A Estetica de Plotino

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A Estetica de Plotino

Citation preview

  • A ESTTICA DE PLOTINO

    Em que consiste o princpio plotiniano da Forma? E de de vem a exigncia de

    ultrapassar a dimenso sensvel da beleza?

    Contrariamente ao dualismo dos gnsticos e a seu desprezo da natureza

    (considerada como a criao imperfeita de um mau demiurgo), Plotino afirma a

    presena do divino na multiplicidade dos fenmenos naturais. Para apanhar esta

    presena, o homem deve refletir sobre seu sentimento do belo e se perguntar por que a

    percepo de certas coisas o atormenta e o repugna, enquanto que a percepo de outras

    o exalta e inspira. Reconhecer o belo e experimentar sua seduo , com efeito,

    descobrir a afinidade (to syngens) entre nossa alma e a forma das coisas, devido ao

    de um mesmo princpio universal: o Nos ou ainda o intelecto divino, primeira

    emanao do Um. Este intelecto stringe e aduna comprime e rene, como diria Dante

    (Paradis, I.117), a totalidade das razes de ser que resulta disso no espao e no tempo:

    isto significa que o Nos contm os arqutipos (no sentido das ideias platnicas) de

    todas as coisas e se espalha na Alma do mundo, para a qual convergem, por seu lado,

    todas as almas individuais dos homens e todas as formas individuais da natureza.

    Abaixo da Alma, a luz do absoluto se enfraquece e apaga na obscuridade da matria. O

    mal e o feio no so seno a natureza concebida na sua opacidade bruta e informe:

    preciso dizer que tudo o que sem figura (morphon) - e

    que, por natureza, deveria receber uma figura (morph) e uma forma

    (edos) feio (aischrn) quando privada de razo (lgos) e de

    forma (edos), e permanece exterior razo divina (theiou lgos); ou

    seja, a absoluta feiura. Mas feio tambm o que no foi dominado

    pela figura e pela razo, a matria (hyl) que no aceitou se deixar

    configurar plenamente pela Forma. A Forma se aproxima, rene as

    partes mltiplas para que elas no sejam mais que um todo graas a

    esta unio e ela as conduz a uma unidade perfeita graas a este acordo,

    ela as unifica porque esta unidade que foi configurada pela Forma

    devia ser uma tanto quanto ela pudesse, ela que formada de partes

    mltiplas. Quando o belo (to kllos) levou esta realidade a uma certa

    unidade, ele se estabelece, dando-se tanto s parte quanto ao todo.

    Cada vez que o belo toma possesso de qualquer coisa que um e

    formado por partes semelhantes, a mesma beleza que ele d ao

    conjunto. (1.6.2; trad. Laurent, 2002: 69-70)

    Como nossa alma dividida entre a percepo e a inteleco, ela pode fazer que

    o sensvel se imponha ao inteligvel, mas tambm que o inteligvel supere o sensvel. A

    alma se encontra, pois, em uma encruzilhada: por um lado, ela tentada a ceder s

    tentaes do mundo material, que a tentam desviando-a de si mesma; por outro lado, ela

    tenta agarrar a voz do divino que habita nela e que lhe permite de se lembrar de si

    mesma. Os homens no so totalmente capazes de descobrir o patrimnio espiritual

  • escondido em suas almas: preciso, pois, que eles se tornem conscientes por um

    trabalho constante de introspeco que lhes conduza ao caminho da verdade.

    O impulso mais forte para seguir este caminho vem da experincia do belo. A

    Beleza possui, ela tambm, seu arqutipo ideal no Nos, que retira o Belo diretamente

    do Um e onde o Belo coincide com o Bem. Assim como escreve mile Brhier

    (2008:97), a esttica de Plotino impregnada desta ideia que a beleza no se adiciona

    s coisas como um acidente externo, mas consiste verdadeiramente na sua essncia

    (1.2). [...] preciso, pois, que a beleza seja um elemento terreno do ser belo e que ela

    seja o reflexo de uma Ideia, que faz deste ser o que ele . Valor esttico e valor

    intelectual coincidem. a partir deste arqutipo ideal que as formas resplandecem

    sobre as coisas, as quais ns definimos bela pela mediao da Alma. A Beleza

    intelectual e a beleza sensvel so, com efeito, ligadas por uma relao semelhante

    quela que o fogo mantm com as diferentes cores. Sendo bem mais imaterial que as

    coisas que ele aclara, o fogo contm a forma mesma da luz e da cor, porque sua funo

    originria de brilhar e de aclarar : ele a fonte de onde a coisas recebem suas cores e

    ento sua beleza (1.6.3). Mas se o fogo no pode se destacar da luz e da cor, uma coisa

    material deveria parar de mostrar sua cor e ento sua beleza, uma vez desprovida de luz.

    Manifestando-se inicialmente pela asthesis, ou seja, na exterioridade perceptvel das

    coisas belas a serem vistas e a serem entendidas, a forma se torna desejvel e suscita em

    ns a emoo, misturada de estupor e de desordem, prpria ao Eros. Mas como o que

    resplandece para os nossos olhos no seno o reflexo ptico de uma beleza interior e

    invisvel, como o que acaricia nossas orelhas no seno o reflexos de harmonias

    secretas e dificilmente ouvveis, ns devemos entrever (at mesmo entreouvir) no

    charme da beleza sensvel este ndice da Beleza intelectual que ultrapassa toda espcie

    de asthesis e que constitui o princpio e o alvo de nossa alma [...].