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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL RAFAELLA MARIA LEMOS DE SOUSA DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL E SERVIÇO SOCIAL: A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS REDES PÚBLICAS DE ATENÇÃO AO DEPENDENTE QUÍMICO DA CIDADE DE NATAL/RN. NATAL/RN 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Regulamentação Profissional do Assistente Social, o Código de Ética Profissional e os Parâmetros para Atuação de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

RAFAELLA MARIA LEMOS DE SOUSA

DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL E SERVIÇO SOCIAL: A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS REDES PÚBLICAS DE ATENÇÃO AO

DEPENDENTE QUÍMICO DA CIDADE DE NATAL/RN.

NATAL/RN

2013

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RAFAELLA MARIA LEMOS DE SOUSA

DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL E SERVIÇO SOCIAL: A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS REDES PÚBLICAS DE ATENÇÃO AO

DEPENDENTE QUÍMICO DA CIDADE DE NATAL/RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Professora Dra. Eliana Andrade da Silva.

NATAL/RN

2013

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RAFAELLA MARIA LEMOS DE SOUSA

DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL E SERVIÇO SOCIAL: A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

DOS ASSISTENTES SOCIAIS NAS REDES PÚBLICAS DE ATENÇÃO AO

DEPENDENTE QUÍMICO DA CIDADE DE NATAL/RN.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Professora Dra. Eliana Andrade da Silva.

Aprovada em: ____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ Profª Dra. Eliana Andrade da Silva - Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

________________________________________________ Profª Dra. Carla Montefusco de Oliveira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

________________________________________________ Donália Cândida Nobre

Assistente Social – CRESS 1211 – 14ª Região/RN

NATAL/RN

2013

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AGRADECIMENTOS

Ao chegar ao final de uma etapa tão importante na minha vida, é necessário

agradecer a todos que se fizeram presentes na minha caminhada.

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado força, perseverança para

chegar até aqui, mesmo com todas as dificuldades postas e por em nenhum

momento me deixar desistir.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional que me deram ao longo do curso,

segurando todas as barras de Aziza para que eu estivesse presente nas salas de

aula e também pela ajuda para que me mantivesse no curso. Sem vocês eu não

conseguiria chegar até aqui.

Agradeço a Aziza Maria, minha filha, minha pequena, minha doçura, meu

amor. Que chegou como um presente de Deus logo que entrei na faculdade. Foi por

ela que segui em frente, foi por ela que não desisti e por ela dedico minha vida.

Ao meu marido John Fidja, também pelo apoio dado para que eu me

mantivesse dentro do curso, mesmo com as viagens semanais a trabalho. Agradeço

pelos conselhos que me deu para que eu aproveitasse melhor esse momento e para

que me organizasse melhor nos estudos.

Aos meus irmãos Leonardo e Maressa Lemos que sempre me deram apoio,

como também me ajudaram a me manter no curso. Pelas brigas, pelas brincadeiras

e por serem esses irmão maravilhosos. Sem vocês eu não seria o que sou, pois,

como irmã mais nova, vocês sempre foram minhas referências.

À Giulia, André, Rafael, Raquel, meus amigos de infância que tornaram meus

dias melhores e cheios de sorrisos, alegrias e histórias para contar. E aos novos

amigos que conquistei com andar do curso, como Samia, Edinah, Amanda Railany,

onde partilhei muitos sorrisos.

A toda minha família: avós, tios, tias, primos, primas. Todos com sua

importância na minha formação como pessoa. E também a família que ganhei desde

que me casei, principalmente nos nomes de Kadja e Maria Clara, que me ensinaram

muita coisa nessa jornada e se tornaram pessoas muito importantes para mim.

À minha orientadora Profª. Drª. Eliana Andrade da Silva que de fato me deu o

norte para que esse trabalho fosse possível. E a Profª. Drª. Carla Montefusco que

contribuiu bastante no meu processo de formação enquanto sua aluna e bolsista.

5

A Profª Drª Eliana Guerra, que mesmo que não saiba, influenciou muito para

que eu não desistisse do curso através de um conselho que me deu durante uma

conversa. Nunca me esqueci do que foi dito naquela cantina e por isso persisti

diante de todas as dificuldades surgidas durante a graduação.

Agradeço também a Donália, que como supervisora de campo, me mostrou

como ser uma profissional comprometida com o nosso projeto profissional, mesmo

com todas as adversidades. Para mim, ela foi e é um grande exemplo.

À Wanessa Fialho que colaborou imensamente com esse trabalho, através

das informações socializadas.

Enfim, são tantas pessoas a agradecer que fica impossível nomear todos. E

se alguém se sentiu esquecido, perdoem-me.

A todos, o meu muito obrigada!

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RESUMO

O presente trabalho faz uma análise acerca da atuação profissional do assistente

social nas redes públicas de Atenção ao Dependente do Álcool e outras Drogas da

cidade de Natal/RN, com o intuito de compreender os fatores relacionados ao

consumo do álcool dos usuários do Serviço Social, mapear as políticas públicas de

atenção aos usuários de álcool e outras drogas na cidade de Natal/RN, identificar as

redes de atenção ao dependente do álcool da cidade de Natal/RN em que há

assistentes sociais, compreender através das ações, demandas e instrumentos do

Serviço Social, a atuação profissional nas redes de atenção aos dependentes do

álcool da cidade de Natal/RN e a partir disso, identificar as tendências encontradas

na atuação desses profissionais, pois acreditamos que a inserção do assistente

social nas instituições que atendem esses usuários é de grande importância na

busca pela efetivação das políticas públicas voltadas para esses usuários, exigindo

do mesmo um trabalho qualificado. Para tanto, foram feitas pesquisas bibliográficas

relacionadas ao tema, bem como entrevistas com assistentes sociais que atuam nas

instituições de atenção ao dependente do álcool e outras drogas do município de

Natal/RN, onde identificamos uma forte tendência à perda da identidade profissional,

bem como uma atuação norteada basicamente pelas políticas de atenção ao

dependente químico.

Palavras-chave: Alcoolismo. Serviço Social. Políticas Públicas.

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RESUMEN

El presente trabajo hace un análisis acerca de la actuación profesional del asistente

social en las redes públicas de “Atenção ao Dependente do Álcool e outras Drogas”

de la ciudad de Natal/RN, con el intuito de comprender los factores relacionados al

consumo de alcohol de los usuarios del servicio social, mapear las políticas públicas

de atención a los usuarios de alcohol y otras drogas en la ciudad de Natal/RN,

Identificar las redes de atención al dependiente de alcohol de la ciudad de Natal/RN

en que hay asistentes sociales, comprender a través de las acciones, demandas e

instrumentos del servicio social, la actuación profesional en las redes de atención a

los dependientes del alcohol de la ciudad de Natal/RN y a partir de eso, identificar

las tendencias encontradas en la actuación de esos profesionales, pues acreditamos

que la inserción del asistente social en las instituciones que atienden esos usuarios

es de gran importancia en la búsqueda por la eficacia de las políticas públicas

centradas para esos usuarios, exigiendo del mismo un trabajo calificado. Para tanto,

fueron hechas búsquedas bibliográficas relacionadas al tema, bien como entrevistas

con asistentes sociales que actúan en las instituciones de atención al dependiente

del alcohol y otras drogas del municipio de Natal/RN, donde hemos identificado una

fuerte tendencia a la pérdida de la identidad profesional, así como una actuación

guiada principalmente por las políticas que abordan dependiente químico.

Palabras-llave: Alcoholismo. Servicio Social. Políticas públicas.

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LISTA DE SIGLAS

AA – Alcoólicos Anônimos

APTAD – Ambulatório de Prevenção e Tratamento de Tabagismo, Alcoolismo e

outras drogadições

CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões

CEPPA – Câmara Especial de Políticas Públicas sobre o Álcool

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial

CAPS AD – Centro de Atenção Psicossocial para usuários de Álcool e Drogas

CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas

CID – Classificação Internacional das Doenças

CONAD – Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas

COVISA – Coordenação de Vigilância em Saúde

DAS – Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor

FBH – Federação Brasileira de Hospitais

GADA – Grupo de Apoio aos Acometidos pela Doença do Alcoolismo

HUOL – Hospital Universitário Onofre Lopes

IAPS – Institutos de Aposentadorias e Pensões

ICAP – International Center for Alcohol Policies

ONU – Organização das Nações Unidas

PNA – Política Nacional Sobre o Álcool

PNAD – Política Nacional Sobre Drogas

SISNAD – Sistema Nacional Antidrogas

SNC – Sistema Nervoso Central

SENAD – Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas

SUS – Sistema Único de Saúde

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNIAD – Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

UTAD – Unidade de Tratamento de Dependência do Álcool e outras Drogas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10

CAPÍTULO I - Dependência Química – Fatores Determinantes .............................. 13

1.1 O uso/abuso e a dependência do álcool: uma abordagem multifatorial ...................... 13

1.2 Políticas de atenção ao alcoolista na cidade de Natal/RN .......................................... 21

CAPÍTULO II - Dependência Química e Serviço Social.............................................. 29

2.1 Serviço Social e Saúde: as conexões com o trabalho do assistente social na

dependência química ....................................................................................................... 29

2.2 A atuação do Assistente Social nas Redes de Atenção ao Alcoolista da Cidade de

Natal/RN........................................................................................................................... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 52

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 54

APÊNDICE .......................................................................................................................... 58

10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo compreender a atuação do Assistente

Social frente à dependência do álcool através das ações, demandas e instrumentos

do Serviço Social, nas redes de atenção aos dependentes do álcool da cidade de

Natal/RN.

A aproximação com o tema surgiu durante o período do estágio curricular

obrigatório, realizado na Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor (DAS) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde conhecemos o

Programa Por Amor à Vida realizado pelo Serviço Social da DAS, voltado para a

prevenção, assistência, promoção à saúde e reinserção social, laboral e familiar dos

servidores com indícios de dependência do álcool e outras drogas.

Para a construção deste trabalho buscamos primeiramente a realização da

pesquisa bibliográfica com o objetivo de obter um conhecimento teórico aprofundado

acerca da dependência do álcool, das políticas públicas voltadas para a atenção ao

alcoolista1, como também da atuação profissional do assistente social no contexto

da dependência do álcool. Para tanto, nos voltamos para autores como: Bravo, Filho

Iamamoto, Matos, entre outros, através de livros, artigos, monografias, dissertações

e teses de doutorado. Foram feitas análises da Política Nacional Sobre Drogas

(PNAD), Política Nacional sobre o Álcool (PNA), e pesquisas realizadas pela

Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD). No que diz respeito ao

Serviço Social, além dos autores já citados, utilizamos também a Lei de

Regulamentação Profissional do Assistente Social, o Código de Ética Profissional e

os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde.

A pesquisa de campo também foi utilizada como estratégia para a coleta de

dados, através da realização de entrevistas com Assistentes Sociais atuantes na

área. O percurso metodológico da pesquisa envolveu os seguintes passos: definição

dos locais em que seriam feitas as entrevistas; aproximação ao campo através de

ligações telefônicas para apresentar o objetivo do trabalho, bem como convidar o

assistente social para participar do trabalho e então marcar a ida ao campo. Esses

passos foram realizados na primeira semana do mês de Outubro de 2013.

1 Neste trabalho utilizaremos o termo alcoolista para nos referir ao dependente do álcool.

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Para a realização das entrevistas foram escolhidas assistentes sociais que

trabalhassem em instituições participantes das redes de atenção ao dependente de

álcool e outras drogas do município de Natal/RN, sendo elas: Ambulatório de

Prevenção e Tratamento de Tabagismo, Alcoolismo e outras Drogadições (APTAD),

Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) Leste e Norte. Mas, não

foi possível realizar as entrevistas em todas as instituições componentes dessa rede,

pois durante a construção do presente trabalho houve a greve dos servidores da

saúde de Natal, o que dificultou o contato com as assistentes sociais, sendo

realizada apenas em dois locais sendo eles o APTAD e o CAPS AD Leste.

As entrevistas se deram de forma estruturada e foram realizadas nos dias 8 e

16 de outubro, nas próprias instituições de atenção ao dependente do álcool e

outras drogas da cidade de Natal/RN. A documentação da entrevista se deu a partir

das gravações e posteriormente das transcrições das mesmas na íntegra pela

pesquisadora. A cada pergunta feita, as assistentes sociais tinham o tempo

necessário para responder as questões. Após a realização das entrevistas, seguidas

das transcrições, é que se tornou possível a análise dos dados obtidos que serão

apresentados neste trabalho.

A primeira etapa da análise dos dados constituiu-se em separar as

informações referentes ao perfil das assistentes sociais entrevistadas. Esse perfil foi

produzido a partir dos dados construídos no questionário. Portanto, a partir dele,

foram construídas informações relativas à faixa etária, sexo, tempo de trabalho na

instituição, vínculo funcional e cargo desempenhado. Já a segunda etapa, procurou

identificar as tendências de atuação profissional encontradas nas falas das

assistentes sociais entrevistadas.

Para tanto, o presente trabalho se divide em dois capítulos: Capítulo I:

Dependência do Álcool – Fatores determinantes e Capítulo II: Dependência do

Álcool e o Serviço Social e as Considerações Finais.

O capítulo I está subdividido em duas partes, o item 1.1 - O uso/abuso e a

dependência do álcool: uma abordagem multifatorial – que traz uma abordagem

histórica da inserção do álcool na sociedade, a mudança nos padrões de consumo

do álcool demonstrados através dos dados coletados pelas pesquisas do SENAD,

os fatores que determinam o uso/abuso do álcool, bem como as possíveis

consequências para aqueles que se tornam alcoolistas. No item 1.2 – Políticas de

Atenção ao Alcoolista na cidade de Natal/RN expõe a evolução das Políticas Sobre

12

o Álcool e outras Drogas a nível nacional, bem como o município de Natal vem

cumprindo essas políticas.

O Capítulo II também subdivide-se em dois itens, o item 2.1 – Serviço Social e

Saúde: as conexões com trabalho do assistente social na dependência química -

que vem tratar sobre as mudanças ocorridas no âmbito da saúde pública e a

inserção do assistente social nesse espaço sócio-ocupacional. E, no item 2.2 - A

atuação do Assistente Social nas Redes de Atenção ao Alcoolista da Cidade de

Natal/RN – é feita a analise das entrevistas realizadas com as assistentes sociais

que trabalham nas instituições visitadas, buscando vincular essa atuação aos

instrumentos normativos da profissão e identificando as tendências encontradas no

exercício profissional das mesmas.

Ao final, é feito um resgate das conclusões encontradas em cada capítulo,

reiterando as tendências encontradas na atuação profissional das assistentes

sociais entrevistadas.

13

CAPÍTULO I: DEPENDÊNCIA QUÍMICA – FATORES DETERMINANTES

Este primeiro capítulo fará uma breve abordagem histórica da inserção do

álcool na sociedade, bem como trará a discussão do uso/abuso do álcool; os

padrões de consumo do álcool e os fatores que determinam esse consumo abusivo,

que podem acarretar na dependência dessa substância. Além disso, fará uma

pequena abordagem sobre a inserção do alcoolismo como doença. O presente

capítulo mostrará também, dados acerca do aumento do consumo do álcool na

sociedade brasileira, no sentido de afirmar a importância da intervenção do Estado

nessa problemática.

Iremos demonstrar ainda neste primeiro capítulo, as respostas dadas pelo

Estado brasileiro à problemática da dependência do álcool, através de políticas

públicas de atenção aos alcoolistas, como também, a forma em que Prefeitura da

Cidade de Natal, Rio Grande do Norte, tem cumprido as exigências da Política

Nacional Sobre Drogas (PNAD).

1.1 O uso/abuso e a dependência do álcool: uma abordagem multifatorial

A droga se fez presente na sociedade desde o princípio da humanidade

associada a rituais religiosos, cura de doenças, entre outros. O termo droga, é

utilizado em substâncias usadas em farmácias ou que apresentem efeitos

farmacológicos, como afirma Alarcon

[...] na era das ciências positivas, passou-se a designar pelo termo droga todas as substâncias utilizadas em farmácias e com formação farmacológica, ou seja, capazes de, quando introduzidas em um organismo, modificar-lhes as funções. (Alarcon, 2012, p. 104).

A partir disso, podemos considerar o álcool como droga, pois o mesmo traz

ao seu usuário alterações farmacológicas no Sistema Nervoso Central (SNC). O

álcool efetua no SNC, segundo Alarcon (2012), a diminuição ou depressão das

atividades do cérebro, o que o inclui no grupo de substâncias depressoras da

atividade do SNC. Diante disso, sendo o álcool uma substância que provoca tais

alterações no organismo, é possível sim afirmar que o álcool é uma droga.

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O consumo do álcool, segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre

Drogas (CEBRID), tem os seus primeiros indícios – descobertos a partir de registros

arqueológicos – datados em aproximadamente 6000 A.C, o que demonstra ser um

costume antigo. Outros registros que demonstram o quão antigo se dá a inserção do

álcool na sociedade são os registros bíblicos, onde o vinho era predominante em

diferentes ocasiões como: festejos e cerimônias religiosas. Nesse período, as

bebidas alcoólicas apresentavam um teor alcoólico mais baixo, mas com o advento

da ciência e da pesquisa industrial na área, foi-se aumentando o teor alcoólico de

tais bebidas, como também o surgimento de novas drogas como relata Silva (2006):

A crescente modernidade e o advento da ciência proporcionam ao homem a sintetização das drogas. O que era natural passa a ser artificial. As drogas sintéticas passam a fazer parte da vida do homem, utilizadas nos mais variados contextos e situações, desvinculadas, na maioria das vezes, do seu campo semântico originário,sem, no entanto, ser criminalizada. (SILVA, 2006, p. 23)

E, é a partir da Revolução Industrial iniciada no século XVIII que se

modificam os padrões de uso das drogas e sua disseminação, tendo em vista o

trabalho intensivo da classe operária, bem como a concentração urbana e a

industrialização do álcool, favorecendo esse consumo. Outro fator que contribui para

a disseminação das drogas durante esse período foi o contato com outros

continentes e países que promoveu um intercâmbio de drogas. As drogas podem ser

consideradas licitas ou ilícitas o que varia de acordo com os países2 e sua cultura.

As consideradas lícitas como álcool e o tabaco, são aquelas na qual seu uso é

permitido pela legislação, podendo ser consumida livremente, já as ilícitas não têm

seu uso e porte permitido pela legislação, são elas maconha, crack, cocaína, entre

outras, podendo acarretar ao usuário das mesmas o cumprimento medidas

judiciárias e penais, ou seja, favorecendo a criminalização desses usuários. O uso

das drogas também traz aos usuários vários agravantes tanto no âmbito da saúde,

como no âmbito da violência.

É importante conceituar o termo droga tendo em vista a gama de

interpretações pejorativas que ela traz consigo. Segundo a Secretaria Nacional de

2 Como, por exemplo, a Holanda que permite o uso da Maconha e do Haxixe, desde que não seja em

locais públicos. Fonte: http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-quimica/mundo-e-as-drogas/as-drogas-na-holanda.aspx Acessado em: 19/11/2013.

15

Políticas sobre Drogas (SENAD), drogas são todas as “substâncias que produzem

mudanças nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional das

pessoas.” (SENAD, 2011). E, na realidade brasileira, o consumo dessas substâncias

têm se apresentado como um grande agravante. De acordo com o II Levantamento

Domiciliar sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil do ano de 2005, 22,8% da

população já fizeram uso de droga (exceto álcool e tabaco) pelo menos uma vez na

vida, dados que se tornam preocupantes por se tratar de substâncias com alto

potencial para provocar a dependência. Nesse mesmo levantamento 12,3% da

população pesquisada apresentava dependência do álcool e 10,1% do tabaco.

O álcool por ser uma droga lícita, faz parte da vida cotidiana de todo

brasileiro, estando presente nos mais diversos eventos sejam eles comemorações,

eventos culturais, cerimônias religiosas, encontro com amigos, entre outros,

podendo contribuir, juntamente com outros fatores, para o uso/abuso do álcool.

Outro fator que torna cultural o consumo do álcool é a propaganda midiática que

estimula o uso da bebida, bem como a relaciona com momentos positivos para

quem as consome.

No Brasil, pesquisas têm sido realizadas pela SENAD em parceria com o

CEBRID em busca de conhecer como se bebe e quem bebe no Brasil. O I

Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil (2001)

apontou que 68,7% das pessoas com idade entre 12 e 65 anos já haviam feito uso

de álcool em algum momento da vida e que 11,2% apresentavam dependência a

essa substância. É importante destacar que no I Levantamento, 16,9% da população

nordestina era dependente do álcool, e foi considerada a região com o maior índice

de dependência química do Brasil. Já no ano de 2005 com o II Levantamento aponta

um aumento onde o índice de dependência subiu para 12,3% com pessoas da

mesma faixa etária, e que 75% já haviam ingerido álcool em algum momento da

vida. Com o passar dos anos, as pesquisas começaram a demonstrar que o uso da

bebida estava se tornando cada vez mais precoce, ou seja, reduziu-se a faixa etária

em que se inicia o consumo do álcool e de maneira cada vez mais excessiva,

demonstrando o aumento do uso do álcool com maior predominância na população

mais jovem.

Posteriormente, no ano de 2006, a SENAD juntamente com a Unidade de

Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) da Universidade Federal de São Paulo,

realizou o I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na

16

População Brasileira. Através desse levantamento foi detectado que 52% da

população acima de 18 anos ingere bebida alcoólica ao menos uma vez no ano

onde 65% são homens e 41% mulheres. No que diz respeito aos homens adultos

11% bebem diariamente e 28% pelo menos quatro vezes por semana.

Os dados relacionados aos estudantes também se mostram preocupantes.

No ano de 2004, através do V Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas

Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de

Ensino, realizado com jovens acima de 10 anos de idade, foi apontado que 65,2%

dessa população já havia consumido bebida alcoólica ao menos uma vez na vida,

onde 11,7% fazia uso frequente dessa substância. E em 2010 a partir do I

Levantamento Nacional sobre o uso de Álcool Tabaco e outras Drogas entre

universitários das 27 capitais brasileiras, registrou-se que 80% dos jovens menores

de 18 anos já havia consumido bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida.

Esses dados demonstram o quão grave tem se tornado a questão do uso do

álcool na sociedade brasileira e que a primeira ingestão da bebida tem acontecido

de forma cada vez mais precoce, fato que nos leva a crer o aumento da

dependência do álcool futuramente.

Estudos realizados pela International Center for Alcohol Policies (ICAP) no

ano de 2009, em torno do alcoolismo, afirmam que os fatores mais influentes que

determinam o comportamento frente ao consumo do álcool estão relacionados a

quatro grupos são eles: a predisposição genética; características individuais; fatores

sociais e econômicos e determinantes ambientais. Esses fatores são analisados

individualmente, mas podem se apresentar ao dependente de forma interligada.

A predisposição genética molda o consumo e os efeitos do álcool àqueles que

a ingere e está diretamente ligada aos fatores sociais e econômicos do indivíduo. As

características individuais sendo elas a idade; idade que iniciou a ingestão da

bebida; condição de saúde física e mental; entre outros, são responsáveis por definir

o padrão de consumo do álcool. No que diz respeito à condição social, segundo a

ICAP, acaba por influenciar a relação entre o consumo da bebida alcoólica e os

problemas, principalmente àqueles que se encontram a margem da sociedade. E o

ambiente também é responsável por definir a forma em que se define e progridem

os padrões de consumo do álcool. Para alguns indivíduos, a ingestão do álcool pode

ser inofensiva, mas para outros, pode acarretar em prejuízos psicológicos, biológicos

e sociais, caracterizando o abuso.

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Mas, além do comportamento frente ao uso da bebida é importante destacar

que

A droga não deve ser entendida simplesmente como um entorpecente, um componente químico que produz sensações específicas no corpo biológico, mas como um recurso mediador, ou seja, um artifício por meio do qual se satisfaz uma necessidade psíquica e social (HYGINO; GARCIA, 2003 apud SILVA, 2006, p. 20).

O consumo da droga em geral e também do álcool, está relacionado à sua

capacidade de levar ao prazer instantâneo, a insegurança, a possibilidade de fugir

da realidade para não enfrentar os problemas cotidianos, meio de facilitar a

sociabilidade, convivência em ambientes de consumo e até mesmo como forma de

relaxamento. O seu consumo excessivo também se insere na realidade da

sociedade brasileira como forma da expressão da questão social3, pois os fatores

socioeconômicos podem influenciar no uso e abuso do álcool.

A negação de direitos fundamentais a população, a falta de emprego, as

condições precárias de educação e saúde os tornam vulneráveis ao consumo de

drogas que se apresenta como meio de fuga para os problemas que a situação de

pobreza e miserabilidade traz como consequência. Essas condições tornam o

individuo vulnerável ao uso e abuso do álcool e o mesmo se refugiando dessa

realidade na bebida, pois não vê esperança na mudança de sua condição social. Em

muitos casos as condições apresentadas e a ingestão da bebida acabam refletindo

na ação violenta4 do sujeito para com sua família ou com a sociedade em geral,

como por exemplo, a violência contra a mulher, às brigas na rua, as discussões e

infrações no trânsito. Mas, é importante ressaltar que em determinadas situações o

álcool é utilizado como meio de encobrir a violência já existente na pessoa que faz

3 “apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura,

que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação de seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” (IAMAMOTO, 2011 p. 27). 4 De acordo com o SENAD (2008), no ano de 1994 foi feita uma pesquisa no Instituto Médico Legal

(IML) de São Paulo, onde foi registrado que 52% das vítimas de homicídio, 64% das vítimas de

afogamentos fatais e 51% das vítimas fatais de acidentes de trânsito apresentaram álcool na corrente

sanguínea em níveis acima do permitido pela lei vigente na época da pesquisa. Em Curitiba, no

período de 1990 a 1995, 58,9% dos autores dos crimes e 53,6% das vítimas de 130 processos de

homicídio julgados no Tribunais do Júri da cidade estavam sob efeito do álcool. Já em Recife, durante

o Carnaval de 1997, 88,2% das vítimas fatais e 80,7% das não fatais de acidente de trânsito estavam

sob efeito do álcool.

18

uso/abuso dessa substância, ou como por exemplo, a forma de justificar a agressão

à mulher, sem relacionar ao machismo, a sociedade patriarcal, que são os motivos

reais para a ação violenta do homem contra a mulher. Ou seja, o álcool pode ser

uma forma de desencadear o caráter violento de alguns usuários.

Quando o uso do álcool passa a ser frequente e abusivo, pode tornar o

usuário um alcoolista, onde não há mais o controle frente o uso da bebida pelo

usuário. Esse consumo excessivo traz inúmeras consequências negativas ao

alcoolista, sendo elas: mudança de comportamento podendo se tornar agressivo,

violento, depressivo. No que diz respeito às relações sociais, o convívio social do

alcoolista se torna cada vez mais difícil devido ao possível afastamento dos amigos,

a fragilização do ambiente familiar que também é atingida por essa dependência. As

relações de trabalho5 se tornam penosas devido ao desgaste físico que a droga

provoca àquele que a consome e o absenteísmo no trabalho pode se tornar um

agravante culminando com uma possível demissão. O usuário passa a viver em

função do álcool e os problemas de saúde pode fazer-se uma constante para o

dependente.

O uso excessivo e descontrolado das bebidas alcoólicas denominado de

alcoolismo tem sido analisado sob a tese de ser uma patologia6. Foram realizados

estudos com o intuito de defender o alcoolismo como uma doença, sendo Thomas

Trotter o primeiro estudioso que tratou a dependência do álcool como de fato uma

patologia, e além dele, o médico sueco Magnus Huss. E, segundo Filho (1995) Huss

afirmou ser o alcoolismo uma doença crônica que afeta tanto o corpo quanto a alma

do indivíduo, causado pelo consumo abusivo e prolongado de bebidas alcoólicas e

se tratava de uma doença incurável, mas o estudo de Huss não obteve grande

repercussão. Em 1854 através desse novo conceito, os doentes portadores da

dependência do álcool passaram a ser chamados de alcoólatras, alcoólicos,

5 Em relação ao trabalho, a SENAD (2008) traz novamente dados que afirmam as consequências

negativas, no âmbito do trabalho, os usuários do álcool e aqueles que se tornam alcoolistas. Em 1993, foi realizada uma pesquisa através da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, apontando que 10% a 15% dos trabalhadores brasileiros apresentavam dependência ou problemas de abuso do álcool, nos quais eram concedidas três vezes mais o número de licenças médicas concedidas para outras doenças; cinco vezes mais chances de ocorrerem acidentes de trabalho; 50% do total de absenteísmo e licenças médicas, utilização de oito vezes mais diárias hospitalares e utilização de três vezes mais, por parte dos familiares, da assistência médica e social da empresa. 6 De acordo com os Alcoólicos Anônimos (A.A) “O alcoolismo [...] é uma doença progressiva –

espiritual e emocional (ou mental), como também física. Os alcoólicos que conhecemos parecem ter perdido o poder de controlar sua maneira de beber.”. http://www.alcoolicosanonimos.org.br/sobre-aa/aos-profissionais/aa-para-a-medicina.html. Acessado em: 20/11/2013.

19

alcoolistas ou etilistas, devido a sua doença estar diretamente relacionada ao álcool.

E, “daí pra frente o alcoolismo se vulgarizou e se popularizou, chegando inclusive a

se constituir no mais sério e mais grave fenômeno médico social, além de se tornar

um verdadeiro estigma na vida do doente.” (FILHO, 1995, p.12). Com essa

popularização, foi-se criando novos conceitos para tal doença.

O alcoolismo já era tratado como doença em 1935 pelos Alcoólicos Anônimos

(AA)7, entretanto, de acordo com Filho (1995), foi em 1950 que o conceito do

alcoolismo como doença ganhou maior credibilidade através dos estudos de

Jelineck, que apontou vários tipos de alcoolismo. Em 1956, A Associação Médica

Americana reconheceu o alcoolismo como doença e a conceituou como: “um

processo mórbido definido, tendo uma sequência característica de sintomas, pode

afetar o corpo inteiro ou alguma de suas partes, e sua etiologia, patologia e

prognóstico podem ser reconhecidos ou não.” (FILHO, 1995, p.15).

E, de acordo com Cruz (2012), foi no ano de 1967 que o conceito de

alcoolismo como doença incorporou-se na Classificação Internacional das Doenças

(CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial da Saúde, e “problemas relacionados ao

uso de álcool foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de

personalidade e de neuroses.” (Alcoolismo, 2011 apud Cruz, 2012 p. 35).

As consequências para o portador dessa doença são inúmeras. No que diz

respeito à saúde física, o alcoolista pode apresentar complicações no aparelho

digestivo, alterações bioquímicas, compromete a função sexual, problemas

cardiológicos e neurológicos, psiquiátricos. Entretanto, o alcoolista não apresenta

apenas problemas físicos, as implicações sociais também o afeta, principalmente

por ser uma doença estigmatizante, onde os mesmos passam a ser discriminados e

por muitas vezes excluídos de processos de trabalho, eventos sociais, familiares.

Quando o consumidor de bebida alcoólica comum ao passar para o estágio

de bebedor excessivo acaba prejudicando a si mesmo, como também a sua família

e amigos. Segundo Castro (2005)

“O alcoolista prejudica a si mesmo, sua família, esposa e seus filhos, muitas vezes privando-as de necessidades básicas como alimentação, vestuário e

7 Grupo de autoajuda e ajuda mútua, fundado em 1935 em Akron, Ohio, com o intuito de ajudar os alcoolistas a

se manterem sóbrios. Oferecem ajuda a qualquer pessoa que possua problemas com a bebida e queiram parar de

beber. O A.A existe até os dias atuais com grande repercussão. Retirado do sítio do A.A

(http://www.alcoolicosanonimos.org.br/component/content/article/45-front-page/155-o-nascimento-de-aa.html)

20

outros e, causando sofrimentos a seu cônjuge; castigando-os injustamente, e privando-os de sua companhia.”. (Castro, 2005, p. 03).

Diante do exposto, podemos afirmar que o alcoolismo se mostra como uma

grande preocupação para sociedade e como uma questão coletiva e social, tendo

em vista que atinge não só o dependente como também sua família e a sociedade

em geral, afinal se trata de um problema de saúde pública. Outro fator que influencia

negativamente o dependente são as implicações sociais trazidas pela sua doença,

são socialmente excluídos, estigmatizados como “vagabundos” e algumas vezes

abandonados pela própria família. No que diz respeito à violência, o uso excessivo

do álcool juntamente com a direção veicular pode ser responsável por acidentes

graves de trânsito, segundo a SENAD (2008), no carnaval de Recife em 1997,

88,2% das vítimas fatais e 80,7% das vítimas não-fatais de acidentes de trânsito

apresentaram álcool no sangue. O álcool também pode se associar as brigas de rua,

pois após a ingestão da bebida alcoólica, em alguns casos, pode provocar uma

sensação de super poder, ou até mesmo a alteração de humor que fica facilmente

irritado e passa para agressão. A violência doméstica também é uma realidade para

o dependente e para sua família, mesmo que não haja a agressão física, os

familiares podem ser vítimas da violência moral e psicológica, tão grave quanto à

física.

Nesse sentido faz-se totalmente necessário a intervenção do Estado na

problemática do alcoolismo, não somente pela relação de violência que o álcool

pode trazer, mas principalmente por se tratar de uma questão de saúde pública.

Essa intervenção deve ser dada através de políticas públicas voltadas a atenção ao

dependente do álcool e ao consumo. O Estado deve trazer ao dependente um

tratamento digno, baseado no Artigo 196 da Constituição Federal onde

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Brasil. Constituição Federal, 1988).

É importante ressaltar que o uso abusivo de drogas que culminam na

dependência química, principalmente no Brasil, não se trata apenas de uma questão

de saúde pública ou de segurança, mas se configura como uma das expressões da

questão social como dito anteriormente. Sendo assim, reforça ainda mais a

21

responsabilidade do Estado para com o dependente do álcool, através da

construção e efetivação dessas políticas.

Essas políticas precisam ser formuladas com o intuito também de devolver ao

alcoolista uma perspectiva de vida social, de trabalho e de convívio familiar. Dessa

forma as políticas públicas devem enxergar os dependentes de forma totalizante e

que os livrem de preconceitos e estereótipos discriminatórios.

1.2 Políticas de atenção ao alcoolista na Cidade de Natal/RN

A dependência química com o passar dos anos obteve significativos

aumentos, mundialmente falando, tornando-se uma grande preocupação, onde os

Estados se viram na obrigação de intervir diretamente nessa problemática. No

Brasil, a partir de 2002, o Estado cria Leis de atenção ao dependente químico bem

como políticas públicas de enfrentamento a problemática.

Até a década de 1990, o Brasil, não possuía uma Lei específica que

atendesse a problemática da dependência do álcool e outras drogas, essa lei surgiu

no governo de Fernando Henrique Cardoso, mais especificamente em seu segundo

mandato que foi no período de 1999 a 2002.

A princípio os usuários, dependentes químicos e traficantes de drogas eram

regidos pela Lei nº6368 de 1976 que dispõe sobre medidas de prevenção e

repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que

determinem dependência física ou psíquica. Essa lei tem um caráter criminalizante e

repressor, em relação às drogas ilícitas, tanto para usuários/dependentes como para

os traficantes, isto é, não se distinguiu o usuário do traficante, no que diz respeito as

drogas lícitas, como o álcool, ela trabalha mais com a prevenção do uso/abuso. Esta

lei, segundo Veloso, Carvalho e Santiago (2007), foi importada dos Estados Unidos,

como também surgiu em pleno regime militar, e assim, reafirma o caráter punitivo da

lei, não separando o usuário do traficante. Vale ressaltar que a criminalização do uso

das drogas não conseguiu diminuir o consumo das drogas lícitas e ilícitas, bem

como o tráfico das drogas ilícitas. E para Veloso, Carvalho e Santiago (2007), a

referida lei desconsidera a amplitude do problema em termos epidemiológicos e de

saúde pública (p.172).

22

Com o passar dos anos surgiram propostas alternativas a Lei nº6368/76, mas

não houve a criação de uma nova lei que apontasse um novo olhar para o assunto,

um olhar mais abrangente à dependência química, mais humanizado que

descriminalizasse o usuário.

Foi apenas no ano de 1998, durante o governo de Fernando Henrique

Cardoso, através da 2ª Sessão Especial da Organização das Nações Unidas (ONU)

que foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) ligada ao Gabinete Militar

da Presidência da República, como resposta as pressões internacionais para que o

Brasil dispusesse de medidas efetivas para o combate às drogas. Inicialmente era

atribuídas a SENAD ações de prevenção, tratamento e reinserção social dos

usuários de drogas.

No ano de 2000 é regulamentado o Sistema Nacional Antidrogas (SISNAD)

através do Decreto nº 3696, orientado

pelo princípio básico da responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade, propondo a municipalização das ações, entendendo que é a melhor forma de possibilitar a participação da sociedade civil organizada nas ações desenvolvidas em nosso país. (BRASIL, 2003 apud PETRY).

Diante disso, o SISNAD, assim como a lei de 1976, traz a responsabilidade

das ações de enfrentamento ao consumo de substâncias psicotrópicas não só para

Estado, como também para a sociedade, ou seja, o discurso de que a

“responsabilidade é de todos”. Incentivando assim, ações do terceiro setor e se

desresponsabilizando das ações, comportamento típicos dos governos neoliberais,

onde se prega a intervenção mínima do Estado em todos os seus âmbitos

(economia, mercado de trabalho, questões sociais) e maior ênfase na privatização

das esferas estatais, e no que diz respeito às conquistas sociais, o

deslocamento da satisfação de necessidades da esfera pública para esfera privada ocorre em detrimento das lutas e de conquistas sociais e políticas extensivas a todos. É exatamente o legado de direitos conquistados nos últimos séculos que está sendo desmontado nos governos de orientação neoliberal, em uma nítida regressão da cidadania que tende a ser reduzida às suas dimensões civil e política, erodindo a cidadania social. (IAMAMOTO, 2009 p.22-23).

Diante do exposto, podemos identificar que foram se criando medidas de

enfrentamento à dependência química. Mas foi no ano de 2002, durante governo de

23

Fernando Henrique Cardoso que criou-se o que se pode considerar a primeira

política governamental sobre o tema: a Política Nacional Antidrogas (PNAD)

regulamentada através do decreto nº 4345.

A PNAD surge com o objetivo o desenvolvimento de ações de prevenção,

tratamento, recuperação e reinserção social, redução de danos sociais e à saúde,

repressão ao tráfico e estudos, pesquisas e avaliações sobre o tema. Apresenta um

avanço em relação às medidas anteriores visto que prevê em um de seus

pressupostos “reconhecer as diferenças entre o usuário, a pessoa em uso indevido,

o dependente e o traficante de drogas, tratando-os de forma diferenciada.” (Brasil,

2001), fator importante para que haja a descriminalização do usuário e para que seja

dada a atenção devida a cada indivíduo que esteja envolvido com as drogas.

No governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano de 2003,

mudanças foram feitas nas políticas voltadas para a drogadição. Essas mudanças

tentaram trazer para as políticas uma visão mais abrangente da dependência

química, menos estigmatizante e criminalizante. Dentre elas a mudança de

nomenclatura da SENAD que passa a se chamar Secretaria Nacional de Políticas

Públicas sobre Drogas e é transferida para o Ministério da Justiça.

A SENAD hoje trabalha na perspectiva de integralizar as políticas setoriais

com a política nacional sobre drogas, de descentralizar as ações, e estabelecer

parcerias com organizações sociais, com a comunidade científica e com órgãos

internacionais que estejam ligados a problemática da dependência química. As

ações do governo estão divididas em três eixos: realizações de diagnósticos

situacionais que mensurem o consumo de drogas, seus impactos para a sociedade;

capacitação dos atores sociais que trabalham com o tema e formação de

multiplicadores de informações de prevenção, tratamento e reinserção social; e

implantação de projetos de alcance nacional para ampliação do acesso da

população a informação, conhecimento e as recursos disponibilizados para a

comunidade. Sendo assim, o governo passa a agir como ator na atenção ao

dependente do álcool e não mais como mero coadjuvante.

A PNAD passou por mudanças na sua formulação, como também na

nomenclatura, passa de Política Nacional Antidrogas para Política Nacional sobre

Drogas. O governo no ano de 2004 realizou fóruns para discutir a política vigente,

com participação de representantes internacionais que obtinham conhecimento na

temática, bem como a participação da comunidade. Através dessas discussões

24

alterações foram feitas a política. Essa participação da comunidade se deu por

acreditarem que aproximaria a política da sociedade na elaboração para que se

construísse uma política efetiva e atingisse de forma significativa a população.

A Política sobre drogas é orientada pelo

princípio da responsabilidade compartilhada, adotando como estratégia a cooperação mútua e a articulação de esforços entre governo, iniciativa privada, terceiro setor e cidadãos, no sentido de ampliar a consciência para a importância da intersetorialidade descentralização das ações sobre drogas no país. (BRASIL, 2010)

Diante disso, podemos perceber que mesmo com o avanço da Política

Nacional sobre Drogas que enxerga a problemática de maneira ampla, buscando a

inserção da comunidade na sua construção, almejando uma nova visão à

dependência química livre de preconceitos e de estigmas, o Estado ainda convoca

as organizações sociais e a comunidade para criação e implantação de ações de

enfrentamento ao uso abusivo de drogas.

Através da reformulação da PNAD, o tratamento dos dependentes de álcool e

outras drogas de forma mais incisiva no contexto da saúde pública via Sistema

Único de Saúde (SUS) como exposto pela primeira diretriz do Tratamento,

Recuperação e Reinserção Social:

Promover e garantir a articulação e integração em rede nacional das intervenções para tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional (Unidade Básica de Saúde, ambulatórios, Centro de Atenção Psicossocial, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, comunidades terapêuticas, grupos de auto ajuda e ajuda mútua, hospitais gerais e psiquiátricos, hospital-dia, serviços de emergências, corpo de bombeiros, clínicas especializadas, casas de apoio e convivência e moradias assistidas) com o Sistema Único de Saúde e Sistema Único de Assistência Social para o usuário e seus familiares, por meio de distribuição descentralizada e fiscalizada de recursos técnicos e financeiros. (BRASIL, 2010).

Mas, o fato do Estado inserir o tratamento do alcoolista no âmbito da saúde

pública, através do SUS, não elimina a responsabilidade mutua entre Estado e

sociedade civil, colocado pela PNAD.

No contexto do tratamento via SUS é importante destacar o Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS), mais especificamente o Centro de Atenção

Psicossocial para usuários de Álcool e Drogas (CAPS AD). Os CAPS são pontos de

25

atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (Brasil, 2013), constituídos

por equipes multiprofissionais, com a ótica interdisciplinar. Os CAPS atendem

pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, como também pessoas com

sofrimento ou transtorno mental em geral, e inclui também, aquelas decorrentes do

uso de álcool e outras drogas. Os CAPS se apresentam como modelo substitutivo

ao asilar.

As ações de reabilitação do CAPS se baseiam em

ações de fortalecimento de usuários e familiares, mediante a criação e o desenvolvimento de iniciativas articuladas com os recursos do território nos campos do trabalho/economia solidária, habitação, educação, cultura, direitos humanos, que garantam o exercício de direitos de cidadania, visando à produção de novas possibilidades para projetos de vida. (BRASIL, 2013)

O CAPSad atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam

transtornos decorrentes ao uso do álcool e outras drogas. Oferece serviços de ação

contínua e também atendimento vinte quatro horas, ofertando retaguarda clínica e

acolhimento noturno.

Ao falar do alcoolismo cabe destacar que essa problemática esteve vinculada

as políticas sobre drogas em âmbito geral, mas no ano de 2004 o Conselho Nacional

de Políticas Sobre Drogas (CONAD) – órgão superior da SENAD instaurou Câmara

Especial de Políticas Públicas sobre o Álcool (CEPPA), que tinha em sua

composição órgãos governamentais, especialistas na problemática, legisladores e

representantes da sociedade civil. Através dessa Câmara Especial, foi possível

pensar em uma política mais abrangente, respeitando as condições do alcoolista,

bem como a preocupação da sociedade com o uso excessivo do álcool em

momentos cada vez mais precoces.

Em maio de 2007 através do Decreto nº 6117/07, foi implantada a Política

Nacional sobre o Álcool (PNA) que dispõe sobre as medidas para redução do uso

indevido de álcool e sua associação com a violência e criminalidade. A PNA surge

com o objetivo de dar

sustentação de estratégias para o enfrentamento coletivo dos problema relacionados ao consumo de álcool, contemplando a intersetorialidade e a integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à saúde e à vida causados pelo consumo desta substância, bem como as situações de violência e criminalidade associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população brasileira. (BRASIL, 2007)

26

As estratégias utilizadas pela PNA para redução do uso indevido das bebidas

alcoólicas estão vinculadas a disseminação de informações sobre uso prejudicial do

álcool, orientações para o uso responsável e ações de prevenção ao uso

irresponsável dessa substância. Apresenta como uma de suas diretrizes a prática da

redução de danos8 como forma referencial para políticas de ação educacional,

terapêutica e preventiva.

As medidas utilizadas para redução de danos no âmbito do alcoolismo, de

acordo com a PNA são divulgar dados dos Levantamentos realizados pela CEBRID

sobre o consumo de álcool e outras drogas, regulamentar, monitorar e fiscalizar a

propaganda e publicidade9 de bebidas alcoólicas com o intuito de proteger

segmentos populacionais vulneráveis ao consumo. Podemos considerar essa

regulamentação, monitoramento e fiscalização da publicidade e propaganda de

bebidas alcoólicas, uma batalha ideológica difícil, pois de um lado temos o Estado

no âmbito da saúde publica versus a rede de propaganda das empresas de bebidas

alcoólicas.

Em relação ao tratamento, a política visa o ampliar o acesso para os usuários

e dependentes do álcool através do SUS, como também estabelecer parcerias com

Organizações não governamentais, filantrópicas e privadas.

Diante do exposto, faz-se necessário demonstrar como a cidade de Natal, Rio

Grande do Norte vem trabalhando a questão da dependência do álcool.

A cidade de Natal oferece serviços de atenção ao dependente químico em

acordo com a Política Nacional Sobre drogas. Esses serviços são realizados através

de dois CAPSad, um situado no distrito Leste, o CAPSad III e no distrito Norte, o

CAPSad II. A cidade conta também com o Ambulatório de Prevenção e Tratamento

de Tabagismo, Alcoolismo e outras drogadições (APTAD), situado no distrito Sul,

que atende usuários a partir de 14 anos bem como oferece orientação para seus

familiares.

8A PNA considera como “conceito de redução de danos, para efeitos desta Política, o conjunto

estratégico de medidas de saúde pública voltadas para minimizar os riscos à saúde e à vida, decorrentes do consumo de álcool.” (Brasil, 2010). 9 Podemos exemplificar essas medidas através do uso obrigatório das frases “beba com moderação”

ou “se beber, não dirija”, nas propagandas das bebidas.

27

Existem também em Natal, outras unidades de atendimento/atenção ao dependente

do álcool, entretanto, não compõem a rede municipal de atenção ao dependente

químico, são eles: a Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor (DAS) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que realiza trabalhos

voltados à dependência através do Grupo de Apoio aos Acometidos pela Doença do

Alcoolismo (GADA), a Unidade de Tratamento de Dependência do Álcool e outras

Drogas (UTAD), também vinculada a UFRN através do Hospital Universitário Onofre

Lopes (HUOL), existe também o Programa Educacional de Resistência às Drogas

(PROERD) que trabalha principalmente com a prevenção ao uso de drogas. Além

das comunidades terapêuticas privadas e filantrópicas, como por exemplo: a Casa

de Apoio ao Dependente Químico, Instituto Potiguar de Prevenção e Combate às

Drogas, Clínica Santa Maria, Instituição Manassés, Desafio Jovem Ebenezer, Casa

de Saúde Natal - Professor Severino Lopes, Casa de Recuperação Novo

Amanhecer (CARENA), Hospital Dr. João Machado (Hospital Colônia), Fazenda

Esperança, Alcoólicos Anônimos, Al-ANON, Grupo Esperança Viva, Amor Exigente,

NARNON, Casa de Recuperação Novo Amanhecer, Chácara Renascer, entre

outros. É importante destacar que tanto a Casa de Saúde Natal, como a Clínica

Santa Maria, são instituições privadas que possuem também convênio com o SUS.

Os serviços oferecidos pelo Município se apresentam como escassos, pois

apresenta apenas dois CAPS AD que estão situados nos distritos Leste e Norte, o

que pode causar uma grande demanda para essas instituições, pois deixa de

atender os distritos Oeste e Sul, deixando para este último apenas o atendimento

realizado pela APTAD. Nesse sentido, o atendimento realizado pelos CAPS AD está

regionalizado, centralizado, indo de encontro ao princípio da descentralização dos

atendimentos referentes à Saúde Mental.

Ainda assim, a cidade de Natal segue de acordo com a Política Nacional

sobre Drogas, pois tem em seu corpo de atendimento ao dependente os serviços

oferecidos pelos CAPS AD, bem como a APTAD, além dos serviços oferecidos em

conjunto com instituições Federais, e com a sociedade civil. Mas, não podemos

afirmar que esses serviços têm sido oferecidos de forma satisfatória e se as

instituições estão conseguindo atender a essa demanda, tendo em vista o número

pequeno de CAPS AD e de unidades públicas de atendimento, no âmbito municipal,

existente na cidade, fator que se mostra preocupante, pois o município tem

obrigação de oferecer esses serviços de forma que atenda todos aqueles que

28

procuram esse tratamento. Sendo assim, acaba contribuindo no aumento das

unidades de tratamento privadas e filantrópicas, corroborando com a

desresponsabilização do município.

29

Capítulo II: Dependência Química e Serviço Social

O presente capítulo destina-se a contextualizar a inserção do assistente social

na área da saúde, tendo em vista que o trabalho com a dependência química está

inserida na saúde mental. Sendo assim, mostraremos as mudanças ocorridas na

atuação profissional dentro da área da saúde, para então entendermos como se dá

essa atuação atualmente, bem como na área da dependência química.

Neste segundo capítulo traremos também, as análises realizadas acerca das

entrevistas realizadas com as assistentes sociais atuantes na área. Para isso,

criamos nove categorias que demonstram a atuação dessas profissionais, que

perpassam desde o perfil das assistentes sociais (idade, sexo, vínculo, entre outras

perguntas), aos objetivos do trabalho do Serviço Social na instituição. Explanando

assim, as tendências encontradas nas ações profissionais das mesmas dentro da

área de dependência química.

2.1 Serviço Social e Saúde: as conexões com trabalho do assistente social

na dependência química.

Nosso objeto de estudo é a atuação profissional do assistente social na área

da dependência do álcool, sendo esse, parte integrante da saúde mental. Dessa

forma, se faz importante a discussão da inserção do Serviço Social na área da

saúde e como isso ocorreu dentro do processo histórico da profissão.

O Serviço Social no Brasil surge na década de 1930, influenciado pelo

Serviço Social europeu. Inicialmente a atuação do assistente social era pautada pelo

Serviço Social Tradicional, de cunho conservador e interligado a Igreja, onde as

intervenções dos assistentes sociais eram essencialmente assistencialista, voltada

para a caridade. Nesse período, de acordo com Bravo e Matos (2007), as áreas de

saúde não concentravam grandes números de profissionais, mesmo com o

surgimento de algumas escolas através de demandas desse setor e com disciplinas

relacionadas à saúde.

E, é no contexto histórico-econômico e político dos anos 1930 que se formula

a política de saúde brasileira com caráter nacional, na qual se organizou de duas

formas: Saúde Pública e Medicina Previdenciária. A saúde pública voltava-se, de

30

acordo com Bravo e Matos (2007), para o destaque das campanhas sanitárias, para

a interiorização das ações para as áreas de endemias rurais e para a criação de

serviços que visavam o combate dessas endemias. Essas diretrizes para a saúde

pública predominaram até meados dos anos 1960. Já a medicina previdenciária

apresentou como um grande marco a criação dos Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAPS) que foram substituídas pelas Caixas de Aposentadorias e Pensões

(CAPs) no ano de 1923.

No período de 1945 a 1964 a política de saúde foi se consolidando. É também

no período de 1945 que o Serviço Social no Brasil vai se expandindo e sua

intervenção deixa de sofrer influência europeia e passa a ser influenciada pelo

serviço social norte-americano. Essa expansão esteve ligada a necessidade da

consolidação do capitalismo no país e as mudanças ocorridas dentro do Brasil após

o final da 2ª Guerra Mundial. No mesmo período, a inserção profissional do

assistente social na área da saúde também ganha um maior peso, se transformando

no setor de maior absorção de assistentes sociais.

Essa maior absorção de assistentes sociais se deu devido ao novo conceito

de saúde apresentado no ano de 1948 que tinha como enfoque os fatores

biopsicossociais, o que acarretou na requisição de novos profissionais para atuar na

área da saúde. Segundo Bravo e Matos (2007),

Este conceito surge de organismos internacionais, vinculado ao agravamento das condições de saúde da população, principalmente dos países periféricos, e teve diversos desdobramentos. Um deles foi a ênfase no trabalho em equipe multidisciplinar [...]”. (p.28)

Nesse sentido, para o assistente social foram dadas tarefas educativas

relacionadas aos hábitos de higiene e saúde de sua “clientela” e atuação em

programas estabelecidos pela política de saúde.

A partir dos anos de 1960 observamos um período de grandes

transformações do Serviço Social, pois até então, não havia rebatimento ao

conservadorismo existente na prática profissional, mas durante esses anos, os

profissionais progressistas passaram a questionar o conservadorismo predominante

na profissão. Essas transformações profissionais também trouxeram mudanças na

atuação do assistente social na área da saúde. Porém em 1964 esse rebatimento foi

31

neutralizado como consequência da ditadura militar instaurada, eliminando as forças

democráticas do país. A política ditatorial passa a intervir na questão social com um

caráter repressor e assistencialista.

A partir disso, de acordo com Bravo e Matos (2007)

A modernização conservadora implantada no país exigiu a renovação do Serviço Social, face às novas estratégias de controle e repressão da classe trabalhadora efetivadas pelo Estado e pelo grande capital, bem como para o atendimento das novas demandas submetidas à racionalidade burocrática. (p.31).

Mesmo com esse período de mudança, se expressa ainda o caráter

conservador da prática profissional do assistente social, visando à manutenção da

ordem, adequando-se ao projeto modernizador do Estado.

No âmbito da saúde, essa transformação trouxe repercussões para sua

prática profissional, consolidando na sua ação a prática curativa. Nesta fase, se

enfatizaram as técnicas de intervenção, a burocratização de atividades, a

psicologização das relações sociais e a concessão de benefícios, ocorrendo

principalmente na área de assistência médica previdenciária.

E, nos anos de 1974 a 1979, não há alteração do Serviço Social na área da

saúde, mesmo com o surgimento de novas direções para a profissão, ou seja,

colocando a perspectiva modernizadora em questão, e trazendo duas outras

direções para a atuação do assistente social: a reatualização do conservadorismo10

e a intenção de ruptura11.

A década de 1980 foi um período de grandes mudanças no contexto político

brasileiro, como também um período de forte crise econômica da ditadura militar. E

no que diz respeito ao Serviço Social, também é um período de mudanças, onde há

uma ampliação dos debates teóricos e incorporação de novas temáticas, como o

Estado e as políticas sociais fundamentadas no marxismo como exemplifica Bravo e

Matos (2009). Essa nova vertente na prática profissional passa a ser denominada

por Netto como “intenção de ruptura”.

No que concerne à saúde, a década de 1980 trouxe avanços na discussão da

reforma sanitária, elaborando propostas que visavam fortalecer o setor público em

oposição ao setor privado. Já em 1986 houve a 8ª Conferência Nacional da Saúde,

10

Baseado na fenomenologia (Netto, apud Bravo e Matos, 2007). 11

Responsável pela interlocução com o Marxismo (Netto, apud Bravo e Matos, 2007).

32

que representa o marco histórico da trajetória da política pública de saúde no Brasil,

pois foi nessa Conferência que se aprovou a bandeira da Reforma Sanitária e o

relatório da Conferência serviu como base para a negociação dessa Reforma na

formulação da Constituição Federal de 1988.

No rol das lutas por direito nos anos de 1980, a constituição Federal de 1988

traz à Saúde a integração da mesma na Seguridade Social. E de acordo com Bravo

e Mattos (2007) à Saúde na Constituição de 1988 coube cinco artigos (196-200). E

podemos destacar o Artigo 196 que afirma

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação. (Brasil. Constituição, 1988).

Entretanto, a saúde como direito de todos e dever do Estado não foi

conquistada facilmente. Essa discussão trouxe dois polos antagônicos: a Federação

Brasileira de Hospitais (FBH) e Associação das indústrias farmacêuticas

internacionais que defendiam o modelo privatista da saúde e do outro lado estava a

Plenária Nacional da Saúde que defendia os ideais da Reforma Sanitária12, mas

A vitória das proposições da Reforma Sanitária deveu-se à eficácia da Plenária, por sua capacidade técnica, à pressão sobre os constituintes e mobilização da sociedade, e à Emenda Popular assinada por cinquenta mil eleitores e cento e sessenta e sete entidades. (Teixeira, 1989; Bravo, 1996 apud Bravo e Matos, 2007, p. 33).

No que concerne ao Serviço Social, nesse período, a profissão recebe

influência dessa conjuntura, e passa também por um processo de reflexão a sua

prática profissional, indo de encontro com o Serviço Social Tradicional. Diante disso,

os anos 1980 para a profissão fora um período de iniciação da maturação da

tendência hegemônica profissional – a interlocução com a tradição marxista - o que

reflete na prática profissional até os dias de hoje. Contudo, os profissionais dessa

nova vertente se inseriram nas Universidades, buscando uma maior fundamentação

e consolidação teórica, contribuindo de forma residual com os profissionais que se

12

Democratização do acesso, universalidade das ações e a descentralização com controle social.

(Bravo e Matos, p. 33).

33

encontravam nas instituições, o que acarretou em poucas mudanças nas

intervenções dos assistentes sociais nesse período.

Porém, a atuação do assistente social na área da saúde, com esse novo olhar

para a prática profissional, sofre poucas mudanças

Na saúde, os avanços conquistados pela profissão no exercício profissional são considerados insuficientes, pois o Serviço Social chega à década de 1990 ainda com uma incipiente alteração do trabalho institucional; continua enquanto categoria desarticulada do Movimento da Reforma Sanitária, sem nenhuma explícita e organizada ocupação na máquina do Estado pelos setores progressistas da profissão (encaminhamento operacionalizado pela Reforma Sanitária) e insuficiente produção sobre “as demandas postas à prática em saúde” (BRAVO, 1996 apud CFESS, 2010, p.25).

Já na década de 1990, o Brasil estava no processo de implantação da política

neoliberal, através dos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso (FHC). Esse

projeto político-econômico implantado no Brasil da década de 1990 vai de encontro

com o projeto profissional hegemônico do Serviço Social, construído na década de

1980, e com o projeto de Reforma sanitária.

Com a implantação da política neoliberal o projeto de Reforma Sanitária

passa a ser questionado, e se insere na discussão o projeto de saúde articulado ao

mercado ou privatista, que se consolidou na segunda metade dos anos 1990. O

projeto privatista, de acordo com Bravo e Matos (2007), era

pautado na política de ajuste, tem como tendências a contenção dos gastos com a racionalização da oferta e descentralização com isenção de responsabilidade do poder central. Ao estado cabe garantir um mínimo aos que não pode pagar, ficando para o setor privado o atendimento aos cidadãos consumidores. Como principais características destaca-se: o caráter focalizado para atender às populações vulneráveis, a desconcentração dos serviços e o questionamento da universalidade do acesso.” (p.35 - 36).

Dessa forma, o assistente social passa a ser requisitado na área da saúde em

dois projetos políticos diferentes, o privatista e o da reforma sanitária. O modelo

privatista exige do assistente social: seleção socioeconômica dos usuários, atuação

psicossocial por meio do aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos

planos de saúde, assistencialismo por meio de ideologia do favor e do predomínio

de práticas individuais (CFESS, 2010).

34

Já o modelo de Reforma Sanitária, exige aos assistentes sociais: a

democratização do acesso as unidades e aos serviços de saúde, estratégias de

aproximação das unidades de saúde com a realidade, trabalho interdisciplinar,

ênfase nas abordagens grupais, acesso democráticos às informações e estímulo à

participação popular (CFESS, 2010). A análise destas atribuições nos indica a

aproximação entre a Reforma Sanitária e o Projeto ético-político do Serviço Social,

bem como o seu comprometimento com os usuários, sendo assim, vai contra a

política neoliberal, imposta e consolidada a partir dos anos 1990, bem como ao

modelo privatista.

Essa disputa ainda se faz presente nos dias atuais. No ano de 2002, Luis

Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil e no seu programa de governo

fazia ênfase da saúde como direito do cidadão e dever do Estado. Entretanto, os

dois projetos ainda se encontram em disputa, pois o projeto privatista se faz

presente dentro e fora do Estado.

Segundo Bravo e Matos (2007), podemos destacar aspectos positivos e

negativos do governo Lula na política de saúde. Temos como ponto positivo:

o retorno da concepção de Reforma Sanitária; alterações na estrutura organizacional do Ministério da saúde; a escolha de profissionais comprometidos com a Reforma Sanitária para ocupar o segundo escalão do Ministério; a convocação extraordinária da 12ª Conferência Nacional de Saúde; a participação do ministro da saúde nas reuniões do Conselho Nacional de Saúde; e a escolha do representante da CUT para assumir a secretaria executiva do Conselho Nacional de Saúde. (Bravo e Matos, 2007, p. 41).

Já como pontos negativos do governo Lula no âmbito da saúde destacam-se:

não referência à concepção de Seguridade Social [...] a não implementação do Conselho de Seguridade Social; a continuidade e ampliação de contratação de agentes comunitários como também de outras categorias (auxiliar e técnico de saneamento, agentes de vigilância sanitária, agentes de saúde mental); aumento de verba insignificante [...] seguido de corte e a falta de articulação com as Políticas de Assistência Social e Previdência Social. (Bravo e Matos, 2007, p. 41).

A partir desses pontos, pode-se afirmar que o projeto de Reforma Sanitária e

o Projeto Privatista permanecem em disputa.

O serviço social também se insere em um processo de tensão. Na década de

1990, quando o serviço social consegue de fato romper com o Serviço Social

35

Tradicional e atingir a sua maioridade intelectual, inicia-se uma ofensiva

conservadora na profissão, onde os apoiadores dessa ofensiva, segundo o CFESS

(2010), acreditam que o marxismo não representa as respostas necessárias para o

conjunto de desafios postos à profissão na contemporaneidade.

No âmbito da saúde, a crítica ao projeto profissional se dá através, segundo

Bravo e Matos (2007), da reatualização da cisão entre o estudo teórico e a

intervenção, a descrença da existência de políticas públicas e a suposta

necessidade da construção de um saber específico na área da saúde, que vai de

encontro com a formação em Serviço Social, bem como enfatiza a divisão clássica

da prática médica13.

Diante desse contexto se faz necessário que os assistentes sociais atuantes

na área da saúde, defendam o projeto da Reforma Sanitária, tendo em vista a sua

aproximação com o nosso projeto ético-político, exercer sua profissão procurando

identificar os impasses que contribuem para a não efetivação desse projeto,

compreendendo assim que

cabe ao Serviço Social – numa ação necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) – formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito social à saúde, atentando que o trabalho do assistente social que queira ter como norte o projeto- ético político profissional tem de, necessariamente, estar articulado ao projeto da reforma sanitária (MATOS, 2003; BRAVO; MATOS,2004 apud CFESS, 2010, p.29-30).

Sendo imprescindível ao assistente social realizar seu exercício profissional

baseadas no Código de Ética profissional, pois qualifica as suas intervenções no

âmbito da saúde, como em outras áreas. E de acordo com os Parâmetros de

Atuação de Assistentes Sociais na Saúde, uma atuação competente e crítica do

assistente social na área da saúde é possível através da concretização dos

seguintes pontos:

• estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS;

13

A prática médica pode ser entendida, segundo Nunes, como “[...] um discurso “verdadeiro”- porque científico – sobre as doenças e suas causas, o que significa que ela, no interior de seus limites, reconhece proposições verdadeiras e falsas sobre os males do corpo e da mente humanos. Sem dúvida vem daí o enorme poder detido pelos profissionais desta disciplina médica nas suas relações com seus pacientes”. (Nunes, 2004, p.475)

36

• conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença; • facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da instituição e da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa não submeter à operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido no projeto de Reforma Sanitária; • buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da atenção em saúde; • estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a articulação entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais; • tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas; • elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar investigações sobre temáticas relacionadas à saúde; • efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação da população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos conquistados. (CFESS, 2010, p. 30-31).

Diante do exposto, podemos afirmar que com as mudanças no âmbito

profissional, bem como sua inserção na área da saúde, o Serviço Social se insere

em vários campos desta área, inclusive na dependência química. E nessa área, a

atuação profissional se dá desde esse atendimento direto, a trabalhos de prevenção,

assessoria em grupos terapêuticos, encaminhamentos para benefícios, entre outros.

Para tanto, faz-se necessário o conhecimento profissional para essa atuação, na

perspectiva da desburocratização desse trabalho, bem como da efetivação do direito

do usuário ao acesso do serviço, sempre vinculados aos parâmetros normativos

profissionais.

2.2 A atuação do Assistente Social nas Redes de Atenção ao Alcoolista da

Cidade de Natal/RN

O presente subitem destina-se a apresentar a trajetória da pesquisa realizada,

mostrando as tendências encontradas acerca da atuação dos assistentes sociais

nas redes de atenção ao alcoolista da cidade de Natal/RN, a partir das

interpretações obtidas pelos subsídios teóricos e de campo utilizados neste trabalho.

37

Esse percurso é necessário para entender o objeto de estudo. O trabalho dessa

pesquisa destacou os seguintes itens: as concepções que elas têm sobre o trabalho,

as demandas, os usuários, entre outros.

Em relação às concepções que as duas (02) assistentes sociais possuem

acerca do seu trabalho no âmbito da dependência química, percebeu-se que essas

foram se configurando aos poucos, num constante diálogo entre os dados empíricos

obtidos e o referencial teórico que embasa esta monografia. Nesse sentido, o

trabalho de campo, como um instrumento, possibilitou o diálogo entre pesquisador e

pesquisado, permitindo a construção de um conhecimento sobre a inserção do

assistente social nas redes de atenção ao alcoolista em Natal/RN.

Os depoimentos das entrevistadas serviram como veículo que permitiu a

investigação dos conhecimentos, entendimentos e opiniões que as assistentes

sociais possuem a respeito do tema da pesquisa. Analisar o significado das falas

das participantes envolvidas contribui para o entendimento do que o outro pensa da

sua atuação através de experiências enquanto profissional.

Sendo assim, investigar as experiências dos sujeitos envolvidos através de

suas falas implica conhecer quem são esses profissionais, como pensam, como

agem, ou seja, implica também compreender o sujeito social e a produção de suas

ações, compreender que suas concepções refletem na sua prática profissional.

Dessa forma, iremos analisar as respostas obtidas com o objetivo de desvendar o

objeto de estudo. Para garantir o anonimato das assistentes sociais entrevistadas

iremos nos referir as entrevistas como Entrevistada 1 e Entrevistada 2.

A primeira etapa da análise dos dados constituiu-se em separar as

informações referentes ao perfil das assistentes sociais entrevistadas. Esse perfil foi

produzido a partir dos dados construídos no questionário. Portanto, a partir dele,

foram construídas informações relativas à faixa etária, sexo, tempo de trabalho na

instituição, vínculo funcional e função.

Os dados obtidos através da primeira etapa de análise demonstraram que o

sexo predominante dos profissionais entrevistados era o feminino, a faixa etária

variou entre 34 a 36 anos, o tempo de trabalho na instituição variava entre 2 a 8

anos, o vínculo funcional foi predominantemente servidor público municipal e o cargo

desempenhado é de assistente social.

A segunda etapa da análise dos dados constituiu-se, a partir da leitura e

síntese das falas das assistentes sociais, na criação de nove categorias a serem

38

analisadas sobre a o trabalho destas nas redes de atenção a dependentes químicos:

as atividades desenvolvidas na instituição, o público usuário, a demanda mensal da

instituição, a existência de ações diretas voltadas para o enfrentamento do

alcoolismo, o papel do assistente social nas ações de enfretamento ao álcool, as

dificuldades encontradas ao trabalhar com a problemática da dependência química,

os instrumentos de trabalho utilizados, onde busca referências para embasar

teoricamente a sua intervenção e os objetivos do trabalho do assistente social na

instituição. Esses conceitos foram escolhidos visando compreender a atuação do

assistente social diante dessa problemática.

Com relação à primeira categoria – atividades desenvolvidas na instituição

– obteve-se das assistentes sociais as seguintes respostas:

“Eu tenho dois grupos de atividade. Tenho atividade enquanto técnica [...] o CAPS ele funciona com equipe multidisciplinar e interdisciplinar. A gente tem várias formações, diversos profissionais que atuam enquanto técnicos, então são atividades comuns. A gente tem como atividade comum da casa: são os grupos, grupos terapêuticos, acolhimento, triagem [...] E eu tenho atividades especificas do Serviço Social, temos os encaminhamentos para os benefícios, orientações dos benefícios, contatos com instituições, alguns contatos com familiares né! [...]Mas assim, eu sou 70% técnica e 30% assistente social. [...] Então quando eles precisam de alguma coisa do Serviço Social a gente agenda e eu faço o atendimento individual, as vezes faço alguns grupos de orientação em relação aos benefícios.” (Entrevistada 1). “A gente faz o acolhimento, triagem, pra saber mais ou menos o nível de dependência, se ele é um paciente [...] que vai ser atendido aqui. No caso, o tratamento da gente é um tratamento a nível ambulatorial, menos intensivo. [...] E atividades de grupo. A gente faz o atendimento individualizado e coordena atividades em grupo.” (Entrevistada 2).

No que diz respeito à resposta da Entrevistada 1 o seu trabalho na instituição

se dá através de equipes multidisciplinar e interdisciplinar, estando em consonância

com os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde que diz

As ações que predominam no atendimento direto são as ações socioassistenciais, as ações de articulação interdisciplinar e as ações socioeducativas. Essas ações não ocorrem de forma isolada, mas integram o processo coletivo do trabalho em saúde, sendo complementares e indissociáveis. (CFESS, 2010, p. 42).

Nesse sentido, apresenta, segundo sua resposta, “duas funções”: técnica do

CAPSad e assistente social. Enquanto técnica a Entrevistada 1 a sua atuação é

39

dada através da realização de triagens, acolhimentos, coordenação de grupos

terapêuticos. E, enquanto assistente social realiza encaminhamentos, orientações,

contatos com instituições e contato com famílias dos usuários. Na fala da

Entrevistada 2 podemos identificar uma atuação comum a Entrevistada 1, pois no

cotidiano do seu trabalho ela também realiza acolhimentos, triagens e atividades em

grupo. Na fala das duas assistentes sociais entrevistadas se torna visível a

articulação da sua atuação profissional com a Lei de Regulamentação Profissional

do Assistente, no qual dispõe no seu Artigo 4º que é competência do assistente

social:

III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos. (CFESS, 2011, p.14)

Como também está de acordo com os Parâmetros para Atuação do

Assistente Social na Saúde que elenca as principais ações a serem desenvolvidas

pelo assistente social, como por exemplo: “democratizar as informações por meio de

orientações (individuais e coletivas) e/ou encaminhamentos quanto aos direitos

sociais da população usuária.” (CFESS, 2010, p.44).

Entretanto, na fala da Entrevistada 1: “[...]eu sou 70% técnica e 30%

assistente social.”, podemos identificar a dissociação que a mesma faz entre a sua

atuação técnica, vinculada ao trabalho multidisciplinar, e a sua formação, ou seja,

para ela, a sua atuação enquanto técnica do CAPSad é dissociada da sua atuação

enquanto assistente social, sendo assim, demonstra um não reconhecimento

profissional, ou seja, a diluição da identidade profissional, em detrimento dos

objetivos institucionais, bem como das políticas. Concorda-se com Iamamoto que “é

necessário desmistificar a ideia de que a equipe, ao desenvolver ações

coordenadas, cria uma identidade entre seus participantes que leva à diluição de

suas particularidades profissionais” (Iamamoto apud CFESS, 2010, p.46).

No que diz respeito à segunda categoria – o público usuário – temos as

seguintes respostas:

“[...] São pessoas dependentes químicas, dependentes do álcool e outras drogas, é um público que é meio flutuante [...] predominantemente masculina [...] São pessoas geralmente oriundas da Zona Oeste [...] Hoje a

40

gente está atendendo os quatro distritos. A grande maioria são pessoas [...] são desempregados, são realmente pessoas mais vulneráveis.” (Entrevistada 1).

“[...] São usuário de tabaco, álcool e outras drogas, mas é muito móvel essa história [...] São mais homens na faixa etária de 20 a 40 e poucos anos. Condição: a classe econômica menos favorecida, embora a gente tenha outras classes, mas o que predomina é a classe menos favorecida mesmo.” (Entrevistada 2).

Esta fala demonstra também o comprometimento com o código de ética

profissional, pois as duas assistentes sociais prestam atendimento sem discriminar

seus usuários enquanto a classe social dos mesmos, tendo em vista que em sua

maioria são usuários mais vulneráveis economicamente, ou seja, trabalhando

diretamente com o enfrentamento das expressões da questão social e estando

assim em consonância com o XI princípio fundamental do Código de Ética

profissional que diz:

Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física. (CFESS, 2012, p.24).

Um elemento que merece destaque, é que a dependência do álcool atinge as

diferentes classes sociais, entretanto, aqueles que pertencem às classes mais

abastadas recorrem ao tratamento privado, como as clínicas de recuperação, já os

usuários de classe mais baixa recorrem às redes públicas de atenção. Por isso, o

perfil encontrado nessas instituições públicas é de uma população mais vulnerável.

É apenas no AA que poderemos identificar uma demanda mais diversificada, tendo

em vista o anonimato assegurado pela irmandade, fazendo com que os

dependentes se sintam mais seguros ao participarem das reuniões.

À terceira categoria diz respeito à demanda mensal da instituição, onde foi

possível identificar que não se tem como definir numericamente ao certo a demanda

que chega as assistentes sociais, tendo em vista a vulnerabilidade dos dependentes

químicos, ou seja, há muita evasão, no sentido da recaída, como também muitos

retornos. Como veremos nas falas a seguir:

“É muito flutuante [...] uma média de 180 usuários/mês que participam dos grupos, das atividades coletivas. [...] cerca de 60 atendimentos por mês

41

individuais, porque eu tenho uma demanda muito grande de declaração para INSS e STTU.” (Entrevistada 1). “[...] Umas 30 pessoas é mais ou menos isso que chega, porque também tem aqueles que retornam, tem muito isso também nessa área, tem muito retorno, mas que vem pela primeira vez é na faixa de uns 30, de 20 a 30 por mês que chega.” (Entrevistada 2).

Essa categoria demonstra também que existe uma alta demanda, mesmo que

rotativa, para poucos profissionais, o que se evidenciará nas análises acerca dos

problemas estruturais.

Já a quarta categoria está relacionada à existência de ações diretas

voltadas para o enfrentamento do alcoolismo. Nessa categoria, obtivemos

respostas diferentes, pois, na instituição da Entrevistada 1, o trabalho realizado

com os dependentes químicos se dá em um âmbito mais geral, ou seja, se trabalha

os dependentes de álcool juntamente com os dependentes de outras drogas, apesar

de que há um predomínio de alcoolista nos grupos que se reúnem no período

matutino, como podemos identificar na fala da assistente social

“[...] A gente fala da dependência como um todo né?! Nosso grupo é um grupo misto [...] A gente tem algumas fases que a gente tem uma quantidade maior, por exemplo: de manhã tem dois perfis, o pessoal da manhã são pessoas mais velhas, mais maduras e que em geral são alcoolistas né? O público da manhã. O público da tarde é um pouco mais jovem que em geral são usuários de crack.” (Entrevistada 1).

Já na instituição da Entrevistada 2, há um grupo específico para alcoolista

que foi se formando com o passar do tempo, como podemos entender através da

resposta da assistente social:

“A gente tem um grupo na terça-feira [...] não sei porque a gente começou formando um grupo só de álcool, então nesse momento a gente tem um grupo na terça feira que é só alcoolistas só tem um paciente acho, num grupo de 12 pessoas que atualmente tem 12 pessoas só tem um que é de outras drogas porque não dá para entrar...então assim, a gente tá bem focalizando na questão do álcool nesse grupo porque foi se formando uma maioria só de álcool.” (Entrevistada 2).

Através da fala da Entrevistada 2, percebemos que embora não seja

possível definir o porquê da formação de um grupo específico, a profissional revela

que existem diferentes demandas na atuação com a dependência química, pois pra

42

cada droga e usuário há diferentes encaminhamentos. Outro elemento é o perfil

etário dos usuários, onde os mais velhos geralmente são dependentes do álcool e

os mais novos, dependentes do crack, demonstrando que essas drogas trazem

diferentes impactos para o usuário, tornando difícil a junção dos mesmos em um

mesmo grupo. Sendo assim, podemos afirmar que mesmo que a Entrevistada 2 não

saiba responder o porquê da formação de um grupo específico para alcoolistas, ela

nos faz entender que o enfrentamento de cada droga vai requerer do profissional

uma abordagem diferenciada.

Ao que concerne à quinta categoria de análise – o papel do assistente

social nas ações de enfretamento ao álcool – obtivemos as seguintes respostas:

“[...] é fundamental né? Porque assim, o social ele perpassa a vida toda do usuário, então o suporte social, uma boa orientação, o acesso aos benefícios ele ajuda a estruturar essa família, ajuda a organizar o individuo. [...] A questão da reinserção social é urgente são pessoas que são de fato excluídas da sociedade, marginalizadas, que tem um problema familiar, uma dificuldade familiar. Então assim, a intervenção do profissional é essencial para ajudar a equilibrar e equacionar essa conta aí.” (Entrevistada 1). “[...] eu acho que é facilitar o acesso, a questão mesmo de tentar assim [...] o assistente social é fundamental na equipe interdisciplinar porque eu acho que para tratar com álcool e outras drogas tem que ser uma equipe interdisciplinar [...] E pra servir de mediador com o seu saber, a questão mesmo da cidadania dessas pessoas, tentar resgatar a cidadania dessas pessoas [...] Eu acho que a gente tem esse papel de fazer com que as pessoas reconstruam suas vidas né? Busquem novos... mudanças, outros... eu acho que o assistente social tem muito a fazer.” (Entrevistada 2).

Nas respostas obtidas vemos novamente a atuação profissional das

assistentes sociais vinculadas ao Código de Ética profissional, aos Parâmetros de

atuação do assistente social na área da saúde, bem como a PNAD e a PNA. Na

resposta das duas assistentes sociais entrevistadas percebemos a preocupação

com a orientação no sentido da reorganização da vida daquele sujeito acometido

pelo alcoolismo, como vemos nas falas: “[...] então o suporte social, uma boa

orientação, o acesso aos benefícios ele ajuda a estruturar essa família, ajuda a

organizar o individuo.” (Entrevistada 1) e “E pra servir de mediador com o seu

saber, a questão mesmo da cidadania dessas pessoas, tentar resgatar a cidadania

dessas pessoas [...] Eu acho que a gente tem esse papel de fazer com que as

pessoas reconstruam suas vidas né?” (Entrevistada 2). Essas duas falas fazem

menção tanto ao Código de Ética profissional no seu Artigo 5º b, que dispõe

43

b- garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos/as usuários/as, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos/as profissionais, resguardados os princípios deste Código. (CFESS, 2012, p.29).

Como também está te acordo com o que rege a PNAD:

Na etapa da recuperação, deve-se destacar e promover ações de reinserção familiar, social e ocupacional, em razão de sua constituição como instrumento capaz de romper o ciclo consumo/tratamento, para grande parte dos envolvidos, por meio de parcerias e convênios com órgãos governamentais e organizações não-governamentais, assegurando a distribuição descentralizada de recursos técnicos e financeiros. (SENAD, 2010, p.18).

Essas ações têm como objetivo a diminuição dos danos sociais, familiares

causados pela dependência química.

Na nossa sexta categoria de análise - as dificuldades encontradas ao

trabalhar com a problemática da dependência química – encontramos respostas

que se diferem uma da outra:

“O conhecimento [...] a gente é pouco preparado na universidade pra lidar com isso, então assim, se faz necessário estudo né? Então assim, quando eu vim para essa área eu senti necessidade de me especializar, de estudar, fui fazer uma especialização nessa área porque eu sentia, por mais que eu tenha feito estágio na área, tenha elaborado minha monografia na área, as informações que eu tinha eram muito incipientes né? [...] as demandas vem e você tem que dar uma resposta, então você tem que ter conhecimento pra você poder enfrentar um grupo desse né? A gente acaba tendo que fazer avaliação do tratamento, então você precisa ter esse suporte de informação né? Eu tenho que ter uma formação para poder direcionar, porque senão eu vou contribuir pouquíssimo né? A gente tem pouca produção em relação a isso.” (Entrevistada 1).

Através dessa fala, podemos sentir a preocupação da assistente social com o

embasamento teórico acerca da dependência química para a intervenção

profissional. Observamos isso como um ponto positivo, pois sabemos que a

articulação entre a teoria e a prática se faz necessária nas intervenções

profissionais, e sendo também, o aperfeiçoamento teórico, uma demanda concreta

do trabalho e também do Código de Ética do Serviço Social, como dito no X principio

"Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o

aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.”. Sendo

assim, faz-se necessário o estudo para atender de forma qualitativa e significante o

44

usuário que busca o Serviço Social. Entretanto, foi possível constatar durante a

entrevista que as dificuldades estruturais também se apresentam para a

Entrevistada 1, pois em outras respostas frisou os problemas estruturais, como nas

seguintes falas:

“[...] Hoje a gente está atendendo os quatro distritos porque o CAPSad da Zona Norte a algum tempo está com o funcionamento limitado por conta da estrutura física lá, foi interditado o prédio há mais de um ano, então eles não estão recebendo novos usuários, então a gente está recebendo Natal inteira aqui.” “[...] por mais que a gente tenha muita dificuldade em fazer visitas por conta da falta de estrutura né? Mas assim, já fiz inclusive no meu carro por necessidade mesmo.” (Entrevistada 1).

No que diz respeito à falta de estrutura, pode-se afirmar que se encontra por

trás disso uma pouca ou nenhuma preocupação da gestão municipal em atender

essa demanda frente ao crescimento da mesma na cidade de Natal/RN, embora a

PNAD destaque a participação dos municípios nas ações. Demonstrando um

desinteresse por parte da gestão municipal em atender esses usuários. Outro fator

que merece ser destacado é a fragmentação das ações exemplificadas através das

políticas específicas como “Crack, é possível vencer”, pois, nos leva a acreditar que

aquelas drogas de “menor dano” sejam colocadas em segundo plano, deixando de

atender essa demanda.

A entrevistada 2 também trouxe como dificuldade para a sua atuação as

questões estruturais, pois a instituição em que trabalha foi interditada pela

Coordenação de Vigilância em Saúde (COVISA), essa interdição foi explicada pela

mesma

“[...] a gente aqui particularmente está nessa situação, tá dentro de uma unidade básica, porque a gente funcionava ali naquele prédio anexo, mas enfim... foi interditado pela COVISA há dois anos atrás, não fizeram nenhuma movimentação de nada o prédio tava em tempo de cair na cabeça da gente, dos profissionais, foi preciso ser interditado e a gente teve que vir pra dentro de uma unidade básica [...] a partir do momento que foi crescendo, a demanda crescendo, e uma equipe muito grande, aí surgiu a necessidade de um prédio, aí tinha esse prédio fechado que era a antiga central de ambulância e passaram a gente pra lá em 2006, foi inaugurado, uma placa bem bonita, mas manutenção do prédio ninguém faz. Enfim, só faltou o prédio cair mesmo na cabeça da gente, mas a COVISA veio antes e interditou a gente teve que voltar para cá.” (Entrevistada 2).

45

E, de acordo com a mesma, as dificuldades estruturais acabam por atingir o

seu público usuário, pois a partir do momento que foram transferidos para dentro de

uma Unidade Básica de Saúde, foram atingidos pelo preconceito tanto dos

profissionais de saúde que ali trabalhavam, bem como da população que buscavam

atendimento nessa unidade. Como podemos visualizar na seguinte afirmação

“[...] E o complicado... agora não porque a gente já tá há dois anos, já teve todo um processo de construção novamente porque as pessoas, os próprios funcionários da unidade básica, os profissionais de saúde tem uma certa rejeição em tratar com essa demanda, não é todo profissional, embora que era pra ser todo profissional... as vezes é uma questão mesmo de educação de humanidade que as pessoas... não é só uma questão de falta de profissionalismo é uma questão de falta de educação mesmo. Então assim, não aceitam, é marginal, é excluído, que ninguém quer aqui, que é os doidos sabe? Os estigmas então... no inicio... agora já tá mais tranquilo, mas foi muito complicado, foi um processo que a gente sofreu tanto pros pacientes porque aqui a noite atende criança, atende várias demandas e o usuário de álcool e outras drogas as vezes também tem outras... tem outros tipos de transtornos e essa exclusão, essa estigmatização é uma das coisas que a gente sofre, não só aqui, mas em todo canto, mas aqui a gente sofreu isso muito e eu acho que é um dos principais entraves do trabalho, essa questão estrutural. (Entrevistada 2).

Mas, o que a Entrevistada 2 coloca como estrutural é também cultural, o

preconceito inclusive por parte dos profissionais de saúde. Isto nos faz atentar para

a formação desses profissionais, que se apresenta um caráter estritamente técnico,

fato que os carrega de senso comum, fazendo-se necessários cursos

profissionalizantes, de capacitação, para todos dessa área.

Podemos retirar dessas falas, tanto da entrevistada 1 como da entrevistada

2 que a falta de estrutura nas instituições visitadas, interfere diretamente no seu

público usuário, pois impede uma atuação efetiva do assistente social, na qualidade

do serviço prestado, como também os coloca em uma situação de exposição ao

preconceito da sociedade. E esses fatores vão de encontro com a Lei de

Regulamentação profissional que em seu Artigo 7º coloca “a- dispor de condições de

trabalho condignas seja em entidade pública ou privada, de forma a garantir a

qualidade do exercício profissional.” (CFESS, 2012, p. 31).

Ainda a respeito da sexta categoria de análise, a entrevistada 2 traz como

dificuldade a frustração do seu trabalho com a constante recaída dos seus usuários,

porém reconhece que o contexto social do sujeito muitas vezes o faz retornar ao uso

da droga, como também o respeito necessário as decisões tomadas pelos mesmos,

46

respeitando o que orienta os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na

Saúde que diz “conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como

os determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença.” (CFESS, 2010

p. 31). Podemos observar isso através da sua fala:

“[...] outra dificuldade que eu coloco... hoje mais não porque a gente enfrenta isso trabalhando e a gente vai se capacitando e tudo, mas a gente corre o risco de se frustrar muitas vezes né? [...] a gente quer que aquele paciente saia daqui bem, aquela coisa da cura, da abstinência que é muito forte para quem trabalha com isso né? [...] A gente tem que aceitar as diferenças, a escolha das pessoas né? A gente tá aqui para orientar mesmo na questão do cuidado, mas se a pessoa escolheu aquilo o que você vai... né? [...] e a gente sabe que não é só o fato da pessoa não usar a substância, às vezes tem outras coisas da vida da pessoa, por exemplo: tá desempregada, o nível de escolaridade lá em baixo, o ambiente onde vive, as condições de moradia, então são tantas questões na vida daquele sujeito que não compete a você, nem o tratamento, o cuidado que você dá aqui. Então as vezes barra em muitas coisas da vida daquela pessoa.” (Entrevistada 2).

Um aspecto a se destacar é que a frustração da profissional demonstra uma

perspectiva idealizada de cura rápida, no entanto, nestes processos de

enfrentamento a dependência, a recaída é parte do ciclo de vida desses usuários.

No que diz respeito à sétima categoria - os instrumentos de trabalho

utilizados – obtivemos das duas entrevistadas respostas comuns: orientação

individual e familiar, visita domiciliar. Entretanto, a entrevistada 2 demonstrou

bastante dificuldade em reconhecer quais são os instrumentos de trabalho do

assistente social. Essa dificuldade de reconhecimento dos instrumentos de trabalho

está articulada com três situações: a perda da identidade profissional diante da

equipe; a obrigatoriedade da interdisciplinaridade da saúde mental, que em alguns

casos, favorece a perda do que é próprio do serviço social; e o discurso de

neutralização das especialidades, ou seja, das atribuições que se apresenta como

um problema no ponto de vista da identidade profissional. Ainda sim, a profissional

afirmou que o principal instrumento utilizado na instituição onde trabalha é um

prontuário único, no qual todos os profissionais o utilizam de acordo com o seu

olhar, ficando sob a responsabilidade do assistente social o histórico social do

usuário, o que favorece a dificuldade de expor o que é próprio do Serviço Social,

como podemos ver na resposta da entrevistada

47

“O principal instrumento aqui é um prontuário que é um prontuário completo que tem as partes de todos os profissionais que compõem essa equipe, [...] tem a parte de todos os profissionais , tem a história social da pessoa que é a parte do serviço social. Hm... instrumentos... vá me dizendo aí.. é... entrevistas, visita domiciliar é assim raro porque a gente não tem como se deslocar... já teve um caso assim muito sabe? Que a gente vai por conta própria. Mulher, vá me lembrando! O acompanhamento individual aqui porque a gente tá sem grupo de familiares tem tempos que tem, mas aí quando tem esse acompanhamento individual , com o familiar, a gente faz, reunião que também é um outro instrumento[...] a gente tem discussão de casos, atividade em grupo... pode ser... também é um instrumento do serviço social? É né? Sim, também tem a parte educativa que a gente tem, porque por exemplo vem muita escola e pede palestra, essa parte educativa, atividades socioeducativas né? Também empresas já pedem [...].” (Entrevistada 2).

A partir da fala das duas podemos afirmar também que os instrumentos de

intervenção da mesma estão de acordo com os Parâmetros para Atuação de

Assistentes Sociais na Saúde e o que rege a Lei de Regulamentação profissional

que diz no seu Artigo 4º que é competência do assistente social “III - encaminhar

providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população.”

(CFESS, 2012, p.44). E em seu Artigo 5º que é atribuição privativa do assistente

social “IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e

pareceres sobre a matéria de Serviço Social.” (CFESS, 2012, p. 46).

A respeito da oitava categoria - onde busca referências para embasar

teoricamente a sua intervenção – obtivemos as seguintes respostas

“É, eu me baseio na minha especialização, no que eu aprendi, eu fiz uma especialização que a prefeitura promoveu através da FIOCRUZ [...] mas ainda não é suficiente, as vezes ainda preciso me reportar, ainda estudar, procurar sites, enfim né? Conversar com o pessoal da psicologia , da psiquiatria do serviço, é bem aberto, então quando de fato a gente precisa conversar sobre algumas questões eles são bem abertos e ajudam muito. Eu sinto falta da supervisão que o serviço deveria ter, mas a gente está a alguns anos sem que também seria uma forma de sanar essas questões, as vezes não somente dúvidas teóricas, mas dúvidas de condução clínica né? Dos estudos individualizados né? Mas assim, a gente ainda tem um momento de segunda a sexta de 12h a 13h que a equipe se senta. Numa reunião onde a gente pode discutir além dessas questões do serviço, algumas questões que a gente percebe nos grupos e assim, ainda é um momento que a gente tem para poder tá discutindo, tá dividindo, a interdisciplinaridade né?” (Entrevistada 1).

“Bom, a gente é baseado na política do Ministério da Saúde né? A gente tá sempre se baseando pelo o que o ministério da saúde preconiza nessa área né? De álcool e outras drogas. Ultimamente esse documento da política de enfrentamento ao crack né? O crack é possível vencer. E as orientações do SUS né? Eu procuro tá me pautando nessas discussões que vem do

48

ministério da saúde e do SUS que orienta a gente como um.. os encontros mensais...” (Entrevistada 2).

Podemos perceber uma grande diferença entre a fala da Entrevistada 1 e da

Entrevistada 2. A primeira, além de se especializar na área, possui uma busca mais

aprimorada e mais diversificada para adquirir maiores conhecimentos teóricos sobre

a dependência química, bem como busca esses conhecimentos através da

socialização de saberes dos profissionais de outras áreas que atuam juntamente

com ela, demonstrando assim, a sua preocupação em efetivar a interdisciplinaridade

do trabalho com os usuários de álcool e outras drogas, como proposto pelo Código

de Ética em seu Artigo 10º que diz “d- incentivar, sempre que possível, a prática

profissional interdisciplinar.” (CFESS, 2012, p.33). Já a Entrevistada 2 se mostrou

muito presa ao que preconiza o Ministério da Saúde e o Sistema Único de Saúde

(SUS). Ainda assim, as duas buscam, embora de formas diferentes, através da

pesquisa teórica, qualificar as suas intervenções, estando de acordo com o Código

de Ética e Lei de Regulamentação profissional e com os Parâmetros para Atuação

de Assistentes Sociais na Saúde, já citado anteriormente.

Outro ponto a destacar em relação à oitava categoria de forma positiva, é a

troca de experiência que a Entrevistada 1 realiza com os profissionais de outras

áreas, entretanto, a profissional não busca a articulação com as profissionais de

outros CAPS, ou instituições que trabalhem com a problemática da dependência do

álcool e outras drogas. Essa articulação com a rede poderia potencializar as ações

profissionais das assistentes sociais. Observamos ainda, que as duas assistentes

sociais trabalham de acordo com a PNAD e se prendem ao que a política

estabelece, fortalecendo ainda mais a diluição da identidade profissional.

E, como última categoria de análise - os objetivos do trabalho do

assistente social na instituição – obtivemos:

“Não existe um objetivo específico né? A gente tá trabalhando dentro do objetivo da instituição que é promover saúde né? Que é promover uma qualidade melhor de vida, a redução de danos, a gente não trabalha em cima da abstinência que não é a política que o ministério adota, o ministério adota a política de redução de danos, então a gente trabalha nessa perspectiva de recuperação, de promoção à saúde.” (Entrevistada 1). “Eu acho que o objetivo do assistente social é tentar [...] Resgatar os vínculos né? Que foram destruídos, perdidos nessa jornada dele, nessa história de vida que ele teve, que ele associou com esse uso de álcool e

49

outras drogas né? É tentar reinserir... reinserção social eu acho que é um ponto fundamental que eu acho que é onde eu me frustro mais[...] reconhecer as diferenças, democratizar, tentar democratizar o acesso, pelo menos fazer com que as pessoas realmente tenha acesso porque já não tem serviços suficientes que era pra ter e as vezes por conta da burocracia tem aqueles entraves e um paciente desse, quando ele chega pedindo ajuda aqui ele tem que ser atendido naquela hora, pois já é um processo longo ele chegar até aí, aí chega aqui e já um tantinho assim de dificuldade já é motivo para ele ir embora e nunca mais voltar. Então tentar facilitar esse acesso, eu acho que é um dos objetivos principais, tentar facilitar não, facilitar e tentar assegurar mesmo como um direito.” (Entrevistada 2).

Na fala da primeira entrevistada, percebemos que ela traz para o serviço

social os objetivos gerais da instituição, demonstrando a não dissociação do seu

trabalho em específico com os objetivos institucionais, e novamente, demonstra a

perda da identidade profissional. Já a segunda entrevistada apresenta duas

tendências: a primeira é que a política dá o norte para sua atuação, ao falar do

resgate de vínculos como objetivo do Serviço Social, entretanto, esse resgate é um

objetivo da política, e a segunda traz um resgate do ficou da formação profissional,

quando afirma que a democratização do acesso aos serviços oferecidos pela

instituição é um dos objetivos do Serviço Social.

Essa visão da democratização do acesso aos serviços oferecidos é uma visão

essencial e importante que o assistente social precisa ter, pois trabalhamos

essencialmente como mediadores na busca da garantia da efetivação dos direitos

dos nossos usuários, sendo a desburocratização um dos caminhos mais importantes

para que esse direito seja garantido. E, esta visão também está de acordo com o

que preconiza a Lei de Regulamentação profissional, o Código de Ética e os

Parâmetros de atuação, exemplificado pelas seguintes passagens:

c- democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos/as usuários/as; g- contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os/as usuários/as, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados; (CFESS, 2012, p. 29 e 30).

Diante do exposto, podemos identificar nas duas instituições visitadas, que as

assistentes sociais que ali atuam, tem em suas intervenções, diretamente ou

indiretamente, trabalhado de acordo com o que rege a Lei 8.662/1993, com o Código

50

de Ética Profissional, com os Parâmetros para Atuação de Assistente Social na

Saúde e com as PNAD e PNA.

Esses fatores contribuem para, apesar das precárias condições de trabalho

nos termos estruturais, vista através das respostas obtidas, que as assistentes

sociais atendam os seus usuários de forma qualificada, sem estigmatizações e livres

de preconceito.

Apesar disso, nenhuma das assistentes sociais entrevistadas fez referência a

esses parâmetros normativos do Serviço Social. A atenção destas profissionais está

voltada para as diretrizes das instituições em que estão inseridas e das políticas de

atenção ao dependente do álcool e outras drogas. Apresentam também, um total

afastamento do universo do Serviço Social, mesmo havendo diversas discussões

acerca dessa temática dentro da categoria profissional, através de seminários,

encontros, na academia, para entender as políticas governamentais acerca da

problemática, a demanda, como se dá a inserção do assistente social nessa área,

ou seja, a profissão dá suporte para essa atuação, mas o afastamento do universo

da profissão é uma grande tendência desse trabalho na área da dependência

química.

Diante do exposto, foi possível identificar durante o processo de análise das

entrevistas, várias tendências de atuação dos assistentes sociais dentro dessa

problemática. Sendo elas: o trabalho burocratizado, onde a atuação aparece

fortemente ligada a questão dos prontuários, fichas, atendimentos, atendimento mais

clínico, deixando de lado as ações socioeducativa. Entretanto,

Os assistentes sociais da área da saúde necessitam construir alternativas profissionais que superem as atividades técnico-burocráticas e focalizem a ação técnico-política, contribuindo principalmente para viabilizar a participação popular, a democratização das instituições, a elevação da consciência sanitária e a ampliação dos direitos sociais. (Bravo, 2007, p.30)

Outra tendência apresentada foi a desarticulação do trabalho em rede. As

assistentes sociais não se portavam as outras instituições que compõe essa rede de

atenção ao dependente do álcool, a ponto de não conhecer as profissionais que

atuavam nas outras instituições. Ou seja, a rede se encontra fragmentada.

Mas, a tendência que se apresentou de forma mais evidente, foi a identidade

diluída das profissionais. Nas suas falas, não houve referência a profissão em si, aos

parâmetros normativos do Serviço Social, as referências a academia. A centralidade

51

das intervenções das assistentes sociais está nas políticas governamentais de

atenção ao dependente do álcool e outras drogas, ou seja, as políticas são o norte

da atuação das profissionais, embora o Serviço Social tenha subsídios para orientar

essas intervenções.

52

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho buscou entender como se expressa a atuação profissional do

assistente social nas instituições que fazem parte da rede municipal de atenção ao

dependente do álcool e outras drogas da cidade de Natal/RN, através das ações,

demandas e instrumentos do Serviço Social. Para tanto, recorremos às fontes

teóricas que tratam sobre a problemática a nível do Serviço Social, como também de

outras profissões atuantes na área da dependência do álcool; a análise das políticas

públicas de atenção ao alcoolista existentes no Brasil e como se compõe essa rede

no município de Natal.

Diante do exposto, foi possível observar que com o aumento da problemática

da dependência do álcool, demonstrado no primeiro capítulo deste trabalho através

das pesquisas realizadas pela SENAD em parceria com o CEBRID e UNIAD (I e II I

Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, I

Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira, V Levantamento Nacional Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas entre

Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino e I

Levantamento Nacional sobre o uso de Álcool Tabaco e outras Drogas entre

universitários das 27 capitais brasileiras), trouxe uma discussão nacional acerca do

alcoolismo, favorecendo o debate profissional em relação ao tema, como também

trouxe uma maior aceitação social na discussão da temática, impulsionando ações

estatais que tratassem da dependência química, representada principalmente

através da PNAD e PNA.

De acordo com a pesquisa realizada conseguimos reiterar a importância da

inserção do assistente social neste espaço socio-ocupacional, desde o trabalho

burocrático, a democratização do acesso, ao atendimento do alcoolista e da família

dos mesmos, a assessoria aos grupos terapêuticos e ações socioeducativas

voltadas para a temática, todos legitimados pelos parâmetros normativos da

profissão.

Entretanto, no nosso trabalho encontramos as seguintes tendências de

atuação profissional: um trabalho fortemente burocratizado, explicitados através dos

prontuários de atendimento, das triagens,e das ações técnicas exigidas pelas

instituições onde trabalham.

53

Encontramos também uma falta de articulação da rede de atenção aos

dependentes do álcool e outras drogas, a ponto de algumas assistentes sociais não

se conhecerem, o que dificulta a constituição da rede articulada preconizada pela

PNAD.

Outra tendência que se demonstrou forte durante a pesquisa foi à dissolução

da identidade profissional em detrimento da identidade coletiva da instituição, ou

seja, através das falas das assistentes sociais conseguimos identificar que as

mesmas, ao falar da sua atuação, dos objetivos do serviço social na instituição, dos

instrumentos de trabalho utilizados, se voltavam, na verdade, para os objetivos da

instituição, dos princípios pregados pela PNAD e PNA, das orientações de

funcionamento dos CAPS AD. Dessa forma, demonstraram um total afastamento do

universo do Serviço Social, desde a falta de citação da Lei de Regulamentação

Profissional, Código de Ética e Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na

Saúde, às discussões realizadas pela ABEPSS, dos artigos, monografias,

dissertações, teses que discutem a problemática da dependência do álcool, bem

como a atuação profissional nesse âmbito.

Observamos também através da pesquisa, que o que norteia a atuação das

assistentes sociais entrevistadas, são as políticas públicas governamentais

existentes no Brasil. E, é a partir dessas políticas que as mesmas constituem o seu

exercício profissional, comprovando novamente o afastamento das assistentes

sociais do universo do serviço social.

Dessa forma, faz-se necessário repensar essa atuação, no sentido da

centralidade das ações. Elas não devem ser pautadas apenas nos objetivos

institucionais e nos objetivos das políticas existentes, é necessária a articulação

dessas duas dimensões com o universo do Serviço Social. Afinal, a profissão hoje,

já conseguiu atingir uma maturidade teórica que se reflete na ação prática

qualificada do assistente social, o que nos permite ter um norte próprio nas

atuações, mas sempre respeitando a interdisciplinaridade que a problemática da

dependência do álcool exige.

54

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efetividade. Dissertação de Mestrado (pós- graduação em Serviço Social) – Centro

de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,

2006.

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APÊNDICE

1. Quais atividades que desenvolve nessa instituição?

2. Qual o público usuário (mulher/homem/idade/condição/ definir)?

3. Qual a demanda mensal da instituição?

4. Há ações diretas voltadas para enfrentamento do alcoolismo? Quais?

5. Nas ações de enfrentamento ao álcool qual o papel do o Assistente Social?

6. Qual a maior dificuldade que o Assistente Social encontra ao trabalhar com essa

problemática?

7. Quais são os instrumentos de trabalho que você utiliza?

8. Onde busca referências para sua intervenção nesta problemática?

9. Quais os objetivos do trabalho do assistente social na instituição?

Nome:

Sexo: Idade:

Instituição que trabalha:

Há quanto tempo trabalha na Instituição:

Vínculo: Função:

59