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1 A AUTODECLARAÇÃO DE COR E RAÇA SOB A LUZ DA LEI Nº. 10.639/03 NA E.M. AMIN JOSÉ, CIDADE DE CASSILÂNDIA MS. DIAS, Paola Barbosa 1 ROIZ, Diogo da Silva 2 Eixo Temático: Políticas Públicas de Inclusão Educacional RESUMO Esta pesquisa trata-se de resultados parciais da dissertação de mestrado desenvolvida junto à Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), cujo objetivo é investigar em que medida a Lei nº. 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, tem influenciado ou não nas relações étnico- raciais estabelecidas por alunos em uma escola da região de Cassilândia MS, na qual segundo Censo Escolar (2014-2015), possui a menor diversidade de cor/raça observada na cidade. Por meio de análise documental, questionários e entrevistas semiestruturada, busca-se compreender: a forma como os discente se veem; como são vistos pelos outros; a negação ou não dessa identidade; o que o aluno compreende por cor/raça e como ele se autodeclara neste quesito; que atitudes reconhecem como racistas; a prática dos docentes com a cultura africana e seu papel na construção identitária desses alunos. Palavras-Chave: Autodeclaração de cor e raça, Lei nº. 10.639/03, Diversidade étnico-racial. RACE AND SKIN COLOR SELF-DECLARATION UNDER THE LIGHT OF THE LAW 10.639/03, AT A SCHOOL IN CASSILANDIA MS. ABSTRACT 1 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Mestranda. Email: [email protected] 2 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Pós- doutor. Email: [email protected]

A AUTODECLARAÇÃO DE COR E RAÇA SOB A LUZ DA LEI … · à diversidade étnico-racial, possibilitando o desenvolvimento de práticas anti-racistas, de ... qual é o seu papel na

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A AUTODECLARAÇÃO DE COR E RAÇA SOB A LUZ DA LEI Nº. 10.639/03 NA

E.M. AMIN JOSÉ, CIDADE DE CASSILÂNDIA MS.

DIAS, Paola Barbosa1

ROIZ, Diogo da Silva2

Eixo Temático: Políticas Públicas de Inclusão Educacional

RESUMO

Esta pesquisa trata-se de resultados parciais da dissertação de mestrado desenvolvida junto à

Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), cujo objetivo é investigar em que

medida a Lei nº. 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, tem influenciado ou não nas relações étnico-

raciais estabelecidas por alunos em uma escola da região de Cassilândia MS, na qual segundo

Censo Escolar (2014-2015), possui a menor diversidade de cor/raça observada na cidade. Por

meio de análise documental, questionários e entrevistas semiestruturada, busca-se

compreender: a forma como os discente se veem; como são vistos pelos outros; a negação ou

não dessa identidade; o que o aluno compreende por cor/raça e como ele se autodeclara neste

quesito; que atitudes reconhecem como racistas; a prática dos docentes com a cultura africana

e seu papel na construção identitária desses alunos.

Palavras-Chave: Autodeclaração de cor e raça, Lei nº. 10.639/03, Diversidade étnico-racial.

RACE AND SKIN COLOR SELF-DECLARATION UNDER THE LIGHT OF THE

LAW 10.639/03, AT A SCHOOL IN CASSILANDIA MS.

ABSTRACT

1 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Mestranda. Email: [email protected] 2 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Pós- doutor. Email: [email protected]

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This paper brings partial results from a dissertation that has been developed at the State

University of Mato Grosso do Sul (UEMS), whose aim is to investigate to what extent the

Law 10.639/03, which makes the teaching of Afro-Brazilian and African Culture mandatory

in Basic Education, has influenced or not in racial-ethnic relationships established by students

from a public school in Cassilândia MS, a place that, according to 2014-2015 Census, has

showed the smallest range of race and skin color observed in town. Through data analysis,

questionnaires and semi-structured interviews, we seek to understand how students see

themselves; how they are seen by others; the denial or not of their identity; what the students

understand by race/skin color and how they declare themselves in this regard; what kind of

attitudes they recognize as racist and the teacher’s practice regarding to African culture and its

role in building students’ identity.

Key-words: Race and skin color self-declaration, Law 10.639/03, Racial and ethnic diversity.

1 INTRODUÇÃO

Este texto é parte da dissertação de mestrado desenvolvida junto à Universidade

Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), cujo objetivo é investigar em que medida a Lei nº.

10.639/033, que estabelece a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira

e Africana na Educação Básica, tem influenciado ou não nas relações étnico-raciais

estabelecidas pelos alunos, do 8º e 9º Anos, de uma escola da região de Cassilândia MS.

Portanto, traz resultados parciais da coleta de dados feita até o momento.

A Escola Municipal Amin José4, lócus da pesquisa, foi criada pela Lei Municipal nº.

482 de 02 de setembro 1983. A instiuição é mantida pelo poder público municipal e é

administrada pela Secretaria Municipal de Educação. Está localizada na zona urbana do

município de Cassilândia. Atualmente, possui cerca de 400 alunos, oferecendo Educação

Infantil (Nível I e Nivel II), Ensino Fundamental I (1º ao 5º) e Ensino Fundamental II (6º ao

9º).

A escolha da EMAJ como espaço de pesquisa se justifica pelo fato da pesquisadora

atuar na escola como professora desde 2010, podendo constatar situações de tensão e

inúmeros problemas ligados a questões étnico-raciais, como bullying relacionado a aspectos 3 A Lei 10.639/03 foi aprovada e sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 09 de janeiro de 2003 em sua primeira gestão. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm Acesso em: 01 junho 2016. 4 A sigla EMAJ será adotada ao mencionar a Escola Municipal Amin José, com vistas a dinamizar a escrita.

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físicos direcionado aos alunos afrodescendentes e evasão escolar. Além disso, apresenta o

menor número de diversidade étnico-racial declarada entre as escolas do município

investigadas - mediante microdados do educacenso5 - em 2014 e 2015.

Neste estudo, partimos da hipótese de que o advento da Lei n.° 10.639 de 09 de

janeiro de 2003, que estabelece o ensino de história da África e da cultura Afro-brasileira na

educação básica, abriu caminhos para o debate acerca deste tema no contexto escolar,

desvelando a realidade africana e afro-brasileira silenciadas nos currículos e práticas

escolares, impulsionando, assim, a valorização da história, memória e identidade da

comunidade afrodescendente. Consideramos, então, que essa legislação seja capaz de

viabiliziar mudanças significativas na escola básica, afirmando o respeito e o reconhecimento

à diversidade étnico-racial, possibilitando o desenvolvimento de práticas anti-racistas, de

reconhecimento dos negros na formação do povo brasileiro, com vistas a reestrurar a noção de

pertencimento étnico-cultural na sociedade brasileira. Para tanto, a metodologia da pesquisa foi dividada quatro partes. A primeira: análise

documental, investigremos os documentos, formulários e legislações oficiais como o Censo

Escolar; documentos oficiais da instiuição escolar (diários escolares, PPP, referenciais

curriculares, entre outros); a segunda: aplicação dos questionários nas turmas do 8º e 9º anos,

tem o objetivo de fazer uma investigação inicial e, a partir das análises selecionar os alunos a

serem entrevistados; a terceira: entrevistas semiestruturadas, visa responder as seguintes

indagações: 1) como os discente se veem? 2) como são vistos pelos outros? 3) há a negação

ou não dessa identidade? 4) o que o aluno compreende por cor/raça? 5) como ele se

autodeclara neste quesito? 6) quais as atitudes o aluno reconhece como racistas? 7) como se

desenvolver a prática dos docentes com a cultura africana? 8) qual é o seu papel na construção

identitária desses alunos?

Neste texto, enfocamos os resultados provenientes dos questionários aplicados para os

alunos do 8º e 9 Anos. Cada turma possui cerca de 33 alunos, cuja faixa etária varia de 12 a

14 anos. Com a análise documental incial nos formulários de matrícula, foi possível constatar

que a maioria dos alunos estão matriculados na unidade escolar desde o 1º Ano, tendo

experienciado de modo mais intenso a cultura escolar ali produzida no transcorrer dos anos.

Neste estudo, a cultura escolar é concebida a partir da perspectiva histórica, compreendida

como sendo um conjunto de normas e práticas “que definem conhecimentos a ensinar e

5 Para maiores informações: http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar

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condutas a inculcar, que permite a transmissão desses conhecimentos e a incorporação de

comportamentos” (JULIA, 2001, p. 2).

Os questionário com perguntas abertas e fechadas, foram estruturadas em consonância

com o referencial teórico e os objetivos traçados para a investigação. Os envolvidos na

pesquisa iniciaram sua participação após leitura, tomada de ciência e assinatura do TCLE -

Termo de Consentimento Livre (por parte dos pais) e Esclarecido e dos alunos menores de

idade no TALE – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. A seguir, apresentaremos o

resultados prévios da coleta de dados feita mediante os questionários.

2 DESENVOLVIMENTO

Este item tem o propósito de apresentar os resultados prévios dos dados coletados por

meio de questionários, contendo perguntas abertas e fechadas, na pesquisa de campo realizada

na EMAJ. Para tanto, elegemos algumas categrias de análise. A primeira categoria

“Autodeclaração de cor”, buscou compreender como o aluno se classifica em relação a sua

cor e foi fei a partir de uma pergunta aberta; A segunda categoria “Tempo na instituição”,

objetivou identificar o tempo de permanência dos alunos na escola em questão, a fim de

verificar o quanto os alunos experienciaram a cultura escolar ali constituída no decorrer dos

anos.

A terceira categoria “Como os alunos percebem seus colegas de turma”, teve o ituito

de verificar como os alunos percebem seus colegas segundo o quesito “cor”. No

questionários, para fazer as perguntas, optamos pelos termos propostos pelo IBGE: preto,

branco, pardo e amarelo. Foram feitas 4 perguntas fechadas, nas quais os estudantes deveriam

assinalar um item, que vai de “nenhum” a “mais de 6”, identificando a quantidade de alunos

que eles consideravam existir em sua turma, segundo a cor; A quarta, quinta, sexta e sétima

categorias foram pensadas a partir dos critérios: “algumas vezes”, “frequentemente” e

“nunca”. Acreditamos que, dessa forma, seja possível identificar contradições e tensões

muitas vezes silenciadas no espaço escolar.

Assim, a quarta categoria: “tratamento dos alunos de forma igualitária independente de

sua cor/raça”, teve o propósito de verificar a frequência com que os alunos sentem que são

tratados de forma igualitária independente de sua cor/raça. Vale ressaltar que utilizamos

“cor/raça” de maneira conjugada, a fim de minimizar possíveis dúvidas, uma vez que ainda

não sabemos o que estes alunos pensam a respeito destes termos.

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A quinta categoria “percebe que os professores incentivam os alunos ao respeito e

tolerância ao próximo independete de sua cor/raça”, pretendeu verificar a percepção dos

alunos sobre a atitude dos seus professores, no que se refere as relações étnico-raciais. A sexta

categoria “já presenciou algum tipo de preconceito por causa da cor/raça”, teve a finalidade de

identificar com que frequência os alunos percebem que há atitudes racistas com seus pares no

chão da escola já a sétima categoria “já sofreu algum tipo de preconceito por causa de sua

cor/raça”, procurou saber se o aluno já vivenciou sofreu diretamente com atitudes racistas.

A seguir, descreveremos as análises das categorias supracitas.

CATEGORIA 1: AUTODECLARAÇÃO DE COR

Nesta categoria, a pergunta feita no questionário foi aberta e estruturada da seguinte

maneira: “como você classificaria sua cor? O intuito, foi deixar o aluno livre para responder

como se percebe em relação a sua cor. É interessante mencionar que durante a aplicação dos

questionários, muitos estudantes perguntavam aos outros a sua própria cor, expressando sua

dúvida quanto a essa questão. Acreditamos que este ponto será melhor esclarecido com as

entrevistas semiestruturadas.

No 8º Ano U, apenas 1 se classificou como PRETO; 7 se identificaram como

PARDO; 6 como BRANCO e nenhum identificou-se como AMARELO. Alguns alunos se

identificaram de maneira distinta: 1 aluno se identificou como sendo “ branco, mas escuro”; 1

aluno se identificou como “meio moreno”; 1 como “moreno, só que do sol”; 1 como “morena

clara”.

No 9º Ano U, nenhum se classificou como PRETO; 11 se identificaram como

PARDO; 12 como BRANCO e 1 identificou-se como AMARELO, mas colocou PARDA

entre parenteses, o que nos leva a inferir que ela não sabe o significado do amarelo enquanto

representação étnica de asiáticos. Alguns alunos também se identificaram de modo diferente:

4 alunos se identificaram como negro; 2 alunos como moreno; 1 aluna se identificou como

“bem bonita”; 1 aluno como “negão”.

CATEGORIA 2: TEMPO NA INSTITUIÇÃO

Nesta categoria, foi feita uma pergunta aberta, na qual o aluno deveria responder há

quanto tempo estuda na instiuição pesquisada. No 8º Ano U, 9 alunos responderam que

estudam desde o 1º Ano; 6 desde o 4º Ano, 1 desde 2012; 2 desde 2013; 2 desde 2014; 3

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desde 2015 e 2 engressaram em 2016; 3 não responderam. No 9º Ano U, 29 afirmaram que

estudam na EMAJ desde o 1º Ano; 1 desde o 3º Ano; 1 desde o 4º Ano, 1 engressou em 2015

e 1 em 2016. Em ambras as turmas, observamos que a maioria dos alunos estão há mais de 5

anos na escola. Portanto, acreditamos que voltar o foco para as turmas 9º e o 8º Anos seja

mais adequado para caracterizarmos a influência da cultura escolar vigente na EMAJ na

formação identitária desses estudantes, primeiro pelo fato dos alunos terem vivenciado de

forma veemente a cultura escolar que se constitui ao longo dos anos na instituição em foco e,

segundo, em virtude da ênfase dada a história e cultura africana, afrobrasileira e indígena nos

conteúdos programáticos.

GRÁFICO 1 – Representação da categoria 2 - 8º e 9º Ano U

Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José. CATEGORIA 3: COMO OS ALUNOS PERCEBEM SEUS COLEGAS DE TURMA

Nesta categoria, o intuito é compreender como os alunos percebem seus colegas de turma segundo a cor da sua pele. Os itens foram divididos entre pretos (item 4), pardos (item 5), brancos (item 6) e amarelos (item 7), e os alunos deveriam assinalar a opção que considerassem correta sobre a quantidade de estudantes nas referidas cores. No 8º Ano, entre os 27 alunos que responderam o questionário, 17 marcaram que não há NENHUM aluno preto em sua turma. O gráfico, a seguir demonstra de maneira mais detalhada as respostas nesta categoria.

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Gráfico 2 – Representação da categoria 3 – 8º

Ano Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José.

No 9º Ano, entre os 32 alunos que responderam o questionário, 10 marcaram que não há NENHUM preto na turma, enquanto outros 10 assinalaram que há mais de 6 alunos pretos em sua sala de aula. Conforme demonstra o gráfico abaixo:

Gráfico 3- Representação da categoria 3 – 9º

Ano Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José.

CATEGORIA 4 - TRATAMENTO DOS ALUNOS DE FORMA IGUALITÁRIA INDEPENDENTE DE SUA COR/RAÇA

Nesta categoria, questionamos se os alunos sentem que são tratados de maneira igualitária independente de sua cor/raça. O gráfico a seguir ilustra qualitativamente as respostas:

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Gráfico 4 – Representação da categoria 4 – 8º e 9º

Anos Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José.

Foi possível constatar no 8º Ano empate nos quesito NUNCA e

FREQUENTEMENTE, demonstrando que, frequentemente, parte da turma sente que há

desigualdade no tratamento dos alunos em virtude de sua cor/raça. No 9º ano, a maioria dos

alunos sentem que há diferença no tratamento dos estudantes por conta de sua cor/raça.

CATEGORIA 5 - PERCEBE QUE OS PROFESSORES INCENTIVAM OS ALUNOS AO

RESPEITO E TOLERÂNCIA AO PRÓXIMO INDEPENDETE DE SUA COR/RAÇA

Nesta categoria, a pergunta foi dirigida a prática docente. Os resultados apontam que,

a grande maioria dos alunos sentem que os professores incentivam os alunos ao respeito e

tolerância ao próximo independete de sua cor/raça, conforme demonstra gráfico:

Gráfico 5 – Representação da categoria 5 – 8º e 9º Anos

Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José.

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CATEGORIA 6 – JÁ PRESENCIOU ALGUM TIPO DE PRECONCEITO POR CAUSA DA COR/RAÇA

Nesta categoria, verificamos que a maioria dos alunos do 8º Ano NUNCA

presenciou preconceito por causa da cor/raça, enquanto no 9º ano a maioria dos alunos assinalaram que presenciaram ALGUMAS VEZES atitudes racistas. Essa questão será melhor desenvolvida com a realização das entrevistas semi-estruturas. Gráfico 6 – Representação da categoria 6 – 8º e 9º Anos

Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José.

CATEGORIA 7 – JÁ SOFREU ALGUM TIPO DE PRECONCEITO POR CAUSA DE SUA COR/RAÇA

Nesta categoria, verificamos que a maioria dos alunos de ambas as turmas assinalaram que NUNCA sofreram algum tipo de preconceito por conta de sua cor/raça. Essa questão será melhor desenvolvida com a realização das entrevistas semi-estruturas. Gráfico 7 – Representação da categoria 7 – 8º e 9º Anos

Fonte: Dados coletados dos questionários apresentados aos alunos do 8 e 9 ano da Escola Municipal Amin José.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A sociedade brasileira é composta por valores e significados culturais constituídos por

imagens criadas e enraizadas no âmago de sua história. Considerando que a desigualdade

racial e o preconceito tem no contexto educacional brasileiro suas marcas expressivas,

implementar as ações afirmativas na escola, em especial a Leis nº 10639/08 é um desafio.

Com este estudo, evidenciamos as complexidades que permeiam a temática da diversidade

étnica e cultural, daí a relevância em fomentar pesquisas que abordem este tema.

Por meio da aplicação dos questionários, que se caracteriza como a segunda etapa

desta investigação, nosso intuito foi coletar dados sobre as primeiras impressões dos alunos

acerca da temática em questão e serviu como um guia para selecionar os alunos a serem

entrevistados. Pela análise dos dados provenientes da aplicação dos questionários, no que se

refere às respostas às questões abertas, observamos um índice satisfatório de respostas, com

um número mínimo de abstenções. Verificamos uma porcentagem pequena de alunos que

optaram pelo uso de termos raciais distintos daqueles utilizados pelo IBGE na classificação de

cor espontânea. Entre as nomenclaturas evocadas pelos estudante, notamos a inclusão de

vocábulos pejorativos. Os termos utilizados, apontam para uma tendência de

embranquecimento na audeclaração de cor, fato que será melhor elucidado nas entrevistas.

Quanto a maneira como percebem os outros, observamos pouca variação nas escolhas

dos alunos. Contudo, durante a aplicação dos questionários, a pesquisadora pôde observar,

pela discussão levanta pelos alunos, sinais relevantes que os levaram a incluir ou excluir

pessoas em um determinado segmento étnico, como por exemplo características físicas.

Embora componhe uma etapa preliminar, pelas análises dos questionários, já foi possível

observar que convivem, dicotomicamente, num espetáculo velado, a discriminação e a

aceitação, clareza e conflitos acerca da identificação do negro. Neste palco silencioso,

preconiza-se uma pseudo-aceitação e uma falsa inclusão social, naturalizando-se racismos e

consolidando o mito da democracia racial.

4 REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das

relações Étnico-raciais e para o ensino de História e cultura Afro-brasileira e africana.

Brasília: MEC, 2004. Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-

content/uploads/2012/10/DCN-s-Educacao-das-Relacoes-Etnico-Raciais.pdf acesso em: 10

jun 2016.

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CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Trad. de Maria

Manuela Galhardo. Lisboa: Difusão Editora, 1988, 244 p.

CHERVEL, Andre. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa.

Teoria & Educação, Porto Alegre, v. 2, p. 177-229, 1990.

JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Trad. Gizele de Souza. Revista

Brasileira de História da Educação, n. 1, p. 9-44, jan/jul 2001.