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MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO: Tutela de direitos difusos e legitimidade ativa expansiva MANDADO DE Leonardo Silva Nunes

A consagração do mandado MANDADO DE

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MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO:Tutela de direitos difusos e legitimidade ativa expansiva

Tutela de direitos difusos e legitim

idade ativa expansivaLeonardo Silva Nunes

LEONARDO SILVA NUNESDoutor, Mestre e Graduado em Di-reito pela Universidade Federal de Minas Gerais (FD|UFMG). Profes-sor Adjunto de Direito Processual Civil e Coletivo da Universidade Fe-deral de Ouro Preto (DEDIR|UFOP). Leciona as disciplinas Direito Pro-cessual Civil e Coletivo em cursos de pós-graduação e preparatórios para concursos de carreiras jurídi-cas. Membro convidado do Conse-lho Editorial do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Membro do Institu-to Brasileiro de Direito Processual e do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Advogado.E-mail: [email protected]

Originado da CRB/1988, o mandado de segurança coletivo compartilha os mesmos fundamentos históricos que � zeram culminar a criação do mandado de segurança individual, cada um a seu tempo e modo, direcionados à proteção de direitos contra as investidas do Poder Público. Por se revestirem de garantias constitucional-processuais, ambas as espécies se imunizam contra as limitações provenientes da legislação ordinária, incapaz de reduzir-lhes a magnitude, seja por restrições indevidas em seu campo de atuação, seja, mesmo, por sua supressão do ordenamento jurídico.

Os argumentos tecidos no texto são aderentes ao atual propósito constitucional-democrático, que abandona o caráter individualista de regimes anteriores para construir um ordenamento jurídico comprometido em promover a mais ampla tutela jurídica a direitos coletivos e individuais. Este panorama sustenta a tese de que o mandado de segurança coletivo é procedimento apto à tutela jurisdicional de direitos difusos, sendo, ainda, factível a perspectiva expansiva do seu regime de legitimidade ativa.

A consagração do mandado de segurança coletivo pela CRB/1988 fez suscitar dúvi-das que incidem sobre o seu objeto material e sobre a de-terminação das pessoas que podem manejá-lo. A primeira diz respeito às objeções à tu-tela de direitos difusos, por-quanto estes diriam respeito a meros “interesses”, e não propriamente a “direitos”, escapando, assim, do campo de atuação desta garantia, que não prescinde da de-monstração da presença de um “direito líquido e certo”. A segunda revela-se na per-plexidade em face da enu-meração constitucional dos legitimados ao mandado de segurança coletivo, cujo rol é bem restrito se analisado diante do sistema de tutela jurisdicional coletiva. A pes-quisa retrata a tentativa de compreender esta garantia constitucional diante da rea-lidade social para a qual se dirige e, com isso, apresentar uma linha interpretativa que promova a maximização do instrumento, para dele extrair toda sua potencialidade.

MANDADO DE

SEGURANÇA COLETIVO:

L e o n a r d o S i l v a N u n e s

2508207885849

ISBN 978-85-8425-082-0

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Copyright © 2015, D’ Plácido Editora.Copyright © 2015, Leonardo Silva Nunes

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa Tales Leon de Marco (Sobre fotos de Leonardo Silva Nunes)

DiagramaçãoLetícia Robini de Souza

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D’Plácido Editora.

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

NUNES, Leonardo SilvaMandado de Segurança Coletivo: tutela de direitos difusos e legitimidade ativa

expansiva -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2015.

Bibliografia.ISBN: 978-85-8425-082-0

1. Direito público 2. Direito constitucional 3. Direito processual Civil. 4. Direito processual coletivo 5. Direitos coletivos e difusos 6. Mandado de segurança coletivo 7. Legitimidade ativa expansiva. I. Título

CDU342+347 CDD341.39+342.1

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843 , SavassiBelo Horizonte – MGTel.: 3261 2801CEP 30140-002

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Estamos assistindo ao lento mas seguro declínio de uma concepção individualística do processo e da justiça.

Todos os princípios, os conceitos, a estrutura, que eram radicais naquela concepção, parecem cada vez mais insuficientes a dar uma aceitável resposta ao problema de assegurar a necessária

tutela por novos interesses difusos e de grupo, tornados vitais para a sociedade moderna.

Mauro Cappelletti

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À Bia,Porque só ela sabe...

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ACP Ação Civil Pública

ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADIMC Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

Ap. Apelação

CCJC Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania

CDC Código de Defesa do Consumidor

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CPC Código de Processo Civil

CRB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

EC Emenda Constitucional

Lista de siglas

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ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDcl Embargos de Declaração

LACP Lei da Ação Civil Pública

LAP Lei da Ação Popular

LIA Lei da Improbidade Administrativa

LMS Lei do Mandado de Segurança

MP Ministério Público

MS Mandado de Segurança

MSC Mandado de Segurança Coletivo

RE Recurso Extraordinário

REsp Recurso Especial

RMS Recurso em Mandado de Segurança

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

SÚM. Súmula

TRF Tribunal Regional Federal

TSE Tribunal Superior Eleitoral

USP Universidade de São Paulo

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UNESA Universidade Estácio de Sá

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Sumário

Agradecimentos 15

PrefácioGregório Assagra de Almeida 19

1. Introdução 23

2. A era dos direitos fundamentais 292.1. Evolução dinâmica dos

direitos fundamentais 292.2. O caráter vinculante dos

direitos fundamentais: eficácia, aplicabilidade e irradiação 42

3. Direitos fundamentais difusos: Estado atual 553.1. Do enquadramento constitucional ao

sistema de tutela jurisdicional coletiva 623.1.1. A formação vinculada do sistema

de tutela jurisdicional coletiva: panorama atual 70

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3.2. Direitos ou interesses? A superação da dicotomia que coloca em xeque a garantia de tutela a direitos coletivos lato sensu 76

3.3. A categorização dos direitos coletivos lato sensu 94

3.3.1. Direitos essencialmente coletivos: direitos difusos versus direitos coletivos em sentido estrito 104

3.3.2. Notas essenciais dos direitos difusos 108

3.3.3. Direitos difusos: insuficiência da definição legal e proposta para uma definição mais abrangente e precisa 117

3.4. A necessária correspondência de garantias processuais adequadas aos direitos proclamados pelo regime jurídico vigente 119

4. Mandado de segurança: Aspectos gerais e elementos estruturantes 129

4.1. Razões para o surgimento do mandado de segurança – escorço histórico 132

4.2. Estabelecimento constitucional e regência legal: o desenvolvimento do mandado de segurança 141

4.3. Natureza jurídica e definição: direito, ação ou garantia fundamental? 161

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4.4. Elementos estruturantes do mandado de segurança 174

4.5. O mandado de segurança coletivo regulamentado pela Lei 12.016/2009 181

4.6. Direito comparado 1854.6.1. Class actions norte-americanas 1854.6.2. O amparo na América Latina 189

5. Mandado de segurança coletivo para a tutela de direitos difusos e a legitimidade ativa expansiva 201

5.1. O mandado de segurança coletivo como instrumento processual apto à tutela jurisdicional de direitos difusos: premissas para a superação da teoria reducionista 216

5.2. A legitimidade ativa expansiva: para além do mínimo constitucional 227

5.2.1. Marcos diretivos para além do mínimo constitucional 253

5.2.2. Por uma legitimação ativa expansiva 259

Nota 279

6. Horizontes “democráticos” e “de direito” à tutela jurisdicional de direitos difusos 281

7. Conclusão 291

Referências 301

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Agradecimentos

Concluir uma pesquisa de doutorado não é nada fácil. Aliás, trata-se de algo particularmente difícil. Afinal, muita coisa muda durante quatro anos de trabalho intenso, desde a concepção do tema até a colocação do ponto que encerra a última linha do texto. O direito muda rapidamente. E o mesmo se dá com as nossas concepções acerca da forma de ver o objeto pesquisado, as hipóteses previamente for-muladas e os objetivos que se pretendia alcançar. Tudo isso sem falar da apreensão de ter o relatório com os resultados, ao final, avaliado em banca de conclusão de curso por competentíssimos e experientes professores.

Por isso, agora é preciso agradecer.Agradeço a Deus, por permitir que a minha ansiedade

e inquietude fossem, de algum modo, domadas pela con-centração e por doses de serenidade ao longo do processo de redação da tese.

Minha especial gratidão à minha orientadora junto ao PPGD da UFMG, Prof.ª Dr.ª Tereza Cristina Sorice Baracho Thibau, pelas provocações, pela amizade e pelas orientações de uma década.

Também é preciso render homenagens às valiosas críticas dos mestres que compuseram a banca do exame de tese: Prof. Dr. Gregório Assagra de Almeida (Universidade de Itaúna/MPMG), Prof. Dr. Saulo Versiani Penna (FEAD/TJMG), Prof.ª Dr.ª Adriana Goulart de Sena Orsini (UFMG/

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TRT/MG), Prof. Dr. Rodolfo Viana Pereira (UFMG/IDDE). Sou grato pelo atencioso exame do texto, a gen-tileza das provocações e críticas na fase de qualificação, e os debates travados por ocasião da defesa da tese. Cada um, a seu modo, contribuiu de forma singular para a revisão e conclusão do texto que ora é oferecido à crítica do público interessado no tema.

Registro, ainda, gratidão pela oportunidade de estu-dar, mediante ingresso por concurso público, em um dos melhores Programas de Pós-Graduação em Direito deste País, e conviver com os colegas mestrandos e doutorandos. Sempre digo que a melhor parte são as aulas da Pós, o convívio com professores e alunos de todas as áreas.

Meus sinceros agradecimentos a toda equipe da Edi-tora D’Plácido, a quem cumprimento na pessoa do Plácido, sempre entusiasmado e em busca de novos projetos. Como sempre diz: “vai ser um sucesso!” Meu caro amigo, que muitas portas se abram a vocês, porque o céu é o limite.

Desde 2006 estou bastante envolvido com variadas atividades acadêmicas, tendo lecionado as disciplinas de Direito Processual Civil e Coletivo para diversos cursos de graduação: Faculdade Metropolitana de Belo Horizonte (posteriormente Faculdade de Negócios de BH/COC/SEB/Anhanguera), Centro Universitário Newton Paiva, Universidade Federal de Juiz de Fora (campus de Gover-nador Valadares), Universidade Federal de Ouro Preto. Também são vários os cursos de pós-graduação lato sensu e preparatórios para concursos das diversas carreiras jurídi-cas: Supremo Concursos, Praetorium, Escola Superior de Notários e Registradores – SERJUS/MG, Instituto IOB, CEAJUFE, Aprobatum/Anamages. Por isso, imprescindí-vel o agradecimento a todos os meus atuais e ex-alunos, presenciais e telepresenciais. Vocês são a razão da busca in-cessante por conhecimento, atualização e aperfeiçoamento. Considerem-se pessoalmente abraçados.

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À minha família que, de perto, comemorou, torceu, sofreu, que soube compreender minha ausência e que, agora, compartilha comigo desta conquista. Ao Bruno, pelos comentários e críticas fundamentais.

Ao meu avô, Lourival Vieira da Silva, que por longos quatro anos aguardou pacientemente por isto. Pronto!

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Prefácio

A vida nos concede momentos de honra e de alegria que são difíceis de serem descritos em palavras. Posso afir-mar que esse é o meu caso neste prefácio da obra Mandado de Segurança Coletivo – tutela de direitos difusos e legitimidade ativa expansiva, de autoria do Professor Mestre e Doutor Leonardo Silva Nunes.

Eu já tinha sido premiado quando prefaciei, do mesmo autor, o livro Tutela Inibitória Coletiva, uma obra singular e atual sobre um dos tópicos mais importantes da tutela coletiva, publicada também pela Editora D’Plácido.

Agora, por minha surpresa e felicidade, quando eu estava distante do País para realizar a minha pesquisa de pós-doutoramento na Syracuse University, NY, USA, fui convidado para prefaciar o mais recente livro do Professor Doutor Leonardo Silva Nunes, que é o resultado de sua tese de doutorado, defendida com muito brilhantismo perante Universidade Federal de Minas Gerais sob a orientação da prestigiada Professora Doutora Tereza Cristina Sorice Baracho Thibau. Tive a honra de integrar a banca exami-nadora e, confesso, aprendi muito tanto na leitura da tese quanto no ato solene de sua defesa pública.

Há muita sintonia entre o pensamento de Leonardo Silva Nunes e o meu pensamento. Prova disso está na ma-neira com que Leonardo e eu interpretamos as garantias de tutela coletiva. Nós dois seguimos uma linha de interpretação

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expansiva de ampliação da eficácia social das ações coletivas. Esse direcionamento interpretativo abrange a categoria da admissibilidade processual e o objeto material das garantias constitucionais fundamentais e tem como uma de suas justificativas principiológicas o projeto constitucional de sociedade livre, justa e solidária, consagrado no artigo 3º da Constituição da República Federativa do Brasil.

O mandado de segurança é uma das garantias consti-tucionais mais genuínas em termos de eficácia jurídica (art. 5º, LXIX e LXX, da CR/1988). Essa assertiva é confir-mada pela sua força ambivalente para tutelar tanto direitos individuais quanto direitos coletivos em situações de lesão ou de ameaça, assim como pela celeridade procedimental e pela carga de eficácia potencializada dos provimentos jurisdicionais mandamentais.

No presente livro, o Professor Leonardo Nunes fez duas grandes escolhas metodológicas que caracterizam e delineiam muito bem a sua tese de doutoramento e, ainda, justificam o modelo de estruturação da pesquisa sobre o mandado de segurança coletivo, conduzido pelo autor à luz da teoria dos direitos e garantias constitucionais fundamentais. A primeira escolha metodológica está no pla-no da análise do objeto material do mandado de segurança, quando o autor sustenta, com clareza de raciocínio e precisa fundamentação constitucional, o cabimento de mandado de segurança para a tutela de direitos ou interesses difusos, inseridos constitucionalmente como direitos fundamen-tais. A segunda escolha metodológica relaciona-se com o desenvolvimento da ideia defendida pelo autor no sentido de uma necessária interpretação expansiva da legitimidade coletiva ativa para a impetração do mandado de segurança coletivo, momento em que o autor deixa claro o grande equívoco das teses restritivas.

As escolhas metodológicas da pesquisa do autor me-recem muitos aplausos, pois visaram enfrentar duas áreas

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importantíssimas da problemática do mandado segurança coletivo como garantia constitucional fundamental, as quais têm gerado interpretações equivocadas na doutrina e na jurisprudência que se orientam por uma visão redu-cionista, principalmente após o advento da Lei Federal nº 12.016/2009, que disciplina o mandado de segurança.

Portanto, ao estruturar uma pesquisa de doutorado com clareza de ideias e precisão de raciocínio jurídico e sus-tentar o cabimento de mandado de segurança para a tutela de direitos ou interesses difusos e, em seguida, demonstrar a adequação de uma interpretação ampliativa da legitimidade ativa para a impetração de mandado de segurança na tutela coletiva, a pesquisa cumpriu as suas nobres funções. No plano da pesquisa em si e sua relevância social por inovar em área importante da pesquisa jurídica e, também, no plano prático, ao deixar claros para a comunidade jurídica todos os argumentos que justificam a ampliação da tutela coletiva dos direitos fundamentais pela via da garantia constitucional do mandado de segurança coletivo.

Estou convicto de que o livro será mais um grande sucesso do autor e da Editora D’Plácido, que estão de pa-rabéns por essa belíssima obra que se constituirá em um guia seguro sobre o mandado de segurança coletivo para estudantes de direito, professores, advogados, juízes, procu-radores, promotores de justiça, defensores públicos, con-cursandos e todos aqueles que se interessem pelo Direito.

Syracuse, NY, USA, Primavera de 2015.

Gregório Assagra de Almeida

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O mandado de segurança é instituto tipicamente brasileiro, com status de garantia constitucional, surgido no ordenamento jurídico, em 1934, ligado a outra garantia, o habeas corpus, ambos instrumentos direcionados à defesa de direitos pessoais violados ou ameaçados pelo Poder Público.

Ao tempo de sua concepção, o mandado de segurança foi planejado para atuar em defesa dos direitos até então reconhecidos, quais sejam, os direitos subjetivos individuais. Durante o curso de sua longa história, após sobreviver a uma sucessão de regimes democráticos e autoritários, de-senvolveu-se1 e consolidou-se no atual regime democrático como uma notável garantia constitucional-processual.

Com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o mandado de segurança teve reforçada sua aptidão constitucional, ampliando-se significativamente seu campo de atuação. A partir deste marco, embora ainda conserve sua função de instrumento aplicável à defesa de direitos individuais, o mandado de

1 A respeito da criação do mandado de segurança e de seu desenvol-vimento, Celso Agrícola Barbi observa: “A fórmula tímida apre-sentada pelo legislador constituinte ganhou contornos mais amplos na prática dos tribunais, cresceu desordenadamente, acarretando alguns males, mas trazendo imensuráveis vantagens” (BARBI, Celso Agrícola. Do mandado de segurança 10. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 2).

Introdução

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segurança alargou sua fisionomia, desdobrando-se para abarcar também a figura do mandado de segurança coletivo, destinado à proteção de direitos coletivos lato sensu2, que extrapolam a seara meramente individual.

Da forma como foi consagrado no texto constitucio-nal (art. 5º, LXX, CRB/1988), o mandado de segurança coletivo possui os mesmos pressupostos exigidos para o mandado de segurança individual, diferindo-se especial-mente quanto aos legitimados à impetração e quanto a sua abrangência.

Além de possuir o status de garantia constitucional, o mandado de segurança coletivo se consubstancia em um dos diversos instrumentos processuais que, atuando de maneira integrada, formam o sistema brasileiro de tutela jurisdicional coletiva. Situa-se, desse modo, ao lado da ação civil pública, da ação popular e das ações coletivas em geral, todos eles direcionados a conferir a mais adequada tutela aos direitos coletivos lato sensu, igualmente reconhecidos pelo ordenamento jurídico brasileiro.3

Nada obstante, a consagração do mandado de segu-rança coletivo no ordenamento jurídico brasileiro trou-xe consigo algumas dúvidas, incidentes sobre seu objeto material e sobre a determinação das pessoas que podem manejá-lo. Quanto à primeira, suscitaram-se objeções à tutela de direitos difusos, porquanto estes diriam respeito a meros “interesses”, e não propriamente a “direitos”, es-capando, assim, do campo de atuação desta garantia, que não prescinde da demonstração da presença de um “direito líquido e certo”. Quanto à segunda, revela-se a perplexidade

2 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Mandado de segurança – uma apresentação. In: GONÇALVES, Aroldo Plínio (Coord.). Mandado de segurança. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 75.

3 CRB/1988, TÍTULO II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, CAPÍTULO I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos.

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em face da enumeração constitucional dos legitimados ao mandado de segurança coletivo, cujo rol é bem restrito se analisado diante do sistema de tutela jurisdicional coletiva.

Essas questões são formuladas da seguinte maneira: Quanto a sua abrangência, quais espécies de direitos cole-tivos seriam tuteláveis pela via do mandado de segurança coletivo? Haveria alguma limitação quanto a seu objeto material? De outra parte, no que se refere ao aspecto subjetivo, seria taxativa a relação constitucional dos legi-timados ativos ou, ao contrário, tratar-se-ia apenas de um estabelecimento “mínimo”?

Nos limites temáticos propostos nesta pesquisa, a edição da Lei 12.016/2009, publicada a pretexto de regu-lamentar o mandado de segurança, individual e coletivo, não fez mais que agitar aquelas questões. Isto porque, além de acrescentar disposição estranha ao texto constitucional, em aparente restrição ao objeto do mandado de segurança coletivo, limitou-se a reproduzir parcialmente o dispositivo constitucional sobre seus legitimados.

A busca por respostas às indagações formuladas cons-titui, portanto, o cerne da pesquisa.

Para alcançar tais respostas, diligencia-se em precisar o patamar evolutivo dos direitos positivados no ordenamento jurídico brasileiro, a fim de assentar os direitos difusos no rol de direitos fundamentais, bem como seu caráter vinculante, que implica máxima eficácia e aplicabilidade. São, então, enumeradas as notas essenciais dos direitos difusos, que os caracterizam como direitos essencialmente coletivos, e apresentado o atual panorama do correspondente sistema de tutela jurisdicional, ressaltando-se a necessária corres-pondência de garantias processuais adequadas aos direitos proclamados pelo regime jurídico vigente.

Em seguida, cuida-se de esclarecer os aspectos gerais e os elementos estruturantes do mandado de segurança, tais como as razões para seu surgimento, sua natureza jurídica,

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seus pressupostos constitucionais e sua regência legal. Apre-senta-se o mandado de segurança coletivo, segundo regula-mentação da Lei 12.016/2009. Registram-se, ainda, algumas impressões do estudo comparado de institutos semelhantes, especialmente o mexicano juicio de amparo.

Bem delimitados os pilares temáticos sobre os quais se desenvolve a argumentação, demonstram-se os fundamentos que possibilitam relacionar a garantia constitucional-processual do mandado de segurança coletivo com a tutela adequada de direitos difusos. Compreendida que está no sistema brasileiro de tutela jurisdicional coletiva, infere-se do sistema jurídico uma compreensão abrangente do regime de legitimação ativa para o emprego desta garantia, de modo a alargar seu campo de atuação para além do mínimo constitucional.

Ao final, intenta-se esboçar os horizontes do man-dado de segurança coletivo, em conformidade com os norteamentos jurídicos e democráticos estabelecidos pelo ordenamento jurídico vigente.

Para atingir esses resultados, a abordagem realizada levou em consideração o prévio exame de ampla doutri-na nacional e estrangeira, bem como da análise, por livre amostragem, de jurisprudência qualitativa pertinente às questões delimitadas.

Como um todo, a exposição está edificada sobre a diretriz de ampliação da tutela jurisdicional aos direitos coletivos lato sensu4, em sintonia com a ideia de maior

4 De acordo com Gregório Assagra de Almeida, a atual fase de evo-lução da tutela jurídica dos direitos coletivos é a da tutela jurídica integral, irrestrita, ampla. Segundo afirma, com a CRB/1988 “houve, no Brasil, a transformação do nosso ordenamento jurídico do plano predominantemente individualista para o plano da tutela jurídica ampla e integral, a Direito Individual e a Direito Coletivo” (AL-MEIDA, Gregório Assagra de. Direito material coletivo: superação da summa divisio direito público e direito privado por uma nova summa divisio constitucionalizada. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 427).

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aproximação entre o direito material e o processo5, e a necessidade de “fazer do Direito instrumento de transfor-mação com justiça da realidade social”.6

Embora se trate de um instituto de longeva existência jurídica, sendo objeto de inúmeros estudos e tratados ex-clusivamente elaborados a respeito, percebe-se que ainda há campo para melhor sistematização e desenvolvimento do mandado de segurança. Particularmente em relação ao mandado de segurança coletivo, ainda é possível adaptá-lo melhor às necessidades de seu objeto material, fazendo deste instrumento mais consentâneo com sua missão cons-titucional, tornando-o, com isso, mais harmonioso com os propósitos democráticos instituídos pelo Direito brasileiro.

Portanto, a busca empreendida nesta pesquisa está voltada para a tentativa de compreender a garantia cons-titucional do mandado de segurança coletivo diante da realidade social para a qual se dirige e, com isso, apresentar uma linha interpretativa que promova a maximização do instrumento, para dele extrair toda sua potencialidade.

5 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e processo: influência do direito material sobre o processo. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 17-19.

6 ALMEIDA, Gregório. Direito material coletivo..., p. 418.

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Tutela de direitos difusos e legitim

idade ativa expansivaLeonardo Silva Nunes

LEONARDO SILVA NUNESDoutor, Mestre e Graduado em Di-reito pela Universidade Federal de Minas Gerais (FD|UFMG). Profes-sor Adjunto de Direito Processual Civil e Coletivo da Universidade Fe-deral de Ouro Preto (DEDIR|UFOP). Leciona as disciplinas Direito Pro-cessual Civil e Coletivo em cursos de pós-graduação e preparatórios para concursos de carreiras jurídi-cas. Membro convidado do Conse-lho Editorial do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Membro do Institu-to Brasileiro de Direito Processual e do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Advogado.E-mail: [email protected]

Originado da CRB/1988, o mandado de segurança coletivo compartilha os mesmos fundamentos históricos que � zeram culminar a criação do mandado de segurança individual, cada um a seu tempo e modo, direcionados à proteção de direitos contra as investidas do Poder Público. Por se revestirem de garantias constitucional-processuais, ambas as espécies se imunizam contra as limitações provenientes da legislação ordinária, incapaz de reduzir-lhes a magnitude, seja por restrições indevidas em seu campo de atuação, seja, mesmo, por sua supressão do ordenamento jurídico.

Os argumentos tecidos no texto são aderentes ao atual propósito constitucional-democrático, que abandona o caráter individualista de regimes anteriores para construir um ordenamento jurídico comprometido em promover a mais ampla tutela jurídica a direitos coletivos e individuais. Este panorama sustenta a tese de que o mandado de segurança coletivo é procedimento apto à tutela jurisdicional de direitos difusos, sendo, ainda, factível a perspectiva expansiva do seu regime de legitimidade ativa.

A consagração do mandado de segurança coletivo pela CRB/1988 fez suscitar dúvi-das que incidem sobre o seu objeto material e sobre a de-terminação das pessoas que podem manejá-lo. A primeira diz respeito às objeções à tu-tela de direitos difusos, por-quanto estes diriam respeito a meros “interesses”, e não propriamente a “direitos”, escapando, assim, do campo de atuação desta garantia, que não prescinde da de-monstração da presença de um “direito líquido e certo”. A segunda revela-se na per-plexidade em face da enu-meração constitucional dos legitimados ao mandado de segurança coletivo, cujo rol é bem restrito se analisado diante do sistema de tutela jurisdicional coletiva. A pes-quisa retrata a tentativa de compreender esta garantia constitucional diante da rea-lidade social para a qual se dirige e, com isso, apresentar uma linha interpretativa que promova a maximização do instrumento, para dele extrair toda sua potencialidade.

MANDADO DE

SEGURANÇA COLETIVO:

L e o n a r d o S i l v a N u n e s

2508207885849

ISBN 978-85-8425-082-0

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