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LUCÍLIA CASTANHEIRA DE AQUINO A CLÁUSULA APOSITIVA: ESTRUTURA ARTICULADORA DO DISCURSO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS BELO HORIZONTE 2001

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LUCÍLIA CASTANHEIRA DE AQUINO

A CLÁUSULA APOSITIVA: ESTRUTURA ARTICULADORA DO DISCURSO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS BELO HORIZONTE

2001

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LUCÍLIA CASTANHEIRA DE AQUINO

A CLÁUSULA APOSITIVA: ESTRUTURA ARTICULADORA DO DISCURSO

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Letras da Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais,

como parte dos requisitos para a obtenção

do grau de Mestre em Língua Portuguesa,

elaborada sob a orientação da Profa. Dra.

Maria Beatriz Nascimento Decat.

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Belo Horizonte

2001

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Dissertação defendida publicamente no Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas e aprovada pela seguinte Comissão examinadora:

______________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos de Assis Rocha (UFMG) ____________________________________________ Prof. Dr. Johnny José Mafra (PUC Minas) ____________________________________________ Profa. Dra. Maria Beatriz Nascimento Decat (PUC Minas) Orientadora

Belo Horizonte, de de 2001.

Profa. Dra. Ivete Lara Camargos Walty Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras

PUC Minas

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Dedicatória

À Raquel, ao Rodrigo, à Bárbara.

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Agradecimentos

A Deus, pelas graças concedidas. À Profa. Maria Beatriz Nascimento Decat, pela orientação segura, pela amizade

e pelo exemplo de dedicação à Pesquisa e ao Ensino. À Secretaria de Estado da Educação, pela licença concedida. À Universidade de Itaúna, pelo apoio oferecido. A todos os meus familiares, colegas e amigos, em especial Vicente Geraldo,

Lucirene, Meire, Cristina e Angélica. Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em Letras, pela presença

acolhedora e prestimosa.

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS E TABELAS

RESUMO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO Pág.

1.1 Delimitação do objeto de estudo e justificativa ..................................................11 1.2 Objetivos ...........................................................................................................23 1.3 Metodologia ......................................................................................................24 1.3.1 O corpus: constituição e caracterização ..............................................................24 1.3.2 Suporte teórico ..................................................................................................27 1.4 Plano da dissertação ...........................................................................................29 CAPÍTULO 2 - A APOSIÇÃO: TRAJETÓRIA E CARACTERIZAÇÃO 2.1 Introdução ........................................................................................................30 2.2 A aposição em forma de sintagma simples.........................................................34 2.3 A aposição em forma de sintagma oracional ......................................................39 2.4 A cláusula apositiva na lingüística moderna.......................................................46 2.4.1 Cláusula apositiva parentética: funções textuais interativas................................49 2.4.1.1 A elaboração tópica do texto .............................................................................52 2.4.1.1.1 Os parênteses e o conteúdo tópico .....................................................................53 2.4.1.1.2 Os parênteses e a formulação lingüística do tópico ............................................57 2.4.1.1.3 Os parênteses e a construção textual ..................................................................62 2.4.1.2 Parênteses com foco no locutor .........................................................................66 2.4.1.3 Parênteses com foco no interlocutor ..................................................................69 2.4.1.4 Parênteses com foco no ato comunicativo em si.................................................73 2.4.2 A cláusula apositiva como mecanismo de inserção ............................................76 2.4.2.1 Inserção com função de "explicação".................................................................79 2.4.2.2 Inserção com função de "esclarecimento"..........................................................80 2.4.2.3 Inserção com função de "correção"....................................................................81 2.4.3 A cláusula apositiva e o processo de "reconstrução" ..........................................83 2.4.3.1 A repetição........................................................................................................84 2.4.3.2 O reparo ............................................................................................................86 2.4.3.3 A paráfrase........................................................................................................88 2.4.3.4 A adjunção ( ou adendo )...................................................................................89 CAPÍTULO 3 - FUNÇÕES TEXTUAIS DA CLÁUSULA APOSITIVA NO PORTUGUÊS 3.1 Considerações iniciais .......................................................................................93 3.2 As cláusulas apositivas: tipos e funções.............................................................97

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3.2.1 Apositivas: construções parentéticas..................................................................98 3.2.1.1 Função de "exemplificação" ..............................................................................98 3.2.1.2 Função de "esclarecimento" ............................................................................ 103 3.2.1.3 Função de "retoque" ........................................................................................ 112 3.2.1.4 Função de "ressalva" ....................................................................................... 117 3.2.1.5 Função de "justificativa" ................................................................................. 118 3.2.1.6 Função de "busca de denominação"................................................................. 119 3.2.1.7 Função de "explicitação do valor de uma palavra no contexto"........................ 123 3.2.1.8 Função de "marcação do estatuto discursivo de um fragmento no texto".......... 124 3.2.1.9 Função de "manifestação atitudinal do locutor em relação ao assunto" ............ 125 3.2.2 Apositivas: mecanismos de inserção e reconstrução ........................................ 126 3.2.2.1 Função de "avaliação" ..................................................................................... 127 3.2.2.2 Função de "correção" ...................................................................................... 128 3.2.2.3 Função de "reparo".......................................................................................... 128 3.2.2.4 Função de "paráfrase explicativa".................................................................... 130 3.2.2.5 Função de "adendo" ........................................................................................ 131 3.2.2.5.1 O adendo como "acréscimo"............................................................................ 132 3.2.2.5.2 O adendo como "explicitação"......................................................................... 134 3.2.2.5.3 O adendo como "ilustação" ............................................................................. 134 3.3 Incidência da cláusula apositiva no corpus pesquisado .................................... 136 CAPÍTULO 4 - CONCLUSÃO .......................................................................................140 ABSTRACT ................................................................................................................. 144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 145

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LISTA DE QUADROS E TABELAS Pág.

QUADRO I - Comparativo das classificações de alguns apostos...........38

QUADRO II - O aposto simples: funções.................................................94

QUADRO III - Orações apositivas: incidências das funções...................136

TABELA 1 - Ocorrências de aposto simples .........................................95

TABELA 2 - Ocorrências de aposto simples e clausular........................95

TABELA 3 - Resumo das ocorrências de cláusulas apositivas.............137

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RESUMO

No presente trabalho, faz-se um estudo, numa

abordagem funcionalista, da cláusula apositiva em português tanto

em textos de língua oral, quanto em textos de língua escrita.

Inicialmente, fez-se uma incursão por alguns gramáticos

tradicionais, visando levantar questões acerca da conceituação e dos

papéis sintático-semânticos da aposição em forma de sintagma

simples e clausular. Em seguida, procedeu-se a uma análise geral

das cláusulas apositivas, dentro de uma abordagem pragmático-

discursiva, enfocando,função textual-interativa de natureza

parentética bem como seu papel na progressão temática, quando

então elas se caracterizam como elemento articulador do discursso.

O corpus da pesquisa foi constiuído de um conjunto de textos

narrativos e dissertativos, orais e escritos pertencente ao acervo de

Decat (1993), de cem textos dissertativos de alunos do terceiro grau

e de alguns textos de jornais.

PALAVRAS CHAVE: Cláusula apositiva

funções textuais

articulação do discurso

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Enquanto a língua é um rio caudaloso,

longo e largo, que nunca se detém em seu

curso, a gramática normativa é apenas um

igapó, uma grande poça de água parada,

um charco, um brejo, um terreno

alagadiço, à margem da língua. Enquanto

a água do rio/língua, por estar em

movimento, se renova incessantemente, a

água do igapó/ gramática normativa

envelhece e só se renovará quando vier a

próxima cheia. Meu objetivo, atualmente,

junto com muitos lingüístas e

pesquisadores, é acelerar ao máximo essa

próxima cheia...

(Bagno, Marcos 1999:10)

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Capítulo 1

INTRODUÇÃO

1.1.Delimitação do objeto de estudo e justificativa

O conceito de aposição sob a forma de sintagma simples ou

mesmo sintagma oracional não é suficientemente esclarecido pelas nossas

gramáticas tradicionais. Uma breve incursão por algumas dessas gramáticas e

compêndios de análise sintática da língua portuguesa mostra que há uma falta

de consenso acerca da conceituação, da identificação e, sobretudo, da

diferenciação do aposto instanciado lingüisticamente como sintagma simples

ou sintagma oracional. Isso decorre do fato de que a abordagem do processo

apositivo por parte de nossos gramáticos tradicionais atém-se exclusivamente

ao nível sentencial, sem levar em conta o co-texto em que se insere. Tudo isso

sem falar na mistura de conceitos sintáticos e semânticos na sua definição.

As análises dadas pelos nossos autores tradicionais, além de se

prenderem apenas ao nível sentencial, deixam um outro ponto a observar. É

que a grande maioria dos autores se vale de um corpus escrito, apresentando

dados ( às vezes de pouca vitalidade ) da modalidade literária, como se pode

verificar nos exemplos abaixo:

(1) “Eu, Brás Cubas, escrevi este romance com pena da galhofa e a tinta da melancolia”. ( M. A.) – apud Rocha Lima (1994:255 ).

(2) “Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz”.( Vieira) – apud André,(1995:256 ).

(3) “Debaixo do juazeiro grande, todo um rebanho de retirantes se arranchara: uma velha, dois homens, uma mulher nova, algumas crianças”. ( Raquel de Queiroz ) – apud Faraco e Moura (1996:23)

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(4) "Era o tenente Maurício acompanhado do coronel”. (J.L. Rego) – apud Faraco e Moura (1996:23).

(5) “Nós já tínhamos imaginado, mamãe e eu, fazer uma grande peregrinação”. (G. Aranha) – apud Cunha (1984:101).

Algumas vezes, é bom que se diga, são mencionados dados

oriundos de fonte não-literária, como os de música popular brasileira. Veja-se

o exemplo:

(6) -“E a morte, o destino, tudo estava fora de lugar”. (Geraldo Vandré) – apud

Terra (1997:113).

A caracterização do aposto não tem sido fácil nem clara como se

pôde constatar pelas divergências encontradas nas gramáticas pesquisadas.

Nelas, o aposto é considerado:

- “um substantivo ou locução substantiva”(Câmara Jr.,1977:57); - “um adjunto colocado ao lado de, adjuntado”.(Bueno,1968:72); - “adjunto adnominal, que vem ao lado de um substantivo, termo essencial

ou integrante, com a mesma função do termo a que se liga”.(Nascentes, 1959:51);

- “termo acessório sob a forma de um substantivo ou frase de certa extensão” (Ali, M. Said, 1966:127)..

Ao lado desses autores aparece também Kury (1973:99), que

classifica o aposto como “substantivo, adjetivo (ou locução), pronome,

advérbio ou oração”. Acrescenta, ainda, que esses termos que funcionam

como apostos partilham a mesma função sintática do fundamental (termo a

que se referem).

Góis (1960:111) chama-o genericamente de “ adjunto atributivo”,

que tanto pode ser um adjetivo, o próprio aposto, uma expressão ou locução

adjetiva, um adjetivo, um substantivo, um vocativo ou até mesmo uma

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“cláusula latente”. O que o autor chama de adjunto atributivo é a função que

corresponde ao que hoje se denomina de adjunto adnominal.

Cunha (1984:162) considera o aposto uma “oração” ou um “termo

que pode estar presente em todos os sintagmas oracionais, inclusive no agente

da passiva e no vocativo”.

O aposto é comparado em tais gramáticas com o adjunto

adnominal, com o predicativo e até mesmo com adjunto adverbial. Góis

(1960), Nascentes (1959) e Bechara (1989) foram alguns dos autores que

admitiram a semelhança entre o aposto e o adjunto adnominal.

Em construções do tipo praça da República, Serra da

Mantiqueira, Bechara (1989) aponta para o fato de que muitos autores não

consideram como aposto a expressão encabeçada por preposição, como nos

exemplos indicados, dando-a como adjunto adnominal. Afirma, ainda, que

“ambas as análises são aceitáveis, mas nos inclinamos para a aposição."

(Bechara, 1989:214).

Atualmente, a maioria das gramáticas já admitem apostos

preposicionados como: o mês de março, a cidade de Itaúna, levando em

consideração que a preposição não desfaz a aposição.

O chamado aposto circunstancial é empregado, segundo Bechara

(1989:214), para exprimir circunstâncias de tempo, causa, comparação; e

constitui, para o autor, aposto mesmo quando antecedido de preposição,

conjunção ou advérbio. Veja-se:

(7) Rainha esquece o que sofreu vassala (ou seja, Quando rainha, esquece o que sofreu quando vassala).

Já Kury (1973:57) prefere analisar tais estruturas como

predicativos circunstanciais de orações adverbiais com predicado nominal.

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Quando as gramáticas tradicionais apresentam o aposto como um

adjetivo, nota-se que alguns autores o classificam, nesse caso, como aposto

predicativo ou aposto circunstancial, equiparando-o com o predicativo e o

adjunto adverbial. Veja-se:

(8) Satisfeitos, os alunos corriam pelo pátio. (9) Impulsivo e rixento, seus colegas o evitaram. (Luft,1985:45).

Nesses exemplos, os adjetivos destacados são considerados por

Luft (1985) apostos atributivos ou explicativos.

Kury (1973), como já disse, não considera tais adjetivos como

apostos. Classifica-os como predicativos atributivos:

(10) Os Castanheiros, grandes e concentrados, ouviam subir a seiva .( Eça) -

apud Kury (1973:59).

Em casos como do exemplo (11) - semelhante a (7) acima, Kury,

como foi dito anteriormente, classifica o adjetivo destacado como predicativo

circunstancial.

(11) Pobre, lutou muito para formar-se.

Com relação à estrutura subordinada ou coordenada do aposto,

também notou-se uma certa divergência entre os autores.

Alguns dos gramáticos, como, por exemplo, Melo (1978),

consideram-no como um adjunto adnominal e, assim sendo, ele representa um

processo de subordinação de um substantivo sem conectivo. Essa afirmação

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vem contrapor-se ao fato de que algumas gramáticas tradicionais postulam

que o aposto e o seu fundamental (termo a que se refere) exercem a mesma

função sintática (podendo-se, inclusive, suprimir um dos termos da

construção sujeito/aposto, sem comprometê-la). Esta característica atribui à

construção apositiva o estatuto de coordenação.

Como se vê, parece que não há um consenso entre os autores no

que se refere à relação fundamental/aposto, coordenação x subordinação.

Num computo geral, fica clara a relação de dependência entre esses termos.

De qualquer modo, isso pode significar que a relação do aposto com o

elemento ao qual se liga não é fácil de se definir, podendo constituir-se como

uma relação de coordenação ou de subordinação.

Outra discrepância que aparece entre esses gramáticos refere-se

aos apostos sem pausa, nos quais há um substantivo que designa profissão ou

título hierárquico, seguidos de substantivos próprios personativos. Existem

divergências em se estabelecer qual termo constitui o aposto, como em O

jogador Roberto Carlos. Em Góis (1960), considera-se como aposto o

substantivo comum, jogador. Já em Rocha Lima (1973) e em Bechara (1978),

o aposto seria o substantivo próprio, no caso do exemplo dado, Roberto

Carlos.

Quanto à conceituação do aposto como sintagma simples,

constata-se unanimidade entre os autores no reconhecimento do seu caráter

explicativo e na sua classificação como um termo acessório que se instancia

como adjunto adnominal ou como adjunto adverbial.

Quanto ao seu papel semântico, cumpre-lhe explicar outro termo

(que lhe é anterior) dito fundamental, e é bom que se repita, “do qual herda a

mesma função sintática” (Kury: 1973 e Nascentes:1959).

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A pausa que lhe é dada na fala é representada por vírgulas ou dois

pontos na escrita (Cunha:1984).

Esse autor afirma, como já se afirmou, que o aposto pode estar

presente em todos os termos oracionais, até mesmo no vocativo e no agente

da passiva.

Essa mobilidade do aposto, que permeia toda a estrutura frasal,

pode ser constatada através dos exemplos extraídos dele, Cunha (1984:164-

166), que lista as seguintes possibilidades de ocorrência:

a) no sujeito:

“Nós tínhamos imaginado, mamãe e eu, fazer uma grande peregrinação”. ( G. Aranha, OC,470).

b) no predicativo:

“Ele era o famoso Ricardão, o homem Pequeno”das beiras do Verde. (G. Rosa, GSV,203).

c) no complemento nominal:

“Dona Tonica tinha fé na sua madrinha, Nossa Senhora da Conceição, e investiu com muita arte e valor”. ( M. de Assis, OC, 1, 583).

d) no objeto direto:

“Duas especialidades tinha a padaria: os bolachões e as roscas que me referi em seguida por causa do estranho nome que lhe deram”. ( J. Amado, HMI, 18).

e) no objeto indireto:

“Casara-se com um bacharel da Paraíba o Dr. Moreira Lima. Juiz em Pilar”. ( J.L. do Rego, MVA,96).

f) no agente da passiva:

“O nosso candidato, o poeta Martins Júnior, era combatido pelo candidato baiano Felinto Bastos” (G. Aranha, OC,575).

g) no adjunto adverbial:

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“Você não tem relações aqui, no Rio, menino?” (L. Barreto,

REIC,123).

h) em outro aposto:

“Um dos pretendentes a comprar a loja era um português, seu Leal dono do Quindorá, engenho a dois passos do Vaza-Barris, perto da Taperoá e junto à vida”. (J. Amado, HMI,173).

i) no vocativo:

“ Peri, guerreiro livre, tu és meu escravo, tu me seguirás por toda parte, como a estrela grande acompanha o dia”. (J. de Alencar, OC, 11-138).

A esses casos listados por Cunha, acrescentem-se mais dois

retirados de Silva (1978:12):

j) no predicativo do objeto direto:

“ Aclamaram-no representante da classe, Cargo de responsabilidade”.

l) no adjunto adnominal:

“ trouxeram material de Pedro, o nosso colega”.

Como foi dito, as várias ocorrências do aposto em diversas

configurações estruturais já eram percebidas pelos nossos estudiosos

tradicionais, que, com isso, mostram a mobilidade do aposto em forma de

sintagma simples no interior das sentenças.

Quanto à origem do aposto, Luft (1976:143) e Bechara (1978:229)

consideram-no proveniente de uma oração subordinada adjetiva explicativa,

com apagamento do operador ( o pronome relativo) e da cópula. De caráter

transformacional, esta é uma posição antiga na gramática tradicional, como se

pode observar na Gramática Philosófica, de Barbosa (1871), que assim se

manifesta a esse respeito:

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a todo apellativo ou adjetivo ou complemento qualificativo com sua preposição, quando em conjunção se acham appostos ao sujeito ou atributo da proposição, se entende sempre o relativo conjuntivo que, com o verbo substantivo, ou no indicativo, ou no particípio em –ndo, equivalendo a uma proposição incidente ( = relativa), como: O Tejo, rio principal da Europa (que é um); Lisboa, cidade das mais nobres do mundo (que é uma ) (...) ( Barbosa, 1981:284-285).

Luft (1976) e Bechara (1989) afirmam que é comum encontrarem-

se exemplos de períodos em que o aposto aparece coordenado a uma oração

subordinada adjetiva explicativa, conforme se verifica nos exemplos abaixo:

(12) “O poço da Catingueira, o mais onça da Ribeira do Banabuiu ,que em 1825 não pôde esturricar, sumia-se quase na rocha, entre enormes oiticicas, de um lado, e do outro o saibro do rio”. ( M. de Paiva- D. Guidinha do Poço- São Paulo: 1952:22) apud Luft (1976:14)

(13) "Um cunhado dela, irmão do finado Peçanha, que ali morava , não me chamava de outra maneira”. (M. de Assis,1959:343) apud Bechara (1989:29).

Para os autores citados, esse fato demonstra que a justaposição

entre o aposto simples e a oração adjetiva explicativa marcava a semelhança

semântica entre eles: ambos possuíam um valor esclarecedor com relação ao

fundamental. Essa relação faz com que o aposto e a oração adjetiva

explicativa subseqüente tenham a mesma função sintática. Tal ocorrência

permite concluir, segundo as gramáticas tradicionais, que há evidência, como

já se disse, de um vínculo entre o aposto, o predicativo e o adjunto adnominal.

A relação semântica existente entre o predicativo e a aposição possibilita

dizer que também ela, a aposição sintagmática, serve para explicar, resumir,

identificar e, finalmente, esclarecer o antecedente. Conseqüentemente, é

possível dizer-se que a aposição pode ser vista como uma construção de

cunho explicativo, esclarecedor.

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A questão da necessidade da pausa entre o aposto e o seu

fundamental levantada pela maioria dos gramáticos, também merece uma

observação. Essa não é uma condição obrigatória, uma vez que o aposto

restritivo, por exemplo, não vem entre vírgulas. Ressalte-se, porém, que a

ausência da pausa implica uma relação semântica mais estreita entre os

elementos envolvidos, que, com o passar do tempo, tendem a incorporar-se de

uma forma mais estreita ao conjunto frasal.

Os diferentes graus de coesão entre o aposto e o fundamental

constituem um modelo de análise discutível, entre os autores tradicionais.

É interessante observar que as gramáticas tradicionais insistem

na necessidade das pausas para a caracterização da aposição, simples ou

clausular. Isso decorre, talvez, do fato de eles, os gramáticos, perceberem que

a pausa na aposição marca a ruptura sintática entre o aposto e o termo que

chamam de fundamental, possibilitando discernir uma aposição de um

predicativo ou de um adjunto adnominal.

Por conseguinte, esse tipo de argumentação se mostra inadequada

ou insuficiente, uma vez que não consegue definir certos casos de aposição,

como a clausular, por exemplo, que ultrapassam o chamado nível sentencial.

São casos semelhantes ao do exemplo abaixo, que são muito comuns,

atualmente, na linguagem escrita de jornais e revistas:

(14) Não resisto à tentação de me referir à crise fabricada por militares da aeronáutica sobretudo da reserva, no finalzinho de 1999. E que se prolongou no violento e inexplicável episódio do "reveillon" do Forte Copacabana. Que precisa ser enfrentado com mais coragem e decisão pelo presidente Fernando Hemrique na verdade o único atingido. ( Acílio Lara- Estado de Minas,02/01/00 )

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Observe-se que as cláusulas apositivas em destaque apresentam

uma configuração estrutural sintática diferente da apositiva (relativa)

tradicional uma vez que se apresentam isoladas pelos pontos finais e não mais

intervirguladas, ou após dois pontos, como era de costume. Observe-se

também que, no campo semântico, elas ampliam não apenas um sintagma

simples que lhes vem anteposto (o fundamental). Elas fogem ao modelo

tradicional, pois, na verdade, a informação veiculada por essas cláusulas

apositivas se refere a toda uma unidade de informação1 que vem anteposta a

ela.

Esse recurso utilizado pelo locutor caracteriza um mecanismo de

adjunção ou adendo que, segundo Koch et al (1990), constitui um

acréscimo que se presta a completar a informação anterior. “O falante sente a

necessidade de enfatizar ou reavivar na mente do interlocutor uma informação

já presente no universo do discurso” ( Koch et al,1990: 172).

O exemplo (14) foi extraído de um texto dissertativo da linguagem

escrita. Mas, também na linguagem oral, pode-se observar a ocorrência de

cláusulas apositivas com características sintático-semânticas voltadas mais

para o campo discursivo, o que implica dizer que uma taxonomia tradicional

não conseguiria enquadrá-las.

Veja-se o exemplo (15), onde o informante, falando de sua tese de

mestrado em Química, interrompe o fio de seu discurso e insere apostos

oracionais, visando fazer retoques de informações anteriores. Esses retoques

visam “reformular as informações precedentes, precisando-as por meio da

repetição de elementos nelas contidos e os acréscimos de elementos

diferentes” (Jubran,1997: 05).

1 Entenda-se por unidade de informação a tradução dada por Decat (1999) para “Idea unit”, conceito postulado por Chafe (1980). A unidade informacional será melhor comentada no capítulo teórico deste trabalho.

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(15) I: ... um modelo ele ele é formulado em cima de uma série de resultados experimentais que ocê tem disponíveis na época depois você ... acumula certos resultados e vê que esse modelo fica furado aí cê parte pra outro então ... e :: em vez de achar essa ênfase o que que a gente acha é uma ênfase assim em distribuição eletrônica em número QUÂNtico em coisas DA linguagem entendeu? (1) quer dizer em aspectos ... detalhes da linguagem entendeu? Quer dizer em aspectos ... detalhes da linguagem ..

D: uhn ... I: química então ... na verdade eh :: coisa que a gente percebe um ensino

distorcido (2) quer dizer em vez d’ocê ensinar ... uma relação entre eh teorias ... e modelos e os experimentos cê tá ensinando uma linguagem ... que o aluno inclusive fica perdido naquele meio né? ele não sabe pra quê que ele faz aquilo ... (DO1M,6,198-208)2 .

Na cláusula destacada de número (1) - quer dizer em aspectos ...

detalhes de linguagem entendeu? Quer dizer em aspectos ... detalhes de

linguagem química o locutor retoca a informação anterior, tornando-a mais

clara. Acrescente-se, ainda, o fato de a cláusula apositiva de número (2) - quer

dizer em vez d'ocê ensinar ... uma relação entre eh teorias ... e modelos e os

experimentos cê tá ensinando uma linguagem ... ter uma cláusula apositiva do

tipo relativa explicativa, encartada nela: que o aluno fica perdido ali naquele

meio. Há, portanto, uma superposição de apostos em forma de cláusulas.

Nesses exemplos, as cláusulas apositivas parecem pertencer a todo

um complexo sintático-semântico que extrapola as possibilidades de uma

análise tradicional, quer seja no campo sintático, quer seja no campo

semântico.

As gramáticas tradicionais, num âmbito geral, conceituam as

orações apositivas como sendo aquelas que são apostos da oração regente,

funcionando, às vezes, com matizes circunstanciais de um substantivo daquela

2 Nesta pesquisa, foi utilizado o corpus de Decat (1993) na análise realizada por ela. Por esse motivo, as referências, nos exemplos, colocadas entre parênteses, seguirão as normas adotadas por Decat.

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oração. Elas teriam as mesmas características dos apostos circunstanciais, que,

segundo Bechara (1978), como já foi dito, servem para exprimir

circunstâncias de tempo, causa, comparação; e, segundo Kury (1984:82-83),

exprimem circunstâncias de causa, de concessão, de conseqüência, de fim e de

condição.

Esses autores afirmam, ainda, que a orações apositivas são

chamadas de adjetivas por terem o valor de adjetivo. São introduzidas por um

pronome relativo e “como exprimem uma qualidade inerente ao substantivo,

com valor de meros apostos, podem ser eliminadas sem prejuízo da oração”,

segundo Luft (1985:158). Sua função é, segundo esses mesmos gramáticos,

apenas estilística: servem para dar ênfase, reforço. Do mesmo modo, também

para Faraco e Moura (1996:350-351) as “relativas explicativas não limitam o

sentido do antecedente. Acrescentam-lhe uma informação, que pode ser

eliminada, sem causar prejuízos para a compreensão lógica da frase”.

Por uma questão de delimitação do assunto aposição, que é amplo

e muito diversificado, neste trabalho far-se-á o estudo da mesma sob a forma

de cláusulas apositivas, presentes nos gêneros dissertativo e narrativo nas

modalidades oral e escrita da língua portuguesa.

As cláusulas apositivas (isoladas, ou não) aqui estudadas são: as

do tipo relativa explicativa (introduzida por um pronome relativo); a apositiva

do tipo substantiva, isto é, imediatamente colocada após dois pontos; e as

cláusulas apositivas introduzidas por expressões parentéticas do tipo isto é, a

saber, quer dizer, ou seja, etc.

Isso porque numa investigação inicial das cláusulas apositivas no

corpus aqui adotado, pôde-se constatar que, elas podem exercer variadas

funções – à semelhança da aposição em forma de sintagma simples. E

algumas dessas funções de cunho pragmático-discursivo são desconhecidas da

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literatura corrente. Tais funções podem ocorrer tanto nos dados de língua oral

quanto nos de língua escrita.

Diante dos problemas apontados até aqui, faz-se necessário um

estudo que enfoque as cláusulas apositivas no âmbito do discurso, sob uma

abordagem funcional e pragmática. Tal abordagem poderá contribuir para

uma melhor compreensão do processo de aposição em si e da sua

manifestação através de cláusulas que se articulam com outros componentes

intra e extra-sentenciais.

Na efetivação dessa empresa, procurar-se-á observar se as

cláusulas apositivas são meros "termos acessórios", que podem ser retirados

sem prejuízo do sentido das frases, como afirmam nossos gramáticos

tradicionais - ou se elas constituem mecanismos essenciais para a coerência

textual, interferindo na elaboração tópica do texto, ou, até, se constituem

mecanismos que, ao provocarem descontinuidades na progressão temática,

objetivam ainda a coerência do ato comunicativo, visando a interação entre

os interlocutores.

1.2. Objetivos

Conforme se sabe, a língua oral vem atraindo, nos tempos atuais,

a atenção dos estudiosos da linguagem, que procuram enfocá-la em seu estado

de uso real pelos falantes, confrontando-a, muitas vezes, com a escrita.

Partindo do pressuposto de que essas duas modalidades de língua

se relacionam num continuum, o presente trabalho se propõe a atingir os

seguintes objetivos no estudo que empreende acerca da aposição clausular:

a) redimensionar o conceito de aposição, considerando a cláusula

que a expressa como elemento discursivo , tanto oral quanto escrito;

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b) demonstrar, à luz de visão interativa, que as cláusulas apositivas

constituem construções parentéticas, que interferem na elaboração

tópica dos textos;

c) mostrar que as cláusulas apositivas também constituem

mecanismos de desaceleração-descontinuidade, na progressão

temática, sob a forma de mecanismos de inserção ou de

reconstrução.

d) verificar o comportamento da cláusula apositiva nas

modalidades de língua oral e escrita dos gêneros narrativos e

dissertativos de língua portuguesa.

1.3. Metodologia

1.3.1. O corpus: Constituição e caracterização

A investigação das cláusulas apositivas, nesta pesquisa, baseia-se

em dados lingüísticos que visam considerar a linguagem como instrumento de

interação, em função do seu uso oral ou escrito.

A idéia de que a língua oral e a língua escrita eram oponentes

dentro dos estudos lingüisticos já está modernamente superada. Também a

primazia dada à língua escrita – que ainda hoje existe, mesmo que em menor

escala – com relação à linguagem oral não se apresenta mais para os

lingüistas como uma verdadeira realidade.

Modernamente, tanto a linguagem escrita quanto a linguagem oral

constituem simplesmente modalidades de uso dentro de uma perspectiva

interacional, perspectiva essa que visa o estudo dessas duas modalidades

dentro de um continuum.

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Segundo Koch (1987) as diferenças existentes entre as duas

modalidades - oral e escrita - não são bastantes para que possam ser

consideradas como oponentes, uma vez que existe uma escrita informal que

se aproxima da fala formal, dependendo do tipo de situação comunicativa.

Sendo assim, o que se pode afirmar é que a escrita formal e a fala informal

constituem pólos opostos de um contínuum, ao longo do qual se situam os

diversos tipos de interação verbal.

Marcuschi (1996) afirma que tanto a fala como a escrita

apresentam variações. Assim sendo, uma comparação entre ambas deve tomar

como critério básico de análise uma relação fundamentada no continuum dos

gêneros textuais, para se evitar dicotomias estritas. Assim, este autor coloca a

noção de funcionamento da língua como decorrente das condições de

produção, da atividade dos produtores e dos receptores dos textos, situados

em contextos reais de uso, ou seja, a língua como atividade situada e cujas

estratégias fogem, às vezes, do que se convencionou chamar de sistema

lingüístico.

A postura assumida pelo falante “no evento interativo de maior ou

menor focalização no envolvimento interpessoal ou na informação veiculada

é que define as especificidades de cada discurso”. (Tannen 1986, apud Val

1996:146).

Ambos os discursos, oral ou escrito, são contextualizados de

acordo com as circunstâncias específicas de cada um. Tanto um quanto o

outro se baseia num processo interativo que leva o interlocutor a produzir

sentidos, ativando sua capacidade de pressuposição e inferências.

O corpus aqui pesquisado é constituído de um conjunto de textos

narrativos e dissertativos , orais e escritos do acervo de Decat (1993); de cem

textos dissertativos de alunos do terceiro grau e de alguns textos de jornais.

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Para melhor explicitar o acervo de Decat, tem-se i) discursos orais - dez

narrativas de experiência pessoal em situação de perigo de vida ou medo; dez

discursos dissertativo-argumentativos contendo exposições orais sobre

trabalhos acadêmicos (dissertação de Mestrado ou tese de Doutorado); ii)

discursos escritos: a) do acervo de Decat (1993) - dez narrativas de

experiência pessoal relatada quando da coleta dos dados orais, dez

dissertativos extraídos dos trabalhos acadêmicos correspondentes à exposição

no momento da coleta dos dados orais; b) cem textos dissertativos de alunos

do terceiro grau; c) alguns textos do jornal Estado de Minas.

Os informantes dos discursos do acervo de Decat são cinco do

sexo feminino e cinco do sexo masculino, todos com nível de escolaridade

superior.

No presente trabalho considera-se cláusula apositiva, como foi

frisado anteriormente, as do tipo relativas explicativas ( introduzidas por

pronome relativo), as apositivas do tipo substantiva ( pospostas a dois

pontos), as apositivas introduzidas pelas expressões do tipo a saber, quer

dizer, ou seja etc. As deste último tipo pertencem ao grupo das apositivas

introduzidas por "indicadores explícitos de aposição" (Quirk et al, 1985:1307,

apud Nogueira, 1999:33)

Não se levou em consideração a cláusula "principal" dentro do

conceito das Gramáticas Tradicionais, uma vez que os estudos sobre a mesma

se atêm ao nível sentencial. Aqui, referendou-se a relação das cláusulas

apositivas numa ótica funcional- discursiva dentro de um contexto maior de

uso da linguagem.

O termo cláusula foi usado para toda estrutura provida de verbo .

Mesmo que fossem dois ( ou mais ) núcleos verbais (repetidos ), considerou-

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se uma só ocorrência clausal. Veja-se como exemplo, o de número (16),

extraído de Decat (1993:83)

(16) "teria que ... que podar daqui e dali e terminaria ... terminaria reduzindo ... né? então aquilo me preocupou desde o princípio ... né? ( NDO 6F,6,190-193)

Quanto ao levantamento quantitativo apresentado no capítulo

três, deste trabalho, ele se prestará como suporte para a análise qualitativa das

cláusulas apositivas na abordagem funcional-discursiva, e possibilitará

observar-se a inter-relação entre o grau de ocorrência das funções dessas

cláusulas e a modalidade lingüística - oral e escrita - em que foram usados.

1.3.2. Suporte teórico

Quanto à linha de abordagem teórica, adotar-se-á uma ótica

funcionalista, apresentando o texto num nível discursivo, o qual mostre a

articulação da aposição clausular tanto no interior de períodos e parágrafos,

quanto no interior de seqüências textuais.

Essa opção não significa o desconhecimento da importância dos

estudos tradicionais, que, apesar de suas lacunas, são de grande valor, uma

vez que apontam para caminhos a investigar.

O enfoque funcionalista se explica pelo fato de ele possibilitar

uma abordagem da língua em seu processamento e como decorrente de

escolhas feitas por seus usuários.

A já citada falta de consenso entre os gramáticos tradicionais em

determinarem o status morfo-sintático-semântico para a aposição traz,

atualmente, uma certa dificuldade ao processo ensino/aprendizagem no

tocante aos estudos da mesma, apesar de já se encontrar um grande número de

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obras publicadas visando a eficácia no desenvolvimento das habilidades

lingüísticas, à luz da lingüística moderna e isso se justifica, pelo fato de ser

somente através da linguagem que os indivíduos transmitem suas

experiências, ascendem à cultura e exercem seu direito de cidadania. Para

tanto, é mister que se leve em consideração o conceito de língua numa

perspectiva enunciativa/discursiva, a qual considere as condições de produção

da linguagem, e, que entenda, também, que a língua só tem existência de fato

no dialogismo, ou seja, como forma de interação social. Segundo Val, “a

linguagem veicula a atividade mental do homem e funciona como

articuladora de sua visão de mundo. As idéias construídas sobre o real se

concretizam na linguagem, em um espaço social e histórico bem definido”.

Val (1996:14). Ao se considerar a língua como uma atividade social, levar-se-

á em conta a contextualização da linguagem, pois ela ultrapassa “os limites da

sentença e avança na análise de sentenças contextualizadas em textos

extensos” (Castilho:1990:21).

Pelo que se observou, crê-se que realmente haja uma necessidade

de que seja feito um estudo do processo da aposição que se baseie no

enunciado; numa abordagem funcional e pragmática que considere o texto

num nível discursivo. O termo texto será considerado, segundo Val (1993),

como sinônimo de discurso oral ou escrito, "unidade lingüística comunicativa

básica, uma ocorrência lingüística oral ou escrita, de qualquer extensão,

dotada de unidade sócio-comunicativa, semântica e formal”. (Val, 1993:3-4).

Para se constatar o estatuto da aposição clausular como um dos

elementos de organização discursiva, serão tomados, como pressupostos

teóricos, as postulações de Jubran (1997 ) sobre as funções textuais e

interativas dos parênteses, e os estudos de Koch et al (1990) sobre as

descontinuidades na progressão temática. Originariamente concernentes à

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descrição da língua oral, os resultados dos estudos dos autores acima serão

aqui estendidos à análise de dados da modalidade escrita do português.

Com relação ao termo discurso, ele será considerado, neste

trabalho, como postula Castilho:

Discurso é o mesmo que interação lingüística em presença; discurso é conversação (envolve todo o processo enunciativo: locutor, interlocutor, o assunto, a rede de imagens que os falantes fazem de si mesmos e das pressuposições relativas ao assunto)”. (Castilho:1990:20)

1.4. Plano da Dissertação

Além deste capítulo de introdução, o presente trabalho

compreende, ainda, dois capítulos e uma parte de considerações finais.

No segundo capítulo, discutem-se os pressupostos teóricos que

embasaram o estudo aqui realizado, pressupostos esses que, como já foi dito,

se assentam em dois grandes pilares: o das funções interativas dos parênteses

de Jubran (1997) e as descontinuidades na progressão temática, de Koch et al

(1990).

No capítulo três, faz-se uma análise geral das funções da cláusula

apositiva no corpus pesquisado, observando-se seu procedimento nas

modalidades oral e escrita da língua, tanto no gênero narrativo, quanto no

dissertativo.

A seguir, dando fecho ao trabalho, apresentam-se considerações

de ordem final, à guisa de conclusão, que constituirão uma espécie de balanço

dos resultados obtidos.

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CAPÍTULO 2

A aposição: trajetória e caracterização

2.1. Introdução

O fenômeno da aposição foi percebido desde a antigüidade,

aproximadamente a partir do século XVI. Também nessa mesma época é que

surgiu o termo aposição nas primeiras Gramáticas Latinas. No entanto, a

aposição

somente foi verdadeiramente fixada como conceito que designa propriedades sintáticas da palavra ou da proposição, na passagem entre os séculos XIX e XX. Tal como outras categorias funcionais (o epíteto, o complemento de circunstância) , a aposição era vista como uma figura da retórica, Bernard Colombat, estudando a origem medieval das figuras de construção, identifica a aposição como uma delas: prolepsis, syllepsis, zeugma, synthesis, antitosis, evocativo, appositio, synecdoche. A existência da noção de aposição é atestada desde a retórica latina ( ... ). Às vezes, ela é designada pelo nome de epixegese, do grego epexegesis que significa explicação adjunta. (Nogueira, 1999:17).

Somente aos poucos é que a aposição foi tomando o campo

gramatical dentro da categoria do nome nas gramáticas latinas. O que era

analisado nas gramáticas latinas como aposto passa a ser considerado um

substantivo atributo que concordava com o seu antecedente em gênero e

número, nas línguas românicas.

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Na língua portuguesa, a aposição era vista como um adjunto

atributivo, hoje, adjunto adnominal. Essa função pode ser encontrada em

gramáticas que antecederam a Nomenclatura Gramatical Brasileira, como a de

Góis (1960), já citada no capítulo 1, deste trabalho.

Como foi dito ali, modernamente, a aposição, principalmente a

clausular, exerce papéis importantes nos textos orais e escritos. Na linguagem

escrita, a cláusula apositiva chega até mesmo a se apresentar - apesar de ser

considerada uma cláusula subordinada - desgarrada3 da oração principal. Isso

acontece com muita freqüência em textos da linguagem escrita,

principalmente na linguagem jornalística.

Mas, é interessante observar que, no âmbito da Gramática

Tradicional, Bechara (1978) já fazia referência ao caso desse tipo de

apositivas chamadas desgarradas, quando afirmava:

As orações apositivas admitem ainda uma expressão resultante do cruzamento da construção conectiva com a construção justaposta. Dizendo: uma coisa vos confessarei, que os portugueses são homens de ruim língua, misturam-se dois tipos: a) uma coisa vos confessarei: os portugueses são homens de ruim língua (justaposição); b) Eu vos confessarei que os portugueses são homens de ruim língua (conexão). Nestas circunstâncias, a pontuação pode ser diferente da do trecho acima. A oração que contém o substantivo pode terminar por ponto, e o apôsto encabeçado por "que", iniciar com letra maiúscula, dando a impressão de oração à parte: "O noctivago sente na sua individualidade, nos calos e no seu nariz, a doce impressão panteísta das árvores e dos calhaus. Que este globo muito bem feito. (Camilo, A Brasileiras de Prazins, 314, Ed. 1882). A oração que este globo está muito bem feito é, parece-me, apôsto de "doce impressão", e não subordinada causal como pensa o professor Daltro Santos no comentário de nº 280 da Antologia Nacional. (Bechara, 1978:135-136).

3 O termo “desgarrada” é utilizado por Decat (1999) para designar a cláusula apositiva que se apresenta, na língua escrita, formalmente independente da cláusula matriz, constituindo um período à parte.

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Pode-se perceber a hesitação de Bechara ao conceituar a cláusula

Que este globo está muito bem feito, quando ele faz a afirmação “parece-me

apôsto de doce impressão”. Apesar de já perceber o fato de a cláusula em

grifo ser desgarrada, ele hesita em dar uma clara definição das características

sintático-semânticas da mesma. A gramática tradicional não responde a essa

dúvida, porque, como já foi dito, sua abordagem vê a aposição como uma

construção meramente sintática, superficialmente semântica, nada pragmático-

discursiva; e acrescente-se, ainda, bem distanciada de um contexto

comunicativo.

A cláusula apositiva desgarrada, segundo Decat (1999), constitui

uma estrutura em que a apositiva se apresenta de uma forma sintática

independente da cláusula matriz, como que formando uma unidade

informacional (“idea unit”, segundo Chafe, 1980) por si mesma. Conforme

aponta Decat (1999:27) trata-se, para Chafe, de um “jato de linguagem que

contém toda a informação que pode ser manipulada pelo falante num único

foco de “consciousness” (ou estado de consciência, conforme Kato,

1985:35)”.

Esclarece, ainda, a autora, que para Chafe a unidade informacional

pode "ser expandida por intermédio de mecanismos variados, dentre os quais

as cláusulas complemento e as cláusulas relativas restritivas"

(Decat,1999:27). A partir de tal constatação, Decat estabeleceu a “diferença

entre encaixamento e hipotaxe ou entre integração estrutural e opção

organizacional” (op.cit,p.27), o que, segundo a autora, poderia esclarecer "a

questão da (in)dependência das cláusulas". Decat realizou um teste sobre

graus de dependência entre tais cláusulas e os resultados obtidos levaram às

seguintes considerações, dentre outras:

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1. a proximidade semântica e a semelhança estrutural entre orações coordenadas e subordinadas conduzem a dificuldades na distinção entre esses dois processos;

2. o comportamento diferenciado das cláusulas substantivas e adjetiva restritiva, de um lado, e das adverbiais e apositivas, de outro, decorre do fato de as primeiras constituírem estruturas de encaixamento, ou seja, integradas estruturalmente em outra cláusula numa função de ARGUMENTO, fazendo parte, portanto, de uma mesma unidade de informação. Já as segundas (as apositivas) funcionam como ADJUNTOS, caracterizando-se como opções organizacionais do discurso, constituindo, pois, unidades de informação à parte.(Decat, 1999:29).

Ainda segundo a autora, essa relação de dependência menor faz a

cláusula caminhar para uma independência sintática da qual origina o

desgarramento.

E esse fato vem comprovar a grande incidência de cláusulas

subordinadas (como a apositiva, por exemplo) constituindo sozinhas

enunciados, como atesta o exemplo a seguir:

(17) Criticados pelas organizações da "moderna" esquerda, o PT e seu braço sindical, a CUT, toda a legislação trabalhista rapidamente virou a responsável pelos males que assolam os órgãos de representações de classe, tornando-se sua revogação talvez a última peça restante para favorecer o capital predatório. Substituí-lo por algum tipo de arcabouço, que assegure o mínimo de direitos, no entanto, trata-se de outra história. Que depende de poder político econômico - que o diga o ex-ministro Edward Amadeu, que em 1998 recebeu com aquiescência o projeto do então presidente da Federação das indústrias cariocas (Firjan). Artur João Donato". (Estado de Minas 01/01/2000 ).

A cláusula apositiva em grifo é do tipo relativa explicativa que se

apresenta desgarrada, semelhante a um adendo (ou afterthought), com a

função de um acréscimo da informação veiculada pelo termo história. A

apositiva desgarrada (destacada) é de natureza enfática e aparece em forma de

um adendo (Koch et al, 1990).

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Essa apositiva desgarrada da principal, constituindo um período à

parte, abrange um discurso maior do que a sentença, e traz uma informação

que vai além do simples fato de esclarecer um fundamental. Seu fundamental

é, na verdade, todo o contexto ao qual se integra.

Nossos autores tradicionalistas, como já foi dito na introdução deste

trabalho, analisaram a cláusula apositiva apenas no nível sentencial, a partir de

um corpus escrito que, na maioria das vezes, era retirado do registro literário.

Assim, a aposição sintagmática simples apresenta ainda hoje uma

classificação um tanto quanto divergente. Havia e há muitas contradições na

sua caracterização. Como já se disse, o aposto simples, por exemplo, era

comparado a um substantivo (Câmara Jr.,1961:57), um adjetivo, (ou locução),

pronome, advérbio ou oração (Kury, 1984:99). Também alguns autores o

comparavam ao adjunto adnominal, ao predicativo e ao adjunto adverbial. (Cf.

Góis (1960), Nascentes (1959) e Bechara (1989)).

A única unanimidade encontrada, como já se sabe, é quando aqueles

autores reconhecem o caráter explicativo da aposição e a sua característica de

termo acessório. Consideravam-no também de pouca importância para a

estrutura frasal. No entanto, reconhecem sua mobilidade, como está bem

exemplificado em Cunha (1980), e como foi apontado na introdução deste

trabalho.

2.2. A aposição em forma de sintagma simples

A aposição, sob forma de sintagma simples ou de sintagma

oracional, constitui comentários acerca do fundamental, do conteúdo

proposicional da cláusula anterior, ou, até mesmo, de uma unidade

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informativa, ou seja, algo anteriormente expresso e que vai além de um

simples fundamental.

Dentro da relação semântico-pragmática de correferência entre os

termos de uma aposição, Câmara Jr. ( 1961:47 ), afirma que "a aposição é uma

seqüência, que gira em torno de um centro, e que se apresenta distinta de

seqüências de caráter centrífugo (no qual cada elemento tem o seu próprio

ponto de referência)". Essa correferencialidade chega a ser vista como

característica fundamental da aposição. Embora isso ocorra, existem

estudiosos do assunto que não consideram a correferencialidade como

determinante da aposição, uma vez que ela não está presente em algumas

estruturas que normalmente são analisadas como apositivas. É o caso da

aposição restritiva, na qual a aposição constitui, juntamente com o

fundamental, uma única unidade de informação. Tanto é assim que, nesse

caso, inexistem as pausas (na fala) e os sinais de pontuação (na escrita).

Exemplo:

(18) A cidade de Itaúna é universitária.

O aposto restritivo de Itaúna é também chamado de aposto

especificativo por alguns gramáticos, como Kury (1973), por exemplo.

Várias são as relações semânticas da aposição em forma de

sintagma simples. Além de restringir ou especificar o fundamental, esse

sintagma pode, ainda, segundo Luft (1985:43 ), ser:

1- Definitório - quando define o fundamental: Carlos Gomes, glória da música brasileira, escreveu uma opera imortal - O Guarani. 2- Enumerativo - quando apresenta uma enumeração:

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Os recém-chegados, um francês, um italiano e dois alemães, tomaram assento à mesa. 3- Atributivo, explicativo: geralmente com conotações adverbiais - expresso

por sintagmas preposicionais; com o antecedente muitas vezes suprimido: Satisfeitos, os alunos corriam pelo pátio.

Kury (1973) chama o aposto atributivo ou explicativo de aposto

atributivo ou predicativo. Esse autor apresenta ainda o aposto recapitulativo,

cuja função é recapitular ou resumir o fundamental. Veja-se o exemplo a

seguir:

(19) Ao princípio era um só; depois dez, vinte, trinta, mulheres e homens ... tudo a contemplar o Jó.

Luft (1985:44) atribui as seguintes conotações adverbiais ao

aposto em forma de sintagma simples:

ü causal: Impulsivo e rixento, seus colegas o evitaram ( porque era, por ser ... ) ü concessivo: Especializado na matéria, ninguém o consultou. ü Temporal: Em criança, era vivo e irriquieto. ü condicional: Reprovado, que dirão teus pais? ü comparativo: Pomba sem fel, deixou-se lograr, etc.

A função de aposto enumerativo é também chamada de

recapitulativa por Cunha e Cintra (1985:162), onde ele cita, como exemplo:

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(20) Tudo no homem passeia: o corpo e a alma, os olhos e a imaginação. (J. de Alencar, OC. IV, 666)

Melo (1978), além das circunstâncias de causa, tempo,

comparação e concessão, já exemplificadas anteriormente, aponta a função de

modo ou situação para esse tipo de aposto. Veja-se:

(21) Murinhém atravessou rápido a campina e apresentou-se em frente de Camicrã, chefe dos tapuias. (Alencar, Ubirajara, p.127) apud Melo (1978:79)

Em nossas gramáticas tradicionais, o papel semântico da aposição,

em forma de sintagma simples, já era bastante diversificado, como o é

atualmente. Ele restringe, explica, define, atribui qualidades, recapitula, enceta

várias circunstâncias, enumera, resume o fundamental que o antecede.

Veja-se o quadro I, demonstrativo de algumas funções da aposição

em forma de sintagma simples, extraídas de algumas gramáticas tradicionais.

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Quadro I - Comparativo das classificações de alguns apostos

Exemplos de alguns apostos Função Morfológica Função Sintático-

Semântica

1- "Carlos Gomes, José de Alencar, Pedro Américo são algumas de nossas glórias nacionais".( Mattoso Câmara".

Substantivo e adjetivo Apostos atributivo ou predicativo

2- "Anchieta, o fundador de São Paulo, era jesuíta".

( Silveira Bueno )

Locução adjetiva Aposto explicativo

3- "Alexandre, rei da Macedônia, venceu Dário,

rei dos persas". ( Antenor Nascentes ).

1. locução adjetiva

2. locução adjetiva

Aposto explicativo

4- "Renato, amigo nosso, não nos abandonou (Said

Ali )

Substantivo Aposto explicativo

5- "Fruta verde é nociva". ( Said Ali ) Adjetivo Aposto especificativo

6- "A diretora do colégio tem cabelos louros". (Said

Ali )

Locução adjetiva Aposto especificativo

7-"Meu trabalho está terminado". 9 Said Ali ) Pronome possessivo Aposto especificativo

8- "Não gosto de discursos compridos". (Gama

Kury )

Locução adjetiva Aposto especificativo

9- "Cidade de Roma". (Gama kury ) Locução adjetiva Aposto especificativo

10- "Montes Pirineus". ( Gama Kury ) Substantivo/adjetivo Aposto especificativo

11- "Bela, todos a cortejam". ( Gama Kury) Adjetivo Aposto atributivo ou

predicativo

12- "Ao princípio era um só, depois, dez, vinte,

trinta homens... tudo a contemplar Jó". ( Gama

Kury )

Pronome indefinido Aposto resumitivo

13- "Você, sua besta, fez-me dar um trambulhão".

( Carlos Góes )

Pronome possessivo +

substantivo

Aposto atributivo ou

predicativo

14- "Tu, i meu amor, estás cada vez mais magra".

(Mira Mateus)

Pronome possessivo +

substantivo

Aposto predicativo

15- "João, todo contente, partiu para os EUA".

(Celso Cunha )

Locução adjetiva Aposto atributivo ou

predicativo

16- "Tudo no homem passeia, o corpo, a alma, os

olhos e a imaginação". (Celso Cunha)

substantivos Aposto enumerativo

17- "O poeta Olavo Bilac ..." Substantivo próprio Aposto especificativo

18- "O romance Dom Casmurro"(Rocha Lima). Substantivo Aposto especificativo

19- "A lagoa Rodrigo de Freitas". ( Rocha Lima ) Substantivo próprio Aposto especificativo

20- "O rio Tejo..."( Rocha Lima ) Substantivo próprio Aposto especificativo

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2.3. A aposição em forma de sintagma oracional

Quanto à aposição em forma de cláusulas, as gramáticas

tradicionais chamam essas cláusulas, de adjetiva explicativa e substantiva

apositiva. E, como o aposto, servem apenas para acrescentar uma informação

às cláusulas que as antecedem.

Nas gramáticas tradicionais, a cláusula apositiva, não raras vezes,

é considerada similar a outros tipos de cláusulas. Apenas em Bechara (1978) é

que se pode observar que a cláusula apositiva já era considerada à semelhança

da “oração absoluta”, isto é, “apositiva-absoluta”. Esse tipo de apositiva, que

se apresenta após um ponto final, é coincidente com a cláusula apositiva

“desgarrada”, segundo Decat (1999), como já foi apontado anteriormente.

Bechara acrescenta, também, que as orações adjetivas explicativas, hoje

apositivas, “não assumem apenas o sentido qualificativo, elas podem ainda

exprimir relações de fim, causa, conseqüência, concessão ou serem

adversativas”. Bechara, 1978;144).

Em Diniz (1964), também não há uma clara definição da cláusula

apositiva. Veja-se a diferença que ele estabelece entre as construções “Sei uma

coisa: que não serás aprovado nos exames” e “Eu lhe disse: não serás

aprovado nos exames”:

( ...). Enquanto no primeiro exemplo, em cada uma das duas orações do período encontram-se todos os seus termos essenciais e integrantes, no segundo exemplo o verbo _ “disse”, da primeira oração, tem por objeto direto a oração seguinte. Embora seja isso uma verdade, não se admite seja a segunda oração _ “não serás aprovado nos exames”, Uma oração subordinada substantiva objetiva direta; devemos antes analisar essa oração do mesmo modo que a primeira como absoluta, reconhecendo na frase, a existência de dois períodos simples. Compreenda-se a razão dessas duas

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soluções diversas: no primeiro exemplo, a segunda oração _ “que não serás aprovado nos exames” regida de um conectivo (“que”) de subordinação, não poderia deixar de ser subordinada; no segundo exemplo, a segunda oração _ “Não serás aprovado nos exames” com verbo no indicativo e não regida de conectivo de subordinação, não poderia ser subordinada embora servindo de objeto direto da primeira oração. (...) (Diniz, 1964:48-49).

Como se pode observar, as orações que o autor coloca em

discussão se apresentam após dois pontos, o que caracteriza formalmente,

segundo a gramática tradicional, a cláusula apositiva de natureza substantiva.

Ao final do excerto, não há como se concluir se as cláusulas em destaque são

substantivas objetivas diretas, se são apositivas, ou se são “períodos simples”.

A verdade é que a oração não serás aprovado nos exames não poderia ser

substantiva objetiva direta, segundo o autor, embora ele afirme que ela é

objeto direto da oração anterior. Não se vê, também, nenhuma das conjunções

integrantes “que” e “se” que tradicionalmente introduzem as orações

substantivas. Logo, ela não constitui uma substantiva. Nada fica claramente

definido.

Em resumo, pode-se dizer que os autores tradicionais, de um

modo geral, consideram certas orações justapostas como coordenadas

assindéticas e vêem a cláusula apositiva como oração absoluta, ou, às vezes,

como uma oração principal ou coordenada antecipada no corpo da oração

anterior4.

Kehdi (1982) faz um amplo estudo da aposição oracional,

abordando desde a colocação do "aposto" na oração e do "aposto oracional"

no período, chegando até às orações justapostas. É bom lembrar que os

estudos sobre a aposição clausular analisavam a cláusula apositiva ora

4 Sendo esse assunto também de natureza complexa, o seu desenvolvimento mais acurado estrapola o tema deste trabalho. Por esse motivo, não será aprofundará no mesmo, dentro de uma perspectiva tradicional.

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como "oração absoluta”, ora como oração adverbial, ora como substantiva,

reduzidas ou não, indo até as orações desenvolvidas (introduzidas por um

pronome relativo).

Aponta, também, este autor, que a cláusula apositiva, geralmente,

se pospõe à cláusula anterior, que contém em seu final o termo chamado

fundamental. Se esse termo fundamental estiver no início da oração anterior, a

cláusula apositiva pode aparecer imediatamente após ele, adquirindo, então, as

características de cláusulas parentéticas. Esse caso vem coincidir com as

apositivas parentéticas (a serem aqui estudadas), cujas funções são de clarear,

exemplificar, justificar, reparar, explicitar, etc, a informação anterior. No caso

em que a apositiva se refere não a um termo da oração antecedente, mas a essa

como um todo, observa Kehdi que o caráter de aposição é menos perceptível.

Quanto à relação das cláusulas apositivas com as orações

coordenadas, esse mesmo autor afirma que há uma diferença semântica e uma

diferença formal entre elas. As cláusulas apositivas, por constituírem uma

"explicitação do antecedente", pode-se sempre antepor-lhes uma expressão

parentética, como "isto é", "a saber". Se, ao contrário, se antepuserem as

conjugações coordenativas "e', "ou" ou "mas", seriam obtidas estruturas

"canhestras ou inaceitáveis" (Kehdi,1982:126). Kehdi cita um exemplo

extraído de Machado de Assis:

(22) Não tive filhos: (isto é) não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Substituindo-se o “isto é” pelas conjunções coordenativas “e”,

“ou” e “mas” o resultado seria “estranho” ou “inadmissível”.

Com relação ao fato de as cláusulas apositivas, às vezes, se

assemelharem às cláusulas adverbiais devido às circunstâncias que aquelas

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podem apresentar, as observações dadas por Kehdi (1982) apesar de se

referirem à aposição sob forma de sintagma, podem se estender à aposição

sob forma de cláusulas:

Queremos, contudo, assinalar que o aposto pode ter, também, valor circunstancial porque, como elemento procedente de uma subordinada adjetiva explicativa, acaba herdando desta as noções circunstanciais que ela acumula. (... ) Para explicar esse fato, é necessário fazer algumas considerações prévias sobre as orações subordinadas adverbiais em geral ( ... ), podemos constatar que elas são introduzidas por conjunções subordinativas, monemas funcionais, de valor explícito: embora exprime concessão; se exprime condição, etc. São, portanto, sintagmas autônomos, o que lhes possibilita certa mobilidade no interior do período. (... ) Ora, (...) já assinalamos que o aposto circunstancial corresponde ao predicativo de uma subordinada adverbial, com elipse do conectivo e do verbo de ligação. Representante de uma subordinada, esse aposto pode permutar pela frase, à semelhança do que ocorre com a oração circunstancial. (Kehdi,1982:144-146).

O autor declara ainda que, quando o aposto se afasta mais do

fundamental, o "caráter circunstancial" passa a ser mais perceptível, porque

ele perde o seu caráter atributivo. O que as gramáticas apresentam como

aposto circunstancial são exemplos de apostos distanciados ao máximo do

respectivo fundamental.

Kehdi (1982) afirma, ainda, que "a parentética é, a rigor, uma

coordenada que, em vez de colocar-se após uma outra, vem interrompê-la,

como que antecipando-se a ela". Exemplifica e comenta:

"O meu ideal, que fosses médico, havia de realizar-se". Normalmente o aposto oracional segue-se à oração antecedente: "O meu ideal de realizar-se: que fosses médico'. Neste caso, podemos perceber que o valor parentético desaparece (...) (Kehdi, 1982:169-170).)

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Ele assinala que essa não é uma única marca que caracteriza as

parentéticas: a mudança de tom (indicada na escrita por sinais específicos de

pontuação) pode fazer com que uma cláusula seja intercalada.

As "orações intercaladas" de citação, que são consideradas por

alguns autores como principais, apresentam, segundo Kehdi, razões formais

que justificam a sua classificação como parentéticas. "Não só são

pronunciadas em um tom diferente com relação à outra oração, como também

se deslocam com relação a esta". (Kehdi, 1982:172).

Em alguns outros lingüistas modernos, como, por exemplo, Perini

(1989), percebe-se que a relação tanto sintática quanto semântica da cláusula

apositiva com os demais sintagmas é de subordinação. Assevera esse autor

que "complexos nos quais a oração subordinada é vinculada ao resto do SN

através de um elemento relativo, tirado de uma pequena lista: que, o qual,

quem, cujo e onde. (...) aparecem tipicamente com função de modificador".

(Perini, 1989:22).

Em Souza e Silva & Koch (1986) lê-se:

As orações relativas, denominadas adjetivas na gramática tradicional, podem ser de dois tipos: as restritivas, que funcionam como sintagmas adjetivais e apresentam-se encaixadas na posição de modificador do nome, conforme a regra SA O2 e as apositivas, que funcionam como aposto e se originam de frases coordenadas na estrutura profunda, razão pela qual serão examinadas no capítulo referente à coordenação (Souza e Silva & Koch, 1986:113).

Subentende-se que as cláusulas apositivas são de natureza

coordenada e, no que diz respeito à coordenação de orações, as autoras alegam

serem as orações coordenadas estruturalmente independentes, não exercendo,

assim, função sintática "dentro da outra". Não há o encaixe de uma oração no

lugar de um dos termos da outra, como ocorre na subordinação.

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As autoras acrescentam que essa operação de coordenação de duas

ou mais orações tem, por parte do locutor, o objetivo de estabelecer entre elas

determinado tipo de relação significativa. Por esse motivo, julgam que não é

possível afirmar que essas orações sejam "independentes entre si". Afirmam

ainda:

As relativas apositivas, por seu valor de aposto, originam-se de orações coordenadas e se encaixam ao lado do SN que contém o elemento idêntico. Denominadas explicativas, pelas gramáticas tradicionais, distinguem-se das restritivas, porque estas resultam de orações subordinadas e se encaixam, dentro do SN. ( Souza e Silva & Koch, 1986:130-131 )

Apontam as autoras uma outra distinção entre as "relativas

apositivas" e as restritivas dada por fatores de ordem semântica e pragmática.

As restritivas indicam limitação na referência ao antecedente, isto é, fazem

uma asserção sobre um subconjunto do conjunto universo a que se refere, e as

"relativas apositivas" “fazem uma asserção sobre todos os elementos do

conjunto representado pelo antecedente (que pode ser, evidentemente, um

conjunto unitário)”. Não havendo delimitação nesse caso. E as autoras

exemplificam:

(23) As obras primas que foram premiadas são valiosas (apenas aquelas que foram premiadas, não todas).

(24) As obras primas, que foram premiadas, são valiosas (todas as obras-

primas foram premiadas).(apud Souza e Silva & Koch, 1986:114)

Assim, o uso das vírgulas, nas relativas apositivas, é "uma

decorrência de fatores sintático-semânticos e não um critério de classificação".

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E assim, para se fazer uma distinção entre relativa restritiva e uma apositiva

depende-se do contexto a que pertençam. Não se pode deixar de lado, é claro,

os fatores pragmáticos que envolvam as relativas apositivas. Quanto a isto,

Souza e Silva & Koch afirmam que esses fatores não podem ser

desconsiderados, porque que as relativas apositivas exprimem, em grande

número de casos, o conhecimento de mundo do locutor, a sua pressuposição

acerca do conhecimento do interlocuotr, as crenças partilhadas por eles, etc.

Como se vê, continua em discussão o caráter coordenado ou

subordinado das cláusulas, e entre elas o da cláusula apositiva.E quanto a isto,

Decat (1999), no seu artigo sobre a (in)dependência de cláusulas já citado

anteriormente, enquadra as cláusulas apositivas “desgarradas” no rol das

cláusulas que representam opções organizacionais para o usuário da língua, e,

conseqüentemente, independentes. De acordo com os estudos feitos pela

autora, pode-se concluir que, das cláusulas apositivas, pelo menos as do tipo

relativa explicativa são vistas como cláusulas que se apresentam de forma

coordenada sintaticamente às cláusulas com as quais se relacionam.

A aposição sob forma de cláusula será vista, então, como uma

opção organizacional do discurso por parte do locutor, que a seleciona como

um dos recursos expressivos e, sobretudo, como recurso de coesão, levando-se

em conta o objetivo que se pretende alcançar junto ao interlocutor.

Também Souza e Silva & Koch (1986), há pouco citadas,

referenciam, com relação ao processo de coordenação ou subordinação, as

colocações feitas por Bally:

no caso de frases ligadas, tem-se um enunciado único, resultante de um só ato de fala. Na coordenação, trata-se de dois enunciados, resultantes de dois atos de fala diferentes, em que o segundo toma o primeiro como tema: tem-se uma estrutura semântica em que ocorre uma sucessão de enunciados.(Souza e Silva & Koch, 1986:115).

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Em suma, parece que o processo de coordenação e subordinação

tradicional carece de ser discutido dentro de uma ótica das relações

semântico/pragmáticas as quais são estabelecidas dentro de enunciados que se

apresentam, por sua vez, ligados às intenções do falante.

2.4. A cláusula apositiva na lingüística moderna

Como se sabe, os dados deste trabalho foram embasados numa

perspectiva em que se somaram aspectos da teoria de Koch et al (1990) e

Jubran (1997).

Postulam esses estudiosos que o discurso oral dialogado constitui

um processo de gerenciamento verbal em curso. Os teóricos do grupo de

Koch at al (1990) estudam a descontinuidade na progressão temática e

mostram os fenômenos da inserção , que são elementos parentéticos e

seqüências laterais; e a reconstrução , que é constituída pelas repetições, os

reparos, as paráfrases e os adendos ( ou "afterthoughts") no interior da

unidade discursiva, objetivando as funções comunicativas e interacionais

dessas unidades.

A teoria de Jubran (1997) apresenta uma tipologia das funções

textuais-interativas exercidas por parênteses em textos falados. Essa teoria é

de cunho textual-interativo e obedece a princípios e critérios pragmático-

interativos, para uma classificação das funções pragmático-textuais das

inserções parentéticas . Segundo Jubran (1997), os parênteses são um dos

recursos pelos quais os interlocutores articulam o texto falado. É através deles

que são explicitadas avaliações “que os interlocutores fazem do quadro sócio-

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comunicativo no qual interagem, pondo à mostra o processamento discursivo”

(Jubran, 1997:01).

Esses parênteses podem ocasionar desvios momentâneos do

quadro de relevância tópica de um segmento textual, tendo como objetivo

conjugarem o interativo com o textual. Constata-se, então, que, de um lado, há

os parênteses que são mais desviantes do tópico e, de um outro lado, há os

parênteses menos desviantes do tópico; mesmo os parênteses mais desviantes

têm uma repercussão no texto: apesar de quebrarem a função temática,

acabam incidindo “dominantemente sobre o ato enunciativo” (Jubran,

1997:02). E essa ocorrência demonstra que, na verdade, esse tipo de estratégia

parentética está “perspectivando as condições enunciativas necessárias à

própria existência do texto”(Jubran, 1997:02).

A partir desses fatos, Jubran estabelece uma tipologia de funções

textuais-interativas dos parênteses, chegando a quatro grandes classes que

envolvem fatores implicados pelas perspectiva textual-interativa, que

enfocam: (a) a construção tópica do texto, (b) o locutor, (c) o interlocutor e (d)

o ato enunciativo.

Dentro dessas funções parentéticas, relacionadas com os

enunciados de relevância tópica (por manterem conexões de conteúdo com

eles), a autora citada postula as funções parentéticas de: esclarecimento,

analogia, exemplificação, justificativa, correção, ressalva, retoque e

desdobramento de informações tópicas.

Outra teoria na qual este trabalho se apoiará, como já se disse, é a

de Koch et al (1990) onde são estudados os aspectos do processamento do

fluxo de informação, relacionando-o à progressão do tema no discurso oral

dialogado. Estabelece essa teoria que o fluxo de informação pode se

desenrolar no interior das unidades discursivas de duas maneiras: i)

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naturalmente, de modo contínuo e por isso mais rápido; ii) obstaculizado,

provocando descontinuidades, acarretando um ralentamento na progressão

temática. Segundo esses autores,

as descontinuidades, que muitas vezes subvertem a organização canônica dos constituintes da frase, podem desenvolver funções pragmático-interativas, devendo ser examinadas à luz do modus comunicativo postulado por Mônnink (1980) apud (Koch et al 1990:147).

E com base essencialmente no fenômeno de descontinuidade

(rematização parafrástica) é que os autores analisam os diferentes recursos de

inserção e de reconstrução.

Dentro do processo de inserção no tema das chamadas frases

hóspedes existem várias funções comunicativas: de contato, de

esclarecimento, citações, atenuações, ressalvas, indicações atitudinais e

modais, avaliações, correção + esclarecimento.

O processo de reconstrução pode efetuar-se por mecanismos de

repetição (que constituem os reparos e as paráfrases), ou por mecanismos de

adjunção (que são informações dadas sob forma de adendos ou aposições). O

adendos são acréscimos a posteriori (aferthought), os quais os autores

consideram como sendo categoria prototípica desse tipo de reconstrução.

Como tais teorias constituem o suporte da presente pesquisa que

pretende realizar uma análise da aposição na sua forma clausular, tanto na

língua oral quanto na língua escrita, passa-se, nas próximas seções , à

apresentação das mesmas, inserindo-se, de quando em vez, um exemplo do

corpus desta pesquisa, visando uma comparação à priori entre teoria e corpus

utilizado, e, ao mesmo tempo, já referendar a adoção de tais teorias.

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2.4.1. Cláusula apositiva parentética: funções textuais

interativas.

Os aspectos formais da cláusula apositiva, tais como as pausas que

a separam do conjunto, a mudança de tom indicada na escrita por sinais

específicos de pontuação, fazem com que esse tipo de construção se aproxime

de um mecanismo de parentetização, que vem sendo descrito no discurso oral

por diversos pesquisadores, dentre os quais destaca-se, neste trabalho, como já

colocado, Jubran (1997), que vê os parênteses sob uma perspectiva textual -

interativa e classifica essas inserções parentéticas, como já foi dito, com base

em princípios e critérios de funções pragmático-textuais exercidas por elas.

Essa perspectiva textual-interativa vê o interacional inerente ao

lingüístico e a interação verbal como resultado do exercício de uma

competência comunicativa que se realiza por meio de textos. E é por meio

desses textos que os interlocutores executam interativamente procedimentos

parentéticos, explicitando as suas avaliações acerca do contexto sócio-

comunicativo onde interagem. E essa formulação do que se diz vem repercutir

no que se diz; daí que, segundo Jubran (1997) "os parênteses operam desvios

momentâneos do quadro de relevância tópica de um segmento textual" Jubran

(1997:03). E esses desvios podem ser identificados e caracterizados porque

possuem "marcas formais típicas de elemento inserido".

Ao conjugarem o interativo com o textual, os desvios parentéticos

do tópico discursivo podem apresentar desvios momentâneos do quadro de

relevância tópica de um segmento textual. Isso quer dizer que os parênteses

são desvios, caracterizados de acordo com o critério do tópico textual. E

como se disse, essa propriedade dos parênteses vai englobar os seguintes

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traços: i) incide sobremaneira sobre o ato enunciativo, mas, ainda que

quebrem o fluxo temático, mantêm condições enunciativas necessárias à

compreensão do texto; ii) e, ao contrário, quando os parênteses são menos

desviantes do tópico, ou seja, quando se referem mais aos enunciados de

relevância tópica, esclarece-os, amplia-os, exemplifica-os, indicando

características pragmáticas para a sua ocorrência.

Os parênteses são vistos como menos desviantes quando incidem

mais sobre a construção do tópico discursivo, e são menos desviantes e, logo,

mais típicos, quando, ao quebrarem o fluxo temático, focalizam o processo de

enunciação em si.

As cláusulas apositivas, aqui em estudo, parecem identificar-se

com a primeira classe de parênteses da tipologia proposta por Jubran (1997),

ou seja, daquela tipologia que inclui parênteses voltados para a elaboração dos

tópicos discursivos, principalmente no que diz respeito ao conteúdo tópico e à

formulação lingüística desse conteúdo. Segundo a autora, esse tipo de

parentetização é menos desviante do tópico, porque mantém “conexões de

conteúdo” com ele. Dessa maneira, são as propriedades formais de

parentetização (pausas, possibilidade de interrupção sintática do enunciado em

que se encaixam e posterior retomada do mesmo, marcadores de suspensão e

de retorno tópico do elemento inserido) que justificam ser esta primeira classe

de natureza parentética.

As cláusulas apositivas refletem em si dados da situação

enunciativa, os quais referendam um ato de interação. Então esses aspectos

pragmático-discursivos devem ser vistos como básicos, subdeterminando

todos os tipos de procedimentos parentéticos dessas cláusulas. Vale lembrar

também que a construção tópica resulta da interação colaborativa dos

interlocutores. Jubran et al (1992) retomam o conceito de tópico, tomando-o

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não como “polarizador”, mas, antes, como decorrente do processo

comunicativo. Veja-se:

O tópico decorre de um processo que envolve colaborativamente os participantes do ato interacional na construção da conversação, assentada num complexo de fatores contextuais, entre os quais as circunstancias em que ocorre o intercâmbio verbal, o conhecimento recíproco dos interlocutores, os conhecimentos partilhados entre eles, sua visão de mundo, o background de cada um em relação ao que falam, bem como suas pressuposições. ( Jubran et al, 1992:361)

Segundo Jubran (1997), as funções textuais-interativas dos

parênteses são vistas como um dos recursos pelos quais os interlocutores

articulam os textos falados; porém, verificou-se que esse procedimento

parentético pode estar presente tanto nos textos orais quanto em alguns textos

escritos, quando o locutor aciona seus conhecimentos lingüísticos e os de

mundo visando a interação. Ainda através de procedimentos parentéticos, os

interlocutores explicitam as avaliações que fazem do quadro socio-

comunicativo onde ocorre a interação, demonstrando assim o seu

processamento discursivo. Algumas dessas características do processo de

parentetização coincidem com as características funcionais das cláusulas

apositivas que serão demonstradas no capítulo de análise dos dados. Jubran

(1997) afirma que

... os parênteses operam desvios momentâneos do quadro de relevância tópica de um segmento textual. Tais desvios são assinalados por marcas formais típicas de elemento inserido, que permitem precisar a sua identificação e delimitação" (Jubran, 1997:01).

Esses desvios momentâneos dos parênteses de um quadro de

relevância tópica de um segmento textual também ocorrem com as cláusulas

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apositivas, uma vez que, com esse recurso, o interlocutor visa manter a

coerência, ou seja, a continuidade de sentidos que pode ser percebida pela

conexão conceitual cognitiva dos elementos lingüísticos que são claramente

visíveis na superfície do texto tanto oral (quanto escrito). É nesse sentido que

as cláusulas apositivas se assemelham a algumas construções parentéticas

“marcando o processo formulativo-interacional que refletem dados da situação

de enunciação”.( Jubran,1997).

Da segunda classe de parênteses da tipologia de Jubran, que se

refere aos parênteses com foco no locutor, ocorreu, como se disse, apenas uma

função encontrada no corpus do presente trabalho; e é a que se refere a

manifestações atitudinais do locutor em relação ao assunto, que como já foi

dito, será explicitada no próximo capítulo deste trabalho.

Quanto ao processo de referenciação entre os fatores envolvidos

nessa tipologia, vale lembrar o que Nogueira (1999) afirma acerca desse

processo e sua relação com as cláusulas apositivas:

O emprego de uma estrutura apositiva como estratégia de referenciação não está relacionado apenas a uma função textual, mas também a funções cognitivas de introdução e identificação de referentes no discurso, bem como a funções argumentativas, particularmente quando o locutor manifesta, por meio dessa referenciação, sua opinião sobre tópicos discursivos. (Nogueira,1999:80-81)

2.4.1.1. A elaboração tópica do texto

Jubran (1997) subdivide essa primeira classe de parênteses em

três outras subclasses: a) parênteses que mantêm conexão de "conteúdo" com

o tópico; b) parênteses que visam a formulação linguística dos tópicos e c)

parênteses que se referem à construção textual.

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As subdivisões dessa classe - elaboração tópica do texto - parecem

ter ligação teórica com as postulações de Chafe (1985) sobre o envolvimento.

O autor classifica o envolvimento em três tipos, segundo Cruz (1998)

envolvimento do falante consigo mesmo (ou ego-envolvimento); envolvimento do falante com o ouvinte; e, o envolvimento do falante com o assunto. Segundo esse autor, o ego-envolvimento se explicita com maior nitidez no uso de pronomes da primeira pessoa (...) e em expressões do tipo “quero dizer”, “não sei”, “como eu disse”. (...) o envolvimento com o ouvinte ocorre quando o falante emprega a segunda pessoa (singular/plural) ou, ainda, quando trata seu interlocutor pelo nome. Ou ainda no ato de responder à uma pergunta do ouvinte ou quando é o próprio falante que faz uma solicitação ao seu ouvinte. (...) o envolvimento do autor com o assunto se exprime através do uso de alguns “itens lexicais”, tais como “advérbios” e “adjetivos”. (Cruz 1998:30)

2.4.1.1.1. Os Parênteses e o conteúdo tópico

Como o foco dos parênteses dessa classe recai sobre o tópico

discursivo, ocorre uma atenuação da propriedade de desvio tópico, que é

particularizadora da parentetização. Nesses casos, como se viu, as marcas

formais do processo parentético tais como as pausas, as interrupções, os

marcadores de suspensão, tanto na fala quanto na escrita, é que fazem com

que se possa discernir um processo de parentetização.

Esses enunciados são chamados de mecanismos facilitadores da

compreensão, uma vez que esclarecem o tópico discursivo que os antecede.

Nessa dimensão poder-se-ia dizer que eles constituem mecanismos de coesão,

promovendo a coerência, a aceitabilidade textual. Nessa classe de parênteses,

tanto da modalidade oral quanto da escrita, o locutor emprega pistas da fala

que indicam o seu envolvimento que, segundo Cruz (1998) pode ser notado

pelo uso de determinados pronomes e pelas auto-indicações.

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Segundo Jubran (1997) essa classe de parênteses (correlacionados

com o conteúdo tópico) engloba esclarecimentos, analogias, exemplificações,

justificativas, correções, ressalvas, retoques, reiterações ou desdobramento de

informações tópicas, constituindo, como afirma a autora, recursos de

elucidação do tópico discursivo.

A função de exemplificação pode ser observada no exemplo (25),

retirado de Jubran (1997). Observe-se que o locutor, ao usar tal recurso, revela

um conhecimento sobre o assunto abordado, cooperativas, baseando-o na

evidência de exemplos, o que, segundo Jubran (1997), gera a aceitação do

interlocutor com relação ao que foi dito.

(25) cooperativas também são ... entidades ... realmente bastante ... significativas ... dentro de uma conjuntura ... ou dentro da conjuntura ... nacional por exemplo para citar especificamente o caso ... do nosso país ... sabemos por exemplo que países altamente evoluídos e avançados ... como é o caso por exemplo da Suécia ... que é um país que pratica na opinião de algum ... um socialismo considerado como democrático ... têm nas cooperativas uma espécie de suporte ou de tripé ... para o seu desenvolvimento ... (DID REC-131) (apud Jubran 1997:4)

Na função de esclarecimento, segundo Jubran (1997), o locutor

"detalha dados expostos nos enunciados topicamente relevantes".

Observe-se o exemplo (26) retirado do corpus desta pesquisa que

mostra um caso de exemplificação:

(26) I: (...) então ocê discute eh o o método o quê que di/o quê o quê que, você o que que diz né? Acerca de método do método do método de aprender de como as pessoar aprendem tal como ... discutido por essas diferentes propostas ... o relacionamento disso.

D: [ sei I: com determinados métodos mais adequados para ensinar psicologia

... por exemplo fala-se muito que ocê num vá c/ em psicologia cê num vai falar do fogo ce pôr as pessoas no fogo então se isso ... então ... o quê que ocê vai fazer? ... você vai eh:: ... eh eh ter como método

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de ensino por exemplo dinâmica de grupo ... ta? ... qual a origem disso ... né? E como ...

D: uhn uhn (DO8F, 21, 781-797)

A cláusula apositiva nele destacada preenche as mesmas

características - de exemplificação – comentadas anteriormente.

As funções de ressalva, retoque e justificativa, relacionadas com

o conteúdo tópico, constituem as últimas das lista das funções relacionadas

com o conteúdo tópico reencontradas no corpus usado no presente trabalho.

Segundo Jubran (1997), com a função de ressalva o interlocutor

amplia ou reduz a extensão do significado de uma proposição. O interlocutor

visa "ajustar" a significação dessa proposição. No exemplo (27), dado pela

autora citada, nota-se que a expressão parentética “reduz a informação anterior

onde a qualidade de raciocínio lógico e abstrato parecia genérica e atribuída

a todos os membros da classe dos juristas”: (Jubran,1997:04).

(27) Inf. a linguagem ... o raciocínio lógico ... abstrato ... do jurista ... bem claro que de todo ... deveria ser de todo não é... é bonito ... é o algo bem próprio dele ... ( EF REC - 337) (Jubran, 1997:4 )

Examine-se, agora:

(28) Fomos para casa sem esquecer de comprar toneladas de Buscopan injetável, drágeas e até vejam só supositórios - que por grande sorte minha – não foram usadas. ( NE7M, 01, 23-27)

Também nesse exemplo, o locutor faz uma ressalva com relação

aos supositórios comprados que por grande sorte minha – não foram usadas.

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Com a função de retoque o interlocutor 'reformula a informação

precedente precisando-a por meio da repetição de um elemento nela contido"

(Jubran 1997:05). A esse elemento anterior o locutor acrescenta também

elementos diferentes sem se desviar, porém, do conteúdo semântico da

informação dada. O informante visa, assim, retocar a informação dada,

objetivando, como já foi dito, a compreensão do texto por parte do

interlocutor. Observem-se o exemplo (29), fornecido por Jubran (1997), e o

exemplo (30), que foi retirado do corpus usado neste trabalho, nas quais a

função de retoque aparece sob a forma de uma cláusula apositiva parentética.

(29) L1 e logicamente indo ao banco levando essa proposta eles me trouxeram

... eles me deram de volta uma série de duplicatas para que eu assinasse e

... eu e o fiador ... e isso então foi entregue de volta. (D2 RJ – 355) (Jubran, 1997:05)

(30) eh eh verifiquei nos próprios dados que eu já (es)tava começando a trabalhar que eu tinha outro tipo de elipse [que era uma elipse lexical ] eh quer dizer não é elipse ... uma retomada ... que era uma retomada lexical ... com um novo sintagma nominal ... ou o mesmo repetido ... não é? (DO9M, 14, 515-521 )

No exemplo (30), a preocupação do informante em retocar a

informação sobre elipse fez com que usasse duas cláusulas apositivas. A

primeira que era uma elipse lexical tem a função de retoque. A segunda, ainda

versando sobre elipse, faz uma retificação corrigindo o item anterior elipse, no

caso. A expressão quer dizer, que introduz a referida cláusula, é

caracterizadora, segundo Koch et al (1990), de uma reformulação de um

conteúdo já dito, mantendo com ele um "teor de metalinguagem".

A função de justificativa, segundo Jubran (1997), também

pertence ao grupo das classes de parênteses que são correlacionados com o

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conteúdo tópico, pois mantém conexões com o conteúdo anterior,

explicitando-o. Sua característica parentética é materializada ( como se pode

observar no exemplo (31) retirado do corpus desta pesquisa ) através das

pausas, representadas pelas reticências na linguagem escrita. O recurso

parentético é utilizado, nesse exemplo, com a clara intenção de justificar que

as determinadas idéias são reificadas porque é vantagem.

(31) TODO ELE: ... Como uma unidade ... está PERmeado pela idéia da mentalidade científica ... que é FUNCIONAL ... a um determinado tipo de ideologia ... tá? é um determinado tipo de de sistema ... né? que ele garanti ... né? ah ele reiFICA determinadas idéias ... que é vantagem ... ná? Que você:: eh não só as as popularize como você faça com que as pessoas acreditem nelas ... né? ( DO8F,18,645-653).

2.4.1.1.2. Os parênteses e a formulação lingüística do tópico

De caráter metalingüístico, essa classe de parênteses é constituída

por fragmentos discursivos que se desviam da centração tópica para

focalizarem o sistema verbal utilizado pelos locutores com o objetivo de

reformulá-lo lingüisticamente. Segundo Jubran (1997), focalizam a própria

linguagem explorando o sistema de signos lingüísticos. Nesse caso, é

necessário, ainda, que se leve em conta não apenas as relações

metalingüísticas, mas também as relações entre usuários e signos. Os

enunciados metalingüísticos utilizados pelo locutor caracterizam-se por

propósitos interacionais.

No rol dessas operações metalingüísticas encontram-se os

procedimentos de busca de denominação e de confirmação ou rejeição de

opções lexicais. Essas operações metalingüísticas ocorrem quando o locutor,

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"suspendendo momentaneamente o tópico discursivo, declara ao interlocutor

que está processando opções lexicais ou solicita a colaboração dele para a

escolha de denominações". (Jubran, 1997:06).

Das funções parentéticas que focalizam o processamento dos

tópicos discursivos oferecidas pela autora citada, apenas duas serão estudadas

nesta pesquisa.: a busca de denominação e a explicitação do valor de uma

palavra no texto.

A função de busca de denominação, segundo Jubran (1997),

pode vir concretizada através de vários recursos.

a) introduzidas pelas expressões do tipo mais precisamente,

sobretudo, isto é, quer dizer acompanhadas de uma opção lexical, retificando

ou corrigindo uma opção lexical anterior aos parênteses. O locutor, utilizando

esse recurso, está confirmando que a segunda opção, a parentética, é mais

apropriada que a anterior. A autora cita exemplos dessa função - busca de

denominação - com sintagmas. Segue-se o exemplo de número (32),

integrante do corpus desta pesquisa, onde essa função é exercida por uma

cláusula apositiva parentética, numa narrativa oral.

(32) aí eu pus minha raiva toda lá fora ... como se diz ... soltei os cachorros em todo mundo ... aí ... mas uma situação de raiva assim sempre tem né? (NO1M, 15,570-574)

O locutor reformula o item lexical raiva para soltei os cachorros

em todo mundo, que ele julga mais apropriado para expressar a raiva que

sentia, com a expressão “como se diz”; o locutor aciona, através desse recurso

lingüístico, um mecanismo interativo. Segundo Cruz (1998:69), “ao acionar a

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língua, buscando interação, o locutor está comprometido com o conteúdo que

produz”;

b) outro recurso segundo Jubran, usado na busca de denominação

é a justaposição ou alternância de sinônimos no interior de parênteses, que

podem se excluir ou reforçar uns aos outros, e, por acumulação, transmitir o

significado desejado. Veja-se o exemplo abaixo transcrito de Jubran:

(33) Inf. mostra ... num é? nesse trechozinho ... ou nessa citação ... que os três ... saberes ... ou três perspectivas ou três linhas ou três maneiras ... de se olhar o direito ... mostra que ... todas três ... na realidade ... definem ... classificam ... e têm ... proposições ... sobre as relações ... pertinentes ao direito ... (EF REC 337) (apud Jubran 1997:08)

c) a função de busca de denominação pode, também, segundo a

autora citada, vir representada por frases "que registram um procedimento

metalingüístico pela presença de termos da linguagem-objeto e da

metalinguagem". (Jubran, 1997:08). Comparem-se os exemplos (34) – de

Jubran – e (33), anteriormente transcrito.

(34) Inf. bom ... o que eu vejo lá na ... na ... praia o pessoal joga muito aquelas raquetes assim ... jogam vôlei ... tênis de praia que se chama aquilo com raquetes ... é tênis de praia ... vôlei ... isso que eu vejo na praia ... né? (DID POA- 45) (apud Jubran 1997:8)

A cláusula parentética traz um termo objeto tênis de praia e um

comentário metalingüístico que focaliza a expressão que se chama e o

conteúdo aquilo com raquete;

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d) há também os parênteses denominados de comentários

parentéticos do locutor a respeito de uma opção lexical. Esse tipo de

parentetização faz um comentário acerca da adequação, ou não, da opção

lexical feita.

No exemplo (35), de Jubran, pode-se notar que o parêntese a

palavra neutralizar não sei se se aplica bem faz uma observação sobre a

adequação ou não da escolha do verbo neutralizar para descrever a atitude

dos países vencedores da Segunda Grande Guerra, de ajudarem

economicamente o Japão, país vencido:

(35) Inf. elas (as economias industriais aliadas que ganharam a Segunda Guerra) resolveram ... trazer ... a economia japonesa para seu lado ... tá claro? ... quer dizer ... a palavra neutralizar ... não sei se se aplica bem ... mas resolveram mostrar ao Japão que não eram os inimigos que eles estavam do mesmo lado ... que todos podiam em termos industriais ... se desenvolver ... (EF RJ379) (apud Jubran 1997:08)

e) existem ainda, segundo Jubran (1997), parênteses introduzidos

pelas expressões digamos assim, podemos dizer assim, por assim dizer, vamos

dizer assim que, precedendo ou sucedendo uma opção lexical, indicam se a

escolha dessa opção aproxima-se do que o locutor pretende comunicar.

Por meio dessas expressões, o locutor sinaliza, para o interlocutor, uma certa imprecisão na formulação linguística dos enunciados que produz, antecipando-lhe uma possível "falha" de funcionamento do código, no uso que dele faz. Tais expressões têm, assim, esse intuito interacional e revestem-se de um teor metalinguístico, exatamente porque testam as possibilidade comunicativas dos signos previstos no código. ( Jubran, 1997: 09 )

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No exemplo (36), retirado do corpus desta pesquisa, pode-se

observar esse tipo de comentário parentético a respeito da opção lexical

perceber, o comentário que vem introduzido pela expressão digamos assim e

apresenta-se sob a forma de uma cláusula apositiva. Veja-se, também, o

exemplo (37), retirado de Jubran.

(36) ... eu pra começar eu eh eh achava que era tudo a mesma coisa (então) elipse de modo geral e acho que qualquer um pensava o mesmo ... até eu perceber né? lembrar, digamos assim que negócio de sujeito de primeira e de segunda pessoa é uma coisa completamente diferente são exofóricos pela situação né? primeira e Segunda pessoa é o falante e o eo interlocutor dele ... ao passo que terceira pessoa é que é uma coisa muito mais ampla né? (DO9M,13:454,470).

(37) L2 e agora sairam uns ... uns temperos mais ... mais novos digamos assim ... porque têm dois anos mais ou menos ... que é esse puro purê ... (D2 POA- 291) (apud Jubran, 1997:09).

Ainda dentro desta classe de parênteses, que visa o processo de

seleção lexical, existem aqueles que parecem referendar mais ainda o processo

interacional, a partir do momento em que há uma co-participação dos

interlocutores na construção do texto. Segundo Jubran ( 1997:09 ) são aqueles

casos em que o locutor "interrompe momentaneamente o desenvolvimento do

tópico discursivo, a fim de, entre parênteses, chamar o interlocutor para dentro

do texto". A intenção do locutor é pedir ajuda ao interlocutor a fim de

encontrar uma denominação - como no exemplo (38) - ou deixar ao

interlocutor a escolha de um lexema entre as alternativas que lhe são

colocadas, como no exemplo (39).

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(38) L1 : o governo acha ... o governo acha que a solução do ... do chamado ... como é nome?

L2 : é a UPC ou ...

L1: é UPC e ...

L2: índice de ...

L1: índice de correção monetário ... é a solução para ... éh ... corrigir a inflação (D2 RJ- 55) (Jubran, 1997:09)

(39) Inf. o ser e o dever ser na realidade social ... eles se: éh : ... complementam andam juntos ... o ser e o dever ser ou seja o mundo real e o mundo ideal ... ou irreal [ eu num num ... como vocês queiram chamar ] ... esses dois vi: vem ... lado a lado na realidade social ... (EF REC - 337) (apud Jubran, 1997:09)

Nessas classes de parentetização relacionadas com a elaboração

tópica do texto ( correlacionadas com o conteúdo tópico), observa-se, como

pôde-se ver até agora, um teor de referencialidade textual, no desenrolar do

ato comunicativo. E, segundo Jubran (1997), essa monitoração é local e

contínua no processamento do texto falado. Essa monitoração local e contínua

visa "a produção de um texto capaz de funcionar comunicativamente" (Jubran,

1997:09).

2.4.1.1.3. Os parênteses e a construção textual

Estes tipos de parênteses, que se referem à construção textual, são

metadiscursivos como os parênteses estudados na seção anterior. Isso porque

eles trabalham a estrutura textual. Jubran (1997) adaptou os estudos que

Borillo (1985) fez acerca de expressões e enunciados metadiscursivos

indicadores da construção do discurso. Para tanto, levou em consideração,

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primeiramente, apenas os enunciados e expressões que apresentaram

características parentéticas, adquirindo, assim, propriedades de inserção

parentética. Em segundo lugar, averiguou até que ponto as funções apontadas

por Borilo eram realizadas por parênteses. A autora concluiu que esses

fragmentos metadiscursivos que têm a função de assinalarem a estruturação do

texto possuem características interacionais. Eles, ao organizarem o discurso,

facilitam a formulação e a apresentação do texto, ocasionando a recepção do

mesmo.

Segundo Jubran (1997:10), Borilo classifica os marcadores da

estruturação textual em três categorias: a progressão lógica, a composição ou

disposição e a argumentação.

À progressão lógica pertencem os enunciados metadiscursivos

que "asseguram a progressão seqüencial do discurso, estabelecendo relações

anafóricas entre enunciados sucessivos" Jubran ( 1997:10 ). Ao garantirem a

progressão textual, tais enunciados garantem a coesão e a coerência textuais.

Esses marcadores são do tipo: a isto se acrescenta ..., a seguir, em primeiro

lugar, a partir daí ..., para completar ..., o que conduz a ... também verbos de

movimento que indicam progressão no eixo espaço-temporal: continuar,

seguir, chegar a, passar a, levar a.

Ao esquema de composição pertencem as expressões ou

enunciados que fazem parte da elaboração discursiva "operando como fatores

de interação e organização textuais". (Jubran,1997:10). Eles assinalam as

diferentes fases de estruturação textual: introdução, desenvolvimento e

conclusão. Tais são eles: para introduzir, para concluir, a título de

introdução, ou, de conclusão. Podem ainda conferir a uma seqüência

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discursiva o papel que ela deve assumir - como, por exemplo, de resumo: em

síntese, resumindo, em resumo; de ênfase: insisto, sublinho, destaco; de

informação paralela: entre parênteses; e outros.

Ao esquema argumentativo, também de natureza metadiscursiva

(pois indica como funciona o discurso) pertencem os enunciados que

traduzem: objeções, concordâncias, suposições, demonstrações, ilustrações

(contesto, objeto que, a partir de ... concluo que ... confirmo, suponho, à guísa

de demonstração ou de ilustração etc).

Desses três esquemas, as informações parentéticas podem se

justapor ao esquema de composição do texto e simultaneamente eles podem

assinalar tanto progressão lógica de um tópico (através de relações intra-

tópicas), quanto assinalarem progressão na globalidade do texto (através de

relações inter-tópicas).

Às relações intra-tópicas, Jubran atribui duas funções parentéticas:

i) de marcação de subdivisões de um tópico discursivo e ii) a de marcação de

retomadas do tópico no interior de um mesmo segmento discursivo.

A função de marcação de retomadas intra-tópicas, segundo a

autora citada, acontece quando há interrupção do tópico inserindo-se uma

digressão e retomando-se o tópico em seguida.

Às vezes essa função - de retomada tópica - aparece na estrutura

global do texto, marcando retomadas, articulando a montagem do mesmo.

Através do exemplo (40) abaixo, Jubran demonstra a terceira

função dos parênteses relacionados com a construção textual - é a função de

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marcação de fases de estruturação do texto tais como: a introdução, o

desenvolvimento e a conclusão.

(40) Inf. pra ele: Durkheim ... primeiramente vem o direito ... o até mesmo os mo: res ... que estudaram ... vem .. de maneira secundária ... o principal já no tempo né? de Durkhein era o direito ... como máximo ... num é? para impor normas ... e ... finalizando mesmo o direito reproduz ... todas as formas essenciais ... e é apenas ... estes que precisamos conhecer (EF RE- 337) (apud Jubran, 1997:12)

Jubran (1997) aponta ainda a função de marcação do estatuto

discursivo de um fragmento no texto, que constitui a última função dos

parênteses que se referem à montagem textual. E exemplifica:

(41) inf. a ética do dever ser do ou do que deveria ser ainda mais entendeu? ((I.L.A.)) ... olhe antes que eu esqueça ... um parêntese - ... na realidade social - talvez eu esqueça isso de futuro ... por isso vou dizendo logo agora - ...(Jubran, 1997:13)

A cláusula grifada - olhe antes que eu esqueça ... um parêntese -

constitui, segundo a autora, um segmento encartado em outro e que contém a

informação de que, na realidade social, o ser e o dever ser se complementam,

e que é dada em seguida após o locutor inserir um outro parêntese

justificando: talvez eu esqueça isso no futuro ... por isso vou dizendo logo

agora.

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2.4.1.2. Parênteses com foco no locutor

Nessa classe de parênteses, segundo Jubran (1997), o falante se

introjeta no texto que produz e essa introjeção provoca desvios do tópico do

discurso. Os parênteses decorrentes dessa introjeção do locutor trazem

opiniões do mesmo acerca de seu papel discursivo de locutor-instanciador do

discurso. Apesar de provocar desvios do tópico discursivo, esses parênteses se

articulam com a base informacional das proposições que criam o contexto.

Segundo Jubran, "o envolvimento do locutor com sua função

enunciativa e/ou com o assunto que aborda faz parte de um intercâmbio

verbal entre os interlocutores".(Jubran, 1997:13). De um modo geral, não

houve ocorrência de cláusulas apositivas nessa classe de parênteses, no

corpus deste trabalho. Ela aparece em apenas uma função desta classe:

manifestação atitudinal do locutor em relação ao assunto.

Jubran lista as funções abaixo dentro dessa classe de parênteses.

A primeira delas é a auto-qualificação ou auto-desqualificação do

locutor para discorrer sobre o assunto. Exemplifica:

(42) Inf. Sabemos por exemplo ... nós que entramos aqui nesse sindicato no ano de mil novecentos e setenta e quatro ... das carências deficiências que o sindicato apresentava por não ... possuir uma sede ... adequada ... (DID REC 131) (apud Jubran, 1997:131)

O locutor se autoqualifica para falar sobre sindicato, por possuir

vivência sindical. Este exemplo demonstra o envolvimento do locutor com o

assunto sobre o qual está discorrendo. Como também aponta Cruz (1998:54),

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uma “outra forma de expressão do ego-envolvimento é o emprego do pronome

pessoal do caso reto “nós”. Ao adotá-lo o locutor demonstra capacidade de

interação”.

É bom afirmar, novamente, que em todos os exemplos dessa classe

parentética, com foco no locutor, ocorre o “ego-envolvimento”.

Já no exemplo (43), o locutor se auto-desqualifica para falar

sobre o tema - uma atividade profissional - da qual ele não se sentia

qualificado para falar.

(43) Doc. como é que são as marcações no estado?

L1 como é que são as marcações no estado? bom você devia perguntar isso ao técnico e não a mi, eu sou apenas um : um usuário das marcações eu acho aqui nós já temos certas entradas relativamente bem sinalizadas ...(D2 SSA - 98) (apud Jubran, 1997:14)

A segunda função é a de manifestação de interesse ou desinteresse

pelo assunto. O informante, através da construção parentética, demonstra

interesse ou desinteresse em desenvolver o tópico proposto pelo

documentador (Jubran, 1997:14). Veja-se:

(44) Doc. Dona 1. Além da participação do artista ... no filme quais os outros elementos importantes na sua opinião para que o filme seja bem aceito pelo público?

Inf. fundo musical né? ... eu acho que influi bastante ... eu já falei para você cenários né?

Doc. uhn uhn ....

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Inf. sei lá mais o que cenários musical ... o tema do filme né? (DID SP 234) (apud Jubran, 1997:14)

Uma terceira função dos parênteses com foco no locutor é a do

desconhecimento do assunto proposto pelo interlocutor. Nela, o informante

declara ao interlocutor que desconhece o tema abordado por ele. Veja-se:

(45) Doc. e como é que a senhora Acha que é elaborada uma peça de teatro antes dela ser apresentada?

Inf. ah aí você pegou porque eu não sei não s como é elaborada? ... deve ser como na televisão eles preparam o o o : : ... o a peça ... e : : devem dividir o o os ... o o as partes para os artistas deve Ter um ensaio meDOnho.(DID SP 234) (apud Jubran, 1997:15)

A função de manifestação atitudinal do locutor em relação ao

assunto - é um tipo de parênteses no qual o locutor manifesta um julgamento

"sobre a probabilidade de serem verdadeiras as proposições expressas por

ele"(Jubran, 1997:15). No exemplo (46), Jubran demonstra essa função:

(46) Doc. o senhor que o presidente pode estabelecer regras ... normas ... de : em torno do sindicato que ele : preside ... essas normas ele decidirá só? Sozinho ele decidiria eu quero que seja feito isso isso isso e isso?

Inf. normalmente existe ... acredito eu ... um

colegiado ... é graças a este colegiado ... que o

senhor presidente vais evidentemente pautar: suas

decisões ... (DIDSP 235) (Jubran, 1997:15)

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A autora apresenta ainda dentro da classe - com foco no locutor - a

função de indicação da fonte enunciadora do discurso, através da qual o

locutor se intromete no texto "circunscrevendo como foco enunciativo a sua

própria perspectiva" (Jubran, 1997:15). O locutor atribui pontos de vista sobre

o assunto a fontes não identificadas, eximindo-se assim, da responsabilidade

do que é dito. Usam-se expressões do tipo ouvi dizer

(47) Inf. ... e ficar em casa tomando seu cafezinho comendo seu sanduíche e e ... ((risos)) e assistindo filme ... eu acho que o que mais prende o pessoal que a gente ouve e vejo o o o os come/ e e eu ouço os comentários eu acho que são os filmes que passam principalmente nos fins de semana ... agora novelas também né? (DIDF SP -234 ) (apud Jubran, 1997:16)

2.4.1.3. Parênteses com foco no interlocutor

A classe de parênteses com foco no interlocutor cristaliza a

função fática da linguagem, acentuando-se a interação entre os interlocutores.

Há um intercâmbio entre locutor e interlocutor que marca sua presença na

superfície textual, no momento em que há uma suspensão momentânea do

tópico discursivo para que, nesse ínterim, se coloque em evidência

informações sobre "o papel discursivo do interlocutor".(Jubran, 1997:16 ).

Essa presença na superfície textual é também postulada por Chafe (1995),

conforme aponta Cruz (1998:30), para o qual “o envolvimento com o

interlocutor ocorre quando o locutor emprega pronomes da segunda pessoa

(singular ou plural) (...) ou quando é o próprio falante que faz uma solicitação

ao seu ouvinte".

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Jubran coloca seis sub-funções desses parênteses centrados no

interlocutor:

i) estabelecer a inteligibilidade do texto - são seqüências

parentéticas que esclarecem proposições tópicas. Veja-se:

(48) Doc. qual a manifestação que a senhora nota ... ah : : por parte do público ... depois de uma representação teatral? ...

Inf. como qual a manifestação você pergunta?

Doc. como é que o público se manifesta ou depois de terminado um ato no intervalo ou depois da peça? ... no que diz respeito Á praça em si?

Inf. eu não a :: não acho assim qu eles ... aplaude, : : (DID SP - 234) (apud Jubran, 1997:17)

ii) evocar conhecimento partilhado do tópico. Nessa função, há

um consenso entre locutor e interlocutor acerca do conhecimento do tópico ou

de detalhes sobre o mesmo. Esse consenso une locutor e interlocutor através

da primeira pessoa do plural ou pelo uso do pronome você(s) que representa o

interlocutor no texto.

(49) Inf. não é tão raro o caso de : : polimastia ... poli ... como vocês sabem é um número além daquele normal ... ou seja mais de duas ... (EF SSA - 49) (apud Jubran, 1997:17)

O domínio do conhecimento sobre o tópico por parte do

interlocutor pode às vezes ser requerido pelo locutor através de perguntas

diretas ou indiretas, cedendo-lhe o turno;

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iii) testar a compreensão do interlocutor. Essa função pode

aparecer sob forma de perguntas do tipo entendeu? está claro? Existem

porém, parênteses que expressam perguntas que incorporam o elemento do

tópico discursivo:

(50) Inf. ele está se referindo exatamente a essa essência tradicional da economia japonesa tá? Quer dizer uma situação ... eu vou repetir ... muito diferente do início da economia americana ... tá dando pra situar a diferença? Uma americana nascendo linearmente ... etc etc e a outra BRIGANDO pra poder nascer ... (EF RJ-379) (apud Jubran, 1997:18)

iv) instaurar convivência com o interlocutor. Nessa função "o

locutor procura envolver o interlocutor em comentários, avaliações e opiniões

suas a respeito do assunto" (Jubran, 1997:18). O exemplo (51) ilustra

claramente o “envolvimento” do informante com o seu interlocutor.

(51) Inf. mas eu acho que o teatro hoje em dia está : : está indo para um caminho eh tão TANto palavrão tanta ... ((risos)) ... é um negócio né? fala a verdade?((risos)) eu tenho assistido umas Peças (DID SP- 234) (apud Jubran, 1997:18)

v) chamar a atenção do interlocutor para um elemento do tópico.

Assim destaca-se a necessidade de contato do locutor com o interlocutor para

que haja uma "devida apreensão de um dado que, provavelmente, é tido como

importante naquela situação comunicativa". (Jubran, 1997:18)

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(52) Inf. " a pessoas que ... prestem bem atenção ... a pessoa que no restaurante ... tendo começado pela sopa ... termina pela sobremesa ... e que não deixará em seguida de pedir a conta ... isso é o mais normal ... (EF REC- 337) (apud Jubran,1997:18).

vi) atribuir qualificações ao interlocutor para a abordagem de um

tópico. Através dessa função o locutor qualifica o interlocutor para o

desempenho de seu papel discursivo:

(53) L2 então porque ( ) ... você que é técnico nisso ... essas estradas são bitoladas a sete metros?

L1 (é uma coisa ... veio) da convenção internacional que (dois) metros e meio dá prá passar um carro ou caminhão ... (D2 SSA-98) (apud Jubran, 1997: 19)

Neste exemplo, o locutor focaliza o interlocutor no seu papel

profissional, que o qualifica para o desempenho do seu papel discursivo. E o

envolve desejando convencê-lo, é claro, de suas idéias.

Concluindo, Jubran (1997:19) ressalta: a) que as classes com

foco no locutor e as com foco no interlocutor "provocam um desvio do tópico

para os agentes instanciadores da interação verbal, atuando sobre as

proposições tópicas", b) há parênteses que, uma vez interseccionados,

transparecem "a perspectiva do locutor e a que este pressupõe ser a do

interlocutor." (...) São parênteses que criam uma polifonia enunciativa,

fazendo ecoarem duas vozes contrapostas em um mesmo enunciado". (Jubran,

1997:19).

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2.4.1.4. Parênteses com foco no ato comunicativo em si

Esse tipo de parênteses provoca um desvio do tópico discursivo

em um grau máximo. Jubran alega que esse tipo de função parentética quebra

o fluxo temático para inserir parênteses que focalizam "contingências

necessárias para a própria existência do ato em si" (Jubran, 1997:20),

contingências tais como: presença de interlocutores, predisposição e

envolvimento dos mesmos na situação comunicativa, negociação de turnos,

afastamento de ruídos ou outro fator qualquer que venha perturbar o canal

físico ou o contato entre os locutores, na produção do texto falado.

Essa é mais uma das situações apontadas por Chafe (1985) que são

empregadas pelo locutor para convencer ao seu interlocutor “de que suas

idéias são merecedoras de crédito” (Cruz 1998:31).

E esse objetivo só é alcançado quando o locutor se envolve

consigo mesmo, com seu interlocutor, e, aqui no caso, com o assunto.

Os tipos de parênteses dessa classe podem registrar, segundo a

autora, as situações:

i) de quebra de condições enunciativas - que ocorre quando

existem, no texto, referências a ruídos ou fatos que interferem durante a

gravação de um texto falado. Nesse caso, suspende-se por momentos o

desenvolvimento do tópico, que é retomado após os acontecimentos – ruídos,

por exemplo - serem afastados.

Não houve ocorrência dessa função no corpus pesquisado. Veja-se

o exemplo (54), de Jubran, para ilustrar a quebra de condições enunciativas:

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(54) Inf. naquela época ... o que existia eram os bisontes e os mamutes também ... alguns mamuetes ... mnuete ... vem a ser ... o bisavô ... do elefante ... ((risos)) ... B. ... ((vocês)) ... já resolveu tudo bem ... bom ... então primeiro em nível de tema ... a seguir ... qual seRIA ... o motivo pelo qual ... eles : : ... começaram ... a pintar ou esculpir ... estas formas ... (EF SP-405) (apud Jubran, 1997:20)

ii) outra situação desse tipo de parênteses - com foco no ato

comunicativo - é o estabelecimento da modalidade do ato comunicativo que

constitui um tipo de inserção parentética em que se evidenciam condições

interativas em uma situação específica. O locutor interrompe o

desenvolvimento do tópico para "estabelecer a participação do interlocutor e

esclarecer a natureza dialógica que quer imprimir à interação"

(Jubran,1997:20). No exemplo dado pela autora, pode-se observar que o

locutor determina aos interlocutores o tipo de interação, e o tipo de ato de fala

permitido a eles. Eles deveriam fazer perguntas. Esses parênteses, segundo

Jubran, "evidenciam condições interativas em uma situação específica"

(Jubran, 1997:20):

(55) inf. o povo japonês ... e a populaçõ do Japão ... extremamente GRANde pra sua área e extremamente laboriosa no sentido de que .. SABIA que pra conseguir sobreviver ... tá? ... PREcisava AMPLIAR a sua área de atuação ... tá claro isso? a aula é gravada mas as perguntas podem ser feitas e devem ... senão fica parecendo monólogo]nenhuma dúvida então? ... quer dizer ... situando ... o Japão ... que a gente conhece e ouve falar de unidade japonesa (EF RJ-379) (apud Jubran, 1997:21)

iii) uma terceira situação dos parênteses com foco no ato

comunicativo é o estabelecimento de condições para a realização ou

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prosseguimento do ato comunicativo. Esse tipo de parênteses, provocando

intervalos na exposição tópica, funciona no sentido de "averiguação de

condições para o prosseguimento de explanações" ( Jubran,1997:21 ), enfim,

para o desenvolvimento temático do ato comunicativo:

(56) Inf. oitavo ... nós temos os vasos ... e nervos ... nosso ... é as veias ... quem ... copiaram? ... vou colocar aqui para lhes passar alguma coisa ... bom ... então vamos ... já copiaram tudo? ... giz não tem giz... bom ... vamos começar ... região mamária ... ora nós definimos como sendo região mamária ... a região ocultada pela glândula mamária (EF SSA-49) (apud Jubran, 1997:21)

iv) outra situação que pode ocorrer com os parênteses com o foco

no ato comunicativo é a negociação de turnos. Esse processo de

parentetização evidencia o jogo da posse do turno conversacional. Esse jogo

constitui propriedade fundamental de um ato interativo:

(57) Inf. então vocês notam como o fenômeno jurídico ... é o mais importante ... é a própria organização ... o direito ... no seu caráter então complementando gente Arnaldo pera aí Arnaldo eu sei que é sobre ... a matéria mas eu tô querendo ... terminar tá certo?no seu caráter mais estável e preciso ... (EF REC-337) (apud Jubran, 1997:22)

No trecho acima – de uma elocução formal – percebe-se que a

professora pretende manter seu domínio, inclusive verbal, numa aula

expositiva, procurando manter o seu turno na interação da sala de aula:

Arnaldo pera aí Arnaldo (...)

Com esse item encerra-se a classificação das funções parentéticas

segundo Jubran (1997). O processo de parentetização cristalizado na

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materialidade lingüística do texto "leva à contextualização do que é dito na

situação de dizer circunscrevendo os sentidos do texto e orientando sua

compreensão" (Jubran,1997:22); portanto, esse processo não pode ser visto

como se fosse formado por segmentos isolados, uma vez que se presta à

compreensão textual.

A seguir, serão estudados os aspectos da teoria pontuada por Koch

et al (1990) os quais abordam o processamento do fluxo da informação no

discurso oral. Alguns desses processos aparecem na também língua escrita,

que, tanto quanto a oral, apresenta situações de descontinuidades na

progressão temática provocada por inserções de cláusulas apositivas.

2.4.2. A Cláusula apositiva como mecanismo de inserção

Koch et al (1990), em seus estudos sobre as descontinuidades

temáticas, levaram em consideração a atuação de fatores diversos associados

ao universo pragmático do discurso oral, os quais se manifestam tanto na

organização da informação quanto na apresentação formal da unidade

discursiva. A unidade discursiva pode constituir-se num fragmento textual

caracterizado por centrar-se em determinado tema, funcionando como um dos

subtópicos em que se sedimenta o tópico discursivo global. Quanto à extensão

dessas unidades discursivas, alegam os autores citados que elas podem variar,

indo desde o âmbito do enunciado, sintaticamente considerado período, até

atingir porções maiores do texto.

Sabe-se que o fluxo informacional pode se desenrolar de duas

formas nas unidades discursivas: i) naturalmente, contínuo, mais rápido, ou, ii)

obstaculizado, “originando as descontinuidades, provocando um ralentamento

na progressão temática" (Koch et al, 1990:152).

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Essas rupturas, que demarcam as unidades discursivas, muitas

vezes modificam a organização canônica dos constituintes frasais. Mas,

apesar dessa subversão, afirmam os autores, essas rupturas representadas por

diferentes recursos de rematização parafrástica - inserção e reconstrução -

desempenham funções pragmático-interativas relevantes e devem ser

estudadas dentro de um processo de interação. Constituem, na verdade,

recursos dos quais o locutor lança mão, a fim de atingir a coerência para seu

ato comunicativo pois,

A coerência é algo que se estabelece na interação, na interlocução, numa situação comunicativa entre dois usuários. Ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo ser visto, pois, como um princípio de interpretabilidade do texto. (Koch & Travaglia, 1999:11)

Koch et al (1990) não levaram em consideração, ao analisar a

progressão temática, as ocorrências de escoamento normal - rematização

frástica; consideraram apenas as de rematização parafrástica. Essas

ocorrências foram analisadas, como já se disse, nos diferentes recursos de

inserção e de reconstrução.

As inserções são constituídas por segmentos parentéticos auto

condicionados (esclarecimentos, ressalvas, etc); e por seqüências laterais

heterocondicionadas.

Já o processo de reconstrução é constituído pelas repetições auto

ou heterocondicionadas (reparos e paráfrases); e pelas adjunções (adendos ou

afterthought) que funcionam como realce, acréscimo ou explicação de um

segmento anterior.

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A partir das pesquisas feitas em material coletado pelo projeto

NURC (elocuções formais e diálogos entre informante e documentador), Koch

et al (1990) confirmam uma grande ocorrência de rematização parafrástica,

decorrente de descontinuidades que levavam a um "ralentamento" do fluxo de

informação. Esse "ralentamento" era ocasionado pelos processos de inserção e

de reconstrução dentro da unidade discursiva.

Os processos de inserção no tema, como se disse, podem ser

autocondicionados, quando feitos por iniciativa do próprio locutor, e,

heterocondicionados, quando o locutor é levado a fazer as inserções por

solicitação do interlocutor.

As inserções autocondicionadas de natureza parentética se

identificam com as cláusulas apositivas aqui estudadas. Koch et al (1990)

afirmam que essas inserções são feitas por meio de frases-hóspedes

(Schneider, apud Betten, 1984) de natureza nitidamente parentética. Esses

tipos de frases têm um objetivo comunicativo, provocam uma suspensão

temporária na linha discursiva sem contudo quebrar a coesão entre as partes,

pois se prestam a um objetivo de coerência numa estrutura macroestrutural.

Sua equivalência com cláusulas parentéticas não acontece somente no plano

semântico; no aspecto formal, "a descida do tom de voz e certo aceleramento

do ritmo elocucional ( ... ) são traços prosódicos coerentes com sua natureza

de predicação paralela inserida na comunicação básica" (Koch et al,

1990:153). Dentre as funções que os segmentos parentéticos podem exercer,

os autores citam: contato, eslcarecimento, citações, atenuações, ressalva,

indicações atitudinais e modais e avaliações. Arrolam-se algumas dessas

funções a seguir.

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2.4.2.1. Inserção com função de explicação

Nos exemplos (58) e (59), retirados de Koch et al (1990) e do

corpus deste trabalho, respectivamente, fica clara a intenção dos locutores de

enunciarem explicações

(58) porque é MUIto a gente vive de motorista o dia inTEIro mas o dia inTEIRO ... uma corrida BÄRbara e leva na escola ( ) e vai buscar ... os dois estão na escola de manhã porque eu trabalho de manhã ... então eu os levo para a escola ... e vou trabalhar ... depois saio na hora de buscá-los... ( D2/SP- 360:93-98) (apud Koch et al, 1990:153)

(59) ... alguns achavam que ... com a integração ... dessas disciplinas quer dizer existia antes ... sociologia da educacão filosofia da educação histórica da educação e que passariam a ser integradas em Fundamentos da educação II ... né? ... (DO6F,05,166-170)

Na cláusula grifada do exemplo (58), o locutor elabora uma

informação paralela estão na escola de manhã porque eu trabalho de manhã

e através dessa informação paralela justifica o fato das crianças estudarem

pela manhã. Ele retoma o tópico inicial logo após fazer a inserção dessa

explicação. Também no exemplo (59) acontece o mesmo com a informação

paralela (em grifo); o locutor insere explicações paralelas, provocando uma

suspensão temporária na linha discursiva, objetivando garantir a compreensão

do seu interlocutor.

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2.4.2.2. Inserção com função de esclarecimento

Esse tipo de inserção, de esclarecimento, que vem materializada

lingüisticamente numa frase hóspede, cumpre um propósito definido de

comunicação: esclarece um segmento anterior. Essa função é básica num

processo apositivo quer em forma de sintagma simples, quer em forma de

sintagma oracional. Tanto assim é, que como se verá no capítulo seguinte

deste trabalho, essa foi a função com maior número de ocorrência no corpus

pesquisado. Isto referenda o fato de a aposição ter basicamente uma função

esclarecedora. E essa função parece permear todas as outras, com nuances, é

claro, de outras funções. E essas diferenças são tão sutis, que somente o

contexto em que se encaixam é que pode delineá-las.

Observe-se:

(60) L1 então a minha de onze anos ... ela supervisiona o trabalho de cinco ... então ela vê se as gavetas estão em orde/ ... em ordem se o :: material escolar já foi re/arrumado para o dia seguinte ... se nenhum ::

L2 [ é

L1 fez :: arte demais no banheiro ... porque as vezes ... estão tomando banho e ficam jogando água pela janela quer dizer essa ... é supervisora nata e assim ... ah ... toma conta ... precocemente não? das :: atividades dos irmãos (D2/SP-360:192-200) (apud Koch et al, 1990:156).

(61) ... um tipo de versão no ensino ... (1) em que :: justamente começou a predominar a linguagem e começou ... tambe'm a predominar conteúdos... (2) que podiam ser avaliados objetivamente ... então eu acho que muitos conteúdos que ... (DO1M,285-290).

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No exemplo (60), a cláusula - porque às vezes ... estão tomando

banho e ficam jogando água pela janela - vem esclarecer o porquê de a

menina (de onze anos) ter que supervisionar os irmãos.

No exemplo (61), o esclarecimento de “versão no ensino” aparece

nas cláusulas destacadas 1 e 2. A cláusula destacada 2 - que podiam ser

avaliados objetivamente - que é uma outra apositiva relativa, vem reforçar o

esclarecimento dado na cláusula anterior.

2.4.2.3. Inserção com função de correção

Na função de correção, há, por parte do locutor, uma substituição

de um item lexical, por um outro que ele julga que é mais adequado.

Veja-se:

(62) ... tem que levantar que vestir os dois ...

L1 são pequeninos né?

[

L2 e tenho que me vestir ... porque ambos são pequenos ... então eles não aceitam muito a pajem né para éh :: ... aliás não é pagem é pagem e arrumadeira mas

L1 ( )

L2 quer dizer não é só não vive em função deles mas de manhã ... a única função dela é me ajudar com eles ... mas eles não aceitam o menino porque ... que fazer tudo sozinho ... no que eu procuro deixar ... e a menina porque quer que seja a ( mamãe ) que faça né? então sou eu que :: tenho que ir fazer et cetera et cetera ... (D2/SP-360:300-31) (apud Koch et al,1990:156-157).

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No exemplo (62) a cláusula aliás não é pagem é pagem e

arrumadeira, faz uma correção do sintagma pagem usado anteriormente,

acrescenta-lhe mais uma função que a pagem exerce, ou seja, ela é pagem e

arrumadeira.

(63) ... então o sujeito entrou ... tentou ... entrar pela sala ele não conseguiu e arrancou a tela não conseguiu ... eh cortar o vidro ... e um vidro da ... da do quarto o último era um vidro limpo não tinha treliça então ele subiu num banco ... quer dizer ele tentou a Sarinha tava estudando no quarto ... e eu já tava até deitada na cama estudando ... (NO8F,30,1128-11135).

Nesse exemplo (63), do corpus deste trabalho, o informante faz a

inserção da cláusula apositiva destacada suspendendo a linha discursiva.

Constitui, como a dos exemplos anteriores, uma inserção auto condicionada

tendo em vista corrigir o segmento "subiu" num banco para ele "tentou"

(subir).

Segundo Koch et al (1990), a importância da frase-hóspede, como

as dos exemplos acima, reside no fato de sua funcionalidade no âmbito

interacional. Ela possibilita ao locutor mostrar suas atitudes em relação ao que

fala.

As inserções heterocondicionadas constituem intervenções feitas

pelo interlocutor que, assaltando o turno, elabora perguntas para o locutor,

que, sentindo-se no dever de responder, cria as chamadas seqüências laterais.

(Koch et al, 1990:157). Veja-se um exemplo, o (63) dado por esses autores,

onde se pode observar que a seqüência ele é menor ele tem cinco anos

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constitui uma seqüência lateral heterocondicionada com a função de

esclarecimento:

(64) L2 e agora o menino quer judô ... L1 ele é menor?

L2 ele é menor ele tem cinco anos ... e além de natação ele quer judô também agora ... (D2/SP - 360:110-113) (apud Koch et al 1990:158).

2.4.3. A cláusula apositiva e o processo de reconstrução

Um segundo processo de descontinuidade na progressão temática

previsto por Koch et al (1990) é o de reconstrução.

O processo de reconstrução, além de interferir na continuidade do

curso da progressão temática, provoca também, segundo Koch et al

(1990:159) "uma retenção do ritmo do escoamento da informação".

Esse processo envolve uma reelaboração na seqüência discursiva

e uma recorrência, em graus diferentes, da informação dada, "provocando

uma patinação na progressão temática" (Koch et al, 1990:158).

O processo de reconstrução pode acontecer através de dois

mecanismos: a repetição e a adjunção.

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2.4.3.1. A repetição

A repetição pode ser tomada em um sentido amplo (repetição

sem variação, a exata), e aquela com variação da forma: palavras,

construções, "padrões prosódicos", nos quais Koch et al (1990) incluem os

reparos e as paráfrases. Esses dois tipos de repetição podem ser auto ou

heterocondicionadas (como já se disse, dependendo do fato de o locutor

repetir suas próprias palavras ou as palavras do interlocutor).

Koch et al (1990) observaram que a repetição na linguagem oral

apresenta alterações na seleção de itens lexicais e na modulação de voz. São

pequenas alterações que permitem a inclusão dessa repetições no rol das

repetições que se caracterizam nos processos de reconstrução.

Obedecendo a uma escala gradativa do processo de reconstrução,

Koch et al partiram de um grau mínimo (o das repetições exatas) chegando a

um grau máximo da repetição, onde se situam as paráfrases. Os reparos,

devido às suas diferenças com relação à paráfrase, estariam entre as repetições

exatas.

Veja-se um exemplo de uma repetição stricto sensu (a repetição

exata ) extraído de Koch et al (1990 :161).

(65) L2 é ... e outra coisa

eles estão na escola de manhã provocado por 370, alguma coisa porque como eu trabalho de manhã

L1 certo você teve que adaptar o horário deles :: ...

L1 é ... aliás eles já é

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[

L1 ao seu

L2 ele já ia à escola de manhã que eu comecei 375 quando eu comecei trabalhar ... comecei trabalhar há dois anos ... só ... antes eu não trabalhava ... e quer dizer que então ... ele já ia à escola de manhã porque eles dormem sete e meia e acordam seis é meia ... é horário normal deles (D2/SP-360:368-379) (apud Koch et al, 1990:160-161)

A primeira repetição - ele já ia à escola de manhã - demonstra

hesitação e manutenção do turno; o locutor sente necessidade de ganhar tempo

enquanto elabora o que vai falar. A segunda - ele já ia à escola de manhã -

tem, segundo Koch et al (1990), função articuladora do discurso; recupera

uma informação velha, para, a partir dela, prosseguir sua linha discursiva

acrescentando informações novas.

Esse tipo de repetição, que mantém a relação temática entre duas

unidades discursivas, constitui, segundo os autores citados, um ponto de

referência para articular-se novamente a direção que o locutor pretende dar à

sua fala. A diminuição do ritmo do fluxo temático é bastante reduzida e pode

ser observada também em repetições do tipo "exatas" heterocondicionadas.

Nessas repetições ocorrem sombreamentos (onde um locutor repete o que o

outro fala com uma pausa mínima de tempo e sem novos dados); seqüências

de perguntas e respostas (repetindo-se algumas ou todas as palavras de quem

indaga, mudando-se apenas a entonação); reiteração de palavras e expressões

do interlocutor ( evitando-se assim assalto de turnos).

As repetições do tipo de simples recorrências ou locuções

constituem um procedimento pouco significativo no que diz respeito ao fluir

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temático. Esse motivo levou os autores citados a não aprofundarem o estudo

da repetição tanto da auto quanto da heterorrepetição stricto sensu.

2.4.3.2. O reparo

O reparo consiste num processo de reconstrução superior ao da

repetição stricto sensu, pois, ao reelaborar o segmento anterior, o falante

trunca o enunciado e o substitui. Essa nova formulação exclui a escolha

anterior. O locutor está visando, com essa substituição - e conseqüente

exclusão da escolha anterior - atingir os seus objetivos comunicativos. Pode

ainda, o reparo, ser auto condicionado ou heterocondicionado, havendo nesses

dois casos, como em todo os anteriores aqui citados, e pertencentes à teoria de

Koch et al (1990), um processo de "envolvimento" descrito nas páginas

anteriores, onde se comentou a teoria de Jubran (1997). E é bom que se repita

que os processos de "envolvimento" foram postulados por Chafe (1985).

Nesses processos, como já se afirmou, o locutor, ao envolver-se com o

interlocutor, com o assunto, ou consigo mesmo (auto-envolvimento), "almeja

convencer o seu leitor de suas idéias" (Cruz,1998:31).

Observe-se o exemplo (66) onde o locutor faz um reparo:

(66) eu não tenho nenhuma tarde para mim porque a gente acumula quem trabalha fora

acumula as coisas da ca ::as ... e o trabalho feito fora ... né? (D2/SP: 360:113-116) (apud Koch et al, 1990:164)

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A troca do segmento a gente para que trabalha fora visa

"melhorar a informação a ser transmitida (...), especificar, restringir o âmbito

de significação do tópico a gente"( Koch et al,1990:164).

Veja-se um exemplo de uma auto-correção heterocondicionada

provocada pela intervenção de L2:

(67) as coisas de casa que a gente aten/tem que atender normalmente com criancás BRIgas que a gente tem que repartir

[

L1 apartar

L2 tem que apartar :: isso toda hora ... (D2/SP - 360:490-494) (apud Koch et al, 1990:165)

L2 repara o sintagma repartir para apartar por julgar o segundo

semanticamente mais adequado à informação. Isto ocorreu devido à

intervenção de L1 que "acompanhou" o discurso de L2.

O ralentamento provocado pelo reparo, na linha discursiva, vai

depender de sua extensão, "de sua confluência com outros mecanismos de

descontinuidade e de ser maior, ou menor o constituinte sobre o qual incide".

(Koch et al, 1990).

O reparo se diferencia da função de correção, vista no item

2.4.2.3., no sentido de que o grau de intensidade da correção é menor, é menos

abrupto. Tanto assim é, que a correção vem sempre introduzida por

expressões do tipo aliás, quer dizer, etc. No reparo a substituição do item

lexical anterior se dá, sem a presença desses articuladores.

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2.4.3.3. A paráfrase

Também as paráfrases constituem mecanismos de reconstrução

por repetição e podem ser autocondicionadas ou heterocondicionadas. Elas

contêm o mais alto grau de reformulação no processo de recorrência de uma

informação . Segundo Fuchs (1982), apud Koch et al (1990:166), a paráfrase

"oscila entre a reprodução pura e simples do conteúdo e sua deformação".

Constitui, ela, uma atividade real de reelaboração, onde o locutor, segundo

Fuchs (1982), restaura total ou parcialmente o "conteúdo primitivo num texto

derivado".

O que diferencia a paráfrase da função de reparo é que a

paráfrase não possui o valor excludente do reparo. Ela constitui uma opção

alternativa e muitas vezes possui extensões maiores do que as do reparo. Por

ser um mecanismo reconstrutor por excelência, ela retoma, explicita, ilustra o

conteúdo anterior o que referenda o seu teor de metalinguagem discursiva.

Transcreve-se, abaixo, um exemplo, (68), de Koch et al

(1990:169). Nele, ocorre uma paráfrase que acarreta um processo de

patinação - que consiste num encadeamento de particularizações, em termos

concretos, do tema anunciado - o locutor explicita a tarefa de "supervisão

dentro da família", assunto já visto no exemplo (60). Como nesse exemplo a

unidade discursiva é longa, limita-se, aqui, a transcrever apenas a passagem

onde se encontra a paráfrase:

(68) L1 então a minha de onze anos ... ela supervisiona o trabalho dos cinco ... então ela vê se as 1 gavetas estão em orde/ ... em ordem se o ::

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material escoalr já foi 195 re/arrumado para o dia seguinte ... se nenhum ::

L2 [

L1 fez :: arte demais no banheiro ... porque às vezes .. estão tomando banho e ficam jogando água pela janela quer dizer essa ... é supervisora nata é assim ... (D2/SP- 360:191-200) (apud Koch et al, 1990:167).

O tema anunciado - ela supervisiona - é reprisado. Ele se refere à tarefa de supervisão dentro da família: é supervisora nata.

2.4.3.4. A adjunção (ou adendo)

Dentre os dois processos de reconstrução apontados por Koch et

al (1990), o processo de adjunção também provoca um ralentamento na

progressão temática. Ocorre a adjunção quando o locutor percebe que uma

informação importante relacionada ao tópico deve ser inserida. Às vezes esse

processo apresenta-se a posteriori. Isso ocorre quando o locutor quer

enfatizar ou fazer com que o interlocutor se recorde de uma informação dada

anteriormente. Esse processo pode ocorrer também em formas de "adendos"

ou aposições. Os autores consideram o afterthoght (os adendos) "a categoria

prototífica desse tipo de reconstrução" (Koch et al, 1990:172). Os

afterthoughts, segundo esses autores, "constituem interposições tardias, na

linha discursiva, de uma informação antes elidida" ( Koch et al, 1990:173),

isto é, o locutor interrompe o fluxo informacional, replaneja-o, a fim de

introduzir o dado que já deveria ter sido enunciado.

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Segundo esses mesmos autores, os afterthoughts não constituem

frases hóspedes. As informações que eles trazem são consideradas

imprescindíveis para a compreensão do discurso, enquanto que as informações

trazidas pelas frases hóspedes são apenas complementares ou paralelas.

Também quanto ao fluxo da progressão temática, a suspensão provisória

provocada pelos afterthoughts são mais bruscas e bem marcadas. Essa

interrupção brusca e bem marcada tem por finalidade alertar o interlocutor de

que a informação que está sendo introduzida não pode passar despercebida.

O exemplo (69), abaixo, mostra um processo de adjunção

representado "por um elemento isolado, fruto de um repensamento que vem

preencher uma espécie de vazio deixado na mensagem" (Berruto,1985, apud

Koch et al 1990:173)

(69) L1 ... é muito exigente comigo e com o meu marido ... essa menina ... sabe ela não admite uma falha nossa ... no ... ponto de vista do que seja ...

O :: o perfei/a perfeição (D2?sp-360:212-215)

Observe-se que o sintagma essa menina, colocado à direita, tem o

efeito de um acréscimo mais enfático do que explicativo; visa reavivar,

enfatizar, na mente do interlocutor o fato de ser ela, essa menina, a mesma do

segmento anterior, onde o locutor 1 falava da "função de supervisionar" que

sua filha de onze anos assumiu dentro de casa (contexto já visto nos exemplos

(60) e (68)).

Os afterthoughts, além da função informativa, exercem função

interativa - quando explicitam a informação, favorecendo à interação.

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Exercem também a função argumentativa quando servem para reavivar na

mente do interlocutor informações consideradas importantes sobre o tópico

em curso, portanto facilitam a compreensão e garantem a interação.

Os autores deixaram pendentes, nesse estudo, algumas questões

"residuais" relativas às descontinuidades. Tais são elas: i) as rupturas

sintáticas (sem função discursiva) do tipo "perda de controle" do interlocutor

na organização de seu discurso; ii) as rupturas heterocondicionadas do fluxo

informacional (acontece quando o interlocutor, assaltando o turno

conversacional, obriga o locutor a dar-lhe uma resposta, e, com essa

interrupçào o locutor costuma não retornar à seqüência interrompida,

ocasionando um "truncamento" da progressão temática); iii) as elipses não são

consideradas por Koch et al como provocadoras de descontinuidades ou

interrupções na progressão temática porque eles consideram que "na medida

em que a informação não é explicitada é naturalmente suprida pelo contexto

lingüístico ou por dados situacionais" ( Koch et al,1990:179).

Os autores consideram, ao final dos estudos, que a aparente

desestruturação do discurso oral constitui estratégia comunicativa que visa à

compreensão, e, por isso,deve ser considerada como mecanismo de interação

comunicativa. Importa colocar ainda que Koch et al (1990) em seus estudos

sobre as descontinuidades na progressão temática, concluíram que no

discurso oral, (e aqui se estende ao discurso escrito) as descontinuidades

constituem marcas efetivas de estratégias interacionais por parte do falante.

Dentro do quadro teórico apresentado, resta dizer que, com relação

às descontinuidades na progressão temática postuladas por Koch et al (1990) e

as construções parentéticas de Jubran (1997), as cláusulas apositivas

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pesquisadas neste trabalho apresentam várias coincidências, coincidências

essas que serão melhor exemplificadas e comentadas no capítulo seguinte, de

análise dos dados do presente trabalho.

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CAPÍTULO 3

Funções textuais da cláusula apositiva no português

3.1. Considerações iniciais

Considerando-se que a abordagem funcional de uma língua

reverencia a natureza discursiva da linguagem, e vê, dentro das estruturas

sentenciais, uma dependência funcional, quer nas estruturas de textos escritos

quer nas de textos falados; considerando-se, ainda, que essa perspectiva de

explicitar funções e relações semânticas é relevante para a interpretação das

cláusulas apositivas que servem para estruturar os discursos, busca-se, neste

capítulo, descrever os tipos de relações semânticas e as funções discursivo-

textuais das cláusulas apositivas nos discursos oral e escrito.

A classificação das cláusulas apositivas aqui adotada foi mesclada

com a terminologia tradicional e a moderna. Esse procedimento classificatório

dessas cláusulas apositivas objetiva descrever as diversas construções de

aposição encontradas no corpus pesquisado considerando-as como estruturas

que organizam e seqüenciam o discurso. Para empreender tal trabalho, partiu-

se da ótica tradicional para, em seguida, adotar-se, dentro dos estudos da

lingüística moderna, novas teorias que melhor explicitem o papel da cláusula

apositiva como estrutura articuladora do discurso, dentro de uma abordagem

funcional-discursiva. Ao se partir da ótica tradicional, fez-se um breve

apanhado pelo corpus desse trabalho, de uma mostra de apostos em forma de

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sintagmas simples, a título de uma breve observação prévia, quanto à

recorrência dessa forma de aposição.

Veja-se o quadro II:

Quadro II

Tipos de Apostos L.O. L.E. Funções: DO NO Total DE NE Total 1- Especificativo 297 55 352 226 23 249 2- Explicativo 72 42 114 49 19 68 3- Circunstancial de Lugar 06 07 13 02 01 03 4- Resumitivo 34 45 79 ---- ---- ---- 5- Atributivo 15 14 29 ---- 02 02 6- Recapitulativo 07 04 11 ---- ---- ---- 7- Circunstancial de causa 08 09 17 ---- 03 03 8- Circunstancial de tempo 03 05 08 ---- 02 02 9- Circunst. de afirmação 01 ---- 01 ---- ---- ---- 10- Distributivo 02 ---- 02 22 ---- 22 11- Circunst. de consequência ---- ---- ---- 04 ---- 04

Total 445 182 627 303 50 353 Legenda: LO = língua oral LE = língua escrita DO = dissertativo oral DE = dissertativo escrito NO = narrativo oral NE = narrativo escrito Observe-se que houve uma incidência maior de apostos na

modalidade de língua dissertativa oral, com a função de especificação

atingindo o maior índice - duzentas e noventa e sete, entre quatrocentas e

quarenta e cinco ocorrências. Na Tabela 1, pode-se ver o resumo desses dados:

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Tabela 1 – Ocorrências do aposto simples

LO LE Total DO NO DE NE ---- 445 303 182 50 980

45,41% 30,92% 18,57% 5,11% 100%

E é interessante ressaltar que ao se confrontarem os dados das

duas formas de aposição, observou-se que os índices apontam para um mesmo

resultado nas maiores ocorrências. O gênero de língua dissertativo oral

predominou. Veja-se a Tabela 2, resumo da incidência da aposição em forma

de sintagma simples ou clausular:

Tabela 2 – Ocorrências de aposto simples e clausular

LO LE Subtotal 1- Aposição Simples 627 353 980 2- Aposição Clausular 144 50 194 Total Geral 771 403 1.174

Essa evidência decorre, sem dúvida, do fato de o locutor, ao sentir

a necessidade de ser compreendido, principalmente no discurso oral, que é

considerado não planejado, "tenha de administrar passo-a-passo (locally

managed), o seu discurso", tendo ainda de se preocupar "com o que será dito,

a forma como será dito e a quem irá dizer" (Koch et al, 1990:148). E isso faz

com que ele, o interlocutor, use mais a aposição como uma opção

organizacional nos discursos, principalmente nos dissertativos orais.

Quer na modalidade de língua oral, quer na escrita, essa forma de

aposição possui várias funções para cada ato de fala: explicitação do valor de

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uma palavra no contexto, busca de denominação, correção, reparo, (função

metalingüística) dentro do discurso; informação identificadora do referente:,

exemplificações, adendos (função referencial); avaliação pessoal: justificativa,

manifestação atitudinal do locutor em relação ao assunto, avaliações (função

emotiva).

Do corpus estudado, foram coligidas 217 (duzentas e dezessete)

ocorrências de cláusulas apositivas , cujas classificações foram fundamentadas

no conceito de construções parentéticas de Jubran (1997) e nos “mecanismos

de descontinuidade na progressão temática” de Koch et al (1990).

Conforme foi afirmado anteriormente, partiu-se de uma análise

baseada nas gramáticas tradicionais, porque, segundo assinala Sant'Ana

(1998:14), " tanto a gramática tradicional quanto a funcional contribuem para

o ensino da língua, cada uma com seu objeto, sua perspectiva, seus

pressupostos, seus objetivos e sua metodologia, sendo ambas complementares

e necessárias”.

E é em razão desse procedimento que serão usados , no decorrer

deste trabalho, os termos substantiva, relativa explicativa, adotados pela

nomenclatura tradicional, para se referir à cláusula apositiva. O termo

“cláusula” será entendido como todo sintagma verbal junto a outro tipo de

sintagma nominal preposicional ou adverbial, cujas relações textuais e

discursivas contribuem para estabelecer a “tessitura” de um texto, fazendo

com que “um texto seja considerado um texto e não somente uma somatória

de frases” (Chafe: 1985 apud Koch: 1987:149).

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3.2. As Cláusulas apositivas: tipos e funções

No corpus pesquisado, foram detectadas várias funções para as

cláusulas apositivas que são coincidentes com as funções textuais interativas

de Jubran (1997) e com os mecanismos que provocam as descontinuidades na

progressão temática, postulados por Koch et al (1990). Inicialmente serão

apresentados os casos coincidentes com a teoria de Jubran.

Como já se disse anteriormente, essas funções se concentram na

primeira das quatro classes de parênteses apresentadas por Jubran, ou seja,

nas funções relacionadas com a elaboração tópica do texto, quais sejam: i)

relacionadas com o conteúdo tópico: exemplificação, esclarecimento,

ressalva, retoque e justificativa; ii) relacionadas com a formulação

lingüística do tópico: busca de denominação, explicitação do valor de uma

palavra no contexto; iii) relacionadas com a construção textual: marcação

do estatuto discursivo de um fragmento no texto.

Das funções da classe de parenteses com foco no locutor, foi

detectada apenas uma função, a de manifestação atitudinal do locutor em

relação ao assunto.

Quanto aos mecanismos de descontinuidade na progressão textual

postulados por Koch et al (1990), foram encontradas as seguintes funções

para as cláusulas apositivas no corpus deste trabalho: i) mecanismos de

inserção no tema (segmentos parentéticos auto-condicionados):

esclarecimento, ressalva, avaliação e correção; ocorreram também, as

chamadas seqüências laterais (heterocondicionadas); e, ii) mecanismos de

reconstrução por: a) repetição (com variação): reparos e paráfrases; b)

adjunções: acréscimo, explicitação e ilustração.

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Dentro dessas funções houve a ocorrência dos tipos de cláusulas

apositivas delimitados no início desta pesquisa, a saber: i) apositivas do tipo

substantiva, e que tradicionalmente vêm após dois pontos; ii) apositivas do

tipo relativa explicativa, que tradicionalmente vêm introduzidas pelo pronome

relativo - as relativas explicativas; e, iii) apositivas introduzidas por

expressões parentéticas tais como: por exemplo, quer dizer, isto é, digamos

assim, a saber, em resumo, vamos dizer assim, etc.

A seguir, apresentam-se os casos de cláusulas apositivas e suas

funções discursivas encontradas no corpus, seguidos de alguns exemplos de

cada uma das funções citadas anteriormente. E como houve, no arcabouço

teórico adotado, casos de funções coincidentes (presentes nas postulações de

Jubran (1997) e Koch et al (1990), como, por exemplo, a função de

esclarecimento, esses serão agrupados e comentados em um mesmo item. A

questão do envolvimento, postulada por Chafe, e abordada no capítulo

anterior, permeia todas as funções detectadas nesta pesquisa. Não se referirá a

ela em todos os momentos da análise do corpus, por já ter sido colocado que

essa questão - do envolvimento – é característica do fenômeno da aposição,

por ser ela - a aposição - de caráter, como já se disse, eminentemente

explicativo, parafrástico, referencial, por excelência. E neste mister, o

envolvimento dos interlocutores é inerente à própria natureza dialógica.

3.2.1. Apositivas: construções parentéticas

3.2.1.1. Função de “exemplificação”

Com esse recurso, o locutor objetiva elucidar conteúdos tópicos

que julga importantes.

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Veja-se o exemplo abaixo, que foi retirado do texto de uma

redação dissertativa do 3º grau, em que o aluno argumentava sobre a

importância da leitura:

(70) Fazemos uma leitura todos os dias em diferentes situações do nosso cotidiano como por exemplo: lemos bula de remédio, receita de bolo, embalagens , letreiros, jornais, revistas, bilhetes, ect., mas nem sempre podemos interpretá-los adequadamente. (R.03,01,11-12).

Neste exemplo, o locutor elucida o conteúdo do tópico anterior

leituras em diferentes situações através dos itens dados após os dois pontos.

Destaque-se, também, a expressão por exemplo, que é típica das cláusulas

apositivas parentéticas com a função de elucidação do conteúdo de

proposições tópicas. Tem ela a clara função de exemplificar as situações

referidas anteriormente. Observe-se que essa cláusula constitui o modelo

tradicional da apositiva tipo substantiva, ou seja, após os dois pontos.

No exemplo que segue, vê-se que o informante, percebendo a

necessidade de explicitar melhor o sofrimento pelo qual passou na ocasião em

que teve de se submeter a uma fistolização, faz uso de um complexo apositivo

com a finalidade de exemplificar a série de circunstâncias inesperadas pelas

quais passou.

(71) não foi fácil nada fácil lidar com a recanalização das minhas trompas. Fistolização, como dizem. Pior, ainda, administrar circunstâncias inesperadas tais como: não é mioma; é embrião mas está morto, aguarde dez dias para surpreender vitalidade fetal; está morto, não está vivo: vamos fazer o aborto, é gravidez de altíssimo risco, você não pode ter mais filho. Meu mundo tão arrumadinho, desmoronou.

(NE4F, 01,28-38)

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No intuito de exemplificar o tópico circunstâncias inesperadas, o

locutor lança mão de sete cláusulas apositivas justapostas:

1- não é mioma

2-- é embrião mas está morto,

3- aguarde dez dias para surpreender vitalidade fetal,

4- está morto,

5- não está vivo: vamos fazer o aborto,

6- é gravidez de altíssimo risco,

7- você não pode mais ter filho.

Essa forma de reiteração de estruturas apositivas é uma estratégia

de formulação textual que vem contribuir com a organização discursiva, ou

seja, o locutor, na tentativa de fazer com que o interlocutor entenda melhor as

tais situações, introduz “dados factuais comprovadores do que está sendo

dito” (Jubran, 1997:104).

Segundo Marcuschi (1996), as repetições conduzem à produção de

segmentos inteiros duas ou mais vezes, motivadas pelos mais diversos

fatores, sejam eles de ordem interacional, cognitiva, textual ou sintática.

Acrescenta, ainda, esse autor que não há uma descontinuidade textual na

repetição, e sim uma estratégia de composição textual, que conduz ao tópico

do discurso. No exemplo dado, a repetição de cláusulas apositivas objetiva

facilitar a compreensão do interlocutor para aquilo que o informante pretende

colocar. Tanto assim é que na cláusula de número cinco, há uma

superposição de cláusulas apositivas – duas: a ) não está vivo: b) vamos fazer

o aborto; formando uma sub-unidade informativa dentro de um contexto

informativo maior, formado pelo conjunto de cláusulas apositivas.

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No exemplo (72), o informante comenta com o documentador a

dificuldade e o trabalho que existem ao se corrigirem provas de questões

abertas em concursos com grande número de candidatos.

(72) I: questão aberta é um negócio ... de louco né? quer dizer corrigir trinta mil provas então eu acho que esse sistema

de múltipla escolha ele pra :: ... né? pra um exame de massa D: [ pra uma primeira seleção né? I: [é :: para uma primeira seleção funciona né?

(DO1M, 9, 332-338)

Observe-se que a cláusula apositiva destacada tem a função de

exemplificar o porquê de ser difícil corrigir questões abertas em concursos de

trinta mil candidatos por exemplo. E o informante termina a unidade, com o

aval do documentador, sobre a necessidade de, nesses casos, se aplicarem

testes de múltipla escolha.

Examine-se, agora, o exemplo abaixo:

(73) ... tropecei e enfiei a :: o pulso num caco de vidro né? ... aí saiu aquela ... quantidade de sangue e tal ... e eu lembro mais ou menos ... essas cenas por exemplo era eu tinha uns cinco anos eram umas cenas que eu lembro dessa época ... dessa idade assim né? ... de :: de :: cinco anos ... (NO1M, 12, 445-450).

Este exemplo (73) mostra a preocupação do informante em colocar

para o documentador, ao narrar um acontecimento que ele havia vivido e

sentira medo, a época em que o fato ocorrera, ou seja, a idade que ele possuía

e a importância da cena para ele. Estava numa tenra idade e aquela visão do

sangue provocada pelo ferimento fora marcante.

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Sendo assim, o informante sentiu a necessidade de exemplificar o

fato com esses dados e introduz uma cláusula apositiva de natureza

parentética - por exemplo era eu tinha uns cinco anos eram umas cenas que

eu lembro dessa época ... dessa idade assim né?

Observe-se que ele reforça o dado da idade quando ele o repete ao

final - dessa idade assim né?

No exemplo abaixo (74), pode-se observar, novamente, mais uma

cláusula apositiva com a função de exemplificação.

É bom que se diga que esta função é uma das que são menos

desviantes do tópico, pois sua informação "pende mais para o conteúdo dos

enunciados de relevância tópica, esclarecendo-os, exemplificando-os".

(Jubran, 1997:03). As cláusulas que exercem essa função são, pois,

concernentes com os enunciados e mantêm conexão de conteúdo com os

mesmos. Aqui, neste exemplo, o informante argumenta sobre provas de

vestibular.

(74) posso ... quer dizer a tese é o seguinte eu eu ... abordei várias questões né? a questão ... eh central que me preocupa é a seguinte que ... eh :: eu venho trabalhando com vestibular ... né? já há algum tempo e a gente às vezes quando ia corrigir prova de vestibular ... a gente notava que muitas vezes o aluno ... ele ... ao responder algumas questões do vestibular ... eh: em questões por exemplo que pediam prá ele ... colocar uma evidência duma reação química qualquer coisa relacionada a um fenômeno ... que se passa na química ... o aluno ... (DO1M, 93,78-87).

Observe-se que a cláusula destacada exemplifica o tópico anterior

ao responder questões de vestibular.

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3.2.1.2. Função de “esclarecimento”

A cláusula apositiva com função de esclarecimento foi a que teve

maior incidência no corpus pesquisado. É a mais comum, devido ao fato de

ser a função básica da aposição: esclarecer, explicitar, explicar, clarear o

fundamental, ou seja, o tópico anterior.

Embora semanticamente possa haver uma diferença de gradação de

um esclarecimento para uma explicação, por exemplo, a verdade é que

basicamente elas - essas funções - se prestam ao mesmo objetivo: clarear a

informação anterior. Talvez isso decorra do fato de o aposto, como se viu, ter

sua origem numa oração relativa explicativa, que é aquela que pretende

explicar, esclarecer um tópico que lhe vem anteposto, numa relação semântica

de equivalência, numa função metalingüística. Observe-se que a relativa só é

considerada explicativa se vier inserida como uma cláusula parentética,

marcada por pausas na língua oral e por vírgulas, travessões, reticências ou

parênteses, na língua escrita.

As cláusulas apositivas com a função de esclarecimento

encontradas no corpus trabalhado são de natureza parentética ou não-

parentética, tradicionais ou não-tradicionais, mas todas são de natureza

autocondicionada, isto é, "a iniciativa de encaixamento da cláusula no tema é

feita por parte do falante" (Koch et al, 1990:152). Quando parentéticas,

constituem as chamadas "frases-hóspedes", conforme os mesmos autores.

Seguem-se alguns exemplos dessas cláusulas, todas com função

de esclarecimento. Nos exemplos abaixo, pode-se notar o propósito do

informante de “enunciar explicações complementares ao tópico principal”

(Koch 1990:153), quando ele insere a cláusula apositiva destacada, no

contexto de sua fala:

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(75) ... tem hora que você descreve de uma forma tem hora que ocê descreve de outra né? então cê tem ... sinônimos eh :: sintagmas sinônimos, né? ... então que eu teria que trabalhar com ... isso também né? porque isso também era uma possibilidade quer dizer ou era ZERO o sujeito elipse ou era pronome ou era ... o o :: o coisa lexical ... e a Solange Lira ... que trabalhou com a mesma coisa em língua oral ... pegando pessoal do Rio ... a pesquisa os dados dela são do Rio ... fez exatamente isso ... né? (DO1M, 15, 524-538)

Pode-se ver que a cláusula apositiva - que trabalhou com a mesma

coisa em língua oral ... pegando pessoal do Rio ... a pesquisa dos dados dela

são do Rio ... - tradicionalmente é uma cláusula apositiva - relativa

explicativa parentética, que interrompe momentaneamente o segmento

textual – fazendo, assim, um esclarecimento que se julga importante dentro do

que está sendo dito. As pausas marcadas, na transcrição, pelas reticências

antes e depois da cláusula em destaque caracterizam a inserção parentética

após a qual o informante dá seqüência ao texto, interrompido no tópico a

Solange Lira, complementando-o com a cláusula - fez exatamente isso né?

(76) ... eu não tenho cabeça ... pra nesse momento tomar a decisão de interromper uma vida ... (que tá aí) ... eu não tiro esse bebê ... (NO4F, 14, 519-521).

Esse exemplo (76), que foi retirado da mesma entrevista do

exemplo (2), narra a dificuldade do informante em aceitar a decisão de

interromper a gravidez - que tá aí , como ele mesmo diz, através de uma

cláusula apositiva de natureza parentética, com a intenção de fornecer uma

informação relevante para o tópico anterior - uma vida.

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O exemplo (77) foi extraído de um texto dissertativo escrito, nível

3º grau, cujo tema era a "importância da leitura".

(77) ... importância dada à leitura, (que é essencial em qualquer profissão), até mesmo nas do campo das ciências exatas ... (R.48, 01,07-08).

Observe-se nele a presença das vírgulas, caracterizando a cláusula

em destaque como uma apositiva parentética com a função de esclarecimento,

isto é, esclarecer o fato de a leitura ser essencial, fundamental, em qualquer

profissão, até mesmo para os profissionais das ciências exatas.

Vejam-se os exemplos (78 e 79):

(78) I: .. eu também tento mostrar como é que se poderia superar essas limitações que eu aponto através de uma abordagem que NÃO É integradora por simplificar ... mas ela é ... ela integra aprofundando ... e eu mostro então o real sentido do que eu entendo como integração ... que é uma integração de base epistemológica ... e eu uso aí ... eh e faço uma análise mais aprofundada da da : : ... da contribuição que o Lukacs

D: [ é Eu também às vezes tenho dúvida como é que eu devo falar

I: ( ) mas/eu tenho mais mais hábito de falar Lukacs embora a o pessoal (que é ... especializado na área como o Chazin e a : : Esther Chazin ... né? e o José Chazin) ... (que são lá da Filosofia) eles falam LUKASH mas são os únicos que eu vejo aqui falando assim ... sabe?

D: uhn uhn (DO6F, 12- 13, 459-481).

(79) ... eu vou ter que ... que ... que pesquisar ... eh :: mais ou menos a

concepção :: de corpo que ... (que influenciou todo o pensamento ocidental ... ) (que nasceu lá na na Grécia ... Antiga) né? civilização grega né? então ... eh :: essa dicotomia corpo e alma que :: ( ) (que foi muito ... trabalhada naquela época) e ( que influenciou todo ( ) o pensamento ocidental) ... e a educação física incorporou ... essa influência ...” (DO3M, 03, 93-101).

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No exemplo (78) o informante insere uma cláusula apositiva

parentética - que é uma integração de base epistemológica - com função de

retoque do segmento anterior - do que eu entendo como integração - mais

exatamente do sintagma integração, que é repetido e explicitado na referida

cláusula. Mas o informante, no decorrer da sua fala, sente que é preciso

esclarecer outros segmentos; ele constrói mais duas cláusulas apositivas

parentéticas com a função de esclarecimento - 1- que é ... especializado na

área como Chazin e a :: Esther Chazin ... né? - que se refere ao sintagma

pessoal; 2- ... que são lá da Filosofia. Esta última constitui uma cláusula

parentética apositiva que tem a função de esclarecer a cláusula apositiva

anterior atendendo à necessidade de clareza, conforme apontado por Jubran

(1997).

Também no exemplo (79), o informante, falando de sua dissertação

de mestrado, suspende momentaneamente a sua linha discursiva e insere

quatro cláusulas apositivas parentéticas, "que tecem o tópico do discurso”

(Koch et al, 1990:310). A concepção de corpo constitui o segmento sobre o

qual incidem os esclarecimentos dados pelas cláusulas dessa “rede” de

apostos formada por cláusulas consideradas frases-hóspede que, pode-se

dizer, “constituem um procedimento com o qual o locutor dá ao ouvinte

mostras de suas atitudes em relação ao que fala e de sua preocupação com os

efeitos que podem ocasionar” (Koch et al, 1990:310). Esse exemplo bem

ilustra essa situação, quando o locutor inteligentemente cria essa estrutura de

apostos: 1- que influenciou todo o pensamento ocidental, 2- que nasceu lá na

Grécia ... Antiga, né? (...), 3- que foi muito trabalhado naquela época, 4-

que influenciou todo o pensamento ocidental.

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Nos exemplos (80) e (81) abaixo, pode-se observar um

esclarecimento mais específico: nota-se que são explicitadas circunstâncias

de tempo, no exemplo (80), e circunstância de lugar, no exemplo (81):

(80) ... depende da época ... eu falo isso ... porque estive em dois momentos ... né? ... a propósito do meu doutorado eu estive em dois momentos vivendo nesta cidade ... num primeiro ... que foi de oitenta e dois ao final de oitenta e três ... quando eu fiz meus cursos né? desenvolvi a a fiz o o exame geral ... né? que a gente faz ... eh apresentei meu projeto depois eu vim fiquei um ano aqui no Brasil até oitenta e quatro... né? foi quando eu fiz minha pesquisa de tese mesmo ... ( NO8F, 24, 9111-923 ).

A cláusula em destaque é uma apositiva, de natureza parentética, do

tipo relativa explicativa tradicional, que foi inserida com a função de

esclarecer o segmento dois momentos em que o informante, falando de sua

tese de doutorado, quer esclarecer o documentador quanto à época em que os

fatos se deram.

No exemplo (81), o informante narra uma situação difícil, de

pânico, provocada por um assalto que ele viveu durante sua estada em um

país estrangeiro. Ele insere, então, a cláusula apositiva parentética - onde eu

morava – esclarecendo o sintagma anterior – nesse lugar, esclarecendo a

circunstância de lugar, que era onde ele morava.

(81) ... nesse caso ne/nesse lugar ... onde eu morava ... a janela ainda tinha uma como que treliça de ... de ... de arame ... dentro do vidro ... que dificultava cortar o vidro ... tá ... (NO8F, 29,1.081-1.084).

Observe a presença, nesse exemplo (81), de outra cláusula apositiva

que dificultava cortar o vidro que constitui, também, uma cláusula apositiva

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do tipo relativa explicativa, com a função de esclarecimento do sintagma

anterior – treliça de arame.

Veja-se ainda no exemplo (82), abaixo, como está se

demonstrando nesta seção, a preocupação do locutor em esclarecer

informações anteriores. O contexto é idêntico ao do exemplo (74) visto

anteriormente.

(82) ... o vestibular da UFMG por exemplo eu participei ... e ele :: há muito tempo que ele ... eh vem mudando a postura dele né? ... quer dizer tem muito tempo que as provas de química não têm mais esse tipo de ênfase ... no entanto assim ... eh ainda hoje muitos cursinhos eles ... (DO1M,8, 297-304 ).

Pode-se ver, pelo exemplo (82), que o locutor, falando de Química,

quebra sua seqüência discursiva e insere uma cláusula apositiva com o intuito

de esclarecer que o tipo de ênfase dado à prova de Química vem sendo

mudado nos vestibulares, atualmente.

Observe-se o próximo exemplo:

(83) ... e eu ... peguei essas análises e e transpus pra análise da política educacional quer dizer ... por quê que a nossa educação ... ela ... ela serve ao desenvolvimento ali muito ... muito localizado, muito daqui e agora ... e ela não desenvolve ela não se enRAíza nos países ... e a minha conclusão é que ela não se enraizou porque ela não ... ela não tinha raízes dela eram todas fora ... e ... no momento elas serviam a determinados interesses momentâneos aqueles interesses momentâneos se desinteressa da questão educacional assim por eh :: dessa profissionalização ela não é NÃO resolvida ... né? quer dizer foi feitas :: foram feitas em vários países da América Latina na mesma época ... eu estudei outros países pra ver :: todos tinham adotado esse tipo de política ... Mas nenhum ... (DO2F,7,220-241).

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Em (83), as cláusulas apositivas destacadas: quer dizer ... porquê

que a nossa educação ... ela ... ela serve ao desenvolvimento ali muito ...

muito localizado, muito daqui e agora ... e ela não desenvolve ela não se

enRaíza nos países ... e a segunda quer dizer foi feitas : : foram feitas em

vários países da América Latina na mesma época ... constituem inserções

parentéticas com a função de esclarecer que a política educacional não é

resolvida. Ela é muito localizada, muito daqui e agora.

No exemplo (84) abaixo, o informante fala de sua tese e do papel do

examinador; então, o documentador insere uma cláusula apositiva no texto,

visando esclarecer que tal procedimento desmerece o examinador num

momento de uma defesa. A cláusula apositiva inserida é de natureza

heterocondicionada, nesse caso.

(84) D: ... ocê passa um tempão trabalhando na tese ... né? ... esperando às vezes aquelas perGUNtas ... né? aquele massacre.

I: não mas isso foi pouco ... foi pouco ... sabe? D: não mas isso ... quer dizer ... desmerece ... né? ... o o o o :: o

examinador ... né ... às vezes um examinador de peso mas que chega lá com ... perguntas sobre bobagem né? ... dá impressão de que não leu ... (DO6F,18, 651-660)

.

Há um intercâmbio de informações entre os interlocutores. Esse

intercâmbio ocorre quando o documentador insere a informação esclarecedora

- quer dizer ... desmerece ... né? ... o o o o :: o examinador ... né . Por ter sido

uma intervenção do interlocutor.

Ainda com a função de esclarecimento, foram encontradas várias

cláusulas apositivas do tipo relativas explicativas que não eram parentéticas.

Essas foram, como se disse, analisadas sob os postulados de Koch et al

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(1990). Observem-se os exemplos listados a seguir ,onde se podem notar as

pausas, indicadas na transcrição, pelas reticências, e a presença dos pronomes

relativos que as introduzem. A referência que se faz, nesta seção, sobre

cláusulas apositivas não parentéticas objetiva esclarecer que elas podem

exercer funções textuais interativas, embora, às vezes, não sejam parentéticas.

(85) ... porque o ... o o sujeito tá lá tantas orações antes ... ou a distância que ele lá não sei o que quer dizer ... eu fui percebendo que o negócio er/ que o buraco era um pouco mais embaixo quer dizer ... devia haver alguma generalização melhor do que isso alguma coisa ... possível ... que ela não tenha ... eh colocado sabe? (DO9M, 16, 655-664 )

A cláusula destacada - que ela não tinha ... eh colocado - é um

esclarecimento para o segmento anterior alguma coisa. O informante fala

sobre sujeito e acerca da teoria de determinado autor sobre o tema. Saliente-

se que há duas cláusulas apositivas, expressas anteriormente, introduzidas

pela expressão quer dizer, que também constituem cláusulas apositivas

(parentéticas) com função explicitação .

A mesma situação - de esclarecimento - acontece no exemplo (86) a

seguir:

(86) ... num põe continuidade de sujeito não põe continuidade tópica porque na verdade é o tópico ... que é o discurso e tal ... né? (DO9M, 18, 688-692))

.

A cláusula que é o discurso e tal se refere ao segmento anterior

tópico.

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O exemplo (87), abaixo,é um excerto de uma entrevista em que o

informante narra uma situação de medo, que viveu quando estudava no

exterior. Também nesse trecho tem-se mais uma ocorrência da cláusula

apositiva com função de esclarecimento.

(87) ... mas ele tinha aparência assim de ser um :: ele era um árabe a gente via ... na U.F.R.I. a gente ... trabalhava com árabe ... cê vê que ele era de nível baixo né? ... devia ser ... operário ... e era uma pessoa que :: ... não regulava bem da cabeça... (NO2F,19,713-719).

A seguir, listam-se mais alguns exemplos de cláusulas apositivas

com função de esclarecimento, sem comentá-los, objetivando-se, apenas,

enriquecer a ilustração desse tipo de função da apositiva. Observem-se as

cláusulas destacadas.

(88) I: ... bom ... mas também nessas horas aparece a solidariedade quer dizer um amigomeu ... eh foi

D: é I: muito ... muito ... amigo MESmo né? Ele ... ele ... recebeu uma oferta

de um colégio ... e me telefonou - - ele precisava desse trabalho - - mas ele me telefonou dizendo que :: que eu poderia assumir no lugar dele – são essas coisas que : : só amigo é que faz mesmo né? (NO3M, 11, 413-423).

(89) ... então era muito fácil pra mim trabalhar num material ... que : : tinha em abund6ancia e que eles tavam preocupados em em fazer um estudo ... (DO7M, 18, 664-667).

(90) ... Minha mãe pediu ajuda a um vizinho que possuía um automóvel e me levaram ao pronto socorro, onde levei sete dolorosos pontos. (NE1M, 17-19).

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(91) . algumas escolas se encontram sacudidas com suas potestades cultas, onde o ensinar era simplesmente transmitir conhecimentos prontos e acabados. (R.59,02, 33-34).

Os exemplos acima ilustram ocorrências orais e escritas tanto do

discurso narrativo quanto do dissertativo, mas todos com a função de

esclarecimento.

3.2.1.3. Função de "retoque"

O retoque é uma função que visa reformular a unidade informativa

anterior, repetindo-se um item lexical nela contido, possibilitando ao locutor

construir um melhor conceito para o item destacado.

Na função de retoque foram encontrados três tipos de cláusulas

apositivas: a) apositivas relativas parentéticas; b) apositivas relativas não

parentéticas; e c) as apositivas parentéticas (não relativas).

A) Apositivas relativas parentéticas

Veja-se:

(92) I: Foi num ... Pronto Socorro mesmo foi Pronto Socorro era Domingo ... eu lembro que era Domingo ... e :: ... ( ) falou assim ah tá bom vamos te dar um enema ... – que é o nome do ... cê aprende ... se ocê tiver

D: enema? I: enema ... enema é a lavagem ) né D: uhn uhn ... (NO7M, 9, 308-316).

Em (92), o informante narra uma crise de cólica renal que sofreu,

quando se encontrava em outro país fazendo um curso.

A função de retoque ocorre quando ele, na tentativa de explicitar o

sintagma enema, insere a cláusula apositiva - que é o nome do ... cê aprende

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se ocê tiver enema ... enema é a lavagem. Ele faz interrupções, representadas

pelas reticências, modulando a voz e repetindo o item lexical enema, por duas

vezes, retocando-o.

No exemplo (93), abaixo, o informante fala de sua tese ao

documentador; faz uma interrupção, insere uma cláusula apositiva relativa

fazendo o retoque do item lexical integração, que aparece na unidade

anterior:

(93) I: ...eu também tento mostrar como é que se poderia superar essas

limitações que eu aponto através de uma abordagem que NÃO é integradora por simplificar ... mas ela integra aprofundando ... e eu mostro então o real sentido do que eu entendo como integração ... que é uma integração de base epistemológica ... e eu uso aí ... eh e faço uma análise mais aprofundada da da :: ... contribuição que o Lukacs ...(DO6F,13,459-470)

B) Apositivas relativas, não parentéticas

No exemplo (94) abaixo, temos um caso de cláusula apositiva de

natureza não parentética também com função de retoque :

(94) Sempre gostei muito da Língua Portuguesa, e aqui na Faculdade estou ampliando, adquirindo mais conhecimento de modo geral (conhecimentos, que me estão sendo valiosíssimos na minha vida pessoal e profissional). (R.27,01,26-27).

A cláusula destacada - conhecimentos que me estão sendo

valiosíssimos na minha vida pessoal e profissional - vem retocar, ou seja,

complementar o sentido do sintagma conhecimentos que vem, como é de

praxe nesse tipo de apositiva, repetido na cláusula em estudo.

C) Apositivas parentéticas (não relativas)

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No corpus pesquisado houve grande incidência desse tipo de cláusula

apositiva, exercendo função de retoque. Observem-se alguns exemplos:

(95) ... prá romper co/com essa :: domesticação né? então até tô com um

titulozinho que ainda tá ... mais ou menos na minha cabeça é assim ... eh o “o corpo e a Educação Física na escola ... domesticação e autonomia” (ou seja reconhecendo que a escola realmente dá um tratamento domesticador ao corpo ... na escola ... e que a Educação Física pode ser a maior alternativa ... a essa domesticação ...) (quer dizer Educação Física num dá prá ela :: ir contra essa situação toda na escola porque esse é um processo que eh ... inde/eh que ultrapassa a Educação Física ) né? (DO3M, 03, 75-88).

O informante fala da domesticação da Educação Física que é dada

nas escolas. E ele reitera a sua opinião, quando insere a primeira cláusula

apositiva em grifo – ou seja reconhecendo que a escola realmente dá um

tratamento domesticador ao corpo (...)_ essa domesticação - e repete a carga

semântica dada no item lexical domesticação sob a forma de um sintagma

adjetival domesticador. Veja-se que na segunda cláusula apositiva grifada -

quer dizer Educação Física num dá pra ela : : ir contra essa situação (...) que

ultrapassa a Educação Física - ele faz um novo retoque com relação à

Educação Física, que vem logo após a expressão parentética quer dizer ; o

informante a retoca dizendo que esse processo domesticador ultrapassa a

própria Educação Física.

Em (96), observe-se a estrutura de aposição clausular construída

pelo informante.

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(96) I: ... em coisas DA linguagem entendeu? 1 (quer dizer em aspectos ... detalhes da linguagem entendeu?) (quer dizer em aspectos ... detalhes da linguagem...

D: uhn ... I: química ) então ... na verdade eh :: ... coisa que a gente percebe um

ensino distorcido 2 (quer dizer em vez d'ocê ensinar ... uma relação entre eh teorias ... e modelos e os experimentos cê tá ensinando uma linguagem) 3 (que o aluno inclusive fica perdido ali naquele meio ) né? ele não sabe pra quê que ele faz aquilo ... (DO1M, 6, 198-508).

Nesta estrutura, há um complexo de apostos; através da primeira

cláusula em grifo - quer dizer em aspectos ... detalhes da linguagem - o

locutor retoca o sintagma coisas DA linguagem expresso na unidade anterior.

O item lexical coisa também é retocado pelas expressões ... aspectos ...

detalhes (da linguagem).

Na segunda cláusula apositiva grifada - quer dizer em vez d’ocê

ensinar ... uma relação entre eh teorias ... e modelos e os experimentos cê tá

ensinando uma linguagem - o informante retoca ensino distorcido

acrescentando que ao invés de se ensinar uma relação entre teorias, modelos

e experimentos, fica-se ensinando uma linguagem na qual o aluno se perde.

(97) ... eu pra começar eu eh eh achava a mesma coisa (então) elipse de modo geral e acho que qualquer um pensava ... ali eu perceber né? Lembrar digamos assim, que negócio de sujeito de pela situação né? Primeira e segunda pessoa é o falante e o e o interlocutor dele ... ao passo que terceira pessoa é que é uma coisa muito mais ampla né? Quer dizer ... em princípio ce tem um ... num discurso qualquer ... toda a referência de terceira pessoa. EM princípio não que seja assim mas EM princípio ... qualquer referência ... de terceira pessoa que tiver no texto pode ser retomada depois ... né? ... quer dizer é uma coisa muito mais ampla muito mais rica no sentido de de de trabalho e depois ... demandaria também estudos diferentes ... (DO9M, 13,454-474).

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Observe-se que o informante, já logo no início desse exemplo

(97), ao dissertar sobre o tema de sua tese - o sujeito - introduz uma cláusula

apositiva parentética - lembrar digamos assim - com a função de busca de

denominação (essa modalidade será melhor exemplificada em uma seção

mais à frente), iniciando assim, dentro dessa unidade discursiva, uma cadeia

de cláusulas apositivas.

Na segunda clausula destacada, temos: - quer dizer ... em

princípio ce tem ... num discurso qualquer ... toda a referência de terceira

pessoa - que é uma cláusula apositiva parentética, com função de retoque da

expressão anterior. O informante arremata sua informação, inserindo uma

outra cláusula apositiva de natureza parentética com função de retoque - quer

dizer é uma coisa muito mais ampla muito mais rica no sentido de trabalho

retornando à informação dada no início. O retoque está no fato de que ele

acrescenta o sintagma muito mais rica, além de repetir o sintagma mais

ampla.

No exemplo (98), o informante insere uma cláusula parentética,

com nítida intenção de elaborar um retoque. Observe-se:

(98) ... e esse movimetno então teria :: ... duas peculiaridades ele seria ao mesmo tempo FONTE de aprendizagem ... porque através dele a criança aprenderia eh :: ela estava em contato com outras crianças ... ou seja ... através do movimento ela vivenciaria junto com outras crianças um uma enorme quantidade de sentimentos de vivência sociais que seriam importantes para ela ... (DO3M,052,164-174).

O locutor retoca a informação de que a criança estava em contato

com outras crianças para ela vivenciaria junto com outras crianças. Veja-se a

preocupação do locutor em explicitar melhor uma informação anterior,

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- 117 -

através de um retoque, ele julga o item lexical vivenciar mais adequado para

expressar suas idéias sobre aprendizagem.

3.2.1.4. Função de "ressalva"

Na função de ressalva, a cláusula apositiva, como já se apontou,

“insere uma observação sobre a extensão do significado de uma proposição

“ampliada ou reduzida” (Jubran, 1997: 04). Veja-se:

(99) ... a inadequação da grade curricular da instituição universitária, que não é exclusiva desta, mas é generalizada e atinge a maioria das universidades brasileiras – viram o resultado do Provão? ... (R.69, 01, 08-09).

A cláusula grifada - que não é exclusividade desta - é uma cláusula

apositiva do tipo relativa explicativa que possui a nítida função de fazer uma

ressalva quanto à inadequação da grade curricular, da maioria das

universidades.

Veja-se um outro exemplo:

(100) ... ninguém me receitou Buscopan nenhum ... quer dizer eu tava tomando mas eu devia ter tomado o injetável porque pelo menos da vez que eu passei mal no Brasil foi injetável ... aí o cara falou ... (NO7M,10, 352-356).

Aqui, o informante, que sofreu uma cólica de rins, fala sobre os

medicamentos que tomou na ocasião da crise. Observe-se que na cláusula

apositiva - quer dizer eu tava tomando - ele faz uma ressalva do que afirmou

antes - ninguém; me receitou nada Buscopan nenhum, então, se não foi

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receitado, ele não deveria estar tomando. Ele faz uma ressalva - quer dizer eu

tava tomando.

A função de ressalva está correlacionada ao conteúdo tópico.

Objetiva, como já se disse anteriormente, elucidar tópicos relevantes, como se

pôde comprovar pelo exemplo acima.

3.2.1.5. Função de "justificativa"

Veja-se no exemplo (101) como é clara a justificativa dada pela

cláusula apositiva destacada.

(101) ... eh existe a idéia básica né? ... que eu acabo colocando como título da tese ... que eu acho que sintetiza tudo ... e é uma idéia funcional prá manutenção ... de um determinado contexto-sócios-econômico-político...que eu identifico ... que é a idéia da neutralidade científica ... né? ... ( ) a idéia da ne--utralidade pedagógica ... então se a educação ...né? ... é alguma coisa neutra ... né? e se ciência é alguma coisa neutra eu posso ... né? desvincular o produto do produtor eu posso importar por exemplo uma parafernália ... né? eh eh dos Estados Unidos por exemplo ... né? em termos de de ... de ... de métodos técnicas ... né? de ensino né? (DO8F, 612-626).

O informante, ao relatar para o documentador um dos aspectos de

sua dissertação de mestrado, que versava sobre a Educação, envida um grande

esforço para “justificar” o título de seu trabalho e, nesse título, assenta-se a

idéia básica da neutralidade científica; e é aí que o informante insere a

primeira cláusula apositiva com a natureza de justificativa - ... que eu acho

que sintetiza tudo - com a função de justificar o título dado. Possui, a

cláusula em grifo, um caráter elucidativo; funciona como um mecanismo que

justifica a informação dada. Observe-se, também, que o locutor continua

justificando a idéia funcional quando adiciona uma segunda cláusula

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apositiva - e é uma idéia funcional prá manutenção ... de um determinado

contexto sócio-econônico-político - e continua quando insere uma terceira

cláusula apositiva - que eu identifico - que por sua vez é complementada por

uma quarta cláusula apositiva: que é a idéia da neutralidade científica a idéia

da neutralidade pedagógica. Tanto o locutor justifica sua idéia expressa no

título de sua tese, que após todas essas quatro cláusulas apositivas, conclui,

introduzindo uma quinta cláusula, com o marcador conversacional "então" -

se a educação é alguma coisa neutra e se a ciência é alguma coisa neutra, eu

posso desvincular o produto do produtor eu posso importar por exemplo uma

parafernália tecnológica dos Estados Unidos, por exemplo, em termos de

métodos e técnicas de ensino né? - É como se ele comprovasse a sua

justificativa e ainda pedisse a anuência do interlocutor através do marcador

discursivo “né”.

As funções vistas até o momento estão embasadas tanto nas funções

textuais-interativas dos parênteses segundo Jubran (1997) quanto em algumas

funções dos mecanismos de desaceleração (descontinuidade na progressão

temática, de Koch et al (1990). As próximas funções – busca de denominação

e explicitação do valor de uma palavra no contexto – se referem apenas à

formulação lingüística do tópico da teoria de Jubran (1997).

3.2.1.6. Função de "busca de denominação"

A partir daqui, como se disse, as cláusulas apositivas se referirão

apenas à “formulação lingüística do tópico” que é uma das subdivisões das

classes de parênteses relacionados com a elaboração tópica do texto. Como

foi colocado no capítulo anterior, os parênteses relacionados com a

elaboração tópica do texto são aqueles correlacionados com o conteúdo

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tópico,os relacionados com a formulação lingüística do tópico e os

relacionados com a construção textual.

Nas funções das cláusulas apositivas a seguir, notar-se-á que as

mesmas terão a característica parentética ou não, e colocarão em foco o

sistema verbal que estará sendo utilizado pelos interlocutores. Isto porque elas

se referirão à formulação lingüística do tópico. Essa é uma função

metalingüística, uma vez que reflexivamente focaliza a própria linguagem.

Serão examinados três exemplos, a saber: o (103), com cláusula apositiva do

tipo não relativa e de natureza parentética; o (104),com uma cláusula

apositiva também não relativa mas de natureza não parentética; e o exemplo

(105) que trará uma cláusula apositiva relativa de natureza também não

parentética. O que ocorre de comum é que em todas se vê claramente a

função, denominada por Jubran (1997), de busca de denominação, para o

item (ou itens) lexicais anteriores. No exemplo (102), o informante narra um

acontecimento no qual ele viveu uma situação de medo ou pânico:

Veja-se:

(102) D: cê num bebeu muita água não? I: Não não porque eu respirei nadar eu sei né quer dizer eu num

num :: faço essas coisas de engolir água esses trem ... D: não mas naquela de ir ao fundo (es)tar no I: [ não :: não não D: meio do redemoinho e tal cê num bebe? ( NO9M, 6, 211-217 )

A cláusula apositiva grifada é não relativa ,de natureza parentética

- quer dizer eu num num :: faço essas coisas de engolir água esses trem - e

refere-se à informação nadar eu sei. Mantém com ela uma correferencialidade

a partir do momento em que o interlocutor utiliza a cláusula em grifo,

transmitindo o significado desejado do sintagma nadar, clareando-o.

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A cláusula apositiva do exemplo (103) abaixo não é relativa e nem

parentética e tem a função de busca de denominação, como se pode ver:

(103) ... temos que estudar por fora, isto é , temos que ter outras fontes de

estudo fora da faculdade. (R89,01,14-15 ).

Esse exemplo foi extraído de um texto dissertativo escrito, onde o

locutor explana sobre a importância do estudo. Observe-se que ele utiliza a

cláusula apositiva em grifo - isto é, temos que ter outras fontes de estudo fora

da faculdade - que não é de natureza parentética, nem é do tipo relativa

explicativa, para denominar melhor a informação anterior estudar por fora,

para garantir a clareza do que diz.

No exemplo (103) ocorre uma cláusula apositiva do tipo relativa

explicativa, como a do exemplo (103), que não é parentética. Vê-se nela,

também, a intenção de busca de denominação:

(104) ... quando eu vou analisar no discurso do professor ... tá? eu encontro um discurso eh um quando eu pergunto pro professor qual é, quais são os temas que ele acha que representam a didática ... qual qual é a quais são as obras representativas desse conteúdo ... eu encontro um uma :: aquilo que eu chamo de um samba do crioulo doido quando dá samba ... tá? ... pelo menos aparentemente (...)

(DO8F, 14, 496-506).

O locutor, ao dissertar oralmente sobre seu trabalho de pesquisa,

fala da didática no discurso do professor. E nesse discurso do professor

sobre didática encontram-se os itens que ele traduz, ou seja, formula,

através de uma construção metalingüística, representada pela cláusula

apositiva em grifo - que eu chamo de um samba do crioulo doido quando dá

samba - ou seja, os conceitos encontrados para didática, entre os

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professores, são tão caóticos que se assemelham a um samba do crioulo

doido. Há toda uma situação de metalinguagem com a finalidade de se

promover uma intercomunicação.

Essa função de busca de denominação pode, ainda, vir marcada por

vários recursos, segundo Jubran (1997), recursos esses que podem vir

materializados numa justaposição ou alternância de sinônimos, comentários

parentéticos do locutor a respeito de uma opção lexical, expressões

parentéticas como isto é, quer dizer, sobretudo, mais precisamente,

acompanhadas de uma opção lexical; ou por expressões como digamos

assim, podemos dizer assim, por assim dizer, vamos dizer assim que vêm

antepostas ou pospostas a uma determinada opção lexical; e, finalmente, por

frases que registram procedimentos metalingüísticos (comentários

matalingüísticos).

O presente trabalho limitou-se ao estudo da função parentética de

busca de denominação apenas aquelas que são indicadas pelas expressões

parentéticas, que são introdutoras de cláusulas apositivas, as quais

constituem objeto desta pesquisa. Encerrando esta seção, observem-se mais

dois exemplos dessa função de busca de denominação:

(105) procurei analisar a evolução dos fundamentos na educação e em cada momento eu identifiquei a presença desses fundamentos de uma determinada forma ... ora por exemplo na no no princípio na educação na na no período colonial eu chamei a achei nesse período que a educa/ ah os fundamentos se apresentavam de forma implícita ... porque o o ... vamos dizer assim a a a prática eh era uma complementação uma funcionalidade dos princípios ... elas se fazeim em função elas elas se estruturavam em função de princípios eh eh estabelecidos a priori ... né? segundo seguindo muito a concepção que nós chamamos de tomista ou seja uma concepção mais essencialista ... depois já na por exemplo lá na década de vinte nós vemos surgir a a :: instrumentalização das ciências a psicologia a sociologia ... né? (DO6F,9-10,344-363).

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O informante introduz, nesse excerto, duas cláusulas apositivas com

a função de busca de denominação. Com a primeira - vamos dizer assim a a a

prática eh era era era uma complementação uma funcionalidade dos

princípios - ele procura elucidar o sentido do sintagma princípios da

educação. Na segunda cláusula - ou seja uma concepção mais essencialista -

o informante estabelece o significado de concepção tomista e retifica a opção

lexical anterior, elucidando-a e, conseqüentemente, tentando atingir seu

objetivo interacional. Observe-se o comportamento metalingüístico entre as

unidades. Tal procedimento visa uma substituição mais adequada ao contexto.

O mesmo ocorre com o exemplo (106):

(106) ... eu era do tipo assim de querer tudo certinho no dia na data marcada e tal e ... ficava louca ... né? ... como se diz consertar o MUNdo e tal agora também eu falei não posso fazer é isso ... se servir bem ... se num servir ... (NO4F, 21,812-816).

O locutor, tentando elucidar o sintagma querer tudo certinho (...) e

tal, busca uma denominação que julgou mais acertada - como se diz

consertar o MUNdo e tal.

3.2.1.7. Função de "explicitação do valor de uma palavra no contexto

Também essa função se refere à formulação lingüística do tópico,

como pode ilustrar o exemplo (107), abaixo, de língua escrita, em que o

informante narra uma situação de medo pela qual já havia passado:

(107) Não sei se falo daquele “medinho” pela razão, ou medo enorme no peito. Medo de avião: frase cantada por Vinícius de Morais que ecoa ainda no meu nos nossos ouvidos ... (NE10F, 01,06-09).

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Veja-se que o item lexical medinho, que já se encontra entre aspas

no texto original, é, através de um procedimento metalingüístico, “objeto de

um comentário sobre o seu significado e/ou referência” (Jubran, 1997: 06 ),

quando o informante utiliza uma cláusula apositiva substantiva para

estabelecer um significado do que ele quer comunicar, o que é o medo dentro

de um processo de explicitação dada pela cláusula apositiva - frase cantada

por Vinícius de Morais que ecoa ainda no meu nos nossos ouvidos.

3.2.1.8. Função de "marcação do estatuto discursivo de um fragmento no

texto"

Nessa função, a cláusula apositiva se presta à “construção textual”

ou “montagem textual”, conforme aponta Jubran (1997). Esse tipo de

parentetização já não se refere ao conteúdo tópico, nem à formulação

lingüística do texto. Ele focaliza a construção textual ( progressão,

estruturação, etc). No exemplo (108), o informante narra o "episódio das

pedras" , por escrito. Trata-se de uma situação de "aperto" que ele viveu em

outra cidade, que não a de sua residência, quando teve uma cólica renal:

(108) A F. ficou apavorada e, embora nós estivéssemos de carro, preferiu pedir ajuda de um vizinho para me levar ao pronto-socorro local. As meninas ficaram em casa com a mulher do tal vizinho tomando conta. A propósito, eu me lembro de algo que não havia falado antes: as meninas se trancaram na casa e não deixaram a moça entrar. No pronto-socorro eu fui logo atendido e o médico, embora parecesse inexperiente dada a “qualidade” do hospital acertou em cheio no diagnóstico: era uma pedra nos rins. (NE7M, 01, 09-21).

Observe-se, nesse exemplo, que o locutor, ao inserir no seu texto o

segmento a propósito, eu me lembro de algo que não havia falado antes: as

meninas se trancaram na casa e não deixaram a moça entrar, que traz uma

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cláusula apositiva do tipo substantiva (vejam-se os dois pontos), constrói

uma estrutura parentética, traz uma informação paralela quebrando a

seqüência textual.

Essa montagem traz uma quebra da seqüencialidade, sem contudo

quebrar a coesão e a coerência textuais, uma vez que essa inserção parentética

tem como objetivo demonstrar "movimentos de raciocínio na produção do

texto: objeções, suposições, ilustrações, informações paralelas, etc" (Jubran,

1997:10). A informação dada pela cláusula em destaque confere a ela "estatuto

de parênteses, de segmento encartado em outro" (Jubran, 1997:12).

3.2.1.9. Função de "manifestação atitudinal do locutor em relação ao

assunto"

Nessa função, que tem como foco o locutor, as cláusulas

apositivas apresentam uma manifestação da atitude do locutor em relação ao

assunto, isto é, constituem elas inserções parentéticas através das quais

o falante se introjeta no texto que produz, focalizando representações suas a respeito de seu papel discursivo de locutor-instanciador do discurso, bem como caracterizando o foco enunciativo a partir do qual são perspectivados os tópicos abordados no texto. (Jubran, 1997:13).

A participação do locutor no texto é vista, lingüísticamente,

através de recursos como os postulados por Chafe (1985) e já referidos neste

trabalho, aproveitando-se, inclusive, estudos feitos por Cruz (1998) sobre as

situações de ego-envolvimento, também fundamentadas em Chafe.

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Principalmente nesse caso, como se pode ver pelo exemplo (109),

ocorre o ego-envolvimento do locutor, no momento em que faz uso do

pronome de primeira pessoa: eu.

(109) aí o trabalho fica sendo realmente o de escreVER :: de tornar aquilo

legível pra ... pra outras pessoas e tal ... bem a orientação da F. foi muito seGUra :: no sentido assim de que ela não tinha nenhum tipo de de :: insegurança de de de problema com relação à orientação ... quer dizer o que ela falava ... eu então me sentia seguro também ... apesar de ter sido um negócio muito esporádico ... ao todo eu devo ter encontrado com ela :: umas cinco ou seis vezes ... (DO9M,10, 354-369).

A cláusula apositiva grifada - quer dizer o que ela falava ... eu me

sentia seguro também - mostra um envolvimento, uma manifestação do

locutor em relação ao assunto, ou seja, ele assevera que se sente seguro com a

orientação da tese que fazia. (Vale lembrar que se considerou como cláusula

apositiva toda a unidade informacional que foi grifada).

3.2.2. Apositivas: Mecanismos de inserção e reconstrução

Nas próximas seções serão discutidos exemplos de cláusulas

apositivas cujas funções foram fundamentadas nos estudos de Koch et al

(1990); são os "mecanismos de desaceleração", ou seja, as "descontinuidades

na progressão temática". Esses casos constituem um grupo cujas funções

discursivas não coincidiram com as funções "textuais - interativas dos

parênteses" postulados por Jubran (1997), que foram vistas até agora.

Como já foi dito, em seus estudos, Koch et al (1990) observaram

que as rupturas provocadas no processamento da informação por processos de

inserções no tema (segmentos parentéticos autocondicionados e "seqüências

laterais" heterocondicionadas) ou por reconstrução (repetição sem variação e

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com variação: reparos e paráfrases; e as adjunções), não provocam

desestruturação no discurso oral. São, na verdade, estratégias que o locutor

usa com vistas a facilitar a interação comunicativa. Esse fato observado no

discurso oral pode ser estendido ao discurso escrito, como poderá ser

observado nos próximos exemplos.

Assim, dentro desses mecanismos, serão vistas as funções

concernentes: i) aos mecanismos de inserção parentética, (autocondicionados

- as chamadas “frases-hóspedes”); ii) aos mecanismos de reconstrução por

repetição, com variação, ou de reconstrução em forma de adendos

afterthoughts), todos eles postulados por Koch et al (1990).

3.2.2.1. Função de "avaliação"

Observe-se o exemplo abaixo:

(110) ... A F. telefonou para o GP(General Practicioner) nosso_ que por sinal era uma droga_ e ele felizmente atendeu prontamente EM CASA me indicou um analgésico forte e isto piorou a situação ainda mais já que o analgésico produz contrações do ureter...( NE7M, 3, 65-73)

Na cláusula apositiva que por sinal era uma droga, o informante

expressa uma avaliação negativa acerca do General Practicioner . Ele o

considera uma droga. Nesse tipo de função, a cláusula apositiva, que é uma

frase-hóspede, cumpre um propósito de comunicação, quando, ao quebrar o

fluxo informacional nuclear, presta-se a dar uma outra informação, sem

contudo afetar a coesão entre a informação primária e a informação dada por

ela.

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3.2.2.2. Função de "correção"

Nessa função, a cláusula apositiva de natureza parentética vem

inserida no tema trazendo uma informação subsidiária . É auto-condicionada,

uma vez que o próprio falante tem a iniciativa de encaixá-la. Observe-se o

exemplo (111), onde o falante corrige o segmento período de oitenta e três

para oitenta e um a oitenta e três.

(111) ... O :: a população qu eu trabalhei foram ... os egressos formador no período de oitenta três ... ou seja ... de oitenta e um a oitenta e três teve uma avaliação interna ... né? ... esses indivíduos que formaram em oitenta e três ou a partir de oitenta e três ... ( DO5M,15,547-552).

3.2.2.3. Função de "reparo"

Essa função de reparo, junto com as funções parafrásticas,

constituem, segundo Koch et al (1990), mecanismo de reconstrução textual.

São repetições auto-condicionadas com variações e objetivam uma

reelaboração na seqüência discursiva. No exemplo (112), que ilustra essa

função, o documentador dialoga com seu informante sobre o "gosto por textos

antigos".

(112) D: ... mas eu achei muito interessante viu? Eu gosto de mexer ... com com textos ... passados sabe? ... acho mais :: se lá eu tenho ... eh

I: [ é ... é muito interessante ] D: eu tenho um gosto assim ... pelo mistério pelo :: essa coisa que nem

é d'agora que eu tô vendo com esses olhos digamos assim ouvindo ... né? pra você tentar descobrir o que que aconteceu é bem interessante né? (DO10F, 08, 295-303)

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A cláusula apositiva em grifo marca uma interrupção para que o

locutor faça um reparo da expressão tô vendo, substituída por ouvindo .

Observe-se a expressão digamos assim, que é própria dessa função.

É interessante observar, também, que essa função, como aliás toda

a aposição, se caracteriza por ser parafrástica, uma vez que apresenta um teor

de metalinguagem discursiva. Segundo Koch et al (1990), essa função

reformula a expressão anterior, fazendo do reparo uma forma de repetição

com variação.

O reparo, como já foi colocado antes, é um processo de

reconstrução. Apresenta uma repetição na qual o locutor retoca o enunciado,

substituindo a formulação que lhe vem anteposta por uma outra que atenda

mais aos seus intentos comunicativos e interacionais.

Essa função difere da função de retoque, tirada dos postulados de

Jubran (1997), no sentido em que no reparo há uma substituição de uma

primeira formulação por outra, e, na função de retoque da teoria de Koch et al

(1990 não se substitui a primeira formulação, apenas a retoca, repetindo-se

inclusive o item lexical da primeira . Veja-se:

(113) o grande veículo né/ ... de uma transformação mais ... ou seja uma formulação mais significativa mais ... no sentido mais social mais democrático ... né? são as instituições que a gente tá diretamente trabalhando ... né? ( DO5M, 10,351-356).

O informante faz um reparo de sintagma tranformação para uma

formulação. Há uma substituição de um item lexical que melhor atenda a

clareza da comunicação.

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3.2.2.4 Função de "paráfrase explicativa"

Essa função se caracteriza por ser auto-condicionada ou hetero-

condicionada. Isto é, pode ser efetuada por iniciativa do locutor ou por

interrupções do interlocutor. Constitui um processo visivelmente ralentador da

progressão temática, segundo Koch et al (1990). Possui um caráter

reconstrutor aliado a um teor de metalinguagem discursiva. Através dela, "o

falante retoma, explicita, ilustra o conteúdo do que já disse" (Koch et al

1990:167).

De uma certa forma ela permeia todo o processo de aposição que,

na verdade, constitui um processo de referenciação. Exemplificando:

(114) ... que o professor abra novos caminhos e se mostre mais atuante, ou seja abandone suas normas padronizadas de ensino e se prepare ... (R10,01,07-08).

Esse exemplo foi retirado de uma redação dissertativa sobre o

papel do professor. Observe-se que o locutor usa a expressão também

parafrástica ou seja quando explicita o que significa dizer que o professor se

mostre mais atuante.

Como já foi afirmado, essa função está presente em todas as

outras, uma vez que a característica básica da aposição é a de explicitar,

precisar o conteúdo já dito.

Veja-se um segundo exemplo, tirado de uma narrativa escrita, na

qual o locutor descreve uma situação de perigo pela qual passou:

(115) ... um passeio arriscado, pois, a pretensão de fazê-lo em velocidade num carro com insuficiência mecânica ou seja no qual a suspensão estava

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quase solta e a roda dianteira estava na iminência de se desprender, era mesmo muito arriscado ... (NE5M, 11, 362-366).

Observe-se que a cláusula em destaque parafraseia a expressão

insuficiência mecânica, explicitando-a, precisando-a melhor: no qual a

suspensão estava quase solta e a roda dianteira estava na iminência de se

desprender.

3.2.2.5. Função de "adendo"

Esse é um outro processo de reconstrução que envolve uma

reelaboração na seqüência discursiva. Constitui ele uma informação

complementar importante ao assunto em pauta. Vem acrescentado a

posteriori. Pode ser considerado, num conceito mais amplo, como um

afterthought, que, como já se disse, segundo Koch et al (1990:173) - "se

caracteriza como uma interposição tardia, na linha discursiva, de uma

informação antes elidida".

Essas cláusulas apositivas se apresentam isoladas, por uma

pontuação, do que normalmente é chamado de fundamental - termo que

antecede. Conforme foi colocado anteriormente, a noção de unidade

informacional (idea unit), postulada por Chafe (1985), foi de suma

importância para a análise de Decat (1999) sobre a dependência ou não das

cláusulas, dentre elas as apositivas, também chamadas desgarradas -

"cláusulas subordinadas sem a matriz" (Decat, 1999:26).

As cláusulas analisadas, nesta seção, funcionam como adjuntos, e

constituem opções organizacionais do discurso, constituindo, por isso,

unidades de informação à parte.

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As cláusulas apositivas desse tipo, como já se afirmou,

constituem, segundo Koch et al (1990), um mecanismo de reconstrução que

ocorre quando:

No desenvolvimento de uma unidade discursiva, o falante se dá conta da falta de uma informação importante relativa ao assunto em pauta, ou sente a necessidade de enfatizar ou, ainda, reavivar na mente do interlocutor uma informação já presente no universo do discurso, o que leva a acrescentar a posteriori ou a reapresentar tais informações sob forma de adendos ou adjunções (Koch et al, 1990:172).

A colocação desse tipo de cláusula a posteriori é de cunho

enfático e se presta, como também já foi colocado, a objetivos interacionais

uma vez que o locutor reitera a unidade anterior visando explicitar a

informação.

Logo abaixo, apresentam-se as funções exercidas pelas cláusulas

apositivas dos gêneros dissertativo e narrativo do corpus aqui usado tanto na

modalidade oral quanto na escrita.

O adendo ou afterthought, pode ter as funções de i) acréscimo, ii)

explicitação e iii) ilustração. Atualmente é um recurso muito usado na

linguagem jornalística.

3.2.2.5.1. O adendo como "acréscimo"

Veja-se:

(116) De posse do formulário, devidamente preenchido (detalhe muito importante), dirija-se ao Departamento da Polícia Federal portando todos os documentos exigidos. Que não são poucos: carteira de identidade ou certidão de nascimento, prova de quitação Que não com

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as [ ... ] " (Jornal de Casa. BH-MG, 9 a 15/05/93 - apud, Decat, 1997:30)

A cláusula grifada constitui uma relativa explicativa, desgarrada -

conforme postula Decat (1999) - que acrescenta uma informação considerada

necessária para a compreensão da unidade anterior. Observe-se que tal

cláusula apositiva se situa após um ponto final ( correspondendo a uma pausa

máxima da voz na língua oral) e quebra momentaneamente o fluxo da

seqüenciação temática, buscando a interação comunicativa.

No exemplo (117) a extensa cláusula apositiva (em destaque)

também apresenta-se desgarrada de uma "principal"; e, apesar de iniciada por

um pronome relativo que, acha-se separada de seu "fundamental" puxa-sacos

de plantão, por um ponto final. Constitui, ela, também, um adendo com a

função de acréscimo:

(117) O ideal seria que a imprensa não se tivesse movido para cobrir e dar repercursão a este rol de tolices que andam dizendo alguns militares puxa-sacos de plantão. Que não podem nunca ser representados nem pelo brigadeiro Ivan Frota, exatamente aquele que teve, nas eleições de 1998, como candidato a presidente, 251.000 votos, e que pela enésima vez, acaba de pedir o impechment de FHC, nem muito menos pelo deputado Jair Bolsanaro, ex-oficial do Exército que a todo instante propõe, como solução para o País, o fuzilamento do presidente da repíblica. (Acílio Lara - Estado de Minas, 03/01/2000).

3.2.2.5.2. O adendo como "explicitação"

Nessa função a cláusula que constitui o adendo visa explicitar melhor

o tópico anterior. É uma demonstração de que o falante se deu conta de que

faltava uma informação importante "relativa ao assunto em pauta" (Koch et al,

1990), como pode ser visto em (118) a seguir:

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(118) Melhor seria admitir que o que se pretende é revogar o passado e fundar um outro país - que por mais que desejem, terá admirável vizinho do norte, os Estados Unidos. Que se fez poderoso justamente por preservar sua história, seus mitos e tradições, e trabalhava para, a partir daí garantir a evolução dos direitos. Esses sim, o exemplo para as autoridades do Brasil. (Alfeu Silva Mendes - Estado de Minas, 19/01/2000).

Observe-se que há uma superposição de apostos, pois, o tópico

Estados Unidos já constitui um aposto simples de admirável vizinho do norte.

O locutor usa uma aposição clausular para explicitar uma aposição anterior

sob a forma de sintagma simples: Estados Unidos. Assim, a cláusula apositiva

em grifo constitui um adendo que vem explicitar melhor a informação a ser

dada.

3.2.2.5.3. O adendo como "ilustração"

Também nesse caso a ilustração constitui um mecanismo de

acréscimo cuja função é não só interativa, como argumentativa, isto é, de

"trazer para o centro de atenção do ouvinte, ou reavivar em sua mente

informações importantes relativas ao tópico em desenvolvimento". Koch et al

(1990:176).

Essa foi uma função que apareceu em menor escala no corpus

pesquisado. Veja-se o exemplo a seguir:

(119) I: tudo :: ... eh ... eh ... eu sou profundamente apaixonada por Fernando Pessoa ... e ... eu curto muito em ... um trecho do ... dum poema dele Álvaro de Campos né? porque meu heterônimo predileto é o Álvaro Campos ... que ele diz que eu quero :: ... tudo ... e um pouco mais se puder ser ... e até ... se não puder ser né? então assim ...

D: [ uhn uhn I: eh foi tudo muito junto sabe? assim ... eh filho casa trabalho ...

(NO4F, 8, 285-295).

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A cláusula apositiva em destaque vem ilustrar o trecho dum

poema dele, Álvaro de Campos. Tem-se aí, uma aposição sob forma de

cláusula a ilustrar uma outra aposição sob forma de sintagma simples: Álvaro

de Campos.

Como se pode ver nos exemplos que ilustram a função de adendo,

as cláusulas sob análise aparecem desgarradas da cláusula chamada de

"principal", constituindo, às vezes, como que períodos à parte que trazem

informações que abrangem um discurso maior do que a sentença. Seu

fundamental, na verdade, é constituído por um contexto, representado por uma

unidade de informação anterior. As cláusulas, assim, passam a pertencer ao

conjunto organizacional do discurso. Cooperam, ao contrário do que parece,

para a unidade temática que tem a ver com a coerência macroestrutural que,

segundo Val (1999:13)

é sinalizada microestruturalmente (processo que os outros autores chamam de coesão) pelas retomadas pronominais, pelo uso de artigos definidos e pronomes demonstrativos, pelas repetições ... pelas indicações de recuperação de informações pressupostas ou consideradas inferíveis pelos interlocutores ( ... ) recursos fundamentais para o traçado da trama textual com funções importantes como: . sinalizar a manutenção do tema; . deixar mais claro do que se fala a cada passagem; . tornar tentar mais inteligível para os interlocutores alguma idéia reapresentando-a em outros termos. (Val, 1999:13).

Esse tipo de estrutura, onde a cláusula se apresenta desgarrada,

costuma ser encontrada em textos de linguagem escrita jornalística do gênero

dissertativo.

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3.3. Incidência da cláusula apositiva no corpus

pesquisado

Pelo que foi demonstrado até o momento no presente capítulo,

urge que se faça uma demonstração quantitativa das funções da aposição, num

âmbito abrangente, para que se possa visualizar quantitativamente quais as

funções de maior incidência no corpus pesquisado e qual a relação que há

entre os índices obtidos e as funções ocorrentes.

Quadro III – Orações apositivas: incidência das funções

L.O L.E Classificação DO NO Subotal DE NE Sub-

total

TOTAL

1-Exemplificação 02 01 03 --- 02 02 05 2- Esclarecimento 40 29 69 06 03 I09 78 3- Ressalva 02 02 04 01 01 02 06 4- Retoque 13 01 17 02 --- 02 19 5- Justificativa 04 --- 04 --- --- --- 04 6- Busca de denominação 05 09 14 04 --- 04 18 7- Explicitação do valor de uma palavra no contexto

---- --- --- --- 01 01 01

8- Marcação do Estatuto discursivo de um fragmento no texto

--- --- --- --- 01 01 01

9- Manifestação atitudinal do locutor em relação ao assunto

01 --- 01 --- --- 01 02

10- Avaliação --- --- --- 01 --- 01 01 11- Correção 01 01 02 --- --- --- 02 12-Reparo 15 --- 15 --- --- --- 15 13- Paráfrase explicativa 07 07 14 08 05 13 27 14- Adendo por acréscimo --- --- --- 09 01 10 10 15- Adendo explicitativo --- --- --- 05 --- 05 05 16- Adendo ilustração --- 01 01 --- --- --- 01 Total 90 54 144 36 14 50 194

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Como se pode ver no Quadro III, ocorreu um total geral de 194

cláusulas apositivas. A função de maior incidência foi a de esclarecimento. E,

as funções ocorreram na seguinte escala decrescente: primeiramente, a função

de esclarecimento, seguida pelas funções de retoque, reparo, paráfrase

explicativa, e, depois, a de busca de denominação.

As demais funções encontradas perfizeram um pequeno índice,

veja-se:

ü função de exemplificação apresentou 03 (três) unidades, 02 (duas) no

dissertativo oral e 01 (uma) no narrativo oral;

ü a função de ressalva - 04 (quatro) unidades; 02 (duas) no discurso oral e

02 (duas) no narrativo oral;

ü a função de justificativa - 04 (quatro) unidades, todas no dissertativo oral;

ü a função de manifestação atitudinal do locutor em relação ao assunto - 01

(uma) unidade no dissertivo oral;

ü a função de correção - 02 (duas) unidades, uma no discurso oral, outra no

narrativo oral;

ü a função de adendo ilustração - 01 (uma) unidade no narrativo oral.

A Tabela 3, abaixo, demonstra resumidamente o resultado em

índices da incidência das cláusulas apositivas no corpus pesquisado:

Tabela 3 – Resumo das ocorrências das cláusulas apositivas

LO LE TOTAL Ocorrências DO NO Subtotal DE NE Subtotal ---- unitário 90 54 144 36 14 50 194

% 46,39 27,22 74,22 18,56 7,22 25,78 100%

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Pela Tabela 3, pode-se notar que há entre a linguagem escrita e a

linguagem oral uma certa diferença no índice de uso da aposição. A língua

oral apresenta um índice de uso mais elevado.

Do total de 194 (cento e noventa e quatro) ocorrências, a língua oral

perfaz um índice de 74,22% , ao passo que a língua escrita apresenta o índice

de apenas 25,78%.

Pode-se ver que a aposição clausular predomina na modalidade de

língua oral - 74,22% - mais especificamente no gênero dissertativo oral -

46,39%; ao narrativo oral couberam os outros 27,22%. Esse fato parece

demonstrar que a aposição, em forma clausular, se presta à interação verbal,

uma vez que é justamente nessa modalidade argumentativa que o locutor

carece de mecanismos persuasivos a fim de expandir uma informação dada

anteriormente.

A atividade verbal, tanto oral quanto escrita, se desenvolve

justamente nesse dinamismo do envolvimento interacional. E, nesse mister,

... pode-se avaliar com nitidez a capacidade ativa do locutor de planejar momentaneamente sua comunicação, procedendo, de forma estratégica, a inserções, reconstruções e quebras na seqüências de seu discurso. (Koch et al, 1990:149).

Assim, a parentetização, as inserções e as reconstruções são nada

mais, nada menos, do que estratégias que visam à interação comunicativa.

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Capítulo 4

CONCLUSÃO

No presente estudo, focalizou-se a aposição, principalmente em

forma de sintagma oracional, devido à complexidade da mesma e à variedade

de aspectos que apresenta.

Contudo, para se chegar a esse estudo, passou-se de um modo

breve pela aposição em forma de sintagma simples, numa incursão pelas

Gramáticas Tradicionais, até se chegar às cláusulas apositivas que

constituíram o objeto deste trabalho.

Procurou-se demonstrar que a cláusula apositiva constituindo, ou

não, construções parentéticas e representando mecanismos de inserção ou de

reconstrução, possui objetivos interacionais, organizando, assim,

macroestruturalmente o texto.

A análise dos dados baseou-se no pressuposto funcionalista,

abarcando os aspectos sintático, semântico e pragmático, exercendo, o

pragmático, papel preponderante na interpretação dos aspectos relativos ao

sintático e o semântico.

O uso das construções apositivas é bastante recorrente na língua

escrita, e principalmente, na língua oral; e serve ao propósito do falante de

aumentar o efeito da clareza, visando a interação através da busca de

aquiescência do interlocutor. E para tanto, o locutor lança mão desse recurso

discursivo, através do processo de referenciação, que focaliza aquela

informação dada, ou faz uso de múltiplas reformulações parafrásticas.

Esse fato comprova que o aposto em forma de sintagma simples

ou clausular é um elemento discursivo importante, apresentando-se com mais

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freqüência no discurso oral, marcando a ênfase, o reforço, atendendo às

intenções dos falantes, esclarecendo, explicando, definindo a informação,

vinculando informações essenciais para a decodificação do referente.

Viu-se que a modalidade apositiva que melhor exemplifica a

função discursiva da aposição é sem dúvida, quando ela se apresenta sob a

forma de cláusulas. Nessa configuração, vê-se que a aposição extrapola a sua

função tradicional de se referir a um simples fundamental. Ela vai mais longe

e se refere a algo dito anteriormente, uma informação que vai além do que é

chamado de fundamental. E por isso ela apresenta uma grande diversidade

formal e uma não menos grande multiplicidade funcional, percebida nas

gramáticas tradicionais, quando elas se divergiam em dar ao termo "aposto"

um estatuto sintático. A aposição sintagmática, como se viu, permeia quase

que todos os termos oracionais. Isto se dá, pelo fato de que a aposição, na

verdade, não possui uma função sintática; possui sim, como foi demonstrado

neste trabalho, uma função discursiva. Constitui ela um elemento articulador

discursivo.

A variedade de funções que ela exerce torna bastante difícil

estabelecer uma tipologia que possa permitir uma análise completa da

freqüência de utilização das mesmas nos textos orais ou escritos.

Ao lado dessa variedade de funções, junte-se o fato de algumas

serem tão semelhantes, que só mesmo o contexto discursivo permite perceber

nuances diferenciadoras.

A cláusula apositiva, funcionando como um elemento de

interação, leva em consideração o conhecimento partilhado, participado,

refletido do locutor, em se dar a entender, em procurar ser explícito para

sustentar a interação e lograr êxito na comunicação.

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A maior incidência da aposição ocorreu na língua oral, pelo fato

de o texto falado surgir no exato momento da interação. E essa interação face

a face constitui, como afirma Marcuschi (1996), uma atividade de co-

produção discursiva, na qual os interlocutores, interagindo, promovem

pressões de ordem pragmática, e, como afirma Koch (1995),

Acabam por sobrepor-se às exigências da sintaxe. Isto significa que o locutor, freqüentemente, vê-se obrigado a "sacrificar" a sintaxe em favor das necessidades da interação, fato que se traduz pela presença, no texto falado, de falsos começos, anacolutos, orações truncadas, etc, bem como a recorrer com freqüência a inserções de vários tipos, a repetições e a paráfrases, com o intuito, entre outros, de garantir a compreensão de seus enunciados pelo parceiro.( Koch, 1995:69-70).

E, para tanto, a aposição em forma de cláusula apositiva se

apresenta sob a forma de inserções, de repetições parafrásticas e tantas outras.

E dentro dos parâmetros da interação, poder-se-ia enquadrar a

aposição nas normas de Grice (1967), que dizem respeito ao princípio de

cooperação, ou seja, às categorias: i) da quantidade, ii) de relação, iii) de

modo.

Quanto à máxima de quantidade a cláusula apositiva contribui

para o "propósito corrente da conversação". Pela sua natureza parafrástica ela

contribui com informações adicionais que o ato de comunicação requer para

que seja claro e preciso. Quanto à máxima de relação: "seja relevante", a

cláusula apositiva também se encaixa, uma vez que veicula informações

relevantes para o conteúdo proposicional. Com a máxima de modo, que se

refere à importância do "como o que é dito deve ser dito", isto é, que "seja

claro", também a cláusula apositiva se identifica a partir do momento em que

contribui, como se viu, para a clareza da comunicação; tanto assim é que a

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função em que houve maior incidência de cláusula apositiva foi justamente, a

de esclarecimento. E assim sendo, ainda dentro dessa última categoria de

Grice, a apositiva atende, ainda, as máximas de evitar-se a "obscuridade de

expressão" e a de "evitar ambigüidades". Como já se disse, no decorrer deste

trabalho, a cláusula apositiva em nome do esclarecimento, ela evita

ambiguidades e torna a informação mais clara.

Pelos estudos apresentados, verificou-se que a cláusula apositiva

exerce um importante papel no campo semântico-discursivo e que essas

propriedades se encontram atreladas a características típicas dos gêneros

textuais em que se encontram.

Em suma, adotando-se uma visão funcionalista do processo

discursivo, procurou-se mostrar que a aposição clausular tem um papel

importante na representação de estratégias discursivas, e nesse mister, não

pode ser considerada como um "termo acessório" no complexo discursivo. É

antes, um termo essencial à interação comunicativa.

Por fim, é bom que se acrescente, como já foi dito, que a própria

diversidade formal e a multiplicidade de funções da cláusula apositiva

determinam que muitos aspectos que aqui foram apresentados e comentados

permitam uma investigação mais aprofundada, pois, os resultados obtidos não

devem ser vistos, como "normas para padrões de funcionamento e sim como

procedimentos analíticos" . Marcuschi (1991:85).

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ABSTRACT

This is a study of the appositional clause in Portuguese, from a functionalist

viewpoint, both in oral and in written texts. Initially, a survey was made of

some traditional grammarians as to the different concepts and syntacti-

semantic roles attributed to apposition, in the form of a simple constituent and

of a clause constrution. Then a general analysis of clauses in apposition in a

pragmatic-discursive approach was developed, focusing mainly on their

textual-interactive function of a parenthetic nature, as well as on their role in

the thematic progression, when they are characterised as discourse ariculators.

The corpus of the research was a set of narrative and argumentative oral and

written texts from Decat collection (1993), argumentative texts produced by

university students and some texts taken from newspapers.

Key words: Appositional clause

Textual functions

Discourse articulation.

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