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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Seção Cível de Direito Público 1 L/P RELATÓRIO Classe : Mandado de Segurança n.º 0021998-53.2016.8.05.0000 Foro de Origem : Salvador Órgão : Seção Cível de Direito Público Relatora : Desa. Lígia Maria Ramos Cunha Lima Impetrante : Pedro Miranda dos Santos Advogado : Jorge Santos Rocha Junior (OAB: 12492/BA) Advogado : Manuela Castor dos Santos (OAB: 34409/BA) Impetrado : Governador do Estado da Bahia Impetrado : Secretário da Administração do Estado da Bahia Proc. Estado : Simone Silvany de Souza Pamponet Proc. Justiça : Itanhy Maceió Batista Assunto : Gratificações e Adicionais Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por PEDRO MIRANDA DOS SANTOS figurando como autoridades coatoras o SECRETÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA e o GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, e litisconsorte passivo o ESTADO DA BAHIA, pugnando pela concessão da segurança no sentido de estender ao Impetrante o benefício da elevação do nível da Gratificação de Atividade Policial GAP para o nível V. Relata o Impetrante que é integrante do quadro da Policia Militar do Estado da Bahia, estando atualmente em inatividade funcional. Ainda, que em 08.03.2012 foi sancionada a Lei Estadual nº 12.566 que, dentre outras providências, alterou a estrutura remuneratória dos postos e das graduações da Polícia Militar do Estado da Bahia e concedeu reajustes. Que o art. 8º, da referida Lei, afastou de sua abrangência os policiais militares inativos, com a sua exclusão do benefício da elevação do nível da Gratificação de Atividade Policial GAP para os níveis IV e V, o que configura

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Seção Cível de Direito Público

1

L/P

RELATÓRIO

Classe : Mandado de Segurança n.º 0021998-53.2016.8.05.0000

Foro de Origem : Salvador

Órgão : Seção Cível de Direito Público

Relatora : Desa. Lígia Maria Ramos Cunha Lima

Impetrante : Pedro Miranda dos Santos

Advogado : Jorge Santos Rocha Junior (OAB: 12492/BA)

Advogado : Manuela Castor dos Santos (OAB: 34409/BA)

Impetrado : Governador do Estado da Bahia

Impetrado : Secretário da Administração do Estado da Bahia

Proc. Estado : Simone Silvany de Souza Pamponet

Proc. Justiça : Itanhy Maceió Batista

Assunto : Gratificações e Adicionais

Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por PEDRO

MIRANDA DOS SANTOS figurando como autoridades coatoras o SECRETÁRIO

DA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA e o GOVERNADOR DO

ESTADO DA BAHIA, e litisconsorte passivo o ESTADO DA BAHIA, pugnando

pela concessão da segurança no sentido de estender ao Impetrante o benefício da

elevação do nível da Gratificação de Atividade Policial – GAP para o nível V.

Relata o Impetrante que é integrante do quadro da Policia Militar

do Estado da Bahia, estando atualmente em inatividade funcional.

Ainda, que em 08.03.2012 foi sancionada a Lei Estadual nº

12.566 que, dentre outras providências, alterou a estrutura remuneratória dos postos e

das graduações da Polícia Militar do Estado da Bahia e concedeu reajustes.

Que o art. 8º, da referida Lei, afastou de sua abrangência os

policiais militares inativos, com a sua exclusão do benefício da elevação do nível da

Gratificação de Atividade Policial – GAP para os níveis IV e V, o que configura

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L/P

violação do Princípio da Paridade de Vencimentos e de Proventos esculpido no art. 7º,

da Emenda Constitucional nº 41/2003, no art. 42, § 2º, da Constituição do Estado da

Bahia, e no art. 121, da Lei Estadual nº 7.990/2001, e, em última análise, de seu direito

líquido e certo.

Por fim requereu a concessão do benefício da gratuidade da

justiça, com final concessão da segurança.

O SECOMGE, às fls. 33, procedeu à distribuição recaindo a

relatoria a esta Desembargadora.

Às fls. 34/38, foi proferida decisão monocrática indeferindo ao

Impetrante o benefício da gratuidade da justiça, e, após o recolhimento das custas

processuais cabíveis, determinando a intimação das autoridades coatoras para

prestarem as informações pertinentes, no decênio legal, a intimação pessoal do

representante judicial do Estado da Bahia para, querendo, intervir no feito e apresentar

defesa, e o envio dos autos à Procuradoria de Justiça para oferecimento de Parecer

conforme art. 7º, incisos I, e II, e art. 12, da Lei Federal nº 12.016/2009.

O Estado da Bahia interveio no feito, às fls. 49/60, aduzindo a

inadequação da via eleita pelo descabimento da impetração do mandamus contra lei

em tese; a ocorrência da decadência; a prescrição total, pois o ato de aposentação teria

mais de cinco anos; a impossibilidade de revisão dos proventos do Impetrante para

contemplar a GAP em referência pelo Princípio da Irretroatividade das Leis; a

constitucionalidade da Lei Estadual nº 12.566/2012 conforme declarado pelo Tribunal

Pleno do TJBA; a ausência do preenchimento dos requisitos específicos, elencados na

Lei Estadual nº 12.566/2012, para a percepção da GAP V pelo Impetrante; a natureza

jurídica da GAP como sendo gratificação pro labore faciendo; a afronta ao Princípio

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L/P

da Separação dos Poderes e ao art. 169, § 1º, da CF/1988.

As autoridades coatoras prestaram Informações, às fls. 45/47 e às

fls. 61/62, pugnando pela não concessão da segurança.

Instada a se manifestar, a Procuradoria de Justiça opinou no

sentido de concessão da segurança (fls. 65/75).

Às fls. 77, foi proferido despacho instando o Impetrante a se

manifestar acerca da intervenção do Estado da Bahia e das informações das

autoridades coatoras.

Às fls. 79/106, o Impetrante apresentou sua manifestação,

pugnando pelo não acolhimento das preliminares suscitadas e final concessão da

segurança pleiteada.

Com relatório lançado, encaminho os autos à secretaria da Seção

Cível de Direito Público, pedindo dia para julgamento.

Salvador, 06 de abril de 2017.

DESA. LIGIA MARIA RAMOS CUNHA LIMA

Relatora

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L/P

ACÓRDÃO

Classe : Mandado de Segurança n.º 0021998-53.2016.8.05.0000

Foro de Origem : Salvador

Órgão : Seção Cível de Direito Público

Relatora : Desa. Lígia Maria Ramos Cunha Lima

Impetrante : Pedro Miranda dos Santos

Advogado : Jorge Santos Rocha Junior (OAB: 12492/BA)

Advogado : Manuela Castor dos Santos (OAB: 34409/BA)

Impetrado : Governador do Estado da Bahia

Impetrado : Secretário da Administração do Estado da Bahia

Proc. Estado : Simone Silvany de Souza Pamponet

Proc. Justiça : Itanhy Maceió Batista

Assunto : Gratificações e Adicionais

MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

IMPLEMENTAÇÃO DA GAP V A MILITAR

INATIVO. PRELIMINAR DE INADEQUAÇÃO DA

VIA ELEITA. REJEIÇÃO. WRIT IMPETRADO NÃO

CONTRA A LEI EM TESE, MAS SIM CONTRA ATO

OMISSIVO DOS IMPETRADOS QUE VIOLA

PRINCÍPIO DA PARIDADE DE TRATAMENTO.

PRELIMINAR DE DECADÊNCIA. REJEIÇÃO.

CONFIGURAÇÃO DE CONDUTA OMISSIVA

CONTINUADA DA AUTORIDADE COATORA A

IMPEDIR A PERFEIÇÃO DA DECADÊNCIA.

PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE

DIREITO. REJEIÇÃO. OBRIGAÇÃO COM

CARÁTER ALIMENTAR E DE TRATO SUCESSIVO

COM RENOVAÇÃO DAS PRESTAÇÕES MÊS À

MÊS. APLICABILIDADE DA SÚMULA 85 DO STJ.

GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE POLICIAL (GAP)

CRIADA PELA LEI ESTADUAL Nº 7.145/1997 COM

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L/P

INESCUSÁVEL CARÁTER GENÉRICO,

ALCANÇANDO TODOS OS POLICIAIS

MILITARES NA ATIVA INDISTINTAMENTE, EM

VIRTUDE DA NÃO IMPLEMENTAÇÃO PELO

ESTADO DA BAHIA DOS PROCESSOS

ADMINISTRATIVOS DE VERIFICAÇÃO DO

PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. ARTIGO 42,

§ 2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 QUE

TRANSFERE A NORMATIZAÇÃO DA QUESTÃO

DOS DIREITOS DE PENSIONISTAS E MILITARES

ESTADUAIS PARA LEI ESTADUAL ESPECÍFICA.

LEI ESTADUAL CONSUBSTANCIADA NO

ESTATUTO DOS POLICIAIS MILITARES DO

ESTADO DA BAHIA – LEI ESTADUAL Nº 7.990/2001

- QUE CONFERE DIREITO DE PARIDADE NOS

TERMOS DO ARTIGO 121. INAPLICABILIDADE

DAS REGRAS DE TRANSIÇÃO DAS EC N.º 41/03 E

Nº 47/05 AOS MILITARES. AUSÊNCIA DE

CONCESSÃO DE AUMENTO SEM PREVISÃO

NORMATIVA PRÓPRIA E DE VIOLAÇÃO AO

PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES PELA

MERA APLICAÇÃO DA MAGNA CARTA DE 1988 E

DEMAIS NORMATIVOS PERTINENTES.

CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS

MORATÓRIOS ESTABELECIDOS CONFORME

CONTORNOS DO STF NO JULGAMENTO DAS

ADINS NÚMEROS 4.357/DF e 4.425/DF.

PRELIMINARES REJEITADAS E CONCESSÃO

PARCIAL DA SEGURANÇA PLEITEADA.

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L/P

Rejeição da preliminar de inadequação da via eleita.

Impetrante que maneja o remédio heróico para coibir o ato

omissivo das autoridades coatoras que, após a vigência da

lei instituidora da GAP IV e V, violou o Principio

Constitucional da Paridade de Vencimentos entre ativos e

inativos e consequentemente seu direito líquido e certo.

Não impetração contra a lei em tese.

Rejeição da preliminar de decadência. Hipótese dos autos

que retrata conduta omissiva e continuada da autoridade

coatora, não se perfazendo, portanto, a decadência, pela

renovação continuada da relação jurídica.

Rejeição da preliminar de prescrição do fundo de direito.

Verbas questionadas que possuem caráter alimentar e

tratam-se de obrigação de trato sucessivo, cujas prestações

se renovam mês à mês. Aplicação da Súmula 85, do STJ.

Cerne da questão que gira em torno da análise do caráter da

GAP, se uma vantagem genérica ou transitória/pessoal, e,

por consequência, do preenchimento ou não dos requisitos

para a percepção da GAP V, por parte do Impetrante.

Impetrante que visa, ex vi do art. 40, § 8º, da CF/1988 (com

redação vigente à época e em data anterior à Emenda

Constitucional nº 41/2003), e do art. 42, § 2º, da

Constituição do Estado da Bahia, o reconhecimento do seu

direito à percepção da Gratificação de Atividade Policial -

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L/P

GAP, na referência V, conferidas aos policiais militares em

atividade, com a incorporação dos respectivos valores nos

seus proventos.

Gratificação de Atividade Policial Militar (GAP) criada

pela Lei Estadual n.º 7.145/97, com inescusável caráter

genérico, alcançando todos os policiais militares da ativa

indistintamente, em virtude da ausência de implementação

pelo Estado da Bahia dos pertinentes processos

administrativos para apuração do preenchimento ou não

dos requisitos dispostos na lei de regência.

Posicionamento uníssono do TJBA, quanto ao caráter

genérico da GAP, em consonância com precedentes do

STF e do STJ, que já assentaram entendimento de que as

gratificações, quando pagas a todos os servidores da ativa

de forma indistinta e no mesmo percentual, tem natureza

genérica, e, por conseguinte o pagamento é extensível a

aposentados e pensionistas.

Caráter genérico da GAP que em conjugação com as

normas extraíveis dos §§ 1º e 2º do art. 42 e do § 3º, inciso

X, do art. 142, ambos da CF/88, cumulados com as do art.

48, da Constituição Estadual da Bahia e do art. 121 do

Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Bahia, têm

como conclusão sua extensão aos inativos e pensionistas.

Não aplicabilidade das EC nº 41/03 e nº 47/05 aos

militares, mas apenas aos servidores públicos civis.

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L/P

Poder Judiciário que não age como Legislador ao

reconhecer o direito à percepção da gratificação pretendida,

posto que aplica apenas a legislação em vigor, cumprindo

com sua a função garantida constitucionalmente.

Inexistência de violação à norma do art. 169, § 1º, incisos I,

e II, da CF, que vedam a criação, majoração ou extensão de

novos benefícios sem a existência de fonte de custeio

anterior. Impetrante que visa a implementação da garantia

do direito à isonomia de vencimento outorgado pela

Constituição da República.

Poder Judiciário a quem cabe apreciar as questões que lhe

são apresentadas e a proceder ao controle externo dos atos

praticados pela Administração Pública, não implicando tal

conduta na concessão de aumento ao Impetrante, sem

previsão normativa própria, muito menos violação ao

Principio da Separação de Poderes, apenas assegurando a

aplicação da Constituição Federal e das normas legais que

regem a matéria.

Isenção dos Impetrados quanto às custas processuais,

conforme art. 10, inciso IV, da Lei Estadual nº

12.373/2011, que regulamenta a questão em nível estadual.

Não condenação dos Impetrados quanto aos honorários

advocatícios de sucumbência, de acordo com o art. 25, da

Lei do Mandado de Segurança

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L/P

Rejeição das preliminares suscitadas. Concessão parcial da

segurança impondo aos Impetrados a obrigação de

implantar a GAP V no vencimento do Impetrante, na

mesma forma e percentual contemplados aos policiais em

atividade, com efeitos patrimoniais a partir da impetração

do writ, conforme art. 14, § 4º, da Lei nº 12.016/2009.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Mandado de

Segurança nº 0021998-53.2016.8.05.0000, de Salvador, em que são Impetrante e

Autoridades Coatoras PEDRO MIRANDA DOS SANTOS, o SECRETÁRIO DA

ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA e o GOVERNADOR DO

ESTADO DA BAHIA, respectivamente.

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Seção Cível de

Direito Público, por maioria de votos, de acordo com o voto desta Relatora:

A) Rejeitar as preliminares suscitadas pelo Estado da Bahia;

B) Conceder parcialmente a segurança impondo aos

Impetrados a obrigação de implantar a GAP V no vencimento do Impetrante, na

mesma forma e percentual contemplados aos policiais em atividade, com efeitos

patrimoniais a partir da impetração do writ, conforme art. 14, § 4º, da Lei nº

12.016/2009;

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L/P

C) Fixar que o débito retroativo deve ser atualizado

monetariamente, desde o vencimento de cada parcela até a expedição do precatório,

pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR) e, após, pelo

IPCA-E;

D) Fixar que ao débito retroativo deverá incidir juros

moratórios calculados desde a citação pelo percentual aplicado à caderneta de

poupança;

E) Não condenar os Impetrados ao pagamento das custas

processuais, face a isenção legal esculpida no art. 10, inciso IV, da Lei Estadual nº

12.373/2011.

F) Não condenar os Impetrados quanto aos honorários

advocatícios, de acordo com o art. 25, da Lei do Mandado de Segurança.

RELATÓRIO

Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por PEDRO

MIRANDA DOS SANTOS figurando como autoridades coatoras o SECRETÁRIO

DA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA e o GOVERNADOR DO

ESTADO DA BAHIA, e litisconsorte passivo o ESTADO DA BAHIA, pugnando

pela concessão da segurança no sentido de estender ao Impetrante o benefício da

elevação do nível da Gratificação de Atividade Policial – GAP para o nível V.

Relata o Impetrante que é integrante do quadro da Policia Militar

do Estado da Bahia, estando atualmente em inatividade funcional.

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L/P

Ainda, que em 08.03.2012 foi sancionada a Lei Estadual nº

12.566 que, dentre outras providências, alterou a estrutura remuneratória dos postos e

das graduações da Polícia Militar do Estado da Bahia e concedeu reajustes.

Que o art. 8º, da referida Lei, afastou de sua abrangência os

policiais militares inativos, com a sua exclusão do benefício da elevação do nível da

Gratificação de Atividade Policial – GAP para os níveis IV e V, o que configura

violação do Princípio da Paridade de Vencimentos e de Proventos esculpido no art. 7º,

da Emenda Constitucional nº 41/2003, no art. 42, § 2º, da Constituição do Estado da

Bahia, e no art. 121, da Lei Estadual nº 7.990/2001, e, em última análise, de seu direito

líquido e certo.

Por fim requereu a concessão do benefício da gratuidade da

justiça, com final concessão da segurança.

O SECOMGE, às fls. 33, procedeu à distribuição recaindo a

relatoria a esta Desembargadora.

Às fls. 34/38, foi proferida decisão monocrática indeferindo ao

Impetrante o benefício da gratuidade da justiça, e, após o recolhimento das custas

processuais cabíveis, determinando a intimação das autoridades coatoras para

prestarem as informações pertinentes, no decênio legal, a intimação pessoal do

representante judicial do Estado da Bahia para, querendo, intervir no feito e apresentar

defesa, e o envio dos autos à Procuradoria de Justiça para oferecimento de Parecer

conforme art. 7º, incisos I, e II, e art. 12, da Lei Federal nº 12.016/2009.

O Estado da Bahia interveio no feito, às fls. 49/60, aduzindo a

inadequação da via eleita pelo descabimento da impetração do mandamus contra lei

em tese; a ocorrência da decadência; a prescrição total, pois o ato de aposentação teria

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L/P

mais de cinco anos; a impossibilidade de revisão dos proventos do Impetrante para

contemplar a GAP em referência pelo Princípio da Irretroatividade das Leis; a

constitucionalidade da Lei Estadual nº 12.566/2012 conforme declarado pelo Tribunal

Pleno do TJBA; a ausência do preenchimento dos requisitos específicos, elencados na

Lei Estadual nº 12.566/2012, para a percepção da GAP V pelo Impetrante; a natureza

jurídica da GAP como sendo gratificação pro labore faciendo; a afronta ao Princípio

da Separação dos Poderes e ao art. 169, § 1º, da CF/1988.

As autoridades coatoras prestaram Informações, às fls. 45/47 e às

fls. 61/62, pugnando pela não concessão da segurança.

Instada a se manifestar, a Procuradoria de Justiça opinou no

sentido de concessão da segurança (fls. 65/75).

Às fls. 77, foi proferido despacho instando o Impetrante a se

manifestar acerca da intervenção do Estado da Bahia e das informações das

autoridades coatoras.

Às fls. 79/106, o Impetrante apresentou sua manifestação,

pugnando pelo não acolhimento das preliminares suscitadas e final concessão da

segurança pleiteada.

É o que importa relatar. Passo a decidir.

VOTO

De logo passo a apreciar as preliminares arguídas pelo Estado da

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L/P

Bahia rejeitando-as pelas razões a seguir.

Em sua peça de intervenção, de fls. 49/60, o Estado da Bahia

suscitou a inadequação da via eleita pelo descabimento da impetração do mandamus

contra lei em tese, o que não prospera, posto que inescusável haver o Impetrante

impetrado o remédio heróico não contra lei em tese, o fazendo em verdade contra o ato

omissivo da autoridade coatora que, após a vigência da lei citada, violou o Principio

Constitucional da Paridade de Vencimentos entre ativos e inativos e consequentemente

seu direito líquido e certo.

Quanto à preliminar de decadência, merece ser, também,

rechaçada. A hipótese dos autos retrata uma conduta omissiva e continuada da

autoridade coatora, não se perfazendo, portanto, a decadência, pela renovação

continuada da relação jurídica.

Nesta senda o precedente do Colendo Tribunal da Cidadania.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE

SEGURANÇA. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA.

AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A violação do direito dos

aposentados renova-se no tempo, porquanto decorrente da

conduta omissiva de não se observar o principio

constitucional da paridade. 2. A jurisprudência do STJ é

firme no sentido de que, em se cuidando de ato omissivo

continuado, que envolve obrigação de trato sucessivo, o

prazo para o ajuizamento da ação mandamental

renova-se mês a mês, não havendo falar em decadência.

3. Agravo Regimental não provido. (STJ, AgRg no RMS

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L/P

37.603/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,

SEGUNDA TURMA, julgado em 20/03/2014, DJe

27/03/2014). Grifos acrescidos.

No que concerne à preliminar de prescrição, igualmente não

prospera, posto que as verbas questionadas possuem caráter alimentar e tratam-se de

obrigação de trato sucessivo, cujas prestações se renovam mês à mês. Aplicável, por

conseguinte, ao caso a Súmula nº 85, do STJ.

Súmula 85 do STJ - Nas relações jurídicas de trato

sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora,

quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a

prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do

quinquênio anterior à propositura da ação.

Em especifico o caso sub judice não se trata da prescrição do

próprio fundo de direito, pois esta pressupõe um ato comissivo da Administração

Pública no sentido de negar expressamente o direito postulado, o que não ocorre, mas

sim de prescrição de trato sucessivo que apenas alcança as parcelas vencidas antes do

quinquênio que antecedeu ao ajuizamento da Ação ex vi do art. 3°, do Decreto nº

29.910/32 c/c a Súmula 85 do STJ.

A corroborar os precedentes a seguir da lavra do Tribunal de

Justiça da Bahia.

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

APELAÇÃO. POLICIAIS MILITARES. PRESENÇA

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L/P

DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE.

INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE

DIREITO. PRELIMINAR REJEITADA. RELAÇÃO

JURÍDICA DE TRATO SUCESSIVO.

INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 85 DO STJ. NÃO

CONFIGURADA A FALTA DE INTERESSE DE AGIR.

REAJUSTE DOS SOLDOS E PROVENTOS

DECORRENTES DAS LEIS NºS 7.622/2000 E

10.558/2007. GENERALIDADE DA NORMATIVA

INSTITUIDORA DOS REAJUSTES DOS POLICIAIS

MILITARES DA BAHIA. LEI Nº 7.145/2000. REVISÃO

GERAL. (...) RECURSO PROVIDO EM PARTE.

(Classe: Apelação,Número do Processo:

0407958-03.2013.8.05.0001, Relator(a): Ilona Márcia Reis,

Quinta Câmara Cível, Publicado em: 14/07/2016). Grifos

acrescidos.

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ORDINÁRIA -

PRESCRIÇÃO DE FUNDO DE DIREITO QUE SE

AFASTA - PRESCRIÇÃO QUINQUENAL -

RELAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO - POLICIAL

MILITAR - PRETENSÃO DE RECEBIMENTO DA

GRATIFICAÇÃO DE HABILITAÇÃO POLICIAL

MILITAR (GHPM) CUMULADA COM A GAP -

SUPRESSÃO INDEVIDA DE GRATIFICAÇÃO DE

HABILITAÇÃO – (...)

1. Apelo provido para afastar a prescrição tendo em

vista que evidenciando prestação de trato sucessivo,

torna-se inaplicável a prescrição do fundo de direito na

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L/P

forma Súmula nº. 85 do STJ, devendo ser reconhecida a

prescrição tão somente quanto as parcelas anteriores ao

quinquênio da propositura da ação, nos termos dos

artigos 1º e 3° do Decreto 29.910/32.

(...)

6. Apelo provido em parte para determinar a

reincorporação da GHPM com pagamento dos valores

retroativos não abraçados pela prescrição quinquenal.

(Classe: Apelação,Número do Processo:

0099649-37.2011.8.05.0001, Relator(a): Maurício

Kertzman Szporer, Segunda Câmara Cível, Publicado em:

13/07/2016). Grifos acrescidos.

Assim, restam REJEITADAS as preliminares suscitadas pelo

Estado da Bahia.

Assentadas as questões acima, quanto ao mérito a pretensão do

Impetrante há de ser, em parte, acolhida, com a concessão parcial da segurança.

O cerne da questão gira em torno da análise do caráter da GAP,

se uma vantagem genérica ou transitória/pessoal, e, por consequência, do

preenchimento ou não dos requisitos para a percepção da GAP V, por parte do

Impetrante.

O Impetrante requer, ex vi do art. 40, § 8º, da CF/1988 (com

redação vigente à época e em data anterior à Emenda Constitucional nº 41/2003), e do

art. 42, § 2º, da Constituição do Estado da Bahia, o reconhecimento do seu direito à

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L/P

percepção da Gratificação de Atividade Policial - GAP, na referência V, conferidas aos

policiais militares em atividade, com a incorporação dos respectivos valores nos seus

proventos.

A Gratificação de Atividade Policial Militar (GAP) foi criada

pela Lei Estadual n.º 7.145/97, que em seu art. 6º, preconizou.

Lei Estadual n.º 7.145/97 - Art. 6º - Fica instituída a

Gratificação de Atividade Policial Militar, nas referências e

valores constantes do Anexo II, que será concedida aos

servidores policiais militares com o objetivo de compensar

o exercício de suas atividades e os riscos delas decorrentes,

levando-se em conta:

I - o local e a natureza do exercício funcional;

II - o grau de risco inerente às atribuições normais do posto

ou graduação;

III - o conceito e o nível de desempenho do policial militar.

Da correta interpretação da norma inescusável que a GAP foi

criada não apenas para compensar os riscos da atividade policial, mas a própria

atividade em si, não tendo, por conseguinte natureza transitória ou pessoal, por

alcançar todos os policiais militares da ativa indistintamente.

Como sabido, a GAP paga aos policiais em atividade, não

apresenta característica de retribuição por desempenho, ou mesmo compensação por

trabalho extraordinário ou que exija habilitação específica para tanto.

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L/P

Assim, a GAP possui caráter genérico, pois não se funda em

um suporte fático específico, constituindo-se em verdadeiro aumento da remuneração

ocultado como uma gratificação.

A latere, a Lei Estadual 12.566/2012, em seu art. 7º preconiza os

requisitos para a concessão da GAP, nas referências IV, e V, e, em seu art. 8º,

subordinou a elevação da gratificação ao efetivo exercício da atividade policial militar.

Lei Estadual 12.566/2012 - Art. 7º - O pagamento das

antecipações de que tratam os artigos 3º e 5º desta Lei não

é cumulável com a percepção da GAP em quaisquer das

suas referências.

Art. 8º - Para os processos revisionais excepcionalmente

previstos nesta Lei deverá o Policial Militar estar em

efetivo exercício da atividade policial militar ou em função

de natureza policial militar, sendo exigidos os seguintes

requisitos:

I - permanência mínima de 12 (doze) meses na referência

atual;

II - cumprimento de carga horária de 40 (quarenta) horas

semanais;

III - a observância dos deveres policiais militares, da

hierarquia e da disciplina, nos termos dos arts. 3º e 41 da

Lei nº 7.990, de 27 de dezembro de 2001.

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L/P

Parágrafo único - Os requisitos previstos neste artigo serão

comprovados com base nos registros relativos ao exercício

funcional do Policial Militar mantidos na Corporação,

limitados ao tempo de permanência do servidor na

referência atual.

Amparado nos dispositivos acima transcritos, em especifico o

art. 8º, para o policial militar alcançar os níveis IV, e V, da GAP seria necessário, além

da permanência mínima de 12 meses na última referência e o cumprimento de carga

horária de 40 horas semanais, requisitos já exigidos pela Lei Estadual 7.145/97, a

observância dos deveres policiais militares da hierarquia e da disciplina.

Portanto, em tese, a verificação dos requisitos aludidos

demandaria processos revisionais, e corroboraria um caráter propter personam à GAP.

Todavia, já tendo analisado a questão, o TJBA firmou

jurisprudência uníssona que reconhece o caráter genérico à GAP (entendimento

inclusive extensivo em suas referências IV, e V), vez que adimplida pelo Estado da

Bahia a TODOS os policiais militares da ativa indistintamente, sem a instauração

do pertinente processo administrativo para apuração do preenchimento ou não dos

requisitos dispostos na lei de regência.

O caráter genérico da GAP em conjugação com as normas

extraíveis dos §§ 1º e 2º, do art. 42 e do § 3º, inciso X, do art. 142, ambos da

CF/88, cumulados com as do art. 48, da Constituição Estadual da Bahia e do art.

121, do Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Bahia, têm como conclusão

óbvia sua extensão aos inativos e pensionistas.

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L/P

CF/1988 - Art. 42 (…)

§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito

Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado

em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e

do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica

dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X,

sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos

respectivos governadores. (Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 20, de 15/12/98).

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Em

c/emc20.htm

§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do

Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for

fixado em lei específica do respectivo ente estatal.

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,

19.12.2003). Grifos acrescidos.

CF/1988 - Art. 142 (…)

§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados

militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser

fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 18, de 1998).

(…)

X — a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas,

os limites de idade, a estabilidade e outras condições de

transferência do militar para a inatividade, os direitos,

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L/P

os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras

situações especiais dos militares, consideradas as

peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas

cumpridas por força de compromissos internacionais e

de guerra. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de

1998). Grifos acrescidos.

Constituição do Estado da Bahia - Art. 48 - Os direitos,

deveres, garantias, subsídios e vantagens dos servidores

militares, bem como as normas sobre admissão, acesso na

carreira, estabilidade, jornada de trabalho, remuneração de

trabalho noturno e extraordinário, readmissão, limites de

idade e condições de transferência para a inatividade serão

estabelecidos em estatuto próprio, de iniciativa do

Governador do Estado, observada a legislação federal

específica.

Lei Estadual 7.990/01 - Art. 121 - Os proventos da

inatividade serão revistos na mesma proporção e na mesma

data, sempre que se modificar a remuneração dos policiais

militares em atividade, sendo também estendidos aos

inativos quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente

concedidos aos policiais militares em atividade, inclusive

quando decorrentes da transformação ou reclassificação do

cargo ou função em que se deu a aposentadoria, na forma

da Lei.

Conforme se extrai das normas transcritas, os policiais militares

estão sujeitos a regime jurídico próprio, cabendo à lei estadual específica, no caso do

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L/P

Estado da Bahia, o Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Bahia – Lei Estadual

n.º 7.990/01, dispor acerca dos “(..) limites de idade, a estabilidade e outras condições

de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração,

as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as

peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de

compromissos internacionais e de guerra” (Art. 142, § 3º, X, CF/1988).

Cabe ainda ser pontuado, que desde as Emendas Constitucionais

n.º 18 e nº 20 de 1998, vem sendo alterado o regime constitucional dos militares, tendo

em vista as suas características próprias, que exigem tratamento distinto daquele

aplicável aos servidores públicos civis.

A propósito cito os precedentes do Colendo STF:

O Plenário iniciou julgamento de ação direta ajuizada em

face da LC 39/2002, do Estado do Pará, que institui o

Regime de Previdência Estadual e estabelece regras

jurídico-previdenciárias aplicáveis tanto a servidores

públicos civis quanto a militares daquele ente federativo. O

Ministro Luiz Fux (relator) julgou parcialmente procedente

o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade

dos dispositivos que regulam a previdência dos militares,

no que foi acompanhado pelos Ministros Cármen Lúcia,

Rosa Weber e Dias Toffoli. Afirmou que o regime

jurídico previdenciário dos militares estaduais deveria

ser fixado em lei específica, compreendida como lei

monotemática, não orgânica e exclusivamente destinada

a essa categoria de agentes públicos. Ressaltou que a

Constituição, com as alterações promovidas pela EC

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L/P

18/1998, teria imposto um dever de reconhecimento da

situação especial dos militares, em virtude das

peculiaridades de suas atividades, inerentes à soberania

nacional e à segurança pública (CF, art. 142, § 3º, X).

No caso, a LC estadual 39/2002 estabelecera em único

diploma regra jurídico-previdenciária aplicada a

servidores civis e militares do Estado do Pará. Desse

modo, teria contrariado expressa e literalmente o art.

42, § 1º, c/c o art. 142, § 3º, X, da CF (“Art. 42 Os

membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros

Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e

disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e

dos Territórios. § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados,

do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser

fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, §

9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual

específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso

X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos

respectivos governadores. Art. 142. As Forças Armadas,

constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela

Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e

regulares, organizadas com base na hierarquia e na

disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da

República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos

poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes,

da lei e da ordem. ... X - a lei disporá sobre o ingresso nas

Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras

condições de transferência do militar para a inatividade, os

direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e

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L/P

outras situações especiais dos militares, consideradas as

peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas

cumpridas por força de compromissos internacionais e de

guerra”). - ADI 5154/PA, Rel. Min. Luiz Fux, 5.2.2015 –

Grifos acrescidos.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO.

APOSENTADORIA ESPECIAL PARA POLICIAIS

FEMININAS CIVIS E MILITARES. ART. 40, § 1º E § 4º,

DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO

JULGADA IMPROCEDENTE. ( …) 2. O art. 42, § 1º, da

Constituição da República preceitua: a) o regime

previdenciário próprio dos militares, a ser instituído

por lei específica estadual; b) não contempla a

aplicação de normas relativas aos servidores públicos

civis para os militares,ressalvada a norma do art. 40, §

9º, pela qual se reconhece que “o tempo de contribuição

federal, estadual ou municipal será contado para efeito

de aposentadoria e o tempo de serviço correspondente

para efeito de disponibilidade”. Inaplicabilidade do art.

40, §§ 1º e § 4º, da Constituição da República, para os

policiais militares. Precedentes. 3. Ação direta de

inconstitucionalidade por omissão julgada improcedente. -

ADO 28/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe-151

DIVULG 31-07-2015 PUBLI 03-08-2015 - Grifos

acrescidos.

A latere, mister salientar que tal posicionamento passei a

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L/P

adotar, acompanhando brilhante entendimento da eminente Desembargadora

Regina Helena Ramos Reis, revendo o anteriormente defendido perante os órgãos

fracionários que componho, inobstante reconheça a existência da tese firmada em

regime de repercussão geral pelo Supremo Tribunal Federal, no RE 590.260/SP, e das

regras de transição previstas no art. 3º, da EC nº 47/05, e no art. 6º, da EC nº 41/03, as

quais se aplicam APENAS aos servidores públicos civis, inclusos neste grupo os

policiais civis dos Estados, posto que os militares inativos e as pensões dos militares

ensejariam específicas regras de transição, disciplinadas obrigatoriamente pela

legislação estadual, em virtude da determinação constitucional.

Nesta senda os precedentes a seguir:

APELAÇÃO CÍVEL. PENSÃO POR MORTE.

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO QUE É REGIDO

PELA LEI DO TEMPO EM QUE REUNIDAS AS

CONDIÇÕES PARA SUA CONCESSÃO. FATO

GERADOR POSTERIOR À VIGÊNCIA DA EC N.º

41/2003. SERVIDOR MILITAR. INCIDÊNCIA DO

ART. 42, §2º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

1988, COM AS MODIFICAÇÕES TRAZIDAS PELA

A EC Nº 41/03.

1.Cuida-se de demanda objetivando a atualização de

pensão por morte, referente a 100% da remuneração de

servidor, se estivesse vivo e em atividade. 2. Com o

advento da EC 41/2003, os servidores públicos inativos e

pensionistas deixaram de ter direito à paridade e a

integralidade de seus proventos, sendo certo, contudo, que

àqueles que ingressaram no serviço público até 31.12.2003

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L/P

e que preencheram ou vierem a preencher os requisitos

trazidos pela EC 47/05, em seu art. 2º e 3º, ainda lhe são

garantidos os referidos direitos. 3. Hipótese em que o

instituidor da pensão ingressou no serviço público na

vigência da EC 20/98, vindo a falecer, porém,

posteriormente a edição da Emenda Constitucional número

41/03, a qual introduziu mudanças no regime de

previdência. (...) 5. No entanto, especificamente no que

concerne aos militares, a EC nº 41/03 modificou a

redação do art. 42, § 2º, da Constituição Federal, que

estabelecia a aplicação aos servidores militares das

mesmas regras estabelecidas para os servidores civis

(art. 40, da CRFB/88), passando a dispor que: "Aos

pensionistas dos militares dos Estados aplicam-se as

normas que forem estabelecidas por lei específica do

respectivo ente estatal". 6. Peculiaridade do regime dos

pensionistas dos militares que faleceram após a edição

da EC nº 41/03, eis que excluídos das regras traçadas no

art. 40, da CRFB/88, por foça no disposto no art. 42, §

2º, da Constituição Federal, os quais devem observância

à legislação estadual. (…) - (TJ-RJ - APELAÇÃO APL

03300239120138190001 RIO DE JANEIRO CAPITAL 15

VARA FAZ PUBLICA – Data da publicação: 15/10/2015).

Grifos acrescidos.

PREVIDÊNCIA SOCIAL. São Paulo Previdência.

Recálculo da pensão. Pretensão à percepção do

correspondente a 100% dos proventos. Inadmissibilidade.

Óbitos posteriores à EC 41/2003 e à LC 1.013/2007. Art.

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L/P

42, 2º, da CF que remete à lei estadual específica a

disciplina dos direitos de pensionistas de militares

estaduais. Lei Complementar Estadual 1013/07 que

estabelece redutores aos valores dos benefícios de pensão

por morte. Aplicação da nova legislação às impetrantes

que adquiriram o direito ao benefício na vigência da

nova lei. Admissibilidade. Inaplicabilidade das regras

de transição das EC 41/03 e 47/05 aos militares. Falta de

interesse de agir das impetrantes que já percebem o

benefício em sua integralidade. Recurso oficial provido em

relação a estas. Recurso de apelação interposto pelas

demais impetrantes não provido, prejudicado o recurso

voluntário da autarquia. (TJ-SP - APL:

10089099820138260053 SP 1008909-98.2013.8.26.0053,

Relator: Antonio Carlos Villen, Data de Julgamento:

30/06/2014, 10ª Câmara de Direito Público, Data de

Publicação: 30/06/2014). Grifos acrescidos.

Por consequência, a teor das normas extraíveis dos §§ 1º e 2º, do

art. 42 e do § 3º, inciso X, do art. 142, ambos da CF/88, cumulados com as do art. 48,

da Constituição Estadual da Bahia e do art. 121, do Estatuto dos Policiais Militares do

Estado da Bahia, a Lei Estadual nº 12.566/2012 não terá incidência no item em que

omitiu o pagamento da gratificação de atividade policial aos aposentados, uma vez

comprovado o caráter genérico da gratificação. Todavia, não se estar a afastar a

incidência do art. 8º, da Lei Estadual nº 12.566/2012 por inconstitucionalidade

(constitucionalidade esta já assentada pelo TJBA quando do julgamento do Incidente

de Arguição de Inconstitucionalidade nº 0309259-14.2012.8.05.0000), mesmo porque

é possível, pela Constituição Federal, a concessão de gratificação de natureza

específica aos servidores em atividade, que sendo não genérica será incorporada ao

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L/P

patrimônio dos inativos.

Sobre o tema, o STJ já assentou entendimento de que as

gratificações, quando pagas a todos os servidores da ativa de forma indistinta e

no mesmo percentual, tem natureza genérica, e, por conseguinte, o pagamento é

extensível a aposentados e pensionistas. Inclusive, a possibilidade de extensão

permanece mesmo no caso das gratificações que tenham caráter pro labore faciendo

(pagamento decorrente do servidor estar no efetivo exercício da atividade

remunerada).

Neste sentido os arrestos.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO

REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM

MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO

ESTADUAL. PENSÃO POR MORTE. GRATIFICAÇÃO

DE DESEMPENHO MILITAR. LCE 15.114/2012.

CARÁTER GERAL. EXTENSÃO AOS

INATIVOS/PENSIONISTAS. POSSIBILIDADE, COM

AS RESTRIÇÕES DA EC 47/2005. PRECEDENTE DO

STJ E DO STF. ILEGALIDADE NÃO CONFIGURADA.

DIREITO LÍQUIDO E CERTO NÃO DEMONSTRADO.

(...)

2. O STJ tem entendido que, "instituída uma

gratificação ou vantagem, de caráter genérico, paga

indistintamente aos servidores da ativa, deve ser ela

estendida aos inativos e pensionistas, conforme o art.

40, § 8º, da Constituição Federal, na redação dada pela

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L/P

Emenda Constitucional 20/98" (RMS 21.213/PR, Rel.

Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJ de

24.9.2007).

(...)

5. Agravo Regimental não provido. (STJ – Segunda Turma

- AgRg no RMS 46958 / CE AGRAVO REGIMENTAL

NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA

2014/0302296-6 . Relator Ministro Herman Benjamin.

Julgado em 17.12.2015. DJe 05.02.2016). Grifos

acrescidos.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO

REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO

ESPECIAL. RAZÕES DE RECURSO QUE NÃO

IMPUGNAM, ESPECIFICAMENTE, OS

FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.

SÚMULA 182/STJ. SERVIDOR PÚBLICO. GDPGPE.

EXTENSÃO DA GRATIFICAÇÃO AOS

SERVIDORES INATIVOS. HIPÓTESE DECIDIDA,

PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, COM BASE EM

FUNDAMENTO EMINENTEMENTE

CONSTITUCIONAL. INVIABILIDADE DE EXAME DA

MATÉRIA, EM RECURSO ESPECIAL.

PRECEDENTES DO STJ, EM CASOS IDÊNTICOS.

AGRAVO REGIMENTAL PARCIALMENTE

CONHECIDO, E, NESSA PARTE, IMPROVIDO.

(...)

III. Do mesmo modo, em outros feitos, esta

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L/P

Corte já decidiu no sentido de que "as gratificações

de desempenho, ainda que possuam caráter pro labore

faciendo, se forem pagas indistintamente a todos os

servidores da ativa, no mesmo percentual,

convertem-se em gratificação de natureza

genérica, extensíveis a todos os aposentados e

pensionistas" (STJ, AgRg no REsp 1.504.816/CE, Rel.

Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,

SEGUNDA TURMA, DJe de 23/03/2015).

(...)

V. Agravo Regimental parcialmente conhecido, e,

nessa parte, improvido. (STJ – Segunda Turma - AgRg no

AREsp 486526 / CE AGRAVO REGIMENTAL NO

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2014/0055079-0.

Relatora Ministra Assusete Magalhães. Julgado em

17.03.2016. DJe 30.03.2016). Grifos acrescidos.

Igual posicionamento externa o STF no julgamento do RE

572.052/RN, de que "para caracterizar a natureza labore faciendo da gratificação,

necessário se faz a edição da norma regulamentadora que viabilize as avaliações de

desempenho. Sem a aferição do desempenho, a gratificação adquire um caráter de

generalidade, que determina a sua extensão aos servidores inativos". Grifos

acrescidos.

Ademais, cabe ponderar, que, ao reconhecer o direito à

percepção da gratificação pretendida, não atua o Poder Judiciário como legislador,

aplicando-se apenas a legislação em vigor, cumprindo com sua a função garantida

constitucionalmente.

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31

L/P

Igualmente inexiste quaisquer violações às normas do art. 169, §

1º, incisos I e II da CF (que vedam a criação, majoração ou extensão de novos

benefícios sem a existência de fonte de custeio anterior), vez que o Impetrante apenas

visa a implementação da garantia do direito à isonomia de vencimento, outorgado pela

própria Constituição da República.

Importa ressaltar, também, que, cabendo ao Poder Judiciário

apreciar as questões que lhe são apresentadas e a proceder ao controle externo dos atos

praticados pela Administração Pública, a concessão da segurança não implica na

concessão de aumento ao Impetrante, sem previsão normativa própria, muito menos

violação ao Princípio da Separação de Poderes, apenas assegurando a aplicação da

Constituição Federal e das normas legais que regem a matéria.

Também, cabe anotar que a mera alegação do Estado da Bahia

de falta de disponibilidade orçamentário-financeira, sem a pertinente comprovação,

não é suficiente por si só para afastar o direito subjetivo do Impetrante.

Evidenciado restou, portanto, o direito do Impetrante à

percepção da GAP e a implantação nos seus vencimentos de modo a garantir a

isonomia salarial dos inativos e seus pares em atividade.

Em complementação, restou comprovado que o Impetrante

laborava em carga horária de 180 horas mensais, ou seja, superior a 40 horas semanais,

requisito imposto pelas Leis 7.146/1997, e 12.601/2012, para a percepção da vantagem

nas referências III, IV, e V, nada obsta a percepção da GAP V por ele.

Provado nos autos que o Impetrante preenche os requisitos à

percepção da GAP V, imperioso impor ao Estado da Bahia a obrigação de implantar a

aludida gratificação no vencimento do Impetrante na mesma forma e percentual

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32

L/P

contemplados aos policiais em atividade.

Por fim o débito pretérito, calculado a partir da impetração,

deverá sofrer a incidência da correção monetária, desde o vencimento de cada

parcela até a expedição do precatório, pelo índice oficial de remuneração básica da

caderneta de poupança (TR) e, após, pelo IPCA-E, e dos juros moratórios calculados

desde a citação pelo percentual aplicado à caderneta de poupança, conforme

contornos do STF no julgamento das ADINS números 4.357/DF e 4.425/DF.

Ante o exposto, voto no sentido de:

A) Rejeitar a preliminares suscitadas pelo Estado da Bahia;

B) Conceder parcialmente a segurança impondo aos

Impetrados a obrigação de implantar a GAP V no vencimento do Impetrante, na

mesma forma e percentual contemplados aos policiais em atividade, com efeitos

patrimoniais a partir da impetração do writ, conforme art. 14, § 4º, da Lei nº

12.016/2009;

C) Fixar que o débito retroativo deve ser atualizado

monetariamente, desde o vencimento de cada parcela até a expedição do precatório,

pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR) e, após, pelo

IPCA-E;

D) Fixar que ao débito retroativo deverá incidir juros

moratórios calculados desde a citação pelo percentual aplicado à caderneta de

poupança;

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L/P

E) Não condenar os Impetrados ao pagamento das custas

processuais, face a isenção legal esculpida no 10, inciso IV, da Lei Estadual nº

12.373/2011.

F) Não condenar os Impetrados quanto aos honorários

advocatícios, de acordo com o art. 25, da Lei do Mandado de Segurança.

Sala de Sessões, ___ de ________________ de 2017.

DESEMBARGADOR PRESIDENTE

DESA. LÍGIA MARIA RAMOS CUNHA LIMA

Relatora

DR. (A) PROCURADOR (A) DE JUSTIÇA