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1 BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO BREJO ALEGRE: DEGRADAÇÃO PROVENIENTE DO CRESCIMENTO URBANO DE ARAGUARI (MG) Crislane Calixto Pereira Mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão. Bolsista Capes/CNPq. Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq) [email protected] INTRODUÇÃO Neste artigo apresentamos uma análise da relação homem natureza com a transformação, apropriação e domínio dos recursos naturais. Vale ressaltar que dessa relação de domínio e apropriação da natureza em maior extensão e de forma exploratória da Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre, se deu a partir da formação do município de Araguari- MG em 1888. O crescimento desse município no inicio do século XX, é resultante da implantação da Estrada de Ferro Goiás em 1909, instalação de indústrias na década de 1950 (Indústria Alimentícia Maguari, Dafruta e Indústria De Comércio Ilimitado, Cerealista e Frigorificos) e investimentos do governo voltados à agropecuária e a modernização da agricultura. Todos estes empreendimentos e investimentos têm causado impactos e degradação ao ambiente da Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre. Nos tempos hodiernos, a referida bacia hidrográfica sofre reflexos da relação de domínio que homem proporcionou sobre a natureza, sendo que nesta encontra se vários vestígios de degradação como processos erosivos e a água com características de contaminação. OBJETIVO Compreender o comprometimento que o homem proporciona sobre a natureza e a degradação ocorrida do meio ambiente da Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre proveniente principalmente pelo crescimento urbano de Araguari (MG)

Crislane Calixto Pereira

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BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO BREJO ALEGRE: DEGRADAÇÃO PROVENIENTE DO CRESCIMENTO URBANO DE ARAGUARI (MG)

Crislane Calixto Pereira

Mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão. Bolsista Capes/CNPq. Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais

(NEPSA/CNPq) [email protected]

INTRODUÇÃO

Neste artigo apresentamos uma análise da relação homem natureza com a

transformação, apropriação e domínio dos recursos naturais. Vale ressaltar que dessa relação

de domínio e apropriação da natureza em maior extensão e de forma exploratória da Bacia

Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre, se deu a partir da formação do município de Araguari-

MG em 1888.

O crescimento desse município no inicio do século XX, é resultante da

implantação da Estrada de Ferro Goiás em 1909, instalação de indústrias na década de 1950

(Indústria Alimentícia Maguari, Dafruta e Indústria De Comércio Ilimitado, Cerealista e

Frigorificos) e investimentos do governo voltados à agropecuária e a modernização da

agricultura. Todos estes empreendimentos e investimentos têm causado impactos e

degradação ao ambiente da Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre.

Nos tempos hodiernos, a referida bacia hidrográfica sofre reflexos da relação de

domínio que homem proporcionou sobre a natureza, sendo que nesta encontra se vários

vestígios de degradação como processos erosivos e a água com características de

contaminação.

OBJETIVO

Compreender o comprometimento que o homem proporciona sobre a natureza e a

degradação ocorrida do meio ambiente da Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre

proveniente principalmente pelo crescimento urbano de Araguari (MG)

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da pesquisa, terá como aporte teórico Casseti (1991),

Santos (2008),), Santos (2004), Cunha (2007), Campos (2009), Santos (2003), Barbosa

(2008), Melo (2006), Naves e Rios (1988), Barbosa (2007), Bastos e Fretas (2004), Venturi

(2005), entre outros. A pesquisa documental conta com a contribuição da Secretaria de Meio

Ambiente de Araguari – MG, que disponibilizou documentos para o referido estudo,

principalmente o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do município. A pesquisa de

campo se caracteriza por visitas de sondagem, para reconhecimento empírico da área a ser

estudada e registros fotográficos. Por meio do suporte teórico, pesquisa documental e trabalho

de campo, é possível perceber o crescimento urbano acrescentou e agravou a degradação

ambiental ocorrida na Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre e no atual quadro da

referida bacia apresenta impactos como ocupação humana inadequada e desordenada,

drenagens aterradas ou canalizadas, impermeabilização do solo, concentração de indústrias e

despejos de efluentes residenciais in natura urbanos, sem nenhuma forma de tratamento.

A RELAÇÃO HOMEM E NATUREZA E A DEGRADAÇÃO

AMBIENTAL

É constante transformação e modificação do homem sobre a natureza, tendo em

consideração o tempo histórico que originou e agravou essas transformações. Enquanto o

homem era nômade1, convivia de forma harmônica com o meio, retirando da natureza os

recursos disposto o suficiente para a sua sobrevivência com a mudança para o sistema fixo de

vida, o homem iniciou o processo de domínio sobre a natureza para gerar o suficiente para a

sua sobrevivência e para acumular e apropriar dos recursos naturais disponíveis.

De forma que teve como resultado uma relação de domínio, apropriação e

transformação do homem sobre a natureza. De acordo com Casseti (1991, p.14) “o homem

não é apenas um habitante da natureza; ele apropria e transforma as riquezas da natureza em

meios de civilização histórica para a sociedade”. E quanto maior o desenvolvimento da

1 Nômade, homem que vivia basicamente da caça e da coleta (NOGUEIRA, 2014, p. 20).

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sociedade maior é a apropriação e a intervenção do homem sobre a natureza, dilapidando e

degradando a natureza.

É dessa relação que constata o grau de lapidação da capacidade produtiva da terra, com crescente degradação da natureza, determinada por um aproveitamento generalizado e mais intenso dos recursos naturais, sobretudo através do processo de industrialização, urbanização e agricultura predatória (Casseti, 1991, p. 14).

É ambígua e complexa a análise da relação homem e natureza, mas resumindo a

relação almejada seria o convívio do homem retirando somente o que necessário para a sua

sobrevivência, porém o que é visto é que o homem retira e explora todos os recursos possíveis

da natureza, principalmente pelo processo de industrialização, agricultura e urbanização.

A intervenção do homem sobre a natureza e as condições de estabilidade para o

homem foi fornecida pela agricultura. Nogueira (2014, p.20) expõe que [...] a partir da

descoberta da agricultura, pois, com o aprendizado do plantio e manejo de sementes, surge a

possibilidade de permanecer em determinados locais para plantar. Desta forma, aparecem os

primeiros aglomerados sociais.

Engendrado a essa relação homem e o domínio sobre a natureza, se deu o inicio

do modo fixo de vida, a agricultura e atividades pastoris, os aglomerados sociais, centros de

habitação humana2 e as atuais cidades. É oportuno ressaltar que, com esse processo iniciou-se

a intensificação do uso do solo, que foi necessária, sobretudo, para abastecer os aglomerados

sociais dependiam da agricultura, que concomitantemente, dependia principalmente da água

como suprimento para a técnica de irrigação, além do que, a água servia também para

suprimento e higiene humana. Dando multiplicidade e intensificação do uso do solo e da

água.

Sendo assim, pela necessidade de acesso ao elemento água, o processo de

apropriação dos recursos naturais, formação de cidades e consequentemente de urbanização,

se inicia principalmente as margens dos rios. Cunha (2007) cita que o centro de habitação

humana nas margens dos rios formam as cidades tornando esses sistemas mais suscetíveis à

interferência antrópica, causando impactos ambientais negativos como o desmatamento,

2 Termo utilizado por Cunha (2007)

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assoreamento do leito dos rios, erosões, a construção de edificações e impermeabilização das

superfícies nas cidades, a exploração dos recursos naturais e recursos hídricos para atividades

agrícolas, industriais e principalmente para a sobrevivência humana. E com todas essas

modificações a ocupação do solo é feito de forma inconsequente e sem a devida

infraestrutura.

[...] A ocupação do solo de forma inconsequente e, acelerada no último século, sem a implantação de uma infra-estrutura adequada contribui bastante para os vários danos ambientais atualmente observados. (BASTOS; FREITAS, 2004, p.19).

A cidade de Araguari (MG) encontra-se concentrada no alto curso da Bacia

Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre. A ocupação do solo da referida Bacia Hidrográfica,

iniciou com a formação da cidade de Araguari em 1888, nas margens do córrego Brejo

Alegre, onde se construiu a igreja matriz e Igreja do Rosário. Ao redor da igreja matriz e da

Igreja do Rosário, surgiram-se bairros e o córrego se tornou o centro da cidade. A urbanização

neste período foi feita sem nenhum planejamento urbano e ambiental, já que a leis não

impunham tais regulamentos, adaptações e condições para se construir a cidade de forma

organizada.

Em 1909, com a implantação da Estrada de Ferro Goiás, proporcionou o

crescimento do comércio, instalação de indústrias, da telefonia e da energia e com essa

pequena infraestrutura houve o crescimento populacional, de acordo com Barbosa o

município em 1909 tinha uma população estimada em 10.633 habitantes, já em 1929 a

população estimada era de 35.046, na década de 1950 a população é de aproximadamente

43.305 mil habitantes (BARBOSA, 2007).

Com a saída dos escritórios e a transferência da sede da Companhia de Estrada de

Ferro Goiás, para Goiânia em 1950, diminuiu o crescimento econômico e populacional, mas

esse processo não estagnou o desenvolvimento da cidade, pois, permaneceram os

empreendimentos comerciais e logo após iniciou a construção da Faculdade de Filosofia

Ciências e Letras (antiga FAFI e atual UNIPAC) e do 2° Batalhão Ferroviário Mauá, houve

também a instalação da Indústria Alimentícia Maguari, Dafruta e Indústria De Comércio

Ilimitado, Cerealista Vasconcelos, e outros como frigoríficos e curtumes.

Todos esses empreendimentos e instalações de indústrias tiveram como

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consequência o aumento da população urbana de Araguari-MG e consequentemente uma

concentração populacional nos limites da Bacia Hidrográfica do Córrego brejo Alegre. De

acordo com Ab’Saber “A concentração irrefreável da urbanização e da industrialização em

pequenos espaços de conjuntura geoeconômica favorável, redundou em problemas novos,

num tremendo círculo vicioso (Ab’Saber, 2005)”.

A urbanização e a industrialização de Araguari contribuíram negativamente nas

transformações da Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre, com a ocupação inadequada

e desordenada dessas áreas. Sendo assim, observam-se alterações do curso das drenagens,

causadas pelos desmatamentos, contaminação das águas fluviais por efluentes residenciais e

industriais, descarte irregular de resíduos sólidos, instalação de indústrias de alto teor de

contaminação e degradação do ambiente. Por meio de fotografias encontram-se registros

sobre impactos causados na Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo Alegre, como consequência

da ocupação urbana.

Foto 1: Processo erosivo Foto 2: Processo erosivo,

queda de gabião e manilhas Perca de Mata Ciliar

Fonte: Pesquisa a campo

Autora: CALIXTO, Crislane [Pereira]. 2014.

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Foto 3: Erosão, utilizado Foto 4: Água com características de

como bota fora contaminação

Fonte: Pesquisa a campo

Autora: CALIXTO, Crislane [Pereira]. 2013.

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Foto 5: Cachoeira com água com Foto 6: Materiais flutuantes, espumas.

Características de contaminação

Fonte: Pesquisa a campo

Autora: CALIXTO, Crislane [Pereira]. 2014.

As fotos destacam os impactos negativos que ocorrem na Bacia Hidrográfica do

Córrego Brejo Alegre, na foto 1, nota-se processo erosivo em estágio avançado, onde há

queda de gabiões (estrutura destinada a contenção de processos erosivos), na foto 2 processo

erosivo, no mesmo local da foto 1, com perca de vegetação nativa e presença de capim

mamonas e outras espécies que não auxilia na diminuição dos processos erosivos. A foto 3

mostra, erosão conhecida como “Buraco do Jorge” e sua recuperação que deveria ser por meio

despejos de resíduos inutilizados de construção civil (materiais úrbicos3), mas em conjunto

com esses resíduos estão os materiais garbicos4, inviabilizando o projeto. Nas fotos 4, 5 e 6 a

água apresenta características de contaminação, com coloração escura, materiais flutuantes

(espumas não naturais), o contato direto nos permite observar a ausência de indícios de vida

aquática e forte odor.

3 que se referem a detritos urbanos, materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno, freqüentemente em fragmentos, como tijolo, vidro, concreto, asfalto, prego, plástico, metais diversos, dentre outros (Cassete, 2005, s/p). 4 são materiais detríticos como lixo orgânico, de origem humana, e que, apesar de conterem artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos, são suficientemente ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições anaeróbicas (Cassete, 2005, s/p).

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RESULTADOS PRELIMINARES

É complexa a compreensão das circunstâncias e fatores que originou e acentuou

os impactos ambientais provenientes de relação ambígua entre o homem e a natureza. Mas a

estabilização do homem em lugares fixos e o inicio das atividades para suprir os seus

excessos, fez com que o homem explorasse da natureza além do suficiente para a sua

sobrevivência. A estabilização do homem em locais fixos também proporcionou a formação

de cidades, o que submeteu a natureza ao domínio humano.

As condições atuais desse domínio se demonstram por meio degradação

ambiental. Foi possível perceber, através de registros fotográficos, o tratamento imprudente

que a sociedade e o poder público municipal sujeita a Bacia Hidrográfica do Córrego Brejo

Alegre. Imprudências que prejudica a qualidade ambiental e bem estar da sociedade

araguarina.

BIBLIOGRAFIA

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