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Edição 146 | Ano XXI | www.aborlccf.org.br Qualidade de vida: A meditação no alívio do estresse dos médicos Gestão e Carreira: Satisfação do paciente, credibilidade do profissional A ESCOLHA POR UMA MEDICINA “DESCENTRALIZADA”

A EscolhA por umA mEdIcInA “dEscEntrAlIzAdA” · terminou e eu desisti, só fiz R1, e comecei a trabalhar em um consultório montado por meu pai em nosso bairro. Mas isso era pouco

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Edição 146 | Ano XXI | www.aborlccf.org.br

Qualidade de vida: A meditação no alívio do estresse dos médicos

Gestão e Carreira: Satisfação do paciente, credibilidade do profissional

A EscolhA por umA mEdIcInA

“dEscEntrAlIzAdA”

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www.aborlccf.org.br/6congressolatino

SÃO PAULOBRASIL

CIDADE DO MÉXICOMÉXICO

BUENOS AIRESARGENTINA

BUENOS AIRESARGENTINA

BOGOTÁCOLÔMBIA

LIMAPERU

Realização: Apoio:

Voz Profissional

Estenose Laringotraqueal

Disfonia Pediátrica

Refluxo e Doença de Laringe

Cirurgia do Esqueleto Laríngeo

Trauma de Laringe

Neurolaringologia

Reconstrução da Lâmina Própria

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Caro associado,Completamos 100 dias à frente da nossa querida ABORL-CCF. Para implementar todos os nossos

sonhados projetos ainda este ano, elegemos três eixos principais de atuação: 1. Organização dos nossos múltiplos processos internos com o objetivo de criar um mapa ope-

racional consistente e reprodutível da nossa associação. Trabalho importantíssimo, pois, ao mesmo tempo em que torna nossa entidade muito mais transparente, desenha com clareza os percursos per-corridos pelos nossos projetos azeitando nossa máquina administrativa e tornando mais céleres as transições. Para tanto, contratamos um escritório especializado a fim de cumprir com perfeição esse objetivo. Ansiamos por coroar todo esse esforço com a certificação ISO 9001 até o final do ano!

2. Radicalizar a democratização da associação através da WEB: vários membros das nossas comissões habitam regiões longínquas. A distância exclui colegas (legitimamente eleitos) de partici-parem do dia a dia da ABORL-CCF e dos processos inerentes às tomadas de decisões. Para sanarmos a situação, transformamos nosso auditório em um estúdio de geração e transmissão de informações para realizar todas as reuniões das comissões a partir da internet em tempo real e com alto nível de qualidade. Também estamos criando um ciclo de palestras e variados cursos on-line já parcialmente disponibilizados para otorrinolaringologistas do mundo inteiro.

3. Buscar a valorização do nosso qualificado trabalho sem poupar esforços em obter uma remune-ração mais digna e justa. No dia 29 de abril, acontecerá na nossa sede o primeiro fórum sobre honorários médicos em Otorrinolaringologia, reunindo expoentes da nossa defesa profissional e representantes de sociedades regionais e cooperativas. Ao final desse encontro, pretendemos criar um plano de ação a ser implementado em curto prazo e que possibilite mudanças na nossa matriz de remuneração.

ORGANIZAÇÃO, DEMOCRACIA E LUTA POR HONORÁRIOS. Este é o nosso tripé. E muito mais está por vir!

Mensagem do

Presidentesady selaimen

diretoria 2015

PresidenteDr. Sady Selaimen da Costa - Porto Alegre (RS)

Primeiro Vice-Presidente Dr. Domingos Hiroshi Tsuji - São Paulo (SP)

Segunda Vice-Presidente Dra. Wilma Anselmo Lima - Ribeirão Preto (SP)

Diretora-Secretária-GeralDra. Renata Cantisani Di Francesco - São Paulo (SP)

Diretor-Secretário Adjunto Dr. Ronaldo Frizzarini - São Paulo (SP)

Diretor TesoureiroDr. Felippe Felix - Rio de Janeiro (RJ)

Diretor Tesoureiro AdjuntoDr. Fabrizio Riccci Romano - São Paulo (SP)

Diretor ExecutivoDr. Carlos Roberto da Silva - São Paulo (SP)

Assessora Dra. Renata Dutra de Moricz - São Paulo (SP)

Assessor Dr. Geraldo Druck Sant´Anna - Porto Alegre (RS)

Assessora Dra. Alessandra Loli - Botucatu (SP)

Comissões PermanentesPresidente da Comissão de Comunicações Dr. João Vianney B. de Oliveira - Petrópolis (RJ)

Presidente da Comissão da BJORL Dr. Mariana de Carvalho Leal Gouveia - Recife (PE)

Presidente da Comissão de Eventos e CursosDr. José Antônio Patrocínio - Uberlândia (MG)

Presidente da Comissão de Residência e TreinamentosDr. Geraldo Pereira Jotz - Porto Alegre (RS)

Presidente da Comissão de Título de Especialista Fernando Veiga Angelico Jr - São Paulo (SP)

Presidente da Comissão de Defesa Profissional Eduardo Baptistella - Curitiba (PR)

Presidente da Comissão de Ética e Disciplina Ivan Dieb Miziara - São Paulo (SP)

Presidente da Comissão de Educação Médica ContinuadaRenata Dutra de Moricz - São Paulo (SP)

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Carta ao leitor

Páginas azuis: Jayme Murahovschi

Agenda de eventos

Congresso norte-americano: Dallas sediará o encontro anual da AAO-HNSF

Gestão em prática: Pilares do INTO

Capa: A escolha por uma medicina “descentralizada”

educação continuada: Apneia obstrutiva do sono

VOX news: Bem Estar Global

Gestão e carreira: Satisfação do paciente, credibilidade do profissional

estrutura organizacional: Quadro de diretores e coordenadores

internacional: São Paulo no centro da Otorrinolaringologia mundial

Conduta médica: Termo estabelece autonomia da vontade do paciente em procedimentos invasivos

Condições de trabalho: A ergonomia que trata da má postura dos cirurgiões

Qualidade de vida: A meditação no alívio do estresse dos médicos

HumOrL

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VOX Otorrino

Presidente:Sady Selaimen

Comissão de Comunicações: Allex Itar Ogawa

Edilson Zancanella Gustavo Polacow Korn

Ingrid Helena Lopes de OliveiraJoão Vianney Brito de Oliveira

Marcelo Ribeiro de T. Piza Marco Antonio dos A. Corvo Maria Dantas C. L. Godoy Ricardo Landini Lutaif Dolci

Assessora de Mídia da ABORL-CCF:

Adriana Santos

Editora-chefe: Mariana Moreira/MTB: 35.038-RJ

Reportagem: Gabriela Lopes, Rafael Martins,

Raphael Pereira, Thiago Theodo e Vinícius Corrêa

RevisoresAdriano Bastos e Leonardo de Paula

Fotos: Gianne Carvalho, Drika Barbosa,

ABORL-CCF, Divulgação e Arquivo Pessoal

Diagramação:Danielle V. Cardoso e Douglas Almeida

Produção:DOC Content

Fone: (21) 2425-8878

Periodicidade:Bimestral

Tiragem:6.000 exemplares

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da ABORL-CCF.

Espaço do leitor

Sugestões de pauta, críticas ou elogios? Fale conosco:[email protected]

ExpE

diE

ntE

AB

OR

L-C

CF CArtA AO

LeitOrdr. João Vianney

Mais conteúdo para nossos associados

Chegamos à nossa 146º edição da Revista VOX Otorrino com o orgulho de trazer aos nossos associados cada vez mais conteúdos diferenciados e pertinentes para a carreira de otorrinolaringologistas e cirurgiões cérvi-

co-faciais. Nosso intuito é o de difundirmos entre os médicos os conhecimentos mais atuais sobre Carreira Médica.

E para compartilhar um pouco a experiência e dedicação de tantos anos de carreira na Medicina, convidamos para a seção Páginas Azuis o reno-mado pediatra Jayme Murahovschi, que em seus 82 anos de idade e quase 60 anos de carreira, conta-nos o porquê de sua escolha pela profissão e sua devoção ao trabalho.

Não poderíamos deixar de destacar a importância mundial que a cidade de São Paulo receberá com a chegada de dois grandes eventos em nossa seção Internacional. Entre o final de abril e o início de maio, teremos o 16th World Congress of Rhinology, quando serão comemorados os 50 anos da Interna-tional Rhinology Society (IRS). São Paulo será palco ainda do 34º congresso da International Society of Inflammation and Allergy of the Nose (Isian) e do VII Rhinology.

Nas matérias da Revista VOX Otorrino desta edição, oferecemos dicas de como aproveitar a cidade de Dallas durante o 119º encontro anual da Ameri-can Academy of Otolaryngology – Head and Neck Surgery (OAAO-HNSF); apresentamos o quadro de diretores das Comissões Permanentes, dos Departa-mentos Científicos e dos Comitês da ABORL-CCF; mostramos de que forma a ergonomia pode ser uma aliada na melhoria das condições do cirurgião; e ainda, na matéria principal, a experiência de três otorrinolaringologistas que escolhe-ram cidades do interior para atuar em sua especialidade.

O nosso intuito é o de que cada vez mais possamos contribuir para o su-cesso da carreira dos nossos associados. E convidamos a todos os membros da ABORL-CCF a se envolverem e a participarem cada vez mais, ajudando-nos a conquistar o nosso objetivo.

Boa leitura a todos!

Presidente da Comissão de Comunicações

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PáGINAS AZuIS

Com 57 anos de profissão dedicados à Pediatria, Jayme Murahovschi é um exemplo de médico que escolheu um campo ao qual ser devoto.

Não apenas isso. Durante todo esse tempo, ele buscou atualizar-se constantemente, transmitindo aos colegas de profissão todo seu conhecimento. Um apaixonado pela Medicina e referência em sua especialidade, ele também foi pioneiro em diversas iniciativas. Nesta entrevista, ele nos conta a respeito do começo da sua carreira, de suas motivações, de seus projetos e do universo da prática

pediátrica. Aos 82 anos de idade, é uma verdadeira ins-piração para a carreira médica.

VOX – O que o motivou escolher a Medicina, em especial, a Pediatria?Jayme Murahovschi - Na primeira infância, ocasionada por um desmame precoce por inexperiência de minha mãe imigrante recém-chegada ao Brasil, sofri de uma diarreia per-sistente. Os médicos de meu bairro em São Paulo (Ipiranga) não deram conta e meus pais, fazendo todo o sacrifício que

Por Gabriela Lopes e Rafael Martins | Fotos: Drika Barbosa

Com quase 60 anos de carreira,

Jayme Murahovschi não vê fim para sua dedicação à Pediatria

Aos 82 anos de idade, e perto dos 57 de carreira, o pediatra Jayme Murahovschi revela as motivações e desa-fios da profissão, que o mantêm há anos em atividade, e sem previsão de se aposentar. Dono de uma longa

trajetória, o médico conta como a empatia e a atualização constante pautaram sua profissão

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se faz por um filho, me levaram ao melhor pediatra de São Paulo, dr. Margarido Filho, que me tratou e

curou com um leite suíço especial. Já residente de Medicina, fiz o diagnóstico retrospectivo

de intolerância por lactose, curada por um leite sem lactose. Cresci no meio do que se poderia chamar de quase um culto ao pediatra Margarido Filho. Isso me influenciou a ser médico e pediatra. Reconheço que foi uma motivação sen-timental, mais do que objetiva, ou o que se pode chamar de “dedo de Deus”, que

felizmente deu certo. Deu certo porque eu tenho o espírito de clínico geral, que

aprecia fazer diagnósticos inusitados e tratar as doenças, tanto comuns como as mais sofis-

ticadas, reservando a consulta a especialistas so-mente para indicações precisas. Gosto não só de tratar

a doença, mas promover a saúde imediata e em longo prazo e de enfocar a criança inserida na família e na comunida-de. Gosto da Pediatria porque ela é uma ciência de verdades transitórias, como toda a Medicina, mas também uma das poucas que cultiva verdades permanentes.

VOX – Como foi sua trajetória na carreira até alcançar o status que o senhor tem hoje? Qual momento de sua carreira o senhor considera mais marcante/decisivo?JM - Meus pais, imigrantes judeus pobres vindos da Bessará-bia (hoje Moldávia) fizeram todo o sacrifício para me dar boa instrução, e assim entrei na Faculdade de Medicina da Univer-sidade de São Paulo (FMUSP) em 13º lugar no mesmo ano em que completei o 3º colegial (1956). A residência pediátrica no Hospital das Clínicas me foi maravilhosa. O primeiro ano terminou e eu desisti, só fiz R1, e comecei a trabalhar em um consultório montado por meu pai em nosso bairro. Mas isso era pouco para mim. Munido de carta de recomendação de al-guns professores, apresentei-me na Clínica Infantil do Ipiran-ga (CII) que tinha um dos melhores serviços de Pediatria não universitária do Brasil. Lá trabalhei, de graça, naturalmente, com dois objetivos: ganhar experiência e ajudar a melhorar a qualidade da saúde das crianças pobres da região, devolvendo, assim, parte do que o bairro proporcionara à minha família que adotara o Brasil como sua nova pátria. Fiquei impressiona-do e até chocado com a alta frequência e gravidade de crianças desnutridas e com desidratação grave. Isso me sugeriu pesqui-sar a causa e respectivo tratamento. Contei com a colaboração do bacteriologista prof. Luiz R. Trabulsi, chegamos a identi-ficar o “vilão” – a Escherichia coli enteropatogênica (EPEC). Mas ela era apenas a carrasca a executar a pena de morte de-cretada pelos verdadeiros vilões: pobreza, falta de saneamento básico e desmame precoce. Essas pesquisas, várias premiadas

e adiantadas para a época, me fizeram conhecido e renderam convites para dar aulas em todo o Brasil, o que ajudou a apri-morar uma habilidade didática natural. Atualmente, continuo exercendo atividade no consultório, com o mesmo espírito: escrevo artigos, atualizo livros e preparo aulas para palestras que continuam em todo Brasil, além de participação semanal nas atividades do Instituto da Criança do HCFMUSP. Tenho sempre a preocupação de transmitir minha experiência para facilitar e melhorar a atividade dos colegas.

“Gosto da Pediatria porque ela é uma ciência de

verdades transitórias, como

toda a Medicina, mas também

uma das poucas que cultiva

verdades permanentes”

Créditos D

rika Barbosa

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PáGINAS AZuIS

VOX – Como se configura a relação médico-paciente na Pediatria? É diferente em comparação com as demais especialidades?JM - O relacionamento médico-paciente na Pediatria é di-ferente de outras especialidades. Não se trata apenas a do-ença, mas se promove a saúde envolvendo toda a família.

VOX – O que mais interfere negativamente na relação médico-paciente hoje em dia (operadoras de saúde, tem-po escasso, baixa remuneração etc.)? Como é possível lidar com isso sem afetar a rotina do consultório?JM - Reconheço que os pediatras contemporâneos, com re-muneração inadequada e exigência de volume de atendimento com encurtamento das consultas, estão numa situação difícil. Pode-se utilizar orientação impressa ou eletrônica. Nas outras especialidades, cujo relacionamento com a família é bem mais curto, a prática é diferente, mas o espírito pode ser o mesmo.

VOX – A Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe) é uma das Academias da ABORL-CCF. De que forma ambas as especialidades dialogam? E quais são os seus desafios atualmente?JM - Quando eu tinha seis anos e era sujeito a muitas amig-dalites, foi-me indicada a amigdaloadenoidectomia. Preo-cupados, meus pais me levaram ao melhor ORL conhecido, dr. Paula Santos, confirmando a indicação. Retiraram-me

as amígdalas e rasparam a adenoide. Um parêntesis – uma incompatibilidade eterna entre pediatras e ORL: eu me nego a dizer tonsilas em vez de amígdalas. Mas, no resto, a interação pediatra-ORL é muito boa. É preciso haver essa interação porque o pediatra tem o acompanhamento longitudinal do caso e o ORL, o recurso tecnológico para resolver a situação. Por curiosidade, li o índice do último número (março de 2015) da revista International Journal of Pediatrics Otorhinolaryngology e verifiquei os artigos Quali-dade de vida após adenotonsilectomia em crianças com apneia obstrutiva do sono; Hemorragia pós-tonsilectomia, Risco de otite média com efusão em crianças com hipertrofia de adenoi-des; Concentração de antibiótico oral no ouvido médio; Tonsi-lectomia vs tonsilotomia; Disfunção velofaríngea (tenho tido alguns casos); Síndrome do ouvido vermelho. Como vemos, temas antigos, variações modernas de temas antigos e temas novos. Assim vai a Medicina e a ligação Pediatria-ORL.

VOX – Além de prestar consultas médicas em seu con-sultório e atendimentos em hospitais, o senhor produziu pesquisas na área de Pediatria e já atuou como professor. Como conseguiu e consegue conciliar todas essas ativi-dades no dia a dia?JM - Acho que encontro tempo por duas circunstâncias. A primeira foi uma dádiva de Deus. Minha esposa Enny, que é a parceira ideal a quem devo o apoio afetivo e efetivo que

“A interação pediatra-ORL

é muito boa. É preciso haver essa interação,

porque o pediatra tem o

acompanhamento longitudinal

do caso e o ORL, o recurso

tecnológico para resolver

a situação”

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me libera da maioria das obrigações rotineiras. A segunda talvez seja um conceito diferente de tempo. Faço as coisas ao mesmo tempo. Lembro-me de quando estava lendo ou escrevendo à noite, na sala, e meus filhos vinham me per-guntar alguma coisa sobre a lição, ao mesmo tempo que eu dava uma olhada no jogo de futebol na TV. Ainda faço isso atualmente e vou a pé de casa para o consultório, vice-versa, o que é um exercício físico enquanto preparo mentalmente a próxima aula.

VOX – O senhor é realizado profissionalmente ou ainda almeja novas conquistas em sua carreira? Quais seus próximos planos e objetivos? JM - Meus pais valorizavam a instrução como seu maior le-gado. Que eu fosse um “doktor”, seu maior sonho. Que eu fosse um médico (pediatra) de bairro de sucesso, sua maior realização. E que isso me garantisse parnassá, direito divino de sustento em nível decente sem implicar em acúmulo de riqueza, sua maior aspiração. Meus pais eram socialistas e eu me impregnei dessa ideologia desde tenra infância. Ao descobrir, já pós-adolescente, que o sonho de um mundo sem divisão entre os países, sem guerras e com ajuda mú-tua e uma população sem divisão de classe era uma utopia

romântica, tive de mudar de ideal. Em vez de melhorar o mundo como um todo de uma vez, ative-me ao que está escrito no Kaddish, a oração judaica básica: “É vontade de Deus que cada um de nós faça, no seu dia a dia, todo o pos-sível para melhorar, pelo menos um pouco, este mundo em que vivemos, ainda em nossos dias”. Ser pediatra propor-ciona mais oportunidades nesse sentido, mas, ao mesmo tempo, aumenta a responsabilidade. Responsabilidade que começou com pais excepcionais na sua sensibilidade, uma faculdade de medicina de padrão ‘A’ na época, a Clínica Infantil do Ipiranga e a Faculdade de Medicina de Santos, uma esposa que é o maior presente do Eterno, família e amigos que são o máximo que eu poderia almejar. Se eu estou realizado? Sinceramente, sim. Se eu recebi o reco-nhecimento pelo que fiz? Sinceramente, mais do que eu poderia almejar. Se eu vou parar por aqui? Sinceramente, não – mesmo porque minha mulher não deixa. Sempre existe alguma coisa nova por fazer, alguma coisa antiga para aperfeiçoar. Vou ser superado pelos jovens? Não necessaria-mente. Basta aliar experiência (crescente e sempre subme-tida à crítica e autocrítica) e atualização constante (a atual fase de vida me dá mais tempo para isso). E continuidade com renovação.

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AGENDA DE EVENTOS

AgendAMaio

7 a 8 de maioExame laringoscópico: técnica e laudo da videonasofibroscopiaLocal: Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - Rua Cesario

Mota Jr. 112 - 4º andar – São Paulo (SP)

informações: Zelia ou Telma - (11) 2176-7235 Fax: (11) 3222-8405

e-mail: [email protected]

7 a 9 de maioVII curso teórico / prático de Implante coclearLocal: Auditório CEPPAJ - Hospital Santo Antônio - Av. Bonfim,

161 - Largo de Roma – Salvador (BA)

informações: Coordenação da Residência Médica em Otorri-

nolaringologia do Hospital Santo Antônio - (71) 3310-1232 / (71)

8777-3601 / (71) 8896-6201 (Suelen ou Aline)

e-mail: [email protected] / assessoria@

nooba.com.br

7 a 10 de maio62º congresso sporl-ccF | 8º congresso luso-BrAsIlEI-ro orl | IX congresso luso-GAlAIco orlLocal: Centro de Congressos da Alfândega do Porto – Porto

(Portugal)

informações: Veranatura – (21) 7120778 (Cristina)

site: https://www.sporl.pt/

e-mail: [email protected]

9 a 30 de maioXIV curso Intensivo de otorrinolaringologia - uFrJLocal: Auditório Alice Rosa - Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco,

255 - 12º andar – Rio de Janeiro (RJ)

informações: Simone - (21) 2518-0600 ou (21) 2518-4392

site: www.otoscience.com.br

e-mail: [email protected]

14 a 15 de maio93º curso de cirurgias Endoscópicas Endonasais - Avança-do - Forl BALocal: Hospital universitário Prof. Edgard Santos - Rua Doutor

Augusto Viana, S/N - 2º - Sala C – Salvador (BA)

informações: Roberta - (11) 3068-9855

site: www.forl.org.br

e-mail: [email protected]

28 a 30 de maioXVI curso de Imersão em diagnóstico e tratamento do ron-co e Apneia obstrutiva do sono - teórico-prático.Local: Hospital São Camilo Pompeia - Rua Tavares Bastos, 573

– Pompeia – São Paulo (SP)

informações: Instituto de Ensino e Pesquisa – IEP – (11) 3677-

4405 – Patrícia Veras

Cidade: São Paulo/SP-Brasil

site: www.saocamilo.com/iep

e-mail: [email protected]

28 a 30 de maioXVIII simpósio – doenças de InvernoLocal: Centro de Eventos Plaza São Rafael – Porto Alegre (RS)

informações: Helen - (51) 3012-0882

e-mail: [email protected]

28 a 30 de maiorinologia em cena 4Local: Hospital da Cruz Vermelha - Av. Vicente Machado, 1301

– Centro – Curitiba (PR)

informações: (41) 84255965 – Ian Selonke

site: www.rinologiaemcena.com

e-mail: [email protected]

30 de maioII zumbido na prática clínica - IV curso de conceitos Bási-cos em zumbido para residentes.Local: Hotel Travel Inn Ibirapuera - Live & Lodge - Rua Borges

Lagoa, 1209 – São Paulo (SP)

informações: Stela Maris Organização de Eventos - (11) 5080-

4933 (Silvana)

site: www.iocp.org.br

e-mail: [email protected]

Junho4 a 6 de junhoI Workshop de cirurgia plástica Facial.Local: Clínica Dr. Wilson Dewes - Rua Oscar Garcia, 72 - Centro

- Lajeado/RS

informações: Clínica Dr. Wilson Dewes -(51) 3714-1765 ou

(51) 91287912 (Renata)

site: www.clinicadewes.com.br

e-mail: [email protected]

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8 a 10 de junho107º curso de dissecção osso temporalLocal: Faculdade de Medicina da universidade de São Paulo -

FMuSP – Av. Arnaldo, 455, 1º andar, Sl 1354 – Pacaembu – São

Paulo/SP

informações: Roberta / Telefone (11) 3068-9855 – Responsá-

vel: prof.dr. Ricardo Ferreira Bento

site: www.forl.org.br

e-mail: [email protected]

11 a 13 de junhopotenciais Evocados Auditivos EcoG, BErA (chIrp), mlr, llr, p300, oVEmp, cVEmp, pAEE Local: Rua Duque de Caxias, 1668 - 304 e 403 – Centro –

Santa Maria/RS

informações: Secretaria Executiva / Organização: Clinica Cóser

de Otorrino – Contato: Marlise ou Jesiane / Telefone: (55) 3027-

3656 / Fax: (55) 3221-9784 / 9976-8781 / 8111-8069

e-mail: [email protected]

18 a 20 de junhoVectonistagmografia,Videonistagmoscopia e VhItLocal: Rua Duque de Caxias, 1668 - 304 e 403 – Centro –

Santa Maria/RS

informações: Secretaria Executiva / Organização: Clinica Cóser

de Otorrino – Contato: Marlise ou Jesiane / Telefone: (55) 3027-

3656 / Fax: (55) 3221-9784 / 9976-8781 / 8111-8069

site: http://cursos.clinicacoser.com

e-mail: [email protected]

18 a 19 de junho XII Workshop em Exames Endoscópicos Ambulatoriais em orlLocal: Anfiteatro do Hospital Paulista - Rua Dr. Diogo de Faria,

780 - 1º andar – São Paulo/SP

informações: Secretaria Executiva / Organização: Juliana Kato

/ Contato: Juliana Telefone: (11) 3083-7009

site: www.voicecentercursos.com.br

e-mail: [email protected]

25 a 27 de junho1º congresso do Instituto de otorrinolaringologia cirurgia de cabeça e pescoçoLocal: Fecomércio – Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - Bela Vista –

São Paulo/SP

informações: Secretaria Executiva / Organização: Stela Maris

Eventos / Contato: Silvana / Izabel Telefone: (11) 5080-4933

site: www.iocp.org.br ou www.stelamariseventos.com.br

e-mail: [email protected]

Julho3 a 4 de julho

6º congresso latino-Americano de laringologia e FonocirurgiaLocal: Hotel Pestana São Paulo - Rua Tutóia, 77 - Jardim Pau-

lista - São Paulo/SP

informações: Coordenação Dr. Paulo Perazzo - Departamento

de Eventos - ABORL-CCF: São Paulo: Tel: (11) 5053-7502 Fax:

(11) 5053-7512

site: www.aborlccf.org.br/6congressolatino

e-mail: [email protected]

De 25 a 28 de novembro

45° congresso Brasileiro de otorrinolaringologia e cirurgia cérvico-Facial Local: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares, 999 - Bairro Edson Queiroz – Fortaleza (CE) informações: Departamento de Eventos da ABORL-CCF – (11) 5053-7502 site: http://www.aborlccf.org.br/45cbo/informaco-es_gerais.aspe-mail: [email protected]

Novembro

VOX Otorrino | 11

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CONGRESSO NORTE-AMERICANO

DallasCidade Texana sediará o encontro anual da AAO-HnSF

Por Thiago Theodo | Fotos: Divulgação

Terceira maior cidade do estado Americano do Te-xas e centro da região metropolitana mais populo-sa do estado, a cidade de Dallas possui aproxima-

damente 6,4 milhões de habitantes, o que representa 1 a cada 4 habitantes do estado. A cidade é o principal centro econômico do Texas e, ainda, o principal polo ferroviário e aeroportuário da Região Centro-Sul dos Estados Unidos.

Como citado no quadro que preparamos no final da matéria, Dallas possui clima subtropical úmido, o que cos-tuma representar invernos mais amenos do que em muitas cidades dos Estados Unidos e verões quentes. Porém, devido a sua localização geográfica – não possui grandes obstáculos naturais –, o tempo pode mudar subitamente, por causa da circulação rápida das frentes climáticas, frias ou quentes.

O Congresso Internacional da American Academy of Otolaryngology - Head and Neck Surgery (AAO-HNSF) escolheu Dallas para sediar o 119º encontro anual da especialidade, que ocorrerá de 27 a 30 de setembro de 2015. A ocasião promoverá o encontro dos principais médicos da especialidade, entre membros da academia

e médicos não associados, mas, também, contará com a participação de pesquisadores, professores, gestores, ad-ministradores e profissionais de saúde de todo o mundo. É uma grande oportunidade para adquirir e compartilhar conhecimento. A expectativa da organização é ultrapassar 5.500 participantes.

Em Dallas, go big or go home é a temática, ou seja, se não for grande, não vale a pena. E como tudo na cidade, o centro de convenções Kay Bailey Hutchison segue à ris-ca essa didática: são mais de 2 mil m² do que há de mais inovador em termos de tecnologia para acomodar os mais diversos tipos de eventos, desde encontro de fãs da NFL (liga nacional americana de hóquei) até exposições de ca-minhões gigantes. É o lugar ideal para sediar o principal evento anual da especialidade.

Além de informações sobre algumas peculiaridades da cidade e do evento, fizemos para você, leitor, um resumo especial do que há de mais interessante na cidade para que você aproveite não só o congresso, como o condado de Dallas, da melhor forma possível. Confira abaixo:

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Passeios

Museu de Artes de DallasO Museu de Arte de Dallas, um tesouro de obras-primas da arte americana de artistas como Wyeth e O’Keeffe; obras mais contem-porâneas de Warhol, Pollock e Rothko; arte europeia de Renoir, van Gogh, Cézanne e Mo-net; e magníficas obras da África, da Ásia e do Pacífico.

Centro de Escultura NasherNo interior do edifício puramente moderno reside a deslumbrante coleção acumulada ao longo de mais de quatro décadas. Fica localizado bem no centro de Dallas.

NoitePara quem gosta de sair à noite para bares, clubes e es-petáculos de música, o local ideal a frequentar é Deep Ellum, uma área a leste do centro da cidade. CulináriaO Texas possui uma culinária bastante similar à do Rio Grande do Sul. Para amantes de churrasco, é a escolha ideal. Dica: Visite o restaurante Pecan Lodge, que figura entre os quatro primeiros de todo o Texas.

CulturaDallas respira esportes, sendo casa de seis equipes des-portivas. Mas é também uma cidade bastante religiosa. Grande parte dos habitantes é protestante e o condado é repleto de templos metodistas e batistas.

Visite ainda:Catedral Santuário de Guadalupe

Parque Oak Cliff

Zoológico de Dallas

Texas Fair Park

Apoio:

País: EUA | Estado: Texas | Condado: Dallas

Idioma: Inglês | Moeda: Dólar

Clima: Subtropical úmido | Fuso horário: Brasília - 2 horas

Código telefônico (Código EUA): + 214

Visto: Necessário, independentemente do tempo de permanência

GSK é parceira oficial da ABORL-CCF, consulte anúncio. VOX Otorrino | 13

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GESTãO EM PRáTICA

QuALidAde e efiCiênCiAPILARES DO INTO

Referência nacional em cirurgias de alta complexidade em Ortopedia e Traumatologia, o Into acumula certificações internacionais e conta com o atendimento domiciliar e a lista on-line de espera para cirurgias como alguns de seus maiores diferenciais

Por Raphael Pereira | Fotos: Divulgação

O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortope-dia Jamil Haddad (Into) é um centro de exce-lência no tratamento de doenças e traumas orto-

pédicos de média e alta complexidade. Desde 2011, ocupa uma área de 70 mil metros quadrados no bairro de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O hospital possui 255 leitos de internação e 48 de terapia intensiva e pós-operatório, 60 consultórios e 21 salas de cirurgia. Em 2013, o Into realizou 11.497 procedimentos cirúrgicos, que beneficiaram quase dez mil pacientes do SUS, além de 207 mil consultas. Para ser atendido no Into, é necessário apenas o encaminhamento médico, através do Sistema de Regulação de Consultas do município do Rio de Janeiro.

A unidade de reabilitação do instituto é composta por uma área de dois mil metros quadrados, que inclui piscina para atendimentos hidroterápicos. A equipe

inclui fisiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, tera-peutas ocupacionais, psicólogos e assistentes sociais. Entre as propostas de atendimento da unidade, está o tratamento durante o período pré-operatório. O objeti-vo é fazer com que o paciente chegue na sala de cirurgia em boas condições, com noções de caráter preventivo.

Em 2013, foram realizados mais

de 11 mil procedimentos

cirúrgicos no Into

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97% de

satisfação do usuário

O serviço de atendimento domiciliar é referência desde 2005 e é realizado por uma equipe multidisciplinar, com o intuito de complementar o tratamento ortopédico, ofe-recendo assistência especializada em casa. João Matheus Guimarães, diretor-geral do Into, destaca a importância do atendimento domiciliar, tanto para o paciente como para a instituição: “O atendimento domiciliar tem como objetivo promover a assistência, favorecer o convívio fa-miliar e reduzir o tempo de internação de pacientes no pós-operatório. Assim, também estamos aptos a aumentar o fluxo de operações no Into sem perder a qualidade”. Para o atendimento cirúrgico a pacientes fora do Rio de Janeiro, há projetos que se destacam como o “Suporte” e o “Trata-mento Fora de Domicílio”.

O Into também possui o único Banco de Multiteci-dos totalmente público do país, responsável pela captação, processamento e distribuição de ossos, tendões, meniscos e córneas utilizados em pacientes que necessitam de trans-plantes. O instituto também se destaca pelo pioneirismo na área de ensino e pesquisa: são exemplos disso os estudos sobre artrose, osteoporose e regeneração óssea com a utili-zação de células-tronco; e o curso de mestrado profissional em ciências aplicadas ao sistema musculoesquelético.

A lista de espera de pacientes que aguardam por cirur-gia está disponível no site do Into desde 2004, atualizada periodicamente de acordo com os novos cadastros e as ci-rurgias realizadas diariamente. O processo é transparente e possibilita que o paciente acompanhe o andamento da fila de cirurgia com o número do prontuário.

Fonte: pesquisas de satisfação periódicas da Ouvidoria do Into

O hospital tem três certificações concedidas pela Joint Commission Internacional (JCI) e pelo Consórcio Brasilei-ro de Acreditação (CBA). Ganhou quatro prêmios “Quali-dade Rio”, além dos troféus “Rio Voluntário”, “Inovamos” e de “Cirurgia Segura”. Integra a Rede Sentinela de Hospi-tais pela sua experiência em gerenciamento de risco e pela implementação da cultura de segurança do paciente. Tam-bém integra a Rede Hospitais Verdes e Saudáveis, por suas

práticas e iniciativas sustentáveis. É o mais novo membro da International Society of Orthopaedic Centers (Isoc), sociedade internacional que reúne os melhores hospitais de ortopedia do mundo. De acordo com João Matheus, “Tudo isso mostra o reconhecimento do nosso trabalho, que busca e preza sempre pela qualidade. Poderíamos ope-rar mais pacientes do que costuma ser feito, mas assim esta-ríamos abrindo mão da nossa qualidade de serviço”.

Créditos D

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A Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) con-ta hoje com 7.040 associados distribuídos por

todo o país, tanto em grandes centros como no interior. O primeiro censo realizado pela entidade, organizado em 2001, teve participação de apenas 1.500 otorrino-

Três otorrinolaringologistas que abdicaram da vida em um grande centro contam suas experiências exercendo a profissão no interior do país

Por Rafael Martins e Thiago Theodo

CAPA

laringologistas e cirurgiões cérvico-faciais. Em 2007, a pesquisa ganhou maior força e credibilidade, atingindo a marca de 3.203 especialistas participantes. O registro mais recente é de 2012, resultando em 3.836 entrevis-tados. Isso representa um marco para tornar o trabalho da ABORL-CCF em prol da especialidade cada vez mais atualizado e completo.

A EscolhA por umA mEdIcInA

“dEscEntrAlIzAdA”

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saudade da região, o trânsito intenso da cidade de São Paulo e até mesmo a possibilidade de almoçar em casa, revela o pi-racicabano. No entanto, o otorrinolaringologista deixa claro que o médico que exerce profissão no interior também passa por algumas desvantagens.

“No interior, os hospitais e, consequentemente, o corpo clínico das especialidades são menores. A questão dos plan-tões médicos fica mais complicada. Ficamos sobrecarregados com a escala dos plantões, principalmente no início de car-reira. Cheguei a pegar 15 dias de plantão por mês durante dois anos, porque os médicos mais antigos foram largando a escala e durante alguns anos ficamos somente eu e um co-lega. Então, a gente ficava em disponibilidade semana sim e semana não, sem poder sair da cidade. Naquela época não havia celular, a gente alugava um aparelho chamado beep”.

Mauro destaca, ainda, que em Piracicaba, os insumos médicos não se comparam a todo o equipamento à dispo-sição em cidades de maior porte, apesar da maior tranqui-lidade em trabalhar no interior do país. “Como o porte dos hospitais é menor no interior, os equipamentos disponíveis para exames e cirurgias sempre serão melhores na capital, com exceção de Campinas, Ribeirão Preto, São Jose do Rio Preto, São Jose dos Campos e mais algumas. No interior, lutamos contra a deficiência de materiais, a manutenção dos mesmos e frequentemente precisamos levar nosso pró-prio instrumental para operar, como fotóforo, óticas e cai-xa cirúrgica. Monitoramento do nervo facial nas cirurgias da mastoide é uma luta para se conseguir... Os hospitais e convênios resistem muito devido ao alto custo e dificil-mente autorizam”.

Os números parecem deixar claro que há um fluxo mi-gratório, lento e constante, de médicos para fora dos gran-des centros. Os motivos para o êxodo são variados, mas quase sempre estão relacionados, de alguma forma, com algo muito procurado pelos habitantes das capitais: qua-lidade de vida. Acompanhe, a seguir, as histórias de três otorrinolaringologistas, em busca de oportunidades, que se estabeleceram em cidades do interior e encontraram o sucesso profissional e pessoal.

Orgulho, lazer e tranquilidadeFormado em Otorrinolaringologia pelo Hospital das

Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1993, Mauro Cabrini, 58 anos, atua no interior do estado de São Paulo, em Piracicaba, sua cidade natal, localizada aproximadamente a 180km da ca-pital. Cabrini conta que, no início de sua carreira, manteve emprego em um convênio médico na cidade de São Paulo, além de trabalhar em sua cidade natal, para onde retornou ao terminar a residência. Porém, com o passar do tempo, decidiu optar por dedicar-se integramente a atender so-mente em Piracicaba, onde permanece há 32 anos.

A decisão de voltar à sua cidade de origem e permane-cer por lá se deu por diversos fatores, como, por exemplo, a

Apesar de o Censo apontar um decréscimo no número de profissionais nas capitais de 2007 a 2012, no interior do país observa-se uma evolução na quantidade de otorrinolaringologistas.

Em 2007

n° de profissionais0

Interior

Capital 3.959

2.898

Fontes: Censos 2007/2008 e 2012 da ABORL-CCF

n° de profissionais

Em 2012

0

Interior

Capital 3.887

3.153

“Em longo prazo, creio que ocorra

um excesso de otorrinolaringologistas

nas cidades maiores, e os novos

especialistas vão precisar procurar

trabalho nas menores”

Mauro Cabrini

Divulgação

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CAPA

Ao comentar o futuro da especialidade no interior, Ca-brini acredita que a tendência é de que haja um fluxo mi-gratório maior de profissionais da cidade grande para esses locais. O otorrino acredita que o mercado está saturado no momento, já que a taxa de natalidade não aumentou de acordo com a proporção de novos otorrinos.

“Em longo prazo creio que ocorra um excesso de otor-rinolaringologistas nas cidades maiores, e os novos especia-listas vão precisar procurar trabalho nas menores. Desem-prego acho que nuca ocorrerá, mas subempregos, sim. Os concursos públicos vão ser muito disputados porque repre-sentam uma segurança para quem está começando com o consultório e tem muitas despesas fixas.”

Ao realizar um balanço geral por ter decidido exercer a profissão em Piracicaba e não em São Paulo, como muitos de seus colegas, o otorrinolaringologista Mauro Cabrini se orgu-lha de ter feito tal decisão. Hoje, após três décadas trabalhan-do no interior, Cabrini sente-se realizado. Ele pôde dar a seus três filhos, a sua esposa e a si mesmo uma vida de qualidade.

“Vir para o interior foi uma escolha acertada. Aqui a vida é mais tranquila, sobra mais tempo para o lazer. Se quiser, dá para jogar tênis todos os dias, após o consultório. Ganha-se menos do que em São Paulo, mas o custo de vida é menor. Os pacien-tes se tornam nossos amigos porque estamos sempre os encon-trando na rua, supermercado, restaurantes, clubes etc.”, avalia.

No interior, a tão desejada liberdade

O otorrinolaringologista Rômulo Augusto de Barros trabalha há 28 anos no interior paulista. Formado pela Uni-versidade de São Paulo (USP), fez residência e atuou na ca-pital entre 1980 e 1987, a partir de quando passou a dividir sua atuação entre Cruzeiro e Guaratinguetá, municípios a 220km e 175km da principal cidade do Estado, respectiva-mente. Há 15 anos, ele se estabeleceu definitivamente na se-gunda, onde centralizou suas atividades profissionais. Para o médico, as principais diferenças em trabalhar em uma cidade média do interior são a mobilidade urbana e a segurança.

“Em cidades de porte médio, como a que resido, a es-pecialidade de otorrinolaringologia (ORL) é exercida em toda a sua abrangência, sendo mais difícil ao especialista dedicar-se somente às subespecialidades, que restringem o universo de atendimento”.

Ele acrescenta que a principal diferença entre as cida-des centrais e as interioranas está na tecnologia de ponta, já que equipamentos de alto custo não são rentáveis para essas, devido ao menor número de habitantes. Isso faz com que

“A aglomeração nas capitais só causa

a desvalorização da profissão de

médico e uma péssima

qualidade de vida”

Rômulo Augusto

de Barros

apenas cidades que são centros regionais ou capitais tenham condições de oferecer muitas das opções de tecnologia e se-jam referência em receber pacientes de cidades menores mais próximas. O médico inclui nesse cenário os aparelhos de ra-dioterapia, ressonância nuclear magnética, medicina nuclear e de diagnósticos cardiológicos de precisão, entre outros.

Para Barros, a situação desses locais tende a melhorar de acordo com o aumento da demanda da população e a ida de mais profissionais para saciá-la. “A evolução da atividade médica no interior de São Paulo depende da necessidade de profissionais para a região em questão. Há regiões carentes de algumas especialidades e outras onde a oferta é maior que a demanda. Cabe ao médico interessado no exercício profissional em cidades do interior informar-se dos locais em que sua atuação é carente”, afirma.

Porém, com o tempo, algumas cidades podem conse-guir extinguir ou diminuir a sua carência, parando o afluxo

Mauro Cabrini em momento de lazer com a família

Arquivo pessoalD

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de novos profissionais, diz o otorrinolaringologista. “Em longo prazo, acredito que a tendência é de equilíbrio en-tre as posições de trabalho, com menor espaço para novos ingressos, em particular em cidades mais próximas de ca-pitais, aquelas com faculdades de medicina e, também, as que estão em regiões turísticas”.

Feliz com a opção de ter se mudado para o interior, o otorrino conta que, com isso, consegue trabalhar de for-ma autônoma, apenas em seu consultório, sem a neces-sidade de vínculo empregatício com qualquer institui-ção pública ou privada, além de dispor de mais tempo com a sua família e para o lazer. “Acredito que estou em equilíbrio com minha atividade profissional, mas tenho sempre expandido cada vez mais nas áreas de atuação mais recentes do otorrinolaringologista, como medicina do sono e estética facial”.

Aos otorrinolaringologistas e médicos que estão co-meçando a carreira - ou querem simplesmente sair dos grandes centros - e que tenham o interesse de atuar no interior, ele sugere a busca pelas fronteiras do agrone-gócio, como cidades dos estados do Mato Grosso, Pará, Tocantins e Goiás, com uma infraestrutura adequada para a manutenção da família, como escolas e lazer, e boa qualidade de vida. “A aglomeração nas capitais só causa a desvalorização da profissão de médico e uma péssima qualidade de vida”.

“Médico do interior não

pode se acomodar, tem

que buscar atualização

constantemente”

Jorge Augusto Hecker Kappel

Conquistas profissionais e pessoais

Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) em 1984, Jorge Augusto Hecker Kappel poderia, como ele mesmo conta, ter se estabelecido em Porto Alegre, abrindo um consultório ou fazendo parte de algum serviço, mas preferiu ir para a fronteira com a Argentina, na cidade de Uruguaiana, a 649km da capital.

Jorge Kappel e a esposa em sua Estância Três Marias - Uruguaiana/RS

Arquivo pessoal

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CAPA

Foi quando em 1986, convidado e motivado pelo seu irmão mais velho, Julio Ernesto Hecker Kappel, oftalmo-logista e otorrinolaringologista, para que trabalhassem jun-tos, iniciou suas atividades profissionais no interior do es-tado. “Eu sempre fui meio desbravador, sempre corri atrás. Claro que morria de saudades dos meus pais, mas tinha um irmão mais velho, médico, que morava em Uruguaiana, e que sempre me deu muito apoio e incentivo profissional, uma grande referência e exemplo profissional, abrindo es-paço para o início da minha carreira”, lembra.

Natural de Erechim, no norte do Rio Grande do Sul, Jor-ge Augusto mudou-se para a capital em 1970, com 11 anos de idade. Seu pai, médico veterinário, fora transferido para Porto Alegre, levando a família consigo. Terminada a faculdade de Medicina na PUC e a residência no serviço de Otorrinolarin-gologia do médico Rudolf Lang, ele ainda ficou por um ano no Hospital Militar de Porto Alegre como tenente-médico.

Na época, Uruguaiana era muito promissora, com um bom mercado de trabalho. O especialista diz bus-car novos aprendizados e técnicas constantemente através de cursos e especializações com o objetivo de aperfeiçoamento profissional. A propósito, é algo de que o médico diz não abrir mão, mesmo distante dos grandes centros.

“Nunca deixei de frequentar congressos, jornadas... E, na minha opinião, isso é de fundamental importância, é vital. Médico do interior não pode se acomodar, tem que buscar atualização constantemente”, afirma o otorrino.

Segundo Kappel, otorrinolaringologistas em cidades do interior necessitam ter um conhecimento amplo e ge-neralista da especialidade. “Na cidade grande, ela acaba

dividindo-se em três, quatro especialidades. Tem o otor-rino que é otologista, o rinologista, o laringologista, o de estética facial... No interior, não obrigatoriamente faço todas as cirurgias, mas tenho que fazer todos os diagnós-ticos, não posso deixar passar, de maneira nenhuma, um tumor de prega vocal, um colesteatoma, uma rinossinu-site fúngica, entre outros. O médico do interior precisa estar apto, ter o conhecimento e prática para fazer todos os diagnósticos da especialidade”, afirma.

Quando não tem condições de realizar determina-dos procedimentos operatórios na cidade, Kappel pede a transferência do paciente para fazer a cirurgia em Porto Alegre, por colegas especialistas naquele procedimento. Terminada a recuperação, faz o acompanhamento pós-operatório em Uruguaiana. Apesar das peculiaridades, carências e exigências do trabalho nas cidades do inte-rior, Kappel enxerga grandes oportunidades de sucesso e realizou grandes sonhos.

No ano de 1989 fundou com colegas de outras especialidades uma clínica multidisciplinar, CLINI-MED, onde atua profissionalmente desde então, aten-dendo pacientes do município e região na área clínica e cirúrgica.

A abertura da clínica foi a realização de uma ambição de Kappel quando mudou-se para o interior: formar um servi-ço que fosse referência na região. “Uruguaiana é uma cidade que, hoje, tem uma média de 127 mil habitantes, mas nós

Jorge Kappel com a esposa e os dois filhos

Jorge Kappel montando cavalo com seus filhos

Arquivo pessoalAr

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atendemos pacientes de Itaqui, Alegrete e Quaraí. Hoje a CLINIMED é uma referência em otorrinos, isso é muito gratificante”, comemora.

No ano de 2010, realizou especialização em Medicina do Sono no exterior, trazendo para sua cidade e região jun-to com colegas a CLINOSONO, oferecendo exames de polissonografia.

Há 15 anos realiza a Jornada da Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia da Fronteira Oeste, com a participa-ção de palestrantes de Porto Alegre e outros Estados. Assu-miu vários cargos como Presidente da Sociedade de Medi-cina de Uruguaiana, Delegado do CREMERS e Presidente da Associação Gaúcha de Otorrino- ASSOGOT, sempre atuante na sua participação associativa profissional.

Mas a realização profissional não é o único motivo que mantém o médico formado em Porto Alegre em uma cida-de do interior. A satisfação pessoal tem o mesmo peso que a

dos 5.565 municípios brasileiros, apenas 647 (ou 12%) contam com otorrinos.

6.237 profissionais se concentram nos centros urbanos com mais de 100 mil

habitantes; 27 atuam em municípios com menos de 20 mil habitantes.

há 235 municípios com apenas um especialista e 543 com menos de dez

profissionais.

As capitais do Rio de Janeiro e São Paulo (únicas com mais de 500 otorrinos)

possuem 563 e 1.123 profissionais, respectivamente.

As cidades de Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre possuem

mais de 200 otorrinos cada.

Fonte: censo 2012 - ABorl-ccF

profissional para Kappel: “Sou muito feliz e realizado com a minha vida profissional, mas a vida pessoal e familiar anda de mãos dadas. Em 1999 casei com uma uruguaianense, e realizei mais um grande sonho: o de ser pai. Formamos nossa família e temos dois filhos. Essa cidade também me proporcionou realizar mais um sonho, a criação de cava-los crioulos, paixão que sempre tive e pude concretizar nos campos de Uruguaiana, minha terapia dos finais de semana e feriados junto com a família e amigos”.

Para alguém que trocou um grande centro pelo interior em prol da qualidade de vida, realização profissional, pes-soal e familiar, a medida do próprio sucesso pode ser algo tão simples como conseguir fazer grandes amigos e colegas, almoçar em casa todos os dias com a família ou levar os fi-lhos para a escola e/ou andar a cavalo. “Grandes conquistas que adquiri no interior do Rio Grande do Sul na cidade de Uruguaiana”, finaliza.

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APneIA OBSTRUTIVA dO SOnO

EDuCAçãO CONTINuADA

A pergunta

Devemos tratar pacientes com apneia obstrutiva do sono que não apresentam queixas diurnas? Todos já nos deparamos com pacientes que apresentam

diagnóstico polissonográfico de apneia obstrutiva do sono (AOS), moderada ou grave, mas que referem sentir-se mui-to bem e não apresentam nenhuma sintomatologia duran-te o dia, apesar de serem roncadores habituais e terem suas apneias observadas pelo parceiro de quarto. É comum esses pacientes questionarem o resultado da polissonografia e relutarem em aceitar algum tipo de tratamento. Com fre-quência, nos perguntam: “Doutor, fora o incômodo que os meus roncos causam nos outros, há alguma razão para eu tratar AOS? Não me sinto doente e somente uso medicação para hipertensão arterial, que está totalmente controlada”.

Creio que a maioria dos médicos responde “sim” a essa

Michel Burihan Cahali | Professor Colaborador da disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade

de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); coordenador do setor de Medicina do Sono

da Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da FMUSP e da Otorrinolaringologia do Hospital do

Servidor Público estadual de São Paulo

O que há de novo?

indagação, para prevenir futuras complicações cardiovas-culares. Entretanto, as evidências disponíveis na literatu-ra médica para responder a essa questão surgiram apenas recentemente, com resultados que apontam, surpreenden-temente, para outra direção. É importante conhecer os re-sultados do estudo sobre pressão positiva contínua na via aérea (CPAP, em inglês)1.

O mundialmente prestigiado grupo espanhol que pu-blicou esse estudo concluiu que o tratamento com CPAP não adicionou proteção cardiovascular sobre a simples orientação dietética e de higiene do sono em pacientes com AOS moderada ou grave seguidos pelo período mediano de quatro anos. Cautelosamente, os autores advertem que o estudo pode ter um poder limitado em detectar diferen-ças significantes entre os grupos.

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AOS

O plano de estudoOs autores introduzem o tema relatando que vários es-

tudos transversais e longitudinais corroboram a associação entre AOS e hipertensão e doenças cardiovasculares, embora essa associação seja atenuada quando ajustada para obesida-de e idade. Sobre o CPAP, citam estudos mostrando que ele melhora a sonolência diurna e a qualidade de vida de doen-tes com AOS e que pode reduzir a pressão arterial também. Relatam que há estudos apenas observacionais que sugerem que o CPAP reduz complicações cardiovasculares na AOS moderada e grave. A lacuna no conhecimento encontra-se na falta de estudos randomizados – que são o padrão ouro para avaliação de intervenções - analisando isso.

Seria ético randomizar doentes com AOS moderada ou grave em grupos de tratamento e controle por um longo período? Os autores respondem que, em casos com sin-tomas diurnos, tal estudo não seria eticamente adequado. Por outro lado, o uso do CPAP em doentes sem sintomas diurnos era discutível. Citam dois estudos randomizados controlados de curto prazo que verificaram ausência de be-nefício com o CPAP em pacientes sem sonolência diurna. Dessa forma, propõem realizar um estudo prospectivo ran-domizado controlado de longo prazo para avaliar o efeito protetor do CPAP em relação ao surgimento de hipertensão arterial (naqueles que não a tinham de início), infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular encefálico, ataque is-quêmico transitório, hospitalização por angina instável ou arritmia, insuficiência cardíaca ou morte cardiovascular.

Números superlativosEste é o primeiro grande estudo prospectivo randomi-

zado controlado de longo prazo que avaliou o efeito do CPAP nos eventos cardiovasculares nessa população e os recursos nele alocados são monumentais. O recrutamento de participantes envolveu 14 hospitais na Espanha e foi realizado entre maio de 2004 e maio de 2006, encerrando-se em maio de 2009. Foram incluídos doentes com índice de apneia-hipopneia igual a 20 ou mais, sem sonolência diurna (escala de Epworth entre 0 e 10 para os autores). Pacientes com algum histórico cardiovascular prévio fo-ram excluídos; entretanto, os hipertensos, não. Todos re-ceberam aconselhamento para higiene do sono e perda de peso e foram randomizados para receber tratamento com o CPAP ou não (grupo controle). Um total de 357 doen-tes foram acompanhados no grupo CPAP e 366 no grupo controle, por um período mediano de quatro anos. O se-guimento no estudo terminava quando ocorria um evento

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Referências

Barbe F, Duran-Cantolla J, Sanchez-de-la-Torre M, Martinez-Alonso M,

Carmona C, Barcelo A, et al. Effect of continuous positive airway pressure

on the incidence of hypertension and cardiovascular events in nonsleepy

patients with obstructive sleep apnea: a randomized controlled trial. J. Am.

Med. Assoc. 2012;307(20):2161-8.

os controles, mesmo nos usuários aderentes ao CPAP (estes utilizaram o CPAP praticamente 6h/ noite, em mediana).

A peça de resistênciaPor fim, os autores comparam a incidência de todos os

eventos cardiovasculares combinados (incluindo hiperten-são) de acordo com a aderência ao CPAP, com surgimento de um efeito protetor do CPAP no grupo aderente, em re-lação aos controles, batendo na margem da significância es-tatística (p=0,04). Nas subanálises, verificam que esse efeito protetor ocorre somente nos aderentes com dessaturação < 90% por mais de 6,8% do tempo de sono (valor mediano de todos os participantes), sem relação com o índice de apneia-hipopneia. Por outro lado, ajustando-se este índice entre os grupos controle e CPAP, não há efeito protetor nos aderen-tes, mesmo naqueles com pior dessaturação de oxiemoglo-bina. Surpreendentemente, aqueles que usaram o CPAP por menos do que 4h/noite e dessaturavam por mais de 6,8% do tempo de sono tiveram significantemente mais compli-cações cardiovasculares do que o grupo controle.

ConclusõesOs autores reconhecem a fragilidade do resultado

protetor do CPAP somente após surgimento das análises secundárias. Imaginam que a aderência ao CPAP possivel-mente significa selecionar pessoas que cuidam melhor da sua própria saúde geral e que isso seja o real efeito protetor. Acreditam que esse efeito certamente foi superestimado no desenho do estudo e que é necessário outro ainda maior e mais longo para poder identificar alguma associação entre o uso do CPAP e o efeito protetor cardiovascular. Creio que a grande contribuição desse estudo foi definir algum parâmetro de gravidade relacionado à oximetria durante o sono e demonstrar que tal parâmetro pode ter melhor cor-relação com as consequências da AOS do que o tão clássico índice de apneia-hipopneia. À luz da ciência, ainda não há uma resposta concreta para a nossa pergunta inicial.

EDuCAçãO CONTINuADA

cardiovascular. As características iniciais foram compará-veis entre os dois grupos, com exceção do índice de apneia-hipopneia (mediana de 35 nos controles e 42 no grupo CPAP, p<0,001) e do percentual de tempo de sono com saturação de oxiemoglobina inferior a 90% (mediana de 6% nos controles e 8% no grupo CPAP, p=0,04). Apesar de estatisticamente significantes, os autores consideraram essas diferenças clinicamente irrelevantes.

A surpresaNo grupo CPAP, 68 doentes desenvolveram hipertensão

e 28 outros eventos cardiovasculares, enquanto no grupo controle, 79 desenvolveram hipertensão e 31 outros even-tos, sem diferença significante entre os grupos (p=0,20). A análise em separado somente da incidência de novos casos de hipertensão também não mostrou benefício significante com o uso do CPAP.

Como explicar?Diante de um resultado como esse para o tratamento

padrão ouro para AOS, os autores acreditam que a primei-ra hipótese seria a gravidade da AOS: talvez o CPAP ape-nas proteja o subgrupo com AOS mais grave. Para verificar isso, analisaram diferentes extratos de índice de apneia-hi-popneia (a metade pior e a metade melhor) e o percentual de tempo com saturação de oxiemoglobina inferior a 90% (a metade pior e a metade melhor). Nenhum dos dois pa-râmetros de gravidade influenciou a falta de proteção do CPAP em relação aos controles.

A segunda hipótese foi a corriqueiramente utilizada sempre que se verifica a falta de benefícios com o CPAP: o problema deve ser a baixa adesão dos pacientes. Esse ar-gumento é muito palatável no universo da Medicina do Sono. Mas não para os revisores do JAMA: o resumo do estudo não traz menção sobre adesão ao tratamento.

Como a população tratada era assintomática durante o dia, poder-se-ia imaginar que a adesão ao CPAP seria muito ruim. Surpreendentemente, 64% dos pacientes usaram-no pelo menos quatro horas por noite, considerados, portanto, aderentes ao tratamento. O uso mediano em todo o grupo (aderentes e não aderentes) foi de 5h/noite. O suplemento online do estudo traz as seguintes comparações detalhada-mente: grupo aderente ao CPAP versus controle e grupo não aderente ao CPAP versus controle, analisando, separa-damente, a incidência de novos casos de hipertensão e dos outros eventos cardiovasculares. Em todas as análises, não há benefício estatisticamente significante no grupo CPAP sobre

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Sempre ao lado do Otorrinolaringologista brasileiro.

A Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial é a legítima representante da

classe profissional dos médicos otorrinolaringologistas, responsável por promover o desenvolvimento da

especialidade e o intercâmbio científico, técnico, cultural e social entre os seus profissionais.

Benefícios oferecidos aos associados ABORL-CCF:

- Descontos em congressos, cursos e workshops

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- Revista Científica BJORL / Revista Informativa VOX

- Panorama semanal online com os principais acontecimentos da área de Otorrinolaringologia

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VOX NEWS

O Bem Estar Global vem sendo um sucesso de pú-blico e de prestação de serviço à sociedade.

O projeto, que é uma parceria entre ABORL-CCF e a Rede Globo, já recebeu em torno de quatro mil pessoas no primeiro evento, em novembro de 2014, na ci-dade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Foram 300 pessoas na tenda da ABORL-CCF recebendo atendimento e orientação dos associados e realizando o Teste de Olfato. A programação é transmitida ao vivo pela Rede Globo para todo o Brasil através do seu programa “Bem Estar”.

O otorrinolaringologista José Faibes Lubianca Neto es-teve presente no evento de Porto Alegre e para ele o projeto tem muita importância para divulgar a ABORL-CCF e demonstrar o engajamento da associação com a comunida-de. “Pude perceber que havia pessoas que não sabiam qual seria o escopo da nossa especialidade, pois nem mesmo a

AJuDANDO NA RELAçãO MéDICO-PACIENTE e na melhoria da saúde da população

conheciam. Campanhas como essa, da ação global e a dos caminhos da ORL, são muito interessantes em apresentar nossa especialidade e, ao mesmo tempo, chamar a atenção para prevenção e tratamento de doenças altamente preva-lentes, como as que tratamos”.

Para o especialista, o Bem Estar Global também é im-portante para as pessoas que comparecem ao local assim como para aquelas que assistem pela TV. Lubianca explica que dar às pessoas o conhecimento de que a ABORL-CCF existe e de que elas podem pleitear ao poder público melho-res condições de acesso e assistência na área de Otorrinola-ringologia é permitir que a sociedade, mesmo os indivíduos mais simples, sem acesso a consultórios nem mesmo a am-bulatórios concorridos, a hospitais e postos de saúde, pos-sam contar com a ajuda da associação para resolver desde os problemas de saúde mais simples aos mais complexos.

Por Vinícius Corrêa

Bem Estar Global:

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Atuando como voluntário pela ABORL-CCF em Belo Horizonte, outra cidade atendida pelo projeto, Cheng T-Ping acredita que a campanha é capaz de aproximar otorrinolarin-gologistas e pacientes fora do ambiente de consultório e hos-pital. Dessa forma, segundo o especialista, é possível ter uma conversa informal, um bate-papo que pode ser muito útil e es-clarecedor. “As pessoas podem fazer perguntas sem estarem ne-cessariamente doentes, de forma mais descontraída. Fazer par-te desse tipo de campanha é importante para mim porque me ajuda a conhecer melhor as pessoas e como elas pensam quan-do não estão no meu ambiente de trabalho. Com certeza essa experiência é profissionalmente enriquecedora. Além disso, há o aspecto de exercer nossa cidadania de forma benéfica”.

Sentindo-se parte da ABORL-CCF e da sociedade

Para Lubianca, participar como voluntário foi algo gra-tificante e forneceu uma sensação de realização, diferente daquela que se sente no consultório. “Dá para notar, em algumas conversas com as pessoas que lá estão presentes, que estamos sendo úteis. Da mesma forma, fez-me sentir parte da ABORL-CCF, vestindo literalmente a camisa”.

Independentemente da vontade ou ideologia dos polí-ticos, é possível fazer algo. Cheng exalta a importância que o Bem Estar Global tem em evidenciar a força e a capaci-dade de organização da sociedade através do voluntariado, sem ignorar o papel do governo. “O voluntariado deve ser mais divulgado e estimulado no Brasil, pois é também uma forma de demonstrar amadurecimento e fortalecimento do povo. No entanto, não exime o governo e os políticos de suas responsabilidades e obrigações”.

durante um dia inteiro, os associados regionais da ABorl-ccF realizam ações de atendimento e assistência à comunidade. o Bem Estar Global também oferece entre-tenimento para as pessoas presentes. Além da transmissão ao vivo, há ainda cobertu-ra da imprensa local, aumentando ainda mais a divulgação da associação.

A ABorl-ccF já participou do projeto em porto Alegre, no rio Grande do sul; Florianó-polis, em santa catarina; e Belo horizonte, em minas Gerais. tal ação propiciou a par-ticipação de mais de 30 associados e o estreitamento dos laços com as regionais.

o Bem Estar Global está previsto para ocorrer nos próximos meses em Belém (pará), Brasília (distrito Federal), manaus (Amazonas) e campinas (são paulo).

Milhares de pessoas durante ação do Bem Estar Global

Jose Faibes Lubianca Neto com 2 residentes e um colaborador da ABORL-CCF

Atendimento aos pacientes

Crédito ABO

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Crédito ABO

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GESTãO & CARREIRA

Tratar bem não significa apenas diagnosticar uma patologia e prescrever o medicamento adequado para eliminá-la. Para muitos médicos, a coisa vai além desse preceito: é preciso também humanização.

O cuidado com o paciente requer atenção, empatia e, inclusive, uma conversa

Por Rafael Martins

A relação médico-paciente é considerada fundamental pela maioria dos profissionais. De fato, pode-se dizer que ela é tão fundamental que a carreira de qualquer

médico assistente não se sustenta se ele não mantiver relacio-namentos sólidos e estáveis com seus pacientes. Por se tratar de algo essencial, é evidente que esse convívio também tem influência direta na carreira do profissional da área médica, sendo defendido e incentivado tanto por quem lida com as-sistidos diariamente quanto por aqueles que atuam nas áreas de pesquisa e formação de futuros médicos.

O exemplo clássico – e mais óbvio – de como um pacien-te satisfeito pode beneficiar diretamente a carreira do médico é quando ele indica o profissional às pessoas de suas rela-ções – a propaganda “boca a boca”. Grande apoiadora e uma prova viva da eficácia dessa abordagem, a dermatologista e

credibilidade do profissionalSatisfação do paciente,

endocrinologista Flaviane Farias Balthar decidiu transformar a relação com o paciente em um dos pilares da sua carreira. Ela chegou a investir e reformar seu consultório, colocando-se no lugar daqueles que frequentam a sua sala de espera, modificando-a para que atendesse às necessidades deles.

“Um paciente satisfeito passa a dar credibilidade ao profissional, tornando-o referência para futuras indica-ções. Os pacientes indicados são mais fáceis de serem conquistados e de se tornarem futuros propagadores do nosso trabalho. No marketing médico, credibilidade vem mais de indicação, o famoso ‘boca a boca’, do que de ou-tras fontes. Um indivíduo, quando procura um médico, dificilmente abre o jornal de domingo à procura do pro-fissional. A maioria dos meus ‘novos pacientes’ são indi-cações dos meus ‘atuais pacientes’”, conta.

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“Um paciente satisfeito passa a

dar credibilidade ao profissional,

tornando-o referência para

futuras indicações”

Flaviane Farias

Balthar

Porém, não se trata de adotar estratégias ou medidas que tenham como objetivo apenas o aumento do número de clien-tes, é preciso saber mantê-los – próximos, de preferência – e cuidar da relação. Mas, segundo Flaviane, médico e paciente vem se distanciando progressivamente, e as novas tecnologias não têm necessariamente ajudado. “A relação médico-paciente tem se tornado cada vez mais distante, apesar de estarmos em frequente avanço tecnológico e de comunicação”, opina.

Como forma de reverter esse distanciamento, a médica ado-ta alguns quesitos que considera importantes na relação com o paciente, como a acessibilidade. “Estar disponível para futuras dúvidas decorrentes da consulta ou simples contato. Mas, antes de estabelecer vias de comunicação, precisam ser definidos regras e limites. “Expor à pessoa os riscos inerentes a um tratamento ou procedimento, dividindo as responsabilidades. Ter transpa-rência”. Ela destaca ainda o saber técnico. “O conhecimento,

sem dúvida, passa segurança aos pacientes. Cursos, congressos e tecnologia são excelentes investimentos. Porém, o paciente, atualmente, tem curiosidades sobre a doença e o tratamento. Costumo ter diversos livros e revistas médicas no consultório, inclusive para emprestar aos meus pacientes, para que eles co-nheçam mais sobre o assunto. Não deixo a internet ser fonte de pesquisa e formadora de opinião deles”, diz.

Descuidar desses pontos e atender o cliente da forma er-rada pode afetar a imagem do médico – gerando mais propa-ganda negativa sobre o atendimento – e, consequentemente, a relação entre ambos. Para descobrir como está essa relação, Flaviane recomenda colocar-se no lugar daquele que é aten-dido. “Médico é um profissional que lida com vida, saúde e doença. Sua equipe tem de estar treinada e preparada para adversidades. O melhor caminho para saber como anda o seu atendimento é passar-se pelo seu paciente”.

Para o médico, pesquisador e professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Adriano Cavalcante Sampaio, o relaciona-mento médico-paciente deve ser encarado não como um meio, mas como o fim da atividade médica. “Eu diria que a satisfação do cliente é a obrigação fundamental da relação do médico com o seu usuário. O objetivo do médico é fazer o indivíduo se sentir bem. Então, não existe uma estratégia, ou uma técnica, existe uma postura: a ética perante o outro. Trata-se de algo que o profissional deve ter durante toda a carreira”, resume.

Autor de uma tese de doutorado sobre como a relação médico-paciente influencia na qualidade dos prontuários médicos, Sampaio diz que essa postura deve guiar a carreira do profissional, antes mesmo deste considerar a adoção de uma estratégia para melhorar o relacionamento com seus as-sistidos. “É dedicação ao paciente no tempo necessário para atendê-lo, que está cada vez menor”. Ele afirma que isso se deve, em parte, ao valor exacerbado que vem sendo dado aos recursos tecnológicos no diagnóstico e no tratamento.

A relação médico-paciente como fim

Recepção

antesdepois

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GESTãO & CARREIRA

“Cada vez se dedica menos tempo; há menos conversa, examina-se menos... A dedicação na fala e na escuta é a alma do negócio. É fundamental que se passe menos exames, que se medique menos e que se converse mais. A anamnese é a essência do trabalho do profissional”, afirma.

Para o professor, os médicos não devem deixar que o ex-cesso de trabalho prejudique a qualidade do atendimento que dão aos pacientes, devendo buscar melhores condições para si

“A anamnese é a essência do

trabalho do profissional”

Adriano Cavalcante Sampaio

e para os que estão sob seus cuidados. “Em nenhum momen-to, o Código de Ética exige que você trabalhe em condições que não sejam favoráveis a você e ao seu paciente. É uma ques-tão em que você tem que ter essa postura ética. Agora, quando você tem três, quatro empregos no mesmo dia, ou tem uma jornada de trabalho excessiva, fica muito difícil dar um aten-dimento decente aos usuários”, argumenta.

Quando esse “atendimento decente” não ocorre, quan-do o médico não tem a postura necessária ao lidar com o paciente, há um descrédito por parte do assistido em relação ao profissional e/ou ao tratamento, o que exige mudanças. “Se o usuário está insatisfeito, nós temos que mudar nossa postura. Temos que dar mais atenção, ouvir mais. Não tem outra saída. O usuário quer afeto. As pessoas que procuram o médico já estão em situação de desconforto. Elas estão pas-sando mal, precisando de um ouvido amigo. Quando não têm, não é o exame nem o remédio que vai resolver esse des-conforto”, explica. Para ele, reverter esse processo passa mais pela ética que pela tecnologia e conhecimento científico.

“Aproveite o tempo de sobra para

humanizar a consulta: perguntar sobre

a família, ambiente de trabalho, carreira

e até falar sobre hobbies e lazer”

Questionário: utilizar um questionário geral para ser preenchido antes da consulta e agilizar a anamnese.

Assistente de sala: ela recebe o paciente, prepara-o para a consulta ou procedimento, além de orientá-lo na saída para a realização dos exames, prescrições ou realização dos tratamentos.

Material impresso ou e-mail: material com conteúdo informativo sobre o procedimento a ser realizado, assim como preparo e cuidados, algo fundamental para que o paciente esclareça suas dúvidas.

telefones e endereços: colocar nos pedidos dos exames telefones e endereços de locais para a realização dos mesmos.

O tempo reduzido pode influenciar na qualidade da consulta com o paciente. Veja algumas formas que a médica flaviane farias encontrou para lidar com esse problema:

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ianne Carvalho

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ESTRuTuRA ORGANIZACIONAL

diretOres e COOrdenAdOresQuadro de

A ABORL-CCF apresenta o quadro de diretores e coordenadores das Comissões Permanentes, dos Departamentos Científicos e dos Comitês para a gestão de 2015-2016

Co

mis

sões

dep

arta

men

tos

e C

om

itês

BJORLPresidente: Mariana de Carvalho Leal Gouveia – Recife

ComunicaçõesPresidente: João Vianney B. de Oliveira – PetrópolisSecretário: Allex Itar Ogawa – São Paulo

Defesa ProfissionalPresidente: Eduardo Baptistella - CuritibaSecretário: Bruno Almeida A. Rossini - Sudeste

Educação Médica ContinuadaPresidente: Renata Dutra de Moricz - São PauloSecretário: Diderot Rodrigues Parreira - Brasília

AlergiaCoordenador: João Vianney Brito de Olivieira

BucofaringologiaCoordenador: Ivo Bussoloti Filho

Cabeça e PescoçoCoordenador: Carlos Chone

Cirurgia Crânio-Maxilo-FacialCoordenador: Diderot Parreira

Desinfecção de ÓticasCoordenador: Marco Cesar Jorge dos Santos

Doenças Relacionadas ao TrabalhoCoordenadora: Mara Edwirges Rocha Gândara

EletrofisiologiaCoordenador: Marcelo Ribeiro de Toledo Piza

FoniatriaCoordenadora: Mariana Fávero

História da ORLCoordenador: Roberto Campos Meirelles

Residência e TreinamentoPresidente: Geraldo Pereira Jotz - Porto AlegreSecretário: Silvio Marone - São Paulo

Ética e DisciplinaPresidente: Ivan Dieb Miziara - São PauloSecretária: Regina Maria Marquezini Chammes – Araçatuba

Título de EspecialistaPresidente: Fernando Veiga Angelico Jr - São PauloSecretário: Christiano de Giacomo Carneiro – Bauru

Eventos e CursosDiretor Presidente: José Antonio Patrocinio – UberlândiaSecretária: Helena M. Gonçalves Becker - Minas Gerais

Honorários e Tabelas Médicas

Coordenador: Casimiro Villela Junqueira Filho

Implante Coclear

Coordenador: Robinson Koji Tsuji

Medicina Aeroespacial

Coordenadora: Juliana Maria Araujo Caldeira

Medicina do Sono

Coordenador: Fernanda Haddad

Otoneurologia

Coordenadora: Roseli Bittar

Planejamento Estratégico

Coordenador: Ricardo Ferreira Bento

Relações Internacionais

Coordenador: Agricio Crespo

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INTERNACIONAL

nO CenTRO dA OtOrrinOlarinGOlOGia mundial

São Paulo

Por Rafael Martins

Entre o final do mês de abril e o início de maio, São Paulo foi o principal ponto de interesse para otorrinolaringologistas da América Latina e do mundo. A cidade sediou o congresso latino-americano das áreas de Laringologia e Fonocirurgia e o mundial de Rinologia. Ambos trouxeram os maiores

experts em suas áreas para o país. Confira os eventos

O 16th World Congress of Rhinology aconteceu de 30 de abril a 2 de maio, no Sheraton São Paulo World Trade Center Hotel. Em 2015,

celebra-se os 50 anos da International Rhinology So-ciety (IRS). Também se comemora os 15 anos do 34º congresso da International Society of Inflammation and Allergy of the Nose (Isian) e do VII Rhinology.

O presidente do comitê organizador, o médico bra-sileiro Aldo Stamm, ressaltou a importância de trazer es-pecialistas de vários países para discutir os progressos nas áreas de pesquisa e tratamento. “Este encontro foi uma oportunidade maravilhosa para otorrinolaringologistas,

neurocirurgiões, cirurgiões plásticos faciais e cirurgiões de cabeça e pescoço de todo o mundo para trocar ideias e apresentar os últimos recursos clínicos e científicos em problemas sinonasais e de base de crânio”, declarou em sua mensagem aos congressistas.

Alguns dos principais temas tratados nas palestras e apresentações foram: anatomia tridimensional do seio paranasal e base do crânio; cirurgia dos seios nasais; e novas diretrizes em rinite alérgica e rinossinusite. Tudo sobre reconstrução nasal, dicas em septoplastia em crianças e adultos e cirurgia transnasal endoscópica de base de crânio e cérebro.

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Marque na agenda:

6º Congresso Latino-Americano de Laringologia e Fonocirurgia

Com realização da ABORL-CCF e da Asociación La-tinoamericana de Laringologia y Fonocirurgía (ALLF), o Congresso Latino-Americano de Laringologia e Fonocirur-gia é um dos eventos mais importantes para os laringologis-tas da América Latina. Este ano, a sexta edição do congresso bianual acontece em São Paulo. É a segunda vez que o Brasil é escolhido para sediar o encontro, que já passou por Ma-naus, além de Cidade do México (México), Buenos Aires (Argentina), Bogotá (Colômbia) e San José (Costa Rica). O último, realizado em 2013, foi considerado um grande sucesso.

O 6º Congresso acontecerá nos dias 3 e 4 de julho, no Hotel Pestana São Paulo. As inscrições on-line só serão aceitas até o dia 3 de junho, devendo ser feitas no local e dia do evento a partir daí. Os laringologistas que quiserem enviar trabalhos, podem fazê-lo até 6 de maio, pelo site da ABORL-CCF, no seguinte endereço: <www.aborlccf.org.br/6congressolatino>. Os seis melhores resumos serão es-colhidos para apresentação oral durante o congresso.

Considerado o maior evento de Laringologia da Améri-ca Latina, o congresso atrai profissionais de todos os países da região. A expectativa é de que a edição de 2015 supere os números dos anos anteriores. De acordo com o presidente da ALLF e da comissão organizadora do congresso, Paulo Perazzo, o evento deste ano deve ser ainda mais “grandio-so”, pois será realizado em São Paulo, que, segundo ele, é a cidade que diminui sobremaneira os custos de mobilidade

“Este encontro foi uma oportunidade

maravilhosa para otorrinolaringologistas,

neurocirurgiões, cirurgiões plásticos

faciais e cirurgiões de cabeça e

pescoço de todo o mundo para trocar

ideias e apresentar os últimos recursos

clínicos e científicos em problemas

sinonasais e de base de crânio”

Aldo Stamm, presidente do

comitê organizador

6º Congresso Latino-Americano de

Laringologia e Fonocirurgia

de 3 a 4 de julho

local: Hotel Pestana São Paulo - Rua Tutóia, 77

- Jardim Paulista – São Paulo (SP)

Informações: departamento de Eventos ABorl-

ccF – (11) 5053-7502

site: <www.aborlccf.org.br/6congressolatino>

E-mail: <[email protected]>

entre as capitais brasileiras e dos países latinos.Os temas a serem tratados destacarão as áreas de diag-

nóstico e tratamento de problemas vocais e das vias aéreas, adulta e pediátrica. A organização acredita se tratar de um evento de interesse para todos os otorrinolaringologistas, não apenas os especialistas em laringe, já que os assuntos a serem abordados fazem parte do dia a dia de todos..

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CONDuTA MéDICA

Criado a fim de proteger e informar o paciente, o Consentimento Informado deve ser realizado pelo médico responsável pelo procedimento cirúrgico

Por Thiago Theodo | Fotos: Divulgação

TERMO ESTABELECE autonomia da vontade

DO PACIENTE EM PROCEDIMENTOS INVASIVOS

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Um dos sustentáculos da relação médico-pa-ciente é o dever da informação. Para isso, foi criado o Consentimento Informado ou Ter-

mo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Segundo Laís Pisani, gerente de qualidade do Pron-tobaby, hospital infantil localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, o objetivo principal do termo de Consentimento Informado, como o nome sugere, é informar o paciente – ou o responsável legal – sobre o procedimento a que ele será submetido; quaisquer intervenções invasivas que ocorram, sobre internação, e principalmente sobre os riscos iminentes que o pro-cedimento cirúrgico possa ter.

“Existe mais um termo a respeito do procedimento anestésico: se houver uma transfusão sanguínea, outro tipo de consentimento. Cada evento, nós colocamos em um termo específico. Na UTI, costumamos colocar muitos procedimentos invasivos em um único termo”, completou Pisani ao comentar sobre como o TCLE é realizado no Hospital ProntoBaby. Ela ressalta, ainda, a importância da responsabilidade do profissional, mesmo com o termo. “O consentimento informado não isenta erro médico. Ele é informativo. É um recurso que prova que o paciente recebeu aquela informação e que ele deu autorização, sabendo que estava correndo aquele risco.

De qualquer forma, isso não tira a responsabilidade nem da instituição e nem do médico”.

Também para Maria Manuela Alves dos Santos, su-perintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), o TCLE é um documento que deve esclarecer o paciente sobre todas as ocorrências de seu procedimento, e por isso, é de extrema importância que ele seja claro, con-ciso e que esteja ao alcance da compreensão do assistido. “A utilidade do consentimento informado e a importân-cia dele é para fazer com que o profissional médico, no momento, explique perfeitamente ao paciente o que vai acontecer em qualquer procedimento, principalmente, em qualquer procedimento invasivo. Isso faz parte da relação médico-paciente”.

Ao ser questionada sobre a existência de uma formata-ção padrão do termo e se o médico deveria elencar todos os riscos iminentes no documento, a superintendente do CBA relatou que nem todo risco é possível de se prever. “Penso que ele deve elencar os riscos que ele achar mais adequados, os mais prováveis. Alguns são imprevisíveis. E quanto à formatação, não deve haver. O que deve haver é um esqueleto que sirva como base.”

Pensando no esqueleto mencionado anteriormente por Maria Manuela, confira abaixo (quadro) as principais par-ticularidades que um documento de TCLE deve conter:

“O consentimento informado não

isenta erro médico. Ele é informativo.

É um recurso que prova que o

paciente recebeu aquela informação

e que ele deu autorização, sabendo

que estava correndo aquele risco.

De qualquer forma, isso não tira a

responsabilidade nem da instituição e

nem do médico”

Laís Pisani, gerente de qualidade

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CONDuTA MéDICA

História: surge o consentimento informado

O grande estopim para o surgimento do consentimento informado aconteceu na Inglaterra, no século XVIII, mais especificamente no ano de 1767: o caso Slater vs Baker & Stapleton. Nas cortes inglesas, um paciente que não havia autorizado os médicos a realizar um procedimento de am-putação de uma de suas pernas, teve ganho de causa. As-sim, aconteceu o primeiro caso registrado na história – que tem sem notícia – que levou ao nascimento do consenti-mento informado.

Porém, o nome “consentimento informado” só foi utilizado pela primeira vez mais de duzentos anos depois do caso julgado na corte inglesa. Em 1957, após o mar-cante caso Salgo versus Leland Stanford Jr. University Bo-ard of Trustees, nos Estados Unidos da América, um tribu-nal da Califórnia decidiu que o médico deve realizar um documento de consentimento para que o paciente assine, contendo todas as atribuições referentes ao procedimento que será realizado, sem ocultar ou minimizar quaisquer riscos iminentes.

Entre os anos de 1767 e 1957 há, ainda, outro fato de destaque, que completa a história do consentimento infor-mado: o “consentimento voluntário”, que surge em 1947, através do Código de Nuremberg, a fim de proteger a dig-nidade do ser humano, em resposta às atrocidades cometi-das por médicos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

“A utilidade do consentimento informado e a

importância dele é para fazer com que o

profissional médico, no momento, explique

perfeitamente ao paciente o que vai

acontecer em qualquer procedimento,

principalmente, em qualquer

procedimento invasivo”

Maria Manuela, superintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação

Particularidades do TCLE

destino de quaisquer coletas de materiais do paciente;

possíveis alternativas de tratamento;

duração aproximada do procedimento;

descrição de como serão realizados os trata-mentos;

todos os riscos iminentes do procedimento;

Informações sobre a anestesia e descrição de todo instrumental cirúrgico;

Benefícios do procedimento;

linguagem acessível ao paciente;

Justificativa e o objetivo do procedimento a ser realizado;

prognóstico;

relação do diagnóstico, das hipóteses de diag-nóstico e todos os exames que foram e serão necessários para a comprovação do mesmo;

Quaisquer mudanças no quadro clínico do paciente;

possibilidade de revogação do documento pelo paciente ou responsável legal a qualquer momento.

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CONDIçõES DE TRABALHO

a ergonomia QuE TRATA DA Má POSTuRA DOS CIRuRGIõES

Horas e horas de atividade cirúrgica, ao longo dos anos, podem causar danos e lesões na musculatura dos cirurgiões, sem que se saiba os motivos que levaram a esse processo. Nesta reportagem, veremos como a

ergonomia pode tornar-se uma aliada na melhoria das condições de trabalho durante o ato operatório

Por Vinícius Corrêa | Fotos: Arquivo pessoal

O trabalho do cirurgião é uma atividade pesada e de muito movimento. Com o hábito de exercer esse ofício rotineiramente, muitas vezes o médi-

co não se dá conta do esforço que faz e o quanto pode lhe causar danos em sua saúde, seja ao analisar o órgão foco da cirurgia ou durante o manuseio de um equipamento.

O otorrinolaringologista e cirurgião Fernando Gosling, diretor-geral da Otoclínica, realiza procedimentos cirúrgi-cos duas vezes por semana, o dia inteiro, atendendo de sete a oito crianças ou de cinco a seis adultos, no mesmo dia, com diversos tipos de cirurgias que duram cerca de uma hora a uma hora e meia.

“Levo um pouco mais de tempo no ato operatório de-vido ao cuidado com o paciente. Evito que ocorra algum tipo de hemorragia, optando por mais segurança. O que estressa não é a técnica. Com 40 anos de carreira já domi-namos a prática”, explica.

A única pausa que Gosling possui é entre uma cirurgia e outra, tempo esse dedicado a conversas com pacientes, papeladas de descrição de cirurgia e planos de saúde, além de outras tarefas. Não sobra nenhum momento para fazer qualquer tipo de relaxamento ou exercício laboral.

“A cada dia que passa, conforme

se trabalha por horas e horas, o

cirurgião não tem o tempo necessário

para recuperar toda a disfunção que

pode ter causado no organismo no

decorrer da atividade”

Raimundo Lopes Diniz

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CONDIçõES DE TRABALHO

“Com a musculatura ‘quente’, sigo no embalo de uma ci-rurgia atrás da outra. Eu me desligo do mundo e foco no que eu tenho de fazer. No final do dia é que sinto tudo aquilo que me afeta. O cansaço do trabalho e coisas externas que nos es-tressam, como o congestionamento no trânsito. Quando che-go em casa não tenho disposição para atividade física, impor-tante para o médico, pois é uma forma de aliviar a tensão”.

Raimundo Lopes Diniz, ergonomista certificado pela Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) e diretor do Núcleo de Ergonomia em Processos e Produtos da Univer-sidade Federal do Maranhão (Nepp/Ufma), diz ter perce-bido em alguns dos seus estudos que os efeitos da postura ocupacional no Brasil têm relação direta com a questão organizacional das instituições. “Se pensarmos a postura de forma isolada, não conseguiremos entender muito bem o raio de ação e contexto do trabalho dentro de um centro cirúrgico. A nossa estrutura biomecânica não foi feita para carregar peso, mas, sim, para precisão de movimento”.

Para o especialista, temos grande capacidade de autorre-cuperação, mas, também, de regeneração. Por isso, ele defen-de a importância de um tempo de descanso para recuperar-se do esforço realizado. “A cada dia que passa, conforme se tra-balha por horas e horas, o cirurgião não tem o tempo neces-sário para recuperar toda a disfunção que pode ter causado no organismo no decorrer da atividade. E de tantos pacientes para atender, ele não tem como pensar na sua condição. O médico acaba sendo bombardeado por um processo organi-zacional e precisa superar-se em nível postural”. Essa condi-ção é confirmada quando Gosling diz que o modus operandi

Princípios biomecânicos: manter postura neutra; evitar carregar peso e levantar cargas

dos planos de saúde força muitos cirurgiões a terem elevado volume de atendimento, de onde conseguem ter retorno.

Outro ponto elencado por Diniz é a evolução tecnológica, preocupada com a condição do paciente, mas quase nunca com a do cirurgião. E em cada equipamento, o médico utili-zará uma determinada postura que manterá ao longo do ato operatório. Gosling destaca a problemática ao comentar sobre o fato de trabalhar um pouco torto no endoscópio, por exem-plo, olhando de lado para a tela, enquanto do outro, usa as mãos. “Quando comecei na Medicina ouvi algo muito inte-ressante: não faça em pé o que se pode fazer sentado nem sen-tado o que se pode fazer deitado. E nós procuramos relaxar o corpo o máximo que pudermos durante a atividade”, ressalta.

Para solucionar essas questões, Diniz expõe a impor-tância da intervenção ergonômica, analisando o funcio-namento do problema-chave e compreendendo como as atividades se realizam no contexto ser humano-ambiente-máquina, e visualizar a ligação entre eles, tendo como foco o indivíduo. Daí, pode-se pensar nas melhorias que deverão ser feitas e onde serão aplicadas: na pausa, no revezamento dos cirurgiões, no dimensionamento da bancada, na altura da mesa cirúrgica, no desenho da sala etc.

“Se é reconhecido que a postura é um problema, pode-se atuar na solução do posto do trabalho, nos equipamen-tos, na localização, mas, também, em programas de ginás-tica laboral. Se há um problema de iluminação, sobretudo para cirurgias de precisão, há relação com a engenharia, o design. Nas questões que a ergonomia sozinha não pode resolver, a interdisciplinaridade é crucial”, avalia.

Posturas globais: em pé, sentado, deitado;

Posturas sobressalentes: realizadas em atividade – na

cirurgia, adota-se a postura em pé e posturas sobressalentes,

usando muito os membros superiores para fazer incisão, su-

tura etc., como também os membros inferiores, como no caso

do uso do bisturi elétrico, variando de cirurgia para cirurgia,

de técnica para técnica.

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QuALIDADE DE VIDA

Já pensou em usar o espaço entre uma consulta e outra para dedicar à sua própria saúde, apenas com o uso de técnicas da meditação? Segundo o médico e especialista em Meditação em Saúde, Roberto Cardoso, tal instrumento é capaz de trazer

qualidade de vida ao profissional

Por Vinícius Corrêa | Fotos: Divulgação

A Medicina é uma área que comporta algumas das pro-fissões mais estressantes em todo o mundo. Um ritmo bastante agitado, com diversas consultas para atender

em um mesmo dia ou, às vezes, longas horas ininterruptas em uma sala de cirurgia. Essa rotina turbulenta que o médico vive apenas se diferencia de uma especialidade para outra, devido às peculiaridades de cada uma. O que não é diferente com otorri-nolaringologistas e cirurgiões cérvico-faciais.

De vez em quando, é preciso dedicar um tempo para a pró-pria saúde. E a meditação é uma ótima alternativa. O gineco-logista e obstetra Roberto Cardoso, autor do livro Medicina e Meditação, diz que muitos médicos acabam entendendo pouco sobre o estresse. O que é um paradoxo, segundo ele. Mais ainda, a dificuldade desses profissionais em gerenciar o próprio esgo-tamento físico e emocional. Ele alega, a partir de estudos, que a classe médica está entre as que têm maior índice de suicídio, alcoolismo e dependência química, separação conjugal, dentre

nO AlíVIO dO eSTReSSe dOS MédICOS

meditaçãomeditaçãomeditação

aAA

outros problemas, devido à falta de cuidados com a saúde men-tal. “A meditação pode reduzir o nível de ansiedade, melhorar a saciedade em relação à vida e equilibrar a nossa fisiologia, ajudando a evitar algumas doenças e a curar outras. Já ensinei milhares de pessoas a meditar, onde mais de uma centena era de médicos”.

“A meditação pode reduzir o nível de

ansiedade, melhorar a saciedade em

relação à vida e equilibrar a nossa

fisiologia, ajudando a evitar algumas

doenças e a curar outras”

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Para entendermos exatamente no que se baseia o ato de meditar, o especialista o define se baseando em cinco elemen-tos: o uso de uma técnica específica (claramente definida); relaxamento muscular em algum ponto do processo (como indicador do relaxamento psicofísico); relaxamento da ló-gica (não se envolver em sequências de pensamentos); deve ser, necessariamente, um estado autoinduzido; e utilizar um “artifício de autofocalização” (cognominado de “âncora”).

Roberto Cardoso defende o uso da meditação como uma prática que traz benefícios à saúde, inclusive recomendado como um procedimento médico. Há vários tipos de técnicas de relaxamento, e quase todas benéficas nas mais diversas situações, de acordo com o ginecologista. Há raras exceções que, segundo ele, podem ser contraindicadas. “Em primeiro lugar, deve-se aprender corretamente a prática da medita-ção, sobretudo, com o auxílio de quem conhece as técnicas. Na meditação, o aprendizado inicial deve ser bem cuidado. Depois, procurar as condições mais adequadas. Por último, praticar regularmente, pois todos os benefícios encontrados ocorrem em praticantes regulares”.

Inicialmente, o otorrinolaringologista ou o cirurgião cér-vico-facial deve optar por um local reservado que ajudará na sua concentração para o relaxamento. A preparação é muito importante. Depois que se adaptar e fizer o exercício de for-ma frequente, qualquer lugar poderá ser usado para meditar, inclusive o próprio consultório, aproveitando um intervalo entre uma consulta e outra. É essencial que o meditador de-fina o “seu momento”, aquele tempo que é exclusivo para dedicar-se à meditação e não pode haver interrupção.

Membro do Núcleo de Medicina e Práticas Integrativas (Numepi) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Roberto Cardoso ressalta que ninguém deve ter preconceito em relação ao exercício de meditar, pois não há qualquer en-volvimento com religião. Diferente disso, seu vínculo é mui-to mais pertinente à Medicina. A meditação contribui para a redução do estresse, diminui o cansaço físico e o desgaste emocional, aumentando o foco do profissional em suas ativi-dades, levando-o a evitar erros em suas condutas, assim como a possibilidade de oferecer uma maior qualidade de vida, tan-to na atividade profissional como no convívio social.

Suicídio é a segunda maior causa externa de óbito entre médicos em São Paulo (2000 a 2009)*

* Fonte: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), 2012

3º Agressão:2º Suicídio:1º Acidentes

automobilísticos:

38% 21% 13%37% 18% 15%

“Na meditação, o aprendizado inicial deve ser bem

cuidado. Depois, procurar as condições mais

adequadas. Por último, praticar regularmente, pois

todos os benefícios encontrados ocorrem em

praticantes regulares”

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Apesar de já estar em final de carreira, ainda não me decidi quando me questionam o que é pior: se um paciente que esconde os sentimentos e não conta a seu médico tudo o que desejamos saber, ou se é um poliqueixoso, que transforma qualquer sensação numa bem fornida anamnese, fazendo com que a gente siga pistas falsas na

avaliação diagnóstica.Estava pensando nisso quando lembrei de uma história antiga, passada na enfermaria da clínica. Eu era ainda es-

tudante e seguia com cuidado os rounds e as consequentes relações com os professores, antevendo um futuro próximo, onde teria que decidir sozinho.

Discutíamos a situação dos poliqueixosos e um colega me assoprou:- Fale com a paciente do leito nove e pergunte sobre suas queixas.Quando a sessão terminou e o pessoal começou a dispersar, me dirigi até o leito. Cumprimentei a paciente e já no

“Como a senhora está?” recebi uma carga de informações capaz de preencher um livro. Deixei que falasse e depois come-cei com as perguntas:

- Dói o peito?- Dói.- E a cabeça?- Também. - A garganta?- Demais.- Dói o ventre?- Ih, doutor, dói muito.- As costas?- Bastante.- E as pernas?- Muito, muito.E por aí seguiu o diálogo.O colega que havia me dado a dica, sorrateiramente voltara à enfermaria e apreciava minha avaliação. Após algum tempo, bateu no meu ombro e falou:- Tens de ser mais específico. Queres ver? E perguntou:- E na circunvolução do hipocampo, a senhora tem alguma dor?A resposta, incrivelmente, não demorou um segundo:- Ih, doutor, nem queira saber. É muita a dor...

José Seligman

HumORL

dores generalizadas

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Você não pode perder!

Fortaleza será a Sede do 45º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia

Cérvico-Facial, que acontecerá de 25 a 28 de novembro de 2015.

S:\CAPTACAO\45º Congresso\Anúncio 45º Congresso.cdrterça-feira, 3 de fevereiro de 2015 13:55:12Perfil de cores: Desativado

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