A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    1/9

    A S S U i lW f s p fj c i l - U u t r i n a

    A p l i c a o d a

    le i

    P e n a l

    A C r i s e d o D i r e i t o P e n a l n a E r a G l o b a l i z a d a

    l h e C r i s i s

    D f

    C r i m i l a l l a w

    i n t h e

    G l o b a l i l e d

    E r a

    C A R l O V E L H O M A S I

    M e s tr an d o e m C i n c i as C r im i n a is p e la P o n ti f ci a U n iv e rs id a de C a t lic a d o R io G r an d e d o S u l

    ( P U C R S ) , E s p e c i a l is t a e m D ire it o P e na l e P o l t i ca C r im i n a l: S i s te m a C o n st it uc io n al e D ire i t o s

    H u m a n o s p e la U n i ve r si da d e F e d e ra l d o R i o G r a n de d o S u l ( U fR G S ) . B a c h a re l e m C i nc ia s J u -

    r d ic a s e S o cia is p e la P U C R S , M e m b ro d o I ns ti t ut o B ra s i le i ro d e C i n c ia s C r i m in a i s ( IB C C r i m ) ,

    d o I n st it u to B r a si le ir o d e D i re it o P r o ce s s ua l P e n a l ( l BR A P P ) e d o I n st it u t o B ra s ile ir o d e D ir e i t o

    P e n a l E c o n m i co l B D P E) . A d v o g ad o C r im i n al e m P o r to A le g r e/ R S.

    R E S U M O : A o d ef r o nta r u m m o de lo c l s s i c o c o m u m m o d elo m o d e rn o d e D i re it o P en al e d e p o l t i -

    c a c rim in a l, p er c eb e- s e q ue o p er o do d e l im in ari d a d e p e l o q u a l p a s s a m os r ev el a o n t id o e s go ta m e n -

    to d o p a ra dig m a p as s a do . m as . a o m e s m o te m p o , a im p r e v is o q ua nto a o m o d el o q ue s e a n u n ci a .

    N es s e c e n rio e m q ue a s n ov a s c o nc e p es a i nd a

    n o

    e s t o a m a du re c id a s p a ra o fe re c er r es p os ta s

    d es ej ve is , o a sp ec to p os it iv o d a c ris e s is t m ic a d o D ir e it o P en al

    a e xig n cia d e r e fle x es e m u -

    d a n a s d e c o n c e i t o s . o q u e r e v e la q u e a s c i nc ia s h um an as s o d in m ic as e , v ia d e c o n se q u nc ia ,

    t ra ba lh am c om c on ce it o s t r a ns it rio s, o q ue i m p l i c a . e m u m a c o nc e p o m a is r a di c a l. a l t e r a e s

    n o

    s

    d a m e t o d o l o g ia , m a s ta m b m d o p r pr io o bje to d e e stu do . P o r is s o . t em - se p o r in c on te s t v e l

    a c om p le xid ad e e a tu al id ad e d a d is cu ss o c on ce rn en te

    p o l i t c a c rim in a l a do ta da n a s oc ie da d e

    d e r is c o . e m u m c o n te xto d e c r i s e d e le gi t im id ad e d o D ir e it o P en al . Q u e st o q ue e st a d em a nd ar

    u m a a m pl a in te rd is ci p lin a r id ad e , p ri n cip a lm e nte e n tr e o D ir ei t o P e n a l , a S o c i o lo g i a. a A n t r op o lo g ia . a

    H i s t r i a , a F ilo s of ia e a C r im i no lo g ia .

    P A L AV R A S -C H A V E: S o cie d ad e d o r is co ; g lo b al iz a o ; D ir ei t o P e na l c l s sic o ; D i re it o P e n a l m o d e r no ;

    p o l f t ic a c rim in a l ; e x pa n si on is m o . '

    A B S TR A C T : W h en fa cin g a c la ss c m o d e i w it h a m o de rn C r im in a l L a w a n d c rim i na l p o lic y,

    it

    is

    c le ar t h al lh e p er i o d o f l im n a r i t y in w hic h w e l iv e i n r e ve al s th e c le a r e xh au st io n o f t h e p a st p a ra d ig m ,

    b u t , a t t he s am e t im e , th e u np re d ic ta b i l i t y o f th e m o de l t h a t is a n no u nc e d. I n t h is s c e na r io w h er e n ew

    c o n c e p ts a re n ot v e t m a tu re e no ug h to p ro vid e d es ira ble re sp on se s. lh e p os it iv e a sp ec t o f t h e s ys -

    te m ic c ris is o f C rim in al L aw is th e r e qu ir e m en t o f r ef le ct io ns a nd c ha ng es i n c o n c e p ts . w h ic h r ev e als

    th at t h e h um a n s ci e nc es a re d yn am ic a nd , a s a c on se qu en ce . w or k w it h t ra ns ie nt c on ce pts , w h ic h

    i m p l i e s . i n a m o r e r a dic al c o n ce p ti on . c h a n ge s n o t o n ly o f t h e m e th od ol o gy , b u t a ls o o f t h e v ery a b je ct

    o s t u d y . T h e r e f o r e , i t is u n d is pu te d th e c om p le x i t y a nd re le va nc e o f t he d is cu ss io n c on ce rn in g lh e

    c rim i na l p o lic y a d op te d i n r is k s o cle tv , in a c on te x t o f le g i t im a c y c ri s is o f t h e C rim in al L aw , a n is su e

    Ih at d e m a nd s a w id e in te rd is c ip lin a ry a p pr oa c h, e s pe c ia l ly a m o n g th e C rim in al L aw , lh e S oc io l o g y ,

    lh e A n th r op o lo gy , lh e H is to r y . lh e P hi lo so ph y a nd lh e C r i m i n o l o g y .

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    2/9

    I.

    li

    1 O , , . . , , , . R O P N ' 1 7 - D ez -J an J 2 01 l - A SS U N lO

    E S P E C I A L . ., . D O U T R I N A

    KE YW O R D S : R isk so c e t y ; g l ob a l iz a t io n ; c l ass i c c r im i na ll aw ; m e d e m c ri m in a ll aw ; c ri m in a l p o li tics ;

    e xpansionism .

    S U M R I O : I nt ro d u o ; 1 A m o d e r na p o lf t ic a c r im i n a l: u m a p o l t ic a c r im i n a l d o r i s c o? ; 2 O s m b i to s

    d e r ef or ma d o D i re it o P e na l m od e rn o ; 3 A b u sc a p o r u m a r es po st a r ac ional

    c r im ina l dade g l oba-

    l iz a d a ; 4 A s n o va s t e n d n c ia s p o l ti c o- c rim i na is n o D i re it o P e n al b ras ile ir o; 5 A s f un e s s imb l i c as

    d o D ir ei to P e na l d e e m e rg nc ia ; 6 A c ri se s is t m ic a d o D ir eit o P e na l: s up e ra o d o p arad i gma

    c lss ic o ; C ons i deraes f i na is ; Re fe rnc i as.

    I N T R O D U O

    o t empo em que vivemos denota um conjunto incomum de t ransfor-

    maes, estudadas pela Sociologia sob a forma de diferentes conceitos , como

    sociedade do risco , sociedade do consumo , sociedade da informao ou,

    simplesmente, ps-modernidade ou modernidade tardia ; todos eles muito

    distantes de bem representar as inmeras nuances da sociedade contempor-

    nea. As profundas mudanas estruturais e a emergncia de novas relaes so-

    ciais alteraram, de forma importante, toda configurao das relaes humanas.

    Essasmudanas tm provocado movimentos em todas as reas de conhecimen-

    to, sobretudo no Direito.

    Es tamos a viver um forte perodo de l iminar idade , no sentido que lhe

    dado pela Antropologia, ou seja, um perodo de passagem, no qual sabe-se que

    h um esgotamento do paradigma passado, mas ainda no se pode perceber

    com clareza o modelo que se anuncia' . Esse contexto histrico-social propicia

    um grande desequilbr io no confl ito entre segurana e liberdade, que acaba por

    afastar os princpios e as garantias penais clssicos , ao falacioso argumento

    de

    ot imiza r

    o combate criminal idade. Ao contrrio do que se possa imaginar;

    contudo, isso ocorre no no mbito de Estados total itr ios, mas no seio de Es-

    tados Democrticos de Direito, inobstante todo o desenvolvimento dos direitos

    fundamentais'.

    Tais constataes levam Fabio D'Avila a concluir que a cautela no ,

    def init ivamente, uma caracterst ica des te tempo, no qual as mudanas sociais

    tm se convertido em terreno frtil no apenas para a expanso do Direito Pe-

    nal, mas, e principa lmente , para o surgimento de um Direito Penal de traos

    no democrticos.

    ,

    , i

    J

    O ' A VI LA , F a bi o R o b er to . L ib er da d e e se g ur a n a e m O lr e i to P en al: o p rob le ma d a ex p a n s o d a in te rv en o

    . p e na l. Rev ist a S fn te s e de D ir eito P en al e Pr ocessual Penal, P o rt o A l eg re , n . 71 , p. 4 4 - 5 3 . de t . / jan . 20 1 2,

    p . 4 5 .

    2 ld.,p.

    48 .

    3 Id .,

    p.

    46 .

    , ,

    R D P li 7 1 - D C 1 J a V 2 0 1 3 - A S S U f l T O E S P E C I A l - O O U T R I I I A . . . .. .. . . .. . .. . .. . .. . . . - . . . . .. . . . .. . . . . . . .1i

    1 A M O D E R N A P O L T I C A C R I M I N A L : U M A P O T lC A C R I M I N A L D O R I S C O ?

    Diferentemente do propos to por Von Liszt no f inal do sculo XIX,o Di-

    reito Penal j no mais a barreira intransponvel da poltica crirninal=. Na

    atualidade, tem-se por superada a his trica tenso entre pol tica criminal, que

    procuraria aprimorar a funcionalidade repressiva do Direito Pena l, e o Direi to

    Penal, concebido pela perspectiva garantsti;o-liberal.

    Hoje,

    comum no mbito cientfico a defesa de um Direito Penal no

    s orientado poltico-cr iminalmente, mas at mesmo cunhado pela poltica

    criminal, embora, na prtica, a poltica criminal assuma uma posio hegern-

    nica, com caractersticas bem diversas daquelas idealizadas pelas respectivas

    elaboraes

    dourrln rias t.

    Por isso, Nilo Batista consigna que os grandes de-

    bates se travam entre f inal idades polt icas diversas que pretendam modelar o

    instrumento jurdico, ou seja , entre polticas criminais diversas' .

    O

    surgimento de novos riscos influencia, de maneira decisiva, a tradicio-

    nal polt ica criminal, sendo causa e objeto de grande atividade legislat iva. Aco-

    metida por este fenmeno moderno, a disciplina adquire uma forma bastante

    peculiar, que pode ser denominada de polt ica criminal do r isco .

    As principais caractersticas dessa poltica criminal praticada nos ltimos

    anos podem ser resumidas no conceito de expanso do Direito Penal (isto ,

    do poder do Estado, paralelamente

    reduo paulatina das liberdades civis).

    Eos instrumentos dos

    quais

    a disciplina se

    utiliza

    visam apenas a ampliar esta

    capacidade expansiva.

    O fenmeno mais marcante na evoluo atual das legis laes penais do

    mundo ocidental o aparecimento de diversas f iguras ou reas d e regulao

    totalmente novas, que se relacionam com o indivduo apenas de forma mediara,

    dando prevalncia imediata s instituies ou ao prprio

    Es tado.

    Tal manifes-

    tao

    acompanhada por uma express iva atividade de reforma das infraes

    penais vigentes.

    \ i O S M B I T O S D E R E fO R M A D O D I R E IT O P E N A L M O D E R N O

    Com efeito, o ponto de par tida da anlise do fenmeno de expanso do

    Direito Penal deve ser a observao de que a atividade legislat iva em matria

    penal desenvolvida ao longo das duas himas dcadas tem promovido uma

    4 N a c le b re c on c e p o d e F ra z Von t ist z :

    D as S trafrec hl

    ist

    di e unberst ei gb ar e S ch ranke der K rl m inalpolitil<

    ( V O N

    L l SZT, f r a n z o

    /.a

    T e o ri a d ello s co po n el D lr itto P enale. M i l o: G iu f fr , 1 9 6 2 .

    p, X X I ).

    5 O 'A V ILA , F a b iO R o b e r to . O p . clt ., p . 47 .

    6 8 A T I S T A , N U a . Introdu o c rl tt cs ao d ir ei to pen al b rasi leiro. 10 . ed , R io d e J an ei ro : R e v a n , 2 005 .

    p.

    36 .

    7

    HA S S E M E R , W ln f r ie~ . R a sg os y

    crisis

    d e i O e re c ho P en a l m od e rn o .

    Anurio de D ere cho Penal y Ci encias

    Pe nales ,

    M a d rl d: Ce nt ro d e P u b l c a c ion e s , fa se . I,

    t.

    XLV , p. 2 35 -4 9, e ne ro la b r i l19 92 , p. 24 1 .-2 .

    8 C AN el O M EU A , M a n ue l . LD e rec ho p e n a l d ei e ne m ig o?

    tn.

    JA K O BS , G n lh e r ; C A NC IO M EL l , M an u e l.

    er ecno

    penal de i ene m ig c: M ad n d, C iv ita s, 2 003 .

    p.

    6 2 - 4 .

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    3/9

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    4/9

    1 4 . . .

    . , R D P l i 7 1 - D e z , J a n n O l 3 - A S S U II I O E S P E tI A l - n O U T R l Il A

    3 A B U S C A

    P O R

    U M A

    R E S P O S T A

    R A C I O N A L C R I M I N A U O A D E G l O B A U Z A D A

    A nova conjuntura mundial impulsionou o desenvolvimento da crimi-

    nalidade econmica e evidenciou que os sistemas penais, considerados indivi-

    dualmente, so ineficazes para responder ao desafio lanado por essa mo-

    dalidade especfica da criminalidade, reclamando, por isso, alm de tudo, a

    necessria unif icao dos s istemas legais (pelo menos de forma parcial) .

    Como bem expe Anabela Miranda Rodrigues, lia

    globalzao

    hoje o

    novo paradigma da polftica criminal: frente internacionalidade do crime, urge

    responder com a internaconalizao da poltica de combate ao

    crime'?'.

    Nesse

    sent ido, o mundo regionalizou-se . A Unio Europeia

    um exemplo desse

    processo, onde no

    mais possvel conservar intactas as fronteiras jurdicas

    entre os Estados-membros e os controles das fronteiras fsicas desapareceram.

    Depois da criao de um grande mercado europeu, a criminalidade

    j .

    n~o P?de

    ser t ratada exclusivamente ao nvel nacional. As novas formas de criminallda-

    de so encaradas como problemas que afe tam a todos os Estados-membros da

    Unio. Contra essa criminal idade no se pode lutar isoladamente, preciso

    conjugar esforos,

    Percebe-se que o Direito Penal da era globalizada tende a ser crescen-

    temente unificado, porm menos garantista, com flexibilizao das regras de

    imputao e relativizao de garantias poltico-criminais, substantivas e proces-

    suais, consolidando uma tendncia expansionista, retratada especialmente em

    leis especiais de combate

    criminal idade econmica e organizada e

    corrup-

    o .

    Um fenmeno que exsurge nessa sociedade moderna

    a proliferao dos

    reclamos de variados grupos sociais pela utilizao da disciplina penal como

    forma de autopreservao e incremento de direitos sociais. Desta forma, proce-

    dem tanto osmovimentos de defesa das minorias - sexo, raa, idade - como os

    relacionados

    defesa do ambiente, do consumidor, dos direitos humanos, etc.

    Ney Fayet Ir. observa que esse fenmeno vem gerando uma demanda punitiva

    20 FAYET JONIO R , Ne y . A erim lna lid ad e e conm ica e a po lllic a c r i m i na l: d e s a fi os d a c o nt e m p or a ne t da d e ,

    R ev is ta D ir eito

    Ju s tia , Po r to Al e g re ,

    v .

    34,

    n .

    2, p, 920. ju l ./ d e z . 2008, p, 11.

    21

    R O D R t G U E S

    Anabela

    M r a nd a;

    MOTA,

    Jos Lu s Lop es d a . Para uma polflica c rim inal euto pe ie . qu a d ro

    e

    ins t r u m e ntos ' ju rd ic os d a c oop e ra o judici ria e m rna tna pe na l no es p a o d a Un io E u rop e ia. C o lm b ra:

    C oim b ra ,

    2002.

    p.

    15.

    22 ld., p. 18. S eg un d o os a u tore s , a u n ific a o e ur op e ia em m a tria p e nal t o c o nll itu os a e s e ns v e l , p or qu e a

    l e i p e n al a Q ue tra d ic i onalm e nt e e nc am a d a lo rm a m a is im ed ia ta os v al ore s e a cu l t ura Jur d ica d e u m po v o

    e, p or is so , c ont inu a a pe rt e nc e r a o nc l e o d uro d e s u a s obe ra nJa . O dir e ito de p u ni r. m o nop lio d o E st a do ,

    co nt inu a a se r a m a r ca m a is v is ve da s ob e ra n ia nac ion a l. en qua n to a U n io E u rop e ia s e orie nt a p a ra a

    co n s tr u o j ur dic a co m uni t ri a, c u jo c a r te r s up ra nac i ona l e x clu i o d ir eito p e na l. An te e s s a s d if i cu l d a des d e

    uni f i c a o, a b re m -s e as via s d a harm on i za o do s s ts te m a s j u di c i r io s

    e

    d a coop e ra o in te re s t a d u a l, a m b as

    co ns id e ra d as n ec es s r ia s p ar a a a pr o x i m a o ha rm on ios a d a s d i fe r en t es cu l t u ra s p e na is .

    23 IlVAS A N C H E Z .

    Jess-Matla.

    O p.

    ct.,

    p . 6 6 .

    R D P 1l '1 7 - D C 1 - Ja 1 1 / 2 0 1 l - A S S U m O E S P E C I A L ~ D O U T R I N A .. . .. . . . . . . .. ~ : . . . . . . . . . . . . .. . .. . . . . _ _ 1 5

    sem qualquer apoio nos princpios que, na consol idao do Estado Social e De-

    mocrtico de Direito, informam a construo da sistemtica pena>.

    Certo

    que criminal idade, como um estruturante social, inerente a

    qualquer sistema de regulao da convivncia humana. Sendo assim, nesse ter-

    reno, cuida-se da busca de nveis tolerveis nas sociedades modernas, a fim de

    se estabelecer uma coexistnc ia minimamente pacf ica e estvel.

    As principais discusses de poltica criminal em voga tm sido capita-

    neadas pela elaborao de estratgias de reao social e legal criminalidade.

    O que se busca, em todos os setores vinculados ao Direito Penal (dogmtica

    penal , polt ica criminal, filosofia penal, etc.), um quadro de justificao, de

    validade, e, em ltima anlise, a demonstrao de sua legitimao, por meio da

    qual se possa bem compreender a sua necessidade social.

    Pode-se dizer que todos os problemas fundamentais da criminologia e

    grande parte dos temas da dogmt ica penal encontram-se, de uma ou outra

    maneira, vinculados ao debate sobre a crirninalizao e a descrtrninalizao ,

    de modo que o estudo global desses processos implica em lima espcie de corte

    transversal nessas cincias. Para Ral Cervini,

    hoje emdia, o delito sobrepassou as previses jurdicas e requer urgentemente

    ser vistodentro de todoo contexto social, pois maisdoque um dado normatlvo,

    o produto de uma concorrncia de fatores sociais, econmicos, polticos,psico-

    lgicos e culturais. Odesenvolvimento social atravsdos tempos move-seem um

    ritmo de mudanas constantes, que evoluem medida que asexigncias do ho-

    mem se transformam. Nesse constante fluirde

    id ia s,

    costumes, valorese formas

    de vida, a mudana faz-se patente em todasas relaes e atuaes humanas.

    As leis no podem deixar de considerar as mudanas ocorridas no seio

    da sociedade e devem adaptar-se s

    novas

    realidades delitivas. Muitos delitos

    sero excessivos no sistema se as normas que os sustentam no tiverem um fun-

    .damento antropolgico, ao passo que as

    novas

    condutas, nocivas do ponto de

    vista social, requerero tipificao e castigo.

    A poltica criminal legislativa continua enxergando no atual quadro da

    criminal idade uma justificativa para o endurecimento das penas, Assim,o mo-

    mento atual confronta a coexistncia de posies antagnicas: de um lado, le-

    gislaes que tm o objet ivo de descr iminaliza r condutas e humanizar sanes

    24 FAY E T J O NIO R , Ne y. O p . ct ., p. 13.

    25 Id. , p. 10.

    26 Id ., p. 17.

    27 C E R V INI, R a i. O s p rocessos de d e scrim inalizao. 2. 00 . S o Pa u l o : R ev is ta d os Tr i b u nai s, 2002.

    p,

    7.

    28

    Id ., p.

    75.

    29 Id ., p , 76.

    3 0

    R O BE R TI. M a u ra .

    A

    int erveno mln im a co m o prin cIpiO no dire ito pe na l bras ileiro . Po rt o A leg re :

    S. A _

    Fa b ris,

    2001. p, 21.

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    5/9

    1 6 . . . , , . . . _ .. R O P /j 7 1- O e z J all / 2 D 1 3 - A S S U N T O f S P E C IA l - D O U l f l l f l A -

    penais; e , d e ou tro, m ov im entos que end u recem a po l tica criminal, por m e io

    de. ri go rosas sanes) '.

    A d ife rena en tre am ba s a s p os tu ras es t jus tam ente na in te ns id ad e do s

    respect iv os n v e is d e ref lex o , e no na co nfiana no Dir eito P en al . O s pr ob le -

    m as socia is so dom in ado s com penas m ai s ri gor osas , d e modo a se u ti liz ar do

    Di r ei to P e nal, in con dicio n alm ente , como um efic ient e in st ru mento sim bN-

    eo .

    De um m odo gera l, no in te re ss a a um Dire ito Pena l fut u ro t or n ar plaus ve l

    o v a lor d a orientao pe los p rincpios : n o a penas para o s is te m a e o E s t ado

    de d ir eito , sen o , so bret udo , pa ra os hom ens que v iv em ne ste s is tema .

    4 A S N O V A S T E N D N C I A S P O L T I C O C R I M I N A I S N O D I R E I T O P E N A L B R A S il E I R O

    No Bra s il , pa rti cu lar m ente aps a e di o da Lei dos C rim e s H ed io nd os

    (L e i n

    Q

    8.062L em 1990, o mode lo polftico-cr imina l te m s e c a ra c te rizado in e-

    qu iv ocam en te p or u ma ten d n cia p leo -rep res siv a . As s uas no ta s m a rc an te s

    so o endur ecim ento d as pena s, o s c or te s de d ir e itos e garan tia s f un d am entais ,

    a s tip ific aes n ov as e

    O

    ag ravamento d a e xe cu o pena l . A p roduo norm a-

    tiv a e m gera l tem sid o v o lt ada pa ra o bj et os p ar ticu lares , in d iv d uo s e situaes

    pri vi l egiadas e com objeti v os ne m se mpr e ge ra s

    35

    Ent re o u tr as r az es , po r for a d as p ro funda s ra iz es s ocio ec onm icas que

    es t im u la m o cre scen te aum en to da crim in ali dade, es ta po l ti ca crim inal fad a-

    da ao nsucesso>.

    A di m en so das lib er dad es do cidado na C on sti tu i o F e de ra l de 1988

    no d eix a m argem a dv id as de que n o h m ais es pao no Dir e ito P en al m o-

    de rno para u rn a pol tica cr im ina l intervencionis ta , a t porque um E stado

    D em ocr tico d e D ireito caracter iza-se n ece ss aria m ent e pe la v igncia de trs

    post u lado s irre nu nci ve is : a s ub mis so d e to do s le i, a d iv iso de pode res e a

    dec la ra o d e d ir ei to s .

    31 Id ., p, 23 .

    32 HA S S EM E R, W in fri e d . D e s e n v o lv i m e n tos

    prev lsv els na

    d og m tic a d o D ir ei to P e na l e na p o l lt i c a c r im ina l .

    Rev ista E felr 6n ica d e D ire ito s Huma nos e Po ll tic a C rimin al , P o rt o A le g re ,

    n, 2. ab r o

    2 0 0 8,

    p. 6 .

    3 3 Id ., p . 8.

    3 4 G R IN O VE R . A d a P e lle gl in i e t

    a .

    J u iz a do s e s pec ia is c rim inais: c o m e n t r ios

    L ei nO 9.099 . d e 2 6 .09 .1 9 9 5 .

    5 . ed . rev ., a tu al . e a m pl , S o P a u lo : R e v is t a d os Tr i b u n a is , 2 005 . p , 15 .

    35 B os c hi (D a s p ena s e s e u s cri t ri os d e a p lic ao. 4 . e d . r e v, e at u a l. P or to A le g r e : l iv ra r ia do A d v o g a d o , 20 06 .

    p . 6 4) no ta qu e no

    p r e c is o m ui to e sfor o p ara v er Q ue a p ol t ic a c r im in al e m c ur so . e m n os so p ais , e st

    d es a li nh ad a d a p ro po sta m in im al is ta e ga ran t is ta . A p rod u o d a l eg is la o m a i s r e c e nt e v e m o rl en ta n do - se

    p e la in te n sa t ip if i ca o e

    pu nio,

    c u l m i n an do p o r ev id e n c ia r ou tro p a r a do x o e m u m p a is d e p a ra d o x os: o

    de Qu e a va n am os m ui to n o se nt id o d o a p e r fe i o a m e n t o do d i r e ito p en a l c om um no s p eri o do s n eg ro s d e

    D ita d u ra - E s ta do N ov o e G o lp e de 1 96 4 ( ex em pl o s d a a f ir m a o s o as Le is

    n O s

    5 .9 4 1 /1 97 3 .6 .41 6 /1 977,

    7 .2 09/1 984 e 7.2 1 0 /1 9 85) , e re t r oce d e m o s m a is a ind a d ep oi s d e 1 988 , se m e m b a rg o d a red e m oc ra tiz a o

    e d o a d v e n t o d a C o n s ti tu i o

    ci dad

    d e 19 88 .

    3 6 M A lA , R od ol fo Ti g r e . Do . cr im es cont ra o s i st e m a f inanc eiro na c ion al: an o t a e s Lei Fe de ra l

    n O

    7.49 2 /19 86 .

    S o P a u lo : M a l h e ir os . 1 9 9 9. p . 1 2 .

    3 7 R O BE R TI, M a u r a. O p . c t t . , p . 58 .

    3 8 Id ., p . 6 1 .

    ,

    t

    . R O P 7 7 - D e z J a n 20 1 3 - A S S U m O E SP E C I A l - O O U IR I N A .. .. . . .. . . . . . . . . . . . . . .. . . .. .. . . .. . , . . . .. . . .. . .. . . . . .. .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . , . . . . .

    1 1

    A,s~im ,a fim d e g ar an tir a c on tin u id ade de um m ode lo d e convivncia

    democrtico ~rd en ad o J Ufldl c~m e ~ te , t orna-se im pe ri os o adotar o compromis-

    so? e s :rem propo s ta s e s tr a t gias v in cu la da s a os e lem en to s inafas tv eis d e con -

    so l ld a o ~ p re ~ erv ~o ?O ~s~ado Democr tico de Di rei to , a ind a que, ev en-

    tu al m ente , ISS O Im p lique ineficincia .

    No que tan ge s ques tes de p ol t ic a c rim in a l, e st as s o , n a atu ali da -

    de , .n orm alm~nl e relegadas a um segu ndo plan o p elo s o pe ra dore s d o D ir eito .

    AS S iste -se h oje a um a p ol tica crim in a l t ra n sm u tada em poltic a d e s eg ur an a -v .

    . . A. car ncia de p olf tic as pb lic as qu e v isem efet iv am ente rep re ss o d a

    cr im in a lida de faz com que a popu la o se d epa re com ndices ex orbi ta nt es

    ~a ra o~ qua is s~o ap res en tadas uni cam ente m ed id as pe na is qu e pos suem fort~

    S im bo li sm o e sao capaz es d e sa tisfaze r m oment anea m en te os s eu s a ns eios ten-

    do , ain ~a , gr an de e feito.el e it~ reiro . O Di re it o Penal, no m bito pol t ic o, t O I~ n ou -

    -se, .~ntao , um a arm a efica z , J que aten de ao s an se ios pop u la re s e g ara nte um

    posttiv o r es ulta d o a o s a u to res de ta is le is em e l ei e s f u tu r as .

    Ne ss e con tex to , a crescen te produo leg is la ti v a em m a t ria p en al d e-

    mons~r~ cl aram en te qu e a no rm a incrim inado ra de ix ou de repre se nta r o p od er

    co erc~ tlv o es ta ta l v oltado indist in ta e igualmente aos m em bros do g ru p o so cial ,

    a par tir d e um a von tad e sobe ran a, pa ra mate ria li za r a heg emon ia de in teresses

    de gru po s de pr e ss o s ob re o P od er Pb lico . As d iv ers as con tra ri ed ad es tcn ica s

    e v cios teric os v er. ific ados nes ses diplom as pena is e xtra vagantes no per m i-

    te m fa lar de harmonia ou qualqu e r pretenso un it ria da legis la o e special.

    A fim d e co~ fe rir u ~n a r e spost a c le re

    in segu rana , tem -se a pro lif erao

    dese~f~e ad a d e le is p en ais que adotam urn a tcni ca legis lati v a assu m idament e

    ca su tsu ca, que te nd e a con side ra r o Direit o P en al co m o ins tru m en to de contro le

    :c~ss~ri o; o D ireito A? m in istratv o. O s tipos pena is d ist anciam -se do s req u is ito s

    cls s icos da ge ne ralid ade e da ab s tr a o , tr an sf orm an do -se em ferram en tas de

    ad m in ist ra o de s itua e s part iculares , d e em ergncias concretas .

    5 A S F U N E S S I M B L I C A S D I R E I T O P E N A l D E E M E R G N C I A

    A e sse Di r ei to que busca d ar u ma re spos ta s im blica

    sociedade em

    demand as por e la co ns id e rad as em er gencia is po d em os d eno m ina r D i re i to P e-

    na l ~e.~~erg ncia 42, C~ l jospredi ca do s m ais m e rc an te s s o a perda do car ter

    su bsi d irio e fragment ri O e a m iss o de in st rum ento pol t ic o d e segu ra na v .

    39 FA Y E T JN I O R , N e y . O p . c it ., p . 1 0.

    4 0 BE C HAR A . A na E l is a '. O s d~ cu r sos d e em e rg n c ia e o c om p r o m e t i m e nt o da co ns id e ra o s is t m ica d o d i r e it o

    pe na l .

    Bo let im fBC C m ,

    S a o P a u l o . a . 16 , n . 1 9 0, p . 1 7, s e t, 2 0 0 8.

    4 1 C ANTE RJI. R afa el Br au d e. P oll ti ca c ri min a l e di re i/ o s h u mano s. P o rt o A le n re : L iv ra ria d o A d vo ga do 2 00 8

    p.

    112.

    4 2 B E C HA R A . A na E l ls a . O p , c it ., , p . 1 7.

    4 3 W E HR S , C a r o s R i be ir o. Re f l e x e s a c e r c a do prin ci p io da p re s u n o d a inoc nc i a a p li ca d o ao d e l i t o de

    la v ag e m d e d m he l ro . Bo/e tm l/BCCrim , S o P a u lo : IB CC rim , a . 20 . O. 2 3 4 , p . 1 0. m a io 2 01 2.

    .

    i

    I

    ,

    l

    1

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    6/9

    i , :: : ~ . . R O P N' 7 1 : .... D C f J a n/2 01 3 - A SS UN TO

    E S P E C I A L -

    D O U T R I N A -

    As normas elaboradas a partir dos discursos de emergncia integram o

    que se comumente se convencionou chamar de Direi to Penal simblico , que

    tem por objet ivo, antes da busca por solues, a demonstrao da especial

    importncia outorgada pelo leg islador aOSaspectos de comunicao poltica

    a curto prazo na aprovao social das normas correspondentes. A partir desse

    modelo de poltica criminal, ou de poltica de segurana, consentneo a uma

    cincia jur dica voltada exclusivamente eficcia, cria-se um sistema jurdico t

    tecnocrtico,

    tendente

    destruio das propostas de soluo estrutural dos pro-

    t

    blemas sociais .

    A criao das novas incriminaes se desenvolve na medida em que a

    ampliao do poder sancionador no possa, por si mesmo, atravs dos proces-

    sos de sua justif icao, garantir a estabilidade da norma. Assim, tratando do

    princpio da estabilidade da norma como fundamento simblico de poder, o

    descompasso entre essa pretendida estab ilidade e os problemas que a realidade

    apresenta fora necessariamente a adoo de solues norrnativas para esses

    problemas. Os confli tos que a real idade social oferece deixam de ser resolvi-

    dos por meio de mecanismos de atuao real e passam a servi r de mot ivo para

    acentuar-se a sanha legislatva. luarez Tavares observa que no su rpreen-

    dente, portanto, que se procedam reformas quase que diri as das leis penais e a

    elaborao de novos diplomas, com novas incrirninaes'? .

    A cultura de emergncia e a prtica da exceo so, en to, responsveis

    pela involuo do ordenamento jurdico-penal, que se expressa na reedio,

    talvez em novos trajes, dos velhos modelos prprios da trad io penal pr-

    -rnoderna, como a adoo de prticas lnquisi tivas e mtodos de interveno

    tpicos da atividade da polcia .

    Chega-se, assim, a U m Estado policialesco , no qual, por detrs de um

    pretenso aumento da crtmlnaldade, em verdade emerge uma forte campanha

    de lei e ordem, aplaudida pela sociedade inf luenciada pelo clima de insegu-

    rana .

    Ocorre que, se, na linha funcionalista, o Direito Penal cumpriria a funo

    de garantir a estabilidade da ordem jurdica,

    no

    se pode aceitar um emaranha-

    dode leis desproporcionais , incoerentes e excepcionais ao prprio ordenamen-

    to jurdico penal e constitucional, pena de se macular a manuteno desse sls-

    44

    B E C H A R A ,

    Ana Elisa . O p . cit ., p,

    17.

    45

    T A V A R E S ,

    J u a r e z .

    A c re sc e nte le gis la o p en al

    e os

    d is c ur so s d e e m e rg nc ia . In: Discurs o s s e di ci os o s,

    c rim e, d /re itoe s oc ie d a d e . R io d e Ja ne iro, Ins t itu to Ca rio c a d e C rim ino log ia , 1 997. p .

    55.

    O b se rv a- se q ue

    a

    p rod u o legis lativa e m m a tr ia p en al

    t amanha n o B ra s il q ue s oa im p o s s v el, na atua lid ade , a fi rm ar s e u

    conh e c i me n to , m e sm o p a ra os e s p ec ial is tas ne ss a re a .

    4 6 BE C HA R A , A na E llsa . O p . c lt ., p .

    17.

    47 Id.

    R D P 1 1 ' ] 1 - Dc / Ja n 2 0 J 3 - A S S U / JW E S Pf C I A l - D O U T f l l N A . , : : : ;: .. . .. . . . . . . . . . . . . . . .. .. . .. . . . .. . . .. . . . . .. . . .. .. . .. .. . 1 9

    tema normativo pela perda de sua eficcia, que redundar fatalmente na perda

    de sua credibilidade e fora=.

    , A d~se.nfreada expanso do Direito Penal torna-se cada vez mais per-

    ceptvel. Diariamente nos deparamos com movimentos e aes reivindicando a

    atuao do Direi to Penal nos setores mais variados da sociedade.

    Acabam~s vivenciando lima intensa fase de insegurana , durante a qual

    clama-se freneticamente por maior rigidez de controle, no intuito de reduzir as

    margens dos r iscos por meio de decises punitivas. Apregoa-se o uso do Direito

    Penal para expandir as suas reas j contempladas de atuao, iniciando um

    verdadeiro conflito sociolgico, que causa srias controvrsias acerca da legiti-

    midade desta proteo,

    _ ~ angstia, enaltecida pelos meios de comunicao, origina uma preteri-

    s~o SOCialc rescente , pa ra a qual o Estado v -se obrigado, por meio do Direito

    Penal, a fornecer resposta. Tal aspirao de uma colet ividade que se autocom-

    preende ant: s de tudo como v tima conduz irrefutavelmente relativizao, ou,

    at mesmo, a total excluso de direitos, garantias e princpios fundamentais do

    Direi~o:enal/clss~c~ e determina a uma importante transformao no mbito

    do Direito Penal objetivo: em concreto, perde-se a viso deste como instrumen-

    to de defesa .dos cidados frente

    in terveno coativa do Estado e, por via de

    consequncia, esfacela-se a noo do Direito Penal como sistema .

    A expanso do Direito Penal, associada aos problemas tcnicos encon-

    tra concretizao no mais em um campo de proteo antecipado , mas em

    um campo de pro teo a inda an terior a essa proteo j antecipada, no qual se

    propagam, de forma endrnica, ilcitos de mera violao de dever e a punio

    de atos meramente preparatrios.

    Nesse ~bto, h~ ~m e~fraquecimento das regras processuais, acompa-

    ~~ado de medidas de vigllncias altamente lnvasvas . Tudo, obviamente, jus-

    tificado sob o pre tex to de uma boa causa , com o discurso de garanti r o bem

    de todos , garantir a segurana, a ordem pblica 52.

    Uma anli se incauta da questo resultaria no encontro de lnflndveis

    motivos para reclamar a proteo penal frente a qualquer ameaa virtual de-

    Id .

    GU Z.E LL A, T ~lh an a La z . A ~p a ns Q do D ir e~ to Pe na l e a so c l e da oe d o ris co .

    Anais d XVII C on gresso

    Nac o nal do CO NPEDI , Br a sfha , p,

    3073.

    Di s p on ve l e m :

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    7/9

    2 0

    -

    .. . .

    .. ~

    R O P N l 1 - D ez .Ja n /z n I 3 - A S S U N T O E S P E C I A L . . . , n O m R l U A

    .

    ..,

    . -

    , , .

    li

    r

    I

    I

    I

    . I No entanto um estudo mais acurado do tema permite

    turpada paz socia . .,

    vsualizar outros contornos. _ .

    No plano criminolgico, vlsualiza-se que muitas dessas expansoes ~gls-

    . , . ente simblica. Mesmo com uma maior a

    ran-

    la;iv~s possl;em e~~~~~~a~:~~istema jur dico permanece ntacta. Os seleclo-

    genc,~,pe~a , ~ se te a quant idade de tipos penais exi stentes, permanecem os

    nados,

    nao

    o

    s tan

    it ontinuam intocveis , impersecutveis penalrnen-

    mesmos Enquanto

    mur

    os c . d .

    te, outros so fregueses ocultos da criminalizao secun an~..

    A

    criminalidade organizada, principal modalid~de. dehtlva da ~oht:ca

    . . . . hoie

    um peso financeiro e economlCO se~ prece .en es,

    cnmlnal do

    riSCO

    tem

    J I

    poder destrulivo IInpresslonan-

    . possui carter globa e conta com um

    ~;s~od~~~ruio do ser humano, da natureza, das c~n~i:s necess~:~i~a;ad~

    ::;:~~~ d~;~~~~~~~s~~;1~~II~~;i~~~~~~~~:0~~nJ~I;:~z:~~sd~i ~~.ofs e das g:~

    , . d . ganizado se depara com a raqueza

    rantias f~n~a~ entai s. QLla~ o o~n~~~ internacional , produz-se um cenrio

    sistema Jundlco de contro e, so re u ( I

    I )53

    d

    -

    ocial

    onde vigora a lei do mais forte a

    et

    se vagem .

    e regressao s

    A legislao e o funcionamento do s istema penal gara.ntem a I~pun,d.~?e

    d d seja despenalizando alguns cnmes, seja perrm 111-

    da corrupo os po erosos, dirigem as suas foras cont ra os mais

    ~~:ef:~~~~ ~

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    8/9

  • 7/23/2019 A Crise do Direito Penal na Era Globalizada

    9/9

    t ' ,

    il

    J

    .

    2 4 .. ; .

    . .~_ ..

    O P

    l I' 7 7 -

    O C J a ~ 2 0 1

    J - A s s U t n o ES PEC IAl-

    O U l f l l N A

    Slntese de Direito Penal e Processual Penal

    P or to A legre, a. X I, n . 7 1, p. 15 -3 3 ,

    de z ./jan . 201 2.

    C ANC lO M ELl , M a nu el, lDerecho penal d ei ene m ig o? I n: JAK O BS , Gn the r;

    C AN C lO M ELl , Ma n u el. Derecho penal dei enemigo. M ad rid : C iv lta s, 2003 .

    CANTERJI , R a fa e l B r au d e. Poltica criminal

    e

    direitos humanos. Po r to A l e gr e : L i v ra r ia

    d o A dv og ad o, 2 008.

    CARNEV Al I, Ra l Rodr guez . Derecho penal y derecho sancionador de Ia Uni6n

    Europes .

    Granada /Espanha: C o r na re s , 2 00 1.

    CERVINI , R a l. 05 processos de descriminalizao. 2. ed . S o P au lo : R ev is ta d os Tribu -

    na is , 2002.

    D'AVILA, Fab io Robert o . Li be rdade e se gu ra n a em Dire ito Pe na l: o problem a da ex -

    p an s o d a in te rveno pe nal . Revista Sntese de Dire ito Pena l e Processual Penal Po rto

    A leg re, n. 71, p . 44-5 3. d ez./ ja n. 2 01 2.

    FA RIA C O S T A , J os d e. Noes fundamentais de direito penal: fragm en ta iurls poene-

    lis. Introduo . 2 . e d . C oim bra : C oim bra , 2009.

    FAYETJNIO R, N ey. A crim ina l i da de e co n mica e a p oltica cr iminal: d es afio s d a

    con temporane idade . Revista Direito Justia P or to A legr e, v . 3 4, n . 2, p . 9 -2 0,

    ju l./dez. 2008.

    FEL DENS , l uciano. Tutela penal de interesses difusos e crimes do colarinho branco:

    po r um a re legitima o da a tu ao d o M in is t r io P b l ic o - U ma in vestigao

    lu z do s

    va lore s constitucionais . Po rt o A l eg re :

    Livraria

    d o A d v og a do , 2002.

    G O M E S , lu iz Fl v io . C rimina lid ad e organ izad a e d em ocracia , po r F erra jo li. D ispon vel

    em : . Acesso em : 12 ju l. 2012.

    G R IN O V E R , A da Pe l/egrini e t aI . luizsdos especiais criminais: co m en trios lei

    n~9.099, d e 2 6.09.1995 . 5. ed .

    re v .,

    at u al . e am p/. S o Paul o : Rev is ta dos Tribu nais,

    200 5 .

    GUZELLA,T a t hiana la iz. A expa nso do D ire ito P en al e a s oc ie da de d o r is c o. Anais do

    XVfJ

    Congresso Nacional do CONPEDJ Brasl l ia, p. 3073 . D ispon vel em : . A ces so em : 24 jun . 2011.

    HA SS E ME R ,W infried . Des env o lvi m en to s p rev is ve i s na

    dogm tica

    d o D ir eito Penal e

    n a p ol t ic a c rim ina l. Revista Eletrnica de Direitos Humanos e Poltica Criminal Po rto

    A le gr e, n . 2, p . 3 , a b r o2008 . D ispon v el em : . A ce ss o e m : 1 4 j un . 201 2.

    ___ o E IDerec ho Pena l en lo s tie mp os d e Ia s m o d ernas form as de crim in a lid ad e. In :

    ALBRECHT ,Han s ) rg ; S IEBER,U lrich; S IM O N , Je an -M ich e l; S C H W A RZ , F el ix (O rg .).

    Criminalidad evolucin deI Derecho Penal crtica aI Derecho Penal

    en

    Ia actualidad.

    Corr ien t es: Dei Puert o, 2 00 9.

    __ o

    Rasgos y cr is is d eI Dere ch o P en al mode rno . Anurio de Derecho Penal y Clen-

    elas Pensles Madr id : C en tro de Publ ica cio ne s, fa se. I, t. XLV ,p . 235 -49 ,

    enero/abrl l1992.

    M A lA , Rod olfo Tigre. Dos crimes contra o sistema f inanceiro nacional: anotaes Le i

    Fede ra l

    0

    2

    7.492/1986. S o Pau lo: M alheiros, 1999.

    R D r 7 1 -

    O C l J aI V 2 0 1 J . , . .

    A S S U N T O ESPECIALD O U m I l I A . . . . . . . . . . . . . ~. ~ - .. . . .. . . . . . . . . .. . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . .. . .. .. . . .. . . ..

    2 5

    .' PR lm NI TZ, C ornellu s . O D ireito Pen al e nt re D ire ito Pena l d o risco e D ireito P I d

    . .. t dnci . ena o

    1I11/1 11g0:n encras atu ai s em D ire ito Penal e po ltic a c rim inal. Revista

    Br ssil, -'

    C

    OA C . . R . lelfa ue

    tencies rtmmets,

    evista d os T ri buna is, n . 47, p . 3 1-45 , m ar./ab r. 2004 .

    RO BE RT I, M aura .

    A

    int~rveno mnima como principio no direito penal brasileiro.

    P o rt o Aleg re : S . A.

    Fab ris ,

    2001.

    R OD R I ~U E S , A n ab ~ la M ir a nd a; M O T A, J os Lus L op es da . Paro uma polftica criminal

    europete: quadro.: In str um ~n to s j~r d ic o s d a c o op e ra o jud icir ia em m atr ia p en al

    no e sp a o d a Unio Europaia, Coirnbra: Coi rnb ra , 2 00 2.

    R O T :C H , T ho ma.s . T e m po s m o de rn os: ortodox ia e he te rodox ia no D ire ito Penal.

    In : D A ~ 'LA, Fabio .Ro?e rto (Org.). Direito penal e poltca criminal no terceiro mlnio:

    pe rspectiva s e tendncias. P o rt o A l eg r e; E DIP UC RS , 201 1.

    S ILV AS ~NCHEZ , )~S s -Ma~r a :E I de r e cho penal an t e I a g lo b al iz acin y Ia integracin

    supranacional,

    Re viste

    Brssileim

    de Cinc ias Criminais S o Pau lo: RT,

    a. 6 , n .

    24,

    p . 65 -78, ou t./ dez . 1998.

    T~ V A R ES ,Jua~e.z.A cre~cente .'e? is lao .pena l e os d iscu rsos de em erg ncia . In:

    D/~c~rsos

    S~dICIOSOS: cnme, dire ito e SOC i e dade . R io d e J an eiro : Ins titut o C arioca de

    . C rirn no lo gl a, 1 99 7.

    V O N lIS Z T , F ra n z. La Teor ia deJ/o scopo nel

    Diritto

    Pena/e. M ilo: G i u f fr , 1 962.

    WEHRS , Ca~ 'o s R i b ei r o. R e fl ex ~ es a ~ erca d o p rin cp io d a pres un o d a inoc ncia ap li -

    c ad o a o del ito d e lav agem d e dinheiro. Boletim IBCCrim S o Pau lo : IB C C r im , a . 2 0,

    n . 2 34 ,

    p.

    10 , m a io 2 01 2.