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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil DOUTORADO EM DIREITO São Paulo 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Flávia Pereira Ribeiro

Desjudicialização da Execução Civil

DOUTORADO EM DIREITO

São Paulo

2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC- SP

Flávia Pereira Ribeiro

Desjudicialização da Execução Civil

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título

de Doutora em Direito Processual Civil, sob a

orientação do Professor Doutor João Batista

Lopes.

São Paulo

2012

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Banca Examinadora

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Ficha Catalográfica

RIBEIRO, Flávia Pereira. Desjudicialização da Execução Civil

São Paulo: 2012, pp. 287.

Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2012.

Área de concentração: Direito Processual Civil

Orientador: Professor Doutor João Batista Lopes

Palavras-chave: desjudicialização; execução; Portugal; jurisdição; agente de

execução; delegação.

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AUTORIZAÇÃO

Na qualidade de autora, autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a

reprodução parcial ou total desta tese por processos fotocopiadores ou eletrônicos.

São Paulo, ......................................................

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A todos que me cercaram de carinho durante esta difícil fase;

a todos que incentivaram o arrojo do meu trabalho;

aos meus pais, irmãos, cunhadas;

ao meu grande amor.

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AGRADECIMENTOS

Tenho tanto a agradecer e a tantos, que esta tarefa torna-se delicada. Assim, vou por partes:

agradeço ao meu querido orientador João Batista Lopes pela paciência e incentivo em todas as

horas de certo tormento, aflição, frustração. A liberdade e o limite foram dados com

sapiência.

A minha banca de qualificação, formada por Cassio Scarpinella Bueno e Nelson Nery Jr.,

além do meu orientador, foram essenciais para o aprimoramento desse trabalho. Eles me

encorajaram a fazer um “projeto de lei”, tarefa das mais difíceis, mas que, aparentemente, deu

solidez a esta tese de doutorado. Agradeço ao meu orientador por formar uma banca de

qualificação tão qualificada, razão pela qual foi tão proveitosa; e, na sequência, por organizar

uma banca pública tão renomada.

Desesperada com a tarefa de elaborar um “projeto de lei”, procurei meu querido amigo Bruno

Dantas Nascimento. Quando finalmente consegui falar com essa pessoa tão ocupada, me

acalmei. Ele pediu a um colega que me explicasse técnica legislativa e indicasse as normas

pertinentes. Foi assim que por vários dias me comuniquei por e-mail com Eduardo dos Santos

Ribeiro, que inclusive sugeriu o trabalho colunado, mais acadêmico e menos denso que um

verdadeiro projeto de lei. Serei eternamente grata aos dois.

Aos que me receberam em Portugal, agradeço muitíssimo. Minha pesquisa foi orientada

naquele país pelo Professor Miguel Teixeira de Sousa. Paula Costa e Silva também o faria se

não estivesse no Brasil na ocasião, mas trocamos ideias em diferentes oportunidades.

Agradeço a todos que atenderam às minhas entrevistas, detalhadas na subseção 5.6 destes

escritos: Paula Meira Lourenço, António Gomes da Cunha, João Jorge Gil Rodrigues

Almeida, Mário Melo Rocha e Filipa Meira Bicas. Registro o apoio recebido da Ordem dos

Advogados de Portugal, especialmente o bibliotecário João Pedro Oliveira, pelo acesso à bela

biblioteca e fornecimento de cópia de artigos e de trechos de livros sem qualquer custo.

Teresa Arruda Alvim Wambier organizou minha temporada em Portugal, razão pela qual

também lhe sou grata.

Cito aqui o nome de vários amigos, os quais de alguma forma colaboraram na elaboração

desta tese, desde aqueles que suscitaram dúvidas, emprestaram livros, indicaram material de

pesquisa, fizeram contato com outros contatos, ajudaram com tradução, entre outros. Nessa

empreitada, em certas horas, uma simples palavra pode significar muito. São eles, em ordem

alfabética: Andrea Portacolone, Antonio Notariano Jr., Carlo Calabró, Clara Moreira Azzoni,

Daniel Hoppe, Fabiano Carvalho, Hélio Rubens Batista Ribeiro Costa, Karen Skitnevsky,

Laura Vissotto, Marcelo Kramer, Neil Andrews, Pedro da Silva Dinamarco, Regina Kopp

Silva, Rodolfo de Camargo Mancuso, Rodrigo Barioni e Samy Garson.

Sou absolutamente grata pela existência de Juliana Gomes Bezerra. Todas as minhas

angústias foram divididas com ela, que em muitos momentos opinou de forma definitiva.

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Além de outras de importância, foi ela quem indicou a profissional Estela de Jesus Martins,

responsável pela correção gramatical e formatação destes escritos e me encorajou a contratar

Ana Paula de Castro, para uma revisão final, com um olhar jurídico.

Tenho muito a agradecer aos suecos Frank Walterson e Mikael Berglund. Um país realmente

civilizado é aquele que valoriza a educação acima de tudo. Perguntei a Walterson qual a razão

pela qual ele estava tão empenhado em ajudar. Queria entender se se tratava de uma questão

cultural, sociológica, ou outra, já que éramos desconhecidos e ele uma pessoa tão importante e

ocupada. Ele frisou que apreciava essa troca de informações e que, tendo estado tão envolvido

nas reformas que discutíamos, realmente queria dar todo o suporte necessário à minha tese no

que dizia respeito à execução na Suécia.

Agradeço também às pessoas ligadas ao Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil,

Seção São Paulo, especialmente a Michelle Arruda de Almeida, José Carlos Alves, Mário

Florence e Reinaldo Velloso dos Santos. Cada qual com o seu papel, me permitiram conhecer

a estrutura do tabelionato de protesto e a viabilidade da proposta.

Agradeço ao meu grande amor Lineu, que me suportou nas fases de grande estresse e ajudou a

minimizá-lo, até mesmo assumindo tarefas que definitivamente não lhe cabiam. Não posso

deixar de mencionar o Monet, que apesar de passar quase o tempo todo cochilando, manteve-

se sempre aos meus pés, ao redor do meu pequeno centro de tecnologia da informação.

Muitos outros amigos – como é bom tê-los – deram apoio ao seu modo, perguntando,

ouvindo, torcendo, mas não cabe citá-los um a um. Minha família tem papel fundamental na

minha vida, razão pela qual não posso deixar de registrar meu agradecimento por tudo, nem

que seja pela mera existência. Obrigada a José Carlos, Maria Eduarda, Ricardo, Karina, André

e Renata.

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FLÁVIA PEREIRA RIBEIRO

DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO CIVIL

RESUMO

O estudo estatístico de desempenho do Poder Judiciário realizado pelo Conselho Nacional da

Justiça (CNJ) noticiou um verdadeiro colapso na prestação da tutela executiva no Brasil,

sendo esta uma das razões pela qual se deve observar com bons olhos propostas inovadoras. É

necessária a superação dos mitos criados pela ciência jurídica, a começar pelo conceito de

jurisdição estatal. A resolução de conflitos já é realizada por terceiros imparciais no Brasil; a

execução de títulos judiciais e extrajudiciais é feita sem a intervenção do juiz em muitos

países europeus, em alguns de forma bastante solidificada. Nesses países, o “agente de

execução” – que pode ser público ou privado – recebe o pedido de execução e lhe dá o devido

processamento – desde que presentes os requisitos formais do título –, incluindo citações,

notificações, penhoras e venda de bens. O tribunal fica inteiramente fora desse procedimento,

salvo em situações excepcionais, quando é chamado a decidir eventual oposição do devedor.

Após análise detalhada de direito estrangeiro, propõe-se a desjudicialização da execução,

adotando-se como parâmetro a reforma portuguesa, mas adaptada ao sistema brasileiro,

aproveitando-se as estruturas existentes. Sugere-se que ao tabelião de protesto – profissional

de direito concursado – seja delegada a função pública da execução de títulos, havendo a

ampliação de suas atividades. Nos termos do artigo 263 da Constituição Federal, sustenta-se

que a remuneração seja realizada de acordo com os emolumentos fixados por lei e a

fiscalização praticada pelos tribunais e corregedorias. O acesso ao Poder Judiciário fica

resguardado por meio da oposição dos embargos do devedor caso o jurisdicionado sinta-se

lesado ou ameaçado em seu direito. A desjudicialização da execução é tema bastante

controverso, de forma que há um grande esforço na sua justificativa – exposição de motivos.

A proposta procedimental tem caráter complementar e é apresentada em forma de um quadro

comparativo, tomando-se por base os artigos pertinentes do PL nº 8.046/2010 – novo CPC –,

já aprovado pelo Senado Federal e em trâmite perante a Câmara dos Deputados. O objetivo do

trabalho é fornecer subsídios a um concreto projeto de lei para a desjudicialização da

execução.

Palavras-chave: desjudicialização; execução; Portugal; jurisdição; agente de execução;

delegação.

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ABSTRACT

The statistic study of the performance of the Judiciary System made by CNJ has demonstrated

the collapse of the rendering of executive protection in Brazil, and this is one of the reasons

why new proposals should be observed. It is necessary to overcome myths created by the

legal science, starting with the concept of State Jurisdiction itself. Dispute resolution is

already undertaken by impartial third parties in Brazil; execution of awards derived from

decrees or from out-of-court titles has been carried out without the intervention of judges in

many European countries – in some, in a very solidified way. In these countries, the

“enforcement agent” – who might be public or private – receives the request for execution and

proceeds with due process – provided that the formal requirements of the award are present –

including summons, notifications, attachments, and order of sale of assets. The court is kept

absolutely out of the procedures, except for extraordinary situations in which it is called upon

to decide over occasional opposition declared by the debtor. After detailed analysis of foreign

Law, we propose the dejudicialization of execution procedures adopting the Portuguese

reform as parameter – however adapted to the Brazilian system – and making use of the

existing structure. We suggest the delegation of the public activity of collecting debts to the

Notary Public (a duly accredited Law professional), therefore broadening their activities.

Under the terms of article 263 of the Federal Constitution, we support that the fees be paid

according to those established by Law and supervision enforced by courts and internal affairs

offices. Access to the judiciary system would be granted by means of filing a motion to stay

collection whenever the party feels their right is being affected or threatened.

Dejudicialization is a very controversial topic, therefore there is a very big effort to justify it –

explanatory memorandum. The procedure proposal has a complementary character and is

presented under the form of a comparison chart, based on the related articles in PL nº

8.046/2010* (Bill # 8.046/2010) – new CPC* (Brazilian Process Code) – which was already

approved the Federal Senate and is presently under proceedings with the House of

Representatives. The goal of this study is to provide subsidy to a Bill aiming at

dejudicialization of execution procedure.

Key-words: dejudicialization; execution; Portugal; jurisdiction; enforcement agent;

delegation.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12

CAPÍTULO 1 – JURISDIÇÃO E INAFASTABILIDADE DO CONTROLE

JURISDICIONAL .......................................................................................................... 16

CAPÍTULO 2: DESJUDICIALIZAÇÃO .................................................................... 28

2.1 Crise no Poder Judiciário ........................................................................................... 28

2.2 Os dogmas do processo civil versus a necessidade de mudança

de mentalidade .......................................................................................................... 34

2.3 O fenômeno da desjudicialização ............................................................................. 37

2.4 Delegação legal dos poderes executivos a um agente privado .................................. 42

CAPÍTULO 3 – HIPÓTESES DE DESJUDICIALIZAÇÃO NO BRASIL ............. 46

3.1 Desjudicialização do poder de império ...................................................................... 46

3.1.1 Execução no sistema financeiro de habitação ...................................................... 46

3.1.2 Projetos de lei para a execução fiscal administrativa ........................................... 52

3.1.3 Privatização da alienação de bens ........................................................................ 59

3.2 Desjudicialização do poder de dizer o direito............................................................. 61

3.2.1 Arbitragem ........................................................................................................... 61

3.2.2 Recuperação extrajudicial .................................................................................... 66

3.2.3 Retificação do registro imobiliário ....................................................................... 68

3.2.4 Inventário, separação e divórcio ........................................................................... 69

CAPÍTULO 4 – A TENDÊNCIA DA DESJUDICIALIZAÇÃO DA

EXECUÇÃO NA EUROPA .......................................................................................... 75

4.1 Diversidade de sistemas executivos na Europa ......................................................... 75

4.2 O modelo desjudicializado alemão e italiano. O agente de execução é

um ente público ......................................................................................................... 80

4.2.1 Alemanha ............................................................................................................. 80

4.2.2 Itália .................................................................................................................... 86

4.3 O modelo desjudicializado francês. O agente de execução é um ente privado ....... 92

4.3.1 Direito Francês .................................................................................................... 92

4.4 O modelo (des)judicializado espanhol ...................................................................... 96

4.5 O modelo administrativo sueco ................................................................................. 104

4.6 A tendência da desjudicialização da execução .................................................... 108

CAPÍTULO 5 – A RECENTE DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO

EM PORTUGAL ........................................................................................................... 112

5.1 A evolução do sistema de execução de natureza pública para privada

em Portugal: reformas de 2003 e 2008 ...................................................................... 112

5.2 O agente de execução ................................................................................................ 118

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5.3 O juiz de execução .................................................................................................... 124

5.4 A Comissão para a Eficácia das Execuções ............................................................. 125

5.5 Tramitação da ação executiva ................................................................................... 127

5.5.1 Requerimento executivo ...................................................................................... 128

5.5.2 Início do processo executivo ............................................................................... 129

5.5.3 Oposição à execução ........................................................................................... 131

5.5.4 Consulta do “registo informático de execuções” e penhora ................................ 133

5.5.5 Publicidade, venda e pagamento ......................................................................... 136

5.5.6 Extinção da ação executiva ................................................................................. 137

5.6 Breve relatório acerca das pesquisas de campo realizadas em Portugal ................... 137

CAPÍTULO 6 – PROPOSTA DE DESJUDICIALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO

DE TÍTULOS EXECUTIVOS NO BRASIL .............................................................. 144

6.1 Adoção do modelo português, devidamente adaptado ao sistema brasileiro ............ 144

6.2 Delegação do serviço público de execução ao notário .............................................. 152

6.3 Notários e registradores ............................................................................................. 158

6.3.1 Regime jurídico ................................................................................................... 158

6.3.2 Competência dos tabelionatos de protestos ........................................................ 164

6.3.3 Concurso público ................................................................................................ 168

6.3.4 Remuneração paga conforme tabela de emolumentos e eventual gratuidade..... 171

6.3.5 Controle externo ................................................................................................. 174

6.4 Criação de varas especializadas para a execução .................................................... 177

6.5 Papel do advogado ................................................................................................... 178

CAPÍTULO 7 – RESUMO DO PROCEDIMENTO ................................................ 181

7.1 Atividade executiva perante o tabelionato de protesto ............................................. 181

7.2 Defesa do executado perante o Poder Judiciário ...................................................... 185

CAPÍTULO 8 – PROPOSTA PROCEDIMENTAL COM BASE NO PROJETO

DE LEI NO

8.046/2010 ................................................................................................ 192

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS ...................................................................... 258

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 263

ANEXOS:

I - Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM/CCBC) ................................................ 281

II - Câmara de Arbitragem São Paulo (CIESP) .............................................................. 282

III - Câmara de Comércio Americano ............................................................................. 283

IV - Colégio Notarial do Brasil, Seção São Paulo............................................................. 284

V - Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil, Seção São Paulo .................. 285

VI - Tabela da Lei no 11.331/2002 (Item 1) ..................................................................... 286

VII - Tabela da Lei no 11.331/2002 (Itens 2 e 3) ............................................................... 287

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Introdução

Têm-se notícias de um verdadeiro colapso no processo executivo brasileiro, conforme

o estudo estatístico de desempenho do Poder Judiciário realizado pelo Conselho Nacional de

Justiça (CNJ). A taxa de congestionamento média do processo executivo alcançou os 84%, ou

seja, de cada 100 processos executivos que tramitaram em 2010, aproximadamente 84 não

foram efetivos e, consequentemente, não tiveram sua baixa definitiva alcançada. Alguma

medida extrema deve ser tomada quando se denota que apenas 16% das execuções

alcançaram seu objetivo – a satisfação da obrigação.

Qualquer proposta que se faça para mudar esse quadro, seja polêmica, seja contrária

aos dogmas estabelecidos, deve ser analisada com bons olhos.

Não fazê-lo é deixar-se acomodar aos padrões arcaicos e sedimentados. Os hábitos

podem e devem ser revistos. É necessário romper tradições e mentalidades conservadoras. O

âmbito institucional jurídico não é lugar para dogmas, uma vez que haveria inevitável

contradição com a mutabilidade da cultura e da sociedade. Pode-se afirmar com certa

segurança que um dos principais problemas do processo civil moderno reside na superação

dos mitos criados pela ciência jurídica, a começar pelo conceito de jurisdição estatal.

O Brasil já fez opções legislativas de delegação da tutela declaratória de direitos para

terceiro privado e imparcial, como é o caso da arbitragem, por exemplo. Também já o fez em

relação à tutela executiva, havendo, no entanto, um único paradigma, que é a execução no

sistema financeiro de habitação, mas que sofre questionamento de sua constitucionalidade

desde sua origem, na década de 60

No entanto, na maioria dos países europeus a execução de títulos executivos é

realizada sem a interferência do Judiciário. Nesses países, a competência para a execução é de

um “agente de execução”, que recebe o pedido de execução e lhe dá o devido processamento

– desde que presentes os requisitos formais do título –, incluindo citações, notificações,

penhoras e venda de bens. O Tribunal fica inteiramente fora desses procedimentos, salvo em

situações excepcionais, quando é chamado a decidir os embargos do devedor.

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Exemplificando, (i) na França, a atividade executiva é realizada pelo hussier – um

profissional liberal; (ii) na Alemanha, pelo gerichtsvollzieher – um funcionário público; (iii)

em Portugal, pelo solicitador de execução – um profissional liberal; (iv) na Itália, pelo agenti

di esecuzione – um funcionário público; (v) na Suécia, pelo kronofogde – um funcionário

público; e (v) na Espanha, conforme recentíssima reforma, pelo secretário judicial – um

funcionário público.

Após análise detalhada de direito estrangeiro, propõe-se a desjudicialização da

execução nos moldes do sistema português, onde, após sucessivas reformas, houve a

translação da competência do agente público historicamente encarregado pela execução – o

juiz – para o solicitador de execução, profissional liberal designado especificamente para essa

atribuição e sujeito a todas as responsabilidades dela decorrentes.

O atual agente de execução português é um misto de profissional liberal e funcionário

público, uma vez que exerce atividade pública de forma privada. No entanto, a delegação

inicial das atividades executivas aos solicitadores (figura similar ao despachante) foi

desastrosa, sendo necessária a correção de diversas consequências desta opção ao longo do

tempo, visando minimizar assim a falta de formação técnica, experiência e maturidade

daqueles profissionais.

Nessa esteira, não se pretende apenas transplantar as medidas adotadas naquele país

para o Brasil. Espera-se fazer uma proposta lúcida, coerente com o sistema brasileiro e com o

aproveitamento das estruturas já existentes. Pretende-se evitar os problemas detectados nas

pesquisas de campo realizadas em Portugal, dos quais se destacam a inicial falta de i)

formação dos agentes de execução e de ii) controle externo das atividades executivas.

Propõe-se, para tanto, que ao tabelião ou notário seja delegada a função pública da

execução dos títulos executivos, por meio de outorga a um profissional de direito

devidamente concursado, e que a sua remuneração seja realizada de acordo com os

emolumentos fixados por lei, cobrados preferencialmente do devedor ao final do

procedimento executivo. Sustenta-se que a fiscalização dessas atividades seja realizada pelo

Poder Judiciário – corregedorias estaduais. A delegação é o regime jurídico sugerido para que

a desjudicialização da execução seja colocada em prática no Brasil, nos termos do artigo 236

da Constituição Federal.

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Dentre os agentes delegados, sugere-se que o tabelião de protesto tenha suas

competências alargadas, para que assuma também a realização das atividades executivas, uma

vez que afeito aos títulos de crédito (ainda que nem sempre executivos). Além disso, propõe-

se a valorização do protesto como eficiente medida coercitiva para o cumprimento das

obrigações.

Assim, indica-se que seja delegada ao tabelião de protesto a tarefa de verificar os

pressupostos da execução, realizar a citação, penhorar, vender, receber pagamentos e dar

quitação, reservando-se ao juiz estatal a eventual resolução de litígios, quando provocado por

intermédio dos competentes embargos. Nesses termos, entende-se que o acesso ao Poder

Judiciário ficará resguardado, bem como o contraditório e a ampla defesa, uma vez que os

embargos do devedor estarão ao alcance do jurisdicionado que se sentir lesado ou ameaçado

em seu direito, ou que pretender questionar a injustiça ou ilegalidade da privação de seus

bens.

A desjudicialização da execução é tema bastante controverso, de forma que há um

grande esforço na sua justificativa – exposição de motivos. A proposta procedimental tem

caráter complementar e é apresentada em forma de um quadro comparativo, tomando-se por

base os artigos pertinentes do Projeto de Lei no 8.046/2010 – novo Código de Processo Civil –

, já aprovado pelo Senado Federal e em trâmite perante a Câmara dos Deputados. O objetivo

do trabalho é conferir subsídios a um concreto projeto de lei para a desjudicialização da

execução.

É necessário esclarecer que tão somente a execução por quantia certa é abordada,

como delimitação do trabalho. Parece que nada impede que outros tipos de execução também

sejam realizados de forma desjudicializada, nos moldes do sistema adotado como paradigma,

o português.

Vale frisar que a opção em delegar apenas a execução direta não implica no

reconhecimento de que a execução indireta não seja império, mas pelo contrário. O ato de

império do Estado compreende as modalidades de sub-rogação (execução direta) e de coação

(execução indireta), uma vez que ambas levam ao cumprimento forçado da obrigação

reconhecida no título. De todo modo, deve-se considerar que as medidas coercitivas

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necessitam de análise cognitiva, e consequentemente, de ordem judicial, de forma que, caso o

agente de execução pretenda a aplicação de multa, por exemplo, deverá requerê-la ao juiz de

execução.

Caso a execução para a entrega de coisa ou a execução das obrigações de fazer e de

não fazer resolvam-se em perdas e danos, o valor deverá ser apurado e então o juiz expedirá a

competente certidão demonstrando a certeza, liquidez e exigibilidade do título, para que seja

apresentada ao tabelionato de protesto, iniciando-se a execução por quantia certa.

Em relação ao cumprimento de sentença, propôs-se o máximo aproveitamento dos

benefícios trazidos pela Lei nº 11.232/2005, como a intimação para pagamento voluntário,

sob pena de multa e a impugnação nos próprios autos, apenas transferindo-se os atos

executivos para o agente de execução quando o inadimplemento restar de fato configurado,

quando então será expedida a competente certidão a ser apresentada ao tabelião de protesto.

Não se alterou a estrutura da execução de alimentos, em razão de suas características

peculiares como a ordem de prisão, a assistência do Ministério Público, entre outras, e

manteve-se intocada a execução contra a Fazenda Pública, até mesmo levando-se em conta a

dificuldade de remuneração do agente de execução.

Dentre as inúmeras propostas periféricas lançadas ao longo do presente trabalho,

registram-se duas delas: (i) a criação de varas especializadas para a execução parece

fundamental, possibilitando agilidade no julgamento dos embargos e nas decisões a serem

proferidas nos dois novos incidentes criados, quais sejam, a reclamação e a suscitação de

dúvidas; (ii) o processo eletrônico precisa ser fortalecido, criando-se um canal de

comunicação entre o juiz e o agente de execução, cujo acesso seja estendido também às

partes. Além disso, nesse tocante, o CNJ e os tribunais devem aprovar modelos de formulários

eletrônicos para encaminhamento do requerimento de execução ao tabelião de protesto.

Por fim, é necessário registrar que toda referência procedimental realizada neste

trabalho, de regulamentação estadual, é paulista. Além disso, estudos e pesquisas de

estatísticas, de emolumentos, entre outros, também se referem ao Estado de São Paulo.

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CAPÍTULO 1 – Jurisdição e inafastabilidade do controle jurisdicional

Existem duas correntes clássicas que tentam explicar a função jurisdicional do Estado.

A primeira, orientada por Chiovenda, informa que a jurisdição é a efetivação da vontade

abstrata da lei por meio dos órgãos públicos, substituindo a atividade privada e originária das

partes; a segunda, capitaneada por Carnelutti, afirma que a jurisdição é o meio para se

alcançar a justa composição da lide.

A definição clássica de Chiovenda para jurisdição, repetida em inúmeros manuais e

em outros escritos de matéria processual, é: “função do Estado que tem por escopo a atuação

da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da

atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade

da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva”.1-

2

Para o autor italiano, a jurisdição é a função do Estado de afirmar a existência ou a

inexistência de uma vontade da lei ou de executar a intenção desta lei, sempre em

substituição. De acordo com suas próprias palavras:

A atividade jurisdicional é sempre uma atividade de substituição; é −

queremos dizer − a substituição de uma atividade pública a uma atividade

alheia. Opera-se essa substituição por dois modos correspondentes aos dois

estágios do processo, cognição e execução. a) Na cognição, a jurisdição,

consiste na substituição definitiva e obrigatória da atividade intelectiva do

juiz à atividade intelectiva, não só das partes, mas de todos os cidadãos, no

afirmar existente ou não existente uma vontade concreta de lei concernente

às partes. Pelos lábios do juiz a vontade concreta da lei se afirma tal e se atua

como se isso acontecesse por força sua própria, automaticamente. (...) Na

sentença, o juiz substitui para sempre a todos no afirmar existente uma

obrigação de pagar, de dar, de fazer ou não fazer; (...) b) E quanto à atuação

definitiva da vontade verificada, se se trata de uma vontade só exeqüível

pelos órgãos públicos, tal execução em si não é jurisdição; assim, não é

jurisdição a execução da sentença penal. Quando, porém, se trata de uma

1 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil – v. 2. Tradução Paolo Capitanio.

Campinas: Bookseller, 1998. p.8.

2 Acompanham a definição de jurisdição como substituição e atuação concreta do direito: THEODORO

JÚNIOR, Humberto. Processo de execução. 22. ed. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda.,

2004. p.48-9; ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil: parte geral. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2005. p.160; BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao Código de Processo Civil – v. I. 10. ed. Rio

de Janeiro: Forense, 1998. p.11; MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos especiais. 8. ed. São Paulo:

Malheiros, 1999. p.18; GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil – v. 1.

São Paulo: Saraiva, 2004. p.44; SILVA, Antonio Carlos Costa e. Da jurisdição executiva e dos pressupostos

da execução civil. Rio de Janeiro: Forense, 1980. p.38.

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17

vontade de lei exeqüível pela parte em causa, a jurisdição consiste na

substituição, pela atividade material dos órgãos do Estado, da atividade

devida, seja que a atividade pública tenha por fim constranger o obrigado a

agir, seja que vise ao resultado da atividade. Em qualquer caso, portanto, é

uma atividade pública exercida em lugar de outrem.3

Para Chiovenda, portanto, execução é jurisdição, diferentemente de Carnelutti, para

quem execução não é jurisdição.4-

5 Para Carnelutti, a atividade jurisdicional é a atividade do

juiz de regular um conflito singular de interesses de modo autônomo ou vinculado, quer seja

constituindo, quer seja acertando uma relação jurídica (processo de conhecimento). O fim

específico do processo é a justa composição da lide.6

Nesse passo, ainda segundo Carnelutti, para que haja atividade jurisdicional deve

haver conflito de interesses – lide. A pretensão é a exigência de subordinação de um interesse

alheio ao interesse próprio, e a resistência é a não adaptação a essa subordinação, que passa a

ser contestada. A lide, portanto, pode se definir como um conflito de interesses qualificados

por uma pretensão resistida, objeto do processo jurisdicional.7-8

3 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil – v. 2. Tradução Paolo Capitanio.

Campinas: Bookseller, 1998. p.17.

4 “A finalidade característica do processo executivo consiste, pois, em proporcionar ao titular do Direito

subjetivo ou do interesse protegido, a satisfação em ou contra a vontade do obrigado. (...) Não nos encontramos

mais perante duas partes que reciprocamente disputam entre si a razão e um juiz que busca qual das duas a tenha

a verdade, e sim perante uma parte que quer ter uma coisa e outra que não a quer dar, enquanto que o órgão do

processo retira a esta para ser dada àquela”. CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil –

v. II (Introdução e função do processo civil). Tradução Hiltomar Martins Oliveira. São Paulo: ClassicBook,

2000. p.294.

5 “In passato si è discusso in dottrina della natura del processo esecutivo. (...) Vi è così chi ha sostenuto la natura

non giurisdizionale del processo esecutivo, anche se la sua funzione non sarebbe meramente amministrativa (C.

MORTARA, Commentario del codice e delle leggi di procedura civile, Il, Milano, 1905, 556), e chi ne ha

ritenuto invece la natura giurisdizionale (G. CHIOVENDA, “Sulla natura dell’espropriazione forzata”, in Riv.

dir. proc., 1926, 85 e segs.). Tutto sta a definire cosa si intende per funzione giurisdizionale: fuor di dubbio che

quello d’esecuzione sia a tutti gli effetti un processo, si dovrà negare la funzione giurisdizionale se per essa si

intende quella volta alla composizione di una lite (cfr. F. CARNELUTTI, “Lite e funzione processuale”, in Riv.

dir. proc. civ., 1928, I, 23 e segs.) o alla cognizione di diritti”. MENGALI, Andrea. Le norme generali in materia

di espropriazione forzata. In: CECCHELLA, Claudio (Coord.). Guida al nuovo processo civile esecutivo.

Milano: Il sole 24 ore. 2008. p.13.

6 CARNELUTTI, op. cit., p.246.

7 Idem, Instituições do Processo Civil – v. I. Tradução Adrián Sotero De Witt Batista. Campinas: Servanda,

1999. p.77-8.

8 Acompanham a definição de jurisdição como “justa composição da lide”: MARQUES, José Frederico.

Instituições de direito processual civil. Campinas: Millennium, 1999. p.257; ASSIS, Araken de. Manual de

processo de execução. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.61-3; WAMBIER, Luiz Rodrigues;

ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil – v. 1. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.35.

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18

Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel

Dinamarco, no clássico Teoria Geral do Processo, apresentam nova definição para jurisdição,

sem, no entanto, abandonar os critérios propostos pela doutrina tradicional, quais sejam: i) os

dois aspectos indicados por Chiovenda para a caracterização jurídica da jurisdição: o caráter

substitutivo e o escopo de atuação do direito; bem como ii) a construção sugerida por

Carnelutti, que caracteriza a jurisdição como atividade exercida em prol da composição da

lide.9 Os renomados autores propuseram, então, conceituar jurisdição como “poder, função e

atividade” mediante a qual o Estado substitui os titulares em conflito para, imparcialmente e

através do processo, aplicar imperativamente o preceito abstrato do ordenamento jurídico ao

caso concreto, solucionando a lide.10

-11

Como se percebe, apesar da proposta de um novo conceito de jurisdição – poder,

função e atividade –, os parâmetros permanecem os mesmos. Vicente Greco Filho tenta

explicar essa fusão de correntes: “jurisdição é o poder, função e atividade de aplicar o direito

a um fato concreto, pelos órgãos públicos destinados a tal, obtendo-se a justa composição da

lide. Este conceito engloba a definição de Chiovenda e a de Carnelutti, que tantas vezes foram

consideradas como antagônicas, mas que na verdade se complementam”.12

-13

Renomados

processualistas adotam a conciliação desses dois conceitos clássicos.14

9 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria

Geral do Processo. São Paulo: Malheiros, 2006. p.146.

10 Nos próprios dizeres dos autores: “Da jurisdição, já delineada em sua finalidade fundamental no cap. 2,

podemos dizer que é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em

conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é

feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser

solucionado, e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente

o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece

(através da execução forçada). Que ela é uma função do Estado e mesmo monopólio estatal, já foi dito: resta

agora, a propósito, dizer que jurisdição é, ao mesmo tempo, poder, função e atividade. Como poder, é

manifestação do poder estatal, conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões.

Como função, expressa o encargo que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos

interindividuais, mediante a realização do direito justo e através do processo. E como atividade ela é o complexo

de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que a lei lhe comete. O poder, a função e a

atividade somente transparecem legitimamente através do processo devidamente estruturado (devido processo

legal).” CINTRA et al., op. cit., p.145.

11 Na mesma linha: PANCOTTI, José Antônio. Institutos fundamentais de direito processual: jurisdição,

ação, exceção e processo. São Paulo: LTr, 2002. p.76.

12 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual brasileiro – v. 1. São Paulo: Saraiva, 1999. p.167.

13 Na mesma linha: FRANCO, Fernão Borba. Processo administrativo. São Paulo: Atlas, 2008. p.53-4.

14 ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação da tutela. São Paulo: Saraiva, 1997. p.6; MEDINA, José Miguel

Garcia. Execução civil: teoria geral: princípios fundamentais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.33;

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Estudos de Direito Processual Civil: Jurisdição. Uberlândia: Editora Faculdade

de Direito da Universidade, 1975. p.13-4; ROSAS, Roberto. Direito Processual Constitucional: Princípios

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19

Possível mencionar outros – clássicos, embora não tão aderentes – conceitos. A noção

de jurisdição a partir de Piero Calamandrei aproxima-se da de Chiovenda. Para Calamandrei,

a sentença, expressão da jurisdição, estaria confinada na declaração de uma pré-existente

vontade legal.15

-16

Hans Kelsen, por sua vez, apresentou ideias totalmente contrárias às

existentes, pois além de aplicar, o juiz criaria a norma individual (sentença).17

-18

Por outra

vertente seguiu Eduardo J. Couture, para quem a sentença não é lei do caso concreto, mas

justiça do caso concreto.19

-20

James Goldschmidt entende jurisdição por sentença favorável21

e Enrico Tullio Liedman por coisa julgada.22

Todos esses conceitos, no entanto, parecem desatualizados e descontextualizados da

realidade em que se vive. Segundo Nelson Nery Júnior, “o conceito de jurisdição não tem sido

desenvolvido pela doutrina brasileira, no sentido de acompanhar a evolução que o instituto

vem sofrendo nos ordenamentos mais modernos. Ainda estamos sob a influência estática da

noção chiovendiana de jurisdição, de atuação da lei no caso concreto e função estatal

substitutiva da vontade.”23

Constitucionais do Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.14-15 e 17; COSTA, Nilton César

Antunes da. Poderes do Árbitro: de acordo com a Lei 9.307/96. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.65.

15 CAMBI, Eduardo. Jurisdição no processo civil: compreensão crítica. Curitiba: Juruá, 2009. p.37 e segs.

16 De forma similar: “Consiste no poder de atuar o direito subjetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo

os conflitos de interesses e dessa forma resguardando a ordem jurídica e a autoridade da lei. A função

jurisdicional é, assim, como que um prolongamento da função legislativa, e a pressupõe”. SANTOS, Moacir

Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 1981. p.67; “O juiz é longa

manus do legislador, pois transforma, pela jurisdição, em comando concreto entre as partes as normas gerais e

abstratas da lei.” CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e competência: exposição didática: área do direito

processual civil. São Paulo: Saraiva, 2007. p.3.

17 CAMBI, op. cit., p.59 e segs.

18 Criticando definição de Chiovenda, Pontes de Miranda afirma que: “Não é aqui o lugar para se criticar tão

defeituosa compreensão da atividade jurisdicional, nem para se chamar a atenção, o que seria fácil, para a

arbitrariedade separativa que faz do legislador o único foco da elaboração jurídica, e da justiça atividade de

segunda plana, mecânica e incapaz de criação.” MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo

Civil, tomo I: arts. 1º a 45o. Rio de Janeiro: Forense, 1979. p.106.

19 CAMBI, op. cit., p.75 e segs.

20 Na mesma linha: “A atuação técnica do direito positivo no sentido do justo”. RESTIFE, Lauro Paiva.

Jurisdição, inação e ação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987. p.59.

21 GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil – tomo I. Tradução Lisa Pary Scarpa. Campinas:

Bookseller, 2003. p.135.

22 LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de Execução. Araras: Bestbook, 2001. p.66.

23 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 8. ed. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2004. p.109.

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20

Para João Batista Lopes, “a doutrina de Chiovenda não está imune a críticas. Em

verdade, o juiz não se limita a aplicar a lei, o direito subjetivo, mesmo porque, muitas vezes, a

hipótese a ser decidida não está prevista expressamente no ordenamento.”24

Luiz Guilherme Marinoni critica as duas principais correntes relativas ao conceito de

jurisdição. Para ele, a doutrina chiovendiana é bastante expressiva no sentido de que o

verdadeiro poder estatal está na lei, e de que a jurisdição somente se manifesta a partir da

revelação da vontade do legislador. Assim, jamais aceitou a ideia de que o juiz cria a norma

individual ao proferir a sentença, como de fato o faz. Já o sistema carneluttiano, marcado pela

ideia de lide – litigiosidade, conflituosidade ou contenciosidade – na definição de jurisdição,

deixa de aceitar a atividade jurisdicional na ausência de efetivo conflito de interesses, ou seja,

não reconhece a jurisdição voluntária.25

Daniel Francisco Mitidiero também faz severas críticas sobre as notas conceituais

relacionadas à jurisdição que se perpetuam até o presente: i) o legislador não é um ser que

tudo pode prever, e o órgão judicial tem o dever de decidir com elementos insuficientes.

Portanto, não há como sustentar mais um juiz adstrito à declaração das palavras da lei; ii) a

coisa julgada sequer é um elemento essencial à jurisdição. Caso se aceite a coisa julgada

como uma característica da jurisdição, será necessário repudiar a jurisdicionalidade do

processo executivo e do cautelar; iii) a contenciosidade não pode ser considerada para a

conceituação de jurisdição pois isso implicaria em negar a jurisdição voluntária; iv) a

substitutividade, enquanto elemento caracterizador da jurisdição, também não pode ser aceita

uma vez que negaria existência às ações mandamentais.26

Mitidiero diz-se animado a encetar uma revisão do conceito de jurisdição com o fim

de encontrar um novo, capaz de responder aos modernos anseios da sociedade

contemporânea. Para tanto, aceita a premissa de que a evolução da ciência ocorre por

mudança de paradigmas, propiciada pelo advento do que se entende por revolução científica.

Assim, oferece a seguinte proposta conceitual: “A jurisdicionalidade de um ato é aferida na

24

LOPES, João Batista. Curso de direito processual civil, v. 1: parte geral. São Paulo: Atlas, 2005. p.72. 25

MARINONI, Luiz Guilherme. A jurisdição no estado contemporâneo. In: MARINONI, Luiz Guilherme

(Coord.). Estudos de direito processual civil em homenagem ao professor Egas Dirceu Moniz de Aragão.

São Paulo: Revista dos Tribunais: 2005. p.19-21.

26 MITIDIERO, Daniel Francisco. Código de Processo Civil Comentado, tomo I (arts. 1 a 153). São Paulo:

Memória Jurídica, 2004. p.44-5.

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21

medida em que é fruto de um sujeito estatal, dotado de império, investido em garantias

funcionais que lhe outorguem imparcialidade e independência, cuja função é aplicar o direito

(e não apenas a lei), de forma específica, dotado o seu provimento de irreversibilidade

externa.”27

-28

Seriam esses novos alicerces científicos? Tal conceito seria adequado para a sociedade

moderna? Ao que parece, o sentido contemporâneo29

da palavra jurisdição deve estar

desconectado da noção de Estado e repousar em um plano mais largo, abrangendo outras

formas de resolução de conflitos, em tempo razoável e de forma justa. Ao que parece, desde a

aprovação da Lei de Arbitragem não há mais espaço para essa extrema valorização da tutela

estatal via Poder Judiciário, ainda que se tenha em mente que o poder de império, de acordo

com a referida lei, remanesce nas mãos do Estado.

27

MITIDIERO, Daniel Francisco. Código de Processo Civil Comentado, tomo I (arts. 1 a 153). São Paulo:

Memória Jurídica, 2004. p.51.

28 Na mesma linha: A função jurisdicional (...) pode ser definida como a atividade exercida pelo Estado,

manifestando o poder de tutelar direitos garantidos em lei, aplicando as normas gerais aos casos concretos, com

desejada imparcialidade, buscando, sempre, a paz social, por intermédio dos órgãos judicantes”. GERAIGE

NETO, Zaiden. O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: art. 5º, inciso XXXV, da

Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.25.

29 Em parênteses apresenta-se o pensamento da escola instrumentalista do processo – dita contemporânea –, que

também critica os conceitos clássicos de jurisdição ao combater a visão puramente científica, técnica e jurídica

da ciência processual. Os instrumentalistas conceberam novos conceitos para a jurisdição, procurando ver o

direito processual civil não como fim em si mesmo, mas como um meio para a realização do direito material.

Assim, o processo civil não deveria preocupar-se exclusivamente com a atuação da vontade concreta da lei

(escopo jurídico), mas também com os escopos sociais e políticos do processo – o escopo-síntese da jurisdição

deve ser a justiça. Cândido Rangel Dinamarco, de acordo com a visão instrumentalista, entende que “a jurisdição

não tem um escopo, mas escopos (plural); é muito pobre a fixação de um escopo exclusivamente jurídico, pois o

que há de mais importante é a destinação social e política do exercício da jurisdição. Ela tem, na realidade,

escopos sociais (pacificação com justiça, educação), políticos (liberdade, participação, afirmação da autoridade

do Estado e do seu ordenamento) e jurídicos (atuação da vontade concreta do direito)”. DINAMARCO, Cândido

Rangel. A instrumentalidade do processo. São Paulo: Malheiros, 2005. p.388. José Roberto Bedaque doutrina

que o processo vale não tanto pelo que ele é, mas fundamentalmente pelos resultados que produz, sugerindo um

reexame dos conceitos tradicionais, a fim de conferir-lhes nova feição, mais adaptada às necessidades

identificadas na fase instrumentalista. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e processo: influência do

direito material sobre o processo. São Paulo: Malheiros, 2011. p.245. O instrumentalismo do processo foi

defendido por importantes nomes do direito processual, cada qual se apegando a um ponto mais específico: ora a

predominância da função social do processo, em prol do justo, ora a busca de um acoplamento mais perfeito

entre o direito material e o processual: CAPELLETTI, Mauro. Acesso à justiça. Tradução Ellen Gracie

Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988. p.8; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Celeridade e efetividade da

prestação jurisdicional. Insuficiência da reforma das leis processuais. In: RDCPC, n. 36 – jul-ago. 2005. São

Paulo: Síntese, 2005. p.22-23; WATANABE, Kazuo. Da cognição no processo civil. Campinas: Bookseller,

2000. p.21; LOPES, João Batista. Tutela antecipada no processo civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003.

p.29; VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Tutela jurisdicional coletiva. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. p.35-39. A

síntese de todo o pensamento instrumentalista caminha no sentido de tornar o sistema processual acessível a

todos, bem administrado, justo e dotado da maior produtividade possível. Na mesma linha, mas sem citar o

instrumentalismo do processo: CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à justiça: juizados especiais cíveis e

ação civil pública: uma nova sistematização da teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.54.

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22

Nesse momento faz-se necessário um esclarecimento: “tutela jurisdicional não é só

dizer o direito; é também realizá-lo. Ao lado de uma ‘jurisdição’ tem que haver uma

‘jurissatisfação’”, nas palavras de Cassio Scarpinella Bueno. A jurisdição não pode ser

concebida apenas como declaração ou reconhecimento de direitos, mas também como

possibilidade de torná-los concretos.30

Sobre o assunto, impossível deixar de trazer à baila

crítica formulada por Ovídio A. Baptista da Silva, no sentido de que não se pode conceber

conceito de jurisdição desprovido de potencial satisfativo.31

A realização concreta do direito declarado (a satisfação) é ato de império do Estado,

que deve compreender, segundo José Miguel Garcia Medina, as modalidades de sub-rogação

(execução direta) e de coação (execução indireta).32

-33

Ambas levam ao cumprimento forçado

da obrigação reconhecida no título.

Pois bem, elucidado que a atividade executiva é parte integrante da jurisdição,

pergunta-se: será que dentro de um contexto no qual o Poder Judiciário vem falhando na sua

missão de bem prestar a tutela jurisdicional adequada34

, seja ela de que natureza for, a

30

BUENO, Cassio Scarpinella. Cumprimento da sentença e processo de execução: ensaio sobre o cumprimento

das sentenças condenatórias. In: DIDIER JR, Fredie (Coord.). Execução Civil: Estudos em homenagem ao

Professor Paulo Furtado. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p.42. No mesmo sentido: YARSHELL, Flávio Luiz.

Tutela jurisdicional. São Paulo: Atlas, 1999. p.158-9.

31 SILVA, Ovídio A. Batista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. Rio de Janeiro: Forense,

2007. p.17 e segs. 32

A afirmação de que a tutela jurisdicional executiva deve compreender as modalidades de execução direta (ou

de sub-rogação) e indireta (ou de coação) também é considerada uma quebra de paradigmas e conceitos

clássicos, uma vez que tradicionalmente considerava-se que só haveria execução forçada quando manifestada

por meio de sub-rogação. As medidas coercitivas não eram consideradas executivas pois não levavam à

realização do direito por meio da atividade substitutiva do Estado, já que nesse caso o executado estaria

cumprindo voluntariamente a obrigação. Conforme Medina, deve-se entender que o executado age porque

constrangido por uma medida coativa, sendo possível mesmo dizer que “o executado age contra a sua própria

vontade”, de modo que também nesse caso o juiz atua, forçando a realização do direito. MEDINA, José Miguel

Garcia. Execução: processo civil moderno 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p.43-4.

33 Debora Ines Kram Baumöhl desenvolveu sua dissertação de mestrado propondo uma reflexão sobre a

jurisdicionalidade da execução forçada. Segundo Baumöhl, deve-se adotar o conceito mais amplo, que abrange,

legitimamente, tanto os atos de pressão psicológica quanto os atos que dispensam o concurso de vontade do

devedor. Ambos são espécies do mesmo gênero: autênticos atos estatais que visam à concretização do preceito

contido na sentença (e outros títulos). BAUMÖHL, Debora Ines Kram. A nova execução civil – a

desestruturação do processo de execução. São Paulo: Atlas, 2006. p.25.

34 “Por tutela adequada entende-se a que é provida da efetividade e eficácia que dela se espera”. NERY JÚNIOR,

Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal comentada e legislação constitucional. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.178.

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23

aplicação prática e material do direito deve ser considerada manifestação intrínseca e

indissociável do órgão judicial?35

Para responder a tal interrogação é necessário adentrar no campo do princípio do

monopólio da jurisdição – ou da inafastabilidade do controle jurisdicional, ou do direito ao

acesso à justiça, dentre outros tantos conceitos oferecidos para a previsão do artigo 5º,

XXXV, da Constituição Federal –, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito”.36

Para os mais conservadores, diante do referido princípio a atividade jurisdicional não

pode ser delegada ou transferida pelo Estado, sendo a prestação da tutela jurisdicional

obrigação indeclinável do órgão judicial e do juiz investido para o seu exercício.37

Para os mais flexíveis, é necessário desmistificar o monopólio da jurisdição em mãos

do Poder Judiciário, haja vista que a atividade jurisdicional não é de sua exclusividade. Além

dos casos citados no capítulo 3 do presente estudo, onde se discorre acerca do exercício da

jurisdição privada, como a arbitragem, por exemplo, é importante lembrar que o julgamento

de certas autoridades tem sido confiado ao Poder Legislativo, como se percebe da leitura do

artigo 52 da Constituição Federal, de forma que se pode concluir que a atividade jurisdicional

é típica, mas não exclusiva do Poder Judiciário.38

-39

A Lei nº 12.529, de 30.11.2011, que estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da

Concorrência e dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica,

35

COSTA, Nilton César Antunes da. Poderes do Árbitro: de acordo com a Lei 9.307/96. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2002. p.61.

36 SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.131;

ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 13. ed. São

Paulo: Saraiva, 2008. p.178; CRISTO, Ismael Vieira de. Acesso à justiça e participação popular: reflexão

sobre os direitos de ação. São Paulo: Edição Pulsar, 2000. p.77-8.

37 ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

p.163.

38 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 8. ed. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2004. p.109; LOPES, João Batista. Curso de direito processual civil, v. 1: parte geral. São

Paulo: Atlas, 2005. p.67; BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria

geral do direito processual civil, v.1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.247; COSTA, op. cit., p.51.

39 Athos Gusmão Carneiro entende que o processo de impeachment do presidente, vice-presidente e ministros de

Estado, de competência do Senado Federal (CF, arts. 51, I e 52, I e II) é “jurisdição anômala”. CARNEIRO,

Athos Gusmão. Jurisdição e competência: exposição didática: área do direito processual civil. São Paulo:

Saraiva, 2007. p.17-20.

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24

alterando e revogando leis anteriores, estabelece, em seu artigo 4º, que “o Cade é entidade

judicante com jurisdição em todo o território nacional, que se constitui em autarquia federal,

vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, e competências

previstas nesta Lei”.40

A letra da lei é clara: o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE)

exerce jurisdição, devendo “decidir sobre a existência de infração à ordem econômica e

aplicar as penalidades previstas em lei” (art. 9º, II). A única conclusão possível é que a

atividade jurisdicional não é exclusiva do Poder Judiciário.41

Além disso, como bem lembra Zaiden Garaige Neto, o princípio da inafastabilidade do

controle jurisdicional não pode ser interpretado como a mera possibilidade de o cidadão

ingressar em juízo. Mais do que isso, referido princípio deve ser entendido como garantia ao

jurisdicionado de um processo célere com a devida segurança, além de efetivo com a

necessária justiça, norteado à luz do devido processo legal – o que infelizmente não se

observa. Por tal razão, especar a “tese do monopólio da jurisdição traduz verdadeiro engodo,

significa oferecer meia-justiça”, já que o Poder Judiciário não aplica o direito em sua

inteireza.42

Para Joel Dias Figueira Júnior, é necessário enfrentar com “coragem, seriedade e de

imediato o tormentoso problema do monopólio da jurisdição estatal, que diuturnamente tem

demonstrado e comprovado de maneira cabal a sua insuficiência instrumental em solucionar a

40

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em: 12 mar. 2012.

41 Em sentido contrário: “O CADE tem natureza jurídica de autarquia federal, a quem compete exercer a

prevenção e repressão contra o abuso do poder econômico (LAT 3º). Embora a lei antitrustre mencione ser o

CADE órgão “judicante” como “jurisdição” em todo o território nacional (LAT 3º), na verdade essas expressões

foram empregadas impropriamente, porque a atividade da autarquia é administrativa e seus julgamentos têm

natureza administrativa. Como todo ato administrativo, as decisões do CADE podem ser sindicadas pelo Poder

Judiciário, a quem cabe examinar sua constitucionalidade e legalidade, como, por exemplo, se houve correta

aplicação dos princípios constitucionais da mínima intervenção pública na atividade privada (CF 170), do devido

processo legal administrativo (CF 5º LIV), do contraditório e ampla defesa (CF 5º LV) etc. O que o Judiciário

não pode fazer é aplicar as sanções e multas que a lei prevê como atividades do CADE, substituindo-se à

autarquia, pois estaria invadindo a esfera de competências do Poder Executivo, em desrespeito à harmonia e à

independência entre os poderes do Estado (CF 2º)”. NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade.

Código de processo civil comentado e legislação extravagante. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.141.

42 GERAIGE NETO, Zaiden. O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: art. 5º, inciso XXXV,

da Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.29.

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25

contento os conflitos não raramente complexos e inçados de múltiplas dificuldades, tanto no

plano fatual quanto jurídico, que se apresentam no cotidiano do Judiciário”.43

Rodolfo Mancuso propõe um novo entendimento para jurisdição, e também para o

acesso à justiça, sempre tendo em vista as modernas necessidades da sociedade e as reais

possibilidades do Estado. Para ele, a atividade jurisdicional é perfeitamente desempenhável

por outros agentes, órgãos ou instâncias, desde que aptos a resolver conflitos com justiça e em

tempo hábil. Mancuso conclui que a jurisdição não é mais monopólio da Justiça estatal.44

-45

Para a autora, a jurisdição como monopólio do Poder Judiciário é apenas uma opção

legislativa, que, como já se demonstrou, vem perdendo força inclusive em razão de outras

opções legislativas, que passaram a conferir jurisdição para outros órgãos: é a própria lei que

diz que o CADE é um ente judicante, da mesma forma que é a própria lei que diz que a

decisão do árbitro é equivalente à sentença judicial. Assim, o Estado já vem delegando o

poder jurisdicional a outros entes ou órgãos.

Para a autora, inclusive, a Constituição Federal brasileira sequer prevê a tão alardeada

reserva de jurisdição, de forma que parece nada impedir que atos de declaração e de execução

sejam realizados por agentes imparciais (nomeados pelas partes ou pelo Estado), e em

havendo lesão ou ameaça de direitos, possa o jurisdicionado socorrer-se do Poder Judiciário.

Para o cumprimento da ordem constitucional basta que as portas do órgão judicial

permaneçam abertas.

43

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem (legislação nacional e estrangeira) e o monopólio

jurisdicional. São Paulo: LTr, 1999. p.12.

44 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Acesso à justiça: condicionantes legítimas e ilegítimas. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2011. p.342.

45 Na mesma linha de raciocínio: “Entendemos que a jurisdição civil deva ficar reservada a casos extremamente

necessários e nos quais a solução dependa da chancela, supervisão ou decisão estatal. A chamada jurisdição

voluntária deve ser revista, assim como situações em que é injustificável a intervenção estatal, privilegiando-se

as formas de solução de conflito alternativas (câmaras de conciliação, arbitragem, juizados cíveis especializados,

etc).” HOFFMAN, Paulo. Razoável Duração do Processo. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p.24; “Urge

reavaliar e reorganizar a jurisdição pública, adaptando-se aos novos tempos, de maneira tal que somente as

demandas de caráter público (seja pela qualidade da parte ou natureza da lide) fiquem a cargo do Poder

Judiciário, facultando o sistema normativo às partes a opção pela jurisdição privada ou parestatal para a solução

de conflitos que envolvem direitos patrimoniais disponíveis”. FIGUEIRA JÚNIOR, op. cit., p.14; ALBERTON,

Genacéia da Silva. Repensando a jurisdição conflitual. In: CARNEIRO, Athos Gusmão; CALMON, Petrônio

(Coord.). Bases científicas para um renovado direito processual. Salvador: JusPodivm, 2009. p. 311.

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26

José Afonso da Silva alerta para um possível erro de interpretação, uma vez que o

texto constitucional veio em forma negativa. Silva informa que a formulação utilizada na

Constituição Federal brasileira, para conferir o direito à jurisdição, não é direta e positiva, mas

sim indireta “pela via da proibição de competência ao legislador infraconstitucional de dispor

em sentido contrário”.46

A Constituição portuguesa, que adotou a desjudicialização da execução, conforme

capítulo 5, possui expresso regramento da chamada reserva de jurisdição, ao dizer que

incumbe aos tribunais dirimir conflitos de interesses.47

A atividade executiva é considerada

administrativa naquele país. Já a Espanha, que se viu impedida de entabular a total

desjudicialização na reforma de 2009, sob pena de inconstitucionalidade, conforme item 4.4

do presente estudo, faz referência expressa ao monopólio judicial das atividades declaratórias

e executivas.48

Assumindo que essa é uma posição isolada – de que a Constituição Federal brasileira

não estabelece expressamente o monopólio da jurisdição –, mais adequado acompanhar o

pensamento de renomados juristas, no sentido de que, se o Poder Judiciário não pode oferecer

rapidez, segurança e justiça da decisão, e menos ainda o efetivo acesso à ordem jurídica, é

necessário concluir que o princípio do monopólio jurisdicional nas mãos do Estado é

insustentável. Nesta seara, é imprescindível acatar e trabalhar pelo fortalecimento de outros

instrumentos de pacificação social e realização de direitos.49

46

SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à constituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.131.

47 Constituição Portuguesa: “Art. 202: Função jurisdicional. (...) 2. Na administração da justiça incumbe aos

tribunais assegurar a defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da

legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados.”

48 Constituição Espanhola: “Art. 117.3: el ejercicio de la potestad jurisdiccional en todo tipo de procesos,

juzgando y haciendo ejecutar lo juzgado, corresponde exclusivamente a los Juzgados y Tribunales determinados

por las leyes, según las normas de competencia y procedimiento que las mismas establezcan.”

49 É clássica uma passagem de Carmona, difundida por outros tantos autores. No entanto, registra-se que apesar

de mencionar simplesmente jurisdição, ele refere-se ao monopólio de jurisdição: “Para rebater tal idéia tacanha

de jurisdição, não há lição mais concisa e direta que a de Giovanni Verde: ‘[A] experiência, tumultuosa destes

últimos quarenta anos nos demonstra que a imagem do estado onipotente e centralizador é um mito, que não

pode (e talvez não mereça) ser cultivado. Deste mito faz parte a idéia que a justiça deva ser administrada em via

exclusiva pelos seus juízes.’” CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº

9.307/96. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.26.

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27

A jurisdição, portanto, deve ser vista como a declaração e a satisfação do direito,

atividade a ser realizada por um terceiro imparcial, independente e equidistante das partes50

,

devidamente investido para tanto – em alguns casos pelo próprio particular –, que não

necessariamente um magistrado. Não se propõe um novo conceito, apenas o desapego à

tradicional visão de que só o Poder Judiciário pode tutelar direitos.

50

CARVALHO, Milton Paulo de. Os princípios e um novo código de processo civil. In: CARNEIRO, Athos

Gusmão; CALMON, Petrônio (Coord.). Bases científicas para um renovado direito processual. Salvador:

JusPodivm, 2009. p.199.

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CAPÍTULO 2 – Desjudicialização

2.1 Crise no Poder Judiciário

Não é novidade que o Estado não vem cumprindo com o seu dever de prestar a tutela

jurisdicional de forma satisfatória.51

Ao que tudo indica, os maiores problemas são de ordem

econômica, razão pela qual só poderão ser sanados, quiçá, se houver a devida destinação de

verba orçamentária, possibilitando a investidura de um maior número de magistrados e

servidores auxiliares da justiça, bem como o aparelhamento material, instrumental e

tecnológico do Poder Judiciário.52

-53

Apesar de não haver unanimidade, já que variam os

pontos de vista, vários doutrinadores convergem para o reconhecimento de uma profunda

crise no Judiciário.

Para José Carlos Barbosa Moreira, o aspecto mais visível do que se costuma chamar "a

crise da justiça" é sem dúvida a duração dos processos. O processualista carioca aponta quatro

mitos a esse respeito: i) o primeiro está na crença, bastante difundida, de que se cuida de

fenômeno exclusivamente brasileiro, quando na verdade trata-se de um problema

praticamente universal e que alarma não poucos países desenvolvidos, citando Itália, Japão,

Inglaterra e Estados Unidos; ii) o segundo está na ideia de que todos os jurisdicionados

clamam pela solução rápida dos litígios, quando é certo que um dos litigantes sempre irá

procrastinar o feito; iii) o terceiro mito está alicerçado na falsa impressão de que cabe aos

defeitos da legislação processual a maior responsabilidade pela duração excessiva dos pleitos.

O respeitável jurista completa:

51

MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no contemporâneo Estado

de Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.52; HOFFMAN, Paulo; Razoável Duração do Processo.

São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 22; COSTA, Nilton César Antunes da. Poderes do Árbitro: de acordo com a

Lei 9.307/96. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.61 e segs.

52 SOARES, Rogério Aguiar Munhoz. Tutela jurisdicional diferenciada: tutelas de urgência e medidas

liminares em geral. São Paulo: Malheiros, 2000. p.46.

53 Esses são exatamente os mesmos problemas apontados pelos legisladores que optaram por desjudicializar a

execução (parcial em 2003 e total em 2008) em Portugal, como se demonstrará no capítulo 5. O Estado

português não aguentava mais o peso do orçamento judiciário, tanto que, logo após a primeira reforma, não foi

capaz nem mesmo de i) dotar o sistema do necessário aparelhamento tecnológico para a troca de informação

entre os agentes de execução e o Judiciário e ii) criar os previstos cargos de Juiz da Execução, investindo-os do

poder de controle da execução (esse controle deixou de existir com a segunda reforma).

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29

Recordemos, antes de mais nada, a escassez de órgãos judiciais, a baixa

relação entre o número deles e a população em constante aumento, com a

agravante de que os quadros existentes registram uma vacância de mais de

20%, que na primeira instância nem a veloz sucessão de concursos públicos

consegue preencher. Teríamos de incluir no catálogo das mazelas o

insuficiente preparo de muitos juízes, bem como o do pessoal de apoio; em

nosso Estado, e provavelmente não só nele, a irracional divisão do território

em comarcas, em algumas das quais se torna insuportável a carga de

trabalho, enquanto noutras, pouco movimentadas, se mantém uma

capacidade ociosa deveras impressionante; a defeituosa organização do

trabalho e a insuficiente utilização da moderna tecnologia, que concorrem

para reter em baixo nível a produtividade.54

O último mito apontado por Barbosa Moreira acerca da “crise da justiça” está na

supervalorização da rapidez do julgamento. “Se uma Justiça lenta demais é decerto uma

Justiça má, daí não se segue que uma Justiça muito rápida seja necessariamente uma Justiça

boa. O que todos devemos querer é que a prestação jurisdicional venha a ser melhor do que

é.”55

José Joaquim Calmon de Passos entende que o problema da crise do Poder Judiciário

comporta muitas abordagens: i) o próprio modelo de Estado; ii) o “processo constitucional de

produção jurisdicional do direito”; iii) a institucionalização dos juízes; iv) as questões

procedimentais (processuais). Para o processualista baiano os três primeiros pontos são muito

mais relevantes, mas têm sido desconsiderados, enquanto o quarto, ainda que irrelevante para

o problema, tem sido supervalorizado.56

Em outro artigo, Calmon de Passos lança a questão

para a incapacidade financeira dos Estados em conduzir o serviço da Justiça.57

54

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O futuro da justiça: alguns mitos. In: Revista Síntese de Direito Civil e

Processual Civil, jul-ago. 2000. São Paulo: Síntese, 2000. p.37-9.

55 Ibid, p.39.

56 A síntese dos articulados de Calmon de Passos merece transcrição: “Falar sobre crise do Poder Judiciário é

algo que comporta mais de uma abordagem. É possível inseri-la na crise mais ampla do próprio modelo do

Estado em que ele se insere. Pode, outrossim, configurar-se como uma crise que lhe seja específica, localizada

no processo constitucional de produção jurisdicional do direito ou na institucionalização dos agentes políticos

por ele responsáveis, como pode, simplesmente, ser um problema menor relacionado com os procedimentos

adotados naquele processo constitucional já referido. A primeira, com implicações que extrapolam o que é

próprio da função jurisdicional. A segunda, de matriz estritamente constitucional, condicionadora de todos os

demais problemas processuais e sua causa mais relevante. A terceira, ainda passível, em parte, de apresentar

matizes constitucionais, porque pertinente à organização judiciária, localizada, entretanto, no mais significativo,

no espaço da legislação infraconstitucional. A quarta, de pequena relevância e de facílima superação, porque

toda ela de natureza infraconstitucional e dizendo respeito apenas a procedimentos. Em nosso País, todas elas

convivem, sendo que a primeira, a mais grave, tem sido de todo descurada. A segunda, de difícil solução sem

que a primeira seja resolvida, mas passível de ser minorada em seus aspectos mais graves, também, é ignorada.

A terceira, ainda penosa, pela camisa de força em que a colocou a nossa “indigestão constitucional”, fez-se tão

grave quanto a segunda e tem sido, tanto quanto ela, desconsiderada, merecendo apenas referências marginais. A

quarta, porque irrelevante, tornou-se a “bola da vez”, servindo como pretexto para o encobrimento das três

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30

Para José Roberto dos Santos Bedaque, são vários os fatores da crise do Judiciário. Em

primeiro lugar, o percentual do orçamento estatal destinado ao Poder Judiciário deveria ser

revisto, para minimamente fazer jus às suas necessidades. O número de magistrados por

habitante está longe dos padrões ideais. Em segundo lugar, Bedaque lembra que são

necessárias alterações estruturais dentro do Poder Judiciário, principalmente no tocante à

distribuição de competência. A divisão de “serviço” entre os juízes não é proporcional, não

sendo raros os casos de juízes subaproveitados, enquanto outros se encontram assoberbados,

sem condições de prestar a tempestiva tutela jurisdicional. Em terceiro lugar, adverte que

enquanto o Poder Executivo, maior litigante habitual – seja passiva ou ativamente –, não

adotar nova postura, deixando de protelar o cumprimento de suas obrigações, haverá muito

pouco progresso. Para o renomado professor, não bastam reformas e aprimoramento de

técnicas processuais, mas são necessárias profundas alterações na estrutura e na organização

do Poder Judiciário.58

Para Araken de Assis, as causas prováveis da ineficiência do Judiciário estão divididas

em três ordens: de oferta, de demanda e ideológica. A crise de oferta diz respeito ao

desaparelhamento dos órgãos judiciários; a crise de demanda é relativa ao número excessivo

de conflitos, cada vez mais complexos, que aportam em uma estrutura já precária; a crise

ideológica refere-se ao operador da cena judiciária, uma vez que os juízes revelam-se alheios

à realidade contemporânea, tanto no quesito social quanto no jurídico, já que não raros são

desconhecedores até das modificações legislativas.59

Humberto Theodoro Júnior reconhece a crise no Poder Judiciário e entende que se faz

necessária “a adoção de métodos modernos de administração, capazes de racionalizar o fluxo

primeiras, permitindo que delas não cuidemos. Utilizando imagem por mim já empregada em outra

oportunidade, direi que estamos, criminosamente, colocando curativos na epiderme de um sujeito canceroso. Em

outras palavras: ludibriando o doente e os circunstantes, na esperança de fazê-los crer que estamos interessados

na cura do enfermo, quando apenas ocultamos o inevitável de seu falecimento”. PASSOS, J. J. Calmon. A crise

do poder judiciário e as reformas instrumentais: avanços e retrocessos. In: Revista Síntese de Direito Civil e

Processual Civil, ano III, n. 15, jan-fev. 2002. Porto Alegre: Síntese, 2002. p.5-6. 57

Idem, O problema do acesso à justiça no Brasil. In: Revista de Processo, ano X, n. 39, jul-set. 1995. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. p.85-6.

58 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência

(tentativa de sistematização). São Paulo: Malheiros, 2001. p.16. Bedaque também analisa a crise no judiciário

em: Efetividade do processo e técnica processual. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

59 ASSIS. Araken de. O direito comparado e a eficiência do sistema judiciário. In: Revista do Advogado, n. 43,

jun. 1994. São Paulo: AASP, 1994. p.11.

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dos papéis, de implantar técnicas de controle de qualidade, de planejamento e

desenvolvimento dos serviços, bem como de preparo e aperfeiçoamento do pessoal em todos

os níveis do Judiciário”60

.

Joel Dias Figueira Júnior aponta vários fatores relacionados à crise do Poder

Judiciário: i) o número elevado e sempre crescente de causas em desproporção aos órgãos da

justiça e seus respectivos auxiliares; ii) o desajuste da legislação processual e da organização

judiciária comparada à realidade social; iii) a insuficiência dos recursos tecnológicos.61

José Eduardo de Faria faz uma extensa análise sobre a crise do Poder Judiciário no

Brasil e indica dois pontos mais evidentes: a crise de eficiência e a de identidade. O primeiro

aspecto diz respeito à “crescente inefetividade desse poder, o que pode ser ilustrado pelo

flagrante descompasso entre a procura e a oferta de serviços judiciais, em termos tanto

quantitativos quanto qualitativos”. Faria registra que os tribunais estão organizacionalmente

ultrapassados, razão pela qual costumam ser lentos e excessivamente burocráticos,

apresentando baixíssima produtividade.62

O segundo ponto levantado por Faria diz respeito à crise de identidade das instituições

judiciais brasileiras, que por sua vez é expressa por três outros importantes tipos de

problemas: i) as leis não acompanham o ritmo das mudanças sociais, obrigando os

magistrados a aplicar normas ultrapassadas; ii) a magistratura padece de um excessivo

individualismo e formalismo em sua visão de mundo. “Tendo sido educada e organizada para

atuar na perspectiva de uma justiça corretiva, a magistratura se revela contida, inibida e

temerosa quando estimulada a atuar na dimensão de uma justiça distributiva. Por causa disso,

os esforços modernizadores do legislador muitas vezes esbarram na insuficiente sensibilidade

social e mesmo sociológica dos juízes”; iii) a judicialização de decisões políticas deixa o

Poder Judiciário paralisado. Levado a julgar conflitos de competência do Legislativo e do

Executivo, ao mesmo tempo em que assiste aumentado seu poder regulamentar, vê-se ainda

60

THEODORO JÚNIOR, Humberto. A grande função do processo no Estado Democrático de Direito. In:

Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPro, ano 15, n. 59, jul-set. 2007. Belo Horizonte: Fórum,

2007. p.20.

61 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1999. p.139.

62 FARIA, José Eduardo. A crise do Poder Judiciário no Brasil. São Paulo: Revista Justiça e Democracia –

Associação Juízes para a Democracia, 1996. p.18.

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mais assoberbado e incapaz de realizar sua atividade típica – a declaração e a realização de

direitos dos jurisdicionados.63

Petrônio Calmon diz que “a justiça está em crise (desde sempre) e não dá conta dos

milhares de processos que lhe são postos; o processo é burocrático e permite manobras

protelatórias”. Calmon entende que para a solução do problema “as opções que surgem são do

tipo: aumentar o número de juízes, diminuir o número de recursos, aumentar as verbas para o

judiciário, diminuir a burocracia processual, aumentar o poder do juiz, diminuir o tempo do

processo, etc”.64

No ponto de vista da autora, a crise é deflagrada pelo Conselho Nacional de Justiça65

,

que passou a oferecer regularmente estatísticas do desempenho do Poder Judiciário. Não há

como negar o colapso do sistema judiciário diante de fatos concretos, conforme o relatório

Justiça em Números: a taxa de congestionamento média na fase de conhecimento foi de 58%,

ou seja, de cada 100 processos que tramitaram em 2010, aproximadamente 58 não tiveram sua

63

FARIA, José Eduardo. A crise do Poder Judiciário no Brasil. São Paulo: Revista Justiça e Democracia –

Associação Juízes para a Democracia, 1996. p.19-21.

64 CALMON, Petrônio. Por uma teoria crítica do direito processual. In: CARNEIRO, Athos Gusmão;

CALMON, Petrônio (Coord.). Bases científicas para um renovado direito processual. Salvador: JusPodivm,

2009. p.46.

65 Está em curso tentativa de esvaziamento dos poderes do CNJ como órgão de controle da eficiência,

desempenho e conduta ética do operador do Judiciário. A autora abraça a nota oficial da OAB Federal: “O

Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vem a público reiterar sua defesa em torno dos

pressupostos que transformaram o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) símbolo mais eloqüente do esforço para

enfrentar a crise no Judiciário: a coordenação, o planejamento, a supervisão administrativa, enfim, a fiscalização,

que, exercida com participação da sociedade civil, não pode ser genericamente tratada como controle, mas sim

como legítimo e democrático direito de proteger um dos pilares do Estado democrático de Direito. É preciso

compreender que o CNJ não nasceu para promover uma caça às bruxas, nem perseguir ninguém. Ele nasceu para

planejar e extirpar alguns tumores que ameaçavam se alastrar por todo o corpo do Judiciário, que se espera

saudável e transparente. (...) Tentativas de diminuir seu poder, sobretudo no que se refere à competência de

realizar inspeções em tribunais, fiscalizar e punir condutas impróprias de magistrados, refletem o incômodo que

essa nova realidade impôs a alguns setores pouco habituados a agir com transparência. Mais fácil seria se o CNJ

fosse mais um órgão doente, burocrático, e que seus membros aguardassem, com servil paciência, os relatórios e

prestação de contas produzidos na velocidade e nos termos que cada Corte julgar conveniente. Nunca se

pretendeu retirar a competência dos controles internos existentes, porém nunca é demais lembrar que foi

justamente em decorrência de sua duvidosa eficácia que já se promoveu, no passado, uma Comissão Parlamentar

de Inquérito (CPI) no âmbito do Legislativo, submetendo o Judiciário a um penoso processo de investigação.

Não queremos que isto se repita. A Ordem dos Advogados do Brasil sente-se no dever de defender a

independência do CNJ como forma de aprimorar a Justiça, consolidar o regime democrático e fortalecer os

direitos individuais e coletivos”. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI142507,71043-

OAB+divulga +nota+em+defesa+do+CNJ+e+contra+ tentativas+de+diminuir+seu>. Acesso em: 3 out. 2011.

Infelizmente, no último dia de expediente forense do ano de 2011, o ministro Marco Aurélio deferiu, em parte,

pedido de liminar em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4638) ajuizada pela Associação dos

Magistrados Brasileiros (AMB) contra a Resolução 135 do CNJ, relativa ao procedimento administrativo

disciplinar aplicável aos magistrados. A decisão monocrática deverá ser referendada pelo Plenário do Superior

Tribunal de Justiça no início do Ano Judiciário de 2012.

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baixa e remessa para a fase de execução alcançadas; já na fase de execução, a taxa de

congestionamento média foi de 84%, ou seja, de cada 100 processos executivos que

tramitaram em 2010, aproximadamente 84 não foram efetivos e, consequentemente, não

tiveram sua baixa definitiva alcançada.66

O levantamento mostra que mais da metade dos processos de conhecimento iniciados

no ano passado ficou parada o ano inteiro, sem qualquer definição. Ainda mais preocupante é

a constatação de que dentre 100 processos executivos, só 16 obtiveram êxito em 2010. A

inefetividade da Justiça é espantosa, especialmente em relação à execução.

Se contabilizados tanto os processos que ainda aguardam uma primeira análise e

aqueles que só faltam ser executados, a média geral do congestionamento, na primeira

instância da Justiça nacional, é de 70%. “Os números não deixam nenhuma dúvida de que há

um déficit muito grande em relação às demandas da sociedade e a capacidade do Judiciário de

responder”, avaliou o presidente do Conselho Nacional de Justiça, Cezar Peluzo, ao conceder

entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, em 30.8.2011.67

Alguma medida extrema deve ser tomada quando se denota que apenas 16% das

execuções são efetivas. Qualquer proposta que se faça para mudar esse quadro, seja polêmica,

seja contrária aos dogmas estabelecidos, deve ser analisada com bons olhos. Para a autora,

nada pode ser mais grave do que uma efetividade68

tão insignificante na realização dos

direitos.69

66

<http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/sum_exec_por_jn2010.pdf>. Acesso em: 28

agos. 2011.

67 Folha de São Paulo - A10 – Poder – terça-feira, 30 de agosto de 2011. Felipe Seligman, de Brasília.

68 De acordo com os números que serão apresentados no item 6.2, o índice médio de efetividade dos

Tabelionatos de Protesto da Cidade de São Paulo é de 66%, ou seja, de cada 100 títulos levados a protesto, 66

têm seus valores recuperados, por pagamento ou acordo. Independentemente da proposta de lege ferenda que ora

se apresenta, qual seja, de transferência ou delegação dos poderes executivos aos tabeliães, acrescenta-se que a

praxe de protesto das decisões judiciais deve ser também adotada pelos operadores de direito no âmbito cível. A

Justiça do Trabalho tem obtido econsiderável êxito ao dar publicidade da sentença e ao divulgar a sua

inadimplência, especialmente após o convênio firmado entre o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região e o

Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil, Seção São Paulo, em 12.12.2008, possibilitando a

transmissão de dados on-line. Disponível em: <http://www.protesto.com.br/trt/index.php?pagina=login>. Acesso

em: 10 jan. 2012. 69

Sobre a preocupação dos processualistas com a realização dos direitos: BUENO, Cassio Scarpinella. Bases

para um pensamento contemporâneo do direito processual civil. In: CARNEIRO, Athos Gusmão; CALMON,

Petrônio (Coord.). Bases científicas para um renovado direito processual. Salvador: Edit. JusPodivm, 2009.

p.385-6.

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34

A crise apontada e os números baixíssimos de efetividade têm como uma de suas

causas a falta de verba orçamentária. A Folha de São Paulo, em 23.5.2011, noticiou o “apagão

dos Oficiais de Justiça”. Segundo o mencionado diário, dos 8.801 postos para oficiais de

justiça no Estado de São Paulo, 3.357 estão vagos, e desde 1999 nenhum desses serventuários

é contratado por falta de orçamento.70

Com um déficit de 40% no seu quadro de oficiais de Justiça, o Judiciário paulista

enfrenta um grave atraso no cumprimento de atos judiciais. O juiz assessor da Presidência do

Tribunal de Justiça, Nuncio Theophilo Neto, em entrevista concedida ao jornal Folha de São

Paulo na mesma data, afirmou que o tribunal reconhece o déficit do número de oficiais,

registrando que a falta de contratações é consequência de cortes orçamentários praticados pelo

governo do Estado.71

A falta de destinação de verba ao Poder Judiciário gera um problema crônico e de

difícil solução (talvez insanável), razão pela qual se diz que a desjudicialização é um

fenômeno motivado pela dificuldade do Estado em corresponder com presteza às demandas

da sociedade moderna. Não basta a desjudicialização nos moldes do direito alemão (subseção

4.2.1) ou italiano (4.2.2); é necessária a privatização da tutela jurisdicional – inclusive a

executiva – e tal alegação não deve causar espanto diante das estatísticas apresentadas pelo

Conselho Nacional de Justiça.

2.2 Os dogmas do processo civil versus a necessidade de mudança de mentalidade

A lei de arbitragem representou um grande marco no sentido de mudança cultural da

sociedade brasileira. O artigo 18 da Lei no 9.307/1996 definiu que o árbitro é juiz de fato e de

direito, e o artigo 31 dessa lei deu à sentença arbitral os mesmos efeitos da decisão proferida

pelos órgãos do Poder Judiciário. Nos momentos que se seguem às grandes transformações,

verifica-se, como de fato ocorreu, certa reação emocional na interpretação dos novos

dispositivos legais, tanto que por um longo tempo bradou-se pela inconstitucionalidade da Lei

de Arbitragem.

70

Folha de São Paulo - A10 – Poder – segunda-feira, 23 de maio de 2011. Flávio Ferreira e Rogério Pagnan, de

São Paulo.

71 Ibid.

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35

Paulo de Tarso Santos registra que as instituições jurisdicionais são criações culturais,

inerentes ao comportamento humano e reguladoras da convivência social e, nessa perspectiva,

o homem criador das instituições pode alterá-las, assumindo, em consequência, uma correlata

mudança de hábito. Tal mudança constitui um processo sociocultural, cuja adaptação é lenta e

paulatina.72

-73

Segundo Tarso, toda atividade humana está sujeita ao hábito e, quando frequentemente

repetida, torna-se um padrão cultural. A jurisdição estatal tem a seu favor um hábito criado ao

longo dos anos – ela está incorporada, interiorizada em cada um dos jurisdicionados,

estudiosos ou aplicadores do direito –, sendo mais fácil aceitá-lo a aderir a uma cultura nova,

como aquela da jurisdição privada.74

Todavia, não se deve deixar acomodar aos padrões arcaicos e sedimentados – os

hábitos podem e devem ser revistos. É necessário romper tradições, mitos e mentalidades

conservadoras.75

O âmbito institucional jurídico não é lugar para dogmas, uma vez que

haveria inevitável contradição com a mutabilidade da cultura e da sociedade. As normas –

materiais e processuais – devem ser direcionadas para uma realidade social concerta, em um

momento histórico determinado, de forma a atender as necessidades específicas daqueles que

estão sob o seu comando. Caso haja alteração das necessidades, deve existir espaço e

72

SANTOS, Paulo de Tarso. Arbitragem e poder judiciário: (lei 9.307, 23.09.96): mudança cultural. São

Paulo: LTr, 2001. p.75-6.

73 Sobre “mudanças”, interessante registrar o pensamento do sociólogo, e também ex-Presidente da República,

Fernando Henrique Cardoso, em seu último livro: “O novo, o importante para mim é uma mudança de cabeça, de

comportamento, de cultura e a aceitação de que há novas formas de fazer com que a sociedade avance que não

são controladas por um partido ou pelo Estado”. (...) “A sociedade que está emergindo é estranha e complexa. O

que é uma maneira elegante de dizer que não se sabe exatamente o que ela é, como funciona e para onde está

indo. O primeiro passo é reconhecer as mudanças. Quem não conhece as mudanças se condena a viver

angustiado, pois vai julgar o que está acontecendo hoje pelo padrão do passado. Vai achar tudo ruim ou vai dizer

‘não sei onde vai dar isso’. O medo é uma reação diante do desconhecido”. (...) “É difícil se libertar do peso das

idéias antigas... No mundo real, as práticas mudam, mas o discurso tem dificuldade de acompanhar a mudança.

Fica defasado.” Por fim, vale apontar que o ex-Presidente também reconhece haver “um deslocamento de poder

dos Estados para atores não estatais.” CARDOSO, Fernando Henrique. A soma e o resto: um olhar sobre a vida

aos 80 anos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. p.70-85-89-99.

74 SANTOS, op.cit., p.77.

75 MORAIS, José Luis Bolzan de; SPENGLER, Fabiana MARION. Mediação e Arbitragem. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 2008. p.32.

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36

condição para inserções harmônicas e alterações compatíveis da norma para com a nova

realidade social.76

Arnoldo Wald menciona a disposição de alguns estudiosos do processo em evitar todo

e qualquer evento externo que os perturbem, que os tirem do conforto dos padrões habituais;

por outro lado, a disposição de outros em aceitar e efetivamente romper com as tradições,

rejeitando até mesmo os princípios de base. Para Wald, os juristas estão perplexos, tentando

conciliar o antigo direito às novas necessidades sociais e econômicas, e nessa toada, manter

tudo aquilo que é útil e substituir o que se tornou obsoleto.77

Nessa esteira, pode-se afirmar com certa segurança que um dos principais problemas

do processo civil moderno reside na superação dos “mitos” criados pela ciência jurídica, a

começar pelo conceito de jurisdição.78

Segundo José Augusto Delgado,

[...] há se educar a população para o atual estágio da denominada entrega da

prestação jurisdicional, quando não mais se constitui privilégio absoluto do

Estado a responsabilidade pelo seu manejo. Há de se ter em consideração

que os direitos e garantias fundamentais vistos na era contemporânea não

podem receber interpretação idêntica a que se fazia em épocas passadas.

Vivencia-se, na atualidade, uma transformação do modelo até então adotado

para o Estado, buscando-se novas estruturas para o seu funcionamento.79

O direito processual passa por um momento de grandes transformações. O processo

sociocultural de aceitação da jurisdição privada iniciou-se no Brasil há aproximadamente 15

anos e ainda encontra-se em desenvolvimento. Assim como hoje é bastante natural afirmar

que o árbitro pode dizer o direito, haverá um momento em que o agente privado poderá

76

SANTOS, Paulo de Tarso. Arbitragem e poder judiciário: (lei 9.307, 23.09.96): mudança cultural. São

Paulo: LTr, 2001. p.78-9.

77 WALD, Arnoldo. A Evolução do Direito e a Arbitragem. In: LEMES, Selma Ferreira; CARMONA, Carlos

Alberto; MARTINS, Pedro Batista (Coord.). Arbitragem: estudos em homenagem ao Prof. Guido Fernando da

Silva Soares. São Paulo: Atlas, 2007. p.456.

78 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1999. p.110.

79DELGADO, José Augusto. Arbitragem no Brasil: Evolução Histórica e Conceitual. Disponível em:

<http://www.tex.pro.br/tex/listagem-de-artigos/318-artigos-mar-2011/7915-a-arbitragem-no-brasil-evolucao-

historica-e-conceitual>. Acesso em: 19 dez. 2011.

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37

realizar o direito, por meio de práticas executivas, sem que isso seja considerado uma

aberração jurídica.

O modelo de jurisdição privada – desjudicialização do poder de dizer o direito – “em

nada afronta a Lei Maior, enfraquece ou desprestigia o Judiciário. Muito pelo contrário, vem

para minimizar a crise jurisdicional e permitir ao Estado-juiz que dirija sua atividade principal

à solução dos conflitos que não podem, por questões de ordem pública, ser conhecidos pela

justiça privada”. 80

Entende-se que a proposta da desjudicialização da execução – ou do poder de império

– também não afronta a Constituição Federal, uma vez que o devedor que entender que a

execução realizada por um agente privado desenvolve-se de forma injusta ou ilegal poderá

socorrer-se do Judiciário por meio da oposição de embargos, assegurando-se, assim, os

princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa e até mesmo do acesso à Justiça,

ainda que sob um novo prisma.

A aceitação de um novo padrão cultural não é das tarefas mais fáceis, mas não se pode

apegar ao hábito. É necessário revisitar conceitos, padrões, dogmas, para que se possa atender

às necessidades específicas da nova realidade social.

2.3 O fenômeno da desjudicialização

Já se nota uma gradual mudança de mentalidade no sentido de aceitar reciclagens

conceituais. A jurisdição que tradicionalmente esteve atrelada ao Estado hoje comporta outras

acepções, distanciando-se do sentido monopolístico oficial e abrindo-se para outras instâncias.

Cândido Rangel Dinamarco afirma que processo é todo procedimento realizado com

contraditório e não é privativo do sistema jurisdicional típico – Poder Judiciário –, apontando

a existência de diversas espécies de processos: a) estatal, que é jurisdicional ou não

jurisdicional; b) não estatal (entidades intermediárias).81

80

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1999. p.78-79. No mesmo sentido: HERTEL, Daniel Roberto. Inventário, separação e divórcio pela via

administrativa. In: Revista de Processo, ano 32, n. 147, maio 2007. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

p.224-232.

81 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

p.385.

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38

Além da doutrina, o próprio legislador vem mostrando-se sensível a uma releitura

atualizada e contextualizada do constante no inciso XXXV do artigo 5º da Constituição

Federal, para o fim de tornar o enunciado aderente à realidade judiciária brasileira, como será

demonstrado no capítulo seguinte.82

Partindo-se da premissa de que o dogma do monopólio estatal da distribuição e da

realização da Justiça está balançado, duas constatações parecem justificar a desjudicialização.

A primeira delas, como demonstrado no presente capítulo, é de que o Estado não suporta mais

o peso da atividade jurisdicional. Pode-se afirmar que a desjudicialização brasileira é um

fenômeno motivado pela dificuldade do Estado em corresponder com presteza às demandas

judiciais da sociedade contemporânea. A segunda diz respeito a um contexto global de

desjudicialização – assunto do capítulo 4 – e de harmonização de sistemas jurídicos,

passando-se a reconhecer a transferência para o setor privado de tarefas que até então

estavam, historicamente, confiadas ao Judiciário.

Sobre a primeira constatação, observa-se que o relatório Justiça em Números,

elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça, na parte que informa acerca do orçamento do

Poder Judiciário, diz que “em 2010, as despesas totais da Justiça Estadual, Federal e

Trabalhista somaram o montante de R$ 41 bilhões, equivalente a 1,12% do PIB Nacional, a

2% dos gastos da União e dos Estados e a R$ 212,37 ao ano por habitante. A despesa total de

2010 apresentou crescimento de 3,7% em relação ao ano anterior (R$ 39,6 bilhões)”.83

O relatório ainda informa que “a média de gasto nos três ramos da Justiça alcançou R$

1.693,94 por caso novo, variando de R$ 1,3 mil na Justiça Estadual até R$ 3,2 mil na Justiça

do Trabalho. Em média, a Justiça gastou R$ 127,5 mil por servidor e R$ 2,4 milhões por

magistrado”. E conclui dizendo que “a despesa com recursos humanos nas três esferas

82

Rodolfo de Camargo Mancuso cita meios de resoluções de controvérsias que não estão confiadas ao Judiciário

e/ou que são resolvidos por órgãos parajurisdicionais: i) a Justiça de Paz (CF, art.98, I); ii) a Justiça Desportiva

(CF, art. 217, §1º); iii) os Tribunais de Contas (CF, art. 71); iv) os Tabelionatos (Lei 11.441/2007: CPC, arts.

982, 983, 1.031 e 1.124-A); v) os árbitros (Lei 9.307/1997: art. 18), entre outros. MANCUSO, Rodolfo de

Camargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no contemporâneo Estado de Direito. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2009. p.157-8.

83 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/sum_exec_por_jn2010.pdf>.

Acesso em: 28 nov. 2011.

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39

investigadas atingiu o total de R$ 36,8 bilhões, o que representou aumento de 3% em relação

a 2009”.84

Apesar do número absoluto – cifra de 41 bilhões de reais – das despesas do Poder

Judiciário ser elevadíssima, não há como negar que tal valor representa uma fatia muito

pequena do PIB Nacional – 1,12% – e dos gastos da União e dos Estados – 2%. A conclusão

lógica apontaria no sentido de ser necessária uma revisão da divisão do percentual

orçamentário. Mas de onde seriam remanejados esses valores? Seriam criados novos

tributos?85

Além disso, as despesas aumentaram, apresentando crescimento de 3,7% no último

ano, sem, contudo, representar melhora na prestação jurisdicional. Acredita-se que nem

mesmo uma injeção considerável de recursos – a menos que fosse uma cifra absolutamente

relevante e, consequentemente, irreal – seria suficiente o bastante para fazer a máquina

funcionar. O Poder Judiciário está deficitário e em determinado ponto de deterioração, o

conserto do maquinário não justifica o preço. Além disso, difícil acreditar na colaboração do

funcionalismo judiciário, há tanto acomodado a uma estrutura morosa e burocrática.

A constatação, então, de que só a desjudicialização pode trazer certo fôlego para a

prestação jurisdicional, tornando-a efetiva, célere e justa, está calcada no real benefício

decorrente desse tipo de proposta – mais especificamente daquela que ora se apresenta –, qual

seja, da possibilidade de o Estado não mais despender esforços e recursos na prestação

jurisdicional, já que o exercício da atividade notarial, embora estatal, se dá em caráter

privado.86

84

Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/sum_exec_por_jn2010.pdf>.

Acesso em: 28 nov. 2011.

85 A autora não tem qualquer dúvida de que se não houvesse tanta corrupção no país a devida verba poderia ser

destinada ao Poder Judiciário sem qualquer afetação dos outros direitos dos cidadãos. Mas como a cura para o

câncer da corrupção brasileira é expectativa das mais remotas, é mais salutar buscar soluções outras que esperar

pelo milagre.

86 CAHALI, Francisco José; HERANCE FILHO, Antonio; ROSA, Karin Regina Rick; FERREIRA, Paulo

Roberto Gaiger. Escrituras públicas: separação, divórcio, inventário e partilha consensuais: análise civil,

processual civil, tributária e notarial. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.15.

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40

Sem dúvida haverá um pagamento adicional relativo aos custos da atividade

jurisdicional87

, de acordo com os emolumentos fixados por lei. No entanto, as estatísticas

apresentadas pelo Colégio Notarial do Brasil – anexo IV – mostram que o jurisdicionado

prefere pagar os emolumentos da escritura pública para a realização de separações, divórcios

e inventários via Tabelionato de Notas a esperar a longa tramitação do processo judicial. No

cálculo do custo-benefício, a justiça privada vale o preço – especialmente pela rapidez e

segurança.

Sobre a segunda constatação mencionada logo acima, no que diz respeito a um

contexto global de desjudicialização e de harmonização de sistemas jurídicos, registra-se o

efetivo estímulo por medidas jurisdicionais desconectadas do Poder Judiciário. Em um

primeiro momento, houve um grande movimento em prol dos meios alternativos de resolução

de conflitos – Alternative Dispute Resolution (ADR) –, especialmente diante da necessidade

dos próprios jurisdicionados em resolver seus problemas de maneira distinta dos moldes

tradicionais: há certos casos em que não há sentença ideal ou suficiente para apaziguar seres

humanos em conflito88

; há outros em que a publicidade do processo pode gerar problemas

ainda mais graves para as partes.89

No cenário internacional, a adoção de meios alternativos de resolução de conflitos é

uma realidade consolidada. Agora, em um segundo momento, existe um movimento para que

87

Se a taxa judiciária fosse destinada exclusivamente ao Poder Judiciário e não ao Governo Estadual, talvez o

cenário fosse outro. A questão do repasse da verba orçamentária é assunto que foge aos limites deste trabalho.

88 Os exemplos sempre são elucidadores. No caso narrado pelo professor inglês Neil Andrews verifica-se que

nenhuma sentença seria tão profícua para as partes envolvidas quanto o resultado obtido por meio de um acordo

conduzido por mediadores: “Um exemplo da flexibilidade da mediação se relaciona com uma ação de um grupo

movida pelos pais dos filhos falecidos contra um fundo de um hospital infantil (Alder Hey Hospital, Liverpool).

O hospital havia removido órgãos das crianças falecidas sem a permissão dos pais. A ação durou algum tempo.

O Juiz (Senior Master Robert Turner), então, recomendou, de forma bem sucedida, a mediação por alguém que

não tivesse a ver com o ocorrido. Um acordo foi firmado, com cinco itens: um montante muito modesto de

indenização; a garantia de que o hospital se empenharia na pesquisa em questão; a incumbência do Governo

fornecer orientações melhores para hospitais; a construção de um memorial para as crianças; e um pedido de

desculpas público, feito pelos médicos envolvidos”. ANDREWS, Neil. O moderno processo civil – formas

judiciais e alternativas de resolução de conflito na Inglaterra. Tradução Teresa Arruda Alvim Wambier. São

Paulo: RT, 2010. p.244.

89 Em parênteses, registra-se o comentário da professora portuguesa Paula Costa e Silva sobre o assunto: “Se a

justiça pública nem é eficiente, nem é acessível, para além da evidente violação de garantias constitucionais, os

meios chamados de alternativos acabam por ser meios necessários e inevitáveis, minando-se a respectiva

legitimidade com a supressão da liberdade de escolha efectiva”. SILVA, Paula Costa e. O acesso ao sistema

judicial e os meios alternativos de resolução de controvérsias: alternatividade efectiva e complementariedade. In:

Revista de Processo, ano 32, n. 158, abr. 2008. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.95-6.

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41

a efetivação dos direitos também seja realizada fora do Judiciário, inclusive como maneira de

equiparar os sistemas jurídicos – especialmente dentro da Comunidade Europeia.

Nessa esteira, o Conselho da Europa, por meio do seu Comitê de Ministros, em

9.9.2003, apresentou sua recomendação de nº 17, orientando que os Estados Membros da

Comunidade Europeia promovessem a eficácia da execução de títulos judiciais e

extrajudiciais, com adequado custo-benefício, bem como tomassem ou reforçassem, conforme

o caso, todas as medidas consideradas necessárias com vistas à realização progressiva dos

“princípios orientadores sobre a execução”, estabelecidos naquele documento.90

Tais princípios têm como referência a execução realizada por intermédio dos "agentes

de execução", assim conceituados: “pessoa autorizada pelo Estado para realizar o processo de

execução, independentemente do fato dessa pessoa ser empregada ou não pelo Estado”. A

Recomendação nº 17/2003, então, minudencia aspectos relativos i) ao estatuto do agente de

execução, esclarecendo que o papel, as responsabilidades e as competências devem estar

prescritas em lei, a fim de trazer o máximo de certeza e transparência ao processo de

execução; ii) ao seu recrutamento, recomendando-se que seja observada a conduta moral dos

candidatos e os seus conhecimentos jurídicos. Para este fim, eles devem ser obrigados a fazer

exames para avaliar seu conhecimento teórico e prático; iii) ao agente de fiscalização,

alertando para que sejam honrados e competentes no exercício das suas funções, agindo de

acordo com elevados padrões profissionais e éticos. Ademais, devem ser imparciais nas suas

relações com as partes e com os agentes; iv) às responsabilidades disciplinares, civis e/ou

criminais, dos agentes de execução e de fiscalização, fornecendo as sanções adequadas no

caso de efetivo abuso; dentre outras diretrizes.91

Em 2010, a Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (CEPEJ) publicou seu

último relatório, cujos dados são referentes ao período de 2004 a 2008. O capítulo 13, relativo

à execução, reforça a Recomendação nº 17/2003 e apresenta elementos estatísticos,

90

Disponível em: <https://wcd.coe.int/wcd/ViewDoc.jsp?Ref=Rec(2003)17&Language=lanEnglish&Site=CM&

BackColorInternet=DBDCF2&BackColorIntranet=FDC864&BackColorLogged=FDC864>. Acesso em: 20 nov.

2011.

91 Ibid.

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42

demonstrando que o status do agente de execução é privado (ou misto de público e privado)

na maioria dos Estados membros da Comunidade Europeia.92

Em conclusão, no que diz respeito ao fenômeno da desjudicialização, seja ela por

necessidade de reduzir o peso do Estado ou para harmonizar sistemas jurídicos, é certo que

existe uma tendência de transferir para outros órgãos ou entidades a realização dos atos

executivos.93

2.4 Delegação legal94

dos poderes executivos a um agente privado

Habitualmente, a sociedade está acostumada a entender a jurisdição como monopólio

do poder estatal. No entanto, é preciso lembrar que, como esclarecem Luiz Rodrigues

Wambier, Eduardo Talamini e Flávio Renato Correia de Almeida, nada impede que,

“autorizados por lei, possam os interessados optar por meio não estatal do exercício da

jurisdição, isto é, de realização de atividade capaz de por fim à lide. Nessa hipótese, a

jurisdição é, por assim dizer, exercida por delegação do Estado”95

. Tal referência diz respeito

à arbitragem.

92

“Status of enforcement agents: Almost all member states or entities defined a status for enforcement agents

including bailiffs (41 states/44 responses). In 11 states, the enforcement agents practice exclusively within a

private profession ruled by public authorities. In 15 states or entities, bailiffs work in a public institution. The

rest of the member states or entities combine the status of bailiffs working in public institutions with bailiffs

practicing within a private profession (5 states), or combine private or public status with other enforcement

agents who could themselves have public or private status, like in Belgium (notaries, enforcement agents in tax

affairs), in France (huissiers du Trésor, responsible for the collection of taxes), in Ireland (sheriff/solicitor and

revenue sheriffs responsible for the collection of taxes), in Portugal (execution solicitors), and in UK-Scotland

(Sheriff Officers and Messengers at Arms). To conclude, the status of enforcement agents can be public, private

or mixed. Enforcement agents have private status in 11 states or entities; in 22 states or entities, they have a

public status and there is a mix of statuses in 11 states or entities. (…) The status of enforcement agents is highly

variable in the different member states or entities. Judges can play a role in the enforcement procedure, but in

most cases their role is limited to the supervision of such procedure”. Disponível em:

<https://wcd.coe.int/com.instranet.InstraServlet?command=com.instranet.CmdBlobGet& InstranetImage=16940

98&SecMode=1&DocId=1653000&Usage=2>. Acesso em: 10 abr. 2012. 93

Eber Zoehler Santa Helena entende que a desjudicialização concebe a efetiva possibilidade de desafogar o

Poder Judiciário de suas atribuições, especialmente em um mundo cada vez mais complexo e em crescente

litigiosidade. A desoneração do Poder Judiciário tem aplicação especial naquelas funções por ele desempenhadas

que não dizem respeito diretamente à sua função precípua – declarar o direito em caráter definitivo. Disponível

em: HELENA, Eber Zoehler Santa. O fenômeno da desjudicialização. <http://jus.com.br/revista/texto/7818/0-

fenomeno-da-desjudicializacao>. Acesso em: 19 dez. 2011.

94 ROCHA, José de Albuquerque. Lei de arbitragem – uma avaliação crítica. São Paulo: Malheiros, 1998. p.28.

95 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado

de Processo Civil – v. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.37.

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43

Se a lei reconheceu a arbitragem como uma atividade jurisdicional, na qual ao árbitro é

conferido o poder de dirimir controvérsias que seriam objeto de uma ação de conhecimento,

por que, por meio de lei, a um agente de execução também não poderia ser reconhecido o

desempenho de uma função (jurisdicional) executiva?96

-97

Acredita-se que o império também pode ser delegado, por opção legislativa, mas de

modo a mantê-lo sob a esfera estatal. Os atos de constrição patrimonial não podem ser

realizados por qualquer particular, mas sim por entes delegados pelo próprio Estado, que

assim possam exercer função pública de forma privada. Vale lembrar que o ofício delegado é

de competência do Estado, cuja titularidade é mantida; tão somente o exercício desse ofício é

transferido a um particular.

Uma ressalva é necessária: diferentemente da arbitragem, na qual se respeita a vontade

das partes que a elegem, o império realizado fora do Poder Judiciário não pode ser

facultativo98

, mas obrigatório, caso contrário não seria reconhecido como legítimo. O devedor

deve ser obrigado a pagar, sob pena de constrição de bens, a ser realizada pelo agente de

execução, de lege ferenda. Não existe a opção de não fazê-lo, exceto no caso do devedor

conseguir provar judicialmente alguma insuficiência ou deficiência do título.

Leonardo Greco afirma que “outros órgãos, do próprio Estado ou mesmo particulares

que se encontrem no exercício de funções públicas, podem praticar atos executórios em maior

ou menor extensão, conforme dispuser a lei, desde que todos estejam submetidos ao controle

96

“A realização de atos tipicamente executivos (penhora, venda e pagamento), sem prejuízo de outros (v.g.,

verificação dos pressupostos da execução, citação, entre outros), na atual quadra histórica em que vivemos, pode

ser perfeitamente atribuída a um ente (seja particular ou funcionário público, ou até uma figura híbrida) que não

o juiz estatal”. GARSON, Samy. A viabilidade da desjudicialização do processo de execução. In: CARVALHO,

Milton Paulo de (Coord.). Direito Processual Civil. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p.529.

97 TESHEINER, José Maria Rosa. Jurisdição, execução e autotutela. In: TESHEINER, José Maria Rosa;

MILHORANZA, Mariângela Guerreiro; PORTO, Sérgio Gilberto (Org.). Instrumentos de coerção e outros

temas de direito processual civil – Estudos em homenagem aos 25 anos de docência do Prof. Dr. Araken de

Assis. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p.379-384.

98 A arbitragem no Brasil foi regulamentada por meio de lei federal, sem qualquer tipo de emenda constitucional,

e não há nenhuma dúvida de que parcela da jurisdição, mais especificamente do poder de conhecer da demanda

(cognitio) e de dizer o direito (iurisdictio), foi delegada ao árbitro. Certamente a justificativa está no fato de que

não há qualquer inconstitucionalidade na renúncia voluntária à jurisdição estatal, devendo sempre ser respeitada

a autonomia das partes, até mesmo porque a prestação jurisdicional constitui um direito dos jurisdicionados, e

não uma obrigação de levar ao conhecimento do Poder Judiciário acerca das contendas surgidas. O argumento é

muito louvável. No caso da execução, não se trata de respeito à autonomia das partes, mas acatamento de

determinação legal, que deve prever e determinar que o agente de execução realize os atos executivos, lege

ferenda.

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44

permanente e direto do órgão Jurisdicional”99

. A autora apresenta uma proposta nesses exatos

termos, com base em um relevante estudo de direito estrangeiro, principalmente o português.

Não se trata de uma simples cópia, mas recomenda-se um projeto nacionalizado, permitindo-

se a realização da execução de forma privada e, ainda assim, compatível com a Constituição

Federal brasileira.

Mauro Capelletti fez uma importante análise sobre a importação de reformas jurídicas:

Um aspecto igualmente óbvio – bem conhecido dos estudiosos de Direito

Comparado – é o de que as reformas não podem (e não devem) ser

transplantadas simploriamente de seus sistemas jurídicos e políticos. Mesmo

se transplantada “com sucesso”, uma instituição pode, de fato, - operar de

forma inteiramente diversa num ambiente diverso. Nossa tarefa deve

consistir, com o auxílio de pesquisa empírica e interdisciplinar, não apenas

em diagnosticar a necessidade de reformas, mas também cuidadosamente

monitorar sua implementação.100

Não se pretende apenas transplantar as medidas adotadas por Portugal para o Brasil.

Espera-se fazer uma proposta lúcida, coerente com o sistema brasileiro e com aproveitamento

das estruturas já existentes. Pois bem, o modelo de execução português é totalmente

desjudicializado. O juiz de execução exerce funções de tutela, intervindo em caso de litígio

surgido na pendência da execução (oposição) e de certo controle, dirimindo dúvidas e

proferindo alguns despachos liminares, mas deixou de ter a seu cargo a promoção das

diligências executivas, não lhe cabendo ordenar a penhora, a venda ou o pagamento. A prática

desses atos, eminentemente executivos, passou a caber ao agente de execução. Assim, em

Portugal, foi deslocado para um profissional liberal o desempenho do conjunto de tarefas

antes exercidas pelo tribunal, sem, contudo, haver prejuízo da possibilidade da reclamação ao

juiz acerca dos atos ou omissões praticados pelo agente de execução.101

Além de desjudicializar, Portugal fez uma opção política pela privatização da

realização da atividade executiva, de forma a evitar que o Estado assumisse o investimento no

recrutamento de mais funcionários públicos. Carlos Manoel Ferreira da Silva informa que o

99

GRECO, Leonardo. O processo de execução – vol 2. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.79-81.

100 CAPELLETTI, Mauro. Acesso à justiça. Tradução Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988.

p.162.

101 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.24.

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Estado português procurava minimizar seus custos e encontrou a solução em arquétipo de

sucesso em outros países da mesma família jurídica.102

Nesses termos, Portugal delegou ao agente de execução, por meio de lei, parcela de

poder que outrora competia exclusivamente ao juiz, razão pela qual se pode afirmar que a

atuação desse ente privado é legítima. Demonstrar-se-á no item 6.1 que a reforma também foi

considerada constitucional.

Propõe-se que no Brasil ao tabelião de protesto seja delegada a função pública de

execução dos títulos executivos, por meio de outorga a um profissional de direito

devidamente concursado, e que a sua remuneração seja realizada de acordo com os

emolumentos fixados por lei, cobrada do devedor somente ao final do procedimento

executivo. A fiscalização será realizada pelo Poder Judiciário – corregedorias estaduais. A

delegação103

é o regime jurídico sugerido para a execução desjudicializada no país, pois é um

regime constitucionalmente previsto, bastando regulamentação legal para a nova atividade.

102

SILVA, Carlos Manoel Ferreira da. Um novo operador judiciário: o solicitador de execução – estatuto e

funções. In: YARSHELL, Flávio Luiz; MORAES, Maurício Zanoide de (Coord.). Estudos em homenagem à

professora Ada Pellegrini Grinover. 1. ed. São Paulo: DPJ, 2005. p.515.

103 Artigo 236 da Constituição Federal: “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por

delegação do Poder Público. §1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos

notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

§2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos

serviços notariais e de registro. §3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de

provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento

ou de remoção, por mais de seis meses.”

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CAPÍTULO 3 – Hipóteses de desjudicialização no Brasil

3.1 Desjudicialização do poder de império

3.1.1 Execução no sistema financeiro de habitação

O plano de desenvolvimento econômico e social imaginado pelo Governo Federal na

década de 60 foi alicerçado na concessão de crédito para a construção de moradias –

“financiamento da casa própria”. Como estímulo às instituições financeiras – que assumiriam

grande risco de inadimplemento, até mesmo considerando-se as características dos mutuários

beneficiados pelo programa –, foi levada a cabo uma nova forma de recuperação de crédito

hipotecário. Nesse cenário promulgou-se o polêmico Decreto-Lei nº 70 de 21.11.1966,

autorizando o credor imobiliário a executar extrajudicialmente a garantia – atividade

jurisdicional então delegada a um agente fiduciário.104

De acordo com o referido decreto, vencida e não paga a dívida hipotecária, no todo ou

em parte, o credor deve formalizar ao agente fiduciário a solicitação de execução da dívida,

instruindo-a com i) o título da dívida devidamente registrado no respectivo Cartório de

Imóveis; ii) a memória de cálculo do saldo devedor, discriminando o principal, os juros, a

multa e outros encargos contratuais e legais; e iii) a cópia dos avisos de recobramento da

dívida.105

Recebida a solicitação da execução, o agente fiduciário, nos 10 dias subsequentes,

deve promover a notificação do devedor, por intermédio de Cartório de Títulos e

Documentos, concedendo-lhe o prazo de 20 dias para a purgação da mora.

Se o devedor não realizar o pagamento integral do débito, o agente fiduciário está

autorizado, de pleno direito, a publicar editais e a efetuar, no decurso dos 15 dias imediatos, o

104

DENARDI, Volnei Luiz. Execuções Judicial e Extrajudicial no Sistema Financeiro de Habitação: Lei

5.741/1971 e Decreto-Lei 70/1966. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.82.

105 VASCONCELLOS, Pedro. Execução Extrajudicial e Judicial do Crédito Hipotecário no Sistema

Financeiro da Habitação. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p.20 e segs.

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primeiro leilão público do imóvel hipotecado. Se no primeiro leilão o maior lance obtido for

inferior ao saldo devedor, será realizado novo leilão, dentro dos 15 dias subsequentes.

Se o maior lance do segundo leilão público for inferior àquela soma, serão pagas

inicialmente as despesas do procedimento – inclusive os honorários do agente fiduciário – e a

diferença entregue ao credor, que ainda poderá cobrar, por via executiva judicial, a dívida

remanescente. Se o lance de alienação do imóvel for superior ao total das importâncias

devidas, a diferença será entregue ao devedor.

Até a assinatura do auto de arrematação, pode o devedor purgar o débito apontado,

acrescido dos seguintes encargos: i) penalidades previstas no contrato de hipoteca, de até 10%

do valor do débito; ii) remuneração do agente fiduciário; iii) juros de mora e correção

monetária incidentes até então.

Uma vez efetivada a alienação do imóvel, deve ser emitida a respectiva carta de

arrematação, assinada pelo leiloeiro, pelo credor, pelo agente fiduciário e por 5 testemunhas,

servindo tal documento como título para a transcrição no Registro de Imóveis. O devedor,

caso esteja presente no leilão público, deve assinar a carta de arrematação; caso contrário, no

documento deve ser registrada a sua ausência ou então a sua recusa em subscrevê-lo.

Uma vez transcrita a carta de arrematação no Registro de Imóveis, o adquirente pode

requerer ao Juízo competente a sua imissão na posse do imóvel, que deve ser concedida

liminarmente, sem prejuízo do prosseguimento do feito, de rito ordinário, para o debate das

alegações que o devedor porventura aduzir em contestação.

No período que mediar entre a transcrição da carta de arrematação no Registro de

Imóveis e a efetiva imissão do adquirente na posse do imóvel alienado em leilão público, o

Juiz arbitrará uma taxa mensal de ocupação compatível com o rendimento que deveria

proporcionar o investimento realizado na aquisição, exigível por meio de ação executiva

judicial.

Eis os procedimentos previstos para a realização da execução extrajudicial segundo o

Decreto-Lei nº 70/66, mais especificamente em seus artigos 29 a 38, os quais, por si só, já

demonstram tratar-se de um efetivo paradigma – talvez o único no Brasil – do que se propõe:

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desjudicialização do poder de império do Estado. Em continuação, justifica-se analisar a

constitucionalidade do instituto.

Sempre houve considerável polêmica acerca do decreto que permitiu a execução

extrajudicial dos créditos hipotecários, mas após a promulgação da Constituição de 1988 a

corrente da inconstitucionalidade do Decreto-Lei nº 70/66 fortaleceu-se, especialmente em

razão da expressa previsão da garantia da privação de bens exclusivamente sob o manto do

“devido processo legal” (art. 5º, LIV, da CF) – novidade em relação às Constituições

anteriores.

Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de um recurso

extraordinário que questionava a afronta aos princípios do monopólio de jurisdição, do juízo

natural, do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, foi chamado a

manifestar-se sobre a constitucionalidade do referido decreto. O Recurso Extraordinário nº

223.075-1/DF foi julgado em 23.6.98 (publicado no Diário Oficial em 6.11.98), tendo por

relator o Ministro Ilmar Galvão. Sua ementa conta com o seguinte teor:

EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. DECRETO-LEI N° 70/66.

CONSTITUCIONALIDADE. Compatibilidade do aludido diploma legal

com a Carta da República, posto que além de prever uma fase de controle

judicial, conquanto a posteriori da venda do imóvel objeto da garantia pelo

agente fiduciário, não impede que eventual ilegalidade perpetrada no curso

do procedimento seja reprimida, de logo, pelos meios processuais

adequados.

Sustentou o Supremo Tribunal Federal que inexistia óbice ao acesso ao Judiciário para

questionar execuções injustas ou ilegais106

, como no caso então em exame, no qual o mutuário

obteve tutela para sustar a venda do imóvel sob a alegação de excesso do valor cobrado. Nos

anos seguintes, inúmeras outras decisões107

reafirmaram a constitucionalidade do Decreto-Lei

no

70/66, mas no exato momento o debate regressou à Corte – desta vez com mais força – e

encontra-se pendente de julgamento.

106

Luiz Antonio Scavone Júnior apresenta os principais aspectos da ação cautelar inominada de sustação de

leilão/execução extrajudicial e da ação ordinária de revisão de contrato. Ele oferece modelos de petição.

SCAVONE JÚNIOR, Luiz Antonio. Direito imobiliário – Teoria e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

p.387-404.

107 Ag RExt 408224-1/SE - Rel: Min. Sepúlveda Pertence, em 3.8.2007; Ag Reg AI 312.004-0/SP - Rel: Min.

Joaquim Barbosa, em 7.3.2006; AI - Ag R 514565-7/PR - Rel: Min. Ellen Gracie, em 13.12.2005; Ag Reg AI

497.950-6/SP - Rel: Min. Joaquim Barbosa, em 25.10.2005; AI 509.379-AgR/PR - Rel: Min. Carlos Velloso, em

4.11.2005.

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49

No dia 18.8.2011, o pedido de vista do ministro Gilmar Mendes suspendeu o

julgamento da análise da compatibilidade ou não dos dispositivos legais que autorizam a

execução extrajudicial de dívidas hipotecárias com a Constituição Federal. A questão está

sendo apreciada no julgamento de dois Recursos Extraordinários (556520 e 627106). Até

então, há quatro votos pela incompatibilidade dos dispositivos do decreto-lei com a

Constituição – ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ayres Britto e Marco Aurélio – e dois pela

sua compatibilidade – ministros Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski.108

Ao pedir vista dos processos, o ministro Gilmar Mendes explicou estar "extremamente

preocupado" com o que classificou de "forma de pensar" que traz sempre mais questões para

o Judiciário, sobrecarregando-o. Para ele, a realização de direitos deve ser feita com a

intervenção judicial, se necessária. Além disso, lembrou que em muitos países que respeitam

108

i) Para Luiz Fux, "esse decreto-lei inverte completamente a lógica do acesso à justiça. O devedor é submetido

a atos de expropriação sem ser ouvido e se ele eventualmente quiser reclamar ele que ingresse em juízo",

emendou. Fux sustenta que o procedimento de expropriação de bens do devedor sem a intervenção de um

magistrado afronta o princípio do devido processo legal; ii) A ministra Cármen Lúcia ressaltou a jurisprudência

assentada sobre a matéria, mas lembrou que isso não significa que o entendimento não possa ser modificado,

como ela entende que deva ocorrer. "A análise do que se tem no Decreto-Lei 70/66 desobedece, a meu ver, os

princípios básicos do devido processo legal, uma vez que o devedor se vê tolhido nos seus bens sem que haja a

possibilidade imediata de acesso ao Poder Judiciário", disse; iii) O ministro Ayres Britto concordou que, no caso,

há desrespeito ao devido processo legal. "O Decreto-Lei 70/66 consagra um tipo de execução privada de bens do

devedor imobiliário que tem aparência de expropriação, na medida em que consagra um tipo de autotutela que

não parece corresponder à teleologia da Constituição quando (esta) fala do devido processo legal", afirmou; iv)

Quando votou sobre a matéria, o ministro Marco Aurélio frisou que a Constituição determina que a perda de um

bem deve respeitar o devido processo legal e, portanto, deve sempre ser analisada pelo Poder Judiciário;

ressaltou, ainda, que "ninguém pode fazer justiça com as próprias mãos"; v) Dias Toffoli lembrou que os demais

tribunais do país passaram a adotar o mesmo entendimento do Supremo diante do firme posicionamento

jurisprudencial da Corte sobre a matéria. "Mostra-se de rigor a reafirmação dessa pacífica jurisprudência para

que se reconheça agora, com a autoridade de matéria cuja Repercussão Geral já foi reconhecida pelo plenário

virtual da Corte, a recepção, pela Constituição Federal de 1988, das normas do Decreto-Lei 70/66, que cuidam

da execução extrajudicial", concluiu; vi) O ministro Ricardo Lewandowski disse: “Entendo que, desde o

momento que o Decreto-Lei 70/66 foi concebido, teve-se em mente a desburocratização do sistema de

financiamento da casa própria e do imóvel para a pessoa física", disse. Também frisou o fato de o Supremo ter

uma jurisprudência sólida sobre a matéria tanto antes quanto depois da promulgação da CF/88. Citando

argumentos do professor Orlando Gomes, o ministro Lewandowski lembrou ainda que o decreto-lei não impede

ou proíbe o acesso à via judicial e que em qualquer fase da execução extrajudicial é possível o acesso ao

Judiciário. “Portanto, se houver qualquer ofensa ao devido processo legal no que tange a essa execução

extrajudicial, a parte que se considera prejudicada pode acorrer ao Judiciário”, afirmou.

Excertos de <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=186899>. Acesso em: 3 dez.

2011.

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50

o estado de direito é praticada a execução nos moldes do Decreto-Lei nº 70/66.109

Os autos

dos recursos permanecem conclusos.110

Recentes trabalhos acadêmicos discutiram a constitucionalidade ou não das execuções

extrajudiciais do Sistema Financeiro de Habitação. A dissertação de mestrado de Volnei Luiz

Denardi, defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aponta a

inconstitucionalidade desse tipo de execução em razão da parcialidade do agente fiduciário –

a quem, segundo ele, foi conferida verdadeira função executiva e, portanto, jurisdicional –, o

que por si só ofenderia ao princípio do devido processo legal e esbarraria no princípio do

contraditório.111

Os argumentos da referida dissertação são bem lançados. O agente fiduciário deve ser

escolhido em comum acordo pelo credor e devedor e apontado no contrato originário de

hipoteca – ou em aditamento específico. O referido decreto ressalva que os agentes fiduciários

não podem ter ou manter vínculos societários com os credores ou devedores das hipotecas sob

sua tutela, mas não deu a devida atenção quanto à forma de nomeação, no sentido de abalizar

quem pode ser indicado para o desempenho da atividade, de forma a garantir a sua

imparcialidade.

A dissertação de mestrado de Eduardo Henrique de Oliveira Yoshikawa, defendida na

Universidade de Direito de São Paulo, ressalta a inconstitucionalidade do mencionado decreto

em razão da ofensa ao devido processo legal, uma vez que há delegação a terceiros da

atividade executiva – de natureza jurisdicional –, que está sujeita ao monopólio dos órgãos

estatais pertencentes ao Poder Judiciário. Yoshikawa alega tratar-se de verdadeira modalidade

de autotutela.112

109

Excertos de <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=186899>. Acesso em: 3

dez. 2011.

110 Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2541380> e

http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=3919340>. Acesso em: 28 maio

2012

111 DENARDI, Volnei Luiz. Execuções Judicial e Extrajudicial no Sistema Financeiro de Habitação: Lei

5.741/1971 e Decreto-Lei 70/1966. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

112 YOSHIKAWA, Eduardo Henrique de Oliveira. Execução Extrajudicial e Devido Processo Legal. São

Paulo: Atlas, 2010.

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51

Não se pode concordar com os argumentos do referido trabalho por dois motivos: em

primeiro lugar, porque a premissa não é compatível com a conclusão e, em segundo lugar,

porque não procede a conclusão, como já explanado nos capítulos anteriores.

Uma terceira dissertação de mestrado, com a qual a autora compartilha opinião, foi

defendida por Samy Garson perante a Faculdade de Direito de Coimbra, Portugal. Segundo

ele, é descabida a defesa do monopólio ou reserva de jurisdição na realização dos atos

executivos tendentes à satisfação do direito do credor hipotecário. A execução extrajudicial

não é inconstitucional, mas sua regulamentação brasileira carece de reparos em relação à i)

nomeação e formação dos agentes fiduciários e ii) previsão da possibilidade do devedor ou

terceiro interessado oferecer oposição.113

Garson entende que os agentes fiduciários deveriam ter formação adequada – podendo

revelar-se uma nova carreira jurídica –, com aptidão para a realização da conferência dos

cálculos aritméticos apresentados na memória discriminada do saldo devedor. Sobre a

oposição, defende a necessidade de previsão legal da oportunidade e das matérias arguíveis. A

suspensão ou não do curso da expropriação dependeria da plausibilidade das alegações e

eventualmente, da prestação de caução.

Samy Garson propôs, portanto, uma execução desjudicializada, mas com garantias ao

devedor. A tese que aqui se defende – desjudicialização da execução, a ser realizada por um

notário concursado e preparado para o exercício dos atos executivos, restando expressamente

garantido o acesso ao Poder Judiciário em casos de contrariedade – pode vir a abraçar a

cobrança de créditos hipotecários, deixando de existir, então, a multiplicidade de “opções”

que atualmente se verifica. O credor hipotecário dispõe de três meios para realizar seu crédito:

i) execução extrajudicial fundada no Decreto-Lei no

70/66; ii) execução judicial consoante o

rito especial previsto na Lei no 5.741/71; iii) execução judicial segundo o rito comum, com

base no artigo 585, inciso III, do Código de Processo Civil.114

113

GARSON, Samy. A Desjudicialização da Execução Hipotecária como Meio Alternativo de Recuperação

de Créditos. Universidade de Coimbra, 2006. Dissertação não publicada.

114 Não se deve deixar de mencionar a Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997, que “dispõe sobre o Sistema de

Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências”. Disponível

em: <http://www2.camara.gov.br/legin/fed/lei/1997/lei-9514-20-novembro-1997-365383-normaatualizada-pl.

html>. Acesso em: 1 jul. 2012.

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Em razão do que se sustenta, apesar de entender que a execução realizada na forma do

Decreto-Lei no 70/66 não ofende o princípio do monopólio de jurisdição, e tampouco do juiz

natural, percebe-se que há inquestionável ofensa aos princípios do contraditório e da ampla

defesa (devido processo legal), já que ao devedor não é assegurado o direito de discutir a

existência, certeza e exigibilidade do crédito antes da alienação do seu imóvel.

Nessa linha, a autora espera que o Supremo Tribunal Federal decida pela

inconstitucionalidade do Decreto, já que não lhe compete estabelecer as adequações

necessárias.115

Cabe ao Legislativo reavaliar a execução extrajudicial, e aqui se apresenta uma

proposta de lege ferenda de atividade jurisdicional executiva a ser realizada por agentes

delegados pelo Estado116

, mas com a garantia ao contraditório e à ampla defesa em razão da

previsão de uma fase específica para eventual oposição, antes da expropriação do bem, o que

por si só garantiria o devido processo legal.

3.1.2 Projetos de lei para a execução fiscal administrativa

O relatório Justiça em Números publicado pelo Conselho Nacional de Justiça

apresentou dados atualizados em relação às execuções fiscais no Brasil. Segundo o relatório,

dos 83,4 milhões de processos em trâmite na Justiça brasileira em 2010, 27 milhões eram

processos de execução fiscal, constituindo aproximadamente 32% do total. Desses processos,

88% (23,7 milhões) tramitavam na Justiça Estadual, colaborando para congestionar esse ramo

da justiça. Além disso, dentre os quase 48 milhões de processos pendentes – sem

movimentação e conclusão – da Justiça Estadual, aproximadamente 20,9 milhões (43,5%)

eram execuções fiscais. Se a análise restringir-se apenas aos processos em fase de execução

115

Vale ressaltar, no entanto, que apesar do posicionamento acadêmico exposto, admira-se a postura do Ministro

Gilmar Mendes. Com uma visão descolada da tese que aqui se defende, prefere-se a manutenção da execução

extrajudicial do crédito hipotecário ao retrocesso da judicialização da medida. O jurisdicionado pode, sim,

socorrer-se do Poder Judiciário para impedir expropriações injustas e ilegais. Mais se tem a perder do que a

ganhar com o reconhecimento da inconstitucionalidade do Decreto-Lei nº 70/66. Além disso, o julgamento da

compatibilidade ou não do decreto com a Constituição Federal é termômetro da mentalidade da nossa sociedade

(de juristas e jurisdicionados), considerando que se prega a necessidade de mudança cultural, abandono de

dogmas e reformulação de conceitos. 116

“A atividade jurisdicional do agente fiduciário engloba uma atividade jurisdicional”. VASCONCELLOS,

Pedro. Execução extrajudicial e judicial do crédito hipotecário no sistema financeiro da habitação. Rio de

Janeiro: Francisco Alves, 1976. p.19.

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no Brasil, o montante de casos de execução fiscal torna-se bem mais expressivo,

representando 76% do total de processos nessa fase processual.117

O relatório do CNJ, nessa parte, chega à seguinte conclusão: “A partir dos dados

relativos às execuções fiscais, observa-se que o combate à morosidade judicial no Brasil deve

envolver necessariamente o debate específico sobre a temática dos procedimentos de

execução fiscal, já que o enfrentamento dessa questão tem potencial de solucionar um dos

principais gargalos da justiça brasileira”118

.

Recente pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),

solicitada pelo Conselho Nacional de Justiça e publicada em 4.1.2012, apresenta dados

alarmantes sobre o custo (e o benefício) das execuções fiscais e sugere que seja estabelecido

novo piso equivalente ao dobro do atual:

Pode-se afirmar que o custo unitário médio total de uma ação de execução

fiscal promovida pela PGFN junto à Justiça Federal é de R$ 5.606,67. O

tempo médio total de tramitação é de 9 anos, 9 meses e 16 dias, e a

probabilidade de obter-se a recuperação integral do crédito é de 25,8%.

Considerando-se o custo total da ação de execução fiscal e a probabilidade

de obter-se êxito na recuperação do crédito, pode-se afirmar que o breaking

even point, o ponto a partir do qual é economicamente justificável promover-

se judicialmente o executivo fiscal, é de R$ 21.731,45. Ou seja, nas ações de

execução fiscal de valor inferior a este, é improvável que a União consiga

recuperar um valor igual ou superior ao custo do processamento judicial.119

O cenário apresentado é alarmante, mas não é novo, razão pela qual desde o ano de

2005 tramitam perante a Câmara dos Deputados Federais projetos de lei com diferentes

propostas visando o aperfeiçoamento das execuções fiscais, já que comprovadamente – por

meio dos muitos índices que cada um desses projetos apresenta – o poder público é o

principal responsável pela sobrecarga de trabalho do Poder Judiciário.

Em 6.7.2005, o Deputado Federal Celso Russomanno (PP/SP) apresentou o Projeto de

Lei nº 5.615/2005, dispondo sobre “a cobrança administrativa do crédito da Fazenda Pública”.

117

Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/sum_exec_por_jn2010.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2011.

118 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/sum_exec_por_jn2010.pdf>.

Acesso em: 20 mar. 2011.

119 <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/120103_comunicadoipea 127.pdf>. Acesso

em: 10 jan. 2012.

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O primeiro projeto de desjudicialização da execução fiscal foi arquivado em 24.6.2010 a

pedido do autor, justificado pelo fato de haver outras propostas legislativas sobre o mesmo

tema tramitando na Casa.120

-121

Em 12.11.2007, o Deputado Federal Regis de Oliveira (PSC/SP) apresentou o Projeto

de Lei nº 2.412/2007, dispondo sobre “a execução administrativa da Dívida Ativa da União,

dos Estados, Municípios, de suas respectivas autarquias e fundações públicas”. A justificativa

propõe uma mudança de paradigmas e a atribuição de parcela do poder de império do Estado

a outro e determinado órgão de sua estrutura, fazendo-se a translação da competência do

agente público dele hoje encarregado – o juiz – para um titular do órgão da Fazenda Pública,

designado especificamente para essa atribuição e sujeito a todas as responsabilidades dela

decorrentes. A justificativa não deixa de reafirmar o compromisso com as garantias do livre e

amplo acesso ao Poder Judiciário, uma vez que a translação do processamento das execuções

fiscais para a esfera administrativa em nenhuma medida feriria o princípio assegurado no

inciso XXXV do artigo 5º da Constituição Federal. Destaca-se parte do referido texto:

A atividade de execução, com efeito, tem natureza muito mais administrativa

do que jurisdicional. Com exceção de alguns poucos aspectos em que há

realmente uma decisão judicial, solucionando controvérsia efetiva entre as

partes litigantes – e que se processam por meio de embargos – pode-se

afirmar que a principal atividade do juiz, ao conduzir a atividade de

execução, é de cunho nitidamente administrativo. A autoridade judicial atua

sobretudo fazendo aplicar a legislação, fazendo atuar a vontade da lei. Nada

mais natural, nessa ordem de ideias, do que transferir esses atos para a esfera

administrativa propriamente dita, onde estarão mais adequadamente

localizados. (...) Embora o eixo principal da tramitação das execuções fiscais

esteja sendo transferido, da competência do Judiciário para a do Executivo, a

proposta toma o cuidado de garantir o acesso do contribuinte às vias

judiciais, por meio de embargos à execução fiscal e à adjudicação ou à

arrematação. Está assim assegurada a possibilidade de o executado submeter

sua causa ao julgamento do juiz. Mas ao juiz fica reservada, enfim, a

atividade estritamente jurisdicional – que é de interpretar e julgar.122

Referido projeto de lei implica larga desjudicialização do poder de império, e essa

opção legislativa está estampada na ementa, projeto e justificativa. Outros projetos foram

120

Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=293488>.

Acesso em: 12 mar. 2012.

121 Adler Baum e Liziane dos Santos analisaram a constitucionalidade do referido projeto em: BAUM, Ader;

SANTOS, Liziane dos. Uma leitura constitucional sobre a desjudicialização da execução fiscal. In: IOB -

repertório de jurisprudência: tributário, constitucional e administrativo. v. 1, n. 18, set. 2007. São Paulo:

Síntese, 2007. p.756-3.

122 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=376419

&ord=1>. Acesso em: 12 mar. 2012.

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apresentados, mas sem revelar claramente tal opção. O Projeto de Lei nº 5.080/2009 não

informa claramente em sua justificativa que o agente administrativo estaria habilitado a

realizar constrição de bens, mas a leitura dos artigos denota a ampla desjudicialização

proposta.

No final de 2004, um anteprojeto de lei relativo à execução fiscal, de autoria de uma

comissão formada no âmbito do Conselho da Justiça Federal, sob coordenação do Ministro

Teori Albino Zavascki, foi encaminhado ao então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.

O anteprojeto contava com 18 artigos, que em seu conjunto formavam uma proposta

interessantíssima, aplaudida por muitos juristas, destacando-se Humberto Theodoro Júnior123

e Artur César de Souza124

.

Segundo aquele anteprojeto, haveria integração da fase administrativa de cobrança do

crédito público com a subsequente fase judicial, reservando-se ao exame e atuação do Poder

Judiciário apenas as demandas que, sem solução extrajudicial, tivessem alguma base

patrimonial comprovada para a execução forçada. Na fase administrativa deveria haver

notificação ao devedor acerca da inscrição da dívida, quando então ocorreria a interrupção da

prescrição.

Desobrigados de ajuizar execuções fiscais destinadas apenas a obstar a consumação da

prescrição, os órgãos fazendários deveriam desviar sua atenção para a identificação do

patrimônio penhorável do devedor, de forma a viabilizar, se for o caso, a execução forçada.

Diante da exigência de que da petição inicial constasse, necessariamente, a indicação dos bens

a serem penhorados, a esfera judicial somente seria chamada a atuar se houvesse utilidade, ou

seja, se houvesse efetiva chance de êxito no recobro da dívida.

No entanto, tal anteprojeto sofreu alterações idealizadas por vários grupos de trabalho

do Poder Executivo125

, conforme se denota da justificativa, alcançando-se a redação que foi,

123

THEODORO JÚNIOR, Humberto. O anteprojeto de nova lei de execução fiscal. In: Revista de Processo. v.

30, n. 126, ago. 2005. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.22-39.

124 SOUZA, Artur César de. Análise da problemática jurídica dos novos anteprojetos de lei de execução fiscal:

aspectos inovadores e controvertidos. In: Revista de Processo. v. 33, n. 166, dez. 2008. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2008. p.85-117.

125 “Ao contrário do que se poderia supor, o Estado tampouco está satisfeito com os rumos tomados pelas

execuções fiscais, em geral infrutíferas para o Fisco, não obstante todos os privilégios de que dispõe, o que tem

levado ao desenvolvimento em certos círculos governamentais de projetos de reforma legislativa que propõem a

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então, apresentada na Câmara Federal em 20.4.2009 – hoje PL nº 5.080/2009126

. Nessa

mesma data o Poder Executivo apresentou outros dois projetos de lei na mesma Casa, ambos

relacionados à execução fiscal – PL nº 5.081/2009127

e PL nº 5.082/2009128

. Todos esses

projetos estão apensados ao Projeto de Lei nº 2.412/2007.

Voltando ao Projeto de Lei nº 5.080/2009, é importante registrar que a sua redação

legislativa também implica em ampla desjudicialização do poder de império. Adicionalmente

ao quanto já mencionado, o projeto propôs a realização de atos de constrição patrimonial e

avaliação de bens diretamente pela Administração Tributária, inclusive de valores depositados

em contas bancárias via Banco Central. O ajuizamento da execução fiscal por parte da

Fazenda Pública passaria a ter o requisito da efetiva constrição patrimonial “preparatória”.

Vale ressaltar ainda a previsão da apresentação, no âmbito administrativo, da impugnação de

pré-executividade, a ser julgada pela Fazenda Pública.

Apensados, todos esses projetos são objeto de análise da Comissão de Constituição e

Justiça e da Cidadania (CCJC), sob a relatoria do Deputado Federal Sandro Mabel (PR-GO),

desde 16.3.2010.

sua desjudicialização, com a criação de uma modalidade de execução administrativa”. GRECO, Leonardo. As

garantias fundamentais do processo na Execução Fiscal. In: LOPES, João Batista; CUNHA, Leonardo José

Carneiro (Coord.). Execução civil (aspectos polêmicos). São Paulo: Dialética, 2005. p.250.

126 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=431260>.

Acesso em: 12 mar. 2012.

127 Conforme justificativa, “O anteprojeto ora encaminhado tem por escopo específico ampliar as formas

extrajudiciais de quitação dos débitos fiscais, reduzindo a litigiosidade, prevenindo contendas judiciais e

permitindo uma maior eficiência no processo de arrecadação de créditos tributários e não-tributários inscritos em

dívida ativa da União. Neste contexto, são veiculados: a possibilidade de prestação de garantias extrajudiciais, a

oferta de bens imóveis em pagamento, o parcelamento e pagamento a vista de débitos de pequeno valor, a

contratação de instituições financeiras para promover a satisfação amigável de créditos inscritos em dívida ativa

no âmbito federal em determinadas alçadas de valor, a redução escalonada do encargo legal previsto no art. 1º do

Decreto-Lei no 1.025, de 21 de outubro de 1969, a classificação sob os critérios de economicidade e eficiência

dos créditos inscritos em dívida ativa e a alteração da Lei nº 9.703, de 17 de novembro de 1998, para permitir a

sua aplicação aos créditos não-tributários inscritos em dívida ativa e a conversão imediata em renda dos valores

depositados na forma da legislação anterior”. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/

fichadetramitacao? idProposicao=431261>. Acesso em: 12 mar. 2012. 128

Conforme justificativa, “10. O anteprojeto prevê quatro modalidades de transação - a transação em processo

judicial; a transação em insolvência civil, recuperação judicial e falência; a transação por recuperação tributária e

a transação administrativa por adesão, além de prever que o termo de transação poderá ser condicionado à

exigência de assinatura de termo de ajustamento de conduta, prévio, suplementar ou incluso no próprio termo de

transação, que especificará as condições para o cumprimento das obrigações e demais deveres tributários

assumidos, inclusive prazos ou procedimentos a serem observados. 11. Caberá à Câmara-Geral de Transação e

Conciliação - CGTC, vinculada à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e composta paritariamente por

procuradores da Fazenda Nacional e por auditores-fiscais da Receita Federal do Brasil, disciplinar, analisar e

deliberar sobre os pedidos de transação”. <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?

idProposicao=431269>. Acesso em: 12 mar. 2012.

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Apesar de defender a possibilidade da delegação do poder de império do Estado, o que

se questiona é a independência e imparcialidade do funcionário do fisco para realizar os atos

de constrição, conforme previsão dos referidos projetos. Diego Martinez Fervenza Cantoario

traça um paralelo entre o que se propõe e o contencioso administrativo europeu, alertando que

naquele sistema é exigida total imparcialidade das autoridades administrativas não

jurisdicionais que dispõem de poderes de sanção.129

-130

No Brasil, no entanto, além de haver uma rigorosa obediência da hierarquia entre os

funcionários da Administração em detrimento da estrita legalidade131

, parece difícil confiar na

imparcialidade se o mesmo órgão que faz a inscrição e a extração da competente Certidão de

Dívida Ativa é aquele que se pretende habilitar para a realização da execução administrativa,

em ato contínuo à notificação para pagar, parcelar ou oferecer garantia, no prazo de 60 dias

(art. 5º, do PL nº 5.080/2009). Caso o devedor não tome providências, a Fazenda Pública

iniciará atos de constrição preparatória, que serão submetidos, a porteriori, ao controle do

Poder Judiciário (arts. 3º e 5º, § 6º, do mesmo PL).

Aquele que exerce imparcialmente a jurisdição – o juiz – deve ser, nas palavras de

Cassio Scarpinella Bueno, “um terceiro, totalmente estranho, totalmente indiferente à sorte do

julgamento e ao destino de todos aqueles que, direita ou indiretamente, estejam envolvidos

nele”132

. A mesma neutralidade é exigida na prestação da tutela jurisdicional executiva.

A jurisdição, conforme se tem defendido, não necessariamente precisa ser realizada

pelo juiz, mas por um terceiro imparcial, independente e equidistante de ambas as partes.

Ainda que se questione a falta de regulamentação a respeito da eleição do agente fiduciário

129

Sobre o sistema do contencioso administrativo europeu: CANTOARIO, Diego Martinez Fervenza.

Considerações sobre o Projeto de Lei 5.080/2009 – A nova Lei de Execução Fiscal. In: Revista Tributária e de

Finanças Públicas. v. 18, n. 91, mar-abr. 2010. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p.16-21.

130 Um dos países mais desenvolvidos da Europa, a Suécia, clamou pela separação do poder de inscrever o

crédito fiscal e de executá-lo, em prol da imparcialidade. A esse respeito, reporta-se ao subtítulo 4.5.

131 GRECO, Leonardo. As garantias fundamentais do processo na execução fiscal. In: LOPES, João Batista;

CUNHA, Leonardo José Carneiro (Coord.). Execução civil (aspectos polêmicos). São Paulo: Dialética, 2005.

p.251. 132

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito

processual civil, v.1. São Paulo: Saraiva, 2008. p.118.

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habilitado a realizar os atos de constrição nos termos do Decreto-Lei nº 70/66, fato é que as

partes assinam um contrato, anuindo com a nomeação. Espera-se sua imparcialidade.

O agente de execução – em procedimento apartado do Poder Judiciário – também deve

atuar de modo imparcial, garantindo-se que os atos de constrição sejam realizados de forma

justa, honesta e destacada de qualquer interesse ou influência. Não se vislumbra nos projetos

de lei de desjudicialização da execução fiscal em trâmite na Câmara dos Deputados esse

distanciamento ou afastamento dos procuradores da Fazenda dos interesses da causa.

O que se percebe é a total “ausência de confiança de que a Administração Pública no

Brasil seja capaz de implantar um sistema de fiscalização e apuração de débitos fiscais dotado

da necessária impessoalidade e capaz de assegurar aos contribuintes e responsáveis, perante

ela própria, o contraditório e a ampla defesa”133

.

Além disso, não se pode concordar que a medida proposta seja efetiva. A atual

estrutura organizacional e administrativa dos órgãos fazendários não consegue atender sequer

as atividades de sua competência originária, quanto mais aquelas que pretende assumir. A

deficiência que se verifica no trâmite das execuções fiscais – processos “parados” por falta de

indicação de bens para penhora – é da própria Fazenda Pública e não do Poder Judiciário.

Simples medidas adotadas pela administração pública poderiam agilizar o processo executivo

fiscal, especialmente aquelas relacionadas à gestão adequada do seu banco de dados.134

A proposta de lege ferenda de atividade jurisdicional executiva a ser realizada por

agentes delegados pelo Estado, com garantia de imparcialidade, pode ser uma alternativa

muito mais adequada para as execuções fiscais, ainda que em um primeiro momento esse tipo

de crédito não esteja englobado no presente estudo. Por tal proposta, outra deficiência estatal

seria sanada, uma vez que os próprios agentes de execução, dotados de sistemas de

informação de dados e bens, seriam responsáveis por localizar o devedor e o patrimônio

passível de constrição, tornando a execução fiscal, assim, útil e eficaz.

133

GRECO, Leonardo. As garantias fundamentais do processo na execução fiscal. In: LOPES, João Batista;

CUNHA, Leonardo José Carneiro (Coord.). Execução civil (aspectos polêmicos). São Paulo: Dialética, 2005.

p.250.

134 MAIA JÚNIOR, Mairan Gonçalves. Considerações críticas sobre o anteprojeto da lei de execução fiscal

administrativa. In: Revista CEJ. v. 11, n. 38, jul-set. 2007. Brasília: CEJ, 2007. p.18-21

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3.1.3 Privatização da alienação de bens

A Lei nº 11.382/2006, que reformou a execução de título extrajudicial, incluiu no

Código de Processo Civil em vigor o artigo 685-C, regulamentando assim a alienação de bens

por iniciativa particular:

Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exeqüente

poderá requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por

intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária.

§ 1o O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de

publicidade, o preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as

garantias, bem como, se for o caso, a comissão de corretagem.

§ 2o A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz,

pelo exeqüente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado,

expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro

imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente.

§ 3o Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento

da alienação prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios

eletrônicos, e dispondo sobre o credenciamento dos corretores, os quais

deverão estar em exercício profissional por não menos de 5 (cinco) anos.”

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por meio do provimento CSM nº

1496/2008, detalhou o procedimento da alienação por iniciativa particular, conforme o

parágrafo 3º do mencionado artigo.135

135

RESOLVE: Artigo 1º. Na execução por quantia certa, não tendo havido manifestação de interesse pela

adjudicação, mediante requerimento expresso, proceder-se-á à alienação por iniciativa particular, a ser realizada

pelo próprio exeqüente ou por intermédio de corretor ou leiloeiro credenciado no juízo da execução. Artigo 2º.

Serão considerados habilitados e cadastrados para intermediar a alienação por iniciativa particular os corretores e

leiloeiros que promoverem seu credenciamento no juízo da execução, na forma disciplinada pelo Provimento CG

nº 797/2003, observado o tempo mínimo de exercício profissional exigido pelo § 3º, parte final, do art. 685-C do

Código de Processo Civil. Artigo 3º. No requerimento de expropriação por meio da alienação por iniciativa

particular, esclarecerá o exeqüente se ultimará pessoalmente o procedimento, ou se o fará por intermédio de

corretor ou leiloeiro credenciado no juízo, na forma disciplinada no artigo anterior. § 1º – A comissão do corretor

ou leiloeiro será fixada pelo juiz, em montante não superior a 5% sobre o valor da transação, ressalvadas

circunstâncias especiais de cada caso concreto, e será suportada pelo proponente adquirente, o que deverá ser

objeto de advertência expressa na divulgação da alienação. § 2º – Em caso de pagamento parcelado, a comissão

devida será retida e paga proporcionalmente, à medida que as parcelas forem sendo adimplidas. Artigo 4º. Se o

exeqüente optar pela alienação mediante a intermediação e não indicar o profissional de sua preferência, o juiz o

nomeará, fixando desde logo o prazo no qual a alienação será efetivada, o preço mínimo (CPC, art. 680), as

condições de pagamento, as garantias para a hipótese de pagamento parcelado, bem assim a comissão devida,

observado o limite estabelecido no § 1º do artigo 3º deste provimento. § 1º – A falta de interessados no prazo

assinalado será comunicada ao juiz, que determinará as providências cabíveis, inclusive eventual dilação do

prazo, procedendo-se, se necessário, à atualização da avaliação. § 2º – Caso haja interessados na aquisição por

valor inferior ao da avaliação, as propostas serão consignadas nos autos para decisão judicial do incidente,

ouvidas as partes. Artigo 5º. A alienação por iniciativa particular será precedida de ampla publicidade,

preferencialmente por mídia eletrônica, desnecessária a publicação de editais. § 1º – As despesas de publicidade

correrão, de ordinário, por conta do profissional credenciado, ressalvando-se a possibilidade de serem carreadas

ao executado, à vista de circunstâncias particulares de cada caso, a serem apreciadas pelo juízo da execução.

Artigo 6º. A divulgação publicitária da alienação por iniciativa particular terá por conteúdo necessário todas as

informações sobre o procedimento e os bens a serem alienados, notadamente o seguinte: a.- número do processo

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Antes da Lei nº 11.382/2006, a expropriação de bens penhorados para satisfação da

dívida era feita, prioritariamente, pela arrematação em hasta pública. Somente quando não

houvesse arrematação é que o exequente poderia adjudicar o bem. A partir das modificações

levadas a cabo pela referida lei, conferiu-se prioridade à adjudicação. Não havendo

adjudicação, poderá, então, ser feita a alienação por iniciativa particular. Só em última

circunstância é designado leilão ou praça para a venda do bem.136

À primeira vista poderia se falar em desjudicialização de atividades do Poder

Judiciário e transferência para particulares. Considerando-se que a alienação dos bens

penhorados sempre foi realizada exclusivamente por certame público administrado pelo

magistrado e que hoje é realizada por particulares, poderia supor-se que o novo modo de

expropriação implicasse em deslocamento da atividade jurisdicional para além da esfera

estatal típica.

judicial e a Comarca onde se processa a execução; b.- data da realização da penhora; c.- a existência, ou não, de

ônus ou garantias reais; de penhoras anteriores sobre o mesmo imóvel, em outros processos contra o mesmo

devedor; de débitos fiscais federais, estaduais ou municipais e de eventual recurso pendente; d.- fotografias do

bem, sempre que possível, com a informação suplementar, em caso de imóvel, de estar desocupado ou ocupado

pelo executado ou por terceiro; e.- valor da avaliação judicial; f.- preço mínimo fixado para a alienação; g.- as

condições de pagamento e as garantias que haverão de ser prestadas, no caso de proposta para pagamento

parcelado; h.- a descrição do procedimento, notadamente quanto ao dia, horário e local em que serão colhidas as

propostas; i.- a informação de que a alienação será formalizada por termo nos autos da execução; j.- a

informação de que a alienação poderá ser julgada ineficaz, se não forem prestadas as garantias exigidas pelo

juízo; se o proponente provar, nos cinco dias seguintes à assinatura do termo de alienação, a existência de ônus

real ou gravame até então não mencionado; se a alienação se realizar por preço que vier a ser considerado pelo

juízo como vil; e nos casos de ausência de prévia notificação da alienação ao senhorio direto, ao credor com

garantia real ou com penhora anteriormente averbada, que não seja de qualquer modo parte na execução (CPC,

art. 698); k.- o nome do corretor ou do leiloeiro responsável pela intermediação, com endereço e telefone; l.- a

comissão devida, arbitrada pelo juiz em percentual do valor da alienação, a cargo do proponente; m.- outras

informações que se mostrarem relevantes para o aperfeiçoamento do procedimento de alienação por iniciativa

particular. Artigo 7º. Não se harmonizando as propostas com as condições fixadas pelo juízo para a efetivação da

alienação por iniciativa particular, a questão será submetida à apreciação judicial, ouvidas as partes. Artigo 8º. O

escrivão-diretor lavrará termo de alienação, que será subscrito pelo juiz, pelo exeqüente, pelo adquirente e, se

estiver presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário,

ou, se o bem for móvel, mandado de entrega ao adquirente. § 1º – Até a formalização do termo, caberá a

remissão, na forma do art. 651 do Código de Processo Civil. § 2º – Para fins de registro imobiliário, a carta de

alienação deverá discriminar a localização do imóvel, sua descrição, mediante remissão ao número da matrícula

ou transcrição correspondente, e o nome do proprietário. Deverá ser instruída, ainda, com cópia do termo de

formalização lavrado nos autos e prova de quitação do imposto de transmissão. Artigo 9º. Sobrevindo oportuna

regulamentação do art. 689-A do Código de Processo Civil, na forma preconizada por seu parágrafo único,

ambos com a redação dada pela Lei nº 11.232/05, a alienação por iniciativa particular poderá perfazer-se em

ambiente virtual, observado o regramento específico de tal procedimento, a ser previamente autorizado pelo

juízo da execução. Artigo 10o.

Este provimento entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário. <http://www.dje.tjsp.jus.br/cdje/index.do>. Acesso em: 12 mar. 2012. 136

CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A alienação por iniciativa particular. In: Revista de Processo, ano 34,

n. 174, ago. 2009. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.51-2.

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A inferência não é verdadeira, mas a autora entende que esse é mais um exemplo da

tendência da delegação de atividades burocráticas que historicamente estiveram sob a égide

do juiz para a iniciativa privada.

Dois grandes processualistas afirmam que o fato da expropriação ser promovida pelo

próprio exequente ou pelo corretor profissional credenciado não retira o caráter jurisdicional

do ato. Humberto Theodoro Júnior lembra que a expropriação é judicial uma vez que operada

sob a intervenção do Poder Judiciário: “É o juiz que, afinal, irá promover a transferência do

bem do domínio do executado para o do adquirente. Esse ato jurídico processual aperfeiçoa-se

por meio de termo lavrado nos autos da execução pelo escrivão do feito e subscrito pelo juiz,

pelo exequente e pelo adquirente”137

. Eduardo Talamini entende que a reforma não afetou a

natureza jurídica do ato, mas apenas regulamentou a delegação da tarefa da venda do bem

expropriado138

.

Ambos, Theodoro Júnior e Talamini, entendem que se trata de expropriação judicial

em razão da ausência de consentimento do proprietário. Para a autora, como vem defendendo,

o ponto nodal da questão não está no fato da transferência ser realizada sem o consentimento

do devedor, mas por ordem e supervisão do Poder Judiciário. Conclui-se que a alienação por

iniciativa particular apenas retrata um grau maior de privatização da tarefa de realizar a

alienação, não sendo possível falar-se em desjudicialização propriamente dita.

3.2 Desjudicialização do poder de dizer o direito

3.2.1 Arbitragem

Após uma longa e complicada tramitação, a Lei da Arbitragem (Lei n° 9.307/96) foi

promulgada no Brasil, regulamentando esse meio alternativo ao Judiciário para resolução de

conflitos que não envolvam direitos indisponíveis. As partes estabelecem em contrato que,

caso haja discórdia em determinado assunto, um juízo arbitral será instaurado para a solução

da controvérsia. A sentença arbitral tem a mesma força da sentença judicial.

137

THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,

2007. p.128.

138 TALAMINI, Eduardo. Alienação por iniciativa particular como meio expropriatório executivo (CPC, art.

685-C, acrescido pela Lei 11.382/2006). In: Revista Jurídica, ano 57, n. 385, nov. 2009. Porto Alegre: Notadez,

2009. p.33.

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62

A Lei no 9.307/96, no entanto, já nasceu tendo sua constitucionalidade questionada em

razão do princípio do monopólio estatal da jurisdição (artigo 5º, inciso XXXV, da

Constituição Federal), que assegura a todos o direito fundamental de acesso ao Judiciário para

garantir-lhes a tutela jurisdicional contra lesão ou ameaça de lesão a direitos.

Para enfrentar as “críticas, especialmente de processualistas ortodoxos que não

conseguem ver atividade processual – e muito menos jurisdicional – fora do âmbito da tutela

estatal estrita”139

, muitos doutrinadores sustentaram, por vários aspectos, a

constitucionalidade da arbitragem.140

O principal argumento de defesa é que não há qualquer

inconstitucionalidade na renúncia voluntária à jurisdição estatal, devendo sempre ser

respeitada a autonomia das partes.141

Até mesmo porque a prestação jurisdicional constitui um

direito dos jurisdicionados, e não uma obrigação de levar ao conhecimento do Poder

Judiciário toda e qualquer contenda que se desenvolva entre pessoas físicas ou jurídicas.142

-143

139

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3. ed. São Paulo:

Atlas, 2009. p.26.

140 Sálvio de Figueiredo elencou seis razões pelas quais seria a Lei 9.307/96 constitucional, sempre no sentido de

que o acesso ao Judiciário permanecia garantido para casos de declaração de nulidades, execução forçada,

resistência de uma das partes etc. TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A arbitragem como meio de solução de

conflitos no âmbito do Mercosul e a imprescindibilidade da Corte Comunitária. In: Revista Jurídica, n. 236,

jun. 1997. São Paulo: Síntese, 2007. p.23-4; Da mesma forma o fez Nilton César da Costa: “(...) é indubitável a

constitucionalidade da Lei 9.307/96, o que se justifica pelas razões sucintamente lançadas: a) desmistificação do

monopólio estatal da jurisdição, que também se estende ao(s) árbitros(s); b) autonomia da vontade para acionar

ou renunciar a jurisdição estatal (opção do jurisdicionado); c) as partes podem dispor livremente dos bens

patrimoniais; d) a própria lei da arbitragem admite em seu bojo mecanismos de intervenção do Poder Judiciário

em determinadas circunstâncias, v.g., nulidades, execução forçada, direitos indisponíveis, efetivação das tutelas

de urgência (arts. 22 §§2º e 4º, 32, 33 e parágrafos, todos da Lei 9.307/96); e) em casos de recalcitrância por

parte daquele que contratou a cláusula compromissória, o compromisso de arbitragem deve ser realizado

judicialmente (art. 7º).” COSTA, Nilton César da. Poderes do árbitro: de acordo com a Lei 9.307/96. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.52.

141 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1999. p.168-9; GERAIGE NETO, Zaiden. O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional: art. 5º,

inciso XXXV, da Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.62; SANT’ANNA, Valéria

Maria. Arbitragem: Comentários à Lei 9.307 de 23.8.1996. São Paulo: Edipro, 1997. p.28; ROCHA, José de

Albuquerque. Lei de Arbitragem (uma avaliação crítica). São Paulo: Malheiros, 1998. p.29-30; SILVA, José

Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.132.

142 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Breves considerações em torno da questão da inafastabilidade da

prestação jurisdicional. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Coord.). Estudos de Direito Processual Civil:

Homenagem ao Professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p.97.

143 “Capacidade de direito é a aptidão abstrata para ser sujeito de poderes, direitos e obrigações inerente a todo

ser humano. Capacidade de fato ou de exercício é, porém, a aptidão para exercitar tais poderes, direitos e

obrigações. De modo que uma pessoa pode ser titular de poderes e não ter seu exercício ou deferi-los a terceiro.

Pois bem, é justamente isso que acontece com a jurisdição.” ROCHA, op. cit., p.29.

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63

Todo o esforço da doutrina não se mostrou suficiente. O Supremo Tribunal Federal foi

chamado a pronunciar-se sobre a constitucionalidade do juízo arbitral e, ao julgar três casos

de homologação de sentença estrangeira144

, decidiu expressamente acerca da

constitucionalidade da Lei no 9.307/96, pelo menos no que tange às suas normas

procedimentais.145

No entanto, as vozes da inconstitucionalidade não pararam de soar, uma vez não ter

havido manifestação pontual acerca dos artigos mais críticos da lei, como aqueles que

equiparam i) a atividade do árbitro à do juiz e ii) a sentença arbitral à sentença judicial.

Assim, provocada novamente, a Suprema Corte, no julgamento da Sentença Estrangeira nº

5206-Agr/Reino da Espanha (rel. Min. Maurício Correa), em 30.4.2004, enfrentou a tese a

fundo e decretou a constitucionalidade de vários dispositivos da Lei nº 9.307/96, justificando

seu entendimento no indispensável respeito à vontade manifestada pela parte ao subscrever a

cláusula compromissória, quando da celebração do contrato. Finalmente, foi sacramentada a

constitucionalidade do juízo arbitral, a principal hipótese de desjudicialização do poder de

dizer o direito.

Outra questão animou os estudiosos do então novo instituto, qual seja, a sua natureza

jurídica. Em um primeiro momento, a doutrina defendia duas correntes antagônicas, dividindo

opiniões: natureza contratual (privada) da arbitragem, por um lado, e natureza jurisdicional

(pública), por outro. Em um segundo momento, a doutrina passou a conciliar as duas

correntes, sustentando a natureza jurídica sui generis da arbitragem, uma vez que ela nasce da

vontade das partes (privada) e se encerra com um comando que as obriga (pública).146

144

Sec 5847/In – Grã-Bretanha (Inglaterra), rel. Min. Maurício Correa, em 1.12.1999 – DJ 17.12.99, p.0004; Sec

5378/Fr – França, rel. Min. Maurício Correa, em 3.2.2000 – DJ 25.02.2000, p.00054; Sec 5828/No – Noruega,

rel. Min. Ilmar Galvão, em 6.12.2000, DJ 23.2.01, p.00084.

145 SILVEIRA, Paulo Fernando. Tribunal Arbitral: Nova Porta de Acesso à Justiça. Curitiba: Juruá, 2006. p.59.

146 Também chamada de “natureza jurisdicional híbrida, sendo na sua primeira fase contratual e na segunda

jurisdicional. A base contratual da arbitragem é o compromisso, de caráter estritamente consensual e que

estabelece as diretrizes do juízo arbitral que institui. O laudo arbitral, embora tenha nele seus fundamentos e

limites, não o integra e, ao equiparar-se à sentença judicial, seus efeitos passam a decorrer da lei, e não da

vontade das partes.” MORAIS, José Luis de Bolzan de; SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e Arbitragem:

alternativa à jurisdição. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p.186. No mesmo sentido:

CRETELLA NETTO, José. Curso de arbitragem: arbitragem comercial, arbitragem internacional, lei brasileira

de arbitragem, instituições internacionais de arbitragem, convenções internacionais de arbitragem. Rio de

Janeiro: Forense, 2004. p.15-6.

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64

Muitos professores da matéria apontaram a existência dessas correntes, de forma

acadêmica, mas não sem concluir e posicionar-se pela natureza jurisdicional, de caráter

privado, da arbitragem.147

Considerado um dos maiores estudiosos do assunto, relevante o

registro da posição de Carlos Alberto Carmona148

:

O art. 31 determina que a decisão final dos árbitros produzirá os mesmos

efeitos da sentença estatal, constituindo a sentença condenatória título

executivo que, embora não oriundo do Poder Judiciário, assume a categoria

de judicial. O legislador optou, assim, por adotar a tese da jurisdicionalidade

da arbitragem. (...) É bem verdade que muitos estudiosos ainda continuam a

debater a natureza jurídica da arbitragem, uns seguindo as velhas lições de

Chiovenda para sustentar a idéia contratualista do instituto, outros preferindo

seguir ideais mais modernas, defendendo a ampliação do conceito de

jurisdição, de forma a encampar também a atividade dos árbitros; outros, por

fim, tentam conciliar as duas outras correntes. (...) O fato que ninguém nega

é que a arbitragem, embora tenha origem contratual, desenvolve-se com a

garantia do devido processo e termina com ato que tende a assumir a mesma

função da sentença judicial.

Cândido Rangel Dinamarco afirma já ter sustentado o caráter jurisdicional da

arbitragem, mas diz hoje entender tratar-se de atividade parajurisdicional em razão do escopo

social pacificador da arbitragem – o que certamente a aproxima da jurisdição estatal.149

Na

mesma linha, defende Sálvio de Figueiredo Teixeira que o árbitro contribui para a pacificação

social, dirimindo conflitos, razão pela qual deve ter o exercício da jurisdição reconhecido,

ainda que “sob certa perspectiva, no sentido lato”150

. Flávio Yarshell, por sua vez, qualifica a

arbitragem com um equivalente jurisdicional.151

147

NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 8. ed. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2004. p.110; ALVIM, José Eduardo Carreira. Direito Arbitral. Rio de Janeiro: Forense, 2004.

p.46; FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1999. p.151-8; COSTA, Nilton César da. Poderes do Árbitro: de acordo com a Lei 9.307/96. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2002. p.56-8; ROCHA, José de Albuquerque. Lei de Arbitragem – uma avaliação

crítica. São Paulo: Malheiros, 1998. p.27-8; MORAIS, José Luis de Bolzan de; SPENGLER, Fabiana Marion.

Mediação e Arbitragem: alternativa à jurisdição. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p.183-8;

SANT’ANNA, Valéria Maria. Arbitragem: Comentários à Lei 9.307 de 23.9.96. São Paulo: Edipro, 1997. p.27.

VALÉRIO, Marco Aurélio Gumieri. Arbitragem no direito brasileiro: lei nº 9.307/96. São Paulo: Universitária

de Direito, 2004. p.110.

148 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3. ed. São Paulo:

Atlas, 2009. p.26-7.

149 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova Era do Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. p.38-9.

150 TEIXEIRA, Salvio de Figueiredo. A arbitragem como meio de solução de conflitos no âmbito do Mercosul e

a imprescindibilidade da Corte Comunitária. In: Revista Jurídica, n. 236, jun. 1997. São Paulo: Síntese, 2007.

p.24.

151 YARSHELL, Flávio Luiz. Tutela jurisdicional. São Paulo: Atlas, 1999. p.128.

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65

A autora entende que o legislador equiparou o juízo arbitral ao juízo estatal152

,

inserindo a arbitragem entre os meios de tutela jurisdicional. Há de se considerar que a

sentença arbitral tem os mesmos efeitos da sentença judicial153

, ou seja, faz coisa julgada

entre as partes e possibilita a execução forçada, no caso do seu não cumprimento espontâneo.

Para Joel Dias Figueira Júnior,

a justiça estatal e a justiça arbitral são dois modos distintos de jurisdição e,

portanto, de composição de conflitos. Magistrados e árbitros, são todos os

dois juízes; apenas um é juiz público, nomeado pelo Estado, enquanto o

outro um juiz privado, escolhido pela partes. Idêntica as suas funções, sendo

que a do árbitro decorre de investidura contratual. Justiça arbitral e justiça

estadual distinguem-se apenas pelos órgãos que as exercem.154

Apesar dessa equivalência, uma diferença deve ser registrada: os árbitros possuem o

poder de conhecer da demanda (cognitio) e de dizer o direito (iurisdictio), mas não possuem o

poder de impor o cumprimento de suas decisões coercitivamente (executio e coertio), e nesse

ponto dependem da colaboração dos órgãos do Poder Judiciário. O árbitro não possui o poder

de império para exigir o cumprimento de sua decisão155

, mas esse fato não retira do juízo

arbitral sua função jurisdicional, até mesmo porque, conforme aqui se defende, a execução

também pode ser delegada.

Por fim, faz-se necessário registrar que esse meio alternativo de resolução de conflitos

foi amplamente aceito pela sociedade, principalmente quando envolvidos negócios – questões

contratuais e societárias. Arnoldo Wald afirmou, em reportagem concedida em 31.5.2011, que

o Brasil aparece em 4º lugar no ranking dos países usuários da arbitragem internacional –

perdendo apenas para França, Estados Unidos e Canadá.156

152

“O árbitro exerce verdadeira jurisdição estatal, razão por que o processo arbitral não pertence ao direito

privado, mas ao processual e, pois, ao direito público.” NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil

na Constituição Federal. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p.118-9.

153 RICCI, Edoardo Flavio. Lei de arbitragem brasileira: oito anos de reflexão: questões polêmicas. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2004. p.35.

154 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, Jurisdição e Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1999. p.154.

155 MORAIS, José Luis de Bolzan de; SPENGLER, Fabiana Marion. Mediação e Arbitragem: alternativa à

jurisdição. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p.180.

156WALD, Arnoldo. Brasil é 4º no mundo em negócios feitos por arbitragem. Disponível em:

<http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2011/05/31/brasil-e-o-4%C2%BA-no-mundo-em-negocios-feitos-por-

arbi tragem/>. Acesso em: 18 out. 2011.

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66

Infelizmente não existem dados atualizados sobre o número de procedimentos arbitrais

realizados no Brasil, já que o órgão competente – Conselho Nacional das Instituições de

Mediação e Arbitragem (CONIMA) – descuidou de sua missão. A última análise foi realizada

em 2003, quando havia, então, um crescimento anual de 3% a 5% na adoção da arbitragem

como alternativa à Justiça Estadual.

Em contato com as principais câmaras de arbitragem da cidade de São Paulo, notou-se

existir uma curva sempre ascendente em todos os gráficos relativos aos números de

arbitragens domésticas realizadas – que não passam de centenas, provavelmente em razão dos

altos custos envolvidos. Os referidos gráficos correspondem aos Anexos I a III, ao final deste

trabalho, na seguinte ordem: Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), Câmara de

Arbitragem São Paulo (CIESP/FIESP) e Câmara Americana de Comércio (Amcham).

3.2.2 Recuperação extrajudicial

A Lei nº 11.101/2005 (Lei de Recuperação Judicial, Falência e Recuperação

Extrajudicial), mais especificamente nos seus artigos 161 a 167, inovou ao regulamentar a tão

praticada “concordata branca”. Em resumo, trata-se da possibilidade de o devedor negociar

extrajudicialmente com os seus principais credores, e conjuntamente aprovar um plano de

pagamento das dívidas, dentro das reais possibilidades do devedor. Entabulado o plano de

recuperação extrajudicial, ele pode ser levado ao Judiciário para homologação.157

Há duas modalidades de recuperação extrajudicial, quais sejam, i) aquela prevista no

artigo 162158

da lei, que vincula apenas os credores que aderiram ao plano de pagamento e ii)

aquela regulamentada pelo artigo 163159

da lei, cujo plano é assinado por 3/5 dos credores de

cada classe e obriga a minoria discordante. Em qualquer caso, a sentença de homologação do

plano de recuperação extrajudicial constitui título executivo judicial.

157

MANDEL, Julio Kahan. Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas anotada: Lei n. 11.101, de

9.2.2005. São Paulo: Saraiva, 2005. p.5.

158 “Art. 162. O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial,

juntando sua justificativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores

que a ele aderiram.”

159 “Art. 163. O devedor poderá, também, requerer a homologação de plano de recuperação extrajudicial que

obriga a todos os credores por ele abrangidos, desde que assinado por credores que representem mais de 3/5 (três

quintos) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos. (...)”

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67

“Para evitar que os destemperados se tornem habituais fregueses dessas medidas

recuperatórias, que são destinadas aos empresários idôneos em fase de eventual crise

involuntária”160

, a lei estabeleceu requisitos subjetivos relativos ao devedor que pretende

usufruir dos benefícios da recuperação extrajudicial. São eles: i) exercer regularmente suas

atividades há mais de dois anos; ii) não ser falido e, se o foi, que estejam declaradas extintas,

por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; iii) não ter pendente,

em juízo, pedido de recuperação judicial; iv) se já houver obtido recuperação judicial ou

homologação de outro plano de recuperação extrajudicial, que tenham decorrido pelo menos

dois anos; v) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,

pessoa condenada por qualquer dos crimes falimentares.

Em relação aos credores, não podem participar da recuperação extrajudicial os

titulares de créditos trabalhistas, decorrentes de acidente de trabalho e tributários. Também

não podem tomar parte dos atos extrajudiciais o proprietário fiduciário, o arrendador

mercantil, o vendedor ou promitente vendedor de imóvel por contrato irrevogável ou o

vendedor com reserva de domínio, como também não a instituição que fez o adiantamento do

contrato de câmbio.161

No que é pertinente ao plano de recuperação, impõe-se observar que ele não pode i)

contemplar o pagamento antecipado de dívidas; ii) dar tratamento desfavorável aos credores

que a ele não estejam sujeitos; iii) acarretar suspensão de direitos, ações ou execuções; iv)

impedir pedidos de decretação de falência pelos credores não sujeitos ao plano de recuperação

extrajudicial; v) após a sua distribuição, facultar aos credores a desistência do plano.

Uma vez entabulado o plano de pagamento, ele poderá ser levado para apreciação do

Poder Judiciário. A sentença homologatória imprime ao ato extrajudicial força equivalente ao

ato que proviesse do órgão estatal − recuperação judicial.

Ainda que tímida, a lei sob comento retirou parcela de decisão do Poder Judiciário no

que se refere à recuperação de empresas em dificuldade econômica. Nesse sentido, vale a

transcrição da posição de José Emílio Nunes Pinto:

160

PACHECO, José da Silva. Processo de Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência: em conformidade

com a Lei n° 11.101/05 e a alteração da Lei n° 11.127/05. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p.428.

161 Ibid, p.429.

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68

Se comparada com a estrutura da antiga Lei de Falências, o instituto da

recuperação de empresas representa uma guinada em sentido diametralmente

oposto ao até então existente. Muito embora tenha optado o legislador por

criar um mecanismo sob o controle e a supervisão do Poder Judiciário e do

Ministério Público, na essência, no entanto, os credores e o devedor têm em

suas mãos a decisão. A nova legislação busca deixar aos interessados, em

primeiro lugar, o poder de optar pela melhor solução, atribuindo-lhes a

responsabilidade de encontrar uma saída construtiva para o desequilíbrio

sofrido pela empresa. O papel desempenhado pelo Poder Judiciário é

supletivo à ação dos credores e do próprio devedor.162

O poder de decisão passou para as mãos dos credores e devedores, de forma que houve

parcial deslocamento da atividade jurisdicional. No entanto, havendo a facultativa

homologação do plano já definido, decidido e aceito por todos os interessados, haverá então

atuação do Poder Judiciário, “irradiando, a partir daí, diversos efeitos, inclusive constitutivos,

por haver formação de um novo estado jurídico para o devedor”163

, de forma que não se pode

falar, nesse caso, em desjudicialização.

3.2.3 Retificação do registro imobiliário

A Lei nº 10.931, de 2.8.2004, em seu artigo 59, alterou a redação dos artigos 212, 213

e 214 da Lei nº 6.015, de 31.12.1973 − Lei de Registros Públicos. A importante inovação

introduzida pela Lei no 10.931/04 é o procedimento administrativo de retificação de registros

de imóveis. As retificações de registros imobiliários que outrora eram sujeitas ao

procedimento judicial passaram a ser feitas pelo próprio oficial do Registro de Imóveis. O

Poder Judiciário apenas atuará em situações nas quais não houver acordo entre as partes ou

houver potencial lesão ao direito de propriedade de algum confrontante, podendo-se afirmar

que a atividade jurisdicional tradicional será apenas subsidiária ou residual.

Nesses termos, possibilitou-se a retificação do registro imobiliário, de ofício, pelo

próprio tabelião de registros públicos, sem intervenção judicial, conforme procedimento

administrativo previsto. Estabelece o artigo 212 da Lei de Registros Públicos:

Art. 212. Se o registro ou a averbação for omissa, imprecisa ou não exprimir

a verdade, a retificação será feita pelo Oficial do Registro de Imóveis

162

PINTO, José Emílio Nunes. Reflexões indispensáveis sobre a utilização da arbitragem e de meios

extrajudiciais de solução de controvérsias. In: LEMES, Selma Ferreira; CARMONA, Carlos Alberto;

MARTINS, Pedro Batista (Coord.). Arbitragem: estudos em homenagem ao Prof. Guido Fernando da Silva

Soares. São Paulo: Atlas, 2007. p.310.

163 RESTIFFE, Paulo Sérgio. Recuperação de empresas. Barueri: Manole, 2008. p.372-3.

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69

competente, a requerimento do interessado, por meio do procedimento

administrativo previsto no art. 213, facultado ao interessado requerer a

retificação por meio de procedimento judicial.

Parágrafo único. A opção pelo procedimento administrativo previsto no art.

213 não exclui a prestação jurisdicional, a requerimento da parte

prejudicada.

Já o artigo 213 da Lei de Registros Públicos passou a prever casos e situações em que

o tabelião poderá retificar o registro ou a averbação “de ofício” ou a requerimento do

interessado, fixando procedimentos, dos quais não se justifica detalhamento nesta seara.164

Importante apenas historiar mais essa hipótese de desjudicialização prevista na legislação

brasileira.

3.2.4 Inventário, separação165

e divórcio

A Lei no 11.441/2007 estabeleceu regras para a separação, divórcio e inventário

consensuais, todos realizados extrajudicialmente em Tabelionatos de Notas. Na separação e

no divórcio, o casal, além de concorde, não pode ter filhos menores; e no inventário, os

herdeiros e interessados, além de harmônicos, devem ser capazes. Além disso, o autor da

herança não pode ter deixado disposição testamentária, o que deve ser comprovado pela

competente certidão do Colégio Notarial do Brasil.

A nova regulamentação teve origem no Projeto de Lei do Senado Federal sob o nº

155/2004, de autoria do Senador baiano César Borges, que na ocasião pretendia a

desburocratização do procedimento do inventário, agilizando-o e reduzindo custos. Após

aprovação, o projeto foi encaminhado para a Câmara dos Deputados, que entendeu por bem

ampliar o seu escopo para permitir que também separações e divórcios consensuais pudessem

ser realizados por escritura pública, quando não houvesse filhos menores e incapazes. O

Projeto Substitutivo da Câmara dos Deputados recebeu o nº 6.416/2005. Devidamente

164 Para detalhamento do procedimento: SCAVONE JÚNIOR, Luiz Antonio. Direito imobiliário – Teoria e

prática. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p.38-41.

165 Questiona-se a sobrevida da separação após a Emenda Constitucional nº 66, de 13.7.2010, que deu nova

redação ao parágrafo 6º do artigo 226 da Constituição Federal, que dispõe sobre a dissolubilidade do casamento

civil pelo divórcio, suprimindo o requisito de prévia separação judicial por mais de 1 ano ou de comprovada

separação de fato por mais de 2 anos. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/emendas/emc/

emc66.htm>. Acesso em: 3 abr. 2012.

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aprovado, a Câmara dos Deputados declarou prejudicado o Projeto de Lei nº 4.725/2004, de

autoria do Poder Executivo, com o mesmo escopo.166

Dessa vez, a comunidade jurídica não ousou falar em inconstitucionalidade da lei,

ainda que tenha havido evidente desjudicialização de atos tipicamente judiciais.167

Não se

bradou pelo monopólio ou reserva de jurisdição do Poder Judiciário, mas pelo contrário,

houve dócil aceitação de que a atividade jurisdicional fosse realizada pelos tabeliães dos

Cartórios de Notas, em caráter privado, por meio de delegação do Estado. A provável razão

dessa postura é o fato de essa desjudicialização apenas abranger atos de jurisdição voluntária.

A mudança legislativa revelou-se um sucesso, o qual pode ser facilmente comprovado

pelo número de atos praticados no Estado de São Paulo, desde a promulgação da lei

(4.1.2011) até junho de 2011: foram realizados 162.753 atos, divididos entre separações,

conversões de separação em divórcio, divórcios diretos, reconciliações, inventários e

sobrepartilhas, segundo dados fornecidos pelo Conselho Nacional do Brasil, Seção São Paulo,

conforme planilha anexa ao final deste trabalho, sob o número IV.

“O jurisdicionado aprovou a novidade, está usufruindo os benefícios da lei e

efetivamente exercendo seus direitos”168

. Os dados apresentados pelo CNB – São Paulo

podem servir para justificar a pequena queda do número dos processos distribuídos perante o

Poder Judiciário, conforme noticiados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em seu

Justiça em Números, referente ao ano de 2010.169

166

CASSETTARI, Christiano. Separação, Divórcio e Inventário por Escritura Pública: teoria e prática. 3. ed.

São Paulo: Método, 2008. p. 27-8.

167 Isoladamente: “De todo o exposto, podemos concluir, em primeiro lugar, que a Lei 11.441/2007 é de

constitucionalidade no mínimo duvidosa. A Constituição Federal fala em separação “judicial”. Parece-nos que

somente por emenda constitucional poder-se-ia permitir a separação e o divórcio consensuais em Cartório.

Acresça-se, ainda, para justificar provável inconstitucionalidade da lei, o fato de ela praticamente dispensar a

prova da separação de fato para embasar o pedido de divórcio direto, o que é constitucionalmente exigido, sendo

mesmo o seu único requisito.” CARVALHO NETO, Inácio de. Separação e divórcio extrajudiciais: pontos

polêmicos da Lei 11.441/2007. In: ASSIS, Araken de; ALVIM, Eduardo Arruda; NERY JR., Nelson; MAZZEI,

Rodrigo; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; ALVIM, Thereza (Coord.). Direito Civil e Processo: Estudos em

homenagem ao Professor Arruda Alvim. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.819. 168

RIBEIRO, Flávia Pereira. Inventário e partilha consensual. Existência de testamentos nulos, caducos ou

ineficazes. Impossibilidade de realização do procedimento por escritura pública. Crítica. Disponível em:

<http://www.cnbsp.org.br/Noticias_leiamais.aspx?NewsID=3949&TipoCategoria=1>. Acesso em: 21out. 2011.

169 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/sum_exec_por_jn2010.pdf>.

Acesso em: 28 nov. 2011.

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71

Houve uma redução de 3,5% no número de processos distribuídos perante a Justiça

Estadual, o que não se justifica ao olhar das clássicas constatações relativas à crise da Justiça:

números excessivos de conflito, cultura litigiosa, massificação dos contratos, entre outras. A

provável explicação para os números do CNJ é o notável êxito da Lei no 11.441/2007. Nesse

sentido:

Os benefícios desta nova Lei 11.441/2007 já são proclamados em coro pelos

seus comentadores (juristas, magistrados, advogados, notários etc.), na

medida em que facilita extremamente o procedimento para os atos nela

previstos, ao mesmo tempo em que, de forma promissora, alivia a carga do

judiciário já tão abarrotado com diversas pendências em deficiente estrutura,

permitindo-lhe deixar de lado providências meramente homologatórias (e

eminentemente administrativas, como são aquelas previstas na norma), para

dedicar-se com maior maestria à solução célere e justa de processos

litigiosos que inevitavelmente lhes são apresentados.170

Procedimentalmente171

, referida lei incluiu dois novos artigos ao Código de Processo

Civil. O artigo 982 definiu critérios para o inventário e partilha, e o artigo 1.124-A

estabeleceu regras para a separação e o divórcio, todos realizados extrajudicialmente. Tais

artigos contam com a seguinte redação:

Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao

inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o

inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil

para o registro imobiliário.

Parágrafo único. O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as

partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados

de cada uma delas, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

Art. 1.124-A. A separação consensual e o divórcio consensual, não havendo

filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais

quanto aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual

constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e

à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de

seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o

casamento.

§ 1o A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil

para o registro civil e o registro de imóveis.

§ 2o O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem

assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja

qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

170

CAHALI, Francisco José; HERANCE FILHO, Antonio; ROSA, Karin Regina Rick; FERREIRA, Paulo

Roberto Gaiger. Escrituras públicas: separação, divórcio, inventário e partilha consensuais: análise civil,

processual civil, tributária e notarial. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.54.

171 Para questões relativas ao direito civil, processual e tributário, sugere-se: CAHALI et al., op. cit.; CRUZ,

Maria Luiza Póvoa. Separação, divórcio e inventário por via administrativa. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey,

2010.

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72

§ 3o A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se

declararem pobres sob as penas da lei.

Nesses termos, a Lei no 11.441/2007 facultou

172 a realização de inventários,

separações e divórcios pela via administrativa, estabelecendo como requisitos haver consenso

entre os interessados e não haver menores ou incapazes envolvidos nos respectivos atos (além

da ausência de testamentos, no caso específico). Determinou que as partes estivessem

assistidas por advogados173

no momento da assinatura da escritura pública lavrada pelo

Tabelião, que passou a constituir título hábil para os devidos registros.

Como não se aplicam as regras de competência do Código de Processo Civil, há

liberdade na escolha do Tabelionato de Notas, independentemente do domicílio das partes ou

do lugar de situação dos bens objeto do ato. Sem maiores burocracias, as partes – ou o(s)

advogado(s) – procuram um tabelião de confiança e solicitam-lhe o respectivo ato,

entregando-lhe os documentos pertinentes, o que por si só dá início a um dos procedimentos

extrajudiciais previstos na Lei no 11.441/2007.

174

Da escritura de inventário devem constar i) a identificação e a qualificação do autor da

herança, inclusive o estado civil e a eventual existência de herdeiros; ii) a indicação da data e

local do falecimento; iii) a identificação e a qualificação do(a) meeiro(a), se houver; iv) a

identificação e a qualificação dos herdeiros, se houver; iv) a descrição dos bens a inventariar;

v) a existência ou não de dívidas e v) a inexistência de testamento. Há uma série de

documentos que deve ser apresentada ao tabelião, variando a exigência de Estado para Estado.

O inventariante será nomeado e qualificado na escritura, assumido o encargo de bem

administrar o espólio. O inventariante apresentará o plano de partilha, que será devidamente

172

A esse respeito: MORAIS, Ezequiel. A facultatividade do procedimento extrajudicial para divórcio,

inventário e partilhas: considerações sobre o art. 1.124-A do CPC. In: COLTRO, Antônio Carlos Mathias;

DELGADO, Mário Luiz (Coord.). Separação, Divórcio, Partilhas e Inventários Extrajudiciais –

Questionamentos sobre a Lei no 11.441/2007. 2. ed. São Paulo: Método, 2010. p.85 e segs.

173 A esse respeito: FALAVIGNA, Maria Clara Osuna Diz. A intervenção do advogado nos atos previstos na Lei

11.441/2007. In: COLTRO, Antônio Carlos Mathias; DELGADO, Mário Luiz (Coord.). Separação, Divórcio,

Partilhas e Inventários Extrajudiciais – Questionamentos sobre a Lei 11.441/2007. 2. ed. São Paulo: Método,

2010. p.245 e segs.

174 ARRUDA, Antonio Carlos Matteis de. O inventário e a partilha, a separação e o divórcio consensuais por

escritura pública (Lei 11.441/2007). In: ASSIS, Araken de; ALVIM, Eduardo Arruda; NERY JR., Nelson;

MAZZEI, Rodrigo; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; ALVIM, Thereza (Coord.). Direito Civil e Processo:

Estudos em homenagem ao Professor Arruda Alvim. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.800-6.

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73

registrado na minuta de escritura. Na sequência será realizado o cálculo do ITCMD (Imposto

por Transmissão Causa Mortis e Doação) e recolhido o imposto.

Ultrapassada a questão tributária (mormente a mais delicada), a minuta será finalizada

e todos os interessados deverão comparecer ao Tabelionato de Notas para assinatura da

escritura, juntamente com o(s) advogado(s) nomeado(s). Na sequência, os competentes

registros deverão ser realizados, servindo a escritura como título suficiente para transferências

de bens imóveis perante os respectivos cartórios; de veículos perante o departamento de

trânsito; de valores perante as instituições bancárias, entre outros.

Da escritura de separação ou divórcio devem constar i) a identificação e a qualificação

do casal; ii) a descrição dos bens particulares, se houver; iii) a descrição dos bens comuns, se

houver; iv) a eventual fixação de pensão alimentícia e v) a eventual retomada do nome de

solteiro pelo cônjuge.175

Há uma série de documentos que deve ser apresentada ao tabelião,

variando a exigência de Estado para Estado.

A partilha pode ser realizada no mesmo ato ou posteriormente, mas por economia de

emolumentos sugere-se que seja feita no mesmo ato, e se assim for, da escritura também

deverá constar o plano de partilha. Poderá haver incidência de imposto (ITBI) caso a partilha

seja desigual. As partes deverão comparecer ao Tabelionato de Notas para assinatura da

escritura, acompanhadas do(s) advogado(s) nomeado(s). Na sequência, os registros devem ser

realizados nos cartórios competentes e outras instituições.

O tabelião é responsável pelos atos que sejam praticados em desconformidade da lei.

Assim, além de zelar pelo direito das partes, deverá ele exigir a quitação de todos os tributos e

a apresentação das devidas certidões negativas de débito para a realização da partilha ou

inventário. Caso entenda que a vontade das partes contraria as disposições legais, deve ele

recusar-se a lavrar a competente escritura.176

175

A esse respeito: ARAÚJO, Vaneska Donato de Araújo. Cláusulas versando sobre a partilha de bens,

alimentos e sobre o nome dos cônjuges na escritura pública de separação e divórcio. In: COLTRO, Antônio

Carlos Mathias; DELGADO, Mário Luiz (Coords.). Separação, Divórcio, Partilhas e Inventários

Extrajudiciais – Questionamentos sobre a Lei 11.441/2007. 2. ed. São Paulo: Método, 2010. p.281 e segs.

176 A esse respeito: CARVALHO NETO, Inácio de. Separação extrajudicial: da possibilidade de recusa da

realização da escritura pelo tabelião. In: COLTRO, Antônio Carlos Mathias; DELGADO, Mário Luiz (Coords.).

Separação, Divórcio, Partilhas e Inventários Extrajudiciais – Questionamentos sobre a Lei 11.441/2007. 2.

ed. São Paulo: Método, 2010. p.213 e segs.

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74

Por outro lado, caso a parte sinta-se lesada por algum ato do notário, poderá exigir as

devidas reparações. A responsabilidade do notário é objetiva, devendo ressarcir os danos

causados a terceiros independentemente de culpa ou dolo.177

177

Para maiores esclarecimentos, reporta-se ao regime jurídico dos notários e registradores, desenvolvido no

item 6.3.1. Luciano de Camargo Penteado entende que a responsabilidade dos notários é subjetiva e depende de

culpa para a sua configuração. A autora discorda. PENTEADO, Luciano de Camargo. Quais os contornos da

responsabilidade civil dos notários por danos decorrentes da prática dos atos previstos na Lei 11.441/2007? In:

COLTRO, Antônio Carlos Mathias; DELGADO, Mário Luiz (Coords.). Separação, divórcio, partilhas

extrajudiciais. São Paulo: Método, 2007. p.193-4.

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75

CAPÍTULO 4 – A tendência da desjudicialização da execução na Europa

4.1 Diversidade de sistemas executivos na Europa

Deve-se ter em mente que o presente capítulo tem sua atenção voltada ao ente jurídico

(agente ou órgão) responsável pelas diversas etapas da execução na Europa, observando-se se

há envolvimento do juiz nesse processo e – em caso positivo – qual o grau de envolvimento.

Sob esse aspecto, pode-se afirmar que não há harmonia nos diversos sistemas jurídicos

europeus – ao menos no que diz respeito à execução –, já que diferentes pessoas ou

instituições podem atuar na realização forçada do direito, variando, de país para país, a

importância, a autonomia e a própria forma dessa atuação.178

O principal responsável pela

178

“Almost all member states or entities defined a status for enforcement agents including bailiffs (41 states/44

responses). In 11 states, the enforcement agents practice exclusively within a private profession ruled by public

authorities. In 15 states or entities, bailiffs work in a public institution. The rest of the member states or entities

combine the status of bailiffs working in public institutions with bailiffs practicing within a private profession (5

states), or combine private or public status with other enforcement agents who could themselves have public or

private status, like in Belgium (notaries, enforcement agents in tax affairs), in France (huissiers du Trésor,

responsible for the collection of taxes), in Ireland (sheriff/solicitor and revenue sheriffs responsible for the

collection of taxes), in Portugal (execution solicitors), and in UK-Scotland (Sheriff Officers). To conclude, the

status of enforcement agents can be public, private or mixed. (…) The status of enforcement agents is highly

variable in the different member states or entities. Judges can play a role in the enforcement procedure, but in

most cases their role is limited to the supervision of such procedure”. <https://wcd.coe.int/com.instranet.Instra

Servlet?command=com.instranet.CmdBlobGet&InstranetImage=1694098&SecMode=1&DocId=1653000&Usa

ge=2>. Acesso em: 10 abr. 2012; “The enforcement agents in some national enforcement systems are part of, or

quite closely linked to, the court systems. Examples are the Danish system of a court officer within the

enforcement court, Fogedret, the English and Wales’ systems, e.g. operated by a Under sheriff/a Sheriff’s officer

and a County court bailiff, both categories responsible for enforcement out of the courts, but under the

responsibility of High court and County court judges and administrators for processing applications for various

methods of enforcement, and the German system operated by a Gerichtvollzieher, a court officer, but based

outside the court itself, and a Rechtspfleger, within the enforcement court, Amtsgericht. In other national

enforcement systems a more independent position from court service in enforcement matters exists and

specialized enforcement agents exist, as in Finland and in Sweden. No court involvement exists in these States in

enforcement matters prior to an appeal to court against a decision of enforcement from these national

enforcement agents. In France le juge d’exécution only intervenes to solve possible difficulties, which can

emerge during enforcement. The relationship of the enforcement agents to other parts of the State administration

than courts and the judicial status of the profession also vary and have resulted in different levels of dependency

to or independency from this administration. Examples are the French Huissier de Justice, who exercises a

liberal profession, but operates based on a license granted by the ministry of justice and the similar position of

the liberal profession of the Dutch Gerechtsdeurwaarder, and the Swedish Kronofogde, who is employed as a

civil servant by the Kronofogdemyndighet, the Enforcement authority, which is a part of the State

administration. In 2004 more than half of the enforcement agents in the member States of the Council of Europe

were working in a public institution and the other part of enforcement agents were practicing in a liberal

profession ruled by public authorities, while in the EU, at the same time, more than half of these professionals

were practicing in such a liberal profession”. BERGLUND, Mikael. Cross-Border Enforcement of Claims in the

EU – History Present Time and Future. In: European Monographs, n. 65. Netherlands: Kluwer Law

International, 2009. p.106-8.

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76

execução pode ser i) o próprio tribunal (v.g., Espanha179

); ii) um órgão administrativo – sem

qualquer intervenção do Poder Judiciário – (v.g., Suécia); ou iii) um agente de execução –

com intervenção do juiz apenas quando e se houver litígio. Não bastassem tais diferenças,

registra-se que esse agente de execução pode ser um funcionário público (v.g., Alemanha e

Itália) ou ainda um profissional liberal, o qual exerce a atividade por nomeação oficial (v.g.,

França).180

O agente de execução português tem o mesmo status do francês, mas o estudo

sobre o sistema desse país é objeto do capítulo 5, já que se refere ao modelo paradigma para o

projeto que aqui se apresenta.

O breve resumo do professor português Lebre de Freitas, citado por diversos outros

juristas, acerca da radical diferença entre os sistemas executivos na Europa é digno de

transcrição:

Em alguns sistemas jurídicos, o tribunal só tem de intervir em caso de litígio,

exercendo então uma função de tutela. O exemplo extremo é dado pela

Suécia, país em que é encarregue da execução o Serviço Público de

Cobrança Forçada, que constitui um organismo administrativo e não judicial;

mas, noutros países da União Européia, há um agente de execução (huissier

em França, na Bélgica, no Luxemburgo, na Holanda e na Grécia; sheriff

officer na Escócia) que, embora seja um funcionário de nomeação oficial e,

como tal, tenha o dever de exercer o cargo quando solicitado, é contratado

pelo exequente e, em certos casos (penhora de bens móveis ou de créditos),

actua extrajudicialmente, sem prejuízo de, como em França, poder recorrer

ao Ministério Público, quando o devedor não dê informação sobre a sua

conta bancária e a sua entidade empregadora, e de poder desencadear a hasta

pública, quando o executado não vende, dentro de um mês, os bens móveis

penhorados (o que normalmente este não faz); pela sua actuação, não só

responde perante o exequente, como também perante o executado e

terceiros. A Alemanha e a Áustria também têm a figura do agente de

execução (gerichtsvollzieher); mas este é um funcionário judicial pago pelo

erário público, ainda que os encargos decorrentes de sua intervenção sejam

suportados, no final, pelo executado, quando lhe são encontrados bens, e

excepcionalmente pelo exequente, no caso de execução injusta; quando a

execução é de sentença, o juiz só intervém em caso de litígio, mas, quando a

execução se baseia em outro título, o juiz exerce também uma função de

controlo prévio, emitindo a fórmula executiva, sem a qual não é

desencadeado o processo executivo.181

-182

179

Deve-se observar a recente distribuição de competências entre o juiz e o secretário judicial, sendo possível até

mesmo afirmar ter havido desjudicialização da execução na Espanha, conforme se verá no item 4.4. A reforma é

recente e adaptações são necessárias, conforme a própria exposição de motivos da lei aprovada.

180 KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.75.

181 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.24.

182 No mesmo sentido: “Interessa, a este propósito, deixar algumas observações de índole comparativa. Não

considerando os sistemas – como alguns escandinavos – em que a execução pertence a órgãos administrativos,

encontram-se, quanto à competência para a execução, fundamentalmente dois modelos. Um deles é o modelo de

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Enrico Tullio Liebman, em um capítulo intitulado Formação e Princípios dos Direitos

em Vigor na Europa, explana que, por um lado, há uniformidade de conceitos fundamentais –

como aquele que diz que “o título é condição necessária e, ao mesmo tempo, suficiente para

obter a execução” – e, por outro, há marcante variedade no modo de aplicação de tais

conceitos nas principais legislações modernas.183

Conceitos relacionados ao título executivo foram constituídos no processo comum

italiano e desenvolveram-se ulteriormente na França. A codificação napoleônica, que acabou

por originar o Code de Precédure Civile, com seu espírito prático, “invadiu a Itália”, quando

então se verificou uma “manifesta infiltração de idéias francesas: assim, passada em julgado

uma sentença, poderá o credor pedir-lhe a execução ao oficial de justiça; notifica-se ao

devedor o convite a pagar dentro de prazo não inferior a 10 dias, decorrido o qual inutilmente

se procederá a execução.”184

Segundo Liebman, desde então, “os atos executivos são atos do

oficial de justiça, que os executa a requerimento do credor.”185

Ainda no referido capítulo, Liebman relata que os códigos napoleônicos também

exerceram influência na codificação alemã, que acabou por abraçar o conceito do título

executivo, registrando, entretanto, as particularidades da efetiva aplicação desse princípio

naquele país. Na sequência, Liebman discorre que, apesar da Espanha também ter adotado o

concentração da execução no tribunal (...). O outro modelo é o de atribuição da função de execução a um órgão

não jurisdicional (huissier de justice, bailiff, gerichtsvollzieher), que fica sujeito à supervisão e ao controlo do

tribunal de execução: este modelo inspira a actual Reforma da acção executiva e vigora em algumas ordens

jurídicas européias (cfr., quanto à França, artºs L 311-12 a L 311-13 do Code de l’organization juriciaire,

Ordennance nº 45-2592, de 2/11/1945, e Decreto nº 56-222, d 29/2/1956; quanto à Alemanha, § 753 da

Zivilprozessordnung; quanto à Áustria, § 17 a § 24 da Exekutionsordnung).” SOUSA, Miguel Teixeira de. A

reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004. p.14; O solicitador português “inspira-se no huissier francês,

belga, luxemburguês, holandês e grego. O agente de execução é uma figura conhecida também noutros sistemas

jurídicos. No alemão e no austríaco, por exemplo, com a designação de Gerichtsvollzieher, é um funcionário

judicial pago pelo erário público, mas as despesas decorrentes do exercício do cargo são da conta do executado,

quando lhe são encontrado bens, ou, excepcionalmente, do exequente, nos casos de execução injusta; na Escócia,

o sheriff officer é um funcionário de nomeação oficial e actua quando solicitado, por contrato com o exequente,

perante o qual responde, assim como perante o executado e terceiros”. FIGUEIRA, José D. Barata. O solicitador

de execução: o agente de execução. In: Maia Jurídica: revista de direito, ano 1, jul-dez. 2003. Coimbra:

Coimbra, 2003. p.77; “Não há uniformidade na eleição dos meios de simplificar e agilizar o procedimento de

execução entre os países europeus. Lebre de Freitas descreveu o seguinte panorama: (reprodução do mesmo

trecho).” THEODORO JÚNIOR, Humberto. As vias de execução do Código de Processo Civil Brasileiro

reformado. In: Revista IOB – RDCPC, n. 43, set-out. 2006. São Paulo: Síntese, 2006. p.34.

183 LIEBMAN, Enrico Tullio. Embargos do executado: oposições de mérito no processo de execução. São

Paulo: M.E. Editora e Distribuidora, 2000. p.113.

184 Ibid, p.115.

185 Ibid, p.114.

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instituto do título executivo, ela o conservou como se oferecia em seu estágio mais remoto de

evolução – o inicialmente criado na Itália e não aquele posteriormente desenvolvido na França

–, de forma que ainda hoje “a petição inicial é proposta ao juiz, que ordena a execução e

encarrega o oficial de justiça.”186

-187

Giuseppe Chiovenda faz a seguinte análise do papel do “oficial de justiça” nesses

países:

[...] as funções mais delicadas e importantes do oficial de justiça são as

executivas. Nem todas, porém, lhe são confiadas. A autonomia do oficial de

justiça na execução imprime maior simplicidade e presteza ao processo. No

sistema francês, contudo, essa autonomia se amplia ainda à execução

imobiliária. No sistema alemão só se admitiu para a mobiliária, com

exclusão da relativa aos créditos. Entre nós, admite-se também para a

penhora em mão de terceiro, que se faz por ato do oficial de justiça, sem

necessidade de ordem do juiz (CPC, art. 611). Assim, sem autorização, o

oficial de justiça procede à penhora (CPC, arts. 593 e segs.) e aos atos

conexos (arts. 594, 599, 643 e 644).188

O que se quer demonstrar da análise dos diferentes sistemas jurídicos europeus é que o

oficial de justiça – doravante chamado de agente de execução, independente do status público

ou privado –, já é tido como o principal ente jurídico da execução. Na Itália, na Alemanha e

na França, após provocação por parte do credor, a execução principia-se com atos do ufficiale

giudiziario, gerichtsvollzieher e huissier, respectivamente, intervindo o juiz depois de

consumada a agressão ao patrimônio do executado ou na ocorrência de algum incidente.189

Esses três países serão estudados como exemplos de sistemas desjudicializados já

consagrados.

Nesses países, tendo em vista que normalmente a execução é processada através de

órgãos distintos do juízo que proferiu a sentença – agentes de execução –, não se exige deles o

exame apurado das condições de executoriedade do título. Em razão disso, é estabelecido que

a sentença esteja revestida da fórmula executiva, que é uma certificação oficial de que o título

é reconhecido como executivo. Esta fórmula deve ser requerida pelo interessado e fornecida

186

Apesar das recentes reformas apontadas no item 4.4, essa afirmação permanece atualizada.

187 LIEBMAN, Enrico Tullio. Embargos do executado: oposições de mérito no processo de execução. São

Paulo: M.E. Editora e Distribuidora, 2000. p.119.

188 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil – v. 2. Tradução Paolo Capitanio.

Campinas: Bookseller, 1998. p.101-2.

189 GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.140.

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79

pelo juízo que proferiu a sentença. Em relação a um título extrajudicial, um notário é o

responsável pela lavratura da fórmula executiva.190

Sobre a fórmula executiva, interessantíssimo transcrever o registro de Cândido Rangel

Dinamarco, até mesmo porque ele dá a exata noção do poder concedido aos agentes de

execução (ufficiale giudiziario, gerichtsvollziher e huissier):

Na Itália, França e Alemanha há a exigência, geralmente quanto às sentenças

e outros provimentos emanados da autoridade judiciária ou do tabelião, de

virem munidos da fórmula executiva, sem a qual tais atos não valerão como

título para a execução forçada. Na Itália e França essa cláusula resolve-se

num comando aos órgãos executivos, no sentido de que amparem com

execução forçada o direito ali referido, sendo que na Itália ela assim é ditada:

“determinamos a todos os oficiais judiciários que forem solicitados e a todos

aqueles a quem couber, que ponham em execução o presente título; ao

Ministério Público, que lhe dê assistência; e a todos os oficiais da força

pública, que cooperem, quando forem legalmente solicitados” (c.p.c., art.

475). A fórmula executiva alemã (Vollstreckungsklausel) é bem mais simples

que a italiana, sendo mero certificado oficial de que o título é executivo e

valendo ainda para precisar a pessoa em favor da qual é constituído. Ela não

é um comando, como as precedentes, e se enuncia assim: “a presente cópia

(Ausfertigung) é expedida em favor de..., para fins de execução forçada”

(ZPO, § 725). A fórmula francesa, que o direito italiano acolheu, é

certamente ligada ao princípio da autonomia dos oficiais de justiça, pois só

sendo estes (e não os juízes) encarregados da execução, é que se concebe

que um juiz, ou mesmo um notário, baixe uma ordem para que a execução

forçada seja feita.191

Além desses três países, dos quais haverá aprofundado estudo, serão avaliados

rapidamente os sistemas jurídicos da Espanha e da Suécia em razão dos seus extremos, ou

seja, um historicamente judicializado, embora recentes reformas tenham modificado esse

perfil, e outro totalmente administrativo. Neste particular, ambos os países são considerados

exceções dentro da União Europeia.

Ao final deste capítulo serão citados outros países europeus nos quais a execução é

realizada sem interferência direta do juiz, visando comprovar o que se propõe: a tendência da

desjudicialização da execução.

4.2 O modelo desjudicializado alemão e italiano. O agente de execução é um ente

público

190

GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.73-74.

191 DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p.96.

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80

No direito italiano e no alemão, atualmente, a execução forçada principia-se com atos

do oficial de justiça ou executor judicial, interferindo o juiz apenas depois de consumada a

agressão ao patrimônio do executado (artigos 137, 479, 484, 488, 513, CPC e artigo 753

ZPO). Em ambos os países, o agente de execução será provocado diretamente pelo exequente.

O executor judicial alemão é funcionário da justiça, subordinado à autoridade do poder

judiciário, ao qual presta contas de seus atos e eventualmente requer autorizações para o

cumprimento do seu mandato. O oficial de justiça italiano também é funcionário da justiça,

mas tem menor autonomia que o alemão, conforme se verá. Doravante será utilizado o

tratamento “agente de execução”, conforme recomendação do Conselho da União Europeia.

4.2.1 Alemanha192

Em um primeiro momento, pode parecer que a execução na Alemanha é realizada de

forma difusa, já que não existe um órgão de execução, mas vários órgãos que podem atuar

conforme seja a pretensão a se executar, o objeto a ser penhorado ou as medidas executivas a

serem realizadas. Assim, a distribuição de competência funcional entre os distintos órgãos que

exercem a função jurisdicional executiva varia conforme se tratar de execução de sentença ou

192

A reforma processual civil alemã de 2002 – publicada no Diário Oficial em 2.8.2001 e em vigor desde

1.1.2002 - não alterou a disciplina da execução. Segundo José Rogério Cruz e Tucci, os objetivos centrais da

reforma foram: “a) o incremento da conciliação; b) a maior transparência das decisões judiciais; c) a redução da

barreira de acesso ao grau superior dependente do valor da causa; d) o empenho maior do juiz singular no

controle de admissibilidade dos recursos”. TUCCI, José Rogério Cruz e. Horizontes do novo processo civil

alemão. In: Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, n. 43, jul-ago. 2011. Porto Alegre: Magister,

2011. p.2; José Carlos Barbosa Moreira afirmou que: “os dois principais vetores da reforma podem ser

resumidos nestes lemas: fortalecimento do primeiro grau de jurisdição (alargado agora o campo em que aí atua

órgão monocrático, em vez de um colegiado) e revisão do sistema recursal”. MOREIRA, José Carlos Barbosa.

Temas de direito processual (oitava série). São Paulo: Saraiva, 2004. p. 199 e segs; “Essa reforma dividiu-se

em dois grupos, a saber, esforços para o fortalecimento dos procedimentos de primeira instância e a tentativa de

remodelagem completa do procedimento recursal”. CORRÊA, Fabio Peixinho Gomes. Direito processual civil

alemão. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (Coord). Direito processual civil europeu contemporâneo. São

Paulo: Lex, 2010. p.16. No mesmo sentido: RAGONE, Alvaro J. D. Pérez. La reforma del proceso civil alemán

2002. Principios rectores, primera instancia y recursos. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Coord.). Estudos de

direito processual civil: homenagem ao Professor Egas Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2005; MORELLO, Augusto M. Las reformas del proceso civil en Europa. In: MARINONI, Luiz Guilherme

(Coord.). Estudos de direito processual civil: homenagem ao Professor Egas Moniz de Aragão. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2005. p.756. Salvatore Patti esclarece na introdução ao código por ele traduzido que a

pequena reforma processual civil alemã de 2009 só alterou questões relativas à jurisdição voluntária,

especialmente em direito de família. PATTI, Salvatore. Codice de procedura civile tedesco, traduzione e

presentazione a cura di Salvatore Patti. Milano: Giuffrè, 2010. Conclui-se que a legislação e doutrina aqui

utilizada está em plena vigência.

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81

título cambial193

; de obrigação de pagar, dar ou fazer; de bens móveis, imóveis, ou outros a

serem penhorados, entre outras peculiaridades.194

Hanns Prütting e Sandra de Falco oferecem um bom resumo de como as várias

competências são distribuídas entre esses órgãos:

Los órganos de ejecución llevan a cabo las distintas medidas de ejecución a

instancias del acreedor y com base em la distribución de la competencia

funcional por distintos órganos que ejercen función jurisdicciónal. Por un

lado está el oficial de ejecución (Gerichtsvollzieher), que es el órgano de

ejecución externa que desempeña las funciones atinentes a la notificación,

citación y medidas de ejecución, y ejerce una función estatal jurisdiccional,

pero no como representante del acreedor, tal como erróneamente se refiere

con la palabra encargo (auftrag) en los §§ 753 y 766 apartado 2 ZPO. El

oficial de ejecución tiene a su cargo la ejecución con base en pretensiones

dinerarias para la realización del embargo, la efectivización de la prenda

judicial de cosas muebles y la ejecución de prestaciones de restitución de

cosas, y está autorizado al uso de la fuerza pública. Otro órgano de ejecución

- el más importante - es el tribunal de ejecución (Vollstreckungsgericht), de

actuación paralela al anterior órgano mencionado. Como tal se desempeña el

juzgado en cuya circunscripción tiene lugar el proceso de ejecución (§ 764

apartado 2 ZPO). Por un lado, es competente en pretensiones por

obligaciones de dar sumas de dinero cuando sean objeto de agresión,

créditos y otros derechos patrimoniales, como ejecución sobre bienes

inmuebles para su subasta y administración judicial. En estos casos, el

tribunal de ejecución actúa delegando esas actividades en el secretario

judicial (Rechtspfleger). Aparte de lo antes descrito tiene la función del

control del proceso de ejecución. Otro órgano de ejecución es el tribunal del

proceso (Prozessgericht) de primera instancia con actuación excepcional,

que es competente para la efectivización de prestaciones de hacer, no hacer y

de tolerar, y está autorizado al uso de medios de coerción pecuniarios. El

último órgano de actuación posible en La ejecución es el Registro

lnmobiliari (Grundbuchamt) competente para la inscripción de la hipoteca

judicial (§§ 866 y 867 ZPO), como actividad que puede ser realizada sobre

prestaciones dinerarias a ejecutarse sobre bienes inmuebles.195

James Goldschmidt, ao tratar dos órgãos da execução e suas competências, esclarece

que o mais importante desses órgãos é o agente de execução (Gerichtsvollzieher). Ele tem o

dever e a responsabilidade de examinar a existência dos requisitos necessários para a

execução e independência no que diz respeito ao cumprimento do “mandato executivo”. No

entanto, de certa forma ele está submetido ao tribunal executivo, uma vez que será este o

193

GOLDSCHMIDT, James. Principios generales del proceso. I - Teoria general del proceso. Tradução

Leonardo Prieto Castro. Buenos Aires: Ediciones Juridicas Europa-América, 1961. p.201. 194

Sobre a pluralidade dos “atores” da execução, ver: <http://www.europe-eje.eu/en/fiche-thematique/note-2-

actors-enforcement-1>. Acesso em: 13 jan. 2012. 195

PRÜTTING, Hanns; FALCO, Sandra de. Código procesal civil alemán (ZPO). Tradução Juan Carlos Ortiz

Pradillo e Álvaro J. Pérez Ragone. Montevidéu: Konrad Adenauer Stiftung, 2006. p.137-8.

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82

órgão a analisar qualquer i) objeção formulada contra sua capacidade ou competência

(objetiva ou territorial); ii) reclamação apresentada contra a forma ou o procedimento

executivo; iii) questionamento sobre contas de custas da execução.196

Em razão da matéria, é competente o Gerichtsvollzieher para a execução pecuniária

cuja penhora recaia sobre bens móveis ou para execução de entrega de bens móveis ou

imóveis. A competência territorial é regulamentada de acordo com cada Estado.

O segundo órgão da execução compulsória é o tribunal executivo (Amtsgericht), o

qual é competente objetivamente para i) execução pecuniária cuja penhora recaia sobre

créditos e outros direitos patrimoniais por dívidas líquidas e sobre bens imóveis; ii)

distribuição do produto de arrematação entre os credores; iii) decisão acerca das petições,

exceções e reclamações que sejam formuladas contra a classe e forma de execução, e iv)

decreto de medidas provisórias e de urgência. As atividades executivas são delegadas a um

oficial de justiça (Rechtspfleger).197

Goldschmidt também considera como sendo órgãos de execução i) o tribunal de

primeira instância, para a realização forçada das condenações em obrigação de fazer ou não

fazer; ii) o registro de imóveis, relativamente às inscrições de hipotecas em garantia; iii) os

órgãos executivos da polícia, que podem ser requeridos pelo Gerichtsvollzieher com fins de

auxílio e iv) a força militar, que pode ser requerida nas mesmas circunstâncias pelo tribunal

executivo.198

Após essa análise mais ampla, restringir-se-á o presente estudo aos dois mais

importantes órgãos da execução alemã199

, quando então será possível verificar que o sistema

executivo daquele país é prático e organizado. Apesar dos autores Hanns Prütting e Sandra de

Falco afirmarem ser o tribunal executivo (Amtsgericht), juntamente com o seu oficial de

196

GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil – tomo II. Tradução Lisa Pary Scarpa. Campinas:

Bookseller, 2003. p.209-10; Idem, Derecho procesal civil. Tradução Leonardo Prieto Castro. Barcelona: Labor,

1936. p.621-2.

197 Ibid, p.212-215; Ibid, p.623-5.

198 Ibid, p.215-6; Ibid, p.625-6.

199 “Germany operates a system within which specialised agents (Gerichtsvollzieher - Gvz) have a certain degree

of independence, and have responsibility for certain aspects of enforcement, while other aspects of enforcement

are entrusted to a court officer (Rechtspfleger).” KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in

Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.81.

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justiça (Rechtspfleger), os órgãos mais importantes da execução, sem qualquer dúvida o é o

Gerichtsvollzieher, como afirma Goldschmidt.

Para dirimir quaisquer dúvidas sobre esse embate, nada melhor que a análise da letra

da lei. O artigo 753 do ZPO200

afirma que a competência para a execução será do

Gerichtsvollzieher a menos que seja atribuída a um dos tribunais – excepcionalmente.

Ademais, também é possível abstrair-se do referido artigo que o Gerichtsvollzieher age como

mandatário do credor, que o encarrega diretamente dos atos executórios.

Goldchmidt, no entanto, faz questão de frisar que os Gerichtsvollzieher, instituídos à

semelhança dos huissiers franceses, são funcionários públicos, de forma que não há qualquer

tipo de relação contratual privada com a parte (credor) que constitua um mandato para

notificação ou execução.201

Já Leonardo Greco afirma que o Gerichtsvollzieher atua como

mandatário do credor.202

Entende-se que a atividade desenvolvida pelo Gerichtsvollzieher tem natureza híbrida

ou mista (pública e privada), com acentuadas características públicas. Nesse passo, apesar de

tratar-se de um funcionário judicial pago pelo erário público (ainda que os encargos

200

Ҥ 753 Enforcement by court-appointed enforcement officers: (1) Unless the compulsory enforcement is

assigned to the courts, it will be implemented by court-appointed enforcement officers who are to effect it on

behalf of the creditor. (2) The creditor may avail himself of the assistance of the court registry in charging an

officer with the task of compulsory enforcement. The court-appointed enforcement officer charged with the task

by the court registry shall be deemed to have been charged by the creditor. (…)”. Disponível em:

<http://www.gesetze-im-internet.de/ englisch_zpo/englisch_zpo.html>. Acesso em: 19 mar. 2012; Ҥ 753

[Ejecutor judicial y mandamiento de ejecución]: I - La ejecución forzosa, em tanto no se haja asignado a los

tribunales, es llevada a cabo por medio de ejecutores judiciales, quienes tienen que efectuarla por orden del

credor. II – El credor, com motivo de la expedición de la orden para la execución forçoza, puede requerir la

intervención de la secretaría del juzgado. El ejecutor judicial encomendado por la secretaría del juzgado se

considera encomendado por el acreedor”. ENCINAS, Emilio Eiranova; MÍGUEZ, Miguel Lourido. Código

Procesal Civil Alemán. Barcelona: Marcial Pons, Ediciones Jurídicas y Sociales S.A., 2001. p.213.

201 GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil – tomo I. Tradução Lisa Pary Scarpa. Campinas:

Bookseller, 2003. p.186-7; “Como órganos independientes de la jurisdicción civil existen, junto a los Tribunales,

o «ejecutores judiciales», instituídos a semejanza de los huissiers franceses. A ellos incumbe realizar las

notificaciones a las partes (§ 166), así como efectuar la ejecución forzosa (§ 753), mientras El Tribunal no

disponga lo contrario. Tienen carácter de funcionarios y no están de ningún modo, respecto de la parte por quien

verifique la notificación o la ejecución, en una relación contractual privada de servicios. El «mandato» para

realizar la notificación («encomienda» o «apoderamiento» según los §§ 167, 168), es, en realidad, una petición,

como lo es el «mandato» de ejecución (§§753-755, 766, II). Y no se opone a ello el que el ejecutor judicial goce

en cierto aspecto de un poder de representación legal frente a las partes (cfs. en especial §§ 754-757), puesto que

este poder de representación no necesita basarse en una relación contractual. El carácter de funcionario que

distingue a los ejecutores judiciales se pone especialmente de manifiesto en los lugares donde com arreglo al

derecho del correspondiente Estado se han formado secretarías de ejecutores judiciales (...)”. Idem, Derecho

procesal civil. Tradução Leonardo Prieto Castro. Barcelona: Labor, 1936. p.146.

202 GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.75.

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decorrentes de sua intervenção sejam suportados, ao final, pelo executado), o

Gerichtsvollzieher é mandatário do credor – o qual poderá revogar tal mandato a qualquer

momento, suspendendo-se a execução – e deve zelar pelo cumprimento dos seus interesses,

realizando: notificação do devedor, buscas domiciliares, recebimento da dívida, penhora,

apreensão e entrega de coisas, guarda de documentos, entre outros.203

-204

O Gerichtsvollzieher é totalmente independente para o exercício das suas funções, nos

termos do Livro Oitavo do Código de Processo Civil (ZPO), podendo utilizar os meios

coercitivos que entender necessários. O Gerichtsvollzieher tem, inclusive, poder para permitir

que o devedor pague a dívida em prestações, permanecendo responsável pelo cumprimento do

acordado.

Por outro lado, como consequência do caráter público dessa atividade, a

responsabilidade do Gerichtsvollzieher é similar à dos demais funcionários públicos,

admitindo-se o princípio da responsabilidade estatal.205

Ademais, como subordinado da

Justiça, o Gerichtsvollzieher deve prestar contas e obter certas autorizações, como é o caso da

penhora sobre créditos e outros direitos patrimoniais do devedor – o agente de execução não

tem acesso direto a essas informações uma vez que a Alemanha valoriza sobremaneira a

privacidade e a confidencialidade dos dados pessoais (e bancários, consequentemente). O

Gerichtsvollzieher tem a obrigação de lavrar ata de cada atividade executiva realizada (arts.

762 e 763 ZPO).

A regulamentação jurídica da figura do Gerichtsvollzieher pode ser encontrada na lei

que trata dos funcionários públicos (Beamtengesetze) e no Gerichtsvollzieherordnung federal

(GVO), assim como em uma série de leis estaduais que disciplinam as qualificações mínimas

e o treinamento para o aspirante à profissão, como gestão de escritório, entre outros aspectos

203

GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.75.

204 “The Gvz has primary responsibility for execution against movable property and negotiable instruments, and

for obtaining the delivery up of possession of movable and immovable property. Under recent reforms of the law

the Gvz has also assumed responsibility for taking a statement of the debtor’s assets - a function which used to be

reserved to the Rechtspfleger. (…) ln practice the Gvz is responsible for service of all documents relating to

enforcement - including documents relating to the garnishment of debts or attachment of earnings. He is not

involved in the service of the documents for proceedings on the merits.” KENNETT, Wendy. The Enforcement

of Judgments in Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.81.

205 GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil – tomo I. Tradução Lisa Pary Scarpa. Campinas:

Bookseller, 2003. p.187; Idem, Derecho procesal civil. Tradução Leonardo Prieto Castro. Barcelona: Labor,

1936. p.146-7.

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85

do exercício da atividade. Para poder candidatar-se à formação de Gerichtsvollzieher, o

pretendente deve ter a idade mínima de 25 anos, ter concluído o ensino médio e trabalhado

para um dos órgãos da jurisdição estatal por dois anos, no mínimo. Os candidatos

selecionados passam por um período de treinamento de 18 meses e devem obter aprovação

em testes para, então, serem nomeados. Também é exigido do Gerichtsvollzieher que

mantenha um escritório às suas expensas (podendo incluir o custo de funcionamento desse

escritório nas despesas de execução cobradas do devedor).206

-207

Sobre o procedimento, consigna-se que em havendo bens a serem penhorados, a

penhora será registrada em ata – quando então o devedor poderá ser ouvido sobre a execução

–, o bem será avaliado, o leilão será marcado e realizado, tudo sob a incumbência do

Gerichtsvollzieher.

Caso o produto da penhora não seja suficiente para pagar o credor (art. 807 ZPO), o

devedor é obrigado a apresentar um inventário completo dos seus bens e indicar e provar,

relativamente aos seus créditos, a sua origem e, na sequência, prestar o chamado juramento de

manifestação (Eidesstattliche Versicherung), no sentido de que tudo informou e nada

omitiu.208

Obter essa declaração de ativos do devedor, “sob compromisso de honra”, é um

papel relevante do Gerichtsvollzieher, pois tal documento poderá servir para a decretação da

insolvência patrimonial do devedor.

O devedor pode opor-se à execução por diversos meios: i) o primeiro deles é uma

reclamação contra a concessão da cláusula executiva209

perante o tribunal cujo secretário a

tenha concedido, visando obter a declaração da inadmissibilidade da sua expedição,

particularmente por falta ou defeito do título executivo; por inadmissibilidade da execução

forçada; ou em razão de qualquer outra nulidade. Essa reclamação não tem efeito suspensivo,

embora possa ser requerido ao tribunal por meio de medidas cautelares – geralmente é exigida

206

KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.81-2.

207 A outra principal figura envolvida no processo de execução, o Rechtspfleger ou oficial de justiça do

Amtsgericht, também deve ter concluído o ensino médio e passar por treinamento jurídico especializado.

208 GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil – tomo II. Tradução Lisa Pary Scarpa. Campinas:

Bookseller, 2003. p.216; Idem, Derecho procesal civil. Tradução Leonardo Prieto Castro. Barcelona: Labor,

1936. p.626.

209 O devedor deverá ser notificado da sentença antes ou ao mesmo tempo da fórmula executória, para que possa

inteirar-se do seu conteúdo e tenha, assim, uma oportunidade de cumprir voluntariamente a obrigação, no prazo

de duas semanas, evitando-se a penhora ou outra medida coativa.

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caução; ii) o segundo meio é uma ação de defesa contra a execução apresentada no tribunal de

primeira instância, com base em motivos capazes de desfazer os fundamentos fáticos ou

jurídicos da sentença, que tenham surgido depois de encerrada a última audiência. Também

não há suspensão automática da execução; iii) o terceiro é a reclamação contra o modo ou a

forma dos atos executórios a ser apresentada perante o tribunal da execução, mais

especificamente contra os atos do Gerichtsvollzieher ou do oficial de justiça (Rechtspfleger).

A reclamação não está sujeita a prazo e não tem efeito suspensivo automático.210

-211

Por fim, é interessante registrar que, em não sendo bem sucedida a execução por falta

de bens penhoráveis, o credor poderá intentar uma nova execução tão logo tome

conhecimento de ativos até então desconhecidos ou novos ativos do devedor, já que a

prescrição do crédito decorrente de sentença é de 30 anos. Enquanto não houver pagamento

da condenação, o nome do executado permanecerá na lista de devedores do tribunal de

execução mantida pelo Poder Judiciário.

4.2.2 Itália212

Claro e sintético é o ensinamento de Cândido Rangel Dinamarco sobre o início do

processo executivo italiano:

Na Itália o devedor é intimado do título executivo, pelo oficial de justiça

(c.p.c., art. 479). O credor redige o precetto (art. 480) e dele o devedor é

intimado também. O precetto é um convite a cumprir a obrigação constante

do título e ao mesmo tempo uma advertência de que, em caso de

inadimplemento, passar-se-á à atuação das medidas executivas. Decorrido in

albis o prazo estabelecido para a satisfação da pretensão do exeqüente

(ordinariamente, o prazo mínimo é de dez dias, arts. 480 e 482), iniciam-se

os atos de execução forçada (se a execução for expropriação, tem-se a

penhora, art. 491). Tudo isso o oficial de justiça faz a pedido do próprio

exeqüente, passando o juiz a intervir no feito apenas após formados os autos

pelo escrivão (fascicolo, art. 488).213

210

GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.81-2.

211 Mais detalhadamente: GOLDSCHMIDT, James. Direito processual civil – tomo II. Tradução Lisa Pary

Scarpa. Campinas: Bookseller, 2003. p.213-5; Idem, Derecho procesal civil. Tradução Leonardo Prieto Castro.

Barcelona: Labor, 1936. p.623-5.

212 A Lei nº 69/2009 trouxe modificações ao Código de Processo Civil Italiano apenas em relação às formas de

execução indireta, regulamentando-se medidas coercitivas como as astreintes e outras penalidades de mora:

PACÍFICO, Luiz Eduardo Boaventura. Direito processual civil italiano. In: TUCCI, José Rogério Cruz e

(Coord). Direito processual civil europeu contemporâneo. São Paulo: Lex, 2010. p.250; Para um panorama

mais amplo a respeito, ver: <http://www.giappichelli.it/stralcio/3489834.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2012.

213 DINAMARCO, Cândido Rangel. Execução Civil. 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p.101.

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Francesco Carnelutti leciona que o objetivo da notificação e do preceito é

“precisamente dar notícia ao devedor de que, se ele não cumpre, o credor se dirigirá ao oficial

judicial pedindo a execução”.214

A notificação deve conter a transcrição do título executivo e

do preceito e as indicações necessárias para que o devedor possa promover o cumprimento ou

a oposição à sentença.

Recente reforma (Lei no

80 de 14.5.2005) do Código de Processo Civil italiano, que

alterou seu artigo 479215

, eliminou a possibilidade de opção pelo ufficiale giudiziario – exceto

se o título for uma sentença proferida há menos de um ano – entre a notificação realizada

diretamente à parte ou ao seu defensor. A única modalidade de notificação para fins de

execução é a pessoal, justificada na exigência de que o devedor deve ser efetivamente

informado da probabilidade de ser submetido a uma execução forçada e da possibilidade de

cumpri-la espontaneamente. Espera-se que a notificação entregue pessoalmente, sem a

intermediação do procurador, possa permitir a percepção concreta da condenação, evitando-se

equívocos acerca da verdadeira finalidade do procedimento: informação da parte e não

intimação para eventual recurso.216

Realizadas as advertências de praxe, e caso a obrigação não seja cumprida

espontaneamente em 10 dias, o ufficiale giudiziario dá início à fase expropriatória da

execução, sem qualquer intervenção do juiz, nos termos do artigo 492 do Código de Processo

214

CARNELUTTI, Francesco. Instituições do Processo Civil – v. I. Tradução Adrián Sotero De Witt Batista.

Campinas: Servanda, 1999. p.27-8.

215 Art. 479 “(Notificazione del titolo esecutivo e del precetto): Se la legge non dispone altrimenti, l’esecuzione

forzata deve essere preceduta dalla notificazione del titolo in forma esecutiva e del precetto. La notificazione del

titolo esecutivo deve essere fatta alla parte personalmente a norma degli articoli 137 e seguenti [ma, se esso è

costituito da una sentenza, la notificazione, entro l’anno dalla pubblicazione, può essere fatta a norma dell’art.

170.] Il precetto può essere redatto di seguito al titolo esecutivo ed essere notificato insieme con questo, purché

la notificazione sia fatta alla parte personalmente.”

216 BRIGUGLIO, Antonio; CAPPONI, Bruno. Commentario alle riforme del processo civil. Processo di

esecuzione. v. II. Padova: CEDAM, 2007. p.32. No mesmo sentido: “Ex art. 479 c.p.c., l’esecuzione forzata deve

essere preceduta dalla notifica del titolo esecutivo e del precetto, salvo che la legge non disponga diversamente.

Il comma 2 dell’art. 479 c.p.c. prima della novella stabiliva la regola generale secondo la quale, per poter

procedere ad esecuzione forzata, il titolo ed il precetto devono essere notificati alla parte personalmente; ma se

esso è costituito da una sentenza, la notificazione entro 1 anno dalla pubblicazione poteva essere fatta ex art. 170

c.p.c. presso il procuratore costituito. Con l’indubbio vantaggio in questo caso che l’unica notifica della sentenza

al procuratore aveva il duplice effetto di consentire l’inizio dell’esecuzione forzata, ed il decorrerre del termine

breve per l’impugnazio ex art. 325 c.p.c. La legge 80 del 2005 ha modificato il comma 2 dell’art. 479 c.p.c.,

eliminando in radice la possibilità di effettuare la notifica al procuratore costituito. Ora il creditore dovra

necessariamente notificare il titolo ed il precetto alla parte personalmente, per poter procedere ad esecuzione

forzata.” NAPOLEONI, Roberto. Il titolo executivo e il precetto. In: CECCHELLA, Claudio Cecchella (Coord.).

Guida al nuovo processo civile executivo. Milano: Il sole 24 ore, 2008. p.4.

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88

Civil Italiano. Para tanto, ele deve expedir uma ordem ao devedor para que seja atendida a

penhora e haja abstenção de qualquer ato que a prejudique.217

Nas palavras do mestre

Pasquale Castoro, “per chiedere all’ufficiale giudiziario l’esecuzione del pignoramento contro

il debitore è sufficiente l’instanza (non soggetta a deposito) scritta od orale (art. 104 del d.p.r

15 diciembre 1959 nº 1229) del creditore precettante, che pertanto può fare a meno del

ministero di um difensore senza essere a sua volta soggetto ad alcuna autorizzazione

giudiziale”.218

Uma vez realizada a expropriação, o ufficiale giudiziario deve depositar o auto de

penhora na secretaria de execução, quando então será formado o processo de execução,

reunindo-se toda a documentação em um só auto, para na sequência, e somente a partir dessa

ocasião, serem levados ao conhecimento do juiz da execução os atos executivos praticados,

nos termos do artigo 488 do Código de Processo Civil italiano219

. Transcreve-se, mais uma

vez, as palavras de Castoro:

Dopo che l’ufficiale giudiziario ha depositato l’atto di pignoramento nella

cancelleria del giudice competente per l’esecuzione (artt. 518, 543 e 557), il

cancelliere forma per ogni procedimento de espropriazione compiuti, tutti gli

atti del giudice, del cancelliere e dell’ufficiale giudiziario, e gli atti e,

documenti (tra questi assumono particolare importanza il titolo esecutivo e il

precetto) depositati dalle parti e dagli eventuali interessati (art. 488, 1°

comma).220

A partir de então o processo corre por direção do juiz, que deve designar audiência

entre as partes. Não havendo acordo, é realizada, na sequência, a venda judicial dos bens

penhorados. Nesse processo o devedor não conta com qualquer meio para elidir a eficácia do

título ou demonstrar a injustiça, a irregularidade ou a onerosidade excessiva da execução. Para

desencadear a atividade cognitiva, o devedor deve propor uma ação incidental ao processo de

217

Il pignoramento è l’atto com il quale il creditore individua e conserva alcuni diritti del debitore nell’ambito de

processo esecutivo: ex art. 492 c.p.c l’ufficiale giudiziario ingiunge al debitore, oralmente o mediante atto a lui

notificato, di astenersi dal compimento di atti diretti a sottrarre alla garanzia del credito i diritti individuati.

MAZZOTTA, Giuseppe. Il pignoramento, l’amministrazione e la custo dia. In: CECCHELLA, Claudio (Coord.).

Guida al nuovo processo civile esecutivo. Milano: Il sole 24 ore. 2008. p.23.

218 CASTORO, Pasquale. Il processo di esecuzione nel suo aspetto pratico. 10. ed. Milano: Giuffrè, 2008.

p.172. 219

Art. 488 “(Fascicolo dell’esecuzione). Il cancelliere forma per ogni procedimento di espropriazione un

fascicolo, nel quale sono inseriti tutti gli atti compiuti dal giudice, dal cancelliere e dall’ufficiale giudiziario e gli

atti e documenti depositati dalle parti e dagli eventuali interessati. (...)”

220 CASTORO, op. cit., p.133.

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execução – equivalente aos nossos embargos do devedor.221

Uma grande discussão na doutrina italiana diz respeito ao status do ufficiale

giudiziario. Giuseppe Chiovenda sustenta que ela ainda é incerta e esclarece que a tradição

francesa afastou a possibilidade de configurá-lo como funcionário do Estado. O fato de ele ser

remunerado mediante proventos dos atos que executa, ou seja, por meio de emolumentos

fixados em tabelas judiciárias, concorre para elidir esse enquadramento funcional. Além disso,

em alguns casos especificados em lei, o ufficiale giudiziario é “equiparado” aos funcionários

do Estado, o que reforçaria o argumento favorável à sua configuração como um funcionário

público.222

Chiovenda, entretanto, refuta a configuração de relação privada naquela existente entre

a parte e o ufficiale giudiziario. Para ele, independentemente do agente de execução ser ou

não um funcionário do Estado, é “membro do tribunal como órgão complexo de jurisdição e,

consequentemente, a parte que entra em relação com o oficial de justiça, entra em relação com

o tribunal, relação que não pode ser senão pública”. A lei tão somente diz que a iniciativa para

os atos do ufficiale giudiziario é da parte, mas tais atos são exercidos nos conformes da lei.223

Conclui Chiovenda, portanto, que o ufficiale giudiziario é “um funcionário público:

não é obrigado a executar taxativamente as ordens da parte; em certos casos, pode recusar-se

a agir, como quando falta o título executório, ou o ato, que se lhe reclama, é ilícito ou

irregular; em certos casos é incapaz (CPC, art. 41). Tudo isso é inconciliável com a relação de

ordem privada.” Para ele, taxativamente, o ufficiale giudiziario não é um mandatário da

parte.224

Francesco Carnelutti desenvolve longa doutrina partindo do princípio de que o

ufficiale giudiziario é um dos sujeitos da função (ou órgão) judicial e um funcionário público

do Poder Judiciário. Partindo desse pressuposto, Carnelutti detalha i) a missão do ufficiale

giudiziario; ii) suas funções, obrigações e remuneração; iii) os requisitos para a nomeação e

221

GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.66.

222 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil – v. 2. Tradução Paolo Capitanio.

Campinas: Bookseller, 1998. p.104.

223 Ibid, p.104-5.

224 Ibid, p.105.

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exercício da função; iv) o procedimento de designação e nomeação do funcionário; v) a

distribuição das funções, de acordo com as regras de competência; vi) o contrato de emprego,

como subespécie do contrato de emprego público; vii) as obrigações genéricas do emprego

judicial e viii) as sanções penais, disciplinares e civis do empregado judicial.225

Carnelutti, em

outra obra, consigna que o ufficiale giudiziario, “do ponto de vista administrativo, é

empregado judicial, e do ponto de vista processual, oficial do processo”226

.

Leonardo Greco registra que o ufficiale giudiziario é um órgão público inserido na

organização judiciária, com funções jurisdicionais e administrativas, que assim podem ser

sintetizadas:

1. O poder-dever de verificar preliminarmente e de ofício, a qualquer

momento, se subsistem os pressupostos de legitimidade das atividades

executivas, que lhe são requisitadas pelo credor;

2. O poder autônomo e instrumental de procurar imperativamente as coisas

móveis a penhorar, na casa do devedor e nos outros locais a ele pertencentes,

recorrendo quando necessário abrir portas, grades ou recipientes e vencer

resistências, a medidas de arrombamento, coação e repressão, com a

eventual assistência da força pública;

3. O poder de busca das coisas penhoráveis sobre a própria pessoa do

devedor, com a observância de todas as cautelas necessárias a salvaguardar-

lhe o decoro, independentemente de autorização do juiz (art.513);

4. O poder discricionário de escolher os bens a penhorar, respeitadas as

indicações do devedor e do credor e as preferências legais, efetivando o ato

de penhorar.227

Castoro limita-se a dizer que “l’ufficiale giudiziario è organo (giudiziario) addetto

all’autorità giudiziaria competente per il procedimento”.228

Nos mesmos termos manifesta-se

a Comunidade Europeia: “L’esecuzione è affidata all’ufficiale giudiziario, che è un organo

pubblico e che fa parte dell’amministrazione della giustizia”.229

Apesar da grande maioria da doutrina declarar que o ufficiale giudiziario é um órgão

225

CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil – v. II (Composição do Processo).

Tradução Hiltomar Martins Oliveira. São Paulo: ClassicBook, 2000. p.266 e segs.

226 Idem, Instituições do Processo Civil – v. I. Tradução Adrián Sotero De Witt Batista. Campinas: Sevanda,

1999. p.244.

227 GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.57-8.

228 CASTORO, Pasquale. Il processo di esecuzione nel suo aspetto pratico. 10. ed. Milano: Giuffrè, 2008.

p.171.

229 Disponível em: <http://ec.europa.eu/civiljustice/enforce_judgement/enforce_judgement_ita_pt.htm>. Acesso

em: 26 jul. 2011.

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ou funcionário público, o site dos agentes de execução da Itália afirma que ele é um

funcionário civil do Estado, e que todas as interpretações sobre o tema “natureza jurídica da

relação do serviço oficial de justiça” estão desatualizadas:

La natura giuridica del rapporto di servizio dell'ufficiale giudiziario è sempre

stata variamente interpretata: è stato, di volta in volta, considerato pubblico

impiegato (Virga) oppure concessionario di un pubblico servizio o, ancora,

organo indiretto dello stato. Tali posizioni sono da considerarsi ormai

superate dall'evoluzione legislativa e giurisprudenziale: allo stato attuale,

infatti, l'ufficiale giudiziario è un impiegato civile dello stato.230

O site oficial do ufficiale giudiziario nega que ele seja um funcionário público,

esclarecendo que ele está vinculado à UNEP (Escritório de Notificações, Execuções e

Protestos), cujos profissionais, embora não pertençam ao Poder Judiciário, são considerados

auxiliares da “ordem judicial", sob a supervisão do magistrado-chefe do Tribunal. A

disciplina da carreira desses profissionais está regulamentada pelo Contratto Collettivo

Nazionale di Lavoro Comparto Ministeri per gli anni 2006-2009. Segundo tal contrato, o

ufficiale giudiziario pode ser classificado em áreas funcionais II (exigência de conclusão de

ensino médio) e III (exigência de graduação em direito, ciência política ou economia), cada

qual com um nível de remuneração, complementada pelas custas judiciárias, cuja

regulamentação encontra-se no DPR no 115, de 30.5.2002. Os concursos públicos de

admissão do ufficiale giudiziario são organizados pelo Ministério da Justiça.231

Apesar das informações prestadas pelo site do ufficiale giudiziario, com base nos

fundamentos de tantos e tão renomados juristas, mantém-se a orientação de que os agentes de

execução italianos são funcionários públicos – assim como os alemães232

–, não deixando de

ressaltar, no entanto, que tais conceitos podem ou devem ser revistos pela própria doutrina

italiana.

Por fim, e sem que esse dado possa auxiliar na questão até então discutida, já que

superficial, registra-se que os ufficiali giudiziarie são civilmente responsáveis em duas

circunstâncias, nos termos do artigo 60 do Código de Processo Civil Italiano: i) quando, sem

justo motivo, recusam-se a cumprir os atos que são deles legalmente solicitados ou mesmo

230

<http://www.ufficialegiudiziario.it/index.php?option=com_content&view=article&id=78&Itemid=64>.

Acesso em: 27 jul. 2011.

231 Ibid.

232 A atividade desenvolvida pelo Gerichtsvollzieher tem natureza híbrida ou mista (pública e privada), com

acentuadas características públicas.

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omitem-se de cumpri-los nos prazos que, com pedido das partes, são fixados pelo juiz do qual

dependem ou do qual foram delegados e ii) quando praticam um ato nulo com dolo ou culpa

grave.233

4.3 O modelo desjudicializado francês. O agente de execução é um ente privado

4.3.1 Direito Francês

O agente de execução francês tem sua atividade altamente regulamentada. Há

legislação detalhada sobre treinamento, função e constituição de escritórios. A profissão teve

o grande êxito de alcançar e manter atribuição exclusiva para uma série de importantes tarefas

processuais e ao mesmo tempo conservar sua independência e certa liberdade para exercer

outras funções de caráter não processual. As Câmaras de Huissiers234

estão na vanguarda dos

que advogam por uma maior simplificação e harmonização das medidas de execução na

Europa. Uma vez que, internamente, não há necessidade do credor portador de um título

executivo solicitar uma autorização judicial antes de proceder a sua execução, argumenta-se

que, em nível internacional, a necessidade de obter-se uma ordem de execução de um tribunal

é uma barreira à livre circulação de decisões judiciais e instrumentos autênticos.235

-236

A Comunidade Europeia e as Câmaras dos huissiers de justice em muito influenciaram

as reformas portuguesas, como será longamente demonstrado no capítulo seguinte.

Considerando que inúmeros doutrinadores portugueses afirmaram que a figura do agente de

233

Não se trata de transcrição literal, já que foram realizadas certas modificações, mas a seguinte obra foi

consultada: GAMA, Ricardo Rodrigues. Código de Processo Civil Italiano traduzido e adaptado para a

língua portuguesa. Campinas: Agá Juris, 2000. p.37.

234 Há câmaras locais, regionais e nacionais de huissiers, com distintas e especificas responsabilidades dentro da

organização hierárquica da profissão. Em linhas gerais, as câmaras locais são responsáveis pela seleção e

treinamento dos novos huissiers, questões disciplinares e representação de seus membros; as câmaras regionais e

nacionais são responsáveis por assuntos normativos e políticos.

235 KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.79.

236 Regulamento (CE) nº 44/2001, de 22.12.2000, relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à

execução de decisões em matéria civil e comercial. “Considerando o seguinte: (...) 2. Certas disparidades das

regras nacionais em matéria de competência judicial e de reconhecimento de decisões judiciais dificultam o bom

funcionamento do mercado interno. São indispensáveis disposições que permitam unificar as regras de conflito

de jurisdição em matéria civil e comercial, bem como simplificar as formalidades com vista ao reconhecimento e

à execução rápida e simples das decisões proferidas nos Estados-Membros abrangidos pelo presente

regulamento.” Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:32001R0044:

PT:NOT>. Acesso em: 29 jul. 2011.

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execução daquele país foi inspirada na do huissier, é muito importante um efetivo

aprofundamento sobre tal profissional.

Nesse passo, na França, a execução forçada dos títulos executivos judiciais e

extrajudiciais é uma atividade realizada exclusivamente pelos huissiers de justice, em caráter

de monopólio.237

-238

Todavia, a prática mostra que as agências de cobrança concorrem com os

hiussiers em situações de composição ou parcelamento, já que geralmente são mais rápidas e

baratas.239

Quando as medidas executivas forçadas recaem sobre bens móveis e quantias em

dinheiro, a execução é realizada exclusivamente pelo huissier, desde a notificação inicial até

a satisfação. O tribunal ficará inteiramente fora desses procedimentos, exceto se houver

oposição de embargos pelo executado. Assim, realizada a penhora, o devedor será

comunicado e, se não embargar, o huissier deve arrestar os bens e promover a venda em

leilões públicos ou, no caso de quantia em dinheiro penhorada junto das instituições

financeiras, requisitar a entrega dos montantes ao credor.

Já no caso da penhora recair sobre bens imóveis, os atos executivos serão realizados

através de um procedimento especial, no qual o huissier atuará conjuntamente com o Tribunal

de Grande Instância. Além dessa participação eventual do tribunal, bem como no caso de

oposição de embargos, não há previsão de outras intervenções judiciais, e sequer recursos

para outras instâncias.

O huissiers é um profissional liberal independente, que atua na execução forçada sem

qualquer tipo de autorização ou decisão judicial.240

Dentro da sua autonomia, ele pode i)

propor acordo ou plano de pagamento; ii) escolher o método executivo que considera mais

adequado ao caso específico; iii) requerer reforço policial, caso necessário, entre outros.

237

LIEBMAN, Enrico Tullio. Embargos do executado: oposições de mérito no processo de execução. São

Paulo: M.E. Editora e Distribuidora, 2000. p.102.

238 Metier du Droit: avoue, greffier, detective, avocet, huissier de justice, notaire, avocet em france, mediateur,

solicitor, bourreau. France: Books LLC, 2010. p.189-198.

239 Disponível em: <http://www.lerecouvrement.com/huissiers.html>. Acesso em: 2 agos. 2011.

240 LIEBMAN, Enrico Tullio. Embargos do executado: oposições de mérito no processo de execução. São

Paulo: M.E. Editora e Distribuidora, 2000. p.101.

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No entanto, como sua atividade tem caráter público, a sua área de atuação está

delimitada conforme a competência territorial do Tribunal de Grande Instância onde está

alocado seu escritório.241

Para ingresso na profissão, um candidato a huissier de justice deve ser graduado em

direito e, além disso, deve passar por um período de treinamento de dois anos,

compreendendo um ano de estágio em um escritório de um huissier e outro ano no exercício

efetivo ou estágio comprovado de qualquer profissão jurídica. Ao final desse tempo, o

aspirante a huissier deve submeter-se a um exame profissional realizado na câmara local de

huissiers.242

A atuação do profissional é condicionada à concessão de uma licença pelo

Ministro da Justiça, de forma que, além das qualificações necessárias, o candidato deve contar

com certa condição financeira para adquirir essa licença – que é limitada e concedida tão

somente conforme a efetiva necessidade do sistema judiciário.

Quanto aos aspectos práticos de organização e gestão dos seus negócios, o huissier de

justice pode trabalhar em um escritório próprio e individual ou associar-se a outros, operando

então por meio de alguma estrutura societária. Contudo, como princípio basilar, os agentes de

execução franceses são plenamente responsáveis pelos danos causados por seus atos, de forma

que é inaplicável o instituto da “responsabilidade limitada” às empresas por eles criadas.243

O escritório ou empresa de um huissier pode contratar outros huissiers para exercerem

determinadas funções por meio de vínculo empregatício, conforme o recentíssimo Décret n°

875 du 25 juillet 2011 relatif aux huissiers de justice salariés.244

A nomeação do huissier

241

GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.86-8.

242 “Formation: A l'issue d'un master en droit délivré par l'une des nombreuses UFR de Droit, l'huissier accomplit

un stage professionnel rémunéré de deux ans en étude d’huissier. Tout au long ' de ce stage, l'huissier stagiaire

suit une formation auprès du Département de Formation des Stagiaires qui assure la formation sous le contrôle

de la Chambre Nationale des Huissiers de Justice. Le stagiaire (on parle également de clerc expert) passe ensuite

un examen professionnel afin de se voir délivrer le diplôme d'Huissier de Justice. Cet examen est théorique et

pratique. Il est composé d'une épreuve pratique de rédaction d'actes complexes de procédure, mais aussi d'une

dissertation juridique sur un sujet de Droit privé, droit civil, droit commercial, droit de l'exécution, droit pénal ou

de droit social. Après avoir réussi les épreuves écrites d'admissibilité, le stagiaire doit ensuite satisfaire aux

épreuves orales dans les matières suivantes: droit commercial; droit civil; droit penal; droit social; déontologie;

comptabilité.” Metier du Droit: avoue, greffier, detective, avocet, huissier de justice, notaire, avocet em france,

mediateur, solicitor, bourreau. France: Books LLC, 2010. p.193.

243 KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.78.

244 Decreto criado para regulamentar o artigo 3º da LOI n°2010-1609 du 22 décembre 2010 - art. 17: “L'huissier

de justice peut exercer sa profession en qualité de salarié d'une personne physique ou morale titulaire d'un office

d'huissier de justice. Une personne physique titulaire d'un office d'huissier de justice ne peut pas employer plus

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empregado está atrelada ao escritório e ao contrato de trabalho – o que significa dizer que

caso o contrato seja rescindido ele não poderá exercer suas funções autonomamente, já que

não possui licença para tanto.

Os honorários cobrados pelos huissiers são estritamente regulados. O Decreto nº

1.080, de 12.12.1996 (alterado pelos Decretos nº 212 de 8.3.2001; nº 373 de 27.4.2001 e nº

774 de 10.5.2007) 245

prevê honorários fixos (taxas) e comissões pela recuperação do crédito.

A parte variável será paga pelo credor caso haja acordo, ou pelo devedor caso haja realização

forçada. Para garantir a acessibilidade ao serviço de caráter público, o huissier de justice tem

considerável liberdade para negociar seus honorários (descontos e parcelamentos).

d'un huissier de justice salarié. Une personne morale titulaire d'un office d'huissier de justice ne peut pas

employer un nombre d'huissiers de justice salariés supérieur à celui des huissiers de justice associés qui y

exercent la profession. En aucun cas le contrat de travail de l'huissier de justice salarié ne peut porter atteinte aux

règles déontologiques de la profession d'huissier de justice. Nonobstant toute clause du contrat de travail,

l'huissier de justice salarié peut refuser à son employeur de délivrer un acte ou d'accomplir une mission lorsque

cet acte ou cette mission lui paraissent contraires à sa conscience ou susceptibles de porter atteinte à son

indépendance. Un décret en Conseil d'Etat fixe les modalités d'application du présent article, et notamment les

règles applicables au règlement des litiges nés à l'occasion de l'exécution d'un contrat de travail après médiation

du président de la chambre départementale des huissiers de justice, celles relatives au licenciement de l'huissier

de justice salarié et les conditions dans lesquelles il peut être mis fin aux fonctions d'officier public de l'huissier

de justice salarié.” Disponível em: <http://www.legifrance.gouv.fr/affichTexte.do?cidTexte=JORFTEXT

000024400425>. Acesso em: 1 agos. 2001.

245 Em resumo, estabelece o referido decreto: I - Fixo: taxa básica, cujo valor por unidade é fixada em 2,2 euros

(há 152 atos, cujo cálculo é feito de acordo com a tabela anexa ao decreto). A taxa básica é multiplicada por 7

nos casos de notificação de pessoa sem residência, domicílio ou local de trabalho conhecido. O valor da taxa

básica é multiplicado por um coeficiente que reduz ou aumenta o valor conforme é o montante a ser recuperado.

Os coeficientes são: 0,5 quando o montante da dívida está entre 0 e 128 euros; 1 se o montante for superior a 128

euros e inferior ou igual a 1.280 euros e 2 se for maior que 1280 euros. Para esse cálculo, não importa o valor

descrito no título, mas sim o montante da dívida. II. Variável: considerado um incentivo para a recuperação de

créditos, de forma amigável ou forçada. O variável é cobrado do credor quando a recuperação é amigável e do

devedor quando é forçada. Em todos os casos, a taxa é devida proporcionalmente aos montantes recolhidos. As

taxas podem ser combinadas se a primeira fase da cobrança de dívidas é amigável e a segunda é forçada.

Ademais, o cálculo varia conforme a cobrança é destinada ao credor ou ao devedor: A) taxa variável a cargo do

credor - 4 faixas pré-estabelecidas pela diminuição do montante do dívida: 12% até 125 euros; 11% de 126 a 610

euros; 10,5% de 611 a 1.525 euros; 4% acima 1525 euros. A parte variável não pode ser inferior a 10 taxas

básicas (220 euros) nem superior a 2.000 taxas básicas (4.400 euros). Não há remuneração variável se a

recuperação é feita com base em títulos executivos i) emitidos por pessoas jurídicas de direito público; ii)

decorrentes de contratos de trabalho e iii) de natureza alimentar. B) taxa variável a cargo do devedor - 4 faixas

pré-estabelecidas pela diminuição do montante do crédito: 10% até 125 euros; 6,5% de 801 a 610 euros; 3,5% de

4.001 a 1.525 euros; 0,3% acima de 1.525 euros. A parte variável não pode ser inferior a 2 taxas básicas (4,40

euros) nem superior a 250 taxas básicas (550 euros). Nos cálculos devem ser incluídos o principal, o juros de

mora devidos na data da decisão, eventuais danos e penalidades. Além dos honorários, o huissier recebe subsídio

de transporte e o reembolso por despesas incorridas. Muitas das atividades dos huissiers não são taxadas,

principalmente àquelas não relacionadas à execução, quando então os honorários podem ser cobrados

livremente. O huissier pode reter valores para garantir o pagamento de seus honorários e despesas; pode requerer

provisão (adiantamento) para o desempenho de suas atividades; deve emitir recibo ao devedor quando o

pagamento for realizado em dinheiro. Disponível em: <http://www.lerecouvrement.com/decret12121996.html>.

Acesso em: 2 agos. 2011.

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Huissiers de justice também atuam em outras áreas jurídicas, como prestação de

consultoria e representação de clientes perante o Tribunal de Commerce e o Tribunal

Paritaire Cle Baux Ruraux. Outras atividades profissionais não relacionadas com o processo

civil, como a administração de propriedades, de fundos de poupança (ou investimento) e

agenciamento de seguros, também podem ser realizadas por huissiers, desde que obtida

autorização do Ministério da Justiça.246

Essa liberdade para se dedicar a outras atividades não se verifica na maioria das outras

jurisdições, onde geralmente os agentes de execução são funcionários do Estado, e as outras

formas de emprego (exceto docência) são consideradas incompatíveis com a função de

auxiliar da justiça. Esta é uma grande peculiaridade do huissier de justice.

Em conclusão, pode-se dizer então que a natureza jurídica da atividade do huissier é

híbrida, com acentuada característica privada, uma vez que ele é, inquestionavelmente, um

profissional liberal, mas que exerce funções públicas – ele tem autonomia por um lado e

poderes de autoridade por outro.247

4.4 O modelo (des)judicializado espanhol

Dizia Leonardo Greco:

Diferentemente do que ocorre na Itália, na Alemanha e na França, a

execução na Espanha é eminentemente jurisdicional, conduzida e presidida

diretamente pelo juiz, como órgão do Estado, nenhuma ascendência tendo o

credor sobre os auxiliares judiciais, que cumprem as ordens do magistrado e

praticam concretamente os atos executórios, sem qualquer autonomia.248

A autonomia dos auxiliares judiciais foi alterada muito recentemente, sendo objeto

específico das “Ley 13/2009, de 3 de Noviembre, de Reforma de la Legislación Procesal para

la Implantación de la Nueva Oficina Judicial”249

e “Ley Orgánica 1/2009, de 3 de Noviembre,

Complementaria de la Ley de Reforma de la Legislación Procesal para la Implementación de

246

KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in Europe. Oxford: Oxford, 2000. p.78.

247 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.27-8.

248 GRECO, Leonardo. O processo de execução – v. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p.103.

249 Leyes de reforma de la legislación procesal de 2010: Ley 13/2009 y Ley Orgánica 1/2009 para la

implantación de la nueva Oficina judicial. Madrid: Editorial Tecnos (Grupo Anaya, S.A.), 2010. p.15 e segs.

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la Nueva Oficina Judicial, por la que se modifica la ley Orgánica 6/1985, de 1 de Julio, del

Poder Judicial”250

. Referidas normas tiveram significativo impacto na “Ley 1/2000, de 7 de

Enero, de Enjuiciamiento Civil”251

– último Código de Processo Civil aprovado na Espanha –,

em todo o seu procedimento e não só no executivo.

A Lei nº 13 e a Lei Orgânica nº 1, ambas aprovadas em 3.11.2009, regulamentaram a

chamada Nova Oficina Judicial252

– “la organización de carácter instrumental que sirve de

soporte y apoyo a la actividad jurisdiccional de jueces y tribunales”, conforme a própria Lei

Orgânica do Poder Judiciário (LOPJ).

250

Leyes de reforma de la legislación procesal de 2010, op. cit., p.561 e segs.

251 Segundo Heitor Vitor Mendonça Sica, a “Ley de Enjuiciamiento Civil”, promulgada em 7.1.2000 (sob nº

1/2000), estabelece que “a ejecución se faz mediante demanda (arts. 549 e 550) e submete-se a juízo de

admissibilidade (arts. 551 e 552)”. Assim continua o procedimento após as reformas de 2009. Sica ressalta,

como novidade da Lei nº 1/2000, que “quando se tratar de execução por quantia, o juiz tem o poder de

determinar ao executado que indique seus bens passíveis de constrição, sob pena de multa pecuniária (art. 589),

sem prejuízo da investigación judicial del patrimonio del ejecutado junto a instituições financeiras e órgãos

públicos (arts. 591 e 592)”. SICA, Heitor Vitor Mendonça. Direito processual civil espanhol. In: TUCCI, José

Rogério Cruz e (Coord). Direito processual civil europeu contemporâneo. São Paulo: Lex, 2010. p.99-101. No

entanto, tal poder foi transferido ao secretário judicial na reforma de 2009. Sobre a manifestação de bens do

devedor na Lei nº 1/2000: DELCASSO, Juan Pablo Correa. La manifestación de bienes del deudor en la nueva

Ley de enjuiciamiento civil. In: Studi di diritto processuale civile in onore di Giuseppe Tarzia. Tomo II.

Milano: Giuffrè, 2005. p.1141 e segs; As alterações trazidas pela Lei nº 1/2000 sobre a execução civil naquela

ocasião não são relevantes para o objeto do presente estudo, que se concentra no agente ou órgão responsável

pelas diversas etapas da execução, mas nada impede o registro daquelas mais relevantes: i) prescrição da

execução após 5 anos do trânsito em julgado da sentença; ii) unificação das execuções, independentemente da

natureza do título; iii) oposição a execução, mais especificamente quanto aos fundamentos de defesa e

suspensividade; iv) penhora de bens, ressalvando-se a ordem de bens penhoráveis; entre outros. DOMÍNGUEZ,

Manuel Serra. La ley 1/2000 sobre enjuiciamiento civil. Barcelona: J. M. Bosch Editor, 2000. p.79 e segs.

Sobre a unificação das execuções na Lei nº 1/2000: AROCA, Juan Montero. La evolución en España del sistema

de ejecución civil. In: Studi di diritto processuale civile in onore di Giuseppe Tarzia. Tomo II. Milano:

Giuffrè, 2005. p.1194 e segs.

252 “Se dice en el preámbulo de la Ley 13/2009, de 3 de noviembre, de Reforma de la legislación procesal para la

implantación de la nueva Oficina judicial, que el objetivo fundamental que se ha propuesto el legisladores

regular la distribución de competencias entre Jueces y Tribunales, por un lado, y Secretarios Judiciales, por otro.

La idea inspiradora de la reforma, se precisa, ha sido la de concretar las competencias procesales del Cuerpo de

Secretarios Judiciales”. MARTÍN, Juan F. Principales novedades de la reforma procesal en la ejecución. In:

Revista Juridica de Catalunya, v. 109, n. 3. Barcelona: Collegi d’Advocates de Barcelona, 2010. p.56; “Con

fecha de 3 de noviembre de 2009 se aprobó la Ley 13/2009 de Reforma de la Legislación Procesal para la

implantación de la nueva Oficina Judicial (RCL 2009, 2090), en lo sucesivo LMP. Ese mismo día se aprobaba la

Ley Orgánica 1/2009, complementaria de la Ley de reforma de la legislación procesal para la implantación de la

nueva Oficina judicial, por la que se modifica la Ley Orgánica 6/1985, de 1 de julio, del Poder Judicial, en lo

sucesivo LO 1/2009”. HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer; MONTERO, Ángel de Álvaro. El núcleo de la reforma:

la función jurisdiccional y la actuación de los secretarios. In: HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer; MONTERO,

Ángel de Alvaro; OLMEDA, Alberto Palomar; BARBOLLA, Sabela Oubiña; BESGA, Borja Acha (Coord.) Las

Reformas en el Ordenamiento Procesal – Análisis de la LO 1/2009 y de la ley 13/2009. Navarra: Editorial

Aranzadi, 2010. p.133.

Page 99: Desjudicialização da Execução Civil Pereira... · 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil Tese

98

Segundo a exposição de motivos da Lei nº 13/2009253

, pretendeu-se racionalizar e

otimizar os recursos destinados à Administração da Justiça. Para tanto, os juízes devem

dedicar seus esforços exclusivamente para as funções que lhes são confiadas pela

Constituição: “julgar e executar as sentenças”, e para tanto é necessário tirar-lhes a sobrecarga

de tarefas não relacionadas com tais funções constitucionais, que devem ser realizadas pela

Nova Oficina Judicial.

Nesse passo, a reforma atribuiu a outros funcionários as responsabilidades e deveres

que não são estritamente jurisdicionais e estabeleceu sistemas de organização de trabalho para

todo o pessoal da Administração da Justiça, de modo a realizar-se a atividade judicial com a

máxima eficiência.

De acordo com a reforma, os secretários judiciais devem desempenhar um papel de

grande relevância. Os secretários possuem formação jurídica254

que lhes permite assumir a

responsabilidade por determinadas matérias que, ainda que não sejam jurisdicionais –

atribuídas exclusivamente aos juízes e tribunais –, não são menos importantes para o bom

andamento da Justiça.

Ainda segundo a exposição de motivos da Lei nº 13/2009, como a lei em questão

regula procedimento e não organização judiciária, seria necessária a aprovação da Lei

Orgânica em tramitação – aprovada na mesma data sob o nº 1/2009 –, permitindo-se colocar

em prática a reforma processual, de modo que aos secretários judiciais fossem atribuídas não

só a função de impulso formal do processo – que já possuíam –, mas também outras funções,

dentre as quais a tomada de decisões em “matérias colaterais à função jurisdicional”.

Assim, o principal objetivo da reforma é a distribuição de poderes entre juízes e

tribunais, de um lado, e secretários judiciais, de outro. Dentre os novos poderes dos

secretários judiciais estão: i) a admissão do processo (deferimento da petição inicial) – a

253

Disponível em: <http://www.boe.es/boe/dias/2009/11/04/pdfs/BOE-A-2009-17493.pdf>. Acesso em: 16 abr.

2012.

254 Os auxiliares do tribunal são selecionados por meio de concurso público e certo nível acadêmico é necessário

para a ocupação dos diferentes cargos: os oficiais de justiça devem ter um certificado de conclusão do ensino

médio e os secretários devem ser graduados em direito. Um treinamento é realizado antes da investidura no

cargo. A lei orgânica regulamenta o trabalho desses auxiliares e subsidiariamente são aplicadas as regras do

funcionalismo público. KENNETT, Wendy. The Enforcement of Judgments in Europe. Oxford: Oxford,

2000. p.80.

Page 100: Desjudicialização da Execução Civil Pereira... · 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil Tese

99

rejeição do processo (indeferimento da petição inicial) permanece sob o auspício do juiz. A

admissão da ação de conhecimento é uma mera verificação formal, cujo controle também

pode ser feito ulteriormente pelas partes e pelo juiz. A exceção está na admissão da demanda

executiva, que permanece sob competência exclusiva do juiz255

, e ii) a extinção do processo,

nos casos de acordo entre as partes, desistência do autor, satisfação extraprocessual,

prescrição, conclusão da monitória, da execução provisória ou definitiva.

As resoluções dos secretários judiciais, conforme seus novos poderes, são chamadas

de “decretos”, quando tenham por objeto a admissão ou a extinção do processo, e de

“diligências”, quando visam dar impulso ao processo ou praticar atos processuais, aí incluídos

os executivos. Todas essas resoluções podem ser revistas pelo juiz por meio dos seguintes

recursos: “recurso de reposición”, para impugnação e reconsideração da decisão do secretário

e “recurso de revisión”, para os casos em que a decisão deveria ter sido tomada pelo juiz e não

pelo secretário judicial.

Sumariamente explicada a reforma da oficina judicial – agentes da Administração da

Justiça –, a qual dotou os secretários judiciais de poderes de decisão, cabe analisar o seu

reflexo na execução, especialmente no sentido de verificar o grau de judicialização ou

desjudicialização dos atos executivos.256

255

Ainda conforme a exposição de motivos: “Se excepciona no obstante la admisión de la demanda ejecutiva,

por corresponder al Tribunal, en su mandato constitucional de juzgar y hacer ejecutar lo juzgado, el dictado de la

orden general de ejecución, así como la del juicio cambiario, porque su simple admisión conlleva la adopción de

determinadas medidas ejecutivas que deben corresponder al Juez en la medida en que afecta a derechos

patrimoniales”. 256

“La Ley 13/2009 ha acometido una profunda reforma de la LEC, en especial para que el Secretario suma

competencias dentro de la ejecución. De hecho en la ejecución, salvo su inicial autorización y despacho o la

resolución de la eventual oposición que plantee el ejecutado, así como las tercerías de dominio y de mejor

derecho, la competencia es del Secretario judicial. Em lo que a la puesta en marcha de la ejecución se refiere, ya

dijimos que corresponde al Tribunal, en su mandato constitucional de «juzgar y hacer ejecutar lo juzgado», el

dictado de la orden general de ejecución. Sin embargo, el Secretario judicial, aunque no tiene atribuida la

competencia para la admisión de la demanda ejecutiva, sí es competente para otras tareas dentro de la ejecución

de las que el art. 545.4 LEC da cumplida cuenta. En consecuencia, es competencia exclusiva y excluyente del

Juez ejecutor la admisión de la demanda ejecutiva y la apertura de la ejecución. La resolución por la que así lo

acuerda es auto que contiene la orden general de ejecución y despacho de la misma (art. 551.1 y 2). Por su parte -

emitida que ha sido por el Juez la orden general y despacho de la ejecución - corresponde al Secretario judicial

su materialización y concreción. La resolución por la que el Secretario judicial así lo acuerda es el decreto de

materialización de la ejecución (art. 551.3); decreto por el que lleva a cabo la concreción de los bienes del

ejecutado a los que ha de extenderse el despacho de la ejecución, la adopción de todas las medidas necesarias

para la efectividad del despacho, ordenando los medios de averiguación patrimonial que fueran necesarios

conforme a lo establecido en los arts. 589 y 590, así como las medidas ejecutivas concretas que procedan”.

VICENTE, Fermín Ardendáriz. Reparto de competencias entre el juiz y el secretario em el despaco de ejecución.

In: FUENTES, Fernando Toribios (Coord.). Comentarios a la ley de enjuiciamiento civil. Valladolid: Lex

Nova, 2012. p.913.

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100

Ainda nos termos da exposição de motivos da Lei nº 13/2009257

, o artigo 456.3 da Lei

Orgânica do Poder Judiciário atribuiu a tutela executiva ao secretário judicial, exceto as

competências reservadas ao juiz. Como resultado, foi necessário modificar profundamente o

Livro III do Código de Processo Civil, referente à execução, buscando definir claramente os

poderes assumidos pelos secretários judiciais e aqueles reservados ao juiz. Nesta seara, entre

as principais atribuições do secretário estão as decisões acerca das medidas executivas

específicas para levar a cabo a ordem geral de execução, que deve ser dada pelo juiz, ao

despachar a petição inicial, após analisar seus requisitos de admissibilidade.

Apesar da exposição de motivos apontar para uma ampla reforma do Livro III do

Código de Processo Civil, o que se viu foi uma mera substituição das atribuições dos juízes

para os secretários.258

-259

Nas palavras de Ignacio Colomer Hernández, “los cambios a pesar

de afectar a la gran mayoría de preceptos del Libro III de la Ley de Enjuiciameniente Civil, no

introducen novedades significativas más allá del reconocimiento del papel del secretario

judicial de manera explícita”.260

As alterações na parte da execução do Código de Processo Civil espanhol que

merecem destaque são as seguintes: i) foram incluídas como novo título executivo as

resoluções do secretário judicial, especialmente aquelas que decretam a extinção do processo

por acordo entre as partes (artigo 549 LEC); ii) foi introduzida a “ordem geral de execução”,

na qual o juiz recebe e ordena a execução (artigo 551); iii) foi alterado o despacho da

257

Disponível em: <http://www.boe.es/boe/dias/2009/11/04/pdfs/BOE-A-2009-17493.pdf>. Acesso em: 16 abr.

2012.

258 Normativa: Principales normas procesales actualizadas conforme a la reforma operada por la Ley 13/2009,

de 3 de noviembre, y Ley Orgánica 1/2009, de 3 de noviembre. Madrid, Barcelona, Valencia: Centro de Estudios

Financieros, 2010. p.290 e segs.

259 Sobre os reflexos da reforma de 2009 na execução: FLUJA, Vicente Carlos Guzmán; GUERRA, José

Antonio Colmenero; PICÓN, Antonio Dorado. Manual Práctico de la Reforma Procesal. Madri: El Derecho

Grupo Editorial, 2010. p.136 e segs.

260 E ainda: “De hecho la actual reforma introducida por la Ley 13/2009 responde en esta materia a la idea clara

de atribuir todas las gestiones y todas las funciones que pueda asumir el secretario judicial en el curso o en el

seno del procedimiento de ejecución. De ahí que, por tanto, al analizar las modificaciones introducidas en los

preceptos de la Ley de Enjuiciamiento Civil comprobaremos que con relativa frecuencia muchas de ellas se

limitan a sustituir donde aparece mencionado el tribunal por la inclusión de una mención al secretario judicial

conservando una idéntica regulación en el precepto”. HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer. La reforma del proceso

civil. In: HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer; MONTERO, Ángel de Alvaro; OLMEDA, Alberto Palomar;

BARBOLLA, Sabela Oubiña; BESGA, Borja Acha (Coord.). Las Reformas en el Ordenamiento Procesal –

Análisis de la LO 1/2009 y de la ley 13/2009. Navarra: Editorial Aranzadi, 2010. p.359-360.

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101

execução, que deve ser realizado mediante decreto do secretário judicial (artigo 551)261

; iv)

foi direcionada ao secretário a faculdade de requerer do executado a manifestação de bens,

impondo-lhe medidas coercitivas (artigo 589); v) foi transferida ao secretário uma série de

decisões que antes pertenciam ao juiz, como a entrega de bens ao exequente, a designação de

leiloeiros, a realização de acordos, a aprovação ou não de arrematações, entre outros.262

Nas palavras de Hernández, vale registrar as novas competências concretas do

secretário judicial na execução, conforme o artigo 545.4 da LEC:

Este nuevo apartado cuarto del precepto contiente una enumeración concreta

de las funciones que en el nuevo sistema corresponden al secretario judicial

en exclusiva y antes las desarrollaba el juiz:

1) Concreción de los bienes del ejecutado a los que ha de extenderse el

despacho de la ejecución,

2) Adopción de todos las medidas necesarias para la efectividad del

despacho, ordenando los medios de averiguación patrimonial que fueran

necesarios conforme a lo establecido en los artículos 589 y 590 de esta ley,

3) Adopción de las medidas ejecutivas concretas que procedan.263

Em um primeiro momento, parece claro ter havido desjudicialização da execução.

Juan F. Garnica Martín relata que quando o legislador espanhol pensou na oportunidade de

tirar do âmbito judicial a atividade da execução, como ocorre em muitos países,

imediatamente deparou-se com o impedimento constitucional. O artigo 117.3 da Constituição

espanhola diz que o exercício da atividade jurisdicional em todos os tipos de processos –

“julgar e fazer executar o julgado” – é de exclusividade dos juizes e tribunais. Por

conseguinte, a partir do referido postulado, não pareceu possível desjudicializar

completamente a execução, como desejado. Mas, por outro lado, foi dito que nada impedia

uma parcial desjudicialização, chamando-se a atenção para o literal conteúdo da norma

constitucional que dizia “fazer executar” e não “executar”. Assim, entendeu-se que apenas a

261

O despacho da execução deve conter, conforme o artigo 551: “1.º Las medidas ejecutivas concretas que

resultaren procedentes, incluido si fuera posible el embargo de bienes. 2.º Las medidas de localización y

averiguación de los bienes del ejecutado que procedan, conforme a lo previsto en los artículos 589 y 590 de esta

ley. 3.º El contenido del requerimiento de pago que deba hacerse al deudor; en los casos en que la ley establezca

este requerimiento”.

262 Disponível em: <http://www.icava.org/observatorio/obslc6.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2012.

263 HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer. La reforma del proceso civil. In: HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer;

MONTERO, Ángel de Alvaro; OLMEDA, Alberto Palomar; BARBOLLA, Sabela Oubiña; BESGA, Borja Acha

(Coord.). Las Reformas en el Ordenamiento Procesal – Análisis de la LO 1/2009 y de la ley 13/2009.

Navarra: Editorial Aranzadi, 2010. p.363.

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102

ordem de execução se encontra no núcleo da atividade jurisdicional, da qual não se admite

desjudicialização.264

Nessa esteira, a atividade executiva poderia ser delegada ao secretário judicial

especialmente porque “esta atribución se realizó sobre la base de constatar que la inmensa

mayoría de los actos y actuaciones que se llevan a cabo em el seno de la misma carecen de

natureza jurisdiccional aproximándose, cuando no siendo directamente, a una actividad de

naturaleza cuasi administrativa”265

. Frise-se, o legislador espanhol entendeu que “la actividad

ejecutiva constituye una simple actividad administrativa o de cumplimiento que no entra

dentro de lo que se puede considerar ‘orden de ejecución’, esto es, el núcleo de la actividade

jurisdiccional”266

.

O fato de o secretário ter assumido parcela dos poderes do juiz implica em

desjudicialização? Há de se considerar que a reforma não modificou a estrutura tradicional

para a execução de um título executivo na Espanha. O credor deve contratar um advogado

para preparar e distribuir um requerimento executivo perante o Poder Judiciário267

. Uma vez

provocado, ao despachar a petição inicial, o juiz deve verificar a adequação do título e expedir

uma ordem judicial para que o secretário judicial a cumpra. A execução continua sendo

totalmente judicial, ordenada pelo juiz e efetivada pelos seus auxiliares, ainda que com clara

divisão de competências.

264

MARTÍN, Juan F. Principales novedades de la reforma procesal en la ejecución. Revista Juridica de

Catalunya, v. 109, n. 3. Barcelona: Collegi d’Advocates de Barcelona, 2010. p.61-2.

265 HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer. La reforma del proceso civil. In: HERNÁNDEZ, Ignacio Colomer;

MONTERO, Ángel de Alvaro; OLMEDA, Alberto Palomar; BARBOLLA, Sabela Oubiña; BESGA, Borja Acha

(Coord.). Las Reformas en el Ordenamiento Procesal – Análisis de la LO 1/2009 y de la ley 13/2009.

Navarra: Editorial Aranzadi, 2010. p.359.

266 MARTÍN, op.cit., p.62.

267 “La demanda ejecutiva solicitada a instancia de parte debe contener: el título en que se funda la ejecución, la

tutela ejecutiva que se pretende, los bienes del ejecutado susceptibles de embargo, las medidas necesarias de

localización e investigación necesarias para conocer el patrimonio del deudor; la persona o personas contra las

que se pretende ejecutar identificándolas con sus circunstancias y en el caso de que se pretenda ejecutar una

sentencia o resolución de tribunal se deberá identificar y acompañar la misma, art. 549 de la LEC. Con la

demanda ejecutiva se acompañarán los documentos relacionados en el art. 550 de la LEC. En caso de reunir la

demanda ejecutiva los requisitos antes mencionados y ser el título presentado de los que comportan el despacho

de ejecución, se despachará ésta por parte del Juez al que se haya instado quien determinará la cuantía de la

misma, personas afectadas y medidas ejecutivas.” Disponível em: <http://ec.europa.eu/civiljustice

/enforce_judgement/ enforce_judgement_spa_es.htm>. Acesso em: 2 agos. 2011.

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103

Segundo Alberto Palomar Olmeda, a reorganização da oficina judicial foi, na verdade,

um dos elementos principais da reforma da Lei Orgânica do Poder Judiciário (LOPJ) do final

de 2003 e, sem dúvida, é também o elemento principal da LOPJ aprovada em 2009. É

possível dizer que a reforma de 2003 previa um modelo de oficina judicial que estava

pendente de desenvolvimento e implementação e que teve que ser completada com a nova

reforma.268

Vale registrar que na reforma da LOPJ de 2003 já havia sido dada, inclusive, a

atual redação do artigo 456.3.a269

, que atribui a competência da “execução” aos secretários

judiciais, salvo as questões de cunho jurisdicional – como o despacho da petição inicial, para

a análise de seus requisitos de admissibilidade.

Nem mesmo havendo expressa previsão legal a desjudicialização da execução saiu do

papel na reforma de 2003. Foram necessários 6 anos de modificação da cultura, nos termos da

seção 2.2, e aprovação de nova reforma – desta vez alterando também a lei processual – para

que finalmente houvesse a delegação de atividades do juiz para o secretário. Será? A

exposição de motivos da Lei nº 13/2009 é bastante flexível com a implementação da novidade

legal, dizendo que “la organización de la nueva Oficina ha de llevarse a cabo de forma

gradual y en función de las posibilidades organizativas, técnicas y presupuestarias de cada

Administración competente”270

. Com a brecha dada pela própria lei, talvez a reforma continue

apenas no papel.

As críticas já são muitas, no sentido de que a medida aprovada só gerará conflito entre

juízes e secretários271

e que não surtirá efeitos no congestionamento de processos, já que o

sistema está esgotado – não só os juízes estão sobrecarregados, mas também os secretários.

268

OLMEDA, Alberto Palomar. Los ejes de reforma de la gestión pública de la justicia. In: HERNÁNDEZ,

Ignacio Colomer; MONTERO, Ángel de Alvaro; OLMEDA, Alberto Palomar; BARBOLLA, Sabela Oubiña;

BESGA, Borja Acha (Coord.). Las Reformas en el Ordenamiento Procesal – Análisis de la LO 1/2009 y de la

ley 13/2009. Navarra: Editorial Aranzadi, 2010. p.52.

269 Ley Orgánica 6/1985, de 1 de julho. Artículo 456.3. “Los secretarios judiciales cuando así ló prevean las

leyes procesales tendrán competencias em las siguientes materias: a) la ejecución salvo aquellas competencias

que exceptúen las leyes procesales por estar reservadas a jueces y magistrados”.

270 Disponível em: <http://www.boe.es/boe/dias/2009/11/04/pdfs/BOE-A-2009-17493.pdf>. Acesso em: 16 abr.

2012.

271 MARTÍN, Juan F. Principales novedades de la reforma procesal en la ejecución. Revista Juridica de

Catalunya, v. 109, n. 3. Barcelona: Collegi d’Advocates de Barcelona, 2010. p.55.

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104

Para Alberto Palomar Olmeda, o modelo exige transformação272

. Parece que a

desjudicialização ainda está em processo de maturação.

Pois bem, ainda que em fase de implementação, a Espanha também ensaia uma

desjudicialização da execução, embora tenha mandito toda atividade executiva dentro de um

processo judicial. Nesse passo, a Espanha continua sendo exceção dentro dos países europeus

uma vez que não rompeu com a tradicional ação executiva, sendo necessária uma ordem

judicial para a realização dos atos executivos. Além disso, questiona-se se efetivamente está

garantida a autonomia dos novos agentes de execução e se eles realmente passarão a atuar

como tal.

De todo modo, registra-se a tendência de retirada do poder de império dos juízes na

Europa, inclusive em países de matriz essencialmente judicial no que diz respeito à execução.

4.5 O modelo administrativo sueco

A atividade executiva na Suécia faz parte da administração pública.273

O

Riksskatteverket (Conselho Tributário Nacional) era o órgão competente para a execução

forçada nos assuntos públicos e privados, sendo que parte significativa da sua atividade era

relacionada à cobrança de dívidas privadas (recuperação de crédito).274

O Estado continua

responsável pela execução de todos os créditos naquele país, mas houve uma certa alteração

estrutural nos últimos anos.

O Conselho Tributário Nacional tinha sua administração descentralizada até 2004,

quando houve uma reorganização e consolidação, criando-se então a Agência Tributária, de

272

OLMEDA, Alberto Palomar. Los ejes de reforma de la gestión pública de la justicia. In: HERNÁNDEZ,

Ignacio Colomer; MONTERO, Ángel de Alvaro; OLMEDA, Alberto Palomar; BARBOLLA, Sabela Oubiña;

BESGA, Borja Acha (Coord.). Las Reformas en el Ordenamiento Procesal – Análisis de la LO 1/2009 y de la

ley 13/2009. Navarra: Editorial Aranzadi, 2010. p.130.

273 JACOBSSON, Ulla. Enforcement procedings in Sweden. In: Revue Hellenique de Droit International, v.

50, n. 2. Atenas: Editions Ant. N. Sakkoulas, 1997. p.483 e segs.

274 “In the majority of Members States in the EU the activities of the enforcement of civil law judgments and

other enforceable civil law decisions and the recovery of tax claims are separated between the categories of

enforcement agents and recovery agents. An exception in the EU is Sweden, where both the activities of the

enforcement of civil law claims and of public law claims are dealt with by the same professional, a Kronofogde”.

BERGLUND, Mikael. Cross-Border Enforcement of Claims in the EU – History Present Time and Future. In:

European Monographs, n. 65. Netherlands: Kluwer Law International, 2009. p.111.

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105

âmbito nacional. Operando sob a direção desse Conselho, havia até então 10 autoridades

executivas regionais (kronofogalemyndighet). Em 2006 viu-se a necessidade de se criar um

único Serviço de Execução de Dívidas, também com abrangência nacional275

, cujo oficial

sênior é o kronofogde – aqui também tratado de agente de execução – e na sequência, de

separar as competências desses dois órgãos.

Mikael Berglund, Assessor Jurídico do Serviço de Execução de Dívidas, ao descrever

a história dos agentes de execução na Suécia, termina o respectivo capítulo do seu livro com

um breve apanhado dos últimos acontecimentos, mencionando as alterações organizacionais

de 2006, implementadas efetivamente em 2007:

In 1988 the previous 81 enforcement districts were reformed into 24

enforcement authorities, one in each Län/County, and in 1998 these

authorities were decreased to 10, with the National Tax Board as the superior

authority. From 1992 the summary proceeding is no longer dealt with by the

courts, but instead by the enforcement authorities. Matters of debt relief for

individuals are, since 1994, a task of the enforcement authorities. In 2006 the

national Tax Agency was reorganized with the result that two separate

authorities, one national Tax Agency, and one national Enforcement

Authority, the latter with a Rikskronofogde in charge, were established276

.

As razões políticas das alterações de 2006 e 2007 no sistema executivo sueco foram

explicadas por Frank Walterson, Conselheiro Sênior do Ministério das Finanças, por e-mail.

Segundo Walterson, os créditos públicos e privados não eram tratados exatamente da mesma

forma, uma vez que o agente de execução, em certa medida, também representava o Estado

em relação aos créditos públicos. Relativamente a esses créditos, o kronofogde podia, por

exemplo, distribuir um pedido de falência contra um devedor de impostos e ao mesmo tempo

representar o Estado durante a tramitação desse processo. Além disso, podia fazer acordos

com o devedor e aceitar garantias de pagamento, como representante do Estado.

275

“Projeto de lei do governo 2005/06:200 Um Serviço de Execução de Dívidas. O governo submete este projeto

de lei ao parlamento. Estocolmo, 12 de abril de 2006 (Departamento de Finanças). Ementa: Propõe-se que os

atuais 10 Serviços Regionais de Execução de Dívidas sejam encerrados e que um novo serviço, com atividade de

abrangência nacional, intitulado Serviço de Execução de Dívidas, seja constituído. O Serviço de Execução de

Dívidas deve, de acordo com o que o governo pretende sugerir imediatamente, ser ligado à Agência do Tesouro

nas questões estratégicas e atividades de Tecnologia da Informação e funções administrativas de suporte”.

Disponível em: <http://www.riksdagen.se/sv/Dokument-Lagar/Forslag/Propositioner-och-skrivelser/En-krono

fogdemyndighet-i-tiden_GT03200/>. Acesso em: 13 abr. 2012.

276 BERGLUND, Mikael. Cross-Border Enforcement of Claims in the EU – History, Present Time and Future.

In: European Monographs, n. 65. Netherlands: Kluwer Law International, 2009. p.104.

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106

Segundo o Conselheiro do Ministério das Finanças, o agente de execução estava em

situação de conflito de interesses: por um lado, o kronofogde deveria agir com imparcialidade

em relação aos trâmites executivos (recuperação de impostos e outras dívidas públicas), e por

outro lado, o kronofogde representava o próprio credor, ou seja, o Estado.277

Essa combinação

de diferentes papéis passou a ser criticada especialmente porque as autoridades policiais

também podem atuar na atividade executiva, caso resistida.

Uma comissão do Governo foi criada e surgiram as reformas de 2006, já mencionadas,

mas o Serviço de Execução de Dívidas ainda representava o Estado como credor. A reforma

de 2006 só não foi mais ampla porque o Governo estava preocupado com as possíveis

implicações financeiras da separação das duas administrações – fiscal e executiva –, cujos

sistemas de tecnologia da informática estavam, em grande parte, baseados em soluções

comuns.

No entanto, a oposição política não estava convencida de que as reformas tinham sido

suficientes para a garantia da imparcialidade do kronofogde, quando no trato de créditos

públicos, de forma que nas eleições de 2006 prometeu a total separação das duas agências,

liberando o agente de execução do seu papel de representante do Estado, caso assumisse o

poder.

Imediatamente após o novo governo não socialista assumir, um novo projeto foi

proposto, cuja ementa transcreve-se:

Projeto de lei do governo 2006/07:99

Um “Serviço de Execuções de Dívidas” independente

O governo submete este projeto de lei ao parlamento

Estocolmo, 22 de março de 2007

277

Para se ter uma ideia da alegada imparcialidade, é interessante examinar a lei já revogada, na parte de

competências da Autoridade Executiva após a reorganização de 2006, especialmente para compará-la às duas

leis que a substituíram. Destaque para o §1º: “Departamento de Finanças. Decreto (2006:883) com instruções

para o Serviço de Execuções de Dívidas. Publicado: 08/06/2006. Revogada pela: SFS 2007:781. Especificações:

§ 1 O Serviço de Execuções de Dívidas é ligado à Agência do Tesouro para gestão administrativa e direção de

questões estratégicas conforme está especificado neste regulamento e no decreto (2003:1106) com instruções

para a Agência do Tesouro. § 2 Caso nada mais seja disposto, o Serviço de Execuções de Dívidas responde por

questões relativas à 1. execução, nos termos do código de aplicação e outras disposições, 2. execução de acordo

com o decreto (1993:891), sobre débitos estatais, 3. ordem de pagamento e assistência, 4. renegociação de

dívidas, 5. supervisão em falência, assim como 6. garantia salarial na decretação de falência e reconstrução

empresarial. O Serviço de Execuções de Dívidas é a autoridade com jurisdição execução e recuperação, assim

como compartilhamento de dados e informações, em questões de execução e recuperação. Disponível em:

<http://www.riksdagen.se/sv/Dokument-Lagar/Lagar/Svenskforfattningssamling/Forordning-2006883-med-inst

_sfs-2006-883/>. Acesso em: 13 abr. 2012.

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107

(Departamento de Finanças)

Conteúdo principal do projeto de lei

Propõe-se que o Serviço de Execução de Dívidas seja totalmente

independente e, desta forma, não mais subordinado à Agência do Tesouro

para direção administrativa e controle de questões estratégicas. O objetivo

disto é fortalecer a confiança na capacidade do Serviço de Execuções de

Dívidas de agir imparcialmente na execução de seu trabalho.

Com a mesma finalidade é proposto que a Agência do Tesouro assuma as

tarefas de monitoramento das dívidas públicas e de petição de execução (...)

No mais, propõe-se que o sistema administrativo atual para execuções em

geral permaneça inalterado.278

O referido projeto de lei deu origem a dois decretos que separaram as atividades de

caráter fiscal/administrativo e executivo. O primeiro deles – Decreto (2007:780)279

– fixou a

competência da Agência Tributária, que desde 1.1.2008 passou a administrar o pagamento de

impostos, notificando o devedor para cumprimento voluntário dentro do prazo prescrito. Além

disso, também passou a gerenciar outros encargos de interesse do Estado, como multas de

trânsito, empréstimos estudantis, reembolso de pensão alimentícia para a custódia de crianças,

entre outros.

O segundo deles – Decreto (2007:781)280

– fixou a competência do Serviço de

Execução de Dívidas, que desde 1.1.2008 deixou de representar o Estado como credor. Caso

não haja pagamento voluntário da dívida pública, a execução é transferida ao kronofogde, que

pode cobrá-la juntamente com créditos de outra natureza, se houver, contra o mesmo devedor.

278

Disponível em: <http://www.riksdagen.se/sv/Dokument-Lagar/Forslag/Propositioner-och-skrivelser/En-

fristaende-kronofog demyndig_GU0399/>. Acesso em: 13 abr. 2012. 279

“Departamento de Finanças. Decreto (2007:780) com instruções para a Agência do Tesouro. Publicado:

1.11.200. Especificações §1 Caso nada mais seja disposto, Agência do Tesouro responde por questões sobre 1.

impostos, 2. encargos sociais, 3. encargos viários para determinados cargas pesadas, 4. encargos de Imposto

sobre Valor Acrescentado para o orçamento da União Européia, 5. tributação de imóveis, 6. registro de pessoas,

7. registro de inventários e processamento de assuntos nos termos do cap. 16 do código de herança, 8.

investigações criminais nos termos da lei (1997:1024) sobre a colaboração da Agência do Tesouro em

investigações criminais investigações criminais, 9. dados de credores nos termos da lei (2007:324), sobre as

operações da Agência do Tesouro sobre determinados dados de credores, 10. expedição de cartão de identidade

nos termos do decreto (2009:284), para pessoas registradas na Suécia, 11. registro em geral e 12. registro

matrimonial”. Disponível em: <http://www.riksdagen.se/sv/Dokument-Lagar/Lagar/Svenskforfattning ssamling/

Forordning-2007 780-med-inst_sfs-2007-780/>. Acesso em: 13 abr. 2012.

280 “Departamento de Finanças. Decreto (2007:781) com instruções para o Serviço de Execuções de Dívidas.

Publicado: 01.11.2007. Especificações: §1 Caso nada mais seja disposto, o Serviço de Execuções de Dívidas

responde por questões relativas à 1. execução, nos termos do código de aplicação e outras disposições, 2.

Execução de acordo com o decreto (1993:891), sobre débitos estatais, 3. ordem de pagamento e assistência, 4.

renegociação de dívidas, 5. supervisão em falência, assim como 6. garantia salarial na decretação de falência e

reconstrução empresarial. O Serviço de Execuções de Dívidas é a autoridade com jurisdição para execução e

recuperação, assim como compartilhamento de dados e informação em questões de execução e recuperação”.

Disponível em: <http://www.riksdagen.se/sv/Dokument-Lagar/Lagar/Svenskforfattningssamling/Forordning-

2006883-med-inst_sfs-2006-883/>. Acesso em: 13 abr. 2012.

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108

De forma geral, desde então, os diferentes tipos de créditos são tratados praticamente

de forma similar281

. Ainda assim, não houve qualquer alteração no que diz respeito à

sistemática da execução sueca quanto à competência administrativa.

Os oficiais seniores do Serviço de Execução de Dívidas – kronofogde – possuem

diploma em direito, um estágio jurídico de pelo menos dois anos 282

e são funcionários

públicos, ligados à administração pública. Nesse passo, as regras relativas à organização,

disciplina, remuneração e responsabilidade dos agentes de execução são as mesmas que se

aplicam aos funcionários da administração pública, salvo disposição especial.

4.6 A tendência da desjudicialização da execução

Vários são os países europeus que adotam o sistema desjudicializado de execução, em

diferentes níveis e formas: por intermédio de agentes públicos ou privados; com maior ou

menor autonomia; com ou sem necessidade de autorização prévia do juiz; tradicionalmente ou

mais recentemente, em atenção ao regulamento da Comunidade Europeia, entre outros.

i) Bélgica, Holanda e Luxemburgo adotam o modelo francês: agentes privados com

autonomia e poder de decisão e sistema absolutamente sedimentado; ii) Hungria, Polônia e

Finlândia preferem o modelo alemão: funcionários públicos com autonomia e sistema

consolidado; iii) Eslováquia e República Checa observam um sistema parcialmente

desjudicializado, uma vez que o agente de execução tem autonomia para os atos executivos,

mas depende de autorização prévia do juiz; iv) Romênia, Lituânia e Letônia passaram por

281

Sobre o tratamento dos créditos públicos e privados pela autoridade executiva, ver:

<http://www.kronofogden.se/download/18.70ac421612e2a997f858000100053/kronofogden_in_english.pdf>.

Acesso em: 13 abr. 2012.

282 "The candidate must have a diploma in law from a Swedish university. The education is 4½ years. A diploma

from Denmark, Finland, Iceland or Norway may be accepted if the education is judge equivalent to the Swedish

education. The candidate must also have working experience from a court and there is a program in Sweden

where they work two years as an assistant judge/junior judge. This program is obligatory for those who will be

judges, prosecutors or judicial officers. After this program at a court, the candidate can be employed by The

Enforcement Authority within one of the five regions. There the candidate participates in an internal education

during one year. Most of the time the education is practical and given locally by Judicial Officers at the office

where the candidate is placed. The head office arranges the theoretical education for all candidates once a year

and this education consists of five weeks. If the candidate passes the theoretical and the practical education and

is considered suitable for the work, the Enforcement Authority then appoints the candidate as a Kronofogde

(Judicial Officer)." Disponível em: <http://www.uihj.com/en/ressources/10148/74/suede-en.pdf>. Acesso em:

13 abr. 2012.

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109

recentes reformas no que concerne à desjudicialização da execução; v) Portugal espelhou-se

na França para desenvolver seu novo procedimento executivo, substancialmente

desjudicializado – assunto desenvolvido no capítulo seguinte.

Na Inglaterra, havia vários métodos e figuras responsáveis pela execução.283

Havia o

agente de execução do High Court (sheriff); o agente de execução do tribunal do condado

(Country Court baillif); o agente de execução autorizado (certificated bailiff) e o agente de

execução privado (private bailiff). O credor tinha certa flexibilidade para escolher o método

que mais lhe convinha284

, prática e financeiramente, já que os custos são diferentes para cada

um deles.

No entanto, recente norma (Tribunals, Courts, Enforcement Act 2007285

) reformulou

esse sistema difuso e regulamentou, mais especificamente nas seções 62 a 70, os poderes dos

bailiffs privados (certificados ou não) na recuperação de crédito por meio de penhora e venda

de bens do devedor. Neil Andrews chama a atenção para a nova abordagem dada ao assunto,

especialmente no que diz respeito aos chamados, desde então, “agentes de execução”.286

Glaucia Mara Coelho, após analisar a reforma de 2007 e o moderno sistema de agentes

de execução certificados (certificated enforcement agents), concluiu que a execução tornou-se

“um mero procedimento, praticamente administrativo, haja vista que a intervenção do juiz

somente ocorre em situações excepcionais, a posteriori do início do procedimento”.287

Nesses termos, não pode ser outra a conclusão deste estudo dos vários sistemas

executivos europeus: a desjudicialização da execução é uma tendência na Europa.288

283

TUCCI, José Rogério Cruz e. Direito processual civil inglês. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (Coord).

Direito processual civil europeu contemporâneo. São Paulo: Lex, 2010. p.239-240.

284 ANDREWS, Neil. O moderno processo civil – formas judiciais e alternativas de resolução de conflitos na

Inglaterra. Tradução Teresa Arruda Alvim Wambier. São Paulo: RT, 2010. p.203.

285 Disponível em: <http://www.legislation.gov.uk/ukpga/2007/15/contents>. Acesso em: 19 agos. 2011.

286 ANDREWS, op. cit., 204.

287 COELHO, Glaucia Mara. Notas sobre a execução de decisão judicial que determina o pagamento de quantia

nos EUA e na Inglaterra. In: Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, n. 43, jul-ago.2011. Porto

Alegre: Magister, 2011. p.15.

288 Fala-se em tendência justamente por não se tratar de um movimento absoluto. A Suíça, o último país europeu

– ressaltando-se que não é um país membro da União Européia, de modo que não é alcançado pelas

recomendações expedidas - a enfrentar o desafio da unificação de sua legislação processual civil, possui agora

um moderno código de processo, em vigor desde 1.1.2011, que substituiu os 26 códigos cantonais existentes.

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Humberto Theodoro Júnior endossa, dizendo que a “desjudicialização, ora total, ora parcial,

da execução forçada tem sido uma tônica da evolução porque vem passando o direito

processual europeu”.289

Segundo o respeitado professor, o moderno ordenamento europeu, se não elimina a

judicialidade das execuções, pelo menos reduz consideravelmente a intervenção judicial na

realização forçada do direito – essa intervenção restringe-se aos casos de litígio, discutidos

incidentalmente ao procedimento executivo. Humberto Theodoro Júnior completa seu

raciocínio: “Não há uniformidade na eleição dos meios de simplificar e agilizar o

procedimento de execução entre os países europeus. Há, porém, a preocupação comum de

reduzir, quanto possível, a sua judicialização”.290

A tendência291

a que se menciona provavelmente leva em conta as orientações da

Comissão Europeia registradas no “Regulamento (CE) nº 44/2001, de 22.12.2000, relativo à

competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e

comercial”, que exortou a simplificação e a harmonização das medidas executivas na Europa,

sugerindo, ainda que de forma sutil – descrição dos benefícios –, a utilização de agentes de

execução. Tal sugestão foi formalizada em 9.9.2003, por meio da Recomendação (Rec) nº

17/2003, que conceituou os agentes de execução como “pessoa autorizada pelo Estado para

realizar o processo de execução, independentemente do fato dessa pessoa ser empregada ou

não pelo Estado”.292

Segundo José Rubens de Moraes, “o atendimento pelos jurisdicionados aos comandos contidos nas condenações

judiciais ocorre, na experiência suíça, no mais das vezes, espontaneamente”. Caso não ocorra, “a execução

deverá ser conduzida por uma autoridade judicial”. MORAES, José Rubens de. Direito processual civil suiço. In:

TUCCI, José Rogério Cruz e (Coord). Direito processual civil europeu contemporâneo. São Paulo: Lex, 2010.

p.336-377.

289 THEODORO JÚNIOR, Humberto. As vias de execução do Código de Processo Civil Brasileiro reformado.

In: Revista IOB – RDCPC, n. 43 – set-out. 2006. São Paulo: Síntese, 2006. p.34.

290 Ibid.

291 Sobre a tendência de uniformização dos sistemas europeus em matéria de direito processual civil:

PRÜTTING, Hanns. Fundamentos y tendencias actuales em el desarrollo del Derecho Procesal Civil Europeu.

In: Revista de Processo, ano 35, n. 190, dez. 2010. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010; LUCON, Paulo

Henrique dos Santos. A eficácia das decisões e execução provisória. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

p.71.

292Disponível em: <https://wcd.coe.int/wcd/ViewDoc.jsp?Ref=Rec(2003)17&Language=lanEnglish&Site=CM

&BackColorInternet=DBDCF2&BackColorIntranet=FDC864&BackColorLogged=FDC864>. Acesso em: 20

nov. 2011.

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111

Em 2010, a Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (CEPEJ) publicou seu

último relatório anual sobre a Eficiência e Qualidade da Justiça, cujos dados são referentes a

2008. O capítulo 13, relativo à execução, reforça a Recomendação nº 17/2003 e apresenta

elementos estatísticos, demonstrando que o status do agente de execução é privado na maioria

dos Estados membros.293

-294

293

Disponível em: <https://wcd.coe.int/com.instranet.InstraServlet?command=com.instranet.CmdBlobGet&

InstranetImage=1694098&SecMode=1&DocId=1653000&Usage=2>. Acesso em: 10 abr. 2012.

294 Sobre as recomendações da Comissão Europeia: BERGLUND, Mikael. Cross-Border Enforcement of Claims

in the EU – History, Present Time and Future. In: European Monographs, n. 65. Netherlands: Kluwer Law

International, 2009. p.111-2.

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112

CAPÍTULO 5 – A recente desjudicialização da execução em Portugal

5.1 A evolução do sistema de execução de natureza pública para privada em Portugal:

reformas de 2003 e 2008

Até as reformas da execução portuguesa, a realização coercitiva de natureza civil era

competência exclusiva do Tribunal, órgão inserido na função jurisdicional do Estado e

distinto e independente do poder executivo ou administrativo e legislativo. O sistema

executivo de matriz judicial de Portugal era exatamente igual ao sistema que se conhece no

Brasil ainda hoje.

Tais reformas surgiram como resposta à crise da justiça, que envolve a morosidade no

processo e o excesso de execuções pendentes naquele país. Dentro de um contexto global de

desjudicialização295

e outro de harmonização de sistemas jurídicos dentro da Europa296

,

notou-se um movimento político/legislativo visando à liberação da economia e à redução do

peso do Estado, por meio da transferência para o setor privado de tarefas que até então

estavam – historicamente – confiadas ao judiciário.297

Dentro desse movimento, no ano 2000, o Ministério da Justiça encomendou ao

Observatório Permanente da Justiça Portuguesa um levantamento dos fatores do

entorpecimento do processo executivo de Portugal, o qual recorreu de estudos jurídicos,

sociológicos, econômicos, estatísticos e principalmente da análise das soluções encontradas

295

SOUSA, Miguel Teixeira de. A reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004. p.10; VALLES, Edgar.

Cobrança judicial de dívidas, injunções e respectivas execuções. 3. ed. Coimbra: Almedina, 2008. p.143;

FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.24; THEODORO JÚNIOR, Humberto. As vias de execução do Código de Processo Civil Brasileiro

reformado. In: Revista IOB, RDCPC, n. 43, set-out. 2006. São Paulo: Síntese, 2006. p.34; GARSON, Samy. A

viabilidade da desjudicialização do processo de execução. In: CARVALHO, Milton Paulo de (Coord.). Direito

Processual Civil. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p.514.

296 Regulamento (CE) nº 44/2001, de 22 de dezembro de 2000, relativo à competência judiciária, ao

reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial. “Considerando o seguinte: (...) 2. Certas

disparidades das regras nacionais em matéria de competência judicial e de reconhecimento de decisões judiciais

dificultam o bom funcionamento do mercado interno. São indispensáveis disposições que permitam unificar as

regras de conflito de jurisdição em matéria civil e comercial, bem como simplificar as formalidades com vista ao

reconhecimento e à execução rápida e simples das decisões proferidas nos Estados-Membros abrangidos pelo

presente regulamento.” Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=CELEX:

32001R0044:PT:NOT>. Acesso em: 20 jun. 2011.

297 PAIVA, Eduardo; CABRITA, Helena. O processo executivo e o agente de execução. 2. ed. Coimbra:

Coimbra, 2010. p.14.

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113

por outros ordenamentos jurídicos, reunindo então elementos necessários para a elaboração de

uma proposta de reforma legislativa. O Observatório elaborou, então, um relatório preliminar,

denominado “A Acção Executiva: Caracterização, Bloqueios e Propostas de Reformas”, que

foi levado à discussão pública em uma conferência realizada em 2 e 3 de fevereiro de 2003,

na cidade de Lisboa.298

A proposta defendia o abandono do modelo tradicional – o qual já não mais atendia

aos problemas da sociedade portuguesa – e a adoção de outro já consagrado em algumas

legislações processuais civis estrangeiras, caracterizado pela desjudicialização. Nesse modelo,

o papel ativo na condução do processo executivo cabe a um agente de execução, inspirado na

figura do huissier de justice francês, belga ou holandês. Ao juiz cabe decidir matérias

exclusivamente jurisdicionais – declaração do direito – , como os embargos do devedor, por

exemplo.299

Nas palavras de José Lebre de Freitas,

socorreu-se o governo anterior de estudos sociológicos e estatísticos que

encomendou ao Observatório Permanente da Justiça Portuguesa. Da análise

das linhas de evolução do movimento processual ao longo das últimas três

décadas, da decomposição do universo das acções executivas por valor, tipo

de litigante, título executivo, duração e resultado e da busca das causas e

bloqueios do processo executivo, retirou o Observatório a ideia fundamental

de que havia, não apenas que simplificar o processo e, a montante, que tomar

medidas impeditivas do crescimento das dívidas e da sua sistemática

cobrança forçada, mediante a criação de meios alternativos ao recurso aos

tribunais, mas também que entregar o processo executivo a entidades, não

judiciais, de natureza pública administrativa ou de natureza privada, mas

publicamente certificada, circunscrevendo a intervenção judicial aos casos

em que, dentro do processo executivo, por via de contestação ou oposição, se

gerassem litígios carecidos de decisão. A proposta foi radical: enquanto não

houvesse litígio, os actos executivos haviam de ter lugar fora dos tribunais;

só havendo litígio o processo, extrajudicialmente iniciado, havia de ser

conduzido ao tribunal. Era a revolução no processo executivo.300

Vale registrar que o projeto do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa e do

Ministério da Justiça sofreu inúmeras alterações até que fosse aprovado, quando então se

298

LOURENÇO, Paula Meira. A reforma da acção executiva. In: Direito em Revista, n. 3, jul-set. 2001. Lisboa:

Universidade Católica Portuguesa/Faculdade de Direito, 2001. p.3.2.

299 Ibid.

300 FREITAS, José Lebre de. Agente de execução e poder jurisdicional. In: Themis: revista de direito, ano 4, n.

7. Coimbra: Almedina, 2003. p.20-1.

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verificou a privatização dos Cartórios Notariais e a transferência da competência executiva do

juiz para o solicitador de execução.301

No entanto, a desjudicialização – subtração de atividades do Poder Judiciário –

promovida pela reforma de 2003 foi apenas parcial, já que o juiz manteve o “poder geral de

controle” sobre os processos e os agentes de execução. Uma vez superada a primeira barreira

– a aceitação do novo –, a desjudicialização foi total com a chamada reforma da reforma,

sobrevinda em 2008, quando então os juízes passaram a intervir tão somente em casos

específicos previstos em lei.302

Nesse passo, o Decreto-Lei nº 38/2003, de 3 de março (reforma)303

, visou liberar os

juízes de tarefas processuais que não fossem estritamente jurisdicionais, para que pudessem

dedicar-se aos processos de declaração de direitos. Aos agentes de execução foi atribuída a

prática dos atos necessários para a realização da execução, sem haver, no entanto, o efetivo

rompimento com o Poder Judiciário.

Já o Decreto-Lei nº 226/2008, de 20 de novembro (reforma da reforma)304

, visou o

aperfeiçoamento do modelo adotado no Decreto-Lei nº 38/2003, ampliando a

301

FREITAS, José Lebre de. A reforma do processo executivo. Ano 62, v.III, dez. 2002. Lisboa: AO, 2002.

p.2. Disponível em: <http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=30777&idsc=16886&ida=

16892>. Acesso em: 13 maio 2011.

302 Nas palavras de José Lebre de Freitas: “Na reforma executiva de 2003 (DL 38/2003), o juiz tinha o poder

geral de controle do agente de execução, podendo exercê-lo de ofício. Podia também o juiz destituir o agente de

execução, em razão de atuação dolosa ou negligente ou violação grave dos deveres estatutários. Essa apreciação

da conduta violadora do agente pelo juiz não se sobrepunha ao poder disciplinar da Câmara dos Solicitadores e

surtia efeito apenas no âmbito do processo. Com a reforma da reforma (DL 226/2008), os poderes do juiz foram

drasticamente limitados. Ao exeqüente, por sua vez, foi concedido o poder de livre destituição do agente de

execução.” Idem, A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra, 2009. p.27.

303 Sobre comentários da reforma de 2003: SILVA, Paula Costa e. As linhas gerais da reforma do Processo Civil.

In: Estudos em honra de Ruy de Albuquerque. Lisboa: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2006.

p.383-394; FIGUEIRA, José D. Barata. O solicitador de execução: o agente de execução. In: Maia Jurídica:

revista de direito, ano 1, n. 2, jul-dez. 2003. Coimbra: Coimbra, 2003. p.77-106; REGO, Carlos Lopes do. As

funções e o estatuto processual do agente de execução e seu reflexo no papel dos demais intervenientes no

processo executivo. In: Themis: revista de direito, ano 5, n. 9, 2004. Coimbra: Almedina, 2004. p.43-54;

PIMENTA, Paulo. Reflexões sobre a nova acção executiva. In: Sub Judice: justiça e sociedade, n. 29, out-dez.

2004. Lisboa: Almedina, 2004. p.81-96; CAMPOS, Isabel Menéres. As questões não resolvidas da reforma da

acção executiva. In: Sub Judice: justiça e sociedade, n. 29, out-dez. 2004. Lisboa: Almedina, 2004. p.59-68.

Sobre os trâmites da ação executiva na reforma de 2003, ver: FREITAS, José Lebre de. A acção executiva:

depois da reforma. Coimbra: Coimbra, 2004; SILVA, Paula Costa e. A reforma da acção executiva. Coimbra:

Coimbra, 2003. p.11; SAMPAIO, J. M. Gonçalves. A acção executiva e a problemática das execuções

injustas. Coimbra: Almedina, 2008; PINTO, Rui. A acção executiva depois da reforma. Lisboa, JVS, 2004.

304 Ver comentários da reforma de 2008 nos seguintes artigos: PEREIRA, Joel Timóteo Ramos. A nova reforma

da execução: o que muda? In: Sollicitare: revista da Câmara dos Solicitadores, set. 2008. Lisboa: Câmara dos

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desjudicialização da execução. Do detalhado preâmbulo305

do referido decreto é possível

observar três grandes grupos de objetivos a serem alcançados por meio das reformas

propostas, além do bom funcionamento da economia e da justiça.

Solicitadores, 2008. p.17-22; SOUSA, João Luís Peixoto de. A reforma da acção executiva. In: Vida Judiciária,

n. 134, maio 2009. Porto: Vida Econômica, 2009. p.10-3; BRITO, José Alves. Inovações introduzidas ao estatuto

do agente de execução pelo DL nº 226/2008, de 20.11: simplificação da acção executiva. In: Scientia ivridica:

revista de direito comparado português e brasileiro, tomo 58, n. 317, jan-mar. 2009. Braga: Universidade do

Minho, 2009. p.159-177; FERNANDEZ, Elizabeth. A pretensa reforma da acção executiva. In: Cadernos de

direito privado, n. 26, abr-jun. 2009. Braga: CEJUR – Centro de Estudos Jurídicos do Minho, 2009. p.18-34.

305 Decreto-Lei n. 226/2008 de 20 de novembro. “O sistema de execuções judiciais ou processo executivo é um

factor essencial para o bom funcionamento da economia e do sistema judicial. Por um lado, a economia necessita

de uma forma célere e eficaz para assegurar a cobrança de dívidas, quando seja necessário fazê-lo pela via

judicial. (...) Por outro lado, uma percentagem muito relevante do número de acções judiciais refere-se a

processos executivos que visam executar sentenças ou aceder à via judicial para executar um outro tipo de título

executivo. Com efeito, 41,1%, 36,1% e 36,9% das acções judiciais foram, em 2005, 2006 e 2007,

respectivamente, processos executivos cíveis. Portanto, actuar em benefício do bom funcionamento da acção

executiva significa agir directamente sobre uma parte muito significativa do sistema judicial. (...) Decorridos

mais de cinco anos desde a entrada em vigor da Reforma da Acção Executiva e após a adopção de várias

medidas que permitiram testar, com resultado, várias das suas inovações, é agora possível perceber

efectivamente o que deve ser aperfeiçoado no modelo então adoptado, aprofundando-o e criando condições para

ser mais simples, eficaz e apto a evitar acções judiciais desnecessárias. O presente decreto-lei adopta, pois, um

conjunto de medidas que visam esses objectivos. Em primeiro lugar, introduzem-se inovações para tornar as

execuções mais simples e eliminar formalidades processuais desnecessárias. Assim, reserva-se a intervenção do

juiz para as situações em que exista efectivamente um conflito ou em que a relevância da questão o determine. É

o que sucede quando, por exemplo, se torne necessário proferir despacho liminar, apreciar uma oposição à

execução ou à penhora, verificar e graduar créditos, julgar reclamações, impugnações e recursos dos actos do

agente de execução ou decidir questões que este suscite. Desta forma, eliminam-se intervenções actualmente

cometidas ao juiz ou à secretaria que envolvem uma constante troca de informação meramente burocrática entre

o mandatário, o tribunal e o agente de execução, com prejuízo para o bom andamento da execução. O papel do

agente de execução é reforçado, sem prejuízo de um efectivo controlo judicial, passando este a poder aceder ao

registo de execuções, designadamente para introduzir e actualizar directamente dados sobre estas. Igualmente, o

agente de execução passa a realizar todas as diligências relativas à extinção da execução, sendo esta arquivada

através de um envio electrónico de informação ao tribunal, sem necessidade de intervenção judicial ou da

secretaria. Elimina-se ainda a necessidade de envio ao tribunal de relatórios sobre as causas de frustração da

penhora, o que consistia numa formalidade redundante e sem valor acrescentado, tanto para o tribunal como para

o agente de execução. Permite-se, também, que o requerimento executivo seja enviado e recebido por via

electrónica, assegurando-se a sua distribuição automática ao agente de execução, sem necessidade de envio de

cópias em papel. Finalmente, e no sentido de agilizar a execução das sentenças condenatórias em pagamento de

uma quantia certa, permite-se ao autor, na petição inicial ou em qualquer momento do processo, declarar que

pretende executar imediatamente a sentença. Nestes casos, inicia-se a execução automaticamente após o trânsito

em julgado da sentença condenatória. Em segundo lugar, são adoptadas medidas destinadas a promover a

eficácia das execuções e do processo executivo. Nesse sentido, por um lado, passa a permitir-se que o exequente

possa substituir livremente o agente de execução, no pressuposto de que este é o principal interessado no

controlo da eficácia da execução. Esta medida é compensada com um dever de informação acrescido do agente

de execução e com o reforço do controlo disciplinar dos agentes de execução através da criação de um órgão de

composição plural, apto a exercer uma efectiva fiscalização da sua actuação. Por outro lado, tendo em conta a

necessidade de aumentar o número de agentes de execução para garantir uma efectiva possibilidade de escolha

pelo exequente, alarga-se a possibilidade de desempenho dessas funções a advogados e define-se o modelo e as

condições para assegurar aos agentes de execução a formação adequada ao desempenho das respectivas funções.

O alargamento do espectro de agentes de execução impõe alterações ao regime de incompatibilidades,

impedimentos e suspeições dos agentes de execução, restringindo as condições de exercício desta profissão, para

garantir mais transparência e confiança no sistema. Determina-se ainda, igualmente no sentido da promoção da

eficácia da execução, que o regime remuneratório dos agentes de execução incentive a sua concretização, para

garantir um acréscimo de produtividade e igualdade no tratamento das execuções. Finalmente, introduz-se a

possibilidade de utilização da arbitragem institucionalizada na acção executiva, prevendo-se que centros de

arbitragem possam assegurar o julgamento de conflitos e adoptar decisões de natureza jurisdicional nesta sede,

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116

O primeiro deles foi tornar a execução mais simples e eliminar formalidades

processuais desnecessárias. Foram abolidas as intervenções meramente burocráticas do juiz,

que passou a tão somente manifestar-se diante da existência de efetivo conflito (oposição) ou

questões relevantes. Por consequência, reforçou-se o papel do agente de execução. Além

disso, foram permitidos e disponibilizados meios para que o requerimento executivo fosse

enviado eletronicamente ao agente de execução (desmaterialização do processo).

O segundo pretendeu promover a eficácia da execução por meio de i) o aumento do

número de agentes de execução, estendendo aos advogados a possibilidade do exercício da

profissão; ii) a livre destituição do agente de execução pelo exequente, quando não houver

satisfação com o seu desempenho; iii) a modificação do regime remuneratório do agente de

execução, tornando-o mais atrativo para o profissional; iv) a criação da Comissão para a

Eficácia das Execuções, com papel de fiscalização externa; v) a introdução da arbitragem

institucionalizada na ação executiva – julgamento de conflitos e realização de atos materiais.

O terceiro visou evitar ações judiciais inúteis, por meio da criação de uma lista pública

contendo dados de todas as execuções frustradas por inexistência de bens do executado,

disponibilizada na internet.

Inúmeras portarias regulamentaram o novo regime aplicável, mas foi basicamente

assim, como descrito, que Portugal passou de um sistema de matriz jurisdicional puramente

público para um sistema híbrido ou misto, com acentuado caráter privado306

-307

, similar ao

bem como realizar actos materiais de execução. (...) Em terceiro lugar, são aprovadas medidas de carácter

essencialmente preventivo, para evitar acções judiciais desnecessárias. Cabe referir especialmente a criação de

uma lista pública disponibilizada na Internet com dados sobre execuções frustradas por inexistência de bens

penhoráveis, nomeadamente quanto ao executado. A criação desta lista pública funda-se, por um lado, na

necessidade de criar um forte elemento dissuasor do incumprimento de obrigações, factor que tem sido

assinalado internacionalmente como uma das condições que pode contribuir para o crescimento da confiança no

desempenho da economia portuguesa. Por outro lado, trata-se de evitar, a montante, processos judiciais sem

viabilidade e cuja pendência prejudica a tramitação de outros efectivamente necessários para assegurar uma

tutela jurisdicional efectiva dos direitos dos cidadãos. Com efeito, a informação constante desta lista pode ser um

precioso auxiliar na detecção de situações de incobrabilidade de dívidas e na prevenção de acções judiciais

inúteis, nomeadamente através do fornecimento público de elementos sobre as partes contratantes, o que pode

contribuir para uma formação mais responsável da decisão de contratar. À criação desta lista pública são

associadas garantias de segurança quanto à inclusão e fidedignidade das informações nela contida (...).”

306 SOUSA, Miguel Teixeira de. A reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004. p.58.

307 Elizabeth Fernandez fala em “quase privatização da realização coercitiva do direito” e chama atenção para o

fato de que o DL 226/2008 fez “substituir a expressão processo executivo por termos alternativos, como

execução ou ação executiva, o que parece ter tido como intuito ilustrar que a execução passou a ter mais

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francês. Fernando Amâncio Ferreira entende que a atividade do agente de execução

português, nos moldes do huissier de justice, tem natureza híbrida por reunir em si

características típicas de um mandatário do credor e de um oficial público.308

Para Lebre de Freitas, “tal como o huissier francês, o solicitador de execução é um

misto de profissional liberal e funcionário público, cujo estatuto de auxiliar da justiça implica

a detenção de poderes de autoridade no processo executivo.” Ainda segundo ele, a existência

dessa nova profissão implicou, reconhecidamente, larga desjudicialização (menor intervenção

do juiz no processo) da execução portuguesa.309

Assim, conclui-se que Portugal adotou duas tendências atuais do sistema de justiça

europeu: a desjudicialização310

e a privatização311

. A primeira porque se retirou do juiz

características próprias de um procedimento administrativo do que propriamente de um processo judicial.”

FERNANDEZ, Elizabeth. A pretensa reforma da acção executiva. In: Cadernos de Direito Privado, n. 26, abr-

jun. 2009. Braga: CEJUR – Centro de Estudos Jurídicos do Minho, 2009. p.22.

308 “A qualidade de mandatário do credor revela-se através das seguintes regras: sua designação, em regra, pelo

credor, no requerimento executivo, sem o qual não pode exercer seu cargo [arts. 808.º, n.º3, e 810.º, nº 1), alínea

c)]; prática diligente, designadamente no interesse do credor, dos atos processuais de que for incumbido, com

observância escrupulosa dos prazos legais ou judicialmente fixados e dos deves deontológicos que sobre si

impendem [art. 123.º, n.º 1, alínea a), do ECS]; responsabilidade civil perante o credor (e também perante o

devedor ou terceiros) pelos danos culposamente causados, como consequência da pratica de actos que excedam o

âmbito da sua competência ou traduzam utilização de meios ou expedientes ilegais ou desproporcionados no

exercício das suas funções. A qualidade de oficial público do agente de execução tem, entre outras, as seguintes

manifestações: o início das suas funções depende da prestação de juramento solene em que, perante o presidente

regional da Câmara dos Solicitadores e o presidente do Conselho Distrital da Ordem dos Advogados, assume o

compromisso de cumprir as respectivas funções, nos termos da lei e do ECS (art. 119.º, n.º 2, do ECS); a fim de

não faltar ao seu dever de objectividade, é-lhe interdito o exercício do mandato em qualquer execução, bem

como o exercício das funções próprias de agente de execução por conta da entidade empregadora, no âmbito do

contrato de trabalho e, ainda, o desenvolvimento, no seu escritório, de qualquer outra actividade, para além das

de solicitadoria e de advocacia (art. 121.º, nº 1, do ECS); dado ser detentor de uma parcela de poder público, tem

a prerrogativa de submeter a decisão do juiz os actos que dependem de despacho ou autorização jurisdicional e

acatá-la, nos seus precisos termos, para além da obrigação de prestar ao tribunal os esclarecimentos que lhe

forem pedidos sobre o andamento das diligências de que for encarregado [art. 123.º, n.º 1, alínea b) e d), do

ECS]; finalmente, a sua destituição compete exclusivamente ao Grupo de Gestão da Comissão para a Eficácia

das Execuções, com base na actuação processual dolosa ou negligente ou em violação grave de deveres

estatutários, nomeadamente os constantes do art. 123.º do ECS [arts. 808.º, n. 6, do CPC, 69.º-C, alínea f), e 69.º-

F, n.º 2, alínea a), do ECS e 9.º, n.1, da Portaria n.º 331-B/2009].” FERREIRA, Fernando Amâncio. Curso de

Processo de Execução. 12. ed. Coimbra: Almedina, 2010. p.140-1.

309 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.27-8.

310 SOUSA, Miguel Teixeira de. A reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004. p.16.

311 Ibid, p.58.

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118

funções que antes lhe estavam cometidas, e a segunda porque se transferiu a atividade para

um agente de execução, que não é funcionário público, mas um profissional liberal.312

Por fim, é importante registrar que as reformas portuguesas também reforçaram a

tutela dos interesses do exequente, afastando a excessiva proteção dos bens do devedor. A

professora Paula Costa e Silva cita alguns exemplos: i) publicidade da situação judicial e

patrimonial do executado, através da possibilidade da consulta dos registros de execução,

entre outros; ii) supressão do direito originário de nomeação de bens à penhora pelo

executado; iii) determinação do início da penhora por meio de bens de mais fácil realização;

iv) presunção de titularidade de todos os bens móveis encontrados em poder do executado,

entre outros.313

Esse aspecto, embora pouco comentado pela doutrina portuguesa, parece ser de

enorme relevo, uma vez que não se deve esperar milagres de reformas legislativas se “grande

parte do problema está na falta de patrimônio suficiente para a satisfação dos débitos, em

contrapartida à excessiva proteção dos bens do devedor.”314

5.2 O agente de execução

A reforma estabelecida pelo Decreto-Lei nº 38/2003 transferiu a competência para a

prática dos atos executivos dos juízes para os agentes de execução – cargo assumido pelos

solicitadores.315

Os agentes passaram a realizar todas as diligências do processo de execução,

incluindo citações, notificações, publicações, penhoras, vendas e pagamentos.316

312

SILVA, Carlos Manoel Ferreira da. Um novo operador judiciário: o solicitador de execução – estatuto e

funções. In: YARSHELL, Flávio Luiz; MORAES, Maurício Zanoide de (Coord.). Estudos em homenagem à

professora Ada Pellegrini Grinover. 1. ed. São Paulo: DPJ, 2005. p.514.

313 SILVA, Paula Costa e. As linhas gerais da reforma do Processo Civil. In: Estudos em honra de Ruy de

Albuquerque. Lisboa: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2006. p.391-4.

314 RIBEIRO, Flávia Pereira. Impugnação ao cumprimento de sentença – de acordo com a Lei 11.323/2005.

Curitiba: Juruá, 2009. p.43.

315 “Por que entregar tal mister aos conhecidos solicitadores? Era preciso entender porque o legislador português

confiou a essa categoria profissional novas e importantes competências no processo executivo. A escolha, pelo

que se viu, atendeu ao aspecto prático. Informa RESENDE, no particular, que os solicitadores são uma classe

antiga, referida nas Ordenações Afonsinas e regulamentada nas Ordenações Filipinas, constituída em associação

pública há mais de sete décadas. Com larga experiência e tradição na área jurídica, notadamente em questões

patrimoniais, de direito de família e comercial, dentre outras, suas atribuições profissionais se assemelhavam

com as dos agentes de execução de outros sistemas. Não menos importante na escolha do legislador português

foram as vantagens de os solicitadores já estarem profissionalmente organizados, sujeitos a regras disciplinares

próprias. Além disso, a categoria alcançava razoável extensão geográfica”. SCHENK, Leonardo Fria.

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119

Antes de entender a figura do agente de execução português é preciso que se

compreenda a solicitadoria, e consequentemente a atividade dos solicitadores, já que não há

no sistema jurídico brasileiro instituto similar.

O solicitador é um profissional liberal que pratica atos jurídicos para outros, mediante

remuneração. Ele pode desempenhar atividade extrajudicial, judicial ou consultoria. No

exercício da primeira delas, i) ele representa, aconselha e acompanha os cidadãos junto aos

órgãos da administração, tribunais e cartórios, entre outros, obtém documentos e certidões e

elabora contratos e minutas de escritura; na segunda atividade, ii) ele intervém em causas nas

quais não é obrigatória a constituição de advogados – em geral, causas de baixo valor

econômico ou jurisdição voluntária; na terceira, iii) ele presta aconselhamento jurídico em

toda e qualquer área do direito.317

Apesar de o solicitador estar habilitado para exercer quase todo o tipo de atividade

jurídica, não lhe era exigido nenhum tipo de formação acadêmica até a entrada em vigor do

Decreto-Lei nº 8/99, de 8 de janeiro. O artigo 71 do referido decreto (Estatuto dos

Solicitadores vigente à época) passou a exigir bacharelado em direito ou solicitadoria para a

inscrição do solicitador no estágio obrigatório para o exercício da atividade.

Na primeira reforma da execução (2003), ocorrida após 4 anos de tal exigência,

poucos solicitadores possuíam algum tipo de formação acadêmica. Visando adequação à nova

realidade e à nova profissão do agente de execução, foi aprovado um novo Estatuto dos

Solicitadores – via Decreto-Lei no 38/2003 –, por meio do qual, entre outras questões

relevantes, se previu que os antigos solicitadores regularmente inscritos passassem

automaticamente à condição de agentes de execução, em caráter de regime especial,

independentemente dos requisitos curriculares e acadêmicos (art. 3).

Nesse passo, muitos dos agentes de execução que passaram a desempenhar atividades

executivas naquela ocasião não tinham qualquer formação técnica, experiência ou maturidade

Distribuição da competência no processo executivo português reformado. In: Revista Eletrônica de Direito

Processual, v. III, jan-jun. 2009. Patrono: José Carlos Barbosa Moreira. <hrrp://www.redp.com.br>, p.214.

316 SILVA, Paula Costa e. A reforma da acção executiva. Coimbra: Coimbra, 2003. p.11.

317 Disponível em: <http://www.solicitador.net/pagePrint.asp?pagID=37>. Acesso em: 13 maio 2011.

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120

profissional para tanto. A falta de preparo dos novos solicitadores de execução, aliada à falta

de infraestrutura para a implementação do novo projeto, foi alvo de crítica por vários

estudiosos, conforme ressalta Ivan Alemão.318

Para compensar os problemas surgidos pela falta de formação dos agentes de execução

na primeira reforma – bem como aumentar o número de agentes de execução e garantir uma

efetiva escolha pelo exequente, nos termos do preâmbulo do Decreto-Lei no 226/2008 –, a

reforma da reforma estabeleceu que advogados pudessem candidatar-se, e se admitidos e

aprovados no respectivo estágio, exercessem a atividade de agentes.319

Assim, podem ser

agentes de execução solicitadores e advogados que obtenham êxito no estágio legalmente

previsto.

A instrução e o preparo dos agentes de execução passaram a ser alvo de toda a atenção

do sistema português. Desde então, para que um novo solicitador ou advogado torne-se agente

de execução, além de contar com a exigida formação acadêmica, deve ele cursar um estágio

com o prazo de duração de 10 meses, cujo exame de admissão e avaliação é realizado por

uma entidade independente denominada Comissão para a Eficácia das Execuções – CPEE.

Rigorosos critérios para tal estágio foram definidos pelo Decreto-Lei no 226/2008, que alterou

o atual Estatuto da Câmara dos Solicitadores.320

318

“A falta de preparo dos novos solicitadores, como não poderia deixar de ser, foi ressaltada por alguns

estudiosos, ao lado da precariedade geral de infra-estrutura para a implementação do novo projeto. Pimenta

(2004, p.84) faz um balanço negativo da implementação da nova lei, afirmando que se deveria ter esperado mais

tempo para que entrasse em vigor. Relata ainda que, dada a urgência, a opção foi recrutar agentes na classe

profissional dos solicitadores, que receberam uma formação apressada. Teixeira (2004, p.29) alerta para a

escassa formação dos solicitadores e a sua natural inexperiência. Freitas (2004, p.8) se refere ao parco número e

à insipiente preparação dos solicitadores de execução, embora afirma ter havido enorme esforço, nesse sentido,

da Câmara dos Solicitadores. Campos (2004, p.59) diz que a reforma foi apresentada como solução "mágica",

redundando em fracasso sob muitos aspectos, dentre os quais o fato de que o diploma entrou em vigor sem

estarem criados os meios e as estruturas que o pressupunham.” ALEMÃO, Ivan. A reforma da execução em

Portugal. <http://jus.uol.com.br/revista/texto/10000/ reforma-da-execucao-em-portugal>. Acesso em: 18 maio

2011.

319 “O campo de recrutamento do solicitador de execução poderia ter sido alargado aos advogados. Muitas das

funções desempenhadas pelos solicitadores de execução revestem natureza jurídica, pelo que seria natural que

esta nova profissão fosse acessível aos advogados.” VALLES, Edgar. Cobrança judicial de dívidas, injunções

e respectivas execuções. 3. ed. Coimbra: Almedina, 2008. p.143 (livro publicado anteriormente ao Decreto-Lei

n. 226/2008).

320 Artigo 118º. “Estágio de agente de execução: 1 - A duração do estágio de agente de execução é de 10 meses.

2 - O estágio inicia-se pelo menos uma vez por ano, segundo as disposições do Estatuto e do regulamento de

estágio a aprovar pelo Conselho Geral. 3 - São admitidos a estágio os candidatos melhor classificados em exame

anónimo de admissão até ao número de candidatos a admitir, definido nos termos da alínea b) do artigo 69°-C. 4

- Não são admitidos a estágio os candidatos com classificação inferior a metade da escala de classificação

utilizada. 5 - O exame de admissão a estágio referido no número anterior versa sobre o processo executivo,

sendo a elaboração do exame, a definição dos critérios de avaliação e a avaliação efectuadas por entidade externa

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121

No que se refere à prática profissional, para que passe a atuar em um processo

específico, o agente de execução deve ser designado pelo exequente. Ele então é notificado

por meio eletrônico, podendo aceitar ou não o encargo. Do mesmo modo que é livremente

designado, também é substituído pelo exequente não satisfeito com o seu desempenho. Com

fundamento em atuação processual dolosa ou negligente ou em violação grave de algum dever

imposto pelo Estatuto dos Solicitadores, ele pode ser destituído pelo órgão com competência

disciplinar sobre os agentes de execução – a Comissão para a Eficácia das Execuções.

O agente de execução pode, sob sua responsabilidade, promover a realização de

diligências que não constituam ato de penhora, venda, pagamento ou outro de natureza

estritamente executiva, por meio de empregados ao seu serviço, credenciados na Câmara dos

Solicitadores. Além disso, as diligências que impliquem deslocamento para fora da comarca

de execução podem ser realizadas por agentes de execução da respectiva área, a pedido e sob

a responsabilidade do agente designado. Como o agente de execução pode “substabelecer”

certos poderes, muitos escritórios tornaram-se verdadeiras empresas de solicitadoria.

e independente em relação à Câmara dos Solicitadores e à Ordem dos Advogados, designada pela Comissão para

a Eficácia das Execuções. 6 - O primeiro período de estágio tem a duração de três meses e compreende a

frequência de um curso de formação destinado aos solicitadores ou advogados que estejam ou possam vir a estar

em condições de se inscrever ou registar como agente de execução e que tenham sido admitidos a estágio nos

termos do n.° 3. 7 - O curso previsto no número anterior é organizado nos termos do regulamento de estágio

devendo, num mínimo de 70% do tempo lectivo, versar sobre: a) Direitos fundamentais; b) Novas tecnologias de

informação e de comunicação a utilizar no desempenho das funções de agente de execução; c) Técnicas de

resolução de conflitos, designadamente em situações de sobreendividamento; d) Fiscalidade e contabilidade do

processo aplicada às funções de agente de execução. 8 - O segundo período de estágio inicia-se imediatamente

após o final do curso previsto no número anterior e destina-se a proporcionar ao agente de execução estagiário o

exercício dos conhecimentos adquiridos, dos direitos e deveres e das funções de agente de execução. 9 - O

segundo período de estágio tem a duração de sete meses e decorre sob a direcção de um patrono, livremente

escolhido pelo estagiário ou, a pedido deste, nomeado pelo Conselho Geral. 10 - Só pode aceitar a direcção do

estágio, como orientador, o agente de execução com, pelo menos, dois anos de exercício efectivo de profissão,

sem punição disciplinar superior à de multa. 11 - À nomeação de orientador é aplicável, com as devidas

adaptações, o disposto nos nos 3 a 6 do artigo 97° 12 - Durante o segundo período de estágio e sob orientação de

orientador, o agente de execução estagiário pode praticar todos os actos de natureza executiva em execuções de

valor inferior à alçada dos tribunais de primeira instância. 13 - A conclusão do estágio com aproveitamento

depende de avaliação positiva do trabalho desenvolvido pelo estagiário durante o estágio, efectuada pela

entidade externa e independente designada nos termos do n° 5. 14 - Na avaliação prevista no número anterior

deve ser tida em conta, designadamente: a) A auto-avaliação do estagiário; b) Uma discussão com o estagiário

acerca dos processos em que teve intervenção e dos actos que praticou; c) O grau de aplicação dos

conhecimentos adquiridos na primeira parte do estágio, designadamente quanto aos aspectos referidos no n° 7; d)

A informação fornecida pelo orientador. 15 - Exclusivamente para os efeitos previstos no número anterior, a

entidade referida no n° 13 pode aceder aos dados dos processos executivos em que o agente de execução

estagiário teve intervenção, estando obrigada aos mesmos deveres de sigilo que o agente de execução. 16 - A

entidade externa e independente referida nos nºs 5 e 13 não pode: a) Ser designada para os efeitos previstos no

nºs 5 a 13 por mais de três períodos de estágio consecutivos; b) Ministrar cursos ou associar-se à organização de

cursos de preparação para o exame de admissão a estágio de agente de execução durante o período para o qual

for designada.”

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122

Na prática de diligências junto do executado, de organismos oficiais ou de terceiros, o

agente de execução identifica-se por meio de cartão profissional expedido pela Câmara dos

Solicitadores, bem como por um comprovante impresso emitido pelo sistema informático que

lhe dá suporte, demonstrando sua indicação em determinado processo.

O agente de execução é obrigado a aplicar, na remuneração dos seus serviços (artigo

126º do ECS), as tarifas aprovadas pela Portaria nº 331-B/2009, não podendo cobrar valores

excedentes aos definidos por lei (artigos 11º a 25º e os Anexos I e II da referida Portaria321

).

Contudo, as tarifas são definidas como valores máximos, ficando a critério do agente de

execução cobrar valores inferiores àqueles estabelecidos.

No sentido de promover a eficácia da execução, o regime remuneratório do agente de

execução, fixado na Portaria nº 331-B/2009322

, incentiva a previsibilidade dos custos, a

produtividade dos agentes de execução e a celeridade no tratamento das execuções. Para

tanto, inicialmente o agente de execução tem direito a ser remunerado pelos atos praticados ou

procedimentos realizados até um valor máximo. Adicionalmente, tem uma remuneração

variável em função do valor e da fase processual323

em que o montante da execução for

recuperado ou garantido, sendo maiores os honorários quanto mais rapidamente o agente de

execução conseguir terminar o processo (artigo 20º e tabela do Anexo II da Portaria nº 331-

B/2009).324

-325

321

Portaria e Anexos I e II disponíveis em <http://dre.pt/pdf1sdip/2009/03/06201/0000500023.pdf>. Acesso em:

16 maio 2011.

322 Portaria nº 331-B/2009 – Preâmbulo: “(...) Também a revisão do regime da remuneração e despesas do agente

de execução, que esta portaria regulamenta, visa incrementar a eficácia das execuções judiciais através de

incentivos à sua concretização, para garantir um acréscimo de produtividade e igualdade no tratamento das

execuções. Em especial, destaca-se a criação de incentivos destinados a premiar a eficácia e a rapidez na

realização da execução, bem como um sistema de tarifas máximas, sendo o valor das mesmas livremente fixado

abaixo desse valor máximo, com as inerentes vantagens para os utilizadores do sistema, que assim passam a

poder optar pelo melhor serviço, ao melhor custo (...).”

323 Artigo 15º da Portaria nº 331-B/2009 – “Fases do processo executivo: 1- Para efeitos de adiantamento de

honorários e de despesas ao agente de execução o processo executivo divide-se nas seguintes fases: a) A fase 1,

que se inicia com o envio do requerimento executivo ao agente de execução designado e termina com: i) A

notificação do exequente do resultado da consulta ao registo informático das execuções e dos bens penhoráveis

identificados ou do facto de não ter identificado quaisquer bens penhoráveis; ou ii) O pedido de adiantamento de

honorários e de despesas para a realização da penhora dos bens identificados no requerimento executivo; b) A

fase 2, que compreende a penhora de bens e a citação dos credores e que termina com a primeira decisão do

agente de execução de iniciar as diligências necessárias para a realização do pagamento; c) A fase 3, que termina

com a extinção da execução.”

324 O professor Teixeira de Sousa chama a parte variável de quota litis, já que depende do resultado obtido no

processo. SOUSA, Miguel Teixeira de. A reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004. p.56.

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123

Os agentes de execução também têm direito ao reembolso das despesas incorridas nas

diligências necessárias ao exercício de suas funções, desde que devidamente comprovadas.

Por fim, é da maior importância a análise da responsabilidade civil do agente de

execução, consignado que para muitos doutrinadores a questão não está clara. Segundo

Miguel Teixeira de Sousa, a responsabilidade do agente de execução, enquanto titular do

órgão da execução e portanto, no exercício de prerrogativas de poder público (função

parajurisdicional), é regulamentada pelo Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual

do Estado, aprovado pela Lei n° 76/2007, de 31 de dezembro. Nesse passo, resumidamente, i)

o Estado é exclusivamente responsável pelos danos que resultem de ações ou omissões ilícitas

dos agentes, cometidas com culpa leve (art. 7, n° 1); ii) o agente de execução é responsável

pelos danos que resultem de ações ou omissões ilícitas, por ele cometidas com dolo ou

negligência (art. 8, n°1); iii) o Estado é solidariamente responsável pelos danos que resultem

de ações ou omissões ilícitas dos agentes, cometidas com dolo ou negligência (art. 8, n° 2);

iv) o Estado goza do direito de regresso, na hipótese de ser responsabilizado por atos do

agente de execução cometidos com dolo ou negligência (art. 8, n° 3).326

José Lebre de Freitas concorda e frisa que a desjudicialização “não impede a

responsabilidade do Estado pelos actos ilícitos que o solicitador de execução pratique no

exercício da função, nos termos gerais da responsabilidade do Estado pelos actos dos seus

funcionários .”

327

O Estatuto da Câmara dos Solicitadores indica que o agente de execução é responsável

por todos os seus atos, sem deixar claro se essa responsabilidade é objetiva ou subjetiva.

Tende-se a crer que é subjetiva, ou seja, que o agente de execução responde pelos danos

325

Paula Costa e Silva, em livro publicado logo após a primeira reforma, questiona a parte variável da

remuneração dos agentes de execução devida “em função dos resultados obtidos”, nos termos da então vigente

Portaria n. 708/2003, de 4 de agosto. Dizendo tratar-se de verdadeiro “prêmio de produtividade”, a renomada

professora lusitana vislumbrava o risco de “andarem celeremente as grandes execuções, tendo as pequenas um

ritmo bem mais lento”. SILVA, Paula Costa e. A reforma da acção executiva. Coimbra: Coimbra, 2003. p.14.

326 SOUSA, Miguel Teixeira de. Novas tendências de desjudicialização na acção executiva: o agente de

execução com órgão da execução. In: Cadernos de direito privado. I SEMINÁRIO DOS CADERNOS DE

ESTUDOS DE DIREITO PRIVADO. O processo civil entre a justiça e a celeridade. Braga: CEJUR – Centro de

Estudos Jurídicos do Minho, 2010. p.9.

327 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.28.

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124

causados em razão de atos contrários às suas obrigações legais e estatutárias. No entanto, a

presidente da Comissão para a Eficácia das Execuções, Professora Paula Meira Lourenço,

afirma ser objetiva, conforme item 5.6 deste Capítulo.

Ainda segundo tal Estatuto, dentre outros, é dever do agente de execução “contratar e

manter seguro de responsabilidade civil profissional de montante não inferior a 100 000

euros” (art. 123, n° 1, letra n). Além disso, há um Fundo de Garantia dos Agentes de

Execução gerenciado por um profissional indicado pelo Conselho Geral da Câmara dos

Solicitadores para assegurar o cumprimento das obrigações e responsabilidades resultantes do

exercício da atividade (art. 127-A).

Assim, embora não muito clara a questão, entende-se que há regulamentação

suficiente para garantir o direito de reparação das partes ou terceiros eventualmente

prejudicados por qualquer ato do agente de execução.

5.3 O juiz de execução

O juiz de execução pertence a um juízo ou secretaria (vara) especializada. Onde não

houver um juízo de execução, cumpre aos juízes de competência genérica exercer, no âmbito

do processo executivo, as competências previstas no artigo 809 do Código de Processo Civil

Português:

1 - Sem prejuízo de outras intervenções estabelecidas na lei, compete ao juiz

de execução:

a) Proferir despacho liminar, quando deva ter lugar;

b) Julgar a oposição à execução e à penhora, bem como verificar e graduar

os créditos, no prazo máximo de três meses contados da oposição ou

reclamação;

c) Julgar, sem possibilidade de recurso, as reclamações de actos e

impugnações de decisões do agente de execução, no prazo de 10 dias;

d) Decidir outras questões suscitadas pelo agente de execução, pelas partes

ou por terceiros intervenientes, no prazo de cinco dias.

Nos termos dos números 2 e 3 do artigo 809 do Código de Processo Civil português, o

juiz de execução não deve ser provocado indevidamente. Quando for manifestamente

injustificado o pedido de sua intervenção, o juiz pode aplicar multa ao requerente. Em se

tratando de agentes de execução, além da multa, o juiz pode notificar o órgão de competência

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125

disciplinar – a Comissão para a Eficácia das Execuções – para que sejam tomadas as

respectivas providências. Essas decisões do juiz de execução são irrecorríveis.

Vale observar que não há previsão de multa para oposições à execução ou à penhora

manifestamente improcedentes. O direito de impugnar execuções e penhoras que se

desenvolvam de forma injusta ou ilegal recebe, assim, maior respaldo dentro de um sistema

desjudicializado.

Por fim, é importante ressaltar que, tal como o agente de execução, a figura do juiz de

execução introduzida no ordenamento jurídico português por meio do Decreto-Lei nº 38/2003

foi inspirada em idêntica figura do direito francês.328

No entanto, a realidade e a estrutura

portuguesas em muito diferem daquelas existentes no país de origem desse tipo de execução

desjudicializada. Por tal razão, registra-se que na data de entrada em vigor da primeira

reforma não havia nenhum juízo de execução criado; que ao longo dos anos alguns foram

criados – não mais que uma dezena –; e que ainda hoje são escassos.329

A maioria das

questões suscitadas na execução é decidida por um juiz de competência genérica.

5.4 A Comissão para a Eficácia das Execuções

A Comissão para a Eficácia das Execuções foi criada pelo Decreto-Lei no 226/2008,

de 20 de novembro – reforma da reforma –, mas regulamentada pelo Decreto-Lei no

165/2009, de 22 de julho. Nos termos do preâmbulo daquele decreto, só haveria plena

confiança da sociedade nas ações executivas se um órgão independente pudesse exercer a

disciplina dos agentes de execução, realizar fiscalizações e formatar, com rigor, os estágios

obrigatórios, para que houvesse uma adequada formação técnico-jurídica e ético-profissional

dos candidatos.

Para manter sua independência e isenção, a CPEE deve ser composta por

representantes dos vários setores interessados na eficácia da ação executiva, como o Conselho

328

“O novo processo civil francês institui ainda a figura do juiz da execução, que tem por finalidade coordenar a

realização dos atos executivos. Também compete ao juízo da execução julgar os incidentes que surjam no curso

da execução (p. ex., propriedade de um bem penhorado) e conceder medidas conservativas (p. ex., sequestro)”.

LUCON, Paulo Henrique dos Santos. A eficácia das decisões e execução provisória. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2000. p.108. 329

FERREIRA, Fernando Amâncio. Curso de Processo de Execução.12.ed. Coimbra: Almedina, 2010.p.140-1.

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126

Superior da Magistratura; os Ministérios da Justiça, das Finanças e da Segurança; a Câmara

dos Solicitadores; a Ordem dos Advogados; o Colégio de Especialidade dos Agentes de

Execução; a Associação dos Consumidores ou dos Usuários dos Serviços da Justiça; e o

Conselho Econômico e Social português.

Como dito anteriormente, o nível de formação dos agentes de execução tornou-se uma

das grandes fontes de preocupação do Governo português, em razão das muitas críticas

recebidas após a reforma de 2003. Assim, a Comissão recebeu a especial missão de emitir

recomendações330

sobre a formação dos agentes de execução, definindo critérios gerais;

estabelecer o número de candidatos para cada estágio anual; escolher e designar a entidade

externa responsável pela elaboração do exame de admissão no estágio de agente de execução

(a Pontifícia Universidade Católica de Lisboa foi a eleita nos anos de 2009 e 2010); aprovar o

relatório anual das atividades desempenhadas no estágio; e realizar a avaliação final dos

estagiários.

Além da formação, a Comissão para a Eficácia das Execuções vem tentando

aperfeiçoar os serviços prestados pelos agentes de execução, realizando uma exigente e

criteriosa inspeção de todos os agentes.331

Para tanto, a CPEE fixou um programa de ação

disciplinar e de fiscalização de acordo com as orientações da Comissão Europeia para a

Eficácia da Justiça, do Conselho da Europa332

, registrando-o em um manual de orientação

para o agente de execução.

330

<http://www.cpee.pt/media/uploads/pages/32_RECOMENDACOES_da_CPEE_FORMACAO.pdf>. Acesso

em: 13 maio 2011.

331 A fiscalização do agente de execução pela CPEE é realizada das seguintes formas: 1) monitoramento dos

meios eletrônicos, uma vez que toda a atividade e diligência realizada deve ser cadastrada no GPESE/SISAA

(sistema da Câmara dos Solicitadores); 2) vistoria nos escritórios dos agentes, para verificação, por exemplo, da

existência de tabela de tarifas, de seguro de responsabilidade civil, do devido arquivamento de processos findos,

da certificação digital nos computadores, do cadastro dos funcionários na Câmara dos Solicitadores, da

observância de prazos e registros dos atos no site apropriado, entre outros.

332 "(...) IV. Enforcement agents: 1. Where states make use of enforcement agents to carry out the enforcement

process, they should comply with the principles contained in this recommendation. 2. Enforcement agents' status,

role, responsibilities and powers should be prescribed by law in order to bring as much certainty and

transparency to the enforcement process as possible. States should be free to determine the professional status of

enforcement agents. 3. In recruiting enforcement agents, consideration should be given to the moral standards of

candidates and their legal knowledge and training in relevant law and procedure. To this end, they should be

required to take examinations to assess their theoretical and practical knowledge. 4. Enforcement agents should

be honourable and competent in the performance of their duties and should act, at all times, according to

recognised high professional and ethical standards. They should be unbiased in their dealings with the parties

and be subject to professional scrutiny and monitoring which may include judicial control. 5. The powers and

responsibilities of enforcement agents should be clearly defined and delineated in relation to those of the judge.

6. Enforcement agents alleged to have abused their position should be subject to disciplinary, civil and/or

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127

No efetivo exercício do poder disciplinar sobre os agentes de execução, em caso de

não observância dessas orientações, bem como das leis, portarias e regimento interno da

Câmara dos Solicitadores, a CPPE pode instaurar processos disciplinares, cuja procedência

pode implicar penas de suspensão à expulsão do profissional. Ela também deve decidir

questões relacionadas aos impedimentos e suspeições do agente de execução.

5.5 Tramitação da ação executiva

Neste tópico tentar-se-á fazer um breve resumo sobre o procedimento executivo

desjudicializado, utilizando-se, em regra, a sequência de fases apresentada pelo Código de

Processo Civil português. Pretende-se dar ênfase aos trâmites que sofreram efetiva mudança

com as reformas, mas não se deixará de apontar os demais atos, para que seja possível

transmitir a noção do “todo”, ou seja, começo, meio e fim da execução realizada pelo agente

de execução português.

Não custa lembrar que será feito o devido “corte” mencionado na introdução, ou seja,

tão somente será detalhado o procedimento da execução para pagamento de quantia certa.

Registra-se, rapidamente, que os outros tipos de execução sofreram poucas alterações, apesar

de serem realizadas pelo agente de execução. Assim, na execução para entrega de coisa certa,

nos termos do art. 928 do CPC português, o executado é citado para fazer a entrega ou

apresentar sua oposição no prazo de 20 dias. Já na execução para obrigação de fazer, nos

termos do art. 933 do CPC português, o executado é citado para realizar suas obrigações ou

apresentar sua oposição no prazo de 20 dias, sendo cientificado de que o credor pode i)

requerer a prestação por outrem, sendo devidos então os valores despendidos com tal

providência (em se tratando de obrigação fungível) ou ii) exigir indenização pelos danos

sofridos pela não realização da prestação pelo próprio executado (em se tratando de obrigação

não fungível).

criminal proceedings, providing appropriate sanctions where abuse has taken place. 7. State-employed

enforcement agents should have proper working conditions, adequate physical resources and support staff. They

should also be adequately remunerated. 8. Enforcement agents should undergo initial and ongoing training

according to clearly defined and well-structured aims and objectives”. Disponível em:

<https://wcd.coe.int/wcd/ViewDoc.jsp?Ref=Rec(2003)17&Language=lanEnglish&Site=CM&BackColorInternet

=DBDCF2&BackColorIntranet=FDC864&BackColorLogged=FDC864>. Acesso em: 13 maio 2011.

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128

Para a elaboração dos tópicos a seguir, além do próprio Código de Processo Civil

português, foram consultadas as obras de José Lebre de Freitas333

, Miguel Teixeira de

Sousa334

, Eduardo Paiva e Helena Cabrita335

e Fernando Amâncio Ferreira336

, além dos sites

da Câmara dos Solicitadores337

e da Comissão para a Eficácia das Execuções338

.

5.5.1 Requerimento executivo

O requerimento executivo é apresentado ao tribunal por via eletrônica, mediante o

preenchimento e submissão do formulário específico constante do site

<http://citius.tribunaisnet.mj.pt>. Excepcionalmente, se o exequente não constituir advogado,

tal formulário pode ser impresso e protocolado na secretaria judicial. Há previsão de multa no

caso do não cumprimento do quanto estabelecido, ou seja, envio do requerimento impresso e

assinado por advogado.

Quando a entrega do requerimento executivo e dos documentos que o acompanham

(obrigatoriamente a cópia do título executivo, judicial ou extrajudicial) é realizada por meio

eletrônico, o exequente é dispensado de juntar aos autos os originais. Tal dispensa não

prejudica o dever de guardá-los e exibi-los sempre que determinado. Se não for utilizado o

sistema eletrônico, e sim o convencional, a parte deve apresentar os originais.

O requerimento executivo deve obedecer ao modelo aprovado pela Portaria no 331-

B/2009, de 30 de março, e conter os requisitos elencados no nº 1 do artigo 810º do CPC:

identificação das partes; indicação do domicílio profissional do mandatário judicial;

designação do agente de execução; indicação do fim da execução (pagamento, obrigação de

fazer ou entrega de coisa); exposição sucinta dos fatos que fundamentam o pedido, quando

não constarem do título; formulação do pedido; declaração do valor da causa; liquidação da

333

FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009.

334 SOUSA, Miguel Teixeira de. A reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004.

335 PAIVA, Eduardo; CABRITA, Helena. O processo executivo e o agente de execução. 2. ed. Coimbra:

Coimbra, 2010.

336 FERREIRA, Fernando Amâncio. Curso de Processo de Execução. 12. ed. Coimbra: Almedina, 2010.

337 Disponível em: <http://www.solicitador.net>. Acesso em: 13 maio 2011.

338 Disponível em: <http://www.cpee.pt>. Acesso em: 13 maio 2011.

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129

obrigação ou escolha da prestação, quando for o caso; e requerimento de citação prévia ou

dispensa dela, nos casos em que é admissível.

Ademais, o requerimento deve estar acompanhado da cópia ou do original do título

executivo, do comprovante do pagamento da taxa judiciária inicial, além de estar assinado e

escrito em língua portuguesa. Sendo obrigatória a constituição de advogado, em razão do

valor da causa, o requerimento deve estar acompanhado de procuração (a falta pode ser

suprida, nos termos da lei).

Facultativamente o exequente deve indicar, no requerimento executivo, os bens do

executado suscetíveis de penhora, a eventual existência de ônus ou encargos incidentes sobre

eles e outras informações úteis ao êxito da execução.

O agente de execução indicado recebe o requerimento eletrônico ou físico, conforme o

caso, mas de qualquer forma deve cadastrar as informações no site do tribunal. O agente

realiza a primeira análise dos requisitos formais do requerimento executivo e, ao observar

alguma irregularidade, deve recusá-lo, informando os motivos ao tribunal e ao mandatário do

exequente, sempre por via eletrônica.

Além da manifestação sobre a regularidade formal, pode o agente de execução, em 5

dias a contar da data do recebimento do requerimento, declarar que não aceita a designação

feita pelo credor – sem qualquer fundamentação –, o que é imediatamente informado para

designação de outro agente, também em 5 dias. Caso o credor não a realize, a secretaria deve

indicar o agente substituto, segundo a escala constante da lista fornecida pela Câmara dos

Solicitadores.

5.5.2 Início do processo executivo

Em regra, não há citação prévia do executado. Assim, desde que não tenha havido

solicitação expressa de citação prévia à penhora, o agente de execução inicia as primeiras

consultas e diligências e procede a penhora nos casos referidos no artigo 812º C do CPC, ou

seja, nas execuções baseadas em a) sentença judicial ou arbitral; b) requerimento de

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130

injunção339

no qual tenha sido aposta a fórmula executória; c) documento exarado ou

autenticado por notário ou documento particular com reconhecimento de firma do devedor, de

acordo com o valor e notificação prévia, nos termos da lei; d) qualquer outro título de

obrigação pecuniária vencida, de acordo com o valor e bem indicado à penhora.

O agente de execução recebe o requerimento executivo e o analisa. Em casos

específicos, dispostos no artigo 812º-D do CPC340

, o agente de execução deve enviar o

requerimento executivo por via eletrônica para despacho liminar. O juiz de execução, então,

pode proferir um dos seguintes despachos: i) indeferimento liminar, quando ocorra alguma

das situações previstas no nº 1 do artigo 812º-E do CPC341

; ii) indeferimento parcial,

especificamente quanto à parte do pedido que exceder os limites constantes do título

executivo; iii) convite de aperfeiçoamento, por meio do qual o juiz convida o exequente a

suprir as irregularidades do requerimento executivo ou a sanar a falta de pressupostos; iv)

determinação de citação prévia do executado para, no prazo de 20 dias, pagar ou opor-se à

execução, quando o processo deva prosseguir.

Em outros casos específicos, em que se verificar uma das situações descritas no nº 2

do artigo 812º-F do CPC342

, o agente de execução deve efetuar desde logo a citação prévia do

executado, independentemente de despacho liminar.

339

A injunção é um processo pré-judicial implementado pelo credor contra o respectivo devedor tendente à

criação de um título executivo no caso da omissão de oposição quando da realização de uma notificação pessoal

para pagamento. Não há intervenção de um órgão jurisdicional – trata-se de um ato de um secretário de justiça.

Se não conduzir à “fórmula executória”, o processo converte-se em ação de declaração. Assemelha-se à nossa

ação monitória, embora ela seja um processo judicial. COSTA, Salvador da. A injunção e as conexas acção e

execução: processo geral simplificado. 6. ed. Coimbra: Almedina, 2008. p.165.

340 Art. 812-D do CPC português: “O agente de execução que receba o processo deve analisá-lo e remetê-lo

electronicamente ao juiz para despacho liminar nos seguintes casos: a) Nas execuções movidas apenas contra o

devedor subsidiário; b) No caso dos nºs 2 e 3 do artigo 804º; c) Nas execuções fundadas em acta da reunião da

assembleia de condóminos, nos termos do Decreto-Lei nº 268/94, de 25 de outubro; d) Nas execuções fundadas

em título executivo, nos termos da Lei n.º 6/2006, de 27 de fevereiro; e) Se o agente de execução duvidar da

suficiência do título ou da interpelação ou notificação do devedor; f) Se o agente de execução suspeitar que se

verifica uma das situações previstas nas alíneas b) e c) do nº 1 do artigo 812º-E; g) Se, pedida a execução de

sentença arbitral, o agente de execução duvidar de que o litígio pudesse ser cometido à decisão por árbitros, quer

por estar submetido, por lei especial, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem necessária, quer por o

direito litigioso não ser disponível pelo seu titular.”

341 Art. 812-E, 1, do CPC português: “Nos casos previstos no artigo anterior, o juiz indefere liminarmente o

requerimento executivo quando: a) Seja manifesta a falta ou insuficiência do título; b) Ocorram excepções

dilatórias, não supríveis, de conhecimento oficioso; c) Fundando-se a execução em título negocial, seja

manifesto, face aos elementos constantes dos autos, a inexistência de factos constitutivos ou a existência de

factos impeditivos ou extintivos da obrigação exequenda que ao juiz seja lícito conhecer.”

342 Art. 812-F, 2, do CPC português: “Nos processos remetidos ao juiz pelo agente de execução para despacho

liminar nos termos do artigo 812º-D, há sempre citação prévia, sem necessidade de despacho do juiz: a) Quando,

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131

Como a regulamentação da citação prévia ou sua dispensa, à primeira vista, é bastante

complexa, faz-se um breve esclarecimento. A regra estabelece que a penhora seja realizada

antes da citação. Há lugar para a citação prévia do executado nas seguintes situações: i)

quando o exequente o requerer expressamente e tratar-se dos casos previstos no artigo 812º-C

do CPC; ii) quando o agente de execução tiver o dever de remeter o processo para despacho

liminar, mas simultaneamente verificar-se uma das situações previstas no nº 2 do artigo 812º-

F do CPC; iii) quando o processo for remetido para despacho liminar e o juiz determinar seu

prosseguimento, ou seja, após o despacho liminar de citação do executado. Em qualquer

situação, a citação é realizada pelo agente de execução – por meio de carta, diligência, via

eletrônica (tratando-se de entidades cadastradas) ou, excepcionalmente, edital.

5.5.3 Oposição à execução

O executado pode opor-se à execução no prazo de 20 dias a contar da data da citação,

seja ela efetuada antes ou depois da penhora. A oposição à penhora cumula-se com a oposição

à execução se não houver citação prévia. Quando a matéria da oposição for superveniente, o

prazo começa a correr a partir do dia em que ocorra o fato ou dele tenha conhecimento o

opoente.

A oposição corre em apenso ao processo de execução – que em regra é apenas virtual

– e deve ser endereçada ao juiz de execução competente para julgá-la, no prazo máximo de 3

meses. Ela deve ser encaminhada por meio do site <http://citius.tribunaisnet.mj.pt> ou,

excepcionalmente, protocolada na secretaria da execução.

Os fundamentos de oposição à execução variam conforme o título executivo que serve

de base à execução, se i) sentença judicial ou injunção, ii) arbitral ou iii) outros títulos.

Tratando-se de execução de sentença judicial, a oposição só pode ter algum dos seguintes

fundamentos, nos termos do artigo 814º, nº 1, do CPC português:

em execução movida apenas contra o devedor subsidiário, o exequente não tenha pedido a dispensa da citação

prévia; b) No caso do nº 4 do artigo 805º; c) Nas execuções fundadas em título extrajudicial de empréstimo

contraído para aquisição de habitação própria hipotecada em garantia; d) Quando, no registo informático de

execuções, conste a menção da frustração, total ou parcial, de anterior acção executiva movida contra o

executado.”

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a) Inexistência ou inexequibilidade do título;

b) Falsidade do processo ou do traslado ou infidelidade deste, quando uma

ou outra influa nos termos da execução;

c) Falta de qualquer pressuposto processual de que dependa a regularidade

da instância executiva, sem prejuízo do seu suprimento;

d) Falta ou nulidade da citação para a acção declarativa quando o réu não

tenha intervindo no processo;

e) Incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da obrigação exequenda, não

supridas na fase introdutória da execução;

f) Caso julgado anterior à sentença que se executa;

g) Qualquer facto extintivo ou modificativo da obrigação, desde que seja

posterior ao encerramento da discussão no processo de declaração e se prove

por documento. A prescrição do direito ou da obrigação pode ser provada

por qualquer meio;

h) Tratando-se de sentença homologatória de confissão ou transacção,

qualquer causa de nulidade ou anulabilidade desses actos.

No caso de execução de sentença arbitral, são fundamentos para a oposição os

previstos no artigo mencionado acima, bem como aqueles que poderiam justificar uma

anulação judicial dessa decisão. Se a execução for de qualquer outro título, podem ser

alegados quaisquer outros fundamentos que possam ser invocados no processo declaratório.

A oposição é indeferida liminarmente pelo juiz, através de despacho, i) quando tiver

sido deduzida fora do prazo, ii) quando o fundamento não se ajustar ao tipo de título

executivo ou iii) for manifestamente improcedente.

Se for recebida a oposição, o exequente é notificado para contestar dentro do prazo de

20 dias, seguindo-se uma espécie de procedimento sumário de ação declaratória. A falta de

contestação leva à aplicação dos efeitos da revelia. A procedência da oposição à execução

extingue a execução, no todo ou em parte.

Sendo o caso de citação prévia do executado, o recebimento da oposição só suspende

o processo de execução se o opoente prestar caução. Não havendo citação prévia, o

recebimento da oposição suspende o processo de execução, sem prejuízo do reforço ou da

substituição da penhora. A execução suspensa prossegue se a oposição ficar parada por mais

de 30 dias em razão de negligência do opoente em promover os seus atos.

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133

Sendo julgada procedente a oposição à execução sem que tenha tido lugar a citação

prévia do executado, o exequente responde pelos danos causados e incorre em multa

correspondente a 10% do valor da execução, ou da parte que tenha sido objeto de oposição.

Cabe recurso de apelação das decisões que ponham termo à oposição deduzida contra

a execução ou contra a penhora. As decisões interlocutórias proferidas nesses incidentes

deverão ser impugnadas no recurso que venha a ser interposto contra a decisão final.

Recentemente o recurso de agravo foi eliminado do sistema jurídico português.

5.5.4 Consulta do “registo informático de execuções” e penhora

O “registo informático de execuções” é uma espécie de banco de dados do tribunal,

cuja gestão compete ao agente de execução – inserção, retificação e eliminação de dados –,

onde são disponibilizadas todas as informações necessárias à realização da penhora,

nomeadamente os processos de execução pendentes contra o executado, os declarados findos

ou suspensos, bem como a lista dos bens já penhorados do seu patrimônio. O resultado da

consulta desse registro deve pautar a conduta do agente de execução.

i) Quando outras execuções contra o mesmo devedor tiverem terminado sem integral

cumprimento, o agente de execução prossegue com as diligências prévias à penhora,

acessando as bases de dados dos vários serviços e registros343

para localização de bens,

comunicando o resultado ao exequente – que poderá realizar diligências próprias. Caso não

sejam encontrados bens, a execução extingue-se imediatamente (art. 832, nº 3, CPC). O

arquivamento sumário da execução visa, de forma célere e simplificada, colocar termo a uma

execução sem viabilidade – a qual será, então, incluída na “lista pública de execuções”344

;

343

O agente de execução procede à consulta direta, sem necessidade de despacho judicial, das bases de dados da

administração tributária, da segurança social, dos registros cíveis, de imóveis, de atividades comerciais, de

automóveis, entre outros, por meio dos sistemas eletrônicos disponibilizados pela Portaria nº 331-A/2009, de 30

de março.

344 Com base na Portaria n. 313/2009, esclarece-se: a lista pública de execuções é uma lista eletrônica,

disponibilizada na Internet através do endereço <http://www.tribunaisnet.mj.pt>, com informação sobre

execuções frustradas, ou seja, que tenham terminado com pagamento parcial ou por inexistência de bens

penhoráveis. Da lista pública de execuções constam o nome e dados de identificação do executado; o valor da

dívida; os dados do processo executivo; a indicação sobre a razão da extinção, se por pagamento parcial ou

inexistência de bens penhoráveis; a data da extinção do processo e a data da inclusão na lista. Extinta uma

execução nessas condições, o executado é imediatamente notificado para, no prazo de 30 dias, pagar a quantia

devida ou aderir a um plano de pagamento da dívida elaborado por entidade reconhecida pelo Ministério da

Justiça, sob pena de o seu nome ser incluído na lista pública de execuções. Garante-se, desta forma, ao

executado, uma última oportunidade para cumprir as suas obrigações, evitando a sua inclusão na lista. Se

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134

ii) Quando, ao consultar o registo eletrônico de execuções, o agente de execução

verificar a existência de outra execução para pagamento de quantia certa contra o executado,

deve verificar se é o caso de remeter o requerimento executivo ao outro processo, para

concurso de créditos de bens lá penhorados (art. 832, nº 4, CPC);

iii) Encontrando patrimônio, o agente de execução deve realizar a penhora de bens

seguindo, preferencialmente, a ordem prevista no artigo 834º, nº 1, do Código de Processo

português – independentemente dos bens indicados à penhora pelo exequente ou do resultado

das diligências prévias à penhora:

a) Penhora de depósitos bancários;

b) Penhora de rendas, abonos, vencimentos, salários ou outros créditos se

permitirem, presumivelmente, a satisfação integral do credor no prazo de

seis meses;

c) Penhora de títulos e valores mobiliários;

d) Penhora de bens móveis sujeitos a registo se, presumivelmente, o seu

valor for uma vez e meia superior ao custo da sua venda judicial;

e) Penhora de quaisquer bens cujo valor pecuniário seja de fácil realização

ou se mostre adequado ao montante do crédito do exequente.

Quando se presumir que a penhora dos bens indicados nas referidas alíneas não

permite satisfazer o credor no prazo de 6 meses, é admissível então a penhora de bens imóveis

ou estabelecimentos comerciais. Permite-se, ainda, o reforço ou a substituição da penhora, nos

termos definidos nos números 3 a 6 do artigo 834º do Código de Processo Civil português.

Vale observar que, apesar da ordem preferencial, a penhora de depósitos bancários

depende de prévio despacho judicial, embora possa ser autorizada desde logo, no despacho

liminar. Deferido o requerimento, é o agente de execução quem remete notificações

eletrônicas para as instituições financeiras (não há um órgão centralizador), solicitando

averiguação de eventuais saldos em contas correntes e, posteriormente, a efetivação da

penhora de valores até o limite da execução. Há farta regulamentação sobre a penhora on line

no artigo 861º-A do Código de Processo Civil português.

decorrido o prazo o executado não pagar nem aderir a um plano, o agente de execução efetua automática e

eletronicamente a inclusão dos dados na lista pública de execuções. O cumprimento da obrigação leva à exclusão

do nome da lista pública de execuções. A secretaria do tribunal, de ofício ou a requerimento, pode atualizar ou

retificar os dados inscritos nessa lista. São excluídos os registros após 5 anos de inclusão, de forma automática

(sem necessidade de qualquer intervenção humana). Comparativamente, o “registro informático de execução”

tem o mesmo efeito de publicidade do inadimplemento proporcionado pelo protesto de títulos no Brasil.

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135

A penhora de bens móveis e imóveis realiza-se por comunicação eletrônica enviada

pelo agente de execução ao serviço de registro competente. Uma vez inscrita a penhora, a

certidão do registro é devolvida, também por via eletrônica, ao agente de execução.

O exercício da função de fiel depositário na penhora de bens móveis não sujeitos a

registro compete ao agente de execução – ou pessoa designada por ele – que, para tanto,

procede à apreensão e remoção dos bens (artigo 848º do CPC), salvo se o exequente consentir

que seja depositário o próprio executado. Caso haja resistência, o agente de execução pode

solicitar diretamente o auxílio das autoridades policiais.

Quando houver penhora de bens além do necessário para o pagamento da dívida

exequenda e das despesas previsíveis, cabe ao agente de execução o levantamento da penhora

excessiva. O excesso da penhora é fundamento para a oposição à penhora, mas simples

requerimento enviado ao agente de execução pode ser suficiente. Caso não seja, poderá o

executado apresentar oposição à penhora, cujo procedimento é o mesmo da oposição à

execução. Além desse fundamento, outros são possíveis, nos termos do nº 1 do art. 863º-A do

CPC:

a) Inadmissibilidade da penhora dos bens concretamente apreendidos ou da

extensão com que ela foi realizada;

b) Imediata penhora de bens que só subsidiariamente respondam pela dívida

exequenda;

c) Incidência da penhora sobre bens que, não respondendo, nos termos do

direito substantivo, pela dívida exequenda, não deviam ter sido atingidos

pela diligência.

O executado pode, em qualquer altura do processo – até adjudicação ou de venda

judicial –, proceder ao pagamento voluntário da dívida e das custas345

, fazendo cessar a

execução. Nessa hipótese, haverá lugar ao levantamento da penhora, por meio do

cancelamento do registro, mediante comunicação do agente de execução ao serviço

competente ou outras providências, conforme o caso.

345

Quando o executado pretender pagar voluntariamente sua dívida, cabe ao agente de execução liquidar o

montante em questão, realizando os cálculos necessários, devendo incluir, além da dívida, os juros e as custas.

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136

Todas as informações sobre o resultado das diligências prévias, a efetivação de

penhora ou o motivo da frustração da penhora devem ser disponibilizadas no sistema

eletrônico de suporte à atividade dos agentes de execução346

, no prazo de 5 dias. A falta de

prestação de informações e esclarecimentos às partes pode implicar em responsabilidade

disciplinar do agente de execução.

5.5.5 Publicidade, venda e pagamento

Nos termos do artigo 872º do CPC, o pagamento pode ser feito i) pela entrega de

dinheiro, quando a penhora tenha recaído em moeda corrente, depósito bancário ou outro

direito de crédito pecuniário; ii) pela adjudicação dos bens penhorados; iii) pela consignação

dos rendimentos dos bens penhorados, ordinariamente de imóveis locados; iv) pelo produto da

venda do bem, que pode ser realizada por diversas modalidades; ou ainda v) em prestações, se

o exequente e o executado, de comum acordo, assinaram um plano de pagamento.

As modalidades de venda previstas no Código Processual português são as seguintes

(art. 886º, nº 1):

a) Venda mediante propostas em carta fechada;

b) Venda em bolsas de capitais ou de mercadorias;

c) Venda directa a pessoas ou entidades que tenham direito a adquirir os

bens;

d) Venda por negociação particular;

e) Venda em estabelecimento de leilões;

f) Venda em depósito público ou equiparado;

g) Venda em leilão electrónico.

Não se justifica discorrer sobre cada modalidade de venda dos bens penhorados na

execução, até mesmo porque a maioria delas é de conhecimento comum. O próprio leilão

eletrônico já é realidade entre nós. O sistema português foi francamente informatizado nos

últimos anos, de forma que a maioria das medidas e providências é tomada eletronicamente.

O anúncio contendo informações para a realização de venda mediante proposta por carta

346

Aliás, o agente de execução efetua todas as notificações previstas na lei “preferencialmente” por transmissão

eletrônica de dados, através do sistema informático de suporte à sua atividade. É o meio obrigatório quando

dirigidas aos mandatários das partes. Todas as publicações previstas na lei também são realizadas por meio de

anúncio eletrônico no site <http://www.tribunaisnet.mj.pt>.

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137

fechada, v.g., não é publicado em edital, mas na página eletrônica de acesso público do

tribunal: <http://www.tribunaisnet.mj.pt>.

Além do detalhamento dessas modalidades, o CPC português prevê procedimentos

para situações como irregularidades ou frustração da venda, exercício do direito de

preferência, caução e depósito do preço, falta de depósito, entre outros, bem como a

regulamentação da invalidade da venda e a remição. Todos esses tópicos dispensam maior

aprofundamento, bastando esclarecer que o agente de execução é o responsável por todos os

trâmites da venda dos bens penhorados e entrega do produto ao credor.

5.5.6 Extinção da ação executiva

Extingue-se a execução, nos termos do artigo 919º do CPC, quando houver i)

pagamento voluntário; ii) desistência do exequente; iii) satisfação do crédito pelo pagamento

coercivo; iv) adjudicação; v) declaração de inutilidade da lide (quando as consultas e

diligências prévias demonstrarem que não há bens a serem penhorados); vi) outra causa de

extinção da execução.

Verificada uma dessas situações, o agente de execução comunica o fato por via

eletrônica ao tribunal, e após o decurso dos prazos e observância das demais formalidades

estabelecidas na lei, realiza automaticamente o arquivo eletrônico do processo, sem

necessidade de qualquer intervenção judicial.

A conta de custas é atualizada continuamente pela secretaria do tribunal onde corre a

execução. As custas finais da execução (e eventual oposição) incluem os honorários e as

despesas suportadas pelo agente de execução e devem ser pagas pelo produto dos bens

penhorados logo após a venda e antes da extinção e arquivamento do processo.

5.6 Breve relatório acerca das pesquisas de campo realizadas em Portugal

A autora esteve em Portugal por duas vezes. Na primeira, em dezembro de 2008,

entrou em contato com a Professora Paula Costa e Silva, com quem havia conversado sobre a

desjudicialização em Portugal durante o Congresso de Processo Civil daquele ano, realizado

pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP, em Florianópolis/SC. Foi alertada pela

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138

professora de que reformas muito recentes, aprovadas em novembro daquele ano, mudariam

ainda mais o procedimento executivo, de forma que não era o momento adequado para a

pesquisa pretendida. A autora, então, apenas comprou a literatura disponível sobre execução,

ainda que ciente de que muito em breve estaria desatualizada, e permaneceu acompanhando à

distância a evolução do sistema executivo português.

Na segunda vez, em maio de 2010, sabendo que o novo processo executivo estava

relativamente sedimentado, a autora travou diversos contatos, para que pudesse conversar e

entrevistar diferentes pessoas que de algum modo estivessem envolvidas com o assunto de sua

pesquisa – a desjudicialização da execução em Portugal.

Do mesmo modo que conheceu Paula Costa e Silva, travou conhecimento com o

Professor Miguel Teixeira de Sousa, mas foi por intermédio da Professora Teresa Arruda

Alvim Wambier que conseguiu ser recebida e orientada por ele em Portugal.

O Professor Miguel Teixeira de Sousa recebeu a autora na cidade de Lisboa e

orientou-a de forma ampla, fazendo um apanhado sobre as reformas no processo executivo,

que em Portugal ocorreram em dois momentos diferentes, conforme já esclarecido. Em

brevíssima síntese, em 2003 houve a desjudicialização da execução, transferindo-se poderes

do juiz para o agente de execução, mas mantendo-se certo “poder geral de controle” nas mãos

dos magistrados. Em 2008, os poderes dos agentes de execução foram alargados e,

consequentemente, a interferência dos juízes de execução restringida.

O Professor demonstrou preocupação com a abolição do poder geral de controle do

juiz, informando que fazia parte de uma comissão de estudos para o restabelecimento desse

controle. Por outro lado, evidenciou satisfação com a criação da Comissão para a Eficácia das

Execuções – CPEE, que passaria a disciplinar a atividade dos agentes de execução. Comentou

a importância da formação dos agentes, detalhando aspectos dos novos cursos de formação.

Naquele ano, formar-se-iam os primeiros agentes de execução com o devido curso e estágio

preparatório, aumentando em 50% o número de agentes em exercício no país – de 600 para

900 –, representando claro fôlego para a efetividade da execução. Vale observar que 90%

desses novos agentes cumulariam a profissão com a advocacia.

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A autora, então, encontrou-se com a presidente da Comissão para a Eficácia das

Execuções – CPEE, a Dra. Paula Meira Lourenço. Devidamente especificadas as

competências desse órgão de fiscalização da atividade dos agentes de execução na seção 5.4

deste capítulo, restringe-se, nessa oportunidade, a lançar as principais impressões desse

contato tão importante.

A presidente esclareceu que o órgão tinha sido efetivamente regulamentado há menos

de 1 ano naquela ocasião, de forma que faltava muito a ser implementado. Ela ressaltou a

existência de diversos problemas no passado, mas estava muito positiva para o futuro, quando

todas as competências do órgão estivessem vigentes e quando então o “sistema pudesse

mostrar que existe fiscalização sobre a atividade dos agentes de execução.”

A Dra. Paula criticou o fato de ter sido facultado aos advogados o exercício da

atividade de solicitadoria, posto que a advocacia é incompatível com o fim público da

atividade do agente de execução. Ainda assim, elogiou a reforma de 2008, já que os processos

novos estavam e estariam mais rápidos e menos burocráticos.

Além disso, ressaltou a suma importância da adequada formação dos agentes como

pilar do sucesso da implementação da desjudicialização da execução em um país. A lacuna na

formação dos agentes de execução foi responsável por grande parte dos problemas surgidos

durante as reformas portuguesas. Em razão disso, ela minudenciou o quão sério e rigoroso

passou a ser o concurso, exame e avaliação dos novos agentes de execução.

Questionada sobre problemas de corrupção, a presidente afirmou ser praticamente

irrelevante, insistindo que o “dever de técnica jurídica” era o ponto nodal do novo sistema.

Registrou que o agente de execução i) tem responsabilidade objetiva sobre a atividade

desenvolvida; ii) pode responder criminalmente por qualquer indisciplina mais grave,

relacionada com desvio de dinheiro ou bens arrecadados; iii) é fiscalizado pela Comissão,

podendo ser expulso caso comprovado qualquer tipo de corrupção. Além disso, há um “fundo

de garantia” para o cumprimento das responsabilidades assumidas pelos agentes de execução

(conforme artigo 127-A do Estatuto da Câmara dos Solicitadores347

).

347

Disponível em: <http://www.solicitador.net/documentos/estatuto_solicitadores_vs3.pdf>. Acesso em: 13

maio 2011.

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140

A Dra. Paula encerrou o encontro com as seguintes palavras: “eu acredito na

desjudicialização da execução” e brincando, arrematou: “desjudicialização no Brasil!”

A autora encontrou-se, então, com o presidente da Câmara dos Solicitadores, Sr.

António Gomes da Cunha. Como maior representante da classe dos solicitadores e agentes de

execução, ele mostrou-se insatisfeito em muitos aspectos. Justificou que as estatísticas

(referentes à quantidade de execuções pendentes) eram desfavoráveis porque não foram

disponibilizados meios para a realização da atividade. A informatização demorou muito para

tornar-se realidade.

Suas principais queixas foram: i) possibilidade da cumulação da advocacia e

solicitadoria; ii) controle externo da CPEE; iii) liberdade de destituição do agente de execução

pelo exequente, sem qualquer justificativa; iv) fim da regra da territorialidade – a indicação do

agente de execução independe do seu local de trabalho (endereço do escritório) ou da

tramitação do processo.

Essa última reclamação chama a atenção, já que se constatou a existência de poucos

escritórios com muitos processos – verdadeiras bancas de solicitadores, com estrutura

semelhante às grandes bancas de escritório de advocacia – e muitos com pouquíssimos

processos e carência total de estrutura. Segundo o presidente, alguns poucos agentes de

execução conseguiram grandes “clientes” (empresa de telefonia foi o exemplo dado) e

“fizeram fortuna”, enquanto outros, sem “clientela”, acabaram por encerrar suas atividades –

aproximadamente 20% dos agentes de execução devidamente inscritos na Câmara dos

Solicitadores desistiram da profissão. A forma de distribuição de processos entre os agentes

de execução deve ser analisada com cuidado, para evitar a concentração de processos em

alguns poucos agentes.

Um terceiro encontro que merece destaque foi realizado com o Sr. João Jorge Gil

Rodrigues Almeida, adjunto do Secretário Estadual da Justiça e da Modernização Judiciária,

responsável por toda a regulamentação da reforma de 2008.

Segundo o Sr. João Jorge, dois foram os grandes problemas da “pós-reforma” de 2003

– um de cunho estrutural e outro mais sociológico. Além disso, ele avaliou que o Estado

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privatizou a atividade executiva, mas não exerceu nenhum tipo de fiscalização – teria havido

“um descarte de responsabilidades”. Os juízes não observaram o “poder geral de controle”,

razão pela qual a reforma de 2008 tirou-lhes a função.

O problema estrutural está relacionado com a informatização. De lá pra cá, muito se

avançou: houve a privatização dos Cartórios Notariais; todas as certidões imobiliárias foram

digitadas (e não digitalizadas), de forma que podem ser editadas (atualizadas), consultadas e

expedidas por meio da internet; houve a informatização do processo, que não é obrigatória

para os advogados (é obrigatória para os juízes, secretários judiciais e agentes de execução),

mas é altamente estimulada, de forma que 86% e 93% dos processos declaratórios e

executivos, respectivamente, são eletrônicos; possibilitou-se ao agente de execução pesquisar

eletronicamente a existência de bens em qualquer órgão, inclusive acessar a declaração do

imposto de renda do devedor, entre outras novidades tecnológicas.

Sociologicamente, o adjunto João Jorge relatou que a reforma de 2003 deu muito

poder para quem estava pouco preparado para recebê-lo. Não era exigido qualquer

bacharelado dos solicitadores.348

A falta de formação adequada dos agentes de execução é

mais uma vez levantada como ponto crucial para uma boa transição do sistema executivo

público para o privado.

Para ele, a reforma de 2008 veio sanar muito desses problemas, pois estabeleceu uma

nova profissão cuja admissão exige concurso, formação e estágio e cujo exercício sofrerá

fiscalização externa. Além disso, fixou remuneração atrativa, razão pela qual há muitos

candidatos para as novas vagas.

Como resquício de um mau começo, hoje nota-se hostilidade dentro da própria classe,

mais especificamente entre os novos agentes de execução – melhor preparados, sendo a

maioria advogados – e os antigos – mais experientes, em sua maioria solicitadores. O adjunto

acredita que a Comissão para a Eficácia das Execuções poderá pacificar a relação entre eles,

especialmente porque, conforme suas palavras, a sua presidente é “professora universitária

348

Comparativamente, é dar o poder de realizar todas as atividades executivas ao oficial de justiça, de quem

apenas é exigida a conclusão do ensino médio para ser investido no cargo, além de concurso, entre outros

requisitos.

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reconhecida, tem conhecimentos filosóficos e políticos. Ela é neutra: não é nem agente, nem

advogada.”

Por fim, ele destacou a importância da lista pública de execuções, informando que na

época – maio de 2010 – havia 960 nomes inscritos, com um enorme passivo acumulado.

Demonstrou existir uma grande preocupação com a correta inserção e manutenção de dados

nessa lista, para evitar prejuízos.

Mais uma reunião foi agendada, dessa vez em uma grande banca de advogados

portuguesa, Rebelo de Sousa Advogados, representante da firma internacional de advocacia

Simmons & Simmons em Portugal. Estavam presentes o Professor Mário Melo Rocha, em

razão do caráter acadêmico da pesquisa, mas especializado em outra área do direito, e Filipa

Meira Bicas, advogada atuante da área do contencioso cível daquele escritório. Esse encontro

era importante para que se pudesse ter a visão do advogado sobre as reformas da execução.

Filipa mostrou-se muito satisfeita, dizendo ser excelente o contato direto com o agente

de execução, por via eletrônica. Para ela, o agente de execução efetivamente atua em favor do

credor, o que não se via antes das reformas. Observou que o tempo de tramitação de uma

execução caiu pela metade e, pelo fato de ter diminuído a carga de trabalho do juiz, também

passou a haver maior celeridade no processo de declaração.

De forma honesta, a advogada esclareceu que em se tratando de uma firma de

advocacia de porte, com grandes causas, há muito interesse do agente de execução em prestar

um bom atendimento, com rapidez e eficiência, de forma a “manter o bom cliente” – o

escritório de advocacia – e a receber bons honorários pelo êxito da execução, quando

satisfeito o crédito existente.

O Rebelo de Sousa Advogados usa sempre o mesmo escritório de solicitadores, em

razão da relação de confiança existente, segundo Felipa. Pedido o sigilo acerca do nome, fato

é que o agente de execução que atende tal escritório, representante de outro internacional, tem

uma estrutura excepcional – grande, aparelhada, com muitos auxiliares. Tal escritório pode

ser comparado a um escritório de advocacia de médio porte, para os padrões paulistanos.

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143

As principais conclusões tiradas dessas reuniões e visitas são que: i) a formação

antecipada do futuro agente de execução é fundamental. Emendas a esse tipo de carência

podem ser desastrosas; ii) o alargamento da possibilidade do desempenho dessas funções a

advogados não é bem visto. O exercício da solicitadoria e da advocacia são incompatíveis; iii)

o controle externo das atividades do agente de execução é indispensável. A CPEE – Comissão

para a Eficácia das Execuções – trouxe profissionalização, fiscalização do cumprimento da lei

e do respectivo estatuto e consequentemente, credibilidade aos solicitadores; iv) a forma de

distribuição dos processos entre os agentes de execução deve ser repensada. Se por um lado o

estreitamento da relação entre o advogado mandatário e o solicitador é um plus, por outro

lado a concentração de processos em alguns agentes de execução é um minus; v) apesar das

dificuldades apontadas no início das reformas, as expectativas para o futuro são positivas.

Existe confiança na execução realizada de forma desjudicializada.

No mais, a autora realizou pesquisa em diferentes bibliotecas, sendo justo fazer

referência ao tratamento dispensado pela Ordem dos Advogados de Portugal, que

disponibilizou um funcionário – Sr. João Pedro Oliveira – para localização de livros e revistas

e reprodução dos artigos selecionados pela autora, sem qualquer custo.

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144

CAPÍTULO 6 – Proposta de desjudicialização da execução de títulos

executivos no Brasil

6.1 Adoção do modelo português, devidamente adaptado ao sistema brasileiro

Portugal enfrentou a questão da desjudicialização da execução de forma bastante

tranquila. A princípio, há previsão na Constituição portuguesa acerca da reserva de jurisdição

ao Poder Judiciário; no entanto, as atividades executivas não são consideradas como

tipicamente jurisdicionais – mas sim administrativas –, razão pela qual em nenhum momento

pugnou-se, de forma efetiva, pela inconstitucionalidade das reformas.349

Miguel Teixeira de Sousa afirma que “a desjudicialização da acção executiva e a

consequente repartição de funções entre o juiz de execução e o agente de execução não

podem, como é evidente, contrariar a reserva de jurisdição que cabe aos tribunais (cfr. art.

202, nº 2, CRP350

)”.351

O referido artigo constitucional prevê que a atividade de “dirimir

conflitos de interesses públicos e privados” é de competência exclusiva do tribunal, mas nada

menciona sobre atividade executiva.

Esclarecendo que “o agente de execução não tem competência para decidir quaisquer

conflitos de interesse entre as partes da execução ou entre elas e terceiros”, Teixeira de Sousa

conclui não haver nenhuma censura na reforma da execução do ponto de vista de sua

conformidade constitucional, especialmente porque é “indiscutível que ao agente (ou ao

solicitador) de execução compete a prática de actos de carácter não jurisdicional (cfr. art. 808,

nº 1)”.352

349

Portugal baseou-se na sistemática francesa, onde entende-se que “a execução forçada pertenceria a uma

função meramente administrativa do Estado, e não propriamente jurisdicional”. BAUMÖHL, Debora Ines

Kram. A nova execução civil – a desestruturação do processo de execução. São Paulo: Atlas, 2006. p.25.

350“Artigo 202º. Função jurisdicional. 1. Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para

administrar a justiça em nome do povo. 2. Na administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e

dirimir os conflitos de interesses públicos e privados. 3. No exercício das suas funções os tribunais têm direito à

coadjuvação das outras autoridades. 4. A lei poderá institucionalizar instrumentos e formas de composição não

jurisdicional de conflitos”.

351 SOUSA, Miguel Teixeira de. A reforma da acção executiva. Lisboa: Lex, 2004. p.16-7.

352 Ibid.

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Paula Costa e Silva também não reconhece a atividade jurisdicional da execução. São

suas palavras: “A regra geral quanto à competência é a de que o exercício da função

jurisdicional está sujeita ao princípio da reserva de juiz. Assim, competirá ao juiz a resolução

de qualquer litígio e a resolução de questões de direito. Os actos que não impliquem o

exercício da função jurisdicional são reservados ao agente da execução”.353

A professora portuguesa faz semelhante apontamento em outra publicação: “Ora,

estando o poder jurisdicional constitucionalmente afecto, em exclusivo, aos tribunais, para

que a reforma não padeça de inconstitucionalidades tem de impor-se que o exercício da

função jurisdicional esteja vedado ao solicitador de execução”.354

José Carlos Resende informa que a reforma portuguesa teve como objetivo transferir

as tarefas que não tivessem caráter jurisdicional a um profissional liberal – no caso, ao agente

de execução, nos moldes dos sistemas francês, belga, holandês e de outros países europeus.355

O próprio Decreto-Lei nº 38/2003 destacou em seu preâmbulo que a reforma “atribuiu

a agentes de execução a iniciativa e a prática dos actos necessários à realização da função

executiva, a fim de libertar o juiz das tarefas processuais que não envolvem uma função

jurisdicional.”

José Lebre de Freitas356

e Humberto Theodoro Júnior357

não compartilham dessa

posição. O processualista português diz que a desjudicialização não modificou a natureza

jurisdicional da execução. O processualista brasileiro, ao comentar a reforma portuguesa,

reafirma a posição do colega lusitano no sentido de que a detenção de poderes pelo agente de

execução, embora implique em larga desjudicialização, não retira a natureza jurisdicional do

processo executivo.

353

SILVA, Paula Costa e. As Linhas Gerais da Reforma do Processo Civil. In: Estudos em Honra de Ruy de

Albuquerque. Lisboa: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2006. p.386.

354 Idem, A reforma da acção executiva. Coimbra: Coimbra, 2003. p.38.

355 RESENDE, José Carlos. Reforma do processo executivo cria os solicitadores. In: Vida Judiciária, n. 73,

out. 2003. Porto: Vida Econômica, 2003. p.12.

356 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p. 28.

357 THEODORO JÚNIOR, Humberto. As vias de execução do Código de Processo Civil Brasileiro reformado.

In: Revista IOB – RDCPC, n. 43, set-out. 2006. São Paulo: Síntese, 2006. p.34.

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146

Pois bem, o reconhecimento da atividade executiva como administrativa parece ter

evitado maiores questionamentos em Portugal quando das reformas de 2003 e de 2008, que

implicaram na ampla desjudicialização da execução.358

No Brasil, no entanto, é pacífico o

entendimento de que a natureza jurídica da atividade executiva é jurisdicional, mas considera-

se infrutífera a discussão a este respeito – sobre o assunto, reporta-se ao capítulo 1.

Como já se disse, tendo em vista que o Poder Judiciário não consegue oferecer a

jurisdição em sua inteireza – com rapidez, segurança e efetividade –, o princípio do

monopólio jurisdicional nas mãos do Estado é insustentável. O poder de império pode ser

delegado, por opção legislativa, de modo a mantê-lo sob a esfera estatal. Os atos de constrição

patrimonial não podem ser realizados por qualquer particular, mas sim por entes delegados

pelo próprio Estado, que assim passam a exercer função pública de forma privada.

Propõe-se, portanto, que seja delegada a um agente privado a tarefa de verificar os

pressupostos da execução, realizar a citação, penhorar, vender, receber pagamentos e dar

quitação, reservando-se ao juiz estatal a eventual resolução de litígios, quando provocado por

intermédio dos competentes embargos do devedor.

Sobre a realização da citação na execução (e consequentemente, a verificação dos

pressupostos processuais) por pessoa que não um juiz, vale um pequeno parêntese. Marcelo

Lima Guerra entende que existe enorme carga decisória no despacho que defere a citação,

pois nessa ocasião o magistrado decide acerca da prestação jurisdicional executiva. Para Lima

Guerra, “[...] no processo de execução, o controle de admissibilidade se concentra todo na

ocasião em que o juiz examina a petição inicial, com vistas a, proferindo “despacho liminar”,

deferir a citação do devedor ou, caso contrário, indeferir a petição inicial (por sentença, é

óbvio). Essa característica da “concentração” do controle de admissibilidade da execução é

também reflexo do mencionado “desfecho único” do processo de execução, pois uma vez

regularmente constituído tal processo com a citação do devedor, ele deverá se desenvolver

inteiramente no sentido da entrega efetiva da tutela executiva, com a satisfação do direito do

358

Sobre as reformas do processo civil português, que implicaram na desjudicialização do processo de execução

e na divisão das funções executivas entre o agente da execução e o juiz da execução: COELHO, Gláucia Mara.

Direito processual civil português. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (Coord). Direito processual civil europeu

contemporâneo. São Paulo: Lex Editora, 2010. p.325.

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147

credor. Em outras palavras, decidir sobre se deve ou não citar o devedor, significa decidir se

deve ou não ser prestada a tutela executiva.”359

No entanto, a jurisprudência é absolutamente pacífica no sentido de que “quando o

magistrado simplesmente ordena a citação do devedor, longe de decidir qualquer questão

incidente, está apenas impulsionando a marcha processual, proferindo despacho de mero

expediente”, conforme o informativo do STJ de nº 0111, do período de 1º a 5 de outubro de

2001, no julgamento do REsp 141.592-GO, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, ocorrido em

4.10.2001.

A jurisprudência permanece estável desde então, mas novo informativo foi publicado,

firmando posição. A ementa do julgamento que deu origem ao mencionado informativo foi

assim lançada: “PROCESSO CIVIL. DESPACHO QUE DETERMINA A CITAÇÃO NOS

AUTOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO. NATUREZA JURÍDICA DO ATO.

DESPACHO DE MERO EXPEDIENTE. AUSÊNCIA DE CARGA DECISÓRIA.

IRRECORRIBILIDADE”. Do acórdão registra-se trecho do Ministro Relator Castro Filho,

que muito bem resume a questão da irrecorribilidade desse despacho em específico:

“Primeiro, porque não é a ordem de citação que gera a penhora; o que autoriza a penhora é a

falta de cumprimento da obrigação no prazo legal; segundo, porque, ainda que assim não

fosse, e considerada a penhora um gravame, esta é que deveria ser atacada, não o despacho

que, por não ser decisão interlocutória nem atípica, não se sujeita a recurso”. Segue o

informativo mais recente sobre o assunto:

Informativo nº 0290

Período: 26 a 30 de junho de 2006.

Terceira Turma

EXECUÇÃO. DESPACHO. CITAÇÃO. DEVEDOR.

IRRECORRIBILIDADE.

A controvérsia consiste em saber se o despacho que ordena a citação do

devedor em sede de execução pode ser atacada por agravo de instrumento.

Para o voto condutor do acórdão, a citação no processo de execução não

difere do lançado no processo de conhecimento. Logo, a decisão que

determina a citação do executado não é um ato que, no curso do processo,

resolve uma questão incidente, portanto não é uma decisão interlocutória

consoante determina o art. 162, § 2º, do CPC e conseqüentemente essa

decisão é irrecorrível. Com esse entendimento, prosseguindo o julgamento, a

Turma, por maioria, deu provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp

359

GUERRA, Marcelo Lima. Execução Forçada: controle de admissibilidade. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1995. p.129.

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148

537.379-RN, DJ 19/12/2003, e REsp 141.592-GO, DJ 4/2/2002. REsp

693.074-RJ, Rel. originário Min. Ari Pargendler, Rel. para acórdão Min.

Castro Filho, julgado em 28/6/2006.

O último informativo data do ano de 2006, mas é importante registrar que o Superior

Tribunal de Justiça mantém a mesma orientação, havendo julgados muito recentes, sempre no

mesmo sentido.360

Portanto, tratando-se de um despacho de mero expediente, sem carga

decisória, não deve causar maior espanto a afirmação de que o despacho de citação na

execução também pode ser delegado a um agente de execução privado.

Concluído o pequeno debate acerca da natureza jurídica da citação na execução,

retoma-se a discussão sobre a delegação do poder de império, defendendo-se a partilha da

função jurisdicional executiva: o contraditório fica reservado ao juiz estatal e os demais

procedimentos, mais singelos e mecânicos, conforme Chiovenda, ao agente de execução.361

Pela presente proposta, caberá ao juiz estatal tão somente realizar a sua atividade

típica, qual seja, decidir as questões litigiosas eventualmente surgidas e levadas a seu

conhecimento por meio de embargos.362

De acordo com Sérgio Shimura, o princípio do

contraditório está presente no processo executivo, mas sob um enfoque eventual. O executado

é citado para cumprir a sua obrigação, e não para se defender. O devedor pode opor embargos,

que são um processo incidental de conhecimento, que corre em apartado e não nos autos da

360

REsp 907303 / ES – Rel: Min. José Delgado, em 13.8.2007; AgRg Ag 1267544 / CE – Min: Vasco Della

Giustina, em 06.05.2011; REsp 1002548 / BA – Rel: Min. Massami Uyeda, em 17.6.2010; Ag 1258432 / MA -

Rel: Massami Uyeda, em 18.2.2010; REsp 459349 / MG – Rel: Castro Filho, em 18.12.2006.

361 Chiovenda já falava em partilha da atividade jurisdicional executiva entre os juízes e os agentes de execução

– como devidamente demonstrado, é o oficial de justiça quem realiza a execução na Itália, com total autonomia.

Para o mestre italiano, se houver contestações, o juiz deverá atuar na execução; caso contrário poderá haver

procedimentos executivos que se desenvolvam por obra exclusiva do funcionário judicial. CHIOVENDA,

Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil – v. 2. Tradução Paolo Capitanio. Campinas: Bookseller,

1998. p.20-1.

362 Samy Garson, comentando a reforma portuguesa, tece semelhantes notas sobre a delegação dos poderes

jurisdicionais: Os atos executivos estão inseridos no contexto de um processo que é jurisdicional, mas que pelas

suas particularidades, por justamente não corresponderem a atos jurisdicionais típicos, no sentido de não se

destinarem à resolução de uma controvérsia que o próprio Estado reconhece como de interesse público, podem

ser desjurisdicionalizados. (...) Mas que não se olvide que ao agente de execução judicial também foi conferida

pelo Estado parcela de poder que outrora competia exclusivamente ao juiz, razão pela qual se pode afirmar que a

sua atuação foi adequadamente legitimada pelo Estado, que lhe outorgou, de forma condicional e com reservas,

uma parcela de jurisdição. Portanto, se o agente de execução realiza uma função jurisdicional, decerto que os

atos que compõem tal atividade também o serão em seu conjunto. GARSON, Samy. A viabilidade da

desjudicialização do processo de execução. In: CARVALHO, Milton Paulo de (Coord.). Direito Processual

Civil. São Paulo: Quartier Latin, 2007. p.539.

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149

execução.363

Paulo Henrique dos Santos Lucon faz similar comentário acerca dos embargos

do devedor.364

Se o atual sistema prevê um contraditório eventual e apartado do processo executivo,

não se vislumbra inconstitucionalidade na proposta de partilha das atividades executivas. O

jurisdicionado continuará a socorrer-se do Poder Judiciário diante da lesão ou ameaça de

direito ocorrida no processo executivo por intermédio dos embargos do devedor – ação de

conhecimento específica para tanto.

Em Portugal, a função executiva foi transferida ao agente de execução por meio dos

Decretos-Leis nºs 38/2003 e 226/2008. Em razão das reformas, o juiz de execução exerce

funções de i) tutela, intervindo em caso de litígio surgido na pendência da execução

(oposição) e de ii) controle, dirimindo dúvidas e proferindo alguns despachos liminares, mas

deixou de ter a seu cargo a promoção das diligências executivas, não lhe cabendo ordenar a

penhora, a venda ou o pagamento, ou extinguir a instância executiva. A prática desses atos,

eminentemente executivos, passou a caber ao agente de execução.

Em suma, Portugal deslocou a um profissional liberal o desempenho de um conjunto

de tarefas antes exercidas pelo tribunal, sem, contudo, interferir na possibilidade de acesso ao

Judiciário para reclamar acerca de eventuais atos ou omissões praticados pelo agente de

execução ou de qualquer outra questão de direito.365

O agente de execução português é um misto de profissional liberal e funcionário

público, assim como os notários e registradores brasileiros. No entanto, a translação das

atividades executivas aos solicitadores (espécie de despachante com registro profissional) foi

desastrosa, tendo havido necessidade de se corrigir diversas consequências de tal opção ao

longo do tempo, visando minimizar a falta de formação técnica, experiência e maturidade

daqueles profissionais.

363

SHIMURA, Sérgio. Título executivo. São Paulo: Método, 2005. p.28.

364 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Embargos à execução. São Paulo: Saraiva, 2001. p.84; Idem, O novo

perfil dos embargos à execução. In: CARNEIRO, Athos Gusmão; CALMON, Petrônio (Coord.). Bases

científicas para um renovado direito processual. Salvador: JusPodivm, 2009. p.825.

365 FREITAS, José Lebre de. A execução executiva – depois da reforma da reforma. 5. ed. Coimbra: Coimbra,

2009. p.24.

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150

Para compensar os problemas surgidos, bem como aumentar rapidamente o número de

agentes de execução, o Decreto-Lei no 226/2008 estabeleceu que advogados pudessem

candidatar-se, e se admitidos e aprovados no respectivo estágio, exercer também a atividade

executiva privada. Esta também não foi uma boa opção.

Nessa esteira, não se pretende apenas transplantar as medidas adotadas por Portugal

para o Brasil. Espera-se fazer uma proposta lúcida, coerente com o sistema brasileiro e com

aproveitamento das estruturas já existentes. Pretende-se evitar os problemas detectados nas

pesquisas de campo realizadas em Portugal, devidamente detalhados no item 5.6. Além da

questão da formação dos agentes de execução, destacou-se que i) o controle externo das

atividades do agente de execução é indispensável. A CPEE – Comissão para a Eficácia das

Execuções – trouxe profissionalização, fiscalização do cumprimento da lei e do respectivo

estatuto e, consequentemente, credibilidade aos solicitadores, e que ii) a forma de distribuição

dos processos entre os agentes de execução deve ser repensada. Se por um lado o

estreitamento da relação entre o advogado mandatário e o solicitador é um plus, por outro

lado a concentração de processos sob a responsabilidade de alguns poucos agentes de

execução é um minus.

Propõe-se que ao tabelião seja delegada a função pública da execução de títulos, por

meio de outorga a um profissional de direito devidamente concursado, e que a sua

remuneração seja realizada de acordo com os emolumentos fixados por lei, em sua maior

parte cobrada do devedor ao final do procedimento executivo. A fiscalização dessa atividade

será realizada pelo Poder Judiciário – corregedorias estaduais. A delegação é o regime

jurídico sugerido para a efetivação da desjudicialização da execução no Brasil, de modo a

evitar boa parte dos problemas enfrentados pelos portugueses.366

Os notários são profissionais do direito, altamente qualificados, uma vez que o

ingresso na atividade depende de concurso público de provas e títulos. Já existe a previsão de

um controle externo, realizado pelo Poder Judiciário, mais especificamente pelo Conselho

366

Artigo 236 da Constituição Federal: “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por

delegação do Poder Público. §1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos

notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

§2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos

serviços notariais e de registro. §3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de

provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento

ou de remoção, por mais de seis meses.”

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151

Nacional de Justiça, pelos Tribunais de Justiça de cada Estado e suas respectivas

Corregedorias Gerais de Justiça. O exercício da advocacia é incompatível com as atividades

delegadas, de modo que caso um advogado pretenda concorrer a uma vaga, deve submeter-se

ao mesmo concurso dos demais candidatos e, em sendo aprovado, requerer a suspensão do

seu registro na Ordem dos Advogados.367

Sugere-se o sistema de distribuição por quantidade e qualidade de serviço, tendo em

vista o direito à equidade de emolumentos, nos moldes da Lei nº 9.492/97 (Lei dos Tabeliães

de Protestos), evitando-se, dessa forma, a concentração de atividade em alguns poucos

tabelionatos, bem como a mercantilização da profissão.

Além disso, essa forma de distribuição diminui consideravelmente as chances de

corrupção, fraude ou qualquer tipo de favorecimento. O fato de não ser permitido ao

advogado escolher o agente de execução dá credibilidade ao sistema proposto e garante o

profissionalismo e a observância do tratamento isonômico, independentemente do valor do

título levado à execução. Esta é uma boa fórmula para resguardar os princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência que regem a função dos agentes

delegados (artigo 37, caput, CF).

Por fim, registra-se que, além da desjudicialização, Portugal fez uma opção política

pela privatização da atividade jurisdicional executiva, já que o Estado não suportaria o ônus

do recrutamento de mais funcionários públicos, como no modelo italiano ou alemão. A

demonstração do que se alega está no fato de que convocado a criar varas especializadas para

a execução, nos termos da reforma de 2003, o Estado português não foi capaz de fazê-lo. Por

vários anos os juízes cumularam suas funções com as executivas, e tão somente após a

reforma de 2008 houve um esforço maior para a criação dessas varas.

Diante de todos os problemas orçamentários que o Poder Judiciário brasileiro enfrenta

– não há verba nem para a contratação de oficiais de justiça – e ante seu péssimo desempenho

na atividade executiva – eficácia de apenas 16% –, não se tem dúvidas de que esta é uma

proposta condizente às necessidades do país: desjudicialização com privatização, por meio de

delegação.

367

Lei 8.935/94, artigo 25: “O exercício da atividade notarial e de registro é incompatível com o da advocacia, o

da intermediação de seus serviços ou o de qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda que em comissão.”

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152

6.2 Delegação do serviço público de execução ao notário

O artigo 236 da Constituição Federal estabelece que:

Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por

delegação do Poder Público.

§1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e

criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá

a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.

§2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos

relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.

§3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso

público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia fique

vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de

seis meses.

A Lei nº 8.935 de 18.11.1994 regulamentou mencionado artigo e cuidou de definir

esses serviços e os profissionais que podem exercê-los: os “serviços notariais e de registro são

os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade,

segurança e eficácia dos atos jurídicos” (art. 1º)368

e “notário, ou tabelião, e oficial de registro,

ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o

exercício da atividade notarial e de registro” (art. 3º).369

Além disso, a lei disciplinou as condições de prestação desses serviços (arts. 4º a 8º);

as atribuições e competências dos profissionais (arts. 5º a 12); o ingresso na atividade (arts. 14

a 19); a contratação de prepostos (arts. 20 e 21); as incompatibilidades e impedimentos no

exercício da função (arts. 25 a 27); os direitos e deveres desses profissionais (arts. 28 a 30); as

infrações disciplinares e penalidade (arts. 31 a 36); a fiscalização dessa atividade pelo Poder

Judiciário (arts. 37 e 38); as formas de extinção da delegação (art. 39) e a seguridade social

desses profissionais (art. 40).

368

Tais garantias seriam preventivas de litígios: ALVARENGA, Luiz Carlos. A instituição notarial e a

prevenção de litígios. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9659/a-instituicao-notarial-e-a-prevencao-

de-litigios>. Acesso em: 22 jan. 2012; CAVALCANTI NETO, Clóvis Tenório. Linhas preliminares da

atividade notarial. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/19262/linhas-preliminares-da-atividade-

notarial>. Acesso em: 22 jan. 2012.

369 Décio Erpen faz breves comentários sobre os serviços notariais e de registro: ERPEN, Décio Antônio. A

atividade notarial e registral: uma organização social pré-jurídica. In: Revista da Associação dos Juízes do Rio

Grande do Sul, ano XXII, n. 63, mar. 1995. Porto Alegre: Ajuris, 1995. p.270 e segs.

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153

As normas sob comento apresentam dois pontos de interesse nesse estudo: o primeiro

deles diz respeito à delegação de serviços e o segundo à atividade notarial e de registros.

Ambos os assuntos são tratados conjuntamente na doutrina administrativa, uma vez que o

principal exemplo da delegação é o serviço notarial e de registros, ao lado tão somente dos

leiloeiros, tradutores e intérpretes públicos – eles todos considerados agentes delegados.

Segundo José Afonso da Silva, delegação é “outorga de serviço público a pessoa

privada em nome próprio e por sua conta e risco”. Delegação não é cargo público, não é

nomeação e tampouco provimento. A delegação de ofício também não se confunde com a

delegação de competência ou de encargos administrativos. A delegação é, sim, um “modo de

atribuição do serviço a particulares que se habilitam para tanto”, mediante concurso

público.370

O ofício delegado é de competência do Estado, cuja titularidade é mantida; tão

somente o exercício desse ofício é transferido a um particular. A atividade notarial e registral

é pública, mas o seu exercício se dá em caráter privado, por meio de delegação, a um

particular, profissional do direito, aprovado em concurso público.371

-372

Frisa-se: pública é a função notarial e de registros, privado é o seu exercício. O item

6.3.1 desenvolve e aprofunda o assunto quando analisa o regime jurídico desses profissionais,

definindo-os como agentes particulares em colaboração com a Administração – conforme o

direito administrativo.

370

SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.878.

371 CAHALI, Francisco José; HERANCE FILHO, Antonio; ROSA, Karin Regina Rick; FERREIRA, Paulo

Roberto Gaiger. Escrituras públicas: separação, divórcio, inventário e partilha consensuais: análise civil,

processual civil, tributária e notarial. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p.50.

372 “A função pública notarial e de registro é, por imperativo constitucional, exercida por meio de

descentralização administrativa por colaboração: o Poder Público conserva a titularidade do serviço e transfere

sua execução a particulares (pessoas físicas com qualificação específica e que foram aprovadas em concurso

público de provas e títulos) em unidades (ou feixes de competência) definidas pela Administração, em função

das necessidades dos usuários e da adequação do serviço, mediante critérios relativos ao número de atos

praticados, receita, aspectos populacionais e conformidade com a organização judiciária de cada Estado da

Federação.” RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo:

Saraiva, 2009. p.56-7.

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154

Leonardo Brandelli, buscando conceituar o notário e o registrador de acordo com a

teoria geral do direito notarial, aponta que o notariado brasileiro é do tipo “latino”373

,

classificação que abrange as seguintes características:

a) manutenção da configuração tradicional do notário como conselheiro,

perito ou assessor de direito; receptor e intérprete da vontade das partes,

redator dos atos e contratos que deva lavrar e portador de fé dos fatos e

declarações que se passem ou se façam em sua presença;

b) exigência para o exercício da função notarial de estudos universitários de

Direito em toda a sua extensão, comprovados com o diploma de bacharel

em direito ou de título que corresponda a disciplinas análogas, acrescido

da especialização e prática da função;

c) limitação do número de notários estritamente de acordo com as

necessidades públicas em cada jurisdição, distrito ou circunscrição

notarial;

d) seleção de ordem técnica e moral para ingressar na função notarial pelo

sistema de concurso de provas e títulos;

e) garantia de inamovibilidade para o titular enquanto tiver boa conduta;

f) autonomia institucional de notariado, com seu governo e disciplina a

cargo de organismo corporativo próprio;

g) remuneração do notariado pelo cliente pelo sistema de tabelas legais e

com garantia de meios decentes para a subsistência;

h) aposentadoria facultativa por antiguidade, doença ou limite de idade.374

Brandelli menciona que também é característica do notariado latino a aspiração de que

todos os atos de jurisdição voluntária sejam atribuídos, exclusivamente, à competência

notarial. O estudioso ressalta haver uma corrente doutrinária sugerindo que a jurisdição

voluntária não é jurisdição, e tampouco voluntária, razão pela qual poderia ser perfeitamente

desempenhada pelo notário, liberando o Poder Judiciário para dedicar-se com mais afinco às

questões que efetivamente envolvam uma lide a ser resolvida. Ademais, se não há lide,

tratando-se, pois, de atividade administrativa, seria desempenhada com proficiência por um

profissional com as características de um notário.375

Como já dito anteriormente, a discussão acerca da natureza jurídica da tutela

executiva, se jurisdicional ou administrativa, tem importância relativa para a proposta que se

373

Tipo adotado em mais de 70 países do mundo, como, por exemplo, Espanha, Itália, França, Portugal,

Alemanha, Áustria, Albânia, Bélgica, Canadá, Japão, Luxemburgo, Mônaco, México, Argentina e Vaticano,

dentre outros.

374 BRANDELLI, Leonardo. Teoria geral do direito notarial. São Paulo: Saraiva, 2011. p.98-9.

375 Ibid, p.99-100.

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155

apresenta. Ainda que jurisdicional, a atividade executiva pode ser delegada, especificamente

no que diz respeito aos procedimentos administrativos – citação, intimação, penhora, venda,

pagamento –, reservando-se ao magistrado decisões relativas à eventual contrariedade surgida

por meio dos embargos do devedor.

Consideradas as características do notariado brasileiro, especialmente após a

promulgação da Constituição Federal de 1988, que acolheu o sistema notarial latino, acredita-

se que os agentes delegados apresentariam bastante eficiência na gestão privada da função

pública da execução. Imbuídos em receber seus emolumentos, que serão maiores caso haja

êxito no recobro da dívida, certamente os agentes delegados irão investir em modernos

sistemas de computação, de pesquisa de dados, de treinamento de pessoal, entre outros.

Além disso, os prazos dos juízes são impróprios, razão pela qual nenhuma sanção lhes

é imposta caso o processo fique parado, sem qualquer andamento, por anos e anos nos

escaninhos forenses – os famosos tempos mortos. Completamente diferente é o prazo

conferido ao notário ou registrador, que deve ser rigorosamente cumprido, sob as penas da lei.

Entende-se absolutamente factível que os agentes delegados possam realizar toda a

atividade executiva em um prazo máximo de 90 dias, sem considerar eventual suspensão

desse termo por ordem judicial, concedida nos embargos do devedor. Cada etapa ou fase do

procedimento executivo deve contar com rígidos prazos: a citação e localização de bens

podem ser realizadas em 10 dias (1ª fase); a penhora pode levar até 20 dias (2ª fase); a

expropriação, mais complexa, pagamento e extinção da execução podem tomar até 60 dias (3ª

fase). Esses prazos devem ser peremptórios.

A lei determina que o protesto seja lavrado no tríduo, caso não haja pagamento, a

contar do primeiro dia útil seguinte à data do protocolo do título no tabelionato. Assim, ao

tabelião de protesto é dado não mais que 1 dia para a conferência dos requisitos extrínsecos

do título – quando então ele poderá ser devolvido por irregularidade – e expedição da

competente intimação ao devedor e mais, no máximo, 1 dia para a efetivação da intimação,

concedendo-se, assim, prazo hábil para o pagamento do débito pelo devedor. Esses prazos são

rigorosamente cumpridos; não o fazendo, os tabeliães estão sujeitos a infrações disciplinares e

penalidades.

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156

Há de se ter em mente que nos tabelionatos de protestos paulistanos circulam

diariamente centenas de títulos376

, de forma que, para o cumprimento dos referidos prazos,

deve haver adequada e suficiente infraestrutura.

A autora realizou nova pesquisa de campo, desta vez junto ao 1º Tabelionato de

Protestos de São Paulo, uma vez que este é o serviço que apresenta maior efetividade na

recuperação de crédito, alcançando o índice de 77%. A média de efetividade dos 10

Tabelionatos de Protesto de São Paulo é de 66%, conforme se verifica do Anexo V, ao final

deste trabalho, fornecido pelo Instituto de Estudos de Protestos de Títulos do Brasil, Seção

São Paulo.

No intuito de conhecer a estrutura do tabelionato de protesto mais eficiente de São

Paulo e obter substrato para sua proposta de ampliação da competência desses tabeliães, a

autora solicitou uma visita, tendo sido recebida no dia 12.1.2012, às 10:30 horas, pelo

Substituto Mário Florence. Ao longo do dia, acompanhou todas as fases e trâmites do

procedimento de protesto, desde a conferência matutina dos títulos, a elaboração vespertina

das intimações e imediata remessa ao intimador terceirizado; observou as atividades dos

guichês de pagamento de títulos, de retirada de títulos (devolvidos por irregularidade ou

protestados), de cancelamento de protesto e de emissão de certidões; conheceu os arquivos e

os modernos sistemas de informática; conversou com a equipe de atendimento das ordens

judiciais de sustação de protesto; e ainda passou por departamentos típicos de uma empresa,

como recursos humanos, faturamento, entre outros.

A efetividade na recuperação de créditos do 1º Tabelionato de Protesto de São Paulo,

de titularidade de José Carlos Alves, parece estar relacionada a dois fatores: ampla

informatização e rigor procedimental. Se os mesmos resultados pudessem ser estendidos para

a atividade executiva, haveria um enorme sucesso no cumprimento das obrigações nesse país.

Nem se espera tanto, pois a média de efetividade dos 10 Cartórios de Protesto da Cidade de

São Paulo já representa o quádruplo daquela apurada pelo CNJ em relação ao Poder

Judiciário.

376

O 1º Tabelionato de Protestos de São Paulo recebeu uma média de 830 títulos por dia no ano de 2011.

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157

Tal visita trouxe mais certeza ao que se propõe, especialmente no sentido de ampliar

os poderes dos tabelionatos de protesto, já que afeitos aos títulos executivos. A estrutura

existente é apta a dar efetividade também para a execução: a notável habilidade na análise do

título377

para o protesto poderia ser aplicada na verificação dos pressupostos da execução; os

sistemas de localização de endereço do devedor, de expedição e efetivação de intimação e de

publicação de edital servem tanto para o protesto como a execução. No mais, é dotar a

serventia de acesso aos sistemas de informação, como Instituto Nacional de Seguridade Social

(INSS), Registros de Imóveis, departamento de registro de veículos automotores, entre

outros.378

O agente de execução deve ter amplo acesso a essas informações. Acredita a autora

que até mesmo penhora on-line possa ser realizada pelo tabelião, independentemente de

ordem judicial. O artigo 655-A do vigente Código de Processo Civil informa que “o juiz, a

requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário,

preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do

executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na

execução”. Em atenção ao sigilo bancário379

, o Tabelião não deve requisitar e receber

informações sobre a existência de ativos e seus valores, mas tão somente requerer e obter a

indisponibilidade de eventuais valores existentes, até o limite do crédito.

377

O tabelião não deve apurar a prescrição ou caducidade do título, conforme artigo 9º da Lei nº 9.492/97:

“Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus caracteres formais e terão

curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência de prescrição ou

caducidade. Parágrafo único. Qualquer irregularidade formal observada pelo Tabelião obstará o registro do

protesto.” Todavia, desde a expedição da Súmula nº 370 do STJ, publicada em 25.2.2009, segundo a qual

“caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado”, os Tabelionatos não protestam títulos

com apresentação bancária antes da data aprazada. 378

Em 13.4.2012, o Ministro Cesar Peluso lançou o sistema de integração de informação judiciária. Disponível

em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=204929>. Acesso em: 5 maio 2021.

Algumas informações “extraprocessuais”, como a consulta de indisponibilidade de bens e consulta de existência

de bens imóveis, devem entrar em funcionamento em breve espaço de tempo. Na data da consulta já era possível

consultar a existência de bens imóveis em nome de pessoa física no Estado de São Paulo, mas não a

indisponibilidade de bens. O CNIPE já é um grande avanço e deve servir de exemplo aos demais poderes,

facilitando assim a localização do devedor e de seus bens. <http://www.cnj.jus.br/cnipe>. Acesso em: 5 maio

2012.

379 “O sigilo bancário, espécie do direito à privacidade do indivíduo, em que pese protegido pelo inc. X do art. 5º

da Constituição Federal, não ostenta a qualidade de direito de caráter absoluto, porquanto cede espaço diante do

direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva, em atenção ao que estabelecem os incs. XXXV e LXXVIII do

art. 5º da Constituição Federal, à luz do princípio da proporcionalidade”. RAMOS, José Eduardo Ferreira.

Jurisdição: crise, efetividade e plenitude institucional. In: GUNTHER, Luiz Eduardo (Coord.). Jurisdição: crise,

efetividade e plenitude institucional. Curitiba: Juruá, 2008. p.363.

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158

A questão do sigilo bancário parece solucionada com a redação proposta pelo projeto

de lei para o novo Código de Processo Civil, já aprovado pelo Senado Federal e em trâmite

perante a Câmara dos Deputados – PL nº 8.046/2010.380

O projeto elimina a possibilidade de

o juiz conhecer os ativos financeiros do devedor, devendo apenas requerer o bloqueio. Por

óbvio é necessária a previsão de transferência de competência do juiz para o tabelião de

protesto em relação ao requerimento de indisponibilidade dos eventuais ativos financeiros,

mas registra-se a tendência da maior proteção ao sigilo bancário, sem que haja prejuízo aos

credores.

Portanto, a presente proposta delega parte da atividade executiva do juiz ao tabelião de

protesto, já que afeito aos títulos de créditos. Nesse passo, importante analisar, ainda que

brevemente, o regime jurídico, a competência, o ingresso na profissão, a remuneração, entre

outros aspectos desses agentes delegados.

6.3 Notários e registradores

6.3.1 Regime jurídico

Os notários e registradores sujeitam-se a um regime jurídico peculiar: “Apesar de a

função caracterizar-se como de natureza privada, sua investidura depende de aprovação em

concurso público e a sua atuação se submete ao controle do Poder Judiciário, de onde se

infere que se trata de regime jurídico híbrido.”381

Apesar de quase a totalidade de a doutrina qualificar os notários e registradores como

“particulares em colaboração com a Administração” – variando essa denominação382

, mas

sem alteração do sentido –, nota-se haver uma clara divergência de opiniões sobre a

abrangência desse conceito.

380

“Art. 810. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a

requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras,

por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que torne

indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor

indicado na execução”.

381 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Público. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

p.561-2.

382 Com amparo na doutrina espanhola e portuguesa, “profissões oficiais ou profissões públicas independentes”.

RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva, 2009.

p.79-80.

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159

Celso Antônio Bandeira de Mello capitania a parte da doutrina que defende que

“particulares em colaboração com a Administração”, delegados de função pública,

distinguem-se dos concessionários e permissionários, que desempenham atividade material,

enquanto os notários e registradores exercem atividade jurídica. A delegação é ato sucessivo

ao concurso e seu significado é precisamente o de adjudicar um específico serviço aos

cuidados de uma determinada pessoa física (e não pessoa jurídica, como nos casos das

concessionárias ou permissionárias).383

José Afonso da Silva384

acompanha integralmente o posicionamento de Bandeira de

Mello. No mesmo sentido caminham Alexandre de Moraes385

, Lucas Rocha Furtado386

e

Diogenes Gasparini387

.

Já Hely Lopes Meirelles entende que “agentes delegados são particulares que recebem

a incumbência da execução de determinada atividade, obra ou serviço público e o realizam em

nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as normas do Estado e sob a permanente

fiscalização do delegante”. Nessa categoria, portanto, encontram-se os concessionários e

permissionários de obras e serviços públicos, além dos notários e registradores – bem como os

leiloeiros, os tradutores e intérpretes públicos.388

Posição semelhante de Lopes Meirelles é adotada por Maria Sylvia Zanella.389

Na

mesma linha entendem Antônio Queiroz Telles390

, Toshio Mukai391

e Marcelo Figueiredo392

.

383

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2010. p.251-

2.

384 SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.873.

385 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. São Paulo:

Atlas, 2007. p.2252-3.

386 FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2007. p.895.

387 GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2009. p.168.

388 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1991. p.71.

389 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991. p.308.

390 TELLES, Antonio A. Queiroz; Introdução ao Direito Administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2000. p.358.

391 MUKAI, Toshio; Direito Administrativo sistematizado. São Paulo: Saraiva, 1999. p.153.

392 FIGUEIREDO, Marcelo. Análise da importância da atividade notarial na prevenção dos litígios e dos

conflitos sociais. In: Revista de Direito Notarial, ano 2, n. 2. São Paulo: Quartier Latin, 2010. p.78.

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160

Mas há ainda quem afirme que esses profissionais são típicos servidores públicos,

como Alexandre Issa Kimura393

e Luis Roberto Barroso394

. Lúcia Valle Figueiredo395

, Marçal

Justen Filho396

e Edmir Netto de Araújo397

, ao tratarem dos agentes públicos, não mencionam

notários e registradores, de forma que não se conhece o posicionamento dos mencionados

estudiosos do direito administrativo a respeito do regime jurídico desses profissionais.

A jurisprudência desenvolveu-se de forma paulatina. A princípio, entendeu que os

notários e registradores eram verdadeiros servidores públicos, mas com o tempo, e com o

surgimento de questões específicas, como a aposentadoria compulsória aos 70 anos,

modificou drasticamente seu posicionamento, passando a tratá-los como agentes particulares

em colaboração. Vale a análise de dois julgados que se tornaram paradigmas.

Inicialmente, por meio do Recurso Extraordinário nº 178.236-6/RJ, em que foi relator

o Min. Octavio Gallotti, publicado em 7.3.1999, o Supremo Tribunal Federal equiparou os

titulares de ofícios de notas e registros aos servidores públicos, fazendo constar da ementa

quatro argumentos do seu convencimento: os notários e registradores i) ocupam cargo público

criado por lei; ii) ingressam na atividade por concurso público; iii) permanecem sob constante

fiscalização do Estado e iv) são remunerados por conta de receita pública.398

Referido julgamento, no entanto, foi bastante conturbado, já que o então presidente do

Supremo Tribunal Federal, Ministro Sepúlveda Pertence, acompanhado pelos Ministros

Marco Aurélio e Francisco Rezek, apresentou fortes argumentos contrários à tese vencedora,

demonstrando que não se poderia enquadrar notários e registradores como servidores

públicos. Segundo Pertence,

393

KIMURA, Alexandre Issa. Constituição Federal de 1988: Apontamentos Doutrinários e Jurisprudenciais.

São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. p.413.

394 BARROSO, Luis Roberto. Constituição da República Federativa do Brasil Anotada. São Paulo: Saraiva,

2006. p.1044.

395 FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008. p.597 e segs.

396 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2009. p.708 e segs.

397 ARAÚJO, Edmir Netto de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2007. p.253 e segs.

398Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2

ESCLA%2E+E+178236%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+178236%2EACMS%2E%

29&base=baseAcordaos>. Acesso em: 11 jan. 2012.

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161

cuida-se sim de um serviço público, o que, porém, não resolve, por si só, o

status do seu agente; nem todo serviço público é executado por servidor

público, e o exemplo típico é o do serviço público prestado por delegação do

Estado, com está no art. 236 da Constituição. Não se pode conceber que o

Estado delegue a prestação de serviço público a quem é servidor público. O

delegado, é elementar, exerce a delegação em nome próprio, o servidor o faz

em nome do Estado, “representa o Estado”, para fazer honra à linguagem do

saudoso Pontes de Miranda.399

Passados alguns anos, especialmente após a Emenda Constitucional nº 20, de

15.12.1998, que definiu a aposentadoria compulsória dos servidores após os 70 anos de idade,

o Supremo Tribunal Federal alterou seu entendimento no julgamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº 3.151/MT, na qual foi relator o Ministro Carlos Ayres Britto

(8.6.2005). Referido acórdão traz uma importante explanação sobre o regime jurídico dos

serviços notariais e registrais:

a) trata-se de atividades jurídicas próprias do Estado, e não simplesmente de

atividades materiais, cuja prestação é traspassada para os particulares

mediante delegação. Traspassada, não por conduto dos mecanismos da

concessão ou da permissão, normados pelo caput do art. 175 da Constituição

como instrumentos contratuais de privatização do exercício dessa atividade

material (não jurídica) em que se constituem os serviços públicos; b) a

delegação que lhes timbra a funcionalidade não se traduz, por nenhuma

forma, em cláusulas contratuais; c) a sua delegação somente pode recair

sobre pessoa natural, e não sobre uma empresa ou pessoa mercantil, visto

que de empresa ou pessoa mercantil é que versa a Magna Carta Federal em

tema de concessão ou permissão de serviço público; d) para se tornar

delegatária do Poder Público, tal pessoa natural há de ganhar habilitação em

concurso público de provas e títulos, não por adjudicação em processo

licitatório, regrado pela Constituição como antecedente necessário do

contrato de concessão ou de permissão para o desempenho de serviço

público; e) são atividades estatais cujo exercício privado jaz sob a exclusiva

fiscalização do Poder Judiciário, e não sob órgão ou entidade do Poder

Executivo, sabido que por órgão ou entidade do Poder Executivo é que se dá

a imediata fiscalização das empresas concessionárias ou permissionárias de

serviços públicos. Por órgãos do Poder Judiciário é que se marca a presença

do Estado para conferir certeza e liquidez jurídica às relações inter-partes,

com esta conhecida diferença: o modo usual de atuação do Poder Judiciário

se dá sob o signo da contenciosidade, enquanto o invariável modo de atuação

das serventias extra-forenses não adentra essa delicada esfera da litigiosidade

entre sujeitos de direito; f) as atividades notariais e de registro não se

inscrevem no âmbito das remuneráveis por tarifa ou preço público, mas no

círculo das que se pautam por uma tabela de emolumentos, jungidos estes a

normas gerais que se editam por lei necessariamente federal.400

399

Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=223605>. Acesso em:

11 jan. 2012.

400 Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%283151%2

ENUME%2E+OU+315 1%2 E A CMS%2E%29&base=baseAcordaos>. Acesso em: 11 jan. 2012.

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162

A questão foi coerentemente pacificada, especialmente para fins de aposentadoria, mas

ainda existe certa controvérsia no que se refere à apuração da responsabilidade civil dos

notários e registradores. Se “os agentes delegados atuam em nome próprio, não se deveria

cogitar de responsabilizar o poder público delegante pelos atos por eles praticados”401

, como

sói acontecer.

Rui Stoco, justamente por entender que notários e registradores são equiparados aos

servidores públicos, defende que “o poder público responderá objetivamente pelos danos que

os titulares das serventias extrajudiciais, enumerados no art. 5º da Lei no 8.935/94, ou seus

prepostos, nessa qualidade, causarem a terceiros”. Stoco lembra que os notários e

registradores respondem por via de regresso perante o Poder Público e ainda, que nada

impede que o prejudicado ajuíze ação diretamente contra o titular do cartório, desde que

comprovada a culpa.402

Luciano de Camargo Penteado403

entende que a culpa é do Estado, em razão de sua

escolha. Clayton Reis404

e Cristiano Graeff Júnior405

defendem a responsabilidade dos

notários e registradores por todos os danos causados a terceiros, praticados com culpa ou

dolo.

Não é esse o entendimento da autora. O princípio da responsabilidade objetiva

previsto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal ("as pessoas jurídicas de direito público e

as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus

agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros...") aplica-se também aos agentes públicos

delegados.406

Posicionam-se da mesma forma José Cretella Júnior407

e Luis Roberto

401

FURTADO, Lucas Rocha. Curso de Direito Administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2007. p.896.

402 STOCO, Rui. Responsabilidade civil dos notários e registradores (comentários à lei 8.935, de 18.11.94). In:

Revista dos Tribunais, n. 714, abr. 1995. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 53.

403 PENTEADO, Luciano de Camargo. Quais os contornos da responsabilidade civil dos notários por danos

decorrentes da prática dos atos previstos na Lei 11.441/2007? In: COLTRO, Antônio Carlos Mathias;

DELGADO, Mário Luiz (Coord.). Separação, divórcio, partilhas extrajuciais. São Paulo: Método, 2007.

p.193-4.

404 REIS, Clayton. A responsabilidade civil do notário e do registrador. In: Revista dos Tribunais, n. 703,

maio1994. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p.21.

405 GRAEFF JÚNIOR, Cristiano. Natureza jurídica dos órgãos notarial e registrador. In: Revista da Associação

dos Juízes do Rio Grande do Sul, ano XXIV, n. 71, nov. 1997. Porto Alegre: Ajuris, 1997. p.89.

406 RE 212.724-MG, Rel. Min. Maurício Corrêa, em 30.3.99; RE 201.595-SP, Rel. Min. Marco Aurélio, em

20.4.2001.

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163

Barroso408

. A Lei nº 8.935/94, em seu artigo 22, determina que “os notários e oficiais de

registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de

atos próprios da serventia”, sem fazer qualquer menção à prova de culpa ou dolo.

Os agentes delegados exercem em nome próprio uma função pública, do que resulta

sua responsabilidade pessoal, direta e objetiva pelos danos causados a terceiros, sem que isso

implique em responsabilidade solidária do Estado. Subsiste apenas a responsabilidade

subsidiária ou supletiva do Estado, no caso de o agente delegado não contar com patrimônio

suficiente para a reparação. Poderá haver, todavia, responsabilidade solidária do Estado na

hipótese de falha na fiscalização e controle da atividade pública exercida de modo privado.409

A Lei nº 9.492/97, que define competência e regulamenta os serviços concernentes ao

protesto de títulos, em seu artigo 38, estabelece que “os Tabeliães de Protesto de Títulos são

civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem, por culpa ou dolo,

pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado

o direito de regresso.”

Como esclarecido, a responsabilidade de todo agente delegado é objetiva, devendo

ressarcir os danos causados a terceiros independentemente de culpa ou dolo. Referida norma

contraria o quanto disposto na Constituição e na Lei Federal nº 8.935/94, em assunto que não

é de competência exclusiva dos tabeliães de protesto, mas comum a todos os notários e

registradores. Desse modo, o artigo 38 da Lei nº 9.492/97 não se ajusta ao sistema e

caracteriza flagrante ofensa ao princípio da igualdade de tratamento.410

Ainda sobre o regime jurídico dos agentes delegados, é importante registrar que o

“gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da

responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de

custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações

407

CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1994. p.4616 e segs.

408 BARROSO, Luis Roberto. Constituição da República Federativa do Brasil Anotada. São Paulo: Saraiva,

2006. p.1045.

409 RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva,

2009. p.128.

410 Ibid, p.125.

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relativas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos” (art. 21). O titular deve

estar sempre focado em obter a melhor qualidade na prestação dos seus serviços.

Os agentes delegados poderão contratar para o desempenho de suas funções i)

escreventes – empregados com capacitação técnica e habilitado para o serviço notarial ou de

registro –, dentre os quais escolherão os seus substitutos, bem como ii) auxiliares –

empregados para serviços gerais e desempenho de tarefas que lhes forem designadas –, todos

com remuneração livremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho (art. 20).

Os escreventes poderão praticar somente os atos que o notário ou o registrador

autorizar. Já os substitutos poderão, simultaneamente com os titulares, praticar todos os atos

próprios daquela serventia. O titular encaminhará ao juízo competente os nomes dos seus

substitutos, especialmente daquele designado para responder pelo respectivo serviço na sua

ausência ou impedimento.

O agente de execução, nos termos propostos, deve ser considerado um agente

delegado para todos os fins, e submetido ao mesmo regime jurídico dos notários e

registradores. Sugere-se a ampliação das funções do tabelião de protesto, já que afeito aos

títulos e outros documentos de dívida e dotado de infraestrutura para localização e intimação

do devedor. Além disso, a distribuição do serviço obedece aos critérios de quantidade e

qualidade, realizada pelo Centro de Estudo e Distribuição de Títulos de São Paulo (CDT).411

Para que se possa justificar a ampliação das funções dos tabeliães de protesto,

delegando-lhes também a atividade executiva, é relevante realizar um breve estudo acerca das

suas competências originárias. Embora pareça haver certo desvio do contexto, somente

conhecendo-se o trâmite do protesto é que se pode afirmar haver afinidade procedimental,

ainda que a execução seja mais ampla, envolvendo outras práticas, como a penhora e venda de

bens.

6.3.2 Competência dos tabelionatos de protestos

411

Disponível em: <http://www.cdtsp.com.br/>. Acesso em: 30 jan. 2012.

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165

Considerando que os tabelionatos de protesto têm tratamento particular na Lei nº

8.935/94, o Poder Legislativo entendeu por bem editar uma norma específica que definisse

competências e regulamentasse os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros

documentos de dívida. Nesse passo, foi publicada a Lei nº 9.492, em 10.9.1997, que por ser

posterior, revogou os dispositivos referentes às competências e atribuições dos tabeliães de

protesto da Lei nº 8.935/94412

– ainda que não haja incompatibilidades.413

Segundo a Lei nº 9.492/97, protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a

inadimplência e o descumprimento da obrigação originada em títulos e outros documentos de

dívida e é garantia de autenticidade, publicidade414

, segurança e eficácia dos atos jurídicos.415

Ainda de acordo com a referida lei, compete privativamente ao tabelião de protesto de

títulos “a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o

recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e

registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder às

averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados” (art.

3º).

412

Entre outros artigos: “Art. 11. Aos tabeliães de protesto de título compete privativamente: I - protocolar de

imediato os documentos de dívida, para prova do descumprimento da obrigação; II - intimar os devedores dos

títulos para aceitá-los, devolvê-los ou pagá-los, sob pena de protesto; III - receber o pagamento dos títulos

protocolizados, dando quitação; IV - lavrar o protesto, registrando o ato em livro próprio, em microfilme ou sob

outra forma de documentação; V - acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante; VI -

averbar: a) o cancelamento do protesto; b) as alterações necessárias para atualização dos registros efetuados; VII

- expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis. Parágrafo único. Havendo mais

de um tabelião de protestos na mesma localidade, será obrigatória a prévia distribuição dos títulos.”

413 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei nº 8.935/94). São Paulo:

Saraiva, 2007. p.91.

414 A dissertação de mestrado de Reinaldo Velloso dos Santos, defendida na Universidade de Direito de São

Paulo, ressalta a função econômica do protesto no Brasil, em razão da ameaça de desonra cambial, e

consequentemente, do prejuízo da análise e concessão de crédito. Desse modo, o protesto serve como importante

meio de estímulo à pontualidade e adimplemento, especialmente em razão da publicidade, ou seja, da inserção

do nome protestado nos bancos de dados disponíveis no mercado, tais como Serasa, SCPC, SPC Brasil, Equifax

(Sindicato do Comércio e Indústria), entre outros. SANTOS, Reinaldo Velloso dos. Apontamentos sobre o

protesto notarial. Universidade de São Paulo, 2012. Dissertação não publicada.

415 De acordo com a lei, os tabeliães de protesto de títulos exercem atividade de natureza “notarial”. No entanto,

parece que deve ser considerado também o seu forte componente registral. Além de ser ato formal e solene pelo

qual se prova a inadimplência e o descumprimento da obrigação originada em títulos e outros documentos de

dívida - o que caracterizaria sua natureza notarial -, é ato de publicidade em face de terceiros. Nos dias atuais, o

protesto exerce sobre o inadimplente constrangimento moral e coerção, além de advertência perante a

coletividade. A função exercida pelo Tabelião de Protestos de Títulos, por conseguinte, é híbrida: notarial e

registral. FIGUEIREDO, Marcelo. Análise da importância da atividade notarial na prevenção dos litígios e dos

conflitos sociais. In: Revista de Direito Notarial, ano 2, n. 2. São Paulo: Quartier Latin, 2010. p.96-7.

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166

Os títulos e documentos de dívida destinados ao protesto estão sujeitos,

obrigatoriamente, à prévia distribuição nas localidades onde houver mais de um tabelionato

de protesto de títulos, realizada por meio de um serviço instalado e mantido pelos próprios

tabeliães. Os títulos são recepcionados no distribuidor, separados e entregues na mesma data

aos tabelionatos de protesto, obedecidos os critérios de quantidade e qualidade.

Segundo Walter Cenevida, “o critério é relativo ao número total de títulos e

documentos recebidos em um só dia e ao tipo de cada papel (duplicatas, letras de câmbio,

promissórias e documentos oriundos do Poder Judiciário, por exemplo), e ainda ao seu valor

em moeda nacional, tendo em vista o direito à equidade nos emolumentos”. A estrutura dos

serviços de distribuição, em especial os programas de computador, deve ser adequada para

organizar esse duplo critério distintivo.416

Na sequência, todos os títulos e documentos de dívida recebidos e protocolizados no

tabelionato de protesto são examinados em seus caracteres formais. Qualquer irregularidade

relativa aos elementos extrínsecos do título obstará o registro do protesto, devendo haver,

então, a devolução do documento ao apresentante. Não cabe ao tabelião investigar a

ocorrência de prescrição ou caducidade do título, o que deve ser repensado no caso desse

serviço assumir também a atividade executiva. O agente de execução deve estar,

necessariamente, autorizado e habilitado a fazer esse tipo de análise, já que diretamente

relacionada à capacidade executiva do título.

Se em conformidade, o tabelião deve expedir a intimação ao devedor – documento

que deve conter todos os elementos de identificação do título e do devedor – e efetivá-la no

endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento de dívida, considerando-se

cumprida quando comprovada a sua entrega no destinatário. A remessa da intimação pode ser

realizada mediante portador do próprio tabelião, ou por qualquer outro meio, desde que o

recebimento fique assegurado e comprovado por protocolo, aviso de recebimento ou

documento equivalente.

Se a pessoa indicada para aceitar ou pagar for desconhecida, sua localização for

incerta ou ignorada, ou, ainda, ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço

416

CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei nº 8.935/94). São Paulo:

Saraiva, 2007. p.95.

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167

fornecido pelo apresentante, a intimação será realizada por edital, que será afixado no

tabelionato de protesto e publicado pela imprensa local de circulação diária.

O pagamento será feito diretamente no tabelionato competente, no valor igual ao

declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e demais despesas, em dinheiro ou

por meio de cheque administrativo ou visado. Já existe convênio para que o pagamento seja

realizado por meio eletrônico, mas ainda é muito restrito: no Estado de São Paulo, apenas o

banco Itaú está autorizado a receber tais valores, por intermédio do Sistema Eletrônico de

Segurança – SELTEC.417

No ato do pagamento, o tabelionato de protesto dará a respectiva quitação, e o valor

devido será colocado à disposição do apresentante no primeiro dia útil subsequente ao do

recebimento, por meio de cheque nominal emitido pelo próprio tabelionato.

Além do pagamento, duas circunstâncias impedem o protesto: i) a retirada do título

pelo apresentante, que então arcará com os emolumentos e demais despesas ou ii) a sustação

judicial, quando então o título permanecerá no tabelionato à disposição do Juízo.

Revogada a ordem de sustação, não há necessidade de se proceder a nova intimação

do devedor, devendo a lavratura do protesto ser efetivada até o primeiro dia útil subsequente

ao do recebimento da nova ordem judicial. Tornada definitiva a sustação, o tabelionato

procederá a entrega do título a quem de direito, conforme decisão judicial.

Não havendo pagamento, retirada ou sustação, o protesto será lavrado dentro do prazo

de 3 dias úteis contados da protocolização no tabelionato de protesto do título ou documento

de dívida, cuja contagem exclui o dia da protocolização e inclui o do vencimento. Não é

considerado dia útil aquele no qual não há expediente bancário para o público. Se

excepcionalmente a intimação for efetivada no último dia do prazo ou além dele, o protesto

será lavrado no primeiro dia útil subsequente.

O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no tabelionato de

protesto de títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento

417

Disponível em: <http://www.seltec.com.br/>. Acesso em: 20 jan. 2012.

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protestado, cuja cópia ficará arquivada, ou carta de anuência, com identificação e firma

reconhecida daquele que figurou no registro de protesto como credor. Nessa oportunidade o

devedor deve realizar o pagamento da dívida, além dos emolumentos, acrescidos de 50%, e

despesas incorridas pelo tabelionato.

O tabelionato é responsável pela escrituração dos seus livros e conservação adequada

em arquivo, possibilitando a expedição de certidões, quando solicitadas, dentro de 5 dias

úteis, abrangendo o período mínimo de 5 anos. As certidões deverão obrigatoriamente

indicar, além do nome do devedor, um dos documentos de identificação pessoal – RG ou

CPF –, se pessoa física, ou CNPJ, se pessoa jurídica.

Os cartórios fornecerão às entidades representativas da indústria e do comércio ou

àquelas vinculadas à proteção do crédito, quando solicitada, certidão diária, em forma de

relação, dos protestos tirados e dos cancelamentos efetuados, com a nota de se cuidar de

informação reservada, da qual não se poderá dar publicidade pela imprensa, nem mesmo

parcialmente.

Pelos atos que praticarem, os tabeliães de protesto perceberão, diretamente das partes,

a título de remuneração, os emolumentos fixados na forma da lei estadual e de seus decretos

regulamentadores. No Estado de São Paulo, desde a edição da Lei Estadual nº 11.331/2002,

que dispõe sobre os emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de

registro, os tabelionatos de protesto só recebem emolumentos quando do pagamento ou do

cancelamento do título. O apresentante não realiza nenhum adiantamento, e caso o protesto

reste perpetuado, o tabelião assume o risco da atividade.

6.3.3 Concurso público

O parágrafo 3º do artigo 236 da Constituição Federal prevê que “o ingresso na

atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se

permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de

remoção, por mais de seis meses”. O Supremo Tribunal Federal, chamado a se manifestar,

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reafirmou a imprescindibilidade do concurso público para o ingresso na atividade notarial e de

registro.418

Segundo José Cretella Júnior, o processo de provimento exigido pela regra jurídica

constitucional, o concurso público, é uma “série complexa de procedimentos que o Estado

empreende para apurar as aptidões pessoais apresentadas por quem se empenha a ingressar

nos quadros do serviço público, submetendo o candidato seus trabalhos, títulos e atividades a

julgamento de comissão examinadora”.419

No concurso público, as provas são, por regra geral, escrita, prática, aula ou preleção.

No concurso específico para a atividade notarial, o candidato realiza prova escrita e prática,

versando sobre matérias como direito notarial, civil, constitucional, penal, processual civil,

administrativo, entre outras, conforme o edital. Também são exigidos conhecimentos do

estatuto específico e proficiência em português.420

Consiste o concurso de títulos na apresentação, pelo candidato, de todos os

documentos relacionados diretamente com a natureza do cargo público disputado e que

demonstrem as atividades realizadas pelo concorrente, como, por exemplo, a publicação de

livros, artigos, ensaios, entre outros; a conclusão de cursos, pós-graduações, mestrados,

doutorados, entre outros. Além disso, também são considerados títulos as homenagens,

láureas, medalhas, opiniões ou conceitos que pessoas ou entidades tenham dedicado ao

concorrente.421

O concurso público de ingresso na profissão deve ser realizado pelo Poder Judiciário,

com a participação, em todas as suas fases, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério

Público, de um notário e de um registrador. O concurso será aberto com a publicação de

edital, dele constando os critérios de desempate.

418

RE 635376-GO, Min. Celso de Mello, em 30.5.2011; ADI 2379-MG, Min. Ellen Gracie, em 13.12.2002.

419 CRETELLA JÚNIOR, José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1994. p.4626.

420 MONTENEGRO JÚNIOR, Eurico. Breves anotações ao novo estatuto dos notários e registradores. In:

Revista dos Tribunais, n. 739, ano 86, maio 1997. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p.98.

421 CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p.4627.

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170

A Lei no 8.935/94, que regulamentou a atividade notarial e de registro, além de

estabelecer a prévia habilitação em concurso público de provas e títulos, fixou determinados

requisitos para os candidatos: nacionalidade brasileira; capacidade civil; quitação com as

obrigações eleitorais e militares; diplomação em bacharelado de direito e conduta condigna

para o exercício da profissão.

Apesar da exigência de diplomação, a lei abriu uma exceção, permitindo que possa

participar do concurso público candidato não bacharel em direito que tenha completado, até a

data da primeira publicação do edital do concurso de provas e títulos, 10 anos de exercício em

serviço notarial ou de registro, como preposto comprovadamente contratado.

Pois bem, da mesma forma que os notários e registradores são rigorosamente

selecionados, fazendo prova da sua formação em direito, do seu efetivo conhecimento técnico

e da sua ilibada conduta moral, os agentes de execução também seriam avaliados e habilitados

por meio de concurso público.

Além disso, os novos agentes de execução devem cursar rigoroso estágio de formação,

cujos critérios devem ser estabelecidos por lei. Se houver ampliação das funções dos tabeliães

de protesto, os notários já habilitados devem receber treinamento específico para a nova

atividade. Propõe-se uma longa vacatio legis, talvez de até dois anos, tempo hábil para que

todos os profissionais estejam devidamente habilitados e treinados.

A formação do agente delegado para a assunção de novas funções é fundamental. Nos

primeiros anos da Lei nº 11.441/2007, muitos notários não estavam preparados para a

realização de separações, divórcios, partilhas ou inventários. Na experiência da advocacia, a

autora passou por inúmeras dificuldades, especialmente com partilhas mais intrincadas,

envolvendo ativo e passivo, no que diz respeito ao cálculo do imposto – ITBI ou ITCMD,

conforme o caso.

A falta de orientação aos notários e seus prepostos, em relação à Lei nº 11.441/2007,

vem sendo sanada pela Corregedoria, por meio da expedição de Normas de Serviço. De todo

modo, a maioria desses atos é absolutamente simples, de forma que não se pode duvidar do

enorme sucesso da novidade legal, conforme já demonstrado no capítulo 3. A sociedade

aplaudiu a desburocratização para a realização de atos como divórcio e inventário.

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A atividade executiva, no entanto, não é trivial, razão pela qual deve haver um longo

período de treinamento dos profissionais, tanto teórico como prático, especialmente no que

diz respeito à constrição e invasão no patrimônio do devedor – ainda que se possa argumentar

que essa é a atividade cotidiana do oficial de justiça, que não possui qualquer formação

técnica e não é submetido a nenhum tipo de treinamento. De todo o modo, a intenção é elevar

o nível de conhecimento desses profissionais, até mesmo para que sejam respeitados e se

façam respeitar em situações eventualmente delicadas.

6.3.4 Remuneração paga conforme tabela de emolumentos e eventual gratuidade

“Da tensão entre o público e o privado e da necessidade de que se equilibrem as ideias

antitéticas de que, por um lado, o serviço público deve funcionar no interesse geral e sob a

autoridade da Administração, e de que, por outro, busca o agente privado o lucro e a obtenção

de maior proveito financeiro possível”,422

decorre o fato da remuneração desses serviços ser

realizada por meio de emolumentos, de natureza tributária423

, fixados exclusivamente por

lei.424

-425

A lei federal deve definir apenas os critérios para a fixação dos emolumentos, e não o

quantum deles.426

A lei estadual deve estabelecer o valor dos emolumentos, de acordo com o

efetivo custo e a adequada remuneração dos serviços prestados, levando-se em conta a

natureza pública e o caráter social dos serviços notariais e de registros. A Lei nº 11.331, de

26.12.2002, dispõe sobre os emolumentos no Estado de São Paulo, sobre a qual se fará breve

análise, para que se possa estabelecer parâmetros de emolumentos para a realização

extrajudicial das atividades executivas.

422

RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva,

2009. p.59.

423 ADI 1378 Min. Celso de Mello, em 30.11.1995.

424 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Natureza tributária de emolumentos notariais – competência das esferas

federativas para impor tributos. In: Revista Dialética de Direito Tributário, n. 29, fev. 1998. São Paulo:

Gráfica Palas Athenas, 1998. p.71 e segs.

425 “Somente mediante lei podem ser fixados emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e

de registro. Ofende o princípio da reserva legal e invade a competência suplementar conferida à Assembléia

Legislativa, o provimento do Poder Judiciário Estadual que dispõe sobre a fixação e cobrança de emolumentos

relativos a serviços cartorários”. CUSTÓDIO, Antonio Joaquim Ferreira. Constituição Federal Interpretada

pelo STF. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000. p.253.

426 BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. São Paulo: Saraiva, 2008. p.1438.

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172

Uma vez fixados os valores pela lei estadual em uma tabela de emolumentos, a

atualização é realizada anualmente, com base na variação da Unidade Fiscal do Estado de São

Paulo – UFESP. O valor da base de cálculo a ser considerado para fins de enquadramento nas

tabelas (faixas) é: i) o preço ou valor econômico da transação ou do negócio jurídico realizado

pelas partes; ou ii) o valor tributário do imóvel, conforme lançamento efetuado pela Prefeitura

Municipal; ou iii) o valor declarado para o recolhimento do imposto de transmissão "inter

vivos" de bens imóveis (arts. 6º e 7º).

O pagamento dos emolumentos será efetuado pelo interessado em cartório. Salvo

disposição em contrário, os notários e os registradores poderão exigir depósito prévio dos

valores relativos aos emolumentos e despesas pertinentes ao ato, fornecendo aos interessados,

obrigatoriamente, recibo com especificação de todos os valores. A exceção é feita aos

tabelionatos de protesto, que não recebem qualquer valor em adiantamento, mas tão somente

no ato do pagamento do título ou cancelamento do protesto pelo devedor. Caso o protesto

permaneça lavrado indefinidamente, o tabelionato assume o prejuízo (art. 13).

Os emolumentos correspondem aos custos dos serviços notariais e de registro e outros

valores, distribuídos da seguinte forma: a) 62,5% são receitas dos notários e registradores; b)

17,763160% são receitsa do Estado, em decorrência do processamento da arrecadação e

respectiva fiscalização; c) 13,157894% são contribuições à Carteira de Previdência dessas

Serventias; d) 3,289473% são destinados à compensação dos atos gratuitos do registro civil

das pessoas naturais e à complementação da receita mínima das serventias deficitárias; e)

3,289473% são destinados ao Fundo Especial de Despesa do Tribunal de Justiça, em

decorrência da fiscalização dos serviços (art. 19).

A Lei nº 11.021, de 28.12.2001, instituiu mais um tipo de recolhimento cobrado em

todos os atos notariais ou de registro, no valor de 1% dos emolumentos, referente à

Contribuição de Solidariedade para as Santas Casas de Misericórdia do Estado de São Paulo,

já incluído nas tabelas legais.

Para que se tenha uma visão mais concreta acerca dos emolumentos, anexa-se ao final

do presente trabalho as tabelas referentes aos serviços dos tabelionatos de protesto, em vigor a

partir de 6.1.2012. O Anexo VI diz respeito aos emolumentos e custos devidos para o

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pagamento do título, evitando-se o protesto (item 1). O Anexo VII é relativo aos emolumentos

para o cancelamento do protesto (item 2)427

− em acréscimo aos valores do item 1 − e para a

expedição das certidões de protesto (item 3).

Referidas tabelas definem 26 faixas, nomeadas de A a Z, de acordo com o valor da

base de cálculo dos serviços. Para a formação do valor total dos emolumentos, estão definidos

os montantes devidos ao tabelionato, ao Estado, à Carteira de Previdência, ao custeio do

Registro Civil gratuito, ao Tribunal e às Santas Casas do Estado de São Paulo.

A remuneração da atividade executiva também deve ser fixada por lei, estabelecendo-

se faixas de acordo com o valor do título e, principalmente, com a fase procedimental. Deve

haver pelo menos três fases no que diz respeito aos emolumentos na execução: i) citação e

localização dos bens; ii) penhora; iii) expropriação, pagamento e extinção da execução. Para

cada fase avançada no objetivo de alcançar o recobro, novos emolumentos são devidos.

No sentido de promover a eficácia da execução, o regime remuneratório do agente de

execução deve incentivar a produtividade dos agentes de execução. Para tanto, além dos

emolumentos pagos pelos atos praticados até um valor máximo, de acordo com a tabela

específica, adicionalmente pode ser estabelecida uma remuneração variável em razão da fase

procedimental em que o montante da execução for recuperado, sendo maiores os honorários

quanto mais rapidamente o agente de execução alcançar o resultado.

Portugal estabeleceu um sistema misto de emolumentos, definindo valores para cada

fase avançada no processo executivo428

, além dos variáveis, para recompensar o êxito do

agente de execução. Um estudo específico deve ser realizado para se encontrar valores

adequados e suficientes para a remuneração da atividade executiva.

427

Equivale a 50% dos emolumentos do item 1.

428 Artigo 15º da Portaria nº 331-B/2009 – “Fases do processo executivo: 1- Para efeitos de adiantamento de

honorários e de despesas ao agente de execução o processo executivo divide-se nas seguintes fases: a) A fase 1,

que se inicia com o envio do requerimento executivo ao agente de execução designado e termina com: i) A

notificação do exequente do resultado da consulta ao registo informático das execuções e dos bens penhoráveis

identificados ou do facto de não ter identificado quaisquer bens penhoráveis; ou ii) O pedido de adiantamento de

honorários e de despesas para a realização da penhora dos bens identificados no requerimento executivo; b) A

fase 2, que compreende a penhora de bens e a citação dos credores e que termina com a primeira decisão do

agente de execução de iniciar as diligências necessárias para a realização do pagamento; c) A fase 3, que termina

com a extinção da execução.”

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Por fim, além dos atos previstos na Constituição Federal, artigo 5º, LXXVI, como o

registro civil de nascimento e a certidão de óbito, são gratuitos para os reconhecidamente

pobres os atos praticados em cumprimento de mandado judicial expedido em favor da parte

beneficiária da justiça gratuita.429

Assim, por exemplo, restringindo-se aos atos dos Tabelionatos de Protesto, caso o

Poder Judiciário determine a sustação de protesto e posteriormente reconheça a inexistência

da obrigação, e na eventualidade do requerente da medida cautelar, e competente ação de

conhecimento, ser beneficiário da assistência judiciária, conforme a Lei nº 1.060/50, o juiz

deverá, ao oficiar o tabelionato acerca do provimento jurisdicional favorável, determinar a

isenção de emolumentos e despesas. Há de se observar que também no caso de improcedência

da medida pode haver ordem de isenção de pagamento de emolumentos, se comprovada a

insuficiência de recursos e deferida a assistência gratuita. Nesse caso, o devedor tão somente

deverá pagar o valor do título, para evitar ou cancelar o protesto, conforme o caso.

De acordo com a lei em vigor no Estado de São Paulo, o apresentante não deve

adiantar qualquer valor a título de emolumentos e despesas, ficando a encargo do devedor

quando do pagamento do título ou cancelamento do protesto. Nos termos da proposta que se

apresenta, o credor não deveria realizar nenhum desembolso inicial – mas isso deve ser objeto

de estudo e lei específica; o devedor e eventualmente autor dos embargos pode requerer e

obter os benefícios da assistência judiciária, quando então receberá isenção das custas

judiciais e também dos emolumentos e despesas do tabelionato.

6.3.5 Controle externo

A Constituição Federal determina que o controle da atividade dos atos notariais e de

registro seja realizado pelo Poder Judiciário.430

A Lei nº 8.935/94 informa que o juízo

429

“Em caso de mandado para prática de ato decorrente de sentença, proferida em prol de beneficiários da

Justiça Gratuita, o Magistrado deverá fazer constar tal circunstância do ato mandamental, para obrigar o Oficial a

observar a gratuidade decorrente da Lei 1.060/50. O desatendimento sujeitará o infrator às sansões

administrativas e penais porventura cabíveis”. LIMA, Rogério Medeiros Garcia de. Serventias extrajudiciais e

justiça gratuita. In: Revista de Processo, ano 21, n. 83, jul-set. 1996. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996.

p.236.

430 RE 255124, Min. Néri da Silveira, em 8.11.2002 – Sobre o amplo controle do Poder Judiciário, que não se

restringe aos atos notariais e de registros, mas também ao serviço, enquanto estrutura administrativa e

organizacional, se lesiva aos fins públicos.

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competente deve zelar para que os serviços notariais e de registro sejam prestados com

rapidez, qualidade e eficiência.

Não cumprindo seus deveres431

, não observando as prescrições legais e normativas,

não mantendo conduta ética, cobrando indevida ou excessivamente por emolumentos ou

violando sigilo profissional, os notários e oficiais de registros estão sujeitos às infrações

disciplinares e penalidades, que variam conforme a gravidade, podendo ser aplicadas

repreensão, multa, suspensão ou até perda da delegação – esta última somente se precedida de

processo judicial ou administrativo, que assim o determine.

A lei federal é bem genérica e não estabelece quem é o juiz competente. Apenas prevê

que tal fiscalização pressupõe a fixação de regras, o controle e a verificação do seu

cumprimento, bem como a aplicação, aos infratores, das penalidades legais. De todo modo, é

certo que cabe ao Conselho Nacional de Justiça uma atuação geral, de âmbito nacional, e aos

Tribunais de Justiça de cada Estado, por seus órgãos superiores, especialmente as

Corregedorias Gerais da Justiça, a atuação direta junto aos agentes delegados.

O Conselho Nacional de Justiça tem competência para regulação de âmbito nacional,

necessária para a coordenação e correção de assimetrias nas atuações dos Tribunais de Justiça

dos Estados e de suas Corregedorias. Desde sua criação, três atos normativos foram editados

relativamente à atividade notarial e de registros: Resolução nº 20, de 29.8.2006, proibindo a

contratação, por delegados, de parentes dos magistrados incumbidos da corregedoria;

Resolução nº 35, de 24.4.2007, disciplinando a Lei nº 11.441/2007, que possibilitou a

realização de inventário, partilha, separação e divórcio por meio de escrituras públicas; e

431

Art. 30. São deveres dos notários e dos oficiais de registro: I - manter em ordem os livros, papéis e

documentos de sua serventia, guardando-os em locais seguros; II - atender as partes com eficiência, urbanidade e

presteza; III - atender prioritariamente as requisições de papéis, documentos, informações ou providências que

lhes forem solicitadas pelas autoridades judiciárias ou administrativas para a defesa das pessoas jurídicas de

direito público em juízo; IV - manter em arquivo as leis, regulamentos, resoluções, provimentos, regimentos,

ordens de serviço e quaisquer outros atos que digam respeito à sua atividade; V - proceder de forma a dignificar

a função exercida, tanto nas atividades profissionais como na vida privada; VI - guardar sigilo sobre a

documentação e os assuntos de natureza reservada de que tenham conhecimento em razão do exercício de sua

profissão; VII - afixar em local visível, de fácil leitura e acesso ao público, as tabelas de emolumentos em vigor;

VIII - observar os emolumentos fixados para a prática dos atos do seu ofício; IX - dar recibo dos emolumentos

percebidos; X - observar os prazos legais fixados para a prática dos atos do seu ofício; XI - fiscalizar o

recolhimento dos impostos incidentes sobre os atos que devem praticar; XII - facilitar, por todos os meios, o

acesso à documentação existente às pessoas legalmente habilitadas; XIII - encaminhar ao juízo competente as

dúvidas levantadas pelos interessados, obedecida a sistemática processual fixada pela legislação respectiva; XIV

- observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente.

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176

Resolução nº 80, de 9.6.2009, declarando a vacância dos serviços notariais de registros

ocupados em desacordo com a norma constitucional pertinente, estabelecendo regras para o

período de transição e concursos públicos.

Luís Paulo Aliende Ribeiro, na época juiz auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça de

São Paulo, defendeu sua tese de doutoramento perante a Universidade de Direito de São

Paulo, acerca da regulação da função pública notarial e de registros, desenvolvendo

longamente a questão da fiscalização e controle pelo Poder Judiciário. Por sua experiência

prática, transcreve-se suas palavras acerca das atribuições dos Tribunais de Justiça:

Os Tribunais contam com sua Corregedoria Geral da Justiça, órgão superior

que exerce a grande maioria dos atos correspondentes à regulação estatal da

atividade notarial e de registro. Estes órgãos, como bem destacaram Narciso

Orlandi Neto e Vladimir Passos de Freitas, têm à frente do corregedor-geral

sempre um desembargador do correspondente Tribunal de Justiça eleito para

o exercício de mandato de dois anos e dispõe de uma equipe de

assessoramento, cuja estrutura difere bastante, de acordo com as

necessidades de cada Tribunal, composta por juízes convocados para atuar

nessa função no biênio correspondente ao mandato do corregedor, e atua,

com capacitação técnica, independência e permeabilidade à sociedade, no

exercício cotidiano da regulação das atividades notariais e de registro.

Dentre as múltiplas atribuições dos Tribunais de Justiça na função de órgão

regulador destacam-se duas, que não se inserem na atuação ordinária de

corregedoria, organização, regramento, implementação e aplicação das

regras, fiscalização de seu cumprimento e punição dos transgressores.

Segundo as regras de organização judiciária de cada Tribunal, devem ser de

competência de órgão superior diverso da Corregedoria Geral,

preferencialmente um colegiado do qual participe, como membro

obrigatório, o corregedor-geral, e que pode ser o Conselho Superior da

Magistratura o Órgão Especial ou o Tribunal Pleno. Estas atribuições são: as

deliberações sobre a realização dos concursos públicos e a edição dos atos

regulamentares correspondentes e a criação e extinção de unidades do

serviço delegado. Disso resulta que a abertura dos concursos e o ato efetivo

de outorga da delegação caibam ao Presidente do Tribunal.432

Ainda segundo Aliende Ribeiro, as corregedorias exercem “a aprovação das normas

pertinentes (específicas para cada especialidade e consolidadas, em alguns Estados, com o

título de Normas de Serviço ou Código de Normas), a implementação concreta destas regras,

a fiscalização do seu cumprimento e a punição das infrações”.433

432

RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva,

2009. p.157.

433 Ibid, p.168.

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177

Aliende Ribeiro discorre sobre a autoregulação profissional, alertando que no Brasil as

associações que deveriam assumir essa função estão mais focadas na defesa e promoção dos

interesses profissionais de seus membros do que na implementação desse tipo de norma. Sua

conclusão a respeito é digna de nota:

A atuação regulatória e normativa pode, sem prejuízo para o exercício da

autoridade inerente à função da corregedoria, ser objeto de significativo

aprimoramento, cujo caminho é indicado pelo direito administrativo atual e

importa na instituição de procedimentos para que a atuação administrativa se

faça de forma transparente e motivada, com a efetiva participação dos

interessados e da população, do que resultará a legitimação da atividade

regulatória. No Brasil, à falta de uma organização de notários e registradores

que exerça a auto-regulação privada, temos, com relação aos serviços

notariais e de registro, apenas uma regulação estatal forte, resultado natural

da obrigação de garantia assumida pelo Poder Público ao estabelecer o

exercício privado da função pública. Essa regulação estatal é imprescindível,

e não se sujeita a dispensa ou substituição em face da implementação de

efetiva auto-regulação privada das atividades notariais e de registro. O que

se apresenta viável e necessário na regulação de tais atividades é um

acréscimo de regulação, ou seja, a efetiva instituição de organismos de auto-

regulação que venham acrescer à regulação estatal para alcançar situações

nas quais podem se apresentar mais eficientes, o que resultaria em evidente

fortalecimento institucional das notas e dos registros.434

O controle dos agentes de execução deve ser realizado nos mesmos moldes, com o

mesmo rigor. Todavia, não deve haver qualquer tipo de confusão entre a atividade

jurisdicional − restrita aos embargos do devedor − e a correcional − fiscalização dos ditames

legais − do Poder Judiciário.

6.4 Criação de varas especializadas para a execução

Dentro da proposta que se apresenta, a criação de varas especializadas para a execução

não é medida sine qua non, até porque a especialização de uma vara depende de critérios

populacionais e de receita tributária, de forma que, provavelmente, não se poderia contar com

varas de execução em pequenas comarcas. No entanto, em locais de grande concentração

populacional, seria interessante a criação de varas especializadas, que pudessem receber,

conhecer e julgar os embargos do devedor dentro de um prazo máximo de 90 dias.

434

RIBEIRO, Luís Paulo Aliende. Regulação da função pública notarial e de registro. São Paulo: Saraiva,

2009. p.184.

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178

Nesses casos, deve-se pensar na implementação do processo eletrônico, dotando as

varas de execução de recursos tecnológicos adequados, de forma a dispensar a materialização

das peças processuais, conforme a Lei nº 11.419, de 19.12.2006. Como dificilmente são

realizadas provas orais nos embargos do devedor, as varas de execução poderiam ter uma

maior abrangência, em termos de competência territorial.

Assim, o projeto de lei da desjudicialização da execução deve propor e recomendar a

instalação de varas especializadas − preferencialmente eletrônicas −, que então serão criadas

conforme os critérios dos Tribunais de Justiça de cada Estado.435

O Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo definiu que compete ao

Órgão Especial deliberar sobre organização judiciária e decidir sobre a criação de vara e

remanejamento de competência entre as já existentes (art. 13, II, ‘e’ e ‘q’). O mesmo

regimento definiu que dentre as comissões permanentes, o Tribunal contará com a Comissão

de Organização Judiciária, cuja competência é a análise de sugestões, a promoção de estudos

e a elaboração de anteprojetos de lei sobre a organização e a divisão judiciária, a fim de

submetê-los ao Órgão Especial (arts. 43 e 44).

Especificamente sobre a criação e instalação de varas, em 30.6.2011, o Tribunal de

Justiça de São Paulo editou o Provimento nº 82/2011436

, determinando critérios para a criação

de novas unidades ou a especialização das já existentes. Referido provimento estabeleceu

regras para os requerimentos, exigindo comprovação de dados estatísticos e populacionais,

estudo comparativo com outras varas, apuração de receita tributária, entre outros.

6.5 Papel do advogado

Para a efetivação do protesto do título judicial ou extrajudicial, não se faz obrigatória a

constituição de advogado. O credor pode, por conta própria, apresentar o título ao

distribuidor dos tabelionatos de protesto (CDT) e requerer as providências devidas. Caso não

haja pagamento e o protesto seja tirado, o credor pode não ter interesse em dar seguimento ao

processo executivo, por exemplo, em razão do custo/benefício envolvido. Nessa situação, o

435

CF, art. 96: Compete privativamente: I - aos tribunais: d) propor a criação de novas varas judiciárias.

436 Disponível em: <http://www.oabsp.org.br/subs/saoluizdoparaitinga/noticias/tj-2013-provimento-nb0.82-

2011-estabelece>. Acesso em: 8 maio2012.

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179

título permanecerá lavrado por até 5 anos, caso o devedor não realize nesse ínterim o

cancelamento, por meio do pagamento da dívida e dos emolumentos.

Por outro lado, pode o credor pretender dar seguimento ao procedimento executivo,

encaminhando o seu requerimento diretamente ao tabelionato no qual o seu título foi

protestado e não pago, assinado por um advogado regularmente inscrito na Ordem dos

Advogados do Brasil e devidamente constituído por instrumento de mandato. Será o

advogado que postulará a instauração da execução dirigida pelo tabelião e representará os

interesses do seu cliente.

Caso o credor decida ingressar diretamente com o procedimento executivo,

independentemente do protesto, o seu mandatário deverá encaminhar o requerimento

executivo, preferencialmente por meio do formulário eletrônico aprovado pelo CNJ e

tribunais, ao tabelião de protesto ou ao CDT (distribuidor de títulos), se for o caso.

Como já dito, existe verdadeira bipartição da jurisdição, de modo que o credor e o

devedor devem necessariamente ser representados por advogado, seja na parte da tutela

jurisdicional executiva realizada pelo agente de execução, na qual se realizam os atos

executivos propriamente ditos, seja na parte da tutela jurisdicional executiva realizada pelo

juiz estatal, na qual se resolve o contraditório eventualmente surgido na execução.

Assim, o advogado irá dirigir-se ao agente de execução para fazer requerimentos,

prestar informações, indicar bens, entre outros. Ele tão somente dirigir-se-á ao Poder

Judiciário para contestar o processo de execução, por meio dos competentes embargos à

execução ou para fazer reclamações específicas acerca do procedimento executivo,

relacionados aos atos e decisões do tabelião. No caso dos embargos, eles seguirão

estritamente as regras previstas no Código de Processo Civil. A única diferença é que deverão

fazer referência ao processo em trâmite perante o tabelionato de protesto e não perante o juízo

(lembrando que atualmente os embargos são distribuídos por dependência).

Além da reclamação, outro incidente surge em razão da nova sistemática, qual seja, a

suscitação de dúvida formulada pelo próprio agente de execução ao juiz, oportunidade na qual

as partes poderão manifestar-se, esclarecendo as questões, sempre se fazendo representar por

advogado. Além disso, providências executivas que necessitem de autorização judicial, como

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desconsideração da personalidade jurídica, invasão de domicílio, penhora de bem de família,

de cotas societárias, entre outros, serão feitas por meio de requerimento ao agente de

execução, que encaminhará a questão para decisão do juiz de execução.

O advogado poderá examinar os autos do processo, se físico, no tabelionato de

protesto, ou por meio do sistema eletrônico disponibilizado para tal fim, contando com todas

as prerrogativas que lhe são garantidas para o desempenho do seu mandato, conforme

regulamentação expedida pela Ordem dos Advogados do Brasil.

Os honorários advocatícios na execução processada perante o tabelionato de protesto

serão fixados em 10% do valor da obrigação, independentemente dos critérios atualmente

previstos, uma vez que grande parte do empenho do advogado será transferida para o agente

de execução, que deverá atuar ativa e diligentemente no recobro da execução.

Ademais, a proposta pretende reduzir drasticamente o tempo de tramitação da

execução, inclusive suspendendo-a oficiosamente caso reste comprovada a inexistência de

bens, quando então será lavrado o protesto do título. Neste caso, no qual o advogado já não

receberia seus honorários sucumbenciais, ao menos ele não terá despendido anos de sua

atividade profissional em vão.

Em havendo embargos do devedor, os honorários serão fixados pelo juiz, que então

deverá observar os critérios de fixação, de forma a adequadamente remunerar a atividade

profissional dos advogados das partes.

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181

CAPÍTULO 7 – Resumo do Procedimento

7.1 Atividade executiva perante o tabelionato de protesto

Tratando-se de execução de título judicial em quantia certa, desde que haja

requerimento do exequente, o juiz intimará o executado para pagar voluntariamente o débito.

Não ocorrendo pagamento espontâneo no prazo previsto, o débito será acrescido de multa de

10%, que passará a constar da certidão expedida para demonstrar a certeza, liquidez e

exigibilidade do título, documento necessário para que o procedimento possa ser instaurado

perante o distribuidor dos tabelionatos de protesto (CDT), se for o caso, ou no próprio

tabelião, se a comarca contar com uma única serventia.

Importante registrar que no interregno do prazo para o pagamento voluntário,

“independentemente de penhora”, conforme artigo 511 do Projeto de Lei nº 8.046/2010,

aprovado no Senado Federal e em trâmite perante a Câmara dos Deputados, o executado

poderá apresentar impugnação nos próprios autos, podendo arguir qualquer um dos

fundamentos elencados.

O julgamento da impugnação terá seu curso regular perante o Poder Judiciário, mas

não impedirá a prática dos atos executivos pelo agente de execução, no tabelionato de

protesto, a menos que seja conferido efeito suspensivo diante de relevantes fundamentos ou

grave dano, de difícil ou incerta reparação, devendo o tabelião ser informado imediatamente.

Julgada procedente a impugnação, o juiz extinguirá a execução, comunicando sua

decisão ao tabelião. Julgada improcedente, a execução em trâmite perante o tabelionato de

protesto retomará seu curso, caso tenha sido suspensa por ordem judicial, ou prosseguirá

regularmente em suas atividades de penhora e expropriação.

Tratando-se de execução de título judicial cuja intimação para pagamento voluntário

tenha ocorrido há menos de 1 ano, tão logo o advogado distribua o requerimento executivo

(formulário eletrônico) contendo a certidão judicial que ateste a liquidez, certeza e

exigibilidade da sentença, o tabelião de protesto desde logo realizará a penhora e a avaliação

de bens, seguindo-se os atos de expropriação. Caso esse prazo reste expirado, será realizada a

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regular citação para pagamento do valor constante na certidão, da qual já constará a multa de

10% pelo não cumprimento voluntário, acrescido de honorários advocatícios de 10% e

emolumentos do tabelionato.

Antes de iniciar os atos executivos, a parte pode optar por protestar a sentença judicial.

Assim, de posse da referida certidão, o tabelionato de protesto poderá realizar a intimação

para protesto e, caso não seja efetuado o pagamento no tríduo legal, gerar o efeito da

publicidade específica, fazendo-se constar a inadimplência nos bancos de dados disponíveis

no mercado, tais como Serasa, SCPC, SPC Brasil, Equifax, entre outros.

Todo e qualquer título pode ser protestado, embora ainda seja pouco utilizada tal

medida coercitiva em relação às sentenças. Já existem hoje alguns convênios assinados entre

o Poder Judiciário e o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil para a efetivação

do protesto de sentenças por meio de sistema eletrônico com certificação digital. A seção de

São Paulo do referido Instituto assinou, em 12.12.2008, convênio com o Tribunal Regional do

Trabalho da 2ª Região, objetivando o envio eletrônico das certidões de créditos trabalhistas

para protesto. Um termo aditivo ao referido convênio foi assinado em 7.7.2010, com pequenas

modificações acerca do procedimento do cancelamento do protesto.

Não sendo efetuado o pagamento, o agente de execução realizará a busca de bens, a

penhora, a avaliação, a expropriação, o pagamento, a extinção da execução, tudo conforme

detalhado na proposta procedimental apresentada no último capítulo. Caso não sejam

localizados bens, o processo será suspenso imediatamente e o protesto lavrado.

Tratando-se de execução de título extrajudicial, protestado ou não, o advogado

devidamente constituído apresentará o requerimento executivo, que não necessariamente

deverá conter toda a formalidade da petição inicial. Sugere-se que, nos moldes da execução

portuguesa, seja aprovado pelo CNJ e tribunais um formulário executivo padrão, a ser

preenchido com todas as informações do título, das partes, dos fatos – de forma bastante

sucinta –, dos valores envolvidos, dos bens conhecidos do devedor, entre outros. 437

437

O formulário eletrônico de requerimento executivo pode ser encontrado em <http://www.dgpj.mj.pt /sections

/sobre-dgpj/anexos/impressos-requerimento/downloadFile/file/01_-_ReqExecImp.pdf?nocache=1256202122.44

22.44>. Acesso em: 9 mar. 2012.

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183

Se o envio for eletrônico, a cópia do título deverá ser digitalizada e enviada juntamente

com o requerimento, conservando-se o título original, uma vez que a qualquer momento

poderá ser exigida a sua apresentação para conferência.

O tabelião de protesto examinará o requerimento e o título executivo em seus

caracteres formais. Qualquer irregularidade relativa aos elementos extrínsecos do título, além

da eventual ocorrência da prescrição ou caducidade, obstará o seguimento da execução,

devendo haver então a comunicação ao advogado do credor, que poderá retificar, esclarecer,

juntar documento complementar, entre outras providências. Frise-se, o agente de execução

deve estar, necessariamente, autorizado e habilitado a fazer esse tipo de análise, já que

diretamente relacionada à capacidade executiva do título.

Antes de extinguir o processo executivo em razão da insuficiência ou deficiência do

título, o agente de execução poderá consultar o juiz de execução, que decidirá pelo

prosseguimento ou não do processo, determinando-se as providências executivas ou a

extinção. De todo modo, trata-se de faculdade do tabelião, já que munido de poderes para

extinguir a execução cujo documento de respaldo não seja título executivo, nos conformes

legais.

Observando a regularidade do título e do requerimento, o agente de execução realizará

a citação para pagamento em 3 dias, sob pena de penhora. Não havendo pagamento, o agente

de execução passará a consultar sua base de dados para localização de bens do devedor,

sendo certo que a serventia deverá contar com o acesso a todos os sistemas de informação, a

exemplo dos Registros de Imóveis, departamentos de registros de veículos automotores,

INSS, entre outros.

O agente de execução poderá enviar ofício eletrônico ao Banco Central, o qual, em

atenção ao sigilo bancário, não poderá prestar informações sobre a existência de ativos e seus

valores, mas apenas e tão somente realizar a indisponibilidade de eventuais valores existentes,

até o limite do crédito executado.

A penhora será realizada, passando-se para a fase de expropriação, cujo regramento é

mantido nos termos hoje conhecidos, conforme o vigente Código de Processo Civil e o

Projeto de Lei nº 8046/2010. Nessa parte, a proposta procedimental apresentada no último

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184

capítulo basicamente altera a competência para a realização dos mencionados atos executivos,

substituindo-se os termos juiz e judicial por tabelião de protesto, fazendo-se as adaptações

necessárias. São raras as situações em que se prevê autorização judicial, citando-se o

exemplo da invasão de domicílio.

O agente de execução deve estar autorizado a receber proposta de desconto ou

parcelamento da dívida e, uma vez aceita pelo credor, deve zelar pelo seu cumprimento,

quando então possa extinguir a execução.

Caso o agente de execução perceba que a execução não será frutífera, por absoluta

inexistência de bens, ele tem o dever de comunicar o fato ao credor, evitando que execuções

inúteis permaneçam tramitando, com seus custos inerentes. O tabelião de protesto deverá

propor a suspensão da execução e o protesto do título, caso ainda não tenha sido lavrado. Se o

advogado não apresentar bens localizados por meio de diligências próprias, tal providência

deverá ser tomada de ofício. Nada justifica que esse tipo de execução seja perpetuado por

mais de 6 meses, tumultuando e sobrecarregando os entes responsáveis pela execução.

Considerando que o título permanecerá protestado até que o devedor cumpra sua

obrigação – respeitado o prazo de 5 anos –, ele sentir-se-á coagido a obstar a publicidade da

sua inadimplência, que não raramente gera restrição de crédito, levando-o ao pagamento da

dívida.

Não há solução para a falta de patrimônio para a satisfação das obrigações, mas em se

tratando de devedores solventes o protesto é uma ferramenta poderosa e pouco utilizada pelos

operadores do direito. Transcreve-se texto do atual Corregedor Geral da Justiça do Estado de

São Paulo, biênio 2012/2013, Dr. José Renato Nalini, no qual defende que a solução para a

cobrança da dívida ativa (CDAs) é o protesto e não a execução, enaltecendo o ofício do

tabelião de protesto:

O Judiciário existe para julgar. Ou seja: resolver conflitos. Tudo o mais que

se atribui à Justiça e que não seja decidir controvérsias, é função anômala.

Uma delas é a cobrança da dívida ativa, assim chamada a obrigação

financeira contraída pela Administração Pública.Todos os anos o Governo,

suas autarquias e fundações – aí compreendidos União, Estados, Distrito

Federal e Municípios – arremessam à Justiça milhões de CDAs – Certidões

de Dívida Ativa, que darão origem a execuções fiscais. O Judiciário se

conforma com a situação esdrúxula. Aceita ser cobrador de dívida. Mesmo

sabendo que não tem estrutura, pessoal nem gestão eficiente para fazer

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funcionar um setor nevrálgico. Todos têm interesse em que os devedores

recolham ao Erário o devido. Se eles se recusarem a pagar, o ônus de

sustentar a máquina – sempre perdulária e quase sempre ineficiente – recairá

sobre os demais. Há comarcas em que os milhares de processos de execução

fiscal estão paralisados há vários anos. Isso é prejuízo para todos e também

para a Justiça, que arca com o ônus de não funcionar. Por isso estou

envidando esforços no sentido de se oferecer uma alternativa ao processo

judicial de execução fiscal. É o caso do protesto da CDA, que o STJ aceita,

que o CNJ admite e que o TCE, em recente decisão, entendeu perfeitamente

cabível para as Prefeituras. O tabelionato de protestos possui uma estrutura

que o Judiciário não tem. Todos os serviços extrajudiciais conquistaram um

status singular na Constituição de 1988. Exercem uma delegação estatal,

mas em caráter privado. Isso faz com que a prestação por eles oferecida seja

muito mais eficiente do que aquela a cargo do Poder Judiciário. Notificado

de que terá um prazo para pagar a dívida, sob pena de protesto, o devedor

solvente preferirá satisfazer sua obrigação. Enquanto a execução fiscal leva

anos para tramitar. Não se encontra o devedor, nem existem bens a serem

penhorados. Quando o Poder Público credor despertar para a superioridade

estratégica do protesto em cotejo com a execução fiscal, todos ganharão

com a única opção possível. Sociedade e povo e, por acréscimo, o aturdido

Judiciário.438

Nesses termos, fora algumas poucas decisões que o juiz deverá tomar quando

provocado pela parte ou agente de execução, todo o procedimento executivo será conduzido

pelo tabelião de protesto; caso não sejam localizados bens do devedor e ainda não tenha

ocorrido o protesto, o tabelião deverá lavrá-lo, para que a inadimplência torne-se pública,

suspendendo-se a execução.

7.2 Defesa do executado perante o Poder Judiciário

A fase executiva não está preordenada à discussão e declaração do direito, já

devidamente certificado. Sua função concentra-se na realização material da obrigação não

cumprida voluntariamente. De lege ferenda, compete ao agente de execução forçar o

deslocamento de bens do patrimônio do executado para o do exequente. O agente de execução

invade a esfera patrimonial do devedor para de lá extrair o bem ou o valor com o qual se dará

o cumprimento forçado da prestação, a fim de satisfazer o direito do credor.

O fato de a fase executiva não se endereçar a um acertamento, mas tão somente à

realização material do direito, não significa que o devedor será privado de um meio de defesa

contra os atos executivos os quais atinjam seu patrimônio. Poderá o devedor discutir questões

438

NALINI, José Renato. Execução não é a solução! Disponível em:

<http://renatonalini.wordpress.com/2012/03/18/execucao-nao-e-a-solucao>. Acesso em: 12 abr. 2012.

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processuais e substanciais, sempre visando neutralizar os atos de execução ou, eventualmente,

até o próprio direito a executar, fazendo-o perante o Poder Judiciário.

Considerando a partilha da função jurisdicional executiva proposta, ou seja, o

contraditório fica reservado ao juiz estatal e os demais procedimentos, ao agente de execução,

com quem permanecerão os autos do processo de execução – caso não sejam eletrônicos –,

para que o Poder Judiciário seja provocado para decidir questões surgidas contra a execução

que se desenvolva de forma injusta ou ilegal, deverá o devedor distribuir uma ação autônoma,

qualidade sempre reservada aos embargos do devedor.439

Assim, a sistemática proposta em nada altera a previsão e procedimento dos embargos

do devedor, que devem ser distribuídos independentemente de penhora ou outra forma de

segurança do juízo, no prazo de 15 dias, cuja contagem do termo inicial dá-se a partir da

citação da execução – doravante a ser realizada pelo agente de execução. Convém salientar

que os embargos não têm efeito suspensivo da execução, mas eventual suspensão pode ser

requerida pelo devedor e determinada pelo Magistrado diante da existência de graves danos

ou de difícil reparação, e mediante caução suficiente para garantia do juízo.

Todo o regramento dos embargos da execução permanece o mesmo, lembrando que

nem mesmo os fundamentos foram alterados pelo Projeto de Lei nº 8046/2010: “I - nulidade

da execução, por não ser executivo o título apresentado; II - penhora incorreta ou avaliação

errônea; II - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; IV - retenção por

benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega de coisa certa; V - qualquer

matéria que lhe seria licito deduzir como defesa em processo de conhecimento”.

439

Em verdade, partindo do pressuposto de que a reação contra a execução contém em si uma pretensão

destinada a retificar os atos executivos ou extinguir a obrigação a executar, sempre se considerou que esse

pedido de tutela jurídica fosse veiculado através de ação autônoma – embargos do devedor. De acordo com

Sérgio Shimura, o princípio do contraditório está presente no processo executivo, mas sob um enfoque eventual.

O executado é citado para cumprir a sua obrigação, e não para se defender. O devedor pode opor embargos, que

são um processo incidental de conhecimento, que corre em apartado e não nos autos da execução. SHIMURA,

Sérgio. Título executivo. São Paulo: Método, 2005. p.28. No mesmo sentido: LUCON, Paulo Henrique dos

Santos. Embargos à execução. São Paulo: Saraiva, 2001. p.84; Idem, O novo perfil dos embargos à execução.

In: CARNEIRO, Athos Gusmão; CALMON, Petrônio (Coord.). Bases científicas para um renovado direito

processual. Salvador: JusPodivm, 2009. p.825. Se o atual sistema prevê um contraditório eventual e apartado do

processo executivo, não se vislumbra maiores dificuldades na compreensão da proposta de partilha das

atividades executivas. O jurisdicionado continuará a socorrer-se do Poder Judiciário diante da lesão ou ameaça

de direito ocorrida na execução processada no tabelionato de protesto por intermédio dos embargos do devedor –

ação de conhecimento específica para tanto.

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Por outro lado, a Lei nº 11.232/2005 retirou a natureza jurídica de ação da oposição do

devedor contra a execução injusta e ilegal, passando a prever que a reação do executado ao

cumprimento de sentença dar-se-ia por meio do incidente processual de impugnação, a ser

apresentado em 15 dias contados a partir da intimação válida da penhora e avaliação.

No entanto, o projeto de lei apresentado e já aprovado pelo Senado Federal para um

novo Código de Processo Civil elimina a necessidade de penhora prévia e avaliação de bens

para a apresentação de tal impugnação, permitindo que essa defesa possa ser apresentada

dentro do prazo para pagamento voluntário, nos próprios autos.

Com a intenção de aproveitar ao máximo as estruturas existentes e especialmente

aquelas que vêm apresentando resultado satisfatório, no cumprimento de sentença a expedição

da certidão ao tabelião de protesto, demonstrando a certeza, liquidez e exigibilidade do título

– documento indispensável para o início dos atos executivos – respeitará o prazo para o

cumprimento voluntário e, consequentemente, da impugnação, cujos fundamentos estão

previstos no artigo 511 do Projeto de Lei aprovado pelo Senado Federal, ora em trâmite na

Câmara Federal, de nº 4086/2010. Em relação ao Código vigente, não há alteração digna de

nota nessa parte, exceto a já comentada questão relacionada à penhora, que deixou de ser

condição de procedibilidade.

Não há que se falar em suspensão ex lege do andamento do processo, ficando a critério

do juiz a atribuição de efeito suspensivo, o qual deve levar em conta a relevância dos

fundamentos da impugnação e a possibilidade do prosseguimento causar grave dano ou de

difícil reparação ao devedor. A princípio, portanto, a execução prosseguirá regularmente e

questões relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos,

poderão ser questionadas por reclamação dirigida ao juiz da execução, de lege ferenda, e não

mais nos próprios autos, conforme Projeto de Lei comentado.

Outros dois novos incidentes surgem em razão da nova sistemática, quais sejam, i) as

reclamações contra atos e decisões do agente de execução e ii) as suscitações de dúvidas

formuladas pelos próprios agentes de execução. Ambos os incidentes devem ser

encaminhados preferencialmente por via eletrônica para o juiz de execução, evitando-se

translado de peças. O juiz exercerá verdadeira atividade correcional (e não jurisdicional) ao

julgá-las, de modo que serão irrecorríveis.

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188

Para tanto, é necessário que o CNJ e os tribunais estabeleçam um canal de

comunicação entre os dois entes da execução. Deve haver um meio ágil e desburocratizado

para resolver questões executivas. Portugal desenvolveu um site de comunicação entre os

mandatários, os agentes de execução e os juízes de execução, para decisões de requerimentos

ou dúvidas suscitadas.440

Requerimentos de outra natureza, tais como desconsideração da personalidade

jurídica, invasão de domicílio, penhora de bem de família, de cotas societárias, entre outros, e

que não podem ser decididos pelo agente de execução, serão endereçados ao tabelião, que

então encaminhará a questão para decisão do juiz de execução.

O juiz de execução não deve ser provocado indevidamente. Quando for

manifestamente injustificado o pedido de sua intervenção, o juiz pode aplicar multa àquele

que a requereu. Em se tratando de agentes de execução, o juiz pode notificar o órgão de

competência disciplinar – corregedorias estaduais – para que sejam tomadas providências. O

Estado deve delegar funções ao agente de execução e esperar que ele tenha condições de

praticá-las com independência e imparcialidade.

Por fim, dois pontos devem ser analisados: a sobrevida da exceção de pré-

executividade e a oportunidade da apresentação de eventual defesa heterotópica. Parece que a

exceção de pré-executividade perde sua função. Tal construção pretoriana estava,

inicialmente, i) restrita às questões de ordem pública por não parecer razoável que o devedor

sofresse constrição patrimonial, ou pior, fosse impedido de se defender por não possuir bens

passíveis de penhora, quando as matérias alegadas deveriam ter sido declaradas de ofício pelo

Juízo. Em uma segunda fase, ii) passou a ser aceita também nos casos que diziam respeito ao

direito material subjacente à execução, desde que não fosse necessária qualquer instrução

probatória para a demonstração do alegado.441

-442

440

Disponível em: <https://citius.tribunaisnet.mj.pt/habilus/myhabilus/login.aspx>. Acesso em: 8 mar. 2012.

441 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Nova execução de títulos judiciais e sua impugnação. In: WAMBIER,

Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos polêmicos da nova execução, 3: de títulos judiciais, Lei 11.232/2005.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.451-2; Idem, O controle dos atos executivos e efetividade da

execução. In: Revista Jurídica, ano 46, n. 253, p. 5-24. Porto Alegre: Síntese, 1998; TALAMINI, Eduardo. A

Objeção na Execução (“Exceção de Pré-Executividade”) e as Leis de Reforma do Código de Processo Civil. In:

SANTOS, Ernane Fidélis dos et al. (Coord.). Execução Civil: estudos em homenagem ao professor Humberto

Theodoro Júnior. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.578; SCARTEZZINI, Ana Maria Goffi Flaquer.

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189

A exceção de pré-executividade, no entanto, parece não mais ser aplicável já que a

penhora deixou de ser uma condição legal para a defesa do executado – embargos do devedor,

conforme sistemática atual e impugnação, pelo Projeto de Lei para o Novo Código de

Processo Civil. Além disso, de lege ferenda, o processo de execução não mais correrá perante

o Poder Judiciário, de forma que não caberá mais uma forma de defesa endoprocessual.

Matérias de ordem pública podem ser alegadas a qualquer momento via reclamação – que

nada mais é que simples petição – ou no momento oportuno via embargos.

E quanto às defesas heterotópicas? Esse é o nome que parte da doutrina dá às ações

autônomas ajuizadas com o fim de discutir o título executivo ou o direito a executar, tais

como a ação de invalidade do título, de inexistência da relação jurídica, entre outras. Trata-se

de meio de defesa estranho ao procedimento executivo, mas que se revela prejudicial à

pretensão executiva em si, conforme previsão do artigo 585, parágrafo 1º, do Código de

Processo Civil vigente.443

A autora só entende legítima a ação heterotópica distribuída dentro do prazo para

embargos. Ela publicou um recente artigo elogiando a proposta de limitação temporal da

defesa heterotópica como forma de reação do devedor apresentada no projeto original do novo

Código de Processo Civil, sob no 166/2010, e criticando sua posterior eliminação no projeto

aprovado pelo Senado Federal, sob nº 8046/2010, em trâmite perante a Câmara Federal.444

Paulo Hoffman vem questionando se seria o executado um litigante diferenciado, uma

vez que todos os demais têm responsabilidades e ônus, cujo não atendimento implica em

sérias consequências, inclusive perda de seus direitos. O trabalhador deve ingressar com a

Breves considerações sobre a imperiosa ampliação da admissibilidade da objeção de pré-executividade. In:

SANTOS, Ernane Fidélis dos et al. (Coord.). Execução Civil: Estudos em homenagem ao Professor Humberto

Theodoro Júnior. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.572.

442 De forma bem detalhada, no que diz respeito às diversas hipóteses de cabimento da exceção de pré-

executividade: MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-

executividade. São Paulo: Saraiva, 2000. p.73 e segs.

443 O teor desse parágrafo não foi alterado nem no projeto de lei original para um novo Código de Processo Civil,

cujo artigo recebeu o nº 710, nem no projeto aprovado pelo Senado Federal, e em trâmite na Câmara dos

Deputados, cujo artigo recebeu o nº 743.

444 RIBEIRO, Flávia Pereira. A limitação temporal da defesa heterotópica como forma de reação do devedor na

execução de títulos extrajudiciais. In: ROSSI, Fernando; RAMOS, Glauco Gumerato; GUEDES, Jefferson

Carús; DELFINO, Lúcio; MOURÃO, Luiz Eduardo Ribeiro (Coords.). O futuro do processo civil: uma análise

crítica ao Projeto do Novo CPC. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p.201 e segs.

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190

competente reclamação trabalhista no prazo prescricional de 2 anos após a extinção do

contrato laboral; o alimentando tem igual prazo para ajuizar a execução dos alimentos não

pagos; o interessado em retirar do ordenamento jurídico uma sentença transitada em julgado

em razão de algum vício tem o mesmo prazo de 2 anos para ajuizar a ação rescisória; o

locatário de imóvel comercial conta com prazo específico para a ação renovatória – um ano a

seis meses antes do fim do contrato; o réu de qualquer ação cognitiva tem o prazo

peremptório de 15 dias para contestar o pedido inicial; entre outros.445

Se todos os jurisdicionados devem, no processo, praticar determinados atos em

específico prazo de tempo e, se ficarem inertes, sofrem consequências danosas, qual a razão

do mesmo tratamento não ser dispensado ao executado? Ao devedor concedem-se diversas

oportunidades, já que, caso perca o prazo para embargos do devedor, ainda lhe será facultado

outro meio de defesa. Nem mesmo ao credor é concedido tal benefício, pois contra ele o

decurso do prazo também é implacável. Hoffman questiona se haveria coerência nesse

sistema processual.446

A comissão original que elaborou o projeto de lei para um novo Código de Processo

Civil sugeriu uma forma de evitar que o executado desidioso tivesse nova oportunidade para

discutir a obrigação. O Projeto de Lei nº 166/2010, em seu artigo 839, parágrafo 2º, previa

que: “A ausência de embargos obsta a propositura de ação autônoma do devedor contra o

credor para discutir o crédito.”

Humberto Theodoro Júnior publicou artigo questionando a juridicidade (e

constitucionalidade) da referida proposta do projeto447

, razão pela qual, muito provavelmente,

445

HOFFMAN, Paulo. Consequências da perda do prazo para interposição dos embargos à execução. Será o

executado o único litigante diferenciada de todos os demais? In: SANTOS, Ernane Fidélis dos et al. (Coord.).

Execução Civil: estudos em homenagem ao professor Humberto Theodoro Júnior. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2007. p. 678-9.

446 Ibid, p.679-80.

447 “4. Defeito Gravíssimo Ocorrido na Disciplina do Processo de Execução. Por fim, para não aumentar

exageradamente, por ora, a exposição das imperfeições do Projeto, há uma que merece ser destacada pela

gravidade que encerra. Trata-se do art. 839, §2°, onde se acha, data vênia, uma verdadeira barbaridade, que

atinge as raias da inconstitucionalidade. Ali simplesmente se cassa o direito de ação (direito de acesso à justiça)

àquele que não embargar a execução nos quinze dias da lei. Afirma-se textualmente. A ausência de embargos

obsta à propositura de ação autônoma do devedor contra o credor para discutir o crédito. Fui o encarregado de

rever a linguagem final do livro relativo ao Processo de Execução; e para o § 2º do art. 839 sugeri o seguinte

texto: A intempestividade dos embargos não obsta o prosseguimento da ação do devedor contra o credor

através de procedimento autônomo, observando-se o disposto no art. 738, § 1º. No entanto, por razões não

explicadas, a conclusão do anteprojeto inseriu, no referido parágrafo, texto de sentido justamente contrário à

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191

o texto do Projeto de Lei aprovado pelo Senado Federal, sob nº 8046/2010, em trâmite na

Câmara dos Deputados, retirou da sua redação final o mencionado parágrafo.

Data máxima vênia, deve-se quebrar paradigmas e pensar em uma reconstrução

dogmática, necessária para eliminar entraves, injustiças e desigualdades de tratamento. A

comissão do projeto original foi extremamente corajosa e prática ao encontrar uma solução

talvez pouco jurídica – e sistemática –, mas efetiva.

minha sugestão, que era, aliás, de mero aprimoramento redacional, de um dispositivo que já se achava

tranquilamente assentado, quanto ao seu conteúdo, tanto na doutrina como na jurisprudência. Como ficou, o

dispositivo atenta, de forma sumária e radical, contra o direito da parte de ver apreciado seu direito em juízo,

sem nunca tê-lo submetido a julgamento do Poder Judiciário. É importante lembrar que os embargos não são

simples resistência do réu a pedido do autor. São uma ação de conhecimento que o devedor pode ou não

manejar, segundo suas conveniências pessoais. Além do mais, são os embargos apenas uma das ações de que o

devedor pode lançar mão, e nunca uma única via de que se possa valer o litigante para obter o acertamento de

sua eventual controvérsia com o credor. Enquanto não prescrita a pretensão do devedor, não pode a lei

processual privá-lo do direito fundamental de postular a tutela jurisdicional de cognição. Daí porque, à luz da

garantia constitucional, não pode a ausência da ação de embargos representar a perda de um direito fundamental,

como é o direito de ação que nunca chegou a ser exercitado, e que sequer foi transformado em objeto de solução

dentro do processo de execução. É por demais sabido que o processo de execução não é palco de acertamento de

controvérsia alguma quanto à existência ou inexistência do direito do credor ou da obrigação do devedor. Ele se

sustenta apenas na existência de um documento que – mesmo sem o prévio acertamento judicial – a lei considera

suficiente para a prática de atos forçados de pagamento. Como, então, perder o direito de discutir uma questão

não trazida a juízo em momento algum? O próprio Projeto reconhece a autonomia da execução perante as ações

de impugnação ao crédito constante do título executivo, segundo o disposto no § 1° de seu art. 710, in verbis: A

propositura de qualquer ação relativa ao débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-

lhe a execução. É ainda de ressaltar que a incongruência do anteprojeto não é apenas com a garantia

constitucional do acesso à justiça (CF, art. 5º, XXXV). Há contradição interna com a parte geral do próprio

anteprojeto, onde se acha solenemente proclamado que o processo civil será ordenado, disciplinado e

interpretado conforme os valores e os princípios fundamentais estabelecidos na Constituição (art. 1°). E não por

outra razão que, repetindo o disposto no art. 5º, XXXV, da CF, o Projeto proclama que não se excluirá da

apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. Está, portanto, em contradição com esse enunciado

fundamental, que o anteprojeto incorporou de maneira expressa, o estranho e injustificável preceito do § 2° de

seu art. 839”. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Primeiras observações sobre o Projeto do Novo Código de

Processo Civil. In: Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, v. 36, maio-jun. 2010. Porto Alegre:

Magister. p.5-11.

Page 193: Desjudicialização da Execução Civil Pereira... · 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil Tese

192

CAPÍTULO 8 – Proposta procedimental com base no Projeto de Lei

nº 8.046/2010

LIVRO I

PARTE GERAL

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E DAS GARANTIAS

FUNDAMENTAIS

DO PROCESSO CIVIL

LIVRO I

PARTE GERAL

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E DAS GARANTIAS

FUNDAMENTAIS

DO PROCESSO CIVIL

Art. 5° As partes têm direito de participar

ativamente do processo, cooperando com o

juiz e fornecendo-lhe subsídios para que

profira decisões, realize atos executivos ou

determine a prática de medidas de urgência.

Art. 5° As partes têm direito de participar

ativamente do processo, cooperando com o juiz

e fornecendo-lhe subsídios para que profira

decisões, realize ou fiscalize a realização de

atos executivos ou determine a prática de

medidas de urgência.

Art. 55. Reputam-se conexas duas ou mais

ações, quando lhes for comum o objeto ou a

causa de pedir.

§ lº Na hipótese do caput, os processos serão

reunidos para decisão conjunta, salvo se um

deles já tiver sido sentenciado.

§ 2° Aplica-se o disposto no caput à

execução de título extrajudicial e à ação de

conhecimento relativas ao mesmo negócio

jurídico.

Art. 55. Reputam-se conexas duas ou mais

ações, quando lhes for comum o objeto ou a

causa de pedir.

§ lº Na hipótese do caput, os processos serão

reunidos para decisão conjunta, salvo se um

deles já tiver sido sentenciado.

§ 2° Aplica-se o disposto no caput à execução

de título extrajudicial e à ação de conhecimento

relativas ao mesmo negócio jurídico,

ressalvada a execução processada em

tabelionato de protesto de títulos.

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193

CAPÍTULO II

DO INCIDENTE DE

DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE

JURÍDICA

CAPÍTULO II

DO INCIDENTE DE

DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE

JURÍDICA

Art. 77. Em caso de abuso da personalidade

jurídica, caracterizado na forma da lei, o juiz

pode, em qualquer processo ou procedimento,

decidir, a requerimento da parte ou do

Ministério Público, quando lhe couber intervir

no processo, que os efeitos de certas e

determinadas obrigações sejam estendidos aos

bens particulares dos administradores ou dos

sócios da pessoa jurídica ou aos bens de

empresa do mesmo grupo econômico.

Parágrafo único. O incidente da

desconsideração da personalidade jurídica:

I - pode ser suscitado nos casos de abuso de

direito por parte do sócio;

II - é cabível em todas as fases do processo de

conhecimento, no cumprimento de sentença e

também na execução fundada em título

executivo extrajudicial.

Art. 77. Em caso de abuso da personalidade

jurídica, caracterizado na forma da lei, o juiz

pode, em qualquer processo ou procedimento,

decidir, a requerimento da parte ou do

Ministério Público, quando lhe couber intervir

no processo, que os efeitos de certas e

determinadas obrigações sejam estendidos aos

bens particulares dos administradores ou dos

sócios da pessoa jurídica ou aos bens de

empresa do mesmo grupo econômico.

Parágrafo único. § 1o O incidente da

desconsideração da personalidade jurídica:

I - pode ser suscitado nos casos de abuso de

direito por parte do sócio;

II - é cabível em todas as fases do processo de

conhecimento, no cumprimento de sentença e

também na execução fundada em título

executivo extrajudicial.

§ 2º Na execução processada em tabelionato

de protesto de títulos, o requerimento

deverá ser encaminhado pelo tabelião ao

juízo competente.

Art. 79. Concluída a instrução, se necessária,

o incidente será resolvido por decisão

interlocutória impugnável por agravo de

instrumento.

Art. 79. Concluída a instrução, se necessária,

o incidente será resolvido por decisão

interlocutória impugnável por agravo de

instrumento.

Parágrafo único. Se a desconsideração

houver sido requerida na execução

processada no tabelionato de protesto de

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194

títulos, a questão será resolvida por

sentença.

Art. 85. Salvo as disposições concernentes à

gratuidade de justiça, cabe às partes prover as

despesas dos atos que realizarem ou

requererem no processo, antecipando-lhes o

pagamento, desde o início até sentença final

ou, na execução, até a plena satisfação do

direito reconhecido no título.

Parágrafo único. Incumbe ao autor adiantar as

despesas relativas a atos cuja realização o juiz

determinar de ofício ou a requerimento do

Ministério Público, quando sua intervenção

ocorrer como fiscal da ordem jurídica.

Art. 85. Salvo as disposições concernentes à

gratuidade de justiça, cabe às partes prover as

despesas dos atos que realizarem ou

requererem no processo, antecipando-lhes o

pagamento, desde o início até sentença final

ou, na execução, até a plena satisfação do

direito reconhecido no título.

Parágrafo único. § 1o Incumbe ao autor

adiantar as despesas relativas a atos cuja

realização o juiz determinar de ofício ou a

requerimento do Ministério Público, quando

sua intervenção ocorrer como fiscal da ordem

jurídica.

§ 2o Na execução processada em tabelionato

de protesto de títulos, os emolumentos

serão determinados pelas corregedorias dos

tribunais, de acordo com parâmetros

uniformes estabelecidos pelo Conselho

Nacional de Justiça para a remuneração

dos tabeliães.

Art. 87. A sentença condenará o vencido a

pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 1° A verba honorária de que trata o caput

será devida também no pedido contraposto, no

cumprimento de sentença, na execução

resistida ou não e nos recursos interpostos,

cumulativamente.

§ 2° Os honorários serão fixados entre o

mínimo de dez e o máximo de vinte por cento

sobre o valor da condenação, do proveito, do

benefício ou da vantagem econômica obtidos,

conforme o caso, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional;

Art. 87. A sentença condenará o vencido a

pagar honorários ao advogado do vencedor.

§ 1° A verba honorária de que trata o caput

será devida também no pedido contraposto, no

cumprimento de sentença, na execução

resistida ou não e nos recursos interpostos,

cumulativamente.

§ 2° Os honorários serão fixados entre o

mínimo de dez e o máximo de vinte por cento

sobre o valor da condenação, do proveito, do

benefício ou da vantagem econômica obtidos,

conforme o caso, atendidos:

I - o grau de zelo do profissional;

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195

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o

tempo exigido para o seu serviço.

§ 3° Nas causas em que a Fazenda Pública for

parte, os honorários serão fixados dentro

seguintes percentuais, observando os

referenciais do § 2°:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por

cento nas ações de até duzentos salários

mínimos;

II - mínimo de oito e máximo de dez por cento

nas ações acima de duzentos até dois mil

salários mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por

cento nas ações acima de dois mil até vinte

mil salários mínimos;

IV - mínimo de três e máximo de cinco por

cento nas ações acima de vinte mil até cem

mil salários mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento

nas ações acima de cem mil salários mínimos.

§ 4° Nas causas em que for inestimável ou

irrisório o proveito, o benefício ou a vantagem

econômica, o juiz fixará o valor dos

honorários advocatícios em atenção ao

disposto no § 2°.

§ 5° Nas ações de indenização por ato ilícito

contra pessoa, o percentual de honorários

incidirá sobre a soma das prestações vencidas

com mais doze prestações vincendas.

§ 6° Nos casos de perda do objeto, os

honorários serão devidos por quem deu causa

ao processo.

II - o lugar de prestação do serviço;

III - a natureza e a importância da causa;

IV - o trabalho realizado pelo advogado e o

tempo exigido para o seu serviço.

§ 3° Nas causas em que a Fazenda Pública for

parte, os honorários serão fixados dentro dos

seguintes percentuais, observando os

referenciais do § 2°:

I - mínimo de dez e máximo de vinte por

cento nas ações de até duzentos salários

mínimos;

II - mínimo de oito e máximo de dez por cento

nas ações acima de duzentos até dois mil

salários mínimos;

III - mínimo de cinco e máximo de oito por

cento nas ações acima de dois mil até vinte

mil salários mínimos;

IV - mínimo de três e máximo de cinco por

cento nas ações acima de vinte mil até cem

mil salários mínimos;

V - mínimo de um e máximo de três por cento

nas ações acima de cem mil salários mínimos.

§ 4° Nas causas em que for inestimável ou

irrisório o proveito, o benefício ou a vantagem

econômica, o juiz fixará o valor dos

honorários advocatícios em atenção ao

disposto no § 2°.

§ 5° Nas ações de indenização por ato ilícito

contra pessoa, o percentual de honorários

incidirá sobre a soma das prestações vencidas

com mais doze prestações vincendas.

§ 6° Nos casos de perda do objeto, os

honorários serão devidos por quem deu causa

ao processo.

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196

§ 7° A instância recursal, de ofício ou a

requerimento da parte, fixará nova verba

honorária advocatícia, observando-se o

disposto nos §§ 2° e 3° e o limite total de

vinte e cinco por cento para a fase de

conhecimento.

§ 8° Os honorários referidos no § 7° são

cumuláveis com multas e outras sanções

processuais, inclusive as do art. 80.

§ 9° As verbas de sucumbência arbitradas em

embargos à execução rejeitados ou julgados

improcedentes, bem como em fase de

cumprimento de sentença, serão acrescidas no

valor do débito principal, para todos os efeitos

legais.

§ 10. Os honorários constituem direito do

advogado e têm natureza alimentar, com os

mesmos privilégios dos créditos oriundos da

legislação do trabalho, sendo vedada a

compensação em caso de sucumbência

parcial.

§ 11. O advogado pode requerer que o

pagamento dos honorários que lhe cabem seja

efetuado em favor da sociedade de advogados

que integra na qualidade de sócio, aplicando-

se também a essa hipótese o disposto no § 10.

§ 12. Os juros moratórios sobre honorários

advocatícios incidem a partir da data do

pedido de cumprimento da decisão que os

arbitrou.

§ 13. Os honorários também serão devidos

nos casos em que o advogado atuar em causa

própria.

§ 7° A instância recursal, de ofício ou a

requerimento da parte, fixará nova verba

honorária advocatícia, observando-se o

disposto nos §§ 2° e 3° e o limite total de

vinte e cinco por cento para a fase de

conhecimento.

§ 8° Os honorários referidos no § 7° são

cumuláveis com multas e outras sanções

processuais, inclusive as do art. 80.

§ 9° As verbas de sucumbência arbitradas em

embargos à execução rejeitados ou julgados

improcedentes, bem como em fase de

cumprimento de sentença, serão acrescidas no

valor do débito principal, para todos os efeitos

legais.

§ 10. Na execução processada em

tabelionato de protesto de títulos, os

honorários serão fixados no percentual de

dez por cento do valor executado.

§ 10. § 11. Os honorários constituem direito

do advogado e têm natureza alimentar, com os

mesmos privilégios dos créditos oriundos da

legislação do trabalho, sendo vedada a

compensação em caso de sucumbência

parcial.

§ 11. § 12. O advogado pode requerer que o

pagamento dos honorários que lhe cabem seja

efetuado em favor da sociedade de advogados

que integra na qualidade de sócio, aplicando-

se também a essa hipótese o disposto no § 10

§ 11.

§ 12. § 13. Os juros moratórios sobre

honorários advocatícios incidem a partir da

data do pedido de cumprimento da decisão

que os arbitrou.

§ 13. § 14. Os honorários também serão

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197

devidos nos casos em que o advogado atuar

em causa própria.

Seção IV

Da gratuidade de justiça

Seção IV

Da gratuidade de justiça

Art. 99. A pessoa natural ou jurídica,

brasileira ou estrangeira, com insuficiência de

recursos para pagar as custas e as despesas

processuais e os honorários de advogado

gozará dos benefícios da gratuidade de justiça,

na forma da lei.

§ 1° O juiz poderá determinar de ofício a

comprovação da insuficiência de que trata o

caput, se houver nos autos elementos que

evidenciem a falta dos requisitos legais da

gratuidade de justiça.

§ 2° Das decisões relativas à gratuidade de

justiça, caberá agravo de instrumento, salvo

quando a decisão se der na sentença.

Art. 99. A pessoa natural ou jurídica,

brasileira ou estrangeira, com insuficiência de

recursos para pagar as custas e as despesas

processuais e os honorários de advogado

gozará dos benefícios da gratuidade de justiça,

na forma da lei.

§ 1° O juiz poderá determinar de ofício a

comprovação da insuficiência de que trata o

caput, se houver nos autos elementos que

evidenciem a falta dos requisitos legais da

gratuidade de justiça.

§ 2° Das decisões relativas à gratuidade de

justiça, caberá agravo de instrumento, salvo

quando a decisão se der na sentença.

§ 3o Na execução processada em tabelionato

de protesto de títulos, o benefício a que se

refere o caput deste artigo consistirá em

isenção dos emolumentos iniciais, a ser

requerida ao tabelião quando da

apresentação do título para execução.

§ 4o Se for judicial o título executivo

apresentado para execução no tabelionato

de protesto de títulos, o exequente terá

assegurada a gratuidade comprovando que

gozou do benefício no curso do processo.

Sendo extrajudicial o título, ou não tendo

gozado do benefício no processo judicial,

deverá comprovar seu direito na forma da

lei.

§ 5o Discordando o tabelião do pedido de

gratuidade, suscitará dúvida ao juiz, que

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198

resolverá o incidente.

§ 6º A gratuidade do caput não impede que

o tabelião receba seus emolumentos após o

recobro da dívida.

Art. 104. O advogado tem direito a:

I - examinar, em cartório de justiça e

secretaria de tribunal, autos de qualquer

processo, salvo nas hipóteses de segredo de

justiça, nas quais apenas o advogado

constituído terá acesso aos autos;

II - requerer, como procurador, vista dos autos

de qualquer processo pelo prazo de cinco dias;

III - retirar os autos do cartório ou secretaria,

pelo prazo legal, sempre que lhe couber falar

neles por determinação do juiz, nos casos

previstos em lei.

§ 1º Ao receber os autos, o advogado assinará

carga no livro próprio.

§ 2° Sendo o prazo comum às partes, os

procuradores poderão retirar os autos somente

em conjunto ou mediante prévio ajuste por

petição nos autos.

§ 3° É lícito também aos procuradores, no

caso do § 2°, retirar os autos pelo prazo de

duas horas, para obtenção de cópias,

independentemente de ajuste e sem prejuízo

da continuidade do prazo.

§ 4° No caso de não devolução dos autos no

prazo de duas horas, o procurador perderá, no

mesmo processo, o direito a que se refere o §

3°.

Art. 104. O advogado tem direito a:

I - examinar, em cartório de justiça e

secretaria de tribunal, autos de qualquer

processo, salvo nas hipóteses de segredo de

justiça, nas quais apenas o advogado

constituído terá acesso aos autos;

II - requerer, como procurador, vista dos autos

de qualquer processo pelo prazo de cinco dias;

III - retirar os autos do cartório ou secretaria,

pelo prazo legal, sempre que lhe couber falar

neles por determinação do juiz, nos casos

previstos em lei.

§ 1º Ao receber os autos, o advogado assinará

carga no livro próprio.

§ 2° Sendo o prazo comum às partes, os

procuradores poderão retirar os autos somente

em conjunto ou mediante prévio ajuste por

petição nos autos.

§ 3° É lícito também aos procuradores, no

caso do § 2°, retirar os autos pelo prazo de

duas horas, para obtenção de cópias,

independentemente de ajuste e sem prejuízo

da continuidade do prazo.

§ 4° No caso de não devolução dos autos no

prazo de duas horas, o procurador perderá, no

mesmo processo, o direito a que se refere o §

3°.

§ 5o Aplica-se o disposto neste artigo, no

que couber, aos autos da execução

processada no tabelionato de protesto de

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199

títulos.

CAPÍTULO III

DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA

CAPÍTULO III

DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA

Art. 129. São auxiliares da Justiça, além de

outros cujas atribuições são determinadas

pelas normas de organização judiciária, o

escrivão, o chefe de secretaria judicial, o

oficial de justiça, o perito, o depositário, o

administrador, o intérprete, o tradutor, o

mediador e o conciliador judicial.

Art. 129. São auxiliares da Justiça, além de

outros cujas atribuições são determinadas

pelas normas de organização judiciária, o

escrivão, o chefe de secretaria judicial, o

oficial de justiça, o perito, o depositário, o

administrador, o intérprete, o tradutor, o

mediador, o conciliador judicial e o tabelião

de protestos, quando responsável pela

execução de títulos executivos judiciais e

extrajudiciais.

Art. 133-A. Incumbe ao tabelião de

protestos, quando responsável pela

execução de títulos executivos judiciais e

extrajudiciais:

I - examinar o requerimento e o título

executivo em seus caracteres formais, bem

como eventual ocorrência de prescrição ou

caducidade;

II – consultar bases de dados a que tenha

acesso para localização do devedor e de seu

patrimônio;

III – efetuar a citação do executado para

pagamento do valor do título, com os

acréscimos legais;

IV – efetuar a penhora e avaliação dos

bens;

V - efetuar avaliações;

VI – realizar atos de expropriação;

VII – realizar o pagamento ao exequente;

VIII – extinguir a execução;

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200

IX – protestar o título se não localizar bens

suficientes para a satisfação do crédito,

suspendendo a execução.

Art. 205. Os atos processuais serão cumpridos

por ordem judicial ou requisitados por carta,

conforme tenham de realizar-se dentro ou fora

dos limites territoriais da comarca ou da seção

judiciária.

Parágrafo único. Admite-se a prática de atos

processuais por meio de videoconferência ou

outro recurso tecnológico de transmissão de

sons e imagens em tempo real.

Art. 205. Os atos processuais serão cumpridos

por ordem judicial ou requisitados por carta,

conforme tenham de realizar-se dentro ou fora

dos limites territoriais da comarca ou da seção

judiciária.

Parágrafo único. § 1o Admite-se a prática de

atos processuais por meio de videoconferência

ou outro recurso tecnológico de transmissão

de sons e imagens em tempo real.

§ 2o Na execução processada em tabelionato

de protesto de títulos, a realização de atos

executivos será de responsabilidade dos

tabeliães, que deverão se submeter às

regras de cooperação institucional entre as

serventias, conforme seja necessária a

atuação além dos limites da respectiva

circunscrição.

Art. 215. A citação será feita:

I - pelo correio;

II - por oficial de justiça;

III - pelo escrivão, se o citando comparecer

em cartório;

IV - por edital;

V - por meio eletrônico, conforme regulado

em lei.

Parágrafo único. Com exceção das micro e

pequenas empresas, ficam obrigadas as

empresas privadas ou públicas a criar

endereço eletrônico destinado exclusivamente

ao recebimento de citações e intimações, as

quais serão efetuadas preferencialmente por

Art. 215. A citação será feita:

I - pelo correio;

II - por oficial de justiça;

III - pelo escrivão, se o citando comparecer

em cartório;

IV - por edital;

V - por meio eletrônico, conforme regulado

em lei.

Parágrafo único. § 1o Com exceção das micro

e pequenas empresas, ficam obrigadas as

empresas privadas ou públicas a criar

endereço eletrônico destinado exclusivamente

ao recebimento de citações e intimações, as

quais serão efetuadas preferencialmente por

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201

esse meio. esse meio.

§ 2o A citação também será feita pelo

tabelião de protesto de títulos, nos

processos de execução sob sua

responsabilidade, observando, no que

couber, as regras desta Seção.

Art. 290. A extinção do processo se dará por

sentença.

Art. 290. A extinção do processo se dará por

sentença.

Parágrafo único. A execução processada

em tabelionato de protesto de títulos

poderá ser extinta por simples certidão

passada pelo tabelião.

TÍTULO II

DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

TÍTULO II

DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 503. O cumprimento da sentença efetuar-

se-á perante:

I - os tribunais, nas causas de sua competência

originária;

II - o juízo que processou a causa no primeiro

grau de jurisdição;

III - o juízo cível competente, quando se tratar

de sentença penal condenatória, de sentença

arbitral ou de sentença estrangeira.

Parágrafo único. No caso dos incisos II e III, o

autor poderá optar pelo juízo do atual

domicílio do executado, pelo juízo do local

onde se encontram os bens sujeitos à

execução ou onde deve ser executada a

obrigação de fazer ou de não fazer, casos em

que a remessa dos autos do processo será

solicitada ao juízo de origem.

Art. 503. O cumprimento da sentença efetuar-

se-á perante:

I - os tribunais, nas causas de sua competência

originária;

II - o juízo que processou a causa no primeiro

grau de jurisdição;

III - o juízo cível competente, quando se tratar

de sentença penal condenatória, de sentença

arbitral ou de sentença estrangeira;

IV – o tabelionato de protesto de títulos,

quando se tratar de decisão condenatória

em quantia certa, da qual não houver

cumprimento voluntário, excetuados os

créditos da Fazenda Pública, sujeitos ao

procedimento próprio de execução.

Parágrafo único. No caso dos incisos II e III, o

autor poderá optar pelo juízo do atual

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202

domicílio do executado, pelo juízo do local

onde se encontram os bens sujeitos à

execução ou onde deve ser executada a

obrigação de fazer ou de não fazer, casos em

que a remessa dos autos do processo será

solicitada ao juízo de origem.

Art. 504. Todas as questões relativas à

validade do procedimento de cumprimento da

sentença e dos atos executivos subsequentes

poderão ser arguidas pelo executado nos

próprios autos e nestes serão decididas pelo

juiz.

Parágrafo único. As decisões exaradas na fase

de cumprimento de sentença que não

implicarem na extinção do processo ou na

declaração de satisfação da obrigação estão

sujeitas a agravo de instrumento.

Art. 504. Todas as questões relativas à

validade do procedimento de cumprimento da

sentença e dos atos executivos subsequentes

poderão ser arguidas pelo executado nos

próprios autos e nestes serão decididas pelo

juiz.

Parágrafo único. § 1º As decisões exaradas na

fase de cumprimento de sentença que não

implicarem na extinção do processo ou na

declaração de satisfação da obrigação estão

sujeitas a agravo de instrumento.

§ 2o Na execução processada no tabelionato

de protesto de títulos, aplica-se o disposto

no art. 876-B.

CAPÍTULO II

DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA

SENTENÇA CONDENATÓRIA EM

QUANTIA CERTA

CAPÍTULO II

DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA

SENTENÇA CONDENATÓRIA EM

QUANTIA CERTA

Art. 508. O cumprimento provisório da

sentença será requerido por petição

acompanhada de cópias das seguintes peças

do processo, cuja autenticidade poderá ser

certificada pelo próprio advogado, sob sua

responsabilidade pessoal:

I - sentença ou acórdão exequendo;

II - certidão de interposição do recurso não

dotado de efeito suspensivo;

III - procurações outorgadas pelas partes;

Art. 508. O cumprimento provisório da

sentença será requerido ao juiz por petição

acompanhada de cópias das seguintes peças

do processo, cuja autenticidade poderá ser

certificada pelo próprio advogado, sob sua

responsabilidade pessoal:

I - sentença ou acórdão exequendo;

II - certidão de interposição do recurso não

dotado de efeito suspensivo;

III - procurações outorgadas pelas partes;

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203

IV - decisão de habilitação, se for o caso;

V - facultativamente, outras peças processuais

consideradas necessárias para demonstrar a

existência do crédito.

IV - decisão de habilitação, se for o caso;

V - facultativamente, outras peças processuais

consideradas necessárias para demonstrar a

existência do crédito.

Art. 508-A. Deferido o pedido, será

expedida certidão de que conste o valor do

crédito exequendo, com autorização

judicial para execução provisória, a ser

encaminhada ao tabelionato de protesto de

títulos, preferencialmente por meio

eletrônico, para início dos atos executivos.

§ 1º Não se admitirá o protesto da sentença

antes do trânsito em julgado.

§ 2º O tabelião de protestos somente

procederá aos atos do inciso IV do artigo

506 depois de ser cientificado da prestação

da caução.

CAPÍTULO III

DO CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA

SENTENÇA CONDENATÓRIA EM

QUANTIA CERTA

CAPÍTULO III

DO CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA

SENTENÇA CONDENATÓRIA EM

QUANTIA CERTA

Art. 509. No caso de condenação em quantia

certa ou já fixada em liquidação, o

cumprimento definitivo da sentença far-se-á a

requerimento do exequente, sendo o

executado intimado para pagar o débito, no

prazo de quinze dias, acrescido de custas e

honorários advocatícios de dez por cento.

§ 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no

prazo do caput, o débito será acrescido de

multa de dez por cento.

§ 2° Efetuado o pagamento parcial no prazo

previsto no caput, a multa de dez por cento

incidirá sobre o restante.

Art. 509. No caso de condenação em quantia

certa ou já fixada em liquidação, o

cumprimento definitivo da sentença far-se-á a

requerimento do exequente, sendo o

executado intimado para pagar o débito, no

prazo de quinze dias, acrescido de custas e

honorários advocatícios de dez por cento.

§ 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no

prazo do caput, o débito será acrescido de

multa de dez por cento.

§ 2° Efetuado o pagamento parcial no prazo

previsto no caput, a multa de dez por cento

incidirá sobre o restante.

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204

§ 3º Não efetuado tempestivamente o

pagamento voluntário, será expedido

mandado de penhora e avaliação, seguindo-se

os atos de expropriação.

§ 3º Não efetuado tempestivamente o

pagamento voluntário, será expedido

mandado de penhora e avaliação, seguindo-se

os atos de expropriação e não apresentada

impugnação, será expedida certidão que

demonstre a certeza, a liquidez e a

exigibilidade do título, para que o

procedimento executivo possa ser

instaurado no tabelionato de protesto de

títulos, observada, quando for o caso, as

regras de distribuição.

§ 4o Após a expedição da certidão a que se

refere o § 3o, o processo será extinto pelo

juiz.

§ 5º A certidão poderá ser disponibilizada

em meio eletrônico para encaminhamento

pelo exequente ao tabelionato de protesto

de títulos, que poderá ser o do foro onde se

tenha processado a causa, o do foro do

domicílio do executado ou o do foro do

local onde se encontrarem os seus bens.

§ 6º Se a intimação para pagamento

voluntário houver ocorrido há menos de

um ano, será dispensada a citação por

parte do tabelionato de protesto de títulos

no qual vier a tramitar a execução, caso em

que será desde logo procedida a penhora e

a avaliação, seguindo-se os atos de

expropriação.

§ 7º Antes de se iniciar os atos executivos, a

sentença judicial poderá ser protestada, a

requerimento do exequente. Se o

pagamento não for efetuado no prazo legal,

será lavrado o protesto, com seus regulares

efeitos, inclusive a possibilidade de registro

da inadimplência nos bancos de dados

disponíveis no mercado.

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205

§ 8º O cumprimento da sentença observará,

no que couber, as normas que regem o

procedimento de execução de título

executivo extrajudicial.

Art. 510. A inicial será instruída com

demonstrativo discriminado e atualizado do

crédito contendo:

I - o nome completo, o número do cadastro de

pessoas físicas ou do cadastro nacional de

pessoas jurídicas do exequente e do

executado;

II - o índice de correção monetária adotado;

III - a taxa dos juros de mora aplicada;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e

da correção monetária utilizados;

V - especificação dos eventuais descontos

obrigatórios realizados.

§ 1º Quando a memória aparentemente

exceder os limites da condenação, a execução

será iniciada pelo valor pretendido, mas a

penhora terá por base a importância que o

juiz, se necessário ouvido o contador do juízo,

entender adequada.

§ 2° Quando a elaboração do demonstrativo

depender de dados que estejam em poder de

terceiros ou do executado, o juiz poderá

requisitá-los, sob cominação do crime de

desobediência.

Art. 510. A inicial será instruída O

requerimento de cumprimento da sentença,

a que se refere o art. 509, será dirigido ao

juiz nos próprios autos e será instruído com

demonstrativo discriminado e atualizado do

crédito contendo:

I - o nome completo, o número do cadastro de

pessoas físicas ou do cadastro nacional de

pessoas jurídicas do exequente e do

executado;

II - o índice de correção monetária adotado;

III - a taxa dos juros de mora aplicada;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e

da correção monetária utilizados;

V - especificação dos eventuais descontos

obrigatórios realizados.

§ 1º Quando a memória aparentemente

exceder os limites da condenação, a

execução será iniciada pelo valor pretendido,

mas a penhora terá por base a importância que

o juiz, se necessário ouvido o contador do

juízo, entender adequada o juiz mandará

expedir a certidão para início da execução

pelo valor que entender adequado, ouvido,

se necessário, o contador do juízo.

§ 2° Quando a elaboração do demonstrativo

depender de dados que estejam em poder de

terceiros ou do executado, o juiz poderá

requisitá-los, sob cominação do crime de

desobediência.

§ 3° Apurado o valor do crédito exequendo,

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206

será expedida certidão na forma do art.

509, § 3°.

§ 4º Os tribunais poderão aprovar modelos

de formulários, inclusive em meio

eletrônico, para encaminhamento do

requerimento de execução aos tabelionatos

de protesto de títulos, preenchidos com

todas as informações do título, das partes,

dos fatos, dos valores envolvidos, dos bens

conhecidos do devedor e de outras

informações consideradas relevantes.

§ 5º Se o envio do requerimento se der por

meio eletrônico, será acompanhado da

certidão disponibilizada e assinada

digitalmente pelo juízo ou da cópia

digitalizada da certidão, caso seja expedida

fisicamente.

Art. 511. No prazo para o pagamento

voluntário, independentemente de penhora, o

executado poderá apresentar impugnação nos

próprios autos, cabendo nela arguir:

I - falta ou nulidade da citação, se o processo

de conhecimento correu à revelia;

II - ilegitimidade de parte;

III - inexigibilidade do título;

IV - excesso de execução;

V - cumulação indevida de execuções;

VI - incompetência do juízo da execução, bem

como suspeição ou impedimento do juiz;

VII - qualquer causa impeditiva, modificativa

ou extintiva da obrigação, como pagamento,

novação, compensação, transação ou

prescrição, desde que supervenientes à

sentença.

Art. 511. No prazo para o pagamento

voluntário, independentemente de penhora, o

executado poderá apresentar impugnação nos

próprios autos, cabendo nela arguir:

I - falta ou nulidade da citação, se o processo

de conhecimento correu à revelia;

II - ilegitimidade de parte;

III - inexigibilidade do título;

IV - excesso de execução;

V - cumulação indevida de execuções;

VI - incompetência do juízo da execução, bem

como suspeição ou impedimento do juiz;

VII - qualquer causa impeditiva, modificativa

ou extintiva da obrigação, como pagamento,

novação, compensação, transação ou

prescrição, desde que supervenientes à

sentença.

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207

§ 1° Quando o executado alegar que o

exequente, em excesso de execução, pleiteia

quantia superior à resultante da sentença,

cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que

entende correto, sob pena de rejeição liminar

dessa impugnação.

§ 2° A apresentação de impugnação não

impede a prática dos atos executivos e de

expropriação, podendo o juiz atribuir-lhe

efeito suspensivo desde que relevantes seus

fundamentos e o prosseguimento da execução

seja manifestamente suscetível de causar ao

executado grave dano de difícil ou incerta

reparação.

§ 3° Ainda que atribuído efeito suspensivo à

impugnação, é lícito ao exequente requerer o

prosseguimento da execução, oferecendo e

prestando caução suficiente e idônea,

arbitrada pelo juiz e prestada nos próprios

autos.

§ 4° As questões relativas à validade e à

adequação da penhora, da avaliação e dos atos

executivos subsequentes podem ser arguidas

pelo executado por simples petição.

§ 5° Para efeito do disposto no inciso III do

caput deste artigo, considera-se também

inexigível o título judicial fundado em lei ou

ato normativo declarados inconstitucionais

pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado

em aplicação ou interpretação da lei ou ato

normativo tidas pelo Supremo Tribunal

Federal como incompatíveis com a

Constituição da República em controle

concentrado de constitucionalidade ou quando

a norma tiver sua execução suspensa pelo

Senado Federal.

§ 6° No caso do § 5°, a decisão poderá conter

§ 1° Quando o executado alegar que o

exequente, em excesso de execução, pleiteia

quantia superior à resultante da sentença,

cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que

entende correto, sob pena de rejeição liminar

dessa impugnação.

§ 2° A apresentação de impugnação não

impede a prática dos atos executivos e de

expropriação, podendo o juiz atribuir-lhe

efeito suspensivo desde que relevantes seus

fundamentos e o prosseguimento da execução

seja manifestamente suscetível de causar ao

executado grave dano de difícil ou incerta

reparação, caso em que a decisão será

imediatamente comunicada ao tabelionato

de protesto de títulos onde se processar a

execução.

§ 3° Ainda que atribuído efeito suspensivo à

impugnação, é lícito ao exequente requerer o

prosseguimento da execução, oferecendo e

prestando caução suficiente e idônea,

arbitrada pelo juiz, prestada nos próprios

autos, e comunicada ao tabelionato de

protesto de títulos onde se processar a

execução.

§ 4° As questões relativas à validade e à

adequação da penhora, da avaliação e dos atos

executivos subsequentes podem ser arguidas

por reclamação dirigida ao juiz da

execução na forma do art. 876-B.

§ 5° Para efeito do disposto no inciso III do

caput deste artigo, considera-se também

inexigível o título judicial fundado em lei ou

ato normativo declarados inconstitucionais

pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado

em aplicação ou interpretação da lei ou ato

normativo tidas pelo Supremo Tribunal

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208

modulação dos efeitos temporais da decisão

em atenção à segurança jurídica.

Federal como incompatíveis com a

Constituição da República em controle

concentrado de constitucionalidade ou quando

a norma tiver sua execução suspensa pelo

Senado Federal.

§ 6° No caso do § 5°, a decisão poderá conter

modulação dos efeitos temporais da decisão

em atenção à segurança jurídica.

§ 7° Julgada procedente a impugnação, o

processo será extinto pelo juiz. Julgada

improcedente, a execução poderá ser

iniciada no tabelionato de protesto de

títulos ou ter seu prosseguimento retomado,

se houver sido suspensa por ordem judicial.

Art. 512. É lícito ao devedor, antes de ser

intimado para o cumprimento da sentença,

comparecer em juízo e oferecer em

pagamento o valor que entender devido,

apresentando memória discriminada do

cálculo.

§ 1 ° O credor será ouvido no prazo de cinco

dias, podendo impugnar o valor depositado,

sem prejuízo do levantamento do depósito a

título de parcela incontroversa.

§ 2° Concluindo o juiz pela insuficiência do

depósito, sobre a diferença incidirá multa de

dez por cento e honorários advocatícios,

seguindo-se a execução com penhora e atos

subsequentes.

§ 3° Se o credor não opuser objeção, o juiz

declarará satisfeita a obrigação e extinto o

processo.

Art. 512. É lícito ao devedor, antes de ser

intimado para o cumprimento da sentença,

comparecer em juízo e oferecer em

pagamento o valor que entender devido,

apresentando memória discriminada do

cálculo.

§ 1 ° O credor será ouvido no prazo de cinco

dias, podendo impugnar o valor depositado,

sem prejuízo do levantamento do depósito a

título de parcela incontroversa.

§ 2° Concluindo o juiz pela insuficiência do

depósito, sobre a diferença incidirá multa de

dez por cento e honorários advocatícios,

expedindo-se a certidão a ser encaminhada

ao tabelionato de protesto de títulos, para

início da execução, após o que extinguirá o

processo.

§ 3° Se o credor não opuser objeção, o juiz

declarará satisfeita a obrigação e extinto o

processo.

CAPÍTULO VI CAPÍTULO VI

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209

DA SENTENÇA CONDENATÓRIA DE

FAZER, NÃO FAZER OU ENTREGAR

COISA

Seção I

Do cumprimento da sentença condenatória

de fazer e de não fazer

DA SENTENÇA CONDENATÓRIA DE

FAZER, NÃO FAZER OU ENTREGAR

COISA

Seção I

Do cumprimento da sentença condenatória

de fazer e de não fazer

Art. 522-A. Resolvida a obrigação em

perdas e danos e liquidado o valor devido

pelo executado, será expedida certidão,

com eficácia de título executivo, a ser

apresentada ao tabelionato de protesto de

títulos para execução.

CAPÍTULO VII

DOS EMBARGOS DE TERCEIRO

CAPÍTULO VII

DOS EMBARGOS DE TERCEIRO

Art. 662. Os embargos serão distribuídos por

dependência e correrão em autos distintos

perante o mesmo juízo que ordenou a

apreensão.

Parágrafo único. Nos casos de ato de

constrição realizado por carta, os embargos

serão oferecidos no juízo deprecado, salvo se

o bem constrito tiver sido determinado pelo

juízo deprecante ou se a carta já tiver sido

devolvida.

Art. 662. Os embargos serão distribuídos por

dependência e correrão em autos distintos

perante o mesmo juízo que ordenou a

apreensão.

Parágrafo único. § 1o Nos casos de ato de

constrição realizado por carta, os embargos

serão oferecidos no juízo deprecado, salvo se

o bem constrito tiver sido determinado pelo

juízo deprecante ou se a carta já tiver sido

devolvida.

§ 2o Na execução processada no tabelionato

de protesto de títulos, os embargos serão

distribuídos ao juízo da execução.

LIVRO III

DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

TÍTULO I

DA EXECUÇÃO EM GERAL

CAPÍTULO I

LIVRO III

DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

TÍTULO I

DA EXECUÇÃO EM GERAL

CAPÍTULO I

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210

DISPOSIÇÕES GERAIS E DEVER DE

COLABORAÇÃO

DISPOSIÇÕES GERAIS E DEVER DE

COLABORAÇÃO

Art. 733. Considera-se atentatória à dignidade

da justiça a conduta comissiva ou omissiva do

executado que:

I - frauda a execução;

II- se opõe maliciosamente à execução,

empregando ardis e meios artificiosos;

III - dificulta ou embaraça a realização da

penhora;

IV - resiste injustificadamente às ordens

judiciais;

V - intimado, não indica ao juiz quais são e

onde estão os bens sujeitos à penhora e seus

respectivos valores, não exibe prova de sua

propriedade e, se for o caso, certidão negativa

de ônus.

Parágrafo único. Nos casos previstos neste

artigo, o juiz fixará multa ao executado em

montante não superior a vinte por cento do

valor atualizado do débito em execução, a

qual será revertida em proveito do exequente,

exigível na própria execução, sem prejuízo de

outras sanções de natureza processual ou

material.

Art. 733. Considera-se atentatória à dignidade

da justiça a conduta comissiva ou omissiva do

executado que:

I - frauda a execução;

II- se opõe maliciosamente à execução,

empregando ardis e meios artificiosos;

III - dificulta ou embaraça a realização da

penhora;

IV - resiste injustificadamente às ordens

judiciais ou do tabelião;

V - intimado, não indica ao juiz quais são e

onde estão os bens sujeitos à penhora e seus

respectivos valores, não exibe prova de sua

propriedade e, se for o caso, certidão negativa

de ônus.

Parágrafo único. § 1º Nos casos previstos

neste artigo, o juiz fixará multa ao executado

em montante não superior a vinte por cento do

valor atualizado do débito em execução, a

qual será revertida em proveito do exequente,

exigível na própria execução, sem prejuízo de

outras sanções de natureza processual ou

material.

§ 2o Na execução processada no tabelionato

de protesto de títulos, a multa a que se

refere este artigo poderá ser imposta pelo

juiz em embargos à execução, em

reclamação, na suscitação de dúvida ou por

requerimento do tabelião.

CAPÍTULO III

DA COMPETÊNCIA

CAPÍTULO III

DA COMPETÊNCIA

Art. 740. A execução fundada em título Art. 740. A execução fundada em título

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extrajudicial será processada perante o juízo

competente, observando-se o seguinte:

I - a execução poderá ser proposta no foro do

domicílio do executado ou de eleição

constante do título;

II - tendo mais de um domicílio, o executado

poderá ser demandado no foro de qualquer

deles;

III - sendo incerto ou desconhecido o

domicílio do executado, a execução poderá

ser proposta no lugar onde for encontrado ou

no domicílio do exequente;

IV - havendo mais de um devedor, com

diferentes domicílios, a execução será

proposta em qualquer deles, à escolha do

exequente;

V - a execução poderá ser proposta no foro do

lugar em que se praticou o ato ou ocorreu o

fato que deu origem ao título, embora nele

não mais resida o executado;

VI - a execução poderá ser proposta no foro

da situação dos bens, quando o título deles se

originar.

extrajudicial será processada perante o juízo

competente, salvo quando consistir em

execução por quantia certa, caso em que

será processada no tabelionato de protesto

de títulos, observando-se, em qualquer caso,

o seguinte:

I - a execução poderá ser proposta no juízo ou

no tabelionato de protesto de títulos do

domicílio do executado ou de eleição

constante do título;

II - tendo mais de um domicílio, o executado

poderá ser demandado no juízo ou no

tabelionato de protesto de títulos do foro de

qualquer deles;

III - sendo incerto ou desconhecido o

domicílio do executado, a execução poderá

ser proposta no lugar onde for encontrado ou

no domicílio do exequente;

IV - havendo mais de um devedor, com

diferentes domicílios, a execução será

proposta em qualquer deles, à escolha do

exequente;

V - a execução poderá ser proposta no juízo

ou no tabelionato de protesto de títulos do

lugar em que se praticou o ato ou ocorreu o

fato que deu origem ao título, embora nele

não mais resida o executado;

VI - a execução poderá ser proposta no juízo

ou no tabelionato de protesto de títulos da

situação dos bens, quando o título deles se

originar.

Parágrafo único. As leis de organização

judiciária poderão determinar a criação de

juízos especializados da execução civil, com

competência para o julgamento de

embargos à execução e resolução de

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212

incidentes suscitados na execução

processada em tabelionatos de protesto de

títulos.

Seção II

Da exigibilidade da obrigação

Seção II

Da exigibilidade da obrigação

Art. 745. Se o devedor não for obrigado a

satisfazer sua prestação senão mediante a

contraprestação do credor, este deverá provar

que a adimpliu ao requerer a execução, sob

pena de extinção do processo sem resolução

de mérito.

Parágrafo único. O executado poderá eximir-

se da obrigação, depositando em juízo a

prestação ou a coisa, caso em que o juiz não

permitirá que o credor a receba sem cumprir a

contraprestação que lhe tocar.

Art. 745. Se o devedor não for obrigado a

satisfazer sua prestação senão mediante a

contraprestação do credor, este deverá provar

que a adimpliu ao requerer a execução, sob

pena de extinção do processo sem resolução

de mérito.

Parágrafo único. § 1o O executado poderá

eximir-se da obrigação, depositando em juízo

a prestação ou a coisa, caso em que o juiz não

permitirá que o credor a receba sem cumprir a

contraprestação que lhe tocar.

§ 2o Na execução processada em tabelionato

de protesto de títulos, se não houver acordo

em relação ao cumprimento da obrigação

por parte do credor, o tabelião suscitará

dúvida ao juiz, para que resolva o

incidente.

Art. 751. O fiador, quando executado, tem o

direito de exigir que primeiro sejam

executados os bens do devedor situados na

mesma comarca, livres e desembargados,

indicando-os à penhora.

§ 1° Os bens do fiador ficarão sujeitos à

execução se os do devedor, situados na

mesma comarca que os seus forem

insuficientes à satisfação do direito do credor.

§ 2° O fiador que pagar a dívida poderá

executar o afiançado nos autos do mesmo

processo.

Art. 751. O fiador, quando executado, tem o

direito de exigir que primeiro sejam

executados os bens do devedor situados na

mesma comarca, livres e desembargados,

indicando-os à penhora.

§ 1° Os bens do fiador ficarão sujeitos à

execução se os do devedor, situados na

mesma comarca que os seus forem

insuficientes à satisfação do direito do credor.

§ 2° O fiador que pagar a dívida poderá

executar o afiançado nos autos do mesmo

processo, em trâmite no juízo ou no

tabelionato de protesto de títulos, conforme

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213

o caso.

TÍTULO II

DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE

EXECUÇÃO

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

TÍTULO II

DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE

EXECUÇÃO

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 755. Cumpre ao credor, ao requerer a

execução:

I - instruir a petição inicial com:

a) o título executivo extrajudicial;

b) o demonstrativo do débito atualizado até a

data da propositura da ação, quando se tratar

de execução por quantia certa;

c) a prova, se for o caso, de que se verificou a

condição ou ocorreu o termo;

d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a

contraprestação que lhe corresponde ou que

lhe assegura o cumprimento, se o executado

não for obrigado a satisfazer a sua prestação

senão mediante a contraprestação do credor.

II - indicar a espécie de execução que prefere,

quando por mais de um modo puder ser

efetuada;

III - pedir a citação do devedor.

Parágrafo único. O demonstrativo do débito

deverá conter:

I - o nome completo, o número do cadastro de

pessoas físicas ou do cadastro nacional de

pessoas jurídicas do exequente e do

executado;

II - o índice de correção monetária adotado;

III - a taxa dos juros de mora aplicada;

Art. 755. Cumpre ao credor, ao requerer a

execução:

I - instruir a petição inicial ou o

requerimento com:

a) o título executivo extrajudicial;

b) o demonstrativo do débito atualizado até a

data da propositura da ação, quando se tratar

de execução por quantia certa;

c) a prova, se for o caso, de que se verificou a

condição ou ocorreu o termo;

d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a

contraprestação que lhe corresponde ou que

lhe assegura o cumprimento, se o executado

não for obrigado a satisfazer a sua prestação

senão mediante a contraprestação do credor.

II - indicar a espécie de execução que prefere,

quando por mais de um modo puder ser

efetuada;

III - pedir a citação do devedor.

Parágrafo único. O demonstrativo do débito

deverá conter:

I - o nome completo, o número do cadastro de

pessoas físicas ou do cadastro nacional de

pessoas jurídicas do exequente e do

executado;

II - o índice de correção monetária adotado;

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214

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e

da correção monetária utilizados;

V - especificação dos eventuais descontos

obrigatórios realizados.

III - a taxa dos juros de mora aplicada;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e

da correção monetária utilizados;

V - especificação dos eventuais descontos

obrigatórios realizados.

Art. 757. Nas obrigações alternativas, quando

a escolha couber ao devedor, este será citado

para exercer a opção e realizar a prestação

dentro de dez dias, se outro prazo não lhe foi

determinado em lei ou no contrato.

§ 1º Devolver-se-á ao credor a opção, se o

devedor não a exercitou no prazo marcado.

§ 2º Quando couber ao credor, a escolha será

feita na petição inicial da execução.

Art. 757. Nas obrigações alternativas, quando

a escolha couber ao devedor, este será citado

para exercer a opção e realizar a prestação

dentro de dez dias, se outro prazo não lhe foi

determinado em lei ou no contrato.

§ 1º Devolver-se-á ao credor a opção, se o

devedor não a exercitou no prazo marcado.

§ 2º Quando couber ao credor, a escolha será

feita na petição inicial da execução.

§ 3º Se a opção se der por uma prestação de

pagar quantia líquida e certa, a execução

será processada no tabelionato de protesto

de títulos.

Art. 758. Verificando que a petição inicial

está incompleta ou que não está acompanhada

dos documentos indispensáveis à propositura

da execução, o juiz determinará que o credor a

corrija, no prazo de dez dias, sob pena de ser

indeferida.

Art. 758. Verificando que a petição inicial ou

o requerimento, conforme o caso, estão

incompletos ou que não estão

acompanhados dos documentos

indispensáveis à propositura da execução, o

juiz ou o tabelião determinará que o credor

efetue as correções necessárias, no prazo de

dez dias, sob pena de indeferimento.

Art. 759. A citação válida interrompe a

prescrição na execução, desde que seja

realizada com observância ao disposto no § 2°

do art. 209.

Parágrafo único. A interrupção da prescrição

retroagirá à data da propositura da ação.

Art. 759. A citação válida interrompe a

prescrição na execução, desde que seja

realizada com observância ao disposto no § 2°

do art. 209.

Parágrafo único. A interrupção da prescrição

retroagirá à data da propositura da ação ou da

apresentação do requerimento de execução.

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215

Art. 760. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não

corresponder a obrigação certa, líquida e

exigível;

II - o devedor não for regularmente citado;

III - instaurada antes de se verificar a

condição ou de ter ocorrido o termo.

Parágrafo único. A nulidade de que cuida este

artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou

a requerimento da parte, independentemente

de embargos à execução.

Art. 760. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não

corresponder a obrigação certa, líquida e

exigível;

II - o devedor não for regularmente citado;

III - instaurada antes de se verificar a

condição ou de ter ocorrido o termo.

Parágrafo único. § 1o A nulidade de que cuida

este artigo será pronunciada pelo juiz, de

ofício ou a requerimento da parte,

independentemente de embargos à execução.

§ 2o A parte também poderá requerer por

meio de reclamação que o juiz pronuncie a

nulidade da execução processada no

tabelionato de protesto de títulos.

Art. 762. Quando por vários meios o credor

puder promover a execução, o juiz mandará

que se faça pelo modo menos gravoso para o

devedor.

Art. 762. Quando por vários meios o credor

puder promover a execução, o juiz mandará

que se faça pelo modo menos gravoso para o

devedor. A execução será promovida pelo

modo menos gravoso para o devedor,

quando puder ser feita por vários meios.

CAPÍTULO II

DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE

COISA

Seção I

Da entrega de coisa certa

CAPÍTULO II

DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE

COISA

Seção I

Da entrega de coisa certa

Art. 766. O credor tem direito a receber, além

de perdas e danos, o valor da coisa, quando

esta se deteriorar, não lhe for entregue, não for

encontrada ou não for reclamada do poder de

terceiro adquirente.

§ 1º Não constando do título o valor da coisa

ou sendo impossível a sua avaliação, o

Art. 766. O credor tem direito a receber, além

de perdas e danos, o valor da coisa, quando

esta se deteriorar, não lhe for entregue, não for

encontrada ou não for reclamada do poder de

terceiro adquirente.

§ 1º Não constando do título o valor da coisa

ou sendo impossível a sua avaliação, o

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216

exequente far-lhe-á a estimativa, sujeitando-se

ao arbitramento judicial.

§ 2º Serão apurados em liquidação o valor da

coisa e os prejuízos.

exequente far-lhe-á a estimativa, sujeitando-se

ao arbitramento judicial.

§ 2º Serão apurados em liquidação o valor da

coisa e os prejuízos, sendo então expedida

certidão, para que a execução por quantia

certa seja processada no tabelionato de

protesto de títulos.

Art. 767. Havendo benfeitorias indenizáveis

feitas na coisa pelo devedor ou por terceiros

de cujo poder ela houver sido tirada, a

liquidação prévia é obrigatória.

Parágrafo único. Se houver saldo em favor do

devedor ou de terceiros, o credor o depositará

ao requerer a entrega da coisa; se houver saldo

em favor do credor, este poderá cobrá-lo nos

autos do mesmo processo.

Art. 767. Havendo benfeitorias indenizáveis

feitas na coisa pelo devedor ou por terceiros

de cujo poder ela houver sido tirada, a

liquidação prévia é obrigatória.

Parágrafo único. § 1o Se houver saldo em

favor do devedor ou de terceiros, o credor o

depositará ao requerer a entrega da coisa; se

houver saldo em favor do credor, este poderá

cobrá-lo nos autos do mesmo processo.

§ 2o Não efetuado o pagamento voluntário

pelo devedor, será expedida certidão com o

valor líquido e certo devido, a ser

apresentada ao tabelionato de protesto de

títulos para execução.

CAPÍTULO III

DA EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE

FAZER E DE NÃO FAZER

Seção I

Da obrigação de fazer

CAPÍTULO III

DA EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE

FAZER E DE NÃO FAZER

Seção I

Da obrigação de fazer

Art. 772. Se, no prazo fixado, o executado

não satisfizer a obrigação, é lícito ao

exequente requerer, nos próprios autos do

processo, que ela seja executada à custa do

devedor ou haver perdas e danos, caso em que

ela se converterá em indenização.

Parágrafo único. O valor das perdas e danos

será apurado em liquidação, seguindo-se a

Art. 772. Se, no prazo fixado, o executado

não satisfizer a obrigação, é lícito ao

exequente requerer, nos próprios autos do

processo, que ela seja executada à custa do

devedor ou haver perdas e danos, caso em que

ela se converterá em indenização.

Parágrafo único. O valor das perdas e danos

será apurado em liquidação, seguindo-se a

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217

execução para cobrança de quantia certa. execução para cobrança de quantia certa

expedindo-se certidão a ser apresentada

para execução ao tabelionato de protesto de

títulos.

Art. 777. Na obrigação de fazer, quando se

convencionar que o devedor a satisfaça

pessoalmente, o credor poderá requerer ao

juiz que lhe assine prazo para cumpri-la.

Parágrafo único. Havendo recusa ou mora do

devedor, a obrigação pessoal do devedor será

convertida em perdas e danos, caso em que se

observará o procedimento de execução por

quantia certa.

Art. 777. Na obrigação de fazer, quando se

convencionar que o devedor a satisfaça

pessoalmente, o credor poderá requerer ao

juiz que lhe assine prazo para cumpri-la.

Parágrafo único. Havendo recusa ou mora do

devedor, a obrigação pessoal do devedor será

convertida em perdas e danos, caso em que se

observará o procedimento de execução por

quantia certa, processada no tabelionato de

protesto de títulos.

Seção II

Da obrigação de não fazer

Seção II

Da obrigação de não fazer

Art. 779. Havendo recusa ou mora do

devedor, o credor requererá ao juiz que mande

desfazer o ato à custa do devedor, que

responderá por perdas e danos.

Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-

se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e

danos, caso em, após a liquidação, se

observará o procedimento de execução por

quantia certa.

Art. 779. Havendo recusa ou mora do

devedor, o credor requererá ao juiz que mande

desfazer o ato à custa do devedor, que

responderá por perdas e danos.

Parágrafo único. Não sendo possível desfazer-

se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e

danos, caso em, após a liquidação, se

observará o procedimento de execução por

quantia certa, processada no tabelionato de

protesto de títulos.

Seção III

Disposições comuns

Seção III

Disposições comuns

Art. 780. Na execução de obrigação de fazer

ou não fazer fundada em título extrajudicial,

ao despachar a inicial, o juiz fixará multa por

período de atraso no cumprimento da

obrigação e a data a partir da qual será devida.

Art. 780. Na execução de obrigação de fazer

ou não fazer fundada em título extrajudicial,

ao despachar a inicial, o juiz fixará multa por

período de atraso no cumprimento da

obrigação e a data a partir da qual será devida.

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218

Parágrafo único. Se o valor da multa estiver

previsto no título, o juiz poderá reduzi-lo se

excessivo.

Parágrafo único. § 1o Se o valor da multa

estiver previsto no título, o juiz poderá reduzi-

lo se excessivo.

§ 2o Ao término da execução, o valor da

multa, acrescido de outros valores

porventura devidos pelo credor, tais como

perdas e danos e demais encargos, constará

de certidão, a ser apresentada para

execução ao tabelionato de protesto de

títulos.

CAPÍTULO IV

DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA

Seção I

Disposições gerais

CAPÍTULO IV

DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA

Seção I

Disposições gerais

Art. 783. Antes de adjudicados ou alienados

os bens, o executado pode, a todo tempo,

remir a execução, pagando ou consignando a

importância atualizada da dívida, mais juros,

custas e honorários advocatícios.

Art. 783. Antes de adjudicados ou alienados

os bens, o executado pode, a todo tempo,

remir a execução, pagando ou consignando a

importância atualizada da dívida, mais juros,

despesas, emolumentos e honorários

advocatícios.

Art. 783-A. Os títulos executivos judiciais e

extrajudiciais representativos de obrigação

de pagar quantia líquida, certa e exigível

serão apresentados ao tabelião de protestos,

a quem competirá a execução, inclusive a

promoção de atos de expropriação de bens

do devedor ou do responsável, com o

objetivo de satisfazer o direito do credor.

§ 1° O exequente poderá optar entre o

tabelionato de protesto de títulos do foro

onde se tenha processado a causa, no caso

de títulos executivos judiciais, o foro do

domicílio do executado ou o foro local onde

se encontrarem os seus bens.

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219

§ 2° Serão observadas as regras de

distribuição entre os tabelionatos de

protesto de títulos, quando houver.

§ 3° O exequente será assistido por

advogado em todos os atos da execução.

Art. 783-B. O tabelião de protestos poderá

substabelecer a prática de atos executivos a

substitutos e escreventes devidamente

credenciados, que somente poderão atuar

se estiverem munidos de documentos que

comprovem a sua condição de agentes de

execução.

Art. 783-C. A responsabilidade civil,

administrativa e criminal do tabelião de

protestos observará o disposto na legislação

especial.

Art. 783-D. As Corregedorias dos

Tribunais de Justiça fiscalizarão a

atividade executiva dos tabelionatos de

protesto de títulos, auxiliando em ações de

aprimoramento e planejamento e fixando

as tabelas de emolumentos.

Parágrafo único. O Conselho Nacional de

Justiça poderá expedir resoluções com

critérios uniformes para a fixação das

tabelas de emolumentos, bem como para a

fiscalização dos tabelionatos de protesto de

títulos, além de elaborar relatórios

periódicos sobre as suas atividades.

Art. 783-E. O procedimento da execução no

tabelionato de protesto de títulos poderá

observar, no que couber, as regras do

processo eletrônico.

Parágrafo único. Os atos praticados pelos

tabelionatos de protesto de títulos poderão

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220

ser publicados em seção especial do Diário

da Justiça, preferencialmente na edição

eletrônica.

Seção II

Da citação do devedor e do arresto

Seção II

Da citação do devedor, do protesto e do

arresto

Art. 783-F. O credor apresentará ao

tabelionato de protesto de títulos

requerimento de execução, observando os

requisitos do art. 755, acompanhado do

respectivo título executivo extrajudicial e

de demonstrativo de débito atualizado até a

data da apresentação, podendo indicar

bens do devedor a serem penhorados.

§ 1° Os títulos executivos extrajudiciais

deverão corresponder a obrigação certa,

líquida e exigível, não podendo ser

admitidos para execução se representarem

obrigações sujeitas a termo ou condição

que ainda não se tenham verificado.

§ 2° O tabelião de protestos examinará o

requerimento e o título executivo em seus

caracteres formais. Qualquer

irregularidade relativa aos elementos

extrínsecos do título, além da ocorrência de

prescrição ou caducidade, obstará o

prosseguimento da execução, devendo o

tabelião comunicar o vício ao advogado do

credor, que poderá retificar, esclarecer,

juntar documento complementar, entre

outras providências destinadas a viabilizar

a execução.

§ 3° Antes de extinguir a execução por

entender que existe insuficiência ou

deficiência do título, o tabelião de protestos

poderá consultar o juiz da execução,

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221

suscitando dúvida.

Art. 784. Ao despachar a inicial, o juiz fixará,

de plano, os honorários advocatícios de dez

por cento, a serem pagos pelo executado.

§ 1° No caso de integral pagamento no prazo

de três dias, a verba honorária será reduzida

pela metade.

§ 2° Rejeitados os embargos eventualmente

opostos pelo executado ou caso estes não

tenham sido opostos, ao final do

procedimento executivo, o valor dos

honorários poderá ser acrescido até o limite de

vinte por cento, em atenção ao trabalho

realizado supervenientemente à citação.

Art. 784. Ao despachar a inicial, o juiz fixará,

de plano, os honorários advocatícios de dez

por cento, a serem pagos pelo executado.

Após a verificação dos pressupostos legais,

o tabelião de protestos determinará a

citação do devedor para pagamento do

valor do título, acrescido de honorários

advocatícios de dez por cento e dos

emolumentos sobre a execução, a serem

fixados em tabela definida pela

corregedoria do respectivo tribunal.

§ 1° O exequente poderá requerer que

antes da citação se faça previamente o

protesto do título, na forma da lei. Se o

pagamento for efetuado antes do registro,

não haverá prosseguimento da execução;

não efetuado o pagamento, o tabelião de

protestos lavrará o protesto e determinará

a citação do devedor na forma deste artigo.

§ 2° Do instrumento de citação do devedor,

conterá a informação de que a ausência de

pagamento no prazo de três dias úteis dará

ensejo à penhora de bens e valores de

propriedade do executado, bem como aos

atos expropriatórios subsequentes.

§ 3° No caso de integral pagamento no prazo

de três dias, o valor dos honorários

advocatícios será reduzido pela metade.

§ 4° As partes poderão celebrar acordo

sobre pagamento de valor inferior ao

constante do título, dando o credor ao

devedor quitação plena da obrigação. Nesse

caso, contudo, deverão pagar os

emolumentos integrais devidos ao tabelião

de protestos.

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222

§ 5° O acordo celebrado entre as partes

poderá prever ainda o parcelamento da

dívida. O tabelião de protestos deverá zelar

pelo seu cumprimento até que, satisfeita a

obrigação, possa declarar extinta a

execução.

§ 6° O descumprimento do acordo

celebrado entre as partes na forma dos §§

4o e 5° implicará o prosseguimento do

procedimento executivo, mas nesse caso, o

valor exequendo será acrescido de multa no

percentual de vinte por cento.

Art. 784. (...)

§ 2o Rejeitados os embargos eventualmente

opostos pelo executado ou caso estes não

tenham sido opostos, ao final do

procedimento executivo, o valor dos

honorários poderá ser acrescido até o limite de

vinte por cento, em atenção ao trabalho

realizado supervenientemente à citação

Art. 784-A. Rejeitados os embargos

eventualmente opostos pelo executado ou

caso estes não tenham sido opostos, ao final

do procedimento executivo), o valor dos

honorários poderá ser acrescido até o limite de

vinte por cento, em atenção ao trabalho

realizado supervenientemente à citação.

Art. 785. O exequente poderá obter certidão

de que a execução foi admitida pelo juiz com

a identificação das partes e do valor da causa,

para fins de averbação no registro de imóveis,

no registro de veículos ou no registro de

outros bens sujeitos a penhora, arresto ou

indisponibilidade.

§ 1° O exequente deverá comunicar ao juízo

as averbações efetivadas, no prazo de dez dias

de sua concretização.

§ 2° Formalizada penhora sobre bens

suficientes para cobrir o valor da dívida, o

exequente providenciará o cancelamento das

averbações relativas àqueles não penhorados,

no prazo de dez dias.

Art. 785. Caso o tabelião de protestos não o

faça de ofício, o exequente poderá obter

certidão de lavratura do protesto e de início

da execução, para fins de averbação no

registro de imóveis, no registro de veículos ou

no registro de outros bens sujeitos a penhora,

arresto ou indisponibilidade.

§ 1° O exequente deverá comunicar ao juízo

tabelionato de protesto de títulos as

averbações efetivadas, no prazo de dez dias de

sua concretização.

§ 2° Formalizada penhora sobre bens

suficientes para cobrir o valor da dívida, o

exequente providenciará o cancelamento das

averbações relativas àqueles não penhorados,

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§ 3° Presume-se em fraude à execução a

alienação ou a oneração de bens efetuada após

a averbação.

§ 4° O exequente que promover averbação

manifestamente indevida ou não cancelar as

averbações nos termos do § 2°, indenizará a

parte contrária, processando-se o incidente em

autos apartados.

§ 5° Os tribunais poderão expedir instruções

sobre o cumprimento deste artigo.

no prazo de dez dias.

§ 3° Presume-se em fraude à execução a

alienação ou a oneração de bens efetuada após

a averbação.

§ 4° O exequente que promover averbação

manifestamente indevida ou não cancelar as

averbações nos termos do § 3°, indenizará a

parte contrária, processando-se o incidente em

autos apartados pelos danos causados, a serem

apurados em ação própria.

§ 6° Os tribunais poderão expedir instruções

sobre o cumprimento deste artigo.

Art. 786. O devedor será citado para pagar a

dívida no prazo de três dias, contados da

juntada do mandado de citação.

§ 1° Do mandado de citação constarão,

também, a ordem de penhora e a avaliação a

serem cumpridas pelo oficial de justiça, tão

logo verificado o não pagamento no prazo

assinalado, de tudo lavrando-se auto, com

intimação do executado.

§ 2° A penhora recairá sobre os bens

indicados pelo exequente, salvo se outros

forem indicados pelo executado e aceitos pelo

juiz, mediante demonstração de que a

constrição proposta lhe será menos onerosa e

não trará prejuízo ao exequente.

Art. 786. O devedor será citado para pagar a

dívida no prazo de três dias, contados da

juntada do mandado de citação Não satisfeita

a obrigação, será efetuada a penhora e a

avaliação de bens do executado, tantos

quantos bastem para satisfazer a

obrigação, de tudo lavrando-se auto, com

intimação do executado.

§ 1° Do mandado de citação constarão,

também, a ordem de penhora e a avaliação a

serem cumpridas pelo oficial de justiça, tão

logo verificado o não pagamento no prazo

assinalado, de tudo lavrando-se auto, com

intimação do executado.

§ 2° § 1º A penhora recairá sobre os bens

indicados pelo exequente, salvo se outros

forem indicados pelo executado e aceitos pelo

tabelião de protestos, mediante

demonstração de que a constrição proposta lhe

será menos onerosa e não trará prejuízo ao

exequente.

§ 2° O tabelião de protestos poderá

consultar suas bases de dados para

localização de bens do devedor, devendo a

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serventia ter acesso assegurado a sistemas

de informação, como os dos Cartórios de

Registros de Imóveis, dos departamentos de

registros de veículos automotores, dos

órgãos de registros comerciais, do Instituto

Nacional do Seguro Social, entre outros.

Art. 787. Se o oficial de justiça não encontrar

o executado, arrestar-lhe-á tantos bens

quantos bastem para garantir a execução.

§ 1° Nos dez dias seguintes à efetivação do

arresto, o oficial de justiça procurará o

executado três vezes em dias distintos;

havendo suspeita de ocultação, realizará a

citação com hora certa, certificando

pormenorizadamente o ocorrido.

§ 2° Incumbe ao exequente requerer a citação

por edital, uma vez frustradas a pessoal e a

com hora certa.

§ 3° Aperfeiçoada a citação e transcorrido o

prazo de pagamento, o arresto se converterá

em penhora, independentemente de termo.

Art. 787. Se a citação não for processada na

forma do art. 784 e o tabelião de protestos

não encontrar o executado, arrestar-lhe-á

tantos bens quantos bastem para garantir a

execução.

§ 1° Nos dez dias seguintes à efetivação do

arresto, o tabelião de protestos procurará o

executado três vezes em dias distintos;

havendo suspeita de ocultação, realizará a

citação com hora certa, certificando

pormenorizadamente o ocorrido.

§ 2° Incumbe ao exequente requerer O

tabelião de protestos procederá a citação

por edital, uma vez frustradas a pessoal e a

com hora certa.

§ 3° Aperfeiçoada a citação e transcorrido o

prazo de pagamento, o arresto se converterá

em penhora, independentemente de termo.

Seção III

Da penhora, do depósito e da avaliação

Subseção I

Do objeto da penhora

Seção III

Da penhora, do depósito e da avaliação

Subseção I

Do objeto da penhora

Art. 788. A penhora deverá incidir em tantos

bens quantos bastem para o pagamento do

principal atualizado, dos juros, das custas e

dos honorários advocatícios.

Art. 788. A penhora deverá incidir em tantos

bens quantos bastem para o pagamento do

principal atualizado, dos juros, das despesas,

dos emolumentos e dos honorários

advocatícios.

Art. 792. A penhora observará, Art. 792. A penhora observará,

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preferencialmente, a seguinte ordem:

I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou

aplicação em instituição financeira;

II - veículos de via terrestre;

III - bens móveis em geral;

IV - bens imóveis;

V - navios e aeronaves;

VI - ações e quotas de sociedades simples

empresárias;

VII - percentual do faturamento de empresa

devedora;

VIII - pedras e metais preciosos;

IX - títulos da dívida pública da União, dos

Estados e do Distrito Federal com cotação em

mercado;

X - títulos e valores mobiliários com cotação

em mercado;

XI - outros direitos.

§ 1° Ressalvada penhora em dinheiro, que é

sempre prioritária, a ordem referida nos

incisos do caput deste artigo não tem caráter

absoluto, podendo ser alterada pelo juiz de

acordo com as circunstâncias do caso

concreto.

§ 2° Na execução de crédito com garantia

hipotecária, pignoratícia ou anticrética, a

penhora recairá, preferencialmente, sobre a

coisa dada em garantia; se a coisa pertencer a

terceiro garantidor, este também será intimado

da penhora.

preferencialmente, a seguinte ordem:

I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou

aplicação em instituição financeira;

II - veículos de via terrestre;

III - bens móveis em geral;

IV - bens imóveis;

V - navios e aeronaves;

VI - ações e quotas de sociedades simples

empresárias;

VII - percentual do faturamento de empresa

devedora;

VIII - pedras e metais preciosos;

IX - títulos da dívida pública da União, dos

Estados e do Distrito Federal com cotação em

mercado;

X - títulos e valores mobiliários com cotação

em mercado;

XI - outros direitos.

§ 1° Ressalvada penhora em dinheiro, que é

sempre prioritária, a ordem referida nos

incisos do caput deste artigo não tem caráter

absoluto, podendo ser alterada pelo juiz de

acordo com as circunstâncias do caso

concreto.

§ 2° Na execução de crédito com garantia

hipotecária, pignoratícia ou anticrética, a

penhora recairá, preferencialmente, sobre a

coisa dada em garantia; se a coisa pertencer a

terceiro garantidor, este também será intimado

da penhora.

Art. 793. Não se levará a efeito a penhora

quando evidente que o produto da execução

dos bens encontrados será totalmente

Art. 793. Não se levará a efeito a penhora

quando evidente que o produto da execução

dos bens encontrados será totalmente

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absorvido pelo pagamento das custas da

execução.

Parágrafo único. Quando não encontrar bens

penhoráveis, o oficial de justiça descreverá na

certidão os que guarnecem a residência ou o

estabelecimento do devedor.

absorvido pelo pagamento das despesas e

emolumentos da execução.

Parágrafo único. Quando não encontrar bens

penhoráveis, o oficial de justiça o tabelião da

execução descreverá na certidão os que

guarnecem a residência ou o estabelecimento

do devedor.

Subseção II

Da documentação da penhora, de seu

registro e do depósito

Subseção II

Da documentação da penhora, de seu

registro e do depósito

Art. 797. Serão preferencialmente

depositados:

I - as quantias em dinheiro, as pedras e os

metais preciosos, bem como os papéis de

crédito, no Banco do Brasil, na Caixa

Econômica Federal ou em um banco de que o

Estado ou o Distrito Federal possua mais de

metade do capital social integralizado, ou, em

falta desses estabelecimentos no lugar, cm

qualquer instituição de crédito designada pelo

juiz;

II - os imóveis, em poder do executado;

III - os móveis, preferencialmente em poder

do exequente, ou de depositário particular.

§ 1º Os bens poderão ser depositados em

poder do executado nos casos de difícil

remoção ou quando anuir o exequente.

§ 2º As joias, as pedras e os objetos preciosos

deverão ser depositados com registro do valor

estimado de resgate.

Art. 797. Serão preferencialmente

depositados:

I - as quantias em dinheiro, as pedras e os

metais preciosos, bem como os papéis de

crédito, no Banco do Brasil, na Caixa

Econômica Federal ou em um banco de que o

Estado ou o Distrito Federal possua mais de

metade do capital social integralizado, ou, em

falta desses estabelecimentos no lugar, em

qualquer instituição de crédito designada pelo

juiz tabelião de protestos;

II - os imóveis, em poder do executado;

III - os móveis, preferencialmente em poder

do exequente, ou de depositário particular.

§ 1º Os bens poderão ser depositados em

poder do executado nos casos de difícil

remoção ou quando anuir o exequente.

§ 2º As joias, as pedras e os objetos preciosos

deverão ser depositados com registro do valor

estimado de resgate.

Art. 798. Formalizada a penhora por qualquer

dos meios legais, dela será imediatamente

intimado o executado.

§ 1º Se não localizar o executado para intimá-

Art. 798. Formalizada a penhora por qualquer

dos meios legais, dela será imediatamente

intimado o executado.

§ 1º Se não localizar for localizado o

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lo da penhora, o oficial certificará

detalhadamente as diligências realizadas, caso

em que o juiz, havendo suspeita de ocultação,

poderá dispensar a intimação ou determinar

novas diligências.

§ 2º Quando a penhora não tiver sido

realizada na presença do executado, sua

intimação será feita na pessoa de seu

advogado ou na da sociedade de advogados a

que este pertença, ou, não havendo procurador

constituído, pessoalmente, de preferência por

via postal.

executado para intimá-lo ser intimado da

penhora, será lavrado auto com detalhamento

das diligências realizadas, caso em que o juiz

tabelião de protestos, havendo suspeita de

ocultação, poderá dispensar a intimação ou

determinar novas diligências.

§ 2º Quando a penhora não tiver sido

realizada na presença do executado, sua

intimação será feita na pessoa de seu

advogado ou na da sociedade de advogados a

que este pertença, ou, não havendo procurador

constituído, pessoalmente, de preferência por

via postal.

Art. 800. Cabe ao exequente providenciar,

para presunção absoluta de conhecimento por

terceiros, a averbação do arresto ou da

penhora, quando se tratar de bens sujeitos a

registro público, mediante a apresentação de

cópia do auto ou termo, independentemente

de mandado judicial.

Art. 800. Se o tabelião de protestos não o

fizer de ofício, cabe ao exequente

providenciar, para presunção absoluta de

conhecimento por terceiros, a averbação do

arresto ou da penhora, quando se tratar de

bens sujeitos a registro público, mediante a

apresentação de cópia do auto ou termo,

independentemente de mandado judicial.

Subseção III

Do lugar de realização da penhora

Subseção III

Do lugar de realização da penhora

Art. 801. Efetuar-se-á a penhora onde quer

que se encontrem os bens, ainda que sob a

posse, a detenção ou a guarda de terceiros.

§ 1° A penhora de imóveis,

independentemente de onde se localizem,

quando apresentada certidão da respectiva

matrícula, e a penhora de veículos

automotores, quando apresentada certidão que

ateste a sua existência, serão realizadas por

termo nos autos.

§ 2° Se o devedor não tiver bens no foro da

causa, não sendo possível a realização da

Art. 801. Efetuar-se-á a penhora onde quer

que se encontrem os bens, ainda que sob a

posse, a detenção ou a guarda de terceiros.

§ 1° A penhora de imóveis,

independentemente de onde se localizem,

quando apresentada certidão da respectiva

matrícula, e a penhora de veículos

automotores, quando apresentada certidão que

ateste a sua existência, serão realizadas por

termo nos autos.

§ 2° Se o devedor não tiver bens no foro da

causa, não sendo possível a realização da

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penhora nos termos do § 1°, a execução será

feita por carta, penhorando-se, avaliando-se e

alienando-se os bens no foro da situação.

penhora nos termos do § 1°, a execução será

feita por carta por um tabelião de protestos

da comarca, penhorando-se, avaliando-se e

alienando-se os bens no foro da situação dos

bens.

§ 3° O procedimento a que se refere o § 2°

será feito por cooperação entre os

tabelionatos de protesto de títulos, com

divisão dos emolumentos, na forma fixada

na tabela da corregedoria do respectivo

tribunal.

Art. 802. Se o devedor fechar as portas da

casa a fim de obstar a penhora dos bens, o

oficial de justiça comunicará o fato ao juiz,

solicitando-lhe ordem de arrombamento.

§ 1° Deferido o pedido, dois oficiais de justiça

cumprirão o mandado, arrombando cômodos e

móveis em que se presuma estarem os bens, e

lavrarão de tudo auto circunstanciado, que

será assinado por duas testemunhas presentes

à diligência.

§ 2° Sempre que necessário, o juiz requisitará

força policial, a fim de auxiliar os oficiais de

justiça na penhora dos bens c na prisão de

quem resistir à ordem.

§ 3° Os oficiais de justiça lavrarão em

duplicata o auto de resistência, entregando

uma via ao escrivão do processo, para ser

juntada aos autos, e a outra à autoridade

policial a quem couber a prisão.

§ 4° Do auto de resistência constará o rol de

testemunhas, com sua qualificação.

Art. 802. Se o devedor fechar as portas da

casa a fim de obstar a penhora dos bens, o

oficial de justiça o tabelião de protestos

comunicará o fato ao juiz, solicitando-lhe

ordem de arrombamento de domicílio.

§ 1° Deferido o pedido, dois oficiais de justiça

o tabelião de protestos cumprirá o mandado

a ordem, arrombando cômodos e móveis em

que se presuma estarem os bens, e lavrará de

tudo auto circunstanciado, que será assinado

por duas testemunhas presentes à diligência.

§ 2° Sempre que necessário, o juiz o tabelião

de protestos requisitará força policial, a fim

de auxiliá-lo os oficiais de justiça na penhora

dos bens e na prisão de quem resistir à ordem.

§ 3° Os oficiais de justiça O tabelião de

protestos lavrará em duplicata o auto de

resistência, juntando uma via aos autos, e

entregando a outra à autoridade policial a

quem couber a prisão.

§ 4° Do auto de resistência constará o rol de

testemunhas, com sua qualificação.

Subseção IV

Das modificações da penhora

Subseção IV

Das modificações da penhora

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Art. 803. O executado pode, no prazo de dez

dias contados da intimação da penhora,

requerer a substituição do bem penhorado,

desde que comprove que lhe será menos

onerosa e não trará prejuízo ao exequente.

§ 1° O juiz só autorizará a substituição se o

executado:

I - comprovar as respectivas matrículas e

registros, por certidão do correspondente

ofício, quanto aos bens imóveis;

II - descrever os bens móveis, com todas as

suas propriedades e características, bem como

seu estado e o lugar onde se encontram;

III - descrever os semoventes, com indicação

de espécie, número, marca ou sinal e local

onde se encontram;

IV - identificar os créditos, indicando quem

seja o devedor, qual a origem da dívida, o

título que a representa e a data do vencimento;

e

V - atribuir, em qualquer caso, valor aos bens

indicados à penhora, além de especificar os

ônus e os encargos a que estejam sujeitos.

§ 2° Requerida a substituição da penhora, o

executado deve indicar onde se encontram os

bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua

propriedade e a certidão negativa ou positiva

de ônus, bem como abster-se de qualquer

atitude que dificulte ou embarace a realização

da penhora.

§ 3° A penhora pode ser substituída por fiança

bancária ou seguro garantia judicial, em valor

não inferior ao do débito constante da inicial,

mais trinta por cento.

§ 4° O executado somente poderá oferecer

Art. 803. O executado pode, no prazo de dez

dias contados da intimação da penhora,

requerer a substituição do bem penhorado,

desde que comprove que lhe será menos

onerosa e não trará prejuízo ao exequente.

§ 1° O juiz tabelião de protestos só

autorizará a substituição se o executado:

I - comprovar as respectivas matrículas e

registros, por certidão do correspondente

ofício, quanto aos bens imóveis;

II - descrever os bens móveis, com todas as

suas propriedades e características, bem como

seu estado e o lugar onde se encontram;

III - descrever os semoventes, com indicação

de espécie, número, marca ou sinal e local

onde se encontram;

IV - identificar os créditos, indicando quem

seja o devedor, qual a origem da dívida, o

título que a representa e a data do vencimento;

e

V - atribuir, em qualquer caso, valor aos bens

indicados à penhora, além de especificar os

ônus e os encargos a que estejam sujeitos.

§ 2° Requerida a substituição da penhora, o

executado deve indicar onde se encontram os

bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua

propriedade e a certidão negativa ou positiva

de ônus, bem como abster-se de qualquer

atitude que dificulte ou embarace a realização

da penhora.

§ 3° A penhora pode ser substituída por fiança

bancária ou seguro garantia judicial, em valor

não inferior ao do débito constante da inicial,

mais trinta por cento.

§ 4° O executado somente poderá oferecer

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bem imóvel em substituição caso o requeira

com a expressa anuência do cônjuge, salvo se

o regime for o de separação absoluta de bens.

bem imóvel em substituição caso o requeira

com a expressa anuência do cônjuge, salvo se

o regime for o de separação absoluta de bens.

Art. 804. As partes poderão requerer a

substituição da penhora se:

I - não obedecer à ordem legal;

II - não incidir sobre os bens designados em

lei, contrato ou ato judicial para o pagamento;

III - havendo bens no foro da execução, outros

tiverem sido penhorados;

IV - havendo bens livres, tiver recaído sobre

bens já penhorados ou objeto de gravame;

V - incidir sobre bens de baixa liquidez;

VI - fracassar a tentativa de alienação judicial

do bem; ou

VII - o devedor não indicar o valor dos bens

ou omitir qualquer das indicações previstas na

lei.

Art. 804. As partes poderão requerer a

substituição da penhora se:

I - não obedecer à ordem legal;

II - não incidir sobre os bens designados em

lei, contrato ou ato judicial para o pagamento;

III - havendo bens no foro da execução, outros

tiverem sido penhorados;

IV - havendo bens livres, tiver recaído sobre

bens já penhorados ou objeto de gravame;

V - incidir sobre bens de baixa liquidez;

VI - fracassar a tentativa de alienação do

judicial bem; ou

VII - o devedor não indicar o valor dos bens

ou omitir qualquer das indicações previstas na

lei.

Art. 808. O juiz determinará a alienação

antecipada dos bens penhorados quando:

I - se tratar de veículos automotores, de pedras

e metais preciosos e de outros bens móveis

sujeitos à depreciação ou à deterioração;

II - houver manifesta vantagem.

Art. 808. O juiz tabelião de protestos

promoverá a alienação antecipada dos bens

penhorados quando:

I - se tratar de veículos automotores, de pedras

e metais preciosos e de outros bens móveis

sujeitos à depreciação ou à deterioração;

II - houver manifesta vantagem.

Art. 809. Quando uma das partes requerer

alguma das medidas previstas nesta Subseção,

o juiz ouvirá sempre a outra, no prazo de três

dias, antes de decidir.

Parágrafo único. O juiz decidirá de plano

qualquer questão suscitada.

Art. 809. Quando uma das partes requerer

alguma das medidas previstas nesta Subseção,

o juiz tabelião de protestos ouvirá sempre a

outra, no prazo de três dias, antes de decidir

sobre a medida requerida.

Parágrafo único. O juiz decidirá de plano

qualquer questão suscitada.

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231

Subseção V

Da penhora de dinheiro em depósito ou em

aplicação financeira

Subseção V

Da penhora de dinheiro em depósito ou em

aplicação financeira

Art. 810. Para possibilitar a penhora de

dinheiro em depósito ou em aplicação

financeira, o juiz, a requerimento do

exequente, sem dar ciência prévia do ato ao

executado, determinará às instituições

financeiras, por meio de sistema eletrônico

gerido pela autoridade supervisara do sistema

financeiro nacional, que torne indisponíveis

ativos financeiros existentes em nome do

executado, limitando-se a indisponibilidade ao

valor indicado na execução.

§ 1° No prazo de vinte c quatro horas a contar

da resposta, de oficio, o juiz determinará o

cancelamento de eventual indisponibilidade

excessiva, o que deverá ser cumprido pela

instituição financeira em igual prazo.

§ 2° Tomados indisponíveis os ativos

financeiros do executado, este será intimado

na pessoa de seu advogado ou, não o tendo,

pessoalmente.

§ 3° Incumbe ao executado, no prazo de cinco

dias, comprovar que:

I - as quantias indisponibilizadas são

impenhoráveis;

II - ainda remanesce indisponibilidade

excessiva de ativos financeiros.

§ 4° Acolhida qualquer das arguições dos

incisos I e II do § 3°, o juiz determinará o

cancelamento de eventual indisponibilidade

excessiva, o que deverá ser cumprido pela

instituição financeira em vinte e quatro horas.

§ 5° Rejeitada ou não apresentada a

Art. 810. Para possibilitar a penhora de

dinheiro em depósito ou em aplicação

financeira, o juiz tabelião de protestos, a

requerimento do exequente, sem dar ciência

prévia do ato ao executado, determinará às

instituições financeiras, por meio de sistema

eletrônico gerido pela autoridade supervisora

do sistema financeiro nacional, que torne

indisponíveis ativos financeiros existentes em

nome do executado, limitando-se a

indisponibilidade ao valor indicado na

execução.

§ 1° No prazo de vinte e quatro horas a contar

da resposta, de ofício, o juiz tabelião de

protestos determinará o cancelamento de

eventual indisponibilidade excessiva, o que

deverá ser cumprido pela instituição

financeira em igual prazo.

§ 2° Tomados indisponíveis os ativos

financeiros do executado, este será intimado

na pessoa de seu advogado ou, não o tendo,

pessoalmente.

§ 3° Incumbe ao executado, no prazo de cinco

dias, comprovar que

I - as quantias indisponibilizadas tornadas

indisponíveis são impenhoráveis;

II - ainda remanesce indisponibilidade

excessiva de ativos financeiros.

§ 4° Acolhida qualquer das arguições dos

incisos I e II do § 3°, o juiz tabelião de

protestos determinará o cancelamento de

eventual indisponibilidade excessiva, o que

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manifestação do executado, converter-se-á a

indisponibilidade em penhora, e lavrar-se-á o

respectivo termo, devendo o juiz da execução

determinar à instituição financeira depositária

que, no prazo de vinte e quatro horas, transfira

o montante indisponível para conta vinculada

ao juízo da execução.

§ 6° Realizado o pagamento da dívida por

outro meio, o juiz determinará,

imediatamente, à autoridade supervisora, a

notificação da instituição financeira para que

cancele a indisponibilidade, que deverá ser

realizada em até vinte e quatro horas.

§ 7° As transmissões das ordens de

indisponibilidade, de seu cancelamento e de

determinação de penhora, previstas neste

artigo far-se-ão por meio de sistema eletrônico

gerido pela autoridade supervisora do sistema

financeiro nacional.

§ 8° A instituição financeira será responsável

pelos prejuízos causados ao executado em

decorrência da indisponibilidade de ativos

financeiros em valor superior ao indicado na

execução ou pelo juiz, bem como na hipótese

de não cancelamento da indisponibilidade no

prazo de vinte e quatro horas, quando assim

determinar o juiz.

§ 9° Quando se tratar de execução contra

partido político, o juiz, a requerimento do

exequente, determinará às instituições

financeiras, por meio de sistema eletrônico

gerido por autoridade supervisara do sistema

bancário, que tome indisponíveis ativos

financeiros somente em nome do órgão

partidário que tenha contraído a dívida

executada ou que tenha dado causa à violação

de direito ou ao dano, ao qual cabe

deverá ser cumprido pela instituição

financeira em vinte e quatro horas.

§ 5° Rejeitada ou não apresentada a

manifestação do executado, converter-se-á a

indisponibilidade em penhora, e lavrar-se-á o

respectivo termo, devendo o tabelião de

protestos determinar à instituição financeira

depositária que, no prazo de vinte e quatro

horas, transfira o montante indisponível para

conta vinculada ao juízo da execução

tabelionato de protesto de títulos.

§ 6° Realizado o pagamento da dívida por

outro meio, o juiz tabelião de protestos

determinará, imediatamente, à autoridade

supervisora, a notificação da instituição

financeira para que cancele a

indisponibilidade, que deverá ser realizada em

até vinte e quatro horas.

§ 7° As transmissões das ordens de

indisponibilidade, de seu cancelamento e de

determinação de penhora, previstas neste

artigo far-se-ão por meio de sistema eletrônico

gerido pela autoridade supervisora do sistema

financeiro nacional.

§ 8° A instituição financeira será responsável

pelos prejuízos causados ao executado em

decorrência da indisponibilidade de ativos

financeiros em valor superior ao indicado na

execução ou pelo juiz tabelião de protestos,

bem como na hipótese de não cancelamento

da indisponibilidade no prazo de vinte e

quatro horas, quando assim determinar o juiz

tabelião.

§ 9° Quando se tratar de execução contra

partido político, o juiz tabelião de protestos,

a requerimento do exequente, determinará às

instituições financeiras, por meio de sistema

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233

exclusivamente a responsabilidade pelos atos

praticados, na forma da lei.

eletrônico gerido por autoridade supervisara

do sistema bancário, que tome indisponíveis

ativos financeiros somente em nome do órgão

partidário que tenha contraído a dívida

executada ou que tenha dado causa à violação

de direito ou ao dano, ao qual cabe

exclusivamente a responsabilidade pelos atos

praticados, na forma da lei.

Subseção VI

Da penhora de créditos

Subseção VI

Da penhora de créditos

Art. 811. Quando a penhora recair em crédito

do devedor, o oficial de justiça o penhorará.

Enquanto não ocorrer a hipótese prevista no

art. 819, considerar-se-á feita a penhora pela

intimação:

I - ao terceiro devedor para que não pague ao

seu credor;

II - ao credor do terceiro para que não

pratique ato de disposição do crédito.

Art. 811. Quando a penhora recair em crédito

do devedor, o juiz tabelião de protestos o

penhorará. Enquanto não ocorrer a hipótese

prevista no art. 819 Considerar-se-á feita a

penhora pela intimação:

I - ao terceiro devedor para que não pague ao

seu credor;

II - ao credor do terceiro para que não

pratique ato de disposição do crédito.

Art. 812. A penhora de crédito representado

por letra de câmbio, nota promissória,

duplicata, cheque ou outros títulos se fará pela

apreensão do documento, esteja ou não este

em poder do devedor.

§ 1° Se o título não for apreendido, mas o

terceiro confessar a dívida, será este tido

como depositário da importância.

§ 2° O terceiro só se exonerará da obrigação

depositando em juízo a importância da dívida.

§ 3° Se o terceiro negar o débito em conluio

com o devedor, a quitação que este lhe der

caracterizará fraude à execução.

§ 4° A requerimento do credor, o juiz

determinará o comparecimento, em audiência

Art. 812. A penhora de crédito representado

por letra de câmbio, nota promissória,

duplicata, cheque ou outros títulos se fará pela

apreensão do documento, esteja ou não este

em poder do devedor.

§ 1° Se o título não for apreendido, mas o

terceiro confessar a dívida, será este tido

como depositário da importância.

§ 2° O terceiro só se exonerará da obrigação

depositando em juízo no tabelionato de

protesto de títulos a importância da dívida.

§ 3° Se o terceiro negar o débito em conluio

com o devedor, a quitação que este lhe der

caracterizará fraude à execução.

§ 4° A requerimento do credor, o juiz

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234

especialmente designada, do devedor e do

terceiro, a fim de lhes tomar os depoimentos.

determinará o comparecimento, em audiência

especialmente designada, do devedor e do

terceiro, a fim de lhes tomar os depoimentos

tabelião de protestos encaminhará ao juízo

da execução elementos que evidenciem a

fraude, para as providências cabíveis.

Art. 813. Feita a penhora em direito e ação do

devedor, e não tendo este oferecido embargos

ou sendo estes rejeitados, o credor ficará sub-

rogado nos direitos do devedor até a

concorrência do seu crédito.

§ 1° O credor pode preferir, em vez da sub-

rogação, a alienação judicial do direito

penhorado, caso em que declarará sua vontade

no prazo de dez dias contados da realização da

penhora.

§ 2° A sub-rogação não impede o sub-rogado,

se não receber o crédito do devedor, de

prosseguir na execução, nos mesmos autos,

penhorando outros bens do devedor.

Art. 813. Feita a penhora em direito e ação do

devedor, e não tendo este oferecido embargos

ou sendo estes rejeitados, o credor ficará sub-

rogado nos direitos do devedor até a

concorrência do seu crédito.

§ 1° O credor pode preferir, em vez da sub-

rogação, a alienação judicial do direito

penhorado, caso em que declarará sua vontade

no prazo de dez dias contados da realização da

penhora.

§ 2° A sub-rogação não impede o sub-rogado,

se não receber o crédito do devedor, de

prosseguir na execução, nos mesmos autos,

penhorando outros bens do devedor.

Subseção VII

Da penhora das quotas ou ações de

sociedades personificadas

Subseção VII

Da penhora das quotas ou ações de

sociedades personificadas

Art. 817. Penhoradas as quotas ou as ações de

sócio em sociedade simples ou empresária, o

juiz assinará prazo razoável, não superior a

três meses, para que a sociedade apresente

balanço especial na forma da lei, proceda à

liquidação das quotas ou das ações e deposite

em juízo o valor apurado, em dinheiro.

§ 1° O disposto no caput não se aplica à

sociedade anônima de capital aberto, cujas

ações serão adjudicadas ao credor ou

alienadas em bolsa de valores, conforme o

caso.

Art. 817. Penhoradas as Objetivando

penhorar quotas ou ações de sócio em

sociedade simples ou empresária, o juiz

assinará tabelião de protestos encaminhará

requerimento ao juiz de execução para que

decida e assine prazo razoável, não superior a

três meses, para que a sociedade apresente

balanço especial na forma da lei, proceda à

liquidação das quotas ou das ações e deposite

em juízo no tabelionato de protesto de

títulos competente o valor apurado, em

dinheiro.

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235

§ 2° Para os fins da liquidação de que trata o

caput, o juiz poderá, a requerimento do credor

ou da sociedade, nomear administrador, que

deverá submeter à aprovação judicial a forma

de liquidação.

§ 3° O prazo previsto no caput poderá ser

ampliado pelo juiz, se o pagamento das quotas

ou das ações liquidadas colocar em risco a

estabilidade financeira da sociedade simples

ou empresária.

§ 1° O disposto no caput não se aplica à

sociedade anônima de capital aberto, cujas

ações serão adjudicadas ao credor ou

alienadas em bolsa de valores, conforme o

caso.

§ 2° Para os fins da liquidação de que trata o

caput, o juiz poderá, a requerimento do credor

ou da sociedade, nomear administrador, que

deverá submeter à aprovação judicial a forma

de liquidação.

§ 3° O prazo previsto no caput poderá ser

ampliado pelo juiz, se o pagamento das quotas

ou das ações liquidadas colocar em risco a

estabilidade financeira da sociedade simples

ou empresária.

Subseção VIII

Da penhora de empresa, de outros

estabelecimentos e de semoventes

Subseção VIII

Da penhora de empresa, de outros

estabelecimentos e de semoventes

Art. 818. Quando a penhora recair em

estabelecimento comercial, industrial ou

agrícola, bem como em semoventes,

plantações ou edifícios em construção, o juiz

nomeará um administrador-depositário,

determinando-lhe que apresente em dez dias o

plano de administração.

§ 1° Ouvidas as partes, o juiz decidirá.

§ 2° É lícito, porém, às partes ajustar a forma

de administração, escolhendo o depositário;

caso em que o juiz homologará por despacho

a indicação.

Art. 818. Quando a penhora recair em

estabelecimento comercial, industrial ou

agrícola, bem como em semoventes,

plantações ou edifícios em construção, o juiz

tabelião de protestos nomeará um

administrador-depositário, determinando-lhe

que apresente em dez dias o plano de

administração.

§ 1° Ouvidas as partes, o juiz tabelião de

protestos decidirá.

§ 2° É lícito, porém, às partes ajustar a forma

de administração, escolhendo o depositário;

caso em que o juiz tabelião de protestos

homologará a indicação.

Art. 819. A penhora de empresa que funcione

mediante concessão ou autorização se fará,

conforme o valor do crédito, sobre a renda,

Art. 819. A penhora de empresa que funcione

mediante concessão ou autorização se fará,

conforme o valor do crédito, sobre a renda,

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236

sobre determinados bens ou sobre todo o

patrimônio, nomeando o juiz como

depositário, de preferência, um dos seus

diretores.

§ 1° Quando a penhora recair sobre a renda ou

sobre determinados bens, o administrador-

depositário apresentará a forma de

administração e o esquema de pagamento,

observando-se, quanto ao mais, o disposto

quanto ao regime de penhora de frutos e

rendimentos de coisa móvel e imóvel.

§ 2° Recaindo a penhora sobre todo o

patrimônio, prosseguira a execução nos seus

ulteriores termos, ouvindo-se, antes da

arrematação ou da adjudicação, o ente público

que houver outorgado a concessão.

sobre determinados bens ou sobre todo o

patrimônio, nomeando o juiz tabelião de

protestos como depositário, de preferência,

um dos seus diretores.

§ 1° Quando a penhora recair sobre a renda ou

sobre determinados bens, o administrador-

depositário apresentará a forma de

administração e o esquema de pagamento,

observando-se, quanto ao mais, o disposto

quanto ao regime de penhora de frutos e

rendimentos de coisa móvel e imóvel.

§ 2° Recaindo a penhora sobre todo o

patrimônio, prosseguirá a execução nos seus

ulteriores termos, ouvindo-se, antes da

arrematação ou da adjudicação, o ente público

que houver outorgado a concessão.

Art. 820. A penhora de navio ou aeronave não

obsta a que estes continuem navegando ou

operando até a alienação, mas o juiz, ao

conceder a autorização para tanto, não

permitirá que saiam do porto ou aeroporto

antes que o devedor faça o seguro usual contra

riscos.

Art. 820. A penhora de navio ou aeronave não

obsta a que estes continuem navegando ou

operando até a alienação, mas o juiz tabelião

de protestos, ao conceder a autorização para

tanto, não permitirá que saiam do porto ou

aeroporto antes que o devedor faça o seguro

usual contra riscos.

Subseção IX

Da penhora de percentual de faturamento

de empresa

Subseção IX

Da penhora de percentual de faturamento

de empresa

Art. 821. Se o devedor não tiver outros bens

penhoráveis ou se, tendo-os, estes forem de

difícil alienação ou insuficientes para saldar o

crédito executado, o juiz poderá ordenar a

penhora de percentual de faturamento de

empresa.

§ 1° O juiz fixará percentual que propicie a

satisfação do crédito exequendo em tempo

razoável, mas que não torne inviável o

Art. 821. Se o devedor não tiver outros bens

penhoráveis ou se, tendo-os, estes forem de

difícil alienação ou insuficientes para saldar o

crédito executado, o juiz tabelião de

protestos poderá ordenar a penhora de

percentual de faturamento de empresa.

§ 1° O juiz tabelião de protestos fixará

percentual que propicie a satisfação do crédito

exequendo em tempo razoável, mas que não

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237

exercício da atividade empresarial.

§ 2° O juiz nomeará administrador-

depositário, que submeterá à aprovação

judicial a forma de sua atuação e prestará

contas mensalmente, entregando em juízo as

quantias recebidas, com os respectivos

balancetes mensais, a fim de serem imputadas

no pagamento da dívida.

§ 3° Na penhora de percentual de faturamento

de empresa, observar-se-á, no que couber, o

disposto quanto ao regime de penhora de

frutos e rendimentos de coisa móvel e imóvel.

torne inviável o exercício da atividade

empresarial.

§ 2° O juiz tabelião de protestos nomeará

administrador-depositário, que submeterá à

sua aprovação judicial a forma de atuação e

prestará contas mensalmente, entregando ao

tabelionato de protesto de títulos as quantias

recebidas, com os respectivos balancetes

mensais, a fim de serem imputadas no

pagamento da dívida.

§ 3° Na penhora de percentual de faturamento

de empresa, observar-se-á, no que couber, o

disposto quanto ao regime de penhora de

frutos e rendimentos de coisa móvel e imóvel.

Subseção X

Da penhora de frutos e rendimentos de

coisa móvel ou imóvel

Subseção X

Da penhora de frutos e rendimentos de

coisa móvel ou imóvel

Art. 822. O juiz pode ordenar a penhora de

frutos e rendimentos de coisa móvel ou

imóvel quando a considerar mais eficiente

para o recebimento do crédito e menos

gravosa ao executado.

Art. 822. O juiz tabelião de protestos pode

ordenar a penhora de frutos e rendimentos de

coisa móvel ou imóvel quando a considerar

mais eficiente para o recebimento do crédito e

menos gravosa ao executado.

Art. 823. Ordenada a penhora de frutos e

rendimentos, o juiz nomeará administrador-

depositário, que será investido de todos os

poderes que concernem à administração do

bem e à fruição de seus frutos e utilidades,

perdendo o executado o direito de gozo do

bem, até que o exequente seja pago do

principal, dos juros, das custas e dos

honorários advocatícios.

§ 1° A medida terá eficácia em relação a

terceiros a partir da publicação da decisão que

a conceda ou de sua averbação no oficio

imobiliário, em se tratando de imóveis.

Art. 823. Ordenada a penhora de frutos e

rendimentos, o juiz tabelião de protestos

nomeará administrador-depositário, que será

investido de todos os poderes que concernem

à administração do bem e à fruição de seus

frutos e utilidades, perdendo o executado o

direito de gozo do bem, até que o exequente

seja pago do principal, dos juros, das custas

despesas, dos emolumentos e dos honorários

advocatícios.

§ 1° A medida terá eficácia em relação a

terceiros a partir da publicação da decisão que

a conceda ou de sua averbação no oficio

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238

§ 2° O exequente providenciará a averbação

no oficio imobiliário mediante a apresentação

de certidão de inteiro teor do ato,

independentemente de mandado judicial.

imobiliário, em se tratando de imóveis.

§ 2° O exequente providenciará a averbação

no oficio imobiliário mediante a apresentação

de certidão de inteiro teor do ato,

independentemente de mandado judicial.

Art. 824. O juiz poderá nomear

administrador-depositário o credor ou o

devedor, ouvida a parte contrária; não

havendo acordo, o juiz nomeará profissional

qualificado para o desempenho da função.

§ 1° O administrador submeterá à aprovação

judicial a forma de administração, bem como

a de prestar contas periodicamente.

§ 2° Havendo discordância entre as partes ou

entre estas e o administrador, o juiz decidirá a

melhor forma de administração do bem.

§ 3° Se o imóvel estiver arrendado, o

inquilino pagará o aluguel diretamente ao

exequente, salvo se houver administrador.

§ 4° O exequente ou o administrador poderá

celebrar locação do móvel ou imóvel, ouvido

o executado.

§ 5° As quantias recebidas pelo administrador

serão entregues ao exequente, a fim de serem

imputadas no pagamento da dívida.

§ 6° O exequente dará ao executado quitação,

por termo nos autos, das quantias recebidas.

Art. 824. O juiz tabelião de protestos poderá

nomear administrador-depositário o credor ou

o devedor, ouvida a parte contrária; não

havendo acordo, o juiz tabelião nomeará

profissional qualificado para o desempenho da

função.

§ 1° O administrador submeterá à aprovação

judicial do tabelião de protestos a forma de

administração, bem como a de prestar contas

periodicamente.

§ 2° Havendo discordância entre as partes ou

entre estas e o administrador, o juiz tabelião

de protestos decidirá a melhor forma de

administração do bem.

§ 3° Se o imóvel estiver arrendado, o

inquilino pagará o aluguel diretamente ao

exequente, salvo se houver administrador.

§ 4° O exequente ou o administrador poderá

celebrar locação do móvel ou imóvel, ouvido

o executado.

§ 5° As quantias recebidas pelo administrador

serão entregues ao exequente, a fim de serem

imputadas no pagamento da dívida.

§ 6° O exequente dará ao executado quitação,

por termo nos autos, das quantias recebidas.

Subseção XI

Da avaliação

Subseção XI

Da avaliação

Art. 825. A avaliação será feita pelo oficial de Art. 825. A avaliação será feita pelo oficial de

justiça tabelião de protestos ou por terceiro

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239

justiça.

Parágrafo único. Se forem necessários

conhecimentos especializados e o valor da

execução o comportar, o juiz nomeará

avaliador, fixando-lhe prazo não superior a

dez dias para entrega do laudo.

por ele designado.

Parágrafo único. Se forem necessários

conhecimentos especializados e o valor da

execução o comportar, o juiz tabelião de

protestos nomeará avaliador, fixando-lhe

prazo não superior a dez dias para entrega do

laudo.

Art. 827. A avaliação realizada pelo oficial de

justiça constará do auto de penhora ou, em

caso de pericia realizada por avaliador, de

laudo apresentado no prazo fixado pelo juiz,

devendo-se, em qualquer hipótese,

especificar:

I - os bens, com as suas características, e o

estado em que se encontram;

II - o valor dos bens.

§ 1º Quando o imóvel for suscetível de

cômoda divisão, a avaliação, tendo em conta o

crédito reclamado, será realizada em partes,

sugerindo-se, com a apresentação de

memorial descritivo, os possíveis

desmembramentos para alienação.

§ 2º Realizada a avaliação c, sendo o caso,

apresentada a proposta de desmembramento,

as partes serão ouvidas no prazo de cinco dias.

Art. 827. A avaliação realizada pelo oficial de

justiça tabelião de protestos constará do auto

de penhora ou, em caso de perícia realizada

por avaliador, de laudo apresentado no prazo

fixado pelo juiz tabelião, devendo-se, em

qualquer hipótese, especificar:

I - os bens, com as suas características, e o

estado em que se encontram;

II - o valor dos bens.

§ 1º Quando o imóvel for suscetível de

cômoda divisão, a avaliação, tendo em conta o

crédito reclamado, será realizada em partes,

sugerindo-se, com a apresentação de

memorial descritivo, os possíveis

desmembramentos para alienação.

§ 2º Realizada a avaliação e, sendo o caso,

apresentada a proposta de desmembramento,

as partes serão ouvidas no prazo de cinco dias.

Art. 829. Após a avaliação, a requerimento do

interessado e ouvida a parte contrária, o juiz

poderá mandar:

I - reduzir a penhora aos bens suficientes ou

transferi-la para outros, se o valor dos bens

penhorados for consideravelmente superior ao

crédito do exequente e dos acessórios;

II - ampliar a penhora ou transferi-la para

outros bens mais valiosos, se o valor dos bens

penhorados for inferior ao crédito do

Art. 829. Após a avaliação, a requerimento do

interessado e ouvida a parte contrária, o juiz

tabelião de protestos poderá mandar:

I - reduzir a penhora aos bens suficientes ou

transferi-la para outros, se o valor dos bens

penhorados for consideravelmente superior ao

crédito do exequente e dos acessórios;

II - ampliar a penhora ou transferi-la para

outros bens mais valiosos, se o valor dos bens

penhorados for inferior ao crédito do

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240

exequente. exequente.

Art. 830. Realizadas a penhora e a avaliação,

o juiz dará início aos atos de expropriação de

bens.

Art. 830. Realizadas a penhora e a avaliação,

o juiz tabelião de protestos dará início aos

atos de expropriação de bens.

Seção IV

Da expropriação de bens

Subseção I

Da adjudicação

Seção IV

Da expropriação de bens

Subseção I

Da adjudicação

Art. 832. Transcorrido o prazo de cinco dias

contados da última intimação e decididas

eventuais questões, o juiz mandará lavrar o

auto de adjudicação.

§ 1° Considera-se perfeita e acabada a

adjudicação com a lavratura e a assinatura do

auto pelo juiz, pelo adjudicante, pelo escrivão

e, se estiver presente, pelo executado,

expedindo-se:

I - se bem imóvel, a carta de adjudicação e o

mandado de imissão na posse;

II - se bem móvel, ordem de entrega ao

adjudicante, se bem móvel.

§ 2° A carta de adjudicação conterá a

descrição do imóvel, com remissão à sua

matrícula e aos seus registros, a cópia do auto

de adjudicação e a prova de quitação do

imposto de transmissão.

Art. 832. Transcorrido o prazo de cinco dias

contados da última intimação e decididas

eventuais questões, o juiz tabelião de

protestos mandará lavrar o auto de

adjudicação.

§ 1° Considera-se perfeita e acabada a

adjudicação com a lavratura e a assinatura do

auto pelo juiz tabelião de protestos, pelo

adjudicante, pelo escrivão e, se estiver

presente, pelo executado, expedindo-se:

I - se bem imóvel, a carta de adjudicação e o

mandado de imissão na posse;

II - se bem móvel, ordem de entrega ao

adjudicante.

§ 2° A carta de adjudicação conterá a

descrição do imóvel, com remissão à sua

matrícula e aos seus registros, a cópia do auto

de adjudicação e a prova de quitação do

imposto de transmissão.

Subseção II

Da alienação

Subseção II

Da alienação

Art. 834. A alienação se dará:

I - por iniciativa particular;

Art. 834. A alienação se dará:

I - por iniciativa particular;

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241

II - em leilão judicial eletrônico ou presencial. II - em leilão judicial eletrônico ou presencial.

Art. 835. Não requerida a adjudicação, o

exequente poderá requerer a alienação por sua

própria iniciativa ou por intermédio de

corretor ou leiloeiro público credenciado

perante a autoridade judiciária.

§ 1° O juiz fixará o prazo em que a alienação

deve ser efetivada, a forma de publicidade, o

preço mínimo, as condições de pagamento e

as garantias, bem como, se for o caso, a

comissão de corretagem, na forma deste

Código.

§ 2° A alienação será formalizada por termo

nos autos, com a assinatura do juiz, do

exequente, do adquirente e, se estiver

presente, do executado, expedindo-se:

I - se bem imóvel, a carta de alienação e o

mandado de imissão na posse;

II - se bem móvel, ordem de entrega ao

adquirente.

§ 3° Os tribunais poderão detalhar o

procedimento da alienação prevista neste

artigo, admitindo inclusive o concurso de

meios eletrônicos, e dispor sobre o

credenciamento dos corretores e leiloeiros

públicos, os quais deverão estar em exercício

profissional por não menos que três anos.

§ 4° Nas localidades em que não houver

corretor ou leiloeiro público credenciado nos

termos do § 3°, a indicação será de livre

escolha do exequente.

Art. 835. Não requerida a adjudicação, o

exequente poderá requerer a alienação por sua

própria iniciativa ou por intermédio de

corretor ou leiloeiro público credenciado

perante a autoridade judiciária pelo tabelião

de protestos.

§ 1° O juiz tabelião de protestos fixará o

prazo em que a alienação deve ser efetivada, a

forma de publicidade, o preço mínimo, as

condições de pagamento e as garantias, bem

como, se for o caso, a comissão de

corretagem, na forma deste Código.

§ 2° A alienação será formalizada por termo

nos autos, com a assinatura do juiz tabelião

de protestos, do exequente, do adquirente e,

se estiver presente, do executado, expedindo-

se:

I - se bem imóvel, a carta de alienação e o

mandado de imissão na posse;

II - se bem móvel, ordem de entrega ao

adquirente.

§ 3° Os tribunais poderão detalhar o

procedimento da alienação prevista neste

artigo, admitindo inclusive o concurso de

meios eletrônicos, e dispor sobre o

credenciamento dos corretores e leiloeiros

públicos, os quais deverão estar em exercício

profissional por não menos que três anos.

§ 4° Nas localidades em que não houver

corretor ou leiloeiro público credenciado nos

termos do § 3°, a indicação será de livre

escolha do exequente.

Art. 836. A alienação judicial somente será

feita caso não efetivada a adjudicação ou a

Art. 836. A alienação judicial pelo tabelião

de protestos somente será feita caso não

Page 243: Desjudicialização da Execução Civil Pereira... · 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil Tese

242

alienação por iniciativa particular.

§ 1° O leilão do bem penhorado será realizado

por leiloeiro, preferencialmente por meio

eletrônico, salvo se as condições da sede do

juízo não O permitirem, hipótese em que o

leilão será presencial.

§ 2° Ressalvados os casos de alienação a

cargo de corretores de bolsa de valores, todos

os demais bens serão alienados em leilão

público.

efetivada a adjudicação ou a alienação por

iniciativa particular.

§ 1° O leilão do bem penhorado será realizado

por leiloeiro, preferencialmente por meio

eletrônico, salvo se as condições da sede do

juízo do tabelionato de protesto de títulos

não o permitirem, hipótese em que o leilão

será presencial.

§ 2° Ressalvados os casos de alienação a

cargo de corretores de bolsa de valores, todos

os demais bens serão alienados em leilão

público.

Art. 838. O leiloeiro oficial designado adotará

providências para a ampla divulgação da

alienação.

§ 1° A publicação do edital deverá ocorrer

pelo menos cinco dias antes data marcada

para o leilão.

§ 2° O edital será publicado cm sítio

eletrônico designado pelo juízo da execução e

conterá descrição detalhada c, sempre que

possível, ilustrada dos bens, informando

expressamente se o leilão se dará de forma

eletrônica ou presencial.

§ 3° Não sendo possível a publicação em sítio

eletrônico ou considerando o juiz, em atenção

às condições da sede do juízo, que esse modo

de divulgação é insuficiente ou inadequado, o

edital será afixado em local de costume e

publicado, em resumo, pelo menos uma vez

em jornal de ampla circulação local.

§ 4° Quando o valor dos bens penhorados não

exceder a sessenta vezes o valor do salário

mínimo vigente na data da avaliação, a

publicação do edital será feita apenas no sítio

eletrônico e no órgão oficial, sem prejuízo da

Art. 838. O leiloeiro oficial designado adotará

providências para a ampla divulgação da

alienação.

§ 1° A publicação do edital deverá ocorrer

pelo menos cinco dias antes data marcada

para o leilão.

§ 2° O edital será publicado em sítio

eletrônico designado pelo juízo da execução

tabelião de protestos e conterá descrição

detalhada e, sempre que possível, ilustrada

dos bens, informando expressamente se o

leilão se dará de forma eletrônica ou

presencial.

§ 3° Não sendo possível a publicação em sítio

eletrônico ou considerando o juiz tabelião de

protestos, em atenção às condições da sede

do juízo tabelionato de protesto de títulos,

que esse modo de divulgação é insuficiente ou

inadequado, o edital será afixado em local de

costume e publicado, em resumo, pelo menos

uma vez em jornal de ampla circulação local.

§ 4° Quando o valor dos bens penhorados não

exceder a sessenta vezes o valor do salário

mínimo vigente na data da avaliação, a

Page 244: Desjudicialização da Execução Civil Pereira... · 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil Tese

243

afixação do edital em local de costume.

§ 5° Atendendo ao valor dos bens e às

condições da sede do juízo, o juiz poderá

alterar a forma e a frequência da publicidade

na imprensa, mandar publicar o edital em

local de ampla circulação de pessoas e

divulgar avisos em emissora de rádio ou

televisão local, bem como em sítios

eletrônicos distintos dos indicados no § 2°.

§ 6° Os editais de leilão de imóveis e de

veículos automotores serão publicados pela

imprensa ou por outros meios de divulgação

preferencialmente na seção ou no local

reservados à publicidade de negócios

respectivos.

§ 7° O juiz poderá determinar a reunião de

publicações em listas referentes a mais de

uma execução.

§ 8° Não se realizando o leilão por qualquer

motivo, o juiz mandará publicar a

transferência, observando-se o disposto neste

artigo.

§ 9° O escrivão ou o leiloeiro que

culposamente der causa à transferência

responde pelas despesas da nova publicação,

podendo o juiz aplicar-lhe a pena de

suspensão por cinco dias a três meses, em

procedimento administrativo regular.

publicação do edital será feita apenas no sítio

eletrônico e no órgão oficial, sem prejuízo da

afixação do edital em local de costume.

§ 5° Atendendo ao valor dos bens e às

condições da sede do juízo tabelionato de

protesto de títulos, o juiz tabelião de

protestos poderá alterar a forma e a

frequência da publicidade na imprensa,

mandar publicar o edital em local de ampla

circulação de pessoas e divulgar avisos em

emissora de rádio ou televisão local, bem

como em sítios eletrônicos distintos dos

indicados no § 2°.

§ 6° Os editais de leilão de imóveis e de

veículos automotores serão publicados pela

imprensa ou por outros meios de divulgação

preferencialmente na seção ou no local

reservados à publicidade de negócios

respectivos.

§ 7° O juiz tabelião de protestos poderá

determinar a reunião de publicações em listas

referentes a mais de uma execução.

§ 8° Não se realizando o leilão por qualquer

motivo, o juiz tabelião de protestos mandará

publicar a transferência, observando-se o

disposto neste artigo, respondendo aquele que

culposamente der causa à transferência pelas

despesas da nova publicação.

§ 9° O escrivão tabelião de protestos ou o

leiloeiro que culposamente der causa à

transferência responde pelas despesas da nova

publicação, podendo o juiz aplicar-lhe a pena

de suspensão por cinco dias a três meses, em

procedimento administrativo regular.

Art. 839. Serão cientificados da alienação

judicial, com pelo menos cinco dias de

Art. 839. Serão cientificados da alienação

judicial, com pelo menos cinco dias de

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244

antecedência:

I - o executado, por meio de seu advogado ou,

se não tiver procurador constituído nos autos,

por carta registrada, mandado, edital ou outro

meio idôneo;

II - o senhorio direto, o coproprietário de bem

indivisível do qual tenha sido penhorada

fração ideal, o credor com garantia real ou

com penhora anteriormente averbada que não

seja de qualquer modo parte na execução.

Parágrafo único. Tendo sido revel o

executado, não constando dos autos seu

endereço atual ou, ainda, não sendo ele

encontrado no endereço constante do

processo, a intimação considerar-se-á feita por

meio do próprio edital de leilão.

antecedência:

I - o executado, por meio de seu advogado ou,

se não tiver procurador constituído nos autos,

por carta registrada, mandado, edital ou outro

meio idôneo;

II - o senhorio direto, o coproprietário de bem

indivisível do qual tenha sido penhorada

fração ideal, o credor com garantia real ou

com penhora anteriormente averbada que não

seja de qualquer modo parte na execução.

Parágrafo único. Tendo sido revel o

executado, não constando dos autos seu

endereço atual ou, ainda, não sendo ele

encontrado no endereço constante do

processo, a intimação considerar-se-á feita por

meio do próprio edital de leilão.

Art. 840. Pode oferecer lance todo aquele que

estiver na livre administração de seus bens,

com exceção:

I - dos tutores, dos curadores, dos

testamenteiros, dos administradores ou dos

liquidantes, quanto aos bens confiados à sua

guarda e à sua responsabilidade;

II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja

administração ou alienação estejam

encarregados;

III - do juiz, do membro do Ministério Público

e da Defensoria Pública, do escrivão e dos

demais servidores e auxiliares da justiça;

IV - dos servidores públicos cm geral, quanto

aos bens ou aos direitos da pessoa jurídica a

que servirem ou que estejam sob sua

administração direta ou indireta;

V - dos leiloeiros c seus prepostos, quanto aos

bens de cuja venda estejam encarregados;

Art. 840. Pode oferecer lance todo aquele que

estiver na livre administração de seus bens,

com exceção:

I - dos tutores, dos curadores, dos

testamenteiros, dos administradores ou dos

liquidantes, quanto aos bens confiados à sua

guarda e à sua responsabilidade;

II - dos mandatários, quanto aos bens de cuja

administração ou alienação estejam

encarregados;

III - do juiz, do membro do Ministério Público

e da Defensoria Pública, do escrivão e dos

demais servidores e auxiliares da justiça;

IV – do tabelião de protestos a quem

competir a execução, bem como de

quaisquer de seus prepostos;

IV V - dos servidores públicos em geral,

quanto aos bens ou aos direitos da pessoa

jurídica a que servirem ou que estejam sob sua

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245

VI - os advogados de qualquer das partes. administração direta ou indireta;

V VI - dos leiloeiros e seus prepostos, quanto

aos bens de cuja venda estejam encarregados;

VII VII - os advogados de qualquer das

partes.

Art. 841. Não será aceito lance que ofereça

preço vil.

Parágrafo único. Considera-se vil o preço

inferior a cinquenta por cento do valor da

avaliação, salvo se outro for o preço mínimo

estipulado pelo juiz para a alienação do bem.

Art. 841. Não será aceito lance que ofereça

preço vil.

Parágrafo único. Considera-se vil o preço

inferior a cinquenta por cento do valor da

avaliação, salvo se outro for o preço mínimo

estipulado pelo juiz tabelião de protestos

para a alienação do bem.

Art. 842. O juiz da execução estabelecerá o

preço mínimo, as condições de pagamento e

as garantias que poderão ser prestadas pelo

arrematante.

§ 1° Salvo pronunciamento judicial em

sentido diverso, o pagamento deverá ser

realizado de imediato pelo arrematante.

§ 2° Se o exequente arrematar os bens e for o

único credor, não estará obrigado a exibir o

preço, mas, se o valor dos bens exceder ao seu

crédito, depositará, dentro de três dias, a

diferença, sob pena de tornar-se sem efeito a

arrematação, e, nesse caso, os bens serão

levados a novo leilão, à custa do exequente.

§ 3° Apresentado lance que preveja

pagamento a prazo ou em parcelas, o leiloeiro

o submeterá ao juiz, que dará o bem por

arrematado pelo apresentante do melhor lance

ou da proposta mais conveniente.

§ 4° No caso de arrematação a prazo, os

pagamentos feitos pelo arrematante

pertencerão ao exequente até o limite de seu

Art. 842. O juiz tabelião de protestos

estabelecerá o preço mínimo, as condições de

pagamento e as garantias que poderão ser

prestadas pelo arrematante.

§ 1° Salvo pronunciamento judicial do

tabelião de protestos em sentido diverso, o

pagamento deverá ser realizado de imediato

pelo arrematante.

§ 2° Se o exequente arrematar os bens e for o

único credor, não estará obrigado a exibir o

preço, mas, se o valor dos bens exceder ao seu

crédito, depositará, dentro de três dias, a

diferença, sob pena de tornar-se sem efeito a

arrematação, e, nesse caso, os bens serão

levados a novo leilão, à custa do exequente.

§ 3° Apresentado lance que preveja

pagamento a prazo ou em parcelas, o leiloeiro

o submeterá ao juiz tabelião de protestos,

que dará o bem por arrematado pelo

apresentante do melhor lance ou da proposta

mais conveniente.

§ 4° No caso de arrematação a prazo, os

pagamentos feitos pelo arrematante

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246

crédito e os subsequentes, ao executado. pertencerão ao exequente até o limite de seu

crédito e os subsequentes, ao executado.

Art. 844. Quando o imóvel admitir cômoda

divisão, o juiz, a requerimento do devedor,

ordenará a alienação judicial de parte dele,

desde que suficiente para o pagamento do

credor.

§ 1° Não havendo lançador, far-se-á a

alienação do imóvel em sua integridade.

§ 2° A alienação por partes deverá ser

requerida a tempo de permitir a avaliação das

glebas destacadas e sua inclusão no edital;

caso em que caberá ao executado instruir o

requerimento com planta e memorial

descritivo subscritos por profissional

habilitado.

Art. 844. Quando o imóvel admitir cômoda

divisão, o juiz tabelião de protestos, a

requerimento do devedor, ordenará a

alienação de parte dele, desde que suficiente

para o pagamento do credor.

§ 1° Não havendo lançador, far-se-á a

alienação do imóvel em sua integridade.

§ 2° A alienação por partes deverá ser

requerida a tempo de permitir a avaliação das

glebas destacadas e sua inclusão no edital;

caso em que caberá ao executado instruir o

requerimento com planta e memorial

descritivo subscritos por profissional

habilitado.

Art. 846. Quando o imóvel de incapaz não

alcançar em leilão pelo menos oitenta por

cento do valor da avaliação, o juiz o confiará à

guarda e à administração de depositário

idôneo, adiando a alienação por prazo não

superior a um ano.

§ 1° Se, durante o adiamento, algum

pretendente assegurar, mediante caução

idônea, o preço da avaliação, o juiz ordenará a

alienação em leilão.

§ 2° Se o pretendente à arrematação se

arrepender, o juiz impor-lhe-á multa de vinte

por cento sobre o valor da avaliação, em

beneficio do incapaz, valendo a decisão como

título executivo.

§ 3° Sem prejuízo do disposto nos § 1º e 2°, o

juiz poderá autorizar a locação do imóvel no

prazo do adiamento.

§ 4° Findo o prazo do adiamento, o imóvel

Art. 846. Quando o imóvel de incapaz não

alcançar em leilão pelo menos oitenta por

cento do valor da avaliação, o juiz tabelião de

protestos o confiará à guarda e à

administração de depositário idôneo, adiando

a alienação por prazo não superior a um ano.

§ 1° Se, durante o adiamento, algum

pretendente assegurar, mediante caução

idônea, o preço da avaliação, o juiz tabelião

de protestos ordenará a alienação em leilão.

§ 2° Se o pretendente à arrematação se

arrepender, pagará multa de vinte por cento

sobre o valor da avaliação, em beneficio do

incapaz, valendo como título executivo a

certidão de falta de pagamento, passada pelo

tabelião de protestos.

§ 3° Sem prejuízo do disposto nos § 1º e 2°, o

juiz tabelião de protestos poderá autorizar a

locação do imóvel no prazo do adiamento.

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247

será submetido a novo leilão. § 4° Findo o prazo do adiamento, o imóvel

será submetido a novo leilão.

Art. 848. Se o arrematante ou seu fiador não

pagar o preço no prazo estabelecido, o juiz

impor-lhe-á, em favor do exequente, a perda

da caução, voltando os bens a novo leilão, do

qual não serão admitidos a participar o

arrematante e o fiador remissos.

Art. 848. Se o arrematante ou seu fiador não

pagar o preço no prazo estabelecido, o juiz

tabelião de protestos impor-lhe-á, em favor

do exequente, a perda da caução, voltando os

bens a novo leilão, do qual não serão

admitidos a participar o arrematante e o fiador

remissos.

Art. 850. Incumbe ao leiloeiro:

I - publicar o edital, anunciando a alienação;

II - realizar o leilão onde se encontrem os

bens ou no lugar designado pelo juiz;

III- expor aos pretendentes os bens ou as

amostras das mercadorias;

IV - receber do arrematante a comissão

estabelecida em lei ou arbitrada pelo juiz;

V - receber e depositar, dentro de um dia, à

ordem do juiz, o produto da alienação;

VI - prestar contas nos dois dias subsequentes

ao depósito.

Art. 850. Incumbe ao leiloeiro:

I - publicar o edital, anunciando a alienação;

II - realizar o leilão onde se encontrem os

bens ou no lugar designado pelo juiz tabelião

de protestos;

III- expor aos pretendentes os bens ou as

amostras das mercadorias;

IV - receber do arrematante a comissão

estabelecida em lei ou arbitrada pelo juiz

tabelião de protestos;

V - receber e depositar, dentro de um dia, à

ordem do juiz tabelião de protestos, o

produto da alienação;

VI - prestar contas nos dois dias subsequentes

ao depósito.

Art. 851. Caberá ao juiz a designação do

leiloeiro público, que poderá ser indicado pelo

exequente.

Art. 851. Caberá ao juiz tabelião de

protestos a designação do leiloeiro público,

que poderá ser indicado pelo exequente.

Art. 852. A alienação judicial por meio

eletrônico será realizada, observando-se as

garantias processuais das partes, de acordo

com regulamentação específica do Conselho

Nacional de Justiça.

Parágrafo único. A alienação judicial por

Art. 852. A alienação judicial por meio

eletrônico será realizada, observando-se as

garantias processuais das partes, de acordo

com regulamentação específica do Conselho

Nacional de Justiça.

Parágrafo único. A alienação judicial por

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248

meio eletrônico deverá atender aos requisitos

de ampla publicidade, autenticidade e

segurança, com observância das regras

estabelecidas na legislação sobre certificação

digital.

meio eletrônico deverá atender aos requisitos

de ampla publicidade, autenticidade e

segurança, com observância das regras

estabelecidas na legislação sobre certificação

digital.

Art. 854. O leilão presencial será realizado no

local designado pelo juiz.

Art. 854. O leilão presencial será realizado no

local designado pelo juiz tabelião de

protestos.

Art. 855. O leilão prosseguirá no dia útil

imediato, à mesma hora em que teve início,

independentemente de novo edital, se for

ultrapassado o horário de expediente forense.

Art. 855. O leilão prosseguirá no dia útil

imediato, à mesma hora em que teve início,

independentemente de novo edital, se for

ultrapassado o horário de expediente forense

não for concluído até o final do dia útil

designado.

Art. 857. Qualquer que seja a modalidade de

leilão, assinado o auto pelo juiz, pelo

arrematante e pelo serventuário da justiça ou

pelo leiloeiro, a arrematação será considerada

perfeita, acabada e irretratável, ainda que

venham a ser julgados procedentes os

embargos do executado.

§ 1° A arrematação poderá, no entanto, ser

tomada sem efeito:

I - por vício de nulidade:

II - se não observado o disposto no art. 761;

III - se não for pago o preço ou se não for

prestada a caução;

IV - quando realizada por preço vil;

V - nos demais casos previstos neste Código.

§ 2° O juiz decidirá nos próprios autos da

execução acerca dos vícios referidos no § 1°,

enquanto não for expedida a carta de

arrematação ou a ordem de entrega.

§ 3° Expedida, após dez dias, a carta de

Art. 857. Qualquer que seja a modalidade de

leilão, assinado o auto pelo juiz tabelião de

protestos, pelo arrematante e pelo

serventuário da justiça ou pelo leiloeiro, a

arrematação será considerada perfeita,

acabada e irretratável, ainda que venham a ser

julgados procedentes os embargos do

executado.

§ 1° A arrematação poderá, no entanto, ser

tomada sem efeito:

I - por vício de nulidade:

II - se não observado o disposto no art. 761;

III - se não for pago o preço ou se não for

prestada a caução;

IV - quando realizada por preço vil;

V - nos demais casos previstos neste Código.

§ 2° O juiz tabelião de protestos decidirá nos

próprios autos da execução acerca dos vícios

referidos no § 1°, enquanto não for expedida a

carta de arrematação ou a ordem de entrega.

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249

arrematação ou a ordem de entrega, o vício

deverá ser arguido em ação autônoma. na qual

o arrematante figurará como litisconsorte

necessário.

§ 4° Julgado procedente o pedido da ação

autônoma, as partes serão restituídas ao estado

anterior, ressalvada a possibilidade de

reparação de perdas e danos.

§ 5° O arrematante poderá desistir da

arrematação, sendo-lhe imediatamente

devolvido o depósito que tiver feito:

I - se provar, nos dez dias seguintes, a

existência de ônus real ou gravame não

mencionado no edital;

II - se, antes de expedida a carta de

arrematação ou a ordem de entrega, o

executado suscitar algum dos vícios indicados

no § 1º.

§ 6° Considera-se ato atentatório à dignidade

da justiça a suscitação infundada de vício com

o objetivo de ensejar a desistência do

arrematante.

§ 3° Expedida, após dez dias, a carta de

arrematação ou a ordem de entrega, o vício

deverá ser arguido em ação autônoma, na qual

o arrematante figurará como litisconsorte

necessário.

§ 4° Julgado procedente o pedido da ação

autônoma, as partes serão restituídas ao estado

anterior, ressalvada a possibilidade de

reparação de perdas e danos.

§ 5° O arrematante poderá desistir da

arrematação, sendo-lhe imediatamente

devolvido o depósito que tiver feito:

I - se provar, nos dez dias seguintes, a

existência de ônus real ou gravame não

mencionado no edital;

II - se, antes de expedida a carta de

arrematação ou a ordem de entrega, o

executado suscitar algum dos vícios indicados

no § 1o.

§ 6° Considera-se ato atentatório à dignidade

da justiça a suscitação infundada de vício com

o objetivo de ensejar a desistência do

arrematante.

Seção V

Da satisfação do crédito

Seção V

Da satisfação do crédito

Art. 860. O juiz autorizará que o credor

levante, até a satisfação integral de seu

crédito, o dinheiro depositado para segurar o

juízo ou o produto dos bens alienados, bem

como do faturamento de empresa ou de outros

frutos e rendimentos de coisas ou empresas

penhoradas, quando:

I - a execução for movida só a beneficio do

credor singular, a quem, por força da penhora,

cabe o direito de preferência sobre os bens

Art. 860. O juiz tabelião de protestos

autorizará que o credor levante, até a

satisfação integral de seu crédito, o dinheiro

depositado em garantia da execução ou o

produto dos bens alienados, bem como do

faturamento de empresa ou de outros frutos e

rendimentos de coisas ou empresas

penhoradas, quando:

I - a execução for movida só a beneficio do

credor singular, a quem, por força da penhora,

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250

penhorados e alienados;

II - não houver sobre os bens alienados outros

privilégios ou preferências instituídos

anteriormente à penhora.

cabe o direito de preferência sobre os bens

penhorados e alienados;

II - não houver sobre os bens alienados outros

privilégios ou preferências instituídos

anteriormente à penhora.

Art. 861. Ao receber o mandado de

levantamento, o credor dará ao devedor, por

termo nos autos, quitação da quantia paga.

Parágrafo único. A expedição de mandado de

levantamento poderá ser substituída pela

transferência eletrônica do valor depositado

cm conta vinculada ao juízo para outra

indicada pelo credor.

Art. 861. Ao receber o mandado de

levantamento, o credor dará ao devedor, por

termo nos autos, quitação da quantia paga.

Parágrafo único. A expedição de mandado de

levantamento poderá ser substituída pela

transferência eletrônica do valor depositado

em conta vinculada ao juízo tabelionato de

protesto de títulos para outra indicada pelo

credor.

Art. 862. Pago ao credor o principal. os juros,

as custas e os honorários, a importância que

sobrar será restituída ao devedor.

Art. 862. Pago ao credor o principal e os

juros, as despesas, os emolumentos e os

honorários, a importância que sobrar será

restituída ao devedor.

Art. 864. Os credores formularão as suas

pretensões, que versarão unicamente sobre o

direito de preferência e a anterioridade da

penhora. Apresentadas as razões, o juiz

decidirá.

Art. 864. Os credores formularão as suas

pretensões, que versarão unicamente sobre o

direito de preferência e a anterioridade da

penhora. Apresentadas as razões, o juiz

tabelião de protestos decidirá.

Art. 865. Caso qualquer dos credores alegue a

insolvência do devedor, o juiz, ouvidos os

demais credores concorrentes e o executado,

determinará que o dinheiro, respeitadas as

preferências legais, seja partilhado

proporcionalmente ao valor de cada crédito.

Parágrafo único. A decisão do juiz poderá ser

impugnada por agravo de instrumento.

Art. 865. Caso qualquer dos credores alegue a

insolvência do devedor, o juiz tabelião de

protestos, ouvidos os demais credores

concorrentes e o executado, determinará que o

dinheiro, respeitadas as preferências legais,

seja partilhado proporcionalmente ao valor de

cada crédito.

Parágrafo único. A decisão do juiz tabelião

de protestos poderá ser impugnada por

reclamação ao juízo da execução.

TÍTULO III TÍTULO III

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251

DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO

EXTRAJUDICIAL E DEMAIS

INCIDENTES JUDICIAIS

Art. 870. O executado, independentemente de

penhora, depósito ou caução, poderá opor-se à

execução por meio de embargos.

§ 1° Os embargos à execução serão

distribuídos por dependência, autuados em

apartado e instruídos com cópias das peças

processuais relevantes, que poderão ser

declaradas autênticas pelo próprio advogado,

sob sua responsabilidade pessoal.

§ 2° Na execução por carta, os embargos

serão oferecidos no juízo deprecante ou no

juízo deprecado, mas a competência para

julgá-los é do juízo deprecante, salvo se

versarem unicamente sobre vícios ou defeitos

da penhora, avaliação ou alienação dos bens.

Art. 870. O executado, independentemente de

penhora, depósito ou caução, poderá opor-se à

execução por meio de embargos a serem

apresentados ao juízo de execução

competente.

§ 1° Os embargos à execução serão

distribuídos por dependência, autuados em

apartado e instruídos com cópias das peças

processuais relevantes, que poderão ser

declaradas autênticas pelo próprio advogado,

sob sua responsabilidade pessoal.

§ 2° Na execução por carta, os embargos

serão oferecidos no juízo deprecante ou no

juízo deprecado, mas a competência para

julgá-los é do juízo deprecante, salvo se

versarem unicamente sobre vícios ou defeitos

da penhora, avaliação ou alienação dos bens.

§ 1° O juízo competente para conhecer e

julgar os embargos será sempre o do local

onde se situar o tabelionato de protesto de

títulos no qual estiver sendo processada a

execução, podendo o tribunal instituir

juízos especializados de execução civil.

§ 2° Quando for necessária a realização de

citação ou de atos executivos por

tabelionato de protesto de títulos de foro

diverso daquele em que estiver sendo

processada a execução, os embargos

poderão ser oferecidos em quaisquer dos

juízos, mas a competência para julgá-los é

do juízo do tabelionato de protesto de

títulos responsável pelo processamento da

execução.

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252

§ 3° O juízo que primeiro receber os

embargos ou qualquer dos incidentes da

execução será prevento para o

processamento de todos os demais

incidentes suscitados.

Art. 871. Os embargos serão oferecidos no

prazo de quinze dias, contados da data da

juntada aos autos do mandado de citação.

§ 1° Quando houver mais de um executado, o

prazo para cada um deles embargar conta-se a

partir da juntada do respectivo mandado de

citação, salvo se se tratar de cônjuges ou de

companheiros.

§ 2° Nas execuções por carta precatória, a

citação do executado será imediatamente

comunicada pelo juiz deprecado ao juiz

deprecante, inclusive por meios eletrônicos,

contando-se o prazo para embargos a partir da

juntada aos autos dessa comunicação.

§ 3° Aos embargos à execução não se aplica a

regra especial de contagem dos prazos

prevista para os litisconsortes.

Art. 871. Os embargos serão oferecidos no

prazo de quinze dias, contados da data da

juntada aos autos do mandado de citação ou

do auto de penhora e avaliação, quando se

referirem a esses atos.

§ 1° Quando houver mais de um executado, o

prazo para cada um deles embargar conta-se a

partir da juntada do respectivo mandado de

citação, salvo se se tratar de cônjuges ou de

companheiros.

§ 2° Nas execuções por carta precatória, a

citação do executado será imediatamente

comunicada pelo juiz deprecado ao juiz

deprecante, inclusive por meios eletrônicos,

contando-se o prazo para embargos a partir da

juntada aos autos dessa comunicação.

§ 2° Quando a citação for realizada por

tabelionato de protesto de títulos de foro

diverso daquele no qual se processar a

execução, o prazo para embargos será

contado a partir da juntada aos autos da

certidão de realização do ato, cuja

comunicação deverá ser imediata,

preferencialmente de forma eletrônica.

§ 3° Aos embargos à execução não se aplica a

regra especial de contagem dos prazos

prevista para os litisconsortes.

Art. 872. No prazo para embargos,

reconhecendo o crédito do exequente e

comprovando o depósito de trinta por cento

do valor em execução, inclusive custas e

Art. 872. No prazo para embargos,

reconhecendo o crédito do exequente e

comprovando o depósito de trinta por cento

do valor em execução, inclusive despesas,

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253

honorários de advogado, o executado poderá

requerer seja admitido a pagar o restante em

até seis parcelas mensais, acrescidas de

correção monetária e juros de um por cento ao

mês.

§ 1° Sendo a proposta deferida pelo juiz, o

exequente levantará a quantia depositada e

serão suspensos os atos executivos; caso seja

indeferida, seguir-se-ão os atos executivos,

mantido o depósito.

§ 2° O não pagamento de qualquer das

prestações acarretará cumulativamente:

I - o vencimento das prestações subsequentes

e o prosseguimento do processo, com o

imediato início dos atos executivos;

II - a imposição ao executado de multa de dez

por cento sobre o valor das prestações não

pagas.

§ 3° A opção pelo parcelamento de que trata

este artigo importa renúncia ao direito de opor

embargos.

emolumentos e honorários de advogado, o

executado poderá requerer seja admitido a

pagar o restante em até seis parcelas mensais,

acrescidas de correção monetária e juros de

um por cento ao mês.

§ 1° Sendo a proposta deferida pelo juiz

Realizado o depósito a que se refere o caput

deste artigo, o exequente levantará a quantia

depositada e serão suspensos os atos

executivos; caso seja indeferida, seguir-se-ão

os atos executivos, mantido o depósito.

§ 2° O não pagamento de qualquer das

prestações acarretará cumulativamente:

I - o vencimento das prestações subsequentes

e o prosseguimento da execução, com o

imediato início dos atos executivos;

II - a imposição ao executado de multa de dez

por cento sobre o valor das prestações não

pagas.

§ 3° A opção pelo parcelamento de que trata

este artigo importa renúncia ao direito de opor

embargos.

Art. 873. Nos embargos à execução, o

executado poderá alegar:

I - nulidade da execução, por não ser

executivo o título apresentado;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação

indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou

úteis, nos casos de título para entrega de coisa

certa;

V - qualquer matéria que lhe seria licito

deduzir como defesa em processo de

Art. 873. Nos embargos à execução, o

executado poderá alegar:

I - nulidade da execução, por não ser

executivo o título apresentado;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação

indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou

úteis, nos casos de título para entrega de coisa

certa;

V - qualquer matéria que lhe seria licito

deduzir como defesa em processo de

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254

conhecimento.

§ 1° Há excesso de execução quando:

I - o credor pleiteia quantia superior à do

título;

II - recai sobre coisa diversa daquela

declarada no título;

III - esta se processa de modo diferente do que

foi determinado no título;

IV - o credor, sem cumprir a prestação que lhe

corresponde, exige o adimplemento da do

devedor;

V - o credor não prova que a condição se

realizou.

§ 2° Nos embargos de retenção por

benfeitorias, o exequente poderá requerer a

compensação de seu valor com o dos frutos ou

dos danos considerados devidos pelo

executado, cumprindo ao juiz, para a apuração

dos respectivos valores, nomear perito,

fixando-lhe breve prazo para entrega do

laudo.

§ 3° O exequente poderá a qualquer tempo ser

imitido na posse da coisa, prestando caução

ou depositando o valor devido pelas

benfeitorias ou resultante da compensação.

§ 4° A incorreção da penhora ou da avaliação

poderá ser impugnada por simples petição.

§ 5° Quando o excesso de execução for

fundamento dos embargos, o embargante

deverá declarar na petição inicial o valor que

entende correto, apresentando memória do

cálculo, sob pena de rejeição liminar dos

embargos ou de não conhecimento desse

fundamento.

conhecimento.

§ 1° Há excesso de execução quando:

I - o credor pleiteia quantia superior à do

título;

II - recai sobre coisa diversa daquela

declarada no título;

III - esta se processa de modo diferente do que

foi determinado no título;

IV - o credor, sem cumprir a prestação que lhe

corresponde, exige o adimplemento da do

devedor;

V - o credor não prova que a condição se

realizou.

§ 2° Nos embargos de retenção por

benfeitorias, o exequente poderá requerer a

compensação de seu valor com o dos frutos ou

dos danos considerados devidos pelo

executado, cumprindo ao juiz, para a apuração

dos respectivos valores, nomear perito,

fixando-lhe breve prazo para entrega do

laudo.

§ 3° O exequente poderá a qualquer tempo ser

imitido na posse da coisa, prestando caução

em juízo ou depositando o valor devido pelas

benfeitorias ou resultante da compensação.

Nesse caso, apresentará ao tabelião de

protestos o comprovante do depósito, com a

autorização judicial de imissão na posse.

§ 4° A incorreção da penhora ou da avaliação

poderá ser impugnada por simples petição.

§ 5° § 4° Quando o excesso de execução for

fundamento dos embargos, o embargante

deverá declarar na petição inicial o valor que

entende correto, apresentando memória do

cálculo, sob pena de rejeição liminar dos

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255

embargos ou de não conhecimento desse

fundamento.

Art. 876. Recebidos os embargos. o

exequente será ouvido no prazo de quinze

dias; a seguir, o juiz julgará imediatamente o

pedido ou designará audiência, proferindo

sentença.

Parágrafo único. Considera-se conduta

atentatória à dignidade da justiça o

oferecimento de embargos manifestamente

protelatórios.

Art. 876. Recebidos os embargos, o

exequente será ouvido no prazo de quinze

dias; a seguir, o juiz julgará imediatamente o

pedido ou designará audiência, proferindo

sentença.

Parágrafo único Considera-se conduta

atentatória à dignidade da justiça o

oferecimento de embargos manifestamente

protelatórios, sujeitando o devedor ao

pagamento de multa de vinte por cento

sobre o valor da obrigação.

Art. 876-A. O tabelião de protestos poderá

suscitar dúvida ao juiz sobre quaisquer

questões relacionadas ao título exequendo

ou ao procedimento executivo, caso em que

as partes poderão apresentar suas razões

no prazo comum de dez dias.

Paragrafo único. As razões apresentadas

pelas partes no procedimento de dúvida

limitar-se-ão ao esclarecimento da questão

controvertida, não podendo acrescentar

fato ou fundamento novo.

Art. 876-B. As decisões do tabelião de

protestos que por confronto manifesto com

a lei forem suscetíveis de causar prejuízo à

parte poderão ser impugnadas por

reclamação a ser interposta perante o juízo

da execução, no prazo de dez dias.

Parágrafo único. A decisão que julgar a

reclamação a que se refere este artigo será

irrecorrível, devendo o juiz aplicar multa

de até dez por cento do valor da obrigação

exequenda se a reclamação for

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256

manifestamente infundada.

TÍTULO IV

DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO

PROCESSO DE EXECUÇÃO

CAPÍTULO I

DA SUSPENSÃO

TÍTULO IV

DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO

PROCESSO DE EXECUÇÃO

CAPÍTULO I

DA SUSPENSÃO

Art. 878. Convindo as partes, o juiz declarará

suspensa a execução durante o prazo

concedido pelo credor, para que o devedor

cumpra voluntariamente a obrigação.

Parágrafo único. Findo o prazo sem

cumprimento da obrigação, o processo

retomará o seu curso.

Art. 878. Convindo as partes, o juiz declarará

suspensa a execução durante o prazo

concedido pelo credor, para que o devedor

cumpra voluntariamente a obrigação.

Parágrafo único. § 1° Findo o prazo sem

cumprimento da obrigação, o processo

retomará o seu curso.

§ 2° Em se tratando de execução de

obrigação de pagar quantia certa, a

suspensão da execução competirá ao

tabelião de protestos.

Art. 878-A. O tabelião de protestos deverá

protestar o título na hipótese de não

localizar bens suficientes para a satisfação

do crédito, suspendendo a execução.

CAPÍTULO II

DA EXTINÇÃO

CAPÍTULO II

DA EXTINÇÃO

Art. 880. Extingue-se a execução quando:

I - a petição inicial é indeferida;

II - o devedor satisfaz a obrigação;

III - o devedor obtém, por transação ou por

qualquer outro meio, a remissão total da

dívida;

IV - o credor renuncia ao crédito:

V - ocorrer a prescrição intercorrente;

Art. 880. Extingue-se a execução quando:

I - a petição inicial é indeferida;

II - o devedor satisfaz a obrigação;

III - o devedor obtém, por transação ou por

qualquer outro meio, a remissão total da

dívida;

IV - o credor renuncia ao crédito;

V - ocorrer a prescrição intercorrente;

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257

VI - o processo permanece suspenso, nos

termos do art. 877, incisos III e IV, por tempo

suficiente para perfazer a prescrição.

Parágrafo único. Na hipótese de prescrição

intercorrente, deverá o juiz, antes de extinguir

a execução, ouvir as partes, no prazo comum

de cinco dias.

VI - o processo permanece suspenso, nos

termos do art. 103, incisos III e IV, por tempo

suficiente para perfazer a prescrição.

Parágrafo único. Na hipótese de prescrição

intercorrente, deverá o juiz ou o tabelião de

protestos, antes de extinguir a execução,

ouvir as partes, no prazo comum de cinco

dias.

Art. 881. A extinção só produz efeito quando

declarada por sentença.

Art. 881. A extinção só produz efeito quando

declarada por sentença ou por certidão do

tabelião de protestos.

CAPÍTULO III

DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

CAPÍTULO III

DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Art. 969. Cabe agravo de instrumento contra

as decisões interlocutórias que versarem

sobre:

Parágrafo único. Também caberá agravo de

instrumento contra decisões interlocutórias

proferidas na fase de liquidação de sentença,

cumprimento de sentença, no processo de

execução e no processo de inventário.

Art. 969. Cabe agravo de instrumento contra

as decisões interlocutórias que versarem

sobre:

Parágrafo único. § 1o Também caberá agravo

de instrumento contra decisões interlocutórias

proferidas na fase de liquidação de sentença,

cumprimento de sentença, no processo de

execução e no processo de inventário.

§ 2o As decisões proferidas pelo juiz em

incidentes da execução processada no

tabelionato de protesto de títulos serão

irrecorríveis, observado o disposto no art.

876-B.

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258

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

O estudo do direito estrangeiro foi fundamental para a proposta que aqui se apresenta.

O contato mais próximo com a reforma que levou à desjudicialização da execução portuguesa

foi decisivo para o início deste trabalho. A grande surpresa da autora foi tomar conhecimento

de que havia um movimento em prol da realização da execução fora do Poder Judiciário,

inclusive como maneira de equiparação dos sistemas jurídicos, especialmente dentro da

Comunidade Europeia.

O Conselho da Europa publicou a Recomendação nº 17 em 9.9.2003, orientando que

os Estados Membros promovessem a eficácia da execução conforme os “princípios

orientadores” apontados naquele documento. Tais princípios têm como referência a execução

realizada por intermédio do "agente de execução", assim conceituado: “pessoa autorizada pelo

Estado para realizar o processo de execução, independentemente do fato dessa pessoa ser

empregada ou não pelo Estado”.

Vários são os países europeus que adotam o sistema desjudicializado de execução, em

diferentes níveis e formas: por intermédio de agentes públicos ou privados; com maior ou

menor autonomia; com ou sem necessidade de autorização prévia do juiz; tradicionalmente ou

mais recentemente, em atenção ao regulamento da Comunidade Europeia, entre outros.

Demonstrou-se que, tradicionalmente, em diferentes sistemas jurídicos europeus o

agente de execução – independente do status público ou privado – é tido como o principal

ente jurídico da execução. Na Itália, na Alemanha e na França, após provocação por parte do

credor, a execução principia-se com atos do ufficiale giudiziario, gerichtsvollzieher e huissier,

respectivamente, apenas intervindo o juiz depois de consumada a agressão ao patrimônio do

executado (Itália) ou na ocorrência de algum incidente (Alemanha e França).

Na Suécia a atividade executiva é realizada pela administração pública. O Estado –

Poder Executivo – é responsável pela execução de todos os créditos naquele país, públicos e

privados. O Serviço de Execução de Dívidas é o órgão competente e o kronofogde é o agente

de execução – funcionário público da administração pública.

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259

A Espanha passou por recentes reformas. A ideia inicial era a total desjudicialização –

no que diz respeito à execução –, mas o legislador encontrou óbice na Constituição448

daquele

país, pois há expressa previsão de que cabe ao Tribunal “julgar e executar as sentenças”.

Assim, optou-se por uma desjudicialização parcial. A Lei nº 13/2009 e a Lei Orgânica nº

1/2009 atribuíram ao secretário judicial a tutela executiva, exceto no que diz respeito às

competências reservadas ao juiz – em suma, despachar a petição inicial, verificando os seus

requisitos de admissibilidade. No mais, todas as decisões acerca das medidas executivas

específicas para levar a cabo a ordem geral de execução, que deve ser dada pelo juiz, foram

transferidas ao secretário judicial.449

Na Inglaterra, havia vários métodos e figuras responsáveis pela execução. O credor

tinha certa flexibilidade para escolher o que mais lhe convinha, prática e financeiramente, já

que os custos eram diferentes para cada qual. No entanto, recente norma (Tribunals, Courts,

Enforcement Act 2007) reformulou esse sistema difuso e regulamentou, mais especificamente

nas seções 62 a 70, os poderes dos bailiffs privados (certificados ou não) na recuperação de

crédito por meio de penhora e venda de bens do devedor. Desde então, a intervenção do juiz

somente ocorre em situações excepcionais, a posteriori do início do procedimento conduzido

pelo agente de execução.

Além desses países, é possível citar outros: i) Bélgica, Holanda e Luxemburgo adotam

o modelo francês: agentes privados com autonomia e poder de decisão e sistema

absolutamente sedimentado; ii) Hungria, Polônia e Finlândia preferem o modelo alemão:

funcionários públicos com autonomia e sistema consolidado; iii) Eslováquia e República

Checa observam um sistema parcialmente desjudicializado, uma vez que o agente de

execução tem autonomia para os atos executivos, mas depende de autorização prévia do juiz;

iv) Romênia, Lituânia e Letônia passaram por recentes reformas no que concerne à

desjudicialização da execução.

448

Não é o caso da nossa Constituição Federal. No entendimento da autora, para o cumprimento da ordem

constitucional basta que as portas do órgão judicial permaneçam abertas.

449 As reformas são muito recentes. Há de se considerar que a estrutura tradicional para a execução de um título

executivo na Espanha não foi modificada. O credor deve distribuir um requerimento executivo perante o Poder

Judiciário. Uma vez provocado, ao despachar a petição inicial, o juiz deve verificar a adequação do título e

expedir uma ordem judicial para que o secretário judicial cumpra-a. Deve-se observar, ademais, se ao secretário

judicial será garantida a autonomia para a realização de suas novas competências.

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260

O país adotado como paradigma para este estudo, Portugal, transferiu a função

executiva ao agente de execução por meio dos Decretos-Leis nºs 38/2003 e 226/2008. Em

razão das reformas, o juiz de execução exerce funções de i) tutela, intervindo em caso de

litígio surgido na pendência da execução (oposição), e de ii) controle, dirimindo dúvidas e

proferindo alguns despachos liminares. No entanto, o juiz português não tem mais ao seu

encargo a promoção das diligências executivas, não lhe cabendo ordenar a penhora, a venda, o

pagamento ou extinguir a instância executiva. A prática desses atos, eminentemente

executivos, foi atribuída ao agente de execução.

Portugal deslocou a um profissional liberal o desempenho de um conjunto de tarefas

antes exercidas pelo tribunal, garantindo o acesso ao Judiciário diante de eventuais atos ou

omissões praticados pelo agente de execução ou de qualquer outra questão de direito.

Nesses termos, a primeira proposição do estudo dos vários sistemas executivos

europeus não pode ser outra que não no sentido de que a desjudicialização da execução é uma

tendência na Europa.

Considerando que o Estado brasileiro não vem cumprindo com o seu dever de prestar

a tutela jurisdicional de forma satisfatória, especialmente a executiva – conforme o relatório

Justiça em Números apresentado pelo CNJ, a taxa de congestionamento média na execução

foi de 84% em 2010, ou seja, apenas 16% das execuções alcançaram seu objetivo, qual seja, a

satisfação da obrigação –, deve-se pensar em soluções para tamanha inefetividade.

As instituições jurisdicionais são criações sociais e, nessa perspectiva, o homem

criador dessas instituições pode alterá-las, assumindo, em consequência, uma correlata

mudança de hábito. A jurisdição estatal tem a seu favor um hábito criado ao longo dos anos,

que já está incorporado, interiorizado em cada um dos jurisdicionados, estudiosos ou

aplicadores do direito. Todavia, não se deve deixar acomodar aos padrões arcaicos e

sedimentados, principalmente quando estes não se mostram vantajosos.

As normas – materiais e processuais – devem ser direcionadas para uma realidade

social concreta, em um momento histórico determinado, de forma a atender às necessidades

específicas daqueles que estão sob o seu comando. Em havendo alteração de tais

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261

necessidades, deve haver espaço e condição para inserções harmônicas e alterações

compatíveis da norma para com a nova realidade social. Nesse passo, faz-se necessária a

superação dos “mitos” criados pela ciência jurídica, a começar pelo conceito de jurisdição.

A jurisdição deve ser vista como a declaração e a realização do direito, realizada por

terceiro imparcial e independente, devidamente investido para tanto – ainda que em alguns

casos pelo próprio particular. Nesta segunda proposição, não se propõe conceitos, apenas o

desapego à tradicional visão de que só o Poder Judiciário pode tutelar direitos, já que o Estado

não mais consegue corresponder com presteza às demandas judiciais que a sociedade

moderna gera.

A implicação lógica dessas duas premissas é que a tutela executiva pode ser realizada

fora do âmbito do Poder Judiciário. A concretização de tal conclusão dá-se na forma de

proposta de lege ferenda. Para tanto, a autora propõe a desjudicialização da execução com

base em um relevante estudo de direito estrangeiro, principalmente o português. Não se trata

de uma simples cópia das reformas implementadas naquele país, mas a recomendação de um

projeto nacionalizado, permitindo-se a realização da execução de forma privada e, ainda

assim, compatível com a Constituição Federal brasileira.

A delegação é o regime jurídico sugerido para a execução desjudicializada no país, nos

moldes do artigo 236 da Constituição Federal. O império pode ser delegado, por opção

legislativa, de modo a mantê-lo sob a esfera estatal. Os atos de constrição patrimonial não

podem ser realizados por qualquer particular, mas sim por entes delegados pelo próprio

Estado, que assim passam a exercer função pública de forma privada. No entanto,

diferentemente de outros casos – v.g. arbitragem –, o império não pode ser facultativo, mas

obrigatório, caso contrário ele não seria reconhecido como legítimo.

Propõe-se, assim, que no Brasil ao tabelião de protesto seja delegada a função pública

de execução de títulos por quantia certa, por meio de outorga a um profissional de direito

devidamente concursado, e que a sua remuneração seja realizada de acordo com os

emolumentos fixados por lei, preferencialmente cobrada do devedor ao final do procedimento

executivo. A fiscalização será realizada pelo Poder Judiciário – corregedorias estaduais.

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262

Por conseguinte, propõe-se a atribuição de parcela do poder de império do Estado a

outro e determinado órgão de sua estrutura, fazendo-se a translação da competência do agente

público dele hoje encarregado – o juiz – para um titular de outro órgão de sua estrutura – o

tabelião de protesto –, designado especificamente para essa atribuição e sujeito a todas as

responsabilidades dela decorrentes.450

A proposta da desjudicialização da execução civil tal qual se apresenta não afronta a

Constituição Federal, uma vez que o devedor que entender que a execução realizada por um

agente privado desenvolve-se de forma injusta ou ilegal poderá socorrer-se do Judiciário por

meio de embargos à execução, assegurando-se, assim, os princípios constitucionais do

contraditório, da ampla defesa e até mesmo do acesso à Justiça, ainda que sob um novo

prisma.

O procedimento para a desjudicialização da execução civil aqui defendida está

brevemente lançado no capítulo 7 e amplamente detalhado no capítulo 8, onde se oferece uma

proposta procedimental com base no Projeto de Lei nº 8.046/2010, em forma de quadro

comparativo de artigos.

450

A desjudicialização na forma proposta pode trazer fôlego para a prestação jurisdicional, tornando-a efetiva,

célere e justa, uma vez que o Estado não mais precisará despender esforços e recursos na prestação jurisdicional,

já que o exercício da atividade notarial, embora estatal, se dá em caráter privado. Os juízes poderão concentrar

suas energias nas ações cuja sua atuação é indispensável.

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263

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281

ANEXO I – CÂMARA DE COMÉRCIO BRASIL-CANADÁ (CAM/CCBC)

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282

ANEXO II - CÂMARA DE ARBITRAGEM SÃO PAULO (CIESP)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Ano

Qu

an

tid

ad

e d

e C

aso

s

Arbitragem

Mediação

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283

ANEXO III – CÂMARA DE COMÉRCIO AMERICANO

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284

ANEXO IV – COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL

Lei

11.

441/

07 -

Ato

s P

rati

cad

os n

o E

stad

o d

e S

ão P

aulo

Ato

/An

o S

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C

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Rec

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ão

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rios

S

obre

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OT

AL

DE

AT

OS

2007

4.

077

2.29

9 4.

080

94

10.7

55

145

21.4

50

2008

4.

265

2.91

1 4.

394

156

19.8

86

808

32.4

20

2009

4.

224

3.22

1 4.

459

188

22.4

83

1.20

3 35

.778

2010

2.

728

4.31

7 9.

317

241

27.2

80

1.46

5 45

.348

2011

(at

é ju

nh

o)

151

1.81

4 6.

721

127

17.9

18

1.02

6 27

.757

TO

TA

L

15.4

45

14.5

62

28.9

71

806

98.3

22

4.64

7 16

2.75

3

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285

TOTA

IS

10º

TODO

S

Pago

s 95

.450

.383

,32

89.9

52.2

07,7

2 10

9.44

1.73

5,98

12

6.07

6.41

2,94

98

.321

.736

,41

94.8

23.0

18,4

5 97

.766

.761

,26

97.4

45.4

58,0

5 10

0.16

2.36

1,71

10

5.50

2.03

7,69

1.

014.

942.

113,

53

Retir

ados

98

.109

.478

,03

91.7

17.3

17,4

2 99

.234

.974

,25

97.4

24.2

55,8

9 11

6.06

8.03

9,85

93

.060

.077

,55

96.8

84.8

65,5

6 10

8.55

7.96

2,87

11

0.81

2.90

1,58

10

5.07

4.93

3,36

1.

016.

944.

806,

36

Canc

elad

os

101.

823.

458,

59

59.5

96.5

79,5

4 73

.000

.280

,29

49.1

73.6

11,2

6 62

.060

.550

,06

74.4

69.9

76,3

4 69

.275

.456

,24

57.2

75.9

99,0

8 58

.222

.648

,96

74.7

77.5

41,0

0 67

9.67

6.10

1,36

Tota

l de

recu

pera

dos

295.

383.

319,

94

241.

266.

104,

68

281.

676.

990,

52

272.

674.

280,

09

276.

450.

326,

32

262.

353.

072,

34

263.

927.

083,

06

263.

279.

420,

00

269.

197.

912,

25

285.

354.

512,

05

2.71

1.56

3.02

1,25

Prot

ocol

izado

s 56

9.49

1.16

5,57

53

6.73

1.75

4,14

47

5.21

4.10

3,77

49

2.60

7.07

3,69

48

1.30

6.75

2,45

49

3.55

9.74

6,36

50

6.37

2.06

8,08

59

3.60

1.91

4,38

48

0.60

1.43

9,67

50

8.72

0.41

2,52

5.

138.

206.

430,

63

Irreg

ular

es

117.

484.

384,

18

152.

954.

030,

79

54.6

54.1

34,3

6 58

.528

.275

,02

48.5

56.1

36,5

2 10

3.23

9.81

2,75

10

5.06

8.88

3,43

17

9.12

2.51

2,27

75

.149

.274

,29

108.

360.

229,

02

1.00

3.11

7.67

2,63

Sald

o 45

2.00

6.78

1,39

38

3.77

7.72

3,35

42

0.55

9.96

9,41

43

4.07

8.79

8,67

43

2.75

0.61

5,93

39

0.31

9.93

3,61

40

1.30

3.18

4,65

41

4.47

9.40

2,11

40

5.45

2.16

5,38

40

0.36

0.18

3,50

4.

135.

088.

758,

00

Perc

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gem

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o 77

%

57%

65

%

63%

71

%

67%

66

%

64%

66

%

71%

66

%

ANEXO V – INSTITUTO DE ESTUDOS DE PROTESTO DE TÍTULOS DO BRASIL

SEÇÃO SÃO PAULO

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286

ANEXO VI - LEI Nº 11.331/2002 (ITEM 1)

ATE A 92,00 4,27 1,22 0,90 0,23 0,23 0,04 6,34 13,23

ACIMA DE B 92,00 a 184,00 8,37 2,38 1,76 0,44 0,44 0,08 6,34 19,81

ACIMA DE C 184,00 a 370,00 16,93 4,82 3,56 0,89 0,89 0,17 6,34 33,60

ACIMA DE D 370,00 a 553,00 25,30 7,19 5,33 1,33 1,33 0,25 6,34 47,07

ACIMA DE E 553,00 a 737,00 33,86 9,63 7,13 1,78 1,78 0,34 6,34 60,86

ACIMA DE F 737,00 a 921,00 42,42 12,06 8,93 2,23 2,23 0,42 6,34 74,63

ACIMA DE G 921,00 a 1.107,00 50,79 14,44 10,69 2,67 2,67 0,51 6,34 88,11

ACIMA DE H 1.107,00 a 1.291,00 59,35 16,88 12,49 3,12 3,12 0,59 6,34 101,89

ACIMA DE I 1.291,00 a 1.474,00 67,72 19,25 14,26 3,56 3,56 0,68 6,34 115,37

ACIMA DE J 1.474,00 a 1.660,00 76,28 21,69 16,06 4,01 4,01 0,76 6,34 129,15

ACIMA DE K 1.660,00 a 1.844,00 84,64 24,06 17,82 4,46 4,46 0,85 6,34 142,63

ACIMA DE L 1.844,00 a 2.214,00 101,57 28,87 21,39 5,35 5,35 1,02 6,34 169,89

ACIMA DE M 2.214,00 a 2.581,00 118,50 33,68 24,95 6,24 6,24 1,19 6,34 197,14

ACIMA DE N 2.581,00 a 2.951,00 135,44 38,49 28,51 7,13 7,13 1,35 6,34 224,39

ACIMA DE O 2.951,00 a 3.318,00 152,37 43,30 32,08 8,02 8,02 1,52 6,34 251,65

ACIMA DE P 3.318,00 a 3.688,00 169,47 48,17 35,68 8,92 8,92 1,69 6,34 279,19

ACIMA DE Q 3.688,00 a 4.240,00 194,75 55,35 41,00 10,25 10,25 1,95 6,34 319,89

ACIMA DE R 4.240,00 a 4.793,00 220,17 62,57 46,35 11,59 11,59 2,20 6,34 360,81

ACIMA DE S 4.793,00 a 5.346,00 245,59 69,80 51,71 12,93 12,93 2,46 6,34 401,76

ACIMA DE T 5.346,00 a 5.900,00 271,02 77,03 57,06 14,26 14,26 2,71 6,34 442,68

ACIMA DE U 5.900,00 a 6.453,00 296,44 84,25 62,41 15,60 15,60 2,96 6,34 483,60

ACIMA DE V 6.453,00 a 7.376,00 338,83 96,31 71,33 17,83 17,83 3,39 6,34 551,86

ACIMA DE W 7.376,00 a 7.928,00 364,16 103,50 76,67 19,17 19,17 3,64 6,34 592,65

ACIMA DE X 7.928,00 a 8.667,00 398,13 113,15 83,82 20,95 20,95 3,98 6,34 647,32

ACIMA DE Y 8.667,00 a 14.752,00 431,98 122,78 90,95 22,74 22,74 4,32 6,34 701,85

ACIMA DE Z 14.752,00 647,18 183,94 136,25 34,06 34,06 6,47 6,34 1048,30

AO TABELIONATOFAIXAS

AOESTADO

ACART.DAPREVIDÊNCIA

TOTALTARIFAPOSTAL

CUSTEIO DO REG.

CIVIL GRATUITO

TRIBUNAL

CONTRIB. SOLIDAR.STA. CASA

Page 288: Desjudicialização da Execução Civil Pereira... · 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC- SP Flávia Pereira Ribeiro Desjudicialização da Execução Civil Tese

287

ANEXO VII – LEI Nº 11.331/2002 (ITENS 2 E 3)

TABELA DE EMOLUMENTOS E CUSTAS PARA CANCELAMENTO DE PROTESTODOS TABELIONATOS DE PROTESTO DE SÃO PAULO-SP

EM VIGOR A PARTIR DE 06 DE JANEIRO DE 2012.TABELA REGIDA PELA LEI Nº 11.331/26.12.2002, PUBLICADA NO D.O.E. DE 27/12/2002, C.C. A LEI Nº 11.021/28.12.2001,

LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO A UFESP DE R$ 18,44 (EM VIGOR A PARTIR DE 01 DE JANEIRO DE 2012).ITÉM 2 : PELO PROTESTO LAVRADO O CANCELAMENTO DEFINITIVO DO REGISTRO OU DOS SEUS EFEITOS, INCLUSOS A APRESENTAÇÃO, DISTRIBUI ÇÃO,

PROTOCOLIZAÇÃO, MICROFILMAGEM OU GRAVAÇÃO ELETRÔNICA DA IMAGEM DOS DOCUMENTOS E O PROCESSAMENTO DE DADOS, INCLUSIVE DO PROTES TO, A

INTIMAÇÃO, DE TÍTULO, DOCUMENTO DE DÍVIDA OU INDICAÇÃO: SÃO DEVIDOS OS EMOLUMENTOS PREVISTOS NO ITEM 1, ACRESCIDOS DE 50% ALÉ M DAS DESPESAS DE REMESSA POSTAL, CONDUÇÃO E PUBLICAÇÃO DE EDITAL.

ATE 92,00 A 2,14 0,61 0,45 0,11 0,11 0,02 3,44

ACIMA DE 92,00 a 184,00 B 4,18 1,19 0,88 0,22 0,22 0,04 6,73

ACIMA DE 184,00 a 370,00 C 8,45 2,41 1,78 0,45 0,45 0,08 13,62

ACIMA DE 370,00 a 553,00 D 12,64 3,60 2,66 0,67 0,67 0,13 20,37

ACIMA DE 553,00 a 737,00 E 16,93 4,82 3,56 0,89 0,89 0,17 27,26

ACIMA DE 737,00 a 921,00 F 21,20 6,03 4,46 1,12 1,12 0,21 34,14

ACIMA DE 921,00 a 1.107,00 G 25,38 7,22 5,35 1,34 1,34 0,25 40,88

ACIMA DE 1.107,00 a 1.291,00 H 29,68 8,43 6,25 1,56 1,56 0,30 47,78

ACIMA DE 1.291,00 a 1.474,00 I 33,86 9,62 7,13 1,78 1,78 0,34 54,51

ACIMA DE 1.474,00 a 1.660,00 J 38,13 10,84 8,03 2,01 2,01 0,38 61,40

ACIMA DE 1.660,00 a 1.844,00 K 42,32 12,03 8,91 2,23 2,23 0,42 68,14

ACIMA DE 1.844,00 a 2.214,00 L 50,79 14,44 10,69 2,67 2,67 0,51 81,77

ACIMA DE 2.214,00 a 2.581,00 M 59,25 16,84 12,47 3,12 3,12 0,59 95,39

ACIMA DE 2.581,00 a 2.951,00 N 67,72 19,25 14,26 3,56 3,56 0,68 109,03

ACIMA DE 2.951,00 a 3.318,00 O 76,18 21,65 16,04 4,01 4,01 0,76 122,65

ACIMA DE 3.318,00 a 3.688,00 P 84,74 24,08 17,84 4,46 4,46 0,85 136,43

ACIMA DE 3.688,00 a 4.240,00 Q 97,38 27,68 20,50 5,12 5,12 0,97 156,77

ACIMA DE 4.240,00 a 4.793,00 R 110,08 31,30 23,17 5,79 5,79 1,10 177,23

ACIMA DE 4.793,00 a 5.346,00 S 122,80 34,91 25,85 6,46 6,46 1,23 197,71

ACIMA DE 5.346,00 a 5.900,00 T 135,51 38,51 28,53 7,13 7,13 1,36 218,17

ACIMA DE 5.900,00 a 6.453,00 U 148,22 42,13 31,20 7,80 7,80 1,48 238,63

ACIMA DE 6.453,00 a 7.376,00 V 169,40 48,15 35,67 8,92 8,92 1,69 272,75

ACIMA DE 7.376,00 a 7.928,00 W 182,08 51,76 38,33 9,58 9,58 1,82 293,15

ACIMA DE 7.928,00 a 8.667,00 X 199,05 56,58 41,91 10,48 10,48 1,99 320,49

ACIMA DE 8.667,00 a 14.752,00 Y 215,99 61,39 45,47 11,37 11,37 2,16 347,75

ACIMA DE 14.752,00 Z 323,59 91,97 68,12 17,03 17,03 3,24 520,98 ,

5,53 1,57 1,16 0,29 0,29 0,06 8,90

1,59 0,46 0,34 0,08 0,08 0,02 2,57

5,53 1,57 1,16 0,29 0,29 0,06 8,90

1,00 0,29 0,21 0,05 0,05 0,01 1,61

0,89 0,25 0,19 0,05 0,05 0,01 1,44

8,37 2,38 1,76 0,44 0,44 0,08 13,47

0,35 0,10 0,07 0,02 0,02 0,00 0,56

0,35 0,10 0,07 0,02 0,02 0,00 0,56

0,54 0,16 0,12 0,03 0,03 0,01 0,89

AOTABELIONATO

FAIXASPRO

AOESTADO

ACART.DAPREVIDÊNCIA TOTAL

ITÉNS 3 PR

A) CERTIDÕES: DE APONTAMENTO, POSITIVA OU NEGATIVA DE PROTESTO, DE CANCELAMENTO OU DE SUSTAÇÃO DE SEUS

EFEITOS, NEG.HOMONIMO, INDIVIDUAL OU SOB FORMA DE

RELAÇÃO PARA ENTIDADE DE CLASSE, INDEPENDENTE DO

NUMERO DE PAGINAS A CADA PERÍODO DE 5 ANOS DE BUSCA;

A .1) POR PESSOA:

A .2) CERTIDÕES QDO EXPEDIDA P/ ATENDTO DE CONVÊNIO GOV.FEDER., ESTADUAL OU MUNICIPAL E A

ENTIDADE REPRESENTATIVA DOS TABELIÃES DE

PROTESTO, DESTINADA A PROGRAMAS HABITACIONAIS DE

INTERESSE SOCIAL, SOB FORME DE RELAÇÃO, POR NOME:

B) CERTIDÕES SOB FORMA DE RELAÇÃO PARA ENTIDADES DE CLASSE, DIARIA, DE PROTESTOS LAVRADOS OU DE

CANCELAMENTOS EFETUADOS;

B .1) PELA CERTIDÃO FORNECIDA A CADA REQUERENTE:

ITEM .4) XEROCÓPIA OU FOTOCÓPIA POR PÁGINA:

ITEM .5) CÓPIA DE DOCUMENTO MICROFILME MICROFILMADO OU ARQUIVADO ELETRONICAMENTE POR

PÁGINA:

ITEM .6) BUSCA EM ARQUIVO DE PROCURAÇÕES; POR NOME OU DOCUMENTO A CADA BUSCA:

ITEM .7) BUSCAS OUTRAS, POR TÍTULO, PESSOA, DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO OU PROTESTO, A CADA

PERÍODO DE 5 ANOS PESQUISADO:

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ITEM .8) INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR DE EXISTÊNCIA DE PROTESTO OU NÃO, SOBRE DADOS OU ELEMENTOS DO

REGISTRO, PRESTADO SOB QUALQUER FORMA OU MEIO,

QUANDO O INTERESSADO DISPENSAR A CERTIDÃO,

REFERENTE A CADA PERÍODO DE 5 ANOS POR PESSOA OU DOCUMENTO:

B .2) A CADA NOME E DOCUMENTO DO PROTESTO, DO CANCELAMENTO OU DA SUSTAÇÃO DE SEUS EFEITOS,

RELACIONADO, MAIS:

CONTRIB.SOLIDAR.STA.CASA

TRIBUNAL

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CONTRIB.SOLIDAR.STA.CASA

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CUSTEIO DO REG.CIVIL GRATUITO

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AOESTADO

AOTABELIONATO