A Desconstrução Dos Contos de Fadas

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  • 7/25/2019 A Desconstruo Dos Contos de Fadas

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    A DESCONSTRUO DO ETHOS DISCURSIVO DO PRNCIPE E DAPRINCESA DOS CONTOS MARAVILHOSOS

    Ana Carolina Loureno de Assis (UFRN)

    [email protected]

    Prof(a). Doutr.(a) Maria da Penha Casado Alves (UFRN)

    O referente trabalho tem como objetivo apresentar uma anlise da desconstruo deaspectos que caracterizam os tradicionais contos infantis, tais como o heri, a princesa, arelao amorosa e a viso tradicional do grotesco, nesse gnero discursivo representado comohorror. Para tanto, enfocaremos essa desconstruo sob a perspectiva discursiva nosreportando s concepes de ethos discursivo e estilo, como tambm, da cosmovisocarnavalesca. Baseamos para tal anlise nos pressupostos tericos de Bakhtin (1987) sobre acosmoviso carnavalesca e a filosofia do riso como princpios de subverso e de corroso e naconcepo de ethos discursivo abordado em Mangueneau (2008) e Charaudeau (2006). Como

    corpus desse trabalho tem o filme Shrek (2001), da Dreams works, cuja desconstruo dasimagens idealizadas dos contos infantis se apresenta de forma carnavalizada corroendocaractersticas e (re) construindo outras que compem uma nova forma de contar a histria deuma princesa e do seu prncipe encantado. Este trabalho se insere na rea de lingusticaaplicada e se orienta por procedimentos metodolgicos oriundos da perspectiva qualitativa

    para analisar o corpus em foco, estabelecendo uma relao de aspectos comparativos e (des)construtores entre os contos que caracterizam-se como tradicionais e oscontemporneos,esses por sua vez em suportes audiovisuais. .

    Palavras-chave: gnero discursivo- cosmoviso carnavalesca ethos discursivo

    OS CONTOS DE FADAS E SEU CONTEXTO HISTRICO

    Acredita-se que os contos de fadas so de origem celta e inicialmente eramcontados como poemas, as ao decorrer do tempo essas histrias da antiguidade aps seremcontadas e recontadas foram quase sempre que modificadas, mas se espalharam e

    permanecem at hoje em memrias infantis e adultas, cobrindo todo o mundo, mas que apesarde terem origens comuns assumem em cada nao diferentes perspectivas, grau deimportncia e novas formas de serem contadas.

    ... Nada to enriquecedor e satisfatrio,seja para criana,seja para o

    adulto, do que o conto de fadas popular. (BETTELHEIM,B. pag 11)

    A partir do sculo XVIII, chamado o sculo das luzes(o iluminismo comea a criarfora com suas doutrinas, cuja f j no o bastante) que a cincia passa a ser levada areconsiderar o sobrenatural,a aceitar o mistrio, a buscar um novo sentido para atranscendncia e a remodelar a face do prprio Deus, afirma Nelly Coelho.

    Foi ainda, no sculo XVIII que os contos daMame Ganso,que narram por exemploa histria de uma menina de capuz vermelho que ao visitar sua av comida por um lobo-mau(vale salientar que nesse mesmo sculo as histrias francesas eram marcadas pela

    brutalidade nua e crua)que foram passadas de geraes e geraes oralmente, e s depois demuito tempo com contistas mais representativos como; Perrault,Grimm e Andersen temos

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    esses textos trazidos para escrita e passamos perceber a magnitude que envolve essasnarrativas.

    Porm, as histrias tradicionais e populares que passaram a ser chamadas de contosde fadas constituem um tipo de narrativa com caractersticas muito especficas. A presena de

    fadas entre seus personagens no uma delas. No entanto, h certas qualidades que cercam oscontos de fadas, seus argumentos desenvolvem-se dentro de uma magia suntuosa (reis,rainhas, bruxas, prncipes e princesas,gnios, ogros, metamorfoses, tempo e espao fora darealidade conhecida),e tem como eixo gerador uma problemtica existencial. BrunoBettelhein informa que o poeta alemo Schillar escreveu: H um significado mais profundonos contos de fadas que me contaram na infncia do que na verdade que a vida ensina(The

    Picciolomini, III, 4). E ainda:

    Ao longo dos sculos(quando no de milnios) durante os quais os contosde fadas, ao serem recontados, foram se tornando cada vez mais refinados,eles passaram a transmitir ao mesmo tempo significados manifestos elatentes -passaram a falar simultaneamente a todos os nveis da

    personalidade humana, comunicando de uma maneira que atinge a menteinadequada das crianas tanto quanto a do adulto sofisticado. Aplicando omodelo psicanaltico da personalidade humana, os contos de fadastransmitem importantes mensagens mente consciente, pr-consciente e ainconsciente, seja em que nvel for cada uma esteja funcionando nomomento( Bettelhein,1903,p13)

    , portanto a mensagem que os contos de fadas transmitem ao pblico emgeral, mas principalmente criana: que uma luta contra as dificuldades da vida inevitvel

    parte intrnseca da existncia humana mas que, se a pessoa enfrentar ao fim emergirvitoriosa.

    nessa viso que os contos de fadas se distinguem de outros gneros literrios. Masacima de tudo falar de contos de fadas evocar a filiao ao maravilhoso que tudo

    possvel, que tudo pode acontecer.

    nessa nova perspectiva aberta pela cincia que a viso modificada do maravilhoso,passa a ressurgir sendo essa viso refletida entre os interlocutores de hoje de maneiraexpressiva, prova disso est no sucesso de fices cientficas, de mquinas mgicas e dereleituras dos contos de fadas que fogem ao modelo pr-determinado pelos contos orais.

    O maravilhoso, o imaginrio, o onrico, o fantstico...deixaram de ser vistoscomo pura fantasia ou mentira, para ser tratado como portas que se abrempara determinadas verdades humanas.(Coelho, 1991,p. 9)

    Ao contrrio do que se acredita e v atualmente os contos tradicionais noforam escritos para adultos, porm a partir de Perrault que percebemos essas histriasvoltando-se para uma viso do infante no qual trabalha o bem e o mal como onipresentes,

    para cada caracterstica dessa passa a ser assumida forma e corpo.

    O FILME

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    Para melhor compreenso do trabalho, das retomadas de algumas situaes asquais iro ser tratadas no decorrer deste artigo, e suas relaes com os conceitos de ethos,estilo e a cosmoviso carnavalesca, se faz necessrio, ento, situar a respeito do personagem

    principal do filme, e tambm, de alguns outros que ajudam a compor a imagem do Era umavez, imagem essa que foge aos critrios padronizados por histrias de contos infantis.

    Shrek a personagem principal (nome que dado ao prprio filme.) daanimao feita pela Dreams Works. Ele um ogro, verde, gordo, feio que vive em um

    pntano s margens do reino Duloc, pntano este que est ameaado ser habitado por outroshabitantes, fugitivos da floresta, alm de Shrek. A problemtica da narrativa inicia-se

    justamente quando ogro convidado por Lord Farquaad a salvar a princesa Fiona que seencontra no alto de uma torre, aprisionada por um drago-fmea, a espera do beijo do amorverdadeiro, o qual teria que ser dado pelo prncipe encantado, em troca Shrek teria o seu

    pntano novamente.Porm, o objetivo inicial modificado pela quebra do esperado, pois, oogro ao salvar,junto com seu amigo Burro a princesa, apaixona-se por ela(essa, tambm,sendo uma ogra) e vice-versa, ao final, aps muitos conflitos e desmistificar crenas, quebrar

    esteretipos do tradicional, acabam casando-se.

    SHREK, RUPTURA DO PRNCIPE ENCANTADO

    Apesar dos contos de fadas serem multifacetado, e uma mesma histria poder tersido recontada vrias, e vrias vezes nos interessa aqui a de trs contistas que influenciaramsignificativamente nos contos de fadas que conhecemos hoje, so eles: Perrault, Grimm eAndersen, seus auge ocorreram respectivamente dessa forma anteriormente citada.

    As histrias construdas pelos trs contistas iniciam e desenvolve-se quase que damesma maneira: Era uma vez...,H muito,muito tempo atrs..., e trazem princesas e

    prncipes encantados ao longo de suas histrias.Uma mocinha que nunca exalta a voz, mesmoem situao de sofrimento,que perdoa uma madrasta cruel e irms que debocham de suasvestimentas,mas ainda sim permanece bela e com o corao bom,no caso Cinderela, soexemplos do comportamento distinto que deveriam ser tomado pelas princesas

    As irms de Cinderela em preparao para ir ao baile do prncipe:

    Chamaram Cinderela para pedir sua opinio, pois sabiam que elatinha bom gosto.Cinderela deu os melhores conselhos possveis e at seofereceu para pente-las.Elas aceitaram na hora, e enquanto eram penteadas

    perguntaram a Gata Borralheira: Cinderela, voc gostaria de ir ao baile?

    - pobre de mim! As senhoritas esto zombando, isso no coisaque convenha.

    -Voc tem razo todos ririam um bocado se visse uma GataBorralheira indo ao baile.

    Qualquer outra pessoa teria estragado o penteado, mas Cinderelaera boa e a penteou-as com perfeio. (Perrault,1697,p.21)

    nessa perspectiva de bondade, perfeio, pureza e beleza que os contos de fadaseram produzidos, e essa viso tem se mantido at hoje, at mesmo com recursos audiovisuais,a exemplo as verses Disney a respeito dos contos de Perrault, Grimm e Andersen.

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    Porm, o filme Shrek mostra justamente a quebra dessas perspectivas, que hoje jno corresponde a uma realidade. Shrek uma das primeiras animaes que trabalha comcorroso do belo, traz o profano para o centro da histria e ao final declara em sua trajetriaque beleza, no garante felicidade. Por este motivo ele passa a ser corpus, deste artigo e fundamental na ruptura da viso tradicionalista do prncipe encantado.

    Mas antes, fazem-se necessrio, como dito anteriormente ao incio desse artigoesclarecer alguns conceitos, como o de ethos, estilo e cosmoviso carnavalesca, estes que porsua vez ajudaro no esclarecimento dos novos conceitos encontrados nas releiturasobservadas no filme Shrek.

    Partindo dessa premissa, ser tratado sobre os primeiro conceitos a respeito deethos discursivos, que segundo Dominique Maingueneau, est associada prtica daenunciao feita locutor ativando em seu destinatrio certa representao de si mesmo,

    procurando control-la. E com freqncia somos obrigados a fazer a recorrncia a essadefinio visto que ela constitui uma dimenso de todo ato de enunciao.

    Os contos de fadas tradicionais trazem esse ethos do prncipe encantado jdemarcado, pois eles parecem querer moldar o esprito infantil para o sacrifcio e a busca devalores pr-estabelecidos. Seus heris perdem partes do corpo, renunciam a prazeres,trabalham arduamente, conquistam princesas, animais encantados, ou objetos de ouroenclausurados em torres ou palcios, sob a guarda de ferozes drages, bruxas ouencantamentos. Alm de permanecerem lindos e jovens, sim, pois no h heris feios ouvelhos nas estrias encantadas.E, todas essas marcas fazem parte do encanto fazem partedo que se espera para um carter do maravilhoso

    evidente que existem, para um dado grupo social, ethfixados, que sorelativamente estveis, convencionais. (Maingueneau 2008)

    O ethos dos contos de fadas trabalha justamente nessa definio dada porMaingueneau, no h variao o feio, o profano fazem parte do horror, do mal (Ogros, bruxas,lobos-maus.)

    Shrek quebra com essa viso tradicionalista iniciada no filme, quando ele rasgaa folha do livro de contos e ele declara que histria de contos de fadas, de princesas quesofrem encantos, aprisionadas em castelos no acontecem e que so um monte de

    besteiras,e ao decorrer da narrativa o ogro, representao do horror,esquece desseethos,tambm j pr determinado e apaixona-se pela princesa a qual ele salvou.

    nessa moldura do horror que Shrek tenta, a princpio, persuadir o seuinterlocutor de que um ser insocivel, impossvel de ter amigos e de ter que viver em seu

    pntano sozinho, descries essas to importantes para a construo do conceito de estilo.

    Por meio desse conceito de estilo recamos, tambm, no conceito da cosmovisocarnavalesca, para Bakthin a cosmoviso carnavalesca est associada a inverso da imagemestabelecida, o que era grotesco transformado em algo engraado alegre e divertido. O queera profano, passa a ser visto de forma invertida, ou melhor no existe mais o impuro ou puro,todos passam a ser iguais no plano terrestre

    ...como imagem do fim e do acabamento das vidas e do julgamentodefinitivo sobre elas, transformado em alegre espetculo, bom para

    ser montado em praa pblica e no qual o medo vencido pelo riso,graas a ambivalncia de todas as imagens (Discini p.55)

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    Se observarmos essa desconstruo fator crucial em Shrek o grotesco to temido aoincio do filme, apaixona-se passa a ter atitudes de um prncipe, ao salvar a princesa, seuamor verdadeiro de um Lord malfeitor, e casa-se dando incio a construo familiar,

    justamente a essa ambivalncia do cmico ao espanto que respaldada pelo riso, essainverso de fatores e atos a qual Bakthin refere-se ao tratar da cosmoviso carnavalesca e em

    REBELAIS E A HISTRIA DO RISO.E ele s passar a ser visto como grotesco,monstruoso, se se perder essa ambivalncia regeneradora, se se perder o tom alegrecomandado pelo riso,fator este que parece ao decorrer da narrativa no ocorrer.

    O rebaixamento enfim o princpio artstico essencial do realismogrotesco: todas as coisas sagradas e elevadas a so reinterpretadas no planomaterial e corporal. J falamos da gangorra grotesca que funde o cu e aterra no seu vertiginoso movimento; a nfase contudo se coloca menos nasubida do que na queda, o cu que desce terra e no o inverso.(Bakthin,1987,p.25) )

    Para facilitar a compreenso das anlises que se seguem, h um breve dilogo

    retirado do filme (da forma como foi falada pelas personagens), falas da princesa Fiona, aindahumana ao encontrar Shrek e ser salva por ele. (verso em portugus)

    Cena: A princesa est deitada na cama, segurando um pequeno buqu, parecido coma cena da Bela Adormecida e acordada, brutalmente, por Shrek, que est com armaduras.

    (O outro momento quando eles esto fugindo do castelo, onde est o drago-fmeo)

    (Aps eles serem salvos, ela descobre que ele um ogro.)

    S- Shrek

    F- Fiona S:- Voc a princesa Fiona?

    F:-Sou sim, a espera de um cavalheiro corajoso que venha me salvar.

    S:-Legal!(ele tenta tir-la da cama)

    F:-Esperaicavalheiro!Encontramo-nos, finalmente, no deveriaeste

    ser o momento maravilhoso, romntico?

    (ele a puxa de vez at a porta)

    F:- Vosdeveriasme tomar em vossos braos,pular pela janela e descerpor uma corda at vossabela montaria.

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    Nas falas exemplificadas nos quadros acima temos claramente a marca dessa viso

    tradicionalista do que vem a ser o maravilhoso e sua quebra. A quebra de um ethos arespeito de um tipo de heri construdo, e do estilo modificado, que abandona estasimbologia.

    Em primeira instncia observemos alguns verbos; Uns encontram-se no futuro dopretrito, outros acompanham diferentes modos e tempos verbais, mais o que chama a ateno o uso do verbo; Dever, no sentido de ter obrigao de algo, o qual constantemente dito

    pela princesa para indicar como as coisas devem ser feitas arrisca, pois algo j era esperado,marcado. Ou seja, de uma linha de situaes sucessivas que devem ocorrer frequentes emcontos de fadas.

    Percebamos tambm que h marcas na enunciao da princesa caracterstico daposio que ela assume de realeza. O uso dos pronomes oblquos que compe o ethos e estiloque ela produz referente ao que se deseja passar ao pblico em questo (no caso Shrek e oBurro) sobre a situao, uma boa impresso pela forma como construiu sua fala, para d umaimagem de si capaz de convencer e ganhar a sua confiana, outra caracterstica como se eladirige ao ogro, como; Senhor (Sr) ou Cavalheiro. O que vai de encontro a termos utilizados

    pelo Shrek, que em alguns dados instantes usa grias; Legal, seu tipo, porm o discurso daprincesa vai se modificado ao longo do filme, que ajuda na desconstruo da imagem daprincesa perfeita, e as atitudes do ogro ajudam a desconstruir justamente o inverso, a viso doogro como smbolo do horror e do mal .

    Nesses dados momentos que o ethos do heri comea a ser desconstrudo e isso sechoca na situao que demonstrada na fala da princesa quando esta cita; Mas isso no est

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    certo, isso est errado!. Indagando sempre o motivo pelo qual os fatos no ocorreram comonas outras histrias infantis, mantendo assim uma certa comparao entre as demaisestrias, tanto que ela afirma que est sim a espera do prncipe encantado. Para talexemplificao temos a seguintes imagens das princesas dos contos infantis:

    Nos contos modernos a figura feminina antes to pura, bondosa e frgil tomaconscincia de sua potencialidade no que diz respeito a sua fora, vencendo seus medos suasinseguranas e ocupando um espao que antes no tinha acesso; O de uma herona que possuivontades, anseios. Ela passa a no assumir o carter e estilo de uma figura decorativa, queeram marcas das princesas como a Borralheira e Rapunzel entre tantas outras, ela tem aopo de escolher seu destino. corajosa, luta karat,questiona seus pretendentes e pdedecidir entre ser princesa ou ser ogro,assumindo seu carter individual.

    Outro carter tambm bastante incomum e que serve para compreendermos por queShrek tornou-se corpus de estudo para este artigo a figura do mentor smbolo da forainterior do heri que desaparece ao invs de santos disfarados, gnios de lmpadas com

    poderes mgicos para solucionar o problema e fadas madrinhas com rostos angelicais, ocompanheiro do protagonista igual, imperfeito, no caso de Shrek o Burro, um asno tagarelae solitrio. Papel esse que sugere a respeito dessa viso do baixo corporal e da cosmovisocarnavalesca que no possui essa troca de papeis, mas uma nova viso sobre um realcompanheiro, amiga.

    O baixo material e corporal concebido na sua funo regeneradora ampara-se na reversibilidade dos movimentos, o que de fundante do grotesco. Afuno regeneradora do rebaixamento grotesco compe a cosmovisocarnavalesca. (Discini ,p 57)

    Luta e conquista ignonmia e honra coragem e medo apresenta-se cada elemento

    todos conjuntamente, relativizados pela funo de degradar, destronar e regenerar, constanteda imagem grotesca princpios estes que ajudam a constituir a viso da cosmovisocarnavalesca e esse olhar ambivalente de mltiplos significados.

    Bakhtin alerta que diante dos tais cnones, nada resta imagem grotescaseno ser interpretada como monstruosa. (Discini, p.63)

    Shrek representa essa quebra do ethos; da bondade, do perfeito, do certo. A atitudedo ogro no segue padres, o anti-heri que acidentalmente vira o heri que no se encaixanas expectativas, no o certinho; rude, sacode a princesa, recusa o beijo de amor,demonstra sua boa ndole atravs de atitudes bem estranhas, como fazer um churrasco deratos, brincar de empurrar ou presentear com sapos a sua amada. O ogro criticado,desengonado, feio, socialmente inadequado, sem controle do prprio corpo: arrota peida esuja-se todo com lama caractersticas essas jamais associadas aos prncipes da Belaadormecida, Branca de Neve, A pequena sereia e da bela e a fera, esse que por sua vez seregenera para ser feliz com a princesa Bela, diferente em Shrek que a prpria princesa arrotacomo o seu par romntico.

    Bakhtin afirma que para ressaltar a imagem grotesca em confronto com a estticaclssica, esta para qual se apagam protuberncias, tapam-se orifcios, retiram-seexcrescncias, abstraem-se imperfeies e para qual concepo, gravidez parte e agonia

    passavam despercebidos.

    Percebe-se assim que h uma dbia desconstruo de papeis, imagens estasconstrudas atravs do prprio texto: para a imagem do enunciador que seria esse ethose para

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    firmar a imagem para o pblico; ophatos. E esse sistema de estratgia construda que acarretada provocao da expectativa e paixes para com o pblico. o que ajuda nesses pontosduplos de viso; A desconstruo do Ogro e do Prncipe. E atravs desse discurso produzido

    pelo Shrek que permite a depresso da imagem ou do efeito da imagem.O conto de fadas trazia alvio ao sofrimento infantil em face de fortes emoes, por

    meio de resgate, escape e consolo. O alvio advinha do evoluir da psique para um estgio maismaduro, porque o conto de fadas elabora de forma simblica os conflitos entre a criana e omundo. Tratava-se de evoluir para ser feliz. Shrek faz uma diferente abordagem da psique edo estar no mundo e trazem alvio psicolgico sobre um diferente enfoque: aceitar-se eacreditar em si para ser feliz, afirmou Bruno Breittelheim

    Outra caracterstica bastante relevante em relao esttica. Assim como ocomportamento do personagem algo importante para notar a ruptura das aes do heri einfluencia essa, a imagem que se tem em relao ao belo tambm se faz presente.

    CONCLUSO:

    Bem, ao construir esse artigo foi possvel observar primeiramente como fato queum filme ao qual no possua qualquer pretenso em servir de copus de estudo para qualquer

    projeto cientfico foi primordial para ajudar a comprovar como as histrias infantis estomodificando-se assim como o seu pblico alvo atravs de sua narrativa. Que envolve um

    pouco de fbulas, efeitos musicas e uma bagagem de informaes transformadora. SRHEKpode ser sim, denominado de inovador, como um filme que modificou a viso dos Contos deFadas, servindo para a formulao de uma nova produo dos contos infantis, seja porgnero e meio de vinculao, por seu vocabulrio e maus modos. Mas que tenta, da suamelhor forma manter certo carter tradicional, atravs de um elemento; passar uma mensagem

    para quem o assiste. Porm uma mensagem que distorce em vrios pontos o queconhecemos,o filme tem a inteno de convencer o seu interlocutor que na vida real h umverdadeiro amor destinado a cada um, independente de ser belo ou feio, mas sim de encontrara felicidade. Que no h felizes para sempre predestinado como um beijo, mas sim queisso faz parte de algo a ser construdo. Que o prncipe encantado no existe, ele no fundo umogro que arrota e peida, que possui caractersticas humanas e no encantadas, que ohorror na verdade est na forma como cada ser percebe o outro. E a viso do grotesco passaa ser cmica em muitos casos.

    Resumindo, o conto de fadas tradicional nos diz: siga as regras para ser feliz.O conto infantil moderno aconselha, de maneira muito simptica: seja voc sem medo de ser

    feliz. Que na verdade seja voc um prncipe ou princesa responsvel por suas escolhas eassuma sua individualidade independente qual seja o seu objetivo.

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    REFERNCIAS

    Apresentao de MACHADO, Ana Maria/ Contos de fadas: de Perrault,Grimm,Andersen &Outros ; Trad.Maria Luiza X. de A. Borges- Rio de Janeiro:Zahar, 2010.

    BAKHTIN, Mikhail, A Cultura popular na Idade Mdia e no Renascimento: Ocontexto de Franois Rabelais,Trad.Yara Franteschi Vieira,So Paulo /Braslia:HUCITEC/UnB, 1987.

    BRAIT, B. (Org.).Bakhtin: Conceitos-chave. So Paulo: Contexto, 2005.BETTELHEIM, Bruno. A psicanlise dos contos de fadas. Traduo de Arlene

    Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980

    DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos, e outros episdios da histria dacultura francesa. Trad. Sonia Coutinho. Rio de Janeiro, 1986.

    MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Org.).Ethos dicursivo.So Paulo: Contexto, 2008.

    COELHO, Nelly Novaes.O Conto de fadas.2. ed. So Paulo: tica, 1991.

    SHREK, 1 DVD produzido pela Dream Works, EUA, 2001.

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