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A DEFICIÊNCIA VISUAL E A PROTEÇÃO À ACESSIBILIDADE DE INFORMAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 1 Jaqueline de Moraes da Silva 2 SUMÁRIO: RESUMO; CONSIDERAÇÕES INICIAIS; A HISTÓRIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA; CONCEITO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL; ACESSO À INFORMAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL; ACESSO À INFORMAÇÃO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA; PROPRIEDADE INTELECTUAL; ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO AUTORAL; CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO DIREITO AUTORAL; A FUNÇÃO SOCIAL DOS DIREITOS AUTORAIS; CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS. RESUMO: Este artigo tem o objetivo de identificar referências jurídicas de acessibilidade de informação aos deficientes visuais na legislação brasileira, com vistas a analisar se a legislação existente garante a acessibilidade. Para tanto, utilizar-se-á a técnica de revisão bibliográfica para contemplar os temas destacados nesta análise: aspectos históricos da pessoa com deficiência e seu conceito na legislação brasileira; acesso à informação como direito fundamental e como meio facilitador para o desenvolvimento educacional e cultural do indivíduo; garantias do acesso à informação das pessoas com deficiência visual na legislação; direitos autorais, conceituação e parte histórica; e, por fim, função social do direto autoral. Nesse sentido, pode-se observar que a função social do direito autoral pode servir como instrumento para a garantia do acesso dos deficientes visuais à informação, por meio de materiais em formatos acessíveis. Conclui-se que é necessário proteger as criações intelectuais, mas esta proteção deve sofrer restrições sempre que servir de empecilho à difusão do conhecimento e disseminação da cultura. PALAVRAS-CHAVE: Pessoas com deficiência visual. Direito à informação. Função social do Direito Autoral. CONSIDERAÇÕES INICIAIS No Brasil, o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2000, estimou que cerca de 24,5 milhões de pessoas (14,5% da população brasileira) têm algum tipo de incapacidade de ver, ouvir, mover-se ou alguma deficiência física e/ou mental. Das deficiências declaradas, a mais citada é a visual, sendo que 159.824 pessoas possuem incapacidade de enxergar e 2.398.472 pessoas têm grande dificuldade permanente de enxergar, totalizando, assim, 2.558.296 pessoas com deficiência visual. Se pensarmos em formação, a pessoa com deficiência visual é prejudicada por falta de acesso a recursos, criando-se barreiras para a integração com a sociedade, visto que se deve considerar como fator primordial para a educação e cultura das pessoas o 1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) homônimo, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, e aprovado com nota máxima pela Banca Examinadora composta pelas Professoras Lívia Haygert Pithan (Orientadora), Marise Soares Correa e Márcia Andrea Buhring no dia 30 de julho de 2011 2 Assistente Social e acadêmica do curso de Ciências Jurídicas e Sociais. Contato: [email protected]

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A DEFICIÊNCIA VISUAL E A PROTEÇÃO À ACESSIBILIDADE DE INFORMAÇÃO NOORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO1

Jaqueline de Moraes da Silva2

SUMÁRIO: RESUMO; CONSIDERAÇÕES INICIAIS; A HISTÓRIA DA PESSOACOM DEFICIÊNCIA; CONCEITO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA NOBRASIL; ACESSO À INFORMAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL;ACESSO À INFORMAÇÃO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA LEGISLAÇÃOBRASILEIRA; PROPRIEDADE INTELECTUAL; ASPECTOS HISTÓRICOS DODIREITO AUTORAL; CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO DIREITO AUTORAL; AFUNÇÃO SOCIAL DOS DIREITOS AUTORAIS; CONSIDERAÇÕES FINAIS;REFERÊNCIAS.

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de identificar referências jurídicas de acessibilidadede informação aos deficientes visuais na legislação brasileira, com vistas a analisar se alegislação existente garante a acessibilidade. Para tanto, utilizar-se-á a técnica de revisãobibliográfica para contemplar os temas destacados nesta análise: aspectos históricos dapessoa com deficiência e seu conceito na legislação brasileira; acesso à informação comodireito fundamental e como meio facilitador para o desenvolvimento educacional e culturaldo indivíduo; garantias do acesso à informação das pessoas com deficiência visual nalegislação; direitos autorais, conceituação e parte histórica; e, por fim, função social dodireto autoral. Nesse sentido, pode-se observar que a função social do direito autoralpode servir como instrumento para a garantia do acesso dos deficientes visuais àinformação, por meio de materiais em formatos acessíveis. Conclui-se que é necessárioproteger as criações intelectuais, mas esta proteção deve sofrer restrições sempre queservir de empecilho à difusão do conhecimento e disseminação da cultura.

PALAVRAS-CHAVE: Pessoas com deficiência visual. Direito à informação. Função socialdo Direito Autoral.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

No Brasil, o censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) realizado em 2000, estimou que cerca de 24,5 milhões de pessoas(14,5% da população brasileira) têm algum tipo de incapacidade de ver, ouvir, mover-seou alguma deficiência física e/ou mental. Das deficiências declaradas, a mais citada é avisual, sendo que 159.824 pessoas possuem incapacidade de enxergar e 2.398.472pessoas têm grande dificuldade permanente de enxergar, totalizando, assim, 2.558.296pessoas com deficiência visual.

Se pensarmos em formação, a pessoa com deficiência visual é prejudicada porfalta de acesso a recursos, criando-se barreiras para a integração com a sociedade, vistoque se deve considerar como fator primordial para a educação e cultura das pessoas o

1Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) homônimo, apresentado como requisito parcial

para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, na Faculdade de Direito da PontifíciaUniversidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, e aprovado com nota máxima pela BancaExaminadora composta pelas Professoras Lívia Haygert Pithan (Orientadora), Marise Soares Correa eMárcia Andrea Buhring no dia 30 de julho de 20112

Assistente Social e acadêmica do curso de Ciências Jurídicas e Sociais. Contato: [email protected]

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acesso ao acervo cultural, sobretudo, através de materiais visuais (livros didáticos ouliterários, jornais, revistas).

Para que uma pessoa com deficiência visual leia um livro, é necessário que eleesteja em algum formato acessível, como Braille ou formatos modernos, digitais, ou queseja processado em um equipamento de scanner com OCR3, para posterior leitura por umsoftware de voz instalado no computador, ou que dependam da boa vontade de “pessoasledoras”4 para que realizem a leitura do material. É evidente que o livro “convencional”não atende às necessidades do deficiente visual.

Dessa forma, é importante citar que menos de 5% das obras lançadas pelomercado editorial (entre livros didáticos e literários) são disponibilizados em formatosacessíveis a deficientes visuais. A fim de aprofundar o debate, busca-se refletir sobre afunção social do direito autoral, que pode ajudar a garantir o acesso do deficiente visualao livro, uma vez que esta garantia, infelizmente, ainda está longe da efetivação.

O presente tema foi motivado pelo fato de a autora exercer profissionalmente acoordenação do centro de produção de materiais em formatos acessíveis para deficientesvisuais da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul – ACERGS, o que a fazconfrontar, diariamente, com os entraves para a transformação desses materiais e com agrande dificuldade dos deficientes visuais no acesso às informações escritas.

Este artigo se propõe a fazer uma reflexão acerca da proteção à acessibilidadede informação dos deficientes visuais frente ao ordenamento jurídico brasileiro. Busca-se,deste modo, a maior compreensão sobre esse tema, identificando na legislação brasileirareferências jurídicas de acessibilidade dos deficientes visuais à informação, com vistas aanalisar se a legislação existente garante a acessibilidade. Para tanto, o presente trabalhoé constituído de três capítulos. Primeiramente, expõe historicamente as transformaçõesdo conceito das pessoas com deficiência e sua exclusão/inclusão na sociedade. No finaldo capítulo, apresenta o conceito atual de pessoa com deficiência, a fim de iluminar asreflexões seguintes.

Para os deficientes visuais, o atual entrave para a sua inclusão é o não acesso àinformação pela falta de documentos e materiais que estejam em formato apropriado.Partindo dessa afirmação, construiu-se o capítulo posterior, onde se busca conceituar oacesso à informação, entendendo-o como um direito fundamental, e, para tanto,aprofunda-se no que é um direito fundamental, buscando referencial teórico adequado.Assim, é apresentado o que na legislação brasileira entende-se como uma garantia aoacesso à informação do deficiente visual.

Finalmente, abrange-se a temática de Direitos Autorais e, para tanto, tem início aexposição com o conceito de Propriedade Intelectual, que pretende, com a exposição dahistória do direito autoral, compreender como iniciou essa temática no Brasil e no mundo.Após, conceitua-se o tema e, por fim, aprofunda-se a temática da função social dosdireitos autorais e se reforça a discussão de que é necessário proteger as criaçõesintelectuais para que os autores sejam incentivados à criação, porém que essa proteçãodeva sofrer restrições sempre que servir de empecilho à difusão do conhecimento edisseminação da cultura.

Assim sendo, busca-se com o presente artigo contribuir com os estudos tãoincipientes da temática e pretende-se que este material possa servir de referência para adiscussão pela ampliação dos direitos das pessoas com deficiência.

3OCR é sigla para reconhecimento ótico de caracteres, que transforma um texto de um meio físico para

digital, para uso em um programa de texto.4

Termo que designa aquele que lê para a pessoa cega.

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A HISTÓRIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Ao se analisar a temática historicamente, é possível perceber que quando aspessoas apresentavam alguma deficiência, eram simplesmente afastadas do convíviosocial. Em alguns momentos, foram exterminadas por serem considerados empecilhos àsobrevivência do grupo.

Nessa contextualização histórica não se mostram indícios comprovados de comoas pessoas com deficiência eram tratadas nas relações dos grupos de humanoschamadas de tribos, na era primitiva, em um ambiente hostil onde a luta por alimento eradiária. Nesse sentido, estudiosos concluem que para as pessoas com deficiência asobrevivência era quase impossível devido ao ambiente ser muito desfavorável, e assim,representavam um fardo para o grupo, o que ocasionava, muitas vezes, o isolamentodessas pessoas, de suas tribos.5

Em trechos bíblicos pode-se observar o impedimento de todos os doentes edeficientes, na participação nos rituais, por serem considerados impuros para o culto aDeus. Vejamos:

O Senhor falou a Moisés: Dize a Aarão: Nenhum de teus futuros descendentesque tenha algum defeito físico poderá aproximar-se para oferecer o alimento deseu Deus. Nenhum homem com defeito poderá aproximar-se para ministrar, sejacego, coxo, desfigurado ou deformado, tenha pé ou mão quebrados, sejacorcunda, anão, vesgo, tenha sarna, eczema ou testículo esmagado. Nenhumdescendente do sacerdote Aarão que tenha algum defeito físico poderá aproximar-

se para oferecer as ofertas queimadas para o Senhor [...].6

Na bíblia também há referência à deficiência física ou mental como castigo, que,no caso, com o descumprimento dos mandamentos, o indivíduo receberia uma puniçãodivina.

Mas, se não obedeceres à voz do Senhor teu Deus, guardando e praticando todosos seus mandamentos e leis que hoje te prescrevo, eis as maldições que virãosobre ti e te atingirão: [...] O Senhor te ferirá de loucura, cegueira e delírio. Empleno meio-dia andarás tateando, como cego na escuridão.

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Conforme Amaral, nesta época, representa-se o cego como vilão, uma pessoamá, pois a cegueira assim como a loucura e a deficiência, é apresentada como umcastigo divino devido à desobediência.8

Por outro lado, a Bíblia Sagrada traz uma citação interessante em favor do deverde respeitar a pessoa com deficiência, conforme trecho que segue: “Não amaldiçoarás osurdo, nem porás tropeços diante do cego, mas temerás o Senhor teu Deus, porque eusou o Senhor.”9

Com referência à civilização egípcia, cita-se que reconhecida, por muito tempo,como terra dos cegos porque seu povo era constantemente acometido por infecções nos

5GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade.

Artigo preparado para o programa de qualificação da pessoa com deficiência da Microlins. Disponível em:<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:kk24b8hah5AJ:www.ampid.org.br/Artigos/PD_Historia.php+seculo+XX+pessoas+com+deficiencia&cd=1&hl=ptBR&ct=clnk&gl=br&client=firefoxa&source=www.google.com.br>. Acesso em: 17 de abr. 2011.6

BÍBLIA sagrada, português. Tradução da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),LEVÍTICO, 21: 16-21.7Ibidem. DEUTERONÔMIO, 28: 15,28,29.

8AMARAL, Ligia Assumpção. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hércules, São Paulo: Robe

Editorial, 1995. p. 47.9 BÍBLIA sagrada, português. Tradução da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),LEVÍTICO, 21: 19-14.

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olhos que culminavam com a deficiência visual total. Ao passo que existem papiros quecontêm fórmulas para tratar diversas infecções, inclusive as oculares.10

Muitos autores citam esta sociedade como a de incidência em menor grau noscasos de pessoas com deficiência, associando este fato, principalmente, à dietavegetariana de seus habitantes. Tem-se o registro de anões no alto escalão social, sendoestes menos prejudicados socialmente, pois jamais foram vistos como inferiores oumarginalizados frente a outros homens.11 Ainda assim, consideravam que a deficiênciaera provocada por “maus espíritos”, contudo a nobreza tinha acesso a tratamento,enquanto os pobres sucumbiam às mãos de charlatões e, muitas vezes, eram usadospelos sacerdotes para estudos em cirurgias.12

Já, na Mitologia Egípcia, conta a lenda que o faraó Phaeton perdeu a visão pordez anos, como forma de castigo, após lançar um dardo no Rio Nilo, que haviatransbordado, sendo que aquele mal somente seria sanado quando lavasse os olhos comurina de uma mulher que nunca tivesse tido contato com outro homem senão seu própriomarido. Segue trecho com a continuação desta lenda:

A experiência com a urina de sua própria esposa não deu resultado. [...] continuoua fazer tentativas, até que um dia recuperou a visão. [...] tomou uma providenciaadicional: reuniu todas as mulheres infiéis aos seus maridos - inclusive a sua -numa cidade abandonada e mandou incendiá-la, matando todas elas. Logo em

seguida casou-se com a mulher que lhe devolvera a visão.13

Nessa mitologia, existiu o Deus chamado “Bes”, anão, alegre, gordo, barbudo efeio ao ponto de se tornar engraçado, bobalhão. Este Deus era conhecido por se importarcom o bem das pessoas e dos Deuses, não desejava mal a nenhum ser vivo, o que otransformava em amuleto que afastava os males da vida dos antigos egípcios. Portanto,acredita-se que havia a aceitação, pela sociedade egípcia, das pessoas com deficiência14,

Na civilização hebraica, a discriminação era expressa em leis:

A deficiência era vista, pelos antigos hebreus, como indicadora de impureza,remissão de pecados antigos, interferência de maus espíritos e das forças más danatureza, logo os deficientes tinham que esmolar para sobreviver, ficandoexpostos nas ruas e praças, e eram apenas tolerados pela sociedade.

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10GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade.

Artigo preparado para o programa de qualificação da pessoa com deficiência da Microlins.. Disponívelem:<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:kk24b8hah5AJ:www.ampid.org.br/Artigos/PD_Historia.php+seculo+XX+pessoas+com+deficiencia&cd=1&hl=ptBR&ct=clnk&gl=br&client=firefoxa&source=www.google.com.br>. Acesso em: 17 de abr. 2011. p.111

LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009. p. 2312

SCHEWINSKY, Sandra Regina. A Barbárie do preconceito contra o deficiente – todos somosvitimas. In Revista Eletrônica Acta Fisiatrica 2004; 11(1): 7-11. Disponível em:<http://www.actafisiatrica.org.br/v1%5Ccontrole/secure/Arquivos/AnexosArtigos/A87FF679A2F3E71D9181A67B7542122C/artigo%2001%20acta_v11_n01.pdf> Acesso em: 17 de abr. 2011. p. 813

SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e dehoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 64.14 LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009. p. 2315

SCHEWINSKY, Sandra Regina. A Barbárie do preconceito contra o deficiente – todos somosvítimas. In Revista Eletrônica Acta Fisiátrica 2004; 11(1). Disponível em:<http://www.actafisiatrica.org.br/v1%5Ccontrole/secure/Arquivos/AnexosArtigos/A87FF679A2F3E71D9181A67B7542122C/artigo%2001%20acta_v11_n01.pd>. Acesso em: 17 de abr. 2011. p. 8

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Na Grécia percebe-se a supervalorização do corpo belo e guerreiro, pronto paraenfrentar as guerras internas e externas, por isso aquele que não correspondesse a talideal, era marginalizado. No entanto, caso algum guerreiro fosse mutilado na guerra, háregistros, ele seria protegido pelo Estado.16

A mitologia Grega cita formas de castigo, como a cegueira, considerada fruto daira divina, como contemplam alguns trechos na Bíblia já citados, assim segue: “O ferreirodivino Hefaísto nasceu manco e tão feio que sua mãe, Hera, atirou-o no rio Oceano. Salvopelas ninfas, tornou-se um artesão famoso.”Além disso, as deficiências poderiam sermotivadas por autoflagelação, fato percebido no mito de Édipo, que furou seus olhos e foiviver em um exílio com suas filhas. 17

No Estado Espartano, a ideia de criar apenas os bebês mais fortes, visto que acidade vivia constantemente sobre guerras, fazia com que fosse comum a destruição dosbebês “disformes”, pois havia a ideia de que estes bebês iriam prejudicar, futuramente, odesenvolvimento pensado para a época.18

[...] sabe-se que as pessoas desviantes/diferentes/deficientes tinham, conforme omomento histórico e os valores vigentes, seu destino selado de forma inexorável:ora eram mortas, assim que percebidas como deficientes, ora eram simplesmenteabandonadas à “sua sorte”, numa prática então eufemisticamente chamada de

“exposição”.19

Esta prática de abandono de crianças era considerada comum, uma vez que asfamílias recorriam a lugares considerados sagrados para renunciar à criança. Elas eramdeixadas em cestos, vestidas com roupas que continham símbolos referentes às famíliasmaternas porque, segundo a cultura, caso a criança morresse, as vestes serviriam deadorno em seu funeral. Algumas crianças abandonadas eram recolhidas por famílias como intuito de explorá-la na mendicância, a partir do sentimento de caridade das pessoas dacomunidade.20

Segundo Otto Marques Silva, o estado era possuidor da vida de todos osEspartanos nascidos em famílias conhecidas como iguais, “homoioi”, então o pai de umrecém-nascido era obrigado a levar o bebê a uma espécie de comissão oficial, formadasomente por anciãos de reconhecida autoridade na sociedade, para que “se lhesparecesse feia, disforme e franzina”, em nome do Estado e da chamada “linhagem”, estacomissão ficasse com a criança e a levasse a um lugar chamado “Apothetai”, que significa“depósitos”, um abismo situado em uma cadeia de montanhas para, de lá, a criança serarremessada. No entanto, se o bebê fosse considerado “normal”, por esta comissão, o pai

16SCHEWINSKY, Sandra Regina. A Barbárie do preconceito contra o deficiente – todos somos

vítimas. In Revista Eletrônica Acta Fisiátrica 2004; 11(1). Disponível em:<http://www.actafisiatrica.org.br/v1%5Ccontrole/secure/Arquivos/AnexosArtigos/A87FF679A2F3E71D9181A67B7542122C/artigo%2001%20acta_v11_n01.pd>. Acesso em: 17 de abr. 2011. p. 817

WILKINSON, Philip. O livro ilustrado da mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandesheróis e deuses do mundo inteiro. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 57.18 LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009. p. 2719

AMARAL, Lígia Assumpção. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hércules. São Paulo: RobeEditorial, 1995. p. 43.20

LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 28

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tinha a responsabilidade de criá-lo até os 6 a 7 anos de idade e, depois, o Estado seresponsabilizaria por sua criação, encaminhando-a à preparação na arte de guerrear. 21

Na filosofia Ateniense, a visão de exclusão e até mesmo a morte das pessoascom deficiência era citada por pensadores importantes e, até hoje, referenciados.Vejamos em Platão, República, livro III, “cuidarão apenas dos cidadãos bem formados decorpo e alma, deixando morrer os que sejam corporalmente defeituosos”. 22

Aristóteles possuía o mesmo entendimento quanto aos nascidos com deficiência,“[...] com respeito a conhecer quais os filhos que devem ser abandonados ou educados,precisa existir uma lei que proíba nutrir toda criança disforme.”23

Em contrapartida a esta situação, a inclusão, através de leis protetoras, existiapara aqueles indivíduos que adquiriam alguma deficiência no decorrer da vida, conformePlutarco, citado na obra de Silva:

Sólon estabeleceu normas bem claras para proteger também cidadãos ateniensesenfraquecidos por doenças ou vitimados por deficiências. Em Atenas, essasnormas, além de garantir a alimentação, davam ampla liberdade para quequalquer agressor fosse processado por atos de injúria ou de ataques físicos, casoalguns desses cidadãos deficientes fosse assaltado, espancado ou sofresse

qualquer tipo de violência.24

Em Roma, grande criadora de leis, havia leis que referiam se os bebês poderiamter direitos ou não. Os bebês com “vitalidade”e forma humana teriam os seus direitospreservados, já os bebês que apresentavam sinais de “monstruosidade” não tinhamcondições básicas de capacidade de direito.25

Os romanos também possuíam o poder de morte de seus filhos, assim como osespartanos; mas, para tal, a família deveria mostrar o recém-nascido a cinco vizinhos,para que fosse certificada a existência de anomalia ou mutilação e, assim, o homicídioseria considerado legal.26

Com o início do Cristianismo, os males históricos sofridos pelas pessoas comdeficiência são amenizados em decorrência da ideia de igualdade e amor ao próximo,pela criação por um único Deus, e fé cristã. 27

Antes de se estabelecer, o Cristianismo e seus adeptos foram alvos deperseguições por parte dos romanos. A intenção era desencorajar seus seguidores,aplicando sentenças de morte, ou condenar seus seguidores à subtração de partes docorpo, tornando alguns adeptos, pessoas com deficiência.28

Segue trecho de Silva, que expõe mais claramente este pensamento:

21SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de

hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 121-122.22 LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 2923

Ibidem.24

SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e dehoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 126.25

LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 3026

SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e dehoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 12827 LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 3228

Ibidem.

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Alguns desses imperadores, preocupados em manter uma certa imagem declemência e de humanidade, resolveram mudar de tática: os juízes passaram areceber ordens para não mais condenar os cristãos à tortura e à morte. [...]Ordenou-se que a partir de então vazassem nossos olhos e aleijassem uma denossas pernas. Esta foi a humanidade e esse lhes pareceu um gênero brando desuplício.

29

Com o Cristianismo consolidado, esta nova época traz mudanças significativaspara as pessoas com deficiência, pois condena abertamente a morte de criançasrejeitadas pelos pais devido à deformação, além da libertinagem e a perversão nocasamento. Os deficientes passaram a ser considerados “criaturas de Deus” emerecedores de cuidados, pois... “Uma grande alma pode ser encontrada em um corpopequeno e disforme”30.

Tanto que Constantino, em 315 D.C., editou uma lei que tinha claras influênciasdos princípios de respeito à vida defendidos pelo Cristianismo, e um dos cânones,conjunto de regras, da época, declarava irregulares os casos de sacerdotes que se automutilavam, porque “eles são suicidas de si mesmos”, sendo castigados, por esta ação,com o afastamento de suas funções sacerdotais.31

Em contrapartida a essas ações, citamos Silva:

Gelásio I, papa que reinou de 492 a 496, reafirmou a mesma orientação de Hilárioe do concilio de Roma contra aceitação de sacerdotes com deficiência, ao afirmarem sua carta ao bispo de Lucânia que candidatos ao sacerdócio não poderiam sernem analfabetos nem “ter alguma parte do seu corpo incompleta”.

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Conforme os trechos citados referentes ao Cristianismo, podemos verificar queesta época ainda é marcada por contradições dentro da própria religião.

A Inquisição surgiu em 1183 e com ela houve um grande período de perseguiçãoàs pessoas com deficiência. Marcada pela caça às bruxas, entendia-se que a doençamental era o acometimento de “espíritos malignos”. Caracterizada na época comofenômeno metafísico e espiritual, a deficiência foi atribuída ora a desígnios, ora àpossessão pelo demônio, e como loucos foram levados à fogueira, “por uma razão ou poroutra, a atitude principal da sociedade com relação ao deficiente era a de intolerância e depunição, representada por ações de aprisionamento, tortura, açoite e outros castigosseveros.”33

A psiquiatria, ao afirmar que as feiticeiras eram mulheres com distúrbios mentais,incita a exclusão do deficiente e dá suporte às mais cruéis formas de extermínio daspessoas com deficiência.34 Szasz cita trecho em que se traz a teoria do antropólogoInglês Geoffrey Parrinder, que descreve:

29SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de

hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 156.30

SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e dehoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 15031

Ibidem p. 160.32 Ibidem p. 15033

NOGUEIRA, Carolina de Matos.A história da deficiência: tecendo a história da assistência a criançadeficiente no Brasil. Trabalho de Conclusão da Disciplina História da Assistência a Infância no Brasil -apresentado ao Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Políticas Públicas e Formação Humana doCentro de Educação e Humanidades – Centro de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio deJaneiro. – Rio de Janeiro. 2008. Disponível em: <www.apaebrasil.org.br/arquivo.phtml?a=12605>. Acessoem: 17 de abr. 2011.p.434 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.Guanabara, 1971. p.126, 127.

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Se os homens desejavam uma explicação de todos os males da natureza,puderam encontrá-la nas atividades diabólicas das feiticeiras. Estas constituíamum bode expiatório para os problemas da sociedade, tal como o tinham feito osjudeus em determinados períodos, e tal como fariam novamente para os nazistas

alemães no final do século XX.35

Exemplo simbólico do preconceito e discriminação vivida pela pessoa comdeficiência é a obra “O Corcunda de Notre Dame”, do escritor francês Victor Hugo,publicado em 1831, que mostra a rejeição da sociedade ao ser relegado a uma vidasolitária e desumana. A dificuldade que o ser humano tem em conviver com a diferençaestética, social, religiosa, étnica e cultural é o grande mote da obra.36

Nos séculos XVIII e XIX, este quadro de afastamento foi minimamente alteradopela criação de instrumentos criados com a intenção de propiciar meios de trabalho elocomoção aos portadores de deficiência, entre eles, cadeira de rodas, muletas, bengalas,coletes, próteses e veículos adaptados. Nesta fase, se amplia o uso da língua de sinaispara surdos e o sistema Braille, método publicado por Louis Braille em 1829, que propiciaa integração dos deficientes visuais ao mundo da linguagem escrita.37

Por outro lado, neste mesmo período ocorre a implantação dos manicômios,significando a ruptura do pensamento de que seria, a deficiência, uma situaçãodesencadeada por espíritos malignos e, portanto, abominados, pela prática da Inquisiçãona era Cristã. O confinamento das pessoas com deficiência mental era visto como umproblema médico, que tentou ser solucionado pela construção de hospícios e hospitaispúblicos, mas que, na realidade, viram a servir como grandes depósitos, pois não havia ointuito de reabilitação do ser humano. Portanto, eram aprisionados, pois seriamconsiderados uma ameaça à sociedade caso fossem libertados. “Ressalta-se o fato detais depósitos serem, neste momento histórico, de pessoas vivas, diferentemente dasociedade espartana que tinha o seu depósito de bebês mortos –Apothetai.”38

Benjamim Rush, pai da psiquiatria americana, teve grande influência nesseprocesso, pois afirmava que não havia diferenças entre doenças físicas e doençasmentais. Realizava o seu controle coercitivo através de sanções terapêuticas e nãopunitivas. Suas ideias revolucionárias, infelizmente, não contribuíram em nada com areabilitação dos deficientes, mas os submeteu a tratamentos desumanos. Acreditava quepara se curar a loucura o médico precisava ter um controle integral sobre o paciente. Paratal, criaram-se os hospícios – uma combinação de asilo para exclusão e de hospital paracura e estudos.39

Nesse sentido, o tratamento não acontecia por meio de força ou de violência,acontecia com poder e autoridade tão eficazes e rígidos a ponto de impressionar ospacientes que não faria necessária a utilização de métodos de controle mais rígidos.Contudo, mesmo com este discurso, os desobedientes eram tratados através de terror e

35SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p.126, 127.36

DIAS, Bárbara Camboim Dentzien. Inclusão de pessoas portadoras de deficiência: um tipo deresponsabilidade social. Dissertação apresentado como requisito à obtenção de título de Mestre emCiências Sociais, pelo Programa de Mestrado em Ciências Sociais Organização e Sociedade, da Faculdadede Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica de Rio Grande do Sul: Porto Alegre.2008. p. 13 e1437

SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e dehoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 15038

LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 3839

Ibidem.

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sofrimento. O exemplo seguinte mostra muito claramente o que Rush pensava dosloucos:

[...] compara-os a animais não domados e considera que o dever do médico édominá-los. Em sua lista de recomendações terapêuticas - entre as quaisencontramos “confinamento por camisa de força”, [...] privação de seus alimentosusual e agradável, [...] despejar água fria sob a camisa, sangria, solidão,

escuridão.40

Outros tratamentos utilizados na época buscavam inspiração em técnicasutilizadas para domar cavalos, deixando-os em posição ereta, acordados durante vinte equatro horas, como forma de acalmar o paciente. Além disso, usava-se o “girador”,técnica que utilizava um aparelho para girar o paciente em grande velocidade, poderiatambém ser utilizada a técnica chamada “mergulho”, que consistia em imergir o pacientena água, ameaçando-o de afogamento. Com estes tratamentos, muitos deficientesperderam não só a liberdade, mas também a vida.41

Conforme Foucault:

[...] Leurent42

submetera seus doentes a uma ducha gelada na cabeça eempreendera neste momento, com eles, um diálogo durante o qual forçá-los-á aconfessar que sua crença é apenas delírio. [...] O louco tinha que ser vigiado nosseus gestos, rebaixado nas suas pretensões, contratido no seu delírio,ridicularizado nos seus erros: A sanção tinha que se seguir imediatamentequalquer desvio em relação a uma conduta normal.

43

Um período vergonhoso, tanto para a história geral da humanidade quanto para ocorpo legislativo, a Segunda Guerra Mundial e seu período foram marcados por exclusãoe extermínio de pessoas com deficiência. A ascensão dos regimes totalitários acentuou aintolerância nos mais diversos níveis sociais. A política de esterilização continuava ativa e,mesmo com o protesto da Igreja contra o extermínio dos deficientes, muitas pessoas comdeficiência eram levadas às câmaras de gás e outras tantas eram submetidas aexperiências, ditas médicas, que findavam em morte, buscando-se descobrir o porquê dainferioridade dos corpos deficientes.44

[...] a rigor, a primeira câmara de gás foi utilizada contra pacientes de um hospitalpsiquiátrico no programa nazista chamado de “eutanásia”, que matou cerca de100 mil alemães considerados “doentes mentais e incuráveis”, entre elesepiléticos, surdos, cegos, pessoas com lábio leporino, às vezes também pessoasconsideradas “associais”e judeus.

45

40SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p. 18141

LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 3842

Nota explicativa: Médico Psiquiatra.43

FOUCAULT, Michel. Doença mental e psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro:Ed. Tempo Brasileiro, 1984. p. 82 e 8344

LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dosportadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 4345

CYTRYNOWICZ, Roney. Segunda guerra mundial um balanço histórico. São Paulo: Ed. Xamã, 1995.p. 217.

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Alguns decretos foram criados a fim de legalizar a esterilização por motivoseugênicos. Alemães esterilizaram populações inteiras a fim de obter um novo equilíbrioracial, enquanto pesquisavam formas de multiplicar a chamada “raça pura”, estudando agestação dos gêmeos.46

Para o nazismo, a medicina deveria se ocupar da higiene racial, da pureza étnica,e não dos indivíduos. Esta ideia deriva da visão de que a história era movida poruma permanente luta entre raças, luta na qual os arianos seriam vencedores. Aosnazistas se viam, portanto, como agentes biológicos que intervinham em umprocesso histórico-natural para abreviar um fim que se imporia pela lógica da

história, que daria a vitória aos arianos.47

Com o fim de duas guerras mundiais, um imenso contingente de mutiladosapresentava problemas de readaptação social, além do comprometimento físico.Originou-se o sistema de Seguridade Social e identificou-se a necessidade de propiciar àspessoas com deficiência uma atividade remunerada e uma vida social digna.

Nesse sentido, em 1948, a comunidade internacional se reúne na sede da ONU,em Nova York, a fim de documentar os direitos das pessoas, nascendo, assim, aDeclaração Universal dos Direitos Humanos, em vias de abolir as atrocidades cometidasdurante a Segunda Guerra Mundial. A Declaração Universal dos Direitos do Homempreconiza em seu artigo 1º: todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade edireitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outrascom espírito de fraternidade.48

No artigo 25 há menção à pessoa com deficiência, designada de “inválida”:

1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a suafamília saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidadosmédicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso dedesemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dosmeios de subsistência fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têmdireito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas, dentro oufora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

A Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, aprovada pelaOrganização das Nações Unidas, ONU, em 9 de dezembro de 1975, garantiu aosportadores de deficiência os direitos inerentes à dignidade humana, bem como previu queas necessidades especiais seriam consideradas no planejamento econômico e social.49

Nessa época a sociedade organiza-se coletivamente para garantir os direitos emelhor atender a pessoa com deficiência, aperfeiçoando elementos tecnológicosassistivos50 tais como cadeira de rodas, bengalas, sistema de ensino para surdos ecegos, dentre outros. Nesse sentido, a sociedade levanta-se para a manutenção de

46LEMOS, Douglas. Deficiência e exclusão social: uma contribuição à inclusão sócio-juridica dos

portadores de necessidades especiais. Monografia apresentada para obtenção do título de Bacharel emDireito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus deItajaí. 2009.p. 44 e 4547

CYTRYNOWICZ, Roney. Segunda guerra mundial um balanço histórico. São Paulo: Ed. Xamã, 1995.p. 217.48

SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.Guanabara, 1971. p.126, 127.49

GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua relação com a história da humanidade.Artigo preparado para o programa de qualificação da pessoa com deficiência da Microlins. Disponível em:<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:kk24b8hah5AJ:www.ampid.org.br/Artigos/PD_Historia.php+seculo+XX+pessoas+com+deficiencia&cd=1&hl=ptBR&ct=clnk&gl=br&client=firefoxa&source=www.google.com.br>. Acesso em: 17 de abr. 2011.p.350

Ajudas técnicas e tecnologias assertivas são expressões sinônimas nos documentos brasileiros quandose referem aos recursos desenvolvidos e disponibilizados para pessoas com limitações funcionais.

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instituições organizadas e estruturadas na Europa, em favor das pessoas com deficiência.Percebe-se então que as pessoas com deficiência precisam participar ativamente docotidiano e integrar-se à sociedade.

CONCEITO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL

No Brasil, há duas normas internacionais devidamente ratificadas, o que lhesconfere status de leis nacionais, que são a Convenção nº 159/83 da OIT e a ConvençãoInteramericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra asPessoas Portadoras de Deficiência, também conhecida como Convenção da Guatemala,que foi promulgada pelo Decreto nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Ambas conceituamdeficiência, para fins de proteção legal, como uma limitação física, mental, sensorial oumúltipla, que incapacite a pessoa para o exercício de atividades normais da vida e que,em razão dessa incapacitação, a pessoa tenha dificuldades de inserção social.51

Atualmente, o conceito mais moderno que temos de pessoa com deficiênciaencontra-se na convenção internacional dos direitos das pessoas com deficiência,52

assinado em Nova York, em 30 de março de 2007, promulgado no Brasil pelo decreto Nº6.949 de 25 de agosto de 2009, com status de emenda constitucional segundo oparágrafo 3, artigo 5º da Constituição Federal, entende no seu artigo primeiro que:

O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o exercíciopleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais portodas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidadeinerente.Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo denatureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação comdiversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedadeem igualdades de condições com as demais pessoas.

53

ACESSO À INFORMAÇÃO E A DEFICIÊNCIA VISUAL

Conforme o exposto no capítulo anterior, as pessoas com deficiência sofreram,através dos tempos, o preconceito, a exclusão e, por alguns períodos, seu extermínio.Hoje, os ideais de inclusão e igualdade permeiam a legislação brasileira e internacional,reforçando as ações da sociedade civil para o pleno desenvolvimento das pessoas comdeficiência.

Para os deficientes visuais, foco deste trabalho, o atual entrave para sua inclusãoé o não acesso à informação que está relacionado acessibilidade de documentos escritosem formatos acessíveis. Infelizmente, o acesso a esse material é escasso, o quedesfavorece o processo de educação e desenvolvimento cultural das pessoas comdeficiência visual.54

No Brasil, cálculos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para aexistência de 1,1 milhão de cegos (0,6% da população estimada) e cerca de 4 milhões de

51BRASIL, Site do Conselho nacional da pessoa com Deficiência. Disponível em:

<http://www.conede.sc.gov.br/index.php?option=com_content&view=category&id=18&Itemid=11>. Acessoem: 17 de abr. 2011.52

BRASIL, decreto Nº 6.949 de 25 de agosto de 2009. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato 2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 17 de abr.2011.53

Grifo nosso54

SILVA, Chirley Cristiane Mineiro da, TURATTO, Jaqueline, MACHADO, Lizete Helena. Os deficientesvisuais e o acesso à informação p. 9-19. Revista ACB, América do Norte, 7, ago. 2005. Disponível em:<http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/view/368/439>. Acesso em: 17 Abr. 2011. P.11

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pessoas com baixa visão.55 Se pensarmos em formação, a criança e jovem deficientevisual são prejudicados por falta de acesso a recursos, culturas e tecnologias, criando-sebarreiras para a integração dos deficientes visuais à sociedade e a uma formação regularde qualidade.56

A autora Marília Mesquita Guedes Pereira 57 afirma que “se deve considerar comofator primordial para a educação e cultura das pessoas o acesso ao acervo cultural,sobretudo através de livros”. Como já foi explicitado, para uma pessoa com deficiênciavisual ler um livro é necessário que ele esteja em algum formato acessível, como Brailleou formatos modernos, digitais, ou que seja processado em um equipamento de scannercom OCR58, para posterior leitura por um software de voz instalado no computador. Éevidente que o livro “convencional”não atende às necessidades do deficiente visual. Oacesso ao livro é relativamente fácil para as pessoas com visão e se torna difícil para aspessoas cegas.59

De acordo com Costa, o deficiente visual é privado de muitas oportunidades, sempoder acessar materiais didáticos e informativos disponíveis. Esses materiais sãonecessários para informações ou estudos em instituições de ensino, visando garantir suaautonomia, inserindo-o em diversos ambientes que propiciem aprendizado. Assim, édever da sociedade civil organizada e dos órgãos públicos tomar atitudes no sentido demelhorar as condições de acessibilidade para o deficiente visual.60

Dados de 2010 apontam que no Brasil são lançados anualmenteaproximadamente vinte mil novos títulos pelo mercado editorial – entre livros didáticos eliterários – e que menos de 5% (cinco por cento) dessas obras são disponibilizadas emformatos acessíveis aos deficientes visuais.61 Para tanto, aponta-se que somente duasinstituições no Brasil produzem livros para deficientes visuais em quantidadessignificativas, sendo uma pública, Instituto Benjamim Constant, IBC62, que produz livrosdidáticos no formato Braille, e uma privada, Fundação Dorina Nowill para Cegos, FDNC63,que produz livros didáticos e literários.

Neste capítulo pretende-se conceituar o termo acesso à informação, ressaltar seuespaço como direito fundamental e apresentar, na legislação brasileira, as garantias destedireito.

55ORGANIZAÇÃO mundial da saúde. Disponível em: http://www.who.int/es/. Acesso em: 17 Abr. 2011.

56BORGES, José Antonio. Dosvox um novo acesso dos cegos à cultura e aos trabalho. Benjamin

Constant, Rio de janeiro, n. 3, maio de 1996. Disponível em: <www.ibcnet.org.br>. Acesso em: 17 Abr.2011.p.257 PEREIRA, Marília Mesquita Guedes. Biblioterapia: proposta de um programa de leitura paraportadores de deficiência visual em bibliotecas públicas. João Pessoa: Ed. Universitária, 1996. p. 2858

OCR é sigla para reconhecimento ótico de caracteres, que transforma um texto de um meio físico paradigital, para uso em um programa de texto.59

SILVA, Chirley Cristiane Mineiro da, TURATTO, Jaqueline, MACHADO, Lizete Helena. Os deficientesvisuais e o acesso à informação p. 9-19. Revista ACB, América do Norte, 7, ago. 2005. Disponível em:<http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/view/368/439>. Acesso em: 17 Abr. 2011. p.1160

COSTA, José Maurício. Acesso a Recursos Informacionais para Deficientes Visuais. Projeto dePesquisa (Instituto de Ciências Exatas e Informática) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,Arcos2008, p. 8-24.61

A importância da leitura para os deficientes visuais, sem autor. Disponível em: <http://www.vejam.com.br/node/393>. Acesso em: 17 Abr. 2011. p.262

Criado pelo Imperador D.Pedro II através do Decreto Imperial n.º 1.428, de 12 de setembro de 1854, oInstituto Benjamin Constant foi inaugurado, solenemente, no dia 17 de setembro do mesmo ano, napresença do Imperador, da Imperatriz e de todo o Ministério, com o nome de Imperial Instituto dos MeninosCegos.63

Criado em 1946 com o nome de Livro do Cego no Brasil. Em 1951, Dorina de Gouvêa Nowill assume apresidência da instituição, onde atuou por mais de 60 anos. Em 1991 em homenagem a sua idealizadora, ainstituição passa a se chamar Fundação Dorina Nowill para Cegos

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ACESSO À INFORMAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Os direitos fundamentais são o conjunto de princípios, normas, prerrogativas,deveres e institutos inerentes à soberania popular, que têm por objetivo garantir aconvivência pacífica, digna, livre e igualitária, independentemente das característicasfísicas e psíquicas humanas. São formados a partir de aspectos históricos, levando emconsideração as necessidades básicas e inerentes à pessoa humana.64

Segundo Uadi Lâmmego, “sem os direitos fundamentais o homem não vive, nãoconvive, e, em alguns casos, não sobrevive”. 65 No Direito, entende-se os direitosfundamentais como sendo direitos da pessoa humana reconhecidos pela lei fundamental.Podem ser entendidos como declaração em meio organizado politicamente com o objetivode satisfazer os anseios daquela sociedade, como: liberdade, igualdade e dignidade dapessoa humana.66

Nesse sentido, Canotilho67 afirma:

Os direitos fundamentais são direitos do particular perante o Estado, sãoessencialmente direitos de autonomia e direitos de defesa; [...] revestem,concomitantemente, o caráter de normas de atribuições de competência entre oindivíduo e o Estado; [...] apresentam-se como pré-estatais, definindo um domíniode liberdade individual e social, no qual é vedada qualquer ingerência do Estado;substância e conteúdo dos direitos, bem como a sua utilização, ficaram fora decompetência regular dos entes estatais, dependendo unicamente da iniciativa doscidadãos; a finalidade e o objetivo dos direitos fundamentais é de naturezapuramente individual, sendo a liberdade garantida pelos direitos fundamentais.

Assim, inúmeros autores afirmam que os direitos fundamentais são direitosinerentes à pessoa humana, que visam à convivência pacífica e digna da sociedade, a fimde exigir e limitar as imposições do Estado. São mecanismos de garantia dasnecessidades e dos anseios do homem, a fim de proporcionar o real cumprimento dessesdireitos, permitindo a convivência e manutenção das necessidades humanas.68

De acordo com Bonavides, manifestam-se em três gerações sucessivas:primeira geração –direitos de liberdade; segunda geração –direito de igualdade; terceirageração –direito de solidariedade, fraternidade.69

Os direitos fundamentais de primeira geração são os direitos de liberdade, quecorrespondem aos direitos civis e políticos. Têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao

64OLIVEIRA, Rodrigo Gonçalves Ramos de. A essência e a banalização dos direitos fundamentais.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do DistritoFederal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Brasilia. 2008.Disponível em: <http://xa.yimg.com/kq/groups/17983762/484413193name/a+essencia+e+a+banaliza%C3%A7%C3%A3o+dos+direitos+fundamentais.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 1665

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 2. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.p.18266

OLIVEIRA, Rodrigo Gonçalves Ramos de. A essência e a banalização dos direitos fundamentais.Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, comorequisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Brasília. 2008. Disponível em:<http://xa.yimg.com/kq/groups/17983762/484413193name/a+essencia+e+a+banaliza%C3%A7%C3%A3o+dos+direitos+fundamentais.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 18 e 1967

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra:Almedina, 1998. p. 124268

OLIVEIRA, Rodrigo Gonçalves Ramos de. A essência e a banalização dos direitos fundamentais.Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, comorequisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Brasília. 2008. Disponível em:<http://xa.yimg.com/kq/groups/17983762/484413193name/a+essencia+e+a+Banaliza%C3%A7%C3%A3o+dos+direitos+fundamentais.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 18 e 1969

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p.560-570

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Estado, ostentam uma subjetividade, ou seja, são direitos de resistência em face doEstado. Os direitos de segunda geração são direitos de proteção social que secaracterizam pelo direito de os cidadãos exigirem uma prestação positiva do Estado parasua proteção. São provenientes, principalmente, das lutas das classes trabalhadoras apósa Revolução Industrial. Os direitos de terceira geração são denominados direitos defraternidade ou de solidariedade. São destinados à proteção de grupos humanos e secaracterizam como direitos de titularidade coletiva e difusa, são basicamente coletivos,algumas vezes têm caráter indefinido e indeterminável. 70

As gerações de direitos são consideradas, diante desta pragmática:desenvolvimento e amplitude do alcance dos direitos, os quais ao longo dos processoshistóricos foram concretizados. Segundo Oliveira, os direitos de terceira geração são osque mais encontram problemas e dificuldades na sua concretização, pois são direitos dacoletividade, fundamentados na solidariedade.71

Os direitos fundamentais em âmbito internacional são chamados de direitoshumanos, por exemplo, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois tratam dedireitos inerentes a todas as pessoas que estão em um ordenamento jurídico positivado.Assim sendo, os direitos fundamentais são dessa maneira denominados porque, em suaessência e com base no Direito Constitucional Positivo, são necessários e fundamentais àmanutenção do indivíduo, além de servir para regular as relações interpessoais em facedas opressões do Estado.72

Nesse sentido, é importante ressaltar que o direito à informação conquistou oseu espaço e a categoria de direito fundamental, ao longo dos anos. Ingressou na esferalegislativa, recentemente, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, de1948, conforme segue:

Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui aliberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitirinformações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

73

Em 1949, a ONU volta a tratar do assunto promovendo uma série de resoluçõessobre a matéria e, também, um convênio referente à transmissão de informação. Paratanto, algumas constituições começam a se preocupar com o tema direito de informação,como as Constituições Portuguesa, Espanhola e Sueca, afirmando o direito da pessoa deinformar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. 74

As cartas políticas contemporâneas dos países ocidentais democráticosseguiram a indicação dos tratados internacionais, tratados firmados após a SegundaGuerra Mundial, os quais se preocuparam em assegurar a liberdade de informação. Odireito ao acesso à informação no Brasil é cláusula pétrea da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil de 1988, quando seu artigo 5º, inciso XIV afirma que: “é assegurado

70OLIVEIRA, Rodrigo Gonçalves Ramos de. A essência e a banalização dos direitos fundamentais.

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, comorequisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Brasília. 2008. Disponível em:<http://xa.yimg.com/kq/groups/17983762/484413193name/a+essencia+e+a+banaliza%C3%A7%C3%A3o+dos+direitos+fundamentais.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 1371

OLIVEIRA, Rodrigo Gonçalves Ramos de. A essência e a banalização dos direitos fundamentais.Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, comorequisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Brasília. 2008. Disponível em:<http://xa.yimg.com/kq/groups/17983762/484413193name/a+essencia+e+a+banaliza%C3%A7%C3%A3o+dos+direitos+fundamentais.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 2072

Ibidem.73

Declaração universal dos direitos humanos de 1948. Disponível em:<sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 17 Abr. 2011.74

CARVALHO, Luis Gustavo, Grandinetti Castanhode. Liberdade de informação e o direito difuso àinformação verdadeira. Rio de Janeiro: Renovar. 1994. p. 51

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a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário aoexercício profissional”75

Referente ao conceito de informação, ela é entendida por Maria EduardaGonçalves no seu sentido mais elementar e afirma que a informação constitui parte detoda a experiência humana. 76

Todos os organismos são sistemas de informação. A informação, a base da vida.A linguagem gestual do homem e a comunicação verbal transmitem informação[...] A Informação constitui a base das relações humanas e sociais na suaexpressão mais imediata. Sob vários graus de complexidade, é também em tornodela que se estrutura e exerce a vida cientifica, a vida das organizações, a vidapolítica.

77

A autora diz que o conceito de informação pressupõe um estado de consciênciados fatos ou dados, pressupondo, assim, um esforço de caráter intelectual que permitapassar a informação de fatos brutos à sua percepção e entendimento. Para tal, énecessário um trabalho de organização, retirando, a partir dele, as conclusões.78

Para tanto, corrobora Carvalho:

O recebedor da informação deixa de ser um sujeito passivo do processoinformativo, imitindo na massificação dos órgãos de comunicação, e recompõem-se como sujeito ativo, sujeito de direitos, titular do direito de ser informado [...]

79

Aurélia Maria Romero Coloma afirma que o conceito de direito à informação sedesdobra em duas vertentes, o direito de emitir e o de receber informação e que, se oentendimento for por apenas uma vertente, este seria considerado pela autora uma“concepción unilateral y mutilada [...]”. Entende que o primeiro deles, direito de emitir, estáintimamente ligado ao pluralismo inerente a um Estado Democrático; e o segundo, direitode receber, defende a multiplicidade de informação. 80

Assim segue e complementa:

O Estado verdadeiramente social deve ir adiante e assegurar a livre informaçãosob a nova dimensão participativa e pluralista, com o objetivo final de aperfeiçoara democracia, fundada, não só na liberdade, mas no princípio da igualdade e dadignidade; democracia que persegue a elevação do espírito humano por meio deeducação e do fim da marginalização.

81

Ampliando o debate, citamos Roseli Araújo Batista:

O processo de inclusão social dos indivíduos que estão à margem dasoportunidades e das escolhas se verifica por meio da conscientização política ecidadã da comunidade, seja em nível local, regional, nacional ou internacional,especificamente com relação à educação, ao acesso à informação e ao direito àcidadania. A conscientização e o reconhecimento dos direitos da pessoa como

75BRASIL. Constituição da república federativa do brasil. Brasília: Senado Federal, 1988

76GONÇALVES, Mara Eduarda. Direito da informação. Livraria Almedina. Coimbra: Portugal, 1994.p 15

77GONÇALVES, Mara Eduarda. Direito da informação. Livraria Almedina. Coimbra: Portugal, 1994.p 15

78Ibidem.

79CARVALHO, Luis Gustavo, Grandinetti Castanhode. Liberdade de informação e o direito difuso à

informação verdadeira. Rio de Janeiro: Renovar. 1994. p. 5080 COLOMA, Aurelia Maria Romero. derechos de la intimid, la información y processo penal. Colex, Madri.1987 apud CARVALHO, Luis Gustavo, Grandinetti Castanhode. Liberdade de informação e o direitodifuso à informação verdadeira. Rio de Janeiro: Renovar. 1994. p. 5381

CARVALHO, Luis Gustavo, Grandinetti Castanhode. Liberdade de informação e o direito difuso àinformação verdadeira. Rio de Janeiro: Renovar. 1994. p. 52

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cidadã devem ser os primeiros passos nesse caminho de busca pela liberdade deescolhas e de oportunidades.

82

A autora Maria Eduarda Gonçalves ensina que a informação não é dada, masproduzida por um sistema, tanto no seu tratamento quanto no seu significado. Assim, ainformação é entendida como um “processo de troca entre o sistema e o seu meio”, umprocesso de criação de significados, de interações entre as mensagens e seusreceptores. A informação pressupõe comunicação, repousa sobre a comunicação de umamensagem entre dois entes. 83

Conforme José Marques de Melo, a comunicação constitui um processo no qualinformação é um dos elementos. Para esse autor, a informação é o “elementofundamental”deste processo, pois ela é o objeto da comunicação, sendo o conteúdo a sercomunicado. Nesse sentido, afirma que a comunicação pressupõe a informação. Oumelhor: sem a informação não há comunicação.84

George Gerbner afirma que a comunicação é o elemento mais “humanizador”denossa espécie, é por meio dela que os indivíduos criam e recriam símbolos de aspectosda condição humana, fomentando e agregando pessoas e comunidades. Cita que ainformação é essencial para o exercício da liberdade, sendo por seu intermédio que o serhumano a constrói. Considera, ainda, que é por meio da informação que a pessoahumana constrói sua personalidade, desta forma, a informação e a formação estãoestritamente ligadas. 85

Nesse sentido, a autora Felicié alerta que as novas tecnologias da informação ecomunicação potencializam a disseminação da informação e contribuem para preservar ouso legítimo de bens de informação como nunca antes visto, entretanto, as grandescorporações e a indústria editorial exercem “pressão para que a regulamentação dapropriedade intelectual e a lei do direito autoral favoreçam a mercantilização e aprivatização da informação, dificultando o acesso público à informação.”86

ACESSO À INFORMAÇÃO DOS DEFICIENTES VISUAIS NA LEGISLAÇÃOBRASILEIRA

Não há, na legislação brasileira, lei, decreto ou artigo que trate do tema específicodo acesso dos deficientes visuais à informação. Existem garantias em leis esparsas,como veremos a seguir.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 contempla o tema deacessibilidade de informação no art. 5º no seu Inc. XIV, transcrito conforme segue.

Art. 5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes: Inc. XIV: É assegurado a todos o acesso à

82BATISTA, Roseli Araújo. O acesso à informação como requisito para o exercício da cidadania. Sem

ano. Disponível em: <http://www2.metodista.br/unesco/agora/mapa_animadores_pesquisadores_roseli.pdf>.Acesso em: 17 Abr. 2011. p. 383

GONÇALVES, Mara Eduarda. Direito da informação. Livraria Almedina. Coimbra: Portugal, 1994. p. 16e 17.84

MELO, José Marques de. Teoria da comunicação: paradigmas latino-americanos. Petrópolis: Vozes,1998. p. 6085

PAGLIARINI, Alexandre Coutinho e AGOSTINI, Leonardo Cezar. A relação entre o regime democrático eo direito à informação in Revista direitos fundamentais e justiça. Direitos fundamentais & justiça, PortoAlegre, v.3, n.8, p. 73-80, 2009. p. 74 e 7586

FELICIÉ, Ada Myriam. Reflexión sobre el lado oscuro de la propriedad intelectual:amenzas al acceso a lainformación. Revista puertorriqueña de bibliotecología a la información, San Juan. 2004. p. 79-89.Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=25600606>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p.79

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informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercícioprofissional.

87

É uma garantia da liberdade de expressão e do direito àinformação livre e plural no estado democrático de direito. É entendido como liberdade deexpressão coletiva. 88

A Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU, ratificadano Brasil pelo Decreto Legislativo 186, de 09 de julho de 2008, tem o seguinte artigosobre acesso à informação da pessoa com deficiência.

Artigo 9 - Acessibilidade. 2. Os Estados Partes deverão também tomar medidasapropriadas para: f) Promover outras formas apropriadas de atendimento e apoioa pessoas com deficiência, a fim de assegurar-lhes seu acesso a informações;

89

Este artigo assegura que as medidas para o real acesso à informação daspessoas com deficiência sejam promovidas pelos Estados que ratificaram a Convençãosobre os direitos das pessoas com deficiência, da ONU.

Já, na lei de diretrizes e bases na educação nacional, Lei Federal nº 9.394, de 20de dezembro de 1996, há o conceito de educação especial estabelecido em seu artigo58º.

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, amodalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular deensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 1º Haverá,quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, paraatender às peculiaridades da clientela de educação especial.

90

Nesta lei referente à educação, existe a garantia de que na educação regular oestudante deficiente visual terá as suas peculiaridades atendidas com serviços de apoioespecializado, tendo, assim, acesso à informação para sua formação. No Brasil, existempelo menos outras cinco legislações que garantem o acesso da pessoa com deficiência àeducação.91

Na Política Nacional do Livro, instituída pela lei 10.753 de 31 de outubro de 2003,também é assegurado o acesso da pessoa com deficiência, mas, desta vez, focada nosdeficientes visuais por meio de materiais acessíveis, conforme segue.

Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional do Livro, mediante as seguintesdiretrizes: XII - assegurar às pessoas com deficiência visual o acesso à leitura;

Para tanto existe, na normativa, uma conceituação do livro, mais ampla:

Art. 2º Considera-se livro, para efeitos desta Lei, a publicação de textos escritosem fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou costurada, em volumecartonado, encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato

87BRASIL. Constituição da república federativa do brasil. Brasília: Senado Federal, 1988

88CAVALCANTE, Valéria Araújo. Considerações gerais sobre o artigo 5º da constituição federal de

1988. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/31355/1/consideracoes-gerais-sobre-o-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988/pagina1.html>. Acesso em: 17 Abr. 2011. p.389

ONU. Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. Ratificada no Brasil pelo DecretoLegislativo 186, de 09 de julho de 2008. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos dasPessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 200790

BRASIL, Lei de diretrizes e bases na educação nacional. Lei Federal nº 9.394 de 20 de dezembro de1996.91

Lei 10.845/2004, lei 10.172/2001, lei 9.167/1995, lei 11.096/2005, Dec. 38.641/1994, Dec. 24.714/1995

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e acabamento. VII - livros em meio digital, magnético e ótico, para uso exclusivode pessoas com deficiência visual; VIII - livros impressos no Sistema Braille.

92

Conforme já expressado, é sabido que pessoas com deficiência visual não têmacesso regular ao livro. O livro convencional não atende às suas necessidades, e osformatos acessíveis não são oferecidos nas livrarias convencionais, bem como em grandeparcela das bibliotecas privadas ou públicas.

A Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que altera, atualiza e consolida alegislação sobre direitos autorais e dá outras providências, constitui um marco no acessoà informação do deficiente visual.

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução: d) de obrasliterárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais,sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema

Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários93

Pessoas com deficiência visual, para ter acesso a obras, precisam converter asinformações para o sistema Braille, ou tê-las processadas em um equipamento descanner com OCR, para posterior leitura por um software de voz instalado no computador,impressão aumentada ou formatos digitais como Voz Sintetizada/ MP3 e DAISY94.

A lei anterior que tratava deste tema era limitada, pois disciplinava aobrigatoriedade das editoras de permitir a reprodução de obras e demais publicações porelas editadas sem qualquer remuneração, desde que houvesse concordância dos autorese a reprodução fosse feita por Imprensa Braille ou Centros de Produção de Braillecredenciados pelo Ministério da Educação e do Desporto e pelo Ministério da Cultura.

A lei 9.610/98 não restringe à “boa vontade”dos autores a produção de obras emformatos acessíveis para uso exclusivo de deficientes visuais, visto que fica expresso nalei que este tipo de reprodução não constitui ofensa aos direitos autorais; mas a leicontinua com limitações graves. Vejamos o caso de uma pessoa com tetraplegia95 quenão consegue movimentar pernas e braços, mas que com a boca ou com os olhosconsegue ativar um sistema e realizar a leitura por meio de um software adaptado. Nestecaso, a pessoa não poderia realizar a leitura no material adaptado para deficientesvisuais, porque a lei é expressa quando fala que o uso é exclusivo para pessoas comdeficiência visual.

No ano passado, por iniciativa do Ministério da Cultura, foi realizada uma consultapública para modernização da lei de direitos autorais, sendo que a versão final do projetode lei foi divulgada em março deste ano. O projeto propõe a ampliação para que todas aspessoas com deficiência possam utilizar materiais em formatos acessíveis conformesegue:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais a utilização de obras protegidas,dispensando-se, inclusive, a prévia e expressa autorização do titular e anecessidade de remuneração por parte de quem as utiliza, nos seguintes casos:IX - a reprodução, a distribuição, a comunicação e a colocação à disposição do

92BRASIL, Política nacional do livro, instituída pela lei 10.753 de 31 de outubro de 2003.

93BRASIL, Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Lei nº

9.610, de 19 de fevereiro de 199894

DAISY - Digital Accessible Information System – é um padrão (chamado de Protocolo DAISY) usadomundialmente para produção de livros acessíveis. O livro no formato DAISY permite a navegação no textoescrito ou falado, por meio de um aplicativo de leitura instalado no computador, além da reprodução dearquivos de áudio em equipamentos específicos.95

A tetraplegia caracteriza-se pela perda parcial ou total dos movimentos das pernas e braços.

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público de obras para uso exclusivo de pessoas portadoras de deficiência96

,sempre que a deficiência implicar, para o gozo da obra por aquelas pessoas,necessidade de utilização mediante qualquer processo específico ou ainda dealguma adaptação da obra protegida, e desde que não haja fim comercial nareprodução ou adaptação;

97

Como visto neste capitulo, esta é uma discussão atual e engloba conceitos depropriedade intelectual e direitos autorais, o que aprofundaremos no próximo item destetrabalho.

PROPRIEDADE INTELECTUAL

Conforme visto no capítulo anterior, deve-se considerar como fator importante paraa educação e cultura das pessoas o acesso ao acervo cultural, sobretudo aos livros, masé evidente que o livro convencional não atende às necessidades das pessoas comdeficiência visual. Para tanto, é relevante discutirmos o Direito Autoral e sua função socialpara aprofundar o debate, verificando os entraves para a garantia do acesso à informaçãodos deficientes visuais, visto que muitas e importantes informações estão em meiosescritos e, desta forma, não acessíveis.

Para falar de Direitos Autorais é necessário entender que ele está dentro de umaárea do direito maior, chamada Propriedade Intelectual. A Propriedade Intelectual éconsiderada, atualmente, por Bruno Jorge Hammes, como o conjunto de disciplinasrelativamente novas que foram incluídas nas áreas do Direito com as quais apresentavammais afinidade. Assim, refere que são abrangidos pelo direito da propriedade intelectual, odireito do autor, o direito da propriedade industrial (que inclui direito do inventor, demarcas, expressões e sinais de propaganda, a concorrência desleal) e, por fim, o direitochamado de antitruste ou repressão ao abuso do poder econômico. 98

De acordo com a definição da Organização Mundial de Propriedade Intelectual,“constituem propriedade intelectual as invenções, obras literárias e artísticas, símbolos,nomes, imagens, desenhos e modelos utilizados pelo comércio”.99

O Código Civil Brasileiro não traz um conceito de Propriedade Intelectual e limita-sea citar os poderes do proprietário "art. 524. A lei assegura ao proprietário o direito de usar,gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente ospossua".100

Walter Brasil Mujalli assim define a Propriedade Intelectual:

Esta corresponde ao produto do pensamento e da inteligência humana, quetambém tornou-se com o passar dos tempos, objeto da propriedade industrial. Apropriedade intelectual é o esforço dispendido pelo ser humano, voltado àrealização de obras literárias, artísticas e científicas, como também, é o direito

autoral.101

Luiz Otávio Pimentel contribui afirmando que Propriedade Intelectual são asdiversas produções da inteligência humana e alguns institutos afins, denominados

96Grifo nosso.

97Brasil, Projeto de Lei do Senado, altera e acresce dispositivos à lei no 9.610, de 19 de fevereiro de

1998, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências.Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/consultadireitoautoral/wpcontent/uploads/2010/06/APLRevisa_9610_Consulta_Publica.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.98

HAMMES, Bruno Jorge. O direito de propriedade intelectual, conforme a lei 9.610 de 12.02.1998:Editora Unisinos, 2002. p. 1799

Disponível em: <http://www.wipo.int/about-ip/es/>. Acesso em: 17 Abr. 2011.100

BRASIL, Código civil brasileiro, Institui o Código Civil - lei no

10.406, de 10 de janeiro de 2002.101

MUJALLI, Walter Brasil. A propriedade industrial – nova lei de patentes. Leme: Editora de Direito,1997, p.238

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genericamente de propriedade imaterial ou intelectual. 102 Já, para o autor DeoclecianoTorrieri Guimarães, a Propriedade Intelectual é um direito sobre coisas corpóreas, sendoassim, "pertinentes a produções intelectuais do domínio literário, científico, artístico, bemcomo àqueles que têm por objetivo invenções, desenhos e modelos industriais".103

O contraponto desta definição é que a Propriedade Intelectual não se referesomente a "bens corpóreos", a propriedade intelectual trata da propriedade sobre acriação, ideia, que é conceito abstrato. Nesse sentido, “uma obra literária é somente aexteriorização do esforço intelectual desprendido pelo autor”104

Na legislação Brasileira a Lei n.º 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, enumera emseu artigo 7º, o que são obras intelectuais dando-lhe a abrangência adequada.

Deste modo compreendemos que o legislador brasileiro entende apropriedade intelectual como "as criações do espírito", ampliando o conceito e “seadequando”ao conceito universal de que a obra criativa não é uma obra de invençãotécnica, que, neste caso, receberia outra proteção legal.105

ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO AUTORAL

O Direito do Autor é recentíssimo se comparado com outros ramos mais recentesdo direito.106 Na antiguidade, a autoria era desconhecida, as narrativas épicas ereligiosas, trágicas e poéticas eram atribuídas geralmente a figuras mitológicas. Emestágios mais evoluídos, citavam os artistas que as divulgavam para a comunidade.107

A ideia de criação começou a tomar força na Grécia, mas não como direito autoral,onde começou a haver um reconhecimento dos autores e seus talentos, especialmente nadramaturgia e na filosofia. Assim, se houvesse plágio, o autor sofreria sanções morais,como a exclusão dos meios intelectuais da sociedade da época. 108

Em Roma, o conceito de Direito Autoral ganha forma jurídica. A obra passava a terduas conotações em termos de propriedade: a moral, de quem criava as obras; e aeconômica, que era exclusiva daquele que investia no trabalho na reprodução.109 Osartistas da época eram sustentados pelos ricos cidadãos, por reis e papas, mas nãotinham ainda direito às suas obras.110

“Numa época em que poetas, compositores, pintores ou escultores eramcortejados e celebrados pelo público, não eram poucos indivíduos, incapazes decriar tais obras, enfeitavam-se com as penas alheias para parecer que não eram.Apresentavam como próprias as obras alheias. As leis não previam sansão paraeste comportamento, mas o público desprezava tais indivíduos por sua falsidade evaidade”

111

Na Idade Média, ainda não existia atribuição a nenhum direito do autor. Mongestranscreviam manuscritos para as bibliotecas da época. Com este ato, tornaram-se

102PIMENTEL, Luiz Otávio. Direito industrial –as funções do direito de patentes. Porto Alegre: Síntese,

1999. p.278103

GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário jurídico. 1.ª ed., São Paulo: Rideel, 1997. p. 198104

BOTELHO, Marcos César. Da propriedade industrial e intelectual. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.58, 1 ago. 2002. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/3151>. Acesso em: 23 abr. 2011. p.1105

CABRAL, Plínio. A nova lei de direitos autorais –comentários. Editora Harbra. 4ª edição. 2003. p. 21106

HAMMES, Bruno Jorge. O direito de propriedade Intelectual, conforme a lei 9.610 de 12.02.1998:Editora Unisinos, 2002. p. 19107

BARROS, Carla Eugenia Caldas. Manual de direito da propriedade Intelectual. Aracaju: Evocati,2007. p.467108

Ibidem.109

Ibidem.110

HAMMES, Bruno Jorge. O direito de propriedade Intelectual, conforme a lei 9.610 de 12.02.1998:Editora Unisinos, 2002. p. 19111

Ibidem p. 20

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grandes beneméritos da cultura, conservando para o futuro uma riqueza cultural, semisso, certamente o material se perderia. 112 Passava, então, segundo Carla EugeniaCaldas Barros, “a igreja a tutelar rigorosamente a produção intelectual”.113

Quando o “comércio das cópias”começou, especialmente nas universidades, agrande preocupação era com a não modificação do conteúdo em sua obra e não com areivindicação das vantagens deste comércio. Da mesma forma, com os artistas que eramcontratados pela Igreja ou Reis que os traziam à sua corte, os renumerando pelo seutrabalho, a imitação de seus trabalhos não era considerada crime.

Na Idade Moderna, coloca-se em evidência a pessoa do autor com ofortalecimento da filosofia do Humanismo, da Renascença e da Reforma, sendo este oprimeiro indício de proteção a um direito de personalidade. A situação do autor para comsua obra começa a se assemelhar com a propriedade, e essa discussão tem consistênciana invenção da imprensa e da reprodução de livros. 114

Surge, então, a proteção contra as reproduções mediante a concessão deprivilégios, como em 1469, quando Speyer obteve o primeiro privilégio exclusivo deexercer a arte de impressão por cinco anos. 115 Nesse sentido, outras concessões foramdadas na França e Inglaterra com editores e impressores 116

A Revolução Francesa provocou uma mudança na concessão de privilégios,sendo eles abolidos do regime. A proteção se constrói na doutrina da PropriedadeIntelectual. A força do conceito de liberdade da época não admite um direito perpétuo,restringindo a proteção por dez anos após a morte do autor e, depois, a cinquenta anosapós a morte do autor.117

No Brasil, após a Independência, o Imperador D. Pedro II resistia a qualquertentativa de conceder aos autores uma proteção que não se derivasse de qualquerprivilégio. A primeira constituição criada (1824) protegia o inventor, mas não citava odireito do autor. A lei penal da época (1830) proibia a reprodução de obras de autoresvivos e dez anos depois a sua morte, se deixassem herdeiros.118

A convenção de Berna de 1886, ratificada no Brasil em 1922, foi um passodecisivo para inserção dos direitos autorais no âmbito internacional e nacional. Nela sãocontemplados três princípios da Doutrina Francesa: tratamento nacional ou assimilação,proteção automática e independência da proteção. 119

A constituição de 1891 diz que:

Aos autores de obras literárias e artísticas é garantido o direito exclusivo dereproduzi-las, pela imprensa, ou por qualquer processo mecânico. Os herdeirosdos autores gozarão deste direito pelo tempo que a lei determinar.

120

O Código Civil promulgado em 1916 foi considerado bastante avançado paraépoca porque fixava direitos do autor e, ainda, limitações em um capítulo dedicado àpropriedade literária, cientifica e artística, assegurando, de forma clara, as garantias.

112HAMMES, Bruno Jorge. O direito de propriedade intelectual, conforme a lei 9.610 de 12.02.1998:

Editora Unisinos, 2002. p. 20113

BARROS, Carla Eugenia Caldas. Manual de direito da propriedade intelectual. Aracaju: Evocati,2007. p.468114

HAMMES, Bruno Jorge. Curso de direito autoral. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 1984. p.25115

Ibidem p.26116

Pessoas que reproduziam as obras na época.117

HAMMES, Bruno Jorge. Curso de direito autoral. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 1984. p.27118

HAMMES, Bruno Jorge. O direito de propriedade intelectual, conforme a lei 9.610 de 12.02.1998:Editora Unisinos, 2002. p. 19119 BARROS, Carla Eugenia Caldas. Manual de direito da propriedade intelectual. Aracaju: Evocati, 2007.p.468120

BRASIL, Constituição Federal de 24 de fevereiro de 1891, art 72, §26

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Após, legislações foram editadas para fixar os limites e garantir os direitos do autor.Finalmente, em 1973 surge a lei 5.988 para regulamentar os direitos autorais no Brasil.121

A lei que regula os Direitos Autorais no Brasil desde 1998 é a de nº 9.610, depoisde muitas discussões e emendas ao projeto inicial. Segundo Plínio Cabral, o desejo deatender diferentes setores da sociedade acabou fragmentando a lei e prejudicando suaunidade, mas contempla questões palpitantes da atualidade, sendo um grande avanço,com decisões significativas. 122

CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO DIREITO AUTORAL

Direito Autoral é o direito que o criador de uma obra intelectual (como pessoafísica) tem de gozar dos benefícios morais e econômicos (patrimoniais) resultantes dareprodução de sua criação. O direito autoral compreende os direitos de autor e os direitosconexos, que são inerentes ao artista, intérpretes, executantes, e produtores degravações sonoras, e as empresas de radiodifusão.123

Na doutrina jurídica nacional, apresenta-se o conceito formulado por AntônioChaves:

Podemos defini-lo como o conjunto de prerrogativas que a lei reconhece a todocriador intelectual sobre suas produções literárias, artísticas ou científicas, dealguma originalidade: de ordem extra pecuniária, em princípio, sem limitação detempo; e de ordem patrimonial, ao autor, durante toda a sua vida, com oacréscimo, para os sucessores indicados na lei, do prazo por ela fixado”. Osdireitos morais tratam da garantia do autor em reivindicar a autoria da obra, bemcomo a menção do seu nome na divulgação e assegurar a integridade da obra,além dos direitos de modificá-la ou retirá-la de circulação. São direitos inalienáveise irrenunciáveis. Já os direitos patrimoniais garantem ao autor retorno financeirode todas as relações econômicas que tenham por objeto a sua obra intelectual. Énegociável total ou parcialmente, por tempo determinado, ou indeterminado.

124

O autor Bruno Hammes apresenta dois aspectos principais onde encontramos aimportância do Direito Autoral: A importância cultural e a importância econômica. 125

Como importância cultural, temos a criação de cultura que, desta forma, dáproteção aos autores, o país promove e aumenta o patrimônio cultural, sendo umelemento fundamental para o seu desenvolvimento. 126 Para tanto, cita-se os incisos I e IIdo artigo XXVII da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural dacomunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seusbenefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais emateriais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qualseja autor.

127

Como importância econômica, ressaltamos que o direito autoral é fonte deriquezas. Importantes setores econômicos dependem dele, estima-se que 2,7% do PIB

121CABRAL, Plinio. A nova lei de direitos autorais – comentários. Editora Harbra. 4ª edição. 2003

12.02.1998: Editora Unisinos, 2002. p. 25122

Ibidem.123

PEREIRA, Ana Maria, PIMENTEL,Luís Otávio e MEHLAN, Vivianne. Direitos autorais: estudos econsiderações. Disponível em: <http://www.ciberetica.org.br/trabalhos/anais/15-57-c3-1.pdf>. Acesso em:17 Abr. 2011. p. 2124

CHAVES, Antônio. in Criador da obra intelectual, São Paulo: LTR, 1995, p. 28125

Hammes, Bruno Jorge. Curso de direito autoral. Porto Alegre : Ed. da Universidade, 1984. p.36126

Ibidem.127

Declaração universal dos direitos humanos de 1948, Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 17 Abr. 2011.

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são de participação de empresas relacionadas com o direito do autor, destes caberiam50% as indústrias de natureza editorial. 128

A FUNÇÃO SOCIAL DOS DIREITOS AUTORAIS

O Direito Autoral tem como função social a promoção do desenvolvimentoeconômico, cultural e tecnológico, mediante a concessão de um direito exclusivo para autilização e exploração de determinadas obras intelectuais por um certo prazo, findo oqual, a obra cai em domínio público e pode ser utilizada livremente por qualquerpessoa.129

Jose Diniz de Moraes afirma que “A função social não se impõe por obra e graçado legislador; é, em verdade, uma imposição das condições sociais dos tempos atuais(...)”130 Entende-se função social como relativização do direito privado de uso sobre umbem, em prol do interesse coletivo.131

O Estado, para fazer a restrição de exercício de direito de uso, tem de fazê-lofundado na lei. O Estado, quando impõe a relatividade a um exercício de direito,que a priori seria absoluto, fixa-lhe uma limitação de exercício de direito de uso. Alei, ao dispor sobre esta limitação, o faz visando o interesse coletivo. Daí o deverda função social ao exercício de direito de uso.

132

Celso Antônio Bandeira de Mello interpreta e conceitua a expressão função socialda propriedade como sinônimo de um destino economicamente útil, produtivo e como“meio de justiça social e de equilíbrio, de uma sociedade desigual e desequilibrada.”133

A função social decorre de uma utilização positiva da propriedade, com o objetivode um benefício coletivo, pela privação de condutas do titular de direito, compreendidasdentro do binômio: dever-fazer. Os direitos autorais, como uma das modalidades dodireito de propriedade originário, sujeitam-se ao controle estatal para cumprir a funçãosocial. 134

A proteção dos direitos do autor é reconhecida na Constituição Federal Brasileiraatravés do artigo 5º da Constituição Federal, quando prevê que ao autor é concedido o“direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras”, conferindo-lheainda o direito de fiscalização sobre a utilização econômica das obras que criar ou em queparticipar da criação.135 Em contraposição, existe a previsão na Carta Magna aos direitos

128Hammes, Bruno Jorge. Curso de direito autoral. Porto Alegre: Ed. da Universidade, 1984. p.38

129CARBONI, Guilherme C. Aspectos gerais da teoria da função social do direito de autor. Disponível

em: <http://www.gcarboni.com.br/pdf/G6.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 11130

Moraes, Jose Diniz de. A função social da propriedade e a constituição federal de 1988. São Paulo:Ed. Malheiros, p.95131

PIMENTA Eduardo Salles. A função social dos direitos autorais na obra audiovisual. Dissertação deMestrado. Faculdade de direito FADISP. 2007. Disponível em:<http://www.fadisp.com.br/download/5.1_A_Funcao_dos_Direitos_Autorais_na_Obra_Cinematografoca_nos_Paises_Ibero-Americanos.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 121132

Ibidem p. 122133

BANDEIRA DE MELO, Celso Antonio, apud. PIMENTA Eduardo Salles. A função social dos direitosautorais na obra audiovisual. Dissertação de Mestrado. Faculdade de direito FADISP. 2007. Disponívelem: <http://www.fadisp.com.br/download/5.1_A_Funcao_dos_Direitos_Autorais_na_Obra_Cinematografoca_nos_Paises_Ibero-Americanos.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 122134

Ibidem.135

BRASIL. Constituição da república federativa do brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Artigo 5º,XVIII, “b”

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de acesso à informação, à cultura e à educação, previstos nos artigos 5º, inciso XIV136,215137, e 205138 da Constituição Federal.139

Nesse sentido, encontra-se um conflito de direitos fundamentais: de um lado, odireito de autor ao monopólio sobre a utilização de sua obra e, de outro lado, o direito dasociedade à informação, à educação e à cultura.140

Assim, segundo Aline Vitalis:

Verificou-se um conflito entre a necessidade do progresso da educação e dacultura como fatores fundamentais para o desenvolvimento da nação e aimperatividade da concessão da proteção legal às criações intelectuais surgidasem seu contexto, exatamente como estímulo para a produção de obras deengenho pelos respectivos nacionais. O choque de interesses é evidente: ointeresse do autor (individual) volta-se para a proteção e retribuição econômica desua obra, ao passo que o da coletividade corresponde à fruição dessa mesmaobra.

141

Ampliando o debate, Pimenta corrobora:

No tocante à discussão a respeito da ligação entre autor, sua obra e o interessecoletivo, há entendimentos que asseveram ser a criação intelectual fruto exclusivodo trabalho individual do autor, e por isso, cabendo a este a titularidade privativado direito sobre a sua criação, sem sofrer qualquer forma de interferência externa.De outro lado, há os que entendem que o criador da obra intelectual retira dasociedade a inspiração para sua criação e que o trabalho nada seria se nãoexistisse a humanidade, não cabendo, portanto, ao Direito de Autor caráter dedireito absoluto.

142

Pimenta ressalta ser necessário proteger as criações intelectuais, propiciando aoautor retirar os proventos econômicos correspondentes da sua criação, inclusive, comomeio de incentivo à produção de novas obras, mas esta proteção deve sofrer restriçõessempre que servir de empecilho à difusão do conhecimento e disseminação de cultura.143

Cabe esclarecer aqui que limitações ao direito autoral (expressos da lei) dizemrespeito aos exercícios do direito, enquanto a função social interfere com a estrutura do

136XIV –é assegurado a todos o acesso à informação [...]

137Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura

nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais138

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada coma colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício dacidadania e sua qualificação para o trabalho.139

PIMENTA Eduardo Salles. A função social dos direitos autorais na obra audiovisual. Dissertação deMestrado. Faculdade de direito FADISP. 2007. Disponível em: <http://www.fadisp.com.br/download/5.1_A_Funcao_dos_Direitos_Autorais_na_Obra_Cinematografoca_nos_Paises_Ibero-Americanos.pdf>. Acessoem: 17 Abr. 2011.p. 122140

PIMENTA Eduardo Salles. A função social dos direitos autorais na obra audiovisual. Dissertação deMestrado. Faculdade de direito FADISP. 2007. Disponível em:<http://www.fadisp.com.br/download/5.1_A_Funcao_dos_Direitos_Autorais_na_Obra_Cinematografoca_nos_Paises_Ibero-Americanos.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 122141

VITALIS, Aline. A função social dos direitos autorais: uma perspectiva constitucional e os novosdesafios da sociedade de informação. In: BRASIL, Ministério da Cultura. Direito autoral. Brasília:Ministério da Cultura, 2006. p. 205.142

PIMENTA Eduardo Salles. A função social dos direitos autorais na obra audiovisual. Dissertação deMestrado. Faculdade de direito FADISP. 2007. Disponível em:<http://www.fadisp.com.br/download/5.1_A_Funcao_dos_Direitos_Autorais_na_Obra_Cinematografoca_nos_Paises_Ibero-Americanos.pdf>. Acesso em: 17 Abr. 2011.p. 122143

Ibidem.

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direito, levando em consideração os interesses da coletividade em detrimento ao direitoindividual. 144

Para tanto, Diego Dias Teixeira afirma que não restam dúvidas de que o DireitoAutoral, assim como a propriedade e o contrato, deve respeitar a função social. Significa,segundo o autor, que o Direito Autoral pode sofrer limitações com o objetivo derestabelecer o equilíbrio entre os direitos do autor e o interesse social, além daquelaspositivadas no art. 46 da lei 9.610/1998.145

Desta forma, Carboni afirma que:

O direito do autor tem por função social a promoção do desenvolvimentoeconômico, cultural e tecnológico, mediante a concessão de um direito exclusivopara a utilização e exploração de determinadas obras intelectuais por um certoprazo, findo o qual, a obra cai em domínio público e pode ser utilizado livrementepor qualquer pessoa.Normalmente, confunde-se a regulamentação da função social do direito de autorcom as imitações e exceções ditadas em lei. Entendemos, porém que taislimitações e exceções não são suficientes para resolver os conflitos entre o direitoindividual do autor e interesse público à livre utilização em obras intelectuais.

146

E continua Carboni:

Por esta razão, defendemos uma regulamentação mais abrangente da funçãosocial do direito do autor, de forma a abarcar não apenas as limitações previstasem lei, mas também outras limitações relativas à estrutura do direito do autor, bemcomo as que dizem respeito ao seu exercício.

Pela natureza jurídica do direito do autor (que tem como conteúdo direitos moraispersonalíssimos e direitos patrimoniais) e sua evolução histórica como direitopredominantemente individual, nem a Constituição Federal, nem a Lei 9.610/1998positivaram as suas dimensões social e solidária, prevalecendo assim, em nossalegislação, a concepção individualista do direito do autor que, na visão de GuilhermeCarboni, representa um atraso considerar a evolução de outros direitos fundamentais.147

Desta forma, existe a necessidade de constante mutação para adequação dodireito à realidade. Existe necessidade de compor de forma equilibrada os interessescolidentes do direito público e privado. Estes podem não ser colidentes, porque ointeresse dos dois é de que a obra seja conhecida por todos. 148

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve a proposta de refletir sobre a acessibilidade de informação dosdeficientes visuais frente ao ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, buscou-se extrairda legislação brasileira referências jurídicas de acessibilidade de informação dosdeficientes visuais, com o objetivo de analisar se a legislação existente garante aacessibilidade, e de discutir a função social do Direito Autoral, que se entende ser, na suaefetivação, a real garantia do acesso à informação dos deficientes visuais. Buscou-se,também, a partir dos referenciais teóricos utilizados, conceituar os temas desenvolvidos eaprofundar o debate da temática.

144TEIXEIRA, Diego Dias. Propriedade intelectual em perspectiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p.

155145

Ibidem. p. 41146

CARBONI, Guilherme. Função social do direito do autor. São Paulo: Editora Juruá, 2006. p.97147

CARBONI, Guilherme. In Propriedade intelectual. Curitiba: Juruá. 2005 p. 427148

MORAES, Rodrigo. Propriedade intelectual em perspectiva. Editora Lumem Juris. Rio de Janeiro.2008. p. 159

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É importante registrar que são muito recentes as ações afirmativas e tratativasreferentes ao tema. Ao longo da história, percebe-se muita ignorância, discriminação,épocas em que o extermínio das pessoas acometidas pela deficiência era consideradonormal, gerando um afastamento social gigantesco entre as pessoas com deficiência e asociedade.

Durante a reflexão, ampliou-se o debate a pessoas com outros tipos dedeficiências em que o uso de materiais acessíveis seria a única forma de dar-lhes acessoa informações, e não contempladas na legislação vigente. Tratado como direitofundamental e, portanto, inerente à pessoa humana, buscou-se realizar um recorte nalegislação do que garantiria o acesso à informação, finalizando com a Lei de DireitosAutorais. Observou-se que a legislação vem se atualizando para garantir a acessibilidadena sua legislação, apesar de apresentar-se em leis esparsas.

No Brasil, apesar de as dimensões sociais e solidárias do direito de propriedadeterem sido positivadas na Constituição Federal Brasileira (artigo 5º, inciso XXIII26) e noCódigo Civil (artigo 1.228, parágrafos 1º e 3º), tal fenômeno não ocorreu com o direito deautor, pois não existe previsão expressa no artigo 5º, incisos XXVII e XXVIII daConstituição Federal, de que o exercício desse direito deveria se submeter aocumprimento de sua função social.

Assim, entende-se que prevalece, em nossa legislação, a concepçãoindividualista do direito de autor, o que, sem dúvida, representa um atraso, seconsiderarmos a evolução de outros direitos fundamentais. Pode-se também dizer que éno contexto da terceira dimensão dos direitos fundamentais que se abarcariam o direito àdemocracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo; que se deve entender afunção social do direito de autor como garantia de um melhor equilíbrio entre os direitosindividuais conquistados pelos autores e o direito de acesso da coletividade à cultura e àinformação.

Entende-se que a ampliação e a discussão sobre a Função Social dos DireitosAutorais pode contribuir no acesso à informação em uma ação mais consistente, porexemplo, na facilitação do arquivo em meio digital para a transformação em formatosacessíveis, visto ser essencial ter-se os textos das obras para a produção, e esta é umatratativa nem sempre bem aceita (mesmo com a lei 9.610/98, que consolida não constituirofensa aos direitos autorais a reprodução para uso exclusivo de deficientes visuais), vistoque as empresas editoriais têm receio de que a obra seja copiada livremente.

Desta forma, é importante ressaltar que a transformação de materiais emformatos acessíveis deve ser realizada por instituições que assegurem a disponibilizaçãodesses materiais para pessoas com deficiência visual, conforme a lei, por meio dedistribuição confiável e que tenha utilização de sistemas reprodutores de formatos digitaisespecíficos, seguros e acessíveis.

Embora todas as referências aqui analisadas, ainda há muito a se fazer e aaprofundar no debate. Esta discussão deve ser norteada pela certeza de que, para seremconsiderados cidadãos de direito, todos devem ter acesso à informação e em iguaiscondições.

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