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A cidade pelos olhos do pintor: memória e representação de Santos em Benedito Calixto entre 1890 e 1927. ANA KALASSA EL BANAT 1 “Desse modo, nada do que diz respeito a Aglaura é verdadeiro, contudo permite captar uma imagem sólida e compacta da cidade, enquanto os juízos esparsos de quem vive ali alcançam menos consistência. O resultado é o seguinte: a cidade que dizem possui grande parte do que é necessário para existir, enquanto a cidade que existe em seu lugar existe menos. [...] E mesmo para mim, que gostaria de conservar as duas cidades distintas na mente, não resta alternativa senão falar de uma delas, porque a lembrança da outra, na ausência de palavras para fixá-la, perdeu-se”. (CALVINO, 1990: 65, 66) Resumo Ao escrever sobre as pinturas de Benedito Calixto que retratam a Santos da virada do século, Milliet descreveu os estados de recordação e esquecimento que permeiam essas imagens: "As pinturas de Calixto são testemunhos de um momento de transição... A precisão no registro de vistas onde a arquitetura comparece, de panorâmicas das cidades e seus confins, de paisagens litorâneas, remete a um passado recente, revelando cenários hoje quase irreconhecíveis. Com estranhamento vemos estes quadros como são vistos retratos de infância, como lugares revisitados após longa ausência, como relatos de avós". (MILLIET In: Benedito Calixto, 1990: 19). Essa relação entre memória e esquecimento também é destacada por Beatriz Sarlo que chama a atenção para a necessidade do “documento capaz de dar à memória pelo menos a mesma força do esquecimento: o documento que se imponha como pilar da memória e que a memória tende, inevitavelmente, a rejeitar. Com efeito, a história dos historiadores e a história presente na memória coletiva são distintas...”. (SARLO, 1997: 41). Assim foi com a imagem ordenada pela pintura, com suas qualidades de superfície límpida, ordenação plausível, cores harmônicas, iluminação difusa, seus esquecimentos... Em sua materialidade e permanência, essa cidade representada concede à cidade do passado uma existência mais real que a dos próprios acontecimentos, ganhando legibilidade e legitimidade, sendo incorporada à memória coletiva e ao imaginário social da 1 Professora das universidades UNISANTA - Universidade Santa Cecília e UNIMES - Universidade Metropolitana de Santos. Doutora em História Social.

A cidade pelos olhos do pintor: memória e representação de ... · Resumo Ao escrever sobre as pinturas de Benedito Calixto que retratam a Santos da virada do ... apesar de tentarem

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A cidade pelos olhos do pintor: memória e representação de Santos em

Benedito Calixto entre 1890 e 1927.

ANA KALASSA EL BANAT1

“Desse modo, nada do que diz respeito a Aglaura é verdadeiro, contudo permite captar uma imagem sólida e compacta da cidade, enquanto os juízos esparsos de quem vive ali alcançam menos consistência. O resultado é o seguinte: a cidade que dizem possui grande parte do que é necessário para existir, enquanto a cidade que existe em seu lugar existe menos. [...] E mesmo para mim, que gostaria de conservar as duas cidades distintas na mente, não resta alternativa senão falar de uma delas, porque a lembrança da outra, na ausência de palavras para fixá-la, perdeu-se”. (CALVINO, 1990: 65, 66)

Resumo

Ao escrever sobre as pinturas de Benedito Calixto que retratam a Santos da virada do

século, Milliet descreveu os estados de recordação e esquecimento que permeiam essas

imagens: "As pinturas de Calixto são testemunhos de um momento de transição... A

precisão no registro de vistas onde a arquitetura comparece, de panorâmicas das cidades

e seus confins, de paisagens litorâneas, remete a um passado recente, revelando cenários

hoje quase irreconhecíveis. Com estranhamento vemos estes quadros como são vistos

retratos de infância, como lugares revisitados após longa ausência, como relatos de

avós". (MILLIET In: Benedito Calixto, 1990: 19). Essa relação entre memória e

esquecimento também é destacada por Beatriz Sarlo que chama a atenção para a

necessidade do “documento capaz de dar à memória pelo menos a mesma força do

esquecimento: o documento que se imponha como pilar da memória e que a memória

tende, inevitavelmente, a rejeitar. Com efeito, a história dos historiadores e a história

presente na memória coletiva são distintas...”. (SARLO, 1997: 41). Assim foi com a

imagem ordenada pela pintura, com suas qualidades de superfície límpida, ordenação

plausível, cores harmônicas, iluminação difusa, seus esquecimentos... Em sua

materialidade e permanência, essa cidade representada concede à cidade do passado

uma existência mais real que a dos próprios acontecimentos, ganhando legibilidade e

legitimidade, sendo incorporada à memória coletiva e ao imaginário social da

1 Professora das universidades UNISANTA - Universidade Santa Cecília e UNIMES - Universidade Metropolitana de Santos. Doutora em História Social.

cidade. Nosso objetivo é tirar essas imagens de sua posição homogênea retirando-as de

seu contexto habitual, tratando-as como fragmentos de um discurso proposto por um

sujeito: Benedito Calixto, sobre um lugar: Santos, num determinado momento histórico:

entre 1890 e 1927, espaço/tempo de construção de uma modernidade. Com isso,

procuramos vislumbrar como as mudanças ocorridas na cidade serão vividas,

preservadas e representadas, “gravadas no íntimo do sujeito”( BOLLE. 1994: 26),

ganhando forma em suas obras. Nos conflitos do homem que vivenciou a cidade

registrando-a sob muitas formas, procuramos entrevê-la. Seus panoramas ora focalizam

a cidade que se transforma diante dos seus olhos, ora busca os indícios de uma cidade

que já não existe mais. Mais do que apontar oposições queremos desconstruir essas

polaridades, buscando novas significações.

Introdução

Durante as três últimas décadas do século XIX e três primeiras do século

XX a cidade de Santos foi insistentemente registrada por diferentes meios expressivos

como a pintura, a fotografia e a cartografia, atingindo seu ápice com a febre dos cartões

postais.

Nesse mesmo período Santos vivenciou seu momento econômico mais

importante, graças à economia do café e passou por grandes intervenções urbanísticas

que redesenharam seu espaço e afirmaram seu caráter urbano e de porta de entrada para

o país. Esse panorama ampliou o significado dessas imagens como testemunhas do

processo pelo qual parte da cidade desaparece enquanto uma nova surge, sobre a

anterior. Entre os autores dessas imagens estiveram fotógrafos como Militão de

Azevedo e o pintor Benedito Calixto. Esse último mereceu destaque por ser um criador

de panoramas com atmosferas requintadas pela qualidade da luz.

Entre as imagens de Santos dessa época podemos perceber a forte presença

das edificações ecléticas, marcas da elite cafeeira; a construção do porto, com

enquadramentos pontuados pela presença de objetos ligados às novas técnicas

construtivas; as cenas de ruas e praças marcadas pela existência de populares, onde

percebemos o interesse pelas casas comerciais e pelo movimento urbano; as imagens

que têm o mar como pano de fundo e o humano está ausente; os panoramas com seus

horizontes largos que, apesar de tentarem abarcar toda a cidade com um só olhar, dela

se distanciam, escondendo suas mazelas e ainda os mapas com seus traçados regulares,

perfeitos em seus desígnios para a cidade numa ordenação idealizada que pressupõe um

controle só possível no papel.

Nessas superfícies podemos ver muitas cidades, algumas contraditórias,

umas gloriosas, outras nem tanto, expressões de tempos em suspensão... O que parece

permanecer entre os vazios de umas e outras são certas ausências. Aquilo que está sendo

eliminado pelo processo de urbanização e saneamento parece não causar interesse. As

doenças e o movimento sujo do porto, a miséria dos imigrantes, a escravidão e os forros

que não encontraram espaço na cidade urbanizada, os cortiços e outros aspectos da

degradação da cidade estão distantes.

Enquanto imagens, todas são a cidade real em sua essência dinâmica e

fugaz, só possível de ser apreendida parcialmente, imersa em possibilidades porque seus

significados não se esgotam. Elas congregam projetos complexos de diversas naturezas:

artística, material, histórica, comercial, tecnológica, cognitiva, cultural, política etc,

renovando tudo aquilo que comporta cada uma dessas naturezas em combinações que

são constantemente atualizadas pelos acontecimentos da própria vida de que ela é

revestida, em um movimento incessante.

Esses registros paralisaram por um instante efêmero esse movimento de

mutação da cidade dando-lhe testemunho e permitindo uma aproximação às suas

qualidades que, de outra maneira, seria impossível. Impregnando-a de valores num

processo de seleção, organização e materialização de idéias que difundiu o novo

desenho da cidade e veiculou um imaginário urbano em modificação. Essas formas de

discurso e de visualidade transformaram a cidade em informação e conhecimento de sua

própria e constante recriação, enfatizando sua ontologia.

A cidade pelos olhos do pintor

O pintor Benedito Calixto foi também escritor, historiador e fotógrafo, e em

todos esses domínios a cidade foi sua temática central, mais que isso, foi quase sua

obsessão. Sua ação cuidadosa em busca de vestígios para a reconstituição da cidade (o

primeiro mapa da cidade colonial foi desenhado por ele) se confunde com sua busca de

reconhecimento artístico e, por vezes, esses campos de ação se misturam, se

interpenetram e colorem as representações da cidade com novas tintas.

O pintor Benedito Calixto é talvez o mais reconhecido dos artistas que

atuaram no litoral paulista, e que dele são originários. Sua obra é composta por pinturas

que apresentam cenas históricas, retratos de personalidades e figuras históricas e

regionais, imagens religiosas, painéis decorativos e vistas das cidades de Santos, São

Vicente, Itanhaém e outras, incluindo também as cenas que retratam a São Paulo do

século XIX e da virada do século XX. Entretanto, o aspecto maior de sua obra, sem

dúvida se concentra nas paisagens e marinhas do litoral paulista.

O valor pictórico de suas imagens foi sempre muito questionado, sendo mais

reconhecido como um documentarista do que como um pintor original. Entretanto, o

tratamento concedido à luz que banha essas cenas marítimas fez dele um criador de

atmosferas, ainda que só tardiamente reconhecido.

Benedito Calixto fez, através da paisagem, uma cartografia íntima, espelhada

na relação romântica com a natureza, como bem destacou o artista Evandro Carlos

Jardim em seu texto para a exposição retrospectiva de Calixto na Pinacoteca de São

Paulo:

A iconografia de Benedito Calixto e seu significado plástico, mensagem

estudiosa e sensível, entre as representações do que existe e uma

luminosidade interior raramente percebida. No relato imaginário, a tentativa

de apreende-la em sua força e meio; na simplicidade erudita de seu caráter,

na eventual associação de imagens, e em fragmentos dispersos que acordam

os sentidos e animam a memória. (JARDIM In: BENEDITO CALIXTO –

Memória Paulista, 1990: 81, 82).

Por outro lado, o valor de representação fiel da cidade ou de seus personagens

tem sido cada vez mais questionado. Proporciona-se assim, uma oportunidade de

revisão de sua obra e mesmo dos conceitos de representação fiel de que foi revestida,

dos conceitos do que seria recriação e do valor dessas interpretações para o sentido que

se procura para a cidade.

A biografia de Benedito Calixto é bastante conhecida, contando com diversas

publicações, especialmente de artigos para os jornais locais2. Nasceu em Conceição de

2 Entre as publicações pode-se consultar os volumes: TEIXEIRA, M. Imortalidade; Memória Paulista – B. Calixto – Pinacoteca de São Paulo; Calixto, um pintor à beira-mar – Pinacoteca de Santos.

Itanhaém, em 14 de outubro de 1853, filho de João Pedro de Jesus e Anna Gertrudes

Soares, sendo batizado Benedito Calixto de Jesus.

Seu aprendizado na área de artes começou com o ofício de marceneiro, revelou

seu interesse pelas artes desde a infância, no gosto pelo desenho e na pintura de ex-votos

para a Igraja Matriz de Itanhaém, mas também recebeu formação musical, atuando como

músico militante na Banda Musical de Itanhaém. Entretanto, não seguiu carreira na

música.

Na adolescência viajou para Santos, procurando novas oportunidades.

Trabalhou como pintor de tabuletas e como pintor de decoração. Fez uma passagem

curta pelo interior de São Paulo e voltou para Itanhaém em 1877, quando se casou com

Leopoldina de Araújo. Depois disso passou uma curta temporada em Brotas, onde seus

três primeiros filhos nascem, mas não sobrevivem.

Quando retornou a Itanhaém teve mais três filhos, Fantina, Sizenando e

Pedrina. Dentre eles, Sizenando e Pedrina se dedicaram à pintura e o filho de Sizenando,

João Calixto de Jesus, seguiu a carreira do avô e foi professor de pintura na Escola de

Belas Artes de São Paulo.

O primeiro trabalho executado em Santos, em 1881, segundo depoimento seu3,

foram quatro medalhões com o tema de paisagens e marinhas do porto de Santos, para a

decoração do saguão de entrada do escritório comercial do Sr. Hygino Botelho de

Carvalho. Homem influente do partido conservador e pai do poeta Vicente de Carvalho,

de quem Calixto foi amigo.

A primeira exposição de Calixto, possivelmente, teve lugar numa das salas da

redação do jornal Correio Paulistano, em São Paulo, em 1881, mas sua primeira grande

oportunidade como pintor profissional surgiu com a encomenda das obras de decoração

do Teatro Guarani, primeiro teatro oficial da cidade de Santos, quando ele trabalhou para

a oficina de Tomáz Antônio de Azevedo. Para essa obra teria sido responsável pelas

pinturas decorativas, incluindo o pano de boca. Foi a partir desse trabalho que iniciou

seu contato com Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Visconde de Vergueiro, que lhe

ofereceu uma bolsa de estudos na França.

3 Artigo de Benedito Calixto sobre o poeta Vicente de Carvalho In: Benedito Calixto – um pintor a beira-mar, pg. 9.

Benedito Calixto seguiu em viagem de estudos à Paris em 1883. Seu destino

inicial era estudar com o pintor de tendência impressionista Jean François Raffaelli, mas

acabou por não se adaptar, optando por estudar na renomada Academia Julien,

possivelmente por conselho de Victor Meireles, que se encontrava em Paris nesse

mesmo momento. Durante a estadia na França teve a oportunidade de expor suas

pinturas na academia francesa e conviveu com os pintores Gustave Boulanger, Tony

Robert-Fleury, Jules Lefebvre e William Bouguereau4.

Calixto teria retornado ao Brasil em primeiro de agosto de1884, talvez

motivado por uma epidemia de febre na França de então. A partir de sua chegada da

Europa foi residir em Santos, fez diversas exposições e se organizou para viver

principalmente dos ganhos com a venda de quadros, apesar de atuar também como

professor5.

Na bagagem Calixto trouxe consigo um equipamento fotográfico completo,

com o qual montaria mais tarde seu estúdio. Retorna também da Europa com os estudos

em desenho feitos na academia e talvez com algumas pinturas menores, entretanto, sete

telas de sua produção realizada na Europa perderam-se no naufrágio do navio a vapor

francês Ville de Pará, em outubro do mesmo ano.

A principal exposição nesse período, logo após sua chegada, foi realizada no

edifício da rua General Câmara 149, onde expôs cerca de 45 pinturas entre temas

religiosos, temas acadêmicos, cenas de Paris e retratos, entre eles o de Antonio Militão

de Azevedo. Além disso, foram expostos 42 desenhos, estudos de modelo vivo,

realizados na academia6. Outras exposições de destaque ocorreram nos anos seguintes,

especialmente em casas comerciais, já que não havia em Santos espaços próprios para

esse fim. Em 1885 suas obras estiveram na casa Andrade & irmão e em 1886 nas casas

Eugênio e Ipiranga.

Entretanto, durante esses anos, uma fonte de renda de importância foi produção

de retratos por encomenda e no Indicador Santista de 1885 ele se faz anunciar como

4 Benedito Calixto, um pintor à beira-mar, pg. 11. 5 Trabalhou como professor de desenho no Colégio Azurara e nas escolas Tarquínio Silva, Liceu Feminino Santista e Escola de Comércio José Bonifácio, além de ministrar aulas no próprio ateliê. Benedito Calixto, um pintor à beira-mar, pg. 11. 6 Informações do arquivo do Sr. Jaime de Mesquita Caldas, onde também consta que 886 pessoas teriam visitado a exposição, 11 quadros teriam sido vendidos e um total de 449$500 foi arrecadado.

“retratista a óleo” com endereço à Rua Amador Bueno em Santos7. O mercado para arte

em Santos não era dos mais promissores, mesmo com a fomentação da cultura gerada

pela economia do café, e sua ação estendeu-se também, nos anos seguintes, a São Paulo.

Durante o período de 1890 e 1894 chegou a viver durante um período em São

Paulo, realizando muitas obras que têm a própria cidade como tema, incluindo as

imagens realizadas a partir de fotografias de Militão de Azevedo, dando também

continuidade a seu interesse pelo estudo e pela preservação do patrimônio histórico.

Quando retornou ao litoral, em 1894, fixou residência em São Vicente, onde

teria construído, em 1897, uma nova moradia equipada com um ateliê de pintura e onde

instalou também seu laboratório fotográfico com o equipamento que trouxe de Paris. Seu

ateliê fotográfico teria sido um dos primeiros em atividade nessa cidade.

Por todos esses anos o pintor manteve intensa atividade como profissional,

trabalhando principalmente sob encomenda. Sua atuação é principalmente regional, mas

também fez alguns trabalhos longe de casa, como na viagem à Belém do Pará em 1907,

tendo também recebido um prêmio nos Estados Unidos, medalha de ouro na Exposição

Internacional de St. Louis em 1904.

As encomendas de quadros religiosos e de temática histórica e documentarista

são os que lhe deram maior reconhecimento, mas a observação da natureza e os quadros

de paisagem e marinhas continuaram sendo parte importante de sua produção.

Fundação de São Vicente. 1900. Óleo sobre tela. 192 x 385 cm. Museu Paulista da Universidade de São Paulo.

7 Indicador Santista de 1885, pg. 421.

Fundação de Santos. 1922. Óleo sobre tela. 300 x 900 cm. Col. Museu dos Cafés do Brasil. Faz parte

do triptico que compõe a ornamentação da sala principal da Bolsa do Café de Santos.

Paralelamente a sua atividade como pintor, Benedito Calixto manteve um

intenso interesse pela história do litoral, especialmente de sua cidade natal, e dos

personagens que partilham dessa história. Seu interesse o levou a participar ativamente

do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo para cuja revista escreveu diversos

artigos8, além de publicar alguns livros9 e também de recolher dados sobre as

construções e os traçados das ruas de Santos que deram origem a um dos primeiros

mapas que tentam reconstituir seu processo de urbanização. Manteve também intensa

contribuição com os jornais locais publicando diversos artigos10.

8 Entre os artigos por ele escritos para a revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo estão: Os primitivos aldeamentos indígenas e índios mansos de Itanhaém, vol. X, 1905, pgs. 488/305, escrito em São Vicente em junho de 1902. Nesse trabalho Calixto teria cometido alguns enganos geográficos, citados por M. Pio correia na RIHGSP, vol. XI, pg. 155/156, com o título Índios do Itariri. A Vila de Santo André da Borda do Campo e a primitiva povoação de Piratininga, vol. XIII, pg. 209/227, escrito em São Vicente em julho de 1910. Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, vol. XIV, pg. 197/201. Escrito em São Vicente em 1907. A Vila de Santo André da Borda do Campo e a primitiva povoação de Piratininga. Vol. XV, pg. 253/263 (republicação). Apresenta uma foto de sua pintura Caminho de Piratininga. Escrito em São Vicente, em 1912. Bartolomeu de Gusmão, a sua época, o padre e a inquisição, a história e a lenda. Vol. XV, pg. 311/322. Escrito em Santos, novembro de 1912. Há um folheto de mesmo tema publicado em separado pela casa Garraux. São Paulo, 1912. Dois documentos sobre a sedição militar ou o “levante” do Primeiro Batalhão de Caçadores da Praça de Santos em 1821. Vol. XVII, pg. 461/467. Escrito em São Vicente, 7 de setembro de 1912. O Terceiro Centenário de Braz Cubas. Vol. XVIII, pg. 35/40. 1715-1915 - Segundo Centenário de Frei Gaspar. Vol. XX, pg. 249/290. Capitania de Itanhaém – Memória histórica. Vol. XX, pg. 401/742. Ilustrado com mapas, desenhos e fotos de suas pinturas. Escritos para a Revista do Museu Paulista constam ainda: Sambaquis de Itanhaém e Santos. Vol. VI. Pg. 490/518, 1904. E Notas de Arqueologia Paulista de 1918. Informações do Arquivo Jaime de Mesquita Caldas. 9 A Vila de Itanhaém – Segunda povoação fundada por Martin Afonso de Souza, Santos, Tipographia do diário de Santos, 1895; Memória e história sobre a Egreja e o Convento da Immaculada Conceição de Itanhaém, Santos, Tipographia São José, 1915; Capitanias Paulistas, São Paulo. Casa Duprat e Casa Mayença, 1927. 2ª Edição. 1924. Primeira Edição de 1924. 10 Entre sua colaboração nos periódicos destacamos: para o Jornal Vicentino de 3 de maio de 1900, comemorativo do IV Centenário do Descobrimento do Brasil, realizou toda a montagem artística, incluindo desenhos e artigos de sua autoria. Para o Diário de Santos realizou uma série de 7 artigos com o

Calixto manteve a atividade de pintor, trabalhando em constantes encomendas,

dos mais diversos tipos, até falecer, em São Paulo, em 31 de maio de 1927. Sua última

exposição foi realizada no mês de junho de 1926, no Teatro Coliseu de Santos, onde

apresentou principalmente cenas históricas. Deixou aproximadamente 1000 pinturas, um

acervo que até hoje não pode ser totalmente catalogado. Em Santos, num dos últimos

casarões que sobreviveram da pujança do café, instalou-se a Pinacoteca Benedito Calixto

que tem se empenhado em manter e valorizar suas obras e sua memória onde um centro

de documentação de sua obra foi instalado.

Benedito Calixto foi um pintor de alma romântica, não o romantismo histórico,

mas aquele que se manifesta como propensão pessoal e como uma forma de ligação à

cultura que ele almejava, e com esse espírito retratou a cidade em sua paisagem11.

Na formação do movimento romântico a natureza era acrescida da

sensibilidade do artista diante dela, impregnando-a de nostalgia, de um “sentimento do

tempo que passa”12, incluindo o gosto pelas ruínas e o sentido da história, mas refletindo

a escolha dos elementos por seu valor emocional. Por esses procedimentos o artista

transformava a paisagem em um território do tempo em suspensão e do que foi chamado

de “difusão da alma no vazio”13 .

Esses valores relacionados à passagem do tempo, a uma nostalgia do passado, a

uma ênfase na arquitetura como forma de estabelecer um elo com esse passado, a busca

pelos espaços de “vazio”, nos grandes perímetros de mar e nos horizontes distendidos de

céu, traçariam os elos que o ligariam a essa corrente estética.

A concepção de Calixto para o mar e as áreas de porto de Santos poderia ser

descrita como um “porto de luz”, devido à construção de atmosferas banhadas de efeitos

luminosos. Por esse processo de ênfase nas qualidades de luminosidade do ambiente ele

alcança uma visão diferenciada da cotidiana e se liga a uma longa tradição de artistas

tema “São Vicente dos primeiros tempos”, além de “Santistas Ilustres – O Padre Jesuíno do Monte Carmelo, uma reivindicação”, entre 25 e 28/10/1903. Arquivo do Sr. Jaime de Mesquita Caldas. 11 O termo romantismo aparece, desde o século XVII e, de início, é usado para estabelecer uma ligação com o mundo medieval, ganhando em seguida uma outra conotação: “a liberdade relativamente às regras, a livre fantasia estética que, da natureza, passa à apreciação crítica”. A amplitude desse termo foi sendo alargada, sendo a ele incorporados novos sentidos para designar, por exemplo, relações com o sonho, com o onírico, com o vago e com o maravilhoso. No século XVIII, Romantismo foi mais e mais se ligando a uma forma de reconhecer e interpretar a natureza. (CLAUDON: 7, 8). 12 Idem, p.14. 13 Idem, p. 16.

que lançaram seu olhar sobre as cidades amadas e delas retiraram um testemunho claro

e evocativo de lembranças, talvez mais por afinidade de espírito que por erudição14.

Maria Alice Milliet destacou a importância do aspecto de testemunho de sua

obra:

... as pinturas de Calixto são testemunhas de um momento de transição –

passagem do século XIX ao XX – quando neste Estado tem início o processo

de modernização ainda hoje em curso, gerador de transformações radicais

nas cidades, no campo e no litoral. A precisão no registro de vistas onde a

arquitetura comparece, de panorâmicas das cidades e seus confins, de

paisagens litorâneas, remete a um passado recente, revelando cenários hoje

quase irreconhecíveis. Com estranhamento vemos estes quadros como são

vistos retratos de infância, como lugares revisitados após longa ausência,

como relatos de avós. Tempo congelado em imagens surpreendentes na

constatação de que assim foi. (OLIVEIRA. In: BENEDITO CALISTO –

Memória Paulista, 1990: 19).

Entre seus procedimentos para a pintura de paisagem e também nas cenas

históricas tem papel de destaque o uso da fotografia, seja ela realizada por ele mesmo,

que foi um praticante dessa arte, ou tendo como base a fotografia de outros como no

caso da reconstituição iconográfica de São Paulo feita por Calixto a partir das imagens

de Militão de Azevedo. A fotografia foi para ele uma aliada, usada como forma de

estudo de composição, para preparação de posturas e para a organização dos

personagens que povoavam sua pintura.

14 Kenneth Clark, no seu “Paisagem na Arte”, organiza a paisagem em 7 formas de representação. Uma delas, denominada “A paisagem dos factos”, principiaria com o Renascimento e o uso da perspectiva como forma de organização principal do espaço. Entretanto ele enfatiza que a perspectiva não seria a base para o naturalismo dessas cenas, que dependem prioritariamente das relações de luminosidade e da atmosfera. Entre os artistas que deram continuidade a essa forma de pintura estão os pintores holandeses do século XVII, e os italianos Canaletto e Guardi, que influenciaram, de forma decisiva a arte do século XIX. (CLARK, paisagem na arte). No Brasil, essa forma de paisagem remete a atuação dos artistas que acompanharam Nassau, Post e Eckhout, passando pelos chamados pintores viajantes, mas estabelecendo-se definitivamente com a chegada da Missão Francesa. Entre os contemporâneos de Benedito Calixto na arte da paisagem estão Vitor Meireles, Georg Grimm, Gianbattista Castagneto e Antonio Parreiras.

Porto de Santos na década de 1910. Acervo particular de Benedito Calixto.

Porto e cidade de Santos vista do Itapema – datado de 1922. Óleo sobre tela, 37 x 64 cm. Coleção Augusto Carlos F. Velloso.

A fotografia foi uma importante referência para o artista, sendo usada

constantemente como forma de estudo de composição e registro de cenas que, no ateliê,

eram transformadas em pintura e, apesar do cuidado de documentarista, ele não se

prende a ela. Constantemente, fazia correções no desenho, especialmente no aspecto da

perspectiva que era alterada pela lente fotográfica. Também as cores tiveram de ser

acrescidas às referências fotográficas, mas para isso é provável que tenham sido tomadas

diante dos próprios originais, ainda que com uma distância temporal, como ressaltou

Benedito Lima de Toledo15.

As duas imagens acima estão datadas com uma distancia de quase 10 anos,

entretanto é possível perceber a semelhança entre os pontos de vista. A fotografia,

provavelmente do final dos anos 10, pela quantidade e tipologia das construções no

porto, pode ter sido usada como referência para a composição da pintura. O ângulo de

visão foi levemente alterado para proporcionar uma maior profundidade na vista da

cidade, a Igreja Matriz foi acrescentada16, os navios aportados foram mantidos ocupando

quase a mesma disposição, variando o ângulo (vista superior), mas os navios que estão

na baía foram modificados. O primeiro plano foi alterado, aproximando mais as poucas

construções existentes, acentuando a vista superior. Retomar a mesma composição ou os

mesmos ângulos em diferentes momentos, datando com espaços de tempo foi uma

prática comum do artista, como mostram as três imagens a seguir.

15 TOLEDO In: BENEDITO CALISTO – Memória Paulista, p. 27 a 29. 16 Seu ponto de vista, ligeiramente diferente das construções em torno dela, reforça a ideia de que foi acrescentada posteriormente.

Porto do Bispo. Santos Colonial. 1886. Óleo sobre tela, 35 x 80 cm. Fund. Pin. B. Calixto.

Porto do Bispo. 1887. Óleo sobre tela. 40 x 84 cm. Col. Bolsa de Valores. SP.

Rampa do Porto do Bispo. 1900. Óleo sobre tela. 39 x 84 cm. Col. Masp. SP.

A fotografia também foi usada como instrumento

para fazer a documentação de suas obras antes que as

encomendas fossem entregues. As imagens para seu acervo

pessoal eram realizadas por ele mesmo, na própria sala da sua

casa, como pode ser percebido nos detalhes que acabam por

permanecer junto às margens dessas fotos.

Nessas fotos foi possível ver que em muitas das

pinturas religiosas, feitas por encomenda, o pintor adotava

uma mesma composição, com ligeiras alterações, para

diferentes situações, como no caso de duas pinturas com o tema da “anunciação”, uma

feita para a capela da cidade de Bocaina e outras para a igreja de Sta. Efigênia de S.

Paulo17.

Além das correções de perspectiva há também outros aspectos, especialmente

detalhes arquitetônicos que revelam em Calixto muito mais o artista preocupado com a

recriação da atmosfera, ou clima de época do que propriamente a representação pura de

uma cena. Essa característica da sua obra fez com que o mesmo Benedito Lima de

Toledo escrevesse “Calixto preocupa-se, a cada obra, em criar um ambiente,

parecendo reservar à arquitetura apenas um valor cenográfico”18.

Um importante exemplo analisado para compor o estudo de sua recriação da

paisagem está na leitura comparativa de uma de suas pinturas em relação à fotografias

17 As imagens consultadas, aproximadamente 50, pertencem ao arquivo do Sr. Jaime de Mesquita Caldas. São fotografias originais, realizadas por Calixto, muitas com inscrições na parte posterior, de próprio punho. 18 TOLEDO In: BENEDITO CALISTO – Memória Paulista, p. 29.

de Marc Ferrez, tomadas do mesmo ponto de vista. Marc Ferrez19, esteve de passagem

pela região de Santos e dela deixou testemunho, muito de sua produção foi perdida, mas

entre as imagens que sobreviveram em bom estado, três foram destacadas.

As três imagens retratando o porto de Santos são, do ponto de vista tanto

técnico como estético, muito representativas da cidade nos anos 1880, materializando a

intensa disputa pela terra e pelo mar, ao mesmo tempo em que a revestem de

tonalidades variadas e bem definidas. Pouco se sabe sobre suas motivações para visitar

essa cidade. Por seu porto, Santos incluía-se entre as paradas de interesse para

comerciantes, exportadores, importadores e imigrantes e, provavelmente, também foi

foco de atenção para um fotógrafo com objetivo de representar e vender vistas e

retratos.

As diferentes datações encontradas para essas imagens dificultam ainda mais a

tentativa para saber quantas vezes ou por quanto tempo o fotógrafo permaneceu na

região. O período compreendido por elas foi de 1885 a 1890, o que também coincide

com o tempo em que o pintor Benedito Calixto dedicou-se ao registro dessa mesma

paisagem urbana.

Benedito Calixto. Praia do Consulado, Porto de Santos, 1882. Óleo sobre tela, s/d, 54 x 96 cm. Acervo da Fundação

Benedito Calixto.

Marc Ferrez, (0467) Porto de

Santos. C. 188020.

19 Sua atuação como fotógrafo foi intensa. Além de fotógrafo oficial do Império, integrou a Comissão Geológica do Império e, sob o comando de Charles Frederick Hartt, entre os anos de 1875 e 1876, quando realizou uma série de retratos sobre os índios Botucudos, na Bahia. Por sua atuação oficial recebeu também o título de Photographo da Marinha Imperial (1880) e a Comenda da Ordem da Rosa (1885). Entre suas principais encomendas oficiais estiveram os retratos da Princesa Isabel e o registro das obras da construção da Av. Central, atual Av. Rio Branco na cidade do Rio de Janeiro, material que acabou destruído por uma ressaca em 1913. 20 Os números correspondem à catalogação da Fundação Arquivo e Memória. Essa imagem fazia parte do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e foi reproduzida para o Arquivo da Fundação

Marc Ferrez. (0468) O Mercado do porto de Santos – c.188021.

Marc

Ferrez. (0806) Porto de Santos. C. 1885/189022.

Não sabemos se houve algum contato pessoal entre eles mas, não é apenas no

período que esses artistas apresentam semelhanças. A escolha do porto como temática

principal e mesmo o ângulo de enquadramento, com ênfase na área do mercado,

equilibrando quantidades aproximadas de terra e mar, com destaque aos desenhos dos

mastros das embarcações, são alguns dos pontos de contato entre a estética de cada um

deles. Particularmente uma imagem de Calixto, Praia do Consulado, parece ter sido

realizada a partir de uma imagem de Ferrez e não da observação natural, no local, como

costuma ser-lhe atribuído. Interessante observar como Calixto acomodou as montanhas

em sua pintura, reforçando a natureza como foco e deixando à margem produtores de

cultura e de materiais.

Todavia, há entre o conjunto de suas representações uma diferença marcante.

Enquanto em Calixto a arquitetura, as embarcações e o próprio mar ganharam destaque

pela atmosfera luminosa, pouca presença de sujeitos e de seu movimento, em Ferrez,

nos momentos escolhidos para os registros das cenas, a população estava, muitas vezes,

presente, dando destaque para o movimento de populares e trabalhadores.

Arquivo e Memória. A data foi aproximada com base em uma imagem tirada no mesmo local, do mesmo ângulo, mas com diferenças na quantidade e no tipo das embarcações que fez parte da exposição “São

Paulo, população: 25.000 habitantes” da Pinacoteca do Estado. 21 Informações do livro de Gilberto Ferrez. A Fotografia no Brasil, 1840 – 1900. 22 A datação dessa imagem apresenta algumas controvérsias. Gilberto Ferrez, no livro A Fotografia no

Brasil, apresenta essa imagem, datada de 1890. Já para a exposição “São Paulo, população 25.000”, a data apresentada foi 1885. A cena registraria parte da instalação da linha férrea e, à esquerda, estaria o hotel Palm, local posteriormente ocupado pelo Western. Essa área foi aterrada durante a construção do cais, respondendo atualmente como Largo Azevedo Jr.

Considerações finais

Durante a segunda metade do século XIX a pintura de paisagem teve muito destaque.

Tadeo Chiarelli atenta para como, no período de um ano, Parreiras, que era carioca, realizou

duas exposições de pinturas de paisagem São Paulo, alguns meses antes do próprio Calixto

expor sua obra. Para esse historiador, muito da crítica favorável recebida por Calixto se deveria

à vontade de valorização de um artista paulista em detrimento do carioca23.

Outro artista paisagista de destaque na época foi Giambattista Castagneto. Nascido

em Gênova, em 1851, chegou ao Rio de Janeiro em 1874 e logo se matriculou na Academia de

Belas-Artes (1877), gozando sucesso entre seus contemporâneos. Segundo Chiarelli, com sua

morte e a estratégia de Parreiras de se tornar conhecido como um grande artista, pintor de nus e

cenas históricas, houve espaço para que um novo artista fosse lançado como pintor paisagista,

assumindo seu lugar. Para esse posto a crítica paulista propunha o nome de Benedito Calixto24.

Segundo os padrões da Academia de Belas Artes, os temas para a pintura

apresentavam uma hierarquia bastante rígida. Em primeiro plano constavam as cenas históricas,

religiosas e as mitológicas. Esses gêneros exigiam do artista, além de um amplo conhecimento

de história, filosofia, mitologia e conhecimentos gerais, profundos estudos de anatomia.

Seguiam as chamadas pinturas de gênero, que retrataram imagens do cotidiano. Só então

apareciam os temas de pintura de animais, pintura de paisagem e por fim a natureza morta,

sendo que, para cada um dos temas havia uma relação de dimensão e organização específicas25.

Calixto, mesmo afastado do ambiente carioca da academia não esteve ileso às suas

influências e seu reconhecimento, ainda que regional, dependeu em grande parte de sua

atividade como pintor de cenas históricas e religiosas. O reconhecimento de Calixto esteve

intimamente ligado às suas relações com a nascente burguesia paulista. Com sua pintura

histórica ele teria participado da fundação de uma iconografia que glorificou São Paulo e os

paulistas26.

Entre a vasta obra de Calixto, optamos por estudar aquelas imagens em que o pintor

se dedica a fazer vistas da cidade, tomando-a em suas partes mais significativas para o momento

histórico em que ele vive. Nessas cenas, intuímos um desejo de registro da cidade em seu

23 Chiarelli chama a atenção para as críticas feitas à Parreiras pelo crítico de O Estado, que o acusa de um excesso de verismo, comparando sua obra à fotografias, valorizando a necessidade de reconstituição do daquilo que se via. CHIARELLI, Benedito Calixto: um pesquisador que pinta In: Benedito Calixto, um pintor à beira-mar, pg. 14/15. 24 CHIARELLI, Benedito Calixto: um pesquisador que pinta In: Benedito Calixto, um pintor à beira-mar, pg. 17. 25 CHIARELLI, Benedito Calixto: um pesquisador que pinta In: Benedito Calixto, um pintor à beira-mar, pg. 27. 26 CHIARELLI, Benedito Calixto: um pesquisador que pinta In: Benedito Calixto, um pintor à beira-mar, pg. 29, 31 e 33.

contexto, incluindo os principais edifícios, as principais ruas, algum movimento dos sujeitos e a

presença sempre constante do horizonte marinho e dos navios no porto.

Nossa escolha foi regida pelo desejo de confrontarmos essas imagens com as imagens

fotográficas realizadas ao mesmo tempo ou em períodos muito próximos e que nos dão uma

possibilidade de negociação de suas representações e dos significados que podem ser

interpretados para a ordenação urbana que elas constroem, dando origem a uma configuração de

forma e de sentido para a cidade e sua paisagem.

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