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Universidade do Vale do Itajaí Campus São José Curso de Relações Internacionais A CONDICIONANTE DE ORIGINALIDADE NA ADESÃO DA TURQUIA À UNIÃO EUROPÉIA JULIANA WÜST PANCERI Trabalho de Conclusão de Curso apresen- tado à banca examinadora do curso de Re- lações Internacionais como parte das e- xigências para a obtenção do título de ba- charel em Relações Internacionais, pela Universidade do Vale do Itajaí. Professora Orientadora: Drª Karine de Souza Silva UNIVALI São José - 2008

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Universidade do Vale do Itajaí Campus São José Curso de Relações Internacionais

A CONDICIONANTE DE ORIGINALIDADE NA ADESÃO DA TURQUIA À UNIÃO EUROPÉIA

JULIANA WÜST PANCERI

Trabalho de Conclusão de Curso apresen-tado à banca examinadora do curso de Re-lações Internacionais como parte das e-xigências para a obtenção do título de ba-charel em Relações Internacionais, pela Universidade do Vale do Itajaí.

Professora Orientadora: Drª Karine de Souza Silva

UNIVALI São José - 2008

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RESUMO

Palavras-chave: União Européia, alargamentos, Turquia.

ABSTRACT

Palavras-chave: European Union, enlargements, Turkey

A União Européia teve sua trajetória histórica marcada por sucessivos alargamentos, com-pondo-se atualmente por vinte e sete Estados-membros e estando ainda aberta a novas ade-sões, dentre as quais se destaca a possível acessão da Turquia. Todas as negociações para ascendência à supracitada organização envolveram a conciliação de interesses políticos, socais e econômicos por parte dos atores envolvidos, fato a qual não escapa o caso turco, cujas tratativas para integração caracterizam-se como as mais longas da história do bloco. O objetivo deste artigo é investigar os traços condicionantes que impõem caráter de notada originalidade às controversas negociações para ingresso da Turquia na União Européia em relação aos alargamentos anteriores. Assim, primeiramente serão relatados cronologica-mente as etapas de expansão e os requisitos para candidatura de novos sócios. Na seqüência é explanado o controverso relacionamento entre o Estado Turco e a organização. Por fim, abre-se espaço para as reflexões sobre a peculiaridade do caso turco em comparação as adesões precedentes. Utilizando-se, portanto, do método indutivo de pesquisa, o presente texto encaminhar-se-á dentro do rol de discussões acadêmicas vinculadas ao estudo do a-profundamento do modelo de integração mais avançado da sociedade internacional.

The European Union that had its historic path marked by successive enlargements is cur-rently composed by twenty-seven Member States and is still open to new integration processes, among which stands out the possible accession of Turkey. All negotiations to enter in the aforementioned organization are pointed by political, social and economic factors, situation which does not escape the Turkish case, whose has the longest period of negotiation for integration. The main goal of the present article is to investigate the traits that define the character of originality of the negotiations of Turkey's entry into the Euro-pean Union in respect of previous enlargements. Firstly, it will be reported the steps of expansion of the Union and the requirements for applications for new members. Secondly, it will be exposed the historic and controversial relationship between the Turkey and the organization. Finally, a space will be open for reflections about the peculiarity of the Turkish case compared with the previous integrations. Using the inductive method of re-search, this text forwards within the list of discussions related to academic studies of more advanced model of integration of the international society

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A CONDICIONANTE DE ORIGINALIDADE NA ADESÃO DA TURQUIA À UNIÃO EUROPÉIA

Juliana Wüst Panceri1

1. Introdução. 2. Os processos de alargamento da União Européia. 3. O

histórico relacionamento entre Turquia e União Européia 4. A condicio-

nante de originalidade do processo de adesão turco. 5. Considerações fi-

nais. Referências.

1. INTRODUÇÃO

O caminhar integracionista europeu, iniciado com a aliança de seis Estado sob os

auspícios da Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), na década de 1950, já com-

porta atualmente vinte e sete países que gravitam o eixo da União Européia (UE). Esta orga-

nização teve seu histórico marcado por sucessivos alargamentos e encontra-se ainda aberta a

novas adesões. Apresenta, portanto, uma trajetória de conjugação de interesses e superação de

divergências por parte de todos os atores envolvidos.

No referido decurso, inegavelmente, todas as tratativas para acessões ao bloco en-

frentaram algum tipo de dificuldade, no âmbito econômico, político ou social, sendo efetiva-

das quando da satisfatória superação dos mencionados impedimentos. O presente processo de

adesão da República da Turquia, além dos fatores supracitados, é permeado pelo debate da

diferença cultural. Vale salientar que a integração turca, cuja negociação é a mais longa já

vivenciada pela UE, mostra-se incerta, ainda que sejam observados os requisitos mínimos

para a participação plena na União.

Sendo assim, o presente artigo propõe-se a investigar os traços condicionantes que

impõem caráter de notada originalidade às controversas negociações para ingresso da Turquia

na União Européia em relação aos alargamentos anteriores. Para tal fim, o primeiro capítulo

deste texto relata cronologicamente os citados processos de alargamento e os requisitos para

candidaturas de novos sócios. Na seqüência, o segundo item apresentará as diversas etapas

1 Para confecção do presente trabalho, foram utilizadas algumas obras de origem estrangeira, cuja tradução, em caráter não oficial, é de responsabilidade da autora.

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históricas do relacionamento e das negociações estabelecidas entre a República Turca. Por

fim, identificar-se-ão as condicionantes que impõem um perfil de inusitada originalidade às

tratativas para o ingresso da Turquia, se comparadas aos anteriores processos de expansão do

bloco.

Utilizando-se, portanto, do método indutivo de pesquisa, o presente texto encami-

nhar-se-á dentro do rol de discussões acadêmicas vinculadas ao estudo do aprofundamento do

modelo de integração mais avançado da sociedade internacional.

2. OS PROCESSOS DE ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPÉIA

Recém-saída de seu sexto alargamento, a União Européia compreende hoje quase

que a totalidade da área geograficamente reconhecida como continente europeu. Nessa traje-

tória de expansão territorial, a organização evoluiu para além da originária cooperação eco-

nômica, configurando um ambiente de integração política, jurídica e social, em uma sistemá-

tica de aprofundamento das relações entre os membros do bloco. Neste processo, a UE teve

suas fronteiras expandidas para os países do Leste Europeu. Ultrapassou-se, portanto, o limite

que, por décadas, dividiu o Velho Continente em realidades sócio-econômicas diferenciadas

em virtude da Guerra Fria.

Essa Europa ampliada e diversificada vê-se agora frente a um novo desafio: aceitar

ou não a Turquia como Estado-membro. Uma marca fundamental desse processo são as rele-

vantes diferenças culturais e de cunho principalmente religioso entre o mencionado país e os

atuais da União. Com o presente cenário, e levando-se em consideração o já controverso rela-

cionamento entre UE e República Turca, as autoridades européias vêem-se perante um delica-

do debate cultural que coloca em destaque a seletividade do bloco e a subjetividade das con-

dições de aceite impostas a novos membros. Ademais, as reflexões em torno de uma futura

acessão do Estado turco acabaram por reanimar o interesse da sociedade em avivar discussões

envolvendo a definição da identidade do organismo europeu, bem como sobre seu limite de

expansão.

Até a abertura das negociações para entrada da Turquia, a União Européia percorreu

uma longa trajetória iniciada após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando começou a ser

estruturada na Europa uma organização que viesse a solidificar um ambiente de paz e prospe-

ridade econômica entre os países vizinhos. A efetiva integração dos Estados europeus, já pre-

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sente nas reflexões de vários teóricos2, teve como pedra basilar a Comunidade Européia do

Carvão e do Aço (CECA)3 em 1951, com a participação da França, Alemanha, Itália, Holan-

da, Bélgica e Luxemburgo. Estes mesmos países, em 1957, assinaram o Tratado de Roma que

fundou a Comunidade Econômica Européia (CEE) e a Comunidade Européia da Energia A-

tômica (CEEA)4. É nesse momento, segundo Odete Maria de Oliveira, que surge “uma nova

Europa: a Europa da integração supranacional”5. Seguindo um roteiro estabelecido pelo Direi-

to Comunitário6, o movimento integracionista expandiu seus limites para muito além dos seis

Estados fundadores, contando atualmente com vinte e sete membros plenos. Levando-se em

consideração esta significativa ampliação, faz-se premente discutir as motivações que induzi-

ram tantos países a aderir a Comunidade Européia, bem como refletir a respeito das variantes

envolvidas em cada processo de aceite ou recusa por parte da Organização aos candidatos.

Sendo assim, inicialmente vale ressaltar que a integração nem sempre linear, com su-

as etapas de institucionalização e alargamentos, foi permeada de objetivos comuns, mas, tam-

bém, em última instância, por uma intrincada rede de relações e interesses políticos de cada

país. Com relação a isso, Neill Nugent salienta que: 2 Nesse sentido consultar: MANGAS MARTÍN, A., LIÑÁN NOGUERAS, D. J. Instituciones y derecho de la

Unión Europea. 2. ed. Madrid: McGraw-Hill, 2003, p.33. 3 Este organismo possuía como norte o Plano Schuman, que propunha colocar sob a gerência de uma alta autori-dade comum a utilização dos recursos minerais da região. Procurava-se, com isso, pôr termo à histórica rivalida-de franco-germânica no mencionado setor. O autor da referida estratégia foi o notório diplomata do governo Frances, Jean Monet. “(...) O plano visava estabelecer uma trajetória de fusão das soberanias francesa e alemã, rompendo a lógica de conflito nacional que prevalecera até então. (...) Na ótica de Monnet, o Plano Schuman representava uma estratégia de política externa, na qual os aspectos econômicos eram quase que apenas um pre-texto”. MAGNOLI, D. União Européia: história e geopolítica. 5.ed. São Paulo: Moderna, 1995. p. 33. 4 BORCHARDT, K. ABC do Direito Comunitário. Luxemburgo: Publicações oficiais das Comunidades Euro-péias, 2000. p.8. 5 OLIVEIRA, O. M. de. União Européia: processos de integração e mutação. Curitiba: Juruá. 2005. p. 96. Nesse sentido, conforme comenta Borchardt, cabe ressaltar que a União Européia distinguiu-se das demais formas de associação entre Estados pelo fato de seus membros renunciarem a partes de suas soberanias em prol da referida organização, conferindo a esta poderes independentes e a competência de promulgar atos de igual valia a atos nacionais. BORCHARDT, op. cit., p.8. 6 O processo de entrada de um novo integrante na organização inicia-se com a candidatura do Estado perante o Conselho Europeu, instituição a qual cabe a prerrogativa de definir sobre a aceitabilidade dessa solicitação. Após o aceite do Conselho, a Comissão divulga um parecer oficial relatando a situação política e econômica do país requerente, bem como uma recomendação sobre início imediato das tratativas para adesão, ou atraso das mes-mas. No caso de recomendações para retardamento do início do processo, costuma-se produzir um plano de ação, normalmente envolvendo acordos de associação entre a UE e o Estado candidato, visando à aproximação destes e objetivando reforçar a candidatura do pretendente, fornecendo mecanismos para correção dos “proble-mas” apontados no relatório da Comissão. A partir das conclusões da Comissão, se o Conselho aceitar a abertura do processo de adesão, é definida uma data para início das negociações. Esta futura etapa compreendem o traba-lho de grupos de especialistas em diversas áreas envolvidas (política, economia, direito, etc.), escolhidos pela Comissão, que definirá a posição oficial da União Européia para com o Estado demandante. Com a concordância de que os termos da União foram satisfatoriamente cumpridos, está terminado o processo de adesão. Conclusi-vamente, na seqüência da aprovação do Conselho de Ministros é elaborado um Tratado de Adesão, o qual terá de ser aprovado pelo Parlamento da UE e, posteriormente, pelo parlamento do país candidato . Respeitam-se assim, os interesses dos “três componentes” da organização: os Estados, a população e a própria UE. ALARGAMEN-TO: Unificação de um continente. Disponível em: <http:// europa.eu/scadPlus/ leg/pt/lvb/li4536.htm> Acessado em: 21 setembro 2008

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A UE deve (...) ser vista no contexto das forças que a fizeram e continuam fazendo. Algumas destas forças servem para aproximar os Estados. Outras resultaram em progresso através de cooperação e integração por vezes lenta, difícil e contestada.7

Nesse sentido, não devem ser consideradas somente as motivações dos Estados que

buscaram e ainda pretendem aderir à União Européia, mas também as pretensões da Organi-

zação em si, enquanto mais propensa ou não a aceitar determinados países (por exemplo, Áus-

tria, Finlândia e Suécia), ou recusar sistematicamente outro, como ocorre no caso turco. Vale

ainda comentar a situação de alguns Estados que, apesar de haverem cumprido todos os requi-

sitos necessários, como Noruega, Suíça e Islândia, não foram autorizados por suas populações

a aderirem ao bloco. Com isso, fica evidente que cada etapa do alargamento da UE compre-

ende uma variada gama de interesses, de forças centrípetas e centrífugas, onde algumas se

sobressaem na efetivação da Adesão.

Após estas reflexões, e pretendendo definir as condicionantes acima questionadas, i-

nicia-se o estudo de cada processo de adesão. O primeiro deles envolveu o Reino Unido, a

Irlanda e a Dinamarca8 em 1973. Embora não seja possível negar as motivações econômicas9,

este processo foi marcado também por fatores políticos. O principal fator a motivar a adesão

inglesa seria o destaque político que a França havia adquirido na Comunidade Européia. Na

época, a política externa de Charles de Gaulle continha elementos de cooperação e defesa que

não incluíam a Organização do Tratado do Atlântico Norte10, marginalizando-a no cenário

geopolítico europeu. Demonstrava também certa hostilidade para com os Estados Unidos da

América, históricos aliados britânicos. Em função desses fatores, o governo inglês, sob cres-

cente pressão americana, foi impulsionado a unir-se à antiga CEE, com o objetivo de ser um

contrapeso à ascensão política francesa11. Dentro da lógica acima apontada, percebia-se tam-

7 NUGENT, N. The government and politics of the European Union. 5.ed. New York: Palgrave Macmillan, 2003, p. 1. 8 O Reino Unido (RU) foi convidado por Jean Monnet, quando da estruturação da CECA, para ser um dos países fundadores desta organização embrionária da União Européia, convite este que foi recusado. Na seqüência, por duas vezes (em 1961 e depois em 1967), o RU intencionou aderir à CEE, mas teve sua entrada vetada pela Fran-ça de De Gaulle. MANGAS MARTÍN; LIÑÁN NOGUERAS, op.cit., p.45. 9 Segundo Moravcsik (1998 apud BACHE; GEORGE, 2006, p.540) “a candidatura inglesa objetivava primeira-mente o progresso duradouro de seus interesses comerciais”. Fato este decorrente da diminuição da importância comercial, para Inglaterra, dos países da Commonwealth e da crescente relevância das trocas comerciais com os demais países desenvolvidos do continente europeu. BACHE, I.; GEORGE, S. Politics in the European Union. 2.ed. New York: Oxford University Press Inc.2006. p.540. 10 BACHE; GEORGE, op.cit., p.540. 11 Para Krok-Paszkowska e Zielonka, foi em decorrência da percepção desta postura britânica que se produziram os dois vetos franceses à candidatura inglesa, sendo que a França “via a Inglaterra como um potencial ‘cavalo de Tróia’ americano na CEE”. KROK-PASZKOWSKA, A.; ZIELONKA, J. European Union Enlargment. In: HAY, C.; MENON, A. (Org.). European Politics. New York: Oxford University Press Inc., 2007, cap. 21, p.370.

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bém nos demais países membros da CEE uma postura favorável à acessão inglesa, haja vista

que caberia à Inglaterra conter a hegemonia da França dentro do bloco12.

Na década seguinte, Grécia (1981), Portugal e Espanha (1986) aproximaram-se das

Comunidades. Estes alargamentos foram impulsionados pela tentativa européia de cimentar

nesses países os sistemas democráticos recém re-instaurados. Para garantir a estabilidade do

continente, a Comunidade aportou pesados auxílios econômicos e incentivou a consolidação

do Estado de Direito nos referidos candidatos. Estes três países, por sua vez, encontraram na

CEE suporte para suas reestruturações política e econômica. Em contrapartida, Portugal e

Espanha eram considerados estratégicos para a CEE em virtude de suas posições geográficas

e do histórico relacionamento com suas ex-colônias, principalmente as da América Latina,

fato que facilitaria o contato europeu com mercados em potencial13. Ademais, os três Estados

constituíam uma barreira ao sul da Europa, onde poderiam atuar como negociadores com os

vizinhos dos outros continentes, em especial com a região no Magreb, no Norte da África.

A queda do Muro de Berlim representou o fim da divisão ideológica do continente e

abriu as portas para a aproximação de muitos países à UE. Já em 1990, com a reunificação da

Alemanha, o território da Alemanha Oriental passou a fazer parte da CEE. Na seqüência, o

quarto alargamento foi efetuado em 1995, com as acessões de Áustria, Finlândia e Suécia, três

países historicamente considerados neutros. Considera-se que a ocorrência das referidas ade-

sões foi possível, pois o status de não-alinhados, cuja tentativa de manutenção os havia deixa-

do de fora da UE, foi despojado em muito de seu significado, com a desintegração do Império

Soviético e com o final da Guerra Fria14. É certo também que a adesão destes países foi moti-

vada pelo interesse de participarem ativamente do jogo político europeu. Eles já haviam assi-

nado acordos no âmbito do mercado comum europeu, mas, por não serem membros do bloco,

estavam excluídos da elaboração das regras que deviam obedecer. Sendo assim, estes antigos

“sócios” da União Européia, via tratados de cooperação15, finalmente aderiram à esta e passa-

ram a ocupar uma posição ativa na tomada de decisões da organização.

Para a UE, Áustria, Finlândia e Suécia, juntamente com Noruega e Suíça, eram con-

sideradas economicamente “saudáveis e contribuintes líquidos em potencial para o orçamento

comunitário, que estaria sobre grande pressão se os países do centro e leste europeu fossem

12 Nesse sentido, consultar BACHE; GEORGE, op. cit., p. 540. 13 TAIBO, C. Crítica de la Unión Europea: argumentos para la izquierda que resiste. Madri: Catarata, 2006. 14 KROK-PASZKOWSKA; ZIELONKA, op. cit., p.370. 15 Sobre histórico dos acordos de cooperação econômica da UE consultar: EFTA History at a glance . Disponível em: <http://www.efta. int/content/about-efta/history >. Acessado em: junho 2008.

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eventualmente aceitos”16. Estas adesões já se caracterizavam então como um ganho de reser-

vas da UE, uma preparação para o porvir.

Nesse momento, cabe comentar ainda as negativas da Suíça e da Noruega que, por vo-

to de seus cidadãos, permanecem de fora da União Européia. A população suíça, segundo

dados oficiais, disse não à entrada de seu país na União nos referendos de 1992 e 2001, pois

entendia que “as instituições filiadas a UE não cumpriam plenamente os requisitos democráti-

cos”17, e sendo assim, não se adequavam ao sistema Suíço de democracia direta. Com isso, o

modelo Suíço “necessitaria de reformas drásticas e limitação para atender a todas as regras da

UE”18. Além do que, havia na sociedade suíça a preocupação de que seu país viesse a ser um

grande contribuinte dos cofres da organização sem obter a devida contrapartida, enquanto que

poderia ter sua tão prezada neutralidade atingida com a adesão19. A Noruega, por sua vez,

manteve-se fora do bloco (devido a resultados dos referendos populares de 1972 e 1994), em

função de suspeitas de que as políticas agrícolas, pesqueira e a soberania norueguesa pudes-

sem ser, de alguma forma, lesadas pela adesão20. Não obstante, “opositores à acessão argu-

mentavam que a Noruega não precisava unir-se ao bloco, haja vista o fato de ser um país

próspero que, devido à Área Econômica Européia, já possuía os acordos comercias necessá-

rios com a UE”. Por motivos semelhantes, a Islândia também manteve-se à parte de qualquer

tentativa de ingresso na União21.

Concluído o alargamento em direção aos países ocidentais deste continente, nos idos

da década de 1990, começou a ser considerada a necessidade de reestruturação das institui-

ções da UE para adequarem-se a uma realidade mais alargada, politicamente diversificada e

populacionalmente ampliada. As evidências de futuros alargamentos proporcionaram aos líde-

res europeus o temor de que novas adesões acabassem por ocasionar uma paralisação da es-

trutura institucional européia. Tendo como um de seus objetivos minimizar este temor, foram

16 BACHE; GEORGE, op.cit., p.547. 17 Perfil da Suiça. SwissInfo Online. Disponível em: <http://www.swissinfo.ch/por/sobre_a_suica/per-fil_da_Suica/Suica_e_a_Uniao_Europeia.html?siteSect=2605&sid=6705895&cKey=1207303379000&ty=st> Acessado em: 22 agosto 2008. 18 Idem. 19 Idem. 20 MANGAS MARTÍN; LIÑÁN NOGUERAS, op. cit., p.45. 21 A Islândia foi o único Estado europeu a não solicitar adesão. O principal argumento da opinião pública contra a acessão islandesa decorre do temor de uma possível perda de controle por parte do referido país sobre seus recursos naturais, nomeadamente recursos pesqueiros em função da Política Comum das Pescas da UE. Os opo-sitores apontam também para o bom desempenho da economia islandesa como um sinal de que não existe uma necessidade premente para aderir à UE. Afirma-se que a Área Econômica Européia (da qual a Islândia faz parte desde 1994) já traz a maioria dos potenciais benefícios de uma integração, sem os custos também vinculados a esta. NUGENT, op. cit., p. 33.

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elaborados pelos Estados-membros os Tratado de Maastricht (1993), Amsterdã (1997) e Nice

(2001)22.

O artigo 49 do Tratado de Maastricht definiu os critérios de adesão. De acordo com o

artigo “qualquer Estado europeu que respeite os princípios enunciados no nº 1 do artigo 6º

pode pedir para se tornar membro da União.23 Os princípios mencionados referentes ao artigo

6º do TUE são: liberdade, democracia, respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fun-

damentais e o Estado de Direito24.

No tocante ao Tratado de Amsterdã, destaca-se neste “a introdução no Tratado da UE

de uma cláusula de flexibilidade (...). Estava assim, aberta a via, não obstante os limites im-

postos por certas exigências, para uma Europa de várias velocidades.”25. No Tratado de Nice

foram postas em debate questões como o tamanho e composição da Comissão26, pesos dos

votos no Conselho e extensão da votação por maioria qualificada.27. Estavam, assim, lançadas

algumas bases dos próximos alargamentos da União Européia.

Por fim, após anos de preparativos por parte da União Européia e também por parte

dos Estados candidatos, ainda sob os reflexos da Guerra Fria e sob a influência do fim da di-

visão do continente, concretizou-se em 2004 o maior alargamento do bloco, com a acessão de

Chipre, República Checa, Estônia, Hungria, Eslovênia, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia e

Eslováquia. Para Bache e George, este processo, que incorporou à União dez novos países, foi

uma tentativa das ex-repúblicas soviéticas de firmarem suas posições como “européias” e,

22 KROK-PASZKOWSKA; ZIELONKA, op. cit., p.370. 23ARTIGO 49 do TUE. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/pt/treaties/dat/11997M/htm/11997 M.html#0145010077> Acessado em: 14 de maio de 2008. 24 ARTIGO 6º do TUE. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/pt/treaties/dat/11997M/htm/ 11997M.html#0145010077> Acessado em: 14 de maio de 2008. 25 BORCHARDT, op. cit., 2000. p.8. Com relação à Europa de várias velocidades, Maria Amparo Alcoceba assinala tratar-se este de um modelo integração que permite a existência de diversos níveis de integração dentro da União, por um período de tempo indeterminado, mas não infinito. A origem deste sistema fundamenta-se na falta de capacidade objetiva de um Estado-membro de assumir efetivamente, em um dado momento, a execução de determinado objetivo aos quais se comprometeu juridicamente, da mesma maneira que todos os outros mem-bros do bloco. Esta autora ressalta que os Estados que estejam seguindo “velocidades diferenciadas” têm obriga-ção jurídica de superar sua incapacidade de cumprir com determinado objetivo da UE o mais breve possível. Além do sistema de várias velocidades Maria Amparo ainda refere-se ao que muitos denominam de Europa à la

carte, ou seja, níveis de integração diferenciadas em algumas áreas com relação a determinados assuntos. Este modelo encontraria sua origem no fato de que nem todos os Estados “estão igualmente dispostos a avançar no processo integracionista”, tratando-se, portanto, de uma questão de vontade e não de capacidade, como no pri-meiro caso. Nesse sentido, consultar: ALCOCEBA, M. A. Fragmentatión y diversidade em lá construcción

Europea. Valencia: Tirant lo Blanch, 2005. 26 Nesse sentido consultar: Tratado de Nice: Modo de utilização: A Comissão Européia. Disponível em: <http://europa.eu /scadplus/nice_treaty/commission_pt.htm#COMPOSITION>. Acessado em 23 de setembro de 2008. 27 Nesse sentido consultar: Tratado de Nice: Modo de utilização: O Conselho da União Européia. Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/nice_treaty/council_pt.htm#DEFINITION> Acessado em 23 de setembro de 2008.

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assim, afastarem qualquer possibilidade de retorno à esfera de influência Russa28. Ademais,

considerações sobre a segurança européia levaram os países já membros a aceitarem os pro-

cessos de adesão (apesar das grandes disparidades econômicas), haja vista a instabilidade po-

lítica que imperava na maioria dos países do leste europeu29.

O professor espanhol Carlos Taibo advoga que a UE foi a grande beneficiada com o

referido processo de alargamento, uma vez que trouxe para dentro de suas fronteiras um am-

plo mercado consumidor, além de numerosa e barata mão-de-obra. Com isso, a organização

manteve nos seus limites geográficos grandes empresas que estavam transferindo seus capitas

para o leste europeu em busca das condições flexibilizadas de direitos sociais. Segundo Taibo,

“o regime de relações comerciais entre a União e os países da Europa central e do leste se

caracterizam, em qualquer caso, por um notável superávit em benefício da primeira”30 .

Cabe ressaltar que, no processo de alargamento findado em 2004, foi pela primeira

vez imposta aos candidatos a obrigação de observância de algumas condições para efetivação

da adesão. Estes requisitos, conhecidos como Critérios de Copenhague, formalizados na con-

ferência intergovernamental de 1993, determinam que, para fazer parte da União, os Estados

candidatos devem apresentar: a) a presença de instituições estáveis, que garantam a democra-

cia, o Estado de Direito, os direitos humanos, o respeito pelas minorias e a sua proteção-

critério político; b) a existência de uma economia de mercado em funcionamento e a capaci-

dade para fazer face à pressão da concorrência e às forças de mercado no interior da União

Européia - critério econômico; c) a capacidade para assumir as obrigações decorrentes da in-

tegração, incluindo a adesão aos objetivos de união política, econômica e monetária - critério

da adoção do acervo comunitário. A União Européia, por sua vez, de acordo com as determi-

nações de Copenhague, deve ter capacidade para absorver novos membros sem prejudicar o

caminhar da integração européia. 31 Os supracitados requisitos configuram uma clarificação

das condicionantes impostas aos pedidos de adesão pelo já mencionado artigo 49 do TUE32.

Devido à não observância por completo das condições mencionadas, a adesão de

Romênia e Bulgária em 2004 foi adiada33. Em 2007, com a verificação do cumprimento dos

28 BACHE; GEORGE, op. cit., p.548 29 Como exemplo da mencionada instabilidade, há que se citar os conflitos na região dos Bálcãs, envolvendo territórios da Ex-Iugoslávia que resultaram na Guerra do Kosovo e desmembramento deste Estado, desestabili-zando toda região centro-leste européia BACHE; GEORGE, op. cit., p.549. 30 TAIBO, op. cit., p. 80. 31 A respeito dos citados critérios mais informações disponíveis em: < http://ec.europa.eu/ enlargement/ enlar-gement_process/accession_process/criteria/index_en.htm > Acessado em: 30 maio 2008. 32 FONTE: Condições para adesão. Disponível em: <http://europe.eu/pol/ enlarg/overview_pt.htm> Acessado em: 10 agosto 2008. 33 Sobre processos de adesão Búlgara e Romena, consultar: < http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/e40101. htm>. Acessado em: 06 setembro 2008.

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critérios de Copenhague, estes dois países puderam por fim adentrar a União Européia, que

passou a contar então com seus atuais vinte e sete Estados-membros.

Importa salientar que durante os sucessivos alargamentos, a União Européia disponi-

bilizou, via estratégias pré-adesão, consideráveis aportes financeiros aos Estados candidatos.

Os referidos aportes tinham como objetivo auxiliar os países a implantar as reformas estrutu-

rais necessárias ao cumprimento dos requisitos impostos pela própria União. Nessa política,

os principais instrumentos utilizados foram: Acordos bilaterais, os chamados “diálogos políti-

co-econômicos”, parcerias para adesão, programas nacionais para adesão do acervo comunitá-

rio (PNAA) e as assistências financeiras pré-adesão34. Dentre estas assistências encontram-se:

o programa de ajuda comunitária aos países da Europa Central e Oriental (Phare)35, Instru-

mento agrícola de pré-adesão (SAPARD)36e o Instrumento estrutural de pré-adesão (ISPA)37.

Com relação aos próximos alargamentos já se encontra definido que, para o período 2007 a

2013, o auxílio aos candidatos será fornecido pelo Instrumento de Assistência Pré-adesão (I-

AP).38

Composta então por vinte e sete Estados, a União Européia recebeu solicitações de

novos candidatos: Croácia, Turquia, e antiga República Iugoslávia da Macedônia, todos os

países a leste do continente. Tantas adesões do lado oriental do que costumeiramente se com-

preende como continente europeu acabaram por suscitar discussões sobre os limites de expan-

são da organização. Nessa seara, conforme comentam Christopher Hill e Michael Smith, “de-

ve existir uma linha em algum lugar onde a UE termine (...) Mas a linha depois de 2004 ainda

deixa inúmeros Estados de fora, (...) e a UE terá de decidir como manejar com as expectativas

34 Para mais informações sobre os supracitados instrumentos de pré-adesão, consultar: “O processo de adesão de um novo Estado-membro”. Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/l14536.htm> . Acessado em: 09 setembro 2008. 35 O programa de ajuda comunitária aos países da Europa Central e Oriental (Phare – ou Poland/ Hungary Assis-

tance for Reconstruction of Economies), inicialmente destinado apenas à Polônia e à Hungria, passou a constituir o principal instrumento de cooperação financeira e técnica da Comunidade Européia para com os países da Europa Central e Oriental (PECO), candidatos à adesão. O programa concentra-se, essencialmente, em duas prioridades: o reforço das instituições e das administrações; o financiamento dos investimentos. O Programa Phare. Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/e50004.htm> Acessado em: 31 agosto 2008. 36 O SAPARD surge na seqüência da Comunicação da Comissão «Agenda 2000» e das conclusões do Conselho Europeu de Luxemburgo, tendo como objetivo o apoio à agricultura e ao desenvolvimento rural dos países can-didatos da Europa Central e Oriental (PECO). Instrumento agrícola de pré-adesão (SAPARD). Disponível em: < http://europa.eu/ scadplus/leg/pt/lvb/l60023.htm> Acessado em: 31 setembro 2008. 37 O Instrumento pré-adesão (ISPA) dirigiu-se inicialmente aos PECO e propunha apoio financeiro no domínio da coesão econômica e social e, mais especificamente, no domínio do ambiente e dos transportes. Instrumento estrutural de pré-adesão (ISPA). Disponível em: < http://europa.eu/scadplus/leg/pt/lvb/l60022.htm> Acessado em: 31 de agosto de 2008. 38 “(...) o IAP fornece assistência em função dos progressos realizados pelos países beneficiários e das suas ne-cessidades, nos termos do expresso pelas avaliações e pelos documentos de estratégia anuais da Comissão” In: O

processo de adesão de um novo Estado-membro. Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/ leg/pt/leg/pt/lvb/<http > . Acessado em: 09 setembro 2008.

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destes. O “fantasma” do alargamento vai pairar sobre as relações da União Européia com seus

vizinhos por algum tempo porvir.”39

Nesse sentido, ao enfatizar a Europa como realidade em movimento, sendo eterna-

mente construída e reconstruída, configurando não algo pronto e acabado, mas eternamente

uma idéia a ser alcançada40, Zygmund Baumann ainda salienta a dificuldade de definição de

uma identidade européia, haja vista que:

(...) os europeus (no sentido de cidadãos dos Estados-membros da União Eu-ropéia”) ‘tendem a enfatizar a sua diversidade e não o que têm em comum’, ao passo que ‘ao falar de identidade européia não é mais possível restringir o seu escopo aos Estados-membros da UE de qualquer forma que faça sentido do ponto de vista analítico’. E, como insiste o formidável historiador Nor-mam Devis, sempre foi difícil decidir onde começa e onde termina a Europa – geográfica, cultural ou etnicamente. Nada mudou hoje em dia a este respei-to41.

É dentro do questionamento do que venha a ser a União Européia e de quais sejam os

reais critérios aplicados na seleção de novos membros que se encaixa o peculiar caso de aces-

são turca, cujas negociações se arrastam por mais de quatro décadas, como será exposto a

seguir.

3. O HISTÓRICO RELACIONAMENTO ENTRE A TURQUIA E A UE

Localizada em estratégica região de encontro entre Europa, Ásia e Oriente Médio, a

área ocupada atualmente pela República da Turquia foi, desde a antiguidade, um ponto de

comunicação entre a população das citadas regiões. Assim sendo, em sua história o atual terri-

tório turco foi habitada por vários povos, dentre os quais se destacam: gregos, romanos e tur-

co-otomanos que exerceram forte influência na formação histórico-cultural do continente eu-

ropeu42. Como um Estado Moderno, a Turquia surgiu apenas nas primeiras décadas do século

39 SMITH, E. K. Enlargment and European Order. In: HILL, C.; SMITH, M. (Edit.). International relations and

the European Union. 4th ed. New York: Oxford University Press, 2005, cap.13, p.272 40 BAUMANN, Z. Europa: uma aventura inacabada. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006 41 BAUMANN, Z. op. cit., p.11. 42 Os gregos, fundadores da filosofia que norteia o modo de vida ocidental até hoje, instalaram na Península da Anatólia importantes cidades, como Éfeso e Pergamo, levando para estes territórios também alguns traços de sua cultura. Por volta de 68 a.C., a região foi incorporada ao Império Romano, cuja capital, a um dado momento, foi transferida de Roma para Bizâncio. Esta cidade passou a ser a sede do Império Romano do Oriente ou Bizantino que perdurou até o ano de 1453, quando os Otomanos, uma tribo turca, invadiram e conquistaram-na. Em uma

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XX, após o desmembramento do vasto território do Império Turco-Otomano, definido com o

findar da Primeira Guerra Mundial. Sob os auspícios do movimento pela resistência naciona-

lista turca contra o desmembramento do território, liderado por Mustafa Kemal, foi proclama-

da em 1923, em assembléia nacional, a República da Turquia. Nesta mesma ocasião, Kemal

foi eleito presidente da nascente república43.

Mustafa Kemal, também conhecido como Atatuk, ou seja, “Pai dos Turcos”, imple-

mentou reformas que objetivavam difundir na sociedade turca seis princípios, conhecidos

também como ‘seis setas’, os quais seriam: republicanismo, populismo, nacionalismo, esta-

dismo, reformismo e secularismo. O secularismo era a medida mais radical, em oposição a

séculos de tradição de um Império onde a religião islâmica era a base estrutural da organiza-

ção política, jurídica e social. Nesse sentido, com a política Kemalista, foi abolido o sistema

de califado, secularizado o currículo acadêmico e substituído o alfabeto árabe pelo latino.

Também foram desativadas as cortes religiosas, o sistema legal passou a seguir padrões oci-

dentais, aos homens e às mulheres foram conferidos direitos iguais – inclusive a prerrogativa

de voto – e a proibição da poligamia. Ressalta-se que a constituição turca elaborada sob orien-

tações da política de Atatuk, “consagrou no país um compromisso com a laicidade e o repu-

blicanismo”44.

É a partir do mencionado movimento de reformas na estrutura política e social turca

que terá início o controverso relacionamento entre Turquia e União Européia. Sobre as suces-

sivas tentativas do Estado turco em aderir à organização européia, Ian Bache e Stephen Geor-

ge argumentam que este percurso histórico corresponde à “tentativa de uma elite na Turquia,

rápida expansão, os turcos levaram suas fronteiras ao sul da Europa, norte da África e Ásia, constituindo um império norteado pelos preceitos da religião Islâmica. Este império só veio a ser extinto com o fim da Primeira Guerra Mundial e a derrota da Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, pelo Império Austro-Húngaro e Impé-rio Turco-Otomano. The Library of the US Congress. Research Centers. Country Studies: Turkey. Disponível em: <http://countrystudies. us/turkey/2.htm>. Acessado em: 13 de abril de 2008. 43 Com o fim da Primeira Guerra Mundial, foi firmado entre o Império Otomano e os vencedores europeus do conflito (excluindo-se a Rússia) o Tratado de Sevrés (1920) que determinou a dissolução do referido império. A região da Trácia ocidental e uma longa linha territorial do Mar Negro ao Mar de Mármara foram concedidas à Grécia. A resistência nacionalista Turca, estabelecida em Ancara, todavia, não concordava com as divisões feitas pelo acordo. O desentendimento progrediu para um contencioso militar quando a Grécia expandiu-se além dos limites de Sevrés, fato que gerou uma reação militar por parte da resistência nacionalista Turca em prol da inde-pendência. A retaliação militar turca ocasionou a retirada de tropas francesas e italianas, que ocupavam Istambul e áreas da Anatólia, bem como provocou a expulsão do exército Grego, da região Turca ocupada por este. Em uma investida final, as forças turcas pela libertação nacional apropriaram-se da Trácia Ocidental, que, como já dito, havia sido concedida em Sevrés à Grécia. Para pôr termo às hostilidades militares, foi assinado em 1922 o Tratado de Lausene, a partir do qual o território turco recuperou oficialmente a Trácia, diversas ilhas do mar Egeu, uma faixa fronteiriça com a atual Síria, o distrito de Izmir, bem como os estreitos de Bósforo e Dardane-los. The Library of the US Congress. Research Centers. Country Studies: Turkey. Disponível em: <http://countrystudies .us/turkey/2.htm>. Acessado em: 13 de abril de 2008. 44 PHILLIPS, D. Turkey's Dreams of Accession. Disponível em: <http://www.foreignaffairs.org/ 20040901faessay83508/david-l-phillips/turkey-s-dreams-of-accession. html> Acessado em: 05 de abril 2008.

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persistente desde o início do século XX, para estabelecê-la como um país ocidental”45. A par-

tir disso, Ignácio Ramonet ressalta que “nenhum outro país jamais consentiu sacrificar tantos

aspectos fundamentais de sua cultura para afirmar sua identidade européia”46. Nesta mesma

linha, afirma-se que, para a Turquia:

Pertencer à União Européia significa fazer parte de um dos mais bem suce-didos processos de integração de sociedades e economias das últimas déca-das (...) seus fundos de apoio aos países pobres e a uma moeda forte (...). Do mesmo modo, a adesão significaria um reforço de importância para o secula-rismo turco. Ao contrário do que escreveu Samuel Huntington anos atrás, portanto, a busca turca pela Europa não é um caso de miopia de líderes que-rendo algo impossível, mas uma análise ponderada de benefícios e perdas. E as elites turcas, ao menos hoje, parecem considerar que os primeiros supe-ram largamente as segundas. (grifo nosso). 47

Seguindo, portanto, esta política de ocidentalização e em busca de ingressar no pro-

jeto Europeu, o Estado turco firmou, desde sua fundação, diversos acordos e negociações com

a União Européia. Ainda em 1959, candidatou-se à Comunidade Econômica Européia, candi-

datura que não foi aceita de pronto, sendo apenas possível uma associação com a CEE em

1963, que ocorreu após um logo período de negociações, as quais resultaram no Acordo de

Ancara. Neste pacto, foi conferido à Turquia o status de país europeu48. Esta caracterização

foi fundamental para as pretensões turcas de aderir à UE haja vista que, de acordo com o já

mencionado artigo 49 do Tratado da União Européia, “qualquer Estado Europeu que respeite

os princípios enunciados no nº 1 do artigo 6º pode pedir para se tornar membro da União”49.

Sobre o protocolo firmado em Ancara vale ressaltar, ainda, a importância do Artigo 28, onde

se lê: “logo que a aplicação deste acordo tenha avançado o suficiente (...) as partes contratan-

tes devem examinar a possibilidade de acesso”50. Evidencia-se assim a probabilidade de uma

futura adesão51.

45 BACHE; GEORGE, op. cit., p.554. 46 Este mesmo autor continua seu raciocínio enumerando as principais mudanças na sociedade turca implemen-tadas em prol do projeto de ocidentalização. Dentre estas, valem ser mencionadas: a mudança do sistema de escrita árabe para adoção dos caracteres romanos, a proibição do uso de trajes típicos e função da laicidade ofici-al do Estado. RAMONET, Ignácio. A Turquia e a vocação européia. Disponível em: <http://diplo.uol.com.br/2004-11,a1013> Acessado em: 20 abril 2008. 47 BERTONHA, J. F. A União Européia e a Turquia: uma nova identidade para a Europa? Disponível em: < http://www.espacoacademico.com.br/045/45bertonha.htm> Acessado em: 11 abril 2008. 48 Apesar de haver sido definido como um país europeu pelo Acordo de Ancara, apenas uma pequena parte do Estado Turco encontra-se na área usual e geograficamente estudada como pertencente ao continente Europeu. 49 ARTIGO 49 do Tratado da União Européia. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/pt/treaties/dat/11997M/ htm/11997M.html#0145010077> Acessado em: 14 maio 2008 (grifo nosso). 50 ARTIGO 28 do Acordo de Ancara. European Union Comission Group. Disponível em: <http://www.abig.org.tr/images/e-ankara.rtf> Acessado em: 12 setembro 2008. 51 O referido acordo previa, então, a adesão completa da Turquia à CEE a ser efetuada em três fases: primeira-mente um período preparatório onde a Comunidade proveria concessões unilaterais e auxílio financeiro enquanto

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Nota-se que este acordo levou quase quatro anos para ser efetuado. A morosidade foi

decorrente, em grande medida, da fase em que se encontrava a CE naquele momento, intros-

pectiva, sob a pressão do presidente francês, general de Gaulle, em prol de um aprofundamen-

to da integração e não alargamento do bloco52. Ainda assim, Ancara foi promulgada muito em

função da importância geopolítica que a Turquia apresentava para a Comunidade durante o

auge da Guerra Fria. Nessa linha argumentativa, Erkan Endorgdu assevera que “a emergência

da Guerra Fria (...) adicionou uma importante dimensão às relações turco-européias (...) os

europeus pensavam a inclusão da Turquia no campo ocidental (...) como uma estratégia de

segurança (...) relegaram-se questões culturais para uma posição secundária.”53

Algumas condicionantes geopolíticas também levaram o Estado turco a tencionar

aderir à CE. Nesse sentido, para C. Ozen inicialmente foi a ameaça soviética que forçou a

Turquia a se tornar um membro de todos os tipos de organizações com o bloco ocidental. O

outro fator seria a Grécia, país com qual a Turquia possuía diversas disputas políticas54, e pe-

rante o qual o Estado turco não desejava ocupar posição inferior no cenário internacional,

considerando-se que a Grécia também já havia assinado um Acordo de Associação com a

CEE.55

Todavia, durante a década de 1970, o Estado turco enfrentou uma série de problemas

políticos e econômicos que acabaram por dificultar a implementação do supracitado acordo.

Em 1975, pela primeira vez o Estado ora em apreço foi criticado oficialmente pela CEE por

desrespeitos aos direitos humanos. Na seqüência, houve a ocorrência de vários atentados ter-

roristas contra diplomatas turcos praticados por terroristas armênios. Nessa época, também

ganhou destaque a questão do Chipre, quando a Turquia apóia os rebeldes cipriotas turcos

que declararam a independência do norte da ilha56.

a Turquia implantaria medidas para desenvolver sua economia. A fase transitória, programada para durar de doze a vinte e dois anos define o período no qual seria instituída uma União Aduaneira entre CE e Turquia. Por fim, a terceira etapa caracterizava-se pela associação da Turquia à CEE. Republic of Turkey Prime Ministry Secretariat General for EU Affairs website. Disponível em: <http://www.euturkey .org.br> Acessado em: 31 de julho de 2008. 52 ERDOGDU, E. Turkey and Europe: undivided but not united. MERIA – Middle East Review of International Affairs: Volume 6, Nº 2 - June 2002. Disponível em: <http://meria.idc.ac.il/journal/2002/ issue2/jv6n2a4.html> Acessado em: 05 de abril de 2008. 53 Idem. 54 OZEN, Cinar S. Neo-functionalism and the change in the dynamics of Turkey-EU relations, In: Perceptions, Journal of International Affairs, Vol.3, n.3, 1998, p4. Disponível em: < http://www.sam.gov.tr/ percepti-ons/Volume3/September-November1998/ozen.PDF> Acessado em 11 de setembro de 2008. 55 ERDOGDU, op.cit. Disponível em: <http://meria.idc.ac.il/journal/ 2002/issue2/jv6n2a4.html> Acessado em: 05 abril 2008. 56 A ilha do Chipre encontra-se dividida desde 1974 entre Norte e Sul. Esta divisão decorreu de golpe de Estado, quando um grupo de militares greco-cipriotas direitistas derrubou o governo eleito, instigados pela Ditadura dos Coronéis da Grécia, com o objetivo de realizar a integração do território cipriota ao grego. Quatro dias após o referido golpe, em 19 de julho, a Turquia invadiu o norte da ilha, ocupando 40% dela e expulsando 200 mil gre-

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No mesmo período, a República da Turquia viu-se mergulhada em uma grave crise

econômica, na qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) fez-se presente com o emprésti-

mo de fundos e na reestruturação da economia via abertura multilateral de mercado como

solicitava esta organização57. Por fim, em Janeiro de 1982, em decorrência do golpe militar

que derrubou o governo, a Comunidade Européia decidiu suspender o Acordo de Ancara ofi-

cialmente e congelar as relações políticas com esta. O Parlamento Europeu também determi-

nou a não renovação da Comissão Mista Parlamentar (Turquia/CE) até que fossem realizadas

eleições gerais no país.58

Na seqüência deste período de crises, em 1987 a Turquia renovou a sua candidatura

a membro pleno da CEE. Respondendo a esta solicitação, com uma demora aproximada de

dois anos, a Comissão divulgou seu parecer, onde informava que, tanto a candidatura da Tur-

quia como a de outros países, só seriam aceitas depois da implementação do Ato único Euro-

peu e da entrada em funcionamento do mercado comum, ou seja, somente a partir de 1992.

Com relação à Turquia, a referida Instituição comentou que, apesar do importante progresso

conseguido desde 1980 em termos de abertura econômica, uma considerável lacuna continua-

va a existir em comparação com os níveis de desenvolvimento da CEE. Outros impedimentos

à acessão turca mencionados na ocasião foram a inadequada proteção dos direitos humanos e

a persistência dos problemas com um Estado Comunitário, a Grécia.59 A Comissão recomen-

dou ainda que fosse completada a União Aduaneira (UA), inicialmente prevista no Acordo de

Ancara, com o objetivo de aproximar o Estado turco da organização. Nesse sentido, confor-

me salienta Erkan Erdogdu “a União Aduaneira era um preço necessário a ser pago para man-

ter a Turquia pró-européia, enquanto negava-se a sua adesão.”60

gos para o sul. Na parte turca, foi proclamada a República Turca do Norte do Chipre em 1983, a qual somente foi reconhecida pela Turquia. Sobre esta situação, há uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que determina a reunificação da ilha. Nesse sentido, considerando que a República do Chipre é um Estado-membro da União Européia, o Parlamento desta organização “solicita ao governo turco que aceite e aplique as resoluções da ONU que exigem nomeadamente a retirada das forças militares de ocupação e uma solução justa e viável da questão cipriota e apela ao governo de Chipre e aos líderes da comunidade turco-cipriota para que continuem a procurar uma solução pacífica para o problema, em conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas”. Resolução do Parlamento Europeu sobre a situação política da Turquia de 19 de setembro de 1996. Disponível em: <http://www.europarl.eurpa.eu/pv2/pv2?PRG=CALDOC&FILE =960919&LANGUE= PT&TPV=DEF&LASTCHAP=1&SDOCTA=6&TXTLST=1&Type_Doc=FIRST&POS=1. Mais informações sobre o histórico da questão cipriota podem ser encontradas em: VIZENTINI, P. F. A divisão do Chipre e seu

ingresso na União Européia. Disponível em: < http://educaterra.terra.com.br/vizentini/artigos/ artigo_158.htm> Acessado em:12 outubro 2008. 57 JORGENSEN, E. K.; LAGRO, E. Turkey and European Union: Prospects for a difficult encounter. Hamp-shire, Palgrave Macmillan. 2007. p.5. 58 ÇARKOGLU, A.; RUBIN, B. Turkey and the European Union. Domestic Politics, Economic Integration and International Dynamics. London. Frank Cass. 2003.p.4 59 ERDOGDU, op. cit. Disponível em: <http://meria.idc.ac.il/ journal/2002/issue2/jv6n2a4.html> Acessado em: 05 de abril de 2008. 60 Idem.

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O supracitado acordo tarifário entrou assim em vigor em 30 de setembro de 1995,

estabelecendo as seguintes previsões: abolição de impostos, redução de barreiras comerciais

entre as partes, aplicação de tarifas comuns para importação de países terceiros e harmoniza-

ção com as políticas da CEE em cada campo relacionado ao mercado comum61. Para a Tur-

quia, a conclusão da UA representou um importante passo rumo à adesão ao bloco europeu,

fato este decorrente da vinculação entre implementação do acordo tarifário e a abertura do

processo de acessão, existente no artigo 28 do Acordo de Ancara. Este enunciava a possibili-

dade da entrada do país na CE, quando da implementação do acordo.62 Pautado nessa asserti-

va, o governo Turco acreditava que, a partir da entrada em vigor da União Aduaneira, os es-

forços seriam direcionados rumo à plena integração, conforme peticionado. A este respeito,

Tugrul Arat comenta que o texto apresentado no referido artigo 28 “(...) não pode ser conside-

rado uma mera expressão de intenção. É, ao contrário, uma declaração de comprometimento

conjunto das partes contratantes (...)”63.

Todavia, a partir deste momento, os questionamentos quanto à política externa turca,

suas instituições democráticas, à proteção dos direitos humanos e adequação da Turquia aos

princípios defendidos pelo bloco passaram a ser cada vez mais salientados nas mesas de ne-

gociações. Entre 1995 a 1996, em decorrência da crise deflagrada entre as forças de segurança

nacionais e o movimento separatista curdo,64 o Estado acusou a UE de intervir em assuntos

domésticos em favor dos rebeldes. Já em janeiro de 1996, em função da ocorrência de novos

atritos com a Grécia decorrentes da questão cipriota, a ajuda financeira provinda da União

Aduaneira para Ancara foi bloqueada por um veto grego.65 Ademais, também não foi implan-

tada a livre circulação de pessoas, que, assim como o auxílio financeiro, havia sido original-

mente previsto no Acordo de Associação66.

61 ACORDO de Ancara, implementado em 1995. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/ LexUriServ/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:21964A1229(01):PT:HTML> Acessado em: 10 de outubro de 2008. 62 ARTIGO 28 do Acordo de Ancara. European Union Comission Group. Disponível em: <http://www.abig.org.tr /images/e-ankara.rtf> Acessado em: 12 de setembro de 2008. 63 ARAT, T. Past and Present of Relationship with EU. Seminar on Turkish-EU Relationship in Post Cold War Era, jointly organized by Center for Strategic Research (SAM) & Institute for European Studies of the University of Geneva, Ankara, January 1997, p.10. 64 Os curdos representam o maior grupo étnico não-turco, estando concentrados em onze províncias do sudeste, região habitada por seus antepassados desde o século V a.C. Na década de 1980, teve início a insurreição armada pelo reconhecimento do Estado Curdo (que compreenderia partes dos territórios de Turquia, Iraque e Irã), luta esta liderada pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (Partiya Karkere Curdistão – PKK). Atualmente esti-mativas do número de curdos no Turquia variam de 6 milhões para 12 milhões. THE LIBRARY of the US Con-gress. Research Centers. Country Studies: Turkey. Disponível em: <http://lcweb2.loc.gov/cgi-bin/query/r?frd/cstdy:@field(DOCID+tr0043)>. Acessado em: 13 julho 2008. 65 JORGENSEN; LAGRO, op. cit., p.5. 66 ACORDO de Ancara. European Union Comission Group. Discponível em: <http://www.abig.org.tr /images/e-ankara.rtf> Acessado em: 12 setembro 2008.

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Em 1996 ganha destaque novamente a questão do Chipre quando, na Cimeira de

Dublin, exigiu-se que a Turquia usasse de sua influência com os cipriotas turcos que domi-

nam o norte da Ilha, para que estes obedecessem a Resolução do Conselho de Segurança da

Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta reunião de cúpula, solicitou-se novamente que

a Turquia desse maior ênfase à observância dos direitos humanos em seu território67.

Apesar da afirmação da União Aduaneira, em 1997, no Conselho Europeu de Lu-

xemburgo a Turquia foi excluída da lista de países candidatos à adesão. O relatório final desta

conferência justificava a exclusão turca amparada na insatisfação de critérios econômicos e

políticos68. Vale citar que, nesta ocasião, foi divulgado um programa de trabalho, intitulado

Agenda 2000, destinado à estruturação da candidatura de outros seis países: Hungria, Polônia,

Estônia, República Tcheca, Eslovênia e Chipre. É interessante notar que, exceto o Chipre, os

demais Estados desta lista apresentavam-se como repúblicas ainda em processo de formação

política e econômica, recém-saídas do regime comunista e da esfera de influência Russa, a-

presentando, portanto, consideráveis desafios políticos e econômicos a serem superados.

Em decorrência da não inclusão da Turquia à lista de países candidatos, o governo

de Ancara, ainda em 1997, suspendeu parcialmente o diálogo com a União Européia. Sobre o

aceite dado a outros candidatos, o Primeiro Ministro Turco afirmou que esta era uma atitude

discriminatória, salientando o contraste entre as demais estratégias pré-adesão e o programa

europeu para a República Turca que, segundo ele, “(...) consistia em idéias vagas onde o fi-

nanciamento era incerto.”69 Segundo Jorgensen e LaGro “a decisão da Turquia em congelar

relações foi decisiva para a posterior aceitação desta como Estado candidato em 1999.70

A reação à negativa européia também incluiu a estratégia de aproximação às repú-

blicas da Ásia Central. Erkan Endorgdu assevera que estes fatos foram fundamentais para que

os “europeus começassem a considerar que deveriam apresentar algo de concreto para a Tur-

quia de modo a não perder a sua influência naquele país.”71 Após as supracitadas ocorrências,

a República da Turquia foi oficialmente considerada um país candidato a Estado-membro em

dezembro de 1999 no Conselho Europeu de Helsinque. Neste momento, determinou-se que os

candidatos seriam beneficiados por uma estratégia de pré-adesão para estimular e dar suporte

às reformas. Já em 2000, na Cimeira de Nice, foi oficialmente implantada a Estratégia Pré- 67 ÇARKOGLU; RUBIN, op. cit., p.4. 68 EUROPEAN Council of Luxemburgo, 1997. Presidency Conclusions. Disponível em: <http://ue.eu.int/ue Docs /cms_Data/docs/pressData/en/ec/032a2008.htm> Acessado em: 21 agosto 2008. 69 ERDOGDU, op. cit. Disponível em: <http://meria.idc.ac.il/ journal/2002/issue2/jv6n2a4.html> Acessado em: 05 abril 2008. 70 JORGENSEN; LAGRO, op. cit., p.6. 71 ERDOGDU, op. cit. Disponível em: <http://meria. idc.ac.il/journal/2002/issue2/jv6n2a4.html> Acessado em:05 abril 2008.

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adesão para a Turquia, na qual foi solicitada urgência na implementação do Acervo Comuni-

tário72.

Procurando promover as reformas requeridas pela organização européia, em 2001 o

Governo turco formulou o Programa Nacional para adoção do Acervo Comunitário (National

Program for the adoption of the Acquis – NPAA). Este, pela primeira vez, definiu reformas

em larga escala, as quais a nação estava disposta a aplicar em sua economia e política, e re-

formas, também, com relação ao alinhamento da legislação interna ao Acquis europeu. Na

seqüência, o parlamento nacional aprovou trinta e quatro emendas à Constituição com o obje-

tivo de satisfazer os critérios de Copenhague. Entre outras modificações, estavam a abolição

parcial da pena de morte e a autorização para utilização de outras línguas faladas por minorias

étnicas, na vida pública. A seguir, em 2002, o Código Penal turco foi reestruturado proibindo

a abertura de processos políticos e afirmando medidas de prevenção à tortura e promoção da

liberdade de imprensa. Ademais, foram aprovados pelo Parlamento da Turquia quinze artigos,

incluídos na Carta Magna do mencionado Estado, e que se referiam à promoção dos direitos

humanos. Essas eram algumas das medidas: abolição definitiva da pena de morte, subsídios

para difusão dos diferentes idiomas e dialetos usados tradicionalmente pelos cidadãos turcos

no seu viver diário e incentivo à melhoria da educação das línguas minoritárias73.

Todavia, em dezembro de 2002, o Conselho de Copenhague rejeitou a demanda tur-

ca para que fosse definida uma data concreta para início das negociações de uma futura ade-

são. Somente concordou-se em reavaliar o pedido de acessão turco em dezembro de 200474.

Estabeleceu-se ainda neste Conselho que as negociações para a integração da Turquia poderi-

am ter início assim que se observassem avanços com relação ao cumprimento dos critérios de

Copenhague. Em outubro de 2004, a Comissão Européia considerou satisfatório o cumpri-

mento desses critérios para fins de reabertura das negociações. Baseado em tal recomendação, 72 “O acervo comunitário constitui a base comum de direitos e obrigações que vinculam todos os Estados-Membros a título da União Européia. Está em constante evolução e engloba: o teor, os princípios e os objetivos políticos dos Tratados; a legislação adotada em aplicação dos Tratados e a jurisprudência do Tribunal de Justiça; as declarações e as resoluções adotadas no quadro da União, os atos adotados no âmbito da Política Externa e de Segurança Comum, os atos aprovados no quadro dos domínios da Justiça e Assuntos Internos e os acordos inter-nacionais concluídos pela Comunidade e os acordos concluídos entre os Estados-Membros nos domínios de atividade da União. Assim, para além do direito comunitário propriamente dito, o acervo comunitário é constitu-ído por todos os atos adotados no âmbito do segundo e terceiro pilares da União, assim como por todos os obje-tivos fixados pelos Tratados”. ACERVO Comunitário. Europa Glossário. Disponível em: < http://europa.eu/scadplus/glossary/community_acquis_pt.htm> Acessado em: 23 de agosto de 2008. 73 REPUBLIC of Turkey Prime Ministry Secretariat General for EU Affairs website. Disponível em: <http:// www.euturkey.org> Acessado em: 31 de julho de 2008. 74 “Se o Conselho Europeu de Dezembro de 2004, com base nos relatórios e nas recomendações da Comissão, decidir que a Turquia preenche os requisitos políticos do Critério de Copenhague, a União Européia abrirá nego-ciações para acessão da Turquia sem qualquer atraso” COUNCIL of the European Union, Copenhaguen Europe-an Council. Presidency Conclusions, 12 and 13 December, 2002, p. 6. Disponível em: <http://www .ue.eu.int/ueDocs/cms_Data/docs/pressData/en/ec/73842.pdf> Acessado em: 22 de agosto de 2008 (grifo nosso).

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em dezembro de 2004, o Conselho da UE estabeleceu que, em outubro de 2005, teria início o

diálogo entre União Européia e Turquia75.

Referindo-se à postura dos Estados-membros da UE, importa salientar, todavia, que

“o alargamento da UE não tem o mesmo sentido político para todos os seus membros”76. Sen-

do assim, notam-se pelo menos duas principais correntes de opinião com relação ao referido

processo de acessão turco, uma pró e outra anti-ingresso:

Grã-Bretanha (...) é uma defensora da integração turca. Itália mantém similar posição, apesar de alguns representantes de seu governo manifestarem-se contra a associação de Ancara. França, Alemanha e Áustria, Holanda e Bél-gica, todos têm complicadas posturas nesta questão. Especialmente depois de alargamento a leste de 2004 e dos referendos franceses e holandeses de 2005 sobre o Tratado Constitucional da UE, os membros continentais da UE têm mostrado sinais de desapontamento com o corrente passo rápido do alarga-mento.77

O apoio britânico decorre da sua notória trajetória política de defesa de um alarga-

mento da UE em detrimento do aprofundamento das relações institucionais do bloco. Quanto

aos países continentais, liderados pela aliança franco-germânica e seus aliados, historicamente

defensores da construção de uma Europa cada vez mais unida institucionalmente, ou seja,

favoráveis ao aprofundamento das relações entre os Estados-membros do bloco, a acessão

turca poderia representar um entrave à construção de uma identidade comum em função das

consideráveis diferenças culturais. Nesse sentido, a integração da Turquia encaixa-se no rol de

debates entre alargamento versus aprofundamento da União Européia.

Após tensos debates entre os ministros dos negócios estrangeiros dos vinte e cinco pa-

íses da União Européia78, em 2005 foi finalmente aberto o processo para a adesão turca. Vale

ressaltar, entretanto, que o texto final desse entendimento prevê acessão plena da Turquia

sem, contudo, garanti-la ou estabelecer datas oficiais79. Segundo Bache e George, três moti-

vos concorreram para a reabertura de negociações iniciadas há décadas: a melhora do relacio-

75 Nesse sentido, consultar conclusões à presidência da reunião do Conselho Europeu de 16 e 17 de Dezembro de 2004. Disponível em: <http://ec.europa.eu/enlargement/pdf/turkey/presidency_conclusions16_17_ 12_04_en.pdf> Acesso em: 15 de abril de 2008. 76BORDONARO, F. Turkey's Accession Divides the E.U.. Disponível em: http://www.pinr. com/ re-port.php?ac=view_report&report_id=377 > Acessado em: 12 de maio de 2008. 77 Idem. 78 A discussão a respeito do texto relativo à abertura do processo de adesão turca fez surgir inúmeras divergên-cias entre os líderes europeus, entre elas, a hipótese de “parceria privilegiada” levantada pela Áustria, segundo a qual a Turquia não teria todos os direitos que os demais Estados-membros possuem. A sugestão foi rejeitada pelos vinte e quatro Estados e por Ancara. 79 Princípios diretivos das futuras negociações para adesão do Estado Turco à EU acordados entre os Estados-membros e a Turquia presentes em “Negotiating Framework” (Luxemburg, 3 October 2005). Principles gover-

ning the negotiations. Disponível em: <http://ec.europa.eu/enlargement/pdf/st20002_05_ TR_framedoc_en.pdf>. Acessado em: 24 agosto 2008.

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namento entre este país candidato e a Grécia, a mudança na postura Alemã, até então reticen-

te80 e a eleição de um novo governo na Turquia, que passou a promover aceleradas reformas

no país81.

Sendo assim, com o histórico acima detalhado, evidencia-se que, não obstante as ra-

zões políticas e econômicas muitas vezes usadas para justificar negativas ao Estado, sempre

esteve presente, ainda que intrinsecamente nas negociações União/Turquia a condicionante

cultural, como fator de dificuldade e até de impedimento para acessão. Fator este que diferen-

cia o processo turco de todos os demais, gravando neste um grau de notada peculiaridade,

podendo ser a condicionante explicativa da considerável morosidade para abertura de negoci-

ações bilaterais.

4. A CONDICIONANTE DE ORIGINALIDADE DO PROCESSO DE ADESÃO TUR-

CO

Conforme exposto, os sucessivos alargamentos foram marcados por diversos fatores

motivacionais bem como em entraves de cunho político, econômico, social, etc. A adesão da

Turquia, por sua vez, é assolada por uma condicionante que imprime considerável grau de

peculiaridade à sua aproximação da UE. Esta especificidade se reflete na notada morosidade

para abertura efetiva do processo, cujo desfecho apresenta-se ainda consideravelmente duvi-

doso. Na busca por uma resposta a essa lentidão, percebe-se que um fator - a diversidade cul-

tural, em relação à cultura judaico-cristã européia - sinaliza a faceta “sui generis” dessa can-

didatura.

A originalidade do relacionamento entre Turquia e a organização européia é notada

ainda na dualidade de interpretação das condicionantes envolvidas, na qual os mesmos moti-

vos citados pelos que são favoráveis a adesão podem, por vezes, ser utilizados por aqueles que

são contrários. Nesse sentido, “argumentos a favor e contra a entrada da Turquia na União

Européia (...) são claramente do tipo ‘copo meio cheio, copo meio vazio’, dependendo do lado

80 A mudança na postura alemã decorreu principalmente, segundo Adam Balcer, da vitória dos sociais democra-tas nas eleições de 1998. Vitória está conseguida sobre os Democratas cristãos, históricos opositores à adesão turca. Neste sentido, consultar: BALCER, A. Relations between Turkey and the European Union. Centre of Eastern Studies Series, Poland, 2004, p.81. 81 BACHE; GEORGE, op. cit., p.555-558.

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em que se está”82. Sendo assim, fatores econômicos, geopolíticos, políticos, culturais, etc.,

subjetivamente interpretáveis, encontram-se presentes em ambos os discursos, servindo como

prós e contras. Ademais, a citada subjetividade dos argumentos é ressaltada em virtude da

diferenciada postura adotada pela União, com relação ao presente Estado candidato, se consi-

derados os alargamentos precedentes.

Nesse debate espinhoso, são ventiladas algumas vantagens econômicas para a UE em ter

Ancara como membro: 1º) abertura de um grande mercado consumidor formado por cerca de

setenta milhões de pessoas; 2º) acesso à mão-de-obra abundante e barata de aproximadamente

cinqüenta milhões de trabalhadores (força laboral que, pelo decréscimo nos índices de natali-

dade dos países do bloco, tende a escassear)83; 3º) manutenção das instalações de grandes

corporações e multinacionais dentro das fronteiras da organização, levando-se em considera-

ção a atual tendência da migração de multinacionais para países que possuam as supracitadas

características; 4º) ainda em termos econômicos e geopolíticos, está a posição estratégica da

Turquia, situada em importante rota de transporte de energia, perto dos Mares Mediterrâneo e

Negro e também do Cáucaso, região rica em recursos naturais, nomeadamente petróleo e gás

natural.84

Por outro lado, argumentos contrários às pretensões turcas referem-se: 1º) a sua eco-

nomia subdesenvolvida que padece de uma grande dívida externa; 2º) a sua população majo-

ritariamente rural e de baixa renda85. Esses fatores habilitariam o Estado em questão a absor-

ver vastos subsídios da organização, principalmente pela via dos Fundos Estruturais, do Fun-

do de Coesão e da Política Agrícola Comum; 3º) ainda, teme-se a ocorrência de uma imigra-

ção em massa da população turca para os outros países da UE.

Internamente, a União sofrerá fortes mudanças estruturais na divisão de poder, fato

que intimida a muitos. Com cerca de setenta milhões de habitantes e com a perspectiva de se

82 RAMONET, op. cit. Disponível em: <http://diplo.uol.com.br/2004-11,a1013> Acessado em: 20 abril 2008. 83 ERZAN, R.; KIRISÇI, K. Turkish Immigrants: Their Integration within the EU and Migration to Turkey. Turkish Policy Quaterly. Turkey’s European Odissey: A Political Perspective. Vol. 3, nº 3, 2004. 84 ISSUES Arising from Turkey’s Membership Perspective. Commission Staff Working Document, Brussels, 2004. Com acesso a estas redes de transporte de energia a União Européia conseguiria também livrar-se do mo-nopólio russo na utilização de recursos naturais da região do mar Cáspio. HENRÍQUEZ, P. B. EU – Turkey

Accesion Case. University of California. Berkley, 2005, p. 27. 85 De acordo com dados da Comissão Européia, no ano de abertura do processo de adesão a dívida pública turca, em percentagem do PIB, alcançou 94,3% em 2003. Segundo a ONU, ocupa o 94º lugar no índice de IDH (30 lugares atrás da Roménia). NAVES, L. Impasse sobre Turquia abre novas feridas na UE. Diário de Notícias, Lisboa, 03 de outubro de 2005. Disponível em: < http://dn.sapo.pt/2005/10/03/ internacio-nal/impasse_sobre_turquia_abre_novas_fer.html> Acessado em: 02 de agosto de 2008. Atualmente, de acordo com o relatório de 2007 das Nações Unidas, a Turquia ocupa a 84º posição, enquanto a Romênia (país da UE com menor IDH) está em 60º. Evidencia-se assim uma melhoria de 10 pontos na avaliação das condições de vida da população turca após o início das tratativas de adesão. Informações disponíveis em: <http://br.geocities.com/sousaraujo/idh _lista.htm>. Acessado em: 13 outubro 2008.

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tornar populacionalmente maior do que qualquer outro membro do bloco no momento de sua

adesão (caso esta seja confirmada)86, a Turquia desbancará a Alemanha na posição de maior

Estado da UE. Isso impactará diretamente no atual equilíbrio de forças Europeu, onde o país

germânico tem, isoladamente, grande poder de decisão.

Do ponto de vista da política externa, a grandiosidade do território turco põe em evi-

dência a questão das fronteiras. A Turquia avizinha-se de oito países bastante diversos: Ar-

mênia, Azerbeijão, Bulgária, Geórgia, Grécia, Iraque, Síria e Irã, sendo que enfrenta disputas

políticas e até militares com alguns destes87. Esta situação amedronta europeus, temerosos que

a incorporação da Turquia atraia os conflitos da região próxima88 e facilite a infiltração de

movimentos terroristas dentro do bloco. Este fato é decorrente da condição majoritariamente

muçulmana da Turquia e de seus vizinhos e da associação do islamismo com o terrorismo,

associação esta presente no imaginário de alguns setores da sociedade.

No outro lado do debate, afirma-se que, com seu território estrategicamente bem lo-

calizado, a Turquia traria à UE vantagens no cenário internacional, tais como o reforço do

bloco europeu no papel de ator global e o incentivo à construção de uma política de defesa

comum89. Salienta-se, ainda, que a Turquia é vista no ocidente como um modelo de democra-

cia islâmica a ser seguido pelos regimes autoritários vizinhos. Ademais, a percepção de alguns

governantes europeus e também da Casa Branca é que a concessão de benefícios econômicos

e sociais existentes na União Européia a um país islâmico significa uma recompensa para um

Estado que optou pela democracia e uma interpretação moderada do Islã.

Os defensores ainda argumentam que contra o negativo histórico de proteção aos Di-

reitos Humanos, principal motivo das recusas da União Européia, estão as já citadas mudan-

86 NUGENT, op. cit., p.499. 87 Em relação à Geórgia, após a independência da ex-URSS, não foram reiteradas (pelo menos até agora) as reivindicações territoriais sobre as regiões vizinhas da Turquia, cedidas pelo Tratado de Kars (1921), efetuado entre a Rússia bolchevique e os nacionalistas turcos. Já com a Grécia, além da questão de Chipre, ainda há diver-sos litígios: sobre as águas territoriais e os corredores aéreos no mar Egeu e sobre os direitos da minoria muçul-mana turca no território grego. Com o Irã não há problemas de fronteiras. Ademais, a principal reivindicação territorial turca não conseguida até hoje foi sobre as regiões de Mossul e Kirkuk, no norte do Iraque. O Iraque alega, ainda, que houve diminuição unilateral dos caudais dos rios Tigre e Eufrates devido à construção de uma barragem. A Síria, por sua vez, faz essa mesma reivindicação, além de reclamar a província turca de Hatay e não reconhecer a soberania da Turquia sobre esse território. THE LIBRARY of the US Congress. Research Centers. Country Studies: Turkey. Disponível em: <http://countrystudies .us/turkey/2.htm>. Acessado em: 13 de abril de 2008. 88 BERTONHA, op. cit. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/045/45bertonha.htm. Acessado em: 14 de maio de 2008. 89 Nesse sentido, importa salientar os dizeres de Erkan Endogdu, para o qual "em relação às considerações geo-políticas, embora a ameaça soviética tenha desaparecido, a Turquia a ser estratégica para a EU (...). A UE precisa da cooperação da Turquia para (...) manter a paz e a estabilidade no flanco sudeste da Europa, principalmente com relação aos conflitos em curso na região dos Bálcãs, Cáucaso, o Iraque e no Médio Oriente em geral ". ER-DOGDU, op. cit. Disponível em: <http://meria.idc. ac.il/journal/2002/issue2/jv6n2a4.html> Acessado em:05 abril 2008.

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ças que vêm sendo implementadas no sistema jurídico e político nacional, a fim de adequar-se

aos critérios de Copenhagen. Afirma-se ainda que um não à integração da Turquia configura-

ria um desestímulo à implementação e continuação das referidas reformas.

Uma vez expostos os principais argumentos favoráveis e contrários à entrada do Es-

tado turco na UE, faz-se necessário confrontá-lo à adesão de outros membros.

A negativa justificada em termos econômicos é falha, pois não encontra base na pró-

pria história do bloco, haja vista que países considerados subdesenvolvidos e muito populosos

já foram aceitos na União, mesmo sem haverem resolvido completamente seus problemas

estruturais. Nesse sentido, destacam-se as adesões de Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e dos

dez Estados que ingressaram em 200490.

Relativamente a futuros problemas decorrentes de grandes ondas de imigração, há

que se frisar que este ponto também já foi enfrentado e contornado, principalmente nos alar-

gamentos a leste e sul da Europa, já mencionados acima. Importa salientar ainda que não é

permitida a livre circulação de pessoas no bloco europeu logo no momento seguinte de uma

adesão, tendo os países que se adequarem a uma série de requisitos econômicos e principal-

mente de segurança, antes de estarem aptos a fazer parte da zona Schengen91. Quanto ao men-

cionado temor da abertura das fronteiras da União Européia para o Terrorismo e movimentos

separatistas (em função do movimento independentista Curdo), observa-se que a UE já foi

palco de atentados mesmo sem ter o Estado Turco como membro. Quase todos estes atentados

foram planejados por organizações terroristas e/ou separatistas já existentes na região. Neste

sentido, destacam-se as atuações terroristas do movimento Pátria Basca e Liberdade (ETA) na

Espanha e do Exército Republicano Irlandês (IRA) na Irlanda do Norte, as quais não impossi-

bilitaram estes Estados de adentrar na União.

No tocante às questões institucionais advindas da entrada de um país populoso na

organização, vale citar a adesão da Polônia, também um Estado com uma grande população

que, portanto, poderia ter representado igual “risco” ao equilíbrio de forças dentro do bloco.

Investiga-se, assim, que não seria um impedimento insuperável o fato de a Turquia vir a ser o

90 No decorrer dos processos de alargamento, a passagem de 6 para 15 membros significou um aumento da popu-lação de 185 para 375 milhões de habitantes e a integração de países com níveis de desenvolvimento econômico e social díspares dos restantes, sobretudo no caso da Grécia, Espanha e Portugal. Com este novo alargamento em maio de 2004, a Europa passa de 375 milhões de habitantes para cerca de 450 milhões (480 milhões com a Bul-gária e a Romênia). Com os 10 novos membros, a superfície e a população da União aumentaram em um terço e o seu PIB, apenas 5%, o que evidencia o elevado desnível de desenvolvimento econômico desses países. O De-

safio do Alargamento. Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/leg/ pt/lvb/l60020.htm> Acessado em: 15 setembro 2008. 91 Área de livre circulação de pessoas definida pelo Acordo de Schengen, que visa suprimir gradualmente o con-trole entre as fronteiras comuns. Mais informações disponíveis em:<http://europa.eu/scadplus/glossary/ schen-gen_agreement_pt.htm> Acessado em: 24 julho 2008.

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maior Estado de UE. É possível, todavia, que o fato de vir a ser o maior país e ainda apresen-

tar uma população majoritariamente muçulmana possa representar para algumas correntes

conservadoras um risco à estabilidade da União e aos padrões judaico-cristãos predominantes

no bloco. Com relação à futura reestruturação de poder no seio das instituições, cabe salientar

que a UE pode, como ocorrido com a implantação dos tratados de Maastrich e Nice, reformar-

se para assim, adequar-se à nova realidade.

O breve apanhado das mais importantes condicionantes presentes no processo de a-

cessão da Turquia possibilita assumir que estas também estiveram presentes com maior ou

menor intensidade nos processos de alargamento anteriores. Na seqüência, faz-se necessário

então, tecer comentários a respeito da mais relevante peculiaridade do caso turco: a questão

cultural-religiosa.

Historicamente, a formação cultural dos países que integram a União Européia assen-

ta-se em três pilares: a herança greco-romana, o cristianismo e a tradição iluminista 92. É neste

arcabouço histórico, ou nos países onde este se desenvolveu, que se estrutura o limite de ex-

pansão da referida organização. A vinculação a esse legado cultural, que determina uma su-

posta “identidade européia”, configura-se como condição de aceitação para abertura de um

processo de integração ao bloco.93 É contra esta lógica que as negociações para integração da

Turquia entram em choque, por ser esta uma nação substancialmente diferenciada em termos

culturais.

Ademais, o Estado turco, cujas bases culturais têm como fundamento as diretrizes da

religião islâmica e séculos de vivência como parte do império Otomano, é considerado o ‘ou-

tro’94 contra o qual se constituiu a idéia de Europa. De acordo com Selcen Öner, um “senso de

92 MAGNOLI, D. União Européia: história e geopolítica. 5. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Moderna, 1995. p.7-8. Além da herança greco-romana, do direito romano e de valores cristãos, para Kuram-Burçoglu, fazem parte da formação cultural européia: “o individualismo protestante, o humanismo, a renascença e o reformismo, o iluminismo e todos os “pensamentos” relacionados a estes movimentos, racionalismo e modernismo, secula-rismo, pós-modernismo, a idéia de nação, crescimento econômico e capitalismo, contrato social (Magna Carta), e as idéias associadas a esta, Declaração dos Direitos Humanos, Revolução Francesa, com seus princípios de li-berdade, igualdade e fraternidade/solidariedade”. KURAN-BURÇOGLU, N. From vision to reality: A social-cultural critique of Turkey’s Accession Process. In: LAGRO, E.; JORGENSEN, K. (Edit.). Turkey and Euro-

pean Union: Prospects for a difficult encounter. New York: Palgrave MacMillan, 2007. p.155. 93 Para Selcen Öner e no sentido em que será utilizado neste texto, “identidade é o caminho para definir-se e diferenciar-se dos outros. Não estatístico e pode ser definida de diferentes formas e em diferentes circunstâncias. Identidade não pode ser construída imediatamente, é sempre um processo em evolução.” ÖNER, S. An Analysis

of European Identity within the Framework of the EU: The Case of Turkey’s Membership. Disponível em: <http://www.ikv.org.tr/images/upload/file/selcen-teblig.pdf>. Acessado em: 22 de setembro de 2008. 94 “Outros”, expressão utilizada por Kuran-Burçoglu em seu artigo: From vision to reality: A Sócio Cultural

critique of Turkey’s Accession Process, para definir um grupo que apresenta cultura diferente em comparação ao que se está estudando. KURAN-BURÇOGLU, op. cit., p.155. Expressão também presente na definição de Iden-tidade Coletiva de Richard Münch, para o qual “Identidade Coletiva significa as atitudes que todos os membros de determinado grupo têm em comum em seus pensamentos e comportamentos, que os diferenciam do ‘outro”.

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‘Identidade Européia’ coletiva é acompanhada pela necessidade de diferenciar ‘Europeus’ dos

‘de fora’, ou outros”95. Sendo que a idéia deste ‘outro’ foi construída historicamente. Nesse

sentido, relembrando a história européia, Nuno Severiano Teixeira comenta que:

A resistência de alguns Governos europeus, a oposição de certas forças polí-ticas e a percepção negativa de algumas opiniões públicas à candidatura tur-ca, de que os referendos em França e na Holanda são o melhor exemplo, não relevam, em boa verdade, do real, mas antes do imaginário. Não têm a ver com a realidade do país que é hoje a Turquia, com as dificuldades da eco-nomia, o respeito pelos direitos humanos ou a qualidade da democracia. Têm a ver com a percepção do islão. Com a memória dos janízaros às portas de Viena 96

Percebe-se, portanto, que a resistência encontrada em setores da sociedade européia

para com a entrada da Turquia decorre, sobretudo, da imagem negativa deste “outro”, da cul-

tura islâmica, que foi disseminada na Europa desde os tempos das cruzadas.

Desde o ano de 1071, com a ocupação da Anatólia pelos Turcos Seldjúcidas e o iní-

cio da expansão ocidental do Império Otomano, os turcos foram descritos pela Igreja Católica

como bárbaros, hereges e cruéis inimigos da cristandade. Esta visão perdurou por toda a Idade

Média e atingiu seu ápice quando da conquista de Constantinopla e da queda do Império Ro-

mano do Oriente em 1453, no auge do domínio territorial turco no continente europeu. Nos

séculos seguintes, com o surgimento do sistema estatal, muitos Estados europeus estrutura-

ram-se em um movimento de independência e expulsão dos muçulmanos de seus territórios,

como bem mostram os exemplos de Portugal, Espanha, Grécia, Áustria, Bulgária, Romênia,

entre outros97. Na seqüência, com o declínio do Império Otomano, a imagem turca passou de

amedrontadora para inferiorizada, como “o velho doente europeu”. Seguiram, ainda, fases de

exaltação de seus ‘exóticos’ costumes orientais, movimento este difundido a partir da França,

na sociedade européia do século XVIII. Já no início do século XX, com as reformas imple-

mentadas a partir da instauração da República em 1923, focadas na laicização do Estado, a

imagem da Turquia na sociedade européia apresentou uma sensível melhora, haja vista a ten-

tativa da elite nacional de aproximar-se do modelo sócio-cultural europeu-ocidental98.

MÜNCH, R. Nation and Citizenship in the Global Age: From National to Transnational Ties and identities. New York: Palgrave Pub, 2001. p.137. 95 ÖNER, op. cit. Disponível em: <http://www.ikv.org.tr/images/upload/file/selcen-teblig.pdf>. Acessado em: 22 de setembro de 2008. 96 TEIXEIRA, N. S. Os turcos às portas de Viena. Diário de Notícias: Estudos regionais - Europa. Outubro de 2004. 97 As denominações geográficas são utilizadas no presente para melhor orientação e visualização. 98 KURAN-BURÇOGLU, op. cit. p.156-162.

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A citada dificuldade de convivência com o diferente foi ainda potencializada na últi-

ma década, após os atentados terroristas ocorridos em Nova Iorque (11/09/2001), Madri

(11/03/2004) e Londres (07/07/2005). A direta associação feita no imaginário europeu entre a

aproximação de seguidores do Islã e a possibilidade de novos atentados acabou por gerar uma

“Islamofobia” na sociedade européia, o que acentuou o cenário de discriminação com relação

à população muçulmana residente dentro das fronteiras da UE99. Ademais, recentes eventos,

como a proibição do uso do véu islâmico em escolas públicas na França100, os protestos resul-

tantes deste ato e as revoltas de setores da população muçulmana em função da publicação de

caricaturas do profeta Maomé em jornais europeus, demonstram o quão delicada é a convi-

vência entre a maioria da população européia e a grande parcela de imigrantes muçulma-

nos101.

Ainda neste debate, interessa observar as dificuldades de integração dos imigrantes

com as comunidades dos países de destino, principalmente a Alemanha102, Áustria e países do

norte da Europa. Originários em sua grande maioria das áreas rurais de seu país, os turcos

chamados a trabalhar na Alemanha e em outros países no pós-Segunda Guerra Mundial, em

um momento de grande crescimento destas economias, enfrentaram vários problemas de a-

daptação a uma realidade urbana e culturalmente diferenciada. Os nacionais dos Estados de

destino destes imigrantes, por sua vez, demonstravam dificuldades de aceitação dos novos

residentes de sua terra. “Eles consideravam estes imigrantes como trabalhadores que serviri-

am a seu país hospedeiro e um dia voltariam para sua terra de origem” 103, fato que não acon-

teceu. Atualmente, em muitas localidades, os descendentes de turcos, já em sua terceira gera-

99 Muslims in the European Union - Discrimination and Islamophobia. Relatório do Centro Europeu de Monito-ramento do racismo e xenofobia. Disponível em: <http://eumc.europa.eu/eumc/material/pub/muslim/Manifesta-tions_EN.pdf> Acessado em: 12 de maio de 2008. 100 Para mais informações sobre as discussões envolvendo a proibição do véu islâmico na França e sobre a postu-ra de outros países da UE a respeito dessa questão, consultar: VIDAL, D. Exceção francesa. Le Monde Diploma-tique. Edição mensal, fevereiro de 2004. Disponível em: <http://diplo.uol.com.br/2004-02,a871> Acessado em: 10 setembro 2008. 101 Estima-se que aproximadamente 5,2 milhões de turcos vivam nos 27 países da União Européia. Este número equipara-se ao total dos cidadãos dinamarqueses e é quase o dobro da população dos Estados Bálticos. Europeus turcos são basicamente o 28 º país da União Européia, sendo que, levando-se em consideração seu contingente populacional, seriam, efetivamente, o 19 º país da União. Cabe salientar ainda que quarenta e dois por cento dos imigrantes turcos que vivem em países da UE são cidadãos desses países, equivalendo-se a populações da Gré-cia, Chipre, Malta, Luxemburgo e combinadas. In: EURO-Turks: the Presence of Turks in Europe and their

Future. The journal of Turkish Weekly. 05 February 2008 Disponível em: <http://www.turkishweekly. net/news.php?id=52065> Acesso em: 30 de setembro de 2008 102 Existem 1.8 milhões de turcos na Alemanha. 139.000 deles residem em Berlim, constituindo, assim, o maior grupo de trabalhadores de origem estrangeira em território alemão. WHITE, Jenny B. Turks in Germany: Over-view of the Literature. Disponível em: <http://w3fp.arizona.edu/mesassoc/Bulletin/white.htm> Acessado em: 14 setembro 2008. 103KURAN-BURÇOGLU, op. cit., p.161.

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ção, vivem em guetos recusando integrar-se na cultura e estilo de vida dos locais. Ou seja, os

problemas de aceitação e integração são provenientes de ambas as partes.

A partir dos fatos expostos, retoma-se a idéia de que “os turcos serviram, através de

sua existência na Europa desde o século XII, ao propósito dos europeus de definirem sua i-

dentidade pela contraposição ao outro”104. Nesse sentido, também referindo-se às diferenças

culturais entre Turquia e os demais países comunitários e sintetizando as reflexões acima

colocadas, Kuran-Burçoglu assevera que um dos principais entraves em se aceitar o novo

membro na União decorre da dúvida inerente à idéia de viver com o 'outro'.105

Entretanto, embora não se possa negar a relevância da questão cultural no processo

de adesão da Turquia, cabe ressaltar que, até o momento, não consta no discurso e em nenhum

documento oficial da organização européia, menções às diferenças culturais como reais impe-

dimentos à adesão turca106. Todavia, apesar de não estar presente na postura oficial da União,

as dificuldades impostas pelas diferenças culturais são encontradas nas palavras de algumas

autoridades e formadores de opinião europeus.

Com os critérios políticos e econômicos cada vez mais próximos de serem cumpridos

pela Turquia, a partir do final dos anos de 1990 cada vez mais a questão cultural, até então

considerada “secundária”, veio à tona por meio de polêmicos discursos de líderes do conti-

nente107. Nesse sentido três opiniões são emblemáticas, a do ex-Chanceler Alemão Helmut

Kohl, a do ex-presidente Francês Valéry Giscard d'Estaing e a do comissário Holandês Frits

Bolkestein. Kohl declarou ao jornal inglês The Guardian que “a Europa era essencialmente

um clube cristão, um ‘projeto civilizacional’ e que ‘não há lugar para um país como a Turqui-

a’ na União Européia. Por sua vez, d’Estaing afirmou que “a entrada da Turquia na UE seria

‘o fim da Europa’. Na mesma linha, o comissário Holandês F. Bolkestein alegou que “a Ucrâ-

nia e Belarus eram mais ‘européias’ que a Turquia e que a Europa, com a perspectiva da ade-

são turca, arriscava-se a tornar-se predominantemente muçulmana”108

Importa revelar também a visão dos cidadãos comunitários sobre a possível adesão da

Turquia. Uma recente pesquisa do Instituto Eurobarômetro demonstra que 55% dos europeus

manifestaram-se contra a adesão, e 45% a favor. A maior resistência está nos países cujo nú-

mero de imigrantes turcos é grande, como é o caso da Alemanha, da Bélgica, da Áustria, da 104 DELANTY, G; RUMFORD, C. Rethinking Europe: Social Theory and Implications of Europeanization, London: Routledge. 2005. p.56. 105 KURAN-BURÇOGLU, op. cit., p.160. 106 JORGENSEN, op. cit., p.13. 107 ÖNER, S. op. cit. Disponível em: <http://www.ikv.org.tr/images/upload/file/selcen-teblig.pdf>. Acessado em: 22 de setembro de 2008. 108 KUBICEK, P. Turkey’s Place in the ‘New Europe’. Disponível em: <http://www.sam.gov.tr/perceptions/ volume9/Autumn2004/PaulKubicek.pdf>. Acessado em: 21 de setembro de 2008.

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França e da Holanda109. Entre a população turca, por sua vez, 64% votaria a favor de uma

futura adesão. Apesar da margem favorável, mais da metade entrevistada vê a União Européia

como um Clube Cristão, onde não haveria lugar para o islã, ainda que fossem implementadas

as reformas econômicas e políticas ‘necessárias’110.

Dado o exposto, observa-se no conturbado relacionamento entre Turquia e União Eu-

ropéia, tanto no discurso das autoridades do bloco, como também nas dificuldades na integra-

ção de suas populações, o quão tortuoso é o caminho a ser percorrido no referido processo de

adesão. Não há como negar, portanto, o peso que a questão cultural assume nas negociações

abertas em 2005. Sendo assim, caso confirme-se o cumprimento dos critérios de Copenhague,

é de fundamental importância que a República turca seja aceita como membro pelo bloco,

pois a consolidação deste alargamento afirmaria a compatibilidade entre a prática do islamis-

mo e a existência de um Estado laico. Provar-se-ia, ainda, que países cristãos e muçulmanos,

bem como suas populações, podem conviver em um mesmo território. Todavia, caso a Tur-

quia respeite todos os pré-requisitos estabelecidos e, mesmo assim, seja negada sua entrada,

estar-se-ia confirmando a lógica pessimista do choque de civilizações, de Samuel Huntington,

tão perigosa e demasiadamente utilizada nos últimos anos para analisar o cenário internacio-

nal111.

Por fim, cabe comentar que todos os debates decorrentes da entrada de um país tão

diferenciado culturalmente na UE contribuem para delimitação de uma identidade para a refe-

rida organização. Nesse sentido, conforme assevera Paul Kubicek, a aceitação ou não da Tur-

quia, (após serem resolvidas as questões de ordem econômica e política ainda pendentes) po-

de auxiliar na definição identitária da União, clarificando se esta irá se basear em requisitos

culturais (em certa medida excludentes) ou na observância de princípios do direito112. O pri-

meiro caso decorreria da rejeição da adesão turca pelo não enquadramento deste país nos his-

tóricos padrões judaico-cristãos europeus. A segunda alternativa, por sua vez, será confirmada

se a notória diferença cultural não representar um impedimento à consolidação da integração.

Essa escolha corresponderia ao respeito aos princípios mencionados no próprio Tratado da

109 Na mesma pesquisa, efetuada na primavera de 2008, informa-se que são os cidadãos mais jovens, com mais recursos financeiros e funcionários de quadro superiores de empresas os mais favoráveis à adesão turca. In: EUROBARÔMETRO. Primavera 2008. Disponível em: < http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/eb/eb69/ eb69_pt_exe.pdf> Acessado em: 14 de setembro de 2008. 110 ÇARKOGLU, A. Who Wants Full Membership? Characteristics of Turkish Public Support for EU Member-ship. In: ÇARKOGLU; RUBIN, op. cit., p.174. 111 BERTONHA, op. cit. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/045/45bertonha.htm. Acessado em: 14 maio 2008. 112 KUBICEK, P. Turkey’s Place in the ‘New Europe’. Disponível em: <http://www.sam.gov.tr/perceptions/ volume9/Autumn2004/PaulKubicek.pdf>. Acessado em: 21 de setembro de 2008

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União Européia, definida como uma organização aberta a Estados Europeus (como a Turquia

já foi reconhecida) que respeitem os princípios da alteridade, democracia, economia de mer-

cado e Estado de Direito.

Selcer Öner, corroborando os dizeres de Kubicek, afirma que:

O processo de construção da identidade européia está intimamente relacio-nado com a adesão da Turquia à UE. Ela irá mostrar se a identidade européia será baseada em variáveis culturais ou valores cívicos, como o Estado de Di-reito e o respeito dos direitos humanos. Indicará se a identidade européia se-rá definida principalmente na base de exclusividade ou na base de uma ver-dadeira sociedade multicultural. A definição mais restrita, baseada em ter-mos culturais irá afetar negativamente a construção de uma dinâmica multi-cultural União.113

Com isso, a solicitação da Turquia coloca a União defronte à observância ou não de

seu próprio lema: Igualdade na Diversidade. Caso seja negada ou dificultada a adesão de um

novo Estado em função do “imaginário cultural” da maioria de sua população, o bloco euro-

peu estará indo contra sua própria política institucional que afirma respeitar a diversidade dos

membros enquanto um dos grandes princípios motores da UE114. Sendo este um processo que

exigirá “(...) boa vontade, muita paciência, disposição para compreender o outro, empatia para

com este, perseverança para conseguir um acordo e um esforço de ambos os lados para supe-

rar as idéias mutuamente preconcebidas”115. Percebe-se assim, quão delicadas foram e conti-

nuarão sendo as negociações para adesão da Turquia.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aventados todos os processos de alargamento sucedidos no caminhar da integração

européia até a configuração atual desta em vinte e sete Estados, fica evidente que em cada um

dos referidos momentos esteve presente uma variada gama de interesses por parte dos diver-

sos atores envolvidos. Estas condicionantes de cunho político, econômico e social tornaram

cada adesão um complexo debate envolvendo a superação de divergências e cálculos de bene-

113 ÖNER, op. cit. Disponível em: <http://www.ikv.org.tr/images/upload/file/selcen-teblig.pdf>. Acessado em: 22 de setembro de 2008. 114 Nesse sentido, consultar o site oficial da União Européia sobre combate à discriminação. Disponível em: < http://ec.europa.eu/employment_social/fundamental_rights/pdf/pubst/broch/fidi07_pt.pdf> Acessado em: 14 outubro 2008. 115 KURAN-BURÇOGLU, op. cit., p.148.

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fícios, pautadas na realidade histórica presenciada e perspectivas de futuro assumidas. Nesse

roteiro, encaixa-se o longo e controverso relacionamento entre a Turquia e a União Européia,

sendo que, no movimento de adesão turco, além dos fatores supracitados, encontra-se presente

a condicionante cultural-religiosa.

As diferenças entre a cultura islâmica e a judaico-cristã presente nos demais países

membros da UE, pode acarretar um impedimento à efetivação do estudado processo de aces-

são. Para certas correntes conservadoras de pensamento, há uma incompatibilidade insuperá-

vel de costumes que impede um futuro comum entre a UE e o Estado Turco. Todavia, com-

pondo um argumento dual, a convivência entre sociedades culturalmente diferentes também

pode significar um ganho para construção de uma comunidade global mais flexível ao conví-

vio com o ‘outro’.

Ademais, não obstante o fato de ser ou não um impedimento à entrada da Turquia na

organização européia, não há como negar que a contenda religiosa e cultural é a principal

condicionante que impõe caráter de excepcional peculiaridade às negociações de adesão, haja

vista não ser encontrada em nenhum alargamento anterior. Por fim, importa ressaltar que esta

característica única sempre presente nas negociações e também motivo da morosidade das

referidas tratativas pode ainda ajudar a delinear a identidade do bloco europeu, auxiliando,

com isso, a definir por quais caminhos seguirá o mais avançado e complexo projeto de inte-

gração regional de nossa história.

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