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A Escola de Chicago

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O que é a escola de Chicago

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Page 1: A Escola de Chicago

A ESCOLA DE CHICAGO 1

Prof. Dr. Angela Napoleão Braz

Outra corrente urbanística, de base etnográfica2 e econômica, surge na primeira metade

do século XX.

Entre as décadas de 1920 e 1930, em Chicago, formou-se um grupo de sociólogos

interessados em compreender a reprodução da “sociedade urbana”, associando preocupações da

geografia, sociologia e ecologia: a ECOLOGIA HUMANA.

Passando a ser conhecido como a CHICAGO SCHOOL ou ESCOLA DE CHICAGO, este grupo criou as bases para o estudo sociológico do meio ambiente urbano

fundamentando-se em avaliações estatísticas, principalmente de áreas industriais, comerciais

e habitacionais. Tendo como base os estudos do filósofo e sociólogo alemão GEORG SIMMEL (1858-1918), todos os seus representantes escreveram artigos tratando da

influência de situações sociais sobre o comportamento individual na metrópole. Para eles,

esta cidade era concebida como um mosaico de grupos diferenciados por sua identidade e

inter-relação sociocultural.

GEORG SIMMEL (1858-1918), CHICAGO EM 1930.

Um dos fundadores da SOCIOLOGIA URBANA, Simmel dizia haver traços

psicológicos essenciais, os quais definiriam a organização social urbana e a personalidade da

cidade. Estes traços psicológicos eram representados de modo arquetípico nas metrópoles,

onde os laços formais e sociais substituiriam os laços afetivos tradicionais.

1 Texto produzido para a disciplina Teoria e História do Urbanismo, Turma 2012.2.

2 Relacionada à antropologia, trata de estudos sobre as relações sócio-culturais, comportamentos,

experiências e costumes, extraindo daí conclusões importantes acerca de fatores sociais e organizacionais.

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PIAZZA(1920), GIORGIO DE CHIRICO (1888-1978).

URBANIDADE (BLASÉE): INDIFERENÇA + TOLERÂNCIA

De seus estudos, conclui-se que o habitante da metrópole seria uma espécie de

“estrangeiro” que vive na sociedade, sem lhe pertencer, mantendo certa reserva e

distanciamento civilizado face ao outro (atitude blasée), contribuindo na autonomia de

cada um e no funcionamento da comunidade. Com base neste entendimento, a Escola de

Chicago busca explicar como a cidade americana se organiza, quais são e como surgem seus

padrões espaciais.

A Escola de Chicago não propõe um novo modelo urbano para a criação ou expansão

das cidades, mas um método de analisar os motivos pelos quais as cidades se desenvolveram da

forma como o fazem espontaneamente. Esta escola inaugurou uma reflexão inédita ao tomar a

cidade como objeto privilegiado de investigação, tratando-a como variável isolada, o que

renderia a ela os créditos da criação da “sociologia urbana” como disciplina especializada. Ao

fazer esta análise utilizou conceitos da “Ecologia Urbana”, teoria que compara as relações entre

humanos (especialmente de classes sociais diferentes) e entre humanos e seu meio, no caso,

urbano.

Os estudos da Escola de Chicago focalizam os centros urbanos combinando

conceitos teóricos e pesquisa de campo de caráter etnográfico. Ela toma a forma urbana

como indicadora de um novo modo de vida. Suas análises desencadearam estudos

relacionados ao sugimento de favelas, a proliferação do crime e da violência, e ao aumento

populacional, tão marcantes no início do século XX.

A Escola passou por duas fases. A primeira (1930 a 1945), baseada na ecologia

urbana, foi sua fase áurea. Propunha que as cidades eram meio ambientes como aqueles

encontrados na natureza, governados por muitas das mesmas forças evolutivas que afetavam os

ecossistemas naturais. A mais importante destas forças seria a competição. A segunda fase, da

Escola de Chicago, sem muita expressão, foi baseada na economia urbana e tratava da relação

entre a sociedade e meio ambiente enquanto consequência das forças sociais em competição

econômica (Compans, 1999).

Os principais integrantes da CHICAGO SCHOOL são: Robert E. Park (1864-1944),

Roderick Mackenzie, Ernest Burgess, William I. Thomas (1863-1947), Louis Wirth (1897-

1952).

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ROBERT E. PARK (1864-1944), WILLIAM I. THOMAS (1863-1947), LOUIS WIRTH (1897-1952)

Park e Burgess sugeriram que a luta pelos escassos recursos urbanos, especialmente

terra, levava à competição entre grupos e, finalmente, à divisão do espaço urbano em nichos

ecológicos distintos ou ‘áreas naturais’ em que os habitantes partilhavam de características

sociais semelhantes, pois estavam presos às mesmas pressões ecológicas. A competição por

terra e recursos levava à diferenciação do espaço urbano em zonas, sendo que as áreas mais

desejáveis cobrariam aluguéis mais altos. À medida que se tornassem mais prósperos, pessoas e

negócios se moveriam do centro da cidade em um processo que Park e Burgess chamaram de

‘sucessão’, termo tomado da ecologia.

MODELO DE CÍRCULOS CONCÊNTRICOS, ERNEST BURGESS, 1925: MODELO DE

DESENVOLVIMENTO URBANO BASEADO EM CÍRCULOS CONCÊNTRICOS CARACTERIZADOS PELA

OCUPAÇÃO.

A “Teoria dos Anéis”, de Ernest Burgess, permitiu-lhe desenvolver o MODELO DAS

ZONAS CONCENTRICAS. Publicado pela primeira vez em 1925, este modelo previa que as

cidades teriam a forma de cinco anéis concêntricos com as áreas de deteriorização física e social

concentradas próximas do centro e as mais prósperas próximas às bordas da cidade.

O modelo das Zonas Concêntricas tem os seguintes pressupostos: a) a economia urbana

se baseia no comércio e na indústria; b) existe propriedade privada e competição econômica

Distrito central de negócios

Zonas de transição

(fábricas, edifícios

abandonados e

deteriorados)

Zona da classe trabalhadora

(moradia simples)

Zona comum

(subúrbios)

Zona residencial (jardins

e residências)

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pelo espaço urbano; c) a área e a população da cidade estão em constate expansão; d) o centro

da cidade é a principal fonte de emprego e em sua proximidade, as reservas de espaço são

limitadas; e) a área central é circundada por quatro anéis concêntricos, ou seja, a diferenciação

interna da área de terra urbana representa gradiente da patologia social do centro para a

periferia.

Sendo assim, o modelo de desenvolvimento urbano em círculos concêntricos apontava

para a segregação espacial produzida no espaço urbano, com o surgimento dos guetos étnicos e

de grupos sociais semelhantes que se agrupavam. A crítica que se faz ao modelo das Zonas

Concêntricas é que ele desconsidera a importância dos valores culturais na determinação das

decisões locacionais (Compans, 1999).

O fundamento teórico da Escola de Chicago era o de que a sociedade se organiza

naturalmente em grupos formados por iguais (os negros, os pobres, os ricos, etc.) e neste sentido

a cidade é uma construção natural de áreas que se criam e se solidificam por interesse em

comum de um grupo social. Sob esta ótica o crescimento da cidade ocorre na mesma medida

do aumento populacional destes grupos, e além de reforçar as diferenças na estrutura social,

também implica em mudanças na localização das áreas urbanas ocupadas pelos grupos sociais.

Em geral, os estudos analíticos das estruturas urbanas que se encaixam nesta linha

de raciocínio sugerem que o crescimento das cidades está vinculado à territorialização de

sua economia. Ou seja: a produção do espaço urbano se vincula a um padrão de usos.

Como exemplos de trabalho nesta linha citamos os de Alan Lipietz (1986)3, de Roderick

Mackenzie4 e de Ernest W. Burgess (1911-2000).

Os estudos de Lipietz sugerem que a produção do espaço urbano está vinculada à

existência e ao desenvolvimento de polos industriais; os estudos de Mackenzie sugerem que o

crescimento urbano é consequência da competição econômica e da divisão do trabalho

porque ambas condicionam a posição e a forma do espaço urbano, geram alterações nas

localizações das atividades e provocam novas relações sociais. Burgess além de compartilhar

do pensamento de Mackenzie, sugere que o crescimento da cidade também é condicionado

aos processos de centralização e descentralização de áreas com atividades comerciais e

industriais.

De forma geral, em uma abordagem ecológica, o crescimento da cidade é visto como

um processo natural. As cidades não crescem randomicamente. O crescimento começa nas áreas

mais desejáveis e vantajosas implicando em competição pelas áreas entre grupos diferentes, no

desequilíbrio provocado pela invasão de novos grupos e em um novo equilíbrio alcançado pelos

invasores.

Louis Wirth, outro autor de destaque da Escola, afirma que a cidade produz uma cultura

urbana que transcende os limites da cidade – afirmação então inovadora. A cidade atua e se

3 Alan Lipietz estudou a estruturação das cidades sob a ótica econômica a partir de 1973. Suas entradas

conceituais foram: - a estrutura industrial, o regime de acumulação (o lucro tem que ser maior que os

insumos) e a noção de regulação da economia (supõe que a economia por si só não funciona e, portanto

precisa ter um mecanismo regulador para fluxos financeiros e fluxos de circulação). Estas três entradas

constituíram um modelo de desenvolvimento econômico que ressalta as diferenças entre o fordismo e o

pós-fordismo quanto à organização do trabalho, o elo salarial e a relação entre cidades industriais. Seus

estudos permitiram a identificação de certa configuração espacial nas cidades americanas, caracterizadas

por territórios desintegrados, especializações nas regiões e no interior delas, grandes pólos de crescimento

urbano contrastando com áreas desqualificadas, concentração do setor quaternário nos centros nodais

urbanos, crescimento do setor secundário de empregos (serviços pessoais) e concentração de riquezas.

4 Em seus estudos Roderick Mackenzie conclui que a produção do espaço urbano ou a definição dos

padrões de uso da terra urbana são resultados de processos ecológicos e de uma divisão de trabalho que

distribui objetos mobiliários e atividades urbanas no espaço de acordo com seu papel funcional

(Compans, 1999).

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desdobra para além de seus limites físicos, através da propagação do estilo de vida urbano e

torna-se o ‘locus’ do surgimento do urbanismo como modo de vida. Wirth enfatiza o urbanismo

como uma forma de existência social caracterizada por interações eventuais e impessoais, ritmo

agitado de vida e o desenvolvimento de uma massa homogênea e anônima.

A caracterização da cidade de Wirth como ‘um mundo de estranhos’ foi bastante

criticada. Ao contrário, a urbanização, afirmam, frequentemente contribui para o crescimento de

diversas subculturas e para a manutenção dos laços de vizinhança; se por um lado as grandes

cidades modernas envolvem relações pessoais e anônimas, também são fonte de diversidade e

intimidade, além de locais onde as pessoas podem encontrar grupos sociais e culturais com os

quais se identificam.

O empirismo que marca a abordagem da Escola transforma a cidade de Chicago em

‘laboratório social’. À época, Chicago era uma cidade caótica marcada por um intenso processo

de industrialização e de urbanização, com crescimento demográfico espantoso, imenso

contingente imigratório, concentração populacional excessiva e condições de vida e de

infraestrutura precárias. Esta situação fez com que a escola formulasse a ideia da cidade como

problema, mas dificultou a articulação de um pensamento com maior grau de abstração acerca

da cidade.

BIBLIOGRAFIA

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2001.