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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 25, 26 e 27 de março de 2014 A CENTRAL DO CIDADÃO: A TRANSPARÊNCIA COMO FOMENTO AO CONTROLE SOCIAL JULIANA BOTELHO FOERNGES KAREN MARIA GROSS LOPES

A CIDADÃO A TRANSPARÊNCIA COMO FOMENTO AO CONTROLE SOCIAL · Informações ao Cidadão e do Catálogo de Dados Abertos, o Executivo gaúcho ... por conta da regulamentação e implementação

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 25, 26 e 27 de março de 2014

A CENTRAL DO CIDADÃO: A TRANSPARÊNCIA

COMO FOMENTO AO CONTROLE SOCIAL

JULIANA BOTELHO FOERNGES KAREN MARIA GROSS LOPES

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Painel 11/032 Transparência na Administração Pública: experiências e resultados

A CENTRAL DO CIDADÃO: A TRANSPARÊNCIA COMO FOMENTO

AO CONTROLE SOCIAL

Juliana Botelho Foernges Karen Maria Gross Lopes

RESUMO Passado um ano da regulamentação da ç (LAI) no governo do Rio Grande do Sul em conjunto com a implementação do Serviço de Informações ao Cidadão e do Catálogo de Dados Abertos, o Executivo gaúcho decidiu criar novas soluç es para aumentar a interaç , dar mais visibilidade ç capacitar . A forma encontrada para radicalizar a transparência foi por meio da construção de um novo posicionamento: . O novo portal do Governo do Estado, a “C C ” 1, cujo foco centrado nas pessoas, substitui o antigo “Acesso à Informação RS” úne várias formas de interferência e fiscalização direta da sociedade, ampliando o foco de trabalho com mais serviços, novas ferramentas de controle social e novas formas de interação e apresentação das informações. O Serviço de Informaç C incrementa novas aç . A política orientada a dados abertos permanece com o fomento à ampliação dos usos dos datasets e incentivo as ações da sociedade civil, como as maratonas hackers. Por conta da temática educação cidadã, é lançada a Cartilha Digital 2 , com informaç oferecidos para melhor exercer controle sobre os atos do Executivo, e também publicado um vídeo 3 explicativo sobre os serviços disponíveis na Central do Cidadão. Além C ç gráfica: o Mapa da Transparência4.

1 www.centraldocidadao.rs.gov.br

2 www.cartilhatransparencia.rs.gov.br

3 www.youtube.com/watch?v=0b1ugOC7_jU

4 www.mapa.rs.gov.br

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BASE CONCEITUAL

Para Naser e Concha (2012), na sociedade do conhecimento, os

organismos públicos estão pressionados por um cidadão que deseja participar das

decisões políticas, faz controle político dos governantes e exige maior transparência

dos investimentos e gastos públicos; uma sociedade que deseja saber em que e

como estão sendo gastos os recursos públicos e que resultados e impactos são

alcançados nos programas e projetos empreendidos pelo aparato estatal.

Dentro do paradigma do governo aberto, o Governo do Estado do Rio

Grande do Sul, vem implementando ferramentas e serviços que ampliam e

radicalizam a transparência, possibilitando que o cidadão possa acompanhar,

monitorar e fiscalizar as ações governamentais.

Um governo aberto estabelece uma constante conversação com os

cidadãos a fim de escutar o que dizem e o que demandam, toma decisões baseadas

nas necessidades e nas preferências da sociedade, facilita a colaboração dos

cidadãos e servidores no desenvolvimento dos serviços que presta, e comunica o

que decide de forma aberta e transparente. Além disso, constata que, atualmente,

existe consenso razoável que o governo aberto é uma evolução do nosso sistema

democrático, baseado em estabelecimento de mecanismos de transparência dos

governos, assim como espaços de colabopração e participação além do direito de

voto a cada quatro anos. (CALDERÓN, 2012)

DIAGNÓSTICO ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA CENTRAL DO CIDADÃO

Passado um ano da criação do Serviço de Informações ao Cidadão (SIC)

e do Catálogo de dados abertos, por conta da regulamentação e implementação na

LAI, no Governo do Rio Grande do Sul, o diagnóstico demonstrava que as

informações referentes à transparência governamental estavam publicadas de forma

pouco amigável e em uma linguagem de difícil compreensão para o cidadão comum,

grande parte por seu conteúdo técnico-legal e pelo formato de apresentação das

informações.

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Não existiam visões gráficas dos dados e informações governamentais,

especialmente no que tange a comparativos históricos de uso do recurso público,

que permitissem aos cidadãos entenderem a evolução do gasto público e as

prioridades definidas em cada uma das gestões governamentais.

Também não eram identificadas, de forma clara e centralizada, em uma

visão gráfica, as principais motivações que levavam ao uso do recurso público, tanto

na contratação de servidores públicos, na transferência de recursos para os

governos locais, quanto nas principais áreas, como educação, saúde, segurança

pública, etc.

Não eram disponibilizadas ferramentas efetivas de controle social, que

disponibilizassem dados e informações, para produção de conhecimento

necessários para articulação e engajamento cívico.

Não havia um acesso centralizado, em um único espaço virtual, que

possibilitasse o cidadão, o encaminhamento de suas manifestações para qualquer

órgão governamental, sejam de críticas, sugestões de melhoria do serviço público

ou referentes a denúncias de irregularidades com foco no enfrentamento à

corrupção e ações correcionais.

Não existiam ferramentas virtuais que promovessem a educação cidadã,

com foco na disseminação de conhecimentos e na formação por meio de conceitos

referentes à transparência na gestão pública, direitos individuais e coletivos, acesso

à informação, entre outros.

O cenário demonstrava uma necessidade urgente de formas inovadoras

de incremento da interação entre governo e a sociedade e, especialmente de

aumento da visibilidade e prestação de contas de informações dos atos

governamentais.

Era especialmente importante a incorporação de mecanismos de

colaboração da sociedade por meio de canais de ouvidoria e denuncias, de forma a

incorporar a opinião pública e feedback sobre a satisfação do serviço público.

Fazia-se necessário a redução do excesso da burocracia, coordenação e

redesenho de processos internos, especialmente os de relacionamento com a

sociedade, de forma a promover uma rede de atendimento aos pedidos de

informação, de forma ágil e um prazo eficiente.

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Também foi constatada a necessidade de articulação e estabelecimento

de parcerias com universidades a fim de captar conhecimento externo e prospectar

ideias inovadoras de apresentação e interação com a sociedade.

O desafio era grande, mas a coordenação centralizada e transversal de

políticas públicas de ética, controle público e transparencia, em um único órgão,

vinculado ao Governador, aliado à experiência bem sucedida da implementação da

LAI em um prazo exiguo, demonstravam que era possível gerar uma solução

inovadora e unificada de relacionamento com a sociedade local. A rigidez do

planejamento e na articulação transversal se tangebilizavam em fatores críticos de

sucesso do programa.

OBJETIVOS

A partir do diagnóstico, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por

meio da Subchefia de Ética, Controle Público e Transparência da Casa Civil em

parceria com a Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação –

PROCERGS, concebeu um programa cuja estratégia-foco para radicalização da

transparência governamental foi a construção de um novo posicionamento:

ica.

3 í “ ”

quais sejam: participação, transparência e colaboração e foi planejada e concebida

levando em conta os objetivos descritos abaixo.

Melhorar, de forma significativa, a forma de publicação de dados e

informações de prestação de contas governamental;

Implementar mecanismos inovadores de visualização dos dados que

permitissem, além da localização georeferenciada das ações

governemantais, a visão gráfica das decisões e resultados da ação

governamental;

Apresentar, de forma fácil e amigável, comparativos históricos dos

gastos públicos, nas diversas áreas do governo, de forma a dar

transparência especialmente às priorizações e motivações de cada

gestor governamental;

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Tratar de conceitos e conhecimentos necessários à cidadania para

entendimento da dinâmica governamental, ampliando a capacidade de

engajamento e controle social;

Criar mecanismos e processos, em uma rede de servidores públicos,

com foco principal no atendimento das demandas de informações

públicas e das manifestações da sociedade, reduzindo a burocracia e o

prazo;

Promover uma visão organizada e unificada do governo, dentro de um

conceito de governo único, que eliminasse a necessidade do cidadão

conhecer a estrutura organizacional interna, quando do

encaminhamento de seu pedido de informação ou manifestação;

Incrementar a publicação dos dados em formato aberto e processável

por máquina, permitindo a reutilização, pela sociedade, do grande

volume de dados do governo, especialmente na implementação de

novos serviços públicos eletrônicos por empresas privadas, de forma a

fomentar o desenvolvimento econômico local.

PRINCIPAIS DESAFIOS

Um obstáculo importante que teve que ser superado, durante a

implementação do novo Portal, foi a cultura clássica de sigilo da informação que por

muitos anos foi dominante na administração pública. Em alguns casos, os servidores

públicos, que produzem a informação, tinham a tendência de se sentirem proprietários

da informação pública e não guardiões dela. Também havia uma desconfiança em

relação ao uso que a sociedade faria do dado ou informação, já que poderiam ter

pouco conhecimento para interpretarem e gerarem novos conhecimentos.

Para mitigar este problema, várias ações foram realizadas focadas na

comunicação interna, mas principalmente ações de formação continuada por meio da

Rede Escola de Governo. A Rede tem parceria com várias universidades federais e

estaduais que possibilitam uma coordenação conjunta em ações de capacitação.

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Outro desafio enfrentado foi, em alguns casos, a inconsistência ou não

completeza das informações disponíveis nos sistemas de informação corporativos do

Governo. Isso porque, por vários anos, estas informações eram utilizadas somente

internamente. Uma abordagem adotada foi ampliar a transparência e, a partir do

feedback externo, qualificar a informação.

Um problema que tinha que ser solucionado era a formatação e criação de

uma forma inovadora, amigável e gráfica de apresentação das informações públicas

disponíveis para sociedade. A forma encontrada para superar este desafio foi a

parceria com universidades para construção das ferramentas a partir de referenciais e

conhecimentos externos.

Era necessário um grande esforço em redesenho de processos

organizacionais aliada a definição de uma nova matriz de responsabilidades a fim de

padronizar o novo paradigma do foco no cidadão.

NOVO POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO: BASE PARA SOLUÇÃO ADOTADA

O posicionamento estratégico adotado com o cidadão como centro da

gestão pública, em um contexto fundamentado nos princípios do governo aberto,

transformaram a forma clássica de atendimento e relacionamento com a sociedade,

no Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

A partir da premissa de foco único no cidadão, todas as inovações

implementadas adotaram este novo conceito, que radicaliza a prestação de contas e

“ ( )

( )”.

O objetivo principal foi a concepção e estruturação de um espaço único,

central e unificado, denominado Central do Cidadão, que concentra em um único

local virtual, os diversos serviços e ferramentas de prestação de contas e de

colaboração e controle social.

A figura 1 apresenta a interface visual do Portal Central do Cidadão.

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Figura 1 – Portal Central do Cidadão

Além dessa inovação, outra novidade é o ,

C

Servidores em uma forma diferenciada de apresentação em formato geolocalizado

do aplicados os recursos dos impostos. A figura 2 apresenta a interface

visual do Mapa da Transparência.

Fonte: PROCERGS. Disponível em http://www.centraldocidadao.rs.gov.br

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Segundo Marco Cepik (2013), Diretor de Centro de Estudos Internacionais

de Governo (CEGOV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):

Fonte: PROCERGS. Disponível em http://www.mapa.rs.gov.br

Figura 2 – Mapa da Transparência

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A Central do Cidadão é um grande desenvolvimento da ideia, não somente de um governo aberto, participativo, com controle público dos cidadãos sobre os gastos públicos, mas também de um conjunto de informações que são úteis para vida cotidiana do cidadão. Então, há uma evolução tecnológica que permite isso, mas também há decisão política, de abrir estas informações e não somente colocá-las a disposição do público, mas colocá-las ao público de uma forma compreensível e utilizável pelas pessoas comuns e não somente por especialistas.

MODELO DE IMPLANTAÇÃO

A implementação da estratégia teve 3 eixos principais: centralização das

ferramentas e serviços em uma central com foco no cidadão, inovação no formato

de apresentação das informações de transparência pública e transversalidade

intragovernamental.

No eixo 1, de centralização, o Portal Central do Cidadão5, foi a principal

ação para implementar o posicionamento do foco do cidadão. A Central foi projetada

de forma a facilitar a interação com o cidadão, em um lay-out e design intuitivo e de

fácil navegação.

Os 3 principais serviços, quais sejam: SIC – Sistema de Informações ao

Cidadão, Ouvidoria e Denúncias estão em destaque na página principal, uma vez

que eles concentram os principais canais onde o cidadão solicita informação pública

e manifesta suas opiniões ou denuncia irregularidades.

Por trás destes 3 serviços foram estruturados processos em rede e

sistemas de informação corporativos, que implementam o workflow interno, no

governo, sem necessidade do cidadão saber a qual órgão direcionar a sua

demanda.

O eixo 2, da inovação na prestação de contas, foi implementado

“M T ” 6. Concebida a

partir de parceria com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, traz um

formato inovador de apresentação gráfica e geolocalizada das informações públicas.

5 www.centraldocidadao.rs.gov.br

6 www.mapa.rs.gov.br

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Esta ferramenta recebeu o apoio do Instituto para o Governo Aberto do

Banco Mundial, como referência mundial em soluções de visualização e prestação

de informações públicas.

O eixo 3 – Transversalidade intragovernamental abrangeu várias ações

de organização interna do governo. Isso porque um dos fatores críticos de sucesso

do programa é a mudança estrutural que permita viabilizar o posicionamento do

cidadão no centro da gestão pública. Um fator crítico de sucesso foi a estrutura de

governança, que implementou uma rede de gestores locais que auxiliaram no

redesenho dos novos processos organizacionais necessários ao novo

posicionamento adotado.

Para implementação efetiva dos 3 eixos acima, uma etapa chave do

programa foi a definição de 4 GTs – Grupos de Trabalho, conforme descrito a seguir:

EIXOS/GTs ATRIBUIÇÕES

Institucional Define ações necessárias em termos de sistemas, processos e estrutura.

Normativo

Define normas necessárias para regulamentação da lei, incluindo as regras gerais de classificação da informação, processos e procedimentos gerais a serem adotados pelos órgãos.

Comunicação Trata as ações de comunicação interna e para sociedade.

Capacitação Trata das ações de formação, tanto nos dispositivos legais, quanto nas ferramentas de TIC.

Fonte: Elaboração própria das autoras.

Diversos técnicos do Estado foram envolvidos nos 4 Grupos de Trabalho

institucionalizados, oriundos de diversas áreas de conhecimento do governo. Os

técnicos da empresa pública de tecnologia da informação e comunicação, a

PROCERGS, tiveram um papel preponderante visto que boa parte dos resultados

eram obtidos por meio de ferramentas digitais. A infraestrutura tecnológica, no que

tange à hardware e software, também foi provida por aquela empresa estatal.

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ATORES DO PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO

A implementação da Central do Cidadão com suas ferramentas e serviços

teve a contribuição de vários atores, incluindo o Governo, parceria com Universidades

e sociedade civil.

Dentro do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a Casa Civil teve um

papel importante de coordenação politico-institucional. Também a PROCERGS –

Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Governo teve um papel

fundamental no que tange à coordenação tecnológica do Programa, envolvendo

questões de infraestrutura operacional e de desenvolvimento de sistemas. Outros

órgãos estratégicos de Governo, como a Secretraria Geral e a Secretaria de

Planejamento e Participação Cidadã, apoiaram nas questões de alinhamento

estratégico e na forma de atuação com a cidadania.

Boa parte das inovações foram concebidas com universidades, agregando

conhecimento externo que foi aplicado em ferramentas de transparência, prestação

de contas e controle social.

A sociedade civil, especialmente o W3C Brasil, organização não-

governamental, que desenvolve padrões e tecnologias para web, foi especialmente

importante na concepção e implementação da política de dados abertos.

Também a formatação de um Comitê Gaúcho de Dados Abertos com

grande representatividade da sociedade civil, possibilitou a agregação de novas

interfaces e demandas.

A interface com as Prefeituras do Estado, que repesentam as cidades, os

governos locais, também estão trabalhando em conjunto visto que a política de

transparência e de governo aberto deve ser replicada para outros níveis de governo,

de forma a atingir os cidadãos com as suas necessidades e demandas locais.

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BENEFÍCIOS DA INICIATIVA

Os resultados da Central do Cidadão trouxeram benefícios internos, para o

governo, e externos, para sociedade.

Os impactos externos foram resultado do objetivo principal planejado pelo

Programa, que foi colocar o cidadão como centro da gestão pública.

O Mapa da transparência, por exemplo, por ser um mecanismo inovador de

prestação de contas, impactou para melhoria significativa da transparência

governamental, no Estado do Rio Grande do Sul. E, por consequência, trouxe reflexos

no incremento da participação, colaboração e engajamento cívico.

O incremento dos pedidos de acesso à informação e das manifestações,

por meio dos canais virtuais específicos, geraram impacto na transparência ativa, ou

seja, melhorias na divulgação de informações governamentais de forma pró-ativa.

A publicação de dados governamentais em formato aberto trouxe um

impacto grande, principalmente na impresa local e na academia. Isso porque os

datasets no formato aberto e acessível por máquina, permitem uma análise e

interpretação bem mais facilitada, mesmo no caso de grande volume de informações.

A sua disponibilização em formato bruto, também beneficia o uso por conta do

potencial de reinterpretação e cruzamentos possíveis. Outro impacto importante

desses datasets é o fomento ao desenvolvimento local, visto que criam um

ecossistema econômico sustentável: uma empresa pode criar e gerar negócio por

meio da prestação de novos serviços públicos, a partir dos dadaos abertos.

Para Hernández (2012), a informação e os dados públicos abertos se

convertem em um recurso fundamental que permite ao mesmo tempo fortalecer o

sistema democrático e impulsionar a inovação e criação de valor.

Também a Cartilha Digital, como ferramenta de educação cidadã, gerou

uma difusão da cultura da transparência, especialmente no que tange à disseminação

de legislações e direitos cidadãos, tanto individuais, como coletivos.

A figura 3 apresenta a interface visual da Cartilha Digital.

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Figura 3 – Cartilha Digital da Transparência

Fonte: PROCERGS. Disponível em http://www.mapa.rs.gov.br

Outro benefício importante é a facilidade para acesso aos diversos canais

virtuais de manifestação pelo centralização em um único Portal. Isso gera

conveniência e melhor usabilidade para sociedade, eliminando a necessidade de

conhecimento da estrutura do governo. O encaminhamento, ao orgão governamental

responsável, do pedido de informação ou manifestação cidadã, deve ser tratado nos

processos internos do governo, por meio da rede de gestores locais, liberando o

cidadão deste ônus.

A implementação da iniciativa também gerou impacto internamente no

governo. Em muitos casos, as demandas externas da cidadania geraram impacto na

organização e estrutura interna do governo, visto que tem um reflexo direto nos

processos internos, uma vez que novas formas de relacionamento exigem novos

processos.

Além disso, novas funções tiveram que ser criadas, como por exemplo, o

gestor local de informação, que é um servidor público designado para atender as

demandas de acesso à informação referentes ao seu órgão, e, também atender as

demandas de sugestões e críticas ao serviço público prestado.

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RESULTADOS OBTIDOS

Abaixo, a figura 4, um infográfico com os principais resultados obtidos até

o momento com a implementação da Central do Cidadão, atualizados em fevereiro

de 2014.

Figura 4 – Infográfico com resultados da Central do Cidadão

Fonte: Elaboração própria das autoras.

A seguir os principais resultados obtidos com a implementação da Central

do Cidadão:

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Inovação na apresentação das informações

Um resultado importante do Programa foi a melhoria significativa na

visualização das infomações. Os diversos tipos de gráficos (tree maps,

rosca, barras) e as informações geolocalizadas, em uma ferramenta

digital, com design intuitivo e interativo são o grande diferencial da

solução. O grande volume de dados e informações sob a guarda do

governo, devem ser publicados em uma linguagem acessível e de fácil

compreensão pela sociedade.

Aplicativos desenvolvidos pela sociedade por meio dos dados

abertos

A publicação de dados em formato aberto tem possibilitado que a

própria sociedade civil produza novas aplicações e serviços públicos.

Mais de 2 mil demandas de pedido de informação nas diversas

áreas governamentais

Desde o lançamento do serviço de acesso à informação pública, mais

de 2000 pedidos foram atendidos pelo governo. As demandas da

sociedade se relacionam a diversas funções de governo,

especialmente de segurança pública, saúde e educação. O governo

tem prazo legal para atendimento, podendo o andamento ser

acompanhado, pelo cidadão, pela internet.

Constituição de uma rede e estrutura de governança para

relacionamentro com os cidadãos

Ao disponibilizar diversos canais de interação com a sociedade, por

meio da Central do Cidadão, o Governo do Estado do Rio Grande do

Sul, teve que criar uma estrutura de governança centrada nos gestores

locais, em cada órgão. Esta rede de pessoas é que deu sustentação ao

atendimento dos pedidos de informação e manifestação oriundos dos

cidadãos. O sistema digital dava suporte tecnológico ao workflow, mas

parte dos procedimentos necessitam de conhecimento e inteligência

humana. Também esta rede foi fundamental para ampliação da

transparência ativa, pois à medida que a demanda chega, gera feedback

para novas possibilidades de publicação de informações públicas.

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Aumento do acesso ao Portal em 30 %

Após a concepção do Portal Central do Cidadão houve um incremento

de acessos em mais de 30% por conta dos novos canais de interação,

da facilidade de acesso e da centralização, em um formato de governo

único, totalizando mais de 600.000 acessos ao Portal.

Promoção da implementação de políticas de transparência junto

aos municípios

O Programa RS Transparente, com formulário de adesão e material

completo, é um componente importante do Portal Central do Cidadão.

Como as capacitações, metodologia, modelo de implementação e

software são disponibilizados gratuitamente para os municípios,

facilitando a absorção pelas prefeituras.

Formação de servidores na temática de transparência e acesso a

informação

A capacitação de mais de 2.000 servidores e agentes sociais nos

conceitos de transparência, acesso a informação e controle social, por

meio de diversas modalidades, incluindo seminários, cursos a

distância, cursos de extensão, criam um ambiente interno onde o

conhecimento é compartilhado e internalizado.

SUSTENTABILIDADE E FACILIDADE DE REPLICAÇÃO

Uma forma importante de garantia de continuidade se dá por um conjunto

de marcos legais, que resultam em normativas que dão a estabilidade jurídica

necessária e regulamentam os procedimentos a serem adotados pela sociedade e

pelo governo. No caso da Lei 12.527 de 2011, a sua abrangência em nível nacional,

para todos estados e municípios brasileiros, incluindo o próprio governo federal, torna

mais perene a sua utilização.

Em especial o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio das leis

estaduais 13.601, 13.888 e 13.949, bem como, do decreto do Governador também

garantem a sustentabilidade e a perenidades dos direitos adquiridos.

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A sustentabilidade da solução tecnológica se dá pela coordenação técnica

do projeto ter sido conduzida por técnicos da PROCERGS, empresa pública de

tecnologia de informação e comunicação do Governo do Estado. A empresa, com

mais de 43 anos de atuação, suporta os processos de missão crítica, no

relacionamento com a sociedade, por meio de um DataCenter robusto e de uma

infraestrutura operacional com alta performance e segurança. Centraliza, também,

o catálogo dos dados abertos, acessável por aplicações e robôs em qualquer parte

do mundo.

A internalização de novos conceitos e de uma cultura de participação e

controle social, de forma que a sociedade já se apropriou dos diversos canais, torna o

processo difícil de ser extinto.

Com objetivo de replicar e fomentar que os í

e o controle social

de seus atos, o Governo do Estado criou um Programa denominado RS

Transparente, que visa apoiar a implementação da Lei de Acesso à Informação, por

meio do compartilhamento e transferência da estratégia e metodologia de

implantação, bem como, da solução tecnológica de suporte ao processo de

atendimento ao cidadão. Este programa é

inteiramente custeado pelo governo estadual, desonerando as cidades dos

custos necessários à consultoria e infraestrutura tecnológica.

O RS Transparente além de apoiar, de forma prática, o serviço de

atendimento a demandas de informações públicas, serve para disseminar a cultura

nos municípios do Estado.

O uso de software livre, de código aberto, nas ferramentas e no Portal da

Central do Cidadão, facilitam a replicação da solução tecnológica, permitindo que

outros governos possam estar se apropriando, internalizando e reutilizando a solução

adotada no Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma das principais lições aprendidas diz respeito à importância da

articulação com os diversos órgãos do Governo. A partir da definição de uma política

pública específica para transparência e controle social, há necessidade de ações

transversais conjuntas, e em rede, para viabilização dos mecanismos e processos. O

decreto governamental que criou os grupos de trabalho, que trabalharam nos planos

de ações específicos, foi de grande relevância. Por outro lado, a efetividade se deu

nas ações relativas à estrutura de governança propriamente dita, com a

implementação da rede de gestores locais.

Também, não menos importante, foi a articulação externa, especialmente

nas escutas realizadas, a partir das conferências regionais, onde os agentes sociais

puderam externar seus anseios e emitir feedback por meio de diretrizes específicas.

Outra importante prática adotada foi o uso intensivo de linguagem

acessível quando da prestação de contas e nas ferramentas disponibilizadas,

reduzindo os termos complexos do ambiente da gestão pública, pouco conhecidos e

dominados pelos cidadãos. A busca e o esforço contínuo pela melhoria da interface, a

tornando mais amigável e de fácil utilização sustentado por um design interativo, são

lições servem de recomendações para projetos futuros.

A prática tem demonstrado que esta nova era de transparência é

irreversível, e desafia o Estado democrático a absorver, cada vez mais tecnologias

para a promoção de informações públicas acessíveis aos cidadãos, e que garantem

direitos e o exercício efetivo do controle social. Também possibilita que se ampliem

as ações de engajamento cívico, traduzidos na ética do cuidado, que buscam fazer

com que a sociedade, na adesão de causas sociais, se torne parceiro na busca de

melhores soluções para todos.

Por conta disso, é importante ter presente a necessidade de

aperfeiçoamento contínuo dos serviços a partir da colaboração da sociedade e por

meio de mecanismos de co-criação cidadã.

Também é importante ampliar a transparência das ações finalísticas,

resultados da gestão. Ou seja, além da prestação de contas relativas aos gastos

públicos, com foco na eficiência, há necessidade de ampliação das informações

relativas a efetividade da execução da política pública, especialmente por meio de

indicadores sociais, que permitam o acompanhamento pela sociedade.

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REFERÊNCIAS

CALDERÓN, César. Por qué un Gobierno Abierto. In: El Desafío Hacia el Gobierno Abierto em la hora de la igualdad, Santiago do Chile, p. 27, 2012.

CEPIK, Marco. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=avyJR6ul_5M>. Acesso em: 21 fev 2014.

HERNÁNDEZ, Patricia. Tendencias y primeiros resultados de países a la vanguardia. In: El Desafío Hacia el Gobierno Abierto em la hora de la igualdad, Santiago do Chile, p. 49, 2012.

OGP. Disponível em < http://www.cgu.gov.br/governoaberto/a-ogp/como_Funciona.asp>. Acesso em 15 fev 2014.

NASER, Alejandra; CONCHA, Gastón. Panorama de Gobierno Electrónico em la región: resultados e impactos. In: El Desafío Hacia el Gobierno Abierto em la hora de la igualdad, Santiago do Chile, p. 11, 2012.

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AUTORIA

Juliana Botelho Foernges – Casa Civil do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Endereço eletrônico: [email protected]

Karen Maria Gross Lopes – PROCERGS.

Endereço eletrônico: [email protected]