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PÓS - GRADUAÇÃO FRANCISCO JOSÉ DAMASCENO ALENCAR A DESJUDICIALIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA NO NOVO CPC CURITIBA-PR 2018

A DESJUDICIALIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA NO NOVO CPC · Professora Orientadora de TCC no Centro Universitário UNINTER. 4 1 INTRODUÇÃO Os meios alternativos de solução de conflitos,

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PÓS - GRADUAÇÃO

FRANCISCO JOSÉ DAMASCENO ALENCAR

A DESJUDICIALIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA NO NOVO CPC

CURITIBA-PR

2018

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FRANCISCO JOSÉ DAMASCENO ALENCAR

A DESJUDICIALIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA NO NOVO CPC

Artigo científico apresentado ao Programa de

Pós-Graduação em Direito Processual Civil da

Escola Superior de Gestão Pública, Política,

Jurídica e Segurança do Centro Universitário

Uninter, como requisito parcial à obtenção do

título de especialista em Direito Processual

Civil.

Orientadora: Prof. Amanda Cecatto Alcântara.

CURITIBA-PR

2018

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A DESJUDICIALIZAÇÃO COMO TENDÊNCIA NO NOVO CPC

Francisco José Damasceno Alencar1

Amanda Cecatto Alcântara 2

RESUMO

O Poder Judiciário sofre há anos com a alta tramitação de processos judiciais nos diversos ramos e instâncias do Judiciário. O anseio da sociedade pela efetividade da função jurisidicional, já tão criticada por sua demora, encontrou alento com advento do novo Código de Processo Civil de 2015 (com vigência em março/2016). A desjudicialização das demandas sociais é a grande tendência do novo Código de Processo Civil/2015. Deveras, sobressaem em seu novel texto algumas medidas que servem como alternativas de solução dos conflitos, tais como: conciliação, mediação e arbitragem, sem prejuízo da atividade legislativa na elaboração de leis, cujo conteúdo preveja outros meios de pacificação social, dentro ou fora do processo judicial. Portanto, é crucial analisar algumas das formas alternativas de resolução de conflitos que desoneram, quiçá, um dos Poderes do Estado mais importantes da República (Poder Judiciário). E para que ele possa exercer efetivamente sua função jurisdicional perante a sociedade, também é necessário a conscientização popular de que a via consensual de resolução dos conflitos é um caminho confiável, célere e menos dispendioso/desgastante tanto ao cidadão, quanto à própria Administração Pública.

Palavras – chave: Desjudicialização. Conflito. Consenso. Efetividade.

1 Formado no Curso de Direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e aluno de Pós-

Graduação em Direito Processual Civil da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança do Centro Universitário Uninter. É servidor público federal - cargo de Analista Judiciário da Seção Judiciária Federal do Estado do Amapá/AP.

2 Especialista em Direito Processual Civil. Professora Orientadora de TCC no Centro Universitário

UNINTER.

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1 INTRODUÇÃO

Os meios alternativos de solução de conflitos, previstos no novo CPC, surgem

como oxigênio necessário à melhoria da prestação jurisdicional, em tempos de

Justiça abarrotada de processos e descrédito das instituições. É fato que o Poder

Judiciário encontra-se saturado de processos, sejam pendentes de julgamentos,

sejam aguardando o resultado dos infindáveis recursos existentes no arcabouço

jurídico. Para piorar este panorama, é crescente a contenção de despesas do

Estado. A realização de concursos públicos para contratação de novos servidores,

justamente a mão de obra necessária para amenizar o quadro já alarmante

supracitado, é rara. Diante deste quadro gravíssimo, foi preciso se elaborar um

diagnóstico institucional, com o intuito de se criar meios para minorar o drama. Daí

surgiu o último relatório elaborado e publicado pelo programa “Justiça em Números”

do Conselho Nacional de Justiça - CNJ que apontou um total de 79.662.896

(setenta e nove milhões seiscentos e sessenta e dois mil e oitocentos e

noventa e seis) processos pendentes de julgamento, no ano base de 2016

(Conselho Nacional de Justiça, 2017).

Dentre outros fatores, os problemas que envolvem serviços públicos

prestados diretamente ou indiretamente pela Administração – principalmente – são

os que mais sobrecarregam o Poder Judiciário com demandas desnecessárias ou

repetitivas, passíveis facilmente de serem resolvidas pelas agências reguladoras ou

pela própria Administração Pública. A responsabilidade pela solução dos problemas

sociais e interpessoais não pode ser direcionada apenas ao Poder Judiciário. O

sagrado direito fundamental de acesso à justiça, previsto na Constituição da

República de 1988, passa por uma grave crise institucional, ante a sobrecarga de

processos existentes. Para amenizar tal dado, é preciso aprofundar o tema ora

proposto e tecer considerações sobre os mecanismos previstos no novo CPC que

trazem o apaziguamento social das lides longe da imposição judicial, que, por

natureza, invariavelmente tende sempre a desagradar algum dos lados da contenda.

É preciso lembrar, ainda, que nem sempre a existência de um conflito será o

ponto crucial para a necessária judicialização da causa. Daí a existência no direito

pátrio do que se chama de “procedimentos especiais de jurisdição voluntária”. São

causas que pela repercussão social que possuem submetem-se a regras do

processo judicial. Alguns desses procedimentos foram flexibilizados, como no caso

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da separação consensual, quando não há filhos menores ou incapazes do casal,

ocasião na qual o procedimento poderá ocorrer por escritura publica no cartório, sem

necessidade de homologação judicial. Outro exemplo seria a possibilidade de

inventário extrajudicial perante os Cartórios, de forma consensual entre os herdeiros

e sem interesse de menor incapaz. São exemplos de desjudicialização que vêm

dando certo e em muito contribuem para o próprio Poder Judiciário, ao evitar que

mais demandas adentrem sua jurisdição.

2 DAS ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO CONSENSUAL DOS CONFLITOS NO

NOVO CPC

A previsão de que “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou

lesão a direito” (art. 3º, caput, CPC/2015) deve ser entendida como última ratio da

solução dos conflitos, e não como regra geral. Infelizmente, esta não é característica

dos povos de origem latino-americana, cuja história ético-cultural transmite o de uma

raça acostumada a conflitos e embates, que deu origem ao chamado “sangue

quente” latino-americano. Tal fato tende ao embate das questões sobrepostas,

historicamente voltadas a sua judicialização. Seus cidadãos tendem quase sempre a

buscar num terceiro (Estado) quem dite o direito posto em xeque.

Com essa perspectiva, não basta que o Estado crie mecanismos de

pacificação social, é preciso toda uma mudança cultural dos personagens

conflitantes. Nas palavras do professor Flávio Tartuce:

Mas não basta o investimento estatal. Também se faz necessária a mudança cultural no ensino do Direito. É preciso substituir a cultura da guerra, do contencioso, da vitória e da derrota, transmitidas nas Faculdades de Direito, pela cultura da paz, da resolução, do diálogo e do reconhecimento do outro (TARTUCE, 2016, http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos).

O resultado de anos de ajuizamentos de ações é o que se vê hoje nas pautas

de secretaria dos diversos tribunais e fóruns país afora: audiências inaugurais

marcadas para datas 4 (quatro), 5 (cinco), 6 (seis) ou mais meses após o protocolo

da petição inicial. É uma realidade nos dias atuais.

Pensando nisso, o novo Código trouxe ferramentas importantíssimas para o

desafogamento da Justiça, ao prever, ainda no citado artigo 3º, §3º, que “a

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conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos

deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do

Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. São meios alternativos

que o legislador disponibilizou para o Poder Judiciário ter a oportunidade de buscar

soluções diferenciadas para os conflitos entre as partes.

Os “equivalentes jurisdicionais” são uma terminologia utilizada para se referir

a técnicas de resolução de conflitos, em geral, extrajudicialmente, chamadas de

Autotutela, Autocomposição (submissão, renúncia e transação), Mediação e

Arbitragem. A autocomposição também é conhecida no mundo jurídico como

Conciliação, genericamente. Importante ressaltar que a autocomposição e a

Mediação podem ocorrer tanto judicialmente, quanto extrajudicialmente. Note-se que

a mediação e arbitragem são, por natureza, formas de heterocomposição, uma vez

que haverá, necessariamente, um terceiro estranho à lide para dirimir o certame.

Além das modificações trazidas na atual codificação processual, leis foram

promulgadas e aperfeiçoadas, possibilitando ao cidadão pôr fim a seus anseios sem

necessariamente provocar o Poder Judiciário. Podem-se citar, como exemplo, a Lei

da Mediação (Lei n. 13.140 de 2015) e a Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307 de 1996,

recentemente alterada pela Lei. 13.129 de 2015).

2.1 DA AUTOTUTELA

Com o passar dos anos, a evolução da sociedade e a organização do Estado

foi expurgando essa forma de resolução dos conflitos da ordem jurídica, haja vista

representar sempre um perigo para a paz social. Contudo, excepcionalmente, é

possível vê-la em uso, mormente o fato de o Estado não ter como socorrer o

jurisdicionado a tempo e à hora da ocasião.

Assim, a autotutela é hodiernamente admitida, mas apenas para defender

direitos que estejam sendo violados. As características da autotutela são: Ausência

de um julgador distinto das partes; e a imposição da decisão de uma parte

(geralmente o mais forte) em detrimento do outra.

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No direito moderno, o exercício da autotutela para satisfazer uma pretensão,

embora legítima, salvo quando autorizado por lei, constitui crime e está sujeito a

sanção legal (Mércia Barbosa e Marta Ângela, publicado em 08/2015).

Um exemplo bastante comum de autotutela é o direito de retenção como

forma de satisfação ou garantia de um débito, em que o credor pode manter, sob

sua posse direta, bem do devedor, até que este cumpra a obrigação.

Importante distinguir o instituto da autotutela acima descrito daquele praticado

pela Administração Pública no exercício dos atos administrativos. Nesse sentido, eis

o teor da Súmula 346 do Supremo Tribunal Federal - STF, que estabelece que “A

Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos” e Súmula nº

473 do STF:

A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Embora seja um meio bastante incomum, fato é que a autotutela nas relações

privadas é possível em nosso ordenamento.

2.2 CONCILIAÇÃO OU AUTOCOMPOSIÇÃO (transação, submissão e renúncia)

O novo CPC/15 dedicou uma seção inteira (inserida no Título IV do Capítulo

III) para tratar “Dos Conciliadores e Mediadores Judiciais”, tamanha a importância do

tema na atual codificação.

Como dito alhures, a autocomposição é comumente conhecida pelo termo

“conciliação”. Ela abrange três métodos de consenso distintos: renúncia, submissão

e transação. A renúncia e a submissão subentendem ato unilateral, no qual pelo

menos um dos litigantes abre mão do seu alegado direito. A transação, por sua vez,

é fruto de um ato bilateral das partes ligantes, em vistas a fazer um acordo, no qual

ambas as partes cedem em prol do bem comum.

Outra inovação de suma importância tangente à conciliação veio no bojo do

artigo 319, ora transcrito:

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Art. 319. A petição inicial indicará:

I - o juízo a que é dirigida;

II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido com as suas especificações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. (grifo nosso)

O Código de Processo Civil trouxe a previsão de criação dos CEJUSCs –

Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania. As principais inovações e

avanços trazidos possibilitam a solução consensual dos conflitos, sobretudo aquelas

que tratam da conciliação, mediação e arbitragem, judicialmente ou

extrajudicialmente. Embora se diga que os CEJUSCs não alterem a sobrecarga

processual, uma vez que os processos apenas se deslocaram do contencioso

judicial para tais centros, o fato é que a concentração dessas causas em

determinado local criado com o fim único de solucionar a lide, consensualmente,

antes mesmo de progredirem para uma demanda complexa, traz sim uma melhora

considerável em todo o sistema. A uma porque a causa posta em juízo tem grande

possibilidade de acordo. A duas porque, mesmo não sendo acordada, a causa

estará mais “amadurecida” ao chegar em sua instrução e julgamento. São

ferramentas que podem dar celeridade e economia processual vez que quanto mais

conflitos forem solucionados fora da jurisdição haverá menos processos, produzindo,

assim, espaço para as ações mais complexas que necessitem e exijam de maior

atenção, por consequência, podendo estes processos ser analisados de uma

maneira mais célere.

Com isso, o processo tende a ser encerrado mais rapidamente, seja através

do acordo (autocomposição), seja pulando a etapa da tentativa de conciliação,

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quando as partes de forma expressa e previamente declaram sua não intenção de

consenso.

A conciliação, apesar de ser geralmente confundida com a técnica da

mediação, possui certa peculiaridade no seu manejo, conquanto ambas visem

alcançar a máxima constitucional da celeridade processual. Dentre os pontos em

comum, destacam-se os princípios balizadores da atuação dos agentes

conciliadores e mediadores atuantes na lide, previstos no art. 166, caput, do

CPC/2015: princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da

vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão

informada. Além disso, ambas serão regidas conforme a livre autonomia dos

interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais.

Importante também ressaltar que os conciliadores e mediadores, conforme

autorização legal, podem ser pessoas estranhas ao órgão competente (cadastradas

ou não); podem, ainda, ser indicadas pelas partes para intermediarem o processo.

Porém, como dito acima, elas possuem técnicas diferentes. A conciliação

consiste numa conversa/negociação que conta com a participação de uma agente

imparcial para favorecer o diálogo e, se necessário, apresentar ideias para a solução

do conflito. Ocorre preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior

entre as partes. O conciliador poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a

utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes

conciliem.

Para melhor entender tais diferenças, eis as palavras do professor Fredie

Didier Jr. sobre o tema:

A mediação e conciliação são formas de solução de conflito pelas quais um terceiro intervém em um processo negocial, com a função de auxiliar as partes a chegar à autocomposição. Ao terceiro não cabe resolver o problema, como acontece na arbitragem: o mediador / conciliador exerce um papel de catalisador da solução negocial do conflito. (DIDIER, 2015, p. 237).

2.3 DA MEDIAÇÃO (Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015)

Tamanha é a importância da figura da Mediação nos tempos atuais, que fora

prevista não somente no CPC/2015, como também em Lei própria. Na lei é

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conceituada como “a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder

decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou

desenvolver soluções consensuais para a controvérsia” (art. 1º, parágrafo único).

É comumente indicada para casos mais complexos. Casos em que as partes

possuem uma relação ou vínculo anterior à lide. São situações em que as partes já

tinham uma relação jurídica continuada, que se renova no tempo, como prestação

de serviços. Para que haja um consenso entre as partes, é necessário que ambas as

partes concordem na indicação do terceiro intermediador que conduzirá as tratativas,

a fim de se chegar ao denominador comum.

Uma melhor definição vem nas palavras de Daniel Amorim, para quem a

mediação possui a seguinte característica peculiar que a difere substancialmente da

conciliação:

O mediador não propõe soluções do conflito às partes, mas as conduz a descobrirem as suas causas de forma a possibilitar sua remoção e assim chegarem à solução consensual, tendo o mediador apenas a tarefa de induzi-las a tal ponto de chegada. (NEVES, 2016, pg. 6-7).

Nesta técnica de resolução de conflitos, o mediador não propõe soluções,

sendo um mero coadjuvante, conduzindo as partes por um canal de consenso.

Extrajudicialmente, a figura do mediador é bastante comum nos órgãos de

defesa do consumidor, especialmente junto aos PROCON’s, geralmente ligados ao

poder executivo municipal ou estadual para dirimir contendas consumeristas. Ali eles

são fundamentais para espairecer contendas ainda na seara privada, e evitar que

cheguem ao balcão do Judiciário. Assim, o mediador precisa aplicar ao caso

técnicas de solução dos conflitos.

Uma novidade bastante recente foi a autorização dada pelo CNJ aos

Cartórios extrajudiciais para oferecer serviço de mediação e conciliação, atividade

antes exclusiva ao Estado, especificamente ao Poder Judiciário. Importante ressaltar

que o acordo formalizado na mediação já possui força de título executivo

extrajudicial. Apenas se houver interesse de menor ou tratando-se de direitos

indisponíveis, o acordo será levado para homologação judicial.

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Após a vigência do novo Código, inúmeros cursos de mediação foram

fundados com o intuito de formar novos mediadores e conciliadores. Em 2015, a Lei

13.140, em seu artigo 11, atribuiu à Enfam a competência para reconhecer escolas e

instituições de formação de mediadores judiciais, surgindo daí a necessidade de

serem estabelecidos critérios objetivos que orientarão a atuação da Escola Nacional

e das escolas vinculadas aos tribunais.

Em tópico elaborado e publicado pelo Mediador/Conciliador Marcelo Gil, ficou

demonstrada a importância do assunto. Eis o registro:

O Conselho Superior da Escola Nacional de Formação e

Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) aprovou resolução

(Resolução Enfam nº 1/2016) que uniformiza os procedimentos

relativos ao reconhecimento de escolas ou instituições de

capacitação em mediação judicial (ARBITRAGEM, CONCILIAÇÃO E

MEDIAÇÃO. Fonte: Superior Tribunal de Justiça. Em

http://arbitragem9307.blogspot.com/2016/05/resolucao-que-

uniformiza-procedimentos.html).

Os cursos de Arbitragem e Mediação deverão estar cadastrados junto aos

respectivos tribunais, segundo o Conselho Superior da Enfam, como forma de

reconhecimento e capacitação. Isso vale para todas as instituições que estejam

interessadas em ter o reconhecimento para ministrar curso de capacitação em

mediação judicial, devendo obedecer às regras previstas na resolução.

No ano de 2016, em alteração dada à Resolução CNJ 125, ficou estabelecido

que “os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de mediadores e

conciliadores deverão observar as diretrizes curriculares estabelecidas pelo CNJ e

deverão ser compostos necessariamente de estágio supervisionado. Somente

deverão ser certificados mediadores e conciliadores que tiverem concluído o

respectivo estágio supervisionado”.

Toda essa regulamentação por parte dos órgãos competentes tem o escopo

de evitar a judicialização do conflito. Visa à soluções mais rápidas, maior controle da

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demanda pelas partes, custos reduzidos e controlados, privacidade, dentre outras

vantagens.

2.4 DA ARBITRAGEM (Lei nº 9.307/96, alterada pela lei nº 13.129/2015)

A regra premente para este instituto é de que apenas pessoas capazes

podem dele usufruir, e desde que o objeto em discussão recaia sobre direitos

patrimoniais disponíveis.

Dito isso, a convenção de arbitragem tem dois aspectos. Primeiramente, trata-

se de um acordo de vontade entre as partes, que tem efeito vinculante entre elas

quanto a litígios futuros ou atuais, obrigando-as à submissão do juízo arbitral. E, em

segundo lugar, pode ser considerada um pacto processual, que visa derrogar a

jurisdição estatal, submetendo as partes a decisão dos árbitros.

Convenção de arbitragem é, portanto, gênero do qual a “cláusula

compromissória” e o “compromisso arbitral” são espécies. A cláusula

compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato

comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir

relativamente a tal contrato. Por sua vez, compromisso arbitral é a convenção

através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais

pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.

Em 27 de maio de 2015, foi publicada a lei 13.129/15, que altera e

complementa a lei 9.307/96 (“lei de arbitragem”). Dentre as alterações trazidas,

destaca-se a previsão expressa quanto a possibilidade de participação da

administração pública em arbitragens, o que será tratado mais detalhadamente no

próximo tópico. Por ora, importa dizer que essa previsão traz maior segurança

jurídica aos cidadãos, bem como empresas brasileiras e estrangeiras quando

assinam convenções de arbitragem com o Estado.

As demais alterações, de maneira geral, também trazem maior segurança

jurídica a todas as partes signatárias de convenções arbitrais, valorizando ainda

mais o instituto da arbitragem no Brasil. O Superior Tribunal de Justiça, inclusive,

já redigiu Sumula sobre o tema: “A Lei de Arbitragem aplica-se aos contratos que

contenham cláusula arbitral, ainda que celebrados antes da sua edição”.

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No plano internacional, a lei de Arbitragem segue uma tendência global, na

qual as mais modernas normas sobre o instituto em diversos países em que esta

forma alternativa de resolução de disputas já vem sendo utilizada há muito tempo

com progresso.

A arbitragem tem como principal característica romper com o formalismo

processual promovendo a solução do litígio por meio da livre escolha de árbitros

especializados no tema em discussão e a liberdade na escolhe do direito material e

processual a serem aplicados no conflito. Por essa e outras razoes é, portanto, um

excelente instrumento, célere e sigiloso, de harmonização de interesses entre as

partes.

É cada vez mais comum ver no mercado de negócios alguns cursos de

arbitragem e mediação serem oferecidos aos mais variados tipos de profissionais,

mormente aqueles pertinentes ao profissional das Ciências Jurídicas. Isso se deve

ao fato de que as pessoas e empresas vislumbram na Arbitragem uma forma

eficaz e célere de dirimir seus problemas, sem ter que arcar, no mais das vezes,

com longos anos de espera e altos custos judiciais. Não resta dúvida, pelo exposto,

que a arbitragem é um meio adequado de solução de conflitos cada vez mais

prestigiado nos dias de hoje, sobretudo pelas empresas que buscam rapidez e sigilo

na solução dos seus conflitos societários.

Uma grande vantagem do manejo da Arbitragem quando em contraste com

o litígio, onde não se pode "escolher o juiz", é a de que aquela permite que as partes

escolham seu próprio tribunal. Isso é especialmente útil quando o assunto da disputa

é altamente técnico: árbitros com um grau apropriado de especialização (por

exemplo, conhecimentos de levantamento de quantidade, no caso de uma disputa

de construção, ou experiência em direito de propriedade comercial, no caso de uma

disputa de construção disputa imobiliária) pode ser escolhida. A arbitragem é muitas

vezes mais rápida do que o litígio judicial.

Além disso, os procedimentos arbitrais e a sentença arbitral geralmente não

são públicos e podem ser confidenciais. Nos processos arbitrais pode ser escolhida

a linguagem da arbitragem, enquanto que nos processos judiciais será

automaticamente aplicada a língua oficial do país do tribunal competente. Dessa

forma, as sentenças de arbitragem geralmente são mais fáceis de aplicar do que os

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veredictos judiciais. Na maioria dos sistemas legais, há possibilidades muito

limitadas de recurso de uma sentença arbitral, o que às vezes é uma vantagem

porque limita a duração do litígio e qualquer responsabilidade associada.

2.4.1 DA ARBITRAGEM NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Eis que surge com a nova lei a previsão expressa para a Administração

Pública Direta e Indireta se valha da Arbitragem para dirimir seus conflitos.

A Fazenda Pública, paradoxalmente, é a maior litigante existente nos

balcões do Poder Judiciário. São milhares de processos com ela no polo passivo

ou ativo da demanda judicial.

O certo é que num ou noutro polo, geralmente, o processo tende a ser

extremamente vagaroso, seja pela quantidade ações ajuizadas (especialmente em

Execuções Fiscais), seja pelas regras que cercam a Fazenda Pública quando no

polo demandado, a exemplo do que ocorre com o prazo em dobro para recorrer,

necessidade de expedição de RPV’s ou Precatórios no pagamento de dívidas

fazendárias etc.

Como dito alhures, há, atualmente, previsão normativa de participação da

Administração Pública em arbitragens. Ela pode ocorrer entre a Administração

Pública e pessoa física, como também entre aquela e pessoa jurídica, respeitado

o objeto a ser apreciado e outros limites legais, especialmente pelo fato da

Fazenda Pública obedecer à princípios e regras próprias.

Grande parte dos doutrinadores prega que os contratos administrativos só

poderão ser submetidos ao instituto da Arbitragem quando não versarem sobre

consecução de bem comum ou de interesse público primário, de toda a sociedade.

Sendo assim, apenas questões envolvendo cunho financeiro poderão ser

apreciadas pela Arbitragem. É dizer: prestação de serviços públicos não é

passível de análise nesta seara.

Nesse sentido, Alexandre do Priess e Pedro Savoldi:

Os contratos administrativos só poderão ser submetidos à Arbitragem quando não versarem sobre a consecução do bem comum (interesse público primário). Entretanto, nada obsta que, por não haver relação direta com a persecução do interesse público,

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eventual conflito entre a Administração e particular que tenha por objeto apenas questões financeiras seja levado à jurisdição arbitral. (A (in) admissibilidade da arbitragem na Administração Pública, em https://jus.com.br/artigos/64942/a-in-admissibilidade-da-arbitragem-na-administracao-publica, publicado em 03/2018. Acesso em 28/08/2018).

Há de se registrar uma exceção que ocorre na arbitragem quando a

Administração Publica dela participa. Não poderá haver cláusula de sigilo,

tampouco decisão por equidade das causas apreciadas. As ressalvas possuem

uma razão de ser que no passado rendeu deveras críticas ao instituto em estudo,

qual seja: o respeito aos princípios da Legalidade e da Publicidade dos atos.

Dessa forma, é razoável entender possível a arbitragem, mesmo em contratos

administrativos, pois neste instituto predomina o aspecto patrimonial.

Ademais, ao utilizar o instituto da arbitragem, a Administração aplicará o

verdadeiro interesse público, o chamado interesse primário, o qual não seria

atendido se, podendo adotar a via do juízo arbitral, optasse pela dispendiosa e

morosa judicialização para solucionar controvérsias meramente secundárias.

Tal interpretação, a nosso ver, harmoniza o princípio da indisponibilidade do

interesse público com a arbitragem no direito positivo brasileiro.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, conclui-se que é preciso mudar a cultura da

sentença no país, da lide, do embate jurídico. Para tanto, resta óbvio que os meios

alternativos de resolução dos conflitos existentes no ordenamento pátrio são

fundamentais para tornar cada vez maior a desjudicialização das causas, sendo uma

via de mão única no sentido da pacificação social.

A mudança de cultura se dará, principalmente, através dos meios ventilados

no presente artigo (conciliação ou autocomposição, transação, além das leis

esparsas – arbitragem etc.), ferramentas importantíssimas prestigiadas pelo

legislador no novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor no ano de 2016,

ou seja, em recente aplicação diária no meio social, o que ainda tem gerado

posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais caso a caso.

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Como demonstrado no início deste trabalho acadêmico, é alarmante o último

relatório elaborado e publicado pelo programa “Justiça em Números” do Conselho

Nacional de Justiça – CNJ, que apontou nada menos do que um total de 79.662.896

(setenta e nove milhões seiscentos e sessenta e dois mil e oitocentos e

noventa e seis) processos pendentes de julgamento no ano base de 2016.

(Conselho Nacional de Justiça, 2017).

Diante dos alarmantes números levantados, é de fundamental importância o

aprofundamento do tema, sobretudo no que tange ao aperfeiçoamento dos Centros

Judiciários de Conciliação – CEJUC, previstos no novel ordenamento processual,

mas ainda uma realidade distante em muitos recintos jurídicos.

De toda sorte, já é crescente a procura dos interessados em resolver seus

problemas através de meios extrajudiciais, o que reflete diretamente na qualidade da

prestação jurisdicional, uma vez que menos processos implica em mais atenção por

parte dos juízes e servidores em analisá-los.

O surgimento de profissionais especializados e preparados em prestar uma

boa mediação e arbitragem também traz consigo um importante passo na

desjudicialização das causas, ao passo em que menos processos serão ajuizados.

REFERÊNCIAS

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Disponível:<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb793

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https://jus.com.br/artigos/62162/principio-da-conciliacao-e-mediacao-no-ncpc.

Acesso em: 18.05.2018.

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Processual Civil, Parte Geral e Processo de Conhecimento. 17ª Ed. – Salvador:

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ZAMPINI, Regina A. A nova Lei de Arbitragem (Lei nº 13.129/2015) e suas

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Teresina, ano 21, n. 4773, 26 jul. 2016. Disponível em:

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BARBOSA, Mércia. Â NGELA, Marta. Negociação, Mediação e Arbitragem.

Disponível em https://jus.com.br/artigos/41477/negociacao-mediacao-e-arbitragem.

Acesso em: 23.08.2018.