A Cultura Eo Processo de Globalizacao

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    A CULTURA EO PROCESSO DE GLOBALIZAO

    Article January 2005

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    2 authors, including:

    Luciana Ziglio

    Grupo Educacional UNIESP

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    Available from: Luciana Ziglio

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    Estudos Geogrficos, Rio Claro, 3(2):91-102, Dezembro - 2005 (ISSN 1678698X) - www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista.htm

    A CULTURA E O PROCESSO DE GLOBALIZAO

    Luciana Ziglio1

    Maria Angela Comegna2

    Resumo

    A globalizao um processo que vm se manifestando simultaneamente no campo social,econmico, poltico e cultural. O Mercado Global cria a iluso de que tudo tende aassemelhar-se e a se tornar homogneo. A globalizao, que combina com integrao ehomogeneizao, tambm rima com o binmio diferenciao e fragmentao. Neste trabalho,ser caracterizado o processo de globalizao cultural, tendo como metodologia, acomparao de estudos realizados a partir da dcada de 1980, de autores empenhados emanalisar temas fundamentais relativos cultura, pois suas vrias repercusses esto sempre

    presentes em todos os lugares, ainda que em diferentes gradaes. A questo que se apresenta a de como devemos pensar as prximas perspectivas para a cultura local ou nacional dianteda globalizao, ou melhor, a globalizao enquanto um processo cultural. Os enfoques aquiapresentados permitem afirmar que existe pouca perspectiva para o estabelecimento de umacultura de alcance global unificada.Palavras chave:globalizao, cultura, mercado global.

    Abstract

    The globalization is a process that comes simultaneously if revealing in the social, economicfield, cultural politician and. The Global Market creates the illusion of that everything tends toresemble itself and if to become homogeneous. The globalization that combines withintegration and homogenization also rhymes with the binomial differentiation and spalling. Inthis work, the process of cultural globalization will be characterized, having as methodology,the comparison of studies carried through from the decade of 1980, of authors pledged inanalyzing relative basic subjects to the culture, therefore its some repercussions are alwaysgifts in all the places, still that in different gradations. The question that if presents is of as wemust ahead think the next perspectives for the local or national culture to the globalization, or

    better, the globalization while a cultural process. The approaches presented here allowaffirming that little perspective for the establishment of a unified culture of global reach

    exists.Key words : globalization, global market, culture

    1Aluna de ps-graduao em Geografia Humana pela Universidade de So Paulo (USP). End. Rua Tenente Otvio Gomes,330.apto.1504.CEP 01523-010.E-mail: : [email protected]

    2

    Aluna de ps-graduao em Geografia Humana pela Universidade de So Paulo (USP). End. Alameda Ja, 585.apto.62.CEP: 01420-000. E-mail: [email protected]

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    INTRODUO

    A globalizao um processo que vm se manifestando simultaneamente no camposocial, econmico, poltico e cultural.

    Os modernos meios de comunicao, correntes de opinio pblica, escolas depensamento cientfico e filosfico, instituies, padres e valores culturais, so alguns dosvrios aspectos da globalizao que se generalizam ou se aprofundam nos diversos cantos domundo, assim como os compromissos tnicos preservadores de identidade.

    Isso significa dizer que o mundo no se desvencilhou da relao identitria e,conseqentemente da relao de alteridade, como supem os defensores de uma ordemglobalizada uniformizadora, esquecidos de que o limite de viver juntos no mundo implicaorigem histrica, uma lngua, interesses conjuntos e expectativas em um espao fsico preciso.

    A compreenso de cultura, enquanto categoria de anlise, levou em considerao aconceituao de Thompson, segundo a qual: o padro de cultura pode ser definido comosignificados incorporados nas formas simblicas, que inclui aes, manifestaes verbais e

    objetos significativos de vrios tipos, em virtude dos quais os indivduos comunicam-se entresi e partilham suas experincias, concepes e crenas (Thompson, 1995,176).Diante da relevncia do tema para a compreenso do mundo em que vivemos, a

    questo que se apresenta a de como devemos pensar as prximas perspectivas para a culturalocal ou nacional diante da globalizao, ou melhor, a globalizao enquanto um processocultural. A expresso cultura global, nos sugere, de imediato, imagens das mais prosaicas smais mirabolantes.

    Uma delas, bastante difundida, poderia ser descrita, de forma simplificada, como aviso de um mundo limpo, informatizado, no qual os povos e os indivduos se beneficiamdas maravilhas da tcnica, semeando uma conscincia planetria que triunfar no mundoglobalizado do terceiro milnio.

    O desenvolvimento tecnolgico, principalmente na rea da informtica e dascomunicaes soa como anunciante de uma revoluo.Um dos indcios a prenunciar tal transformao seria a Rede Mundial de

    Computadores, a Internet, da qual deriva a imagem de um mundo organizado segundo aestrutura de uma rede, onde a comunidade de usurios se transformaria no centro da vidacotidiana e a demografia da rede ficaria cada vez mais semelhante com a do prprio mundo.

    Neste caso, a chamada supervia da informao estaria criando uma malha social novae global.

    Menos sonhadora e mais realista e politizada a noo de cultura global, vista comoresultado da extenso de uma determinada cultura aos limites do planeta.

    Nesta perspectiva, a globalizao cultural tomada como pea ideolgica de uma

    estratgia de dominao em escala mundial que resultaria na configurao de um mundointegrado e organizado, nos moldes de um enorme Estado-nao.

    Para que este processo exista, necessrio imaginar um centro irradiador, cujahegemonia econmica, tecnolgica e cultural poderia ser coroada com a conquista final do

    planeta. Seu nome conhecido: o imperialismo capitalista.O imperialismo, liderado no sculo XIX pela Inglaterra, representado no sculo XX

    pelos Estados Unidos, cuja mquina ideolgica, aliada a interesses econmicos e militares,marcharia sobre a Terra, destruindo as manifestaes culturais autnticas para impor seudomnio.

    Estas duas vises do futuro mundial parecem ocupar extremos da discusso sobre aatual fase da globalizao e seus desdobramentos. Ambas fazem referncias a processos reais,que no devem ser ignorados.

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    Para se apreender as transformaes por que passa o mundo, torna-se necessrioanalisar o papel desempenhado pela informtica, pela Internet ou pelos modernos meios detransporte.

    Da mesma forma, certo que os Estados Unidos dominam a indstria cultural emescala mundial e vendem sua cultura em todos os cantos do mundo. Porm alguns fatos

    conspiram tanto contra o fetiche e a apologia da tcnica quanto contra o determinismomilitante.Como observa Renato Ortiz (1994, p.96) o clima de euforia da literatura sobre os

    meios de comunicao e informtica incorre em simplificaes e traz de volta a atitude dahumanidade do sculo XIX, quando visitava exposies mundiais e se fascinava com as novasinvenes da poca como o fongrafo e o elevador.

    normal que o ser humano responda a novos estmulos e so muito animadoras asnovidades cientficas antes de estarem fisicamente incorporadas vida social.

    tambm muitas vezes impossvel de conter, diante das faanhas tecnolgicas, atentao de investi-las de faculdades como conceber um novo indivduo, uma novaconscincia ou revolucionar o mundo. Por outro lado, no so menos simplificadoras as

    evidncias de que a cultura dos Estados Unidos impe-se ao mundo para mold-lo suaprpria imagem e semelhana.

    A defesa da autenticidade cultural, subjacente ao ataque antiimperialista, freqentemente sentimentalista. Trs tona mitos de acolhimento e calor humano quesugerem a segurana idealizada de uma infncia deixada para trs.

    comum que neste mundo transformado pela globalizao, venha tona a saudade dacomunidade integrada, que vincula o indivduo num espao fsico, afetivo e simblicodeterminado.

    nesse lugar perdido, onde as relaes sociais baseiam-se no face a face e ondedespontam formas culturais verdadeiras, que muitas vezes, de forma quase que subliminar,somos convocados para rechaar a expanso ocidental.

    Nessa modalidade de ecologia social o discurso preservacionista oscila demicroculturas tnicas a grandes culturas nacionais, passando por classismos eregionalismos.

    Entretanto, uma das caractersticas importantes do que se entende hoje por culturaglobal justamente a maior visibilidade de manifestaes tnicas, regionalistas ou originriasde sociedades ditas excludas, indo do cinema iraniano literatura africana.

    Talvez nunca as naes ocidentais tenham-se visto como atualmente, na contingnciade conviver com a diversidade cultural no interior de suas prprias fronteiras.

    Se a influncia dos Estados Unidos um tema importante na pauta da esquerda dasnaes perifricas, a influncia dos pases perifricos tambm o para a direita dos pasescentrais.3

    O atual estgio de globalizao cultural deve ser compreendido como etapa de umprocesso em curso, longe de ser concludo, no qual formas culturais nacionais ou locaisentram crescentemente em contato, desterritorializam-se, geram mediaes e criam terceirasculturas, na expresso de Mike Featherstone (1990, p.7).

    As terceiras culturas devem ser entendidas como um conjunto de prticas,conhecimentos, convenes e estilos de vida que se desenvolvem de modo a se tornar cadavez mais independentes dos Estados-nao de origem. Essas terceiras culturas se formamcomo mediaes em diversas reas, colocando em xeque a idia de que a periferia, vtima da

    3

    O Brasil deve aceitar que sua circunstncia encontrar o seu estar no mundo, respeitando sua histria e que a Amricalatina uma rea de relaes catalisadoras e no de excluses. In: REIS, F. G. O Brasil e a Amrica Latina.

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    ofensiva de um gigantesco imprio, tem apenas duas alternativas: deixar-se subjugar ouerguer muralhas para evitar sua incorporao modernidade ocidental.

    No se deve perder de vista que, em muitas oportunidades, a prpria cultura ditaautntica torna-se, por processos internos, um simulacro de autenticidade, como, por exemplo,so os desfiles de escolas de samba, revelando-se inoperante para expressar novos desejos e

    realidades4

    ., por isso, duvidosa a idia de que o imperialismo cultural suprime as culturas locaispara implantar em seu lugar uma nova cultura dominante. Essas teorias, em comum comoutras que apregoam a uniformizao da indstria cultural, tem imaginado a vigncia de umsistema monoltico, capaz de manipular populaes em escala planetria. Seja qual for

    perspectiva que se adote, o fato que est em curso uma nova etapa da globalizao, emboraseu futuro permanea em aberto.

    CULTURAS LOCAIS, GLOBAIS OU A GLOBALIZAO DA CULTURA?H uma cultura global? Se cultura global se assemelhar cultura do Estado nacional,

    como um todo, podemos dizer que no. Porque neste caso, o conceito de cultura global nofunciona.

    A imagem da cultura de um Estado nacional aquela que destaca a homogeneidade ea integrao nacional. Seguindo esta linha, seria impossvel identificar uma cultura globalintegrada sem a formao de um Estado universal, perspectiva esta improvvel.

    Lafer e Fonseca escrevem que [...] a comunidade internacional raramente se movepor valores universais: so interesses, oportunidades, cenrios favorveis e outros fatores, deorigem predominantemente nacional que se combinam, em alguns momentos, para exprimir osentido de sociedade que o sistema internacional tambm incorpora. [...] claro que a forados movimentos nacionalistas mencionados no destri os mecanismos da globalizao.Desenha-se, assim, a lgica integradora da economia das causas universais (direitos humanos,ecologia etc.) e de outro, a dinmica da resistncia globalizao, ora identificada comesforos de preservao da autonomia universal (Lafer,C. e Fonseca G., 1994, p.60-61).

    Porm, se nos desviarmos da polaridade esttica sugerida pela idia inicial e usarmos umadefinio mais ampla de cultura, como a de Thompson, e pensarmos mais em termos de

    processos, poder ser possvel nos referirmos globalizao da cultura.Nesse sentido, podemos destacar processos de integrao e desintegrao cultural que

    se realizam no apenas em nvel interestadual, mas tambm para processos que vo alm daunidade da sociedade do Estado e que, portanto, podemos afirmar que ocorrem no nveltransnacional ou trans-social.

    Segundo este raciocnio, poderia ser possvel destacar processos culturais trans-sociaisque assumissem uma variedade de formas.

    Algumas das quais anteriores s relaes interestaduais, podendo ser considerados osEstados nacionais; processos que sustentam a permuta e o fluxo de mercadorias; de pessoas;de informaes, conhecimentos e imagens, que do origem aos processos de comunicao.Estes adquirem uma certa autonomia global.

    Como conseqncia, poderia haver sistemas emergentes de terceiras culturas, osquais, eles prprios, se constituiriam em canais para todo o tipo de fluxos culturais diferentes,que no podem ser interpretados como o produto de trocas bilaterais entre Estados nacionais.

    4Segundo Ribeiro, o gegrafo David Harvey [...] escreve que a facilidade de reproduo da arte, entendida comoexpresso da cultura, pode representar uma transitoriedade permanente, um novo estado de apreender a cultura e oconseqente abandono da busca da singularidade na produo cultural. Harvey indica que no se pode esquecer que o capitaltambm circula com o objetivo de ampliar-se nesse segmento da atividade humana, montando um imenso sistema de

    produo cultural baseados na produo de subjetividade por meio da propaganda. Isso leva a geografia de todos os lugares acada lugar do mundo, reduzindo a geografia a um simulacro, como entende Baudrillard (Ribeiro, 2002: 3).

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    Seria um erro conceber a idia de uma cultura global necessariamente como umenfraquecimento comprometedor da soberania do Estados nacionais, que de alguma forma,sero absorvidos em unidades maiores e, com o tempo, num Estado mundial que produzirhomogeneidade e integrao cultural.

    No seria correto tambm considerar o surgimento de terceiras culturas como a

    concretizao de uma lgica que aponta para a homogeneizao. Mike Featherstone afirmaque a lgica binria que busca compreender a cultura atravs dos termos mutuamenteexclusivos de homogeneidade/heterogeneidade, integrao/desintegrao,unidade/diversidade (Featherstone, 1990, p.8), deve ser ignorada. Esse tipo de raciocnio sfunciona para apenas uma face da cultura, que composta por inmeras outras.

    preciso analisar os fundamentos e os processos geradores que envolvem a formaode imagens e das tradies culturais, bem como as lutas e as interdependncias grupais, quelevaram at essas oposies conceituais para o entendimento da cultura dentro da sociedadedo Estado que, a partir da, se projeta por todo o mundo.

    O ps-modernismo tem sido um poderoso smbolo e imagem cultural do desvio daconceituao de cultura global, menos em termos dos ditos processos de homogeneizao 5e

    mais em termos de diversidade, de variedade e dos discursos populares e locais, dos cdigos edas prticas que resistem e produzem a sistematizao e a ordem.

    Mtodos de entendimento que operavam dentro de uma hierarquia simblica restrita ede contextos fechados so agora solicitados a aceitar que todas as hierarquias simblicasdevam ser abertas e ilimitadas.

    Porm, o conceito de cultura que foge da sociedade restrita do Estado nacional,tambm aponta para um limite, a imagem do planeta como um nico espao, estruturageradora da unidade, dentro da qual realizar-se- a diversidade.

    Ao mesmo tempo, a tendncia da ps-modernidade a de evitar essas teoriascomplexas, considerando as mudanas que apontam para uma cultura global e abrindo umoutro caminho no qual podero ser registradas anlises superficiais.

    Featherstone sugere que o desafio para a sociologia atual, que testemunhou umadiminuio de fronteiras entre a cultura e as demais cincias sociais, ao mesmo tempo, [...]o de teorizar e formular sistemas de investigao sistemtica que possam esclarecer esses

    processos de globalizao e essas formas distintas de vida social que tornam problemticoaquilo que h muito vem sendo considerado o tema fundamental da sociologia: a sociedadeconcebida quase exclusivamente como o Estado nacional restrito (Featherstone, 1990, p.8-9).

    No correto afirmar que a sociologia se preocupa unicamente com a sociedade doEstado nacional, j que o interesse nos processos globais e universais remonta poca doIluminismo. Existem na sociologia, aqueles que adotam outra linha de anlise que combinacincias sociais, filosofia e histria e universalizam os modelos ocidentais de modernizao,racionalizao, industrializao, revoluo e cidadania para o resto do mundo.

    Aqueles que se interessam pela cultura e pelas perspectivas com o ps-modernismo, asteorias dos modelos de racionalizao, de modernizao e de industrializao devem serconsideradas com ceticismo.

    Segundo Archer6, [...] as vrias formas de industrializao, a convergncia e a teoriada ps-industrializao, que eram populares nas dcadas de 1960 e 1970, subordinavam a

    5Podemos exemplificar como processos de homogeneizao cultural, as teorias que apresentam a norte-americanizao, oimperialismo cultural e uma cultura de consumo de massa proto-universal que se propaga s custas da dominao econmicae poltica do ocidente.

    6

    ARCHER, Margaret: Teoria, cultura e sociedade ps-Industrial. in: FEATHERSTONE, Mike (org.). Cultura Global -Nacionalismo, Globalizao e Modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990. 3 ed.

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    cultura ao desenvolvimento estrutural e ignoravam a relao entre a cultura e a atividadeprtica (Featherstone, 1990, p.9).

    Da mesma forma, Touraine7 afirma que: [...] a idia de revoluo que esteve nocentro da representao ocidental da modernizao acarretava a crena na lgica do sistema,uma sociedade sem agentes (Featherstone, 1990, p.10).

    Atualmente, muitos pensadores sustentam que o ensino bsico da sociologia deveriadeixar de se concentrar no estudo das sociedades e passar a concentrar-se nainternacionalizao e nos problemas globais.

    A tendncia a preocupao cada vez mais acentuada em relao s particularidades,devido exausto da modernidade ocidental dentro de uma situao global, que impossibilitao esquecimento de outras tradies culturais e de civilizao.

    Esta idia evoluiu, passando por muitas transformaes, at chegar imagem culturaldo socialismo, que tambm vislumbrava uma cultura global; e, no ps-guerra, o ideal dedesenvolvimento, sendo que esses dois ideais desencadearam uma srie de batalhas culturaisglobais.

    Os debates em torno do espao da cultura na teoria dos sistemas mundiais trazem

    tona muitos problemas, como os j citados.Vrios estudiosos apresentam vises diferentes sobre a relao mundo-cultura.

    Wallerstein 8apresenta uma linha de trabalho na qual afirma que o sistema mundial se baseianuma lgica particular, a da acumulao incessante do capital (Featherstone, 1990, p.10).

    Sua obra contestada por autores como Boyne 9 e Worsley10 que afirmam que omodelo de Wallerstein uma outra variante da economia poltica que no leva na devidaconsiderao a cultura [...] (Featherstone, 1990, p.11).

    Worsley observa que: [...] sem a dimenso cultural, impossvel dar um sentido a ummundo moderno em que o nacionalismo, a religio e as hostilidades intertnicas foram muitomais importantes do que o internacionalismo e o secularismo (Featherstone, 1990, p.11).

    Esta mesma linha de anlise desenvolvida por Bergesen11, sustentando que existe:

    [...] uma base neo-utilitria comum para a anlise dos sistemas mundiais como para a teoriadas relaes internacionais, que desconhece o relacionamento do poder e da cultura que

    precedeu os sistemas interestados (Featherstone, 1990, p.11).Para Bergesen, o erro de Wallerstein o de trabalhar partindo das partes para chegar

    ao todo, onde se supe que as subunidades, os Estados individuais, adquirem as suaspropriedades definitivas antes de participar do sistema internacional. Ele afirma que: [...] namaior parte dos Estados internacionais, o sistema internacional precedeu existncia deste e,alm disso, possibilitou a sua existncia em primeira instncia (Featherstone, 1990, p.11).

    7

    TOURAINE, Alain. A idia de revoluo. in: Featherstone, Mike (org.). Cultura Global - Nacionalismo, Globalizao eModernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

    8WALLERSTEIN, Immanuel - A cultura como campo de batalha ideolgico do sistema mundial moderno. in:Featherstone, Mike (org.). Cultura global - Nacionalismo, globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

    9BOYNE, Roy. A cultura e o sistema mundial in: FEATHERSTONE, Mike (org.). Cultura Global-Nacionalismo,Globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

    10WORSLEY, Peter - Modelos do sistema mundial moderno. in: FEATHERSTONE, Mike (org.). Cultura global -Nacionalismo, globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.Cultura global - nacionalismo, global izao e

    modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

    11

    BERGESEN, Albert - Inverso da teoria do sistema mundial in: Featherstone, Mike (org.). Cultura global -Nacionalismo, globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

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    Um sistema que foi gerado atravs da conquista e poder, e no da troca ouintercmbio.

    A teoria de Bergesen tambm est relacionada teoria da globalizao de Robertson12,segundo a qual os Estados nacionais no so considerados simplesmente como unidades queinteragem, mas como constituintes do prprio mundo, um contexto global em que o mundo se

    torna um lugar mpar, com seus prprios processos e formas de integrao (Featherstone,1990, p.11).Robertson destaca a autonomia do processo de globalizao, devendo ser considerado

    como um fator que atua com certa interdependncia dos processos sociais e scio-culturais econvencionalmente designados.

    Por esses motivos, o autor prefere utilizar o termo globalizao ao invs deinternacionalizao (intercmbios interestados nacionais), j que o mesmo chama ateno

    para a maneira como o mundo se torna nico, atravs do domnio imperial de uma nicanao ou bloco de poder, ou a vitria de uma empresa comercial, o proletariado universal,uma religio ou movimento federalista universal.

    Todas essas possibilidades histricas poderiam ter criado vrias maneiras de

    integrao e de diferenciao cultural, assim como a atual fase do processo de globalizao.Elas poderiam ser produtoras de uma cultura global.

    Ainda para Robertson, a fase da globalizao acelerou-se a partir de 1880, quandohouve uma mudana em direo idia do Estado nacional unitrio e homogneo.

    Tambm foram significativos os aumentos das instituies internacionais, ascrescentes formas globais de comunicao, aceitao do horrio global unificado,desenvolvimento de competies esportivas globais e o desenvolvimento de conceitos

    padronizados de cidadania, dos direitos e de humanidade.Este processo de globalizao que ressalta a extenso do inter-relacionamento cultural

    global, tambm pode ser um fator que conduz a um ecumenismo global.Um processo atravs do qual, uma srie de fluxos culturais produz tanto a

    homogeneidade quanto desordem cultural, ao misturar lados antes isolados de culturarelativamente homognea.

    Esta cultura homognea, por seu turno, produz imagens mais complexas das outrasreaes que, por sua vez, tambm geram um fortalecimento de identidade, e tambm culturastransnacionais, podendo ser consideradas autnticas terceiras culturas, direcionadas paraalm das fronteiras nacionais.

    O LOCALISMO E O COSMOPOLITISMO

    O localismo definido por Ulf Hannerz13

    como: culturas territorialmente ancoradasou culturas limitadas que envolvem relaes frente-a-frente, entre povos que no semovimentam em grande escala e o cosmopolitismo como redes culturais transnacionais quese estendem num espao onde existe uma boa dose de superposio e de fuso que estimula,uma orientao para se compreender o outro (Featherstone, 1990, p.15).

    Muitas pessoas, como os homens de negcios, viajam por toda parte que, comfreqncia, so pessoas locais que no desejam realmente sair de seu local de origem.

    12ROBERTSON, Roland - Mapeamento da condio global: globalizao como conceito central in: Featherstone, Mike(org.). Cultura global - Nacionalismo, globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

    13

    HANNERZ, Ulf - Cosmopolitas e locais na cultura global. in: Featherstone, Mike (org.). Cultura global - Nacionalismo,globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

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    Para eles, existe uma literatura especializada e em expanso contendo orientaestursticas, que ensinam como podem estes viajantes se sentir em casa em terras estranhas ecomo evitar insultos culturais no intencionais em relao aos estrangeiros.

    Como afirma o socilogo Bauman14, a maior parte do turismo procura atualmenteorientar os turistas que partem rumo a enclaves especiais e onde os mediadores desempenham

    o papel de manuteno das fronteiras a evitar quaisquer tipos de problemas.Em contrapartida, existem inmeras variedades de cosmopolitismo, como nadiplomacia, onde a outra cultura amplamente dominada e existe a capacidade de comunicaros resultados dessa competncia a outros, atravs de uma terceira linguagem, como alinguagem diplomtica.

    Outro exemplo de cosmopolitismo o dos intelectuais transnacionais, que secomunicam atravs dos fluxos culturais globais e que se sentem em casa junto a outrasculturas, adotando uma postura reflexiva, metacultural ou esttica para experincias culturaisdivergentes.

    Um dos problemas em relao dicotomia local-cosmopolita o estrangeiro.Para Bauman, o estrangeiro, algum que chega hoje e permanece at amanh, no se

    integra nas formas de associao cosmopolita/local, amigo/inimigo, o estrangeiro no seenquadra em nenhum tipo de classificao.

    Nos ambientes urbanos, o estrangeiro aparece no mundo vital e se recusa a participarna construo de uma comunidade imaginria e dos esforos para por fim aos estrangeiros eredefini-los como amigos atravs de uma poltica de assimilao nacionalista.

    Segundo Bauman, essas tentativas para se atingir uma uniformidade e umahomogeneidade cultural acabam em fracasso.

    A modernidade, com o seu projeto de imposio da ordem no mundo e nos projetos deengenharia social, atinge os seus limites, e as cruzadas culturais organizadas pelo Estado soabandonadas.

    O autor afirma que a mudana em direo a uma cultura ps-moderna contempornea

    oferece uma oportunidade maior de tolerncia, medida que passamos para uma rea em queas fronteiras nacionais e culturais so sempre reformuladas e ultrapassadas com maisfacilidade.

    A alma tnica das naes, as tradies pr-modernas, as memrias, os mitos, osvalores e smbolos entrelaados e conservados na conscincia popular objeto de estudo deSmith15.

    Para ele, o processo de globalizao e de intensificao dos contatos e o senso de queo mundo um lugar mpar, faz com que as naes se aproximem umas das outras emcompeties de prestgio cultural, que no necessariamente levem tolerncia.

    Um mundo de culturas nacionais em competio, que busca melhorar a qualidade deseus Estados, oferece a perspectiva de batalhas culturais globais, sem espao para projetosglobais de integrao, de lngua franca e noes de unidade na diversidade ecumnica oucosmopolita, apesar da existncia das infra-estruturas necessrias de comunicaes tcnicas.

    14BAUMAN, Zygmunt - Modernidade e ambivalncia in: Featherstone, Mike (org.). Cultura global - Nacionalismo,globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

    15SMITH, Anthony D. - Para uma cultura global?in: Featherstone, Mike (org.). Cultura global-Nacionalismo,

    globalizao e modernidade. Rio de Janeiro, Vozes, 1990, 3 ed.

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    O CHOQUE DE CIVILIZAES

    Enquanto vrios estudiosos analisam a existncia de uma perspectiva de uma culturaglobal ou a afirmao e manuteno de muitas e novas ou velhas formas de cultura no mundo,Huntington prope um novo paradigma para a poltica internacional.

    Buscando desafiar as concepes tradicionais e modernas da poltica internacional, eleapresenta uma nova concepo que denomina choque das civilizaes.

    Para Huntington, desde a queda do muro de Berlim, os conflitos internacionaisdecisivos no so mais de natureza ideolgica, militar ou econmica, mas entre culturas. E asunidades polticas entre as quais essas relaes de poder ou conflitos ocorrem passam a ser asunidades culturais, em particular as civilizaes.

    Segundo o autor, a civilizao o [...] mais amplo agrupamento cultural de pessoas eo mais abrangente nvel de identidade cultural que se verifica entre os homens, excetuando-seaquilo que distingue os seres humanos das demais espcies. Define-se por elementosobjetivos comuns, como lngua, histria, religio, costumes e instituies, e tambm pelaauto-identificao subjetiva dos povos (Chiappin, 1994, p.45).

    Sob este enfoque, a clivagem civilizacional vai estabelecer o nvel mais geral deidentificao de um indivduo, grupo ou nao, substituindo o critrio da nacionalidade.

    A poltica internacional deixa de ser uma poltica de caractersticaspredominantemente ocidentais, marcada e coordenada por agentes, valores ou instituiesocidentais, para tornar-se uma poltica entre culturas, e, portanto, entre civilizaes; em

    particular entre a civilizao ocidental e as no-ocidentais, e entre as no-ocidentais.Nesta nova fase, a civilizao ocidental ter de competir com as outras civilizaes

    no-ocidentais e estas sero agentes que lutaro para construir a configurao e o arranjoinstitucional do sistema internacional.

    De acordo com Huntington, na poltica das civilizaes, as civilizaes no ocidentais

    j no so mais os objetivos e alvos da histria ocidental, pois agora se unem ao ocidentecomo agentes e sujeitos da histria.Dentro desta perspectiva, o Estado nacional continuar a ser o agente mais poderoso

    dos acontecimentos mundiais. Mas ele tambm dever ser visto como membro de umaunidade mais fundamental, agora cultural, que se torna um novo agente dos acontecimentosglobais das civilizaes.

    Huntington rejeita o paradigma do mundo nico ou da civilizao universal. Para ele,a espcie humana tem caractersticas comuns, que, no entanto, sempre foram compatveis coma existncia de culturas muito distintas. O autor recusa a convergncia do sistemainternacional para uma nica sociedade ou Estado mundial. Sustenta que a histria noterminou e que o mundo no um s. E a razo dessa multiplicidade de mundos a dimenso

    cultural e civilizacional,O que de fato importa para as pessoas no a ideologia poltica ou o interesseeconmico. F e famlia, sangue e crena, com isso que as pessoas se identificam e porisso que lutam e morrem. por isso que o choque entre civilizaes est substituindo aGuerra Fria como fenmeno central da poltica global (Chiappin, 1994, p.49).

    Segundo Chiappin, Huntington apregoa que a universalizao da democracia liberal uma falcia, encontrando-se por detrs da idia de que o colapso da Unio Sovitica significao fim da histria e a vitria da democracia liberal em todo o mundo (Chiappin, 1994, p.49) 16.

    16

    O autor faz referncia ao pensamento de Huntington quanto proposta de Francis Fukuyama sobre o fim da histria,segundo o qual, o paradigma da democracia liberal foi elaborado no sentido de ser a nica alternativa ao comunismo.

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    Seguindo esta reflexo, de grande audcia imaginar que devido ao fracasso docomunismo o Ocidente ganhou o mundo para sempre.

    Outro argumento refutado por ele o de que a modernizao e o desenvolvimentoeconmico tm um efeito homogeneizador sobre o mundo, favorecendo a produo de umacultura moderna comum cultura que tem existido no Ocidente neste sculo.

    Apesar de aceitar que no mundo contemporneo as sociedades modernas tm sido associedades ocidentais, Huntington recusa a identificao entre ocidentalizao e amodernizao.

    O mesmo autor afirma que o atual estado do mundo o de conflito, ao contrrio daviso de um mundo nico, para qual esses conflitos se reduziriam, devido expanso at oslimites do planeta, do liberalismo econmico.

    A correo a ser feita na previso dos defensores da tese do mundo nico que osconflitos e violncias entre Estados e grupos vo diminuir, mas apenas no que diz respeito aosmembros de uma mesma civilizao.

    Em contrapartida, devem aumentar para os membros de civilizaes diferentes, pois[...] quando dois grupos fazem parte de uma mesma civilizao, a probabilidade de conflito

    menor (Chiappin, 1994, p.51).

    REFLEXES FINAIS

    Os mais variados enfoques aqui apresentados permitem afirmar que existe poucaperspectiva para o estabelecimento de uma cultura de alcance global unificada.

    Ao contrrio, hoje existem muitas culturas que ganharam uma visibilidade global,graas intensidade e rapidez da informao que circula pelo mundo.

    Com o processo de globalizao em curso, foi produzida uma situao onde no hmais estranhos. A pessoa que era considerada estranha agora se torna o prximo, com oresultado de que a diferena entre aquele que pertence ao grupo e o estranho no mais existe.

    Este tipo de acontecimento pode encaminhar a humanidade ao ecumenismo religioso, tolerncia e aos ideais universais, onde haveria a incluso de todos; ou a resistncia globalizao, na forma de movimentos opostos, como os diversos fundamentalismos no-ocidentais que reagem presumvel ocidentalizao do planeta.

    Segundo Milton Santos, comentado por Ribeiro, a globalizao deveria ser maishumana, mas sem descartar a base tcnica que a sustenta econmica e financeiramente(Ribeiro, 2002, p.6).

    Neste contexto, as comparaes entre uma cultura nacional e global so inviveis.

    Para Mike Featherstone:Torna-se impossvel falar de uma cultura comum, em sentido amplo, sem nosreferirmos a quem est falando da mesma, ao conjunto de interdependncias e de equilbrio do

    poder, aos objetivos que se tm em mira, e sem fazer referncia s culturas estrangeiras quedevem ser descartadas, rejeitadas, modificadas, para poder gerar um sentido de identidadecultural (Featherstone, 1990, p.18).

    Analisar este fenmeno e seu alcance global significa, na imaginao, construir umintruso no globo, espera da ameaa global, captada somente nas pginas e na amplitudedos relatos da fico cientfica relacionada aos invasores espaciais, s guerras interplanetriase intergalcticas.

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    Alm do mais, os intelectuais cosmopolitas transnacionais (poderamos nos perguntar:a servio de quais senhores?) teriam um longo caminho a percorrer para redescobrir, formulare concordar com os equivalentes globais da ethnie.17

    No raciocnio de Octvio Ianni, nmade o termo que define o modo de vida e o estilocultural e o consumo dos anos 2000. E indo mais alm, poderamos encontrar o conceito de

    cidado multidimensional, que segundo o gegrafo Milton Santos, seria o local onde asdimenses se articulam na procura de um sentido para a vida, o futuro e uma concepo demundo (Santos: 1987, p.41).

    O Mercado Global cria a iluso de que tudo tende a assemelhar-se e a se tornarhomogneo.

    Por fim, a globalizao, que combina com integrao e homogeneizao, tambm rimacom o binmio diferenciao e fragmentao.

    E neste processo, fica mais visvel e evidente o lugar; o local; o nacional; a identidadee o patriotismo; o provincianismo e o nacionalismo; as tenses entre o local e o global; entre omundo, a regio e o lugar; entre o mundo e o territrio.

    BIBLIOGRAFIA

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    ORTIZ, Renato Mundializao e cultura. So Paulo, Brasiliense, 1994, 2 ed.

    REIS, Fernando Guimares. O Brasil e a Amrica Latina. In: Temas de Poltica Externa II.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997. 2 ed.

    17

    O termo refere-se, segundo Featherstone, s etnias componentes das naes, s tradies pr-modernas, s memrias,mitos, valores e smbolos mantidos pelos diversos povos.

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    Recebido em julho de 2005

    Aceito em dezembro de 2005