A Construção Do Delinqüente Juvenil o Perfil Do Jovem Infrator

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    A CONSTRUO DO DELINQENTE JUVENIL: O PERFIL DO JOVEM INFRATOR

    Maristela COLOMBOMestre em Cincias Sociais

    Especial ista em Psicologia Clni ca e Psicologia JurdicaDocente da Faculdade de Cincias da Sade Curso de Psicologia

    Gara - SP

    RESUMO

    Quem o adolescente infrator, que responde processo, judicialmente, um dos pontos chave destapesquisa, principalmente, porque o conceito popular e a literatura especfica sobre o assunto,freqentemente, identificam a criminalidade com as populaes marginalizadas. Em razo desta viso,que pode estar distorcida, procurei investigar a situao atravs dos seguintes pontos:Como se caracteriza o adolescente, autor de infraes penais, que responde a processos na Vara daInfncia e Juventude da Comarca de Marlia? At que ponto existe uma identificao entre a populaodos adolescentes autores de infraes penais, respondendo processos judicialmente, com a populaomarginalizada? Este estudo visou A obter, tambm, um conhecimento mais detalhado sobre o modocomo o adolescente infrator, que responde a processos judiciais, na Comarca de Marlia, formula suasconcepes de mundo, sobre as noes que tem a respeito de regras de convivncia e de como reage sexigncias de sobrevivncia.

    PALAVRAS-CHAVE: adolescente, adolescente infrator, delinqncia juvenil, violncia

    ABSTRACTWho is the adolescent offender, who answers for a judicial action , it is one of the key points of thatresearch, mainly because the popular concept and the specific literature about this subject frequentlyidentify the crime rate with the marginal population. Due to this view, that it can be distorted, I tried to gointo the situation through the following points: How is characterized the adolescent authors of penalinfringement group that it answers for a judicial action together with the Vara of the Childhood and Youth ofthe District of Marlia? To what extent does an identification exist among the adolescent authors of penalinfractions , answering for a judicial action, with the marginal population? How is formed their identity andwhich the influence that the social environment can bring on it? This study intends to work the other, withthe discovery that the I do about the another . It is inside of this focus that I look for to analyze the youthbehind adolescent offenders mask. The objective of this research went obtain a more detailed knowledgeabout the adolescent offenders, that answer for judicial actions ; how they formulate their worldconceptions, about the notions that they have regarding coexistence rules and how they react to thesurvival demands.KEY-WORDS: adolescent, adolescent offender,juvenile delinquency, violence

    1 -INTRODUO

    O estudo discute as questes que permeiam a existncia do adolescente infrator, queresponde processos judiciais na Comarca de Marlia. Atravs dele busquei obter um conhecimento maisdetalhado sobre suas concepes de mundo, suas noes sobre regras de convivncia e suas reaess exigncias de sobrevivncia: isto porque adolescentes autores de infraes penais, que respondem aprocessos judiciais, na cidade de Marlia, e bem provavelmente no Brasil, so, em sua maioria,provenientes das camadas mais baixas da populao. considerado adolescente infrator, do ponto de

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    vista legal, o jovem maior de 12 anos e menor de 18 anos que infringiu ou violou algum dispositivo jurdicodefinido como crime, falta ou contraveno, segundo as leis vigentes no Pas, ((NOGUEIRA, 1991).

    A situao da infncia no Brasil desalentadora e sua poltica de atendimento, nas ltimasdcadas do sculo XX e incio deste, pouco tem contribudo para amenizar a subnutrio, a mortalidadeinfantil, a explorao do trabalho infantil, a baixa escolaridade, etc. (ADORNO, 1991) O agravamento dadesigualdade social faz surgir um contingente populacional tido como excludo, socialmente. Com isso,grande parte de nossa populao acaba condenada a sobreviver, ao nvel da necessidade e do imediato,desprovida das condies materiais bsicas de existncia e apartando-se do acesso aos bens culturais.A isso se acresce o no reconhecimento da cidadania de milhares dessas pessoas e a rejeio social de

    que so alvo (VIOLANTE, 1997).A no implemenaco dos programas voltados para os adolescentes autores de ato

    infracional, constantes da Lei, faz com que acabem recebendo medidas mais restritivas, como deremisso, advertncia, liberdade assistida ou internaco, tudo de acordo com a gravidade do delito.

    2 - METODOLOGIA

    Atravs dos levantamentos dos processos de atos infracionais, registrados na Vara daInfncia e Juventude da Comarca de Marlia, das entrevistas com Promotores, Juizes e demaisfuncionrios do Tribunal de Justia, utilizando-me da tcnica de Histria de Vida e depoimentos

    pessoais, segundo a sociloga Maria Isaura Pereira de QUEIROZ (1993), foi possvel a realizao destapesquisa. Esta pesquisa foi efetuada com uma amostra de 6% dos processos de ato infracional,registrados no Livro de Registro de Feitos, do ano de 1998, no ms de novembro, que totalizavam 100processos.

    3 - RESULTADOS E DISCUSSO

    Este estudo comprovou a hiptese levantada de que o adolescente infrator, que responde aprocedimentos judiciais, realmente, acaba sendo julgado, de fato, a partir do lugar residual que ocupa nasociedade. A opinio pblica contribui com o pensamento geral de que a pobreza est em ntima relaocom o crime e a mdia, tambm, ajuda a difundir o excludo social como potencial criminoso, contribuindopara que se crie um imaginrio negativo e de temor a esse grupo (WAISELFISZ, 1998).

    Dentro desse enfoque, pode-se considerar que as desigualdades sociais esto criando umanova forma de excluso social. Esse fenmeno refere-se excluso social como sendo o noreconhecimento do outro. As dificuldades de reconhecer no outro os direitos que lhes so prpriosalcana a negao ou recusa de direitos, aproximando-se do no ter direitos. O excludo moderno umgrupo social que se torna, economicamente, desnecessrio, politicamente incmodo e socialmenteameaador, podendo, portanto, ser fisicamente eliminado, (NASCIMENTO, 1994). Isto se torna visvelquando se instiga, no Brasil, a pena de morte e a reduo da maioridade penal para 16 (dezesseis) anos.

    Na verdade, adolescentes pobres e adolescentes ricos, que cometem atos infracionais,seguem uma mesma trajetria. So rebeldes, usam drogas, andam armados, usam roupas e tnis de

    marca; uns porque roubam, outros porque seu poder aquisitivo lhes proporciona a escolha. No entanto,ambos, so abandonados pelos pais, no concretamente, mas subjetivamente. De certa forma, atransgresso da lei, de normas e regras pode ser, tambm, uma busca de limite, e/ou um pedido deconteno, pois a falta de limites e a permissividade na relao pais e filhos aparecem como alguns dosfatores responsveis pela delinquncia juvenil.

    4 - CONSIDERAES FINAIS

    Esse estudo levantou a problemtica da delinqncia juvenil no nosso pas e, maisdiretamente, do adolescente infrator, que responde a processos judiciais, na cidade de Marlia. Mostrou

    que a transgresso no privilgio das classes desfavorecidas, inclui, tambm, jovens de classes sociaismais abastadas, porm a grande maioria dos adolescentes, que responde por delitos na justia, pertence classe scio-econmica menos favorecida, evidenciando, assim, a existncia, na nossa sociedade, deuma relao entre criminalidade, marginalidade e pobreza.

    Como bem lembra David Lo Levisky, Essa relao existe porque as classes maisabastadas acabam sendo acobertadas pelo poder econmico, que de certa forma silencia os processos

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    judiciais, na tentativa de manter o status e omitir as desorganizaes familiares, cada vez maisfreqentes.(LEVISKY, 1997).

    Essa uma ideologia perversa que acaba por julgar e humilhar adolescentes provenientesdas camadas mais baixas da populao, sendo que o aumento da criminalidade, tanto do ponto de vistado crime organizado ligado ao narcotrfico, como o de violncia consideradas difusas, gratuitas, somanifestaes freqentemente analisadas e localizadas nos territrios ditos de pobreza (Waiselfisz,1998).

    Numa sociedade excludente como a nossa, a cultura no pode ser de muitos, o que deveriaser direito de todos, acaba sendo privilgio de poucos. Essa forma de pensar impede mudanas

    fundamentais na poltica social do Pas, que para resguardar alguns direitos da Declarao Universal dosDireitos Humanos (1948) teria que enfrentar simultaneamente, o desafio da questo social ligada spolticas pblicas, articulada questo jurdico penal e de segurana.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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