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Jurisprudência da Terceira Turma

Jurisprudência da Terceira Turma...da mulher, resultante da partilha de bens. Recurso especial não conhecido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes

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Jurisprudência da Terceira Turma

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA

RECURSO ESPECIAL N. 264.789 - MG (Registro n. 2000.0063292-9)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrente: José Maria do Nascimento

Advogados: José Alberto Couto Maciel e outros

Recorrida: Margarida Coimbra do Nascimento

301

Advogados: Carlos Danilo Barbuto Cabral de Mendonça e Jorge de Mattos Rezende e outros

EMENTA: Civil - Divórcio - Alimentos provisionais e partilha de bens.

Os alimentos provisionais não devem ser deduzidos da meação

da mulher, resultante da partilha de bens.

Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília-DF, 23 de abril de 2002 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 02.06.2003.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: O MM. Juiz de Direito Dr. Flávio André Gonçalves Dovizo julgou procedente a ação de divórcio proposta por José Maria do Nascimento contra Margarida Coimbra do Nascimento, "de­

cretando, ainda, a partilha dos bens do casal na proporção de 50% (cinqüen­ta por cento) para cada uma das partes, conforme for apurado em execução de sentença" (fi. 165).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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302 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A egrégia Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, relator o eminente Desembargador Hugo Bengtsson, manteve a sentença (fis. 208/216).

Margarida Coimbra do Nascimento requereu, então, o inventário dos bens (fis. 223/224), sendo nomeado inventariante José Maria do Nascimento (fi. 227).

A final, o MM. Juiz de Direito Dr. Vítor dos Santos Martins Ferreira partilhou o único imóvel, à razão de "50% para cada um dos ex-cônjuges" (fi. 298).

o Tribunal a quo, relator o eminente Desembargador Garcia Leão, manteve a sentença, nos termos do acórdão assim ementado:

"Inventário. Alimentos provisionais. Em se tratando de alimentos, vige o princípio da irrepetibilidade." (fi. 338).

Lê-se no julgado:

"Afirma o Apelante que a sentença é nula, pois, suprimindo atos típicos do procedimento adotado, acabou sendo proferida antes do momento processual próprio (art. 1.026 do CPC) e que a intervenção do Ministério Público (fi. 280) foi indevida.

Não há que se falar em nulidade, posto que a sentença de divór­cio (fi. 165) 'decretou a partilha dos bens do casal na proporção de 50% (cinqüenta por cento) para cada uma das partes'.

O Apelante com ela concordou, pediu confirmação da decisão, nestes termos (fi. 173v.): 'A v. sentença de fis. 101/164 não merece re­forma, pelo contrário, há de ser mantida, por seus próprios e jurídi­cos fundamentos'.

Além do mais, não houve prejuízo para as partes, em razão de ser o único imóvel a ser partilhado." (fi. 340).

"No mérito, também a sentença deve ser mantida.

Não cabe a compensação de dívida alimentícia. Os alimentos não admitem compensação, a teor do disposto no inciso II do artigo 1.015 do CC: 'A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos'.

No caso, conforme o memorial (fi. 8), 'as parcelas descontadas da folha de pagamento do Apelante, até 06.10.1992, que foram depositadas

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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à disposição do juízo competente, foram integralmente reembolsadas ao Apelante, em 19.10.1992, contudo, as demais parcelas que a Ape­lada recebeu, a título provisório, com ela permaneceram." (fi. 341).

Daí o recurso especial interposto por José Maria do Nascimento, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Federal, por vio­lação aos artigos 1.022 a 1.025 do Código de Processo Civil, bem assim por divergência jurisprudencial (fIs. 343/354).

VOTO

o Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Os autos dão conta de que o MM. Juiz de Direito, a 25 de fevereiro de 1990, proferiu a sentença de divórcio, "decretando, ainda, a partilha dos bens do casal na proporção de 50% (cinqüenta por cento) para cada uma das partes, conforme for apura­do em execução de sentença" (fi. 165).

A sentença foi mantida pelo Tribunal a quo, e, transitada em julgado, Margarida Coimbra do Nascimento requereu a "abertura do inventário do bem oriundo do divórcio de seu ex-marido, consubstanciado numa proprie­dade rural denominada 'Fazenda dos Mottas', que será devidamente discri­minado quando das declarações primeiras, aliás, único bem" (fi. 223).

José Maria do Nascimento foi nomeado inventariante (fi. 227), pres­tou compromisso (fi. 251), descreveu o imóvel a ser partilhado, atribuin­do-lhe o valor de R$ 10.622,82 (fi. 254), e sustentou que a meação devida à ex-cônjuge devia ser utilizada para abater parte da dívida desta, resultante de alimentos provisionais indevidamente percebidos, no montante de R$ 6.352,04 (fi. 254).

O MM. Juiz de Direito decidiu que o tema da compensação dos ali­mentos provisionais devia ser objeto de ação própria, e partilhou o único imóvel, à razão de "50% para cada um dos ex-cônjuges" (fi. 298).

A rigor, trocou 6 (seis) por 1/2 (meia) dúzia, porque a sentença que decretara o divórcio já proclamara isso (fi. 165).

"Se os bens do casal" - decidiu a Turma no REsp n. 255.059-RS, de minha relatoria - "foram partilhados em regime de condomínio, a extinção deste se dá por ação de divisão, e não por nova partilha. Recurso especial conhecido e provido" (DJ de 28.08.2000).

Essa só circunstância desqualifica a alegação de que o processo é nulo por falta de observância aos artigos 1.022 a 1.026 do Código de Processo

RST], Brasília, a. 15, (ló8): 299-349, agosto 2003.

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304 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Civil. Anulado que fosse o processo, subsistiria a sentença anterior, de idên­tico comando. Como quer que seja, as aludidas normas legais supõem in­ventário de bens (mais de um), e de beneficiários por títulos diversos (meeiro, herdeiro, etc). Para decidir que o patrimônio comum, constituído de um único imóvel, seguiria em regime de condomínio, não havia neces­sidade de quaisquer dos atos lá previstos. Essa circunstância, de que, na es­pécie, há um só bem a partilhar, descaracteriza o dissenso jurisprudencial ensaiado porque, nos acórdãos indicados como paradigma, a partilha tinha como objeto uma pluralidade de bens.

Tudo, portanto, o que se fez a partir da fi. 223 (requerimento de aber­tura do inventário) serviu, apenas, para decidir se os alimentos provisionais devem ser deduzidos da meação da mulher - e o Tribunal a quo andou bem ao proclamar que "em se tratando de alimentos, vige o princípio da irrepeti­bilidade" (fi. 338).

Na lição de Yussef Sahid Cahali, "os alimentos provisionais ou de­finitivos, uma vez prestados, são irrepetíveis" (Dos Alimentos, Editora Re­vista dos Tribunais, São Paulo, 311. ed., 1999, p. 132).

Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

Relator:

Recorrente:

Advogada:

Recorrido:

Advogado:

RECURSO ESPECIAL N. 264.894 - SE (Registro n. 2000.0063591-0)

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Ra­diodifusão e Televisão

Luciana Faria Araújo

Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão no Estado de Sergipe

José Francisco de Assis

EMENTA: Radialista - Capacitação profissional - Poder regula­mentar - Matéria constitucional - Legitimidade do Sindicato.

1. Não está ao alcance do especial decidir sobre a extensão do poder regulamentar posto pela recorrente sob a mira dos artigos 52., 11, e 84, IV, da Constituição Federal.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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2. Nos termos do decreto que regulamentou a Lei n. 6.615/1978,

é possível, em caráter excepcional, que o sindicato representativo

da categoria profissional forneça o certificado de capacitação, com­

provada a insuficiência da oferta de curso especializado, no Muni­

cípio, não legitimada para tanto a Federação Nacional.

3. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as acima

indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­

nal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Antônio de Pádua Ribeiro e Ari Pargendler vo­

taram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília-DF, 29 de maio de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente.

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator.

Publicado no DJ de 20.08.2001.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Federação Nacional

dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão interpõe recur­so especial, com fundamento na alínea a) do permissivo constitucional, con­

tra acórdão do 1.Q. Grupo da Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Esta­

do de Sergipe, assim ementado:

"Apelação cível. Ação anulatória. Federação não legitimada a pro­

mover o curso de habilitação profissional. Recurso conhecido e

improvido.

Não extrapolando o decreto a lei que regulamenta, uma vez que

seu teor encontra-se nos lindes da norma regulamentada, e não estan­

do a Apelante, à luz do referido decreto, entre os entes legitimados a

promover o curso de formação profissional em questão, deve este ser

anulado." (fl. 190).

Opostos embargos de declaração (fls. 196/197), improvidos (fls. 200

a 202).

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306 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Sustenta a Recorrente, preliminarmente, violação ao art. 535, inciso lI, do Código de Processo Civil, pois o Tribunal a quo não se manifestou sobre o princípio da legalidade previsto na Constituição Federal, em seu art. 5Q

Aduz contrariedade aos artigos 7Q, inciso IlI; 32 da Lei n. 6.615/1978,

e 84, inciso IV, da Constituição Federal, haja vista que a lei regulamen­tadora da profissão de radialista não fez qualquer restrição quanto às pes­soas legitimadas a realizar curso de formação profissional, não podendo um decreto dispor numerus c1ausus quem estaria autorizado a fazê-lo.

Contra-arrazoado (fls. 234 a 240), o recurso especial foi admitido (fls. 249/250).

Interpôs recurso extraordinário (fls. 217 a 227), admitido (fls. 249/250).

É o relatório.

VOTO

o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): O Sindica­to-recorrido ajuizou ação anulatória do curso de radialistas da Federação­recorrente, havendo cautelar para sustar a realização do curso. A sentença julgou procedentes os pedidos cautelar e principal. O Tribunal de Justiça de Sergipe negou provimento ao apelo. Para o acórdão recorrido, a Recorrente, nos termos do art. 7 Q

, lI, da Lei n. 6.615/1978, e art. 8Q do Decreto n. 84.134/1979, com a redação dada pelo Decreto n. 95.684/1988, "não está legitimada a realizar o curso sub oculo, de modo que a decisão guerreada não reclama o menor reparo". Os embargos de declaração foram rejeitados.

Sustenta a Federação-recorrente que houve violação ao art. 535, lI, do Código de Processo Civil porque o acórdão recorrido, embora interposto o recurso próprio, não enfrentou o art. 5Q

, lI, da Constituição Federal. Mas, tal não ocorre. O que está disposto no referido art. 5Q

, lI, da Constituição Federal é que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coi­sa senão em virtude de lei; o acórdão recorrido, expressamente, asseverou que "não se pode vislumbrar a ocorrência da inconstitucionalidade aduzida, uma vez que o vertente decreto fora confeccionado nos lindes do repositório normativo que regulamentou".

Em seguida, argumenta a Recorrente que o art. 84, IV, da Constitui­ção Federal prescreve que compete privativamente ao Presidente da Repúbli­ca a edição de decretos para a fiel execução das leis, com o que se a Lei n. 6.615/1978, que regulamenta a profissão de jornalista "não contém qualquer

restrição quanto às pessoas, físicas ou jurídicas, sindicais ou não, que possam

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realizar os cursos de formação, como se vê do seu artigo 7.12, inciso III", não poderia o decreto que a regulamentou criar a restrição, sendo irrelevante "que a lei tenha deferido ao decreto o poder regulamentador". Ora, essa fundamentação, plantada nos artigos 5.20, H, e 84, IV, da Constituição Fe­deral, sobre a extensão do "poder de regulamentação", não está na alçada infraconstitucional, não competindo ao Superior Tribunal de Justiça deci­dir sobre o tema.

No que se refere, especificamente, à violação aos arts. 7.20, IH, e 32 da

Lei n. 6.615/1978, no plano infraconstitucional, ao fundamento de que neles não há "qualquer limitação quanto às pessoas que poderiam emitir o ates­tado de capacitação e, menos ainda, que poderiam realizar o curso de for­

mação", não merece, a meu sentir, prestígio. O art. 7.20 cuida das condições

para o registro do radialista, estabelecendo ser necessária a apresentação de "diploma de curso superior, quando existente, para as funções em que se

desdobram as atividades de radialista, fornecido por escola reconhecida na forma da lei", "diploma ou certificado correspondente às habilitações pro­fissionais ou básicas de 2.20 grau, quando existente, para as funções em que se desdobram as atividades de radialista, fornecido por escola reconhecida na forma da lei", ou, finalmente, a apresentação de "atestado de capacitação profissional, conforme dispuser a regulamentação desta lei". O art. 8.20 do regulamento, Decreto n. 84.134/1979, com a redação do Decreto n. 95.684/ 1988, estabelece que o atestado será emitido pela Delegacia Regional do Trabalho, "a requerimento do interessado, instruído com certificado de con­clusão de treinamento para função constante do quadro anexo a este regu­lamento. O certificado deverá ser fornecido por unidade integrante do Sis­tema Nacional de Formação de Mão-de-Obra, credenciada pelo Conselho

Federal de Mão-de-Obra ou por entidade da Administração Pública, Dire­ta ou Indireta, que tenha por objetivo, previsto em lei, promover e estimu­lar a formação e o treinamento de pessoal especializado, necessário às ati­vidades de radiodifusão" . No § 1.20 dispõe o regulamento que, ocorrendo a "impossibilidade do treinamento por falta ou insuficiência, no Município, de curso especializado em formação para as funções em que se desdobram as atividades de radialista, em número que atenda às necessidades de mão­-de-obra das empresas de radiodifusão, a Delegacia Regional do Trabalho emitirá o atestado de capacitação profissional (artigo 7.20, IH), mediante apresentação de certificado de aptidão profissional, fornecido por uma das

entidades abaixo, na seguinte ordem: a) sindicato representativo da categoria

profissional; b) sindicato representativo de empresas de radiodifusão; c) empresa de radiodifusão". E, ainda assim, o interessado será admitido na

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empresa, conforme o § 2.11., "como empregado-iniciante, para um período de capacitação, de até 6 (seis) meses", sendo que somente se o treinamento for concluído com aproveitamento é que a "empresa encaminhará o emprega­do à Delegacia Regional do Trabalho, com o respectivo certificado de ap­tidão profissional, para o fim previsto no § 1.11.".

O que se verifica é que a regulamentação do referido art. 7.11., III, da lei de regência teve por objetivo prestigiar os cursos regulares de formação, seja os universitários, seja os de técnico, abrindo a possibilidade de capacitação em cursos organizados por entidades sindicais, integrantes do Sistema Nacio­nal de Formação de Mão-de-Obra credenciada ou por entidade da Admi­nistração Pública que tenha por objetivo a formação e o treinamento de pes­soal especializado. Em caráter excepcional, se impossível o treinamento por insuficiência de oferta, o certificado de capacitação poderá ser fornecido por entidade sindical, assim mesmo, após período de capacitação, de até seis me­ses, como empregado-assistente. E a autorização alcança as entidades sin­dicais da categoria profissional, no caso, existente, assim o Sindicato-autor da presente ação. Não há, portanto, como entender que a Federação possa realizar o curso, ultrapassando a legitimidade para tanto do Sindicato.

Com essas razões, eu não conheço do especial.

RECURSO ESPECIAL N. 279.834 - RJ (Registro n. 2000.0098505-8)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Guilhermina Pinheiro Martins

Advogados: Amaury Lomba Tavares e outro

EMENTA: Casamento - Alteração do regime de bens.

1. Não é possível alterar o regime de bens vinte anos após a rea­lização do casamento e cerca de seis anos após a separação consensual quando não existe, nas instâncias ordinárias, a evidência de que, efetivamente, houve equívoco, ainda mais considerando que o regime que se pretende modificar foi expressamente confirmado quando da celebração da cerimônia religiosa com efeitos civis.

2. Recurso especial não conhecido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Antônio de Pádua Ribeiro e Ari Pargendler vo­taram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília-DF, 21 de junho de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente.

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator.

Publicado no DI de 27.08.2001.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Guilhermina Pinheiro Martins interpõe recurso especial, com fundamento na alínea a) do permis­sivo constitucional, contra acórdão da Décima Primeira Câmara do Tribu­nal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, assim ementado:

"Retificação de registro. Regime de casamento. Alteração. Habi­litação. Anterior à entrada em vigor da Lei n. 6.515/1977.

O regime iniciado na habilitação do Registro Civil e, mesmo após a vigência da Lei do Divórcio, reafirmado no 'termo de casamento', no dia do casamento na igreja, foi expressamente o regime da comunhão universal de bens, com efeitos civis, que deve prevalecer." (fl. 62).

Alega a Recorrente violação ao artigo 258 do Código Civil, com a re­dação dada pelo artigo 50, inciso VII, da Lei n. 6.515/1977, na medida em que, no silêncio das partes, deve prevalecer o regime de comunhão parcial de bens, aplicando-se a lei vigente na data da celebração do casamento, e não aquela vigente à época da habilitação.

Aduz que não se aplica ao caso a tese da ocorrência de prescrição, matéria que não foi apreciada nem pela sentença, nem pelo acórdão.

Conclui sustentando que, em função da publicidade que precedeu a edição da Lei do Divórcio, a Recorrente contraiu o matrimônio acreditan­do que o mesmo seria regido pelo regime da comunhão parcial de bens.

O recurso especial (fls. 67 a 70) foi admitido (fls. 76 a 78).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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310 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Opina o ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco Adalberto Nóbrega, pelo não-conhecimento do recurso (fls. 84 a 86).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): A Recorren­te ajuizou pedido de retificação de registro de casamento alegando que o regime era o da comunhão parcial e não o da comunhão universal, por equí­voco natural em face, na época, da recente edição da Lei n. 6.515/1977. A sentença indeferiu o pedido porque incabível a alteração do regime. O Tri­bunal de Justiça do Rio de Janeiro manteve o julgado. Para o acórdão re­corrido:

" a Apelante habilitou-se para casar em 15 de dezembro de 1977, ainda sob a vigência do regime legal da comunhão de bens. Na­quele momento, como nada dissesse, sobre a habilitação, considerou sua opção pelo regime legal, que era o da comunhão.

Em seguida, casou-se em 22.01.1978 já sob a égide da lei nova, para a qual o regime legal, se nada fosse declarado pelos nubentes, seria o da comunhão parcial.

A dúvida quanto ao regime da comunhão de bens deve-se em ra­zão da mudança da lei entre a habilitação e a realização do casamento.

No meu entender, deve prevalecer o decidido na sentença. A uma, porque o casamento ocorreu em 1978, portanto, já transcorridos vin­te anos de sua celebração e sem se falar que houve a separação con­sensual do casal, cuja sentença foi prolatada em 04.08.1994, sem que os interessados tenham requerido qualquer providência a respeito.

A duas, porque, apesar das jurisprudências dissonantes, a habili­tação se deu na vigência da lei anterior e as partes, como dito em suas razões da apelação: 'sabiam da nova sistemática legal, quanto ao regi­me do casamento, conúderando que, na ocasião, a vigência da lei foi pro­cedida (rectius 'precedida') de muita publicidade'. Ora, se houve muita publicidade, mais um motivo para que a Requerente e seu ex-cônjuge tivessem o cuidado quanto ao que fora estabelecido para o regime da comunhão de bens, não deixando transcorrer tantos anos e, só agora, depois de já separados consensualmente, uma das partes vir requerer a sua modificação."

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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Não existe a pretendida violação ao art. 258 do Código Civil, como

pretende a Recorrida. O fato é que o casamento foi consumado já há mais

de vinte anos, com separação consensual há mais de seis anos, sem que, na oportunidade, houvesse qualquer manifestação para a alegada correção do

equívoco. As partes poderiam, efetivamente, diante da lei que entrava em

vigor, precedida de muita publicidade, como consta do acórdão recorrido, repetindo passagem da apelação, ter indicado a sua preferência pelo regi­

me legal, mas não o fizeram. O que está dito no julgado de lll. grau, com

o exame da habilitação e do registro do casamento religioso, com efeitos civis, é que houve a reafirmação do regime. Em tal cenário não há funda­

mento para a alteração do regime de bens, irrevogável, a teor do art. 230

do Código Civil.

Eu não conheço do especial.

RECURSO ESPECIAL N. 280.464 - MG (Registro n. 2000.0099778-1)

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrida:

Advogado:

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Irene Corrêa Leão

Noé Alexandre de Melo e outros

Euza Pinto

Rodrigo S. Brandão

EMENTA: União estável - Companheiro casado - Pensão mili­tar - Precedente da Corte.

1. É possível o reconhecimento da união estável e o deferünen­

to do pedido de pagamento de parte da pensão militar, sendo casa­do o companheiro, mas separado de fato há muitos anos.

2. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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312 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recur­

so especial. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nancy Andrighi,

Antônio de Pádua Ribeiro e Ari Pargendler.

Brasília-DF, 17 de abril de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente.

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator.

Publicado no DJ de 13.08.2001.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Irene Corrêa Leão

interpõe recurso especial, com fundamento nas alíneas a) e c) do permis­sivo constitucional, contra acórdão da Primeira Câmara Cível do Tribunal

de Justiça do Estado de Minas Gerais, assim ementado:

"Concubinato. Concubino casado, mas separado de fato. Não­-concomitância com o casamento. Reconhecimento cabível da união

estável.

A separação de fato de pessoas casadas civilmente não impede o

reconhecimento de união estável, lDore uxorio, para os fins legais con­

templados no § 3.1l. do art. 226 da CF, desde que dela tenha resultado

filhos ou que a separação de fato tenha ocorrido há mais de dois anos, tornando a união 'honesta' e possibilitando a dissolução do casamen­

to civil pelo divórcio.

O que a lei e a Constituição não contemplam é o concubinato

adulterino, concomitante ao casamento mantido." (fl. 206).

Opostos embargos de declaração (fls. 218 a 220), foram rejeitados (fls.

223 a 226).

Sustenta a Recorrente contrariedade ao artigo 460 do Código de Pro­

cesso Civil, pois a sentença e o acórdão recorrido julgaram de forma diversa

do pedido inicial.

Aduz violação ao artigo 1.1l. da Lei n. 8.971/1994, uma vez que o de

cujus não se enquadra nas condições que pudessem garantir à Recorrida

direito à pensão alimentícia.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 313

Para caracterizar o dissídio jurisprudencial, colaciona julgados desta

Corte e do Supremo Tribunal Federal.

Contra-arrazoado (fls. 242 a 244), o recurso especial (fls. 232 a 237)

foi admitido (fls. 246 a 249).

Opina o ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Francisco

Adalberto Nóbrega, pelo não-conhecimento do recurso (fls. 259 a 262).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): A Recorri­da sustenta que viveu maritalmente em companhia de Pedro Prado Leão, fa­

lecido em dezembro de 1994, durante 27 anos, sendo 13 anos sob o mes­

mo teto, nascendo da união duas filhas, sendo o companheiro separado de

fato de sua mulher, pedindo que lhe seja paga metade da pensão decorren­

te do falecimento de seu companheiro. A sentença reconheceu a união es­

tável e deferiu o pedido de pagamento da pensão militar. O Tribunal de Jus­

tiça de Minas Gerais manteve a sentença. Os declaratórios foram rejeitados.

A alegada violação ao art. 460 do Código de Processo Civil não existe.

O que a Autora postulou efetivamente foi o recebimento de sua parte na

pensão alimentícia em decorrência da convivência marital, estável, com o

companheiro. E foi isso que a sentença e o acórdão recorrido deferiram.

Reconhecida a união estável, foi deferido o pagamento de metade da pen­

são militar.

A Lei n. 8.971/1994 não foi desafiada pela decisão recorrida. Não há,

portanto, prequestionamento.

O precedente do Supremo Tribunal Federal, apresentada apenas a

ementa, contempla a hipótese de ausência de comprovação da continuida­

de da união livre e a conseqüente dependência econômica, realidade diversa daquela presente neste feito.

Por último, anote-se que a jurisprudência da Corte não desconhece o

efeito da união estável diante de um homem casado, firmando orientação no

sentido de não "ser óbice ao reconhecimento da sociedade de fato, a ma­

nutenção do casamento pelo companheiro (REsp n. 61.746-SP, da minha

relatoria, DJ de 14.04.1997).

Eu não conheço do especial.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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314 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSO ESPECIAL N. 304.326 - SP (Registro n. 2001.0019628-4)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrente: Bradesco Seguros SI A

Advogados: Pedro da Silva Dinamarco e outros

Recorrida: Fabiana de Abreu Sampaio Fakhoury

Advogados: Rosana Chiavassa e outros

EMENTA: Processual Civil - Civil - Recurso especial - Embar­gos de declaração rejeitados - Inexistência de omissão - Seguro-saú­

de - Invalidade de cláusula restritiva de cobertura de tratamento

de Aids - Obrigação de reembolsar despesas médicas - Pedido cer­to e determinado - Multa diária.

- São corretamente rejeitados os embargos de declaração opos­

tos com o fim de suprir omissão inexistente, já que o Tribunal apre­

ciou fundamentadamente todas as questões postas a desate.

- É inválida a cláusula que exclui da cobertura do seguro-saú­

de o tratamento de Aids, tendo em vista tratar-se de contrato de ade­

são, em que inserido dispositivo exageradamente desfavorável ao se­

gurado, parte mais fraca da relação jurídica, e que esta cláusula fere a natureza mesma do seguro-saúde.

- É certo e determinado o pedido de se condenar a seguradora

a reembolsar as despesas gastas no tratamento de doença, que esta alegava excluída da cobertura, e de declará-la responsável pela in­

denização, sempre que necessários gastos com tal tratamento.

- A multa diária ou astreinte se aplica à obrigação de prestar

tratamento médico necessário a garantir a saúde da segurada.

- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­

tos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não co­

nhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Castro Filho, Ari Pargendler

RST}, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 315

e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra-Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília-DF, 24 de setembro de 2002 (data do julgamento).

Ministra Nancy Andrighi, Relatora.

Publicado no DI de 03.02.2003.

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso especial arrimado na alínea a do permissivo cons­titucional, interposto por Bradesco Seguros S/A, contra v. acórdão do egré­gio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Narram os autos que a ora recorrida ajuizou ação, sob o rito ordinário, requerendo fosse reconhecida a obrigação da seguradora, com a qual havia celebrado contrato de seguro-saúde, à indenização pelo tratamento de Aids. Em defesa, argüiu a Ré, entre outros fatores, que havia cláusula expressa de não-cobertura de tratamento de doença contagiosa, entre elas, a Aids.

O pedido foi julgado procedente, condenando-se a Ré ao pagamento das despesas já efetuadas com aquele tratamento e a continuar indenizan­do a Autora pelos futuros procedimentos médicos necessários ao tratamen­to daquela doença, sob pena de multa diária.

Apelaram as partes, tendo sido negado provimento a ambos os recur­sos, em acórdão assim ementado:

"Sentença. Nulidade. Alegado cerceamento de defesa. Inexis­tência. Enfermidades indiscutivelmente de natureza contagiosa. Exi­gência de mera interpretação contratual. Preliminar rejeitada.

Prescrição. Artigo 178, § 9Q., inciso V, alínea b, do Código Civil. Inocorrência. Questão que envolve abusividade de cláusula contratual e não vício de consentimento ao contratar. Alegação rejeitada.

Seguro-saúde. Negativa de cumprimento por alegada exclusão. Contrato de adesão que torna inválida cláusula limitativa. Finalidade social do Direito e do ato jurídico firmado que deve ser prestigiada. Recurso improvido.

Honorários advocatícios. Irresignação da segurada com o arbitra­

mento em percentual mínimo previsto no CPC. Parâmetro razoável, considerado o tema em litígio e o proveito econômico sob o qual re­caiu a condenação. Recurso adesivo improvido." (fi. 753).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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316 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Interpostos embargos de declaração, estes foram rejeitados por se en­tender inexistente qualquer omissão, contradição ou obscuridade.

Daí o presente recurso especial, em que se alega violação aos seguin­tes dispositivos legais:

I - art. 535, inciso lI, do CPC, porque não analisou, o Tribunal a quo, os dispositivos legais tidos por violados, expressamente, a fim de preencher­-se o requisito do prequestionamento;

II - arts. 1.432, 1.434 e 1.460 do Código Civil, porque anulada cláu­sula contratual que previa exclusão de cobertura, em conformidade com a legislação pertinente;

III - arts. 125 do Código Civil, e 4.Q. da LICC, uma vez que ao não se permitir aquela restrição no contrato de seguro, sobre a qual calculado o valor do prêmio, permitiu-se o enriquecimento sem causa do segurado;

IV - art. 286 do CPC, porque deu-se abrigo à pretensão incerta, de condenação para o futuro, ao pagamento de indenização securitária;

V - arts. 130 e 133 do Decreto-Lei n. 73/1966, e 652, caput, 657, se­gunda parte, e 659, caput, do CPC, porque aplicada multa diária ao caso

de obrigação de pagar, que é a da seguradora.

Ao recurso foi negado seguimento, interpondo, a Recorrente, agravo de instrumento, o qual foi convertido em recurso especial, para julgamento de

mérito, nesta Corte.

É o relatório.

VOTO

I - Da ofensa ao art. 535, inciso lI, do CPC

Primeiramente, no tocante à apontada omissão existente no acórdão recorrido, é de se reconhecer que todas as questões relativas ao julgamen­to da causa foram examinadas pelo egrégio Tribunal a quo, restando prequestionadas as alegadas violações à lei federal, desnecessário, para tan­

to, que fossem mencionados, expressamente, todos os artigos de lei ou nor­mas em que se apóia a decisão, ou que refute especificamente a aplicação

de um e de outro dispositivo.

Assim sendo, foram corretamente rejeitados os embargos. Tal recurso

é instrumento processual excepcional e destina-se ao aprimoramento do jul­gado que contenha obscuridade, contradições ou omissões sobre tema cujo

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 317

pronunciamento se impunha manifestar o julgador. Não se prestam à aná­lise da causa, ou à correção de error in judicando, nem são vocacionados a modificar o entendimento do órgão julgador.

Mesmo quando aviados embargos de declaração para fins de preques­tionamento, estes devem preencher os pressupostos específicos de seu cabi­mento - presença de omissão, contradição ou obscuridade. Se o acórdão recorrido não omitiu ponto sobre o qual deveria pronunciar-se, não há que se falar em violação ao apontado dispositivo legal.

II - Da ofensa aos arts. 125, 1.432, 1.434 e 1.460 do Código Civil, e 4.11. da LICC

A questão atinente às violações aos arts. 125, 1.432, 1.434 e 1.460 do Código Civil, e 4.11. da LICC, dizem respeito à validade da cláusula restritiva de cobertura de tratamento de Aids.

Considerou, a r. sentença, inválida a cláusula em questão, por ser potestativa, "( ... ) porquanto os conteúdos de tais cláusulas foram absoluta­mente incompatíveis com a própria finalidade do negócio jurídico, - seguro para cobertura de riscos ligados à saúde -, imprevisíveis, colocados de forma unilateral e por arbítrio exclusivo do Réu. Mormente considerando que cui­dou-se de contrato padronizado e previamente estereotipado sem viabilidade de interveniência dos aderentes e que, na espécie, o bem garantido, - a saú­de -, foi de natureza inavaliável em termos econômicos ou securitários ( ... )" (fi. 543).

Como visto, após analisar os termos da apólice securitária, bem como as circunstâncias em que foi realizado o contrato, concluiu-se que este era de adesão e que não teve o segurado qualquer condição de intervir na es­tipulação daquelas cláusulas.

Também assim considerou o egrégio Tribunal a quo, que o contrato era de adesão, sendo inadmissível que, tendo recebido regularmente o prê­mio, se recusasse a seguradora a cumprir sua obrigação principal.

Como se nota, desnecessário, para avaliar o acerto de tais decisões, que se interprete a cláusula excludente de cobertura, ou que se reexaminem fatos e provas carreadas aos autos. Com efeito, a controvérsia somente demanda a análise da validade daquela disposição contratual.

Sem invocar os princípios e normas do CDC - como não o fez o acórdão recorrido, deve-se determinar a aplicabilidade daquela cláusula contratual restritiva, levando-se em conta as características do contrato sub examem e sua finalidade essencial.

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318 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Primeiramente, como já fixado pelo Tribunal a quo, o contrato em tela é de adesão, daqueles em que há mitigação do poder de barganha da parte economicamente mais frágil, na hipótese, o segurado. Esse apenas aceita as condições estipuladas pelo que detém a posição econômica mais vantajosa, a seguradora.

Essa espécie de contrato necessita da atenção do julgador para o fato de que, estando em condição mais frágil ao contratar, há grande probabi­lidade de que o segurado não pudesse discordar de cláusula que o desfa­vorecesse ou, ainda, que não tenha sido informado suficiente sobre o alcance da exclusão da cobertura.

Além disso, é preciso observar que o objeto ou finalidade do seguro de que se cuida, é a saúde, ou, mais especificamente, a garantia de indeni­zação contra evento futuro e incerto, danoso à saúde do segurado. Como já acentuou Cláudia Lima Marques,

"O ohjetoprincipal destes contratos é a transferência (onerosa e contratual) G~ riscos referentes à futura necessidade de assistência médica ou hospita1ar. A efetiva cobertura (reembolso, no caso dos se­guros de reembolso) dos riscos futuros à sua saúde e de seus depen­dentes, a adeG);).lada prestação direta ou indireta dos serviços de assis­tência médica (no caso dos seguros de pré-pagamento ou de planos de saúd~ semelhantes) é o que objetivam os consumidores que contratam com estas empresas. Para atingir este objetivo, os consumidores man­terão relações de convivência e dependência com os fornecedores des­ses serviços de saúde por anos, pagando mensalmente suas contribui­ções, seguindo as instruções (por vezes, exigentes e burocráticas) regulamentadoras qos fornecedores, usufruindo ou não dos serviços, a depender da ocorrência ou não do evento danoso à saúde do consumi­dor e seus d~pendentes (consumidores-equiparados)."

Dessa fot~a, o segurado contrata um seguro-saúde a fim de que pos­sa usufruir, no futuro, do tratamento médico necessário a garantir ou res­taurar sua saúde, às vez.es até mesmo salvar sua vida. Faz isso por recear que o custo de tal tratamento seja alto demais para ser suportado, pagando, en­tão, mensalmente, o prêmio à seguradora que assume o risco de arcar com as despesas médicas se e quando for necessário.

Espera, portanto, o segurado, legitimamente e logicamente, que, cum­prindo sua obrigação contratual, obtenha, quando necessitar, o tratamento adequado à doença que ataca sua saúde.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 319

Por todos esses motivos, conclui-se que o segurado provavelmente não tem compreensão exata de que não terá direito à cobertura pelo tratamen­to de Aids, por tratar-se de "doença contagiosa", ao assinar contrato con­

tendo tal restrição.

Segundo já anotou o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, no

REsp n. 86.095-SP, DJ de 22.04.1996, in verbis:

"O segurado é um leigo, que quase sempre desconhece o real signi­

ficado dos termos, cláusulas e condições constantes dos formulários que lhe são apresentados. Para reconhecer a sua malícia, seria indispen­sável a prova de que: 1) realmente, fora ele informado e esclarecido de todo o conteúdo do contrato de adesão, e, ainda, 2) estivesse cien­te das características de sua eventual doença, classificação e efeitos."

Além disso, a exclusão da cobertura securitária de todo um grupo de doenças, chamadas contagiosas, reduz enormemente a garantia, objeto do

contrato, pois tal grupo envolve grande quantidade de males que podem ata­car a saúde do segurado. Há desnaturação do seguro-saúde, atentando-se contra sua própria finalidade.

Por isso mesmo é que detectou o legislador a necessidade de expressa­mente vedar a restrição de cobertura, em contrato de seguro-saúde, de qual­

quer doença prevista na classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados com a saúde, da Organização Mundial de Saúde -entre elas a Aids -, no art. 10 da Lei n. 9.656/1998.

Dessa forma, tratando-se de contrato de adesão, em que se inseriu cláu­sula bastante desfavorável ao segurado, parte mais fraca da relação, sendo que tal cláusula ainda desnatura o contrato de seguro-saúde, correta a con­clusão por sua inaplicabilidade, sem ofensa aos mencionados dispositivos le­

gais.

lU - Da violação ao art. 286 do CPC

Sobre a questão atinente ao acolhimento de pretensão incerta, em

ofensa ao art. 286 do CPC, dispôs, o aresto reprochado, em sede de embar­gos de declaração, in verbis:

"O julgamento embargado entendeu inútil qualquer referência,

posto que a condenação tratava de doença permanente e que poderia,

como se sabe, apresentar diversos desdobramentos. E a decisão de 1 Q

grau, ao trazer referência a atendimentos posteriores, punha-se defronte

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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320 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

de doença e do contrato, exatamente para afirmar que a cláusula discuti­da (de restrição) não deveria mais receber atenção do Poder Judiciário em ações outras. Nada além disso. Daí ser totalmente dispensável qual­quer menção ao artigo 286 do Código de Processo Civil." (fi. 791).

Dessa forma, não era incerto ou indeterminado o pedido de que, esta­belecida a obrigação da seguradora de indenizar o segurado pelos gastos com tratamento de Aids, não só fosse esta condenada ao pagamento do que já havia despendido a Autora, mas, também, que, havendo necessidade de contínuo tratamento, pela natureza da doença, já se fixasse a obrigatoriedade à indenização.

Certa e determinada a pretensão, decorrendo logicamente do reconhe­cimento da invalidade da referida cláusula contratual invocada pelo Réu para não realizar sua prestação.

Resta, então, incólume o art. 286 do CPC.

IV - Da violação aos arts. 130 e 133 do Decreto-Lei n. 73/1966, e dos arts. 652, 657 e 659 do CPC

Relativamente à violação aos arts. 130 e 133 do Decreto-Lei n. 73/ 1966 e dos arts. 652, 657 e 659 do CPC, estas se referem à impossibilida­de de se ter aplicado a multa cominatória prevista para forçar o cumprimen­to de obrigação de fazer ou não fazer.

A multa prevista nos arts. 461, 644 e 645 do CPC, é aplicável aos ca­sos em que se pretenda compelir o Réu a cumprir uma obrigação de fazer ou de não fazer, tendo em vista a busca pela tutela específica, pela realiza­ção da prestação mesma, quando possível.

Assim assinala Araken de Assis, "os arts. 644 e 645 do CPC, auxilia­dos, no âmbito da tutela antecipatória, pelo art. 461, § 4Q

, consagram a téc­nica executiva da astreinte, como visto (retro, 12.1), ela consiste na conde­nação do obrigado ao pagamento de uma quantia por cada dia de atraso no cumprimento de obrigação, livremente fixada pelo Juiz e sem relação ob­jetiva alguma com a importância econômica do vínculo".

Trata-se, pois, de fórmula para se obter o cumprimento específico da obrigação, sendo esta preferível à conversão em perdas e danos.

O pedido contido na inicial (fi. 92), julgado procedente, consistia na condenação da seguradora, além de reembolsar as despesas médicas da Au­tora (aI), a oferecer, sendo necessário, o tratamento médico para garantir a saúde da segurada (b1).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 321

Esta última prestação, com efeito, constitui-se em obrigação de fazer,

para cujo cumprimento é aplicável e até recomendável a astreime, a fim de

compelir a Ré à prestação em espécie.

Desse modo, mostra-se correta a multa aplicada, sem ofensa aos apon­

tados dispositivos.

Forte em tais razões, não conheço do recurso especial.

É o voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Castro Filho: Sr. Presidente, trata-se de questão que

envolve cláusula limitativa de contrato de seguro-saúde firmado em 1984,

expressamente excluindo da cobertura os riscos de tratamento de doenças

contagiosas.

Em 1997, a Autora-recorrida moveu a presente demanda em face da

Recorrente, em razão da negativa de cobertura para o tratamento de Aids,

pleiteando condenação ao reembolso das despesas já efetuadas e das que

eventualmente viessem a ocorrer, pena de multa diária. O pedido foi julgado

procedente, tendo sido negado provimento aos recursos interpostos.

Daí o recurso especial, alegando ofensa aos artigos 286, 535, II; 652,

657 e 659 do Código de Processo Civil; 125, 1.432, 1.434 e 1.460 do Có­digo Civil; 4Jl. da Lei de Introdução ao Código Civil, e 130 e 133 do De­

creto-Lei n. 73/1966.

A ilustre Ministra Nancy Andrighi afastou a alegada ofensa ao artigo

535 do Código de Processo Civil, ressaltando ter o Tribunal a quo se pro­

nunciado sobre todas as questões relativas ao julgamento da causa, restan­

do prequestionados os temas relativos à afronta à lei federal.

No tocante à alegada violação aos dispositivos da Lei de Introdução

ao Código Civil e ao referido Código, entendeu-a inexistente, mesmo sem invocar os princípios e normas do Código de Defesa do Consumidor, uma

vez que, em sendo o contrato de adesão, o segurado provavelmente não ti­

vesse compreensão exata dos limites de sua cobertura, que exclui tratamento de "doença contagiosa". Como a referida cláusula reduz enormemente a

garantia, concluiu a insigne Ministra que ela desnatura o seguro-saúde, sen­

do correta a conclusão por sua inaplicabilidade, sem ofensa aos referidos

dispositivos legais.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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322 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Entendeu, ainda, não ser incerta a pretensão acolhida, de pagamento das despesas de tratamento ainda não efetuadas, não havendo falar em viola­ção ao artigo 286 do Código de Processo Civil.

Por fim, no tocante à multa cominatória, aceitou-a como corretamen­te aplicada, tendo em vista que, a despeito de ter sido condenada a segura­dora a reembolsar as despesas médicas da Autora, foi estabelecida obriga­ção de fazer subsidiária, concernente a oferecer, se necessário, o tratamen­to médico para garantir a saúde da segurada, sendo perfeitamente aplicável a astreinte.

Em dúvida quanto à aplicabilidade à espécie dos dispositivos do Có­digo Civil que permitem a limitação dos riscos assumidos no contrato de seguro, pedi vista dos autos.

Precedentes desta Corte, no entanto, têm reconhecido, mesmo em con­tratos firmados anteriormente ao Código de Defesa do Consumidor, a invalidade de cláusulas de contratos de seguro-saúde que excluem o trata­mento de moléstias infecto contagiosas de notificação compulsória, como a Aids, porquanto se tratam de cláusulas potestativas.

N esse sentido, entre outros precedentes: Ag n. 251. 722-SP, Terceira Turma, reI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 22.10.2001, DJ de 19.11.2001, p. 262; Ag n. 348.081-SP, Quarta Turma, reI. Min. Ruy Rosa­do de Aguiar, j. 21.03.2001, DJ de 30.03.200l.

Curvando-me à orientação do Tribunal, acompanho a ilustre Relatora, não conhecendo do recurso especial, com ressalvas quanto à terminologia.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 344.838 - MG (Registro n. 2001.0111237-7)

Relator: Ministro Castro Filho

Recorrente: Almeida Drumond Locadora de Serviços Ltda

Advogados: André Rodrigues Costa Oliveira e outros

Recorrido: Banco do Estado de Minas Gerais S/A - Bemge

Advogados: Raul Queiroz Neves, Mariza Moreira de Moraes e outros e Guilherme Pimenta da Veiga Neves

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 323

EMENTA: Processual Civil - Embargos à execução - Cálculo do quantum debeatur - Correlação com o dispositivo da sentença exe­cutada.

I - Ao interpretar o dispositivo do título judicial executado e concluir que os juros moratórios legais, incluídos na condenação, referiam-se ao percentual de 0,5% ao mês, estabelecido no artigo 1.062 do Código Civil, o aresto recorrido apenas buscou adequar a execução ao comando sentencial.

11 - Se a decisão do Juiz, na execução, determinou a penhora em dinheiro e a remessa dos autos ao contador, para verificar a exa­tidão dos cálculos e apurar a verdadeira extensão do quantum debeatur, não há falar em preclusão quanto à controvérsia que de­pois se instalou, quanto aos juros de mora.

Recurso especial não conhecido, com ressalvas do relator quan­to à terminologia.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re­curso especial. Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Mi­nistro-Relator. Sustentou oralmente, o Dr. André Rodrigues, pelo recorrente.

Brasília-DF, 11 de março de 2003 (data do julgamento).

Ministro Castro Filho, Relator.

Publicado no DJ de 19.05.2003.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Castro Filho: Cuidam os autos de embargos opostos por Banco do Estado de Minas Gerais SI A - Bemge à execução de título judicial proposta por Almeida Drumond Locadora de Serviços Ltda, julgado parcialmente procedente o pedido, em 1.2 grau de jurisdição.

Apreciando apelação de ambas as partes, a Quinta Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, por unanimidade, deu pro­vimento ao recurso da Embargante e negou provimento ao do Exeqüente.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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324 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Em síntese, o aresto recorrido afastou a pretensão da Empresa-embar­gada de cobrar juros capitalizados anualmente. O recurso da Executada foi provido, para alterar a sentença dos embargos, quanto ao percentual de ju­ros de mora, fixados em 1 % ao mês, ao fundamento de que a sentença exe­cutada definira que estes seriam os legais, de 6% ao ano, ou 0,5% ao mês.

Opostos embargos declaratórios pelas partes, foram acolhidos, para aclarar o julgado, sem efeitos modificativos.

Ambas as partes interpuseram recurso especial. O primeiro, da exeqüente, Almeida Drumond Locadora de Serviços Ltda, amparado na alí­nea a do permissivo constitucional, ao qual foi dado seguimento, sustenta violação aos artigos 293 e 473 do Código de Processo Civil, 1.062 do Có­digo Civil, e 5.12. do Decreto n. 22.626/1933.

O apelo excepcional do Banco Bemge SI A, igualmente fundamentado na alínea a do artigo 105, inciso IH, da Constituição Federal, foi inadmi­tido, o que ensejou a interposição de agravo de instrumento dirigido a esta Corte, Ag n. 225.537-MG, relator Ministro Nilson Naves, ao qual foi ne­gado provimento, tendo a decisão transitado em julgado em 10.05.1999.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Filho (Relator): Como lido, está em julgamento o recurso especial da Empresa-exeqüente, que pretende, amparada no arti­go 1.062 do Código Civil, sejam os juros legais mencionados na sentença executada, à taxa pactuada pelas partes no contrato de aluguel, objeto da primitiva ação de conhecimento, entendidos como de 1 % ao mês.

A meu sentir, a argumentação não merece prosperar. O aresto recor­rido bem delineou a questão, como se vê, no que interessa:

"Já no que diz respeito aos juros de mora, veja-se o que consta dos autos, mais especificamente, da sentença exeqüenda. Dela se depreende que a ação 'de cobrança' fora julgada procedente, e o Réu condenado

'a pagar à Autora os aluguéis dos equipamentos de infor­mática '" durante o tempo remanescente de sua vida útil ( ... ) e

juros moratórios legais, a partir da citação ( ... ) a serem apurados em liquidação por arbitramento ... ' (fi. 173).

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 325

Da mesma sentença apelaram, tanto o Réu (primeiro apelante), como a Autora (segunda apelante), tendo o acórdão de fls. 174/185 da­

do provimento parcial apenas à segunda apelação, para determinar que

o débito fosse apurado, não por arbitramento, como constara da sen­

tença monocrática, mas 'na forma do art. 604 do CPC'. (fls. 183/184).

Sendo assim, prevalece o dispositivo da sentença exeqüenda, que condenou o Réu a pagar 'juros moratórios legais'.

A decisão não fez referência a juros moratórios contratuais, mas

a juros moratórios legais, cuja taxa, segundo a dicção do art. 1.062 do Código Civil, 'será de seis por cento ao ano'.

Entretanto, à fl. 160 dos autos da execução de sentença, o MM.

Juiz de 1 Q grau, em despacho ordinatório, definira que os juros mora­

tórios legais seriam de '1 % ao mês de forma linear' (perícia, fl. 58; pe­tição, fl. 99), percentual que confirmou na sentença ora apelada (fl. 102).

Com a devida vênia do ilustrado Juiz-sentenciante, que no últi­

mo decisório invocou cláusula contratual, e até o Decreto n. 22.626/

1933, introduziu ele substancial alteração na sentença exeqüenda,

transformando 'juros moratórios legais' em 'juros moratórios

contratuais' .

A primeira sentença não cogitou de juros contratuais, nem foi o percentual dos 'juros moratórios legais' objeto de controvérsia, quer antes da sentença, quer na fase de processamento dos recursos.

A querela só veio a se manifestar, no processo de execução,

quando a coisa julgada já estava definida, sem cogitar de qualquer ou­

tra hipótese, senão o dispositivo expresso na sentença.

Em face do exposto, dou provimento parcial à apelação para de­

finir que, de acordo com a sentença exeqüenda, os 'juros moratórios

legais' são de 6% ao ano, ou 0,5% ao mês." (fls. 217/218).

Por ocasião do julgamento dos embargos de declaração, acrescentou-se:

"Data venia, reafirmo que a sentença não fez referência a juros

moratórios contratuais, mas a juros moratórios legais, cuja taxa -

quando não convencionada ou, se convencionada, não admitida pela

decisão exeqüenda - é de seis por cento ao ano (Código Civil, art. 1.062). Daí porque salientei, no acórdão embargado, que o despacho

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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326 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ordinatório de fI. 160 dos autos da execução, quando definiu que a taxa desses juros seria de 1 % ao mês, introduziu substancial alteração na sentença, transformando 'juros moratórios legais' em 'juros mora­tórios contratuais'.

A propósito do sobredito despacho, também ratifico o entendi­mento de que, sendo de mero impulso processual, ele não produziu o efeito preclusivo inerente às chamadas decisões interlocutórias, razão pela qual prevalece o que consta do dispositivo da sentença."

Do exposto, não vislumbro ofensa aos citados dispositivos legais, ten­do em vista a exegese feita pelo decisum hostilizado que, considerando a

sentença exeqüenda, que condenou a instituição financeira ao pagamento dos juros moratórios legais, afirmou que esses só poderiam ser os definidos no artigo 1.062 do Código Civil, de 0,5% ao mês, pois nada se discutiu quanto

à prevalência dos juros estipulados no contrato.

Em nenhum momento ° aresto disse não ser válida a ressalva do re­ferido dispositivo legal ou acenou com a impossibilidade de os juros moratórios serem incluídos na liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a condenação.

O ponto controvertido diz respeito à necessidade de a execução ater­-se ao que ficou definido no título judicial. O Tribunal a quo, interpretan­do o dispositivo sentencial, nada mais fez do que procurar adequar a pre­tensão executiva ao quanto restou decidido, para evitar desrespeito à coisa julgada.

Verifica-se que a Recorrente presumiu que o Juiz, ao mencionar o ter­mo "juros legais", queria dizer "juros contratuais" e, dessa forma, preten­de fazer prevalecer essa interpretação, sem que, na oportunidade, tivesse buscado o devido esclarecimento.

Disse o aresto, ademais, que o despacho proferido pelo Juiz, já nos autos da execução, o qual, segundo o Recorrente, teria definido os juros de mora em 1 % ao mês, sem recurso da parte interessada, foi meramente ordinatório, desprovido de carga decisória, descabendo falar, portanto, em preclusão.

Do quanto se depreende dos autos, com razão o decisum, pois refe­rido despacho determinou a penhora em dinheiro e a remessa dos autos ao contador, para verificar a regularidade do cálculo do quantum debeatur. Sequer o Juiz de 1ll. grau afirmou, na sentença que apreciou os embargos, que havia decisão interlocutória a respeito. Ao contrário, pelo que se pode

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 327

aferir com as peças existentes nestes embargos, já que os autos da execução não estão apensados, por ocasião do despacho que determinou a penhora, o processo estava na fase de verificação do montante devido, por isso, a de­

terminação de envio dos autos ao contador judicial.

Tanto é assim que essa questão somente foi suscitada por ocasião da interposição dos embargos de declaração ao acórdão que julgou a apelação.

Ante o exposto, inexistindo as violações apontadas, na minha compreen­são, seria de se negar provimento, mas, em atenção à terminologia deste co1endo Tribunal, com as ressalvas costumeiras, não conheço do recurso.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Presidente): Srs. Ministros,

o eminente Ministro-Relator bem demonstrou que não houve ofensa aos tex­tos legais colacionados, porque, no caso, trata-se de uma execução de títu­lo judicial e essa questão sobre os juros moratórios já fora abordada na sen­

tença exeqüenda. Segundo interpretou o Tribunal, lá não se falou em juros contratuais, mas em juros legais. Os juros legais são os moratórios e pre­vistos no art. 1.062 do Código Civil, portanto, de 6% (seis por cento) ao

ano.

Se a sentença fosse omissa quanto aos juros moratórios, há súmula do Supremo Tribunal Federal e entendimento de que podem ser concedidos, inclusive, de ofício, na fase de execução; nessa hipótese, poder-se-ia até exa­minar essa questão, se os juros seriam legais ou contratuais, mas, no caso, isso não ocorreu, porquanto, segundo entendeu o Tribunal, o próprio títu­lo exeqüendo disciplinou esse tema.

Com essas breves observações, acompanho o eminente Ministro-Rela­tor, não conhecendo do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 397.769 - SP (Registro n. 2001.0195007-8)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrentes: Jânio da Silva Quadros (Espólio) e outro

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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328 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Advogados: Francisco José Cahali e outro

Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo

EMENTA: Processual Civil - Inventário - Requerimento para expedição de carta rogatória com o objetivo de obter informações a respeito de eventuais depósitos bancários na Suíça - Inviabilidade.

- Adotado no ordenamento jurídico pátrio o princípio da pluralidade de juízos sucessórios, inviável se cuidar, em inventário aqui realizado, de eventuais depósitos bancários existentes no es­trangeiro.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Castro Filho, Antônio de Pádua Ribeiro, Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra-Relatora.

Brasília-DF, 25 de novembro de 2002 (data do julgamento).

Ministra Nancy Andrighi, Relatora.

Publicado no DI de 19.12.2002.

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso especial interposto pelo espólio de Jânio da Sil­va Quadros e outra, fundamentado na alínea a do permissivo constitucio­nal, em inventário.

Inconformados com o despacho com conteúdo decisório que indeferiu o requerimento de expedição de carta rogatória ao Poder Judiciário da Suí­ça, com o objetivo de obter informações a respeito de eventuais depósitos bancários existentes naquele país em nome do de cujus, os Recorrentes in­terpuseram agravo de instrumento para o egrégio Tribunal de origem.

O v. acórdão restou assim ementado:

"Inventário. Competência internacional. Pretendida obtenção de informes sobre a existência de conta bancária, movimentação e saldo

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 329

no exterior, em nome de falecidos, cujo inventário se processa no Bra­sil. Inadmissibilidade. Escapa à Justiça brasileira questão relativa à

existência de contas bancárias em bancos do exterior, conforme esta­belecido nos artigos 89 do CPC, e 12, § P', da Lei de Introdução ao Código Civil, pelo simples fato da inaplicabilidade da decisão judicial brasileira em país estrangeiro. Recurso desprovido." (fl. 70).

Aponta-se como violado, nas razões do recurso especial, o disposto no art. 89 do CPC, porquanto inexiste em tal dispositivo, ou em qualquer ou­tro, vedação para o Poder Judiciário brasileiro determinar a partilha de bens, situados fora do País, de brasileiro aqui residente e domiciliado. As­sinalam, ainda, que as autoridades suíças, em conformidade com o seu Có­digo de Direito Privado Internacional, cumprem as determinações de ou­tros países referentes à busca de informações bancárias de instituições fi­nanceiras lá localizadas.

Inadmitido o recurso especial no prévio juízo de admissibilidade na origem, presentes todos os elementos para o julgamento do mérito, determi­nei a conversão do posterior agravo de instrumento em recurso especial, com fundamento no art. 544, § 3ll., do CPC.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo não-provimento do recurso especial.

É o relatório.

VOTO

Limita-se a controvérsia à possibilidade de o juízo sucessório brasileiro cuidar de eventuais depósitos bancários existentes no estrangeiro.

Inicialmente, assinale-se que se depreende dos ensinamentos de Pon­tes de Miranda a possibilidade de inventariar-se bens móveis situados no estrangeiro onde a lei estrangeira não tem que ser atendida, pois assevera o incomparável doutrinador que:

I - o "inventariante tem de apresentar a relação completa e individuada dos bens, que tenham de ser inventariados, ainda que situados no estrangei­ro" (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo XIV, arts. 982 a 1.045, Rio de Janeiro, Forense, 1977, p. 75);

II - "se há bens situados no Brasil e bens situados no estrangeiro, onde a lei estrangeira tem de ser atendida, só os bens situados no Brasil é que são objeto do inventário e partilha no juízo brasileiro" (Comentários ao

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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330 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Código de Processo Civil, Tomo lI, arts. 46 a 153, Rio de Janeiro, Foren­se, 1997 - atualização legislativa de Sérgio Berm.udes, p. 226);

III - que o "o juízo de inventário não deve, no Brasil, cogitar de imó­veis sitos no Brasil" (idem., p. 227);

Impõe-se relevar, no entanto, que se adotou, entre nós, o princípio de

pluralidade dos juízos sucessórios, conforme se depreende da leitura do art.

89, lI, do CPC.

Se o ordenamento jurídico pátrio impede ao juízo sucessório estran­geiro de cuidar de bens aqui situados, móveis ou imóveis, em sucessão

m.ortis causa, em contrário senso, em tal hipótese, o juízo sucessório bra­

sileiro não pode cuidar de bens sitos no exterior, ainda que passível a de­cisão brasileira de plena efetividade lá.

Para Celso Agrícola Barbi, o "interesse do legislador se limita aos bens aqui situados, de modo que se houver outros, situados fora do País, o

inventário relativo a esses escapa à jurisdição brasileira. E, naturalmente,

serão inventariados e partilhados em separado, em outro país" (Comentá­rios ao Código de Processo Civil, vol. I, arts. F a 153, Rio de Janeiro, Fo­

rense, 2002, ed. revista e atualizada por Eliane Barbi Botelho, p. 300).

O seguinte precedente, também do Tribunal de Justiça de São Paulo,

trata de igual forma de depósito bancário:

"Inventário. Sobrepartilha. Bens situados no estrangeiro. Incom­

petência da Justiça brasileira. Aplicação do art. 89, lI, do Código de Processo Civil.

Não compete à autoridade judiciária brasileira proceder a inven­

tário e partilha de bens não situados no Brasil." Agravo de Instrumento

n. 266.029, reI. Des. Sousa Lima, julgado em 22.12.1977 (RT 521/

121).

Da interpretação em contrário senso do referido dispositivo legal, ain­

da que em situações diversas, registrem-se os seguintes julgados: no Supre­

mo Tribunal Federal, o RE n. 99.230-RS, reI. Min. Rafael Mayer, DJ de

29.06.1984; no Superior Tribunal de Justiça, o REsp n. 2.170-SP, DJ de

07.08.1990, no qual entendeu o Ex. mo Sr. Ministro-Relator Eduardo Ribeiro

como "violados os artigos 88 e 89 do CPC ao dar-se pela competência da

Justiça do Brasil para casos não contemplados naqueles dispositivos", e o REsp n. 37.356-SP, reI. Min. Barros Monteiro, DJ de 10.11.1997.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 331

Assim, irrepreensível o egrégio Tribunal de origem, que manteve a

unidade e a coerência do ordenamento jurídico pátrio ao interpretar corre­

tamente o disposto no art. 89, lI, do CPC.

Forte em tais razões, não conheço do recurso especial.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 416.338 - RJ (Registro n. 2002.0019651-7)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrentes: Logos Incorporações e Construções Ltda e outros

Advogados: Pedro Luiz Papi de Moraes e outros

Recorrida: Marsiq Serviços de Engenharia Ltda

Advogados: Karina Stenr de Siqueira e outros

EMENTA: Civil - Promessa de compra e venda - Rescisão - De­

volução parcial do preço - Compensação pelo uso do imóvel.

A inadimplência do promitente-comprador não justifica a per­

da dos valores pagos a título de preço, ainda que prevista contratual­

mente, mas o promitente-vendedor tem direito à indenização do que

poderia auferir a título de locação, no período em que o imóvel es­

teve ocupado por aquele.

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as acima

indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­

nal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar pro­

vimento. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi,

Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro-Rela­

tor. Sustentou oralmente o Dr. Rafael Florence, pelo recorrente.

Brasília-DF, 3 de abril de 2003 (data do julgamento).

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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332 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ministro Ari Pargendler, Relator.

Publicado no DJ de 02.06.2003.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Ari Pargendler: Logos Incorporações e Construções Ltda e outros ajuizaram ação ordinária cumulada com reintegração de posse con­tra Marsiq - Serviços de Engenharia Ltda, fundada na inadimplência da Ré em relação a contrato de promessa de compra e venda de imóvel (fls. 2/10).

A MMa. Juíza de Direito Dra. Maria Helena Pinto Machado Martins julgou parcialmente procedente o pedido (fls. 1311138), sentença que foi reformada pela egrégia Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Jus­tiça do Estado do Rio de Janeiro em acórdão da lavra do eminente Desem­bargador Celso Guedes, assim ementado:

"Apelação cível. Ordinária precedida de notificação prevista no Decreto-Lei n. 745/1969. Rescisão de contrato de promessa de com­pra e venda de apartamento construído, no Leblon, com reintegração de posse. Condições negociais fixadas, sem fazer distinção quanto à quitação do terreno ou às benfeitorias. Inadimplência dos comprado­res com sua constituição em mora. Abusividade. A estipulação da cláu­sula penal não é uma carta branca para o contratante a impor sua von­tade desmesurada ao pactuante mais fraco, o qual, simplesmente, adere ao contrato-padrão em manifestação de vontade tolhida. Inteligência do art. 53 do Código do Consumidor (Lei n. 8.078/1990). Potencia­lidade lesiva do inadimplemento. Adequação do percentual de perda das parcelas pagas a um montante razoável, à ótica do art. 924 do Có­digo Civil. Jurisprudência remansosa no STJ e TJRJ. Sentença refor­mada, em parte. Recurso dos Autores desprovido; apelo da Ré provi­do." (fl. 243).

Opostos embargos de declaração (fls. 249/255), foram rejeitados (fls. 289/294).

Seguiu-se recurso especial interposto por Logos Incorporações e Construções Ltda e outros, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c, da Constituição Federal, por violação ao artigo 459 do Código de Pro­cesso Civil, do artigo 924 do Código Civil, e do artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor (fls. 296/317).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 333

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Os autos dão conta de que, em 31 de agosto de 1994, as Autoras prometeram vender à Ré um apartamen­to, em construção, pelo preço de R$ 147.000,00 (cento e quarenta e sete mil reais), a ser pago parceladamente (fi. 34). Quando, concluída a construção, já imitida na posse do imóvel, a Ré se revelou inadimplente e foi constituí­da em mora. À míngua da respectiva purgação, as Autoras lhe propuseram ação ordinária, pedindo a rescisão do compromisso de compra e venda, a reintegração de posse e a aplicação da cláusula penal ajustada "ou, na pior das hipóteses, a fixação de um percentual da perda do total que foi pago, levando-se em consideração para este arbitramento o fato de que a Ré vem exercendo a posse do imóvel desde 5 de julho de 1996, condicionando o de­pósito deste valor à desocupação do imóvel" (fi. 10). A cláusula penal pre­via a devolução, em seis parcelas iguais, mensais e sucessivas, de 30% (trinta por cento) do que fora pago, atualizado monetariamente, sem juros (fi. 39).

Processada a ação, a MMa. Juíza de Direito, reconhecendo a ina­dimplência, julgou procedente o pedido de rescisão do contrato, bem assim o de reintegração de posse, a ser consumada tão logo fossem devolvidos à Ré, com correção monetária, 70% dos valores pagos à conta do preço (fis. 131/138).

Sobrevieram apelações.

O recurso interposto pelas Autoras pleiteou a reforma da sentença, seja para a imposição da cláusula penal contratada, seja para "a compensação entre os valores pagos pela promitente-compradora com um quantum a ser arbitrado pelo período que esta última vem ocupando o imóvel" (fi. 157).

O Tribunal a quo manteve a desqualificação da cláusula penal e afas­tou a compensação pretendida, nos seguintes termos:

" ... não merece prosperar o critério pretendido pelos Apelantes (valor da locação do imóvel pelo tempo utilizado pela Apelada), mor­mente, pela preclusão da prova, com o desfecho da instrução, consi­derando, também, o impulso de fi. 128.

Vê-se, portanto, que a fixação unilateral do valor da pretendida locação, em fase recursal, revela reiterada prática de abusividade ne­gociaI.

Ademais, o pedido inicial foi líquido, ainda que estribado na co­gitada cláusula 4.4 e, desta forma, sua transformação em ílíquido

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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334 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

afrontaria o parágrafo único do art. 459 do Código de Processo Civil." (fl. 245).

o recurso interposto pela Ré foi provido, condenando as Autoras a de­volver 90% dos valores recebidos a título do preço (fls. 241 e 246/247).

se lê:

Seguiram-se embargos de declaração opostos pelas Autoras, nos quais

"Verifica-se à fl. 246 que o v. acórdão faz expressa referência ao art. 53 do Código de Defesa do Consumidor para asseverar que 'cum­

pre ao Juiz adequar a perda das parcelas pagas a um montante razoá­

vel, devendo ser considerado a potencialidade lesiva do inadimple­mento' (sic).

Cotejando a asseveração acima transcrita com a norma contida no art. 53 do CDC e a redação da cláusula penal, se faz necessário o es­clarecimento do que seria essa 'potencialidade lesiva do inadimple­

mento' (sic) quando a hipótese em exame encerra o evidente prejuí­zo sofrido pelas Autoras de terem sido privadas do uso de bem imó­

vel por quase cinco anos - até o presente momento - que agora ain­da se encontram obrigadas a efetuarem a devolução de 90% dos valo­

res recebidos e corrigidos monetariamente." (fl. 253).

Os embargos de declaração foram sumariamente rejeitados (fls. 289/

294), e daí recurso especial interposto pelas Autoras, com base no artigo 105, inciso IH, letras a e c (a petição referiu a letra b, provavelmente por erro

datilográfico) da Constituição Federal, por violação ao artigo 459 do Có­digo de Processo Civil, do artigo 53 da Lei n. 8.078, de 1990, e do artigo

924 do Código Civil, e por divergência jurisprudencial (fls. 296/317).

Nesta altura, portanto, já tendo transitado em julgado as partes do

acórdão que deram pela procedência dos pedidos de rescisão do contrato e de reintegração de posse no imóvel, resta por decidir qual valor, daquele recebido à conta do preço, deve ser devolvido à Ré, bem assim se a respecti­

va restituição está sujeita à indenização pelo tempo da ocupação do imóvel.

O Superior Tribunal de Justiça tem admitido que a inadimplência do promitente-comprador não autoriza a perda total dos valores pagos a título

do preço, nem de montante que pareça abusivo. No EREsp n. 59.870, reI. Min.

Barros Monteiro, a egrégia Segunda Seção considerou razoável a devolução, pelo vendedor, de 75% do que recebeu por conta do preço. Na espécie, o

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 335

Tribunal a quo mandou restituir mais do que isso, de sorte que o recurso

especial está bem fundado.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça também valoriza a ocupação do imóvel pelo comprador inadimplente como fato que justifica a indenização do vendedor (REsp n. 73.252, SP, reI. Min. Ruy Rosado de Aguiar; REsp n. 49.993, SP, reI. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira).

O acórdão recorrido, divergindo desses precedentes, afastou a indeni­zação do que as vendedoras poderiam, no período de ocupação do imóvel, auferir a título de locação, seja porque o pedido inicial teria sido ilíquido, seja porque demandaria a realização de prova, já preclusa.

O pedido inicial teve, nesse particular, a seguinte redação:

"d) aplicar as penas convencionadas na cláusula 4.4 da escritura rescindenda, ou, na pior das hipóteses, fixar um percentual da perda

do total que foi pago, levando-se em consideração para este arbitramento o fato de que a Ré vem exercendo a posse do imóvel des­de 5 de julho de 1996, condicionando o depósito deste valor à deso­cupação do imóvel." (fi. 10).

Evidentemente, trata-se de pedido ilíquido a respeito do qual a prova só seria exigível se não fosse notório, ou não resultasse das regras da ex­periência, o fato de que um apartamento localizado no bairro do Leblon, na cidade do Rio de Janeiro, tem demanda para os efeitos de locação.

Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de lhe dar provimento para condenar as Rés a devolver à Autora 75% dos valores que esta pagou por conta do preço - autorizada a compensação do que a Autora poderia auferir a título de aluguel do imóvel desde a respectiva imissão na posse até a efetiva desocupação, a ser apurado em liquidação de sentença por arbitramento - compensadas as custas e os honorários de advogado em ra­zão da sucumbência recíproca.

RECURSO ESPECIAL N. 447.888 - RO (Registro n. 2002.0084713-3)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrente: Administradora e Corretora de Seguros - Ronseg

RST}, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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336

Advogado:

Recorrente:

Advogados:

Recorridos:

Advogados:

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Odailton Knorst Ribeiro

Sul América Terrestres, Maritimos e Acidentes Companhia de Seguros

Fernando Neves da Silva e Leme Bento Lemos e outros

Severino Alves dos Santos e outros

Sandra Pedreti Brandão e outros

EMENTA: Processual Civil - Recurso especial - Ação de conhe­cimento sob o rito ordinário - Contrato de seguro de vida - Sindi­cato estipulante - Decreto-Lei n. 73/1966, art. 21, § 22. - Ausência de mandato dos segurados - Desconto do prêmio em folha de paga­mento - Ilicitude - Prescrição vintenária - Usufruto do contrato -Impedimento à restituição do prêmio - Dissídio jurisprudencial não comprovado - Correção monetária - Termo a quo - Data do efetivo prejuízo.

- A lei, ao atribuir ao estipulante a condição de mandatário, não o autorizou, ope legis, a firmar contrato de seguro em favor do se­gurado, sem que este, previamente, não lhe tenha outorgado man­dato para tal.

- É vintenária a prescrlçao do direito à reparação dos danos causados por ilícito absoluto.

- O acórdão paradigma trazido a confronto deve ser devida­mente comprovado por cópia ou pela citação do repositório oficial que o publicou, sob pena de não-conhecimento do recurso especial fulcrado em dissídio jurisprudencial.

- O termo a quo para a incidência de correção monetária, nas hipóteses de ilícito absoluto, é a data do efetivo prejuízo, conforme dispõe o enunciado n. 43 da Súmula do colendo STJ.

- Recursos especiais a que não se conhecem.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer dos recursos especiais. Os Srs. Ministros Ari Pargendler e Carlos

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 337

Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra-Relatora. Ausentes,

justificadamente, os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília-DF, 11 de novembro de 2002 (data do julgamento).

Ministra Nancy Andrighi, Relatora.

Publicado no DJ de 03.02.2003.

RELATÓRIO

Cuida-se de recursos especiais em ação de conhecimento sob o rito ordinário, o primeiro interposto por Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes Companhia de Seguros e o segundo interposto por Administra­dora e Corretora de Seguros - Ronseg, ambos com fundamento nas alíneas a e c da Constituição Federal.

Severino Alves dos Santos e outros, ora recorridos, ajuizaram ação de

conhecimento sob o rito ordinário contra os ora recorrentes, tendo por ob­jeto a condenação dos Réus à devolução de valores patrimoniais, indevi­damente descontados em folha de pagamento, a título de prêmio de contrato

de seguro de vida, o qual jamais foi pactuado entre as partes, seja diretamen­te, seja por meio de mandatário.

O MM. Juízo a quo julgou o pedido (fls. 1.068/1.073) procedente in totum., ao fundamento de que o estipulante do contrato de seguro - Funspro (Federação Unitária dos Trabalhadores de Serviços Públicos do Estado de Rondônia) - não foi, em momento algum, constituído mandatário dos Au­tores, ora recorrentes. Concluiu, nesses termos, ser indevido o desconto rea­lizado em folha de pagamento a título de prên;J.io de contrato de seguro de

vida.

A r. sentença foi confirmada (fls. 961/966) em sede de apelação perante

o egrégio Tribunal a quo. Eis a ementa do v. acórdão recorrido:

"Apelação cível. Seguro de vida. Descontos indevidos. Ação de restituição. Prescrição ânua. Inocorrência. Federação sindical estipulan­te. Inexistência de mandato e de manifestação de vontade dos servido­res segurados. Cobrança ilícita. Restituição. Correção monetária. Termo inicial de incidência.

É vintenário o prazo prescricional da ação ordinária em que se discute a restituição de descontos indevidos.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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338 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Inválido é o contrato de seguro firmado por Federação Sindical

na qualidade de estipulante, sem mandato ou autorização expressa dos

servidores, sendo ilícitos os descontos feitos nas contas destes e, as­

sim sendo, sujeitos à restituição.

Em se tratando de ato ilícito, a correção monetária incide a partir do efetivo prejuízo, considerando-se a ocorrência deste na data em que

feito o desconto ilegal na conta dos servidores sindicalizados."

Alegam os Recorrentes, em síntese, que o v. acórdão guerreado:

I - ao não declarar a prescrição ânua entre segurador e segurado,

afrontou o art. 178, § 6Q, inc. lI, do CC;

II - ao não admitir a existência de mandato entre os Recorridos e a

Funspro, como decorrência ope legis do art. 21, § 2Q, do Decreto-Lei n.

73/1966, violou este dispositivo de lei;

III - ao não considerar que aquele que usufruiu do seguro de vida não

pode pedir a devolução do que pagou a título de prêmio, divergiu de pre­

cedente jurisprudencial, e

IV - ao determinar a incidência de correção monetária a partir da data

do efetivo desconto, e não a partir do ajuizamento da ação, afrontou o art.

1 Q, § 2Q, da Lei n. 6.899/1981 e divergiu de precedentes jurisprudenciais.

Não houve contra-razões (fi. 987v.).

O r. decisum do egrégio Tribunal a quo admitiu os recursos espe­

ciais (fis. 988/990 e 991/993).

É o relatório.

VOTO

I - Da prescrição (violação ao art. 178, § 6Q, inc. lI, do CC)

A prescrição ânua, tese sustentada pelos ora recorrentes, aplica-se so­

mente às hipóteses em que as partes estão vinculadas por relação jurídica consubstanciada em contrato de seguro, o que não ocorre na hipótese in

casu, uma vez que o egrégio Tribunal a quo, com fulcro no conjunto fático­

-probatório dos autos, declarou inexistir relação jurídica contratual entre os

ora recorrentes e os ora recorridos, mas relação jurídica derivada de ilíci­

to absoluto (CC, art. 159), cujo prazo prescricional é vintenário.

Inexiste, em conseqüência, violação ao art. 178, § 6Q, inc. lI, do CC.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 339

H - Do mandato ope legis (violação ao art. 21, § 2ll., do Decreto-Lei n. 73/1966)

O § 2ll. do art. 21 do Decreto-Lei n. 73/1966 apenas confere ao estipu­lante, nos seguros facultativos, a condição de mandatário do segurado, o que faz supor não a existência de mandato ope legis entre estipulante e segu­rado, mas a prévia existência de mandato, firmado livremente entre ambos.

O egrégio Tribunal a quo, por sua vez, considerou inexistir prova, nos autos, da existência de mandato firmado entre os ora recorridos, na condi­ção de mandantes, e a Funspro, na condição de mandatária.

Em conclusão, o recurso especial interposto com fulcro em violação ao 21, § 2ll., do Decreto-Lei n. 73/1966 é manifestamente improcedente.

IH - Do usufruto do contrato como impedimento à restituição do prê­mio (dissídio jurisprudencial)

O paradigma trazido a confronto quanto a esta questão não restou devi­damente comprovado, a teor do § 1ll. do art. 255 do RISTJ. Inadmissível, em conseqüência, o recurso especial neste aspecto.

IV - Da correção monetária - termo a quo (violação ao art. 1 ll., § 2ll., da Lei n. 6.899/1981 e dissídio jurisprudencial)

O v. acórdão recorrido, ao considerar a data do efetivo desconto em folha de pagamento como termo a quo para a incidência da correção mo­netária, decidiu em consonância com a jurisprudência pacífica deste Tribu­nal (enunciado n. 43 da Súmula do STJ), in verbis:

"Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo."

Forte em tais razões, não conheço dos recursos especiais.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 450.123 - PR (Registro n. 2002.0094045-9)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrentes: Hamílton Bassani e outros

Advogado: Juarez Xavier Kuster

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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340 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Recorrido: Arilde de Jesus Bassani Chipanski

Márcio Tadeu Brunetta e outro Advogados:

EMENTA: Direito Processual Civil - Exigência de fundamenta­ção das decisões judiciais - Constituição Federal, art. 93, IX - CPC, arts. 165 e 458 - Decisão interlocutória sem fundamentação, que só constou das informações dirigidas diretamente ao órgão julgador do agravo de instrumento.

I - De acordo com o art. 165 do Código de Processo Civil, que dá efetividade a garantias constitucionais, as decisões judiciais de­vem ser fundamentadas. A exigência impõe-se, também, para as de­cisões interlocutórias, cujos fundamentos não podem ser encami­nhados apenas quando do oferecimento das informações ao órgão destinatário do agravo de instrumento. No caso vertente, as razões do agravo apontavam justamente para a ausência de fundamentos da decisão agravada, os quais só foram encaminhados diretamente ao órgão ad quem juntamente com as informações.

11 - Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe pro­vimento. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direi­to, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro-Relator. Sustentou oralmente, o Dr. Juarez Xavier Kuster, pelo recorrente.

Brasília-DF, 20 de fevereiro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator.

Publicado no DJ de 31.03.2003.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial fundado na alínea a do permissivo constitucional.

Os recorridos, Arilde de Jesus Bassani Chipanski e outros, ajuizaram ação cautelar com pedido de liminar, tendo esta última sido deferida pelo

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 341

Juiz de 1ll. grau. Os recorrentes, Hamilton Bassani e outros, ajuizaram agra­vo de instrumento, sustentando ausência de fundamentação daquela decisão, a qual possibilitou aos Recorridos a fiscalização do controle da sociedade

Mineração Bassani Ltda.

O Tribunal a quo negou provimento ao agravo, em acórdão cuja emen­ta foi assim lavrada:

"Agravo de instrumento. Pretendida nulidade por ausência de fun­damentação de decisão, proferida em medida cautelar inominada, que possibilitou aos Agravados, em sede de liminar, através de sua repre­sentante, a fiscalização do controle da sociedade. Decisão proferida pelo Juízo a quo, em juízo de retratação, demonstrando as razões de fato e de direito que embasaram o decisum.

Agravo prejudicado." (fi. 88).

O agravo foi julgado prejudicado pois, "ao manter a decisão agrava­da em juízo de retratação, o MM. Juiz de Direito, em despacho encaminha­do com as informações, complementou e demonstrou os fundamentos do decisum atacado" (fi. 90).

Opostos embargos de declaração pelos Recorrentes, foram rejeitados pelo aresto de fis. 98110l.

Daí o recurso especial, em que se aponta como contrariado o art. 165 do Código de Processo Civil.

A Presidência do Tribunal de origem negou seguimento ao recurso, ao fundamento de que os requisitos exigidos pelo dispositivo citado foram atendidos pelo Juiz de lll. grau.

Foi, então, interposto Agravo de Instrumento, que me foi distribuído

sob o n. 443.817. Na oportunidade, insurgiram-se os Recorrentes contra o fato de ter a Presidência do Tribunal de origem tratado do mérito do recurso especial, sem que houvesse óbice a que fosse conhecido e julgado por esta Corte Superior. Quanto ao mérito do especial, aduziram que o acórdão man­teve decisão sem fundamentos, tão-somente, porque estes foram integrados nas informações prestadas pelo Juiz.

Verificando a ocorrência de questão federal a ensejar o pronunciamento da egrégia Terceira Turma, bem como a ausência de óbice a que o recurso fosse admitido e julgado, dei provimento ao agravo.

É o relatório.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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342 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Têm razão os Re­correntes, pois, consoante consta do próprio acórdão recorrido, a comple­

mentação da necessária fundamentação só foi feita quando do encaminha­mento das informações ao órgão destinatário do agravo de instrumento. Ain­

da que se diga ter sido sanado o vício, já que explicitadas as razões de fato

e de direito que justificavam a decisão, é inegável que se impossibilitou à parte-agravante conhecer previamente daquelas razões para que pudesse ata­car seus fundamentos.

Nesse contexto, é relevante a argumentação desenvolvida pelos Recor­

rentes:

"O argumento contido no v. acórdão (fi. 732) no sentido de que,

proferida nova decisão dentro do processo, as partes poderiam se va­

ler dos recursos cabíveis, data venia não está correta. É que a dita nova decisão foi proferida para justificar recurso que se encontrava sub

judice, aguardando julgamento em 2ll. grau de jurisdição. Não seria

lógico nem exigível que os Agravantes impetrassem novo agravo, quan­do aguardavam julgamento justamente relacionado ao despacho recor­rido, cuja 'nova decisão' foi encaminhada pelo Juízo a quo diretamente ao Tribunal onde tramitava o mesmo recurso, para instruí-lo, na opor­tunidade das informações (art. 527, I)." (fi. 12).

De fato, como exercer o direito de interpor o recurso cabível se as ra­

zões de decidir - já que constantes das informações - foram encaminhadas

diretamente ao Tribunal ad quelll?

Curioso é que os próprios Recorridos, quando ofereceram resposta ao

agravo interposto perante o Juízo a quo, postularam o provimento do agravo na forma do art. 557 do CPC, a fim de que o Juiz proferisse nova e funda­

mentada decisão, em prol da celeridade processual.

Assim sendo, tendo o acórdão recorrido, num primeiro momento, re­conhecido a ausência de fundamentação da decisão agravada, deveria anulá­

-la, não aceitar as informações como complemento da fundamentação.

Fosse deferido o pleito dos Recorrentes - de certa forma apoiado pe­

los Recorridos para que se evitassem delongas - e teria sido evitado o pro­

longamento da discussão de uma mera questão processual decorrente de

liminar proferida em processo cautelar.

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 343

Nesse contexto, em nome do devido processo legal, tenho que o

acórdão recorrido deve ser reformado para anular a decisão agravada a fim

de que outra seja proferida com os fundamentos que se entender de direito.

Posto isso, dou provimento ao recurso especial para o fim indicado.

RECURSO ESPECIAL N. 490.832 - MG (Registro n. 2002.0161535-3)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrentes: Ângela Maria Zanandréia Ferreira e outros

Advogados: Carlos Victor Muzzi e outros

Recorridos: Edílson de Castro e outro

Advogados: Jacob Lopes de Castro Máximo e outro

EMENTA: Processo Civil - Intimação - Procurador substa­

belecido.

A intimação dos atos judiciais deve recair na pessoa do procura­

dor substabelecido sempre que houver requerimento expresso nes­

se sentido, nada importando que a nota de expediente já tenha sido

encaminhada à imprensa oficial; comunicada, depois disso, mas an­

tes da publicação da nota de expediente, a constituição de novo pro­

curador, a intimação é nula se feita na pessoa do anterior.

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, em que são partes as aCIma

indicadas, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribu­

nal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar pro­

vimento. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi,

Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro-Re­

lator.

Brasília-DF, 1>1. de abril de 2003 (data do julgamento).

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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344 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ministro Ari Pargendler, Relator.

Publicado no DI de 02.06.2003.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Ari Pargendler: Ângela Maria Zanandréia Ferreira e

outros propuseram ação de rescisão de contrato contra Edílson de Castro,

em 29 de junho de 1998, distribuída à 19.a. Vara Cível da Comarca de Belo

Horizonte (fls. 2/4 e 32 destes autos).

Vilma Beatriz de Freitas Pinto Coelho, por sua vez, ajuizou ação de

adjudicação cumulada com consignação em pagamento e outros pedidos

contra Ângela Maria Zanandréia Ferreira e outros, distribuída à 2.a. Vara

Cível da Comarca de Belo Horizonte (fls. 2/8 e 33 dos autos em apenso).

À vista da conexão entre ambas as demandas, o MM. Juiz de Direito

da 2.a. Vara Cível determinou a remessa dos autos da ação de adjudicação

cumulada com consignação em pagamento e outros pedidos ao MM. Juiz de

Direito da 19.a. Vara (fl. 129, verso dos autos em apenso), que lhes determi­

nou o processamento conjunto (fl. 33, verso dos autos em apenso).

A final, o MM. Juiz de Direito Dr. José Geraldo Saldanha da Fonse­

ca proferiu a sentença em 2 de agosto de 1999 (fl. 120 destes autos),

publicada em 7 de agosto de 1999 (fl. 120, verso destes autos).

Ângela Maria Zanandréia Ferreira e outros opuseram embargos de

declaração em petição subscrita pelo Dr. Geraldo Barrote, OAB-MG n.

6.680 (fls. 121/128 destes autos), liminarmente rejeitados (fl. 130 destes

autos) - decisão publicada em 24 de agosto de 1999 (fl. 130 destes autos),

sem que da respectiva nota constasse o nome do Dr. Carlos Victor Muzzi,

substabelecido nos poderes de representação de Ângela Maria Zanandréia

Ferreira e outros, que em petição protocolada em 23 de agosto de 1999,

requerera fosse intimado dos atos do processo (fl. 137 dos autos em apenso).

A 14 de setembro de 1999, Ângela Maria Zanandréia Ferreira e ou­

tros interpuseram apelação, esclarecendo que "o recurso é tempestivo, posto

que não foram regularmente intimados da v. decisão, proferida nos embar­

gos de declaração opostos" (fl. 131 destes autos).

O MM. Juiz de Direito recebeu o recurso (fl. 140, verso, destes autos),

mas o Tribunal a quo dele não conheceu, à base da seguinte motivação:

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 345

" ••• O novo procurador assumiu o processo na fase dos embargos declaratórios, tomando pleno conhecimento da decisão; assim, o pra­zo recursal teve início em 25.08.1999, findando-se em 08.09.1999; o recurso somente foi protocolado no dia 14.09.1999, a completo destempo; a uma, porque não houve qualquer irregularidade na publi­cação do expediente anterior à juntada do substabelecimento; a duas, porque permaneceram íntegros também os poderes outorgados à procuradora dos Recorrentes, Dra. J osiane Helena de Souza, e da pu­blicação constou seu nome; a três, porque não houve renúncia dos po­deres; do instrumento substabelecido não constou, repete-se, a expres­

são 'sem reservas de poderes'." (fl. 157 destes autos).

Ângela Maria Zanandréia Ferreira e outros opuseram embargos de declaração (fls. 162/164 destes autos) e interpuseram recurso especial, forte no artigo 105, inciso lIl, letras a e c, da Constituição Federal, por viola­ção aos artigos 458, inciso lI, e 535 do Código de Processo Civil.

Na sessão de 28 de agosto de 2001, a Turma conheceu do recurso es­pecial e lhe deu provimento para anular o acórdão proferido nos embargos de declaração, ao fundamento de que:

" ... persistem como relevantes os seguintes tópicos que o Tribu­nal deixou de esclarecer: de que modo o novo procurador teria toma­do 'pleno conhecimento' (fl. 157 destes autos) da decisão proferida nos embargos de declaração, considerando que ela só foi publicada em 24 de agosto de 1999 (fl. 130 destes autos)?; qual o fundamento legal da

presunção de que não dispondo de outra forma 'o substabelecimento é feito com reserva' (fl. 164 destes autos)?; e, nessa linha, o julgado

contrariou o artigo 535, inciso lI, do Código de Processo Civil." (fl. 219).

o Tribunal a quo rejeitou os embargos de declaração (fls. 232/237), sobrevindo novos embargos de declaração (fls. 239/242), igualmente rejei­tados (fls. 244/246).

Ângela Maria Zanandréia Ferreira e outros interpuseram, então, o pre­sente recurso especial, com base no art. 105, lU, letras a e c, por violação aos artigos 458, lI, e 535 do Código de Processo Civil, bem assim pelo

dissenso jurisprudencial a respeito do procurador que, substabelecido no

curso do processo, requereu que as intimações fossem feitas no seu nome (fls. 250/261).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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346 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): "Tal qual transcrito no re­

latório" - está dito no voto-condutor em que a Turma deu provimento ao recurso especial anterior -, "a motivação do acórdão recorrido é, fundamen­talmente, a seguinte:

, ... o novo procurador assumiu o processo na fase dos embargos

declaratórios, tomando pleno conhecimento da decisão; assim, o pra­zo recursal teve início em 25.08.1999, findando-se em 08.09.1999; o

recurso somente foi protocolado no dia 14.09.1999, a completo destempo; a uma, porque não houve qualquer irregularidade na publi­

cação do expediente anterior à juntada do substabelecimento; a duas, porque permaneceram íntegros também os poderes outorgados à

procuradora dos Recorrentes, Dra. Josiane Helena de Souza, e da publi­cação constou seu nome; a três, porque não houve renúncia dos pode­

res; do instrumento substabelecido não constou, repete-se, a expressão 'sem reservas de poderes'.' (fi. 157 destes autos)." fi. 218.

Não obstante tenha rejeitado os embargos de declaração opostos ao julgado em que o acórdão de fis. 215/222 havia reconhecido omissões, o

Tribunal a quo esclareceu as suas conclusões.

Lê-se, a respeito:

" ... o texto do substabelecimento é claro ao informar que já ha­via sentença e que o feito estava em fase de apreciação de embargos declaratórios. Logo, resta claro o entendimento de que os substa­belecidos já sabiam que existia a sentença, e que havia embargos declaratórios em andamento (os embargos declaratórios foram apresen­

tados quatro dias antes do substabelecimento), não me parecendo ra­zoável que tenham aceito substabelecimento naquela fase do processo sem conhecimento de seu teor. Os Embargantes afirmaram, na petição de apelo, que somente naquela data - 14 de setembro, que é a do pro­tocolo do recurso e a da petição tomaram conhecimento da senten­

ça. Ora, cabe repetir a observação de que o substabelecimento men­

cionou a existência de sentença e de embargos declaratórios. A partir desses dois fatos seria razoável considerar que os Embargantes aguar­

daram por vinte dias a publicação da decisão dos embargos, sem se

preocupar com tanta demora?" (fi. 235).

RSTJ, Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 347

"Há de se dizer, também, que a petição de apresentação do substabelecimento foi apresentada ao protocolo do fórum após as quin­

ze horas do dia anterior ao da publicação. O protocolo é do dia 23 e

a publicação do dia 24. Ora, sabe-se que a publicação reflete expedien­

te encaminhado ao Diário do Judiciário dois dias úteis antes - o que se faz por questões técnicas, de forma que não vejo qualquer anorma­

lidade no fato de não haver sido considerado, na publicação feita no

dia 24 - mas encaminhada ao jornal dois dias úteis antes - o

substabelecimento que só deu entrada no protocolo do fórum no dia 23. Isso sem mencionar o fato de que, protocolizada a petição após as

quinze horas do dia 23, só foi ela juntada no dia 24; procedimento

normal, salvo se houvesse pedido de juntada urgente, consignada na

petição, o que não ocorreu." (fl. 236).

Ainda:

"Finalmente, sustentam que 'o v. acórdão afirmou que o substabelecimento presume-se (ou subentende-se) feito com reservas, se nele não foi declinada a reserva ou não de poderes (fl. 157)' e não

'se especificou, contudo, qual o texto legal permitiria presumir ter sido feito com reservas o substabelecimento, pelo simples fato de que não

se consignou ser o substabelecimento feito sem reserva'."

" ... observo que não seria necessário, no caso, indicar o dispo­

sitivo legal sustentador do entendimento a respeito da natureza do

substabelecimento, porque esse entendimento decorreu de mera inter­pretação - e isso integra o ato de julgar - das normas e princípios que

regem os contrato de mandato. Basta ver que não há um dispositivo expresso que dê resposta direta à questão, de forma que a interpreta­ção se impunha." (fls. 234/235).

Prestada integralmente a jurisdição, impõe-se examinar-lhe a adequa­

ção ao ordenamento jurídico.

O fato reconhecido na instância ordinária é o seguinte: a 23 de agos­

to de 1999, Ângela Maria Zanandréia Ferreira e outros juntaram aos autos

da ação conexa de adjudicação de imóvel cumulada com outros pedidos um

substabelecimento de poderes de representação ao Dr. Carlos Victor Muzzi

(fl. 137, autos em apenso). Desse instrumento, datado de 20 de agosto de

RST], Brasília, a. 15, (168): 299-349, agosto 2003.

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348 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

1999 e assinado pelo Dr. Geraldo Barrote, consta a observação de que o respectivo processo tinha "tramitação perante o honrado MM. Juiz da 1911

Vara Cível, com sentença já proferida e com embargos de declaração em an­

damento" (fi. 138, autos em apenso). O MM. Juiz de Direito rejeitou os em­

bargos de declaração (fi. 130), tendo a respectiva intimação recaído na pes­

soa da Dra. Josiane Helena de Sousa (fi. 140), que tinha procuração nos autos (fi. 12).

Para decidir pela validade dessa intimação, o Tribunal a quo elencou três fundamentos:

a) o texto do substabelecimento autorizava a presunção de que o novo procurador tinha conhecimento da sentença, ("os substabelecidos já sabiam que existia a sentença, e que havia embargos declaratórios em andamento" -fi. 235);

b) o de que o substabelecimento foi protocolado "após as quinze ho­

ras do dia anterior ao da publicação" (fi. 236), quando a nota de expediente já havia sido enviada à imprensa oficial;

c) " ... permaneceram íntegros também os poderes outorgados à procuradora dos Recorrentes, Dra. Josiane Helena de Souza e da publica­ção constou seu nome" (fi. 218).

Data venia, do texto do substabelecimento depreende-se apenas que

as ações conexas tinham "tramitação perante o honrado MM. Juiz da 1911

Vara Cível, com sentença já proferida e com embargos de declaração" (fi.

138, autos em apenso). Nada importa que o substabelecimento esteja data­do de 20 de agosto de 1999, e a decisão que rejeitou os embargos de de­claração datada de 18 de agosto de 1999 (fi. 130); assinada, embora, a de­

cisão em 18 de agosto de 1999, o cartório judicial só recebeu os autos do Juiz em 20 de agosto de 1999, não se sabendo se isso ocorreu antes ou de­

pois de o substabelecimento ter sido passado.

De sua vez, é irrelevante que a nota de expediente tenha sido encami­nhada à imprensa oficial antes da juntada do substabelecimento; comunicada,

depois disso, e antes da publicação, a constituição de novo procurador, a intimação é nula se feita na pessoa do anterior.

Finalmente, a circunstância de que a intimação também tenha recaí­do na pessoa de Josiane Helena de Souza não produz o efeito reconhecido

pelo Tribunal a quo, à vista de que o novo procurador substabelecido re­

quereu expressamente fosse ele intimado dos atos judiciais seguintes (fi. 137,

autos em apenso).

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JURISPRUDÊNCIA DA TERCEIRA TURMA 349

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça "tem-se orientado, em casos dessa natureza, no sentido de que a intimação dos atos processuais seguintes só é válida se feita na pessoa do procurador que assumiu o encargo de receber as comunicações processuais" (fi. 219).

Assim, voto no sentido de conhecer do recurso especial e de lhe dar provimento para que o Tribunal a quo conheça da apelação.

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