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Informe-se em promoção da saúde , v.6, n.1.p.07-09, 2010. 7 A EDUCAÇÃO EM SAÚDE AOS IDOSOS ATENDIDOS PELO PSF Maria Luiza Chrispino 1 Marilda Andrade 2 A comunicação para a educação em saúde deve ficar absolutamente claro que assim como o indivíduo tem direito à informação o cidadão tem o dever de se informar. As ações de educação em saúde devem contribuir, decisivamente, para transformar o dever do estado (em relação ao disposto na Constituição) em estado de dever, que é função de todos, indivíduos, instituições, coletividades e governos (LEVY et al, 2006). Ensinar à pessoa indo até ele em sua linguagem e considerando seu modo de vida é imprescindível para obtermos bens resultados que refletem em sua qualidade de vida. A educação só atinge o seu significado mais autêntico, á proporção que deixa de ser meramente interativa, para ser criadora. Isto é, na medida em que seus objetivos não se detêm em integrar a pessoa em contexto cultural previamente dado, mas procura situar o educando na plenitude de seu papel de sujeito da cultura (SOUZA, WEGNER, GORINI, 2007). Assume-se que, para “aprender o que nós se sabe”, deve-se desaprender grande parte do aprendido no cotidiano da vida formas definidas como “certas” e “erradas” de viver são compreendidas como decorrência do domínio ou da ignorância de certo saber, e a educação, assentada no pressuposto da existência de sujeitos humanos potencialmente livre e autônomos, passa a ser concebida e exercitada como processo de instrução (passiva) para o exercício do poder sobre a própria saúde, ou seja, esse processo tem como objetivo central a mudança (imediata e unilateral) de comportamentos individuais a partir de decisões informadas sobre a saúde, em contexto onde se exercita formas de comunicação de caráter basicamente cognitivo/racional. O que se verifica nos processos comunicativos que colocam em movimento os programas e projetos de educação em saúde é a permanência da ideia de que a “falta de saúde” é problema possível de ser solucionado, individual ou coletivamente, desde que se disponha de informações técnico-científicas adequadas e/ou da vontade pessoal e política dos sujeitos expostos a determinados agravos à saúde (DAGMAR et al, 2006). Apesar da significância acerca da educação em saúde a qual foi exposta acima, por meio da literatura científica e da prática profissional, verifica-se a necessidade de estudos e reflexões que envolvam o cuidador leigo, principalmente no que se refere à educação em saúde deste, que, normalmente, sofre desgaste em sua saúde física, emocional e social, devido, principalmente, à carga advinda da tarefa de cuidar, o que pode transformá-lo em nova demanda para o serviço de saúde. Destaca-se que, além da assistência às pessoas doentes/hospitalizadas, o suporte aos cuidadores informais (leigos) representa novo desafio para o Sistema de Saúde brasileiro, justificando, também, a necessidade de estudos sobre essa temática. Há a relevância do cuidador leigo, em muitos casos, devido a permanecer em tempo integral junto ao ente cuidado, podendo fornecer, para a equipe de saúde, informações fundamentais sobre a situação do familiar (SOUZA, WEGNER, GORINI, 2007). Com exemplo pode-se citar que programas de educação em osteoporose, sem dúvida, aumentam o nível de conhecimento, atenção e cuidados com a saúde óssea, mostrando a necessidade de contínuo esforço em programas dessa natureza. A educação, portanto, é um dos meios para vencer os desafios impostos aos idosos pela idade e pela sociedade, propiciando-lhes o aprendizado. Foi o que mostraram os dados obtidos acerca do grande desconhecimento da população idosa entrevistada a respeito da osteoporose e dos cuidados que se deve ter para melhorar e controlar a progressão da perda da massa óssea. A pouca informação sobre a doença mostra a dificuldade na prática médica de se estabelecer melhor forma de controle e tratamento (CARVALHO et al, 2004). Os programas educacionais para os idosos vêm procurando atender a essas necessidades, trabalhando com diversos procedimentos pedagógicos, a fim de despertar a consciência crítica para a busca do “envelhecer melhor” (DAGMAR et al, 2006). Tendo consciência de que essa faixa etária possui é importante criar um clima psicológico que promova ambiente encorajador e positivo, oferecendo subsídios para que todos os participantes possam lutar por alimentação mais saudável e, também,

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Informe-se em promoção da saúde, v.6, n.1.p.07-09, 2010.

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A EDUCAÇÃO EM SAÚDE AOS IDOSOS ATENDIDOS PELO PSF

Maria Luiza Chrispino1 Marilda Andrade2

A comunicação para a educação em

saúde deve ficar absolutamente claro que assim como o indivíduo tem direito à informação o cidadão tem o dever de se informar. As ações de educação em saúde devem contribuir, decisivamente, para transformar o dever do estado (em relação ao disposto na Constituição) em estado de dever, que é função de todos, indivíduos, instituições, coletividades e governos (LEVY et al, 2006).

Ensinar à pessoa indo até ele em sua linguagem e considerando seu modo de vida é imprescindível para obtermos bens resultados que refletem em sua qualidade de vida. A educação só atinge o seu significado mais autêntico, á proporção que deixa de ser meramente interativa, para ser criadora. Isto é, na medida em que seus objetivos não se detêm em integrar a pessoa em contexto cultural previamente dado, mas procura situar o educando na plenitude de seu papel de sujeito da cultura (SOUZA, WEGNER, GORINI, 2007).

Assume-se que, para “aprender o que nós se sabe”, deve-se desaprender grande parte do aprendido no cotidiano da vida formas definidas como “certas” e “erradas” de viver são compreendidas como decorrência do domínio ou da ignorância de certo saber, e a educação, assentada no pressuposto da existência de sujeitos humanos potencialmente livre e autônomos, passa a ser concebida e exercitada como processo de instrução (passiva) para o exercício do poder sobre a própria saúde, ou seja, esse processo tem como objetivo central a mudança (imediata e unilateral) de comportamentos individuais a partir de decisões informadas sobre a saúde, em contexto onde se exercita formas de comunicação de caráter basicamente cognitivo/racional. O que se verifica nos processos comunicativos que colocam em movimento os programas e projetos de educação em saúde é a permanência da ideia de que a “falta de saúde” é problema possível de ser solucionado, individual ou coletivamente, desde que se disponha de informações técnico-científicas adequadas e/ou da vontade pessoal e política dos sujeitos expostos a determinados agravos à saúde (DAGMAR et al, 2006).

Apesar da significância acerca da educação em saúde a qual foi exposta acima, por meio da literatura científica e da prática

profissional, verifica-se a necessidade de estudos e reflexões que envolvam o cuidador leigo, principalmente no que se refere à educação em saúde deste, que, normalmente, sofre desgaste em sua saúde física, emocional e social, devido, principalmente, à carga advinda da tarefa de cuidar, o que pode transformá-lo em nova demanda para o serviço de saúde.

Destaca-se que, além da assistência às pessoas doentes/hospitalizadas, o suporte aos cuidadores informais (leigos) representa novo desafio para o Sistema de Saúde brasileiro, justificando, também, a necessidade de estudos sobre essa temática. Há a relevância do cuidador leigo, em muitos casos, devido a permanecer em tempo integral junto ao ente cuidado, podendo fornecer, para a equipe de saúde, informações fundamentais sobre a situação do familiar (SOUZA, WEGNER, GORINI, 2007).

Com exemplo pode-se citar que programas de educação em osteoporose, sem dúvida, aumentam o nível de conhecimento, atenção e cuidados com a saúde óssea, mostrando a necessidade de contínuo esforço em programas dessa natureza. A educação, portanto, é um dos meios para vencer os desafios impostos aos idosos pela idade e pela sociedade, propiciando-lhes o aprendizado.

Foi o que mostraram os dados obtidos acerca do grande desconhecimento da população idosa entrevistada a respeito da osteoporose e dos cuidados que se deve ter para melhorar e controlar a progressão da perda da massa óssea. A pouca informação sobre a doença mostra a dificuldade na prática médica de se estabelecer melhor forma de controle e tratamento (CARVALHO et al, 2004).

Os programas educacionais para os idosos vêm procurando atender a essas necessidades, trabalhando com diversos procedimentos pedagógicos, a fim de despertar a consciência crítica para a busca do “envelhecer melhor” (DAGMAR et al, 2006).

Tendo consciência de que essa faixa etária possui é importante criar um clima psicológico que promova ambiente encorajador e positivo, oferecendo subsídios para que todos os participantes possam lutar por alimentação mais saudável e, também,

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discutindo formas de obter condições de vida mais dignas (CALDAS, 1999).

Para realizar intervenções adequadas com as características sociais e culturais da população idosa, é preciso conhecer pouco mais sobre a maneira como os idosos brasileiros envelhecem, como atribuem significado dessa etapa à sua vida e como integram com a sua experiência. É preciso conhecer pouco mais a maneira como os idosos detectam sua doença e como procuram resolvê-lo (MARTINS et al., 2007).

Dois terços dos idosos revelaram em pesquisa alguns conhecimentos considerados desejáveis para manter boa saúde, embora apenas um terço dos idosos tenha avaliado sua saúde positivamente, proporção inferior à encontrada em outro estudo de base populacional realizado no Sul do Brasil, onde a avaliação positiva alcançou 48,2% dos entrevistados.

É fundamental trabalhar com os idosos em ambiente acolhedor e facilitador, devendo-se incentivá-los a desenvolver novas capacidades, procurando desenvolver neles o autocuidado, para que possam adquirir comportamentos que conduzam à saúde (GONÇALVES, STEVENSON, ALVAREZ, 1997).

Diante do exposto, apresentamos algumas ações do enfermeiro e equipe que podem ser úteis para tornar mais eficiente a educação em saúde para os idosos atendidos na estratégia saúde da família (ESF). São ações do enfermeiro e equipe: Realização de educações em grupo (por exemplo, reunir os idosos em Unidades Básicas de Saúde mais próximas de seu domicílio); A equipe deve deixar os idosos a tal ponto que os mesmo possam compartilhar saberes, informações, esclarecer dúvidas, fortalecer conhecimentos. Deve-se detectar

dificuldades e interesses dessa população dentro do processo educativo, além de perceber a necessidade efetiva de cada um desses clientes inseridos neste contexto; O idoso deve obter informações sobre os aspectos da sua doença para conseguir refletir sobre sua saúde. Possíveis mudanças para os idosos após as orientações: o idoso deve conseguir interpretar conceitos de modo mais fácil (como uso de símbolos, jogos, etc.) aprendendo de fato a cuidar de sua saúde; Havendo diminuição dos danos físicos e psicológicos causados pela falta de conhecimento em saúde. Tendo consciência de que essa faixa etária possui características que lhes são peculiares, há necessidade de abordagem mais humanística com habilidades e dinâmicas que motivem o trabalho educacional com eles. É importante criar um clima psicológico que promova ambiente encorajador e positivo, oferecendo subsídios para que todos os participantes possam lutar por hábitos de vida mais saudáveis e, também, discutindo formas de obter condições de vida mais dignas.

A educação, portanto, é um dos meios para vencer os desafios impostos aos idosos pela idade e pela sociedade, propiciando-lhes o aprendizado de novos conhecimentos e oportunidades para buscar seu bem-estar físico e emocional. Os programas educacionais para idosos vêm procurando atender a essas necessidades, trabalhando com diversos procedimentos pedagógicos, a fim de despertar a consciência crítica para a busca do “envelhecer melhor”. Ao conseguir usar a educação como instrumento transformador, o enfermeiro irá conseguir junto ao idoso, a aceitação de novos valores e novos hábitos saudáveis, que irão transformar sua maneira de ver a sua saúde.

REFERÊNCIAS

CALDAS, C. P. Envelhecimento com dependência: responsabilidade e demandas da família. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, n. 3, p. 773-781, 1999.

CARVALHO C. M. R. G et al. Educação para a saúde em osteoporose com idosos de um programa universitário: repercussões. Cadernos de Saúde Pública, v.20, n.3, p.719-726, mai-jun, 2004.

DAGMAR E. et al. Você aprende. A gente ensina? Interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva da vulnerabilidade. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.22, n.6, p.1335-1342, jun, 2006.

____________________ A educação em saúde aos idosos atendidos pelo PSF.

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GONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.; ALVAREZ, A.M. O cuidado e a Especificidade da enfermagem geriátrica e gerontológica. Texto e Contexto - Enfermagem UFSC. v.6, n. 2, mai/ago 1997.

LEVY, S. N. et al. Educação em saúde - histórico, conceitos e propostas. Brasília: MS, 2006.

MARTINS, J. J. et al. Educação em saúde como suporte para a qualidade de vida de grupos de terceira idade. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.9, n.2, p. 443-456, 2007.

SOUZA, L. M.; WEGNER W.; GORINI M. I. P. C. I. Educação em saúde: uma estratégia de cuidado ao cuidador leigo. Revista Latino Americana de Enfermagem, v.15, n.2, p.72, 2007.

REFERÊNCIA DESTE TEXTO CHRISPINO, M.L.; ANDRADE, M.; A educação em saúde aos idosos atendidos pelo PSF. Informe-se em promoção da saúde, v.6, n.2.p.07-09, 2010. Disponível em: <http://www.uff.br/promocaodasaude/informe>. Acessado em: ___/___/___. 1 Enfermeira. Especialista em Promoção da Saúde pelo Curso de Especialização em enfermagem e Promoção da Saúde com ênfase em PSF/ Uff. 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-cirúrgica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Uff. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde/ Uff.

____________________ A educação em saúde aos idosos atendidos pelo PSF.