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Departamento de Direito A COMPATIBILIDADE ENTRE O CARÁTER INTUITIVO DOS JULGAMENTOS MORAIS E AS DECISÕES JUDICIAIS Aluno: Amanda Guimarães Orientador: Noel Struchiner Introdução O presente trabalho pretende propor o encontro entre duas teorias que, uma vez integradas, têm muito a contribuir para a prática jurídica. A primeira só será brevemente apresentada, para mostrar que a ideia a ser aqui desenvolvida é tradicional no direito. Trata-se do realismo jurídico. Essa corrente é uma radicalização da crítica ao formalismo jurídico, a visão do direito como um sistema de regras preciso, coerente e completo[1]. O formalismo é a crença máxima na racionalidade dos legisladores e dos juízes, pois os primeiros seriam capazes de criar exatamente uma regra para cada caso e os últimos seriam sempre capazes de aplicar a regra prevista pelos legisladores. Conforme foram aparecendo falhas nessa teoria, tendo em vista que muitas vezes mais de uma regra é aplicável a um caso ou nenhuma regra foi prevista para o caso, teorias alternativas começaram a surgir. Os realistas acreditam no extremo oposto: para eles, a existência de regras não torna o direito racional nem previsível. As regras seriam irrelevantes como guias de conduta[2], pois as consequências para os atos emanariam dos tribunais e estes não seriam meros replicadores do que dizem as leis. Portanto, para dizer o que constitui o direito, os realistas tentam descobrir como os juízes se posicionarão diante dos conflitos levados a eles. Saber se as críticas dos realistas ao formalismo procedem é essencial para alguém que queira levar o direito a sério. A confiança nesta instituição é incompatível com a dúvida quanto ao que os juízes fazem em relação às regras: se as levam sempre em consideração, se as levam em consideração sempre que elas dão uma única resposta e decidem usando outras razões quando não sabem qual regra aplicar, ou se nunca as levam em consideração. Porém, o realismo não tem um embasamento empírico para responder a essa questão. É aí que entra a segunda teoria cuja análise comporá esse trabalho. Trabalhos no campo da psicologia moral e da filosofia experimental convergem para a ideia de que os julgamentos em geral, e mais especificamente os julgamentos morais, são feitos intuitivamente. Diversos experimentos têm evidenciado que explicações racionais sobre como se chegou aos julgamentos são na verdade justificativas feitas a posterioripara dar uma aparência de racionalidade aos julgamentos intuitivos e automáticos. O problema é que poucas foram as pesquisas desse tipo voltadas para os julgamentos jurídicos. Ou seja, não se sabe em que medida as convicções dos juízes também se formam dessa maneira. Diante desse quadro, o objetivo é unir duas pontas: a teoria do campo do direito que chama atenção para a possível falta de racionalidade das decisões jurídicas e os experimentos feitos por estudiosos de outros campos do conhecimento que demonstram a falta de racionalidade em diversos tipos de julgamentos. Estudos de psicologia moral e filosofia experimental fizeram descobertas que podem trazer ideias de experimentos e pesquisas capazes de responder se o que parece ser verdade em relação a diversos tipos de julgamentos é extensível aos julgamentos jurídicos. Quatro deles serão aqui analisados: “The Emotional Dog and Its Rational Tail: A Social Intuitionist Approach to Moral Judgment”, de Jonathan Haidt, “Motivated Moral Reasoning”, de Peter H. Ditto, David A. Pizarro e David Tannenbaum, “Confirmation Bias: A Ubiquitous Phenomenon in Many Guises”, de Raymond

A COMPATIBILIDADE ENTRE O CARÁTER INTUITIVO DOS ... · normas ao mesmo fato, ou por nenhuma ser aplicável, ou por não ser claro se determinada norma é aplicável, conflitos morais

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Departamento de Direito

A COMPATIBILIDADE ENTRE O CARÁTER INTUITIVO DOS

JULGAMENTOS MORAIS E AS DECISÕES JUDICIAIS

Aluno: Amanda Guimarães

Orientador: Noel Struchiner

Introdução

O presente trabalho pretende propor o encontro entre duas teorias que, uma vez

integradas, têm muito a contribuir para a prática jurídica. A primeira só será brevemente

apresentada, para mostrar que a ideia a ser aqui desenvolvida é tradicional no direito. Trata-se

do realismo jurídico. Essa corrente é uma radicalização da crítica ao formalismo jurídico, a

visão do direito como um sistema de regras preciso, coerente e completo[1]. O formalismo é a

crença máxima na racionalidade dos legisladores e dos juízes, pois os primeiros seriam

capazes de criar exatamente uma regra para cada caso e os últimos seriam sempre capazes de

aplicar a regra prevista pelos legisladores. Conforme foram aparecendo falhas nessa teoria,

tendo em vista que muitas vezes mais de uma regra é aplicável a um caso ou nenhuma regra

foi prevista para o caso, teorias alternativas começaram a surgir. Os realistas acreditam no

extremo oposto: para eles, a existência de regras não torna o direito racional nem previsível.

As regras seriam irrelevantes como guias de conduta[2], pois as consequências para os atos

emanariam dos tribunais e estes não seriam meros replicadores do que dizem as leis. Portanto,

para dizer o que constitui o direito, os realistas tentam descobrir como os juízes se

posicionarão diante dos conflitos levados a eles.

Saber se as críticas dos realistas ao formalismo procedem é essencial para alguém que

queira levar o direito a sério. A confiança nesta instituição é incompatível com a dúvida

quanto ao que os juízes fazem em relação às regras: se as levam sempre em consideração, se

as levam em consideração sempre que elas dão uma única resposta e decidem usando outras

razões quando não sabem qual regra aplicar, ou se nunca as levam em consideração. Porém, o

realismo não tem um embasamento empírico para responder a essa questão. É aí que entra a

segunda teoria cuja análise comporá esse trabalho. Trabalhos no campo da psicologia moral e

da filosofia experimental convergem para a ideia de que os julgamentos em geral, e mais

especificamente os julgamentos morais, são feitos intuitivamente. Diversos experimentos têm

evidenciado que explicações racionais sobre como se chegou aos julgamentos são na verdade

justificativas feitas “a posteriori” para dar uma aparência de racionalidade aos julgamentos

intuitivos e automáticos. O problema é que poucas foram as pesquisas desse tipo voltadas

para os julgamentos jurídicos. Ou seja, não se sabe em que medida as convicções dos juízes

também se formam dessa maneira.

Diante desse quadro, o objetivo é unir duas pontas: a teoria do campo do direito que

chama atenção para a possível falta de racionalidade das decisões jurídicas e os experimentos

feitos por estudiosos de outros campos do conhecimento que demonstram a falta de

racionalidade em diversos tipos de julgamentos. Estudos de psicologia moral e filosofia

experimental fizeram descobertas que podem trazer ideias de experimentos e pesquisas

capazes de responder se o que parece ser verdade em relação a diversos tipos de julgamentos

é extensível aos julgamentos jurídicos. Quatro deles serão aqui analisados: “The Emotional

Dog and Its Rational Tail: A Social Intuitionist Approach to Moral Judgment”, de Jonathan

Haidt, “Motivated Moral Reasoning”, de Peter H. Ditto, David A. Pizarro e David

Tannenbaum, “Confirmation Bias: A Ubiquitous Phenomenon in Many Guises”, de Raymond

Departamento de Direito

S. Nickerson e “Exploring the Psychological Underpinnings of the Moral Mandate Effect:

Motivated Reasoning, Group Differentiation, or Anger?”, de Ellizabeth Mullen e Linda J.

Skitka. O que interessa é saber se os juízes, ao se depararem com uma lide, procuram as

regras aplicáveis e extraem delas uma resposta ou formam automaticamente uma opinião

sobre a questão e usam as regras apenas para dar uma roupagem jurídica ao que decidiram

intuitivamente. Para entender como são formadas as decisões jurídicas e qual o seu nível de

racionalidade, as pesquisas sobre a formação dos julgamentos morais, entre outros, são uma

grande ajuda.

Não cabe neste trabalho dar essa resposta. Isso exigiria pensar em vários desenhos de

experimentos apropriados para o direito, realizá-los e interpretar seus resultados, além de

fazer pesquisas detalhadas e abrangentes sobre a prática dos juízes. Apenas apontar que

diversos estudos que duvidam da prevalência da razão para os julgamentos, se levados para o

direito, podem confirmar o que os realistas jurídicos desconfiavam há tempos já é uma

contribuição. E é isso que aqui se pretende: mostrar que há evidências fortes trazidas da

psicologia moral e da filosofia experimental de que os juízes talvez não decidam de forma tão

racional quanto se deseja ou imagina.

A conclusão preferida e a ilusão de objetividade

Haidt trata da relevância das intuições e das interações sociais para os julgamentos

morais através do modelo intuicionista social[3]. A parte intuicionista do modelo diz que as

intuições morais, inclusive as emoções morais, aparecem antes do raciocínio e são as

responsáveis pelos julgamentos morais. E o modelo também tem uma parte social porque

explica que, durante um julgamento moral, o raciocínio quase sempre só serve para as pessoas

justificarem para as outras julgamentos que já tenham feito intuitivamente. Ou seja, em um

julgamento moral, por exemplo, diante de um incesto, uma pessoa imediatamente sente

repulsa; ela só precisará encontrar razões racionais para seu juízo negativo daquele

comportamento quando for explicar para os outros porque o incesto é errado. Então, sua busca

por razões não será uma busca pela verdade – como faz um juiz –, mas por argumentos que

sustentem sua posição – como faz um advogado.

Nos julgamentos cotidianos, as pessoas sentem-se como juízes, ao invés de

advogados[4]. Quando, por exemplo, precisam contratar um empregado, elas se percebem

sendo objetivas: analisam os currículos de todos os candidatos e escolhem aquele que tenha

mais das qualidades necessárias ao cargo. Todo mundo sabe que é possível escolher um

candidato por razões subjetivas, como sexo ou raça, mas geralmente ninguém se acha

suscetível a fazer isso.

Porém, atualmente diversas pesquisas mostram que as pessoas agem bem mais

frequentemente como advogados do que como juízes[5]. Então, é preciso entender como elas

continuam se percebendo julgadoras objetivas. As pessoas dão muita importância à coerência

e à verdade e a maioria delas não se sentiria confortável ao levar em consideração sexo ou

raça em seus julgamentos. Para que se tenha uma crença genuína de que uma decisão foi

tomada objetivamente, ocorre a chamada “ilusão de objetividade”[6].

Esse processo começa com o fato de que as pessoas, apesar de valorizarem o

julgamento objetivo, têm preferência por determinada conclusão, pois ficariam mais felizes se

esta fosse verdadeira. Isso não quer dizer que haverá a escolha consciente dessa conclusão. O

que acontece é que, durante a análise das informações relevantes para uma decisão, as pessoas

sentem um afeto positivo pelas informações que favorecem a sua conclusão preferida e um

afeto negativo pelas que prejudicam a sua conclusão preferida[7]. Esse tipo de afeto é rápido,

automático e ubíquo[8].

A exemplificar essa tendência inconsciente, vários estudos têm mostrado que é mais

provável as pessoas considerarem informações ambíguas de forma favorável à sua conclusão

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preferida e darem mais peso a critérios de decisão favoráveis à sua conclusão preferida[9]. É

importante esclarecer que esses mecanismos ocorrem de forma sutil, sem deixar que as

pessoas percam a ilusão de que estão sendo objetivas[10]. No exemplo da contratação do

empregado, supondo que o responsável pela escolha prefira o candidato X porque este é

homem, ele não vai escolher logo o homem. O responsável pela escolha do candidato vai

iniciar o processo seletivo com a hipótese de que X é um candidato forte. A partir daí, vai

valorar as qualidades de X como se apresentam para ele, mas dar explicações alternativas para

seus pontos fracos; vai escolher como critério preponderante a experiência profissional, que X

tem bastante, e dar menos peso à qualificação acadêmica, que X tem menos; e por aí vai. A

preferência pelo homem vai influenciar cada etapa do processo decisório, mas nunca chegar a

fazer o responsável pela escolha perceber que não foi tão objetivo como gostaria. Ao

contrário, ele vai se perceber um juiz, testando hipóteses, analisando evidências e comparando

as características de cada candidato às exigências do cargo.

É interessante lembrar a explicação de Haidt sobre a diferença entre o julgamento

racional e as intuições. Segundo ele, “o julgamento é uma tipo de inferência feita em várias

etapas. O julgador procura evidências relevantes, coordena as evidências com as teorias e

chega a uma decisão. Dizer que um raciocínio moral é consciente significa que o processo é

intencional, controlável e feito com esforço e que o julgador percebe que ele está

acontecendo”[11]. Já a intuição, segundo o autor e em consonância com o que dizem Ditto,

Pizarro e Tannenbaum, “ocorre sem esforço, rápida e automaticamente, de forma a tornar o

resultado, mas não o processo, acessível à consciência. As intuições morais podem ser

definidas como o aparecimento repentino na consciência de um julgamento moral, incluindo

os de valência afetiva (bom-ruim, gostar-não gostar), sem qualquer percepção consciente de

se ter passado pelas etapas de procurar e pesar evidências ou de inferir uma conclusão”[12].

É possível ver que o exemplo da contratação do empregado corrobora os conceitos de

Haidt. A forma de o cérebro disfarçar que o julgamento foi gerado de forma intuitiva é fazer

com que haja posteriormente um raciocínio, que ocorre em várias etapas. Além disso, o

raciocínio faz parecer que o julgamento foi racional, porém, de forma imperceptível, cada

etapa é influenciada pela intuição primeiramente gerada.

Dilemas morais e casos difíceis de direito: terrenos férteis para o raciocínio motivado

Para Ditto, Pizarro e Tannenbaum, há vários indícios que levam a duvidar da

prevalência da razão nos julgamentos morais e que apontam para o raciocínio motivado. Eles

usam o termo “raciocínio moral motivado” para descrever situações nas quais os critérios de

decisão são sutilmente ajustados para que uma conclusão pela qual se tem preferência seja

atingida. Depois, os autores explicam que o julgamento moral é propício para o raciocínio

motivado[13].

Primeiro, os julgamentos morais são muito importantes nas interações sociais e tiveram

papel fundamental na evolução humana. As pessoas precisam saber quem pode lhes fazer mal

e estão constantemente avaliando as outras. Portanto, compreensível preferirem que certos

atos ou pessoas sejam percebidos como morais ou imorais.

Segundo, baseando-se no que ensina Haidt, os autores Ditto, Pizarro e Tannenbaum

explicam que o julgamento moral é intuitivo, logo, suscetível às influências das motivações.

Como o objetivo deste trabalho é trazer a discussão sobre as intuições e o julgamento moral

para o julgamento jurídico, vale aqui uma comparação com o direito. À primeira vista,

pareceria que a característica do julgamento moral de ser formado por intuições e emoções o

afastaria do julgamento jurídico, que depende do confronto entre o fato e a norma. De fato,

muitos casos são solucionados pela mera subsunção do fato à norma: o juiz analisa qual a

regra aplicável ao comportamento em questão e encontra a resposta. Mas não é isso que

ocorre quando o juiz está diante de um caso difícil, em que, por serem aplicáveis diversas

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normas ao mesmo fato, ou por nenhuma ser aplicável, ou por não ser claro se determinada

norma é aplicável, conflitos morais se apresentam. Voltando ao raciocínio moral e olhando-o

pela perspectiva intuicionista, vê-se que ele é um tipo de raciocínio motivado porque, como já

explicitado, envolve pensar em argumentos para uma conclusão que já tinha sido atingida

anteriormente através das intuições. Tais intuições podem resultar de fatos que as pessoas

consideram moralmente relevantes, como ter um ato causado danos, de fatos cuja relevância

para um julgamento moral é discutível, como o ato causar nojo, e até de fatos definitivamente

irrelevantes para a moralidade, como ser o autor do ato um amigo. Uma pesquisa publicada

recentemente exemplifica bem o problema. Foram acompanhadas mais de mil audiências nas

quais foram apreciados pedidos de livramento condicional. Observou-se que, no começo do

dia, os juízes deferiam, em média, dois terços dos pedidos. Algum tempo depois, esse número

caía muito, chegando, às vezes, a zero – mesmo descontadas as demais variáveis dos casos,

como os antecedentes criminais de cada réu. Impressionante que após a hora do lanche, as

taxas de deferimento do pedido voltavam quase ao valor original[14].

A terceira razão pela qual o julgamento moral é facilmente motivado é a sua

complexidade, que deixa bastante espaço para as intuições o influenciarem, sem fazer com

que as pessoas deixem de se perceber raciocinando objetivamente. Ou seja, quanto menos

fortes são as limitações da plausibilidade e da coerência, mais penetração tem o raciocínio

motivado. É o que se dá nos casos difíceis do direito, nos quais, como explicado, a regra não é

clara. No campo da moral, esse problema é generalizado. Apesar dos filósofos discutirem há

séculos sobre qual princípio moral está correto, eles estão longe de atingir um consenso. Aqui

a comparação com o direito é óbvia, pois tampouco os juristas constitucionalistas chegaram a

algum acordo sobre quais princípios constitucionais são aplicáveis a cada situação. No campo

da moral, o problema se aprofunda diante dos dilemas morais, nos quais a violação de

princípios deontológicos acarreta conseqüências positivas; e no campo do direito, o mesmo se

dá diante de casos difíceis, em que um princípio é violado em nome de outro princípio

igualmente importante. Fica a abertura para a construção de justificativas para conclusões

preferidas, sem ofensa ao senso de objetividade. O ajuste da justificativa à conclusão

predeterminada pode se dar pela alteração da percepção da responsabilidade de um agente por

um ato ou pela alteração dos princípios trazidos para avaliar a moralidade do ato.

O modelo intuicionista social

A hipótese de que o julgamento moral ocorre de forma intuitiva, antes do raciocínio, é

plausível. Alguns pesquisadores[15] perceberam que as pessoas contrárias ao aborto

acreditam que a vida começa na concepção e concluíram que essa crença leva as pessoas a se

oporem ao aborto. Porém, essa conclusão foi precipitada, pois saltou de uma correlação para

uma relação causal. Uma interpretação intuicionista da correlação observada pelos

pesquisadores é igualmente possível: as pessoas sentem uma repulsa imediata pelo aborto e,

posteriormente, racionalizam e justificam esse sentimento usando o argumento de que a vida

começa na concepção. Uma pesquisa[16] traz evidências para essa interpretação intuicionista.

Foram examinadas as reações das pessoas a comportamentos que não são bem aceitos pela

sociedade, mas que tampouco causam mal, como comer um bicho de estimação morto ou um

frango morto que alguém acabou de usar para se masturbar. As pessoas frequentemente

declararam ter sentimentos negativos diante de tais atos e, com uma frequência parecida, os

consideraram imorais, apesar de terem considerado muitos desses atos inofensivos. Ocorreu

que as pessoas sentiram raiva ou nojo de atos que não fizeram mal a ninguém e isso tornou

mais difícil a criação de uma justificativa para as atitudes que tiveram contra os atos. O perigo

de dano é geralmente a justificativa dada para se proibir um comportamento, então, quando as

pessoas não podem dar essa desculpa para se oporem a um ato – por ele ser inofensivo –, elas

experimentam a “estupefação moral”: a certeza de que algo é errado concomitante com a falta

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de motivo racional para explicar essa certeza. Isso demonstra que diante de comportamentos

aptos a gerar reações afetivas, como o incesto, um modelo intuicionista parece ser mais

plausível do que um racionalista.

Agora, cabe apresentar o modelo intuicionista detalhadamente. Ele é dividido em várias

conexões, cujas existências foram demonstradas por pesquisas anteriores sobre alguns tipos

de julgamento, embora não necessariamente sobre julgamento moral[17]. A primeira conexão

é o julgamento intuitivo. “O modelo propõe que o julgamento moral aparece na consciência

automaticamente e sem esforço, como resultado das intuições morais”[18]. A segunda

conexão é o raciocínio “post hoc”. “O modelo propõe que o raciocínio moral é um processo

realizado com esforço, após o julgamento moral ter sido feito, e que nesse processo, a pessoa

procura argumentos que fundamentem o julgamento moral já feito”[19]. Há, ainda, a conexão

da persuasão racional. A ideia é que o raciocínio moral é gerado e verbalizado para justificar

um julgamento moral já existente. Mas é sabido que raramente a tentativa de persuasão da

outra parte é bem sucedida em uma discussão sobre a moralidade de algo. A hipótese de Haidt

é de que o melhor jeito de convencer um ouvinte é provocar nele novas intuições, já que os

julgamentos morais são causados pela emoção. Já o uso da lógica e da razão seria ineficiente.

A última conexão a compor o núcleo do modelo intuicionista moral é a persuasão social, que

ocorre pela influência das opiniões de amigos e aliados sobre as pessoas, mesmo sem haver

argumentação.

Após essas quatro conexões mais importantes, nas quais o raciocínio moral só é capaz

de causar o julgamento moral quando usado para convencer outras pessoas, é preciso

apresentar as duas formas pelas quais o modelo intuicionista social inclui o raciocínio no

julgamento moral individual. A primeira delas é a conexão do julgamento racional, pela qual

se chega a um julgamento pelo uso da lógica e se sobrepuja a intuição inicial. Nessa conexão,

a razão é inegavelmente a causa do julgamento, ao invés de estar a serviço das intuições.

Porém, parece que isso só acontece nas raras situações em que a intuição inicial é fraca e a

capacidade de processamento de informações é grande. A outra conexão referente ao

raciocínio individual é a reflexão privada. Segundo ela, as pessoas são capazes de gerar

espontaneamente novas intuições que opõem-se ao primeiro julgamento intuitivo. Uma forma

de fazer isso é colocar-se no lugar do outro. Dessa forma, é possível olhar um problema por

outros ângulos e sentir novas intuições. Vencerá a intuição mais forte ou aquela que for

escolhida pela razão, através da aplicação consciente de algum princípio. Finalmente, vale

ressaltar que essas duas últimas conexões são usadas em poucas situações, como em uma

entrevista formal sobre a moralidade de algum comportamento.

Razões para se duvidar da importância da razão

De acordo com o modelo intuicionista social, há varias razões para duvidar da

importância da razão para os julgamentos morais[20]. A primeira delas é que parece, em

consonância com a conexão do julgamento intuitivo, que a observação de determinados

eventos leva automaticamente, e sem qualquer raciocínio consciente, a um julgamento moral.

Em segundo lugar, há a hipótese de as pessoas, na maioria das vezes, formarem um

julgamento através da heurística, que é intuitiva. O motivo seria o fato de as pessoas se

guiarem pelo “princípio do menor esforço”. Ou seja, por ser a heurística um processo mais

rápido e fácil de responder a uma questão, ela seria usada sempre, a não ser que a situação

exigisse um raciocínio complexo. Quando, por exemplo, um amigo de uma pessoa emite um

juízo sobre algo, a pessoa tem suas intuições influenciadas por esse juízo, o que está de

acordo com a quarta conexão do modelo intuicionista social, a da persuasão social. A terceira

razão para duvidar da razão como causadora do julgamento moral é que, em uma discussão

sobre um tema relevante para a moral, principalmente quando desperta reações afetivas fortes,

como o aborto, a argumentação racional é ineficiente. No máximo, tem algum poder de

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convencimento quando uma das partes começou a discussão com intuições fracas sobre o

tema em questão. O mais comum é que não haja acordo e que se verifique até o oposto: cada

parte, uma vez demandada pela discussão a gerar argumentos para sustentar seu julgamento

prévio e intuitivo, radicaliza sua posição. O modelo intuicionista social concilia a existência

tanto de causas intuitivas quanto de causas racionais para os julgamentos morais explicando

que o processo intuitivo é o comum, usado cotidianamente para gerar julgamentos morais de

forma rápida e fácil, e que o raciocínio só é usado quando há um conflito entre diversas

intuições.

Próximos das razões para duvidar da prevalência da razão nos julgamentos morais, há

os fenômenos que demonstram a relação entre o raciocínio e as ideias preconcebidas. Um

desses fenômenos é chamado de motivos de afinidade e consiste na motivação que as pessoas

têm para concordar com os amigos e na capacidade delas de serem afetadas pelos julgamentos

feitos pelos amigos. Mais uma vez, se está diante da conexão da persuasão social. O outro

fenômeno é chamado de motivos de coerência e consiste na motivação das pessoas para

ajustar seus pensamentos de forma a evitar contradições internas[21]. Ou seja, há a

preferência por comportamentos e crenças compatíveis com comportamentos e crenças

previamente existentes.

Há fortes indícios de que as crenças são influenciadas pelas preferências[22].

Paradoxalmente, um dos motivos para isso é justamente o desejo de ser racional. Um dos

atributos da racionalidade e da objetividade é a coerência entre as crenças que uma pessoa tem

e as informações que recebeu. As pessoas querem ser racionais e coerentes. Por isso,

interpretam novas informações que lhe chegam de forma que estas não contradigam suas

crenças anteriores. Assim que alguém se depara com uma evidência contrária à sua crença,

tenta diminuí-la ou ignorá-la.

Uma pesquisa que aponta para a tendência a evitar contradições internas desafiou as

convicções morais e políticas dos participantes[23]. Eles passam a ter uma motivação para

defender suas posições e o resultado é a análise de futuras informações sendo realizada com a

predisposição para confirmar uma ideia preconcebida. Foram apresentados estudos contrários

e favoráveis à pena de morte a estudantes que tinham convicções fortes sobre o tema, tendo os

estudantes aceito facilmente as evidências que reforçavam suas ideias, enquanto sujeitaram as

evidências opostas a um exame minucioso. Também foi descoberto que a disposição das

pessoas para analisar fatos diminui quando os fatos são capazes de refutar “valores

sagrados”[24]. Nesses dois casos, o raciocínio é usado para defender convicções morais já

existentes.

Os motivos de coerência são claramente corroborados por Nickerson[25]. O autor

confirma a noção de que as pessoas geralmente evitam informações que oponham-se às suas

crenças. As pesssoas são mais capazes de questionar informações que conflitem com crenças

preexistentes do que informações que estejam de acordo com elas e geralmente interpretam

informações ambíguas de forma a confirmar as crenças preexistentes.

Estudos sobre o raciocínio cotidiano revelaram os mecanismos pelos quais os motivos

de afinidade e de coerência fazem as pessoas agirem como advogados. “Uma vez que as

pessoas acham uma evidência que sustente sua opinião, mesmo que seja uma pequena

evidência ruim, elas geralmente param de procurar”[26]. Já havia a teoria de que o motivo

pelo qual as pessoas têm um raciocínio limitado é a falta de esforço para pensar em

interpretações alternativas para os fenômenos que as cercam[27]. Elas são guiadas por uma

“epistemologia do faz sentido” e ficam satisfeitas com qualquer explicação que se ajuste às

suas crenças já existentes, não se sentindo motivadas para buscar necessariamente a

explicação mais correta. A “epistemologia do faz sentido” é uma ideia de Perkins[28], que

mostrou que as pessoas pensam o mínimo possível sobre uma situação: só até chegarem à

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primeira explicação plausível. Se essa visão for correta, a existência de uma predisposição

para interpretar informações de uma certa maneira completará o quadro do problema.

Predisposição para confirmar uma ideia

Tal predisposição tem sido entendida como “a busca e a interpretação de evidências de

forma a favorecer crenças, expectativas ou hipóteses já existentes”[29]. O conceito é

importante aqui, pois, assim que alguém chega a uma conclusão, passa a procurar apenas

informações aptas a reforçá-la e a interpretar informações que venha a receber de algum jeito

que evite que a conclusão seja posta em dúvida[30]. Parece que o certo seria testar uma

hipótese sempre que aparecessem evidências contrárias a ela, mas as pessoas fazem o

contrário: escolhem apenas as evidências que comprovem a hipótese.

Esse comportamento se manifesta de várias maneiras. Uma delas é a restrição da

atenção a uma hipótese pela qual se tem preferência[31], o que é muito comum, e consiste em

uma pessoa só enxergar uma explicação para um fenômeno, sem considerar simultaneamente

explicações alternativas. Como conseqüência, ela perderá a oportunidade de perceber que

certas informações diante dela estão a comprovar que é outra a explicação correta. Às vezes,

uma pessoa até percebe que existem outras hipóteses para explicar um fenômeno – quando,

por exemplo, conhece alguém que defenda outra explicação para o fenômeno –, mas se

afeiçoa a uma única hipótese e isso a leva a interpretar qualquer evidência de forma a

comprovar sua hipótese, ignorando, portanto, que a evidência eventualmente sustente uma

hipótese alternativa. Por exemplo, se uma pessoa quer descobrir o conceito “círculo pequeno”

e sua hipótese é “círculo pequeno vermelho”, supondo que ela só teste sua hipótese com

coisas que sejam circulares, pequenas e vermelhas, ela nunca descobrirá que o conceito

também inclui coisas circulares azuis e amarelas.

Um exercício que aponta para comportamentos de teste seletivo desse tipo consiste em

se pedir às pessoas para acharem a regra usada para criar um determinado trio de

números[32]. Elas tinham que pensar numa hipótese de regra que tivesse criado o trio que lhe

fora apresentado e testar sua hipótese sugerindo novos trios a serem adicionados ao primeiro,

sendo, então, informado se a sugestão era compatível com a regra a ser descoberta. Os

participantes geralmente tentaram testar suas hipóteses de regras produzindo apenas trios

compatíveis com suas hipóteses. Portanto, se abstiveram de descobrir que as hipóteses

estavam erradas. Se o trio era, por exemplo, 2-4-6, era provável que as pessoas sugerissem a

hipótese “números pares sucessivos” e depois testassem essa hipótese criando trios adicionais

de números pares sucessivos. No caso de a sequência 2-4-6 ter sido produzida, na verdade,

pela regra “números crescentes” ou “quaisquer três números positivos”, a estratégia de usar

somente sequências de números pares sucessivos não revelaria o erro da hipótese porque

todos os testes obteriam uma resposta positiva.

Na vida prática, isso pode trazer problemas: é o caso quando uma política se baseia em

uma hipótese tida como a única explicação possível para um evento e passa a impossibilitar a

ocorrência de fatos que demonstrem a falsidade da hipótese. Se, por exemplo, só são

admitidos em uma faculdade alunos que cumpram determinados requisitos porque se acredita

que só alunos que cumpram tais requisitos são bem sucedidos em seus estudos, fica excluída a

possibilidade de se observar que alunos que não cumpram os requisitos também são bem

sucedidos e que, portanto, é falsa a hipótese que fundamentou o critério de admissão da

faculdade.

Diante dos exemplos, fica claro como o foco em uma única hipótese faz com que se

interpretem novas evidências sempre a favor dessa hipótese e nunca a favor de uma hipótese

alternativa[33]. Assim, a hipótese vai acumulando evidências a seu favor e passa a ser fácil

acreditar que ela é correta, quando na verdade não é. Satisfeita com sua hipótese, uma pessoa

nem pensa em buscar outra explicação.

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Outra manifestação da predisposição para confirmar ideias já existentes é a preferência

por evidências que sustentem essas ideias. É um comportamento bem próximo do foco da

atenção a uma hipótese pela qual se tem preferência e consiste na tendência a dar mais

importância às informações que sustentem ideias já existentes e menos àquelas que ponham

essas ideias em dúvida. É o que ocorre, por exemplo, quando uma pessoa está discutindo e só

consegue lembrar ou produzir argumentos a favor do seu ponto de vista, nunca a favor do

outro ponto de vista. Também de acordo com essa ideia está a observação[34] de que os

participantes de um júri simulado que tentaram usar seletivamente as evidências, de forma a

construir uma determinada visão do que teria acontecido, expressaram sentirem-se mais

confiantes em suas conclusões do que aqueles que espontaneamente tentaram levar em

consideração os dois lados do caso.

Mais outra manifestação da predisposição motivada por uma ideia existente é ver

apenas o que se procura ver. Em um experimento que demonstrou a existência desse

comportamento, os participantes iriam conhecer alguém. Parte deles ouviu a descrição de

alguém extrovertido e, então, perguntou-se se achavam que a pessoa seria assim. A outra parte

ouviu a descrição de um introvertido e foi perguntada se a pessoa seria assim. Para descobrir

como seria a pessoa, cada grupo de participantes formulou perguntas que, se fossem

respondidas positivamente, confirmariam fortemente ser a pessoa do tipo que foram levados a

imaginar e, caso respondidas negativamente, não refutariam fortemente a imagem que cada

grupo tinha da pessoa[35].

Relacionada à predisposição para se confirmar ideias já existentes está o fato de que as

pessoas geralmente expressam um alto grau de confiança nos julgamentos que fazem[36].

Sendo estes frequentemente incorretos, tamanha confiança é injustificada. O problema é que

essa confiança exagerada é recorrente em vários campos da ciência. Nos diagnósticos

médicos, é comum os médicos, logo no início do tratamento, criarem uma hipótese para

explicar os sintomas e seguirem até o fim com aquela hipótese, somando apenas as evidências

que a comprovem e ignorando as que a refutem ou, até mesmo, enxergando como

confirmatórias de uma hipótese evidências que não o são. Então, cada vez acreditarão mais

em sua hipótese e será menos provável que considerem a possibilidade de outras hipóteses, o

que é uma grande causa da falha dos diagnósticos[37].

Nos tribunais do júri, tenta-se separar a fase em que são apresentadas as provas da fase

em que o júri deve formar seu convencimento. A ordem durante a primeira fase é que os

jurados mantenham suas cabeças abertas a todas as possibilidades e que não cheguem a

qualquer conclusão até que todas as provas e argumentos das partes tenham sido

apresentados. Além disso, eles devem desconsiderar provas julgadas inadmissíveis e que

tenham sido retiradas dos autos.

Essas restrições parecem ser uma preocupação com o problema do foco em uma

hipótese e a consequente predisposição para avaliar futuras evidências com base nessa

hipótese. Fica a dúvida de se os jurados realmente conseguem manter a mente aberta durante

toda a fase de apresentação das provas. É bem possível que eles se convençam da culpa ou

inocência do réu logo no começo do julgamento e avaliem as provas apresentadas depois

disso influenciados pela motivação de confirmar seu convencimento[38]. Porém, o certo seria

que todas as provas continuassem abertas a diferentes interpretações. É comum que uma

opinião formada diante de uma prova superficial, como um comportamento estranho de

alguém que está prestando depoimento, influencie a forma como todas as próximas provas

ambíguas serão interpretadas.

Experimentos feitos em julgamentos simulados revelam que os jurados muitas vezes

formam seu convencimento no início no processo e os mantêm até o final do processo[39].

Além disso, os resultados dos experimentos sugerem que conforme os jurados vão avaliando

as provas, seu convencimento inicial ganha ainda mais força[40]. Uma possível explicação

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para a tendência a apegar-se a uma opinião precipitada é que ela torna o jurado predisposto a

procurar evidências aptas a sustentá-la e inclinado a dar um peso inadequado às evidências

que sustentam sua opinião. Essa tese é corroborada pela descoberta de que os participantes de

um julgamento simulado são mais capazes de lembrar-se de afirmações que confirmem o

veredito que escolheram como tendo sido apresentadas na forma de provas do processo do

que de afirmações que refutem esse veredito[41].

Além da predisposição para interpretar futuras evidências de forma a confirmar uma

ideia já existente exercer um papel muito importante nos diagnósticos médicos e nos

tribunais, ela também é determinante na evolução da ciência. A reação típica dos cientistas às

novas evidências de que uma teoria estabelecida é falha não é descartar a teoria, mas achar

uma maneira de defendê-la[42]. São contestadas as evidências e não a teoria falha, à qual se

dá o benefício da dúvida. Se as informações em contrário se mostrarem confiáveis, ainda se

tenta complicar a teoria o suficiente para acomodá-las.

A tese de que as pessoas analisam informações guiadas pela predisposição para

confirmar uma ideia encontra espaço no modelo intuicionista social. De acordo com ele, há

poucas situações nas quais o raciocínio funciona livremente, o que só aconteceria quando se

tem tempo, capacidade para raciocinar e motivação para buscar a verdade e não se tem

nenhum julgamento feito anteriormente para ser defendido ou justificado nem motivos de

afinidade ou de coerência em atuação[43]. Circunstâncias tão neutras só são possíveis quando

dilemas morais são apresentados às pessoas em experimentos utilizando exemplos hipotéticos

e que não despertam emoções, mas não quando as pessoas estão fofocando, brigando ou em

qualquer outro momento da vida real, pois, nestes casos, sempre aparecem motivos de

afinidade. E ainda são despertados os motivos de coerência, se as pessoas tiverem lidando

com temas que sejam ameaçadores para as suas convicções morais, como aborto ou eutanásia.

Nas situações comuns, em que os motivos de afinidade e de coerência estão presentes, o

raciocínio funciona como um advogado das ideias já existentes e serve para buscar evidências

capazes de confirmá-las. Ele é chamado a construir justificativas para julgamentos intuitivos,

o que causa a ilusão de objetividade.

Julgamento e reações afetivas

Assim como Haidt apresenta a idéia através do modelo intuicionista social, outros

autores igualmente afirmam que, havendo uma intuição forte, o raciocínio perde espaço na

formação do julgamento. Mullen e Sikita utilizam o conceito dos mandamentos morais para

explicar como as emoções afetam o julgamento da justiça de um processo. Mandamento

moral é o nome dado a uma atitude forte que alguém tem e considera resultado de uma

convicção moral, que é a visão de algo como certo ou errado, moral ou imoral[44]. O objetivo

da pesquisa era entender porque as pessoas passam a ver como injusto todo um processo em

que primeiramente só a sentença lhes pareceu injusta. Também se visou compreender porque,

quando a sentença ofende um mandamento moral de alguém, a neutralidade do julgamento, a

existência de uma autoridade confiável e outras garantias do devido processo legal têm tão

pouca capacidade de manter a visão dessa pessoa de que o processo foi justo.

O caso de um menino cubano chamado Élian Gozález ilustra o problema. A lide

envolveu a escolha entre conceder asilo político nos EUA ou devolvê-lo para o pai, em Cuba.

Em um estudo, pediu-se que pessoas avaliassem várias circunstâncias do caso. O resultado foi

o seguinte: as avaliações feitas pelos participantes após a sentença sobre quão justo foram o

processo e a sentença relacionaram-se com suas respostas à pergunta que questionava quão

forte eram seus mandamentos morais relevantes para o caso – como a defesa da liberdade e

dos direitos parentais[45]. Ou seja, pessoas com mandamentos morais fortes relacionados ao

caso em geral tiveram opiniões enérgicas sobre o processo. Porém, as avaliações feitas antes

da sentença sobre quão justo foi o processo e a as avaliações do processo e da sentença feitas

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após a sentença apresentaram uma relação menos significativa. Daí se percebe que os afetos

relacionados à sentença foram mais influentes na formação de uma opinião sobre o processo

do que as avaliações racionais sobre o próprio processo. As pessoas interpretam como justo

ou injusto um processo dependendo de ter ele chegado a uma sentença percebida como

moralmente justificada. Essa correlação é chamada de efeito do mandamento moral.

Durante a pesquisa, foram investigados os processos cognitivos e motivacionais que

podem levar ao efeito do mandamento moral. Uma das hipóteses era a raiva, ou seja, uma das

explicações para o efeito do mandamento moral seria a de que as reações afetivas à sentença

fariam com que as pessoas passassem a sentir raiva também do processo que levou à sentença

assim como da autoridade que a proferiu[46]. Para reforçar sua tese de que os sentimentos são

transferidos de um objeto a outro, Mullen e Sikita citaram um experimento feito por

Haidt[47], em que pessoas hipnotizadas foram induzidas a sentir nojo de uma palavra

moralmente neutra. Quando não mais hipnotizadas, elas ouviram uma narrativa que repetia a

palavra neutra várias vezes. Verificou-se que essas pessoas julgaram os atos narrados mais

imorais do que pessoas que não tinham sido hipnotizadas.

Com o fim de testar a hipótese imaginada pelas autoras, elas desenvolveram algumas

histórias de jornal que descreviam o julgamento de pessoas acusadas de irem longe demais em

nome de suas crenças morais – em particular, pessoas que fizeram algo ilegal em nome de

uma crença a favor ou contra o aborto. Os casos, portanto, permitiram que fossem exploradas

as percepções das pessoas sobre a justiça do processo e da sentença, as quantidades de

informação que elas conseguiam captar e as reações afetivas aos procedimentos e ao resultado

do julgamento. Com essas dados em mãos, foi possível verificar se eles tinham relação com o

fato de os réus terem sido absolvidos ou condenados de crimes que apóiam, opõem-se ou são

indiferentes às crenças morais dos participantes[48].

Foi desenvolvido um teste da influência dos mandamentos morais sobre aborto nos

julgamentos sobre a justiça de um processo e de sua respectiva sentença. O resultado

evidenciou o efeito dos mandamentos morais. Todos os participantes leram algum caso que

contivesse exatamente três erros processuais, o que garantiu que a justiça do processo fosse

objetivamente igual em todos os casos. Mas a percepção da justiça expressa por cada

participante variou conforme a sentença lida estivesse alinhada, se opusesse ou fosse

irrelevante para seus mandamentos morais sobre o aborto. Ou seja, a condenação por um

crime ofensivo aos mandamentos morais de alguém levou a pessoa a considerar o processo

mais justo do que quando houve absolvição pelo mesmo crime.

O resultado do teste também corrobora a hipótese de que o efeito do mandamento moral

é causado pela raiva sentida diante de uma sentença desagradável[49]. Quando um réu

acusado de ter cometido um crime ofensivo aos mandamentos morais de alguém era

absolvido, a raiva sentida pela sentença era direcionada contra todo o processo. Já quando a

sentença não contrariava os mandamentos morais da pessoa, ela não sentia raiva e

considerava o processo mais justo.

Há ainda outro experimento[50] que demonstra que as pessoas manifestam o raciocínio

motivado quando estão diante de informações que lhes inspiram reações afetivas. Foi

apresentado a um grupo de participantes um cenário em que um homem cujo nome é mais

comum entre americanos negros poderia ser sacrificado para salvar uma orquestra sinfônica,

que é notoriamente formada por maioria de músicos brancos, embora isso não fosse

explicitado durante o experimento. O outro grupo de participantes deveria dizer se era correto

sacrificar um homem – cujo nome fez as pessoas imaginarem alguém branco – para salvar

uma orquestra de um bairro americano cuja população todos sabem ser majoritariamente

negra, embora essa informação também não fosse explicitada. Os participantes de posição

política mais liberal tenderam a adotar uma postura deontológica diante do primeiro cenário,

considerando errado matar uma pessoa que imaginavam ser negra para salvar um grande

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número de pessoas provavelmente brancas. Porém, tiveram uma postura consequencialista

diante do segundo cenário, pois foi mais frequente considerarem correto sacrificar um homem

cujo nome sugeria que ele era branco para salvar um grande número de músicos negros. Os

conservadores não apresentaram esse tipo de diferença na comparação entre suas respostas

diante de cada cenário.

Mas os autores do experimento, Ditto, Pizarro e Tannenbaum, perceberam que talvez os

conservadores não tenham tido comportamentos contraditórios porque o tema da igualdade

não é tão sensível para eles quanto é para os liberais. Portanto, quiseram formular dois

cenários capazes de lhes despertar reações afetivas mais fortes e tiveram a idéia de envolver a

questão da segurança nacional. Os conservadores tiveram uma postura mais consequencialista

quando perguntados se eram justificados os efeitos colaterais de uma ação militar comandada

por americanos, porém seu raciocínio foi mais do tipo deontológico quando perguntados se

eram justificados os efeitos colaterais causados por insurgentes iraquianos. Como esse tema

não sensibiliza tanto os liberais, os participantes que se declararam dessa corrente política não

apresentaram diferenças de postura, reagindo igualmente a ambas as possibilidades.

Importante ressaltar que, em um segundo experimento, ao invés de cada grupo de

participantes fazer um julgamento moral em um cenário diferente, todos tiveram que se

manifestar tanto acerca do sacrifício do homem supostamente negro, quanto, logo depois,

acerca do sacrifício do homem supostamente branco. Isso obrigou as respostas dos liberais no

segundo cenário a manterem-se coerentes ao uso dos princípios feito no primeiro cenário.

Caso contrário, eles se veriam sendo incoerentes e a ilusão de objetividade acabaria. Foi a

demonstração, mais uma vez, de que os fatores motivacionais fazem com que as pessoas

sejam seletivas na utilização dos princípios morais, embora elas acreditem que tais princípios

deveriam ser aplicados de forma generalizada.

Finalmente, se quis demonstrar que a manipulação das intuições morais dos

participantes afetaria o uso que fazem dos princípios morais. O que foi feito através da

exposição dos participantes, sem que eles tivessem consciência disso, a palavras relacionadas

a patriotismo ou a multiculturalismo. Os participantes expostos ao primeiro grupo de palavras

tiveram a mesma reação que os conservadores têm a cenários envolvendo efeitos colaterais de

ações militares, ou seja, foram mais consequencialistas quando os danos foram causados por

americanos do que quando causados por iraquianos. Já a exposição às palavras ligadas a

multiculturalismo gerou uma postura como a dos liberais. O experimento, ao perpassar um

procedimento não consciente, evidencia que a aplicação dos princípios morais é guiada pelas

intuições, reiterando o que ensina Haidt, e mostra que a forma pela qual o fenômeno se dá é o

raciocínio motivado.

Flexibilidade dos princípios e da percepção de responsabilidade

As diversas pesquisas citadas convergem para a ideia de que as intuições, muito mais

que o raciocínio, formam os julgamentos morais. Mas as pessoas sempre percebem seus

julgamentos como se fossem completamente objetivos. Esse fenômeno, chamado de ilusão de

objetividade, usa mecanismos para fazer parecer que uma decisão já existente antes do início

do raciocínio foi tomada após a consulta ao raciocínio. Os mecanismos consistem em adequar

a atribuição de responsabilidade e a aplicação de princípios morais de forma a chegar à

conclusão que preferimos, já que, em muitas situações nas quais devemos fazer um

julgamento moral, diversos princípios e tipos de responsabilidade por um ato são cabíveis.

Essa flexibilidade deixa espaço para que sejam escolhidos aqueles princípios morais e formas

de interpretar se o agente é responsável mais condizentes com a conclusão a que se quer

chegar.

Vários julgamentos morais consistem em julgar um ato como permissível ou não. É o

que acontece, por exemplo, quando se avalia se comer carne é certo ou errado. Mas

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geralmente as pessoas já sabem cada ato que consideram certo ou errado. Aí o julgamento

passa a ser se o agente é responsável pelo ato. Uma pessoa poderia se perguntar, por exemplo,

se alguém com um problema psicológico brando é responsável por uma grosseria que tenha

feito.

Muitas pesquisas demonstraram que as pessoas usam regras estabelecidas por teorias

filosóficas e jurídicas quando precisam determinar a responsabilidade de um agente por um

ato[51], já que foi observado que as pessoas analisam o nível de controle que o agente teve

sobre o ato, a causalidade e também a intencionalidade do agente[52]. Por exemplo, as

pessoas normalmente julgam alguém que contraiu AIDS por transfusão de sangue menos

responsável por ter a doença do que alguém que contraiu através de sexo casual por

considerarem que, no primeiro caso, o agente teve menos controle sobre o ato. Não obstante

isso, pesquisas recentes têm mostrado que as pessoas geralmente iniciam esse tipo de

raciocínio só depois de já terem julgado a moralidade do ato[53]. Ou seja, elas primeiro

julgam intuitivamente se o ato foi certo ou errado e se o agente foi responsável ou não e

depois sutilmente adequam os princípios disponíveis na filosofia e no direito de forma a

construir uma justificativa para suas conclusões. Fica claro que as avaliações quanto à

controlabilidade, à causalidade e à intencionalidade não produzem, como se imaginava, os

julgamentos. Ao contrário, o julgamento vem primeiro.

A idéia de que é mais provável que uma pessoa julgue que outra tem controle sobre um

resultado se aquela tiver a motivação de culpar esta é corroborada por um experimento que

envolveu a descrição do seguinte cenário: um motorista se envolve em um acidente ao dirigir

em alta velocidade em um dia chuvoso, acarretando em ferimentos de terceiros[54]. Alguns

participantes que receberam essa descrição, também receberam a informação de que o

motorista estava com pressa para esconder um pacote de cocaína dos pais e tinha que chegar

logo em casa. Outros receberam a informação de que o motorista estava com pressa para

esconder um presente surpresa de casamento. Os participantes que receberam a informação do

pacote de cocaína fizeram juízos de atribuição e causalidade bastante diferentes dos que

receberam a informação sobre o presente de casamento, entendendo que no primeiro caso o

motorista era muito mais claramente a causa do acidente e que sua responsabilidade causal era

maior. O curioso é que os fatores relacionados ao acidente eram os mesmos.

Julgamentos sobre controle e causalidade são inerentemente subjetivos e, por isso,

facilmente distorcidos, se houver motivação para isso. Mas há evidências de que mesmo

circunstâncias mais “objetivas” de um evento podem ser distorcidas. Em um experimento, os

participantes ouviram a história de um homem que comeu em um restaurante e foi embora

sem pagar a conta[55]. Para parte deles, foi dito que a razão de o homem não ter pago o que

consumiu foi uma ligação lhe informando que sua filha tinha sofrido um acidente. Para a

outra parte, contou-se que o homem deixou uma dívida simplesmente porque não gosta de

pagar pelas coisas e porque sente-se feliz toda vez que é bem sucedido em seus furtos. Uma

semana depois, perguntou-se a ambas as partes do grupo de participantes quanto tinha sido o

valor da conta, anteriormente informado a todos. As pessoas às quais se tinha dito que a razão

do desvio do homem foi seu prazer em sair sem pagar atribuíram à conta valores maiores do

que o valor verdadeiro e maiores do que atribuíram as pessoas que achavam que o homem não

havia pago sua refeição porque sua filha sofrera um acidente. Estas últimas também

demonstraram ter uma memória mais precisa dos preços. Além disso, a quantidade de inflação

que cada pessoa atribuiu à conta, uma semana depois, geralmente variou conforme a

quantidade de culpa que elas tinham atribuído ao homem da primeira vez que ouviram a

história. Esses resultados demonstram que a motivação para justificar o julgamento de

responsabilidade pode gerar a distorção até de circunstâncias objetivas.

No estudo sobre predisposição para confirmar uma ideia, se chegou à mesma conclusão.

Foi citado um estudo em que pessoas que acreditavam em uma teoria tinham que analisar

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evidências capazes de refutar sua teoria. As pessoas, além de terem ignorado as evidências ou

terem interpretado-as seletivamente, de forma a fazer com que elas se tornassem compatíveis

com sua teoria, perguntadas um tempo depois quais eram as evidências, responderam

mostrando que se lembravam das mesmas como muito mais compatíveis com suas teorias do

que eram na verdade. “Evidências idênticas foram interpretadas de um jeito em relação a uma

teoria preferida e de outro em relação a uma teoria que não é preferida”[56].

O julgamento sobre a intencionalidade de um agente ao praticar um ato também pode

ser igualmente suscetível de ser modificado por uma motivação de justificar racionalmente

um julgamento intuitivo prévio. Parece que as pessoas julgam como mais intencionais os atos

que primeiramente julgaram como errados do que os atos tidos como corretos. Ditto, Pizarro e

Tannembaum estudaram o assunto utilizando a história de um CEO de uma empresa que

praticou um ato visando a aumentar seus lucros. Numa versão da história, o ato teve o efeito

colateral de trazer benefícios ao meio ambiente e em outra versão, o efeito colateral de

prejudicar o meio ambiente. Em ambos os casos, foi explicado que o CEO não considerou os

efeitos para o meio ambiente, apenas o aumento dos lucros. Mesmo assim, as pessoas

julgaram o ato do CEO como intencional quando ele teve um efeito colateral negativo,

enquanto julgaram como não intencional quando o ato teve um efeito colateral positivo.

É interessante que 61% das pessoas que julgaram o efeito colateral de prejudicar o meio

ambiente como intencional justificaram sua resposta explicando que o CEO deveria ter

previsto essa consequência e 99% das pessoas que julgaram o efeito colateral como não

intencional deram a explicação de que ele não era desejado pelo CEO. Ou seja, cada grupo

usou um conceito de intencionalidade diferente: a capacidade de prever um resultado ou a

vontade de atingi-lo. Essa distinção inclusive aproxima-se da classificação do direito penal de

dolo e culpa. O resultado do experimento demonstra que o raciocínio guiado pela motivação

de justificar um julgamento se aproveita da flexibilidade do conceito de intencionalidade[57].

Quanto mais uma pessoa culpa alguém por um ato, mais abrangente ela torna o conceito de

intencionalidade – de forma a incluir atos que não foram desejados, mas que eram previsíveis

– e, assim, conseguir justificar a responsabilização do agente. Em suma, “a utilização de

diferentes definições de intenção é uma poderosa maneira de manter uma ilusão de

objetividade”[58].

Depois de analisar como o raciocínio motivado influencia a escolha dos critérios

utilizados para caracterizar a responsabilidade de alguém por um ato, é preciso estudar como

raciocínio motivado age sobre o resto do julgamento moral: a caracterização do ato como

certo ou errado, moral ou imoral. Essa avaliação depende da aplicação de princípios morais.

Ela é mais complexa quando um ato tem tanto consequências positivas quanto negativas,

situação chamada de dilema moral. Um exemplo é o cenário em que um bondinho está indo

na direção de cinco pessoas presas a um trilho, havendo a possibilidade de parar o veículo

com o sacrifício de uma pessoa. Há quem pense de forma deontológica e considere sempre

errado matar alguém, mesmo que seja para salvar cinco pessoas, e quem seja

consequencialista e julgue ser certo matar alguém, se for para salvar mais pessoas.

Em ambos os casos, a partir do momento que a pessoa aplicou um princípio, seja

deontológico ou consequencialista, o certo seria aplicar o mesmo princípio em todas as

futuras situações similares. Isto porque os princípios em questão, como todos os demais

princípios morais ou legais, devem ser aplicados genericamente e não seletivamente. O

problema é que um mesmo princípio que traz resultados com os quais uma pessoa se sente

bem, quando aplicado a outra situação, pode trazer resultados que incomodem a pessoa.

Porém, se uma pessoa só aplica um princípio quando lhe é conveniente, age injustamente.

Não obstante, há pesquisas demonstrando que as pessoas usam os princípios exatamente

assim[59]. Ou seja, aplicam os princípios que trazem o resultado desejado.

Os juízes como representantes da objetividade: uma ironia

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No momento de contratar um empregado ou proferir uma sentença, a tendência é que os

responsáveis por essas decisões dêem maior peso ao critério – como uma determinada

qualidade do candidato ao emprego ou determinado tipo de prova – mais favorável ao

resultado pelo qual se tem preferência. Aliás, pesquisas sobre esse tipo de comportamento têm

justamente envolvido decisões jurídicas[60]. Os resultados mostram como é irônico se referir

aos juízes como representantes da objetividade e aos advogados como representantes do uso

seletivo de princípios e evidências. Na realidade, é comum um magistrado, inclusive na corte

suprema, justificar uma decisão com base em um princípio constitucional amplo e, depois, em

um caso em que o uso deste princípio resultaria em uma decisão politicamente desagradável,

dar maior peso a outro princípio[61].

Isso foi visto nas eleições presidenciais americanas disputadas por George W. Bush e Al

Gore[62], quando a Suprema Corte da Florida autorizou a recontagem dos votos naquele

estado. Caso a recontagem fosse interrompida, certamente Bush venceria as eleições. Por isso,

a decisão foi recorrida e a questão chegou à Suprema Corte. Lá, curiosamente, os magistrados

mais conservadores, cujas posições em casos anteriores sempre foram favoráveis à autonomia

dos estados e contra a intervenção federal, defenderam a reforma da decisão da Suprema

Corte da Florida. Já os magistrados mais liberais, que sempre se posicionaram a favor do

federalismo, defenderam a manutenção da decisão recorrida.

Apesar de ser uma forma incoerente de agir, a aplicação seletiva de princípios é muito

comum e fácil, já que frequentemente mais de um princípio é aplicável ao caso, como foi

visto nos exemplos citados. No caso do bondinho, seria adequado tanto um raciocínio

deontológico como consequencialista e, no caso da recontagem dos votos, tanto se poderia

defender o federalismo quanto a autonomia dos estados. Uma pessoa só notaria sua própria

tendência para o uso seletivo dos princípios se, logo após uma decisão em que aplicou

determinado princípio e obteve o resultado preferido, fosse confrontada com uma situação em

que a aplicação deste mesmo princípio geraria um resultado desagradável[63]. Só assim a

pessoa perceberia sua motivação para favorecer, em cada situação, um princípio diferente, de

maneira a sempre conseguir justificar o resultado pelo qual ela tem preferência.

O julgamento intuitivo: manobras ousadas e a persistência da ilusão de objetividade

Há, ainda, evidências da ocorrência da ilusão de objetividade mesmo quando as pessoas

precisam justificar um evento cujas circunstâncias não oferecem flexibilidade para o

favorecimento de uma conclusão pré-determinada. Nestes casos, as pessoas são capazes de

simplesmente inventar justificativas para racionalizar a conclusão a que chegaram de forma

intuitiva. Em um experimento que demonstrou o problema[64], todos os participantes

tomaram choques. Parte deles que também ingeriu uma pílula placebo, acreditando que esta

produzia as mesmas sensações de um choque, suportou quatro vezes mais choques do que os

que não tomaram a pílula. Aparentemente, a razão para isso é que quem tomou a pílula

atribuiu as sensações ruins do choque à pílula. Mas quando foram perguntados se fizeram essa

atribuição, só 25% deles responderam que sim, tendo o resto inventado explicações para sua

tolerância maior aos choques, como o costume de construir aparelhos eletrônicos na infância.

Para os pesquisadores, esse tipo de explicação são construções feitas posteriormente ao

evento. Elas são inventadas pelas pessoas, uma vez que o processo que realmente explica a

maior tolerância aos choques não é acessível à consciência. Diante dessa limitação, a saída é

recorrer a justificativas que, embora não verdadeiras, sejam verossímeis para o próprio sujeito

demandado a explicar o que aconteceu com ele. O costume de construir aparelhos eletrônicos,

por exemplo, cumpre o papel de ser uma explicação aceitável para o sujeito e para a

sociedade, sem deixar ninguém perceber que o processo foi inconsciente. Essa explicação e

outras possíveis são oferecidas pela cultura.

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Em julgamentos morais, as pessoas também recorrem a explicações oferecidas pela

cultura. Isso porque, quando precisam explicar em uma entrevista a razão pela qual

consideram algo certo ou errado, não são acessíveis a elas os processos inconscientes,

intuitivos e automáticos que as levaram a formar sua convicção moral sobre o tema[65]. A

saída que lhes resta, como na situação da tolerância ao choque, é achar uma explicação

aceitável pela sociedade e plausível a ponto de impedir as pessoas de perceberem que seus

julgamentos morais foram inconscientes.

O raciocínio moral parece ser uma construção feita posteriormente à intuição moral

automática e para justificá-la. Logo, quando se acha que é pelo raciocínio que se chega a um

julgamento moral, é provável que duas ilusões estejam atuando[66]. A primeira delas é

chamada por Haidt de “rabo que abana o cachorro” e é definida como a crença de que o

julgamento moral é guiado pelo raciocínio moral, quando, na verdade, o julgamento é o

“cachorro” e o raciocínio seu “rabo”. É possível manter essa ilusão de objetividade, pois,

como explicam Ditto, Pizarro e Tannenbaum, as pessoas passam por todas as etapas de teste

de uma hipótese, embora cada uma delas seja realizada com a predisposição de confirmar uma

ideia. A segunda ilusão é chamada de “rabo que abana o rabo do outro cachorro” e consiste na

expectativa de que, em uma discussão, bons argumentos mudem a opinião do oponente.

“Em um debate sobre aborto, política, incesto consensual ou o que meu amigo fez com

o seu amigo, ambos os lados acreditam que suas posições são baseadas no raciocínio sobre os

fatos e questões envolvidas (a ilusão do rabo que abana o cachorro). Ambos os lados

apresentam o que consideram ser excelentes argumentos sustentando suas posições. Ambos os

lados esperam que o outro lado seja receptivo a tais razões (a ilusão do rabo que abana o rabo

do outro cachorro)”[67]. Como esclarece Nickerson, em uma discussão, o maior objetivo é

vencer. E o melhor jeito de fazer isso é juntar todos os argumentos favoráveis à própria

opinião e enfraquecer ou ignorar os argumentos que fundamentem o que defende o oponente.

Cada parte mantém-se presa à sua verdade e, portanto, quase todas as discussões terminam

com cada parte dizendo que venceu e que o outro não se abriu para seus argumentos[68].

Haidt também coloca o problema: a mesma pessoa que não foi receptiva às razões alheias, é a

primeira a acusar o oponente de ter a mente fechada ou de ser desonesto por não ter aceito

seus argumentos[69].

O estudo sobre a predisposição para confirmar uma ideia cita diversos experimentos que

corroboram a ideia de que é mera ilusão a certeza que as pessoas têm de que poderão mudar a

convicção das outras. O autor do estudo explica que quando as pessoas precisam avaliar

informações e depois chegar a uma conclusão, elas dão mais peso às primeiras informações

adquiridas do que às posteriores[70] e avaliam estas últimas de acordo com opiniões formadas

logo no início da avaliação[71]. Esse fenômeno é chamado de “efeito de primazia” e foi

comprovado por um experimento em que se mostrou aos participantes imagens que

começavam desfocadas e iam aos poucos se tornando mais claras[72]. Os palpites que as

pessoas deram sobre o que estava retratado na imagem enquanto ela ainda estava ininteligível

foi mantido mesmo quando já era possível distinguir que o objeto da imagem era outro. O

efeito de primazia está relacionado à “persistência da crença”: uma vez que alguém tenha

formado uma opinião, ela dificilmente mudará, mesmo diante de fortes evidências de que sua

opinião está equivocada[73].

As pessoas são tão seguras de que suas idéias estão corretas e tão insuscetíveis a

argumentos e evidências trazidos por outras partes de um debate, que sentem-se confiantes

que foram bem sucedidas em tarefas que elas não foram, fenômeno chamado de “ilusão de

validade”[74]. Nem profissionais estão imunes a ela. Médicos geralmente confiam mais em

suas avaliações para fazer um diagnóstico do que em estatísticas, embora seja provado que

estas produzem diagnósticos mais exatos do que as avaliações dos médicos[75]. Esse

comportamento é próximo da persistência da crença, pois uma explicação para o excesso de

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confiança nas próprias avaliações é que as pessoas têm uma predisposição para lembrar-se de

evidências favoráveis à sua ideia e não levam em consideração outras ideias[76].

Segundo o modelo intuicionista social, as ideias de uma pessoa podem formar uma

convicção em outra através da conexão da persuasão racional, a terceira conexão do modelo

intuicionista social[77]. Ou seja, em uma discussão, uma pessoa só conseguiria influenciar

outra através de argumentos, se usar estes para fazer o oponente ver a questão de outra forma,

provocando nele novas intuições.

Até onde o raciocínio pode ir

Até agora, pareceu que a teoria de Haidt considera o raciocínio como um mero disfarce

para os julgamentos intuitivos, como acontece na segunda conexão do modelo intuicionista

social, o raciocínio “post hoc”. Porém, vale lembrar que três das seis conexões representam

formas de raciocínio que o modelo intuicionista social sustenta terem efeitos causais sobre o

julgamento moral. Se alguém examina um dilema se colocando no lugar de cada parte

envolvida, várias intuições serão provocadas, conforme explicitado na sexta conexão do

modelo, a da reflexão privada. Como resultado, a primeira conexão do modelo ocorrerá em

relação a mais de um julgamento intuitivo, aparecendo vários julgamentos contraditórios. Para

solucionar o conflito, o raciocínio pode ser usado para construir uma justificativa para cada

julgamento, como na segunda conexão, a do raciocínio “post hoc”. Se a justificativa para um

julgamento for melhor que para os demais, ele começará a “parecer ser o certo” e haverá

menos motivação para buscar evidências que fundamentem os demais julgamentos[78]. É

assim que uma “epistemologia do faz sentido” pode se tornar uma ética do “parecer ser o

certo”[79]. Ou seja, aqui se vai do tipo de raciocínio pelo qual uma pessoa busca razões para

justificar seu julgamento moral e pelo qual tenta proteger a visão de mundo que faz sentido

para ela, sem correr o risco de ter que repensar suas convicções, para o tipo de raciocínio em

que, diante de várias intuições, uma pessoa pensa apenas o suficiente para que uma das

intuições pareça ser a certa.

A única conexão que o modelo apresenta como possibilidade de alguém simplesmente

raciocinar de forma a reverter uma intuição inicial seria a quinta, do julgamento racional. Mas

esse comportamento parece ser raro, sendo talvez filósofos capazes de atingi-lo e de fazerem

prevalecer o raciocínio que leve mesmo a conclusões muito perturbadoras, como fez

Sócrates[80].

O que o direito tem a ver com isso

Muitas pesquisas observaram que o julgamento, em diversas situações, é feito intuitiva

e automaticamente, sem que a pessoa que o produziu tenha desejado isso. As pesquisas

também mostram que, além da pessoa não ter consciência de como chegou a uma ideia, ainda

acredita que chegou a ela por um processo racional. Além disso, foram sugeridas explicações

para a crença na própria racionalidade e para o apego às próprias convicções.

Diversas características do direito sugerem que as descobertas relativas aos julgamentos

morais e a outros tipos de julgamentos são a ele extensíveis. Como já referido, o direito não é

um sistema fechado e completo de regras. Seria bom se fosse assim. Mas infelizmente nem

tudo é fácil como se gostaria. Os legisladores não têm como prever todos os casos que

surgirão. Assim, para muitas lides faltam regras ou há mais de uma regra incidindo. Além

disso, em muitos casos, valores igualmente reconhecidos pelo direito conflitam e os juízes são

demandados a ponderar os princípios constitucionais de forma a estabelecer quais desses

valores preponderam em cada caso. Nessas situações, o direito não oferece respostas claras

para os conflitos. Como consequência, não há como um observador afirmar quando ele foi

violado pelos juízes. Portanto, brechas são abertas para se fazer um uso conveniente das

regras.

Departamento de Direito

Ou seja, principalmente quando a regra aplicável não é clara – em analogia com o que

acontece após os julgamentos sobre dilemas morais –, fica fácil os juízes manejarem as regras

e princípios de forma a justificar suas conclusões preferidas. E ainda podem sair acreditando

que a decisão só veio depois do confronto com as regras e os princípios.

Há também muito a ser explorado da relação entre o direito e a predisposição para

confirmar uma ideia. Por questões práticas, os juízes não são obrigados, na fundamentação da

sentença, a considerar todos os argumentos apresentados pelas partes e por terceiros. Se a

justiça hoje é lenta, pior seria a situação se os juízes tivessem que refutar uma por uma as

teses da defesa e de um eventual “amicus curiae”. Porém, o que se ganha em celeridade,

provavelmente se perde em qualidade da decisão. É que a desnecessidade de o magistrado

prestar suficiente atenção a argumentos contrários a uma convicção que ele já tenha formado

desde o início do processo, facilita que no desenrolar do processo seja verificada a

predisposição para confirmar a convicção. Abre-se a possibilidade de se acumular apenas as

provas e argumentos favoráveis à conclusão preferida. Quanto às provas e argumentos que

demonstrem as falhas da ideia do magistrado, é possível que sejam refutados e distorcidos os

mais fracos e que outros mais robustos sejam simplesmente ignorados.

Conclusão

É bem provável que as críticas dos realistas jurídicos sejam fundamentadas e o direito

corresponda ao que os juízes decidem e não ao que as regras prescrevem. Porém, o melhor

jeito de enfrentar a questão e tentar solucioná-la ou atenuá-la é descobrir se as dúvidas que

pairam sobre a racionalidade dos julgamentos jurídicos se confirmam. Mascarar o problema e

ter uma crença cega na razão é o caminho mais rápido para a manutenção do “status quo”. É

bom lembrar que isso inclui juízes julgando casos idênticos de uma forma depois da hora do

almoço e de outra no final do expediente.

Haidt tem a mesma visão. Segundo ele, se for verdadeira a observação de que os

julgamentos intuitivos predominam, ela servirá para inspirar soluções que façam o raciocínio

e a intuição trabalharem juntos mais eficazmente[81]. Assim, esses dois atores produzirão

menos distorções do que produzem quando se ignora o papel das intuições e se acredita na

capacidade do raciocínio de produzir sozinho o julgamento moral.

Nickerson também compartilha da ideia de que enxergar a realidade é o primeiro passo

para lidar com ela. Ele não garante que a predisposição para confirmar uma ideia é passível de

ser atenuada através de treino, mas acredita que tomar consciência do problema pode ajudar

as pessoas a tentarem não formar convicções sobre temas importantes logo de primeira e a

procurarem se manter mais abertas a opiniões contrárias às suas[82].

Enfim, fica a sugestão para que pesquisas similares às analisadas neste trabalho sejam

feitas tendo como objeto os julgamentos dos juízes.

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