A compostagem como objeto de estudo do design experiências de um cenário no Pará e Pernambuco

10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA)

A compostagem como objeto de estudo do design:

experiências de um cenário no Pará e Pernambuco Composting as an object of study on design: experiences of a scenario in Pará and Pernambuco PIMENTEL, B. G. S.; Especializando; Universidade do Estado do Pará [email protected] MOURA, A.; Graduada; Universidade Federal de Pernambuco [email protected] OLIVEIRA, E. A. G.; Doutorando; Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/Universidade Federal de Pernambuco [email protected]

Resumo

O resultado de décadas de transformações sofridas pela humanidade e irresponsabilidade humana em relação ao descarte, supervalorização do consumo excessivo e busca pelo conforto, o controle do resíduo acumulado tem alcançado níveis grande de importância perante a discussão das políticas públicas. Dentre diversos problemas ambientais mundiais, no intento de alcançar o desenvolvimento, o Brasil apresenta um humilde avanço na execução de suas recentes leis de descarte de resíduos sólidos, em especial os orgânicos. Este artigo reúne uma coleta de considerações baseadas em pesquisas realizadas nos estados de Pernambuco e Pará, e comprovam a hipótese da falta de conhecimento e interesse pelo assunto meio ambiente e as más consequências decorrentes do descaso humano, aumentando assim o compromisso do profissional de design na solução desses problemas.

Palavras Chave: design; sustentabilidade; educação.

Abstract

The result of decades of transformations for humanity and human irresponsibility on

disposal, excessive consumption and overvaluation of the search for comfort, control of

the accumulated waste have reached levels of great importance in light of the discussion of

public policy. Among many global environmental problems, in an attempt to achieve

development, Brazil has a humble progress in implementing its recent laws on solid waste

disposal. This article brings together a collection of considerations based on research

conducted in the states of Pernambuco and Pará, confirming the hypothesis of lack of

knowledge and interest about the environment and the bad consequences

of human negligence, thereby increasing the commitment of the professional design solving

these problems.

10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

Keywords: design; sustainability; education.

Introdução A atividade do designer surge durante a segunda revolução industrial no intento de

cumprir a necessidade de incrementar os setores produtivos da época, a partir das mudanças na dinâmica mercadológica de uma sociedade em transição de um retrato monárquico-escravocrata para um modelo urbano-industrial.

Neste recorte, o profissional da área do design aparece como um catalisador da mudança, capaz de viabilizar o diferencial estético do produto para ganhos maiores e maior competitividade. Devido a isso, este profissional recebe apontamentos cabíveis acerca da validade de suas contribuições ao meio, principalmente no que se diz quanto à responsabilidade social. Desde seu destaque mercadológico, o designer - e outras profissões surgidas na época e até mesmo antes - carrega consigo o estigma de leviano, o ônus de culpa no cartório quanto às contribuições relacionadas à evolução da humanidade e ao futuro para o qual as sociedades apontam. Vive-se a pouco mais de um século uma transição de outra ordem, que aponta para uma fragmentação econômica e política, uma multi-acessibilidade das relações sociais, e um retorno a uma espécie bucolismo revisionado, capaz de auditar os protagonistas de uma trama direcionada ao desenvolvimento sem fronteiras dos ganhos, das influências, do poder, e dentre os protagonistas mais visados, se encontra o designer.

No período histórico em que a organização da economia industrial esteve marcada pela especialização da tarefa, o designer dividia o palco do desenvolvimentismo com grandes artesãos e artífices do ferro, da madeira, com quem a partir do ideário de artistas de um panteão arcaico, construiu os conceitos clássicos da modernidade européia após o século XVIII, nas casas da classe alta e média européia.

Hoje, o designer encontra novos e atualizados desafios dentro de organizações descentralizadas e suspensas por uma nova ocasião econômica. Todos estes desafios impõem-se a uma adesão profunda de um programa de necessidades exigente, extenso e comprometedor, no qual o designer é chamado a cumprir todas as etapas de um projeto controlado e acompanhado, seja ele orientado para o objetivo ecológico, seja para o vestuário, ou ainda para a usabilidade em Internet. Para cumprir tal objetivo, o designer precisaria se desdobrar em vários profissionais, ou agir simultaneamente em várias frentes, posição oposta àquela levada a cabo pela ocasião e modismo, marcados pela necessidade de destacar-se de tal maneira que possa atender à busca de um vislumbrar habilitado a multi-destrezas, o que contribui para a perpetuação da idéia estereotipada do profissional. Portanto, faz-se necessário um novo equipamento metaforizado: uma nova plataforma de análise, ações e melhora contínua, capaz de habilitar o designer à resolução destes novos e sincronizados problemas.

Mediante a compreensão de um antagonismo, questiona-se então o que de fato realiza um designer: desenvolver a habilidade de gerar ferramentas, interfaces e experiências de vidas efetivas, reais, inovadoras e de vínculo afetivo, junto a outros vários profissionais e técnicos de várias ordens e áreas, tais quais a do Marketing ou da Arquitetura, capazes de, mediante a legitimação do uso e da ambiência, prosseguir com equivalência na evolução informacional.

A inovação e o produto sustentável Por conta de uma atividade focada em comportamentos sociais e mercados

sensibilizados, apontam-se as contribuições para a visualização efetiva dos problemas acerca


da atividade projectual neste recorte no qual esta pesquisa é elaborada1. A visão sistêmica da atividade projectual para ações prospectivas e gestoras, é munida de variáveis do cenário produtivo, as quais por definição lida. Para isso, estratégias sinérgicas e inovadoras são incentivadas, investido nas mesmas uma carga de inúmeras boas práticas e valores de afinidade para este fim. Sendo assim, em contrapartida a uma produção e sociedade insustentável, alinha-se uma concepção de que projetos têm de serem realizados dados dois focos estratégicos destinados a inovação: a Desmaterialização Econômica e a Ecoeficiência.

Figura 1 - A inovação rumo ao produto/serviço

Fonte: Pimentel, 2012 Em Simoni (2009), este dado alinhamento aparece também como força de mudança de

um quadro de novos valores em: ‘diferenças em rendimento das ações de uma empresa

associadas à percepção da sustentabilidade do negócio ajudam a acelerar a mudança do

perfil, em especial a atitude de investidores.’ (p. 39). A inovação como plataforma fértil que se aloja nas práticas da gestão, se difere da

metodologia capaz de habilitar em design de produtos e serviços, a inovação ao alcance do usuário. Em um lado, têm-se um cenário de como se dará as interrelações da estratégia e como realizá-la. Do outro, o desenho pragmático e dialético de tais interrelações com os stakeholders envolvidos no projeto de forma ulteriormente portadora, contendo todo o processo de realização (cf. WILDMAN, ET AL, 2011).

Para a definição de inovação é preciso apoiar-se nos eixos relacionados aos processos de como, de forma sinérgica, a ambiência fortalecida informacionalmente pode propiciar de forma acompanhada e controlada, processos de inovação: 1) os envolvidos à quem os projetos se destinam: 2) os desenvolvedores; 3) o método: e 4) todos os entes que na circunvizinhança compõem os interessados direta/indiretamente nos resultados do processo, e envolvidos durante seu desenvolvimento.

Como processo que não pode ser compreendido apartado de um entendimento que possui na recepção de eventos a base da interação, a determinação do grau de inovação nas organizações, é dado por ferramentas ligadas diretamente à eficiência da ferramenta comunicacional e medição do grau de profundidade da implementação, mediante processos de adesão. Desta forma, as ações advindas em processos de aprendizagem coletiva, são balizadas por um desenlace de ação/reflexão, atividade eminentemente exploratória, hábil em gerar uma internalização de valores e conhecimentos de nível tácito, portanto, prática intrínseca.

Problemas encontrados para a disseminação da revisão dos paradigmas de inovação, intermitentemente são os mesmos problemas e aspectos de descontinuidade da formação educacional regular, com o resguardo de serem instituições responsáveis pela educação para a Inovação e Design no ensino superior: implementação e continuidade são seus maiores 1 Este artigo é derivado de parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Design - Habilitação em Projeto de Produto (UEPA) intitulado ‘O desenvolvimento de uma composteira doméstica segundo o método

QFD: uma abordagem sintética’ (50 pag.), orientado pela Profª. Dra. em Engenharia de Materiais (UNICAMP), Núbia Suely Silva Santos (UEPA) em 2012.


desafios. Apesar de sua reconhecida implicância para o desenvolvimento de novos serviços, não se percebe muito das vezes sua aplicação com melhoras contínuas nas organizações. Constata-se ainda na graduação, como maior dificuldade encontrada, a ausência de disciplinas específicas, que, com formação contínua, abordem ambas faculdades, essenciais para o desenvolvimento de produtos e serviços que no design thinking encontram suas estratégias (von STAMM, ET AL, 2011).

Portanto, a inovação é advinda tal conseqüência de visualizações de cenários, prospecção gerada como output de uma conseqüência do fortalecimento da ambiência informacional, como que induzida pelos catalisadores ideais e comportamentais. Para tal, o alinhamento dos objetivos e a facilitação viabilizada por entes parceiros são itens imprescindíveis.

Outro problema constatado é diagnosticado no lidar com problemas reincidentes através das mesmas ferramentas, o que leva ocasionalmente a um raciocínio cíclico que resulta no lugar comum, resultado - não de um problemático aprofundamento no problema, mas - de sua aplicação pela mesma interface, por repetidas vezes. Daí a necessidade de revisão das ferramentas de desenvolvimento de projeto e dinâmicas diferenciadas, tal qual o design thinking.

Complementando as considerações sobre o reconhecimento conceitual de sua validade em contrapartida de sua carência pragmática, a inovação é abordada por uma grande infinidade de disciplinas multidisciplinares, o que implica igualmente em uma grande variedade de teorias e caminhos de mapeamento propostos, portanto, ocasiona a possibilidade - mesmo que momentânea, por ocasião do ensino - de uma unificação teórica e conceitual. Um ensino da inovação, em uma compreensão epistemológica, portanto, teria de transbordar de colaborações a ciência, de modo a superar as margens que a profissão de designer impõe.

Em Cabral (2010), por exemplo, a inovação também pode advir da prática gestionária residida na execução das atividades inerentes a uma cultura de projetos, regida por um sistema controlado que se inicia no diagnóstico da demanda, até a implementação das ações regidas pelo alinhamento. Tal qual a visibilidade dos níveis de fertilidade que uma determinada cultura produz, o gestor se torna virtuoso em visualizar os projetos que realmente inovam, e, portanto, incrementam a inteligência da organização, e os que devem ser visualizados de forma homogênea, porém hábil a prospecção que possa estar apta a melhora contínua de práticas e processos. Tal capacidade é dada por um plano de inovação organizacional, que pode viabilizar uma cultura de projetos e estratégias de captação, com sustentação custeada para a execução de tal plano.

Já na pós-produção, a inovação pode encontrar outra polissemia: a da competitividade reducionista acerca da precificação de produtos e serviços. Na esfera da superfície ou da transdiciplinaridade artística, a pregnância da validade estilística encontrada na comparação entre as escolas de design, portanto, acerca das diferenciações entre abordagens e fins alcançados pelo método em questão, encontra também ares de modernidade (GAY, 2009). Porém de fato, uma das mais preguinantes transformações de interface que apresenta resultados radicais reconhecidos para seus usuários é: 1) o advento da internet, que provém uma quantidade enorme e continuamente crescente de possibilidades de interações com o usuário; e 2) o design voltado à resolução das demandas sociais (ULLMANN, 2012).

No entendimento gestionário de Cabral (2010), 'Inovação é o desenvolvimento de serviços capazes de viabilizar a transformação de novas idéias em produtos e serviços'. Para tal, a gestão da inovação necessita proporcionar a decisão sustentada de renovação do portfólio de produtos; fortalecimento do ambiente informacional para incrementação e sistematização da inovação mediante critérios de decisões da gestão, voltados à inovação; aplicação avançada de sistemas de valoração aos produtos gerados pela inovação;


documentação de processos e práticas, via estudo da proporção da inovação como medida basilar da implementação da melhora contínua.

Já a Lei do Bem, regulamentada pelo Decreto 5.1798 de Junho de 2006, descreve inovação como:

A concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado.

Aqui utilizaremos um conceito que por transdisciplinaridade possa ligar dois sistemas

aparentemente antagônicos, porém, hábeis em habilitar radicais transformações – quais a inovação por definição persegue – através do sincronismo das coordenadas entre afeto e análise, o design emocional (NORMAN, 2004). Sendo assim, baseados nos paradigmas de uma semiose que analise e preveja triadicamente eventos de ordem superficial, tendenciosos a um movimento, e profundos, aponta-se em acordo com a eficiência planejada da recepção de eventos indutivos, as mesmas validades em tríade: 1) a inovação incremental a partir do viceral/superficial; 2) a inovação comportamental (com tendência a processos de recusa e adesão, incluindo processos que possibilitem o acesso a novas demandas do mercado), e 3) a inovação radical (responsável por mudanças sem precedentes nas formas com que indivíduos se relacionam com o meio e entre si.

As estratégias sinérgicas e inovadoras Para promoverem e controlarem resultados inovadores, as organizações necessitam de

estratégias sinérgicas. Sinergia aqui se trata de um cenário de forças propícias, unidas e voltadas à busca pela inovação, tendo nesta uma orientação, a atividade empresarial destinada à melhores soluções em âmbito estratégico. Neste presente trabalho, sinergia e inovação serão enxergadas pela ótica da eco-orientação como conseqüência da implantação de plataformas e ferramentas mais avançadas para o desenvolvimento de produtos.

A desmaterialização econômica – termo que aponta um esvaziamento do comportamento natural dos sistemas em que as atividades econômicas e produtivas estão baseadas - poderia ser definida por atividades hábeis em aumentar a capacidade de uso de fontes disponíveis (usando-se alternativas fontes de suporte a cadeia produtiva), suprindo a demanda mercadológica bem posicionada pela boa prática sócio-ambiental (SPANGENBERG et al., 2010), ou ainda, poderia ser uma resposta exata para produtos-serviços intrinsecamente sustentáveis: criados a partir da sustentabilidade, e, destinados inteiramente a incentivar este fim.

A compostagem como estratégia sinérgica e inovadora A compostagem se resume em induzir uma determinada coleção de resíduos, ou

conduzir matérias-primas orgânicas residuais de seu estado sólido ao estado parcial ou total de humificação (KIEHL, 1986), gerando assim o húmus. A importância desta atividade é vastamente reconhecida pela capacidade intrínseca de recuperação de fertilidade em áreas de terreno já empobrecido, seja em quadros de mal-uso, ou por possibilidades de alteração na ordem natural ecológica. Sua aplicação é empregada em situações de grande variedade, seja em grandes terrenos destinados ao plantio rural, ou no pequeno cultivo doméstico, devido ao benefício microbiológico obtido na geração de microagregados ao solo, uma vez que seu fator estrutural (aglutinantes coloidais) terá melhor desempenho por meio de estabilização atômica, possibilitando uma melhor nutrição para vegetais.


Figura 2 – Compostagem Fonte: Pimentel, 2012

Dentro da plataforma de pensamento proposta aqui, a atividade de compostagem

aparece como uma das possibilidades técnicas para a gestão de resíduos, compreendendo antes de induzir e facilitar para formação do húmus, as atividades de: identificar, separar, e limpar.

O reconhecimento da importância da compostagem se dá em várias esferas, inclusive aquela responsável pela formulação das políticas nacionais de contingências nesta área, que em Sette et al. (2010), acerca da Política Nacional de Resíduos Sólidos (2010), aparece como:

Há também a possibilidade de reaproveitar parte dos resíduos orgânicos pela compostagem, que consiste em um conjunto de técnicas aplicadas para controlar a decomposição de materiais orgânicos, com a finalidade de obter, no menor tempo possível, um material estável, rico em húmus e nutrientes minerais, com atributos físicos, químicos e biológicos superiores (sob o aspecto agronômico) àqueles encontrados na(s) matéria(s) prima(s), a exemplo, do adubo orgânico.

No âmbito da normatização, reconhece-se também a consolidação progressiva das leis

que regem a série ISO 14000, tais quais as formantes da ISO 14040, acerca da avaliação do Ciclo de Vida do Produto, compreendendo ações de estruturação para a análise, definição do âmbito de análise e análise aprofundada, avaliação, interpretação da avaliação, e apresentação da avaliação, ou seja, todas as etapas relativas à documentação de uma situação produtiva analisada por critérios de validade legal. Sendo assim, a partir da reiteração da importância das atividades de indução de resíduos ao estado de humificação e seu pertencimento como prioridade governamental nos fins dados a resíduos sólidos, as ações projetuais requeridas pelo escopo de projeto desenham uma oferta de serviço a ser produzido pela ação da compostagem e exposta pelo produto a ser desenhado por este projeto, tal qual em seu ciclo de vida expandido:


Figura 3 - Ciclo de vida na óptica do serviço/produto apresentado

Fonte: Pimentel, 2012 Sendo assim, os benefícios da atividade de compostagem dentro do desenho da vida

do produto para o intuito realizado no recorte teórico aqui apresentado, se resumem na capacidade de habilitar a percepção do sistema-produto, a partir da redução de níveis de poluição intrínsecos da produção e consumo, formando um fluxo fechado das etapas de ciclo de vida de forma hábil a se responsabilizar sobre resíduos sólidos e gasosos, em fases antecipadas de análise de impacto ambiental, até a conseqüente minimização de sua pegada ambiental (KAZAZIAN, 2005, p. 86), portanto, contribuições de ordem organizacional e de execução de metas, para qual o projeto fora idealizado.

A composteira: um produto motivacional/ educativo Scolari (2008) afirma que se faz necessário haver um entendimento entre produto e usuário e a relação emocional homem-produto. Assim sendo, verifica-se a importância relacionada às emoções do público alvo e como podem interferir ou modificar e motivar determinadas ações.

O papel do designer nesse processo de incentivo a aquisição de hábitos diferentes é de extrema importância na área de educação ambiental. Diversos produtos voltados para a compostagem são utilizados na busca da diminuição dos decorrentes impactos negativos no solo e no ar. Portanto tais produtos poderiam estar sendo utilizados como ferramenta para a educação ambiental em escolas, trazendo além da diminuição de resíduos nos lixões a aquisição do produto final: o adubo orgânico, produto esse, capaz de fertilizar hortas e jardins da própria escola e comunidade, dispensando o uso dos pesticidas causadores de tantos males. Vale ressaltar os inúmeros danos causados pelo pesticida DDT, usado em demasia após segunda guerra mundial. O pesticida foi proibido nos EUA 10 anos após publicação do livro Primavera Silenciosa (CARSON, 2010).

A ativista americana Annie Leonard, relata em seu documentário Story of Stuff (HISTÓRIA DAS COISAS, 2005), que nem se todos reciclassem os resíduos, o problema do planeta não seria totalmente resolvido, no entanto reforça que existe uma necessidade imediata de mudanças de hábitos. Neste contexto a composteira surge como um produto de design motivacional e eficiente na educação ambiental, sendo o design apontado com uma tangente solucionadora de problemas de educação.

Os problemas de resíduos sólidos nos mostram uma enorme variedade de tipos e origem de resíduos. Além dos resíduos orgânicos, esse presente artigo, aborda a preocupação


com materiais inservíveis descartados no meio ambiente de forma errada, tais como: o pneu e o alumínio.

Utilizando-se do design vernacular, muito comum no interior do país onde o designer formal não atua, os artesãos desempenham papel no design social, beneficiando a sociedade e a economia local. (MARGOLIN e MARGOLIN, 2004 apud OLIVEIRA, 2011).

A exemplo disto, tem-se em Pernambuco a produção artesanal de lixeiros fabricados a partir do reaproveitamento do pneu (figura 4), retirando de locais inapropriados uma grande quantidade de pneus inservíveis todos os meses das ruas e lixões do agreste Pernambucano.

Figura 4: lixeiros fabricados a partir do reaproveitamento do pneu

Fonte: Moura, 2011

A partir dessa prática foi desenvolvido um projeto de conclusão de curso2, relacionando design e sustentabilidade, que resultou em uma composteira produzida com 100% de materiais reutilizados (figura 5). Este projeto retirou, além do lixo orgânico, pneus e sucata de ferro dos lixões do agreste pernambucano, o que fez surgir, desta forma, uma ferramenta para o trabalho da educação ambiental com jovens em idade escolar (MOURA, 2011). 2 Este artigo é parte do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Design do Centro Acadêmico do agreste, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/CAA) intitulado ‘Desenvolvimento de composteira

como instrumento de educação ambiental para escolas públicas de Caruaru no agreste pernambucano‘, orientado pelo Prof. Doutorando em Design (UNESP/UFPE), Emilio Augusto Gomes de Oliveira, em 2011.


Figura 5: Composteira fabricado a partir do reaproveitamento do pneu

Fonte: Moura, 2011

Após realizar pesquisa em escolas públicas de Caruaru, sobre a necessidade de criar produtos de design, foi desenvolvida a Insect Compost, um projeto voltado para o reaproveitamento de materiais, que atende os princípios do Life Cycle Design, propostos por Manzini e Vezzoli (2008):

• Minimização dos recursos: reduzir o uso de materiais e de energia na produção do

produto;

• Escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental: selecionar os materiais, os processos e as fontes energéticas de maior ecocompatibilidade;

• Otimização da vida dos produtos: projetar artefatos que perdurem;

• Extensão da vida dos materiais: projetar em função da valorização (reaplicação) dos materiais descartados;

• Facilidade de desmontagem: projetar em função da facilidade de separação das partes e dos materiais.

Nos projetos de design existem alguns fatores importantes, tais como as funções

estética, simbólica e prática, que podem ser decisivos na escolha de determinados produtos obedecendo os desejos dos consumidores (LÖBACH, 2001). Sendo assim, o projeto da composteira Insect Compost, atende as funções que um produto de design exige. Em se tratando de um produto voltado para o público jovem, enfatizou-se na pesquisa, a função simbólica como resultado de entrevistas sobre a preferência por insetos que se alimentam de vegetais. Por ser uma composteira deste tipo de resíduos, a maioria dos entrevistados apontou as abelhas e as joaninhas como insetos bonitos e atraentes, sendo assim selecionadas essas características atrativas opcionais para as escolas (figura 6).


Figura 6: Composteira fabricado a partir do reaproveitamento do pneu, com asas de joaninha

Fonte: Moura, 2011

Motivar os jovens em idade escolar é um grande passo rumo ao controle dos resíduos, No entanto, necessita-se mudar hábitos nas residências, atingindo um maior número de pessoas para que assim mais jovens e adultos se conscientizem dos deveres de cuidar do planeta. Sendo o alumínio um material abundante na terra, utilizado em grade escala e em diversos produtos, o seu conseqüente descarte exige decisões acertadas no controle deste resíduo. Buscando resolver problemas de educação ambiental, problemas sociais e de reaproveitamento deste material, foi também projetada a composteira ColoidAl (figura 7).

Figura 7: Projeto Conceitual de Composteira Coloidal fabricado a partir do reaproveitamento de

alumínio Fonte: Pimentel, 2009

Em comparação com a Insect Compost, a Coloidal faz compostagem de outros tipos

de resíduos além dos vegetais. É compacta e elétrica, facilitando o uso para o público alvo a que se destina, sendo, portanto, mais um produto de design como ferramenta no controle dos resíduos sólidos orgânicos.


Considerações finais Este trabalho apresentou uma interrelação entre pesquisas acadêmicas em dois

cenários distintos, nos Estados de Pernambuco e do Pará, tendo como objeto de estudo, a abordagem da utilização do processo de compostagem via design.

O objetivo da experiência local em Pernambuco em relação ao desenvolvimento de uma composteira para educação ambiental em escolas Públicas de Caruaru, denominada Insect Compost propôs, dentre outras coisas, concientizar o maior número de crianças e adolescentes da região e a partir destes, os adultos.

Especificamente, a idéia de se utilizar a borracha do pneu para a confecção da composteira, tem um sentido diferenciado para os cidadãos da região, pois, é comum naquela zona urbana a utilização de lixeiros de borracha de pneu. Proporcionar outra função a um produto que junta o lixo e “organiza-o” de forma equivocada, torna-se mais uma maneira de mudança de hábitos. Assim, é possível demonstrar que é possível retirar de materiais considerados inservíveis, benefícios para o ecossistema.

Acerca da ColoidAl, o projeto apresenta um desenho que finaliza em um Trabalho e Conclusão de Curso, mediante uma pesquisa de continuidade em três anos, sendo de forma consecutiva objetivada com três focos respectivos: gestão da reciclagem, novos mercados e produtos intrinsecamente sustentáveis. Verifica-se neste projeto, um atrelamento a uma elaboração que o conceberia como ferramenta de uma plataforma gestionária maior (como a de um projeto voltado a reciclagem), que não o da própria criação de novo produtos.

Seu uso foi conclusivamente pensado para ambientes domésticos amplos, uma locação com cômodos capazes de interligar áreas de fácil limpeza, aeração, e manuseio de resíduos orgânicos relacionados à alimentação doméstica.

Na análise desta proposta para um serviço/produto intrinsecamente sustentável, e que converge toda a atividade projectual a uma oferta de resultado conivente com a redução de um impacto ambiental, percebeu-se também em certo grau uma função social capaz de outorgar e vincular a responsabilidade ativa e consciente do usuário na participação e produção de resultados afins com o objetivo sustentável.

Em suma, são experiências que contribuem para a sustentabilidade, visto que vivemos em uma época que sofre com os resultados e consequências do descontrole dos humanos há muitas décadas. Urge, portanto, disseminar práticas desta natureza, além das mudanças de hábitos no que se diz respeito aos desejos, solidariedade, amor ao próximo e ao planeta, bem como à educação.

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