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A EUROPA DO SÉCULO XVII,
A GUERRA DOS TRINTA ANOS E A
ORDEM INTERNACIONAL DE VESTEFÁLIA
História das Relações Internacionais
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Aula
Universidade Federal de São Paulo
Relações Internacionais
CONTATOS:
Rodrigo Medina Zagni
E-mail:
Home-pages:
www.forum-historiae.com.br
rodrigomedinazagni.academia.edu
Grupo de pesquisa:
www.massacres-e-genocidios.com.br
História das Relações Internacionais
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Aula – A Europa do séc. XVII, a Guerra dos Trinta Anos e a ordem internacional de Vestefália
BIBLIOGRAFIA DA AULA:
Leitura obrigatória:
PARKER, Geoffrey (ed.). La Guerra de los Treinta Años.
Madri: A. Machado Libros, 2003, pp. 249-297 (“La uerra en
el mito, la leyenda y la historia”)
Leitura complementar:
BOBBITT, Philip. A guerra e a paz na História Moderna: O
impacto dos grandes conflitos e da política na formação das
nações. Rio de Janeiro: Campus, 2003, pp. 477-495 (“A Paz
de Vestfália”)
BELLER, E.A.; “The Thirty Years War”; in: COOPER, J.P.
(ed.). The decline of Spain and the Thirty Years War, 1609-
48/59. Cambridge: Cambridge University Press, 1971, pp.
306-358.
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências:
transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000.
Rio de Janeiro: Campus, 1989, pp. 39-77 (“A tentativa de
domínio dos Habsburgos, 1519-1659”)
História das Relações Internacionais
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Aula – A Europa do séc. XVII, a Guerra dos Trinta Anos e a ordem internacional de Vestefália
MATERIAIS COMPLEMENTARES:
Vídeos:
Conferência: “Global crisis: a 17th-Century
perspective“, Geoffrey Parker, PIIRS Global Systemic
Risk, Princeton University, mar. 2014.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=yutc_BDiH3Q
Documentário: “La Guerra de los Treinta Años”,
Historia Documental, Deutsche Welle, 2019.
Parte 1 - Link:
https://www.youtube.com/watch?v=JQt51l8hLfM
Parte 2 - Link:
https://www.youtube.com/watch?v=rJ4aK6WYEy0
Documentário: “La Guerra De Los Treinta Años”,
History Channel, 2012.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=Ukn-qfBxLocb
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Aula – A Europa do séc. XVII, a Guerra dos Trinta Anos e a ordem internacional de Vestefália
EXPANSÃO ULTRAMARINA E A MONTAGEM DO
ANTIGO SISTEMA COLONIAL
PAUL KENNEDYGEOFFREY PARKERPHILLIP BOBBIT
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OS SIGNIFICADOS DA GUERRA DOS TRINTA ANOS
NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
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Aula – A Europa do séc. XVII, a Guerra dos Trinta Anos e a ordem internacional de Vestefália
O conflito armado que
durou de 1618 a 1648
teve uma gama de
significados históricos.
É a última e a mais
destrutiva de uma série de
guerras religiosas que se
estendem por mais de um
século, originárias do séc.
XV com o nascimento dos
novos Estados modernos
de tipo absolutista e que
têm o tema religioso no
centro da sua política.
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Gustavo Adolfo 2º, rei da Suécia, em pintura de Louis Braun representando batalha da Guerra dos Trinta Anos
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“Semelhante destruição nunca foi
suportada por nenhum grande povo
civilizado, a Alemanha foi conduzida a
um retrocesso de duzentos anos em
seu desenvolvimento.”
Franz Mehring
Absolutism and Revolution in Germany
(1525–1848)
1910
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Vala comum da Guerra dos Trinta Anos em exposição na Saxônia, em 2015
O número de vítimas nunca
pode ser calculado com
precisão.
Estimativas de perda:
• Pessimistas: metade da
população da Europa
Central
• Ponderadas e atuais:
uma quinta-parte da
população da Europa
Central
4 milhões de mortos
Retrocesso de 20 para 16
milhões de habitantes
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Grau de morticínio e de destruição que só
seria superado pelas guerras mundiais do
séc. XX.
Decorrente de um uso empresarial da
guerra com métodos modernos (inovação
das armas de fogo).
Principalmente por:
• França
• Espanha
• Suécia
• Sacro Império Romano Germânico
Em certas partes da Alemanha, nem
mesmo a Segunda Guerra Mundial teve
efeitos tão devastadores:
• Perda de mais da metade da população
de algumas cidades
• Quase a totalidade das colheitas e
rebanho
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Está inscrita na “crise geral do séc. XVII”
Período de estagnação e decrescimento:
• demográfico
• econômico
• Queda da produção
• Deflação
• Colapso monetário
• Guerras
• pestes
Alocada entre dois períodos de glória:
• Séc. XVI – expansão marítima e
descobertas
Exploração de metais preciosos da
América
• Séc. XVIII – movimentos ilustrados e
revoluções democrático-burguesas
1776 – revolução de Independência
Americana
1789 – Revolução Francesa
Manufatura Flamenga - A Volta da Colheita, séc. XVII - David Teniers, o
Jovem
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1600
O séc. XVII tem início
com:
• a execução de
Giordano Bruno em
Roma, nas
fogueiras da
Inquisição, por
sustentar a tese de
um universo infinito
e de infinitos
mundos
• a expulsão do
astrônomo Kepler
da universidade de
Graz
• a perseguição de
Galileu pela Igreja
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O Julgamento de Giordano Bruno pela Inquisição Romana. Relevo em bronze por Ettore Ferrari, Campo de' Fiori, Roma.
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Reação cultural contra as
inovações do Renascimento
e da Reforma:
• século barroco
• Contra-Reforma
• Guerras Religiosas
• fortalecimento da
Inquisição
• recrudescimento da
perseguição às heresias e
práticas de bruxaria
• proibições de livros
• repressão a cientistas Concilio de Trento (1545-1563).
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Inicialmente a Guerra dos Trinta
Anos pode ser interpretada de duas
formas:
• como uma “guerra civil alemã”
• ou como um conflito que opôs
dois blocos distintos da
comunidade europeia no período
moderno: o Sacro Império
Romano Germânico e as regiões
alemãs protestantes.
A última interpretação é ratificada
por Geoffrey Parker (“A Guerra dos
Trinta Anos”), que afirmou que a
guerra não teria sido originada na
Alemanha, mas nos territórios
submetidos à principal dinastia do
período: os Habsburgos de
Espanha e Áustria.
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Geoffrey Parker
Os significados da
Guerra dos Trinta
Anos.
Tema de intensas
discussões entre
historiadores, num
debate entorno de três
pontos:
• Militar
• Econômico
• Político
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1) Ponto de vista militar:
Predominância das
tradicionais histórias
militares escritas desde um
ponto de vista nacional.
Contrariada por relatos,
muitos de testemunhas do
conflito (Grimmelshausen e
Moscherosh) que
descreveram os soldados
que fizeram a guerra como
os guerreiros mais brutais e
sem princípios de toda a
Europa, dirigidos por oficiais
incompetentes e corruptos.
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2) Impacto econômico e
social:
Valorações radicalmente
distintas
• Uns afirmam que a
guerra debilitou uma
economia em rápido
crescimento e teve
efeitos devastadores sem
precedentes
• Outros afirmam que a
guerra não teve apenas
consequências
econômicas adversas
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3) Objetivos e ganhos
políticos:
Visões distintas
• Analistas não-
alemães: mitificam e
heroicizam dirigentes
políticos como Axel
Oxenstierna (sueco) e
Richelieu (francês),
enquanto
menosprezam
dirigentes alemães
• Estudiosos alemães:
invertem esta imagem
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G. Parker: não é possível estabelecer
um veredito sobre nenhum desses
três pontos.
Mas a guerra não se restringiu às
disputas por territórios e mercados, ou
somente ao âmbito político e
diplomático: a Guerra dos Trinta Anos
teve um forte caráter social, pois
envolveu em seu processo
convulsões sociais como a rebelião
anti-espanhola em Nápoles, em 1647,
e as revoltas camponesas, que
tiveram como expoente mais
significativo
a revolta ocorrida na Áustria, em
1626.
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A disputa por territórios coloniais foi outro
desdobramento da Guerra dos Trinta Anos.
A presença holandesa no Nordeste brasileiro
se deu no período:
• em Salvador, entre 1624 e 1625,
• e depois de 1630 em toda a Bahia e Rio
Grande do Norte.
Devemos atribuir sua significação histórica,
neste âmbito, às rebeliões nativistas
desencadeadas pela invasão, posteriores a
1640 com a restauração da indústria
portuguesa
cuja coroa firmou alianças com a Holanda, em
função de sua oposição à Espanha, limitando
assim a ação de expulsão dos invasores.
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Para autores como Giovanni Arrighi e Beverly
J. Silver, em “Caos e governabilidade no
moderno sistema mundial”, o conflito teve
caráter mundial e está inserido no processo de
transição da dinâmica de mudança sistêmica
de um período do mundo moderno,
em uma transição de hegemonias.
O término do ciclo de acumulação genovês
passa obrigatoriamente pela ocorrência da
Guerra dos Trinta Anos, pois está inserido em
um processo sistêmico de alterações na
balança de poder mundial.
Para os mesmos autores, essas hegemonias
se estabelecem somente após a vitória em
guerras mundiais com duração aproximada de
três décadas, e elencam nesse processo a
Guerra dos Trinta Anos, as Guerras
Napoleônicas e as Guerras Eurasianas de
1914 a 1945.
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Conjunto de significados históricos da Guerra dos Trinta Anos:
• seu caráter social: assistido nos movimentos de sublevação dos extratos
sociais oprimidos pelas classes dominantes.
• seu caráter econômico: no contexto de disputa pela hegemonia comercial-
marítima, por territórios coloniais, e pela reordenação da propriedade dos
meios de produção assistidos com a expropriação dos bens da Igreja pelos
Estados protestantes após a Paz de Augsburgo.
• seu caráter religioso: pela oposição entre Estados católicos e protestantes;
esta dimensão torna-se mais difusa após a entrada da França na guerra
potência católica que se alia ao bloco protestante.
• seu caráter militar: pelas inovações no campo logístico, militar-estratégico e
bélico-armamentista.
• por sua inserção em um ciclo de mudanças hegemônicas na ordem mundial
moderna.
• pelo novo tipo de regulamentação das relações internacionais estabelecido
pela Paz de Vestefália.
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Várias conversações antecederam a paz de
Vestefália, somando 11 tratados.
Mas é no tratado que pôs termo à guerra
que encontramos seus mais importantes
significados históricos.
Ao seu término se estabelece um novo tipo
de regulamentação das relações
internacionais:
• O princípio do interesse nacional substitui
a confissão religiosa
• Constrói um novo edifício político e
jurídico para a ordem europeia baseado
no pragmatismo da razão de estado e no
interesse nacional
Se estabelece um novo equilíbrio de poder e
uma nova regra do jogo das relações
internacionais.Uma das últimas páginas de um dos tratados de 1648.
Fonte: C.Tomat-Mura’s personal collection.
ANTECEDENTES DA GUERRA
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Conflitos
antecedentes:
Guerra dos Oitenta
Anos
entre as Províncias
Unidas dos Países
Baixos e Espanha,
da qual a Holanda
se sagra
independente.
A tomada de Breda, por Velásquez
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Império Habsburgo
Estendia-se desde as costas da
África, sul da Ásia,
Filipinas, México, Peru, Espanha,
Portugal, Lombardia, Nápoles e
Sicília, não mais se estendia aos
domínios dos Países Baixos.
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Antecedentes religiosos da guerra
Fator direto: o impacto da Reforma Protestante.
Com a Paz de Augsburgo, de 1555, que impôs
um fim, ao menos temporário, à guerra
confessional alemã, estabeleceu-se o jus
reformandi, a concessão, por parte dos
católicos, do direito à reforma, em função da
incapacidade destes de eliminar os
protestantes.
Princípio do cuius régio, eius religio: estabelecia
que cada casa real poderia decidir por sua
religião oficial, católica ou luterana, que por sua
vez deveria ser obedecida fielmente por seus
súditos estabelecendo-se o direito dos que
professassem fé contrária de emigrarem.
Em 1572 o projeto levou a Europa ao massacre
dos huguenotes na “Noite de São Bartolomeu”.
Catarina de Médici olha os corpos dos protestantes - tela de
Édouard Debate Ponsan
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A esfera religiosa confunde-se nesse
contexto com a econômica, uma vez
que ao converter um reino ao
protestantismo
seguia-se o confisco pelo Estado das
terras da Igreja, que por sua vez eram
destinadas em grande parte à
agricultura.
A expropriação dessa riqueza pelo
Estado gerava, portanto um grave
problema estrutural de ordem
econômica.
Segundo Karl Marx, em “O capital”
a Reforma corroborou na Inglaterra
com a proletarização de camponeses
pela consequente expropriação dos
bens da Igreja, resultando na expulsão
dos servos de suas terras.
ATORES ENVOLVIDOS
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O Sacro Império Romano
Germânico, conduzido pela
dinastia Habsburgo (sob
Fernando II, coroado imperador)
era composto fundamentalmente
por regiões católicas, das quais a
Baviera era a mais importante;
tendo ainda como aliados a
Espanha, por afinidade religiosa
e dinástica, o papado e o reino
da Polônia, também pela
identidade católica.
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Das regiões alemãs protestantes a mais
importante era a Boêmia, que possuía
autonomia dinástica própria.
Dentro de sua configuração essas regiões
eram compostas ainda pelo Palatinado
(sob Frederico V), países baixos, Suécia
(sob Gustavo Adolfo, um dos mais
importantes personagens do conflito, morto
durante a guerra), Dinamarca, França
após 1624 (mesmo sendo oficialmente
católica), e Inglaterra, distante do palco de
operações e sem presença significativa na
guerra.
Houve ainda um bloco oscilante,
composto essencialmente pela Saxônia e
pelo ducado de Brandenburgo (embrião do
que seria a Prússia dos Hohenzollern).
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A Espanha dos
Habsburgos se opôs
ainda à França, numa
guerra que prosseguiu até
1659.
A Suécia por sua vez se
opunha à Polônia e à
Dinamarca, e a Polônia à
Rússia, tendo como
motivo dos conflitos a
disputa pelo domínio da
navegação marítima entre
o Mar Báltico e o Mar do
Norte, atribuindo seu
significado histórico à
disputa pela hegemonia
comercial-marítima nessa
região.Batalha de Rocroi, pintura de François Joseph Heim
AS FASES DA GUERRA
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Início em 23 de maio de 1618, com
a defenestração de Praga, capital
da Boêmia.
Três enviados do imperador do
Sacro Império, atentando contra a
Paz de Augsburgo, pretendiam
fechar sua instância deliberativa
bem como duas igrejas
protestantes.
Os três foram jogados pela janela,
de onde se jogava o lixo, e apesar
de não terem morrido pela queda,
tornaram-se o marco inicial do
conflito que amargaria longos e
sangrentos trinta anos.
Conclamou-se a ruptura com o
Sacro Império, sendo nomeado
Frederivo V, rei do Palatinado,
como rei da Boêmia.
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Podemos dividir a guerra em cinco
fases distintas:
• fase Boêmia (de 1618 a 1621);
• fase do Palatinado (de 1621 a 1624);
• fase dinamarquesa (de 1625 a
1630);
• fase sueca (de 1630 a 1634);
• fase francesa (de 1634 a 1648)
A entrada da França na guerra, ao lado
de Estados protestantes, impõe a
primazia do interesse nacional francês
por sobre temas religiosos pois lhe
permitia incorporar regiões mineradoras
como a Alsácia e a Lorena e
enfraquecer o principal inimigo dos
Bourbon: a casa Habsburgo da Áustria
e Espanha.
A REVOLUÇÃO TÉCNICA MILITAR
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Os efetivos:
Quando se firmou a Paz de
Vestefália em 1648, a
composição de efetivos de
ambos os lados do conflito era
a seguinte:
• França, Suécia e aliados =
130.000 homens
• Império Habsburgo e
aliados = 70.000 homens
Tal concentração de homens,
para o séc. XVII, não tinha
precedentes.
O exércitos eram compostos
por súditos de distintos
senhores. Por exemplo, em
1640, segundo Parker, no
exército imperial havia,
mesclados, efetivos: saxãos,
bávaros, espanhóis,
vestefalianos e austríacos.
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Ainda que todos estes
homens recebessem o mesmo
uniforme ao incorporarem
seus regimentos logo a roupa
se desgastava e tinha que ser
substituída por peças tomadas
da população civil e/ou
aproveitada dos mortos.
Sem uniformes, as tropas
tinham que improvisar
qualquer tipo de distinção,
para que não matassem uns
aos outros no campo de
batalha.
Ex.: gravetos sobre as
cabeças, faixas de cores
distintas em torno dos
chapéus.
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Ainda que todos estes
homens recebessem o mesmo
uniforme ao incorporarem
seus regimentos logo a roupa
se desgastava e tinha que ser
substituída por peças tomadas
da população civil e/ou
aproveitada dos mortos.
Sem uniformes, as tropas
tinham que improvisar
qualquer tipo de distinção,
para que não matassem uns
aos outros no campo de
batalha.
Ex.: gravetos sobre as
cabeças, faixas de cores
distintas em torno dos
chapéus.
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O alistamento era quase que uma sentença de morte e seu impacto demográfico
foi profundo.
Rapidamente a idade dos recrutados foi baixando conforme iam sendo
chamados cada vez mais adolescentes para os campos de batalha de onde
jamais voltariam.
Impacto social: a maior parte dos recrutados eram considerados “pobres de
necessidade”, mas em pouco tempo o recrutamento chegou aos jovens filhos de
classes abastadas e inclusive a filhos de camponeses ricos.
G. Parker - Em fins de 1630 em alguns povoados alemães todo adulto homem
estava ou servindo nas fileiras da guerra ou demasiado mutilado para servir.
A guerra foi causando, com isso, o fenômeno da depopulação, mais gravemente
na Suécia e na Finlândia, em uma medida sem precedentes e insuportável.
Países que não optaram pelo recrutamento obrigatório impuseram o serviço
militar aos considerados delinquentes comutando períodos de prisão por
períodos de serviço militar. Era o que ocorria com as tropas do Exército
Espanhol.
O mesmo fora feito, na Escócia, com “homens sem amo”: desempregados que
lutaram obrigados pela causa protestante, juntos a delinquentes (em menor
proporção) , e indivíduos considerados pelos magistrados como “agitadores”,
levados de maneira forçada aos campos de guerra.
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Contudo, a maioria daqueles que lutaram a Guerra dos Trinta Anos foi de voluntários,
provenientes de três grandes áreas:
• as montanhas;
• as cidades;
• a própria zona de guerra.
Em média os recrutados tinham 24 anos; ¼ deles eram menores de 20 anos
Por que optavam por lutar?
O recrutamento era mais fácil em tempos de preços altos, distúrbios políticos
e religiosos.
Quando esse quadro não se apresentava, ainda que os salários fossem baixos, os
atrativos eram:
• alistamento bem pago em dinheiro
• vestimentas novas e limpas
• promessas de pagamento e de pilhagem futuras
• existência civil
• ocasião de conseguir glória
• emoção de pertencer a um grupo exclusivo
• desejo de viajar
• ânsia por aventuras
• experiência militar
• desejo de defender sua fé (católica ou protestante)
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Fora dos exércitos:
• dificuldade de se obter
trabalho
• baixos salários
• risco de ser saqueado
• risco de ser arruinado pelos
impostos
Muitos se sentiram obrigados a
servir se assim o determinasse
ou pedisse seu senhor.
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As batalhas:
A História Militar registrou o
número de vitórias ou derrotas
Pelo número de bandeiras
capturadas por um e outro
exércitos, e que comunicavam
a vitória exibindo a bandeira
adversária e mantendo-a cativa
para comprovação do êxito. Ou
seja, são fontes nada confiáveis
para o historiador
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As armas:
O conflito inaugurou o
uso dos mosquetões e
dos canhões móveis,
consolidando o uso da
arma de fogo.
A dinâmica de
organização das tropas
em combate foi
drasticamente
reorganizada na
guerra, que deu luz a
um novo tipo de
soldado, usado em
“ordem unida”, em
ação coordenada de
tiro.
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No campo estratégico renovaram-se as
técnicas de cerco, e a própria arquitetura
das fortificações militares, estabelecendo-
se, pela inovação da canhonaria, a
necessidade de fortificações com muros
baixos e compactos, por onde as peças
pudessem atirar, com grande quantidade de
terra para absorção dos impactos
produzidos pelos tiros de canhão.
Essa lógica era contrária a sua antecessora
medieval, visível na arquitetura dos castelos
europeus fundamentalmente a partir do séc.
IX com o assédio dos vikings, que fez com
que as residências feudais adquirissem
características de fortificações militares,
quando se adotaram muros altos, torres de
arqueria, fossos e outros obstáculos para
transposição.
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A utilização de exércitos nacionais
permanentes deu lugar a cerca de um
milhão de homens acompanhados de
prostitutas, familiares e servos nas
campanhas, arregimentados por
líderes militares que lucravam com a
atividade de guerra, constituindo
hordas de mercenários que tiravam
sua parte do butim com a pilhagem
generalizada de camponeses,
os quais privavam de sua colheita e
animais, estuprando suas esposas e
filhas.
Esses exércitos mercenários
arrasaram a Europa, decorrendo
graves problemas nas tentativas de
desmobilização dessas tropas
mesmo após a Paz de Vestefália.
O FIM DA GUERRA
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O término da guerra se deu apenas
com o esgotamento de seus
participantes.
O desfecho da guerra deu à Suécia
e França, componentes do bloco
vencedor, as maiores conquistas
políticas e territoriais após o
armistício, impondo a derrota maior
à Espanha, que se caracterizara até
ali como a herdeira do maior império
europeu do período, alterando assim
drasticamente a hegemonia do
mundo moderno.
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A PAZ DE VESTEFÁLIA
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1648 – Marco da construção da
ordem europeia moderna, em
que a “razão de Estado” se
sobrepõe aos princípios
religiosos medievais da
soberania universal do Papado.
A Paz de Vestefália tem como
maior significação a
reorquestração da política de
divisão de poder na Europa,
estabelecendo a noção de
equilíbrio como regra contra as
hegemonias absolutas.Banquete da Guarda Civil de Amsterdã em celebração da Paz de
Münster, por Bartholomeus van der Helst (1648).
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PERGUNTADe que forma podemos caracterizar as alianças internacionais vigentes
durante a Guerra dos Trinta Anos como expressões dos processos de
transição por que passa o sistema mundial?
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