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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2017.0000816053
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº 2191865-88.2017.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são impetrantes EDUARDO SIANO e ALEXANDRE ANGELO DO BOMFIM e Paciente TALITA SAYURI TAMASHIRO, é impetrado MM(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 5ª VARA DO JÚRI DO FORO CENTRAL CRIMINAL DA CAPITAL.
ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Concederam a ordem, nos termos do v. acórdão. V. U.
Expeça-se alvará de soltura em favor da paciente, advertindo-a das medidas do art. 319, I, II, IV e V, do Cpp, e art. 294, do CTB, sobretudo do disposto no art. 312, parágrafo único, do CPP, consistente no decreto da preventiva pelo descumprimento das cautelares. v.u.
Comunique-se. Oficie-se o Juízo para que seja a paciente intimada de todas as medidas cautelares impostas, oficiando-se ao órgão de trânsito responsável a respeito da medida do art. 294, do CTB.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LEME GARCIA (Presidente sem voto), OTÁVIO DE ALMEIDA TOLEDO E CAMARGO ARANHA FILHO.
São Paulo, 24 de outubro de 2017.
Newton NevesRELATOR
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VOTO Nº.: 34384H.C. Nº.: 2191865-88.2017.8.26.0000COMARCA..: SÃO PAULOIMPTES...: ALEXANDRE ANGELO DO BOMFIM E EDUARDO SIANOPACIENTE.: TALITA SAYURI TAMASHIRO
HABEAS CORPUS Homicídio praticado na condução de veículo automotor - Prisão cautelar que se mostra como exceção no nosso sistema Análise sob a ótica da Lei n.º 12403/11 - Inexistência de elementos que, concretamente, justifiquem a prisão preventiva Suficiência das medidas do art. 319, I, II, IV e V, do CPP e art. 294, do CTB Liberdade provisória concedida Ordem concedida, com expedição de alvará de soltura (voto n. 34384).
Cuida-se de pedido de habeas corpus
impetrado em favor de Talita Sayuri Tamashiro
alegando os impetrantes sofrer a paciente
constrangimento ilegal por ato do Juízo que, no
âmbito do art. 310, do CPP, em audiência de
custódia reconheceu a legalidade da prisão em
flagrante e manteve a custódia cautelar da
paciente, convertendo a prisão em flagrante em
preventiva.
Expõem que a paciente foi presa em
flagrante em 30/09/17 porque, dirigindo sob efeito
de álcool, perdeu o controle do automóvel que
conduzia e atingiu as três vítimas. Sustentam que
a decisão carece de fundamentação idônea quanto à
necessidade da prisão preventiva e que o fato
investigado deve ser capitulado como homicídio
culposo na direção de veículo automotor. Defendem
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que estão ausentes os requisitos da prisão
preventiva, que suficiente se revela a imposição
de medidas cautelares diversas da prisão e
culminam por pedir a concessão da ordem para que
possa a paciente responder ao processo em
liberdade.
A liminar foi indeferida (fls.
37/39).
As informações foram prestadas (fls.
43/44).
A d. Procuradoria Geral de Justiça
propôs a denegação da ordem (fls. 56/61).
É o relatório.
A ordem deve ser concedida.
A paciente foi presa em flagrante e
denunciada como incursa, por três vezes, em
concurso formal, no artigo 121, §2º, incisos III e
IV, c.c. artigo 18, inciso I, segunda parte; no
artigo 306 e no artigo 307, ambos do Código de
Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97), tudo nos
moldes do artigo 69 do Código Penal.
Acusa a denúncia que no dia
30/09/2017, por volta das 05h, na Av. Marginal
Tietê, pista expressa, altura do nº 3.000, sentido
Rodovia Ayrton Senna, nesta comarca e Capital, a
paciente, agindo com dolo eventual, matou Raul
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Fernando Nantes Antonio, Vanessa Lopes Relva e
Aline de Jesus Sousa ao atropelá-los, nas vítimas
causando os ferimentos que provocaram suas mortes.
Imputa também a inicial que nas
mesmas circunstâncias de lugar e tempo a paciente
conduzia o automóvel Honda Fit, placas ELN-
9664/SP, com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool.
Acusa também a denúncia que nas
mesmas circunstâncias Talita, ao conduzir seu
automóvel na ocasião descrita, violou a suspensão
da habilitação para dirigir veículo imposta pelo
DETRAN/SP, com fundamento no Código de Trânsito
Brasileiro.
Narra a inicial que no dia 04/07/17 a
paciente teve sua habilitação suspensa, por
decisão administrativa do DETRAN/SP, em virtude
de, no período de doze meses, ter atingindo vinte
pontos atribuídos às infrações de trânsito que
perpetrou.
Não obstante a suspensão, na data dos
fatos, a paciente, conduzindo veículo automotor,
se dirigiu a uma casa noturna chamada Villa Mix,
por volta de 01h, onde encontrou amigos e ingeriu
bebida alcóolica.
Às 4h34min Talita deixou a casa
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noturna, adentrou o carro de sua propriedade e,
embriagada, passou a conduzi-lo pela via pública,
com capacidade psicomotora alterada, constatada
inclusive por etilômetro que apontou a quantidade
de 0,48 miligrama de álcool por litro de ar
alveolar.
Durante o trajeto, na Av. Marginal
Tietê, altura do nº 3.000, ao se distrair mexendo
no aparelho celular, a paciente perdeu o controle
de seu carro, invadindo área de recuo da pista,
atropelando e matando Raul, Vanessa e Aline, que
estavam desembarcados do carro que ocupavam (BMW
placas DGL-9003), ao lado do automóvel, aguardando
os reparos necessários ao prosseguimento do
percurso. Além disso, ato contínuo, Talita colidiu
com a mencionada BMW, regularmente estacionada no
recuo.
A paciente “assumiu o risco de causar
os resultados morte, previsíveis nestas
circunstâncias, tendo em vista que conduzia veículo
automotor embora estivesse com a habilitação suspensa;
em via expressa de alta velocidade, que requer muita
atenção; com capacidade alterada em virtude do consumo
de álcool; com total descaso e desatenção, mexendo no
celular enquanto dirigia”.
Expõe também a denúncia que os crimes
de homicídio foram praticados com recurso que
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dificultou a defesa dos ofendidos, que foram
surpreendidos com a invasão do carro da autora em
área de recuo, onde permaneciam desembarcados, ao
lado do veículo que ocupavam e que estava
estacionado de forma regular.
Acusa também a inicial que os crimes
foram cometidos com perigo comum, pois praticados
na Av. Marginal Tietê, via pública de grande
circulação de motocicletas e automóveis, que
interliga a cidade e dá acesso a diversas
rodovias, o que a mantém com alto fluxo constante
de veículos e, por consequência, de pessoas.
Vê-se, assim, que a d. representante
do Ministério Público subsumiu os fatos ao delito
de homicídio cometido com dolo eventual, como
concluíra a d. autoridade policial que, nos autos
de Inquérito Policial, consignou o elemento
subjetivo “em decorrência de a implicada, após ter
ingerido bebida alcoólica e mesmo assim ter dirigido
veículo automotor por uma via tão perigosa, ter
assumido o risco de causar um acidente com vítima
fatal”.
Conforme consulta efetuada em
18/10/2017 junto ao site deste E. Tribunal de
Justiça, verifica-se que em 18/10/17 foi a
denúncia recebida nos termos do art. 406, do CPP.
Em sede de audiência de custódia
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realizada no dia 1º/10/2017 foi reconhecida a
legalidade da prisão em flagrante e mantida a
custódia cautelar, convertida a prisão em
flagrante em preventiva, fundamentado pela
autoridade impetrada que “sem adentrar no mérito dos
fatos, observo que o delito imputado à indiciada é
gravíssimo, tendo causa fútil, embriaguez ao volante e
direção ao celular, estando a indiciada com a carteira
de motorista suspensa em virtude de pontuação de
multas a ela aplicada, conforme hoje informou. A
autora não tem antecedentes mas seu comportamento
denota risco à sociedade caso responda ao processo em
liberdade...”, insuficientes, ainda, as medidas
cautelares diversas da prisão processual (fls.
34/35).
Posteriormente, no dia 04/10/2017,
foi indeferido pedido de revogação da prisão
preventiva, sob os seguintes fundamentos:
“A indiciada foi presa em flagrante, em
30 de setembro de 2017, pela suposta prática de crimes
de homicídio doloso e de condução de veículo automotor
com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool.
Em audiência de custódia realizada em 1º
de outubro de 2017, na sede do Plantão Judiciário da
Capital, a prisão em flagrante foi convertida em
preventiva (fls. 33/34 do APF).
Da análise dos autos, extraem-se
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indícios de materialidade e da autoria criminosa
imputada à indiciada, bem como os requisitos
informadores da manutenção da respectiva custódia
cautelar.
Registre-se, por relevante, que, desde a
decisão de fls. 33/34 do APF, não sobrevieram fatos
novos a ensejar a revogação da prisão preventiva,
tampouco a substituição desta por medidas cautelares
alternativas.
É certo que o 'dominus litis' já
sinalizou que se trata de 'crime doloso, e não
culposo' (fls. 28), o qual possui pena que admite a
prisão preventiva, nos termos do artigo 313, I, do
Código de Processo Penal.
Os delitos, em tese, imputados à
indiciada, além de ostentarem gravidade acentuada,
geram inequívoca intranquilidade social, já que, a
despeito das inúmeras companhas públicas educativas,
infelizmente, tem-se tornado fato corriqueiro mortes
no trânsito por conta da nefasta combinação entre
álcool, condução de veículo automotor, excesso de
velocidade e impunidade, motivos que, por si sós, já
reclamam diferenciado rigor na imposição das medidas
cautelares, de modo a assegurar o primado da lei e a
garantia da ordem pública.
Consigne-se que este não é o momento
processual adequado para maiores digressões acerca da
exata tipificação dos delitos em análise, bastando,
para a segregação cautelar da indiciada, o
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preenchimento dos requisitos previstos no artigo 312
do CPP.
No vertente caso, emerge dos autos que
as três vítimas que tragicamente vieram a óbito
encontravam-se no acostamento da Marginal Tietê,
próximas ao veículo BMW regularmente estacionado num
recuo do lado esquerdo da via, quando foram atingidas
pela indiciada que, em estado de embriaguez
(concentração de 0,48 miligrama de álcool por litro de
ar alveolar como resultado do teste do etilômetro) e
fazendo uso indevido de aparelho celular, conduzia,
com habilitação suspensa por conta de excesso de
multas.
O cenário delineado nos autos evidencia,
em princípio, indícios de dolo eventual e desapreço
pela preservação da vida humana, considerando o modo
irresponsável com que agiu a indiciada, gerador de
inequívoco clamor social em virtude das trágicas
consequências de seus atos (três vítimas fatais),
razão pela qual, por ora, não faz jus ao benefício da
liberdade provisória” (fls. 45/49).
Colaciona precedente desta C. Corte e
prossegue:
“Quanto às medidas cautelares diversas
da prisão, observo que se mostram, ao menos por ora,
insuficientes, dada a gravidade concreta dos crimes
objeto de futura ação penal.
Ora, se a gravidade do resultado é
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motivo suficiente para a exasperação da pena de quem
age ao menos culposamente, consoante se extrai da
'ratio' do art. 19 do Código Penal, o mesmo norte deve
orientar a imposição das medidas cautelares.
A rigor, a depender da capitulação da
futura denúncia (eventuais homicídios dolosos
qualificados e, portanto, crimes hediondos), sequer
será possível o arbitramento de eventual fiança (art.
5º, XLIII, da CF, art. 323, II, 'in fine', do CPP e
art. 2º, II, da Lei 8.072/90).
No presente caso, como a suspensão
administrativa da habilitação da indiciada, por conta
do excesso de multas de trânsito, não foi razão
suficiente para que ela deixasse de conduzir veículo
automotor fazendo-o inclusive com capacidade
psicomotora alterada em razão da ingestão de álcool e,
ainda, manipulando aparelho celular -, não há
garantias mínimas de que se sujeitaria a uma ordem
judicial no mesmo sentido, exarada com fulcro nos
artigos 294 e 295 da Lei nº 9.503/97 (CTB), em
substituição à medida cautelar máxima da prisão.
Aliás, como bem observado pela D.
Promotora de Justiça, Dra. Livi Rodrigues de Souza,
'mesmo com a CNH suspensa, a indiciada dirigia,
situação que permite concluir que não se curva a
determinações do Poder Público e que são insuficientes
as medidas cautelares alternativas do art. 319 do
Código de Processo Penal' (fls. 28).
Ou seja, o modo de agir da indiciada e
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sua vida pregressa de sucessivas violações às leis de
trânsito (que culminaram com a suspensão
administrativa de sua CNH) não inspiram, a este juízo,
no incipiente estágio da marcha processual, a
confiança indispensável à efetivação das medidas
cautelares previstas no artigo 319 do CPP ou nos
artigos 294 e 295 da Lei nº 9.503/97, que se mostram,
portanto, inadequadas no caso concreto.
Por derradeiro, consigne-se que
eventuais condições subjetivas favoráveis da indiciada
(primariedade, emprego e residência fixa, etc) não
configuram óbice à decretação/manutenção da custódia
cautelar, quando presentes os requisitos previstos no
artigo 312 do Código de Processo Penal”.
Diante desse contexto, e pelo meu
voto, a ordem deve ser concedida.
A Lei n.º 12.403/11 trouxe medidas
cautelares que complementam a efetivação da prisão
processual como exceção, em consonância com a
constitucional previsão da presunção de inocência
(Constituição da República, art. 5º, LXVI1).
O Título IX do CPP prevê medidas
cautelares diversas da prisão processual,
conferindo ao magistrado a possibilidade de
efetivar os motivos da excepcional prisão cautelar
sem que se imponha a segregação provisória antes
1 Art. 5º, LXVI, CF: “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;”
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
do trânsito em julgado de eventual condenação (CR,
art. 5º, incisos LXI, LXIII, LXIV, LXV e LXVI2).
Prevê o art. 310, do CPP, em seus
incisos, que ao receber o auto de prisão em
flagrante deve o magistrado, de modo fundamentado
(art. 93, IX, CR): relaxar a prisão ilegal; ou
converter a prisão em flagrante em prisão
preventiva, quando presentes os requisitos do art.
312, CPP e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da
prisão (art. 319, CPP); ou conceder ao flagrado a
liberdade provisória, com ou sem fiança.
Permanece vigente e plenamente
aplicável a prisão preventiva se atendidos os
requisitos do art. 312, do CPP3, se presente justa
causa e acaso não tenha o agente praticado fato
típico sob excludente de ilicitude (art. 314, do
CPP4), possível, ainda, nas hipóteses dos incisos
2 CF88, “Art. 5º omissis (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (...) LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;” (destaquei).3 “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.”4 “Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.”
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13PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
do art. 313, do CPP5.
A conveniência da prisão cautelar,
como já decidiu o STF (RT 124/1033), deve ser
regulada pela sensibilidade do juiz à reação do
meio ambiente à ação criminosa. Não se trata tão
só do senso geral de reprovação de determinado
crime, sob prisma abstrato. Trata-se, na verdade,
da aferição, pelo magistrado, das características
do réu extraídas a partir do estudo da empreitada
criminosa, pela cuidadosa leitura dos elementos
trazidos aos autos.
No caso dos autos revelam-se
suficientes as medidas cautelares diversas da
prisão preventiva.
E assim se decide pois possível
vislumbrar, desde logo e sem qualquer antecipação
ou interferência no julgamento do mérito,
impróprio nesta sede, que o embate jurídico ficará
centrado em definir se, no caso, aplicar-se-á
regras do crime culposo ou doloso, como já
5 “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;”
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14PODER JUDICIÁRIO
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apontado pela denúncia apresentada e refutada
pelos doutos impetrantes.
Em se tratando de crime culposo, cuja
tipificação recai sobre a conduta do agente, e não
sobre o resultado dela consequente (-o que, em
tese, poderá influenciar tão só na dosagem da pena-
), impossível fica reconhecer circunstancias
justificadoras da prisão cautelar, até mesmo
porque para esse fim, exigência da lei é a prática
do crime doloso.
Analisa-se, então, diante da
tipificação provisória apontada pela denúncia, se,
no caso, possível é a manutenção da prisão
cautelar, não se olvidando esse Relator que, para
se firmar resposta positiva, nesse sentido,
premissa básica é de entendimento de que trata-se,
no caso, de crime doloso, quer seja eventual ou
não. E esse debate, como aqui já destacado, se
fará nos autos originais, sendo imprópria sua
antecipação nestes autos.
Daí porque, para o julgamento dessa
ordem necessário tão somente verificar se, no
caso, estão presentes, ou não, os requisitos da
prisão cautelar.
A custódia cautelar, como sabido, é
exceção no nosso sistema jurídico.
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Deve ser decretada quando se
revelarem insuficientes - para a garantia da ordem
pública, da ordem econômica, da aplicação da lei
penal ou da instrução processual - as medidas
cautelares diversas da prisão.
É o que se afere do comando do art.
282, §6º, do Código de Processo Penal, com as
alterações promovidas pela Lei n.º 12.403/2011: “A
prisão preventiva será determinada quando não for
cabível a sua substituição por outra medida
cautelar”.
Nesse contexto, preservado o
convencimento do representante do Ministério
Público, em constitucional exercício da atribuição
de ser o titular da ação penal pública
incondicionada, bem como eventual decisão do d.
Juízo acerca da manutenção, ou não, do recebimento
da denúncia, no âmbito da análise da legalidade do
ato atacado, proferido nos termos do art. 310, do
CPP, verifica-se que a decisão reveste-se de
ilegalidade.
A gravidade em abstrato do delito,
conforme sedimentado pelos Tribunais Superiores,
não serve de suporte à prisão preventiva.
Assentou o Supremo Tribunal Federal
que “Segundo remansosa jurisprudência desta Corte, não basta a
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gravidade do crime e a afirmação abstrata de que os réus oferecem
perigo à sociedade e à saúde pública para justificar a imposição da
prisão cautelar. Assim, o STF vem repelindo a prisão
preventiva baseada apenas na gravidade do delito, na
comoção social ou em eventual indignação popular dele
decorrente, a exemplo do que se decidiu no HC 80.719/SP,
relatado pelo Ministro Celso de Mello” (HC 110132/SP, j.
16/10/2012).
No mesmo sentido: STJ, HC 266.736/SP,
6ª Turma, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
02.05.13; STJ, HC 240.939/RN, 5ª Turma, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, j. 18.09.12.
Além disso, a comoção social e a
repercussão do crime também não servem de
motivação, de fundamentação para a imposição da
excepcional prisão preventiva.
Nesta direção: “A fundamentação declinada
pelo Magistrado de primeiro grau não indicou de que forma a
liberdade do paciente colocaria em risco a ordem pública, a
conveniência da instrução criminal ou a aplicação da lei penal.
Procurou alicerçar a medida constritiva na gravidade abstrata do
crime consubstanciada em expressões genéricas do tipo, 'apreensão
no meio social', 'reflexos negativos e traumáticos na vida da
sociedade', "sentimento de impunidade e de insegurança", não
afirmando, concretamente, de que forma a liberdade do paciente
colocaria em risco a ordem pública. 3. Ademais, o fato de o delito ter
sido amplamente noticiado na imprensa local e estadual, não é, por
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17PODER JUDICIÁRIO
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si só, fundamento suficiente para a determinação de segregação
cautelar.” (STJ, HC 206.726/RS, j. 06.09.11).
Sob o estrito enfoque do exame da
sustentada ilegalidade no ato atacado que, após
reconhecer a legalidade da prisão em flagrante,
manteve a custódia cautelar, convertendo a prisão
em flagrante em preventiva, emerge dos autos que
da conduta da paciente resultou a morte de três
vítimas.
Contudo, e mais vezes preservado o
debate do mérito e da capitulação jurídica do fato
por ocasião do exame da resposta à acusação, bem
como, acaso mantido o recebimento da denúncia,
durante o sumário da culpa, embora admitida, pela
capitulação conferida, a prisão preventiva (art.
313, inciso I, do CPP), não se mostram presentes,
sob a ótica do carácter subsidiário da prisão
processual (art. 282, §6º, do CPP), os requisitos
da prisão preventiva (art. 312, do CPP).
A gravidade da consequência do
suposto delito, causador da morte de três vítimas,
por si só, não aponta que a prisão é necessária
para a garantia da ordem pública, na medida em
que, mais vezes preservado o exame da capitulação
jurídica do fato, não há nos autos elementos
indicativos de que, em liberdade e sob a imposição
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de medidas cautelares outras, possa a paciente
tornar a delinquir.
A precedente imposição da suspensão
da habilitação para condução de veículo automotor,
no âmbito administrativo, não indica,
objetivamente, que sob a vigência de medida
cautelar imposta pelo Poder Judiciário -sob pena
de decreto da prisão preventiva por seu
descumprimento, por expressa previsão do art. 312,
parágrafo único, do CPP- tornaria a paciente a
assumir a direção de veículo automotor.
Não há nos autos subsídios que
indiquem que a paciente, em liberdade, possa vir a
praticar delitos de outra natureza.
As infrações administrativas que
incorreu a paciente antes dos fatos, consistentes
no uso de aparelho de telefone celular na condução
de automóvel e a condução de veículo sob efeito de
álcool não impõem, objetivamente, a prisão
preventiva.
O clamor social, conforme a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça, com precedentes aqui
colacionados, não deve revestir a decisão
judicial.
Embora não se negue a drástica
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consequência do delito, como deve ser frisado,
causador da morte de três vítimas, o membro do
Poder Judiciário deve decidir com base na
Constituição Federal e na lei, fruto da atividade
do Poder Legislativo e expressão da vontade do
povo pela constitucional democracia indireta.
Não cabe ao Poder Judiciário, através
de seu membro, constitucionalmente investido e
dotado da jurisdição, aplicar a vontade do
cidadão, aferida a partir do clamor social, em
detrimento da lei, fruto da vontade do povo
expressa através de seus representantes
constitucionalmente eleitos, sob pena de
verdadeira e patente ofensa à constitucional
tripartição dos Poderes da República (art. 2º, da
CF88).
Não desconhece este magistrado a
recorrência e o crescimento significativo de
mortes ocorridas em razão de subsequentes condutas
culposas, ou até mesmo dolosas, daqueles que
conduzem veículos automotores.
Contudo, e mais vezes preservado o
debate acerca da capitulação jurídica dos fatos, e
doutos entendimentos em sentido contrário, deve o
membro do Poder Judiciário curvar-se à
Constituição Federal e às leis, de modo que, no
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20PODER JUDICIÁRIO
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caso destes autos, a partir de detido exame, não
se constatam presentes os requisitos da prisão
preventiva e suficientes se mostram as medidas
cautelares diversas da extrema prisão processual.
Não há elemento indicativo de que
possa a paciente, se solta e sob a vigência das
medidas cautelares impostas pelo Poder Judiciário,
tornar a atentar contra bens protegidos pelo
Direito Penal, sobretudo diante da ciência de que,
descumpridas as medidas, será a ela imposta
novamente a prisão preventiva (art. 312, parágrafo
único, do CPP).
Impõe-se, pelos fatos apurados nestes
autos (embriaguez ao volante, condução de veículo
sob efeito de álcool e manuseando aparelho de
telefone celular, causando a morte a três
vítimas), como absolutamente necessária a medida
cautelar, aqui judicialmente imposta, de suspensão
da habilitação para condução de veículo automotor,
proibida a paciente, sob as penas do art. 312,
parágrafo único, do CPP, de dirigir veículo
automotor durante o curso do processo, nos termos
do art. 294, do CTB6.
A suspensão é necessária e adequada
6 CTB: “Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.”
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diante do evento que causou a morte de três
vítimas pela paciente que, do que se afere dos
autos, embriagada, com a habilitação suspensa e
manuseando o celular, assumiu e conduziu seu carro
em via de grande circulação de pessoas (em seus
entornos ou a bordo de veículos), de modo que não
pode, enquanto perdurar o feito, assumir a
condução de veículo automotor para que se preserve
a ordem pública, evitando-se, deste modo, concreta
possibilidade de tornar a cometer delitos.
Além disso, e para a garantia da
aplicação da lei penal e da ordem pública,
necessária se faz a imposição da medida cautelar
de proibição de frequência a bares e
estabelecimento congêneres, onde se promova a
venda e consumo de bebidas alcoólicas (art. 319,
inciso II, do CPP), na medida em que a paciente
demonstrou que a ingestão de bebidas alcoólicas a
levou a estado que claramente colocou em risco a
incolumidade pública, a vida e a integridade
física alheia, causando a morte de três vítimas.
Impõe-se como necessária, também, a
proibição de deixar a Comarca em que reside sem
prévia autorização judicial, comparecendo
periodicamente em Juízo para justificar suas
atividades e manter atualizado endereço onde possa
ser encontrada para intimações judiciais.
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22PODER JUDICIÁRIO
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Finalmente, deve ser imposta a medida
cautelar de recolhimento domiciliar no período
noturno e nos dias de folga (art. 319, inciso V,
do CPP), na medida em que o delito foi perpetrado
pela paciente durante a madrugada, no final de
semana, quando estava ela sob efeito de álcool e
com sua C.N.H. suspensa.
Concedida a liberdade provisória,
ciente estará Talita da reversibilidade da medida,
possível o decreto da prisão preventiva pelo
descumprimento de qualquer das medidas impostas,
conforme o claro comando do art. 312, parágrafo
único, do CPP.
Ante todo o exposto, e pelo meu voto,
concedo a ordem para outorgar a liberdade
provisória a Talita Sayuri Tamashiro, mediante
imposição das medidas do art. 319, I, II, IV e V,
do CPP, e art. 294, do CTB.
Expeça-se alvará de soltura em favor
da paciente, advertindo-a das medidas do art. 319,
I, II, IV e V, do CPP, e art. 294, do CTB,
sobretudo do disposto no art. 312, parágrafo
único, do CPP, consistente no decreto da
preventiva pelo descumprimento das cautelares.
Comunique-se. Oficie-se o Juízo para
que seja a paciente intimada de todas as medidas
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23PODER JUDICIÁRIO
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cautelares impostas, oficiando-se ao órgão de
trânsito responsável a respeito da medida do art.
294, do CTB.
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