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A BUSCA DA QUALIDADE NA EMPRESA AGROPECUÁRIA Odílio Sepulcri 1 1 CARACTERÍSTICAS DO SETOR AGRÍCOLA E DA EMPRESA AGROPECUÁRIA Segundo ANDRADE, o setor agrícola apresenta algumas características peculiares, que o diferencia de outros setores economia. Tais características são citadas por diversos autores de livros e artigos sobre administração rural. Mas, é bom relembrar, que a sua existência a adequação dos princípios gerais da administração, utilizados no setor urbano, para o setor rural. 1.1. Características peculiares ao setor agrícola a) Dependência de clima: o clima influencia a maioria das explorações agropecuárias, em função de suas quatro estações do ano, determinam todo o ciclo produtivo, principalmente as espécies vegetais. Estabelece épocas de plantio, tratos culturais, colheitas, escolha de variedade e espécies animais e vegetais. É a característica mais citadas pelos autores. b) Tempo de produção maior que o tempo de trabalho: nos demais setores da economia, como na indústria, somente o trabalho modifica a produção. Pode-se dizer que o tempo de produção é igual ao tempo de trabalho consumido na obtenção do produto final. O processo produtivo agropecuário se, na maioria de suas fases, independente da existência do trabalho. 1 Engenheiro Agrônomo, MSc., Mestre em Desenvolvimento Econômico, Especialista em Gestão da Qualidade, Extensionista do Instituto Emater, Unidade Estadual, Curitiba-PR.

A BUSCA DA QUALIDADE NA EMPRESA AGROPECU.RIAodiliosepulcri.com.br/pdf/A_BUSCA_DA_QUALIDADE_NA_EMPRESA_AGROPECU... · das formas de avaliar o moral é através do nível de absenteísmo”

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  • A BUSCA DA QUALIDADE NA EMPRESA AGROPECURIA

    Odlio Sepulcri1

    1 CARACTERSTICAS DO SETOR AGRCOLA E DA EMPRESA

    AGROPECURIA

    Segundo ANDRADE, o setor agrcola apresenta algumas caractersticas

    peculiares, que o diferencia de outros setores economia. Tais caractersticas

    so citadas por diversos autores de livros e artigos sobre administrao rural.

    Mas, bom relembrar, que a sua existncia a adequao dos princpios gerais

    da administrao, utilizados no setor urbano, para o setor rural.

    1.1. Caractersticas peculiares ao setor agrcola

    a) Dependncia de clima: o clima influencia a maioria das exploraes

    agropecurias, em funo de suas quatro estaes do ano,

    determinam todo o ciclo produtivo, principalmente as espcies

    vegetais. Estabelece pocas de plantio, tratos culturais, colheitas,

    escolha de variedade e espcies animais e vegetais. a

    caracterstica mais citadas pelos autores.

    b) Tempo de produo maior que o tempo de trabalho: nos demais

    setores da economia, como na indstria, somente o trabalho modifica

    a produo. Pode-se dizer que o tempo de produo igual ao

    tempo de trabalho consumido na obteno do produto final. O

    processo produtivo agropecurio se, na maioria de suas fases,

    independente da existncia do trabalho.

    1 Engenheiro Agrnomo, MSc., Mestre em Desenvolvimento Econmico, Especialista em Gesto da Qualidade, Extensionista do Instituto Emater, Unidade Estadual, Curitiba-PR.

  • c) Dependncia de condies biolgicas: o ciclo de produo animal

    e vegetal est relacionado s condies biolgicas. Elas determinam,

    tambm, a irreversibilidade do ciclo produtivo, no podendo alterar a

    seqncia da produo (interromper o desenvolvimento de uma

    lavoura substituindo-a por outra). Tambm, impede a adoo de

    turnos de trabalho extra, para acelerar a produo como acontece,

    normalmente com outros setores. A pesquisa agropecuria poder

    criar espcies animais e variedades vegetais mais precoces e

    produtivas, porm continuam sujeitas s condies biolgicas.

    d) Terra como participante da produo: na maioria dos setores

    produtivos a terra funciona apenas como suporte para o

    estabelecimento do processo produtivo. Entretanto, na maioria das

    exploraes agropecurias a terra participa diretamente do ciclo

    produtivo, tornando-se fundamental conhecer o potencial produtivo

    da terra (condies qumicas, fsicas, biolgicas e de relevo).

    e) Estacionalidade da produo: a dependncia das condies

    biolgicas e climticas provocam a estacionalidade da oferta,

    ocorrendo pocas com excesso e pocas com escassez de produtos

    agrcolas. A maioria dos produtos agrcolas, por serem alimentos,

    apresenta uma demanda constante para uma oferta estacional,

    provocando a necessidade de armazenamento e, em muitos casos,

    processamento dos mesmos.

    f) Trabalho disperso e ao ar livre: no setor agropecurio, geralmente

    no h fluxo contnuo de produo, como ocorre na indstria e uma

    tarefa tem correlao processual com a outra. Na agricultura as

    atividades esto dispersas por toda a empresa, podendo ocorrer em

    locais distintos. Dificilmente h correlao entre um trabalho

    executado e outro. Tal situao exige do empresrio maiores aes

    de planejamento e controle. Outra caracterstica o trabalho ao ar

  • livre, que se por um lado positiva pela inexistncia de poluio, por

    outro lado, negativa em funo dos aspectos negativos de clima

    (frio, calor e chuva). O trabalho disperso e ao ar livre induzem a uma

    produtividade mais baixa do trabalhador rural.

    g) Incidncia de riscos: embora todas as atividades econmicas esto

    sujeitas a riscos, na agropecuria os riscos se ampliam, pois as

    exploraes podero ser atingidas pelas condies climticas

    desfavorveis (seca, geada, granizo), pelo ataque de pragas e

    doenas e pelo aviltamento de preos de seus produtos.

    h) Sistema de competio econmica: as caractersticas da

    agricultura a submetem a um sistema de competio diferenciado

    pelo grande numero de produtores, produtos que apresentam pouca

    diferenciao entre si (commodities) e a sada e a entrada de

    produtores no negcio pouca altera a oferta total. Isto representa

    dificuldades para aproveitar possveis vantagens da economia de

    escala, conseguir controlar os preos dos produtos estabelecidos

    pelo mercado.

    i) Produtos no uniformes: as condies biolgicas e climticas

    dificultam, muitas vezes, a obteno de produtos uniformes quanto a

    forma, tamanho e qualidade. Este fato provoca ao produtor rural

    custos adicionais com classificao, padronizao, alm de receitas

    menores em funo do menor valor dos produtos que apresentam

    qualidade inferior.

    Alto custo de sada e de entrada na atividade: a maioria das

    exploraes agrcolas necessitam de altos investimentos em

    maquinaria , benfeitorias, implementos e equipamentos. Ao iniciar um

    negcio, os condies adversas de preo de mercado devem ser

    suportadas no curto prazo, pois o prejuzo ao abandonar a

    explorao poder ser maior. Este custo de entrada maior para as

  • exploraes permanentes como a fruticultura e a bovinocultura de

    corte.

    j) Produo associada: em agricultura a maioria dos produtos no

    pode ser produzido sozinho. At em empresas mais especializadas

    no se pode evitar o co-produto, ou seja, os bens provenientes de

    um mesmo indivduo biolgico, planta ou animal. No h a produo

    de leite ou ovos sem a produo de carne e esterco. Isto implica na

    dificuldade de pensar em produtos isolados de modo a poder limitar a

    oferta de um produto em favorecimento de outro e, segundo, pela

    dificuldade de se calcular os custos unitrios a no ser fazendo

    suposies de carter arbitrrio.

    Segundo CONTINI et al, (1994, p. 18 e 19), tais caractersticas leva a

    agricultura a ser uma atividade econmica envolta em muitas incertezas. Ao

    plantar uma cultura o agricultor no tem certeza de como vai se comportar o

    clima e como sero os preos futuros. Por outro lado, a falta de informaes ou

    a demora em chegar ao agricultor, preponderantemente nas regies mais

    longnquas, mesmo com a evoluo dos sistemas atuais de informaes. Em

    um ambiente de muitas incertezas o agricultor assume determinados riscos em

    sua deciso. Dessa forma, a qualidade da deciso envolvendo sua

    racionalidade fica comprometida pelo risco nela envolvido (Holloway 1979,

    apud Contini et al). Isto indica que o empresrio rural deve assumir aes

    gerenciais eficazes, para atenuar e modificar os efeito prejudiciais de cada

    caractersticas. Mostra, tambm , como foi citado anteriormente, que as teorias

    de administrao, ao serem transferidas ao setor rural, devem ser adaptadas

    s suas condies.

    Pelo exposto, as empresas agropecurias que atuam na produo

    animal e vegetal, se diferem muito das empresas urbanas e industriais pelas

    seguintes caractersticas:

  • - Dependncia de clima;

    - Tempo de produo maior que o tempo de trabalho;

    - Dependncia de condies biolgicas;

    - Terra como fator de produo;

    - Estacionalidade da produo;

    - Trabalho disperso e ao ar livre;

    - Clima, as pragas e doenas como fator de risco;

    - Sistema de competio econmica com caractersticas diferenciadas,

    com grande nmero de empresas do mesmo ramo de atividade;

    - Dificuldade na obteno de produtos uniformes;

    - Produo associada nas empresas agropecurias a maioria dos

    produtos no podem ser produzidos sozinhos;

    Como a maioria das experincias de implantao da qualidade total so

    em empresas industriais, essas caractersticas impem a necessidades de

    adaptaes dos modelos de qualidade total, para as empresas agropecurias.

    2 DIMENSES DA QUALIDADE TOTAL

    Para BONILLA o conceito de qualidade total amplo e dinmico. Em

    princpio, ele est ligado satisfao total do consumidor, eliminando os

    fatores que no agradam o consumidor e antecipando suas necessidade

    incorporando caractersticas detectadas nos produtos e servios.

    Reconhece-se que a qualidade total est composta de cinco dimenses:

    a) Qualidade intrnseca do produto (ou servio): em sentido amplo,

    refere-se especialmente s caractersticas inerentes ao produto ou

    (servio) e da o nome de intrnsecas, capazes de fornecer satisfao

    ao consumidor. Isto implica numa srie de aspectos tais como:

    ausncia de defeitos, adequao ao uso, caractersticas agradveis

  • ao consumidor, confiabilidade, previsibilidade, etc. No caso de

    produtos agrcolas, por exemplo, feijo, esta dimenso de qualidade

    pode ser refletida atravs do contedo protico ou vitamnico;

    b) Custo do produto ou servio: naturalmente que, quanto menor o

    preo do produto ou servio, maior ser a satisfao do consumidor.

    Mas isso no implica numa relao linear perfeita. Acontece que um

    elemento fundamental o conceito de valor, ou seja, o que o

    consumidor estaria disposto a pagar pelo produto (ou servio).

    Portanto, seu preo dever levar em conta o valor que o produto tem

    para o usurio. O ideal que o preo igual ou algo menor ao valor

    estabelecido. O custo dos insumos, tais como combustveis,

    fertilizantes qumicos e agrotxicos atualmente muito alto. este,

    pois um aspecto de vital importncia na avaliao de processos que

    levam melhoria da qualidade na agricultura;

    c) Atendimento: o cliente receber o produto no prazo certo, no local

    certo e na quantidade certa. Alm disso deve ser atendido com boa

    vontade cortesia e amabilidade. No caso que corresponda, deve

    existir uma boa assistncia tcnica (por exemplo no tocante a

    mquinas agrcolas), assim como pronta devoluo dos produtos

    defeituosos (por exemplo na agroindstria, latas de leo de soja ou

    de conservas vegetais amassadas). No caso de produtos in natura

    sobretudo os perecveis , o prazo de entrega passa a ser um ponto

    vital;

    d) Segurana: fundamental que o produto no ameace a sade do

    consumidor, seja diretamente, atravs de sua ingesto, ou

    indiretamente, atravs de tratamentos feitos durante a plantao. Na

    agricultura o nvel de resduos txicos nos alimentos produzidos,

    assim como a poluio de solos e guas precisa estar

    necessariamente muito abaixo se queremos falar de qualidade;

  • e) Moral : refere-se disposio e motivao que os empregados da

    empresa manifestam. Para que isto acontea a empresa deve se

    esforar para pagar-lhe bem, respeitando-o como ser humano e

    dando-lhe oportunidade de crescer como pessoa e no trabalho,

    vivendo uma vida feliz (Campos, 1992, apud Bonilla, 1994). Uma

    das formas de avaliar o moral atravs do nvel de absentesmo.

    BONILLA ressalta que a qualidade total atinge a empresa como um todo,

    no s a rea da produo. Na realidade a qualidade um processo circular,

    sem comeo nem fim. Pela qualidade circulam insumos defeituosos, mo-de-

    obra despreparada, projetos inadequados, imperfeitos ou inacabados,

    deficincia de comunicao com o consumidor, e outros. O TQC amplia o

    conceito clssico de controle da qualidade (conformidade com as

    especificaes, por exemplo, ma de exportao deve pesar x gramas),

    desenvolvendo a idia de cliente interno, isto , cada empregado cliente do

    processo anterior. As dimenses da qualidade, neste caso seria revertida,

    tambm para dentro da empresa. Por exemplo, na agricultura quem cuida da

    plantao cliente interno de quem efetuou o plantio, quem efetuou o plantio

    seria cliente interno de quem fez o preparo do solo, e assim sucessivamente.

    Essa viso integrada, sistmica e holstica, leva a uma cadeia de

    relaes que deve compreendida e atendida.

    3 VISO ECOSSISTMICA DA QUALIDADE TOTAL NA EMPRESA

    AGROPECURIA

    Para Bonilla a viso ecossistmica da qualidade total implica em uma

    forma diferente de ver a empresa em sua relao com o resto da sociedade.

    Essa forma muda-se do conceito de empresa ilha ou fortaleza para de

    empresa do ecossistema social no qual, para que o equilbrio se mantenha,

  • necessria uma troca equilibrada de contribuies e recompensas. Essa viso

    ecossistmica tem um horizonte de longo prazo: em lugar de maximizar os

    lucros, o enfoque de otimizar o bem-estar social. Agindo dessa forma,

    atravs da nfase na qualidade e na interao positiva com outros parceiros, o

    lucro acabar, como conseqncia, sendo maximizado.

    Os demais parceiros ou pblicos da empresa, que tambm compem o

    ecossistema social, formam parte do conceito de qualidade total, pois atravs

    de sua interao que os objetivos da empresa so atingidos.

    Esses parceiros ou pblicos so: Consumidores a empresa deve

    esforar-se no sentido de identificar e atender as necessidades dos mesmos;

    empregados ou colaboradores dar nfase gesto participativa, na

    remunerao adequada e no crescimento do ser humano da empresa; a

    comunidade praticar o exerccio da responsabilidade social traduzida na

    forma de proteo ambiental e outras; fornecedores os quais devem ser

    muito bem selecionados e serem auxiliados em seu desenvolvimento. A

    confiana deve substituir a desconfiana; os acionistas ou proprietrios

    que integrados harmonicamente com os outros parceiros tero mais a ganhar

    com a otimizao do sistema da empresa. A qualidade total pratica o jogo

    ganha-ganha onde todos os pblicos ou parceiros podem ganhar.

    Segundo CUNHA, a qualidade total ajusta a organizao de modo que

    atenda com adequao as necessidades dos seus principais pblicos

    (stakeholders): os clientes, os proprietrios da empresa, os seus empregados,

    fornecedores, parceiros e sociedade em geral. Um dos principais resultados da

    QT , portanto, a maior satisfao desses pblicos. Mais satisfeitos, sero leais

    empresa e a defendero em caso de crise. Isto chamada

    institucionalizao da organizao. A comunidade no consegue viver sem a

    empresa e a defender sempre que for ameaada.

    Para cunha, o conceito de pblicos revolucionou a administrao e a

    filosofia de negcios. Antes, a empresa era do dono, hoje, a empresa existe

  • para seus pblicos. Competitiva a empresa que consegue ter os melhores

    trabalhadores, os melhores fornecedores, os melhores clientes ( a empresa

    que consegue ter os melhores pblicos e a lealdade desses pblicos). QUADRO 4 - A EMPRESA COMO COMPONENTE DO ECOSSISTEMA

    SOCIAL

    PARCEIROS

    . Acionistas . Capital . Lucros e dividendos . Preservao do patrimnio

    . Clientes . Dinheiro (atravs da compra de bens e servios)

    . Novas necessidades

    . Produtos de boa qualidade

    . Produtos de boa durao

    . Produtos de preo razovel . Empregados . Mo-de-obra

    . Criatividade (para resolver problemas e encontrar novas solues)

    . Conhecimento tcnico

    . Salrio justo

    . Segurana

    . Boas condies de trabalho

    . Enriquecimento das tarefas

    . Participao nas decises

    . Treinamento e educao . Comunidade . Infra-estrutura fsica

    . Sistema educacional

    . Sistema de sade

    . Responsabilidade social

    . Proteo ambiental

    . Melhoria da qualidade de . Vida

    . Outros (fornecedores, concorrentes, governo)

    . Vrios . Vrios

    . Empresa . Atendimento s necessidades da sociedade atravs da produo de bens e servios (de boa qualidade e a preos razoveis)

    . Gerao de empregos (com salrios razoveis e boas condies de trabalho)

    . Cumprimento de sua responsabilidade social.

    . Lucros

    . Permanncia no mercado

    . Crescimento da comercializao de seus produtos e servios . Imagem alternativa positiva

    Fonte: Bonilla,1994, p. 90.

  • 4. CONCEITOS DE QUALIDADE TOTAL NA AGRICULTURA

    O conceito tradicional de qualidade na agricultura:

    Segundo BONILLA, o conceito tradicional de qualidade na agricultura,

    entende a palavra qualidade como associada a certas manifestaes fsicas

    mensurvel no produto ou pelo menos detectveis sensorialmente, sendo

    capazes de atestar algum efeito benfico ou positivo. Por exemplo:

    - Tamanho, peso e/ou aspecto exterior dos produtos hortigranjeiros;

    - Sabor do caf;

    - Percentagem de sacarose na beterraba ou cana-de-acar;

    - Percentagem de gordura no leite;

    - Produtividade de cereais em kg/h;

    - Produtividade de vacas leiteiras (kg de leite/vaca/ano).

    4.1. Conceito Moderno de Qualidade: Qualidade Total

    Segundo este conceito, a qualidade no pode ser expressa apenas por

    uma varivel, por maior que seja seu valor econmico. O conceito de qualidade

    amplo e dinmico. Em princpio ele est ligado satisfao do consumidor e

    que atendam as cinco dimenses da qualidade, j mencionadas no presente

    texto.

    Na verdade, por se tratar de Qualidade Total, ela deve envolver o conjunto

    integrado pelo produto e seu contexto, o que inclui todo o processo produtivo

    correspondente num sentido amplo. Caracteriza-se a importncia do contedo

    do processo global e no apenas algumas de suas manifestaes isoladas.

    Por exemplo: numa fruta , mais importante que seu aspecto, tamanho, peso,

    sero, por exemplo as caractersticas seguintes:

    - A quantidade de resduos txicos que a mesma possui;

  • - Grau de desnaturao que o uso de fertilizantes sintticos solveis

    lhe tm impingido desequilbrio nutricional, perdas de caractersticas

    organolpticas como sabor, aroma, etc.;

    - Alteraes da riqueza da vida microbiana, do solo, induzidas por

    aqueles insumos, que acabam se embutindo no processo produtivo;

    - Qualidade de elementos nutritivos (vitaminas sais minerais, etc.).

    Este tipo de abordagem implica num enfoque completamente diferente,

    necessitando reconhecer as necessidades de mercado. Para os alimentos a

    ateno deve estar voltada para o teor de nutrientes suficientemente

    equilibrados, priorizando a sade do consumidor. Isto implica, no caso de

    produtos alimentares das empresas agrcolas, mudar a ateno de aspectos

    quantitativos, econmicos e estticos para aspectos de bem-estar do

    consumidor, passando obrigatoriamente por consideraes ecolgicas.

    5 A EMPRESA AGROPECURIA E SUA RESPONSABILIDADE SOCIAL

    Davis e Bloomstrom (1975) apud Bonilla, definiram responsabilidade

    social como sendo a obrigao que tm os administradores de empreender

    aes que protejam e desenvolvam o bem-estar como um todo, junto com seus

    prprios interesses. Nesta definio dois aspectos so fundamentais: primeiro,

    o de obrigao, que implica num dever moral e o segundo, relativo a

    empreender, colocando nfase na iniciativa voluntria.

    Para Bonilla, a concluso principal deste conceito de que em lugar de

    colocar como objetivo nico o da maximizao de lucros, o novo empresrio,

    lcido e atual, o substituir por otimizao produtiva onde os lucros, sempre

    importantes numa economia de mercado, devem ser combinados com o bem

    estar social, contemplando as necessidades da comunidade.

  • Essa concepo de enfoque holstico, ecossistmico, de onde surge a

    idia de empresa como componente do ecossistema social, j abordado no

    presente texto.

    5.1. A integrao entre empresa agropecuria, qualidade total,

    responsabilidade social e ecolgica.

    Para BONILLA, um ponto vital entre agricultura, ecologia,

    responsabilidade social e qualidade total ocorre a nvel de comunidade. Estes

    custos sociais so altssimos, como se pode verificar no modelo agrcola

    prevalecente, considerando apenas os principais:

    - Poluio das guas, do solo e dos alimentos, direta e indireta, devido

    a fertilizantes sintticos e agrotxicos;

    - Reduo mais ou menos drstica de capacidade produtiva do solo

    devido a eroso, tcnicas inadequadas de preparo do solo,

    destruio da flora microbiana uso de monoculturas, etc.;

    - Baixa qualidade dos produtos alimentcios devido absoro

    desequilibrada de nutrientes, excesso de irrigao, resduos txicos,

    etc.;

    - Implicncias scio-econmicas perversas, sobretudo no tocante a

    concentrao de rendas, desemprego rural, impacto urbano,

    encarecimento dos custos de produo, baixo balano energtico,

    etc.

    Como conseqncia , a sada repensar a agricultura em termos

    ecolgicos.

    Para BONILLA, a relao existente entre Qualidade e Agricultura deveria ser

    enfocada atravs de uma abordagem ampla cuja seqncia poderia ser a

    seguinte:

  • 1. Reformulao de uma Metodologia Bsica de Qualidade Total visando a

    sua aplicao na agricultura;

    2. Provisoriamente usar o modelo clssico, oriundo da indstria;

    3. Redefinir os conceitos e a estrutura bsica do TQC (Total Quallity

    Control) advindo da indstria, adaptando-a realidade agrcola;

    4. Desenvolver exemplos especficos, prprios da Agricultura para cada

    conceito bsico e para cada aplicao tcnica.

    5. Anlise das mudanas do Modelo Agropecurio decorrente da

    implantao da Qualidade Total.

    6. Os grandes problemas da Agricultura a serem abordados atravs do

    paradigma da Qualidade Total.

    Dentre eles, alguns importantes so: um Plano Mestre de Alimentao;

    Avaliao dos Impactos Ambientais da Agricultura; Ensino; Pesquisa e

    Extenso de Qualidade: Sade Humana e Alimentao; Problemas Fundirios,

    Armazenagem; Transporte e Distribuio de Produtos Agrcolas; etc.

    Em 17 de maio de 1999, atravs da Instruo Normativa nmero 007,

    publicadas no Dirio Oficial da Unio em 19 de maio de 1999, o Ministrio de

    Estado da Agricultura e do Abastecimento estabeleceu as normas de produo,

    tipificao, processamento, envase, distribuio e de certificao da qualidade

    para os produtos orgnicos de origem vegetal e animal, conforme os anexos

    Instruo Normativa. Isso demonstra uma manifestao positiva do governo em

    relao qualidade.

  • 6 QUALIDADE TOTAL NA EMPRESA AGROPECURIA E A GESTO

    AMBIENTAL ISO 14000

    As normas da srie ISO 14000 que tratam dos sistemas de gesto

    ambiental compartilham dos princpios comuns estabelecidos para sistemas de

    qualidade da srie de normas NBR ISO 9000.

    Os sistemas de gesto da qualidade tratam das necessidades dos

    clientes, os sistemas de gesto ambiental, por outro lado, atendem s

    necessidades de um vasto conjunto de partes interessadas e s crescentes

    necessidades da sociedade sobre proteo ambiental.

    Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT (1996), as

    normas estabelecem os requisitos relativos ao sistema de gesto ambiental ,

    possibilitando a uma empresa elaborar polticas e objetivos que levem em

    conta os aspectos legais e as informaes referentes aos impactos ambientais

    relevantes. Elas se aplicam aos aspectos ambientais que possam ser

    gerenciados pela empresa e sobre os quais ela tenha influncia. As normas

    no prescrevem critrios especficos de desempenho ambiental.

    As normas da srie ISO 14000, segundo a ABNT se aplicam a qualquer

    organizao que deseje:

    - Implementar, manter e aprimorar um sistema de gesto ambiental;

    - Se assegurar de sua conformidade com sua poltica ambiental

    definida;

    - Demonstrar tal conformidade a terceiros;

    - Buscar certificao/registro do seu sistema de gesto ambiental por

    uma organizao externa;

    - Realizar uma auto-avaliao e emitir autodeclarao de

    conformidade com essas normas.

  • O grau de aplicao dessas normas depender de fatores como a

    poltica ambiental da empresa agropecuria, a natureza de suas atividades e

    as condies em que ela opera.

    7 POR QUE IMPLANTAR QUALIDADE TOTAL NA EMPRESA

    AGROPECURIA

    Para BONILLA, h trs tipos de motivos:

    a) Motivos passados: para as empresas que esto perdendo muito

    dinheiro por estarem desatualizadas e desfocadas do mercado. Esta

    perda fruto da m qualidade;

    b) Motivos atuais: fruto do aumento da presso social sobre as

    empresas. Os sintomas so: lei de defesa do consumidor; reduo

    das tarifas alfandegrias; leis de proteo ambiental; projetos de leis

    de distribuio de lucros; exigncias de padres internacionais;

    adoo de qualidade total em empresas concorrentes, nacionais e

    internacionais, tornando-as mais competitivas, etc.;

    c) Motivos futuros: so tambm de diversas naturezas:

    desenvolvimento acelerado de mercados comuns, pois as empresas

    que no se adaptarem s novas modalidades de mercado no tero

    vez; aplicao acelerada da filosofia das e das tcnicas da qualidade

    total nas empresas concorrentes, reduzindo seus custos de forma

    drstica e tornando-as cada vez mais competitivas; aumento

    acelerado da conscientizao do ser humano para a qualidade.

    7.1. Os custos da m qualidade

    Os custos da qualidade, segundo FEIGENBAUM (1986), so

    provenientes de: custos do controle (custos de preveno e custos de

  • avaliao); custos das falhas do controle (custos de falhas internas e custos de

    falhas externas).

    Para BONILLA, toda empresa deveria fazer uma auditoria interna para

    verificar seus nveis de perdas e concluir se vale a pena permanecer em seu

    sistema rotineiro de administrar. Afirma que as perdas alcanam de 20 a 40%

    do faturamento, enquanto os custos necessrios da qualidade no deveriam

    ultrapassar de 3 a 5%.

    Tais perdas no ocorrem somente com nmeros tangveis que so

    facilmente perceptivos. Ocorrem tambm com nmeros intangveis como o

    caso em que um cliente no esta satisfeito com o produto da empresa e nessa

    satisfao devem estar envolvidos todos os setores da empresa. Outro nmero

    intangvel relaciona-se ao que acontece quando o cliente esta insatisfeito com

    o produto, qual a atitude da empresa em relao ao cliente.

    O volume de perdas na agricultura elevado, especialmente dos

    produtos hortigranjeiros nas fases de colheita e ps colheita. Em Santa

    Catarina, safra 1976/77, s na fase de colheita e de preparo para

    comercializao, houve perda de 17% para pssego, 25,9 % para nectarina e

    4,1% para ma.

    Dados da COBAL em 1977, no Brasil, no mercado atacadista ocorreram

    perdas de 1 a 5% (batata, cebola e alho), de 3 a 8% (tomate cenoura, ma e

    citrus), de 5 a 15% (produtos altamente perecveis). Na grande Florianpolis

    (1978), em toda a cadeia, desde o produtor at o varejo (supermercados,

    quitandas e feiras), verificou-se perdas em tomate de 9,6 a 18,4%, em batata

    de 0,4 a 7,5%, em cenoura de 3,1 a 16,1%, em couve flor de 5,9 a 17,2%, em

    laranja de 2,0 a 8,5% e em ma de 4,9 a 12%.

    Segundo estudos realizados em pases em desenvolvimento pela

    Academia Nacional de Cincia (National Academy Science) de Washington e a

    Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao (FAO) a

  • extenso de perdas de frutas e hortalias variam de 5 a 100%. Em produtos

    menos perecveis como gros e cereais, as perdas giram em torno de 5 a 30%.

    TABELA 1 - PERCENTUAL DE PERDAS DE FRUTAS E HORTALIAS EM PASES EM DESENVOLVIMENTO

    PRODUTO PERDA ESTIMADA (%)

    FRUTAS

    Abacate 43,0

    Banana 20,0 80,0

    Ctricos 23,0 33,0

    Ma 14,0

    Mamo 40,0 100,0

    Pssego/Nectarina 28,0

    Uva 20,0 95

    Hortalias

    Alface 62,0

    Banana da terra (pltano) 35,0 100,0

    Cebola 15,0 16,0

    Couve flor 49,0

    Repolho 37,0

    Tomate 20,0 50,0 Fonte: NAS/FAO

    7.2. Fases de implantao da Qualidade Total

    Para ANTUNES e ENGEL (1999),os estgios da agroqualidade

    (Qualidade Total na Agropecuria) na propriedade rural passa pelas seguintes

    fases:

    - 1 Fase comprometimento do dono/proprietrio;

    - 2 Fase determinao dos custos x benefcios;

    - 3 Fase comprometimento dos seres humanos;

    - 4 Fase treinamento das pessoas;

    - 5 Fase avaliao d situao;

    - 6 Fase consolidar conquistas;

  • - 7 Fase melhorar o que j est bom;

    - 8 Fase comemorar e reconhecer pessoas.

    AS EXPERINCIAS DE IMPLANTAO DA QUALIDADE NAS EMPRESAS

    AGROPECURIAS

    8.1. Prmio de qualidade na agricultura - PQA 2000

    O ministrio da Agricultura e do Abastecimento lanou em 1997 o

    Prmio da Qualidade na Agricultura - PQA que contou com a participao de

    diversas empresas dos segmentos industrial e produtivo da agropecuria

    nacional. Ao todo 52 empresas participaram neste ano inaugural.

    Essa premiao utilizou a metodologia os critrios de excelncia do

    Prmio Nacional da Qualidade na sua verso simplificada: "Gesto da

    qualidade - primeiros passos para a excelncia". A estrutura do modelo

    composta com base no mesmo fundamento dos Critrios de Excelncia do

    Prmio Nacional de Qualidade, ou seja:

    - Qualidade centrada no cliente;

    - Foco nos resultados;

    - Comprometimento da alta Direo;

    - Viso de futuro de longo alcance;

    - Valorizao das pessoas;

    - Responsabilidade social;

    - Gesto baseada em fatos e processos;

    - Ao pr-ativa e resposta rpida;

    - Aprendizado contnuo.

    Tambm contou o Ministrio com a parceria da Fundao para o Prmio

    Nacional da Qualidade - PNQ, que legitimou tecnicamente todo o processo da

    avaliao utilizado neste tipo de premiao.

  • Em 1998, o Ministrio da Agricultura e do abastecimento lanou o

    segundo ciclo de premiao do Prmio da Qualidade na Agricultura - PQA 98,

    com a incluso de novos segmentos como o leite, mel e bebidas, ampliando

    para nove o nmero de segmentos que poderiam participar do processo de

    premiao. Os segmentos hoje elegveis so Processadores de carne e

    derivados; processadores de leite "in natura" e derivados; processadores de

    pescado e derivados; produtores de novilho precoce; produtores de frutas;

    processadores de frutas; processadores de mel de abelhas; estabelecimentos

    de armazenagem e estocagem de produtos agropecurios e processadores de

    sementes.

    O Prmio da Qualidade na Agricultura - PQA 2000, tem os seguintes

    objetivos:

    - Buscar nveis de excelncia na gesto de empresas do setor

    agropecurio, visando propiciar o aumento da competio entre elas

    e satisfazer as necessidades do mercado em condies cada vez

    melhores de produtos/servios;

    - Estimular produtores, processadores e prestadores de servios na

    agricultura para a competitividade na chamada economia

    globalizada.

    As empresas para se candidatarem ao prmio, devero seguir as

    instrues do Regulamento do Prmio da Qualidade na Agricultura.

    As empresas premiadas so aquelas que apresentarem basicamente as

    seguintes caractersticas relativas gesto:

    - Pontuao uniforme no conjunto das categorias;

    - Pontuao na faixa de 80 a 100%, ou seja, 400 a 500 pontos.

    A deciso quanto a premiao envolve, tambm, uma apreciao sobre a

    reputao da candidata junto aos rgos do poder executivo e judicirio

    Federal.

  • 8.2. As Experincias da EMATER-Paran em Qualidade Total.

    A EMATER-Paran vem orientando e monitorando o processo de

    qualidade Total na empresa agropecuria desde 1995, quando iniciou o

    processo na fazenda Antares, propriedade de Santo Morin entre outros. As

    duas primeiras resultaram em Dissertao apresentada ao Curso de

    Especializao em Administrao, Gesto para a Qualidade, da Pontifcia

    Universidade Catlica do Paran.

    a) Fazenda Antares: em estudo feito por RODRIGUES et al, 1999,

    referente ao processo de implantao da Qualidade Total na fazenda Antares

    contou com as seguintes etapas:

    - Primeira Etapa - Negociao da interveno;

    Constou da orientao ao proprietrio dos fundamentos bsicos da

    Qualidade Total, os dez princpios da qualidade , a necessidade de mudanas

    na forma de gerenciar os recursos humanos , a substituio do administrador

    antigo pela postura gerencial de lder, dentre outras;

    - Segunda Etapa - Implantao do programa 5 S;

    Foi implantado nos setores produtivos da fazenda tais como: frango de

    corte; aves de postura; fbrica de raes; oficina mecnica e bovinocultura de

    leite.

    - Terceira Etapa Sistemas de monitores 5 S;

    Para realimentar o programa 5 S, foi implantado um sistema de

    monitores, com trs monitores indicados pelos prprios empregados, os quais

    uma vez por ms visitavam cada setor da fazenda para fazer a avaliao.

    O plano de ao dos monitores foi organizado utilizando o mtodo 5W e

    1 H e consistia basicamente em:

    a) Verificar o que foi feito (as pessoas cumpriram as metas?);

  • b) Verificar se est sendo mantido (o que foi feito transformou-se em

    hbito?);

    c) Verificar o que falta fazer (para melhorar o que foi feito)

    - Quarta Etapa Aes de ordem geral;

    Teve a finalidade de tratar as questes de ordem geral levantados pelos

    funcionrios tais como: habitao; quintais e arredores; lixos reciclveis;

    qualidade da gua consumida e outros;

    - Quinta Etapa - Aes desenvolvidas nas reas de uso comum;

    Represa d gua e ajardinamento;

    - Sexta Etapa Aes nos setores produtivos;

    Teve a finalidade de buscar o aprofundamento do diagnstico tcnico e

    econmico dos setores fundamentais da fazenda, com o objetivo de identificar

    e melhorar processos, definir indicadores de qualidade e padronizar

    procedimentos.

    Os setores trabalhados foram: avicultura de postura; avicultura de corte;

    confinamento de bovinos; bovinocultura de leite; mecanizao agrcola e

    agricultura. Nestes setores foram feitos os diagnsticos dos problemas e

    encaminhadas as solues.

    Resultados e concluses:

    Os resultados foram avaliados dentro dos dez princpios da Qualidade

    Total - QT:

    1. Total satisfao do cliente;

    2. Gerncia participativa;

    3. Desenvolvimento de recursos humanos;

    4. Constncia de propsitos/persistncia;

    5. Aperfeioamento contnuo;

    6. Gerncia de processos;

    7. Delegao;

  • 8. Disseminao da informao;

    9. Garantia de qualidade;

    10. No aceitao de erros.

    O estudo teve vrias concluses, entre as quais se destacam:

    - Os conceitos e instrumentos de Qualidade Total utilizados na

    indstria e servios so aplicveis na agricultura;

    - Recursos Humanos constatou-se melhoria da qualidade de vida

    dos funcionrios e familiares. Evoluo nas relaes de trabalho,

    com clima cooperativo e de confiana, maior participao e

    motivao dos funcionrios. Isto contribuiu para o aumento da

    produtividade. Houve ampliao no setor de produo sem contudo

    haver necessidade de contratao de novos empregados. O

    processo permitiu tambm a adequao da mo-de-obra;

    - Setores produtivos houve acentuada ampliao da atividade

    econmica, principalmente pela expanso da pecuria de leite

    (aumento de 1.800 litros/dia para 2.400), avicultura de postura

    (aumento do plantel de 15.000 para 26.000 aves), soja e trigo. O

    processo de QT tambm permitiu melhoria na eficincia e eficcia

    nas operaes concernentes, com o aumento da produtividade;

    - Programa QT originou a necessidade de investimentos na construo

    de barraces de postura, aquisio de bomba e tanque de

    combustvel, aquisio de trator e equipamentos, ampliao do

    estbulo e sala de expedio de ovos, aquisio de refrigerador

    automtico para leite e outros de menor valor. Todos voltados para

    as atividades produtivas da empresa;

    - Padronizao foi obtida a padronizao do setor de postura;

    - Gerncia implantao de um software para controle gerencial;

  • - 5S o programa foi muito importante para dar o impulso inicial ao

    programa de QT. Permitiu a participao do ambiente e das pessoas,

    alm de avanos nas reas de sade, educao, habitao e lazer.

    O sistema de monitores mostrou-se eficiente, mantendo o grupo

    motivado nos princpios fundamentais do programa, consolidando o

    treinamento inicial, pois as avaliaes permaneceram por um ano;

    - Melhoria nas relaes com parceiros, fornecedores e clientes. A

    gerncia tem cobrado uma participao ativa dos fornecedores

    exigindo qualidade nos produtos e servios contratados.

    b) Propriedade de Santo Morin

    ROCHA et al, 1999 efetuou estudo referente ao trabalho conduzido pela

    EMATER-Paran na propriedade de Santo Morin, localizada na comunidade de

    Passos das Flores, no Municpio de Porto Barreiro PR Sobre a implantao

    da Qualidade Total da Agricultura na Pequena Propriedade. Analisou sua

    evoluo dentro de uma srie histrica de trs anos, considerando o primeiro

    ano como marco zero o segundo ano como marco um e o terceiro ano marco

    dois.

    O processo de implantao da qualidade total obedeceu as seguintes

    fases:

    - Seminrio de apresentao e discusso da proposta com a

    comunidade;

    - Seminrio Regional de Qualidade Total promovido pela EMATER-

    Paran em Guarapuava;

    - Negociao com o produtor;

    - Realizao do diagnstico (utilizado o aplicativo Renda Rural);

    - Elaborao de planos anuais;

    - Avaliaes anuais com a famlia do produtor.

  • Em contato com o produtor Santo Morin, ele destacou que o diagnstico

    foi feito em todos os marcos, no final de cada ano agrcola (ms de julho), onde

    na discusso com todos os membros da famlia se decidiam as prioridades e o

    plano para o prximo ano.

    Morim, destacou tambm o curso sobre o Programa 5 S que foi dado

    na comunidade e orientado sua implantao na propriedade, o qual surtiu

    grande efeito na organizao da mesma.

    Os Resultados a seguir, mostram que houve um aumento de

    produtividade dos produtos, variando de 113 a 897% e na margem bruta ou

    margem de contribuio um aumento no total da propriedade de 151%.

    TABELA 2 - RESULTADOS OBTIDOS EM AUMENTO DE PRODUTIVIDADE (KG/HA),

    CONSIDERANDO OS 3 ANOS DE IMPLANTAO DA QT.

    Marco zero (96/97)

    Marco 1 (97/98)

    Marco 2 (98/99)

    Explorao

    Produtiv. (kg/ha)

    ndice (%)

    Produtiv. (kg/ha)

    ndice (%)

    Produtiv. (kg/ha)

    ndice (%)

    Soja 2.088 100 2.490 119,25 2.700 129,31Milho 4.100 100 5.900 143,90 7.200 175,60Feijo 1.200 100 - - 2.000 166,66Feijo seca 1.050 100 790 75,23 1.200 114,28Bov. Leite 600 100 1.525 254,16 5.383 897,16Fumo - - 2.195 100 2.500 113,89

    TABELA 3 - RESULTADOS OBTIDOS EM MARGEM BRUTA (R$/HA) CONSIDERANDO OS 3

    ANOS DE IMPLANTAO DA QT.

    Marco zero (96/97)

    Marco 1 (97/98)

    Marco 2 (98/99)

    Explorao

    M. Bruta (R$/h)

    ndice (%)

    M. Bruta (R$/h)

    ndice (%)

    M. Bruta (R$/h)

    ndice (%)

    Soja 235,25 100 253,14 117,60 182,31 77,65Milho 183,83 100 193,25 105,12 289,00 157,20Feijo 216,00 100 - - 525,00 243,05Feijo seca 189,00 100 696,33 368,42 1o6,38 56,28Bov. Leite 30,00 100 42,16 140,53 134,95 449,83Fumo - - 2.247,43 100 1637,50 72,86Total 12.498,33 100 15.488,46 123,92 123,92 151,11

    ROCHA et al, concluram que os princpios da qualidade se aplicam

    tanto industrializao como aos servios, tanto aos indivduos como s

  • organizaes. Os indivduos podem colocar os conhecimentos adquiridos mais

    depressa em ao nas organizaes. Ressalta a necessidade de elaborar um

    manual de procedimentos das vrias etapas e aes aplicadas na Qualidade

    Total da Agricultura numa pequena propriedade.

    8.3. ISO 9002 Recria de novilhas Pardo-Suo, Fazenda Alegria

    Publicado pela revista Balde branco julho de 1999, o certificado ISO

    9002 emitido pela Fundao Carlos Alberto Vanzolini entidade membro da

    IQNet-The International Certification Network confere um reconhecimento

    internacional aos procedimentos adotados na produo leiteira da fazenda

    Alegria, que visa assegurar bons ndices no desenvolvimento corporal,

    capacidade reprodutiva do rebanho, etapa de recria de novilhas, que envolve

    animais de 3 at 24 meses da raa Pardo-Sua.

    O primeiro passo para a implantao da ISO 9002, ocorreu com a

    implantao do Programa 5 S o que facilitou e apressou a obteno do

    certificado, bem como a cultura da qualidade que vem sendo implantada na

    fazenda h alguns anos, segundo seu proprietrio Neiva, que pretende obter o

    certificado para outras etapas do rebanho.

    Resultados esperados com o processo

    Desenvolvimento homogneo dos animais com crescimento e ganho de

    peso dentro do padro estabelecido para a raa, de forma econmica e com o

    mnimo ocorrncias sanitrias.

    Atividades crticas do processo

    - Observar os animais 2 vezes ao dia (manh e tarde);

    - Identificar animais que apresentem alguma alterao de

    comportamento, indicando cio ou doena, anotar e comunicar ao

    vice-gerente;

  • - Limpar o cocho diariamente pela manh e observar a falta ou sobra

    de alimento comunicando ao gerente como isto esto ocorrendo;

    - Colocar o trato (volumoso e concentrado), dos animais 2 vezes ao

    dia (manh e tarde);

    - Verificar a gua dos bebedouros, e lav-los semanalmente;

    - Verificar o fornecimento de sal, fazendo a reposio semanalmente;

    - Manter a higiene das instalaes, removendo esterco e sobras de

    alimentos diariamente;

    - Pesar (utilizando balana periodicamente aferida), todos os animais,

    individualmente, uma vez por ms;

    - Distribuir os animais em grupos uniformes de acordo com o seu

    desenvolvimento, reduzindo a ocorrncia de competio por

    alimento.

  • REFERNCIAS

    ANDRADE, Jos Geraldo de. Introduo administrao rural. ESAL/ FAEPE - grfica universitria, Lavras, 56p.

    ANDRADE, Rui O.B.; TACHIZAWA, Takeshy; CARVALHO, A.B. de. Gesto ambiental : enfoque estratgico aplicado ao desenvolvimento sustentvel. So Paulo : Makron Books, 2000, 206p.

    ANTUNES, L.M.; ENGEL, Arno. Agroqualidade : qualidade total na agropecuria. 2 ed. Guaba : Agropecuria, 1999.116 p.

    BATALHA, Mrio Otvio et. al. Gesto agroindustrial. So Paulo : Atlas,1997. Texto de Jos Carlos de Toledo.

    BONILLA, Jos A. Qualidade total na agricultura : fundamentos e aplicaes. Belo Horizonte : Lttero Maciel Ltda, 1994 344p.

    CAMPOS, VICENTE FALCONI. Gerncia de qualidade total. Rio de Janeiro : Bloch, 1990.

    CAMPOS, Vicenti Falconi. TQC : contole da qualidade total (no estilo japons). Rio de Janeiro : Bloch, 1992, 220p.

    CELINSKI, Leszek . Guia para diagnstico em administrao de recursos humanos : roteiros e instrumentos. Petrpolis : Vozes,1994.

    CONTINI, Elsio et al. Planejamento da propriedade agrcola : modelos de deciso. Braslia, EMBRAPA - DDT, 1984, 300p. (EMBRAPA - DEP. Documentos, 7).

    CROSBY, Philip, B. Qualidade sem lgrimas : a arte da gerncia descomplicada. Rio de Janeiro : Jos Olympio, 1992, 234p.

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