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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS FUNEDI – FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO A CAPACIDADE COGNITIVA NA DISFUNÇÃO NEUROMOTORA: POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO ESCOLAR SIMONE GONÇALVES DE MELO Divinópolis – MG 2007

A CAPACIDADE COGNITIVA NA DISFUNÇÃO NEUROMOTORA: POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO ESCOLARfunedi.edu.br/files/mestrado/Dissertacoes/TURMA1/Dissert... · 2016-06-08 · exposição integral

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

FUNEDI – FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO

A CAPACIDADE COGNITIVA NA DISFUNÇÃO NEUROMOTORA: POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO

ESCOLAR

SIMONE GONÇALVES DE MELO

Divinópolis – MG

2007

UEMG – UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

FUNEDI – FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO

A CAPACIDADE COGNITIVA NA DISFUNÇÃO NEUROMOTORA: POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO

ESCOLAR

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais/FUNEDI – Fundação Educacional de Divinópolis, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Educação Cultura e Organizações Sociais.

Área de Concentração: Cultura e Linguagem.

Orientador: Daniel Silva Gontijo Penha

Co-Orientadora: Helena Alvim Ameno

SIMONE GONÇALVES DE MELO

Divinópolis – MG

2007

Melo, Simone Gonçalves de M528c A capacidade cognitiva na disfunção neuromotora: possibilidade de Inclusão escolar [manuscrito] / Simone Gonçalves de Melo. – 2007. 159 f., enc. Orientador : Daniel Silva Gontijo Pena Co- Orientadora: Helena Alvim Ameno Disertação (mestrado) - Universidade do Estado de Minas Gerais, Fundação Educacional de Divinópolis. Bibliografia : f. 152-9 1. Disfunção Neuromotora. 2. Paralisia Cerebral . 3. Inclusão Escolar 4. Educação – Cognição. l. Pena, Daniel Silva Gontijo. ll.Ameno, Helena Alvim. lll. Universidade do Estadual de Minas Gerais. Fundação Educacional de Divinópolis. lV. Título. CDD : 155.5 155.3

Dissertação defendida e ______________________ pela Banca Examinadora constituída

pelos Professores:

Prof. Dr. Daniel Silva Gontijo Penha (Orientador) – FUNEDI/UEMG

Prof. Dr. Alysson Rodrigo Fonseca – FUNEDI/UEMG

Prof. Dr. Paulo Sérgio Carneiro Miranda – UFMG

Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais

Fundação Educacional de Divinópolis

Universidade do Estado de Minas Gerais

Divinópolis, 1º de Dezembro de 2007.

AUTORIZAÇÃO PARA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

DA DISSERTAÇÃO

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta dissertação por processos de fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente, autorizo sua

exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da FUNEDI/UEMG.

Assinatura:__________________________________________

Divinópolis, 12 de Março de 2008

Dedico esse trabalho aos “meus” pais, que com

apoio e amor tornaram possível a realização de mais

uma conquista.

Dedico ao “meu” marido e aos “meus” filhos que,

muitas vezes, mesmo sem saber, me ajudam a

crescer.

Dedico aos “meus” pacientes e seus pais, o apoio, o

carinho e a confiança em meu trabalho.

Agradeço a Deus, sem Ele nada seria possível e aos

meus pais, mais uma etapa vencida em minha

jornada.

Agradeço à Professora Vilma Botrel Coutinho de

Melo o apoio e a dedicação na orientação primeira

do presente estudo.

Agradeço ao professor Daniel Silva Gontijo Penha e

à professora Helena Alvim Ameno o apoio e a

dedicação na orientação final desta dissertação.

“... Certa vez um amigo cego me perguntou:

- Você já ouviu o por do sol?

Quando respondi negativamente, ele replicou:

- Que pena!”

Léo Buscaglia

RESUMO

Esta pesquisa analisa a capacidade cognitiva de crianças com disfunção neuromotora e

a possibilidade de inclusão destes sujeitos na escola comum e conseqüentemente na

sociedade. Para tal procedimento, foram tomados, especificamente, as provas de

desenvolvimento cognitivo de acordo com Jean Piaget, analisando-se e comparando-se o

desenvolvimento de crianças com e sem diagnóstico de disfunção neuromotora. Os dados em

relação à inclusão escolar foram abordados de uma forma transdisciplinar, levando-se em

consideração fatores como o tratamento terapêutico, a relação familiar, a interação professor-

aluno bem como a socialização da criança junto as demais. Na continuidade, abordou-se a

importância do desenvolvimento cognitivo e da inclusão no contexto social de forma a

gerenciar uma melhor adaptação e aprendizagem escolar desses sujeitos. As comparações e

percepções no estudo realizado sobre a cognição em crianças com disfunção neuromotora do

tipo atetóide e em crianças com desenvolvimento normal permitiram diagnosticar o quão é

importante a análise e avaliação criteriosa das crianças com disfunção neuromotora de forma

a comprovar seu real desenvolvimento, evitando desta maneira o estigma e a descrença em

tais sujeitos. Pôde-se observar a necessidade um trabalho transdisciplinar, principalmente em

escolas de ensino básico, que, vivem hoje, um momento de transição, ocasionado, em grande

parte, pela política atual de re-ordenamento da educação no país. Como conclusão pôde-se

constatar que, crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide que tiveram tratamento

terapêutico adequado e apoio familiar e social, puderam se desenvolver no aspecto cognitivo

como as demais crianças de sua idade, além disso, serem incluídas em escolas comuns nas

séries iniciais com sucesso.

Palavras-Chave: Disfunção Neuromotora; Paralisia Cerebral; Inclusão; Educação; Cognição.

ABSTRACT

This research analyse the cognitive capacity of subjects with neuromotor disfunction

and the possibility of this inclusion in the common school and consequently in the society. To

this procediure was taken, specifically, tests of cognitive development according to Jean

Piaget, analising and comparing the development of children with and without diagnosis of

neuromotor disfunction. The datas regarding scholastic inclusion were treat in a

transdisciplinary form, considering factors like treropeutic treatment, familiar relacionship,

teacher-student interaction as well as the socialization of the child whith others. In continuity,

treated the importance of cognitive development and the inclusion in social context to manage

a better adaptation and scholastic learning of this subjects. The comparisons and perceptions

of this study about the cognition in children whith neuromotor disfunction of type athetoide

and in children with normal development allowed diagnose the importance of analyse and

wise assessment of children with neuromotor disfunction to confirm its real development,

avoiding from this manner the stigma and the disbelief in this subjects. It was observe the

necessity of a transdisciplinary mainly in schools of basic education, that livetoday in a

moment of transicion, caused, in a big port, by the current political of reordering of education,

in the country. In conclusion it was record that children with neuromotor disfunction of typo

athetoide that had adequate therapeutic treatment and familiar and social suport, could

development in cognitive aspect like the other children of its age, besides be include in

common schools in initial series with sucess.

Key words: Neuromotor Disfuncion; Cerebral Palsy; Inclusion; Education; Cognition

LISTA DE FIGURAS

Foto 01 – MJRF utilizando o computador

Foto 02 – MJRF em atividade na sala de aula

Foto 03 – TCMR em atividade na sala de aula

Foto 04 – MLFCC em atividade de ensaio para festa junina

Foto 05 – LGG durante a prova de seriação de bastonetes

Foto 06 – AFGO durante a prova de seriação de bastonetes

Foto 07 – TCMR durante a prova de seriação de bastonetes

Foto 08 – MLFCC durante a prova de seriação de bastonetes

Foto 09 – LAS durante a prova de mudança de critério

Foto 10 – MLFCC durante a prova de mudança de critério

Foto 11 – AFOG durante a prova de conservação do comprimento

Foto 12 – TCMR durante a prova de conservação de comprimento

LISTA DE SIGLAS

CEB – Câmara de Educação Básica

CENESP – Centro Nacional de Educação Especial

CNE – Conselho Nacional de Educação

ECA – Estatuto da Criança e Adolescente

FUNEDI – Fundação Educacional de Divinópolis

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério de Educação e Cultura

OCDE – Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONU – Organizações das Nações Unidas

SENEB – Secretaria Nacional de Educação Básica

UEMG. – Universidade do Estado de Minas Gerais

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 13

CAPÍTULO 1 – INTELIGÊNCIA E COGNIÇÃO...........................................................

1.1 Disfunção Neuromotora ..............................................................................................

1.1.1 Classificação de Fatores Etiológicos.........................................................................

1.1.2 Manifestações Clínicas..............................................................................................

1.2 O Sujeito com Necessidades Especiais........................................................................

1.3 A Educação Especial no Âmbito da Política Educacional...........................................

1.4 O Contexto Internacional.............................................................................................

1.5 As Políticas de Inclusão no Brasil................................................................................

1.6 Caminhos da Inclusão..................................................................................................

1.7 Paradigmas Educacionais.............................................................................................

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CAPÍTULO 2 – A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA........................................................

2.1 Os Estágios de Desenvolvimento Cognitivo segundo Jean Piaget..............................

2.2 A Inter-relação entre o Desenvolvimento Cognitivo e a Disfunção Neuromotora......

2.3 Relações Sociais e Desenvolvimento na Disfunção Neuromotora..............................

2.4 O Trabalho Multidisciplinar e a Inclusão do Sujeito com Disfunção Neuromotora....

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CAPÍTULO 3 – INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DAS CRIANÇAS EM ESTUDO. 85

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................

4.1 A Escola das crianças em Estudo: Caracterização da Instituição................................

4.2 Histórico das Crianças Estudadas................................................................................

4.3 Evolução do Desenvolvimento das Crianças em Estudo.............................................

4.4 Observação in loco do Desenvolvimento das Crianças em Estudo............................

4.5 Descrição e Análise das Provas Piagetianas................................................................

4.6 Resultados....................................................................................................................

4.7 Discussão......................................................................................................................

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135

5 CONCLUSÃO................................................................................................................ 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 145

ANEXOS............................................................................................................................ 155

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INTRODUÇÃO

A disfunção neuromotora, mais conhecida como paralisia cerebral1, ocorre por uma

lesão não progressiva no cérebro, nos três primeiros anos de vida, e pode causar diversas

seqüelas como: comprometimentos motores, sensoriais e cognitivos. O termo disfunção

neuromotora é utilizado em decorrência das limitações dos movimentos físicos da criança.

Dependendo da localização das lesões e das áreas do cérebro que foram afetadas, as

manifestações podem ser diferentes.

Na disfunção neuromotora há uma dificuldade de comando encefálico dos músculos

em que se deseja o movimento, o que poderá causar, muitas vezes, uma incoordenação

motora, movimentos involuntários ou mesmo a impossibilidade do movimento, em vários

segmentos do corpo. Dependendo da região lesada no cérebro, a criança terá dificuldades para

andar, sentar, comer, escrever, falar, desenhar, ocorrências que podem ser observadas

conjunta ou isoladamente, em maior ou menor grau de dificuldade.

Especificamente, a disfunção neuromotora do tipo atetóide, também conhecida como

coreoatetose ou síndrome discinética, é caracterizada por movimentos incoordenados, lentos,

afetando principalmente habilidades motoras finas (MILLER & CLARK, 2002), como, por

exemplo, a articulação da fala.

Entre as características deste tipo de disfunção neuromotora observam-se movimentos

lentos, suaves e contorcidos que comprometem os músculos distais com uma dissinergia dos

grupos de músculos opostos, afetando movimentos como a flexão, a extensão, a pronação e a

1 O termo Paralisia Cerebral é utilizado com maior freqüência na literatura especializada, inclusive internacionalmente. Entretanto, deve-se salientar que este termo não corresponde à realidade do quadro. Disfunção neuromotora será utilizada neste estudo, buscando reforçar novas abordagens do tema, que levam em consideração a relação fidedigna entre o termo utilizado para nomear a patologia e sua relação com as manifestações clínicas.

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supinação.

Outra característica desse quadro é a possível preservação das habilidades cognitivas.

Essas crianças geralmente são inteligentes e adquirem linguagem, já que esta se encontra

intimamente associada à inteligência (MILLER & CLARK, 2002).

Miller (2002) relata que alguns pacientes podem apresentar vários graus de disartria,

deficiência motora e intelectual.

Crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide têm dificuldade em coordenar

ações motoras grossas, por isso, mesmo em tratamento fisioterápico, apresentam atraso das

aquisições motoras, desde os primeiros meses de vida. Essas dificuldades se acentuam quando

a criança necessita realizar atividades motoras finas como, por exemplo, pegar um copo e

levar à boca, coordenar a sucção-deglutição-respiração, mastigar, falar ou realizar uma

brincadeira motora. Além disso, sua exploração sensório-motora está prejudicada e,

provavelmente, a construção da brincadeira simbólica e a construção da representação

também estarão (LIMONGI, 1995).

Para Piaget (1987) a inteligência é uma adaptação e suas relações com a vida

dependem das relações do organismo com o meio ambiente. Na inclusão escolar, processo

pelo qual as crianças com necessidades especiais têm direito à escolarização no mesmo

contexto curricular institucional, juntamente com as outras crianças, observa-se que a

capacidade cognitiva da criança pode interferir na sua capacidade de adaptação na escola

comum2.

É possível considerar o desenvolvimento cognitivo um dos fatores fundamentais no

desenvolvimento global dessas crianças.

2 Ao optar por utilizar a expressão escola comum e não escola regular, pretende-se enfatizar que a escola especial apresenta características diferentes da escola comum. O termo comum se refere a todos ou a muitos e é utilizado atualmente em contraposição ao termo especial, ou seja, peculiar, específico, distinto, fora do comum. Já o termo regular, que se repete a intervalos diferentes, sujeito a regras, regulamentar, tanto a escola especial quanto a escola comum o são.

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Limongi (1995) relata que a ação de descobrir e de conhecer uma pessoa, um objeto,

ou uma situação ocorre devido a uma construção, por parte do sujeito e por intermédio de

associações, do objeto do conhecimento e revela que, no início do desenvolvimento infantil, a

atividade mental consiste em incorporar elementos novos a estruturas programadas

hereditariamente. A construção do conhecimento passa também por experiências motoras que

estão prejudicadas em crianças que apresentam síndromes discinéticas ou disfunção

neuromotora do tipo atetóide, devido à lesão cerebral.

No entanto, observa-se que nas crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide,

em processo terapêutico multidisciplinar, ou seja, aquelas que fazem tratamento de

fonoaudiologia, de fisioterapia, de terapia ocupacional e muitas vezes outros tratamentos

específicos, há tendência a um desenvolvimento cognitivo favorável e observa-se que

algumas dessas crianças frequentam escola comum, como descreve Moura (1998) dois casos

com diagnóstico de disfunção neuromotora coreoatetóide apresentando boa evolução

pedagógica.

Segundo Papalia & Olds, “a inteligência é influenciada tanto pela capacidade herdada

como pela experiência” (PAPALIA & OLDS, 2000, p. 126).

A justificativa para a escolha deste assunto remete à escassez de estudos a respeito da

capacidade cognitiva e da possibilidade de inclusão de crianças com disfunção neuromotora

do tipo atetóide no ensino comum, pois a definição do grau de capacidade cognitiva dessas

crianças, bem como a inclusão das mesmas em escolas comuns, é um dos maiores desafios em

todo o mundo contemporâneo. Apesar disso e embora muitas pessoas já estejam conscientes

da necessidade desta inclusão, e percebam na prática o desenvolvimento cognitivo dessas

crianças, poucos estudos foram realizados no sentido de se avaliarem os benefícios a essas

crianças bem como suas dificuldades quando inseridas em escolas comuns.

A partir dos resultados obtidos pode-se abrir novos questionamentos a cerca do

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desenvolvimento cognitivo na disfunção neuromotora e da política de inclusão, visando à

melhoria de todo desenvolvimento dessas crianças bem como uma inclusão mais eficiente

das crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide, no ensino comum.

Além disso, o próprio processo histórico da deficiência nos indica a necessidade de

continuar descrevendo e contando essa história, talvez não seja mais possível ficar no

passado, faz-se necessário conhecer o presente.

Monteiro (1997) afirma que, ao traçar alguns pontos fundamentais desse processo de

inclusão, a situação da criança especial, na escola comum deve ser clareada.

O presente estudo tem como objetivo verificar o desenvolvimento cognitivo da

criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide e a possibilidade de inclusão escolar

destas crianças em escola comum.

Para tanto o procedimento realizado buscou a comparação da aprendizagem e as

condições cognitivas de crianças com disfunção neuromotora atetóide e de crianças

apresentando desenvolvimento normal, em escola comum, analisando-se essas questões por

meio da avaliação do desenvolvimento lógico e baseando-se nas experiências piagetianas.

Como objetivos específicos essa comparação visa determinar no contexto escolar

contemporâneo, o desenvolvimento cognitivo das crianças em questão, de maneira a ilustrar

os achados de Piaget e trazer para o cotidiano de maneira concreta tais provas, não

restringindo-as portanto aos relatos piagetianos da época. Além disso, a observação das

crianças no contexto em que estão inseridas, ou seja, na escola, ocorrerá com o intuito de se

avaliar as possibilidades ( benefícios e dificuldades) da inclusão escolar e social.

Todo estudo científico pressupõe uma metodologia para sua realização, o que,

segundo Minayo (2000), “[...] Inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de

técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do

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investigador”. (MINAYO, 2000, p.16).

Em decorrência da inserção das pesquisas sociais no campo das ciências, o estudo

científico emerge e solidifica descobertas importantes que se agregam à interpretação de

fenômenos no contexto das relações sociais. Estes fenômenos foram marcados durante muito

tempo por estudos que premiavam a adoção de métodos quantitativos em sua descrição e

explicação. Porém, hoje, é possível identificar, com clareza, uma outra forma de abordagem

que, gradativamente, se instala como alternativa de investigação para a descoberta e

compreensão do que se passa dentro e fora dos ambientes organizacionais e sociais. Somente

nos últimos anos, a pesquisa qualitativa adquiriu espaço reconhecido em áreas como a

administração, a fonoaudiologia e a educação.

Segundo Lakatos (1997), o método qualitativo é enfocado como:

[...] um modelo que descreve, compreende e explica [...] um trabalho de conhecimento social que atinge dimensões como: a simbólica, que contempla os significados dos sujeitos; a histórica, que privilegia o tempo consolidado do espaço real e analítico; e, por fim, a concreta, que se refere às estruturas e aos atores sociais em relação (LAKATOS, 1997, p. V).

Ainda nessa direção, Minayo (2000) afirma que:

Dentro de concepções de produção de conhecimento aplicado, através de métodos qualitativos, também é possível desenvolver propriedades para trabalhar, transformar as questões sociais, como as referentes à qualidade de vida individual e coletiva (inclusive das organizações) e produtividade. O entendimento deste fato aponta caminhos para produzir conhecimentos (MINAYO, 2000, p.V).

O estudo de caráter qualitativo pode considerar um contato direto do pesquisador com

o ambiente e a situação que está sendo investigada, como esclarecem Ludke & André (1986).

Essa conduta permite a apreensão do objeto de estudo de um modo diferente, se comparada ao

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estudo com caráter quantitativo. Além disso, a pesquisa qualitativa abrange questões

específicas que não podem ser quantificadas, podendo-se considerar esse um dos pontos

fundamentais do estudo proposto.

Desse modo, por encontrar, na possibilidade de desenvolvimento cognitivo e na

possível inclusão da criança com disfunção neuromotora, estímulo para pesquisar, registrar e

revelar momentos significativos desse processo, optou-se por direcionar este estudo pela

abordagem qualitativa, permeada por uma investigação descritiva e exploratória.

A pesquisa classifica-se como comparativa e descritiva, na medida em que se

preocupa em descrever a realidade, apresentando-a sem modificações. É também de natureza

qualitativa exploratória, parafraseando Triviños (1987, p. 45), “[...] por ser capaz de analisar

os diversos aspectos implícitos ao desenvolvimento das práticas de uma organização e

interação realizada entre os seus integrantes”. É exploratória, porque este tipo de pesquisa

pretende proporcionar, por intermédio da imersão do pesquisador no contexto, uma visão

geral e não enviesada do problema considerado e contribuir para a focalização das questões,

considerando-se a identificação de informantes e outras fontes de dados.

A possibilidade de se estudar o desenvolvimento cognitivo na disfunção neuromotora

e a possível inclusão dessas crianças em escola comum permite buscar uma integração, de

caráter transdisciplinar neste rico contexto estudado. A linguagem dessas crianças e de seus

interlocutores, assim como a cultura do ambiente escolar, estiveram presentes e permeando

todo o processo, tendo em vista a inclusão, uma realidade social que deve ser transformada e

aprimorada.

O estudo correlacional da criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide e suas

possibilidades cognitivas, realizou-se em três crianças do sexo feminino com esse diagnóstico

e em três crianças do sexo feminino com desenvolvimento normal. Todas elas freqüentam

escola comum, na cidade de Divinópolis – MG.

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A pesquisa foi realizada nas escolas particulares onde as crianças estudam. O fato de

serem escolas particulares não foi proposital e sim conseqüência da condição vivida por tais

crianças, pois a principal questão era estudar crianças com o mesmo diagnóstico em escolas

comuns. As crianças com disfunção neuromotora nasceram entre fevereiro e março de 1998,

apresentando, portanto, praticamente a mesma idade (7 anos). As outras três crianças com

desenvolvimento normal apresentavam a mesma faixa de idade, ou seja, a faixa etária de

todas as crianças esteve entre 6 anos e 10 meses e 7 anos e 4 meses, existindo, portanto, uma

diferença de até 6 meses de idade entre elas.

A escolha das crianças com desenvolvimento normal se deu baseada em sua história

pregressa, as mesmas não deveriam apresentar nenhuma intercorrência grave durante seu

desenvolvimento global. Portanto, foram avaliadas 6 crianças: 3 com desenvolvimento normal

e 3 com disfunção neuromotora.

Tratando-se a presente pesquisa de um estudo cujo objetivo demanda uma análise

qualitativa, foi feita uma aproximação com os profissionais em educação nas escolas das

crianças, visando a obtenção de dados relativos à definição do problema, ampliando as

informações referentes ao aluno em relação a vários aspectos, como, o relacionamento

pessoal, hábitos, linguagem e aprendizagem. Cabe mencionar que o critério de escolha dos

profissionais em educação para tal procedimento, deu-se em função da relação direta que

mantinham com as crianças em estudo, como é o caso das professoras.

As observações propiciam o avanço nas investigações, pois evidenciam

comportamentos, interesses e perspectivas das partes envolvidas na pesquisa, fator decisivo

para se estudarem os processos e produtos, no caso, as crianças com disfunção neuromotora

do tipo atetóide incluídas no ensino comum.

É possível constatar que a inclusão escolar, com enfoque na educação infantil de

crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide, não se restringe apenas a esse ambiente

20

de ensino propriamente dito, ou seja, a escola. Muito do que é estudado e discutido em outras

categorias ou outros segmentos da sociedade, como na família, exige uma análise mais

apurada dos desdobramentos da inclusão e da deficiência. Não se trata de uma preocupação

com o desenvolvimento cognitivo e com a inclusão dos sujeitos referidos apenas na esfera

escolar, mas também na sociedade.

Como instrumento de coleta de dados foi escolhida a aplicação das provas piagetianas

e a promoção do contato com os profissionais que se relacionam com as crianças, pela crença

de que a possibilidade que esta interação oferece ao obter-se informações relativas à

concepção de cada sujeito em estudo, é fundamental no processo. Além disso, houve a

observação não participativa do pesquisador em sala de aula com o intuito de verificar como

se dava o processo de inclusão das crianças em estudo. Levando-se em consideração aspectos

como: a comunicação, o contato com a professora, o acompanhamento escolar e a relação

com as demais crianças.

A aplicação das provas piagetianas exige atenção e cooperação, portanto, quanto

menor o número de estímulos que, potencialmente, podem causar dispersão à criança, maior a

possibilidade de um resultado fidedígno. Por esse motivo, a avaliação das provas nas crianças

com disfunção neuromotora foi realizada em consultório de fonoaudiologia por ser um

ambiente conhecido pelas crianças em questão e livres de estímulos excessivos. A aplicação

das provas nas demais crianças foi realizada em suas próprias residências, pelo mesmo

motivo: um ambiente familiar as deixaria mais seguras e tranquilas. Além disso, o fácil acesso

aos pais das crianças com disfunção neuromotora, a rotina de tratamento já estabelecida (dias

e horários) facilitaram o processo para o avaliador e para as crianças.

As provas piagetianas foram selecionadas de acordo com a faixa etária das seis

crianças em estudo. Foram selecionadas 11 provas de desenvolvimento cognitivo segundo

Jean Piaget. Faz-se necessário descrever suscintamente as provas utilizadas, para que se torne

21

clara a metodologia proposta.

Prova nº 1: Seriação de Bastonetes:

Diante de uma série de 10 bastonetes graduados de 16 a 10 cm, a criança é levada a

seriá-los em ordem crescente, como uma escada.

Prova nº 02: Mudança de Critério (Dicotomia):

Por meio de fichas geométricas, a criança é levada a analisar e se posicionar diante de

mudanças de critérios de classificação. A criança deve classificar formas geométricas de

tamanho, cores e formas diferentes.

Prova nº 03: Conservação de Pequenos Conjuntos Discretos de Elementos

(Quantidades Descontínuas):

Propõe-se à criança observar e analisar 20 fichas com a mesma forma e tamanho, dez

de cada cor; em situações de conservação de pequenos conjuntos.

Prova nº 04: Conservação de Quantidade de Matéria (Quantidades Contínuas)

A criança é levada a observar duas bolas de massa plástica e modificações em sua

forma sem, no entanto, se modificar a quantidade de matéria.

Prova nº 05: Quantificação da Inclusão de Classe:

A criança deve analisar a inclusão de classes em um ramo com dois tipos de flores.

Prova nº 06: Conservação do Comprimento:

A criança é questionada a respeito da desigualdade de comprimento entre dois fios.

Prova nº 07: Inserção de Classes:

A partir de 3 espécies de fichas do mesmo material e tamanho, porém apresentando

dois tipos de formas e uma placa emborrachada com dois círculos desenhados, a criança é

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levada a analisar a inserção de classes de acordo com as perguntas do pesquisador.

Prova nº 08: Conservação nas Quantidades de Líquidos:

Ao se apresentar à criança dois vidros iguais, um vidro mais alto e quatro vidros

menores e dispondo-se a mesma quantidade de líquido neles, ora em cada tamanho de

recipiente, leva-se a criança a analisar e se posicionar quanto a conservação das quantidades

de líquido.

Prova nº 09: Conservação de Peso

Com duas bolas de massa plástica de cores diferentes, a criança é levada a analisar o

peso das massas diante da modificação da forma das mesmas.

Prova nº 10: Conservação de Volume:

Propõe-se à criança analisar a conservação do volume nesta prova, onde usa-se dois

vidros com água no mesmo nível e duas bolas de massa plástica. Mudando a forma da massa

e sugerindo colocá-la na água, a criança deve analisar a conservação do volume.

Prova nº 11: Prova de Combinação de Fichas Duplas para Pensamento Formal:

Com 6 fichas emborrachadas, de cores diferentes, a criança é levada a formar o maior

número possível de duplas.

As provas piagetianas e observações não participativas foram realizadas entre 11 de

abril de 2006 e 03 de maio de 2006. As crianças se encontravam em idade entre 6 anos e 10

meses e 7 anos e 4 meses. A variação foi de até 6 meses de idade. A seleção das provas

piagetianas para a análise do desenvolvimento cognitivo de crianças com disfunção

neuromotora do tipo atetóide ocorreu em função do caráter epistemológico da teoria

piagetiana. Pretende-se observar os mecanismos que dirigem a mudança do ponto de vista do

sujeito, entrando em funcionamento o processo de reinvenção ou redescoberta

23

(CASTORINA, 2000).

Além disso, o conhecimento, pensado na teoria piagetiana como estrutura ou

capacidade, é constituído pelo sujeito. Não se pode negar a participação genética e a

participação do meio, porém o conhecimento não é determinado por um ou por outro. As

crianças, segundo Piaget, retiram os materiais de construção do conhecimento de duas fontes:

dos objetos sobre os quais age, das características materiais das ações e das coordenações das

ações. (BECKER, 2005).

Para Triviños (1987), a coleta de dados é vital na pesquisa qualitativa, pois permite ao

investigador enfoques aprofundados, implicando um processo unitário e ao mesmo tempo

integral, contemplando, desta forma, o conjunto de operações propostas.

Os dados coletados concentram-se em três áreas distintas: desenvolvimento cognitivo

da criança, sua realização pessoal e seu convívio social, ou seja, como essas crianças

aprendem, se estão felizes, se convivem em sala de aula com os demais colegas, participam

das brincadeiras, trocam merenda, brinquedos, etc.

O desenvolvimento cognitivo foi analisado a partir dos resultados das provas

piagetianas. A realização pessoal da criança e o convívio social foram analisados a partir das

observações não participativas que a pesquisadora realizou em sala de aula.

A observação em sala de aula foi realizada durante uma tarde ( período de

aproximadamente 3 horas), quando a pesquisadora esteve dentro da sala, na última carteira,

estando todas as crianças de costas para ela, evitando assim a dispersão das mesmas. No

período do recreio, a pesquisadora ficava observando há aproximadamente 5 metros, evitando

assim que fosse abordada pelas crianças o que poderia gerar um momento que não

condissesse com a realidade vivida no dia a dia por elas. Além disso, foi solicitado à

professora que mantivesse sua rotina e conduta sem qualquer modificação para que, assim

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pudéssemos analisar fidedignamente os aspectos propostos.

Portanto, foram utilizadas três tardes, uma em cada escola nas quais as crianças

estudavam.

Com a observação em sala de aula, no ambiente escolar, foi possível verificar e

comparar o desenvolvimento e a competência cognitiva, social e comunicativa das crianças

com disfunção neuromotora e de outras crianças com desenvolvimento normal, na mesma

faixa etária.

A seleção das provas piagetianas para a análise do desenvolvimento cognitivo de

crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide e o estabelecimento de parâmetros

comparativos ocorreu em função do caráter epistemológico da teoria piagetiana. Pretendeu-se

observar os mecanismos que dirigem a mudança do ponto de vista do sujeito, entrando em

funcionamento o processo de reinvenção ou redescoberta (CASTORINA, 2000).

A coleta dos dados ocorreu por meio do registro (filmagem em fita de vídeo VHS e a

realização de fotos) das provas piagetianas; da observação e registro por fotos do

comportamento das crianças em sala de aula; e da ordenação, estudo e comparação dos dados,

para se analisarem e validarem, ou não, as hipóteses apresentadas.

O presente estudo delimitou-se ao referencial teórico e à investigação organizada pela

pesquisadora, para se atingirem os objetivos propostos.

Feitas estas considerações, abordou-se o tema desenvolvimento cognitivo e

possibilidade de inclusão escolar do sujeito com necessidades educacionais especiais,

particularmente, a criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide, em busca de respostas

para as seguintes questões:

Considerando-se a cognição, tudo aquilo que sabemos e pensamos (FLAVELL &

MILLER, 1999), como um dos fatores determinantes no processo de inclusão de crianças com

25

disfunção neuromotora, será possível que ela se sobreponha às dificuldades motoras?

Existem fatores de limitação de oportunidades e de serviços educacionais que

dificultam os auxílios adequados para o desenvolvimento das habilidades e potencialidades

cognitivas do sujeito com disfunção neuromotora e sua inclusão no ensino comum? A visão

que a escola comum tem em relação às crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide

poderá ser mudada, se sua capacidade cognitiva, bem como seu desenvolvimento, entendido

de forma global, forem próximos ao de crianças normais?

Nesta perspectiva, o presente estudo poderá contribuir para a análise do

desenvolvimento cognitivo e da possibilidade de inclusão das crianças com disfunção

neuromotora em escola comum.

Nesse contexto, levantam-se ainda nesse estudo as seguintes questões:

- As crianças, com disfunção neuromotora do tipo atetóide, freqüentando a escola

comum, estão realmente no mesmo nível de desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem

escolar, se comparadas às demais?

- As dificuldades motoras foram determinantes nesse processo de desenvolvimento

cognitivo?

Essas crianças teriam a condição de superar a dificuldade motora e se desenvolverem

na aprendizagem, como as outras?

Como hipótese acredita-se que crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide,

com tratamento adequado e apoio familiar conseguem se desenvolver do ponto de vista

cognitivo como as demais crianças de sua idade e ainda conseguem efetivar a inclusão escolar

e social nas primeiras séries do ensino fundamental.

O presente trabalho de pesquisa foi organizado em cinco partes:

26

Inicialmente, estudo constituiu-se do levantamento bibliográfico e exploratório, cujo

objetivo principal foi investigar, esclarecer, e desenvolver conceitos e idéias, com o intuito de

realizar abordagens adequadas ao processo de elaboração do mesmo.

No primeiro capítulo, são abordados os conceitos de inteligência, cognição, disfunção

neuromotora, sua etiologia e classificação, no contexto estudado. Ainda neste capítulo

descreve-se as considerações gerais sobre as práticas escolares, bem como as político-

educacionais e a educação especial, enfatizando-se nesse tópico as políticas de inclusão no

Brasil.

No segundo capítulo, abordou-se a epistemologia genética de Jean Piaget, suporte

deste estudo, e seus estágios cognitivos. Neste mesmo capítulo discute-se a questão

transdisciplinar, voltada para a inclusão do sujeito com disfunção neuromotora.

No terceiro capítulo são abordadas as questões sobre a inclusão escolar e social das

crianças em estudo.

No quarto capítulo, expõe-se a pesquisa realizada com o grupo de crianças, bem como

a análise dos dados coletados.

Por fim, seguem-se as discussões e conclusões, além de sugestões para futuros

estudos, finalizando-se, dessa forma, o trabalho proposto.

27

CAPÍTULO 1

INTELIGÊNCIA E COGNIÇÃO

Para se obter uma visão aprofundada do tema, é importante conceituar os termos

inteligência e cognição, o que implica uma tarefa árdua, visto a complexidade dos mesmos.

Pode-se realizar tal reflexão à luz da teoria de Jean Piaget, mas também, por intermédio de

uma visão contemporânea, de autores como Flavell e Miller que desenvolveram e ampliaram

tais conceitos.

Piaget, um dos autores consagrados, na área do desenvolvimento humano, em 1987,

escreve sobre a inteligência que, para ele se tratava de uma adaptação.

A inteligência é uma adaptação. Para apreendermos as suas relações com a vida, em geral, é preciso, pois, definir que relações existem entre o organismo e o meio ambiente. Com efeito, a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equilíbrio progressivo entre essas formas e o meio. Afirmar que a inteligência é um caso particular da adaptação biológica equivale, portanto a supor que ela é, essencialmente, uma organização e que sua função consiste em estruturar o universo tal como o organismo estrutura o meio imediato. ( PIAGET, 1987, p.15).

Para Piaget, desde os seus primórdios, a inteligência está integrada numa rede de

relações entre o organismo e o meio, em virtude das adaptações hereditárias. A inteligência

está relacionada com a situação vivenciada pelo sujeito em um dado momento, e, não é uma

“potência de reflexão” independente da situação particular. Para ele, a inteligência nada tem

de absoluto independente, é uma relação entre o organismo e as coisas. A inteligência

apresenta uma continuidade com os processos adquiridos ou mesmo inatos, provenientes da

associação habitual e dos reflexos, processos em que a inteligência se baseia mas também

utiliza. Desta forma, a inteligência constitui uma atividade organizadora e seu funcionamento

28

prolonga o funcionamento da organização biológica e o supera, graças à elaboração de novas

estruturas.

Flavell e Miller (1999), em seu livro intitulado Desenvolvimento Cognitivo, ao propor

uma definição de cognição, iniciou dizendo que os conceitos realmente interessantes mantêm

seus sentidos múltiplos, ambíguos, imprecisos e, sobretudo, instáveis e abertos. Abertos a

discussões e discordâncias e, por vezes, a reformulações e definições drásticas. Além disso,

tais conceitos estão abertos à introdução de novas e desconcertantes instâncias e exemplos.

Para os autores, talvez não seja de todo mau que conceitos importantes sofram deste tipo de

complexidade e instabilidade, ou, riqueza e criatividade. Eles reconhecem que não é nem

possível nem desejável definir cognição e limitar seu sentido de maneira precisa ou inflexível.

A imagem que tradicionalmente se faz da cognição tende a referir-se aos processos e

produtos inteligentes da mente humana. Portanto cognição e inteligência podem ser, de

acordo com os autores, processos com significados bastante próximos. Entretanto, por

cognição entende-se um processo que abrange além da inteligência outras entidades

psicológicas definidas como processos mentais superiores tais como: o conhecimento, a

consciência, o pensamento, a imaginação, a criatividade, a geração de planos e estratégias, o

raciocínio, as inferências, a solução de problemas, a conceituação, a classificação e a

formação de relações, a simbolização e talvez a fantasia e os sonhos. Nota-se que muitos dos

processos citados por Flavell e Miller, também são abordados por Piaget em seus estudos

sobre o nascimento da inteligência na criança, na descrição dos aspectos e estágios do

desenvolvimento psíquico da criança e em sua proposta de avaliação do desenvolvimento

lógico com base em suas experiências – provas piagetianas. Comprovando essa análise

observa-se que alguns autores, estudiosos de Piaget, já se referem ao desenvolvimento

cognitivo quando abordam a perspectiva piagetiana. Pode-se citar Goulart, ao afirmar que

“[...] outra tese piagetiana é que o desenvolvimento cognitivo é um processo seqüencial,

29

marcado por etapas caracterizadas por estruturas mentais diferenciadas.” (GOULART, 2000,

p.18).

Flavell e Miller (1999), ainda referem-se aos movimentos motores organizados e à

percepção especialmente dos bebês como componentes do domínio cognitivo. Piaget também

já havia proposto o desenvolvimento do bebê como sendo uma inteligência sensório-motora.

Para Flavell e Miller (1999):

[...] as crianças demonstram padrões inteligentes de comportamento motor e perceptivo antes de serem capazes de operar com símbolos, quanto mais de envolverem-se em raciocínios silogísticos. Parece arbitrário ao extremo batizar as crianças de “cognitivas” somente depois que elas adquirem a capacidade de envolverem-se nas formas mais festejadas de processamento cerebral. (FLAVELL & MILLER, 1999, p. 09).

De uma forma ampla, tudo aquilo que pensamos e sabemos talvez possa ser definido

como cognição, salientando que, a complexa inter-relação dos vários aspectos da cognição no

tecido do funcionamento cognitivo em tempo real, tem um papel vital na efetividade de cada

processo.

1.1 Disfunção neuromotora

O termo “Paralisia Cerebral”, neste trabalho abordado como disfunção neuromotora,

foi utilizado pela primeira vez na metade do século XIX e passou a ser conhecido pelos

escritos de Little ( apud BAX, 2005), publicados em 1843 e 1862. A disfunção neuromotora

pode ser descrita como uma desordem do desenvolvimento motor e da postura, causando

limitação da atividade motora, sendo não progressiva e devendo ser instalada no período pré,

peri natal ou na infância. As desordens motoras na disfunção neuromotora são frequentemente

30

acompanhadas de distúrbios da sensação, cognição, comunicação e percepção (BAX, 2005).

Schwartzman (2004) relata que, na disfunção neuromotora, o comprometimento motor

deve ser o principal sintoma do quadro, embora a associação deste aos prejuízos intelectuais,

sensoriais e outros seja comum. Quando o grau de comprometimento motor for inferior a

outros quadros associados, deve-se optar por um diagnóstico diferencial, como o de

encefalopatia crônica não progressiva, por exemplo.

1.1.1 Classificação e Fatores Etiológicos

A Disfunção neuromotora pode ser classificada3 em vários tipos. Os principais tipos

são descritos a seguir:

- Espástica (Sistema Piramidal), na qual a lesão no córtex, órgão responsável em

síntese pelo controle dos pensamentos, movimentos e sensações, gera um aumento

pronunciado do tônus muscular, com contrações musculares excessivas que ocorrem quando o

corpo está em repouso e aumentam consideravelmente quando se faz um movimento, o que

pode iniciar, inclusive, apenas ao se ter a intenção do movimento. Esse aumento de tônus

pode ser potencializado também com esforço e com a presença de emoções. Os músculos

espásticos obedecem à menor excitação. Pode-se perceber alteração motora desde o

nascimento, porém é bastante perceptível aos 3 meses de vida.

- Atetóide (Sistema Extra-Piramidal), na qual a lesão ocorre na área cerebral

denominada gânglios da base, responsáveis por ajudar a organizar os movimentos finos e

delicados e é caracterizada pela distonia – variações da tonicidade muscular. A atetose

3 Vários autores propõem classificações diferentes para a disfunção neuromotora. Algumas acrescentam outros tipos de disfunção neuromotora ou associam às formas descritas aqui. Optou-se por uma classificação mais simples, pois esse não é o principal objetivo do trabalho, sendo o objetivo principal, identificar o tipo de disfunção neuromotora estudado nos casos a serem descritos.

31

consiste em uma dificuldade no controle e na coordenação dos movimentos voluntários,

tornando-os, muitas vezes, incontroláveis, contínuos e assimétricos nos membros, na cabeça,

na face e nos músculos envolvidos na fonação, respiração, deglutição, etc. Pode-se perceber

as dificuldades das crianças já ao nascimento, quando é comum a presença de engasgos ao se

administrar a dieta devido a incoordenação das habilidades de sucção-deglutição-respiração.

- Atáxica (Cerebelar), a lesão ocorre no cerebelo, que controla e coordena os

movimentos, as posturas e equilíbrio, resultando na diminuição da tonicidade muscular, na

dificuldade para se equilibrar e na incoordenação dos movimentos. Caracteriza-se por uma

dificuldade para se medir a força, a distância e a direção dos movimentos, que costumam ser

lentos. Ocorre falta de estabilidade do tronco ao se moverem os braços, uma desorientação

espacial e uma dificuldade para se coordenar os movimentos dos braços e para assegurar o

equilíbrio ao caminhar, ocasionando quedas freqüentes. A ataxia, raramente ocorre de modo

isolado, é comum estar associada a outro tipo de disfunção neuromotora. O diagnóstico de

ataxia é freqüentemente realizado mais tardiamente, se comparado aos outros tipos descritos.

(BASIL, 2004)

Essas lesões, segundo Aranha (2001), possuem diversas causas, sendo as mais

freqüentes:

- Problemas durante a gravidez, com 60% dos casos devido a infecções intra-uterinas,

exposição à radiação ou substâncias teratogênicas (cigarros, álcool, drogas), má formação

cerebral, etc.

- Problemas durante e logo após o parto, sendo 30% dos casos devido à complicação

durante o parto: traumatismo, prematuridade, baixo peso, desordens metabólicas

(hipoglicemia), infecções no canal do parto, anóxia neonatal, icterícia grave, etc.

- Problemas do nascimento até os três anos: 10% dos casos de asfixia, traumatismo

32

crânio-encefálico, infecções do Sistema Nervoso Central (SNC), como meningites e

encefalites.

1.1.2 Manifestações Clínicas

As crianças com disfunção neuromotora geralmente apresentam problemas associados.

As alterações que, segundo Aranha (2001), mais freqüentemente se manifestam são:

- Epilepsia (convulsões, comumente ocorridas no período pré-escolar).

- Deficiência mental (com ocorrência de aproximadamente 50% dos casos).

- Deficiências visuais (baixa visão, estrabismos e erros de refração).

- Dificuldade de aprendizagem (não significando que a criança não possa aprender,

necessitando apenas de recursos adaptados).

Todos esses problemas podem surgir associados ou isoladamente, na dependência

direta do tipo de disfunção neuromotora que a criança apresenta, já que seus déficits motores

afetam sua psicomotricidade e seu comportamento emocional e social, o que pode,

conseqüentemente, resultar em um desenvolvimento global mais lento e que, muitas vezes, é

confundido com capacidade cognitiva defasada, gerando uma imagem preconceituosa sobre

as suas capacidades e potencialidades para uma vida autônoma e independente.

Como relata Basil (2004), sob a denominação “disfunção neuromotora”, encontram-se

sujeitos com sintomatologias muito diversas e com prognósticos muito variados. O conceito

de disfunção neuromotora não inclui lesões evolutivas, no entanto as conseqüências da lesão

variam ao longo do desenvolvimento da criança.

A principal função do cérebro é a adaptação do individuo ao mundo em que vive e,

33

para isso, é necessário que sejam registrados os eventos que ocorrem no ambiente que o

circunda. Grande parte das habilidades que um indivíduo adquire no seu desenvolvimento tem

um componente motor. A disfunção neuromotora altera diretamente o desenvolvimento das

habilidades motoras do sujeito em maior ou menor grau, tais como: andar, falar, brincar,

escrever, etc., afetando todos os aspectos de sua vida e limitando suas experiências, suas

possibilidades de aprender e sua interação com o ambiente e pessoas (BASIL, 2004).

As lesões encefálicas podem ocorrer durante a constituição, maturação e organização

do sistema nervoso central. As seqüelas poderão ser mais generalizadas ou não e isso irá

depender da influência da lesão sobre a maturação neurológica da criança. A gravidade da

seqüela irá variar de acordo com alguns fatores, entre eles, a extensão da lesão, a idade da

criança, o início tratamento multidisciplinar, o grau de comprometimento cognitivo.

Com a classificação, fica claro que as manifestações poderão variar de acordo com a

localização das lesões e as áreas do cérebro afetadas. O grau de disfunção sofrida pela criança

com disfunção neuromotora também varia, podendo ser afetado um braço, uma perna e até o

envolvimento severo de todos os quatro membros, incluindo tronco e pescoço (BEE, 1977).

Conforme a abordagem anterior, a disfunção neuromotora tem causas congênitas, na

grande maioria dos casos e nos demais pode ocorrer lesão na área do cérebro responsável pelo

comando dos movimentos do corpo, durante o período pré-natal ou durante o nascimento.

Não está claro, em muitos casos, se o déficit cognitivo é devido às restrições da experiência

ou à lesão cerebral estendida a outros domínios além das áreas motoras do cérebro.

Entretanto, muitas crianças com disfunção neuromotora, inclusive algumas severamente

afetadas, podem ter preservadas suas habilidades cognitivas (BEE, 1977).

Muitas crianças com disfunção neuromotora necessitam de cuidados físicos especiais

durante toda a vida; algumas se tornam capazes de cuidar de si, mas permanecem dependentes

de um ambiente familiar que lhes dê apoio, enquanto outras conseguem alcançar uma vida

34

adulta muito próxima da normal.

O sujeito com disfunção neuromotora apresenta uma série de alterações no decorrer de

seu desenvolvimento, derivadas direta ou indiretamente de seu distúrbio motor. A maior parte

das habilidades que uma criança adquire ao longo de seu desenvolvimento tem um

componente motor. A possibilidade de andar, manipular, falar, escrever, etc., depende, entre

outras coisas, da possibilidade de realizar concretamente determinados movimentos. A

disfunção neuromotora altera diretamente o desenvolvimento dessas habilidades.

Segundo Bobath (1976), a lesão cerebral afeta o desenvolvimento psicomotor da

criança em dois sentidos:

- a interferência na maturação normal do cérebro acarreta um atraso do

desenvolvimento motor;

- ocorrem alterações nesse desenvolvimento, também em função da presença de

esquemas anormais de atitude e de movimento, com a persistência de reflexos primitivos e

estereotipias motoras que a criança é incapaz de inibir.

Os distúrbios no desenvolvimento da fala e da linguagem são bastante freqüentes e,

segundo precoce de Miller e Clark (2002), 75% das crianças atingidas pela disfunção

neuromotora necessitam de um tratamento fonoaudiológico. As lesões cerebrais produzem,

quase sempre, alterações do aspecto motor-expressivo da linguagem, determinadas por uma

perturbação, mais ou menos grave, do controle dos órgãos fonoarticulatórios, que pode afetar

a execução (disartria) ou a própria organização do ato motor (apraxia).

As conseqüências desses distúrbios são variáveis, podendo alterar, em maior ou menor

grau, a inteligibilidade da fala e podendo, inclusive, impedi-la por completo. Em muitos

casos, esses distúrbios motores dos órgãos fonoarticulatórios afetam outras funções além da

fala, como a mastigação e a deglutição de alimentos, o controle da deglutição de saliva ou a

35

respiração.

Se a disfunção neuromotora se encontra associada a outros distúrbios sensoriais ou

intelectuais, o panorama de dificuldades no desenvolvimento da linguagem da criança pode

ser muito complexo.

O tipo de disfunção neuromotora que será abordada neste estudo como relatado é

denominado atetose, de acordo com a classificação adotada.

Basil (2004) descreve as características da disfunção neuromotora do tipo atetóide e

pontua que, quando uma criança com esse diagnóstico inicia uma ação motora, desecandeia-

se uma série de e contínuos dos membros, da cabeça, do rosto e dos músculos envolvidos na

fonação, respiração, deglutição, etc. Nos casos de atetose, os movimentos de membros

superiores, inferiores e da face, são lentos e contorcidos, ou súbitos e rápidos. O equilíbrio é

precário e a criança cai com freqüência, mas, em sua maioria, essas crianças têm inteligência

movimentos dissimétricos, que vão da hiperflexão a hiperextensão. Ela apresenta movimentos

incontrolados normal.

1.2 O Sujeito com Necessidades Especiais

Os portadores de necessidades especiais4 são pessoas que apresentam um tipo ou mais

de limitações funcionais, caracterizadas como permanentes, temporárias, congênitas ou

adquiridas por diversas causas. Entre essas limitações pode-se incluir: a deficiência visual,

auditiva, mental e físico-motora. Na mesma classificação, também estão incluídos os

4 A expressão “portadores de necessidades especiais” será substituída no presente trabalho pela expressão “ sujeitos com necessidades especiais”, pois a palavra sujeito confere àquela pessoa o caráter de domínio e autonomia perante sua vida e suas condições. O sujeito constiui-se como ator capaz de modificar seu meio e transformar suas experiências. Pela mesma razão, a palavra deficiente, que aparece na literatura a respeito do tema, não será utilizada, destacando-se assim, as potencialidades e não as impossibilidades dos sujeitos referidos.

36

portadores de distúrbios múltiplos de aprendizagem e os superdotados (UNESCO -

Declaração de Salamanca, 1994).

É importante traçar um panorama histórico sobre essas limitações que, desde a

antigüidade, foram denominadas deficiências, pois o estudo de qualquer tema pressupõe

sempre um conhecimento de sua história. Isso poderá ser a base para uma compreensão mais

adequada da deficiência e da inclusão, bem como de seus avanços e insuficiências nos dias de

hoje. Rocha (2004) relata bem a importância da história:

A deficiência não é uma invenção do século XXI, pessoas com deficiência sempre existiram. Percorreram um longo caminho de dor, abandono, maus tratos e toda sorte de negligência e exclusão social. Conhecer a história da deficiência é buscar compreender como chegamos ao momento atual com tantos avanços nas áreas tecnológica e científica e com tão pouco avanço nas áreas humana e social (ROCHA, 2004, p.10).

Sujeitos com necessidades especiais sempre estiveram em situação de maior

desvantagem, ocupando, no imaginário coletivo, a posição de alvos de caridade popular e

assistência social e não de sujeitos com direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à

educação.

Na história da humanidade, sempre existiram sujeitos com necessidades especiais e a

sociedade desenvolveu freqüentemente obstáculos à inclusão destas pessoas, por receios,

medos, superstições, frustrações, exclusões, separações, etc. Elas configuram,

lamentavelmente, vários exemplos históricos que vão desde a Antiguidade Clássica à Idade

Média. (FONSECA, 1998).

Aranha, Mrech e Ribeiro (2001) relatam que, na época clássica, as atitudes face às

pessoas com necessidades especiais iam do seu abandono nas florestas, como ocorreu em

Atenas, ao seu aniquilamento nos desfiladeiros, como ocorreu também em Esparta, numa

37

demonstração da postura da sociedade frente ao problema, que se pautava pela expressão:

“longe da vista, longe do pensamento”.

Na Roma Antiga, as crianças deformadas eram jogadas nos esgotos, abandonadas e

expostas à morte por negligência e inanição. Na Idade Média, sujeitos com necessidades

especiais encontravam abrigo nas igrejas, como Quasímodo, o personagem de Victor Hugo,

que vivia isolado na torre da Catedral de Paris.

Na mesma época, esses sujeitos ganhavam uma função: eram bobos da corte. Por

outro lado, eram freqüentes os apedrejamentos ou a morte, nas fogueiras da inquisição, de

pessoas com qualquer tipo de necessidade especial, pois eram consideradas possuídas pelo

mal. Não havia explicações para tal condição e até que a ciência conseguisse explicá-la, essas

pessoas continuaram a ser vistas de forma mítica e sobrenatural.

Os mesmos autores relatam ainda que, do século XVI ao XIX, os sujeitos com

problemas físicos e mentais viviam isolados do resto da sociedade, mas, nessa época, eram

colocados em asilos, conventos e albergues. Surge, então, o primeiro hospital psiquiátrico na

Europa, no final do século XVI, mas todas as instituições dessa época não passavam de

prisões, sem tratamento especializado ou programas educacionais.

Somente entre os séculos XVII e XVIII, com o advento das ciências, os sujeitos com

necessidades especiais passaram a ser vistos sob uma ótica científica, segundo Rocha (2004):

As explicações eram médicas e buscava-se a todo custo uma causa e a definição de padrões de funcionamento para cada categoria de deficiência estudada. O Modelo Organicista – que explica a problemática da deficiência somente pelo viés médico – trouxe avanços importantes, mas limitou todas as ações relativas às pessoas com deficiência a ações de tratamento médico-clínico, privando-as da participação nos processos educacionais a que todos tinham direito. (ROCHA, 2004, p.10)

Na França, surge o médico Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), que iniciou o

38

desenvolvimento de princípios educacionais para os sujeitos com necessidades educacionais.

Itard inaugura assim os primórdios da educação especial.

No final do século XIX e início da primeira metade do século XX, foi usada a

esterilização como método para evitar a reprodução desses “seres imperfeitos” e, na

Alemanha, em plena época do nazismo de Hitler, chegou-se à aniquilação pura e simples dos

sujeitos com necessidades especiais, que não correspondiam à pureza da raça ariana.

Maria Montessori, médica italiana (1870-1956), aprimorou os processos educacionais

criados por Itard e seus seguidores. Seus trabalhos e idéias foram trazidos para o Brasil pela

professora Helena Antipoff, fundadora do Instituto Pestalozzi em Belo Horizonte em 1932

(ROCHA, 2004).

Em 1948, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), é publicada a

primeira diretriz política em relação a essas pessoas, após a II Guerra Mundial. O Estatuto da

Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 26, parágrafos 1º e 2º declara:

“Todo homem tem direito à educação. (...) A instrução será orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do

homem e pelas liberdades fundamentais” (RANGEL, 2000, p.20).

Nesse documento de cunho internacional, são ressaltados os conceitos de igualdade de

oportunidades, de direito à diferença, de justiça social e de solidariedade nas novas

concepções jurídico-políticas, filosóficas e sociais que nortearam a fundação de organizações

como a ONU (Organização das Nações Unidas), a UNESCO (Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a

OCDE (Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico), passando os sujeitos

com necessidades especiais a serem considerados possuidores dos mesmos direitos e deveres

de todos os outros cidadãos, dentre eles o direito à participação na vida social e a sua

conseqüente inclusão escolar e profissional.

39

Os sujeitos com necessidades especiais atingem o status de cidadãos, com direitos e

deveres, mas de uma forma ainda assistencialista e caritativa, sem lhe permitir a verdadeira

autonomia, seja ela de escolha ou de voz ativa.

Surgem movimentos católicos, movimentos de pais e familiares ou mesmo de

educadores comprometidos com a causa e, com isso várias instituições destinadas à educação

de surdos, cegos, sujeitos com comprometimentos físicos e mentais. Surgem as APAEs na

década de 1950 (ROCHA, 2004).

Mas, somente no final da década de 1950, no Brasil, as iniciativas governamentais

começaram a aparecer, nacionalmente. Em 1961, a educação especial aparece pela primeira

vez na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, apontando que a educação dos sujeitos com

necessidades especiais deveria, quando possível, ser oferecida no sistema geral de educação.

Essa tendência mundial, surgida ao longo das décadas de 1960 e 1970, manifestou-se também

na luta pelos direitos humanos e na pedagogia institucional. Nesse contexto, Mannoni (1977)

relata:

Esforço-me muito simplesmente por ir além duma etiqueta que foi o ponto de partida da cristalização da angústia familiar [...]. É antes da ordem seguinte: que há de perturbação ao nível da linguagem (na relação mãe-filho) que se exprime por uma via afastada, paralisando o indivíduo no estatuto social que lhe foi conferido, paralisando a mãe no papel que ela se atribui a si própria? [...] (MANNONI, 1977, p.41).

A luta para que a criança com deficiência mental tivesse direito à palavra,

contribuindo, assim, para que ela fosse vista de uma forma não estigmatizada, inicia-se aqui e

o movimento pelos direitos humanos vem aprofundar ainda mais essas discussões.

Entre 1964 e 1968, amplia-se a luta pelos direitos humanos de todos os indivíduos,

independente de pertencerem a uma determinada raça, religião, cor, cultura, etc. Esse

40

movimento iria revelar o papel estratégico que a educação ocupa no processo de criação de

uma sociedade mais livre e igualitária.

Por sua vez, a pedagogia institucional tem suas raízes no movimento freinetiano e no

grupo anarquista dos Situacionistas Internacionais, que serão a base da Revolução de Maio de

1968, desencadeando uma nova forma de ver a cultura e a educação e tendo ambas um papel

importante.

A criação de escolas especiais representa um esforço inicialmente dos familiares dos

sujeitos com necessidades especiais, como tentativa de assegurar-lhes o direito à educação.

Muitas famílias se organizaram em associações, que passaram a cobrar do pode público e

também criaram, nesta época organizações não governamentais que gradativamente ganharam

a adesão de profissionais da saúde, assistência social e educação (MENICUCCI, 2006).

Observa-se que até a década de 1970, todos os modelos educacionais voltados para

esses sujeitos tinham orientação segregadora, a educação especial era isolada do sistema

comum de ensino.

Posteriormente, na década de 1980, surge uma filosofia de integração, mais tarde

denominada inclusão educativa, como opção de base da grande maioria dos países,

defendendo a idéia de que o ensino das crianças e jovens com dificuldades especiais deve ser

feito, pelo menos tanto quanto possível, no âmbito da escola comum. Surge assim o Modelo

Integrador, no qual, após alguns anos em escolas especiais, os sujeitos com necessidades

especiais que atingissem a normalização, termo utilizado na época, eram encaminhados ao

sistema comum de ensino. Desta forma não havia convivência entre sujeitos que, como

qualquer outro tinha habilidades e dificuldades e os demais sujeitos que sempre estiveram em

escola comum. Era mantido, assim, a segregação e o preconceito, pois não era permitido que

pessoas com e sem necessidades especiais se conhecessem e se apoiassem com suas trocas de

experiências e com as vivências cotidianas, ao estudarem juntas.

41

Segundo Wallon (1977):

[...] O sujeito é visto apenas através do seu comportamento, em ligação estreita com as circunstâncias que o fazem reagir. Nada delimita, a priori, a parte das circunstâncias e a do sujeito. Nada permite presumir o papel respectivo das estruturas biológicas e da invenção psíquica, do organismo e discriminação dos fatores em jogo. Este método, estritamente objetivo, que parte da indivisão entre forças externas e internas, entre necessidades físicas e possibilidades mentais, é, no entanto, o mais capaz de mostrar as oposições ou conflitos e de fazer as diferenciações que se seguem a tudo isto (WALLON, 1977, p. 89).

Abre-se, assim, a crítica às concepções que privilegiam apenas o indivíduo como fator

determinante do processo, introduzindo a importância do ambiente social e da situação

contextualizada no âmbito das instituições educacionais e culminando com o aparecimento de

escolas onde a situação educacional desempenha um papel diferente, sendo esta uma rica

experiência educacional que exemplifica o processo de criação de uma sociedade mais livre e

igualitária.

As dificuldades sentidas por esse tipo de aluno, na escola, eram concebidas em termos

de deficiência mental e, conseqüentemente, qualquer criança ou jovem com marcadas

dificuldades físicas, sensoriais, mentais, comportamentais ou de comunicação era

prontamente considerada como qualitativamente diferente do resto dos alunos. Tais

características, consideradas inalteráveis e permanentes, justificariam a existência de um

sistema educacional separado do ensino comum.

Nesse contexto social, redefine-se a própria posição ocupada pelo sujeito com

necessidades especiais na sociedade e, conseqüentemente, no sistema educacional, por meio

da exigência de ampliação do acesso de alunos que ficavam tradicionalmente excluídos do

sistema comum de ensino.

Surgem posturas e atitudes como a do Conselho Regional de Psicologia: “Para curar as

pessoas não é possível manter de pé instituições dedicadas à exclusão, à marginalização, à

42

violência e ao abandono (CONSELHO REGIONAL de PSICOLOGIA, 1992, p. 67).

Apenas recentemente, na segunda metade da década de 1990, fala-se e tenta-se colocar

em prática a inclusão. Os sistemas educacionais iniciam a construção de um modelo mais

acolhedor e investem em escolas transformadas, que respeitam, aceitam e trabalham com

todos, mais, ou menos diferentes (MENICUCCI, 2006).

A trajetória histórica dos sujeitos com necessidades especiais é marcada por

sentimentos e práticas preconceituosas, desrespeitosas e discriminatórias. É marcada pelo

desrespeito e até negação dos direitos humanos e pela adoção de mecanismos excludentes,

sobretudo na educação escolar. Escrever outra história depende de todos nós aprendermos a

aceitar e conviver com a diversidade, respeitando a riqueza da diferença humana. Não se pode

construir um sistema educacional inclusivo em uma sociedade que se mantenha excludente

(MENICUCCI, 2006).

Quando se fala sobre o desenvolvimento cognitivo e a possibilidade de inclusão de

criança com disfunção neuromotora, todos esses aspectos são importantes na compreensão,

acompanhamento das necessidades dessas crianças e na viabilização de meios que promovam

o desenvolvimento escolar e social das mesmas.

1.3 A Educação Especial no Âmbito da Política Educacional

A escola inclusiva é o processo educativo entendido como um processo social, no qual

as crianças com necessidades especiais têm direito à escolarização, sendo ensinadas no

mesmo contexto curricular e institucional, juntamente com os demais colegas.

Contextualizando esse posicionamento educacional, verifica-se que a educação

escolar, numa definição de Amaral & Moncau (1994), é uma prática social, vigorosa que tem

43

como finalidade o desenvolvimento do ser humano, segundo as exigências e as necessidades

da sociedade. A educação tem, portanto, a função de socialização do saber e deve ocupar-se

em promover o desenvolvimento geral dos seus alunos, atenta às demandas da sociedade que

exige indivíduos autônomos, cidadãos, produtores de conhecimento, capazes de analisar a

realidade e atuar sobre ela transformando-a, de tomar decisões justas e coerentes, de encontrar

soluções para problemas de diversas naturezas, de saber buscar informações e saber utilizá-

las, de se adaptar ao mundo pós-moderno, sem perder de vista o aspecto ético e humano,

sendo sensível às questões ecológicas.

“A sociedade hoje tem outras prioridades e exigências. Simplesmente dar o conteúdo e

esperar que o mesmo seja reproduzido não forma o indivíduo para o estilo de vida

contemporâneo”. (FISCHER, 2001, p.54).

Dessa forma, a função da educação na contemporaneidade é promover e possibilitar

mudanças internas no indivíduo, articuladas com o meio sócio-cultural, não apenas passando

conteúdos, mas dando-lhe condição de integração e adaptação à sociedade.

Coll (1996) propõe a modalidade de aprendizagem significativa, na qual os alunos

aprendem por compreensão e realizam modificações em suas estruturas internas, mas sabe-se

que ainda é pequeno o percentual de alunos que aprendem dessa forma. A escola, embora

discurse sobre a sua função de desenvolver e formar indivíduos para a vida social, como nos

apontam os mesmos teóricos citados acima, termina por atuar, principalmente em nosso país,

como reprodutora e mantenedora das desigualdades sociais. Conseqüentemente, por estar

ainda imersa em um contexto de contradições sociais, ela acaba repetindo este modelo em seu

território.

É importante analisar a projeção de sistemas educacionais e a implementação de

programas educativos de tal forma a considerar a ampla diversidade das características e

necessidades individuais de todos os alunos.

44

1.4 O Contexto Internacional

Ao longo das últimas décadas, tem-se assistido, em inúmeros países, a debates acerca

das vantagens e desvantagens da inclusão de alunos com necessidades especiais, nas salas de

aula do ensino comum. A inclusão de alunos com necessidades especiais no percurso normal

da educação foi e é ainda hoje objetivo pedagógico nesses países, como também de

praticamente todas as organizações internacionais como as anteriormente citadas: a ONU, a

OCDE, a UNESCO ou a OMS.

A educação inclusiva visa congregar a educação comum e a educação especial, na

implantação de um contexto formador de sujeitos, onde nenhuma criança seja excluída do

sistema educacional. E nesse contexto, uma das principais raízes filosóficas do conceito de

inclusão de crianças e jovens com necessidades especiais na escola comum e na sociedade, é

o princípio da normalização, ou seja, quaisquer sejam os meios ou os fins da educação para

os alunos com necessidades especiais, estes devem ser, tanto quanto possível, os mesmos

definidos para os alunos ditos normais ou não (HALLAHAN & KAUFFMAN, 1993).

Apesar dos extensos estudos e pesquisas já desenvolvidas até então, no campo da

educação e de áreas que a fundamentam num caráter transdisciplinar, como, por exemplo, na

psicologia, na fonoaudiologia e na sociologia entre outras, a escola continua, de maneira

geral, mantendo mecanismos sutis de seleção, segregação e exclusão dos alunos que nela

ingressam, na maioria das vezes, ávidos por se apropriarem de conhecimentos e instrumentos

para mudar algo no seu plano de vida real.

Esses alunos depositam na escola uma grande expectativa de crescimento e melhoria,

e o que historicamente acontece são registros de altos índices de alunos que fracassam na

aprendizagem escolar. As causas são várias, desde aquelas que, em menor extensão, dizem

45

respeito ao sujeito, sejam elas neurológicas, psíquicas ou cognitivas, até as que se referem a

condições externas a ele. Podem-se, aqui, destacar as condições do ambiente familiar, escolar

e as intrincadas relações entre escola e sociedade (WEISS, 2000).

Vale ressaltar que estas últimas causas constituem as que mais geram e acentuam o

fracasso na escolaridade brasileira (SAMPAIO & FREITAS, 1996).

A educação, hoje denominada inclusiva, primeiramente surgida na Escandinávia e

depois nos Estados Unidos da América (EUA), iniciou sua história, em linhas gerais, com

uma colocação seletiva do sujeito com necessidade especial em sala de aula comum, num

processo denominado normalização. Nesse caso, o professor não recebe um suporte de

profissionais especializados. Os estudantes que estão no processo de normalização precisam

demonstrar que são capazes de permanecer na classe comum. Ao contrário, na inclusão

escolar contemporânea, todos precisam demonstrar suas capacidades de adaptação e ajuda

mútua. Aí estão incluídos a escola, a família, o sujeito com necessidades especiais e também

seus colegas.

O processo de inclusão, que visa ampliar ao máximo a capacidade da criança com

necessidades especiais na escola e na classe comum, envolve o fornecimento de suporte de

serviços da área de educação especial, por intermédio de seus profissionais e esse

procedimento deve ser constantemente revisto.

Para Belisário (2001), a inclusão deve gerar procedimentos, em busca de uma

educação e vida de qualidade para todos, de acordo com a teoria do meio mais favorável

possível. Segundo este mesmo autor, a inclusão é um conceito revolucionário, que busca

remover as barreiras que sustentam a exclusão e, ainda, acrescenta:

Como toda inovação, a inclusão implica uma mudança de paradigma, de conceitos e posições, que fogem às regras tradicionais do jogo educacional, ainda fortemente calcados na linearidade do pensamento, no primado do racional e da instrução, na transmissão dos conteúdos curriculares, na seriação dos níveis de ensino (BELISÁRIO, 2001, p.66).

46

A educação inclusiva teve início nos Estados Unidos, através da lei pública 94.142, de

1975. Em 1986, uma pessoa responsável pela Secretaria de Estado da Educação americana,

Madeleine Will, iniciou um movimento no sentido de defender a idéia de que compete à

escola comum, e não à educação especial, a principal responsabilidade pela educação de todas

as crianças e jovens, quaisquer que sejam as suas dificuldades ou dotes especiais,

questionando dessa forma a legitimidade da existência de um sistema de educação especial

distinto do sistema de ensino geral (HALLHAN & KAUFFMAN, 1993).

O movimento avançou pelos diferentes países do mundo ocidental e nos anos de 1980

e 1990, declarações e tratados mundiais passaram a defender a inclusão do sujeito com

necessidades especiais no sistema comum de ensino. Em 1983, a Assembléia Geral das

Nações Unidas lançou o Programa de Ação Mundial para pessoas deficientes, recomendando

que quando fosse pedagogicamente factível, o ensino de sujeitos com necessidades especiais

deveria acontecer dentro do sistema escolar normal.

Santos (1997) aborda a importância da Conferência Mundial sobre Educação para

Todos, ocorrida na cidade de Jomtien, em 1990, na Tailândia, que adotou como objetivo o

oferecimento de educação para todos até o ano 2000. As questões abordadas na referida

conferência estão diretamente relacionadas, causando conseqüências marcantes ao âmbito da

educação especial. Dentre estes questões pode-se destacar:

- O estabelecimento de metas claras que aumentem o número de crianças freqüentando

a escola.

- A tomada de providências que assegurem a permanência da criança na escola por um

tempo longo o suficiente que lhe possibilite obter um real benefício da escolarização.

- O início de reformas educacionais significativas assegurando que a escola inclua em

suas atividades, seus currículos e por intermédio de seus professores, serviços que realmente

47

correspondam às necessidades de seus alunos, de seus respectivos pais e das comunidades

locais, bem como das nações que pretendem formar cidadãos responsáveis e instruídos.

Como conseqüência imediata para a educação especial e um marco na história da

deficiência, no ano de 1994, acontece a Conferência Mundial sobre Educação Especial na

Espanha. Desse encontro, que teve a participação de mais de oitenta países, inclusive o Brasil,

surge a Declaração de Salamanca. Este foi um dos mais importantes documentos de

compromisso e garantia dos direitos educacionais especiais. A Declaração ressalta que:

Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação e que a elas deva ser dada a oportunidade de obter e manter nível aceitável de conhecimento; cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios; [...] os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades; [...] as pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades; [...] toda pessoa com deficiência tem o direito de manifestar seus desejos quanto à sua educação, na medida de sua capacidade de estar certa disso. [...]; assegurar que, num contexto de mudança sistemática, os programas de formação de professorado, tanto inicial como continua, estejam voltados para atender às necessidades educativas especiais nas escolas inclusivas (UNESCO DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 8-9-10-12).

O termo “portadores de necessidades educacionais especiais”5 incluirá, a partir dessa

data, além das crianças com deficiências, aquelas que estejam experimentando dificuldades

temporárias ou permanentes na escola, as que estejam repetindo continuamente os anos

escolares, as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que moram distante de

quaisquer escolas, as que vivem em condições de extrema pobreza ou que sejam desnutridas,

as que sejam vítimas de guerra ou conflitos armados, as que sofram de abusos físicos

contínuos, emocionais e sexuais, ou as que simplesmente estejam fora da escola, por qualquer

motivo.

5 Autor, pesquisador e estudioso, Mazzota (1998) substitui “necessidades educativas especiais”, adotado pelo documento, por “ necessidades educacionais especiais”, ao se referir aos deficientes de qualquer ordem.

48

Se, até então, a educação especial se voltava para pessoas com deficiências e era

predominantemente provedora de serviços direcionados a uma certa clientela, e quase sempre

em um determinado ambiente especial (segregado), mais propício ao respectivo tratamento a

ser dado à sua clientela, agora ela começa a ser colocada em questão, passando então a ser

ampliado seu objetivo-alvo. Com isso, a nova concepção de necessidades educacionais

especiais provoca uma aproximação desses dois tipos de ensino, o comum e o especial, na

medida em que esta nova definição implica que, potencialmente, todas as pessoas possuem ou

podem possuir temporariamente ou permanentemente, necessidades educacionais especiais.

Na prática, a inclusão da educação especial na estrutura de educação para todos,

conforme ficou explicitado na Declaração de Salamanca, proporcionou uma oportunidade

única de colocação da educação especial dentro da estrutura de educação para todos, firmada

em 1990.

[...] Ela promoveu uma plataforma que afirma o princípio e a discussão da prática de garantia da inclusão das crianças com necessidades educativas especiais nestas iniciativas e a tomada de seus lugares de direito numa sociedade de aprendizagem (UNESCO, 1994, p. 7).

O aspecto inovador da Declaração de Salamanca consiste exatamente na retomada de

discussões sobre a ampliação da clientela potencialmente nomeada como possuindo

necessidades educacionais especiais. Outra questão que se apresenta é a necessidade de

inclusão da própria educação especial dentro dessa estrutura de educação para todos.

O processo educativo passa a ser entendido como um processo social, onde os sujeitos

com necessidades especiais e com distúrbios de aprendizagem têm o direito à escolarização o

mais próximo possível do normal. O alvo a ser alcançado é a integração da criança com

necessidades especiais na comunidade. Seu objetivo maior é fazer com que a escola atue com

49

todos os seus escalões no sentido de possibilitar a integração das crianças que dela fazem

parte. Na base da educação inclusiva encontra-se o princípio da inclusão social.

A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente, tendo em vista a equiparação de oportunidades e, conseqüentemente, uma sociedade para todos. A inclusão (na sociedade, no trabalho, no lazer, nos serviços de saúde, etc) significa que a sociedade deve adaptar-se às necessidades da pessoa com deficiência para que esta possa desenvolver-se em todos os aspectos de sua vida. (SASSAKI, 1997, p. 168).

A educação inclusiva não pode ser reduzida apenas à quebra de processos de exclusão

e marginalização dos indivíduos na sociedade; indo mais além, ela deve propor a inclusão do

sujeito na sociedade. Ela pressupõe todo um trabalho transdisciplinar, culminando com a

implantação de uma sociedade inclusiva, que implica a minimização ao máximo de injustiça,

preconceito e desigualdade social. Esta sociedade não utilizará suas instituições para

estigmatizar os seus participantes, mas para auxiliá-los.

Segundo Werneck (1997),

[...] uma sociedade inclusiva tem compromisso com as minorias e não apenas com as pessoas deficientes. Tem compromisso com ela mesma porque se auto-exige transformações intrínsecas. [...] Como filosofia, incluir é a crença de que todos têm direito de participar ativamente da sociedade, contribuindo de alguma forma para o seu desenvolvimento. Como ideologia, a inclusão vem para quebrar barreiras cristalizadas em torno de grupos estigmatizados. Indivíduos marginalizados terão a oportunidade de mostrar seus talentos (WERNECK, 2000, p. 41-42).

Entretanto, a noção de “inclusão total” sofreu e ainda sofre considerável resistência

pelos partidários dos serviços de educação especial com base em alguns argumentos

apresentados por Hallahan & Kauffman (1993) que afirmaram:

- O atendimento oferecido em sala de aula comum é um ambiente propício à

segregação, principalmente em se tratando de indivíduos com graves problemas físicos e

50

comportamentais;

- Os professores e educadores do ensino comum têm dificuldades em lidar com todos

os tipos de alunos especiais, principalmente com os casos de menor incidência ou de maior

gravidade que exigem recursos técnicos e serviços diferenciados de apoio, pois o professor de

ensino comum tem de se submeter a um currículo e às exigências de sucesso da escola para os

alunos normais e não são preparados para trabalhar com os “especiais”;

- O grupo de alunos com necessidades especiais também tem dificuldades centradas

nos seus mecanismos de aprendizagem e, portanto, devem ser separados como forma de

melhor suprir as suas necessidades educativas, sendo trabalhados por profissionais

especializados.

Ao se questionar a inclusão para todos, Schwartzman (1997) enfatiza a necessidade de

se definir o tipo de individuo que está sendo analisado. O autor se refere a casos como o de

crianças autistas com graves distúrbios de comportamento e severo retardo mental e outras

patologias graves que, se colocadas em uma mesma classe do ensino comum, poderiam

colocar em risco o aprendizado de todos. O autor conclui:

Acredito, portanto, que todo empenho deverá ser dirigido no sentido de integrar ao sistema escolar comum normal a maior parte das crianças; mas me parece que uma parcela significativa de indivíduos portadores de deficiências terá melhores oportunidades de aprendizado e de desenvolver de forma otimizada seu potencial em uma situação de aprendizado diversa daquela que nosso sistema educacional pode oferecer-lhes [...] (SCHWARTZMAN, 1997, p. 66).

Na mesma linha de pensamento, Moura (1998) escreve sobre as dificuldades

encontradas quando se propõe a inclusão de sujeitos com disfunção neuromotora, finalizando

da seguinte maneira:

51

Ninguém é contra a integração, inclusão etc.; mas não é algo que possa ser feito de qualquer maneira, por decretos de cúpula, sem que muitas medidas sejam previamente tomadas, e a existência de certas condições (como a “simples” comunicação por computador), desde a legislação educacional comum, a formação pessoal, a busca de pessoal especializado, que possam formar um contexto dentro do qual a inclusão – e não de todos os casos – seja possível realmente (MOURA, 1998, p.348).

A simples defesa do princípio de inclusão não garante, portanto, em que situação se

trata de implementar respostas educativas apropriadas aos alunos com dificuldades especiais

na escola, nem tampouco a sua não separação ou mesmo não discriminação.

Há de se atentar, no entanto para o fato de que as práticas pedagógicas não estejam

incessantemente ameaçadas de estigmatizar, singularizar, isolar ou, numa palavra, excluir,

pois a lógica da inclusão constitui em si mesma a essência do ideal democrático.

1.5 As Políticas de Inclusão no Brasil

Nos últimos anos, o governo brasileiro vem implementando programas e esforços para

a provisão de atendimento adequado aos sujeitos com necessidades especiais no ensino

comum. No entanto, a realidade demonstra que, ainda, somente pequena percentagem de

sujeitos com necessidades especiais tem recebido o tratamento educacional a que

constitucionalmente têm direito.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº 4024, de 1961, no quesito relativo

à educação especial, em seu artigo 88, aponta que a educação dos sujeitos com necessidades

especiais deve, sempre que possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de

integrá-los à comunidade.

Na década de 1970, significativas decisões foram tomadas no plano federal,

estabelecendo-se as bases legais, técnico-pedagógicas e administrativas para o

52

desenvolvimento da educação especial no Brasil. Elegendo a educação especial como área de

ação prioritária no Plano Setorial de Educação e Cultura, o Governo Federal criou, em 1973,

na estrutura do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Centro Nacional de Educação

Especial (CENESP), primeiro órgão oficial no país a definir procedimentos, diretrizes e

concepções filosóficas e doutrinárias de uma política nacional de educação especial.

Nos anos de 1980, a Constituição Federal (1988), em seu capítulo II, seção I, artigo

208, inciso III, re-assegura o atendimento educacional especializado aos sujeitos com

necessidades especiais, preferencialmente na rede comum de ensino.

Nos anos de 1990, a educação deveria situar-se como um dos princípios norteadores

das propostas do governo, exigindo o envolvimento de todos os segmentos sociais e, em maio

de 1990, a então criada Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB) assumiu a

responsabilidade de implementar a política de educação especial, entendendo ser esta uma

modalidade permeadora do sistema educacional brasileiro, que vai desde a pré-escola até o

ensino superior. Formulam-se, então, competências e metas em seu regimento que propõe:

- políticas, diretrizes, estratégias e critérios que permitam o desenvolvimento da

educação especial, de modo a assegurar a permanência do sujeito com necessidades especiais

no sistema educacional;

- apoio aos sistemas de ensino, na formulação e implementação de políticas de

formação e valorização do magistério para a educação especial;

- assistência técnica e proposta de critérios para o repasse financeiro ao sistema

público, às entidades e instituições privadas;

- promoção de intercâmbio técnico e cooperação a programas e projetos de educação

especial, em nível nacional e internacional;

- coordenação de ações referentes à análise e elaboração de dispositivos legais

53

relativos à educação especial técnica e pedagógica e a disseminação de tecnologias

educacionais;

- sensibilização da sociedade para a questão da pessoa com necessidades especiais;

expansão do atendimento educacional especializado aos sujeitos com necessidades especiais

junto à rede comum de ensino; preparação para o trabalho dos indivíduos portadores dessas

necessidades, com capacitação de recursos humanos e do programa de informática na

educação especial;

- aperfeiçoamento do processo de atendimento educacional;

- serviço de instrumentação e informações em educação especial;

- fortalecimento das instituições privadas.

A lei nº 8069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), capítulo V da educação especial, reitera o atendimento educacional

especializado para sujeitos com necessidades especiais, na rede comum de ensino do país.

Entende-se por educação especial, para efeitos desta lei, a modalidade de educação

escolar, oferecida preferencialmente na rede comum de ensino, para educandos com

necessidades especiais (Art. 58). E, em seu 1º parágrafo, comenta que haverá, quando

necessários, serviços de apoio especializado, na escola comum, para atender às peculiaridades

da clientela de educação especial.

Como co-participante dos principais eventos ocorridos no mundo inteiro, relativos aos

direitos educacionais, o Brasil continua em busca de soluções que dizem respeito à educação

dos sujeitos com necessidades educacionais especiais. A Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (LDB), nº 9394/1996, ressalta que a educação dos sujeitos com necessidades

especiais deve dar-se preferencialmente na rede comum de ensino. Estabelece também que os

sistemas de ensino deverão assegurar, entre outras coisas, professores especializados ou

54

devidamente capacitados para atuar com qualquer pessoa especial em sala de aula. A mesma

lei admite também que, nos casos em que necessidades especiais do aluno impeçam que este

se desenvolva satisfatoriamente nas classes existentes, ele teria o direito de ser educado em

classe ou serviço especializado.

As atuais políticas governamentais evidenciam uma preocupação por parte de seus

órgãos em relação à educação dos sujeitos com necessidades educacionais especiais, mas o

fato é que não têm provido as escolas públicas de recursos para o atendimento educacional

desses alunos. Ao longo dessa trajetória, verificou-se a necessidade de se reestruturar os

sistemas de ensino, os quais devem organizar-se para dar respostas às necessidades

educacionais de todos os alunos.

Conforme especificado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)

e no Decreto nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, artigo 24, § 1º:

Entende-se por Educação Especial um processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentem necessidades educacionais especiais, em todos os níveis, etapas e modalidades de educação (MAZOTTA, 1998).

Ressalta-se que o respeito e a valorização da diversidade dos alunos exigem que a

escola defina sua responsabilidade em seu aprendizado e desenvolvimento global. Nesse

momento, o sujeito com necessidades especiais não deve estar sozinho; ao contrário, deve

receber apoio nas diversas áreas, seja na criação de espaços inclusivos, na mudança de

metodologia pedagógica, na complementação de sua educação com serviços especiais ou no

apoio à convivência política e social.

Ao discutir a educação de alunos com necessidades especiais, a educação escolar deve

55

responder com situações de ensino-aprendizagem diferentes, se necessário, das organizadas

usualmente para a grande maioria dos educandos.

Há de se fundamentar que as ações em atitudes de respeito ao outro como cidadão

sejam concretizadas em ações de reestruturação da escola atual com vistas a tal propósito. Até

recentemente, o atendimento às necessidades educacionais especiais de crianças, jovens e

adultos era marcado por classes especiais, separando-os dos demais alunos no contexto

escolar e promovendo um aprofundamento maior do preconceito, reforçando a segregação de

indivíduos que fugiam ao padrão de normalidade.

1.6 Caminhos da Inclusão

As escolas inclusivas têm por desafio desenvolver uma pedagogia centralizada na

criança, capaz de educar com sucesso todos os alunos, de acordo com a declaração de

Salamanca, descrita pela UNESCO:

A inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao gozo dos direitos humanos. No campo da educação, tal se reflete no desenvolvimento de estratégias que procuram proporcionar uma equalização genuína de oportunidades. A experiência em muitos países demonstra que a integração de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais é mais eficazmente alcançada em escolas inclusivas que servem a todas as crianças de uma comunidade (UNESCO, 1994, p. 6).

O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam

aprender juntas. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas necessidades

de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de aprendizagem e

assegurando uma educação de qualidade a todos por intermédio de currículo apropriado,

modificações organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com a

56

comunidade.

Dentro das escolas inclusivas, as crianças com necessidades educacionais especiais

deveriam receber qualquer apoio extra de que possam precisar, para que lhes seja assegurada

uma educação efetiva. (UNESCO, 1994).

Em outras palavras, as implicações consistem no reconhecimento da igualdade de

valores e de direitos (BOOTH, 1981) e na conseqüente tomada de atitudes, em todos os níveis

(político, governamental, social, comunitário, individual) que reflitam uma coerência entre o

que se diz e o que se faz.

Na sociedade atual ainda existem momentos de séria rejeição ao outro, ao diferente. A

educação, ao adotar a diretriz inclusiva no exercício de seu papel socializador e pedagógico,

favorece essa abertura solidária, sem preconceitos, transmitindo a idéia de que todos são

dignos e iguais. A inclusão representa um avanço em relação ao movimento de integração

escolar, pois pressupõe o ajustamento da pessoa com deficiência, objetivando sua participação

no processo educativo desenvolvido nas escolas comuns.

Integração/Inclusão significa o re-estabelecer de formas comuns de vida, de aprendizagem e de trabalho entre pessoas deficientes e não-deficientes. [...] Pedagogicamente, a integração significa, seja no jardim de infância, na escola ou no trabalho, que todas as crianças e adultos (deficientes ou não) brinquem, aprendam, trabalhem, de acordo com o seu nível próprio de desenvolvimento, em cooperação com os outros (STEINEMANN, 1994, p.7).

A escola, como atesta a maioria dos documentos nacionais e internacionais, deve ser

local de encontro universal de gerações. Entende-se por universal aquela em que todos os

alunos, dos mais aos menos dotados de capacidades psíquicas, intelectuais, sensoriais ou

físicas, estejam contemplados no conceito. Neste sentido, a escola deveria ser o local onde as

pessoas se encontram, se entendem e se reconhecem como parte de um todo humano, e

57

possam, assim, desenvolver, juntas, a aprendizagem técnica, os valores morais e éticos, a

flexibilidade e o bom-senso, as artes, a cultura e, ainda, realizar parcerias para o crescimento

de todos, no particular e no comum.

Na escola inclusiva, as dificuldades e limitações de cada indivíduo funcionariam como

estímulo para se enfrentar os desafios da vida em comunidade, que, com certeza, vão além

dos limites dos ensinamentos que as salas de aula, hoje, proporcionam aos seus alunos.

Esse modelo de escola beneficia a todos, pois a criança vai desenvolvendo

naturalmente uma cumplicidade com seu colega ao lado, por mais diferente que ele seja ou

pareça ser, exercitando, assim, a cidadania. Isso poderá culminar em profissionais e sujeitos

preparados para discutir e praticar solidariedade, ética e direitos humanos, porque lhes foi

dado o direito de conhecer as pessoas como elas realmente são, com qualidades e limitações,

como diz Werneck (2000): “Crianças educadas em escolas aptas a contemplar a necessidade

de todos os alunos conseguirão estancar a secular produção em série da fábrica de cidadãos

pela metade.” ( WERNECK, 2000, p.17).

Entretanto, como falar em inclusão numa época de globalização? A mesma autora cita

estudiosos que se manifestaram a esse respeito:

Dizem alguns teóricos: na globalização (movimento histórico caracterizado pelo avanço da economia de mercado do planeta), a competitividade aumenta nas áreas em que há produção intelectual e o conteúdo adquire maior importância. A globalização aniquila a capacidade de ação dos menos privilegiados econômica e politicamente, desemprega e, em última instância, exclui, por promover a desigualdade (WERNECK, 2000, p.64).

Assim, ao se privarem as crianças normais da convivência social completa, tira-se de

todos a oportunidade de exercitar a construção da cidadania. As correntes interacionistas da

sociologia destacam a importância das vivências decorrentes de experiências aparentemente

58

simples do cotidiano, nas quais residiria a legítima interação. Nesse sentido, Maturana (2001)

afirma que o ser humano vai conhecer, aprender e evoluir de acordo com o meio em que vive.

Esse meio afeta diretamente o ser humano e ele não pode “ver” além daquilo que vive. Dessa

vivência e interação da criança com e sem necessidades especiais surgem as oportunidades de

aprendizado. Incluir, então, não é favor, é troca. Todos saem ganhando.

Vários autores discutem a importância da inclusão para crianças sem necessidades

especiais, entre eles Giangreco (1993) que relata o desenvolvimento da melhor aceitação e da

flexibilidade entre estudantes ao conviverem com colegas diferentes na escola. Essa situação

permite um aprendizado importante para a vida em sociedade. Helmstetter, Peck e Giangreco

(1994) relatam que a partir de experiências escolares inclusivas, os alunos da pesquisa

realizada por esses autores passaram a valorizar a diversidade da condição de ser humano.

Além disso, de acordo com Peck, Calson e Helmstter (1992), as crianças sem

necessidades especiais nas escolas, se tornaram mais abertas às diferenças individuais, mais

conscientes a respeito das necessidades de terceiros e mais voluntárias no sentido de ajudar os

outros. Belisário (2001) relata ainda várias pesquisas nas quais se observou que a inclusão de

crianças com deficiências diversas foi decisiva para o desenvolvimento de habilidades sociais,

acadêmicas e comunicativas, do senso de auto-aceitação e de auto-valorização dos demais

alunos.

Para a prática da inclusão, é necessária uma reestruturação do sistema educacional,

incluindo uma mudança estrutural no ensino comum, cujo objetivo é fazer com que a escola

se torne realmente inclusiva, implicando numa nova postura da escola comum, que propõe no

projeto pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos

educadores, ações que favoreçam a interação social e sua opção por práticas heterogêneas.

Dessa forma, a escola capacita seus professores e se organiza para oferecer educação de

qualidade para todos, inclusive para os educandos que apresentam necessidades especiais.

59

Ao se discutirem caminhos, necessidades e maneiras de se incluir, pode-se citar

Mantoan, que se refere aos caminhos da inclusão da seguinte forma:

O direito de todos à educação é, sem dúvida, uma tarefa difícil, mas exeqüível. Precisamos ser capazes de desviar os obstáculos que a escola tradicional coloca hoje para nos impedir o avanço das propostas de uma escola para todos, justa, democrática e aberta às diferenças (MANTOAN, 2001, p. 25).

Essa nova leitura sobre a educação do cidadão que apresenta necessidades

educacionais especiais tem seu reforço no Parecer nº 17, de julho/2001, da Câmara de

Educação Básica (CEB)/Conselho Nacional de Educação (CNE), que institui diretrizes para a

educação especial na educação básica. Conforme seu Artigo 1º e Artigo 2º, essas diretrizes

estabelecem que os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas

organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais e

assegurar as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.

Ainda, em seu Artigo 18, parágrafo 1º, diz o documento que são considerados

professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam

necessidades educacionais especiais, aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível

médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao

desenvolvimento de competências e valores.

O MEC tem dado uma ênfase toda especial à capacitação de professores, para que eles

recebam, em sua formação, conteúdos da educação especial e se preparem para essa etapa do

processo educativo. Como está previsto no Plano Nacional de Educação – capítulo Educação

Especial: “Incluir nos currículos de formação de professores, nos níveis médio e superior,

conteúdos e disciplinas que permitam uma capacitação básica para atendimento aos

portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 2001, p. 58).

60

O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar

com a Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtiem, na Tailândia, e ao

mostrar consonância com os postulados produzidos na Declaração de Salamanca. Atualmente,

a legislação brasileira posiciona-se pelo atendimento aos alunos com necessidades

educacionais especiais em classes comuns das escolas, em todos os níveis, etapas e

modalidades de educação e ensino.

A legislação atual é, de certa forma, avançada e inovadora, incluindo tópicos, que vêm

ao encontro de programas educacionais e buscam incluir os alunos com necessidades

educacionais especiais no ensino comum. Por outro lado, as leis educacionais encontram-se

escritas em documentos, mas muitas vazes são colocadas em prática, em toda sua extensão e

especificidades.

A educação brasileira tem hoje, portanto, o desafio de garantir o acesso aos conteúdos

básicos que a escolarização deve proporcionar a todos os indivíduos – inclusive àqueles com

necessidades educacionais especiais. Aos poucos está surgindo uma nova mentalidade, cujos

resultados deverão ser alcançados pelo esforço de todos, em um trabalho transdisciplinar

inclusivo, no reconhecimento dos direitos dos sujeitos com necessidades especiais.

1.7 Paradigmas Educacionais

Na atualidade, há uma séria preocupação nos meios educacionais em relação aos

modelos em que se baseiam as práticas educativas, no sentido de se estabelecer uma coerência

entre o contexto sociocultural e o processo de ensino-aprendizagem. A rigor, a educação passa

por uma mudança de paradigmas, em que se busca reformular teorias que sirvam de base a

esse complexo processo. A mudança de paradigmas pode ser justificada basicamente por três

61

vias: a) a apropriação da tecnologia pela sociedade contemporânea, em que a aquisição do

conhecimento se reorganiza pela influência irreversível dos novos métodos de comunicação e

de informação, como a internet; b) o fracasso na aprendizagem escolar; c) as pesquisas no

campo cognitivo, como aquelas desenvolvidas por Ferreiro & Teberosky (1991), que mostram

o quase total desconhecimento em relação aos processos internos, na fase de alfabetização, e

ao trabalho cognitivo dos alunos na apropriação desse conhecimento específico (FONSECA,

1998).

Inicialmente esses fatores parecem ser independentes, mas se aglutinam e se voltam

para o estudo dos processos de construção do conhecimento e para o desenvolvimento de

estratégias e de instrumentos que visem à reformulação de processos de aprendizagem.

Especificamente, no estudo proposto, pode-se exemplificar como essas três vias

podem se associar. A criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide necessita que seja

reconhecida sua capacidade cognitiva, que poderá ocorrer se houver um mínimo de

conhecimento ou interesse por parte do professor. Este, ao reconhecer como ocorre a

apropriação do conhecimento e como ocorre o aprendizado, especialmente na fase de

alfabetização, poderá oferecer o auxílio e a intervenção adequada para aquela criança. Sem

esse domínio, o professor poderá ficar mais propenso a agir de maneira inadequada e assim,

conseqüentemente, a probabilidade de influenciar no fracasso da aprendizagem escolar poderá

ser maior. O uso da tecnologia trará mais rapidamente informações ao professor, podendo

ajudá-lo nesse processo. Por sua vez, a tecnologia assistiva, termo utilizado para produtos

tecnológicos adaptados a sujeitos com necessidades especiais, pode auxiliar em inúmeras

atividades cotidianas, facilitando a adaptação da criança na escola e diminuindo a

possibilidade do fracasso escolar.

É necessário o paradigma, pois qualquer metodologia ou instrumentos que sejam

utilizados no ensino serão baseados nele. Aprender é um processo complexo e entender os

62

processos pelos quais se aprende é fundamental. Diferentes elementos estão aí presentes e o

processo não se constitui em uma atividade única, mas numa conjunção de várias.

Uma mudança de paradigma é fundamental quando se aborda a inclusão de crianças

com disfunção neuromotora, pois se suas oportunidades educativas forem limitadas, eles

poderão ser impossibilitados de terem uma vida produtiva mais fácil e, conseqüentemente,

serem privados de se integrarem efetivamente na sociedade.

A ausência de uma estrutura adequada de programas educacionais adaptados às

necessidades específicas de aprendizagem da criança com disfunção neuromotora ocasiona,

muitas vezes, sua exclusão do ensino comum. O que se sabe é que cada vez mais as crianças

inseridas em processos de ensino-aprendizagem, diferentes ou deficientes, são estigmatizadas

pela avaliação de desempenho, que se utiliza de testes e freqüentemente não leva em

consideração as particularidades de cada sujeito, transformando-se em um processo de

rotulação que pode constituir a base do fracasso escolar, ou talvez de um não aproveitamento

total do potencial do sujeito com necessidades especiais, principalmente nos casos abordados

neste estudo. Essa conduta vem sendo denunciada por pesquisadores há algum tempo

(FONSECA, 1998).

A criança com disfunção neuromotora tem sido alvo de mecanismos e procedimentos

de segregação educacional no ensino comum. Não é incomum se deparar com escolas que,

provavelmente, movidas pela aparência física da criança (incoordenação motora ao andar,

brincar, pegar objetos ou ao falar), têm dificuldades em aceitar ou mesmo acreditar que aquela

criança, aparentemente incapaz, possa se desenvolver e acompanhar cognitivamente crianças

da mesma idade. Essa atitude verificada na escola é o reflexo da forma como a sociedade vê o

sujeito, com base em suas características físicas.

Segundo Goffman (1975), quando um estranho é apresentado a outros, o seu primeiro

aspecto permite prever a sua categoria e os seus atributos, bem como a sua identidade social e,

63

baseando-se nessas pré-concepções, muitas vezes são feitas afirmativas em relação àquilo que

o sujeito deveria ser. Habitualmente dá-se ao sujeito uma “identidade social virtual” e não se

levam em consideração os atributos que o sujeito realmente possui, que se constituem em sua

“identidade sócio-real”. Desse modo, deixa-se de considerar o sujeito como uma criatura

comum e total, reduzindo-o a um sujeito diminuído e inferior. Essa característica é

denominada, pelo estudioso, de “estigma”, especialmente quando seu efeito de descrédito é

muito significativo.

Devido às suas limitações físicas, o sujeito com disfunção neuromotora necessita fazer

um esforço maior para romper seus limites no processo de aprendizagem. Seus déficits

motores afetam sua comunicação, sua psicomotricidade, seu comportamento emocional e

social, resultando num desenvolvimento global mais lento e gerando uma imagem

preconceituosa sobre as suas capacidades e potencialidades cognitivas.

Possivelmente, uma das causas determinantes das limitações de oportunidades dadas a

essa criança seja a prevalência do olhar médico em detrimento do olhar pedagógico. Aquele é

um olhar que isola, em vez de integrá-la socialmente.

As seqüelas deixadas pela disfunção neuromotora são comumente consideradas como

doença, entretanto uma criança que tenha sofrido uma determinada lesão cerebral apresenta

uma dificuldade motora, mas não uma doença. O seu corpo apresenta-se saudável, embora

limitado fisicamente. É a esse limite físico que o educador costuma atribuir uma concepção de

doença. Existem, porém, diversas e inovadoras possibilidades de se melhorarem e

minimizarem os efeitos advindos dessas limitações, por meio de um trabalho que vise à

promoção da inclusão escolar e social, onde escola, família e sociedade são parceiras e co-

autoras de todo um processo educativo.

64

CAPÍTULO 2

A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

A Teoria do Conhecimento, de Jean Piaget, não teve intenção pedagógica, mas

ofereceu aos educadores importantes princípios que, modernamente, são utilizados para

fundamentar sua prática. Piaget iniciou seus trabalhos primeiramente na área da biologia e,

posteriormente, passou a analisar como ocorre a adaptação do conhecimento à realidade do

contexto em que se vive.

Este estudioso se diferencia de autores nas mesmas áreas, pela amplidão e

profundidade de sua percepção, fundamentadas em seu grande conhecimento da sociologia,

biologia, lógica, matemática e filosofia. Destaca-se, no pensamento contemporâneo, nas áreas

da psicologia e da pedagogia, principalmente como o criador da epistemologia genética,

ciência que busca na gênese biológico-evolutiva do organismo, o desenvolvimento e a certeza

do conhecimento científico em seus diversos ramos, considerada, por isso, uma ciência

transdisciplinar.

Para Flavell, Miller & Miller (1999), atualmente existem quatro principais teorias

sobre a natureza e desenvolvimento da cognição, porém, a mais abrangente é a do grande

epistemólogo suíço Jean Piaget.

Pode-se situar Jean Piaget em um grupo de teóricos que acreditam que o conhecimento

resulta da interação do sujeito com o ambiente. Nesta linha de pensamento aponta-se também

o psicólogo francês Henri Wallon e os russos L. S. Vygotsky, A. N. Leontiev e A. R. Luria

(GOULART, 2000). Piaget tentava responder à questão de como se origina e evolui o

conhecimento e seu interesse epistemológico foi aos poucos configurando um trabalho

também psicológico, pois, para estudar o conhecimento houve a necessidade de abordar a

65

gênese desse conhecimento, levando-o ao estudo do desenvolvimento da criança. Porém, a

partir de 1940, Piaget passa a dedicar-se exclusivamente à cognição, seu interesse inicial

(GOULART, 2000).

A obra pedagógica de Piaget tem sintonia estreita com pesquisas e resultados de

experimentos efetivados com crianças e adolescentes de diferentes idades e em diferentes

culturas, tendo o objetivo de verificar como estes percebem a realidade sob o prisma do

desenvolvimento intelectual e lógico, em diversas etapas de sua evolução biológica. Os

estudos de Piaget estão centrados na organização biológica do sujeito, em sua força motriz e

na razão de suas adaptações fundamentais (GOULART, 2000).

Pulaski (1986), comenta sobre a teoria piagetiana e enfatiza a análise de Piaget ao

comprovar que os organismos vivos podem adaptar-se geneticamente a um novo ambiente,

fazendo escolhas, de maneira ativa e auto-reguladora e utilizando seus meios de adaptação,

em um processo dinâmico e contínuo, na medida em que a estrutura hereditária do organismo

interage com o meio externo, de modo a se reconstituir com vistas a uma melhor

sobrevivência.

As conclusões de seus estudos levaram Piaget (1971) a constatar que existe também

uma relação evolutiva entre o sujeito e seu meio. Assim como as plantas e animais inferiores

se reconstruíram para sobreviver em um ambiente hostil, a criança também reconstrói suas

ações e idéias quando se relaciona com novas experiências ambientais. O conhecimento

humano, portanto, se constrói na interação homem-meio, sujeito-objeto, não estando

predeterminados nem os sujeitos nem as condições ou características do objeto (do

conhecimento).

Nesse sentido, a criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide irá otimizar suas

possibilidades de construir seu conhecimento em um ambiente rico, com experiências e

desafios novos. Portanto, na escola comum, as crianças com desenvolvimento normal, os

66

eventos sociais na escola e a exigência nessas escolas, possivelmente poderão trazer grandes

benefícios ao desenvolvimento das crianças com necessidades especiais em questão.

A teoria de Piaget foi desenvolvida analisando durante mais de 50 anos o psiquismo

infantil em crianças de várias partes do mundo e em várias idades, porém, sem nenhum

comprometimento orgânico, como no caso da disfunção neuromotora. Entretanto, ao estudar o

desenvolvimento infantil normal, Piaget relata e fornece aos estudiosos de patologias do

desenvolvimento, o ponto de partida, ou seja, define o parâmetro que pode-se utilizar para

definir se aquele sujeito se desvia ou não do desenvolvimento normal e se necessita de

tratamento, auxilio ou qualquer intervenção. É necessário pedir licença à Piaget para aplicar

algumas de suas provas em crianças com alterações motoras e sensoriais como aquelas com

disfunção neuromotora do tipo atetóide, a fim de verificar seu desenvolvimento cognitivo,

pois, a proposta de Piaget foi estudar o desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem em

crianças com desenvolvimento normal, sem nenhum comprometimento motor ou lesão

cerebral.

2.1 Os Estágios de Desenvolvimento Cognitivo Segundo Jean Piaget

Os estágios para Piaget corresponderiam a etapas caracterizadas por estruturas mentais

diferenciadas. Em cada etapa a maneira de compreender os problemas e resolvê-los é

dependente da estrutura mental, ou seja, do desenvolvimento cognitivo, que a criança

apresenta naquele momento. Os estágios são dotados de características bem definidas, as

quais expõem uma estrutura qualitativamente diferente da que a precedera e das que a

sucederão, ao mesmo tempo que preparam o sujeito para o estágio seguinte (GOULART,

2000).

67

Piaget (1971) divide em estágios o contato contínuo do sujeito com seu meio, no qual

este sujeito elabora estruturas ou organizações de ação e pensamento nas diferentes faixas de

idade de sua evolução e apresenta uma visão diferente do conceito que normalmente se atribui

à aprendizagem, separando esse processo em: aprendizagem e desenvolvimento.

Para Macedo (1994), autor que tem como base as idéias de Piaget, a aprendizagem

pode ser referida como a aquisição de uma resposta particular, aprendida em função da

experiência que se tem de forma sistemática ou não; por sua vez, o desenvolvimento é a

aprendizagem de fato, sendo o responsável pela formação dos conhecimentos.

É importante definirem-se os períodos de desenvolvimento da inteligência pelo fato de

que cada sujeito adquire novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de

compreensão e interpretação da realidade, por meio de estágios.

Piaget, ao postular sua teoria sobre o desenvolvimento da criança, descreve-a em

quatro estágios, por ele chamados de fases de transição (PIAGET, 1987).

- No estágio sensório-motor (0-2 anos) observa-se que, a partir de reflexos

neurológicos básicos, a criança constrói mentalmente esquemas de assimilação com o meio.

Macedo (1994), que também se dedicou a esse estudo, revela que a criança interage com os

objetos de uma forma cada vez mais complexa. De acordo com Goulart (2000), nesse período

se verifica uma coordenação sensório-motora de ação, baseada na evolução da percepção e da

motricidade. Nessa fase muito importante do desenvolvimento, situa-se, segundo Piaget, a

origem de um comportamento inteligente, porém esta é uma inteligência essencialmente

prática. A criança quer, nesse momento, buscar resultados favoráveis e não está preocupada

com o enunciado de verdades. Na mesma direção, Bee (1977) declara que, durante os

primeiros dezoito meses, a criança representa objetos principalmente por meio de ações e não

de imagens internas. Piaget (1971) acredita que a inteligência aparece antes da linguagem e

também antes do pensamento interior que supõe o emprego de signos verbais, que é a

68

linguagem interiorizada. Trata-se de uma inteligência prática e refere-se à manipulação dos

objetos e movimentos, organizados em “esquemas de ação”.

- No estágio pré-operatório (2-7,8 anos), a criança tem a capacidade de substituir um

objeto ou acontecimento por uma representação, graças à função simbólica. Esse período é

também conhecido como o estágio da inteligência. Macedo (1994) enfatiza que a atividade

sensório-motora, nesse estágio, é refinada e mais sofisticada, ocorrendo aqui uma crescente

melhoria na aprendizagem da criança, o que lhe permite explorar melhor o ambiente e fazer

sempre maior uso de diferentes movimentos e percepções intuitivas. Nesse estágio, aparecem

também a linguagem e a função simbólica, que modificam profundamente as condutas da

criança no aspecto afetivo e no aspecto intelectual. Com o desenvolvimento dos símbolos, a

criança começa a descobrir a possibilidade de representar uma ação ou objeto por meio de

alguma imagem interna. É a passagem da inteligência prática para a representativa. A

linguagem determina o início da socialização e, concomitantemente, o desenvolvimento de

sentimentos inter-individuais, tais como as afeições, simpatias e antipatias. Auto-centrada e

preocupada consigo mesma, a criança tem a característica que Piaget denomina

“egocentrismo”, que é a incapacidade de ir além de seu próprio ponto de vista e ver as coisas

da maneira que uma outra pessoa as considera. É a fase dos “porquês”, na qual ela possui

percepção global sem discriminar detalhes e deixa-se levar pela aparência sem relacionar

fatos.

Esse estágio, a criança que não consegue entender o que as outras pessoas pensam e

como vêm o mundo de uma forma diferente da sua. Incapaz de perceber a reversibilidade das

coisas, ela apresenta um raciocínio indutivo e classifica objetos através da sua similaridade, da

inclusão de classes. Observa-se, aqui, grande maturação de áreas sensoriais associativas, no

entanto a criança ainda não atinge um raciocínio formal.

- No estágio operatório-concreto (8 aos 11 anos), a criança desenvolve noções de

69

tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade, sendo capaz de relacionar diferentes aspectos

e abstrair dados da realidade. Não se limita à representação imediata e depende do mundo

concreto para abstrair, indo além de meras representações internas e manipulando tais

representações de vários modos. Para Piaget (1971), esse é o conjunto de habilidades das

operações concretas. Acontece aqui o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a

capacidade da representação de uma ação no sentido inverso ao de uma ação anterior,

anulando a transformação observada. Apesar disso, a criança ainda apresenta dificuldade em

operar com princípios abstratos, mas, com a maturidade dos lobos frontais, dá-se início ao

raciocínio formal e à maior percepção emocional.

- No estágio operatório-formal (11 aos 14 anos), as estruturas cognitivas da criança

alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento, pois permitem a ela uma abstração

total, não se limitando mais à representação imediata, nem às relações previamente existentes.

A criança é capaz de pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender

mais só da observação da realidade.

O diagnóstico da estrutura cognitiva do aprendiz, pode ser obtido por intermédio do

uso das provas piagetianas e pode funcionar como sondagem das condições do sujeito para

resolver um problema (GOULART, 2000).

Observa-se, nessa teoria, que, em seu desenvolvimento, crianças de diferentes idades

abordam os problemas básicos de aprendizagem de diferentes formas. As crianças pequenas

aprendem mais lentamente, mas elas também parecem usar estratégias diferentes. Para Piaget

(1971), toda criança nasceria com certas estratégias inatas, genéticas, para interagir com o

ambiente. Estas estratégias primitivas são o ponto de partida para o desenvolvimento do

pensamento, mas elas se modificam gradualmente, em função da relação da criança com o

meio ambiente.

Em suma, Piaget (1971) acreditava que a criança é um ser ativo, que não sofre

70

passivamente a ação do seu ambiente e que interage com esse ambiente por esquemas ou

padrões organizados de comportamento, que se tornam gradativamente sofisticados ao longo

do seu desenvolvimento.

Em seus estudos, o autor refere-se à inteligência como o mecanismo de adaptação do

organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas

estruturas, visando a adaptação do sujeito ao mundo exterior, como toda adaptação biológica.

Para o estudioso, a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de

potencialidades. A inteligência, que tem o início de seu desenvolvimento no estágio sensório-

motor e é caracterizada como inteligência prática, desenvolve-se acompanhando a evolução

da criança, chegando ao estágio das operações lógicas e possibilitando a criação de hipóteses

e a busca de soluções de maneira abstrata pelo sujeito.

Dessa forma, o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de

condicionamentos, mas construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria

epistemológica é caracterizada como interacionista, segundo a qual a inteligência do sujeito,

entendida como adaptação a situações novas, está relacionada com a complexidade de sua

interação com o meio.

A criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide pode passar pelos mesmos

processos, visto que sua capacidade cognitiva talvez possa estar preservada e vai, então,

construir sua aprendizagem e seu conhecimento com ações motoras possíveis para ela. Se lhe

é proposto um ambiente novo e desafiador, a criança, nessas condições, poderá procurar

respostas e comportamentos inteligentes que se adaptem àquela situação.

Com propriedade, Limongi (2000) relata que, a partir das estruturas mentais que

seguem uma ordem e progressão em etapas, ocorre a aquisição intelectual; em outras palavras,

o conhecimento. Conhecer significa, pois, descobrir as relações que existem, subjacentes às

ações.

71

A mesma pesquisadora sintetiza o nascimento da inteligência na criança pela sucessão

de três grandes construções, nas quais uma prolonga a outra, constituindo-se em um plano

mais amplo: os esquemas sensório-motores, as relações semióticas e as operações concretas.

Essa progressão no desenvolvimento cognitivo pode ser influenciada por fatores,

como o meio social, gerando atrasos ou acelerações. A maturação, o exercício (aquisição da

experiência na ação efetuada sobre os objetos), as interações e transmissões sociais e a

influência do meio físico garantem a subsistência do desenvolvimento cognitivo.

Para Flavell, Miller e Miller (2000):

Esta construção cognitiva do mundo é, ao mesmo tempo, auxiliada e limitada por suas dotações biológicas, suas atuais competências cognitivas, capacidades e conhecimentos e as oportunidades oferecidas pelo ambiente, incluindo-se os adultos (FLAVELL, MILLER, E MILLER, 1999, p.24).

Na criança com Disfunção neuromotora atetóide nota-se que, na aquisição intelectual,

ocorrem etapas aparentemente semelhantes, com determinada ordem e progressão, apesar da

condição motora da criança. Nesses casos, o desenvolvimento intelectual também pode ser

influenciado por fatores, como o meio em que a criança está inserida, sendo a escola um local

de referência.

Piaget (1971) mostra também que o sujeito só recebe um determinado conhecimento

se estiver preparado para recebê-lo; o sujeito age sobre o objeto de conhecimento para inseri-

lo num sistema de relações, sendo necessário um conhecimento anterior para poder assimilá-

lo e transformá-lo. Trata-se dos fenômenos da assimilação e da acomodação.

Zorzi (1994), que se dedicou ao estudo da aquisição da linguagem com base na teoria

piagetiana, esclarece como ocorrem esses fenômenos que consistem na adaptação

caracterizada por dois processos complementares. A assimilação, o primeiro deles, consiste na

72

integração dos dados externos a um esquema anterior do sujeito, incorporando estes dados à

sua atividade, ou seja, a criança é capaz de integrar à sua experiência anterior novos

acontecimentos que gerarão novas maneiras de brincar. O segundo deles, a acomodação,

corresponde às modificações que ocorrem no esquema, em função dos elementos do meio que

são assimilados. Dessa forma, assimilação e acomodação são mecanismos inseparáveis e

complementares: nem o meio se impõe diretamente ao sujeito, nem o sujeito o assimila sem

as regulações necessárias. A adaptação consiste no equilíbrio entre assimilação e acomodação,

isto é, no equilíbrio dos intercâmbios entre o sujeito e o ambiente.

Piaget (1971) diz que a embriologia humana também evolui após o nascimento,

criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se, portanto, em

etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras, num

construtivismo seqüencial em que se fundamenta todo um processo de aprendizagem.

As respostas às questões sobre a natureza da aprendizagem de Piaget (1971) são dadas

à luz de sua epistemologia genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a pouco, à

medida que as estruturas mentais e cognitivas se organizam, de acordo com os estágios de

desenvolvimento da inteligência.

2.2 A Inter-Relação entre o Desenvolvimento Cognitivo e a Disfunção Neuromotora

As características específicas da cognição na lesão cerebral não são fáceis de serem

definidas. As crianças com disfunção neuromotora podem apresentar déficits cognitivos

primários, porém, normalmente, os atrasos ou dificuldades observados em conseqüência da

dificuldade motora, que alteram as possíveis experiências da criança, tanto em relação ao

mundo físico como ao social, podem afetar seu sentido de auto-eficácia e, conseqüentemente,

73

sua motivação e disposição para a aprendizagem.

Segundo Piaget (1971), o meio social exerce influência no desenvolvimento cognitivo,

pois a criança aprende na interação com o mundo, a partir de fatores biológicos e sociais.

O processo da construção cognitiva se instala a partir da evolução das estruturas do

pensamento que vão permitir a aproximação e aquisição do conhecimento. Assim, a

aprendizagem é uma conseqüência do desenvolvimento da cognição.

Há, segundo o autor, quatro fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo:

a equilibração, que constitui o nível de processamento das reestruturações internas, ao longo

da construção seqüencial dos estágios de desenvolvimento; a maturação que refere-se à

complexificação biológica do desenvolvimento do sistema nervoso; a interação social, que

está relacionada à imposição das regras, valores e signos da sociedade onde a criança se

desenvolve e com as interações que compõem o seu meio social e a experiência ativa do

indivíduo, que resulta na consolidação e coordenação de reflexos hereditários e no exercício

de operações intelectuais aplicadas ao objeto, quando advinda da ação motora, promove a

descoberta de propriedades que são abstraídas desses objetos pelo sujeito, sendo que o

resultado da ação está vinculado ao objeto. A condição para que seja obtida a experiência

ativa é a interação do sujeito com o meio.

O desenvolvimento cognitivo, estritamente relacionado com a linguagem, pode estar

comprometido ou não na criança com lesão cerebral. Associado a isso, têm-se prejuízos

motores que afetam os órgãos fonoarticulatórios e, conseqüentemente, a fala. Crianças com

disfunção neuromotora podem ter dificuldade na performance de movimentos individuais ou

na coordenação de movimentos, como é o caso da articulação da fala (BASIL, 2004).Com

prejuízos na fala, torna-se mais difícil à análise da linguagem, por ser a fala o meio mais

comum e mais fácil de sua expressão.

74

Finnie (1980) acredita que o desenvolvimento da linguagem vem tradicionalmente

relacionado com a mecânica da fala, porém, a linguagem não depende da fala, podendo ser

expressa por muitos outros meios.

Indo além da perspectiva motora, Connor e col. (1978) repensam a linguagem do

sujeito com disfunção neuromotora em uma visão piagetiana, ao apontar os mecanismos de

pré-fala, de linguagem e de cognição como aspectos fundamentais do desenvolvimento,

mostrando a importância da relação entre linguagem e cognição. Estes mesmos autores

consideram dois fatores que vão influenciar a qualidade e a velocidade do desenvolvimento

cognitivo de uma criança: a sua capacidade de interagir com o meio e a natureza desse mesmo

meio.

Sinclair (1970) relata o desenvolvimento lingüístico e cognitivo no âmbito da

epistemologia genética de Jean Piaget e entende que os transtornos lingüísticos na criança

com disfunção neuromotora são caracterizados pelo atraso na aquisição da linguagem e no

desenvolvimento cognitivo. Esse atraso encontra-se acentuado em aspectos, como a

exploração de objetos, a imitação, o jogo motor e o brinquedo simbólico.

Assim, a linguagem da criança com disfunção neuromotora vai muito além da emissão

e da recepção. A linguagem deve ser reconhecida como conseqüência de um momento

anterior, ainda sem a presença do simbolismo, característico do estágio sensório-motor.

Lacerda (1993) ressalta que a linguagem da criança com disfunção neuromotora deve

ser situada no contexto de seu desenvolvimento cognitivo, no processo de comunicação entre

a criança e o meio, apesar do seu conhecimento sensório-motor. Segundo o autor, para o

desenvolvimento mais satisfatório dessa criança, há a necessidade de se propiciar à mesma

uma interação com o meio, favorecendo uma troca ativa com esse ambiente, para que ela

tenha a chance de vivenciar as construções efetivadas do estágio sensório-motor, o que

poderia levar à uma aquisição de linguagem mais rápida e eficiente.

75

Piaget (1971) afirma que a ação é a fonte do ato inteligente, sendo as experiências

sensório-motoras básicas para o desenvolvimento cognitivo normal. Analisando-se esse

pressuposto, pode-se sugerir que quando as crianças com deficiências físicas se desenvolvem,

elas têm um déficit cognitivo causado pela dificuldade de movimentação no ambiente e de

manipulação de objetos.

Algumas teorias de Young (1989) a respeito da cognição complementam o

pensamento de Piaget, quando conclui que, nas crianças com disfunção neuromotora, tanto os

esquemas sensório-motores quanto os perceptivos estariam prejudicados, levando-as a um

atraso ou a uma inadequação do pensamento representativo e do simbolismo e afetando

conseqüentemente o desenvolvimento da linguagem. Essa deficiência se manifestaria no

desenvolvimento cognitivo devido às alterações motoras que acabam limitando as

experiências sensório-motoras, o que não acontece com as crianças que apresentam

desenvolvimento normal.

Dessa forma, as experiências sociais e as experiências lingüísticas da criança com

disfunção neuromotora podem ser diminuídas pela falta de exploração motora. É de suma

importância, nesse contexto, o papel das pessoas que fazem parte do meio em que a criança

vive, na medida em que devem fazer com que as experiências que cheguem até a criança

tenham sentido e possam ser aproveitadas e, ainda, que possam propiciar um maior número de

experiências significativas à criança.

Braga (1995) ressalta que, nas formas graves de disfunção neuromotora e naquelas que

apresentam movimentos involuntários, as crianças demonstram maior dificuldade de agir

sobre o objeto, pelas suas condições motoras, mas elas não estão limitadas aos elementos que

definem uma ação pelo enfoque teórico. Estes elementos são a intenção da ação, o controle

cognitivo, a representação consciente, a atenção, a motivação e a relação social.

Vygotsky (1993) admite que as leis em que se baseia o desenvolvimento são as únicas,

76

tanto para as crianças normais como para as crianças deficientes. As diferenças seriam os

caminhos escolhidos ou possíveis de serem escolhidos por essas crianças para processar o

mundo. O mesmo estudioso ressalta que as funções do desenvolvimento cognitivo da criança

aparecem primeiramente no plano social para, depois, aparecerem no plano psicológico.

Assim, a relação estabelecida entre a criança com disfunção neuromotora e as pessoas

com boa capacidade motora pode ser um elemento fundamental para o seu desenvolvimento.

A ação compartilhada estimularia a capacidade da criança de estabelecer vínculos sociais e

favoreceria o seu desempenho cognitivo.

Para Vygotsky (1993), o futuro dessas crianças dependerá muito das possibilidades

que elas venham a ter na interação com o meio, pois as relações sociais estabelecidas por

essas crianças se dão através de símbolos que fazem parte de um sistema cultural. Em se

tratando do sujeito com necessidades especiais, o fator mais importante não é o tipo de

instrumento utilizado ou o signo que é empregado, mas o seu significado. A função

primordial é internalizar a linguagem e desenvolver funções mentais que tenham o símbolo

como base.

Fundamentando-se nesse conceito, pode-se afirmar que a criança com disfunção

neuromotora age com uma ênfase cognitiva a partir de suas motivações, como propõe

Vygotsky (1993), e orienta seu desenvolvimento com base na atenção, motivação e ação

interna, como postula Piaget (1971).

Nesse contexto, todo o potencial cognitivo da criança com disfunção neuromotora,

seria usado na construção mental da tarefa e ela o orientaria dirigindo a sua intenção para

outro sujeito que estivesse consigo. Esse outro sujeito poderia ter o papel de mediador da

tarefa da criança, auxiliando-a em sua intencionalidade.

É importante salientar que essas rotas são diferentes do estabelecido no meio sócio-

77

cultural. Entretanto, para que se alcance o que é culturalmente arbitrado e para que a criança

atinja as funções mentais superiores, é necessário, como foi exposto anteriormente, modificar

os paradigmas do sistema educacional, ou seja, deixar para trás a cultura de exclusão,

colocando em prática o que foi estabelecido, principalmente na declaração de Salamanca.

As leis fundamentais do desenvolvimento são as mesmas, tanto para as crianças

consideradas normais como para as crianças com necessidades especiais, mas as dificuldades

trazidas pela deficiência poderiam levar a processos criativos que dariam origem a novos

caminhos, permitindo que muito do que é natural ao desenvolvimento normal desaparecesse

ou acontecesse de maneira bem diferente. Nesse sentido, pode-se considerar que o importante

é chegar ao objetivo proposto em cada situação de aprendizagem.

2.3 Relações Sociais e Desenvolvimento na Disfunção Neuromotora

Muitos autores vêm relatar o desenvolvimento do sujeito com disfunção neuromotora

sob a ótica das relações sociais e também sob sua interferência.

Pfeifer (1997) mostra que o desenvolvimento de uma criança ocorre sob influência de

fatores orgânicos, maturacionais e ambientais. Após uma lesão instalada, o comprometimento

em outras áreas pode ser prevenido, utilizando-se de ambiente adequado, facilitador e

promotor do desenvolvimento da criança afetada. Segundo a mesma autora, a disfunção

motora encontrada na lesão cerebral causa dificuldades no desenvolvimento das funções

cognitivas.

Para Basil (2004), as disfunções motoras em crianças com lesão cerebral afetam todos

os aspectos da vida do sujeito e limitam suas experiências e suas possibilidades de aprender.

Além disso, alteram a forma como as outras pessoas se relacionam com ele.

78

Mesmo na ausência de déficits intelectuais ou sensoriais associados, são notórias as

dificuldades que um controle motor alterado impõe ao desenvolvimento cognitivo e à

aquisição de mecanismos culturais básicos, como relata Basil (2004).

Segundo a autora, com o comprometimento das experiências sensório-motoras, a

possibilidade de haver um comprometimento da inteligência sensório-motora é grande e,

como conseqüência, pode-se ter posteriormente o comprometimento do raciocínio operatório

e formal. Ainda assim, admite que muitas dessas crianças desenvolvem suas capacidades

cognitivas além do que se poderia esperar, pois manifestam uma capacidade extraordinária de

compensação e substituição, com relação aos mecanismos essenciais para o desenvolvimento

cognitivo. Entretanto, sem condições favoráveis e adequadas, suas potencialidades muitas

vezes não são desenvolvidas.

Moura (1998) afirma que “as aparências enganam”, ao relatar dois casos de crianças

com disfunção neuromotora do tipo atetóide. Muitas vezes, pela falta de oportunidade de

tratamento ou de profissionais especializados, essas crianças são confundidas com deficientes

mentais.

O primeiro impacto pode determinar uma relação. A criança com disfunção

neuromotora do tipo atetóide pode não ser estimulada da melhor forma, por ser considerada

limitada. Um exemplo claro nesses casos é a dificuldade de articulação da fala, que pode ser

confundida com uma deficiência mental ou uma incapacidade, quando vista por um leigo ou

um professor sem experiência nesses casos. Dentro dessa ótica, o professor tem, sem dúvida,

uma função essencial, porque influencia diretamente o desenvolvimento da criança,

favorecendo ou dificultando a evolução da mesma.

Segundo Braga (1995), as crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide

conseguem se desenvolver cognitivamente, assim como crianças que não apresentam tal

79

limitação. Nesse contexto, a autora considera importante a relação aprendizagem e

experiência bem como a influência social e cultural que sofre a criança em questão. A família

exerce um papel fundamental, por ser a mediadora no processo de aprendizagem.

O fato de uma criança com disfunção neuromotora, mas com capacidades cognitivas

preservadas, freqüentar uma escola comum, torna-se fundamental em seu desenvolvimento,

pois, segundo Muszkat & Mello (2004), isso poderá possibilitar uma seleção de estratégias,

dependendo também do que é proposto para a criança.

É preciso considerar também o âmbito psico-social, familiar e emocional. Para

Muszkat & Mello (2004), uma lesão cerebral não se configura apenas por um sintoma

neurológico, mas se expressa em múltiplos sentidos na vida da criança e de sua família.

Para Rodrigues et al (2000), o desenvolvimento de crianças com disfunção

neuromotora não está necessariamente associado à sua idade cronológica, mas é

principalmente influenciado pela área cerebral acometida e pelo meio em que a criança se

insere, o que implica a estimulação recebida. Assim, a criança com disfunção neuromotora do

tipo atetóide tem a seu favor a região cerebral lesada, se comparada a outras classificações,

como, por exemplo, o tipo espástico. Nesse quadro caracterizado por um aumento de tônus

muscular, o que limita muito suas funções motoras, poderá ocorrer uma deficiência mental

secundária ou primária a este. Por outro lado, a criança com disfunção neuromotora do tipo

atetóide poderá ter um desenvolvimento muito próximo ao de uma criança sem lesão cerebral,

se encontrar estímulos adequados.

A escola é um lugar de importantes discussões acerca da inclusão, pois constitui um

espaço de interação social, favorecendo e permitindo a solidificação da identidade sócio-

cultural do sujeito. Quando a criança com disfunção neuromotora atetóide consegue

desenvolver e demonstrar suas potencialidades, os professores e os colegas conseguem

acolher essas crianças verdadeiramente, com suas habilidades e dificuldades, sua

80

aprendizagem e convívio social poderão ser realizados de modo mais efetivo e condizente

com suas capacidades.

Além disso, como aborda Marques et al (1998), numa sociedade marcada pela

diversidade cultural e por diferenças sócio-econômicas como a que se vive hoje, a escola é,

por excelência, o local onde é possível a troca efetiva com grupos que trazem as diferenças

mais expressivas e numerosas, criando espaço real de ação e interação.

Para Wallon (1988), o homem é um ser essencialmente social e deve ser pensado no

contexto da sociedade em que nasce e vive. O homem é um ser social e, neste sentido, pode-

se pensar a inclusão de crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide em escolas

comuns. O meio social exige delas a construção de conhecimentos em resposta à demanda

social. Essas crianças precisam comunicar seus pensamentos, cuja coerência será avaliada

pelos outros.

Se há uma relação inter-individual de cooperação, existe conseqüentemente um

favorecimento do desenvolvimento cognitivo e um maior nível de socialização (LA TAILLE,

1992).

Piaget (1987) entende que a cooperação necessária ao desenvolvimento cognitivo e

social tem início nas relações entre crianças, pois nesse meio não há hierarquias

preestabelecidas. Nesse ponto, a criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide também

seria favorecida, pois o relacionamento com crianças que apresentam desenvolvimento

intelectual normal enriquece a convivência e propicia estímulos favoráveis.

De acordo com Macedo (2005), o desafio da educação é articular de modo

interdependente duas tarefas muito difíceis, que são a integração de crianças à sociedade

adulta, considerando o aprendizado de conceitos, de informações, regras sociais e atitudes, de

acordo com a cultura e o grupo social em que se inserem e o favorecimento à obtenção de sua

81

autonomia.

Nesse sentido, o autor considera o termo “educação inclusiva”, redundante, pois,

segundo ele, a educação é sempre inclusiva, quando se propõe libertar a criança de sua

precariedade, inconsciência e dependência, por intermédio da aquisição de esquemas,

habilidades e competências. Ao conquistar essa condição, consciente de si, a criança

conquista também sua autonomia e responsabilidade pessoal, tornando-se parte da sociedade e

dominando informações e valores construídos pelos adultos.

2.4 O Trabalho Multidisciplinar e a Inclusão do Sujeito com Disfunção Neuromotora

O trabalho multidisciplinar é fundamental nos casos de crianças com disfunção

neuromotora. A indicação terapêutica ocorre freqüentemente nos primeiros meses de vida,

quando o médico observa sintomas comuns nessa patologia, como incoordenação da

habilidade de sucção-deglutição-respiração e dificuldades em realizar movimentos específicos

da fase de desenvolvimento em que a criança se encontra, como, por exemplo, a coordenação

olho-mão, a coordenação visão-audição, entre outras. Além disso, há um atraso global do

desenvolvimento motor, no qual as crianças não conseguem executar os movimentos como

outras sem lesão cerebral.

Quando esses sintomas são detectados, freqüentemente o pediatra encaminha a criança

para um fisioterapeuta, um fonoaudiólogo ou um terapeuta ocupacional, profissionais que

cuidam da reabilitação dessas crianças.

A evolução dos sujeitos com disfunção neuromotora do tipo atetóide sofre

interferência de vários fatores, dentre eles o início do tratamento: quanto mais cedo ele for

iniciado, melhor será o prognóstico. Outro fator decisivo no processo de desenvolvimento

82

desses sujeitos é a realização de um tratamento com todos os profissionais necessários, o que

muitas vezes não é possível, pois são muitos os profissionais envolvidos e os tratamentos são

freqüentemente onerosos. Um outro aspecto que contribui para a não-realização de um

tratamento completo é a dificuldade encontrada pela criança em tolerar todas as intervenções

necessárias, o que pode gerar um cansaço, comprometendo, assim, a efetividade do mesmo.

As intervenções profissionais podem ser de reabilitação, como a fisioterapia, a

fonoaudiologia, a terapia ocupacional, a hipoterapia, a hidroterapia, a psicopedagogia e o

apoio pedagógico em fase escolar. Outros tipos de intervenção são de ordem médica, como o

acompanhamento neurológico, ortopédico, otorrinolaringológico, entre outros.

Acrescentando-se a isso, é comum a família necessitar de apoio psicoterápico, em função das

dificuldades encontradas não só pela criança, mas por seus pais, irmãos e familiares, ao lidar

com o problema.

Como relata Basil (2004), o desenvolvimento e a educação da criança com disfunção

neuromotora terá de ser sempre um trabalho de equipe, na qual o professor deverá atuar em

estreita colaboração com outros profissionais, entre os quais o fisioterapeuta e o

fonoaudiólogo certamente estarão.

Diante da impossibilidade de realização de todos os tratamentos necessários, há

freqüentemente a seleção dos tratamentos mais importantes para aquela fase de

desenvolvimento da criança. Estabelecendo-se essa seleção e mantendo-se a assistência

muitas vezes por um período longo, observa-se uma maior e melhor evolução da criança com

disfunção neuromotora. Um bom trabalho de equipe, em que os diversos profissionais

envolvidos comentem e discutam os objetivos e planos para aquela criança em questão, pode

ajudar a superar o enfoque fragmentado e se conseguir o equilíbrio necessário entre a

reabilitação, a independência, a inclusão e a vida social da criança com disfunção

neuromotora.

83

Com o trabalho multidisciplinar integrado, pode-se favorecer a aquisição de

habilidades motoras, cognitivas e de linguagem, desde o primeiro ano de vida até a fase

escolar. Além disso, é importante destacar que todas as pessoas que têm um contato com a

criança desempenham um papel importante e decisivo para o bem-estar físico, intelectual e

social da mesma. Portanto, um trabalho integrado é fundamental. Certamente essa criança

com disfunção neuromotora, sendo assistida por uma equipe integrada, poderá se beneficiar

ainda mais em um processo de inclusão (GODOI, 1998).

Entretanto, deve-se considerar, na inclusão do sujeito com disfunção neuromotora,

qual a classificação da lesão cerebral. Pode-se esperar que, quanto mais grave o quadro motor

e o déficit cognitivo, maiores serão as dificuldades ou, ainda, se a disfunção neuromotora está

associada a outros quadros como a deficiência visual, a deficiência auditiva, o distúrbio de

comportamento, ou mesmo a convulsões, esperam-se novas dificuldades no processo de

inclusão escolar e social.

Especificamente nos casos a que este estudo se dedica, observa-se em crianças com

disfunção neuromotora do tipo atetóide uma certa independência em atividades diárias, como

locomoção, alimentação, hábitos de higiene e comunicação. Apesar disso, o acompanhamento

de profissionais ou de familiares nessas atividades citadas, muitas vezes se faz necessário,

pois estas crianças não conseguem realizar o movimento motor com precisão. Podemos

considerar as crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide como semi-independentes.

Em relação à comunicação das crianças citadas, é muito comum a dificuldade em se

transmitir a mensagem, devido à incoordenação de órgãos fonoarticulatórios, ocasionando a

incompreensão de sua fala pelo outro. Assim, a criança quer manter um diálogo, mas, muitas

vezes, não consegue. Nesses casos, será necessário o uso da comunicação alternativa e

suplementar (CAS), que é, de acordo com Basil, (2004) todo recurso natural ou desenvolvido

com fins educacionais ou terapêuticos, envolvendo mecanismos distintos da fala, ou seja,

84

qualquer material, gesto ou olhar que possam ser utilizados para se efetuar a comunicação.

Nesse sentido, a autora comenta que todas as crianças com disfunção neuromotora que

não consigam se comunicar através da fala, na idade habitual, precisarão usar um sistema

alternativo e suplementar de comunicação. É comum, nesses casos, o uso de gestos como o

apontar, o uso de figuras, de fotos ou de palavras que devem ser utilizadas sob orientação

fonoaudiológica. Outro recurso que vem sendo utilizado com grande freqüência é o

computador, principalmente na área da comunicação por meio de programas especiais,

desenvolvidos para esse tipo de criança, como o comunicador com voz digitalizada. Esse

recurso é também empregado para o uso da grafia, pois, em atividades como o desenho e a

escrita, o traçado apresenta-se irregular e o espaço no papel deve ser maior quando realizado a

lápis.

Outro fator importante no cotidiano de inclusão dos sujeitos com disfunção

neuromotora é o tempo utilizado na realização de atividades em geral, que deve ser maior se

comparado ao das outras crianças sem lesão cerebral. O esforço motor também fica

aumentado e com isso o cansaço surge mais rapidamente.

Em suma, devem-se considerar as diferenças, as habilidades e as dificuldades dessas

crianças, quando se trata de inclusão escolar. Moura (1998), quando escreve sobre crianças

com disfunção neuromotora, relata que não se faz inclusão apenas trocando o termo

“integração” por “inclusão”. A autora faz uma crítica das políticas de inclusão, por não

levarem em consideração a realidade, mas a conveniência política.

Piaget (1973) propõe, no âmbito do desenvolvimento cognitivo, que se olhe para o

sujeito e se tente vê-lo na sua perspectiva. Ao se fazer assim, pode-se dar a esse sujeito a

possibilidade de ser aceito com seus limites e potencialidades, respeitando-o, observando-o e

compreendendo-o. O caminho da verdadeira inclusão, talvez possa ser traçado com esta

postura e atitude.

85

CAPÍTULO 3

INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DAS CRIANÇAS EM ESTUDO

A sociedade moldou o pensamento e o entendimento de que a deficiência é como um

desvio da norma, ou ainda o não ajustamento aos padrões ideologicamente estabelecidos

como normais.

A concepção utilizada para a integração escolar no Brasil tem o sentido de um canal

educativo geral existindo muitas possibilidades e muitos serviços disponíveis aos alunos, que

vai desde a inserção nas classes comuns até as escolas especiais. Esse sistema deve favorecer

o ambiente menos restritivo possível, possibilitando ao aluno transitar do ensino comum ao

ensino especial e, certamente, do ensino especial ao ensino comum.

De acordo com Sassaki (1997):

No modelo integrativo, a sociedade praticamente de braços cruzados, aceita receber portadores de deficiência desde que estes sejam capazes de: moldar-se aos requisitos dos serviços especiais separados (classe especial, escola especial etc.); acompanhar os procedimentos tradicionais (de trabalho, escolarização, convivência social etc.); contornar os obstáculos existentes no meio físico (espaço urbano, edifícios, transportes etc.); lidar com as atitudes discriminatórias da sociedade, resultantes de estereótipos, preconceitos e estigmas, e desempenhar papéis sociais individuais (aluno, trabalhador, usuário, pai, mãe, consumidor etc.) com autonomia (SASSAKI, 1997 p.35).

Os aspectos positivos do processo de integração, de acordo com Sassaki (1997), passa

pelo mérito da proposta da integração que está no seu forte apelo contra a exclusão e a

segregação de pessoas com qualquer deficiência. Todo esforço é necessário no sentido de se

promover a aproximação entre o sujeito com necessidades especiais e a escola comum,

sempre com a tônica da responsabilidade colocada sobre esses sujeitos no sentido de se

prepararem para serem integrados à sociedade, isto é: promover sua integração social.

86

A inclusão social desse contingente populacional vem resgatar o sentido original do

termo integração, defendendo uma sociedade mais justa e mais democrática, livre das práticas

discriminatórias e segregacionistas que marcaram negativamente a história da humanidade,

sendo construída num outro contexto cultural, político e ideológico, que é o atual.

De acordo com Marques (2001), pressupõe-se que todas as pessoas são iguais no que

se refere ao valor máximo da existência: a humanidade do homem. A diferença não deve,

pois, se constituir num critério de hierarquização da qualidade humana, pois, independente da

condição existencial de cada um, todos são igualmente seres humanos, com o mesmo valor

existencial.

Dessa forma, o sentido do processo de inclusão, considerado dentro de uma formação

ideológica inclusiva, faz com que sejam abolidos completamente os serviços segregados, para

todos os sujeitos. Tem-se como metáfora da inclusão o caleidoscópio, uma vez que se

pressupõe que os sujeitos aprendam e se desenvolvam melhor em ambientes ricos e variados

(MARQUES, 2001).

Reforçando o ideal democrático de escola inclusiva, o princípio fundamental da

Declaração de Salamanca, aprovada na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas

Especiais, (UNESCO, 1994), afirma que as escolas devem acolher todas as crianças,

independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou

outras. Verifica-se que tal princípio contempla o atendimento de toda a diversidade existente

em no meio social, o que implica em grandes desafios para nosso sistema escolar, ao preparar

a criança para a inclusão, seja escolar, social ou no mercado de trabalho quando possível.

A inclusão, para Mantoan (2001), institui a inserção dos deficientes na escola comum

de uma forma mais radical, completa e sistemática. A meta da inclusão é não deixar ninguém

fora do sistema escolar, pois, todos devem ser preparados para viver sua cidadania de forma

mais completa possível.

87

Educação para todos é sinônimo de inclusão escolar, social. Diz Mantoan (2001):

O princípio democrático da educação para todos só se evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, como conseqüência de um ensino de qualidade para todos os alunos, provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível básico (MANTOAN, 2001, p.44).

Nesse contexto a problemática vivida pelos sujeitos com necessidades especiais no

mundo contemporâneo evidencia a formação discursiva inclusiva, que faz parte da formação

ideológica da inclusão e que pressupõe pensar os sujeitos na sua diversidade.

Andrade (1997) mostra que “[...] a integração, propriamente dita, não é motivo de

debate; ela parece ser vista como algo intrínseco às regras sociais: um fenômeno já dado,

longe de ser refutado.” (ANDRADE, 1997).

Desta forma, a inclusão deve ser compartilhada na escola e sociedade como um valor e

não com um programa, pois, o cotidiano de uma classe especial ou ainda de qualquer outro

segmento social parece inegavelmente trazer à pessoa engajada com a inclusão, experiências

muito variadas e ricas, exigindo que constantemente se defronte com situações novas e

imprevistas tanto em relação ao comportamento desse contingente populacional, quanto a sua

maneira de aprender e conviver com os outros.

Na escola, a inclusão da criança com necessidades especiais, pode permitir o

desenvolvimento das possibilidades de elaboração de conhecimentos e de se constituir

enquanto sujeito sendo um processo de troca que vai além da integração física, propiciando

situações de aprendizagem.

O trabalho de Chacon (1995) teve como objetivo discutir a inclusão social do sujeito

88

com disfunção neuromotora. O autor afirma que:

A integração é um processo dinâmico e paulatino que se inicia na/pela família. Constitui-se pela internalização de valores sócio-culturais mediados pelos indivíduos. Valores esses condicionantes para a participação das pessoas em maior ou menor grau nos diferentes níveis sociais (família, escola, trabalho, comunidade, etc.) de forma a usufruir os mesmos direitos e deveres de cidadão. (CHACON, 1995, p.118).

Na inclusão mais ampla, que contempla também o meio social, Chacon (1995) afirma

que a maneira como é vivida na/pela família e a forma como é internalizada pelo sujeito com

deficiência por meio de ações mediadas, determina seu maior ou menor grau de integração na

complexa rede de relações sociais e na própria família.

O autor diz ainda que a internalização dos processos vividos pelo sujeito com

necessidades especiais, a partir das mediações de seu contexto familiar, propõe que tal fato

como determinante do sujeito, sendo que sua maior ou menor inserção se daria a partir dele e

não das mediações que a escola, ou outras instâncias sociais possam lhe proporcionar. Tal fato

o posiciona numa formação discursiva da integração, onde cabe ao sujeito a responsabilidade

pelo seu processo de inserção na sociedade.

O que se observa na fala de Chacon (1995) é que grande parte dessa população, apesar

de comprometimentos sérios, facilmente identificáveis (como linguagem, audição, visão,

coordenação motora, etc.) poderia freqüentar o ensino comum para fins, dentre outros

aspectos, de sistematização das aquisições acadêmicas, e da inclusão nos diferentes segmentos

sociais.

Mas, é importante salientar a necessidade de uma avaliação criteriosa de cada caso,

para se verificar as vantagens ou não do encaminhamento dessas crianças a uma escola

comum, segundo Paiva (1997), colocação da criança com disfunção neuromotora na escola,

89

pressupõe que esta escola já deva estar disposta a receber esse aluno, no sentido de superar as

dificuldades que poderão ocorrer durante o processo.

Para Lauand (2000), a inclusão total defende a necessidade de incluir na classe e na

escola comum todos os alunos com deficiência, independente do tipo de grau de deficiência,

por tempo integral e sem qualquer outro tipo de serviço, que implique exclusão ou segregação

sócio-educacional e define que inclusão é um processo que tem como objetivo oferecer aos

indivíduos deficientes formação e reabilitação em ambientes comuns menos restritivos

possíveis, com suportes necessários também para sua inclusão social. Porém, diz que:

Parece ser fácil falar de inclusão para alunos que não apresentem graves incapacidades, mas arriscaríamos dizer que talvez o futuro desses alunos, nessa perspectiva, seria o abandono, ou a exclusão das escolas públicas comuns de ensino para encontrarem abrigo em instituições [...] onde receberiam um atendimento mais adequado, nessa nova perspectiva que se quer implantar. (LAUAND, 2000, p.102).

Na realidade, a autora conhece o princípio da inclusão, mas acredita que a escola

especial poderia dar um atendimento mais adequado para alguns sujeitos com incapacidades

mais graves. Daí o seu posicionamento numa formação ideológica integracionista, uma vez

que no paradigma da inclusão, a escola e a sociedade devem se adaptar a todas e quaisquer

diferenças.

De encontro a Lauand (2000) vem Mattos (2000), que aponta a necessidade da

elaboração de um currículo mais flexível, que privilegie as interações sociais, adequando

recursos e metodologias não só para alunos com necessidades especiais, mas também aos

alunos sem dificuldades acentuadas, ou ditos “normais”, para que ocorra inclusão escolar.

Porém, acredita que se deve valorizar o desenvolvimento de expectativas positivas em relação

às responsabilidades e as tomadas de decisão uma vez que, segundo ele a criança deve

primeiramente atingir um determinado nível de competências na classe especial para depois

90

ser inserida numa classe comum.

Analisando o processo discursivo de professores de alunos com deficiência mental na

sala comum e especial, Marques (2001) constatou que, falando de inclusão as professoras

acabavam reforçando a exclusão quando explicitavam a necessidade de atendimento a

determinadas condições para que a criança fosse inserida. Segundo a autora, a escola que se

tem hoje está aparentemente preparada para atender alunos de boa capacidade cognitiva, sem

problemas de saúde. Esta escola privilegia alguns em detrimento de outros considerados

desviantes dos padrões de normalidade. Existe, para ela, a necessidade da construção de um

novo espaço discursivo sobre a disfunção neuromotora e, por conseguinte, sobre a deficiência

de um modo geral. Para a autora, é papel do educador questionar o que está implícito no

discurso pedagógico e a partir daí deslocar o paradigma da deficiência de um paradigma de

exclusão para um novo, o da inclusão.

Para realização de seu estudo, Carvalho (1999) acompanhou duas crianças com

disfunção neuromotora matriculadas em turmas comuns do ensino fundamental. Ao falar

sobre o seu entendimento de inclusão, usou as seguintes palavras:

Acreditamos que, ao incluirmos o aluno com deficiência nas salas de aula das escolas comuns, estamos exigindo destas escolas novos posicionamentos diante dos processos de ensino e de aprendizagem, à luz de concepções e práticas pedagógicas mais evoluídas e uma mudança de atitude face à avaliação dos alunos, à promoção para séries e níveis de ensino mais avançados. A inclusão provoca o aprimoramento da formação dos professores e é também um pretexto para que a escola se modernize, atendendo às exigências de uma sociedade, que não admite preconceitos, discriminação, barreiras entre seres, povos, culturas (CARVALHO, 1999, p.94).

Observa-se que o autor apontou que o convívio social se ampliou, que aconteceram

progressos decorrentes da motivação proveniente desse convívio proporcionado pela escola,

porém que os resultados são menos evidentes no que se refere ao aprendizado dos conteúdos

escolares e às condições reais do ambiente escolar que recebe essa criança, para sua inserção

91

escolar e possível inclusão social.

Ao tentar compreender os obstáculos existentes no ensino de crianças com disfunção

neuromotora, verifica-se inúmeros problemas de ordem física e/ou social nas escolas comuns

para as quais esses sujeitos são encaminhados. Dentre eles pode-se citar, principalmente, as

barreiras arquitetônicas, as classes numerosas, a carência de mobiliário, bem como de meios

tecnológicos e didáticos adequados e imprescindíveis na educação dessas crianças; além das

chamadas barreiras atitudinais, advindas do preconceito com relação ao fato de serem sujeitos

com necessidades especiais.

Há de se atentar, no entanto, que, a conjunção de todos esses fatores parece determinar

em larga escala, o encaminhamento de crianças com disfunção neuromotora para centros

segregados de ensino, ou seja, para as escolas ou para as classes especializadas.

As justificativas para esse encaminhamento partem do princípio de que melhor

estruturados tanto do ponto de vista físico como no que diz respeito aos recursos humanos,

estes centros podem oferecer a essa população um atendimento mais adequado quanto à

satisfação de suas especiais necessidades.

Talvez seja necessário identificar quais são as necessidades daquele sujeito e em qual

escola ele poderia se desenvolver melhor. Talvez seja necessário considerar o tipo de

disfunção neuromotora, o grau de comprometimento motor, os recursos já desenvolvidos para

aquele sujeito, sua capacidade cognitiva e sua capacidade de adaptação. Todos estes fatores

poderão exercer um papel fundamental no processo de inclusão da criança com disfunção

neuromotora.

Concluindo, o fato de que deslocar os sentidos de uma formação ideológica excludente

para uma formação ideológica inclusiva implica pensar uma sociedade sem referenciais

determinados, em pensar os sujeitos na sua diversidade, dentro de uma formação discursiva

92

que tenha como pressuposto o fato de que os dados se constituem num determinado momento,

são históricos, sociais, culturais, não existindo um referencial único, mas uma disposição para

se lidar com o dado e para se considerar todas as possibilidades, ou, as melhores

possibilidades na vida daquele sujeito. Para Leers (2004):

No centro de uma rede crescente de relações humanas, as pessoas aprendem a conviver em boa harmonia e em conflito sem fim com os demais. O outro é um desafio constante. A própria convivência é uma escola de aprendizagem e amadurecimento, em que, às vezes, os fracassos ensinam mais do que os sucessos (LEERS, 2004, p.57).

Quebrar paradigmas, talvez seja uma possibilidade ou talvez uma necessidade.

93

CAPÍTULO 4

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para se estabelecer um vínculo com a escola, os professores e as crianças, antes da

aplicação das provas piagetianas e da análise do processo de inclusão, inicialmente houve

uma aproximação das pessoas envolvidas com as crianças, que promoveram sua adaptação e

buscaram sua inclusão na escola comum, oferecendo orientação fonoaudiológica às

professoras e orientadoras. Paralelamente houve tratamento fonoaudiológico, bem como

orientações sistemáticas aos pais das crianças com disfunção neuromotora.

Foi feita a proposta do estudo por meio de carta e os pais assinaram consentimento

livre e esclarecido, onde foram especificados aspectos quanto à natureza da pesquisa e seus

objetivos. Os coordenadores e professores das escolas envolvidas bem como as crianças deste

estudo, também foram informados. Houve o consentimento e a disposição em colaborar com

o trabalho. A autorização das instituições e a disponibilidade das pessoas envolvidas foram

imediatas.

Esta pesquisa, muito embora circunscrita ao universo escolar de crianças com

disfunção neuromotora, foi originada, também, graças às reflexões advindas de experiência

clínica da pesquisadora no campo da fonoaudiologia, junto a essa população.

Cabe ressaltar aqui, a extrema boa vontade de todas as pessoas envolvidas nesse

processo em participarem desse estudo, dos pais das crianças pesquisadas, quanto os

representantes das escolas, o que revela, não apenas a segurança de cada um no processo de

pesquisa, como também, sua disponibilidade em contribuir para as reflexões que se fazem

necessárias nesse campo.

A pesquisa teve aprovação do comitê de ética em pesquisa do Centro de

94

Especialização em Fonoaudiologia Clínica - CEFAC-SP ( no 072/2006 ).

4.1 A Escola das Crianças em Estudo: Caracterização da Instituição

Por questões éticas e profissionais, e, ainda, para manter as crianças referidas no

anonimato, optou-se por utilizar apenas suas iniciais como forma de identidade. As crianças

do estudo poderão ser identificadas com as seguintes iniciais: MJRF, TCMR, MLFCC

(crianças apresentando disfunção neuromotora) e LGG, LAS, AFOG (crianças apresentando

desenvolvimento normal).

As crianças, tanto normais como aquelas com disfunção neuromotora, estudam em

escolas particulares. As três escolas nas quais as crianças estudam, em turmas de ensino

comum, seguem uma filosofia de trabalho baseada no construtivismo piagetiano e estão

situadas no perímetro urbano de Divinópolis, Minas Gerais. São escolas menores que

oferecem estudo até o ensino fundamental.

Nas escolas pesquisadas existe a proximidade com os serviços que se destinam ao

atendimento clínico da população em questão. Porém, elas guardam diferenças quanto à sua

estruturação e o grau dessa proximidade, o que acaba por imprimir-lhes características

distintas umas das outras. Porém por trabalharem com a filosofia contrutivista, e, além desta,

uma filosofia de inclusão escolar e social, suas particularidades não causaram grandes

diferenças para as crianças em estudo. As escolas funcionam em regime de externato, em dois

turnos (manhã e tarde).

Com uma equipe multidisciplinar composta de professores, psicopedagogos,

psicólogos, bibliotecárias, entre outros, as escolas buscam, em suas práticas pedagógicas,

reconstruir valores de justiça, solidariedade, fraternidade e diálogo, além de priorizar a

95

integração dos alunos ao convívio social.

A caracterização da escola em que cada criança com disfunção neuromotora estuda

será relatada, com o intuito de se delimitar com maiores detalhes o ambiente escolar em que

estão inseridas.

A escola de MJRF segue a filosofia sócio-interacionista. Comprometida em oferecer

uma educação de qualidade para todos, proporcionando aos alunos oportunidades de

desenvolver o senso crítico, democrático e solidário. Desenvolve a sua prática pedagógica à

luz da educação libertadora. Entende-se, porém, que não basta ter como conteúdo escolar as

questões sociais atuais, mas é necessário que os indivíduos tenham pleno domínio de

conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas.

A metodologia de problematização, através de projetos e atividades significativas, se

apoia na visão de que ensinar não é apenas transmitir conteúdos ao aluno, mas também é um

processo de construção do próprio conhecimento, sob a mediação do professor.

No dia-a-dia, a escola desenvolve a sua prática pedagógica direcionada para a

formação do espírito crítico e investigador, buscando o desenvolvimento integral dos alunos.

A construção do próprio conhecimento acontece por intermédio de atividades

interdisciplinares e transdisciplinares, com conteúdos trabalhados individualmente e em

grupos, partilhando conhecimentos, pensando criticamente, analisando, levantando hipóteses.

Uma busca constante do aprender a aprender.

A escola de TCMR segue a filosofia construtivista sócio-interacionista. A proposta

pedagógica baseia-se na aprendizagem por intermédio de projetos interdisciplinares, levando

o aluno a um conhecimento mais amplo e profundo do assunto. Preocupa-se com a formação

social e cidadã da criança e por isso desenvolve-se atividades que promovam o

desenvolvimento integral do aluno.

96

A mediação do professor é um ponto fundamental no processo de construção do

conhecimento feito pelo aluno. A integração do aluno em atividades culturais e artísticas

possibilita um desenvolvimento mais amplo e abrangente em sua formação escolar.

A escola de MLFCC segue a filosofia tradicional, porém aberta às mudanças atuais.

Busca um ensino de qualidade, fundamentado nos valores cristãos e preocupa-se com a

formação da criança sob as perspectivas lingüísticas, sócio-afetivas e cognitivas de seu

desenvolvimento. Nesse sentido, se organiza para colocar em prática um ensino diversificado.

A proposta pedagógica da escola visa o envolvimento dos alunos em ações que

permitam o desenvolvimento de uma imagem positiva de si mesmo, descobrindo e

conhecendo seu próprio corpo com possibilidades e limitações. As práticas educativas

dinamizadas por educadores comprometidos permitem o estabelecimento de vínculos afetivos

que fortaleçam a auto-estima e ampliem a possibilidade de comunicação, interação social e

aprendizagem.

As crianças são estimuladas a observar e explorar o ambiente, e a utilizar as diferentes

linguagens (corporal, plástica, oral, escrita, musical) com diferentes intenções e em

diversificadas situações de aprendizagem e comunicação.

Com a intervenção do professor, os alunos são colocados em situações com as quais

aprendem a expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos, avançando no

processo de construção de significados e desenvolvendo sua capacidade de solucionar

problemas. Por meio do brincar, conhecem e exploram manifestações culturais, expressam

emoções e pensamentos, demonstrando respeito e aprendendo a respeitar o que é diverso.

Tudo isso em sintonia com a relação entre os diferentes eixos sugeridos pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais (1997).

97

4.2 Histórico das Crianças Estudadas

Inicialmente, será descrito o histórico das crianças com disfunção neuromotora do tipo

atetóide. Serão citadas como: I- MJRF; II-TCMR; III- MLFCC.

I- MJRF

Nascida em 25/3/99, está com 7 anos e 2 meses de idade. Nasceu a termo apgar 5, 7, 7.

Seu parto normal foi difícil, demorando a nascer o que caracterizou sofrimento fetal e

insuficiência respiratória. Ficou 15 dias na unidade 2, local de observação minuciosa no

hospital onde nasceu, em uso de sonda naso-gástrica. Apresentou convulsões, quando foi

indicado o uso de fenobarbital, medicamento anti-convulsivante. Utilizou medicamento

anticonvulsivante até 3 anos de vida, quando, controladas as crises convulsivas, foi retirado

pelo neurologista.

Depois da alta hospitalar evoluiu com dificuldades na amamentação, engasgos e choro

freqüente. Foi encaminhada pelo hospital para acompanhamento gratuito, no núcleo de

estimulação, órgão da prefeitura (visto a condição sócio-econômica baixa da família). Evoluiu

com atraso do desenvolvimento motor.

II- TCMR

TCMR tem 7 anos e 3 meses de idade. Nasceu em 11/2/99, a termo, apgar 9, 10, 10.

Saiu do hospital com a mãe amamentando. Aos 3 dias de vida a mãe observa icterícia forte e

retorna ao médico. Desde então observa-se atraso global do desenvolvimento diagnóstico de

encefalopatia em decorrência de hiperbilirrubinemia neonatal. Apresentou crises convulsivas

no primeiro ano de vida sendo medicada com anti convulsivantes.

De meio familiar de classe social média-baixa, TCMR, iniciou tratamento

fonoaudiológico, fisioterápico e terapêutico ocupacional aos 6 meses de vida, por indicação

98

do médico neurologista. O início do tratamento fonoaudiológico foi com a pesquisadora e se

deu aos 6 meses em decorrência das dificuldades alimentares. A criança engasgava com

freqüência, tinha dificuldade na coordenação sucção – deglutição – respiração. Evoluiu com

atraso do desenvolvimento motor.

III - MLFCC

MLFCC tem 7 anos e 2 meses de idade. Nasceu em 26/3/99, a termo, com apgar 1, 5 e

0. Na sala de parto apresentou uma parada cardio-respiratória, seguindo para CTI e

permanecendo lá por 26 dias. Evoluiu com espasticidade e crises convulsivas mioclônicas,

recebeu anticonvulsivantes. Após 4 dias de vida apresentou nova parada cardio-respiratória e

piora do quadro, desenvolvendo uma hipoatividade. Foi introduzida ventilação mecânica e

sonda nasogástrica. Apresentou no período sucção irregular, mantendo após a segunda parada

cardio-respiratória uma hipotonicidade, com alguma reatividade e reflexos primitivos

deprimidos. Recebeu alta em uso de medicamento anti-convulsivante, diagnóstico de

encefalopatia hipóxico-isquêmica e convulsões controladas.

De família de classe social média-baixa, evoluiu com atraso do desenvolvimento

motor. Foi encaminhada pelo neurologista para realizar tratamento de fisioterapia aos 9 meses

de vida, para terapia ocupacional com 1 ano de vida e para fonoaudiologia com 1 ano e 6

meses de vida. Faz natação desde 7 meses de vida. Fez cirurgia para retirada de adenóide

(adenoidectomia) aos 2 anos e 9 meses. Foi para a escola com 1 ano e 7 meses por indicação

da terapeuta ocupacional.

As crianças descritas abaixo apresentam desenvolvimento normal e participaram da

pesquisa, para se comparar o desenvolvimento destas, sem lesão cerebral, com as demais, com

lesão cerebral.

Serão referidas como: IV- LGG, V- LAS, VI-. AFGO

99

IV- LGG

Nasceu em 26/12/98, e tem 7 anos e 4 meses de idade. Nasceu a termo, apgar, 9, 10,

10. Sem intercorrências no parto, foi para o quarto com a mãe e recebeu alta juntamente com

a mãe. Amamentou até 5 meses, apresentou desenvolvimento de linguagem e fala dentro dos

padrões de normalidade, bem como o desenvolvimento motor.

Foi para a escola com 2 anos de idade por opção dos pais, apresenta bom

desenvolvimento escolar, acompanha a turma sem dificuldades. Está na média de desempenho

da classe. Nunca precisou de acompanhamento ou tratamento especializado.

V- LAS

Nasceu em 14/7/99 e tem 6 anos e 10 meses de idade. Nasceu a termo, apgar, 9, 9, 10.

Sem intercorrências no parto, foi para o quarto com a mãe e recebeu alta juntamente com a

mãe. Amamentou até 10 meses, apresentou desenvolvimento de linguagem e fala dentro dos

padrões de normalidade, bem como o desenvolvimento motor. Foi para a escola com 2 anos

de idade por opção dos pais, apresenta bom desenvolvimento escolar, acompanha a turma sem

dificuldades. Está na média de desempenho da classe. Nunca precisou de acompanhamento ou

tratamento especializado.

VI- AFOG

Nascida em 21/6/99 e tem 6 anos e 11 meses. Nasceu a termo, apgar, 8, 9, 10. Sem

intercorrências no parto, foi para o quarto com a mãe e recebeu alta juntamente com a mãe.

Amamentou até 3 meses, apresentou desenvolvimento de linguagem e fala dentro dos padrões

de normalidade, bem como o desenvolvimento motor.

Foi para a escola com 1 ano de idade por opção dos pais, apresenta bom

desenvolvimento escolar, acompanha a turma sem dificuldades. Está na média de desempenho

da classe. Nunca precisou de acompanhamento ou tratamento especializado.

100

4.3 Evolução do Desenvolvimento das Crianças em Estudo

Serão referidas neste item, apenas as três crianças com disfunção neuromotora, pois as

outras três tiveram um desenvolvimento normal.

A primeira criança com disfunção neuromotora do estudo, MJRF, recebeu

acompanhamento mensal de psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta,

desde o nascimento. Esses atendimentos tinham a característica de orientação e não

atendimento sistemático, como seria indicado.

Aos 3 anos e 10 meses de idade, foi encaminhada para uma escola especial da

prefeitura de Divinópolis, onde recebia atendimento de fisioterapia, terapia ocupacional,

fonoaudiologia e acompanhamento psicológico. Permaneceu na instituição por 2 anos (2003,

2004). No final do ano letivo de 2004, visto seu bom desenvolvimento cognitivo, a escola

especial fez o encaminhamento da criança para uma escola comum, pública da rede

municipal, já que a família não tinha condições financeiras para manter a criança em uma

escola particular.

Foto 01 – MJ utilizando o computador, onde consegue grandes

resultados devido ao interesse e motivação demonstrados.

101

A pesquisadora trabalhava nesta escola especial e acompanhou a criança desde 3 anos

e 10 meses. Nesta época apresentou, à avaliação fonoaudiológica dificuldade na articulação

da fala que algumas vezes tornava sua fala ininteligível, dificuldades na coordenação

mastigação-deglutição-respiração, porém com uma boa compreensão da linguagem oral,

grande interesse pelas brincadeiras próprias da idade, vocabulário adequado conseguindo

manutenção do diálogo com facilidade.

Eram realizadas orientações sistemáticas às professoras. O caso era discutido em

equipe visando seu melhor desenvolvimento.

Quando a criança foi encaminhada para a escola comum, permaneceu sem

atendimento fonoaudiológico por 12 meses (novembro de 2004 a outubro de 2005) quando

iniciou-se atendimento fonoaudiológico para a criança em consultório particular. Realizou-se

orientação à escola nesta época, objetivando auxiliar o desenvolvimento de fala e aquisição da

linguagem escrita no ambiente escolar, quando foram orientadas, a professora e a

coordenadora pedindo-se para enfatizar o trabalho de consciência fonológica, não exigir letra

cursiva, dar apoio ao trabalho específico com alguns fonemas, visando melhorar a articulação

da fala, bem como o contínuo estimulo à linguagem e comunicação da criança.

A professora relatava que a criança acompanhava a turma, tinha dificuldade apenas na

qualidade da escrita, desenhos e coloridos inferiores aos dos demais alunos (certamente por

sua dificuldade motora), apresentando-se no final de 2005 na fase pré-silábica da escrita,

leitura de algumas palavras simples. A professora observava também dificuldade de

socialização. A criança queixava dificuldades em acompanhar a aula de educação física, e que

algumas vezes não conseguia terminar o exercício proposto no mesmo tempo que os demais

alunos.

Diferente das outras duas crianças com disfunção neuromotora que serão descritas a

seguir, MJRF estava no final de 2005 na fase da escrita silábica-alfabética (porém menos

102

evoluída). Talvez, esse atraso, possa se justificar, pelo fato da desta criança viver em um

ambiente pouco letrado e não ter um incentivo maior no meio familiar.

Em 2006, MJRF, ganhou uma bolsa em uma escola da rede privada, iniciando seus

estudos também em uma escola particular. MJRF é uma criança com perfil emocional

tranqüilo, é participativa e cooperativa.

A segunda criança com disfunção neuromotora do estudo, TCMR, apresentou à

avaliação fonoaudiológica, audição preservada, boa interação com o adulto e boa percepção

dos estímulos do ambiente. Entretanto, coordenação visão-tato, visão-audição se encontravam

em prejuízo. A principal queixa familiar naquele momento era a dificuldade de alimentação.

O atendimento fonoaudiológico se iniciou e a criança apresentou diminuição

considerável dos engasgos, após estimulações e orientações sistemática aos pais. Evoluiu com

relação à coordenação dos sentidos, evoluiu na linguagem, iniciou a fala, porém com

dificuldades articulatórias devido à grande dificuldade na realização de tarefas que exigiam

coordenação motora, principalmente fina, como a fala.

Quando TCMR completou 2 anos de idade (2001), foi feita a indicação para a escola

comum pela equipe terapêutica, composta, na época, de fonoaudiólogo, fisioterapeuta e

terapeuta ocupacional, pois não se tinha dúvida da boa capacidade cognitiva da criança.

Esperava-se que o estimulo da escola, bem como a convivência com outras crianças pudesse

compor e completar o tratamento naquele momento, gerando estímulos adequados à criança.

Devido às dificuldades financeiras, os pais fizeram a opção por manter a criança na escola

(visto não haver escola pública para criança nesta idade) e retirá-la dos atendimentos

especializados (fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional). Foi realizada uma

orientação fonoaudiológica à escola (professora e orientadora) nesta época, com relação ao

estímulo da linguagem e da fala. Em seguida houve perda do contato com a criança.

103

Em 2005, TCMR, então com 6 anos, retorna ao consultório fonoaudiológico, com

queixa de dificuldade na articulação da fala. A criança tinha estado sem atendimento

especializado por todo o período. Foi feita indicação para tratamento de fisioterapia e terapia

ocupacional, além do tratamento fonoaudiológico, porém por dificuldades financeiras, a

criança continuou sem esses tratamentos, retomando apenas o tratamento fonoaudiológico.

À avaliação fonoaudiológica pode-se observar uma fala muitas vezes de difícil

inteligibilidade, porém compreendendo bem a linguagem oral, conseguindo manter um

diálogo com coerência e bom vocabulário. A criança estava em processo de aquisição da

leitura e escrita, se encontrando na fase pré-silábica da escrita, que evoluiu e ao final do ano

estava na fase silábica-alfabética. Apresentando também desenho adequado para a idade,

entretanto com traços irregulares pela dificuldade motora.

Foi realizada orientação à escola neste momento, pedindo-se para enfatizar o trabalho

de consciência fonológica, não exigir letra cursiva, apoio ao trabalho específico com alguns

fonemas, visando melhorar a articulação da fala, bem como o contínuo estímulo à linguagem

e comunicação da criança.

O relato da escola é de que a criança apresenta evolução muito próxima à das outras

em sala de aula. Sua dificuldade motora, principalmente fina é o que mais a prejudica. TCMR

não tem dificuldades emocionais como a criança anterior. Uma característica emocional é

comum às três crianças com disfunção neuromotora estudadas: a grande vontade de fazer as

atividades diárias como as outras crianças, principalmente na escola.

A terceira criança com disfunção neuromotora, MLFCC, tinha uma dificuldade maior

no aspecto da atenção e da persistência nas atividades propostas, características que

continuam presentes até hoje, em atividades próprias da idade. Iniciou tratamento

fonoaudiológico com a pesquisadora aos 2 anos e 10 meses e o mantém até hoje (uma vez por

semana, atendimento de 40 minutos, orientação aos pais e escola sistematicamente). Nesta

104

época, apresentava dificuldades na articulação da fala, uso de gestos para se comunicar,

engasgos freqüentes ao se alimentar principalmente com líquidos.

Entretanto apresentava brincadeiras e interesses adequados para a idade, mesmo com

desorganização das brincadeiras, dificuldade em manter a atenção e concentração e grande

dificuldade na execução de atividades motoras finas ( fala, mastigação, atividades manuais).

A criança apresentava ainda, boa compreensão da linguagem oral com audição preservada.

MLFCC sempre apresentou dificuldades em se separar da mãe durante os

atendimentos fonoaudiológicos, utilizando-se de choro freqüentemente. Esse comportamento

foi diminuindo no decorrer dos anos. Houve a intervenção psicológica por um período (aos 4

anos, durante 6 meses e agora aos 7 anos retornou e ainda está em tratamento psicológico –

devido também à atual separação dos pais). O tratamento psicoterápico auxiliou bastante seu

desenvolvimento tanto nos demais tratamentos quanto na escola. Atualmente não faz

tratamento com fisioterapia e terapia ocupacional por dificuldades financeiras, apesar de ter

indicação para tais tratamentos.

O acompanhamento fonoaudiológico abrangeu orientação escolar, com freqüente

contato com professores e orientadores, discutindo-se o caso e encontrando ao longo dos anos

as melhores condutas para cada momento vivido pela criança.

MLFCC sempre esteve adequada à classe e à escola, melhorando muito sua

independência, socialização, fortalecendo-se emocionalmente e conseguindo evoluir na

aprendizagem pedagógica, sem grandes discrepâncias entre ela e seus colegas. A dificuldade

maior sempre foi à coordenação motora fina.

No último ano (2005), MLFCC, fez grandes avanços com relação à linguagem escrita,

desenho e grafia das letras, bem como os reconhecimentos das mesmas, o que culminou no

início de hipóteses para a escrita. A criança se encontra atualmente na fase pré-silábica da

105

escrita, sua leitura segue a mesma evolução.

O trabalho realizado com MLFCC, de comunicação alternativa com figuras e fotos

com o objetivo de tornar mais efetiva sua comunicação, diminuíram o uso de gestos e

aumentou o uso da linguagem oral. A comunicação alternativa serviu de apoio no processo de

intervenção fonoaudiológica inicialmente. Atualmente a criança consegue se comunicar

através da fala e consegue se fazer entender com grande freqüência.

MLFCC, encaminhada para a escola comum pela equipe de reabilitação, recebeu o

relato da escola no segundo semestre de 2005, constando que a criança tinha evoluido nos

desenhos, mas ainda apresenta formas pouco definidas, incompletas e com poucos elementos,

colorindo rapidamente (o que se justifica pelo quadro motor e pelo cansaço muscular, visto o

grande esforço que necessita realizar nesse tipo de atividade). A professora relatou ainda o

grande interesse que tem pela escrita. Quando faz atividade do seu interesse, concentra-se por

um período maior. MLFCC participou de todos os projetos escolares. A linguagem oral se

desenvolveu e a criança participa, agora, dos relatos em rodas informativas.

4.4 Observação in loco do Desenvolvimento das Crianças em Estudo

A observação in loco ocorreu em três escolas, analisando-se apenas as três crianças

com disfunção neuromotora, pois, as demais tinham o desenvolvimento normal.

Na primeira escola estudada, estão matriculadas LGG (com desenvolvimento normal)

e MJRF (com disfunção neuromotora).

Nesta escola onde estuda MJRF (a primeira criança com disfunção neuromotora do

tipo atetóide), observa-se que a criança está em uma classe de segundo período, portanto, em

idade cronológica inferior à sua. Estão nesta sala 17 alunos no total.

106

Foto 02 – MJ em atividade em sala de aula, com aparelho no braço que é utilizado para diminuir os movimentos involuntários das mãos.

O sujeito da pesquisa senta à frente com outra criança em mesas individuais, porém,

dispostas lado a lado. Os outros colegas sentam em mesas com 4 cadeiras, onde estão grupos

de 2 ou 3 crianças. Segundo a professora após observação, notou-se que a criança organiza-se

melhor nesse tipo de carteira que usa atualmente (pelo maior espaço disponível), devido à sua

incoordenação motora. A criança perde um pouco na socialização, porém ganha na execução

das tarefas. No momento em que as crianças estão nestas mesas, o trabalho realizado aborda

atividades de escrita individuais, o que não interfere na socialização.

A professora sempre atende prontamente ao chamado da aluna em estudo e a criança é

uma das primeiras a responder quando a turma é questionada pela professora.

Nota-se, aqui, uma condição de compreensão da linguagem oral, bem como

elaboração de respostas melhor da criança em relação às demais, no entanto condição relativa,

visto que a criança em estudo é mais velha da classe. A criança senta-se em posição corporal

adequada, sob orientação fisioterápica. Realiza o lanche junto com as outras crianças, no

entanto é mais lenta. A professora a auxilia na disposição do lanche e da toalha, para que esse

tempo não se prolongue muito. A criança é a primeira da fila ao se deslocarem da sala e dessa

107

forma, consegue manter a fila mais organizada, pois é mais lenta ao se deslocar, o que

favorece a atenção dos colegas.

No recreio brinca com outras crianças, bem integrada no contexto. Não tem uma

amiga preferencial. Faz atividades extraclasse com os colegas como é o caso das aulas de

balé. Está acompanhando os colegas nas atividades pedagógicas, e a própria escola, em

avaliação inicial, indicou o período a ser cursado pela criança em estudo. A professora

procura auxiliar apenas o necessário, não se observa discriminação da criança nem por parte

dos adultos, nem por parte das crianças. A criança relata que gosta da escola e está feliz lá. É

importante lembrar, que esta criança é a única das três com disfunção neuromotora que

freqüentou uma escola especial e só em 2005 foi encaminhada para uma escola comum.

Como visto na história da mesma, devido à condição sócio-econômica baixa, recebeu

orientações em um núcleo de estimulação municipal e lá foi encaminhada para uma escola

especial só aos 3 anos e 10 meses. Diferente das duas outras crianças, que receberam

tratamento multidisciplinar em consultórios particulares e foram encaminhadas por volta de

dois anos de idade, já para uma escola comum.

Na segunda escola estudada, estão matriculadas LAS (com desenvolvimento normal) e

TCMR ( com disfunção neuromotora).

A observação na escola de TCMR ( a segunda criança com disfunção neuromotora do

tipo atetóide), mostra que a criança está em uma sala com 15 alunos. Senta na frente e ao lado

da professora. Observa-se que não conversa como os demais colegas. Concentra-se na

atividade proposta, parece perceber que é mais lenta e não pode parar para conversar. Está na

primeira série do ensino fundamental, portanto acompanhando os colegas da mesma idade.

Nas atividades, como colorir e escrever, é mais lenta e os colegas terminam primeiro. Muitas

vezes, atenta às atividades propostas, pega o caderno e inicia primeiro que as outras crianças,

que ainda estão dispersas ou conversando.

108

Foto 03 – TCMR em atividade em sala de aula. Observa-se movimentos de

língua e boca, de difícil controle, associados à utilização das mãos.

Parece perceber muito bem os acontecimentos, e, acompanha as brincadeiras dos

colegas. Troca merenda e está bem integrada ao grupo. Não se observa discriminação por

parte dos adultos ou das outras crianças.

A professora faz algumas intervenções na carteira, faz perguntas, mas não espera a

resposta. A própria professora responde, então TCMR confirma ou nega. Fala muito pouco,

mesmo quando é solicitada. Seu recurso é o sorriso. Sorri muito. Ela parece notar que seus

colegas são rápidos para falar, andar e brincar e que seu tempo de resposta é maior, por isso

não se arrisca muito. Não necessita de ajuda para retirar e guardar objetos na mochila e bem

como o seu lanche. Acompanha os colegas em todas as atividades extraclasses, como nas

aulas de balé, educação física e inglês. Para sair da sala fica por último na fila. A professora

relata que esse lugar não é fixo. No recreio, brinca de maneira integrada. Quando precisa

cantar, não consegue acompanhar a velocidade e ritmo correto, porém acompanha bem com

os gestos manuais. Percebe-se o esforço que a criança faz para acompanhar colegas da mesma

idade, mas ao ser questionada, responde que gosta da escola e está feliz lá.

Na terceira escola estudada, estão matriculadas AFOG (com desenvolvimento normal)

109

e MLFCC (com disfunção neuromotora).

A observação na escola de MLFCC mostra que a criança (a terceira criança com

disfunção neuromotora do tipo atetóide), aos 7 anos, está em uma sala com 21 alunos do

terceiro período da educação infantil, estando, portanto, com uma turma mais nova (6 anos). É

uma turma tranqüila que auxilia o desenvolvimento da criança. A indicação para retornar para

o terceiro período foi feita pela escola em decorrência de sua matrícula no início do ano. Pelo

fato de não conhecerem bem a criança e esta apresentar certa imaturidade emocional,

demonstrada nas avaliações e nos primeiros dias de aula, definiu-se por mantê-la no terceiro

período.

Foto 04 – MLFCC em atividade de ensaio de festa junina.

Está no fundo, no meio da foto.

Senta na primeira carteira, próxima à professora, que a assiste com freqüência. É mais

lenta se comparada aos demais colegas, e está freqüentemente atrasada nas atividades

propostas. Parece perceber bem as situações e muitas vezes tenta utilizar de comportamentos

inadequados para a idade (como birras e choro) para tirar vantagem da situação.

Na hora da merenda, ainda derrama muito o lanche, apresentando uma dificuldade

110

maior na coordenação motora fina de mãos. No recreio brinca com outras crianças de forma

integrada.

Tem personalidade dominadora, chama a atenção dos colegas, durante ensaios para

apresentações. Realiza todas as atividades extraclasse, como aulas de artes e música. Não

observa-se discriminação da criança por parte dos adultos ou dos colegas de classe.

4.5 Descrição e Análise das Provas Piagetianas

Foram selecionadas 11 (onze) provas dentre todas as propostas por Piaget, de acordo

com a fase de desenvolvimento proposta no estudo. As provas selecionadas visam avaliar o

início do período operatório proposto pelo autor.

As provas serão descritas de acordo com Weiss (1992), que apresenta de forma clara

e prática, em texto adaptado para a realização das provas, em uma visão diagnóstica.

Prova nº 1: Seriação de Bastonetes:

A prova de seriação de bastonetes consiste em uma atividade em que, a criança, diante

de uma série de 10 bastonetes de madeira com tamanhos graduados de 16 a 10 cm, é levada a

seriá-los em ordem crescente (como uma escada), de acordo com suas concepções e sem a

interferência do pesquisador.

LGG tem 7 anos e 4 meses e é a primeira criança apresentando desenvolvimento

normal.

111

Foto 05 – LGG durante a prova de seriação de bastonetes

Demonstrou conduta intermediária (aproximadamente 5-6 anos) Pode ser classificada

no nível 2 desta prova. Realiza a prova por ensaio e erro compondo a série. Comparou cada

bastão com todos os demais até encontrar o que julgava adequado. É uma seriação intuitiva

por regulações sucessivas.

LAS, 6 anos e 10 meses, é a segunda criança com desenvolvimento normal do estudo.

Apresentou ausência de seriação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no nível

1 desta prova. Fez uma escada sem considerar o tamanho dos bastões, considerando apenas o

formato de uma escada.

AFGO, 6 anos e 11 meses, é a terceira criança com desenvolvimento normal da

pesquisa. Apresentou êxito, que foi obtido por método operatório (aproximadamente 6-7

anos). Pode ser classificada no nível 3 desta prova. O sujeito com facilidade antecipa a escada

fazendo metodicamente a sua construção, colocando primeiro os bastões menores e a seguir,

em graduação o restante, até o final.

112

Foto 06 – AFGO durante a prova de seriação de bastonetes

TCMR, 7 anos e 2 meses, é a primeira criança com disfunção neuromotora do tipo

atetóide apresentada no estudo.

Foto 07 – TCMR durante a prova de seriação de bastonetes

Evidenciou ausência de seriação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. A criança fez tentativas diversas, alguns esboços de séries, mas não

conseguiu coordenar diferentes séries entre si. Observa-se nesta criança a grande persistência

em concluir a tarefa. Os bastonetes são derrubados várias vezes pela própria criança, devido à

incoordenação motora. No entanto a criança segue e não desiste até completar seu objetivo.

113

MJRF, 7 anos exatos é a segunda criança com disfunção neuromotora do tipo atetóide.

Apresentou ausência de seriação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no nível

1 desta prova. A criança fez tentativas diversas, alguns esboços de séries, mas não conseguiu

coordenar diferentes séries entre si.

MLFCC, 7 anos exatos, é a terceira criança com disfunção neuromotora do tipo

atetóide. Apresentou ausência de seriação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada

no nível 1 desta prova. A criança fez tentativas diversas, alguns esboços de séries, mas não

conseguiu coordenar diferentes séries entre si. Esta criança apresenta-se com dificuldade de

atenção e concentração nesta prova.

Observa-se nesta prova que as crianças com disfunção neuromotora apresentaram

resposta apenas no nível 1, enquanto as crianças com desenvolvimento normal apresentaram

respostas nos 3 níveis, portanto há possibilidade de se estar em uma condição melhor de

desenvolvimento cognitivo, no entanto o nível 1 ainda pode ser aceito nesta fase de

desenvolvimento.

Foto 08 – MLFCC durante a prova de seriação de bastonetes

114

Prova nº 02: Mudança de Critério (Dicotomia):

Esta prova trata-se de uma atividade em que, por meio de fichas geométricas, a criança

é levada a analisar e se posicionar diante de mudanças de critérios de classificação. A criança

deve classificar formas geométricas de tamanho, cores e formas diferentes, sem a intervenção

do pesquisador. Este deve apenas explicar o que a criança deve realizar.

LGG, 7 anos e 4 meses, é a primeira criança com desenvolvimento normal e

apresentou início de classificação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no nível

2 desta prova. A criança conseguiu fazer pequenos grupos não figurais, segundo diferentes

critérios, mas são coleções justapostas, sem ligações entre si. Esta criança já consegue iniciar

o reagrupamento dos subgrupos em classes gerais. Por exemplo: quando lhe foi solicitado a

formação de 2 grupos conseguiu formar 4 grupos. Posteriormente consegue separar em 2

grupos, mas depois se confunde e não apresenta uma resposta precisa.

Foto 09 – LAS durante a prova de mudança de critério

LAS, 6 anos e 10 meses, segunda criança com desenvolvimento normal do estudo,

apresentou início de classificação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no nível

2 desta prova. A criança conseguiu fazer pequenos grupos não figurais, segundo diferentes

115

critérios, mas são coleções justapostas, sem ligações entre si. A criança não compreende

quando lhe é proposto a classificação em apenas 2 grupos e não consegue realizar a tarefa.

AFOG, 6 anos e 11 meses, é a terceira criança com desenvolvimento normal.

Apresentou início de classificação (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no nível

2 desta prova. Ela conseguiu fazer pequenos grupos não figurais, segundo diferentes critérios,

mas são coleções justapostas, sem ligações entre si. A criança não compreende quando lhe é

proposto a classificação em apenas 2 grupos e não consegue realizar a tarefa.

TCMR, 7 anos e 2 meses é a primeira criança com disfunção neuromotora do tipo

atetóide do estudo. Apresentou a realização de coleções figurais (aproximadamente 4-5

anos). Pode ser classificada no nível 1 desta prova. A criança arrumou as fichas estruturando a

figura de um caminhão e em seguida de um boneco.

MJRF, 7 anos exatos, corresponde à segunda criança com disfunção neuromotora do

tipo atetóide da pesquisa e apresentou início da classificação (aproximadamente 5-6 anos).

Pode ser classificada no nível 2 desta prova. A criança conseguiu fazer pequenos grupos de

coleções não figurais, mas de coleções justapostas, sem ligações entre si. Inicia

reagrupamento de subgrupo em classes gerais. Separou em 2 grupos com o critério cor, porém

não consegue pensar em outro critério de separação.

MLFCC, 7 anos exatos é a terceira criança com disfunção neuromotora do tipo

atetóide, realizou coleções figurais (aproximadamente 4-5 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. MLFCC arrumou as fichas com alguma semelhança (forma/tamanho),

mudando sempre de critério e não utilizou todas as fichas. Neste caso, observa-se dificuldades

em manter a atenção e concentração. Essa é uma característica particular desta criança, que

dificulta sua maior eficiência em atividades escolares. Característica essa, que vem sendo

abordada desde o início do tratamento fonoaudiológico.

116

Foto 10 – MLFCC durante a prova de mudança de critério.

Nota-se que a mesma apresenta certa dificuldade em manter a atenção e concentração,

para persistir no que lhe é solicitado. Além disso, houve no momento da avaliação desta prova

uma recaída emocional, quando a criança chamou pela mãe e apresentou dificuldades em

prosseguir a prova. O pesquisador precisou reforçar o pedido e incentivar a execução, para

que houvesse um mínimo de desempenho por parte da criança.

Observa-se nesta prova que as crianças com disfunção neuromotora apresentaram

resposta apenas no nível 1 e no nível 2, enquanto as crianças com desenvolvimento normal

apresentaram respostas no nível 2, portanto, uma das crianças com disfunção neuromotora, já

responde como as demais com desenvolvimento normal. Perece haver um desenvolvimento

próximo entre os dois grupos.

Prova nº 03: Conservação de Pequenos Conjuntos Discretos de Elementos

(Quantidades Descontínuas):

Esta prova consiste de uma atividade em que a criança é levada a observar e analisar

117

20 fichas com a mesma forma e tamanho, dez de cada cor; em situações de conservação de

pequenos conjuntos. O pesquisador apenas orienta na execução da atividade, sem interferir ou

sugerir nenhuma conduta por parte da criança analisada.

Na primeira situação o examinador pede a criança que escolha uma coleção de fichas.

O examinador faz um alinhamento de 8 fichas sobre a mesa e pede que a criança faça uma

coleção equivalente numericamente com suas próprias fichas. Na segunda situação o

examinador espaça ou aproxima as fichas de sua coleção, sempre mantendo a outra linha que

fica mais curta ou mais comprida. O examinador usará perguntas tais como: existe o mesmo

número de fichas nas duas coleções? Qual tem mais e menos? Como você sabe?

LGG, 7 anos e 4 meses, é a primeira criança com desenvolvimento normal,

apresentou condutas conservativas (aproximadamente 5 anos). Pode ser classificada no nível

3 desta prova. Justificou suas respostas com mais de um argumento.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

condutas intermediárias (até aproximadamente 4 ou 5 anos). Pode ser classificada no nível 2

desta prova. A criança contou para ter certeza e não conseguiu realizar nenhuma

argumentação.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal,

apresentou condutas conservativas (aproximadamente 5 anos). Pode ser classificada no nível

3 desta prova. Justificou suas respostas com apenas um argumento.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 4 ou 5 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. A criança fez uma contagem, correspondendo termo a

termo. Apresentou vacilações de julgamento e não conseguiu explicar sua ação.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

118

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 4 ou 5 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. A criança fez uma contagem, correspondendo termo a

termo. Apresentou vacilações de julgamento e não conseguiu explicar sua ação.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 4 ou 5 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. A criança fez uma contagem, correspondendo termo a

termo. Apresentou vacilações de julgamento e não conseguiu explicar sua ação.

Observa-se nesta prova que as crianças com disfunção neuromotora apresentaram

resposta apenas no nível 1, enquanto as crianças com desenvolvimento normal apresentaram

respostas nos níveis 2 e 3. Nesta prova, observa-se uma dificuldade na conservação de

pequenos conjuntos, porém, como a noção espacial está prejudicada na criança com disfunção

neuromotora, e, como o próprio nome da prova nos diz: conjuntos discretos de elementos, e

ainda pela própria disposição das fichas na mesa, há a possibilidade de ser uma dificuldade

espacial e não cognitiva. Porém as dificuldades motoras e as dificuldades sensoriais, bem

como emocionais podem interferir na aquisição cognitiva (LIMONGI, 2000).

Prova nº 04: Conservação de Quantidade de Matéria (quantidades contínuas):

O examinador pede que a criança faça duas bolas de massa plástica com a mesma

quantidade de massa. Em seguida transforma-se uma das bolas em uma salsicha e questiona-

se se há mais massa na salsicha ou na bola. Questionando-se, ainda, como a criança chegou

àquela conclusão. O examinador provocará uma reação da criança afirmando sempre o

contrário de sua resposta inicial. Posteriormente realiza-se o mesmo procedimento, com a

forma achatada da massa plástica.

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

condutas conservativas (aproximadamente a partir de 7 anos). Pode ser classificada no nível 3

119

desta prova. Em todas as transformações, as quantidades foram sempre julgadas como iguais.

A criança apresentou mais de um argumento e manteve seu julgamento, apesar da contra

argumentação do pesquisador.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

condutas intermediárias (aproximadamente 5 / 6 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. Os julgamentos da criança oscilaram entre conservação e não conservação. A contra

argumentação do pesquisador provocou vacilação e alternância de julgamentos.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal,

apresentou condutas intermediárias (aproximadamente 5 / 6 anos). Pode ser classificada no

nível 2 desta prova. Os julgamentos da criança oscilaram entre conservação e não

conservação. A contra argumentação do pesquisador provocou vacilação e alternância de

julgamentos, como ocorreu com a criança citada anteriormente.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada

no nível 1 desta prova. Em cada transformação uma das duas quantidades é julgada maior.

Face às contra argumentações do pesquisador a criança não conseguiu se posicionar.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas intermediárias (aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no

nível 2 desta prova. Os julgamentos da criança oscilaram entre conservação e não

conservação. A contra argumentação do pesquisador provocou vacilação e alternância de

julgamentos.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada

no nível 1 desta prova. Em cada transformação uma das duas quantidades é julgada maior.

120

Face às contra argumentações do pesquisador a criança não conseguiu se posicionar.

Observa-se nesta prova que as crianças com disfunção neuromotora apresentaram

resposta nos níveis 1 e 2, enquanto as crianças com desenvolvimento normal apresentaram

respostas nos níveis 2 e 3. Uma das crianças com disfunção neuromotora conseguiu concluir a

prova como outras duas crianças com desenvolvimento normal. Parece haver uma

proximidade de desenvolvimento cognitivo nesta prova.

Prova nº 05: Quantificação da Inclusão de Classe:

Com um ramo de flores de duas espécies, sendo que uma delas com uma quantidade

de flores maior que a outra ( dez rosas e três margaridas), a criança é levada a analisar

inclusão de classes. O examinador certifica-se que a criança conhece o nome das flores e o

nome genérico de cada uma delas, questionando se a criança conhece o nome de outras flores,

solicitando exemplos.

Em seguida observa as respostas da criança frente às seguintes questões: Nesse ramo

há mais rosas ou mais flores? Como você sabe? Você pode me mostrar?

- Conheço duas meninas que querem fazer raminhos. Uma faz um ramo com as rosas

depois ela desmancha e me devolve as rosas. A outra faz seu ramo com as flores. Qual ramo

foi maior?

- Se eu dou para você as rosas o que fica no ramo?

- Eu vou fazer um ramo com todas as rosas e você vai fazer um ramo com todas as

flores. Quem vai fazer o ramo maior?

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. A criança fez sistematicamente a comparação entre as duas subclasses.

121

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. A criança fez sistematicamente a comparação entre as duas subclasses.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, apresentou

ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. A criança fez sistematicamente a comparação entre as duas subclasses.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. A criança fez sistematicamente a comparação entre as

duas subclasses.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. A criança fez sistematicamente a comparação entre as

duas subclasses.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. A criança fez sistematicamente a comparação entre as

duas subclasses.

Observa-se nesta prova que todas as crianças com disfunção neuromotora

apresentaram resposta apenas no nível 1 e todas as crianças com desenvolvimento normal

também apresentaram respostas apenas no nível 1, portanto parece haver uma coincidência de

desenvolvimento cognitivo nesta prova para ambos os grupos.

Prova nº 06: Conservação do Comprimento:

A prova consiste na apresentação de dois fios flexíveis de comprimentos diferentes

122

(cerca de 10 e 15 centímetros) em que a criança é levada a constatar e a afirmar a

desigualdade dos dois fios. Posteriormente o examinador deforma o fio maior (X) em relação

ao outro (Y), porém, mantendo a coincidência das extremidades dos dois fios e questiona à

criança sobre a manutenção do comprimento do fio ou não. Em um terceiro momento, o

examinador faz curvas no fio X de modo que fique uma diferença entre uma das extremidades

dos dois fios, questionando-se novamente à criança sobre a manutenção do comprimento dos

fios.

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta conservativa (a partir de 7 anos). Pode ser classificada no nível 3 desta prova.

Apresentou julgamentos corretos, com argumentação adequada e estável, mesmo frente à

contra-argumentação do pesquisador.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

condutas não conservativas (aproximadamente 6-7 anos). Pode ser classificada no nível 1

desta prova. Em cada uma das transformações, a criança considerou que o comprimento não

era conservado.

Foto 11 – AFOG durante a prova de conservação do

comprimento. Respondeu corretamente e com segurança.

123

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta conservativa (a partir de 7 anos). Pode ser classificada no nível 3 desta prova.

Apresentou julgamentos corretos, com argumentação adequada e estável, mesmo com a

contra-argumentação do pesquisador.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (aproximadamente 6 / 7 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. Em cada uma das transformações, o comprimento não foi considerado

conservado.

Foto 12 – TCMR durante a prova de conservação do comprimento.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas intermediárias (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível

2 desta prova. Suas respostas são instáveis sendo modificadas com a contra-argumentação do

pesquisador.

124

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (aproximadamente 6-7 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. Em cada uma das transformações, o comprimento não é considerado

conservado.

Observa-se nesta prova que os dois grupos de crianças apresentam variações nos 3

níveis, portanto há possibilidade de se estar em uma condição melhor de desenvolvimento

cognitivo, no entanto o nível 1 ainda pode ser aceito nesta fase de desenvolvimento.

Prova nº 07: Inserção de Classes:

A partir de 3 espécies de fichas (5 redondas amarelas, 5 redondas vermelhas e 5

quadradas vermelhas) do mesmo material e tamanho, além de uma placa emborrachada com

dois círculos desenhados, a criança é levada a analisar a inserção de classes de acordo com as

perguntas do pesquisador.

O examinador dispõe as fichas em dois círculos que têm um ponto de inserção. As

fichas redondas (vermelhas) e as fichas quadradas (amarelas) são dispostas nas partes dos

círculos que não estão em inserção, cada grupo de um lado. As fichas redondas que tem a

mesma cor das fichas quadradas (amarelas) ficam dispostas no ponto de inserção dos dois

círculos. Segue-se os seguintes questionamentos:

- Porque você acha que eu pus as redondas amarelas no meio?

- Há mais fichas vermelhas ou mais fichas amarelas?

- Há mais fichas quadradas ou redondas?

- Há a mesma quantidade; mais ou menos fichas redondas se comparadas às amarelas?

- Há a mesma quantidade; mais ou menos fichas quadradas se comparada às fichas

amarelas?

125

Após cada resposta da criança, o examinador pergunta como é que a criança chegou à

essa conclusão, se a criança pode demonstrar e ainda, o que tem no círculo da esquerda e da

direita.

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

condutas intermediárias (a partir de 6 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta prova. Essa

criança realizou acertos nas condutas suplementares, mas hesitou nas respostas de inclusão e

intercessão, fez repetições. Apresentou apenas algumas respostas corretas.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

ausência da capacidade de percepção da inserção de classes (aproximadamente 4-5 anos).

Pode ser classificada no nível 1 desta prova. As perguntas feitas sobre classes foram

respondidas com acerto. No entanto as perguntas de inclusão e inserção de classes não foram

compreendidas. As perguntas complementares também revelaram erros.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, apresentou

condutas intermediárias (a partir de 6 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta prova. Essa

criança realizou acertos nas condutas suplementares, mas hesitou nas respostas de inclusão e

intercessão, fez repetições. Apresentou apenas algumas respostas corretas.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas intermediárias (a partir de 6 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. Essa criança realizou acertos nas condutas suplementares, mas hesitou nas respostas de

inclusão e intercessão, fez repetições. Apresentou apenas algumas respostas corretas.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou ausência da capacidade de percepção da inserção de classes (aproximadamente 4-5

anos). Pode ser classificada no nível 1 desta prova.

As perguntas feitas sobre classes foram respondidas com acerto. No entanto as

126

perguntas de inclusão e inserção de classes não foram compreendidas. As perguntas

complementares também revelaram erros.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou ausência da capacidade de percepção da inserção de classes (aproximadamente 4-5

anos). Pode ser classificada no nível 1 desta prova.

As perguntas feitas sobre classes foram respondidas com acerto. No entanto as

perguntas de inclusão e inserção de classes não foram compreendidas. As perguntas

complementares também revelaram erros.

Observa-se nesta prova que os dois grupos de crianças apresentaram variações nos

níveis 1 e 2, portanto parece haver uma semelhança de desenvolvimento cognitivo entre os

dois grupos de crianças com e sem disfunção neuromotora.

Prova nº 08: Conservação nas Quantidades de Líquidos:

Ao se apresentar à criança dois vidros iguais (controle A, A), um vidro mais alto (E) e

quatro vidros menores (P1, P2, P3, P4) e dispondo-se a mesma quantidade de líquido neles,

ora em cada tamanho de recipiente, leva-se a criança a analisar e se posicionar quanto a

conservação das quantidades de líquido.

O examinador faz a criança constatar que os dois recipientes (A, A) são iguais.

Despeja-se um pouco de água em A até encher o vidro, fazendo-se a mesma coisa no outro

vidro (A) com as mesmas dimensões. Em seguida, despeja-se a água do recipiente A para o

recipiente E (mais alto) questionando-se a criança sobre a quantidade de água naquele

momento: Um vidro tem mais água do que o outro? Um vidro tem menos água do que o

outro? Tem a mesma quantidade de líquido? Como você sabe?

O examinador provocará uma reação da criança afirmando sempre o contrário de sua

resposta.

127

Posteriormente, retorna-se o líquido para os recipientes A, A. Novamente despeja-se o

líquido de um dos vidros A, em quatro recipientes menores: P1, P2, P3, P4, questionando-se

da mesma forma a criança.

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, conseguiu

identificar a conservação dos líquidos (a partir de 7 anos). Pode ser classificada no nível 3

desta prova. Para cada transvasamento, as quantidades de líquidos foram consideradas iguais,

apesar das contra argumentações da pesquisadora. A criança foi capaz de justificar pela idéia

de compensação.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

uma conduta intermediária (aproximadamente 6 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. Apresentou julgamentos que oscilaram entre conservação e não conservação do

líquido. A alternância de julgamento é suscitada pela contra argumentação.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, conseguiu

identificar a conservação dos líquidos (a partir de 7 anos). Pode ser classificada no nível 3

desta prova. Para cada transvasamento, as quantidades de líquidos foram consideradas iguais,

apesar das contra argumentações do pesquisador. A criança foi capaz de justificar suas

respostas pela idéia de compensação.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta intermediária (aproximadamente 6 anos). Pode ser classificada no nível 2

desta prova. Apresentou julgamentos que oscilaram entre conservação e não conservação do

líquido. A alternância de julgamento foi suscitada pela contra argumentação.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 5 ou 6 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. Em cada transvasamento, a criança considerou um dos

128

vidros, como tendo mais líquido se comparado com os demais.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou condutas não conservativas (até aproximadamente 5-6 anos). Pode ser classificada

no nível 1 desta prova. Em cada transvasamento, a criança considerou um dos vidros, como

tendo mais líquido se comparado com os demais.

Observa-se nesta prova que as crianças com disfunção neuromotora apresentaram

resposta nos níveis 1 e 2, enquanto as crianças com desenvolvimento normal apresentaram

respostas nos níveis 2 e 3, portanto há possibilidade de se estar em uma condição melhor de

desenvolvimento cognitivo, nesta idade e para essa percepção: conservação de quantidades

de líquidos. Entretanto todas estão em níveis propostos para a mesma prova.

Prova nº 09: Conservação de Peso:

Com duas bolas de massa plástica de cores diferentes, a criança é levada a analisar o

peso das massas diante da modificação da forma das mesmas.

O examinador verifica se a criança conhece as relações de peso, utilizando suas duas

mãos para segurar objetos diversos (pedra, lápis, papel, etc.). Sempre questionando a criança

se um objeto pesa mais que o outro. Em seguida, pede-se à criança que, com a massa plástica,

faça duas bolas com o mesmo peso.

O examinador, então, transforma uma das bolas em uma salsicha e questiona se, ao

modificar a forma ocorre a mudança do peso.

Realiza-se o mesmo procedimento, transformando uma das bolas em forma achatada e

por último fragmentando-se a bola em 8 a 10 pedaços.

Como nas demais provas, provoca-se uma reação da criança afirmando sempre o

contrário de sua resposta inicial.

129

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

uma conduta não conservativa (até aproximadamente 6-7 anos). Pode ser classificada no nível

1 desta prova. Em cada uma das transformações um dos pesos foi julgado como sendo maior

em relação ao outro.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. O julgamento da criança oscilou entre conservação e não conservação do peso.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta conservativa (aproximadamente 8 anos). Pode ser classificada no nível 3 desta prova.

Em todas as transformações os pesos foram julgados iguais. A criança apresentou argumentos

principalmente de conservação do peso e manteve seu julgamento apesar das contra

argumentações da pesquisadora.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou uma conduta não conservativa (até aproximadamente 6-7 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. Em cada uma das transformações um dos pesos foi

julgado como sendo maior em relação ao outro.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou uma conduta não conservativa (até aproximadamente 6-7 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova. Em cada uma das transformações um dos pesos foi

julgado como sendo maior em relação ao outro.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2

desta prova. O julgamento da criança oscilou entre conservação e não conservação do peso.

Observa-se nesta prova que as crianças com disfunção neuromotora apresentaram

130

resposta nos níveis 1 e 2, enquanto as crianças com desenvolvimento normal apresentaram

respostas nos 3 níveis, portanto observa-se a possibilidade de se apresentar os três níveis de

desenvolvimento nesta prova na idade estudada, como postula Piaget (1971).

Prova nº 10: Conservação de Volume:

A criança é levada a analisar a conservação do volume nesta prova, onde usa-se dois

vidros com água no mesmo nível e duas bolas de massa plástica. Mudando a forma da massa

e sugerindo colocá-la na água, a criança deve analisar a conservação do volume. O

examinador leva o sujeito a constatar a igualdade no nível da água nos dois vidros com o

mesmo diâmetro. Pede-se a criança que faça duas bolas iguais. A seguir questiona-se a

criança que, caso se coloque a bola dentro do vidro, o que acontecerá com a água? Em

seguida a mesma bola é transformada em forma de salsicha, muda-se a forma da bola para

uma forma achatada e depois fragmenta-se em pedaços. Seguem os mesmos questionamentos.

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta não conservativa (aproximadamente 8-9 anos). Pode ser classificada no nível 1 desta

prova. Para cada uma das transformações a criança julgou que a modificação da forma fez

aumentar a água mais ou menos do vidro.

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta não conservativa (aproximadamente 8-9 anos). Pode ser classificada no nível 1 desta

prova. Para cada uma das transformações a criança julgou que a modificação da forma fez

aumentar a água mais ou menos do vidro.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta não conservativa (aproximadamente 8-9 anos). Pode ser classificada no nível 1 desta

prova. Para cada uma das transformações a criança julgou que a modificação da forma fez

aumentar a água mais ou menos do vidro.

131

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta não conservativa (aproximadamente 8-9 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. Para cada uma das transformações a criança julgou que a modificação da

forma fez subir a água mais ou menos do vidro.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta não conservativa (aproximadamente 8-9 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. Para cada uma das transformações a criança julgou que a modificação da

forma fez aumentar a água mais ou menos do vidro.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta não conservativa (aproximadamente 8-9 anos). Pode ser classificada no

nível 1 desta prova. Para cada uma das transformações a criança julgou que a modificação da

forma fez aumentar a água mais ou menos do vidro.

Observa-se, nesta prova, que as crianças dos dois grupos apresentaram resposta apenas

no nível 1, pois esta prova demonstra a passagem do estágio operatório concreto para o

estágio operatório formal, sendo esta uma maneira clara de verificar que todas as crianças

desta fase de desenvolvimento cognitivo não conseguiram completar todo estágio operatório

concreto.

Prova nº 11: Prova de Combinação de Fichas Duplas para Pensamento Formal:

Com 6 fichas emborrachadas, de cores diferentes, a criança é levada a formar o maior

número possível de duplas.

LGG, 7 anos e 4 meses, a primeira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. A criança realizou combinações incompletas e fez duplas sem ordem estabelecida. Não

conseguiu prever o número total de combinações.

132

LAS, 6 anos e 10 meses, a segunda criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. A criança realizou combinações incompletas e fez duplas sem ordem estabelecida.

Também não conseguiu prever o número total de combinações.

AFOG, 6 anos e 11 meses, a terceira criança com desenvolvimento normal, apresentou

conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2 desta

prova. A criança realizou combinações incompletas e fez duplas sem ordem estabelecida e

não conseguiu prever o número total de combinações.

TCMR, 7 anos e 2 meses, a primeira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2

desta prova. A criança realizou combinações incompletas e fez duplas sem ordem

estabelecida. Também não conseguiu prever o número total de combinações.

MJRF, 7 anos exatos, a segunda criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou conduta intermediária (aproximadamente 7 anos). Pode ser classificada no nível 2

desta prova. A criança realizou combinações incompletas e fez duplas sem ordem

estabelecida. Não conseguiu prever o número total de combinações.

MLFCC, 7 anos exatos, a terceira criança com disfunção neuromotora atetóide,

apresentou ausência de capacidade combinatória (aproximadamente 6 anos). Pode ser

classificada no nível 1 desta prova, diferente das demais. Houve a incapacidade de descobrir a

possibilidade das diversas combinações. A criança não foi capaz de estabelecer critérios,

realizando tentativas aleatórias sem conseguir obter um mínimo de duplas.

Observa-se, nesta prova, que apenas uma criança com disfunção neuromotora

apresentou resposta no nível 1, as demais de ambos os grupos apresentaram respostas no nível

2. Parece haver, portanto, um desenvolvimento cognitivo muito próximo desses dois grupos

133

para essa prova.

4.6 Resultados

Ao abordar a teoria piagetiana, com base em suas provas de desenvolvimento infantil

pôde-se analisar que na maioria das provas selecionadas, houve uma coincidência de

classificação em pelo menos um dos três níveis ao se compararem os dois grupos (crianças

com desenvolvimento normal e criança com disfunção neuromotora). Pôde-se observar isso

nas provas 1, 2, 4, 6, 8 e 11. Em duas provas houve a coincidência de todas as respostas,

estando as crianças dos dois grupos no mesmo nível de desenvolvimento; provas 5 e 10. E em

duas provas houve a coincidência de duas respostas, estando as crianças dos dois grupos em

dois níveis iguais; provas 7 e 9. Em apenas uma prova não houve coincidência de respostas e

conseqüentemente de níveis de desenvolvimento cognitivo; a prova 3.

É importante ressaltar que as provas selecionadas nos possibilitam analisar a fase de

regulações representativas articuladas; a fase é intermediária entre a não-conservação e a

conservação, marcando o início das ligações entre estados e transformações. A criança

começa a ser capaz de pensar sob forma semi-reversível. Ao se pensar assim, pode-se concluir

que, como demonstrado nas provas piagetianas, as crianças com disfunção neuromotora do

tipo atetóide acompanham as crianças com desenvolvimento normal quanto ao nível

cognitivo.

Além disso, com a observação in loco, pôde-se constatar a efetiva inclusão das

crianças com disfunção neuromotora e seus colegas de classe, em situações como troca de

lanche, brincadeiras conjuntas, olhares e em algumas conversas paralelas em sala de aula. É

fato que, na aparência visual e nas habilidades motoras, a criança com lesão cerebral se difere

134

das demais, gastando maior tempo para realização das tarefas solicitadas, no entanto, isso não

é empecilho ao seu desenvolvimento social e cognitivo. O trabalho de pesquisa procurou

mostrar que a inclusão escolar e social existe, porém, parece estar reduzida ao mérito de

alguns capazes, entre eles, as próprias crianças, seus familiares, os terapeutas e as escolas

inclusivas, em detrimento da grande maioria.

Para um dos questionamentos realizados inicialmente, se os fatores de limitação de

oportunidades e serviços educacionais podem dificultar os auxílios adequados para o

desenvolvimento das atividades e potencialidades cognitivas do sujeito em questão e, além

disso, sua inclusão no ensino comum, nota-se que, nos casos estudados, houve para uma das

crianças (MJRF), de classe social baixa e poucos recursos financeiros, uma limitação de

oportunidade no tratamento intensivo e sistemático das dificuldades apresentadas no início do

seu desenvolvimento global e cognitivo. Porém, a mesma criança não deixou de se

desenvolver cognitivamente, e, mesmo assim se encontra na média esperada para a idade.

Especificamente para esse questionamento percebeu-se que faz-se necessário a

ampliação da amostra e o enfoque específico, direcionado para os serviços educacionais.

Observou-se que, ao abrir as portas para estas crianças a escola também se

desenvolveu, buscando conhecimento, procurando acertar com relação à metodologia ou ao

se relacionar com os demais pais e as demais crianças neste contexto diferente. As outras

crianças também cresceram ao conviverem com algumas diferenças mais marcantes, não tão

comuns como o uso de óculos, a dificuldade em pular corda, ler no tempo adequado, não se

controlar emocionalmente e tantas outras dificuldades comuns em todas as salas de aula e em

todos os ambientes em que vivemos.

Houve a constatação, neste estudo de que, realmente na disfunção neuromotora do tipo

atetóide, condição peculiar que afeta o sistema nervoso central, as crianças atingidas podem

ter uma vida quase normal: estudar, praticar esportes, dançar, enfim, conviver em sociedade.

135

Nesse sentido, ao se estudar crianças que contavam com o apoio familiar, escolar e

terapêutico, ficou claro como estes fatores foram decisivos no processo de desenvolvimento

cognitivo e inclusão escolar. Além disso, estes apoios tornaram possíveis a essas crianças com

características e necessidades especiais o aprendizado da convivência com a própria condição,

porém sem se acomodem com a mesma. Ao contrário, aprenderam que são capazes e podem

se desenvolver tanto quanto as demais crianças.

4.7 Discussão

Com relação ao desenvolvimento cognitivo das crianças com disfunção neuromotora

do tipo atetóide, é possível delimitar pontos fundamentais de acordo com os autores descritos.

Para Limongi (2000), as dificuldades motoras e sensoriais, bem como emocionais

podem interferir na aquisição cognitiva e, o próprio Piaget (1971) afirma que a ação é a fonte

do ato inteligente e que, assim, as experiências sensório-motoras constituem uma base para o

desenvolvimento cognitivo normal. Assim, nas crianças com disfunção neuromotora, cujos

aspectos citados estão comprometidos, estariam mais propícias a apresentar um déficit

cognitivo.

Segundo Pfeifer (1997), a disfunção motora encontrada na lesão cerebral causa

diferentes dificuldades no desenvolvimento das funções cognitivas. E de acordo com Basil

(2004), as disfunções motoras em crianças com lesão cerebral afetam todos os aspectos da

vida do sujeito e limitam suas experiências e suas possibilidades de aprender. Afetam, ainda, a

forma como as outras pessoas se relacionam com ele.

A mesma autora afirma que um controle motor alterado impõe dificuldades ao

desenvolvimento cognitivo. A possibilidade de haver um comprometimento da inteligência

136

sensório-motora é grande e, como consequência, pode-se ter posteriormente o

comprometimento do raciocínio lógico e formal. Porém, admite que, mesmo assim, muitas

destas crianças desenvolvem suas capacidades cognitivas, manifestando uma capacidade

extraordinária de compensação e substituição, em relação aos mecanismos essenciais para o

desenvolvimento cognitivo.

Young (1989) defende que, nas crianças com disfunção neuromotora, tanto os

esquemas sensório-motores quanto os perceptivos estariam prejudicados o que as levaria à um

atraso ou inadequação do pensamento representativo, da linguagem, que estão associados ao

desenvolvimento cognitivo. Desta forma, o comprometimento cognitivo seria uma

consequência dos demais déficits.

Scarnhont & Buchel (1999) mostram oscilações e ritmos diferentes no processo de

construção da inteligência das crianças com lesão cerebral onde ocorrem muitas vezes a

concentração nas limitações, nos déficits, nas impossibilidades e não no aproveitamento das

potencialidades e dos recursos que esse contingente populacional dispõe, para que suas

possibilidades intelectuais e de adaptação ao meio sejam aumentadas.

Scarnhont & Buchel (1999) afirmam que essas crianças apresentam pouca habilidade

para problemas de generalização da aprendizagem e funcionamento da memória prejudicado,

mas que as estratégias de memória, imagem mental e categorização podem ser melhoradas

nos alunos com disfunção neuromotora, mas não treinadas mecanicamente.

Para Limongi (2000) a aquisição intelectual ocorre a partir de estruturas mentais que

seguem uma ordem e progressão de desenvolvimento. E ainda, que este desenvolvimento

cognitivo pode ser influenciado por fatores como o meio social, gerando atrasos ou

acelerações. Portanto se há, para as crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide um

ambiente favorável e adequado, a possibilidade de um desenvolvimento cognitivo adequado é

maior.

137

Lacerda (1993) também considera fator determinante para o desenvolvimento

cognitivo na criança com disfunção neuromotora, um meio social que propicie a vivência de

estímulos adequados, que acrescentem conhecimento a esta criança.

Miller e Clark (2002) afirmam que, crianças com disfunção neuromotora do tipo

atetóide são, geralmente inteligentes, e, apesar de enfatizar anteriormente que a ação é a fonte

do ato inteligente, Piaget (1987) também afirma que a inteligência é uma adaptação, e em se

tratando do ser humano, as possibilidades de adaptação são inúmeras. Logo, se há boa

inclusão, bom contato social, familiar, e tratamento adequado, as crianças em questão podem

se desenvolver cognitivamente de maneira esperada para faixa etária.

Pesquisas de Mantoan (1997) enfatizam que, mesmo o funcionamento intelectual

deficitário pode ser ativado pela mediação de um interlocutor, propiciando maior mobilidade

cognitiva, sendo essencial uma avaliação adequada à cada criança, visando conhecer as

formas de interação e comunicação que utilizam, a qualidade de experiências que possuem, as

possibilidades de funcionamento, os níveis diferenciados, as estratégias de ação e

pensamento.

Desta forma, observa-se a concordância entre muitos autores, de que, mesmo com

dificuldades motoras, as crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide podem se

desenvolver satisfatoriamente, também no aspecto cognitivo, desde que ocorram estímulos

adequados. Como ocorreu com as crianças do presente estudo.

Com relação a inclusão das crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide, é

possível também delimitar pontos fundamentais de acordo com os autores estudados.

A inclusão destes sujeitos em questão ocorre pela lei, no entanto, talvez ainda não

ocorra em toda sua potencialidade. Ao se constatarem os desafios, as necessidades, os

conteúdos e atividades há de se modificar as possibilidades e maneiras de se ensinar e abordar

138

o aprendiz, em particular aquele com necessidades especiais. Para que, assim possam produzir

respostas qualitativamente melhores e desenvolverem mecanismos de adaptação ao meio,

promovendo a eficiente inclusão destes sujeitos.

A inclusão engloba todas as crianças, com algum tipo de deficiência ou retardo no seu

desenvolvimento, que passam a ter direito aos serviços educacionais disponíveis na sua

comunidade. Staimback (1999), Hewward (1996), Cook, Tessier & Klein (1996), enfatizam a

importância de se oferecer às crianças com deficiência, seja ela em que grau for, o mais cedo

possível, um sistema inclusivo de educação.

Atento às pesquisas nesse campo, o sistema de educação no país modifica-se e

mobiliza-se para atender às especificidades e necessidades educativas desse contingente de

alunos, e, em decorrência disso, o Referencial Curricular Nacional (1998) traça as estratégias

e orientações para a educação de crianças com necessidades especiais na educação infantil

(2001) e recomendam o trabalho conjunto, a parceria e apoio dos serviços especializados para

avaliação, atendimento às necessidades específicas e orientação para adaptações e

complementações curriculares, visando o acesso desses alunos ao currículo desenvolvido na

escola comum. Desta forma, propor e acompanhar o desenvolvimento de crianças com

disfunção neuromotora do tipo atetóide em escola comum é seguir a recomendação do

Referencial Curricular Nacional.

Segundo Mantoan (2001), há de se observar, no entanto, que a inclusão de alunos com

deficiência não depende do grau de severidade da deficiência ou nível de desempenho

intelectual, mas, principalmente, da possibilidade de interação, socialização e adaptação do

sujeito ao grupo, na escola comum, sendo esse o maior desafio para a educação hoje, pois,

modificar-se e aprender a conviver com dificuldades de adaptação, gostos, interesses e níveis

diferentes de desempenho escolar, requer não só um meio adaptado a essas crianças, mas,

também profissionais preparados para tal. O preparo, entretanto virá com o estudo, mas

139

também com a experiência adquirida no convívio com tais crianças.

Salienta-se que o relativismo pedagógico e cultural acerca da diversidade, a simples

constatação ou aceitação das diferenças e a oportunidade de acesso à classe comum, não

contribuem de forma consistente para a elaboração do projeto pedagógico e nem asseguram a

inclusão escolar dos alunos com disfunção neuromotora, ou qualquer outro tipo de

necessidades especiais, sendo necessária uma análise crítica das relações inter e intrapessoais

vividas na escola: modificações espaço-temporais, didático-pedagógicas e organizacionais

que garantam a promoção da aprendizagem e adaptação desses alunos ao grupo. Além disso,

estar disponível a essas crianças de uma forma aberta e criativa torna-se fundamental no

processo.

Montoan (2001) relata que a proposta pedagógica, dentro do conceito construtivista do

conhecimento, tem no aluno e nas suas possibilidades, o centro da ação educativa, baseando-

se naquilo que o aluno já dá conta de fazer e, assim, o processo pedagógico é construído a

partir das possibilidades e potencialidades desse aluno, garantindo, assim, o sucesso do aluno

e sua aprendizagem.

Na visão construtivista leva-se em conta o conteúdo e as atividades em um princípio

de aprendizagem significativa, tais como atividades que partam de experiências positivas para

os alunos, dos interesses, dos significados e sentidos atribuídos pelos mesmos. Nesse contexto

conta-se com a cooperação e troca com a família, que informa sobre as preferências, rejeições,

vivências e informações que o aluno possui. Aqui também a adaptação curricular é concebida

como um conjunto de procedimentos que visam oferecer experiências de aprendizagem

adequadas aos diferentes níveis e possibilidades de comunicação, motoras, cognitivas, sócio-

emocionais e de vida diária que fazem com que a escola se modifique para que o aluno

obtenha êxito na aprendizagem e adquira conhecimento. Com essa intervenção, pode-se

esperar progressos na inclusão das crianças com disfunção neuromotora.

140

Segundo Pfeifer (1997), nessa perspectiva, o professor tem a função de ser mediador e

articulador do projeto de inclusão. Ainda nesse contexto, a participação e cooperação dos

pais, terapeutas ou serviços especializados são fundamentais para que se atinja o objetivo de

promoção do desenvolvimento global e o avanço no processo de aprendizagem desses alunos,

e, o êxito no processo de aprendizagem depende, ainda, de uma pedagogia que ofereça

atividades a serem desenvolvidas coletivamente, de maneira que as dificuldades sejam

diluídas e superadas pela qualidade de solicitação do meio, pela ajuda do professor e

cooperação dos colegas.

O professor, enquanto mediador, deve selecionar atividades que tenham significado,

relação com a vida prática e experiência dos alunos e promover pequenas modificações e

adaptações nos objetivos, conteúdos e avaliação, de forma que, os alunos com necessidades

educativas especiais, tenham a oportunidade de participar, de se envolver, de aprender e

trabalhar junto com seus colegas no ensino comum. A cooperação mútua e a disponibilidade

de todos os envolvidos são pontos importantes que poderão determinar o sucesso da inclusão

de crianças com disfunção neuromotora.

Na visão de Pfeifer (1997), para o aluno com alguma deficiência, como a disfunção

neuromotora, os objetivos gerais, os conteúdos, os temas e as atividades são as mesmas,

diferindo apenas os objetivos específicos, as estratégias didáticas, metodológicas, os

materiais, os recursos e equipamentos. As atividades e as formas de avaliar são diferenciadas

para todos, pois cada um tem suas peculiaridades, suas diferenças, suas necessidades.

De acordo com Santos (1997), as crianças com deficiências apresentam

particularidades, níveis heterogêneos de capacidade, necessidades educativas diversificadas, e

por essa razão precisam de uma avaliação individualizada, tornando-se indispensável uma

avaliação criteriosa e completa de cada criança, com orientações práticas e objetivas de toda a

equipe que a acompanha, para que os mecanismos funcionais e de melhor aprendizagem

141

ocorram com eficiência. Os procedimentos didáticos deverão ser discutidos, construídos e

reformulados, em equipe, ao longo do ano. Nesse sentido o professor tem tarefa primordial e

preponderante ao registrar os pontos fortes e as dificuldades que a criança encontra para

realizar as atividades, e juntamente com os demais profissionais, o professor buscará

estratégias metodológicas para superação das eventuais dificuldades.

Parece haver, entre os autores, aqui também uma certa concordância de que a

avaliação detalhada da criança, a flexibilidade na metodologia de ensino, o olhar atento às

necessidades e ao desenvolvimento da criança, bem como a utilização de recursos e

equipamentos adequados são fundamentais para o sucesso da inclusão escolar dos sujeitos

com necessidades especiais.

Discute-se, então se, quando a criança com disfunção neuromotora freqüenta a escola

comum, essa inclusão a beneficia de alguma maneira e ainda, quais as dificuldades neste

processo.

Toda a inclusão deve iniciar-se com o estudo das características e necessidades do

aluno com alguma deficiência com a finalidade de elaborar um plano de intervenção

adequado e proporcionar os meios necessários que permitam a sua execução. A escola deve

proporcionar um maior número possível de oportunidades para que a inclusão seja positiva e

estimulante para a criança, pois, qualquer criança que apresente uma necessidade especial,

tem direito a beneficiar-se do sistema educativo como qualquer outra criança; a escola deve

respeitar as características individuais do aluno tanto no que se refere à programação didática

como às estratégias metodológicas (SANTOS, 1997).

Dentre as crianças com disfunção neuromotora, segundo Pfeifer (1997), existem

aquelas, que possuem um desenvolvimento mais adequado da inteligência. Neste grupo

podem estar incluídas, as crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide. Entretanto, os

déficits motores trarão conseqüências negativas no desenvolvimento global dessas crianças.

142

Nesse sentido é necessário recolher os dados necessários junto a uma equipe de trabalho como

psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos entre outros, pois esses dados permitem ter um

bom conhecimento do aluno e assim promover a realização de um trabalho multidisciplinar

buscando a melhor aprendizagem e inclusão dessa criança.

De acordo com a mesma autora, com esse contingente populacional é necessário

seguir um currículo adaptado às suas necessidades e potencialidades, de forma que os mesmos

participem de todas as atividades escolares possíveis, pois, normalmente, essas crianças

precisam de um maior reforço pedagógico em certas áreas, especialmente as de nível sócio-

afetivo, de linguagem e de autonomia. Há que ter em conta os objetivos comuns ao resto da

turma e em alguns casos deve-se salvaguardar as possíveis deficiências associadas, que

exigem adaptações curriculares específicas. Essas são algumas das dificuldades, que podem e

devem ser solucionadas ao longo do processo de aprendizagem.

A pesquisa demonstrou que o aluno com disfunção neuromotora do tipo atetóide

precisa realizar sua inserção social, fomentando as relações interpessoais. É necessário que a

sociedade o conheça, aceite e crie para ele as condições necessárias para que a sua integração

social seja uma realidade, incentivando e possibilitando todas as atividades que desenvolvam

a comunicação e a autonomia do aluno, através de uma equipe transdisciplinar que realize a

avaliação do desenvolvimento da sua aprendizagem de forma flexível, contínua e qualitativa.

A pesquisa demonstrou ainda que o desenvolvimento cognitivo dessas crianças está,

na mesma faixa etária, similar ao das outras crianças e que apesar da lesão cerebral, a

cognição pode se desenvolver adequadamente por intermédio de estímulos adequados, dentre

eles a freqüência em uma escola comum. E ainda, que estas crianças estão felizes e adaptadas

ao contexto social. Certamente, estes são os grandes benefícios da inclusão escolar destes

sujeitos.

143

5 CONCLUSÃO

Incluir é possível e desejável por muitas crianças e suas famílias. O importante é a

escola não ter medo de começar, buscar ajuda e cooperação para construir uma prática

pedagógica e social melhor.

A visão que a escola tinha em relação às crianças com disfunção neuromotora do tipo

atetóide, especificamente nas três escolas estudadas, foi modificada. Os próprios professores e

coordenadores relatam suas mudanças de conceitos pré elaborados a respeito das crianças em

questão. Isso ocorreu diante da compreensão dos quadros neurológicos e da verificação do

desenvolvimento global e cognitivo destes alunos.

Pode-se afirmar que, através de cada manifestação de aceitação ou de rejeição da

diferença de outrem, existem determinadas concepções de mundo que caracterizam uma

sociedade, num determinado momento de sua história.

Mesmo levando-se em conta que a equiparação de oportunidades, de respeito às

diferenças e de inserção plena dos diferentes nos diversos setores da atividade humana, não é

por si só possível, sem a cooperação de todos os que convivem com estes sujeitos.

É importante salientar que, as provas piagetianas, mesmo não sendo formuladas para

aplicação em crianças com disfunção neuromotora, foram utilizadas com sucesso,

comprovando sua eficácia também nestes casos.

A partir desse estudo, algumas questões levantadas merecem maior aprofundamento

teórico. Com relação à clínica fonoaudiológica, no que se refere aos sujeitos das escolas

pesquisadas, observa-se que, quando a intervenção fonoaudiológica é dirigida aos sujeitos

com disfunção neuromotora, ela está eminentemente pautada em práticas que visam promover

a sua comunicação oral e escrita. Tal enfoque pode acabar por encobrir o desejo e a escuta

144

desses sujeitos, muitas vezes impedidos de produzirem uma fala bem articulada, com boa

inteligibilidade e com velocidade adequada.

Na dificuldade de expressão oral eficiente, os indícios de suas mudanças de posição

em relação ao que realmente almejam, requer intensa exploração, o que implica em

considerar, também, a escuta desses sujeitos nessa investigação.

Outra questão que talvez mereça maior aprofundamento teórico, ou mesmo

constatação de suas causas, seria a comparação entre crianças com disfunção neuromotora do

tipo atetóide em escolas comuns e em escolas especiais. Como seria o desenvolvimento

cognitivo das mesmas? Haveria diferença? Existem crianças com esse diagnóstico em escolas

especiais, ou realmente todas conseguem um desenvolvimento cognitivo favorável e não se

incluem no perfil de escola especial?

Aspectos práticos referentes ao cotidiano das escolas inclusivas foram, ainda, trazidos

à cena sugerindo maiores reflexões. Como por exemplo, a questão da plena satisfação das

demandas pedagógicas desses alunos, tendo em vista o fato de que seus professores

demonstram interesse por um maior conhecimento e atuação nesses casos.

Finalizando, pode-se dizer que: uma criança, com disfunção neuromotora que lê e

escreve aos sete anos, estuda em uma escola comum, brinca e convive bem com seu grupo

social-escolar, apesar da lesão cerebral está se desenvolvendo como as demais na mesma

faixa etária, nos aspectos abordados.

145

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ANEXOS

Carta de autorização para a pesquisa

Carta de consentimento para a realização da pesquisa

Termo de consentimento livre e esclarecido

156

São Paulo, 10 de abril de 2006

À pesquisa Fga (0) SIMONE GONÇALVES DE MELO End: PARAÍBA, 482 – CENTRO CEP: 35500 – 016 - DIVINÓPOLIS - MG TEL: ( 37 ) 3221 4423

Referência: avaliação ética de pesquisa com seres vivos

O Comitê de Ética em Pesquisa do CEFAC – Centro de Especialização em

Fonoaudiologia Clínica, em reunião realizada no dia 10/04/06, avaliou seu projeto de

pesquisa com seres vivos denominado “A CAPACIDADE COGNITIVA NA

PARALISIA CEREBRAL POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO” sob número 072/06 e

o considerou APROVADO SEM RISCO COM necessidade do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido.

Parabenizando pelo projeto e desejando que o mesmo possa ser realizado,

enriquecendo os conhecimentos fonoaudiológicos no nosso país, despedimo-nos

lembrando que você deve comunicar toda e qualquer alteração do projeto e/ou do

consentimento pós-informado e interromper temporariamente seus procedimentos

até manifestação por escrito do Comitê.

Atenciosamente

Dra. Rita Mor

Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa – CEFAC

Fone/fax: (11) 3675-1677 Email: cefac@cefac.

157

Caro(a) Senhor(a)

Eu, Simone Gonçalves de Melo, fonoaudióloga, portadora do CIC: 798573376-00, RG: M-5979879/MG, cujo telefone de contato é (37)3222-5516, vou desenvolver uma pesquisa cujo título é: A capacidade cognitiva na disfunção neuromotora: possibilidade de inclusão escolar.

O objetivo deste estudo é avaliar a capacidade cognitiva de crianças com disfunção neuromotora do tipo atetóide e sua inclusão escolar. Para tanto, necessito de uma avaliação clínica que realizarei em sua filha. Serão realizados os seguintes procedimentos: aplicação de onze provas piagetianas com material específico de avaliação, em meu consultório particular, durante três sessões de 40 minutos e visita à escola da criança.

A participação de sua filha nesta pesquisa é voluntária e a avaliação clínica não determinará qualquer risco, mas poderá provocar o seguinte desconforto: cansaço temporário. A participação de sua filha não trará qualquer benefício direto, mas proporcionará um melhor conhecimento a respeito da disfunção neuromotora, que em futuros tratamentos fonoaudiológicos poderão beneficiar outras crianças ou, então, somente no final do estudo poderemos concluir a presença de algum benefício.

Não existe outra forma de obter dados com relação ao procedimento em questão e que possa ser mais vantajoso. Informo que o (a) Sr. (a) tem garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC), situado na Rua Cayowaá, 664, CEP 05018-000, em São Paulo-SP, fone/fax: (11) 3675-1677, e-mail: cefac@cefac. br e comunique-se com a coordenadora Dra. Rita Mor.

Também é garantida a liberdade da retirada do consentimento a qualquer momento, deixando, assim, de participar do estudo, sem qualquer prejuízo.

Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outras crianças, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes.

O (a) Sr.(a) tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais da pesquisa e caso seja solicitado, darei todas as informações.

Não existirão despesas ou compensações pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada à participação de sua filha. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.

Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa e os resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca identificar sua filha.

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (modelo)

158

Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li, descrevendo o estudo: A capacidade cognitiva na disfunção neuromotora: possibilidade de inclusão escolar.

Eu discuti com a fonoaudióloga Simone Gonçalves de Melo sobre a minha decisão de permitir a participação de minha filha neste estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que a participação de minha filha é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo.

Concordo voluntariamente em permitir a participação de minha filha neste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidade ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.

__________________________________________ Data___/___/___

Assinatura do pai (mãe) ou responsável

Nome:........................................................................................................................................

Endereço: ..................................................................................................................................

RG: .................................................

Fone:.................................

__________________________________________ Data___/___/___

Assinatura da pesquisadora

Nome da criança:..........……………………………………………………………………….