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Ediza Rodrigues do Couto PAUSAS URBANAS: contraponto entre indivíduo e sociedade Divinópolis FUNEDI-UEMG 2007

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Ediza Rodrigues do Couto

PAUSAS URBANAS:

contraponto entre indivíduo e sociedade

Divinópolis FUNEDI-UEMG

2007

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Ediza Rodrigues do Couto

PAUSAS URBANAS:

contraponto entre indivíduo e sociedade

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade do Estado de Minas Gerais, Campus da Fundação Educacional de Divinópolis, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais. Área de Concentração: Estudos Contemporâneos Linha de Pesquisa: Cultura e Linguagem Orientadora: Profª. Drª. Batistina Maria de Sousa Corgozinho

Divinópolis FUNEDI-UEMG

2007

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Couto, Ediza Rodrigues do C871p Pausas urbanas: contraponto entre indivíduo e sociedade [manuscrito] /Ediza Rodrigues do Couto. – 2007. 209 f., enc. Orientador : Batistina Maria de Sousa Corgozinho Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado de Minas Gerais, Fundação Educacional de Divinópolis. Bibliografia : f. 197 - 209 1. Áreas verdes - Urbanas. 2. Áreas verdes - Públicas . 3. Divinópolis - MG. 4. Corgozinho, 1999- .- Tese. l. Corgozinho, Batistina Maria de Sousa. II. Universidade do Estado de Minas Gerais. Fundação Educacional de Divinópolis. III. Título. CDD: 363.7

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Dissertação defendida e APROVADA pela Banca Examinadora constituída pelos

Professores:

Profª. Drª. Batistina Maria de Sousa Corgozinho (Orientador) – FUNEDI/UEMG

Prof. Dr. Mateus Henrique de Faria Pereira – FUNEDI/UEMG

Prof. Dr. Otávio Soares Dulci – UFMG

Mestrado em Educação, Cultura e Organizações Sociais

Fundação Educacional de Divinópolis

Universidade do Estado de Minas Gerais

Divinópolis, 12 de Dezembro de 2007.

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AUTORIZAÇÃO PARA A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DA

DISSERTAÇÃO

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente,

autorizo sua exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual de dissertações da

FUNEDI/UEMG.

Ediza Rodrigues do Couto

Divinópolis, 30 de Novembro de 2007.

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RESUMO

Pausas urbanas – áreas verdes urbanas públicas - situadas nos interstícios da cidade, territórios de conflitos e possibilidades que constituem, como se procurará demonstrar, lugares de encontro potencial, ao intermediar relações sociais, econômicas e culturais. Podem representar o revigoramento da cidadania no espaço urbano contemporâneo e, ao relacionarem-se à composição musical, propõem parada, silêncio, harmonia, ritmo e diferenciação tonal, “pausa” em meio à trama urbana. Como espaços de intermediação das relações sociais e de resgate da utopia subjugada na modernidade, os espaços públicos representam, ao longo do tempo, uma possibilidade civilizatória e se estabelecem, hoje, como o elo entre o indivíduo e a sociedade, entre o privado e o público, entre a cidade - espaço público e a música - pausa. Os lugares recortados para o estudo foram as duas praças centrais da cidade de Divinópolis/MG, “Praça do Santuário e da Catedral”, por exercerem papel de lazer, encontro e convívio, além de espaços verdes públicos em contraposição à verticalização excessiva da região central. Devido à complexidade e diversidade dos elementos que regem as pausas urbanas e tratando-se de lugares histórico-sócio-cultural-ambiental importantes, eles foram pensados dentro de uma abordagem transdisciplinar, numa reflexão sobre a arquitetura, meio ambiente e vida urbana, a partir de contribuições da sociologia, filosofia e psicologia, a fim de apreender o lugar das fronteiras, suas contradições e possibilidades. Palavras-chave: Indivíduo – Cidadão – Sociedade – Público – Privado - Pausa

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ABSTRACT

Urban pauses – public urban green areas – located in the city intervals, territories of conflicts and possibilities in which are made, as it will be searched in order to demonstrate them, potential hang out places, such as intermediate social, economic and cultural relationships. It can represent the revival of the citizenship in the contemporary urban space and the connection to the break(pause), silence, harmony, rhythm and tune diversity,”, “pause” in the middle of urban chaos. As intermediate spaces to the social relationships and of utopic rescue subdued in modern times, the public spaces represent along the ages, a civil possibility and establish today, a connection between the individual and society, between the public and private, the city –public space and music-pause. The chosen places for this study were the two main central squares of Divinópolis city, Minas Gerais state, “Praça do Santuário e da Catedral”, because they play an important role as leisure, meeting place and daily life of citizens, beyond its public green spaces by contrast to the excessive verticalization of the central area. Due to the complexity and diversity of the elements which rule the urban pauses and because of the historical-socio-cultural-environmental importance of the related places, they were considered into a transdisciplinary approach over its architecture, environment, and urban life from some sociological, philosophical and psychological contributions in order to incorporate the frontiers , contradictions and possibilities. Key-words: Individual – Citizen – Society – Public – Private - Pause

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AGRADECIMENTOS

Uma das partes mais gratificantes dessa Dissertação, semelhante àquelas em que se

viam as idéias sendo materializadas, é a do agradecimento. Agradeço

- A Deus, o PAI da criação... a quem devo o meu agradecimento maior,

pela vida.

- Ao Frei Bernardino Leers, que sempre me apoiou e confiou na minha

capacidade.

- A minha família, em especial aos meus pais, que sempre me apoiaram e

foram a motivação maior para a realização deste estudo. À Júlia, Mariana

e Rafael, meus sobrinhos, crianças que me encantam e que mais

participam das pausas urbanas. Ao meu esposo José Maria, com quem

compartilho os momentos de “pausa”.

- A minha orientadora Professora Dra. Batistina Maria de Sousa

Corgozinho, pelas suas contribuições precisas que permitiram um maior

desenvolvimento e aprofundamento do tema abordado, pelo seu estímulo,

quando muitas vezes me encontrava sem propósitos, me impulsionava a

continuar na pesquisa. E, principalmente, pela sua amizade, carinho e

dedicação.

- Aos meus colegas e amigos que participaram desta etapa e torceram

pela continuidade do meu trabalho.

- Aos alunos do Curso de Engenharia Civil pela FUNEDI-UEMG, Bruno

Henrique Vilanova Novais e André Gonçalves Martins, que participaram

da confecção dos mapas e tabelas referentes às áreas verdes e ocupação

do solo de Divinópolis.

- Aos colegas de Prefeitura, na pessoa de Lúcia Helena Marcolino

Duarte, João Batista Rodrigues e José de Sousa, que se dispuseram a me

fornecer os dados e materiais textuais e cartográficos para a pesquisa.

- Aos funcionários da FUNEDI-UEMG, principalmente à Eloisa que

colaborou para o fornecimento e datação dos arquivos digitalizados do

Centro de Memória.

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“...um despertar ecológico pleno no qual a Vida se manifeste na expansão das relações sociais, interpessoais e transpessoais, para a

primazia do sagrado dom de fazermos parte dessa extraordinária criação, com liberdade e respeito ao princípio do Ser em todas as

suas manifestações.”( WEIL et al., 2003, p.120)

Este pensamento embasou a gênese do trabalho e esteve sempre presente em minha vida

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Praça Benedito Valadares ........................................................... 38

Figura 02 – Somos parte de uma sociedade de indivíduos, como é parte da

melodia uma nota musical ......................................................... 74

Figura 03 – Teatro de Epidauro ..................................................................... 76

Figura 04 – Indivíduo privatizado dos olhares dos outros questiona o

direito à cidade ............................................................................ 79

Figura 05 – Vista parcial da cidade de Divinópolis, década de 60 ................ 1 01

Figura 06 – Mapa de Divinópolis e municípios limítrofes ............................ 1 02

Figura 07 – Minas Gerais e Região Centro-oeste .......................................... 1 03

Figura 08 – Urbanização em Divinópolis ...................................................... 1 06

Figura 09 – Divinópolis e a verticalização da região central ......................... 1 11

Figura 10 – Área verde pública bairro Danilo Passos .................................... 113

Figura 11 – Área verde pública bairro Jardim Candelária ............................ 1 13

Figura 12 – Área verde particular Lagoa da SIDIL ...................................... 1 15

Figura 13 – Área verde particular Mata do Noé e região central ................. 1 16

Figura 14 - Área verde particular Mata do Noé e região sudeste .................. 1 17

Figura 15 – Mapa área verde por habitante .................................................. 1 20

Figura 16 – Mapa densidade bruta ................................................................. 1 21

Figura 17 – Mapa ocupação do solo da região central .................................. 1 24

Figura 18 – Verticalização da região central ................................................. 1 26

Figura 19 – Mapa densidade líquida da região central .................................. 1 28

Figura 20 – Vista parcial da área verde do bairro Vila Romana ................... 1 29

Figura 21 – Área verde pública do bairro Vila Romana ............................... 1 29

Figura 22 – Vista parcial da área verde do bairro Jardim Candelária ........... 1 29

Figura 23 – Mapa área verde pública anterior e posterior a Lei 6.766/79 ..... 1 31

Figura 24 – Divinópolis e a região central ...................................................... 1 32

Figura 25 – Largo da Matriz .......................................................................... 1 32

Figura 26 – Vista da Rua Rio de Janeiro ....................................................... 1 34

Figura 27 – Praça Benedito Valadares – 1968 ............................................... 1 35

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Figura 28 – Localização das três áreas públicas nos meados do séc. XX ........ 1 35

Figura 29 – “Quarteirão dos Franciscanos”....................................................... 1 36

Figura 30 – Limite de tombamento da Praça Benedito Valadares .................... 1 38

Figura 31 – Praça Benedito Valadares e Santuário de Santo Antonio .............. 1 39

Figura 32 – Praça Benedito Valadares e entorno .............................................. 1 41

Figura 33 – Obelisco em tijolo no centro da praça ........................................... 1 42

Figura 34 – Praça e seu entorno ........................................................................ 1 43

Figura 35 – Contadores de história na manhã de domingo ............................... 1 50

Figura 36 – Planta Praça Benedito Valadares ................................................... 1 52

Figura 37 – Valorização da região central e entorno da Praça ......................... 1 53

Figura 38 – Antigo Largo da Matriz em 1956 .................................................. 1 55

Figura 39 – Barraquinhas na Praça em 1956 .................................................... 1 56

Figura 40 – Largo da Matriz em 1956 .............................................................. 1 56

Figura 41 – Igreja/ Catedral do Divino Espírito Santo ..................................... 1 57

Figura 42 – Praça Dom Cristiano, 1970 ............................................................ 1 58

Figura 43 – Noite na Praça ................................................................................ 1 60

Figura 44 – Tarde de sábado, lazer na Praça .................................................... 1 62

Figura 45 – Inauguração da Praça Dom Cristiano, 1970 .................................. 1 63

Figura 46 – Praça Dom Cristiano anos seguintes a sua inauguração, 1974[?] . 1 64

Figura 47 – Playground da Praça Dom Cristiano e o movimento de crianças . 1 65

Figura 48 – Pórtico em concreto cria envolvência na área de convívio ........... 1 66

Figura 49 – Áreas de convívio .......................................................................... 1 67

Figura 50 – Planta Praça Dom Cristiano ........................................................... 1 68

Figura 51 – Praça em festa ............................................................................... 1 70

Figura 52 – Festa e cultura na praça ................................................................. 1 72

Figura 53 – Ocupação de parte da Praça com mesas de bares locais ............... 1 74

Figura 54 – Praça Dom Cristiano, local de encontro de todas as pessoas ........ 1 76

Figura 55 - Folder encontro na praça ............................................................... 1 84

Figura 56 – Recorte partitura Sinfonia 5 de Tchaikovsky ................................ 1 85

Figura 57 – Recorte da cidade e entorno próximo à Praça Dom Cristiano ....... 1 85

Figura 58 – Recorte da cidade e entorno próximo à Praça Benedito Valadares 1 86

Figura 59 – Recorte partitura Sinfonia 5 de Tchaikovsky ................................ 1 86

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Figura 60 – Foto aérea da cidade de Divinópolis em 2006 ............................... 1 88

Figura 61 – Solo de Trompa da Sinfonia 5 de Tchaikovsky ............................. 1 88

Gráfico 1 – Proporção de óbitos por causas básicas ......................................... 1 22

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LISTA DE TABELAS

1 – Índice área verde pública e habitantes ........................................................ 1 18

2 – Densidade bruta área urbana e regiões de planejamento ............................ 1 22

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APP´s - Áreas de Preservação Permanente

AUTOCAD - Auto Computer-Aided Design

B. - Bairro

CEFESP - Centro Ecumênico de Formação e Espiritualidade

CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais

CODEMA - Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

DICAF - Diretoria de Cadastro e Fiscalização

EAUFMG - Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais

ECO 92 - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

EFOM - Estrada de Ferro Oeste de Minas

FACED - Faculdade de Ciências Econômicas de Divinópolis

FADOM - Faculdades Integradas do Oeste de Minas

FUNEDI - Fundação Educacional de Divinópolis

GAD - Grupo de Arquitetos de Divinópolis

GTO - Geraldo Teles Oliveira

IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil

IBGE - Instituto Brasileiro de geografia e Estatística

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

INSSC - Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração

ISPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

NBR - Normas Brasileiras

ONG´s - Organizações não governamentais

ONU - Organização das Nações Unidas

PIB - Produto Interno Bruto

PNDU - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPC - Paridade de Poder de Compra

SBAU - Sociedade Brasileira de Arborização Urbana

SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente

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SIDIL - Sociedade Imobiliária Divinópolis Ltda

UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

UNEP - United Nations Environment Programn

WCED - Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................... ...... 16 CAPÍTULO 1 - A NATUREZA E O HOMEM:

RELAÇÕES E IMPLICAÇÕES NA VIDA URBANA 1.1 Natureza enquanto meio social.............................................................. 38 1.2 Natureza: lugar de (re) encontros com o outro e consigo mesmo ......... 43 1.3 Da vida na cidade à vida no espaço urbano .......................................... 46 1.4 Problemas ambientais urbanos e qualidade de vida ............................. 51 CAPÍTULO 2 - PAUSA URBANA – LUGAR DAS FRONTEIRAS

2.1 Indivíduo e sociedade/ o público e o privado ...................................... 75 2.2 Espaço público e privado no Brasil ..................................................... 82 2.3 Do indivíduo ao cidadão ...................................................................... 84 2.4 Cidadania e espaço público .................................................................. 86 2.5 Pausa urbana e pausa musical .............................................................. 88 2.6 Espaço público enquanto lugar ............................................................ 91 2.7 Experiência urbana e cotidiano ............................................................ 93 2.8 Lugar das fronteiras ............................................................................. 96 2.9 Urbanismo: projeto dos lugares ........................................................... 98 CAPÍTULO 3 - CIDADE DE DIVINÓPOLIS E PAUSA URBANA 3.1 Abordagem no contexto da evolução urbana ....................................... 1 02 3.2 Os lugares e sua modernização ............................................................ 1 07 3.3 As áreas verdes urbanas públicas na atualidade ................................... 1 12 3.4 As áreas verdes urbanas nos meados do século XX ............................. 1 32 3.5 Praça Benedito Valadares - Centro Cultural do Povo .......................... 1 35 3.6 Praça Dom Cristiano ............................................................................. 1 54 3.7 Conformação dos lugares a partir do cotidiano e dos usuários.............. 1 76 3.8 Pausa urbana – utopia ou realidade? ..................................................... 1 85 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 190 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 197 ANEXO(s)

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INTRODUÇÃO

Este estudo trata sobre as áreas verdes urbanas públicas, caracterizadas como pausas

urbanas, situadas nos interstícios da cidade de Divinópolis, MG, cidade em que se

encontram características e elementos marcantes da modernidade e, dessa forma, favorável

à pesquisa pretendida: lugar do “progresso”, do transitório, do vulnerável e da rapidez na

veiculação dos fatos e acontecimentos e o lugar de pessoas de muitas regiões diferentes.1

A definição de áreas verdes, na literatura, abrange desde espaços destinados ao lazer e à

recreação, até aqueles voltados à preservação e conservação de recursos naturais.

Consideramos áreas verdes como:

áreas de recreação, educativas e contemplativas, em que predominam a vegetação, de uso comum do povo. Atingem seus objetivos mais amplos quando arborizadas, total ou parcialmente. São áreas verdes: os jardins públicos, praças arborizadas, jardins zoológicos e botânicos, hortos florestais e outros. As áreas de recreação ativa (campos de práticas desportivas) não são consideradas áreas verdes. As áreas verdes urbanas devem ocupar um espaço correspondente ac. 20m2 por habitante (FERRARI, 2004, p. 38).

Dentre as áreas verdes urbanas públicas, em Divinópolis, optou–se por estudar as duas

praças centrais da cidade: Praça Benedito Valadares/ Centro Cultural do Povo e Praça Dom

Cristiano/ da Catedral, seja por se tratarem de áreas históricas, culturalmente importantes e

exercerem papel de lazer, de encontro e de convívio, seja por representarem um espaço

verde, público, em contraposição à verticalização e à excessiva ocupação do solo urbano.

As pausas urbanas são compreendidas como o limite entre territórios públicos e privados,

resultantes da espacialização ambiental-político-social e que, como se procurará

demonstrar, constituem lugares de encontro potencial, ao intermediarem realidades sociais,

políticas, econômicas e culturais distintas, representando uma possibilidade de

revigoramento da cidadania e de interação entre os indivíduos. Como tal, essa investigação

1 CORGOZINHO, 2003, p. 278-296.

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insere-se no tema sobre a questão ambiental, que parte do princípio de que o meio ambiente

diz respeito a todos os aspectos da vida humana, desde aqueles puramente estéticos até os

responsáveis pelo ciclo da vida. Dessa forma, entende-se como meio ambiente:

conjunto que compreende, em seu todo, o meio físico, o meio biótico e o meio antrópico. O meio físico é constituído pelo solo, pelos recursos hídricos superficiais, subterrâneos e pelo clima. O meio biótico compõe-se da flora e da fauna, isto é, da vida vegetal e animal. O meio antrópico é o criado pelo homem: infra-estrutura física e social, infra-estrutura viária, atividades econômicas, urbanização, instituições públicas e privadas, qualidade de vida (FERRARI, 2004, p. 231).

A discussão sobre o tema exige uma abordagem a respeito do ser humano dentro de um

contexto mais amplo, onde deve estar presente a condição do ser humano como um ser

biológico, integrante da natureza e como um ser social, integrante da sociedade. Sendo

assim, a relação homem-natureza é o eixo de direção do tema proposto para a pesquisa:

área verde urbana. Há um novo olhar a ser assimilado na contemporaneidade em relação a

esta dicotomia que instiga questionamentos e caminhos a serem percorridos. O homem não

está dissociado da natureza, mas depende dela para a articulação de todas as suas ações e

pensamentos e, num olhar contemporâneo, é preciso que os cidadãos incorporem essa

mudança de perspectiva nas suas relações com o meio natural e artificial.

Devido a isso, um dos problemas mais evidentes nos espaços das cidades relaciona-se aos

espaços públicos, principalmente às áreas verdes públicas. A importância dessas áreas para

os habitantes do lugar, do ponto de vista ambiental, representa uma possibilidade de

manter-se presente o meio físico e biótico nos interstícios dos espaços construídos. É este

um requisito essencial para o equilíbrio entre os espaços da cidade, proporcionando um

microclima favorável ao desenvolvimento da vida, da pausa, do repouso e do tempo de

parada. Do ponto de vista sociológico, as áreas verdes urbanas públicas representam

possibilidades de locais de encontro, de exercício da cidadania, de participação e autonomia

nas ações e de interação entre os habitantes do lugar.

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A questão e a consciência ambiental produzem transformações profundas na compreensão

do processo de produção e na organização econômica e espacial da sociedade

contemporânea. O impacto dessa consciência sobre o ambiente natural e artificial, deixa,

hoje, muito a desejar. As áreas verdes urbanas, do ponto de vista ecológico, têm sido vistas

ora como espaços degradados, passíveis de interferências impactantes, ora como áreas

desvalorizadas e deixadas ao descaso pela comunidade e pelo poder público local. A

problemática ambiental nas áreas urbanas é, ainda, pouco considerada no contexto de

expansão das cidades. No quadro dessa desconsideração, surgem as questões prementes

relacionadas ao desmatamento e à alteração do meio natural e seus possíveis efeitos sobre a

qualidade de vida na cidade. A cidade sofreu, no decorrer dos anos, uma mudança de

significados e funções: passou do valor de uso, até a sociedade moderna, para o valor de

troca, na modernidade, caracterizando-se, hoje, para o valor de compra, aquele que é

produto de consumo e da industrialização, como disse LEFEBVRE: “[...] lugar de consumo

e consumo de lugares.”2

O problema da qualidade de vida aparece, timidamente, nos debates urbano–ambientais,

nestes tempos de crise - complexo multidimensional que afeta todos os aspectos da vida:

saúde e modo de vida, qualidade do meio-ambiente e relações sociais, economia, tecnologia

e política. O espaço urbano merece, portanto, ser vivenciado enquanto integração entre a

natureza e a sociedade.

No espaço urbano, as questões ambientais se prendem aos processos de transformação do

meio natural em espaço construído. Estas questões estão relacionadas aos impactos sobre o

meio-ambiente, e vistas sob a forma de devastação da vegetação natural; da poluição do

solo, do ar, das águas; da ocupação das áreas inundáveis e de altas declividades e,

especialmente, da redução das áreas verdes. As áreas verdes, enquanto “pausa urbana”,

neste estudo, se apresentam numa nova dimensão de significados e abordam conceitos

sócio-culturais, de urbanismo, de ecologia, filosofia, psicologia, cidadania e religião. Como

integrantes do urbanismo, dentro da ordenação do território urbano, representam um espaço 2 LEFEBVRE, 1969, p. 17.

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disponível, aberto e livre dentro da cidade para a prática de atividades sócio-culturais e do

exercício da cidadania. No campo da ecologia, as áreas verdes possibilitam um local

propício ao desenvolvimento da flora, da fauna, ou seja, do meio biótico e do microclima

local favorável à vida, estabelecendo equilíbrio entre o meio construído e meio natural. No

âmbito da filosofia e psicologia, o verde vem como repouso, como oposto ao excesso de

estímulos informativos e visuais da cidade, apresentando-se, também, como elemento de

percepção emotivo, contrário ao congestionamento e à agitação urbana. Hoje, os espaços

verdes não são mais um luxo, o que fora há tempos, e sim um dos requisitos básicos para o

equilíbrio entre o homem e o espaço urbano.

A escolha do tema – área verde urbana pública, designada por pausa urbana, justifica-se

pela percepção da necessidade do homem contemporâneo por espaços lúdicos, de convívio

e de maior contato com o verde. A cada dia, é de maior importância a pausa dentro das

cidades, pausa esta, não um espaço inóspito, sem vida, pelo contrário, um espaço de

integração aos demais, um espaço de pausa que se contrapõe aos excessos de estímulos

visuais e sonoros produzidos nos espaços construídos da cidade. Pausa carregada de

possibilidades e de ritmos. Assim como na música, é na pausa que a cidade se desenvolve e

permite espaço para a respiração e o encontro. Em meio a tantos ruídos, agitações e caos

geral, o espaço aberto, com potencialidades urbanas, paisagísticas, vem como resgate da

qualidade de vida e do local, para o exercício da cidadania.

Com essa investigação, buscou-se alcançar uma melhor compreensão da relação homem,

natureza e espaço urbano e mostrar as possibilidades de superação da dicotomia homem/

natureza. O objetivo geral deste estudo foi verificar, a partir dos espaços públicos, as

possibilidades de as pausas urbanas se constituírem espaços potenciais de uma nova relação

entre o homem e a natureza. Áreas verdes, pausas urbanas situadas nos interstícios da

cidade contemporânea, territórios de conflitos e possibilidades representam, como se

procurará demonstrar, lugares de encontro potencial, de pausa, intermediadores das

relações sociais, políticas, econômicas e culturais.

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Enquanto hipóteses a serem levantadas, parte-se, inicialmente, do princípio de que as

cidades contemporâneas passam por crises de identidade, reestruturação e significados,

sendo produzidas novas formas de viver e de se utilizar o espaço urbano. A área verde

urbana é uma alternativa para possibilitar o encontro e a liberdade de expressão para se

viver dentro da cidade. Seria o elo entre o homem, a comunidade e a cidade, elo este que

possibilitaria o vínculo, o afeto, o respeito ao lugar e o contato mais próximo com o meio

ambiente, expresso, principalmente, nas árvores e demais vegetações, na água, no ar e na

temperatura amena.

A vida contemporânea é fortemente marcada por um descomprometimento dos indivíduos

com o seu entorno, incentivando-os a assumirem o papel de consumidores, em detrimento

ao papel de cidadãos, portadores de direitos e deveres. Sendo assim, poder-se-ia dizer que

as áreas verdes urbanas são possibilidades de revigoramento do exercício da cidadania no

conflituado contexto urbano.

Enquanto espaço público, as áreas verdes sofrem as interferências da dissociação de facetas

do homem contemporâneo, seja como contribuinte/ consumidor, seja como cidadão. Neste

caso, há uma dissociação de como se é em casa e na rua, implicando em abandono e

degradação desses espaços públicos. Nestas condições ruins e desagradáveis, parte das

necessidades dos contribuintes não são atendidas, muitos pagam pelo espaço público e não

utilizam dele para as suas atividades cotidianas. Estes espaços muitas vezes se constituem

em espaços de exclusão, onde muitos abdicam de sua faceta de cidadão, assumindo

unilateralmente a de consumidor. Outros se apropriam do local público com atividades

marginais e agressivas à comunidade.

As áreas verdes urbanas públicas contemporâneas, nas cidades de médio e grande porte, no

Brasil, encontram-se, muitas vezes, deturpadas, enquanto uso, espaço de convívio coletivo,

e foram transformadas em espaços fragmentados e dispersos pela cidade, como também são

frutos das contradições da sociedade moderna que se apresentam numa simultaneidade de

usos dado os diferentes usuários dos lugares. A compartimentalização das concepções

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teóricas, relacionadas ao homem e à cidade, e o urbanismo nos moldes racionalistas

interferiram no ordenamento dos espaços urbanos, privilegiando os espaços privados e, ao

mesmo tempo, restringindo as possibilidades do uso público-coletivo em favor de um maior

lucro dos investimentos econômicos. Neste caso, na cidade contemporânea, o valor de

compra tem supremacia em relação do valor de uso e as áreas verdes, aliadas à concepção

racional do espaço urbano, destinam-se à eficiência e à eficácia do fluxo de veículos e de

pessoas, tornando-se meros locais de passagem. Caracterizadas como “ilhas”, as áreas

verdes são desarticuladas do convívio social e apresentam atividades marginais e de

exclusão decorrentes da forma como a sociedade se organiza.

A desigualdade social e a falta de educação ambiental expressam-se sob a forma de

marginalidade, quando na disposição de lixo nos espaços públicos, na presença de drogas e

de pessoas desocupadas e pedintes nas áreas verdes públicas. O espaço aberto, público,

sombreado, principalmente quando localizado na região central, onde há uma maior

circulação de pessoas, de mercadorias e dinheiro, é o local preferido por aqueles excluídos

da sociedade, que não têm onde morar. Estas pessoas fazem dessas áreas verdes a sua “sala

de visita” e o seu local de inserção social.

Neste estudo, questiona-se o respeito do homem para consigo mesmo, para com a sua

cidade e para com a natureza. Seria uma crise pessoal, cultural, de ordem e lei, de consumo,

de conhecimento e/ou cidadania? A utilização e a conservação dos espaços públicos, em

específico, das áreas verdes, estaria interrelacionada ao comportamento do ser humano

enquanto ator social e cidadão? Não seria o verde urbano uma forma de se construir uma

aproximação, interação entre o ser humano e a natureza, entre um ser humano e outro,

quando este se individualizou e fragmentou suas aspirações?

Como se dá a integração da área verde e ser humano na cidade de Divinópolis? Na região

central, local recortado para o estudo, vê-se a redução dos espaços verdes “pausa” em

favor de uma verticalidade e aumento na ocupação do solo por edificações cada vez mais

voltadas ao funcionamento da acumulação capitalista. As praças escolhidas para o estudo

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foram a Praça Benedito Valadares e Praça Dom Cristiano, por representarem “pausas” no

espaço urbano e serem carregadas de símbolos e significados. Segundo LEFEBVRE3 as

praças podem ser utilizadas pela população que a freqüenta pelo seu “valor de uso” mas

também pelo seu “valor de compra”. As praças selecionadas nesse estudo estão sendo

vivenciadas pela população que a freqüenta tanto pelo seu valor de compra quanto pelo seu

valor de uso. São muitos os questionamentos diante desse tema e, optamos por recortar as

duas praças - Praça Benedito Valadares e Praça Dom Cristiano - localizadas na região

central, devido a uma alta densidade de ocupação nesta região e sua relevância dentro do

contexto urbano enquanto alternativa de integração da área verde, cidade e ser humano.

Como se dá o valor de uso, no que diz respeito ao cotidiano das pessoas nas duas praças

estudadas4? Como o valor de compra, agregado ao espaço da cidade, sob o domínio do

mercado financeiro/capitalista, onde predomina a produção e o consumo se manifesta nas

duas praças? Qual é o comportamento dos usuários das praças no que se refere ao consumo

de produtos e mercadorias que são oferecidos nesses espaços? Como o valor de uso e de

compra se interagem nesses lugares? Quais as necessidades das pessoas em relação às

praças? Há indícios de necessidade de monitoramento e gestão do lugar?

A análise sobre as áreas verdes no espaço urbano visa evidenciar suas contradições,

impasses e ao mesmo tempo suas possibilidades de superação das dicotomias: homem-

natureza, indivíduo-sociedade, público-privado. Para tanto, fez-se uma abordagem

qualitativa das relações sociais, como fora proposto por MINAYO5, seguindo a técnica da

observação participante. O procedimento metodológico dialético privilegia os sujeitos 3 Segundo LEFEBVRE, valor de uso diz respeito à apropriação dos lugares num tempo-espaço apropriado. O uso do espaço urbano, da rua, contém funções informativas, simbólicas e lúdicas, “é o lugar da palavra, o lugar da troca pelas palavras e signos, assim como pelas coisas.” (LEFEBVRE, 2004, p. 30) Já o valor de compra, relacionado ao espaço, quer dizer que “ hoje o espaço inteiro entra na produção como produto através da compra, da venda, da troca de parcelas do espaço[...]. Os centros urbanos são centros de consumo e os lugares também. (LEFEBVRE, 2004, p. 142). 4 LEFEBVRE, 1969, p. 121. Lefebvre dá importância ao lúdico, no sentido mais amplo: “esporte é lúdico, o teatro também, de modo mais ativo e participante que o cinema. As brincadeiras das crianças não devem ser desprezadas, nem as dos adolescentes. Parques de diversão, jogos coletivos de todas as espécies persistem nos interstícios da sociedade de consumo dirigida, nos buracos da sociedade séria que se pretende estruturada e sistemática, que se pretende tecnicista.” 5 MINAYO, 2004.

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sociais, abrange todos os atores envolvidos e não se preocupa em quantificar, mas em

explicar os meandros das relações sociais que podem ser apreendidas através do cotidiano,

da vivência e da explicação do senso comum. Este método baseia-se na observação da

realidade social e adequação da visão dialética, que privilegia a contradição e o conflito

sobre a harmonia e estabilidade; a transição e a mudança, sobre a estabilidade; o

movimento histórico; a totalidade e a unidade dos contrários,6 que supõe qualidade contra a

quantidade e apresenta uma abrangência transdisciplinar no campo da pesquisa. A esse

respeito, baseando-se em HABERMAS7, o uso da área verde seria a superação de uma

racionalidade instrumental para uma racionalidade comunicativa, uma vez que o espaço

social incorpora significado e intencionalidade, inerentes aos atos, relações e estruturas

sociais.

Por ser uma abordagem qualitativa, a apreensão da realidade do espaço público se fez por

aproximação, envolvendo aspectos históricos, políticos, culturais e ideológicos, não se

podendo contentar com os dados estatísticos. Nessa perspectiva, a pesquisa partiu das

seguintes fases:

1 – Fase exploratória: compreendeu a escolha e delimitação do problema, definição do

objeto e objetivos, construção do marco teórico conceitual e coleta de dados. Para

investigar o assunto, foram realizados estudos nos campos da Filosofia e Sociologia para

uma conceituação sobre a natureza, o homem e a vida urbana, a fim de entender as

concepções sobre o público e o privado, a rua e a casa, o coletivo e o individual, a

sociedade e o indivíduo. O foco central é a natureza na qual o homem é parte integrante do

meio físico natural e artificial, do meio social e sensorial.

O vínculo que une o homem e a natureza é igual ao de natureza-natureza. Para tanto, foram

utilizados os estudos de Serge Moscovici8 sobre natureza enquanto meio social.

MOSCOVICI analisa, em seus estudos, a inter-relação homem e natureza, como essencial à

6 MINAYO, 2004, p. 86. 7 HABERMAS apud HERRERO, 1986, p.17. 8 MOSCOVICI, Serge. Sociedade contra natureza. Petrópolis: Vozes, 1975.

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sociedade. O homem é parte da natureza e depende dela para a articulação de ações e de

pensamentos.

Henri Lefebvre9questiona a vida urbana nos moldes modernos, vê a cidade como lugar de

encontros com o outro e consigo mesmo. Os seus estudos versam sobre a vida cotidiana e a

produção do espaço na reprodução da sociedade contemporânea. As transformações

operadas no campo de desenvolvimento do mundo da industrialização e da mercadoria

acompanham a decomposição da cidade em fenômeno urbano. O autor mostra-se em favor

da rua por ser um lugar de encontro, de movimento e de mistura, propício à aventura, ao

imaginário, aos jogos, ao encontro, a criação, ao lúdico, dentre outros. Na rua, o valor de

uso domina em relação ao valor de troca, entretanto, a partir do momento em que a rua foi

suprimida, com o pensamento moderno, viu-se a extinção da vida e a redução da cidade a

dormitório. As necessidades básicas ao ser humano foram negligenciadas e houve

funcionalização da existência e racionalização do espaço, com primazia dada à mercadoria

e ao consumo.

A compreensão da natureza, conciliada à vida na cidade, foi embasada, principalmente, nos

estudos de James Hillman10, psicólogo que se ocupa em levar a reflexão psicológica para

além dos limites do consultório dos analistas. Ele reconhece que a cidade, onde o corpo

vive e se move e tece as relações, também é psique. Por seguir os sintomas das cidades, ele

refletiu sobre a alma do mundo, mostrando a alma como possibilidade de e em todas as

coisas. A patologia das cidades, da tecnologia, das instituições, da política, dos padrões de

consumo, dos espaços públicos parece estar em sintonia com a tradição da psicologia

profunda, numa época de ecologia profunda. O retorno da alma ao mundo, como proposto

por HILLMAN, subjetiviza o enfoque ecológico, inclui a urbanidade como campo válido

de experiências e sensibiliza quanto à patologia e à beleza do que está à volta dos pacientes

enquanto cidadãos.

9 LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969. ______. Revolução Urbana. Belo Horizonte: UFMG, 2004. 10 HILLMAN, James. Cidade & Alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993.

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A área verde urbana, enquanto possibilidade de revigoramento ambiental da cidade insere-

se na questão ambiental e na qualidade de vida. Na abordagem sobre a cidade foram

utilizados os estudos de Lewis Mumford11 e Françoise Choay12. MUMFORD reflete sobre

o crescimento das cidades, suas formas, funções e finalidades que dela emergiram no

decorrer da história. Através de críticas às cidades modernas, ele propõe uma revalidação

das ações humanas e da configuração das cidades contemporâneas articuladas à cultura e ao

meio ambiente, levando em consideração todas as dimensões dos organismos vivos e

personalidades humanas. CHOAY estabelece propostas e críticas na revisão de idéias de 37

autores, dentre eles Camillo Sitte, Ebenezer Howard, Lewis Mumford, Jane Jacobs, Kevin

Lynch e Georg Simmel. Ela faz questionamentos e interpretações sobre o urbanismo a

partir do século XIX e situa os problemas atuais do planejamento urbano como resultado da

conformação das cidades e do fracasso na ordenação dos locais. Refletiu sobre a sociedade

industrial e urbana enquanto estrutura e significado da relação social.

A respeito dos problemas ecológicos e suas interfaces com a cidade e o com o viver do

homem contemporâneo e, em específico, no Brasil, foram utilizados os estudos de Solange

S. Silva-Sánchez13. A autora trata das políticas ambientais locais e participativas, dos

desafios sociais e técnicos da gestão ambiental dos municípios e faz um percurso pelas

legislações ambientais referentes às áreas de proteção, aos recursos hídricos e ao

desenvolvimento sustentável.

Sobre o objeto de estudo – pausa urbana – foram tratadas questões relacionadas ao espaço

público, o espaço privado e o social, no que se refere à relação entre o indivíduo e a

sociedade, baseando-se nos estudos de Norbert Elias14, Roberto DaMatta15 e Hannah

11 MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 12 CHOAY, Françoise. O Urbanismo: utopias e realidades uma antologia. São Paulo: Perspectiva, 1988. 13 SILVA-SÁNCHEZ, Solange S. Cidadania ambiental: novos direitos no Brasil. São Paulo: Humanitas, FFLCH/USP, 2000. 14 ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 15 DAMATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.

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Arendt16. Para ELIAS os indivíduos se relacionam numa pluralidade, isto é numa

sociedade. A relação indivíduo e sociedade está intimamente ligada ao processo civilizador,

de geração em geração, num contínuo processo de interações entre uns e outros. Nesta

concepção, é impossível conceber o indivíduo dissociado da sociedade.

Já DAMATTA estuda sobre a relação entre espaços abertos e públicos, expresso no

contraste entre a casa e a rua, vividas pela nossa cultura, como mundos distintos e opostos.

A casa reproduz a força do trabalho e os valores básicos da sociedade; é o mundo em que

espaço e tempo repetem-se em ciclos e as pessoas se reconhecem como indivíduos. Já na

rua, o espaço do movimento, do trabalho, do inesperado e da alteridade, o habitante não se

reconhece como cidadão, pois se encontra alienado e indiferente ao que o cerca. O espaço

da rua e da casa são categorias sociológicas que designam entidades morais, esferas de ação

social, domínios culturais capazes de despertar emoções, reações e imagens. A constituição

dos espaços públicos abertos brasileiros é inexpressiva em relação aos demais espaços. Isto

devido à presença da herança portuguesa na constituição das cidades, onde se privilegiam

os espaços construídos.

Os estudos de ARENDT relacionam-se aos conceitos de espaço público e privado. Para

formulação dos conceitos ela faz um percurso pela história das esferas da polis e da família,

intimamente ligadas ao público e ao privado, de origem grega; da esfera do social, que não

era público e nem privado, de origem moderna. A esfera pública seria o lugar do comum,

enquanto aquilo que pode ser visto e ouvido por todos. O conceito de esfera privada é

aquela que priva o ser humano não só de seu lugar no mundo, mas também do seu contato

com os outros. Neste conceito, ARENDT relaciona a propriedade privada ao processo de

acumulação de riquezas e de descoberta da individualidade, que parece constituir uma fuga

do mundo exterior. A esfera privada é transformada em social e a distinção entre público e

privado equivale à diferença entre o que deve ser visto ou ocultado pela sociedade.

16ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1983.

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Relacionando a pausa musical à pausa urbana, foram considerados os estudos de Luis

Boada17 , de Pozzoli18 e Bohumil Med19. BOADA orienta seus estudos para a cidade e tem

como hipótese básica a necessidade de retomada do valor nas relações humanas. Ter valor-

em-si significa, para ele, ter espaço e estar integrado a ele. Nada pode suprir a presença dos

lugares, eles devem proporcionar satisfação, imaginação, criação e percepção sensorial.

Para isto, ele relaciona a natureza urbana com percepção sensorial e faz um diálogo entre o

corpo humano, articulações e equilíbrio, ritmo e geometria. POZZOLI e MED, enquanto

compositores, estudiosos e teóricos em música, abordam conceitos relacionados às

principais partes das músicas, como a melodia, a harmonia, o contraponto e o ritmo. Para

MED, a música é a arte de combinar sons, com ordem, equilíbrio e proporção dentro de um

tempo20 . Nos seus estudos são analisadas a grafia musical e o seu significado (notas,

valores, claves, compassos, matizes, abreviaturas, etc.) e os sistemas musicais (escalas,

intervalos, acordes, etc.).

Como as pausas urbanas inserem-se num contexto de “lugares” na cidade, procuraram-se

olhares múltiplos através dos autores: Nelson Brissac Peixoto21 e Ana Fani Alessandri

Carlos22. PEIXOTO propõe, aos habitantes da cidade, um olhar diferente para os lugares,

um “olhar de estrangeiro”, para que eles sejam capazes de ver o que os outros, que estão lá,

não mais podem perceber, e vivenciar o cotidiano contemporâneo com mais valor e

imaginação. Para CARLOS, os percursos realizados pelos habitantes do lugar interligam as

casas as ruas, aos lugares de lazer e de comunicação, ordenados segundo às propriedades do

tempo vivido. Um mesmo trajeto convoca o privado e o público, o individual e o coletivo, o

necessário e o gratuito. Enfim, o ato de caminhar é o meio intermediário que interliga os

lugares vividos pelos habitantes da cidade.

17 BOADA, Luis. O espaço recriado. São Paulo: Nobel, 1991. 18 POZZOLI. Guia teórico-prático: para o ensino do ditado musical. São Paulo: Ricordi, 1983. parte 1. 19 MED, Bohumil. Teoria da música. Brasília: Musimed, 1996. 20 MED, 1996, p. 11. 21 PEIXOTO, Nelson Brissac. O olhar do estrangeiro. In: NOVAES, Adauto (Org.). O olhar. São Paulo: Companhia das letras, 2002. p. 361-365. 22 CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.

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2 – Fase trabalho de campo, ou exploração de campo: foi desenvolvida através de entrevista

do tipo semi-estruturada e observação participante. Essas técnicas de pesquisa têm por

finalidade possibilitarem a interação com os atores sociais envolvidos e um

aprofundamento qualitativo da investigação. Trata-se de recolher dos indivíduos

informações subjetivas através de sua fala, gestos, valores, opiniões, condutas ou

comportamentos.23 Enquanto entrevista semi-estruturada24, adotou-se um roteiro específico,

com perguntas fechadas e abertas, aplicado aos atores representativos do assunto estudado,

a fim de apreender seus pontos de vista e tornar possível uma maior percepção e

aprofundamento no registro das observações, que podem ser melhor visualizados no Anexo

G 25. No diário de campo, registraram-se tanto as entrevistas quanto as observações sobre

conversas informais, comportamentos, festas, gestos, expressões, usos, costumes que

caracterizam essa representação social. Segundo Max Weber, representação social é um

termo filosófico que “significa reprodução de uma percepção anterior ou do conteúdo do

pensamento”. 26

A técnica de pesquisa adotada, observação participante, segundo SCHWARTZ &

SCHWARTZ, é definida como:

[...] um processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. O observador está em relação face a face com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe dados. Assim o observador é parte do contexto sob observação, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (SCHWARTZ & SCHWARTZ apud MINAYO, 2004, p. 135).

Na observação participante, percebeu-se como se dão os usos nos espaços públicos

selecionados, como se obedecem as regras, quais os laços de amizade entre os atores sociais

e os vínculos que os mantêm no lugar, quais as tradições e os costumes, os motivos e os

23 THIOLLENT, 1981, p. 96. 24 MINAYO, 2004. 25 Roteiro pesquisa de campo. Anexo G 26 WEBER apud MINAYO, 2004, p. 158.

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sentimentos desses atores. Nessa fase, “o dia-a-dia é entendido como um tecido de

significados, instituído pelas ações humanas e passível de ser captado e interpretado.”27

A pesquisa foi composta por três fases, conforme proposto por G. MICHELAT28. A

primeira constituiu-se da escolha de um pequeno número de pessoas representativas do

assunto, tais como os moradores do entorno próximo e imediato, os comerciantes locais e

ambulantes, os freqüentadores da praça – crianças, pais, jovens, idosos, grupos de amigos e

estudantes – a fim de uma maior diversificação dos atores envolvidos.

A segunda fase constituiu-se da gravação e de registro, por escrito, das entrevistas, como

também do registro fotográfico dos locais recortados para estudo. No decorrer das

entrevistas, procurou-se estimular o entrevistado a fim de explorar o seu universo cultural,

sua relação com o lugar e os vínculos estabelecidos. As fotos chamaram atenção para certos

ambientes sócio-espaciais expressivos que voltaram a ser traduzidos sob a forma de

desenhos. O desenho realça aspectos diluídos nas fotografias que confundem o pesquisador

com sua ilusão realista. Encontros, centros de convívio, locais de jogos e de brincadeiras,

situações que conformavam a vida de relações na região central foram submetidos a

observações e registros fotográficos.

Já na terceira fase, partiu-se para a análise do conjunto das entrevistas, onde se levantaram

“as verbalizações assim como as hesitações, os silêncios, os risos, os lapsos, etc., que são

reveladores de significação latente.”29 Cada entrevista foi analisada na tentativa de

encontrar sintomas relativos ao “sistema de representações, de valorizações afetivas, de

regras sociais, de códigos simbólicos interiorizados pelo indivíduo no decorrer de sua

socialização e sua relação, eventualmente conflitiva, com as diversas dimensões de uma

experiência atual que ele partilha com muitos outros.”30 Analisadas as entrevistas, abriu-se

27 SCHUTZ apud MINAYO, 2004, p. 164. 28 MICHELAT apud THIOLLENT, 1981, p. 86. 29 THIOLLENT, 1981, p. 86. 30 MICHELAT; SIMON apud THIOLLENT, 1981, p. 86.

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um campo de informações na qual os elementos significativos permitiram a construção do

vivido pelas pessoas e seu cotidiano.

Paralelamente às entrevistas, levantou-se a documentação disponível através de leis

federais, estaduais, municipais; de mapas referentes ao município de Divinópolis31, de

registros do Anuário Municipal32 relacionados ao Meio Ambiente, População das regiões.

3 – Fase Análise documental: A análise sobre os dados obtidos constituiu-se de uma

discussão teórica sobre as áreas verdes urbanas públicas, situadas no perímetro urbano de

Divinópolis, de acordo com a localização das mesmas em setores e unidades de análise, já

previamente definidos pelo Anuário Municipal33. Para o cadastramento dessas áreas verdes,

utilizou-se dos mapas digitalizados, em AutoCAD, constando do mapa Cadastral do

Município de Divinópolis e do mapa Aerofotogramétrico34, adquiridos pelo vôo em 1998,

além dos mapas dos loteamentos aprovados, em papel sulfite e vegetal, arquivados na

DICAF- Diretoria de Cadastro e Fiscalização35 e da relação de todas as áreas verdes,

registradas em cartório, fornecida pelo Setor de Patrimônio da DICAF.

Os mapas confeccionados, para a análise das áreas verdes no município de Divinópolis:

- Mapa área verde urbana pública anterior e posterior à Lei n. 6.766/79, na escala

1:250.000. Refere-se ao cadastro geral de todas as áreas verdes públicas existentes no

perímetro urbano e documentadas no cartório de registro de imóveis de Divinópolis. Este

mapa retratou as áreas verdes em dois momentos distintos. Um anterior à Lei n. 6.766/1979

– lei de parcelamento do solo urbano - momento em que os loteamentos foram aprovados

sem exigência de requisitos legais ao parcelamento do solo e utilização de áreas públicas.

Outro, posterior à Lei n. 6.766/1979, quando se exigiam, na aprovação dos loteamentos, a

destinação de 35% da área da gleba para fins de circulação, de implantação de

31 SEPLAN, 2006. 32 ANUÀRIO ESTATÍSTICO DE DIVINÓPOLIS, 2005. 33 ANUÁRIO ESTATÍSTICO DE DIVINÓPOLIS, 2005. 34 SEPLAN, 2006. 35 DICAF, 2007.

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equipamentos urbanos e comunitários e de espaços livres de uso público.36 Estando as áreas

verdes incluídas nos espaços livres de uso público, nota-se que não há uma menção

específica sobre estas áreas, nem sua discriminação e qualificação, o que resulta em áreas

residuais dentro do perímetro urbano;

- Mapa área verde urbana pública na região central e ocupação do solo, na escala 1:12.500.

Diz respeito a um recorte da área de estudo e possibilita uma visualização das áreas verdes

públicas e o uso e ocupação do solo urbano;

- Mapa densidade bruta nas regiões de planejamento, na escala 1:500.000. Este mapa

propõe uma percepção geral das áreas mais ocupadas dentro do perímetro urbano de

Divinópolis;

- Mapa densidade líquida na região central, na escala 1:2.500. Tem como objetivo um

fornecimento de dados reais no que diz respeito à ocupação do centro e das imediações das

duas praças escolhidas para o estudo. Os dados relacionados à ocupação de cada quadra ora

foram baseados em dados fornecidos pela Vigilância Sanitária37, ora em pesquisa de campo

acrescido de dados estimados, previamente definidos pelo IBGE, sendo de 3,5 pessoas por

domicílio para a família brasileira38;

- Mapa área verde urbana pública e habitante, na escala 1:500.000. Finalmente este mapa

propõe um retrato da realidade de área verde urbana pública, no município de Divinópolis,

comparada ao mínimo estabelecido pela SBAU (Sociedade Brasileira de Arborização

Urbana), que é de 15m² de área verde por habitante39 e pela ONU que é de 12 m², área

verde urbana mínima que possibilite o equilíbrio entre os espaços construídos e espaços

verdes nas cidades contemporâneas.

36 BRASIL. Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979, art. 4º §1º. 37 SEMUSA. Vigilância Sanitária de Divinópolis. Dados coletados em 2005. 38 MAGALHÃES, 2002, p. 100. 39 SOCIEDADE BRASILEIRA DE ARBORIZAÇÃO URBANA-SBAU. Carta a Londrina e Ibiporã. Boletim Informativo, v. 3, n. 5, p. 3, 1996.

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Numa abordagem específica e qualitativa do objeto de estudo, fez-se um recorte da região

central, nela localizadas as duas Praças: Praça Benedito Valadares e Praça Dom Cristiano.

Para a análise das praças, levou-se em conta o registro fotográfico fornecido pelo Centro de

Memória da FUNEDI, os mapas elaborados, o levantamento de campo, a pesquisa

participante e os referenciais teóricos utilizados. Essas praças representam,

conceitualmente, ao que fora definido neste estudo, enquanto meio social, local de

encontro, de movimento e de festas. Enquanto meio natural, aquele que favorece o

microclima local e propicia uma biodiversidade e uma melhor qualidade ambiental.

A partir dos dados coletados procurou-se, na análise final, fazer uma discussão analítica das

diferentes situações dos dois locais estudados, que sugeriram uma comparação entre eles,

num movimento dialético, ora particular ora geral; ora concreto ou abstrato; ora

exterioridade ou interioridade estudou-se a especificidade dos objetos pela prova do vivido

em suas relações essenciais. O ciclo da pesquisa findou-se num produto provisório que se

abriu a interrogações lançadas no final, articulou objeto e sujeito numa interação de

significados e conteúdos passível de mutação no decorrer do tempo.

Espera-se alcançar, com os resultados finais deste estudo, apresentados em mapas e

quadros-síntese, num primeiro momento, uma visualização geral das áreas verdes urbanas

públicas no município de Divinópolis, sua disposição no espaço urbano e sua utilização

pela sociedade. Neste contexto, analisar o processo da evolução urbana, os impactos

ambientais da ocupação e o uso dessas áreas verdes, bem como sua importância e

relevância para a cidade contemporânea. O material coletado mapeado e fotografado

constituiu-se de um suporte para melhor apreensão de todo o contexto urbano, a fim de

contextualizar o objeto de estudo em Divinópolis e subsidiar a análise qualitativa das duas

praças selecionadas.

No segundo momento, numa análise qualitativa das praças: Benedito Valadares e Dom

Cristiano, espera-se apreender os aspectos sociais, ambientais, filosóficos, políticos e

econômicos que tecem as relações nas áreas verdes urbanas. E, ainda, detectar os problemas

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dos espaços públicos e as possibilidades inerentes às áreas verdes para demonstrar a

importância do verde urbano para o ser humano que vive na cidade contemporânea, seus

anseios, desejos e necessidades que foram negligenciadas pelas concepções modernas.

As possibilidades de articulações dos espaços, através das áreas verdes, têm na pluralidade

e diversidade dos espaços construídos seu maior desafio e, ao mesmo tempo, sua maior

potencialidade. O espaço urbano carece de alternativas que recriem as relações entre

sociedade e indivíduo, entre espaço construído e espaço natural.

Espera-se com esse estudo contribuir para um novo modo de pensar a cidade

contemporânea, bem como um novo modo de viver os espaços públicos com presença e

participação. Alerta-se para a dissociação das facetas do ser humano, indivíduo e cidadão,

que vão em direção contrária à função da cidade, enquanto convívio e sociabilidade.

Indicam-se necessidades primeiras para o ser humano contemporâneo que, destituído de si

mesmo, procura por um lugar de encontros, de significados, de pausa em meio às

aglomerações urbanas.

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1 A NATUREZA E O HOMEM – RELAÇÕES E IMPLICAÇÕES NA VIDA

URBANA

As origens da vida e da criação remontam há um longínquo tempo. Coube ao ser humano,

enquanto membro integrante da criação, cuidar da terra, das águas, do ar, dos animais e dos

vegetais...viver em sociedade...e integrar-se ao meio criado, porque “tudo era bom”.

GÊNESE I – As origens A criação No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas [...] (Gen. 1, 1-4) Deus disse: Que as águas que estão debaixo dos céus se ajuntem num mesmo lugar, e apareça o elemento árido. E assim se fez. Deus chamou ao elemento árido TERRA, e ao ajuntamento das águas MAR. E Deus viu que isso era bom. Deus disse: Produza a terra plantas, ervas que contenham sementes e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente. E assim foi feito. A terra produziu plantas, ervas que contém semente segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente. [...] (Gen. 1, 9-13) Deus disse: Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie[...] E Deus viu que isso era bom (Gen. 1, 24)40.

O conceito de natureza é muito amplo e para defini-la, partiu-se das concepções da

Enciclopédia Logos, que apontam para um conjunto de princípios, diversamente ligados

entre si, tendo como principais e relacionadas ao objeto de estudo, área verde urbana41: “o

princípio de movimento ou a substância [...]; a ordem necessária ou a conexão causal [...]; a

exterioridade, enquanto contraposta à interioridade da consciência.” Cada um deles pode

ser encontrado nos discursos, na mídia ou na produção científica. O primeiro é o mais fácil

de ser visualizado. Neste estudo, considerou-se natureza aquilo que nasce e renasce num

ciclo infinito, como uma força criativa que emana dos seres e faz que a ordem necessária de

todas as coisas encontre o seu fim, como sugerido pela Enciclopédia Logos.

40 BÍBLIA SAGRADA. A.T. Gênesis. 8. ed. São Paulo: Ave Maria, 1996. cap. 1, p. 49. 41 PIRES, Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 1989, p. 669.

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Segundo Aristóteles, a natureza tem um valor-em-si próprio, que “só podia mesmo ser

compreendida como sujeito do entendimento e da contemplação e não como objeto da

transformação pelo trabalho humano”42, “é o princípio e a causa do movimento e do

repouso da coisa à qual é inerente primeiramente e por si, não acidentalmente.” 43 Neste

conceito, a natureza é abordada como aquilo que é a essência necessária de todos os seres e

a totalidade de todas as coisas. Poder-se-ia dizer que natureza é aquilo que envolve toda a

criação, inclusive o ser humano, em todas as suas dimensões internas e externas ao seu

corpo natural. Esta concepção leva à segunda, onde se encontra a dimensão da ordem como

necessidade. A lei da natureza “é a regra do comportamento que a ordem do mundo exige

que seja respeitada pelos seres vivos, regra cuja realização, segundo os estóicos, era

confiada ao instinto (nos animais) ou à razão (no homem)” 44. Assim, todo o movimento

tende a um estado de equilíbrio e de repouso, assim como todo o ser humano necessita de

contemplação e interação com o que o cerca.

Nesta discussão acerca da conceituação sobre a natureza, o homem e a vida urbana, o foco

central é uma natureza na qual o ser humano é parte integrante do meio físico natural e

artificial, do meio social e sensorial. A Natureza é uma só, tanto aquela que se vê e se

usufrui para produzir a própria existência, percebida na árvore que produz o oxigênio, no

rio que fornece a água, na terra que fornece o alimento, quanto àquela que se mantém

presente no interior de cada ser humano e lhe produz a vida física, biológica, intelectual e

psíquica, mantendo-o interligado a todas as criaturas.

O vínculo que une o ser humano e a natureza é igual ao de natureza-natureza. Os princípios,

que unem a natureza, unem também a pessoa humana. A partir daí, vê-se que o ser humano

não está dissociado da natureza, mas é parte integrante da mesma, dependendo dela para a

articulação de todas as suas ações, pensamentos e sentimentos. É inconcebível um conceito

de natureza desligado do ser humano e de homem não integrante do ambiente natural.

Mesmo que em meio aos saberes gerados pelas artes e pelas ciências, a natureza é inerente 42 ARISTÓTELES apud PEDROSA, 2003, p. 5. 43 PIRES, Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 1989, p. 670. 44 PIRES, Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 1989, p. 670.

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à existência humana. O resultado final desta relação não é um estado artificial, como aquele

idealizado no pensamento moderno, por Locke e Hobbes45, “mas um progresso na natureza,

enquanto a espécie humana aproveitou, para suas necessidades e seus desejos, as suas

diversas manifestações”.46

A natureza está no ser humano e este na natureza, porque o ser humano é produto da

história natural e a natureza é a condição concreta da existência humana. A natureza

enquanto princípio de movimento e ordem necessária, segundo PIRES47, está

intrinsecamente relacionada à manifestação do ethos, ao exercício de cidadania e

solidariedade, seja por remeter ao essencial de todas as coisas, seja por indicar o equilíbrio

entre as relações internas e externas do ser humano.

Considerando que, na atualidade, a delimitação de fronteiras entre os espaços físicos

encontra-se mesclada em meio às suas interconexões rápidas, assim também as

delimitações entre rural e urbano, natural e artificial apresentam-se integrados e conexos.

Vê-se, então, a necessidade de uma nova abordagem ao se caracterizar a natureza.

(ela é) um dado imediato. Compreende os meios em que os indivíduos se sentem em uníssono com outras criaturas que os cercam, onde os ritmos de atividade e o consumo de energia exprimem o funcionamento espontâneo dos sentidos, as normas imemoriais e o lento escoar do tempo (MOSCOVICI, 1975, p. 14).

Apreender a natureza e dominá-la têm sido metas desde a antiguidade clássica, culminando

no desenvolvimento da ciência moderna. Entretanto, a sociedade contemporânea vive um

vasto número de problemas que envolvem a forma como se relaciona com a natureza, o

modo de vida dessa sociedade, as sensações, o pensamento e as suas ações. Pensar a

natureza, hoje, e a forma como o homem se relaciona com ela, faz remeter-se ao passado, a

45 BOBBIO; BOVERO, 1986, p. 37. 46 MOSCOVICI, 1975, p. 13. 47 PIRES, Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 1989, p. 669.

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fim de compreender as mudanças que se processaram na sociedade, no seu modo de pensar,

de interagir com a natureza e produzir.

Em contrapartida às definições de natureza referidas anteriormente, a sociedade

contemporânea ocidental apóia-se numa visão que separa o ser humano da natureza. Em

relação à natureza, os seres humanos instauraram a relação do fazer e conquistar e “como

lhes faltassem os recursos, foram procurá-los ali onde se escondiam”.48 Os seres humanos,

seres frágeis em relação às outras espécies e desprovidos de inúmeras vantagens, tiveram de

preencher as lacunas com as artes, as ciências e as técnicas e instituíram próteses que se

uniram ao seu corpo. Envolvidos pelo desenvolvimento do mercado econômico, as pessoas

transformam as suas relações com o outro ser, com a natureza num privatizar de seus

interesses. Sendo assim,

o nascimento do individualismo, com a individualização dos atos, dos interesses e das relações humanas, deu vigoroso impulso à oposição entre sociedade e natureza [...]. Entretanto, a socialização dos interesses, dos atos, das relações humanas é uma tendência fundamental de nossa época (MOSCOVICI, 1975, p. 9).

Por outro lado, segundo Aristóteles, somente “na convivência com os outros o homem é

homem”49 e, portanto, o homem é, por natureza, um ser social. Entretanto, o modo de vida

na cidade contemporânea tolhe a sociabilidade humana, seja pela individualização e

privatização dos atos dos indivíduos, seja pela mercantilização excessiva dos espaços

voltados ao consumo e à produção, ou ainda pela restrição de áreas de convivência que

possibilitem o exercício dessa sociabilidade. Vê-se, cada vez mais nitidamente, a urgência

de pensar as origens da relação ser humano e natureza e reavaliar os pressupostos

capitalistas, que privam a modernidade da socialização, da liberdade dos atos e da

integração entre a pessoa humana e a natureza. Por isso, há um novo olhar a ser assimilado

na atualidade voltado à construção do valor-em-si em todas as coisas.

48MOSCOVICI, 1975, p. 15. 49 ARISTOTELES apud PEDROSA, 2003, p. 5.

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A natureza, enquanto contemplação, nos remete à necessidade de equilíbrio do homem,

principalmente, nos tempos atuais. A necessidade de beleza, contemplação pela alma vem

desde o início da criação. E, na cidade, o homem pode também perceber a presença do belo,

da natureza em seus passos. Essa percepção está atrelada aos sentidos – olfato, tato, visão e

audição – e reporta ao modo mais primitivo e sensorial do conhecimento.

1.1 Natureza enquanto meio social

FIGURA 1 – Praça Benedito Valadares. Divinópolis/ MG. Convívio e encontro entre pessoas de diferente faixa etária. Fonte: ARQUIVO MUNICIPAL DE DIVINÓPOLIS, 2000.

A relação homem e natureza é colocada sob a ótica de evolução tempo/ espacial desde os

primórdios da existência humana. Para MOSCOVICI 50 os homens da antiguidade

possuíam uma convivência pacífica com a natureza e satisfaziam as suas necessidades

físicas e intelectuais sem se preocuparem com o que era seu e de outrem51. O estado de

natureza em que viviam é conhecido pela partilha e não o intercâmbio, o acordo e não a

oposição dos interesses particulares aos interesses gerais. O fato é que entre os homens que

habitavam a Terra, as diferenças existentes não eram suficientes para colocá-los em um

mundo distintos da natureza, tal como é feito na contemporaneidade: de um lado o mundo

natural, de outro, o social, cada um com sua própria alteridade. Nas origens, o homem e a

50 MOSCOVICI, 1975, p. 18. 51 Existem algumas controvérsias quanto a abordagem feita por MOSCOVICI, mas seus argumentos vão de encontro ao presente trabalho. Trata-se da intrínseca relação entre o homem e a natureza desde os primórdios do processo civilizatório.

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natureza compunham um único corpo, diferente de uma sociedade mais complexa, onde são

agregados novos valores à realidade humana e o homem vai se separando da natureza, não

de forma absoluta e em todos os lugares, mas no momento em que essas idéias vão se

expandindo e tomando corpo nas ações e pensamentos. O desenvolvimento histórico do

homem e da sociedade atesta o desarraigamento do quadro primitivo e uma crescente

desnaturação.

Com o domínio da técnica da irrigação, a natureza sofreu as primeiras interferências com a

agricultura e fixou os povos em territórios específicos, formando o berço das civilizações.

Nessa relação de dominação, a natureza é o objeto a ser dominado pelo sujeito, o homem52.

É a visão antropocêntrica do mundo, na qual o homem é o ser primeiro de todas as coisas, e

faz que se esqueça que o termo sujeito, pode significar tanto aquele que age como aquele

que se submete. Essa visão de natureza separada do homem é característica do pensamento

ocidental, cuja matriz filosófica advém da Grécia e da Roma antigas, e se firmou

contrapondo-se a outras formas de pensar e de agir.

O avanço do Cristianismo no Ocidente trouxe uma mudança na concepção dos deuses. O

monoteísmo judaico-cristão erigiu Deus como o Ser Supremo e o homem sua imagem e

semelhança. Tendo o Cristianismo assimilado a visão aristotélico-platônica, adotou dessa

filosofia a separação entre corpo e alma, objeto e sujeito. Na Idade Média, o conceito de

natureza atendeu aos interesses da Igreja e da classe dominante. Este período é marcado

pela concepção na qual a natureza é produto da ação Divina e inacessível aos homens, e

marcada pela separação entre espírito e matéria. No fim da Idade Média, o homem,

enquanto sujeito, rompeu com a heteronomia, desenvolveu a autonomia, que levou muitos

pensadores a enfatizarem o antropocentrismo em contraposição ao teocentrismo medieval.

A construção dessa autonomia está presente em muitos aspectos do processo social

burguês.53

52 LIMA, 1984. 53 BORNHEIM apud NOVAES, 1997, p. 248.

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O movimento cultural renascentista retomou a filosofia clássica colocando o ser humano

como eixo central do mundo e a natureza subserviente aos desejos e às ações humanas, o

que estimulou o desenvolvimento da ciência moderna. Durante a ruptura e transição, no

período renascentista, assinalaram-se transformações nas estruturas materiais e simbólicas

na Europa ocidental, com indícios de uma nova paisagem social, cujos fundamentos

basearam-se na dignidade e na universalização do homem. Esse modelo de natureza,

submetido ao sobrenatural, só vai ser rompido com a consolidação do modo de produção

capitalista, nos séculos XVII e XVIII, que trouxe uma concepção incompleta de homem,

onde os princípios norteadores passaram a ser regidos pelo capitalismo, tendo como

satisfação, os “falsos desejos”54 e a aquisição de riquezas.

Nesse contexto cultural e econômico, as idéias de Descartes, Bacon e Newton55,

influenciadas pelo atomismo grego, vão ser fundamentais para a sistematização dessa nova

concepção de natureza como fonte material a ser explorada pelo homem. A idéia de

“natureza divina” sacralizada, não atendia aos interesses da sociedade ocidental européia,

que via a natureza como uma fonte de recursos a serem explorados e empregados na

reprodução do capital. No século XV, Francis Bacon, influenciado pela filosofia de

Epicuro, entendia o conhecimento como uma forma de poder, concebia a natureza como

algo exterior à sociedade humana, pressupondo uma separação entre natureza e sociedade,

haja vista a relação entre elas serem mecânicas, ou seja, o homem exercia domínio sobre a

natureza em termos essencialmente mecanicistas56. Descartes57 mostrou que a investigação

de um objeto exige, dentre outros aspectos, “submeter todos os dados passíveis de serem

conhecidos a um procedimento de análise, de tal maneira que todo o observável seja

reduzido aos seus elementos mais simples.”58 Os elementos simples vão em direção à

construção do objeto e o objeto construído presta-se à manipulação por parte do ser

humano. A oposição homem-natureza, espírito-matéria se completa e passa a fazer parte do

54 Falsos desejos quer dizer, neste estudo, materialização da subjetividade humana e realização dos desejos internos através da compra e aquisição de bens. O “ser” não tem tanta importância quanto o ‘ter”. 55 HUTCHISON, 2000. 56 FOSTER, 2005, p. 64. 57 DESCARTES apud BORNHEIM, 1997, p. 251. 58 BORNHEIM, 1997, p. 251.

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pensamento moderno. A filosofia cartesiana atribuiu ao conhecimento um caráter

pragmático e à natureza um recurso a ser utilizado. Com Adam Smith, a natureza deixou de

ser o elemento central da teoria econômica, como era concebida pelos fisiocratas, como

fonte de valor e a agricultura como meio de produção da riqueza. 59 Desse modo, a natureza

passou a ser vista como matéria prima de sustentação à produção e em favor da Física.

O Iluminismo, no século XVIII, sob a influência da filosofia de Epicuro60, concebia a

natureza como algo palpável. O mundo passou a ser compreendido a partir do concreto e

não mais de dogmas religiosos. O desenvolvimento da ciência pareceu confirmar o

materialismo epicurista. Marx, em sua tese de doutorado, estudou a filosofia de Epicuro,

[a] “fim de esclarecer o modo como a filosofia epicurista havia prefigurado a ascensão do materialismo, humanismo e individualismo abstrato do Iluminismo europeu dos séculos XVII e XVIII”[...]. “Os seres humanos deixam de ser meros produtos da natureza ou de forças sobrenaturais - observou Marx, baseando-se em Epicuro - quando se relacionam não com alguma existência diferente, mas individualmente com outros seres humanos” (MARX apud FOSTER, 2005, p. 78-84).

A análise apontava para a evolução cultural humana como representando um tipo de

liberdade para organizar, racionalmente, a vida histórica, tirando partido de limitações

estabelecidas pelo mundo material. Ao perceber a realidade do mundo como a “alienação

da essência”61, Marx aponta que Epicuro reconheceu a alienação entre os seres humanos e o

mundo humano.

Com a consolidação do capitalismo, durante a Revolução Industrial essas idéias se

fortaleceram. No século XIX, o desenvolvimento da ciência e da técnica, reascendera o

pragmatismo e a natureza foi concebida como um objeto a ser manipulado e dominado. As

59 OLIVEIRA, 2002, p. 4. 60 KANT apud FOSTER, 2005, p. 73. “Epicuro, escreveu Kant: pode ser chamado o principal filósofo da sensibilidade, e Platão o do intelectual[...] Na crítica da razão prática Kant voltou a enfatizar isto, referindo-se a Platão e Epicuro como representantes da divisão fundamental dentro da epistemologia(entre materialismo e idealismo, o sensível e o intelectual)[...] Kant se referiu aos epicuristas como os melhores filósofos da natureza entre os pensadores gregos.Para Kant, a filosofia devia o seu aprimoramento em épocas recentes em parte ao estudo intensificado da natureza...” 61 MARX apud FOSTER, 2005, p. 84.

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ciências passaram a compartimentar a natureza nos campos da física, química, biologia e o

homem em economia, antropologia, história, sociologia, etc. Nesse contexto, a relação

homem-natureza deixou de ser integrada para se tornar fragmentada, parcial e deu-se a

divisão social e técnica do trabalho. Tudo isso contribuiu para o processo de dicotomização

do fazer e do pensar da sociedade, resultando na alienação social do indivíduo em suas

interfaces com a economia, política, cultura e religião. A novidade desse período é que o

indivíduo humano passou a ser entendido como uma realidade autônoma e o conhecimento

e a liberdade, em suas novas acepções, emprestaram à autonomia a sua transparência.

A ciência moderna e contemporânea adotou um conceito universal de natureza. Através do

domínio da natureza pela apreensão do conhecimento e seu distanciamento da religião

implantou-se uma nova relação do ser humano com o meio natural, de dominação e

racionalidade. Com Darwin, os fenômenos biológicos foram explicados a partir das

mesmas bases científicas utilizadas para compreender os fenômenos químicos ou físicos,

pois a biologia fez-se historicamente fundamental aos estudos científicos. Com a teoria

quântica surgiu o debate em relação ao tempo e ao espaço e, junto aos estudos da matéria, a

relação de tempo e espaço tornou-se básica para os estudos sobre os eventos físicos.

No século XX, o átomo é concebido como uma unidade e um sistema constituído de

partículas que se interagem mutuamente. Dado o desenvolvimento dos estudos da evolução

da vida e das espécies animais e a complexidade das relações da sociedade contemporânea,

vê-se, hoje, o reconhecimento da convivência social como integrante da natureza. Ocorreu

uma ampliação do conceito de natureza e não se pode mais separar o homem da natureza,

“não há nenhuma outra essência que o homem possa pensar, sonhar, imaginar, sentir,

acreditar, desejar, amar e adorar como absoluto senão a essência da própria natureza

humana”62. Neste pensamento, FEUERBACH assimilou “a natureza externa; pois, assim

como o homem pertence à essência da natureza, em oposição ao materialismo comum, da

mesma forma a natureza pertence à essência do homem.”63 Como partículas que se

62 FEUERBACH apud FOSTER, 2005, p. 104. 63 FEUERBACH apud FOSTER, 2005, p. 104.

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interagem, não se separa a natureza da sociedade, o homem é natureza tanto como meio

direto de vida quanto como matéria, objeto e instrumento da sua atividade.

O homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e ele precisa manter um diálogo contínuo com ele se não quiser morrer. Dizer que a vida física e mental do homem está ligada à natureza significa simplesmente que a natureza está ligada a si mesmo, pois o homem é parte da natureza (MARX apud FOSTER, 2005, p. 107).

A dicotomia homem e natureza vem sendo questionada, haja vista a questão ambiental atual

exigir novo paradigma onde homem e natureza façam parte de um mesmo processo. À

medida em que a concepção de natureza muda, mudará também a concepção do que seja o

próprio homem e as ideologias e interesses que acarretam essas transformações.

1.2 Natureza enquanto lugar de (re) encontros com o outro e consigo mesmo

A crise do meio ambiente serviu para alertar quanto às agressões produzidas ao meio

natural. Toda a sociedade é chamada a refletir sobre a natureza e agir positivamente sobre a

mesma. Visto que a problemática ambiental e o afastamento do homem em relação ao meio

natural passa pela mudança de comportamento humano quanto aos hábitos, costumes e

valores. Faz-se necessária uma reflexão sobre a realidade, em sua dimensão filosófica e

social.

Como diz LATOUCHE, a relação homem-natureza se apresenta embasada no modelo de

subserviência ao capital. “A mundialização contemporânea das principais dimensões da

vida não é um processo natural engendrado por uma fusão de culturas e de histórias. Trata-

se de dominação cultural, com suas contrapartidas, sujeições, injustiça, destruição64.” A

uniformização dos modos de vida e a padronização do imaginário, sujeitos à ciência, à

técnica e ao capital passaram a ser um mito do desenvolvimento para o mundo ocidental.

Ignoram-se as relações do ser humano com suas origens mais remotas: com a natureza e

com o meio em que vive, inclusive com o outro. Os indivíduos tenderam a perder a 64 LATOUCHE, 1994, p. 13.

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responsabilidade para com seus atos e vivem em busca do mundo fictício da técnica e do

capital, acreditando satisfazerem seus desejos e sonhos através do mundo exterior.

O ocidente65 tornou-se uma “máquina impessoal, sem alma, sem mestre, que colocou a

humanidade a seu serviço”66, onde impera o individualismo e a perda de identidade

cultural. O ser humano voltou-se para o outro a fim de captar seu reflexo perdido. A

interiorização do olhar do outro provocou nas sociedades um desenraizamento cultural e

muitos indivíduos parecem estar destituídos do vínculo com o solo, paisagem, meio

ambiente, propensos a dominarem a natureza e o outro ser.

Nos últimos 50 anos, as mudanças ocorridas em relação ao meio ambiente e às ciências,

enfraqueceram os modelos estabelecidos anteriormente e, o final do século XX, foi

marcado por novos arranjos das atividades humanas e da própria postura dos indivíduos.

Surgiram questões de ordem ética, moral, biológica e ambiental, que estão exigindo novos

caminhos e posturas dos indivíduos diante do que é vital para a continuação da vida no

planeta. Sendo assim, o ser humano está numa busca incessante pelo sentido de sua

existência, demonstrando que o desenvolvimento das ciências e da técnica nunca puderam

substituí-lo nesta busca e, cabe ao indivíduo, ação e responsabilidade em relação ao meio

que o cerca.

o ser humano, na sua ânsia de plenitude e realização, quer mais do que o ritmo da máquina moderna; não se contenta em ser uma peça eficiente de um fantástico mundo de produção e de invenções, impulsionado pela razão técnica a dominar tudo o que manipula (AGOSTINI, 1995, p. 11).

Numa fase que contém traços de transição como a sensação de esvaziamento, de ausência

de sentido e de normas, de incerteza e de crise da própria modernidade, chega o momento

de se repensar e fazer presente os valores intrínsecos ao ser humano e sua relação com a

natureza da qual depende. É preciso organizar os espaços em prol da vida e de ordenar as

65 Segundo LATOUCHE, ocidente não designa lugar ou espaço físico definido e sim direção. Tem uma noção ideológica ditada pela Europa, Japão e Estados Unidos, é o lugar de relações comerciais e capitalistas. 66 LATOUCHE, 1994, p. 13.

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relações humanas em vista do equilíbrio vital. O atual momento vem como uma

oportunidade para o homem reencontrar consigo mesmo, indo ao encontro do que é mais

essencial a seu ser, a fim de restabelecer o vínculo com o lugar com, o espaço e a natureza e

também com o outro ser, aquele com quem ele caminha e compartilha experiências. Por

isso, as bases sustentadoras do ser humano, relativas ao ethos, articuladas à moral e à ética

merecem atenção. O ethos representa a identidade profunda do homem, seu modo de ser e

viver no tempo e no espaço e seu enraizamento próprio, diz AGOSTINI67.

Ethos é uma palavra grega, que designa costumes e modos de agir, eleva a capacidade

crítica e de discernimento, essenciais para a vida na sociedade. Há uma correspondência

analógica entre physis,“primeira noção científica de natureza” 68 e ethos que implica,

segundo VAZ, na “primazia da ordem ou hierarquia das ações, o que permite pensar o

mundo do ethos segundo o modelo do kosmos ou ordem da natureza.” 69 A realização da

vida humana passa, primeiramente, pela harmonia com o seu ambiente. É inconcebível

pensar a natureza em separado da vida, na sociedade de indivíduos. Sendo assim, é através

do ethos que a sociedade entra em consonância com a natureza. Enquanto capacidade de

discernimento, o ethos estabelece a consciência de que o ser humano é mais que um objeto

do mercado de consumo e produção. Leva à “dimensão libertária do direito à diferença, do

comunitário, dos direitos da natureza, do encontro do mundo com a realidade local, de uma

nova ética no trabalho, no prazer, na gratuidade, na celebração e na fantasia, dos valores do

sagrado” 70 , sendo o maior desafio para a atualidade reaver a alteridade. Nesse contexto, a

expressão da dimensão libertária pode ser claramente expressa na natureza e nos seus

espaços correlatos, através de práticas e ações de cidadania. A cidadania está ligada à

consciência e à fruição de direitos e deveres: direitos no que diz respeito à preservação da

vida e seu desenvolvimento, expansão dos direitos sociais e ampliação da solidariedade.

Deveres quanto à tomada de consciência da responsabilidade do homem em relação à

natureza, aos espaços físicos e aos outros seres.

67 AGOSTINI, 1995. 68 VAZ, 1988, p. 44. 69 VAZ, 1988, p. 45. 70 AGOSTINI, 1995, p. 153.

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Cidadania relacionada ao meio ambiente denomina-se cidadania ambiental e propõe uma

mudança da relação homem-natureza, objetivando uma integração do ser humano ao

ecossistema e nova percepção do meio natural no que se refere à superação da exploração

predatória que vem ocorrendo. A participação popular na gestão das questões ambientais é

um elemento básico à efetivação da cidadania ambiental na cidade.

A natureza é o amplo campo que estabelece elo vital e preponderante na vida do homem e

na conciliação da vida na cidade com a natureza, que vem reforçar a concepção social de

natureza e abrir espaços novos como lugar de encontros e reencontros com o outro e

consigo mesmo.

1.3 Da vida na cidade à vida no espaço urbano

Considerando que a natureza é integrante da vida na cidade, da sociedade e da cultura não

mais pode ser pensada como dissociada do homem. Os problemas ambientais, a crise de

valores morais e éticos, a falta de compromisso e de responsabilidade para com o todo e,

em específico, o individualismo vêm trazer uma nova maneira de pensar a cidade e sua

relação com a natureza.

A cidade antiga, originalmente centro político-mercantil e ao mesmo tempo subordinada ao

campo, detinha o poder político-ideológico. Essa cidade reunia as atividades dispersas e as

pessoas, a palavra e os escritos filosóficos. Caracterizava-se como espaço democrático e

público. SITTE apud CHOAY (1988) identifica a necessidade fundamental dos espaços

abertos para a vida pública nas cidades antigas, pois diversas atividades coletivas ali tinham

lugar: as representações, as cerimônias, os jogos, o mercado, as trocas. A cidade no final do

medievalismo era compacta, implantada na paisagem da qual retirava o seu sustento. O

mercado medieval não representava apenas o comércio, mas, principalmente, a manufatura.

Algumas vezes o mercado acontecia em uma praça específica, localizada no centro da

cidade, outras vezes nas ruas e entradas das cidades. A função econômica, através do valor

de troca, preconiza o capitalismo e centralidade urbana.

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A cidade capitalista criou o centro de consumo, ocupado por comércios raros e centralidade

instalada nos espaços apropriados. Consumir também significava reunir-se com pessoas,

lugar de encontro a partir das coisas.71 Com a produção industrial, as cidades sofreram

transformação radical em seu território, ocorreu uma sobreposição do centro de decisão e

do centro de consumo, como também setorização dos espaços. De espaço privilegiado para

o coletivo - festa, poder – transformou-se em espaço privilegiado da produção, trabalho e

mercado de consumo. Houve uma inversão do sentido da cidade desde a antiguidade

clássica, que era marcadamente política. Após este período, implantou-se a cidade

comercial, dada a existência do mercado. Prosseguindo, desenvolveu-se a cidade industrial

com a emergência do capital industrial. Diante dessa transformação, contraditoriamente

ocorre: “a não-cidade e a anticidade vão conquistar a cidade, penetrá-la, fazê-la explodir, e

com isso estendê-la desmesuradamente, levando à urbanização da sociedade, ao tecido

urbano recobrindo as remanescências da cidade anterior à indústria”72. Com isso, a relação

homem-natureza foi sendo cada vez mais distanciada e instaurou-se uma mediação: a

realidade urbana, onde a lógica do consumo induziu ao valor de troca em detrimento ao

valor de uso, a lógica do privado sobrepôs-se ao do bem coletivo.

A realidade urbana, ao mesmo tempo amplificada e fragmentada, perde os traços que a

época anterior lhe atribuía: organicidade, espaço demarcado e povoado de signos e

significados. “Os signos do urbano tornam-se estipulação, ordem repressiva, inscrição por

sinais, códigos sumários de circulação (percursos) e de referência.”73 A implosão de

pessoas, atividades, riquezas, objetos, instrumentos, técnicas e a explosão de periferias,

subúrbios desarticulados e disjuntos caracterizam a nova realidade urbana. A produção

industrial interpõe-se no mercado mundial, nas relações entre os indivíduos, na troca de

produtos, das obras, dos pensamentos. “A compra e a venda, a mercadoria e o mercado

parecem varrer os obstáculos.”74 O urbano, segundo LEFEBVRE, define-se como uma

realidade inacabada da cidade contemporânea, numa oposição campo e cidade, onde há

71 LEFEBVRE, 1969. 72 LEFEBVRE, 2004, p. 25. 73 LEFEBVRE, 2004, p. 26. 74 LEFEBVRE, 2004, p. 26.

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uma complexidade das relações sociais, ruptura das compartimentações, multiplicidade das

conexões, comunicações e informações. A cidade se dissolve e vê-se como objeto de

consumo, lucro, produção para o mercado75, torna-se urbana e dissociada da cidade antiga.

Ora, o que está em questão é a construção das práticas urbanas em favor da rua e do

cotidiano das pessoas na vida urbana. A rua não é apenas um lugar de passagem e de

circulação, é o “lugar (topia) do encontro, sem o qual não existem outros encontros

possíveis nos lugares determinados [...] nela efetua-se o movimento, a mistura, sem os

quais não há vida urbana, mas separação, segregação estipulada e imobilizada”76. Detentora

de funções informativas, simbólicas e lúdicas, a rua constrói referenciais no imaginário dos

transeuntes e proporciona-lhes significados pela troca das palavras e dos signos.

A sociedade atual não mais coincide com a cité e a cidade encontra-se em vias de ser

ameaçada. Urge pensar sobre ela e sua crise contemporânea, quais os fundamentos e os

novos valores da sociedade que interferem nos espaços da cidade, principalmente os

públicos. A cidade carece relacionar-se com a natureza, com a cultura, com nós mesmos,

com o Absoluto, com a história, com o político, artístico, técnico e científico e convoca a

uma vida social plena e autônoma, polis, espaço da política, da liberdade e da justiça.

ROUSSEAU denunciara a grande cidade, tida como espaço do vício. Nessa perspectiva,

hoje, tem-se a nostalgia da paz, do encontro com a natureza, vistas em várias iniciativas e

no imaginário dos que buscam nos fins de semana ir ao sítio, casa de campo, praia,

montanha como uma maneira de reinventar a (u) topia urbana na luta contra a dominação e

a injustiça instauradas na cidade77.

Nesta perspectiva, as mudanças na vida urbana, em prol de uma vida na cidade, vão de

encontro ao outro, ao fazer-se solidário, cidadão e, através da percepção, restabelecer o elo

com o lugar, com o espaço e com a natureza. Sendo assim, a idéia de natureza está atrelada

à necessidade que a psique tem de contato com os elementos naturais de beleza, como um 75 LEFEBVRE, 1969, p. 70. 76 LEFEBVRE, 2004, p. 29. 77 ROUSSEAU apud WILLIAMS, 1989.

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meio de recriar os sentidos com luzes, cheiros, sons, texturas e convocar as práticas urbanas

à emoção do ordinário do cotidiano.

Em meio ao traço de dominação da natureza pelo homem, que se interpõe nas relações

urbanas, a satisfação dos sentidos e a experiência com o belo, apontado nos estudos de

psicologia, por HILLMAN, estão em crise78. E é justamente no retorno à contemplação e à

beleza que a percepção sensorial ou aisthesis79 poderia, novamente, possibilitar a

elaboração de uma nova humanização na vida no espaço urbano, a fim de propiciar uma

nova convivência do homem com o lugar e com a natureza.

A sociedade atual chegou a um caos tal que reivindica insistentemente a coerência. [...] O caminho que se abre é o da reconstrução de um humanismo na, para e pela sociedade urbana. É para esse ser humano em formação, portanto, fato e valor, que a teoria abre o caminho (LEFEBVRE, 2004, p. 70).

O ser humano tem necessidades que foram negligenciadas pelas práticas do urbanismo. Se

existem funções, existem, principalmente, desejos além das coisas e da linguagem.

o ser humano tem necessidade de acumular e de esquecer; tem necessidade simultânea ou sucessivamente de segurança e de aventura, de sociabilidade e de solidão, de satisfações e de insatisfações, de desequilibrio e de equilíbrio, de descoberta e de criação, de trabalho e de jogo, de palavra e de silêncio (LEFEBVRE, 2004, p. 72).

Não há mais como dissociar espaço urbano, homem e natureza. São partes de um mesmo

todo e é na harmonia das relações e na oportunidade de trocas que poderiam se estabelecer

as novas relações e os novos encontros.

78 HILLMAN, 1993. 79 Aisthesis: Estética – Do grego significa sensibilidade, a capacidade de experimentar sensações. A partir do século XVII com Baumgarten passou a designar a reflexão acerca do belo e da beleza. Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 1989, p. 270.

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A satisfação do impulso da beleza está localizada na natureza e a natureza é ameaçada de destruição, o ser humano sente uma perda de alma, somos levados a extraordinárias medidas de conservação, não para preservar as lesmas ou os grous berrantes enquanto tais, mas para preservar a necessidade da alma de beleza e a satisfação dessa necessidade pela natureza (HILLMAN, 1993, p. 122).

O belo é o elo de equilíbrio entre o homem e a natureza. Mesmo que essa relação esteja

enfraquecida, nos tempos atuais, ele se faz presente no “tranqüilo córrego e a cachoeira

alva, o céu imenso e limpo, o pôr-do-sol, as montanhas distantes e as grandes árvores – têm

sido esses nossos modelos de beleza e, portanto, refúgios para a alma” como analisa

HILLMAN80.

A natureza é pura, sem artifícios, genuína e, portanto, ainda um lugar onde a verdade e a

beleza subsistem. Não precisa ser restrita ao mar, montanhas, gramados e pássaros;

escondem-se no dia-a-dia do homem, seja no seu próprio corpo natural, seja através de suas

ações e pensamentos enquanto ser social. Certamente, sendo o homem também natureza e

pertencente a uma sociedade, o que é feito pelo homem através da cultura, interfere no

processo natural do espaço físico e biológico. Sendo assim, as alterações ocorridas na

natureza começam pelo homem e pela cidade e uma das possibilidades de reportar aos

espaços naturais com olhos e ouvidos atentos, começa com uma atitude renovada com

relação àquilo que há, seja o que for, esteja onde estiver. O encontro com o belo pode ser

fomentado pela atitude de se caminhar pela cidade, com os sentidos aguçados, desde

quando nos movimentamos com os sentidos acurados, escutando, observando, respirando sintonizados com o mundo ao nosso redor, reconhecendo sua anterioridade e a nós mesmos como hóspedes, testemunhando tudo àquilo que foi dado por Deus (HILLMAN, 1993, p. 126).

Na atualidade, a natureza permanece physis e num olhar para a crise ecológica encontra-se

a crise do homem. Quando se quer um mundo belo, com sons, cheiros e texturas, quer-se a

80 HILLMAN, 1993, p. 122.

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satisfação dos sentidos e a experiência do belo, do amor. Como diz HILLMAN81, por baixo

da crise ecológica está a crise mais profunda do amor e o resultado direto da repressão da

beleza. Para que o amor retorne ao mundo, é preciso, primeiramente, que a beleza retorne.

O retorno da beleza reporta à percepção sensorial e revela o modo primário do

conhecimento.

A interioridade pessoal e o individualismo vão contra a concepção de natureza enquanto o

belo, é um distúrbio da beleza, pois, não mais se tem o olhar voltado para além de si

mesmo. A relação sujeito e objeto faz-se isoladamente e há uma dissociação entre o que é

pensado, falado e escrito e aquilo que os sentidos captam. É oportuno para os tempos atuais

atrair o retorno ao belo, caminhar em direção à aisthesis, que significa sensibilidade e ir de

encontro à natureza, para perceber a beleza que se deixa transparecer para aqueles que a

procuram.

1.4 Problemas ambientais urbanos e qualidade de vida

A problemática ambiental está no centro das discussões da sociedade contemporânea e suas

implicações, em todas as dimensões do cotidiano, escapam dos pressupostos racionalistas e

vão em direção a uma nova dimensão filosófica do espaço da cidade, a ser pensada, além

dos modelos de produção e consumo. A questão ambiental “decorre do esgotamento do

modelo de desenvolvimento capitalista adotado pela sociedade, baseado em um alto

dinamismo econômico, acompanhado de uma elevada desigualdade social”.82 O meio

ambiente apresenta sinais de degradação e coloca para a sociedade atual a necessidade de

reformulação do seu modo de vida. Há uma sensibilização incipiente quanto à questão e à

consciência ambiental no processo de produção e na organização econômica e espacial da

sociedade contemporânea. O impacto dessa consciência sobre o ambiente construído, deixa,

hoje, muito a desejar.

81 HILLMAN, 1993. 82 SILVA-SÁNCHEZ, 2000, p. 25.

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A qualidade de vida – resgate do valor de uso do espaço urbano e do sentido social da

propriedade – aparece timidamente nos debates urbano-ambientais nestes tempos de crise

econômica, onde predomina a produção desenfreada de bens de consumo. Entretanto, a

partir dos anos 90, algumas empresas, em parceria com as ONGs – organizações não

governamentais - assumem importante papel na luta pela cidadania, pelos direitos dos seres

humanos e, em específico, pelas questões ambientais. Existem empresas com ações

voltadas ao meio ambiente que, embora, em alguns casos, se apóiem em estratégias de

marketing e divulgação da sociedade83, representam uma oportunidade e possibilidade de

revitalização dos espaços da cidade.

Neste quadro, surgem as questões prementes relacionadas ao desmatamento e à alteração

do espaço natural e seus possíveis efeitos sobre a qualidade de vida urbana. Entretanto, a

questão do meio ambiente urbano tem sido, muitas vezes, relegada ao segundo plano, tanto

na teoria quanto na prática. Ecólogos e ambientalistas parecem ter dificuldades em pensar a

ecologia no ambiente urbano. Se por um lado, os cientistas sociais tendem a pensar o

espaço urbano apenas como o construído, por outro, os ecólogos o pensam como espaços

naturais centrados na reprodução e regeneração de processos biológicos. O modelo

territorial urbano merece, portanto, ser revisto enquanto integração entre o espaço natural e

o espaço social. É um campo transdisciplinar, com fatores multifacetados e dinâmicos que

compõem a paisagem urbana, trazem, por essência, os valores das cidades - valores sociais,

estéticos e emocionais, inclusive.

O tecido urbano, expressão máxima na estruturação das ações antrópicas sobre a natureza,

traz reflexos no clima local, na vegetação, na qualidade do ar e das águas, na periodicidade

das chuvas. O fato é que as áreas centrais das cidades são mais quentes do que as adjacentes

e a excessiva urbanização, aliada aos espaços construídos, interfere na qualidade de vida

urbana. Face ao exposto, a área verde urbana pública está diretamente relacionada à

melhoria das condições ambientais e físicas dos espaços públicos e construídos, vem como

um agente mitigador dos efeitos antrópicos no ambiente urbano. As árvores e a vegetação 83 NAVES, 2003, p. 573.

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são eficientes na melhoria do clima, interceptam, absorvem, refletem e transmitem radiação

solar (redução de ilhas de calor), captam e transpiram água, interferem na direção dos

ventos. 84 Partindo do princípio básico da ecologia, onde um fator ambiental interfere

noutro, então a modificação da qualidade ambiental implica em melhoria significativa da

qualidade de vida urbana. Diante do exposto, as áreas verdes urbanas são fundamentais

para o equilíbrio entre os espaços construídos e o meio ambiente, principalmente quando se

tratam de centros urbanizados, adensados e verticalizados.

O homem face à urbanização

O crescimento e a disseminação de cidades marcaram a história ocidental, principalmente, a

partir do século XIX. A sociedade industrial é urbana, a cidade é o seu horizonte, produz

metrópoles, cidades industriais e grandes conjuntos habitacionais. No entanto, fracassa

enquanto ordenação desses locais. O caos urbano instalado nas cidades, relacionado à

Revolução Industrial, foi o propulsor do planejamento urbano. Alguns estudiosos pensaram

sobre as novas formas de funcionamento das cidades ao longo dos tempos. Dentre eles,

Fustel de Coulanges, Max Weber, George Simmel, Camillo Sitte, Lewis Mumford e Kevin

Lynch.

Fustel de Coulanges(1830-1889)85 foi o primeiro historiador a dedicar-se ao estudo da

cidade. Pesquisou sobre religião e política e seus vínculos com o Estado greco-romano.

Preocupou-se com a organização das cidades-estados e traçou a evolução do ordenamento

social desde a família, a aldeia até a polis, em seguimento aos estudos de Aristóteles86.

Segundo ele, a ação política nasce na cidade e é requisito sine qua non para o seu

desenvolvimento. O auge da expansão das cidades ocorreu após a segunda metade do

século XIX, aliado às idéias de progresso, tecnologia e ordenamento racional. Desta forma,

Fustel de Coulanges explicou o surgimento e o desenvolvimento das cidades-estados a

partir do ordenamento familiar. Entretanto, Gustave Glotz apontou limitações nos estudos 84 LOMBARDO, 1990, p. 5. 85 COULANGES apud RAMINELLI, 1997, p. 186. 86 ARISTÓTELES, 1991.

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de Fustel de Coulanges. Para ele, a política e a religião evoluem com as sociedades. Assim,

“o progresso do poder político e do individualismo tornaram-se o motor da mencionada

evolução” 87 e fizeram que, a partir do século XIX, a sociedade moderna adotasse uma

forma de vida baseada na razão instrumental88, tudo o que pertencia à sociedade deveria ter

utilidade e funcionalidade.

Ao relacionar política e economia aos estudos urbanos, Max Weber (1864-1920)

proporcionou uma abordagem mais sólida do problema. Revisitou o passado de diversas

civilizações em busca de características urbanas a fim de comparações. “Weber não

considerou a possibilidade de um período histórico conter o germe da época seguinte, por

isto despreza o que é comum a várias ou a todas as épocas e ressalta o que é peculiar a cada

uma delas.” 89 Para WEBER cidade é um aglomerado humano regido por trocas comerciais

regulares que garantem o sustento dos citadinos. A cidade ocidental destaca-se pela

administração autônoma com instituições políticas e administrativas especiais. Entretanto,

na concepção de WILLIAMS, “a percepção das novas qualidades da cidade moderna vinha

associada, desde o início, à imagem de um homem caminhando, como se sozinho, pelas

ruas”. 90 A vida na cidade estava atrelada ao valor de compra e ao individualismo de seus

habitantes.

O estudo sobre a experiência urbana, com ênfase no aspecto econômico, difundiu-se a

partir do historiador Henri Pirenne91. Para ele, a cidade está estreitamente relacionada a

causas econômicas e sociais, associando o capitalismo ao renascimento das cidades. Nessa

perspectiva, o desenvolvimento econômico foi o responsável pela vitalidade e expansão das

áreas urbanas. No entanto, Pirenne considera ilusória a urbanização ocorrida nos séculos

XIX e XX, pois não conseguiu transformar a mentalidade dos citadinos. “Os imigrantes

conservavam laços íntimos com os seus lugares de origem, sendo a mobilidade entre o

87 RAMINELLI, 1997, p. 186. 88 HABERMAS apud HERRERO, 1986, p. 14. 89 WEBER apud RAMINELLI, 1997, p. 187. 90 WILLIAMS, 1921, p. 314. 91 PIRENNE, apud CARDOSO, 1997, p. 188.

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campo e a cidade um dado capaz de explicar as fortes raízes rurais dos homens da cidade

industrial.”92 Isso demonstra que os citadinos e imigrantes necessitavam manter-se em

contato com os elementos naturais, o campo, a natureza. A urbanização das cidades não foi

suficiente para satisfazer os desejos e as necessidades de seus habitantes.

A experiência urbana generalizou-se pelo mundo, chegando hoje, a um índice de 70% da

população habitar nas cidades.93 A cidade deixou de ser uma entidade espacial bem

delimitada e assumiu uma nova ordem de estruturação, primeiro com a racionalização das

vias de comunicação, com a abertura de grandes artérias e a criação de estações; depois, a

especialização dos setores urbanos-comerciais, industriais, residenciais e institucionais.

Além disso, foram criados novos órgãos que mudam o aspecto da cidade: grandes lojas,

hotéis, cafés e bares, shoppings centers, dentre outros.94

O sistema de transportes promoveu uma nova concepção de cidade e de espaço.

Historiadores detectaram uma tendência à compartimentalização e setorização dos espaços

urbanos, aliada a uma “desconcentração” da população urbana. Esta concepção urbanística

setorizou as cidades em unidades específicas: comerciais, industriais e residenciais

respectivamente. A dinâmica da cidade, regida pelas diretrizes do urbanismo, na década de

50, era funcionalista e padronizada. A cidade combinava espaço e urbanidade,

padronização e regularidade estabelecendo uma relação de domínio em relação à natureza,

concepção contrária a que MUMFORD desenvolveu em seus estudos.

[Segundo Lewis Mumford] o planejamento de cidades não pode ficar confinado a habitação, trabalho, recreação e circulação, definição padronizada do urbanista: a cidade inteira deve ser concebida, antes, principalmente como um teatro de cidadania ativa, de educação e de uma vida pessoal vívida e autônoma (MUMFORD, 1991, p. 193).

92 PIRENNE, apud CARDOSO, 1997, p. 190. 93 SOUZA, apud ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1990, p. 131. 94 CHOAY, 1988, p. 4.

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A partir desta concepção, torna-se um desafio para o urbanismo abrir-se às dimensões

culturais e históricas, numa ampla abordagem transdisciplinar, diferente daquela

exclusivamente técnica.

O regime metropolitano conquista o mundo e torna os indivíduos cada vez mais fascinados

pela economia e tecnologia, a que se dá o nome de progresso, liberdade e domínio da

natureza pelo homem, como já dizia MUMFORD95. Ele, assim como CAMILLO SITTE96,

ao contrário, pensaram a cidade medieval como modelo ideal de cidade, orgânica e

equilibrada, cujo núcleo era protegido e rodeado por anéis irregulares, devido aos caminhos

tortuosos que seguiam a declividade dos terrenos.

A planta resultante é gerada pelas duas forças opostas de atração e proteção: os edifícios públicos e as praças abertas acham segurança por trás de um labirinto de ruas, pelos quais os pés conscientes, não obstante, facilmente penetram (MUMFORD, 1991, p. 193).

Entretanto, as origens da cidade capitalista advêm do traçado das cidades barrocas.

MUMFORD concebe a cidade barroca como precursora de “formas arquitetônicas

grandiosas, da desumanização da cidade, da metrópole capitalista, do caos urbano.” 97 O

traçado das cidades barrocas é retilíneo com ordenamento matemático rígido do espaço -

tabuleiro tipo xadrez - com vistas a promover o prazer estético.

À medida que as cidades industriais se propagavam, induzindo ao congestionamento, surge,

desde então, a necessidade de fugir da cidade. Em meados do século XIX, o impulso

romântico de planejamento paisagístico começou a afetar a arquitetura e o urbanismo,

favorecendo o “natural98”. O artista romântico preferia a originalidade à conformidade e é

na nova forma de subúrbio que as edificações seriam implantadas, espalhadas num parque.

Em todos os sentidos, o parque precedeu à nova forma urbana e marcou o caminho para

novas invenções. Do subúrbio brotou a nova arquitetura organicista, tanto em função 95 MUMFORD, 1991. 96 SITTE, apud CHOAY, 1988. 97 MUMFORD, 1991, p. 193. 98 MUMFORD, 1991, p. 528.

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quanto em imagem, com a vida no interior e a paisagem no exterior. Frank Lloyd Wright99

foi o arquiteto que mais soube expressar a moradia suburbana e integrar a paisagem à

edificação do homem.

O aspecto total da cidade foi transformado: nos subúrbios (suburbs) que se desenvolveram com tanta rapidez em torno dos grandes centros, os edifícios dispõem-se livremente, como em um parque paisagístico. Mas frequentemente, árvores e jardins desaparecem sobre a pressão demográfica, enquanto permanece e prolifera a construção individualista, cuja dispersão e anarquia tendem a assumir um caráter anti-social (CHOAY, 1988, p. 287).

A forte pressão por ocupações nos territórios da cidade urbanizada, dada pela especulação

imobiliária, principalmente nas regiões centrais, faz que o verde escape das paisagens, e os

locais qualitativos possíveis para articulação do ambiente construído e natural fiquem

à margem das cidades.

Os dois modos de vida, tanto na metrópole quanto no subúrbio, mantinham características

similares de ambientes padronizados e desnaturados pela produção, consumo e lazer em

massa100. Todavia, “o subúrbio deu uma contribuição positiva à concepção emergente da

cidade como um misto, cuja contextura se entreligava com a do campo; e muitas dessas

contribuições precisam ser avaliadas e seletivamente adaptadas e melhoradas, e não postas

de lado101.” A idéia do subúrbio interligado ao meio natural, representa possibilidade de

integração entre o ser humano, cidade e meio ambiente, favorável ao momento atual.

Chegou o momento de inventar soluções que substituam os modelos clássicos e românticos

do passado, os modelos ainda mais estéreis da modernidade que acabariam por aniquilar

todos os recursos da paisagem. Não se trata de proceder a um aumento quantitativo na

dispersão de parques e praças disponíveis, mas a mudança qualitativa de toda a estrutura de

vida, colocando em prática a função social dos espaços públicos.

99 WRIGTH apud CHOAY, 1988. 100 MUMFORD, 1991, p. 535. 101 MUMFORD, 1991, p. 536.

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MUMFORD102 concebeu uma outra função básica da cidade, voltada à forma coletiva, na

procura do fortalecimento da relação entre indivíduo e sociedade, a fim de favorecer o

maior número de reuniões e encontros, de modo que o drama da vida social possa ser

interpretado, com a alternância de atores e espectadores. Para ele, “a função social dos

espaços livres dentro da cidade consiste em permitir que os indivíduos se reúnam.”103 As

áreas verdes urbanas, inseridas nos espaços livres da cidade, estão carregadas de

possibilidades de encontros e de convívio, cumprindo a função social e ambiental do espaço

da cidade.

Hoje, o problema do subúrbio consiste em trocar uma parte de seu excedente por um espaço

social, visto que as áreas periféricas das cidades carecem de espaços de convívio e de lazer.

Já o centro das cidades congestionadas consiste, pelo contrário, em introduzir “jardins

privados, praças públicas e passeios para pedestres, todas estas inovações [...] fariam da

cidade um lugar tão agradável quanto os antigos subúrbios.104” O novo modo de viver na

cidade relaciona-se, intrinsecamente, à problemática ambiental e à crise ecológica. Crise

ecológica “de todo o sistema de vida do mundo industrializado moderno”105 , crise esta que

vai desde a devastação da vegetação nativa e redução dos espaços verdes até as doenças e

neuroses das pessoas, da poluição das águas e do ar, até o sentimento nulista da vida de

muitos moradores das cidades. A crise da contemporaneidade aborda questões ambientais,

psicológicas, sociais e filosóficas, que podem ser pensadas através de um percurso

transdisciplinar entre as diferentes áreas de conhecimento.

Problemas ecológicos: origens e políticas

A crise ambiental do mundo tem sido alvo de amplas discussões, porém, a questão do meio

ambiente urbano é relegada a segundo plano tanto na teoria quanto na prática. Tem-se

privilegiado uma postura preservacionista de ecossistemas naturais, visto o empenho em

102 MUMFORD apud CHOAY, 1988. 103 MUMFORD apud CHOAY, 1988, p. 290. 104 CHOAY, 1988, p. 290 105 MOLTMANN, 1992, p. 46.

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proteção das APP´s e do patrimônio histórico-natural fora do perímetro urbano, por

exemplo, dos parques nacionais. Entretanto, o tratamento da questão urbana tem sido de

forma universal e niveladora, com padrões urbanísticos imparciais quando se referem à

ocupação das áreas inadequadas para urbanização, como altas declividades, fundos de vale,

áreas inundáveis e áreas verdes, ocasionando ecossistemas urbanos degradados e não

favoráveis à vida.

Os problemas ambientais das cidades são decorrentes de problemas de conservação. O

processo de urbanização acelerou os desequilíbrios ambientais, criando novas formas de

impacto que afetam o homem em graus variados, atingindo mesmo aqueles relativos aos

aspectos psicológicos do ser humano. Trouxe, assim, a necessidade de novas definições do

termo “conservação” interligada ao meio ambiente urbano, diferentes daquelas baseadas

nos valores e padrões de um desenvolvimento agropastoril. Um dos objetivos da

conservação é preservar as espécies silvestres e comunidades naturais da Terra. A meta é

estimular a criação de ambientes artificiais diversificados e agradáveis desde terras

agrícolas até cidades. A conservação procura evitar os usos que conduzem à degradação da

terra através da poluição. Conservação, em ecologia, significa:

o uso racional do ambiente, que visa à promoção da qualidade de vida do homem. Tal uso consiste em se utilizar alguns recursos naturais e áreas para a produção de bens e serviços, bem como em preservar e valorizar outras áreas e recursos que possam satisfazer, no presente e no futuro, às exigências da humanidade em ciência, arte, estética, recreação, trabalho, circulação, habitação, saúde, etc (FERRARI, 2004, p. 90).

A conservação, na cidade, diz respeito tanto à preservação de áreas mananciais e

potencialmente importantes do ponto de vista paisagístico-social, numa proposta de

melhoria de qualidade de vida dos habitantes do lugar, tanto à utilização da forma

equilibrada dos recursos para atendimento das necessidades básicas dos citadinos.

Os problemas ambientais urbanos, juntamente com os problemas sociais, econômicos e

políticos, incluem a natureza e a distribuição do espaço vital tais como: transporte,

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fornecimento de água, materiais e energia, a disponibilidade de espaço para a recreação ao

ar livre, incluindo áreas nas quais é possível apreciar a natureza, e problemas de poluição,

que talvez seja o mais crítico. O ar, em muitas regiões, atinge um grau de poluição que

ameaça a saúde e o bem-estar das pessoas; a poluição da água está presente em todas as

áreas urbanizadas e muita água da superfície é imprópria para ser usada para fins de

consumo. A poluição do solo através de detritos, do lixo e dos resíduos da sociedade

industrial e consumista está se agravando e seus efeitos vão desde o perigo à saúde até o

risco psicológico, representado pela deformação da paisagem natural. A paisagem natural

configura-se como elemento diferenciador de cada cidade. É um bem de todos e reflete a

prioridade do espaço público sobre o privado, do uso coletivo em detrimento do individual,

da preservação da natureza em face de sua degradação e do ambiente natural em

descompasso com a excessiva ocupação do solo urbano.

As questões relativas aos problemas ecológicos, interrelacionadas às questões de

conservação do espaço natural, são expressões máximas das ações antrópicas na natureza,

com reflexos no microclima local, nos parâmetros das superfícies e do ar, conduzindo a

uma alteração na balança de energia das cidades. O homem é o grande responsável pelas

alterações ocorridas no ambiente urbano e é também o agente propulsor dos ambientes

construídos e urbanizados.

HOWARD106, em 1818, em seu estudo sobre o clima de Londres, já preconizara que o

centro da cidade é mais quente do que as áreas adjacentes. Significativas alterações

climáticas no espaço urbano, com elevação da temperatura e concentração de poluentes são

utilizadas como indicadores da degradação ambiental. A prática do levantamento dos dados

relativos à umidade do ar e temperatura tem demonstrado que no centro das áreas urbanas,

nos lugares pobres em vegetação, as temperaturas alcançam os valores máximos107. Por

outro lado, os valores mínimos são registrados em áreas verdes e reservatórios d`água. O

clima local sofre interferências geradas pelo tecido urbano, em seus atributos, tais como:

106 LOMBARDO, 1990, p. 2. 107 LOMBARDO, 1991, p. 4.

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temperatura, pluviosidade, direção dos ventos, umidade, nebulosidade; o que vem ocasionar

uma alteração do conforto ambiental e da qualidade do ar nas cidades. Com o aumento da

temperatura nas cidades, ocorre uma diminuição da umidade relativa do ar e conseqüente

aumento dos casos de doenças respiratórias e pulmonares.

O tema sobre problemas ecológicos, no Brasil, surgiu a partir da década de 60, com

trabalhos sobre poluição e preservação ambiental. A maioria diz respeito ao

desaparecimento de espécies vegetais e animais, à devastação de florestas, à inadequação

do uso do solo, ao uso de ecossistemas hídricos com depósitos de resíduos industriais e,

sobretudo, ao uso desregrado dos recursos naturais pela indústria. O tipo de

desenvolvimento econômico e o crescimento populacional têm sido apontados como uma

das causas do desequilíbrio ecológico. No desenvolvimento dessa problemática, observam-

se preocupação com a sobrevivência e manutenção da vida no planeta, mas o capitalismo

liberal ainda exerce o domínio frente às questões ambientais, prevalecendo o poder

econômico e os interesses particulares. O que se observa é que as áreas protegidas por lei

são ocupadas à revelia das leis.

[o] desenvolvimento neoliberal, onera e compromete a maior parte dos recursos do planeta, contribuindo para a formação de cidades, regiões e nações inteiramente marginalizadas e dependentes, premidas a desistir de sua cultura, de sua herança histórica e social em favor de um suposto alinhamento com a chamada economia mundo (FÉRES, 2002, p. 15).

O neoliberalismo se manifesta numa pluralidade de valores: de um lado, privilegia-se a

liberdade econômica do indivíduo e dá-se ênfase aos interesses particulares. Por outro lado,

confere ao Estado a função de manutenção da ordem, em atendimento aos interesses do

setor privado, em detrimento de suas funções sociais, voltadas ao coletivo e reivindicadas

pelo avanço democrático.

A depredação ambiental é inseparável do caos urbano local. A ausência de uma política

habitacional está diretamente relacionada a uma ocupação de áreas ambientalmente frágeis,

como a beira dos córregos, encostas íngremes, várzeas inundáveis e áreas de proteção de

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mananciais. Com a ocupação das áreas de preservação e de proteção dos mananciais, são

comprometidas as águas passíveis de abastecimento, acentuando os processos de

assoreamento da rede hídrica e dos reservatórios de água doce, intensificando o efeito de

determinados processos naturais, tais como a erosão e a contaminação das águas das

represas.

Consequentemente, os problemas das cidades brasileiras relacionam-se diretamente com os

problemas ambientais básicos vivenciados pela população. Os mais significativos

compreendem aqueles relacionados à destinação dos resíduos sólidos, dos recursos hídricos

e da poluição do ar,108, podendo-se acrescentar também o problema do descobrimento da

cobertura vegetal do solo. Outra questão problemática está relacionada à expansão urbana

sem saneamento básico. Os esgotos constituem uma causa notória dos problemas

ambientais. “Nas grandes e médias cidades, os rios, córregos, lagos, mangues e praias

tornaram-se canais ou destino das águas servidas doméstica”109 e do despejo industrial. De

acordo com WALDMAN, no início do século XXI, 54% dos domicílios têm esgotamento

sanitário, entretanto, somente 10% do total recebe tratamento adequado. O restante é

lançado in natura nos rios, contaminando as águas superficiais, os lençóis freáticos e o

solo. Observa-se uma tendência de canalização dos córregos existentes em prol de melhor

fluxo de veículos e de uma maior rapidez no sistema de trânsito aliada a uma alta taxa de

impermeabilização do solo por construções em concreto, ou seja, por pavimentação

asfáltica, ocasionando enchentes e desequilíbrio ambiental.

Diante do exposto, experiências locais demonstram necessidade de políticas ambientais

voltadas à revitalização do ambiente urbano, que considerem o meio natural em supremacia

ao espaço construído, possibilitem uma conformação de uma identidade local e garantam

uma qualidade do espaço urbano. Há que se tomarem decisões importantes no que se refere

ao tratamento do esgoto, destinação final do lixo e conservação da vegetação. A questão

ambiental é uma questão política e não legal. “Dada a complexa natureza política-

108 WALDMAN, 2003, p. 551. 109 WALDMAN, 2003, p. 552.

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econômica da questão ambiental, se não tiver pega no processo político-social, a legislação

não pega.”110 A aplicação das legislações vai de encontro a uma consciência coletiva sobre

a questão ambiental voltada ao exercício da cidadania. Faz-se necessária a mobilização

social para pressionar o poder público e os agentes privados na tomada de decisões

políticas, sem a qual não há efetivação direta da melhoria ambiental do espaço urbano e

conseqüente melhoria da qualidade de vida. A sociedade civil organizada precisa ampliar

sua ação política enquanto protagonista.

Qualidade de vida e cidadania ambiental

A apropriação da natureza como matéria prima a ser utilizada, definida por Descartes111,

voltada para a produção de mercadorias e em subserviência ao capital, desencadeou-se em

devastação de ambientes naturais, degradação das cidades e acentuou o caráter de exclusão

entre as regiões. Com isso, a relação entre cidadania e ambiente é de desigualdade ao

acesso e uso da base material da existência humana e o padrão de vida de uma parte da

população no Brasil, e apresenta-se aquém do mínimo necessário ao ser humano.

Durante muito tempo, o que indicava a qualidade de vida de uma cidade referia-se

diretamente ao crescimento econômico. O índice que melhor expressava essa relação era o

Produto Interno Bruto (PIB) e “os países alocados entre os primeiros na lista do PIB e que

tinham sua atividade econômica baseada no setor industrial e de serviços” 112eram

considerados os desenvolvidos. Confundia-se mercado econômico com padrão de vida da

população. Essa classificação foi questionada. Segundo RIBEIRO113, o PIB brasileiro

ocupava a oitava posição mundial na década de 1980 e as atividades industriais e serviços

predominavam na economia, mas a distribuição de riqueza no país era desigual e elitista.

Foi necessário, então, adotar um outro índice para o desenvolvimento. Adotou-se o Índice

de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador criado pelo Programa das Nações Unidas

110 FERNANDES, 2002, p. 67. 111 DESCARTES apud RIBEIRO, 2003, p. 404. 112 RIBEIRO, 2003, p. 406. 113 RIBEIRO, 2003.

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para o Desenvolvimento (PNDU), que considera como variáveis a “expectativa de vida; os

anos de estudo, que são divididos em fundamental, médio e superior; e a capacidade de

compra, definida pelo dólar PPC (Paridade de Poder de Compra), que expressa o consumo

de bens e serviços em diferentes países segundo os preços praticados neles.”114 Com esse

índice, acredita-se medir com mais justeza as desigualdades sociais das realidades das

regiões.

Dentro da abordagem do índice do IDH115, o caráter ambiental e as peculiaridades locais

não foram nele considerados e ainda continua, no século XXI, o impasse nos indicadores no

que se refere aos recursos naturais e qualidade ambiental do espaço urbano. Caso seja

mantido o padrão de consumo da sociedade nos moldes capitalistas, há uma perspectiva de

escassez dos recursos naturais e comprometimento da vida. É preciso estabelecer padrões

mínimos de qualidade de vida aliados ao espaço natural, a fim de garantir a reprodução da

vida às gerações futuras, uma vez que a realidade contemporânea pressupõe um

entendimento da questão ambiental aliada às conjunturas sócio-culturais.

Para a melhoria do ambiente urbano, é necessário adotar modelos mais promissores que

acampem a ecologia como sua norteadora. A vertente ecológica, como analisado por

SOUZA116, é o novo caminho possível para as políticas públicas locais, tanto a nível de

capacitação institucional na área de limpeza pública, gestão e educação ambientais,

recuperação e proteção ambiental de mananciais, gerenciamento e administração de áreas

verdes, elaboração de Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo, como nos de infra-

estrutura, saneamento básico, abastecimento de água, controle de erosão e resíduos sólidos.

A ecologia emergiu como ciência apenas em meados do século XX, em torno das idéias de

holismo e integração sistêmica, deixando para trás a física de Newton e adotando uma visão

de mundo adaptada ao trabalho com sistemas vivos complexos. É uma perspectiva

interdisciplinar e sistêmica que tem como base uma ética utilitária, impregnada de valores e

114 RIBEIRO, 2003, p. 406. 115 RIBEIRO, 2003. 116 SOUZA, 1990, p. 130.

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prescrições morais117. Além da interdisciplinaridade, existe a possibilidade da

transdisciplinaridade, ou seja, transitar por outras áreas do conhecimento com um olhar

múltiplo e atento para as diferentes facetas que interferem e regulam o ambiente urbano.

O impasse ambiental, dado as práticas econômicas, configura-se no esgotamento das

reservas dos recursos naturais em níveis insustentáveis; no excesso do consumo do mundo

industrializado onde o estilo de vida consumista equivale à felicidade; nas desigualdades

socioeconômicas entre as regiões, em termos de condições de trabalho, distribuição de bens

e serviços; nos níveis crescentes de poluição118. É oportuno combinar qualidade de vida,

meio ambiente e cidadania e instalar novas relações sociais.

[é preciso] fundar uma ética do futuro, porém, uma ética que atenue a tensão entre o tempo da produção de mercadorias e o da reprodução das condições naturais da existência humana. Uma ética que acomode o tempo da reprodução da vida, que não é necessariamente o mesmo que o da reprodução do capital, como nos fazem querer acreditar (OLIVEIRA apud RIBEIRO, 2003, p. 415).

A noção de cidadania119 decorrente do latim, civitas, isto é cidade, em geral, é reconhecida

sob a ótica do cidadão no tocante às possibilidades, potencialidades e associação ao modo

de vida das comunidades. Pressupõe-se que com a mudança do modo de vida urbano,

baseado em novas premissas culturais, seria possível uma mudança do quadro ambiental

atual. A responsabilidade para com o todo, o comprometimento do indivíduo com as causas

da cidade e o exercício da cidadania são alternativas para a interação sócio-ambiental.

Cidadania ambiental, termo adotado por WALDMAN120 solicita novos paradigmas,

indispensáveis para uma releitura das cidades.

117 NOBRE, 2002, p. 88. 118 HUTCHISON, 2000, p. 26. 119 WALDMAN, 2003, p. 546. 120 WALDMAN, 2003.

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Muitos dos problemas ambientais do mundo atual originaram-se da forma como a representação da natureza terminou construída no imaginário social do mundo europeu a partir da Idade Moderna. Assim sendo, a revisão do entendimento tradicional da relação homem-natureza coloca-se como uma prioridade para a construção da noção de cidadania ambiental (WALDMAN, 2003, p. 545).

Cidadania ambiental remete a uma mudança da relação homem-natureza, com vistas ao fim

da exploração predatória da natureza e de uma nova educação voltada à percepção do

ambiente e ao imaginário natural dos ecossistemas. Neste contexto, torna-se imprescindível

a participação popular na gestão das questões ambientais, voltada para democratização do

uso dos recursos naturais, que possibilite a reprodução, na Terra, dos diversos modos de

vida, sem gerar resíduos que coloquem em risco a vida. Uma gestão que construa o “novo”,

envolvendo novos atores sociais e aposte na abundante vida terrestre sem esgotar os

recursos naturais. Nesse sentido, tem-se muito a aprender com a cultura indígena, seus

conhecimentos sobre a natureza. Durante mais de quatro mil anos, os tupi-guaranis

percorreram, ocuparam, nomearam as diferentes regiões do Brasil e usaram os recursos

naturais sem depredá-los, como analisado pelo antropólogo Darcy Ribeiro121.

O ambiente de vida contemporâneo compreende e valoriza o meio urbano mais que o rural,

que deveria ser o centro das preocupações da sociedade. Juntamente com o meio urbano,

mereceriam destaque as questões relacionadas ao funcionamento desse espaço como

ecossistema artificial, ambiente no qual a leitura ecológica é praticamente esquecida.

“Solicita-se que as cidades ocupem na consciência cidadã a mesma ordem de importância

que elas concretamente ocupam na vida cotidiana da maioria dos humanos.” 122 As cidades,

no Brasil, dentro de seus limites e possibilidades, estão no centro da problemática

ambiental, a qual se interrelaciona ao quadro de exclusão social e às condições de vida da

população.

Cidades no Brasil – limites e possibilidades

121 O POVO brasileiro: baseado na obra de Darcy Ribeiro. Direção Isa Grinspum Ferraz. São Paulo: TV Cultura, 2005. 1 DVD (260 min.), widescreen, color. 122 WALDMAN, 2003, p. 550.

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Embora o meio urbano apresente padrões de qualidade ambiental aquém do desejável para

uma vida saudável, aproximadamente metade da população mundial vive em cidades e a

tendência é de aumento nesta proporção. No Brasil, durante a segunda metade do século

XX, de acordo com o senso de 2000, mais de 73% da população vive em cidades123 e as

condições de vida de uma parte da população são marcadas pelo caráter de exclusão e

extrema pobreza. A pobreza urbana é concentrada nas regiões metropolitanas, sendo que

35% dos pobres124, no início do século XXI, localizam-se na região Sudeste, a região mais

rica do país.

O censo do IBGE125 de 2000 demonstrou que as cidades médias apresentam o maior

crescimento se comparado às cidades das regiões metropolitanas. Como analisado por

WALDMAN, esse crescimento demonstra um quadro de ausência de políticas para as

cidades brasileiras, numa tendência de “expansão do caos” e de problemas ao invés de uma

“descentralização urbana”126. As favelas, poluição do ar e das águas, ilhas de calor e falta

de ventilação, falta de vegetação, enchentes, erosões e violência evidenciam a degradação

ambiental das cidades, no início do século XXI, pelo uso insustentável dos recursos

naturais, quando no processo de urbanização e ocupação do solo. Sendo assim, para

melhor compreender a atual realidade das cidades brasileiras, faz-se necessário um percurso

pela história do processo de urbanização e planejamento no Brasil.

O planejamento urbano no Brasil127 nasceu com planos de melhoramento e embelezamento

das cidades, desde os anos 1875, apoiando-se nas idéias de organicismo e funcionalismo

taylorista. Enquanto característica fundamental, a concepção organicista idealizava a cidade

baseada no meio natural e social e a funcionalista era orientada pela racionalização e

setorização dos espaços, numa busca do controle social sobre o uso do espaço. No Brasil,

essas características sofreram uma transformação no que diz respeito à função e utilização

123 MILANO, 1990, p. 60. 124 WALDMAN, 2003, p. 550. 125 WALDMAN, 2003, p. 550. 126 WALDMAN, 2003, p. 551. 127 RIBEIRO; PECHMAN, 1996, p. 64.

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do espaço. O discurso de higiene e funcionalidade passou a ter um caráter de nacionalidade

e modernização e impôs-se sobre o social128. Várias experiências de urbanização, no Brasil,

mostraram falta de comprometimento com a realidade concreta, onde predominam os

princípios urbanísticos modernos e racionalistas aplicados em apenas uma parte da cidade.

Essas idéias se aplicam a uma parcela da sociedade e a qualquer espaço geográfico,

reafirmam-se e reproduzem-se desigualdades, privilégios e impactos ambientais.

As cidades que se desenvolveram dos anos 1945 a 1975, os “anos gloriosos,”129

experimentaram grande crescimento econômico acompanhado por distribuição de renda

significativa e maciço investimento em infra-estrutura, especialmente em circulação e

saneamento. Eficiência, ciência e técnica começam a substituir os conceitos de

melhoramento e embelezamento. A cidade da produção precisa ser eficaz e, para isto, o

traçado urbano correspondia à lógica da produção fordista - rigidez na forma e na função –

marcadamente moderna. A busca do mundo moderno, com a crença do progresso linear

transformou as cidades em lugares comuns aos olhares dos passantes, sem particularidades,

sem a convivência humana nos espaços públicos. Em nome da modernidade, privilegiou-se

a vida privada, desconsiderando-se a necessidade do homem de convívio e de encontro. Os

espaços urbanos tornaram-se locais de passagem, e quanto mais rápido passar-se por ele,

melhor. Para BERMAN, “a cidade funcionalista segregou os espaços e neutralizou as

forças anárquicas e explosivas que a modernização havia reunido.” 130 São muitas as

críticas ao planejamento urbano e à técnica do zoneamento. LEFEBVRE131 foi mais longe,

quando identificou o planejamento (urbanismo) como o pior inimigo do urbano ao destruir

a vida cotidiana da cidade.

No Brasil, muitos planos elaborados foram engavetados, isto é, não implantados e a

produção acadêmica dos anos 1970 e 1980 voltada para a realidade dos Estados Unidos e

Europa, comprometeu, fortemente, o meio ambiente e as condições de vida da população

128 RIBEIRO; PECHMAN, 1996. 129 ARANTES; VAINER; MARICATO, 2000. 130 BERMAN apud MARICATO, 2000, p. 130. 131 LEFEBVRE, 1969.

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nas cidades brasileiras. Muitas cidades cresceram sem leis e planos compatíveis com o uso

do solo e com a realidade local e ambiental, voltadas para o progresso e o desenvolvimento

eficaz dos meios de produção. Há um descompasso entre o que é o produzido na legislação

urbanística e ambiental federal, estadual e municipal e a realidade local enquanto o uso e

ocupação do solo. A ação se restringe em legislar e não em implantar e fiscalizar as leis.

Com isso, ocorre, indiscriminadamente, a invasão de terras públicas. Nesta década,

acentuaram-se os loteamentos irregulares e impactantes ao ambiente natural. A expansão

dos loteamentos populares ultrapassaram os limites municipais, visto a ineficiência de

controle132 de parcelamentos inexistentes, provocando a aceleração dos processos erosivos,

assoreamento de córregos, parcelamento do solo em áreas com declividades elevadas,

retirada da cobertura vegetal, degradação de mananciais de água e sua contaminação com

efluentes sanitários, demonstrando que, nas áreas desvalorizadas ou inviáveis para o

mercado, a lei poderia ser transgredida. O processo de ocupação urbana deu-se pela lei do

mercado e não pela norma jurídica, colocando-se à margem do discurso urbanístico e

econômico a questão ambiental e social.

Só recentemente, a partir dos anos 90, a questão ambiental no Brasil, apesar de possuir

ainda um caráter vago, começou a fazer parte das questões urbanas e a ser pensada na

configuração espacial das cidades. Os mecanismos legais estabelecidos sugerem normas

contra a poluição e conservação da natureza. Com a Eco 92, o Brasil mostrou-se solidário

aos princípios referentes ao meio ambiente e ao desenvolvimento, entretanto, na prática,

pode ser observado pequena alteração de postura do setor privado relacionado ao processo

produtivo e exploratório.

Mecanismos legais e áreas verdes

As discussões relacionadas ao meio ambiente começaram a influenciar a legislação

nacional e internacional, após a conferência de Estocolmo em Junho de 1972, quando se

deram início às primeiras preocupações acerca das questões sobre a natureza e a validade 132 CAMBRAIA et al apud FERNANDES, 2002.

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do crescimento das cidades e do processo de industrialização. MENDLOVITZ133, diretor

do Instituto de Política Mundial, ligado à ONU, afirma que o livro The limits to growth

introduziu na discussão econômica as problemáticas da poluição e da utilização dos

recursos naturais finitos e popularizou a questão ambiental. Esta conferência de Estocolmo

teve reflexos no Brasil com a criação da SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente –

cuja função principal era sugerir normas contra a poluição ambiental advinda do processo

industrial que se instalava nas cidades brasileiras.

Até o final de 1979, nos municípios brasileiros, o parcelamento do solo nas áreas urbanas

foi regido pelo Decreto n. 58 de 10/12/1937, no qual não constavam questões urbanísticas e

ambientais. Exigia-se apenas “plano e planta do loteamento, previamente aprovado pela

Prefeitura Municipal, ouvidas as autoridades sanitárias e militares.”(Art. 1º, §1º)134 O

desenho do loteamento, com traçado tipo xadrez, não apresentava estudos demonstrativos

de destinações adequadas à ocupação do solo. As áreas públicas eram raras, e nelas

incluíam as praças que surgiam em função do sistema viário, as áreas especiais destinadas à

igreja ou a escolas. Não se questionavam a exeqüibilidade dos projetos. Muitos projetos

cortavam os talvegues com vias locais, loteavam-se áreas inundáveis, de nascentes e

córregos, bem como áreas de altas declividades.

Constatando estes absurdos, o Congresso aprovou a Lei n. 6.766, de 19/12/1979, que

dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências. Determina os

condicionantes e requisitos urbanísticos básicos do parcelamento e define passos referentes

ao projeto, aprovação, obras e registro e sanções aos loteadores quando nas transgressões

das normas estabelecidas. No que se refere às áreas verdes públicas, não há nenhuma

menção em especial a elas, uma vez que não são consideradas como um requisito

urbanístico básico aos planos de loteamentos, desmembramentos ou reloteamentos. A lei

prevê um percentual de 35% da área total a ser parcelada para fins de circulação, de

implantação de equipamentos urbanos e comunitários e de espaços livres de uso público,

133 MENDLOVITZ apud NOBRE, 2002, p. 28. 134 CAMBRAIA et al apud FERNANDES, 2002, p. 209.

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sem especificação e discriminação legal para distribuição desta percentagem para cada uso.

Não consta nesta Lei, a definição de espaços livres ou áreas livres, o que, inicialmente, se

confundia com a expressão áreas verdes. As áreas verdes, na atualidade, são previstas como

equipamentos urbanos ou infra-estrutura. O verde, na Lei n. 6.766/79, se encontra implícito

nas expressões genéricas espaços livres de uso público, espaços livres ou áreas livres,

citados nos artigos 4º - I e 6º da presente Lei.

Em meados dos anos 80, inicia-se no Brasil a abertura democrática e voltam-se os olhares

para as discussões mundiais relacionadas à preservação do patrimônio natural e cultural. A

Constituição Federal, em 1988, insere o tema meio ambiente pela primeira vez no Brasil e

aborda princípios sobre a função social da propriedade e do desenvolvimento sustentável. A

Constituição Federal concede autonomia aos Municípios e delega-lhes competência de

“proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas.”135

Entretanto, o que se deu no decorrer do tempo foi uma política ambiental assegurada

apenas na legislação e não na prática cotidiana dos lugares. Há uma constante pressão entre

interesses privados e a função social da propriedade, quando se trata de preservação de

mananciais, vegetação e espaços verdes públicos. O que se observa é que o privado

prevalece em relação ao público e os interesses do mercado sobre os interesses do bem

comum, do coletivo. A falta de uma política ambiental efetiva acarreta um processo de

degradação ambiental das cidades e na conseqüente diminuição da qualidade de vida dos

habitantes.

Em 1992, a Conferencia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento -

Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, constituiu um momento decisivo para a problemática

ambiental, quando colocou em questão a relação entre proteção ambiental e crescimento

econômico, entretanto, não se questionaram as premissas filosóficas nem os valores

fundamentais da sociedade moderna industrializada. A questão ambiental ainda não

incorporara os fatores sociais e filosóficos, como também a importância das áreas verdes

urbanas para o homem moderno. 135 SOUZA et al, 2003, p. 66.

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A Lei n. 9.785, de 29/01/1999, que alterou a Lei n. 6.766/79, ampliou as sanções ao

loteador, exigindo indenização ao Executivo quando em “penúria ou área equivalente, no

dobro da diferença entre as áreas públicas exigidas e as efetivamente destinadas” (Art. 43,

parágrafo único). Alterou também o artigo que se refere às áreas destinadas à circulação, a

implantação de equipamento urbano e comunitário, bem como a de espaços livres de uso

público, dispondo que a partir de então deverão ser “proporcionais à densidade de ocupação

prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem.”

(Art. 4º parágrafo I). Neste caso, para os novos loteamentos, ficaria a cargo de o Município

legislar sobre a percentagem destas áreas de uso público, sem determinação federal para o

estabelecimento e qualificação das mesmas, abrindo possibilidades de fortalecimento do

poder local e de participação popular. Entretanto, a municipalização é problemática, pois há

uma distorção na atuação dos conselhos, que algumas vezes são controlados e dirigidos.

Mas mesmo assim, representa uma possibilidade de novas práticas sociais no capitalismo.

Do ponto de vista ambiental, as legislações existentes, no âmbito federal, de maior impacto

e de relevância ao espaço urbano são aquelas relacionadas às áreas de preservação de

mananciais, proteção das águas, da fauna, da flora, podendo ser assim relacionadas:

- Lei Nacional do Meio Ambiente – Lei Federal n. 6.938, de 31/08/1981, que dispõe sobre a

preservação, melhoria e recuperação ambiental propícia à vida, visando assegurar

condições de desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à

proteção da dignidade da vida humana;

- Código das Águas, dispõe sobre a proteção aos corpos hídricos e nascentes;

- Lei n. 4.771, de 15/09/1965, e suas modificações - Código Florestal - que dispõe sobre as

áreas de preservação permanente, tais como: florestas e demais formas de vegetação como

bens de interesse comum a todos os habitantes, principalmente aquelas situadas às margens

dos cursos d’água, lagos ou lagoas, nascentes, além das áreas sobre topos de morros com

declividades superiores a 45%, restingas e dunas;

- Lei n. 6.766/79, de 19/12/1979, arts. 3º e 4º - Lei Federal de Parcelamento do Solo - que

estabelece condicionantes para parcelamentos do solo referentes aos meio físico e urbano,

restringindo o parcelamento em terrenos passíveis de inundação ou com declividade

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igual/superior a 30% ou em áreas de preservação ecológica. Como também define a

necessidade de destinação de áreas a circulação, implantação de equipamento urbano e

comunitário, bem como espaços livres de uso público, proporcionais à densidade de

ocupação prevista no plano diretor do município ou por lei municipal;

- Lei n. 5.197, de 03/01/1967 – dispõe sobre a proteção da fauna, ou seja, conjunto de

espécies animais que vivem numa determinada região;

- Lei n. 6.513, de 20/12/1977 – dispõe sobre a criação de áreas especiais e locais de

interesse turístico, assegurando o direito de proteção e preservação de áreas de valor

paisagístico, histórico, artístico e social, constituindo um recurso importante à preservação

ambiental;

- Lei n. 6.902, de 27/04/1981 – dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de

Proteção Ambiental para fins de pesquisas científicas, proteção ambiental e

desenvolvimento de educação conservacionista;

- CODEMAs – Conselhos Municipais de Desenvolvimento Ambiental,136 que visam

aconselhar o Município, dentre outros, no que diz respeito aos interesses ambientais e

sociais;

- Resolução n. 004, de 18/09/1985 do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente –

dispõe sobre reservas ecológicas, florestas e demais formas de vegetação natural ao longo

dos cursos d`água, ao redor de lagoas ou lagos, nascentes, além das áreas de topo de

morros, dunas ou restingas;

Numa dimensão mais ampla, em relação às áreas verdes urbanas públicas, pôde ser

constatado que não existem, até a presente data, dispositivos legais que resguardem ou

assegurem a legitimidade destas áreas, previamente qualificadas, quando na implantação

dos loteamentos ou parcelamentos no perímetro urbano. Ora ficam sujeitas a

entroncamentos do sistema viário, caracterizando-se como rotatórias, ora são áreas sem

interesse ao loteador e ao mercado imobiliário, áreas sem condições de uso. A partir daí as

áreas verdes situam-se como o lugar das fronteiras.

136 CUSTÓDIO, 1981.

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2 PAUSA URBANA – LUGAR DAS FRONTEIRAS

FIGURA 2 - Somos parte de uma sociedade de indivíduos, como é parte da melodia uma nota musical. Fonte: COUTO, Ediza Rodrigues do, 2006.

Pausas urbanas - espaços públicos situados nos interstícios da cidade contemporânea, como

o lugar das fronteiras, limites e possibilidades. Os espaços públicos constituem lugares de

encontro potencial, seja por serem intermediadores das relações sociais, econômicas e

culturais, seja por representarem lugares de pausa, respiro, em meio à malha urbana, seja

por abrirem-se em possibilidades de revigoramento do exercício da cidadania, no contexto

urbano atual. “Ser cidadão é o começo de tudo.” 1 Isto quer dizer que a existência dos

espaços públicos está atrelada aos cidadãos e ao contínuo processo participativo dos

indivíduos da sociedade.

A relação entre indivíduo e sociedade está intimamente ligada ao processo civilizador

estendido de geração a geração. “O repertório completo de padrões sociais de auto-

regulação que o indivíduo tem que desenvolver dentro de si, ao crescer e se transformar

num indivíduo único, é específico de cada geração e, por conseguinte, num sentido mais

amplo, específico de cada sociedade.”2

A transformação do indivíduo dentro da realidade espaço-temporal, envolve a

transformação das esferas público privados, as quais são as mediadoras das relações sociais.

A importância do indivíduo, enquanto ator social e sujeito na cena contemporânea, é a de 1 SCLIAR, 2003, p. 588. 2 ELIAS, 1997, p. 8.

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que é o único agente propulsor das realizações utópicas e capaz de reagir à lógica

dominante do sistema capitalista.

Numa proposta de diálogo da cidade com a música, a pausa urbana é o elo que sustenta a

utopia do trabalho. Tempo de parada, dar ritmo e tonalidades ao espaço, eis algumas das

possíveis funções da pausa urbana que norteiam as reflexões sobre a cidade contemporânea.

Como numa melodia musical, a pausa constitui diferentes possibilidades de articulações do

espaço urbano. 3

2.1 Indivíduo e sociedade/ o público e o privado

As primeiras civilizações surgiram em lugares e épocas distintas, mas supõe-se que paralelo

ao assentamento agrícola haviam surgido os primeiros assentamentos humanos. 4Pode-se

dizer que foi na Grécia antiga onde se iniciaram os primeiros pensamentos acerca da polis

(palavra grega que designa convívio de pluralidade de singulares), da esfera pública e

privada.

A esfera privada - o idion – do que é próprio, é o lugar da família, voltada para a satisfação

das necessidades da vida, da sobrevivência individual e continuidade da espécie, é o lugar

do trabalho, do sagrado e do labor, voltado já para a reprodução material e biológica da

vida.5

A esfera pública – koinon – é o lugar do coletivo, da tomada de decisões pelo cidadão, o

lugar da política, da retórica e da persuasão. É a esfera onde o homem se encontra além da

casa, além da vida privada, através do discurso e da ação, tornando-se assim cidadão livre e

com igualdade em relação aos demais. 6 “Ser livre significava ao mesmo tempo não estar

3 BOADA, 1991. 4 GLYN, apud BAPTISTA, 2000, p. 17. 5 ARENDT, 1983, p. 33-35. 6 ARENDT, 1983, p. 33-35.

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sujeito às necessidades da vida e ao comando de outro e também não comandar. Não

significava domínio, como também não significava submissão.” 7

A inovação grega do autogoverno advém da possibilidade de reunião dos cidadãos em

qualquer época do ano. “A cidade grega é lugar e nação, é morada dos citadinos, é lugar de

democracia.” 8

FIGURA 3 – Teatro de Epidauro, Atenas, Grécia. Fonte: disponível no site www.kath.es/2007/07/31/el-teatro-de-epidauro, acesso em 14/11/2007

Os elementos geradores da cidade grega eram aqueles definidores da vida pública, política

e social. A estreita ligação da cidade com o território, a ausência das muralhas, só

construídas depois do período arcaico traduziram na forma urbana a democracia grega.

A “ágora” grega, o lugar público por excelência, era o local onde aconteciam as tomadas de

decisões políticas e de negócios e transcorria a vida social dos cidadãos. Era o espaço da

democracia. Também MUMFORD9 define a ágora, palco político onde o mercado

acontecia, o centro dinâmico da cidade grega, destinado à palavra, cuja função mais antiga

e persistente foi a de ponto de encontro comunal.

7 ARENDT, 1983, p. 41. 8 BAPTISTA, 2000, p. 20. 9 MUMFORD, 1991.

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Essa função social do espaço aberto persistiu nos países latinos: plaza, campo, piazza, grand-place, descendem diretamente do ágora; pois é no espaço aberto, com seus cafés e restaurantes em volta, que os encontros, conversas, discussões face a face, bem como os encontros fortuitos tem lugar, não formalizados, mesmo quando habituais (MUMFORD apud BAPTISTA, 2000, p. 21).

A esfera social desenvolveu-se no mundo moderno. No sentido restrito do termo, não é

privada e nem pública, é a ascendência do social sobre o público. O público passou a

abordar questões relacionadas às necessidades do homem e encontrou no estado nacional

sua forma política através da formação de grandes companhias de comércio para seu

fortalecimento e expansão territorial. O burguês foi a figura central da modernização

ocidental, foi ao mesmo tempo, agente da racionalização e da subjetivação.10

Pensamento científico que corresponde a essa nova concepção não é a ciência política e sim a economia nacional ou a economia social [...] todas as quais indicam uma espécie de administração doméstica coletiva; o que chamamos de sociedade é o conjunto de famílias economicamente organizadas de modo a constituírem o fac-símile de uma única família (ARENDT, 1983, p.38).

No mundo ocidental moderno surgiu a noção de sociedade, esfera social, como nação, do

privado como intimidade e liberdade individual na esfera da casa. A esfera privada passou a

ser a esfera do mercado e a esfera da família, a esfera íntima. A liberdade do indivíduo

estava vinculada à apropriação de bens produzidos pelo mercado. A passagem da

sociedade, do lar para a esfera pública, alterou a vida do indivíduo e do cidadão, tornando-

os quase irreconhecíveis11 em meio aos conflitos e às incertezas quanto à sua posição na

sociedade.

Segundo Norbert Elias, indivíduo é a “relação da pluralidade de pessoas com a pessoa

singular,” 12 e sociedade é entendida ora como “mera acumulação, coletânea somatória e

desestruturada de muitas pessoas individuais”, ora como “ objeto que existe para além dos

10 TOURAINE, 1994, p. 250. 11 ARENDT, 1983, p. 47. 12 ELIAS, 1997, p. 7.

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indivíduos e não é passível de maior explicação.”13 Ele analisa em seus estudos que os seres

humanos individuais relacionam-se uns aos outros numa pluralidade, e dessa forma se

constituem em sociedade.

A igualdade moderna deu-se pela substituição do comportamento e das normas sociais pela

ação. “O conformismo que só dá lugar a um único interesse e uma única opinião, tem suas

raízes últimas na unicidade da humanidade.”14 A ação, aliada a autonomia dos indivíduos,

faz com que a sociedade saia do conformismo na qual estava instalada.

A esfera pública na sociedade moderna ocidental era a da individualidade, “era o único

lugar em que os homens podiam mostrar quem realmente e inconfundivelmente eram.” 15

As esferas do político, do privado e da intimidade foram sendo suprimidas, e tudo isto se

deu pelo fato de que o próprio processo da vida foi direcionado para a esfera pública.

Na sociedade industrial, a admiração pública é algo que passou a ser almejado, uma

necessidade primeira para o indivíduo, enquanto realização pessoal e destaque em relação

aos demais membros da sociedade. Dinheiro, aquisição de bens novos e disseminados como

indispensáveis tornaram-se o denominador comum para a satisfação de todas as

necessidades. O indivíduo é consumista e se mantém aquém da realidade social que o cerca.

Separou-se de tudo e de todos.

Com o capitalismo monopolista industrial financeiro, no século XX, a modernidade deixou

suas marcas de fragmentação, rapidez e fugacidade também nas relações sociais. Muitas

pessoas vivem na ambigüidade e sem rumo diante da realidade. A sociedade parece

dispersa e com ausência de sentidos e de normas. Alguns indivíduos apresentam-se

singulares16, isolados e não associáveis, embora atuem segundo seus interesses particulares.

13 ELIAS, 1997, p. 7. 14 ARENDT, 1983, p. 55. 15 ARENDT, 1983, p. 51. 16 BOBBIO, 1986.

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O modo de vida é regido pela regularidade e racionalidade, como também pela pluralidade

humana e isolamento radical. Fernando Pessoa escreveu:

Grandes são os desertos e tudo é deserto Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes.17

FIGURA 4 – Indivíduo privatizado dos olhares de outros questiona “o direito à cidade”18

Fonte: Márcia Maria de Paiva Vital, 1977.

Parafraseando o que fora escrito por Fernando Pessoa: grandes são as cidades e tudo

transformou-se em urbano. Não são alguns edifícios ao alto que disfarçam o solo, o tal solo

que é tudo, um campo fértil para a vida e humanização. Grandes são os espaços urbanos e

as almas sós, embora com um individualismo exarcebado e privado de outras pessoas,

necessitam de imaginação, criação, contemplação, de participação e envolvimento com o

solo em que vivem. Nesta concepção, o significado de homens privados, segundo Hannah

Arendt, é:

[...] privados de ver e ouvir os outros e privados de ser vistos e ouvidos por eles. São todos prisioneiros da subjetividade de sua própria existência singular, que continua a ser singular ainda que a mesma experiência seja multiplicada inúmeras vezes[...] [daí] a privação de privacidade reside na ausência de outros (ARENDT, 1983, p. 68).

17 PESSOA, Fernando apud VITAL, 1977, p. 65. 18 LEFEBVRE, 1969.

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Entretanto, mesmo que o indivíduo se mantenha retraído e voltado ao espaço privado, o

espaço público ainda continua e permanece carregado de potencialidades sócio-culturais e

aberto às realizações e ações humanas. A padronização hoje, muito difundida, da auto-

imagem: “Estou aqui, inteiramente só, todos os outros estão lá, fora de mim; e cada um

deles segue o seu caminho, tal como eu, com um eu interior que é seu eu verdadeiro, seu

puro eu, e uma roupagem externa, suas relações com as outras pessoas”19revela que ser

indivíduo significa destituir-se de si próprio e de sua autonomia na sociedade, alienar-se das

esferas políticas e públicas, uma vez que não mais pode se ver além de si mesmo, adotando

uma imagem artificial na vida social.

A sociedade de consumo, dita de massa, neutraliza a esfera pública e a social assim como

potencializa a esfera privada e tira os homens de seu lugar no mundo. A padronização dos

hábitos e costumes regulados pela sociedade em questão, faz com que os indivíduos

destituam-se de si próprios e esvaziam-se de seu papel de cidadãos autônomos e livres. É

uma época “anti-humana”20, contrária à dos gregos na qual o privado e o público faziam-se

coexistentes e importantes ao indivíduo/cidadão.

Ser indivíduo, na contemporaneidade, sob as influências do capitalismo, significou

destituir-se de si próprio e, contraditoriamente, de sua autonomia na sociedade; alienar-se

das esferas políticas e públicas, uma vez que não mais pode se ver além de si mesmo,

adotando uma imagem artificial na vida social. E, “quanto mais uma sociedade é moderna,

mais ela tende a ser reduzida a um modelo racionalizador, a um sistema de técnicas e

objetos, a uma tecno-estrutura”21, mais tende ao individualismo.

Essa atitude de isolamento “constitui a expressão de uma singular conformação histórica do

indivíduo pela rede de relações”22 e o que veicula é a autoconsciência de pessoas levadas

ao refreamento: controle afetivo, renúncia e transformação dos instintos. Essa

19 ELIAS, 1997, p. 32. 20 ARENDT, 1983, p. 68. 21 TOURAINE, 1994, p. 256. 22 ELIAS, 1997, p. 32.

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autoconsciência corresponde à estrutura psicológica estabelecida no processo civilizador.

Caracteriza-se por “uma diferenciação e uma tensão especialmente intensas entre as ordens

e proibições sociais inculcadas como auto-domínio e os instintos e inclinações não

controlados ou recalcados dentro do próprio ser humano.”23

Estando numa fase de transição e de reformulação dos significados do que seja indivíduo e

cidadão na sociedade, tornou-se pertinente, na contemporaneidade, repensar e fazer

presente os valores intrínsecos ao ser humano, suas necessidades e relações com o lugar.

Constitui-se uma oportunidade para as pessoas se reencontrarem, indo ao encontro de suas

origens mais remotas e restabelecer o vínculo com o lugar, com o espaço, com o outro ser.

Encontrar caminhos novos que direcionam para a complementaridade das esferas pública e

privada, numa superação do patrimonialismo instalado no Estado brasileiro. DAMATTA

problematiza a relação entre o público e o privado, ou seja, a rua e a casa enquanto:

“Entidades morais, esferas de ação social, províncias éticas dotadas de positividade,

domínios culturais institucionalizados e, por causa disso, capazes de despertar emoções,

reações, leis, orações, músicas e imagens esteticamente emolduradas e inspiradas?24 Sendo

a rua, o espaço de ação social, carrega em seu cerne as articulações com as esferas pública e

privada e as possibilidades de complementaridade do indivíduo, com o outro, na sociedade.

A contemporaneidade é marcada por um período de transição paradigmática onde “a utopia

é mais necessária do que nunca”. 25 No novo milênio, uma das utopias realistas “é a utopia

ecológica e democrática. 26” É realista porque se assenta sobre um princípio de realidade

partilhada por todos os indivíduos, de que o planeta terra é finito e a acumulação de capital

não. O modelo capitalista merece, então, ser revisto e a postura social do indivíduo

também. Importa a participação de todos os agentes e atores sociais em prol de uma

realidade em que se encontra a natureza. É utopia ecológica, porque pressupõe

transformação global dos modos de produção, do conhecimento científico, dos modos de

23 ELIAS, 1997, p. 32. 24 DAMATTA, 1985, p. 12. 25 SANTOS, 1996, p. 42. 26 SANTOS, 1996, p. 43.

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vida dos indivíduos, da sociabilidade e universos simbólicos. É utopia democrática, porque

pressupõe uma cultura de nova política e o exercício da cidadania individual e coletiva.

Neste contexto, torna-se imprescindível a participação e atuação das organizações sociais

que se consolidam como o terceiro setor27. É a forma atual de cidadania que extrapola a

questão do Estado e propõe equalizar as relações entre indivíduo e sociedade numa

proposta de passagem do indivíduo ao cidadão.

2.2 Espaço público e privado no Brasil

Do indivíduo ao cidadão é um longo caminho a ser percorrido pelo ser humano

contemporâneo, principalmente no caso do Brasil, onde predomina a tomada de decisões de

forma centralizadora, dificultando as ações participativas dos indivíduos. O Estado

brasileiro, após anos de República, com sua imagem paternalista, induz a práticas precárias

de cidadania e ausência de conquista dos direitos individuais e coletivos. As políticas

públicas expressam-se como aquelas de atendimento ou de negações de direitos e parte da

população, vê-se arraigada à proteção do governante e demais chefes, constituindo-se “a

política do favor, base e fundamento do Estado brasileiro.”28 A falta de senso de

responsabilidade pública e ausência de autonomia da sociedade é incompatível com o

desenvolvimento da cidadania plena, aquela onde os direitos civis, políticos e sociais29,

base da seqüência de Marshall30, são exercidos.

No caso brasileiro, houve uma inversão no desenvolvimento da seqüência dos direitos,

tendo como primazia o social. A alteração na seqüência em que os direitos foram

adquiridos afeta a natureza da cidadania e do cidadão. Em conseqüência disso, houve uma

excessiva valorização do Poder Executivo, centralização do poder e corporativismo dos

interesses coletivos. Os benefícios sociais não eram tratados como direito de todos, mas

27 NAVES, 2003, p. 574. 28 MARTINS apud BRITO, 1999, p. 131. 29 Direito civil diz respeito à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Direito político refere-se à participação do cidadão no governo da sociedade. No Brasil este direito refere-se ao direito do voto. Direito social garante a participação da riqueza coletiva. (CARVALHO, 2004, p. 9-10) 30 MARSHALL apud CARVALHO, 2004, p. 220.

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fruto de negociação de segmentos da sociedade com o governo, fazendo que o papel dos

legisladores reduzissem a intermediários de favores pessoais entre votantes e poder

Executivo. Diante dessa “política do favor”, não é possível distinção entre o público e

privado31. Há uma precariedade do espaço público onde as práticas sociais se realizam e

apresenta-se com um desvirtuamento do seu uso, quando apropriado por comércio,

mendicância, violência, etc. “Para o brasileiro, tudo o que é público pode ser destruído -

porque é público!” 32 Exemplos disto, tem-se situações em que o lixo é jogado nas ruas e

nas áreas públicas; telefones públicos são danificados, assim como os bancos de praças,

árvores e demais equipamentos urbanos.

O espaço público e o Estado são vistos como alheio ou como algo útil aos seus interesses.

O público é privatizado, loteado, por interesses corporativos, resultando numa apropriação

do público pelo privado. Pode-se falar que uma das características marcantes do Estado

brasileiro é o patrimonialismo. Característica de um Estado que não possui distinções entre

os limites do público e os limites do privado.33

Do descomprometimento do indivíduo com a sociedade e do neoliberalismo34 dá-se o

esvaziamento dos espaços públicos e, em contrapartida, os shoppings centers, exemplo de

espaços privados, detentores valor de compra e venda, configuram um novo modelo de

ocupação urbana “onde o cidadão se torna cada vez mais um consumidor, afastado de

preocupações com a política e com os problemas coletivos.” 35 Sendo assim, o público

apresenta-se destituído de forças e, em muitos casos, ora sofre interferência do privado, ora

mistura-se com ele.

No ínterim deste conflito, experiências recentes que apontam na direção da colaboração

entre sociedade e Estado, abrem possibilidades do equilíbrio e do entendimento do público

31 MARTINS apud BRITO, 1999, p. 131. 32 CARVALHO, 1992, p. 114. 33 BRITO, 1999, p. 131. 34 Valorização do mercado como regulador da vida econômica e social, em detrimento à redução do papel do Estado (CARVALHO, 2004, p. 226). 35 CARVALHO, 2004, p. 226.

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e do privado através do exercício da cidadania nos espaços públicos. O surgimento de

organizações não governamentais – ONG’s _ desenvolvem atividades de interesse público.

Da colaboração entre elas e o Estado resultaram experiências inovadoras na solução dos

problemas sociais e ambientais e direitos civis.

O reconhecimento desses territórios – público e privado - e a inevitável seleção e valoração

das práticas cotidianas que possibilitam seu uso democratizado colocam como direção a

construção de uma nova cultura política. As pausas urbanas podem ajudar nesse sentido,

uma vez que possibilitam novas práticas culturais e políticas, articulam espaço público,

indivíduo e sociedade além de estabelecer nova trajetória entre os conflitos urbanos.

2.3 Do indivíduo ao cidadão

A passagem da “liberdade dos antigos para a liberdade dos modernos” 36 deu-se com o

enfraquecimento das tomadas de decisões e das ações participativas diretas dos indivíduos

na sociedade. 37 A trajetória social histórica caminhou no sentido de um esvaziamento dos

cidadãos no processo de representação política da cidade. Foi com o capitalismo que o

homem individualizou-se e tornou-se consumidor.

A sociedade do século XIX perdeu a solidez38 e instaurou-se uma “lei de ferro das relações

de produção capitalista”39 mais rígida e resistente. Chegou-se ao domínio propriamente

humano e ao “indivíduo socialmente fabricado”.40 Os indivíduos são fabricações sociais e,

como tal, são incapazes de produzir instituições e significações imaginárias sociais. Há uma

pluralidade enorme na sociedade, cada pessoa constitui-se de mundos próprios, com suas

aspirações particulares sem conexões entre si. Na atualidade, os processos sociais são

marcados pelo fugaz e transitório, “são fluidos e turbulentos, o que resulta das interações

36 BOBBIO, 1986. 37 TOURAINE, 1996, p. 162. 38 BERMAN, 1984. “Tudo o que é sólido desmancha no ar”. 39 SANTOS, 1996, p. 24. 40 CASTORIADIS, 1999, p. 219.

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entre eles é, em grande medida, uma incógnita.” 41 A esse respeito, MARX já havia

analisado que “há tempos em que se dissolvem todas as relações sociais antigas e

cristalizadas, com seu cortejo de concepções e idéias secularmente veneradas, as relações

que as substituem tornam-se antiquadas antes de se ossificar”.42 A partir daí, o indivíduo

experimentou o auge do isolamento social e do descomprometimento com o público, numa

ausência total de cidadania e de autonomia.

[O regresso do] princípio do mercado representa a revalorização da subjetividade em detrimento da cidadania. A aspiração da autonomia, criatividade e reflexividade é transmutada em privatismo, dessocialização e narcisismo, os quais, acoplados à vertigem produtivista, servem para integrar, como nunca, os indivíduos na compulsão consumista (SANTOS, 1996, p. 25).

Diante dessas constatações, fazer-se cidadão diz respeito a sair da submissão e assumir a

liberdade. Abrem-se horizontes ampliados de “possibilidades progressivas e possibilidades

regressivas” 43, nos quais cabe ao indivíduo, enquanto ator social, transformar a sociedade

capitalista através de sua ação, no âmbito do individual e do coletivo e das identidades

sociais. Pressupõe, neste caso, o exercício da autonomia e a promoção da criatividade da

ação, que já se observam através dos novos movimentos sociais: ONG’s, associações e

identidades filantrópicas, etc.

Nesta concepção, ser autônomo44 é a condição sine qua non para o indivíduo tornar-se

cidadão, fazer suas escolhas com liberdade, consciência e responsabilidade, de forma a

despertar confiança a outrem. Como conceituado por KANT45, liberdade significa

autonomia, “ou a propriedade dos seres racionais de legislarem para si próprios. A

legislação racional é, por sua própria natureza, uma legislação universal.” O campo que se

coloca é de atuação do cidadão, aberto “às vivências de relações entre pessoas, entre 41 SANTOS, 1996, p. 37. 42 MARK, ENGELS, [198-], p. 24 43 SANTOS, 1996, p. 39. 44 Ser autônomo, segundo CASTORIADIS, “consiste em se dar sua própria lei [...] A lei é a forma, é o universal a reger as particularidades que lhe são relativamente indiferentes, e a forma determinado-determinante, é em si universal.” (CASTORIADIS, 1999, p. 217). 45 KANT, apud ANDRADE, 1991, p. 54

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grupos, entre pessoas e o ar, os rios, as florestas ou os animais.”46 Participando dos novos

movimentos sociais, o indivíduo age como cidadão e adquire melhores condições de

elaborar críticas ao sistema social capitalista vigente. Assim, torna-se capaz de identificar

novas formas de dominação que extravasam das relações de produção e de propor novos

modos de atuação assentes na cultura e na qualidade de vida, como disse SANTOS. Nessa

nova postura do indivíduo, enquanto sujeito/ cidadão, os excessos da regulação da

modernidade são denunciados. Esses excessos, de acordo com SANTOS, atingem “não só o

modo como se trabalha e produz, mas também o modo como se descansa e vive; a pobreza

e as assimetrias das relações sociais são a outra face da alienação e do desequilíbrio interior

dos indivíduos.”47

Daí, coloca-se a importância do cotidiano como dimensão espaço-temporal das vivências

dos cidadãos que se desdobram em atividades concretas. Diante da transformação do

cotidiano, em sínteses momentâneas e localizadas, “o senso comum e o dia-a-dia vulgar,

tanto público como privado, tanto produtivo como reprodutivo, desvulgarizam-se e passam

a ser oportunidades únicas de investimento e protagonismo pessoal e grupal. Daí a nova

relação entre subjetividade e cidadania.”48 Aliada ao cotidiano, a cidadania vem como

contraponto do social ao público, resgata possibilidades de convívio e remete à importância

do lugar, do espaço público como excelência para a ascensão da esfera social, apesar de

suas contradições no Estado brasileiro, onde impera o patrimonialismo.

2.4 Cidadania e espaço público

Para se refletir sobre cidadania, é necessário abordar alguns conceitos centrais que lhe

deram origem. Da palavra Areté, palavra grega que designa virtude, excelência49 vem o

conceito do exercício da liberdade dentro das limitações e da convivência justa com o

outro. Cidadania é a capacidade facultada ao indivíduo de exercer seu papel enquanto ator

46 SANTOS, 1996, p. 260. 47 SANTOS, 1996, p. 258. 48 SANTOS, 1996, p. 261. 49 http://www.ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta

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social, na convivência com os outros, se auto regulando. É complexo o exercício da

cidadania e percebe-se um longo caminho a ser percorrido em busca de uma cidadania

autônoma e de um movimento democrático. Entretanto, a forma como as práticas cotidianas

acontecem, como dissera LEFEBVRE50, no que se refere ao espaço do poder, da festa, das

trocas e da concentração do excedente coletivo, evidencia que os indivíduos da

modernidade carecem de, mesmo que veladamente, romper com o fechamento no qual se

insere – individualismo - e de se reconstituir enquanto cidadão. Neste caso, o espaço

público é, por excelência, o espaço democrático e necessário à atualidade, que no caso

brasileiro, mistura-se com o privado e necessita de um longo percurso para sua maturação.

É o local de direito do cidadão. Como já dizia KANT51 : é outorgado ao povo o direito de

participação nas tomadas de decisões políticas, direito político.

São características dos cidadãos a autonomia (capacidade de conduzir-se segundo seu próprio arbítrio), a igualdade perante a lei (não se diferenciam entre si quanto ao nascimento ou fortuna) e a independência (capacidade de sustentar-se a si próprios). Essa concepção de cidadania tem por bem os direitos inatos à liberdade e à igualdade (ANDRADE, 1989, p. 62).

Nesse sentido, para que o indivíduo possa reivindicar os direitos sociais, com os novos

movimentos sociais, através de autonomia e de parcerias, é necessário que ele tenha

consciência de seus direitos políticos. Entretanto, o que se dá é o contrário: muitos se

apropriam do público como se fossem privados e há um predomínio do privado em relação

ao público. Diante do descrédito do setor público, muitos indivíduos tornam-se cada vez

mais apáticos. Desconhecedor de seus direitos, não participam com autonomia e liberdade

junto as decisões do Estado e vêem-se privados de ações coletivas.

50 LEFEBVRE, 1969. 51 KANT apud ANDRADE, 1991.

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Para o indivíduo, o espaço público não é muito mais que uma tela gigante em que as aflições privadas são projetadas sem cessar, sem deixarem de ser privadas ou adquirirem novas qualidades coletivas no processo da ampliação: o espaço público é onde se faz a confissão de segredos e intimidades privados (BAUMAN, 2001, p. 49).

O espaço público está cada vez mais vazio de questões públicas, deixando de desempenhar

sua função maior como local de encontro, de trocas e de negociações públicas e privadas.

Muitos indivíduos estão despidos da cidadania e dos interesses de cidadãos.

A situação em que se coloca a crítica social tem como ponto principal unir o que a

combinação da individualização formal e o divórcio entre o poder e a política partiram em

pedaços. Em outras palavras, redesenhar e repovoar a, hoje, quase vazia ágora – o lugar do

encontro, debate e negociação entre o indivíduo e o bem comum, privado e público. 52

Hoje, a tarefa é de defender a autonomia para se atingir a cidadania, reequipar o espaço

público e repovoá-lo, uma vez que este se esvazia rapidamente com a retirada do indivíduo

interessado, comprometido e responsável. É fazer emergir a esfera pública em detrimento

da privada. Algumas pessoas não mais podem continuar alheias ao que as cercam, é preciso

romper com o patrimonialismo instalado no Brasil e ir em direção à autonomia. “Seremos

também nós, como seres humanos individuais, não mais que um meio que vive e ama, luta

e morre, em prol do todo social?” 53 Esta pergunta que esta que instiga a repensar o papel

do cidadão brasileiro e sua relação com a pausa urbana.

2.5 Pausa urbana e pausa musical

Na poética do espaço, encontra-se a possibilidade da pausa urbana. E é nela que se podem

fazer presentes as relações sociais e o cotidiano, que no âmbito da semiótica, torna-se

signo, no momento em que remete a significados e aguça a percepção sensorial do

indivíduo. A tarefa da pausa urbana no sistema do signo é a de representar o lugar

52 BAUMAN, 2001, p. 51. 53 ELIAS, 1997, p. 17.

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geográfico e o lugar social.54 A pausa urbana pode levar o indivíduo à contemplação

através de atividades físicas e objetivas e sua característica marcante é a de restabelecer o

vínculo entre o cidadão, o lugar e a natureza. Vai de encontro ao ritmo, ao equilíbrio urbano

e à humanização dos espaços.

Construir a “pausa urbana” é ir além do valor de troca. Significa ampliar as possibilidades

de responder às necessidades intrínsecas ao ser humano: ter valor-em-si, ter espaço e estar

inteiro, integrado a ele. “Nada pode suprir nossa presença no espaço próprio.” 55 Quando o

deslocamento do homem pelos espaços públicos é feito sem presença, transforma-se em

pura ação e passagem. Conseqüentemente, instaura-se insatisfação e falta de percepção

sensorial, de imaginação e de criação. O espaço público – pausa urbana - resultado de uma

concepção racional e funcionalista, encontra-se fragmentado e desarticulado.

Neste quadro, algumas pessoas, destituídas do papel de cidadãos, vêem-se numa busca pelo

preenchimento da lacuna do que ficou para trás de si mesmo. Cada vez mais cultuam o

corpo, acessórios, moda e vive-se na ilusão fugaz de um preenchimento do valor. Para

aumentar ainda mais a lacuna, a televisão e os equipamentos tecnológicos, cada vez mais

avançados e individualizados, servem de instrumentos ao homem contemporâneo,

alienando-o cada vez mais do meio natural e do espaço público. Há um predomínio dos

valores de troca e é nos shoppings centers que este valor mais se acentua.

Contudo, é no espaço público, na pausa urbana que se dará a conquista de si próprio,

quando o homem, tornando-se cidadão, fazendo-se agente participativo, se realiza enquanto

ser humano natural. Pois, “o sentimento de pertencer a um espaço ordenado ou habitá-lo

valoriza o homem.” 56 O funcionamento da natureza é carregada de leis harmônicas e

procura pelo equilíbrio ordenador de si mesma. Então, jardins, parques e praças são

elementos de equilíbrio da malha urbana e manifestação da natureza humanizada neste

espaço fundamental da valorização humana. Estar no espaço e percebê-lo plenamente é 54 KOWZAN, 1988, p. 111. 55 BOADA, 1991, p. 17. 56 BOADA, 1991, p. 21.

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SER. Por isso, torna-se importante instigar as formas de contemplação urbana e renovar as

formas de ocupar o espaço que, segundo Aristóteles, citado por Hannah Arendt,

a mais alta capacidade do homem - que, para ele, não era o logos, isto é, a palavra ou a razão, mas nous, a capacidade de contemplação, cuja característica é que o seu conteúdo não pode ser reduzido a palavras. (ARISTÓTELES apud ARENDT, 1983, p. 36).

Sendo assim, o homem contemporâneo carece de contemplação, de experiência corporal,

sensorial positiva e, quando não está em contato com os outros, tende ao isolamento. Vê-se,

hoje, a massificação como tentativa de amenizar a falta de contato com os outros. Aguçar a

percepção sensorial dos indivíduos, através de elementos físicos na cidade é criar

possibilidade de alteração da relação ser humano e espaço público.

Ao relacionar a pausa urbana à pausa musical, ou seja, relacionar a cidade à música,

percebe-se uma forte interação e semelhança em seus significados. Como uma composição

musical é composta por notas várias, com diferenciação de tonalidades, de tempos e de

ritmos, formando um acorde final através de uma sinfonia, assim também a cidade se

desenvolve em formação de lugares com desenvolvimento de atividades em intensidades,

tempos e ritmos específicos. Os tempos de parada, que compreendem o equilíbrio entre os

cheios e os vazios, entre os espaços construídos, com predominância de concreto e asfalto e

os espaços verdes oferecidos pela pausa, tempo de parada – espaço público por natureza,

constituem-se diferentes possibilidades de articulação do espaço urbano no meio natural.

O espaço construído equipara-se a uma composição musical, reproduz certo ritmo em cada

uma das partes e mantém forte relação das partes com o todo. A chave para uma boa

composição musical é a harmonia e o contraponto. Segundo o dicionário Ditcom 57

contraponto “é a arte de compor música destinado a ser executado por dois ou mais

instrumentos, vozes, partes; composição musical em que se observam as regras daquela

arte.” O que une uma nota a outra, o que dá ritmo, compasso e proporciona a diferenciação

57 http: // www.priberam.pt/dlpo/dlpo. aspx

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melódica é a pausa. Tão importante quanto qualquer outro elemento musical, proporciona

harmonia entre o que é produzido e emitido e é capaz de criar diferenciações de sons e

ritmos. O ponto de repouso de uma proporção rítmica é o “momento do acento forte do

grupo rítmico” 58 dado pela superioridade de realce do seu acento sobre os outros.

A pausa urbana também carrega em seu significado mais profundo a pretensão de ser

repouso em meio à “urbanização extensiva”59 e silêncio em meio aos ruídos do espaço

urbano, numa proposta de reivificar o espaço, torná-lo harmônico, dar o tom e o ritmo

certos. Tem superioridade em relação às demais formas urbanas, uma vez que propõe

abertura para o diálogo entre o público e o privado e leva o indivíduo à contemplação

através de atividades físicas e objetivas. Numa composição melódica da cidade, esperam-se

pulsações ritmadas e precisas.

É importante o diálogo entre seres humanos, cidade e natureza. Os indivíduos precisam de

um espaço harmônico, com seus ritmos e sons em consonância com sua intensidade e

estrutura humana. E, hoje, mais do que nunca, é oportuno a articulação dos espaços

“urbanizados” da cidade. O belo passa pela pausa, equilíbrio e sutileza das formas e sons.

“Os sistemas físico-químicos isolados tendem a uma posição de equilíbrio estável segundo

evolução regida pelo princípio da mínima ação.” 60 Numa tentativa de busca do equilíbrio

na cidade, é dada primazia à pausa urbana, uma vez que se constitui lugar das

possibilidades de encontro e de repouso, lugar público por excelência vinculado ao cidadão.

2.6 Espaço público enquanto lugar

Dentro do espaço público, a pausa urbana caracteriza-se como lugar – com seus

significados e sentidos múltiplos. Sendo assim, para sua melhor compreensão faz-se

necessário uma definição da palavra lugar - deriva do latim localis, de lócus, ou seja, local.

58 POZZOLI, 1983, p. 22. 59 MONTE-MOR, 1994. 60 BOADA, 1991, p. 63.

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“Refere-se a um espaço ocupado, localidade, posição,” 61 o ponto, a pausa. O que

caracteriza o lugar seria a vivência que dele se faz, seu cotidiano. Para melhor compreender

o lugar, é preciso analisar seu papel no mundo que se descortina no e através dele. 62 O

lugar reporta a signos e significados que compõem o cotidiano daqueles que o percorrem.

Os moradores e usuários transformam em lugar o seu entorno, pois, ao experimentá-lo

lançam de mão de sentimentos já vividos e partem para traduzirem em significados sua

experiência no lugar. Se pensássemos o lugar como espaço apropriado e dotado de

significados, qual a importância da rede de lugares que integram a trajetória do indivíduo?

Este é um questionamento que leva a pensar sobre a importância dos lugares na vida da

cidade. Os lugares estão carregados de mediações, pois interligam tempos vividos em

diferentes períodos e época como também ocultam representações e sensações vividas

pelos habitantes.

Os percursos realizados pelos habitantes ligam o lugar de domicílios aos lugares de lazer, de comunicação, mas o importante, é que essas mediações espaciais são ordenadas segundo as propriedades do tempo vivido. Um mesmo trajeto convoca o privado e o público, o individual e o coletivo, o necessário e o gratuito. Enfim o ato de caminhar é intermediário e parece banal – é uma prática preciosa porque pouco ocultada pelas representações abstratas; ela deixa ver como a vida do habitante é petrificada de sensações muito imediatas e de ações interrompidas. São as relações que criam o sentido aos lugares da metrópole (CARLOS, 1996, p. 22).

O percurso revela as pausas da vida do habitante. Os lugares intermediários também podem

abrir-se em oportunidades de encontro, em referência. O caminhar pela cidade levaria a

múltiplas experiências dos sentidos, quando o olhar se abrisse ao espaço público da

comunicação e saísse do gueto privatista. NOVAES diz que a tarefa é “tentar ampliar os

espaços comunicativos ainda disponíveis, fazendo recuar o sistema.”63 Neste contexto, as

pausas urbanas vêm como uma possibilidade de ampliação desses espaços comunicativos,

61 ROCHA, 2004, p. 30. 62 CARLOS, 1996. 63 NOVAES, 2002, p. 145.

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em contraponto com a privatização tendenciosa dos tempos atuais. O lugar está a espera

pela desprivatização do olhar, da reativação e ampliação do espaço público como elo entre

o indivíduo e sociedade entre área verde e pausa urbana.

O lugar público – pausa urbana - vai de encontro aos problemas atuais. Não tem a pretensão

de solucioná-los, mas favorecem recriação dos habitantes e tem possibilidades de

humanizar o que fora constituído “a partir de um imaginário e uma iconografia criados pela

indústria cultural.”64 O lugar se apresenta como o “ponto de articulação entre a

mundialidade em constituição e o local enquanto especificidade concreta, enquanto

momento,”65 e se abre em possibilidades para se pensar o viver, o habitar, o uso e o

consumo e os processos de apropriação do espaço. Como articulação entre um local

específico e demais localidades no mundo, o lugar faz parte de um momento concebido,

percebido e vivido pelos habitantes, não se devendo desconsiderar sua importância perante

a cidade, já que remete a signos e significados.

É no lugar que se manifestam os desequilíbrios de uma sociedade e as situações de conflito

que permeiam a vida cotidiana. Guarda em si o movimento da vida, possível de ser

apreendido pela memória, através da percepção sensorial. Deste modo, assimilando o

irracional, “o criado, o corpo, a arte, a música, a literatura”66 torna-se capaz de pensar a

produção de espaço como produção da vida e do encontro, e do cotidiano. É preciso

começar refletir sobre os modos atuais de experiência urbana e cotidiano.

2.7 Experiência urbana e cotidiano

As práticas de vida urbana, em específico, no Brasil, parecem significar algo opaco,

confuso e contraditório e a experiência urbana está vinculada a “formalizações e

categorias”67 que fazem que o espaço público seja apropriado pelo privado. O sistema

64 PEIXOTO, 2002, p. 362. 65 CARLOS, 2002, p. 303. 66 LEFEBVRE, apud CARLOS, 2002, p. 305. 67 VIDLER, 1981, p. 37.

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capitalista interfere no cotidiano do citadino/ habitante a partir do momento em que se

propõe como meta o consumo de produtos, tornando o cidadão mero consumidor. Ainda

assim, é exatamente na cidade, que vislumbram as saídas da modernidade. O ato de

experienciar os espaços, percebê-lo, vivê-lo, principalmente os públicos, carrega em si, as

possibilidades de articulação do individual ao coletivo, do privado ao público. A reflexão a

respeito das experiências urbanas encontra-se, especialmente, desenvolvida nos textos de

LEFEBVRE, nos quais o fundamento da teoria do espaço urbano é a experiência individual

do habitante e onde o autor procura interligar espacialidade e experiência; urbanismo e

filosofia.

Geógrafos e sociólogos são leitores de LEFEBVRE e importantes críticas à cidade têm

advindo daí. Porém, inversamente, o conceito lefebvriano de espaço permanece

desconhecido para muitos profissionais que pensam sobre a cidade. Fato é que sua teoria a

respeito do uso do espaço, aguarda por uma interpretação urbanística, sobretudo porque sua

concepção de espaço bifurca-se nas direções da produção da cidade e da recepção dos

lugares. O ato de conceber o espaço, percebê-lo e vivê-lo constitui a tríade de

LEFEBVRE68 e suas premissas estão na observação das vivências cotidianas de homens e

mulheres num universo urbano. Ainda que apresente a crítica da vida cotidiana como a

principal articulação de sua teoria sobre o urbano, dali não se extraem tipologias de cidade,

padrões de comportamento ou esquemas espaciais. LEFEBVRE recusa a tentação de

elaborar mais um sistema. Prefere dizer que é preciso debruçar-se sobre a idéia do cotidiano

para compreendê-lo como denominador comum para sistemas existentes, interliga lugar,

atividades e necessidades várias dos moradores. O conceito de cotidiano estabelece o

terreno de antecedências sobre o qual se realiza a ação humana. Não se trata, então, de

descrever a essência do cotidiano ou estabelecer sua natureza, mas, antes, de explorar o

modo como se age nele ou sobre ele.

Experiência urbana articulada ao conceito de cotidiano, bem como à noção de espaço

urbano que esse evoca constitui ponto fundamental deste estudo. A racionalidade que rege 68 LEFEBVRE, 2000.

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tanto o pensamento do espaço como seu desenho tem mais de um sentido e se presta a mais

de uma interpretação. A radicalidade do conceito de espaço em LEFEBVRE se assenta,

exatamente, na construção de uma analíse do espaço, resolvida numa tríade, que aponta sua

complexidade. Desenvolvendo melhor esta tríade, tem-se, em primeiro lugar, o espaço

material, espaço que é percebido pela população por conter significados profundos: situa-se

entre a rotina diária e a realidade urbana, suas rotas, sua teia que liga lugares. É o espaço

praticado das coisas, objetos, movimentos, atividades. Em segundo lugar, o espaço

conceituado, espaço abstrato, em geral designado pelos cientistas, planejadores, arquitetos,

e que é uma forma de conhecimento que possibilita os muitos modos de compreender o

espaço necessário às práticas espaciais. No ato de um projeto, parte-se, primeiramente, de

um conceito para, em seguida, materializá-lo em projeto. Em terceiro lugar, o espaço

vivido, as concepções de realidade que condicionam as ações. É o espaço de habitantes e

usuários, vivido através de suas imagens, seus símbolos e referenciais. LEFEBVRE o

chama espaço de representação, onde são tecidas as relações entre os usuários e as

manifestações simbólicas que ficam associadas aos moradores de um determinado

contexto. Para o autor, há uma associação entre as dimensões psicológicas e físicas da

conceituação do lugar.

LEFEBVRE69 faz uma descrição fenomenológica do espaço em ato, que quer dizer: o

espaço só realmente se efetiva enquanto lugar, quando as relações sociais são nele tecidas.

O que não é apenas uma enumeração de elementos constituintes do espaço, mas uma

estratificação do fenômeno espaço, configurado, necessariamente, numa dimensão temporal

e segundo a ação de um sujeito. Nas acepções do concebido, percebido, e vivido o conceito

se estabelece para além de espaço geométrico (espaço mental concebido pela matemática e

pela filosofia) e espaço físico (na dimensão prático-sensível, de percepção da natureza). A

hipótese central em LEFEBVRE é que não existe relação social fora do espaço. Relações

sociais somente se concretizam, enquanto relações espaciais, ou seja, espaço é espaço

69 LEFEBVRE, 2000.

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social e inerente à existência do modo como as “pessoas fazem os lugares, lugares fazem as

pessoas.” 70

Certamente, LEFEBVRE estabelece conceitos importantes a respeito do cotidiano e instiga

a pensar o espaço público de uma forma nova e transdisciplinar. O espaço público é um

espaço fronteiriço de atuação de vários agentes públicos e privados que, articulado à tríade

de LEFEBVRE, enquanto espaço material, situa-se entre a rotina diária, liga lugares e

atividades urbanas. É também um espaço conceituado, vivido e carregado de símbolos e

significados para os usuários. Nessa perspectiva, o espaço público é o eixo, a rota das

práticas cotidianas dos citadinos, estabelecidas para além do espaço físico. É espaço social

e, como tal, mediador de encontros e conexões. Na cidade, situa-se como o lugar das

fronteiras.

2.8 Lugar das fronteiras

Os lugares de fronteiras, os espaços públicos, representam situações diversas em países

com cidades desiguais e segregantes do Terceiro Mundo, lugares de encontro de

populações diversas de realidades excludentes, como é o caso do Brasil. ARANTES71

coloca que:

No espaço pulverizado da pós-modernidade, o espaço não se tornou irrelevante: ele foi reterritorializado de um modo que não se conforma à experiência de espaço que caracterizava a era da alta modernidade. É isso que nos força a repensar as políticas de comunidade, solidariedade, identidade e diferença cultural (FERGUSON, 2000, p. 35).

O espaço contemporâneo, carregado da tríade de LEFEBVRE, carrega em seu cerne as

possibilidades de reterritorialização. Moldado pelas ações humanas, o espaço,

principalmente os públicos, leva a repensar as políticas públicas e comunitárias. As

modificações da paisagem, construídas pela espacialização das relações sociais,

70 LEFEBVRE, 2000, p. 46. 71 ARANTES apud FERGUSON, 2000.

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econômicas, culturais e políticas, tornam-se mais legíveis, quando se entende que o espaço

urbano é um meio dinâmico, exerce influência sobre a história e é moldado pela ação

humana.

Ao referir-se aos acontecimentos geradores de espaços transitórios no campo da fronteira,

entre os diferentes atores sociais e lugares, melhor seria utilizar o termo “territorialidade”, a

exemplo de ARANTES72, pois esse termo indica mobilidade e flexibilidade dessas

definições. Por outro lado, a identificação da tensão social, presente nas áreas de fronteira

definidas como espaços públicos, neste estudo, poderia talvez ser lida também como a

tensão – entre os lugares e os indivíduos cada vez mais privados de verem a si e aos outros.

Outro enfoque é ler os espaços de fronteira – espaço público - como HERTZBERGER73

sugere – “o espaço habitável entre as coisas.” Traduzindo para o universo de concepção do

projeto as preocupações sobre a intervenção urbanística, os espaços públicos vêm como

possibilidade de reinventar possíveis relações sociais. Ele usa o conceito potencial de

acomodação, ou seja, todas as coisas tendem ao equilíbrio, como o princípio da ordem no

ciclo da natureza74, para que as formas e espaços possam ser como um instrumento musical

que soa como o instrumentista quer que ele soe e recuperam, dentro de propostas

contemporâneas extremamente interessantes, as inúmeras possibilidades de apropriação nos

lugares públicos, coletivos, intermediários - fronteiras – soleiras e intervalo que a

arquitetura tem construído ao longo da história.

A utilização desse conceito de acomodação na compreensão de espaços públicos implica

em desenvolver uma imaginação social diferente, que reinvente os compromissos ativistas e

de participação da população, que proporcione espaços de cidadania e de interlocução de

atores sociais tais como: usuários adultos, idosos e crianças, numa possibilidade de

construção do coletivo, do público e da memória. O espaço público, enquanto lugar

fronteiriço do coletivo e das práticas urbanas, é importante para o campo de formação de 72 ARANTES apud FERGUSON, 2000. 73 HERTZBERGER, 1993, p. 176 74 PIRES, Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 1989, p. 669.

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uma cultura política e representa possibilidades civilizatórias75. O exercício da cidadania,

no que diz respeito à participação política e social e à qualificação ambiental dos espaços

públicos assume, na contemporaneidade, proporções significativas no espaço marcado pela

acentuada desigualdade social das cidades brasileiras:

O espaço urbano, fraturado e recolonizado pelas tensões entre o conflito social e o mercado, simulado e flexibilizado pelas tecnologias de comunicação e informação, apresenta-se como palco e objeto de disputa na incessante estruturação prática e simbólica da cidadania (ARANTES, 1998, p. 12).

O espaço urbano público, lugar da fronteira, merece, então, ser revisto enquanto projeto dos

lugares e, sob esta ótica, o urbanismo, sendo a ciência que trata deste espaço, também

merece ser revisto, numa tentativa de compreender o que se experiencia nos lugares e como

se dão as práticas cotidianas.

2.9 Urbanismo: projeto dos lugares

O “projeto dos lugares da cidade”76, em específico os públicos, são objetos do urbanismo.

Sendo assim, os projetos urbanos exigem, como condição necessária, o debruçar-se sobre a

lógica da cidade e o interpretar dos múltiplos sentidos dos lugares. Há uma tentação em

homogeneizar os lugares, estabelecer fronteiras e limites, entretanto a lógica é outra: é a da

mistura, da entropia e do heterogêneo. Põem-se, então, como enclave, os contrastes e as

diferenças que emergem e se instauram no espaço– “que não provêm do espaço enquanto

tal, mas do que nele se instala, reunido, confrontado, pela/na realidade urbana” 77. A tarefa

é “tentar ampliar os espaços comunicativos ainda disponíveis, fazendo recuar o sistema”,

dilatar horizontes e desprivatizar o olhar, ou seja, ampliar a vivência para o espaço público,

com a sua reativação, caminho que leva a múltiplas experiências dos sentidos. Por essa

75 ELIAS, 1993. 76 Designado como o projeto dos ambientes construídos (cidade e edifícios), uma ação que interfere na vida de todos os habitantes do lugar. (RIO; DUARTE; RHEINGANTZ, 2002, p. 12). 77 LEFEBVRE, 2000, p. 117.

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razão, como é tratado por JODELET78, os estudos urbanos levam a territórios de

pluralidade de formas de experiências e de práticas sociais, uma vez que os lugares

possuem especificidades próprias e representam significados diferentes para seus usuários.

Essa metáfora poderia ser designada pela idéia de folheamento, isto é, de implicação de camadas distintas – como em uma massa folhada, digamos -, o que permitiria uma representação mais complexa e descontínua das identidades e das práticas que obedecem a lógicas plurais e orientam relações diferenciadas com grupos e com cidadãos, com seus aspectos de vida e com formas de apropriação específicas (JODELET, 2002, p. 34).

O desafio de transitar entre mundos e realidades contraditórios e complexos é vivenciado

por todos os brasileiros. Os contrastes socioeconômicos humilhantes, a distância social, a

ameaça permanente de deflagração de uma violência ainda mais generalizada desenham o

cotidiano brasileiro. Para tanto, faz-se mister uma visão pluralista e transdisciplinar, pondo

em perspectiva a correlação dos saberes diversos, unificando a reflexão de construtores,

planejadores e das ciências humanas e sociais.

Pensar o espaço público significa79, nesse caso, fazer frente à idéia de cidade: por um lado,

cidade ligada ao que o poder público oferece – escolas, aberturas de estradas e calçamento,

transporte público e atendimento básico à saúde, praças, parques e jardins. Por outro,

cidade conectada aos processos interativos do setor privado e da comunidade como um

todo que configura a conexão das comunidades urbanas. Por sua vez, diz respeito à real

possibilidade de levar a termo uma cidade que articule as demandas individuais e

comunitárias, com uma abordagem vinculada às representações sócio espaciais e à memória

dos lugares. Há uma reciprocidade entre o ambiente e os padrões culturais, entre o homem

e o espaço-lugar.

Os arquitetos e urbanistas tiveram olhos e ouvidos muito atentos – seu ponto de partida foi,

justamente, perceber que a multiplicidade de forças dava conta de uma real assimilação ao

78 JODELET, 2002. 79 CAMPOS; FERREIRA, 2002, p. 107.

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lugar, quando as relações de vida se davam no cotidiano, a tal ponto, que os arquitetos

precisaram pensar um projeto do lugar a partir da inversão da dinâmica de produção das

cidades modernas.

Voltando o olhar para o Brasil, é oportuno pensar numa abertura de caminhos para lidar

com os espaços públicos e tratá-los com sua devida importância. O que está em jogo é a

participação política das populações, na cena urbana, sua interrogação pelas formas de

praticar e conceber as condições de existência numa sociedade capitalista e citadina. Como

o professor Milton Santos80 discorreu tantas vezes, a cidade é o que está no centro das

interrogações sobre o futuro. Contudo, a “futura cidade brasileira”, com maior participação

dos habitantes junto às decisões políticas, já não mais poderá estar atrelada a uma regulação

dominante. Para nela atuar, os arquitetos e urbanistas precisam aprender a se deslocarem

para o descontínuo mundo dos habitantes, pois só de suas rupturas e de seus atalhos é que

surgirão os novos diálogos e, quem sabe, outros modos de descrever a cidade.

80 SANTOS, 1982.

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3 CIDADE DE DIVINÓPOLIS E PAUSA URBANA

O sonho utópico faz da vida urbana uma bela sinfonia moderna de cidadania de muitas pessoas num espaço de terra comum. As praças da cidade são como as pausas da música. Nelas os moradores descansam e ficam de prosa, as crianças brincam, os pássaros cantam e a natureza fornece a sombra das árvores, o colorido das flores e o murmúrio da água pacífica. Frei Bernardino Leers81.

FIGURA 5 – vista parcial da cidade de Divinópolis, década de 60. No primeiro plano, inauguração da Praça Benedito Valadares e ao fundo Largo da Matriz, atual Praça Dom Cristiano, lugares designados, neste estudo, como “pausa urbana” Fonte: ARQUIVO MUNICIPAL DE DIVINÓPOLIS, 2000.

Divinópolis, no centro-oeste mineiro, cidade escolhida para a realização dessa pesquisa,

possui momentos de ruptura no processo de estruturação da cidade, decorrente dos fatores

sócio-econômicos-políticos e retrata situações históricas contrastantes, onde as áreas

centrais da cidade entram em processo de transformação, repetindo padrões e formas de

ocupação que já se mostram danosos, à semelhança do ocorrido nas cidades de grande e

médio porte. Sobrecarrega-se o sistema viário e de serviços, descaracterizam-se os centros

históricos, transformam-se, sem levar em conta, a escala do pedestre, as áreas de convívio

e/ou recreação, as áreas de preservação e de referência do cidadão. Neste quadro de

modificações e transformações rápidas, faz-se necessário um olhar para a paisagem e as

81 Frei franciscano, teólogo e escritor de numerosas obras, residente no Convento dos Franciscanos de Divinópolis/ Província de Santa Cruz.

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áreas livres das cidades de porte médio, como Divinópolis, neste momento em que o

processo de urbanização ainda não se completou, para detectar possíveis lacunas e

possibilidades. Para tanto, é necessário um percurso pelo padrão de ocupação e

urbanização, desde o final do século XIX, para se conhecerem os espaços designados como

pausa urbana de Divinópolis.

3.1 Abordagem no contexto da evolução urbana

Divinópolis possui uma população estimada em 204.000 habitantes e uma área fisiográfica

de 716 km2, confrontando-se, estratégica e privilegiadamente, com os seguintes

municípios: Nova Serrana e Perdigão, São Gonçalo do Pará e Carmo do Cajuru, São

Sebastião do Oeste e Santo Antônio do Monte e Cláudio. O município é banhado pelos rios

Pará e Itapecerica, tendo sua sede cortada por este último.

FIGURA 6 – Mapa de Divinópolis e municípios limítrofes

Fonte: ANUÁRIO ESTATÍSTICO, 1997/98.

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A cidade é pólo de desenvolvimento da Região Centro-Oeste de Minas Gerais,

desenvolvendo importante papel na arte, cultura, comércio, indústria (principalmente

confecção de roupas), siderurgia, serviços bancários, educação, saúde, órgãos federais e

estaduais.

s

FIGURA 7 – Minas Gerais e Região Centro-Oeste. Fonte: IGA - Instituto de Geociência Aplicada, 199

Até o final do século XIX, Divinópolis era pouco mais que um

inexpressivo, baseado em atividades agrícolas e pecuárias. Den

Espírito Santo do Itapecerica e constituía-se de poucas casas ao redo

traçado das vias irregulares, quase sempre seguindo as curvas de n

Igreja, o que Camilo Sitte definiu como traçado orgânico. A ocu

pelos moradores, seguia a escala humana, ruas estreitas com ca

permitiam vislumbrar o céu e o entorno, contrastando com a cida

desenvolvendo a partir do século XX.

O casarão colonial da Praça da Matriz permanece como monument

até a presente data, sendo o único edifício antigo mantido em condi

central e que remete ao antigo arraial. Todas as demais con

demolidas para darem lugar à nova cidade que surgia, aquela pl

urbanismo moderno, na predominância do racional, com pistas lar

Divinópolis

Minas Gerai

9.

entreposto comercial

ominava-se Arraial do

r da Igreja Matriz, com

ível, indo em direção à

pação do espaço físico,

sas baixas e coloniais

de planejada que se foi

o preservado e tombado

ções originais na região

struções antigas foram

anejada nos moldes do

gas e traçado retilíneo,

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tabuleiro tipo xadrez82. A ordenação do espaço urbano contou com a participação do

engenheiro-chefe da construção do ramal ferroviário entre Belo Horizonte e Garças, Dr.

José de Berrêdo e do prefeito Antonio Olympio de Moraes83. O planejamento urbano da

nova cidade tinha, como pressuposto, projetar uma cidade de acordo com o traçado

funcional e moderno, longe daquela que já vinha sendo desenvolvida desde os tempos mais

antigos. O pensamento que regia este planejamento estava ligado ao desejo de progresso e

desenvolvimento e, para isto, foi necessário demolir casas e esquecer-se da concepção

antiga de implantação das casas.

O processo de modernização econômica e cultural desencadeado em Divinópolis

manifestou uma forte tendência à racionalização instrumental84, ao progresso tecnológico e

aos interesses capitalistas, voltados ao uso irrestrito do espaço da cidade sem se levar em

conta, sob o aspecto ambiental, os recursos naturais, as condições físicas e topográficas e as

áreas inundáveis. Sob o aspecto sócio-histórico-cultural, não se observa uma preocupação

com a preservação do patrimônio histórico e, principalmente, natural, nem com as áreas de

convívio.

Em Divinópolis, o crescimento da cidade se fez numa coexistência conflitiva entre a forma

de vida tradicional e a nova realidade da cidade, entre a ocupação do solo e o meio

ambiente. Por relacionar-se com o dinamismo social, o crescimento da cidade ocasionou

uma conformação urbana impactante do ponto de vista ambiental, sem referenciais, sem

áreas de lazer, sem áreas verdes e de convívio social. A idéia de progresso e da

modernidade, no sentido do desenvolvimento rápido e racional impulsionaram a vida dos

habitantes e dos migrantes na cidade.

82 CORGOZINHO, 2003, p. 17 e 88. 83 CORGOZINHO, 2003, p. 87. 84 Racionalização instrumental diz respeito à coisificação das relações sociais. Ao mesmo tempo em que a sociedade se moderniza, ela submete as atividades, as relações e instituições sociais aos critérios de uma racionalidade formal, orientada à eficácia e ao sucesso técnico das empresas econômicas e políticas. (HABERMAS apud HERRERO, 1986, p. 14).

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Com o aumento da dominação sobre a natureza, o homem moderno sofre perda da

solidariedade e da capacidade de agir com criatividade, significando um predomínio da

razão instrumental sobre as ações humanas e configuração de uma nova realidade físico-

espacial-ambiental. As necessidades lúdicas na cidade, segundo LEFEBVRE, no que diz

respeito ao encontro, ao lazer, à política, são desconsideradas quando projetados os novos

loteamentos. Eles são implantados em áreas impróprias, desarticulados do centro

administrativo e comercial, fugindo da lógica do crescimento de uma cidade.

A experiência da vida moderna elimina fronteiras geológicas, ignora a paisagem natural, os

recursos naturais e as limitações topográficas, em função de uma racionalização do espaço.

Os indivíduos são expostos a uma situação permanente de desintegração, permeada por

conflitos, ambigüidades, angústia e solidão. Assim, tem como conseqüência uma ocupação

desenfreada do solo e uma perda tanto de identidade quanto de qualidade de vida, numa

contínua ameaça à vida cotidiana dos habitantes do lugar. O que ocorre é um declínio das

formas tradicionais de convivência, uma redução das áreas verdes e da vegetação nativa,

poluição dos rios e córregos ou, em muitos casos, desvios dos cursos d`água e drenagem de

nascentes para uma futura ocupação do solo. A ocupação do solo acontece com vistas ao

progresso e ao desejo do moderno e os indivíduos nem se dão conta dos danos ambientais

emergentes e da perda da identidade local.

A evolução urbana de Divinópolis, conforme figura abaixo, mostra um quadro expressivo

de parcelamento do solo, através de novos loteamentos aprovados, a partir de 1979. Entre

1979 e 1988, a área líquida dos lotes duplicou, passando de 41.450 para 85.853, mantendo-

se praticamente estável até a presente data. Por isso, o mapa de áreas verdes urbanas na

figura 23, retratou a evolução urbana em dois momentos significativos: um anterior ao ano

de 1979, e outro posterior a ele quando a Lei de Parcelamento do Solo Urbano, n. 6.766 de

1979, foi implementada.

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FIGURA 8 – Urbanização em Divinópolis Fonte: SEPLAN, 2006.

A modernização da cidade de Divinópolis transcorreu junto a um processo formador do

sujeito. Aquele sujeito marcado pelo individualismo, autonomia, secularização,

consumismo, desejoso do progresso e rumo ao urbano, que assimilou bem a concepção

moderna, quando instituiu a racionalização como a mola mestra da ocupação urbana e das

ações cotidianas. O processo de transformação do espaço, vinculado às transformações

sociais, econômicas, culturais, políticas e religiosas foi impulsionado pelo “espírito da

modernidade”. 1 O mundo moderno apresenta o perfil de um novo sujeito, empreendedor,

portador de liberdades e conhecimentos, racionalidade e determinação pelo progresso, o

que dificultou para o sujeito apreender os condicionantes ambientais e sociais, interferindo

na qualidade daquilo que é produzido.

A emergência dos novos valores e a mentalidade moderna possibilitaram ao indivíduo

instrumentalizar a razão como meio de alcançar seus objetivos. A racionalidade moderna

1 CORGOZINHO, 2003, p. 31.

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implicou em uma nova dimensão psicológica, novas relações de trabalho, nova visão de

espaço público em detrimento do privado e trouxe como conseqüências a exigência de

produtividade, eficácia, funcionalidade, mentalidade desenvolvimentista e progressista,

voltada à produção e ao consumo, tornando-se um campo propício ao desenvolvimento do

capital e da degradação ambiental dos espaços físicos e naturais da cidade.

Do ponto de vista sócio-ambiental, observa-se uma redução dos espaços de convívio em

favor de uma racionalização do traçado urbano e prioridade para o uso privado do solo. As

praças transformaram-se em rotatórias, distribuidoras do tráfego, às vezes são residuais ou

“partes” de junção entre um novo loteamento e o outro, como retratado no mapa: área verde

urbana e ocupação do solo anterior e posterior à Lei n. 6.766/79. O que regeu a concepção

do projeto dos loteamentos em Divinópolis foi o espírito desenvolvimentista e racional,

destinado ao lucro e à ocupação máxima e irrestrita do solo.

Neste contexto, a cidade foi pensada como funcionalista e racional constituída de espaços

vendáveis ou não. O que fora loteado vem causando efeitos ao longo do tempo e pode-se

constatar a primazia dos espaços privados em relação aos públicos e a tendência de

dominação da natureza, expressos na degradação ambiental, na redução dos recursos

naturais – vegetação e cursos dágua, poluição do Rio Itapecerica e na escassez de áreas

verdes públicas nos espaços da cidade, tendência esta evidenciada na vida urbana.

3.2 Os lugares e sua modernização

Oficialmente, conta-se a idade da cidade a partir de 1912, quando foi instituído o primeiro

Governo Municipal. Entretanto, a cidade, enquanto arraial, se desenrolava desde o século

XVIII e pode-se dizer que a cidade conta, de fato, com mais de duzentos anos. O arraial do

Espírito Santo situava-se numa das rotas do comércio regional, localizando-se entre

importantes povoamentos da época: Pitangui, São Bento do Tamanduá, São João Del Rei e

Barbacena, o que favoreceu o crescimento do povoado desde seu início de formação,

proporcionando contatos e trocas comerciais. A atividade que mais se desenvolveu no

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arraial foi a comercial, caracterizando-se como um local de “passagem” e propício à troca

de produtos2.

Inicialmente, as primeiras ocupações do território localizaram-se no morro próximo à

cachoeira, onde fora construída a Igreja Matriz, em homenagem ao Divino Espírito Santo,

em 1775. Até o início do século XX, a população concentrava-se neste local e imediações,

indo em direção ao leito do rio Itapecerica, tendência de ocupação observada nas demais

cidades mineiras, no mesmo período.

Desde a sua formação, o arraial possuía uma população predominantemente católica e as

celebrações religiosas marcavam os laços sociais e o cotidiano das pessoas. Nesta época, a

dimensão comunitária, regia a vida do arraial e as festas, como as cavalhadas, realizadas no

Largo da Matriz atraíam toda a população das imediações3. A reconstrução da Igreja

Matriz, após o incêndio e sua destruição, em 1830, contou com a participação e a

mobilização da comunidade através da doação de materiais, mão-de-obra e dinheiro. Neste

caso, demonstra o envolvimento da população com o lugar, a ação coletiva estava acima

das particularidades de cada um e regia a vida do lugar.

A inclusão da rota da estrada de ferro no arraial marcou o desenvolvimento local no fim do

século XIX. Após a construção da ferrovia, em 1889, houve o primeiro impulso

desenvolvimentista local e a ferrovia foi o marco inicial propulsor das atividades

econômicas e de mão-de-obra industrial disponível. Alguns ferroviários, descendentes de

imigrantes europeus, que vieram a trabalho, tinham uma experiência de vida urbana, e

possibilitaram uma diversificação profissional da população. Neste contexto, a nova cidade

passou a se constituir em dois mundos distintos4: um com características tradicionais,

ligado à Igreja, com ruas estreitas, traçado orgânico; e outro, ligado à ferrovia, com novas

relações de trabalho e traçado espacial diferente daquele inicial, planejamento ordenado nos

2 CORGOZINHO, 2003, p. 45, 46, 292. 3 AZEVEDO apud CORGOZINHO, 2003, p. 47. 4 CORGOZINHO, 2003, p. 90-92.

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moldes do urbanismo moderno, tabuleiro “tipo xadrez”, constituído por ruas largas e

ortogonais, numa divisão racional do espaço territorial.

Tendo-se intensificado o comércio local, Divinópolis passou a ser pólo de atração da região

centro-oeste. Ainda no século XX, a chegada do automóvel e do cinema representaram

outras formas de atividades de lazer para os moradores, diferente daquelas ligadas à Igreja

Católica. Aliado ao desenvolvimento local, iniciam-se as primeiras interferências

ambientais, com a apropriação do espaço voltado para a eficácia e a racionalização,

rompendo o vínculo com o meio ambiente e imprimindo uma intencionalidade em relação

ao traçado urbano e as novas construções.

O traçado funcional e moderno passou a reger as forma de ocupação, desde o início do

século XX, sob a influência das idéias de Antonio Olympio de Moraes e Dr. José de

Berrêdo, obedecendo a uma ordenação cartesiana e uma utilização racional do espaço, com

vistas ao progresso e desenvolvimento, características estas de uma cidade progressista5.

[...] a fixação pela higiene e saúde, a funcionalidade das ruas e parques, a objetivação de cada função a áreas determinadas e específicas. Tudo é passível de planejamento: a moradia, o lazer, o trabalho; a rejeição ao passado é substituído pelo traçado geométrico, espetáculo da estética moderna [...] (VEIGA apud CORGOZINHO, 2003, p. 88).

Na década de 20, os Franciscanos instalaram-se na cidade e deixaram a partir daí, sua

marca constante e atuante na organização social, cultural e política da cidade. Divinópolis

foi sede da Província Franciscana de Santa Cruz, no Brasil, até 1966, quando se transferiu

para Belo Horizonte.

Com o tempo, a atividade industrial passou a reunir diversos investidores até tornar-se o

mais forte setor de economia. Nos anos 40, iniciava-se o “ciclo do gusa”, quando grandes

estabelecimentos ligados à siderurgia se estabeleciam no município, a criação da Pains em

5 CORGOZINHO, 2003, p. 87, 88, 89. Presidente da 1ª. Câmara municipal de Divinópolis, Engenheiro-chefe da construção do ramal ferroviário entre BH e Garças.

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1957, atualmente incorporada pela GERDAU. Nas décadas de 60 e 70, a cidade

experimentou o maior índice de crescimento anual em relação ao estado de Minas Gerais.

Acabava o primado social das famílias tradicionais com o crescimento populacional

advindo de cidades e lugarejos próximos. Foi um período de grande impulso urbanístico

com a inauguração de várias praças - Dom Cristiano, São Sebastião, Candidés, Benedito

Valadares, além do asfaltamento de ruas centrais, inauguração de três edifícios residenciais

multifamiliares verticais e de dois comerciais, melhoria no sistema de iluminação, dentre

outros.

As feiras-livres de arte e artesanato iniciaram nos anos 70, no Centro Cultural do Povo e o

novo ponto de encontro nasceu na cidade. Num entorno próximo à Praça, surgiu a

“Savassinha”6 que é outro ponto de encontro da população. Paralelo ao dinamismo

artístico-cultural da cidade foi implantada a Fundação Cidade Universitária de Divinópolis,

ampliando o quadro educacional na região.

Após os anos 80, houve um incremento na indústria – confecção de roupas – e Divinópolis

tornou-se também uma cidade atrativa para compras de vestuário por pessoas de outras

localidades. Nesta década, esta cidade foi o primeiro município do interior mineiro em

densidade demográfica e o sexto em população. A cidade tornou-se também atrativa para os

estudantes universitários, com a ampliação da oferta de cursos superiores. Hoje, a cidade

conta com as universidades: FUNEDI-UEMG, Pitágoras - Campus FADOM, FACED,

Unifenas e, em trâmites de implantação, a Universidade Federal.

Divinópolis, como cidade do interior, abriga personalidades expressivas no cenário cultural

nacional, com escritores (Adélia Prado, Lázaro Barreto...), artistas plásticos (GTO...),

músicos (Túlio Mourão, Gê Lara, Anthonio, Kiko Lara...) incluindo os corais, que são uma

constante na cidade desde 1885. O perfil cultural da cidade é heterogêneo e apresenta

algumas características peculiares. A presença de migrantes das regiões vizinhas, a 6 “Savassinha” diz respeito a um espaço de convívio, principalmente entre jovens divinopolitanos, com bares e lanchonetes, localizada nas imediações da Avenida Antonio Olimpio de Moraes, onde teve seu auge de utilização na década de 80.

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expressiva população jovem e o nível de renda dos habitantes conformam a estrutura sócio-

cultural-econômica. Essa diversidade promove manifestações e realizações culturais

significativas, que poderiam ser melhor explorados nas áreas públicas.

O dinamismo de Divinópolis é caracterizado por um quadro de mutações que inquieta sua

fisionomia urbana e, às vezes, impede a cristalização de conquistas culturais que

desaparecem mesmo antes de serem contextualizadas. As festas populares carecem de

continuidade temporal, já que constam da expectativa e da memória dos habitantes como

eventos regulares. A fluidez das atividades econômicas da sociedade se restringe à

perenidade dos eventos. “A cidade de Divinópolis, o mosaico, a heterogeneidade étnica de

sua população, tudo é fluidez e nada se cristaliza. Aqui é o ponto de encontro dos irmãos de

toda parte” 7 idéia também desenvolvida por CORGOZINHO8.

FIGURA 9 – Divinópolis e a verticalização da região central. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2006. Disponível no site www.divinopolis.mg.gov.br em maio de 2006. 7 BARRETO, 1992, p. 138. 8 CORGOZINHO, 2003, p. 292, 293.

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3.3 Áreas verdes urbanas públicas na atualidade

De acordo com o mapa de áreas verdes urbanas (ver figura 23), pode-se observar uma

maior concentração de praças e canteiros urbanizados localizados na região central,

destacados no mapa por um círculo, e melhor identificados no Anexo A. A região central

atrai a diversidade de atividades e os maiores investimentos públicos, se comparada às

demais regiões. Os loteamentos implantados após 1979 são os mais desfavorecidos de área

verde e os implantados anteriores a 1979, apesar de apresentarem algumas áreas verdes

urbanizadas, dispõe de uma distribuição irregular e descontínua. De maneira geral, o

parcelamento do solo urbano deu-se de uma forma espaçada e descontínua. Muitos dos

loteamentos, em decorrência da especulação imobiliária, apresentam-se distantes das áreas

urbanizadas centrais, distantes, inclusive, das áreas de recreação e de lazer.

A geometria rígida do traçado das vias públicas e dos quarteirões segue o padrão já

implantado no centro da cidade ou a ele dá continuidade, além do fato de ser o meio mais

simples e mais rápido de traçá-los. O tabuleiro tipo xadrez impunha-se sistematicamente,

com alguns quadrados, triângulos ou retângulos deixados para futuras praças, não raro sem

uma preocupação maior com uma relativa adaptação ao relevo e à hidrografia ou às

barreiras encontradas.

A malha em xadrez desenrola-se sobre o território a ser ocupado, parando de maneira

abrupta ao encontrar alguma barreira física, seja ela cursos d’água, trilhos das ferrovias ou

rodovias. Deste encontro aparecem as áreas verdes residuais, discriminadas na figura 23, e

como área verde urbana pública sem urbanização, em amarelo. Como não existem critérios

para disposição destas áreas, pela legislação municipal, não se estabelece uma continuidade

destas áreas. Assim sendo, o loteador pode pulverizá-las da forma que desejar e, a

Prefeitura Municipal, pode, a qualquer tempo9 e a seu critério, doar ou permutar estas áreas

públicas, uma vez que não existe legislação que efetive ou que garanta a permanência

dessas áreas conforme disposto no loteamento aprovado. Ou seja, nada garante que as 9 DICAF, 2007.

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porções destinadas às áreas verdes serão utilizadas para este fim, o que pode agravar ainda

mais, num futuro próximo, a escassez de áreas verdes urbanas públicas no Município.

Casos de doações foram encontrados durante o levantamento10.

As áreas verdes públicas não urbanizadas, em sua maioria, estão localizadas nas áreas de

preservação permanente – APP´s. Por não receberem tratamento urbano-paisagístico, em

muitos casos, estas áreas servem de depósito de lixo, “bota-fora”11 para as comunidades

locais ou, ainda, são áreas passíveis de invasão por pessoas que fazem delas sua moradia,

como é o caso da área verde do Bairro Jardim Candelária12. Essas invasões estão ocorrendo

aleatoriamente. O início da ocupação, datada nos últimos dez anos, com o apoio da

administração pública, foi com número reduzido de casas. Com o decorrer do tempo, o

número de casas aumentou e tornou-se expressivo, constituindo-se de um aglomerado

urbano, sem critérios urbanísticos para as construções. Há uma formação de uma outra

cidade, a “cidade ilegal”, onde não há cumprimento de leis, nem pagamento de impostos e

nem prestação de serviços.

FIGURA 10 – Área verde pública B. Danilo Passos FIGURA 11 - Área verde pública do B. Jardim Divinópolis/MG. Candelária. Divinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 11 de setembro de 2007.

10 Anexos A e B e Figura 23 – Mapa área verde anterior e posterior a Lei n. 6.766/79 Fonte: SEPLAN, DICAF, 2007. 11 Designa local de disposição de lixo, entulho e demais resíduos sólidos produzidos na cidade. 12 DICAF, 2007.

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Observa-se uma distribuição inadequada ou inexistência de áreas verdes e de recreação em

todo o Município, o que vem causar problemas sócio-ambientais na cidade, com privação

de lazer e de encontros, como também de uma melhor qualidade ambiental para a

população.

Tem-se observado áreas verdes localizadas em fundos de vale ou áreas pontuais, resultado

do parcelamento tipo xadrez, em junção com outros loteamentos, sem aproveitamento para

o empreendedor. Observa-se inexistência de uma política direcionada para o lazer e

descomprometimento com a qualidade de vida dos moradores da cidade, quando na

deficiência de espaços qualificados públicos para o convívio. As áreas verdes vêm-se

transformando em equipamentos de circulação de pedestres e direcionamento do tráfego. A

distribuição e a qualidade das áreas verdes são fundamentais para o ambiente da cidade e

para o convívio das pessoas, por isso há que se pensar nas áreas ainda disponíveis, mesmo

que de particulares, para uso público.

As áreas verdes públicas mais expressivas estão localizadas às margens do Rio Itapecerica,

como mostra a figura abaixo, na cor amarelo. Dentre as áreas particulares, de interesse

urbano-paisagístico, encontram-se, na região central, o “quarteirão dos Franciscanos” 13, e

as áreas próximas a Lagoa da “SIDIL”14, que poderiam ser melhor aproveitadas para o uso

coletivo e público, a fim de proporcionarem um incremento qualitativo das áreas verdes

urbanas, pausas urbanas na região densamente ocupada.

O quarteirão do “Santuário Santo Antonio”, localizado em frente à Praça revelou, em sua

história, importantes experiências dinâmicas sócio-culturais-religiosa-políticas. Foi em seu

entorno que as experiências significativas de vida urbana aconteceram e consolidaram

atividades de encontro até os dias de hoje. O conjunto engloba: CEFESP (Centro

Ecumênico de Formação e Espiritualidade), Santuário Santo Antonio, Salão Paroquial,

13 “quarteirão dos franciscanos” designa uma área privativa de uso coletivo/ institucional, de propriedade da ordem Franciscana. 14 A Lagoa da “SIDIL” e entorno próximo, num raio de 50m (cinqüenta metros) - APP, diz respeito a uma área particular, parcelada e não ocupada, localizada na região central.

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Capela Santa Cruz, Quadra poliesportiva descoberta, Convento dos Freis Franciscanos,

Salão de festas e playground “Mangueiras” hoje desativados. É um espaço importante para

utilização pelo povo, para lazer, encontro e ensino. Apesar de ser propriedade particular, os

franciscanos sempre se voltaram para a comunidade local e mantiveram com ela um bom

relacionamento e troca de experiências. Este espaço é importante para muitos

divinopolitanos, pois foi ali que a vida de muitos transcorreu desde sua infância e é um

local carregado de símbolos e referenciais.

A Lagoa da “SIDIL” se apresenta como um local propício ao lazer passivo ou ativo para a

contemporaneidade. Embora as águas da lagoa não se encontrem passíveis para o uso, nota-

se um uso freqüente por crianças e adultos, que vão ao local para pescaria. O lugar tem

tendência ao encontro, apesar de não apresentar sinais de tratamentos paisagísticos e de

urbanização. Devido o seu entorno estar totalmente ocupado e parcelado, mostra-se como

um único espaço disponível na região e deveria receber maior atenção perante os órgãos

públicos, quando na sua desapropriação e parcerias com empresas privadas para a

implementação de um parque urbano público, já que a cidade não dispõe deste tipo de

equipamento público.

FIGURA 12 – Área verde particular “Lagoa da SIDIL”. Divinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 17 de novembro de 2007, às 10:08 h.

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Outra área que merece destaque quanto à potencialidade ambiental é a “Mata do Noé”15,

localizada nas imediações dos Bairros Nossa Senhora das Graças e Antonio Fonseca, na

região Sudeste, cujo número de habitantes é o maior em relação às demais regiões (ver

tabela 1). Por ser outro lugar expressivo do ponto de vista social e ambiental, além daqueles

acima citados, a “Mata do Noé” representa um lugar carregado de possibilidades para a

implantação de um outro parque urbano regional. Por localizar-se numa área densamente

ocupada, constituir-se-ia um outro núcleo social, possibilitando um tipo de lazer diferente

dos demais. Devido à sua extensão territorial, proporcionaria a instalação de um parque

com a realização de diversas atividades, inclusive um parque ecológico e educativo. No

início do ano 2000, tramitou a aprovação de um loteamento “Antares”16 em parte desta

área. Através de reivindicações e movimentação de pessoas ligadas ao lugar e entidades

filantrópicas – Grupo Ar – o loteamento não foi implantado. Sendo assim, percebe-se uma

movimentação, por parte da sociedade, em preservar aquela área, enquanto local de

interesse público e de uso coletivo, o que vem confirmar a sua importância enquanto

potencialidade social-paisagística.

FIGURA 13 – Área verde particular “Mata do Noé” e região central - Primeiro plano, vista da área potencial a destinação de um parque urbano e ao fundo, região central. Divinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 17 de novembro de 2007, às 8:57 h.

15 “Mata do Noé” é uma área privada, não parcelada, com uma vegetação de grande porte e expressiva do ponto de vista ambiental-paisagística. 16 DICAF, 2006.

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FIGURA 14 – Área verde particular “Mata do Noé” e região sudeste– Primeiro plano, vista parcial da área “Mata do Noé” e ao fundo, região sudeste. Divinópolis/MG Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 17 de novembro de 2007, às 9:08 h.

A região central apresenta um dos maiores índices de habitantes, 34.041, conforme tabela

1, área verde por habitante. Analisando a tabela 1 e figura 15 - mapa área verde por

habitante, percebe-se que a região de menor índice é o sudoeste, envolvendo os bairros:

Planalto, Catalão, São José e São Judas. As áreas de lazer e de convívio, de apropriação dos

moradores, são aquelas da região central, em específico as Praças Benedito Valadares e

Dom Cristiano. Devido à escassez de áreas disponíveis para o lazer público, observa-se

uma apropriação das ruas – estreitas e não projetadas para esse uso – principalmente nas

imediações das igrejas dos bairros Planalto, São José e São Judas, onde regularmente a

população utiliza para seus encontros e convívios.

Apesar de o índice área verde por habitante, apresentado na tabela 1 e na figura 15, não

corresponder à qualificação das áreas, permite uma vizualização da área verde urbana

pública da cidade de Divinópolis, nas diferentes regiões de planejamento. Percebe-se que os

maiores índices de áreas verdes são encontrados nas periferias, regiões 6 e 8, áreas estas

sem urbanização e de preservação permanente, sem condições físicas atuais para o

convívio. Devido à vegetação nativa de grande porte ou mesmo o capim, que conformam

uma mata fechada, a falta de iluminação, a disposição de resíduos sólidos não possibilitam

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a utilização dessas áreas pelas pessoas. Ao contrário, é um local que induz a atividades

marginais e causam insegurança à população.

Por sua vez, a região Central, objeto deste estudo, possui um índice de 7,4m²/hab., aquém

daqueles estabelecidos pela ONU, de 12m²/hab. e pela SBAU, de 15m²/hab. É uma região

densamente ocupada e recebe moradores e usuários de bairros distantes que intensificam

ainda mais a aglomeração de pessoas. Nesse contexto, vê-se a existência de reduzidas áreas

verdes públicas qualificadas no Município e, consequentemente, a cidade carece de espaços

de convívio, onde as trocas são permitidas e as relações sociais são tecidas.

O mapa área verde e habitante, confeccionado a partir da tabela1, representado na figura

46, apresenta, dentre as nove regiões de planejamento, sete regiões com índices menores

que o recomendado pela ONU e pela SBAU. O índice geral da área verde urbana

6,97m²/hab é aquém dos estabelecidos como ideal, demonstrando uma escassez de área

verde em toda a área urbana do município, principalmente naquelas mais densamente

ocupadas. As regiões centrais, mais densamente ocupadas, são aquelas que detêm os

menores índices de área verde por habitante, variando entre zero a seis e seis a doze.

TABELA 1 – Índice área verde pública e habitante

REGIÃO ÁREA VERDE

(M2) HABITANTE ÍNDICE ÁREA VERDE/ HAB1 CENTRAL 251.764,57 34.041 7,40 2 SUDESTE 352.199,52 40.051 8,79 3 NORDESTE 288.983,86 25.670 11,26 4 NOROESTE 123.743,39 22.312 5,55 5 SUDOESTE 12.460,04 30.699 0,41 6 NORDESTE DISTANTE 87.052,49 5.237 16,62 7 OESTE 15.603,46 9.204 1,70 8 SUDOESTE DISTANTE 102.369,00 6.900 14,84

9 NOROESTE DISTANTE 6.661,23 3.858 1,73

GERAL 1.240.837,56 177.972 6,97

Índices de referência 12m²/hab - ONU 15m²/hab - SBAU Fonte: SEPLAN, 2006.

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Alguns problemas relevantes pela falta de área verde na região central relacionam-se ao

desconforto ambiental dado pelas ondas de calor, assoreamento dos cursos dágua pelas

terras advindas das erosões, impermeabilização do solo pelas altas taxas de ocupação, com

índices de 100% e pela pavimentação asfáltica que absorve e irradia o calor. Pode-se

também relacionar a ausência de contrastes entre o natural e o construído, fazendo que a

paisagem da cidade torne-se carente de humanização, uma vez que os espaços verdes

proporcionam um microclima agradável e uma humanização dos lugares, contrapondo com

os espaços construídos em concreto e asfalto da cidade.

Fazendo uma comparação com outros Municípios, com o mesmo padrão de crescimento,

segundo PAIVA17, quanto mais urbanizados os espaços, maior a temperatura. A paisagem

natural tende a estabilizar a temperatura e a reduzir os efeitos do calor, como também a

aumentar a umidade do ar. A grama, o cimento e o asfalto apresentam temperaturas

diferentes quando expostos ao sol. Sendo assim, a mudança do microclima está,

intimamente, relacionada com a densidade de ocupação e a disponibilidade de área verde,

como também com os espaços de convívio. As áreas públicas mais sombreadas e com um

ambiente agradável são aquelas onde se abrem as possibilidades dos encontros e das

interações entre as pessoas.

As árvores e a vegetação são eficientes na melhoria do microclima urbano, desde quando

interceptam, absorvem, refletem e trasmitem radiação solar, captam e transpiram água,

além de interferirem na direção dos ventos. Como a vegetação produz melhoria ambiental,

com melhor qualidade do ar, redução da poluição sonora e visual, consequentemente,

propicia um bem-estar coletivo, físico e mental da população, trazendo benefício social ao

lugar.

17 PAIVA, 2002, p. 62.

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1/500.000

FIGURA 15 – Mapa área verde por habitante Fonte: SEPLAN, 2006.18

Nesse sentido, considerando-se tanto a importância ambiental quanto a social das áreas

verdes, pode-se estabelecer a devida importância relativa da vegetação no espaço público.

A função primeira dessas áreas é proporcionar momentos de lazer, em contato com a

natureza, à população, respeitada sua vivência e o contato com as outras pessoas.

A densidade bruta aliada à área verde urbana, representada na figura 16, configura regiões

de maior adensamento e, consequentemente, as de maior necessidade de áreas de convívio.

A figura 47, mapa de densidade bruta, estabelece uma melhor visualização da tabela 2 de

densidade bruta de Divinópolis. Observa-se uma maior densidade do centro para as

periferias, uma ocupação do tipo radial. O maior território físico-espacial possui,

inversamente, uma menor ocupação do solo.

18 Mapa confeccionado pelo aluno Bruno Henrique Vilanova Novais, do Curso de Engenharia Civil pela FUNEDI-UEMG, 2007.

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1/500.000

FIGURA 16 – Mapa Densidade bruta Fonte: SEPLAN, 2006.19

A maior densidade bruta refere-se à região central com 58,79hab/ha, demonstrando uma

alta valorização dos imóveis nesta região e, consequentemente, é uma região mais sujeita às

mudanças reguladas pelo mercado financeiro-capitalista.

19 Mapa confeccionado pelo aluno Bruno Henrique Vilanova Novais, do Curso de Engenharia Civil pela FUNEDI-UEMG, 2007.

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TABELA 2 - Densidade bruta área urbana REGIÃO DE

PLANEJAMENTO ÁREA

(ha) Nº. DE HABITANTES DENSIDADE

BRUTA(hab/ha)

CENTRAL 579 34.041 58,79

SUDESTE 5.148 40.051 7,78

NORDESTE 1.128 25.670 22,76

NOROESTE 2.697 22.312 8,27

SUDOESTE 1.206 30.699 25,46

NORDESTE DISTANTE 2.942 5.237 1,78

OESTE 1.138 9.204 8,09

SUDOESTE DISTANTE 4.854 6.900 1,42

NOROESTE DISTANTE 1.785 3.858 2,16 Fonte: SEPLAN, 2007.

Há uma forte tendência à verticalização, na região central, o que compromete a qualidade

de vida e o conforto ambiental local. Quanto maior a densidade, maior as ondas de calor,

mais altas as temperaturas e menor a umidade do ar. O comprometimento da qualidade de

vida, inclusive a saúde dos habitantes, pode ser melhor observado através do gráfico 1,

fornecido pela Secretaria de Saúde de Divinópolis, referente aos maiores índices de

doenças no município. Segundo esses dados, as doenças do aparelho circulatório são as de

maior destaque. Já as doenças do aparelho respiratório apresentam-se em quarto lugar20.

PROPORÇÃO DE ÓBITOS POR CAUSAS BÁSICAS NO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS EM 2002

Demais causas 26%

Causas externas 8% Neoplasias

18%

Doenças do Ap. circulatório34%

Doenças do Ap. respiratório9%

Sintomas e sinais não classificados

5%

Fonte: SIM/Divisão de Saúde Coletiva/Epidemiologia/Planejamento e Informação/SEMUSANota: dados sujeitos à retificação

GRÁFICO 1 – Proporção de óbitos por causas básicas Fonte: Anuário estatístico de 2002, SEPLAN, 2006.

20 SEPLAN, 2006.

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Causas básicas, segundo dados obtidos pela Secretaria de Saúde de Divinópolis, diz

respeito às causas principais que ocasionam óbitos na cidade, dentre elas: doenças de

aparelho circulatório, neoplasias, doenças do aparelho respiratório, causas externas e entre

outras.

A delimitação da área de estudo, região central, conforme figura 48 abaixo, apresenta uma

ocupação predominantemente comercial. Conforme a Lei de Uso e Ocupação do Solo, Lei

n. 2.418/88, o zoneamento predominante ZC-1, Zona Comercial Um, em azul escuro, é o

mais permissível, possui as maiores taxas de ocupação que variam de 70 a 100% e permite

uma maior verticalização em relação aos demais zoneamentos. Uma taxa de ocupação de

100%, aliada à pavimentação asfáltica das vias públicas, ocasiona impermeabilidade do

solo nas áreas urbanizadas.

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Praça Dom Cristiano

Praça Benedito Valadares

Delimitação da região Central recortada para o estudo

escala 1:12.500 FIGURA 17 – Mapa ocupação do solo da região central Fonte: DICAF - Anexo 6 da Lei de Uso e Ocupação do Solo – Lei n. 2.418 de 1988. O entorno da Praça Dom Cristiano possui uma tendência ao uso residencial, como pode ser

demonstrado na figura 17, p.124, pois tem também em seu entorno, o zoneamento o ZR-2,

Zona Residencial Dois, com uma taxa de ocupação de 75%.

124

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A Lei de Uso e Ocupação do Solo, n. 2.418, de 1988, com seus instrumentos de controle e

parâmetros, sempre rígidos e niveladores, é incapaz de contemplar a diversidade das

características de cada região da cidade. A definição dos zoneamentos não se conectam

com o espaço público da rua. A rua é apenas rua e possui uma função primeira de trânsito

de veículos e de pedestres. Inseridas neste contexto, as praças recortadas para o estudo,

tendem a se tornarem local de passagem e sofrem pressão, enquanto seu valor de uso. O

movimento das pessoas do entorno, direcionado ao comércio principal, o esvaziamento da

região central de residências unifamiliares, aliada à alta valorização dos imóveis, fazem

com que os espaços das duas praças se encontrem sob contínua pressão, tanto pelo mercado

imobiliário, quanto pelas atividades urbanas, principalmente as ligadas ao capital.

A legislação não é definidora dos padrões para dimensionamento de vias, de calçadas, de

taxa de permeabilidade do solo, de recuos e afastamentos frontais, laterais e de fundo que

levem em conta os critérios qualitativos para a melhoria das condições do ambiente urbano.

A Lei de Uso e Ocupação do Solo n. 2.418, de 1988, de Divinópolis, com seus coeficientes

contrutivos muito generosos, provocam alta densidade construtiva e verticalização

excessiva na região central (ver figura 17 e anexo I). Com isto, a região central encontra-se

em condições de habitabilidade, higiene e, principalmente, de convívio comprometidos

devido à alteração da insolação, ventilação e iluminação naturais.

Segundo BUSARELLO21 “a especulação do solo urbano deturpa o conceito original da

verticalização preconizada por seus idealizadores, que tinham como pressuposto básico a

alta densidade construtiva e populacional em troca da liberação do solo para um maior

equilíbrio entre o espaço construído e o espaço aberto.” Na cidade de Divinópolis, com uma

alta especulação do solo urbano, há uma inversão dessa concepção original, na qual a alta

densidade construtiva e populacional é compensada pelos espaços abertos. O solo é

altamente construído e verticalizado, constatado pelos índices de taxas de ocupação (ver

anexo I) e, não há uma relação harmônica entre o espaço construído e natural, os cheios e

os vazios. Os espaços construídos e abertos não se interagem, há uma supremacia de 21 BUSARELLO apud ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1990, p. 55.

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maciços de concreto na paisagem da cidade. Com isso, o “skyline”22 do centro da cidade

apresenta-se com predominância de espaços construídos.

FIGURA 18 –Verticalização da região central. Divinópolis/MG. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2007. Disponível no site www.divinopolis.mg.br no dia 20 de Maio de 2007. Como se percebe, a região central, com a alta valorização do solo, tende a continuar se

verticalizando, uma vez que os padrões urbanísticos adotados não privilegiam os aspectos

qualitativos do espaço urbano – convivência, meio ambiente e, consequentemente,

humanização dos espaços da cidade. As duas praças – Praça Benedito Valadares e Dom

Cristiano – por sua vez, representam espaços privilegiados do centro, únicos espaços

públicos “da rua”23 que permitem o encontro e a aproximação da comunidade local e dos

bairros. Um exemplo disto são os agrupamentos espontâneos de pessoas, adultos e crianças

que, geralmente, acontecem nesses lugares. As praças causam prazer no convívio da

comunidade, além de valorizar o ambiente da cidade e estimular a sensibilidade das

pessoas.

22 Skyline diz respeito ao perfil da cidade, termo muito utilizado em arquitetura e urbanismo. 23 Termo utilizado por DAMATTA para designar os espaços públicos de convívio social.

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Para explicar a ocupação do entorno próximo das Praças escolhidas para o estudo, a região

central, foi recortada seguindo os critérios e dados fornecidos pela Vigilância Sanitária. A

figura 19, mapa de densidade líquida, abaixo, confeccionado a partir do anexo C - tabela

densidade líquida - fornece uma melhor visualização da ocupação do solo – número de

habitantes por hectare24. Observa-se um eixo de ocupação mais densa na direção Sudoeste e

Nordeste, sentido contrário à melhor direção dos ventos dominantes nesta região, que é

Sudeste e Noroeste. O maciço de concreto, na região central, que pode ser melhor

visualizado nas figuras 18 e 19, estabelece um anteparo à direção dos ventos, alterando a

circulação do ar no local que, aliado à falta de área verde urbana pública, contribui ainda

mais para um ambiente inóspito, carente de contatos com o verde, carente de possibilidades

de encontros e trocas, voltados, principalmente, para o mercado financeiro-capitalista.

Fazendo uma análise da densidade líquida da área recortada, região central, constata-se uma

correspondência entre a figura 19 e o Mapa de Ocupação do Solo da região central, figura

17. Os quarteirões de maior densidade são aqueles situados no entorno da Praça Benedito

Valadares, como é demonstrado na figura 19 - Mapa de Densidade Líquida (ver também

Anexo C).

24 Dados obtidos pelo levantamento de campo aliado às informações da Vigilância Sanitária, dados obtidos no ano de 2005)

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Maciço de concreto estabelecido pelos edifícios verticalizados, dado pelas cores verde escuro, amarelo, laranja e vermelho.

Escala 1: 2.500 FIGURA 19 – Mapa Densidade líquida da região central Fonte: SEPLAN, 2006.

Por estes dados, percebe-se a carência de áreas verdes urbanas públicas, assim como os

demais serviços urbanos, não se distribuem igualmente pelos diferentes segmentos sociais.

Setores ocupados por populações mais carentes são menos favorecidos quanto às áreas

verdes, tanto em distribuição, quanto em tratamento. A maioria dos loteamentos, mesmo

depois da Lei Federal n. 6.766, de 1979, possuem poucas porções de áreas livres e em

alguns loteamentos, localizados na periferia, não constam área verde disponível.

Outro fato observado nas áreas periféricas, refere-se à tipologia da vegetação nas áreas

verdes. Na sua maioria, a cobertura vegetal nativa, tipo cerrado, foi sistematicamente

erradicada e em poucas áreas, como nos Bairros Vila Romana e Jardim Candelária, nota-se

ainda a existência de uma vegetação significativa e expressiva, que merece atenção quanto

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à sua preservação e potencialidade ambiental, dentro do perímetro urbano da cidade de

Divinópolis.

FIGURA 20 - Vista parcial da área verde do Bairro FIGURA 21 – Área verde pública do Bairro Vila Vila Romana. Divinópolis/MG. Romana. Local de encontros e festas da comunidade. Divinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 11de setembro de 2007.

FIGURA 22 - Vista parcial da área verde do Bairro Jardim Candelária. Início de um local propício ao lazer, muitos fazem suas caminhadas, e percorrem de bicicleta por toda a extensão, até a Cachoeira do Caixão, as margens do Rio Pará. Divinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 11de setembro de 2007. Dentro deste quadro é oportuno apresentar alguns pontos que devem ser considerados.

Perante a carência que a cidade apresenta em termos de áreas verdes urbanas públicas, o

poder público deve tomar atitudes, a fim de supri-las, enfrentando o problema de manter e

não doar as áreas públicas destinadas ao lazer e ao convívio. Deve também estabelecer uma

política de ampliação das áreas verdes com criação de parques e praças, especialmente nas

regiões de maior carência, como é o caso das regiões central e sudeste (ver tabela 2). É

preciso que o poder público estabeleça uma agenda de compromissos e metas considerando

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as necessidades específicas de cada região, voltadas ao lazer, ao convívio e à preservação

de espaços naturais potenciais, tais como a “Lagoa da SIDIL”, o “Quarteirão dos

Franciscanos”, as margens do Rio Itapecerica e a “Mata do Noé”. Em curto prazo, o poder

público deveria efetivar a desapropriação e tombamento dessas áreas, criar uma legislação

específica que garantisse o uso público, para que a médio e longo prazo, contando com

parcerias junto ao setor privado e entidades filantrópicas, pudesse efetivar a implantação de

parques culturais, urbanos e regionais.

É importante instigar o exercício da cidadania e da participação na dinâmica da cidade

pelos habitantes. Fazer-se cidadão, criar vínculo com o lugar, é parte da proposta deste

estudo. Além disso, quando na aprovação dos novos loteamentos, o poder público deve

exigir destinação de áreas verdes públicas qualificadas que atendam à função sócio-

ambiental da região em que se insere.

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*Participação do aluno André Gonçalves Martins, 6o.período, do Curso de Engenharia Civil pela FUNEDI-UEMGFIGURA 23- Mapa área verde urbana anterior e posterior a Lei 6.766/79*

Fonte: DICAF, 2007 SEPLAN, 2007.

Oliveira

Formiga

Belo Horizo

nte

Santo Antônio dos Campos

Carmo do Cajuru

escala 1:250.000

FIGURA 23 - Mapa área verde anterior e posterior a Lei n. 6.766/79 Fonte: SEPLAN, DICAF, 2007.

131

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3.4 As áreas verdes urbanas nos meados do século XX

Localização da Praça Benedito Valadares

Localização da Praça Dom Cristiano

FIGURA 24 – Divinópolis e a região Central. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2006. Disponível no site www.divinopolis.mg.gov.br em maio de 2006. A primeira praça, a mais antiga da cidade, localiza-se próxima à Igreja Matriz, atualmente

chamada Praça Dom Cristiano. A disposição das casas ao redor da praça, a localização da

Igreja, voltada para a praça, a topografia tipo planalto e a conformação das ruas

direcionadas para a praça conferiam ao lugar um caráter social, centralizador e de grande

com uma amplitude no olhar. Dali era possível ver tudo e todos, como também efetuar os

encontros e festas, pois o lugar configurava-se como um largo.

FIGURA 25 – MHD 86.453.02, 1916. MHD 86.250.02B, 1945/50. Largo da Matriz. Espaço de convívio para a comunidade. Divinópolis/MG. Fonte: Centro de Memória FUNEDI, 2006.

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A área nova no momento de criação da cidade foi planejada em 1912 e anunciava o

progresso e a modernização. Contava com um projeto para a área central composto de três

quadras destinadas à implantação de praças públicas1, áreas verdes de uso coletivo para a

população. A primeira praça (ver figura 28), em frente à Estação Ferroviária da EFOM,

com tratamento urbano-paisagístico, em 1939, denominada Benjamin Constant, foi um

agradável local para lazer, descanso e programas culturais, acolhia toda comunidade e seus visitantes[...]extensos jardins com muitas roseiras compunham a praça, que também possuía um belo coreto e um laguinho habitado por várias espécies de peixes ornamentais (ARAÚJO apud CORGOZINHO, 2003, p. 98).

Em 1960, no lugar desta praça, foi construído o primeiro terminal rodoviário de

Divinópolis e a sede da Prefeitura Municipal, lugar este denominado Pedro X. Gontijo,

preservando apenas as palmeiras imperiais e as árvores de grande porte da antiga praça.

Atualmente, o lugar foi reformado e destinado à sede da Secretaria de Saúde e do Pronto

Socorro Municipal. As transformações ocorridas no espaço da praça fizeram que a cidade

perdesse mais uma área verde urbana pública, como também um local idealizado para o

lazer e o encontro, para as festas e manifestação da cultura.

A segunda área verde pública (ver figura 28) localizar-se-ia paralela e acima da primeira,

delimitada pelas ruas e avenidas: Rua São Paulo, Avenida Antonio Olimpio de Morais, Rua

Rio de Janeiro e Avenida 1º. de Junho. Segundo documentos oficiais municipais 2 a área

denominar-se-ia Praça Municipal, cujo objetivo, segundo CORGOZINHO(2003), era dotar

a cidade de um centro político-administrativo e religioso, fato este que não aconteceu pois

os lotes foram destinados ao uso de particulares e não ao público. O projeto original acabou

sendo desvirtuado de sua concepção inicial e iniciou-se o processo de ocupação da área

central propício ao adensamento.

1 CORGOZINHO, 2003, p. 98-100. 2 Lei n. 158, de 25/11/1927. In: DIVINÓPOLIS, 1919-1928, p. 158, que trata sobre subdivisão da área em lotes e sua venda em hasta pública.

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FIGURA 26 – Vista Rua Rio de Janeiro. Início do século XXI e meados dos anos 50. Entorno próximo às áreas destinadas para as praças públicas. Ao fundo, Santuário de Santo Antonio. Divinópolis/MG. Fonte: Luiz Fotógrafo (gentilmente cedidas para o Laboratório de Fotografias do Curso de Jornalismo do INESP/FUNEDI/UEMG), 2003.

A terceira área pública (ver figura 28), imediatamente localizada acima da segunda,

delimitada pelas ruas e avenidas, Avenida 21 de Abril, Rua São Paulo, Rua Rio de Janeiro e

Av. Sete de Setembro, onde até o início da década de 50, terminava o perímetro urbano.

Nessa área foi construído o prédio do fórum, cadeia pública e a Praça propriamente dita,

lugar antigamente denominado Praça da Liberdade. Mais tarde, em 1968, a Praça foi

projetada pelo arquiteto Aristides Salgado e construída, denominando-se Praça Benedito

Valadares - Centro Cultural do Povo, “do Santuário”. O traçado da praça remete à

racionalidade e à geometrização dos espaços, características marcantes do modernismo em

curso no país. Conceitualmente pensada como centro cívico e cultural, o arquiteto procurou

em seus espaços atender a estas configurações.

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FIGURA 27 – MHD 87.1760.02. Praça Benedito Valadares, final dos anos 60. Centro Cultural do Povo, inaugurado em 1968. Divinópolis/MG Fonte: Centro de Memória FUNEDI, 2006.

FIGURA 28 – Localização das três áreas públicas nos meados do séc. XX. Escala 1:10.000 Fonte: CORGOZINHO, 2003.

3.4 Praça Benedito Valadares – Centro Cultural do Povo

A Praça Benedito Valadares, “Praça do Santuário1” é referência-chave da cidade, devido à

sua imponência visual, sua centralidade e polarização de usos. Situa-se na região

1 ‘Praça do Santuário” é o nome vulgar e mais conhecido, pela população, da Praça Benedito Valadares.

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caracterizada como ZC1 – Zona Comercial Um – zoneamento que permite maiores taxas de

ocupação do solo, edifícios mais altos e maior flexibilidade quanto ao uso do solo, segundo

a Lei de Uso e Ocupação do Solo vigente (ver Anexo I).

Um transeunte, ao atravessar o centro da cidade de Divinópolis, de traçado regular, e passar

pela Praça e pelo entorno dela, “Quarteirão dos Franciscanos”, experimenta experiências

ligadas às sensações provocadas pelos espaços abertos da Praça e pelos espaços fechados

dos edifícios que ali se encontram. Num abrir e fechar da paisagem, a cidade anima-se de

vida pelo dramatismo dos contrastes do local e do entorno e vê-se potencialmente arraigada

às manifestações sócio-culturais, de lazer e de encontro.

FIGURA 29 – “Quarteirão dos Franciscanos”. Divinópolis/MG. Ao fundo, em contraposição ao quarteirão dos Franciscanos, a verticalização da região central. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 17 de novembro de 2007, às 9:25 hs.

O “Quarteirão dos Franciscanos” tem imponência visual, centralidade e polarização de

usos. A quadra de esportes, localizada em seu interior, foi local de práticas de esportes e

lazer; Mangueira, restaurante e churrascaria, em funcionamento até 2003, era subsídio para

manutenção das creches, mantidas pela igreja até 2005, em atendimento às crianças

carentes do município. Depois foram repassadas ao poder público e desvinculadas da igreja.

Vários arquitetos pensaram o espaço do quarteirão desde 20 anos atrás. Entretanto nenhum

projeto foi efetivado. Foram várias as propostas de projetos para fins educacionais, lazer

passivo e ativo, culturais e artísticos. Até a presente data não conseguiram viabilização para

serem executados devido à falta de investimentos.

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Ultimamente, parte do quarteirão foi vendido a empresários e a partir daí há fortes pressões

para que seja desvirtuada sua indicação de lazer público, educação e demais fins sociais e

culturais, para fins lucrativos e de especulação. O “Quarteirão dos Franciscanos”, mesmo

sendo de propriedade privada, é parte integrante do entorno da Praça, sendo o único espaço

disponível central, carregado de referenciais histórico-sociais para a cidade, é essencial para

a ampliação dos espaços e das atividades da Praça, que, hoje, não pode mais funcionar

como fora proposto: atender aos usuários em suas necessidades atuais. Entretanto, o

Quarteirão encontra-se com aparência inerte e amorfa em relação à cidade, e aguarda pelo

diálogo entre os profissionais afins, arquitetos e urbanistas, e, ainda, a comunidade, a igreja

e o poder público venham propor espaços novos e integrados conferindo e confirmando a

vocação comunitária que só aquele Quarteirão tem na cidade.

O elevado número de habitações, construções de uso misto sugerem ser atraente residir no

centro da cidade. Além disso, em função do alto custo dos terrenos centrais, a pressão para

verticalização central é grande, o que já vem acontecendo em grande parte dos terrenos

centrais. Com isso, a Praça Benedito Valadares e o “Quarteirão dos Franciscanos” se vêem

sob ameaça de descaracterização e é forte a pressão para a alteração de uso e de atividades

que servem à comunidade para atividades particulares e especulativas.

Como medida de preservação da Praça Benedito Valadares e de seu entorno, ela foi

tombada em 29/04/2003, sob a Lei Municipal n. 5.595/2003. Como parte integrante ao

entorno de tombamento está o Quarteirão do Santuário de Santo Antonio, dos Franciscanos,

que, segundo o arquiteto João Batista Rodrigues1, incorporou-o ao processo como medida

complementar e imprescindível pela luta em preservar o Quarteirão e assegurar uma

perfeita integração futura com o espaço ora tombado.

1 Arquiteto da SEPLAN, funcionário da Prefeitura Municipal de Divinópolis.

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O entorno da praça

FIGURA 30 – Limite de tombamento da Praça BenditoFonte: SEPLAN, 2006.

O Conjunto Praça e Santuário de Santo Antonio, embora classificad

Especial dois (área de interesse histórico e paisagístico), na atual Lei d

Solo, de no. 2.418/88(ver anexo I), insere-se em uma região como Z

um, zoneamento que admite maior verticalização, atingindo índic

coeficiente de aproveitamento.

Limite de tombamento

Limite do entorno de tombamento

Valadares.

o como ZE 2 - Zona

e Uso e Ocupação do

C 1 – Zona comercial

es de até 8,5 como

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Praça e entorno imediato

FIGURA 31 – Praça Benedito Valadares e Santuário de Santo Antônio. Divinópolis/MG. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2007. Disponível no site www.divinopolis.mg.gov.br em 20 de maio de 2007.

O Plano Diretor aprovado em 2000, definiu redução do número de pavimentos em alguns

núcleos de ZC-1, com limites de altura das edificações, inclusive nas quadras circundantes

da Praça, além de outras áreas de interesse urbanístico, mas estas restrições tem sido

desconsideradas, em função da especulação imobiliária e do alto custo dos terrenos. As vias

de circulação apresentam alto nível de fluxo de veículos, que, em alguns casos, demandam

soluções de tráfego mais incisivas. A falta de vagas para estacionamento é outro agente

complicador na região.

A verticalização de grande parte do entorno, bloqueia a incidência solar no período da tarde

e da manhã na Praça, o que pode comprometer, em definitivo, as condições de utilização

sadia do espaço. Os edifícios próximos estão localizados, em sua totalidade, no

alinhamento das vias, sem recuos o que agrava ainda mais a insolação e a visibilidade. A

arquitetura do entorno, como na maior parte da cidade, é visual e simbolicamente pobre e

mal resolvida, embora de médio e alto padrão construtivo. As necessidades básicas – lazer,

jogo, criatividade, convívio e simultaneidade - assinalados por LEFEBVRE, foram

negligenciados na concepção dos projetos. A proposta arquitetônica e urbanística

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corresponderia, primeiramente, ao mercado financeiro-capitalista, numa ausência de

particularidades nas interferências.

A praça está situada em uma região central da cidade, com densidade de ocupação elevada

permitida pela Lei de Uso e Ocupação do Solo, conforme consta no Mapa de densidade

líquida (ver figura 19). Com tendências ao comércio e ao serviço, o entorno imediato e

próximo dispõe dos seguintes estabelecimentos: escolas – E. E. Pe. Matias Lobato e

I.N.S.S.C., Igreja católica, edifícios residenciais multifamiliares, salão paroquial, clubes,

órgãos públicos, clínicas médicas/ odontológicas, bares, sorveterias, padarias, farmácia,

etc., que aglutinam ainda mais a região de pessoas e usuários. Num entorno de duzentos

metros de raio, nota-se a presença de residências que foram transformadas em clínicas

médicas e odontológicas, além de comércio e de serviço de bairro, tais como: Câmara

Municipal, Receita Federal, Biblioteca Pública Municipal, bares e restaurantes, escolas de

línguas, dentre outros. Vale ressaltar que, ao entardecer, grande parte desse entorno se

fecha e o movimento de pessoas é reduzido, ocasionando um esvaziamento da região.

A Praça apresenta diferentes níveis de apropriação pelo usuário: do ponto de vista do

cotidiano, o local serve de lazer ao público infantil que habita no entorno, nos edifícios

verticais e aos moradores – adultos e idosos - que fazem caminhadas em todo o seu

perímetro. Serve aos trabalhadores locais que fazem sua cesta neste espaço e aos estudantes

que utilizam dos espaços físicos da praça para seus estudos e dos seus elementos naturais,

para suas pesquisas.

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FIGURA 32 – Praça Benedito Valadares e entorno. Fonte: Divinópolis hoje e amanhã, 1986.

Do ponto de vista geral da cidade, a Praça Benedito Valadares é um pólo de atração de

lazer nos fins de semana para um público de menor poder aquisitivo, principalmente jovens

que moram em bairros distantes e não têm outra opção de lazer. A praça demonstra sinais

de marginalidade no que diz respeito aos andarilhos, mendicância e drogas, ocasionando

insegurança aos demais usuários. A apropriação atual da praça não explora toda a sua

potencialidade e mostra-se ao “acaso”, uma vez que os espaços estão desprovidos de

regular manutenção e segurança.

Arquiteto e concepção do projeto

Divinópolis ainda era uma pequena cidade, nos anos 60, com uma população de 53.340

habitantes1 e ainda se encontrava o obelisco em tijolo de 3 m de altura como marco

referencial da Praça, inaugurada em 1936, sendo denominada Benedito Valadares.

1 IBGE, Anuário Estatístico do Brasil, 1990 apud CORGOZINHO, 2003, p. 355.

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FIGURA 33 – MHD p.13 FA 86.409.02. Obelisco em tijolo no centro da praça. O obelisco define um marco no local, primeira metade do século XX. Divinópolis/MG. Fonte: Centro de Memória FUNEDI, 2006.

O local era utilizado para feiras, barraquinhas, “quermesses”, jogos de futebol e algumas

vezes, para depósito de material da prefeitura.

FIGURA 34 – MHD p.13 FA 86.417.02. Praça e seu entorno, primeira metade do século XX. Ao fundo, o colégio I.N.S.S.C, à esquerda, edifício do Fórum e cadeia pública. Desde então o lugar configurava-se como referência aos moradores e já exercia uma centralidade. Divinópolis/MG. Fonte: Centro de Memória FUNEDI, 2006.

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Em 1963, a pedido do prefeito Fábio Botelho Notini, conforme reivindicações da população

local1 foi iniciado o ante-projeto urbano-paisagístico dessa praça pelo, ainda estudante de

arquitetura, Aristides Salgado dos Santos. Em 1965, ano de formatura desse arquiteto, o

projeto da Praça foi concluído e, em 1966, foram iniciadas as obras para a construção com

o acompanhamento do próprio arquiteto. Em 28 de Dezembro de 1968, a praça foi

inaugurada pela administração do Prefeito Walchir Resende Costa2, com uma área de 6.000

m2.

Segundo o relato do arquiteto Aristides3, quando contratado para projetar a Praça Benedito

Valadares, ele buscou informações referentes ao lugar junto a intelectuais, a amigos, a

pessoas influentes e empreendedoras na cidade, bem como, à comunidade como um todo.

Ressaltou tanto a importância de seu vínculo com o lugar, sua participação pública e seu

diálogo profissional na elaboração do projeto quanto inferir – extrair da sociedade muitas

coisas e idéias conceituais e interferir – propor e modificar o espaço, [na paisagem da

cidade]. É importante e fundamental o envolvimento sentimental com as pessoas, com o

lugar e com o projeto4. Numa posição política de vanguarda, propôs para a Praça algo bem

diferente e, até então, não pensado: a construção de um “Centro Cultural do Povo” com

espaços destinados a suprir carências do município: biblioteca, auditório, plataforma

acústica e anfiteatro (substituindo os antigos coretos), lagos e fonte luminosa e monumento

ao trabalho para a cidade das Oficinas da Rede Ferroviária sediada em Divinópolis.

O arquiteto Aristides, influenciado pelas idéias de Le Corbusier5 e pelas características

modernistas – forma geométrica pura, funcionalidade – em voga pelo estilo Modernista6,

procurou, também, “explorar as possibilidades plásticas do concreto armado” 7 na

concepção da Praça Benedito Valadares. Do ponto de vista da arquitetura, ela representa

1 Arquiteto Aristides Salgado. 2 DIVINÓPOLIS, ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL, 2004. 3 Depoimento obtido em abril 2004. 4 Palavras ditas pelo arquiteto ARISTIDES SALGADO no depoimento obtido em abril 2004. 5 Importante arquiteto francês, representante do modernismo europeu no século XX. 6 Modernismo diz respeito ao estilo arquitetônico corrente no Brasil naquela época. 7 Depoimento do arquiteto ARISTIDES SALGADO, abril 2004.

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um exemplar bem resolvido do Modernismo com aspectos singulares e inovadores,

desenvolvidos com criatividade e competência, dentro dos princípios arquitetônicos e

urbanísticos. Dada sua expressividade e importância, a Praça foi premiada nacional e

internacionalmente, apresentando os seguintes títulos e premiações: 1a. Premiação Anual de

Arquitetura do IAB-MG, em 1966, na categoria de aproveitamento de espaços urbanos; 2a.

Premiação Anual de Arquitetura do IAB-MG, em 1968; Prêmio de 1o. lugar na Mostra

Internacional de Espaços Culturais e Desportivos do México; Mostra exibida na Unidade

Profissional do Instituto Politécnico Nacional do México, devendo seu material ser incluído

na Filmoteca do Museu Nacional de Antropologia.

Apesar da reconhecida beleza e importância no cenário nacional e local, a distribuição dos

espaços da Praça e seu acesso não oferecem condições de uso a todas as pessoas. Do ponto

de vista da acessibilidade, em atendimento a NBR 9.050/20008, muitos dos seus espaços

não são acessíveis a todos os freqüentadores da praça e em alguns lugares existem escadas

e diferenciação de pisos, impróprios para crianças, idosos e portadores de necessidades

especiais.

Descrição da Praça Benedito Valadares – Centro Cultural do Povo

A Praça se resolve em planos, com o aproveitamento do terreno em cotas altimétricas

diferenciadas, ligadas por escadas e, mais recentemente, por algumas rampas. Desde o

ponto mais alto até o mais baixo proporciona visuais panorâmicos de todos os setores com

vários ângulos e perspectivas. Entretanto, por não se apresentar totalmente visível por todos

os lados, dificulta o convívio das pessoas e ocasiona, algumas vezes, apreensão e

insegurança em relação ao desconhecido.

Três elementos principais dominam a composição:

1 – Plano Cívico ou Plano Monumental: terraço que se presta a eventos de caráter

solene e outras manifestações públicas e que abriga, em seu interior, espaço equipado e 8 Norma Brasileira referente à acessibilidade.

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destinado ao uso cultural, já tendo sediado a Biblioteca Pública e o Centro de Artes

Municipal. Relaciona-se com o exterior harmoniosamente, permitindo um isolamento do

mesmo, uma vez que se resguarda acusticamente de ruídos exteriores e proporciona a

coexistência de atividades diversas. Devido às condições de insalubridade e iluminação-

ventilação insuficientes, a destinação inicial foi alterada e o lugar, periodicamente, é

utilizado de diferentes fins, tais como: exposição, cursos, comercialização de artesanato,

dentre outros. Entretanto, o local necessita de um sistema de iluminação e ventilação

adequadas, além de melhor acessibilidade que permitam boa utilização e convivência entre

as pessoas. Devido à iluminação insuficiente nas áreas imediatamente próximas, o local

apresenta-se propício às atividades marginais, servindo de esconderijo para alguns usuários.

2 – Monumento ao Trabalho: escultura em concreto armado, de linhas sóbrias e

composição volumétrica bem equilibrada, que funcionava, originalmente, como fonte

luminosa, com grande apelo visual noturno. Hoje, é gradeado e fechado, devido à utilização

indevida da fonte, como local de banho e de esconderijo.

3 – Plataforma Acústica e o Teatro de Arena: amplo espaço destinado a

manifestações artísticas e populares de toda natureza, com boa capacidade de público,

funcionando, inclusive, como referência formal e símbolo do espaço e, até mesmo, da

cidade. A Plataforma Acústica, em concreto aparente, possui uma forma estudada segundo

os princípios estruturais e de acústica de maneira a maximizar o volume, proporcionando-

lhe leveza, transparência, plasticidade e autenticidade formal, além de ser harmônico com o

todo. No entanto, a Plataforma serve de abrigo e dormitório para pessoas que fazem

mendicância no local.

Merece referência particular na Praça uma fonte luminosa, instalada próxima à Plataforma

Acústica, de forma mais singela que a outra junto ao monumento ao trabalho. A fonte

luminosa possui efeitos de repuxos e luzes de impacto cenográfico marcante, quando em

funcionamento. Entretanto, falta interesse do poder público local, no que se refere à

manutenção da fonte e o uso deseducado pela população, faz que esse recinto apresente-se

sujo, com o depósito de lixo e mau cheiro. Aliado a estes problemas, observa-se uma falta

de vigilância e segurança que impede maior utilização da praça e convívio dos usuários.

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Existem, ainda, elementos projetados que permitem a circulação de água pela Praça, através

de gárgulas, poços e canaletas, do nível mais alto até o mais baixo, conferindo uma

ambiência mais natural e aconchegante ao espaço destinado ao lago, onde, tempos atrás já

habitaram, na década de 70, cágados e peixes, o que foi alvo de olhares e descobertas para

as crianças que por ali passaram. O uso impróprio pela população, quando jogam lixo em

seu interior - restos de alimento e papéis - impede que esses lugares sejam melhor

aproveitados e se apresentem em condições de apreciação e de convívio, como concebido

pelo arquiteto, na década de 60.

É importante que se mencione o paisagismo bem equilibrado da Praça, com áreas de

sombreamento e sol bem distribuídas e espécimes vegetais de grande beleza. Hoje, as

árvores frondosas estão humanizando a praça e amenizando suas estruturas de concreto e

geometrização das formas, tornando-a um lugar aconchegante. O material especificado nos

pisos confere uniformidade e coesão aos espaços. No passeio perimetral foi utilizado o

mosaico português, fazendo o jogo do rebatimento em espelho da unidade símbolo proposta

para a municipalidade, sendo o trabalho de assentamento do piso de extrema facilidade e

rapidez de execução, entretanto, requer manutenção no decorrer do tempo. Os pisos

internos são em lajotas de concreto, baseado em figuras planas, quadrados de 1,00m de

lado, mais industrial e que deixariam livre a composição da vegetação. Mesmo

necessitando de manutenção e limpeza, a Praça oferece agradáveis espaços para lazer

passivo e ativo para muitos, apesar de possuírem situações impróprias para determinados

grupos que emergiram na cena política cotidiana, principalmente os portadores de

necessidades especiais.

Análise da Praça e seus elementos de composição

Em meio ao movimento e à excessiva ocupação da região central, a Praça Benedito

Valadares invoca a parada e, ao aproximar-se dela, podem ser identificadas duas situações

distintas: “estar aqui dentro, ou estar cá fora”, definidas pelos desníveis e pelos elementos

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de separação com características de transparência, numa seqüência de quatro níveis bem

definidos, distintos e integrados, que proporcionam várias vistas a serem descobertas ao

caminhar. “Estar cá fora”, quando, acima do nível da Praça, o usuário é tomado de grande

euforia, ou por sensações de domínio ou superioridade. O olhar domina a paisagem. O ato

de descer significa baixar ao encontro daquilo que se conhece, enquanto o de subir implica

ascender ao desconhecido. Uma vez abaixo do nível médio do terreno, têm-se sensações de

intimidade, proteção, inferioridade e significa “estar dentro”. Mas, contraditoriamente, estar

dentro e não poder vislumbrar o “lá fora”, induz a uma insegurança, ainda mais quando o

lugar está permeado de atividades marginais em determinados horários, principalmente à

noite. Muitas vezes, percorrer em direção daquilo que não se conhece, o inesperado, induz a

apreensão e medo, como também restrição das possibilidades de convívio.

A apropriação dos espaços da Praça ocorre numa variedade e flexibilidade de atividades

dentro de horários específicos que, ora se adequam às demandas diversas da comunidade

local e da cidade ora ocorrem atividades nocivas à coletividade. Abrigo, sombra,

convivência, confraternização, celebração e realização de eventos artísticos, cívicos,

políticos ou populares são as causas mais freqüentes que levam à ocupação do local. A

apropriação dos espaços, também se dá através de atividades marginais tais como

mendicância e, supostamente, distribuição e uso de drogas que aliados à falta de

manutenção, fazem que muitos freqüentadores não a utilizem em sua potencialidade.

Os lugares de expressão de uso e de convívio localizam-se nas extremidades da praça: duas

estão dispostas na esquina da Rua São Paulo com Avenida 21 de Abril e da Rua São Paulo

com Rua Rio de Janeiro. A terceira está disposta na outra esquina da Rua Rio de Janeiro.

Isto se deve ao fato de esses lugares serem mais abertos para o exterior e proporcionarem

boa visibilidade de uns para com os outros e para os demais locais. A iluminação, mais

eficiente, proporciona maior segurança aos usuários.

Alguns recintos mais íntimos, próximos ao lago, podem ser alcançados com facilidade,

embora se encontrem desviados do movimento principal e apresentem-se em condições

inadequadas para o convívio, devido aos maus tratos e deseducação da população, quando

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na disposição de lixo em seu interior. São locais tranqüilos e a vegetação atenua a

luminosidade e o ruído. Cria-se intimidade e humanização e desfruta-se, simultaneamente

do exterior, de um ponto de observação bem situado e seguro, pois se volta diretamente

para a Avenida Vinte e Um de Abril. É um local de grande interesse infantil, onde se

localiza uma ponte com características bastante bucólicas, que transpõe o lago e permite

visualizá-lo melhor e com mais proximidade.

Na atualidade, a praça encontra-se em mau estado de conservação e manutenção,

apresentando jardins sem vegetação, plantas de médio e grande porte necessitando de podas

regulares, pisos danificados, fonte luminosa suja, inexistência de lixeiras, bancos quebrados

e sujos, iluminação insuficiente que ocasiona lugares ermos à noite, falta de segurança aos

usuários e muitos locais não são acessíveis, degraus sem guarda-corpo e proteção. Apesar

desse mau estado de conservação, a Praça ainda é um local de encontro de pessoas de

diferentes lugares, cidades e bairros. Muitos usuários, ao percorrerem os espaços e recantos

da praça, são envolvidos de tal forma por seus elementos constitutivos que se esquecem da

correria do seu dia-a-dia e podem viver uma outra pulsação, a da tranqüilidade, a da

interação com os elementos naturais representados, principalmente, pelas árvores que a

rodeiam. Apesar das contradições, é um ambiente fascinante, agradável, segundo a Sra.

Maria Helena, apesar dos maus tratos da praça, “a gente gosta daqui, é local apropriado

para o lazer na cidade”9 . Cada um que ali transita carrega a sua história e tem a

possibilidade de viver o momento presente com mais intensidade e presença. Revolvem-se

as lembranças, aguçam-se os sentidos e tornam-se, assim, capazes de perceber o que está

além de si mesmo, embora passivamente.

A Praça Benedito Valadares agrega experiências várias de uso e apropriação. Dependendo

do horário pode ser uma ocupação de festa, de lazer, de compras ou mesmo de atividades

marginais. Ora para shows musicais e teatros, para contadores de histórias, ora para feiras

de artesanato e exposições, ora para lazer passivo, como encontro, descanso e lugar para

“respiro” em meio aos edifícios e à vida urbana. 9 Fala retirada do depoimento de uma moradora próxima, concedido no dia 25 março 2007.

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De manhã e nos fins da tarde, durante a semana, a praça mantém-se mais quieta, entretanto,

nota-se a presença de algumas crianças com mães ou babás ou idosos, que moram nas

imediações. Para essas crianças, a praça é local para brincar com as outras, tomar sol,

usufruir de liberdade, cotidiano este diferente daquele que vive seu apartamento. O mundo

das pessoas, nos edifícios verticalizados, restringe-se ao movimento, principalmente, dos

“pequeninos” que se sentem presos entre as paredes e o concreto, sem vida, rígido e frio. A

pequena Gabriela, de um ano e nove meses, pede sempre à mãe: “a paça, a paça”.10

Esporadicamente, alguns estudantes de escolas próximas – INSSC e E.E. Padre Matias

Lobato, mais especificamente, vão à praça para atividades de pesquisa e estudos, como

também para lazer. Alguns alunos da E.E. Padre Matias Lobato, levados pela professora,

vão ao local para se refrescarem debaixo das árvores, quando a temperatura local está alta e

apresentam-se agitados e irritados. Para as professoras, a praça é uma alternativa de lazer, é

local de “pic-nic” e de distração para os estudantes.

Nas noites de sábado, a praça é utilizada por jovens de bairros distantes, que marcam seu

ponto de encontro, neste local, seja para seu lazer, seja para saírem para um outro lugar. A

praça é, ao mesmo tempo, ponto de encontro, local de lanches rápidos ou distribuição de

fluxos de pessoas. Esporadicamente, nas noites dos finais de semana, acontecem shows que

aglomeram ainda mais o espaço e lhe conferem um ambiente diferente do dia-a-dia, com

um maior número de freqüentadores, inclusive com a participação de moradores do entorno

próximo. Segundo depoimento da Sra. Maria Eunice (60), “há necessidade de incentivo às

atividades culturais, tais como apresentação de shows, corais, músicos, oficinas e demais

manifestações vernaculares – hip-hop - que garantissem um lazer mais freqüente aos

moradores”. Ela adora vir à praça, pois nela não há distinção de pessoas, “a praça é para

todos”. 11 Às tardes de sábado e aos domingos, nota-se a disposição de “brinquedos pagos”

que oferecem às crianças um lazer diferente daquele da praça.

10 Fala retirada do depoimento concedido na manhã de 24 março 2007, pela Sra. Patrícia (35), mãe da menina Gabriela moradora do entorno próximo. 11 Depoimento concedido em 22 março 2007.

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Regularmente, aos domingos, acontece na praça a “Feira de artesanato”, onde artesãos e

artistas locais expõem seus produtos e as pessoas – visitantes, fiéis – fazem um percurso

pelo lugar, seja para compras, seja para encontrarem com amigos e se distraírem.

Obedecendo a um calendário regular durante o ano, os “contadores de história” se

apresentam na praça, todo primeiro domingo de cada mês, evento promovido pela

UNIMED, que atrai pessoas de diferentes idades, crianças, jovens, adultos e idosos. A

praça possibilita a expressão das artes em geral: arte corporal, musical, do encontro, da

vida, materializando a tríade de LEFEBVRE12: concepção, percepção e vivência.

FIGURA 35 – “Contadores de história” na manhã de domingo. Debaixo das árvores, as pessoas se encontram e participam de um evento cultural, promovido pela UNIMED – Divinópolis/ MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 01 abril 2007, às 10:56 h. No domingo, o estímulo ao consumo, no lugar, é constante o dia inteiro: as

comercializações se intensificam, seja pela venda de ingressos para os brinquedos,

trenzinho, seja para lanches dispostos nos trailers da Avenida 21 de abril, ou, ainda,

comercialização dos produtos de artesanato no interior da praça. O movimento das pessoas

é direcionado, na maioria dos casos, para o que está além do valor de uso da praça. O valor

de compra se interage com o de uso, numa relação direta de apropriação do espaço. Há uma

12 LEFEBVRE, 2000, p. 46.

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contradição entre o uso no final da semana e durante a semana pelas crianças. Nos dias de

semana, elas mostram-se capazes de perceber os pássaros, os peixes e a sombra das árvores.

Os elementos naturais não são mascarados pelos elementos criados e artificiais do fim de

semana - brinquedos infláveis “pagos”. Existem dois ritmos para a praça, um para o dia-a-

dia e outro para o fim de semana.

Na Plataforma Acústica e no Teatro de Arena tem-se a apropriação sob duas formas: “estar

aqui dentro e cá fora”. A Plataforma Acústica, com sua singular estrutura em concreto,

define seu espaço com majestade e supremacia sobre os demais e dependendo do ponto de

vista, é “de dentro ou de fora”. A sensação de “aqui” se dilui na distância, e pode em alguns

momentos, resultar em uma sensação de insegurança. Tem-se observado, com freqüência,

pessoas utilizando da estrutura em concreto como dormitório. O Teatro de Arena,

delimitado pelas curvas dinâmicas dos pisos e assentos, mantém equilíbrio e fluidez com os

demais espaços e, mais uma vez, se abre à espera de algo que está por vir e acontecer. No

cair da tarde, observam-se muitas crianças acompanhadas dos pais por ser um local mais

aberto e amplo da praça.

A Fonte Luminosa, na parte central da Praça, já guiou o olhar das pessoas nas noites

divinopolitanas e despertou sensações de cada transeunte. Hoje, encontra-se e em más

condições de manutenção e limpeza e não funciona. As saliências e reentrâncias próximas

aos jardins, onde se situam os bancos, resguardam com intimidade e segurança o usuário da

Praça, mas, ao mesmo tempo, induz a esconderijo devido à iluminação insuficiente e

conformação de um nicho. Abaixo, planta da Praça Benedito Valadares e distribuição dos

espaços.

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Concha acústica

Fonte luminosa

Plano

FIGUR Fonte

A Praça e atuali

A arquitetura e o

fatores culturais,

pela dinâmica de

mercado imobiliá

gerando exclusão

meio ambiente. I

dos Franciscanos

de identidade.

A 3 : SEP

dad

ur

eco

pro

rio

soc

nser

”, q

Cívico

6 – Planta Praça Benedito Valadares. Divinó Quatro perspectivas do entorno imediato Escala 1:10.000

LAN, 2006.

e

banismo, paralelos à sociedade conte

nômicos, políticos e recreativos vêem

dução e apropriação do espaço urba

e capitalista. Isto conduz a uma ausê

ial, precarização da qualidade de vid

ido nesta dinâmica atual está a “Praç

ue sobrevivem na vida urbana refleti

polis/MG. . Fotos tiradas em 2007.

mporânea e influenciados pelos

-se, na atualidade, pressionados

no, orientada pelos interesses do

ncia de eficácia da ação pública

a e deterioração dos espaços e do

a do Santuário” e o “Quarteirão

ndo sinais de degradação e perda

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FIGURA 37 – Valorização da região central e entorno da Praça. Fonte: Divinópolis hoje e amanhã, 1986.

O “Quarteirão dos Franciscanos” faz parte do entorno da “Praça do Santuário” e é o único

espaço disponível central, carregado de referenciais histórico-sociais para a cidade, sendo

essencial para a ampliação dos espaços e das atividades da própria praça, que hoje não

podem mais funcionar como antes e atender aos usuários em suas necessidades atuais.

Entretanto, a forte pressão imobiliária, as dificuldades dos franciscanos em manter o local e

uma ação pouco expressiva do poder público em favorecer a convivência e o lazer público

fazem que essa área, que em parte já foi vendida a particulares, encontre-se com aparência

inerte e amorfa em relação à cidade e aguarda pelo diálogo entre os profissionais afins -

arquitetos e urbanistas, a comunidade, a igreja e o poder público, para que venham propor

usos integrados conferindo e confirmando a vocação comunitária que só aquele quarteirão

possui. Nesse lugar, a população infantil, jovens, adultos e familiares se encontram,

mantém suas trocas, convivem e tecem seu cotidiano.

A conformação das ruas e o sistema de trânsito voltados ao fluxo de veículos, colocam em

detrimento o fluxo dos pedestres, tanto da praça quanto da cidade como um todo. A cidade

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parece não mais destinar-se aos cidadãos. Problemas relacionados aos desníveis no passeio,

sinalização exclusiva para veículos, como o caso das rotatórias, fazem que usuários idosos,

crianças e portadores de necessidades especiais, que, frequentemente, vão à praça, tenham

dificuldades de se locomoverem no espaço público.

A “Praça do Santuário”, como espaço público convivendo com os espaços privados,

apresenta-se em mau estado de conservação e de uso. Carece de equilíbrio entre os

envolvidos: a comunidade, pelo exercício de sua cidadania; o poder público, pela garantia

da manutenção e segurança da mesma. A dissociação das duas facetas do ser humano

contemporâneo - contribuinte e cidadão - implica ainda mais no abandono e degradação dos

espaços públicos. Observa-se o descomprometimento de muitos indivíduos em relação ao

que é público. Há uma contradição entre a vida social e privada e o espaço público, que é

local onde a cidadania se efetiva no mais alto grau por favorecer o equilíbrio entre direitos e

deveres. A perda é de todos! É preciso planejar e tomar decisões, pois ainda existem muitas

possibilidades de se articular esta praça com outras áreas da cidade, que apesar das

contradições, aguarda por propostas inteligentes e sensíveis, para suprir as necessidades da

população atual por lugares qualificados, de simultaneidade e de encontros.

3.4 Praça Dom Cristiano

A Praça Dom Cristiano ou “Praça da Catedral”, área verde urbana pública da região central.

Caracteriza-se, também, como um lugar de lazer, convívio cotidiano para moradores do

entorno ou de bairros distantes. Nesse Largo ocorreu a formação inicial do Arraial do

Espírito Santo do Itapecerica, denominação antiga de Divinópolis. A Igreja Matriz,

imediatamente a sua frente, sempre representou um ponto de aglutinação da população.

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FIGURA 38 – MHD 86.453.02. Antigo Largo da Matriz, atual Praça Dom Cristiano, 1916. Fonte: Centro de Memória da FUNEDI, 2006.

Descrição da “Praça da Catedral” e da Igreja

A história do uso dos lugares da praça remonta desde a época do Arraial do Espírito Santo

do Itapecerica. O Largo da Matriz foi um local de convergência da comunidade e já

anunciava a vocação de praça, enquanto local de encontro, de festas populares e religiosas.

Desde a sua formação, este arraial possuía uma população predominantemente católica e as

celebrações religiosas marcavam os laços sociais e o cotidiano das pessoas. Nesta época, a

dimensão comunitária regia a vida dessa população e as festas como as cavalhadas,

realizadas no Largo da Matriz, atraiam toda a população das imediações.13

13 AZEVEDO apud CORGOZINHO, 2003, p. 47.

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FIGURA 39 – Barraquinhas na Praça em 1956. Divinópolis/MG. Música, festa, encontro e convívio marcam o local. Fonte: ARQUIVO MUNICIPAL DE DIVINÓPOLIS, 2006.

A Igreja Matriz foi construída em 1775, em homenagem ao Divino Espírito Santo. Em

1830, um incêndio destruiu a igreja e a população empenhou-se em reconstruí-la. A nova

igreja ocupou o mesmo local, tendo sua frente voltada para o Largo14. Para a sua

reconstrução, contou-se com a mobilização e cooperação da comunidade através de doação

de materiais, dinheiro e mão-de-obra, o que demonstra o envolvimento da população com o

lugar e fortes traços de solidariedade entre os indivíduos. A ação coletiva estava acima das

particularidades de cada um e regia a vida do lugar.

FIGURA 40 – Largo da Matriz em 1956. Divinópolis/MG. Fonte: ARQUIVO MUNICIPAL DE DIVINÓPOLIS, 2006.

14 CORGOZINHO, 2003, p. 48.

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Em 1940, Divinópolis contava com 23.416 habitantes15 e já prenunciava tornar-se pólo de

desenvolvimento no Oeste de Minas, como previsto por Dom Cabral16. Após a criação do

bispado em Divinópolis, foi necessária a construção da catedral, que se localizou no próprio

Largo da Matriz, atrás da antiga igreja que foi demolida. Sem deixar vestígios da antiga

igreja, foi iniciada a construção de uma nova em outubro de 1954, com término no final de

195617, em estilo art-déco, processo de transição para o modernismo, a “Catedral do Divino

Espírito Santo”, projetada pelo arquiteto Raffaello Berti, professor da UFMG (Universidade

Federal de Minas Gerais).18

FIGURA 41 – Igreja Matriz/ Catedral do Divino Espírito Santo. Divinópolis/MG. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2007. Disponível no site www.divinopolis.mg.gov.br em 20 de maio de 2007.

Depois da construção da Catedral, no largo a sua frente, foi construída uma praça,

inaugurada em 18 de Maio de 1970, durante as festividades em homenagem à consagração

da praça ao Divino Espírito Santo, na comemoração do 11º aniversário da Sagração

Episcopal de Dom Cristiano, 1º bispo de Divinópolis. Recebendo a praça o nome de “Dom

15 CORGOZINHO, 2003, p. 227. 16 DIOCESE DE DIVINÓPOLIS, [19--], p. 16. 17 CORGOZINHO, 2003, p. 164-165. 18 DIOCESE DE DIVINÓPOLIS, [19--], p. 17.

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Cristiano Portela de Araújo Pena.”19 Ostentava a figura do Divino Espírito Santo, na forma

de obelisco, colocado ao centro da Praça e embaixo do obelisco havia uma sala destinada a

preservação patrimonial, célula-embrião do Museu Histórico. Como afirmado pelo prefeito

Walchir Jesus de Resende Costa “esta praça tem dualidade de sentido: dá à cidade os

caracteres de sua origem e homenageia Dom Cristiano, cujo nome ficará perpetuado na

mente do nosso povo”. A praça vincula-se tanto à formação do lugar e sua história quanto à

igreja católica.

FIGURA 42 – MHD 86. 385.02. Praça Dom Cristiano quando em sua inauguração, 1974.

Divinópolis/MG. No centro o obelisco em homenagem ao Divino Espírito Santo, ao fundo a Catedral do Divino Espírito Santo, em estilo art-déco e na lateral esquerda, o Casarão colonial. Divinópolis/MG. Fonte: Centro de Memória FUNEDI, 2006.

A Praça Dom Cristiano abriga, também, o Casarão colonial – patrimônio histórico e

cultural tombado em 1988, Lei no. 2.456, atualmente sede do Museu Histórico, conferindo-

lhe um ambiente familiar e de intimidade. O prédio do Museu foi parte de uma construção

maior, concluída na 1ª. metade do século XIX20, que proporcionou, ao longo dos anos,

diversos usos e atividades de caráter particular e, principalmente, público. O conjunto –

praça, museu e igreja - se harmoniza e remete a um contexto histórico e cultural importante

19 JORNAL A SEMANA, 1970. 20 SEPLAN, Dossiê de tombamento, 2007.

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para a compreensão de como a vida social e política transcorreu nesse lugar. Como medida

de preservação ao bem tombado foi delimitado o entorno de tombamento, conforme consta

no Dossiê21 no anexo I, a fim restringir a verticalização e a ocupação do solo, evitar o

superadensamento da região e intervenções incompatíveis com a praça e com o bem

tombado. Essa tendência é observável em toda a região central, cujo zoneamento Zona

Comercial um – ZC 1 – permite a construção de edifícios com 14 pavimentos, no caso de

ruas com largura de vinte metros. Na Praça Dom Cristiano, conforme o Plano Diretor

aprovado em 2001 e o zoneamento Zona Comercial dois – ZC 2 – somente é permitido a

construção de edifícios com seis pavimentos (ver figura 17).

Anterior à aprovação da Lei de Uso e Ocupação do Solo, em 1988, foram construídos

edifícios acima de seis pavimentos que projetam suas sombras nas áreas internas da praça,

comprometendo a incidência do sol, especialmente no inverno e, portanto, prejudicando a

qualidade ambiental desse lugar. Mesmo com a aprovação da Lei de Uso e Ocupação do

Solo, em 1988 e do Plano Diretor em 2001, que impõem limites de altura para as

edificações no entorno da praça, observa-se a construção recente de um edifício com o

número de pavimentos além do permitido pelas legislações vigentes.

Do ponto de vista do cotidiano e da apropriação da praça pelos freqüentadores22, o lugar

mantém relação direta, principalmente, com os moradores próximos, com características

locais e contíguas às casas. A contigüidade enseja ainda a comunicação entre os vizinhos e,

à noitinha, o lugar se converte em ponto de reunião de familiares do local e de outras áreas.

A oposição casa e rua vem acompanhada da idéia de gradação, tal como aplicado ao

conjunto dos espaços designados por DAMATTA23. A rua como domínio oposto ao da casa

tenderia a identificar-se com o público, o formal, o visível. A casa em contrapartida estaria

vinculada, em princípio, ao privado, ao informal, ao invisível. No entanto, a rua e a casa, na

realidade da Praça Dom Cristiano, são pólos de um eixo que orientam a compreensão do

universo social desse lugar. Os dados da percepção distintiva do visível/invisível, do 21 SEPLAN, 2007. 22 Ver anexo G, entrevistas usuários. 23 DAMATTA, 1979.

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público/privado, do dentro/fora são codificados nas diferentes culturas e relações que se

tecem na praça, com seus significados variáveis de acordo com o usuário. Para o universo

da criança que vai à praça, principalmente, para brincar e se encontrar com as outras, ela

significa liberdade de expressão e de movimento. Já para o idoso, que vai à praça para

descansar e ficar sentado observando o movimento, o lugar reporta à distração e ao

encontro com os amigos, convívio e lazer. Para os jovens, principalmente os de menor

poder aquisitivo, a praça refere-se ao lazer e ponto de encontro com os amigos de turma.

FIGURA 43 – Noite na praça. À noite os familiares se encontram e os amigos sentam para uma conversa. Dvinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 30 março 2007, às 19:44 h.

Para alguns freqüentadores, que moram mais distantes e não têm vínculo direto com o

lugar, a praça remete ao oposto da casa, lugar e terra de ninguém, onde é possível fazer o

que quiser, depredar os bens e equipamentos públicos, numa individualidade exarcebada e

descomprometida com o que está além de si. Conforme analisado por CONSTANT24, a

liberdade dos modernos, na qual esses freqüentadores se enquadram, diz respeito à

liberdade individual, ao contrário da liberdade dos antigos que enfatizava a participação.

Para muitos, que residem nas imediações da praça e mantém vínculo com o lugar, o antigo

24 CONSTANT apud BOBBIO, 1988.

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Largo da Matriz é a extensão de suas casas. Pelo depoimento de uma moradora próxima,

Dona Melinda: “todo o tempo que tenho, venho aqui. Aqui é meu quintal, é meu tudo, é

meu lazer...” 25, pode-se perceber como a praça é vivida como espaço de lazer, de convívio

e de descanso. As pessoas se encontram para “bater um papinho” 26 e efetuar suas trocas. O

espaço enquanto valor de uso prevalece e se tecem relações sociais importantes

,proporcionando um ambiente familiar e de intimidade, diferente daquele na Praça Benedito

Valadares.27 As árvores, o Museu, a Catedral proporcionam um ambiente aconchegante e

favorável ao encontro das pessoas. D.Dalva, quase todas as noites vem encontrar-se com os

amigos e “apreciar a fresca”, pois “adora distrair-se nesse lugar...” 28 Nestas palavras,

constata-se a importância daquela área verde urbana pública como local intermediário entre

a casa e o lazer – passivo e ativo – público.

O hábito característico que marca o cotidiano do lugar - fins de tarde, tardes de sábado,

noites de sexta-feira, manhãs de domingo ou feriados – é considerado exemplo do estilo de

lazer da Praça Dom Cristiano. No passado, dizem, todos tinham esse costume que, hoje,

parece estar em extinção. Apesar desta tendência, a população do entorno da praça continua

praticando esse hábito, principalmente aquelas pessoas mais velhas que mantêm relações

afetivas com o lugar. Segundo depoimentos, muitos usuários têm o hábito de sentar-se no

banco da praça, sob as árvores, “para olhar o movimento”29.

25 Sra. Melinda, 2007. Depoimento concedido em 29/03/2007, às 14 horas. 26 Sra. Melinda, moradora do lugar, 2007. Depoimento concedido em 29/03/2007, às 14 horas. 27 Fala retirada da entrevista de Sra. Jussara e Sr. Bianor, moradores do Bairro Belvedere, que vêem a praça com freqüência, principalmente às sextas-feiras. Depoimento concedido no dia 30/03/2007, às 20 horas. 28 Fala de D.Dalva, retirada do depoimento concedido no dia 29/03/2007, às 14 horas. 29 Sr. Edgar dos Santos Amaral, estudante, morador do Bairro Bom Pastor. Depoimento concedido em 29/03/2007, às 15 horas.

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FIGURA 44 – tarde de sábado, lazer na praça. Divinópolis/MG. Fonte: Arquivo pessoal. , foto tirada no dia 01 abril 2007, às 14: 45 h. Análise do entorno

O entorno imediato da Praça (ver figura 17) está classificado como ZC 2-Zona Comercial 2

(gabarito limitado a 6 pavimentos) na atual Lei de Uso e Ocupação do Solo(ver anexo I),

mas sofre pressões constantes para implantação de usos e modelos de assentamento mais

permissivos, em função de sua localização privilegiada, o que poderia acarretar impactos

negativos para o lugar, a exemplo do que acontecem na Praça Benedito Valadares.

A praça tem proximidade com o centro comercial de Divinópolis, já altamente adensado e

submetido a pressões especulativas constantes, representando uma ameaça a esse local,

dado à alta valorização dos terrenos nas imediações. Tais pressões, que acontecem de forma

linear, com intervenções físicas indevidas para o lugar, comprometem as características e a

vocação natural do conjunto - Catedral, Praça e Museu. Observa-se uma tendência de novos

edifícios verticais nas imediações.

O posicionamento estratégico da “Praça da Catedral” no interior do sistema viário da área

central, representa um dos “nós” principais de articulação do centro ao bairro, via arterial

de acesso ao anel rodoviário – Avenida JK. Em função da melhor distribuição do tráfego de

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veículos, na década de 80, houve uma intervenção indevida no Casarão antigo, com uma

redução de dois terços da construção original, que só não foi totalmente derrubada por

causa da mobilização social em prol da preservação do sobrado, dado o seu valor

histórico30.

O entorno próximo classifica-se como ZR 2 - Zona Residencial dois (gabarito31 máximo de

4 pavimentos) na atual Lei de Uso e Ocupação do Solo(ver anexo I). O traçado das vias do

“período do arraial” segue uma conformação orgânica, são estreitas e proporcionam

proximidade entre os espaços construídos. Restam ainda algumas construções do início do

século XX, são residências unifamiliares com um padrão construtivo médio baixo e a

maioria já foi derrubada ou reformada. Os moradores desse entorno mantêm com o lugar

forte vínculo de uso e apropriação do espaço da Praça, da Catedral e do Museu. São eles

que mais participam dos eventos e usufruem do cotidiano, principalmente, à noitinha, e nos

finais de semana.

Arquiteto e concepção do projeto

O autor do projeto da Praça, em 1974, não é conhecido, nem tampouco se sabe maiores

informações sobre ele.

FIGURA 45 – Inauguração da Praça Dom Cristiano, 1974. Divinópolis/MG. Festa, encontro, momento de pausa na cidade. Fonte: ARQUIVO MUNICIPAL DE DIVINÓPOLIS, 2006. Arte: COUTO, 2007. 30 CORGOZINHO, 2003, p.17. 31 “Medida ou altura, largura ou volume que não pode ser excedida, por força de preceitos legais, como gabarito de prédios[...]” (FERRARI, 2004, p.170.

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FIGURA 46 – MHD 86.385.02. Praça Dom Cristiano anos seguintes a sua inauguração,

1974. Divinópolis/MG. Fonte: Centro de Memória FUNEDI, 2007.

A praça passou por duas reformas32 estruturais, uma em 1986, bastante polêmica, quando

foi retirado o obelisco com o Espírito Santo no centro, alterando, significativamente, sua

concepção original. A segunda reforma deu-se em 2003, em seguimento ao projeto da

primeira que, segundo o arquiteto João Batista Rodrigues33, autor do projeto das reformas.

Alguns itens não executados na 1ª foram construídos na 2ª reforma. No ano de 2003, foi

inaugurado o busto de Dom Cristiano34. Pouco tempo após sua instalação, foi roubado e

retirado do local. Em 2007, foi erguida, novamente, uma estátua em homenagem a Dom

Cristiano, desta vez de um material mais resistente, no canteiro central que separa a

Catedral do Divino Espírito Santo e a Praça.

A primeira reforma da “Praça da Catedral” deu-se no final de 1985 e 1986. Segundo o

arquiteto João Batista Rodrigues a execução da 1ª reforma da praça deu-se de maneira

incompleta. Caracterizou-se pela construção de um playground com brinquedos de madeira,

reformulação dos canteiros e disposição de bancos em concreto aparente e a retirada do

obelisco em homenagem ao Divino Espírito Santo. Já a segunda, em 2003, de autoria do 32 Reforma diz respeito à alteração física e estrutural de um espaço, “modificação de construção existente, no todo ou parcialmente, com aumento da área construída ou sem ele, com alterações das disposições das paredes, medidas, aberturas, localizações, coberturas etc” (FERRARI, 2004, p. 316). 33 Funcionário público municipal, da SEPLAN, responsável pelas reformas da Praça Dom Cristiano. 34 JORNAL OFICIAL, n. 152, 2006, p. 8

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mesmo arquiteto, em continuidade à primeira reforma, procurou, basicamente, fortalecer a

leitura espacial e a percepção do Casarão como o principal elemento da Praça. A reforma

caracterizou-se com a construção do pórtico em concreto e um espelho dágua e criação do

palco em frente ao Museu. Ao mesmo tempo, foi considerada a necessidade de permitir

diferentes perspectivas que privilegiassem a percepção da Catedral, bem como liberar

espaços para concentração de pessoas nas festas. O playground foi recuperado e

recolocados os brinquedos de madeira em seu interior, a fim de possibilitar lazer e diversão

para as crianças do entorno e aquelas de grupos escolares de bairros próximos. A vocação

de lazer infantil pode ser percebida, diariamente, quando se percorre a Praça.

FIGURA 47 – Playground da Praça Dom Cristiano. Nas imediações do Museu, o movimento de crianças. Divinópolis/ MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 29 março 2007.

Para atender a um público mais jovem e, também, idoso projetou-se uma área coberta com

um caramanchão, destinada à colocação de mesas para jogos. Numa proposta de revivificar

o espaço de convívio, imediatamente, em frente ao Casarão, foi proposto um pórtico em

concreto aparente, com uma composição plástica em formato de curva, proporcionando

movimento e interação entre as edificações do Casarão e da Catedral e a Praça.

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FIGURA 48 – Pórtico em concreto cria envolvência na área de convívio. Divinópolis/ MG. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL, 2007. O paisagismo da praça e o desenho dos canteiros foi resultado direto do posicionamento das

raízes superficiais das árvores existentes, fícus e gameleira. Já a iluminação é do tipo poste,

padrão CEMIG, a fim de evitar depredação das luminárias baixas e os bancos, em concreto,

foram dispostos nas áreas mais sombreadas, em locais formadores de recantos. Embora os

canteiros sejam mais altos, com aproximadamente 50 cm, não foram suficientes para

evitarem a depredação da vegetação de pequeno porte e forração.

Como se pode perceber, a concepção do projeto procurou permitir aos usuários, tanto o

lazer ativo quanto o passivo. As novas formas arquitetônicas criadas integraram-se ao

conjunto, qualificaram os espaços da praça e permitiram, durante um tempo, uma ótima

utilização dos espaços, segundo relatos de moradores e usuários, nas entrevistas. Com o

passar do tempo, o mau uso do espaço público, a manutenção insuficiente, aliado à falta de

educação dos freqüentadores fez que os canteiros, playground e espelho dágua fossem

depredados.

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FIGURA 49 – Áreas de convívio. Divinópolis/ MG. As áreas sombreadas são as mais utilizadas pelos usuários Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 01 abril 2007, às 11:19 h.

Abaixo, planta da Praça Dom Cristiano, distribuição dos recantos e equipamentos. A

conformação física-espacial do lugar, como um largo, cria envolvência e integração em

relação às demais partes. O espaço não se apresenta fragmentado, independente e

racionalizado como na “Praça do Santuário”.

As manutenções dos espaços desta praça, mesmo que insuficientes para garantirem um bom

estado de conservação, no que se refere à substituição de espécies vegetais e de bancos,

pintura dos equipamentos ocorrem com mais freqüência e se destacam em relação aos

demais espaços públicos da cidade. No ano de 2007, a praça recebeu novos bancos em

madeira, reforma de canteiros e pintura da alvenaria.

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FIGURA 50 - Planta da Praça Dom Cristiano. D

Museu

Catedral do Divino

Quatro perspectivas diferentes de Escala 1:10.000 Fonte: SEPLAN, 2006. Percepção local

Apesar do pequeno porte da “Praça da Catedral”,

devido à diversidade dos espaços em seu interior.

Museu Histórico, idosos descansam sob as árvores

missa e, principalmente, os moradores locais e de b

Pastor e Central do Divino utilizam da Praça como lo

A primeira impressão que se tem, quando se chega a

local aberto, possível de ser visto por todos os lad

envolvente e atrativa. O Museu Histórico confe

reavivamento dos encontros das pessoas vindas de

Playground

Espírito Santo

ivinó seu en

ela a

Crian

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airros

cal de

pé n

os. E

re-lh

locai

Pórtico e espelho d’água

polis/ MG.

torno. Fotos tiradas em 2007.

grega usuários de vários locais

ças no playground, visitantes no

m o movimento, fiéis que vão à

próximos como o Niterói, Bom

encontro e de lazer.

esta praça, é a de se chegar a um

la nos convida a um passeio, é

e um caráter de intimidade e

s vários. Mesmo os usuários de

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outros bairros vêem ao local por um vínculo antigo com o lugar ou até por falta de opção de

lazer onde residem35. O passado e o presente se encontram dando a conformação de um

lugar peculiar em relação aos demais, seja pela inter-relação da praça com os dois edifícios

históricos – a Catedral e o Casarão, sede do Museu Histórico, seja pelas grandes árvores, ou

pelo movimento das pessoas que por ali transitam.

Devido à visibilidade da Praça, os usuários sentem-se seguros ao utilizarem dos seus

espaços. Alguns se agrupam em locais diferentes: próximo à Catedral, muitas crianças e

familiares, próximo ao Museu, jovens e adolescentes e debaixo da sombra das árvores,

adultos e idosos. O ambiente da Praça é muito familiar, principalmente, nos fins de semana

e no entardecer dos dias de semana.

Constantemente, a Praça Dom Cristiano oferece eventos sócio-culturais de ampla

abrangência na cidade, conferindo-lhe um calendário regular de uso, mesmo que informal.

Por exemplo, tem-se a seresta na primeira sexta-feira do mês, barraquinhas das festas

juninas, “Festival da Primavera” promovido sela Secretaria de Cultura nos meses de

setembro a dezembro, eventos no aniversário da cidade, dentre outros. A perenidade dos

eventos faz que a praça mantenha-se viva e em uso freqüente. Em 01de abril de 2007,

ocorreu a “Caravana Cultural Coca-Cola”, evento de lazer e cultura patrocinado por

empresa particular, com a presença de crianças, pais, grupos de amigos e idosos das

imediações e dos bairros mais distantes demonstrando uma abrangência regional. A

“Caravana Cultural” ofereceu espetáculos, oficinas e shows voltados, principalmente, para

o público infantil. Disse Lídia Quadros durante o show: “que alegria ver essa praça cheia de

gente! A Praça está em festa! O lazer é para todos, a cultura é para todos!”36

35 Depoimentos concedidos, por usuários da praça, no período de março, abril 2007, demonstraram dois tipos de usuários, um do entorno próximo e outro distante. Os do entorno próximo, utilizam da praça como extensão de suas casas. Já os usuários do entorno distante, utilizam da praça como local de lazer, uma vez que a região onde residem não oferece este tipo de equipamento público, com possibilidades de convívio. 36 Fala da artista Lídia Quadros em 01/04/2007, às 15 horas do domingo, durante o evento “Caravana Cultural”.

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O lazer “pago” e gratuito acontecem simultaneamente nos espaços da praça. Enquanto

“lazer pago”, tem-se as mesas dos bares dispostas no interior da Praça que oferecem o

serviço de bar aos adultos e familiares e os “brinquedos pagos” utilizados pelas crianças de

diferentes idades. Lazer gratuito e público, vocação dada aos espaços da Praça

propriamente dita, encontra-se no playground para as crianças, nos bancos sob as sombras

das árvores, onde as pessoas se sentam e “batem um papo, apreciam o movimento” no

espaço aberto e arborizado, como citado por vários entrevistados.

FIGURA 51 – Praça em festa! Shows, teatro e oficinas...cultura. Divinópolis/ MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 01 abril 2007, às 11:24 h.

O ambiente da Praça proporciona encontros de várias pessoas num mesmo espaço, cria

envolvência entre seus participantes, assegurando-lhes, pela proximidade de uns com os

outros, o fortalecimento das relações sociais e a segurança para permanecerem naquele

lugar. O espaço Praça resgata o espaço da rua nas pequenas cidades. O espaço da

brincadeira, do imaginário, do esquecer-se de si e voltar-se ao outro, o espaço público

vivido e valorizado por LEFEBVRE37.

37 LEFEBVRE, 2000.

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Entretanto, a apropriação do espaço público, pelos comerciantes e ambulantes, demonstra a

mercantilização do espaço urbano. É o capital penetrando nas relações sociais e nas áreas

verdes públicas, criando divergências entre as crianças com poder aquisitivo diferente. Uns

pagam pelo divertimento, outros olham e se sentem excluídos, característica própria do

capitalismo que instiga o consumismo, tolhe a criatividade e exclui o de menor poder

aquisitivo. Neste caso, o individualismo e o consumo tornam-se características marcantes

da nova realidade. Muitos vêm a praça, com seus grupos previamente definidos, formam

suas “tribos” e excluem das suas relações aqueles que não são conhecidos. Acontece,

simultaneamente, o encontro das pessoas e indivíduos conhecidos e o estabelecimento de

novas relações entre as pessoas diferentes, como no caso das crianças que se agrupam no

playground, dividem o mesmo espaço e brincam umas com as outras.

É interessante observar que a integração entre as crianças que se divertem nos brinquedos

particulares “pagos” é limitada, os brinquedos são voltados à individualidade e a separação

e, como tal, refletem a tendência da modernidade. Essas crianças transitam no mundo da

“liberdade moderna”1, ou seja, a liberdade individualizada e particular, desrespeitando o

que está além se si mesmas. Diferente do que acontece no playground onde o espaço é de

todos e torna-se possível uma maior interação entre os usuários. Os brinquedos permitem

compartilhamento e interação. Para a continuidade da brincadeira faz-se necessário a

participação da outra criança tal como no jogo. No jogo, aprende-se com o outro e trocam-

se experiências. Assim, o cotidiano no playground é vivido com mais proximidade entre os

envolvidos, remete ao lúdico e ao convívio.

Quando o lazer público se agrega à cultura, no caso dos eventos oferecidos naquele local,

seja por iniciativa do poder público local, seja por empresas particulares, nota-se a

interação entre todos os participantes e atores sociais. Tudo se passa num ambiente de festa

e de criatividade, passível de ser apreendido por aqueles que ali se encontram. Faz parte do

ambiente da praça integrar-se com o outro, esquecer-se de si e abrir-se para o outro, numa

atitude de despojamento, voltada para o encontro, alegria, festa. Sendo assim, uma área 1 CONSTANT apud BOBBIO, 1988, p. 8.

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verde – urbana - pública, enquanto praça, se efetiva enquanto espaço de convívio e

socialização, mediante o uso pelos freqüentadores e os eventos realizados.

FIGURA 52 – Festa e cultura na praça. A criatividade e o convívio envolvem o espaço da Praça. Divinópolis/ MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 01 abril 2007, às 14:45 h. A praça é um espaço público, que abre as possibilidades de encontro com o outro,

necessária aos indivíduos contemporâneos, que muitas vezes se comportam de forma

individualista. Quem reside num apartamento, rodeado de concreto e asfalto, carece de

espaço físico livre, aberto e de convivência com os outros. Segundo alguns usuários2, a

praça oferece aos adultos, crianças e idosos, descanso, lazer, distração, pois “o verde

encanta tudo”, como disse a Professora Maria Cristina, da Escola Municipal Melo Viana

Sobrinho.3

Na realidade, o cotidiano da praça permite a manifestação da criança que existe em cada

um, o que foi demonstrado pelos depoimentos dos usuários entrevistados. Uns trazem

filhos, sobrinhos, netos para a praça, mas também levam a “criança que existe em seu

2 Depoimentos concedidos em 26/03/2007 por: Sra. Maria da Guia (54), Sra. Eva Augusta (30), Edgar dos Santos (16). 3 Depoimento concedido em 17/03/2007, às 14 horas.

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interior” 4. Outros adultos se satisfazem em observar o movimento das crianças e

participarem de seu convívio, a fim de reviverem a sua criança interior5. O ambiente

familiar foi o aspecto que mais chamou a atenção e se destacou nas entrevistas. Todos se

mostraram satisfeitos em permanecerem na praça. O jogo, a brincadeira, a imaginação, o

ato de correr e pular, acontecem facilmente neste ambiente. Sob os olhos dos responsáveis,

as crianças sentem-se livres e utilizam do espaço com maior liberdade, pois não existem

barreiras físicas que obstruem os percursos, a praça se desenvolve num único plano.

Por outro lado, para alguns usuários, o que se é em casa não corresponde ao que se é na rua.

Numa liberdade individualizada, onde há distorção do papel do cidadão, as praças vêem-se

em estado precário de conservação e utilização. Há uma reclamação constante em relação

aos bancos quebrados, à falta de manutenção dos jardins e das floreiras. Também há

reclamação quanto à utilização da praça por ciclistas e skatistas, que percorrem, livremente,

pelos espaços, em altas velocidades e causam insegurança e desconforto aos usuários,

principalmente para aqueles com maior dificuldade de locomoção, velhos e crianças

menores de cinco anos. Alguns depoimentos retratam o esvaziamento, no dia-a-dia, da

praça pelos moradores locais, devido às alterações de uso apresentadas nestes últimos anos,

tais como: utilização extensiva pelos comerciantes que querem ocupar cada vez mais os

espaços com suas atividades, entrando em conflito com a vocação da praça enquanto lugar

público. Outro motivo de esvaziamento decorre das atividades marginais que acontecem ao

anoitecer.

4 Fala da Sra. Neusa (50), retirada do depoimento concedido em 01/04/2007, manhã de domingo. 5 Fala da Sra. Jussara, retirada do depoimento concedido em 30/03/2007, às 20 horas.

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FIGURA 53 – ocupação de parte da Praça com mesas de bares locais. Divinópolis/MG.

Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 01 junho 2007, às 11:19 h.

Tendência atual

A mercantilização dos espaços da praça, por particulares, contrapõe-se ao uso público do

playground e dos recantos por crianças, jovens e idosos. O uso privado tende a ofuscar o

uso público, que se refere aos espaços da praça que não demandam dinheiro para sua

usufruição. A área verde urbana pública é um espaço democrático por excelência, propício

ao convívio, lazer, descanso, leituras e cultura. Já o privado, expresso nas mesas dos bares

dispostas na praça, como extensão do comércio com fins lucrativos, nos brinquedos infantis

particulares e nos quiosques para lanche. Há uma troca em espécie do que é oferecido e

percebe-se que o capital penetra no espaço público, criando uma nova relação no lugar,

com vistas ao consumo dos produtos, do entretenimento e do lazer. O valor de troca e de

uso se interage nas relações entre os usuários da praça. O consumo dos produtos, ao mesmo

tempo que evidencia a privatização do espaço público, serve também de atrativo, para que

as pessoas participem, mesmo que passivamente do lugar.

Uma outra tendência, constatada no local de estudo é a degradação dos equipamentos

públicos: bancos de assento, brinquedos do playground, jardins e canteiros sem vegetação

porte herbáceo. Essa distorção do papel do cidadão, enquanto agente que exige

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providências do poder público, mas não exerce, com responsabilidade, o papel de agente

transformador e tomador de conta do que é público, confirma o que disse DAMATTA6: o

que se é em casa não corresponde ao que se é na rua.

Apesar da tendência à marginalidade e depredação dos equipamentos públicos a Praça Dom

Cristiano, é para a maioria dos entrevistados e usuários, um local propício ao encontro com

os outros, “bater um papo”, fazer novas amizades, distrair-se e dar uma pausa no dia-a-dia.

A praça possui horários informais de funcionamento. De manhã, observa-se a presença de

crianças e idosos. À tarde, muitos trabalhadores transitam pelo local para descansarem sob

a sombra das árvores e estudantes de escolas distantes visitam a praça e o Museu. Já ao

entardecer e até às 21:00 hs, o local recebe usuários de diferentes idades, principalmente

fiéis, após a missa das 19 hs, que vêm apreciar o movimento e o frescor da noite. É um

lugar que proporciona contato com a natureza e abriga, sob a sombra das árvores, idosos

que têm o lugar como aquele atribuído por LEFEBVRE, o do jogo, da brincadeira, da

dança, da música e do movimento. É o lugar de pessoas de diferentes idades, eclético

quanto ao uso.

Algo, no entanto, desperta a atenção do observador. Existe um padrão familiar que constitui

a marca da Praça Dom Cristiano apesar da diversidade de usuários e de atividades que

qualificam o lugar e o fazem peculiar em relação aos demais. A praça, o Museu, a Catedral

e o entorno estabelecem entre si uma relação que proporciona aos usuários um vínculo

tradicional com o lugar.

6 DAMATTA, 1979.

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FIGURA 54 – Praça Dom Cristiano, local de encontro de todas as pessoas. Divinópolis/ MG. Fonte: Arquivo pessoal. Foto tirada em 01 julho 2007, às 11:25 h.

3.7 Conformação dos lugares a partir do cotidiano e dos usuários

Para melhor apreender os lugares – Praça Benedito Valadares e Praça Dom Cristiano - seus

usos e cotidiano, foi importante ouvir seus usuários em entrevistas que foram estruturadas

em questões do ponto de vista ambiental, do convívio, do uso e da freqüência. Estes

recortes serviram de referência básica para a análise do tema. A metodologia utilizada foi

no sentido de adequar as técnicas da observação aos parâmetros teóricos escolhidos,

desenvolvidos nos capítulos anteriores. No cotidiano das praças foram encontradas

estruturas sócio-espaciais definidoras de usos e freqüências distintos. A observação e o

esforço analítico aliados à perspectiva teórica apontaram para um modo de vida urbano, ora

moderno, ora tradicional das pausas urbanas de Divinópolis.

O modo de vida urbano dos lugares, recortados para o estudo, revelou diferenciações dos

espaços – espaço político, lugar e objeto de estratégias; espaço institucional, organizado a

partir de um urbanismo, com existência de lógicas e sistematização do que é produzido7.

Isso quer dizer que existem duas estratégias principais que se apresentam bem visíveis nas

7 LEFEBVRE, 2004, p. 78.

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duas praças. Uma diz respeito ao “neoliberalismo8”, que permite o máximo de iniciativa à

empresa privada, numa tendência de mercantilização dos espaços. A outra diz respeito ao

“neodirigismo9”, que acentua a planificação no domínio urbanístico, expresso,

principalmente, na Praça Benedito Valadares e seu entorno.

Nesse contexto, as relações políticas e sociais na cidade de Divinópolis possuem

apropriações diversas para cada área verde urbana pública da região central. A esse respeito

pode-se falar da prática milenar do habitar10, necessidade poética e essencial do ser

humano, negligenciada pela racionalidade moderna, que se apresenta evidente nos dois

espaços estudados. Habitar significa ir aquém do vivido pelo habitante, em direção ao

desconhecido da cotidianidade, como retratado nas palavras de HEIDEGGER11: “o homem

habita como poeta”12, e pode-se dizer que ele necessita de criatividade, percepção e

imaginação para seu dia-a-dia, numa eternização do momento vivido.

O tempo, que demarca o habitar e o cotidiano das praças, segue o ritmo dado pela

caminhada a pé, da pulsação da vida, do ser humano. Interligado à pulsação da natureza,

obedece a suas leis e a suas ordens, do ritmo e do equilíbrio, contrário àquele ritmo

proporcionado pela tecnologia e telecomunicação. Na tecnologia e telecomunicação,

representada pelos automóveis, computadores, internet, etc. tudo se processa sem

necessidade de um lugar; a qualquer momento os contatos rápidos são estabelecidos e cada

vez mais velozes. Neste caso, o ritmo dado por estes equipamentos é o do movimento

rápido, ininterrupto, voltado ao individualismo. Tem-se a impressão de que o momento

vivido pelas pessoas segue o ritmo de “correr contra o tempo” e passa pelos lugares, pelas

ruas, sem vivê-los e sem criar vínculos. Nesse “correr contra o tempo”, o indivíduo

contemporâneo, mesmo sem tomar conhecimento do que se processa com ele, necessita de

pausa, de tempo para o descanso, de encontro com o outro ser. As pessoas entrevistadas

8 LEFEBVRE, 2004, p. 78. 9 LEFEBVRE, 2004, p. 78. 10 LEFEBVRE, 2004, p. 80. 11 HEIDEGGER apud LEFEBVRE, 2004, p. 81. 12 LEFEBVRE, 2004, p. 81.

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disseram gostar da tranqüilidade da praça13 e dos momentos sem stress, diferentes daqueles

vividos no dia-a-dia, principalmente, em seu apartamento e seu ambiente de trabalho14.

Na Praça Dom Cristiano, o habitar é notório e expresso pela espontaneidade das relações

sociais. Na Praça Benedito Valadares a privação da espontaneidade é refletida seu no

cotidiano como um local de passagem rápida. Os trajetos rotineiros efetuados na praça

decorrem, principalmente, de trabalhadores locais e estudantes. O modo de habitar dos

moradores próximos se reflete no dia-a-dia da praça, conferindo-lhe um lugar onde as

relações humanas não se efetivam em sua potencialidade. Isso contrapõe-se ao que disse

LEFEBVRE15: a relação do ser humano com a natureza e com sua própria natureza reside

no habitar e é nele que se tecem as ações humanas, espontâneas ou não. Quando o modo de

habitar é limitado e regido, principalmente, por entidades econômicas e racionalistas, o

lugar no qual o habitante se insere, reflete essa limitação das ações humanas e as relações

sociais entre os usuários são restritas e impessoais.

Do ponto de vista ambiental, foi unânime o resultado dos depoimentos. Entrevistados da

Praça Benedito Valadares relataram a importância relevante da presença das árvores. Sra.

Mary Elizabeth16(45) disse que o que mais lhe atrai na praça é o visual verde, localizado na

região central, densamente ocupada. Relatou que “gosta de ficar observando as pessoas.

Uns vêm sozinhos, outros estão conversando e outros, ainda, à espera de um encontro”...

[Fica da janela de sua casa] “imaginando a história de cada um”. 17 Sra. Vera Lúcia18(56)

gosta de apreciar a beleza da praça, o que a natureza oferece através das árvores, do ar, da

água. Neste caso, pode-se dizer que a vegetação da praça possui beleza cênica, agradável ao

sentido da visão e do olfato. Atrai, descansa e convida a um olhar mais interativo, a uma

13 Depoimento obtido em 25 março 2007, pela usuária Sra. Maria Aparecida (48), moradora de um bairro distante. 14 Depoimento obtido em 25 maio 2007, pela usuária Sra. Maria Eunice (62), moradora do entorno próximo. 15 LEFEBVRE, 2004, p. 81. 16 Moradora próxima. 17 Depoimento obtido em 19 março 2007 às 15hs. 18 Moradora próxima e usuária da praça.

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pausa, mesmo que numa breve duração. Para Sra. Ilma19(50) e Sr. Samuel20(21) o que mais

lhes chamou a atenção foi a sombra das árvores e o ar ameno que o local propicia. Devido

ao ar fresco, o lugar é agradável de se ficar, além de ser aberto em meio aos espaços

construídos. Muitos entrevistados relataram sua satisfação para com a paisagem local: o

verde tudo encanta, com seus pássaros e floração do flamboyant, no verão. Sr. Lucas21(19)

músico e desenhista diz que a lhe praça serve de inspiração para seus trabalhos artísticos, dá

destaque para os elementos da natureza presentes na praça: seres humanos, árvores,

pássaros, silêncios, sons, sopros de vento e o céu.

As entrevistas realizadas da Praça Dom Cristiano condizem com aquelas da Praça Benedito

Valadares. Sr. José Luiz22(31) utiliza dos espaços sombreados da praça, debaixo das

árvores, gameleiras, para fazer suas leituras nos horários de almoço. Confirmando a

importância da vegetação dentro dos espaços urbanos, relacionada à melhoria do

microclima local e à satisfação dos sentidos humanos, observaram-se muitos relatos de

pessoas com diferentes faixas etárias, a esse respeito. Edgar23(16) escolheu a praça como

local de descanso, após seus percursos pelo centro e para se refrescar antes de seguir seu

trajeto. Atrai-lhe o silêncio, a calma, a “pausa” em meio aos espaços privados e densamente

ocupados. Já D. Dalva24(80), moradora próxima, disse vir à praça quase todas as noites. No

ínterim destes contatos foi possível perceber que a área verde urbana pública, enquanto

elemento articulador dos lugares, proporciona aos habitantes da cidade e aos

freqüentadores, satisfação das necessidades básicas à existência humana relacionadas ao

contato com os elementos naturais: ar, vegetação, solo e água, além da possibilidade de

reencontrar-se consigo mesma e com o outro.

19 Moradora do Bairro Esplanada, usuária freqüente da praça. 20 Morador do Bairro Nações e trabalhador do entorno próximo, usuário diário da praça em seus horários de almoço. 21 Morador do Bairro Bom Pastor, usuário diário da praça. 22 Morador do Bairro Maria Peçanha, trabalhador local, usuário diário da praça nos horários de almoço. 23 Estudante, morador do Bairro Bom Pastor, freqüentador da praça. 24 Moradora do entorno próximo, usuária freqüente da praça.

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Do ponto de vista do convívio e do uso, observa-se um fascínio nas praças, que foi

reconhecido através do olhar e da participação no seu movimento no cotidiano do modo de

vida urbano. O cotidiano dos lugares representa um dinâmico processo de atividades,

regido por horários definidos, que demarcam seus territórios e seus usos, dependendo do

tipo de usuário. Nas praças, ocorrem inúmeros eventos que desencadeiam possíveis

relações sociais. A praça se torna, com freqüência, o lugar da novidade, do inesperado. Para

isso, contribui o fato de ser ela o lugar, por excelência, do outro. Esta categoria ora se refere

ao estranho ora àquele com quem se mantém as relações sociais. A partir daí, colocam-se

duas questões, o da segurança e o da socialização. A questão da segurança é inerente ao

contato. A socialização também constitui dimensão inerente ao contato, torna possível e

reproduz as trocas. Quando se defronta com o outro podem surgir várias situações: uma,

quando se troca algo com ele, reforçando o contato; outra quando se evita fazê-lo na

procura de neutralizá-lo; ou ainda, quando se entra em conflito com ele na recusa das

trocas. As duas praças recortadas para o estudo retratam bem esta diversidade de situações

através das falas dos entrevistados e da própria observação realizada.

O discurso da Praça Dom Cristiano aparece como uma grande família, onde as pessoas se

conhecem e criam uma comunidade. Acentuam-se a solidariedade e o vínculo de muitos

com o lugar, dado o entorno residencial possuir características de bairro, refletido no morar

lado a lado. As pessoas enquadradas nesta categoria reconhecem um conjunto de

expectativas e obrigações mútuas. Acentua-se a reciprocidade e a troca. Paralela e

simultaneamente a troca acontece a repulsa e o conflito, dadas às diversidades dos usos e

usuários.

Quando os usuários dizem que a praça possui um ambiente familiar, querem dizer que

todos se conhecem. Conhecer um ao outro resulta da troca social e a diversidade de

atividades promove o encontro das pessoas e dos grupos em função da maneira pela qual

partilham e viabilizam a vida cotidiana no lugar. Sra. Jussara25(48) prefere vir a este lugar

devido ao ambiente. O lugar é carregado de história e freqüentado por moradores das 25 Moradora do Bairro Belvedere, usuária freqüente da praça nos finais de semana.

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imediações e por antigos moradores que ainda mantêm vínculo com a praça e, por isso, lhes

proporciona segurança, aconchego, viabilizando um convívio integrado.

A praça dá a impressão de extensão da própria casa. A área verde pública, local

intermediário entre a casa e a rua, é lugar favorável às trocas e aos contatos entre as

pessoas. A troca reiterada está na raiz da construção social da pessoa. E, através dela, o

indivíduo vai se transformando pelo conhecimento e integração de suas múltiplas facetas. A

diversidade dos usos ensina a relativizar, amplia os contatos e proporciona a segurança. O

princípio básico da confiança assegura as relações, na praça. O Sr. Sebastião26(59),

vendedor de pipoca há 27 anos, na praça, relatou que considera as pessoas freqüentadoras

como irmãs, seja por conhecê-las, seja por acompanhar o crescimento das crianças, público

com o qual mantém maior comunicação e ligação afetiva. A partir daí, criam-se laços de

interação e amizades com crianças e adultos.

Numa situação de conflito, paralela à situação de troca, observou-se a depredação de alguns

equipamentos públicos – bancos e jardins principalmente, além das atividades marginais.

Nesta situação, o defrontar-se com o outro proporciona uma recusa às condições de troca

pelo esvaziamento da praça devido a este conflito, e muitas vezes os freqüentadores da

praça se sentem acoados pelo outro.

Já o discurso da Praça Benedito Valadares, dependendo do horário, é o da alteridade e

desconfiança. Neste caso, os contatos são impessoais e os indivíduos pouco se aproximam e

as determinações de uso se estabelecem numa temporalidade pouco variada, com períodos

alternados de movimento. Nesta situação, a praça transforma-se em área vazia propícia à

marginalidade e, por isso, alguns moradores do entorno, muitas vezes, abdicam do uso dela.

Aliada às frágeis relações sociais locais tem-se a conformação rígida e geométrica do

traçado da praça, que dificulta ainda mais os contatos, como também a visibilidade entre os

espaços. O “aqui” e o “acolá” encontram-se distintos e conferem insegurança e apreensão

ao usuário, contrário do que acontece na Praça Dom Cristiano, onde o espaço é composto 26 Morador de bairro distante.

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de um largo, totalmente aberto e, desenvolvendo-se num único plano, permite uma ampla

visibilidade e segurança.

Os usuários e os freqüentadores da Praça Benedito Valadares são, na sua maioria,

provenientes de outros bairros. Embora não sejam vistos pelo prisma negativo são

estranhos ao lugar e não estabelecem vínculos relacionais, nem rede de contatos e confiança

apontados como elemento estrutural importante da vida social como na Praça Dom

Cristiano.

A proposta de modernização da vida urbana aliada à intencionalidade do progresso marcou

a região central, nas imediações da Praça Benedito Valadares. O traçado geométrico das

vias, tabuleiro “tipo xadrez”, não confere uma intimidade e interação entre as partes do

lugar. As quadras são interdependentes, não se associam nem criam conformação de um

largo, o que resulta numa distância entre a praça e o entorno imediato. Como conseqüência,

os contatos, face a face, não chegam a constituir um consenso. Cada um por si é a imagem

que se dissemina pelos lugares. Alguns dos entrevistados falaram da ausência de interação e

da distância entre as pessoas.

Os moradores que foram entrevistados apresentaram homogeneidade quanto ao nível sócio-

econômico e enfatizaram a escolha de morarem no entorno da praça como valor e status

social. Em geral, é restrita a relação entre os moradores e os usuários de bairros distantes.

Consideraram que o bom freqüentador é aquele que “não perturba” e não compartilha seus

problemas.

Trabalhadores locais, taxistas, estudantes, ambulantes desenvolvem, cotidianamente, suas

atividades ou fazem ponto na praça. Esses são poucos numerosos, mas são os possíveis

interlocutores do dia-a-dia da praça com os usuários. Os comerciantes, principalmente nos

finais de semana, mantêm relações sociais funcionais com o lugar, basicamente mediadas

pelo dinheiro e, sendo assim, com tendência à impessoalidade.

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A violência e a falta de segurança, tema recorrente entre os entrevistados, aumentou e

cresceu no local, evidenciando, ao mesmo tempo, as contradições e características do

espaço público contemporâneo. A busca de segurança é dada pelo isolamento e pôde ser

constatada na privacidade e no ficar só, como elemento eletivo do estilo de viver, diferente

daquele em que todos se conhecem. O freqüentador é encarado como uma ameaça e pode

trazer complicações, por isso, é preciso manter distância. A suspeita e o temor de

envolvimento contribuem para reforçar o processo de individualismo, acentuar o caráter do

outro enquanto estranho e restringir o contato com o meio através de “ver” as coisas, sem

poder manter com elas as trocas, numa privação do olhar e da sociabilidade.

O caráter precário de controle do espaço revela o grau de impessoalização que predomina,

o que é um dos responsáveis pela insegurança. Mesmo quando há olhos que “vêem”, falta-

lhes a convicção para intervir, garantindo a tranqüilidade e a ordem. Faltam instâncias de

mediação entre os freqüentadores e a comunidade das ruas e das praças. Falta a valoração

da “pausa”, como contraponto entre indivíduo e sociedade.

A praça, rodeada por um anel de edifícios, apresenta-se como um espaço ambíguo, pois

durante o dia, crianças acompanhadas pelas mães ou babás, brincam nesse espaço. Em

outras áreas, grupos de jovens se reúnem para “bater um papo”. Nos horários de almoço,

comerciantes locais têm o hábito de fazerem sua “sesta” por ali. Taxistas, domésticas, um

ou outro ambulante estabelecem, relativamente, proteção às mulheres, crianças e idosos. O

ritual desse controle muda no decorrer do dia, pois em determinados momentos a praça fica

deserta.

Nos dias de eventos, shows e feira de artesanato, as relações sociais são fortalecidas e há

uma ampliação do espaço de convívio, de imaginação e de festa e, conseqüentemente,

percebe-se uma segurança geral entre os usuários. Muitas vezes, esses eventos são culturais

e educativos, como aconteceu no dia 01 de abril de 2007, na “Praça do Santuário” no

“Encontro na praça: contos e histórias”, promovido pela UNIMED – Divinópolis. Neste

dia, foram contadas histórias relacionadas ao homem e à natureza, colocando em evidência

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a necessidade de conscientização humana e ambiental, o que vai em direção ao estudo

proposto. Conforme figura 55, folder oferecido no dia do evento, para que o ser humano

encontre sua realização e seja feliz faz-se necessário respeitar e cuidar da natureza, integrar-

se a ela, num olhar abrangente, perceber e viver em harmonia com o que está a sua volta.

Figura 55 – Folder encontro na praça. Crítica da relação homem e natureza. Fonte: Contadores de História, promovido pela UNIMED-Divinópolis/ MG, em 01 de abril de 2007. Este evento cultural, realizado mensalmente, agrega um público diversificado: crianças

acompanhadas de seus responsáveis, adultos e jovens que moram nas imediações. Muitos

eventos são expressões das artes locais. A convivência e o envolvimento entre as pessoas

através dos eventos proporcionam segurança,o que é diferente dos momentos de

esvaziamento das praças onde se percebe perigo e insegurança.

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As duas praças apresentaram-se num processo dinâmico e cheio de contradições. Ao

mesmo tempo em que se tecem as relações sociais e o lugar configura-se como o de

convívio e de trocas é visível o caráter do consumo, da individualização e da privacidade

como também o da exclusão e de atividades marginais. Esse desvirtuamento da vocação do

lugar tende a comprometer o encontro, a interação e a participação política dos possíveis

usuários e coloca para a contemporaneidade o discurso: pausa urbana, utopia ou realidade?

Ou as duas coisas a serem assimiladas?

3.8 Pausa urbana - utopia ou realidade?

As formas de apropriação das duas praças demonstraram-se em ritmos e tempos diferentes.

Como a pausa representa a duração dos silêncios entre os sons, nos espaços das praças

representa a duração do convívio. A Praça Dom Cristiano foi resultado de um Largo, de

frente à Igreja Matriz com conformação orgânica e identidade local. Representa a pausa

longa – semibreve – àquela que demanda um maior tempo para a parada. O lugar convida a

sentar nos bancos, para uma conversa com amigos e familiares. Desde longo tempo, o lugar

tinha vocação à parada, ao encontro, às festas religiosas e ao convívio, como ocorria,

freqüentemente, durante o século XIX e XX: procissões, comemorações, barraquinhas,

encontros cívicos dentre outros.

Pausa urbana Praça Dom Cristiano

Pausa semibreve equivale a 4 tempos

FIGURA 56 – recorte partitura Sinfonia 5 de Tchaikovsky FIGURA 57 – Recorte da cidade e entorno próximo à Praça Dom Cristiano Divinópolis/MG. Fonte: http:/ www.mvhp.com.br/teclado3.htm Fonte: Prefeitura Municipal, 2007.

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A Praça Benedito Valadares, contrastante com a primeira, resultado de uma cidade

planejada representa a pausa curta – colcheia – àquela que se refere a um tempo de

execução rápido, similar ao desenvolvimento das atividades naquele lugar. Possui variações

no seu uso cotidiano: é local de parada rápida, percursos demarcados por horários, numa

constante alteração do perfil dos usuários e das atividades, definida pelo tempo da

modernidade, da racionalidade e do funcionalismo.

Pausa colcheia Equivale a ½ tempo

Pausa urbana Praça Benedito Valadares

FIGURA 58 – Recorte da cidade e entorno próximo à Praça FIGURA 59 – Recorte partitura Sinfonia 5 de Benedito Valadares. Divinópolis/MG. Tchaikovsky. Fonte: Prefeitura Municipal, 2007. Fonte: http:/ www.mvhp.com.br/teclado3.htm

Sendo assim surgiu uma nova hipótese definida pela comparação: as pausas urbanas não

são homogêneas, cada uma tem sua peculiaridade. As pausas se diferem, ora semibreve,

mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, fusa, semifusa etc. Também, na cidade, as

pausas – designadas como pausas urbanas – se diferem em ritmo e intensidade. Cada uma

cumpre o seu papel e confere uma identidade ao local, com horários específicos de

funcionamento e proporciona uma vivência específica para cada lugar. O estudo inicial

tinha como propósito estudar as áreas verdes urbanas públicas de Divinópolis e suas

relações com a sociedade. No decorrer do estudo verificou-se o caráter contraditório das

pausas urbanas, o que proporcionou uma ampliação das questões iniciais.

A reflexão sobre as praças se desenvolveu em três pontos. A primeira apresentou análises

substantivas a respeito da modalidade da apropriação das áreas verdes urbanas de uso

público. A segunda fez uma abordagem das praças e a última, procurou estabelecer

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conexões resultantes da comparação dos dois casos, para a descoberta: as pausas se

diferem, numa demonstração de ritmos e intensidades variados.

Todo o processo de apropriação dos espaços, no centro, que ainda possuem resquícios de

um bairro tradicional, como é o entorno da Praça Dom Cristiano, é condicionado pela

maneira segundo a qual as diferentes funções primárias da vida urbana se interligam. A

característica está na intimidade com que os usuários se relacionam, de modo que nem

sempre se pode reconhecer onde começam e onde terminam as fronteiras entre o público e

privado. O princípio da diversidade dá margem a muitas conjunções de espaço e atividade.

Elas não se excluem. Os conjuntos que se formam têm fronteiras fluidas. Quer dizer, não há

uma coisa apropriada para cada espaço, nem um espaço apropriado para cada coisa. É o

estilo de vida naquele lugar, que proporciona familiaridade junto aos atores sociais.

O lazer, atividade fundamental para a socialização, tem, na praça, um dos seus possíveis

domínios e, em virtude da variedade das experiências, possibilita o convívio no espaço

público como um meio fundamental de elaboração da cidadania e da civilidade. A

cidadania é a convicção da pertinência do universo social que compartilha um conjunto de

representações e relações sociais. É o exercício da responsabilidade com relação ao que é

comum. A civilidade é a forma apropriada do reconhecimento do outro no cotidiano do

lugar. Seu desempenho institui, permanentemente, o social. É preciso “ter tempo” para ir à

praça, como dizem uns, numa demonstração da importância das relações sociais no

cotidiano e do espaço da pausa para os freqüentadores e os atores sociais envolvidos.

A linguagem, funcionalmente pura, do traçado da região central e da praça tenta estabelecer

uma correlação unívoca entre um espaço e a prática para a qual foi concebido. A

inexpressiva vida pública faz que a vida urbana enfatize o indivíduo, sua privacidade e sua

autonomia em relação aos outros. Mas, paradoxalmente, esta última tende a transformar-se

numa heteronomia, pois as funções de segurança, mediação e controle, são particularizados

institucionalmente. Daí os poucos olhos de usuários próximos apresentam uma

responsabilidade coletiva abdicada e falta de comprometimento com o lugar.

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A desconfiança sugere que a curiosidade pelo outro, temperada pelo medo, resulta na

observação a distância. Uma espécie de violação que todos, por detrás do anonimato,

praticam com maior ou menor discrição. O fracasso da vida comunitária traduz a

dificuldade de se estabelecer uma coisa pública, partindo dos pressupostos da privacidade e

da individualização.

Diante do exposto, as duas praças estudadas apresentam características peculiares quanto ao

uso e a apropriação e representam tempos de pausas diferentes. Trazem consigo o dilema

da tradição e da modernidade. Num ir e vir do antigo e do novo, os espaços das duas praças

demonstraram diversidades significativas que interferem no modo como o cotidiano pode

ser apreendido.

Se a pausa estabelece ritmos e dinamismo numa composição musical como na Sinfonia 5

de Tchaikovsky, assim também estabelece paradas em meio ao ambiente construído,

possibilidade de conexão entre os indivíduos e harmonia com o meio ambiente. Como

existem tempos de pausas diferentes, na dinâmica da música, assim também existem pausas

urbanas diversificadas na cidade. Pausas que remetem a um fluxo rápido de pessoas,

pequenas paradas; pausas que remetem a horas de lazer, à comercialização de produtos, ao

descanso e ao convívio por um tempo maior. As figuras abaixo apresentam várias marcas

de dinâmica, tanto da cidade quanto da música.

FIGURA 60 - Foto aérea da cidade de Divinópolis FIGURA 61 – solo de trompa da Sinfonia 5 de em 2006. Tchaikovsky. Fonte: Prefeitura Municipal, 2006. Fonte: http:/ www.mvhp.com.br/teclado3.htm Disponível no site www.divinopolis.mg.gov.br em maio de 2006.

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No meio mais tradicional, onde todo mundo se conhece, as relações são pessoalizadas, as

regras e práticas de uso dos espaços comuns são negociadas por todos e há uma maior

segurança em pertencer àquele local. Essas características se apresentam com maior vigor

na “Praça da Catedral”. Por outro lado, devido à configuração do moderno, com seus

edifícios verticalizados em concreto, as pessoas tendem a não se conhecerem, as relações

são impessoais e não há segurança, porque não existem “olhos” da comunidade nas ruas.

Essas características são marcantes na “Praça do Santuário”, que carece de envolvimento e

participação.

Neste ínterim, volta-se ao questionamento de que a área verde pública, enquanto pausa

urbana é um campo propício para o desenvolvimento das relações sociais, sejam elas

tradicionais ou modernas. O espaço público contém em seu cerne a possibilidade

civilizatória da sociedade e por detrás da crise da modernidade estaria subjugada a utopia

ausente, utopia necessária aos tempos atuais, onde predominam o valor de troca, de compra

e a fugacidade do que é pensado e vivido.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Somente a imaginação nos permite ver as coisas em suas perspectivas próprias; só ela coloca a uma certa distância o que está próximo demais para que possamos ver e compreender sem tendências ou preconceitos; e só ela permite superar os abismos que nos separam do que é remoto, para que possamos ver e compreender tudo o que está longe demais como se fosse assunto nosso. Esse distanciamento de algumas coisas e aproximação de outras pela superação de abismos faz parte do diálogo da compreensão, para cujas finalidades a experiência direta estabelece um contato próximo demais e o mero conhecimento ergue barreiras artificiais. Sem esse tipo de imaginação, que na verdade é compreensão, jamais seríamos capazes de nos orientar no mundo. Ela é a única bússola interna que possuímos (ARENDT apud BAPTISTA, 2000, p. 135).

Na dinâmica dos espaços urbanos, as questões sobre qualidade de vida, meio ambiente e

área verde adquirem, hoje, um importante papel, tanto do ponto de vista social quanto

ambiental. A urbanização extensiva dos centros das cidades e a tendência ao individualismo

dos integrantes da sociedade intensificam as contradições inerentes ao modo de vida atual,

obrigando a busca de alternativas de se recriarem as relações entre cidade e natureza,

espaço construído e espaço natural, indivíduo e sociedade, por aqueles que aspiram à

qualidade de vida. Nas cidades de médio porte, como é o caso de Divinópolis/ MG, ainda é

possível pensar em humanização dos lugares e criação de possibilidades de ritmos novos no

espaço urbano.

Há um novo olhar a ser assimilado na contemporaneidade em relação ao homem e natureza,

ao homem e sociedade. Sabe-se que o ser humano não está dissociado da natureza, pois

depende dela para continuação da vida. Ele é também parte da natureza e, como tal, é

oportuna a questão que se coloca para as pessoas do século XXI: integrar-se ao espaço

físico e natural, respeitá-lo como extensão de seu próprio corpo e, numa ação

transformadora, agir, favoravelmente, em prol do coletivo e público, dos espaços criados ou

não. Caso contrário, é de se esperar o agravamento da crise ambiental e social, o que pode

vir a comprometer, de maneira irreversível, a vida na cidade.

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As áreas verdes urbanas públicas contemporâneas, no Brasil, nas cidades de médio e de

grande porte, além de espaços residuais em meio à urbanização extensiva, encontram-se

deturpadas quanto ao uso. Caracterizadas como “ilhas” e favorecendo o fluxo de veículos e

de pessoas que, desarticuladas do convívio social, apresentam atividades marginais, de

exclusão e de degradação. Entretanto, a carência dessas áreas nas cidades brasileiras, em

específico em Divinópolis, inseridas na questão ambiental, recoloca a discussão para além

da cidade, uma vez que os espaços de convívio coletivo foram transformados em espaços

fragmentados e dispersos pela cidade.

A vida urbana contemporânea carece de espaços coletivos qualificados que favoreçam o

encontro, a troca e o convívio. No ínterim dos espaços das cidades, encontram-se as áreas

verdes urbanas públicas que, ora criam possibilidades de articulação entre os espaços

construídos, ora proporcionam interação entre as pessoas, cumprindo o papel social e

ambiental. Por isso, as áreas verdes deveriam ser melhor discriminadas na legislação

municipal, em específico, na Lei de Parcelamento do Solo Urbano, no que se refere à

qualificação dessas áreas e sua localização, quando na aprovação de novos loteamentos,

permitindo uma integração entre as áreas potenciais ao convívio e ao lazer, como também

preservação de áreas mananciais e de interesse social-paisagístico para fins sociais.

As possibilidades de articulações dos espaços públicos, através das áreas verdes, têm na

pluralidade e diversidade dos espaços construídos, aliados à alta valorização do solo e

especulação imobiliária, seu maior desafio. Junto à questão ambiental, a cidadania vem

como um parâmetro de grande importância para a realidade de práticas sociais urbanas. É

através dela que poderão crescer novos arranjos sócio-espaciais e ambientais nos centros e

periferias diversas. Daí, a importância dada aos espaços verdes, enquanto espaços de

exercício da cidadania, de superação do individualismo e reencontro consigo, com o outro

ser e com o entorno.

A compartimentalização das concepções teóricas, relacionadas ao homem e à cidade,

interfere no ordenamento dos espaços urbanos, privilegiando os espaços privados e ao

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mesmo tempo, restringindo as possibilidades do uso público-coletivo em favor de um maior

lucro dos investimentos econômicos. Dentro dessa concepção, a arquitetura e o urbanismo,

enquanto ciências parcelares, paralelos à dinâmica da sociedade e integrantes dessa

sociedade, na sua cultura, no poder econômico, na concentração dos indivíduos em

ambientes próprios aos contatos culturais, econômicos, políticos e recreativos, vêem-se, na

atualidade, pressionados pela dinâmica de produção e apropriação do espaço urbano,

orientada pelos interesses do mercado imobiliário e financeiro. Sem desconsiderar a

especificidade do conhecimento, pensar sobre a cidade, sob o impacto da urbanização atual

requer a contribuição de diferentes abordagens teóricas – da filosofia, sociologia,

psicologia, ecologia, meio ambiente - numa perspectiva transdisciplinar. A perspectiva

transdisciplinar na construção de novos conhecimentos é importante para a superação das

fronteiras disciplinares na contemporaneidade e para mitigar as falhas advindos de

conhecimentos parcelares e da visão limitada, rigidamente marcada pelo sistema cartesiano.

Inquestionavelmente, a precária atuação do poder público, a reduzida organização

autônoma da sociedade, a tendência de valorização do mercado econômico-financeiro em

detrimento aos espaços públicos, aliados à formação do cidadão brasileiro que reivindica o

direito de consumir e não tanto o de participar coletivamente, tem levado à precarização da

qualidade de vida e à deterioração dos espaços públicos urbanos e do meio ambiente. O

descomprometimento de muitos indivíduos com o seu entorno e a utilização das praças

apenas como lugar do consumo, leva os usuários a assumirem o papel de consumidores, em

detrimento ao seu papel de cidadãos, portadores de direitos e deveres.

A tendência de mercantilização dos lugares e o consumo de produtos, nas praças,

apresentam duas facetas cujos limites são muito frágeis. Uma positiva e saudável,

reforçando o valor de uso do lugar, quando se trata da venda de produtos de suporte ao

lazer, tais como pipoca, picolé, revista. Outra, nociva e indesejável, vinculada à

especulação do mercado econômico, quando exerce domínio sobre o espaço público,

colocando-se em detrimento ao convívio e à socialização, vocação primeira da área verde

urbana pública. Paradoxalmente, observa-se uma ambigüidade entre o tradicional e

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moderno. No meio tradicional, as relações são mais próximas e pode-se dizer que o lugar

proporciona interação e confiabilidade. Já no meio moderno as relações são impessoais e

fragmentárias, conferindo desconfiança e insegurança aos usuários. Os lugares parecem não

se destinarem aos cidadãos, pois, prioriza-se o fluxo de veículos, de mercadorias e do

capital.

Esse processo está ocorrendo em Divinópolis/MG, cidade que surgiu no bojo do processo

de modernização econômica, desencadeado no início do século XX, pela construção da

Estrada de ferro do Oeste de Minas/EFOM. A urbanização da vida local se intensifica nas

últimas décadas, sacrificando os lugares públicos em benefício da lógica capitalista

moderna. Inseridas nesta dinamicidade estão as Praças Benedito Valadares e Dom

Cristiano, em Divinópolis/MG.

O dinamismo das atividades das praças proporciona, ao mesmo tempo, lugar de convívio

ou de esvaziamento. Quando em momentos de convívio, é fascinante o encontro entre as

pessoas. O tempo e o ritmo do local, diferente daquele oferecido pelo dia-a-dia da cidade

contemporânea, possibilitam o fortalecimento do vínculo entre as pessoas e a natureza.

Tem-se a possibilidade de um descanso, afastamento do stress e do corre-corre do dia-a-dia.

As pessoas podem se recompor e satisfazer suas necessidades lúdicas e de convívio. A

concepção aristotélica considera o ser humano como um ser político e capaz de

contemplação e as praças e os parques públicos podem ser encarados como uma forma de

materialização desse pensamento. Por outro lado, quando ocorre o esvaziamento do lugar,

em certos horários, percebe-se uma insegurança geral e os laços entre os usuários ficam

mais restritos e frágeis, desencadeando numa maior ou menor extensão, o desvirtuamento

ou até o rompimento do convívio e, com ele, a possibilidade de socialização.

No dinamismo das praças observadas em Divinópolis/MG, através dos relatos, percebe-se

que alguns usuários se comunicavam, faziam amizades e, quando em contato uns com os

outros, mostraram-se fortalecidos e abertos para o diálogo. Aqueles que foram abordados

para depoimentos, participaram com disposição e interesse. O tema área verde urbana

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pública interessou a muitos e, de maneira geral, causou-lhes entusiasmo, o que pode servir

de fomento para a participação comunitária.

Constatada através da observação e dos depoimentos a importância das áreas verdes

urbanas públicas para a população de Divinópolis, é de suma relevância a revitalização e

conservação delas, como, também, o direcionamento de políticas públicas voltadas à

preservação de outras, potencialmente significativas para a cidade como um todo, e para as

regiões mais adensadas e carentes de espaços públicos abertos qualificados, destinados ao

convívio, como é o caso do “Quarteirão dos Franciscanos”, da “Lagoa da SIDIL”, da “Mata

do ou Noé” e das áreas remanescentes ao Rio Itapecerica, apontados como locais

importantes para socialização e preservação ambiental. Algumas indústrias e empresas

particulares contemporâneas, à procura da conservação e manutenção de espaços públicos,

ou de melhorarem a imagem deles perante a opinião pública, têm participado, também,

como agentes propulsores da melhoria ambiental. Têm iniciado investimentos na

recuperação e manutenção das áreas verdes, o que é um dos caminhos para a melhoria

ambiental, implantação e manutenção, principalmente das praças, de parques urbanos da

cidade de Divinópolis.

Cabe, então, ao poder público local gerenciar os interesses da população e procurar

convênios com as empresas particulares, a fim de implantar, através de parcerias, as

medidas de melhoria ambiental das áreas verdes e de implantação de um calendário regular

de eventos culturais, possibilitando à cidade um reavivamento das áreas verdes urbanas

públicas – pausas urbanas – destinadas ao verde urbano, ao lazer, ao encontro, às trocas e

ao referencial simbólico enquanto elemento que marca, define e identifica um lugar. Outras

ações que merecem destaque são as de Organizações não Governamentais-ONG´s, que

tomam frente junto às causas ambientais, sociais e de interesse histórico-cultural-urbano-

paisagístico da cidade e contribuem para a manutenção das áreas de interesse público/

coletivo, desde que, realmente, comprometidas com a comunidade.

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Com a revitalização dos espaços das praças e o estabelecimento de um calendário regular

de eventos culturais, estaríamos diante de novo cenário de troca reiterada de experiências

comunitárias, significativas para a humanização do quadro de vida do divinopolitano, uma

vez que os espaços, em específico, as praças estudadas, não estão sendo utilizados na sua

potencialidade, no ponto de vista social, ambiental e cultural. Mesmo que incipientes na

vida urbana local, as experiências comunitárias obtidas através das práticas cotidianas

possibilitam o exercício da cidadania e da participação política. O lugar das trocas,

experiências e relações deve ser revificado na cidade e, como tal, cabe valorá-los, enquanto

lugar singular e expressão da realidade local.

É tempo para se pensar sobre as tomadas de decisões, pois, ainda existem muitas

possibilidades de se articularem as áreas verdes urbanas públicas de Divinópolis que, com

certeza, aguardam por propostas inteligentes e sensíveis, que supram as necessidades por

lugares qualificados, de simultaneidade e de encontros. E é no tratamento desses espaços

que a vida urbana local vai se impor dentro do novo contexto da globalização e de

competitividade, tendo seu diferencial na abertura de possibilidades de atividades e de

funções e se preparando para o desafio do século XXI: competitividade econômica,

integração social e sustentabilidade ambiental.

O que se defende neste estudo é uma estratégia de reflexão que reúna espaço público e

indivíduo, ser humano e natureza, de modo que a teoria urbana se traduza em teoria das

práticas urbanas cotidianas, a qual se realiza a ação humana e as possibilidades da

realização da utopia necessária ao ser humano do século XXI: integração homem e

natureza, revigoramento do exercício da cidadania numa repolitização das áreas verdes

urbanas públicas.

O espaço urbanizado coloca o indivíduo preso em si mesmo e alienado ao que o cerca. Em

contrapartida, o reavivamento de atividades culturais e sociais aliada à redefinição dos usos

nas áreas verdes, inerentes à sociedade contemporânea, possibilitará uma renovação das

atividades criadoras, do simbolismo, do imaginário e das atividades lúdicas. Sobrevive o

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desejo de encontro e de troca, mesmo que hoje o valor de compra também esteja presente

nas relações. Desejo fundamental de arte, de conhecimento, de jogo, de brincadeiras, de

atos corporais, de esporte e de contato com o “verde urbano” que, quando realizado, será

para a vida local, um lugar qualificado e de simultaneidade de usos e de encontros, que irá

proporcionará a satisfação das necessidades fundamentais das pessoas, principalmente a

necessidade do encontro.

Como a pausa urbana – área verde pública - constitui-se como um lugar de encontro

potencial, ao intermediar realidades sociais, políticas, econômicas e culturais distintas,

cabe-nos investigar as possibilidades de revigoramento das relações de cidadania através de

melhorias nos espaços públicos. A pausa urbana é, por excelência, o encontro, o equilíbrio,

o tempo de parada. Se a cidade é a materialidade construída, a pausa define a vitalidade

urbana e possibilita espaço para as relações humanas, povoamento da cidade, reavivamento

do espaço democrático da ágora. A pausa pode ser a condição para o livre acontecimento

do encontro, necessário para os sucessos e contingências que tornam propícia a vida urbana

na contemporaneidade, como também a possibilidade do comprometimento do indivíduo

com a cidade.

As pausas urbanas, como na música, são essenciais ao equilíbrio entre os espaços da

cidade, proporcionam ritmo, parada e intensidades várias, além de proporcionar um

microclima favorável ao desenvolvimento da vida. Favorece o encontro, a autonomia nas

ações e interação entre os habitantes do lugar. A pausa, na música, favorece o ritmo e

estabelece a melodia. Assim, a pausa urbana, carregada de possibilidades de convívio é um

equipamento público nos interstícios da cidade, favorece integração entre as partes, além de

contrapor-se aos maciços de concreto dos edifícios verticalizados da região central. A

musicalidade urbana necessita desses espaços e tempos de convívio. A crise de paradigmas,

na atualidade, é o cenário onde esse questionamento se aflora, permitindo novos olhares

sobre a unicidade ser humano-natureza. Nas contradições da vida contemporânea, pausa

urbana: utopia ou realidade? Ou as duas coisas a serem assimiladas pela atualidade?

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ANEXOS

ANEXO A - Tabela relação das praças da área urbana do Município

de Divinópolis (continua)

LEI MUNICIPAL PRAÇA ENDEREÇO BAIRRO REGIÃO

ÁREA (M²)

CÓDIGO MAPA

6430/06 EMUNHA BORBA RUA CRISTAL E AVENIDA

21 DE ABRIL CENTRO 1 912,4 42

6266/05

REUMOLLA MARQUES GERALDO

RUA SALIM AIRES DA SILVA E BRIGADEIRO

CABRAL SANTA

TEREZA 2 244,8 43

4914/00 JOSÉ RODRIGUES

DE LACERDA

RUA MIGUEL RODRIGUES FILHO, JOÃO MOREIRA E

AL. RIO PARANAÍBA PLANALTO 5 410,3 44

574603 CONFRADE LUIZ JOSÉ DA SILVA

RUA PEDRO FERREIRA DO AMARAL, JOSÉ

GABRIEL E QUELUZ PE. LIBÉRIO 4 648 45

CANDIDÉS ITAPECERICA (próxima

Ponte Niterói) CENTRO 1 1.126,6 46

NOSSA SENHORA

APARECIDA BOM PASTOR 1 7.360 48

L.O. 6501/07 MARIA APARECIDA

DOS SANTOS

RUA JOSÉ PENHA LAINE, RUA JOSIAS CALDEIRA, RAIMUNDO VALENTINO

DA SILVA SANTA LÚCIA 2 2.295,8 49

NOSSA SENHORA

DA GUIA RUA PARÁ,

PERNAMBUCO, SERGIPE BELO

HORIZONTE 1 6.597,1 10

SÃO SEBASTIÃO AFONSO

PENA 4 1.336,4 31

DOS

FERROVIÁRIOS RUA MESTRE PEDRO DA SILVA E VITAL BRASIL ESPLANADA 1 568,2 11

BENEDITO

VALADARES

RUA SÃO PAULO, RIO JANEIRO E AVENIDA 21

DE ABRIL CENTRO 1 6.351,4 1

NOSSA SENHORA

DAS GRAÇAS RUA MARIA CHULA COM

JOSÉ AFONSO

NOSSA SENHORA

DAS GRAÇAS 2 2.902,8 18

DA

INDEPENDÊNCIA NOVA

FORTALEZA 4 1.487,1 33

DOS PALESTINOS

AVENIDA VICENTE MATEUS DA SILVA COM

IRÃ NOVA

FORTALEZA 4 570 34

SILVA MELO AV. BRASIL COM RUA

VERA CRUZ ICARAÍ 6 2.316,7 41

3130/92 ADOLFO PEDRO DA

COSTA

RUA DUQUE DE CAXIAS, AVENIDA AMAZONAS E RUA JÚLIO NOGUEIRA CATALÃO 5 206,5 40

3502/93 BETO CARLOS

RUA JOSÉ AFONSO MICHELINI E RIBEIRÃO

VERMELHO

NOSSA SENHORA

DAS GRAÇAS 2 1.629,3 19

5791/93 EUSMAR TEREZA

EVANGELISTA AV. ANTÔNIO NETO COM RUA OROZIMBO CHAGAS

DANILO PASSOS 3 1.300,0 23

6437/06 GERALDO MACEDO

GABI AO LADO DO PONTILHÃO

DAVI GUERRA NITERÓI 3 402,4

24

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ANEXO A - Tabela relação das praças da área urbana do Município de Divinópolis (continua)

LEI MUNICIPAL PRAÇA ENDEREÇO BAIRRO REGIÃO

ÁREA (M²)

CÓDIGO MAPA

5682/03 JOÃO CARDOZO

NETO RUA CURITIBA, CAMBUCI

E CAIO NOTINI MAR E TERRA 2 1.062,1 20

5276/02 NILO DA SILVA TRÉ RUA CAMBUQUIRA AFONSO

PENA 4 36,3 35

6214/05 PAPA JOÃO PAULO

II RUA SÃO SEBASTIÃO E

DONA FRANCISCA AFONSO

PENA 4 1.065,4 36

4613/99 NOSSA SENHORA

DE LOURDES

RUA FERNANDA DE CASTRO E JOÃO DE

BARRO SERRA VERDE 4 2.280,5 37

4657/99

VEREADOR FLÁVIO MONTAK - PAULISTA

AVENIDA ANTÔNIO NETO, RUA PADRE RAUL

SILVA E CÂNDIDO CANEDO DE SOUZA

DANILO PASSOS II 3 1.300 25

5188/01 CUSTÓDIO GOMES

CARREGAL

AVENIDA GETÚLIO VARGAS COM

CONTORNO CENTRO 1 75,9 13

5166/01 VEREADOR

GERALDO MOTA RUA ITAMOGI, OASIS,

MONTE LÍBANO ITAÍ 3 624,5 26

3606/94

PARQUE ECOLÓGICO

PREFEITO DR. SEBASTIÃO GOMES

GUIMARÃES RUA ITAPECERICA CENTRO 1 209..979 12

0714/66 VEREADOR DULPHE PINTO DE AGUIAR RUA FORMIGA E GOIÁS

PORTO VELHO 2 2.419,4 14

0874/89

FRANCISCO RESENDE DE

CASTRO

RUA TOMÉ DE SOUZA COM PRUDENTE DE

MORAIS PORTO VELHO 2 2.416,7 15

5279/02 CAMINHO DO

ROUXINOL

MARGENS DO RIO ITAPECERICA, DESDE

CAMPO GUARANI ATÉ O RECANTO DOS

ROUXINÓIS PORTO VELHO 2 53.641 16

470/59 PRAÇA DOM CRISTIANO

AVENIDA JK, 1º DE JUNHO E GETÚLIO VARGAS CENTRO 1 3.937,7 2

642/64 DO MERCADO RUA DO ROSÁRIO CENTRO 1 1.030,6 3

878/69 JOSÉ MARTINS DA

COSTA IGREJA BOM JESUS -

AVENIDA RUBI NITERÓI 3 3.040 21

1154/75 SÃO VICENTE DE

PAULA AVENIDA DO AÇO INTERLAGOS 2 3.849,6 17

1189/76 PEDRO X GONTIJO1

AVENIDA GETÚLIO VARGAS, RUA RIO DE

JANEIRO E SÃO PAULO CENTRO 1 6.388,3 4

1400/78 JOÃO

CONSTANTINO

AVENIDA GOVERNADOR MAGALHÃES PINTO ENTRE PROFESSOR

RONAN DE OLIVEIRA E NIQUELINA NITERÓI 3 327,2 22

1 Consta nos arquivos municipais de cadastro a área referente a esta praça. Entretanto, o local sofreu alteração de uso e atualmente destina-se ao Pronto Socorro Municipal, não se apresentando como praça pública e lugar de lazer.

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ANEXO A - Tabela relação das praças da área urbana do Município de Divinópolis

(conclusão) LEI MUNICIPAL PRAÇA ENDEREÇO BAIRRO REGIÃO

ÁREA (M²)

CÓDIGO MAPA

1425/78 CORVINO DINIZ

COSTA

DISTRITO S. ANTÔNIO

DOS CAMPOS 9 3.314,2 42

1490/79 SOTERO RAMOS DE

FARIA RUA IBIRITÉ E IBIRACI ALVORADA 4 1.651,6 27

1618/80 ELIZEU ZICA

RUA CASTELO BRANCO, COELHO NETO, JÚLIO

NOGUEIRA SÃO JOSÉ 5 1.242,7 38

1945/84 OLINTO MILAGRE

FILHO

RUA JOÃO MORATO, SERGIPE, CORONEL JÚLIO

RIBEIRO E AVENIDA ANTÔNIO OLÍMPIO DE

MORAES ESPLANADA 1 2.886,5 29

2149/86 BÍBLIA RUA AFRÂNIO PEIXOTO E

AVENIDA PARANÁ SÃO JUDAS

TADEU 5 2.101,4 39

2156/86 GIL CAETANO DA

SILVA RUA ITAMARANDIBA,

NAÇÕES E BAHIA BOM PASTOR 4 535,8 30

2156/86 DA ABADIA AVENIDA JK SANTA CLARA 1 289,7 5

2369/88 DA INTEGRAÇÃO

TRAVESSA OSVALDO CRUZ E RUA CORONEL

JOÃO NOTINI

VILA CENTRAL DO

DIVINO 1 226,5 6

2440/88 FRANCISCO

COELHO LEMOS AVENIDA ANTÔNIO

OLÍMPIO DE MORAES CENTRO 1 751,7 7

2593/89 GERALDO CORRÊA

RUA SÃO PAULO ENTRE AVENIDA 1º DE JUNHO E

GETÚLIO VARGAS CENTRO 1 284,9 8

2594/89 CORONEL

JOVELINO RABELO

RUA SÃO PAULO ENTRE AVENIDA 1º DE JUNHO E

ANTÔNIO OLÍMPIO DE MORAIS CENTRO 1 995,4 9

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ANEXO B – Tabela relação das áreas verdes cadastradas no setor de Patrimônio Municipal - DICAF, devidamente documentadas no Cartório de Registro de Imóveis (continua)

BAIRRO ÁREA VERDE (M²) MATRÍCULA

CEN

TRA

L 1

SANTA CLARA 862,00 27.742

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS 621,25 51.142

SAGRADA FAMÍLIA 18.398,00 25.921

RESIDENCIAL QUINTA DAS PALMEIRAS 1.950,00 25.922

SÃO BENTO 23.490,00 27.123

SANTA LÚCIA 1.170,00 27.288

JUSA FONSECA 16.250,00 25.224

CIDADE JARDIM 4.350,00 45.633

SANTA LÚCIA 964,00 27.289

SANTA LÚCIA 2.350,00 27.290

SAGRADA FAMÍLIA 18.398,00 25.921

SANTA LÚCIA 73.680,00 27.287

MARIA HELENA 33.220,00 84.392

SÃO MATEUS 3.786,50 27.203

SÃO BENTO 23.490,00 27.123

NOVA HOLANDA 850,00 26.601

NOVA HOLANDA 5.710,00 26.600

NOVA HOLANDA 965,00 26.602

NOVO PARAÍSO 333,46 82.789

NOVO PARAÍSO 673,06 82.787

NOVO PARAÍSO 333,46 82.790

NOVO PARAÍSO 673,06 82.788

COSTA AZUL 1.125,00 24.809

COSTA AZUL 4.690,00 24.808

COSTA AZUL 2.895,00 24.807

TERRA AZUL 1.123,00 28.018

TERRA AZUL 1.048,00 28.017

TERRA AZUL 980,00 28.016

RESIDENCIAL QUINTA DAS PALMEIRAS 200,00 25.923

DONA ROSA 37.653,00 80.393

SUD

ESTE 2

SANTA LÚCIA 368,00 56.516

SUBTOTAL 281.737,79

NITERÓI 3.297,47 42.489

DR. JOSÉ THOMAZ 10.480,00 63.480

VILA RICA 1.107,00 25.178

PROLONGAMENTO I VILA ROMANA 23.398,25 24.973

NO

RD

ESTE 3

DR. JOSÉ THOMAZ 10.480,00 63.498

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ANEXO B – Tabela relação das áreas verdes cadastradas no setor de Patrimônio Municipal - DICAF, devidamente documentadas no Cartório de Registro de Imóveis (continua)

ÁREA VERDE (M²) MATRÍCULA BAIRRO

NITERÓI 7.397,06 42.492

HALIM SOUKI 9.536,00 82.529

MANOEL VALINHAS 3.900,00 24.875

PRIMAVERA 2.773,00 27.406

PRIMAVERA 2.350,00 27.405

PRIMAVERA 2.525,00 24.404

VILA RICA 145,00 25.180

VILA RICA 300,00 29.987

VILA RICA 300,00 25.179

VILA RICA 1.107,00 25.178

DANILO PASSOS 10.150,00 35.919

DANILO PASSOS 17.920,00 35.920

DANILO PASSOS 26.090,00 35.917

DANILO PASSOS 78.754,38 35.918

DANILO PASSOS 5.430,00 35.916

DANILO PASSOS 16.855,00 35.914

DANILO PASSOS 18.463,50 35.915

VILA ROMANA 23.398,25 24.973

ESPÍRITO SANTO 1.192,50 56.419

ESPÍRITO SANTO 1.265,60 56.420

ESPÍRITO SANTO 1.142,00 56.421

ESPÍRITO SANTO 1.727,00 56.422

ESPÍRITO SANTO 50,00 56.423

ESPÍRITO SANTO 455,60 56.424

SUBTOTAL 281.989,61

BOM PASTOR 22.103,50 24.257

BOM PASTOR 900,00 24.258

BOM PASTOR 224,00 24.259

NOVA HOLANDA 850,00 26.601

NOVA HOLANDA 5.710,00 26.600

NOVA HOLANDA 965,00 26.602

NOVA FORTALEZA PROLONGAMENTO I 2.200,00 28.325

NOVA FORTALEZA 1.230,00 25.110

NOVA FORTALEZA 195,00 25.113

NOVA FORTALEZA 750,00 25.114

NOVA FORTALEZA 650,00 25.115

NOVA FORTALEZA 910,00 25.112

SERRA VERDE 25.230,00 66.105

NO

RO

ESTE 4

SERRA VERDE 5.970,00 22.025

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ANEXO B – Tabela relação das áreas verdes cadastradas no setor de Patrimônio Municipal - DICAF, devidamente documentadas no Cartório de Registro de Imóveis (continua)

BAIRRO ÁREA VERDE (M²) MATRÍCULA

SERRA VERDE 470,00 22.026

CONJ. HAB. OSVALDO MACHADO GONTIJO 3.346,00 73.362

CONJ. HAB. OSVALDO MACHADO GONTIJO 3.668,50 73.363

JARDIM DAS OLIVEIRAS 600,00 64.198

JARDIM DAS OLIVEIRAS 5.200,00 64.197

JARDIM DAS OLIVEIRAS 10.700,00 64.196

JARDIM DAS OLIVEIRAS 9.740,00 64.195

BOM PASTOR 1.051,00 56.617

XAVANTE 7.039,00 25.971

SUBTOTAL 109.702,00

TIETÊ 200,90 44.131

TIETÊ 1.965,40 33.373

TIETÊ 1.457,50 33.374

TIETÊ 45,20 44.132

J.A. GONÇALVES 310,00 38.043

EXPOSIÇÃO 1.220,00 31.307

SUD

OESTE 5

ALTEROSA 3.300,00 15.843

SUBTOTAL 8.499,00

IPANEMA 13.933,60 25.754

I PROLONGAMENTO ELDORADO 900,00 25.415

I PROLONGAMENTO ELDORADO 690,00 25.416

JARDIM FLORAMAR 40.720,00 24.217

GRAJAÚ 5.100,00 54.650

JARDIM CANDIDÉS 945,00 38.036

JARDIM CANDIDÉS 535,00 74.922

JARDIM CANDIDÉS 13.500,00 74.923

JARDIM CANDIDÉS 850,00 74.924

JARDIM CANDIDÉS 405,00 74.925

JARDIM CANDIDÉS 562,20 74.926

JARDIM CANDIDÉS 821,40 74.927

JARDIM CANDIDÉS 4.280,00 74.928

NO

RD

ESTE DIST. 6

JARDIM CANDIDÉS 1.493,50 38.035

SUBTOTAL 84.735,70

ORION 196,00 27.517

ORION 2.797,00 27.518

ORION 1.838,00 27.519

DULPHE PINTO DE AGUIAR 3.201,00 24.938

OESTE 7

DULPHE PINTO DE AGUIAR 798,00 24.939

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ANEXO B - Tabela relação das áreas verdes cadastradas no setor de Patrimônio Municipal - DICAF, devidamente documentadas no Cartório de Registro de Imóveis (conclusão)

BAIRRO ÁREA VERDE (M²) MATRÍCULA

DULPHE PINTO DE AGUIAR 927,50 24.940

NÚCLEO COMERCIAL L.P. PEREIRA 91,85 48.932

NÚCLEO COMERCIAL L.P. PEREIRA 172,70 48.933

NÚCLEO COMERCIAL L.P. PEREIRA 25,94 48.934

NÚCLEO COMERCIAL L.P. PEREIRA 7,74 48.935

NÚCLEO COMERCIAL L.P. PEREIRA 5.547,73 48.936

SUBTOTAL 15.603,46

COPACABANA 4.250,00 27.489

SÃO CRISTÓVÃO 600,00 27.358

CAMPINA VERDE 135,00 25.700

SÃO DOMINGOS 3.665,00 24.503

QUINTINO 26.598,00 24.066

PADRE HERCULANO 710,00 25.739

PADRE HERCULANO 6.480,00 25.744

PADRE HERCULANO 1.040,00 25.742

PADRE HERCULANO 3.256,00 25.738

II PROLONGAMENTO QUINTINO 411,00 27.504

II PROLONGAMENTO QUINTINO 1.185,00 27.503

PADRE HERCULANO 700,00 25.740

PADRE HERCULANO 130,00 25.741

PADRE HERCULANO 444,00 25.743

SANTO ANDRÉ 22.300,00 24.088

MARAJÓ II 25.465,00 57.655 SU

DO

ESTE DIST. 8

CASA NOVA 5.000,00 24.700 SUBTOTAL 102.369,00 N

OR

OESTE

DIST. 9

SANTA CRUZ 3.347,00 49.247

SUBTOTAL 3.347,00

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ANEXO C – Tabela densidade líquida do Centro A: número de habitantes por quarteirão 2 (continua)

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

1 66 2,84 23,24

2 204 2,329 87,59

3 30 0,376 79,79

4 199 1,155 172,29

5 173 1,378 125,54

6 41 1,952 21,00

7 193 0,964 200,21

8 241 1,397 172,51

9 131,5 1,232 106,74

10 111,5 1,376 81,03

11 144,5 2,048 70,56

12 103,5 1,925 53,77

13 209 2,075 100,72

14 78 1,473 52,95

15 18,5 0,29 63,79

16 124 0,89 139,33

17 5 0,671 7,45

18 32 0,515 62,14

19 177 1,622 109,12

20 413 1,504 274,60

21 134,5 1,585 84,86

22 14 2,07 6,76

23 171 1,924 88,88

24 249,5 2,139 116,64

25 181 1,705 106,16

26 174 1,867 93,20

27 152,5 1,346 113,30

28 200,5 1,015 197,54

29 85,5 0,798 107,14

30 79 5,29 14,93

31 167 0,845 197,63

32 106 0,843 125,74

33 271,5 1,194 227,39

34 133 1,056 125,95

35 159,5 1,354 117,80

2 Divisão estabelecida pela Vigilância Sanitária para fins de fiscalização

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ANEXO C – Tabela densidade líquida número de habitantes por quarteirão (conclusão)

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

36 93 1,231 75,55

37 135 1,363 99,05

38 251,5 1,061 237,04

39 108,5 0,999 108,61

40 347 1,079 321,59

41 96,5 0,877 110,03

42 166 0,966 171,84

43 106 0,694 152,74

44 111,5 0,775 143,87

45 156 0,761 204,99

46 103 0,668 154,19

47 207,5 0,946 219,34

48 135 0,869 155,35

49 140,5 1,101 127,61

50 121 0,974 124,23

51 206,5 1,07 192,99

52 295,5 1,1 268,64

53 385 1,01 381,19

54 - 1,094 -

55 278,5 0,874 318,65

56 146,5 0,958 152,92

57 104,5 0,697 149,93

58 136 0,639 212,83 Fonte: Vigilância sanitária, 2005 e levantamento de campo, 2007.

ANEXO D – Tabela Densidade líquida Centro B

( continua )

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

1 32 2,868 11,16

2 0 1,59 0,00

3 13 5,32 2,44

4 23 0,139 165,47

5 71 0,428 165,89

6 70 0,315 222,22

7 35 0,311 112,54

8 6 0,248 24,19

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ANEXO D - Tabela Densidade líquida Centro B (continua)

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

9 73 0,279 261,65

10 47 0,36 130,56

11 59 0,89 66,29

12 13 1,13 11,50

13 70 0,487 143,74

14 245 1,8 136,11

15 7 0,458 15,28

16 160 0,457 350,11

17 56 0,352 159,09

18 88 1,8 48,89

19 174 0,57 305,26

20 104 0,49 212,24

21 105 0,86 122,09

22 0 0,1 0,00

23 0 0,245 0,00

24 31 0,14 221,43

25 116 0,61 190,16

26 106 0,36 294,44

27 165 1,23 134,15

28 272 1,66 163,86

29 80 0,648 123,46

30 0 0,22 0,00

31 109 2,64 41,29

32 55 1,62 33,95

33 95 0,92 103,26

34 6 1,66 3,61

35 33 1,25 26,40

36 207 0,826 250,61

37 140 0,63 222,22

38 34 0,46 73,91

39 0 0,029 0,00

40 210 0,65 323,08

40.1 7 0,091 76,92

41 157 0,99 158,59

42 136 0,227 599,12

43 0 0,023 0,00

44 209 1,17 178,63

45 162 0,8 202,50

46 62 0,287 216,03

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ANEXO D - Tabela Densidade líquida Centro B (conclusão)

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

47 58 0,354 163,84

48 24 1,06 22,64

49 24 0,964 24,90

50 56 0,794 70,53

51 0 0,8 0,00

52 8 0,898 8,91

53 65 1,32 49,24

54 84 1,94 43,30

55 0 0,075 0,00

56 310 1,65 187,88

57 258 2,11 122,27

58 465 1,41 329,79

59 206 1,296 158,95

60 650 1,3 500,00

61 0 0,635 0,00

62 33 1,59 20,75

63 119 2 59,50

64 30 1,33 22,56

65 0 0,64 0,00 ANEXO E - Tabela Densidade líquida Vila Central

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

1 98 0,98 100,00

2 13 0,096 135,42

3 16 0,062 258,06

4 99 0,86 115,12

5 58 0,91 63,74

6 70 0,92 76,09

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ANEXO F – Tabela Densidade líquida Vila Cruzeiro (conclusão)

QUARTEIRÃO TOTAL DE

HABITANTES DO QUARTEIRÃO

ÁREA (ha) DENSIDADE (HABITANTES/ha)

1 139 1,71 81,29

2 39 0,29 134,48

3 54 0,66 81,82

4 20 0,26 76,92

5 154 1,17 131,62

6 35 1,02 34,31

7 44 0,24 183,33

8 57 0,26 219,23

9 55 0,45 122,22

10 43 0,41 104,88

11 55 0,5 110,00

12 44 0,48 91,67

13 80 0,9 88,89

14 78 1,16 67,24

15 4 0,068 58,82

16 50 0,77 64,94

17 59 0,76 77,63

18 28 0,84 33,33

19 42 0,78 53,85

20 - - - Fonte: Vigilância sanitária, 2005 e levantamento de campo, 2007.3

3 A confecção das tabelas e o levantamento de campo contou com a participação do aluno Bruno do Curso de Engenharia Civil pela FUNEDI-UEMG, em 2007.

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ANEXO G – FORMULÁRIO REGISTRO PESQUISA DE CAMPO PRAÇA DOM CRISTIANO (continua) Dia: 1 - Perfil do usuário lazer Idade Escolaridade O que faz Onde nasceu Porque veio morar aqui Qual o bairro que mora 2 – Freqüência dos usuários na Praça Quando vem à Praça Quantas vezes por semana? Mês?

Qual o horário que vem ao local?

Qual o dia da semana que prefere vir?

Por quê? Para quê? 3 – Uso da Praça Quais as atividades que desenvolve no local?

Quando vem à Praça, interage com os outros ou prefere ficar só?

Qual o local mais agradável de ficar? Por quê?

Quais os elementos que mais utiliza na Praça?

Para você, quais os locais mais bonitos de estar?

O que mais te chama a atenção neste local?

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ANEXO G – FORMULÁRIO REGISTRO PESQUISA DE CAMPO PRAÇA BENEDITO VALADARES (conclusão) Dia: 1 - Perfil do usuário Moradora do entorno Idade Escolaridade O que faz Onde nasceu Por que veio morar aqui Qual o bairro que mora 2 – Freqüência dos usuários na Praça Quando vem à Praça Quantas vezes por semana? Mês?

Qual o horário que vem ao local?

Qual o dia da semana que prefere vir?

Por quê? Para quê? 3 – Uso da Praça Quais as atividades que desenvolve no local?

Quando vem à Praça, interage com os outros ou prefere ficar só?

Qual o local mais agradável de ficar? Por que?

Quais os elementos que mais utiliza na Praça?

Para você, quais os locais mais bonitos de estar?

O que mais te chama a atenção neste local?

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ANEXO H – DELIMITAÇÃO DO ENTORNO DO CASARÃO DA PRAÇA DA MATRIZ – DOSIÊ DE 2007

FIGURA 61 – Delimitação do entorno do Casarão da Praça da Matriz. Escala 1: 10004

Fonte: SEPLAN, 2007.

4 Base cartográfica de referência: Restituição de levantamento aerofotogramétrico executado em Junho de 1999, por Esteio-Embrafoto, sob encomenda da Prefeitura Municipal de Divinópolis.

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ANEXO I – RECORTE LEI DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE DIVINÓPOLIS, no. 2.418 DE 1988 CAPÍTULO III

“Art. 8º A zona residencial subdivide-se em: I – Zona Residencial 1(ZR 1) II – Zona Residencial 2 (ZR 2) III – Zona Residencial 3 (ZR 3) Parágrafo 2º A ocupação dos lotes na ZR-1 obedecerão aos seguintes parâmetros:

a – altura máxima, no lado da rua, definida por um plano com inclinação de 65(sessenta e cinco graus) sobre a horizontal, passando a 6(seis) metros de altura na sua interseção com o plano de alinhamento da face oposta da rua, conforme anexo 5 desta Lei. Quando se trata de edificação diante de praças, parques e outros equipamentos públicos similares, a largura corresponderá ao dobro da distância compreendida entre o eixo da caixa de rolamento da via fronteira à edificação e o alinhamento do respectivo terreno;

b – altura máxima nas laterais definida por um plano com inclinação de 60º (sessenta graus) sobre a horizontal, partindo de 12,5(doze e meio) metros de altura, na sua interseção com o plano que passa pelos alinhamentos divisórios(anexo 5);

c – recuos de fundo de acordo com os seguintes parâmetros: 1 – para construções com altura máxima de 6(seis) metros e ocupação de

0,7(sete décimos) do terreno, o afastamento pode ser nulo ou, no mínimo, de 1,5(um e meio) metro da divisa. Os seis metros serão medidos a partir do nível médio do terreno natural, considerando-se tanto o perfil do terreno, segundo a divisa dos fundos (anexo 5);

2 – para construções com altura superior a 6 (seis) metros, o afastamento será de 12% (doze por cento) da profundidade média do lote;

3 – em lotes de esquina, o afastamento de fundo será tomado com relação ao logradouro principal, considerando-se como tal aquele de maior largura da caixa. No caso de logradouros de mesma largura de caixa, o principal será definido a critério do autor do projeto;

d – a taxa de ocupação máxima na ZR 1(Zona Residencial Um) será de 72%(setenta e dois por cento), exceto para o pavimento com uso exclusivo de garagem, que poderá ocupar até 100%(cem por cento) do terreno em qualquer nível.

Parágrafo 3º - a ocupação dos lotes na ZR 2 (Zona Residencial Dois) obedecerá aos seguintes parâmetros:

a – a altura máxima das construções será de 3(três) pavimentos, não sendo computados o pavimento usado exclusivamente como garagem e/ou pilotis. No caso do pavimento destinado à garagem localizar-se no subsolo, a altura máxima poderá ser de 4(quatro) pavimentos mais o subsolo;

b – aplica-se a esta zona o que dispõem os itens b e c do parágrafo anterior. c – a taxa de ocupação máxima permitida para a ZR 2 será de 75%(setenta e

cinco por cento), exceto para o pavimento com uso exclusivo de garagem, que poderá ocupar até 100%(cem por cento) do terreno em qualquer nível.[...]

Art. 10º A zona Comercial(ZC) fica subdividida em: a – Zona Comercial 1 (ZC 1) b – Zona Comercial 2 (ZC 2)

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c – Zona Comercial 3 (ZC 3) d – Zona Comercial 4 (ZC 4) Parágrafo 1º Os usos permitidos na zona de que trata este artigo serão definidos

na tabela “A”, constante do anexo 1 desta Lei. Parágrafo 2º A ocupação dos lotes na ZC 1 obedecerá aos seguintes parâmetros: a – a altura máxima permitida observará o disposto na letra “a” do parágrafo 2º

no art 8º desta Lei; b – a taxa de ocupação máxima nesta zona será de 100%(cem por cento) para o

subsolo quando utilizado como garagem e para o primeiro pavimento quando de uso exclusivamente comercial. Para os demais pavimentos, a taxa de ocupação será de 70%(setenta por cento).

Parágrafo 3º A ocupação dos lotes na ZC 2 e ZC 3 obedecerá aos seguintes parâmetros:

a – a altura máxima permitida será de 6(seis) pavimentos, não sendo contabilizados os pavimentos utilizados exclusivamente como garagens, para atividades de uso comum(playground) e cobertura(duplex);

b – a taxa de ocupação máxima nesta zona será de 100%(cem por cento) para o subsolo quando utilizado como garagem e para o primeiro pavimento, quando de uso exclusivamente comercial. Para os demais pavimentos, a taxa de ocupação máxima será de 70%(setenta por cento).

Parágrafo 4º A taxa de ocupação em todas as Zonas Comerciais, para Uso Não Residencial, em qualquer pavimento, será de 85%(oitenta e cinco por cento);

Parágrafo 5º A taxa de ocupação nas Zonas Comerciais, em qualquer pavimento, para uso exclusivo de garagem, poderá ser de até 100%”5

5 DIVINÓPOLIS. Lei n. 2.418 de 1988, p. 2-4.