o que

gosta/não gosta neste desenho, mergulhe para dentro dele. Depois de trabalhar

com mandala permite estar durante alguns momento em silêncio e em contacto

consigo mesmo.

Page 4: A Arte como Terapia

http://www.unicorn.dk/english/mandala.html