11

Click here to load reader

A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

  • Upload
    vandieu

  • View
    215

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia da redenção

Alexandra Trintin Formada em Letras (ULBRA), pós em Gestão de Pessoas e Liderança Coach (UNILASALLE), seminarista (BRASA), mestranda do Curso de Letras (UNIRITTER). Uniritter [email protected]

Resumo: A eloquência e a simplicidade podem andar juntas. Conhecimentos complexos e informais são amigos íntimos. A experiência é a base para uma obra de arte. Tais reflexões remetem para o tema deste artigo: nas parábolas de Jesus, o simples é eloquente. A presença da experiência do narrador e a utilização de conhecimentos informais para o sucesso de um discurso religioso permeiam todo texto. Especialmente, para fins de constatação, escolheu-se como objeto de estudo a trilogia da redenção, que está na lista da fama dos discursos de Cristo. Para uma análise mais detalhada foi necessário uma passagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que levaram a essa escolha, pela constatação da relevância do estudo e por uma identificação de estratégias textuais que elucidam o tema deste artigo. Ao longo do texto, fica claro que a simplicidade narrativa de Jesus tornou-se tão eloquente a ponto de imortalizar os discursos citados. Uma inspiração para todo aspirante a orador e uma direção para construção de discursos que alcancem várias camadas e tipos sociais.

1 Introdução

Muitos oradores ganharam destaque ao longo dos tempos. Conhecidos e ovacionados pela eloquência e sagacidade de seus discursos, grandes nomes marcaram a história. O discurso como uma arte ganhou destaque nas academias e como tal precisava ser bem “tecido”, estruturado e convincente.

O rebuscamento deveria fazer parte da composição de um discurso, sem ele a fala ou a escrita não teria prestígio. No entanto, um dos maiores oradores da história arrastou multidões com uma simplicidade discursiva tão eloquente que ainda hoje suas palavras são lembradas em diversos lugares.

Muitas pessoas o chamam de filósofo, revolucionário e até mesmo salvador. A Bíblia, porém, nomeia-o como Jesus, o Cristo de Deus. O notável orador que o mundo conheceu provocou em povos, tribos e línguas o interesse de ouvir os discursos que ecoavam em terras de Nazaré e Jerusalém. Conhecido por um estilo discursivo inovador, ele atraiu multidões e marcou a história.

Através de seus discursos Jesus fundou uma das maiores religiões do mundo que é reconhecida mundialmente. Suas palavras foram atemporais, atingindo culturas e épocas tão diferentes quanto o conteúdo de suas mensagens. É indiscutível a influência do

Page 2: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Cristianismo na sociedade como um todo, ao longo dos séculos seus ideais foram reproduzidos através da arte, linguagem, política e lei.

Esse intrigante homem despertou em muitos pesquisadores a curiosidade de entender quais os motivos de sua publicidade. Afinal, falar bem e ter eloquência significavam o cultivo da retórica e de todo o rebuscamento disponível por ela. No entanto, a eloquência de Jesus chamava atenção por sua originalidade. Mas o que tornava suas pregações tão atrativas?

Dentro deste cenário, restritamente o do discurso religioso, a pergunta que fica é: o que levou Cristo a discursar tão eloquentemente? O que O destacava em termos de receptividade e aceitação em relação aos mestres da Lei da época? Por que seus discursos ainda encontram lugar na história? Perguntas como essas apontam para um norte, a simplicidade discursiva dEle. Assim, dentro desse contexto, o presente artigo traz como problema de pesquisa: Como essa eloquência, dita simples, causou e ainda causa tanto impacto naqueles que tomam conhecimento de seus discursos?

Cabe então, refletir sobre o gênero escolhido por Cristo em suas pregações, bem como os elementos tangíveis que davam corpo a ele. Especialmente, a metodologia escolhida durante as narrativas e o público ouvinte. Para análise de caso, escolheu-se como objeto de estudo a trilogia da redenção, composta pelas parábolas da Ovelha Perdida, Dracma Perdida e Filho Pródigo.

Para analisar a eloquente simplicidade do orador e a simetria observada nas parábolas, colocou-se em pauta teóricos como Walter Benjamim e Lev Vigostky, os quais descrevem a aplicação da experiência e do saber cotidiano como fator de sucesso na produção de: narrativas e na construção de conhecimentos científicos.

Assim, para alcançar tais objetivos este artigo apresenta uma breve definição sobre parábola e seus respectivos componentes, uma passagem pela teoria benjaminiana sobre a experiência na narração, como também pela abordagem vigostikyana sobre os saberes científicos construídos sobre conhecimentos cotidianos. Posteriormente, será observada a evidência de tais abordagens nas obras escolhidas, para fins de constatação da simplicidade eloquente dos discursos de Jesus. 2 Jesus: de religioso à literário Jesus sabia que seus discursos seriam formadores de opinião. Além disso, Ele desejava que causassem um impacto tão grande a ponto de transformar quem os ouvisse. Entretanto, mudança alguma ocorreria se não houvesse seu objeto transformador, a educação.

Educar não seria tão fácil, exigiria muito mais que transmitir conhecimentos. E de conteúdos seus seguidores já estavam saturados, haja vista a quantidade de mestres e doutores da Lei da época. Jesus sabia que aprendizagem seria um processo complexo que envolveria a pessoa como um todo e não apenas seu intelecto. Dessa forma durante seus discursos era preciso abranger diferentes níveis de aprendizagem: cognitivo, emocional, atitudinal e comportamental (MOSCOVICI, 2011).

Page 3: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Assim, Jesus escolhe sua forma de educar, através da contação de histórias. Mas em geral, narrar algo não é tarefa fácil. É preciso didática e mediação por meio de uma linguagem cinematográfica. Os povos na Antiguidade recorriam a uma cultura narrativa para persuadir, instruir e até mesmo corrigir, e neste caso, a linguagem literária possibilitaria a tão almejada mudança em seus ouvintes.

O fato de contar histórias está intrinsicamente ligado a um propósito, fazer-se entender. Jesus não queria ser obtuso, queria ser entendido. Assim, como estratégia discursiva optou por parábolas, que segundo Sant “Anna (2010) desempenham um papel importante para o ensino de verdades morais e religiosas, uma vez que são transmitidas de forma clara, simples e direta.

O papel literário das parábolas serve para produzir uma compreensão e uma percepção maior por parte dos ouvintes. O caráter metafórico viabilizado pela narração é muito eficaz quando se objetiva tornar-se claro. A parábola é considerada uma narrativa literária, pois constitui um gênero discursivo e apresenta elementos literários que podem facilmente ser identificados, conforme indicados por Bakhtin: estrutura composicional, temática e estilo (2011).

A parábola ganhou destaque no período clássico através da retórica. Esse tipo textual correspondia a uma modalidade de literatura que visa estabelecer relações ou apresentar semelhanças entre elementos. A presença da parábola na literatura grega, tanto na filosofia quanto na arte literária era uma constante. O próprio Aristóteles, em seu livro Arte Retórica, divulga-a como um tipo de exemplo e de prova em que o orador utiliza a fim de tornar o discurso mais claro (ARISTÓTELES, 2005). Na perspectiva aristotélica, o conceito de parábola remete ao desenvolvimento de um raciocínio ilustrativo, criado para argumentar e persuadir a respeito de um determinado ponto de vista (ARISTÓTELES, 2005). Etimologicamente, a parábola (do grego parabolé) é uma narrativa curta, criada com a finalidade de transmitir verdades morais. Sant “Anna (2010) esclarece que o termo indica uma comparação ou colocação lado a lado, uma vez que o termo parabolé é derivado do verbo paraballo (pará = lado a lado e ballo = trazer, colocar). A narrativa baseada nessa premissa apresenta um caráter proverbial.

Quanto ao tipo textual predominante na parábola, está a narração. Apresenta enredo, personagens, tempo, conflito e espaço. A relação de anterioridade e posteridade está sempre presente, já que os episódios são organizados numa disposição que leve à reflexão. No tocante às parábolas de Jesus, o aspecto discursivo aparece também, uma vez que as apresenta oralmente.

As parábolas messiânicas possuem diversas características literárias como amimetismo das personagens, do tempo e do espaço; clareza; objetividade e moral implícita. O estilo empregado por Jesus corresponde à utilização de determinados recursos linguísticos, fraseológicos, lexicais e gramaticais. Há uma tendência clara em todas as parábolas: a utilização de exemplos retirados do cotidiano dos ouvintes. Logo, a principal característica de suas narrações é a busca pela simetria entre discurso e ouvinte.

Page 4: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

O estilo discursivo empregado por Jesus era totalmente compatível com a realidade do público alvo. De acordo com Bakhtin (2011), o estilo é o resultado de diversas particularidades que são permeadas pelo caráter social, histórico e cultural da linguagem. Assim, o estilo discursivo do galileu não estaria limitado à análise linguística somente. Ele é o resultado de toda experiência vivida por Cristo e pelo conhecimento do público em questão. Além disso, pode-se encontrar nas parábolas de Jesus a sua marca. Toda experiência judaica e a vivência na Palestina antiga, permeada pelas culturas românicas serviram como pano de fundo para seus discursos. Segundo Walter Benjamim (1985a), a experiência é sinônima de sabedoria e autoridade, que pode ser eternizada através de sua transmissão. Quanto mais empírica for a narrativa, mais eficaz será. Seguindo a mesma perspectiva, pode-se conhecer melhor a época e o lugar onde Ele estava situado. Simplesmente, porque “as parábolas são os melhores textos que possuímos para compreender o verdadeiro discurso do Jesus histórico” (TRACY, 1992, p. 95). De acordo com Benjamin (1985b), quanto mais experiente o narrador mais brilhante é a história, visto que a narrativa tem a digital dele, como o vaso tem a do oleiro. Sobre isso ainda afirma que “O narrador retira da experiência o que ele conta; sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes” (1985b, p. 201). Desse modo, as histórias ouvidas por aquele público seriam perfeitamente internalizadas e praticadas, visto que sua experiência era valorizada.

As parábolas narradas por Jesus estavam a serviço de um discurso didático-religioso. Para isso, os ensinos deveriam ser breves e concisos, mas ao mesmo tempo marcantes. De forma pontual, eram caracterizados por sua extensão geralmente curtos, por isso também a opção por parábolas. Além disso, este tipo textual tinha a função de evocar uma resposta por parte de seus ouvintes. Conforme Free; Stuart, (2011, p. 183):

Em certo sentido, a própria parábola é a mensagem. Ela é contada para dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar e pensar acerca das suas próprias ações, ou levá-los a dar alguma resposta a Jesus e ao seu ministério.

O tipo textual escolhido por Cristo visava influenciar diretamente seu público receptor. Para atingir tal objetivo era necessário ajustar suas parábolas ao estilo esperado pelos ouvintes. Conteúdos irrelevantes à realidade deles não seriam aceitos, por isso ornamentou seus discursos não só com a cultura judaica, como também com o ambiente sociocultural da época.

É preciso entender a cultura do Oriente Médio na época de Jesus para interpretar suas parábolas. De acordo com Bailey (1985), elas foram construídas em meio à cultura do camponês oriental. Não se pode entendê-las partindo apenas de uma visão cultural ocidental. Ao ler uma parábola precisamos considerar a maneira como o povo judeu se portava e o perfil desse público. Entender o ouvinte original é primordial para a compreensão do que Cristo dizia afinal suas narrativas eram baseadas no cotidiano daquelas pessoas.

Segundo Free; Stuart (2011, p. 186), a tarefa de compreensão correspondia a uma combinação de três fatores:

Page 5: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Ler as parábolas várias vezes, identificar os pontos de referência pretendidos por Jesus, que teriam captado os ouvintes originais, e procurar determinar como os ouvintes originais teriam se identificado com a história, e, portanto, o que eles teriam ouvido.

Tais elementos são relevantes para a compreensão das parábolas, uma vez que a linha que tecia seus discursos era retirada do dia a dia de seus ouvintes. O texto precisa ser compreendido dentro de seu contexto. Essa praticidade motivou Jesus na escolha de seus argumentos e do gênero aplicado. O amimetismo é pontual nas parábolas de Jesus, pois as personagens, o tempo e o espaço não reproduzem uma realidade específica (SANT “ANNA, 2010). A impessoalidade é comum, personagens são apresentadas sem nomes próprios, sem o individualismo de uma pessoa. Em função dessa neutralidade, há uma maior identificação por parte do público. Elas são representadas por profissões como: lavradores, fazendeiros, juízes, reis, servos, pais, filhos entre outras categorias sociais. Dessa maneira, a abrangência é maior, o anonimato permite qualquer pessoa se enquadrar nas respectivas ilustrações. Geograficamente, o espaço é representado sem especificidades de localização na realidade extraliterária. O discurso é deslocado para qualquer região do planeta que se identifique com a lição proposta (SANT “ANNA, 2010). Dessa forma, passa a fazer parte do imaginário sendo transfigurado a partir do real. Em termos temporais, não há perspectivas cronológicas, não há correspondência histórica. É atemporal, e assim sendo é aplicável em todas as épocas. Jesus contou parábolas em diferentes situações. Às vezes a mesma lição era contada, porém de formas diferentes. O motivo disso? Estar compatível com o público ouvinte. Temas como: perdão, amor, perseverança, Reino dos Céus, fim dos tempos e arrependimento eram abordados por Ele. Uma diversidade de elementos era aproveitada também em suas narrativas, como: ambientes rurais, urbanos, domésticos, personalidades sejam elas conhecidas ou comuns da época. A exploração de tais recursos tornava cada vez mais simétricos os seus discursos, e, portanto, convincentes. Tais pontos de referência faziam com que seus ouvintes fossem jogados para dentro das narrativas, conforme Free; Stuart (2011, p. 185):

Os pontos de referência são apenas aquelas partes da história que trazem o ouvinte para dentro dela, partes com as quais ele deve identificar-se de alguma maneira à medida que a história prossegue.

O conhecimento que Jesus tinha sobre os pontos de referência de seus ouvintes fazia toda diferença. Baseado em sua própria experiência, transitava fluentemente entre o conhecimento cotidiano de seus ouvintes e as ideologias complexas que queria ensinar. A chave para a compreensão do público em questão estava no conjunto ilustrativo que usava: exemplos do dia a dia. Walter Benjamin (1985) dizia que a narrativa para ser agradável precisava ter uma dimensão utilitária, prática e que, para ser assimilada era necessária uma simplicidade da parte do orador. Conforme o autor (1985, p. 204):

Quanto maior a naturalidade com que o narrador renuncia às sutilezas psicológicas, mais facilmente a história se gravará na memória do ouvinte, mais completamente

Page 6: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

ela se assimilará à sua própria experiência e mais irresistivelmente ele cederá à inclinação de recontá-la um dia.

A armadilha do rebuscamento e da formalidade era comum na época de Jesus. Grandes doutores da lei cansavam seus ouvintes com discursos totalmente descontextualizados da realidade deles. Jesus justamente inovou nesse aspecto. Seus discursos eram simples, mas ao mesmo tempo muito eloquentes, uma vez que eram inspirados na plateia. Nada poderia gerar maior identificação. A naturalidade com que pregava levava seus ouvintes à assimilação de todas as verdades por Ele ensinadas, passando de geração em geração. Suas narrativas são recontadas até os dias atuais, sendo pronunciadas por doutores e leigos. Ninguém, em toda história, foi capaz de traduzir conceitos teológicos tão complexos como Cristo foi capaz de fazer. Outro estudioso que destaca o benefício do uso de exemplos cotidianos para a aprendizagem é Levi Vygotsk. De acordo com ele, há dois tipos de conceitos: o cotidiano e o científico (FRIEDRICH apud VIGOTSKY, 2012). Conceito cotidiano é compreendido como a aprendizagem que ocorre em momentos informais de ensino e, conceito científico é concebido quando se instrumentaliza aquilo que já se sabe. Assim, para se construir um saber é necessário alicerçá-lo sobre o conhecimento já existente. Tal processo já era utilizado por Cristo, uma vez que acrescentava uma nova ideia baseada em outra então conhecida. Vygotsk diz que o ensino de um conceito científico deve estar apoiado em um conceito cotidiano, isto é, parte-se de algo já conhecido pelo interlocutor e constrói-se um conhecimento mais elaborado. Friedrich ao analisar a teoria de pensador russo (2012, p. 101) salienta:

Vigotsky insiste no fato de que o conceito científico não anula de maneira alguma a etapa precedente à formação de conceitos, mas se apoia nela e a transforma. O que explica a possibilidade de ligações supra empíricas entre os conceitos.

Dessa forma, o novo é construído sobre o já existente. Exemplificando a autora utiliza a analogia do ensino da língua, para se ensinar a linguagem escrita é preciso partir da linguagem oral, fazendo uma decomposição e uma recomposição, a fim de aprendê-la. Dessa forma, a “linguagem oral deve ser usada como mediadora para a aprendizagem do escrito” (FRIEDRICH, 2012). Assim como o escrito não pode ser aprendido sem a referência do oral, conceitos complexos não podem ser aprendidos sem o auxílio de conceitos simples. Jesus baseava suas pregações justamente nesse princípio. Não ensinava uma verdade da Lei de Deus se esta não partisse de algo já conhecido, por isso o uso de parábolas. Quando se dirigia a agricultores, ilustrava seu discurso através de elementos correspondentes a está prática, como: lavrador, terra, semente, frutos. Quando se dirigia a pescadores, utilizava como exemplos a prática da pesca e seus componentes como: peixes, rede, mar, barco. No entanto, quando os leitores do século XXI leem as parábolas de Cristo, tem certa dificuldade em compreendê-las - em função do distanciamento cultural existente entre eles e o público original de Jesus. Tal público também encontraria dificuldades para entender qualquer mensagem “divina” caso Cristo usasse exemplos e argumentos pertencentes ao século vigente. Por isso, Ele usou exemplos concretos, partindo do conhecimento cotidiano

Page 7: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

de seus ouvintes. Para fins de compreensão, basta os atuais leitores identificar o público original e para o orador em questão bastava determinar os pontos de referência de sua plateia. É como se a matéria prima do narrador fosse a experiência de seus ouvintes, conforme Benjamim ( 1985b, p. 221) descreve:

Podemos ir mais longe e perguntar se a relação entre o narrador e sua matéria – a vida humana - não seria ela própria uma relação artesanal. Não seria sua tarefa trabalhar a matéria-prima da experiência – a sua e a dos outros – transformando-a num produto sólido, útil e único?

Jesus era o artesão que conseguia transformar essa matéria prima em arte. O sucesso de seus discursos estava justamente no uso dessas experiências, as quais eram retiradas do cotidiano de seus ouvintes. Diante do exposto até aqui, evidencia-se uma relação entre Jesus e seus interlocutores, uma vez que os discursos proferidos eram baseados em sua própria experiência e na de seus ouvintes. Não apenas isso, o conhecimento sobre o público direcionou as escolhas linguísticas do gênero como também o estilo das parábolas. A título de análise de caso, três parábolas foram escolhidas: Ovelha perdida, Dracma perdida e Filho pródigo. Justamente para fins de constatação da simetria entre público e orador e o sucesso de sua eloquência, uma vez que Jesus os proferiu diante de três públicos distintos: pecadores¹, fariseus² e publicanos³. O cenário que Jesus estava inserido é fundamental para se compreender o porquê de três parábolas com a mesma temática serem narradas num intervalo curto de tempo e numa sequência lógica. Para entendê-las é preciso identificar seu público, já que a provocação para esse discurso se dá em função da murmuração de alguns presentes que questionavam a convivência de Jesus com um determinado grupo de pessoas, as quais inspiraram a tão famosa trilogia da redenção. Jesus estava perante três grupos distintos de pessoas. O primeiro grupo era de fariseus e escribas, integrantes da liderança religiosa judaica. Conforme o próprio nome sugere eram “separatistas”, esse grupo surgiu quando alguns judeus retornaram do exílio para Judeia (NEEMIAS 1). A missão dos fariseus era reconstruir uma sociedade judaica baseada na observância da Lei. Eram rigorosos, legalistas e cultuavam as tradições. Nos tempos de Jesus esse grupo era muito numeroso, poderoso e influente. De forma geral, eram conhecidos pela cobiça, crueldade, justiça própria e hipocrisia. Junto a eles estavam os escribas, copistas dos textos sagrados e mestres da Lei. Eram profissionais na interpretação das Escrituras do Velho Testamento (MARCOS 7: 7-8). Os publicanos por sua vez não representavam nenhum partido político nem religioso. Eram considerados como traidores da pátria, visto que seus serviços prestados eram dirigidos ao Império Romano – força opressora da época. Esses funcionários eram odiados pelos judeus, principalmente pelos fariseus que os reputavam como pecadores, igualando-os as meretrizes (MATEUS 9: 10; MARCOS 2:15). Era comum Jesus comer com publicanos, além de se hospedar em suas casas. Tal atitude despertava a fúria dos fariseus,

Page 8: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

pois achavam que alguém que se dizia enviado por Deus não poderia se relacionar com “pecadores”. Os “pecadores” por sua vez eram pessoas simples que não guardavam as Leis. Entre este grupo estavam: prostitutas, pastores, ladrões, homicidas e todo aquele que não seguia as tradições. Os fariseus acreditavam que caso viessem a se relacionar com os “pecadores”, estariam se igualando a eles. Jesus ensinava que não, que apesar de não concordar com suas atitudes, poderia perfeitamente conviver com eles. Durante o discurso realizado por Jesus em que narrou a trilogia que aborda o amor de Deus pelo perdido, Ele se depara com esse público composto. De um lado publicanos e “pecadores” e de outro: fariseus e mestres da Lei. Obviamente, o discurso não seria o mesmo. Daí a necessidade de falar sobre o mesmo tema de forma distinta. A impessoalidade é marcante nessas três parábolas. Personagens, tempo e espaço não ganham nomes e nem são pontuados na realidade externa. Pelo contrário, são anunciados pelas profissões e grau de parentesco. O ambiente também é neutro: campo, ambiente doméstico e fazenda. Tal neutralidade proporciona uma atemporalidade e aceitação de suas narrativas. O clima tenso e separatista do momento levou Jesus a ensinar uma grande lição àqueles homens da Lei. Digno de nota é o fato de as três parábolas conterem o mesmo tema. Nelas, alguma coisa sempre é perdida. De cem ovelhas, uma se perde (LUCAS 15: 4), de dez dracmas, uma se perde (LUCAS 15: 8), de dois filhos, um está perdido (LUCAS 15: 24).

Durante as três narrativas, os donos sempre anseiam por seus pertences perdidos. Na parábola da ovelha perdida, o pastor, deixa noventa e nove no aprisco e viaja a procura de uma única perdida. Na parábola da dracma perdia, a mulher reserva outras nove moedas e procura diligentemente aquela que se perdeu. E, na parábola do filho pródigo, o pai aguarda ansiosamente pelo retorno do filho e quando chega, o pai corre ao seu encontro, abraça-o e beija. Outro elemento em comum é a alegria demonstrada em encontrar o que estava perdido. Nas três histórias, os donos se alegram e convidam vizinhos, parentes e amigos para festejar. Demonstrando a satisfação pelo reencontro. Uma ótima forma de ensinar o amor incondicional de Deus por aquele que se afasta, indicando a alegria que há no coração de Deus quando um “pecador” se arrepende. Ao contar a parábola da ovelha perdida, Jesus se dirige a um público de “pecadores” e entre eles estavam alguns pastores de ovelhas. Nada mais sensato que utilizar a experiência de vida desses homens para ilustrar uma teologia complexa. Como profissionais da área eles sabiam que apesar da ovelha optar por um caminho diferente e se desgarrar do resto do rebanho, eles procurá-la-iam incansavelmente.

Afinal, um pastor fazia isso: zelava para que todas fossem conduzidas em segurança até seu destino. Metaforicamente, o pastor representa Deus, as ovelhas o homem e o destino deles logicamente é o céu. Jesus era um observador, conhecia a prática de trabalho dessa classe de pessoas. Ele próprio se intitula como pastor de ovelhas, ilustrando seu cuidado para com os homens, conforme Evangelho de João (10:11,14 16):

Page 9: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas [...] Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim [...] Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz, então, haverá um rebanho e um pastor.

Simbolicamente, ao utilizar conceitos e procedimentos desse ofício, define perfeitamente o complexo amor de Deus pela humanidade e seu plano de salvação. Com uma linguagem simples e apropriada a seus ouvintes discursa deliberadamente sobre o amor incondicional do supremo pastor. Não obstante, Jesus ainda precisava se fazer entender por outro tipo social, os publicanos. Um grupo de pessoas mais urbanizado e materialista, acostumado com a agitação das cidades. Mas na plateia estavam também mulheres, um número grande delas, afinal Jesus desenvolve sua próxima narrativa em um ambiente doméstico e utiliza o dinheiro como objeto para ilustrar, já que isto era algo muito desejado pelos cobradores de impostos. A parábola da dracma segue a mesma linha: algo precioso que se perdeu. A mulher descrita nessa narrativa era uma camponesa pobre e as dez dracmas representavam dez dias de trabalho. A dracma era uma moeda grega de prata estimada no valor de um dia de trabalho (MATEUS 26:15). Assim, poderia indicar a poupança da família ou até mesmo seu sustento. O cenário dessa história é doméstico. Uma casa é apresentada e a prática de limpeza, já que usa o termo vassoura para exemplificar o esforço realizado pela mulher para encontrar seu objeto perdido. Ao mesmo tempo em que descreve um ambiente simétrico ao da realidade das mulheres que O ouvia, utiliza como recurso também o objeto de trabalho dos publicanos, o dinheiro. Assim, o contexto feminino está presente como também a ambição dos cobradores de impostos. Ao utilizar tais pontos de referência, desenrola sua narrativa tornando-a acessível ao público em questão. Desse modo, atingiu tanto ao público feminino quanto ao masculino. Utilizou peças importantes do cotidiano dessas pessoas. E, baseado em seus conhecimentos informais, construiu um conhecimento formal que era ensinar ao homem o plano de redenção. Ainda restava uma parcela de ouvintes que não seria fácil convencer, a dos mestres da Lei. Tanto os fariseus quanto os escribas não entendiam o amor incondicional de Deus e seu propósito de salvação em Cristo. Em outros capítulos do livro, Jesus reforça o que havia ensinado dizendo: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (LUCAS 19:10). Na compreensão desses mestres da Lei, a salvação era para aqueles que guardavam todas as orientações bíblicas do Velho Testamento. Aos “extraviados” cabia a perdição. Na parábola do filho pródigo, há vários elementos importantes. Como a figura de um pai indicando autoridade, já que os fariseus eram tradicionalistas. A figura de um filho mais velho, portanto mais responsável. E, a figura de um filho mais novo, indicando alguém com pouca experiência e impulsivo. O conflito da história se dá quando o filho mais novo pede sua parte na herança. O pai sem hesitar atende a vontade do filho, algo que indica que todo homem tem livre arbítrio.

Page 10: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Entretanto, no decorrer da narrativa o filho pródigo se dá conta de que junto ao pai ele teria mais conforto, segurança e alegria. O retorno é inevitável, mas a diferença está na forma como é recebido. Para aqueles mestres da Lei o perdão jamais aconteceria, visto que eram legalistas e rigorosos em seus julgamentos.

O pai descrito por Jesus tem uma atitude muito diferente daquela esperada pelos fariseus. Ele perdoa, aceita e restitui ao filho o que havia perdido, a saber: a presença do pai e toda provisão de recursos. Além de recebê-lo com uma festa. A entrega desses recursos indica que quando um homem se arrepende de seus maus caminhos, recebe de Deus a restituição de tudo. A festa para comemorar o retorno é outro recurso utilizado por Cristo para ensinar. Além de discutir sobre a redenção e confrontar a forma legalista e rigorosa com que os fariseus e escribas agiam, Jesus ainda precisava os “libertar” dessa forma de pensar. Para isso, destaca o ponto de vista do filho mais velho. Este filho era experiente e obediente. Não fazia nada de errado, ajudava o pai em relação à fazenda. Porém quando se deparou com a cena do perdão incondicional se sentiu frustrado e traído.

Cabia aos fariseus à tarefa de zelar pela religiosidade do povo de Israel, assim como o filho mais velho da parábola cabia cuidar da fazenda do pai. Jesus estava os elogiando em relação aquilo que já faziam de bom, que era guardar a Lei de Deus, porém estava também os confrontando em sua forma rigorosa de ser, ensinando-os que não deveriam usar essas obras para condenar os mais fracos.

As três parábolas trabalham em conjunto, indicam um mesmo tema, porém com abordagens diferenciadas assim como o público que estava presente. A destreza em contemplar a todos e sanar a demanda de classes tão diferentes é peculiar a Cristo. Especula-se que talvez o fato de exemplificar tão bem a teologia da salvação, é que a trilogia da redenção se tornou tão conhecida e recitada por diversos povos.

4 Conclusões

Jesus apresentava uma destreza singular ao discursar. Ele observava seus ouvintes, identificava seus pontos de referência e posterior construía suas narrativas sobre esse pano de fundo. Ninguém ficava sem entender o que era dito. Além de todos serem acometidos de uma significativa impressão. O impacto que seus discursos causavam nas pessoas era tão grande quanto à forma de Jesus discursar. Ele queria se fazer entender, tinha verdades teológicas complexas para ensinar, e para isso acontecer, era preciso se limitar a compreensão de seus ouvintes. Utilizar sua própria experiência e a de seu público para produzir argumentos e exemplos foi uma estratégia fantástica. A eloquência desse homem estava na simplicidade, na observação, na experiência e na motivação de atingir a todos sem exceção. Tamanha iniciativa O diferenciou dos demais mestres da época. O rebuscamento e as armadilhas argumentativas pareciam não existir. Percebe-se que a intenção não estava

Page 11: A eloquente simplicidade discursiva de Jesus na trilogia ... · PDF filepassagem pela definição do gênero escolhido – a parábola, por uma reflexão sobre os pontos que ... como

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq

Centro Universitário Ritter dos Reis

XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

em impressionar, mas sim em se fazer entender. Muitos oradores atuais caem nas armadilhas do pernosticismo, resultando em um público entediado e inexpressivo. Aos aspirantes da fala em público, está o exemplo de Jesus. Se for para impressionar, que seja pela originalidade, pela simetria, pela equidade e não pela ostentação de conceitos tão complexos que nem o próprio orador consegue organizar. O sucesso de seus discursos é inquestionável, afinal baseado neles uma das maiores religiões do mundo surgiu. O paradoxo presente nisso é instigante, afinal da simplicidade surgiu à grandeza. Através da trilogia apresentada por Jesus, a redenção se tornou compreensível a qualquer classe social, raça ou religião. Por intermédio dela, pode-se dizer que eloquência se vestiu de simplicidade e nunca o simples foi tão grandioso. Referências BAILEY, Kenneth E. A poesia e o camponês: uma análise literária-cultural das parábolas em Lucas. Trad. Adiel Almeida de Oliveira. São Paulo: Nova Vida, 1985. BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Trad. Paulo Bezerra. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. Ed. revista e atualizada no Brasil. 2 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. FREE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. Tradução Gordon Chown e Jonas Madureira. São Paulo: Vida Nova, 2011. FRIEDRICH. Janette. Lev Vigostki: mediação, aprendizagem e desenvolvimento: uma leitura filosófica e epistemológica. Tradução Anna Raquel Machado e Eliane Gouvêa Lousada. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2012. GERMANO, Altair. Uma Perspectiva Conceitual, Histórica, Bíblica e Prática: o Líder Cristão e o Hábito de Leitura. Rio de Janeiro: CPAD, 2011. SANT‟ANNA, Marco Antônio D. O gênero da parábola. São Paulo: UNESP, 2010. TRACY, David. Metáfora da religião: o caso dos textos cristãos. In.: SACKS, Sheldon. (org.) Da metáfora. São Paulo: Pontes, 1992.