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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL MESTRADO FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO FEDERAL DE MATO GROSSO IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CUIABÁ/MT 2014

A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL

MESTRADO

FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ

A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO

FEDERAL DE MATO GROSSO – IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO

SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

CUIABÁ/MT

2014

FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ

A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO

FEDERAL DE MATO GROSSO – IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO

SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Política Social, na Área de Concentração: Política Social, Estado e Direitos Sociais. Orientadora: Profa. Irenilda Ângela dos Santos, Dra.

CUIABÁ/MT

2014

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos

pela autora.

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

FRANCISMEIRY CRISTINA DE QUEIROZ

A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO INSTITUTO

FEDERAL DE MATO GROSSO – IFMT: DESAFIOS E PARTICULARIDADES DO

SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, como requisito parcial para obtenção de título de mestre em Política Social, na área de concentração: Política Social, Estado e Direitos Sociais.

A – APROVADO

B – APROVADO COM RESTRIÇÕES

C – REPROVADO

_____________________EM ______/______/_________

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª Drª Irenilda Ângela dos Santos

Orientadora

______________________________________________

Profª Drª Tânia Maria Santana dos Santos

Membro Examinador I

______________________________________________

Profª Drª Arlete Benedita da Silva

Membro Examinador II

Dedico este trabalho:

Ao meu pai Francisco, minha gratidão,

meu amor e eternas saudades;

Ao meu filho Gabriel Eduardo, que é o

meu coração que anda fora do meu

corpo;

À minha mãe Rosa e irmã Susi, duas

flores que sempre estarão no meu jardim;

E a minha sobrinha, Rafaela Maria, a luz

que encanta minha vida.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pela luz divina que veio clarear meu conhecimento,

me dar serenidade para continuar enfrentando os desafios cotidianos e me dar

forças para finalizar este trabalho;

À minha família, mãe Rosalvina, irmã Susi, filho Gabriel Eduardo e sobrinha

Rafaela, pelo apoio, força para continuar e compreensão pelas seguidas ausências

no seio familiar;

A todos os meus professores e professoras, do Programa de Mestrado em

Política Social da UFMT pelos conhecimentos repassados de forma clara e objetiva;

À minha orientadora, Profª Drª Arlete Benedita de Oliveira, um agradecimento

especial e minhas sinceras desculpas se não alcancei os seus objetivos. Para mim,

você vai ser sempre um exemplo a ser seguido;

Aos/as Assistentes Sociais do IFMT, pela contribuição nesta pesquisa, meu

muito obrigada;

À Diretora Geral do Campus Cuiabá-Bela Vista, pela contribuição com a

liberação para cursar as disciplinas, e também ao Chefe do Departamento de

Ensino, Wander e, posteriormente, Dorival;

À psicóloga Claudia de Paula Norkaitis, pelo apoio e por “segurar as pontas”

na Coordenação de Apoio ao Estudante (CAE) do Campus Cuiabá-Bela Vista;

Ao Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), por acreditar no meu

trabalho à frente do GT Serviço Social na Educação;

Ao GT Serviço Social na Educação, na pessoa do Prof. Dr. Ney Luiz Teixeira

de Almeida, pelo grande aprendizado nas reuniões do GT e no Encontro Nacional de

Serviço Social na Educação;

Às minhas amigas e amigos Aparecida, Lenil, Luciana, Lucélia, Agda,

Izabella, Ivani, Ronaldo, Francioly, Neto e Carlos. Agradeço pela sincera amizade

que vou cultivar pelos anos de vida que terei pela frente;

Às minhas tias, tios, primas, primos, madrinha, padrinho, na pessoa da

Joanice, a melhor madrinha que meu filho poderia ter, que sempre estiveram

pedindo em oração pelo meu sucesso.

Enfim, às demais pessoas que não foram citadas aqui, mas que acreditaram

em mim, meus sinceros agradecimentos.

A trajetória do Serviço Social como profissão no Brasil é profundamente marcada pela dinâmica entre as classes sociais fundamentais e o Estado. As relações estabelecidas historicamente entre os sujeitos políticos que protagonizam na esfera da produção as contradições da relação capital e trabalho também engendram a esfera da reprodução social e assumem diferentes expressões socioinstitucionais.

(ALMEIDA; ALENCAR, 2011)

RESUMO

O presente trabalho é resultado de pesquisa realizada junto aos assistentes

sociais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso

(IFMT) e teve como objetivo analisar a atuação profissional do/a assistente social

desenvolvido no IFMT, de forma a identificar os desafios e as particularidades para

atuação do Serviço Social na modalidade de Educação Profissional e Tecnológica

(EPT). Os/as profissionais do Serviço Social tem possibilidade de atuar em áreas de

grandes complexidades, decorrentes das desigualdades sociais crescentes que

perpassam a sociedade na contemporaneidade e retratam a vulnerabilidade a que

significativa parcela populacional esta submetida. Dentre os desdobramentos sociais

e desafios cotidianos, os/as assistentes sociais, que atuam na área da política

educacional, se defrontam, assumem a proposição de vincular a concepção de

educação e de sociedade referenciada à construção de uma nova ordem societária.

É com essa concepção, que a área da educação, torna-se um importante espaço de

atuação dos/as assistentes sociais, à medida que, as expressões da questão social

nesse cenário se manifestam em toda sua diversidade. Para a consolidação dessa

pesquisa, dentro do universo de 14 (catorze) campi, somente em 12 (doze) possuem

assistentes sociais, abarcando o total de profissionais que atuam no Estado de Mato

Grosso. No entanto, os sujeitos da pesquisa foram os/as 05 (cinco) profissionais que

devolveram o questionário respondido. Este com questões abertas, de forma a

possibilitar aos sujeitos da pesquisa, responder de acordo com sua realidade

profissional. Assim, reconhece-se que o Serviço Social deve se inserir de forma mais

ampla e efetiva na EPT, aprofundando as relações dentro desse espaço

contraditório, visando compreender a dinâmica dessa instituição, para

posteriormente desenvolver trabalhos em conjunto, dirigido a ampliação e conquista

dos direitos sociais e educacionais, de suma importância para a atuação do/a

assistente social.

Palavras-chave: Serviço social. Atuação profissional. Educação profissional e

tecnológica.

ABSTRACT

The present work is result of research conducted with social workers of the

Federal Institute of education, science and technology of Mato Grosso (IFMT) and

had as goal to analyze the professional performance of social services developed in

IFMT, of the form to identify the challenges and particularities for Social Service in

professional and technical education mode (EPT). The Social Service professionals

has the possibility to act in areas of major complexities, arising from increasing social

inequalities that pertain to contemporary society and portray the vulnerability to

significant population share this submitted. Among the social developments and daily

challenges, the social workers, that act in the area of educational policy, confronting,

assume the proposition of linking the conception education and design society

referenced to the construction of a new corporate order. It is with this conception, that

the area of education, it becomes an important performance space of social workers,

as, the expressions of the social question in this scenario are manifested in all its

diversity. For the consolidation of this research, within the universe of 14 (fourteen)

campuses, only 12 (twelve) have social workers, covering the total of professionals

working in the State of Mato Grosso. However, the subjects of the research were the

05 (five) professionals who returned the questionnaire responded. This with open

questions, of the form to enable the subject of research, answer according to your

professional reality. Thus, it is recognized that Social services must insert more

broadly and effectively in EPT, deepening relationships within of this space as

contradictory, in order to understand the dynamics of this institution, to subsequently

develop work together, directed the expansion and conquest of social and

educational rights, of paramount importance to the acting of social worker.

Keywords: Social service. Professional performance. Professional and

technological education.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 - Distribuição de Assistentes Sociais/Campi – IFMT .................................. 39

Quadro 1 - Reordenamento da Rede Federal – Mato Grosso................................... 33

Quadro 2 - Levantamento de Criação dos Campi – Mato Grosso ............................. 35

Quadro 3 - Instrumentos normativos relacionados ao Serviço Social ....................... 71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

AS Assistente Social

CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica

CEFET-MT Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso

CF Constituição Federal

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

EAA Escola de Aprendizes Artífices

EAD Educação à Distância

EJA Educação de Jovens e Adultos

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

EPT Educação Profissional e Tecnológica

ETF Escola Técnica Federal

ETF-MT Escola Técnica Federal de Mato Grosso

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIC Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores

FMI Fundo Monetário Internacional

GT Grupo de Trabalho

IES Instituição de Ensino Superior

IF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

IFMT Instituto Federal de Mato Grosso

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NASF Núcleo de Apoio em Saúde da Família

NUMES Núcleo Municipal de Educação em Saúde

ONG Organizações não Governamentais

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PDI Plano de Desenvolvimento Institucional

PL Projeto de Lei

PNAE Plano Nacional de Assistência Estudantil

PPP Projeto Político Pedagógico

PROUNI Programa Universidade para Todos

REUNI Programa de Apoio a Plano de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais

SETEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

TEM Ministério do Trabalho e Emprego

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT): À ÉGIDE DO

ESTADO DEMOCRÁTICO ................................................................................. 18

2.1 A (re) configuração da rede federal de educação profissional e tecnológica

na contemporaneidade ..................................................................................... 19

2.2 O papel do estado democrático na Educação Profissional e Tecnológica

(EPT) ................................................................................................................... 25

2.3 A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no estado de Mato Grosso . 30

3 A PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL .............................................................. 40

3.1 Serviço Social: particularidades históricas e teóricas................................... 41

3.2 A centralidade da atuação profissional do/a assistente social na

contemporaneidade .......................................................................................... 47

3.3 A política de educação na agenda do serviço social ..................................... 52

3.4 A importância da atuação do/a assistente social na Educação

Profissional e Tecnológica (EPT) ..................................................................... 60

3.5 Os desafios para a efetivação do projeto ético-político profissional no

espaço educacional .......................................................................................... 67

4 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT) ........................................................ 75

4.1 A relação entre educação e serviço social ..................................................... 76

4.2 Atuação profissional do/a assistente social no IFMT: vivência cotidiana ... 77

4.3 Entraves e possibilidades da atuação profissional na Educação

Profissional e Tecnológica (EPT) ..................................................................... 86

4.4 Expressões da questão social manifestadas no cotidiano da Educação

Profissional e Tecnológica (EPT) ..................................................................... 93

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 99

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 103

APÊNDICE A - Questionário ................................................................................. 107

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho advém da pesquisa realizada no Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT), a qual parte do ângulo

legal da Constituição Federal Brasileira de 1988, Capítulo III, Seção I, Art. 205, que

preconiza ser a educação “direito de todos e dever do Estado e da família, devendo

ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da cidadania e à sua qualificação para o trabalho”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96,

também se refere a Educação como um dos pilares da formação do indivíduo e de

sua cidadania, embasada na universalização do atendimento e nos princípios de

democratização do acesso, permanência e êxito do ser humano.

É sob orientação desses parâmetros legais que o Plano de Desenvolvimento

Institucional (PDI) define a missão para o IFMT e traça a Política de Ensino,

estratégias e ações que contribuem com o acesso à educação para camadas da

população historicamente desfavorecidas, incluindo programas de incentivo que lhes

garantam condições de permanência no processo educativo da instituição. O PDI é

um documento que disciplina as políticas pedagógicas, de pós-graduação, de

educação à distância, de pesquisa e de extensão, de gestão institucional, de

comunicação e tecnologia dentro do IFMT, e é com base nesse documento que o

Instituto pauta suas ações para o alcance das metas e objetivos.

Assim, é neste cenário que incidiu o interesse central deste trabalho,

objetivando analisar a atuação profissional do/a assistente social desenvolvido no

IFMT, de forma a identificar os desafios e as particularidades para atuação do

Serviço Social na modalidade de Educação Profissional e Tecnológica (EPT).

A apreensão e compreensão do objeto proposto, requer um olhar mais

acurado da EPT, enquanto elemento parte do debate analítico crítico proposto,

sobre os reais elementos constitutivos da realidade selecionada, o grau de

complexidade que o envolve, a forma concreta que se apresenta à sociedade em

tempos de mundialização, aspectos aliados ao papel fundamental que a EPT

assume no tempo atual e na relação que estabelece entre capital e trabalho vigente

no século XXI.

Contudo, apesar da Constituição Federal de 1988, preconizar igualdade entre

os sujeitos da sociedade, na prática concreta, é evidente que existem sérias

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dificuldades, para consolidar essa proposição em toda sua extensão e efetividade.

Situação decorrente da existência de muitos entraves relativos às múltiplas formas

de expressão da questão social, materializadas nas diferenças sociais, políticas,

econômicas, culturais, religiosas, ambientais demandantes por políticas sociais, que

grassam o cotidiano da formação societária em geral e, especialmente no campo

educacional.

Assim posto, cabe registrar, conforme Behring (2009, p. 273), que na

contemporaneidade, pensar a educação, implica ultrapassar a compreensão do

processo de ensino-aprendizagem, no contexto das diferentes formas de expressão

da questão social.

Neste sentido, depreende-se que ao debate deve incorporar os elementos

dinâmicos de resistência e ruptura constitutivos das e nas expressões e diferentes

formas para tratar a questão social. Isto é, transversalizadas de componentes da luta

de classes, mas sem aderir a apologia do uso da técnica de controlar os

trabalhadores pobres, a égide de uma política viabilizadora de direitos.

Nos termos postos, os/as profissionais do Serviço Social, tem possibilidade de

atuar em áreas de grandes complexidades, decorrentes das desigualdades sociais

crescentes que perpassam a sociedade na contemporaneidade e retratam a

vulnerabilidade que significativa parcela populacional esta submetida.

Dentre os desdobramentos sociais e desafios cotidianos, os/as assistentes

sociais que atuam na área da política educacional se defrontam, com proposição de

vincular a concepção de educação e de sociedade referenciada à construção de

uma nova ordem societária.

É com essa concepção, que a área da educação, torna-se um importante

espaço de atuação dos/as assistentes sociais, à medida que, as expressões da

questão social nesse cenário se manifestam em toda sua diversidade. Busca-se

compreender a educação na perspectiva de direito e a instituição como um espaço

coletivo de formação cidadã, no qual as refrações da questão social se desvelam à

atuação profissional de modo contundente.

Isto posto, cabe ao/a assistente social se pautar pelo marco teórico

metodológico analítico critico propositivo da categoria profissional, às ações que

garantam a qualidade na prestação de serviços na operacionalização da atuação

profissional para atender as demandas e desafios que lhes serão apresentados.

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Assim, apreender a natureza do trabalho do/a assistente social na atualidade,

na ambiência da educação profissional e tecnológica do IFMT, é imprescindível

vincular o seu agir profissional ao “projeto profissional enraizado no processo

histórico e apoiado em valores radicalmente humanos” (IAMAMOTO, 2009, p. 342).

Em que prevaleça, a direção e o eixo do referido Projeto Ético-Político

Profissional construído coletivamente, cabe ressaltar que o Serviço Social possui

determinações e particularidades por vezes contraditórias, inerentes à natureza

histórica da profissão.

Alguns elementos são constitutivos da formação societária que perpassam o

projeto profissional e possui um núcleo indicativo de valores fundamentais, princípios

ético-político calcado no respeito e dignidade do ser humano, como as contradições

travadas entre dois entes societários, capital versus trabalho, e também as lutas

sociais protagonizadas pelos/as trabalhadores/as.

Os/as assistentes sociais inseridos na esfera pública, do IFMT, da rede

federal de educação, buscam ampliar os direitos dos cidadãos, em um contexto

social difícil frente às mudanças ocorridas no mundo do trabalho global e em

particular na sociedade brasileira. No auge da re-estruturação produtiva, as

manifestações e expressões da questão social, resultantes das transformações do

capitalismo mundial, agudizam as desigualdades sociais, tendo como núcleo central,

as relações de trabalho precarizadas, desemprego, subemprego, informalidade,

terceirização, dentre outras.

Esses processos de re-estruturação produtiva atinge também o mercado de

trabalhos dos/as assistentes sociais no nível municipal, estadual e federal. Vale

ressaltar que neste cenário se complexificam demandas e desafios para a profissão,

referentes ao retraimento do Estado e à desresponsabilização assumida na

condução das políticas sociais e a garantia de expansão dos direitos sociais.

Deste modo, para analisar a atuação profissional do/a assistente social no

IFMT, foi necessário compreender a educação profissional nessa instituição, na

lógica da política social, e identificar como a mesma se situa no arcabouço da

Política de Educação pública do país e sua trajetória histórica evolutiva, buscando

compreender sua estruturação, do primórdio à atualidade, inclusos objetivos,

finalidades e serviços prestados à sociedade em geral.

Assim, como já mencionado a presente pesquisa tem por objetivo analisar a

atuação profissional do/a assistente social no IFMT, de forma a identificar os

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desafios e as particularidades dessa atuação na modalidade de Educação

Profissional e Tecnológica (EPT).

Neste sentido, o presente trabalho apresenta-se organizado em capítulos,

onde após o primeiro capítulo destinado a introdução é seguido do segundo capítulo

que retrata a discussão sobre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

de Mato Grosso (IFMT), no Estado brasileiro contemporâneo, sua configuração

dentro da Rede Federal de Ensino, e também nesse sentido, o papel do Estado

frente a consolidação dessa modalidade de educação. A criação do IFMT, indicou

novas dimensões para a educação profissional, por estar articulada às políticas de

desenvolvimento econômico local, regional e nacional.

O terceiro capítulo, trata da profissão de Serviço Social, suas particularidades

históricas, a centralidade da atuação profissional do/a assistente social, bem como a

inserção do/a assistente social nessa Política de Educação. Neste trabalho, foi

importante fazer uma breve trajetória da profissão de Serviço Social, a fim de

introduzir no debate principal que é a atuação profissional. No entanto, a trajetória

histórica da atuação do Serviço Social no âmbito da Política de Educação vincula-se

aos processos sociais historicamente determinados por mudanças nessa política e

na própria dinâmica de desenvolvimento da profissão, principalmente nos desafios

para efetivar o Projeto Ético-político profissional brasileiro.

E no quarto capítulo, apresenta uma discussão sobre a atuação profissional

dos/as assistentes sociais na educação profissional e tecnológica realizada no IFMT,

os entraves e possibilidades de atuação, e também as expressões da questão social

vivenciada no cotidiano profissional.

A pesquisa foi realizada com base no conjunto de legislações e documentos

relacionados à profissão de Serviço Social, a atuação profissional do Serviço Social

na educação, como os Subsídios para a Atuação de Assistente Social na Política de

Educação (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais, publicado

pelo Conselho Federal de Serviço Social em 2012), que visa fortalecer o Projeto

Ético Político do Serviço Social na luta por uma educação pública, laica, gratuita,

presencial e de qualidade de modo a efetivar o direito social para potencializar

condições de sociabilidade humanizadoras. Também no estudo da documentação

oficial da instituição, advindas das esferas superiores quanto as atribuições

específicas do Serviço Social na EPT. E por fim no trato dos dados coletados por

meio de questionário aplicado às Assistentes Sociais de 12 (doze) campis do IFMT,

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devidamente registrados, classificados, organizados e analisados, com a devida

anuência.

Para a consolidação dessa pesquisa, dentro do universo de 14 (catorze)

campi, somente em 12 (doze) possuem assistentes sociais, abarcando o total de

profissionais que atuam no Estado de Mato Grosso. No entanto, os sujeitos da

pesquisa foram os/as 05 (cinco) profissionais que devolveram o questionário

respondido.

A ênfase dada a este processo, opera pelo materialismo histórico e dialético,

nos dizeres que Minayo (2004, p. 65), explicita,

O materialismo histórico representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real. Esforça-se para entender o processo histórico em seu dinamismo, provisoriedade e transformação. Busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade, e realizar a crítica das ideologias, isto é, do imbricamento do sujeito e do objeto, ambos históricos e comprometidos com os interesses e as lutas sociais de seu tempo.

A pesquisa foi de cunho qualitativo, para permitir uma compreensão mais

detalhada dos significados e características apresentadas pelo objeto de estudo. O

aspecto qualitativo se caracteriza como uma tentativa de compreender

detalhadamente os significados e características apresentados pelos sujeitos da

pesquisa. Sobre o aspecto qualitativo, Minayo (2004, p. 22), esclarece que,

Qualquer investigação social deveria contemplar uma característica básica de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados.

A parte da coleta de dados deu-se por meio de levantamento documental que

integram o acervo do IFMT e bibliográfico, tais como, artigos, teses, dissertações,

legislações específicas do sistema educacional, dados estatísticos provenientes de

pesquisas realizadas por órgãos competentes, a fim de propiciar maior aproximação

e conhecimento sobre a temática em estudo. A parte documental é de extrema

importância, tendo em vista que a educação é regida por leis, decretos, normas

dentre outras legislações que orientam e implementam a Política de Educação.

Entretanto, foram destacadas como centrais as categorias: Serviço Social;

Atuação Profissional e Educação Profissional e Tecnológica, observadas por

17

diferentes autores/as, com uma abordagem crítica propositiva que contribua com as

reflexões contidas no trabalho.

Na coleta de informações, foi enviado um questionário, para o universo total

dos sujeitos, com questões abertas, de forma a possibilitar maior facilidade para os

sujeitos da pesquisa em responder de acordo com sua realidade profissional.

Desse universo, 05 (cinco) profissionais foram solícitos em responder o

questionário e participar da pesquisa. No entanto, 07 (sete) profissionais não

retornaram o questionário, fato que trouxe uma frustração a pesquisadora com

relação ao processo de coleta das informações. A negação em participar da

pesquisa não é possível descrever, e fica no campo na subjetividade.

Após o recebimento do questionário preenchido, foi realizada a

sistematização dos dados que foram analisados para além da aparência imediata,

esta não descartada, pois, trata-se do início do conhecimento, mas com objetivo

próprio de apreender a essência do objeto estudado.

18

2 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT): À ÉGIDE DO

ESTADO DEMOCRÁTICO

Analisar a Educação Profissional, perpassa por compreender como a mesma

se situa na concepção Política de Educação, sua estruturação, objetivos e

finalidades ao longo de sua trajetória.

Este processo demarca o avanço e concretização do ideário neoliberal, sob o

comando do grande capital financeiro, impactos e resultados espoliadores

produzindo graves mazelas sócio-econômicas nas condições de vida e laboral da

população de significativa parcela da sociedade brasileira.

Assim sendo, a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), em sua

concepção de Política Educacional vaticinada pelo Estado, é transversalizada por

uma lógica de expansão da rede, preconizando normativas e diretrizes que priorizem

a inclusão social e ampliação do acesso e permanência na escola. Portanto, requer

intervenção que contemple os sujeitos/as envolvido/as no processo de formação

profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, com condições

objetivas para preparar cidadãos qualificados/as, aptos a atuarem nos diversos

setores da vocação econômica nacional, regional e local.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia tem natureza

pública e seu vínculo é mantido pelo Governo Federal, a partir das medidas contidas

no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Este plano traz um novo

arcabouço institucional para traduzir o significado da EPT enquanto modalidade

potencializadora do indivíduo no desenvolvimento de sua capacidade de gerar

conhecimento a partir de uma prática interativa com a realidade.

As instituições de ensino em geral como instituições educativas vem sendo

questionadas acerca de seu papel ante as transformações econômicas, políticas,

sociais e culturais do mundo contemporâneo. Transformações estas que decorrem

do sistema de produção e desenvolvimento, da compreensão do papel do Estado,

das modificações nele operadas, das mudanças no sistema financeiro e

principalmente nas novas formas de organização do trabalho em tempos de

consumo exacerbado.

Essa nova realidade adquire uma importância mundial para a ciência, a

tecnologia e inovação tecnológica no que tange a ampliação dos espaços de ensino-

aprendizagem. Esse momento requer uma reestruturação dos sistemas educativos,

19

ou seja, formar indivíduos capazes de refletir, aprender e compreender

permanentemente, os avanços das tecnologias de produção, a relação entre capital

e trabalho, a capacidade de desenvolver atitudes, conhecimentos e disposição para

viver em um ordenamento societário dinâmico, o exercício autônomo, consciente e

crítico de cidadania, em contínua evolução.

Deste modo, fez se necessário, apresentar os elementos constitutivos da

realidade contemporânea da EPT, bem como as implicações do papel do Estado no

contexto em que o governo brasileiro implementa políticas educacionais de ajuste às

exigências das corporações internacionais.

2.1 A (re) configuração da rede federal de educação profissional e tecnológica

na contemporaneidade

Na Constituição Federal de 1988 (CF), a educação, em seu artigo 205 foi

organizada como uma política pública, e nesse sentido, subsequentemente, a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei 9.394/96, estabelece ser dever

do Estado garantir a educação enquanto direito de todos/as os/as brasileiros/as.

Na concepção de política pública é pertinente recorrer as contribuições de

autores/as do Serviço Social estudiosos desta temática, como Pereira (2011, p.

166), que aponta

a política como produto da relação dialeticamente contraditória entre estrutura e história e, portanto, das relações antagônicas e recíprocas entre capital x trabalho, Estado x sociedade e princípios de liberdade e da igualdade que regem os direitos de cidadania.

Neste prisma, Behring e Boschetti (2011, p. 37) assinalam algumas

análises unilaterais no campo da política social aquelas que situam a emergência de políticas sociais como iniciativas exclusivas do estado para responder demandas da sociedade e garantir hegemonia ou, outro extremo, explicam a existência exclusivamente como decorrência da luta e pressão da classe trabalhadora.

Cabe levantar como questão de fundo para nortear o debate central deste

trabalho se o desenvolvimento das políticas sociais esta imbuído historicamente de

um espírito reformista, sob pressão do movimento dos trabalhadores. Ou, se em

20

tempos de estagnação, avanço neoliberal, estamos num ambiente contra-

reformista?

Para a consecução do debate teórico proposto, o recorte temporal foi a partir

dos anos 1990, abarcando a complexidade que permeia a política de educação.

Assim, o ponto de partida para essa discussão é a educação profissional como

direito do cidadão, a forma de organização estatal a partir da década citada, levando

em consideração a lógica do grande capital atual que é a de mercado.

De acordo com Frigotto (2007, p. 2),

Os clássicos do pensamento social, político e econômico brasileiro nos permitem apreender as forças que disputaram os projetos societários e entender o que nos trouxe até aqui e suas determinações. Permitem-nos entender, por outro lado, por que o projeto da classe burguesa brasileira não necessita da universalização da escola básica e reproduz, por diferentes mecanismos, a escola dual e uma educação profissional e tecnológica restrita (que adestra as mãos e aguça os olhos) para formar o ‘cidadão produtivo’ submisso e adaptado às necessidades do capital e do mercado.

A intencionalidade da classe burguesa trabalhada na citação de Frigotto

(2007) é tratada da seguinte forma na LDB, como educação profissional integrada às

diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, que conduz ao

permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Todavia, trabalho e

educação constitui uma relação de indissolubilidade, conforme coloca Saviani (2007,

p. 155) ao dizer que “são atividades especificamente humanas”, mas que com o

surgimento do modo de produção capitalista sofrem uma nova determinação.

No disposto pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

(SETEC/MEC), órgão alocado no Ministério da Educação (MEC), a competência,

dentre outros é de planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de

formulação e implementação da política da educação profissional e tecnológica;

promover ações de fomento ao fortalecimento, à expansão e à melhoria da

qualidade da educação profissional e tecnológica e zelar pelo cumprimento da

legislação educacional específica dessa modalidade de ensino e para o

cumprimento do disposto em um de seus objetivos que consiste em favorecer o

desenvolvimento da nação primando pela inclusão social, por entender que tal

modalidade educacional não pode se furtar a dar respostas às exigências do seu

tempo sem perder de vista a responsabilidade social.

21

A concepção de EPT que orienta os processos de formação com base nas

premissas da integração e da articulação entre ciência, tecnologia, cultura e

conhecimentos específicos e do desenvolvimento da capacidade de investigação

científica que se traduzem nas ações de ensino, pesquisa e extensão.

O cenário de mudanças significativas através da expansão do capital,

principalmente após a crise de 1970, trouxe reflexões importantes para a educação,

sendo uma delas a própria responsabilidade com o desenvolvimento e globalização

nacional. Segundo Silva (2012, p. 139),

houve uma passagem da lógica da integração baseada nas demandas de caráter coletivo em torno do desenvolvimento nacional para as aspirações individualizantes da formação para as competências com vistas à empregabilidade.

Nesse sentido, cabe perguntar se a educação profissional está para uma

formação cidadã? Ou para uma formação para o mercado de trabalho?

Os anos de 1990 foram marcados por projetos de disputa. Ocorreram grandes

mudanças tanto no campo socioeconômico e político, quanto no da ciência e

tecnologia, principalmente com a globalização da economia, bem como as

modificações tecnológicas com a era da informação. Neste contexto, a educação

aparece como categoria central na sociedade, mas, indaga-se qual é seu papel no

momento atual?

O cenário em que a educação profissional se encontra no Brasil, lida com

uma tendência de carga de responsabilidades relacionadas ao desenvolvimento do

país. Essa tendência traz algumas preocupações e implicações pedagógicas, tais

como, situações não sustentáveis social e ambiental, concentração de renda,

submissão à divisão internacional do trabalho, competição acirrada, promoção do

individualismo e destruição de valores culturais e éticos.

Nesta área, é pertinente frisar a existência de um segmento de estudiosos

com uma tendência reflexiva a rejeitar a concepção de que a educação é a salvação

do país e que a EPT é a porta de emprego, estabelecendo como condição de

permanência no mercado de trabalho, uma responsabilidade exclusiva dos

trabalhadores. Também creem que estas dinâmicas trazem um contexto de

contradições dialéticas no sentido de não classificar até que ponto os profissionais

contribuem com a lógica do mercado e do capital, no sentido de produzir um

22

estranhamento que se faz presente em muitas discussões sobre a democracia

brasileira, a ponto de não se reconhecer de imediato essa ambiguidade.

Nos termos postos, autores consultados já citados neste trabalho, afirmam

que a partir da CF de 1988, a educação se constituiu em um instrumento de poder,

no que tange a transmissão de valores relacionados ao trabalho. Por parte da classe

capitalista, o objetivo primordial é obter cada vez mais o lucro por meio da

exploração da força de trabalho, e, “criar condições para que o capital privado possa

existir e se expandir”, como afirma Coutinho (2008, p. 126). Por um lado, a classe

trabalhadora desde a década de 1930, luta por melhores condições de trabalho,

através dos movimentos sociais, e obteve maior acesso a educação pela legislação

brasileira vigente. Todavia, é necessário afirmar que esse direito ainda não é

exercido de forma plena e ampla em toda acepção etimológica, sendo muitas vezes

negligenciado a determinados segmentos populacionais mais vulneráveis

socioeconomicamente.

Por outro prisma, também, pode se afirmar que a sociedade contemporânea

presenciou grandes transformações na área da educação, onde o neoliberalismo e a

reestruturação produtiva contribuíram e contribuem fortemente com os processos de

mudanças realizadas no século XX e em curso.

Nesse processo, Almeida e Alencar (2011, p. 5), esclarece que,

[...] esse período como sendo de permanência do capital na forma de dinheiro, onda de generalização das aplicações financeiras internalizadas, o desenvolvimento de novas tecnologias de informação, permitindo a interligação entre os mercados financeiros e bolsas de valores, exacerbação da tendência atual do capitalismo, ou seja, a mundialização do capital.

A educação profissional e tecnológica, tem na legislação a clareza do seu

papel de propiciar a formação de trabalhadores para o mercado de trabalho, em face

da área atravessar um grande momento relacionado ao advento da expansão da

Rede Federal de Ensino1 no país. Porém, é possível entender no que consiste as

concepções institucionais que possibilitam uma formação para a participação na

sociedade civil e exercício da cidadania, ainda ser um campo de disputa de poder.

1 A Lei nº 11.892/2008, de 29/12/2008 - institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e cria os Institutos Federais de Educação (IF’s).

23

Deste modo, a análise da relação entre trabalho e educação, no modo de

produção capitalista, retomada de Marx em O Capital, remete à clareza de que o

trabalho na sociedade capitalista tem um caráter alienado e fetichizado. Mas, em

seu caráter ontológico, é sabido que o homem como ser social, transforma a

natureza para satisfação de suas necessidades, ou seja, transforma-se a matéria-

prima em algo novo para o uso, conferindo-lhe sentido de que o trabalho é uma

atividade inerente à faculdade reflexiva do ser social, ao conceber esse processo

laborar primeiro no plano da ideia e, subsequente, realização operacional no campo

material, concreto.

É possível por analogia, pensar o papel da educação profissional, enquanto

uma formação capaz de adequar a inserção produtiva dos trabalhadores, como

incremento produtivo a fim de reforçar o objetivo do capitalismo monopolista, nos

seguintes termos:

A emergência da educação profissional no modo de produção capitalista, ou educação para os ofícios, corresponde à socialização da fragmentação do trabalho e, sobretudo, à dicotomia entre quem concebe (gerencia) as atividades de produção e quem executa o processo. A educação profissional é destinada as atividades de caráter mais terminal da produção cuja perspectiva está orientada para aspectos instrumentais do processo produtivo (SILVA, 2012, p. 136).

Igualmente é possível por outro ponto perceber reflexões de cunho

contributivo, que Saviani aponta inspirado nas reflexões de Gramsci, o trabalho

como princípio educativo, onde o trabalhador e o trabalho podem ser concebidos

com uma dimensão a seu favor que não os usualmente praticados na sociedade

contemporânea. Pensamento que na contemporaneidade torna cada vez mais

visível a perda da relação trabalho e educação em seu sentido ontológico, em

virtude da capacidade do capital aprofundar sua voracidade ao se reorganizar

rapidamente conforme dispõe o extrato a seguir.

Diante dos limites estruturais do capitalismo, aprofundados ao longo de todo esse período histórico, no contexto da crise estrutural que se deflagrou na década de 1970, o capital articulou ‘[...] um novo equilíbrio instável que tem como exigência básica a reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do capital, tanto na esfera da produção como na das relações sociais’ (ALMEIDA; ALENCAR, 2011, p. 4).

24

Reorganização que acarreta uma série de transformações no campo da

educação profissional ao longo dos anos 1990 até o presente, e se consolidam com

a implantação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF), uma

iniciativa das políticas de Estado que propõem reestruturar os antigos Centros

Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), bem como das Escolas Agrícolas,

para atender as demandas crescentes de formação profissional existentes em cada

região onde estiverem inseridos e de acordo com as vocações econômicas locais.

Assim, a Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008, que cria a Rede Federal

de Educação Profissional e Tecnológica coloca como um dos objetivos precípuos

dos Institutos Federais, destinar no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas

vagas para a Educação Básica. Estas, em especial ao Ensino Médio integrado à

Educação Profissional Técnica, para os concluintes do Ensino Fundamental e para o

público da Educação de Jovens e Adultos (EJA) (BRASIL, 2008).

Os IF’s se comprometem com a oferta, além de cursos técnicos, a graduação,

os cursos tecnólogos, as licenciaturas (formação de docentes), programas de pós-

graduação lato senso e stricto sensu (mestrado e doutorado), cursos para a

formação inicial e continuada de trabalhadores nas áreas em que a ciência e a

tecnologia são determinantes e, também, com a formação de grupos de pesquisa.

Ao se fazer um recorte na trajetória da educação brasileira, tem se claro que

as reformas educacionais são influenciadas pelas grandes organizações

internacionais. Ou seja, não houve nenhuma mudança efetiva relacionada ao

desenvolvimento do processo de gestão desta política, uma vez que os efeitos do

neoliberalismo atualmente apresentam-se, cada vez mais arraigados a uma

sociabilidade autoritária na sociedade em tempos de globalização.

No entanto, é perceptível que diante de uma trajetória de reformas,

considerando as particularidades da política educacional em nome da dinâmica da

sociedade mundializada, requer demarcar o papel do Estado frente a este processo,

tendo em vista a realidade vivenciada pela formação societária brasileira, conforme

será apresentado a seguir.

25

2.2 O papel do estado democrático na Educação Profissional e Tecnológica

(EPT)

Ao situar a competência do Estado frente à educação profissional no Brasil,

cabe reiterar ser no recorte temporal pertinente da década de 1990, cenário de

mudanças estruturais próprias da natureza expansiva do capital e suas contradições

expressas pela crise por ele vivenciada que remonta ao marco dos anos 1970,

quando se pode observar como respostas decorrentes da reestruturação produtiva e

do aparelho estatal e seus efeitos postos em curso e presentes nas décadas

seguintes.

Períodos em que o Brasil foi marcado por disputas gerais impulsionando as

alterações e efeitos citados contidas na própria LDB, trazendo um conjunto de

ambiguidades, sobretudo para a educação profissional, objeto central elegido e

subsumido pela lógica em pauta e assim expressa:

A partir dos anos 1990, o Brasil adentrou num período marcado por uma nova ofensiva burguesa, mais uma vez adaptando-se às requisições do capitalismo mundial. É um momento histórico com características diferentes do pós 64. Mas, certamente, configura-se como uma contra-reforma social e moral, na perspectiva de recompor a hegemonia burguesa no país (BEHRING, 2008, p. 113).

Logo, compreender a responsabilidade do Estado para com a educação,

demanda entender o discurso oficial e textual da CF que define o regime do Estado

como governo democrático de direitos, cabendo-lhe promover políticas públicas e

sociais voltadas à população brasileira, composta por cidadãos, portadores dos

referidos direitos. Regime contido nas normativas oficiais pós-período ditatorial, com

avanços significativos na década de 1980, e, em especial na área da educação,

onde os espaços democráticos instituídos que possibilitaram discussões, em tese,

visando promover um padrão real de qualidade para a educação.

Após esse período, a consolidação do modelo neoliberal de Estado

instaurada, passou a demandar a determinação de novas diretrizes para a

educação, a LDB, cujo teor obteve inúmeras críticas, dos estudiosos da matéria,

dentre eles Frigotto (2007, p. 2) devido a várias reformas educacionais implantadas

e aliadas ao interesse do capital e em detrimento da população brasileira.

26

Doravante, conforme os planos adotados pelo presidente Fernando Henrique

Cardoso (FHC), de 1995 a 2002, a educação profissional assume um caráter

técnico, intensificado pela criação dos CEFET’s, com objetivo de formar profissionais

com sólida base científica e tecnológica, sendo um período demarcado por disputas

de projetos, abaixo expresso,

O período também foi caracterizado pela ótica tecnicista adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso para a educação profissional que foi representada por três estratégias principais: a primeira consiste na intensificação da cefetização das escolas técnicas federais; a segunda foi a separação do ensino médio da base propedêutica do ensino técnico com a promulgação do Decreto nº 2.208/97 – este estabeleceu que o ensino técnico fosse ministrado mediante matrículas concomitantes ou subsequentes ao ensino médio de formação geral -; e a terceira foi a oferta de cursos de qualificação do trabalhador sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho, alijados do compromisso com o acesso à educação e a decorrente elevação da escolaridade (SILVA, 2012, p. 139).

Em decorrência dessa determinação é evidente a educação estar cada vez

mais a serviço do capital, e como instrumento para a inserção dos jovens no

mercado de trabalho em condições e forma precarizada, violando os preceitos dos

direitos sociais, de que nesta fase de vida deveria se dar a construção do

conhecimento e formação da identidade desse segmento populacional no âmbito

acadêmico.

Todavia, confere-se que na prática, o Ministério do Trabalho e Emprego

(MTE) oferece cursos por meios de parcerias com instituições tais como o Sistema

S, Organizações não Governamentais (ONG’s) e instituições filantrópicas. Estas

oferecem uma formação profissional aligeirada para desempregados,

subempregados de baixa escolaridade, que dada as condições de vulnerabilidades

frente a reestruturação produtiva, se tornam presas fáceis, úteis aos interesses do

capital na relação com o trabalho. Há total subsunção de grande número de

trabalhadores necessitados desse aporte social para garantir na sobrevivência e

força de trabalho para se recolocar no mercado preparador arcando com todos os

ônus ditos anteriormente.

Ao nortear pelas legislações brasileiras, não é possível negar que o Estado

tem um papel fundamental no que concerne a garantir à população, pleno acesso

aos direitos sociais, à seguridade social, incluindo a educação em todas as suas

modalidades de ensino.

27

Na década de 1980 com a Constituição Federal de 1988, o conceito de

Seguridade Social engloba as políticas de saúde, previdência e assistência social,

definidas como um direito social. Contudo, nos anos de 1990, esse sistema é

surpreendido pelo avanço neoliberal e reformas voltadas para o desmonte dos

recém instituídos direitos sociais.

Pelo exposto, faz-se mister abordar que dado ao fato da figura do Estado

possuir complexidade e ramificações, nas quais se alojam e apresentam os desafios

e demandas postas ao processo de trabalho no modo de produção capitalista, as

mesmas impactam tanto na constituição da materialidade, quanto da subjetividade

dos trabalhadores (ANTUNES, 2011, p. 19-41).

Uma pontuação indispensável frente às determinações postas pela dinâmica

estrutural do capitalismo é que o mesmo tem incorporado, em parte, a necessidade

de contribuir com a reprodução da força de trabalho, por sua vez, determina a

ampliação de serviços por serem os mesmos vitais ao processo de reprodução do

próprio capital. Embora haja um discurso sobre a universalidade dos serviços

sociais, estes, não são realmente direcionados na íntegra de sua concepção, aos

indivíduos que deles necessitam, pela oferta ser pautada em critérios altamente

seletivos, pontuais e focalizados, que dificultam o acesso da população a qual se

destinam, revelando que,

[...] o elemento conteudístico mais importante desta forma política autoritária e centralizadora de Estado é que ele sempre esteve claramente a serviço de interesses privados. O fato desse Estado ter sido muito forte e de ter aparentemente se superposto à ordem privada não anula, de modo algum, uma realidade fundamental: a de que toda esta força esteve sempre – em primeira ou em última instância, mais em primeira do que em última – a serviço de interesses estritamente privados (COUTINHO, 2008, p. 124).

Todavia, como não é possível sustentar sem mascarar minimamente a

posição favorável ao capital, enunciada de conformidade com o caráter contraditório

que lhe é inerente na relação antagônica que trava com o trabalho, o Estado assim

se desvela,

[...] o Estado, ainda que em última instância, defenda interesses privados – tem de ter também uma dimensão pública, já que é preciso satisfazer demandas das classes trabalhadoras para que possa haver o consenso necessário à sua legitimação. Não é outra explicação, por exemplo, da existência do Welfare State nos países mais desenvolvidos; nesse caso, graças às lutas das classes trabalhadoras, foi possível construir, a partir de

28

políticas estatais, uma rede educacional e de seguridade social que tem um indiscutível interesse público (COUTINHO, 2008, p. 127).

Em que pese a dualidade postural abordada, é perceptível que o direito de

fato passa a ser manipulado pelo Estado e pelos organismos internacionais para se

configurar em algo que está sendo doado, ou seja, adquirem um caráter de benesse,

não sendo tratados como direitos constitucionais legalmente garantidos.

Essa desconfiguração ocorre porque da mesma forma que o discurso

neoliberal prevalecente sustenta que o Estado deve reduzir sua intervenção na

economia, igualmente avoca a necessidade de minimamente assumir à si, as

funções relacionadas ao bem estar social. Todavia, isto se caracteriza

concretamente, como uma estratégia que culmina na privatização de serviços que

deveriam ser oferecidos pela esfera estatal, e que em última instância transforma o

indivíduo portador de direitos em consumidor.

Para melhor elucidar a relação contraditória, Coutinho (2008, p. 127) aponta

abaixo algumas ações elencadas dessa natureza que afetam o campo da educação

sob à égide do neoliberalismo, que “em nível mundial configura-se como uma reação

burguesa conservadora e monetarista, de natureza claramente regressiva, dentro da

qual se situa a contra reforma do Estado”, Bering (2008, p. 129), conforme os

mesmos concebem quanto a:

Ajustes fiscais, ‘o Estado prefere pagar a dívida pública e assegurar o chamado equilíbrio fiscal (através de enormes superávits primários) do que atender às reais demandas da população brasileira’;

Gestão baseada na lógica empresarial;

Qualidade entendida como aumento da eficácia, da eficiência, da produtividade com redução de custos;

Primazia da quantidade em detrimento da qualidade;

Política de resultados;

Discursos vazios de democratização com o avanço do ensino à distância;

Adoção de políticas submetidas aos ditames dos organismos internacionais;

Mercantilização dos espaços da educação formal;

Foco no produto final como meta fim e comprometido com os reais processos de aprendizagem emancipatória.

Os elementos elencados permitem vislumbrar, que é importante redefinir o

papel do Estado para com a educação. Nesse ápice é que ao governo Lula, período

2003-2010, é tributado significado especial decorrente de sua origem e trajetória

29

política, englobaram expectativas de mudanças estruturais, tanto para sociedade em

geral quanto especificamente para educação, tendo em vista o claro e franco

comprometimento assumido com criticas contundentes ao modelo liberal de FHC, e

que primará pelo disposto a necessária consolidação das legislações brasileiras.

No entanto, o que seu governo revelou foi um período de continuidade de

propostas governamentais neoliberais, com ações totalmente contrarias aos ideários

políticos assumidos com a maioria da parcela populacional que o elegeu, cometendo

as mais graves e profundas omissões, jamais registradas na história de governos da

sua natureza.

Para o campo da educação profissional no que se refere somente ao plano de

expansão da Rede Federal, houve significativa expansão, ao mesmo tempo que,

[...] a problematização sobre a política de educação profissional, que em como referência a produção de conhecimento na área e as lutas sociais, desafiou-nos a analisar o percurso tomado por essa política no Governo Lula, que representa, na verdade, a disputa entre os setores progressistas e conservadores da sociedade brasileira pela hegemonia nesse campo (FRIGOTTO, 2005, p. 1089).

O tratamento a ser dado à educação profissional, anunciado pelo MEC no

início do governo, seria de reconstruí-la como política pública, enquanto

compromisso assumido com a sociedade em sua referida proposta de governo.

Não obstante, uma problemática que se faz presente nesse meio é pertinente

ao quesito financiamento para educação, alvo de grandes debates e

questionamentos devido a insuficiência dos recursos que o governo brasileiro

destina para este campo.

Muitas críticas são pontuadas as políticas educacionais, no governo Lula, que

sinalizaram para um movimento de inclusão de camadas empobrecidas da classe

trabalhadora, porém, só para as modalidades que não apresentam a qualidade

preconizada no discurso oficial com o caráter de políticas universalizantes. Fatores

que suscitam e fomentam reiterados questionamentos relativos a qualidade dessas

ações e, põe em dúvida a relação entre universalização e a democratização da

educação, uma das principais bandeira de luta anunciada por esse governo.

É com este escopo, que se articulam ofertas formativas para educação de

jovens e adultos, trabalhadores em formação inicial e continuada, bem como os

30

programas: Universidade para Todos (PROUNI), no Programa de Apoio a Plano de

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), dentre outros.

Apesar das mudanças implementadas com força impositiva legal, da esfera

superior para a executiva, a concretização das ações operacionais propriamente

ditas, dependem da particularidade de cada instituição. Percebe-se que no governo

FHC, o objetivo da educação profissional era de atender as necessidades do

mercado. Enquanto o governo de esquerda de Lula, num primeiro momento de

ascensão até então parecia incorporar a bandeira de luta da educação defendida

pelos movimentos sociais. Contudo, se viu que,

As políticas de educação profissional do Ministério da Educação no governo Lula demonstram sua face contraditória, pois atendeu às reivindicações pela revogação do Decreto nº 2.208/97 e pela formação do trabalhador com elevação da escolaridade, porém lança programas que reforçam a dualidade no interior do sistema educacional (SILVA, 2012, p. 141).

A criação de novos programas já citados, integrados a escolarização e

profissionalização, traz algumas inquietações com relação a formação do cidadão

não submisso e adaptado à lógica do mercado e capital. Do ponto de vista

sociopolítico, qual o lugar da EPT no âmbito de disputa do Estado e da sociedade

civil? Ao contrário do discurso e do senso comum de que as políticas públicas

servem para atender o bem comum, a política de educação reflete a relação de

forças presentes na arena de disputas e contradições entre o Estado e a sociedade

civil.

Nota-se, portanto, que apesar dos condicionantes do âmbito educacional,

neste caminho adverso e desafiante, é evidente caber ao Estado uma atuação

efetiva nesta política, de forma a garantir uma educação cidadã, articulada com

diferentes dimensões da vida social, que permita construir e reconstruir novas

formas de sociabilidade humana, ou seja, que se instaure um processo de

aprendizagem de qualidade, pública e uma formação emancipadora.

2.3 A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no estado de Mato Grosso

É importante rememorar que as instituições constituintes hoje da Rede

Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica são originárias das

31

escolas de artífices, por meio do decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, que

institui em seu primeiro artigo a criação do grupo de escolas de aprendizes artífices

e demais preceitos para sua execução.

Nesse sentido, é cabível a referência de que a época, o cenário social

encontrava-se em transição, moldado fortemente pelo processo de urbanização,

com mobilização popular e classista em busca de melhores condições de vida e de

trabalho. O Estado brasileiro, afirma que a criação de um conjunto de Escolas de

Aprendizes Artífices (EAA), adveio da necessidade de prover as classes proletárias

de meios que garantissem a sua sobrevivência, isto é, os desfavorecidos da

fortuna, expressão contida no Decreto nº 7.566, de 23/09/1909, assinado pelo

Presidente Nilo Peçanha,2 e,

Nesse sentido, não há dúvida de que aos objetivos das Escolas de Aprendizes Artífices associavam-se a qualificação de mão de obra e o controle social de um segmento em especial: os filhos das classes proletárias, jovens e em situação de risco social, pessoas potencialmente mais sensíveis à aquisição de vícios e hábitos ‘nocivos’ à sociedade e à construção da nação (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA,2010, p. 11).

Na década de 1950, o Brasil adotou uma política focada na industrialização e

também no “progresso”, com profundos reflexos na área educacional, quando a EAA

passou, pela lei nº 3.552 de 16/02/1959, a ser denominada de Escolas Industriais e

Técnicas, e, em Mato Grosso, pela lei nº 4.759, de 20/08/1965, tornou-se a Escola

Industrial Federal de Mato Grosso.

Nesse período, essas instituições ganham autonomia didática e de gestão e

passam a ser denominadas Escolas Técnicas Federais, e a de Mato Grosso, alça

essa mudança através da Portaria Ministerial nº 331, de 17/06/1968. Época que

intensificam-se gradativamente a formação de técnicos; mão de obra indispensável

à aceleração do processo de industrialização, sendo o período de 1964 a 1985

caracterizado pela modernização da estrutura produtiva à custa do endividamento

externo.

2 Para fins de estudo ver obra intitulada Escola de Aprendizes Artífices de Mato Grosso 1909/1941, da autora Nadia Cuiabano Kunze, pedagoga, Mestre em Educação pela UFMT e servidora atual do IFMT.

32

Na segunda metade da década de 1990, o movimento das instituições

federais de educação profissional e tecnológica também sinaliza mudança. O

processo desencadeado, a princípio apenas, em alguns Estados. Tinha como

principal objetivo alinhar as políticas e ações das instituições ao cenário atual, com

destaque para as demandas sociais locais e regionais. Instituições que revelam um

movimento até então inédito, de incluir em seus ideários as necessidades e

aspirações do território onde estivessem inseridas e delinear princípios que

norteassem iniciativas comuns, propiciando o surgimento da Rede Federal de

Educação Profissional e Tecnológica.

No ano de 1994, a Lei Federal nº 8.984 institui no país o Sistema Nacional de

Educação Tecnológica, anuncia a transformação das Escolas Técnicas Federais

(ETF) em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), cuja implantação se

concretiza a partir de 1999, e, em seguida, abre caminho para que as Escolas

Agrotécnicas Federais sejam integradas a esse processo.

Na sequência dos atos, com o Decreto nº 2.208/97 ocorre a regulamentação

dos artigos da nova LDB que tratam especificamente da educação profissional. E a

chamada “Reforma da Educação Profissional” é implantada dentro do ideário de

Estado Mínimo, com fortes reflexos nas escolas federais de educação profissional

do país. As mudanças estabelecidas pela nova legislação são profundas e cortam

pela raiz o movimento de redirecionamento desenhado pelas instituições federais.

Nos termos do Decreto Presidencial de 16/08/2002, publicado no Diário

Oficial da União de 19/08/2002, a Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETF-MT)

transforma-se em Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso

(CEFET-MT).

No ano de 2003, o Governo Federal edita novas medidas para a educação

profissional e tecnológica, e há a substituição do Decreto nº 2.208/97 pelo de nº

5.154/04 que elimina as amarras estabelecidas pela anterior, e se traduziam numa

série de restrições na organização curricular e pedagógica e oferta dos cursos

técnicos. Iniciava-se uma reorientação das políticas federais para a educação

profissional, primeiro com a retomada da possibilidade da oferta de cursos técnicos

integrados com o ensino médio, seguida pela alteração na lei que vedava a

expansão da rede federal.

A primeira fase dessa expansão, iniciada em 2006, teve como objetivo

implantar escolas federais de formação profissional e tecnológica nos Estados ainda

33

desprovidos dessas instituições, preferencialmente nas periferias de metrópoles e

municípios interioranos distantes de centros urbanos, aos quais os cursos

estivessem articulados com as potencialidades locais de geração de trabalho e

renda.

Na segunda fase da expansão, iniciada em 2007, com o tema “Uma escola

técnica em cada cidade-polo do país”, foi prevista a implantação de 150 novas

unidades de ensino.

Nessa concepção, através da lei nº 11.892, de 29/12/2008, publicada no

Diário Oficial da União de 30/12/2008, é que foi criado o Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT). Ocorre a integração dos

Centros Federais de Educação Tecnológica de Mato Grosso e de Cuiabá, e da

Escola Agrotécnica Federal de Cáceres, para gerar e fortalecer condições

estruturais necessárias ao desenvolvimento educacional e socioeconômico,

conforme o quadro de reordenamento da EPT, abaixo apresentado.

Quadro 1 - Reordenamento da Rede Federal – Mato Grosso

Ano Instituição

1909 Escola de Aprendizes e Artífices (EAA)

1965 Escola Técnica Industrial de Mato Grosso

1968 Escola Técnica Federal de Mato Grosso (ETF)

1999 Centros Federais de Educação Tecnológica de Mato Grosso (CEFET)

2008 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora – Julho de 2014

A formação dessa nova identidade da EPT permite aos Institutos Federais

atuar em todos os níveis e modalidades da educação profissional, de forma a por em

prática a execução dos princípios do Plano de Desenvolvimento da Educação

(PDE), bem como as das diretrizes dos respectivos projetos pedagógicos, tais como:

a necessidade de atuar no ensino, na pesquisa e na extensão, compreendendo as especificidades destas dimensões e as inter-relações que caracterizam sua indissociabilidade;

a compreensão da pesquisa ancorada nos princípios científico – que se consolida na construção da ciência e desenvolvimento da tecnologia – e no educativo – que diz respeito à atitude de questionamento diante da realidade –, entendendo-a como essencial para a construção da autonomia intelectual e, portanto, potencializadora de uma educação que possibilita ao indivíduo o desenvolvimento de sua capacidade de gerar conhecimentos a partir de uma prática interativa com a realidade;

a concepção das atividades de extensão como forma de diálogo permanente e mais amplo com a sociedade;

34

a compreensão de que o conhecimento deve ser tratado em sua completude, nas diferentes dimensões da vida humana, integrando ciência, tecnologia, cultura e conhecimentos específicos – inclusive nas propostas pedagógicas dos cursos de graduação (licenciaturas, engenharias e superiores de tecnologia) e pós-graduação – na perspectiva de ultrapassar o rígido limite traçado pelas disciplinas convencionais;

o reconhecimento da precedência da formação humana e cidadã, sem a qual a qualificação para o exercício profissional não promove transformações significativas para o trabalhador e para o desenvolvimento social;

a necessidade de assegurar aos sujeitos as condições de interpretar a sociedade e exercer sua cidadania, na perspectiva de um país fundado na justiça, na equidade e na solidariedade;

a organização de itinerários formativos que permitam o diálogo entre os diferentes cursos da educação profissional e tecnológica (formação inicial e continuada, técnica de nível médio e de graduação e pós-graduação tecnológica), ampliando as possibilidades de formação vertical (elevação de escolaridade) e horizontalmente (formação continuada);

a sintonia dos currículos com as demandas sociais, econômicas e culturais locais, permeando-os das questões de diversidade cultural e de preservação ambiental, pautada na ética da responsabilidade e do cuidado;

o reconhecimento do trabalho como experiência humana primeira, organizadora do processo educativo.

De acordo com a lei de criação e as diretrizes elencadas, os IF’s são

instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e

multicampi, especializados na oferta profissional e tecnológica nas diferentes

modalidades de ensino, embasadas na conjugação de conhecimentos técnicos e

tecnológicos e suas práticas pedagógicas. Vale ressaltar que o objetivo primeiro

destas instituições é a profissionalização e, por essa razão, a proposta pedagógica

tem a organização centrada na compreensão do trabalho, debates já tratada na

seção anterior.

A estrutura multicampi é constituída por um conjunto de unidades, cujo

campus possuem as mesmas atribuições e prerrogativas, ou seja, cumprimentos de

metas e objetivos determinadas. Nessa lógica, Mato Grosso possui um total de 14

(catorze) campi atualmente, sendo: Cuiabá-Cel. Octayde Jorge da Silva, Cuiabá-

Bela Vista, São Vicente, Juína, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres, Pontes e

Lacerda, Campo Novo do Parecis, Confresa, Sorriso, Várzea Grande, Alta Floresta,

Primavera do Leste e ainda faz parte desta estrutura a Reitoria. Segue quadro

abaixo:

35

Quadro 2 - Levantamento de Criação dos Campi – Mato Grosso

Ano Campi

Campus Pré-existentes Cuiabá

Cáceres

São Vicente

Criados (2003/2010) Cuiabá-Bela Vista

Barra do Garças

Campo Novo do Parecis

Confresa

Juína

Pontes e Lacerda

Rondonópolis

Criados (2011/2012) Sorriso

Criados (2013/2014) Alta Floresta

Primavera do Leste

Várzea Grande

Total 14 Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora – Julho de 2014.

À essas Instituições de Ensino Superior (IES), o MEC determina como parte

integrante do processo avaliativo, o seu planejamento estratégico, que se

convencionou denominar de Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Este

define como missão para o IFMT,

Proporcionar a formação científica, tecnológica e humanística nos vários níveis e modalidades de ensino, pesquisa e extensão, de forma plural, inclusiva e democrática, pautada no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional, preparando o educando para o exercício da profissão e da cidadania com responsabilidade ambiental (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2009, p. 30).

O presente documento contem 05 (cinco) eixos: a missão e a visão,

institucional; as metas e ações propostas para desenvolver as políticas de ensino,

pesquisa e extensão em suas diversas modalidades; as perspectivas de crescimento

na oferta de vagas por número de matrículas, recursos humanos e dotação

orçamentária, e, a concepção de avaliação do desenvolvimento institucional.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Institucional (2009), as metas e

ações apontadas pelo PDE, respeitadas as possibilidades e condições atuais e

considerando a evolução das ações do plano de expansão da rede federal de

educação profissional e tecnológica, o IFMT tem por objetivos:

36

Ministrar educação profissional técnica de nível médio (mínimo de 50% de suas vagas), na forma de cursos integrados, subsequentes ou concomitantes, incluindo-se Educação de Jovens e Adultos (EJA);

Ministrar em nível de educação superior: cursos superiores de tecnologia visando à formação de profissionais para os diferentes setores da economia; cursos de licenciatura e programas especiais de formação pedagógica, com vistas à formação de professores para a educação básica (mínimo de 20% de suas vagas); cursos de bacharelado e engenharia, com à formação de profissionais para os diferentes setores da economia e áreas do conhecimento; cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização, para á formação de especialistas nas diferentes áreas do conhecimento e cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado, que contribuam para promover o estabelecimento de bases sólidas em educação, ciência e tecnologia, com vista ao processo de geração e inovação tecnológica.

Ministrar cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, nas modalidades presencial e à distância, objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e tecnológica;

Realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade;

Desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos;

Estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda, e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional;

Fomentar a cultura do empreendedorismo e de apoio à inovação tecnológica, em consonância com as ações em curso no Estado de Mato Grosso;

Apoiar a oferta do ensino de ciências nas escolas públicas das redes municipal e estadual.

As ações pertinentes ao plano de expansão da Rede Federal de Educação

Profissional e Tecnológica definida para o IFMT de modo a consolidar os objetivos

anteriores elencados, impõe o imperativo do mesmo atender a uma dinâmica

organizacional administrativa no sentido de efetivar as especificidades inerentes as

ações educativas concretas. Para que tal concretização seja efetivada em toda sua

complexidade, hoje o IFMT possui uma estrutura organizacional com ações setoriais

e conjuntas interligadas de tal forma que lhe permite atender a missão institucional,

a qual se destina.

Contudo, para o desenvolver das ações supra enunciadas é necessário existir

um corpo profissional capacitado para atuar tanto como segmente docentes quanto

os de técnicos administrativos, balizado pela natureza de cada uma das atribuições

que lhes são pertinentes nesse cenário institucional.

37

Assim, para que o IFMT atue com as demandas postas pela sociedade em

geral, o corpo administrativo mencionado conta com o/a profissional assistente

social, cujas atribuições específicas na instituição de ensino consistem em:

Descrição sumária do cargo:3

Prestar serviços sociais orientando indivíduos, famílias, comunidade e

instituições sobre direitos e deveres (normas, códigos e legislação),

serviços e recursos sociais e programas de educação;

Planejar, coordenar e avaliar planos, programas e projetos sociais em

diferentes áreas de atuação profissional (seguridade, educação, trabalho,

jurídica, habitação e outras);

Desempenhar tarefas administrativas e articular recursos financeiros

disponíveis;

Assessorar nas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Descrição de atividades típicas do cargo:

Orientar indivíduos, famílias, grupos, comunidades e instituições:

Esclarecer dúvidas, orientar sobre direitos e deveres, acesso a direitos

instituídos, rotinas da instituição, cuidados especiais, serviços e recursos

sociais, normas, códigos e legislação e sobre processos, procedimentos e

técnicas; ensinar a otimização do uso de recursos; organizar e facilitar;

assessorar na elaboração de programas e projetos sociais; organizar

cursos, palestras, reuniões.

Planejar políticas sociais: Elaborar planos, programas e projetos

específicos; delimitar o problema; definir público-alvo, objetivos, metas e

metodologia; formular propostas; estabelecer prioridades e critérios de

atendimento; programar atividades.

3 Essas atribuições, bem como as atividades típicas do cargo, estão disponíveis na Coordenação de Gestão de Pessoas do IFMT. Constituem a descrição dos cargos autorizados pelo Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão para o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativo em Educação.

38

Pesquisar a realidade social: Realizar estudo sócio-econômico;

pesquisar interesses da população, perfil dos usuários, características da

área de atuação, informações in loco, entidades e instituições; realizar

pesquisas bibliográficas e documentais; estudar viabilidade de projetos

propostos; coletar, organizar, compilar, tabular e difundir dados.

Executar procedimentos técnicos: Registrar atendimentos; informar

situações-problema; requisitar acomodações e vagas em equipamentos

sociais da instituição; formular relatórios, pareceres técnicos, rotinas e

procedimentos; formular instrumental (formulários, questionários, etc).

Monitorar as ações em desenvolvimento: Acompanhar resultados da

execução de programas, projetos e planos; analisar as técnicas utilizadas;

apurar custos; verificar atendimento dos compromissos acordados com o

usuário; criar critérios e indicadores para avaliação; aplicar instrumentos

de avaliação; avaliar cumprimento dos objetivos e programas, projetos e

planos propostos; avaliar satisfação dos usuários.

Articular recursos disponíveis: Identificar equipamentos sociais

disponíveis na instituição; identificar recursos financeiros disponíveis;

negociar com outras entidades e instituições; formar uma rede de

atendimento; identificar vagas no mercado de trabalho para colocação de

discentes; realocar recursos disponíveis; participar de comissões técnicas.

Coordenar equipes e atividades: Coordenar projetos e grupos de

trabalho; recrutar e selecionar pessoal; participar do planejamento de

atividades de treinamento e avaliação de desempenho dos recursos

humanos da instituição.

Desempenhar tarefas administrativas: Cadastrar usuários, entidades e

recursos; controlar fluxo de documentos; administrar recursos financeiros;

controlar custos; controlar dados estatísticos.

Utilizar recursos de informática.

Executar outras tarefas de mesma natureza e nível de complexidade

associadas ao ambiente organizacional.

Ante o conjunto de atribuições e competências profissionais precípuas

atribuídas aos/as assistentes sociais, pelo IFMT conta com a prestação de serviços

39

dos mesmos nos seguintes campi: Reitoria, Cuiabá-Cel. Octayde Octayde Jorge da

Silva, São Vicente, Juína, Rondonópolis, Barra do Garças, Cáceres, Pontes e

Lacerda, Campo Novo do Parecis, Confresa, Sorriso e Primavera do Leste. As

distribuições dos/as profissionais podem ser visualizadas no gráfico a seguir:

Gráfico 1 - Distribuição de Assistentes Sociais/Campi – IFMT

Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora – Julho de 2014

É pertinente reforçar que o objeto de estudo elegido, a atuação profissional

dos/as assistentes sociais no IFMT, faz presente em todos os itens e conteúdos

deste trabalho. Portanto, o mesmo voltará a ser tratado com o fim de manter a

unidade de pensamento adotada frente à temática em questão.

0 0,5 1 1,5 2 2,5

Alta Floresta

Campo Novo do Parecis

Cuiabá-Bela Vista

Juína

Primavera do Leste

Rondonópolis

Sorriso

Quantidade

40

3 A PROFISSÃO DE SERVIÇO SOCIAL

A definição do objeto deste estudo requer a investigação mais acurada sobre

a atuação profissional dos/as profissionais do serviço social na particularidade da

Educação Profissional e Tecnológica (EPT), enquanto elemento central no debate

desta dissertação. Respalda esta forma de pensar, a necessidade de efetuar um

estudo analítico do tema selecionado, articulando a sua contextualização a ótica da

atual situação vivenciada pelo país, em tempos de mundialização do capital. E, sem

prescindir, das legislações pertinentes e, em especial, a modalidade de educação

citada, considerando o papel fundamental que assume no processo da relação

capital e trabalho vigente no mundo do trabalho do século XXI.

Na política de educação, alguns elementos são fundamentais para se pensar

a categoria educação no debate da agenda do Serviço Social e, sua inserção no

universo educacional da EPT no processo de redemocratização do Brasil.

Dede modo, faz se necessário registrar que o Serviço Social se organiza

como profissão na divisão social do trabalho, no bojo do desenvolvimento capitalista

industrial e da expansão urbana, com o surgimento de classes sociais e grupos de

forças que compartilham lutas com o poder do Estado em conjunturas que emerge a

questão social, e suas múltiplas expressões, com as quais se concretiza o processo

de profissionalização do/a assistente social e seu ingresso no cenário político da

sociedade.

Falar do surgimento e inserção desta profissão no processo de produção das

relações sociais, requer também falar das expressões da questão social que geram

implicações, a partir das contradições existentes, na sociedade e assim desvelam,

por inúmeras vezes, no exercício profissional do/a assistente social.

Assim, as elaborações teóricas que analisam as determinações da dinâmica

estrutural do capitalismo, com seus rebatimentos na educação em foco e, na

atuação dos/as assistentes sociais norteados pelo projeto ético-político profissional

da categoria, demonstram a relevância da discussão da temática para o Serviço

Social.

Discorrer sobre o desenvolvimento do Serviço Social e os seus impactos na

atuação profissional do/a assistente social, faz-se necessário recorrer à discussão

que aborda as particularidades históricas da profissão, bem como os desafios frente

à reestruturação produtiva, a expansão dos serviços no capitalismo, a produção

41

industrial de serviço, as influências do ideário neoliberal, dentre outras discussões, e

acima de tudo, associa-las a discussão do tema deste trabalho.

3.1 Serviço Social: particularidades históricas e teóricas

O surgimento do Serviço Social brasileiro, na década de 1930, concomitante

ao aprofundamento da crise do capitalismo, tem sua origem em meio a uma

conjuntura turbulenta, devido às profundas transformações econômicas e sociais da

época.

A crise nos anos 1929 e 1930 deu origem ao processo de reorganização das

esferas estatal e econômica no Brasil, que com a expansão da industrialização,

gerou uma intensa migração de pessoas para a área urbana que resultou em uma

gama de problemas sócio-econômicos, a exemplo o elevado número de

desemprego e redução salarial, também, decorrentes de uma crise econômica de

âmbito internacional jamais vista à época, afetando inclusive a bolsa de valores

norte americana, o mercado de importação e exportação como do café, e

rebatimentos nos serviços de megas proporções.

A crise do comércio internacional em 1929 e o movimento de outubro de 1930

representam um marco importante na trajetória da sociedade brasileira, um

“processo revolucionário”, tendo em vista a luta da classe operária por melhores

condições de trabalho, frente à exploração abusiva da sua força de trabalho.

Essas problemáticas societárias resultaram num processo de iniciativas de

intervenção social que procuravam o enfrentamento dessas situações, e que

necessitam da participação de alguns profissionais, dentre eles o/a assistente social,

habilitados/as para enfrentar as múltiplas formas de expressões da questão social,

as quais conformam aspectos de desigualdades, antagonismos e manifestações que

passaram a se fazer presente no cotidiano da estrutura social vigente.

De acordo com Iamamoto (2004, p. 77),

questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia [...].

42

Segundo Iamamoto (2004, p. 127), a implantação do Serviço Social não se dá

apenas como medidas coercitivas emanadas do Estado a fim de combater a questão

social, mas surge da iniciativa de grupos de classe que se manifesta por intermédio

da Igreja Católica.

Assim, pode se ousar dizer que a gênese da profissão do Serviço Social tem

elemento basilar dual a formatação, vinculada a questão social, sob lastros

conservadores, oriundos da iniciativa de movimentos leigos articulados à Igreja

Católica.

Esse período da década de 1930/1940, marca também, o protagonismo dos

movimentos operários que passam a requerer melhores condições de trabalho, de

vida em franco manifesto contrário à exploração de sua força de trabalho pelas

classes dominantes. Ou seja, contra a voracidade do capital pelo trabalho

excedente, visto que a burguesia, em seu processo de acúmulo de capital, utilizava

mecanismos de coerção e controle da reprodução da força de trabalho e

apropriação da produção excedente que geravam.

Nas análises de Iamamoto (2004, p. 36), “trabalho excedente é o trabalho não

pago apropriado pela classe capitalista, embora, o trabalho excedente não tenha

sido inventado pelo capital”. Contudo, onde quer que uma parte da sociedade

possua o monopólio dos meios de produção nos encontramos com o fenômeno de

que o trabalhador, livre ou escravizado, tem que acrescentar ao tempo de trabalho

necessário para poder viver uma quantidade de tempo suplementar, durante o qual

trabalha para produzir os meios de vida destinados e a riqueza acumulada do

proprietário dos meios de produção.

Algumas parcelas da população industrial viviam em situações angustiantes,

pois os salários recebidos eram ínfimos, as mulheres e crianças eram submetidas

como complemento da força de trabalho subjugada a extensas horas de trabalho e

sem direito a férias, a seguro e quaisquer outras formas protetivas. Neste momento

entra em cena e com destaque a organização de luta do proletariado para defesa de

seus interesses com significativo protagonismo político para aquele tempo.

43

Na década de 1930, o Serviço Social, como profissão, segundo Paulo Netto

(2011, p. 18), se investe em condutas filantrópicas e assistencialistas que

convencionalmente se consideram as suas protoformas4

No prisma dessa interlocução, afirma Iamamoto (2004, p. 21), que as ações

da profissão, nesse período “mantinham um caráter técnico-instrumental de cunho

conservador com o intuito de organizar o proletariado”, adaptá-lo ao contexto

capitalista sem causar maiores transtornos e ameaças ao sistema vigente. O

conservadorismo não contesta o capital, obscurece as contradições do capitalismo,

favorece a manutenção e a reprodução de relações desiguais, pois, essa ordem

utiliza vários mecanismos para obter o consentimento da classe subalterna à sua

nova lógica.

O cenário conturbado das décadas de 1940/1950 e as ações do proletariado

pressionam o Estado a incorporar parte das reivindicações populares, por meio das

instituições assistenciais, regulamentando não só a força de trabalho, mas também

estabelecendo e controlando políticas sociais assistenciais direcionadas às classes

subalternas. Situação que proporcionou a expansão das instituições sócio-

assistenciais, no exato momento em que a profissão é legitimada dentro da divisão

social e técnica do trabalho.

Em decorrência desse momento, amplia-se o mercado de atuação

direcionado aos/as assistentes sociais que, passa a ter como principal demanda,

não só pequenas parcelas vulnerabilizadas, mas amplos setores da classe

trabalhadora, cujos elementos são partes constitutivas do processo de

institucionalização do Serviço Social.

Mudanças que seguem seu curso até início dos anos 60, quando surge uma

renovação no âmbito da profissão, que consiste em repensar sua atuação teórico-

prática, política e ética, de forma abrangente e plural, assim expressos por

Iamamoto (2001, p. 203),

[…] a abertura para mais longe – para o amplo horizonte do movimento da sociedade – é que torna possível iluminar as próprias particularidades do Serviço Social, apreendendo-o na trama de relações que explicam sua gênese, seu desenvolvimento, seus limites e possibilidades.

4 Entende-se por protoformas, ações das instituições surgidas após a Primeira Guerra Mundial que favoreceram a criação das primeiras escolas de Serviço Social na década de 1930.

44

Renovação chamada de “Movimento de Reconceituação”, que eclodiu na

América Latina, com o intuito decisivo de desencadear o processo de revisão crítica

do Serviço Social, em uma primeira aproximação com o debate da tradição marxista

no contexto brasileiro, pondo em cheque o conservadorismo e tradicionalismo que

pautavam o agir profissional até o momento.

Em que pese o processo aventado, ter emergido desnudando a necessidade

interna da profissão se repensar numa perspectiva modernizadora, mas, na

realidade sua prática era de cunho conservador em função do regime ditatorial

vigente. Houve avanços com os movimentos sociais e os tecnológicos, mas, sem

esquecer de registrar que o foram ainda de maneira tímida, pois prevalecia o ideário

de trabalhar o indivíduo na perspectiva de ajustar a sociedade, pois a estrutura posta

era perfeita, o ser em desarmonia, desajustado com o meio em que vivia.

Dos elementos apontados nas décadas de 1930,1960 e na década de 1980 é

importante registrar que essas discussões da categoria profissional, nessa última,

foram pertinentes para legitimar a profissão e ainda buscar a ruptura da prática

conservadora, construindo uma possível intervenção estatal pós-crise capitalista,

nos dizeres,

Os anos 1980 foram marcados por uma revolução tecnológica e organizacional na produção […], da corrida tecnológica em busca do diferencial de produtividade do trabalho, como fonte de superlucros; pela mundialização da economia, diga-se, uma reformulação das estratégias empresariais e dos países no âmbito do mercado mundial de mercadorias e capitais, que implica uma divisão do trabalho e uma relação centro/periferia, combinada ao processo de financeirização; e pelo ajuste neoliberal, especialmente com um novo perfil das políticas econômicas e industriais desenvolvidas pelos estados nacionais, bem como um novo padrão da relação Estado/sociedade civil, com fortes implicações para o desenvolvimento de políticas públicas, para a democracia e para o ambiente intelectual e moral (BEHRING, 2008, p. 34).

Diante do contexto histórico e político no qual se apresenta a questão social,

é que o capitalismo, pelas suas dinâmicas e contradições, cria condições para que o

Estado legitime suas ações por meio das mencionadas políticas sociais. As políticas

públicas, a partir das transformações econômicas, tais como globalização,

precarização das relações de trabalho, se enfraquecem e facilitam a ascensão das

políticas privadas, e não governamentais, em cobertura ao distanciamento e vácuo

deixado pelo Estado, cada vez mais tem se eximido do cumprimento de seu papel

junto a sociedade.

45

Essa ótica é também embasada por Behring e Boschetti (2011, p. 43), ao

afirmar que para analisar a política social em seu complexo e contraditório processo

de produção e reprodução, deve-se considerar suas múltiplas causalidades e

conexões internas evidenciadas a seguir,

Do ponto de vista histórico, é preciso relacionar o surgimento da política social às expressões da questão social que possuem papel determinante em sua origem. Do ponto de vista econômico, faz-se necessário estabelecer relações da política social com as questões estruturais da economia e seus efeitos para as condições de produção e reprodução da vida da classe trabalhadora. Do ponto de vista político, preocupa-se em reconhecer e identificar as posições tomadas pelas forças políticas em confronto, desde o papel do Estado até a atuação de grupos que constituem as classes sociais e cuja ação é determinada pelos interesses da classe em que se situam.

Em consonância com a afirmação acima, depreende-se que na sociedade

capitalista contemporânea, as políticas sociais são expressões concretas das

contradições e dos antagonismos presentes nas relações entre as classes e destas

com o Estado que molda sua resposta de modo a,

Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista procura administrar as expressões da ‘questão social’ de forma a atender às demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso variáveis, mas operantes (PAULO NETTO, 2011, p. 30).

A intervenção do Estado, por meio das políticas sociais, atualmente são

efetivadas de forma fragmentada e parcializada, atuando em problemáticas

pontuais, enquanto estratégia do próprio capital, sem considerar a estrutura em sua

totalidade, pois a problemática maior se dá na contradição entre capital e trabalho,

que renova suas táticas predadoras a nova crise cíclica que afeta de tempos em

tempos.

Atualmente essa contradição, marcada pela mundialização do capital e seu

processo de acumulação, está cada vez mais crescente e impactam as condições

de vida dos/as trabalhadores que passam a fazer parte do chamado “exército

industrial de reserva”.

Este processo de contradição se constitui em um espaço de atuação do

Serviço Social, cujos profissionais assumem uma postura atenta a toda essa

configuração social, política e econômica que permeia a realidade brasileira e,

46

consequentemente, na prestação de seus serviços. Consequências que tem exigido

cada vez mais aos profissionais, buscarem capacitação permanente para enfrentar

as demandas dadas pela realidade social, na ótica dos direitos. Portanto, a essa

profissão exige-se,

[...] que reforce e amplie a sua competência crítica; não só executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e decifra a realidade. Alimentado por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano tem ampliadas as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida em sociedade. O novo perfil que busca construir é de um profissional afinado com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional criativo e inventivo, capaz de entender o tempo presente, os homens presentes, a vida presente e nela atuar, contribuindo, também, para moldar os rumos de sua história (IAMAMOTO, 2001, p. 49).

Posicionamento crítico exigido do/a assistente social frente à conjuntura

político-econômica cada vez mais evidenciada pelas manifestações reivindicatórias

de direitos postos em curso pelos movimentos sociais e manifestações populares

em geral. Dessa forma, a profissão passa a se articular a movimentos de ordem

geral mais amplo, vinculando-se a projetos que envolvem não só a categoria, mas

outras profissões que comungam do mesmo projeto ético-político e a sociedade de

uma forma mais ampla.

O Projeto ético-político do Serviço Social que começou a ser engendrado no

final da década de 1970 e sua consolidação nos anos 1990, precisamente em 1993

com a elaboração do Código de Ética Profissional dos/as Assistentes Sociais,

compreendem concepções, valores e compromissos éticos, baseados em direitos,

deveres e sanções, cujo princípio fundante é a liberdade para uma emancipação.

Esses aportes aliam-se ao projeto societário assumido pelos/as profissionais

em defesa de uma sociedade justa e igualitária, e mecanismos relacionados à

qualidade dos serviços prestados a população e os direitos humanos dos usuários.

Com esse avanço, parte da categoria dos profissionais abandona o praticismo

tradicional, ou seja, a prática não refletida, para iniciar a discussão do pluralismo,

enquanto fenômeno social e político, de matrizes teóricas que consistem em discutir

a construção do conhecimento respeitando as diferenças existentes na formação

societária mais ampla.

Para caracterizar a atuação do/a assistente social, na atualidade é preciso

diferenciar o profissional, que partilha de um “projeto profissional enraizado no

47

processo histórico e apoiado em valores radicalmente humano” (IAMAMOTO, 2009,

p. 342).

No entanto, apesar dessa nova direção assumida pela quase totalidade da

categoria profissional não se pode esquecer de registrar que os trabalhos

desenvolvidos, possuem particularidades, pois em respeito a diferença existente,

parcelas de profissionais discordam e distanciam dessa matriz majoritária no seio do

serviço Social. Os profissionais na proporção equacionada, consideram sua atuação

pautada pelo projeto citado e tem como categoria central a concepção de um núcleo

indicativo de valores fundamentais e coletivos a serem alcançados no cotidiano

institucional, de acordo com a passagem teórica assim elaborada,

O/A assistente social ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de trabalhadores que implementa as ações institucionais/empresariais, cujo resultado final é fruto de um trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados nos vários espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2009, p. 352).

Vale ressaltar que neste contexto, é um grande desafio para a profissão

consolidar sua atuação com qualidade, tendo em vista o citado retraimento do

Estado frente à responsabilização em relação às políticas sociais e a expansão dos

direitos sociais.

3.2 A centralidade da atuação profissional do/a assistente social na

contemporaneidade

O padrão de desenvolvimento econômico e social, aliado a expansão do

capital, prevê novas necessidades na dinâmica da sociedade brasileira, bem como

aos profissionais de Serviço Social no que tange a apreensão do significado social

da profissão. De acordo com Brites e Sales (2003, p. 21), “surge num cenário de

efervescência social e política de emergência de um conjunto de forças sociais que

questionavam a ordem social vigente” e a visão do ser social, suas capacidades

essenciais construídas no processo das relações sociais desenvolvidas

historicamente. Aspectos que são constitutivos da profissão e vão sendo definidos a

partir do próprio movimento impresso no curso da história. Assim, é de suma

importância compreender a gênese da profissão, seus referenciais teórico-

48

metodológicos, a dimensão ética e política que a abaliza para entender a dinâmica

profissional na atualidade.

Porém, quando se fala em atuação profissional do/a assistente social, requer

remeter a categoria trabalho. Montaño (apud LUKÁCS, 2011) aponta o “trabalho

como uma atividade criadora teleologicamente orientada”. Concepção que

caracteriza o trabalho como parte da constituição do ser social, pois este possui

capacidade de elaborar no campo da ideia, liberdade de escolher a atividade a ser

realizada, com condições de prever o resultado. Frente ao complexo processo das

relações travadas entre os homens, seres sociais na sociedade capitalista ao

analisar a categoria trabalho nesse modo de produção, requer ressuscitar autores

clássicos, os primeiros a nos legar suas contribuições reflexivas sobre a categoria

trabalho e as usual do Serviço Social.

No modo de produção em pauta, o trabalho é visto como uma atividade que

cria valor, que se realiza pelo comando do capital, reforçando assim, aventada

subsunção do trabalho ao capital, como mostra o autor a seguir,

[...] essa relação (entre capital e trabalho), longe de realizar a ‘liberdade’, é uma relação de exploração e alienação. Portanto, o trabalho, ontologicamente determinante do ser social e da liberdade, na sociedade comandada pelo capital promove a exploração e alienação do trabalhador – o trabalho assalariado, portanto, desumaniza o trabalhador (MONTAÑO, 2011, p. 81).

No século XX, a sociedade brasileira, observou fenômenos marcantes,

tangente a análise da categoria trabalho nesse prisma dual contido na afirmação

acima mais especificamente aos seus desdobramentos, impactos sob o comando do

capital. Dentre eles constam a abertura comercial, fusões e aquisições de grandes

empresas, movimento de mercantilização e liberação dos fluxos internacionais,

dando abertura ao processo de reestruturação produtiva.

O processo de reestruturação interfere de forma férrea nas esferas da

produção, com vistas a aumentar as taxas de lucro e o uso de novas tecnologias; na

esfera da circulação, pertinente à reorganização do mercado consumidor e na esfera

sócio-política e institucional através da implementação de mecanismos que regulem

as relações sociais de trabalho e produção. Reestruturação que por suas bases

fundantes, ancoradas no ideário neoliberal, consequentemente, seus princípios se

49

norteiam pela regulação estatal mínima, objetivando um reordenamento societário

sob o domínio do capital.

Esses processos são cada vez menos capazes de gerar empregos para

população economicamente ativa, contribuindo para aumentar o número de

desemprego, atualmente no sentido estrutural. Assim, aprende-se que o

[...] processo de trabalho submete-se à lei geral da acumulação capitalista, mostrando uma tendência decrescente da parte variável do capital (a força de trabalho). O resultado: maior desemprego e subemprego (MONTAÑO, 2011, p. 81).

Assim o mundo do trabalho, composto majoritariamente por segmento

desprotegido, torna-se núcleo central das políticas sociais, tendo em vista que estas

são concebidas como um mecanismo de intervenção e regulação do Estado, datado

do processo de mudança do capitalismo concorrencial para o monopolista. Fase

cujo objetivo constitui em garantir lucros aos monopólios, determinando um conjunto

de necessidades sócio-econômicas e políticas, originárias das relações entre capital

e trabalho5. Nos dizeres de um dos mais profícuos interlocutores da matriz de

pensamento,

[...] o capitalismo monopolista recoloca, em patamar mais alto, o sistema totalizante de contradições que confere à ordem burguesa os seus traços basilares de exploração, alienação e transitoriedade histórica, todos eles desvelados pela crítica marxiana (PAULO NETTO, 2011, p. 19).

Portanto, nessa fase acima aludida por Paulo Netto, as lutas de classes,

instrumentos para apresentar as contradições e diminuir a desigualdade, assumem

papel de grande relevância ao revelar a revolta dos trabalhadores e sua luta para

enfrentar as adversidades advindas da exploração do trabalho. A qual se concretiza

porque esses trabalhadores, que não possuem os meios de produção, são

obrigados a vender sua força de trabalho em troca de um salário que satisfaça suas

necessidades básicas.

5 O período de transição do capitalismo concorrencial para a fase monopolista gerou a publicização de alguns aspectos da condição de trabalho, saúde do trabalhador, no qual o Estado teve que intervir de forma ampla, na regulação e proteção do trabalho, pois possuíam necessidades estruturais advindas do processo de acumulação capitalista e os conflitos de classe.

50

Segundo os autores citados, a consciência de classe está imbricada neste

processo, e, que se torna visível, ao se efetivar a análise da própria realidade, a

partir da constituição interna do indivíduo em sua objetividade e subjetividade,

levando em consideração inclusive o espaço da alienação cotidiana em que viva e

do modo assim descrito,

[...] ao superar a mera percepção imediata e parcial da realidade e a alienada vida cotidiana sob hegemonia do capital, desmistificando a ideologia hegemônica, desenvolve-se uma consciência humano-genérica, em que se dá o trânsito de uma consciência-em-si para uma consciência-para-si. Desenvolve-se uma consciência de classe (MONTAÑO, 2011, p. 110).

Dessas colocações, depreende-se que a atuação profissional do/a assistente

social não está fora das determinações do processo estrutural do capitalismo, visto

que os profissionais são trabalhadores assalariados, pois se “inserem numa relação

de compra e venda de mercadorias em que sua força de trabalho é mercantilizada”,

conforme afirma Iamamoto (2004, p. 85).

Diante desse processo do capitalismo monopolista, Almeida e Alencar fazem

uma análise como exposto abaixo,

[...] o Serviço Social é apreendido como uma profissão que se institucionaliza em função das particularidades assumidas pela dinâmica das classes sociais e do Estado em um contexto bastante singular de consolidação e expansão do capitalismo monopolista. Deste modo, inaugura uma forma de percepção desta institucionalidade que ultrapassa e nega as elaborações endógenas à profissão, buscando um quadro analítico no qual a dinâmica entre produção e reprodução social constitui uma unidade dialética e a mediação política e econômica do Estado ganha destacado significado para situar a natureza do Serviço Social no circuito das profissões e das relações sociais necessárias à reprodução do modo de produção capitalista (ALMEIDA; ALENCAR, 2011, p. 123)

Esta-se a corroborar que o percurso histórico do Serviço Social é marcado

pela dinâmica das classes sociais e pelo modo como o Estado opera suas ações.

Nesta trajetória são observadas as reiteradas contradições advindas da relação

entre capital e trabalho em meio a uma arena de disputas societárias, no qual se dá

o movimento de organização da profissão, conforme ainda apontada por Almeida e

Alencar (2011, p. 120),

51

[...] desse modo, a profissão caracteriza-se a partir da combinação entre seu movimento político-organizativo interno e os processos afetos à dinâmica da reprodução social em sentido amplo, ou seja, como totalidade concreta na qual as relações sociais criam e recriam as condições necessárias à continuidade do modo de produção capitalista, e em sentido estrito, no que se refere aos mecanismos de reprodução material e espiritual da força de trabalho.

A partir dessa caracterização acima citada, o Serviço Social passa a assumir

novas relações que se desvelam no caráter interventivo e educativo da profissão,

que requer atenção ao movimento do capital, conforme é preconizado a seguir,

O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui apreendidos sob ângulo das novas classes sociais emergentes – a constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial – e das modificações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o poder do Estado em conjunturas históricas específicas (IAMAMOTO, 2004, p. 77).

Decorrente da percepção analítico-crítica é que se considera como o Estado

se coloca a respeito da oferta de serviços sociais, que embora no plano do discurso

oficial preconize o atendimento dos direitos à população a qual se destina suas

ações, na prática, estudos históricos evidenciam, na íntegra, que não são

direcionadas, realmente, a todos os indivíduos que deles necessitam. Prevalecem

na prestação de serviços, critérios extremamente seletivos, pontuais e focalizados e

não emancipatórios. As políticas se voltam à atender em maior número os que estão

em uma zona de extrema pobreza, apenas na concepção de ter acesso mínimo à

sua sobrevivência cada vez mais em condições pauperizadas.

Na atualidade, para entender as transformações na esfera do trabalho e dos

serviços é de extrema importância conhecer às bases do ideário neoliberal e seus

princípios que se norteiam pela regulação estatal mínima, objetivando um

reordenamento societário sob o domínio do capital. Determinações que trazem

graves consequências para a vida cotidiana dos/as trabalhadores, tais como a perda

de direitos trabalhistas conquistados, precarização do trabalho, aumento do

desemprego, do subemprego, corte nos gastos sociais, promulgação de legislação

anti-sindical, privatizações em geral e fusões empresariais diversas.

As mudanças elencadas convocam a categoria profissional para engajar em

novas proposições e compromissos com a luta contra o avanço neoliberal. Cujas

52

transformações societárias que ao mesmo tempo modificam a realidade

contemporânea das pessoas, também impactam o exercício profissional do Serviço

Social.

Os/as assistentes sociais comprometidos com a consolidação do Estado

democrático dos direitos requer o fortalecimento de uma intervenção crítica,

autônoma, ética e politicamente comprometida com a classe trabalhadora e com as

organizações populares de defesa dos direitos.

Nesse sentido, a reflexão de atuação profissional sobre a política de

educação profissional, perpassa as temáticas com as quais o/a profissional trabalha

no cumprimento de suas atribuições, frente às atividades que desenvolve.

Assim, pode-se apreender que a conexão do Serviço Social e educação

ocorrem quando o segundo ocupa um lugar central no âmbito das lutas sociais

voltadas a busca da superação das mazelas causadas pelo capital com as mais

diversas formas de opressão. Área que comporta trabalho multidisciplinar entre

educadores e profissionais da área social, dado a complexidade multifacéticas dessa

realidade se expressar e, que conclamam ações efetivas possibilitadoras de minorar

as referidas mazelas e transformar os efeitos lesivos e danosos causados.

3.3 A política de educação na agenda do serviço social

O debate da inserção do Serviço Social na área da educação está presente

há décadas na agenda no tocante a expansão do exercício profissional para

diversos espaços sócio ocupacionais compatíveis com o desenvolvimento das

competências e atribuições que são inerentes a profissão, quando o Brasil começa a

enfrentar novas expressões da questão social, particularmente as de cunho sócio-

econômico eclodidas no decênio de 1930. Período em que a educação passa a ser

reconhecida como questão nacional, se rememorar que a Constituição Federal de

1934, determinava no art. 5º item XIV – Traçar as diretrizes da educação nacional.

Ao partir do marco constitucional de 1934 e aproxima-lo da verve analítica da

premissa basilar de fundamentação da Constituição Federal de 1988, ao promulgar

a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família, a ser promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da

cidadania e à sua qualificação para o trabalho”, verifica-se plena concordância com

53

o projeto ético político profissional do Serviço Social que além desta contempla

outras questões.

Sobre os direitos de cidadania, Coutinho (2005, p. 12), aponta que,

[...] os direitos de cidadania são precisamente o que Marshall chamou de direitos sociais (uma designação que pode levar a equívocos, já que todos os direitos, inclusive os civis e políticos, são sociais por sua origem e vigência). [...] Os direitos sociais são os que permitem ao cidadão uma participação mínima na riqueza material e espiritual criada pela coletividade. (Esse mínimo, seguindo o que Marx já havia estabelecido em relação ao salário, não deve ser concebido apenas com base em parâmetros naturais, biológicos, mas deve ser definido, sobretudo historicamente, como resultado das lutas sociais).

No entanto, Almeida e Alencar (2011, p. 5), aponta que, “é a partir da década

de 1990, [...] se visualiza, no Brasil, um considerável aumento de profissionais do

Serviço Social na área da educação.”

Assim, na década de 1990 como afirma a política de educação ganha

destaque nos espaços de discussão da categoria do Serviço Social,

especificamente, por meio dos Encontros Nacionais do conjunto CFESS/CRESS, e

também de Comissões e Grupo de trabalho, criados pelos mesmos, para discutir e

elaborar documentos normativos sobre a temática para que os conselhos

orientassem a categoria quanto a um posicionamento oficial6.

Portanto, a política de educação no Brasil é um legítimo espaço de disputa

entre as classes sociais, conforme ocorre ao longo das mudanças que marcam a

trajetória histórica desse importante setor da formação societária. Sua constituição

tem se dado no discurso das elaborações de plano de desenvolvimento que

orientam a erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar,

melhoria na qualidade do ensino, dentre outros aspectos de relevância que em

suma, significam a própria constituição do ser social enquanto cidadão de direitos.

Entretanto, é interessante registrar que todas as orientações processadas

nesse setor da educação, advieram de exigências dos organismos internacionais,

como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, nas últimas décadas do

6 Toda trajetória de discussão dos Encontros Nacionais do conjunto do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) - Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) com relação a educação pode ser estudada no documento intitulado Subsídios para o Debate do Serviço Social na Educação, elaborado em 2011, pelo Grupo de Trabalho do CFESS com composição de representantes dos CRESS de todas as regiões do Brasil.

54

século XX. Na atualidade, oferecem coordenadas para o Ministério da Educação a

partir de conceitos e demandas a serviço do modelo produtivo hegemônico

concebido por essa ingerência externa no país. Na realidade, a relação entre o

Banco Mundial e as políticas educacionais brasileiras é pautada pelos ditames do

primeiro, considerando que se trata de um país periférico em fase de

desenvolvimento, cujo resultado remonta a uma parceria de três décadas e diversos

enfoques, decorrentes do processo de reestruturação tecnológica e dos programas

de ajustes estruturais efetivados.

Pereira (2000, p. 159), afirma que o período neoliberal, “foi o período da

proteção social brasileira que mais enfaticamente incorporou as determinações

externas de mudanças econômicas e políticas”.

É inegável admitir a contribuição do Estado para com o processo de

subsunção do trabalho ao capital, inclusive na área de educação, no contexto das

transformações do mundo do trabalho com o advento da reestruturação produtiva do

capital e da crise do paradigma de regulação keyneziano-fordista, na emergência do

neoliberalismo.

Ritos de passagem que, segundo Antunes (2011, p. 24), revelam,

Novos processos de trabalho emergem, onde o cronômetro e a produção em série e de massa são substituídos pela flexibilização da produção, pela especialização flexível, por novos padrões de busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado.

O conjunto de novos processos de trabalho geram uma gama de impactos e

transformações no eixo e no significado que a educação tem adquirido frente às

profundas alterações estruturais. No entanto, igualmente verídico, é afirmar que as

alterações nos procedimentos de trabalho não apontam para a superação das

relações capitalistas em sua essência, que consiste em obter a exploração do

trabalho humano e o total controle privado dos meios de produção.

Diante das explicitações anteriores e mediante as coordenadas do CFESS e

CRESS, na atualidade é possível afirmar que,

As demandas apresentadas aos/as assistentes sociais em relação à educação nunca estiveram limitadas a uma inserção restrita aos estabelecimentos educacionais tradicionais, sendo acionadas também a partir das instituições do poder judiciário, das empresas, das instituições de qualificação da força de trabalho juvenil e adulta, pelos movimentos sociais,

55

entre outras, envolvendo tanto o campo da educação formal como as práticas no campo da educação popular (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 16).

Assim, cabe afirmar que a educação possui uma função importante no

processo de reprodução social e emergência das contradições advindas da relação

complexa entre capital e trabalho, enfrentada pelos educadores em geral e, por

desdobramento aos/as assistentes sociais que trabalham nessa área. Afirmação que

pode ser apreendida na reflexão de Frigotto (2008, p. 14) “tanto a educação quanto

o profissional de Serviço Social e o objeto de sua prática são práticas sociais”. Ou

seja, estão no cerne das relações sociais, do contexto histórico, na sociedade

capitalista, e demais espaços e formas sociais onde essa práxis é realizada.

No entanto, mesmo com inúmeras reformas educacionais em sua trajetória

histórica, os problemas estruturais persistem e se tornam transversais nas demais

temáticas recorrentes ou emergentes na realidade social, política, econômica e

cultural brasileira. Dentre eles constam, os mais baixos índices de rendimento,

evasão escolar, desinteresse pelo aprendizado, indisciplina, violência de formas e

graus diversos, uso e tráfico de drogas e muitas outras questões que clamam

enfrentamento das três esferas de governo: federal, estadual e municipal.

Assim, o aumento da inserção do Serviço Social na área educacional se

efetiva a partir da década de 1990. Expressa o aprofundamento dessa reflexão em

consonância com o projeto ético político profissional, respaldado pelos instrumentos

legais ora rememorados, a Lei 8.662 de 1993 e o Código de Ética do Serviço Social

de 1993, que legaliza, normatiza e orienta as particularidades do trabalho

profissional do/a assistente social. Recorda-se que ambos estão vigentes e,

sancionados em 1993, estabelecem marcos legais, parâmetros ético políticos,

técnicos e operativos relacionados à atuação profissional do Serviço Social.

Propugnam também a defesa dos direitos humanos, a ampliação e efetivação da

cidadania por meio da consolidação dos direitos civis, sociais e políticos sempre

pautados pelos princípios de liberdade, democracia, equidade e justiça social.

No processo histórico do Serviço Social, a luta para a inserção na área da

educação, teve avanços significativos, todavia, ainda é um campo árduo e árido que

apresenta grandes dificuldades e incertezas apesar da crescente parcela de

profissionais dedicados a mesma no Brasil. Há décadas, esse debate foi posto em

cena com a luta pela efetivação do direito social a educação e, a consolidação do

56

Serviço Social no âmbito desta política pública. Ratifica-se as reivindicações em

defesa de uma intervenção de qualidade dos serviços prestados a esse público alvo,

a partir do domínio e aprofundamento teórico-metodológico, compromissado com a

ética e a reiterada política de qualificação técnico-operativa, enquanto competências

e elementos indissociáveis da formação e exercício profissional, conforme aponta

Lewgoy (2010, p. 149),

A dimensão ético-política, atenta à finalidade da ação e do compromisso profissional, é elemento mediador constituído por postura crítico-interventiva sobre os fundamentos e o sentido atribuído aos conteúdos, ao método, aos objetivos, tendo como referência a afirmação dos direitos. Vincula-se à dimensão teórico-metodológica, que articula teoria-método e metodologia e privilegia a história social como terreno germinador das demandas e das possibilidades do conhecimento e das práticas. Ambas as dimensões atrelam à técnico-operativa, que, caracterizada pelo domínio dos conteúdos de sua área específica de conhecimento, é uma instância de passagem que permite a realização da trajetória da concepção da ação à sua operacionalização.

Das reflexões disponibilizadas por Iamamoto, a inserção do Serviço Social

nos organismos institucionais são deportadas algumas características da prática

profissional que conformam um perfil peculiar ao Serviço Social, onde essa inerência

abaixo se desvela como,

[...] o Assistente Social vinculado, no exercício profissional, a organismos estatais, paraestatais ou privados, dedica-se ao planejamento, operacionalização e viabilização dos serviços sociais à população. Exerce funções tanto de suporte à racionalização do funcionamento dessas entidades, como funções técnicas propriamente ditas. Do ponto de vista da demanda, o Assistente Social é chamado a constituir-se no agente intelectual de ‘linha de frente’ nas relações entre instituição e população, entre os serviços prestados e a solicitação dos mesmos serviços pelos interessados (IAMAMOTO, 1992, p. 100).

Este papel citado acima, impõe desafio ímpar de discutir o Serviço Social na

esfera educacional para além do entendimento da educação restrita ao ambiente

escolar, mas, considerando-o com as múltiplas expressões que se manifestam

cotidianamente nesse espaço e correlaciona-las aos impactos globalizantes

causados na contemporaneidade.

É assim que o Serviço Social, na área da educação profissional e tecnológica

ganha concretude, à medida que via o atendimento direto da população, revestidas

de significados e consequências que extrapolam o âmbito escolar, e atinge o familiar

57

e societário em geral. Imbricações que Santana (2008, p. 24) pontua que há de se

olhar também outro ângulo de atuação dos/as assistentes sociais na política

educacional abarcando outras dimensões mais amplas, inclusas as de

planejamento, gerência e/ou coordenação. Para Teixeira (2009, p. 554) diz,

O Serviço Social vem alçando funções de coordenação e liderança em vários espaços do Poder Judiciário, Executivo e Legislativo, precisando estar preparado para os trabalhos de gestão e planejamento que lhe atribuem. A cada Ministério, a cada Secretaria e a cada órgão está composta a responsabilidade de elaborar suas políticas, seus planos, programas e projetos e de supervisionar serviços e benefícios.

Fica evidente que os/as profissionais do Serviço Social em sua atuação

profissional, possuem condições de atribuir valor ético a sua prática efetiva e

consciente, através dos posicionamentos políticos assumidos pela categoria

coletivamente que em suma refere-se a própria natureza ética profissional do

Serviço Social, vez que,

A ética profissional se objetiva como ação moral, através da prática profissional, como normatização de deveres e valores, através do código de ética profissional, como teorização ética, através das filosofias e teorias que fundamentam sua intervenção e reflexão e como ação ética e política. Cabe destacar que essas não são formas puras e/ou absolutas e que sua realização depende de uma série de determinações, não se constituindo na mera reprodução da intenção dos seus sujeitos (BARROCO, 2009, p. 175).

Ante a concepção acima, é pertinente indagar, quais são as principais

demandas apresentadas para o Serviço Social que no intrincado das relações

travadas no espaço educacional em pauta lhe permite por em prática esse

ordenamento profissional? E quais os desafios e as particularidades para efetivação

dessa concepção ética política pelo Serviço Social na escola?

A égide dessa reflexão, entende ser de extrema importância discutir a

natureza, conteúdo e direção que a política social de educação contem, e também,

com o Serviço Social, nela se coloca no intento de evitar o equívoco de caber ao/a

assistente social solucionar os problemas de todas e quaisquer ordens correntes na

instituição, mas no seio destas, fortalecer sua identidade profissional frente aos/as

outros/as profissionais com as quais fazem a interlocução nessa aera. Portanto, não

é redundante reafirmar que atualmente são muitas as discussões sobre as

diferentes formas que as expressões da questão social vem atravessando o

58

cotidiano do universo educacional, implicando ter sempre presente a contribuição de

Behring (2009, p. 273),

[...] uma interpretação da questão social como elemento constitutivo da relação entre a profissão e a realidade social na linha adotada pelas diretrizes tem algumas implicações. Trata-se de imprimir historicidade a esse conceito, o que significa observar seus nexos causais, relacionados, às formas da produção e reprodução sociais capitalistas no capitalismo. [...] E o debate deve incorporar, necessariamente, os componentes de resistência e de ruptura presentes nas expressões e na constituição de formas de enfrentamento da questão social, ou seja, este conceito está impregnado de luta de classes, sem o que se pode recair no culto da técnica, numa política social de controle sobre os trabalhadores pobres, e não de viabilização de direitos.

Concepção que justifica aos/as profissionais do Serviço Social, imprimir a sua

atuação em áreas complexas, todo o vigor desses parâmetros que lhes possibilite

efetivamente agir frente à desigualdade social que abarca a sociedade atual como

um todo.

Dentre os desafios e desdobramentos apresentados à profissão, os/as

assistentes sociais, na política educacional, assumem a proposição de vincular a

concepção de educação e de sociedade tendo como referência à construção de uma

nova ordem societária, que “supõe a erradicação de todos os processos de

exploração, opressão e alienação” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL,

2011, p. 22).

Dada a essa concepção, a área educacional reafirma-se como importante

espaço de atuação profissional para o Serviço Social à medida que, as expressões

da questão social se manifestam, também, em toda sua diversidade nessa

ambiência, principalmente ao imprimir uma atitude teórico-metodológica analítica,

crítica e propositiva que contemple a historicidade a fim de evitar nortear pelo senso

comum, possibilitando construir reflexões teóricas mais contributivas à realidade na

ótica de totalidade e, desta forma, objetivar-se assertivamente ações de qualidade

no exercício profissional às demandas recebidas.

Há que rememorar, que os trabalhos desenvolvidos pelos/as assistentes

sociais com suas respectivas particularidades, não perdem de vista as normativas

presentes no projeto ético-político profissional, possuidor de um núcleo indicativo de

valores fundamentais e históricos a serem alcançados e, consolidados no cotidiano

institucional, porque na ótica da autora a seguir citada ocorre que,

59

O/A assistente social ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de trabalhadores que implementa as ações institucionais/empresariais, cujo resultado final é fruto de um trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados nos vários espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2009, p. 352).

Assim, ratifica-se que o Serviço Social inserido na esfera pública, busca a

ampliação dos direitos, em um contexto repleto de dificuldades operacionais

concretas referentes ao que é postulado em seu projeto ético político, em função das

mudanças ocorridas na sociedade brasileira.

Dentre estas, vale recordar as recentes medidas apontadas em itens

anteriores como o Programa de apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (REUNI), Programa Universidade para Todos (PROUNI),

Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Educação a Distância (EAD), cursos de

Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores (FIC) e outras modalidades

implantadas nas últimas décadas de 1990 aos dias atuais. Posicionamento que toma

grande escopo se alinharmos essas mudanças aos impactos correntes no mundo do

trabalho em face ao auge da reestruturação produtiva vivenciada nos períodos

citados.

Em decorrência dessas transformações reestruturadoras, há que reconhecer

que as expressões da questão social, no atual estágio da crise vivida pelo sistema

capitalista no cenário internacional, não passam indeléveis a sociedade brasileira. E

em escala espiral crescente, tais reestruturações, por sua vez, agudiza as

desigualdades sociais, a precarização imposta a força de trabalho, resultando na

escassez de postos de trabalho que caracterizam-se em desemprego estrutural.

Este por sua vez, dentre o rol de consequências mais severas, a médio prazo

ameaça o público estudantil em formação e suas futuras relações de trabalho para a

qual se preparam, acrescidas de outras formas que afetam a vida social dos

cidadãos em geral e, em especial, no processo de formação e consequente inserção

profissional no mercado de trabalho.

De acordo com Raichelis (2009, p. 383)

Os processos de reestruturação produtiva atingem também o mercado de trabalhos do/a assistente social, com a redução de postos governamentais, principalmente nos níveis federal e estadual. [...] intensificam os processos de subcontratação dos serviços individuais dos/as assistentes sociais por parte de empresas ou de serviços de assessoria na prestação de serviços aos governos, acenando para o exercício profissional privado (autônomo),

60

temporário, por projeto, por tarefa, em função das novas formas de gestão das políticas sociais.

No cenário delineado, é evidente o desafio posto ao/a assistente social para

atuar na área da educação profissional e tecnológica, principalmente se considerar o

retraimento do Estado via crescente ação de desresponsabilização em relação à

efetivação de políticas sociais e a expansão dos direitos sociais.

As considerações apresentadas quanto aos exponenciais desafios postos a

categoria denotam ser pertinente e tardia a inserção do/a assistente social no círculo

da educação, pois muitas ações de melhoria das condições e da qualidade de vida

acadêmica urgem ser trabalhadas de modo realmente efetivo, no que concerne as

necessidades específicas das parcelas populacionais em situação de

vulnerabilidade e/ou risco social.

Após a tecitura do panorama em tela, contendo elementos imprescindíveis a

melhor entendimento sobre a área educacional e a intervenção precarizada para o

Serviço Social no mesmo, o item seguinte dedicar-se-á a explanar sobre as

peculiaridades e a importância da atuação profissional do/a assistente social na

educação profissional e tecnológica do IFMT.

3.4 A importância da atuação do/a assistente social na Educação Profissional e

Tecnológica (EPT)

A Constituição Federal de 1988 aponta que as instituições de ensino possuem

autonomia didático-científica, administrativa e de gestão, financeira e patrimonial,

desde que obedeçam ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e

extensão. A LDB, também, coloca que a educação abrange os processos formativos

que se desenvolvem nas instituições de ensino e pesquisa, na vida familiar, na

convivência humana, no trabalho, nos movimentos sociais e organizações da

sociedade civil e nas manifestações culturais.

Assim, este profissional tem no tripé de ensino, pesquisa e extensão, a

definição de suas atribuições precípuas, presentes na supra Lei de Regulamentação

da profissão, nº 8.662/93, que tem nos artigos 4º as competências do/a assistente

social e no 5º as atribuições privativas do/a assistente social, transcritas na íntegra

dado sua extensão e profundidade o seguinte teor:

61

Art. 4º Constituem competências do Assistente Social: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; IV - (Vetado); V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social: I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

62

A opção pela transcrição se deu por merecerem significativo destaque, visto a

insubstituível relação intrínseca que dá consistência ao exercício profissional do

Serviço Social e de acordo com Simões (2011, p. 509), assim rege,

As competências são qualificações profissionais, de âmbito geral, que lhe são reconhecidas por esta lei, para realizar serviços, independentemente de também serem reconhecidas a outros profissionais, nas respectivas leis profissionais, como advogados, sociólogos, historiados, psicólogos e outros. Já as atribuições privativas também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, de sua qualificação profissional. Significa dizer que, no campo dessas atribuições, as respectivas tarefas somente terão validade institucional se realizadas somente por assistentes sociais. Por isso, são ilegais, se realizados por servidores, empregados, voluntários ou profissionais não habilitados.

Ainda a despeito das competências e atribuições apresentadas acima, a

inserção do Serviço Social vem ganhando amplitude, expansão e consistência, no

âmbito da política pública educacional, nas esferas municipal e federal, necessitando

de atitude equivalente nas estaduais e particulares. Esferas que o tem requisitado,

tanto para a realização de programas e projetos socioeducativos e de prevenção,

quanto no âmbito da assistência estudantil, do acompanhamento e enfrentamento

dos multifacéticos problemas enfrentados pelos estudantes da escola pública, típicas

expressões da questão social.

Nessa lógica é cabível reportar que a publicação do editorial CFESS

manifesta pertinente ao Seminário Nacional de Serviço Social na Educação, a

atuação dos/as assistentes sociais nesse âmbito, tem se voltado a fortalecer as

redes de sociabilidade e acesso aos serviços sociais, nos processos

socioinstitucionais dedicados ao reconhecimento e ampliação dos direitos dos

sujeitos sociais, não devendo, portanto, se confundir com o trabalho específico

dos/as educadores/as.

Na ótica desse apontamento, os/as assistentes sociais devem se pautar pela

defesa da gestão democrática na educação, não somente no papel meramente

operacional ou executor, mas, que além dessas funções tenha autonomia para

decidir coletivamente sobre os recursos profissionais e educacionais compatíveis

com o projeto político-pedagógico da instituição, as normatizações, professadas pela

política educacional, dentre outras.

No tangente ao Projeto Político-Pedagógico (PPP), é legitimo afirmar que,

63

[...] é proposto com o objetivo de descentralizar e democratizar a tomada de decisões pedagógicas, jurídicas e organizacionais na escola, buscando maior participação dos agentes escolares. Previsto pela LDB/96 como proposta pedagógica ou como projeto pedagógico, o PPP pode significar uma forma de toda a equipe escolar tornar-se co-responsável pelo sucesso do aluno e por sua inserção na cidadania crítica (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2011, p. 178).

Lógica que propugna ser o controle social sobre a gestão da política

educacional um meio de compartilhamento das decisões, para garantir uma gestão

democrática e participativa que leve à conquista da referida autonomia na esfera

local e na instituição, ainda que em proporção relativa.

Assim, a participação na ambiência acadêmica é parte integrante dos

objetivos e da intervenção do profissional de Serviço Social, com o intuito de

favorecer a publicização da educação e a luta pela qualidade do ensino em sua

concretude. Constitui também, elemento integrante do processo em tela, a

importância de estabelecer articulação com as instâncias de representação e

deliberação internas superiores – como o Conselho: Superior, de Classe, Escolar, de

Direitos, a Associação de Pais e Mestres, os Grêmios Estudantis, os Diretórios

Acadêmicos e o Sindicato, dentre outros, que emerjam nesse cenário em contínua

defesa de transformação sintonizada com as processadas pela dinâmica da

formação societária mais ampla que lhe dá origem e, concomitantemente, dita suas

conformações atualizadas.

Pertinente à garantia de acesso da população excluída do processo

educacional, tais como pessoas com deficiência, idosos, mulheres, dentre outros

com quaisquer características não contidas nos padrões de normalidades ditados

pela sociedade global, a presença do Serviço Social imprime o reconhecimento

desse usuário como cidadão de direitos, para que a instituição se atente e, na

medida do possível, encampe em menor interregno de tempo, demandas

emergentes desses segmentos, conforme previsto em lei.

É inquestionável a importância de frisar, que há todos/as os/as profissionais

da área da educação, requer conhecer o contexto institucional, seu papel no ato de

representação social da instituição em que trabalha, e como se dá a relação com os

usuários, a família, a comunidade interna e externa, com as quais fazem

interlocução. Ou seja, posicionar-se de modo a que esta plêiade de informações

complementares lhes possibilite conhecer a realidade específica dos mesmos e,

64

assim, identificar os serviços institucionais necessários e disponíveis a ser oferecido

aos demandantes de acordo com as reais possibilidades existentes.

Contudo, não é alheio ao/a profissional que nesse contexto fica evidente

haver sérias dificuldades nesse campo a serem superadas e/ou contornadas, pois

mesmo a CF de 1988 tendo preconizado a igualdade entre os sujeitos, ainda na sua

prática cotidiana, há larga distância para pô-la efetivamente em curso, com larga

margem para alcançá-la. Portanto, vislumbra-se ser muitos os problemas que

engessam a execução genuína dos direitos, decorrentes das abismais e até então

irreconciliáveis diferenças sociais, políticas, econômicas, culturais, religiosas,

ambientais que grassam livremente no seio da sociedade em geral. E na sequência,

demandam por políticas sociais que respondam de forma mais efetiva aos

aventados problemas oriundos da questão social, na sua real concepção

etimológica.

Desta forma, ressalta-se os desafios indicadas na brochura “Subsídios para

atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação”7, versando sobre as

orientações voltadas ao primado central da consolidação do Serviço Social no

âmbito da Política de Educação, que serve de valioso contributo, conforme transcrito

abaixo:

Continuar a incidir fortemente para a elaboração e aprovação de Projetos

de Lei (PL) que versem sobre a inserção profissional na educação

consonante com o projeto profissional;

Divulgar e debater com os/as assistentes sociais e demais trabalhadores e

trabalhadoras da área da educação o conjunto dos documentos

construídos pelo GT Nacional Serviço Social na Educação, por meio de

reuniões das comissões, GTs, núcleos, câmaras temáticas audiências

públicas, dentre outros;

Ampliar a participação da categoria de assistentes sociais nos fóruns de

controle social da Política de Educação, como os conselhos de educação,

7 A brochura elaborada pelo CFESS por meio do GT Educação (2010 e 2012), com participantes de todas as regiões do país, e assessoria do Prof Dr. Ney Luiz Teixeira de Almeida (UERJ), com objetivo contribuir para que a atuação profissional na Política de Educação se efetive em consonância com os processos de fortalecimento do projeto ético-político do serviço social e de luta por uma educação pública, laica, gratuita, presencial e de qualidade, que, enquanto um efetivo direito social, potencialize formas de socialiabilidade humanizadoras.

65

as conferências municipais, estaduais e federal de educação, bem como a

articulação em espaços de organização política dos trabalhadores e

trabalhadoras da educação, como os sindicatos, movimentos sociais,

dentre outros;

Articular e problematizar, com os/as demais profissionais da área da

educação e com a sociedade, a importância e legitimidade do trabalho de

assistentes sociais nesta política;

Aprofundar a discussão acerca das particularidades da atuação dos/das

assistentes sociais na Política de Educação, considerando que as

atribuições e competências da categoria nos diversos espaços sócio-

ocupacionais são orientadas e norteadas por direitos e deveres constantes

no Código de Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão

(Lei 8.662/93), que devem ser observados e respeitados tanto por

profissionais quanto pelas instituições empregadoras;

Construir fóruns de discussão e realizar debates por meio de oficinas,

encontros, seminários locais e regionais, dentre outros, aprofundando as

reflexões sobre as possibilidades e limites da atuação do/a assistente

social nessa política;

Estimular a criação de espaços sistemáticos de discussão sobre o trabalho

do/a assistente social na educação, no âmbito dos CRESS;

Fortalecer a participação da categoria nas comissões de educação, GTs,

núcleos, câmaras temáticas e demais espaços de discussão existentes

nos CRESS, que tratem da atuação do/a assistente social na educação;

Articular com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço

Social (ABEPSS) para que o debate em torno da inserção do Serviço

Social na educação seja contemplado na formação profissional;

Discutir as particularidades e as diferentes compreensões sobre a atuação

dos/as assistentes sociais que se inserem no âmbito da educação

superior, para que se reconheçam como assistentes sociais (conforme a

Lei nº 8.662/93) e como profissionais da Política de Educação;

Problematizar junto aos/às assistentes sociais que atuam na área da

educação acerca das particularidades da educação popular, na

66

perspectiva do aprofundamento teórico político e da sistematização das

experiências;

Fortalecer as ações em torno da realização de concursos públicos para

assistentes sociais na Política de Educação, bem como para os demais

trabalhadores e trabalhadoras dessa política;

Problematizar junto à categoria sobre as particularidades das suas formas

de inserção nos estabelecimentos públicos e privados que executam a

política educacional, visando a assegurar as condições éticas e técnicas

do trabalho profissional;

Aprofundar as discussões sobre o significado político, teórico e ideológico

das propostas de educação inclusiva;

Fomentar a discussão acerca da educação voltada para povos e

comunidades indígenas, quilombolas e demais populações tradicionais,

bem como sobre as formas de atuação profissional dos/as assistentes

sociais;

Aprofundar a discussão, no âmbito da atuação dos/as assistentes sociais

na educação, para a garantia do respeito à diversidade humana, como

direitos humanos, considerando a livre orientação e expressão sexual,

livre identidade de gênero com vistas a consolidar uma educação não

sexista, não racista, não homofóbica/lesbofóbica/transfóbica;

Articular junto aos/às estudantes, trabalhadores e trabalhadoras da

Política de Educação espaços de discussão sobre a política/

programas/ações de assistência estudantil e as particularidades da

atuação do/a assistente social;

Intensificar a articulação junto a outras categorias profissionais e sujeitos

coletivos, na luta por uma educação pública, gratuita, laica, presencial, de

qualidade e com real investimento do fundo público.

Assim, as indicações reunidas e disponibilizadas pelo CFESS, contidas nas

linhas anteriores, dão entendimento quanto a importância da profissão e a

profundidade, extensão e complexidade das dimensões teórico metodológica, ético

político e operacional de sustentação no trato das particularidades presentes no

67

trabalho do/a assistente social na Política de Educação ao mesmo tempo que a

desafiam como ativo partícipe.

Contudo, há ainda um requisito particular se considerar a significativa

compreensão que a categoria profissional deve dominar, quanto a não existir

dicotomia entre o social e o educacional. Pois, é possível admitir que o conjunto

dessas ações se trabalhadas na perspectiva analítico crítico propositiva conjunta –

educação – Serviço Social, se constituem em um valioso marco rumo a

consolidação de uma concepção de educação alicerçada na garantia do acesso ao

conjunto e direitos sociais que ela comporta. Concepção que em sua particularidade

constituinte, implica na “elaboração de projetos de intervenção que valorizem a

dimensão investigativa, crítica e propositiva do exercício profissional, que explicitem

os compromissos éticos e políticos do Serviço Social” (CONSELHO FEDERAL DE

SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 56).

Balizado pelas formulações discorridas, é pertinente reforçar que a atuação

profissional do/a assistente social nelas contidas considerou as particularidades do

projeto ético-político profissional, propostas para este trabalho, que imprimiu o norte

a atuação profissional no referido campo, afirmando-o como sujeito partícipe em

vista aos desafios lhes perfilados para a consolidação do seu agir profissional no

espaço sócio profissional em apreço nos itens e seção vindouras.

3.5 Os desafios para a efetivação do projeto ético-político profissional no

espaço educacional

Nos itens antecedentes, pretendeu-se discutir diferentes elementos e forma

de inserção do Serviço Social no campo da educação. Assim sendo, procurou-se

salientar no decorrer desta elaboração, como a natureza do projeto-ético político

com o cunho de formação permanente, se faz presente no que a atuação

profissional do/a assistente social vivencia na área educacional e em particular da

área profissional e tecnológica eleita para este trabalho.

Assim, esta seção é dedicada a recordar que o Serviço Social brasileiro

desde a década de 1970 compreendeu um processo de renovação e construção do

supra projeto profissional, revisando eixo, direção, matéria, conteúdos, ementários e

referenciais bibliográficos da formação profissional, claramente comprometida com a

68

classe trabalhadora e todas as multifacéticas formas das problemáticas sociais que

lhes afetam e se expressam na sociedade concreta. Assumiu posicionamento de

como trabalhar a direção social assumida pela categoria profissional, independente

do conjunto de transformações contundentes que o mundo do trabalho tem

processado, desde o fim do século XX ao XXI, requerendo gerar novos padrões de

organização trabalhista para a nova forma de sociabilidade em curso e por isso se

expressou,

O Serviço Social, como profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, traz, nas marcas de sua trajetória histórica, o imbricamento com diversos cenários e lutas da sociedade brasileira, mantendo, porém até a década de 70, uma posição predominantemente tradicional e reprodutora da ordem social. A partir de então, o seu processo de renovação vai assimilar novas teorias, ainda que de forma eclética, e as preocupações do Serviço Social vão estar voltadas para a eficiência técnica e para o processo de modernização que era o discurso dominante da ordem ditatorial imposta desde 1964 (SANT’ANA, 2000, p. 80).

Processo em que o Movimento de Reconceituação do Serviço Social,

encampou a condução das ações de renovação interior da profissão, assumindo a

concepção pluralista, de romper com a direção clássica praticada á época, e de cuja

ruptura se deriva a construção do projeto ético-político profissional que tem sido

esmiuçado ao longo desta seção e articulado por analogia aos demais que compõe

o trabalho como um todo. Ruptura esta, dada nos campos político-ideológica e

pedagógica, que teve seu marco no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais,

em 1979, conhecido como “Congresso da Virada”. Momento que os/as profissionais

de Serviço Social buscaram romper com os métodos conservadores e tradicionais

utilizados no desenvolvimento do exercício profissional, visando consolidar um novo

direcionamento teórico-metodológico, prático e ético para profissão.

Assim, embora na década de 1980, mesmo a grande maioria da categoria

profissional participar da construção dialética desse novo pensar crítico, esta

posição não foi assumida pela base total de profissionais, e para a qual Teixeira e

Braz (2009, p. 304) apontam duas reflexões. A primeira que “não há uma identidade

entre o que projetamos e o que realizamos efetivamente”, e a segunda, com base

em Paulo Netto (1999), quando retrata a auto-imagem da profissão, que traz os

valores presentes no projeto profissional como estranhos ao mundo que vivemos, ou

69

seja, “a consecução plena é incompatível com a sociedade capitalista”. Significa

dizer que,

[...] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais) (PAULO NETTO, 1999, p. 4).

Nesse sentido, é fundamental afirmar em que pese a clareza da reflexão

legada pelo autor acima à categoria profissional quanto a magnitude e importância

das mudanças postas à profissão, na década de 1990 o projeto profissional vem se

moldando, a partir de uma plêiade de elementos teórico-metodológico, ético-político

e operacional, em movimento contínuo que abarca o investimento na formação e no

exercício profissional.

Portanto, não se pode esquecer de considerar que o cenário econômico que

se apresenta nesse movimento histórico é caracterizado pelo neoliberalismo,

impulsionado pela lógica do capital e mercado, consumo e individualismo, e de

momentos cíclicos de retração na direção e gestão de naturezas e instâncias

diversas dos organismos estatais, os quais por sua vez impactam de intensidades

igualmente diversas, a execução do projeto profissional do Serviço Social.

Em que pese os efeitos mencionados, exercidos no plano constitutivo do

Serviço Social como profissão, seria igualmente injusto, não registrar os

enfrentamentos dos novos desafios e demandas que por sua vez influenciaram a

incessante busca pela qualificação teórica, política e ética que legitimou socialmente

a categoria profissional, no seio da sociedade capitalista em questão.

A consolidação do projeto ético-político profissional que vem sendo construído, requer remar na contra corrente, andar no contravento, alinhando forças que impulsionem mudanças na rota dos ventos e das marés na vida em sociedade (IAMAMOTO, 2001, p. 141).

É evidente, que nesse cenário delineado, o projeto ético-político profissional

se constitui em um projeto societário vinculado e comprometido com uma concepção

mais ampla em prol da transformação da sociedade atual, cujo direcionamento,

70

também, tem em sua base dinâmica a busca da consolidação dos projetos coletivos

entendidos como,

[...] os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade. Somente eles apresentam esta característica – os outros projetos coletivos (por exemplo, os projetos profissionais) não possuem este nível de amplitude e inclusividade (PAULO NETTO, 1999, p. 2)

Apesar da assertiva feita por Paulo Netto, é correto dizer, que os

pressupostos basilares de sustentação do projeto profissional, comportam a

consciência e a orientação contidas nos princípios fundamentais priorizados pelo

Código de Ética Profissional, vez que aquele absorve os princípios e valores do

mesmo.

Respaldados pelo entendimento posto, Teixeira e Braz (2009, p. 191),

asseveram que esses princípios e valores expressam a materialidade do projeto no

exercício profissional, juntamente com os demais componentes que lhes dão

conformação, a saber:

a) A produção do conhecimento no interior do Serviço Social: maneira

como estão sistematizadas as diversas modalidades praticas da profissão,

onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional;

b) As instâncias político-organizativas da profissão: que envolve os

fóruns de deliberação quanto as entidades da profissão. É por meio dos

fóruns consultivos e deliberativos dessas entidades que são consagrados

coletivamente os traços gerais do projeto profissional, onde são

reafirmados ou não seus compromissos e princípios;

c) A dimensão jurídico-política da profissão: o arcabouço legal e

institucional da profissão que envolve um conjunto de leis e resoluções,

como por exemplo a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº

8.662/93), e ainda outras legislações que subsidiam a atuação

profissional, como Lei Orgânica da Assistência Social, o Estatuto da

Criança e do Adolescente etc.

71

Elegemos aqui alguns instrumentos normativos relacionados ao Serviço

Social:

Quadro 3 - Instrumentos normativos relacionados ao Serviço Social

Instrumentos Destaques

Diretrizes Curriculares ABEPSS - Parecer CFE nº 412, de 04.08.1982 e Resolução n.º 06 de 23/09/82.

As diretrizes vem de um processo de profunda avaliação do processo de formação profissional face às exigências da contemporaneidade. Os novos perfis assumidos pela questão social frente à reforma do Estado e às mudanças no âmbito da produção requerem novas demandas de qualificação do profissional, alteram o espaço ocupacional do/a assistente social, exigindo que o ensino superior estabeleça padrões de qualidade adequada.

Lei de Regulamentação da Profissão nº 8.662/93.

Dispõe sobre a profissão de Assistente Social, o qual traz em seu art. 4º as competências do/a Assistente Social e no 5º as atribuições privativas do/a Assistente Social.

Código de Ética do/a Assistente Social – Resolução CFESS nº 273/93.

Dispõe sobre os valores éticos, fundamentados na definição de compromisso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social.

Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pela autora, com base nas legislações e documentos relacionados à profissão de Serviço Social

Aportes legais que permitem compreender como os elementos do projeto

profissional vêm sendo consolidado historicamente, como respostas dadas pela

categoria ante a necessidade de se posicionar ao enfrentar as transformações

políticas, econômicas, sociais e culturais presentes na sociedade.

Torna-se ainda relevante reafirmar a importância da dimensão política no

exercício profissional, pois um dos desafios mais complexos a se enfrentar consiste

na oposição a lógica mercantilista vigente na sociedade capitalista. Dimensão esta

que uma vez presente na atuação profissional, se traduz no compromisso, na

intencionalidade do/a profissional, na base e elaboração do pensamento crítico,

capaz de influenciar os rumos das relações de poder existentes nos espaços sócio-

ocupacionais em que está inserido para operacionalizar as atribuições lhes inerentes

na divisão sócio técnica do trabalho que regula esse real.

De acordo com Paulo Netto (1999, p. 14), o domínio da dimensão política

(registra-se, que o político não se resume ao partidário), contribuiu para coroar o

rompimento com o conservadorismo na explicitação frontal do “compromisso

72

profissional” com a população brasileira. Assim, a própria dinâmica da sociedade

atual, passou a demandar um novo perfil profissional com competência analítico-

crítica e técnico-propositiva.

Nesse sentido as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, na esfera da regulação e proteção social, a crescente privatização do espaço público, que implica um esvaziamento das funções do Estado, a globalização da economia, a flexibilização das relações de trabalho, entre outros, são novos desafios colocados a profissão e que exigem dos profissionais permanente capacitação. Modificam-se, portanto, suas condições de trabalho, surgem novas requisições para a atuação profissional, outras demandas são colocadas e emergem outras frentes de trabalho no cenário profissional (LEWGOY, 2010, p. 151).

Esses conjuntos de mudanças passaram a constituir o núcleo fundante das

novas requisições apresentadas ao/a profissional assistente social na efetivação do

exercício profissional, mediadas por fatores que implicam tanto no alcance dos

resultados planejados, quanto na consolidação da concretude do próprio projeto

profissional, ao lhe conferir forma, conteúdo e direção.

Dentre aspectos aventados cabe avocar as imposições neoliberais ratificadas

e postas em cena tais como minimização e/ou eliminação de direitos, acirramento

das desigualdades sociais, elevação dos patamares de pobreza extrema, perda

consubstancial da qualidade de vida dos que vivem da venda da força de trabalho,

desconstrução de reformas conquistadas, desemprego e subemprego, desproteção

social. Complementam os elementos anteriores outras questões, como: as

condições de trabalho precárias, a fragmentação dos processos de trabalho como a

terceirização, quarteirização, a polivalência na execução dos trabalhos, a

reestruturação produtiva, no qual desresponsabiliza as empresas com relação ao fiel

respeito aos trabalhadores.

Mudanças que não passam de modo indelével aos impactos e reordenações

que, impõe determinações novas formação e profissionalização do Serviço Social,

no quesito da construção de uma agenda comum à organização coletiva do projeto

societário da categoria.

É nesse sentido que Iamamoto (2001, p. 145), coloca que um

“perfil profissional propositivo requer um profissional de novo tipo, comprometido

com sua atualização permanente, capaz de sintonizar com os ritmos das mudanças

que presidem o cenário social”.

73

Diante dessas exposições, é claro que existe um antagonismo entre o projeto

ético-político profissional e a ofensiva neoliberal. Portanto, para além da importância

do debate sobre esses entraves, é possível afirmar que é um enorme desafio a

efetivação desse projeto, que requer um processo de intervenção claramente

definido em suas finalidades, objetivos e procedimentos alicerçados teoricamente,

ações ideopolíticas colocadas desde a gestão, planejamento e execução, e,

desenvolvimento de um perfil crítico propositivo, que reafirmem as referidas

dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas, apresentadas

em linhas e itens anteriores.

Equivale dizer que aos/as profissionais do Serviço Social, ante conteúdo e

direção ética política dada à sua formação profissional na contemporaneidade,

compete se posicionar de modo permanentemente crítico a fim de possibilitar, frente

às complexidades com as quais se deparam, oriundas da desigualdade social que

abarcam a sociedade atual como um todo, primar pelo exercício profissional

firmemente articulado com o seu arcabouço científico e demais preceitos legais que

regem o Serviço Social.

Decorrente do dito aparato legal operacional que conforma o Serviço Social,

os desdobramentos e desafios cotidianos apresentados, dentre os/as assistentes

sociais, na política educacional, se encontram aqueles que assumem a proposição

de vincular a concepção de educação e de sociedade tendo por referência construir

uma nova ordem societária, sem dominação, sem exploração de classe, que, “supõe

a erradicação de todos os processos de exploração, opressão e alienação”

(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 22). Como também, há

aqueles que não comungam com tal proposição e a ignoram na atuação profissional.

Deste modo, é com a concepção apontada até o momento, que a área da

educação, torna-se um importante espaço de atuação dos/as assistentes sociais, à

medida que, as expressões da questão social se manifestam em toda sua

diversidade complexa em seu cotidiano. Logo, com a adoção do referencial teórico-

metodológico que contemple a historicidade dessa instituição, será possível pautar a

atuação profissional ancorado em proposições não de senso comum, e objetivar

assertivamente ações respaldadas em perspectiva qualitativa às demandas

apresentadas à profissão no campo da educação no IFMT, enquanto lócus profícuo

para a ação.

74

Após evidenciar esse panorama, a seção seguinte dedicar-se-á a tratar a

análise da atuação profissional do/a assistente social na modalidade de educação

profissional e tecnológica, as mudanças e redefinições ocorridas nesse campo

decorrente do ideário neoliberal. E também as questões que compareceram na

classificação e análise dos dados coletados junto aos/as assistentes sociais

inseridos/as nos campi do IFMT.

75

4 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT)

Para compreender o Serviço Social do IFMT, em face do processo de

inserção no campo da EPT, em uma estrutura e conjuntura internacional em franca

crise do capital desde 2007, onde nos encontramos, é necessário articular a

profissão aos processos mais amplos e complexos vividos pela sociedade global,

tendo em vista a literatura de estudiosos do tema como: Almeida (2008), Frigotto

(2007), Iamamoto (2001), Libâneo, Oliveira e Toschi (2011), Paulo Netto (1999).

Este processo, que desde a década de 1990, no século XX, foi denominado

de reestruturação produtiva, ante a referida complexidade das transformações que

afetaram e afetam o mundo do trabalho e a força de trabalho em sua base material e

no campo das ideias, na atual sociedade capitalista, sem precedentes históricos. Ela

se expressa pela heterogenização, flexibilização, descentralização, subsunção do

trabalho ao capital como dito em itens anteriores, no espaço sócio-ocupacional da

EPT, como nas áreas de produção e de serviços, que tornou necessário, situar o

histórico do surgimento do Serviço Social, acrescido de sua profissionalização e

institucionalização, bem como o contexto histórico do IFMT e as várias mudanças

estruturais pelas quais passou.

Contextos indispensáveis para chegar ao período de 2013 e 2014, abarcado

por esta pesquisa, tanto na estrutura, contexto ou objetivos coligidos junto aos/as

assistentes sociais do IFMT.

É necessário, esclarecer quanto às dificuldades para a coleta do material.

Primeiramente, por tratar de analisar criticamente a prática profissional de cada um

dos sujeitos da pesquisa, desvelando o eixo, a direção e o curso da atuação. Em

segundo, pela conotação institucional, profissional interna e externa que as

interpretações objetivas e subjetivas que os teores declarados passam a tomar ante

a ótica dos leitores em geral.

No entanto, para entender como se dá a atuação profissional dos/as

assistentes sociais no IFMT, e entender essa realidade, foi necessário buscar

informações, orientada pelo referencial teórico, com intuito de obter os elementos

necessários para responder ao objetivo da pesquisa. Assim, com respeito aos/as

profissionais que fizeram parte da pesquisa, as informações foram manuseadas de

forma a preservar os sujeitos, com apresentação fidedigna dos resultados.

76

Tomando como base os preceitos da educação discutidos até aqui, bem

como o breve relato sobre o Serviço Social, passamos a analisar a relação da EPT

com a profissão de Serviço Social e com os resultados obtidos pela pesquisa.

4.1 A relação entre educação e serviço social

É complexo abordar a relação entre educação e o Serviço Social, uma

relação complexa, carregada de conotações, intervenientes e determinantes do atual

momento de crise do capital.

Nesse cenário conturbado internacionalmente, o debate sobre a Política de

Educação brasileira e, particularmente a do Estado de Mato Grosso, na

especificidade da modalidade EPT do IFMT, com a respectiva atuação do Serviço

Social, se converte em material concreto de análise da dissertação ora apresentada

à apreciação.

As transformações advindas dessa conjuntura de crise estrutural produzem

alterações no mundo do trabalho as quais produzem particularidades históricas que

impactam a atuação dos/as assistentes sociais nos espaços sócio-ocupacionais em

que trabalham. Impactos decorrentes da complexa relação entre Estado e sociedade

que ao para encaminhar os/as profissionais ao enfrentamento das expressões da

questão social, cria uma rede de proteção social, frente as alterações em curso na

esfera dos direitos de cidadania e serviços sociais de modo cada vez minimizador.

No entanto, abordar a atuação profissional, com ênfase na relação direta com

a demanda cotidiana, por atendimento de necessidades, por acesso aos direitos

sociais, não é tarefa fácil. O fazer profissional em meio à precarização das políticas

sociais, em tempos de crise da economia mundial, cujos efeitos recaem sobre os

trabalhadores, torna-se uma atuação desafiadora entre o proposto e as condições

objetivas de realizar a prática concreta.

Assim, pensar a atuação em sintonia com o que aponta o Projeto Ético

Político, requer, dentre outras, domínio político e técnico-operativo profissional em

prol da efetivação de ações que se pauta pelos princípios éticos já citados neste

trabalho.

A propositura desta seção é analisar a atuação profissional dos/as assistentes

sociais que trabalham na EPT, visando abarcar tanto à prática realizada pelos/as

77

profissionais que estão na ponta da intervenção nos campi em contato com que

atuam no âmbito do planejamento, coordenação, assessoria, consultoria e pesquisa

etc. Esse trabalho coloca o desafio, junto a Direção Superior do IFMT, de apreender

e analisar de modo crítico, as expressões da questão social presentes no cotidiano

da atual conjuntura político-administrativa vivenciada no espaço sócio-ocupacional

pesquisado. Desafio apreendido no seguinte teor, como afirma Guerra (2011, p.

152),

[...] o processo de institucionalização da profissão vem na esteira do processo de racionalização do Estado burguês, com o intuito de facilitar a atuação dos monopólios, e ainda, de manter suas bases de legitimação ante as classes sociais [...].

Nessa ótica, é imprescindível realizar novas articulações e mediações para

contribuir com o processo de desenvolvimento histórico da profissão, tecido pela

categoria ao longo das décadas elencadas no corpo do trabalho, bem como, buscar

interferir nos rumos das modificações que impactam, determinam e configuram a

atuação profissional do Serviço Social na sociedade capitalista, conforme poderá ser

percebido nos dados coletados na pesquisa.

4.2 Atuação profissional do/a assistente social no IFMT: vivência cotidiana

O/a profissional Assistente Social tem como exigência, manter-se em

processo de formação profissional permanente, ou seja, capacitação continuada

contemplando o Serviço Social, a estrutura, conjuntura e contexto, determinantes

que impactam a sua atuação profissional, que por sua vez, também, é objeto

contínuo de avaliações auto crítica. Essa exigência é indispensável em quaisquer

espaços institucionais, haja visto, que os espaços sócio-ocupacionais na atualidade,

sofrem os impactos das transformações societárias e geram impactos

socioprofissionais, que só o ato de avaliação constante, pode permitir ao/a

profissional redimensionar a sua prática.

A criatividade, iniciativa e objetividade, fornecem elementos para a atuação

profissional que mediada pela teoria social crítica e pautada nas dimensões

investigativa e interventiva, é possível avançar conforme reza as diretrizes de

78

formação, as quais propiciam compreender o movimento da reprodução social

imbricada e decorrente da questão social apresentada à atuação profissional.

Em se tratando de uma instituição educacional, é imperioso ter clareza das

concepções de educação, adotadas para orientar a atuação profissional do/a

assistente social, bem como a própria concepção de Serviço Social, que o/a

profissional elegeu para professar sua condução profissional nesse processo. Essas

clarificações se fazem necessárias para desvelar a perspectiva interventiva que

baliza e qualifica a atuação do/a profissional como consta a seguir, nos dizeres do/a

profissional o entendimento de que,

Relato A:

A concepção de educação que orienta minha atuação é pautada na direção da universalização do acesso aos direitos sociais, compreendendo a educação como uma das políticas mais necessárias para a potencialização e autonomia dos sujeitos sociais (AS A).

A concepção de educação abaixo versa coerentemente com a agenda do

Serviço Social no que tange a luta em prol da classe trabalhadora, como segue o

relato abaixo,

Relato B:

A concepção de educação compreendida reside na direção da categoria profissional de assistentes sociais, a partir do acúmulo do debate nessa esfera, bem como da defesa da classe trabalhadora, de educação emancipatória, abrangendo na discussão a educação formalizada e educação popular; na defesa da educação como direito social a ser universalizado; na defesa do reconhecimento da educação como parte da seguridade social, direcionando o debate para uma compreensão ampliada da seguridade social, sendo esta, estratégia de ampliação da proteção social (AS E).

O extrato apresentado permite ver algumas dificuldades para abordar a

concepção de educação de forma clara. Percebe-se que esse espaço de atuação

escolar, é constituinte do local próprio da prática profissional com múltiplas

determinações. Prevalece a ideia genérica que abarca muitos elementos sobre a

educação em outras dimensões como a popular, articulada a seguridade social. Ou

seja, registra-se a educação em seus elementos nucleares como a da perspectiva

universalizante e emancipatória pertencente ao conjunto de direitos sociais

garantidos pela CF de 1988 e a LDB na formação societária brasileira democrática.

79

E fez sim uma interface com a seguridade social e saúde, mas como tripé de direitos

sociais e não com o dá educação e, em especial a EPT, que tende mais a uma

articulação com o mercado de trabalho capitalista para o qual são formados pela

análise no referencial teórico marxista.

Diferenciando-se da transcrição anterior, foi identificado um compasso

coerente com uma concepção respaldada no que preconiza a direção teórica do

projeto ético político operativo do Serviço Social, sobre políticas sociais e pode-se

atribuir dentre elas a de educação, conforme segue uma das devolutivas,

Relato C:

Atualmente, o Serviço Social é uma das profissões fundamentais no processo de formulação, planejamento, execução e avaliação das diversas políticas sociais, comprometido com a viabilização, acesso e avanço dos direitos humanos e sociais. Desse modo, a concepção teórica, metodológica, ética e política que nos fundamenta a partir desse novo projeto profissional se embasa na perspectiva crítica com base nos fundamentos teóricos da tradição marxista (AS A).

No entanto, é vital registrar que a citação em si, tratou da concepção da

profissão e não da educação. Concepção esta que detalha a profissão para além da

execução, dando uma conotação mais abrangente para a mesma.

Na sequência, recorre-se a outro trecho extraído do instrumento elaborado.

Neste se percebe que o/a profissional evidencia a concepção teórica que que dá

base a sua atuação, como vê a seguir,

Relato D:

A concepção de serviço social que orienta meu trabalho na Política de Educação Profissional e Tecnológica, baseia-se na concepção renovada e inovadora, com base na teoria marxista, onde são observadas a historicidade do individuo e suas relações dentro da sociedade capitalista no qual estamos inseridos (AS D).

Contudo, não se pode deixar de mencionar que as duas concepções de

educação e Serviço Social, comparecem imbricadas uma a outra, sem tratar ambas

de forma mais consubstancial.

A partir da análise das respostas recebidas, se verificou, cada vez mais, a

presença de dados de conotação formalizada no Projeto Ético Político do Serviço

Social, do conjunto legal disposto pelo CFESS/CRESS, na Lei que regulamenta a

80

profissão e no Código de Ética Profissional que normatiza o exercício profissional do

Serviço Social, visto no seguinte teor,

Relato E:

A compreensão que norteia o meu trabalho, é de que Serviço Social é uma profissão de natureza interventiva e investigativa, inserida na divisão social e técnica do trabalho. As diversas e multifacetadas expressões da questão social é o objeto central de intervenção profissional, sendo esta a base da fundação da profissão na especialização do trabalho. No exercício profissional da/do Assistente Social, esta/este possui um conjunto de princípios, direitos, responsabilidades e deveres inscritos no Código de Ética profissional e, um conjunto de competências e, atribuições privativas, elucidados na Lei de Regulamentação da Profissão. No decorrer se sua vida profissional, a/o Assistente Social, conta ainda, dentre a instrumentalidade da profissão, com um arsenal teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político, sendo imprescindível que essas competências devem estar em constante/contínuo desenvolvimento (AS E).

A visão apresentada, a tentativa do/a profissional em aproximar sua atuação

profissional com a principal matriz de conhecimento social do complexo movimento

da sociedade capitalista, o qual o Serviço Social incorpora em suas análises da

realidade em que intervém.

As concepções evidenciam o que está posto na brochura do CFESS que trata

dos Subsídios para atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação, sobre a

concepção de Serviço Social ligada a atuação profissional do/a assistente social, é

mais uma vez recorrido, e em resposta, aponta que,

Não se trata de uma tarefa que traga resultados imediatos e que atenue as tensões, conflitos e inquietações que consomem o cotidiano profissional, mas significa a afirmação de uma clara direção política, a articulação de um conjunto de referências teóricas que subsidiem a atuação profissional na Política de educação, contribuindo para desvelar suas particularidades a partir de uma concepção de educação que esteja sintonizada ao projeto ético-político do serviço social e que, por isso, não pode ser tomada de forma abstrata, vazia de significado político e desvinculada da perspectiva da classe trabalhadora (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 23).

É cabível continuar demarcando que do ponto de vista do discurso, nota-se

uma clareza nas concepções da profissão, tangente a dimensão da teoria utilizada

para respaldo da atuação profissional. Em especial, retirada dos autores mais

profícuos e significativos para o coletivo da categoria profissional e consultados

como Paulo Netto (2009 p. 673), ao assegurar em suas produções que,

81

A teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto que pesquisa. E esta reprodução (que constitui propriamente o conhecimento teórico) será tanto mais correta e verdadeira quanto mais fiel o sujeito for ao objeto.

É necessário trazer essa afirmação anterior, no intuito de demonstrar que as

contribuições disponibilizadas pelos/as assistentes sociais no campo da educação

no IFMT, apesar de muitas vezes, serem inseridos/as em equipes multiprofissionais,

no plano oficial tem claro sua identidade profissional, contidas no conjunto de

documentos aludidos e que deve ser expressa na atuação a partir das demandas

postas, de forma a contemplar as requisições definidas para a profissão e, em

particular, no que se relaciona com o dever de constante atualização profissional

permanente.

Todavia, pertinentes as condições objetivas de trabalho, há de se considerar

que o Serviço Social hoje, enfrenta alguns desafios para atuação profissional de

qualidade. Alcança, também, profissionais servidores públicos, pois os espaços

públicos passam por metamorfoses que impactam e influenciam não só o fazer

profissional, mas, inclui as condições necessárias a esse exercício e alterar os

requisitos e exigências da formação profissional, compatíveis com a

contemporaneidade.

Nessa linha de análise, é correto ressaltar que dentre os pilares normativos

que regulamentam a profissão de Serviço Social no Brasil, quanto à temática de

trabalho, a Resolução CFESS nº 493/2006 dispõe também acerca das dimensões

éticas e técnicas do exercício profissional do/a assistente social, que garante

ambiência de trabalho e atendimento condigno, que preserve o sigilo profissional e a

qualidade dos serviços prestados aos usuários. Elementos últimos, que não se

fizeram presentes nos dizeres das pesquisadas até este momento. Motivo pelo qual

é imperioso recorrer à contribuição que a esse respeito Delgado (2013, p. 137),

aponta,

[...] a citada resolução institui condições e parâmetros normativos claros e objetivos, estabelecendo como condição obrigatória para a realização de qualquer atendimento ao usuário do Serviço Social a existência de espaço físico suficiente e adequado para abordagens individuais e coletivas, com as seguintes características: iluminação adequada ao trabalho diurno e noturno; ventilação adequada a atendimentos breves ou demorados (e com portas fechadas); recursos que garantam a privacidade do usuário naquilo que for revelado durante a intervenção profissional, e um local apropriado para guarda do material técnico de caráter sigiloso.

82

Vejamos o que relatam os/as profissionais:

Relato A:

Em termos de estrutura física, existe sala individual adequada para o Assistente Social, que é lotado na direção de ensino do Campus. Ainda temos dificuldades com a viabilização de determinados equipamentos permanentes como impressora, mas a instituição minimiza o problema utilizando a impressão em rede e faz-se necessário se locomover até outro setor para pegar as impressões. Como ponto positivo, destaca-se a autonomia que é dada ao profissional para desenvolver suas atividades, criar estratégias e socializá-las com a gestão. É necessário situar que esta avaliação refere-se ao período de exercício 2013/2014, pois sabemos que mudanças nas relações de poder institucional que ocorrem em todas instituições públicas ou privadas, podem alterar a dinâmica do fazer profissional (AS A).

Está presente na agenda do conjunto CFESS/CRESS a defesa das condições

de trabalho, considerando os desafios atuais presentes nas relações de trabalho. No

IFMT, conforme a fala dos sujeitos da pesquisa, as condições de trabalho são boas,

mas em alguns campi possuem problemas referente aos equipamentos e salas

específicas para atendimento.

Nessa análise, o/a assistente social tem plena liberdade para atuar com

indivíduos, grupos, famílias e/ou comunidade, e definir formas de atividades voltadas

ao enfrentamento das expressões da questão social e luta pela garantia de direitos.

Assim, segue a fala seguinte que tangencia quanto às condições de trabalho.

Relato B:

Eu considero as condições objetivas muito boas. Na vida sempre uso um referencial para explicar as coisas, então, tenho como referência, o trabalho como Assistente Social na esfera municipal, sendo assim, posso afirmar que o Trabalho do Assistente Social aqui no IFMT é muito bom. Tenho material de consumo, material permanente, entre outros. Claro que algumas coisas não conseguimos imediatamente, minha sala não é a melhor do mundo, todavia não posso dizer que não consigo desempenhar meu trabalho porque minha mesa tem 01 metro de largura e não 3 metros (que seria o ideal para trabalhar com um PC e meus papeis/documentos na mesa). As condições de trabalho é dividida em duas vertentes (na minha opinião), a estrutura física e minha vontade de ‘fazer acontecer’ (AS C).

Prisma idêntico à qualidade das análises que como pesquisadora foi possível

esboçarem acerca dos extratos anteriores, disponibilizados pelos/as profissionais

até o momento, percebe-se continuar presente no relato a seguir apresentado

conforme os/as leitores/as podem verificar no seu crivo sobre o teor,

83

Relato C:

Hoje no contexto educacional como um todo, existem boas condições para a atuação do serviço social como um todo, especialmente quando fala-se na inserção de profissionais em todos os campi e ainda de recursos e de uma política que vem sendo implantada que a Política Nacional de Assistência Estudantil que vem se desenhando e se consolidando no seio dos Institutos Federais como um todo (AS D).

Discorrer sobre as condições objetivas de trabalho dos/as profissionais

assistentes sociais no IFMT, para além das contribuições dos autores anteriormente

recorridos, é importante referenciar o aspecto da instrumentalidade do Serviço

Social. Nenhuma outra afirmação seria mais indicada quanto a de Guerra (2000, p.

158), que a instrumentalidade

[...] não é um conjunto de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico.

Como já apresentado, algumas problemáticas são enfrentadas em alguns

campi, conforme a devolutiva a seguir apresentada na íntegra, a fim de não correr o

risco de prejudicar sua apreensão total, assim exposta abaixo,

Relato D:

As condições objetivas para realizar o trabalho profissional na realidade atual do Campus encontram-se fragilizadas, considerando que muitas questões observadas no e para além do cotidiano profissional interferem na qualidade do serviço prestado. A partir das questões observadas têm-se como exemplo a jornada de trabalho de 40 horas semanais, que ultrapassa às 30 horas estabelecidas na Lei 8.662/1993 acrescentada pela Lei 12.317/2010; a dimensão investigativa que muitas vezes se encontra em detrimento comparada as determinações institucionais; condições éticas e técnicas precarizadas devido o local referente a atendimento e arquivo insuficientes (não há local específico para as/os profissionais da instituição realizarem atendimento – hoje é utilizado a sala de reuniões quando desocupada ou outros espaços vazios encontrados para resguardar o sigilo das/dos usuárias/os e profissional – o espaço destinado ao arquivo é pequeno e falta espaço no próprio prédio da Instituição); há telefones e celulares na Instituição apenas em setores específicos, compartilhados e de ampla circulação – essa situação ainda é agravada, pois já houveram situações de corte da linha e falta de crédito no celular institucional; ações, projetos e intervenções profissionais limitadas, o que caracteriza a ‘relativa autonomia’ da/do profissional, engendrados na correlação de forças institucional, que em diversos momentos apontam para ganhos quando há interesse da direção da gestão; falta de equipe multiprofissional básica para atuar de forma interdisciplinar nas demandas institucionais; entre outras.

84

Tais questões apontadas influenciam diretamente na qualidade do instrumental teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo da profissão. No entanto, considera-se importante destacar aqui, que as referidas condições objetivas estão engendradas, na própria dinâmica da sociedade capitalista, de sociedade de classes e das contradições nelas presentes. E no cenário contemporâneo de expansão neoliberal demarcado pelo Consenso de Washington, se tornam ainda mais agravantes as condições de trabalho de qualquer trabalhador/a, a exemplo da redução dos gastos públicos, privatização das estatais, desregulamentação das leis trabalhistas e dos direitos sociais, intervenção mínima do Estado na economia (AS E).

Vale ressaltar que, da leitura, catalogação e análise dos dados compilados,

presentes nas transcrições das respostas apresentadas nas páginas anteriores,

depreende-se que se esforçaram para introduzir os elementos presentes no

cotidiano institucional onde ocorre a atuação profissional, segundo a ótica própria

que cada um/a conseguiu expressar livre e de forma democrática, sem a presença

da pesquisadora, apesar da distância geograficamente da capital de Cuiabá.

Distâncias consideráveis que dificultou efetuar os deslocamentos com recursos

próprios da pesquisadora, por possuir dificuldades nesse terreno financeiro para

custear os contatos “in lócus” nos referidos campi.

Os dados revelam, também, a existência de correlação de forças e luta por

poder no espaço institucional como um todo, mas, em especial, junto a Reitoria.

Em decorrência da sistemática adotada para trabalhar os dados concretos,

não se pode deixar de falar que, apesar dos elementos acima apontados,

particularizando as correlações de forças, mesmo com as relações de poder

existente no espaço sócio-ocupacional, é garantido autonomia relativa ao

profissional, mesmo reconhecendo que em determinados quesitos, ser um espaço

precarizado, o/a profissional tem conseguido realizar um trabalho com grau relativo

de qualidade, visto que essas relações de conflito interno de disputas por poder, não

inviabilizam a realização da atividade profissional de acordo com as possibilidades

institucionais existentes.

Outro ponto a ser destacado, refere-se aos recursos advindos do Programa

Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), destinados a ampliar as condições de

permanência dos jovens na educação superior pública federal.

A finalidade demarcada para o PNAES à instituição é pertinente a assistência

estudantil e está presente no cotidiano profissional dos/as assistentes sociais,

apesar de não ser uma de suas atribuições privativas. No entanto, no campo da

85

prática concreta no âmbito do IFMT, os/as assistentes sociais são os/as profissionais

mais requisitados para contribuir com o desenvolvimento dessa política, que requer

o comprometimento de todos os trabalhadores da educação, tanto da gestão,

planejamento quanto da execução direta do programa.

A regulamentação do programa no IFMT, se dá pela Instrução Normativa nº

02, de 24 de janeiro de 2012, que institui e normatiza a assistência estudantil do

IFMT, a partir dessa data. Assim, o programa de Assistência Estudantil do IFMT

consiste na concessão de auxílios aos estudantes de todos os níveis de ensino

presenciais ofertados. Abarca disponibilizar benefícios voltados aqueles que se

encontram em situação de vulnerabilidade socioeconômica, além de promover o

desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, aos estudantes em

geral, visando melhorar o desempenho acadêmico e um meio de evitar a evasão

que atinge patamares significativos, que por sua vez requer análise específica mais

acurada.

Assim, é fundamental ressaltar a importância das condições objetivas de

trabalho que permitem cumprir preceitos éticos profissionais que por sua vez

perpassam e afirmam o disposto no supra projeto de profissão que tem em seus

princípios, o respeito à democracia e a defesa da justiça social equitativa como

direção no cotidiano interventivo do Serviço Social em quaisquer espaço sócio-

profissional.

É imperioso destacar que entre as respostas recebidas não há uma unidade

de pensar, aceitar e cumprir o disposto pela Lei nº 12.317, de 26 de agosto de 2010,

referente a duração da jornada do trabalho do/a assistente social. Constata-se a

existência de formas diferentes do cumprimento do preconizado pela referida Lei.

Há profissionais que cumprem regime de 30 horas e de 40 horas semanais,

gerando situação de disformidade entre os dois regimes postos em pratica pela

instituição para a mesma categoria profissional. Situação que impacta diretamente a

equipe tanto nos aspectos da prestação de serviços, na criatividade, iniciativa,

quanto na sua subjetividade na forma de ver e sentir a prevalência de dois pesos e

duas medidas para uma questão única, a jornada de trabalho que não deve

comportar essa desigualdade laboral.

Existe também, a Portaria nº 417/GR, de 25 de abril de 2011, que normatiza

os turnos de trabalho e o registro de frequência dos servidores técnicos-

administrativos do IFMT. Portaria esta que atualmente está sendo questionada pelos

86

órgãos de controle, ficando a critério da gestão do campus a efetivação da portaria

citada acima, uma vez que no tocante a Lei, a instituição não tem garantido a

conquista legal, oficializada pelo Governo Federal quanto a definição de que a

categoria profissional tem regimentado a duração de trabalho de 30 horas semanais.

A “Lei das 30 horas”, após uma longa mobilização nacional, representa

grande conquista obtida pela categoria profissional dos/as assistentes sociais com a

aprovação da lei em pauta. Ela altera o artigo 5º da Lei de Regulamentação da

Profissão (Lei nº 8.662/1993), para instituir tempo de duração do trabalho do/a

assistente social em discussão, com o acréscimo de garantir no artigo 2º, que com a

nova definição das 30 horas é vedada a redução de salário dos profissionais,

cogitadas por muitos postos ocupacionais, mas, não materializadas efetivamente.

As questões levantadas até o momento, por um lado, permitem identificar um

dos entraves à convivência profissional, pois constituem-se em desigualdade e

injustiça pelo modo de gerir uma categoria profissional em seus posicionamentos

coletivos.

Por outro ângulo evidencia as possibilidades concretas de atuação

profissional do Serviço Social existentes no IFMT, somados aos demais desafios

enfrentados pelo/a assistente social nesse espaço de trabalho.

Assim sendo, se articula a esses dados cotidianos as referências que

respalda esta análise, constata-se, a real forma de subsunção do trabalho ao capital.

Porém, em meio as dificuldades apontadas, cabe frisar que a categoria se posiciona

em busca por limites institucionais, bem como novas possibilidades de realizar sua

intervenção de cunho analítico crítico propositivo. Estes serão trabalhados no

próximo item.

4.3 Entraves e possibilidades da atuação profissional na Educação

Profissional e Tecnológica (EPT)

Como já mencionado neste trabalho, o Serviço Social tem sua gênese

marcada por determinações históricas da evolução da sociedade capitalista. É uma

profissão que se consolida no interior das lutas de classe e que tem, portanto, esta

realidade social enquanto objeto de intervenção profissional que leva em

consideração as influências do contexto político-econômico e social de cada época.

87

Isto posto, passam-se a articular novas condições de trabalho do Serviço

Social na contemporaneidade em toda a complexidade conjuntural que a reveste e,

geram preocupações para se concretizar efetivamente a atuação profissional dos/as

assistentes sociais, coerente e de qualidade, conforme evidencia os aportes teórico

metodológicos, técnicos operativos e éticos normativos que regem a profissão.

Afirmações que tem sua constituição e fio condutor na própria conjuntura

atual, que conforme se movimenta em vários aspectos sócio-econômicos e políticos,

impacta a atuação profissional em diversas dimensões e espaços de trabalho.

Situação que não se apresenta diferente no campo da educação profissional

e tecnológica, alicerçado pelo imenso e intenso movimento de inovações

tecnológicas, organizacionais, vividas pelo mundo do trabalho no final do século XX

cujos reflexos emendam no século XXI, sendo que o grau complexo atingiu o campo

das Políticas Sociais públicas e privadas operacionalizadas pelas diversas esferas

institucionais, federal, estadual e municipal de diversos campos e áreas. E em se

tratando do espaço federal, percebe-se uma tensão entre a forma de geri-lo frente

ao projeto profissional, que pode ser compreendido a partir da presente afirmação

de Iamamoto (2009, p. 248),

Verifica-se uma tensão entre projeto profissional, que afirma o assistente social como um ser prático-social de liberdade e teleologia, capaz de realizar projeções e buscar implementá-las na vida social; e a condição de trabalhador assalariado, cujas ações são submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos indivíduos singulares, os quais são socialmente forjados a subordinar-se, ainda que coletivamente possam rebelar-se.

Depreende-se da passagem citada que apesar da capacidade e habilidades

possuídos pelas/as assistentes sociais para mediar a referida tensão enquanto sua

liberdade, com relação as condições de trabalho e aos entraves institucionais, estes

empregadores, subsumem os/as trabalhadores conforme segue os relatos dos/as

profissionais participantes da pesquisa ao afirmar que:

Relato A:

Número insuficiente de profissionais para atender as diversas atribuições que são requisitadas. A relação atual em termos numéricos é de apenas 1 (uma) assistente social para atuar em campus com uma média de 1.200 estudantes (hum mil e duzentos), em sua sede e dois núcleos avançados em diferentes municípios e, pelo menos 300 estudantes em regime integral e de internato, com sérias dificuldades na estrutura de moradia. Falta de

88

planejamento estratégico de diversas instâncias que se articulam aos trabalhos do Serviço Social (AS A).

Nessa linha reflexiva, o relato seguinte aborda outro elemento que se faz

presente em seu cotidiano profissional como,

Relato B:

A evasão escolar que deveria ser acompanhada em tempo real pelo Serviço Social não acontece, pois os diários dos professores não são preenchidos de forma correta, e somente quando chega o final do semestre ou quando tem conselho de classes que temos essa informação. Mesmo assim, orientamos aos professores nos informar os alunos que estão faltando para o Serviço Social fazer o acompanhamento e/ou encaminhamento devido ao aluno (AS B).

Na ótica da complementaridade outros aspectos assumem o protagonismo

como dificuldade a atuação profissional assim expressa,

Relato C:

Falta o entendimento, por parte dos colegas Servidores e dos Alunos, do que é Serviço Social, o que faz um Assistente Social e seu papel na Educação. Esse é um dos entraves. Outro entrave seria não participar das decisões de como será destinado o Recurso para a Assistência Estudantil. Já vem pronto e pré destinado todo o montante que será gasto (AS C).

A exemplo do relato acima, este corrobora a falta de conhecimento sobre o

real papel, atribuições e prerrogativas do Serviço Social, motivo pelo qual muitos dos

entraves enfrentados se originam,

Relato D:

Os principais entraves que ainda existem para a efetivação da prática profissional do IFMT são a concepção ainda conservadora que existe para muitos, onde este profissional deve trabalhar na perspectiva da benemerência. O desconhecimento sobre o que é a profissão também torna-se um entrave, pois acaba muitas vezes dificultando o fazer profissional (AS D).

Diante do exposto, fica evidente que apesar da inserção de uma quantidade

razoável de profissionais assistentes sociais no IFMT, com base na quantidade de

alunos/campi, o número ainda é insuficiente, pois trata se de uma instituição com

estrutura multi-campi e com várias modalidades de educação. Essa necessidade de

89

aumentar o incremento de servidores faz jus também aos servidores assistentes em

administração, ou seja, profissionais que colaboram com as práticas burocráticas da

instituição. Cobertura necessária, até mesmo para não sobrecarregar um

determinado servidor cargo específico, com acúmulo desproporcional de atividades,

a fim de preservar, sua saúde e qualidade de vida, tão indispensáveis aos seres

humanos e, em especial aos trabalhadores em condições de trabalho adversas.

Outra situação é a lógica da expansão, que vem ocorrendo de forma

acelerada, para atender aos interesses do capital, a exemplo do agronegócio da

região que alguns campi se localizam. Esforço não evidenciado na mesma

proporção com relação aos recursos humanos, que vão se tornando polivalentes

para dar conta das sobrecargas impostas. Situação equivalente, também, quanto a

sobrecarga para os/as profissionais de Serviço Social, pois são muitas as atividades

a serem desenvolvidas pelo/a assistente social.

Atividades que, do ponto de vista sobre o desconhecimento do Serviço Social

por outros profissionais pertencentes à educação, gera a não demanda a prestação

de serviços cabíveis aos servidores, uma vez que ao não conhecerem a natureza da

profissão, não reconhecem a necessidade da intervenção profissional desse

profissional.

A concepção conservadora revelada na pesquisa abarca apenas os

profissionais das outras áreas de conhecimento, pois os/as assistentes sociais

sujeitos partícipes da pesquisa tem clareza de sua atuação profissional.

Em contraponto aos entraves elencados, são inúmeras as possibilidades de

intervenção profissional, que se descortinam a visão de que os/as assistentes

sociais, seja na assistência estudantil ou no acompanhamento das inúmeras

expressões da questão social presentes na EPT, ministrado pelo IFMT. É válido

rememorar que a educação profissional esta sendo tratada como política pública,

com toda fragilidade de acesso, permanência e qualidade que lhe é inerente, desde

o plano da concepção a especialização.

Entretanto, ações profissionais, disponível nos Subsídios para Atuação de

Assistente Social na Política de Educação (2012), específicas dos/as assistentes

sociais merecem destaque, quanto à abrangência de sua atuação no campo da

educação conforme detalhamento a seguir apresentado:

90

1) Abordagens individuais e junto às famílias dos/as estudantes e

trabalhadores/as da Política de Educação, não sendo vista como a única

forma de atuação profissional;

2) Intervenção coletiva junto aos movimentos sociais como reconhecimento

dos sujeitos coletivos. Ênfase não apenas na educação formal, como

também no campo da educação popular, de forma a ampliar os horizontes

em defesa da educação pública. Ex.: Grêmios Estudantis, Centos

Acadêmicos, Conselhos de Classe, etc;

3) Atuação investigativa, compreensão das condições de vida, de trabalho e

de educação da população para apreensão da realidade social para além

da aparência, constando no projeto de intervenção profissional;

4) Atuação nos espaços democráticos de controle social, nas Conferências e

Conselhos da Política de educação, bem como nos espaços internos, tais

como Comissões, Grupos de Trabalho, etc;

5) Atuação pedagógica interpretativa e socializadora das informações e

conhecimentos da rede de serviços. Ênfase para as legislações

pertinentes, os direitos sociais e humanos;

6) Atuação de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e

serviços, apesar da resistência institucionalizada, atualmente tem se uma

clara possibilidade de atuação profissional na gestão democrática e

participativa.

O elenco e reconhecimento das ações do/a assistente social na área em

apreço, tem sido trabalhada na perspectiva da garantia do acesso, da permanência

do público alvo na instituição e no sentido da valorização da gestão democrática.

Com o intento de demonstrar as particularidades da atuação profissional,

conforme a caracterização e inserção do Serviço Social na Política de Educação do

IFMT, julgou-se pertinente apresentar os parâmetros a seguir:

a) Com relação à garantia do acesso da população à educação formal:

O processo de interiorização da rede, apesar das inúmeras falhas e problemas na condução de sua implantação pelo governo federal, está possibilitando o acesso de trabalhadores e seus filhos na educação pública. Existe a compreensão institucional de que os Institutos Federais devem pensar em estratégias para inserir os trabalhadores (as) na educação.

91

Reflexo desta preocupação é a obrigatoriedade legal de que cada Instituto tenha um percentual, definido por lei, do Programa de Educação de Jovens e Adultos; as atividades de extensão e as localidades em que foram instalados alguns campi do IFMT no interior do Estado também reflete a relação de proximidade que essa instituição deve ter como as comunidades (AS A).

b) Com relação à permanência do acesso da população à educação formal:

A principal garantia de permanência da população a educação formal é a partir da Política de Assistência Estudantil, só que os recursos que são alocados para tal política ainda é pouco debatido no IFMT, pois a exemplo de outros Estados, a assistência estudantil tem uma diretoria e os meios de debate bem como a alocação dos recursos são mais transparentes.Além da equipe multiprofissional que hoje existe no IFMT do qual faz parte o assistente social, onde junto a esta equipe este profissional desenvolve projetos e ações que venham a contribuir com o processo educativo e com a consolidação dos espaços políticos, construindo assim a cidadania e ainda desenvolve trabalhos que perpassam por questões sociais que visem contribuir também com este processo de aprendizagem (AS D).

c) Com relação à garantia da qualidade dos serviços prestados no sistema

educacional do IFMT:

Na perspectiva da garantia da qualidade dos serviços prestados, há busca no desenvolvimento de trabalho interdisciplinar e a busca de desenvolver ações intersetoriais. Há neste ponto também, a defesa de espaços reservados para atendimento e espaços reservados dos arquivos da/do profissional, bem como a defesa da dimensão investigativa no exercício profissional e a necessidade de se realizar estudos de cunho qualitativo acerca da realidade social e dos envolvidos na Política de Educação. Todavia, esses são alguns passos na garantia da qualidade, que se encontram em um cenário desafiador (AS E).

d) Com relação à garantia da gestão democrática e participativa da

população na Política de Educação do IFMT:

Não há nenhuma (AS C).

A ampliação dos IF’s gerou demandas imensas por programas e ações que

envolvem a assistência estudantil, e consequentemente o crescimento das formas

de acesso, em especial para a educação superior.

Ao analisar os dados acima relativos as condições de acesso, podem-se

observar que as atividades estão diretamente relacionadas as ações institucionais,

92

criadas pelo governo, intitulada afirmativas à população mais vulnerável quanto aos

processos seletivos, estabelecimento de cotas, programas de bolsas/auxílios,

atividades de extensão, dentre outras.

Pertinente à permanência, as ações são semelhantes, mas os projetos se

voltam a encaminhamentos para lidar com questões de evasão e da baixa

frequência, bem como as estratégias e didáticas a serem adotadas para minimizar a

situação. Estratégias em que as ações profissionais se pautam por processos

investigativos, como estudos sócio-econômicos, identificação das condições de

vulnerabilidade social, organização da operacionalização dos programas da

assistência estudantil, destinados a esse público alvo.

Da mesma forma, é importante registrar que a garantia da qualidade dos

serviços prestados à população escolar, mantém a relação direta com a

imprescindibilidade da participação dos/as profissionais assistentes sociais, na

elaboração dos documentos institucionais de referência, como o Plano de

Desenvolvimento Institucional, o Regimento Interno, os Planos Pedagógicos dos

Cursos, a Organização Didática, entre outros, ampliando as práticas pedagógicas

desses profissionais.

E por último, além das dimensões anteriores apresentadas no sentido de

garantir a gestão democrática e participativa da população estudantil, é fundamental

os/as profissionais atuarem na mobilização e organização dos mesmos, no que

tange nos Grêmios Estudantis e Centros Acadêmicos, a fim de fortalecer o

protagonismo desse segmento na vivência institucional nas questões que lhes

compete quanto uma sólida afirmação não só profissional, mas, também cidadã

responsável.

Contudo, em que pese esse esforço ativo dos/as profissionais de Serviço

Social existe ações pontuais para o fortalecimento dessa instância, principalmente

para o enfrentamento das sequelas da questão social. Assim, com intuito de

externalizar as principais expressões presentes no cotidiano da educação

profissional e como se desvelam dentro do IFMT, o item seguinte se destinará a

apresentá-las de modo mais detalhada.

93

4.4 Expressões da questão social manifestadas no cotidiano da Educação

Profissional e Tecnológica (EPT)

Nos últimos anos, com o ingresso de relativo número de assistentes sociais

no IFMT, com o mínimo de um profissional por campi, houve grande interesse por

parte da categoria em realizar estudos sócio-econômicos e políticos sobre as formas

que a “questão social” e suas múltiplas formas de expressão comparecem no

cenário institucional em análise. Interesse que está presente desde a gênese da

profissão, portanto, lhe é inerente por se tratar desde os primórdios, das

contradições internas com as quais a profissão lida constantemente, por emanarem

da formação societária vigente.

Logo, essas expressões constituem-se em parte interna da sociedade

capitalista, cujos reflexos por uma série de desdobramentos se fazem

inexoravelmente presente nos processos formativo e também no processo de

trabalho, independente do espaço sócio-ocupacional onde os/as trabalhadores/as

cumprem seus respectivos exercícios profissionais.

Nesse contexto cabe ressaltar os contributos de Pastorini (2010, p. 22) sobre

“a ‘questão social’ contemporânea nas sociedades capitalistas que mantém a

característica de ser uma expressão concreta das contradições e antagonismos

presentes nas relações entre classes, e entre estas e o Estado”, ou seja, é

indissociável da sociedade capitalista, com o desenvolvimento das forças produtivas

e consequentemente, aprofunda as relações de desigualdade e pobreza.

Contribuições que corroboram com a forma e os elementos apreendidos no

cotidiano da EPT no IFMT e de como a discutida questão desvela seus

arraigamentos e expressões na ambiência institucional. Essas expressões, muitas

vezes surgem com novas roupagens, mas, sem se poder esquecer que são oriundas

dos processos históricos em constante movimento, dado a dinâmica inerente à

realidade social.

As desigualdades sociais constituem uma das categorias de análise

permanentemente desafiadora ao Serviço Social e exige do/a profissional o

compromisso do debate teórico atento e acurado frente as expressões advindas do

embate entre capital e trabalho, bem como frente as políticas e ações voltadas à

questão social, em contextos diversos, de modo a encontrar novas formas de

94

enfrentar os impactos advindos da relação conflituosa entre capital e trabalho citada

ao longo do trabalho.

Os elementos antagônicos presentes na sociedade capitalista, foram apenas

rememorados por não ser a intenção realizar uma retrospectiva dessa discussão,

mas, só referenciá-las para situá-las e demonstrar essa correlações de forma breve,

as concepções que surgiram sobre as expressões da questão social presentes na

EPT dentro do IFMT a partir da pesquisa realizada, embora algumas delas

perpassaram, todos os itens, em especial quando se trata da evasão escolar.

Quanto aos demais a seguir elencados, que se constituem em concretas e principais

formas de expressões da questão social presentes no IFMT, porém de forma difusa:

Drogas lícitas e ilícitas (uso, dependência e tráfico);

Prostituição;

Abuso Sexual;

Alcoolismo;

Violência Doméstica;

Violência Sexual;

Violência Psicológica;

Desemprego;

Preconceito;

Negligência dos pais/responsáveis;

Vulnerabilidade Social;

Dificuldade de aprendizagem;

Doenças Sexualmente Transmissíveis;

Assédio Moral;

Precarização do trabalho;

Alto índice de evasão;

Gravidez na adolescência;

Paternidade na adolescência;

Saúde precária;

Desigualdade Social;

Vandalismo;

Roubo.

95

A relação apresentada, considerou todas as formas que as expressões da

questão social se manifestam nesse espaço sócio-ocupacional como sua

configuração global impactam o convívio educacional. Nesse sentido, os/as

assistentes sociais vem buscando discutir formas sócio-educacionais para essas

manifestações a partir das relações sociais vivenciadas pelos/as estudantes.

Um ponto a ser destacado é sobre quais as respostas e as possibilidades

técnico-operacionais que o Serviço Social passa a ofertar as reais problemáticas

vivenciadas cotidianamente pelo/a profissional, nesse contexto institucional de

formação do público da EPT?

Questionamento que requereu firmar com a maior clareza qual a real

concepção de educação e de Serviço Social que este profissional possui. Isto é,

considerar também que a educação não pode ser entendida como a única forma de

ascensão social, pois este discurso se faz presente no senso comum, porque lhe é

inerente, logo, oposto ao pensar como o Serviço Social, enquanto profissão se

insere no processo de divisão técnico político e operacional do capital.

Assim, foi necessário se reportar ao conhecimento da identidade profissional

neste espaço de atuação, dada a peculiaridade e particularidades que comporta a

comunidade escolar e o que ela espera do/a assistente social. Menção necessária

para entender as determinações específicas dessa atuação.

Ainda se faz presente no ideário da referida comunidade que quando

reivindica a intervenção do/a profissional de Serviço Social, este terá o dever de

solucionar todos os problemas vivenciados no espaço escolar e com

desdobramentos, consequências no universo familiar.

Das devolutivas recebidas pudemos apreender que os/as assistentes sociais

do IFMT, comungam com o disposto pelo CFESS ao percorrer que,

Os campos de trabalho ou ‘mercado’ do/a Assistente Social estão pulverizados de práticas institucionais dificultadoras da formação de uma ‘identidade’ profissional, num contexto em que se expressa um redesenho nos diferentes processos de trabalho (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2012, p. 21).

Percepção que é constatada neste estudo ao refletir sobre as respostas

dadas, conforme pontuado em linhas anteriores que os/as assistentes sociais do

IFMT, trabalham ancoradas nas formas com que cada realidade do seu campi lhe

expressa.

96

Nesta reflexão esta inserida também o respeito aos hábitos culturais locais, a

natureza, a vocação econômica dos municípios aos quais os/as alunos/as do EPT

pertencem que por si influenciam o exercício profissional a considerar esse conjunto

de necessidades as quais se defronta a reflexão posta, leva a constatação que

existem não um só, mas alguns caminhos diversos que conduzem os/as

profissionais a conformar a construção e afirmação da identidade.

A mediação em questão perpassa esse processo de firmar a identidade

profissional ao se travar as relações sociais desenvolvidas neste espaço, tais como

aluno-professor, aluno-família, aluno-servidor, dentre os quais se encontram os/as

assistentes sociais e, que consequentemente se farão presentes no cotidiano de

vivência e por fim aluno-sociedade.

Desse modo, algumas possibilidades são possíveis para fortalecer a

identidade profissional, como a seguir listado:

Ampliação dos debates institucionais com os sujeitos que tenham relação

direta com os elementos apontados, de modo a provocar como entender a

caracterização da situação vivenciada;

Elaboração de diagnóstico, se possível, envolver os/as professores/as

partícipes diretos dessa vivência, portanto com contribuições de olhares

de ângulos diferentes da realidade social educacional, cuja elaboração

subsidiará as ações e projetos sociais nesse espaço;

Implementação de projetos sociais, adotando a atitude de constante

monitoramento e avaliação dos projetos executados, no intuito de obter

um retorno positivo à população a que se destina;

Articular o agir profissional com a política de educação, particularizando a

EPT com outras políticas públicas na perspectiva de entender a linha da

intersetorialidade.

Quanto a última, possibilidade apontada, o IFMT por meio do Serviço Social

vem trabalhando nessa direção de garantir uma articulação com as políticas

existentes, pois existem ações que fazem interface interinstitucionais com outras

políticas, especialmente as da Saúde, Assistência Social, Cultura, Esporte e Lazer,

Geração de Trabalho e Renda, Preservação do Meio Ambiente, dentre outras, como

97

assinalam as percepções dos/as assistentes sociais, respeitando as diversidades

locais apontadas anteriormente que assim expõe:

Relato A:

O IFMT atua com programas de extensão para qualificação profissional, se articulando com as Secretarias de Trabalho e Renda e da política de Assistência Social dos municípios (AS A).

Relato B:

Temos parceria com o município que nos dá total auxílio se precisarmos, é só encaminhar para as Secretarias. Na área da Saúde sempre encaminhamos nossos/as alunos/as e as vezes encaminhamos para a Assistência Social (AS C).

Relato C:

No momento atual, estamos iniciando um mapeamento da rede local, como secretarias, conselhos, organizações não governamentais, prefeitura e movimentos sociais. Já foram realizadas algumas visitas institucionais nas secretarias para conhecer as ações e projetos que estão sendo desenvolvidos nesses locais, bem como a possibilidade de se construir ações conjuntas. Até o momento, foi dialogado com o Núcleo Municipal de Educação em Saúde (NUMES) e com o Núcleo de Apoio em Saúde da Família (NASF) – ambos da Secretaria Municipal de Saúde, para desenvolver algumas ações na área da saúde preventiva para a comunidade da Instituição – tanto para as/os estudantes quanto servidoras/es. Outra ação está sendo iniciada na área do Meio ambiente, junto com o comitê local (localizado em Cuiabá) da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida – fomentaremos a divulgação da campanha na Instituição e temos a ideia de lançar o curta ‘O Veneno Está em Sua Mesa II’ com a comunidade da Instituição e posteriormente realizar um debate sobre algumas questões como concentração de terras; produção voltada para a exportação; expropriação do povo do campo; e a geração de lucro para transnacionais que por outro lado continua mantida a fome e a pobreza no país (AS E).

Os extratos acima mencionados, revelam que há um empenho e pleno

comprometimento com o exercício profissional através da mediação das ações

desenvolvidas no IFMT com as políticas setoriais, apesar da sinteticidade do teor

dos dois primeiros. O terceiro conteúdo desvela exatamente o domínio do fazer

profissional pela apropriação de elementos e posicionamentos mais ajustados para

firmar parcerias, construir uma rede, ações conjuntas e mediá-las institucionalmente

com cada espaço sócio-ocupacional e outrora sociais partícipes desse processo em

98

prol de garantir o público alvo, ações sociais efetivas que contribuam com a

formação cidadã na ótica do acesso aos direitos universais.

Nesse sentido, é claro que as ações profissionais vêm sendo construídas no

âmbito dos direitos sociais, conforme afirma Simões (2011, p. 69). “Os direitos

sociais estão inseridos no âmbito dos direitos e garantias fundamentais, ao lado dos

direitos individuais e coletivos, da nacionalidade e dos direitos políticos”. E cujas

estratégias o Serviço Social utiliza para assegurar o exposto, conforme evidencia o

trecho da devolutiva a seguir apresentada,

Relato A:

Primeiramente conhecer quais são as necessidades colocadas pelo público atendido na educação e quais são as políticas que o Serviço Social poderá acionar em caso de realizar parcerias e/ou denúncias de violação de direitos. Outra estratégia é conhecer bem não só a política na qual atua, mas também aquelas que deverão ser acionadas para realização das parcerias. Estabelecer contatos com uma rede de profissionais que atuam nas diferentes políticas e serviços que se articulam com a educação também é uma importante estratégia para o acesso a informações seguras e encaminhamentos necessários (AS A).

Relato B:

As estratégias são muitas desde que haja o envolvimento de toda a comunidade acadêmica seja ela interna ou externa. E para se articular o sistema de garantias e proteção social deve-se buscar especialmente os parceiros externos, visto que internamente, o IFMT ainda possui muitas limitações, especialmente nos campi rurais e onde ainda há os internatos. (AS D)

É de vital importância reafirmar a perspectiva dos direitos sociais enquanto

legalmente conquistados, em contraposição a compreensão de concessão. Nesse

sentido, os/as profissionais estreitam a relação com os princípios do Projeto Ético-

Político do Serviço Social, em busca do enfrentamento dos desafios postos à

atuação profissional, de forma a desconstruir o pensamento majoritário da sociedade

de hoje de que é importante a EPT vinculada à empregabilidade e ao mercado de

trabalho, em prol da compreensão da educação pública, laica, presencial, de

qualidade, haja vista a consolidação da educação universal.

99

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse estudo, buscamos compreender a atuação do/a assistente social na

educação profissional e tecnológica, no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), a

partir do eixo norteador da pesquisa, focado nas categorias: Serviço Social; Atuação

Profissional e Educação Profissional e Tecnológica, onde procuramos demonstrar

que a atuação do Serviço Social para a EPT, mesmo ante os entraves e limitações,

vem gradativamente construindo uma via não só de acesso mais amplo na

instituição, quanto de reconhecimento da sua realidade no seio das demais

profissões que congregam esse espaço ocupacional. Acesso e reconhecimento de

um exercício profissional de qualidade que enriquece o trabalho desenvolvido

individual e coletivo. Os/as profissionais pesquisados/as são trabalhadores/as que

sofrem os impactos criados pela crise estrutural do capital, que resultam em um

ambiente de trabalho de opressão que os atinge diurnamente mesmo em se

tratando de estar inseridos em uma instituição prestadora de Serviço Público

Federal.

Explicação que remete a compreensão da trajetória da educação ser

fortemente marcada pelas disputas societárias. No entanto, abordar o Serviço Social

nesse contexto da educação se coloca como tarefa política visto que é um campo de

intervenção do Estado e de um espaço sócio-ocupacional estratégico para a

formação de cidadãos, sujeitos portadores de direitos e garantias sociais

inalienáveis.

As contradições produzidas pelo capital se apresentam cada vez mais

profundas e a capacidade do Estado em lidar com essas expressões e em promover

as políticas sociais se mostram cada vez mais minorizadas e duramente

questionadas. Assim, tais contradições imprimem um contexto desfavorável ao

trabalho do/a assistente social e trabalhadores em geral, que sofrem perdas dos

direitos trabalhistas conquistados, levando a luta pela reprodução e garantia da

própria sobrevivência a níveis insustentáveis.

Desse modo, a atuação do Serviço Social no espaço sócio-ocupacional do

IFMT, é atravessado por entraves, limites e possibilidades de atuação frente a

garantia de direitos e proteção social, nos programas internos ou na articulação

intersetorial.

100

Pelos resultados obtidos, é visível e inegável reconhecer a necessidade da

atuação deste profissional na EPT, principalmente, no que se refere à dimensão

educativa do trabalho. Intervenção que fortalecerá o processo de organização de

uma nova cultura na comunidade escolar, fundamentada em princípios de acordo

com o projeto ético-político do Serviço Social numa perspectiva crítica e interventiva.

O Serviço Social pode contribuir analisando a realidade social num ponto de vista da

totalidade, dando visibilidade aos determinantes das situações vivenciadas pela

demanda, e ainda desempenhar um papel estratégico na luta pelo atendimento das

necessidades e interesses da comunidade escolar.

Essa atuação só é possibilitada pela intervenção efetiva, concreta e

sintonizada entre os/as assistentes sociais aos demais profissionais do IFMT, como

psicólogos, pedagogos, técnicos em assuntos educacionais, dentre outros, que

caminham na mesma direção da qualidade dos serviços prestados.

Nesse processo, também se faz presente considerar a validade do conjunto

de conhecimentos das dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-

operativas, pois são dimensões que capacitam a materialização e o reconhecimento

legal dessa profissão, portanto da atuação de seus profissionais norteados por esse

conjunto de saber. O amadurecimento teórico da profissão proporciona o referido

arcabouço teórico-metodológico que, articulados, viabilizam integralizar as ações

profissionais aos sujeitos de direitos.

Deste modo, dentre as inferências, é necessário reconhecer a necessidade e

indispensabilidade de ampliar os debates entre os profissionais que atuam nesta

área, de forma a oportunizar reflexões sobre as particularidades da política de

educação nesse espaço sócio-ocupacional, a fim de socializar experiências positivas

de cada campi. Nesse ponto, revelar limites e possibilidades de atuação concreta

renova a intenção de mobilizar o debate, a reflexão dessa temática, articulado

coletivamente com outros profissionais do IFMT, em defesa da educação

democrática e de qualidade.

Reconhece-se que o Serviço Social deve se inserir de forma mais ampla e

efetiva na EPT, aprofundando as relações dentro desse espaço contraditório,

visando compreender a dinâmica dessa instituição, para posteriormente desenvolver

trabalhos em conjunto, dirigido a ampliação e conquista dos direitos sociais e

educacionais, de suma importância para a atuação do/a assistente social.

101

Deve-se ressaltar que a pesquisa abarcou várias possibilidades de atuação

para concretizar o exposto acima. Contudo, a luta coletiva nesse espaço, não se

prende apenas para ampliar o mercado de trabalho profissional, mas no sentido de

reconhecimento deste espaço estratégico ao Serviço Social em todos os IF’s local e

nacional, articulado a outros processos de trabalho em busca de uma emancipação

humana concreta para si e para o público alvo.

As experiências aqui apresentadas, apesar de algumas serem de

profissionais com pouco tempo de atuação, são qualificadas, conforme as condições

objetivas de trabalho e as requisições institucionais postas por cada campi.

Particularidades que não interferem na delimitação do trabalho profissional do/a

assistente social no que tange a concepção de educação e de Serviço Social já

debatida neste estudo.

Igualmente, se refere ao significado político da inserção do Serviço Social na

EPT, que vincula-se a luta pela educação pública, de qualidade e como direito

social. Nessa perspectiva, a articulação com profissionais de outras políticas, bem

como dos órgãos de classe, é necessário para compor a base da formação contínua

no cumprimento das atribuições e competências socioprofissionais.

É válido ressaltar a importância do papel da pesquisa nesse processo, visto

que faz-se imprescindível enfatizar a natureza investigativa e interventiva do/a

profissional, ou seja, a apreensão das reais condições de trabalho dos/as

assistentes sociais como elemento fundamental para o exercício profissional

qualificado, visando alcançar os objetivos e metas pretendidos.

Inúmeros, portanto, foram os desafios captados na pesquisa para os

profissionais da educação, dentre eles, o/a assistente social. Neste sentido, é

fundamental refletir sobre o trabalho executado nesta política social, sua inserção na

sociedade, sua condição de vida e participação de modo a reconhecer e construir

novas formas de resistência ao processo de fragilização das políticas educacionais e

da atuação política desses profissionais em defesa de seus direitos como principais

protagonistas nesse processo.

Para finalizar, é fundamental registrar que é necessário o/a assistente social

assumir conscientemente o compromisso com a transformação educacional atual.

Replanejá-la com as concepções aqui discutidas e apreendidas pela equipe.

Compromissos plenamente ancorados com os objetivos ético-político, presentes no

projeto político pedagógico da categoria profissional do Serviço Social, articulando

102

suas ações com movimentos de resistência e de construção de outras propostas

inovadoras para EPT. Esse é o desafio que estará por determinado tempo posto em

caráter da continuidade, ainda para os/as assistentes sociais que ocupam os

espaços profissionais da área de educação e não exclusivamente aos do IFMT.

Reconhece-se por fim que algumas dimensões pertinentes a essa área que

podem ter sido abarcadas em uma outra pesquisa com um perfil diferenciado, não o

foram nesta. Mas, entretanto, é uma pesquisa com um caráter norteador da

intervenção profissional de assistentes sociais que na prática é respaldada.

Portanto, esta elaboração submetida a apreciação da Banca Examinadora está

aberta à contribuição que serão incorporadas em estudos futuros.

103

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107

APÊNDICE A - Questionário

QUESTIONÁRIO8

1) Qual a concepção de educação que orienta sua experiência de atuação

profissional do/a assistente social? Com o auxílio ou não de referências a

autores, a concepção que tem norteado ou que vem sendo construída no

trabalho da equipe, inclusive se houver diferenças entre as mesmas.

2) Qual a concepção de Serviço Social que orienta seu trabalho na Política de

Educação Profissional e Tecnológica do IFMT? Com o auxílio ou não de

referências a autores, a concepção que tem norteado ou que vem sendo

construída no trabalho da equipe, inclusive se houver diferenças entre as

mesmas.

3) Quais as condições objetivas existentes no IFMT para efetuar a atuação

profissional do Serviço Social? Exemplifique as condições.

4) Quais os principais entraves existentes no IFMT enfrentados na atuação

profissional do Serviço Social? Exemplifique os entraves.

5) Caracterize a inserção do Serviço Social no âmbito da Política de Educação

do IFMT, considerando as particularidades da atuação profissional do/a

assistente social e tendo como referência os seguintes focos:

a) garantia do acesso da população à educação formal; Quais as ações,

programas e atividades voltadas para esta finalidade e exemplifique.

b) garantia da permanência da população à educação formal; Quais as

ações, programas e atividades voltadas para esta finalidade e exemplifique.

8 Questionário elaborado pelo Grupo de Trabalho Serviço Social na Educação. Brasília, 20 de dezembro de 2009, adequado para a pesquisa da dissertação intitulada “A Atuação Profissional do/a Assistente Social no Instituto Federal de Mato Grosso – IFMT: desafios e particularidades do Serviço Social na Educação Profissional e Tecnológica”, do programa de Mestrado em Política Social pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.

108

c) garantia da qualidade dos serviços prestados no sistema educacional

do IFMT; Quais as ações, programas e atividades voltadas para esta

finalidade e exemplifique.

d) garantia da gestão democrática e participativa da população na Política

de Educação Profissional e Tecnológica do IFMT. Quais as ações,

programas e atividades voltadas para esta finalidade e exemplifique.

Obs.: Caso as experiências profissionais não estejam contempladas nos itens

destacados descreva a partir da sua realidade.

6) O Serviço Social na Política de Educação Profissional e Tecnológica do

IFMT integra equipes multidisciplinares e/ou interdisciplinares? Como as

equipes estão compostas e as formas de condução de seu trabalho identificando

possibilidades e entraves em relação à construção de um trabalho coletivo

voltado para a garantia do direito à educação.

Obs.: Caso as experiências profissionais não estejam contempladas nos itens

destacados descreva a partir da sua realidade.

7) Identifique as principais expressões da questão social presentes na Política

de Educação Profissional e Tecnológica dentro do IFMT. Quais são essas

leituras identificando como essas diferentes expressões são identificadas e

enfrentadas e exemplifique.

8) No IFMT, existem ações interinstitucionais e de articulação das Políticas

Públicas de Educação com outras políticas, como Saúde, Assistência

Social, Cultura, Habitação, Justiça, Esporte e Lazer, Trabalho e Renda, Meio

Ambiente? De que forma acontece? Quais são essas ações identificando-as

frente às demais políticas públicas e exemplifique.

Obs.: Caso as experiências profissionais não estejam contempladas nos itens

destacados descreva a partir da sua realidade.

9) Quais as estratégias do Serviço Social para articulação e mobilização do

sistema de garantia de direitos e proteção social? Quais são essas

109

estratégias identificando como que elas são construídas no cotidiano

institucional e exemplifique.

10) Descreva informações complementares sobre sua atuação profissional

dentro do IFMT que julgue importante.