A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    1/18

    A C ASA SENHORIAL 

    em Lisboa e no Rio de Janeiro:

    Anatomia dos Interiores

    Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta

      Coordenação

    Instituto de História da ArteFaculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa

    Escola de Belas ArtesUniversidade Federal do Rio de Janeiro

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    2/18

    A C ASA SENHORIAL em Lisboa e no Rio de Janeiro:

    Anatomia dos Interiores

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    3/18

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    4/18

    Coordenação

    Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta

    FCT (PTDC/EAT-HAT/112229/2009)

    Instituto de História da Arte

    Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa

    Escola de Belas Artes

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    2014

    A C ASA SENHORIAL em Lisboa e no Rio de Janeiro:

    Anatomia dos Interiores

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    5/18

    Coordenação

    Isabel M. G. Mendonça

    Hélder Carita

    Marize Malta

    Edição conjunta

    Instituto de História da Arte (IHA) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

    da Universidade Nova de Lisboa

    ISBN: 978-989-99192-0-4

    Escola de Belas Artes (EBA) – Universidade Federal do Rio de Janeiro

    ISBN:

    © Autores e IHA

    Os artigos e as imagens reproduzidas nos textos são da inteira responsabilidade dos seus autores.

    ISBN: 978-989-99192-0-4

    (Universidade Nova de Lisboa)

    ISBN: 978-85-87145-60-4

    (Universidade Federal

    do Rio de Janeiro)

     A Casa Senhorialem Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores

    Design gráfico:

     Atelier Hélder Carita

    Secretariado:

     Lina Oliveira

    Tiago Antunes

    Depósito legal:

    383142 / 14

    Tipografia:

     Norprint 

    Tiragem:

    300 exemplares

    LISBOA – RIO DE JANEIRO 2014

    Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia,

    no âmbito do projecto com a referência EAT-HAT.112229.2009.

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    6/18

    7ÍNDICE

    Í  NDICE 

    MECENAS E ARTISTAS. VIVÊNCIAS E RITUAIS

    Cátia Teles e Marques

    Os paços episcopais nos modelos de representação protagonizados por bispos danobreza no período pós-tridentino em Portugal

    Daniela Viggiani

    “L’ Abecedario Pittorico” de Pellegrino Antonio Orlandi

    Celina Borges Lemos

    André Guilherme Dornelles Dangelo

    Solar “Casa Padre Toledo”: o bem cultural como uma conjunção ritualísticade espaços e tempos limiares

    Miguel Metelo de Seixas

    O uso da heráldica no interior da casa senhorial portuguesa do Antigo Regime:

    propostas de sistematização e entendimento

    ARQUITECTURA, ESTRUTURAS E PROGRAMAS DISTRIBUTIVOS

    Isabel Soares de Albergaria

    O Palácio dos Câmara “aos Mártires” – um caso excecionalda opulência seiscentista

    João Vieira Caldas

    Maria João Pereira Coutinho

    O Nome e a Função: Terminologia e Uso dos Compartimentosna Casa Nobre Urbana da Primeira Metade do Século XVIII

    Hélder Carita

    O Palácio Ramalhete, nas Janelas Verdes: uma tipologia de palacete pombalino

    Ana Lúcia Vieira dos SantosFormas de morar no Rio de Janeiro do século XIX: espaço interiore representação social

    18

    44

    64

    86

    112

    134

    190

    208

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    7/18

    A CASA SENHORIALEM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO8

    Mariana Pinto da Rocha Jorge Ferreira

    Tiago Molarinho Antunes

    O Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Junqueira:

    análise do conjunto edificado

    José Pessôa

    Padrões distributivos das casas senhoriais no Rio de Janeirodo primeiro quartel do século XIX

    José Marques Morgado Neto

    As Casas Senhoriais da Belém colonial entre os séculos XVIII e XIX: sob a pers-

    pectiva dos relatos de viajantes, da iconografia da época e da remanescênciano centro histórico da cidade

    Gustavo Reinaldo Alves do Carmo

    O Palácio das Laranjeiras e a Belle Époque no Rio de Janeiro (1909-1914)

    Patrícia omé Junqueira SchettinoCelina Borges Lemos

    “O Palacete Carioca”. Estudo sobre a relação entre as transformações da arquite-tura residencial da elite e a evolução do papel social feminino no final do séculoXIX e início do século XX no Rio de Janeiro

    Felipe Azevedo Bosi

    Palácio Isabel: o Palácio do Conde e Condessa d’Euno Segundo Reinado brasileiro

    Paulo Manta Pereira

    A arquitetura doméstica de Raul Lino (1900-1918). Expressão meridionaldo Arts and Crafs, ou síntese local de um movimento artístico universaldo último terço de oitocentos

    A ORNAMENTAÇÃO FIXA

    Ana Paula Correia

    Memórias de casas senhoriais – patrimónios esquecidosSofia Braga

    Sobre a Sala Pompeia do Antigo Palácio da Ega

    224

    248

    272

    292

    318

    338

    346

    366

    382

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    8/18

    9ÍNDICE

    Cristina Costa Gomes

    Isabel Murta Pina

    Papéis de parede da China em Casas Senhoriais Portuguesas

    Ana Pessoa

    As Artes Decorativas no Rio de Janeiro do século XIX: um panorama

    Isabel Mendonça

    Estuques de Paris e “parquets” de Bruxelas num palácio oitocentista de Lisboa

    Isabel Sanson Portella

    Análise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet  dos Salõesdo Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete

    Alexandre Mascarenhas

    Cristina Rozisky 

    Fábio Galli

    A “Casa Senhorial” em Pelotas no século XIX: família Antunes Maciel

    Miguel Leal

    A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso

    Rosa Arraes

    A função social das decorações e seus ornatos dos palacetesna Belle-époque da Amazônia

    EQUIPAMENTO MÓVEL

    Maria João Ferreira

    Ecos de hábitos e usos nos inventários: os adereços têxteis nos interioresdas residências senhoriais lisboetas seiscentistas e setecentistas

    Marize Malta

    Sumptuoso leilão de ricos móveis... Um estudo sobre o mobiliário das casassenhoriais oitocentistas no Rio de Janeiro por meio de leilões

    404

    424

    444

    472

    482

    502

    516

    536

    562

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    9/18

    Isabel Sanson Portella. Pesquisadora de acervo do Museu da República- IBRAM/MinC 

    Doutora em História e Crítica da Arte UFRJ/EBA, pesquisadora de acervo do Museu da RepúblicaIbram/MinC, curadora da exposição Você conhece, vocé se lembra? Tá quente, tá frio . (Museu daRepública 20 de maio de 2011 a 20 fevereiro de 2012). Atualmente coordena a pesquisa Palácio NovaFriburgo: um sonho materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salõesdo Museu da República com o auxílio APQ1 da FAPERJ. [email protected] 

    Analise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet  dos Salões do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete

    O presente trabalho se refere aos estudos iniciais do Projeto Palácio Nova Friburgo: um sonho

    materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da

    República, que no ano de 2013 foi contemplado com um auxílio da FAPERJ. A partir do convite

    feito pela Dra. Ana Pessoa da Casa de Rui Barbosa a integrar o Projeto A Casa Senhorial em

    Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) no ano de 2012, o Museu da República vem

    desenvolvendo uma pesquisa sistemática de seus padrões decorativos.Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborado uma ficha catalográfica. Nesta

    analise preliminar foi realizada o preenchimento desta com: medições, localização, breve de-

    scrição dos pisos em parquet, imagens e uma análise de suas características. Esta pesquisa con-

    centra-se no diversos pisos e padrões diferenciados para cada salão do Palácio.

     

    Typological Analysis of Patterns in the Parquet  floors of Halls

    From Palace Nova Friburgo / Palace Catete

    e present work refers to the initial studies Palácio Nova Friburgo: um sonho materializado em

    pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República, which in 2013

    was awarded an aid FAPERJ decor. From the invitation by Dr. Ana Pessoa of Casa de Rui Barbosa

    to integrate the Project A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) in

    2012, the Museu da República has been developing a systematic study of their decorative patterns.

    In partnership with Casa de Rui Barbosa was draed one catalog entry. In this preliminary analysis of

    this filling was performed with: measurements, location, brief description of parquet floors, pictures

    and an analysis of its features. is research focuses on different floors and different for each Palaceroom standards.

    Resumo/Abstract 

    Palavras-chaveArquitetura

    século XIX,

    Elementos

    decoravos,

    PalácioNova Friburgo,

    Palácio do Catete,

    Parquets

    KeywordsNineteenth century

    architecture,

    Decorave arts,

    Palácio

    Nova Friburgo,

    Palácio do Catete,

    Parquet.

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    10/18

    A ORNAMENTAÇÃOFIXA 473

     A  história do Palácio do Barão de Nova Friburgo começou a ser traçada mais

    exatamente em maio de 1858, quando foram fincadas as primeiras pedrasque serviriam de alicerce à construção do edifício - o Palácio Nova Friburgo e/ou Palácio

    das Águias ou, como é mais conhecido, o Palácio do Catete, numa referência ao bairro em

    que está situado.

    Desde sua inauguração, época em que foi residência da família do Barão de Nova

    Friburgo, o Palácio do Catete era usado exclusivamente por seus proprietários e aberto

    apenas para convidados da alta sociedade. No período em que foi sede do Governo Federal

    era freqüentado por importantes figuras da política brasileira.Com a mudança da capital para Brasília, no ano de 1960, o Palácio do Catete deixa

    de ser sede oficial do Governo e se transforma em Museu da República, sendo desde então

    aberto ao público, tornando-se patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro. Durante os

    94 anos em que o acesso a seu interior foi restrito (de 1866 a 1960), este palácio, referência da

    arquitetura neoclássica pelo lado externo e eclética internamente, despertou fascínio, inveja

    e muita curiosidade por parte daqueles que podiam somente desfrutar da suntuosidade de

    sua fachada e apenas imaginar como seria aquele lugar que era tão próximo de todos, poréminacessível. Sua localização, na rua do Catete, centro residencial e de grande movimentação

    urbana na época, muito contribuiu para que estivesse ainda mais integrado ao cenário

    carioca, tornando-se parte proeminente da paisagem da cidade.

    A literatura brasileira está repleta de referências ao Palácio. Machado de Assis, em

    seu livro “Esaú e Jacó” (1904), dedica um pequeno capítulo ao prédio, demonstrando a

    admiração e reverência do povo:

     Ao passar pelo Palácio Nova Friburgo, levantou os olhos para ele com o desejo do costume, uma

    cobiça de possuí-lo, sem prever os altos destinos que o palácio viria a ter na República. Para Santos

    a questão era só possuí-lo, dar ali grandes festas únicas, celebradas nas gazetas, narradas na cidade

    Analise Tipológica dos Padrões dos

    Pisos de Parquet  dos Salões doPalácio Nova Friburgo/ Palácio do Catete

    Isabel Sanson Portella

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    11/18

    A CASA SENHORIALEM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO474

    entre amigos e inimigos, cheios de admiração, de rancor ou de inveja. A casa de Botafogo, posto

    que bela, não era um palácio, e depois, não estava tão exposta como aqui no Catete, passagem

    obrigada de toda a gente, que olharia para as grandes janelas, as grandes portas, as grandes

    águias no alto, de asas abertas. Quem viesse pelo lado do mar, veria as costas do palácio, os jardins

    e os lagos... Santos imaginava os bronzes, mármores, luzes, flores, danças, carruagens, músicas,

    ceias...1

     

    O desejo e o fascínio do personagem Santos  é um reflexo da importância dessa

    construção para o cenário carioca. E confirma a fala de Joaquim Nabuco que, em 1875,

    profetiza à Baronesa de São Clemente (esposa do filho mais velho do barão de Nova

    Friburgo) que aquele prédio ainda seria, “dentro de uns trezentos anos, objeto de estudos.” 2

    O Palácio do Catete manteve até os dias atuais em grande parte, seu aspecto

    original. Seus muros conseguiram preservar a atmosfera de toda história que carrega, se

    transformando numa espécie de cápsula do tempo. Isso o torna ainda mais interessante, se

    considerarmos que o bairro do Catete, assim como toda a cidade do Rio de Janeiro, sofreram

    profundas transformações com o passar dos anos. Intensificou-se ainda mais o contraste de

    sua arquitetura do período imperial com a configuração arquitetônica e urbanística atual.

    Num cenário bucólico repleto de pequenas chácaras e comércio ainda restrito, oportuguês Antônio Clemente Pinto adquiriu, em 1858, uma casa e um terreno de fundos

    que se estendia até a Praia do Flamengo. Sua intenção era construir uma residência na

    côrte, uma vez que sua ocupação com as fazendas de café o mantinha afastado, em Nova

    Friburgo. Anos mais tarde adquiriu mais duas casas contíguas que serviram para ampliar o

     jardim de sua residência.

    Encomendou ao arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt um projeto que,

    apresentado na Exposição Geral da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1862,ganhou a medalha de prata. Pode-se notar no projeto a nítida influência da arquitetura

    italiana, mais precisamente dos palácios urbanos de Florença do final do século XV e dos

    palácios de Veneza.

    Para a execução do projeto empregou artistas renomados como o escultor português

    Quirino Antônio Vieira, que confeccionou ornamentos e fachadas; Emil Bauch, pintor e

    gravador alemão, premiado em 1860 com medalha de ouro na Exposição Geral de Belas-

    Artes, a quem foram encomendadas várias pinturas decorativas, dentre elas um enormequadro do Barão e da Baronesa de Nova Friburgo; e o estucador português Bernardino da

    Costa, autor das portas do andar térreo.

    O material, quase todo importado da Europa, foi utilizado na construção dos três

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    12/18

    A ORNAMENTAÇÃOFIXA 475

    pavimentos que compõem o prédio. Assim como nos palácios florentinos, o primeiro

    piso era destinado a serviços gerais e primeiras recepções; no segundo, conhecido como

    piso nobre, luxuoso, colorido e exuberante, aconteciam as festas; e o terceiro abrigava os

    dormitórios e áreas reservadas à família.

    Algumas soluções típicas da arquitetura renascentista italiana foram aplicadas, como o

    cortille, ou pátio interno, arrematado ao alto por um grande vitral sob a clarabóia, de origem

    alemã, cujo desenho é de autoria do próprio Gustav Waehneldt. A circulação podia ser feita

    pelo corredor externo e não era necessário passar por dentro dos cômodos.

    A construção é impressionante. São três andares com cerca de 35 saletas, salas e salões,

    sem contar com as áreas de passagem. Um salão nobre dedicado a Apolo, uma capela, uma

    sala inspirada em Pompéia e outra no Palácio de Alhambra, todas carregadas de uma profusãode cores que apontam para o neoclassismo europeu. Para cada cômodo teria sido planejada

    uma decoração que harmonizasse com sua finalidade e fosse coerente com o restante da

    casa. O mobiliário desses ambientes também seguiria o mesmo propósito e cada centímetro

    de parede, chão e teto foi estudado e elaborado em minúcias decorativas. Não existe espaço

    para o vazio, para o branco existir. Como bem ressalta Marize Malta em seu livro Olhar

    decorativo, o autor Henry Havard, se refere, em 1884, ao horror ao vazio. Em L´Art dans

    La Maison, Harvard sublinha: “a decoração assim como a natureza têm horror ao vazio” 3.Nos salões ricamente decorados e com seus usos bem específicos distribuídos entre o

    andar térreo, o primeiro pavimento e o segundo pavimento, é possível fazer um levantamento

    dos tipos e padrões dos pisos em madeiramento existentes no palácio 4.

    Esta pesquisa concentra-se numa identificação e catalogação dos diversos pisos e

    padrões diferenciados para cada salão do térreo e do primeiro pavimento, mais conhecido

    como piso nobre do Palácio.

    Num primeiro momento identificamos os padrões dos pisos hidráulicos do Palácio5

     quando foram encontrados 58 tipos diferentes, sendo 14 em formato de “tapetes”. Dentre

    estes tapetes podemos destacar a águia do hall  central.

    Numa segunda fase de identificação e catalogação, os pisos em madeira foram

    analisados quanto à variação da cor natural da madeira e os diferentes motivos florais e/ou

    geométricos utilizados.

    No século XIX, a liberalização do comércio mundial e a influência dos costumes

    europeus no Brasil manifestam-se na arquitetura e demais artes. Com a chegada da MissãoFrancesa, em 1815, e a criação da Academia Imperial de Belas Artes, arquitetos estrangeiros

    e, fundamentalmente, artesãos imigrantes produzem uma importante modificação nos

    hábitos de construção, especialmente nas cidades onde as classes mais abastadas do litoral

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    13/18

    A CASA SENHORIALEM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO476

    mantêm contato permanente com a Europa. Novas técnicas e materiais importados se

    impõem paulatinamente.

    Num país que acabou sendo batizado com o nome de uma árvore, o uso da madeira

    foi largamente empregado. Por sua abundância e variedade, o material foi utilizado para os

    mais diversos fins na construção civil. A destinação da madeira para a construção naval foi

    um dos grandes atrativos tendo gerado uma regulamentação para o controle do corte dedeterminadas espécies, ficando estas conhecidas como Madeiras de lei.

    Os pisos mais correntemente empregados no Palácio do Catete são os de madeira e

    os ladrilhos hidráulicos. No caso das madeiras, as inovações estão relacionadas ao melhor

    aparelhamento das peças, alcançando um maior apuro formal e maior refinamento nos

    detalhes e encaixes (difunde-se o encaixe macho-e-fêmea), característica marcante deste fim

    de século XIX devido ao aparecimento das serrarias mecânicas. Estes refinamentos técnicos

    ampliam o leque de possibilidades formais, onde os pisos podem formar um sem númerode desenhos decorativos, auxiliando assim, na ornamentação dos ambientes internos, sejam

    eles em tabuado, parquets ou tacos. No decorrer do século XIX, utilizava-se com freqüência

    o pinho-de-riga, a peroba do campo ou o ipê, mas também madeiras como o jequitibá rosa

    e o pinho nacional, todas madeiras de lei.

    Já os parquets são compostos por pedaços de madeira de tamanhos e formas variadas

    formando desenhos de mosaicos, geométricos, estrelas, gregas, entre outros. Os tacos são

    constituídos por peças de madeira com forma retangular, uniformes, assentados um a um,em espinha de peixe, xadrez, entre outros motivos. Tanto os pisos tabuados, como os de tacos

    e  parquets, recebem normalmente em seu perímetro tabeiras, podendo ser estas formadas

    por madeiras de diversas colorações, conformando trechos atapetados no ambiente.

    Ilustração 1

    Detalhe do piso

    do Salão Ministerial.

    Ilustração 6

    Detalhe do piso

    da Sala dos Símbolos.

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    14/18

    A ORNAMENTAÇÃOFIXA 477

    Em sua origem, parquet  define um tipo de assoalho formado por partes de tamanhos

    e formas diversos, compondo uma espécie de mosaico formando desenhos simples ou mais

    elaborados. Parquet  vem da palavra “parc” e foi usada ainda na idade média para designar o

    local ao redor do estrado de madeira onde ficavam os magistrados do rei.

    Executados de diversas maneiras, o piso de tabuado em madeira corrida será encontrado

    nos diferentes cômodos entre os três pavimentos do Palácio.Na construção original da casa, as salas do primeiro pavimento tinham como função

    social o recebimento de visitantes, pequenas recepções do barão e o estar familiar. No Salão

    Ministerial  (Ilustração 1), encontraremos taboado de madeira corrido em duas cores.

    Na sala seguinte, que hoje é denominada de Sala dos Símbolos  (Ilustração 2) (símbolos

    republicanos) teremos o taboado de madeira em dois tons com trecho central em formato de

    estrela de cinco pontas em círculo.

    No primeiro pavimento, todo o piso será em taboado de madeira. Primeiramente, noSalão de  Banquete  (Ilustração 3), teremos o  parquet de madeiras em tons diversos com

    um padrão de estrela de oito pontas em composição lado a lado formando tapete único

    arrematado por tabeira em grega de motivos geométricos. No Salão Mourisco (Ilustração

    4), o parquet  de madeiras será em tons diversos com um padrão de quadrado com losango

    central em composição lado a lado, formando tapete único arrematado por tabeira em grega

    de motivos geométricos. No Salão Amarelo (Ilustração 5), teremos parquet  de madeiras em

    tons diversos, com padrão quadrado, com elementos que se desenvolvem de forma radialcom desenhos de flechas e folhas estilizadas, composição lado a lado formando tapete único

    arrematado por tabeira em pequenos círculos. No Salão Pompeano (Ilustração 6), teremos

     parquet  de madeiras em dois tons com padrão quadrado composto de quatro “cruzes” e

    Ilustração 3

    Detalhe do piso

    do Salão de Banquete.

    Ilustração 4

    Detalhe do piso

    do Salão Mourisco.

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    15/18

    A CASA SENHORIALEM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO478

    quadrado central; entre estes elementos estão faixas de ligação que dão um desenho geral

    de grelha. Composição lado a lado formando tapete único arrematado por tabeira lisa

    com quatro cantoneiras quadradas com desenho central geométrico, com soleira da porta

    com elemento central simétrico de motivo fitomórfico. Continuando o percurso das salas,teremos no Salão Azul  (Ilustração 7),  com  o  parquet  de madeiras em diversos tons com

    padrão composto de estrela de oito pontas. No centro, estes elementos estão em faixas de

    ligação que levam a um desenho geral de grelha, tapete único arrematado por tabeira com

    motivo em dois tons de madeira. Na Capela (Ilustração 8), o  parquet  de madeira está em

    dois desenhos de uma cruz e uma estrela de oito pontas, intercaladas com arremate de fitas

    entrelaçadas. O arremate em tabeira tem formato de grega. No Hall  dos Vitrais, o taboado

    liso de madeira tem dois tons formando tapetes quadrados de taboas em diagonal que seencontram em pequeno quadrado central e a tabeira é lisa. No Salão Nobre (Ilustração

    9),  o  parquet   de madeira está em dois padrões de estrela de quatro pontas com motivos

    decorativos diferenciados, o primeiro com motivos fitomórficos com flechas e folha estilizada

    e o segundo com um motivo fitomórfico. Entre as estrelas se destacam losangos de madeira

    em tom mais escuro. O tapete é arrematado por tabeira de motivos fitomórficos com volutas.

    A importância de se catalogar e estudar esses padrões não se dá apenas pela simples

     valorização estética dos belos motivos decorativos geométricos e/ou florais, mas pelosignificado de sua incorporação na arquitetura desta casa e pelo uso distintivo de sua

    aplicação nas moradias. Podemos também citar a importância de resgatar a técnica utilizada

    na confecção das padronagens e da colocação da madeira.

    Ilustração 5Detalhe do piso

    do Salão Amarelo.

    Ilustração 6

    Detalhe do piso

    do Salão Pompeano

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    16/18

    A ORNAMENTAÇÃOFIXA 479

    Ilustração 7 

    Detalhe do piso

    do Salão Azul.

    Ilustração 8 Detalhe do piso

    da Capela.

    Ilustração 9

    Detalhe do piso

    do Salão Nobre.

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    17/18

    A CASA SENHORIALEM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO480

    É possível assegurar, pela documentação, que se trata de madeira brasileira e resgatar a

    autoria dos pisos. Esta pesquisa, entretanto, ainda não foi concluída.

    A partir do levantamento das características, medidas e elementos da confecçãoconjuntamente com um estudo detalhado e a análise da documentação primária do Barão

    de Nova Friburgo, procuramos chegar à confirmação de dados mais precisos sobre a origem

    desses e outros materiais empregados nesta residência.

    A tipologia social do Palácio Nova Friburgo (Ilustração 10) segue as condicionantes

    sociais e ambientais de um programa que define os usos e tamanhos das diferentes peças

    da casa em função dos costumes e das possibilidades materiais e econômicas de seus

    moradores, nobres cafeicultores da monarquia brasileira. A arquitetura, como qualquer outramanifestação social, foi influenciada pelas contribuições portuguesas e de outros grupos que

    chegaram ao Brasil, constituindo um verdadeiro sincretismo arquitetônico, adaptado, no

    possível, às condições materiais e ambientais do país.

    Ilustração 10 

    Fachada do Palácio

    Nova Friburgo/

    /Palácio do Catete

  • 8/19/2019 A CASA SENHORAL - EM LISBOA E NO RIO.pdf

    18/18

    A ORNAMENTAÇÃOFIXA 481

    NOTAS

    1 ASSIS, Machado - Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994. Publicado originalmentepela Editora Garnier, Rio de Janeiro, 1904, p. 32-33.2 NABUCO, Joaquim - O Globo. Rio de Janeiro, 19/9/1875.3 MALTA, Marize - O Olhar Decorativo: Ambientes domésticos em fins do século XIX no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2011, p. 17.4  O presente trabalho refere-se aos estudos iniciais do Projeto Palácio Nova Friburgo: um sonhomaterializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República,que no ano de 2013 foi contemplado com um auxílio da FAPERJ. A partir do convite feito pela Dra.Ana Pessoa, da Casa de Rui Barbosa, para integrar o Projeto A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de

     Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) no ano de 2012 ,  o Museu da República vem desenvolvendo umapesquisa sistemática de seus padrões decorativos. Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa

    foi elaborada uma ficha catalográfica. Nesta analise preliminar foi realizado o preenchimento destacom: medições, localização, breve descrição dos pisos em  parquet , imagens e uma análise de suascaracterísticas.5 Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborada uma ficha catalográfica. Nestaanálise preliminar foi realizado o preenchimento desta com: medições, localização, breve descriçãodos ladrilhos, imagens e uma analise tipológica. Esta pesquisa concentra-se no emprego dos ladrilhose na construção dos mosaicos hidráulicos em toda a extensão do piso térreo do Palácio.

    BIBLIOGRAFIA

    ALMEIDA, Cícero Antônio F. de - 50 anos do Museu da República (con)tradições da memória

    republicana. In  Musas. Revista Brasileira de Museus e Museologia. Brasília: Instituto Brasileiro de

    Museus, nº 5, p. 196-209, 2011.

    Idem - Catete: Memórias de um Palácio. Rio de Janeiro: Museu da República, 1994.

    CZAJKOWSKI, Jorge (org) - Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de

    Arquitetura e Urbanismo, 2000.FRAGOSO, João - A Nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Rio

    de Janeiro (séculos XVI e XVII). In Revista de História, v. 1, nº 1, jan-dez, 2000. Programa de Pós-

    Graduação em História Social da UFRJ.

    Guia, Glória e Catete. Bairros do Rio. Rio de Janeiro: Fraiha, 1999.

    FOLLY, Luiz Fernando Dutra, OLIVEIRA, Luanda Jucyelle Nascimento, FARIA, Aura Maria Ribeiro

    - Barão de Nova Friburgo: impressões, feitos e encontros. Rio de Janeiro: UFRJ/EBA Publicações, 2010.

     Madeira na Arquitetura, Construção e Mobiliário. Associação Brasileira de Desenhistas de Interiores e

    Decoradores. São Paulo: Editora Projeto, 1988.MALTA, Marize - O Olhar Decorativo: Ambientes domésticos em fins do século XIX no Rio de Janeiro.

    Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2011.

    SILVA, Moema Ribas - Matérias de Construção. São Paulo: Pini, 1985.