94
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Curso de Mestrado em Direito Constitucional O PODER JUDICIÁRIO À LUZ DA REFORMA DA EC 45/04 MARCELO RIBEIRO UCHÔA

A Crise Do Judiciário - Análise à Luz Da EC 45-04

  • Upload
    lpmt67

  • View
    215

  • Download
    1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

:A Crise do Judiciário - Análise à Luz da EC 45-04.doc

Citation preview

A EMENDA CONSTITUCIONAL 45 E O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA

PAGE

UNIVERSIDADE DE FORTALEZACurso de Mestrado em Direito ConstitucionalO PODER JUDICIRIO LUZ DA REFORMA DA EC 45/04MARCELO RIBEIRO UCHAFORTALEZA - 2006marcelo ribeiro uchaO PODER JUDICIRIO luz da REFORMA DA EC 45/04

Monografia apresentada cadeira Teoria do Poder para obteno de nota final.

Prof............ Filomeno de Moraes Filho, Dr.FORTALEZA - 2006APRESENTAO

A Emenda Constitucional n. 45, de 31 de dezembro de 2004, apresentada nao como Reforma do Judicirio, trouxe significativos avanos ao processo democrtico nacional, na medida em que mesclou alteraes de ordem legal tendentes a proporcionar uma maior celeridade no trmite dos processos e instrumentos eficazes e mais transparentes de controle social sobre o Poder Judicante.

O presente estudo objetiva analisar os reflexos oriundos de tais mudanas, com a convico de que, apesar de imperfeita em alguns de seus pontos e de no alcanar todos os fins para os quais foram apresentadas (especialmente a aproximao ideal do Judicirio com a populao), as recentes inovaes prenunciam um novo tempo de diferencial importncia para histria do pas. SUMRIO

1. Introduo.................................................................................................................. 062. os PODERES, O FUNDAMENTO E A LEGITIMIDADE DO ESTADO BRASILEIRO.. 083. O Poder Judicirio no Brasil............................................................................... 114. A Reforma do Judicirio (EC 45/04) ..................................................................... 164.1 OS ACERTOS....................................................................................................................... 174.1.1. O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA..................................................................... 174.1.1.1. As dificuldades de instituio de um Controle Externo................................................. 174.1.1.2. O CNJ da EC 45/04........................................................................................................ 194.1.1.3. As primeiras impresses e o curso dos acontecimentos................................................ 244.1.2. OS DIREITOS HUMANOS............................................................................................... 264.1.2.1. A adeso no ordenamento ptrio de tratados e convenes internacionais sobre Direitos Humanos....................................................................................................................................... 264.1.2.2. A federalizao dos processos em crimes contra direitos humanos................................. 27 4.1.3. A AMPLIAO DAS PRERROGATIVAS DO MINISTRIO PBLICO...................... 294.1.4. A PREOCUPAO COM A CELERIDADE E A EFICCIA DO PROCESSO.............. 294.1.4.1 Descentralizao e intinerncia de Tribunais.................................................................... 30 4.1.4.2. Fundo de Garantia das Execues Trabalhistas............................................................... 324.1.5. A AMPLIAO DA COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO....................... 324.1.6. OUTROS ACERTOS.......................................................................................................... 404.2. OS EQUVOCOS.................................................................................................................. 414.2.1. O CONSELHO NACIONAL DO MINISTRIO PBLICO............................................. 414.2.2. A SMULA VINCULANTE............................................................................................. 435. Concluses....................................................................................................................... 486. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA......................................................................................... 52

7. Referncias bibliogrficas.................................................................................... 568. ndice Onomstico. ...................................................................................................... 58 1. Introduo

H pouco mais de dois anos foram inseridas no ordenamento nacional as alteraes legais decorrentes da promulgao da Emenda Constitucional n. 45/04, tambm conhecida como Reforma do Judicirio. Em funo da imperiosidade e, em alguns aspectos, da ousadia das inovaes, sociedade, rgos de imprensa, at mesmo operadores do Direito deveriam ter reagido com grande entusiasmo ante as promissoras perspectivas que poca se apresentavam. Curiosamente, o que se viu, em termos gerais, foi um quase unnime desinteresse da populao especialmente da grande imprensa - em ressaltar os importantes acontecimentos, e uma reao incomum da comunidade jurdica, posicionando-se contrria e ceticamente aos esparsos argumentos que comemoravam o prenncio do xito eventual da Reforma.

No por acaso as reaes se deram assim. Historicamente, o Poder Judicirio tem sido de tal sorte hermtico, to distantemente posicionado dos olhos da populao, que de se desconfiar de que o povo um dia imaginasse que uma real transformao daquele Poder pudesse redundar em benefcios para si ou para o processo democrtico. O ceticismo por si s justifica um estudo detalhado, pois as razes sociolgicas para o descrdito de que goza o Judicirio tm suas origens no apenas numa aferio de crise tica e moral que assola a instncia judicante (que pe em dvida at mesmo a qualidade do provimento jurisdicional), mas igualmente numa viso poltica de repartio de competncias entre Poderes conduzida equivocadamente desde os primrdios do surgimento do Estado nacional.Mas a despeito de toda evidncia negativa, resta induvidoso que a Reforma consubstanciada pela Emenda 45 teve e continua tendo sua importncia para o Brasil. Os temas tratados adiante reforaro a tese de que os acertos postos em vigncia no romper do ano de 2004 superam, em muito, os possveis desacertos trazidos a lume. At mesmo porque, antes mesmo de qualquer inovao legal, j seria si importante a simples tematizao sobre a crise judiciria e a discusso sobre um novo perfil judicante para o pas, tendente a alinhar o Poder Judicirio aos princpios fundamentais fundadores de sua existncia e que aliceram o Estado Democrtico. 2. OS PODERES, a fundamentao e a legitimidade do estado brasileiroCientistas polticos tm atribudo a MONTESQUIEU o mrito de ter preconizado, em O Esprito da Lei, a separao tripartida dos Poderes em Legislativo, Executivo e Judicirio, como remdio para evitar a sobreposio de um Poder sobre outro, num tempo em que o absolutismo monrquico imperava quase unicamente. No interessasse a forma do Estado - monrquico ou republicano -, o importante que fosse divido em trs Poderes independentes, um para legislar regras de vinculao e obrigao gerais, outro com atribuio de gerenciamento da mquina administrativa e representao do Estado, e um terceiro (nulo) para exercer a jurisdio, ou seja, monitorar e obrigar o cumprimento das normas estabelecidas. RUSSEAU, clebre terico da Revoluo Francesa e autor de O Contrato Social, tem-se atribudo, no auge do assembleismo, a defesa da sobreposio do Legislativo sobre os demais Poderes, sob o argumento de que sendo este mais acessvel populao seria, por via de conseqncia, o mais democrtico. Falso ou verdadeiro, certo que tal posicionamento tem sido amplamente discutido e defeso at hoje.

Partindo do princpio de que o Poder do Estado uno e indivisvel, a Constituio Federal do Brasil, de 1988, em seu art. 2, ainda que carente de melhor redao, assegurou a separao funcional tripartida de Poderes - separao de funes e no do Poder em si, que unitrio e indivisvel - no Estado brasileiro, preconizando tal moldagem com independncia e harmonia recprocas entre as trs instncias.Outrossim, aspecto que se reputa de enorme importncia para a compreenso do Estado brasileiro, to importante quanto o entendimento acerca da diviso funcional interna de Poderes, a ponderao sobre as origens de legitimao e fundamento do prprio Estado.

A Constituio Federal de 1988, em seu prembulo e no art. 1, deixa evidenciado que o Brasil um Estado Democrtico de Direito, isto , alinhado Teoria da Democracia. Em ambos dispositivos insere os fundamentos do Estado Brasileiro: CF/88. Prembulo: Estado democrtico destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos...CF/88. Art. 1. ... tem como fundamentos: I A soberania; II a cidadania; III a dignidade da pessoa humana; IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V o pluralismo poltico.

Por outro lado, a Constituio Federal de 1988 revela como elemento legitimador do Estado nacional o povo brasileiro, tanto que o pargrafo nico do art.1 assegura que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou indiretamente, nos termos desta Constituio.

Em resumo, o Estado brasileiro tem como fundamento os direitos fundamentais (nas mais variadas dimenses), que, conforme assentado por SHNEIDER, conditio sine qua non do Estado constitucional, e como elemento legitimador o povo brasileiro.

E para assegurar que eventualmente corram riscos de no atendimento ou supresso, tanto o fundamento como o elemento de legitimao do Estado, o constituinte consolidou no 4 do art. 60, da CF/88, a seguinte vedao (garantia): No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir: I a forma federativa de Estado; II o voto direto, secreto, universal e peridico; III a separao dos Poderes; IV os direitos e garantias individuais. (Grifo do autor)Observe-se que os valores da democracia encontram-se base do Estado nacional, da porque tambm devero estar, conseqentemente, base de todos os Poderes. Mas, afinal, os Poderes no Brasil (Legislativo, Executivo e Judicirio) esto, de fato, ancorados nos pressupostos da democracia? Para no fugir do tema, o foco seguinte recair exclusivamente sobre o Judicirio.3. O Poder Judicirio no Brasil

Segundo se anunciou inicialmente, dos trs Poderes o Judicirio certamente o mais hermtico, alm de ser problemtico, funcionalmente, como os outros dois. Razes para isto no faltam:

Primeiro, enquanto membros do Legislativo e do Executivo submetem-se ao crivo de eleies, periodicamente, os integrantes do Poder Judicirio no se sujeitam a escrutnios externos. Alm disso, dados o rito e a organizao judiciria do pas, os mecanismos de ascenso funcional e promoo de magistrados privilegiam, excessivamente, os rgos colegiados (tribunais) em face dos juzes de primeiro grau;

Segundo, dos trs Poderes, o Judicirio foi o nico a assegurar estrutura praticamente intacta aps a promulgao da Constituio Federal de 1988, demonstrando ser, por via de conseqncia, adaptvel tanto ao totalitarismo quanto democracia, no se sentindo, por isso, vinculado premissa de ser mais aberto;

Terceiro, ao contrrio do exerccio exclusivo da jurisdio, sob o manto protetor do princpio da separao dos Poderes, ao Judicirio tambm foram atribudas, de forma autnoma, responsabilidades de ordem administrativa e financeira visando o seu regular funcionamento;

Quarto, por sua funo constitucional, o Judicirio quem exerce a fiscalizao do cumprimento de todo ordenamento jurdico nacional, inclusive a fiscalizao dos atos dos demais Poderes, executando, em ltima e definitiva instncia, o controle da constitucionalidade. Ou seja, o Judicirio quem, de fato, l e soletra a Constituio Federal.

Abstrai-se das constataes acima, sobretudo pelo controle da constitucionalidade e pela ausncia de submisso a controle social - ao contrrio do que ocorre com Legislativo e Executivo -, que, no Brasil, o Poder Judicirio assume posio privilegiada em relao trplice diviso (denotando claro e injustificvel descompasso no sistema de freios e contrapesos), em prejuzo ao postulado do artigo 2 da Constituio Federal.

Alm disso, h quem sustente que em decorrncia dos excessos praticados quando do uso do controle de constitucionalidade (ou melhor, da interpretao das normas constitucionais), tambm no exerccio da jurisdio o Judicirio costumeiramente exacerba suas competncias interferindo em campos de ao tpicos de Executivo e Legislativo, num fenmeno que universalmente se acostumou a chamar de judicializao da poltica. Entretanto, apesar das crticas e podados os excessos da prtica jurisdicional, absolutamente fundamental que o Poder Judicirio fique protegido do assdio de interesses de pessoas e Poderes. Afinal de contas, compete-lhe cumprir com zelo e rigor suas funes institucionais, especialmente a guarda, em ltima instncia, da Constituio Federal.

Por isso, a CF/88 (art. 95) concedeu aos juzes, a bem de reforar as prerrogativas que lhe so inerentes (independncia e imparcialidade), as garantias, I vitaliciedade..., II Inamovibilidade..., III irredutibilidade de subsdio..., provendo-lhes de liberdade para agir, aliviando-lhes de quaisquer presses internas e externas, at mesmo de ordem financeira.

Mas ao lado de to importantes garantias o constituinte originrio cometeu trs falhas que a histria provou terem sido trs gravssimos pecados: primeiro, proveu o Judicirio de autonomia administrativa e financeira, sem prever a existncia de qualquer rgo de fiscalizao externa sobre esta gesto

; segundo, concedeu ao Judicirio (atravs de suas Corregedorias) o monoplio da atribuio de avaliar sobre eventuais desvios funcionais de seus membros

; terceiro, instituiu regras de promoo interna, mediante alternao de critrios de antigidade e merecimento, assegurando aos Tribunais o poder de deciso sobre as ascenses dentro da estrutura judiciria.

As discrepncias acabaram por fortalecer os membros dos rgos de cpula do Judicirio, justamente os que, devido natureza de suas atividades, se posicionam distncia do povo, em detrimento dos magistrados de primeiro grau que, estando base do sistema e conduzindo o processo com pessoalidade, so os que mais possuem condies de compreender as angstias e as ansiedades das partes litigantes.

Com o tempo, por bvio que os problemas do Judicirio ficaram evidncia da opinio pblica, mas mais frustrante do que a evidncia de deslizes administrativos e funcionais foi a notoriedade de problema muito maior, que diz respeito prpria razo de ser do Judicirio, qual seja a eficcia, a qualidade do prprio provimento jurisdicional.

Se os rgos de cpula dominam a estrutura judiciria, por bvio que tambm fazem escola dentro desta estrutura. Portanto, no tem sido incomum observar juzes cada vez mais tecnicistas, muito mais preocupados com o rigor da lei do que com a preponderncia do fato social, hermticos na interpretao dos casos que lhes so propostos, comprometidos com status quo, e, por isso, cada vez mais distantes das necessidades sociais e inabnegados com a honorabilidade dos cargos.

Tudo isso facilitou uma nefasta conseqncia sociedade, traduzida em sentenas cada vez mais distantes da realidade constitucional, descompromisso com o curso e a eficcia do processo (mormente com a celeridade), desinteresse do Judicirio na execuo das prprias decises (ainda mais quando o plo passivo o Poder Pblico). Em outras palavras, a prpria negao do direito, porquanto violados princpios derivados do devido processo legal, tais como: ampla defesa, contraditrio, deciso fundamentada e amparada em lei, executibilidade das decises, celeridade como pressuposto para a eficcia da prestao jurisdicional, dentre tantos outros.

Considerando-se que todos estes princpios derivam do direito fundamental de liberdade, e que este, por sua vez, um dos fundamentos do Estado Democrtico, logo se percebe que o Judicirio est muito aqum da razo de sua existncia, da a legitimidade da institucionalizao de uma nova ordem para este Poder. Uma nova ordem que no atente contra as prerrogativas funcionais da magistratura, mas que, ao contrrio, coibindo prticas perniciosas possa garantir aos juzes a liberdade necessria para que julguem com razo e conscincia, alheios a quaisquer presses internas ou externas, e com olhos voltados realidade social.

Nesta senda, so vlidas as palavras de HERKENHOFF: Tambm preciso combater a idia de que o Poder Judicirio est acima de crticas e de inspeo. Todo Poder e toda autoridade pblica deve estar submetida crtica e fiscalizao popular. A independncia que o Poder Judicirio deve ter em face da interveno indbita de outros Poderes no deve ergu-lo condio de um Poder que fique acima do povo.

Por todas as razes elencadas, compreendia-se, antes mesmo da promulgao da Emenda Constitucional n. 45/04, como imperiosa a aprovao de uma Reforma para o Judicirio.4. A Reforma do Judicirio (EC 45/04)A Reforma traduzida na EC 45/04, buscando nivelar a relao entre os Trs Poderes, a partir da atribuio de uma configurao mais humana e transparente ao Poder Judicirio, proporcionou importantes medidas ordem nacional, a exemplo, dentre outros, de: criao do Conselho Nacional de Justia; previso de descentralizao de Tribunais e criao de novas varas; reforo s prerrogativas institucionais e funcionais das Defensorias, rgos de defesa da sociedade civil e do Ministrio Pblico; ampliao da competncia da Justia do Trabalho fortalecendo aquela que de fato a mais prxima do povo por posicionar-se no epicentro da relao capital-trabalho; proteo aos direitos fundamentais, disciplinando acerca da adeso do Estado brasileiro s normas internacionais do gnero, prevendo, ainda, federalizao de processo contra crimes contra direitos humanos, criao de varas federais para a dirimio de crimes contra direitos humanos, alm de varas especficas para conflitos fundirios; demonstrao indubitvel de preocupao com a demora e a qualidade do provimento jurisdicional, e, apesar de ter previsto solues polmicas - porque no dizer, equivocadas - visando imprimir celeridade ao processo, acrescentou, e muito, ao Estado de Direito.

Para fins de objetivar o presente estudo opta-se por no comentar, ponto por ponto, todas as inovaes da Emenda Constitucional n. 45/04, preferindo destacar apenas as principais alteraes em dois sub-blocos, o primeiro de acertos e o segundo de equvocos.4.1. OS ACERTOS

Neste primeiro sub-bloco esto elencados os principais acertos oriundos da EC 45/04, considerados assim segundo a viso do autor. So eles, a instituio do Conselho Nacional de Justia, a nova previso acerca da adeso no ordenamento ptrio de normas internacionais sobre direitos humanos, a federalizao de processos em crimes contra direitos humanos, a ampliao de prerrogativas para membros do Ministrio Pblico, a preocupao com a celeridade e a eficcia processo (incluindo a previso de descentralizao e a intinerncia de Tribunais e criao de fundo de garantia das execues trabalhistas), a ampliao da competncia da Justia do Trabalho, a preocupao com a dirimio dos conflitos fundirios, o aparelhamento das defensorias pblicas e a criao dos juzos militares estaduais.4.1.1. O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA

A primeira e talvez mais importante inovao trazida ao ordenamento nacional pela Emenda 45/04 foi a instituio de um Conselho Nacional de Justia, composto por membros nsitos e externos estrutura judiciria, para promover a fiscalizao das aes administrativas do Judicirio, das atividades funcionais de seus membros, com poder, inclusive, de sano disciplinar e punio, alm de possuir competncia para estudar os problemas do Poder Judicante e propor-lhes soluo de enfrentamento.

4.1.1.1. As dificuldades de instituio de um Controle ExternoA defesa da criao de um rgo de controle para o Judicirio brasileiro, no obstante fincar-se em fortes constataes de que o hermetismo e o carter autocrtico daquele Poder punham em dvidas, em ltima instncia, a idoneidade do provimento jurisdicional, apesar de contar com o apoio da opinio pblica, jamais foi unnime na classe poltica, e muito menos recebeu guarida no setor dominante do meio jurdico.

A simples iniciativa de debater a instituio de um rgo de controle para o Judicirio sempre motivou intensa e acirrada polmica. Em verdade, o lobby dos Tribunais sempre se ops a tal discusso e em vrios momentos chegou a fazer-se presente nos corredores do Congresso Nacional visando a no aprovao ou continuidade do debate.

Pouqussimos doutrinadores brasileiros de escol ousaram defender a instituio de um rgo de controle externo do Judicirio. JOS DE ALBUQUERQUE ROCHA ao abordar o carter dogmtico dado Cincia do Direito, no Brasil, afirma, categoricamente, que: o resultado dessa postura metodolgica a ausncia de uma literatura capaz de analisar criticamente o fenmeno jurdico na sua dimenso real. Por isso, segundo ele, apesar de ressalvadas excees, faltam no pas, estudos sistemticos sobre o Judicirio, que o vejam como produto de determinaes histricas refletindo certo estgio da realidade social.

A propsito, foi o prprio professor JOS DE ALBUQUERQUE ROCHA, ele mesmo juiz aposentado do Tribunal de Justia do Estado do Cear, um dos expoentes da criao de um Conselho para o Judicirio. A partir da anlise do direito comparado, defendeu a criao de um Conselho Superior da Magistratura:

Onde existe a instituio do Conselho, a independncia do Judicirio tem sido garantida de uma maneira adequada. (...) o que ocorre em pases como Itlia, Espanha, Portugal, Frana, Grcia, Alemanha, entre tantos outros, em que o funcionamento de rgos dessa espcie logrou a desvinculao do juiz de toda dependncia em relao aos ncleos de poder internos ao Judicirio e, bem assim, a respeito de outros poderes do Estado, ou, pelo menos, conseguiu reduzir a dependncia ao menor grau possvel . Em sua arguta defesa, alimentou a idia de um rgo com composio verdadeiramente democrtica, a partir da participao de membros do Judicirio e de representantes da sociedade civil, eleitos, respectivamente, dentre o corpo da magistratura (para vagas proporcionais ao peso numrico de cada classe de magistrados) e do Legislativo, a instncia poltica por excelncia. Para o jurista: O conselho seria um mecanismo tendente a reforar a independncia do juiz no desempenho de suas funes jurisdicionais. (...). Logo, inadmissvel a idia de um conselho como rgo de interferncia no trabalho jurisdicional da magistratura. Por conseguinte, sua competncia deve ser restrita parte administrativa, relacionada com a gesto de pessoal e recursos material e financeiro do Judicirio.Concluindo sua defesa afirma que a liberao do juiz da subordinao administrativa aos tribunais anula a interferncia deste na funo jurisdicional. 4.1.1.2. O CNJ da EC 45/04Segundo j se comentou, os setores dominantes do Judicirio sempre se opuseram idia da criao de um rgo de controle para este Poder. Pois bem. Frustrada pela aprovao do Conselho no Congresso Nacional conseguida a duras penas, a partir do esforo do Governo Federal e da persistncia de entidades civis e no governamentais de defesa de transparncia no Judicirio - no dia 9 de dezembro de 2004, apenas um dia aps a promulgao da Emenda Constitucional n 45, a Associao Nacional dos Magistrados (AMB) props, perante o Supremo Tribunal Federal, a Ao Direta de Inconstitucionalidade n 3367-1/DF, cujo escopo principal era obter a declarao de inconstitucionalidade do Conselho Nacional de Justia. A ousada pretenso foi definitivamente afastada pelo Pleno da Suprema Corte, no dia 13 de abril de 2005. Sem embargo, a anlise dos argumentos que serviram de base malfadada ao apresenta-se imperiosa melhor compreenso das peculiaridades estruturais e funcionais do novo rgo.

Em primeiro lugar, importante destacar que jamais foi atribuio do Conselho Nacional de Justia exercer a jurisdio, competncia esta privativa do Poder Judicirio. Por conseqncia, tambm importa esclarecer que, no possuindo caracterstica jurisdicional, mas, sim, administrativa, as decises do Conselho nunca estiveram (como de fato no esto) imunes contestao perante instncia judiciria.

Compete ao Conselho Nacional de Justia, alm de outras atribuies que lhe forem conferidas pela Lei Orgnica da Magistratura Nacional, segundo o 4, do art. 103-B, da Constituio Federal: a) zelar pela autonomia do Poder Judicirio e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura; b) zelar pela observncia do art. 37 da CF/88; c) reconhecer das reclamaes contra membros ou rgos do Judicirio, inclusive contra servios auxiliares, serventias e rgos prestadores de servios notariais, sem prejuzo da competncia disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar remoo, disponibilidade ou aposentadoria com subsdios ou proventos proporcionais ao tempo de servio e aplicar outras sanes administrativas, assegurada ampla defesa; d) representar ao Ministrio Pblico no caso de crime contra a Administrao Pblica ou abuso de autoridade; e) rever, de ofcio ou mediante provocao, processos disciplinares de membros do Judicirio julgados a menos de um ano; f) elaborar relatrios semestrais acerca de estatsticas sobre processos e sentenas prolatadas nos mais diferentes rgos do Judicirio do pas; g) elaborar relatrios anuais propondo providncias que julgar necessrias melhoria da situao e das atividades do Poder Judicirio.

Observa-se, portanto, que, alm das competncias do Conselho Nacional de Justia serem exclusivamente de ordem administrativa, o legislador deixou evidente uma inteno de resolver, definitivamente, gargalos ainda hoje no resolvidos no entorno do Poder Judicante. Por exemplo, ao deliberar pela avocao de processos disciplinares em curso, ou mesmo por abertura de processos administrativos findos a menos de um ano, assumiu que o poder de resoluo das atuais Corregedorias limitado e controvertido. Igualmente controvertidas (no mnimo, duvidosas) so as fiscalizaes empenhadas pelos Tribunais de Contas.

H quem defenda, apesar de entendimento oposto do STF, que mencionada coincidncia de atribuies represente violao de competncias institucionais originadas da separao de Poderes. Ora, tal argumento de pronto refutvel, uma vez que ao incumbir a atribuio de fiscalizao ao Conselho Nacional de Justia, o legislador no desincumbiu Corregedorias e Tribunais de Contas de procederem em iguais atribuies. Ademais, no caso das Corregedorias, a que o argumento no se sustenta, porquanto violao de Poderes somente poderia haver entre Poderes do Estado, sendo que, neste caso, opem-se dois rgos do mesmo Poder Judicirio.

bem verdade que os Tribunais de Contas so rgos de fiscalizao auxiliares do Legislativo, porm no h porque se falar em interferncia de um Poder sobre outro, j que, ademais do legislador no ter subtrado nenhuma atribuio das Cortes de Contas, a Constituio Federal adota expressamente o sistema de freios e contrapesos, mediante o qual nenhum Poder est imune controle. Alm disso, a composio do Conselho Nacional de Justia, conforme se ver adiante, no descuidou de contemplar a indicao e a apreciao do Legislativo.

Estipula o caput do art. 103-B, da CF/88, que o Conselho Nacional de Justia ser composto de quinze membros, com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma reconduo, sendo: nove integrantes do Judicirio (seis destes de Cortes Colegiadas), dois membros do Ministrio Pblico, dois advogados indicados pela OAB, e dois cidados de notvel saber jurdico e reputao ilibada, indicados um pela Cmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

De pronto se conclui que o Conselho Nacional de Justia no rgo externo ao Judicirio. Ele hbrido. Possui membros de fora da estrutura judiciria, mas a grande maioria (nove) interna. Alm disso, dos seis considerados de fora quatro no so estranhos Justia: os dois do Ministrio Pblico e os dois da advocacia, conquanto a Constituio Federal considere o Ministrio Pblico instituio essencial funo jurisdicional do Estado (CF/88, art. 127) e o advogado indispensvel administrao da justia (CF/88, art. 133).

Importante salientar que os 1 e 5 do art. 103-B estaturam que a presidncia e a corregedoria do Conselho Nacional de Justia sero exercidas, respectivamente, pelos ministros provindos do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justia, devendo o primeiro votar apenas em caso de empate, e, o segundo, por suas funes, exercer as atividades inerentes correio e inspeo, alm de receber reclamaes e denncias, requisitar e designar magistrados delegando-lhes atribuies, e requisitar servidores.

A verdade que o legislador, em sua originalidade em relao aos modelos comparados, no teve interesse de criar um rgo alheio estrutura do Judicirio, pois alm de todo o exposto, no descuidou de incluir o Conselho Nacional de Justia dentro do rol de rgos do art. 92, da Constituio Federal, antes do Superior Tribunal de Justia, aps o Supremo Tribunal Federal.

Tudo isso ps abaixo a principal tese em prol da inconstitucionalidade do Conselho, isto , a alegao oriunda dos movimentos corporativos nsitos ao Judicirio, de que houve interferncia do Legislativo e do Executivo no Poder Judicante. A propsito, h tambm em tais segmentos aqueles que defendiam que a criao do Conselho Nacional de Justia carregava inconstitucionalidade por impor aos Judicirios estaduais subordinao hierrquica administrativa, disciplinar e financeira a rgo da Unio Federal, o que, a princpio, violaria o pacto federativo. A tese, embora criativa, igualmente no procedia porque o legislador derivado, a bem da representao que exerce da soberania popular, podia, havendo interesse social (e inegavelmente houve no caso presente), incluir no mbito do Poder Judicirio um rgo para controlar a administrao de todo sistema. Alm disso, de nada podiam reclamar os tribunais estaduais porquanto tambm foram contemplados na composio do Conselho, mediante a disposio dos incisos IV e V, do art. 103-B, da CF/88.

4.1.1.3. As primeiras impresses e o curso dos acontecimentosAt mesmo em razo do ineditismo que representava, inegvel que a sociedade recebeu com reservas a notcia da instituio do Conselho Nacional de Justia. A constatao de que era rgo hbrido (e no externo) inserto na estrutura judiciria, a composio majoritariamente formada por integrantes do poder judicante e a destinao da presidncia e corregedoria do Conselho aos ministros oriundos do STF e do STJ (com a eventual confirmao de que o indicado presidncia do CNJ seria o prprio chefe do STF, situao que certamente se repetir nas eventuais composies) impunham dvidas vitalidade da criao.

A contra-senso, porm, dos crticos, o que se tem visto um Conselho mais cnscio de seu mister constitucional do que suscetvel aos freqentes joguetes das polticas palacianas. Logo na primeira sesso cuja instalao se deu no dia da instalao formal, em 14 de junho de 2005, esclareceu que a proibio das frias coletivas nos tribunais oriunda da disposio do inciso XII, do art. 93, da Constituio Federal j estava em vigor, pondo p de cal no desejo de alguns tribunais de decretarem recesso forense no ms de julho subseqente.

No dia 30 de agosto, o Conselho Nacional de Justia decidiu, nos autos do Pedido de Providncia n. 08/2005, requerido pela Associao dos Magistrados Brasileiros, que a promoo por merecimento de juzes deveria seguir critrios objetivos, sendo decidida por voto aberto, fundamentado, realizado em sesso pblica. A deciso repercutiu na Resoluo CNJ n 6, de 13 de setembro de 2005.Em sesso histrica do dia 27 de setembro, o Conselho Nacional de Justia decidiu pr fim a um dos mais terrveis males que assolam o Judicirio, o nepotismo. A deciso, que gerou a Resoluo CNJ n 7, de 18 de outubro de 2005, determinava a exonerao, em 90 dias, no mbito de todos os Tribunais, de conjugues, companheiros ou parentes em linha reta, colaterais ou por afinidade, at terceiro grau, de juzes ou de servidores de direo e assessoramento (vedando, inclusive, contratao cruzada entre magistrados). Tamanho foi o alcance da medida, que restou proibida at mesmo contratao e manuteno de prestadoras de servio que possuam parentes de magistrados no quadro funcional. Sobre a atuao do CNJ nestes ltimos dois anos, considerando os acertos imprimidos nos meses iniciais de instituio e os erros havidos nos ltimos dias (a exemplo do influxo na posio sobre as frias coletivas forenses), vale a pena destacar o pronunciamento do jurista OTVIO LINHARES RENAULT, ex Secretrio Especial da Reforma do Judicirio do Ministrio da Justia, atual Sub-Chefe para Assuntos Jurdicos da Casa Civil da Presidncia da Repblica:

Demoramos dcadas para ter o rgo que possa dar maior racionalidade ao funcionamento do nosso sistema judicial. Agora, no podemos permitir que as mesmas foras que resistiram sua criao impeam que o conselho exera sua competncia constitucional e o pas perca o controle do Judicirio.

O que quer deixar claro o ex homem forte da Reforma do Judicirio e um dos principais responsveis pela instituio do CNJ, que as foras retrgradas que sempre nortearam os passos do Judicirio, desde a fundao, ainda habitam quela instncia de Poder, continuando a empreender seus mximos esforos no sentido de mant-la alinhada aos perfis tradicionais e reacionrios da poltica brasileira, de modo que sociedade cabe a responsabilidade de empenhar uma vigilncia permanente sobre o Judicirio e o CNJ a fim de que no lhes permita retroceder nos avanos j galgados.

4.1.2. DIREITOS HUMANOS

A preocupao com o tratamento dado aos direitos humanos tambm foi uma constante no bojo da EC 45/04 o que evidencia um interesse da Reforma do Judicirio de reforar o alinhamento do Estado nacional aos preceitos fundamentais embasadores da Constituio Federal de 1988. Resta igualmente induvidoso que a norma procurou adequar a legislao nacional aos postulados externos congneres, numa ntida inteno de tornar o ordenamento ptrio mais humano e progressivo. 4.1.2.1. A adeso no ordenamento ptrio de tratados e convenes internacionais sobre Direitos Humanos

Pela disposio do 3 do art. 5 da CF/88 (com redao da EC 45/04), os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais.A medida inova o ordenamento brasileiro medida em que se antes a norma internacional era recepcionada apenas com fora de norma infraconstitucional agora poder obter fora de norma constitucional desde que trate de direitos humanos e seja aprovada no Congresso Nacional seguindo o trmite de votao equivalente ao de Emenda. A partir da EC 45/04 o ordenamento nacional passa a ter duas modalidades de recepo de tratados e convenes internacionais, uma concedendo-lhes eficcia de norma infraconstitucional e outra de norma constitucional.

Impende deduzir, porm, que as normas internacionais recepcionadas com fora de Emenda no apenas se inserem no ordenamento nacional como simples normas constitucionais, mas, por tratarem de direitos humanos e requisitarem interpretao anloga categoria destes, se inserem como normas constitucionais fundamentais, no podendo, por via de conseqncia, serem revogadas haja vista se constiturem em clusulas ptreas. 4.1.2.2. A federalizao dos processos em crimes contra direitos humanosDe maneira enxuta, a EC 45/04, no art. 1, prescreveu que aos juzes federais compete julgar:

V-A As causas relativas a direitos humanos a que se refere o 5 deste artigo.

(...)

5 - Nas hipteses de violao de direitos humanos, o Procurador-Geral da Repblica, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigaes decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poder suscitar, perante o Superior Tribunal de Justia, em qualquer fase do inqurito ou processo, incidente de deslocamento de competncia para a Justia Federal. A norma tardiamente bem-vinda no ordenamento nacional. A segurana do cumprimento dos direitos humanos de importncia mpar ao status constitucional democrtico que o Brasil busca preservar. Para MANOEL ANTNIO TEIXEIRA FILHO:(...) Outros sustentam que essa alterao era necessria porque, at ento, a Unio, que responde oficialmente pelos crimes contra direitos humanos, perante comisses internacionais (dentre elas, a OEA), no poder interferir nas investigaes e julgamentos estaduais. Esta parece haver sido, efetivamente, a razo essencial do deslocamento da competncia para a Justia Federal, se levarmos em conta este trecho do 5 do art. 109: (..) o Procurador-Geral da Repblica, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigaes decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte (...).

Alm do argumento supra, parece razovel supor que a possibilidade de deslocamento dos crimes contra direitos humanos para o foro federal tambm se deu em razo de que a Justia Federal - dadas atuais condies - demonstra-se mais habilitada a julgar com maior qualidade crimes de tal natureza, contrariamente aos juzos estaduais, indiscutivelmente mais suscetveis a presses polticas. A medida, se avaliada por outro prisma, tambm valoriza o papel do Ministrio Pblico, assunto que ser aprofundado no tpico seguinte.

4.1.3. A AMPLIAO DAS PRERROGATIVAS DO MINISTRIO PBLICO:

Mesmo no sendo Poder de Estado, o Ministrio Pblico ganhou contornos de quarto poder com a promulgao da Constituio de 1988. E de fato no poderia ser diferente, haja vista que a ele cabe guarda ativa dos postulados constitucionais, das leis federais, e, em ltima instncia, dos direitos e garantias da sociedade, no apenas do povo ativo, mas daquele que, no agindo, tambm destinatrio de prestaes estatais (ex. incapazes, ndios, estrangeiros, etc.), alm da guarda dos direitos gerais da sociedade, ditos difusos, tais como o meio ambiente, o patrimnio histrico e cultural, etc.

Nesta senda, a EC 45/04 procurou atribuir novas responsabilidades institucionais ao MP representadas em duas vistosas atribuies: a legitimidade para avocar para Justia Federal a apreciao de crimes contra os direitos humanos (EC 45/04, art.1); a exclusividade de suscitao de dissdio coletivo perante o Tribunal do Trabalho, em caso de greve em servio essencial, com possibilidade de leso a interesse pblico (EC 45/04, art.1).4.1.4. A PREOCUPAO COM A CELERIDADE E A EFICCIA DO PROCESSOA preocupao com a eficcia do provimento jurisdicional parece ter sido a grande tnica da Reforma do Judicirio. Todas as medidas inseridas no ordenamento jurdico, inclusive as citadas acima, denotam interesse do legislador em responder positivamente sociedade naquilo que sua maior queixa no tocante, a idia de que, no Brasil, o Judicirio tarda e falha.

Assim que o art 5 da CF/88, que inaugura o ttulo dos direitos e garantias fundamentais, passa a figurar com o novo inciso LXXXVIII: a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. Para corroborar com a assertiva acima, o texto da EC 45/04 prescreve em seu art. 7 que alteraes legais devero ser efetuadas a fim de tornar mais amplo o acesso Justia e mais clere a prestao jurisdicional.4.1.4.1. Descentralizao e intinerncia de TribunaisPor outro prisma, a fim de ampliar o acesso geral Justia, a Constituio emendada passa a conter perspectiva de descentralizao judiciria: CF/88. Art. 107:........... 2.: Os Tribunais Regionais Federais instalaro a justia itinerante, com a realizao de audincias e demais funes da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdio servindo-se de equipamentos pblicos e comunitrios; 3.: Os Tribunais Regionais Federais podero funcionar descentralizadamente, constituindo Cmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado justia em todas as fases do processo. Prescries similares tambm valem para os Tribunais de Justia, nos termos do comando do art. 125, 6 e 7, da CF/88, e para a Justia Trabalhista, nos termos do art. 115, 1 e 2, da CF/88.O art. 93 da CF/88 passa a figurar com os seguintes incisos:

XII - A atividade jurisdicional ser ininterrupta, sendo vedada frias coletivas nos juzos e tribunais de segundo grau, funcionando nos dias em que no houver expediente forense normal, juzes em planto permanente;

XIII o nmero de juzes na unidade jurisdicional ser proporcional efetiva demanda judicial e respectiva populao;XIV os servidores recebero delegao para a prtica de atos administrativos e atos de mero expediente sem carter decisrio;

XV a distribuio de processos ser imediata, em todos os graus de jurisdio.

Sobre a ininterruptividade dos servios jurisdicionais, vale ressaltar as palavras de SERGIO BERMUDES:

A funo jurisdicional, conforme a Emenda n. 45, deve exercer-se em moto perpetuo, como na famosa composio de Paganini, repetindo-se, incessantemente, na resposta s demandas formuladas na propositura da ao, e nos requerimentos feitos ao longo do processo. Da a proibio de frias coletivas tanto dos juzes da primeira instncia quanto dos tribunais de segundo grau, perante os quais se desenvolve a prestao jurisdicional, consistente na aplicao as regra de direito incidente aos fatos, ou na execuo de ttulos judiciais ou extrajudiciais, e tambm na outorga de medidas cautelares. Haver frias dos magistrados, individualmente, mas os rgos por eles integrados continuaro funcionando com os substitutos dos que se afastarem.

4.1.4.2. Fundo de Garantia das Execues TrabalhistasPor fim, louvvel preocupao da EC 45/04 com a efetividade do provimento jurisdicional est cristalizada em seu art. 3, quando, de modo inovador, dispe que a lei criar Fundo de Garantia das Execues Trabalhistas, integrado pelas multas decorrentes de condenaes trabalhistas e administrativas oriundas da fiscalizao do trabalho, alm de outras receitas, valendo ressaltar que a medida at hoje no efetivada, se exitosa, no apenas atenta contra a sensao de impunidade que assola o judicirio trabalhista, como procura atender aquele que de fato o grande prejudicado no conflito laboral, o trabalhador, sobretudo o mais humilde.Por todas as alteraes aqui citadas, no restam dvidas de que o constituinte derivado, ao redigir a EC 45/04, alm de demonstrar profundo conhecimento das mazelas judicirias relacionadas eficcia e a celeridade do provimento jurisdicional, empenhou-se em criar mecanismos adequados ao saneamento dos eventuais contratempos. Neste sentido, no h do que reclamar a comunidade jurdica, devendo, pois, pr-se defesa de citada emenda para fins de cobrar a viabilizao de todas as medidas aprovadas.

4.1.5. A AMPLIAO DA COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO:

Significativa transformao experimentou a Justia do Trabalho aps a Reforma do Judicirio. Alm das j comentadas inovaes com o intuito de facilitar o acesso geral Justia Obreira, modificaes significativas fizeram ampliar, tambm, a competncia material trabalhista. Com a promulgao da EC 45/05 passou a ser o seguinte o art.114 da Constituio Federal:

Art. 114 Compete Justia do Trabalho processar e julgar:

I as aes oriundas da relao de trabalho, abrangidos os entes de direito pblico externo e da administrao pblica direta e indireta da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios;

II as aes que envolvam exerccio do direito de greve;

III as aes sobre representatividade sindical, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e empregadores;

IV os mandados de segurana, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matria sujeita sua jurisdio;

V os conflitos de competncia entre rgos com jurisdio trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I;

VI as aes de indenizao por dano moral ou patrimonial, decorrente da relao de trabalho;

VII as aes relativas s penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos rgos de fiscalizao das relaes de trabalho;

VIII a execuo de ofcio das contribuies sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acrscimos legais, decorrentes de sentenas que proferir;

IX outras controvrsias decorrentes da relao de trabalho na forma da lei.

Pargrafo 1 - .........

Pargrafo 2 - Recusando-se qualquer das partes negociao coletiva ou arbitragem, facultado s mesmas, de comum acordo, ajuizar dissdio coletivo de natureza econmica, podendo a Justia do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposies mnimas legais de proteo ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

Pargrafo 3 - Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de leso do interesse pblico, o Ministrio Pblico do Trabalho poder ajuizar dissdios coletivos, cumprindo Justia do Trabalho decidir o conflito.

ORESTES DALAZEN sintetizou as inovaes que a seu ver ocorreram na competncia material da Justia do Trabalho a partir da promulgao da Emenda Constitucional 45/04. Divide-os em dois tipos de conflitos: primeiro, os conflitos decorrentes da relao de emprego, que espcie do gnero relao de trabalho. Segundo, as lides advindas dos contratos de atividade em geral, contanto que se cuide de prestao pessoal de servios a outrem.

No primeiro caso, alm dos conflitos decorrentes da relao de emprego, a Justia do Trabalho passou a ter definitiva competncia para processar e julgar, por exemplo, os conflitos inter-obreiros, aqueles que se passam entre os empregados que celebram contrato de equipe, a respeito do salrio; as lides inter-patronais sobre obrigaes decorrentes de contratos de trabalho, como por exemplo, empregador sucessor versus empregador sucedido, ou entre empregador sub-empreiteiro e empreiteiro principal (CLT, art. 455); quaisquer outras lides sobre direitos e obrigaes que decorram da relao de emprego, ainda que no se dem entre empregado e empregador, como por exemplo, a Ao Civil Pblica Trabalhista, o dissdio sobre complementao de aposentadoria entre empregado e entidade de previdncia privada fechada instituda pelo empregador, quando a complementao da aposentadoria no criada pelo empregador; conflitos envolvendo trabalhador eventual avulso e trabalhador avulso (porturios versus rgo Gestor de Mo de Obra-OGMO).

No segundo caso, alm das lides envolvendo o pequeno empreiteiro operrio ou artfice, j consignadas no art. 652, a, III, da CLT, a competncia material da Justia do Trabalho tambm se dar para as lides que envolvam relao de trabalho em sentido amplo, sejam ou no formalizadas. o trabalho autnomo ou por conta prpria, desde que realizado com pessoalidade pelo obreiro, como o que ocorre nos contratos de prestao de servios de representao comercial, de corretagem de seguros e respectivo tomador dos servios, entre o transportador rodovirio autnomo e a empresa de transporte ou o usurio desses servios, entre o empreiteiro pessoa fsica e o dono da obra, entre o parceiro ou arrendatrio e o respectivo proprietrio rural, entre cooperativas de trabalho ou seus associados e os tomadores de servios.

Na interpretao de citado autor, a partir de agora, at mesmo profissionais liberais como mdicos, advogados, arquitetos, engenheiros, etc., podero demandar ou ser demandados nesta qualidade jurdica, na Justia do Trabalho, que, assim, pouco a pouco, se afastar da concepo de Justia meramente do emprego.

Ainda no que tange prestao de servios, pode-se divis-la no bojo da relao contratual de consumo, circunstncia que atrai a competncia da Justia do Trabalho para processar e julgar o respectivo conflito. que se de um lado est o consumidor ou destinatrio final do servio, que tem uma relao de consumo regida pelo Cdigo de Defesa do consumidor, do outro se encontra a figura do prestador de servios (fornecedor), que regulada pelas normas gerais de Direito Civil. No primeiro caso, no h que se falar em relao jurdica de trabalho, mas a relao jurdica pode tomar contornos de relao de trabalho, que neste caso atrai a competncia da Justia Obreira.

No se cuida de litgio surgido da relao de consumo, que regida pelo Cdigo de defesa do Consumidor, mas da relao de trabalho que do outro lado nela se contm, como por exemplo, na demanda da pessoa fsica prestadora dos servios em favor de outrem pelos honorrios ou pelo preo dos servios contratados. Nesse caso, no h como deixar de reconhecer a competncia material da Justia do Trabalho para processar e julgar a lide, a luz das novas disposies no art. 114, da Constituio Federal.

Ademais das situaes anteriores, vale infirmar que restou definida a competncia da Justia do Trabalho para as lides sobre penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos rgos de fiscalizao das relaes de trabalho (inciso VII, do art. 114), assim como para as lides sobre danos morais e materiais ou patrimoniais decorrentes de acidentes de trabalho (inciso VI, do art. 114).

No que concerne ao dano moral decorrente de acidente do trabalho, a competncia restou pacificada por recente deciso do plenrio do STF (Relator Ministro CARLOS AYRES BRITTO), de 29/06/06, proferida nos autos do Conflito de Competncia n. 7204-MG, suscitado pela 5 Turma do TST.

Segundo o Ministro do TST JOO BATISTA BRITO PEREIRA, Relator das decises citadas, at ento somente era admitida a competncia da Justia do Trabalho para pedido de indenizao por dano moral resultante de ato do empregador que, nessa qualidade, haja ofendido a honra ou a imagem do empregado, causando-lhe prejuzo de ordem moral, se esse estiver relacionado com o contrato de trabalho. Nas decises, o Ministro afirma encontrar-se revogada a Orientao Jurisprudencial n 327, da SDI-I, que se refere apenas indenizao por dano moral em razo do contrato de trabalho e no, como agora, em razo de acidente do trabalho..Entretanto, importar registrar que permanecem sob a gide da Justia Comum estadual as lides que tenham por objeto prestaes previdencirias derivadas de acidentes do trabalho, as quais tm como promovido o INSS, luz do disposto no art. 114, I, da CF, c/c art. 19, II, da Lei 6.367, de 19.10.76.

Por derradeiro, vale salientar a definitiva competncia outorgada pela Emenda Constitucional n 45/04 Justia do Trabalho para os dissdios coletivos de natureza econmica e tambm para os dissdios coletivos de natureza jurdica (inobstante a imperfeio do texto da EC), para os dissdios de interesse prprio dos sindicatos ou dos sindicatos como representantes ou substitutos processuais dos seus associados ou das respectivas categorias profissionais, para os dissdios envolvendo dirigentes sindicais, para as demandas sobre contribuies sindicais, para as muitssimo freqentes demandas intersindicais, para as demandas decorrentes das eleies ou do processo eleitoral sindical, bem como para as lides decorrentes do exerccio do direito de greve, incluindo as aes possessrias ajuizadas por sindicatos e/ou empregados e pelo empregador, em face do exerccio do direito de greve.

A Emenda Constitucional 45/04 prestigiou a Justia do Trabalho tambm em outras nuanas que no apenas a ampliao de sua competncia material: previu a criao de novas Varas, de modo a garantir o seu bom funcionamento ante a perspectiva de que a ampliao de competncia implicar em maior processamento de demandas e determinou a ampliao do nmero de ministros para o Tribunal Superior do Trabalho, dos atuais dezessete para vinte e sete membros, e decidiu, ainda, pela instituio de Conselho Superior da Justia do Trabalho com atribuio para exercer, na forma da lei, a superviso administrativa, oramentria, financeira e patrimonial da Justia do Trabalho de primeiro e segundo graus, como rgo central do sistema, cujas decises tero efeito vinculante. 4.1.6. OUTROS ACERTOSAlm das tratativas acima, a EC 45/04 cuidou de estabelecer outras garantias no ordenamento nacional hbeis a contribuir com a proteo dos direitos fundamentais e os direitos de cidadania, todas manifestadas em seu art.1. Uma delas foi a preocupao com a dirimio dos conflitos fundirios associada ao novo art.126, da CF/88, que diz que: Para dirimir conflitos fundirios, o Tribunal de Justia propor a criao de varas especializadas, com competncia exclusiva para questes agrrias. As Defensorias Pblicas ganharam ateno especial do legislador, sendo-lhes asseguradas, mediante aplicao do 2, do art. 134, da CF/88, autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta oramentria dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes oramentrias (...). Restou consentida a criao de juzos militares estaduais (CF/88, art. 125, 3. a 5). Por derradeiro, vale mencionar que pela EC 45/04 o Brasil passa a sujeitar-se jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado adeso, sendo interessante esclarecer, segundo ensina SERGIO BERMUDES, que os atos do Tribunal produzem eficcia no pas desde que no afrontem a Constituio, a ordem pblica e os bons costumes. At mesmo porque, depender, segundo a leitura do autor, de eventual homologao do Superior Tribunal de Justia, face o postulado da alnea i do inciso I do art. 105 da CF/88.

4.2. OS EQUVOCOSAs medidas trazidas leitura neste captulo, embora originadas da boa inteno do constituinte derivado de restaurar o sistema judicirio e jurdico nacional, constituem-se, segundo uma viso muito particular do autor, em profundos equvocos. Dentre os erros enumerados esto a instituio do Conselho Nacional do Ministrio Pblico e a Smula vinculante (previso de efeito vinculante para as smulas do STF e para as decises definitivas transitadas em julgada em sede de Aes Indiretas de Constitucionalidade e Declaratria de Constitucionalidade).

4.2.1. O CONSELHO NACIONAL DO MINISTRIO PBLICO:

Ao contrrio da instituio do Conselho Nacional da Justia, a criao do Conselho Nacional do Ministrio Pblico (EC 45/04, art. 2; CF/88, arts. 130-A e seguintes), at que se demonstre o contrrio, no nasceu de interesse social.

O controle do Ministrio Pblico necessrio na medida em que nenhum rgo ou Poder deve ficar inclume necessidade de prestar contas de seus atos e atividades perante a sociedade. Contudo, o Ministrio Pblico j estava preso s rdeas da lei, sofrendo, fiscalizao institucional atravs do Poder Judicirio. O Judicirio, este sim que pairava no horizonte do Estado sem controle social algum, ou, para ser fiel verdade, com diminuto controle social.Em primeiro momento observa-se completa falta de razoabilidade a criao de mais um rgo, cuja complexidade e extenso de atividades representaro em nus excessivamente grande ao errio. No obstante as razes do constituinte derivado, a instituio do CNMP parece ter sido medida poltica, com intuito exclusivo de fiscalizar-lhe o poder de atuao, o que pode, no hoje, mas em situaes extremas de totalitarismo, representar uma supresso ou limitao em suas garantias e prerrogativas constitucionais. Neste sentido, tem razo de ser a expresso mordaa, to veementemente refutada pelos integrantes daquele quarto poder. Importa insistir em dizer que este um ponto de vista muito particular do autor, j que contrariamente a isto h manifestaes at mesmo de membros do Ministrio Pblico, como o caso, p. ex, de ARISTIDES JUNQUEIRA ALVARENGA, ex Procurador Geral da Repblica notabilizado por ter aberto inqurito por corrupo e formao de quadrilha contra o ex Presidente Collor de Mello, abrindo-lhe caminho para o impeachment. Verbis:

Como se v, o Conselho rgo de controle administrativo e financeiro do Ministrio Pblico, bem como rgo de com trole dos seus membros, no que tange ao cumprimento dos deveres funcionais destes.

Tradicionalmente, os membros do Ministrio Pblico, em geral, jamais tiveram receio desse controle. Sempre o consideraram fator de maior transparncia de suas atividades institucionais e de instrumento para se rechaar qualquer espcie de corporativismo malso.

Com efeito, o membro do Ministrio Pblico, seja da Unio, seja dos Estados-membros, que age corretamente, na ter razo para temer qualquer conduta do Conselho Nacional do Ministrio Pblico, da mesma forma que no teme o procedimento do Conselho Superior ou da Corregedoria de sua prpria instituio.

Nem se dia que sua criao ofende o princpio federativo, uma vez que, alm de no ter o condo de abolir a Federao, est a contribuir para o fortalecimento de uma institui;co, que regida pelos princpios da unidade da indivisibilidade.

Ponha-se em relevo, finalmente que o Conselho tal como constitucionalmente composto, na pode ser tido como rgo de controle popular ou estranho ao Ministrio Pblico, visto que sua maioria absoluta composta de membros da prpria instituio.

Espera-se que esse novo rgo de controle do Ministrio Pblico, formado por pessoas de notvel saber jurdico e reputao ilibada, detentoras de prudncia, de serenidade, de imparcialidade, de recato, de esprito de servir, somente trabalhe para o fortalecimento e engrandecimento da instituio.

4.2.2. A Smula vinculante

Mais grave do que a instituio do Conselho Nacional do Ministrio Pblico foi a instituio do efeito vinculante para as smulas do STF - extensveis, inclusive, a todas as j existentes (EC 45/04, art. 2; CF/88, art. 103-A e pargrafos e EC 45/04, art. 8). Com o mesmo sentido, a extenso do efeito vinculante s decises definitivas de mrito em Aes Direta de Inconstitucionalidade (com a confirmao do mesmo para as Aes Declaratrias de Constitucionalidade), assim como das decises dos Conselhos Superiores, da Justia Federal e da Justia do Trabalho, respectivamente, no mbito de suas competncias (EC 45/04 arts.1 e 2; CF/88, art. 102, 2 e arts. 105, II e 111-A, II).A novidade, que esteve suspensa aps a promulgao da EC 45/04 face deciso do STF que determinou a necessidade de aprovao de lei regulamentadora do assunto, incorporou-se definitivamente ao ordenamento nacional, no ltimo dia 19 de novembro, quando restou sancionada a Lei n. 11.417/06, que regulamenta o art. 103-A da CF/88 e altera a Lei no 9.784/99.Segundo se comenta, apesar da novel lei j possuir eficcia, eventuais edies, revises e cancelamentos de enunciados de smulas pelo STF ainda dependero de elaborao de Emenda Regimental naquela Corte, para determinar regras de funcionamento em seu mbito.

De acordo com a Lei 11.417/06, o STF poder, atravs da deciso de dois teros de seus membros e antecedido da ouvida do Ministrio Pblico: de ofcio ou por provocao, aps reiteradas decises sobre matria constitucional, editar enunciado de smula que, a partir de sua publicao na imprensa oficial, ter efeito vinculante em relao aos rgos do Poder Judicirio e administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder sua reviso ou cancelamento na forma prevista nesta lei (...)

Segundo a novel lei, os efeitos da smula vinculante aprovada sero imediatos, mas o STF, por dois teros de seus membros, poder restringi-lhes ou dar-lhes eficcia em outro momento se o bom senso rezar que poder haver prejuzo para a segurana jurdica ou para tutelar excepcional interesse pblico. Importante registrar que da deciso judicial ou ato administrativo que contrariar enunciado de smula vinculante caber reclamao ao STF, sem prejuzos de eventuais recursos ou meios cabveis impugnao.

Por fim, ainda segundo a nova lei, so partes legtimas para propor edio, reviso ou cancelamento de enunciado de smula vinculante: o Presidente da Repblica, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Cmara dos Deputados, o Procurador-Geral da Repblica, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Defensor Pblico-Geral da Unio, partidos polticos com representao no Congresso Nacional, confederaes sindicais ou entidades de classe de mbito nacional, a Mesa de Assemblia Legislativa ou da Cmara Legislativa do Distrito Federal, Governadores de Estado ou do Distrito Federal, os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justia de Estados ou do Distrito Federal e Territrios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares. Alm destes, tambm os Municpios podero agir em igual sentido, desde que incidentalmente em processos em que sejam partes, sem que isso autorize suspenses processuais.Apesar da proeminncia de efetivao da smula vinculante no ordenamento ptrio, importante deixar registrado que a obrigatoriedade de vinculao de decises de rgos judiciais superiores em decises processuais de instncias inferiores s tem um mrito, o de diminuir o nmero de processos. Entretanto, a bem da importncia de se diminuir o nmero de processos para fins de tornar outros processos mais cleres, uma preocupao deve preceder a esta: a qualidade do provimento jurisdicional, pois de nada valer um processo ser rpido se no for apreciado de modo qualificado.

J se disse anteriormente que os juzes das instncias inferiores esto mais prximos dos conflitos, e, por isso, tm melhor compreenso de discernimento sobre as angstias e ansiedades das partes litigantes. que, no processo, o fluxo de informaes (fundamentao) se d no sentido inverso do fluxo experimentado pelo ordenamento jurdico, isto , d-se de baixo para cima. Da que no se pode olvidar que as razes manifestadas na primeira instncia sero fundamentais para a apreciao de um eventual recurso, em ltima instncia. Ora, como ento se aceitar que haja um bloqueio no fluxo de fundamentao de um processo especfico e que esse bloqueio se legitime com a incidncia de uma regra pr-definida para outro caso? Definitivamente, no h como legitimar tal coisa.

A existncia da smula vinculante absolutamente incompatvel com o Estado democrtico na medida em que tolhe o direito fundamental do devido processo legal, este, por sua vez, base de princpios to importantes como o contraditrio, a ampla defesa, a recorribilidade das decises, etc., todos, por conseqncia, violados.

Alm disso, atenta contra prerrogativas funcionais de juzes de rgos inferiores, sobretudo de julgarem de acordo com suas livres convices (isto , independncia e imparcialidade), alm de incutirem uma falsa idia de que o Poder emana do rgo superior, quando, na verdade, emana do povo. Sobre o tema aduz LUIZ FLVIO GOMES:

Institutos da era analgica no so teis para a Justia da era digital. um atraso e grave retrocesso. Faz parte de uma tica tendencialmente autoritria, de uma sociedade militarizada, hierarquizada. A justia de cada caso concreto no se obtm com mtodos de cima para baixo. O contrrio que o verdadeiro. O saber sistemtico (generalizador) est dando lugar para o saber problemtico (cada caso um caso). bvio que para que ficasse completa a ponto de resolver a problemtica existente na seara judicante a Reforma do Judicirio deveria transpor os limites da organizao judiciria e do direito material para inserir-se, tambm, no campo do processo. Contudo, bem mais razovel do que instituir a polmica smula vinculante teria sido adotar a smula impeditiva de recursos, mediante a qual somente seriam admitidos recursos contra deciso de juiz hierarquicamente inferior quando fosse efetivamente contrariada smula do Supremo Tribunal Federal. Por isso, entrementes estar-se convencido de que o constituinte derivado procurou avanar na efetiva resoluo da crise judiciria, considera-se a smula vinculante um grave retrocesso que poder surtir pesados efeitos negativos tanto na atual democracia quanto mais em momentos de crises institucionais. Agora, inserta a Smula no ordenamento nacional, torcer para que o STF esteja realmente cnscio e preparado para exercer o seu papel de moderador da seara jurdica, e s entidades aptas a propor-lhes para que tambm ajam com bom senso e razoabilidade, imbuindo-se no interesse de produzir justia e no apenas fatos meramente polticos, tpicos de factides jornalsticos.

5. Concluses

Por certo que a Reforma do Judicirio consubstanciada na EC 45/04 no obteve o xito que imaginava alcanar desde o princpio das discusses em torno do tema. Contudo, no se pode negar a importncia que representou e que continuar representando para o Brasil das novas geraes.

A instituio de um rgo de controle para o Judicirio, que sendo hbrido composto de pessoas dos mais diversos segmentos da rea jurdica, pode ser fundamental no apenas para a diligncia sobre os atos administrativos e funcionais das autoridades judicirias, como tambm para evitar que outros deslizes de mesma ordem se verifiquem. A criao de tal rgo, precedida de legitimao popular, destila importncia a todos: sociedade, que passa a contar com esta valiosa forma de acesso ao Judicirio; e a este que ficando mais protegido frente aos abusos e devaneios de arbitrariedade de alguns dos seus, certamente gozar de maior respaldo e credibilidade social.

Por outro lado, pela natureza diversa das demandas (uma meramente poltica e outra de interesse social, sucessivamente), cr-se que a instituio do Conselho Nacional do Ministrio Pblico no encontrou nem encontrar o mesmo respaldo social e jurdico do Conselho Nacional de Justia.

Preocupao com a eficcia e a qualidade do provimento jurisdicional, proteo aos direitos humanos com previsibilidade de avocao de crimes contra direitos humanos para a Justia Federal e possibilidade de recepo de normas internacionais sobre o gnero como normas constitucionais, facilitao do acesso geral Justia com previso de descentralizao e intinerncia de Tribunais, ampliao de competncia da Justia do Trabalho e instituio de novas regras visando o fortalecimento das Defensorias Pblicas, a ampliao de prerrogativas para membros do Ministrio Pblico, dentre outras medidas, so inovaes de acerto da EC 45/04, enquanto instituio de efeito vinculante para as smulas do STF (iguais efeitos em ADC e ADI) e para as decises de rgos superiores devem ser vistos com profundo pesar.

De uma forma ou de outra, importante ter em mente que a Reforma do Judicirio precisa ser compreendida como ponto de partida para uma srie de mudanas que ainda precisam ser levadas a efeito no mbito da Justia para que o provimento jurisdicional seja cada vez mais leal ao interesse republicano e social.

Alteraes de ordem processual visando diminuio do nmero de recursos, extino de benefcios do poder pblico em processos (prazo em qudruplo para contestar e em dobro para recorrer, execuo de dvidas contra si mediante precatrios, etc.), criao de juizados especiais no mbito das Justias (sobretudo da Justia do Trabalho), empreendimento permanente de esforos visando o crescimento da estrutura judiciria com o fito de garantir o acesso do povo Justia, tudo so medidas que urgem seguir a este primeiro momento.

Sem corporativismo, tambm outras discusses de ordem no meramente assessria, tais como as citadas acima, precisam ser levadas a cabo: a necessidade do quinto constitucional

; o porqu da existncia de rgos to hermticos (como os colegiados superior) na estrutura do Ministrio Pblico, sobretudo dos Estados; o porqu da OAB no ser obrigada a justificar contas perante os Tribunais de Contas, a exemplo de outras autarquias de classe; a permisso de acesso da autoridade policial em escritrios de advocacias visando a busca de documentos incriminatrios, desde que precedida de aferio de reais indcios de cumplicidade criminosa e ressalvada a prvia autorizao judicial, dentre tantas polmicas.

Por que no avanar e se discutir a viabilidade da criao de um verdadeiro Tribunal Constitucional no Brasil, com caractersticas prprias, a exemplo de prerrogativa exclusiva de controle de constitucionalidade, eleies transparentes e mandatos temporrios para seus membros, estatuto constitucional, etc? A Constituio brasileira uma das mais avanadas e democrticas do mundo. Sendo assim, por que no seguir seu exemplo e experimentar arrojo no tocante s discusses no mbito da Justia?

A propsito, j passada a hora de realmente avaliar-se a importncia do povo brasileiro na constituio e integrao do Estado nacional, pois se chegando concluso de que realmente o governo deve ser do povo, pelo povo e para o povo a sociedade est certa - no importa as razes e a oportunidade - em cobrar de seus representantes o enfrentamento de um dificlimo porm fundamental debate acerca da Reforma Poltica, esta sim a verdadeira me de todas as Reformas. Afinal, de nada adianta resolver os problemas do Judicirio se no forem sanados antes os problemas da Justia. E bvio que os meios atravs dos quais o povo se faz representar perante os Poderes so pedra fundamental para todas as discusses.

Debates como a insero do mecanismo popular de revogao de mandato para Chefes de Executivo e membros do Legislativo (a somar-se com outros institutos de democracia direta j previstos, tais como iniciativa popular, referendo e plebiscito), financiamento pblico de campanhas, fidelidade partidria, proibio de reeleio para mandatos de todas as espcies (inclusive mandatos legislativos), redefinio do nmero de parlamentares no Congresso e rediscusso sobre o papel institucional do Senado, etc., so sugestes que se pem mesa para anlise.

Portanto, pelo horizonte que ousou ampliar, v-se logo que a Reforma do Judicirio inseriu na ordem do dia uma perspectiva diferente de agir patritico. Uma convico de que, a partir de agora, ningum dono de si, e que para a investidura em cargos de delegao popular todos os investidos necessitam permanentemente justificar e prestar contas de seus atos, porquanto a legitimao popular no um fenmeno esttico, , sim, um processo dinmico que precisa ser renovado a cada instante.

Como concluso, resta a certeza de que excetuados alguns mal concebidos erros Brasil e brasileiros saram ganhando com a EC 45/04.

6. bibliografia consultada

ALVARENGA, Aristides Junqueira. O Ministrio Pblico segundo a Constituio Federativa do Brasil, In RENAULT, Srgio Rabello Tamm & BOTTINI, Pierpaolo. Reforma do Judicirio Comentrios a Emenda Constitucional n. 45/2004. So Paulo: Saraiva, 2005. PP. 216-217.

BARROSO, Lus Roberto. Constitucionalidade e legitimidade da criao do Conselho Nacional de Justia in WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.) et al. Reforma do Judicirio: primeiros ensaios crticos sobre a EC n. 45/2004. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, PP. 425-445.

BERMUDES, Srgio. A Reforma do Judicirio pela Emenda Constitucional n. 45. Rio de Janeiro: Ed. Forenses, 2005. PP. 35-36.

DALAZEN, Orestes. A Reforma do Judicirio e os novos marcos da competncia material da Justia do Trabalho no Brasil Brasil. Revista LTR, Ano 69, n. 3, So Paulo: LTr, 2005. PP 263-176.GOMES, Luiz Flvio. Smula Vinculante. http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=390GRAMSTRUP, Erik Frederico. Conselho Nacional de Justia e controle externo: roteiro geral In WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.) et al. Reforma do Judicirio: primeiros ensaios crticos sobre a EC n. 45/2004. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, PP.191-200.HERKENHOFF, Joo Baptista. Direito e Utopia. So Paulo: Editora Acadmica, 1990, P 36.

JORGE, Mrio Helton. O Conselho Nacional de Justia e o controle externo administrativo, financeiro e disciplinar do Poder Judicirio: violao do pacto federativo in WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.) et al. Reforma do Judicirio: primeiros ensaios crticos sobre a EC n. 45/2004. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, PP. 493-514.

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Traduo Joo Baptista Machado. So Paulo: Martins Fontes, 2003, PP. 215-221.

MULLER, Friederich. Quem o povo? 3 edio revista e ampliada. Ed. Max Limonad: So Paulo, 2003. P. 119.MARTINS, Ives Gandra. Conselho Nacional de Justia in RENAULT, Srgio Rabello Tamm & BOTTINI, Pierpapolo (coords). Reforma do Judicirio: comentrios Emenda Constitucional n. 45/2004. So Paulo: Ed. Saraiva, 2005, PP. 87-97.

MULLER, Friederich. Quem o povo? 3 edio revista e ampliada. So Paulo: Ed. Max Limonad, 2003.

NALINI, Jos Renato. A democratizao da administrao dos Tribunais in RENAULT, Srgio Rabello Tamm (coords). Reforma do Judicirio: comentrios Emenda Constitucional n. 45/2004. So Paulo: Ed. Saraiva, 2005, PP. 159-184.

RENAULT, Srgio & BOTTINI, Pierpapolo. Primeiro Passo In RENAULT, Srgio Rabello Tamm & BOTTINI, Pierpapolo. Reforma do Judicirio: Comentrios Emenda Constitucional n. 45/2004, So Paulo: Ed. Saraiva, 2005, P. 1-12.

ROCHA, Jos de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judicirio. So Paulo: Ed. Malheiros, 1995. PP 12, 27, 38-39, 52-54, 78, 82-83.ROCHA, Zlio Maia da. A Reforma do Judicirio: uma avaliao crtica e poltica. So Paulo: Ed. Saraiva, 2005.SARLET, Ingo Wolfgang. A eficcia dos Direitos Fundamentais. 2 edio revista e atualizada. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2001, P.62.

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Breves comentrios Reforma do Judicirio com nfase Justia do Trabalho; Emenda Constitucional n. 45/2004. So Paulo: LTr, 2005. P. 119.

TUCCI, Jos Rogrio Cruz e. Tempo e Processo: uma anlise emprica das repercusses do tempo na fenomenologia processual (civil e penal). So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997, PP 18-19, 111.http://conjur.estadao.com.br/static/text/50806,1http://conjur.estadao.com.br/static/text/51048,1http://www.stf.gov.br/processos/processo.asp?INTERFACE=1&ARGUMENTO=ADI%2F3395&rdTipo=1&PROCESSO=3395&CLASSE=ADI&ORIGEM=AP&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=

http://conjur.estadao.com.br/dinamic/search/results/7. Referncias bibliogrficas

BERMUDES, Srgio. A Reforma do Judicirio pela Emenda Constitucional n. 45. Rio de Janeiro: Ed. Forenses, 2005.

DALAZEN, Orestes. A Reforma do Judicirio e os novos marcos da competncia material da Justia do Trabalho no Brasil Brasil. Revista LTR, Ano 69, n. 3, So Paulo: LTr, 2005.HERKENHOFF, Joo Baptista. Direito e Utopia. So Paulo: Editora Acadmica, 1990.

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Traduo Joo Baptista Machado. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

LIMA, Martnio MontAlverne Barreto & FILHO, Jos Filomeno de Moraes et al. Teoria da Constituio: Estudos dobre o lugar da poltica no Direito Constitucional. Jurisdio Constitucional: um problema da Teoria da Democracia Poltica & Separao de Poderes no Brasil Ps-88: princpio constitucional e prxis poltica. Ed. Lumens Juris: Rio de Janeiro, 2003.

MULLER, Friederich. Quem o povo? 3 edio revista e ampliada. Ed. Max Limonad: So Paulo, 2003.

RENAULT, Srgio & BOTTINI, Pierpapolo. Reforma do Judicirio: Comentrios Emenda Constitucional n. 45/2004, So Paulo: Ed. Saraiva, 2005.

ROCHA, Jos de Albuquerque. Estudos sobre o Poder Judicirio. So Paulo: Ed. Malheiros, 1995.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficcia dos Direitos Fundamentais. 2 edio revista e atualizada. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2001.

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Breves comentrios Reforma do Judicirio com nfase Justia do Trabalho; Emenda Constitucional n. 45/2004. So Paulo: LTr, 2005. P. 119.

TUCCI, Jos Rogrio Cruz e. Tempo e Processo: uma anlise emprica das repercusses do tempo na fenomenologia processual (civil e penal). So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.) et al. Reforma do Judicirio: primeiros ensaios crticos sobre a EC n. 45/2004. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 425-445.

8. ndice Onomstico

ALVARENGA, Aristides Junqueira..................................................................................... 42

AURLIO, Marco ................................................................................................................. 37

BERMUDES, Srgio....................................................................................................... 31, 40

BOBBIO, Norberto ............................................................................................................... 14BOTTINI, Pierpaolo.............................................................................................................. 42

BRITTO, Carlos Ayres.......................................................................................................... 37

COUTURE............................................................................................................................ 14DALAZEN, Orestes............................................................................................................... 33

DELGADO, Jos................................................................................................................... 39

GOMES, Luiz Flvio............................................................................................................. 46

GRAMSTRUP, Erik Frederico.............................................................................................. 13HERKENHOFF, Joo Baptista.............................................................................................. 15KELSEN, Hans..................................................................................................................... 46

LINCOLN, Abraham............................................................................................................. 50

LUCIA, Carmem.................................................................................................................... 20

MONTESQUIEU.................................................................................................................. 8, 9MLLER, Friederich.......................................................................................................... 9, 10BOBBIO, Norberto ............................................................................................................... 14

PAGANINI............................................................................................................................. 31PEREIRA, Joo Batista.......................................................................................................... 37

RENAULT, Otvio Linhares................................................................................................... 25

RENAULT, Srgio Rabello Tam............................................................................................. 42

ROCHA, Csar Asfor.............................................................................................................. 35

ROCHA, Jos de Albuquerque.............................................................. 8, 9, 11, 14, 18, 19, 50RUSSEAU............................................................................................................................... 8SARLET, Ingo Wolfgang....................................................................................................... 10 SHNEIDER............................................................................................................................. 10TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio..................................................................................... 28

TUCCI, Jos Rogrio Cruz e.................................................................................................. 14

VIEIRA, Castro....................................................................................................................... 36

WAMBIER, Tereza Arruda Alvim......................................................................................... 13 Inclusive no mbito do Judicirio Trabalhista, onde, apesar das alteraes ampliando e reforando as prerrogativas da Justia do Trabalho, operadores passaram a questionar viabilidade da ampliao de sua competncia sob o argumento de que impactaria numa elevao de demanda judiciria prejudicial ao seu bom funcionamento.

Charles Louis de Secondat. Baro de Montesquieu. Frana (1689-1755)

Jean-Jacques Rousseau. Frana (1712-1778)

Para o professor JOS DE ALBUQUERQUE ROCHA o legislativo a instncia poltica por excelncia, como tal, a mais representativa da soberania popular e do pluralismo poltico, social e ideolgico existente na sociedade, pois nele esto representadas todas suas tendncias... In ROCHA, Jos de Albuquerque. Estudos Sobre o Poder Judicirio. So Paulo: Ed. Malheiros, 1995. P. 53.

CF/88

CF/88. Art. 2: So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

Ensina JOS DE ALBUQUERQUE ROCHA que A trplice diviso das funes estatais no se confunde com a assim chamada teoria da diviso de poderes de Montesquieu. De fato, aquilo que denominamos de diviso de poderes no passa de um processo tcnico de diviso do trabalho entre os rgos do Estado In ROCHA, Jos de Albuquerque. Ob. Cit. Pg. 12.

CF/88. Prembulo: Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assemblia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrtico,...

CF/88. Art. 1: A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrtico.....

Assim considerado povo, a partir das lies de FRIEDERICH MLLER (sobre povo ativo, povo como instncia global de atribuio e povo como populao real com status de destinatria de prestaes civilizatrias do Estado), a totalidade das pessoas que se encontram em um pas, que so atingidos pelos direitos vigentes e pelos atos decisrios do poder estatal (o que inclui no apenas eleitores, mas todos aqueles que, por uma razo ou outra, ainda que no ativos recebem a tutela do Estado, p. ex, os despojados de cidadania, os incapazes, os ndios, etc.) In MULLER, Friederich. Quem o povo? 3 edio revista e ampliada. So Paulo: Ed. Max Limonad, 2003. P. 119.

Apud SARLET, Ingo Wolfgang. A eficcia dos Direitos Fundamentais. 2 Edio Revista e Atualizada. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado, 2001. Pg. 62.

No o Judicirio em si, mas parte dominante de seus membros.

Ponderao similar in ROCHA, Jos de Albuquerque, Ob. Cit. P. 38.

Enquanto conceito geral, a atividade estatal preordenada concreo terminal do Direito. In ROCHA, Jos de Albuquerque, Ob. Cit. P. 27.

Antes da EC 45/04.

Antes da EC 45/05.

verdade que o Judicirio submete o rigor de seus atos administrativos aos Tribunais de Contas. Contudo, pblico e notrio que, na prtica, tais fiscalizaes so meramente opinativas. Alm disso, no so hbeis a acompanhar a temporalidade, o ritmo, dos atos praticados.

Antes da EC 45/04.

Valendo ressaltar que, uma vez que as corregedorias se situam no mbito dos tribunais, tradicionalmente, a atividade correicional exercido sobre o primeiro grau de jurisdio e somente sobre ele, ficando os tribunais livres de quaisquer fiscalizaes. In GRAMSTRUP, Erik Frederico. Conselho Nacional de Justia e controle externo: roteiro geral In WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.) et al. Reforma do Judicirio: primeiros ensaios crticos sobre a EC n. 45/2004. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, pg.199.

Segundo o professor JOS DE ALBUQUERQUE ROCHA (in ROCHA, Jos de Albuquerque. Ob. Cit., P. 78), ao mesmo tempo em que se distancia do povo, a magistratura, principalmente dos tribunais, aproxima-secada vez mais do crculo do poder poltico e econmico o que explicaria suas tendncias conservadoras quando esto em jogo valores fundamentais do sistema e, inversamente, sua dificuldade de efetivar as normas constitucionais e legais promotoras das mudanas sociais necessrias melhoria das condies de vida da populao, justamente por afetarem os interesses dominantes.

Sem aprofundar discusso, basta lembrar dos julgamentos do STF nos casos do Mandado de Injuno (MI 107-DF), importante remdio constitucional introduzido no ordenamento jurdico nacional (CF, Art. LXXI) pelo constituinte de 87 e que tinha o condo de obrigar o Legislativo a sanar omisso que prejudicasse direitos e liberdades constitucionais, e que o STF transformou em mera recomendao, alm dos julgamentos da ADI n 1805-DF, que resultou na declarao de constitucionalidade da Reeleio no pas, e da ADI n 3105-DF, que validou a taxao previdenciria sobre os proventos de aposentados e pensionistas do servio pblico. Em outras palavras, no Brasil, o Judicirio tem tocado no compasso da batuta da poltica dominante.

Neste sentido vale registrar as ponderaes de JOS ROGRIO CRUZ E TUCCI: Na perspectiva filosfica, o tempo uma categoria abstrata, enquanto na viso dos pragmticos do mundo contemporneo time is money. (...) Se perder tempo , aos olhos dos outros nada a fazer, isto , coisas vistas sem valor, aos nossos prprios olhos perdemos tempoquando nos dedicamos a atividades no escolhidas como dignasda nossa ao. (...) E, apesar do relgio marcar as horas igualmente em qualquer lugar do planeta, para muitos o tempo voa... Para outros, o tempo no passa In TUCCI, Jos Rogrio Cruz e. Tempo e Processo: uma anlise emprica das repercusses do tempo na fenomenologia processual (civil e penal). So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1997. PP. 18-19 e 111.

Desenvolvendo o raciocnio cita citado autor, sucessivamente, o jusfilsofo NORBERTO BOBBIO apud Roberto Pompeu de Toledo (in O grande velho. Veja, 1.498, jun/97.:138.) para quem o que distingue a velhice da juventude, e tambm da maturidade, a lentido dos movimentos do corpo e da mente (...) O velho est naturalmente destinado a ficar prea trs, enquanto outros avanam. Ele pra. Senta-se num banco. De vez em quando precisa descansar um pouco. Os que estavam atrs o alcanam, o ultrapassam... In TUCCI, Jos Rogrio Cruz. Ob. Cit. P. 19.

A partir da constatao de que a definio de tempo subjetiva e circunstancial, no sendo igual para todos, considera a influncia temporal no processo, resumindo sua concluso nas realsticas palavras do uruguaio COUTURE (in Proyecto de Procedimento Civil, Montevideo, s/ed., 1945, p. 37), para quem aquele que dispe do tempo tiene en la mano las cartas de triunfo. Quien no puede esperar, se sabe de antemano derrotado (...). Ou seja, qualquer noo que se possa ter de tempo, certo que, no processo, tempo significa Justia. In TUCCI, Jos Rogrio Cruz e. Ob. Cit. P. 111.

De quem depende, muitas vezes, o xito das nomeaes e promoes internas. Apenas como exemplo: o Presidente da Repblica quem indica o candidato vaga no Supremo Tribunal Federal, que, antes de nomeado, precisa ser sabatinado e aprovado no Senado Federal.

In HERKENHOFF, Joo Baptista. Direito e Utopia. So Paulo: Editora Acadmica, 1990, Pg. 36.

Apesar da instituio do Conselho Nacional do Ministrio Pblico.

Por exemplo, destinao de efeito vinculante s smulas do STF, e para decises de mrito em Aes Indireta e Declaratria de Constitucionalidade, e, no mbito de suas competncias, para decises de Conselhos Superiores.

In ROCHA, Jos de Albuquerque. Ob. Cit. P. 39.

TJ/CE

In ROCHA, Jos de Albuquerque Ob. Cit. Pg. 52.

In ROCHA, Jos de Albuquerque Ob. Cit. Pg. 53.

In ROCHA, Jos de Albuquerque Ob. Cit. Pg. 54.

In ROCHA, Jos de Albuquerque Ob. Cit. Pg. 54.

STF

ADI

Basta citar deciso liminar do Supremo Tribunal Federal, proferida no ltimo dia 6 de dezembro, nos autos da ADI n. 3823-1/DF, impetrada pela Procuradoria Geral da Repblica contra o CNJ, tornando sem efeito Resoluo/CNJ n. 24, de 24.10.06, que revogava o art.2 da Resoluo/CNJ n.3, que disciplinava o art. 93, inciso II, da CF/88 (com redao da EC 45/04) garantindo a ininterruptividade dos servios jurisdicionais, vedando, portanto, frias coletivas nos Tribunais. Segundo a Relatora Ministra CARMEM LCIA, No tem o Conselho Nacional de Justia ou qualquer outro rgo, do Judicirio ou de qualquer outro poder, competncia para tolerar, admitir ou considerar aceitvel prtica de inconstitucionalidade (In http://conjur.estadao.com.br/static/text/50806,1)

LOMAN

Leia-se, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia dos atos administrativos.

MP

Ordem dos Advogados do Brasil

STJ

CF/88. Art. 92: So rgos do Poder Judicirio: I o Supremo Tribunal Federal; I-A O Conselho Nacional de Justia; II o Superior Tribunal de Justia....

O que no poderia ser diferente, visto que o STF a instncia jurisdicional mxima do pas, e o CNJ no detendo competncia jurisdicional, possuindo to-somente atribuio administrativa, deve posicionar-se abaixo da Corte Suprema.

Segundo se disse, em 13/04/05, quando o STF julgou improcedente a ADI n. 3367-1/DF, proposta pela Associao dos Magistrados Brasileiros.

Inclusive da Associao dos Magistrados Brasileiros registrada na ADI 3.367-1/DF

CF/88. Art. 103-B: O Conselho Nacional de Justia compe-se de quinze membros..., sendo: (...) IV um desembargador de Tribunal de Justia, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; V um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal (...);

CF/88, art. 93, XII a atividade jurisdicional ser ininterrupta, sendo vedado frias coletivas nos juzos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que no houver expediente forense normal, juzes em planto permanentes;

Importante ressalvar que, posteriormente, o CNJ refluiu de sua orientao de pr trmino s frias coletivas forenses, no que foi pronta e corretamente repelido pelo STF. Vide nota 35.

In http://conjur.estadao.com.br/static/text/51048,1

Concluso do autor certamente no unnime no meio jurdico.

CF/88. Art. 60: No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir:

IV Os direitos e garantias individuais;

Art. 109, V-A, da CF/88.

In TEIXEIRA FILHO, Manoel Antnio. Breves comentrios Reforma do Judicirio com nfase Justia do Trabalho; Emenda Constitucional n. 45/2004. So Paulo: LTr, 2005. P. 119

MP

Art. 109, V-A, da CF/88.

Diz-se exclusividade porque, dadas as novas condies estatudas no 2. do art.144 da CF/88, que requer comum acordo entre as partes para o ajuizamento de dissdio