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A era da indústria: a economia baiana

na segunda metade do século XX

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FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DA BAHIA – FIEB

PRESIDENTEJorge Lins Freire

1º VICE-PRESIDENTEVictor Fernando Ollero Ventin

VICE-PRESIDENTESBernardo Afonso Almeida Gradin

Emmanuel Silva Maluf

Marcos Galindo Pereira Lopes

Sérgio Pedreira de Oliveira Souza

DIRETORIA

Alberto Cánovas Ruiz

Almir Mendes de Carvalho Júnior

Antonio Hailton Miranda da Costa

Antonio Ricardo Alvarez Alban

Carlos Gilberto Cavalcante Farias

Élio Luiz Régis de Sousa

João Augusto Tararan

Josair Santos Bastos

Leovegildo Oliveira de Sousa

Luciano Mandelli

Luiz Antonio de Oliveira

Manuel Ventin Ventin

Reinaldo Dantas Sampaio

Wilson Galvão Andrade

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Copyright © 2008 by Federação das Indústrias do Estado da Bahia

Coordenação GeralAssessoria de Comunicação do Sistema FIEB

Coordenação editorialFred Burgos

Editoração eletrônicaBete Capinan

Foto do autorLeonardo Cavalcante

Revisão e normalizaçãoVera Rollemberg

330.8142C376e Cavalcante, Luiz Ricardo Mattos Teixeira. A era da indústria: a economia baiana na segunda

metade do século XX / Luiz Ricardo Mattos TeixeiraCavalcante. _ Salvador: FIEB, 2008.

204 p.Prêmio FIEB de Economia - 2007. ISBN: 978-85-86125-22-5

1. Economia - Bahia - Século XX. 2.Desenvolvimento econômico. 3. Industrialização -Bahia. I. Título. II. Prêmio FIEB de Economia - 2007.

Ficha Catalográfica - Biblioteca Sede/Sistema FIEB

Todos os diretos desta edição reservados àFederação das Indústrias do Estado da BahiaRua Edístio Pondé, 342 – STIEPCEP: 41.770-395Salvador – BahiaFone: (71) 3343-1280/3343-1267Fax: (71) 3343-1282home page: www.fieb.org.bre-mail: [email protected]

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Luiz Ricardo Cavalcante

A era da indústr ia:a economia baiana

na segunda metade do século XX

Salvador2008

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Para meu pai, Simone e Leo

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Agradecimentos

Este trabalho resulta da sistematização do conhecimento queadquiri sobre a economia baiana entre o início do meu curso demestrado, em meados da década de 1990, até a conclusão do meucurso de doutorado, cerca de dez anos depois. Ao longo desseperíodo, pude contar com o apoio de um número tão grande depessoas e instituições que seria praticamente impossível mencioná-las nestes agradecimentos. Gostaria de destacar, entretanto, cin-co instituições onde, durante esse intervalo, tive a oportunidadede aprender sobre a economia baiana e seu processo de industri-alização: Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB),Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), Secreta-ria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI),Universidade Federal da Bahia (UFBA) e University of Illinois atUrbana-Champaign (UIUC). Citar nominalmente todos aquelesque nessas instituições contribuíram para a elaboração deste tra-balho equivaleria, praticamente, a copiar suas listas de colabora-dores e considerar, inclusive, alguns que já não pertencem a seusquadros. É por isso que peço a meus amigos que entendam o meuagradecimento a essas cinco instituições como um agradecimen-to dirigido pessoalmente a cada um deles. Em particular, sougrato à Federação, que, ao instituir o Prêmio FIEB de Econo-mia, motivou a sistematização que apresento neste livro, e aseus colaboradores Ricardo Kawabe e Mauricio Pedrão, que meincentivaram a submeter o trabalho ao prêmio.

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Tendo em vista que uma parte representativa deste traba-lho resultou de minha tese de doutorado, quero agradecer, tam-bém, ao Prof. Reginaldo Souza Santos, que a orientou na UFBA,ao Prof. Werner Baer, que a co-orientou na UIUC, e ao Prof.Geoffrey Hewings, que me acolheu no Regional EconomicsApplications Laboratory (REAL) durante minha permanênciaem Illinois. Francisco Teixeira, Helder Ribeiro, Noélio Spinola,Rafael Lucchesi e Vladson Menezes tiveram a gentileza de dis-por de algumas horas para conversar comigo, em 2005, sobre oa evolução da economia baiana. Seguramente, essas entrevistascontribuíram muito para o formato final deste trabalho.

É recorrente a dificuldade que tenho para expressar compalavras o meu agradecimento a Simone Uderman em traba-lhos desta natureza. Ainda assim, mais uma vez, posso dizerque, não tivesse eu podido contar com sua perspicácia na análi-se dos manuscritos e, sobretudo, com seu carinho, nada dissoteria existido.

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We do not know what will come next, and what the thirdmillennium will be like, even though we can be certain thatthe Short Twentieth Century will have shaped it. However,there can be no serious doubt that in the late 1980s andearly 1990s an era in the world history ended and a newone began.

[Não sabemos o que virá a seguir, nem como será o terceiromilênio, embora possamos ter certeza de que ele terá sidomoldado pelo Breve Século XX. Contudo, não há como du-vidar seriamente de que em fins da década de 1980 e inícioda década de 1990 uma era se encerrou e uma outra novacomeçou.]

Eric HobsbawmEra dos extremos: o breve século XX, 1914-1991

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Sumário

Apresentação 15

Prefácio 19

Capítulo 1

Introdução 21

Capítulo 2

Fundamentos: desenvolvimento econômico regional 29

Capítulo 3

A industrialização liderada pelo Estado:

o período entre 1950 e 1980 69

Capítulo 4

Competição fiscal e bens finais:

a economia baiana na década de 1990 119

Capítulo 5

Conclusões 169

Referências 177

Apêndices 191

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Apresentação

Instituído em 2000, com o propósito de auxiliar na compreen-

são do processo de industrialização da Bahia, o Prêmio FIEB de

Economia Industrial chega à sua quarta edição com escopo am-

pliado. Agora denominado Prêmio FIEB de Economia, versão

2007, contempla trabalhos inéditos que não apenas contribuem

para uma melhor visão da economia baiana como também apon-

tam novas alternativas de desenvolvimento industrial.

Com o estudo A era da indústria: a economia baiana na

segunda metade do século XX, Luiz Ricardo Cavalcante foi ovencedor desta versão do Prêmio FIEB. Engenheiro químico comdoutorado em Administração pela Universidade Federal daBahia, o autor descreve como se deu a evolução da economia doestado a partir de uma avaliação crítica das mudanças estrutu-rais ocorridas. Uma das observações é que as políticas de desen-volvimento adotadas apoiaram-se no conceito de aglomerações.Segundo o estudo, na implantação da indústria automobilística,por exemplo, a capacidade do segmento de criar uma demandapor novos investimentos de fornecedores na Bahia motivou osesforços governamentais para atraí-la.

O autor procura demonstrar, também, que os governoslocais possuem margem de manobra relativamente pequena nadeterminação das trajetórias de desenvolvimento dos estados.

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Como exemplo, cita que a implantação da indústria petroquí-mica de commodities intermediárias na região de Camaçari de-correu do papel reservado à Bahia na economia brasileira.

Ainda assim, o fato de a Bahia procurar se integrar aosmercados nacionais certamente influiu para diferenciar sua tra-jetória no período entre 1950 e 1980 daquela buscada pelos de-mais estados nordestinos. De fato, os outros estados da regiãoincentivaram uma industrialização voltada para a produção debens finais e intensiva de mão-de-obra, em oposição à produ-ção de bens intermediários e intensiva de capital da Bahia. Essaespecialização regional levou ao aumento da participação do PIBbaiano no PIB nordestino, tornando a economia local resisten-te, em um primeiro momento, às baixas taxas de crescimentodo país na década de 1980.

A implantação da indústria automobilística na décadaseguinte condiz com a retórica marcada pela necessidade de di-versificar a matriz industrial e foi amparada na política de atra-ção de investimentos via incentivos fiscais, associada à provisãode infra-estrutura. Essa prática coincide com a crise de institui-ções federais de suporte ao desenvolvimento regional, especial-mente da Sudene.

A década de 1990 foi também marcada por certa descon-centração espacial da atividade econômica no Estado, com in-vestimentos nas regiões Oeste, Baixo-Médio São Francisco, Sule Extremo Sul, sem contar com a implantação pulverizada dosetor de calçados no interior. Sendo um processo induzido porincentivos fiscais, restam dúvidas quanto à permanência de al-gumas das empresas pouco articuladas com a base econômicano estado após o prazo de fruição desses benefícios.

Em resumo, diz o autor, se entre as décadas de 1950 e1980 a industrialização ocorreu mediante a interferência diretado governo no setor produtivo, enfatizando uma base voltadapara a produção de commodities intermediárias, a partir da dé-

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cada de 1990 as estratégias de desenvolvimento industrial privi-legiaram a produção de bens finais e a interiorização da ativida-de econômica, ainda que à base de uma política de incentivosque caracterizou a “guerra fiscal” entre os estados.

Como resultado, foram 50 anos de vigoroso processo dedesenvolvimento, que podem ser resumidos como “a era da in-dústria”.

Salvador, maio de 2008Jorge Lins Freire

Presidente

do Sistema Federação das Indústrias

do Estado da Bahia

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Prefácio

É um prazer escrever o prefácio desse importante estudo sobrea industrialização do estado da Bahia. Trata-se de um dos me-lhores estudos empíricos de uma economia regional, e espera-seque sirva de modelo para estudos similares não somente de ou-tros estados brasileiros, mas também de regiões subnacionaisnos países de maior extensão da América Latina.

Luiz Ricardo Cavalcante começa com uma revisão da evo-lução de diferentes abordagens de estudos regionais, partindode referências clássicas como Von Thünen e Weber, avançandopara as contribuições de Myrdal e Hirschman e finalmente dis-cutindo autores contemporâneos como Krugman. Isso é feitocom tal lucidez que não somente ajuda a prover uma funda-mentação teórica para a análise subseqüente da Bahia, mas ser-ve também como uma excelente revisão da história do pensa-mento nessa área.

Os capítulos empíricos seguintes abordam, com granderiqueza de informações estatísticas e institucionais, a evoluçãoda economia baiana e as políticas que a influenciaram. Caval-cante mostra claramente o impacto das políticas nacionais naeconomia baiana e as possibilidades e limites da influência dos

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formuladores de política locais. Entretanto, aponta, de maneiraconvincente, para as perspectivas abertas para esses agentes, oque explicaria o processo de diversificação da economia baianano período recente.

Este trabalho servirá como uma referência clássica paraqualquer um que se interesse em compreender a economia bai-ana, além de ser uma importante contribuição para o campo dodesenvolvimento econômico regional.

Werner BaerUniversity of Illinois

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Capítulo 1

Introdução

Ainda que uma parte representativa da literatura econômica nãoestabeleça uma distinção clara entre os processos de crescimentoe desenvolvimento econômico, o fato é que cada vez mais tem sereconhecido que a simples evolução da renda per capita (usual-mente associada ao crescimento econômico) não é capaz deexplicitar a complexidade das mudanças estruturais que caracte-rizam o processo de desenvolvimento econômico. A distinção entreos dois conceitos ficou mais evidente na medida em que se cons-tatava que os elevados níveis de renda per capita de muitos paísesprodutores de petróleo não se faziam acompanhar por níveis igual-mente elevados de desenvolvimento econômico e social. Foramconstatações dessa natureza que motivaram a disseminação, apartir da década de 1990, de indicadores como o Índice de Desen-volvimento Humano (IDH), que resulta da ponderação dos indi-cadores de renda per capita (ajustada para refletir a paridade dopoder de compra), longevidade (expressa pela esperança de vidaao nascer) e grau de maturidade educacional (representada pelataxa de alfabetização de adultos e pela taxa combinada de matrí-cula nos três níveis de ensino).1

1 Além disso, indicadores de distribuição de renda como o índice de Gini sãotambém cada vez mais importantes nas análises de desenvolvimento econômico.

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O desenvolvimento econômico é, portanto, um processocomplexo que envolve a interação entre um conjunto de variá-veis, não sendo possível associá-lo a uma variável específica, comotem tentado a produção teórica em crescimento econômico deviés neoclássico.2 Na verdade, o encadeamento de eventos quepodem contribuir para o desenvolvimento econômico tem assu-mido importância crescente. É eloqüente, por exemplo, o caso depaíses com níveis de educação relativamente elevados e que têmo seu desenvolvimento econômico obstruído pela falta de oportu-nidades de alocação do capital humano. A implicação imediatadesse tipo de constatação é que a formulação de políticas públicasde desenvolvimento pressupõe o conhecimento da trajetória eco-nômica e social e da própria história do país ou da região sobre aqual se pretende intervir. Com efeito, não há políticas públicas deaplicação universal, e somente a compreensão da trajetória segui-da pela região em estudo pode fornecer elementos para a formu-lação de formas adequadas de intervenção.

É com base nessa visão que o presente trabalho buscaresgatar os movimentos associados às mudanças estruturais ocor-ridas na economia baiana ao longo da segunda metade do sécu-lo XX, procurando enfatizar o processo de industrialização doestado. Essa proposição apóia-se no fato de que há uma carên-cia de produção acadêmica que sistematize a evolução da eco-nomia baiana e suas mudanças estruturais no período recente.Isso não quer dizer que não haja produção bibliográfica sobre otema. Porém, na maioria dos casos, ou o foco é específico sobre

2 Ver, por exemplo, Barro (1991), Levine e Renelt (1992), Mankiw, Romer eWeil (1992), Jones (2000) e Barro e Sala-i-Martin (2004). Diversos artigosdessa natureza enfatizam a associação entre o crescimento econômico e vari-áveis como capital humano (PRITCHETT, 2001), instituições (RODRIK;SUBRAMANIAN; TREBBI, 2002), abertura ao comércio internacional(ALESINA; SPOLADORE; WACZIARG, 2003) e intermediação financeira(LEVINE, 1997).

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um objeto determinado (análises setoriais, por exemplo)3 ou émuito abrangente, incluindo também aspectos sociais e históri-cos.4 As exceções são os trabalhos como os de Guerra e Gonzalez(1996; 2001), Teixeira e Guerra (2000) e Spinola (2003), noâmbito acadêmico,5 e a produção patrocinada pelo governo doestado com o propósito básico de subsidiar suas ações de plane-jamento.6 Contudo, esse conjunto relativamente vasto de pu-blicações sobre o tema parece ressentir-se da falta de uma abor-dagem analítica que se apóie em elementos conceituais capazesde fornecer uma visão geral das mudanças estruturais que ocor-reram na economia do estado ao longo da segunda metade doséculo XX.

Marcada, em meados do século passado, por uma econo-mia predominantemente agrário-exportadora e por um enigmaquanto aos fatores que a faziam crescer a taxas menores do queo conjunto da economia brasileira, a Bahia transformou-se, aolongo dos últimos cinqüenta anos, em um estado fortementeindustrializado. Há um razoável consenso entre os autores dostrabalhos mencionados no parágrafo anterior quanto ao fato deque, durante o período entre as décadas de 1950 e 1980, fixou-se na Bahia uma estrutura industrial concentrada na produçãode commodities intermediárias. Nesse sentido, é comum a afir-mação de que o estado adotou uma estratégia de industrializa-

3 Análises dessa natureza são extensivamente utilizadas nos Capítulos 3 e 4deste trabalho.

4 Ver, por exemplo, Tavares (2000).5 Merecem destaque, ainda, os Estudos de administração pública na Bahia: pro-

grama de desenvolvimento (BOAVENTURA; MUNIZ, 1965), desenvolvidossob o patrocínio da Ford Foundation, e que já trazem uma discussão sobre opapel dos incentivos fiscais e a das instituições de fomento no desenvolvi-mento econômico do estado.

6 Algumas dessas publicações, que parecem situar-se na interseção entre oambiente acadêmico e a burocracia do governo do estado, são discutidas aolongo deste trabalho.

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ção que se pretendia complementar à estrutura econômica ins-talada na região Sudeste, uma vez que a Bahia se colocava es-sencialmente como fornecedora de matérias-primas para a in-dústria de transformação predominantemente situada naquelaregião. Embora a opção assumida pelo estado tenha lhe garanti-do um desempenho superior àquele apresentado pelo conjuntoda região Nordeste ao longo do período considerado, a estraté-gia de desenvolvimento adotada, que resultou em uma econo-mia concentrada do ponto de vista setorial e espacial, começoua dar sinais de esgotamento tão logo se maturaram os investi-mentos do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC), emmeados da década de 1980. Na verdade, a Bahia parece ter so-frido mais intensamente os efeitos do colapso do modelo dedesenvolvimento autárquico e o conseqüente desmantelamentodas políticas de desenvolvimento regional que se observaramno Brasil ao longo daquela década. No contexto de aberturacomercial e desregulamentação econômica que caracterizou oinício da década de 1990 no Brasil, a estratégia de complemen-taridade com a economia da região Sudeste do país intensificouos sinais de esgotamento já evidenciados desde meados da déca-da de 1980.

A partir desse momento, começou a disseminar-se umdiscurso segundo o qual a Bahia precisaria adotar uma estraté-gia de desenvolvimento econômico que privilegiasse setoresvoltados para a produção de bens finais, buscando assim maio-res níveis de integração a jusante da indústria de bens interme-diários instalada no estado, e enfatizasse a desconcentração es-pacial da atividade econômica. Em face da crise das instituiçõesfederais de suporte ao desenvolvimento regional — especial-mente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste(SUDENE) —, os instrumentos empregados na prática para aimplantação das estratégias fixadas parecem ter estado, em gran-de medida, associados à concessão de benefícios de natureza

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fiscal pelos estados e, em menor escala, a incentivos financeirose provisão de infra-estrutura. Esse não parece ter sido um movi-mento exclusivo da Bahia, uma vez que se estabeleceu no Brasiluma competição entre os estados para a atração de investimen-tos ao longo da década de 1990. A implantação na Bahia daprimeira montadora de automóveis da região Nordeste é, semdúvida, o principal efeito das políticas agressivas de atração deinvestimento adotadas pelo estado ao longo do período.

Essa breve descrição da evolução da economia baiana aolongo da segunda metade do século XX, todavia, não deixa clarosos fatores que estiveram por trás desses movimentos. O aprofun-damento da discussão, especialmente quando apoiado em fun-damentos teóricos que tratam do desenvolvimento econômicoregional, pode esclarecer, por exemplo, os papéis efetivamentedesempenhados pelos governos federal e estadual no processo.Além disso, a compreensão da trajetória seguida pela economiado estado pode revelar seus potenciais e suas debilidades para seudesenvolvimento futuro. São questões dessa natureza que estetrabalho se propõe a responder ao longo dos próximos capítulos.

Do ponto de vista metodológico, a pesquisa apoiou-se nasistematização de informações qualitativas obtidas por meio deentrevistas estruturadas e na coleta de dados secundários. Paraas entrevistas, foram selecionados interlocutores diretamenteligados à formulação das estratégias de desenvolvimento do es-tado e à produção teórica sobre economia baiana, buscando ga-rantir que as visões do setor público, do setor privado e da uni-versidade fossem contempladas.7 A revisão bibliográfica buscouresgatar não somente a produção mais recente, mas também ostextos que trazem a perspectiva dos autores de cada época. Essemétodo contribuiu para que se pudesse acompanhar a evoluçãoda percepção dos autores sobre a economia do estado e reforça

7 Os interlocutores selecionados são citados nominalmente nos agradecimentos.

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o sentimento de que a história se faz não somente com umasucessão de eventos, mas, sobretudo, com uma sucessão de idéias.

O trabalho está estruturado em mais quatro capítulos alémdesta introdução. No Capítulo 2, alguns fundamentos teóricosbásicos do desenvolvimento econômico de espaços subnacio-nais são discutidos. Após a proposição de uma sistematizaçãopara a produção teórica em economia regional e em desenvolvi-mento regional, discutem-se as teorias clássicas da localização,os fatores de aglomeração e as teorias do desenvolvimento regio-nal e a produção recente em desenvolvimento regional. Em se-guida, apresenta-se uma breve discussão teórica sobre competi-ção fiscal, uma vez que, ao longo da década de 1990, diversoseventos ocorridos na economia baiana estiveram estreitamenteassociados a esse fenômeno. No terceiro capítulo, descrevem-seas bases da configuração atual da economia baiana a partir dosmovimentos observados entre as décadas de 1950 e 1980. Ocapítulo é estruturado, inicialmente, de acordo com a ordemcronológica dos principais eventos que marcaram a economiabaiana ao longo do período. Dessa forma, discute-se o chamado"enigma baiano", a implantação da indústria extrativa de petró-leo, a criação do Centro Industrial de Aratu (CIA) e a implan-tação do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC). Ain-da no terceiro capítulo descreve-se a estrutura institucional desuporte aos movimentos de industrialização que se observaramno período e discutem-se as implicações dos movimentos des-critos sobre a estrutura econômica do estado. Uma vez demons-trado que o modelo de industrialização que se adotou no esta-do, embora bem-sucedido na obtenção de taxas de crescimentosuperiores à média da região Nordeste, resultou em uma estru-tura econômica concentrada setorialmente na produção decommodities intermediárias e espacialmente na Região Metro-politana de Salvador (RMS), discutem-se, no Capítulo 4, aspropostas de políticas de atração de investimentos voltados para

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a produção de bens finais e a interiorização do desenvolvimentoeconômico no estado que marcaram a década de 1990. Em se-guida, no mesmo capítulo, resgatam-se os elementos conceituaissobre competição fiscal apresentados na parte teórica deste tra-balho com o objetivo de subsidiar a discussão do engajamentoda Bahia no processo de atração de investimentos, que, em gran-de medida, circunscreveu a execução de sua estratégia de diver-sificação e interiorização da atividade econômica. Ainda no quar-to capítulo discutem-se as implicações setoriais dos movimen-tos observados na década de 1990 e seus desdobramentos. Porfim, as principais conclusões do trabalho são apresentadas noCapítulo 5.

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Capítulo 2

Fundamentos:desenvolvimento econômico regional

O propósito deste capítulo é fornecer elementos teóricos quepermitam a compreensão dos movimentos que marcaram a eco-nomia baiana ao longo da segunda metade do século XX. Trata-se, na prática, de uma revisão teórica da interseção entre asdisciplinas economia regional e desenvolvimento econômico eque se pode chamar de “desenvolvimento regional”. Um examemais detido da produção teórica nessa área pode ajudar a en-tender o que determina as trajetórias de desenvolvimento deregiões subnacionais. É claro que, do ponto de vista metodoló-gico, o requisito básico para uma revisão teórica sobre desen-volvimento regional é a definição do que se entende por “re-gião”. Essa é uma questão complexa, uma vez que não há umadefinição universalmente aceita. São várias as definições exis-tentes, e dificilmente haverá um consenso a respeito, uma vezque economistas, geógrafos e cientistas políticos, por exemplo,tenderão a adotar padrões distintos de regionalização.8

8 A polêmica a respeito do conceito de região teria levado Higgins (1969 apudFERREIRA, 1989) a afirmar que “poucos esforços em toda a história dosempreendimentos científicos mostraram ser tão estéreis como a tentativa deencontrar uma definição universal aceitável de região. O fracasso reflete osimples fato de que nenhum conceito de região pode satisfazer, ao mesmotempo, a geógrafos, cientistas políticos, economistas, antropólogos etc.”.

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A dificuldade na delimitação do objeto de estudo da eco-nomia regional e a ausência de um tratamento sistematizadodas diversas abordagens possíveis sobre o tema representam,sem dúvida, um obstáculo às pesquisas que procuram estabele-cer relações entre o desenvolvimento de regiões subnacionais evariáveis específicas. É sobre essa constatação que se apóia opresente capítulo, cujo objetivo é propor uma sistematizaçãodas principais correntes de pensamento orientadas para o tema.O propósito dessa sistematização é mais ambicioso do que orelato das diversas visões sobre o tema. Na verdade, buscam-seelementos conceituais que possam justificar a opção pela análi-se da trajetória de desenvolvimento dos espaços subnacionais eapoiar a análise dos capítulos subseqüentes. Além disso, as ca-tegorias de análise apresentadas ao longo deste capítulo podemsubsidiar a análise da relação entre o desenvolvimento regionale as ações concretas de intervenção do poder público.

Na prática, em que pese a controvérsia sobre o conceitode região, optou-se por identificar e sistematizar, no presentetrabalho, a produção teórica voltada para a discussão de espaçosterritorialmente contíguos inseridos em espaços nacionais so-bre os quais há possibilidades concretas de intervenção e de le-vantamento de informações individualizadas. Essa opção tendea direcionar a abordagem para espaços que, embora dispondode reduzida margem de manobra em políticas de caráter tipica-mente nacional (como as políticas monetária, cambial e tarifária),contam com instrumentos concretos para implementação depolíticas de desenvolvimento regional cujos efeitos podem sermensurados de forma objetiva.9

9 A definição aqui proposta coaduna-se não apenas com o conceito operacionalde região proposto por Markusen (1987 apud Rolim, 1999, p. 2) como tambémcom a crítica apresentada por Cano (1985, p. 23) à aplicação direta dos pressu-postos da escola da Cepal “à problemática inter-regional de uma nação”.

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Ao longo das quatro primeiras seções deste capítulo, bus-ca-se, portanto, sistematizar a produção teórica em economiaregional e em desenvolvimento regional. Tendo em vista a com-petição por investimentos em que se envolveram diversas uni-dades da federação (sobretudo, mas não exclusivamente, ao longoda década de 1990), apresenta-se, ainda, uma breve discussãoteórica sobre competição fiscal na Seção 2.5. Essa questão é es-pecialmente importante para dar suporte à discussão posteriorsobre competição fiscal em que a Bahia esteve envolvida.

2.1 A sistematização proposta

Em que pesem as dificuldades metodológicas associadas à defi-nição do objeto, parece ser razoavelmente consensual que, aomenos até a década de 1970, duas grandes correntes de pensa-mento sobre o tema podiam ser identificadas:

· O conjunto de teorias clássicas da localização que evo-luiu de forma mais ou menos contínua da publicação deDer Isolierte Staat in Beziehung auf Landschaft undNationalökonomie10 (von THÜNEN, 1826) à publica-ção de Location and space economy (ISARD, 1956);

· O conjunto de teorias de desenvolvimento regional comênfase nos fatores de aglomeração de inspiração mar-shalliana e keynesiana que floresceram a partir da déca-da de 1950 e cujas principais referências que enfatizaramde alguma forma o desenvolvimento de espaços sub-nacionais são “Note sur la notion de pôle de croissance”(PERROUX, 1955), Economic theory and under-developed regions (MYRDAL, 1957) e The strategy ofeconomic development (HIRSCHMAN, 1958).

10 “O estado isolado em relação à economia regional e nacional” ou, simples-mente, O estado isolado.

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A partir da década de 1970, começaram a ser observadosesforços para a incorporação de modelos e abordagens que pu-dessem dar conta dos novos padrões de acumulação baseadosna automação integrada flexível e dos movimentos de aberturacomercial e desregulamentação econômica, configurando aqui-lo que aqui se convencionou chamar de produção recente emdesenvolvimento regional.11 A Figura 2.1 propõe um diagramaesquemático no qual se procura identificar a evolução das prin-cipais correntes de pensamento sobre o tema e a articulação desuas principais influências recebidas ao longo do tempo.

No diagrama apresentado, são identificados os três gran-des conjuntos de teorias e suas principais influências, indicadaspor setas. Alguns autores e correntes teóricas que não tinhamcomo foco central de sua análise a economia regional, mas queterminaram exercendo influências consideradas relevantes nosconjuntos de teorias indicados, foram incluídos e relacionadoscom as correntes teóricas através de setas contínuas (quando sejulgou que a influência era direta e explícita) ou tracejadas (quan-do se julgou que, embora perceptível, a influência era indiretaou apenas implícita). Além disso, procurou-se dispor a produ-ção teórica em ordem cronológica, tomando-se como base o anoda publicação do trabalho considerado de referência para o temaaqui em questão. Com base nessa segmentação, nas próximasseções discutem-se, respectivamente, as teorias clássicas da lo-calização (Seção 2.2), os fatores de aglomeração e as teorias dodesenvolvimento regional (Seção 2.3) e a produção recente emdesenvolvimento regional (Seção 2.4).

11 Não foram incluídas na presente revisão as correntes teóricas mais autôno-mas do ponto de vista macroeconômico, como a escola da regulação.

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2.2 Teorias clássicas da localização

O que aqui se define como “teorias clássicas da localização” éum conjunto de trabalhos que evoluiu de forma mais ou menosseqüenciada de von Thünen (1826) a Isard (1956). Esse con-junto de trabalhos é chamado de “teorias neoclássicas da locali-zação”, “ortodoxias teóricas” (CRUZ, 2000, p. 55), “geometriagermânica”12 ou simplesmente “eixo da teoria da localização”(ROLIM, 1999). Optou-se por intitulá-las genericamente de“teorias clássicas da localização” em função da visível influên-cia do conceito de “livre mercado” empregado em suas formula-ções, mas evitou-se qualificá-las de “teorias neoclássicas”, umavez que von Thünen, por exemplo, foi contemporâneo de DavidRicardo e, portanto, anterior à produção que se convencionouchamar de “neoclássica”.13

“Clássicos” ou “neoclássicos”, os autores incluídos nessaseção procuram enfatizar, de uma forma geral, as decisões do pontode vista da firma que, levando em conta o papel dos custos detransporte, procura determinar sua “localização ótima” ou a“alocação ótima” do território. Trata-se de uma abordagemapoiada em um paradigma funcionalista na qual as externalida-des decorrentes da aglomeração de atividades em uma região de-terminada são, de uma forma geral, desprezadas. Além disso, aoadmitirem estruturas de mercado pulverizadas, essas formulaçõesteóricas terminam não conseguindo lidar com o trade-off entreganhos de escala (que tenderiam a concentrar espacialmente asatividades de produção) e custos de transporte (que tenderiam a

12 A expressão, adotada por Krugman (1998, p. 38), refere-se ao grupo de au-tores aqui mencionados na “teoria clássica da localização”, exceto vonThünen. A tradição da “geometria germânica” mencionada pelo autor ini-cia-se, dessa forma, com Weber.

13 Spinola (2003, p. 29) assinala, porém, que os trabalhos de Lösch (1954[1940])e Isard (1956) não se apóiam na hipótese de concorrência perfeita, emborasejam mencionados, na literatura, como “clássicos”.

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dispersá-las). Na verdade, essas teorias poderiam ser incluídas naprodução teórica em economia regional (na medida em que bus-cam tratar a questão espacial na teoria econômica), mas não naprodução teórica em desenvolvimento regional, uma vez que nãohá uma preocupação com a evolução dos agregados regionais.

2.2.1 O estado isolado de von Thünen14

O primeiro tratamento formal dado à questão do espaço na lite-ratura econômica parece ter sido aquele de von Thünen (1826)em seu O estado isolado,15 que seria mais tarde reconhecido comoo primeiro tratamento sério dado à questão espacial na econo-mia. Pelo pioneirismo e elegância do seu modelo, von Thünentornou-se o “patrono dos geógrafos econômicos e dos economis-tas espaciais” (SILVA, 1976, p. 2), o “pai fundador da economiaespacial”16 e “referência quase obrigatória nos primeiros livros-texto de economia regional e urbana” (CRUZ, 2000, p. 55).

Trata-se de um modelo que, através de uma formulaçãomatemática elegante, procurou determinar o ponto de maximi-

14 Em uma publicação intitulada Economic theory in retrospect, Mark Blaug (apudKrugman, 1998, p. 37) assinala que Carl Wilhelm Friedrich Launhardt (1832-1918), embora tendo nascido após a publicação de O estado isolado, teria sidonão apenas o verdadeiro autor de boa parte daquilo que se atribui a vonThünen como também teria antecipado muito daquilo que mais tarde seriaapresentado por Alfred Weber. No presente trabalho, entretanto, optou-se,assim como o fez Krugman (1998, p. 37), por utilizar referências aos nomesatravés dos quais as teorias vieram a tornar-se conhecidas.

15 Trata-se, a rigor, do primeiro de três volumes da obra com o mesmo título,tendo sido os dois volumes seguintes publicados em 1850 e 1867, respectiva-mente (History of economic thought Website, 2001). A tradução em inglês,publicada em 1966, é intitulada von Thünen’s isolatad state. Não há registrode tradução em língua portuguesa da obra de von Thünen.

16 Founding god of spatial economics, em uma expressão atribuída a Samuelsonpor Bröcker (s.d.).

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zação da renda da terra em diferentes localizações, em condi-ções de mercado, levando em consideração os custos de trans-porte. O modelo procura mostrar que, fixadas as demais condi-ções (inclusive de produtividade), no entorno de uma cidadeonde estaria concentrado o mercado, a terra seria usada paraplantar o produto com maiores custos de transporte. Na medidaem que houvesse um afastamento da cidade, a terra seria usadapara produtos cujos custos de transporte fossem menores, re-sultando em círculos concêntricos em torno da cidade dedica-dos ao plantio de produtos com custos de transporte inversa-mente proporcionais a sua distância da cidade. Todavia, emboraformalmente elegante, o modelo de von Thünen apóia-se emum conjunto de premissas pouco aderentes ao mundo real, con-forme se pode ver a seguir:17

· custos de produção uniformes decorrentes da hipótesede homogeneidade das condições naturais e tecnológi-cas;

· fatores de produção (exclusive a terra) perfeitamentemóveis e divisíveis, o que significa assumir rendimen-tos constantes;

· comercialização dos produtos agrícolas limitados a ummercado consumidor puntiforme correspondente a umacidade localizada no centro de um estado isolado deforma circular;

· uniformidade da rede de transporte em todo o espaçogeográfico;

· custos de transporte proporcionais à distância do mer-cado central e constantes no tempo.

17 Ver, a esse respeito, Silva (1976, p. 2).

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2.2.2 A teoria da localização industrial de Weber

Em 1909, portanto mais de 80 anos após a publicação de Oestado isolado, o economista alemão Alfred Weber publicou seuÜber den Standort der Industrien,18 em que, usando uma for-mulação de caráter neoclássico, admite que a decisão quanto àlocalização de atividades industriais decorreria da ponderaçãode três fatores: o custo de transporte, o custo da mão-de-obra eum “fator local” decorrente das forças de aglomeração e desa-glomeração (FERREIRA, 1989, p. 78).

Com relação aos custos de transporte, Weber (1909) pos-tula que as indústrias tendem a se instalar onde os custos de trans-porte de matérias-primas e produtos finais sejam mínimos. Es-sencialmente, assumem-se como dados a localização dos merca-dos consumidores (considerados perfeitamente elásticos), dasfontes de matéria-prima (considerada infinitamente elástica a umpreço dado) e da mão-de-obra (considerada também infinitamenteelástica a uma taxa de salários dada) e os custos de transporteassociados tanto à matéria-prima como ao produto final, procu-rando determinar a localização “ótima” para a atividade.

Weber (1909) classifica as matérias-primas em dois tiposbásicos: ubiqüidades, isto é, disponíveis em qualquer parte e nãoexercendo nenhuma influência na localização de atividades eco-nômicas, e localizadas, isto é, aquelas disponíveis apenas em pon-tos determinados do espaço. As matérias-primas localizadas, porsua vez, podem ter o seu peso integralmente incorporado ao pro-duto final ou perder peso após o processo de transformação. Ha-vendo apenas um ponto no qual esteja disponível a matéria-pri-ma, a localização seria definida assim em função dos custos detransporte: sendo o custo de transporte da matéria-prima supe-rior ao custo de transporte do produto final, a atividade estaria

18 Sobre a localização de indústrias ou Teoria da localização de indústrias, publica-do em inglês com o título de Theory of the location of industries.

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localizada o mais próximo possível da fonte de matéria-prima;caso contrário, a atividade tenderia a localizar-se o mais próxi-mo possível do mercado. O problema assume contornos de geo-metria plana e mecânica vetorial quando se usam, por exemplo,duas matérias-primas M1 e M2, disponíveis apenas em dois pon-tos distintos do espaço, e um centro de consumo C localizadoem um terceiro ponto distinto das fontes de M1 e M2. Nessecaso, conhecidos todos os parâmetros necessários, demonstra-se que há um ponto P no espaço que corresponderia à localiza-ção “ótima” para a atividade.19

Ao assumir que a mão-de-obra não teria mobilidade es-pacial, Weber pondera que variações regionais no seu custo exer-cem também influência na decisão quanto à localização dasempresas. Mantendo o caráter neoclássico da formulação, Weberadmite que, se os menores custos de mão-de-obra compensa-rem os maiores custos de transporte, as indústrias tenderão alocalizar-se nas regiões onde aquele custo for inferior.

Além de sujeito às críticas tipicamente dirigidas às for-mulações de caráter neoclássico, o modelo de Weber foi severa-mente criticado por autores ligados à chamada “Nova Geogra-fia Econômica” por sua incapacidade de lidar com os ganhoscrescentes de escala (uma vez que a formulação apóia-se no pres-suposto de concorrência perfeita). Essa percepção levou Fugita,Krugman e Venables (2000, p. 26) a afirmar secamente, no ca-pítulo dedicado à discussão dos antecedentes da ciência regio-nal, que a produção teórica de Weber e seus seguidores “playsno role in our discussion”.20

19 A rigor, essa demonstração foi feita por Georg Pick no apêndice matemáticoda obra Weber, conforme assinala Ferreira (1989, p. 81).

20 “Não tem relevância em nossa discussão” (tradução livre). É preciso aquium certo cuidado, pois, na visão desses autores, Christaller e Lösch não seriamseguidores diretos de Weber, e a crítica feita não é, portanto, dirigida a essesdois autores.

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2.2.3 Os lugares centrais de Christaller

Em 1933, o geógrafo alemão Walter Christaller dá continuidadeà produção teórica da escola clássica da localização ao publicarDie zentralen Örte in Süddeutschland.21 Essencialmente,Christaller (1933) procura compreender “as leis que determi-nam o número, tamanhos e distribuição das cidades” (SILVA,1976, p. 9), entendidas como “lugares centrais” que distribuiriambens e serviços para a região no seu entorno. Ao analisar a dis-tribuição espacial das cidades no Sul da Alemanha, Christallerpôde constatar que elas eram aproximadamente eqüidistantesentre si. Isso o levou a definir, então, o conceito de limiar22 (ní-vel mínimo de demanda que asseguraria a produção de um de-terminado bem ou serviço), a partir do qual se passa a obterrendimentos crescentes. Ao definir o alcance de um bem ouserviço,23 isto é, “a maior distância que a população dispersa sedispõe a percorrer objetivando adquirir um bem ou utilizar umserviço” (SILVA, 1976, p. 9), Christaller pôde então estabele-cer uma espécie de hierarquia entre cidades, uma vez que quan-to maiores o limiar e o alcance de um bem ou serviço menorserá o número de cidades aptas a oferecê-los. Em resumo,Christaller admite que a produção de bens e serviços nas cida-des resultaria de “uma escala de produção que alcança um óti-mo representado por uma demanda dividida num espaço ho-mogêneo” (CRUZ, 2000, p. 55). Ao aplicar seu método,Christaller conclui que haveria uma tendência à formação dearranjos hexagonais para a distribuição das cidades em uma de-terminada região.

21 “Os lugares centrais no Sul da Alemanha”. Não há registro de tradução emportuguês desse livro, que, apenas em 1966, foi publicado em língua inglesacom o título Central places in Southern Germany.

22 “Threshold value”.23 “The range of a good”.

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Adotando uma metodologia similar àquela utilizada porChristaller, o economista alemão Auguste Lösch publicou, em1940, Die räumliche Ordnung der Wirtschaft,24 onde propõeuma hierarquia entre as áreas de mercado. De acordo comBöventer (1963 apud SILVA, 1976, p. 11),

[...] enquanto Christaller partia da cidade de nível hierár-quico máximo para logo passar aos bens com áreas de mer-cado menores, Lösch começa pelas áreas menores e induzsucessivamente áreas de mercado maiores. Assim sendo,no sistema de Lösch obtém-se um número maior de redes,cujos hexágonos giram com respeito à posição do hexágonode tamanho mínimo.

Embora a teoria dos lugares centrais venha servindo deinspiração para uma série de trabalhos recentes que procuramempregar modernas ferramentas de processamento de dados —como redes neurais, por exemplo — à compreensão do arranjoespacial das cidades, os pressupostos básicos empregados por vonThünen e Weber são igualmente utilizados tanto por Christallercomo por Lösch. Conforme destaca Cruz (2000, p. 56),

[...] a idéia descritiva predominante nessa teoria é a de queas cidades centrais constituem nódulos de uma grande redede cidades e uma “mão invisível” fará com que centros maisimportantes sejam hierarquicamente superiores.

Ao contestar um modo de análise que despreza a inter-venção do Estado — que estaria fora do âmbito da concorrênciade mercado —, o mesmo autor argumenta que a hierarquia es-pacial seria uma resultante e não uma causa (como colocado nateoria dos lugares centrais). Além disso, Fugita, Krugman eVenables (2000, p. 27) qualificam a teoria dos lugares centrais

24 “A ordem espacial da economia”.

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“na melhor das hipóteses uma descrição, mas não uma explica-ção, da estrutura espacial da economia”.25 De qualquer forma,não se deve perder de vista que

[...] a teoria dos lugares centrais foi bastante utilizada pelosgeógrafos e pelos organismos técnicos especializados como oInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em pro-jetos de regionalização (SPINOLA, 2003, p. 36).

2.2.4 A teoria da localização e economia espacial de Isard

É curioso notar que, até a publicação de Location and spaceeconomy, em 1956, pelo economista norte-americano WalterIsard, toda a produção no âmbito das teorias da localização ha-via sido publicada em alemão, e as traduções em inglês simples-mente não existiam. Krugman (1998, p. 41) assinala que essaseria uma barreira para sua incorporação ao mainstream da tra-dição anglo-saxônica, e Fugita, Krugman e Venables (2000, p.25) destacam que essa produção somente se tornou disponívelpara o “English-speaking world”26 através do trabalho seminalde Walter Isard (1956).

Ao propor uma espécie de síntese em língua inglesa dasteorias da escola clássica da localização, Isard, percebendo anecessidade de incorporação de novas disciplinas à análise, ter-mina propondo uma linha de pensamento que se convencionouchamar de regional science. Uma vez constituída, diversos au-tores dedicaram-se a tentativas de confrontar aquilo que pode-ria ter sido previsto através dessas teorias e a propor novos fato-res de localização, objetivando aumentar o seu grau de “ade-quação” à realidade. Esse é, por exemplo, o objetivo do trabalho

25 Tradução livre do original em inglês.26 “O mundo que fala inglês”.

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de Azzoni (1982), que busca evidências empíricas da teoria dalocalização e procura destacar que, embora o processo não sejatão “racional” quanto se poderia supor à luz dessas teorias, osfatores clássicos de localização não podem ser descartados nacompreensão nas decisões empresariais.

2.3 Fatores de aglomeraçãoe teorias de desenvolvimento regional

A partir da década de 1950, começam a ser desenvolvidas teoriasde desenvolvimento regional que passam a enfatizar algum tipode mecanismo dinâmico de auto-reforço resultante de externali-dades provenientes da aglomeração industrial. É difícil obter umregistro definitivo a respeito do primeiro autor que teria explicitadoa questão da aglomeração de atividades como um fator de locali-zação de novas atividades e, portanto, de crescimento. Em quepese essa dificuldade, a maioria dos autores tende a mencionar asidéias de Alfred Marshall (1890) como pioneiras nesses aspectos.A esse respeito, Krugman (1998) afirma que

A idéia que a aglomeração de produtores27 em uma locali-zação particular traz vantagens, e que estas vantagens, porsua vez, explicam tal aglomeração é antiga. Eu não sei quemprimeiro a formulou, mas o economista que mais a empre-gou foi ninguém mais do que Alfred Marshall (KRUGMAN,1998, p. 49-50).

Essencialmente, Marshall (1890) trata, além dos ganhosde escala internos à firma, a questão das externalidades, confor-me demonstra o trecho a seguir, extraído de seu Princípios deeconomia:

27 No original em inglês, clustering of producers. A citação foi livremente traduzidado original em inglês.

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Muitas das economias na utilização de mão-de-obra e ma-quinaria especializada não dependem do tamanho das fá-bricas individuais. Algumas dependem do mesmo gênerode fábricas na vizinhança; enquanto outras, especialmenterelacionadas com o adiantamento da ciência e o progressodas artes, dependem principalmente do volume global deprodução em todo o mundo civilizado. (MARSHALL, 1982[1890], p. 229).

Portanto, ao tratar a questão, Marshall (1890) levou emconsideração, conforme assinala Krugman (1998, p. 50), duasexternalidades pecuniárias e uma externalidade tecnológica lis-tadas abaixo:

· a possibilidade oferecida por um grande mercado localde viabilizar a existência de fornecedores de insumoscom eficiência de escala;

· as vantagens decorrentes de uma oferta abundante demão-de-obra; e

· a troca de informações que ocorre quando empresas domesmo setor aglomeram-se.

Sobretudo a partir da década de 1950, diversos autoresdedicaram-se a tentar compreender o fenômeno do crescimentoregional utilizando conceitos de alguma forma relacionados coma questão da aglomeração.28 Em que pese o relevante papel de-sempenhado pela aglomeração nos “pólos de crescimento” dePerroux (1955), na “causação circular e cumulativa” de Myrdal(1957) e nos “efeitos para frente e para trás” de Hirschman (1958),é curioso observar que esses autores não foram, ao menos do pontode vista formal, diretamente influenciados pelo trabalho de

28 Krugman (1998, p. 26), ao citar produções teóricas com abordagens similares jána década de vinte, assinala que os livros aqui mencionados de Myrdal (1957) eHirschman (1958) “mark the end, not the beginning, of high development theory”(“marcam o final, e não o início, da avançada teoria do desenvolvimento”).

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Marshall (1890), sendo muito mais presentes e facilmenteidentificáveis nessas obras as influências exercidas por Keynes epor Schumpeter, esse último, sobretudo, no caso de Perroux(1955). Isso explica porque na Figura 2.1 a ligação entre Marshalle os autores que trabalharam com o conceito de aglomeração nadécada de 1950 é indicada por meio de uma linha tracejada, en-quanto Keynes está ligado a esses autores por uma linha cheia.Os parágrafos seguintes apresentam, com maior grau de detalhe,as principais idéias desses autores a respeito do desenvolvimentoregional.

2.3.1 Os pólos de crescimento de Perroux

Embora os fatores de aglomeração de inspiração marshallianadesempenhem um importante papel na elaboração do conceitode pólo de crescimento proposto pelo economista francêsFrançois Perroux, é sem dúvida de natureza schumpeteriana suaprincipal influência nessa questão. Com efeito, a crítica dePerroux ao “fluxo circular da vida econômica enquanto condicio-nado por circunstâncias dadas”29 de inspiração walrasiana é vi-sivelmente influenciada pela crítica originalmente apresentadapor Schumpeter (1911).30 A formulação da crítica ao equilíbriogeral walrasiano teria levado Perroux (1977 [1955], p. 146) aafirmar que “nenhum crescimento observável de uma econo-mia exprime-se pelo modelo que se acaba de caracterizar”.

Partindo das proposições apresentadas por Schumpeter(1911) a respeito do papel desempenhado pelas inovações na di-

29 A expressão intitula o primeiro capítulo da Teoria do desenvolvimento econô-

mico de Schumpeter (1911).30 Perroux foi o responsável pela introdução à versão francesa da Teoria do de-

senvolvimento econômico, editada em 1935. É essa forte influência que justifi-ca uma linha contínua ligando Schumpeter aos autores ligados às teoriasdiscutidas nesta seção.

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nâmica capitalista,31 Perroux propõe-se a explorar as relações quese estabeleceriam entre indústrias que ele denominou motrizes— que têm a propriedade de aumentar as vendas e as compras deserviços de outras — e movidas — que têm suas vendas aumen-tadas em função das indústrias motrizes —, argumentando que ocrescimento não ocorre de forma homogênea no espaço, mas“manifesta-se em pontos ou pólos de crescimento, com intensi-dades variáveis, expande-se por diversos canais e com efeitos fi-nais variáveis sobre toda a economia” PERROUX (1977 [1955],p. 146). Dessa forma, Perroux argumenta que a indústria motriz,além de aportar sua contribuição própria ao crescimento globaldo produto, também induz em seu ambiente um crescimento quepode ser atribuído às relações que estabelece com as indústriasmovidas. Perroux (1977 [1955], p.154) procura demonstrar entãoque um pólo industrial complexo seria capaz de modificar seu“meio geográfico imediato” e mesmo “a estrutura inteira da eco-nomia nacional em que estiver situado”, uma vez que aí se regis-tram “efeitos de intensificação das atividades econômicas” devidosao surgimento e encadeamento de novas necessidades coletivas.

Quando se soma aos argumentos apresentados no pará-grafo anterior a constatação de Perroux (1977 [1955], p. 152) deque o aumento das vendas das indústrias motrizes (e, portanto,o estabelecimento dos pólos de crescimento) pode, inclusive,resultar de “um estímulo do Estado sob forma de subvenção,por exemplo, no caso de haver hesitação ou lentidão por partedas indústrias motrizes”, estão dadas as condições para a re-

31 Convém ressaltar que Perroux (1955) estende sua análise para além das propo-sições originais de Schumpeter (1911) ao considerar, ao lado dos empresáriosprivados (que seriam, sob seu ponto de vista, o foco da análise de Schumpeter),os “poderes públicos e suas iniciativas [...] bem como as pequenas inovações deadaptação” (PERROUX, 1977 [1955], p. 151). Sem a pretensão de discutir aquise esses aspectos estariam ou não contemplados na Teoria do desenvolvimento eco-

nômico, a observação é válida pela ênfase dada por Perroux ao papel do governoe das inovações incrementais no desenvolvimento econômico.

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constituição de uma grande parte das políticas de desenvolvi-mento local implementadas em países desenvolvidos e em de-senvolvimento a partir da década de 1950, contenham elas ounão referências diretas às idéias de Perroux. Conforme assinalaMiyoshi (1997), pelo menos 28 países chegaram a implementarou discutir seriamente estratégias de desenvolvimento regionalbaseadas nos pólos de crescimento de Perroux. Entre esses paí-ses, estão incluídos os Estados Unidos, a França, a Itália, a Rússia— então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas — e o Bra-sil. Richardson e Richardson (1975, p. 163) chegam a afirmarque, no início da década de 1970, “a confiança na análise depólos de desenvolvimento foi uma característica dominante doplanejamento regional operacional tanto nos países desenvolvi-dos como nos países em desenvolvimento”.

Em que pese o fato de terem subsidiado a formulação depolíticas de desenvolvimento regional em países desenvolvidos eem desenvolvimento até pelo menos o início da década de 1970,os pólos de crescimento de Perroux passaram a ser severamentecriticados já naquele momento. De um modo geral, as críticasbaseavam-se no fato de que as experiências de desenvolvimentoregional fundamentadas nesse conceito haviam, em sua maioria,falhado, pois as indústrias motrizes implantadas não teriam sidocapazes de difundir inovações tecnológicas para as indústriasmovidas, tendo sido gerada, em contrapartida, uma maior con-centração regional das atividades econômicas nos países que aadotaram. Cruz (2000, p. 57) afirma que vários estudos (sem,entretanto, citá-los) atestariam resultados decepcionantes da ado-ção de políticas de desenvolvimento industrial e regional basea-das nos pólos de crescimento. Com relação a críticas dessa natu-reza, o próprio Perroux (1988), em um trabalho publicado postu-mamente, chegou a defender-se ao levantar a seguinte questão:

Sabe-se de algum exemplo, em qualquer lugar da terra, de cres-cimento e desenvolvimento onde estes processos ocorreram

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sem a presença e os efeitos de centros de desenvolvimento,territorializados ou não? (PERROUX, 1988).

A questão, entretanto, transcende a simples discussão arespeito dos resultados empíricos da implementação de políti-cas regionais baseadas nos pólos de crescimento, uma vez que évirtualmente impossível isolar seus efeitos de outras variáveis, eque não parece haver uma unidade metodológica nos conceitosempregados.32 Uma explicação talvez mais simples e coerentedo declínio dos pólos de crescimento é aquela que leva em contao fato de que esses teriam sido concebidos em um ambienteonde a lógica de produção tinha uma base essencialmente for-dista. As transformações que começam a ser percebidas na dé-cada de 1970 implicariam, portanto, uma impossibilidade deaplicação direta de conceitos formulados para um outro contex-to. Conforme afirma Storper (1994),

Por volta do início dos anos 70 dissolveram-se, no essencial,as condições que haviam permitido a muitos dos estadosnacionais dos países em desenvolvimento se engajar no pla-nejamento econômico nacional, com sua variante regionalde pólos de crescimento (STORPER, 1994, p. 25).

2.3.2 A causação circular e cumulativa de Myrdal

Embora a natureza circular do problema do crescimento nos paí-ses menos desenvolvidos seja familiar aos economistas pelo me-nos desde a década de 1920,33 o conceito de “causação circular ecumulativa” é freqüentemente atribuído ao sueco Gunnar Myrdal

32 Miyoshi (1997) cita cinco diferentes conceitos usados na literatura para de-finir os pólos de crescimento, demonstrando a grande dificuldade de analisarapenas aqueles correspondentes às idéias originais de Perroux.

33 Krugman (1998, p. 26) assinala que as idéias de causação circular já teriamsido essencialmente tratadas por Young (1928).

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(1957). Adotando inclusive uma abordagem subnacional, Myrdal(1957) sustenta, com base em argumentos que vão de referênciasa Nurkse e a um trabalho desenvolvido pelo próprio Myrdal so-bre a questão racial nos Estados Unidos até referências ao fol-clore popular e à Bíblia, que haveria uma inter-relação causal ecircular nos fatores ligados à questão do desenvolvimento. Ahipótese da causação circular e cumulativa proposta por Myrdal(1960 [1957], p. 39) teria “validade em todo o campo das rela-ções sociais”.

Quando considera os efeitos do processo de causação cir-cular e cumulativa como explicativos não apenas da heteroge-neidade observada no desenvolvimento de países, mas tambémdas desigualdades regionais dentro de um país, Myrdal (1960[1957], p. 42) argumenta que “o jogo das forças de mercadoopera no sentido da desigualdade”, o que o coloca na contra-mão das teorias neoclássicas, de acordo com as quais haveriaum processo natural de convergência de renda inter-regionalnos países. É com base nessa constatação que Myrdal (1957)defende a intervenção do Estado para conter as forças de mer-cado, que, de outra forma, tenderiam a acentuar os níveis dedesigualdade regional.

Convém observar que Myrdal (1960 [1957], p. 35) fazreferência a fatores de natureza não-econômica, tais como a qua-lidade dos fatores de produção e a eficiência dos processos pro-dutivos como determinantes do desenvolvimento. Assim, quan-do Myrdal (1960 [1957], p. 43) se refere à qualificação da mão-de-obra (ou, em suas palavras, à “população obreira treinada nosvários ofícios”), à comunicação, à consciência de crescimento evizinhança e ao espírito empreendedor, termina lidando comfatores que somente muito mais tarde ganhariam destaque naprodução teórica em economia regional.

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2.3.3 Os efeitos para frente e para trás de Hirschman

Adotando uma linha de pensamento claramente identificada comas questões relativas à aglomeração, Hirschman (1961 [1958],p.18) argumenta que

[...] os recursos e circunstâncias cuja existência se demons-trava necessária ao desenvolvimento econômico não sãonem escassos nem tão difíceis de obter desde que o desen-volvimento econômico primeiro se manifeste.

Dessa forma, o desenvolvimento econômico seria dificultado “poruma série de círculos viciosos entrelaçados” (HIRSCHMAN, 1961[1958]). Assim, esse autor propõe que se procurem “pressões eprocessos de incentivo que farão eclodir e mobilizar o maiornúmero possível de recursos escassos, tais como capital e ativi-dade empreendedora” (HIRSCHMAN, 1961 [1958]), sendo esseo argumento básico para sua defesa dos planos de desenvolvi-mento.

Nessa mesma publicação, Hirschman (1961 [1958], p. 23)adota uma visão explicitamente intervencionista, ao argumen-tar que os países retardatários são forçados a um processo decrescimento menos espontâneo e mais refletido do que o ocorri-do nos países onde a expansão primeiramente se verificou. Nes-se ponto, Hirschman (1961 [1958], p. 24) critica a visão dospré-requisitos de Gerschenkron, segundo a qual, nos países atra-sados, em um dado momento, os benefícios de vencer o atrasotornam-se maiores do que os custos para vencê-lo. Atribuindouma maior importância às funções de planejamento, Hirschman(1961 [1958], p.24) afirma que essa visão levaria incorretamen-te à conclusão de que o desenvolvimento ocorreria de formamais ou menos espontânea nos países retardatários.

No contexto desse arcabouço teórico, Hirschman (1958)discute a questão regional usando os conceitos de efeitos parafrente (forward linkages) e para trás (backward linkages).

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Krugman (1998, p. 17) assinala que ambos os conceitos (especial-mente o de efeitos para trás) tratam da questão das economiasde escala necessárias à viabilização de empreendimentos em re-giões determinadas. Dessa maneira, os efeitos para trás são aforma encontrada por Hirschman (1958) para expressar as ex-ternalidades decorrentes da implantação de indústrias que, aoaumentarem a demanda de insumos no setor a montante, viabi-lizariam suas escalas mínimas de produção na região. Os efeitospara frente, por sua vez, resultariam da oferta de insumos quetornaria viáveis os setores que se posicionassem a jusante. Em-bora a mediação do mercado nesse processo esteja evidente, éimportante destacar que, ao longo de toda a Estratégia do de-senvolvimento econômico, Hirschman (1958) destaca tambémos aspectos não pecuniários desses efeitos. Isto fica evidente,por exemplo, quando Hirchman (1961 [1958], p. 27-34) procu-ra explicações de natureza “antropológica” para o desenvolvi-mento, ou quando, ao discutir Schumpeter e a questão do em-preendedor, afirma que a capacidade empreendedora envolve-ria, inclusive, a competência para construir acordos entre aspartes interessadas (HIRSCHMAN, 1961 [1958], p.36).

2.4 Produção recente em desenvolvimento regional

A sistematização da produção recente em desenvolvimento re-gional é dificultada pelo fato de se tratar de um material bastan-te novo e, em certo sentido, ainda em construção. Ainda assim,dois grandes blocos podem ser facilmente identificados: de umlado, os autores que empregam métodos menos formais e queprocuram, de alguma maneira, incorporar os fenômenos dereestruturação produtiva e aceleração da divisão internacional;de outro lado, os autores ligados à chamada “nova geografiaeconômica” que buscam abordar os conceitos de aglomeração ecustos de transportes através de modelos matemáticos. Com

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34 Ver a Figura 2.1 para a indicação das principais influências teóricas (diretase indiretas) sobre a produção teórica recente em desenvolvimento regional.

relação ao primeiro bloco, podem-se apontar as seguintes carac-terísticas gerais:34

· Uma grande ênfase dada às instituições em geral e àsexternalidades (inclusive tecnológicas), em particular,com referências explícitas ao trabalho de Marshall(1890). Nesse sentido, as abordagens recentes contra-põem-se às teorias de desenvolvimento regional comênfase nos fatores de aglomeração discutidas na Seção2.3, onde a influência de Marshall (1890), na maioriados casos, pode apenas ser inferida.

· Uma forte influência do pensamento de Schumpeter(1911; 1942) e da corrente evolucionista neo-schumpe-teriana, sobretudo nos esforços de compreensão dosimpactos dos processos de inovação tecnológica e apren-dizado no desenvolvimento regional.

· Uma ênfase nas relações não comerciais estabelecidasno âmbito das redes e aglomerações, levando em contaaspectos de organização industrial e custos de transação.

Entretanto, é fundamental destacar, antes mesmo de seapresentar uma discussão mais detalhada dos trabalhos dos prin-cipais autores ligados à produção teórica recente em desenvol-vimento regional, a dificuldade de se extrair desses trabalhosproposições de políticas públicas de intervenção voltadas para apromoção do desenvolvimento regional. De fato, ao proporemum tratamento que vai além da decisão puramente microeconô-mica, incorporando não apenas as externalidades de naturezapecuniária mas também os chamados “ativos relacionais”, tem-se a impressão de que os requisitos necessários para a promoçãodo desenvolvimento de determinadas regiões constituiriam umalista interminável, sendo praticamente impossível a uma única

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região reuni-los a um só tempo. Esse é, possivelmente, o princi-pal contraponto prático entre as teorias que se apóiam no con-ceito de aglomeração e as teorias mais recentes. Enquanto asprimeiras claramente preconizavam a criação de pólos de cresci-mento como forma de se iniciar um processo virtuoso de desen-volvimento de regiões específicas, as segundas limitam-se, namaioria dos casos, a descrições anedóticas de experiências bem-sucedidas que, ao relatarem realidades cuja reprodução em ou-tros espaços é praticamente impossível, pouco acrescentam àprática de planejamento econômico governamental. Na prática,essas abordagens ressentem-se ainda da falta de análises quepossam apontar de forma concreta os instrumentos que poderiamser utilizados pelo setor público para a promoção do desenvolvi-mento.

Selecionar os principais autores e correntes de pensamentode uma produção teórica que está sendo escrita praticamente aomesmo tempo em que se procura fazer esse esforço de sistema-tização só pode ser uma tarefa prospectiva. Apesar dessa restri-ção, alguns autores propuseram-se a realizar esse trabalho, ten-do chegado aos seguintes resultados:

· Storper (1997, p. 4) identifica três “escolas” principais:(i) a “institucionalista”, que trata dos distritos industriais,que retomam o conceito de distrito marshalliano e incor-poram evidências empíricas observadas sobretudo na re-gião da “terceira Itália”; (ii) a escola da organização in-dustrial e dos custos de transação, cujos principais autoressão aqueles ligados à “Escola Californiana das EconomiasExternas” (STORPER, 1997, p. 9); e (iii) a linha que pri-vilegia o papel da mudança técnica e do aprendizado, in-fluenciada pela corrente neo-schumpeteriana e que incluitambém as abordagens dos “ambientes inovadores”.

· Amaral Filho (1999, p. 8 et seq.) identifica três novasestratégias de desenvolvimento regional ou local: (i)

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distritos industriais; (ii) ambientes inovadores; e (iii)clusters, que são apresentados como uma espécie de“síntese” dos dois conceitos anteriores;

· Boisier ([199-]), propondo-se a identificar a linguagememergente em desenvolvimento territorial, discute tre-ze novos conceitos, entre os quais os de learning regions,aprendizagem coletiva, ambientes inovadores, desen-volvimento local, desenvolvimento endógeno (estes doisúltimos com um tratamento mais detalhado) e clusters.

Optou-se aqui por examinar, nos parágrafos seguintes, aprodução associada aos conceitos de “distritos industriais”, “am-bientes inovadores” e a produção ligada à “organização indus-trial e custos de transação”, por serem aqueles mais freqüente-mente empregados. Incluiu-se, ainda, uma breve discussão so-bre a produção que procura dar maior formalismo às questõesassociadas à aglomeração e aos custos de transporte. À parte aprodução teórica associada à “nova geografia econômica”, odenominador comum da produção recente em desenvolvimen-to regional, conforme se verá na descrição detalhada de cadaum dos escolhidos, parece ser a incorporação de aspectostecnológicos e institucionais em seus modelos conceituais.

2.4.1 Os distritos industriais

De todas as correntes teóricas incluídas na produção recenteem economia regional, a discussão sobre “distritos industriais”é aquela na qual a influência de Marshall é mais claramenteidentificável. Os distritos industriais podem ser definidos comosistemas produtivos locais caracterizados por um grande núme-ro de firmas que são envolvidas em vários estágios e em váriasvias na produção de um bem homogêneo, aproximando-se, as-sim, do conceito que ficou conhecido como distrito marshalliano(AMARAL FILHO, 1999, p. 10). Entre as várias características

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que se poderiam apontar na descrição dos distritos industriais— muitas delas sujeitas a controvérsias — é a existência de re-lações não pecuniárias entre empresas do mesmo setor aquelaque se destaca. Assim, a maior parte dos autores que se dedi-cam à questão procura nos aspectos históricos e sociais a expli-cação para as sinergias observadas entre as empresas desses dis-tritos, embora os spillovers tecnológicos não pareçam consti-tuir-se no ponto central de sua análise.

Uma parte significativa da literatura sobre o tema dedica-se à análise do desempenho de regiões cujas taxas de crescimen-to de emprego e renda mantiveram-se, de forma sustentável notempo, acima das taxas médias nacionais. Esse é caso de algu-mas regiões da Itália que caracterizam a chamada “vertente ita-liana” dos distritos marshallianos.

Markusen (1996) procura ampliar a discussão sobre dis-tritos industriais ao propor uma tipologia cujos modelos esque-máticos estão indicados na Figura 2.2 a seguir.

Dessa forma, Markusen (1996), além dos distritos mar-shallianos e de sua vertente italiana, inclui também os distritoscentro-radiais (isto é, aqueles que se desenvolvem em torno deuma espécie de empresa que desempenharia o papel de âncora)e os distritos “plataforma satélite” (que resultam da aglutina-ção, em um espaço geográfico determinado, de empresas cujoscentros de decisão são mantidos em suas regiões de origem).Além desses, Markusen (1996) discute ainda os distritos a quechama de “suportados pelo Estado”, isto é, que se desenvolvemem torno de ações específicas do poder público como, por exem-plo, centros de pesquisa militar ou aeroespacial.

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2.4.2 Os ambientes inovadores

O conceito de “ambientes inovadores” tem seu desenvol-vimento estreitamente atrelado ao Groupe de RechercheEuropéen sur les Mileux Innovateurs (GREMI),35 do qual fa-zem parte, conforme assinala Boisier ([199-], p. 5) e AmaralFilho (1999, p. 10), autores franceses, italianos e suíços comoAydalot, Camagni, Maillat, Perrin, Crevoisier e outros.36 De umaforma geral, esses autores preocupam-se com as externalidadesde natureza tecnológica que decorreriam dos vínculos de coope-ração e interdependência estabelecidos entre as empresas atra-vés da formação de redes de inovação. Nos termos de Moulaerte Sekia (2003, p. 291), “in the theory of the milieu innovateurdeveloped by the GREMI, the firm is not an isolated innovativeagent, but part of a milieu with an innovative capacity”.37 Poressa razão, pode-se afirmar, a exemplo do que fez Amaral Filho(1999, p. 11), que, na abordagem dos autores ligados a essa cor-rente, as inovações desempenham não apenas um papel deter-minante, mas também gozam de maior autonomia em relação àformulação presente na discussão sobre os distritos industriaise sua vertente italiana.

Fica evidente a preocupação dessa abordagem com os pro-cessos de desintegração vertical que, ao facultarem a manuten-ção dos núcleos estratégicos das empresas em regiões distintasdaquelas dedicadas à produção, impediram, em algumas experiên-cias de implantação de “pólos de crescimento”, que o desenvol-vimento pudesse ser assimilado de forma endógena nas regiões

35 Grupo Europeu de Pesquisa sobre os Ambientes Inovadores.36 Amaral Filho (1999, p. 10) assinala que vários autores que se dedicaram ao

estudo dos distritos industriais participam também da agenda de pesquisa doGREMI.

37 “[...] na teoria do ambiente inovador desenvolvida pelo GREMI, a firma nãoé um agente inovador isolado, mas parte de um ambiente dotado de capaci-dade de inovação” (Tradução livre).

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onde se instalaram “indústrias motrizes”. Em que pese esse es-forço, Storper (1997, p. 17) afirma que

[...] the GREMI group, however, has never been able toidentify the economic logic by which milieux fosterinnovation. There is a circularity: innovation occurs becauseof a milieu, and a milieu is what exists in regions wherethere is innovation.38

2.4.3 Organização industrial e custos de transação

Estreitamente vinculada aos trabalhos desenvolvidos pela cha-mada “Escola Californiana das Economias Externas” (STORPER,1997, p. 9), essa abordagem privilegia a corrente teórica da or-ganização industrial e dos custos de transação na compreensãodos fenômenos associados ao desenvolvimento regional. Apoia-dos no conceito de “janelas de oportunidades” formulado pelacorrente neo-schumepetriana, os autores desse grupo assina-lam que a competição e o processo de inovação abrem “janelaslocacionais” para as regiões. Buscando identificar os componen-tes principais das especificidades que garantiam o sucesso na pro-moção do desenvolvimento endógeno, Storper (1994, p. 26) as-sinala a existências de dois tipos de externalidades:

· externalidades hard, que correspondem àquelas relati-vas à tecnologia de produção e às relações insumo-pro-duto;

· externalidades soft, que contemplam as interdependên-cias não-comerciais da economia local.

38 “[...] o GREMI, contudo, jamais foi capaz de identificar a lógica econômicaatravés da qual os ambientes estimulam a inovação. Há uma circularidade: ainovação ocorre por causa do ambiente, e o ambiente é o que existe em regiõesonde há inovação” (Tradução livre).

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Os “ativos relacionais” presentes nas externalidades softpropostas por Storper (1994) não parecem ser essencialmentediferentes daqueles apresentados na análise dos “distritos in-dustriais”. Por sua vez, as externalidades hard são aquelas quereceberam ênfase nas proposições de autores como Perroux(1955). A análise de Storper (1994), entretanto, propõe-se a iralém ao considerar o aspecto dinâmico desses dois tipos deespecificidades. Embora apresentem trabalhos que se propõemmais abrangentes, os autores associados à corrente aqui deno-minada de “organização industrial” não parecem ter ainda con-seguido obter sucesso na proposição de uma agenda que possadar apoio à formulação de políticas de desenvolvimento regio-nal. Nas palavras do próprio Storper (1994, p. 59), “a agendaproposta aqui pode soar utópica, senão impossível”. De fato, asdificuldades não são pequenas: ao atribuírem aos “ativos relacio-nais” um papel-chave na promoção do desenvolvimento endó-geno, os autores não conseguem ultrapassar a barreira da des-crição de experiências bem e malsucedidas. Isto quer dizer queesses autores não conseguem propor ações de políticas públicascapazes de atuar sobre as externalidades soft de modo a utilizá-las como um instrumento de promoção do desenvolvimento.

2.4.4 Nova geografia econômica

Em oposição às abordagens ligadas aos conceitos de “distritosindustriais” e “ambientes inovadores” e à produção teórica li-gada à “organização industrial e custos de transação”, que ado-tam uma perspectiva predominantemente não-formal, a cha-mada “nova geografia econômica” emprega um tratamentomatemático nas questões relativas ao desenvolvimento regio-nal. Embora elogiando seu grau de formalização, Krugman (1998,p. 41) argumenta que as teorias clássicas da localização, por nãolidarem com a questão da estrutura de mercado e dos retornos

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crescentes, terminam não contemplando o verdadeiro trade-offque existiria entre a aglomeração e a dispersão de atividadeseconômicas. Como os autores das teorias clássicas da localiza-ção apóiam-se na premissa de concorrência perfeita, haveriaentão uma contradição em seus modelos, pois, na ausência deganhos de escala, os custos de transporte tenderiam a dissemi-nar as atividades ao longo de todo o espaço. Com relação àsteorias de desenvolvimento regional que enfatizam os fatoresde aglomeração, Krugman (1998, p. 6) argumenta que “a inabi-lidade de seus autores em expressar suas idéias de forma ade-quada às técnicas de modelagens disponíveis na época”39 as im-pediu de serem definitivamente incorporadas ao mainstream dopensamento econômico. A despeito desse fato, Krugman (1998,p. 17) vê, nas abordagens que classifica como “teorias do desen-volvimento de cerca de 1958”, as economias de escala como umconceito central, não apenas ao nível de uma planta individual,mas também de forma agregada.

Assim, foi a partir da proposta de fornecer um tratamen-to formal ao trade-off entre ganhos de escala e custos de trans-porte que se configurou a escola da “nova geografia econômi-ca”, cujas primeiras referências são os trabalhos de Krugman doinício da década de 1990 (KRUGMAN, 1991). Daí em diante,várias publicações têm se dedicado ao tratamento formal daquestão do desenvolvimento regional.40 Em que pese o elevadograu de formalismo das publicações dos autores vinculados aessa corrente, a “nova geografia econômica” não consegue ex-plicar o que dá início às economias de aglomeração em umadeterminada região.

39 Krugman (1998, p. 6).40 Ver, por exemplo, Fugita, Krugman e Venables (2000) e Fugita e Thisse (2002).

Ver também Brakman, Garretsen e Marrewijt (2001), para uma análise dosmodelos formais, e Krugman (1998), para uma síntese conceitual.

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2.5 Competição fiscal: aspectos teóricos

O debate sobre as vantagens e desvantagens da competição fiscalentre países ou regiões por investimentos é complexo e contro-verso, tanto em nível estritamente teórico como em nível empírico.Ainda que o tema possa ser claramente incluído nas discussõessobre finanças públicas, as revisões teóricas recentes sobre o tema(WILSON; WILDASIN, 2004) situam o início dos debates for-mais sobre competição fiscal nos trabalhos originais de Tiebout(1956) e Oates (1972), que desenvolvem uma abordagem especi-ficamente voltada para a questão. Ao longo de mais de meio sé-culo de discussão, todavia, a produção teórica não chegou a umconsenso sobre a questão, mesmo nas circunstâncias em que otema é tratado de forma puramente conceitual.

Wilson e Wildasin (2004, p. 1066) assinalam que a com-petição fiscal é muitas vezes definida de forma abrangente comoqualquer forma não-cooperativa de fixação de tributos por go-vernos independentes. Contudo, a maioria dos trabalhos efeti-vamente se preocupa com os efeitos dos diferentes níveis detributação sobre as decisões de alocação do capital nas diferen-tes regiões.41 Esses trabalhos podem ser segmentados em doistipos principais:

· Trabalhos que procuram analisar os efeitos de incre-mentos diferenciais no estoque de capital como conse-qüência de alterações também incrementais nos níveisde tributação. Nesses casos, o tratamento formal é se-melhante a modelos de mercados competitivos e tantoo capital como o nível de tributação são tratados deforma agregada.

41 Em geral, os trabalhos conceituais empregam o termo “jurisdição”, buscan-do assinalar a presença de governos que detêm algum nível de soberania nafixação dos níveis de tributação. Neste trabalho, contudo, optou-se pelo usodo termo “região” tal como definido no início deste capítulo.

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· A produção teórica sobre a competição que se estabeleceentre regiões por investimentos elevados e indivisíveisque detêm o poder de barganha frente aos governos queprocuram atraí-los. Assim, nas chamadas bidding wars,42

as regiões competem através de um conjunto de sub-sídios especificamente ajustados aos investimentos quedesejam trazer. Nesses casos, os subsídios, em geral, en-volvem não apenas menores níveis de tributação, mastambém incentivos financeiros, provisão da infra-estru-tura requerida para a operação dos empreendimentos,treinamento de mão-de-obra e outras vantagens.

Conforme mencionou-se acima, o primeiro tratamentoformal dado à competição entre regiões com autonomia para afixação de seus níveis de tributos foi proposto por Tiebout (1956),que argumentava que os indivíduos tenderiam a optar por viveronde identificassem a melhor relação entre a provisão de benspúblicos e o nível de tributos a que estariam sujeitos. Nessemodelo, os indivíduos

[...] votariam com seus pés ao selecionarem a jurisdiçãoque julgassem eficiente e os governos locais responderiamajustando seus tributos e gastos às preferências dos seushabitantes (WILSON; WILDASIN, 2004, p. 1068).

A lógica do argumento é facilmente estendida às decisões delocalização tomadas por firmas. Nesse caso, admite-se que asempresas ponderam, ao definir sua localização, os bens públicosoferecidos e os níveis de tributos praticados para a definiçãoquanto à localização ótima. O resultado seria, então, uma dis-

42 Usualmente, bidding war é simplesmente referida em português como “guer-ra fiscal”. A expressão em português, todavia, não explicita que se trata, naverdade, de uma espécie de leilão entre as regiões que desejam atrair o inves-timento. Além disso, essas “guerras” não se limitam ao aspecto puramentefiscal e envolvem outras formas adicionais de incentivos.

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tribuição eficiente do capital nas diferentes regiões. Nos termosde Stigler (1957, p. 216 apud OATES, 2001, p. 135), “competitionamong communities offers not obstacles but opportunities tovarious communities to choose the type and scale of governmentfunctions they wish”.43 É claro que o modelo assume uma sériede hipóteses tipicamente neoclássicas de difícil aderência ao mun-do real, especialmente quanto ao fato de que decisões tomadaspor um determinado governo afetam apenas marginalmente oresultado geral do sistema.

A visão positiva sobre a competição fiscal que se podeinferir dos argumentos de Tiebout (1956) não é compartilhadapor Oates (1972) que, na publicação intitulada Federalismo fis-cal, posicionou-se contrariamente à competição entre jurisdi-ções por julgar que suas conseqüências seriam níveis de arreca-dação ineficientemente baixos e, portanto, uma oferta de benspúblicos abaixo do mínimo necessário. A premissa fundamen-tal subjacente a esse argumento é que os governos estariam uni-camente interessados na promoção do bem-estar social (isto é,seriam governos benevolentes) e a competição fiscal restringiriasua capacidade de prover bens públicos. Oates (2001), em umtrabalho publicado cerca de trinta anos depois, torna a afirmarque somente em condições muito específicas a competição fis-cal poderia levar a resultados positivos, conforme assinala o tre-cho a seguir.

If one takes a more neoclassical approach with public decision-makers who seek to promote social welfare, then we findthat fiscal competition leads to efficient outcomes only for aclass of relatively special cases where jurisdictions are smallwith respect to the relevant capital markets, where strategicelements are relatively unimportant, and where the public

43 “[...] a competição entre comunidades não coloca obstáculos, mas ofereceoportunidades para que elas escolham o tipo e a escala das funções de gover-no que desejam” (Tradução livre).

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sector has access to the right sorts of fiscal instruments.Otherwise, as the literature has shown, various kinds ofdistortions are likely to result. Public programs, for example,may often tend to be suboptimal (OATES, 2001, p. 134).44

Este ponto de vista é compartilhado por Wilson (1986) eZodrow e Mieszkowski (1986), que apresentam modelos for-mais nos quais associam a competição fiscal à redução do Esta-do e à transferência de recursos públicos para agentes privados.Trata-se de modelos relativamente simples, nos quais o capital édotado de mobilidade regional, e a arrecadação proveniente dosimpostos sobre esse capital financia a provisão de bens públi-cos. Ao final, Zodrow e Mieszkowski (1986) e Wilson (1986)reafirmam o ponto de vista segundo o qual a competição fiscaltenderia a gerar distorções na alocação de recursos e níveissubótimos de provisão de bens públicos.

Em oposição, autores como Edwards e Keen (1996) ale-gam que a ausência de competição fiscal resultaria em governosinchados e ineficientes, uma vez que não haveria restrições paraseu apetite por extrair mais recursos do setor privado da econo-mia. A competição fiscal emerge, nesse argumento, como umaforma de disciplinar a expansão indesejada do setor público oude “domar o Leviatã”,45 e a harmonização das taxas praticadas

44 “Se se adota uma abordagem mais neoclássica na qual os agentes públicoshabilitados a tomar decisões pretendem promover o bem-estar social, entãopode-se concluir que a competição fiscal leva a resultados positivos somenteem casos relativamente especiais, nos quais as jurisdições são pequenas emrelação aos mercados relevantes de capital e o poder público tem acesso àsmodalidades adequadas de instrumentos fiscais. Caso contrário, como a lite-ratura tem mostrado, podem ocorrer vários tipos de distorções. Programaspúblicos, por exemplo, freqüentemente tendem a ser subótimos” (OATES,2001, p. 134) (Tradução livre).

45 Monstro bíblico associado por Thomas Hobbes aos governos absolutos. Aexpressão é aplicada pelos autores que estudam a competição fiscal em refe-rência ao crescimento desmesurado do setor público mediante níveis eleva-dos de tributação.

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por diferentes jurisdições seria um fenômeno tão indesejadoquanto a formação de cartéis entre agentes privados.46

Embora os debates ocorridos a partir da década de 1980tenham se apoiado em modelos matemáticos formais que, emgeral, se pretendem neutros do ponto vista ideológico, o fato éque as visões antagônicas dos trabalhos discutidos até aqui dei-xam claro que, por trás do julgamento que se pode fazer sobre acompetição fiscal, está a própria visão sobre o papel do Estado(EDWARDS; KEEN, 1996; OATES, 2001, p. 134). Nesse sen-tido, a competição fiscal poderia, por um lado, restringir a capa-cidade dos governos benevolentes de prover bens públicos ou,por outro lado, impor restrições ao crescimento de Leviatãs.

Com relação ao caso particular das bidding wars, há umaquantidade relativamente reduzida de trabalhos estritamenteteóricos sobre o assunto, sendo os mais citados os de Black eHoyt (1989), King, McAfee e Welling (1993) e Biglaiser e Mezzetti(1997). Black e Hoyt (1989) propõem que governos benevolen-tes engajam-se em bidding wars nas circunstâncias em que oscustos fixos associados à provisão de bens públicos são elevados.Os autores argumentam que os grandes investimentos atraemnovos residentes para a região vencedora (isto é, para a regiãoque conseguiu atraí-los) e lhe permitem reduzir o custo médiode provisão de bens públicos (na medida em que se dividem oscustos fixos por uma contingente maior). Esse argumento osleva a concluir que os subsídios oferecidos para atrair o investi-mento podem gerar um resultado positivo para o bem-estar so-cial. O modelo de Black e Hoyt (1989), embora formalmenteelegante, tem sua aplicação limitada às circunstâncias em queos custos fixos associados à provisão de bens públicos sejam

46 Na verdade, Edwards e Keen (1996, p. 118) admitem, no seu modelo formal,que as preferências dos formuladores de política estariam contidas no inter-valo que vai da maximização do bem-estar à maximização da arrecadação.

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particularmente elevados e que não haja deseconomias de aglo-meração em grandes centros urbanos, por exemplo.

King, McAfee e Welling (1993) apóiam-se também napremissa de governos benevolentes que participam de leilõespor investimentos e definem os seus lances (isto é, os subsídiosque oferecerão) com base em suas expectativas a respeito doexcedente que os empreendimentos serão capazes de gerar emsuas jurisdições. O modelo incorpora ainda a possibilidade deque os investimentos possam redefinir sua localização comoconseqüência dos níveis de produtividade que efetivamenteobservem na região inicialmente escolhida.

O interesse político pela atração de grandes investimen-tos é tratado por Biglaiser e Mezzetti (1997), que argumentamque a reeleição pode distorcer a propensão dos políticos a ofere-cer subsídios, levando as bidding wars a produzirem efeitos ne-gativos em termos de bem-estar social. Os autores admitem,entretanto, que os efeitos do projeto sobre a economia local e oaprendizado dos eleitores sobre o comportamento dos políticospodem ser considerados aspectos positivos dos leilões.

A breve revisão dos modelos teóricos de competição fis-cal aqui apresentada deixa claras suas limitações em retratar acomplexa realidade que circunscreve decisões de concessão debenefícios fiscais para a atração de investimentos. Isso explica,ao menos em parte, por que os modelos teóricos não se pres-tam, em geral, à validação empírica. De uma forma geral, ostrabalhos, independentemente de seu grau de complexidade, for-necem “modelos mentais” para a reflexão sobre o tema. Os tra-balhos empíricos, de fato, tendem a ser anedóticos e, muitosdeles, fortemente contaminados pela posição ideológica de seusautores. Ainda assim, foram identificados alguns trabalhos quetranscendem a dimensão puramente anedótica ao compararemo desempenho de um conjunto de regiões subnacionais que com-petem por investimentos.

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Entre os trabalhos empíricos, destaca-se aquele de Cobb(1993) intitulado The selling of the South: the Southern crusadefor industrial development, 1936-1990.47 Trata-se da descrição dosincentivos fiscais concedidos pelos estados do Sul dos EstadosUnidos. A relevância desse trabalho para a presente discussão é ofato de que fica claro que o desenvolvimento regional das regiõestradicionalmente mais pobres dos Estados Unidos requereu a con-cessão de incentivos fiscais e financeiros, independentemente dofato de que essas regiões contavam com menores custos de mão-de-obra. Na prática, ao longo da década de 1960, disseminaram-se os incentivos conhecidos como bond programs,48 não somentenos estados do Sul mas também em outros estados americanos,instituídos como “medida defensiva” (COBB, 1993, p. 36). Cobbdescreve ainda os esforços para manter os custos de mão-de-obra nos estados do Sul abaixo dos níveis dos estados mais de-senvolvidos por meio de ações que desestimulassem a sindicali-zação dos trabalhadores.

Luger (1987), ao descrever os programas adotados pelosestados que compõem os Estados Unidos para atrair investi-mentos, trabalha com oito categorias principais:

· subsídios de terreno e construção;

· programas de crédito e aporte de capital;

· incentivos fiscais em nível estadual;

· assistência na educação após o segundo grau;

· treinamento de mão-de-obra;

· regulação da atividade econômica exercida;

47 Alguns trabalhos sobre o tema que tratam da realidade brasileira (TENDLER,2000; ROCHA, 2004; CAVALCANTE; UDERMAN, 2005, 2006) são dis-cutidos nas Seções 4.2 e 4.3 deste trabalho.

48 Esses programas envolviam, como regra geral, o pagamento de juros meno-res sobre as obrigações emitidas e a permissão de práticas contábeis que re-duziam os impostos a serem recolhidos.

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· recrutamento;

· apoio a atividades de Pesquisa e Desenvolvimento(P&D).

O autor busca então verificar, por meio de regressõescross-section, a efetividade das políticas adotadas. Um outrotrabalho econométrico especialmente interessante sobre o temaé aquele de Greenstone e Moretti (2003). Esses autores traba-lham com a competição que se estabelece entre os counties nor-te-americanos49 por investimentos. Essas jurisdições competempor investimentos por meio da concessão de subsídios com opropósito fundamental de gerar empregos. A questão a que osautores buscam responder no trabalho e que lhe serve de títuloé “a atração de uma planta de um milhão de dólares aumenta obem-estar?”. Dispondo de uma base de dados extensa, os auto-res comparam o county vencedor com um ou dois outros countiesperdedores.50 Os autores não apenas verificam, nos counties ven-cedores, um incremento no indicador de bem-estar que empre-gam (o preço da terra, que supõem associado aos benefícios ematrair a planta), como não encontram nenhuma evidência dedeterioração da capacidade financeira dos governos daquelaslocalidades.

49 Trata-se de unidades administrativas maiores do que municípios, porémmenores do que estados.

50 Na terminologia empregada por Greenstone e Moretti (2003), vencedoressão os counties que, ao final da disputa, conseguiram atrair o investimento.Perdedores são aqueles que sobreviveram a uma seleção longa, tendo perdi-do por pouco a disputa.

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Capítulo 3

A industrialização liderada pelo Estado:o período entre 1950 e 1980

O processo de industrialização por substituição de importa-ções que marcou a economia brasileira por cerca de meio séculotem suas origens na década de 1930, quando a depressão mun-dial motivou um maior engajamento do governo na atividadeeconômica diante do reconhecimento da incapacidade do setorprivado de realizar o conjunto de investimentos requeridos paraa industrialização do país, especialmente nos setores de base(BAER, 2002, p. 290-291). É indiscutível que a política adota-da, especialmente entre as décadas de 1950 e 1970, efetivamen-te resultou em taxas médias de crescimento situadas entre asmais altas do mundo e em uma estrutura industrial que “nãodiferia de modo significativo da maior parte das economias daOCDE” (FERRAZ; KUPFER; HAGUENAUER, 1996, p. 55).Embora o golpe militar de 1964 tenha alterado substancialmen-te a retórica estatizante praticada pelo governo até então, pode-se afirmar que o período como um todo foi marcado por umelevado nível de intervenção do Estado na economia, seja pormeio de investimentos diretos em infra-estrutura, seja atravésde sua atuação direta em vários setores da produção e no siste-

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ma financeiro. Conforme destaca Shapiro (1994, p. 146) ao sereferir aos governos militares, “a despeito de sua retórica inicialno sentido contrário, o Estado cresceu em tamanho e escopo”.O processo de industrialização liderado pelo governo marcou aeconomia brasileira até a década de 1980, quando a crise fiscalfez o país surpreender ortodoxos e heterodoxos ao combinar, demaneira prolongada, baixas taxas de crescimento e elevadas ta-xas de inflação, incorrendo em um fenômeno conhecido comoestagflação.

Na Bahia, em particular, o período delimitado pelas déca-das de 1950 e 1980 marca a transição de uma economia predo-minantemente agrário-exportadora que vinha apresentando umdesempenho inferior à média nacional para uma economia in-dustrializada e concentrada na produção de commodities inter-mediárias. Pode-se considerar a implantação da RefinariaLandulpho Alves (RLAM), na década de 1950, o marco inicialdo processo de industrialização do estado. Esse processo, aindaque marcado por fortes descontinuidades, estendeu-se até osprimeiros anos de operação do Complexo Petroquímico de Ca-maçari (COPEC), no final da década de 1970 e no início dadécada de 1980. Nesse sentido, a Bahia conseguiu estender ociclo de industrialização por alguns anos a mais do que o con-junto da economia brasileira. De forma similar aos movimentosque marcaram o processo de industrialização por substituiçãode importações no país como um todo, a industrialização daBahia esteve também fortemente associada ao papel desempe-nhado pelo Estado.

Este capítulo tem, desse modo, o objetivo de apresentaruma sistematização da evolução da economia baiana entre asdécadas de 1950 e 1980, buscando identificar como se consti-tuiu a base de sua estrutura industrial e argumentando que setratou de um processo de industrialização liderado pelo Estado.Entre as Seções 3.1 e 3.4, adota-se, para a estruturação do capí-

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tulo, a ordem cronológica dos eventos. Discute-se, na Seção 3.1,o chamado “enigma baiano”, isto é, as razões que teriam impe-dido a Bahia de apresentar um desempenho econômico satisfa-tório no período que antecede a década de 1950. As seções 3.2,3.3 e 3.4 discutem, respectivamente, a implantação da indús-tria extrativa de petróleo, a criação do Centro Industrial de Aratu(CIA) e a implantação do COPEC. Em seguida, na quinta se-ção, descreve-se a estrutura institucional de suporte aos movi-mentos de industrialização que se observaram no período. Fi-nalmente, na Seção 3.6, discutem-se as implicações dos movi-mentos descritos sobre a estrutura econômica do estado.

3.1 O enigma baiano

Até o início do século XX, a Bahia havia tido uma se-qüência de ciclos agrícolas tradicionais, com destaque para asculturas de cana-de-açúcar, fumo, fibras e cacau, mais ou menosordenados cronologicamente em termos de sua importância re-lativa na economia do estado, embora, naturalmente, a predo-minância de uma atividade não eliminasse as demais.51 O fato éque a Bahia mantinha uma policultura exportadora e, durante operíodo colonial, dispunha de um porto dinâmico em Salvador(ALMEIDA, 1952; MARIANI, 1957; AGUIAR, 1958), tendochegado a engendrar um processo de acumulação de capital quecomeçava a se reproduzir no final do século XIX, quando “abor-ta quase misteriosamente” (OLIVEIRA, 1987, p. 27).

Embora a carência de dados estatísticos não permita quese determine com precisão o momento em que se iniciou o período

51 Regionalmente, já no século XVIII, havia se estabelecido no estado uma espé-cie de distribuição das atividades agrícolas, conforme o seguinte esquema: Re-côncavo, para a cana-de-açúcar; Jaguaribe e Camamu, para a farinha de man-dioca; Tabuleiros ou Areais, para fumo e mandioca; e Sertão, para o gado.

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marcado pela estagnação econômica do estado e por sua conse-qüente perda de representatividade na economia nacional, ointervalo que se estende de algum momento do século XIX até adécada de 1950 é referido como “problema econômico baiano”(MARIANI, 1957), “relativa decadência baiana” (MARIANI,1957), “involução industrial da Bahia” (TAVARES, 1966) ou“enigma baiano” (AGUIAR, 1958; ALMEIDA, 1986).52 Esseúltimo autor sintetiza a idéia do enigma com uma série de ques-tões: “por que é que a Bahia não vai para frente? Por que não sefaz nada na Bahia? Por que é que as coisas na Bahia não cami-nham? Nada dá certo?” (ALMEIDA, 1986, p. 93). Ainda quedados estatísticos para o período anterior à década de 1950 se-jam efetivamente escassos, alguns indicadores disponíveis dei-xam claro o processo de “desindustrialização” do estado ao lon-go da primeira metade do século XX. Teixeira e Guerra (2000, p.88) e Spinola (2003, p. 102), por exemplo, subsidiam a proposi-ção do enigma baiano com dados sobre a queda da participaçãoda indústria baiana na indústria brasileira, conforme indicadona Tabela 3.1.

Embora seguramente associado à primeira metade do sé-culo XX, permanecem ainda divergências quanto o momento emque teria se iniciado o declínio da economia do estado. Almeida(1952) refere-se à alteração, no início do século XIX, da situaçãofavorável da economia baiana, conforme indica o trecho abaixo:

A situação favorável, apesar dos pesares, da economia baianano começo do século [XIX] se altera depois profundamente,em razão principalmente de dois fatores: os prejuízos materiaisda guerra da independência e a mudança da conjuntura inter-nacional (ALMEIDA, 1952, p. 64).

52 A expressão “enigma baiano” é atribuída por Spinola (2003, p. 102) a OctávioMangabeira.

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Mariani (1977 [1957], p. 61), por sua vez, argumenta que,com o avanço do século XIX, a economia baiana começou a decli-nar, tendo chegado “economicamente exausta” ao final da Se-gunda Guerra Mundial. Esse autor atribui a exaustão a umdesequilíbrio relativo de preços sancionado pelo governo federal,uma vez que os produtos de exportação eram vendidos a preçosrelativamente reduzidos quando comparados aos preços dos pro-dutos industrializados adquiridos no mercado interno (MARIANI,1977 [1957], p. 67). Esse diagnóstico consolidou-se e foi resgata-do, anos mais tarde, pelo próprio Rômulo Almeida (1986):

A Bahia exportava para o exterior uma quantidade avançadarelativamente, mas importava muito pouco do exterior, por-que todos os produtos básicos de consumo já eram produzi-dos no sul do país. Ora, como já falei, a Bahia vendia asdivisas a um preço baixo e tinha que comprar a um preçomais alto o que vinha do sul; os preços na fábrica eram muitomais altos que os produtos importados e os transportes in-ternos muito mais caros que os transoceânicos (ALMEIDA,1986, p. 94).

O argumento, a que se convencionou chamar de “termosde intercâmbio”, deixava claro que a política cambial adotada

Tabela 3.1 - Participação da indústria baiana na indústria brasileira

Fonte: Almeida (1977) apud Teixeira e Guerra (2000, p. 88) e Spinola (2003, p. 102).

1920 1940

Capital aplicado 3,50% 1,90%

Força motriz utilizada 4,00% 2,30%

Número de trabalhadores 5,70% 3,30%

Valor da produção 2,80% 1,30%

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na época definitivamente não era neutra do ponto de vistaregional.53 Além disso, em um contexto no qual os custos de trans-porte eram mais relevantes do que aqueles que se observamatualmente,54 os produtos da região Sudeste tinham melhorescondições de competir na Bahia do que, por exemplo, em Per-nambuco, onde chegavam a preços maiores. Isso explica a des-vantagem da Bahia em relação àquele estado e porque, maistarde, Pernambuco conseguiria desenvolver uma indústria debens finais que relutaria em implantar-se na Bahia. Todavia, ostermos de intercâmbio e os custos de transporte parecem explicarapenas parcialmente o fraco desempenho da economia baiana aolongo da primeira metade do século XX. Na verdade, o processode industrialização que se iniciara de forma mais ou menos es-pontânea na região Sudeste (particularmente em São Paulo)como resultado da articulação entre excedentes gerados pelaeconomia cafeeira e a atividade manufatureira terminaria sen-do, após a Revolução de 1930, legitimado politicamente.55 Nes-se contexto, as políticas econômicas, fossem elas aparentemen-te neutras do ponto de vista regional (como a política cambialou a proteção tarifária), fossem elas de caráter mais afirmativo

53 O argumento tornaria a ser resgatado no âmbito dos debates políticos queenvolveram a concessão de incentivos federais para a instalação do Comple-xo Industrial Ford Nordeste na Bahia.

54 Em virtude das deficiências da infra-estrutura viária existente antes da aber-tura da rodovia BR-116, conhecida como Rio-Bahia.

55 Na Bahia, ao contrário do que havia sido observado em São Paulo com a pro-dução de café, “as atividades tradicionais e a estrutura cultural decorrente nãopropiciaram os níveis de interdependência essenciais à partida da industriali-zação” (MASCARENHAS, 1978, p. 3). Assim, não houve, no estado, um pro-cesso de industrialização resultante da transferência dos excedentes da produ-ção de cacau para a atividade manufatureira. Há várias possíveis hipótesespara essa desarticulação que vão do “consumo suntuário” dos proprietários deterras, passando por uma suposta “aversão cultural” à atividade manufatureirae chegando à ausência de condições institucionais e à falta de mão-de-obraqualificada.

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(como a infra-estrutura viária e os investimentos diretos), vol-taram-se para a consolidação no núcleo de acumulação indus-trial que começava a se constituir na região Sudeste do Brasil. Aprópria infra-estrutura viária que começava a integrar a econo-mia brasileira — subvertendo a lógica dos “arquipélagos” queprevalecera até então — parece ter se desenvolvido em torno donúcleo central, permitindo a expansão de seus mercados com aconseqüente ampliação de suas escalas de produção. Essa visãoé convergente com a percepção de Mariani (1957), para quem,ao menos entre as décadas de 1930 e 1950, o enigma resultavade um descompasso entre a política de industrialização promo-vida pelo governo federal e a estrutura econômica agroexporta-dora da Bahia.

O fato é que o período de estagnação perdurou até a me-tade do século XX, e a expressão “enigma baiano” terminou seconsagrando, sendo sistematicamente empregada para descre-ver o comportamento da economia do estado que antecedeu osmovimentos de industrialização. Como resultado, a atividadeindustrial da Bahia chegou à metade do século XX dominadaainda pelos segmentos de produtos alimentares, minerais não-metálicos (que juntos representavam 71% do número de esta-belecimentos e 48% do pessoal empregado), têxtil e fumo. Tra-tava-se de uma estrutura econômica “baseada quase exclusiva-mente em pequenos estabelecimentos, que empregavam emmédia 9 pessoas por empresa” (FUNDAÇÃO DE PLANEJA-MENTO – CPE, 1974, p. 489).

A percepção do enigma terminou incentivando a discus-são teórica que se propunha a decifrá-lo e a proposição de açõescom o objetivo de revertê-lo. Na verdade, trabalhos como aque-les de Almeida (1952), Mariani (1957) e Aguiar (1958) já tra-zem, além do diagnóstico dos movimentos que se observaramno estado no período anterior à década de 1950, a semente deproposições de intervenção para garantir seu desenvolvimento

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econômico.56 Mariani (1977 [1957], p. 75), por exemplo, discor-re sobre as “bases da recuperação econômica da Bahia” sugerin-do, entre outras ações, o aproveitamento das fontes locais de pe-tróleo e gás natural e do potencial hidroelétrico da usina de PauloAfonso. Aguiar (1977 [1958], p. 131) propõe também “a políticaa adotar-se” em face do enigma. Na prática, a proposta é a trans-ferência não apenas de recursos financeiros (ou monetários, nostermos do autor) mas também técnicos. A idéia de Aguiar (1958,p. 131) é claramente convergente com o conceito de pólo de cres-cimento tal como proposto pelos autores discutidos na Seção 2.3.Com efeito, o autor argumenta que

O fato de termos, segundo parece, um subsolo riquíssimopode, por exemplo, propiciar a instalação de uma cadeia deempresas básicas em torno das quais se desenvolva umaconstelação de indústrias subsidiárias e complementares(AGUIAR, 1977 [1958], p.131).

Foi o aprofundamento de análises dessa natureza que per-mitiu a formulação, na década de 1950, de diagnósticos e pro-posições de políticas para a retomada do desenvolvimento eco-nômico do estado. Uma evidência disto é que as primeiras pági-nas das chamadas “Pastas Rosas” ([BAHIA], 1955) explicitamuma preocupação com a institucionalização da função planeja-mento na Bahia. As “Pastas Rosas” traziam, nos termos deAlmeida (1986, p. 93) uma “coletânea de informações, opiniõese proposições preliminares sobre a economia baiana na ocasião”.Dessa forma, no documento, elaborado em 1955 por solicitaçãodo governador eleito Antônio Balbino, argumentava-se que a

56 [Paim] (s.d., p. 10) segmenta os trabalhos de Mariani (1957) e de Aguiar(1958) dos trabalhos de Almeida (1952; 1970; 1986), uma vez que consideraos primeiros a “elite baiana” da época, enquanto Rômulo Almeida seria maisadequadamente associado à “elite técnica”. Na prática, a distinção seria umavisão mais descritiva nos trabalhos de Mariani (1957) e Aguiar (1958) e maistécnica nos trabalhos de Almeida (1952; 1970; 1986).

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instabilidade da economia baiana decorria de sua dependênciada agricultura (vulnerável a secas) e do comércio exterior (ter-mos de intercâmbio) e propunha-se a diversificação da produ-ção, o desenvolvimento da indústria e o estabelecimento demaiores vínculos com os mercados locais e nacionais.

Poucos anos mais tarde, no Plano de Desenvolvimentoda Bahia (Plandeb), elaborado em 1959 e considerado por Sou-za (1991) o ponto de partida da atual configuração econômica esocial da Bahia, propunham-se medidas destinadas a alterar aestrutura básica da economia baiana através de uma industriali-zação intensiva (BAHIA, 1960, p. 109). O Plano, apresentadocomo uma contribuição ao Plano Diretor do Desenvolvimentodo Nordeste da SUDENE, traz propostas de ação para o gover-no local e indicações para ações do governo federal no estado,formata programas básicos de desenvolvimento municipal e trataainda da promoção de investimentos privados. O fato de nãoter sido formalmente aprovado pela Assembléia Legislativa podeter levado Azevêdo (2000, p. 54) a argumentar que o sistemaestadual de planejamento “desenhou, mas não conseguiuimplementar, o Plandeb”. Contudo, ainda que não tenha sidoaprovado e que tenha enfrentado “reações contrárias dentro daprópria equipe do governo Juracy Magalhães”, o Plandeb tevevárias de suas proposições gradativamente implementadas naBahia até a década de 1980 (SPINOLA, 2003, p. 108).57 Defato, no Plandeb, consideram-se de interesse prioritário os seto-res intensivos em capital produtores de bens intermediários,58

57 Essa percepção o leva a afirmar que “o planejamento estadual, no período1964/1983, limitou-se à implementação de diversas diretrizes do Plandeb noâmbito dos planos nacionais, e à realização de programas e projetos deriva-dos desses planos ou neles oportunamente enquadrados pelos negociadoresdo governo estadual” (SPINOLA, 2003, p. 113).

58 No Plandeb (BAHIA, 1960, p. 110), são citados como prioritários os seguintessetores: indústria petroquímica, indústria siderúrgica, outras metalurgias bási-cas, indústria de embalagens, produtos alimentícios, materiais de construção,

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configurando, ainda na década de 1950, uma opção do estadopor um modelo de industrialização complementar às regiões Sule Sudeste do país. Daquele momento em diante, consolidou-seo chamado sistema estadual de planejamento (SOUZA, 1991),que daria origem a uma sucessão de planos de governo e a umconjunto de instituições de suporte ao desenvolvimento do es-tado, conforme evidenciado na Seção 3.5 adiante.

Foi com base nesse sistema e em sua articulação com osmovimentos que vinham ocorrendo em nível nacional que im-portantes transformações estruturais ocorreram na economiabaiana no período entre 1950 e 1980, fundamentando-se, aindaque não explicitamente, no conceito de “pólo de crescimento”originalmente proposto por Perroux (1955). Com efeito, a per-cepção de Aguiar (1977 [1958], p. 131) quanto ao desenvolvi-mento de uma constelação de indústrias subsidiárias e comple-mentares era compartilhada por Rômulo Almeida que, anos maistarde, referir-se-ia ao Complexo Petroquímico de Camaçari nosseguintes termos:

É preciso que se tenha um sistema de indústrias de base,indústrias de escala nacional, que possam ter custos com-petitivos e, a partir daí, desenvolver atividades que resul-tem delas, tanto a montante como a jusante (ALMEIDA,1986, p. 159).

Este mesmo autor destacava também a necessidade deintervenção do Estado no processo, ao afirmar que

Há que corrigir, por intervenção deliberada, esta perversatendência acumulativa, concentradora e desequilibrante, quetermina não sendo vantagem nem mesmo para a região apa-rentemente beneficiada (ALMEIDA, 1970, p. 2).

gráficas, indústria mecânica e fundição, forjaria, usinagem, ferramental e ma-trizes e manutenção.

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Pareciam estar reunidos, portanto, os elementos quenorteariam o processo de industrialização da Bahia entre as dé-cadas de 1950 e 1980: a criação de pólos de crescimento a partirdos quais se esperava que o desenvolvimento econômico se ir-radiasse e a liderança do governo, uma vez que se entendia queseria preciso vencer a inércia inicial que condenava o estado àcondição de produtor de bens primários.

3.2 Os primeiros passos: refino de petróleo eprodução e distribuição de commodities agrícolas

A primeira grande intervenção do Estado na economia local foia implantação da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), motiva-da essencialmente pela disponibilidade de petróleo na região.Esse evento marcou, no início da década de 1950, o início doprocesso de industrialização intensivo em capital voltado para aprodução de bens intermediários na Bahia. Não há dúvida quea implantação da RLAM trouxe repercussões tanto no que dizrespeito à criação da infra-estrutura física para a operação deuma indústria de grande porte nos arredores de Salvador comona criação de demanda para uma indústria mecânica local vol-tada para o suprimento e a manutenção de equipamentos utili-zados na atividade de refino de petróleo.59

De acordo com Teixeira e Guerra (2000, p. 89), antesmesmo da criação da Petrobras, o Conselho Nacional de Petró-leo (CNP) já havia elaborado um projeto para a implantação deuma refinaria com capacidade de processamento de 2,5 mil barrispor dia. Esses mesmos autores registram que a Petrobras, tão logo

59 Mais tarde, uma indústria metal-mecânica vinculada à Petrobras e à produ-ção de plataformas de águas rasas seria criada no CIA. Na década de 1990,com a abertura comercial e as alterações ocorridas na política de compras daPetrobras, essa base industrial seria praticamente desmantelada.

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criada, em 1954, encampou o projeto e decidiu expandir sua ca-pacidade produtiva para 5 mil barris por dia. A RLAM entrou emoperação em 1956, e, já em 1961, um novo programa de expansãoelevaria a capacidade da refinaria para 42 mil barris por dia.

Embora decorrente de uma intervenção deliberada dogoverno através da Petrobras — o que sugere a criação de umaespécie de pólo de crescimento —, os fundamentos teóricos quejustificam a implantação da refinaria naquele momento nãoparecem ter se apoiado ainda nas idéias intervencionistas dePerroux (1955), Myrdal (1957) ou Hirschman (1958). Com efei-to, a idéia de se criar um pólo de crescimento não é, por si,capaz de explicar o porquê da opção pela Bahia em oposição aoutras regiões cujo desenvolvimento requeresse uma interven-ção deliberada do governo. Na verdade, a implantação da RLAMna Região Metropolitana de Salvador (RMS) apoiou-se em ra-zões logísticas facilmente explicáveis com conceitos das teoriasclássicas da localização. Com efeito, tratou-se da opção pela re-gião próxima à fonte de matéria-prima, remetendo ao trabalhode Weber (1909) discutido na Seção 2.2. Assim, ainda que emum momento posterior a RLAM tenha trazido benefícios facil-mente associáveis à idéia de “pólo de crescimento”, o fato éque, no momento de sua implantação, a iniciativa visava ao apro-veitamento da matéria-prima disponível na Bahia. Esse argu-mento é convergente com aquele de Pedrão (1996), para quem

O modelo de industrialização da década de 1950 constitui,essencialmente, na captação do possível mercado internopara a transformação de matérias-primas locais abundantese baratas, ignorando as possibilidades de vantagens de lo-calização, ou de criação de mercado, como passaria a sernorma nos decênios seguintes (PEDRÃO, 1996, p. 77 apudSPINOLA 2003, p. 137).

Contudo, as repercussões da implantação da RLAM naeconomia local puderam ser sentidas muito rapidamente: já em

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1960 (antes, portanto, da primeira grande ampliação da refina-ria) a participação da indústria química no total do valor daprodução da indústria de transformação na Bahia atingiu, se-gundo Teixeira e Guerra (2000, p. 89), mais de 30%, cabendomais da metade desse valor à própria refinaria. Os efeitos daRLAM como centro irradiador de novas oportunidades de ne-gócios também podem ser percebidos ao se verificar que empre-sas como a Companhia de Carbonos Coloidais, a CompanhiaBrasileira de Lubrificantes e a Fábrica de Vaselina da Bahia ins-talaram-se no entorno da refinaria para aproveitar a oferta dematérias-primas. Contudo, contrariamente ao que seria obser-vado quando o Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC)entrou em operação, as taxas de crescimento alcançadas pelaBahia no período imediatamente posterior à implantação daRLAM não foram superiores àquelas exibidas pelo conjunto daeconomia brasileira. Na verdade, as participações relativas daeconomia baiana na economia brasileira e, em particular, naeconomia nordestina, não apresentaram tendência definida aolongo dos dez anos que se seguiram à implantação da refinaria,tendo se mantido praticamente estável no decênio entre 1956 e1966 (ver Apêndices 1 e 2).

Ainda que o investimento na RLAM seja evidentementeinferior àquele associado ao COPEC, a expectativa é que seusefeitos fossem similares, uma vez que o empreendimento esta-ria repercutindo sobre uma base muito menor (considerandoque a economia baiana em meados da década de 1950 era bemmenor do que em meados da década de 1970). Embora as razõespelas quais os impactos da RLAM no PIB do estado tenhamsido menores do que os esperados não estejam ainda suficiente-mente claras, pode-se especular que: (i) os procedimentos asso-ciados à obtenção dos dados do PIB regional da época tenhamdeficiências que não permitiram que os efeitos da refinaria fos-sem percebidos em sua plenitude; e (ii) o controle de preços dos

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derivados do petróleo que prevalecia na época pode ter contri-buído para a redução das margens de lucro e do valor agregadobruto da refinaria, implicando reflexos reduzidos no PIB.

Além disso, as repercussões do projeto estavam claramentelimitadas tanto do ponto de vista setorial como geográfico. Assim,para o restante do estado, o que se observou foram ações voltadaspara o incentivo à montagem de complexos agroindustriais (SAN-TOS; OLIVEIRA, 1988). Usando fundamentalmente recursos doFundo de Desenvolvimento Agroindustrial (Fundagro),60 foramcriados sistemas de matadouros, sistemas de produção de insumosbásicos e um sistema de armazéns. O propósito fundamental era“organizar a economia agrícola e o abastecimento” (ALMEIDA,1986, p. 99). Esse mesmo autor destaca, contudo, que a cobiçadas lideranças políticas por essas empresas quando seus resultadoscomeçaram a aparecer fizeram com que os empreendimentosfossem loteados e empregados para fins distintos daqueles quehaviam motivado sua criação, levando sua maioria (e o próprioFundagro) a dificuldades financeiras severas.

Independentemente de seus desdobramentos posteriores,em ambos os casos — refino de petróleo e produção e distribui-ção de commodities agrícolas — pode-se identificar a caracterís-tica complementar que a economia baiana começava a adquirirem relação à região Sudeste do país. Com efeito, as iniciativasestão muito mais voltadas para a produção de intermediários doque de bens de consumo final. Além disso, as duas iniciativasreafirmam a percepção do papel de liderança exercido pelo Es-tado no processo de industrialização, que se reforçaria em duasiniciativas subseqüentes: a implantação do Centro Industrial deAratu e do Complexo Petroquímico de Camaçari.

60 Ver a Seção 3.5 adiante para uma descrição das instituições estaduais desuporte ao desenvolvimento econômico.

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3.3 O Centro Industrial de Aratu

Já em um contexto marcado pelos incentivos concedidos atra-vés do mecanismo 34/18 da SUDENE61 e pelos créditos fiscaisrelativos ao então Imposto sobre Circulação de Mercadorias(ICM),62 concedidos pelo governo estadual, foi implantado naBahia, na segunda metade da década de 1960, o CIA. A inicia-tiva contou ainda com outros incentivos estaduais por meio dacriação de infra-estrutura destinada a instalações industriais,incluindo o acesso ao Porto de Aratu, anéis rodoviários paraacesso aos canais de escoamento, ferrovia e insumos industriaiscomo água e energia.

Diante da magnitude dos incentivos oferecidos, um núme-ro expressivo de projetos instalou-se no centro. De acordo comTeixeira e Guerra (2000, p. 90), “em dezembro de 1969, havia100 projetos aprovados pela SUDENE, dos quais 37 em funcio-namento, 43 em análise e 33 com carta de opção para virem a seinstalar”. Em 1973, contabilizavam-se 142 projetos, sendo 52 emfase de produção, 29 em fase de implantação e o restante nosestágios de elaboração, análise ou aprovação. Os projetos em fasede produção e de implantação gerariam, de acordo com estimati-vas da época, mais de 12 mil empregos. Esse total ultrapassava 21mil se se considerassem também os projetos ainda em fase deelaboração, análise ou aprovação (FUNDAÇÃO DE PLANEJA-

61 Ver a Seção 3.5 para o detalhamento dos instrumentos então empregados.Convém observar, também, que, conforme assinalado no Documento Sínte-se do Plano Diretor do Centro (elaborado em 1980), “o CIA já surgiu inseri-do no programa da SUDENE” (CONDER, 1980).

62 Rigorosamente, ICM era a sigla para o “Imposto sobre Operações Relativasà Circulação de Mercadorias” (Emenda Constitucional n. 18, de 1965, art.12). Esse imposto foi substituído, na Constituição de 1988 (Art. 155, incisoI, alínea “b”) e na Emenda Constitucional n. 3, de 17 de março de 1993, pelo“Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobrePrestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e deComunicação” (ICMS).

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MENTO – CPE, 1974, p. 508). Nessa mesma publicação (p.509),estima-se que os empregos a serem gerados pelo CIA correspon-deriam a cerca de 1/3 do total de empregos gerados pela indústriade transformação no estado em 1970. Trata-se, sem dúvida, denúmeros expressivos e da ordem de grandeza do número de em-pregos que seriam gerados alguns anos mais tarde com a implan-tação do Complexo Petroquímico de Camaçari.

Ao contrário da expectativa inicial, os projetos que se ins-talaram no CIA destinaram-se majoritariamente à produção debens intermediários, e não à produção de bens finais. Com efeito,o centro e seu entorno passaram a abrigar investimentos nos seg-mentos metal-mecânico (como a USIBA, a SIBRA e a Ferbasa) equímico (mesmo antes da implantação do Complexo Petroquími-co de Camaçari), como a CQR, a Paskin, a Tibrás, a Ciquine, aFISIBA e, posteriormente, a Dow (TEIXEIRA; GUERRA; 2000,p. 90). Da mesma forma, em um documento editado pela entãoSecretaria da Indústria e Comércio (BAHIA, 1983, p. 31), esti-ma-se que os segmentos metal-mecânico, químico e petroquími-co e de minerais não-metálicos respondessem por mais de ¾ dovalor da produção e da ocupação de mão-de-obra no distrito.

Entretanto, um obstáculo ao desenvolvimento do CIA foio freqüente uso indevido dos incentivos fiscais e financeirosoferecidos. Com efeito, são recorrentes os relatos segundo osquais galpões eram ocupados apenas para que as empresas ti-vessem acesso aos incentivos, embora suas atividades produti-vas não estivessem efetivamente sendo executadas no centro.Essa estratégia — que Teixeira e Guerra (2000, p. 90) chamamde “rentista” — resultava das distorções do sistema de incenti-vos, que não conseguia manter uma estrutura de acompanha-mento e fiscalização capaz de evitar esse tipo de fraude.63

63 Ver a Seção 3.5 para uma análise crítica dos mecanismos adotados pelaSUDENE e extensivamente empregados no CIA.

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Embora avaliações posteriores tenham afirmado que, pelaausência de uma vocação setorial mais clara, o CIA não terialogrado obter os resultados inicialmente planejados (MENEZES,2001), é inegável que a iniciativa foi

o elemento-chave, na história recente da economia baiana,para a atração de empreendimentos, também complemen-tando o sistema de estímulos financeiros criado pelo GovernoFederal para a região nordestina (SIMÕES, 1978, p. 474).

O CIA chegou a representar, ainda de acordo com Simões(1978, p. 474) cerca de 20% da estrutura industrial no estadoem 1977. Esse mesmo autor, entretanto, já destacava a tendên-cia de redução da importância relativa do CIA na economiabaiana a partir do final da década de 1970, em função da criaçãodo Complexo Petroquímico de Camaçari, que consolidou a posi-ção da Bahia como um estado produtor de bens intermediários(SIMÕES, 1978, p. 475). Na verdade, a implantação do CIA nasegunda metade da década de 1960 inaugura aquilo que Spinola(2003, p. 137) chama de “segundo período do processo de in-dustrialização da Bahia”, que se estendeu até o início da décadade 1980.

Além do CIA, houve algumas iniciativas de criação doschamados “Pólos de Industrialização” no interior do estado en-tre as décadas de 1960 e 1970. Esse é o caso, por exemplo, doCentro Industrial do Subaé, que, no início da década de 1970, deacordo com a Fundação de Planejamento – CPE (1974, p. 512),já contaria “com algumas indústrias com um nível de absorçãode mão-de-obra local bastante alentador”. Foram implantadosainda distritos representativos em Ilhéus, Vitória da Conquista,Juazeiro, Jequié, Alagoinhas e Itabela (Porto Seguro), que, deacordo com documento editado pelo governo do estado (BAHIA,1983, p. 13) abrigavam, juntamente com o Centro Industrial doSubaé, 205 unidades que geravam mais de 15 mil empregos dire-

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tos.64 Em 1980, esses distritos respondiam, ainda de acordo com odocumento citado, por quase ¼ das exportações do estado e maisde 10% do ICM gerado em suas áreas industriais (BAHIA, 1983,p. 33). Concebidos com o propósito de promover o desenvolvi-mento industrial do interior da Bahia com base nas vocações re-gionais e redirecionar os fluxos migratórios para cidades de portemédio, reduzindo os movimentos em direção à Região Metropo-litana de Salvador (RMS), esses centros, embora com razoávelimpacto nas economias locais, terminaram detendo reduzida par-ticipação no conjunto da economia do estado, cujo segmento in-dustrial manteve-se concentrado na RMS ao longo do período.Algumas análises registram ainda que essas iniciativas poderiamter “sufocado” a incipiente industrialização urbana dos municípiosonde se instalaram os distritos. Basicamente, argumentava-se queos capitais locais competiriam em condições desfavoráveis com oscapitais exógenos que se instalaram nos centros e distritos in-dustriais em função dos incentivos fiscais, financeiros e de infra-estrutura que teriam recebido esses últimos. Embora o argumentoseja bem engendrado e seja razoável supor que, de fato, tenhamocorrido situações dessa natureza, ressente-se ainda da falta de evi-dências estatísticas que permitam sua generalização.

3.4 O Complexo Petroquímico de Camaçarie a produção de bens intermediários

O COPEC foi, no conjunto das iniciativas até aqui menciona-das, aquela que teve o maior impacto na economia baiana, sejapor seus efeitos nas taxas de crescimento do PIB, seja em decor-

64 A rigor, conforme assinala Spinola (2003, p. 44-48), os conceitos de “com-plexo industrial”, “centro industrial” e “distrito industrial” são distintos. Esseautor classifica as concentrações industriais da Bahia da seguinte forma:Complexo Industrial: Camaçari; Centros Industriais: Aratu e Subaé; Distri-tos Industriais: Ilhéus, Vitória da Conquista, Jequié.

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rência das mudanças estruturais que ocorreram no estado comoconseqüência de sua instalação. Com efeito, o investimento ini-cial, estimado em cerca de US$ 2,5 bilhões de dólares, era enor-me em relação ao porte da economia baiana na época. Um cál-culo grosseiro indica que o PIB do estado correspondia, emmeados da década de 1970, a cerca de US$ 8,4 bilhões,65 o quesugere que o investimento inicial significava cerca de 30% darenda do estado na época.

O COPEC configurou uma espécie de paradigma do mo-delo de industrialização baseado no tripé constituído pela em-presa estatal, pela empresa estrangeira e pela empresa nacional.Conforme assinala Cavalcante (1998, p. 68), os critérios de cons-tituição dos empreendimentos na forma de joint ventures nopólo baiano foram os seguintes:

· a participação da Petroquisa seria sempre pelo menosigual à participação do maior acionista privado;

· nenhum capital deteria sozinho a participação majori-tária do empreendimento;

· o sócio multinacional seria o fornecedor da tecnologia,aportando seu capital através dela.

Em que pese seu caráter tripartite, o COPEC foi implan-tado com forte apoio do Estado, conforme destaca Erber (1995):

A intervenção do Estado na constituição financeira do Pólode Camaçari foi igualmente abrangente. Os incentivos fis-cais concedidos pelo CDI para aquisição de equipamentos

65 O PIB da Bahia em dólares norte-americanos pode ser obtido simplesmentemultiplicando-se a participação da Bahia no PIB nacional em 1975 pelo valorem dólares do PIB ao câmbio médio daquele ano (US$ 130 bilhões) disponívelno site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Nesse caso, o PIBda Bahia, em 1975, seria da ordem de US$ 4,87 bilhões. Quando se considerao PIB brasileiro com base na paridade do poder de compra (US$ 223 bilhões,mais uma vez de acordo com dados do IPEA), o PIB da Bahia alcança US$ 8,36bilhões.

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nacionais e importados foram ampliados e a estes soma-ram-se os incentivos regionais que envolviam a isenção deimposto de renda, a redução do imposto de circulação demercadorias para aplicação em programas de expansão emecanismos de capitalização das empresas através de parti-cipações acionárias vinculadas a incentivos fiscais (princi-palmente o FINOR – Fundo de Investimentos do Nordes-te) (ERBER, 1995, p. 9).

Como resultado, a estrutura de capital das empresas doCOPEC revela uma reduzida participação do setor privado nasfontes de financiamento utilizadas para sua implantação. Guer-ra e Gonzalez (1996, p. 39) assinalam que o conjunto de incen-tivos fiscais e financeiros “possibilitou ao capital privado redu-zir drasticamente o risco de sua participação nos empreendi-mentos e garantiu vantagens comparativas à Bahia”.

Com efeito, Teixeira (1985, p. 197-198) assinala que o ca-pital efetivamente investido pelos parceiros privados nas empre-sas do Pólo Petroquímico correspondia a apenas 12,5% do inves-timento total, sendo 9,1% de parceiros locais e 3,4% dos sóciosexternos.66 Em oposição, a participação do então Banco Nacionaldo Desenvolvimento Econômico (BNDE) no financiamento dosinvestimentos alcançou cerca da metade dos aportes totais.67 Es-ses dados podem ser vistos na Tabela 3.2, extraída de Teixeira(1985, p. 197), que apresenta as fontes de financiamento dosinvestimentos nas empresas do COPEC.

Além dos incentivos fiscais e financeiros, outros fatorescontribuíram para a localização do COPEC na Bahia. Embora

66 Convém lembrar que, além dos recursos financeiros diretamente alocados,os sócios externos detinham parte do capital das empresas pelo fato de teremcedido as tecnologias empregadas.

67 Ao se somarem os recursos financiados pelo então BNDE (40,4% do total)com os endossos (7,6%), chega-se a 48,0% do total, exclusive os financiamen-tos indiretos concedidos através da Financiadora de Insumos Básicos (FIBASE).

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distante dos maiores centros de consumo em nível nacional econtando com uma infra-estrutura relativamente limitada, aBahia, conforme aponta Cavalcante (1998), “dispunha entãodas melhores condições do país em termos de fornecimento dematéria-prima”, sendo, naquele momento, “o maior produtorde petróleo e praticamente o único de gás natural do país” epossuindo “a primeira grande refinaria nacional, a RefinariaLandulpho Alves — RLAM” (CAVALCANTE, 1998, p. 69).Além disso, o governo do estado investiu cerca de US$ 125 mi-

Tabela 3.2 -Fontes de financiamento dos investimentos

nas empresas do Complexo Petroquímico de Camaçari

Fonte: Martins (1982) apud Teixeira (1985, p. 197).

68 Subsidiária do então BNDE para investimentos na indústria de base. Confor-me destaca Teixeira (1985, p. 218), a FIBASE “podia tanto adquirir ações comdireito a voto ou financiar a aquisição de ações por investidores privados”.

Fonte US$ Milhões Participação

Investimentos (recursos próprios) 979.571 41,1%

Petroquisa 279.146 11,7%

Parceiros locais (FIBASE)68 216.355 9,1%

Parceiros externos 81.320 3,4%

Concessões fiscais (FINOR, etc) 402.750 19,9%

Recursos financeiros (recursos de terceiros) 1.406.242 58,9%

BNDE 965.521 40,4%

Endossos do BNDE 180.743 7,6%

Outras fontes locais de financiamento 28.821 1,2%

Outras fontes externas de financiamento 231.157 9,7%

Total 2.385.813 100%

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lhões de dólares na infra-estrutura em torno do Pólo(ALMEIDA, 1986, p. 163).69 Todavia, a localização do COPECa cerca de 15 quilômetros do porto (em oposição à sua instala-ção na Baía de Aratu) foi objeto de contestação, seja em virtudeda existência de um lençol freático na região onde o pólo termi-nou sendo instalado, seja por razões de natureza logística.

O fato é que o COPEC definitivamente alterou a estrutu-ra econômica do estado. Conforme discutido na Seção 3.6, aparticipação do setor industrial na composição do PIB do esta-do passou, ao longo da década de 1970, de 12,4% para 31,6%.Dados um pouco mais recentes indicam que, em meados dadécada de 1980, os segmentos químico e petroquímico respon-diam por cerca de metade do valor agregado bruto da transfor-mação industrial no estado e mais de 60% da arrecadação doentão ICM. Quando em plena operação, em meados da décadade 1980, o COPEC gerava um total estimado de 24 mil empre-gos. Ainda assim, o COPEC (mesmo no período que antecedeuo processo de reestruturação produtiva da década de 1990 queimplicou redução substancial de postos de trabalho) demons-trou baixa capacidade de absorção de mão-de-obra, uma vezque o segmento químico e petroquímico respondia, em meadosda década de 1980, por menos de 15% do total do pessoal ocu-pado na indústria do estado. Entretanto, mesmo se tratando deum número reduzido quando confrontado com os investimen-tos totais, o número é expressivo quando comparado com asiniciativas que precederam o COPEC, especialmente quando selevam em conta os empregos indiretos e os chamados empregosefeito-renda decorrentes da injeção de uma massa salarial bas-tante representativa em relação à economia do estado.

69 Na verdade, desse total apenas 20% foram efetivamente investidos pelo go-verno do estado, tendo cabido o restante ao governo federal por meio definanciamentos sem retorno.

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Dessa forma, as repercussões da implantação do COPECnão se limitaram ao setor industrial e à arrecadação do estado.Com efeito, desenvolveu-se, no entorno das empresas ali situa-das, uma razoável infra-estrutura de serviços industriais, e ocomércio, sobretudo em Salvador, experimentou uma expansãocomo conseqüência do efeito-renda gerado pelo investimento.Pretendia-se, explicitamente, que o COPEC exercesse um feitoindutor tipicamente atribuído aos pólos de crescimento discuti-dos na Seção 2.3 deste trabalho, uma vez que se esperam efeitospara frente em diversos segmentos. Nos termos de Mascarenhas(1978),

O Pólo Petroquímico [...] não deve esgotar suas potenciali-dades sobretudo no que tange à sua capacidade germinativa.Espera-se que possa este viabilizar para o Nordeste um par-que produtor de fertilizantes, de químicos finos e plásticos,já assegurando presentemente a produção de toda a maté-ria-prima básica da indústria têxtil sintética (MASCARE-NHAS, 1978, p. 96).

Além disso, o crescimento de Salvador em direção ao nortee o boom imobiliário observado na costa atlântica da península(em oposição à concentração histórica da cidade na face voltadapara o interior da Baía de Todos os Santos) mantêm forte asso-ciação com a implantação do Complexo em Camaçari.

Uma outra iniciativa importante para a chamada especia-lização regional (que consolidava a Bahia como um estado pro-dutor de bens intermediários) foi o início das operações da uni-dade da Caraíba Metais voltada para a metalurgia do cobre em1982. Esse evento elevou a participação do setor na estrutura daindústria de transformação no estado de 5,8%, em 1982, para8,6%, em 1983 e, em 1988, o setor já havia atingido seu nívelatual de participação no conjunto da atividade de transforma-ção industrial na Bahia (cerca de 15%).

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Não há dúvida que essas iniciativas somadas elevaram de-finitivamente a Bahia a uma condição diferenciada em relaçãoaos demais estados da região Nordeste. Não somente o peso dosegmento industrial na composição do PIB do estado elevou-sede forma representativa como também se estabeleceu, na Bahia,a produção de um conjunto de bens intermediários empregadosna indústria de bens finais ainda incipiente no estado. Dessa for-ma, a economia baiana consolidava um caráter de complementa-ridade em relação à economia da região Sudeste do país.

3.5 O suporte institucionalao processo de industrialização

Conforme evidenciado nas seções anteriores, os principais mo-vimentos que marcaram o processo de industrialização da Bahiaentre as décadas de 1950 e 1980 (particularmente a criação doCentro Industrial de Aratu e a implantação do ComplexoPetroquímico de Camaçari) estiveram diretamente associadosaos conceitos de aglomeração e pólos de crescimento. Essesmovimentos claramente apoiaram-se em estímulos do Estado,uma vez que se julgava que haveria, conforme já anteciparaPerroux (1977 [1955], p. 152) ao discutir os pólos de crescimen-to, “hesitação ou lentidão” por parte das chamadas indústriasmotrizes em se instalarem de maneira espontânea. Na prática, oque se observou foi uma combinação de: (i) investimentos dogoverno federal por meio de empresas estatais; (ii) implantaçãoda infra-estrutura básica de suporte ao processo de industriali-zação, com destaque para a Companhia Hidroelétrica do SãoFrancisco (CHESF) e o asfaltamento integral da rodovia Rio-Bahia; (iii) uso extensivo de incentivos fiscais e financeiros con-cedidos por instituições federais de desenvolvimento regional,especialmente o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a SUDENE;e (iv) criação e manutenção de um sistema estadual razoavel-

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mente articulado de planejamento e suporte ao desenvolvimen-to econômico. Assim, à parte os investimentos diretos no setorprodutivo e em infra-estrutura, o processo de industrializaçãoocorrido na Bahia entre as décadas de 1950 e 1980 contou, prin-cipalmente, com o suporte de duas instituições federais (BNB eSUDENE) e de um conjunto de instituições estaduais de plane-jamento e suporte ao desenvolvimento econômico. É dessas ins-tituições que tratam as subseções seguintes.

3.5.1 O Banco do Nordeste do Brasil e a

Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

Ao longo da década de 1950, o governo federal criou duas insti-tuições de suporte ao desenvolvimento regional que, de maneiraarticulada, atuaram na concessão de incentivos fiscais e financei-ros com o propósito de criar condições favoráveis à migração decapitais para a região Nordeste. O Banco do Nordeste do Brasil(BNB) foi criado em 195270 e iniciou suas operações em 1954,após sua Assembléia Geral de Constituição (que ocorreu em 18de janeiro daquele ano). Ao longo de seu período inicial de atua-ção, o BNB empregou recursos do Fundo das Secas, extinto apósa criação e fortalecimento do sistema de incentivos fiscais (ABDE,1994, p. 99). Na prática, o BNB atuou como uma instituição mis-ta, uma vez que captava depósitos do público e repassava recur-sos de longo prazo, viessem esses do BNDES ou de fundos cons-titucionais. Nos termos de Lees, Botts e Cysne (1990):

O BNB apresenta características híbridas de um banco co-mercial e de desenvolvimento. Com efeito, a instituição, aocontrário dos bancos estaduais de desenvolvimento, confi-gurou-se como captadora de depósitos e, ao mesmo tempo,

70 Lei n. 1.649, de 19/07/1952.

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provedora de recursos de longo prazo. O funding do BNBpara estas operações, entretanto, provinha de programasde incentivos fiscais (uma vez que era o agente financeiroda SUDENE), contribuições do governo, operações emmoeda estrangeira e agências de empréstimos internacio-nais (LEES; BOTTS; CYSNE, 1990, p. 143).

Em virtude de seu menor custo financeiro, os fundos cons-titucionais foram o principal diferencial do banco no mercadode crédito, levando-o a disputar com outras instituições o aces-so aos recursos públicos disponíveis. Em 1974, por exemplo, oentão presidente do BNB, Nilson Holanda, apelou para “os lí-deres políticos da região” para que fosse garantido o acesso dainstituição “aos fundos de exigibilidade a longo prazo e baixocusto financeiro” (HOLANDA, 1974, p. 80).

Cerca de dois anos após iniciadas as atividades do BNB,foi implantado, em 1956, o Grupo de Trabalho para o Desen-volvimento do Nordeste (GTDN),71 cujas análises e propostasforneceriam os fundamentos para a criação, em 1959, da Supe-rintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).72

Araújo (1997, p. 452) destaca que o GTDN reservava ao setorpúblico um papel fundamental na promoção do desenvolvimentoda região, que deveria apoiar-se fundamentalmente na indus-trialização. De fato, como colocado no documento,

Tendo em conta a elevada densidade demográfica da faixalitorânea [da região Nordeste], para elevar a produtividadedo trabalho nessa região é mister aumentar a densidade de

71 O site da SUDENE (<http://www.sudene.gov.br/gti/index.html>. Acesso em:23/08/2005) registra a criação do GTDN em 1957.

72 O GTDN, posteriormente transformado no Conselho de Desenvolvimentodo Nordeste (CODENO), ensejou, em 1959, a criação da SUDENE (Lei n.3.692, de 15/12/1959). O documento base que deu origem à SUDENE (Uma

política de desenvolvimento para o Nordeste) é de 1959 (GTDN, 1959) e, em-bora atribuído ao grupo, é, possivelmente, de autoria de Celso Furtado (AL-BUQUERQUE, 1997, p. 470).

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capital por pessoa ocupada, o que implica, necessariamente,a industrialização (GTDN, 1997 [1959], p.426).

Assim, não surpreende que a SUDENE tenha se voltadopara uma estratégia de industrialização intensiva da região.Embora Teixeira e Guerra (2000, p. 89) afirmem que “a idéiainicial, contida no relatório do GTDN, era, sobretudo, a de pro-mover as indústrias de consumo final, replicando a estrutura in-dustrial existente no Centro-Sul”, e Spinola (2003, p. 109) des-taque que “o GTDN objetivava um processo regional de substi-tuição de importações”, o fato é que o documento do GTDN ébastante abrangente na indicação dos setores industriaisprioritários, propondo desde a instalação de uma indústria side-rúrgica, passando pelas indústrias mecânicas a jusante e pelasindústrias que se apoiariam em uma base favorável de matérias-primas locais até as indústrias tradicionais como aquelas do se-tor têxtil (GTDN, 1997 [1959], p.427).

Os instrumentos empregados, no período inicial, ficaramconhecidos como Sistema 34/18. Trata-se, na prática, de uma refe-rência ao Artigo 34º da Lei n. 3.995, de 14/12/1961, que permitia adedução do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas de recur-sos destinados a investimentos na região, e ao Artigo 18º daLei n. 4.239, de 27/06/1963, que estendia essa dedução à aquisi-ção de obrigações emitidas pela SUDENE para ampliar os recursosdo Fundo de Investimentos para o Desenvolvimento Econômico eSocial do Nordeste (FIDENE). Esse fundo, cujas fontes envolviamtambém recursos orçamentários, era utilizado na subscrição, pelaSUDENE, de capital de empresas instaladas no Nordeste.73 As-

73 A Lei n. 4.239, de 27/06/1963, que criou o FIDENE, permitiu também o seuuso no financiamento de atividades destinadas ao aproveitamento de recursosminerais da região e de construção de habitações populares, bem como nacobertura de riscos cambiais assumidos pela SUDENE. Convém ressaltar ain-da que era permitida a aplicação de recursos do 34/18 na compra de Obriga-ções da SUDENE, mas, em contrapartida, exigia-se que o depositante aportassedeterminado volume de recursos próprios no empreendimento incentivado.

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sim, o Sistema 34/18 combinava incentivos fiscais (especialmentepara a capitalização do FIDENE) e financeiros (através da subs-crição de capital pela SUDENE). É conveniente enfatizar queSistema 34/18 referia-se a operações de capital de risco, umavez que o incentivo concedido ao depositante deveria ser apli-cado no investimento, com todos os riscos inerentes à iniciati-va. As operações diferiam, portanto, das do chamado capital deempréstimo, nas quais se requeria reembolso fixo e obrigatório.

A retórica subjacente à criação dos incentivos do Sistema34/18 era que se buscava atrair para o Nordeste o know-how oua capacidade empresarial do Centro-Sul necessária para pro-mover a industrialização da região e, subsidiariamente, se bus-cava também atrair capital para aplicação em projetos de inte-resse regional. Conforme assinala Hirschman (1967), o Sistema34/18 permitiria a aplicação de recursos incentivados em proje-tos de desenvolvimento da região, objetivando, entre outras fi-nalidades:

· elevar a poupança interna do país e da região;

· ampliar o efeito multiplicador dos investimentos, indu-zindo a criação de novas fontes de formação de capital;

· evitar interferências nas decisões relativas ao funcio-namento das empresas;

· reduzir as perspectivas de riscos e prejuízos futuros dosempreendimentos localizados na região; e

· quantificar os custos sociais inerentes aos programasde desenvolvimento regional.

Entretanto, apesar de seus objetivos ambiciosos e doaprendizado institucional que proporcionou, o Sistema 34/18gerava distorções, sobretudo devidas a conflitos de interessesentre depositantes, intermediários e investidores. Argumenta-va-se que a situação ideal seria a eliminação da figura do inter-mediário, de modo que o depositante investisse em seu próprio

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projeto ou em uma associação de projetos de empreendimentoslocais. Outra distorção apontada é que o sistema penalizava,sobretudo, o pequeno depositante e a pequena empresa, quepagavam elevadas comissões aos agenciadores, corretores e es-critórios de projetos. Conforme assinala Holanda (1975),

[...] em fins de 1973, por exemplo, 94% do total dos depo-sitantes do 34/18 na área do Nordeste (cerca de 162.763para um total de 171.592 depositantes ativos) possuíam de-pósitos de valor não superior a Cr$ 15.000 e representati-vos de não mais que 26% do total dos depósitos.

Na prática, portanto, o Sistema 34/18 beneficiava os gran-des depositantes, que aplicavam em seus próprios projetos enão pagavam qualquer tipo de comissão aos corretores, e os gran-des projetos, que conseguiam mobilizar recursos a taxas bastan-te inferiores às praticadas no mercado. Além disso, argumenta-va-se freqüentemente que o sistema de incentivos era oneroso,ineficaz e de baixa eficácia social porque contribuía para a con-centração de renda e beneficiava, em primeiro lugar, a classeempresarial do Centro-Sul, para onde era canalizada a massados recursos financeiros oriundos do Sistema 34/18.74

Com base no diagnóstico das debilidades do Sistema 34/18e em um contexto de fortalecimento da SUDENE, foi criado,em 1974, o Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR),75

que daria nome àquilo que ficaria conhecido como SistemaFINOR. A bem da verdade, o fundo propriamente dito, quepode ser considerado um desdobramento do antigo FIDENE,destinava-se ao apoio financeiro através de participação acionáriae/ou aquisição de debêntures conversíveis ou não em ações. A

74 Ver também a Seção 3.3 para uma discussão sobre o comportamento “rentista”adotado por algumas empresas que se instalaram no CIA.

75 Decreto-Lei n. 1.376, de 12/12/1974.

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mesma lei que o instituiu estabeleceu que o FINOR seria opera-do pelo Banco do Nordeste.76

Conforme indicado nos documentos Incentivos fiscais efinanceiros para o Nordeste (MINISTÉRIO DO INTERIOR –SUDENE/BNB, 1979) e Incentivos fiscais e financeiros para in-vestimentos no Nordeste do Brasil (MINISTÉRIO DO INTE-RIOR – SUDENE/BNB, 1982), a participação acionária era feitamediante a subscrição de ações nominativas e intransferíveis peloprazo de quatro anos, enquanto as debêntures, nominativas aoFINOR e intransferíveis, tinham duração total máxima de seteanos, sendo tolerada uma carência não superior à metade do pra-zo total de resgate e taxas equivalentes a 4% mais correção mone-tária. A participação do FINOR podia atingir até 75% dos recur-sos necessários para a implantação do projeto, variando confor-me o investimento e sua faixa de prioridade. O fundo não apoia-va saneamento financeiro de empresas, não podia ser utilizadopara captação de capital de giro puro e não assumia controleacionário das empresas apoiadas. Convém observar que, na prá-tica, de maneira análoga ao Sistema 34/18, o Sistema FINOR foiessencialmente concebido para apoiar empresas de maior porte,uma vez que havia um limite mínimo para os investimentos quepodiam beneficiar-se de seus incentivos.

Mas o conjunto de incentivos ia muito além do apoio dofundo: admitia-se também a isenção ou redução do Imposto deImportação (II) e do Imposto sobre Produtos Industrializados(IPI), conforme a natureza do empreendimento. Previa-se ain-

76 Embora o Banco do Nordeste recebesse, desde 1962, depósitos oriundos do Sis-tema 34/18 (<http://www.bancodonordeste.gov.br/banco/historia/dec60.html>),sem dúvida a instituição do FINOR confere ao banco um papel de maior desta-que no processo. Do ponto de vista legal, o Banco do Nordeste manteve o mono-pólio da operação do FINOR (e também do FNE, criado em 1988) até 2001,quando a Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001, e a Portaria 460 passa-ram a permitir sua operação por “outras instituições financeiras oficiais federais”.

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da a isenção do Imposto de Renda (IR) por dez anos (prorrogá-veis até quinze) e sua redução para as empresas que, operandona área de atuação da SUDENE, não houvessem sido beneficia-das com redução total ou não tivessem obtido a prorrogaçãomencionada. As empresas que tinham IR a recolher, por suavez, poderiam utilizá-lo para reinvestimentos no FINOR.

Se a esse conjunto de incentivos forem adicionados osfinanciamentos ou avais concedidos pelo então Banco Nacionaldo Desenvolvimento Econômico (BNDE)77 ou pelo BNB e osincentivos estaduais e municipais, chega-se a um pacote razoa-velmente articulado de incentivos fiscais e financeiros no âmbi-to do Sistema FINOR.

Dados mencionados por Monte e Távora Júnior (2000,p. 684) indicam que, entre 1980 e 1995, os desembolsos do FINORultrapassaram R$ 5 bilhões e evidenciam sua especial concentra-ção no setor industrial. Convém observar, entretanto, que, emapenas oito anos de funcionamento, o Fundo Constitucional deFinanciamento do Nordeste (FNE) aplicou um volume de recur-sos 50% maior (R$ 7,5 bilhões) do que aquele do FINOR aolongo de quinze anos (período 1980-1995). Além disso, dadosorganizados por Monte e Távora Júnior (2000) não deixam dúvi-da quanto ao fato de que, do ponto de vista da distribuição inte-restadual de recursos do FINOR no período, “os estados do Cea-rá e Pernambuco foram os que apresentaram os maiores índicesde orientação do FINOR, em contraposição aos estados de Alagoase Bahia” (MONTE; TÁVORA JÚNIOR, 2000, p. 684).

Uma outra importante fonte de recursos empregada peloBNB em paralelo ao FINOR foi o FNE.78 Essencialmente, esse

77 Hoje Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).78 Criado em 1988 através do Artigo 159º, Inciso I, Alínea “c” da Constituição

Federal (que destinou 3% do produto da arrecadação dos impostos sobre a rendae proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados para apli-cação em programas de financiamento aos setores produtivos das regiões Norte,

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fundo utilizava recursos orçamentários vinculados correspon-dentes a 1,8% da arrecadação do IR e do IPI, o que evitava apossibilidade de cortes associados a contingências. O FNE foiusado como fonte de recursos para alguns programas do BNB,como o Programa de Fomento à Geração de Emprego e Rendano Nordeste, que mais tarde passaria a empregar recursos doFAT. Condições diferenciadas aplicavam-se aos financiamentosconcedidos com recursos do FNE nas regiões do semi-árido nor-destino. De acordo com Monte e Távora Júnior (2000, p. 685),entre 1990 e 1998, o FNE aplicou mais de R$ 7,5 bilhões, queforam desembolsados, de modo bastante irregular ao longo doperíodo. Esses mesmos autores demonstram claramente que oCeará teve acesso diferenciado aos recursos do FNE e indicam ofato de a sede do Banco do Nordeste estar situada em Fortalezacomo possível razão para esse fenômeno (MONTE; TÁVORAJÚNIOR, 2000, p. 686).

Conforme indicado em SUDENE/BNB (1986), em 1986, oMinistério do Interior instituiu a Comissão de Avaliação de In-centivos Fiscais (COMIF), fórum de abrangência interminis-terial, com a finalidade de avaliar e oferecer sugestões para o aper-feiçoamento dos Fundos Regionais de Investimentos. No Nor-deste, a avaliação do FINOR ficara a cargo do BNB e da SUDENE,que elaboraram estudos econômicos, financeiros e institucionaispara a consolidação das propostas de reformulação. Os estudosenfatizaram a importância do FINOR para o desenvolvimentoindustrial do Nordeste, sublinhando que a indústria implantadapossibilitou a modernização e diversificação da estrutura produ-tiva regional, em condições de competir com os mercados extra-

Nordeste e Centro-Oeste) e regulamentado através da Lei n. 7.827, de27/09/1989. Além do FNE, essa mesma lei regulamentou o Fundo Constitucio-nal de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) e o Fundo Constitucional deFinanciamento do Norte (FNO). Os 3% previstos na Constituição Federal seriamassim distribuídos: 1,8% para o FNE, 0,6% para o FNO e 0,6% para o FCO.

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regionais. De fato, diversos autores (CANO, 1995; FERREIRA;DINIZ, 1995) reconhecem que, entre 1970 e 1985 — não porcoincidência o período durante o qual a SUDENE teve mais força—, houve um vigoroso processo de desconcentração regional derenda no país. Entretanto, no que diz respeito à alocação setoriale regional dos recursos incentivados, bem como a questões dedimensões institucionais, as análises realizadas pela própriaSUDENE (SUDENE/BNB, 1986) identificaram um conjunto defalhas e/ou imperfeições que demandavam correções. As suges-tões apresentadas foram destacadas em seis grupos distintos, en-volvendo subconjuntos de medidas e linhas de ação queobjetivavam: (i) fortalecimento do FINOR; (ii) incentivo à efeti-va criação de mercado regional de ações; (iii) distribuição maiseqüitativa do crescimento e diminuição da concentração espaciale setorial da renda; (iv) apoio e recuperação de empresas incenti-vadas; (v) aperfeiçoamento de ordem jurídica e administrativa; e(vi) avaliação e acompanhamento periódico do Sistema FINOR.Pela sua contemporaneidade, esses diagnósticos deixam de per-ceber que a crise à qual se referiam tinha fundamentos que iammuito além dos aspectos puramente instrumentais. De fato, é emmeados da década de 1980 que o desmantelamento da SUDENEé iniciado. Não por acaso, a queda dos índices de desigualdaderegionais de renda entre os estados do Brasil passou a decorrer, apartir daquele momento, de uma homogeneização no interior dasgrandes regiões, e não da redução das desigualdades entre as gran-des regiões (CAVALCANTE, 2003a).79

A agonia da SUDENE estendeu-se por mais cerca de quinzeanos. Finalmente, em 2001, a superintendência foi extinta e con-vertida na Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE).80

Nesse mesmo ano, foi criado o Fundo de Desenvolvimento do

79 Na parte inicial do Capítulo 4, é apresentada uma análise mais detalhadadessa proposição.

80 Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001.

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Nordeste (FDN),81 que pressupunha que os recursos aprovadosfossem convertidos em debêntures. O FDN apoiava-se essencial-mente em dotações orçamentárias (R$ 660 milhões previstos parao exercício de 2002, de acordo com o Artigo 4º da MP 2.156-5) eexigia contrapartida, em igual montante, dos estados e municí-pios. Além disso, convém observar que do montante previsto noArtigo 4º da MP 2.156-5 seriam dedutíveis

[...] as parcelas equivalentes às opções de incentivo fiscal,relativas ao IRPJ, exercidas pelas empresas, bem como quais-quer comprometimentos de recursos decorrentes de opçõesde incentivos fiscais no âmbito do FINOR.82

Na prática, contudo, o que se observou foi a continuidade doprocesso de desmantelamento da instituição e o fracasso da ten-tativa de recriação da SUDENE no período entre 2002 e 2003.

3.5.2 Instituições estaduais de planejamento e suporte

ao desenvolvimento econômico

No âmbito do governo do estado, um conjunto razoavelmentevasto e articulado de instituições esteve envolvido no planeja-mento e suporte ao desenvolvimento econômico. Em particular,destacam-se, conforme assinalam Santos e Oliveira (1988):83

· A Comissão de Planejamento Econômico (CPE), cria-da em 1955 com o propósito de elaborar pesquisas eco-nômicas voltadas para a proposição de estratégias dedesenvolvimento da Bahia. A CPE foi constituída a

81 Artigo 3º da Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001.82 Artigo 5º da Medida Provisória n. 2.156-5, de 24/08/2001.83 Também o Plandeb (BAHIA, 1960, p. 176) cita os órgãos de pesquisa e pla-

nejamento atuantes na Bahia no final da década de 1950, incluindo as insti-tuições federais.

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partir de convênio celebrado com o Banco do Nordestee com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior (CAPES) que permitiu a edição deum Curso de Desenvolvimento Econômico (ALMEIDA,1986, p. 95).

· O Instituto de Economia e Finanças da Bahia (IEFB),vinculado à Universidade Federal da Bahia e voltadopara discussões de caráter mais acadêmico. O IEFB re-cebeu, em seus quadros, uma parte dos técnicos treina-dos no âmbito do convênio citado acima.

· O Conselho de Desenvolvimento Econômico(CONDEB), instância deliberativa das políticas pro-postas.

· O Fundo de Desenvolvimento Agroindustrial (Fundagro),criado em 195684 e transformado, dez anos mais tarde,no Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (De-senbanco). O Fundagro havia sido criado para atuarem circunstâncias nas quais não fosse possível mobili-zar a iniciativa privada, o que caracteriza uma inter-venção direta do governo no segmento produtivo, par-ticularmente na área de abastecimento. A criação doDesenbanco, que assumiu as operações ativas e passi-vas do antigo Fundagro, marcou uma transição na retó-rica empregada pelo Estado até então. Aparentemente,a mensagem era de que, pelo menos teoricamente, ca-beria ao setor privado identificar as oportunidades deinvestimentos e selecioná-las, restando à rede públicade bancos oficiais conceder crédito de longo prazo parafinanciar essas iniciativas, enquanto o sistema finan-ceiro privado e o mercado de capitais não estivessemaptos a prover o financiamento necessário. O risco des-

84 Lei Estadual n. 849, de 19/10/1956.

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sas operações seria, em tese, menor para o Estado (quese colocava como provedor de recursos de terceiros, enão de recursos próprios) do que para o segmento pri-vado, a quem caberia honrar a amortização dos crédi-tos mesmo em caso de fracasso do empreendimento.85

· O Instituto de Fomento Econômico da Bahia (IFEB),que, mais tarde, seria transformado no Banco do Estadoda Bahia (BANEB). A rigor, conforme descreve Lima(2001, p. 66), a Bahia contava, desde 1937, com o Insti-tuto Central de Fomento Econômico da Bahia (ICFEB),transformado mais tarde no Instituto de Fomento Eco-nômico da Bahia (IFEB). O IFEB, por sua vez, daria ori-gem, em 1959/1960, ao Banco de Fomento do Estado daBahia (BANFEB), cujo nome seria alterado, em segui-da, para Banco do Estado da Bahia (BANEB), de modoa caracterizá-lo claramente como um banco comercial epermitir seu acesso sumário a fontes de recursos vedadasaos bancos de desenvolvimento.

Essas instituições (em particular a CPE) estiveram associa-das à produção de estudos com o propósito básico de subsidiar asações de planejamento do governo do estado. De uma forma geral,essas publicações traziam um diagnóstico econômico (e muitas ve-zes também demográfico, físico e de várias outras naturezas) e, emseguida, proposições de ação. Embora produzidos no âmbito dopróprio governo do estado (o que poderia sugerir que essas publi-cações estariam associadas a influências políticas), o fato é que, deuma forma geral, o conteúdo dos diagnósticos era bastante técnico,e a linguagem essencialmente acadêmica. Por outro lado, as propo-sições de ação, embora enfáticas em questões-chave (como a ne-cessidade de industrialização e de redução das desigualdades regio-

85 Para uma descrição detalhada da atuação do Desenbanco, ver Cavalcante(2004).

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nais), mantinham, de uma forma geral, uma maior flexibilidade.86

Uma listagem não exaustiva de publicações desse tipo inclui[Bahia] (1955), Bahia (1960), Fundação de Planejamento – CPE(1974), CEPLAB – Centro de Planejamento da Bahia (1978),Bahia (1983), Bahia (1987), Bahia (1991), Bahia (1999), Avena(2002) e Bahia (2003). É fácil perceber que muitas delas sãocitadas ao longo desse documento, constituindo-se hoje em fontede pesquisa essencial, uma vez que não apenas trazem informa-ções sobre a realidade da economia do estado nos momentos emque foram produzidas, mas também permitem a reconstituiçãoda trajetória das idéias que marcaram as ações de planejamentodo desenvolvimento econômico ao longo do tempo.

3.6 A estrutura resultante

Conforme evidenciado nas Seções 3.2, 3.3 e 3.4, a estrutura queresultou do processo de industrialização das décadas de 1950, 1960e 1970 caracterizava-se por sua concentração em commoditiesintermediárias, decorrente de uma estratégia de industrializa-ção que se propunha complementar àquela das regiões maisdesenvolvidas do país, em um contexto de integração produtivade uma economia fechada. Essa trajetória distingue-se do cami-nho adotado pelos demais estados da região Nordeste, que op-taram por uma estrutura que, em certa medida, replicasse aque-la observada na região Sudeste do país ao buscar uma industri-alização intensiva em mão-de-obra (ALBUQUERQUE, 1997).

86 Isso não quer dizer que alguns trabalhos não tenham sido bastante prescritivos.Esse é o caso, por exemplo, da Proposta de Política Industrial (BAHIA, 1983),que chega a apresentar uma minuta da Lei que instituiria e do decreto queregulamentaria o “Fundo de Desenvolvimento Industrial e Agroindustrialdo Estado da Bahia” (BAHIA, 1983, p. 297). Na verdade, propunha-se aintegração do planejamento do desenvolvimento industrial com o financia-mento de fomento e com a promoção industrial.

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Apoiada na crescente integração dos mercados do país em vir-tude da implantação de uma malha rodoviária que terminouarticulando a região Nordeste com as regiões Sul e Sudeste, tra-tava-se, a bem da verdade, de uma estratégia de “especializaçãoregional” (GUERRA; GONZALEZ, 1996, p. 38) explicitamen-te colocada já em 1970, quando Almeida (1970) destacava que“a industrialização da Bahia se fará dominantemente com desti-no às exportações interestaduais e, em certos casos, para fora dopaís”.

Ao se examinarem as repercussões desse processo sobreas taxas de crescimento locais em relação às taxas nacionais (oque, na prática, significa acompanhar a evolução da participa-ção do PIB da Bahia no PIB do Brasil) e regionais (evolução doPIB da Bahia no PIB da região Nordeste), é indiscutível que asiniciativas mencionadas — especialmente a implantação doComplexo Petroquímico de Camaçari — lograram obter resul-tados bastante positivos, seja através da elevação da participa-ção do PIB da Bahia no PIB do Nordeste e do Brasil, consoli-dando sua posição de sexta economia do país, seja atuando con-traciclicamente nos momentos em que a região Nordeste viareduzir-se sua participação no PIB nacional, conforme eviden-ciam as Figuras 3.1 e 3.2 a seguir e os Apêndices 1 e 2.

As Figuras 3.1 e 3.2 confirmam a hipótese de que, em umcontexto marcado pela crescente integração dos mercados nacio-nais através de uma malha rodoviária razoavelmente articulada,a estratégia de industrialização complementar à região Sudeste,adotada pela Bahia, foi bem-sucedida quando comparada aodesempenho apresentado por Pernambuco, que parece ter pre-tendido replicar a estrutura industrial existente nas regiões maisdesenvolvidas do país. Em particular, durante a década de 1970,a taxa média de crescimento real do PIB da Bahia foi de 11,4%,contra 9,7% do conjunto da região Nordeste e 8,6% do Brasil(GUERRA; GONZALEZ, 2001, p. 309). Ainda assim, os efei-

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tos da integração do mercado brasileiro através de um sistemarodoviário razoavelmente articulado não podem ser considera-dos homogêneos para o conjunto das iniciativas de industriali-zação adotadas na Bahia ao longo da segunda metade do séculoXX: se, por um lado, esse movimento colocou o Complexo Pe-troquímico de Camaçari na condição de fornecedor de insumospara a indústria instalada na região Sudeste, por outro colocouem xeque as empresas do CIA voltadas para a produção de bensfinais. Um aspecto que se deve considerar, ainda, é que a Bahiaparece ter se beneficiado do maior enraizamento dos segmentosprodutores de bens intermediários em virtude dos maiores sunkcosts associados a sua implantação e de sua intensidade em ca-pital. Nesse sentido, a estrutura que se fixou no estado entre asdécadas de 1950 e 1980 parece ter sido mais resistente às baixastaxas de crescimento do final da década de 1980 do que teriamsido segmentos voltados para a produção de bens finais.

Com efeito, a partir de meados da década de 1970, a par-ticipação média do PIB da Bahia no PIB do Brasil passa de umpatamar inferior a 3,8% para mais de 4,5%, conforme indicadona Figura 3.3 a seguir.

Embora a diferença em pontos percentuais possa parecerpequena, é preciso ter em mente que se trata de um desvio daordem de mais de 15% do percentual atribuído à Bahia. Essesdados mostram que, embora a participação média do PIB daBahia no PIB do Brasil tenha se situado em torno de 4,1% aolongo do período entre 1947 e 2002, houve, de fato, uma eleva-ção de patamar após a metade da década de 1970. Essa percep-ção diverge, portanto, daquela de Azevêdo (2000), para quem aparticipação do PIB da Bahia no PIB do Brasil teria se mantidorelativamente constante. Nos termos desse autor:

Na segunda metade do século XX várias políticas de incen-tivos foram implementadas com o objetivo de alavancar ocrescimento estadual. Agora, em finais do século, quase 50

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anos depois dessas controvérsias, os analistas se surpreen-dem com a duradoura estabilidade da participação da rendabaiana na renda nacional [...] indicando sua relativa cons-tância em torno de 4,5% ao longo dos últimos 60 anos,desde 1939 até 1999 (AZEVÊDO, 2000, p. 49).

Azevêdo (2000) empregou, porém, séries que não con-templavam todos os anos que compõem a amostra. Mesmo comas ressalvas metodológicas que se deve fazer a respeito do em-prego da série utilizada no presente trabalho, pôde-se aqui, emdecorrência da disponibilidade da série consolidada por Azzoni(2001) e gentilmente cedida por esse autor, chegar a conclusõesdistintas.

A análise do desvio padrão, contudo, mostra, no períodoentre 1976 e 2002, uma trajetória mais instável, típica de umaeconomia concentrada em commodities intermediárias cujospreços estão sujeitos a elevados níveis de oscilação (Tabela 3.3).

Embora consistente com a vulnerabilidade da economialocal às oscilações típicas dos preços das commodities interme-diárias, a constatação de que a participação da Bahia na econo-mia brasileira teve maior variância após a consolidação do seuparque industrial contradiz a expectativa segundo a qual, porseus maiores níveis de integração com a economia brasileira, aBahia apresentaria uma trajetória mais estável quando confron-tada com o restante do país.

Um outro aspecto a ser levado em consideração é a com-paração do desempenho da Bahia com o desempenho dos de-mais estados da região Nordeste. Uma vez que a economia daBahia compartilha determinados problemas com outros estadosda região (parte representativa de seu território sujeita ao climasemi-árido, estrutura fundiária concentrada em grandes proprie-dades e uma série de outras características que justificam a in-clusão da Bahia na região Nordeste), seu desempenho é afetadopelo desempenho do conjunto da região. Assim, ao conseguir

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87 Nas décadas de 1960 e 1970, o setor industrial é, de longe, o menos repre-sentativo na economia baiana, respondendo por pouco mais de um décimoda economia do estado.

elevar sua participação no PIB da região, a Bahia fornece evi-dências de que, na conjuntura da época, a opção adotada peloestado pode ter sido mais interessante do que tentar replicar aestrutura industrial instalada na região Sudeste.

Os picos indicados para a Bahia nas Figuras 3.1, 3.2 e 3.3evidenciam ainda que, como um desdobramento natural de seuprocesso de industrialização baseado em pólos de crescimento, odesenvolvimento econômico do estado deu-se em “ciclos”(UDERMAN, 1996; UDERMAN; MENEZES, 1997; 1998), “es-pasmos” (TEIXEIRA; GUERRA, 2000) ou “saltos” (MENEZES,2000), terminando por configurar, já em 1980, uma estruturaprodutiva que pouco se alteraria nos anos subseqüentes(MENEZES, 2001), conforme evidenciado na Figura 3.4.

Se as iniciativas datadas do período compreendido entre1950 e 1970 não haviam sido capazes de colocar o setor secun-dário em posição de destaque na composição do PIB do esta-do,87 a entrada em operação do Complexo Petroquímico de Ca-maçari e alguns outros movimentos observados (especialmenteno setor metalúrgico) conseguiram consolidar a produção in-

Tabela 3.3 - Bahia: % PIB do Brasil (média e desvio padrão),

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Fonte: Elaboração própria.

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dustrial na Bahia, elevando a participação do setor na economiado estado para cerca de um terço. Com o início das operaçõesda Caraíba Metais, no segmento de metais não-ferrosos, e aconsolidação das empresas do COPEC, sobretudo na primeirametade da década de 1980, o que se observou, no início da déca-da seguinte, foi a elevação da participação do setor industrial noPIB do estado para quase 40%. Ao longo desse período de ex-pansão do setor secundário, houve anos nos quais as atividadesde transformação industrial cresceram a taxas da ordem de 30%,como em 1977 (32,0%), 1979 (29,4%) e 1980 (26,6%) (GUER-RA; GONZALEZ, 1996, p. 39). Além da composição do PIB,outro indicador eloqüente do crescimento do setor industrial naBahia entre as décadas de 1970 e 1980 é a arrecadação do ICM,em cujo total a participação da indústria elevou-se de cerca de30%, em 1975, para mais de 55% em 1985. Desse total, a petro-química respondia, de acordo com dados de Guerra e Gonzalez(2001, p. 309), por cerca de 64%.

Ainda que tenha sido entre meados da década de 1970 emeados da década de 1980 que a Bahia exibiu taxas de cresci-mento bastante elevadas e transformou-se em uma economiaindustrializada, foi no período precedente, que se inicia na dé-cada de 1950, que se criaram as condições para que o estadolograsse obter aqueles resultados. Não se deve perder de vistaque um dos principais motivos pelos quais a Bahia viria a abri-gar o segundo Pólo Petroquímico do país foi justamente o fatode contar com uma refinaria em operação. Não seria exageroafirmar que o COPEC foi uma espécie de “efeito para a frente”da refinaria que o precedeu, não somente graças à oferta deinsumos, mas também em virtude da existência de uma razoá-vel infra-estrutura física no estado. Assim, à parte as discussõesde caráter semântico, pode-se argumentar que, mais do que tercrescido em “espasmos”, “saltos” ou “ciclos”, a Bahia pareceter experimentado, ao longo da segunda metade do século XX,

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um processo de crescimento em “camadas” que se sobrepuse-ram, ainda que de forma irregular.

As implicações espaciais desses movimentos estiveram as-sociadas, sobretudo, a uma elevada concentração das atividadeseconômicas na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Comefeito, de acordo com dados estimados por Porto (2002), já em1975, mais de 60% da atividade econômica da Bahia concentra-va-se nessa região. Dados estimados por esse mesmo autor mos-tram ainda o aumento da participação relativa da RMS na econo-mia baiana no período que se estende até 1985, o que pode, semdúvida, ser atribuído ao extraordinário crescimento observado nomunicípio de Camaçari após o início das operações do ComplexoPetroquímico ali situado, conforme evidenciado na Figura 3.5.

Os dados mostrados na Figura 3.5 podem ser atribuídos aum conjunto de eventos ocorridos ao longo do período compreen-dido entre as décadas de 1950 e 1980. Entre eles, os seguintespodem ser citados:

· O modelo de industrialização adotado apoiou-se larga-mente na criação de pólos de crescimento na região emtorno da capital do estado.

· As iniciativas de montagem, no interior do estado, de com-plexos agroindustriais voltados para a produção e distri-buição de produtos agrícolas adotadas nas décadas de 1950e 1960 não foram, em sua maioria, bem-sucedidas.

· Os distritos industriais criados em cidades de médioporte no interior do estado, embora com impactos ra-zoáveis nas regiões geográficas onde foram implanta-dos, mantiveram-se em uma posição pouco representa-tiva em relação à economia do estado.

· O Complexo Petroquímico de Camaçari articulou-semuito pouco com o restante das regiões da Bahia, emesmo Camaçari, embora tenha se beneficiado do ponto

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88 Almeida (1986, p. 163) alega que as políticas propostas para internalizarmais os efeitos do COPEC (como os investimentos na parte urbana de Ca-maçari) não foram implementadas.

de vista da arrecadação, não internalizou seus efeitosno crescimento urbano.88

Independentemente de suas implicações setoriais, a es-tratégia de desenvolvimento adotada no estado começou a darsinais de esgotamento tão logo se maturaram os investimentosdo Complexo Petroquímico de Camaçari em meados da décadade 1980. A queda na participação relativa do estado no PIB doBrasil, a partir de 1984 (Figuras 3.1 e 3.3 e Apêndice 1), e noPIB da região Nordeste, a partir de 1983 (Figura 3.2 e Apêndice2), permite concluir que a Bahia sofreu mais intensamente osefeitos do colapso do modelo de desenvolvimento autárquico eo conseqüente desmantelamento das políticas de desenvolvimen-to regional, motivados pela aguda crise fiscal e financeira vividapelo país, que terminaria determinando uma redução significa-tiva dos investimentos públicos diretos. Para um estado cujoprocesso de industrialização apoiou-se, em larga medida, emcapitais exógenos (isto é, de fora do estado) em oposição a ummodelo apoiado em uma dinâmica endógena (TEIXEIRA EGUERRA, 2000, p. 87), as repercussões da crise das institui-ções de suporte ao desenvolvimento regional seriam, conformese verá no próximo capítulo, particularmente severas.

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Capítulo 4

Competição fiscal e bens finais:a economia baiana na década de 1990

Conforme se demonstrou no final do capítulo anterior, após amaturação dos investimentos do Complexo Petroquímico deCamaçari, há uma inflexão na trajetória ascendente da partici-pação da Bahia no PIB nacional e no PIB da região Nordeste.Esse fenômeno pode ser creditado à redução da taxa de investi-mento decorrente da crise fiscal e financeira que se abateu so-bre o país89 e que marcou o desmantelamento de suas institui-ções de suporte ao desenvolvimento regional. O desfecho dacrise fiscal e financeira da década de 1980 somente viria na dé-cada seguinte, com os movimentos de desregulamentação doEstado, a abertura comercial e o início do processo de privatiza-ções. Com efeito, em um ambiente marcado pela crescente ex-posição da indústria brasileira à concorrência externa, não sur-preende que a estratégia de complementaridade com a econo-mia da região Sudeste do país intensificasse seus sinais de esgo-tamento já evidenciados desde meados da década de 1980, umavez que a produção estadual de commodities expunha-se à com-

89 De fato, durante a década de 1980 e os primeiros anos da década de 1990, arenda per capita do país caiu 3,7%, em virtude de um aumento de apenas23,5% do PIB contra um crescimento populacional de 28,2%, enquanto ainflação média se manteve em níveis elevados (BONELLI; PINHEIRO, 1994,p. 18). São esses números que justificam, inclusive, a atribuição da denomi-nação “década perdida” à década de 1980.

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petição internacional sem a proteção das elevadas alíquotas deimportação que marcaram, de uma forma geral, o período entre1950 e 1980. Essa sucessão de eventos tornou evidente a ausênciade uma dinâmica endógena de crescimento na Bahia e o papeldos capitais exógenos em seu processo de industrialização.

É claro que os efeitos do processo descrito acima não serestringiram à Bahia. Na verdade, a ausência de uma política na-cional de desenvolvimento regional é, seguramente, uma das prin-cipais razões que motivaram a interrupção dos movimentos deconvergência regional de renda que vinham sendo observados noBrasil durante as décadas de 1970 e 1980. Esse contexto acaboumotivando o engajamento de diversas unidades da federação emuma competição por investimentos que se convencionou chamarde “competição fiscal” ou “guerra fiscal” (ROCHA, 2004;TENDLER, 2000).

Assim, é com uma configuração estrutural que apontava,de maneira cada vez mais eloqüente, a necessidade de diversifi-cação e interiorização de sua matriz industrial que a Bahia sedepara com a reduzida capacidade de coordenação do governofederal, o que termina levando o estado a engajar-se, de formaagressiva, na competição fiscal por novos investimentos.

Neste capítulo, discute-se a trajetória da economia baianaao longo da década de 1990. Descreve-se, inicialmente, na Se-ção 4.1, a interrupção do processo de convergência de rendaentre as unidades da federação naquele momento e como essefenômeno termina levando diversos estados a se envolveremcom a chamada guerra fiscal. Os desafios que se colocavam paraa economia baiana naquele momento são discutidos na Seção4.2. O formato dos incentivos concedidos e a extensão em queesses instrumentos se prestavam à implementação das estraté-gias propostas para o estado são o objeto da Seção 4.3; em se-guida, discutem-se, na Seção 4.4, as implicações setoriais dessesmovimentos e, na Seção 4.5, seus desdobramentos.

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4.1 A convergência interrompida ea competição fiscal

Autores como Cano (1995) e Ferreira e Diniz (1995) haviamconstatado um processo de convergência de renda per capitaentre estados brasileiros no período entre 1970 e 1985. De fato,Cano (1995, p. 628) refere-se ao período entre 1970 e 1985como o “auge da desconcentração regional”, atribuindo o fenô-meno a um conjunto de razões:

· o sucesso do processo de integração nacional, que im-pôs transformações estruturais sobre as bases produti-vas periféricas;

· a marcha para o Oeste e a expansão da fronteira agrícola;

· as políticas de desenvolvimento regional, que motiva-ram a migração de capital produtivo para as regiõesmenos desenvolvidas;

· as políticas de exportação, que promoveram a moder-nização da agroindústria em regiões além de São Pauloe da região Sudeste;

· os incentivos e investimentos no âmbito do II PND,que impuseram maior uso das bases de recursos natu-rais das regiões periféricas; e

· a crise da década de 1980, que afetou mais intensamen-te a economia de São Paulo.

Ao se examinar esse conjunto de fatores, pode-se perce-ber que, na década de 1990, alguns dos elementos que vinhamcontribuindo para a desconcentração regional de renda deixa-ram de existir efetivamente ou foram minimizados, seja, em ummomento inicial, em decorrência da crise fiscal e financeira, seja,mais tarde, em virtude da severa disciplina macroeconômica quese adotou no país. Esse é o caso da política de desenvolvimentoregional e dos incentivos e investimentos do governo federaldirigidos às regiões periféricas.

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Ainda assim, os indicadores de desigualdade continua-ram exibindo uma trajetória descendente até meados da décadade 1990, uma vez que, somente a partir de 1994, o processo deconvergência de renda entre os estados brasileiros foi efetiva-mente interrompido. A análise dos indicadores de concentra-ção regional de renda leva Cavalcante (2003a) a propor que adesconcentração que se observou até 1994 não decorreu de umaredução significativa das desigualdades inter-regionais no país,mas sim da redução dos níveis de desigualdades intra-regionais.De maneira análoga, a interrupção do processo de desconcen-tração observada em 1994 decorreu simplesmente da estabiliza-ção dos níveis de desigualdade intra-regionais. Em particular,quando foi interrompido o processo de convergência no interiordas regiões Nordeste e Sudeste, cessou também a redução dosindicadores de desigualdades regionais para o conjunto dos es-tados brasileiros. Na prática, portanto, a convergência que seobservou a partir de meados da década de 1980 decorreu não daaproximação entre os estados do Nordeste e dos estados do Su-deste, mas sim de uma maior homogeneidade entre os estadosque compõem essas regiões.

Dessa forma, é razoável afirmar que a interrupção do pro-cesso de convergência tenha sido uma conseqüência dos menoresfluxos relativos de capital para a região Nordeste em virtude docolapso de instituições como a SUDENE. De fato, Araújo (1999)refere-se ao enfraquecimento do aparato de suporte institucionalao desenvolvimento regional como o elemento que motivou amanutenção dos níveis de desigualdade regional no Brasil.

A ausência de uma política nacional de desenvolvimentoregional e as mudanças na Constituição de 1988 — que fortale-ceu as jurisdições subnacionais — são, por sua vez, as principaisexplicações para a competição fiscal que se estabeleceu entre osestados brasileiros ao longo da década de 1990. Com efeito, emum contexto de crise fiscal (ou, após a edição do Plano Real, de

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políticas macroeconômicas restritivas), os estados (principalmen-te das regiões menos desenvolvidas) já não dispunham dos tra-dicionais instrumentos empregados para a atração de capitais(captação de recursos junto ao governo federal, investimentosdiretos do governo, crédito subsidiado e repassado por bancosde desenvolvimento). Com a elevação do fluxo de investimen-tos estrangeiros diretos dirigidos ao país que se observou após aedição do Plano Real, em 1994, a competição fiscal entre asunidades da federação por investimentos produtivos intensifi-cou-se ainda mais. Nos termos de Rocha (2004):

Contudo, o tema da “guerra fiscal” só explode na mídia eno meio acadêmico e político na década de 90 com o ad-vento da disputa pelos vultosos investimentos da indústriaautomobilística, que, ademais, foram bastante concentra-dos no tempo, o que os tornou mais notórios (ROCHA,2004, p. 21).

É nesse contexto que a competição fiscal passou a ser oprincipal instrumento de política empregado pelo governo daBahia. Não por acaso, o debate teórico discutido na Seção 2.5ganha evidência ao longo desse período, passando a ocupar tan-to os jornais de grande circulação como as páginas de periódicosacadêmicos.

4.2 As estratégias de desenvolvimento

Na Bahia, diante das limitações de utilização de capitais locais(GUERRA; GONZALEZ, 2001, p. 312), a competição fiscalpassou a ser principal instrumento de implementação de umapolítica cujo discurso fundamental era a atração de investimen-tos voltados para a produção de bens finais e capazes de promo-ver a descontração espacial da atividade econômica no estado.Na prática, essa retórica decorria do diagnóstico segundo o qual

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os movimentos observados entre as décadas de 1950 e 1980 te-riam convertido a Bahia em um estado produtor de bens inter-mediários, cuja matriz econômica era setorial e espacialmenteconcentrada.90 É claro que se reconhecia que, ao longo daquelescerca de trinta anos, o estado havia consolidado sua posiçãocomo sexta economia do país, e uma razoável infra-estrutura deserviços no entorno da capital do estado havia sido implantada,mas a diversificação da matriz industrial e a interiorização dodesenvolvimento eram questões que se colocavam como desafiospara a política econômica do governo do estado.

O desafio de reduzir a concentração setorial ficava claro aose levar em conta que, desde o momento em que os investimen-tos do Complexo Petroquímico de Camaçari atingiram sua matu-ridade (em meados da década de 1980), o setor químico passou aresponder por cerca da metade da estrutura da indústria de trans-formação no estado, conforme indicado na Figura 4.1.

Já a metalurgia, que, em 1985, respondia por cerca de10% do valor agregado da transformação industrial, passou adeter uma participação em torno de 15% ainda antes do inícioda década de 1990. Ao se considerar o setor de papel e papelão(concentrado, na Bahia, na produção de celulose), verifica-seque os segmentos tipicamente produtores de bens intermediários(química, metalurgia e papel e papelão) respondiam, na segun-da metade da década de 1980, por cerca de 60% do valor agrega-do bruto da produção industrial no estado.

Do ponto de vista espacial, os desafios efetivamente nãopareciam menores, uma vez que, conforme demonstrado na

90 Menezes (2001, p.50) refere-se ainda à concentração empresarial, que o leva acaracterizar um fenômeno que chama de “tríplice concentração”. Lima, Nasci-mento e Cavalcante (2003), entretanto, ao compararem uma amostra de 11estados brasileiros, contestam a hipótese de que a economia baiana apresentarianíveis de concentração empresarial especialmente altos e sugerem que o proble-ma estaria no grau de articulação das grandes empresas com a economia local.

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91 Bahia (1999). Esse trabalho constitui o documento oficial de planejamentodo estado.

Seção 3.6, o processo de industrialização ocorrido entre as dé-cadas de 1950 e 1980 resultou em uma elevada concentraçãodas atividades econômicas na RMS.

Foi com base nesses diagnósticos que se fortaleceu, a par-tir de meados da década de 1990, o diagnóstico segundo o qualseria preciso atingir um maior grau de integração vertical decadeias de produção no estado, especialmente através do estí-mulo à produção de bens finais. Embora essa estratégia já esti-vesse delineada em trabalhos de Rômulo Almeida, publicadosainda na década de 1970 (ALMEIDA, 1970), e, em 1991, docu-mento publicado pelo então Centro de Projetos e Estudos(BAHIA, 1991) já fizesse alusão direta a essa necessidade, éapenas em meados da década de 1990 que a integração de cadei-as produtivas incorporou-se definitivamente às estratégias lo-cais de desenvolvimento econômico, ao menos do ponto de vis-ta retórico. Assim, o Programa estratégico de desenvolvimentoindustrial do estado da Bahia (FIEB; SEI, 1998) e o Planoplurianual 2000-2003: Bahia de Todos os Tempos (PPA)91 faziamreferências explícitas à necessidade de integrar cadeias de pro-dução no estado. Esse diagnóstico, em linhas gerais, não se alte-rou nos anos subseqüentes. De fato, a FIEB (2003, p. 24) reco-nhece que a estratégia proposta cerca de cinco anos antes pelaFIEB/SEI (1998) continua atual, ainda que possa requerer “atu-alização em sua parte factual”. Em todos os casos, entretanto, asproposições não chegavam a explicitar escolhas claras de priori-dades setoriais. O próprio PPA permaneceu bastante vago quantoaos setores prioritários para o desenvolvimento econômico doestado, apresentando uma listagem praticamente exaustiva dasatividades que teriam alguma possibilidade de instalar-se no es-tado (BAHIA, 1999).

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Também a intenção de promover a desconcentração es-pacial da economia baiana passou a compor de maneira maisaparente as estratégias de desenvolvimento propostas para aBahia. A desconcentração proposta estaria apoiada, entretanto,no desenvolvimento integrado das diversas regiões do estado,daí resultando sua subdivisão em eixos de desenvolvimento cujoscritérios de definição estão associados aos corredores de escoa-mento disponíveis, conforme mostrado na Tabela 4.1.

No período mais recente, a publicação intitulada Bahiaséculo XXI (AVENA, 2002) enfatiza mais uma vez essa neces-sidade, procurando, entretanto, estabelecer ações mais detalha-das para a intervenção em nível regional. Nessa publicação, Porto(2002) volta a defender uma política de fortalecimento daquiloque chamou de “rede principal de cidades” e Uderman (2002)explicita o papel da atividade de planejamento na promoção dodesenvolvimento econômico da Bahia, propondo uma metodo-logia de ação que agregue as dimensões espacial (segmentandoo estado em RMS, rede principal de cidades e espaços de limita-do dinamismo) e setorial. Proposições dessa natureza termina-riam sendo incorporadas no Plano Estratégico da Bahia (BAHIA,2003), onde se estabelecem linhas de intervenção voltadas paraa articulação territorial do estado. A premissa subjacente às açõespropostas é que as intervenções requeridas nas áreas denomi-nadas “dinâmicas” (que compreendem as regiões polarizadaspor Salvador, Juazeiro, Barreiras e Ilhéus e Itabuna, além doExtremo Sul do estado) são distintas das intervenções requeridasno semi-árido.

Buscando resgatar proposições convergentes com a pro-dução recente em desenvolvimento regional, Teixeira e Guerra(2002) propõem intervenções específicas para a RMS, enfati-zando políticas de caráter sistêmico (estabelecimento de parce-rias público-privadas, financiamento do investimento, desen-volvimento tecnológico, infra-estrutura, etc.) e ações voltadas

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para as cadeias química e petroquímica, metal-mecânica, ele-troeletrônica e de serviços industriais. Embora de fato esses au-tores ressaltem a importância dos aspectos institucionais do de-senvolvimento regional, percebe-se, no trabalho, a dificuldadede se traduzir essa percepção em proposições de ações concretasque poderiam ser adotadas pelo setor público. Pedreira, Fagundese Andrade (2002), por sua vez, formulam proposições voltadaspara o desenvolvimento das cadeias agroindustriais no estado.Nesse caso, porém, o tratamento apóia-se muito mais no desen-volvimento de aglomerações, na proposição de encadeamentosa jusante e na criação de infra-estrutura de escoamento da pro-dução do que propriamente em políticas convergentes com aprodução recente em economia regional.

4.3 Incentivos fiscais e atração de investimentos

Conforme se indicou na Seção 4.1, o desmantelamento do apa-rato de suporte institucional que havia garantido às regiões pe-riféricas taxas de investimento superiores à média nacional foio argumento usado pelos governos estaduais para engajarem-sena competição fiscal. Na prática, uma vez que os estados nãopodiam simplesmente reduzir suas alíquotas de ICMS de formaunilateral — o que requereria uma impossível unanimidade noâmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ)—, o que se observou foi a utilização de mecanismos indiretosde incentivo, apoiados no financiamento de parcelas do ICMSapurado, no crédito presumido de ICMS ou — especialmenteno final da década — na dilação de prazo de recolhimento deICMS.

Na Bahia, o principal instrumento utilizado para atraçãode investimentos ao longo da década de 1990 foi o Programa deDesenvolvimento da Bahia (Probahia), criado em 1991. OProbahia permitia o financiamento de até 75% do ICMS apura-

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do pela empresa em condições de amortização bastante favorá-veis: juros nominais de 3% ao ano, períodos de carência entretrês e cinco anos e descontos significativos por pagamento ante-cipado. Contrariamente à visão simplista de que os incentivosde ICMS concedidos às novas empresas não teriam impactosnegativos nos orçamentos estaduais,92 o Probahia, de forma si-milar a grande parte dos programas de incentivos fiscais adotadospelas unidades da federação ao longo da década de 1990, geravacustos fiscais, uma vez que se apoiava no financiamento de par-celas do ICMS apurado. Na verdade, para contornar os impedi-mentos colocados no âmbito do CONFAZ, o Probahia, de for-ma similar a grande parte dos programas de incentivos fiscaisadotados pelas demais unidades da federação ao longo da déca-da de 1990, pressupunha, inicialmente, a apuração do ICMSdevido, financiando em seguida uma parcela do imposto reco-lhido. Uma vez que as vinculações constitucionais, como aque-las destinadas ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM)e ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fun-damental (FUNDEF), incidem sobre o ICMS apurado (e nãosobre o apurado menos a parcela financiada), a concessão debenefícios dessa natureza não era neutra do ponto de vista orça-mentário, na medida em que criava obrigações não cobertas pelosrecursos efetivamente embolsados pelo estado.93

92 Essa visão apóia-se no argumento de que o estado, nesse caso, estaria renun-ciando à apuração de um imposto que não existiria caso a empresa não seinstalasse em seu território.

93 Cavalcante e Uderman (2006, p. 30) destacam que “according to the BrazilianConstitution, from the total VAT collected by the states, 25% must be directedto the municipalities, 18,75% to a fund for education (actually 25% of theremaining 75%) and 5,25% (actually 7% of the remaining 75%) to a fund forhealth”. “De acordo com a legislação brasileira, do ICMS apurado pelos esta-dos, 25% devem ser destinados aos municípios, 18,75% (correspondentes a25% dos 75% restantes) devem ser aplicados em educação e 5,25% (corres-pondentes a 7% dos 75% restantes) em saúde” (Tradução livre).

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Quadro 4.1 - Probahia: projetos aprovados 1992-1999

Fonte: Lopes (1999, p. 5)

O Probahia, entre os anos de 1992 e 1999, contribuiupara a atração para a Bahia de um total de 238 projetos de in-vestimento. O Quadro 4.1, extraído de Lopes (1999, p. 5), re-gistra, além do número de projetos, projeções sobre o númerode empregos a serem gerados, os investimentos totais, a geraçãode ICMS e o financiamento concedido.

Embora os dados apresentados requeiram alguma cautelaem sua utilização, seja pelo fato de se referirem a projetos apro-vados pela Secretaria Executiva do Probahia (e não àqueles efe-tivamente implantados e operando), seja pelo fato de consoli-dar os valores projetados para as variáveis (e não aqueles efeti-vamente observados após a implantação dos projetos), pode-severificar que, para o conjunto dos projetos, cerca de um terço dageração de ICMS seria financiada. Embora esse número em si

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1993 31 1.597 189.469 170.536 84.280

1994 44 3.430 390.501 199.570 75.306

1995 24 1.159 51.616 97.142 35.954

1996 31 4.709 342.419 405.735 138.226

1997 17 1.000 341.295 402.914 164.014

1998 52 20.385 850.981 1.030.556 216.113

1999 14 821 125.948 63.835 24.937

Total 238 37.005 2.701.929 2.756.819 922.647

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não pareça elevado (ainda que esteja longe da neutralidade doponto de vista orçamentário), seria preciso verificar, em pesqui-sas posteriores, a relação efetiva entre financiamento e geraçãode ICMS, bem como o número de novos empregos efetivamen-te criados pelas empresas implantadas. Ainda assim, não hádúvidas que o Probahia foi o principal instrumento utilizadopelo governo do estado para atrair investimentos em um con-texto marcado pela competição fiscal ao longo da década de 1990.

Além do Probahia, que se constituiu em um instrumentogeral de atração de investimentos, programas de caráter setorial,voltados, por exemplo, para os segmentos de transformação plás-tica, beneficiamento de cobre, informática, calçados, têxteis,confecções e automotivo, foram implementados, especialmentena segunda metade da década de 1990. Muitos desses progra-mas ofereciam, em lugar do financiamento de parcela do ICMS,o crédito presumido como principal incentivo para a atração deinvestimentos. Esse foi o caso, por exemplo, do Programa deIncentivo à Transformação Plástica (Bahiaplast) e do ProgramaEstadual de Desenvolvimento da Mineração, da Metalurgia eda Transformação do Cobre (Procobre). Em um contexto decompetição fiscal, quando os ânimos políticos nem sempre sãoserenos, alguns desses programas estiveram sujeitos a questio-namentos de ordem legal e foram objeto de ações diretas deinconstitucionalidade por outras unidades da Federação.

Embora os incentivos fiscais tenham sido o principal ins-trumento de implementação da política de desenvolvimento eco-nômico da Bahia ao longo da década de 1990, e em que pese aexistência de programas de natureza setorial específicos, os esfor-ços e os efeitos identificados parecem estar mais associados aoaparecimento de oportunidades específicas do que propriamentea um processo estruturado de seleção de projetos de investimen-tos que preenchessem os requisitos estabelecidos pelo planeja-mento estadual. Ainda assim, as ações voltadas para a atração de

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indústrias de calçados, o Pólo de Informática de Ilhéus e, princi-palmente, o Complexo Industrial Ford Nordeste (CIFN) termi-naram se enquadrando na estratégia de incentivo à produção debens finais com potencial de integração a montante com a indús-tria de bens intermediários já instalada no estado. Por outro lado,os incentivos adotados não deixaram de reforçar a produção debens intermediários especialmente no que diz respeito aos inves-timentos que ocorreram no setor petroquímico.

No final da década, entretanto, os custos fiscais associadosao Probahia e a fragilidade jurídica dos programas setoriaisapoiados no crédito presumido levaram o estado a adotar umnovo modelo de incentivos fiscais, baseado na dilação de prazosde pagamento do ICMS através do Programa de Desenvolvimen-to Industrial e de Integração Econômica do Estado da Bahia (De-senvolve).94 Na verdade, a idéia é que o Desenvolve conciliasseos três requisitos para uma política “ótima” de incentivos fiscais:

· atratividade, isto é, a capacidade de oferecer compen-sações pelo deslocamento do capital dos centros nosquais se podem obter maiores níveis de produtividadeem virtude das economias de aglomeração e da dispo-nibilidade de infra-estrutura;

· sustentabilidade jurídica, tendo em vista que os incen-tivos não podem ferir os dispositivos legais que regula-mentam a questão tributária em nível federal; e

· viabilidade econômica, tendo em vista o não-compro-metimento do equilíbrio orçamentário do estado.

Na prática, portanto, o programa criado propôs-se, assim,a equacionar os problemas de viabilidade econômica que pode-riam vir a ser causados por programas de financiamento de parce-

94 O programa permitia a dilação do prazo de pagamento de até 90% do saldodevedor mensal do ICMS normal, limitada a 72 meses e diferimento do lan-çamento e pagamento do ICMS devido.

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las do ICMS como o Probahia, e de sustentabilidade jurídica quepoderiam ser apresentados por programas que se apóiam no cré-dito presumido, sem comprometer a capacidade de o estado atrairinvestimentos. Além disso, em paralelo à implantação do novoprograma, o governo do estado deu sinais de que o processo deatração de investimentos tenderia a adquirir um caráter maisseletivo, uma vez que o enquadramento dos projetos no Desen-volve dependeria de uma análise objetiva de seus impactos naeconomia local, por meio da ponderação de fatores como gera-ção de empregos, uso de insumos locais e prioridade setorial.Rocha (2004, p. 82-90), ao apresentar uma descrição detalha-da dos programas de incentivos adotados na Bahia, argumentaem favor de um processo de aprendizado pelos governos locaiscomo condicionante para a evolução das políticas industriaisadotadas pelas instâncias subnacionais. Na verdade, esse autortermina constatando que os elevados custos fiscais gerados poresses programas levaram as burocracias estaduais da Bahia, dePernambuco e do Ceará a buscar o aperfeiçoamento de seusinstrumentos de incentivos.

4.4 Desempenho setorial

As repercussões das estratégias de diversificação da matriz in-dustrial e de interiorização do desenvolvimento adotadas emum contexto marcado pela chamada integração competitiva daeconomia brasileira à economia internacional e pela competi-ção fiscal por novos investimentos entre as unidades da federa-ção sobre a estrutura da indústria de transformação no estadopodem ser examinadas com base na Tabela 4.2 a seguir, que traza participação dos principais segmentos no valor agregado bru-to da transformação industrial no estado.

Os dados indicados na Tabela 4.2 deixam claro que, adespeito da retórica de diversificação setorial, os segmentos de

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Tabela 4.2 - Bahia: estrutura da indústria de transformação, 1985-2003

Nota 1: Dados sujeitos a retificação depois de consolidados os resultados de todas as unidades dafederação (Projeto de Contas Regionais SEI/IBGE)

Fonte: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Disponível em:<http://www.sei.ba.gov.br>. Acesso em: 16/08/2005).

Ano Química Metalúrgica Produtos

alimentares

Papel e

papelão

Outros

1985 54,20% 10,10% 13,10% 0,70% 21,90%

1986 50,00% 10,80% 14,50% 0,80% 23,90%

1987 53,20% 12,50% 11,40% 0,80% 22,10%

1988 48,00% 14,70% 12,20% 1,20% 23,90%

1989 45,10% 17,10% 11,40% 1,20% 25,30%

1990 45,90% 14,30% 14,80% 0,80% 24,10%

1991 47,90% 14,00% 15,30% 0,90% 21,80%

1992 52,00% 15,00% 11,40% 1,90% 19,70%

1993 54,90% 12,90% 10,20% 3,10% 18,90%

1994 51,00% 14,50% 10,50% 3,60% 20,40%

1995 47,30% 15,30% 10,20% 5,10% 22,10%

1996 46,20% 17,40% 10,40% 4,30% 21,80%

1997 49,40% 16,80% 9,10% 3,90% 20,80%

1998 51,80% 17,20% 8,30% 2,80% 19,90%

1999 56,60% 16,80% 6,90% 3,10% 16,50%

2000 57,10% 16,80% 6,00% 3,40% 16,60%

2001 57,40% 15,40% 5,10% 3,60% 18,50%

2002 55,60% 12,50% 4,60% 3,70% 23,50%

2003 (1) 51,40% 12,60% 3,90% 3,10% 29,00%

2004 (1) 49,90% 14,50% 3,90% 2,60% 29,10%

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bens intermediários mantiveram sua participação na estruturada indústria de transformação do estado ao longo da década de1990. Contudo, há movimentos que parecem estar ocultos nasestatísticas e que requerem uma discussão qualitativa para a suacompreensão. Esse é o propósito das subseções seguintes, ondese discute o desempenho dos principais segmentos da indústriana Bahia, inclusive daqueles cuja representatividade em termospercentuais é ainda reduzida (em virtude, inclusive, dos eleva-dos valores associados à indústria petroquímica), mas que esti-veram associados a movimentos importantes ocorridos na eco-nomia do estado ao longo dos últimos anos.

4.4.1 Os setores tradicionais: química e petroquímica

e metalurgia

O setor químico (que inclui a petroquímica) responde, ainda hoje,por cerca de metade do valor agregado bruto da produção indus-trial do estado. Assim, ao contrário da expectativa inicial de queo processo de abertura comercial reduziria a representatividadedo segmento na economia do estado, o que se observou, ao longoda década de 1990, foi apenas a oscilação típica das commoditiesintermediárias. Estima-se que, somente no COPEC, os investi-mentos acumulados alcancem cerca de US$ 8 bilhões. Trata-se,portanto, do maior empreendimento instalado na Bahia, mesmoapós a chegada da indústria automobilística (cujos investimentostotais são estimados em pouco menos de US$ 2 bilhões).

Ao longo do final da década de 1980 e, principalmente,da década de 1990, em um contexto marcado pela abertura co-mercial e pela súbita exposição das empresas à concorrênciaexterna, as alíquotas modais de importação de diversos produ-tos caíram de níveis entre 40% e 50%, no final da década de1980, para 2%, em 1994, voltando a uma alíquota média de 14%no início do ano seguinte, conforme mostrado na Tabela 4.3.

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Essa súbita exposição à concorrência externa obrigou osegmento a adotar uma reação defensiva por meio da reduçãode custos. Não surpreende, portanto, a rápida disseminação detécnicas neofordistas poupadoras de mão-de-obra pelas empre-sas do segmento. Com efeito, técnicas como qualidade total,reengenharia e downsizing estiveram no centro das preocupa-ções dos gestores das empresas instaladas no estado ao longo dadécada de 1990, especialmente no período entre 1990 e 1995.95

A implicação desses movimentos pôde ser facilmente verificadano número de empregos gerados pelo COPEC, que caiu de cer-ca de 24 mil, em meados da década de 1980, para um total segu-ramente abaixo de 10 mil, cerca de dez anos depois.96 Nesse

Produto 1987 1988 1989 1990 1991 out/92 jul/93 dez/94 mar/95

Metanol 45% 60% 60% 50% 30% 20% 15% 12% 12%

Etileno 30% 5% 5% – – – – – 2%

Propileno 30% 5% 5% – – – – – 2%

Polietileno de baixa

densidade (PEBD)45% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14%

Polietileno de alta

densidade (PEAD)45% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14%

Polipropileno 55% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14%

Policloreto de vinila

(PVC)55% 40% 40% 20% 20% 15% 15% 2% 14%

Tabela 4.3 - Evolução do imposto de importação (alíquotas “ad valorem”),

1987-1995

95 Além das técnicas neofordistas, disseminou-se também o uso de técnicas“japonesas” (ou, pelo menos, descritas com termos naquele idioma) que,embora “flexíveis” no discurso, privilegiavam a racionalização dos processosprodutivos visando à redução dos custos de produção.

96 Guerra e Gonzalez (1996, p. 41) registram cerca de nove mil empregos dire-tos. A carência de um número preciso decorre da inclusão (ou não) da mão-de-obra terceirizada, que responde hoje por elevado contingente da força detrabalho alocada no COPEC.

Fonte: Cavalcante (1998, p 71).

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mesmo período, por conta, inclusive, de alguns investimentosem ampliação de capacidade e desgargalamento, o quantum daprodução elevou-se de forma significativa.

Um outro movimento observado na década de 1990 foi aaquisição, pelo consórcio Odebrecht-Mariani, do controleacionário da Norquisa na central petroquímica do Pólo de Ca-maçari. Com isto, integraram-se a primeira e a segunda geraçãode produtos petroquímicos no estado, contribuindo para a ele-vação dos níveis de eficiência do segmento, em função da elimi-nação de custos e ineficiências da cadeia produtiva, de ganhosfiscais e de escala. Entretanto, esse mesmo processo incitou aeliminação de postos de trabalho, especialmente nas funçõesadministrativas. A nova empresa que resultou da solução doimbroglio do controle acionário do Pólo de Camaçari reúne asseguintes unidades:

· Copene, OPP e Trikem (cujo controlador original era oGrupo Odebrecht);

· Proppet e Nitrocarbono (Grupo Mariani);

· Polialden (antigo Grupo Econômico).

Uma vez reunidas em uma única empresa, essas unidadespassaram a compor uma megaempresa petroquímica, com fatu-ramento estimado de cerca de US$ 8 bilhões e participação daordem de 39% do mercado de polipropileno, 25% do mercadode polietileno e 51% do mercado de PVC no Mercosul. Todavia,o segmento mantém uma reduzida capacidade de encadeamen-to a jusante, uma vez que o desenvolvimento da indústria detransformação plástica no estado é ainda bastante tímido.97 Defato, conforme argumentam Teixeira e Guerra (2000, p. 93), osprincipais desdobramentos do setor estão ainda nos segmentosde serviços e de construção civil.

97 Ver, a esse respeito, a Subseção 4.4.5.

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Em que pese a vigorosa retórica em favor da diversifica-ção da matriz industrial instalada na Bahia, convém notar que osegundo maior projeto atraído para o estado no âmbito da polí-tica de incentivos adotada ao longo da década de 1990 foi justa-mente no setor petroquímico. Com efeito, as inversões totais daMonsanto no estado atingiram cerca de US$ 550 milhões, es-tando abaixo apenas dos investimentos realizados pela Ford esuas empresas sistemistas.

Analogamente ao que se observou no segmento petroquí-mico, o setor metalúrgico também manteve estável (em torno de15%) sua participação no valor agregado bruto da transformaçãoindustrial ao longo da década de 1990. Assim é que os segmentosquímico e metalúrgico representaram mais de 60% da estrutura daindústria de transformação na Bahia ao longo da década e, em 1999,já representavam mais de 70%. Trata-se de um segmento bastanteconcentrado do ponto de vista empresarial: Guerra e Gonzalez(1996, p. 42) estimam que somente a Caraíba Metais e as grandessiderúrgicas respondem por quase 80% do valor agregado pelo se-tor. O segmento passou também por um processo de reestruturaçãoao longo da década de 1990 que significou uma redução expressivada mão-de-obra empregada. Guerra e Gonzalez (2001, p. 313) des-tacam que “na metade da década de 80, esse setor e o mecânicoempregavam 20 mil pessoas, número que em meados de 1995 ti-nha caído para algo em torno de 8 mil”.

4.4.2 A expansão da fronteira agrícola: agroindústria

no Oeste e no Baixo-Médio São Francisco

A expansão da fronteira agrícola em direção à região Oestedo estado colocava, ainda na década de 1980, uma expectativa dedesconcentração especial da atividade econômica no estado. Defato, já naquele momento, análises da região Oeste indicavam que:

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O Oeste da Bahia teria condições de começar a equilibraro mapa socioeconômico do estado, inclinado, até o pre-sente, em direção às zonas litorâneas, ocupando assim olugar que suas promissoras condições naturais merecem(BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DABAHIA – DESENBANCO, 1988).

Esse movimento em direção ao oeste é uma manifestação dofenômeno nacional de expansão da fronteira agrícola e que, naBahia, contou com o apoio do governo do estado. Com efeito, ain-da na década de 1980, alguns estudos promovidos pelo governo doestado buscaram projetar os requisitos de infra-estrutura que seri-am necessários para garantir o desenvolvimento da região Oestedo estado, e já se desenhavam estratégias multimodais de escoa-mento da produção.98 Esse esquema, virtualmente o mesmo quevem sendo sistematicamente proposto, pressupõe o transporte ro-doviário da produção até o porto situado no Rio São Francisco(Muquém do São Francisco / Ibotirama), seguindo por via fluvialaté Juazeiro e, em seguida, por via ferroviária até o Porto de Salva-dor, de onde os produtos seriam embarcados para transporte marí-timo. Trata-se, assim, de um esquema alternativo ao modelo deescoamento usado atualmente, que simplesmente escoa a produ-ção pela BR-242, desviando em seguida para Ilhéus (Porto de Ma-lhado), de onde a produção é escoada. Essa alternativa implicamaiores custos de transporte e o uso de rodovias não compatíveiscom o tráfego sistemático de carretas de elevada tonelagem.

Independentemente da forma de escoamento da produ-ção, durante a década de 1990, consolidou-se, na região Oeste

98 Para o modelo que pressupõe o escoamento rodoviário até o proposto “PortoFluvial de Barreiras”, daí seguindo por via fluvial até Juazeiro, de onde a produ-ção seria escoada por via ferroviária até o Porto de Salvador, ver Dominoni eGarra (1988, p. 14). Antes, no início da década de 1980, a então Seplantec jáhavia proposto um programa básico de ocupação do Oeste (BAHIA, 1980)que tratava, também, da questão do escoamento da produção.

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do estado, a produção de grãos — especialmente a sojicultura— que havia sido iniciada na década anterior. O crescimentoexponencial dessa produção na região de Barreiras elevou suaparticipação no valor bruto da produção do setor primário doestado de 1,1%, em 1985, para cerca de 11%, em 1996 (PEDREI-RA; FAGUNDES; ANDRADE, 2002). Além da sojicultura, aregião Oeste do estado passou a contar com uma produção pri-mária dinâmica e relativamente diversificada, destacando-se asculturas de milho, algodão e café em unidades de elevado níveltecnológico e que contam com gestão profissionalizada. Contu-do, essas culturas parecem apresentar ainda excessiva vulnera-bilidade às crises motivadas pelo excesso de oferta no mercadomundial e às oscilações de preços das commodities agrícolas.Além disso, embora algumas iniciativas já possam ser observa-das, a integração vertical com a produção de carne nos segmen-tos bovino e avícola ainda está longe de se consolidar.

Também a região do Baixo Médio São Francisco experi-mentou um crescimento significativo da agroindústria durante adécada de 1990, a partir da expansão da produção agrícola irrigada.Contando com uma boa infra-estrutura de beneficiamento e ser-viços (PEDREIRA; FAGUNDES; ANDRADE, 2002) e um bomsuporte institucional,99 a região consolidou-se como um pólo ex-portador de uva e manga.

4.4.3 Arquipélagos industriais: celulose no Extremo Sul

O setor de papel e papelão foi o quarto segmento mais impor-tante da indústria de transformação na Bahia na década de 1990(Tabela 4.2), como resultado da expansão da produção de celu-

99 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba(Codevasf) e Associação de Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros eDerivados do Vale do São Francisco (Valexport), por exemplo.

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lose no Extremo Sul do estado, região que apresenta dotaçãonatural de fatores favorável ao crescimento do setor. Por contadisso, entre 1992 e 1999, a Bahia elevou sua participação naprodução nacional de celulose de fibra curta de 5,8% para 10,8%da produção nacional, passando do oitavo para o quarto maiorprodutor nacional de celulose de fibra curta, conforme mostra-do na Tabela 4.4.

De fato, o Extremo Sul do estado reúne vantagens natu-rais como insolação, precipitação pluviométrica e condições desolo bastante apropriadas ao cultivo do eucalipto, o que lhe per-mite obter níveis de produtividade bastante elevados. De acordocom Guerra e Gonzalez (1996, p. 52), em outros países produto-res, como a Suécia, a idade para corte das árvores é de setentaanos, enquanto, na Bahia, é de apenas sete anos. Oliveira e Sou-za (2002, p. 81) assinalam que “a Bahia apresenta uma produti-vidade superior em 25% à média nacional, mas pode explorar

Tabela 4.4: Produção de celulose de fibra curta, 1992–1999

Fonte: Oliveira e Souza (2002, p. 81).

Estados selecionados 1992 Part 1999 Part.

São Paulo 1.392.333 29,2% 1.950.768 36,4%

Espírito Santo 1.013.291 21,2% 1.262.536 23,6%

Minas Gerais 390.667 8,2% 783.547 14,6%

Bahia 277.470 5,8% 578.491 10,8%

Rio Grande do Sul 287.400 6,0% 297.526 5,6%

Pará 283.000 5,9% 290.381 5,4%

Paraná 545.670 11,4% 151.152 2,8%

Santa Catarina 582.118 12,2% 45.124 0,8%

Total 4.771.949 100 5.359.525 100

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ainda mais suas potencialidades”. As autoras referem-se à áreaplantada de eucalipto no estado (correspondente a 450 mil hec-tares) contra um potencial de 4 milhões de hectares.

Embora disponha de três distritos florestais (Distrito Flo-restal Norte, Distrito Florestal Sul e Distrito Florestal Oeste)capazes de abrigar unidades de produção de celulose, é o Distri-to Florestal Sul o responsável pela maior parte do valor agrega-do pelo segmento no estado. Similarmente ao que se observanos setores petroquímico e metalúrgico, cujo maior volume daprodução concentra-se em poucas empresas, no setor de papel epapelão é a Bahia Sul, cujas operações iniciaram-se em 1992, aresponsável pela representatividade do segmento no estado.Guerra e Gonzalez (1996, p. 53) mencionam as limitações quese colocam pelas questões ambientais e relativas ao desenvolvi-mento do turismo para a exploração do Distrito Florestal Norte.

Uma das principais características da produção de celulo-se na Bahia é sua reduzida articulação com a economia do esta-do. Nesse sentido, trata-se de um setor que tem dificuldades emgerar efeitos para frente. Além disso, por sua intensidade emcapital, o número de empregos gerados por unidade de investi-mento é reduzido. Investimentos anunciados para o Distrito Flo-restal Sul, embora tendo ficado em suspenso durante algunsanos, deverão estar operando em breve. Esses investimentos,entretanto, deverão replicar as características dos já existentes:efeitos positivos na balança comercial e nos índices de descon-centração da produção, mas reduzidos níveis de articulação coma economia local e de geração de empregos. Assim, embora es-ses investimentos efetivamente tenham contribuído para a des-concentração da atividade econômica no estado, sua implanta-ção terminou criando “arquipélagos industriais” com reduzidosefeitos para frente na região que os abrigou.

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4.4.4 Setores intensivos em mão-de-obra: têxtil e calçados

De maneira similar ao que se observou em nível nacional, o setortêxtil na Bahia, ao longo da primeira metade de década de 1990,foi um daqueles que sentiu com maior intensidade os efeitos daabertura comercial e da exposição à concorrência internacional.Na segunda metade da década, em alguns estados da região Nor-deste, o setor voltou a crescer, apoiado, dessa vez, em bens decapital mais modernos e competitivos (cuja aquisição foi facilita-da pelo câmbio sobrevalorizado que prevaleceu do lançamentodo Plano Real até o início do segundo mandato de Fernando Hen-rique Cardoso), em incentivos ficais (ver a Seção 4.2) e em custosreduzidos de mão-de-obra. Na Bahia, porém, esses movimentosnão parecem ter sido particularmente relevantes em relação àque-les observados, por exemplo, no setor de calçados, uma vez que, noagregado da década, observou-se uma substancial redução da par-ticipação do setor na estrutura da indústria de transformação noestado. Com efeito, o setor têxtil, que, em 1989, chegou a repre-sentar mais de 5% do valor agregado bruto da transformaçãoindustrial na Bahia, representava, em 2001, pouco mais de 0,5%.

Mas é sem dúvida o setor de calçados que, entre aquelesintensivos em mão-de-obra, experimentou a maior expansão noestado ao longo da década de 1990. Como resultado de umapolítica agressiva de atração de investimentos apoiada funda-mentalmente no crédito presumido de ICMS,100 nos benefíciosconcedidos no âmbito do Programa de Incentivo ao ComércioExterior (Procomex)101 e na provisão de infra-estrutura (cons-trução de galpões industriais, obras de terraplenagem, redes dedistribuição de energia elétrica, telecomunicações, abastecimento

100 Regulamentado pelas Leis n. 7.025/97 e 7.138/97.101 No caso dos incentivos concedidos à indústria de calçados, permitiram-se

reduções de até 90% na amortização dos financiamentos contratados noâmbito do Procomex.

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de água e interligação de efluentes industriais), a Bahia atraiumais de quarenta empresas do segmento ao longo da década de1990 e dos primeiros anos da década seguinte.

Do ponto de vista geográfico, essas empresas distribuí-ram-se por diversos municípios do estado, de modo a evitar pres-sões sindicais que poderiam decorrer de sua concentração emuma única região. Pelo fato de estarem pulverizadas pelo terri-tório do estado, essas empresas não apresentaram sinais de queestariam estabelecendo elos a montante ou a jusante da cadeiaprodutiva (BAHIA, 2000, p. 96). Nesse sentido, embora interio-rizadas, as empresas do setor não parecem estar de fato criandovínculos capazes de promover o desenvolvimento endógeno nasregiões onde se instalaram. É claro que, por sua característicafootloose, a indústria de calçados, se não construir vantagenscompetitivas dinâmicas que vão além dos incentivos oferecidose do custo reduzido de mão-de-obra, poderá ter sua permanên-cia no estado comprometida. Embora a atração de empresas decomponentes já integre a pauta de prioridades do governo doestado com relação ao setor — justamente para promover a in-tegração do segmento com a oferta local nos segmentos petro-químico e coureiro —, não há ainda indícios claros de fixaçãoda indústria no estado a longo prazo.

Isso não quer dizer que o segmento não tenha tido impac-tos de curto prazo significativos no que diz respeito à geração deempregos diretos. A bem da verdade, entre os segmentos que ogoverno do estado buscou incentivar ao longo da década de 1990,o setor de calçados é aquele mais intensivo em mão-de-obra. Comefeito, levantamento de intenções de investimentos industriaisrealizado por Uderman (2000, p. 100) para o período entre 2000e 2003 mostra que o setor de calçados (juntamente com os seg-mentos têxtil e de confecções), embora representando menos de7% dos investimentos anunciados em valor, seria responsável pelageração de quase metade dos empregos previstos.

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4.4.5 O paradoxo da transformação plástica

O segmento de transformação plástica, isto é, aquele que se en-contra a jusante da produção petroquímica de segunda geração(daí porque alguns autores o chamam de terceira geração petro-química), passou a ser considerado estratégico para a Bahia desdea implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari. Comefeito, considerava-se que o desenvolvimento do setor no esta-do seria um desdobramento natural da oferta local de resinastermoplásticas e poderia, por sua relativamente elevada capaci-dade de geração de empregos, contrabalançar a intensidade emcapital da indústria petroquímica de primeira e de segunda ge-ração.

Entretanto, apesar da oferta local de matérias-primas ealgumas políticas de incentivos fiscais e financeiros implemen-tadas, o fato é que o setor é ainda pouco representativo no esta-do. Com efeito, estima-se que a Bahia responda por apenas 2,1%dos estabelecimentos e 2,4% dos empregos gerados pelo setorno país. A razão para esse aparente paradoxo parece ser pura-mente físico-química: enquanto as resinas termoplásticas (isto é,os produtos oriundos da segunda geração petroquímica) revelamuma relação massa/volume adequada para o transporte a longasdistâncias (na medida em que atingem um elevado grau de empa-cotamento), os produtos moldados da terceira geração apresen-tam espaços vazios desfavoráveis ao transporte a longas dis-tâncias. É por essa razão que a indústria de transformação plásti-ca situa-se, em geral, mais próxima dos mercados consumidoresdo que de seus fornecedores de matéria-prima, confirmando, nessecaso, a hipótese formulada por Weber (1909), de acordo com aqual as indústrias tenderiam a instalar-se onde os custos totais detransporte de matérias-primas e produtos finais fossem mínimos(ver a Seção 2.2.2). É claro que há outros fatores de localizaçãoenvolvidos, com destaque para a oferta local de moldes, que, aoincorporarem o design da peça final, são responsáveis por uma

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fatia significativa da competitividade que pode ser alcançada pe-las empresas do segmento.

Ainda assim, no período entre 1999 e 2001, após o lança-mento de um agressivo programa de atração de investimentosno setor (Bahiaplast), foram aprovados pela Secretaria Executi-va do programa 48 projetos (32 de implantação e 16 de amplia-ção), cujos investimentos alcançavam, de acordo com Lopes(1999), US$ 270 milhões e deveriam gerar cerca de 3,5 mil em-pregos diretos (Quadro 4.2). Embora os critérios adotados nes-sas estimativas não tenham sido explicitados, esse autor afirmaque a renúncia fiscal durante o período de fruição do benefícioseria cerca de 1,5 vezes maior do que a geração prevista de ICMS.

Dois aspectos devem ser considerados, entretanto: em pri-meiro lugar, os projetos estavam majoritariamente dirigidos paraa RMS (92%), e a renúncia fiscal durante o período de fruiçãodo benefício, estimada em US$ 441 milhões, deveria exceder ovalor que se estima que o segmento recolheria sob a forma de

Quadro 4.2: Bahiaplast: projetos aprovados segundo a localização -

1999/2001

Nota 1: Incremental.Nota 2: No Período de fruição do benefício.Fonte: Secretaria Executiva do BAHIAPLAST.

Tipo Localização Número

de

Empregos

gerados1

Investimento

total

Geração de

ICMS

Renúncia

fiscal

projetos (US$ mil)1

(US$ mil)1 2

(US$ mil)1 2

Implantação RMS 29 2.679 204.706 170.124 345.255

Interior 3 257 16.071 19.249 21.378

Ampliação RMS 15 474 46.526 89.342 67.193

Interior 1 52 3.661 10.165 7.047

Total RMS 44 3.153 251.232 259.466 412.448

Interior 4 309 19.732 29.414 28.425

Total geral 48 3.462 270.964 288.880 440.873

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impostos estaduais (US$ 290 milhões), indicando que as forçasde mercado não eram ainda suficientes para garantir o desen-volvimento da indústria de transformação plástica no estado.

4.4.6 A mudança estrutural: a indústria automobilística

O Projeto Complexo Industrial Ford Nordeste (também cha-mado de Projeto Amazon Ford) é indiscutivelmente um casoparticular da política de atração de investimentos que ocorreuna Bahia ao longo da década de 1990, em razão da magnitudedo investimento, seja de seus impactos na economia do estado.Estima-se que os investimentos totais da montadora e de seusfornecedores diretos tenham atingido U$ 1,9 bilhão. Emborapossa haver controvérsias quanto à taxa de câmbio adequada paraconverter esses valores para Reais, estimativas oficiais registramvalores da ordem de R$ 3,5 bilhões. Trata-se, assim, de um in-vestimento cujo valor total pode oscilar entre 5% e 10% do PIBdo estado na época.

Cavalcante e Uderman (2006, p. 36) estimam que o va-lor presente dos incentivos concedidos pelo governo do estado àmontadora e seus fornecedores diretos tenha alcançado, em va-lores de 2000 (diretamente comparáveis, portanto, aos investi-mentos totais), cerca de R$ 2,6 bilhões. Esses autores segmen-taram os incentivos em fiscais, financeiros (créditos oferecidosem condições mais favoráveis do que as de mercado, ou equali-zação de taxas de juros por um percentual inferior ao praticadopelo mercado) e orçamentários (investimentos em infra-estru-tura, por exemplo) e calcularam, nos três casos, seus valorespresentes. Esses autores destacam que, embora elevados em ter-mos absolutos, os incentivos totais, quando comparados aos in-vestimentos totais, não são superiores àqueles concedidos, porexemplo, pelo governo do Rio Grande do Sul à GM ou pelogoverno de Minas Gerais à Mercedes-Benz (Tabela 4.5).

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Grande parte da atenção dedicada ao projeto resultou dofato de que a Ford pretendia inicialmente instalar uma unidadeno Rio Grande do Sul. Ao desistir daquele investimento e optarpela instalação de uma unidade na Bahia, o projeto acabou setornando um símbolo da guerra fiscal que naquele momentoocupava as primeiras páginas dos jornais. Cavalcante e Uderman(2006, p. 24-28) argumentam que a opção por um estado rela-tivamente distante do centro econômico do país teria decorridonão apenas dos incentivos fiscais oferecidos, mas também dacrise do Mercado Comum do Sul (Mercosul) que sucedeu à des-valorização do Real, em janeiro de 1999, e da própria estratégiaglobal da companhia em um contexto marcado por processos deprodução “enxutos” em oposição à produção “em massa”.

A mudança dos padrões de produção, ao alterar as rela-ções estabelecidas entre fornecedores e montadora, tornou viá-veis novos padrões de localização que no sistema fordista deprodução não teriam sido possíveis. Com efeito, até a década de1980, os fornecedores competiam entre si, o que impunha a

Tabela 4.5: Incentivos fiscais: comparação

Nota 1: Incentivos fiscais não incluem aqueles concedidos aos fornecedores. Incentivos totais podemser bem maiores (Alves, 2001, p. 79)

Fonte: Cavalcante e Uderman (2006, p. 36).

Ford (BA) Mercedes-

Benz (MG)

GM (RS) Renault

(PR)

Incentivos fiscais 1,878 556 520 1881

Incentivos financeiros 331 85 98 0

Incentivos orçamentários 193 51 141 165

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necessidade de grandes escalas de produção. Por essa razão, asmontadoras e seus fornecedores tendiam a aglomerar-se em re-giões determinadas. Assim é que Detroit, nos Estados Unidos, eSão Paulo, no Brasil, eram, até a década de 1980, centros nacio-nais de produção automobilística. No modelo de produção quesucedeu o fordismo, as relações entre montadora e fornecedo-res passou a apoiar-se progressivamente em contratos de longoprazo, e os fornecedores passaram a estar integrados com o pro-cesso produtivo da montadora (especialmente em função dosrequisitos de redução de estoques e tempos mortos), daí porquea montadora passou a ser acompanhada pelos seus fornecedo-res ao escolher um novo destino. Nesse novo contexto, os in-vestimentos já não necessariamente deveriam se dirigir para osdestinos tradicionais. Este movimento pode ser observado noBrasil, conforme mostrado na Figura 4.2 a seguir, na qual asmontadoras instaladas no país são identificadas com padrõesdistintos conforme a sua data de implantação.102

Com efeito, conforme evidencia a Figura 4.2, até a déca-da de 1970 as montadoras localizavam-se apenas em São Paulo.Na década de 1970, um leve movimento de desconcentração éobservado com a instalação da Fiat em Minas Gerais e da Volvono Paraná. Mas é na década de 1990 que se observa, no padrãode produção enxuta, um movimento de desconcentração regio-nal da produção automobilística no país, especialmente em di-reção aos estados da área de influência do Mercosul.

No caso da Ford, o argumento fundamental é que, entremeados da década de 1990 e a crise do Mercosul em 1999, ospadrões de localização seguidos pela indústria automobilísticapodiam ser descritos como uma espécie de desconcentração em

102 Convém notar que há, na Figura 4.3, três períodos distintos: o período ante-rior à década de 1970, a década de 1970 e a década de 1990. A década de1980 não foi considerada porque naquele momento não houve investimen-tos expressivos no setor no país.

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Figura 4.2 - Grandes montadoras instaladas no Brasil

Fonte: Elaboração própria.

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torno de São Paulo, buscando explorar, inclusive, o potencial domercado argentino.103 Como resultado, as plantas estabelecidasantes de 1999 (Tabela 4.6) parecem ter se distribuído no interiordo polígono proposto por Diniz (1993). Para esse autor, o cresci-mento da economia brasileira na década de 1990 tenderia a con-centrar-se, do ponto de vista territorial, em uma área poligonalentre Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Londrina (PR),Porto Alegre (PR) e Florianópolis (SC). Não por coincidência, oúnico ponto fora do polígono proposto por Diniz (1993) é justa-mente a planta da Ford em Camaçari, anunciada já em um contex-to de crise do Mercosul.104

Os problemas que se colocavam no âmbito do Mercosulapós a desvalorização do Real, em 1999, parecem ter alterado deforma significativa os planos inicialmente traçados pela Fordpara seus investimentos no Brasil. Com efeito, ao se compara-rem o projeto da Ford como originalmente concebido para ins-talação no Rio Grande do Sul e o Projeto do Complexo Indus-trial Ford Nordeste (Quadro 4.3), verifica-se que, na verdade,se trata de dois investimentos distintos.

A distinção entre os projetos é eloqüente: enquanto oprimeiro parece ter sido concebido para abastecer o mercadoque iria, em linhas gerais, de Buenos Aires a Belo Horizonte, osegundo parece ser uma plataforma mundial cujos requisitos delocalização envolvem incentivos fiscais e disponibilidade de infra-estrutura (inclusive portuária). Um outro aspecto que reforçaesse argumento é o fato de que a Bahia não parece ter sido umalocalização considerada para o primeiro projeto, em que pese o

103 Ver, a esse respeito, Alban, Souza e Ferro (2000).104 Também a MMC Automotores (licenciada pela Mitsubishi) foi implantada

fora do polígono indicado. Contudo, por se tratar de um investimento demenor porte destinado à produção de automóveis comerciais leves e por sesituar bem próxima à região de Uberlândia (MG), sua instalação em Catalão(GO) não invalida o argumento apresentado.

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105 É claro que, ao se considerarem os empregos indiretos, esse custo seria bemmenor. Ainda assim, não há evidências de que esse seria o meio mais baratode se gerar empregos no estado.

fato de, na época de seu anúncio, oferecer os mesmos incenti-vos que seriam dados em 1999. A opção pela Bahia pode tersido ainda uma conseqüência da disponibilidade de melhorescondições em relação aos demais estados das regiões Norte,Nordeste e Centro-Oeste, o que reforça o argumento da indus-trialização em camadas proposto na Seção 3.6.

Os efeitos da montadora sobre a economia local já podemser sentidos. A montadora gerava, em conjunto com seus forne-cedores de primeiro nível (conhecidos como sistemistas), 7.039empregos diretos em agosto de 2004. Trata-se de um número40% maior do que o número originalmente previsto (5.000).Entretanto, não se deve perder de vista que, entre os benefíciosdo projeto, pela crescente intensidade em capital da indústriaautomobilística, a geração de empregos diretos não pode ser con-siderada o mais importante. Com efeito, um cálculo grosseiroindica que o custo para o governo do estado de cada empregocriado é da ordem de R$ 375 mil.105 É claro que há formas maisbaratas de se criar empregos, como o apoio a empresas de pe-

Quadro 4.3: Comparação dos projetos Ford (RS) e Ford (BA)

Fonte: Cavalcante e Uderman (2006, p. 26).

Projeto Ford que

seria instalado no

Rio Grande do Sul

Complexo Industrial

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Investimento US$ 1,0 bilhão US$ 1,9 bilhão

Capacidade Nominal (veículos/ano) 150.000 250.000

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queno porte intensivas em mão-de-obra.106 Da mesma forma,poder-se-ia argumentar que esses recursos seriam mais bem alo-cados em projetos de assistência social ou, mais genericamente,na provisão de bens públicos.107

Na verdade, o principal efeito da implantação da monta-dora na Bahia não é a geração de empregos diretos, mas umamudança estrutural na sua economia, com a implantação de for-necedores de segunda, terceira e quarta linha (isto é, os fornece-dores dos fornecedores), alterando assim a matriz insumo-produ-to do estado. Um desdobramento interessante seria, por exem-plo, a integração da cadeia petroquímica com a produção auto-mobilística. Embora o consumo de resinas termoplásticas em vo-lume, mesmo para a produção de 250.000 veículos por ano, nãorepresente, para o Complexo Petroquímico de Camaçari, ummercado de grande relevo, ele é sem dúvida bastante significativoquando confrontado com a produção local de petroquímicos deterceira geração, isto é, os produtos que resultam das atividades detransformação plástica.108 É elucidativo, por exemplo, o caso obser-vado em Minas Gerais após a instalação da Fiat na região de Betim,para onde, a partir da década de 1990 (cerca de quinze anos após oinício das operações da montadora) passaram a se dirigir fornece-

106 É esse tipo de constatação que leva Teixeira e Vasconcelos (1999) a manifes-tarem o seu ceticismo em relação aos impactos da montadora no estado.

107 Esse é, fundamentalmente, o argumento, discutido na Seção 2.5, segundo oqual o governo seria considerado benevolente.

108 Ao se assumir que um automóvel incorpora cerca de 100 quilos de matériaplástica, pode-se estimar um consumo da ordem de grandeza de 25 mil tone-ladas por ano desse produto na unidade da Ford na Bahia. Como as escalasde produção de unidades de segunda geração são mais de dez vezes maioresdo que esse valor, os impactos da indústria automobilística na segunda gera-ção petroquímica podem ser considerados reduzidos. Contudo, 25 mil tone-ladas por ano é uma quantidade bastante grande quando confrontada com acapacidade local de produção de produtos petroquímicos de terceira geração(isto é, do segmento de transformação plástica).

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dores e novas unidades de produção de automóveis.109 As implica-ções desses movimentos sobre a economia local são, efetiva-mente, de grande peso. De acordo com Montero (2001), comoresultado do movimento de fornecedores para os arredores daFiat, entre 1992 e 1994, Betim conseguiu atrair US$ 130 milhõesem novos investimentos, aumentou sua arrecadação em US$ 150milhões e foram criados cerca de 5 mil novos empregos.

A criação de um ambiente mais atrativo para fornecedo-res da Ford tem sido, de fato, uma preocupação recorrente noestado. Entretanto, os potenciais são distintos conforme a natu-reza dos componentes que produzem, as matérias-primas queempregam, e as escalas econômicas de produção que prevale-cem em seus segmentos de atuação. Levantamento feito porLima, Nascimento e Cavalcante (2003a, p. 17) segmenta os for-necedores de primeiro nível em quatro grandes blocos quanto àpossibilidade de atraírem para a Bahia seus fornecedores:

· Grupo 1: Dotação de Fatores Naturais (empresas cujosfornecedores não deverão instalar-se no estado em vir-tude de exigirem dotação natural de fatores não dispo-nível na Bahia).

· Grupo 2: Pólo Automotivo (empresas cujos fornecedo-res poderão instalar-se no estado apenas em caso deum aumento substancial do volume de produção naBahia, requerendo, portanto, a instalação de novasmontadoras no estado para sua implantação).

· Grupo 3: Consolidação da Ford (empresas que podeminstalar-se no estado e estão aguardando a definição da

109 A concentração dos efeitos da Fiat na economia mineira na década de 1990está associada a mudanças nos padrões de produção (que afetaram os pa-drões de localização dos fornecedores) e a políticas públicas de atração deinvestimentos. Com resultado, entre 1989 e 1998, a participação dos forne-cedores locais nas compras da montadora passou de 35% para 90% (LEMOS;GUERRA; MORO, 2000, p. 3-7).

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capacidade efetiva da planta da Ford para subsidiar adecisão de investimento).

· Grupo 4: Oportunidades a Curto Prazo (empresas cujosfornecedores principais podem instalar-se a curto pra-zo no estado).

Na prática, isto significa dizer que os efeitos mais relevan-tes do projeto podem requerer algum tempo para atingirem suamaturação, mas que, uma vez alcançados, poderão representaruma efetiva mudança estrutural da economia do estado, elevan-do-a da condição de fornecedora de commodities intermediáriaspara a condição de uma economia mais integrada que contempletambém a produção de bens finais. Ainda assim, há indícios deque os efeitos da montadora no PIB do estado já podem ser per-cebidos. Dados ainda preliminares coletados por Cavalcante eUderman (2005, p. 13) indicam que, entre 1999 e 2004, enquan-to o PIB do Brasil cresceu 13,1%, a Bahia apresentou uma taxacorrespondente a 19,1%. Entre 2003 e 2004, a participação dosegmento automotivo no valor agregado bruto da transformaçãoindustrial da Bahia elevou-se de 6,5% para 13,3%. Estima-se queesse número possa dobrar à medida que as estatísticas passem aincorporar os níveis de produção correspondentes à capacidadenominal da planta. Da mesma forma, a participação do segmentonas exportações do estado já atingiu, em 2004, cerca de 16%.

4.4.7 O Pólo de Informática de Ilhéus

No âmbito das ações voltadas para a descontração regional daatividade industrial na Bahia, uma iniciativa singular foi a cria-ção, em 1995, do chamado Pólo de Informática de Ilhéus.110 Naverdade, a opção do governo do estado por um programa setorial

110 Há também referências ao Pólo de Informática, Eletroeletrônicos e Teleco-municações de Ilhéus e ao Pólo Tecnológico de Ilhéus.

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especificamente voltado para Ilhéus foi motivada, fundamental-mente, pela necessidade de se criar uma alternativa econômicapara a região diante da crise prolongada da produção de cacauque, por um longo período, respondeu pela dinâmica da econo-mia local. Guerra e Gonzalez (s.d., p. 55) registram que “a criseda lavoura do cacau, provocada pela vassoura de bruxa e pelaforte concorrência dos produtores internacionais, havia deixadomais de 250 mil pessoas desempregadas”. Embora esses númerosrequeiram cautela em sua utilização, em virtude de não se limita-rem a Ilhéus (cuja população total, em 2000, era da ordem de220 mil habitantes), e de agregarem, provavelmente, efeitos indi-retos da produção cacaueira, o fato é que sua magnitude segura-mente contribuiu para que o programa de atração de indústriasdo segmento de informática tivesse — ao contrário dos demaisprogramas setoriais adotados pelo estado ao longo da década de1990 — um explícito direcionamento espacial.

Estima-se que, em 2003, o Pólo de Informática de Ilhéusrespondia por 40% dos computadores comercializados no mer-cado formal e 15% do total de equipamentos vendidos no país,se levadas em conta as vendas do chamado “mercado cinza”.111

Nesse mesmo ano, contavam-se 67 empresas ativas no pólo comfaturamento bruto anual superior a R$ 900 milhões. Essas em-presas geravam um total estimado de cerca de 1.400 empregosdiretos.112 Trata-se, fundamentalmente, de empresas integradorasde tecnologia, cuja ênfase é a montagem de equipamentos deinformática e eletroeletrônicos.

É claro que a opção por Ilhéus não deixou de suscitarcríticas, apoiadas, sobretudo, na alegação de que os requisitos

111 O “mercado cinza” inclui também a pirataria de softwares e contrabando deprodutos de informática.

112 As informações do parágrafo estão disponíveis em <http://www.bahiainvest.com.br/port/segmentos/informatica_analise.asp?pai=3h.>.Acesso em: 9 set. 2005.

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para a implantação e fixação de indústrias do segmento de in-formática — qualificação da mão-de-obra, proximidade de uni-versidades e centros de pesquisa e desenvolvimento e facilida-des logísticas (inclusive a proximidade de um aeroporto inter-nacional de grande porte) — seriam mais facilmente encontra-dos na RMS do que na região de Ilhéus. Além disso, por maiorque seja a intensidade em mão-de-obra das empresas instaladasno pólo (em virtude, sobretudo, do fato de se tratar da monta-gem de equipamentos e não da produção de componentes mi-croeletrônicos), os 1.400 empregos gerados não chegam pertodos emblemáticos 250 mil desempregados pela crise do cacau.Contudo, em um contexto marcado por incentivos fiscais atra-tivos e após a superação da crise cambial de 1999 (que afetounegativamente as empresas pela sua forte vulnerabilidade aospreços da matéria-prima em dólar), o fato é que o Pólo temdado sinais de crescimento: não somente os indicadores quanti-tativos (número de empresas, faturamento e empregos diretos)têm exibido um comportamento ascendente, como também háindícios de que, com a criação do Centro de Pesquisa e Desen-volvimento Tecnológico em Informática e Eletro-Eletrônico deIlhéus (CEPEDI), possa haver maiores níveis de agregação localde valor e formação local de mão-de-obra.

4.5 Desdobramentos

Embora os movimentos observados na década de 1990 sejamainda recentes, e muitos investimentos estejam ainda em fasede consolidação, pode-se avaliar, ainda que em caráter prelimi-nar, seus desdobramentos sobre a atividade industrial no esta-do. Assim, não há dúvida que o principal movimento ocorridona economia baiana na década de 1990 foi o investimento noComplexo Industrial Ford Nordeste, seja pela sua magnitude,seja pelos efeitos esperados na estrutura econômica do estado,

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seja ainda pela sua aderência à proposta de diversificação damatriz industrial da Bahia. De fato, os números recentes apon-tam para a consolidação do projeto, uma vez que a capacidadenominal da planta foi atingida antes da data programada (esteevento estava previsto para 2006), o número de empregos dire-tos gerados (mais de sete mil) supera as estimativas iniciais decinco mil, já se instalaram na Bahia 33 fornecedores diretos(superando a expectativa inicial de 17 fornecedores de primeiralinha), e a empresa instalou no estado o seu Centro de Design,que permitiu a fixação de uma equipe de centenas de engenhei-ros envolvidos com o projeto de automóveis e componentes.Além disso, novos fornecedores (especialmente aqueles enqua-drados nos Grupos 3 e 4 discutidos na Subseção 4.4.6) já seinstalaram no estado. Porém, a ponderação sobre os custos ebenefícios do projeto deve levar em conta que os desembolsosincorridos pelo governo do estado para atrair o projeto foramespecialmente elevados (superiores, em valor presente, a R$ 2,5bilhões) e que o sucesso do empreendimento esteve associado àprópria aceitação dos produtos da empresa no mercado, sendo,portanto, um fator que os técnicos do governo do estado dificil-mente teriam conseguido capturar ex ante. Além disso, algunsbenefícios esperados do projeto (a atração de novos fornecedo-res, por exemplo) têm demandado a concessão de novos incen-tivos. Essas demandas, em certo sentido, contradizem a hipóte-se de que a atração da Ford criaria condições que tornariam oprocesso de atração de novos empreendimentos espontâneo.

Um outro desdobramento já bastante evidente da implan-tação do Complexo Industrial Ford Nordeste são os fluxos decomércio exterior e sua composição. Com efeito, até recente-mente, as exportações baianas eram predominantemente com-postas de bens intermediários — agrícolas, em um primeiro mo-mento, e industriais, de cerca de duas décadas para cá. De fato,Mascarenhas (1978, p. 60) registra que o cacau respondia por

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mais da metade das exportações do estado ainda na primeirametade da década de 1970. Contudo, entre 1978 (quando seiniciaram as operações do COPEC) e 1994, a participação do seg-mento petroquímico nas exportações do estado elevaram-se de1,6% para 24,6% (GUERRA; GONZALEZ, s.d., p. 29). Esse va-lor é da mesma magnitude da participação do segmento químicoe petroquímico em 2004, conforme indicado na Figura 4.3.113

O fato é que, em cerca de 30 anos, o cacau teve sua parti-cipação nas exportações baianas reduzida de 50% para 5%, en-quanto os bens intermediários (petroquímicos, derivados depetróleo, metalúrgicos e celulose) viram sua participação ele-var-se de forma expressiva. Além disso, a Figura 4.3 revela tam-bém que, nos primeiros anos da década de 2000, o início daprodução automobilística no estado ampliou a participação des-se segmento nas exportações do estado a um patamar já bastan-te representativo. Com efeito, em 2004 (quando a capacidadede produção acumulada da Ford não tinha ainda atingido suacapacidade nominal), 16% das exportações do estado foram re-lativas ao setor automotivo.

Além de contribuir para uma mudança na composição dasexportações do estado, o início das operações do CIFN contri-buiu também para que a Bahia começasse a recuperar sua partici-pação nos fluxos comerciais e nas exportações do Brasil. De fato,ao se examinar a Figura 4.4 (e o Apêndice 4), observa-se que1999 é claramente uma inflexão da tendência de queda da parti-cipação da Bahia nos fluxos comerciais e nas exportações. Naverdade, a tendência de queda da Bahia até 1999 pode ser explicadapelo crescimento dos fluxos comerciais do Brasil com os paísesque compõem o Mercosul, uma vez que esses fluxos, evidente-mente, tendiam a concentrar-se nos estados mais bem posicionadosdo ponto de vista geográfico. A recuperação das exportações e

113 Ver também o Apêndice 3.

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dos fluxos de comércio observada a partir de 1999 pode ser atri-buída, pelo menos em parte, ao início das operações do CIFN, eelevou a participação da Bahia nesses indicadores ao nível de suarepresentatividade no PIB nacional.114

Os efeitos da política de atração de investimentos, noentanto, não se limitaram ao segmento automotivo. Além dosresultados observados nas atividades mais tradicionais do esta-do (o segundo maior investimento atraído para a Bahia na dé-cada de 1990 foi o do segmento petroquímico, confirmando ahipótese de reduzida margem de manobra do governo na sele-ção dos setores de atividade dos investimentos que pôde atrair),o setor de calçados efetivamente se espalhou pelo interior daBahia. Contudo, pela ausência de aglomerações espaciais, o seg-mento continua colocando desafios para sua fixação a longo prazo(isto é, após o período de fruição dos incentivos). O segmentode transformação plástica — que tem apresentado um cresci-mento razoável por conta da implantação de algumas empresasde maior porte — vem mostrando um bom desempenho agrega-do, embora reafirme uma espécie de vocação do estado paraatrair investimentos intensivos em escala, uma vez que são asempresas de maior porte aquelas que têm se fixado na Bahia.

Com relação à segunda grande estratégia fixada na déca-da de 1990 (a interiorização do desenvolvimento), pode-se afir-mar que houve, efetivamente, um processo de desconcentraçãointermunicipal de renda no estado. Todavia, conforme consta-tou Cavalcante (2003b), a maioria dos investimentos ainda nãofoi capaz de criar uma dinâmica de desenvolvimento endógenonos municípios do interior. Na verdade, o que se pode verificar

114 Convém observar que, ainda que a Bahia somente recentemente tenharetornado a deter uma participação nas exportações e nos fluxos de comérciodo Brasil similar a sua participação no PIB, no conjunto da região Nordeste aBahia representa cerca de metade das exportações, embora sua economiacorresponda a cerca de 1/3 da economia da região.

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é que as regiões do estado que apresentaram maiores níveis decrescimento apresentaram também maior tendência à concen-tração intra-regional de renda. Isso significa que os investimen-tos atraídos para um determinado município ainda não foramcapazes de irradiar o desenvolvimento econômico para os mu-nicípios vizinhos. Essa constatação fica mais clara ao se exami-nar a Figura 4.5. Nos mapas, referentes aos anos de 1990 e 2000,os municípios com maiores níveis de renda per capita são indi-cados com cores mais escuras, ao passo que os municípios commenores níveis de renda per capita são indicados com cores maisclaras.115

A Figura 4.5 deixa claro, em primeiro lugar, que o estadocomo um todo adquire uma coloração mais escura, decorrentedo crescimento real da renda per capita.116 Aparentemente, aBahia torna-se também mais homogênea, uma vez que o cresci-mento de municípios, especialmente nas regiões Oeste, do Bai-xo Médio São Francisco e Extremo Sul, parece escurecer maisos extremos estaduais. Contudo, há indícios quantitativos (CA-VALCANTE, 2003b) de que os elevados níveis de renda percapita observados em alguns municípios estariam associados àpresença de um reduzido número de empresas cujas articula-ções com a economia local são pequenas e que apresentam pou-ca capacidade de disseminação do desenvolvimento econômicono seu entorno. Esse é claramente o caso dos investimentos nosegmento produtor de celulose, no Extremo Sul do estado, quetêm claramente uma dificuldade de se articular com a base eco-nômica local. Em certa medida, mesmo o setor de calçados temainda dificuldade de irradiar seus efeitos para os municípios vi-zinhos àqueles onde se instalaram as plantas, embora se possa

115 Uma síntese dos dados empregados na construção da Figura 4.7 está dispo-nível nos Apêndices 5 a 9.

116 Convém lembrar que os dados de renda per capita foram calculados a preçosconstantes de 2000.

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esperar que, no médio prazo, o efeito-renda do grande númerode empregos gerados possa garantir essa articulação.

Finalmente, há indícios de que, especialmente após a con-solidação do CIFN de alguns outros empreendimentos voltadospara a produção de bens finais, o governo do estado estaria seengajando em iniciativas voltadas para o desenvolvimentotecnológico. A criação da Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado da Bahia (FAPESB), em 2001, da Secretaria Extraordiná-ria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), em 2003, e suaposterior institucionalização como secretaria permanente, em2004, evidenciam uma crescente aderência dessa percepção à es-trutura organizacional do governo do estado. Além disso, o cres-cimento dos gastos estaduais em Ciência e Tecnologia (C&T),que alcançaram, em 2004, R$ 158 milhões, contra R$ 73 mi-lhões em 2000 (CAVALCANTE; AQUINO, 2005, p. 9) e aatração de alguns investimentos de base tecnológica sugeremque a estratégia de desenvolvimento econômico do estado, de-pois de ter sido marcada pela atração de investimentos voltadospara a produção de bens intermediários e, em seguida, pela atra-ção de investimentos voltados para a produção de bens finais,poderia estar incorporando também a atração de investimentoscom maior intensidade tecnológica.

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Capítulo 5

Conclusões

Neste trabalho, buscou-se discutir a evolução da economia baia-na ao longo da segunda metade do século XX com base em umarevisão teórica sobre desenvolvimento econômico regional ecompetição fiscal e em uma descrição crítica das mudanças estru-turais que ocorreram na economia do estado durante o período,buscando enfatizar os movimentos associados ao processo deindustrialização do estado. A idéia central que motivou a pro-dução desta monografia é que o desenvolvimento econômicoconstitui-se em um processo complexo, que envolve a interaçãoentre um conjunto de variáveis e seu encadeamento cronológi-co, não sendo possível associá-lo exclusivamente a uma variávelespecífica. Nesse sentido, buscou-se evidenciar que a formula-ção de políticas públicas de desenvolvimento pressupõe o co-nhecimento da trajetória econômica e social e da própria histó-ria do país ou da região sobre a qual se pretende intervir.

O trabalho foi estruturado em uma parte teórica sobredesenvolvimento econômico regional e competição fiscal e emuma parte empírica sobre a evolução da economia baiana aolongo da segunda metade do século XX, tendo se apoiado nasistematização de informações qualitativas obtidas por meio deentrevistas estruturadas e na coleta de dados secundários. Para

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as entrevistas, foram selecionados interlocutores diretamente li-gados à formulação das estratégias de desenvolvimento do estadoe à produção teórica sobre economia baiana, buscando garantirque as visões do setor público, do setor privado e da universidadefossem contempladas. Na revisão bibliográfica sobre economiabaiana, buscou-se resgatar não apenas a produção mais recente,mas também os textos que trazem a perspectiva dos principaisautores de cada época, permitindo que se pudesse acompanhar aevolução de sua percepção sobre a economia do estado.

Os fundamentos teóricos que subsidiaram a análise fo-ram apresentados no Capítulo 2, onde se discutiu o desenvolvi-mento econômico de espaços subnacionais. Com base em umabreve análise da evolução do pensamento em economia regio-nal e em desenvolvimento regional, discutiram-se: (i) as teoriasclássicas da localização, cujo foco são as decisões tomadas pelasfirmas; (ii) a associação entre os fatores de aglomeração e asteorias do desenvolvimento regional; e, finalmente, (iii) a pro-dução recente sobre o tema. Ao se confrontarem essas perspec-tivas teóricas com os movimentos observados na economia doestado ao longo da segunda metade do século XX, pôde-se veri-ficar que as políticas de desenvolvimento adotadas apoiaram-selargamente no conceito de aglomerações. Fundamentalmente,buscavam-se criar, por meio da intervenção do governo, as con-dições iniciais a partir das quais o desenvolvimento poderia ir-radiar-se. Mesmo em um contexto no qual se questionava a apli-cação dos conceitos de “pólos de crescimento”, “causação cir-cular e cumulativa” e “efeitos para frente e para trás” (especial-mente em virtude do fato de não incorporarem a dimensãoinstitucional associada ao desenvolvimento econômico), o quese observou foi seu uso extensivo nas ações de governo. No casoda implantação da indústria automobilística, por exemplo, oargumento que prevaleceu para justificar os investimentos dogoverno do estado para atraí-la foi a capacidade do segmento de

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criar uma demanda que justificasse novos investimentos de for-necedores no estado. A ênfase no conceito de aglomeraçõesobservada nas ações concretas não quer dizer que os documen-tos de planejamento produzidos no final do período analisado(isto é, ao longo da década de 1990) já não trouxessem diversasevidências de que a produção teórica recente em desenvolvi-mento regional era do conhecimento dos técnicos envolvidosno processo. Na verdade, trata-se menos de negligenciar a pro-dução teórica recente e mais de reconhecer a dificuldade de suaaplicação prática. Com efeito, enquanto a produção teórica queprivilegia os conceitos de aglomeração é facilmente convertidaem prescrições de ações de intervenção governamental, as vi-sões que privilegiam conceitos de “distritos marshallianos”, “am-bientes inovadores” e “organização industrial”, por exemplo,têm um caráter mais descritivo de experiências bem-sucedidas eoferecem grande dificuldade para que delas se extraia uma agendade ações concretas.

A discussão das mudanças estruturais que ocorreram naeconomia do estado durante a segunda metade do século XX,apresentada nos Capítulos 3 e 4, deixou claro, em primeiro lu-gar, que há uma convergência de visões sobre o tema. De fato,tanto as entrevistas como a revisão bibliográfica efetuada de-monstraram haver um razoável consenso sobre a relevância dosprincipais movimentos que marcaram a economia do estado aolongo do período. Essa constatação parece ser um sintoma damargem de manobra relativamente reduzida que resta aos go-vernos dos espaços subnacionais para determinarem suas traje-tórias de desenvolvimento. Nesse sentido, a implantação de umaindústria voltada para a produção de commodities intermediá-rias no estado, por exemplo, esteve muito mais associada aopapel que se reservava à Bahia na economia brasileira do que auma deliberação local. É claro que isso não elimina o fato deque a adequada compreensão dos movimentos em escala nacio-

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nal e a capacidade do estado em se reposicionar efetivamentecontribuíram para validar essas iniciativas e para que se pudes-sem amplificar seus resultados. Como resultado, a trajetória se-guida pela Bahia ao longo do período entre 1950 e 1980 foi clara-mente distinta daquela adotada pelos demais estados da regiãoNordeste, que buscaram uma industrialização voltada para a pro-dução de bens finais e intensiva em mão-de-obra, em oposição aoestímulo à produção de commodities intermediárias que norteouas políticas públicas formuladas na Bahia. Apoiada na crescenteintegração dos mercados do país e aproveitando-se da implanta-ção de uma malha rodoviária que terminou articulando a regiãoNordeste com as regiões Sul e Sudeste, a estratégia de “especiali-zação regional” terminou resultando na elevação da participaçãodo PIB da Bahia no PIB do Nordeste e do Brasil no período eatuou contraciclicamente nos momentos em que a região Nor-deste via reduzir-se sua participação no PIB nacional. Além dis-so, a Bahia parece ter se beneficiado do maior enraizamento dossegmentos produtores de bens intermediários, em virtude de seusmaiores sunk costs e de sua elevada intensidade em capital. Nes-se sentido, a estrutura que se fixou no estado entre as décadas de1950 e 1980 parece ter sido mais resistente às baixas taxas decrescimento do final da década de 1980 do que teriam sido seg-mentos voltados para a produção de bens finais.

Por trás dos diferenciais nas taxas de crescimento que seobservaram entre as décadas de 1950 e 1980, todavia, está umamudança estrutural na economia do estado. Na verdade, postu-lou-se aqui que, à parte as discussões de caráter semântico, maisdo que ter crescido em “espasmos”, “saltos” ou “ciclos”, a Bahiaparece ter experimentado, ao longo do período, um processo decrescimento em “camadas” que se sobrepuseram, ainda que deforma irregular. Essa proposição é validada pelo fato de que umdos principais motivos pelos quais a Bahia viria a abrigar oCOPEC, na década de 1970, foi justamente o fato de contar

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com uma refinaria cuja implantação se dera cerca de vinte anosantes. Assim, embora o processo de industrialização tenha seiniciado na década de 1950, suas grandes repercussões ocorre-ram após o início das operações do COPEC, no final da décadade 1970. O argumento da industrialização em camadas é tam-bém válido para a década de 1990 e é reforçado pela percepçãode que a implantação da indústria automobilística no estado,embora associada à estratégia da própria montadora, aos movi-mentos ocorridos no conjunto da economia brasileira e à con-cessão de um representativo pacote de incentivos fiscais, foi tam-bém favorecida pela presença, no estado, de um parque indus-trial já relativamente desenvolvido.

Na verdade, a implantação da indústria automobilísticana Bahia foi o principal evento econômico de uma décadamarcada por uma retórica de diversificação da matriz industriale por uma prática de atração de investimentos por meio da con-cessão de benefícios fiscais em nível estadual. Postulou-se aquique as estratégias de desenvolvimento formuladas para o esta-do, além de apoiarem a implantação de atividades voltadas paraa produção de bens finais, buscando assim maiores níveis deintegração intersetorial nas cadeias de produção instaladas noterritório baiano, incluíam também mecanismos de estímulo àdesconcentração espacial da atividade econômica, tendo sidocircunscritas pelo contexto de competição fiscal por investimen-tos em que as unidades da federação estiveram envolvidas. Defato, em face da crise das instituições federais de suporte aodesenvolvimento regional — especialmente da SUDENE —, osinstrumentos empregados na prática para a implantação dasestratégias fixadas parecem ter estado em grande medida asso-ciados à concessão de benefícios de natureza fiscal e, em menorescala, a incentivos financeiros e provisão de infra-estrutura.

Uma vez que a implementação das estratégias estava di-retamente associada à atração de investimentos por meio da

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concessão de benefícios fiscais, o governo do estado teve uma mar-gem de manobra relativamente reduzida para eleger os setoresprioritários. Assim, embora houvesse uma estratégia claramentedesenhada e que podia ser considerada razoavelmente consensual,o fato é que os resultados da política de atração de investimentosforam determinados muito mais pelo aproveitamento de oportuni-dades surgidas do que por uma ação efetivamente seletiva. É elo-qüente, por exemplo, a constatação de que, apesar da vigorosa re-tórica em favor da diversificação da matriz industrial instalada naBahia, o segundo maior projeto atraído para o estado no âmbito dapolítica de incentivos adotada ao longo da década de 1990 foi justa-mente no setor petroquímico. Diante disso, não surpreende que ossegmentos de bens intermediários tenham mantido sua participa-ção na estrutura da indústria de transformação do estado ao longoda década de 1990. Isso, todavia, não elimina a representatividadede segmentos intensivos em mão-de-obra (como os segmentos têx-til e de produção de calçados), que, embora detendo individual-mente uma participação reduzida no valor agregado bruto da trans-formação industrial no estado, adquirem maior peso quando exa-minados de forma agregada.

Com relação à desconcentração espacial da atividade eco-nômica, o que se pôde observar foi, ao longo da década de 1990,uma redução dos níveis de desigualdade, sobretudo em iniciati-vas como as que se relacionam aos investimentos nas regiõesOeste, Baixo-Médio São Francisco, Extremo Sul e de Ilhéus (porconta da implantação do Pólo de Informática), além, é claro, dapulverização da indústria de calçados pelo interior do estado.Contudo, parece ter havido, ao longo da década, uma associa-ção direta entre crescimento do PIB per capita e crescimento dadesigualdade intra-regional. Acredita-se, assim, que o crescimen-to da renda per capita em alguns municípios pode ter resultadoda implantação de novos investimentos atraídos pela política deconcessão de benefícios fiscais e financeiros do estado, sem que

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se tenham estabelecido vínculos econômicos com as localidadespróximas daquela onde o investimento foi implantado. Nessesentido, há indícios de que a atração de grandes investimentospara o interior do estado possa não estar associada, em diversoscasos, a um processo de promoção do desenvolvimento endóge-no. De outra parte, restam ainda dúvidas quanto à fixação dealgumas empresas que se destinaram ao interior — sobretudodaquelas que mantêm reduzidos níveis de articulação com a baseeconômica existente no estado — após o prazo de fruição dosincentivos fiscais que lhes foram concedidos.

Para concluir, pode-se afirmar que, ao se examinar em pers-pectiva histórica a trajetória seguida pela economia baiana ao longoda segunda metade do século XX, a idéia da industrialização é tãovigorosa e traz implicações tão eloqüentes que a expressão “a erada indústria” parece ser a mais adequada para descrever o perío-do. De fato, entre 1950 e 2000, o que se observou foi uma suces-são de iniciativas voltadas para a industrialização do estado, comimplicações econômicas e sociais talvez tão grandes que aindanão puderam ser plenamente assimiladas. Porém, é certo que, demaneira análoga à idéia de Eric Hobsbawm utilizada como epígrafedeste trabalho, os movimentos que serão observados na econo-mia baiana ao longo do século XXI terão sido moldados peloseventos que marcaram o qüinqüênio que o antecedeu e que, en-tre as décadas de 1980 e 1990, o modelo de industrialização ado-tado modificou-se intensamente. Dessa forma, se, entre as déca-das de 1950 e 1980, a industrialização ocorreu mediante a partici-pação direta do governo no setor produtivo e enfatizou a implan-tação de uma base voltada para a produção de commodities inter-mediárias, a partir da década de 1990, as estratégias de desenvol-vimento passaram a privilegiar a produção de bens finais e a inte-riorização da atividade econômica, ainda que essas ações tenhamsido circunscritas pelo contexto de competição fiscal por investi-mentos em que as unidades da federação estiveram envolvidasno período.

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Apêndices

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Apêndice 1: Participação do Nordeste, da Bahia, de Pernambuco e

do Ceará no PIB do Brasil

Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos peloProfessor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período 1947-1984.

continua

Nordeste Bahia Pernambuco Ceará

1939 16,90% 4,49% 4,53% 2,10%

1947 15,38% 4,26% 1,81% 4,12%

1948 14,93% 3,99% 1,77% 4,12%

1949 14,25% 3,71% 1,80% 3,90%

1950 14,47% 3,69% 2,04% 3,91%

1951 13,93% 3,51% 1,55% 3,96%

1952 13,22% 3,37% 1,73% 3,49%

1953 12,51% 3,52% 1,48% 3,36%

1954 12,81% 3,86% 1,46% 3,39%

1955 12,40% 3,70% 1,46% 3,21%

1956 13,24% 3,70% 1,69% 3,51%

1957 13,40% 3,78% 1,73% 3,62%

1958 12,79% 4,00% 1,11% 3,61%

1959 14,17% 4,12% 1,77% 3,53%

1960 14,53% 4,16% 1,90% 3,49%

1961 13,84% 3,63% 1,82% 3,51%

1962 14,60% 3,51% 2,04% 3,64%

1963 14,17% 3,29% 2,00% 3,86%

1964 14,63% 3,74% 2,12% 3,77%

1965 14,98% 3,97% 2,17% 3,76%

1966 13,61% 3,79% 1,85% 3,47%

1967 14,28% 3,89% 1,99% 3,61%

1968 13,65% 3,91% 1,99% 3,36%

1969 12,79% 3,87% 1,73% 3,16%

1970 11,92% 3,82% 1,48% 2,95%

1971 11,76% 3,68% 1,47% 2,86%

1972 11,96% 3,70% 1,50% 2,90%

1973 11,95% 3,68% 1,52% 2,87%

1974 10,86% 3,54% 1,20% 2,69%

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Apêndice 1: Participação do Nordeste, da Bahia, de Pernambuco e

do Ceará no PIB do Brasil

Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmente cedidos peloProfessor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período 1947-1984.

continuação

Nordeste Bahia Pernambuco Ceará

1975 11,28% 3,75% 1,32% 2,70%

1976 11,43% 3,65% 1,42% 2,71%

1977 12,05% 3,83% 1,50% 2,75%

1978 12,68% 4,29% 1,58% 2,80%

1979 12,78% 4,37% 1,61% 2,76%

1980 12,17% 4,44% 1,53% 2,55%

1981 12,92% 4,67% 1,54% 2,63%

1982 14,25% 5,06% 1,88% 2,67%

1983 14,29% 5,68% 1,63% 2,60%

1984 15,55% 5,59% 2,26% 2,66%

1985 14,10% 5,35% 1,72% 2,62%

1986 14,07% 5,14% 1,74% 2,83%

1987 13,13% 4,71% 1,60% 2,77%

1988 12,83% 4,78% 1,61% 2,61%

1989 12,30% 4,52% 1,54% 2,53%

1990 12,86% 4,49% 1,62% 2,66%

1991 13,37% 4,40% 1,83% 2,89%

1992 12,92% 4,39% 1,83% 2,67%

1993 12,82% 4,34% 1,82% 2,58%

1994 12,87% 4,29% 1,89% 2,59%

1995 12,78% 4,14% 1,93% 2,70%

1996 13,17% 4,24% 2,01% 2,75%

1997 13,09% 4,25% 2,02% 2,69%

1998 13,05% 4,24% 2,06% 2,71%

1999 13,11% 4,32% 2,00% 2,67%

2000 13,09% 4,38% 1,89% 2,64%

2001 13,12% 4,36% 1,80% 2,65%

2002 13,52% 4,61% 1,80% 2,71%

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Apêndice 2: Participação da Bahia, de Pernambuco e do Ceará no

PIB do Nordeste

Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dados gentilmentecedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para 1939 e para o período1947-1984.

continua

Bahia Pernambuco Ceará

1939 26,58% 26,80% 12,45%

1947 27,67% 26,77% 11,75%

1948 26,71% 27,59% 11,87%

1949 26,01% 27,35% 12,66%

1950 25,49% 26,99% 14,07%

1951 25,22% 28,43% 11,16%

1952 25,52% 26,42% 13,06%

1953 28,10% 26,88% 11,82%

1954 30,11% 26,47% 11,38%

1955 29,86% 25,89% 11,79%

1956 27,95% 26,50% 12,74%

1957 28,21% 26,98% 12,92%

1958 31,24% 28,25% 8,71%

1959 29,11% 24,90% 12,48%

1960 28,66% 24,01% 13,06%

1961 26,20% 25,39% 13,14%

1962 24,04% 24,95% 14,00%

1963 23,22% 27,21% 14,08%

1964 25,54% 25,79% 14,49%

1965 26,53% 25,08% 14,47%

1966 27,84% 25,48% 13,62%

1967 27,26% 25,29% 13,91%

1968 28,65% 24,59% 14,58%

1969 30,23% 24,67% 13,55%

1970 32,04% 24,77% 12,37%

1971 31,26% 24,32% 12,53%

1972 30,92% 24,27% 12,57%

1973 30,79% 24,06% 12,70%

1974 32,60% 24,74% 11,01%

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Apêndice 2: Participação da Bahia, de Pernambuco e do Ceará no

PIB do Nordeste

Fontes: Elaboração própria, usando dados do IBGE (1985-2002) e dadosgentilmente cedidos pelo Professor Carlos Roberto Azzoni para1939 e para o período 1947-1984.

continuação

Bahia Pernambuco Ceará

1975 33,27% 23,91% 11,70%

1976 31,98% 23,73% 12,39%

1977 31,80% 22,85% 12,44%

1978 33,81% 22,07% 12,49%

1979 34,22% 21,62% 12,58%

1980 36,49% 20,98% 12,58%

1981 36,11% 20,36% 11,89%

1982 35,50% 18,75% 13,18%

1983 39,76% 18,18% 11,38%

1984 35,96% 17,12% 14,53%

1985 37,94% 18,58% 12,20%

1986 36,53% 20,11% 12,37%

1987 35,82% 21,06% 12,17%

1988 37,29% 20,36% 12,56%

1989 36,72% 20,55% 12,51%

1990 34,89% 20,67% 12,59%

1991 32,91% 21,62% 13,69%

1992 33,98% 20,67% 14,16%

1993 33,83% 20,11% 14,19%

1994 33,33% 20,12% 14,69%

1995 32,45% 21,16% 15,13%

1996 32,19% 20,88% 15,26%

1997 32,47% 20,55% 15,43%

1998 32,52% 20,78% 15,80%

1999 32,93% 20,38% 15,28%

2000 33,44% 20,21% 14,43%

2001 33,22% 20,17% 13,72%

2002 34,10% 20,04% 13,31%

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Apêndice 3: Exportações baianas principais segmentos, 2003/2004

Fonte: PROMO Centro Internacional de Negócios da Bahia.

Segmentos Valores (US$

1000 FOB),

2003

Valores (US$

1000 FOB),

2004

Variação

2003/2004

Participação,

2004

Químicos e petroquímicos 800.578 960.171 19,93% 23,63%

Automotivo 398.673 640.719 60,71% 15,77%

Derivados de petróleo 609.267 549.770 -9,77% 13,53%

Metalúrgicos 249.806 384.872 54,07% 9,47%

Grãos óleos e ceras vegetais 160.819 343.089 113,34% 8,44%

Papel e celulose 262.050 277.775 6,00% 6,84%

Cacau e derivados 213.271 194.045 -9,01% 4,78%

Minerais 104.008 103.588 -0,40% 2,55%

Frutas e suas preparações 80.482 74.884 -6,96% 1,84%

Couros e peles 58.455 72.406 23,87% 1,78%

Café e especiarias 39.021 68.065 74,43% 1,68%

Sisal e derivados 53.925 62.548 15,99% 1,54%

Calçados e suas partes 27.840 50.816 82,53% 1,25%

Pesca e aqüicultura 27.053 27.539 1,80% 0,68%

Fumo e derivados 17.263 16.699 -3,27% 0,41%

Demais segmentos 156.261 235.930 50,98% 5,81%

Total 3.258.772 4.062.916 24,68% 100,00%

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Apêndice 4: Balança Comercial Bahia 1980–2004

(US$ milhões FOB)

Fonte: PROMO Centro Internacional de Negócios da Bahia.

Anos Exportações Importações Saldos Corrente de

comércio

1980 1.113 824 289 1.937

1981 1.290 571 719 1.861

1982 1.075 609 466 1.684

1983 1.534 441 1.093 1.975

1984 1.739 329 1.410 2.068

1985 1.636 408 1.228 2.044

1986 1.133 454 679 1.587

1987 1.271 484 787 1.755

1988 1.476 677 799 2.153

1989 1.524 648 876 2.172

1990 1.453 766 687 2.219

1991 1.277 632 645 1.909

1992 1.491 534 957 2.025

1993 1.450 615 835 2.065

1994 1.721 753 968 2.474

1995 1.919 1.208 711 3.127

1996 1.846 1.343 503 3.189

1997 1.868 1.590 278 3.458

1998 1.829 1.500 329 3.329

1999 1.581 1.472 109 3.053

2000 1.943 2.256 -313 4.199

2001 2.120 2.274 -154 4.394

2002 2.410 1.878 532 4.288

2003 3.259 1.945 1.314 5.204

2004 4.063 3.013 1.050 7.076

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201

Apêndice 7: Regiões econômicas: PIB (SEI, 2003)

Fonte: SEI (2003)

Região PIB Estimado 1998 PIB Estimado 2000

Metropolitana de Salvador 18.000.075.513 20.761.353.625

Litoral Norte 1.933.091.607 2.854.970.826

Recôncavo Sul 1.038.249.853 1.357.553.945

Litoral Sul 2.345.546.464 2.280.683.288

Extremo Sul 2.077.565.530 2.439.915.703

Nordeste 1.748.084.941 2.958.387.550

Paraguaçu 2.034.432.596 2.461.079.758

Sudoeste 1.893.960.574 2.014.009.447

Baixo Médio São Francisco 716.712.836 1.355.485.974

Piemonte da Diamantina 1.020.740.008 1.083.827.186

Irecê 509.077.117 632.691.526

Chapada Diamantina 627.965.136 826.841.945

Serra Geral 887.238.100 1.093.786.470

Médio São Francisco 392.535.515 549.953.274

Oeste 1.208.536.590 1.720.845.208

Total 36.433.812.382 44.391.385.727

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202

Apêndice 8: Regiões econômicas: PIB per capita estimado

Fonte: Estimativas do autor com base nos dados de Porto (2002).

Região PIB per

capita

estimado

1990

PIB per

capita

estimado

1994

PIB per

capita

estimado

1996

PIB per

capita

estimado

1998

PIB per

capita

estimado

2000

Metropolitana de

Salvador 7.739 7.025 6.899 7.291 7.023

Litoral Norte 6.249 5.661 5.473 5.917 6.691

Recôncavo Sul 2.374 3.148 3.279 3.013 2.765

Litoral Sul 2.089 2.255 2.355 2.553 2.470

Extremo Sul 2.442 2.861 3.496 3.779 3.909

Nordeste 1.298 1.521 1.676 1.702 1.799

Paraguaçu 2.243 2.190 2.308 2.529 2.611

Sudoeste 1.551 1.793 1.709 1.760 1.832

Baixo Médio São

Francisco 2.001 2.570 2.453 2.278 2.254

Piemonte da

Diamantina 2.178 2.175 2.288 2.496 2.394

Irecê 1.333 1.234 1.453 1.249 1.670

Chapada

Diamantina 906 905 1.001 983 1.242

Serra Geral 1.792 2.028 1.835 2.048 2.467

Médio São

Francisco 980 1.447 1.205 1.167 1.521

Oeste 1.603 3.315 3.244 3.616 4.578

Total 3.221 3.317 3.369 3.569 3.653

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203

Apêndice 9: Regiões Econômicas: PIB per capita (SEI, 2003)

Fonte: Estimativas do autor com base nos dados da SEI (2003).

Região PIB per

capita

estimado

1998

PIB per

capita

estimado

2000

Metropolitana de Salvador 6.232 6.884

Litoral Norte 3.760 5.385

Recôncavo Sul 1.548 1.985

Litoral Sul 1.721 1.676

Extremo Sul 3.328 3.680

Nordeste 1.511 2.517

Paraguaçu 1.649 1.970

Sudoeste 1.718 1.776

Baixo Médio São Francisco 1.834 3.332

Piemonte da Diamantina 1.774 1.905

Irecê 1.376 1.697

Chapada Diamantina 1.256 1.631

Serra Geral 1.599 1.937

Médio São Francisco 1.186 1.631

Oeste 2.548 3.538

Total 2.858 3.400

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A era da indústria: a economia baiana

na segunda metade do século XX

de Luiz Ricardo Cavalcante

III Prêmio FIEB de Economia Industrial,

é uma edição da Federação das Indústrias

do Estado da Bahia.

Impressão e acabamento:

Qualigraf Serviços Gráficos e Editora Ltda.

Salvador, maio de 2008

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