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A Cultura do Alho Classificação Taxonômica A correta localização do gênero Allium entre as famílias botânicas foi, durante muito tempo, motivo de polêmica. Pesquisadores americanos consideravam esse gênero pertencente à família Amaryllidaceae, ao passo que autores europeus o consideravam pertencente à família Liliaceae. Botânicos europeus consideram que os conceitos mais modernos e a grande quantidade de espécies bem diferenciadas oriundas do gênero Allium motivaram a criação da família Alliaceae, a qual o alho pertence atualmente. Família: Alliaceae (As aliáceas abrangem as seguintes culturas condimentares: cebola, alho, cebolinha e alho- porró. Segundo pesquisadores europeus, há mais de 500 espécies pertencentes ao gênero Allium.) Gênero: Allium Espécie: sativum Nome científico: Allium sativum L. Origem A espécie cultivada (Allium sativum L.) originou-se da Ásia Central e foi introduzida na Costa do Mar Mediterrâneo em eras pré-históricas, sendo, portanto, uma das espécies cultivadas mais antigas. Trata-se de um condimento utilizado quase universalmente, também sendo importante na cozinha brasileira.

A Cultura Do Alho

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A Cultura do Alho

Classificação Taxonômica

A correta localização do gênero Allium entre as famílias botânicas foi, durante muito tempo, motivo de polêmica. Pesquisadores americanos consideravam esse gênero pertencente à família Amaryllidaceae, ao passo que autores europeus o consideravam pertencente à família Liliaceae. Botânicos europeus consideram que os conceitos mais modernos e a grande quantidade de espécies bem diferenciadas oriundas do gênero Allium motivaram a criação da família Alliaceae, a qual o alho pertence atualmente.

Família: Alliaceae (As aliáceas abrangem as seguintes culturas condimentares: cebola, alho, cebolinha e alho-porró. Segundo pesquisadores europeus, há mais de 500 espécies pertencentes ao gênero Allium.)

Gênero: Allium

Espécie: sativum

Nome científico: Allium sativum L.

Origem

A espécie cultivada (Allium sativum L.) originou-se da Ásia Central e foi

introduzida na Costa do Mar Mediterrâneo em eras pré-históricas, sendo, portanto, uma

das espécies cultivadas mais antigas. Trata-se de um condimento utilizado quase

universalmente, também sendo importante na cozinha brasileira.

Importância Econômica

Segundo a FAO - Food Agriculture Organization (2007), entre 2003 e 2005 a

produção mundial de alho passou de 12,40 para 14,59 milhões de toneladas e a área

cultivada de 1.130 para 1.135 milhões de hectares. Esse volume representa um

acréscimo de produção da ordem de 17,6% no período. Houve também aumento na

produtividade média, que passou de 10,97 t.ha-1 para 12,85 t.ha-1.

A China, que se destaca como o maior produtor mundial, foi responsável por

cerca de 76% da produção no ano de 2005, sendo também o país que apresenta a maior

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superfície cultivada com a cultura. O Brasil situou-se em 2005 como o décimo segundo

produtor mundial, com uma área de 10.503 ha produzindo 88.471 t, cuja produtividade

média foi de 8,42 t.ha-1. Nesse período, o País apresentou produtividade média superior

à obtida pela Espanha (8,07 t.ha-1) e Rússia (8,33 t.ha-1), países esses tradicionais

produtores de alho. Em termos de produtividade, entre os países que apresentaram as

maiores áreas de plantio, sobressaiu os Estados Unidos, com 18,50 t.ha-1 nos últimos

três anos.

Na América do Sul, em 2005, a Argentina foi o maior produtor, seguido pelo

Brasil, Peru e Chile, com produtividade média de 10,19 t.ha-1.

Entre 2003 e 2005 o Brasil registrou uma redução gradativa na produção,

passando de 120.489 para 88.471 toneladas, o que representa um decréscimo da ordem

de 26,57%. Essa redução se deve à falta de uma política consistente para o setor,

sobretudo com relação às importações. Porém, com relação à produtividade média

nacional, observou-se uma grande evolução, já que esta na década de 60 era de 2,48

t.ha-1, passando na década de 80 para 3,89 t.ha-1, ou seja, apresentando aumento de

56,85%. Mais recentemente, nos anos de 2003 a 2005, situou-se na média de 8,46 t.ha -1,

que comparativamente à década de 60, representa um incremento de 241,13%. Ainda

salienta-se que no período de 1961 a 2005 verificou-se uma diminuição de 10,37% na

área cultivada. O incremento progressivo da produtividade brasileira deve-se,

principalmente, à pesquisa tecnológica, que ano após ano têm permitido a obtenção de

novos recordes em produtividade, além da dedicação dos alicultores na adoção dessas

tecnologias. Mais recentemente, o uso de cultivares nobres, livres de vírus, obtidas

através de cultura de meristemas, aliadas às tecnologias já disponíveis, contribuíram de

forma relevante no incremento da produtividade média nacional, principalmente nas

Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além da melhoria significativa na qualidade do

bulbo, podendo vislumbrar a médio prazo a autossuficiência nacional do produto.

Dentre os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul apresentou a maior área

cultivada (3.249 ha) no ano de 2005. No entanto, o Estado de Minas Gerais, apesar de

apresentar a segunda maior área cultivada (2.161 ha), registrou a maior produção no

país (25.834 t), em função, principalmente, da obtenção da maior produtividade dentre

todos os estados (11,95 t.ha-1). Dessa forma, os estados maiores produtores de alho no

Brasil são Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, Santa Catarina, Bahia e Paraná.

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A oferta nacional de alho, antes concentrada na Região Sul, apresenta-se

atualmente com uma melhor distribuição. Com exceção da Região Norte, todas as

demais cultivam essa olerácea. As regiões Sul e Sudeste são as principais produtoras de

alho, respondendo pela sua quase totalidade, sendo a maior participação apresentada

pela Região Sul que, em 2005, respondeu por 41,09% da produção. Todavia, dentre as

regiões de cultivo, a Região Sul apresentou a menor produtividade média (6,51 t.ha -1). A

Região Centro-Oeste tem despontado nos últimos anos, com maior crescimento em

produtividade.

Dentre os principais municípios produtores nacionais, Rio Paranaíba-MG,

Curitibanos-SC e Cristalina-GO merecem destaque, por apresentarem as maiores áreas

cultivadas com alho, 900, 850 e 520 ha, para uma produção de 12.600, 7.650 e 5720

toneladas, respectivamente. Na Região Sul, São Marcos-RS sobressai como o maior

produtor, com 360 ha, enquanto na Região Nordeste, Novo Horizonte-BA desponta com

a maior área cultivada (220 ha). Em termos de produtividade média, Araguari-MG e

São Gotardo-MG destacam-se com produtividades acima da média mundial, 14 e 18

t.ha-1, respectivamente.

O Brasil, apesar de possuir condições edafoclimáticas favoráveis à cultura e

mão-de-obra abundante, ainda não alcançou a autossuficiência na produção de alho,

necessitando de importações. Apresenta uma demanda de aproximadamente 150 mil

toneladas anuais, distribuídas entre 10 e 12 mil toneladas de consumo mensal, acrescida

de 25 a 30 mil toneladas anuais utilizadas para o plantio da safra subsequente. Com

relação às importações nacionais de alho, o mercado argentino e chinês são os nossos

principais parceiros comerciais. As importações brasileiras têm apresentado aumentos

significativos nos últimos anos, alcançando em 2005 um total de 132.000 toneladas.

Desse total, o mercado chinês foi responsável por 54,13% do volume importado no ano.

O mercado brasileiro, nos anos de 2003 e 2005, consumiu um total de 212.053 e

221.051 t de alho (produção nacional mais importação), respectivamente. Retirando-se

30.000 t para plantio, obtém-se um consumo anual de 182.053 a 191.051 t nesse

período. Em termos percentuais verifica-se que houve um decréscimo na produção

nacional no período de 2003/2005, provavelmente devido ao incremento no produto

importado, que em 2003 foi da ordem de 50,30% do total consumido no país e em 2005

alcançou 69,40%.

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Seria conveniente o estabelecimento tanto de políticas de mercado quanto de

quotas para aquisição de produto importado nos períodos de maior concentração da

comercialização do alho nacional. Além disso, devem ser cumpridas as regras de

mercado estabelecidas na Resolução 41 do Ministério do Comércio Exterior, de 19 de

dezembro de 2001, que fixou como direito antidumping a taxa de US$ 4,80/caixa de 10

Kg do produto importado da China. No entanto, a importação brasileira é uma realidade

e o volume de negócios deverá se expandir por força de acordos bilaterais entre

governos, os quais objetivam equilibrar a balança comercial através da entrada e saída

de produtos e serviços.

Propriedades Químicas e Valor Nutricional

O alho é um dos principais condimentos utilizados na culinária brasileira e de

vários países. Apesar de ser utilizado como condimento e, por este motivo, em

quantidades pequenas, traz muitos benefícios à saúde.

Apresenta propriedades terapêuticas bem conhecidas na prevenção e tratamento

de diversas doenças; é rico em tiamina, riboflavina, niacina e ácido ascórbico, sendo

fonte de calorias, glicídios, proteinase e lipídeos, contendo ainda traços dos íons cálcio,

fósforo e ferro.

É classificado como um alimento energético e têm nos compostos sulfurados

voláteis, alicina e garlicina, os responsáveis pelo odor característico. Estes apresentam

predominantemente ação bacteriostática, sendo eficazes no controle de bactérias gram-

positivas e gram-negativas, causadoras de doenças no aparelho respiratório e

gastrointestinal. Outros efeitos benéficos sobre o organismo humano vêm de sua ação

como digestivo, diurético, expectorante, anti-séptico das vias digestivas, anti-asmático,

vermífugo, vesicante e febrífugo. Atribui-se ao germânio, presente em sua constituição

química, ação anti-cancerígena.

Descrição da planta

A planta é herbácea, apresentando cerca de 50 cm de altura ou mais, dependendo

da cultivar. Possui folhas lanceoladas, alongadas e muito estreitas, com limbo medindo

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de 0,20 a 0,30 m de comprimento, sendo sua superfície lisa, com diferentes graus de

cerosidade. As bainhas das folhas formam um pseudocaule curto e se implantam em um

caule pequeno e achatado, situado na base da planta. O caule verdadeiro é um disco

comprimido, ponto de partida de folhas e raízes. As raízes são do tipo fasciculado,

pouco ramificadas, podendo atingir de 0,40 a 0,82 m de profundidade. Sob condições

climáticas favoráveis, as gemas do caule desenvolvem-se, formando cada uma um

bulbilho que, em seu conjunto, formam o bulbo.

A parte utilizável é um bulbo composto por bulbilhos, os quais são ricos em

amido e substâncias aromáticas, de valor condimentar, medicinal e nutricional. O bulbo

é arredondado, sendo às vezes levemente periforme. O número de bulbilhos que

integram o bulbo é muito variável, sendo esta uma importante característica que

diferencia as cultivares. Os bulbilhos são formados pela folha de proteção, folha de

reserva e folha de brotação. A folha de reserva é rica em componentes nutricionais e

medicinais, de grande importância na alimentação humana, enquanto que a folha de

brotação caracteriza-se por apresentar uma gema capaz de originar uma nova planta

após a brotação.

Os bulbilhos têm, geralmente, morfologia ovóide arqueada, falciforme, sendo

envoltos por duas folhas protetoras (brácteas). Tais brácteas são de coloração branca ou

arroxeada. Os bulbilhos estão ligados ao caule pela base, estando recobertos por várias

folhas que, em conjunto, constituem a capa (túnica). As túnicas são delgadas, de

coloração branca, arroxeada ou amarronzada, e se tornam quebradiças quando secas,

possibilitando assim um preparo para a embalagem e a venda.

Algumas cultivares, por influência de baixas temperaturas, chegam a florescer e

produzem umbelas num escapo floral longo, rasteiro e flexível. As flores, em

determinado momento do ciclo, caem, e em seu lugar formam-se numerosos pequenos

bulbilhos. Alguns poucos clones férteis, encontrados na Ásia Central Soviética,

apresentam reduzido número de sementes formadas nas umbelas e baixa taxa de

germinação. As formas cultivadas de alho desenvolveram-se, provavelmente, a partir de

espécies selvagens. Pode-se supor, no entanto, que no centro de origem do alho, onde se

situam mais de 600 espécies do gênero, distribuídas no Afeganistão, Irã e União

Soviética, existem formas ou ecótipos de alho com diferentes níveis de sexualidade,

chegando, portanto, a produzir sementes. Os povos primitivos daquelas regiões podem

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ter selecionado ou preferido tipos exclusivamente assexuais, gerando as formas

cultivadas e estas devem ter sido disseminadas para outros continentes. No Brasil,

raramente ocorre o pendoamento da planta de alho. Nas estepes asiáticas, sob baixa

temperatura, há a emissão do escapo floral, terminando em uma inflorescência do tipo

umbela simples. Mesmo quando floresce, não há formação de sementes botânicas. Em

condições experimentais, todavia, têm sido obtidas sementes botânicas e plântulas, o

que pode favorecer o melhoramento genético desta espécie propagada vegetativamente.

O ciclo da cultura pode ser dividido em três fases bem distintas:

1ª fase: da emergência até a completa assimilação ou desaparecimento da folha de

armazenamento;

2ª fase: emissão das folhas novas até o início do estímulo (frio) para a formação do

bulbo;

3ª fase: desenvolvimento dos bulbilhos, maturação do bulbo e colheita.

A duração relativa de cada uma das fases obedece a proporção de 1:2,5:2,5.

Assim, por exemplo, para uma cultivar de ciclo de 150 dias a proporção será de 24 + 63

+ 63 dias para cada fase. Essa relação varia em função da cultivar escolhida, da época

de plantio, do fotoperíodo, da temperatura, etc.

Exigências Climáticas

O alho é originário de zonas temperadas da Ásia, exigindo baixas temperaturas

para que ocorra a bulbificação e sendo bastante tolerante à geadas.

O fotoperíodo e a temperatura são fatores limitantes que determinam a

bulbificação do alho. Esses fatores climáticos condicionam, portanto, a produtividade e

o resultado econômico final da cultura.

Naturalmente, fotoperíodo e temperatura podem interagir. Com isso, as baixas

temperaturas exigidas para a diferenciação das gemas axilares e o início da bulbificação

podem ser, em parte, compensadas em condições de fotoperíodos acima dos exigidos

pela cultivar adotada. Por outro lado, o fotoperíodo mínimo exigido pode ser

compensado em condições de temperatura abaixo da exigida pela cultivar, até certo

limite.

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O alho é planta bienal, exigindo frio para florescer. Entretanto, comporta-se

como uma cultura anual, apresentando apenas a etapa vegetativa de seu ciclo. É planta

de dia longo para bulbificar e de dia curto para florescer, mesmo que o pendoamento

raramente ocorra. É uma das poucas culturas oleráceas em que o principal fator

limitante é o fotoperíodo, que deve ser maior que o valor crítico da cultivar. Satisfeitas

as exigências fotoperiódicas, ocorre a bulbificação e o desenvolvimento dos bulbos sob

temperatura adequada.

A resposta do alho ao comprimento do dia constitui-se em um dos fatores que

mais condicionam a escolha de épocas de plantio e cultivares. A folha é o órgão de

recepção fotoperiódica. Um estímulo é translocado da folha para o órgão de resposta

(gemas axilares presentes no caule), que irá entumescer. O fotoperíodo deve ser maior

que o valor crítico da cultivar utilizada para que ocorra bulbificação. Assim, alguns

clones somente bulbificam sob dias longos, sendo tardios de ciclo, e outros exigem dias

menores, apresentando-se mais precoces.

Pesquisas realizadas com as cultivares Amarante (de dias intermediários) e

Cateto Roxo (de dias curtos) demonstraram que fotoperíodos mais longos antecipam o

início de formação dos bulbos, reduzindo o ciclo da cultura, e que quanto maior for o

fotoperíodo maior será a relação entre a matéria seca dos bulbos e a matéria seca da

parte aérea. Para estas cultivares o fotoperíodo crítico é inferior a 09 horas. Sob

condições de fotoperíodo insuficiente ocorre crescimento vegetativo, sem haver

formação normal de bulbos. Cultivares argentinas vegetam vigorosamente, mas não

bulbificam sob as condições climáticas do centro-sul, devido seu fotoperíodo e

temperatura mínimas não serem satisfeitos. Com isso, cultivares como Chonan,

Quitéria, Roxo Pérola de Caçador, Jonas e Ito, que exigem fotoperíodo superior a 14

horas, somente bulbificam nas condições climáticas do Sudeste, Centro-Oeste e

microregiões do Norte e Nordeste quando os bulbos são submetidos à frigorificação em

pré-plantio.

A planta é originária de regiões asiáticas de clima extremamente frio, suportando

baixas temperaturas, inclusive geadas. É bem mais exigente em frio que a cebola,

segundo Filgueira, sendo o calor um segundo fator limitante da cultura. Em razão das

exigências termoclimáticas, a planta tem condições de desenvolver-se apenas durante o

outono-inverno. Portanto, as cultivares de ciclo precoce e mediano são plantadas de

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fevereiro a maio. As cultivares tardias não bulbificam nas condições do centro-sul. Em

decorrência da estreita época de plantio, no meio do ano ocorre um período de

entressafra do produto, ocasionando preços mais elevados.

A bulbificação do alho é influenciada pelo frio ao qual as gemas vegetativas

dormentes dos bulbilhos e as plantas foram expostas. Plantas na fase inicial de

crescimento vegetativo devem ser submetidas a temperaturas amenas. Durante a

bulbificação e o posterior desenvolvimento dos bulbos as temperaturas devem ser

menores. Naturalmente, fotoperíodo e temperatura interagem. Na fase de

amadurecimento dos bulbos um clima seco e quente é mais favorável, também

facilitando a colheita.

Temperaturas constantes acima de 20 °C acarretam bulbificação fraca e acima de

30 ºC praticamente não há formação de bulbos, mesmo se o fotoperíodo for adequado.

Temperaturas mais baixas aumentam o número de bulbilhos por bulbo e provocam o

aparecimento de maior número de bulbilhos aéreos nas hastes. Para um bom

crescimento vegetativo e boa produtividade, o alho necessita de temperaturas amenas

(18 a 20 ºC) e fotoperíodo decrescente na fase inicial do ciclo, temperaturas mais baixas

(10 a 15 °C) e fotoperíodo crescente na fase intermediária e temperaturas mais altas (20

a 25 ºC) e fotoperíodo longo na fase final.

Cultivares

Sendo o alho cultivado exclusivamente por propagação vegetativa, o fator mais

intrigante é a existência de inúmeras cultivares dispersas em todo o mundo, portadoras

dos mais diversos caracteres, tanto de parte aérea quanto de bulbos. Estas cultivares,

provavelmente, foram se originando através dos tempos, por mutações somáticas e

seleção cuidadosa de agricultores mais observadores. Por isso existem hoje cultivares

que diferem entre si quanto ao tamanho dos bulbos e bulbilhos, número de bulbilhos,

coloração da túnica (bulbo) e película (bulbilho), florescimento, altura do escapo ou

haste floral, número e tamanho de bulbilhos presentes na haste floral e na umbela,

rendimento, ciclo e resistência a pragas e doenças. Entretanto, existe a possibilidade de

parte da variação encontrada na espécie ter originado quando o alho e seus ancestrais

apresentavam ainda ciclo sexual completo.

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A definição correta das cultivares de alho no Brasil é dificultada pelas diferentes

denominações regionais, observando-se com freqüência caracterizações dúbias do

mesmo material.

Segundo Menezes Sobrinho (1986), na década de 1980 existiam apenas 12

cultivares distintas (clones) em produção comercial no Sudeste e Sul do Brasil. Essa

base clonal tão estreita é que produz a confusa identificação das cultivares, até porque a

essa base corresponde um número expressivo de denominações, adotados sempre

conforme a região de origem e muitas vezes rebatizadas quando introduzidas em outras

regiões.

As cultivares de alho atualmente plantadas no Brasil podem ser reunidas em três

grupos, conforme a duração do ciclo e exigências fotoperiódica e de temperatura. A

escolha de uma cultivar – um ponto crítico na cultura – deve ser criteriosamente

efetuada considerando tais aspectos.

Cultivares precoces: do plantio do bulbilho até a maturação do bulbo o ciclo é de 4

meses, ou pouco mais longo. São as cultivares menos exigentes em fotoperíodo e frio,

apresentando larga adaptação ao cultivo em regiões brasileiras de latitudes

diferenciadas. Os bulbos apresentam grande número de bulbilhos, coloração externa

branca ou arroxeada, menor conservação pós-colheita e menor valor comercial. São as

cultivares Branco Mineiro, Cateto Roxo, Juréia e Peruano. A cultivar Cateto Roxo, por

apresentar bulbilhos roxos e rusticidade, pode ser uma boa alternativa para pequenos e

médios produtores e para o cultivo orgânico, principalmente quando proveniente de

cultura de tecidos e visando mercados menos exigentes.

Cultivares de ciclo mediano: o ciclo é igual ou ligeiramente superior a 5 meses. São

cultivares um pouco mais exigentes em fotoperíodo e frio, com adaptação regional mais

restrita. O bulbo apresenta menor número de bulbilhos, os quais são mais graúdos,

apresentando coloração externa arroxeada, possuindo melhor conservação pós-colheita

e alcançando melhor cotação comercial. Como exemplos tem-se as cultivares Lavínia,

Gigante Roxo, Gigante Curitibanos, Gravatá e Amarante, que devido ao formato

ovalado dos bulbos são classificados como “semi-nobres”.

Cultivares tardias (nobres): o ciclo é substancialmente mais longo, sendo de 6 meses ou

superior. São aquelas cultivares mais exigentes em fotoperíodo (mínimo de 13 horas) e

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frio, produzindo bulbos no extremo sul. Somente podem ser plantadas no centro-sul

aplicando-se a vernalização, que altera as exigências climáticas e reduz o ciclo. Os

bulbos caracterizam-se por apresentar bulbilhos graúdos e em pequeno número,

coloração externa esbranquiçada, alta capacidade de conservação e obtenção da mais

alta cotação comercial, devido à qualidade, comparável à do alho argentino. São

exemplos as cultivares ditas “nobres”: Chonan, Roxo-Pérola-de-Caçador, Caçador 30,

Caçador 40, Quitéria, Quitéria 595, Contestado, Contestado 12, Jonas e Ito.

O alho é também classificado ou dividido em dois grandes grupos: alho nobre e

alho comum. Os alhos pertencentes ao grupo nobre possuem cabeça redonda com

bulbos uniformes e grandes e, consequentemente, com poucos bulbilhos, não chegando

a vinte. Apresentam ainda túnica branca, película de cor rósea ou roxa e são suscetíveis

ao pseudoperfilhamento. A cultivar Chonan é considerada a precursora das cultivares de

alhos nobres brasileiras. Foi identificada em uma coleção de cultivares de alho mantida

por um técnico agrícola imigrante japonês, Takashi Chonan. Essa cultivar de alho

possui de 8 a 10 bulbilhos grandes e roxos, sendo esses distribuídos em uma coroa

perfeita e sem “palitos” no miolo. Os bulbos são compactos e protegidos por películas

ou túnicas de cor branco-pérola. Já os alhos comuns caracterizam-se por possuírem

bulbos normalmente ovalados, túnica branca com película branca a levemente rosada.

Vernalização

Quando se trata de adaptação de cultivares a regiões onde as condições

termofotoperiódicas não satisfazem as exigências da planta, a vernalização pré-plantio

dos bulbilhos é uma técnica imprescindível.

No centro-sul o fotoperíodo e a temperatura inadequados impediam a produção

de cultivares tardias, o chamado “alho nobre”. Pesquisadores brasileiros adaptaram uma

técnica, conhecida como vernalização pré-plantio, que resolveu esse problema. Esta

técnica vem ajudando na expansão da área de cultivo de alho, até então restrita à região

fria do Sul do Brasil, para regiões de temperaturas mais elevadas, como o Centro-Oeste,

onde cultivares de maior cotação comercial podem ser utilizadas.

A técnica consiste em colocar os bulbos inteiros das cultivares Chonan, Roxo-

Pérola-de-Caçador e Quitéria em câmara fria sob 3-4 ºC e umidade relativa de 70-80%.

O período mais adequado varia de 40 a 55 dias, dependendo do frio na região de origem

Page 11: A Cultura Do Alho

do alho planta e também das temperaturas que ocorrerão no campo. Os bulbos

vernalizados são retirados das câmaras às vésperas do plantio, que é efetuado ao longo

do mês de maio, possibilitando que a planta seja submetida ao frio invernal. O bulbo

vernalizado não deve permanecer por mais de seis dias em temperatura ambiente, o que

provoca a desvernalização.

A vernalização pré-plantio estimula o acúmulo de hormônios (auxinas,

giberelinas e citocininas) durante o período de tratamento, modificando totalmente o

balanço hormonal, que inclui o aumento de giberelinas livres e de citocininas, levando o

bulbilho à brotação. Essas mudanças químicas são favorecidas pelas baixas

temperaturas e estimulam alterações bioquímicas e morfológicas. As alterações

morfológicas estão relacionadas às exigências fotoperiódicas dessas cultivares, que são

alteradas com a vernalização.

Em regiões altas, como Anápolis-GO, São Gotardo-MG e Piedade-SP,

aplicando-se essa técnica obtêm-se bulbos aos 110-140 dias, de qualidade comparável à

do alho argentino. Outra vantagem da vernalização é a antecipação da época de

colocação do produto no mercado, pois enquanto o alho importado começa a ser

disponibilizado normalmente em dezembro, o vernalizado pode começar a ser vendido

em agosto-setembro, conseguindo melhores preços.

Entretanto, a vernalização prejudica as cultivares de ciclo precoce e mediano,

não devendo ser aplicada. A vernalização é uma tecnologia de custo elevado.

Época de Plantio

As cultivares existentes diferem entre si quanto às exigências ao fotoperíodo,

permitindo assim uma certa flexibilidade quanto à época de plantio. O plantio

antecipado de alho vernalizado, realizado em fevereiro e março, além de plantios

realizados em abril, possibilita maior oferta do alho nobre no mercado nacional.

O plantio tardio, por sua vez, favorece o ataque de doenças como a ferrugem,

que encontra condições favoráveis de temperatura logo no início do desenvolvimento

das plantas. Além disso, fará coincidir a colheita com o período chuvoso, prejudicando a

capacidade de conservação dos bulbos.

Page 12: A Cultura Do Alho

Em localidades baixas e quentes tem-se observado que cultivares “semi-nobres”

em plantio tardio em maio produzem bem, possivelmente devido às temperaturas mais

amenas do outono-inverno. Em altitudes superiores a 800 m a melhor época de plantio

se estende de fevereiro a abril, dependendo da cultivar. Para a região de Sete Lagoas-

MG, por exemplo, as melhores épocas de plantio para a cultivar Amarante vai da

segunda quinzena de março à primeira quinzena de abril.

Algumas cultivares “semi-nobres” permitem o plantio antecipado em regiões

mais altas e frias. Quando bem conduzido e sob condições climáticas favoráveis, o

plantio antecipado proporciona a colheita mais cedo e, portanto, a obtenção de melhores

preços. Entretanto, sob condições de alta umidade aumentam os riscos de algumas

doenças e a necessidade de aplicação de agrotóxicos.

Implantação da Cultura

Preparo do Solo

O desenvolvimento adequado das plantas de alho e a facilidade de operações

inerentes à cultura estão diretamente ligados ao bom preparo do solo, que deve ser arado

e gradeado. No caso do uso de herbicidas, a gradagem deve ser repetida para eliminação

de torrões. A aração deve ser profunda para incorporação do calcário.

As plantas desenvolvem-se melhor em solos leves e ricos em matéria orgânica.

Solos muito argilosos deformam os bulbos e dificultam a colheita. Solos arenosos não

possuem suficiente poder de retenção da umidade e nutrientes.

Normalmente o alho é cultivado nos mais diversos tipos de solo, desde que

tenham boa drenagem e facilidade para irrigação. Em regiões chuvosas é melhor não

plantar nas baixadas, pois os solos são difíceis de serem trabalhados sob chuvas

constantes.

O plantio pode ser feito em Latossolos, em encostas e pontos mais altos com o

uso de irrigação por aspersão. Solos turfosos de boa qualidade, porosos e de boa

drenagem também podem ser usados.

O alho é plantado normalmente em canteiros com no máximo 1 m de largura. No

caso de plantio mecanizado a largura deve ser adaptada à bitola das máquinas. A altura

Page 13: A Cultura Do Alho

dos canteiros depende da umidade no local do plantio. Nas baixadas úmidas, esses

devem ser mais elevados, até 20 cm, para evitar o encharcamento.

Algumas regiões que adotam alta tecnologia, como São Gotardo-MG, aboliram

o uso de canteiros, deixando o solo em condições de plantio com o uso de enxadas

rotativas.

Na tabela encontram-se resumidas as operações de preparo do solo.

Densidade de plantio e semeadura

Há milênios, o agricultor propaga o alho por meio do plantio de bulbilhos. A

qualidade do material utilizado no plantio afeta, substancialmente, o desempenho da

cultura. Geralmente o alho-semente representa 30-50% do custo global da produção.

Plantam-se 500-700 Kg.ha-1 de bulbilhos selecionados, dependendo da cultivar e do

espaçamento, devendo-se adquirir 30% a mais, em peso, de bulbos não debulhados

meses antes da época de plantio.

Tradicionalmente, muitos olericultores reservam para plantio os bulbos menores,

que, debulhados, resultam em bulbilhos pequenos. No entanto, pesquisadores brasileiros

têm demonstrado que o tamanho do alho-semente afeta a produtividade e o tamanho dos

bulbos colhidos. Em razão disso, recomendam-se bulbilhos com peso igual ou superior

a um grama, ressaltando-se que a maior reserva de nutrientes favorece a planta.

Page 14: A Cultura Do Alho

Definitivamente, os bulbilhos miúdos e os chamados “palitos” não são um bom material

de plantio.

O estado fitossanitário do material de plantio deve ser considerado, já que o

alho-semente pode veicular vírus, fungos, nematóides e ácaros. Os bulbilhos para o

plantio deverão ser adquiridos de produtores idôneos, que cultivam alho em áreas

isentas de podridão branca e outras doenças transmissíveis via bulbilho, devendo o

material estar completamente curado. Não havendo disponibilidade de alho-semente

certificado, o olericultor deve reservar bulbos de qualidade obtidos de culturas de alta

sanidade. Tais bulbos são armazenados em local ventilado e seco, devendo ser

debulhados 2-3 semanas antes do plantio, não antes, já que a debulha favorece o

chamado “chochamento”. Os bulbilhos são classificados pelo tamanho, eliminando-se

aqueles chochos ou com outros danos. Tratamentos contra fitopatógenos, por meios

químicos ou físicos somente se justificam se houver dúvidas quanto à fitossanidade.

A padronização dos bulbilhos uniformiza a emergência, o desenvolvimento e a

maturação das plantas, inclusive o tamanho dos bulbos produzidos, além de melhorar a

eficiência dos tratos culturais e facilitar a colheita. Portanto, deve-se fazer a

classificação do alho-semente em pré-plantio. A classificação dos bulbilhos pelo

tamanho é muito facilitada pelo uso de peneiras especiais, construídas com arame

“alambrado”. As medidas externas das peneiras podem ser de 50 x 50 x 15 cm. Os

espaços entre as malhas, em cada uma das quatro peneiras, são de 15 x 25, 10 x 20, 8 x

17 e 5 x 17 mm. Utilizando tais peneiras obtêm-se cinco classes de bulbilhos para

plantio, que devem ser plantadas em talhões distintos. Essas peneiras têm sido

produzidas em escala comercial por firmas localizadas em Belo Horizonte, orientadas

por extensionistas rurais.

O bulbilho é plantado inteiro, não havendo vantagem em se cortar a ponta, como

comprovam dados de pesquisa. Pode ser plantado com o ápice voltado para cima, como

o fazem alguns produtores, alegando a obtenção de melhores bulbos, ou simplesmente

arremessado ao sulco de plantio. O grosso da produção brasileira ainda é obtido pelo

plantio manual. A profundidade do sulco de plantio deve ser suficiente para promover a

cobertura dos bulbilhos plantados, efetuada com cerca de 2 cm de terra.

O plantio pode ser feito manual ou mecanicamente, no nível do solo ou em

canteiros (mais comum). O plantio manual consome 370 horas de serviço por hectare

Page 15: A Cultura Do Alho

enquanto no plantio mecânico com o emprego de uma plantadeira-adubadeira de quatro

linhas, tracionada por trator, planta-se quatro fileiras simultaneamente, gastando quatro

horas por hectare para abrir os sulcos de plantio, distribuir e incorporar os adubos e

distribuir e cobrir os bulbilhos. Já com o emprego de uma plantadeira-adubadeira de

duas linhas, tracionada por trator, gasta-se 32 horas por hectare para se realizar a

abertura de sulcos de plantio, distribuição e incorporação de adubos e distribuição e

cobertura dos bulbilhos.

A densidade de plantio influi diretamente na produtividade e no tamanho dos

bulbos. Atualmente a maior parte dos plantios comerciais é efetuada em canteiros

largos, comportando 5-6 fileiras longitudinais, sendo irrigados por aspersão. O ideal é

obter 500.000 a 650.000 plantas por hectare, como se utiliza no Chile e Califórnia,

resultando em produtividade elevada. Em canteiros, com plantio manual empregando-se

marcadores, o espaçamento recomendado é de 25-30 cm entre fileiras e 10 cm entre

bubilhos. Quando o plantio é realizado no nível do solo, com emprego de plantadeira-

adubadeira, recomenda-se o espaçamento de 20-25 cm entre fileiras e 8-10 cm entre

bulbilhos. Alternativamente tem sido utilizado plantio em fileiras duplas, com

espaçamento de 12 cm entre fileiras, 10 cm entre bulbilhos e 20-25 cm entre as linhas

duplas, correspondendo a uma população de 360.000 plantas.ha-1. Não há vantagem em

adotar espaçamentos maiores. Note-se que a irrigação por sulcos exige canteiros

estreitos, com 2-3 fileiras, resultando em menor aproveitamento do terreno.

Manual ou mecanicamente, a maneira mais prática de plantar é distribuir os

bulbilhos no sulco. Para saber a quantidade necessária de bulbos ou alho-semente

adotam-se os seguintes indicadores:

Cultivares que produzem bulbilhos pequenos (Branco Mineiro, Cateto Roxo,

Centenário, Dourados): 300 a 400 Kg.ha-1. Para culturas com alta tecnologia não se

recomendam mais essas cultivares.

Cultivares que produzem bulbilhos grandes (Chonan, Roxo Pérola de Caçador, Quitéria,

Caxiense, Gigante Roxo, Gravatá, Gigante Curitibanos, Amarante): 700 a 800 Kg.ha-1.

De modo mais criterioso pode-se adotar:

Bulbilhos de peneira 4 (1 g): 300 Kg.ha-1;

Page 16: A Cultura Do Alho

Bulbilhos de peneira 3 (2 g): 600 Kg.ha-1;

Bulbilhos de peneira 2 (3 g): 900 Kg.ha-1;

Bulbilhos de peneira 1 (4 g): 1200 Kg.ha-1.

Para o plantio deve-se eliminar os bulbilhos chochos, com coloração diferente,

atacados por doenças e pragas, descascados ou com algum dano e possibilidade de

disseminação de pragas e doenças. Recomenda-se fazer o tratamento de bulbilhos em

pré-plantio contra ácaros com Tiometon (Ekatin) na dose de 4 mL.L -1 de água fazendo-

se a imersão do alho debulhado durante 10 minutos. Para fungos de solo, principalmente

podridão branca, usar Iprodione (Rovral), Promicidone (Sumilex) e no caso de

Fusarium sp. utilizar Cercobin ou Benomil.

A eliminação de viroses do material de plantio, pela cultura de meristema, tem

sido praticada na França há décadas. Em países europeus os produtores vêm utilizando

esse tipo de material de plantio. No Brasil, em algumas instituições federais

(notadamente na Embrapa Hortaliças e Universidade Federal de Lavras), tem sido

conduzidas pesquisas nesse sentido. Experimentalmente, tem sido demonstrado que as

plantas resultantes são mais vigorosas, o ciclo é prolongado e a produtividade mais

elevada. Os bulbos produzidos apresentam maior tamanho e peso médio em relação ao

plantio da mesma cultivar, quando o material é proveniente do olericultor.

A partir da obtenção de material proveniente da cultura de meristema, efetua-se

inicialmente a multiplicação sob telado (um meio de impedir que os afídeos vetores

recontaminem as plantas). Quando plantado no campo esse alho-semente se mantém

altamente produtivo em culturas sucessivas por até três anos.

Dormência

Dormência, controlada por fatores endógenos, é o estado pelo qual os bulbilhos

são colocados em condições ambientais favoráveis para germinarem e não o fazem.

Neste caso, estão sendo processadas de maneira lenta, mas contínuas, reações

bioquímicas e hormonais.

O processo de dormência dos bulbilhos de alho é ainda hoje pouco conhecido,

apesar de sua grande importância na regulação de épocas de plantio, racionalização das

tarefas e escalonamento de safras. Para boa conservação dos bulbos destinados à

Page 17: A Cultura Do Alho

comercialização é desejável que a dormência se prolongue pelo maior tempo possível,

enquanto o alho-semente não deve apresentar dormência por ocasião do plantio.

Alguns estudiosos afirmam que a dormência seria controlada por substâncias

reguladoras de crescimento, as quais seriam as giberelinas, citocininas e vários

inibidores. O estabelecimento da dormência dar-se-ia por um desequilíbrio a favor dos

inibidores e a suspensão da dormência por um desequilíbrio a favor dos estimuladores.

O bulbilho de alho é formado por quatro tipos de folhas: a de proteção, de

armazenamento, de emergência e de crescimento. Após a colheita do bulbo a folha de

emergência e as folhas de crescimento permanecem estáveis por um período de tempo

característico para cada cultivar, coincidindo com o período de dormência. Este período

é interrompido quando ocorre intenso aumento da atividade de giberelina e há início de

expansão das folhas de emergência e crescimento.

Bulbilhos de um mesmo bulbo podem ser dotados de diferentes intensidades de

dormência, graças a desuniformidade da maturidade dos bulbos no campo de cultivo e

variações de tamanho de bulbilho, sendo que bulbilhos localizados mais externamente

no bulbo apresentam brotação precoce em relação aos demais.

Mudanças hormonais associadas à dormência

Sabe-se que durante o armazenamento a dormência declina à medida que se

aumenta tal período. Acredita-se que esta mudança esteja associada a mudanças

bioquímicas controladas por fitohormônios. Observa-se durante todo esse período um

balanço hormonal envolvendo principalmente giberelinas e ácido abscísico, bem como

outros promotores e reguladores.

O principal responsável pela entrada em dormência é o ácido abscísico. O

balanço entre ABA e promotores e as proporções relativas entre eles podem controlar o

início e o fim da dormência.

A transição de bulbilhos dormentes para bulbilhos em ativo crescimento é

acompanhada por um constante aumento de giberelinas, principalmente no momento de

transformação de formas confinadas em formas livres. As giberelinas seriam

responsáveis pela promoção da germinação. Trabalhos demonstram que o metabolismo

de giberelinas em órgãos armazenados é menor que o de citocininas. Estas últimas

Page 18: A Cultura Do Alho

teriam ação “permissiva”, ou seja, de anulação do efeito das substâncias inibidoras,

porém sem promover a germinação. Tudo isso sugere que o principal promotor na

superação da dormência seja a citocinina, que induziria a brotação em órgãos

dormentes. Foi verificado que em bulbos frigorificados a 4 °C durante dois meses

consegue-se rápida brotação, correlacionada com estímulo e acúmulo de citocinina.

Superação da Dormência

A quebra de dormência é de suma importância na determinação da qualidade

fisiológica dos bulbilhos e da época adequada de plantio dos mesmos. Entretanto, em

termos práticos, é inviável a determinação dos níveis de hormônios nos bulbilhos para o

acompanhamento da evolução da quebra de dormência.

Sendo assim, propõe-se a utilização do Índice Visual de Dormência (IVD). Este

é expresso pelo comprimento da folha de brotação ou de crescimento em relação ao

comprimento total do bulbilho e pela coloração da folha de crescimento. Para

determinar o IVD deve-se fazer um corte longitudinal no bulbilho, medir o

comprimento da folha de brotação e do bulbilho, multiplicando por 100 o quociente

entre os dois.

IVD = Comprimento da folha de brotação/Comprimento total do bulbilho x 100

O alho não deve ser plantado quando o IVD for inferior a 70%. O outro fator a

considerar é a coloração das folhas de brotação, que é determinado visualmente. A

coloração branca-creme é indicativo de dormência enquanto que a coloração verde

sugere que os bulbilhos estão no estádio adequado de plantio.

Diversos fatores aceleram a quebra de dormência. Dentre eles destacam-se a

imersão dos bulbilhos em água e a frigorificação em pré-plantio, por serem de mais fácil

utilização. Acredita-se que a imersão dos bulbilhos em água seja promotora da quebra

de dormência, por diminuir a resistência mecânica ao crescimento da folha de brotação.

A exposição dos bulbilhos ao fluxo de água pode levar à diminuição da concentração

dos inibidores solúveis em água, facilitando a brotação. Tanto na imersão dos bulbilhos

em água quanto na exposição dos bulbilhos ao fluxo de água verifica-se brotação

precoce, porém sem afetar o ciclo. Na frigorificação o processo estimula o acúmulo de

citocininas e giberelinas, modificando o balanço hormonal e levando o bulbilho à

brotação precoce, sendo que o melhor tratamento compreende submeter os bulbilhos a 4

Page 19: A Cultura Do Alho

ºC por 40 a 55 dias. Esse processo provoca redução no ciclo da cultura. No entanto, a

frigorificação não deve ser feita com fins específicos de quebra de dormência, mas sim

visando induzir a bulbificação em cultivares mais exigentes quanto a

fotoperíodo/temperatura. Neste caso, a quebra de dormência e redução de ciclo se

apresentam como efeito secundário, mas de grande importância econômica, permitindo

redução de 30 a 40 dias no ciclo vegetativo de cultivares como Roxo Pérola de Caçador,

Quitéria e Chonan, com interferências diretas no custo de produção e entrada do alho

mais cedo para comercialização.

Tratos Culturais

Cobertura morta

A cobertura morta do solo é uma prática cultural muito usada pelos plantadores

de alho em várias regiões brasileiras. Geralmente usa-se uma camada de 7 a 10 cm de

material palhoso após o plantio e antes da emergência.

Essa cobertura deve ser feita com o material mais prontamente disponível para o

produtor, de maneira a minimizar os custos, podendo-se utilizar restos vegetais como

capim seco sem semente (capim gordura ou meloso), palha e casca de arroz, serragem

ou bagaço de cana, palha de feijão moído, acícolas de pinus e grama batatais. É

importante ressaltar que para o emprego de cobertura morta deve-se levar em

consideração a disponibilidade e o custo do material palhoso, incluindo o transporte.

Considera-se que 300 m2 de palha de arroz, acícula de pinus ou capim seco sejam

suficientes para cobertura de um hectare.

A utilização de cobertura morta apresenta as seguintes vantagens:

Diminui a temperatura do solo, favorecendo a formação do bulbo;

Reduz a perda de água do solo por evaporação, diminuindo assim o número de

irrigações;

Diminui o impacto das chuvas intensas sobre o solo, diminuindo a desagregação na

superfície, mantém a porosidade e reduz o escorrimento superficial da água, evitando-se

a erosão;

Diminui o aparecimento de plantas daninhas (exceto tiririca e trevo);

Page 20: A Cultura Do Alho

Favorece o desenvolvimento do alho, pela maior quantidade de água disponível à planta

nas camadas superficiais.

Apesar das vantagens, sua utilização pode acarretar alguns danos:

Favorece a umidade excessiva e baixos níveis de oxigênio em solos com baixa

capacidade de drenagem;

Traz ao local dispersores de outras plantas daninhas;

Torna-se um empecilho à brotação dos bulbilhos quando estes são pequenos (possui

menor reserva) ou quando a camada é muito espessa;

Favorece o aparecimento de infecções como a podridão branca, já que mantém a

temperatura mais amena e a umidade mais constante;

Favorece o superbrotamento para cultivares sensíveis.

Irrigação

A irrigação do alho é indispensável, devido à cultura ser conduzida durante o

outono-inverno, portanto, em época seca na maior parte do território nacional, à exceção

da Região Sul. A irrigação por aspersão é a mais utilizada, apresentando certas

vantagens sobre os demais métodos, tais como boa distribuição da água sobre as fileiras

de plantas, efeito de arrefecimento no solo e na planta e certo controle sobre ácaros e

tripes. A eficiência da rega é sensivelmente melhorada pelo uso de adubação orgânica e

cobertura palhosa. O turno de rega varia de 3 a 7 dias, dependendo do estádio da

cultura, do solo e outros fatores. Outro método utilizado é o da infiltração,

principalmente em áreas que se pode utilizar gravidade, sendo mais indicado para solos

argilosos que possuam boa capacidade de retenção de umidade, o que permite intervalos

de rega de 5 a 7 dias. Entretanto, a irrigação por sulco é menos favorável, tornando-se

praticamente inviável para culturas conduzidas em canteiros, além de reduzir o número

de plantas por hectare.

O teor de água no solo é um fator que está diretamente ligado à produção e ao

superbrotamento. De modo geral, a irrigação deve ser realizada de 2 em 2 dias no início

do desenvolvimento da cultura (até 30 dias) e espaçada de 3 a 4 dias até o final do ciclo,

sendo interrompida 15 dias antes da colheita. As cultivares tardias vernalizadas

Page 21: A Cultura Do Alho

mostram-se altamente suscetíveis ao superbrotamento, ocasionado pelo excesso de água

no solo. Assim, são irrigadas moderadamente ao longo do ciclo cultural. Recomenda-se

realizar a irrigação de 2 em 2 dias na fase inicial e dos 30 dias até a diferenciação do

bulbo em bulbilhos (aproximadamente 70 dias) a irrigação deve ser mínima. Após este

período as irrigações devem ser no máximo de 7 em 7 dias, cessando cerca de 15 a 20

dias antes da colheita. Para essas cultivares, sugere-se manter o teor de água útil no solo

próximo ao limite de 60%. Deve-se proceder da mesma forma para as cultivares de

ciclo precoce. Contrariamente, as cultivares de ciclo mediano (pouco suscetíveis ao

superbrotamento) produzem melhor quando se mantêm o teor de água útil no solo de

90%, ao longo do ciclo e até as vésperas da colheita.

Controle de Plantas Invasoras

As plantas daninhas causam sérios problemas para a cultura do alho. Sua

presença interfere diretamente no cultivo, pela competição com o alho por água,

nutrientes, luz e gás carbônico, além de liberar substâncias inibidoras de crescimento.

Indiretamente, as plantas daninhas interferem como hospedeiras de grande número de

pragas e patógenos que atacam ao alho.

O crescimento vegetativo do alho é relativamente lento e a planta possui porte

baixo, folhas eretas e estreitas, que não cobrem perfeitamente o solo e facilitam a

emergência de plantas daninhas em qualquer época. Portanto, a cultura do alho é

altamente prejudicada pela competição com plantas invasoras. As principais plantas

daninhas que competem com o alho são a tiririca (Cyperus rotundus) e o trevo (Oxalis

sp.).

O período crítico abrange os primeiros 120 dias da cultura, sendo os 30 dias

iniciais muito importantes. Durante este período, as plantas daninhas afetam a

produtividade e a qualidade dos bulbos. Ao final do ciclo, não interferem

pronunciadamente na produção, mas provocando danos indiretos, por dificultarem a

colheita, aumentarem o banco de sementes no solo e disseminarem pragas e patógenos

na área.

O controle pode ser feito por cultivo mecânico (capina manual ou uso de

cultivadores), químico ou os dois de maneira integrada. Entretanto, as capinas

Page 22: A Cultura Do Alho

mecânicas tornam-se problemáticas, devido aos espaçamentos estreitos e a possibilidade

de dano aos bulbos em formação.

O ciclo longo e o hábito de crescimento da cultura exigem que várias capinas

sejam feitas para evitar que as plantas de alho sofram a interferência das plantas

daninhas. As pulverizações com herbicidas são o melhor meio de controle de plantas

daninhas.

Para a correta escolha dos herbicidas é essencial identificar as espécies de

plantas daninhas existentes na área e fazer seu mapeamento antes do preparo do solo,

principalmente no caso de utilização de herbicidas pré-emergentes. Deve-se considerar

ainda o programa de rotação de culturas, o estádio de desenvolvimento da cultura e das

plantas daninhas presentes na área, textura do solo, porcentagem de matéria orgânica,

além da eficiência, segurança e custo do produto.

O controle químico através de herbicidas só é satisfatório se usado conforme as

normas recomendadas, principalmente no que diz respeito às dosagens. Logo após o

plantio dos bulbilhos e antes de ser aplicada a cobertura palhosa, os herbicidas devem

ser pulverizados sobre o leito do canteiro em pré-emergência. Seguem-se as

pulverizações em pós-emergência. Há poucos herbicidas registrados para alho e há o

risco de fitotoxidez, portanto, um agrônomo especializado deve orientar a escolha e a

aplicação de herbicidas.

O solo para aplicação de herbicidas em pré-plantio ou pré-emergência não deve

conter torrões e deve apresentar preferencialmente teor de umidade inicial próximo à

capacidade de campo. A aplicação não deve ser feita em horário de ventos fortes, que

causam deriva dos produtos. A aplicação eficiente e correta depende ainda da calibração

correta do pulverizador e do cálculo da dosagem. As menores doses recomendadas são

normalmente usadas nos solos com altos teores de areia e/ou baixo teor de matéria

orgânica e as maiores em solos com altos teores de argila e/ou alto teor de matéria

orgânica. A aplicação se dá por meio de pulverizadores costais comuns ou em barras

com mais de um bico, com altura de 50 cm em relação ao solo.

O manejo das plantas daninhas deve ser anual e contínuo, pois as mesmas

continuarão a se desenvolver mesmo após a colheita do alho e sob condições adversas.

Anomalias Fisiológicas

Page 23: A Cultura Do Alho

Uma série de distúrbios genético-fisiológicos que ocorrem em algumas

cultivares nacionais de alho fazem com que os bulbos destas cultivares sejam menos

competitivos com alho importado, normalmente de melhor aparência comercial. Dentre

os distúrbios mais comuns, o superbrotamento, também conhecido por crescimento

secundário, brotos axilares, brotos laterais, proliferação, perfilhamento,

pseudobulbificação ou pseudoperfilhamento, é uma anomalia comumente encontrada na

cultura.

O superbrotamento pode ser reconhecido durante o estádio de desenvolvimento

dos bulbilhos e formação do bulbo, pela presença de brotações laterais que surgem entre

as bainhas foliares. Estas brotações são originadas do alongamento de folhas de

proteção dos bulbilhos ou de grupos de bulbilhos secundários. Os pseudocaules das

plantas superbrotadas são normalmente grossos e firmes em razão das folhas adicionais,

que dão às plantas aspecto de ramificação abundante. Geralmente nestes casos o

pseudocaule não suporta e termina por romper-se, ocorrendo o tombamento prematuro

das plantas. Os bulbos são defeituosos (bulbos estourados ou abertos) quando maduros.

A causa é o excesso de água e N no solo, conjunta ou isoladamente. As

cultivares tardias vernalizadas, bem como aquelas de ciclo precoce, são as mais

suscetíveis. Contrariamente, as cultivares de ciclo mediano são menos sensíveis.

Como medida preventiva deve-se controlar a irrigação das cultivares sensíveis,

regando-se moderadamente. É preciso evitar também a aplicação de excesso de N por

ocasião das adubações efetuadas em cobertura. Há informações de que a aplicação de K

juntamente com N pode auxiliar na prevenção dessa anomalia.

Outras anomalias são reconhecidas e relacionadas como:

Bulbilhos desnudos: são chamados assim por não apresentarem folha de proteção. Cada

bulbilho apresenta somente folha de reserva e folha de brotação;

Bulbilho extra: formado na axila de uma folha fértil extra. É considerado bulbilho extra

por manifestar-se, geralmente, adicionado com forma, tamanho e estado de dormência

diferente dos demais. Afeta a apresentação comercial do bulbo;

Page 24: A Cultura Do Alho

Bulbo simples: também conhecido por piorra, coquinho ou moranguinho. Consiste de

um bulbo de tamanho variável (1 a 3 cm de diâmetro). Plantas provenientes de bulbilhos

aéreos ou de palitos podem dar origem a um bulbo redondo – piorra;

Bulbilho duplo: possui uma única folha de proteção periférica rodeando as folhas de

reserva. Apresenta ausência da folha protetora entre os dentes;

Pseudobulbo simples: grupo de bulbilhos rodeados em conjunto por uma folha

envolvente extra. Podem apresentar folhas envolventes extras individuais para cada

bulbilho;

Pseudobulbo múltiplo: um ou vários pseudobulbos simples rodeados por uma ou mais

folhas envolventes extras;

Bulbilhos laterais do escapo floral: quando os bulbilhos estão ao longo do escapo floral,

recobertos por folhas envolventes extras e quando estão localizados dentro da

conformação, bulbo e bulbilhos são chamados tipo I. Porém, quando estão localizados

pouco acima do bulbo são chamados tipo II. Há casos em que aparecem os dois tipos

em uma mesma planta, sendo então denominados de alho de dois andares;

Bulbilho pedunculado: quando junto aos bulbilhos normais se desenvolvem bulbilhos

que estão unidos ao caule (disco) por um pedúnculo.

Colheita e Pós-Colheita

A colheita é fator importante em todo processo agrícola e a determinação exata

do ponto de colheita permite o máximo aproveitamento pós-colheita do produto vegetal,

conferindo o máximo de qualidade ao produto e o mínimo de perdas na produção. O

estádio de maturação no qual deve se realizar a colheita será decisivo para sua vida de

prateleira, bem como em relação ao seu potencial de armazenamento. A decisão da

colheita pelo produtor muitas vezes ocorre em função do preço atrativo de mercado,

desconsiderando as características fisiológicas do desenvolvimento do alho.

Colheita

O ciclo da cultura normalmente varia de 110 a 150 dias e o ponto de colheita é

citado por muitos autores como sendo o completo amarelecimento e seca da parte aérea,

permanecendo esta ereta. Produtores da região de São Gotardo-MG estão iniciando a

Page 25: A Cultura Do Alho

colheita com sucesso quando as plantas ainda apresentam de 5 a 6 folhas em

senescência e não completamente secas. Nessas condições os bulbos já se encontram

fisiologicamente maduros, não havendo assim prejuízos na conservação dos mesmos.

Entretanto, alicultores da região de Ouro Fino/Inconfidentes-MG efetuam a colheita do

alho ainda muito verde, afetando significativamente a conservação pós-colheita, além de

denegrir a imagem do alho na região.

A colheita deve ser feita manualmente ou mecanicamente, com o auxílio de

ferramentas ou através de uma arrancadeira tracionada por trator, consistindo de uma

lâmina que ao passar sob a planta corta as suas raízes e promove o afloramento do

bulbo, facilitando a colheita manual.

Recomendações gerais para a realização da colheita:

Suspender a irrigação 15 a 20 dias antes da colheita, para facilitar a secagem e cura e

melhorar a conservação pós-colheita;

Não efetuar a colheita do alho totalmente verde;

A colheita deve ser feita preferencialmente em dias ensolarados e pela manhã, para

melhor cura ao sol e evitar as conseqüências da umidade nos bulbos colhidos.

Cura

A cura é o processo obrigatório de seca do alho logo após a colheita, consistindo

de uma fase preliminar, que é a pré-secagem, que pode ser feita no próprio campo ou

em terreiros e consiste na exposição ao sol das plantas colhidas inteiras durante 2 a 3

dias, conforme a intensidade do sol. As plantas são dispostas de modo que os bulbos da

linha anterior sejam cobertos pelas folhas da linha posterior. A exposição direta ao sol é

condenável, já que favorece o aparecimento de “calos de sol” que depreciam o produto.

Alguns produtores adotam a prática de passar uma lâmina nos canteiros cortando

o sistema radicular, permanecendo as plantas em exposição normal por 3 dias nos

canteiros. Dessa maneira os bulbos ficam protegidos pelo solo da insolação direta.

A segunda fase da cura é feita à sombra. O alho é levado para galpões, que

devem ser secos, escuros e com boa ventilação, não permitindo a penetração da água

das chuvas. O período varia de 20 a 60 dias, dependendo da umidade inicial do produto,

Page 26: A Cultura Do Alho

do seu destino e das condições climáticas. Esta fase tem por finalidade a

complementação da cicatrização dos ápices dos bulbilhos, a perda do excesso de

umidade e o favorecimento do armazenamento. O alho é colocado dentro dos galpões

sobre esteiras, telas, caixas ou redes, evitando o contato com o piso, e disposto de

maneira que permita uma boa ventilação e seca.

Sem área suficiente uma opção é o Torito, que consiste na utilização de plástico

distante de 20 cm, acima de uma estrutura de bambu, sendo que cada m2 pode

comportar 250 Kg de alho, com os bulbos voltados para cima. O alho pode ficar no

Torito até 60 dias, com boa conservação.

Quando o alho é colocado em réstias, estas são feitas quando a palha ainda

apresenta umidade suficiente para ser bem manuseada. Este processo interrompe a cura,

já que a parte aérea permanece, favorecendo a perda de umidade dos bulbos. O alho

destinado à embalagem em caixa deve ter cura mais longa e perfeita, pois do contrário

pode ocorrer deterioração do produto, devido ao ambiente dentro das caixas ser

favorável ao desenvolvimento de microrganismos.

Tanto em regiões onde ocorrem chuvas no período de colheita quanto em

regiões onde a umidade relativa do ar é elevada a cura é problemática, pois não se

consegue boa perda de água, o que consequentemente favorece o desenvolvimento de

microrganismos. Nestes casos deve-se valer da secagem artificial com o uso de fonte de

calor para acelerar a cura, através da desidratação rápida das capas exteriores dos bulbos

como também obter benefícios do ponto de vista fitopatológico. Este processo de cura

artificial se destina somente ao alho comercial e também é empregado para

comercialização antecipada ou uniformização da secagem. Pode ser realizado por meio

de dois processos:

Cura contínua: os bulbos sofrem secagem artificial e forçada, à temperatura de 65 a 70

ºC, com grande circulação de ar por aproximadamente 7 a 8 minutos, sendo revirados

constantemente;

Cura estacionária: os bulbos permanecem em secadores à temperatura aproximada de 45

°C durante um período de 18 a 20 horas.

Em São Gotardo-MG a cura artificial tem sido feita à temperatura de 25 a 30 ºC

por 2 horas, para que haja o secamento da película e facilite a realização da toalete.

Page 27: A Cultura Do Alho

A cura está perfeita quando não se observa aspecto de elasticidade das ramas, ou

seja, quando estas apresentam-se secas, cor de palha e com diâmetro reduzido à altura

do colo.

Limpeza, seleção e classificação

Para que os bulbos apresentem boa aparência e sejam facilmente

comercializados, alcançando boas cotações, é preciso prepará-los, ou seja, fazer a

limpeza, seleção, classificação e acondicionamento adequado dos bulbos.

A limpeza ou toalete compreende o corte da rama de 0,5 a 1,0 cm acima do

bulbo, de maneira a evitar que o alho se debulhe; corte das raízes junto ao bulbo, com

cuidado de não danificar o disco (prato) e eliminação da película exterior (túnica) que

esteja solta ou suja, de modo a conferir melhor aspecto aos bulbos. A limpeza é feita

normalmente com o auxílio de tesouras de poda ou outros instrumentos similares, o que

apresenta baixo rendimento.

Na seleção eliminam-se bulbos mal formados, com defeitos ou impróprios para

consumo. Os principais defeitos são bulbo com dano mecânico; bulbo com dano de

praga ou doença; disco estourado ou com rachadura; bulbo sem túnica ou folha

protetora; bulbo chocho parcialmente (com até 50% dos bulbilhos murchos); bulbo

chocho (com mais de 50% de bulbilhos murchos); bulbo brotado ou que tem o bulbilho

com emissão de folha; bulbo mofado com bulbilho em decomposição ou com ataque de

doença; bulbo aberto sem a película protetora e os bulbilhos com os ápices separados,

porém presos à sua base, e bulbo perfilhado ou com bulbilhos apresentando crescimento

da folha protetora.

Para a classificação devem ser seguidas as normas da portaria n° 242 de

17/09/1992 do Ministério da Agricultura, que prevê a classificação em grupos,

subgrupos, classes e tipos.

O bulbo do alho para comercialização no mercado interno, no nível de atacado,

deve ser acondicionado em caixas de madeira ou em sacos de propileno cujas

características de tamanho e qualidade estão estabelecidas pela Portaria n 127 de

04/10/1991 do Ministério da Agricultura. A caixa de madeira deve ter as seguintes

medidas internas: 50 cm de comprimento, 30,5 cm de largura e 16 cm de altura, com

testeira octogonal e capacidade para 10 Kg de bulbos. O saco deve ter 60 cm de

Page 28: A Cultura Do Alho

comprimento e 35 cm de largura e capacidade para 10 Kg de bulbos. Hoje já vêm sendo

utilizadas caixas de papelão para acondicionamento e comercialização do alho, o que

reflete um grande avanço quando comparado com outros produtos agrícolas.

A marcação da caixa e do saco é feita por um rótulo e uma etiqueta,

respectivamente. Tanto o rótulo quanto a etiqueta devem conter no mínimo as seguintes

informações: identificação do responsável pelo produto, número do registro no

Ministério da Agricultura, origem do produto, grupo, subgrupo, classe, peso líquido e

data de acondicionamento.

Para a comercialização em réstias cada uma deve ter 6, 7, 8, 10 ou 15 pares de

bulbos e a classificação será feita seguindo-se as normas estabelecidas para os bulbos

acondicionados em caixas ou sacos.

Armazenamento

Recomenda-se fazer armazenamento em ambiente seco e ventilado, que possua

piso de cimento e telhado eficiente contra chuva. Pode ser feito em ‘manojos’ ou

molhos dispostos em cavalete; a granel, colocados em tablados; em camadas finas ou

ralas; em caixas padronizadas ou sacos empilhados e em caixas abertas ou estrados, que

podem ser colocados uns sobre os outros. Essas caixas ou estrados devem ter ‘pés’ para

facilitar o arejamento das mesmas quando colocadas umas sobre as outras.

O armazenamento em réstias é também utilizado, sendo que os suportes deverão

ficar cerca de 50 a 60 cm do piso, o que permitirá uma boa ventilação. As réstias devem

ser amarradas em maços, assegurando-se previamente de que estas estejam secas e os

bulbos perfeitamente curados. Tanto para réstias quanto para caixas recomenda-se um

espaço mínimo de 40 cm entre pilhas, para permitir uma boa ventilação. As pilhas de

caixas ou sacos e suportes para réstias deverão ficar dispostas no sentido da ventilação.

O sistema de armazenamento em pilhas de sacos tipo rede é considerado o pior, haja

vista o menor arejamento do produto.

O alho armazenado deverá ser expurgado, para o controle de pragas que possam

existir no armazém. Para expurgo cobrem-se as pilhas de caixas ou sacos com lonas ou

lençóis de plástico e colocam-se 2 pastilhas de fosfina por m3 no chão, embaixo das

pilhas, mantendo a cobertura por no mínimo 12 horas. Não se deve usar o brometo de

metila para expurgo porque o produto provoca a desvitalização do alho e o defeito

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conhecido por “achocolatamento” dos bulbilhos. Posteriormente recomenda-se polvilhar

Malation a cada 30 dias para evitar reinfestação de pragas, principalmente traças.

Normalmente, quando os tratos culturais, época de colheita e cura foram corretos

e seguidos por toalete, seleção e boas condições de armazenamento é possível estocar o

alho por no mínimo 6 meses.

O armazenamento também pode ser feito em câmaras frias; um processo caro e

sofisticado, mas que conserva o produto por um período maior e com menores perdas.

Nesse sistema o alho é armazenado por um período de até 8 meses à temperatura de 0

ºC e umidade relativa de 70 a 75%.

Comercialização

A comercialização dos produtos agrícolas, em geral, é uma das principais etapas

do processo de produção, pois é justamente nesta etapa crucial e final de sua atividade

que o sucesso ou o fracasso econômico se decidem. Para os produtos olerícolas a

comercialização é feita pelos atacadistas – comerciantes, que compram em larga escala

dos produtores. Estão localizados em Centrais de Abastecimento (CEASAs) e em

depósitos particulares de hortaliças nos centros urbanos.

O sistema de comercialização funciona como uma corrente ou cadeia, ligando o

produtor ao consumidor por meio de vários elos intermediários – os atacadistas e

varejistas, sendo comum o choque de interesses comerciais entre vendedor e comprador.

Além disso, ocorrem ineficiências e fraudes em todo o sistema.

Especialmente após a implantação do Mercosul, que afeta muito a produção e

comercialização do alho, e também com a concorrência internacional em geral, há que

se melhorar a comercialização, pois com a concorrência os olericultores mais eficientes,

não apenas na produção, mas também na comercialização, podem ser os grandes

beneficiados.

Em vista de todas estas transformações no mercado de produtos agrícolas, a

comercialização do alho tem passado por constantes modificações e inovações. Hoje

ainda podemos encontrar o alho sendo comercializado em réstias, mas também existe a

comercialização em caixas de papelão, o que demonstra um grande avanço para a

cultura, visto que muitas hortaliças ainda são comercializadas em caixas de madeira.

Page 30: A Cultura Do Alho

Os principais canais e fluxos de comercialização do alho são:

Meeiro – proprietário – atacadista de origem (grande produtor) – atacadistas

centrais/tradicionais – hortomercados/supermercados/feirantes – consumidores;

Pequeno produtor – ajustador – caminhoneiros – atacadistas centrais/tradicionais –

hortomercados/supermercados/feirantes – consumidores;

Grande produtor – atacadistas centrais/tradicionais –

hortomercados/supermercados/feirantes – consumidores.

Tais fluxos, principalmente 1 e 2, demonstram a ausência de associações entre

produtores (cooperativas); presença de intermediários de origem e pouco alcance das

informações de preços. Estes fatores, aliados ao curto período de safra do produto,

concorrem para que o preço do alho sofra durante o ano acentuada flutuação estacional.

Nota-se que essa flutuação é decorrente de variações na oferta do produto e não da

alteração na demanda, que se mantém praticamente inalterada durante o ano. A época

de preços mais elevados encontra-se compreendida pelos meses de abril a julho,

atingindo um mínimo de setembro a novembro. Tais períodos coincidem,

respectivamente, com as épocas de entressafra e safra.

Os tipos de alho comercializado podem ser classificados em:

Alho verde: o alho é arrancado ainda verde e deve ser vendido em mercados locais para

consumo “in natura” de imediato, uma vez que possui capacidade de conservação muito

limitada. As causas que levam o agricultor a adotar esse tipo de procedimento são a

necessidade de antecipar o retorno de capital investido, o aproveitamento de melhores

preços no final da entressafra, a expectativa de baixa nos preços durante a safra e

pressão dos interessados na compra de alho verde;

Alho de plena safra: período dos mais baixos preços de mercado;

Alho armazenado: comercializado a partir de janeiro, quando o preço começa a subir,

atingindo o máximo por volta de maio/julho.

Processamento do alho

O alho, bem como a maioria dos produtos olerícolas, apresenta hoje uma grande

evolução na comercialização, que vai desde as formas de apresentação (embalagens,

Page 31: A Cultura Do Alho

classificação, etc.) até o preparo do produto. Até então, sua introdução no mercado era

feita basicamente na forma “in natura”. Ainda hoje o alho é vendido em réstias e

atualmente vem crescendo a sua comercialização em bandejas de isopor ou saquinhos

plásticos, em cabeças ou até mesmo descascados. A industrialização do alho em pasta

ou creme, pó dessecado, em flocos, desidratado ou liofilizado vem sendo praticada

ainda em pequena escala. Com exceção da pasta que é muito utilizada na culinária, as

demais formas não são comuns.

A utilização de técnicas de conservação, como a desidratação, capazes de

absorver toda a produção em épocas de safra, quando há abundância de oferta do

produto, pode funcionar como um mecanismo regulador de mercado, absorvendo o

excedente da produção, reduzindo perdas, minimizando as flutuações de preços e

incentivando o produtor nacional pela estabilidade dos preços e garantia de

comercialização da produção obtida. Posteriormente os produtos industrializados podem

ser comercializados no período de entressafra, já que podem ser estocados facilmente

por períodos superiores a 6 meses.

Formas de utilização do alho industrializado, obtidas por processos de

conservação caseira e/ou industriais:

Pasta ou creme de alho: forma mais usual do alho processado. A mistura do alho

triturado em liquidificador para sal é de 1:3 no máximo, sendo muito utilizado à

proporção de 1:10. Quanto mais cedo for processado o alho (alho da safra), mais clara

será a pasta produzida e maior o rendimento. Outro cuidado está na rapidez do

processamento, para que não perca as características aromáticas. A embalagem deve ser

hermeticamente fechada para adequada conservação do produto.

Alho conservado em vinagre

Alho desidratado: o processo de desidratação nada mais é do que a remoção da água do

produto, reduzindo-a a tal ponto que impeça o desenvolvimento microbiano e retarde as

reações de deterioração do produto. A remoção da água origina um produto altamente

concentrado em seus constituintes sólidos. Os processos utilizados para a secagem do

alho visam sempre obter um produto com características mais próximas possíveis do

produto natural. Evidentemente que todo o processamento induz alguma perda em

qualidade do produto, mas estas perdas podem ser sensivelmente minimizadas com o

Page 32: A Cultura Do Alho

uso de matéria-prima adequada, cuidados com o processo de desidratação e perfeita

escolha do método a ser utilizado. Dentre os processos de conservação do alho, a

desidratação parece ser o que apresenta mais vantagens quando comparada com outros

métodos, tais como melhor qualidade e uniformidade do produto oferecido ao

consumidor, prolongamento da vida útil, flexibilidade de uso e não exige condições

especiais de estocagem.

Dentre os métodos de desidratação, tem-se:

Secagem em secadores de bandeja e/ou esteira: para produção menor utiliza-se o

secador de bandeja, com regime de produção intermitente, obtendo-se alho desidratado

de qualidade razoável. Quando se trabalha com grandes volumes, o secador de esteira

contínuo é o mais indicado, em função de sua maior capacidade de carregamento.

Fornece um produto final de qualidade superior ao da bandeja, em razão da

uniformidade do aquecimento a que é submetido o alho fresco cortado. Em ambos os

processos bulbos de alho são submetidos à debulha e seleção dos bulbilhos.

Posteriormente sofrem aspiração para eliminação de cascas superficiais e, logo após,

são lavados por inundação em água quente para amolecimento da casca. Em seguida,

são ventilados para eliminar a água, com posterior fatiamento. Os pedaços de alho são

distribuídos em bandejas ou alimentam esteiras. A secagem é feita em temperatura

inferior a 75 °C até a umidade do produto atingir valores inferiores a 6,1%. Os flocos de

alho desidratado sofrem nova operação para eliminar os resíduos de cascas

remanescentes. Podem, então, ser triturados para a obtenção de pó de alho ou

armazenados e comercializados na própria forma de flocos.

Secagem de alho por atomização (“Spray-Drier”): o alho é triturado e/ou comprimido

para obtenção do extrato. Este extrato é concentrado pela adição de dextrina, para

concentrar os sólidos solúveis presentes no extrato. Os bicos atomizadores do

equipamento pulverizam o extrato em gotícolas na câmara de secagem que, sob a ação

de um fluxo de ar aquecido (200 a 230 ºC), em poucos segundos reduz sua umidade

para 4%. Este processo fornece um produto de qualidade superior ao da secagem em

bandejas e esteiras.

Liofilização: de todos os processos, é o que fornece produto final de melhor qualidade,

apresentando constituição química bastante semelhante ao produto “in natura”. Para a

liofilização os dentes de alho descascados são triturados e o extrato colocado em

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bandejas, formando uma fina camada. Estas bandejas são levadas para câmaras de

congelamento, o extrato é levado para o liofilizador, permanecendo por 7 a 15 horas,

onde por sublimação do gelo, a água será removida, passando do estado sólido para

vapor, sem passar pelo estado líquido. Ao final obtém-se um produto com umidade

entre 3 a 5%.

O alho em pó praticamente não tem uso doméstico. É mais utilizado pelas

indústrias de alimento, participando de temperos mistos em pó, molhos, sopas, etc.

Dentre as hortaliças, o alho é a que apresenta melhores perspectivas para

desidratação. Com média de 30,4% de sólidos solúveis totais, as cultivares brasileiras

apresentam rendimento de 4:1. Em função do maior rendimento do alho, a desidratação

apresenta menor custo de produção, já que haverá necessidade de remover menor

quantidade de água para se obter maior quantidade de produto. Também merece

destaque outras características como alta pungência e riqueza em óleos essenciais, pois

parte do aroma é perdido durante o processo.